SEED – GOVERNO DO PARANÁ
PDE
Programa de Desenvolvimento Educacional
CADERNO PEDAGÓGICO
Inclusão e Literatura Infanto - Juvenil: uma
parceria que “tem história pra contar...”
Professora PDE Titulada: Hérica Elaine Barbosa Ruiz
NRE – Pitanga
Orientadora: Ana Aparecida de Oliveira Machado Barby
IES – Unicentro Guarapuava
2008
2
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
HÉRICA ELAINE BARBOSA RUIZ
INCLUSÃO E LITERATURA INFANTO - JUVENIL: UMA PARCERIA QUE “TEM
HISTÓRIA PRA CONTAR...”
Material Didático da disciplina de Educação
Especial apresentado ao Programa de
Desenvolvimento Educacional, vinculado à
Universidade Estadual do Centro-Oeste –
UNICENTRO.
Orientação: Prof. Ana Aparecida de
Oliveira Machado Barby
Pitanga
2008
3
1. Introdução
Vivemos em tempos de mudanças constantes e significativas para a
humanidade. Com o advento da “Era Tecnológica” temos notícias do mundo todo em tempo
real, independente de onde moremos ou da forma como vivemos. O que antes demorávamos
semanas, meses para sabermos e sofrermos o impacto das modificações, hoje, tudo se difere;
somos assolados e invadidos por conseqüências de atitudes de outros que, embora acreditando
ingenuamente que não estejamos ligados de maneira direta aos fatos, inevitavelmente
estaremos provando, mais cedo ou mais tarde, o sabor adocicado, amargo ou, muitas vezes,
azedo das ações da humanidade.
Em que se pesem os fatos, o fenômeno da globalização faz com que
todos nos tornemos responsáveis pela maneira de viver e entender a vida dos habitantes que
povoam o mundo. A forma de enxergarmos a Diversidade presente nas muitas nações tem
sido foco de estudos, pesquisas e conflitos na modernidade:
Constitui verdade inquestionável o fato de que, a todo momento as diferenças entre
os homens fazem-se presentes, mostrando e demonstrando que existem grupos
humanos dotados de especificidades naturalmente irredutíveis. As pessoas são
diferentes de fato, em relação à cor da pele e dos olhos, quanto ao gênero e sua
orientação sexual, com referência às origens familiares e regionais, nos hábitos e
gostos, no tocante ao estilo. Em resumo, os seres humanos são diferentes, pertencem
a grupos variados, convivem e desenvolvem-se em culturas distintas. São então
diferentes de direito. É o chamado direito à diferença; o direito de ser, sendo
diferente. Ferreira e Guimarães (2003:37).
Mas o que se deve ou pode fazer quando somos o que não
aparentamos ser? Ou ainda, quando não somos o que aparentamos? Às vezes as situações
4
causadas por uma pequena diferença são marcadas por sofrimento, frustração, mágoa,
vergonha:
Nas reflexões que vimos fazendo tratamos de diferentes olhares sobre temáticas
familiares, incomodativas, delicadas, provocadoras e que envolvem pessoas
especiais vivendo em sociedade. Um dos pressupostos básicos que alicerçam
entendimento amplo fenômeno da deficiência refere-se à indissolubilidade do
binômio indivíduo/sociedade. A sociedade é responsável pela discriminação e
separação do deficiente, imputando-lhe um estigma. Denari (2006: 208).
Acreditamos, entretanto, no imenso potencial das escolas no que diz
respeito à formação de opiniões, pois sabemos que as mesmas representam um veículo
importantíssimo de divulgação dos benefícios da inclusão. Em conjunto com a literatura,
disciplina ministrada dentro de todas as instituições de ensino, podemos inserir formas
positivas de se pensar a educação para a diversidade e de se incentivar a receptividade da
população diante das diferenças.
5
2. Encaminhamento metodológico
O objetivo maior do presente estudo é, por meio da Literatura InfantoJuvenil, trabalhar obras e sugerir formas criativas de se abordar (com crianças e jovens do
ensino fundamental da rede comum de educação) a importância da valorização das diferenças,
ou seja, o respeito a grupos sociais que sofram exclusão por se constituir como minoria social;
às pessoas com necessidades educativas especiais (permanentes ou provisórias); ou ainda,
comunidades que amargam na intolerância pura e plena à diversidade.
Os livros aqui indicados foram analisados cuidadosamente e
interpretações diversas são sugeridas aos professores que ministram aulas em quintas e ou
sextas séries, no entanto, nada se impede do próprio professor-regente lançar mão de outras
interpretações que julgar convenientes e possíveis.
Faz-se necessário que as escolas adquiram as obras sugeridas para que
as mesmas possam ser apresentadas aos alunos de forma totalitária, com suas ilustrações e seu
discurso original.
Em função de normas legais relacionadas aos direitos autorais, não
pudemos utilizar, nesta atividade, os respectivos textos na íntegra, apenas citações e ou
paráfrases; o mesmo se aplicou às ilustrações, portanto, os desenhos contidos no presente
caderno pedagógico são reproduções de crianças de sete a dez anos de idade que participaram
do trabalho com as histórias e reproduziram, ao seu modo, parte das ilustrações. É sabido que
a estrutura narrativa, quando bem trabalhada, exerce grande fascínio para todos nós, leitores
maduros ou mesmo iniciantes, como é o caso das crianças e dos pré-adolescentes,
adolescentes e jovens. As ilustrações que fazem parte dos livros pra infantes ou adolescentes
6
se constitui, em muitos casos, como ponto culminante do discurso, mas muitas vezes são
pouco exploradas pelos mestres das salas de aulas que as deixam em segundo plano:
É, portanto, fundamental, que o professor ou o educador conheça bem a articulação
texto/imagem, antes de trabalhá-lha com as crianças. Poslaniec fala em dupla
narração: “ao enquadramento da imagem corresponde o enquadramento do texto –
os narradores [escritores e ilustradores] escolhem alguns elementos da história em
vez de outros, para contá-la” (2002). A importância de se aprender a ler a imagem,
mesmo nos livros onde há textos, é grande. “O jovem leitor percebe primeiro as
imagens, depois ele lê as palavras – afirma Durand & Bertrand; mas por meio dessas
imagens, como por meio das palavras, é o desenrolar de uma única e mesma história
que ele acompanha”. E concluem: “ A criança aprende a ler graças à imagem,
porque a imagem exige uma leitura onde a linguagem já está impressa.” Faria (2004:
53).
A proposta contida no caderno tenciona desvendar (e ao mesmo
tempo analisar) as maravilhas abordadas em algumas obras distintas, que de uma forma ou de
outra, incluem com responsabilidade os que, outrora foram excluídos. Procuramos mostrar
por meio da fantasia literária, com sensibilidade e tentando não nos tornarmos piegas ou
assistencialistas, o lado cruel de quem sofre a exclusão na pele.
Trabalhamos com as seguintes obras: Guilherme Augusto Araújo
Fernandes, título original Wilfrid Gordon Mc Donald Partridge (1995, 14ª. Reimpressão)
texto de Mem Fox. Uma outra obra trata-se de: Menina Bonita do Laço de Fita (História de
Ana Maria Machado). Uma Joaninha Diferente, escrita por Regina Célia Melo da Ed.
Paulinas, também foi analisada com o objetivo de mostrar o valor das diferenças. Outro texto
infanto-juvenil escolhido para a proposta é A Fábula da Convivência de Lectícia e Salmo
Dansas (Coleção O Pequeno Filósofo, São Paulo: FTD, 2002). Convivendo com As
Diferenças, título original: Vivre ensemble Lês différences (2006, 1ª. Ed. 6ª. Impressão)
escrito por Laura Jaffé e Laure Saint-Marc entrou na lista dos estudados para o projeto.
Faremos, ainda, análise de uma obra de Rubem Alves intitulada com O gambá que não sabia
7
sorrir, 9ª ed. Há também, de Tatiana Belinky, o livro DIVERSIDADE, que muito nos inspira
diante da temática vigente.
É obvio que a escolha das obras, por motivo de tempo e espaço
limitados foram restritas, mas sem sombra de dúvida, a literatura infanto-juvenil brasileira e
universal pode contribuir como um vasto material riquíssimo de exemplares que abordam os
temas desejados de maneiras diversas e criativas.
Diante de todas as indicações literárias anteriormente citadas temos o
intuito de proporcionar aos profissionais da educação (professores de diferentes disciplinas,
pedagogos, gestores etc) uma maneira simples, porém agradável, de abordar assuntos, que em
muitos casos tornam-se difíceis de serem desenvolvidos e aceitos com êxito por parte dos
educandos.
8
3. Fundamentação Teórica
3.1 Respeito e Qualidade de Vida para os Idosos –Livro:
“Guilherme Augusto Araújo Fernandes”(FOX, Mem. Guilherme Augusto Araújo
Fernandes.Trad. Gilda de Aquino. São Paulo: Brinque-Book, 1995)
O primeiro texto analisado representa um caso claro de exercício de
cidadania em relação aos idosos: a obra intitula-se “Guilherme Augusto Araújo Fernandes”.
Sabemos todos que a velhice nem sempre foi vista com bons olhos em uma sociedade
capitalista que prima pela grande escala de produção eficiente e rápida, características essas,
que na maior parte das vezes não se pode exigir de uma pessoa já de mais idade (idosa) em
função da própria estrutura biológica e da perda gradual dos reflexos no organismo. Para
tanto, o texto nos conta a história de um menino chamado Guilherme Augusto Araújo
Fernandes que mora ao lado de um asilo de idosos e apresenta muito respeito por todos eles.
A relação mais comovente e próxima se dá com a personagem Dona Antonia Maria Diniz
Cordeiro. Há pistas textuais que devem ser observadas pelos professores e repassadas aos
alunos para uma leitura mais aprofundada, como no caso da identificação, cumplicidade dos
dois em relação à extensão dos nomes: Guilherme Augusto Araújo Fernandes e Antonia
Maria Diniz Cordeiro. É preciso levar em conta que existem pessoas que marcam as nossas
vidas profundamente, às vezes por assonâncias (cada um dos dois possuem quatro nomes) ou
por dissonâncias (idades muito diferentes – o menino, talvez uns seis ou sete anos; a senhora,
noventa e seis anos de idade). Um aspecto que não pode ser deixado de se considerar e, quem
sabe um dos mais importantes da obra, é o fato do respeito ser cultivado já na mais tenra
idade, ou seja, desde cedo temos que ensinar nossos infantes o significado da palavra
“apreço”, “consideração” por todos; a importância do amor aos semelhantes e da valorização
por aqueles que cultivam a experiência dos anos que já se passaram. Importante lembrar,
9
também que Guilherme Augusto parece proceder de uma família de poucas posses. Como
podemos afirmar tais fatos se no texto não encontramos nenhuma palavra que faça alusão à
referida situação? As marcas não-verbais, ou seja, as ilustrações costumam nos dizer, em
muitos casos, mais do que as palavras. Percebemos, já nas primeiras páginas, que a residência
de Guilherme Augusto parece ser uma casa bem simples, rodeada de uma velha cerca de
madeira, até com um grande buraco que serve de passagem para o menino(representação do
universo infantil) se transportar para o asilo dos idosos(representação do universo dos idosos),
que fica ao lado. Outra marca da classe social é o grande quintal que parece ser um misto de
grama e terra, onde encontramos brinquedos ali espalhados, uma galinha que cisca
displicentemente enquanto a roupa seca pendurada no varal e Guilherme Augusto brinca
cheio de alegria com os pés descalços.
O ponto culminante da narrativa revela-se no fato de Dona Antonia ter
perdido a memória, provavelmente em função da idade já muito avançada, e o menino,
embora muito jovem, porém com a sabedoria e sensibilidade que lhe é peculiar, é capaz de
ajudar a amiga que tanto estima. As pessoas adultas que o cercam tentam fazer com que o
garoto compreenda o que realmente significa MEMÓRIA e cada um define a palavra de
acordo com seu ponto de vista e das experiências vividas. Só para se ter uma idéia, uns a
definem como algo “que você se lembre”, já outro diz ser: “algo quente, meu filho”. Dessa
forma vão aparecendo definições bem diferentes, porém não destoantes que aguçam o
entendimento do garoto: “Algo antigo”; “algo que faz chorar”;”algo que faz rir”; “algo que
vale ouro”. Assim, ele volta para casa e procura em seu universo doméstico, cada um dos
objetos que possui a representatividade daquelas definições. Tentando ilustrar para dona
Antônia “memória como algo que vale ouro”, ele a oferece sua bola de futebol; para ensiná-la
que memória é “algo quente”, ele leva o ovo que a galinha acabara de botar. Enfim, juntando
com muito carinho todas as peças que parecem um grande quebra-cabeça, Guilherme Augusto
10
faz com que seu amor e sua dedicação em nome da amizade recuperem a memória de Dona
Antonia.
Fato, também muito interessante é que os demais personagens do
texto possuem nomes que rimam de forma perfeita com aquilo que eles fazem de melhor,
segundo a visão infantil de Guilherme Augusto:
Ele gostava da Sra. Silvano que tocava piano. Ele ouvia as histórias arrepiantes que
lhe contava o Sr. Cervantes. Ele brincava com o Sr. Valdemar que adorava remar.
Ajudava a Senhora Mandala que andava com uma bengala. E admirava o Sr.
Possante que tinha voz de gigante. Fox (1995).
As rimas, tão presentes no repertório de brincadeiras das crianças são
contempladas no livro por meio dos nomes próprios que musicalizam toda a obra. Parece que
todos nós temos poesia em nossos nomes, em nossas origens e naquilo que representamos
para aqueles com os quais convivemos. Faz-se necessário ainda considerar os espaços em
branco como uma chance dada para que todos nós, os leitores, nos ocupemos com as cores da
imaginação de cada um.
Um jogo de antônimos também se estabelece de maneira lúdica
durante o percurso: memória perdida X memória reencontrada; alegria X tristeza; movimento
de Guilherme Augusto X lentidão dos idosos; chorar X rir; começo X fim; infância X velhice;
Inocência X experiência; grandeza X pequenez.
11
12
13
2) Abaixo ao Preconceito Racial – Livro: “Menina Bonita do Laço de Fita”
(MACHADO, Ana Maria. Menina bonita do laço de fita. 7ª. Ed. São Paulo: Ática, 2000)
O texto muito conhecido de Ana Maria Machado nos proporciona a
chance de falarmos sobre o racismo com as crianças e adolescente de maneira lúdica, porém
numa forma intensa e digna que todos possam compreender. O título já expõe, de imediato, a
beleza contida na personagem principal: Menina Bonita do Laço de Fita. A autora inicia a
narrativa com a expressão temporal: “Era uma vez uma menina linda, linda”. Quem trabalha
com histórias sabe que quando nos reportamos ao mundo do “Era uma vez...” estamos sendo
levados pela fantasia, pelo faz-de-conta e por todas as possibilidades como, por exemplo, a de
um coelho falar.
Outro aspecto interessante é que quando o autor repete seguidamente
um vocábulo no seu texto, há a possibilidade de que ele queira enfatizar o que está sendo dito,
como um termo intensificador, o que nos leva a crer que a personagem realmente era muito
graciosa no que se refere ao seu aspecto físico, pois “a menina era linda, linda...”.
Há um grande apelo de poeticidade na descrição da menina, as
comparações, metáforas “...cabelos enroladinhos e bem negros, feito fiapos da noite”; “A pele
era escura e lustrosa que nem pêlo de pantera negra quando pula na chuva”, são elementos
que nos estabelecem relações de proximidade e, conseqüentemente, afetividade entre o
elemento comparador e comparado. A rima presente no título também deixa indícios de
suavidade e aceitação pela história da menina que é negra, linda, inteligente (pois inventa
cenas o tempo todo), criativa e se orgulha muito disso. A questão da auto-estima deve ser
enfatizada nesse momento, já que podemos perceber, com o desenrolar da narrativa, que
14
nossa pequena garota parece sempre estar de bem com a vida, ser descontraída, falante e
dotada de muita imaginação.
Os operadores argumentativos também exercem grande peso na
persuasão textual, como é o caso da descrição traçada da personagem: depois de descrever a
beleza expressa pelos olhos, cabelos e pele, vem o termo que instiga a aceitação do leitor à
apreciação: “... ainda por cima a mãe gostava de fazer trancinhas no cabelo da garotinha...”.
Como quem diz, “já é tão bela e se não bastasse a mãe ornamenta-a de forma que fique mais
meiga.”
Posteriormente a autora continua a narração contando que ao lado da
menina morava um coelho que queria, a todo custo, saber qual era o segredo da menina para
ser tão pretinha e linda. No entanto, a garotinha, por estar na idade das invenções, fase essa
que a maioria das crianças passa, sai logo inventando pro seu vizinho-coelho uma mentirinha.
Segundo a Menina Bonita do Laço da Fita, ela ficou daquela cor porque tinha caído na tinta
quando era ainda bem pequenina. O coelho, empenhado em conseguir aquela tonalidade
maravilhosa de ébano, também pinta-se todo de preto e fica como a menina. No entanto,
quando vem a primeira chuva, lava e leva todo o pretume do animal.
Outro momento é quando a garota inventa pro coelho que a cor da
pele era aquela devido ao fato de ela ter tomado muito café durante toda sua vida. O coelho
cai na invenção novamente, mas nada acontece, a não ser uma insônia terrível por culpa do
excesso de café no organismo. Ele não desiste e retorna pela terceira vez com objetivo de tirar
a verdadeira resposta da menina. Neste momento ela dispara que o fato de ter comido muita
jabuticaba é que fez com que ela se tornasse negra. O animal, então parte em busca do sonho
de ser como a noite, mas sua tentativa de novo é frustrada. E, quando pela quarta vez ele
15
procura a pequena personagem, e ela, já pronta pra outra resposta criativa é barrada pela mãe
que conta a verdade ao coelho. Então ele descobre que tem que se casar com uma coelha bem
preta, se quiser ter filhos pretinhos. Assim o faz e consegue realizar seu desejo. Além de uma
linda coelha pretinha ele tem muitos outros filhinhos bonitos. A Coelha Bonita do Laço de
Fita, se torna afilhada da Menina Bonita do Laço de Fita.
A musicalização vem bastante acentuada em todos os trechos em que
o coelho dirige-se à menina para pedir informações; inclusive, na versão oral, os contadores
costumam cantar o trecho da narrativa: “Menina bonita do laço de fita, qual é teu segredo pra
ser tão pretinha? Normalmente o recurso de misturar pequenas músicas com histórias é um
fato que prende a atenção dos ouvinte e ou leitores e facilita a memorização do enredo.
Vale ressaltar o momento em que o coelho valoriza os aspectos
genéticos das semelhanças físicas entre os parentes consangüíneos, afinal, é louvável mostrar
pra criança que de nada adianta nos lamentarmos se somos desse ou daquele jeito, o que conta
mesmo é que nossas raízes determinarão nosso aspecto exterior. E que nunca devemos nos
esquecer que nossas atitudes, sabedoria, ética, respeito pela diferença, nossa personalidade é
que nos identifica como seres humanos de bem.
Importantíssimo levar o aluno perceber que a menina acabou
“inventando” as histórias pro coelho por ser muito pequenina e desconhecer a resposta certa,
pois em nenhum momento houve, por parte da própria criança ou de sua mãe (personagem
que aparece posteriormente), vergonha, desprezo ou negação da raça, da cor da pele, da
textura do cabelo ou qualquer característica física.
16
A questão da inferiorização e não-aceitação dos negros é gravíssima,
mesmo envolvendo crianças bem pequenas, como as que freqüentam creches e centros
infantis de educação:
“A gente às vezes tem uma idéia meio idílica da criança nessa faixa etária”, diz a
professora e doutoranda em educação pela USP, Lucimar Rosa Dias. Segundo ela,
há pesquisas mostrando que, desde muito cedo, as crianças gostam ou não gostam,
rejeitam ou não as pessoas, usando a cor como referência.” .Carrança (2006: 20)
Temos que estar preparados para tratarmos sobre o tema da
hostilidade racial em todas as etapas da escolaridade e nas diversas instâncias sociais para
sabermos agir diante de situações como a de uma criança em idade pré-escolar que negra sua
raça dizendo aos coleguinhas que não é negro, só está mais escuro porque tomou muito sol;
ou ainda, a pequena que proíbe o amiguinho negro de tocar em seus brinquedos por ter medo
que todos fiquem pretos.
17
18
19
20
21
Somos Iguais e Diferentes !!! _ Livro:“Uma Joaninha Diferente” (MELO,
Regina Célia. Uma joaninha diferente. 12ª. Ed. São Paulo: Paulinas, 1997)
O texto de Regina Célia Melo, Uma Joaninha Diferente representa
uma excelente oportunidade de abordarmos questões que ainda vigoram em nossa sociedade
por mais empenho que façamos para tentar eliminá-las. Estamos reportando-nos a necessidade
primária e hipócrita da homogeneidade de grupos. O “diferente” sempre nos incomodou,
portanto, temos o desejo de seguir convenções ditadas por grupos dominantes como a moda,
por exemplo: de tempos em tempos, lança-se no mercado “novidades de consumo” que são
aderidas por grande parte da sociedade: no que se refere a óculos de sol, o que predomina
atualmente são peças grandes que tomam metade do rosto, escondendo sobrancelhas ou outros
traços da face, como os da década de setenta. Diferentemente de três anos atrás, quando o
ideal era óculos pequenos, estreitos cujas lentes mal cobriam os olhos, e quem ousasse não
aderir à tendência, bem provável que levaria o rótulo de “sujeito cafona” ou pessoa de mau
gosto”.
Em décadas passadas, mulheres queriam cabelos enrolados, então
apelavam pra uma técnica chamada de permanente. Na atualidade, ter cabelos muito lisos é o
que agrada ao público feminino, para tanto temos as escovas progressivas, chapinhas,
pranchas, cremes alisantes dentre outros artifícios que ditam as regras vigentes da beleza.
Nós, professores, também, muitas vezes temos o desejo de que todos nossos alunos da quintasérie, por exemplo, tenham o mesmo nível de aprendizado e desempenho escolar...
impossível; já que cada ser humano é único e cada educando viveu uma experiência ímpar em
relação ao que já sabe e aos conteúdos aprendidos. Estas são algumas amostras banais do
nosso cotidiano, de como nos preocupamos em ser aceitos dentro de um grupo que determina
gostos, maneira de pensar e tomar atitudes, muitas vezes de forma velada.
22
Em grupos onde a maioria tem uma determinada forma de agir, os que
fogem ao padrão, são, quase sempre, discriminados: homossexuais, não-católicos, negros,
deficientes físicos e mentais etc.
A presente narrativa conta a história de uma joaninha que nascera sem
bolinhas e as demais joaninhas do jardim a negavam como tal, pois a partir do momento em
que destoamos do padrão, do convencional, não podemos pertencer ao grupo, somos
excluídos, mesmo apresentando muitas outras características que poderiam nos identificar
como membros efetivos de nossa espécie. A personagem (joaninha) então, pensa em algumas
alternativas que, talvez, pudessem sanar seu problema ou, quem sabe, atenuá-lo: comprar uma
capa de bolinhas? Partir para outros lugares mais distantes?
No entanto, no seu íntimo, ela sabia que não seriam algumas bolinhas
que determinariam se ela era ou não uma joaninha verdadeira. Na vida real a situação se
assemelha: é a cor da pele que determina a dignidade de um ser humano? Seria um problema
motor, cognitivo ou sensorial que tornaria uma pessoa menos capaz para cumprir seus deveres
e gozar seus direitos como cidadão? O déficit cognitivo incapacita, realmente, o sujeito em
todas as áreas e por toda a vida? O que esperamos uns dos outros: perfeição? Ela existe?
A joaninha com toda a sabedoria que possuía era ciente de sua
identidade, mas o resto do grupo não. Porém, nessa etapa, ela resolve não se importar mais
com as opiniões alheias e continuar sua vida enfrentando os fatos: ela era sim uma joaninha,
contudo, nascera sem bolinhas, diferente das demais, mas esse aspecto não a tornava melhor
ou pior que as outras.
Tudo estaria perfeito se a comunidade de joaninhas não tivesse
resolvido expulsá-la daquele lugar, por não conseguirem conviver com o diferente, por
23
intolerância e egoísmo. Vendo-se diante da situação descrita, aproximou-se do amigo besouro
e contou-lhe o que se passava. Partiram, assim, a procura do pássaro pintor que pintou todo o
corpo do besouro para que os membros do jardim pensassem que o mesmo era uma joaninha.
E assim aconteceu, o besouro disfarçado não teve problemas para enganar as companheiras.
Nesse momento, nossa personagem principal, a que sofreu a exclusão por não ter bolinhas
pretas, provou o que queria: os seres preocupam-se com a aparência e se esquecem da
essência, pois aceitaram um besouro como joaninha, mas não puderam suportar, de maneira
intransigente, a ausência das pequenas bolinhas, como se esse fato fosse deixar aquele mundo
melhor ou pior.
De uma narrativa infantil e ingênua (aparentemente) podemos
despertar nos educandos a necessidade traçar discussões acerca das diferenças e
desigualdades:
A presença de alunos com necessidades educativas especiais no contexto cotidiano
da sala de aula obrigará o professor a adaptações e ajustamentos, por vezes
substanciais, como dissemos anteriormente. Antes de mais nada, o professor deverá
analisar se os cenários de organização do ambiente de aprendizagem proporcionam
lugar e condição para as necessidades desses alunos; em segundo lugar, terá de
decidir se as rotinas de organização e gestão da aula incluem ou excluem as
necessidades especiais; em terceiro lugar, deverá verificar se os guiões das
actividades e sua organização seqüencial respeitam os percursos e ritmos de
aprendizagem de todos os alunos. Rodrigues (2003: 25).
Percebemos, mesmo com toda luta governamental, da mídia, da
sociedade e da escola, a presença não de igualdades, mas diferenças que acabam por gerar
desigualdades. Entendemos que a diferença é o caminho para interiorizar a concepção de que
somos todos dignos do respeito dentro do espaço social no qual vivemos.
24
Diante de muitas provocações que o professor pode iniciar nesse
sentido, cria-se a abertura para um jogo com os alunos chamado de “Sentenças Incompletas”,
ou seja, pede-se aos alunos que completem, lançando mão de argumentos sustentáveis
baseados nos debates, pensamentos como: “O mundo seria muito melhor se as pessoas...”;
“Eu realmente perco a calma quando...”; “Acho muito engraçado...”; “Para mim, as diferenças
pessoais são encaradas como...” e outras sentenças que o professor julgar conveniente para
que os alunos possam desenvolver em relação à temática sugerida.
Há, também, direcionamentos que exploram muito bem o conteúdo
abordado na narrativa fazendo com que a criança/adolescente se aprofunde da temática
vigente:
Fazer a leitura do texto, deixando que cada aluno expresse sua interpretação.
Registrar no quadro; em seguida, dialogar com os alunos sobre o comportamento do
grupo das joaninhas com bolinhas e sem bolinhas. As pessoas inteligentes pensam,
refletem antes de tomar atitudes grosseiras e sabem que o valor das pessoas não
pode e não deve ser medido pelas aparências. A joaninha sem bolinhas tinha bons
amigos que a ajudaram a encontrar uma solução para seu problema. São eles que nos
auxiliam a buscar uma saída nas dificuldades, a superar obstáculos. Questões que
podem ser discutidas:

O que a joaninha sem bolinha sentiu quando foi excluída do grupo? O que
ela pensou em fazer? Qual foi a sua atitude? Poderia ter sido diferente. Ela
poderia ter agredido as outras. Agressão gera agressão. A Joaninha sem
bolinhas buscou uma solução inteligente.

As joaninhas com bolinhas também pensaram no que fizeram? O que era
importante para elas: a aparência ou o conteúdo? Elas valorizaram a
joaninha sem bolinhas?

Na sociedade acontecem coisas parecidas? O dinheiro e as roupas dizem o
que a pessoa realmente é? O que é mais importante nas pessoas: o que elas
têm ou o que elas são? Usar roupas de grife nos tornam melhores, ou é uma
falsa ilusão?

Quem foi mais inteligente nessa história: as joaninhas com bolinhas ou a
joaninha
sem
bolinhas?
(http://www.paulinas.org.br/loja/DetalheProduto.aspx?idProduto=419)
25
26
27
Viver em Conjunto nos Faz Respeitar Limites – Livro:
“Fábula da Convivência” (DANSA, Lecticia; DANSA, Salmo. A fábula da
convivência. São Paulo: FTD, 2002)
Texto inspirado na obra de Schopenhauer (1788-1860) cuja temática é
filosófica, apaixonante e profunda; Lecticia e Salmo Dansa conseguem abordar o texto de
maneira sensível e metafórica, propícia para o público jovem. O cerne da composição dessa
obra literária é a preservação da identidade. Da necessidade de todos os seres de viverem
próximos, em comunidade, porém com o cuidado de não sufocar o companheiro que está ao
lado. Às vezes, na ânsia de ajudarmos ou mesmo proteger aqueles aos quais queremos bem,
abafamos os sentimentos alheios, tolhemos os pensamentos e calamos as vozes que nos
cercam. A obra tem o cuidado de retratar que todos, temos os nossos limites e ninguém tem o
direito de invadir a privacidade mental do outro, mesmo que em nome da ajuda ou
solidariedade .
É uma obra composta em versos que rimam entre si; este fator
proporciona ao texto uma singeleza marcante. È como se cantássemos os versos conforme a
leitura avança.
Resumidamente podemos dizer que a narrativa é iniciada reportandose a um passado muito distante onde houve um frio intenso, uma era denominada de glacial .
A vida de muitos seres da fauna e flora foi arrasada em função das baixíssimas temperaturas.
No entanto, uma manada de porco-espinho apareceu e resolveu se unir para diminuir a
sensação térmica que estava dizimando a espécie. A ação, de início foi positiva, pois trocavam
o calor dos corpos e, assim, sentiam-se mais fortes. Todavia, a aproximação em excesso
28
trouxe também um grave problema, os espinhos que cobriam os corpos dos animais feriam e
arrancavam sangue reciprocamente e “quanto mais perto ficavam, maior a dor que sentiam.
Aqueles que mais amavam, aqueles que mais sofriam...”(Dansa, 2002:17). Nessa etapa
sentiam-se feridos e frustrados por não conseguirem o que desejavam, para tanto tiveram que
ir, mesmo com muito frio, se afastando. Tal atitude provocou uma grave conseqüência:
muitos não suportaram sobreviver diante daquelas condições e morreram congelados.
Sobraram, então, alguns dos porcos-espinhos que parecem ter aprendido uma lição de vida:
foram voltando aos pouco, devagar, respeitando uma certa distância um do outro. Unindo-se
para conseguir o calor do corpo alheio, contudo sabendo que os limites devem ser respeitados
para não ferir aquele que está ao seu lado: “Com muito amor e respeito o forte inverno
venceram. Encontrando o melhor jeito, ao frio sobreviveram” (Dansa, 2002:26).
A leitura do não-verbal é elemento imprescindível para uma melhor
interpretação do livro “a fábula da convivência”. Sabemos que já se tornou um jargão a frase
“viver em conjunto é uma arte” e a obra em questão vem, com poucas palavra simples,
demonstrar com mérito que o dito popular tem, sim, total fundamento.
Quando, no início, os autores começam a discorrer acerca da era
glacial, a paisagem apresenta-se com cores neutras como branco acinzentado, lilás, em vários
tons e preto, ou seja, uma harmonia entre o que está sendo dito e o que podemos observar em
termos de ilustração. Há a presença de uma “pipa” voando no céu, presa a um fio que está
seguro pelo único porco-espinho da página, representando-nos, quem sabe, o fim da liberdade
tomado pelas intempéries da natureza.
Presenciamos, a partir daí, um dos animais morto dentro de um cubo
gelo, ilustração que demonstra a frieza do momento. Interessante que o cubo se assemelha à
29
figura de um “dado” que é exposto ao lado. Creio que nos seja permitida a leitura de que
nossas relações interpessoais dependem da forma como a conduzimos e, assim, do dado ser
jogado: “alea jacta est”, portanto, a sorte está lançada, o jogo do destino já começou.
Há, seguidamente, a ilustração de seis animais olhando para mesma
direção, com expressão de dúvida, curiosidade e na página ao lado, descansa ao chão uma
“bola” vermelha que parece figurativizar a incerteza do trajeto a ser tomado pelos porcos
espinhos, afinal, quando damos um chute, nunca sabemos com exatidão o que iremos atingir
ou que rumo a bola vai tomar.
Temos, a partir daí, vários animais da espécie em proximidade um do
outro e, ao fundo da página, podemos observar peças de um “quebra-cabeça”, dando indícios
ao leitor de que a união do grupo funcionaria como um jogo de montar.
Nas páginas doze e treze (os desenho sempre vêm em folhas duplas),
há, como se fosse “uma trilha” composta por várias cores, numa extremidade temos o símbolo
do que representa o frio, a neve; já na outra, um coqueiro com uma rede pendurada,
representando o calor, a presença do sol, da vida.
Seguidamente vemos vários animais em conjunto e “cartas de
baralho”, o que nos reforça a idéia de que viver não é nada mais que um grande jogo, onde
existem os parceiros, a amizade, mas também a vontade de levar vantagem, o egoísmo e nem
todos podem ser os vencedores.
A ilustração seguinte retrata a dor da proximidade em função dos
espinhos; podemos observar, devido às expressões faciais dos animais, o sofrimento físico,
pois os olhos estão semi-abertos e os corpos curvados e encolhidos. O jogo representado aqui
30
é o “dominó”, cuja regra é aproximar as peças que contém o mesmo número. Reforça-se a
idéia de que a aproximação não pode ser feita aleatoriamente, existem medidas que devem ser
seguidas para que o jogo seja válido, como no livro em questão, que sugere muita cautela na
relação dos seres vivos.
A etapa seguinte apresenta-nos o jogo denominado de “resta um”. O
tabuleiro é composto por quarenta e cinco buraquinhos em forma de cruz, incluindo os dos
olhos de um porco-espinho que compõe o tabuleiro. Este é um jogo solitário, daí justifica-se a
presença de um único animal ilustrando a folha do livro; o objetivo é conseguir deixar apenas
uma peça sobre o tabuleiro que comporta inicialmente várias delas.
No momento da separação pela dor, a figura apresentada é de um
animal correndo, aparentemente apressado, passando por cima de uma “amarelinha”
desenhada no chão. Na verdade, podemos pressupor que ele já passou todas as casas do jogo e
está adentrando no espaço (que na brincadeira de cultura popular) se chama “CÈU”. Há como
considerar uma relação significativa entre a morte de muitos porcos-espinhos, o sofrimento
vivido e a partida para um mundo não terreno.
Nas próximas páginas temos em destaque o desenho de um “tabuleiro
de xadrez”, na vertical, sendo seguro por dois porcos-espinhos que dão a impressão de
estarem analisando atentamente as estratégias do jogo. Eles representam os sobreviventes da
espécie, por isso a situação exige muita inteligência, técnica e sutileza de movimentos.
Podemos observar na cena a demarcação exata dos limites, casas brancas e pretas, muito
próximas, porém com linhas tênues que as definem perfeitamente.
31
A penúltima etapa fica evidente o sucesso do aprendizado: “a vida
preservada pela união e respeito aos limites de cada um”; um “origami” de muitos
bonequinhos de mãos dadas sendo sustentado pelas forças de animais sorridentes e felizes.
O fim da obra vem marcado por cores quentes como amarelo e
alaranjado ao fundo. Em primeiro plano temos alguns animais “brincando de roda”, unidos
pelas mãos, pela cumplicidade, pelo círculo, amizade e pelo dom da vida.
Faz-se necessário lembrar que o professor deve ser o grande mentor
na análise dos textos e de suas imagens, pois sabemos que se não incentivarmos e mostrarmos
como se faz uma leitura mais atenta e madura, caímos no risco de banalizar obras importantes
e significativas para nossos alunos.
32
33
34
5) Deficiência, Doença e Desigualdade: Quem é quem no jogo perverso da
Exclusão Social? Livro: “Convivendo com as Diferenças” (JAFFÉ, Laura; SAINTMARC, Laure. Convivendo com as Diferenças.Trad. Luciano V. Machado. São Paulo: Ática, 2006)
A obra citada acima é subdividida em três histórias que são elas: 1Você quer ver minha foto? 2- A briga das bandeiras. 3- Nicolau, o queridinho! Trata-se de
uma composição literária bem diferente das demais apresentadas até então, pois além das
histórias, há a parte dos documentos que acompanham as narrativas. O s documentos seguem
a seguinte ordem: 1- Será que somos mesmo tão diferentes? 2- Por que temos tanto medo das
diferenças? 3- O que é solidariedade?
Ainda encontramos, acompanhando todas unidades, a parte do jogoteste: “Agora é com você”; espaço em que muitos casos relacionadas ao tema são
apresentadas ao leitor e ele deve escolher, dentre várias alternativas, a que lhe parece mais
conveniente para resolver a situação-problema.
Em seguida, são evidenciadas as conseqüências de cada escolha que
foi feita, mostrando os prós e contras.
Interessante que mesmo sendo criança, pode-se perceber que todas as
nossas ações causam uma reação e isso tende a levar o infante a pensar duas vezes antes de
falar ou fazer algo que discrimine ou que fira os sentimentos alheios, já que somos levados, a
todo instante, a ocupar o lugar do outro.
Não temos a intenção, neste espaço de esgotarmos as análises de todas
as histórias e documentos. Analisaremos, portanto, somente a primeira parte da obra, mas as
demais poderão ser trabalhadas num próximo momento.
35
Estamos dando ênfase, portanto, à narrativa de uma menina cujo nome
é Julieta, ela é uma garotinha de cabelos claros, lisos que gosta de mexer em computador,
assistir televisão e ler histórias. Segundo declaração da própria personagem, ela prefere essas
atividades a passeios. Percebemos, de início, que ela age assim com as outras pessoas, mas
quando se trata de passear com sua tia Isabela, a situação muda de figura, pois ela aprecia
muito a companhia da mulher. Talvez pela forma dinâmica e divertida que a tia trata a
situação da garota que apresenta necessidades educacionais especiais. Sua deficiência física é
visível por meio das ilustrações, ela é uma “cadeirante”, ou seja, pessoa que necessita de
cadeira de rodas para se locomover. Não fica claro se a nossa personagem apresenta ou não
um certo nível de dificuldades de aprendizagem também, mas o que nos interessa realmente é
que a menina gosta de ser tratada como outras crianças, sem piedade ou compaixão, apenas
com respeito e igualdade de direito. A tia Isabela costuma levá-la a parques, lojas, museus,
lugares com muitas pessoas diferentes, por isso as duas se divertem à beça.
A partir dessas declarações, inicia-se a descrição de um passeio ao
zoológico, que acontecera na semana anterior. Nesse momento, já se aborda a dificuldade da
tia de entrar com a cadeira de rodas no ambiente, devido às prováveis barreiras arquitetônicas
lá existentes, mas nem por isso o passeio virou drama, a tia foi logo dando um jeitinho,
pedindo uma licencinha daqui, uma ajudinha dali, e tudo se resolveu com animação e bom
humor. As pessoas que presenciavam a cena acabaram sorrindo pelas estripulias da tia e a
alegria de Julieta.
No entanto, como “a vida imita a arte”, neste lugar havia, também, um
casal meio zangado que foi logo dizendo rispidamente que elas estavam atrapalhando a ordem
da fila e deveriam respeitar os lugares. Aqui devemos ressaltar a idéia que idosos, gestantes e
36
pessoas com necessidades especiais têm prioridades em filas ou situação de espera. No
entanto, infelizmente, nem todos os cidadãos conseguem entender esses casos.
A garotinha, de certa forma ficou meio constrangida pela pequena
polêmica causada e, pra ajudar, logo apareceu uma senhora que ficou olhando pra ela como se
ela fosse um bichinho sofredor, passou-lhe as mãos no cabelo e proferiu palavras de pena e
compaixão.
É interessante discutirmos com os alunos do ensino comum (regular)
os pontos contraditórios do tratamento da sociedade para com as pessoas com necessidades
especiais: ou se desrespeitam os direitos, como no caso da fila, ou se exterioriza uma
exacerbada compaixão e pena que constrange e acaba por diminuir todo e qualquer indivíduo,
como vimos pela atitude da senhora. Precisamos, enquanto sociedade, encontrarmos um ponto
de equilíbrio para tratarmos essa parcela de indivíduos que compõem nossa sociedade – nem
com pena, nem desrespeito às leis, mas com igualdade, bom senso e justiça.
Diante da atitude da tal senhora, Julieta reagiu mostrando-lhe a língua;
talvez essa não fosse a melhor forma de ensinar o sentido da palavra “eqüidade”, mas na
ocasião era o único jeito da menina mostrar que podia defender-se, que não era boba não e
que não havia aprovado aquela forma patética de ser tratada.
Outra situação encontrada na narrativa envolve uma menininha que
estava com a mãe e não parava de olhar pra Julieta e esse fato passou a perturbá-la
sensivelmente, mas também, imagine você em um lugar, querendo se divertir e ver os animais
e alguém, ao invés de olhar para as jaulas, ficar olhando pra você, apontando e comentando
com outros a seu respeito... É realmente uma invasão em seus direitos de poder ser livre.
37
Nesse momento, a tia da menina, muito inteligente e perspicaz, sugere
que a garota que estava tão “interessada” na situação de Julieta (que nem consegui parar de
olhá-lha), se aproximasse para que ambas pudessem pousar: Julieta e a “observadora de
plantão”, para uma belíssima foto, juntas.
O fim da narrativa se dá com o desenho da fotografia tirada na
ocasião: duas meninas de maria-chiquinhas; uma em pé e a outra na cadeira de rodas, vestidas
com vestidos vermelhos, pousando para uma foto que, provavelmente ficará para posteridade.
Analisando o não-verbal, notamos que Julieta sorri alegremente com a
situação proporcionada pela tia; já a outra garotinha aparece meio constrangida e sem saber ao
certo o que fazer e o que dizer diante daquela circunstância. Então, estabelece-se que:
Cada um nasce com suas diferenças. Uns são baixos, outros altos, uns são mais
gordos, outros mais magros, uns têm pele negra, outros têm pele branca... Todas
essas diferenças são fáceis de ver. E as semelhanças? Também não temos muitas
coisas parecidas que geralmente esquecemos? Jaffé; Saint-Marc (2006: 15)
É instigante a forma como são tratadas as diferenças visíveis e
invisíveis: o nosso sangue, por exemplo, é vermelho, porém há quatro tipagens sangüíneas e
ninguém se incomoda se seu sangue é A, B, AB ou O. O questionamento básico é o seguinte:
Por que darmos tanta importância às diferenças, já que ninguém é superior ou inferior a outro
pelas suas características físicas? Afinal, todos somos únicos:
Quando encontramos alguém com a aparência ou os costumes diferentes dos nossos,
muitas vezes ficamos incomodados ou com medo. Algumas vezes a outra pessoa
sente a mesma coisa. É como se estivéssemos no escuro, sem saber para onde
estamos indo. Temos medo porque não conhecemos todas as coisas. Às vezes,
também, temos medos dos outros porque pensamos já saber como eles são e como
38
vivem. Por exemplo, alguns dizem: os árabes são assim, os negros são assado. Essas
idéias, repetidas sem conhecer de verdade os outros, são preconceituosas e julgam as
pessoas de um grupo com se fossem todas iguais. Jaffé; Saint-Marc (2006: 33).
39
40
41
42
43
Quem determina o que é melhor ou pior pra mim? Livro: “O gambá que
não sabia sorrir” (ALVES, Rubem. O gambá que não sabia sorrir. 9ª.ed. São Paulo: Edições Loyola,
2001)
O livro de Rubem Alves nos traz a história de um gambazinho que
ficava pendurado pelo rabo em um galho de árvore, logo, de cabeça para baixo. Essa
informação é primordial para contextualizarmos todo o desenrolar do texto. Já que ele via o
mundo de cabeça para baixo, nós tínhamos uma visão invertida, também, do corpo do animal.
Ele era muito feliz no seu “habitat” natural e tudo transcorria de forma perfeita em sua
vidinha de gambá.
Os demais bichos que conviviam com ele achavam estranha a forma
dele ficar pendurado pelo rabo, vendo o mundo invertido, no entanto, ele também julgava
diferente a forma como alguns bichos se posicionavam na terra... como nós, com os pés
apoiados no chão. Vivemos em uma democracia, temos o direito pleno de discordar, o que
não temos é o direito de querer impor a nossa forma de pensar como se fosse a maneira mais
correta, a verdade absoluta diante dos fatos.
O professor, quando estiver trabalhando esta parte da narrativa deve
aproveitar a chance para ressaltar a idéia de que, o grande equívoco da humanidade não é
estranhar a forma de o outro viver, mas sim de não aceitá-la e tentar fazer com que todos
vivam da mesma maneira. Uma sugestão é pedir que os alunos desenhem um gambazinho
pendurado pelo rabo, de cabeça para baixo e sorrindo. Em seguida, outro animal qualquer, na
vertical, também sorrindo para que a turma perceba a importância da ilustração para
compreensão da idéia central da narrativa.
Voltando ao enredo... todos se respeitavam e a harmonia reinava na
floresta. Interessante e paradoxal, também, é o nome dado ao gambá: “Cheiroso”. Aqui
44
defendemos a teoria de que nós, seres vivos, muitas vezes somos contraditórios e não
atendemos às expectativas que a sociedade nos impele: como um gambá, animal que
normalmente exala um odor repugnante, pode ter o nome de Cheiroso? Apesar de estarmos
analisando um texto ficcional; na vida, muitas vezes, essa mesma cena se repete: quando se
espera respeito/educação, encontramos o desrespeito, a intolerância; estamos em busca do
amor e da solidariedade, encontramos guerra, ódio, discriminação; exclusão. Queremos zelar
pela vida, mas cultivamos a morte, o desperdício, o abandono. E assim caminha a
humanidade...
Mas naquela região, onde se localizava a floresta, havia um grupo de
estudiosos e pesquisadores que tinha passado grande parte de suas vidas estudando teorias
acerca de “Como fazer os bichos felizes”. Sabemos todos que a teoria é importante, sem
dúvida, no entanto sem a prática ela torna-se, em muitos casos, infundada. E esse era um dos
casos... eles criam que conheciam o que faz ou deixa de fazer um animal feliz, porém, o saber
que detinham não passava de meras especulações.
Há nesse momento, uma crítica importante que o professor, para
trabalhar com seu aluno, deve atentar: qual a diferença entre a pesquisa aplicada e as teorias
que só abarrotam as estantes e gavetas das instituições de ensino? Podemos, realmente,
acreditar em tudo que se diz ser científico?
Dando prosseguimento ao enredo, deparamo-nos com o fato de os
pesquisadores terem partido para floresta em busca de animais considerados “infelizes” para
que pudessem aplicar a teoria e torná-los, inevitavelmente, “felizes”. Como se a vida fosse
uma fórmula matemática, sem levar em conta as variantes, o contexto e a vontade própria dos
seres envolvidos.
45
Perceberam, após algumas procuras dentre as árvores, a presença de
Cheiroso e concluíram que ele não era um animal feliz, afinal a teoria era clara: animais com
a curvatura da boca para baixo são infelizes. Só esqueceram de um detalhe, Cheiroso vivia
pendurado pelo rabo e na posição invertida, logo ele tinha curvatura da boca para cima e não
para baixo como parecia, mas os pesquisadores estavam preocupados demais com as
tabulações dos dados e com o futuro sucesso da pesquisa que nem se deram conta do fato.
A partir daí recorreram a um renomado livro intitulado “Receitas para
fazer um gambá sorrir” e lá, como o próprio nome sugere, encontravam-se muitas receitas
para se à plena felicidade. A receita número 1 era de “levar o gambá ao parque de diversões”;
a números 2 era de “levar o animal para assistir a um bom programa de TV”; a receita de
número 3 dizia que “o gambá deveria ser levado para assistir a um desfile cívico”. Todos os
passos foram religiosamente seguidos pelo grupo de pesquisadores, mas a fisionomia do
gambá continuava como antes: triste na visão dos estudiosos, e feliz na visão real da vida
selvagem, ou seja, do próprio gambá.
Todavia, quando resolveram aplicar a receita número 4 a situação do
nosso gambazinho-personagem realmente se modificou ( Leve o gambá para fazer compras de
Natal). Nesse instante a boca se alinhou em um risco retitlíneo, um misto de indignação e
incredulidade do animal ao ver a selvageria capitalista que se instala no espírito da
humanidade nestas ocasiões que são consideradas festivas.
O não-verbal nos é representado por um shopping center fervilhando
pessoas de todas as idades com as atitudes e expressões faciais denunciando violência, falta de
educação, desespero, raiva, mal-estar, desamor, tristeza, desânimo e uma infinidade de
sentimentos ruins. Há também, nos desenhos que vêm impressos em página dupla, uma faixa
46
com letras grandes onde se pode ler: FELIZ NATAL, embora ninguém esteja com cara de
feliz e a ocasião nem se pareça com o natal, pelo contrário.
È importantíssimo fazer a leitura com os alunos aos quais estamos
trabalhando sobre em que se transformou o natal para a sociedade atual. No desenho, o
ilustrador conseguiu, com muita criatividade, representar a situação caótica pela qual, grande
parte da população consumista e freqüentadora de ambientes assim vive e insiste em reviver a
cada término de ano.
Dessa forma, vemos a figura de um animal realmente triste, desiludido
e amedrontado com a desordem da ocasião, entretanto os pesquisadores comemoravam, até
ficaram famosos por divulgar resultados tão promissores aos olhos da sociedade, afinal, o
intuito se cumpriu: conseguiram transformar um bicho considerado infeliz em feliz,
supostamente, é claro.
Após a euforia do momento: todas as condecorações e prêmios
conseguidos, dinheiro ganho, livros lançados, cargos políticos ocupados, esqueceram-se
daquele que representara, um dia, um valioso objeto de pesquisa: o gambazinho chamado
Cheiroso.
Tal acontecimento inspira-se muito, também, na vida real, pois após o
fervor da mídia em relação a determinados fenômenos ocorridos, esquece-se de tudo com uma
facilidade absurda. O que antes era o auge, algum tempo depois, se torna banal e cai no
completo esquecimento e ou anonimato. Talvez seja por isso que nos julguem como sendo um
país sem memória.
47
A partir de então, o pobre gambazinho acabou indo para em um lixão,
passou a morar em meio à sujeira e a detritos fétidos, com sua permanente expressão de
tristeza, dor e infelicidade.
Nesta ocasião, surge no lixão um garoto, que por incrível que pareça
tem o bom senso de se posicionar de uma maneira que o faz conseguir enxergar o mundo da
mesma forma como Cheiroso, ou seja, de cabeça para baixo. O animal, ao perceber o fato,
alegra-se com sensibilidade do menino e volta a sorrir.
Estabelece-se, assim, um sentimento de amizade entre ambos,
moldado pela cumplicidade e respeito mútuo. O menino coloca Cheiroso e seu galho na
bicicleta e toma o rumo ao caminho da floresta. Chegando lá, instala novamente o amigo
gambá em sua morada de origem junto com os demais amigos animais. Todos se sentem
agradecidos e felizes neste momento.
A obra de acaba com o pequeno-pesquisador montado em sua
bicicleta partindo pelo caminho e nos dá a agradável sensação de que alguns ainda cultivam a
sensatez e prezam pelo respeito à forma de viver dos outros.
48
49
50
7) “Cada um na sua e não faz mal, Di-ver-si-da-de é que é legal!”
O último texto que compõe a coletânea de obras que discorrem acerca
da exclusão é intitulado “Diversidade”. Tatiana Belinky consegue, com grande astúcia,
abordar muitas das diferenças que são o foco da discriminação em nossa sociedade. O texto é
sonoro, em função das rimas perfeitas, é, também, agradável e colorido com ilustrações que
chamam a atenção do leitor. Mais um livro em que o professor deve incentivar e ensinar seus
alunos a ficarem atentos à leitura das imagens, pois as expressões faciais e corporais dos
personagens são fundamentais ao entendimento do assunto em questão. Constitui-se em um
livro simples, porém longe de ser simplório, pelo contrário, a profundidade na escolha das
palavras e desenhos atingem a sensibilidade do leitor para com a temática da impossibilidade
e incoerência em relação à homogeneidade de pessoas, comportamentos e classes.
Interessante que além de abordar as características físicas e desfazer
os padrões de beleza, hoje vigentes, a autora nos fala da personalidade, da forma de agir que
deve ser respeitada: “Um é tranqüilo Outro é nervoso Um é birrento Outro é dengoso”
(Belinky: 1999:8).
Fala-se, portanto de pessoas que são feias, bonitas, certinhas,
esquisitas, magras, gordas, castanhas, ruivas, ligeiras, lentas, brancas, sardentas, preguiçosas,
animadas, falantes, caladas, molengas, forçudas, gaiatas, sisudas, de olhos puxados, de olhos
redondos, nariz pontudo ou arrebitado, do sexo feminino ou do masculino, jovens, idosos e
muitas outras características comuns que encontramos nos seres humanos com os quais
convivemos no dia-a-dia. Após enumerá-las e apresentar as ilustrações ela nos presenteia com
os seguintes versos: “Tudo é humano, Bem diferente Assim, assado Todos são gente Cada um
na sua E não faz mal Di-ver-si-da-de É que é legal! Vamos, venhamos Isto é um fato: Tudo
51
igualzinho Ai, como é chato!” (Belinky: 1999: 32-34). As duas últimas páginas vêm tomadas
por rostos de pessoas iguaizinhas, como se fossem robôs, produzidos em série; reforçando
assim, a idéia de que a vida humana é agraciada pela diferença; por sermos bilhões de
habitantes em um planeta chamado Terra e termos a certeza de que ninguém é igual a
ninguém. Somos únicos: com qualidades, defeitos, sentimentos ímpares e estamos bem longe
da perfeição.
52
53
54
55
Considerações Finais
A Educação no Brasil já ultrapassa, como sabemos, mais de
quinhentos anos; o histórico da educação especial avança já por além das seis décadas, mas se
falarmos no despertar da inclusão, somos ainda bem jovens, não ultrapassamos muito mais
que os vinte anos. Partindo de tais princípios, temos o intuito de, cada vez mais, tornar o
assunto evidente nas escolas, onde o público é oriundo de todas as regiões do país, existe o
multiculturalismo e as diversas faixas etárias e sociais que perpassam desde a educação
infantil até o ensino superior.
Cremos que a literatura é um meio fecundo para expandir nossos
pensamentos, históricos, ideais, sentimentos, concepções, atitudes, afinal, por meio das
narrativas levamos temáticas de interesse social aos cidadãos do mundo.
Há a presença das diferenças e da maneira de agir com elas em livros
infanto-juvenis, mas também em clássicos da literatura brasileira e universal direcionados aos
adultos, em níveis mais profundos, ou com uma abordagem mais facilitada, básica.
Para tanto, interessamo-nos pelo processo de divulgar a inclusão
social pelas letras que estão contidas nas histórias e chegam aos educandos por meio das aulas
de literatura.
O compromisso com outro, alteridade, respeito são características que
fomentam a discussão acerca da inclusão na vida, na ciência e ficção:
Uma prática social de inclusão supõe o abandono definitivo de práticas e relações
sociais discriminatórias, inscrito num profundo processo de mudanças atitudinais de
56
uns em relação aos outros. E dentro desse processo é preciso quebrar tabus como,
por exemplo, o dos indivíduos que cuidam estar cima do social, ou tão acima de
todos e de tudo que se julgam não depender de nada e de ninguém. Só que na vida
dos seres humanos – e o funcionamento dos ecossistemas não tem provado que isso
se aplica, enfim, a todos os seres vivos? – todos precisamos de todos, todos
dependemos uns dos outros, pela simples razão de vivermos em sociedade. O
reconhecimento desta interdependência nos levaria ao reconhecimento do valor do
outro e, no enfrentamento dos problemas, a sabermos somar as forças para buscar as
soluções (Pires, 2006: 32).
As diferentes estratégias utilizadas pelos professores devem ser
discutidas e aprimoradas de acordo com a idade de cada público, pois em uma sala de crianças
pequenas, não há como proferir uma palestra acerca da discriminação, por exemplo. É
necessário trabalhar de acordo com o nível de desenvolvimento da turma. Aí é que entra a
figura do mestre para usar da criatividade e desenvoltura metodológica com intuito de tornarse didático, convincente em seus argumentos.
Há de se considerar, para uma próxima etapa, a escolha de mais sete
obras que tratem da diversidade por meio de obras literárias direcionadas a jovens e adultos
que ocupam os bancos escolares do ensino médio e ou superior. Mas essa, já é uma outra
história...
57
Referências
ALVES, RUBEM. O gambá que não sabia sorrir. 7ª. Ed. São Paulo: Edições Loyola,
2001.
BELINKY, Tatiana. Diversidade. São Paulo: Quinteto Editorial, 1999.
CARRANÇA, Flávio. É possível trabalhar a inclusão reconhecendo a diversidade racial.
In: Revista Criança. Brasília: no. 42, dez. 2006, p. 18-24.
DANSA, Lecticia; DANSA, Salmo. A fábula da Convivência. São Paulo: FTD, 2002.
DENARI, Fátima Elisabeth. Universo e destinação de adultos com deficiência mental:
respostas institucionais a seus direitos de cidadania. In: MARTINS, Lúcia de Araújo
Ramos et al. (organizadores). In: Inclusão – compartilhando saberes. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2006.
DENARI, Fátima Elisabeth. Inclusão escolar: algumas notas introdutórias. In:
MARTINS, Lúcia de Araújo Ramos et al. (organizadores). Inclusão – compartilhando
saberes. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.
FARIA, Maria Alice. Como usar a Literatura Infantil na Sala de Aula. São Paulo:
Contexto, 2004.
FERREIRA, Maria Elisa Caputo; GUIMARÃES, Marly. Educação Inclusiva. Rio de
Janeiro: DP&A, 2003.
FOX, Mem. Guilherme Augusto Araújo Fernandes. Trad. Gilda de Aquino. São Paulo:
Brinque-Book, 1995.
GOVERNO DO PARANÁ; SEED/ DEE; SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO.
Diretrizes Curriculares da Educação Especial para a Construção de Currículos Inclusivos:
documento preliminar. Curitiba, s/d.
JAFFÉ, Laura; SAINT-MARC, Laure. Convivendo com as Diferenças. 6a. impressão.
Trad. Luciano V. Machado. Unicef. São Paulo: Ática, 2006.
MACHADO, Ana Maria. Menina bonita do laço de fita. 7ª. Ed. São Paulo: Ática, 2000.
MARTINS, Lúcia de Araújo Ramos et al. Organizadores. Universo e destinação de
adultos com deficiência mental: respostas institucionais a seus direitos de cidadania. In:
Inclusão – compartilhando saberes. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.
PIRES. José. Por uma ética de inclusão. In: MARTINS, Lúcia de Araújo Ramos et al.
(organizadores). In: Inclusão – compartilhando saberes. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.
RODRIGUES, J. Armindo. Contextos de Aprendizagem e Integração/Inclusão de
Alunos com Necessidades Educativas Especiais. In: RIBEIRO, Maria Luisa Sprovieri et
al. (organizadoras). Educação Especial – do querer ao fazer. São Paulo: Avercamp, 2003.
58
MELO, Regina Célia. Uma joaninha diferente. 12ª. Ed. São Paulo: Paulinas, 1997.
VIRGOLIM, Ângela Magda Rodrigues et al. Toc, toc... plim, plim: Lidando com as
emoções, brincando com o pensamento através da criatividade. 6ª. Ed. Campinas: Papirus,
1999.
http://www.paulinas.org.br/loja/DetalheProduto.aspx?idProduto=419.
10/01/2008.
Acesso
em
Download

Inclusão e Literatura Infanto - Juvenil: uma parceria que “tem