n. 144, 16 de fevereiro de 2010. Ano IV. "sufocam pela força nossa saudável tendência à indisciplina e impedem ao mesmo tempo o Saber de desenvolver-se em Vontade livre" (max stirner). anarquia Os anarquismos não são de ninguém. Nem dos sabichões que os tratam pretendendo uma uniformidade chamada anarquismo. Eles ditam regras dentro e fora da academia, muitas vezes negligenciando que a universidade é a mesma, seu elemento estrutural. Os moralizadores são um cancro! Permanecem anelados a uma linguagem retrógrada para justificar sua pretensão como condutores das classes pobres. Dizem que toda iniciativa é válida. É?! Basta olhar para os velhos e novos fascismos. Segundo seus esclarecimentos, o seu papel é o de organizar as classes populares para prepará-la a um futuro material desejável? Esquecem que o presente é único; ele existe quando se inventa liberdades, quando se pratica uma ação direta. anarquias Ação direta não é preparação para nada, mas realização de liberdade neste instante! Enquanto isso, os velhos acadêmicos, dentro e fora da universidade, escorados no oco da prefixologia, evitam o presente, tagarelando sobre pós-anarquismo e neoanarquismo, amando a condição de súditos de intelectuais companheiros de viagem que saúdam caudilhos. carnaval Não se guarde para quando o carnaval chegar! Não há festa libertária datada ou permitida, seja pagã ou não! Dizem que o perfil dos anarquistas mudou. Mudar é irreversível, e não depende da vontade. Mudar pode vir de um acontecimento estranho, ou das nossas estranhezas por querer mudar, contra a ordem e os diretores da desordem. esse tal de anarquismo acadêmico... Esse tal de anarquismo acadêmico é como ong, escola de samba, sindicato, comunidades, partido, sociedade secreta... Habita dentro e fora da universidade. É própria dos leitores da história como tradição a ser restaurada; é reativo. Ninguém escreve para dialogar com todos. E nem todos querem mudar. A anarquia está viva quando transforma uma existência a qualquer momento, em qualquer lugar. O carnaval passa, as águas de março chegaram antes, o governo sonha em formar uma nova elite em 10 anos com base popular para dirigir o Estado. O Estado organiza com eficácia, porque domina as regras desse jogo iluminista que se funda na utopia do mundo melhor. o assomo da assombração Em nome da liberdade de expressão, o partido neo-nazista NPD obteve no tribunal o direito de realizar sua manifestação no aniversário do bombardeio de Dresden pelos aliados: a “marcha fúnebre” atrai simpatizantes de toda Europa. Mesmo se proibidos, esses enfrentariam a lei e algum grupo de oposição ao nazismo; sairiam carregando bandeiras, símbolos e palavras de ordem. A polícia evitou o confronto entre os dois grupos e garantiu os direitos de cada um. Mesmo autorizado o bloqueio de milhares de oponentes, de várias procedências, fizeram com que a sonhada grande marcha neo-nazista fracassasse. Face ao assombro da sombra, resiste-se. Entretanto, há um perigoso enamorar-se da ira oculta de autoritários que se fortalecem sob a liberdade garantida por direitos para, adiante, imporem um só modelo de condutas. juventude inocente? Na Itália, um jovem disponibiliza os discursos de Mussolini para venda por meio de um aparelho de altatecnologia. O material é sucesso de venda e bate recorde no país. Mas o jovem tranqüiliza: os compradores "não correspondem a idosos nostálgicos do fascismo, mas a jovens e adultos que navegam, se informam e compram na internet". Faz algum tempo que há algo de podre que ronda não só a Itália. globalização Um jovem etíope, residente na Inglaterra, é preso, no Paquistão, pela agência de inteligência dos EUA, acusado de terrorismo. Transferido para o Marrocos, passa por torturas constantes. O Estado do Marrocos, porém, nega tudo! O governo estadunidense confirma que ele foi transferido para o Afeganistão e depois para a prisão de Guantánamo. Enfim, sem provas, ele foi liberado. Agora, a Inglaterra está sendo pressionada para revelar o tratamento dado ao jovem em seu interrogatório. Ao mesmo tempo os EUA ameaçam encerrar a cooperação com a agência britânica se estes dados vierem à tona. Justificam que tais informações poderiam prejudicar a segurança de ambos os Estados. Também em nome da segurança, o desaparecimento de fronteiras não passa de dissimulação. paz armada Zona Norte do Rio. Homens armados obrigam os passageiros a descer e incendeiam um ônibus. Deixam um bilhete: “Basta de opressão! Fora milícias!” Muitos moradores aprovam, dizendo-se cansados de violência. A polícia afirma que tudo não passou de um truque de traficantes querendo recuperar “a área”. Naquele bilhete, em pichações, declarações de líderes comunitários ou discursos governamentais slogans muito parecidos: todos falam em paz. Paz como pacificação: ocupação, dominação e obediência. Sinistro uníssono da paz armada pronunciado pelo Estado e os cidadãos! "sejam quais forem as maneiras que se considerem os fatos da humanidade, o anarquista não pode conduzir-se senão como refratário" (émile armand).