Faculdade de Medicina Universidade de São Paulo Resultados do Projeto Bandeira Científica 2002 Serra dos Aimorés - MG I- Introdução Integrantes do projeto Bandeira Científica 2002 na saída de ônibus em São Paulo. O ano de 2002 foi o quinto ano consecutivo de trabalhos da Bandeira Científica. O projeto foi reativado em 1998 por acadêmicos da FMUSP, incentivados por informações e relatos sobre expedições na década de 60, encontrados nos arquivos da Faculdade. Cresceu substancialmente nestes anos com o apoio de vários órgãos governamentais, entidades e empresas, chegando a resultados surpreendentes nestas últimas expedições. As expedições são realizadas preferencialmente em áreas rurais distantes, desprotegidas e eventualmente sem assistência médica. A partir de 2000 foram introduzidas consultas em ambulatórios improvisados, coleta de dados epidemiológicos, além da realização de palestras sobre temas básicos de saúde e saneamento para a população e agentes de saúde da localidade. O local de atuação do projeto em 2002 foi município de Serra dos Aimorés, que é uma pequena cidade próxima a Nanuque, localizado na região nordeste do Estado de Minas Gerais a 6 km da fronteira com a Bahia. Possui 7752 habitantes segundo estimativas do IBGE 2002, mas faz parte de uma região Foto do mapa de Minas Gerais com Serra dos Aimorés indicada pela seta de mesmo nome cuja soma da população atinge um valor próximo ao de 400.000 habitantes. A cidade é predominantemente composta por zona urbana, mas a maioria de 1 seus habitantes trabalham na zona rural, empregados em grandes fazendas da região, pois as principais atividades econômicas são agricultura, pecuária e comércio1. A cidade possui dois Programas de Saúde da Família (PSF) compondo 12 microáreas, sendo que duas são rurais e uma abrange tanto área urbana como rural (tabela 1). A porcentagem da população do município cadastrada no Programa atinge 98,55%2. Desse modo, Serra dos Aimorés conta com uma ótima cobertura primária de Saúde. Segundo a prefeitura, o maior problema da região é a falta uma estrutura hospitalar, sendo que o único hospital público da região está situado em Nanuque, a meia hora da Serra dos Aimorés. No entanto, muitos casos são mandados para Belo Horizonte, a 800 km. Em contraste com essa situação, Serra dos Aimorés conta há anos com um prédio hospitalar acabado, mas inoperante. O prédio, que possui três setores distintos, foi construído com o intuito de abrigar enfermarias, ambulatórios e centro cirúrgico completo (que conta com sala de cirurgia e sala obstétrica), totalizando 80 leitos. Devido a problemas políticos e econômicos, no entanto, o Hospital nunca entrou em funcionamento. Atualmente, um pequeno setor do edifício é ocupado pelas Secretarias Municipais de Saúde e de Ação Social. A estrutura da edificação é superestimada para as necessidades do município, mas poderia, em um futuro, abrigar um hospital regional, que servisse também aos municípios próximos. Tabela 1: divisão do PSF em Serra dos Aimorés ACS N° Responsável responsável Microárea Localização famílias Dejacy Maria Aparecida I urbana 208 Maria Celeste II urbana 196 Aparecida III rural 60 Sebastiana IV urbana 228 Valdinéia V urbana 230 Nara Ney VI urbana 198 Lorena Gil I urbana 240 Elizabeth II urbana 202 Elza III urbana 174 Artenize IV urbana 180 Adeluzia V urbana 195 Selma VI rural 205 Total 12 2316 N° por família 4 4 4 4 5 4 4 4 4 4 6 4 Total 832 784 240 912 1150 792 960 808 696 720 1170 820 9884 2 II- Atividades do projeto BC 2002 No período de 11 a 19 de dezembro, realizaram-se as atividades do Projeto Bandeira Científica 2002. A equipe de 91 participantes da FMUSP foi composta de acadêmicos, professores médicos supervisores e fisioterapeutas. Contou ainda com o apoio de médicos e alunos de Fisioterapia da Faculdade de Medicina de Caratinga (FUNEC), instalada no município homônimo, ao leste de Minas Gerais. As atividades executadas foram orientação para os agentes comunitários de saúde, a assistência médica, o desenvolvimento de projetos de iniciação científica, a realização de palestras sobre temas básicos de saúde e saneamento, realizadas junto à população e agentes saúde da localidade, assim como a coleta de dados epidemiológicos da população atendida. 3 III- Atendimentos De 11 a 15 de dezembro (quarta-feira a domingo), os atendimentos deram-se na área urbana. Os agendamentos foram distribuídos entre as microáreas do PSF, de modo a que a demanda fosse constante ao longo dos cinco dias de atendimento urbano. O Posto Central, com aproximadamente 8 salas disponíveis, e o prédio do Hospital Municipal (que foi reformado e limpo para nossa utilização), com cerca de 12 salas disponíveis, abrigaram a estrutura da Bandeira e receberam os pacientes nesse período. Neste ano contamos com o atendimento ambulatorial de Clinica Médica, Pediatria, Otorrinolaringologia, Cirurgia e Psiquiatria, foram realizados exames de Citologia Cervical Uterina para rastreamento de câncer de colo de útero, exame parasitológico de fezes, como diagnóstico e rastreamento na população, com identificação dos parasitas e tratamento, realizamos ainda biopsias para investigação de Leishmaniose, Hanseníase e Câncer de pele. Em ambos os locais, realizaram-se atendimentos ambulatoriais em Clínica Geral e em Fisioterapia, coleta de exames de colpocitologia oncótica (papanicolaou) e recepção de frascos de coleta de fezes para exames. O Hospital recebeu ainda ambulatórios nas especialidades de Pediatria, Otorrinolaringologia, e foi montada uma sala para a realização de pequenos procedimentos cirúrgicos. Parte do espectro de técnicas de exames a que é submetido o material fecal colhido foi realizada em um laboratório improvisado em uma das salas do Hospital. O atendimento em Psiquiatria foi direcionado ao CAPS do município, de modo que os pacientes psiquiátricos fossem atendidos no mesmo local em que já faziam acompanhamento com psicólogo. O atendimento rural ocorreu no dia 16/12, e a equipe foi novamente dividida, de modo a cobrir três bairros de microáreas distintas. No bairro do Lajedão, o atendimento foi realizado na Unidade de Saúde Lajedão e na Escola Municipal. Na localidade de Córrego dos Bichos, o atendimento deu-se na Unidade de Saúde Córrego dos Bichos, assim como na Escola Municipal ao lado. As 4 estruturas utilizadas no bairro de Aimorezinhos foram a Escola Municipal Angeli Saúde e o Posto Aimorezinho. Também na zona rural foi mantida a mesma estrutura de atendimento médico e fisioterápico, realização de exames de papanicolaou e recepção dos coletores de fezes previamente distribuídos. Fig. Caracterização populacional e habitação típica encontrada Os pacientes atendidos pelo Projeto Bandeira Científica foram agendados previamente pelos agentes de saúde locais. Antes do atendimento, cada paciente preencheu um cadastro com dados pessoais e epidemiológicos para compor um banco de dados para posterior análise das condições de saúde local, a ser entregue a Secretaria de Saúde local. Além disso, também foi pedido um consentimento livre e esclarecido de modelo igual ao utilizado no Hospital das Clínicas da FMUSP para utilização desses dados para estudo científico epidemiológico. Após a consulta médica alguns casos foram encaminhados ao atendimento fisioterápico por equipes da USP e da FUMEC. Foram realizadas cerca de 2.100 consultas, sendo que os pacientes atendidos receberam a medicação gratuitamente fornecida pelo Projeto Bandeira Científica, bem como foram incluídos no sistema de saúde local. 5 Atendimento Fisioterápico A equipe de fisioterapeutas foi composta por cinco integrantes: um supervisor responsável e quatro acadêmicas do curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina da USP. O trabalho da equipe ficou baseado no Hospital, tendo ocorrido também alguns atendimentos no Posto de Saúde Central e nos locais de atendimento dos bairros da zona rural. Tanto as intervenções quanto as prescrições de auto tratamento se deram basicamente por meio de técnicas cinesioterápicas, ou seja, com exercícios específicos para a sintomatologia de cada paciente, com pouco uso de outras técnicas como a crioterapia. A cinésioterapia significa tratar pelo movimento, e esta foi a idéia do grupo e o papel da Fisioterapia na Bandeira Científica. Muitas patologias do sistema músculoesquelético, posturais, neuromusculares, reumatológicas e cardio-respiratórias se beneficiam deste tipo de tratamento. As causas mais comuns de procura ao atendimento foram lombalgia e dores nas costas em geral. Outras causas freqüentes incluíram problemas reumatológicos, algias em joelho e ombro e déficits circulatórios. O número total de atendimentos foi o de 113 pacientes, que poderia ter sido maior em face da prevalência de queixas na população passíveis de serem submetidas a atendimento fisioterápico. Além dos atendimentos, foram realizadas palestras abertas para a população sobre prevenção de dores nas costas e doenças respiratórias. Também foi apresentada uma palestra sobre lombalgia para os funcionários da Usina de Álcool da cidade. 6 Atendimento Psiquiátrico O trabalho realizado pela disciplina de Psiquiatria na Bandeira Científica 2002, na cidade de Serra dos Aimorés (MG), foi um avanço para a especialidade dentro do Projeto. A inovação vem do fato de que na cidade já existe um trabalho sendo realizado, o CAPS, que foi adotado pelo programa para uma consultoria, algumas de suas características foram re-elaboradas e a ele se somaram novos casos, de pacientes atendidos durante a Bandeira Científica, que não estavam incluídos no serviço oferecido. O CAPS, centro de apoio psicológico oferecido pelo SUS da região, conta com uma equipe constituída por médico generalista, psicóloga e auxiliar de enfermagem, que prestam adequado atendimento à saúde mental da população, tendo em vista as modestas possibilidades de melhorias e inovações. A expedição contou com um médico especialista do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, que dirigiu o atendimento realizado por alunos do 3o ao 5o anos da graduação desta faculdade. Os dados obtidos estão sendo avaliados e serão incluídos em diferentes pesquisas científicas sobre saúde mental, possibilidades de tratamentos e direções que podem ser adotadas no contexto brasileiro. O atendimento realizado pela expedição a pacientes do ambulatório da cidade caracterizou-se por uma consultoria, no sentido de avaliar doentes, esclarecer dúvidas diagnósticas, elaborar novas condutas em casos de refratariedade ao tratamento, auxiliar os profissionais do ambulatório, carentes de treinamento mais moderno e, portanto, readequar o serviço oferecido pelo CAPS à demanda municipal. 7 IV- Cursos e Palestras Durante os últimos dias foram realizadas palestras aos agentes de saúde sobre diferentes temas, com a possibilidade da população participarem das palestras. Os agentes de saúde propuseram os seguintes temas: Hipertensão Arterial Sistêmica, Diabetes, DST e AIDS, Lombalgia, Planejamento familiar, Saneamento e Primeiros Socorros; sendo esta última um curso com os resultados detalhados no Próximo ítem. Fig. Palestras realizadas a comunidade e Agentes de Saúde 8 Projeto Suporte Básico e Avançado de Vida O projeto “Suporte Básico e Avançado de Vida” do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) existe há mais de dez anos. Tem por objetivo de divulgar o conhecimento em prevenção de acidentes e atendimento inicial em urgências médicas e a acidentados para estudantes de medicina, profissionais da área de saúde e até mesmo para leigos. Segue os protocolos estabelecidos pela American Heart Association. Conta com acadêmicos bolsistas pelo COSEAS da USP e outros voluntários coordenados pelo Prof. Dr. Fernando Bueno Pereira Leitão. Este é o relatório da orientação didática de caráter teórico-prático sobre primeiros socorros, prevenção de acidentes e suporte básico de vida ministrada a agentes comunitárias de saúde do Programa Saúde da Família. Este foi o segundo ano desta parceria. O ano de 2001 foi marcado por atividades semelhantes no município de Buriticupu, no Maranhão. Atividades O treinamento das agentes ocorreu em dois dias consecutivos: • Dia 18 de dezembro de 2002. Fig.: Parte teórica do curso. Agentes comunitárias de saúde e acadêmicos de medicina. Parte teórica. Palestra abordando os temas: 1. prevenção de acidentes. 2. fatores de risco para doenças cardiovasculares. 3. importância da cadeia de sobrevivência. 9 4. primeiros socorros nas seguintes situações: queimaduras, sangramentos, fraturas e luxações, picadas por animais peçonhentos, urgências oftalmológicas e dúvidas pessoais das agentes. Esta primeira etapa teve duração aproximada de 90 minutos e contou com a presença de nove agentes de saúde. Acadêmicos de medicina não vinculados ao Projeto Suporte Básico e Avançado de Vida auxiliaram nesta parte. Dia 19 de dezembro de 2002. Parte prática. Contou-se com a presença das mesmas nove participantes, mais uma outra agente de saúde que não pode comparecer no dia anterior. Os temas abordados e manobras praticadas nesta etapa foram: 1. reconhecimento dos sinais e sintomas de um infarto agudo do miocárdio. 2. “ABCD” do suporte básico de vida no adulto, na criança e no bebê. 3. desobstrução de vias aéreas no adulto e no bebê devido obstrução por corpo estranho. 4. imobilização de coluna cervical, rolamento em bloco e noções de transporte da vítima de trauma. Para esta parte do treinamento usou-se um manequim de bebê e um de adulto (apenas tronco e cabeça). Inicialmente foi feita uma demonstração pelos instrutores, seguida de uma simulação de situação de emergência para que as agentes atendessem. Todas participaram ativamente na execução das manobras. Para as situações de obstrução de vias aéreas por corpo estranho no adulto e rolamento em bloco da vítima traumatizada, as manobras foram realizadas entre as próprias agentes, sempre contando com uma voluntária para simular a vítima. Esta etapa teve duração aproximada de três horas. Ao final foram distribuídas apostilas para cada uma das agentes, contendo os tópicos mencionados e outros que não foram possíveis Fig. Instrutor acompanhando agente de saúde durante parte prática do treinamento. 10 abordar, ou que foram expostos por outros palestrantes do Projeto Bandeira Científica, mas que não do Projeto Suporte Básico e Avançado de Vida. Deixou-se também para o município o manequim do adulto, para que pudesse ser feita futuramente a reciclagem do treinamento. 11 Avaliação dos resultados Para se ter um controle do conhecimento retido pelas agentes, aplicou-se uma prova antes e essa mesma prova logo após o treinamento. A avaliação constava de 20 testes de múltipla escolha com cinco alternativas cada, onde apenas uma estava correta. Cabem aqui algumas observações importantes: 1. esta prova foi criada para atender outro grupo de pessoas treinadas pelo Projeto Suporte Básico e Avançado de Vida. Trata-se de professores da Faculdade de Educação da USP que receberam seu treinamento no Hospital das Clínicas da FMUSP durante o ano de 2002. O vocabulário nela contido não condizia, portanto, com a realidade por nós verificada em Serra dos Aimorés. 2. alguns dos quesitos da prova não receberam a mesma ênfase que no treinamento dos professores acima mencionado . Estes últimos receberam um treinamento mais longo (aproximadamente 9 horas). 3. uma das questões foi cancelada por não condizer com a realidade local. Tratavase do número de telefone correto a se discar em caso de emergência. Portanto, ao final, a prova constava de 19 testes. 4. uma questão teve duas alternativas consideradas corretas, pois seu enunciado dava margem à dúvida (inclusive aos instrutores). 12 Resultados Seguem a seguir os gráficos com os resultados obtidos na avaliação. Vale lembrar que uma das agentes de saúde compareceu apenas ao segundo dia do treinamento, realizando somente uma das provas. Ela não foi levada em conta ao se obter as notas médias. 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 1 2 3 4 5 6 Notas pré curso 7 8 9 10 Notas pós curso Notas individuais pré e pós treinamento. 80% 69% 70% 60% 50% 38% 40% 30% 20% 10% 0% 1 Nota média pré curso Nota média pós curso Nota média pré e pós treinamento. 13 Discussão Verificou-se uma significativa melhora dos conhecimentos adquiridos durante o treinamento. A nota média obteve uma melhora de 82%. É evidente que 69% não é o desempenho ideal. Consideramos que após a exposição teórica e a prática, o aluno deva obter uma nota acima de 90%. Todavia, como já exposto anteriormente, a avaliação aplicada não foi criada para o público alvo aqui apresentado. Além das evidências numéricas, vale lembrar o quão elogiada foi essa experiência pelas próprias agentes de saúde. Inúmeras vezes elas abordaram os instrutores para parabenizá-los e agradecê-los. O treinamento foi lembrado e mencionado pelas agentes, inclusive quando entrevistadas pela equipe de reportagem da TV USP, que acompanhou o Projeto Bandeira Científica em Serra dos Aimorés. Conclusão A parceria entre os projetos Suporte Básico e Avançado de Vida e Bandeira Científica vem surtindo efeitos positivos. Infelizmente não se possui este mesmo controle de notas da expedição a Buruticupu, MA, do ano de 2001. A comparação não é possível, mas concluir que os resultados são animadores é. Esforços educativos neste assunto são fundamentais. Numa região de poucos recursos como a apresentada, as agentes de saúde são o público alvo ideal para tal treinamento. São pessoas com certo destaque na comunidade, conhecem a fundo o diaa-dia e problemas dos moradores de sua região e freqüentemente seus conhecimentos sobre temas de saúde são cobrados, especialmente devido ao cargo que ocupam. 14 V- Análise das características gerais da população Os dados descritivos da população atendida podem ser analisados na tabela 1. A população atendida foi de 2100 indivíduos, sendo 822 (36,4%) do sexo masculino e 1436 (63,6%) do sexo feminino. A idade média foi de 31,57 anos, variando de 11 dias a 99 anos. A cor predominante foi a mulata/parda (52,0%), seguida pela branca (26,5%), negra (19,9%) e amarela (1,6%). Em relação ao nascimento, nascida em Estado a de maioria Minas é Gerais (66,1%), seguida pela Bahia (25,8) e outros (8,1%), e 93,6% dos atendidos residem atualmente em Serra dos Aimorés. A profissão mais encontrada foi a de doméstica (empregada e dona de casa, 35%), a segunda mais encontrada foi a de estudante (26,6%) seguida pela de trabalhador urbano com (21,0%), aposentados (6,6%) e desempregados (1,3%). A média da escolaridade encontrada foi de 4,46 anos estudados e a religião predominante é a Católica (81,8%), tendo significativo número de cristãos não católicos (15,5%). A população atendida tem a média de altura, peso e Índice de Massa Corpórea (IMC = peso/altura2) de 1,51m, 49,7Kg e 22,39 respectivamente, sendo o IMC aplicado apenas para maiores 20.A porcentagem de pessoas casadas é de 38,5% e 61,5% de não casadas. A média de pessoas que residem na mesma casa é de 4,58, chegando até ao máximo de 15 pessoas. OBS: foram registrados dados de 2321 fichas epidemiológicas, preenchidas antes do atendimento e pela visita domiciliar; as tabelas que não completam o número de 2321 no total foram conseqüência da não resposta do entrevistado, que tinha a total liberdade para não responder. 15 Tabela 1: resultado descritivo das características populacionais encontradas em Serra dos Aimorés, Minas Gerais. Atendimento e visita domiciliar. Sexo Idade Cor Estado de Nascimento Residência Atual Estado Civil Masculino 822 36,4% Feminino 1436 63,6% Média ± Desvio Padrão 7,91 ± 55,23 Mínimo 11dias Máximo 99anos Branca 570 26,5% Parda/mulata 1120 52,0% Negra 429 19,9% Amarela 35 1,6% Minas Gerais 1470 66,1% Bahia 574 25,8% Outros 179 8,1% Serra dos Aimorés 2145 93,6% Outros 136 6,4% Solteiro/ Viúvo/ Separado 1345 61,5% Casado/ Amigado 843 38,5% Número de pessoas que reside na mesma casa Média ± Desvio Padrão Peso (Kg) Média ± Desvio Padrão 2,33 ± 6,82 Mínimo 1 pessoa Máximo 15 pessoas 28,16 ± 71,23 Kg Mínimo 1,5 Kg Máximo 129 Kg 16 Altura (m) IMC Profissão Religião Escolaridade Divisão da renda Média ± Desvio Padrão 1,33 ± 1,70 m Mínimo 0,16 m Máximo 1,95 m Média ± Desvio Padrão 18,40 ± 28,80 Mínimo 11,11 Kg/m2 Máximo 56,71 Kg/m2 Trabalhador rural 182 9,5% Doméstica 674 35,0% Trabalhador urbano 404 21,0% Aposentado 126 6,6% Estudante 512 26,6% Desempregado 25 1,3% Católica 1618 81,8% Cristã não católica 307 15,5% Outra 54 2,7% Média ± Desvio Padrão 0,66 ± 8,25 Mínimo (analfabetos) 0 anos Máximo 18 anos 1 salário ou menos 973 48,80% Mais de 1 salário 1021 51,20% 17 Estratificação Para melhor interpretação dos dados a população foi dividida em faixas etárias, sendo composta de 4 faixas etárias, a primeira é a de crianças composta de pacientes de 0 a 11 anos de idade, a segunda é a dos adolescentes, composta de indivíduos de 12 a 19 anos, a terceira é a da população adulta, composta de pessoas de 20 a 49 anos e por último temos a faixa etária dos idosos, composta de pessoas com mais de 50 anos. Tabela e Gráfico nº2: distribuição de faixa etária referida FAIXA ETÁRIA Nº Em % 0-11 (saúde da criança) 614 26,6 12-19 (saúde do adolescente) 326 14,1 20-49 (saúde do adulto) 788 34,1 >50 (saúde do idoso) 581 25,2 Total 2309 100 581 614 326 788 A tabela nº 3 ilustra a distribuição do número de pessoas que vivem na mesma casa do entrevistado, a média da constituição familiar encontrada foi aproximadamente de 4 pessoas, chegando até a 15 pessoas. Tabela e Gráfico nº3: distribuição do número de pessoas que o paciente refere viver na mesma casa Número de pessoas Nº Em % 1 109 4,9 89 127 109 249 157 2 249 11,3 3 385 17,5 4 464 21,0 5 401 18,2 6 225 10,2 7 157 7,1 8 157 7,1 225 385 401 464 1 2 3 4 5 6 7 8 9 18 9 ou mais 127 5,8 A tabela nº 4 ilustra a distribuição do IMC na população acima de 20 anos, como podemos ver a maioria da população está na faixa normal, temos uma população importante na faixa abaixo do normal, outra faixa importante de obesos. Tabela e Gráfico nº 4: distribuição do IMC IMC Nº Em % 152 283 Abaixo (< que 20) 152 14,3 Normal (entre 20 e 25) 477 45,0 Sobrepeso (entre 25 e 30) 283 26,7 Obeso (acima de 30) 148 14,0 148 477 A tabela nº5 ilustra a distribuição da população em anos estudados dividida em 4 faixas, nenhum ano estudado (analfabetos), de 1 a 4 anos estudados, de 5 a 8 anos e acima de 9 anos; foram excluídos os pacientes pré-escolares. Tabela e Gráfico nº 5 da distribuição dos anos estudados referido Anos estudados Nº Em % Nenhum 342 19,4 De 1 a 4 anos 685 38,8 De 5 a 8 anos 448 25,5 Acima de 9 anos 290 16,4 290 342 448 685 A tabela nº 6 ilustra a distribuição da escolaridade da população, foram divididos em 5 faixas, sem estudo, pré-escolar, primário, ginásio e colegial e universitário. Tabela e Gráfico nº 6 da distribuição da escolaridade referida Série Nº Em % Nenhum 344 15,4 Pré-escolar 391 17,50 De 1 a 4 série 761 34,1 294 443 344 391 19 De 5 a 8 série 443 19,8 Colegial e universitário 294 13,2 20 Características de moradia Os dados sócio-econômicos da população de Serra dos Aimorés relacionados à moradia podem ser encontrados na tabela e gráficos nº 2. Dois terços da população atendida (75,6%) possuem residência própria, enquanto o restante das pessoas vivem em casas alugadas (16,3%), emprestadas (3,15%), de familiares (2,02%), no local onde são empregadas (1,26%), ou em habitações governamentais (1,21%). As construções são, em sua maioria, de alvenaria (88,9%), enquanto 11,1% são de madeira ou pau-a-pique. O piso no interior das casas é coberto por algum tipo de revestimento em 96,7% dos casos, enquanto em 3,3% das residências o piso é de barro ou de terra batida. Animais domésticos estão presentes nas residências de 57,9% da população (47,7% das pessoas relataram só co-habitarem com animais domésticos) e animais nãodomésticos nas casas de 20,1% dos entrevistados (9,9% das pessoas relataram cohabitarem exclusivamente com animais não-domésticos). A associação entre ambos é encontrada nas residências de 10,3% da população; enquanto 32,2% das pessoas negaram ter qualquer tipo de animal em casa. A coleta pública do lixo abrange 68,4% das residências, enquanto, no restante das habitações, o lixo domiciliar é queimado (28,4%), enterrado (0,9%), ou jogado a céu aberto (2,3%). O abastecimento das casas por água encanada abrange 90,3% das residências, enquanto o restante dos habitantes de Serra dos Aimorés são obrigados a consumir água retirada de poços e minas (8,7%), rios e lagos (0,9%). A coleta pública de esgoto domiciliar só atinge as residências de 15,5% da população local. Fossas sépticas são recebem o esgoto de 69,9% dos habitantes. O esgoto de 14,9% das pessoas é despejado a céu aberto, sem receber qualquer outro destino. 21 Tabela e gráficos nº 2 Casa Tipo de casa Própria 1680 75,6% Alugada 362 16,3% Emprestada 70 3,15% Familiares 45 2,02% Emprego 28 1,26% Governo 27 1,21% 1951 88,9% 243 11,1% 2143 96,7% 74 3,3% 1011 47,7% Não-domésticos 209 9,9% Ambos os tipos 218 10,3% 682 32,2% Alvenaria/ Tijolo Pau-a-pique Piso Cimento/ Madeira Barro/ Terra batida Animais Domésticos Nenhum tipo 22 Lixo Água Coleta pública 1524 68,4% Queimado 634 28,4% Enterrado 20 0,9% Céu aberto 51 2,3% 2009 90,3% 194 8,7% 21 0,9% 342 15,5% 328 14,9% 1534 69,6% Encanada Poço/ mina Rio/ lago Esgoto Coleta pública Céu aberto Fossa 23 Hábitos e Vícios Na população de Serra dos Aimorés foi realizado estudo da freqüência de etilismo entre a população atendida pelo projeto Bandeira Científica e obteve-se que do grupo analisado houve maior prevalência de uso de bebida alcoólica em 16,4% da amostra, sendo que mais da metade dos pacientes considerados etilistas eram do sexo masculino (25,1%) enquanto que a taxa de consumo de alcoól no sexo feminino ficou na faixa de 11,4%. Quanto ao tipo de bebida preferencialmente consumida pela população local atendida , houve predomínio com mais de 61% dos entrevistados pelo uso de bebidas fermentadas, sendo seguido pelas destiladas que tiveram 31,4% e pela associação de ambas¨com 6,7%. Apesar dessa seqüência ter sido apresentada em ambos os sexos, houve uma certa diferença na porcentagem que cada tipo de bebida alcoólica é consumido em cada sexo. Na população feminina tem-se um predomínio pelo uso de bebidas fermentadas sendo consumida por 81% das mulheres que forma consideradas etilistas, enquanto que as destiladas eram apreciadas por 18,2% e a associação de ambas esteve presente em apenas 0,7%. Entre os homens, o uso de bebidas fermentadas e destiladas teve praticamente a mesma prevalência, pois obteve-se a presença de 46,9% dos entrevistados usando fermentadas enquanto que as destiladas atingiram 41,7%. Com relação à associação de ambos os tipos de bebidas alcoólicas, houve um valor de 11,4%. Sexo ETILISMO 1 2 Frequência de Etilismo (%) TOTAL M % 194 25,1 578 74,9 772 100,0 F % 155 11,4 1207 88,6 1362 100,0 TOTAL % 349 16,4 1785 83,6 2134 100,0 16,4 1 2 83,6 Legendas: Sexo: M- Masculino, F- Feminino Etilismo: 1- Sim, 2- Não 24 Sexo M % F % 1 82 46,9 111 81,0 TIPO 2 3 TOTAL 73 20 175 41,7 11,4 100,0 25 1 137 18,2 0,7 100,0 TOTAL 193 98 21 % 61,9 31,4 6,7 Frequência do tipo de bebida (%) 6,7 1 31,4 2 61,9 3 312 100,0 Legendas: Sexo: M- Masculino, F- Feminino Tipo: 1-Fermentada, 2- Destilada, 3- Ambas Outro ponto de grande importância na analise do hábito dessa população quanto ao comsumo de bebida alcoólica esta no tempo que as pessoas consideradas etilistas fazem uso do álcool. Para isso criou e padronizou a tabela que esta sendo mostrada abaixo e a partir dela pode-se concluir que a maior parte da população 44,5% faz uso de bebida há menos de 10 anos, sendo que 25,4% utiliza por volta de 11 há 20 anos, seguindo por 21 a 30 anos e por mais de 30 anos que tiveram a mesma taxa de 15,1%. Pode-se perceber que a maior parte das mulheres assim como de homens classificados como etilistas consomem há menos de 10 anos sendo que no primeiro grupo tivemos uma taxa de 58,7% enquanto que no segundo grupo o valor encontrado foi de 34,1%. O tempo de etilismo de 11 a 20 anos foi o segundo período de maior prevalência de uso de álcool, tanto na amostra do sexo masculino quanto do feminino obtendo em ambos os casos o valor de 25,4%. Na amostra masculina o terceiro lugar quanto ao tempo de uso de álcool ficou com o consumo por mais de 30 anos no qual tivemos um valor de 21,4% da amostra enquanto que o periodo de 21 a 30 anos teve-se valor de 19,1%. Diferentemente, a amostra feminina teve como terceiro lugar o período de 21 a 30 anos com 9,5% dos casos enquanto que 6,3% relataram usar por mais de 30 anos. 25 Sexo M % F % TEMPO 1 2 3 4 TOTAL 59 44 33 37 173 34,1 25,4 19,1 21,4 100,0 74 32 12 58,7 25,4 9,5 8 6,3 126 100,0 TOTAL 133 76 45 45 % 44,5 25,4 15,1 15,1 299 100,0 Frequência do tempo de tabagismo (%) 15,1 44,5 15,1 25,4 Legendas: Sexo: M: Masculino F: Feminino Tempo: 0-10 anos: 1 10-20 anos: 2 21-30 anos: 3 mais de 30 anos: 4 O hábito de fumar também foi investigado na população de Serra dos Aimorés e está analisado pelas tabelas apresentadas abaixo e através dessas pode-se mostrar que da população analisada pelo projeto Bandeira Cientifica a grande maioria (81,2%) não relatou ter o hábito tabagista,enquanto que 18,8% disseram já ter fumado algum período da vida. Das pessoas que se declaram ser tabagistas ( 403 pacientes) houve um predomínio de fumantes do sexo feminino com 215 mulheres para 188 de homens. Observou-se que entre os tabagistas de ambos os sexos, mais de 85% desses consome até 2 maços de cigarro por dia, sendo que 9% daquele grupo fumam de 2 até 3 maços. Percebeu-se que dos indivíduos que consomem mais de 5 maços há um predomínio do sexo masculino, já que 3,4% do grupo de tabagistas masculinos fumam essa quantidade, enquanto que nas mulheres temos 1,6%. Quanto ao tempo destinado ao tabagismo houve diferença entre os sexos, já que a maioria da amostra feminina (31,5%) concentrou esse tempo em até 10 anos; por outro lado, os homens tabagistas mantiveram um maior número de fumantes (33,9%) por um período de mais de 30 anos, mostrando que os homens nessa cidade fazem uso do tabaco por mais tempo que a mulheres apesar de que o número de mulheres fumantes está mais elevado do que o de homens. 26 1 2 3 4 QUANTIDADE 1 2 3 4 Sexo M % 152 85,9 16 9,0 3 1,7 6 3,4 F % 167 86,5 17 8,8 6 3,1 3 1,6 TOTAL % 319 86,2 33 8,9 9 2,4 9 2,4 TOTAL 177 100,0 193 100,0 Frequência da quantidade de tabagismo (%) 8,9 2,42,4 1 2 370 100,0 3 4 86,2 Legendas: Sexo: M- Masculino, F-feminino Quantidade: 0 até 2 maços- 1 2 até 3 maços- 2 3 até 5 maços- 3 mais de 5 maços- 4 Tabagismo: 1- Sim Tempo: 0-10 anos: 1 11-20 anos: 2 21-30 anos: 3 mais de 30 anos: 4 2- Não TABAGISMO Sexo 1 2 TOTAL 1 188 588 776 Row % 24,2 75,8 100,0 2 Row % 215 1148 15,8 84,2 1363 100,0 TOTAL Row % 403 1736 18,8 81,2 2139 100,0 Frequência de tabagismo (%) 18,8 1 2 81,2 27 Sexo M % F % 1 30 16,7 64 31,5 TEMPO 2 3 46 43 25,6 23,9 46 40 22,7 19,7 4 TOTAL 61 180 33,9 100,0 53 203 26,1 100,0 TOTAL 94 92 83 114 % 24,5 24,0 21,7 29,8 383 100,0 Frequência de tempo de tabagismo (%) 29,8 24,5 1 2 3 4 21,7 24 No projeto de assistência a comunidade de Serra dos Aimorés teve-se a oportunidade de realizar uma investigação sobre o quanto o assunto AIDS era conhecido e comentado pela população local. Através da coletas de dados de indivíduos que tinham mais de 12 anos pode-se criar as tabelas abaixo que puderam mostrar que no grupo atendido pelo projeto, a grande maioria, ou seja, por volta de 97% já haviam recebido alguma informação sobre a doença, ficando apenas 2,9% da população sem ter tido qualquer conhecimento sobre o assunto. Apesar da grande quantidade de indivíduos dizer que conhece a doença, pode-se constatar que a percentagem de pessoas que já conversaram sobre a AIDS foi de apenas 49,2%, por outro lado 50,8% das pessoas nunca tocaram no assunto, o que mostra que apesar da grande maioria relatar ter ouvido sobre o assunto, não há uma troca de informação entre a própria população. 28 CONVERSOU SOBRE AIDS Sexo 1 2 TOTAL M 197 273 470 % 41,9 58,1 100,0 F 559 509 1068 % 52,3 47,7 100,0 TOTAL 756 782 1538 % 49,2 50,8 100,0 Ouviu falar de AIDS 1 2 Total Frequência de individuos que já conversaram sobre AIDS (%) 49,2 1 50,8 2 Frequência de pessoas que ouviram sobre AIDS Frequency Percent 1533 46 1579 97,1% 2,9% 100,0% 2,90% 1 2 97,10% Legenda Ouviu falar de AIDS: 1-Sim, 2- Não Conversou sobre AIDS: 1- Sim, 2-Não Sexo: 1-Masculino, 2- Feminino Por fim dentre as pessoas que declararam já ter ouvido falar de AIDS perguntouse a elas se achavam que estavam protegidas contra o vírus do HIV e a partir dessa investigação obteve-se que dentre esse grupo a grande maioria (75,1%) declarou estar confiante que se encontra fora de qualquer risco para a doença, enquanto que 24,9% mostraram-se inseguros quanto à possibilidade de adquirir HIV. Sentem-se protegido Frequency pela AIDS 1 1148 2 380 Total 1528 frequência de individuos que se sentem protegidos contra AIDS Percent 75,1% 24,9% 100,0% 24,90% 1 2 75,10% Legenda: 1-Sim 2- Não 29 VI- Principais diagnósticos DOR LOMBAR E CIÁTICA A dor lombar ou lombalgia é sentida nas regiões sacroilíaca, lombossacral, ou lombar. Freqüentemente é acompanhada por ciatalgia, uma dor irradiante de uma ou ambas as nádegas e/ou pernas na distribuição do nervo ciático. A maioria das lombalgias pode estar relacionada a problemas ligamentosos (torção) ou musculares (luxação) agudos, que tendem a ser autolimitados, ou a processos de espondilite anquilosante, de osteoartrite, ou fibromusculares mais crônicos da área lombossacral. A prevalência dessas condições tende a aumentar com a idade. As causas de lombalgia crônica também podem incluir: 1. Estiramento lombar devido a uma postura inadequada ou a um condicionamento precário, agravado por fatores mecânicos (p. ex., excesso de uso, obesidade ou gravidez); 2. Fibromialgia localizada ou generalizada; 3. Rompimento ou protrusão do disco intervertebral com herniação subseqüente do núcleo polposo no canal espinhal, causando pressão na raiz nervosa por um fator mecânico direto ou inflamatório; 4. Ruptura traumática de ligamento, fratura por estresse das partes interarticulares, ou rasgadura. HIPERTENSÃO ARTERIAL É a elevação da PS sistólica e/ou diastólica, tanto primária (hipertensão essencial) quanto secundária.A hipertensão primária ou essencial é de etiologia desconhecida, e parece improvável que uma única causa vá explicar suas diversas alterações hemodinâmicas e fisiopatológicas. A hereditariedade indubitavelmente predispõe indivíduos à hipertensão, mas o mecanismo exato não está esclarecido. Fatores ambientais (p. ex., Na da dieta, obesidade e estresse) parecem agir apenas em indivíduos geneticamente suscetíveis. Quaisquer que sejam os mecanismos patogenéticos responsáveis, eles devem levar ou a um aumento da resistência periférica total (RPT) vascular induzindo vasoconstrição ou a um aumento do débito cardíaco (DC). A hipertensão secundária está associada com doença parenquimatosa renal bilateral (p. ex., glomerulonefrite crônica ou pielonefrite, doença renal policística, doença do colágeno renal, ou uropatia obstrutiva) ou com distúrbios potencialmente curáveis como feocromocitoma, síndrome de Cushing, aldosteronismo primário, hipertireoidismo, mixedema, coarctação da aorta, doença 30 vascular renal e doença renal unilateral. Pode também ser associada com o uso de contraceptivos orais e ingestão excessiva de álcool. Estima-se que existam > 50 milhões de hipertensos nos EUA (PS sistólica 140mmHg e/ou diastólica 90mmHg, ou recebendo medicação anti-hipertensiva). A hipertensão ocorre mais nos negros que nos brancos, e a morbidade e mortalidade são maiores nos negros. A prevalência da hipertensão diastólica aumenta com a idade, pelo menos até a idade de 55 ou 60 anos. A prevalência de hipertensão sistólica isolada (sistólica 160mmHg, diastólica < 90mmHg) aumenta com a idade pelo menos até os 80 anos. Se forem incluídas pessoas com hipertensão diastólica e hipertensão sistólica isolada, > 50% dos negros e brancos acima dos 65 anos de idade apresentarão hipertensão. A hipertensão sistólica isolada é mais prevalente entre mulheres que em homens em ambas as raças. Entre 85 e 90% dos casos são primários (essenciais); em 5 ou 10%, a hipertensão é secundária à doença parenquimatosa renal bilateral e apenas 1 ou 2% dos casos são conseqüências de uma condição potencialmente curável. CEFALÉIA A cefaléia é um sintoma comum de infecção intracraniana ou sistêmica aguda, tumor intracraniano, trauma de crânio, hipertensão grave, hipoxia cerebral e muitas doenças dos olhos, nariz, garganta e ouvidos. Contudo, essas condições patológicas correspondem a apenas poucos dos pacientes que buscam consulta médica devido à cefaléia. O remanescente usualmente sofre de cefaléia devido à dor muscular, enxaqueca ou cefaléia para a qual nenhuma estrutural possa determinada. As causa ser cefaléias podem resultar de estímulo, tração ou pressão em qualquer das estruturas sensíveis à dor: todos os tecidos de revestimento do crânio, o 5º, 9º e o 10º nervos cranianos e os nervos cervicais superiores; os grandes seios venosos intracranianos; as grandes artérias na base do crânio e as grandes artérias durais; e a dura-máter na base do crânio. A dilatação ou contração da parede de vasos sangüíneos estimula terminações nervosas, causando 31 cefaléias. Dentre as causas potenciais relacionadas anteriormente, as cefaléias se originam muito mais devido a fontes extra do que intracranianas. ENXAQUECA É um distúrbio paroxístico caracterizado por ataques recorrentes de cefaléia, com o ou sem distúrbios visuais e GI associados.A causa é desconhecida, mas há evidências que sugerem um distúrbio funcional geneticamente transmitido de circulação intra e extracraniana. Sabe-se que as alterações regionais do fluxo sangüíneo cerebral devido à vasodilação arterial intracraniana acompanham a enxaqueca e possivelmente a causem. Acredita-se que o mecanismo esteja relacionado a reduções episódicas nas concentrações sistêmicas de serotonina, que por sua vez conduzam as altera-ções vasomotoras observadas. Os sintomas prodrômicos podem ser devido a vasoconstrição intracerebral e alguns atribuem a cefaléia a substâncias liberadas pela liberação das artérias do couro cabeludo. Malformações vasculares intracranianas são causa rara de enxaqueca. A enxaqueca pode ocorrer em qualquer idade mas usualmente tem início entre as idades de 10 e 30 anos, e mais freqüentemente em mulheres que em homens. Freqüentemente sofrem re-missões parciais ou completas após os 50 anos. É obtido uma história familiar em mais de 50% dos casos. 32 GASTRITE AGUDA (Gastrite Erosiva Aguda; Erosão Aguda de Estresse; Úlcera Gástrica Aguda; Gastrite Hemorrágica Aguda) São lesões superficiais da mucosa do estômago que ocorrem muito rapidamente em relação a vários tipos de agressão. Evidências recentes implicam o microrganismo espiral Helicobacter pylori (anteriormente chamado de Campylobacter pylori), que coloniza específica e seletivamente as células gástricas humanas secretoras de mucina, como o agente etiológico na maioria dos casos de gastrite não erosiva no homem. O microrganismo (e a gastrite) se distribui por todo o mundo e a prevalência é maior nas populações que vivem em más condições sanitárias. A prevalência também está relacionada à idade, visto que a porcentagem de pessoas colonizadas é grosseiramente igual na idade. Nenhum outro microrganismo coloniza o estômago humano secretor de ácido. Na ausência de ácido, especialmente com esvaziamento gástrico retardado muito bactérias diferentes podem colonizar o estômago e causar gastrite aguda ou crônica. Gastrite superficial – As células inflamatórias predominantes na gastrite são mononucleares misturadas aos plasmócitos; a inflamação é superficial e pode ser irregular. Ela pode envolver isoladamente o fundo ou antro, ou ambos. A situação pode se resolver ou progredir, às vezes lentamente. É geralmente acompanhada por atrofia ou metaplasia e não tem implicações clínicas significantes. Ocorre mais comumente com o avanço da idade e é comum acima da idade de 40 anos. Não há sintomas típicos e a gastrite superficial é freqüentemente assintomática. Não há também aspecto endoscópico que seja fidedigno e mesmo a mucosa aparentemente normal pode estar afetada. É mais provável que a gastrite profunda seja sintomática (dispepsia vaga), mas esta novamente correlaciona-se precariamente com a aparência endoscópica; as células poli e mononucleares infiltram toda a mucosa até a muscular, mas raramente com exsudato ou abscessos das criptas. As lesões podem ser irregulares e coexistir com áreas de 33 gastrite superficial. Podem estar presentes atrofia glandular e metaplasia parciais. A gastrite profunda está quase sempre presente nos cotos gástricos pós-gastrectomia (ver adiante). Está sempre presente próximo a úlceras gástricas e cânceres e é mais comum nos parentes de pacientes com câncer gástrico. 34 RINITE É a mais freqüente IRA aguda, caracterizada por edema e vasodilatação da membrana mucosa nasal, rinorréia e obstrução nasal. A rinite aguda é a manifestação habitual do resfriado comum pode ser causada por estreptococos, estafilococos e pneumococos. A rinite crônica pode ser uma manifestação da sífilis, TB, rinosclerose, rinosporidiose, leishmaníase, blastomicose, histoplasmose e hanseníase – todas estas condições caracterizam-se pela formação de granulomas e destruição de palato mole, cartilagem e ossos. Estas condições produzem obstrução nasal, rinorréia purulenta e epistaxes freqüentes. RINITE ALÉRGICA Constitui um sintoma complexo, que inclui a febre do feno e a rinite alérgica perene, caracterizada por espirros sazonais ou perenes, rinorréia, congestão nasal, prurido, conjuntivite e faringite. RESFRIADO COMUM (Infecção Respiratória Alta [IRA]; Coriza Aguda) É uma infecção aguda virótica, geralmente afebril do trato respiratório, com inflamação em qualquer uma ou todas as vias aéreas, inclusive o nariz, seios paranasais, garganta, laringe e freqüentemente a traquéia e os brônquios. Muitos vírus provocam o resfriado comum, inclusive os picornavírus (rinovírus, certos ecovírus e coxsackievírus), os vírus da influenza, parainfluenza, vírus sincicial respiratório, coronavírus e adenovírus. No entanto, apenas alguns dos vírus são importantes em um dado momento e as causas do resfriado comum apresentam uma importante variação sazonal. Os fatores predisponentes não foram claramente identificados. O resfriamento da superfície corpórea não provoca resfriados por si mesmo e a suscetibilidade não sofre influência da saúde e nutrição do indivíduo nem da existência de anormalidades das vias aéreas superiores (p. ex., amídalas ou adenóides aumentadas). A infecção pode ser facilitada por fadiga excessiva, distúrbio emocional ou distúrbios alérgicos nasofaríngeos e durante a fase da metade do ciclo menstrual. As bactérias patogênicas que existem na nasofaringe algumas vezes provocam complicações supurativas tais como otite média e sinusite. A bronquite de etiologia virótica também pode vir a ser infectada secundariamente por bactérias. 35 Farmácia 36 DISTÚRBIOS DO HUMOR (Distúrbios Afetivos) São condições psicopatológicas nas quais um distúrbio disseminado do humor constitui a manifestação central. O termo distúrbio afetivo, o qual na sua utilização mais ampla também abrange ansiedade e neuroses relacionadas, está sendo substituído pelo aceito internacionalmente e mais delimitado conceito de distúrbio do humor. Essas condições, especialmente as formas depressivas são heterogêneas e comuns tanto na clínica geral quanto na psiquiatria. Embora cerca de 25% de todos os indivíduos experimentem alguma forma de distúrbio afetivo, o risco durante a vida para distúrbio do humor clinicamente identificável é de 8 a 9%. Um terço desenvolve um curso crônico e dos remanescentes 5 a 6%, pelo menos dois terços experimentam episódios de recorrência. Isto significa que para a maioria dos atingidos, a doença apresentará recorrência ou um curso prolongado. As taxas são maiores em mulheres em 2:1, para as formas predominantemente depressivas da doença, e quase sempre num distúrbio bipolar. Condições bipolares, para as quais 1% da população é de risco, usualmente têm início durante a adolescência, aos 20 e 30 anos de idade; as condições unipolares iniciam-se, em média, uma década depois que sua correspondente bipolar. Os achados epidemiológicos recentes nos EUA sugerem um efeito de grupo, pelo quais aqueles nascidos no final desse século apresentam índices maiores de depressão e suicídio, freqüentemente associa-los com taxas maiores de abuso de substâncias. Embora alguns desses aumentos sejam provavelmente devido a uma maior facilidade para determinação de depressão em indivíduos mais jovens, o abuso de substâncias comórbidas e os fatores ambientais precariamente compreendidos podem ter contribuído para um desvio matemático na direção de uma idade mais jovem. Não tem sido observado que cultura, classe social e raça apresentem contribuições diferenciais significantes para a incidência de distúrbios do humor. Entretanto, fatores socioculturais parecem modificar as manifestações clínicas; p. ex., queixas somáticas, tensão, preocupação e irritabilidade 37 são mais comuns entre as classes socioeconômicas mais baixas; ruminações de culpa e auto-reprovação. 38 ESCABIOSE (Sarna) É uma infecção da pele por ectoparasita transmissível, caracterizada por túneis superficiais, prurido intenso e infecção secundária.A escabiose é causada pelo ácaro Sarcoptes scabiei. A fêmea, carregada de ovos, penetra na camada córnea da pele, formando túneis e deposita seus ovos ao longo do trajeto. As larvas nascem em poucos dias e se agregam ao redor de folículos pilosos. Acredita-se que as lesões sejam decorrentes de hipersensibilidade aos parasitas. A escabiose é transmitida com muita facilidade, sendo comum encontrar-se toda uma família acometida, por contágio pele a pele com um indivíduo infectado (p. ex., quando se dorme junto). Raramente pode ser transmitida através de roupas pessoais ou de cama. Como o ácaro não sobrevive fora do corpo humano por muito tempo, não é necessário o uso de medidas profiláticas extremas no tratamento da escabiose, como a dedetização. OTITE MÉDIA AGUDA É uma infecção bacteriana ou virótica do ouvido médio, geralmente secundaria a uma IRA. Ela pode ocorrer em qualquer faixa etária, mas é mais comum. Em crianças pequenas, particularmente entre 3 meses a 3 anos. Os microrganismos podem migrar da nasofaringe para o ouvido médio pela superfície da membrana mucosa do tubo eustaquiano ou podem se propagar através da membrana mucosa da própria lâmina e em casos de celulite ou tromboflebite. Etiologia Em recém-nascidos, os bacilos Gram-negativos da flora intestinal, particularmente a Escherichia coli, e o Staphylococcus aureus causam a otite média supurativa. Em lactentes maiores e em crianças pequenas (< 14 anos), os micror-ganismos causadores são o Streptococcus [Diplococcus] pneumoniae, Hemophilus influenzae, estreptococos -hemolíticos do Grupo A, Branhamella catarrhalis e S. aureus. A otite média virótica geralmente é infectada secundaria-mente por um destes agentes. Nas crianças > 14 anos é menos comum a infecção por H. influenzae; os principais microrganismos responsáveis são o S. pneumoniae, estreptococos -hemolíticos do Grupo A e S. aureus. A freqüência relativa dos microrganismos identificados que causam otite média aguda varia de acordo com a prevalência de cada um em uma comunidade, numa dada época do ano. 39 ANEMIAS Trata-se da diminuição do número ou conteúdo de hemoglobina das hemácias devido à perda de sangue, produção prejudicada, destruição aumentada de hemácias ou uma combinação dessas alterações. ANEMIAS POR DEFICIÊNCIA DE FERRO (Anemia da Perda Crônica de Sangue; Anemia Hipocrômica-Microcítica; Clorose; Anemia Hipocrômica da Gestação, Período Neonatal e Infância) É a anemia crônica caracterizada por hemácias pequenas e pálidas e depleção das reservas de Fe. O mecanismo primário para a deficiência de Fe, a causa mais importante de anemia, sempre se deve considerar ser perda sangüínea; nos adultos é virtual-mente o único mecanismo possível. Em homens adultos, a causa mais freqüente é o sangramento oculto crônico, geralmente do trato GI. Nas mulheres, a perda menstrual pode ser o mecanismo, mas sempre se deve considerar outros pontos. Embora se possa pensar que a ausência de menstruação durante a gravidez protegeria a mãe da deficiência de Fe, é necessário suplementação de Fe devido a uma perda de Fe em rede no feto em desenvolvimento A deficiência de Fe pode ser causada por necessidade de Fe aumentada, absorção de Fe diminuída, ou ambos. A deficiência de Fe é provável durante os 2 primeiros anos de vida, caso o Fe dietético seja inadequado para as demandas de crescimento rápido. As meninas adolescentes podem tornar-se deficientes em Fe devido à dieta inadequada para as necessidades do crescimento, associada à perda adicional devido à menstruação. O pico de crescimento em meninos adolescentes também pode produzir um aumento significativo na demanda de Fe, resultando em eritropoiese deficiente em Fe. Outras causas da anemia incluem absorção diminuída de Fe após gastrectomia, síndromes de malabsorção do intestino delgado superior. 40 INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO BAIXO E DO TRATO GENITAL MASCULINO(Cistite; Uretrite) Infecções bacterianas do trato urinário baixo são muito comuns. No recémnascido, as ITUs são mais comuns no sexo masculino (incidência de 1%) do que no feminino e são, freqüentemente, associadas a bacteremia. Em crianças de 1 a 5 anos de idade, a prevalência de bacteriúria em meninas sobe para aproximadamente 5%, enquanto que a dos meninos cai para 0,5%. As infecções em meninos estão freqüentemente associadas a anormalidades congênitas do trato urinário. Aproximadamente 30 a 50% das ITUs durante este período estão associadas ao refluxo vesicoureteral (RVU). Este é um período crítico para se determinar se a progressão para cicatrização renal irá ocorrer, com subseqüente insuficiência renal. As infecções são geralmente sintomáticas nesta faixa etária, enquanto que a bacteriúria oculta é típica durante a idade escolar. Aproximadamente 5% das meninas adolescentes desenvolvem ITUs em algum momento, mas estas não estão associadas a anormalidades urológicas. A bacteriúria é rara em meninos adolescentes. Entre os 20 e 50 anos de idade, as ITUs são aproximadamente cinqüenta vezes mais freqüentes em mulheres. Mais tarde, a incidência de ITUs aumenta em ambos os sexos, com uma redução na proporção mulher: homem. A antibioticoterapia e procedimentos cirúrgicos para corrigir anormalidades congênitas ou adquiridas melhoram acentuadamente o prognostico para a maioria das ITUs. Apesar da obstrução do trato urinário por si só não causar ITU, sua presença geralmente predispõe à infecção e esta é muito mais difícil de ser tratada com tratamento medicamentoso. OSTEOARTRITE (Doença Degenerativa da Articulação [DDA], Osteoartrose, Osteoartrite Hipertrófica) É um distúrbio que envolve primariamente a cartilagem hialina e osso subcondral, embora todos os tecidos em torno e na própria articulação envolvida sejam hipertróficos. Incidência – Osteoartrite (OA), a forma mais comum de todos os distúrbios articulares, aparece primeiro assintomaticamente na 2ª e 3ª décadas e se torna universal pela idade de 70 anos. Quase todas as pessoas em torno da idade de 40 anos apresentam algumas alterações patológicas nas articulações que sustentam peso, embora relativamente poucas pessoas sejam sintomáticas. Homens e mulheres são igualmente 41 afetados, mas o início é mais precoce entre homens. OA é encontrada em todos os climas. ASMA É uma doença pulmonar caracterizada por: 1. Obstrução de vias aéreas que é reversível (mas não completamente em alguns pacientes), espontaneamente ou com tratamento; 2. inflamação das via aéreas; e 3. responsividade aumentada das vias aéreas a vários estímulos. Aproximadamente 10 milhões de asmáticos vivem nos EUA. De 1980 a 1987, as taxas de prevalência de asma aumentaram 29%, e de 1970 a 1987 as taxas de alta hospitalar para asma quase triplicaram. Os negros têm probabilidade quase duas vezes maior do que os brancos de precisarem de internação. No mundo inteiro está crescendo a mortalidade por asma; de 1980 a 1987, nos EUA, a taxa de mortalidade aumentou em 31%. PITIRÍASE VERSICOLOR É uma infecção caracterizada por lesões escamativas que variam do branco ao marrom, em geral assintomáticas, múltiplas, causadas pelo Pityrosporum orbiculare (antigamente chamado Malassezia furfur). É comumente encontrada em adultos jovens. As lesões são discretamente descamativas, tendem a coalescer e pode ser encontrado em tórax, pescoço, abdome e, ocasional-mente, no rosto. A descamação pode ser pouco evidente, mas raspando-se as lesões aparece descamação fina e característica. O paciente em geral, nota a presença das lesões no verão, pois elas não bronzeiam, formando pontos com coloração diferente do resto do corpo. O prurido não é comum, mas pode estar presente, principalmente quando o paciente está com o corpo muito quente. CERUME O cerume (cera de ouvido) pode obstruir o canal auditivo e provocar dor, prurido e hipoacusia condutiva temporária. DERMATITE DE CONTATO É uma inflamação crônica ou aguda, em geral bem delimitada, causada por substâncias em contato com a pele.A dermatite de contato pode ser causada por substância química irritante primária ou por reação de hipersensibilidade tardia do Tipo 42 IV. Irritantes primários podem lesar a pele sã ou irritar uma área de dermatite preexistente. Irritantes fracos (p. ex., sabão, detergentes, acetona, ou mesmo a água) podem necessitar de vários dias de exposição para causar alterações clinicamente observáveis. Já os irritantes potentes (p. ex., ácidos, álcalis ou fenol) podem causar alterações em poucos minutos. Os mecanismos pelos quais estes irritantes lesam a pele são desconhecidos. A dermatite de contato alérgica deve-se à hipersensibilidade tardia e, portanto, necessita de um tempo de latência que pode variar desde 6 a 10 dias (no caso de irritantes potentes, p. ex., da hera venenosa) até anos (para irritantes fracos) para que o indivíduo fique sensibilizado. Na reexposição, o prurido e a dermatite podem aparecer em 4 às 12h. Estudos recentes indicam que as células de Langerhans (uma pequena subpopulação de células epidérmicas) têm função crítica na apresentação de alergênios para as células T que, assim, ficam sensibilizados. Acredita-se que mediadores químicos liberados pelos ceratinócitos e células de Langerhans também contribuam para a indução da sensibilidade. É difícil para os pacientes acreditarem que se tornaram alérgicos a substâncias que usaram por vários anos ou para tratar a sua dermatite. Entretanto, os ingredientes contidos nos medicamentos tópicos constituem uma das principais causas de dermatite de contato alérgica: antibióticos (penicilina, sulfonamidas, neomicina), anti-histamínicos (difenidramina, prometazina), anestésicos (benzocaína), anti-sépticos (timerosal, hexaclorofeno) e estabilizantes (etilenodiamina e derivados). Outras substâncias comumente envolvidas são as plantas (hera venenosa, carvalho e sumagre; prímula, ambrósia americana); produtos usados na manufatura de calçados e vestimentas (agentes corantes em calçados; formaldeído livre no final da pressão durável;plásticos catalisadores e antioxidantes de borracha em luvas, calçados, roupas íntimas e outras vestimentas); compostos metálicos (níquel, cromatos e mercúrio); p-fenilenodiamina e outros corantes; e cosméticos (depiladores, esmalte de unhas, desodorantes). Os agentes industriais capazes de produzir dermatoses ocupacionais são quase inumeráveis. Dermatites de contato fototóxica e fotoalérgica necessitam de exposição à luz após uso tópico de certos produtos químicos. Elas se manifestam como uma resposta exagerada à exposição à luz solar.Os agentes comumente envolvidos em dermatites fotoalérgicas de contato incluem loções após barba, filtros solares e sulfonamidas usadas topicamente. A dermatite fototóxica de 43 contato é comumente causada por certos perfumes, alcatrão da hulha, psoralenos e óleos usados em manufaturas. REFLUXO GASTRESOFÁGICO É o refluxo de conteúdo gástrico para o esôfago. A existência de refluxo gastresofágico (RGE) indica incompetência do esfíncter esofágico inferior. Outros fatores que contribuem para o desenvolvimento de esofagite incluem a natureza cáustica do líquido refluído, a incapacidade de clareamento do esôfago, o volume dos conteúdos gástricos e as funções protetoras da mucosa local. Os fatores que contribuem para a competência da junção gastresofágica incluem a pressão intrínseca do esfíncter, o ângulo da junção cardioesofágica, a ação do diafragma e, quando de pé, a gravidade. A incontinência gastresofágica era anteriormente atribuída somente à hérnia de hiato por deslizamento, mas evidências recentes indicam que a causa é a incompetência do esfíncter esofágico inferior como a primeira causa do refluxo ácido. DESNUTRIÇÃO PROTÉICO-CALÓRICA A desnutrição protéico-calórica (DPC) é classificada de acordo com graus de gravidade: 1º (leve), 2º (moderada) ou 3º (grave). DPC leve é caracterizada por deficiência no crescimento em crianças ou deterioração no adulto; DPC moderada é observada com alterações bioquímicas superimpostas e DPC grave pelo desenvolvimento de sinais clínicos adicionais. A satisfação das necessidades calóricas é básica para a sobrevivência, e a forma pela qual é acompanhada por fontes protéicas e não protéicas determina o tipo de DPC grave produzida. Uma dieta com excesso de calorias não protéicas de amido ou açúcar, mas deficiente em aminoácidos essenciais e proteínas totais, eventualmente resulta em Kwashiorkor. As inadequações graves de calorias e nutrientes causam inanição total, que em crianças pequenas é denominada marasmo, mas em essência não difere da semi-inanição no adulto. Formas intermediárias são denominadas kwashiorkor-marásmico. O marasmo é a forma predominante de DPC na maioria dos países subdesenvolvidos. Está associado ao abandono precoce ou impossibilidade de amamentar, com as infecções conseqüentes, mais notadamente aquelas causando gastrenterite infantil. Essas infecções resultam da falta de higiene e do conhecimento adequado das necessidades educacionais mais importantes, especialmente nas regiões periféricas e favelas de crescimento tão rápido dos países subdesenvolvidos. Kwashiorkor é menos comum e usualmente é manifestado 44 como o estado kwashiorkor-marásmico intermediário. O kwashiorkor tende a ser confinado àquelas partes do mundo (África rural, Caribe e Ilhas do Pacífico) onde os principais alimentos produzidos como inhame, mandioca, batata doce ou banana verde, que são deficientes em proteínas e apresentam teores excessivamente altos de amido. Tabela: prevalência de achados diagnósticos mais freqüentes 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 Hipótese Diagnósticas Dor osteomuscular HAS Cefaléia Helmintíase intestinal Corrimento vaginal Síndrome dispeptica A esclarecer Lesão dermatológica Rinite alérgica Depressão Diminuição da acuidade visual Escabiose Puericultura Dor abdominal Otite Anemia DM IVAS ITU Artrose Asma PV Cerume dermatite de contato Refluxo esofágico Papanicolaou Transtorno ansioso Desnutrição Micose Outros total 164 141 129 126 122 72 58 49 48 45 27 24 24 23 23 22 22 22 21 20 18 18 17 16 16 15 15 14 14 859 2184 % 8,53 7,33 6,71 6,55 6,34 3,74 3,02 2,55 2,50 2,34 1,40 1,25 1,25 1,20 1,20 1,14 1,14 1,14 1,09 1,04 0,94 0,94 0,88 0,83 0,83 0,78 0,78 0,73 0,73 44,67 113,57 Total Onde: HAS= Hipertensão Arterial Sistêmica; DM=Diabetes Melitus; IVAS=Infecção de Vias Aéreas Superiores; ITU=Infecção de Trato Urinário; PV=Ptiríase Versicolor; Obs: a % total é maior do que 100% porque o número de diagnósticos encontrados foi maior do que um por pessoa na população atendida. A população atendida somou 1923 indivíduos, sendo 672 sexo masculino e 1251 do sexo feminino. Além disso, houve 392 visitas domiciliares, onde não houve atendimento médico. 45 Tabela: prevalência de achados diagnósticos masculinos 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 Diagnóstico Dor osteomuscular Helmintíase intestinal HAS Cefaléia Síndrome dispeptica A esclarecer Rinite alérgica IVAS Otite Lesões cutaneas Puericultura Diminuição da acuidade visual Escabiose Desnutrição Hérnia ICC ITU Anemia Asma DM Cerume Depressão Dermatite de contato Dor abdominal Impetigo Micose Refluxo esofágico Alergia Fimose Outros total 64 62 35 22 22 19 14 12 12 11 11 10 10 9 8 8 8 7 7 7 6 6 6 6 6 6 6 5 5 308 718 % 9,52 9,23 5,21 3,27 3,27 2,83 2,08 1,79 1,79 1,64 1,64 1,49 1,49 1,34 1,19 1,19 1,19 1,04 1,04 1,04 0,89 0,89 0,89 0,89 0,89 0,89 0,89 0,74 0,74 45,83 106,85 Total Onde: HAS= Hipertensão Arterial Sistêmica; IVAS=infecção de vias aéreas superiores; ICC=Insuficiência Cardíaca Congestiva; ITU=Infecção de Trato Urinário; DM=Diabetes Melitus 46 Tabela: prevalência de achados diagnósticos femininos 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 Hipóteses Diagnósticas HAS Cefaléia Corrimento vaginal Dor osteo-muscular Helmintíase intestinal Síndrome dispéptica A esclarecer Depressão Rinite alérgica Lombalgia Anemia ITU Artrose Dor abdominal DM Papanicolaou PV TPM Escabiose Gestação Transtorno ansioso Cerume Climatério IVAS Lesões cutâneas Asma Puericultura Refluxo esofágico Hipoacusia Outros total 105 103 81 67 61 48 39 39 35 31 20 20 16 15 14 14 13 13 12 12 12 11 11 11 11 10 10 10 9 517 1370 % 8,39 8,23 6,47 5,36 4,88 3,84 3,12 3,12 2,80 2,48 1,60 1,60 1,28 1,20 1,12 1,12 1,04 1,04 0,96 0,96 0,96 0,88 0,88 0,88 0,88 0,80 0,80 0,80 0,72 41,33 109,51 Total Onde: HAS= Hipertensão Arterial Sistêmica; ITU=Infecção de Trato Urinário; DM=Diabetes Melitus; PV=Ptiríase Versicolor; TPM= Tensão pré-menstrual; IVAS=infecção de vias aéreas superiores; 47 Gráfico: prevalência dos principais achados diagnósticos por sexo encontrados em Serra dos Aimorés % na população 10 8,39 9 8,93 9,23 8,23 8 6,47 7 6 5,36 5,21 4,88 5 3,84 3,27 4 3,12 3 2 0,89 1 0,00 0 HAS Masculino Feminino cefaléia corrimento vaginal dor osteomuscular helmintíase intestinal Síndrome dispeptica Depressão Diagnósticos 48 Tabela: prevalência de achados diagnósticos entre 0 e 11 anos de idade 0-11 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 Hipóteses Diagnósticas Helmintíase intestinal Puericultura Anemia Escabiose IVAS rinite alérgica A esclarecer Cefaléia Desnutrição Impetigo Lesões cutâneas Asma Hipertrofia amigdaliana Cerume Diminuição da acuidade visual ITU PV Alergia Diarréia Otite Ptiriase alba Amigdalite Atopia dermatite de contato Hemangioma Hérnia picada de inseto Assaduras Controle Outros Total Total % (535 pessoas) 83 15,5 22 4,11 18 3,36 18 3,36 18 3,36 16 2,99 15 2,8 12 2,24 11 2,06 11 2,06 11 2,06 9 1,68 8 1,5 6 1,12 6 1,12 6 1,12 6 1,12 5 0,93 5 0,93 5 0,93 5 0,93 4 0,75 4 0,75 4 0,75 4 0,75 4 0,75 4 0,75 3 0,56 3 0,56 172 32,1 498 93,1 49 Tabela: prevalência de achados diagnósticos entre 12 a 19 anos de idade 12-19 Hipóteses Diagnósticas 1 Cefaléia 2 Helmintíase intestinal 3 Corrimento vaginal 4 Dor osteomuscular 5 Rinite alérgica 6 A esclarecer 7 PV 8 Síndrome dispeptica 9 Dor abdominal 10 Lesões cutâneas 11 Diminuição da acuidade visual 12 Asma 13 ITU 14 Amigdalite 15 Anemia 16 Cerume 17 Hérnia 18 Hipotensão postural 19 Micose 20 TPM 21 Cervicalgia 22 Depressão 23 Dermatite de contato 24 Eczema 25 Fucunculose 26 Gestação 27 IVAS 28 Labirintite 29 Otite 30 Outros Total Total % (180 pessoas) 30 16,67 17 9,44 16 8,89 14 7,78 11 6,11 7 3,89 7 3,89 7 3,89 6 3,33 6 3,33 5 2,78 4 2,22 4 2,22 3 1,67 3 1,67 3 1,67 3 1,67 3 1,67 3 1,67 3 1,67 2 1,11 2 1,11 2 1,11 2 1,11 2 1,11 2 1,11 2 1,11 2 1,11 2 1,11 101 56,11 274 152,22 50 Tabela: prevalência de achados diagnósticos entre 20 a 49 anos de idade 20-49 Hipóteses Diagnósticas 1 Dor osteomuscular 2 Corrimento vaginal 3 Cefaléia 4 HAS 5 Síndrome dispeptica 6 A esclarecer 7 Depressão 8 Rinite alérgica 9 Helmintíase intestinal 10 ITU 11 Papanicolaou 12 Gestação 13 Refluxo esofágico 14 TPM 15 Transtorno ansioso 16 Climatério 17 Otite 18 Dor abdominal 19 DM 20 Varizes 21 Anemia 22 Asma 23 Cerume 24 lesões cutaneas 25 AR 26 Artrite 27 Dermatite Seborréica 28 Escabiose 29 Tinea 30 Outros Total Total % (642 pessoas) 69 10,75 60 9,35 57 8,88 34 5,30 26 4,05 21 3,27 20 3,12 19 2,96 18 2,80 17 2,65 12 1,87 10 1,56 10 1,56 10 1,56 9 1,40 8 1,25 8 1,25 7 1,09 6 0,93 6 0,93 5 0,78 5 0,78 5 0,78 5 0,78 4 0,62 4 0,62 4 0,62 4 0,62 4 0,62 248 38,63 715 111,37 51 Tabela: prevalência de achados diagnósticos entre maiores de 49 anos de idade >50 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 Hipóteses Diagnósticas HAS Dor osteomuscular Síndrome dispeptica Cefaléia Depressão Artrose A esclarecer DM ICC Lesões cutâneas Helmintíase intestinal Diminuição da acuidade visual Hipoacusia ITU Zumbido Dermatite de contato Dor abdominal Otite Refluxo esofágico Hérnia Micose Neuropatia periférica Obstipação intestinal Bursite Corrimento vaginal HPB Prostatismo Tontura Transtorno ansioso Outros Total Total % (484 pesoas) 107 22,11 56 11,57 38 7,85 30 6,20 25 5,17 19 3,93 15 3,10 15 3,10 12 2,48 11 2,27 10 2,07 9 1,86 9 1,86 7 1,45 7 1,45 6 1,24 6 1,24 6 1,24 6 1,24 5 1,03 5 1,03 5 1,03 5 1,03 4 0,83 4 0,83 4 0,83 4 0,83 4 0,83 4 0,83 210 43,39 648 133,88 52 Ocorrência referida de algumas patologias No questionário epidemiológico aplicado à população de Serra dos Aimorés (pacientes atendidos e pessoas entrevistadas durante as visitas domiciliares), perguntouse aos entrevistados sobre a presença ou ocorrência anterior de algumas doenças entre eles e familiares. Assim, nesta tabela podemos ver a distribuição da freqüência referida de diabetes, HAS, hepatite, malária, hanseníase e leishmaniose, nos atendidos e dos familiares de 1º grau. É importante notar que a distribuição não representa o universo total de pacientes acometidos pelas patologias abaixo, e sim a porcentagem da população que sabe ou acredita ter apresentado essas doenças. Tabela e gráfico: ocorrência referida de diversas patologias entre a população de Serra dos Aimorés. Doenças Antecedentes pessoais Antecedentes familiares Diabetes 81 Pessoas 3,6% 380 Pessoas 17% HAS 425 Pessoas 19% 878 Pessoas 39,3% Hepatite 58 Pessoas 2,6% 114 Pessoas 5,1% Malária 82 Pessoas 3,7% 72 Pessoas 3,2% Hanseníase 18 Pessoas 0,8% 60 Pessoas 2,7% Leishmaniose 5 Pessoas 0,2% 5 Pessoas 0,2% 878 380 425 81 Diabetes 58 HAS 114 Hepatite Pacientes 82 72 18 60 Malária Hanseníase 5 5 Leishmaniose Familiares 53 VII- Saúde da Mulher A história mostra que a sociedade vê a mulher como cidadã de segunda classe, que tem uma série de deveres e obrigações, mas pouquíssimos direitos e quase nenhum apoio para realizar as tarefas que lhe são atribuídas. Espera-se que a mulher esteja sexualmente disponível, seja perpetuadora da espécie e cuide de seu filho. Consciente ou inconscientemente, a sociedade espera que ela cumpra com todas essas funções sociais e a culpa se o resultado do esforço feminino não é satisfatório. Só mais recentemente desenvolveram-se programas dirigidos a atender as necessidades próprias da mulher, assim como priorizar as necessidades individuais acima de propósitos exclusivamente sociais. Neste contexto encaixa-se a prevenção do câncer do colo do útero e do câncer de mama. A prevenção do câncer do colo do útero pode ser de nível primário através da realização de sexo seguro, a fim de evitar o contágio com o HPV, que é o principal fator de risco para o desenvolvimento da doença, ou nível secundário, que é a detecção precoce da doença, feita através da realização do exame Papanicolaou (Citológico Cervical Uterino). A prevenção do câncer de mama é feita através da detecção precoce com três estratégias complementares entre si: o auto-exame das mamas, o exame clínico das mamas e a mamografia. 54 Papanicolaou Muitas vezes por vergonha, falta de acesso aos serviços, preconceito ou medo de realizarem os exames ginecológicos de rotina as mulheres colocam sua saúde e a vida em risco. O caso do câncer de colo do útero, por exemplo, é responsável pela morte de milhares de mulheres em todo o mundo, sendo que apresenta o mais alto potencial de cura, chegando próximo a 100%, quando diagnosticado precocemente. O útero da mulher é composto por colo, corpo e fundo. Inicialmente, o tumor limita-se à região do colo. Sua evolução ocorre vagarosamente, motivo pelo qual, se atendida a tempo, é curável na quase totalidade dos casos. Entretanto, se não tratado em tempo hábil, pode estender-se para todo o útero e outros órgãos. Atinge predominantemente mulheres na faixa de 35 a 50 anos; porém, há muitos relatos de casos em pacientes com cerca de 20 anos e naquelas com mais de 50 anos, é absolutamente necessária a realização regular dos exames preventivos. Fila de espera pra a realização do exame de Papanicolaou Quando ocorre sua instalação, o câncer de colo do útero tem a seguinte evolução: • Displasia - lesão inicial onde as células do colo sofrem alterações mínimas; • Decorridos cerca de três anos do surgimento da displasia, instala-se uma forma localizada de câncer chamada carcinoma in situ; • Após seis anos, o tumor invade a mucosa do útero e torna-se um carcinoma microinvasor; • Quatorze anos após o aparecimento da displasia, o câncer assume sua forma mais terrível espalhando-se, mediante a ocorrência de metástase, para outras regiões do corpo. 55 No sistema atual mais de 70% das pacientes diagnosticadas com câncer de colo do útero apresentam a doença em estágio avançado já na primeira consulta, o que limita, em muito, a possibilidade de cura. De todas as mortes por câncer em mulheres brasileiras da faixa etária entre 35 e 49 anos, 15% morrem devido ao câncer de colo do útero. Embora o Brasil tenha sido um dos primeiros países no mundo a introduzir a citologia de Papanicolaou para a detecção precoce do câncer de colo uterino, esta doença continua a ser um sério problema de saúde pública. Em Serra dos Aimorés a cobertura de exame de Papanicolaou para a população feminina com mais de 20 anos e que já teve vida sexualmente ativa é de 75,4% (pelo menos um exame na vida). Porém 15,4% destes já o fizeram a mais de 3 anos, tempo máximo recomendado pelo Ministério da Saúde e 24,6% da população feminina atendida refere nunca ter realizado o exame. Tabela e Gráfico nº 1: distribuição do tempo do último exame citológico cervical Último papanicolau Nº Em % Há menos de 3 anos 416 60,0 Há mais de 3 anos 107 15,4 Nunca realizou 171 24,6 171 107 416 56 Tabela nº 2: porcentagens de realização do exame de papanicolaou por estrato de escolaridade Tempo da realização do último exame de Papanicolaou Série Há menos de 3 anos Há mais de 3 anos Nunca realizou Analfabeto 37,8 20,7 41,5 Primário 63,6 16,7 19,8 Ginásio 64,2 13,3 22,5 Colegial ou universitário 71,1 8,1 20,7 Como podemos ver na tabela e no gráfico nº2 a população analfabeta está mais susceptível, pois é evidente a menor taxa de realização do exame de papanicolaou. Não sendo significativa a diferença entre os outros graus de escolaridade, porém a freqüência de exames realizados a menos de 3 anos é crescente conforme aumenta a escolaridade. Gráfico nº 2: realização do exame de papanicolaou a menos de 3 anos de acordo com a escolaridade. Escolaridade Em % 80 Analfabeto (1) 37,8 60 Primário (2) 63,6 Ginásio (3) 64,2 40 20 0 1 Colegial ou universitário (4) 2 3 4 71,1 57 Como podemos ver na tabela e no gráfico nº3 a população com menor renda realiza menos exame de papanicolaou, com uma porcentagem superior a média, sendo 30,6% de pacientes com até um salário mínimo que nunca realizaram o exame preventivo. Tabela nº 3: porcentagens de realização do exame de papanicolaou por estrato de renda Tempo da realização do último exame de Papanicolaou Há menos de 3 anos Há mais de 3 anos Nunca realizou Até 1 salário mínimo 54,5 14,8 30,6 Mais de 1 salário 65,8 16,0 18,2 Renda Familiar Gráfico nº3: realização do exame de papanicolaou a menos de 3 anos de acordo com a renda. Renda Familiar Em % Até 1 salário mínimo (1) 54,5 Mais de 1 salário (2) 65,8 80 60 40 20 0 1 2 58 Modelo de condução do Ministério da Saúde com resultado do exame de Papanicolaou Pacientes com citologia com resultado alterado, que devem ser submetidas a procedimentos adicionais de diagnóstico e à terapia adequada imediatos: Lesão de alto grau - Neoplasia Intraepitelial Cervical Grau II (NIC II), Neoplasia Intraepitelial Cervical Grau III (NIC III): encaminhamento imediato para a colposcopia, para avaliação histopatológica. Casos com resultado de Carcinoma escamoso invasivo e Adenocarcinoma in situ ou invasivo / outras neoplasias malignas: encaminhamento imediato para a colposcopia e biópsia para confirmação diagnóstica pela histopatologia e, posteriormente, encaminhamento à Unidade de alta complexidade oncológica. Casos com Amostras Insatisfatórias: repetir imediatamente a coleta, já que não foi possível a avaliação do material enviado, para descartar uma lesão significativa. • Obter a informação da 2ª citologia em até seis meses (180 dias) da data da coleta. • Caso o resultado da 2ª coleta persistir amostra insatisfatória, encaminhar ao nível secundário para investigação colposcópica. • Caso o resultado da 2ª coleta for negativo para neoplasia ou resultados positivos seguem este protocolo. Casos com Lesões de baixo grau (ASCUS, AGUS, HPV e NIC I): acompanhamento na unidade primária, repetir exame citopatológico após seis meses (180 dias). Casos com Lesões de baixo grau (ASCUS, AGUS, HPV e NIC I) persistentes após seis meses ou com progressão para lesão mais grave: encaminhamento imediato para a colposcopia, para avaliação histopatológica. Casos com Resultados sem anormalidades: avaliar resultados de exames no ano anterior; recomendar (agendar) repetição após um ano, para pacientes novas no seguimento; se negativo para neoplasia, isto é, pacientes com duas citologias consecutivas negativas, agendar para nova citologia após três anos. 59 60 Câncer de Mama O câncer de mama é provavelmente o mais temido pelas mulheres devido a sua alta freqüência e, sobretudo, pelos seus efeitos psicológicos, que afetam a percepção de sexualidade e a própria imagem pessoal. Ele é relativamente raro antes dos 35 anos de idade, mas acima desta faixa etária sua incidência cresce rápida e progressivamente. Este tipo de câncer representa nos países ocidentais umas das principais causas de morte em mulheres. As estatísticas indicam o aumento de sua freqüência tanto nos países desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), nas décadas de 60 e 70 registrou-se um aumento de 10 vezes em suas taxas de incidência ajustadas por idade nos registros de câncer de base populacional de diversos continentes. Tem-se documentado também o aumento no risco de mulheres migrantes de áreas de baixo risco para áreas de alto risco. Nos Estados Unidos, a Sociedade Americana de Cancerologia indica que em cada 10 mulheres uma tem a probabilidade de desenvolver um câncer de mama durante a vida. No Brasil, o câncer de mama é o que mais causa mortes entre as mulheres. Em 1998, foram registrados 8.044 mortes decorrentes deste tipo de câncer. Dos 305.330 novos casos de câncer com previsão de serem diagnosticados em 2001, o câncer de mama será o principal a atingir a população feminina, sendo responsável por 31.590 novos casos. O sintoma do câncer de mama, já localmente detectável em exame físico, é o aparecimento de nódulo ou caroço no seio, com ou sem irritação e dor no local. As formas mais eficazes para detecção precoce do câncer de mama são o auto-exame das mamas, o exame clínico e a mamografia. As pesquisas indicam um impacto significativo do Auto-Exame das Mamas - AEM na detecção precoce do câncer de mama, registrando-se tumores primários menores e menor número de linfonodos axilares invadidos pelo tumor (ou por células neoplásicas) nas mulheres que fazem este exame regularmente. A sobrevida em cinco anos tem sido de 75% entre praticantes do AEM contra 57% entre as não-praticantes. Esta vantagem na sobrevida persiste quando se ajusta por idade, método de detecção, histórico familiar e demora na aplicação do tratamento. 61 A mamografia é o exame radiológico dos tecidos moles das mamas e é considerado um dos mais importantes procedimentos para o rastreamento do câncer ainda impalpável de mama. A sensibilidade da mamografia é alta, ainda que, na maioria dos estudos feitos, sejam registradas perdas entre 10 a 15% dos casos de câncer detectável ao exame físico. A sensibilidade da prova é muito menor em mulheres jovens. A mamografia, devido a sua pouca eficácia em mulheres com menos de 40 anos e mais de 70, em termos epidemiológicos e de saúde pública, não deve ser utilizada em programas maciços, e sim ser indicada no seguimento das mulheres de alto risco ou com suspeitas de doenças mamárias. O rastreamento do câncer de mama feito pela mamografia, com periodicidade de um a três anos, reduz significativamente a mortalidade em mulheres de 50 a 70 anos. Nas mulheres com menos de 50 anos, existe pouca evidência deste benefício. O Instituto Nacional de Câncer recomenda que o Exame Clínico das Mamas - ECM seja realizado a cada três anos pelas mulheres com menos de 35 anos, a cada dois anos pelas mulheres entre 35 e 39 anos e anualmente pelas mulheres entre 40 e 49 anos. As mulheres na faixa etária entre 50 e 70 anos devem submeter-se ao exame anual ou semestralmente, sendo a mamografia indicada em casos suspeitos e de alto risco. Idade Acima de 35 suspeita 35 a 39 suspeita AEM mensal 40 a 49 anos mensal Anual 50 anos ou mais mensal 1 a 2 vezes por ano mensal ECM Pelo menos a cada 2 anos Pelo menos a cada 2 anos Mamografia Pelo menos a cada 2 anos Pelo menos a cada 2 anos Pelo menos a cada 2 anos Pelo menos a cada 2 anos AEM - Auto Exame da Mama ECM - Exame Clínico da Mama 62 Entre as pacientes atendidas pelo Projeto Bandeira Científica apenas 49,7% referem realizar o auto-exame de mama e alarmantemente somente 22,4% das pacientes tiveram o exame clínico das mamas. Quando analisamos em relação à idade nota-se que há uma maior preocupação com este exame nas mulheres mais velhas, porém ainda insuficiente (menos de 30% das mulheres com mais de 50 anos) e também visto que o auto-exame de mama é mais realizado entre as mulheres adultas em relação às idosas. Tabela e Gráfico nº3: distribuição das pacientes que referem realizar o auto-exame de mama. Auto exame de mama Nº Em % Refere realizar 453 49,7 Não refere realizar 459 50,3 453 459 Tabela e Gráfico nº4: da distribuição das pacientes que referem exame de mama pelo médico 204 Exame clínico das mamas Nº Em % Já realizou 204 22,4 Nunca realizou 707 77,6 707 63 Nesta distribuição tem-se uma progressão da realização do auto-exame de mama conforme aumenta a escolaridade, com uma pequena tendência à queda com a escolaridade colegial ou superior. Tabela e Gráfico nº5: distribuição das pacientes que referem realizar o auto-exame de mama de acordo com a escolaridade. Auto-exame de mama Escolaridade Em % Analfabeto (1) 34,0 Primário (2) 47,8 Ginásio (3) 65,7 80 60 40 20 0 1 Colegial ou universitário (4) 2 3 4 62,1 Na tabela e gráfico nº6 pode-se notar que as pacientes que possuem maior renda realizam mais o auto-exame de mama, esta é uma condição que se repete em relação ao exame clínico das mamas. Tabela e gráfico nº 6: porcentagens de realização do auto-exame de mama por estrato da renda Auto-exame de mama Renda Familiar Em % Até 1 salário mínimo 43,9 Mais de 1 salário 57,9 80 60 40 20 0 Até 1 salário Mais que 1 salário 64 Na tabela e gráfico nº7 podemos ver que existe uma maior preocupação em realizar o auto-exame de mama nas mulheres que realizam o exame preventivo, esta situação se repete se considerar o exame clínico da mama. Com este dado pode-se chegar a conclusão que existe uma porcentagem da população que está excluída do sistema de saúde. Tabela e gráfico nº 7: porcentagens de realização do auto-exame de mama em relação ao tempo do último papanicolaou. Auto-exame de mama Papanicolaou Em % Há menos de 3 anos (1) 60,8 Há mais de 3 anos (2) 53,4 80 60 40 20 0 Nunca realizou (3) 39,9 1 2 3 65 Presença de corrimento vaginal Um dos mais comuns e mais irritantes problemas que afeta a saúde da mulher é o corrimento vaginal também chamado de vaginite e uma das causas mais freqüentes de visita ao médico ginecologista. Caracteriza-se por uma irritação vaginal ou um corrimento anormal que pode ou não ter cheiro desagradável, pode haver também prurido (coceira) ou ardor na vagina ou ainda polaciúria (vontade mais freqüente de urinar). Os corrimentos podem ser causados por: • Infecções vaginais • Infecções cervicais ou do colo do útero • Doenças sexualmente transmissíveis O corrimento vaginal foi relatado em 28,9% das pacientes, sendo que mais da metade (53,5%) era de cor branca, a cor amarela foi o segundo mais relatado com 45,5% e apenas 3 pacientes referiram corrimento de cor esverdeada. Mais de um terço das pacientes referiram ter odor fétido no corrimento e 40,8% referiram prurido vaginal. Dentre as pacientes com corrimento de cor branco 36,1% relataram prurido, descrito na ginecologia clássica como sendo provavelmente candidíase, dentre as mulheres com corrimento amarelado 54,8% relataram a presença de odor fétido, característico de infecção por gardinerela ou tricomonas. Tabela e Gráfico nº8: distribuição das pacientes que referem ter corrimento vaginal. Presença de corrimento vaginal Nº Em % Com corrimento 262 28,7% Sem corrimento 650 71,3% 262 650 66 Tabela e Gráfico nº9: distribuição da cor referida do corrimento vaginal Cor do corrimento vaginal Branco Nº Em % 134 51,7% 2 123 Amarelo Esverdeado 123 47,5% 2 0,8% 134 Tabela e Gráfico nº10: distribuição das pacientes que referem ter prurido vaginal. Presença de Prurido Nº Em % 111 Com prurido Sem prurido 111 43,7% 143 143 56,3% Tabela e Gráfico nº11: distribuição das pacientes que referem ter odor no corrimento vaginal. Presença de odor Nº Em % Com odor 93 35,9% Sem odor 166 64,1% 93 166 67 Contracepção Existe uma importante parte da população feminina que se apresenta sem uso métodos de contraceptivo (31,4%), considerando todos os métodos, medicamentosos, cirúrgico, comportamental ou de barreira. Tabela e Gráfico nº12: distribuição das pacientes que referem utilizar métodos contraceptivos. Contracepção Nº Em % Com contracepção 380 68,6% Sem uso de contracepção 174 31,4% 174 380 Tabela e Gráfico nº13: distribuição dos tipos de métodos contraceptivos referidos. Métodos contraceptivos Nº Em % 127 37,5% Cirurgia 141 41,6% Barreira 50 14,7% Comportamental 1 0,3% Medicamentoso 50 1 127 141 Dentre as pacientes atendidas apenas 17,8% refere fazer uso de camisinha, uma porcentagem pequena, levando consigo um maior risco de transmissão de doenças sexualmente transmissíveis. Tabela e Gráfico nº14: distribuição das pacientes que referem fazer uso de camisinha. Camisinha Nº Em % Faz uso 143 17,8% Sem uso 659 82,2% 143 659 68 E para completar este quadro, temos uma população feminina de 5,6% que refere ter algum tipo de lesão genital. Tabela e Gráfico nº15: distribuição das pacientes que referem ter lesões genitais. 51 Lesões genitais Nº Em % Possuem 51 5,6% Não possuem 854 94,4% 854 69 Relato Social das Mulheres Atendidas A população estudada é de maioria feminina, com uma razão mulheres/homens de 2:1, que passa para 3:1 dentro da faixa etária adulta, e mais mulheres com diagnóstico de hipertensão referido mostrando que as mulheres procuram mais o serviço de saúde que os homens. Dentro da população feminina, há uma maior prevalência de donas de casa que qualquer outra profissão, mesmo que, em relação aos anos estudados, elas sejam mais instruídas que os homens; há também um maior índice fora do normal de massa corpórea, sobretudo na obesidade e sobrepeso entre as mulheres, que é fator de risco importante para doenças como a própria hipertensão, a diabetes e as doenças cerebrovasculares e cardiovasculares. Não se pode negar, tendo tais dados em mãos, que, apesar de o tratamento ser igualmente dispendido para ambos os sexos, deve-se dar mais ênfase à saúde feminina, dando condições para que a saúde pública, como um todo, seja melhor assistida. Quando analisa-se a situação do sexo feminino em relação ao panorama geral podemos ver que o sexo feminino tem uma maior porcentagem de indivíduos na classificação de sobrepeso e obeso, mostrando que as mulheres estão mais exposta a esse fator de risco de variadas doenças. Tabela e Gráfico nº16 distribuição do IMC no sexo feminino IMC Nº Em % Abaixo (< que 20) 100 13,6% Normal (entre 20 e 25) 296 40,2% Sobrepeso (entre 25 e 30) 214 29,1% Obeso (acima de 30) 126 17,1% 126 214 100 296 70 Na tabela nº17 pode-se observar o nível de instrução feminino, que possuí uma maior porcentagem de estudo acima de nove anos. Esta situação se repete ao considerar a escolaridade atingida, tendo no sexo feminino uma menor quantidade de analfabetas e uma maior quantidade de colegiais e universitárias comparativamente ao sexo masculino. Tabela e Gráfico nº17 distribuição dos anos estudados referido Anos estudados Nº Em % Nenhum 208 23,9% De 1 a 4 anos 329 37,8% De 5 a 8 anos 161 18,5% Acima de 9 anos 172 19,8% 172 208 161 329 71 VIII- HIV e AIDS Dentro das linhas de estudo desenvolvidos pelo Projeto Bandeira Científica está a avaliação da vulnerabilidade coletiva da população de Serra dos Aimorés à infecção pelo vírus HIV e à AIDS. Para isso, o Projeto se vale de um grande banco de dados obtido através do preenchimento de fichas epidemiológicas na ocasião dos atendimentos médicos realizados durante a visita à cidade em Dezembro de 2002. Com essas fichas foi possível ter acesso a uma série de informações dos entrevistados sobre suas condições de vida, educação, acesso à informação, à saúde e as percepções individuais acerca do risco que correm frente à pandemia da AIDS. Junto com isso, foram realizadas entrevistas também com os agentes de saúde para que fosse verificada também a situação dos líderes de comunidade, e para que se soubesse o papel da Prefeitura nesse quadro. Com mais de 2500 entrevistas realizadas será possível avaliar o impacto que a doença tem em Serra dos Aimorés e, mais que isso, encontrar os pontos fracos na resistência ao avanço da epidemia. O primeiro obstáculo enfrentado nesse processo foi o preconceito que existe em torno do assunto. Isso pôde ser observado tanto entre os acadêmicos expedicionários do Projeto quanto entre a população entrevistada, que quando perguntada se mostrava constrangida. Esse fato não é peculiaridade de Serra dos Aimorés e nem mesmo foi a regra entre as entrevistas, porém a primeira impressão que se teve foi que boa parte da população atendida, se não estava acuada frente ao assunto das perguntas, mostrava-se inteirada e disposta a conversar abertamente. Isso é positivo se pensarmos que pessoas interessadas devem existir nas maiores proporções possíveis, porém pode diminuir a representatividade e o valor final do estudo uma vez que houve tendência maior a responder às questões a parcela esclarecida sobre o assunto dentro da população geral. Esse viés será discutido durante a análise dos dados. 72 Numa primeira avaliação dos dados vemos que a população entrevistada, que era na sua maioria de mulheres e predominantemente jovem, teve a sua primeira relação sexual quase sempre na segunda década de vida, por volta dos 16 anos; e hoje, dentre os que ainda mantém uma vida sexualmente ativa, a maior parte teve somente um parceiro sexual no último ano. Esse dado, somado à informação de que mais de 1000 entrevistados não tiveram parceiro algum no ano passado, mostra sem grandes análises que uma boa parte da população tem uma vulnerabilidade reduzida ao HIV quanto a forma de transmissão sexual. No entanto dentro da parcela que ainda tem uma vida sexualmente ativa é uma minoria (22,51%) que tem o costume de usar o preservativo; isso, provavelmente porque preocupam-se mais com a contracepção e a muitas das mulheres já fizeram cirurgia de laqueadura de trompas. Existem porém outras vias de transmissão do vírus HIV, como o uso compartilhado de seringas entre usuários de drogas injetáveis. Quanto a isso, os dados são bastante otimistas e mostram apenas 3 usuários entre os entrevistados, mas é claro que devemos pensar que esse número pode estar subestimado tanto pelo não alcance do Projeto à população usuária quanto pelo também tabu em torno do assunto. Quando questionados se já haviam ouvido falar sobre a AIDS, no intuito de avaliar sua percepção do assunto, 67,6% dos entrevistados responderam que sim, o que mostra que as campanhas de educação em saúde, as palestras ministradas, as escolas, a televisão e os postos de saúde em conjunto com os agentes comunitários de saúde estão todos contribuindo na redução da vulnerabilidade dessa população. Mas esse trabalho de informação e educação populacional ainda está longe de ser concluído. Vemos isso quando muito menos da metade dos entrevistados revelaram que conversavam sobre HIV/AIDS com alguém, e apesar disso se sentiam protegidos da doença por motivos muitas vezes absurdos. 73 Nas entrevistas com as agentes de saúde, observamos que a cidade conta com um programa já em andamento de educação, prevenção, diagnóstico e tratamento coordenado pela Dra Olímpia uma médica de Teófio Otoni. Seu trabalho tem um alcance exemplar dentro da população e é determinante na redução da vulnerabilidade à pandemia da AIDS. Soubemos também que a cidade já tem cerca de uma dezena de pacientes em tratamento, cujos medicamentos são trazidos de T. Otoni ou de Belo Horizonte. Seria interessante para o enriquecimento do estudo como um todo o acesso preciso a informações dessa ordem. Conclusões preliminares: 1- é louvável a iniciativa da Dra. Olímpia no seu empenho em propagar programas de prevenção, educação, diagnóstico e tratamento da Aids. Atividades como esta devem ser encorajadas a fim de que se propaguem mais entre a população. 2- apesar de a maioria das pessoas estar informada sobre o que é a AIDS e sua transmissão, existe ainda um forte preconceito das pessoas para conversar e discutir sobre o assunto. 3- da mesma forma, a maioria dos entrevistados sente-se protegida em relação a infecção pelo vírus da AIDS entretanto apenas por estar informada da existência da epidemia e não por estar efetivamente agindo de forma a prevenir o contágio. Análises mais detalhadas estão sendo realizadas a fim de inferir mais precisamente a vulnerabilidade coletiva a que a população está submetida. A continuidade do projeto será mantida e medidas serão propostas para que o risco de infecção da população seja reduzido. 74 IX- Otorrinolaringologia Do protocolo da otorrinolaringologia aplicado na cidade de Serra dos Aimorés interrogamos sobres as queixas, seguido de um exame físico direcionado conforme o protocolo, realizado por um especialista da área, Dr. Ronaldo Frizzarine. Foram avaliadas 67 pessoas escolhidas aleatoriamente durante a entrevista epidemiológica. Das 67 pessoas entrevistadas: 41 eram do sexo feminino e 26 do sexo masculino. A distribuição por idade se fez da seguinte forma: menores que 19 anos: 21 casos; entre 20 e 39 anos: 15 casos; entre 40 e 59 anos: 21 casos e maiores que 60 anos: 10 casos. O protocolo visava relacionar a queixa de zumbido com Hipertensão arterial sistêmica (HAS), Diabetes (DM) e consumo de xantinas (chocolate, café,...). No entanto outros dados foram coletados, cujo resultado foram os seguintes: Quanto à parte otológica: Queixas Otológicas 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% am gr ia lg ta n Sa O o c oa id ur Pr ip t en do bi m Zu ia us H o Fica claro que as principais queixas são hipoacusia, zumbido e prurido. Sendo que os dois primeiros necessitam de avaliação pela audiometria para melhor elucidação diagnóstica. 75 Das 20 pessoas que relataram hipoacusia, 7 tinham rolhas de cera, 6 com otites e 8 sem associação com outros achados de exame físico. Ou seja 40 % dos casos precisariam de uma audiometria para elucidação diagnóstica, pois nem todos se encaixam no diagnóstico de presbiacusia (idade média 46,6 anos). Além disto às queixas de otalgia e otorréia estavam, em sua grande maioria relacionadas a quadros de otites. Lembrando que as otites representaram 40% dos achados de exame físico otológico. Quanto ao restante do exame físico otológico, vimos que o grande achado foi rolha de cera, o que pode nos mostrar a falta de orientação populacional quanto a higiene auditiva, pois uma causa comum de rolha de cera é a má manipulação do conduto auditivo, empurrando a cera para dentro do canal, ocluindo-o. E levando às queixas acima relatadas, como zumbido, hipoacusia e prurido. Exame Físico Otológico 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% OM Co O Ro OM rpo lha tite Cc Cs e de xte Es ole im tra ple r Ce ste nh sc ra na ato o om ma ou tos vid a os ec o 76 Em relação à parte nasal, teremos os seguintes valores: Queixas Nasais 25% 20% 15% 10% 5% 0% ia m os ac to C en m ra ng Sa a iz or C o id ur Pr al ci rro pi Fa l/ Es ta on Fr or D A dor frontal/Facial, pode ser sintomas de muitas patologias (cefaléia, sinusites, neuralgias, entre outras) sendo portanto pouco especifica e de difícil caracterização etiológica. A obstrução nasal é outra das principais queixa, acompanhada do prurido, do espirro e da coriza, sendo estes os sinais mais significativos de rinite. Que é uma patologia mais freqüentemente encontrada em grandes centros urbanos, não sendo tão freqüente em áreas de pouca poluição, no entanto vale lembrar que muitos moradores de Serra dos Aimorés, trabalham perto ou em canaviais onde há intensa presença de fumaça que pode funcionar como um irritante para a mucosa nasal. Para reforçar estes dados ao exame físico foram encontradas freqüentemente hipertrofia de conchas, palidez de mucosas e rinorréia, que podem ser sinais presentes nas rinites, embora o diagnóstico em si de rinite não tenha sido tão freqüente quanto os seus achados. Além disto vale reforçar a importância do diagnóstico e tratamento adequado das rinites, pois por serem crônicas requerem tratamento adequado e prolongado. Caso contrário podem evoluir para as complicações como: otites médias, infecções de vias aéreas superiores de repetição, alteração no desenvolvimento crânio-facial e do sono, entre outras. 77 Soma-se a estes fatos o dado de que as queixas respiratórias correspondiam a 48% das queixas dos entrevistados. Assim sendo devemos dar um maior enfoque à parte nasal da população de Serra dos Aimorés. Exame Físico Nasal 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% si nu Si C or es te po tra nh o ite in R a os uc M as de ch ez on C lid de Pa fia tr o er ip H Quanto à cavidade oral obtivemos os seguintes dados: Queixa e Exame Físico Bucais 25% 20% 15% 10% 5% 0% or ilit de s ila ns to al c bu a ud ag fia r do e ira tro er ip p es ns To D H R 78 Percebe-se que é freqüente o respirador bucal, as alterações de tonsilas, que pode ser a causa da alteração da fala ou mesmo do respirador bucal. Em qualquer caso é importante ter-se um médico especializado no acompanhamento e orientação destes pacientes, pois são doenças crônicas, que na infância pode levar a uma alteração do crescimento, a criança pode ficar menos ativa, ter alterações na face que impliquem até na alteração de arcada dentária. entre outras complicações. Assim concluímos que seria interessante, o acesso da população ao serviço de otorrinolaringologia, e além disto acesso a audiometria; orientações quanto o cuidado com o conduto auditivo; orientação para fatores desencadeantes de rinites irritativas, como preveni-las e como trata-las de formas simples. Em relação direta com o protocolo de zumbido temos que a relação zumbido e HAS teve uma relação de 1,54, ou seja a HAS representaria um fator de risco para zumbido, aumentado em 54% de chance de desenvolver zumbido nesta população do que na população sem HAS. Não foi possível correlacionar com DM, pois somente um paciente era sabidamente diabético e este não apresentava a queixa de zumbido. No entanto o consumo de xantina mostrou-se significativamente aumentado nos pacientes com zumbido. Sendo a relação de 2,73, ou seja, quem consome xantinas tem 173% de chance a mais de desenvolver zumbido que a população que não consome. Vale ressaltar, que o consumo de xantina por ser um fator muito freqüente pode não ser de fato, um fator de risco, e sim uma coincidência de um achado comum. 79 X- Parasitoses Intestinais As parasitoses intestinais ainda constituem um importante problema de Saúde para a humanidade. A Organização Mundial da Saúde calcula que existam, em todo o mundo, cerca de 1 bilhão de indivíduos parasitados por Ascaris lumbricoides e entre 800 e 900 milhões infectados por Trichuris trichiura e ancilostomídeos, além de 400 milhões de infectados por Entamoeba histolytica e 200 milhões por Giardia lamblia. Apesar de sua inegável importância como doença de massa, as parasitoses intestinais têm sido controladas em muitas regiões e países que conseguiram distribuir de forma socialmente justa os benefícios do desenvolvimento econômico e científico. Assim, determinados segmentos da população mundial puderam usufruir dos avanços conseguidos pelo melhor conhecimento acerca da biologia, epidemiologia e prevenção de doenças causadas por parasitas intestinais, bem como de medicamentos mais eficazes e seguros, que ocorreram nas últimas décadas. Em países subdesenvolvidos e em alguns bolsões de pobreza de regiões com melhor desenvolvimento econômico, as infecções intestinais continuam causando enormes problemas à população. Em todo o Brasil, observou-se uma queda na prevalência de infecção por parasitas intestinais nas últimas décadas, em conseqüência da melhoria nas condições de saneamento básico, aliada à melhoria do poder aquisitivo e dos índices de escolaridade da população. Algumas populações, no entanto, ainda são muito atingidas, em virtude de condições de vida menos privilegiadas. Isso justifica a colocação das parasitoses intestinais na pauta dos problemas de saúde pública que, embora já possuam meios adequados de controle, ainda persistem devido à falta de atenção política para seu combate. 80 Esse relatório tem como objetivo mostrar a importância das parasitoses intestinais na população de Serra dos Aimorés, bem como relacioná-las com possíveis fatores causais. 81 Características da amostra Para a pesquisa epidemiológica de prevalência de parasitoses intestinais em Serra dos Aimorés, foram analisadas as fezes de 269 (duzentos e sessenta e nove) pessoas previa e aleatoriamente escolhidas pelas Agentes Comunitárias de Saúde locais dentro de cada uma das 12 microáreas do PSF municipal. Essa amostragem representa 3,47% de toda a população do município. Outras 72 (setenta e duas) pessoas, que manifestaram interesse em realizar os exames ou apresentaram suspeita diagnóstica de parasitose intestinal durante o atendimento clínico ambulatorial, também tiveram as fezes analisadas. Os resultados desses exames, no entanto, não foram considerados na análise epidemiológica, de modo a não viciar a amostra populacional. Dentro do universo dessas 269 pessoas, havia mais mulheres (169; ou 62,8% da amostra) do que homens (100; ou 37,2% da amostra). O grupo etário predominante foi o das crianças (0 a 11 anos), totalizando 122 indivíduos examinados; ou 45,4% da amostra, seguida pelos adultos (20 a 49 anos) - perfazendo 61 exames (22,7%) -, pelos idosos (acima de 50 anos) - 50 exames (18,6%)-, e pelos adolescentes – 36 exames (13,4%). Como a amostragem solicitada às Agentes Comunitárias de Saúde era igualmente distribuída entre os sexos e os grupos etários, podemos concluir que o interesse e a adesão da população à pesquisa de parasitoses intestinais foi maior entre as mulheres e as crianças. Para facilitar a análise e suas conclusões, os pacientes que fizeram os exames proto-parasitológico de fezes (PPF) foram agrupados em 4 setores da cidade: o conglomerado urbano principal (centro), e os bairros da zona rural que foram visitados pelo Projeto Bandeira Científica. No Centro, foram analisadas as fezes de 201 pessoas, ou 74,7% da amostra. No bairro do Lajedão, foram realizados 43 exames (16,0%). Na localidade do Córrego dos Bichos, 18 exames (6,7%). No bairro de Aimorezinhos, 7 exames (2,6%). A amostragem de pacientes conseguida em Aimorezinhos foi considerada insuficiente, por isso os dados obtidos na análise epidemiológica desse bairro não se encontram nos gráficos que seguirão. 82 Prevalência de parasitoses intestinais A prevalência de indivíduos infectados por um ou mais tipos de parasita intestinal em Serra dos Aimorés é a de 71,4% (como pode ser conferida na tabela 1). Tabela e Gráfico 1: prevalência de indivíduos infectados por algum tipo de parasita intestinal no município de Serra dos Aimorés, MG. A amostra populacional totalizou 269 pessoas, que representam 3,47% da população total do município. Parasitose intestinal Ausente Presente 77 28,6% 192 71,4% 77 192 Tabela e Gráfico 2: prevalência de parasitoses intestinais de acordo com cada um dos quatro bairros analisados (Centro, Lajedão, Córrego dos Bichos, Aimorezinhos). Prevalência de parasitoses intestinais de acordo com o Centro bairro Lajedão Córrego dos Bichos Aimorezinho Ausente Presente 65 (32,3%) 8 (18,6%) 1 (5,6%) 3 (42,9%) 136 (67,7%) 35 (81,4%) 17 (94,4%) 4 (57,1%) 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 ausente (%) presente (%) Centro Lajedão Córrego dos Bichos É evidente no gráfico nº 2 a progressão no número de casos nos bairros da área rural do município (Lajedão e Córrego dos Bichos), que têm uma porcentagem de casos destoante com a encontrada no conglomerado urbano principal. Esse achado é fruto das diferenças de hábitos e condições de vida entre as populações desses bairros. É comum encontrarmos deficiências na cobertura de saneamento básico nos bairros mais afastados ou na zona rural, o que se reflete na porcentagem de indivíduos infectados. A prevalência de casos positivos também muda de acordo com o tipo de destino dado ao esgoto doméstico, como podemos visualizar no gráfico nº 3. Pessoas cujas residências não são atendidas pelo serviço de coleta pública de esgoto são mais susceptíveis à infecção por parasitas intestinais. A presença de fossa séptica nas 83 residências mostra-se uma solução menos eficiente que a coleta pública. Isso, provavelmente devido a problemas na construção, conservação e limpeza das mesmas. Tabela e Gráfico 3: prevalência de parasitoses intestinais de acordo com o destino dado ao esgoto doméstico. 13 16 (44,8%) (55,2%) Céu aberto 9 44 (17,0%) (83,0%) Fossa 48 122 (28,2%) (71,8%) 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 ausente (%) presente (%) fossa Presente céu aberto Ausente coleta pública Prevalência de parasitoses intestinais de acordo com o Coleta pública destino do esgoto À frente, pia; ao fundo, cercado para criação de aves. 84 Protozoários As protozooses intestinais são um importante problema de Saúde Pública, por serem doenças endêmicas (presentes na população ao longo do tempo) que podem apresentar surtos. Nem todos os protozoários intestinais provocam doenças. Alguns habitam o intestino de pessoas sãs, sem lhes causar qualquer incômodo. Outros, no entanto, podem provocar importantes diarréias, sendo o tipo e a gravidade variável entre os diversos tipos de protozoários intestinais. Todos, no entanto, estão intimamente ligados à água, sendo a pesquisa de prevalência de protozoários intestinais (patogênicos ou não) um importante mecanismo de verificação da contaminação da água por fezes. A amebíase tem como agente causador a Entamoeba histolytica. O parasita, dentro do intestino, pode provocar desde falta de apetite, dores abdominais e diarréia simples (muitas vezes intercalada com prisão de ventre) até casos mais graves, como diarréia com presença de sangue, abscessos no intestino e no fígado e perfuração intestinal. A giardíase tem como agente causador a Giardia lamblia, e manifesta-se com diarréia com fezes espumosas e presença de muco nas mesmas. Ambos os parasitas apresentam infecções causadoras de diarréia de maior gravidade em crianças e idosos. Outras espécies de protozoários, antigamente desconhecidas ou de ocorrência muito rara, manifestam-se atualmente como importante problema de saúde em pacientes imunodeprimidos (e, às vezes, também em indivíduos imunocompetentes. É o caso da infecção pelos criptosporídeos. Tabela e Gráfico 4: prevalência de infecção por protozoários na população de Serra dos Aimorés. Protozoários Ausente Presente 87 32,3% 182 67,7% 87 182 A prevalência de infecção por um ou mais protozoários em Serra dos Aimorés é 67,7%. A tabela e gráficos nº 5 mostram os valores encontrados para cada parasita em separado. 85 Tabela e Gráficos 5: prevalência da infecção por cada tipo de protozoário pesquisado. Blastocystis hominis Ausente Presente Criptosporidium 190 70,6% 79 29,4% 79 190 Ausente 9 Presente Endolimax nana 260 96,7% 9 3,3% 161 59,9% 260 Ausente 108 Presente Entamoeba coli 40,1% 168 62,5% 101 37,5% 262 97,4% 7 2,6% 161 Ausente Presente Entamoeba hartmanni 108 101 168 Ausente 7 Presente 262 Entamoeba hystolitica/dispar Ausente 230 85,5% 39 14,5% 39 Presente 230 Giardia lamblia Ausente 240 89,2% 29 86 Presente Iodamoeba beutschlii 29 10,8% 257 95,5% 12 4,5% Ausente Presente 12 257 A água é um bem vital, sendo o direito ao acesso a uma fonte de água de qualidade fundamental. No entanto, dentro da população de Serra dos Aimorés, nem todas as residências têm disponíveis água com as mesmas condições de potabilidade. É o que podemos aferir do gráfico nº 6, que nos confirma a relação da infecção intestinal por protozoários com as fontes de captação de água. Pessoas sem acesso ao abastecimento público de água estão mais suscetíveis a essas infecções (e, conseqüentemente, a doenças diarréicas), sofrendo com uma pior qualidade de vida. A mesma associação é encontrada no gráfico nº 7, que mostra a importância de reservar um destino e tratamento adequados ao esgoto domiciliar. Tabela e Gráfico 6: prevalência de infecção intestinal por um ou mais tipos de protozoários, de acordo com a origem da água consumida em casa. Prevalência de infecção intestinal por protozoários Encanada de acordo com a origem da Poço/ Mina água Rio/ Lago Ausente Presente 73 150 (32,7%) (67,3%) 5 23 (17,9%) (82,1%) 1 3 (25,0%) (75,0%) 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 ausente (%) presente (%) encanada poço/mina 87 Tabela e Gráfico 7: prevalência de infecção intestinal por um ou mais tipos de protozoários, de acordo com o destino dado ao esgoto domiciliar. Prevalência de infecção intestinal por protozoários Coleta pública de acordo com o destino do Céu aberto esgoto Fossa . Ausente Presente 12 17 (41,4%) (58,6%) 11 42 (20,8%) (79,2%) 56 114 (32,9%) (67,1%) 100 80 60 ausente (%) 40 presente (%) 20 0 coleta pública céu aberto fossa Talvez por isso os bairros da zona rural, onde o saneamento de água e esgoto é deficiente, a prevalência de protozooses intestinais é mais alta que no Centro da cidade. Nesse aspecto, as soluções não são únicas e requerem atenção do Poder Público (atenção representada não só por verbas, mas muitas vezes por planejamento e criatividade na hora de utilizá-las). A tabela e o gráfico nº 8 denunciam o problema. Na comunidade do Córrego dos Bichos, os números encontrados ilustram bem a dimensão do problema. Segundo foi conferido pelo Projeto Bandeira Científica em sua expedição a Serra dos Aimorés, a fonte de captação de água no local está localizada em um ponto de depressão do terreno, ao redor do qual estão distribuídas as casas (sempre a um nível de altitude acima desse poço). Como as habitações não são servidas por serviço público de coleta de esgotos, o destino das fezes são fossas construídas junto a essas casas, nem sempre em boas condições. Devido às características do terreno, o lençol freático provavelmente se encontra contaminado pelas fezes dos habitantes da localidade, e assim o ciclo de infecção pela água se perpetua. Diferentes medidas poderiam ser tomadas, tais como a 88 mudança do local de captação de água para uma região mais alta e afastada, onde a contaminação subterrânea não existisse ou ainda uma condições melhoria de coleta nas e tratamento das fezes (como a substituição das fossas sépticas que não atendam às condições necessárias de utilização). As fezes e a urina que ficam na fossa séptica são absorvidas pela terra e podem contaminar o lençol freático (fluxo subterrâneo de água que permite ao homem cavar poços e minas). Para evitar a contaminação da água, as fossas devem ser construídas a pelo menos 50 metros de distância de todas as casas e de todos os locais de onde se retira água. O fundo da privada deve ficar 2 metros mais alto (mais raso) que a altura da água nos poços. O interior da fossa requer limpeza periódica (pois a tendência é que, com o tempo, os resíduos reduzam a profundidade das mesmas). Tabela e Gráfico 8: prevalência de infecção intestinal por um ou mais tipos de protozoários, de acordo com o bairro de residência. Prevalência de infecção intestinal por protozoários Centro de acordo com o bairro Lajedão Ausente 74 (36,8%) 9 (20,9%) Córrego dos Bichos 1 (5,6%) Aimorezinho 3 (42,9%) Presente 127 (63,2% ) 34 (79,1% ) 17 (94,4% ) 4 (57,1% ) 100 80 60 ausente (%) 40 presente (%) 20 0 Centro Lajedão Córrego dos Bichos O grupo etário mais susceptível à infecção por parasitas intestinais é o das crianças. No entanto, os resultados encontrados em Serra dos Aimorés mostraram uma progressão na prevalência de infecção intestinal por protozoários (tabela e gráfico nº 9) 89 e por Geo-helmintos (tabela e gráfico nº 15), que aumenta quanto maior a idade. Esse fato pode ser explicado por 2 fatores: a maior atenção dada pela população às queixas intestinais das faixas etárias mais jovens, o que faz com que esses indivíduos sejam mais tratados. Esse fator é evidenciado pela menor adesão das faixas etárias mais altas à pesquisa de parasitoses intestinais por meio do exame de fezes realizado durante as atividades do Projeto Bandeira Científica em Serra dos Aimorés; o fato de as parasitoses intestinais estarem mais comumente associadas às crianças, que faz com que para os médicos e demais profissionais de Saúde, esse diagnóstico seja mais facilmente lembrado no atendimento pediátrico. Assim, podemos concluir que, no município de Serra dos Aimorés, o problema das parasitoses intestinais nas faixas etárias mais altas tem sido negligenciado pela população e pelo Sistema de Saúde, e que o tratamento dado aos casos suspeito tem se mostrado eficiente, pois reduz a prevalência de infectados entre as crianças. Tabela e Gráfico 9: prevalência de infecção intestinal por um ou mais tipos de protozoários, de acordo com a idade do indivíduo. Idoso ausente (%) so id o lto presente (%) ad u 74 (60,7%) 25 (69,4%) 45 (73,8%) 38 (76,0%) te 48 (39,3%) 11 (30,6%) 16 (26,2%) 12 (24,0%) 80 70 60 50 40 30 20 10 0 sc en Adulto Presente le Adolescente Ausente ad o Prevalência de infecção intestinal por protozoários Criança de acordo com a idade 90 Não foram encontradas relações entre a prevalência de protozooses intestinais com renda familiar ou sexo das pessoas. Tabela e Gráfico 10: prevalência de infecção intestinal por um ou mais tipos de protozoários, de acordo com o destino dado ao esgoto domiciliar. Prevalência de infecção intestinal por protozoários Até 1 salário de acordo com mínimo / mês a renda familiar Mais de 1 salário mensal mínimo / mês Ausente Presente 42 91 (31,6%) (68,4%) 80 60 ausente (%) 40 presente (%) 20 0 33 70 (32,0%) (68,0%) até 1 salário mais de 1 mín. salário mín. Crianças alimentando-se sem lavar as mãos 91 Geo-helmintos Para certos vermes, o solo desempenha papel de grande importância, garantindo a sobrevivência de seus ovos e larvas. Assim, vermes sem hospedeiros intermediários provocam as chamadas geo-helmintoses, já que ovos e larvas dos mesmos são capazes de sobreviver em determinados solos, principalmente os areno-argilosos e os argilosos (por permitirem aeração e migração das mesmas). Numerosos inquéritos têm sido realizados em diferentes áreas do país, estudando a ocorrência de helmintíases em toda a população ou em determinados grupos, principalmente o de escolares. Embora muitas vezes as amostras não sejam representativas da população estudada e a comparabilidade dos resultados alcançados em diferentes levantamentos seja prejudicada pela heterogeneidade da metodologia e das técnicas utilizadas para exame das fezes, os resultados permitem que se confirme o que seria de se esperar, em termos do que se sabe sobre a epidemiologia das helmintíases, ou seja, que a prevalência de indivíduos infectados aumenta quanto mais precárias as condições de saneamento. É difícil relacionar a prevalência de helmintíases com outras condições sócio-econômicas e educacionais, pois essas condições, geralmente, estão relacionadas com as de saneamento. A tabela e o gráfico nº 11 mostram a prevalência de infecção intestinal por um ou mais Geo-helmintos na população de Serra dos Aimorés, enquanto a tabela e o gráfico nº 12 mostram a prevalência de cada um dos vermes pesquisados na população. Tabela e Gráfico 11: prevalência de infecção intestinal por um ou mais tipos de Geo-helmintos na população de Serra dos Aimorés. Geo-Helmintos Ausente Presente 198 73,6% 71 26,4% 71 198 A ancilostomose, também conhecida como amarelão, é uma verminose decorrente do parasitismo pelo Ancylostoma duodenale ou pelo Necator americanus, da qual a anemia é a manifestação clínica mais importante. Em populações carentes, cuja alimentação muitas vezes é deficiente, a ancilostomose manifesta-se de maneira mais grave. Ao reduzir a capacidade física do indivíduo parasitado, provoca diminuição 92 concomitante de sua produtividade (e, portanto, de sua renda), agravando suas condições de vida. Indivíduos parasitados têm os vermes aderidos à mucosa do intestino delgado, de onde se nutrem do sangue da pessoa. Ao mudarem de posição para se prenderem a outro ponto da mucosa, deixam no local abandonado pequenas lesões hemorrágicas. Uma fêmea adulta de ancilostomídeo deposita, por dia, de 5.000 a 10.000 ovos no trato intestinal do indivíduo parasitado. Este, quando evacua, carrega em suas fezes os ovos do parasita. Uma parte dos ovos eclodem e dão origem a larvas do verme, que vivem na superfície do solo, enquanto aguardam a oportunidade de penetrar na pele de uma pessoa. Essa penetração se dá normalmente pelos pés, sendo o uso de calçados um importante mecanismo de proteção à infecção pelos ancilostomídeos O Ascaris lumbricoides é o Geo-helminto mais prevalente na população geral, sendo popularmente conhecido pelo nome de lombriga. O Homem contrai a ascaridíase pela ingestão de ovos, que são levados à boca com os alimentos sólidos e líquidos, ou pelas mãos contaminadas. A contaminação do solo por fezes contendo ovos do parasita é a principal responsável pela propagação desta verminose. A infecção pelo Ascaris lumbricoides pode ser assintomática, só sendo descoberta pela eliminação ocasional do verme, ou pelo achado dos ovos em exame de fezes. Quando a infestação é muito grande, os vermes podem enroscar-se uns aos outros (situação conhecida como “bolo de ascaris”) e obstruir completamente o interior do intestino, causando uma situação médica grave. Em crianças com alimentação deficiente, a ascaridíase pode prejudicar o aproveitamento das proteínas, agravando as condições de desnutrição. O Trichuris trichiura, apesar de pouco conhecido, é, juntamente com o Ascaris lumbricoides, o verme mais freqüentemente encontrado na população. O mecanismo de infecção é o mesmo entre os dois vermes, sendo comum encontrar ambos os parasitas no mesmo indivíduo. Na maioria dos infectados, a infecção pelo Trichuris trichiura não provoca sintomas. Quando o parasitismo é intenso, pode ocorrer perda de apetite e emagrecimento, desconforto abdominal, diarréia, eliminação de fezes muco-purulentas e anemia. A estrongiloidíase é causada pelo verme denominado Strongyloides stercoralis, e pode manifestar-se com sensações de azia e má digestão, dor em região epigástrica e 93 diarréia. O Homem infecta-se no contato com o solo contaminado (penetração da larva pela pele), ou ingerindo as larvas junto com alimentos. Tabela e Gráfico 12: prevalência de infecção intestinal por cada tipo de Geo-helminto na população de Serra dos Aimorés. Ancilostomídeos Ausente Presente 244 90,7% 25 9,3% 25 244 Ascaris lumbricoides Ausente 231 85,9% 38 14,1% 38 Presente 231 Hymenolepsis nana Ausente 258 95,9% 11 4,1% 11 Presente 258 Strongyloides stercoralis Ausente 263 97,8% 6 2,2% 6 Presente 263 Trichuris trichiura Ausente 248 92,2% 21 7,8% 21 Presente 248 Ao contrário das infecções intestinais provocadas por protozoários, as helmintíases não têm sua ocorrência relacionadas com o consumo de água contaminada (ver tabela e gráfico nº 13). Como já discutido, a infecção por esses vermes se dá pela 94 ingestão de alimentos contaminados ou pelo contato direto da mão (contaminada com os ovos) com a boca, facilitada pela falta de higiene pessoal. Isso é comprovado pelas prevalências desse tipo de infecção em populações com diferentes origens da água ingerida, que se mostram praticamente iguais. No entanto, mais uma vez o destino dado ao esgoto doméstico se mostrou relacionado com a prevalência de infecções intestinais. Como podemos ver na tabela e gráfico nº 14, indivíduos que dispõem de rede pública de coleta de esgoto domiciliar estão mais protegidos contra as geo-helmintíases que os cujo esgoto não tem um destino adequado. As fossas sépticas se mostraram uma opção menos eficiente que a coleta pública, novamente devido a problemas na construção, conservação e limpeza das mesmas. Tabela e Gráfico 13: prevalência de infecção intestinal por um ou mais tipos de Geo-helmintos, de acordo com a origem da água consumida. 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Presente 161 62 (72,2%) (27,8%) ausente (%) presente (%) 21 7 (75,0%) (25,0%) poço/mi na Poço/ Mina Ausente encanad a Prevalência de infecção intestinal por Geo-helmintos Encanada de acordo com a origem da água Tabela e Gráfico 14: prevalência de infecção intestinal por um ou mais tipos de Geo-helmintos, de acordo com o destino dado ao esgoto domiciliar. Prevalência de infecção intestinal por Geo-helmintos Coleta pública de acordo com o destino do Céu aberto esgoto Fossa Ausente Presente 25 4 (86,2%) (13,8%) 31 22 (58,5%) (41,5%) 129 41 (75,9%) (24,1%) 100 80 60 ausente (%) 40 presente (%) 20 0 coleta céu pública aberto fossa Assim como a água, o solo das comunidades da zona rural mostrou estar mais infectado, já que a prevalência de geo-helmintíases é maior nesses bairros que no Centro da cidade. Isso está intimamente ligado à falta de saneamento básico de esgoto, problema mais grave nesses bairros. As as pessoas estão igualmente expostas a contrair 95 esses vermes comendo alimentos crus contaminados, mas o fato de viver em contato com um solo infectado aumenta as chances de uma pessoa contrair esses tipos de verminoses. Tabela e Gráfico 15: prevalência de infecção intestinal por um ou mais tipos de Geo-helmintos, de acordo com o bairro de residência. Prevalência de infecção intestinal por Geo-helmintos Centro de acordo com o bairro Lajedão Córrego dos Bichos Aimorezinho Ausente Presente 153 (76,1%) 29 (67,4%) 11 (61,1%) 5 (71,4%) 48 (23,9%) 14 (32,6%) 7 (38,9%) 2 (28,6%) 80 70 60 50 40 30 20 10 0 ausente (%) presente (%) Centro Lajedão Córrego dos Bichos Tabela e Gráfico 16: prevalência de infecção intestinal por um ou mais tipos de Geo-helmintos, de acordo com o grupo etário. Idoso ausente (%) presente (%) id os o 38 (31,1%) 11 (30,6%) 13 (21,3%) 9 (18,0%) to 84 (68,9%) 25 (69,4%) 48 (78,7%) 41 (82,0%) 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 ad ul Adulto Presente sc en te Adolescente Ausente ad ol e Prevalência de infecção intestinal por protozoários Criança de acordo com a idade 96 Schistosoma mansoni Tabela e Gráfico 17: prevalência de infecção intestinal por Schistosoma mansoni na população de Serra dos Aimorés. Schistosoma mansoni Ausente 266 98,9% 3 1,1% 3 Presente 266 Apesar de ser um parasita sistêmico (e não só intestinal), o Schistosoma mansoni é considerado nesse trabalho devido à eliminação dos ovos desse verme nas fezes humanas. A esquistossomose é uma parasitose intestinal importante não só pelo grande número de indivíduos acometidos, mas pelas dificuldades que oferece para sua eliminação. Em termos gerais, a esquistossomose é ainda, em nossos dias, uma parasitose em expansão, podendo instalar-se facilmente em áreas antes livres dessa infecção. Devido ao fato de o ciclo de vida do parasita incluir um estágio de desenvolvimento dentro do organismo de um caramujo que habita coleções de água (algumas, conhecidas “lagoas de coceira”), as condições necessárias para a propagação da doença são a presença de indivíduos infectados que possam contaminar lagoas e brejos que sirvam de moradia para esse tipo de caramujo. O contágio se dá pela penetração da larva pela pele de pessoas que entrem em contato com a água contaminada. A doença, também conhecida como “barriga d’água”, representa um importante problema de saúde, uma vez que pessoas não tratadas podem, a longo prazo, desenvolver insuficiência hepática, chegando até à morte. É possível que os casos positivos encontrados em Serra dos Aimorés tenham sido contraídos em outra localidade, mas nem por isso deixam de ser importantes, tanto pelas complicações da doença, quanto pela possibilidade de aparecimento de focos de contaminação dentro do município. 97