ANO LVIII | JAN. FEV. MAR. ABR. 2014 | REVISTA QUADRIMESTRAL | 4,00€ 419 A MENSAGEM para uma catequese renovada Enraizar a Fé no Batismo e Frutificar pela força do Espírito A MENSAGEM Primeira Palavra ANO LVIII | JAN. FEV. MAR. ABR. 2014 «Convido todo o cristão, em qualquer lugar e situação que se encontre, a renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele, de O procurar dia a dia sem cessar. Não há motivo para alguém poder pensar que este convite não lhe diz respeito, já que «da alegria trazida pelo Senhor ninguém é excluído». Quem arrisca, o Senhor não o desilude; e, quando alguém dá um pequeno passo em direcção a Jesus, descobre que Ele já aguardava de braços abertos à sua chegada. (…) Ele permite-nos levantar a cabeça e recomeçar, com uma ternura que nunca nos defrauda e sempre nos pode restituir a alegria. Não fujamos da ressurreição de Jesus; nunca nos demos por mortos, suceda o que suceder.1» Neste breve trecho da Exortação Apostólica somos convidados a deixarmo-nos encontrar, a levantar a cabeça, a recomeçar, a adentrar-nos na ressurreição de Jesus que nos levanta da morte. Em tempo quaresmal e pascal, o convite ressoa de forma especial e aponta a premência de voltar o coração para Deus (converterse), por isso, A MENSAGEM, oferece-lhe um itine«enraizar a Fé no Batismo . Se converter-se é voltar o coração para Deus e, para 419 ÍNDI C E 2 Primeira Palavra 3 Dinâmica Quaresmal e Pascal 3 (RE)Nascidos da água caminhemos com Cristo e por Ele deixemo-nos levar iluminados pelo fogo do seu Espírito 14 Dinâmica para os domingos da Quaresma 16 Rito do Batismo 17 Dinâmica para os domingos do Tempo Pascal 23 Ceia Bíblica 23 Algures na Galileia, um banquete do Reino 32 Celebrar o Dia do Pai 36 Celebrar o Dia da Mãe então, «sair em direção aos outros para chegar às pemílias dos catequizandos… Por isso, a REVISTA propõe três encontros à volta de uma Ceia Bíblica, uma Celebração do dia do Pai e do dia da Mãe que possibilitam, nas entrelinhas, a “experiência ” de que a fé cristã é “radicalmente preciosa e desejável”. A Diretora Propriedade Secretariado Diocesano de Educação Cristã do Porto Contribuinte: 501186697 Administração e Redacção R. Arcediago Van Zeller, nº 50 4050-621 Porto Directora Maria Isabel Azevedo de Oliveira Contacto tel. 22 605 60 37 das 14.00h às 17.00h Site do Secretariado www.catequesedoporto.com e-mail [email protected] Assinatura para 2014 10,00¤ Número avulso 4,00¤ Anabela Dias Desenhos e Imagens Coleção Particular Impressão Santos & Reis, Ldª Rua do Castanhal, 2 4485-842 Vilar do Pinheiro – Vila do Conde 1 , Exortação Apostólica do Papa Francisco, nº 3 Dep. Legal nº 1926/83 Tiragem 2.750 ex. S.F.R.I. - Min J. - 104950 C E I A B Í B L I C A 7 8 3 | A ME N SAG E M | 23 “Algures na Galileia, Ceia Bíblica Na Palavra «o catequista encontrará a fonte inspiradora de toda a sua pedagogia, que necessariamente estará marcada pelo amor que se torna proximidade oferenda e comunhão.» Papa Francisco Porquê propor uma “Ceia bíblica”, no âmbito da catequese… de uma catequese que toma consciência da importância e urgência de propor aos adultos experiências de encontro com a Palavra? «No tempo de Jesus, como hoje, pela no e amigo. «Chamei-vos amigos» , diz Jesus. O seu terreno é o da hospitalidade solicitada e oferecida: «Eu estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, Eu entrarei na sua casa e cearei com ele e ele comigo ». Este é o registo do acontecimento, do encontro, do “cativar-se” recíproco. E esta convivialidade partilhada em nome de Jesus Cris- nos arriscamos, eis que ela se deixa experimentar como boa e salutar para a exispitaleiro que a fé cristã, como jeito de ser no seguimento de Cristo, como resposta ao seu convite, pode nascer e crescer, sensata e desejável, ao mesmo tempo. O Encontro dá a pensar, alegra os cosem ela não poderíamos imaginar e, termina por nos ligar à comunidade dos que a possuem, «como uma pedra rara» (Mt , como um bem «mais precioso que o ouro» que por nada neste mundo quereríamos perder e que se desejaria tornar acessível a qualquer pessoa. Este é o percurso possível do tornar-se Cristão. Assim, no mundo secularizado que pode prescindir de religião, a fé cristã, radicalmente não necessária, pode ser experi- 24 | A M ENSAGEM | 784 mentada como radicalmente preciosa. É neste paradoxo que se vive hoje, a tarefa pastoral: Tornar precioso e desejável o que parece não ser necessário. » A catequese intergeracional é uma proposta de itinerário que olha para todas as famílias dos catequizandos… e descobre que para uns a fé é apenas uma ideia ou um conjunto de rituais que nada têm a ver com vivem alheios de Deus… alguns inscrevem sejam os avós ou porque inconscientemente preocupam os catequistas e a quem a catequese intergeracional quer chegar… Estes são os adultos destinatários, a quem temos o dever de “dar a experimentar” a fé cristã como “radicalmente preciosa e desejável”, capaz de dar a vida. Estes fazem parte das periferias que todas as semanas tocam as franjas das comunidades. Esta é, para a Igreja Portuguesa que ainda tem muitas crianças na catequese, a oportunidade de chegar a quem, talvez, após a primeira comunhão, nunca mais se terá acesso!... Por isso, a Catequese Intergeracional, pensada como itinerário (ver revista MENdas portas da Igreja ‘em saída’. E «sair 2 »; pode lugar de encontro com as famílias e amigos dos catequizandos… E sabemos que estes poderão ser elos para convidar outros a entrarem na PORTA, que é Cristo. AmiEvangelii Gaudium, nº 46. go chama amigo… quando a experiência Tornar Deus desejável e fazer sentir a sua presença transformadora na vida quotidiana dos mais novos e dos adultos… eis Por isso, temos presente que «O que existia desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplámos e as nossas mãos tocaram relativamente ao Verbo da Vida, (…) isso vos anuncia. Se propor a fé, comunicar a fé, mos» “dar a ver e a tocar” o que eu mesmo experimentei, o catequista, ao jeito dos Apóstolos, comunica e dá a viver aquilo que ele mesmo saboreou acerca do manalmente, experimentou sentado à mesa do Mestre, escutando-O, partilhando, convivendo com os irmãos… É na comunhão eclesial à volta da Palavra que se aprofunda, alimenta e se torna vida a fé… E, é este o Catequista que, “tendo tocado o mistério”, não recer a outros esta possibilidade de encontro chegue a todos os recantos da sociedade. C E I A B Í B L I C A 7 8 5 | A ME N SAG E M | 25 Para ajudar os catequistas nesta tarefa, enquadradas na dinâmica/itinerário intergeracional, o SDEC vai propor, nas próximas revistas, esquemas de “Ceias bíblicas”. REINO… para que muitos, entrando em bicos-de-pés, possam um dia desejar deixarem-se tocar por Jesus Cristo e pelos irmãos, testemunhas do Reino, já entre nós. E, assim, muitos terão a oportunidade de descobrir que «a fé cristã pode ser experimentada como radicalmente preciosa»! Confeção dos alimentos (poderão ser várias as opções): solicitar a uma equipa de ticipa monetariamente) ou elaborar uma ementa; solicitar que cada família, a partir de uma receita, prepare a quantidade necessária (adequada ao seu número de pessoas). OBJETIVOS b. Indicações para a encenação do texto e desenrolar da ceia grupo e com a comunidade; - Data: Se possível um dia à noite (sexta ou sábado). Será necessário ter em conta a realidade das famílias. os que se sentem mais distanciados. INDICAÇÕES PRÁTICAS a. Como preparar a ceia Convite (anexo): Enviar um convite agradável e personalizado a cada família, com antecedência, e recordar alguns dias antes. Logística: Convidar um grupo de famílias (Pais e Filhos) a tratarem dos aspectos logísticos com os catequistas. Troca de mensagem e prenda: Solicitar que cada família escolha um trecho bíblico, o escreva e crie um objeto das suas próprias mãos (pergaminho, tecido, pedra). No dia, trará a mensagem num envelope, junto à prenda embrulha- Local (devem-se prever dois locais): um para tro, que será transformado em sala de jantar. Preparação da sala de jantar: criar um suave e difusa (com velas nas mesas); as argolas para os guardanapos poderão ter o texto do locar a Bíblia em destaque, no centro da sala. Leitura do texto: A leitura tem de ser muito expressiva (senão perderá o sentido). Deverá ser muito bem preparada. Para os intervenientes que têm poucas falas, seria Importante para a encenação: Será necessário, para os catequistas e pessoas que vão encenar, lerem bem todas as «in- 26 | A M ENSAGEM | 786 texto seja proclamado, dialogado e os gestos feitos com sentido. A mensagem só será percetível se os gestos e o texto forem bem lidos e encadeados. Personagens: Peregrino, um amigo que se sentará junto a ele, à mesa samaritana com um cântaro de água, um sus (vestido de túnica, que durante todo o encontro participa, pela sua presença, sem nada dizer. Apenas repartirá o vinho, no momento indicado). As personagens podem ser escolhidas entre catequistas, pais e catequizandos. O Pe- regrino deve ser alguém muito expressivo, dinâmico… para que o texto seja muito bem lido (e talvez algumas partes quase decorado). Material: Cajado, túnica, toalha, um pão grande, bilha com água, púcaro de vinho. Algures na Galileia, um banquete do Reino Acolhimento: DAR AS BOAS VINDAS E AGRADECER A PRESENÇA DE TODOS. CONVIDAR A PARTILHAR ABRAÇOS. Indicações para a encenação: Um peregrino vestido de capa ou casaco comprido, boné, traz consigo um cajado, uma mala de viagem e alguns livros na mão (Bíblia, livros de espiritualidade…). Chega, apressado, junto do grupo de famílias e dirige-se a todos dizendo: Peregrino: – A noite passada tive um sonho… sonho que me obrigou a pegar na mala, nos livros… na vida e a partir … Perguntar-me-ão: e porque parti? E porque tenho ar de forasteiro… quem está de passagem? Ora bem… vou contar-vos o sonho… talvez compreenderão… Mas antes, vejo que todos têm uma prenda na mão. Serão para mim??? Imagino que sim… Indicações para a encenação: O peregrino recolhe, em cestos ou caixas, as prendas feitas pelas famílias e o envelope com os trechos bíblicos. Estes serão levados por catequistas para a sala de jantar. Após a recolha, o Peregrino continua o seu discurso. Ora bem…vou-vos contar o meu sonho: «Senti-me em terra Palestina, nas pegadas do meu Mestre, sorvi o cheiro das amendoeiras e molhei os pés nas águas do Lago da Galileia. Fui levado lá por uma Promessa, pela palavra de um Anjo daqueles que nos saem ao encontro tantas vezes na vida… E esse Anjo, humaníssimo, tinha prometido que o meu Senhor havia de me esperar, na Galileia, que ele havia de nos preceder, a mim e aos meus irmãos, na Galileia… Olhou-me com olhos de homem e falou-me com palavras humanas: “Lá o vereis!”. E nunca pensei que “lá” fosse tão perto… Saudou-me um jovem, leve, sereno, de olhos antigos… Chamou-me pelo nome, mas eu não tinha nome para lhe chamar. Perguntei-lho e ele sorriu apenas, dizendo que tinha por Nome um segredo trocado entre ele e o Pai num Abraço que eu ainda não seria capaz de decifrar… Trazia ao ombro, para me oferecer, uma túnica longa e belíssima, tecida para a dança, tingida a cores de festa… C E I A B Í B L I C A 7 8 7 | A ME N SAG E M | 27 Indicações para a encenação: Um Jovem (Filho pródigo), no meio das famílias, veste uma túnica; pega, depois, numa outra túnica branca que tem dentro dum saco e dirige-se para a personagem principal. Entrega-lhe a túnica branca e entra em diálogo. Filho pródigo: – Peregrino, chama-me como todos me conhecem, aquele filho perdido que foi recuperado num abraço de Pai… Foi quando caí em mim que, finalmente, me levantei! Ergui-me na queda de mim mesmo, quando dei de caras com o mais íntimo de que era feito e fiquei exposto ao que tinha feito de mim… Mas foi outro olhar que me libertou… Um olhar de longe, apesar de estar tão próximo que vinha de dentro de mim, uns olhos de Pai que todos os dias assomavam à janela do meu coração, à procura de uma nesga de regresso, de uma fresta por onde desse para me lançar a mão… Ele via em mim, continuamente, não o que eu tinha para lhe mostrar mas o que ele tinha para me dar. Era cheio de Esperança o vislumbre dos seus olhos… Viu-me e recebeu-me tal como sou, sem uma palavra a mais, sem um gesto a menos… Por pouco me passava a Vida ao lado… ou não fosse uma Graça o que me salvou…”. (após estas palavras sai de cena) Peregrino: – Peguei na túnica (não a veste, coloca-a ao ombro) e guardei-a como sinal maior de Esperança e novo nascimento. Sabia que havia de chegar a altura de a vestir, mal ouvisse os primeiros acordes de Festa… Indicações para a encenação: Enquanto o Peregrino fala, chega uma mulher com uma toalha de mesa na mão e entrega-a. Peregrino: – Levava a túnica sobre o ombro quando entrei num lugarejo de casas baixas. Ouvi de um lado da pequena praça um rumor de gente e vi-os chegar, juntos, transportando uma Mesa que colocaram no meio da rua sob a sombra de um carvalho. Sacudiram as mãos felizes e alguém me veio acolher entregando-me a toalha. Pousou-ma nas mãos e pediu-me, com doçura: “Põe-nos a Mesa, peregrino…” Mulher da toalha: – Toma… e vai pôr a mesa. Peregrino: – Era grande a toalha, não me cabia, teve de ser estendida a muitas mãos, e todos se sentaram. Começaram a contar histórias das tantas vezes em que se tinham sentado assim à Mesa, ali mesmo, com o meu bem-amado… Uns chamavam-no “Nazareno”, outros, “Senhor”; todos, “Amigo”. Venham ver! Talvez, hoje, nos possamos sentar à mesa como todos eles, com todos eles! Indicações para a encenação: O Peregrino dirige-se para a sala de jantar com todas as famílias. Indicações para a encenação: Quando as famílias chegam à sala de jantar, encontram um homem, Pedro, vestido de uma túnica, sentado à mesa. Este levanta-se, dirige-se às famílias e após o discurso, convida-as a sentarem-se. Pedro: –“Sabes, peregrino, o nosso Povo espera a Salvação do Deus que nos senta à Sua Mesa para nos servir do Seu Banquete! O Nazareno estreou a Festa e disse que era para todos os povos e nações, tirou o véu que cobria a grande Mesa e fez festa connosco à volta das entradas. O Reino de Deus chegou, dizia… e começa à Mesa, a que Deus prepara para agradecermos pelos que amamos e para perdoarmos aos que ainda não fomos capazes.” E dirigindo-se a todos: – Sentem-se, que comece a festa! Indicações para a encenação: Todas as famílias sentam-se, o peregrino mantem-se de pé e convida a uma oração. Após o convite e o refrão, levanta-se o João e reza a oração de Jesus: Peregrino: – Enquanto eu via e ouvia estas coisas, senti-me conhecido e acolhido e pensei dentro de mim que ser salvo é ser amado desta maneira. 28 | A M ENSAGEM | 788 – Agora comecemos a nossa festa. Ah, tinha de vos dizer… nunca se começa um banquete sem orar e cantar! (O peregrino, entoa um refrão de louvor, convida todos a cantarem e seguidamente reza.) João: – Recordo-me de uma oração do Mestre, estávamos à mesa quando ele levantou os olhos ao Pai e disse: «Pai Dei-te a conhecer aos homens que, do meio do mundo, me deste. Eles eram teus e Tu mos entregaste e têm guardado a tua palavra. Agora ficaram a saber que tudo quanto me deste vem de ti, pois as palavras que me transmitiste, Eu lhas tenho transmitido. Eles receberam-nas e reconheceram verdadeiramente que Eu vim de ti, e creram que Tu me enviaste. É por eles que Eu rogo. Não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me confiaste, porque são teus. Tudo o que é meu é teu e o que é teu é meu; e neles se manifesta a minha glória. (Jo 17,6-10) ». Obrigado Mestre por falares de nós ao Pai e nos confiares a Ele! Peregrino: – Nesta noite, fica connosco e dá-nos a saborear a Tua presença Jesus e a presença do Pai, no Espírito Santo… assim como a de todas as testemunhas que nos falam de ti. Abençoa esta mesa, estas famílias! Bom apetite que haja alegria e festa… na mesa do Reino! Indicações: Inicia-se a ceia: entradas e prato principal. O Peregrino senta-se à mesa, à beira do seu amigo, e janta. Após o jantar (antes da sobremesa), o Peregrino volta ao seu sonho. Indicações práticas: Se possível, baixa-se a luminosidade da sala e coloca-se uma música de fundo, muito suave… poderia ser uma música oriental (mas de forma discreta). Peregrino: – Agora vou continuar a contar-vos o meu sonho, dizer-vos o que aconteceu à volta daquela mesa. Pedi-lhes que me contassem mais histórias de Mesa com o meu Mestre, e eles contaram. Fizeram-me prometer que eu iria continuar a pôr a Mesa com os meus irmãos, que iria fazer isso com a memória deles, como o meu bem amado os tinha feito prometer uma vez, uma última vez, quando lhes pediu que fizessem isso com a memória dele. E eu ainda perguntei: “Isso, o quê?!” A mulher da toalha: “Alargar a Mesa da Vida Partilhada e estender a muitas mãos um lugar de Esperança…” Peregrino: Éramos muitos à Mesa, naquela hora em que eu juro que o tempo tinha parado, a Terra e o Sol estavam quietos a olhar para nós e a Criação inteira suspensa na visão do que acontecia por ali… Alguém olhou por cima do meu ombro e saudou em voz alta. Indicações para a encenação: Chegam 2 homens. O Amigo do peregrino, a pessoa que está ao lado dele. Será este o que estabelece o diálogo e lhe oferece explicações. Amigo do Peregrino: – “Tiago! João! Sentem-se aqui!” Amigo do Peregrino: “São os filhos de Zebedeu… Andaram com o Senhor desde o princípio…” Peregrino: E eu lembrei-me da história das redes largadas e dos “pescadores de pessoas”… Quando se sentaram à Mesa, perceberam que eu estava. Saudaram-me… e, por causa de mim, começaram todos a fazer memória da lição das redes largadas para o desafio das redes alargadas… Tiago: “É que existem as redes que se têm nas mãos, e as redes que se formam com as mãos. As redes com que se ganha a vida, e as redes que se formam com a vida uns dos outros. Redes de peixes; redes de pessoas.” Peregrino: E eu, pela primeira vez, comecei a entender que pescar pessoas, na boca do meu bem-amado, é um desafio à Comunhão, a construir uma rede de fraternidade em que as pessoas se sintam tocadas, acolhidas, perdoadas, agraciadas… Salvas! Depois, fizeram memória das andanças com o Mestre: uma história cozida de perguntas, as mais essenciais, as que rasgam caminhos mais fundos dentro de nós… Onde moras? Quereis vir e ver? Quem sou eu para vós? C E I A B Í B L I C A 7 8 9 | A ME N SAG E M | 29 As crianças já não estavam à Mesa connosco, corriam à volta do tronco do carvalho, outras jogavam com uma espécie de peão, outras ainda faziam jogos andando de gatas entre os nossos pés debaixo da Mesa. Nenhuma brincava sozinha. À minha frente, um ancião, que soprava as palavras pelo meio dos poucos dentes que ainda sobravam, disse-me com um sorriso luminoso: Ancião: “O Nazareno dizia que o Reino de Deus é dos que são como elas… Ele tinha coisas…” Indicações para a encenação: Entra uma mulher da Samaria, vestida com uma túnica e de cântaro na mão! Serve um pouco de água a alguns convidados presentes à mesa. Peregrino: Já nos ríamos, enquanto os amigos do meu bem-amado me contavam histórias engraçadas e me falavam do humor fino e espontâneo com que ele era capaz de olhar para as coisas, quando se aproximou e começou a servir-nos de uma água fresquíssima uma mulher muito bonita. O rosto dela era novo, a sua pele tinha um moreno diferente de todos os outros e o seu sotaque cantava de outra maneira as palavras… Percebi que era da Samaria e a visão do seu cântaro de barro fez-me viajar para tão longe dali, para a beira de um poço em que um diálogo enamorado havia de dar um sentido novo a todas as coisas… Ela fixou-me, serviu-me também, e pousou o cântaro junto a mim. Quase cantando, na beleza do seu sotaque e no desenho de uns lábios finíssimos, disse-me: Samaritana: Este cântaro é um presente para ti … (depois de servir água ao Peregrino, entrega-lhe o cântaro) Peregrino: Um dia saberia que tinha chegado a hora de o deixar ficar para trás. Samaritana: “Quando provares de uma Água Viva mais fresca e saborosa que a água de qualquer poço do mundo, perceberás que chegou a hora de abandonar o cântaro de todas as procuras e enamorares-te de tal maneira Daquele que te der essa Água que Ele será a direcção e o lugar de todas as procuras que ainda houver por fazer… Quando eu me encontrei com o meu Amor, Pedro não viu com bons olhos aquela alegria e aquela intimidade que sacia todas as sedes… Veio a experimentá-lo também ele, mais tarde, quando muitos não encontraram no Mestre as respostas que queriam e o deixaram. Ficaram poucos discípulos nesse dia, e o Senhor virou-se para esses poucos e disse: “E vós, também quereis ir embora?!” Pedro, que também andava à cata em muitos poços diferentes e guardava o mapa de muitas esperanças diferentes, abandonou o cântaro nesse dia, quando lhe respondeu: “Para quem iremos, Senhor?! Só tu tens palavras de Vida”… Peregrino: O silêncio tomou conta de mim, aquele silêncio quase poesia… E deixei-me ficar assim, recolhido na memória salvadora do meu Senhor, desejando amá-lo em cada procura, e ser-lhe fiel “nas entrelinhas” do que é pequeno… – Levantou-se um vento manso que fazia dançar a toalha da Mesa e puxava para o bailado da Vida a túnica que no princípio desse dia me tinha sido oferecida… A Criação murmurava “Ruah… Ruah… Ruah…” E à mesa disseram um nome… Indicações para a encenação: Cléofas será um dos convidados. Também ele, já sentado à mesa, veste a túnica, neste momento, levanta-se, pega num pão, parte-o e entrega a alguns convidados. Seguidamente, pega na garrafa do vinho e faz o mesmo. Amigo do Peregrino: “Cléofas! Cléofas parte o pão…” Peregrino: Não sabia que ele estava ali… Um daqueles dois companheiros que regressavam, pesados com o fardo da morte do meu bem-amado, para Emaús… Cléofas era o nome de um deles, e estava ali. Perguntei-lhe: “Amigo, porque ficou para sempre dito o teu nome, e não sabemos o nome do outro companheiro que descaminhava contigo para Emaús?!” Cléofas: (virando-se para o Peregrino) “Porque o outro és tu, peregrino! O outro és tu e são todos os peregrinos da terra de quem o Senhor se faz companheiro de caminho! O Senhor é um andarilho, veste-se de vento e de forasteiro, abre-nos a vida e ilumina-nos o caminho com a luz das Escrituras que a Palavra de Deus faz em nós…” 30 Peregrino: Então… sou eu? (virando-se para a assembleia) E também sois vós? És tu… (e diz alguns nomes de crianças e adultos presentes) Então, o Senhor é meu companheiro de viagem e vosso companheiro, também? Cléofas disse tudo isto com um pão entre as mãos, cozido lá na aldeia. Partiu-o e passou-o para todos, como se naquele pão partido nos tornássemos um só corpo; e na hora em que ele partiu o pão e o deu, vi alguém levantar-se e começar a servir um vinho cheio de vida e vigor. Indicações para a encenação: Levanta-se do meio da mesa, alguém vestido de uma túnica branca. É o Mestre. Sai, vai buscar uma jarra. Volta e começa a repartir o vinho. Peregrino: (vira-se para as famílias presentes e pergunta) Sabem quem é? Peregrino: Tinha estado ali o tempo todo, mas eu ainda não tinha reparado… Como era possível ainda não o ter visto?! Estava vestido de Noivo, era belíssimo, tinha um rosto feliz e um jeito de se mexer que parecia abarcar em cada movimento a Mesa inteira e para lá dela; como se os seus braços fossem uma coisa só com as montanhas, os seus olhos uma coisa só com os astros do universo e os seus cabelos se estendessem por todos os prados da terra… Reconheci o Noivo no Partir do Pão... Peregrino: (virando-se para todos) Quando é que no dia a dia se dão conta que Ele está convosco? (Um minuto de silêncio e depois continua). – “Que noivo é este?! Que vinho é este?!”, Amigo do Peregrino: “Não sabes onde estás?!” Peregrino: “Não”… “Algures na Galileia”… Amigo do Peregrino: “Estás em Caná! Aqui é Caná… E HOJE celebram-se umas bodas… o Noivo sela HOJE a sua Aliança, e o Vinho que nos serve é Dom que ele mesmo nos faz…” Peregrino: Fixei o olhar naquele Noivo, tão lindo, tão próximo… Como era possível, ele ter estado ali o tempo todo e eu não o ter visto?! O Vinho escorria para os copos, não sei se da jarra que ele segurava ou se directamente das suas mãos abertas; a vida corria como se fosse uma torrente a sair do seu lado e, diante de mim, alguém disse o que não estava à espera de ouvir: Cléofas: “É o Senhor!” Peregrino: E eu quis-me levantar e segui-lo, e fazer tudo o que ele me dissesse, para que o sonho nunca acabasse… (texto adaptado e encenado a partir de um texto do P. R. Santiago) Indicações: Retoma-se o jantar. Durante a sobremesa propõe-se que o peregrino entre em diálogo com as crianças e os adultos. Proposta de perguntas: • • • • • • • • • • • Como se sentiram ao longo deste encontro? Que mais vos chamou atenção? Que tem a ver este jantar com Jesus e a Boa Notícia do Reino? Que tem a ver este jantar com a Eucaristia? Que tem a ver este jantar com a fraternidade, o testemunho, a vida, o anúncio da Boa Nova? Que personagem mais vos tocou? Porquê? Quem é o Peregrino? Que tem ele a ver connosco? Que água propõe a Samaritana? Qual será o convite do “Noivo” para cada um de nós? … C E I A B Í B L I C A 31 Indicações: EVgVÄcVa^oVg!egdeZ"hZfjZhZXVciZjbgZ[gdZhZgZoZdBV\c^ÄXVi°ZhZegdedc]VfjZd\gjedYXdci^nuidade ao Magnificat com uma oração espontânea. Hj\ZgZ"hZfjZhZd[ZgZVVXVYV[Vba^VdiZmidYVZcXZcVdZhZXdck^YZVa"adZVgZo{"adYjgVciZVhZbVcV# Indicações: Troca de prendas Os envelopes e as prendas, recolhidos pelo Peregrino no início da ceia, são distribuídos por Jesus, pela Samaritana e Cléofas. Quem desejar o suporte informático do texto pode enviar o seu pedido para: [email protected] ANEXO Papa Francisco Caríssimos (nomear os membros da família) Algures na Galileia… um grupo dos amigos de Jesus aguarda a vossa presença para uma “Ceia Bíblica”. Será uma noite de alegria e partilha com algumas surpresas! Durante a refeição serão levados pela mão de um Peregrino. Com ele, partilharão o pão e o vinho da festa. Com ele, terão a oportunidade de ouvir um Filho que se perdeu, um certo Cléofas e… Será uma Ceia recheada de boas notícias… Como, cada um terá a oportunidade de fazer uma família feliz, pedimos que procure na Bíblia com a sua filha ou o seu filho um trecho bíblico e o escrevam no papel mais bonito que tiverem em casa! Convidamos-vos a construir uma pequena prenda, um objeto original (não é necessário que seja perfeito. É o gesto que conta). Estes dois objetos transformar-se-ão numa prenda para… é surpresa. Tenham a certeza que este gesto fará alguém feliz, será uma partilha de vida e de paz! «Dou graças ao Senhor porque a Sua Palavra está cada vez mais presente nos encontros dos catequistas. Sei, além disso, que são muitos os avanços em relação à formação bíblica dos catequistas. Mas corria-se o risco de cairmos numa fria exegese ou uso do texto da Sagrada Escritura se faltasse o encontro pessoal, a meditação insubstituível que cada crente e cada comunidade devem fazer da Palavra para se produzir o «encontro vital, segundo a antiga e sempre válida tradição da lectio divina; esta permite ler o texto bíblico como palavra viva que interpela, orienta, plasma a existência» (NMI39). O catequista encontrará assim a fonte inspiradora de toda a sua pedagogia, que necessariamente estará marcada pelo amor que se torna proximidade oferenda e comunhão.3 » Papa Francisco Venha, no dia… em… Não pode faltar à partilha do pão e da amizade! Marisa Azevedo 3 Papa Francisco, O verdadeiro poder é servir