II DOMINGO da QUARESMA – Ano B
Evangelho – Mc 9, 2-10
“E Jesus os levou sobre uma alta montanha”
Ir. Sandra M. Pascoalato, sjbp.
Neste II Domingo de Quaresma o caminho para a Páscoa faz uma parada sobre uma alta
montanha. Até o alto desta montanha, somos hoje conduzidos pelo testemunho daqueles que
contemplaram a transfiguração de Jesus. Escreverá Pedro na sua Segunda Carta: “Não tiramos de fábulas
complicadas o que lhes ensinamos sobre o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Pelo contrário,
falamos porque fomos testemunhas oculares da sua grandeza”. E ainda: “A voz do Pai que veio do céu,
nós próprios a ouvimos quando estávamos com ele no monte santo” (Cf. 1,16-18). Ora, para Pedro,
pela experiência lá vivida, aquele monte se torna um monte santo. Quase a dizer-nos: é o alto da
montanha o lugar da revelação de Deus. É preciso subir ao monte para contemplar o seu mistério e escutar
a sua voz.
Na Bíblia, o ‘monte’ ocupa um lugar particular. Talvez porque seja o ponto onde o céu parece tocar
a terra. Até mesmo Deus parece um Deus dos montes. Segundo o Primeiro Livro dos Reis, os Arameus,
prontos a combater contra os filhos de Israel, projetam enfrentá-los na planície, porque, diziam: “O Deus
deles é um Deus dos montes” (20,23). Também Moisés e Elias – no texto de hoje, ao lado de Jesus na
Transfiguração – eram homens da montanha: para encontrar-se com Deus, não hesitaram subir ao monte.
Pouco importava como Deus se manifestaria; se com trovões e relâmpagos como a Moisés no Sinai ou se
no sussurro de uma brisa suave como a Elias no Horeb.
Sim, é preciso subir ao monte para compreendermos, ao menos um pouco, a diferença entre
transfiguração e transformação. O corpo de Jesus ‘transfigurado’ não é um corpo ‘transformado’ em outro
corpo. É o seu mesmo corpo envolto por uma explosão de luz que lhe vem de dentro. Assim também
para nós: somos transfigurados quando deixamos total liberdade à presença de Deus, ao mistério
de luz que se abriga dentro de cada um de nós.
‘É preciso subir... e descer do monte’. Dois momentos, paradigma de um itinerário espiritual que
liberta de tudo o que nos sufoca, de tudo que restringe a nossa visão, de tudo o que nos impede de sonhar.
Dois momentos que, hoje, somos chamados a fazer com Jesus. Deixemos que Ele nos tome consigo e
com os tantos ‘Pedros’, ‘Tiagos’ e ‘Joões’ que fazem parte da nossa vida. E, em companhia, contemplemos
a glória de Jesus, ouçamos o imperativo do Pai e retomemos a caminhada do dia a dia com renovado vigor
e confiança. Porque mais à frente, um outro monte nos espera. Lá, a subida será muito mais íngreme.
Texto consultado:
FAUSTO, S. Racontare il Vangelo. SDB, Bologna, 1986.
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