DISCIPLINA: TOPICOS DE FÍSICA NUCLEAR UNIDADE 3: Decaimento radioativo. Descoberta da radioatividade artificial. Fissão nuclear e fusão nuclear. Geração de energia. OBJETIVOS: Ao final desta unidade você deverá: - distinguir entre diferentes modos de decaimento radiativo que acontecem no núcleo atômico; 1. PROCESSOS RADIOATIVOS O fenômeno da radioatividade foi um dos fenômenos que mais contribuiu para o desenvolvimento da física nuclear como também para a física atômica (ver BOXE 3.1). Sendo mais específicos, um núcleo pode estar num estado excitado. Se pensarmos no modelo de camadas, podemos ir preenchendo os níveis de próton e nêutron com os núcleons que possui este núcleo até o ultimo nível que possa ter um núcleon. Este nível chama-se de nível de Fermi. Se por alguma causa, este simples esquema é modificado, por exemplo, promovendo um núcleon para algum nível sobe o nível de Fermi, o núcleo encontra-se num estado excitado. Estes estados não são estáveis e podem ir para um estado de mais baixa energia do mesmo núcleo com a emissão de um raio-. A seqüência dessas transições leva ao estado fundamental desse núcleo. Ainda assim o próprio estado fundamental pode não ser estável para muitos nuclídeos, sendo estes capazes de se transformar em outros nuclídeos pela emissão espontânea de uma ou mais partículas, como foi dito anteriormente. Os processos radiativos que serão estudados compreendem a [Bertu]: a) Decaimentos + e -: Núcleos leves estáveis têm seu numero de prótons semelhante ao número de nêutrons . Para os núcleos mais pesados precisamos de um número maior de nêutrons para compensar a força colombiana entre os prótons. Em ambos os casos, quando um núcleo tem um valor de maior do que o necessário para o equilíbrio, ele pode se desintegrar pela emissão de um elétron e um antineutrino (decaimento -) na forma indo assim para uma situação de mais equilíbrio. Exemplos: 1 Aqui é a energia cinética máxima da partícula Se o valor de , o elétron. é menor do que o necessário, pode ocorrer o decaimento + sendo agora as partículas emitidas um pósitron e um neutrino. Exemplos: Aqui é a energia cinética máxima da partícula , o pósitron. FIGURA 3.1: Esquema artístico do decaimento - [wiki1] Para ambos os casos, o núcleo filho não é necessariamente estável e pode decair pela mesma via ou por outro meio de desintegração. b) Captura eletrônica: O processo consiste na captura de um elétron atômico pelo núcleo dando lugar a uma diminuição do número de prótons e a um aumento do número de nêutrons de 1 unidade. O efeito é o mesmo do decaimento + e nos núcleos pesados ambos os processos competem. c) Decaimento : Aqui uma partícula- (o núcleo de 4He) é emitida pelo núcleo. Esse processo é energeticamente possível para núcleos pesados. Por exemplo, no decaimento com a emissão de uma partícula- de 4,2 MeV. O processo de desintegração- é responsável pela inexistência de elementos estáveis com . d) Emissão de fragmentos leves: Núcleos mais pesados do que o 4 He também podem ser emitidos naqueles poucos casos onde o processo seja energeticamente 2 favorável. Por exemplo, emissões de 14 C, 24 Ne, 28 Mg e 32 Si por núcleos pesados já foram observadas experimentalmente[Pr89], mas são todas muito raras e de difícil medição. e) Fissão: Consiste na divisão do núcleo em partes aproximadamente iguais liberando energia. Esse processo pode se dar espontaneamente somente para núcleos muito pesados. É ele o responsável, juntamente com a emissão-, pelos tempos de vida extremamente curtos dos nuclídeos de . ____________________________________________________________ BOXE 3.1 Saiba Mais: Breve historia da radioatividade [Bertu] Revisemos um pouco da historia da radiatividade contada pelo Professor Carlos Bertulani [Ber]: “As pesquisas sobre a radioatividade foram iniciadas com a descoberta dos raios X, pelo físico alemão Wilhelm Conrad Röntgen em 1895, quando este visualizou os ossos de sua mão numa tela opaca, colocada entre um tubo e uma placa de vidro, sobre a qual espalhara um composto fosforescente. Após as conclusões de Henri Poincaré a respeito de tal fenômeno, o qual atribuiu à fluorescência do composto, Henri Becquerel, professor de física do museu de história natural da França, foi encarregado de verificar tal conclusão. Inicialmente, Becquerel reuniu diversos cristais conhecidos por serem fosforecentes quando expostos ao sol.Cada amostra dos cristais foi posta sobre uma placa fotográfica envolvida por uma folha espessa de papel preto, impedindo qualquer luminosidade externa.Em seguida, ele expôs o conjunto de materiais ao sol, para tornar os cristais fuorescentes, a fim de observar se a placa seria impressa por uma radiação invisível , análoga aos raios X. Os primeiros resultados foram negativos, mas logo Becquerel percebeu que o perfil da amostra de sal de urânio ficara nitidamente visível sobre a placa. No dia seguinte, preparou uma série de placas para estudar a absorção da radiação pelo sal de urânio, mas o mau tempo o obrigou a deixar o material no fundo de uma gaveta. Quando o sol voltou a iluminar Paris, exatamente no primeiro dia de Março de 1896, ele retirou as placas, desembrulhando uma delas para verificar se um resíduo de fosforecência não teria sido impresso a uma camada sensível. Sua surpresa foi grande ao ver que a imagem o cristal na placa era tão nítida quanto aquela exposta ao sol. Estava descoberta a radioatividade. Os dez anos posteriores à descoberta de Becquerel foram de avanços. Em 1897, o britânico Joseph John Thomson descobriu o elétron. No ano seguinte, Marie Curie isolou o rádio e inventou o termo radioatividade. Em 1903, o alemão Philipp Lenard descreveu o átomo com duas cargas, positivas e negativas, separadas pelo vazio.Outro britânico, Ernest Rutherford, descobre em 1906 os núcleos atômicos e as transmutações: na radioatividade, o átomo de um elemento perde corpúsculos para tornar-se átomo de um outro elemento.” ____________________________________________________________ 3 2. ESTATISTICA DA DESINTEGRAÇÃO RADIOATIVA Devemos entender antes que nada, que o processo e desintegração radioativa acontecem na vida real num conjunto grande de núcleos, e não num núcleo isolado. Desde esse ponto de vista, nesta unidade vamos nos interessar em: (i) o aspecto estatístico do problema, e (ii) determinar a evolução no tempo do número de átomos e da atividade de substâncias radioativas de uma forma independente do tipo de processo radioativo em questão, ou seja qualquer um dos processos cima mencionados [Bei69]. Vamos a definir a atividade de uma amostra de qualquer material radioativo como a razão por segundo a qual se desintegram os núcleos de seus átomos constituintes. Se for o numero de núcleos presentes na amostra num certo instante, a sua atividade é dada por O sinal negativo serve para que hábito se costuma escrever seja definido positivo, pois é negativa. Por em termos da unidade chamada de curie e de seus submúltiplos: 1 curie = 3,70 x 1010 desintegrações/seg., 1 mc=10-3 curie = 3,70 x 107 desintegrações/seg., 1 c =10-6 curie = 3,70 x 104 desintegrações/seg. Medições experimentais das atividades das amostras radioativas indicam que elas decrescem exponencialmente com o tempo. A Figura 3.1 apresenta a variação de como função de , para um radioisótopo típico. Aqui notamos que em cada período de 5 horas, a atividade cai para a metade da que era no inicio do período. Dessa maneira, dízimos que a meia-vida do isótopo é 5 horas (ver Boxe 3.2). Ao começar as observações que dão conta da Figura 3.1, a atividade da amostra era Depois de cinco horas, a atividade decresceu para diminuiu num fator de 2 para . Mais outras 5 horas . Assim, a atividade da amostra era de apenas 0,25 de seu valor inicial após um intervalo de 2 . Num lapso de outra meia-vida de 5 horas, que corresponde ao intervalo total de 3 ½ . , e muda para . Da Figura 3.1, notamos que o comportamento empírico da atividade pode ser escrito como 4 onde , chamada de constante de desintegração, adota um valor diferente para cada radioisótopo. Podemos estabelecer uma relação entre , a atividade uma meia-vida, ou seja, e a meia-vida Decorrida . cai por definição para Assim Tomando-se os logaritmos naturais de ambos os lados da ultima equação Para nosso exemplo, a constante de desintegração de um radioisótopo cuja meia- vida é 5 h vale É preciso se lembrar que o fenômeno de desintegração radioativa é de natureza estatística: cada núcleo numa amostra de material radioativo possui certa probabilidade de desintegração, mas não existe o meio de antecipar e saber qual núcleo ira-se desintegrar realmente, num dado espaço de tempo. Relativo ao exemplo citado, a proposição que certo radioisótopo tem uma meia-vida de 5 h significa que cada núcleo deste isótopo possui uma probabilidade de 50 por cento de se desintegrar em qualquer período de 5 h. Isto não significa uma probabilidade de 100 por cento de desintegração em 10 h, pois um núcleo não possui memória e sua probabilidade de desintegração é constante até o momento dele se desintegrar [Bei69]. Pela lei empírica para a atividade, vemos que decorre a partir da hipótese de uma probabilidade constante por unidade de tempo para a desintegração de cada núcleo de um dado isótopo. Assim sofra desintegração no tempo desintegrados, o número núcleos pela probabilidade é a probabilidade de que qualquer núcleo . Se uma amostra contém que se desintegra no instante núcleos não é o produto de de que cada núcleo se desintegre no intervalo Novamente o sinal negativo na (3.4) deve-se a que : decresce com o aumento do Podemos reescrever a equação (3.4), e integrar a mesma: 5 Como a atividade foi definida através de (3.1), podemos fazer a derivada na (3.5) Esta última coincide com a lei empírica da atividade se Ou em geral Finalmente, se ao invés da metade do valor inicial a 1=e do valor inicial, o tempo , nós usarmos o decaimento necessário para que isso aconteça é definido como a vida-média da substância (que não é a mesma coisa que a meia-vida). Assim a vida média de um isótopo é o inverso de sua probabilidade de desintegração por unidade de tempo: Estas estão relacionadas usando (3.3: ), ou seja, 6 3. SERIES RADIOATIVAS As maiorias dos elementos radioativos encontrados na natureza pertencem a quatro séries radioativas. Cada uma destas séries é uma sucessão dos produtos derivados que procedem de um único núcleo. O processo de desintegração alfa é a causa da existência destas 4 series, pois este processo reduz em um valor de 4 o número de massa do núcleo. Assim os nuclídeos cujos números de massa são todos dados por onde é um número inteiro, podem desintegrar-se um no outro diminuindo a ordem do número de massa. Os nuclídeos radioativos que satisfazem a equação (3.9) dizem-se membro da série Série 4n+1: Série 4n+2: Série 4n+3: 4n. As outras series radioativas são: . Os membros de cada uma dessas séries podem também desintegrar-se uns nos outros na ordem decrescente dos números de massa. A tabela 3.1 é uma lista de quatro séries radioativas importantes, seus nuclídeos progenitores e as meias-vidas destes progenitores e os descendentes estáveis que são os produtos finais das séries. Tabela 3.1: Quatro Séries Radioativas Números de Massa Série 4n 4n + 1 4n + 2 4n + 3 Tório Netúnio Urânio Actíneo Progenitor 232 90Th 237 93Ne 238 92U 235 92U Meia vida (anos) 1,39 x 1010 2,25 x 106 4,51 x 109 7,07 x 108 Produto Final Estável 208 82Pb 209 83Bi 206 82Pb 207 82Th ____________________________________________________________ BOXE 3.2 Saiba Mais: Séries radioativas 7 Cada radioisótopo possui uma meia-vida característica; alguns possuem uma meia-vida de milionésimos de segundos, enquanto que outros ela alcança bilhões de anos. Por exemplo, na seguinte tabela mostra as meia-vida para a série radioativa do 238 U com os respectivos modos de decaimento [Bertu]. ____________________________________________________________ 4. DESINTEGRAÇÃO ALFA Nessa seção discutiremos o processo de desintegração alfa. Usaremos como referência alguns parágrafos do trabalho de conclusão do curso do bacharel em Física Lucas Brito da UESC [Lucas]. “No fim do século XIX e inicio do século XX, um interessante fenômeno associado a certos elementos químicos, causava grande curiosidade em alguns físicos e químicos: a desintegração nuclear, que transformava um núcleo mais pesado em outro núcleo mais leve. Essa transformação de núcleos atômicos, que mais tarde levou o nome de radioatividade, foi estudada desde o início do século XX pela física e química polonesa Marie Curie (1867-1934) e por outros cientistas. Propriedade essa que revolucionou a maneira de ver os elementos químicos e a própria natureza. Em particular, o urânio, tório, rádio e muitos outros elementos foram estudados por apresentar, espontaneamente, a emissão de uma pequena partícula que foi identificada em 1909 pelos físicos e químicos ingleses sir Ernest Rutherford (1871-1937) e Thomas Royds (1884-1955) [1] como núcleo de hélio ou partícula alfa. 8 O urânio é um exemplo típico de elemento que se desintegra por emissão de partícula alfa. Seu núcleo é composto de 92 prótons (Z=92) e 146 nêutrons (N=146) sendo a soma dessas partículas igual ao seu número de massa (A=Z+N=238) – que também pode ser representado com a seguinte notação: . O núcleo de urânio 238 desintegra-se por emissão de um núcleo de hélio, dando como sub-produto, o núcleo do elemento químico tório ( ). Diz-se então que o urânio é radioativo (ou instável) com respeito à emissão alfa. Na verdade, a emissão alfa é um tipo especial de desintegração nuclear cuja responsável é a interação forte. Já o decaimento beta é originado pela interação eletro-fraca, e as emissões de raios gama, causada pela interação eletromagnética.” [Lucas] Existem quatro modos de desintegração associados à interação forte: a emissão de prótons, o decaimento alfa, a emissão de clusters (outros núcleos mais leves que o pai emissor) e a fissão fria. O decaimento alfa é importante para a determinação das massas nucleares de núcleos-filhos e para obter uma estimativa do raio dos núcleos-pais. Também podemos usar o decaimento alfa para analisar estudos de fissão nuclear em reatores e formação de núcleos superpesados (núcleos com número de massa com A300. 4.1 O Efeito túnel A partir dos trabalhos publicados no ano de 1928, pelo físico russo George Gamow (1904-1968), bem como pelo físico norte americano Edward Condon (19021974), juntamente com o físico inglês Ronald Gurney (1898-1953), usando a mecânica quântica foi possível ter uma descrição mais precisa do decaimento alfa. Nesses trabalhos eles mostraram que através de um mecanismo conhecido como tunelamento quântico, uma partícula pode atravessar uma barreira de potencial mesmo sem energia suficiente para fazer-lho. 9 FIGURA 3.3: Barreira colombiana no decaimento alfa [Lucas]. A Figura 3.3 apresenta uma forma aproximada do potencial nuclear e da barreira colombiana que a partícula alfa deve atravessar para escapar do núcleo. No boxe 3.3 obter a meia-vida do decaimento alfa. ____________________________________________________________ BOXE 3.3 Saiba Mais: Teoria do decaimento alfa [Lucas] Começaremos admitindo que já exista a partícula alfa dentro do núcleo pai, junto à superfície nuclear, de modo que exista apenas interação eletrostática entre ambos. Por simplicidade, vamos também supor que a transição do núcleo-pai no estado fundamental vai para o estado fundamental do núcleo-filho, levando em conta apenas núcleos par-par. Em termos de spin nuclear e paridade, (ou seja, ) que implica que a partícula alfa terá momento angular , sendo então apropriada uma aproximação de onda S ( ) para conservação do spin nuclear. Dentro da aproximação de onda S, a equação radial de Schröedinger para a partícula alfa é escrita como: onde sendo desintegração alfa, a função radial auxiliada pelo momento zero ( ), E a energia de é a massa reduzida do sistema partícula alfa-núcleo filho, e o potencial, que podemos considerar com a seguinte forma: 10 Aqui z e Z são as cargas da partícula alfa e do núcleo residual, respectivamente. R é a distância entre o núcleo residual e a partícula alfa quando a partícula- está junto à barreira Coulombiana. De esse modo R pode ser escrito como a soma onde o raio R é a soma do raio do núcleo residual ( ) e do raio da partícula alfa ( ). A taxa do decaimento alfa pode ser escrita como o produto de dois fatores: um correspondendo ao número de tentativas f que a partícula alfa faz por unidade de tempo para atravessar a barreira de potencial, e outro referente à probabilidade P de atravessar a referida barreira em cada tentativa, ou seja, Podemos estimar a freqüência admitindo que a partícula alfa realize movimentos periódicos de amplitude igual à distância R, com velocidade linear . Assim: Nestas aproximações usamos valores não relativísticos, por exemplo, para a energia típica (obtida dos experimentos) da partícula alfa , e o valor aproximado da freqüência fica em torno e o raio médio em de A , a profundidade do poço em . probabilidade de penetração da barreira colombiana, fazendo uma aproximação semiclássica, pode ser escrita como onde G é conhecido como fator de Gamow, que é dado por: onde a integral se faz entre os pontos extremos da barreira, entre e da figura 3.3. Aplicando o potencial definido na equação (3. 15) e usando algumas aproximações para resolver a integral, o fator de Gamow resulta 11 sendo , e onde No limite em que é a velocidade da partícula alfa no infinito. , que é o que acontece no caso do decaimento alfa, podemos ficar só com o primeiro termo da eq. (3.21), e para o fator de Gamow temos: Com as equações (3.8) e (3.17) poderemos, por fim, escrever a expressão da meiavida do decaimento alfa: ____________________________________________________________ 5. PROCESSOS SEMILEPTONICOS 5.1 Desintegrações betas A Figura 5.1 mostra a distribuição em Z e N dos nuclídeos estáveis e instáveis conhecidos. A grande maioria desses núcleos instáveis são produzidos artificialmente em laboratório e se estima que existam em alguns processos astrofísicos. Os núcleos estáveis definem uma faixa na Figura 5.1 denominada linha de estabilidade-. Os nuclídeos à direita (ou abaixo) da linha têm excesso de nêutrons e - são instáveis por decaimento- e os à esquerda (ou acima) da linha têm excesso de prótons e tendem a decair por +. Quanto mais longe estiver da linha de estabilidade- mais instável (tempo de decaimento menor) em média é o nuclídeos. 12 Número de neutrons N = A - Z estável radioativo (natural) radioativo (artificial) Número de prótons, Z FIGURA 5.1 - “Linha de estabilidade beta” ou diagrama no plano N-Z dos nuclídeos estáveis contra decaimento beta [CEPA]. Como exemplo dos decaimentos (carbono), (iodo)-132, , temos aos decaimentos do (potássio), (bário) entre outros. Resumindo, as partículas β, são elétrons de alta energia ou pósitrons, emitidos dos núcleos atômicos nestes decaimentos. Num processo elemental do decaimento β−, um nêutron é convertido num próton, com emissão de um elétron e de um antineutrino de elétron (a antipartícula do neutrino de elétron): No caso do decaimento β+, somente possível dentro do núcleo, um próton é convertido num nêutron, com a emissão de um pósitron, e de um neutrino de elétron: 13 Convidamos aos alunos a aprender do decaimento beta mais com as simulações desenvolvidas pelo equipe PhET da Universidade do Colorado no site http://phet.colorado.edu/pt_BR/simulation/beta-decay. O decaimento beta é amplamente utilizado na medicina em fontes de braquiterapia para o tratamento de câncer e diagnósticos médicos. 5.2 Captura de elétrons O processo de captura de elétrons mais comumente conhecido como captura eletrônica pertence à mesma família de processos semileptónicos do decaimento . Enquanto um nêutron fora do núcleo pode sofrer uma desintegração beta negativa em um próton porque sua massa é maior do que a do próton, o próton, mais leve, não pode ser transformado em um nêutron, exceto dentro do núcleo. Neste processo um elétron de um átomo, normalmente da camada K, se combina com um próton do núcleo formando um nêutron e um neutrino, ou seja, Aqui o núcleo filho obtido como produto da desintegração é criado geralmente num estado excitado. Assim que para atingir o estado fundamental ele pode emitir raios X, já que a energia de excitação é fraca para gerar radiação . Como vemos na equação fundamental do processo, o próton é essencialmente mudado a um nêutron. Assim o número de nêutrons aumenta de 1 e o número de prótons diminui de 1, permanecendo inalterado o número de massa. Como a captação do elétron diminui o 14 número de prótons ocorre à formação de um novo elemento químico com número atômico menor [wiki]. Exemplos: A captura de elétrons é competitiva com a emissão de pósitron, uma vez que ambos os processos levam a mesma informação nuclear. Mas a captura de elétrons acontece mais amiúde que a emissão de pósitrons em elementos pesados porque as órbitas dos elétrons em tais elementos possuem raios pequenos; a proximidade dos elétrons promove a sua interação com o núcleo [Beiser]. 5.2 Captura de neutrinos ou decaimento beta inverso Os processos de espalhamento constituem uma das ferramentas mais importantes para obter informação das partículas envolvidas nesse processo. Na física nuclear, o espalhamento de léptons que interagem mediante a interação eletromagnética tem um significativo aportado ao conhecimento da estrutura nuclear, por exemplo: a distribuição de carga e corrente de prótons e nêutrons, a distribuição de carga e de corrente em núcleos complexos, e também mostraram evidencias acerca da estrutura dos quarks nos núcleons. Ainda mais, com o descobrimento da interação fraca e a elaboração de una teoria unificada por Weinberg, Salam y Glashow, foi possível desenhar novas experiências de dispersão, comprovando a existência dos bósons massivos W± e Z0 de um grupo de férmions sem carga e sem massa (ou massa aproximadamente nula) chamados de neutrinos. Nestes últimos anos se mediram novos tipos de processos que conjugam as interações fraca com a nuclear forte. Eles estão baseados nas interações dos neutrinos e antineutrinos com núcleos complexos, e mais ainda além de ser utilizad0s para medir as correspondentes seções eficazes, foram principalmente desenhados para inferir possíveis propriedades exóticas dos mesmos neutrinos, tais como as oscilações entre distintos tipos que somente acontecem se tais neutrinos sejam massivos, propriedade que não esta contemplada dentro do modelo padrão de partículas elementares. Ou seja, o espalhamento neutrino-núcleo é uma ferramenta muito útil para ter um preciso conhecimento das seções de espalhamento nas reações induzidas por neutrinos. Os neutrinos têm um papel significativo em muitos 15 fenômenos da natureza e temos muitas questões ainda em aberto no que se referem suas propriedades, como a massa, por exemplo [Sam05]. 6. DESINTEGRAÇÃO GAMA Toda reação nuclear envolve certa quantidade de energia, ou seja, a massa é transformada em energia e vice-versa. Reações espontâneas são aquelas onde o valor de Q é positivo, onde denotamos por Q a energia é liberada. Esse excesso de energia liberada nas reações é gasto na forma de energia cinética do núcleo resultante, energia cinética da partícula emitida e ainda com a emissão de partículas de massa de repouso nula, como a radiação gama, ou de massas muito pequenas ainda não completamente determinadas, como as massas do neutrino ou do antineutrino [CENA]. A gama é uma radiação eletromagnética, assim como a luz, as ondas de rádio, os raios-X, etc. A radiação gama é uma conseqüência de uma reação nuclear. Quando um núcleo emite uma partícula (núcleo de He) ou (elétron ou pósitron) sofrendo uma transmutação, o núcleo recém-formado pode não estar em seu nível normal de energia chamado do estado fundamental. Nesse caso, quando o núcleo encontra-se num estado denominado de estado excitado, a sua tendência á passar a um nível energético mínimo, e por isso, ele emite o excesso de energia na forma de radiação . Nem sempre ocorre emissão de radiação após uma desintegração. Neste caso, temos os chamados emissores puros. O - uma partícula , se transforma em 32 P é um emissor beta puro, pois ao emitir 32 S, sem emitir radiação gama [CENA]. Esquematicamente, esta desintegração pode ser representada por: 32P nível de energia E = 1,71 MeV 32S nível de energia E = 0 Já o 22Na, ao se transformar em 22Ne, por emissão de pósitron, emite radiação gama característica de 1,3 MeV de energia; 22 11 Na E = 1,84 MeV 22 10 Ne E = 1,30 MeV E=0 16 Às vezes, há vários estados intermediários de excitação e por isso várias radiações gama são emitidas. Um exemplo típico é o do 24 11 24 Na: Na E = 5,53 MeV E = 4,14 (2,76 MeV) E = 1,38 MeV (1,38 MeV) 24 12 Mg E=0 A Figura 2.5 mostra os decaimentos em um gráfico nêutron-próton. Z -2 +1 -1 1 N CN -1 , CE -2 7. REAÇÕES NUCLEARES Uma das formas mais comuns para se estudar um núcleo é através de uma colisão desse núcleo com um projétil escolhido e, em seguida, analisar as propriedades dos elementos formados após a interação. O estudo de reações nucleares tem sido uma fonte considerável de informações sobre os núcleos, que começou pelo famoso espalhamento de Rutherford. Numa colisão nuclear, temos normalmente no estágio inicial um núcleo-projétil com certas características (energia, momento angular, etc.), incidindo sobre o núcleo-alvo. A colisão é chamada de espalhamento elástico se os núcleos antes da colisão forem iguais aos núcleos depois da colisão, preservando suas características e diferindo apenas nas direções de seus movimentos. Usualmente o projétil é um 17 núcleo leve, tal como próton, dêuteron ou partícula alfa, podendo ser também um nêutron. Se, devido à colisão, o núcleo-alvo tiver as suas características modificadas (energia diferente, por exemplo), então, estamos diante de um espalhamento inelástico. Um exemplo desse tipo de espalhamento é quando o núcleo-alvo ganha energia, à custa do projétil que perde energia cinética, e é deixado num dos seus estados excitados. Em geral, se a colisão produzir dois ou mais componentes finais, em que pelo menos um deles é diferente dos componentes originais, então temos uma reação nuclear. A análise de colisões é bastante simplificada quando se utiliza um sistema de coordenadas que se move com o centro de massa dos corpos que colidem, ao invés do usual sistema que está fixo no laboratório. Vamos analisar a colisão de uma partícula de massa m1 que se move na direção positiva do eixo (onde , com velocidade é muito menor que a velocidade da luz) contra outra partícula, em repouso, com massa . Figura 1- Movimento do sistema de coordenadas do centro de massa antes da colisão. Quando a partícula 1 está na posição , a posição e a partícula 2 está na posição do centro de massa das duas partículas é dada por (3.27) Diferenciando-a em relação ao tempo (3.28) Pois as massas não variam devido às baixas velocidades. Neste caso 18 , e é a velocidade do centro de massa. Portanto, a equação (2) torna-se , assim O centro de massa se move na mesma direção , mas a sua velocidade é menor. Um observador localizado no centro de massa (Fig.1) vê a partícula 1 aproximar-se da esquerda com uma velocidade relativa a ele, enquanto que a partícula 2 se aproxima da direita com velocidade . No sistema de coordenadas do centro de massa, a quantidade de movimento total das duas partículas vale (3.29) Se a quantidade de movimento total for zero antes da colisão, deverá também ser zero depois dela. Independente da natureza da interação durante a colisão, elas devem separar-se (no sistema do centro de massa) com quantidades de movimento iguais e opostas, mesmo que a colisão seja oblíqua. No sistema do centro de massa a energia cinética é dada por (VERIFIQUEM USANDO A EQUAÇÃO 3.29), enquanto que a energia cinética no sistema do laboratório vale . Portanto: . A energia cinética total das partículas, relativa ao centro de massa, é a sua energia cinética total no sistema de laboratório menos a energia cinética de massa móvel. Convém encarar do centro como a energia cinética do movimento relativo das partículas. Analisar uma colisão em coordenadas de centro de massa facilita a determinação da máxima quantidade de energia cinética que pode ser dissipada enquanto ainda se 19 conserva a quantidade de movimento. O máximo decréscimo da energia cinética numa colisão é TCM, energia cinética total inicial no sistema do centro de massa, que se relaciona à energia cinética inicial total TLAB no sistema de laboratório por: . (3.30) 8. SEÇÃO DE CHOQUE Uma maneira adequada de exprimir a probabilidade de uma partícula bombardeadora interagir de algum modo com uma partícula alvo vale-se da idéia de seção de choque. O que se faz é imaginar cada partícula alvo com certa área que permite interação com as partículas incidentes, essa área é a seção de choque. Qualquer partícula incidente que segue para essa área interage com a partícula alvo. Logo, quanto maior a seção de choque, maior a interação. A seção de choque de interação varia com a natureza do processo envolvido e com a energia da partícula incidente. Vamos supor que temos uma placa de certo material de área e espessura volume, haverá um total . Se o material contiver n átomos por unidade de núcleos na placa, já que seu volume é núcleo possui uma seção de choque vale . Se houver . Cada , assim, a seção de choque de todos os núcleos partículas incidentes, o número que interage com os núcleos da placa será especificado por: . (5) Seção de choque Para determinar a fração de partículas incidentes que interagem com núcleos numa placa de espessura finita, devemos integrar Admitindo que cada partícula que incide é capaz de apenas uma interação, podemos conceber que removidas do feixe ao atravessar o primeiro partículas foram da placa. Portanto, devemos introduzir um sinal negativo na equação (5), que se torna . Indicando o número inicial de partículas incidentes por , temos 20 O número de partículas sobreviventes decresce exponencialmente com o aumento da espessura da placa x. A noção de seção de choque é amiúde aplicada a situações onde a interação entre as partículas incidentes e as do alvo é tal que a primeira é absorvida. Em tais situações a quantidade é denominada coeficiente de absorção do material alvo. Quanto maior o coeficiente de absorção, mais eficaz é o material em parar as partículas incidentes. O livre caminho médio de uma partícula em um material é a distância média que ele pode percorrer no material antes de interagir com um núcleo alvo. A probabilidade de que uma partícula incidente sofra uma interação em uma placa de espessura do material é . O número de vezes que a mesma deve atravessar a placa antes de interagir vale, em média . A distância média que a partícula viaja antes de interagir é, pois igual a , que por definição é o livre caminho médio. 9. MODELO DE NUCLEO COMPOSTO Muitas reações nucleares envolvem dois estágios. No primeiro, uma partícula incidente choca-se contra um núcleo alvo e os dois se combinam para formar um novo núcleo, chamado núcleo composto. O mesmo núcleo composto pode ser formado através de várias reações diferentes. As seis reações abaixo mostram a formação do mesmo núcleo composto em estado excitado. Os núcleos compostos são excitados por quantidades no mínimo iguais às energias de ligação das partículas que incidem sobre ele. 21 Núcleos compostos possuem vidas da ordem de 10 -16 seg. que, embora tão pequenas a ponto de impedir que possamos observá-las, são relativamente grandes quando comparamos com os 10-21 seg. necessários para que uma partícula nuclear com vários MeV atravesse um núcleo. Um dado núcleo composto pode desintegrar-se de várias maneiras diferentes, dependendo de sua energia de excitação. O núcleo composto de pode desintegrar-se seguindo as reações abaixo: Ou simplesmente emitir um ou mais raios gamas cujas energias totalizem 12 MeV. 10. FISSÃO NUCLEAR Outro tipo de reação nuclear é a fissão. A mesma ocorre quando as forças de repulsão eletrostáticas superam as forças de coesão e a inércia nuclear, nesse caso o núcleo se divide em duas partes. Os dois núcleos resultantes da fissão são chamados de fragmentos da fissão. Em geral os fragmentos da fissão têm tamanhos desiguais, e como o núcleo antes da fissão é pesado e possui um excesso de nêutrons, quando ele fissiona, os fragmentos liberam nêutrons, assim eles ficam mais estáveis que o núcleo que fissionou. Alguns núcleos sofrem fissão espontânea, porém, é mais comum que um núcleo pesado fissione quando bombardeado por prótons, raios gama, ou absorção de nêutrons. O mais interessante na fissão é a escala da energia envolvida. Os nuclídeos pesados que podem fissionar, tem massa da ordem de 240 e energia de ligação de ~7,6MeV/núcleon, enquanto os fragmentos da fissão têm massa da ordem de 120 e energia de ~8,5MeV/núcleon. Sendo assim, a energia liberada é de ~0,9MeV/núcleon, o que resulta mais de 200MeV para os ~240 núcleons envolvidos. A maior parte da energia liberada na fissão se transforma em energia cinética dos fragmentos. 22 10.1 Reação em cadeia Pelo fato de um nêutron poder induzir fissão em núcleos adequados com conseqüente emissão de nêutrons adicionais, era possível, em princípio, uma seqüência de fissões auto-sustentada. A condição para que ocorra uma reação em cadeia em um conjunto de material fissionável é que no mínimo um nêutron produzido durante cada fissão deve iniciar outra fissão. Se um número muito escasso de nêutrons provocarem fissões, a reação diminuirá lentamente e parará. Se precisamente um nêutron por fissão provocar outra fissão, a energia liberada será em uma proporção constante; e se a freqüência das fissões aumentar, a energia liberada será tão rápida que causará uma explosão. Tais situações são denominadas respectivamente: subcrítica, crítica e supercrítica. Um reator nuclear é um aparelho destinado a produzir energia a partir da fissão nuclear controlada. A primeira vez que um reator foi utilizado, foi em 1942 construído por Fermi nos Estados Unidos e utilizou como combustível nuclear o urânio natural. A operação real de um reator começa quando uma quantidade suficientemente grande de material fissionável é colocada em presença de um moderador (substância cujos núcleos absorvem energia dos nêutrons rápidos incidentes que colidem com ele, sem ocorrência de captura; Servem para frear nêutrons da fissão). Um nêutron perdido - procedente talvez da radiação cósmica ou de uma fissão espontânea choca-se contra um núcleo de urânio e provoca a sua divisão, liberando dois ou três nêutrons adicionais. Estes nêutrons têm suas energias de vários MeVs reduzidas para energia menores que 1 eV por colisões com núcleos moderadores, e a seguir induzem fissões. São necessários meios de controle de velocidade da reação em cadeia. Isto se faz mediante barras de um material, como o cádmio ou boro, que absorvem nêutrons lentos; ao introduzir essas barras no reator, a velocidade da reação é progressivamente amortecida. A energia gerada por um reator se manifesta como calor, e pode-se retirá-la fazendo circular um líquido ou um gás refrigerante através do reator. ___________________________________________________________________ BOXE 3.4 Saiba mais: Reatores Nucleares [Portal] Reator nuclear é qualquer sistema físico onde se produz e se controla uma reação nuclear de fissão em cadeia. Os reatores que utilizam diretamente os nêutrons liberados em cada fissão para produzir novas fissões são chamados reatores rápidos porque os nêutrons em questão têm uma energia cinética alta, de cerca de 1 MeV. Os reatores onde os nêutrons liberados em cada fissão têm sua energia cinética diminuída para um valor menor que cerca 23 de 0,1 MeV antes de produzir novas fissões são chamados reatores térmicos. Os nêutrons têm sua energia cinética diminuída por colisões com os núcleos dos átomos de uma substância chamada moderador até o ponto de entrar em equilíbrio térmico com ela. A água pesada e o carbono (na forma de grafite) são as substâncias usualmente utilizadas como moderadores. Água pesada é a água onde o átomo de hidrogênio usual é substituído por um átomo de deutério. Seja, por exemplo, um reator térmico de água em ebulição. O combustível é o material fissionável, que pode ser urânio natural, com cerca de 0,7% de urânio 235, ou urânio enriquecido, com uma proporção maior de 0,7% de urânio 235, ou, ainda, plutônio. O combustível vai dentro de tubos metálicos, constituindo os elementos combustíveis. O conjunto dos elementos combustíveis forma o núcleo do reator. O moderador aparece ao redor dos elementos combustíveis e deve ser uma substância de número de massa pequeno, que pouco ou nada absorva dos nêutrons liberados nas fissões. Se o combustível for urânio enriquecido, pode ser água, e se for urânio natural, água pesada ou grafite. O controle da reação em cadeia é feito através de um conjunto de hastes que podem ser introduzidas e removidas do núcleo do reator e são constituídas de boro, háfnio ou cádmio, substâncias que absorvem nêutrons. Com a energia liberada pelas fissões, a temperatura do núcleo do reator e do moderador tende a aumentar continuamente. Nos reatores de água em ebulição, faz-se circular água por um circuito fechado que inclui o núcleo do reator, as turbinas e um condensador. Em contato com o núcleo do reator, a água líquida, absorvendo a energia liberada nas fissões, se transforma em vapor. O vapor é conduzido às turbinas onde se expande contra as pás, provocando movimento de rotação. Saindo das turbinas, o vapor entra no condensador, onde se transforma em água líquida. Do condensador, a água líquida é bombeada ao núcleo do reator e o ciclo recomeça. No condensador, um líquido refrigerante é bombeado para uma serpentina imersa no vapor. Entrando com uma temperatura baixa, o refrigerante absorve parte da energia do vapor, que se transforma, assim, em água líquida. O refrigerante sai da serpentina com uma temperatura maior do que aquela com que entrou. As turbinas fazem girar os rotores dos geradores e estes produzem, então, energia elétrica que é distribuída pelas linhas de transmissão. ___________________________________________________________________ 24 11. ENERGIA TERMONUCLEAR A reação exotérmica básica nas estrelas (e, portanto a fonte de quase toda a energia do universo) é a fusão dos núcleos de hidrogênio em núcleos de hélio. Isto pode se verificar nas condições estelares em duas séries diferentes de processos. No ciclo próton-próton, colisões diretas de prótons resultam na formação de núcleos pesados, cujos choques por sua vez resultam em núcleos de hélio. O outro, o ciclo do carbono, é uma série de etapas nas quais o núcleo de carbono absorve uma sucessão de prótons até que por fim expele partículas alfa para converter-se mais uma vez em núcleo de carbono. As reações de fusão auto-sustentadas só podem ocorrer sob condições extremas de temperatura e pressão para que os núcleos participantes tenham energia suficiente para reagir apesar da repulsão eletromagnética e das perdas de energia com as vizinhanças. Os interiores das estrelas satisfazem essas condições. No sol, a temperatura interna é da ordem de 10 6K, as probabilidades de ocorrência do ciclo de carbono e próton-próton são iguais. Estrelas mais quente que o sol obtém a maior parte de sua energia do primeiro ciclo, enquanto as outras utilizam mais o segundo ciclo. A energia liberada na fusão de núcleos leves é denominada energia termonuclear. Na terra nenhum dos dois ciclos citados oferecem qualquer esperança de aplicação prática, pois suas etapas requerem muito tempo. As reações de fusão que parecem mais promissoras como fontes de energia terrestre são a combinação direta de dois dêuterons numa das seguintes formas: E a combinação direta de um dêuteron e de um trítio para formar uma partícula alfa, A utilização dessas reações exige uma fonte barata e abundante de deutério. Uma fonte deste tipo seria os mares e oceanos que possuem um total de talvez 10 15 toneladas. Em resumo, necessita-se de um meio mais eficiente de promover reações de fusão em vez de meros bombardeios sobre um alvo com partículas rápidas provenientes de um acelerador, já que a operação de um acelerador consome mais energia do que pode resultar das relativamente poucas reações que podem ocorrer no alvo. 25 Ainda que os reatores de fusão apresentem mais dificuldades práticas que os reatores de fissão, é bem provável que um dia eles se tornem realidade. ___________________________________________________________________ BOXE 3.5 Saiba mais: Exemplo de decaimento radiativo [CENA] Vejamos um exemplo: o 32 P é radioativo e tem uma meia vida de 14,3 dias, desintegrando-se - por emissão . Tem-se hoje uma amostra de KH2PO4 de 10 mg, sendo que apenas 0,001% dos átomos de P são 32 P; o restante é 31 P, estável. 1. Esquema de desintegração: 32 15 P S Q 32 16 Todo átomo de 32P, ao emitir uma partícula - se transforma em 32S, que é estável. Quimicamente então o radical fosfato (PO4) passa para sulfato (SO4). 2. Constante de desintegração: T 0,693 0,693 0,0485 dia -1 14,3 3. Atividade de amostra: Peso molecular do KH2PO4 = 136 g número de moléculas nas 10 mg = 102 6,02 . 1023 4,42 10!9 moléculas 136 número de átomos de P = 4,42 x 1019 átomos número de átomos de 32 P = 4,42 x 1014 átomos atividade = 4,42 . 1014 átomos x 0,0485 dia-1 = = 2,14 x 1013 desintegrações/dia = = 2,48 x 108 desintegrações/s = 6,7 mCi 4. Número de átomos de 32 P depois de 60 dias: N Noe0,693 t / T N 4,42 1014 e 0 , 693 14 , 3 .60 2,41 . 1013 átomos 5. Atividade depois de 60 dias: A Aoe0,693 t / T ou A N 26 A 6,7 .e 0 , 693 14 ,5 .60 0,36 mCi 6. Curva de decaimento A (mCi) 6,70 3,35 1,68 0,84 0 14,3 28,6 meia - vida No instante 0 temos 4,42 x 1014 átomos de transformou em 32 42,9 32 57,2 71,5 dias P. Passada 1 meia vida, a metade se S (estável) e a outra metade continuou a se desintegrar. Passada mais meia vida, a metade da segunda metade se transformou em enxofre e assim por diante. Vê-se, portanto, que teoricamente, o número de átomos de 32 P só chega a zero para t = . Na prática, porém, passadas várias meias vidas, a atividade pode chegar a níveis desprezíveis. A curva de decaimento feita em papel semi-logarítmico, se transforma em reta: ln A ln Ao tang ln (Ao/2) ln (Ao/4) ln (Ao/8) 0 T 2T 3T t (dias) ln A 1,902 1,209 0,519 A -0,174 0 14,3 tan B C 28,6 42,9 t (dias) AB 0,519 0,174 0,0485 dia 1 CR 42,9 28,6 27 Esta é uma forma de se medir e, consequentemente T. Cada radioisótopo caracteriza-se por sua meia vida. Alguns tem meia vida tão longa, como o 238 U que continuam presentes na crosta terrestre desde a formação de nosso planeta e outros têm a meia vida tão curta que em frações de segundo se desintegram. Alguns exemplos são dados abaixo: 3 H (tritio) natural; 12,3 anos; - 12 N artificial; 0,011 segundos; + 14 C natural; 5730 anos; - 15 O artificial; 124 segundos; + 32 P artificial; 14,3 dias; - 40 K natural; 1,28 . 109 anos; - 60 Co artificial; 5,3 anos; - 226 Ra natural; 1600 anos; 238 U natural; 4,5 . 109 anos; 246 Pu artificial; 10,9 dias; - ___________________________________________________________________ ATIVIDADES 1. A carta de nuclídeos e a tabela (classificação) periódica dos elementos não significam a mesma coisa. Comente. 2. O trítio, 3H, possui uma meia vida física de 12,5 anos, desintegrando-se por emissão beta negativo. Responda: a) Qual a constante de desintegração do trítio? b) Qual o átomo resultante desta reação de desintegração? c) Qual a fração de uma amostra de trítio que permanece não desintegrada após 25 anos? 3. Num dado instante, uma amostra apresenta uma atividade de 3,2 . 10 5 dps devido à existência de dois radioisótopos (X e Y) com a mesma atividade nesse instante. A meia vida física de X é de 20 min. e a de Y é de 30 minutos. Responda: a) a atividade da amostra após uma hora é .................... dps. b) a atividade de X após 40 min. é .................... dps. c) a relação dps X / dps Y (aumenta, permanece constante, diminui) com o tempo. d) há uma hora, o radioisótopo .................... era mais ativo. 4. O 11 C se desintegra produzindo 11 B. Que tipo de partícula é emitida? 28 5. A seguinte figura representa um trecho da carta de nuclídeos, onde o elemento hipotético X se situa no local marcado. Indique quais nuclídeos seriam formados quando X sofresse: a) desintegração b) desintegração - d) captura de nêutrons e) CE c) desintegração + Número de neutrons N = isótopo estável Número de protons Z 6. A meia vida física do contendo 65 Zn é de 245 dias. Qual a atividade atual de uma amostra 65 Zn que, há um ano, era de 20 mCi? 29 7. Completar as reações abaixo usando a carta de nuclídeos: 226 Ra CE Cr11 51 239 Np Co Zn 60 Ne11 24 CE Co 58 65 Na 22 C 11 8. O gráfico acima mostra como a quantidade de átomos radioativos presentes em duas substâncias (1 e 2) muda com o decorrer do tempo [N = f(t)]. Esta relação também é conhecida como "Lei do decaimento radioativo". A partir deste gráfico pode-se chegar às seguintes conclusões: o tempo de meia vida (T1) dos átomos na substância 1 é maior que o tempo de meia vida (T2) dos átomos na substância 2; num determinado tempo, encontraremos na substância 2 um nº maior de átomos que o nº de átomos na substância 1; o coeficiente de desintegração radioativa dos átomos na substância 2 é menor que o coeficiente de desintegração da substância 1; 30 a atividade (A2) da substância 2 é maior que a atividade (A1) da substância 1. Referências bibliográficas [Bertu] Carlos A. Bertulani, Física Atômica e Nuclear – Capítulo 8. Modelos Nucleares, http://www.tamu-commerce.edu/physics/cab/Lectures/FisicaNuclear.pdf; ibid Carlos A. Bertulani, http://www.if.ufrj.br/teaching/radioatividade/intro.html [wiki1] http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/aa/Beta-minus_Decay.svg [CENA] Virgilio, http://apostilas.cena.usp.br/Virgilio/graduação/CAP2.DOC [Portal] http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/fisica-nuclear/fisica-nuclear- 4.php; http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/fisica-nuclear/fisica-nuclear-5.php. [Lucas] Lucas Brito de Santana, Cálculo de meias-vidas via decaimento hadrônico usando o potencial nuclear de Woods-Saxon. Trabalho de conclusão de curso, Janeiro de 2012, DCET-UESC, Ilhéus- BA, Brasil. [Bei69] Arthur Beiser, Conceitos de Física Moderna, Ed. Polígono S.A., São Paulo, 1969. 31