UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO FACULDADE DE DIREITO CENTRO DE PESQUISA EM POLÍTICAS PÚBLICAS E GOVERNAÇÃO LOCAL MESTRADO EM GOVERNAÇÃO E GESTÃO PÚBLICA Democracia e Desenvolvimento Humano na África subsariana Francisco Manuel Mateus Luanda, 2015 UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO FACULDADE DE DIREITO CENTRO DE PESQUISA EM POLÍTICAS PÚBLICAS E GOVERNAÇÃO LOCAL MESTRADO EM GOVERNAÇÃO E GESTÃO PÚBLICA Democracia e Desenvolvimento Humano na África subsariana Ensaio apresentado por Francisco Manuel Mateus para a qualificação em Sociologia do Desenvolvimento Pós-Laboral Professor Doutor: André Sango Luanda, Janeiro de 2015 Democracia e Desenvolvimento Humano na África subsariana Por Francisco Mateus1, Mestrando em GGP [email protected] SINOPSE A democracia política é tão importante como a economia política para um desenvolvimento bem sucedido. Palavras-chave: democracia, desenvolvimento humano Synopsis The political democracy is well as important as the political economy for a development happened. Word-key: democracy, human development 1 Frei Francisco Manuel MATEUS, nasceu em Ndalatando a 23/02/80 e consagrou-se Religioso a 8 de Dezembro de 2004 na Ordem dos Frades Menores Capuchinhos no Lubango. Em 2012 foi eleito Diácono em Luanda. Assistente Escutista no Agrupamento Nº1 (2012), Estudou Humanidades (2001), Cursou Filosofia (2006), Diplomou-se em Teologia (2010), Iniciou-se em Pesquisa, Análise Económica e Social no Centro de Pesquisa em Políticas Públicas e Governação Local (2014), Pós-graduou-se em Políticas Públicas (2015), Bacharelando em Direito, Professor Diplomado do Segundo Ciclo do Ensino Secundário (2010), Auditor de Qualidade, Assessor Administrativo e Financeiro no Instituto Superior Politécnico Soberano de Angola (2015) é Mestrando em Governação e Gestão Pública. Linha de pesquisa: O Desempenho da Administração Local em Angola – orientado pelo Professor Doutor Carlos FEIJÓ; Autor de O Fenómeno Social da Modernidade à Luz de Martin Heidegger (2006); Defendeu o Exame de Universa em Teologia sobre A Evolução do Dogma (2010); Co-autor de Plano de Negócio para a Associação de Pescadores de Cacuaco (2015), Fundador do Movimento Apostólico Católico: Jesus Misericórdia (2011) na Paróquia São Francisco de Assis em Camabatela – Cuanza-Norte. SUMÁRIO SINOPSE ................................................................................................................................ 3 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 5 1. A DEMOCRACIA E O DESENVOLVIMENTO HUMANO EM ÁFRICA .................... 6 1.1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁFRICA SUBSARIANA ................................................ 6 1.2. CONCEPÇÕES DE DEMOCRACIA E PANORAMA HISTÓRICO ....................... 7 1.2.1. CONCEPÇÕES BASILARES DE DEMOCRACIA: LIBERAL E IGUALITÁRIA .............................................................................................................. 8 1. 3. O PAPEL DA LIBERDADE E DA PARTICIPAÇÃO POLÍTICAS NO DESENVOLVIMENTO HUMANO .................................................................................. 8 1. 4. DESENVOLVIMENTO ................................................................................................. 8 1. 4.1. MODELOS E BASES DA SOCIOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO ............. 9 1.4.1. 1. TEORIA EVOLUCIONISTA DO DESENVOLVIMENTO POLÍTICO ........ 9 1.4.1. 2. TEORIA FUNCIONALISTA DO DESENVOLVIMENTO POLÍTICO ...... 10 1.4.1.3. TEORIA NEODESENVOLVIMENTISTA .................................................... 10 1.4.1.4. TEORIA ESTRUTURALISTA DO DESENVOLVIMENTO POLÍTICO .... 11 1.4.1.6. APRECIAÇÃO AOS MODELOS DE DESENVOLVIMENTO POLÍTICO 11 1.4.2. AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NA ÁFRICA SUBSARIANA ................................................................................................................. 12 1.4.3. DESEMPENHO POR INDICES DE DESENVOLVIMENTO HUMANO .......... 12 TABELAS 1: ANÁLISE DO ESTADO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NA ÁFRICA SUBSARIANA POR INDICADORES ............................................................ 12 GRÁFICO 2: ANÁLISE DO DH NA ÁFRICA SUBSARIANA .................................... 13 GRÁFICO 3: ANÁLISE DO IDH DAS REGIÓES DO MUNDO .................................. 13 GRÁFICO 4: ANÁLISE DO IPIB POR PAÍS ................................................................. 14 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 15 BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................. 16 INTRODUÇÃO A democracia política é tão importante como a economia política para um desenvolvimento bem sucedido. O presente estudo é um ensaio teórico-empírico e estatístico sobre a democracia e o desenvolvimento humano na África subsariana. Este ensaio possui uma extensão de 15 páginas e enquadra-se no contexto da governação e gestão pública. Optei pelo tema referido por ser actual, além de interessante e sobretudo pelo facto de que em África esteja ocorrendo, algumas vezes avanços, outras porém, recuos. Surge para a qualificação no módulo de Sociologia do Desenvolvimento enquanto me oferece bases para o aprofundamento da formação científica e cultural. Todavia, com este ensaio pretende-se de modo geral avaliar o estado do desenvolvimento humano na África subsariana. Para a realização do objectivo geral, o ensaio aprecia os avanços registados na esperança de vida à nascença, no rendimento nacional bruto e no índice de desenvolvimento, além do índice do desenvolvimento humano por regiões do mundo e do índice do produto interno bruto por país. A finalidade mais importante do controlo do desempenho é a de ajudar os chefes de governo a atingirem as suas metas. A avaliação visa contribuir para a melhoria. Em termos de metodologia, adoptou-se o método estatístico-descritivo para analisar a eficiência da governação democrática como o método comparativo para a obtenção do incremento de desenvolvimento proporcionando os níveis de melhoria ou de declínio, enfim, recorreu-se também ao método econométrico fornecendo os factores determinantes para o desenvolvimento humano. O ensaio apoia-se no capítulo décimo segundo do RDH 2002 e pode ser consultado integralmente em www. undp.org/ htr 2002. Assim foi possível a sua feitura. Mas a bibliografia foi complementada pela pesquisa referencial. Neste ensaio vai ser abordado, o panorama histórico da democracia, com concepções, a caracterização da África subsariana e sua avaliação, os modelos teóricos e as bases da sociologia do desenvolvimento humano. Espera-se obter deste ensaio os níveis de progressão do desenvolvimento humano e realinhamento dos objectivos e metas. Assim, contribuirá para o progresso em direcção aos objectivos de desenvolvimento do Milénio. 1. A DEMOCRACIA E O DESENVOLVIMENTO HUMANO EM ÁFRICA Observa-se e não há dúvidas de que tanto a democracia assim como o desenvolvimento são realidades que têm sido vivenciadas no continente africano. “Na perspectiva do desenvolvimento humano, a boa governação é a governação democrática. E esta é democrática quando: os direitos humanos e as liberdades fundamentais das pessoas são respeitados, as pessoas têm opiniões em relação às decisões que afectam as suas vidas; as políticas económicas e sociais visam a erradicação da pobreza2. Ela implica transparência, participação, capacidade de resposta, responsabilização e força da lei. Logo, hei por bem caracterizar a África subsariana, embora de modo sintético, pois se aflora promitente. 1.1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁFRICA SUBSARIANA Como se sabe, o continente africano é o terceiro maior. Pereira de OLIVEIRA caracteriza-o com uma série de lagos, montanhas como Kilimanjaro, extensas fendas, planaltos, deserto arenoso, a floresta equatorial. Por outro lado, o continente africano é um dos que possui a maior quantidade de etnias em todo o planeta. Antes da colonização realizada pelos europeus, existiam mais de duas mil civilizações diferentes. Sua extensão territorial é de mais de 30 bilhões de km2 e a população está estimada em 1,2 bilhões de habitantes. Possui o maior número de países, cerca de 54, desde o Egipto, Marrocos, África do sul, Angola até à Namíbia e Eritreia assim como o Sudão do sul. Muito apetrechado em recursos naturais como o ferro, madeira, manganésio, diamantes, ouro, petróleo, urânio, etc. É de ressaltar que quando se fala de África normalmente pensa-se na África subsariana. Do ponto de vista geopolítico o continente africano divide-se em três grandes zonas fundamentais: a África do norte, central e austral 3 . A África subsariana exclui somente a África do norte com cerca de 9 países como o Egipto, Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia, Mauritânia, Sudão, Saara Ocidental. África subsariana constitui a maior parte continente africano e é deveras de fortes contrastes geo-humanos. Actualmente procura a urbanização da zona rural, estabilizar os sistemas políticos e económicos, sem esquecer a alternância governativa. Portanto, quero crer como Pereira de Oliveira que ela pudesse ser uma terra de futuro. Entretanto, seguidamente falar-se-á sobre a democracia. 2 Seguiu-se como no Relatório de Desenvolvimento Humano do PNUD de 2002. Cfr., José M. Pereira de OLIVEIRA, África (1983). In Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado, Vol 1, Verbo, Lisboa, p.178. 3 1.2. CONCEPÇÕES DE DEMOCRACIA E PANORAMA HISTÓRICO A expressão democracia deriva do grego democratia, significando «o governo popular». A democracia é um conceito polissémico, conturbado, de utilização tão corrompida 4 . É uma noção eminentemente paradoxal, pois possui função descritiva, denotativa, normativa e persuasiva. Pode referir-se a um ideal, princípio, ideologia, regime político, valor e a uma finalidade. Ora parece no âmbito da psicologia ora da teoria das organizações e da ciência política. Surgido na Grécia clássica5 designava aqueles regimes em que as decisões eram colectivamente tomadas pelos cidadãos. O prestígio actual do termo parece dever-se à derrota dos regimes antidemocráticos; hoje em dia quase todos os estados e regimes existentes na face da terra se dizem democráticos. A participação política constitui o fundamento da democracia. Dá à democracia a sua verdadeira legitimidade (HERMET: 2014, p.213). A história das ideias politicas está cheia de teóricos da democracia desde Platão, Xenofontes, Santo Agostinho, São Tomas de Aquino, Maquiavel, Jean-Bodin, Montesquieu, etc. Marx via na democracia uma associação em que o livre desenvolvimento de cada um é a condição do livre desenvolvimento de todos 6 . Já Rousseau, a democracia visa instituir um povo. Robert Dahl ajustamento entre grupos (HERMET:1998, p.75). Amartya Sen afirma que a democracia foi o acontecimento mais importante do século XX7. É um processo tendencialmente oscilante, ora centra-se sobre a desejabilidade da democracia ora sobre as formas de participação e soberania. Abraham Lincoln, definiu-a como sendo o poder do povo, pelo povo e para o povo. Há a democracia política e económica, representativa, participativa. Em suma, a noção conhece tão grande número de definições, às quais variam em função dos valores assumidos, do contexto e dos fins da sua utilização. 4 BARROSO, Op., Cit, p.68. 5 Allan G. JOHNSON (1998). Dicionário de Sociologia: guia prático da linguagem sociologia, Jorge Zahar editor, Rio de Janeiro, p.66. 6 Guy HERMET et., alli (2014). Dicionário de ciência Política e das Instituições Politicas, Escolar Editora, Lisboa, p. 74. 7 Boaventura de Sousa SANTOS - org (2003). Democratizar a Democracia: os caminhos da democracia participativa, 2ed., Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, p.39. 1.2.1. CONCEPÇÕES BASILARES DE DEMOCRACIA: LIBERAL E IGUALITÁRIA A democracia liberal filia-se pela corrente formada por muitos autores como Tocqueville, Stuart Mill, Bertrand de Jouvenel e de Raymond Aron8. O seu valor nuclear é a liberdade e as ideias fundamentais do seu discurso referem-se à necessidade de colocar limites ao poder. É o todo que deseja, é o todo que age. A democracia igualitária por seu lado, assenta na exigência da igualdade e apoia-se nas concepções de Rousseau e dos teorizadores da soberania popular bem como para quem considerar que se pode falar ainda no seu caso de democracia nos trabalhos de Marx. 1. 3. O PAPEL DA LIBERDADE E DA PARTICIPAÇÃO POLÍTICAS NO DESENVOLVIMENTO HUMANO “Liberdade e a participação políticas fazem parte do desenvolvimento humano, quer como objectivos de desenvolvimento, por direito próprio, quer como meios de promover o desenvolvimento humano. Liberdade e a participação políticas objectivos essenciais do desenvolvimento. A liberdade política e a possibilidade de participar na vida da nossa comunidade são capacidades tão importantes para o desenvolvimento humano como saber ler e escrever e estar de boa saúde. As pessoas que não têm liberdade política como a de poder aderir a associações e formar e exprimir opiniões – dispõem de muito menos opções na vida. E ter a possibilidade de participar na vida da nossa comunidade Ð exigindo o respeito dos outros e exprimindo uma opinião nas decisões comunitárias – é fundamental para a existência humana. Que a liberdade e a participação políticas são cruciais para o desenvolvimento humano nem sempre foi bem compreendida9”. 1. 4. DESENVOLVIMENTO A questão do crescimento 10 atraiu economistas desde os tempos clássicos como Adam Smith, David Ricard, Thomas Robertus Malthus, etc. A palavra desenvolvimento começou a ser utilizada relativamente aos países não industrializados no final da II guerra mundial. Foi construída a partir do modelo neoclássico. A ser assim, o desenvolvimento é o progresso de um estado a outro; consiste no nível de vida elevado, avanço tecnológico, 8 BARROSO, Op., Cit, p.73. 9 Seguiu-se do mesmo modo que o RDH PNUD 2002. 10 Rui Conceição NUNES, Crescimento Económico (1983). In Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado, Vol1, Verbo, Lisboa, p. 1358. cultura intelectual 11 . Outrossim, é o processo de mutação que afecta as sociedades em desenvolvimento 12 . Supõe uma harmonia do crescimento nos diferentes sectores, transformação positiva das estruturas sociais acompanhadas de bem-estar. Há alusões históricas nas quais os gregos e romanos entendiam que o fluxo da história se fazia segundo um movimento cíclico de avanços e recuos. Para os iluministas, todo o evoluir histórico é uma caminhada para a frente, conquista nova, avanço irreversível. Vico defendeu a teoria espiral em que a ideia de retorno é corrigida com algum avanço real. Aparece como programa e projecto possível de vida social durante a revolução francesa (Neto:1984, p.179). Existem várias tipologias de desenvolvimento: económico, político, tecnológico e humano. Contudo, o relatório de 2002 destaca que o conceito de desenvolvimento é muito mais vasto do que o índice. Suas etapas são: economia tradicional, arranque, maturidade e consumo de massa13. 1. 4.1. MODELOS E BASES DA SOCIOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO Como ficou aludido, a questão do desenvolvimento, trouxe para si, inúmeros estudiosos. No plano analítico bem como de estratégias de políticas de desenvolvimento, Lewis, Nurkse e Taylor nos anos 60 propuseram as chamadas teorias do desenvolvimento, abrindo uma corrente de contínuas superações. Estes viam o fenómeno de desenvolvimento em termos de modificações da procura, da produção, do comércio externo e do emprego. O ensaio agrupou as teorias do desenvolvimento político em evolucionista, funcionalista e estruturalista. 1.4.1. 1. TEORIA EVOLUCIONISTA DO DESENVOLVIMENTO POLÍTICO Nesta corrente, em geral dá-se primazia ao processo de evolução. O progresso requer fases. Os expoentes são Hoselitz, Almond, Lerner, Deustsch e Walt Rostow. Este último entende que o desenvolvimento se realiza por fases, de que é crucial a fase intermédia do take-offe até ser atingida a fase do desenvolvimento entendido como autosustento 14 . Para Hoselitz o desenvolvimento pode ser: intrínseco ou expansionista; dominante ou satélite e autónomo ou induzido. 11 Dicionário, Op cit, p.524. Vide: João Evangelista JORGE, Desenvolvimento (1984). In Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado, vol., 2, Verbo, Lisboa, 178-180 pp. 12 Cfr., HERMET Op. Cit, p. 84. 13 Marta FERNANDES (2001). Dicionário da Economia, 2 ed., Rés Editora, Porto. p.74. 14 NUNES, Op., Cit, p.184. Lerner, Deustsch, Almond e Shils reconhecem a evolução porém destacam o carácter imanente, unilinear, finalizado e contínuo do desenvolvimento 15 Daí que privilegiam a mobilização, a modernização e a funcionalidade do desenvolvimento. Suas explicações converteram-se em teorias. Relativamente a teoria da mobilidade cujos expoentes são Dahl, Deustsch vê no desenvolvimento político uma consequência de certas transformações económicas e sociais. Deustsch, acentua o efeito do processo de mobilização resultante com as alterações da esfera económico-social. Ele empenhou-se na análise das correlações entre certos índices económicos, culturais, demográficos e políticos. A teoria da mobilização de Lerner estabelece ligações entre a mobilização dos recursos e o processo de modernização através de três variáveis principais: urbanização, alfabetização e grau de difusão dos meios de comunicação social. Procurou exprimir quantitativamente a intensidade do processo de desenvolvimento. Enquanto, Shils aparece como expoente máximo da teoria da modernidade. Sua inovação residiu no facto de encarar o desenvolvimento político como objecto directo e próprio da análise. 1.4.1. 2. TEORIA FUNCIONALISTA DO DESENVOLVIMENTO POLÍTICO Além de Powell ocupou-se da teoria funcionalista Almond e distinguiram no processo de desenvolvimento um enfoque relacional sintetizado em alguns sistemas como o primitivo, tradicional e moderno. Os sistemas primitivos caracterizam-se por estruturas políticas intermitentes e uma cultura politica do tipo paroquial; os sistemas tradicionais exibem já uma certa diferenciação estrutural, mas a sua cultura política conserva ainda muitos traços reverenciais ou de sujeição; os sistemas modernos apresentam infra-estruturas políticas diferenciadas e relativamente autónomas, sendo a sua cultura política do tipo participativo. 1.4.1.3. TEORIA NEODESENVOLVIMENTISTA Deste modo, a corrente evolucionista, nas suas diferentes nuances não foi aceite no seu todo. Surge a chamada corrente neodesenvolvimentista16. Tem Apter e Huntington por expoentes e visa uma explicação verdadeiramente política dos processos de 15 José Durão BARROSO, Desenvolvimento Político (1983). In Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado, Vol., 2, Verbo, Lisboa, p.190. 16 Desenvolvimento Político, Op., Cit, p.193. desenvolvimento. Centra-se em certos aspectos directamente políticos como a institucionalização ou o comportamento das elites. Huntington considera o desenvolvimento político como um fenómeno que deverá distinguir-se da simples modernização, estudo da política. Enfatiza a institucionalização17. Já Apter entende privilegiar o estudo da modernização, como sendo a importação, no seio das sociedades tradicionais, dos novos papéis saídos da sociedade industrial. 1.4.1.4. TEORIA ESTRUTURALISTA DO DESENVOLVIMENTO POLÍTICO O acento está nos padrões por que se devem apoiar para alcançar o desenvolvimento. Nela destaca-se a teoria da marginalidade social cujo expoente Robert park que 1913 chamou a atenção para os desvios de comportamento de certos grupos de indivíduos em relação à sociedade e para a sua forte motivação para nela imporem os seus padrões e as suas normas. O desenvolvimento é a manifestação na produção e organização da sociedade do conhecimento científico. Daí a importância da formação do capital humano. 1.4.1.5. TEORIA TECNOLÓGICA Marx foi um dos primeiros autores a ter a percepção de que as alterações na tecnologia não só produzem modificações nas proporções em que capital e trabalho se combinam mas também em todo o sistema económico, social e político. Na sua opinião as inovações estão destinadas a substituir trabalho por capital. 1.4.1.6. APRECIAÇÃO AOS MODELOS DE DESENVOLVIMENTO POLÍTICO Apesar do mérito que se possa dar, as teorias são criticáveis. Aliás, o leque de ramificações demonstra o que se acaba de dizer. Nota-se um conjunto de orientações que estabelecem rupturas. De grosso modo, a tradição e a modernidade não são necessariamente incompatíveis; a modernidade e a tradição não se excluem. O sistema político europeu não é superior ao dos outros povos; não se pode subestimar a análise factorial local e objectiva, quer dizer, os factores exógenos e endógenos. Pessoalmente, prefiro enveredar por uma tiragem eclética em vez de optar por um único modelo para que necessariamente a África subsariana se desenvolva. Ela terá que construir o seu próprio modelo, quiçá, a partir ou reforçando-se das variantes de que carece e estas foram largamente descritas neste ou naquele modelo ou teoria. Na verdade, são várias as nuances em causa. 17 Desenvolvimento Político, Op., Cit, p.194. 1.4.2. AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NA ÁFRICA SUBSARIANA Antes de proceder com a análise dos objectivos específicos, convém estabelecer a referência teórica conceptual. A avaliação do desenvolvimento humano na África subsariana significa uma medição do desempenho dos Estados e equivale saber claramente o que se espera dos seus governos e executivos definindo objectivos e metas. Em termos de políticas governativa, os níveis dos indicadores alcançados pode representar a boa, ou má governação. A partir de RDH 2002 está claro que a boa governação é talvez o factor singular mais importante para a erradicação da pobreza e para a promoção do desenvolvimento. A avaliação foi realizada a partir dos seguintes indicadores de desenvolvimento humano: (i) esperança de vida à nascença; (ii) o rendimento nacional bruto; (iii) índice do desenvolvimento humano e alguns. Pretende-se inferir o impacto da governação democrática e os níveis de melhoria ou declínio. 1.4.3. DESEMPENHO POR INDICES DE DESENVOLVIMENTO HUMANO Na avaliação do desempenho dos países da África subsariana, quero crer que os níveis dos indicadores reflectem o estado do desenvolvimento, a necessidade de boa governação. Os níveis parecem representar a situação real dos seus governos. Em última análise, mostram os avanços e melhorias ou declínios. TABELAS 1: ANÁLISE DO ESTADO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NA ÁFRICA SUBSARIANA POR INDICADORES RDH 2002 África Mundo subsarian Esperança de vida à nascença Rendimento Nacional Bruto Índice de Desenvolvimento humano RDH 2013 Mundo Peso Diferença África Subsariana Peso Crescimento 66,9 48,7 72,8 6,2 70,1 54,9 78,3 12,7 7.446 1.690 22,7 320 10.184 2.010 19,7 18,9 0,722 0,471 65,2 0,004 0,694 0,475 68,4 0,8 Fonte: dados do RDH 2002 e 2013 A tabela acima denota o crescimento do desenvolvimento humano pelo facto de ter nos relatórios de 2002 e 2013 um incremento numa cifra de 18,9 % relativamente a esperança de vida à nascença, significando mais anos de vida para os habitantes da África subsariana. Enquanto, o índice de desenvolvimento humano teve segundo os relatórios citados, um aumento na ordem dos 0,8%, situando-se abaixo da cifra do crescimento dos indicadores de desenvolvimento humano. GRÁFICO 2: ANÁLISE DO DH NA ÁFRICA SUBSARIANA 0,8 18,9 12,7 RDH 2002 e 2013 O gráfico acima mostra um certo incremento no desenvolvimento humano. Com esta informação pode-se concluir que há na África subsariana uma tendência crescente nos três indicadores em estudo. Nos relatórios em referência, o rendimento nacional bruto situou-se acima da esperança de vida e do índice de desenvolvimento na sua estrutura de variação. GRÁFICO 3: ANÁLISE DO IDH DAS REGIÓES DO MUNDO Grafico 3: Análise do IDH das Regiões do mundo 0,652 0,683 Estado Arabe Asia Oriental e Pacifico 0,558 Asia do Sul 0,741 0,771 0,475 America Latina e Caraibas Europa e Asia Central Africa Subsariana Com este gráfico acima quer-se apenas dizer que apesar do incremento acima referenciado, a região da África subsariana necessita de crescer muito mais, pois relativamente ao índice de desenvolvimento humano apresentado pelo relatório de 2013, situa-se na base com uma cifra de 0,475. Como vai mostrar o gráfico mais abaixo, no que toca ao índice do produto interno bruto, a Guiné Equatorial toma o primeiro lugar com uma cifra de 0,84 %, seguida pelas Ilhas Seycheles com 0,81% e África do sul com 0,76 %. Porém, a Serra Leoa apresenta o baixo indicador com 0,27 % e na penúltima posição a Tanzânia com 0,28 % IPIB. Angola, apresenta-se com uma cifra de 0,51 % do IPIB, situando-se abaixo de 10 países com maiores IPIB; ainda assim o seu IPIB relativamente a região austral da África está acima tanto do Congo Brazzaville assim como do Democrático, além da Zâmbia, Moçambique, e Lesoth. Mas nesta região, o IPIB de Angola está abaixo de Cabo-verde, Namíbia, Botswana e África do sul. GRÁFICO 4: ANÁLISE DO IPIB POR PAÍS CONCLUSÃO Depois de ter produzido o corpo deste ensaio sobre a democracia e o desenvolvimento é dado o momento para encerrá-lo de modo que possa ser habilitado no módulo sobre Sociologia do desenvolvimento leccionado pelo senhor Professor, Doutor André Sango. A democracia política é tão importante como a economia política para um desenvolvimento bem sucedido. Sabe que a democracia é um conceito polissémico e conturbado. Porém, é na prática o sistema político em que se reconhece maior possibilidade de concretização dos direitos, garantias e liberdades fundamentais. Daí que a África subsariana terá que aprofundá-la mais. Como enfatiza o RDH 2002, a“boa governação é a governação democrática sendo democrática quando os direitos humanos e as liberdades fundamentais das pessoas são respeitados”. Relativamente ao desenvolvimento a África subsariana precisa torná-la realidade em todas as suas tipologias. Pessoalmente, prefiro enveredar por uma tiragem eclética que inclua os segmentos básicos em vez de optar por um único modelo. Ela terá que construir o seu próprio modelo, quiçá, a partir ou reforçando-se das variantes de que carece e estas foram largamente descritas neste ou naquele modelo ou teoria. Na verdade, são várias as nuances em causa: modernização, urbanização, industrialização, capital humano, estabilidade política. Finalmente, o estudo evidenciou que o desenvolvimento humano na África subsariana cresceu. Apesar disso, a região necessita sair da última posição relativamente ao IDH com uma cifra de 0,475. No entanto, a Guiné equatorial está no topo com uma cifra de 0,84 %, seguida pela Ilhas Seycheles com uma cifra de 0,81 e pela África do sul com 0,76 % enquanto a Serra Leoa tem a cifra mais baixa de 0,27 %, depois da Tanzânia 0,28 %. Angola, apresenta-se com uma cifra de 0,51 % do IPIB, situando-se abaixo de 10 países com maiores IPIB; ainda assim o seu IPIB relativamente a região austral da África está acima tanto do Congo Brazzaville assim como do Democrático, além da Zâmbia, Moçambique, e Lesoth. Mas nesta região, o IPIB de Angola está abaixo de Cabo-verde, Namíbia, Botswana e África do sul. Para que a África subsariana seja terra de futuro o ensaio recomenda: (i) um aprofundamento da democracia; (ii) construção do modelo e teoria que vá de encontro e respeite a cultura do Estado, e gere um adequado desenvolvimento. BIBLIOGRAFIA Bibliografia PNUD – Relatório de Desenvolvimento Humano (2002), cap.2, pp.51-62. SANTOS Boaventura de Sousa - org (2003). Democratizar a Democracia: os caminhos da democracia participativa, 2ed., Civilização Brasileira, Rio de Janeiro. HERMET Guy et.alli (2014). Dicionário de ciência política e das instituições politicas, Escolar Editora, Lisboa. JOHNSON Allan G. (1998). Dicionário de Sociologia: guia prático da linguagem sociologia, Jorge Zahar editor, Rio de Janeiro. FERNANDES Marta (2001). Dicionário da Economia, 2 ed., Rés Editora, Porto. Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado, Vol 1 e 2, Verbo, Lisboa, 1983 e 1984.