2005 International Nuclear Atlantic Conference - INAC 2005 Santos, SP, Brazil, August 28 to September 2, 2005 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENERGIA NUCLEAR - ABEN ISBN: 85-99141-01-5 DETERMINAÇÃO DO COEFICIENTE DE ATENUAÇÃO DE MASSA DE AMOSTRAS DA SUPERFÍCIE DE MARTE, DA LUA E DA TERRA, NO INTERVALO DE 1 keV A 100 GeV Anderson Camargo Moreira1 e Carlos Roberto Appoloni2 Universidade Estadual de Londrina / Departamento de Física / Centro de Ciências Exatas Caixa postal 6001, CEP 86051-970 / Londrina – PR 1 2 [email protected] [email protected] Com o uso do software WinXCOM foram calculados os coeficientes de atenuação de massa (µ) de amostras das superfícies da Lua, da Terra e de Marte, com base em suas composições químicas na faixa de 1 keV a 100 GeV. As composições químicas, obtidas da literatura, foram determinadas in situ pela técnica de espalhamento de partículas alfa e prótons, e pelo sistema APXS que usa também a fluorescência de raios-X. Os valores obtidos para os µ’s mostraram-se praticamente os mesmos para energias acima de 100 keV, com marcantes diferenças observadas para a faixa de energia abaixo de 25 keV, que é a região de interesse para XRF, sistema de análise correntemente usado em sondas espaciais. 1.INTRODUÇÃO Com o aumento do envio de missões espaciais para planetas, luas e asteróides para pesquisa, cresceu também o estudo de técnicas de determinação da composição química de amostras para medidas in situ. As primeiras missões espaciais enviadas à Lua em 1967 e 1968 (Surveyor V e VI) continham um equipamento com uma técnica de espalhamento de partículas alfa, que determinou a composição química de amostras da superfície lunar [11] e [3]. Tal técnica teve sua eficiência comprovada em estudos de rochas terrestres de composições químicas conhecidas [2]. Em 1997 foi enviada uma missão a Marte (Mars Pathfinder) que continha a técnica mais sofisticada, o Alpha Proton X-ray Spectrometer (APXS) [1]. O APXS pode detectar quase todos os elementos existentes na tabela periódica, com exceção apenas para o Hidrogênio e Helio, e usa em conjunto a fluorescência de raio-X e o espalhamento de partículas alfa e próton. Este trabalho tem o objetivo de calcular o coeficiente de atenuação de massa (µ) com o software WinXCOM, a partir das composições químicas de solos e rochas de Marte, Lua e Terra, para energias na faixa de 1 keV a 100 GeV. Os dados de µ calculados para várias energias, de solos e rochas marcianos, poderão ser usados em cálculos ou modelagens relacionadas a novas missões enviadas a Marte para mais estudos sobre o planeta, em especial estes resultados são também de interesse para medidas de XRF envolvendo os tipos de amostras consideradas. 2.TEORIA O coeficiente de atenuação de massa µ, é definido pela equação da absorção exponencial, que caracteriza a passagem da radiação eletromagnética através da matéria, conhecida como a Lei de Lambert – Beer dada por [8]: Ι = Ι 0 e − µρx (1) onde “x” representa a espessura do material usado como amostra, “µ” o coeficiente de atenuação de massa, ρ é a densidade da amostra, “I0” é a intensidade do feixe incidente na amostra e “I” é a intensidade do feixe emergente da amostra. A dependência de µ com as propriedades atômicas da amostras é dada pela seguinte relação: µ = σ tot (ZN A A) (2) onde Z é o número atômico, NA é o número de Avogrado, A é a massa atômica da amostra e σtot é soma das contribuições das seções de choques das fotointerações da radiação com a matéria. A soma das seções de choque dos principais processos é dada por[5]: σ tot = σ F + σ R + σ C + σ P (3) onde os índices F, R, C e P designam respectivamente o Efeito Fotoelétrico, Espalhamento Rayleigh, Espalhamento Compton, Formação de Pares e Espalhamento Thomson. 3.CÁLCULOS Os cálculos dos coeficientes de atenuação de massa das diversas amostras foram realizados pelo programa WinXCOM [4]. O software pode gerar seções de choque e coeficientes de atenuação para elementos, combinações ou misturas na faixa de energia entre 1 keV e 100 GeV na forma de seções de choque totais, ou seções parciais para os seguintes processos: espalhamento incoerente, espalhamento coerente, efeito fotoelétrico e produção de pares no núcleo atômico e na eletrosfera. Para combinações de elementos, as quantidades tabeladas são os coeficientes de atenuação de massa parciais e totais. O programa possui um banco de dados para todos os elementos com uma gama extensa de energias, que foi construído para a combinação de seções de choque de espalhamentos incoerentes e coerentes de HUBBELL et al. (1977), efeito fotoelétrico de SCOFIELD (1973), e produção de pares de HUBBELL et al. (1982). As mesmas seções de choque são usadas como em recentes tabelas de HUBBELL (1977), HUBBELL et al. (1980) e HUBBELL (1982). 4.DADOS EXPERIMENTAIS A Tabela 1 apresenta as composições químicas de algumas das amostras de solos e rochas da Terra, e de três amostras da Lua, na forma de porcentagem (por peso) dos elementos. Mostramos ainda, na Tabela 2, as amostras da superfície de Marte na forma de porcentagem de oxidos determinadas. INAC 2005, Santos, SP, Brazil. As técnicas de determinação de composição química usadas na Terra e nas missões enviadas à Lua e Marte, assim como os aparatos eletrônico e nuclear estão descritos em PATTERSON et al., 1965, e em ECONOMOU et al., 1970. 5.RESULTADOS E DISCUSSÃO A Tabela 3 apresenta os valores do coeficiente de atenuação de massa (µ), para as amostras terrestres, lunares e marcianas, para algumas energias. A Figura 1 mostra os coeficientes de atenuação de massa, para quatro amostras da Terra no intervalo de energia entre 10 e 50 keV, no gráfico de µ (cm2g-1) versus Energia (keV) para alguns valores de µ encontrados. O mesmo tipo de gráfico pode ser observado nas Figuras 2 e 3 para algumas amostras da Lua e Marte respectivamente. Tabela 1. Composições químicas percentuais das amostras da Terra [2] e da Lua [11] e [3]. El. Quim. C O F Na Mg Al Si S K Ca Ti Fe Sr Ba Zn Zr-In Sn-U Terra 1 Terra 2 Terra 3 Terra 4 Lua 1 Lua 2 Lua 3 1.20 61.16 0.10 2.99 0.59 6.66 21.42 0.76 0.48 2.90 0.09 1.59 0.051 0.012 - 1.17 59.23 0.00 0.00 21.03 0.18 15.78 0.00 0.00 0.015 0.71 1.90 0.007 0.00 - 0.58 61.60 0.47 1.82 1.19 5.92 23.08 0.00 3.34 0.86 0.04 1.02 0.004 0.054 - 0.41 63.08 0.10 0.65 1.95 5.28 24.78 0.11 0.22 1.68 0.30 1.41 0.013 0.006 - 0.2 61.6 0.06 0.34 2.8 6.2 16.3 0.3 6.3 1.9 3.7 <0.07 <0.16 <0.05 <0.07 0.9 60.9 0.05 0.45 2.4 6.2 17.4 0.0 5.4 2.3 3.7 <0.06 <0.09 <0.06 <0.07 59.3 0.07 0.59 3.7 6.5 18.5 0.0 5.2 1.0 3.9 <0.13 <0.13 <0.16 <0.10 E finalmente, apresentamos no gráfico da Figura 4, dados de duas amostras de cada astro, do coeficiente de atenuação de massa versus energia, no intervalo de 10 a 65 keV. Foram realizados cálculos levando em conta os desvios experimentais nas composições químicas apresentadas nos artigos da literatura [11], [3] e [9]. No entanto estes desvios não influenciaram significativamente os valores de µ, uma vez que os desvios propagados ficaram no intervalo entre 0.2 e 0.9 %, apenas para os dados das missões Surveyor V e VI (Lua 1, 2 e 3) o intervalo foi entre 1 e 3 %. INAC 2005, Santos, SP, Brazil. Tabela 2. Composições químicas na forma de óxidos, de amostras da superfície de Marte [1]. El. Quím. Na2O MgO Al2O3 SiO2 P2O5 SO3 Cl K2O CaO TiO2 Cr2O3 MnO FeO Marte 2 3.1 10.3 10.0 40.9 0.9 6.0 0.7 0.5 6.1 0.8 0.3 0.5 20.0 Marte 3 Marte 4 3.4 2.5 12.2 53.5 0.7 2.0 0.5 1.2 5.7 0.7 0.1 0.4 17.3 3.1 9.5 10.2 40.9 1.1 7.0 0.8 0.5 5.6 1.3 0.4 0.4 19.2 Marte 5 3.8 8.4 10.0 40.5 0.5 5.7 0.8 0.5 6.1 0.7 0.5 0.2 22.2 Tabela 3. Valores de µ para as energias de 10 keV, 100 keV, 1 MeV, 100 MeV, 1 GeV e 100 GeV para as amostras lunares e terrestrese marcianas. Terra 1 Terra 2 Terra 3 Terra 4 Lua 1 Lua 2 Lua 3 1 keV 3611.009 3406.315 3600.010 3624.232 3964.828 3936.055 3846.360 10 keV 19.60677 17.38435 18.96128 18.62269 26.45777 26.04557 25.82681 100 keV 0.17021 0.16741 0.16969 0.16880 0.18038 0.17981 0.18116 µ (cm2/g) 1 MeV 0.06338 0.06343 0.06339 0.06346 0.06329 0.06327 0.06328 Marte 2 4173.813 46.10381 0.20389 0.06281 0.02617 0.03163 0.03325 Marte 5 4277.645 48.54769 0.20717 0.06274 0.02649 0.03205 0.03368 Marte 3 4055.612 42.78205 0.19938 0.06289 0.02574 0.03109 0.03269 Marte 4 4148.842 45.30595 0.20276 0.06281 0.02605 0.03149 0.03311 Amostra 100 MeV 0.02180 0.02138 0.02176 0.02166 0.02283 0.02274 0.02288 1 GeV 0.02612 0.02557 0.02607 0.02595 0.02743 0.02732 0.02749 100 GeV 0.02748 0.02690 0.02743 0.02729 0.02886 0.02874 0.02891 A maior concentração de Silício (Z=14) e Ferro (Z=26) encontrada nas composições químicas da superfície de Marte em relação às encontradas na Lua e na Terra, e a maior concentração de Ferro encontrada na superfície lunar em relação à encontrada na Terrestre, observadas nas tabelas 1 e 2, explicam os maiores valores de µ das amostras marcianas em relação às lunares e em relação às terrestres, para energias menores que 25 keV observada na Figura 4. O que está de acordo com a Eq. 2, que mostra que o coeficiente de atenuação de massa é diretamente proporcional ao numero atômico Z. INAC 2005, Santos, SP, Brazil. 20 18 16 Terra 2 Terra 4 Terra 3 Terra 1 14 2 µ (cm /g) 12 10 8 6 4 2 0 10 15 20 25 30 35 40 45 50 Energia (keV) Figura 1. Coeficiente de atenuação de massa versus energia para 4 amostras terrestres, intervalo de 10 a 50 keV. 30 Lua 1 25 Lua 2 Lua 3 2 µ (cm /g) 20 15 10 5 0 10 15 20 25 30 35 40 45 50 Energia (keV) Figura 2. Coeficiente de atenuação de massa versus energia para as amostras da superfície lunar, intervalo de 10 a 50 keV. 50 45 Marte 2 Marte 5 Marte 4 Marte 3 40 35 2 µ (cm /g) 30 25 20 15 10 5 0 10 15 20 25 30 35 40 45 50 Energia (keV) Figura 3. Coeficiente de atenuação de massa versus energia para quatro amostras de Marte analisadas pela missão Mars Pathfinder no intervalo de 10 a 50 keV. Observando a Tabela 3, e as Figuras 1, 2 e 3, podemos notar que os valores de µ das amostras terrestres, lunares e marcianas, para energias maiores que 50 keV são praticamente iguais, apresentando diferenças significativas para energias menores que 25 keV, que é exatamente a faixa de operação dos sistemas de fluorescência de raios X utilizados nas sondas espaciais para o estudo de composições químicas dos materiais. INAC 2005, Santos, SP, Brazil. 50 45 40 Marte 15 Marte 2 Lua 3 Lua 2 Terra 4 Terra 2 35 2 µ (cm /g) 30 25 20 15 10 5 0 10 15 20 25 30 35 40 45 50 Energia (keV) Figura 4. Coeficiente de atenuação de massa versus energia para as amostras das superfícies terrestres, lunares e marcianas, no intervalo de 10 a 50 keV. 6.REFERÊNCIAS 1. Economou, T. - Chemical Analyses of Martian Soil and Rocks Obtained by the Pathfinder Alpha Proton X-Ray Spectrometer –Radiation Physics and Chemistry, v. 61, p. 191-197, (2001). 2. 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