DEPOSIÇÃO DE SEDIMENTOS NA BACIA DE RETENÇÃO DO PARQUE MARINHA DO BRASIL EM PORTO ALEGRE-RS Marllus Gustavo Ferreira Passos das Neves1 & Gustavo Henrique Merten2 RESUMO --- As bacias de retenção são atualmente apontadas e implementadas como uma solução para o controle dos excessos de vazão devido à urbanização caracterizada pela má gestão das cidades. Acontece que, em muitos casos, o projeto destas bacias são realizados, e as obras construídas sem a componente importante da manutenção, o que implica na redução da eficácia destes sistemas por causa do aporte impróprio de sedimentos e esgoto cloacal. Este artigo mostra o resultado de três batimetrias realizadas na bacia de retenção do parque Marinha do Brasil, em Porto Alegre-RS. Em quatro meses de chuvas mais freqüentes, houve uma redução significativa de volume do reservatório. ABSTRACT --- Nowadays, the retention reservoirs are used as solutions to control the additional stormwater discharges that occurs when the cities changes their landuse without a good management. But, in several cases, the projects and the constructions do not take into account an important component, such of the case of the maintenance. The consequence is that there is sewage and sediments arriving into the reservoir. This paper shows results of three topographic evaluations of the retention basin bed located in the “Marinha do Brasil” Park, in Porto Alegre, Rio Grande do Sul - Brazil. In the four months where the more frequent storms are concentrated, there was a significant reduction of the available volume in the reservoir. palavras-chave: drenagem urbana, bacia de retenção, depósito de sedimentos. 1 Doutorando do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Rua Ind. Climério Sarmento, n. 56 apto 406, Jatiúca, 57035-590. Maceió-AL. E-mail: [email protected], [email protected]. 2 Professor do Departamento de Obras Hidráulicas do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Avenida Bento Gonçalves, 9500, 90650-001. Caixa Postal 15029. Porto Alegre-RS. E-mail: [email protected] . 1. INTRODUÇÃO Há algum tempo, as bacias de detenção ou retenção vem sendo estudadas como alternativas compensatórias do efeito da urbanização na drenagem urbana,. Vários trabalhos vêm demonstrando a eficácia de tais sistemas. Em diversas cidades, estes elementos hidráulicos estão sendo implantados, ou irão ser, dado que estão em marcha os planos diretores de drenagem urbana, como é o caso de Porto Alegre. Nesta cidade, o plano diretor prevê o controle dos excessos de vazões na macrodrenagem através das bacias de detenção ou retenção (IPH-DEP, 2004). As primeiras são aquelas que não mantêm uma lâmina de água no seu interior, podendo ser utilizada para outros fins, enquanto que nas bacias de retenção, há a lâmina de água permanente (Tucci e Genz, 1995). Algumas bacias em Porto Alegre já foram implantadas, como é o caso da bacia de retenção do parque Marinha do Brasil. Contudo, estas bacias também tem demonstrado que, mais que um projeto bem feito e simulações que abranjam os principais elementos do escoamento na rede e no reservatório, é necessário um planejamento e um monitoramento durante a vida útil destes sistemas, observando a manutenção das mesmas, pois a população no entorno delas começa a solicitar do poder público providências, como ocorreu, na mesma cidade, com a BR da avenida Polônia (Neves et al., 2001) e vem ocorrendo na bacia de retenção, objeto do estudo que promoveu este artigo. 2. OBJETIVOS Dentro do contexto apresentado, este artigo: a) aponta os principais problemas decorrentes da falta de manutenção freqüente da bacia de retenção do parque Marinha do Brasil; b) determina o volume e a massa do depósito de sedimentos, após realização de três levantamentos topográficos do fundo da bacia de retenção; c) mostra que tipo de sedimento foi depositado. 3. ESTUDO DE CASO 3.1. Contexto Como conseqüência do aumento da urbanização na região onde se situa a Bacia de Retenção (BR), no sul da cidade de Porto Alegre, foram realizadas obras de ampliação das redes de drenagem, cujas águas são bombeadas para o lago Guaíba através da Casa de Bombas de número 12 (CB12), componente do sistema de proteção contra inundações de Porto Alegre. A CB12, no entanto, já comprometida para a época do projeto, não suportaria o acréscimo das vazões, de modo que foi proposta a instalação de uma BR no Parque Marinha do Brasil, permitindo o amortecimento das vazões a níveis compatíveis com a CB12. A vazão de pico de projeto, para um Tempo de Retorno de 50 anos é de, aproximadamente, 16m3/s e a capacidade nominal da casa de bombas é de 6,5 m3/s, e de projeto da BR de 5 m3/s (77% de rendimento) (DEP-HIDROSUL, 1999). Aproveitando o mesmo projeto, a BR foi projetada de tal forma que também recebesse parte do total de água que antes era direcionado para a casa de bombas de número 13, a mais próxima da CB 12, cuja capacidade também estava comprometida. Desta forma, o volume de projeto ficou em 12.337 m3, sendo a área superficial máxima de projeto de 1,33 ha. Simulações realizadas por solicitação do DEP (Departamento de Esgotos Pluviais da Prefeitura Municipal de Porto Alegre), através de modelagem hidrodinâmica, mostrou que a BR exerceria seu papel de amortecimento da vazão, desde que garantida a manutenção e a chegada desta vazão, ou seja, que alguns problemas de microdrenagem detectados fossem resolvidos. 3.2. Localização e caracterização da área 3.2.1. Localização da bacia hidrográfica contribuinte e da bacia de retenção A BR tem como contribuinte uma bacia hidrográfica urbana (BH) de aproximadamente 1,54 km2. A localização da BH em relação a Porto Alegre está na Figura 1, e em seguida é feita uma caracterização das subbacias, mostradas também nesta figura. Figura 1 - Localização da bacia hidrográfica contribuinte, em relação a Porto Alegre. A rede de macrodrenagem, adotada aqui como a que tem o diâmetro maior ou igual a 0,80 m no caso dos condutos circulares, e também os condutos retangulares e o canal da José de Alencar, são mostradas na Figura 2. Figura 2 – Localização da bacia de retenção, macrodrenagem, arruamentos e bacia hidrográfica. 3.2.2. Subbacia José de Alencar Esta subbacia tem 50,6 ha. Sua avenida principal, a José de Alencar, é percorrida por condutos que recebem as águas, tanto da parte mais baixa da bacia (comercial bastante movimentada na própria avenida residencial nas ruas interiores), quanto das partes mais altas da bacia (predominantemente residencial). Segundo os cadastros do DEP, na parte final da avenida José de Alencar há um conduto de 1,30 m de largura por 0,90 m de altura. Este conduto é ligado no canal chamado Canal da José de Alencar, que percorre o parque Marinha do Brasil, chegando à BR. Na cabeceira, as declividades atingem 10%, enquanto na área baixa, menos que 1%. 3.2.3. Subbacia Barão do Cerro Largo Esta subbacia é praticamente residencial, apesar de haver alguns pontos comerciais na avenida Silveiro, que corta a bacia no sentido norte-sul. Possui uma área de 16,6 ha. O nome dela vem do fato de as águas serem direcionadas pela rua Barão do Cerro largo até a avenida Pe. Cacique, com um conduto de 1,30 de largura por 0,80 m de altura na parte final, desaguando no Canal da José de Alencar. Na parte superior há declividades de 20%, enquanto na parte inferior, menos de 0,2 %. 3.2.4. Subbacias Monroe, Asilo e FEBEM O nome da subbacia Monroe, de 25,9 ha, segue o nome da pequena rua que dá acesso a um condomínio residencial. Ela é preenchida por pequenos condutos que deságuam em um outro de forma quadrada de 1,0 m de lado da avenida Pe. Cacique, em direção ao norte. Daí em diante, deságua no conduto que atinge a BR, com 1,80 m de largura e 1,60 m de altura. A rua Monroe possui uma declividade de 4,03 % atingindo uma área de declividade praticamente nula. Este encontro com a avenida Pe. Cacique, juntamente com o encontro que ocorre também na esquina da rua Otávio Dutra, sempre foram pontos críticos, justificando o projeto de ampliação das redes de macrodrenagem. A subbacia Asilo recebe este nome por causa do Asilo Pe. Cacique. Seus 23,7 ha praticamente não são habitados, a não ser na sua cabeceira e ao norte da mesma. A sua maior parte encontra-se com vegetação predominante. Com 37,1 ha, A subbacia FEBEM recebe este nome, pois quase toda sua área é usada pela FASE (Fundação de Atendimento Sócio-Educativo do Estado do Rio Grande do Sul), antiga FEBEM. É uma subbacia íngreme que deságua na avenida Pe. Cacique; com solo desprotegido, a sua parte final sempre esteve sujeita a grandes alagamentos com carreamento de sedimentos. Talvez seja a maior fonte de produção de sedimentos da BH. Atualmente, a magnitude destes alagamentos diminuiu um pouco, por causa das obras de ampliação dos condutos da avenida Pe. Cacique. 3.2.5. Avenida Pe. Cacique Esta avenida percorre todas as bacias, seus condutos servindo de condução final das águas que descem das subbacias desde a José de Alencar até a FEBEM, margeando o parque Marinha do Brasil. Nesta avenida, concentram-se diversos estabelecimentos comerciais, o Tribunal Regional Eleitoral (próximo à avenida José de Alencar), restaurantes, motel, oficinas de automóveis, quadras de esporte, o estádio Beira Rio e o ginásio Gigantinho, palco de eventos esportivos e shows musicais, posto de gasolina, barraco de escola de samba, a FASE (antiga FEBEM), um colégio, além das futuras instalações, na sua parte final sul, do museu Iberê Camargo (já fora da bacia, mas que pode ter o acesso pelo norte bloqueado se a rede de drenagem falhar). O conduto principal na avenida Pe. Cacique possui as dimensões 1,0 x 1,0 m, com bueiros nas duas ramificações da avenida, nas margens do parque (estas já tomadas por sedimentos, pois não há morador para solicitar limpeza do DEP) e nos antigos pontos de alagamento já citados, além de outros espalhados pela avenida. Há outros condutos de 0,60 m e 0,70 m de diâmetro perto do estádio Beira Rio. A avenida possui uma declividade variável, mas sempre pequena. Destaca-se que, em frente à FASE (na subbacia FEBEM), há uma baixa no terreno. Este local sempre foi palco de incomodações quando da ocorrência de eventos. 3.2.6. Síntese das subbacias A Figura 3 mostra uma imagem da BH. Vê-se que a ocupação residencial é mais intensa nas subbacias mais ao norte. A subbacia FEBEM praticamente não mostra ocupação, mas tem o solo um pouco desprotegido no centro da mesma. A subbacia indicada CB12 não aporta para a BR; ela aporta diretamente para a CB12 e está indicada nesta figura pelo fato de esta ter vindo de uma pesquisa de doutorado em andamento, cujas BH envolve também a subbacia CB12. A Tabela 1 mostra algumas características das subbacias hidrográficas, obtidas a partir dos setores censitários do IBGE, onde se nota que as de maiores densidades são aquelas que possuem áreas predominantemente residenciais. Nas três últimas subbacias desta tabela, as populações estão concentradas em parcelas diminutas das áreas das mesmas. Figura 3 – Imagens da bacia (Fonte: Neves, 2005). Tabela 1 – Características das subbacias hidrográficas. Subbacia J. de Alencar B. do Cerro Largo Monroe Asilo FEBEM Totais População (hab) 3975 1938 2111 1384 1895 11303 * dividindo a área total pela população total Área (ha) 50,6 16,6 25,9 23,7 37,1 154 Densidade (hab/ha) 78,6 116,7 81,5 58,4 51,1 67,8* 3.3. Bacia de retenção: situação atual Como dito anteriormente, a construção da BR foi decorrente das ampliações feitas na rede de drenagem da região, na avenida Pe. Cacique. A imagem na Figura 4 mostra o sistema hidráulico no parque Marinha do Brasil. Figura 4 - Sistema hidráulico no parque Marinha do Brasil. Atualmente, esta BR, do ponto de vista hidráulico, está funcionando razoavelmente bem, pois os operadores das bombas têm ligado às mesmas sempre que o nível do reservatório atinge uma determinada cota, mesmo que não esteja chovendo no momento. Não se pode, contudo, prever até quando esta situação permanecerá, visto que há um aporte constante de esgotos cloacais clandestinos e de sedimentos, proliferando os aguapés e diminuindo o volume útil do mesmo. Há também a chegada de resíduo sólido flutuante, comumente denominado lixo. A Figura 5 mostra a foto da BR em março de 2004. No canto superior direito da pode ser visto o prédio do hospital Mãe de Deus, bem no fim da avenida José de Alencar, assinalada na Figura 4. Na Figura 6 há uma foto do canal José de Alencar. A Figura 7 mostra a quantidade de aguapés na BR, após cinco meses sem nenhuma intervenção do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP). O DEP possui unidades de conservação (Figura 8) que entram em ação por demandas da população, ou seja, não há uma programação preventiva. No caso da BR do parque Marinha do Brasil, houve uma limpeza de aguapés em abril de 2004 e uma em janeiro de 2005. A primeira foi requisitada tanto pela população, que reclamava do mau cheiro, agravado pelo período seco ao qual a cidade esteve submetida no início do ano de 2004, quanto pelos operadores das bombas da CB12, que sentiam prejudicados no trabalho de limpeza do poço, devido ao peso dos aguapés. A segunda vez, por reclamação da população que utiliza o parque. Figura 5 - Bacia de retenção, dia 05 de março de 2004. Figura 6 - Canal da José de Alencar em 25/09/2004. É interessante observar que, antes da construção da BR, esta área era quase desértica. A situação mudou após a implantação do projeto, que procurou construir o reservatório de forma que fosse criada uma área de lazer ao redor dele. De fato, muitas pessoas andam ao redor do reservatório, mas em períodos mais prolongados e secos, isto fica mais difícil. Figura 7 - Aguapés na bacia de retenção do parque Marinha do Brasil. Figura 8- Seções de conservação do DEP em Porto Alegre (Fonte: website da Prefeitura de Porto Alegre). Por causa deste tipo de estratégia de ação das unidades de conservação do DEP, várias bocasde-lobo são preenchidas por sedimentos. Uma visita a uma delas, em frente ao parque Marinha do Brasil, observou-se que havia um depósito de sedimentos de granulometria fina. Segundo informações dos funcionários do DEP, fazia muito tempo que não tinha havido limpeza naquele ponto em especial, pois não tinha havido também solicitações de limpeza, já que não há moradores perto desta estrutura, pois se trata de um local perto de um ponto de ônibus, em uma avenida, margeando um parque. Na Figura 9 estão as fotos do local. O material teve um peso estimado em cerca de 110 kg. Figura 9 - Limpeza de boca-de-lobo em 05/10/2004, pelos funcionários da unidade de conservação leste do DEP. 4. METODOLOGIA 4.1. Determinação do volume do depósito No intuito de se estimar o volume do depósito de sedimentos na BR, foram realizadas batimetrias em três momentos: início de maio de 2004, fim de agosto de 2004 e fim de novembro de 2004. Foram coletadas amostras de material do fundo do reservatório, cujos pontos de amostragem estão na Figura 10. A interface entre as cores azul e preta é o nível de água no dia 25 de agosto de 2004, quando foi realizada a batimetria (Figura 11). Assim, dados três datas 1, 2 e 3, tem-se o volume calculado em 1 como V1 e o volume calculado em 2 como V2 e o calculado em 3, V3. Espera-se que os totais depositados, em volume, entre as datas sejam: VD12 = V1-V2 (1) VD23=V2-V3 (2) VD13=V1-V3 (3) onde VD12 é o volume do depósito entre as datas 1 e 2, VD23 é o volume do depósito entre as datas 2 e 3 e VD13 representa o volume do depósito entre as datas 1 e 3. Pode-se então calcular um volume representativo médio mensal Vmm, dividindo os valores pelo número de meses. Figura 10 - Localização dos pontos de coleta de amostra. Figura 11. Batimetria realizada na BR, 25/08/2004 4.2. Determinação da massa do depósito De posse do volume do depósito, resta determinar a massa média mensal através de: Mmm = γ . Vmm (4) onde γ é a massa específica do material. Há três maneiras de se obter seu valor, segundo Carvalho et al. (2000): calculada, medida e estimada. A forma calculada utiliza equações que levam em conta a variação com o tempo e com a carga, como a equação 5, descrita em Lane e Koelzer (1953) apud Simons e Sentürk (1992): γ m = γ 1 + B ⋅ logθ (5) onde γ m é o peso específico em libras-força por pés cúbicos, em um depósito com θ anos, γ 1 é o peso específico inicial tabelado, correspondente a 1 ano de período de consolidação e B é tabelado (em libras-força por pés cúbicos). Carvalho et al. (2000) mostra uma equação semelhante para o peso específico aparente, com uma tabela semelhante ao caso anterior, adaptada de Strand (1974) apud Carvalho et al. (2000). A segunda maneira é a medida: pode ser determinada de maneira indireta, utilizando-se um medidor nuclear, tipo radioativo de densidade, ou de maneira direta, tomando-se uma amostra indeformada com um equipamento tipo gravidade ou piston-core, medindo o volume da amostra e determinando-se o peso seco após levar a mesma à estufa (Carvalho et al., 2000). A terceira maneira é a massa específica estimada: segundo Carvalho et al. (2000), a variação da massa específica é avaliada da seguinte forma: (a) se o sedimento for somente argila, então o peso específico aparente inicial variará de 0,42 a 0,96 t/m3; (b) se o sedimento for somente silte, então o peso específico aparente inicial variará de 1,12 a 1,17 t/m3; (c) se o sedimento for somente areia, então o peso específico aparente inicial será de 1,55 t/m3; (d) tendo-se uma composição de iguais porções dos três tipos, o peso específico aparente inicial variará de 1,02 a 1,22 t/m3. Ainda segundo os autores, nos pequenos reservatórios o material predominante que fica depositado é a areia, arbitrando-se o peso específico aparente inicial de 1,4 a 1,5 t/m3. Para eles, uma avaliação mais precisa pode ser obtida, utilizando-se os valores apresentados por Zhide (1998) apud Carvalho et al. (2000), mostrados na Tabela 2. A terceira maneira foi a escolhida para este artigo, pois o material estava muito molhado, não podendo ser tiradas amostras indeformadas, como mostra a Figura 12. Tabela 2 - Peso específico médio aparente inicial de depósitos em reservatórios, em t/m3 (Adaptado de Zhide, 1998 apud Carvalho et al., 2000). Tipo de operação do reservatório Sedimento sempre ou quase sempre submerso Depleção do reservatório de pequena a média Reservatório de significativas variações de nível Reservatório normalmente vazio Argila Silte (<0,004 mm) (0,004-0,062mm) Areia (0,062-2,000mm) 0,416 1,12 1,55 0,561 1,14 1,55 0,641 1,15 1,55 0,961 1,17 1,55 Figura 12- Retirada de amostras da bacia de retenção 4.3. Procedimento para a determinação estimada da massa específica De posse das amostras, fez-se a curva granulométrica de cada uma delas, correspondentes aos pontos da Figura 10. Após a determinação desta curva, compararam-se os resultados das amostras com dados da literatura. Esta contém o tipo de material, em função do diâmetro dos grãos. O material retirado da BR foi levado ao laboratório de sedimentos do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH), onde foi efetuada a granulometria para os seguintes valores de abertura da malha (mm): 5,66; 4,00; 2,83; 2,00; 1,41; 1,00; 0,71; 0,50; 0,36; 0,25; 0,18; 0,125; 0,09; 0,063; 0,0625; 0,0442; 0,0312; 0,0221; 0,0156; 0,0078; 0,0039 e 0,00195. Foi necessário secar, macerar, queimar a matéria orgânica com peróxido de hidrogênio, fazer a análise granulométrica por peneiramento até a malha maior ou igual a 0,063 mm e a análise granulométrica por pipetagem abaixo deste valor. Assim, foi possível determinar a composição de cada uma das amostras. A amostra de número sete foi perdida na análise por pipetagem. A determinação do tipo de material presente nas amostras foi possível observando uma tabela retirada da classificação do sedimento de acordo com a granulometria pela AGU-American Geophysical Union (Classificação de Wentworth), encontrada em Carvalho et al. (2000). Dessa forma, testaram-se duas maneiras de se obter o valor da massa específica de cada amostra: 1) levou-se em conta que o reservatório tem significativas variações de nível e verificaram-se as porcentagens de areia argila e silte, adotando-se o preconizado na Tabela 2, ou seja, 0,641 t/m3 para argila, 1,15 t/m3 para o silte e 1,55 t/m3 para a areia. Também foi adotado para o pedregulho o mesmo da areia, já que são frações finas as que compuseram o material. Para cada amostra, o peso específico aparente médio foi calculado através da média, ponderada pelas porcentagens de material nelas contidas. 2) foi utilizada a curva granulométrica de cada amostra, utilizando-se o diâmetro d50, um dos mais comuns no estudo de transporte de sedimentos. A massa específica dos sedimentos foi determinado em que faixa está o diâmetro d50 de cada amostra. Novamente, a partir de Carvalho et al. (2000), levou-se em conta que o reservatório tem significativas variações de nível. 5. RESULTADOS 5.1. Volume do depósito Os resultados dos levantamentos realizados na BR foram os seguintes: o volume abaixo do nível de referência para a avaliação no tempo em maio foi estimado em, aproximadamente, 1.899,6 m3. Na batimetria realizada no fim de setembro, ele caiu para, aproximadamente, 602,7 m3. Em novembro, resultou em 601,9 m3, significando que, em quatro meses, o volume reduziu em 68,3%, enquanto que, nos três meses posteriores, a variação foi de 0,1 %. Destarte, pode-se dizer que não houve, no período posterior, mudança no fundo da BR. Pode-se dizer então que o total de volume reduzido foi de 1296,9 m3. Então, em média, a redução no volume de 185,3 m3/mês. Levando-se em conta somente os quatro meses onde realmente houve transporte e deposição, tem-se o volume médio mensal de 324,2 m3/mês. Tucci e Collischonn (2000) recolheram alguns dados em bacias urbanas brasileiras, de diversas fontes. A Tabela 3 mostra estes quantitativos, fazendo uma transferência para a BH contribuinte, de 1,54 km2. Os dados têm uma ordem de grandeza semelhante aos valores médios obtidos no parágrafo anterior. Tabela 3 - Estimativas de material sólido depositado na rede de drenagem em bacias urbanas brasileiras (Adaptação: Tucci e Collischonn, 2000). Local Rio Tietê em São Paulo Tributários do rio Tietê em São Paulo Lagoa da Pampulha em Belo Hoirizonte Arroio Dilúvio em Porto Alegre Tipo de estimativa Volume m3/km2/ano Transferência para a bacia em estudo (1,54 km2)* Material dragado 393 Volume m3/ano 605 Material de fundo 1400 2156 180 Assoreamento 57a 94 2436 3751 313 Material dragado 750 1155 96 * A subbacia CB12, de 38,2 ha, não contribui para a bacia de detenção Volume m3/mês 50 5.2. Composição do material depositado no findo A Figura 13 mostra a curva granulométrica. A Tabela 4 mostra a porcentagem de cada tipo de material nas amostras. Figura 13 – Curva granulométrica. Tabela 4 - Síntese da classificação das amostras segundo AGU-Wentworth (ami – amostra i). Classe Granulométrica pedregulho areia silte argila am1 am2 am3 am4 am5 am6 am8 0.0% 0.1% 0.4% 15.0% 0.0% 0.0% 0.1% 83.4% 95.1% 94.6% 82.6% 93.8% 91.8% 92.1% 11.8% 3.6% 4.1% 2.2% 5.3% 7.0% 5.9% 4.8% 1.2% 1.0% 0.2% 0.9% 1.1% 2.0% Tabela 5 - Alguns diâmetros característicos das curvas granulométricas das amostras. Amostra am1 am2 am3 am4 am5 am6 am8 d25 0,234 0,296 0,323 1,341 0,409 0,339 0,243 d50 0,113 0,169 0,248 0,545 0,245 0,201 0,140 Diâmetro característico d60 d65 d67,5 d75 0,087 0,082 0,079 0,071 0,135 0,121 0,115 0,099 0,222 0,209 0,202 0,182 0,405 0,347 0,329 0,276 0,201 0,177 0,146 0,097 0,131 0,108 0,098 0,084 0,100 0,089 0,086 0,079 d80 0,066 0,088 0,127 0,241 0,084 0,078 0,075 d90 0,019 0,072 0,078 0,160 0,069 0,066 0,065 A areia predomina em todas elas. A amostra sete foi perdida, para os diâmetros da pipetagem. A amostra quatro é a única que não acompanha o conjunto, contendo uma participação mais significativa de pedregulho. O ponto quatro pode ter pegado material maior por estar no limite do nível d’água, que neste dia estava um pouco acima da parte final do talvegue do reservatório. Há nesta parte pedras maiores, resultado ou de rolamento da parte no nível do terreno ou de resquícios da construção. 5.3. Massa depositada: determinação da massa específica pela média ponderada da composição O resultado está na Tabela 6. Tomando o valor médio, as massas correspondentes aos dois volumes médios mensais calculados anteriormente são de 280,5 t/mês e 490,8 t/mês. Tabela 6 – Massas específicas estimadas para as amostras da bacia de retenção pela média ponderada. Amostra massa específica (t/m3) am1 1,46 am2 1,53 am3 1,53 am4 1,54 am5 1,52 am6 1,51 am8 1,51 média 1,51 5.4. Massa depositada: determinação da massa específica pela curva granulométrica, através do diâmetro d50 Os peso específicos de cada amostra estão na Tabela 7, bem como em que classificação caiu o d50 de cada uma delas. Tabela 7 - Massas específicas estimadas para as amostras da bacia de retenção pelo diâmetro d50. amostra am1 am2 am3 am4 am5 am6 am8 d50 (mm) classificação massa específica (t/m3) 0,113 Areia muito fina 1,55 0,169 Areia fina 1,55 0,248 Areia fina 1,55 0,545 Areia grossa 1,55 0,245 Areia fina 1,55 0,201 Areia fina 1,55 0,140 Areia fina 1,55 Tomando o valor de 1,55 t/m3, as massas correspondentes aos dois volumes médios mensais calculados anteriormente são de 287,2 t/mês e 502,5 t/mês. 6. DISCUSSÃO Na Figura 14 estão as precipitações diárias, obtidas entre novembro de 2003 e setembro de 2004, a partir da digitalização dos dados do pluviógrafo situado na bacia Cavalhada, próxima do local de estudo. Pode-se notar que s meses de janeiro, fevereiro, março e abril foram praticamente todos secos. As bombas da CB12 praticamente não foram ligadas neste período e no reservatório o escoamento seguia o caminho preferencial típico deste tempo. As chuvas a partir do dia 19 de abril se tornaram mais freqüentes. Até este dia, houve chuvas mais intensas dia 05 (três eventos distintos, sendo dois de 60 mm/h intercalados por um de 108 mm/h) e 29 de fevereiro (um evento mais forte de 53 mm/h). Não foi possível, até antes do envio deste artigo, os dados a partir de setembro, que comprovaria a maior constância dos eventos, apesar desta ter sido sentida. 26-09-04 16-09-04 06-09-04 27-08-04 17-08-04 07-08-04 28-07-04 18-07-04 08-07-04 28-06-04 18-06-04 08-06-04 29-05-04 19-05-04 09-05-04 29-04-04 19-04-04 30-03-04 20-03-04 10-03-04 09-04-04 ABR MAR 29-02-04 19-02-04 FEV 30-01-04 20-01-04 10-01-04 31-12-03 21-12-03 11-12-03 01-12-03 21-11-03 11-11-03 JAN 09-02-04 85 80 75 70 65 60 55 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 01-11-03 Precipitação (mm) Precipitação diária a partir do posto Cavalhada Data Figura 14 - Precipitação diária no posto da BH Cavalhada, vizinha à BH contribuinte. Na Figura 15 estão os totais mensais precipitados. Os meses de janeiro até abril a chuva total esteve bem abaixo da média (esta encontrada a partir dos dados correspondentes aos meses do gráfico). Na Figura 16 estão o números de dias com chuva em cada mês. Mais uma vez relembrando o caso anterior), nos meses de janeiro até abril, esta variável foi bem menor que a média (esta encontrada a partir dos dados correspondentes aos meses do gráfico), com exceção de fevereiro. Precipitação total por mês 220 195.9 193 200 180 163.3 Precipitação (mm) 160 140 146.6 139.1 média = 116.0 mm 120 97.4 100 87.7 87 76.2 75.9 80 60 40 13.8 20 setembro agosto julho junho maio abril março fevereiro janeiro dezembro novembro 0 Mês Figura 15 – Total precipitado mensal. Número de dias com chuva por mês 14 13 12 Número de dias 10 11 9 9 11 9 média = 8 8 8 8 6 6 5 4 4 2 0 novembro dezembro janeiro fevereiro março abril maio junho julho agosto setembro mês Figura 16 – Número de dias com chuva por mês. 7. CONCLUSÃO Este apresentou problemas decorrentes da falta de manutenção permanente em uma bacia de retenção que fica a jusante de um sistema de drenagem urbana, cuja bacia hidrográfica contribuinte se encontra no sul da cidade de Porto Alegre. A estimativa do volume do depósito de sedimentos mostrou que a mesma está dentro da ordem de grandeza apresentada em outros trabalhos já publicados no Brasil. Mostra também que, de um período de sete meses entre a primeira e última batimetria do fundo, nos quatro primeiros podem ocorrido o depósito, pelo fato de estes terem sido precedidos de quatro meses secos. O volume médio mensal, nos sete meses, foi de 185,3 m3/mês, ou seja, 1,20 m3/mês/ha. Em massa, isto significa um valor de 1,82 t/mês/ha ou 1,86 t/mês/ha, dependendo de como se calcula a massa específica. É notável a necessidade, pelo menos em Porto Alegre, de um planejamento integrado dos sistemas de drenagem urbana, dado que, via de regra, as soluções para os problemas de escoamento superficial com a utilização deste tipo de equipamento urbano já se consolidam, mas elas não levam em conta o seus impactos após a implantação. O caso desta bacia de retenção mostra isso, dado que nela não há estrutura para a limpeza, pois não foram previstos acessos (rampas para a entrada de veículos ou barcos) e o fundo foi mantido com terreno original (sem revestimento). Não se consegue entrar com nenhum veículo de limpeza, e nem a pé, sob a ameaça de afundamento. Esta situação poderia ter sido evitada se o projeto tivesse contemplado um revestimento no fundo ou estruturas e especiais (passarelas, corredores, etc) que permitisse a entrada de veículos e pessoas. Além disso, é necessário um monitoramento mais detalhado desta bacia de retenção e da bacia contribuinte, em se tratando de qualidade da água em geral e quantidade também. O tamanho desta bacia e as suas características possibilitam um estudo mais criterioso no sentido de ir às fontes de poluição das águas da drenagem urbana. Faz-se necessário mais coletas de sedimentos, incluindo áreas como avenidas (coletando amostras nas sarjetas e nas bocas de lobo, por exemplo), áreas de vegetação, terrenos baldios, etc. 8. AGRADECIMENTOS Ao CNPq pelo financiamento da pesquisa, à Patrícia e ao Christian e os demais freqüentadores do laboratório de sedimentos do IPH, pela ajuda no trabalho com o material coletado e ao setor de hidrometria do IPH. Agradeço também à Prefeitura Municipal de Porto Alegre, pela autorização para o trabalho na bacia de retenção. 9. BIBLIOGRAFIA a) Livro CARVALHO, Newton de Oliveira, FILIZOLA Jr., Naziano Pantoja, SANTOS, Paulo Marcos Coutinho, LIMA, Jorge Enoch Furquim Werneck. (2000). Guia de avaliação de assoreamento de reservatórios. Agência Nacional de Energia Elétrica, Superintendência de Estudos e Informações Hidrológicas Brasília - DF. 132 p. SIMONS, daryl b. e SENTÜRK, fuat. (1992). Sediment transport technology: water and sediment dynamics. Littleton: Water Resources Publications. b) Capítulo de livro TUCCI, Carlos E. M. e COLLISCHONN, Walter. (2000). “Drenagem urbana e controle de erosão”, in Avaliação e controle da drenagem urbana. Org. por TUCCI, Carlos E. M. e MARQUES, David M. L. da Motta., Editora da universidade UFRGS, FINEP. vol 1. 1 ed., Porto Alegre-RS, pp. 119 - 127. TUCCI, Carlos E. M. e GENZ, Fernando. (1995). “Controle do impacto da urbanização”, in Drenagem urbana. Org. por TUCCI, Carlos E. M., PORTO, Rubem La Laina e BARROS, Mário T. de., ABRH, Editora da universidade UFRGS. 1 ed. Porto Alegre-RS, pp. 277 - 347. c) Artigo em anais de congresso ou simpósio NEVES, Marllus Gustavo F. P. das, TASSI, Rutinéia e VILLANUEVA, Adolfo O. N. (2001). “Estudo de um reservatório de detenção através de modelagem hidrodinâmica” in Anais do XIV Simpósio brasileiro de recursos hídricos e V simpósio de hidráulica e recursos hídricos dos países de língua oficial portuguesa, Aracaju, Nov. 2001. d) Relatórios DEP, Departamento de esgotos pluviais da Prefeitura Municipal de Porto Alegre e HIDROSUL saneamento e hidrologia Ltda. (1999). Bacia de detenção do parque Marinha do Brasil: memorial descritivo e plantas, volume II método racional. Porto Alegre. IPH-DEP. (2004). Plano Diretor de Drenagem Urbana de Porto Alegre – RS. 6 volumes. Porto Alegre. e) Tese NEVES, Marllus Gustavo F. P. das. (2005). Quantificação de resíduos sólidos na drenagem urbana. Curso de Pós-Graduação Recursos Hídricos e Saneamento. Tese em andamento (Doutorado Engenharia). Porto Alegre: UFRGS. f) Internet Website da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. www.portoalegre.rs.gov.br. Acesso em março de 2005.