NOTA Nº 555 31 de Março de 2009 SER E NÃO SER Rogério Fernandes Ferreira Ao longo da minha já longa vida habituei-me, desde criança, a contemplar as pessoas e o Mundo. Na minha infância, colhi os ensinamentos da Santa Madre Igreja. Acreditava na força do milagre. Tive esperança que sacrifícios e preces dariam a minha mãe doente a saúde que lhe foi faltando. Fiz para isso sacrifícios de devoto, mas acabei por ficar doente crónico. Dificuldades em Uma bronquite respirar asmática não me acompanhou-me foram permitindo sempre. oxigenar convenientemente sangue e organismo em geral. Agora, um neurónio deixou de emitir ordens a músculo da língua o que dificulta o falar e o deglutir. Não podendo falar, ocorreu-me a figura da nossa História, o Duarte de Almeida da Batalha de Toro. Passei a fazer o que ainda posso – escrever. Eis-me assim a segurar a bandeira com o que me resta. Conjecturando, ocorreu-me relembrar pensadores gregos e a ideia que o Homem corrompe a Sociedade e que a Sociedade corrompe o Homem. Nos tempos actuais chegou-se a corrupção de tal ordem que necessário será redoutrinação acerca de valores tradicionais - Honra, Respeito, Fraternidade e Solidariedade. É da História que a espécie humana, desde sempre, segue caminhos, uns adequados, outros não, dependendo isso de lideranças e convencimentos, hoje de políticas ditas de marketing. Estabelecidos caminhos, a população segue-os, em galopada. Em épocas anteriores da História nem as populações, nem os líderes, salvo poucas excepções, se revelaram virtuosos. Acabou-se em excessos terríveis (guerras e holocaustos). A seguir aparece o Homem Novo. Agrupam-se os que dizem “Guerra nunca mais”. Procura-se reconstituir, outra vez, pedra sob pedra, o Mundo. Todavia, acaba a voltar-se à repetição habitual (guerras e holocaustos). Na época actual assiste-se a um ruir da verdade, a um consumismo devorador, em que, até, se delapida o que parece não existir. Pilha-se por toda a parte. Condutas imorais de pessoas poderosas e de seus muitos 1 agentes aumentaram o descrédito. Há quem já assinale que prevaricadores serão agora visados, que se procura proibi-los de novas acções criminosas, castigando-os pelo que fizeram. Admite-se, como de costume, que tempos melhores virão. Os tribunais, ao longo dos últimos decénios quase deixaram de condenar culpados, pois apresentam-se-lhes verdades mentirosas, sugeridas por mentores que delineiam provas arquitectadas e falsas, negadoras da visível verdade, a qual toda a gente conhecia, estava em gravações e em imagens. Porém, começa a sentir-se que a verdade também pode ser deste mundo. Aos juízes tornou-se hábito apresentar-lhes verdade falsa. Eles entendiam de julgar, de decidir, encerrando autos com sentenças falsas, na substância, mas verdadeiras, na forma. Como se fosse possível o ser não o ser, a verdade ser a mentira, a forma valer mais do que a substância. Em suma – tudo se está tornando completamente claro. E já se visiona não poder continuar-se como até agora. Mentores políticos e seus fãs desportivos estão a perder credibilidade, o que travará suas insídias e mentiras. Está em rejeição a eloquência dos que demonstram que o preto é branco, perante outros que demonstram o inverso - que o branco é preto. Todos vieram mentindo pois só o branco é que é branco e só o preto é que é preto. Começa, na verdade, a desmascarar-se a eloquência falsificadora, as explicações ao Povo de que “o ser que uns proclamam é o não ser que outros também proclamam”, pois é impossível ser-se e não ser-se ao mesmo tempo. Porque se mentia ? Porque os atrás citados valores de Honra se perderam, dizendo-se o que convinha, o que permitia ganhar. Entendia-se que não haveria problema, porque o pensamento mais comum vinha sendo que o dilúvio chegaria… mas depois de nós… Talvez a actual crise venha a servir também, valha-nos isso, para mostrar os efeitos da canalhice e da ganância. Há quem já vislumbre acenos de legiões a afirmar “nunca mais”. 2