Soldando alumínio com estanho É voz corrente que alumínio não pode ser soldado com estanho, ou que “alumínio não pega solda”. É uma pena que esta crença - muito antiga por sinal - tenha credibilidade, pois no radioamadorismo este metal tem inúmeras aplicações práticas e viáveis. Chapas de alumínio são utilizadas para confecção de chassis, caixas, suportes, cantoneiras e blindagens. Canos e tubos de alumínio são elementos indispensáveis na construção de antenas. Pela “impossibilidade” de se poder soldar com estanho, fios de alumínio são pouco utilizados por radioamadores. A verdade é que alumínio pode ser soldado com estanho, bastando que se aplique técnicas apropriadas, com base no adequado conhecimento da estrutura da matéria e ciência dos materiais. Metais Metais são elementos químicos inconfundíveis, pois, à exceção do mercúrio, são encontrados no estado sólido em temperatura ambiente. Metais sempre são mais densos que a água e possuem brilho característico. Sua dureza é também uma característica importante nas escolhas tecnológicas. As mais significativas e marcantes características de cada tipo de átomo são descritas nas Tabelas Periódicas utilizadas em Química (Figura 1), um bom ponto de partida para compreensão dos processos de soldagem dos metais. Uma das mais marcantes características de um átomo é a quantidade de elétrons que possui na camada mais externa. Esta camada externa, mais comumente denominada valência, determina um conjunto comportamental do Figura 1 – Tabela periódica dos elementos químicos Fonte: http://grandeabobora.com/ Metais são maioria dos átomos na natureza. Há metais em praticamente todas as colunas da tabela periódica. A distribuição de elétrons nas diversas camadas sempre determina uma pequena quantidade de elétrons na camada de valência. O cobre (Cu) encontra-se na coluna 11, linha 4 da tabela. O Alumínio (Al), na coluna 13, linha 3, e o Estanho (Sn) na coluna 14, linha 5. A quantidade de valência destes metais é: Elemento químico Cu Al Sn Quantidade de elétrons na última camada (valência) 1 3 4 átomo quando colocado próximo a outro átomo de mesma natureza ou de natureza distinta. Os átomos de metais mais comuns possuem 1, 2 ou 3 elétrons na camada mais externa. O Paládio é exceção, com valência zero. Outras exceções importantes são Germânio, Estanho e Chumbo, com valência 4. Possuindo poucos elétrons de valência, metais estão disponíveis para ceder ou compartilhar seus elétrons de valência com outros átomos a fim de se obter o objetivo de 8 elétrons na camada eletrônica externa. Dessa maneira, é fácil encontrarmos em estado natural, compostos químicos em que tal associação se produz. Quando o átomo associado com o átomo de metal é o oxigênio, os compostos resultantes são denominados óxidos. Quando outros átomos não metálicos são associados ao metal, os compostos resultantes são denominados sais. Assim estão disponíveis na natureza a ferrugem (óxido de ferro) e o sal de cozinha (cloreto de sódio), bem como uma infinidade de sais e óxidos. Nestas associações, a ligação que o metal compõe com não-metais é de natureza química, pois o composto resultante em nada se parece com cada átomo individual. Átomos são entidades que possuem dois objetivos fundamentais de vida. Primeiro, o átomo tenta manter um equilíbrio elétrico, em que a quantidade de cargas elétricas positivas (prótons) no seu interior (núcleo) seja igual à quantidade de cargas elétricas negativas (elétrons) em seu exterior (eletrosfera). Em segundo lugar, os elétrons da eletrosfera se organizam de tal maneira a tentar ocupar regiões energéticas particulares, de modo que sua quantidade em cada região seja 2 (para átomos pequenos do Hidrogênio ao Boro) ou 8 (para todos os demais átomos). Apenas os átomos localizados na coluna 18, mais à direita na tabela periódica, conseguem este objetivo, sendo assim muito estáveis, isto é, interagem com muita dificuldade com outros átomos. Costuma-se chamá-los gases nobres. Todos os demais átomos encontráveis na Natureza e dispostos nas demais colunas da tabela não atendem ao segundo requisito e são assim ávidos por interagir com outros átomos de modo que todos os objetivos sejam alcançados. As estratégias adotadas pelos átomos para interagirem são denominadas ligações químicas e o produto final da interação resulta em novos compostos químicos. Nos metais puros, as ligações se fazem com átomos vizinhos da mesma natureza, sendo portando ligações físicas, que não modificam as propriedades químicas do material. Comportamentos metálicos Se não houver átomos de outros elementos químicos disponíveis, os átomos metálicos entram em acordo com eles mesmos, montando uma grade ou reticulado espacial ,denominado estrutura cristalina, de maneira que elétrons externos de uns átomos complementam a falta de elétrons externos com elétrons externos de outros átomos. A ligação, neste caso, não altera as propriedades originais do átomo individual, e são denominadas ligações físicas. Neste estado, o conjunto de átomos metálicos é denominado corpo metálico, ou metal em estado puro ou ligado (em ligas metálicas). No metal em puro ou ligado, os elétrons que participam da associação espacial possuem mobilidade, trocando incessantemente de átomos, estando em permanente movimento no interior do corpo metálico. Uma das características mais notáveis do átomo de metal reside no fato dos elétrons de valência, serem muito pouco acoplados ao átomo. Como o átomo é grande, este elétron mais externo fica muito distante do núcleo, sofrendo fraca força atrativa de natureza elétrica por parte dos prótons internos. Também por causa do tamanho do átomo, há muitos outros elétrons em camadas eletrônicas interiores que interagem com o elétron mais externo com uma força de repulsão, já que são todos eles negativos. O resultado das forças de atração do núcleo e de repulsão de outros elétrons mais internos acaba sendo uma força residual de intensidade muito pequena, de modo que qualquer outra perturbação elétrica externa ao átomo age nos elétrons de valência de maneira muito expressiva. Um pequeno pedaço de metal, por menor que seja, contém uma enorme quantidade de átomos, que interagem uns com os outros por causa da proximidade mútua na grade espacial. Um átomo perturba seus vizinhos eletricamente de modo que cada elétron de valência mais externo sofre influência de repulsão ou de atração por átomos vizinhos que possam momentaneamente estar com desbalanceamento nos elétron de valência. O resultado acaba sendo uma mobilidade enorme dos elétrons de valência, que migram de átomo em átomo incessantemente. A migração de elétrons pode ser compreendida como uma corrente elétrica interna, bastante caótica, sem direção e sentido bem definidos, que produz na superfície do metal a aparência brilhante característica. Elétrons metálicos são elétrons livres, não acoplados especificamente a átomos particulares. Movimentam-se incessantemente e esta liberdade de movimento, quando devidamente organizada, é denominada corrente elétrica. A quantidade de energia necessária para organizar o movimento dos elétrons metálicos é muito pequena. Uma diferença de potencial ínfima aplicada sobre dois pontos de uma peça metálica é suficiente para produzir uma ínfima corrente elétrica organizada. Corrente elétrica é a quantidade de elétrons Se a energia organizadora para produção de corrente elétrica possui valor menor que a energia livres que podem se movimentar na própria dos elétrons em movimento natural dentro unidade de tempo. A relação entre a do metal, a corrente elétrica induzida diferença de potencial aplicada e a externamente não se produz. O limiar deste nível quantidade de elétrons deslocados na mínimo de energia determina o ruído natural do unidade de tempo é denominada metal quando utilizado nos estágios iniciais de um receptor de ondas de rádio. Este nível de ruído de resistência elétrica do corpo metálico. fundo determina a capacidade de discernimento de Cada átomo metálico apresenta uma um sinal desejado do sinal de ruído externo. A resistência característica à relação entre o nível mínimo aceitável de sinal movimentação dos elétrons metálicos, recebido e o ruído interno é denominada e esta característica recebe a sensibilidade do receptor. denominação resistividade do material. Como há movimento de cargas elétricas no interior do corpo metálico, também são produzidos campos magnéticos, imperceptíveis de maneira geral, mas bastante significativos nos materiais denominados magnéticos, em que o movimento mais bem ordenado, causado pela melhor organização espacial dos elétrons (spin), faz com que o movimento seja menos caótico. O comportamento eletromagnético dos metais é tão intenso e significativo que seus elétrons de valência são por vezes denominados elétrons metálicos. Um corpo metálico pode receber energia de várias maneiras, sendo o modo térmico uma das maneiras possíveis. Quando o metal é aquecido, seus elétrons metálicos ficam mais excitados, mais energéticos, e movimentam-se desordenadamente de maneira mais intensa, mudando até mesmo o aspecto visual, a cor e o brilho da peça metálica. Quanto maior a temperatura, maior a desordem elétrica no corpo metálico. Quando os elétrons estão muito excitados por calor, movimentam-se mais intensamente e com maior velocidade, e seus caminhos naturais por dentro do corpo metálico ficam bastante congestionados. A solução é - literalmente - “dar a volta por cima”. Assim, elétrons metálicos muito excitados a altas temperaturas saem do corpo metálico para o meio circundante e a ele voltam incessantemente. Válvula termiônica Este fenômeno termo-cinético, por vezes denominado Efeito Edison, é propositalmente explorado na construção de filamentos em válvulas termiônicas (figura 2) e lâmpadas fluorescentes (figura 3), pois facilita a retirada dos elétrons metálicos com uma diferença de potencial externa, sob condições ambientais de gás em baixa pressão. Para filamentos de válvulas termiônicas, o ambiente deve ser inerte, com alto vácuo de ar comum ou dopagem com algum gás inerte (nobre). Qualquer gás inerte da coluna 18 da tabela periódica pode ser utilizado. Quando o filamento se destina a uma lâmpada fluorescente, o ambiente circundante deve ser capaz de condução elétrica de um filamento a outro. Assim, o gás a baixa pressão deve ser condutor, sendo o mercúrio utilizado para produzir o “vapor” interno condutivo, pois sob baixa pressão o metal mercúrio se apresenta em estado gasoso. Se no lugar de mercúrio houver sódio gasoso, a cor emitida pela lâmpada será de um amarelo intenso. Lâmpada fluorescente Outra forma de se excitar elétrons periféricos de átomos consiste em bombardeio por luz (fótons). O efeito é semelhante ao efeito termo-cinético, e dependendo do material empregado, obtém-se um fluxo ordenado de elétrons ao longo do material. À corrente circulante é associada uma diferença de potencial (Lei de Ohm). Esta constatação recebeu a denominação Efeito Fotoelétrico e conferiu a Albert Einstein o Prêmio Nobel de Física. Por meio da tecnologia do semicondutor a ciência se torna tecnologia útil, como no caso dos painéis fotovoltaicos. Fonte: http://www.soliclima.com/ O aquecimento de metais até seu estado líquido produz uma atividade de movimentação de elétrons metálicos muito intensa. Quando duas porções de metais aquecidos ao estado líquido são colocadas em contato, seus elétrons trocam facilmente de corpos, unindo-os tal como se une dois pedaços de tecidos por meio de linha de costura. Fisicamente, há um acordo entre as estruturas cristalinas dos metais presentes na associação. Se as condições ambientais estiverem adequadas, de modo que o meio circundante não interfira na livre troca de elétrons, há então a soldadura de ambos os corpos. Este é o princípio básico para a soldagem de duas peças metálicas, que são colocadas para derretimento por intermédio de chama ou arco elétrico. O ambiente é controlado por meio de fluxos de solda presentes nas varetas de eletrodos de “solda elétrica”, pó apropriado para varetas de solda óxido-acetileno, ou ambiente gasoso inerte no caso de soldagem por tocha, como nas soldas MIG e TIG. Uma alternativa de soldagem consiste em aquecer ao estado líquido apenas um dos corpos, que então se deposita sobre o outro corpo em estado sólido, perfazendo todo o espaço disponível na superfície. Novamente aqui, se as condições de ambiente estiverem adequadas, há ligadura entre a peça metálica em estado sólido e a peça metálica em estado líquido. Assim que a peça líquida é resfriada e se torna sólida, a soldadura se torna permanente. Esta é a técnica fundamental para a soldagem por fluxo de estanho utilizada no mundo elétrico e eletrônico. Eletronegatividade Eletronegatividade é uma medida indicativa da potencialidade do átomo atrair para próximo de si outros átomos vizinhos. O conceito de eletronegatividade combina simultaneamente a valência de um átomo com seu tamanho. Átomos menores são mais eletronegativos, pois o núcleo positivo encontra-se a menor distância da periferia. Átomos com mais elétrons na camada de valência são mais eletronegativos, pois fica mais fácil para eles completarem os 8 elétrons de estabilidade (2 elétrons para átomos pequenos). A escala mais utilizada para medida de eletronegatividade é Pauling. O átomo com maior valor de eletronegatividade é o flúor, o mais reativo dos elementos químicos, que possui 4 Pauling de eletronegatividade. Os átomos de menor eletronegatividade são o Césio e o Frâncio, com valor 0,7 Pauling, fracamente reativos. As eletronegatividades dos átomos envolvidos determinam o tipo preferencial de ligação química entre átomos de naturezas diferentes ou ligação física entre átomos de mesma natureza. Quando a diferença de eletronegatividade é menor que 1,7 Pauling, a ligação é denominada covalente e quando a diferença de eletronegatividades supera 1,7 Pauling, a ligação é denominada iônica. Ligação Iônica Neste tipo de ligação, um átomo cede em definitivo seus elétrons de valência para um ou mais átomos de diferente natureza. O balanço final de suas cargas elétricas fica positivo, por ter perdido elétrons. O átomo que recebe em definitivo os elétrons extras fica com o balanço de cargas negativo. Átomos que ficam positivos são denominados cátions e os que se tornam negativos recebem a denominação ânions. A ligação iônica é considerada fraca, isto é, se rompe com aplicação de pequenos níveis de energia. Assim, a ligação iônica produz materiais quebradiços, pouco tenazes, encontráveis na forma de pó, particulados ou cristais. O sal de cozinha (cloreto de sódio ou NaCl) é um composto iônico, formador de cristais quebradiços. Compostos iônicos se dissociam em ânions e cátions com aplicação de pequenas quantidades de energia, fornecidas por meio de polaridades elétricas. O sal de cozinha, como quase todos os sais, se dissocia na água, um solvente fracamente polar. Fonte: http://educacao.uol.com.br Toda substância iônica é diferente de seus átomos originais tomados individualmente, e a ligação iônica formada é sempre de natureza química. Nenhum metal utiliza a estratégia iônica para formação de sua estrutura cristalina quando em estado puro ou de liga metálica. Nestas condições, as ligações são sempre covalentes e físicas. Ligação covalente Na ligação covalente, os elétrons de valência de dois átomos vizinhos se associam para obterem ambos o estado energético de 8 elétrons, sem no entanto cederem seus elétrons em definitivo. Agem mutuamente, em verdadeira parceria. Ligações covalentes são fortes, necessitando de grandes níveis de energia para romperem a estrutura cristalina. Assim, compostos químicos formados por ligação covalente têm a tendência de serem maleáveis, pois a região de parceria entre átomos ocupa um determinado volume espacial, condicionado pela forma e extensão dos orbitais de cada um. Quanto maior o volume espacial da parceria, mais maleável se torna o material resultante. Poucos são os materiais covalentes solúveis em água ou solventes pouco polares. A maleabilidade da ligação covalente depende diretamente da diferença de eletronegatividade dos átomos ligados. Quanto menor a diferença de eletronegatividade entre os átomos, maior a maleabilidade do material obtido. Quando a ligação covalente se faz entre átomos de natureza muito diferente, a ligação é de natureza química, e o composto resultante é uma nova substância química, Se os átomos envolvidos numa ligação covalente são de mesma natureza ou de naturezas similares, a ligação covalente é física, não sendo formado novo composto químico. Metais em estado puro ou na forma de ligas metálicas associam seus átomos sempre da forma covalente do tipo físico, pois são de mesma A água (H2O) é um exemplo de composto químico em que a ligação química é covalente. O oxigênio com 6 elétrons de valência se associa com 1 elétron de cada hidrogênio e perfaz os 8 elétrons desejados (é átomo grande). O hidrogênio com 1 elétron de valência se associa com 1 dos 6 elétrons de valência do oxigênio e perfaz os 2 elétrons de estabilidade (é átomo pequeno). Fonte: http://www.tvcultura.com.br/ natureza ou naturezas similares. Assim, apresentam grande resistência e maleabilidade, cujas intensidades dependem da natureza dos metais envolvidos. Estrutura cristalina do estanho e sua eletronegatividade A eletronegatividade do estanho vale 1,96 Pauling. O estanho nas condições ambientais com temperaturas ambientes acima de 13 ºC apresenta sempre uma estrutura cristalina em forma de tetraedro, apresentando valência 4. Só possuirá estrutura cúbica com valência 2 (hibridização), abaixo da temperatura de 13ºC e em estado puríssimo. Assim, para efeito deste estudo, o estanho será sempre considerado como possuindo estrutura cristalina tetragonal, pois os fios de solda são sempre ligas, feitos de estanho impuro. E estrutura tetraédrica (Figura 2) é muito rígida e versátil, permitindo combinações de grades espaciais de várias formas, tanto com outras estruturas tetraédricas como com estruturas cúbicas, sendo estas últimas facilmente deformáveis para alinhamento espacial. Desta maneira, o estanho se combina bem com praticamente todos os metais, mantendo entre si ou com átomos de outros metais uma ligação física do tipo covalente. O carbono também apresenta estrutura tetragonal, pois é da mesma família de elementos químicos. A habilidade do carbono para formação de ligações covalentes químicos com muitos átomos não metálicos, entre eles o hidrogênio, formam um importante grupo de compostos químicos denominados hidrocarbonetos, a base química da vida. Figura 2 – Estrutura tetraédrica Em cada vértice há um átomo de elemento químico. As arestas do tetraedro formam as ligações covalentes. Fonte: http://www.azonano.com/ Estrutura cristalina do cobre e sua eletronegatividade O cobre não sofre hibridização (mudança de valência por modificação de orbitais atômicos) e apresenta sempre uma valência 2 com estrutura cristalina cúbica simples (figura 3). A eletronegatividade do cobre tem valor 1,9 Pauling. Uma estrutura cúbica simples pode ser facilmente deformável sob efeito de esforços externos. Elementos químicos com estrutura cúbica simples podem se ligar fisicamente a muitas outras formas estruturais por causa desta facilidade de deformação. Estrutura cristalina do alumínio e sua eletronegatividade O alumínio também apresenta estrutura cristalina cúbica simples (Figura 3), com valência 3, sem sofrer quaisquer tipos de hibridização. A eletronegatividade do alumínio vale 1,61 Pauling. Figura 3 – Estrutura cúbica simples Em cada vértice há um átomo de elemento químico. As arestas do tetraedro representam as ligações covalentes. Fonte: http://www.ufsm.br/ Soldagem por fusão do elemento de solda A soldagem com estanho – e com todos processos de soldagem com fusão de material - se baseia no fato de todas substâncias absorverem a energia fornecida externamente também para produzir uma agitação molecular, além da parcela de energia que excita os elétrons externos dos átomos. A coesão da matéria em estado sólido é determinada por um jogo de forças: de um lado gravitacional, que aproxima os átomos e moléculas, e de outro pela força elétrica negativa da periferia dos átomos que produz repulsão mútua. Quando a energia interna da substância é pequena, diz-se que a matéria se encontra no estado sólido, pois não há energia suficiente para movimentar átomos ou moléculas além de uma distância determinada pela agitação molecular. Átomos e moléculas, apesar da agitação microscópica interna produzida pela “queda de braço” entre gravitação e eletromagnetismo, mantêm-se vinculados uns aos outros, numa construção espacial de formato permanente. Assim, como nos dizem os livros didáticos do ensino fundamental, “no estado sólido a matéria não perde sua forma física”. A partir de um certo estado de energia, que varia de substância para substância, átomos ou moléculas conseguem se afastar para além da distância que os aprisiona no estado sólido, e estes átomos ou moléculas podem então se movimentar com relativa facilidade em torno uns dos outros, A matéria permanece agregada por ação gravitacional, mas a forma externa do corpo não é mais garantida pela estrutura espacial típica do corpo sólido. Nestas condições, diz-se que a substância encontra-se no estado líquido, e como nos dizem os livros didáticos do ensino fundamental, “no estado líquido a matéria ocupa a forma do recipiente em que é colocado”. Se a quantidade de energia interna da substância é muito elevada, átomos ou moléculas agitam-se com muita intensidade, podendo então realizar movimentos extremos, sem que a atração gravitacional de outros átomos e moléculas possam produzir algum efeito de coesão. Nestas condições diz-se que a substância encontra-se no estado gasoso, e como dizem os livros didáticos do ensino fundamental, “no estado gasoso, a matéria ocupa todo espaço disponível no recipiente que a contém”. A passagem do estado sólido para o estado líquido (derretimento) é denominada fusão, que ocorre, para cada substância em particular, a determinadas temperaturas – ou seja, estados próprios de energia interna. Nos processos de soldagem por fusão, a temperatura do elemento de solda, assim como a temperatura dos objetos a serem soldados, deve ser aumentada até o ponto de fusão do material do elemento de liga. Assim, é necessário que o elemento de liga apresente uma temperatura de fusão menor do que os objetos a serem soldados, de modo a se evitar o derretimento das peças como um todo. A temperatura necessária para a fusão do elemento de solda é obtida por fornecimento de energia externa, podendo ser por um ferro de soldar como no estanho, arcos elétricos como na solda do aço, chama de maçarico como na solda de oxi-acetileno, e pela tocha de plasma como nos processos MIG e TIG. Soldagem com estanho O estanho de fusão do estanho puro é de 232 ºC, mas é menor, de cerca de 183 ºC, quando em mistura com chumbo como elemento de liga. Esta diminuição de temperatura de fusão é comum nos metais que são misturados em ligas eutéticas, em que elementos auxiliares de liga são utilizados. O fio de estanho tradicionalmente utilizado na prática eletrônica possui chumbo como elemento de liga, de modo a se conseguir temperaturas mais baixas para a fusão da mistura metálica eutética. A temperatura de fusão da liga eutética é obtida por meio do “ferro de soldar”. O processo de soldagem com estanho – e também com todos os demais processos de soldagem por fusão - baseia-se também no fato dos elétrons de átomos aquecidos saltarem para fora dos corpos metálicos, considerando tanto o metal a ser soldado, quanto o estanho que é o elemento de ligação. Características adicionais importantes para determinar a possibilidade da soldagem são: eletronegatividade dos metais a serem soldados, eletronegatividade do estanho e estrutura cristalina de cada um deles. A soldagem de peças de cobre ou suas ligas (bronze, latão) é possível, porque o estanho tem estrutura cristalina tetragonal e a diferença de eletronegatividade entre o cobre e o estanho é muito pequena: 1,96 - 1,9 = 0,06. O resultado final da soldadura, formada por ligações físicas covalentes com pequena diferença de eletronegatividade apresenta uma característica muito maleável, além de bom contato elétrico. Deformações nas peças originais já soldadas se refletem com equivalente deformação da interface de soldadura entre os metais. Assim, a soldadura de cobre com estanho aceita trabalhos mecânicos significativos. A soldagem de peças de alumínio com estanho é também possível, pois a estrutura cristalina do alumínio é também cúbica e a diferença de eletronegatividade não é elevada: 1,96 – 1,61 = 0,35. Como a diferença de eletronegatividade entre alumínio e estanho é maior do que a diferença de eletronegatividade entre cobre e estanho, a interface da soldadura não se presta muito bem para trabalhos mecânicos significativos. Apesar da ligação física ser também covalente, a diferença maior entre eletronegatividades impõe à interface de solda uma maleabilidade menor. A solda do alumínio com estanho é mais quebradiça do que aquela realizada com cobre, e se presta basicamente à conexão elétrica entre peças elétricas, em que esforços mecânicos sejam de pequena intensidade. Se na teoria a soldabilidade do alumínio com fluxos de estanho é viável, por que na prática isto não ocorre? O problema com o alumínio O que dificulta a soldagem do alumínio com estanho não é o metal propriamente dito, mas o óxido de alumínio, ou alumina, que o reveste. O óxido de alumínio é muito resistente a ataques químicos ou mecânicos, pouco solúvel em água, e por ser um óxido, não possui afinidade eletromagnética natural com quaisquer metais, exceto com o próprio alumínio. Dessa maneira, o estanho utilizado na soldagem não adere ao óxido de alumínio depositado externamente. A alumina é um composto químico tão resistente que tem utilização como componente abrasivo em lixas e pastas abrasivas. A dureza mecânica à compressão do óxido de alumínio é superior à maioria dos aços, mesmo especiais. Por outro lado, a resistência mecânica do óxido de alumínio à tração ou cisalhamento é pequena. Assim, uma peça de alumínio pode ser facilmente riscada e arranhada, pois as forças aplicadas por uma aresta cortante sobre a película de alumina são de natureza cisalhante. O óxido de alumínio é encontrado em estado natural depositado sobre a superfície de qualquer corpo feito de alumínio metálico. Deposita-se em películas muito finas, com milionésimos de milímetro (mícron) de espessura. Nestas condições, a película é bastante transparente e incolor, preservando bastante bem o brilho metálico esbranquiçado do metal no substrato. Na forma granulada retirada do alumínio metálico, o óxido de alumínio tem uma cor cinzenta bastante escura, quase negra. Quando depositado de maneira artificial por processo eletrolítico em camadas mais espessas que o normal, a alumina proporciona à peça de alumínio um valor de dureza superficial importante, tornando o aspecto um pouco mais embaçado. Este processo é denominado industrialmente anodização, e pode ser executado até mesmo com corantes e aditivos para obtenção de cores e brilho. Peças que sofrem este processo são denominadas comercialmente de alumínio anodizado. Fonte: http://www.motobr.com.br A formação do óxido de alumínio sobre superfícies de alumínio é espontânea, pois o alumínio metálico é bastante reativo, combinando-se com o oxigênio do ar para a formação do óxido de alumínio. A reação de oxidação do alumínio ocorre mesmo a temperaturas ambientes, inclusive em temperaturas de inverno rigoroso. Além de espontânea, a reação de oxidação do alumínio é muito rápida, levando poucos minutos para a formação definitiva da película de alumina. Assim que a película de alumina formada sobre a peça de alumínio atinge uma certa espessura, isola a peça original do ar circundante, e a reação de oxidação cessa. Desta maneira, a reação de oxidação é muito intensa no início, quando o metal está “nu”, diminuindo lentamente até o ponto em que praticamente não ocorre mais. A película de óxido de alumínio adere-se fortemente ao substrato de alumínio interior, por causa de forças eletromagnéticas presentes na grade espacial do metal e no reticulado cristalino do óxido. Para complicar mais um pouco a situação, o óxido de alumínio é muito resistente ao calor, não se abalando com as temperaturas obtidas com ferros de soldagem por estanho, que raramente atingem 400 ºC. No caso de soldas de tocha MIG e TIG, a alta temperatura da tocha derrete os metais na área de soldagem, deslocando a alumina (que chega a ser vaporizada), sendo assim retirada. O ambiente de gás inerte impede a formação de novo óxido de alumínio e a soldagem se faz com facilidade. Por causa da existência da película de óxido de alumínio sobre a superfície de peças de alumínio, o processo de soldagem por aplicação de estanho se torna de fato impossível. A menos, é claro, que se possa retirar a película de alumina no ponto onde se necessita Fonte: http://www.soldaduraecorte.com.br/ aplicar a solda de estanho. Como resiste bem às temperaturas elevadas apenas obtidas por tochas, o óxido de alumínio só pode ser retirado de maneira simples por processos químicos ou mecânicos. Desde que retirado, o estanho se adere bem ao alumínio “nu”, conforme já se viu na teoria da eletronegatividade e estrutura cristalina espacial. Técnicas mais correntes para soldagem do alumínio com estanho Quaisquer que sejam os processos adotados para soldagem de peças de alumínio com estanho por intermédio de ferro de soldar, torna-se necessário depositar previamente uma camada de estanho sobre a peça de alumínio. Este estanhamento prévio é absolutamente necessário, pois não há como se soldar diretamente duas peças distintas. O estanho prévio funciona como um substrato aplicado sobre a superfície de alumínio. Sobre este substrato pode-se então soldar peças de cobre, ou mesmo outra peça de alumínio também previamente estanhada. A aderência do substrato de estanho sobre alumínio é surpreendentemente mais forte que do estanho sobre cobre, pois o alumínio possui três elétrons de valência, que fazem com os quatro elétrons de valência do estanho, melhores cominações geométricas na trama eletromagnética. Entretanto, a ligação, apesar de forte, não é tenaz, apresentando um comportamento quebradiço. O ácido fosfórico, sempre presente em muito pequenas quantidades nos refrigerantes “de cola”, tem sido utilizado com algum sucesso para soldagem de peças em alumínio, mas possui alguns inconvenientes. Primeiro, O ácido fosfórico é incolor, de aspecto oleoso, com viscosidade semelhante à de vodka congelada. Esta viscosidade diminui com a diminuição da concentração. Não possui cheiro forte, daí seu maior perigo em casas com crianças. apesar de ser um ácido não muito forte, é corrosivo como quaisquer ácidos. Quem costuma fazer limpeza e desengraxamento com imersão de peças em refrigerante “de cola” sabe disso. Sua manipulação nas concentrações comerciais de 85% exige cuidados especiais. Em segundo lugar, o tempo necessário para o ácido fosfórico atacar quimicamente o óxido de alumínio é muito longo para a prática corrente em eletrônica. A aplicação de calor, com o próprio ferro de soldar em volta do lugar em que o ácido fosfórico ajuda, pois acelera a reação química. Somos tentados a tentar abreviar o processo, com resultados sempre desanimadores. Durante o aquecimento do estanho e da peça a ser soldada, há liberação de substâncias voláteis tóxicas. Há pessoas que sabem todos os detalhes técnicos sobre a utilização do ácido fosfórico para soldagem de alumínio com estanho, mediante o auxílio do ácido fosfórico. Há no mercado produtos químicos especialmente desenvolvidos para soldagem de alumínio com estanho, e a maioria não passam de ácido fosfórico numa concentração adequada. Entretanto, poucos profissionais e experimentadores em eletrônica sabem que o ácido fosfórico permite a soldagem do alumínio. Eu pessoalmente prefiro técnicas mais “limpas” e mais “ecológicas”. Uma técnica alternativa utiliza a retirada do óxido de alumínio por processo mecânico, por meio de lixas, raspadores ou limas. Assim que a alumina é retirada, o metal do substrato fica “nu”, e deve ser o mais rapidamente possível protegido do oxigênio atmosférico circundante para barrar a rápida reação de oxidação do alumínio. Para esta proteção superficial temporária quaisquer materiais que apresentem volatilidade quando aquecidos com a ponta do ferro de soldar podem ser utilizados. Costuma-se aplicar com freqüência a parafina, encontrada facilmente em velas de iluminação. A parafina é aplicada com o próprio ferro de soldar, que a aquecendo, provoca seu derretimento e espalhamento sobre a área raspada. O grande inconveniente do uso da parafina é o aspecto Parafina em barras ou industrializada como vela pegajoso final que a peça adquire, pois a parafina, sob ação do calor do ferro de soldar e do aquecimento de toda a peça, espalha-se muito além da área de soldagem. Em muitas aplicações, este inconveniente estético pode ser importante. Para complicar ainda mais, o processo de soldagem de alumínio com estanho e ferro de soldar produz a retirada de óxido de alumínio em formação, de cor cinza escuro, e que se mistura à “pasta” de parafina espalhada. O aspecto final é realmente bastante feio. O excesso de parafina na peça final pode ser retirado posteriormente com solvente adequado, como thinner. Nem sempre isso é aconselhável, pois há quem tenha alergia epidérmica a estes solventes fortes. No site de PY2BBS (http://www.py2bbs.qsl.br/) há um interessante vídeo de como se soldar alumínio com estanho, utilizando a proteção da parafina (http://www.py2bbs.qsl.br/solda_aluminio.php). Deve-se notar que a pessoa que faz a soldagem executa com o ferro de soldar um movimento de raspagem à medida que deposita o estanho. Este é de fato o grande “truque” para se soldar o alumínio com estanho. Por mais rápido que se aplique a proteção de parafina, ocorre um início imediato de formação de óxido de alumínio, pois a reação de oxidação é muito rápida com o metal no estado “nu”. A raspagem insistente e forte com a ponta do ferro de soldar promove a remoção do óxido em formação, permitindo a aderência do estanho no alumínio. Deve-se aplicar o estanho em trechos curtos, de 3mm a 5mm. Outro “truque” fundamental para a soldagem de alumínio com estanho é o ferro de soldagem. Deve ser de tamanho grande, maior do que usaríamos para soldar cobre comum. Esta regra vale também para quaisquer outros métodos, inclusive quando a retirada do óxido de alumínio se faz com processo químico, como por exemplo, com aplicação de ácido fosfórico. O motivo desta escolha é a necessidade da temperatura da peça a soldar ser bastante alta, de modo a facilitar a interação eletromagnética entre o estanho e o alumínio. O álcool comum (etanol) é bom solvente para o breu, e um composto químico menos agressivo para a pele do operador. Na falta de álcool, podese aquecer novamente – e cuidadosamente - a peça já soldada para que o breu se volatilize. Esta técnica, entretanto, não retira o óxido de alumínio granulado que enfeia o aspecto final. Em último caso, uma cuidadosa raspagem do breu também permite sua retirada. E neste caso, a também retirada do óxido calcinado. O grande “truque” para criação do substrato de estanho sobre o alumínio é a permanente, insistente e firme esfregação com a ponta do ferro de soldar na região que já foi previamente raspada. Sem este expediente, não há como se retirar o óxido de alumínio que vai se formando sobre o metal “nu”, que tenta impedir o estanho de tocar a superfície metálica. Deve-se fixar bem a peça de alumínio, pois a raspagem com a ponta do ferro de soldar deve ser feita com algum esforço. Meu processo preferido Uso a técnica de retirada do óxido de alumínio por processo mecânico de raspagem, e não uso quaisquer produtos como parafina ou breu para isolar o metal “nu” do ar circundante, visto que sempre produzem algum inconveniente final. Para a raspagem mecânica, prefiro utilizar uma pequena lima do tipo “ferramenteira”. Estas limas são encontradas no comércio, na forma de um conjunto de vários perfis. Evito utilizar o processo de lixamento, pois a lixa sempre libera a abrasivo granulado já desgastado, além do material agregante (papel, geralmente). Estes materiais estranhos ao processo sempre produzem interferência negativa na soldagem. Se disponível, uma “pedra montada” abrasiva, funcionando como esmeril e acionada por uma “Limas ferramenteiras” furadeira manual (“dremel”) dá bom resultado. As limas rotativas que acompanham tais kits também podem ser utilizadas. Assim que raspo a região que receberá a base de estanho, inicio a aplicação do substrato por meio de um ferro de soldar de tamanho adequado. Para superfícies raspadas pequenas, de peças com superfície também pequena, onde se soldará um fio Ponta montada e lima rotativa de cobre, uso um ferro de soldar com potência de cerca de 50W. Para superfícies maiores, ferros de soldar de 100W, 180W e até de 320W podem ser necessários. Esqueça definitivamente a idéia de aplicar o substrato de estanho com ferros de soldar para uso em eletrônica, com potência não superior a 30W, a menos que a peça seja minúscula (área de até uns dois centímetros quadrados) e com uma área raspada com apenas poucos milímetros quadrados. Utilizo sempre fio de estanho para uso em eletrônica, que tem alto teor de estanho e baixo teor de chumbo, além de já proporcionar o fluxo de solda necessário. Fios de solda com proporção de 60% de estanho e 40% de chumbo já servem bem para o propósito de soldagem de alumínio. Fios de solda com proporção menor que 60% de estanho são imprestáveis para solda em alumínio e com Fio de solda adequado proporção ainda maior de estanho são ainda melhores. A marca do fio de solda também é importante, pois há certos produtos com proporção adequada de estanho, mas com fluxo muito pouco eficiente. O fluxo de solda tem um papel importante no processo, visto que participa da retirada do óxido de alumínio recém formado durante a raspagem com a ponta do ferro de soldar. Sem mencionar a marca que recomendo, apenas posso dizer que sua embalagem é azul, e seu fabricante afirma ser o melhor. Importante: evito o uso de maçaricos a gás para aplicar o estanho. São muito práticos e deve-se sempre pensar em ter um à mão. São muito bons para pré-aquecimento de peças de grandes dimensões, mas não são bons para uso direto na área a ser soldada. O cobre e o alumínio quando adquirem uma tonalidade diferente do metal natural tornam-se imprestáveis à soldagem por estanho, visto estarem reagindo preferencialmente com o oxigênio do ar. Outro grande inconveniente do uso de maçaricos diretamente na área a ser soldada é a liberação de água pelo processo de combustão. Esta água que em alta temperatura encontra-se no estado gasoso é fortemente reativa, dissociando facilmente o oxigênio do hidrogênio. O oxigênio dissociado encontra-se no estado atômico e reage muito mais rapidamente com o metal para produção do óxido correspondente. Ferro de soldar de 50W Maçarico a gás O tempo que decorre entre o término da raspagem e o início de aplicação do estanho não deve ser demorado. Mas também não é necessário “querer tirar o pai da forca”. Evito afobações, pois afinal, em milésimos de segundo já há formação de óxido de alumínio sobre o metal “nu”. Trabalho naturalmente, usando a ponta do ferro de soldar para raspar novamente o local onde será depositado o substrato de estanho. Tenho paciência. É normal decorrerem alguns segundos para o estanho começar a aderir no alumínio. A sensação ao toque do estanho aderindo é inconfundível. A ponta do ferro de soldar parece encontrar um obstáculo e parece estar também se aderindo ao alumínio. Este é o indício de que o processo está funcionando, pois quando o estanho se adere ao alumínio, retirá-lo novamente requer uma força razoável, visto que a interação eletromagnética entre estanho e alumínio é bastante forte, mais forte do que entre estanho e cobre. Ferro de soldar de 320W Assim que começa a aderência, começo a espalhar mais estanho ao longo da superfície preparada. Calmamente, em menos de um minuto é possível estanhar uma área de alumínio de uns dois milímetros de largura por uns quinze milímetros de comprimento. Em volta da área de depósito de substrato de estanho forma-se uma borra escura, quase negra, resultante do óxido de alumínio granulado que se formou e que foi retirada pela ponta do ferro de soldar utilizado como segundo raspador. Para garantir uma boa soldadura, raspo com a ponta do ferro de soldar novamente toda a superfície de deposição de estanho para garantir que nenhum trecho tenha sobrado sem a retirada do óxido de alumínio. Terminada a soldagem, vem o processo de limpeza, que é bastante simples, visto não haver materiais estranhos a menos do resto de fluxo de solda e o óxido de alumínio granulado a ele misturado. Se não há necessidade estética no projeto, fica tudo como está. O óxido de alumínio é mal condutor de eletricidade, e este aspecto deve ser levado em conta no acabamento final. Utensílios de limpeza Havendo necessidade ou vontade de limpeza, procede-se a uma raspagem da borra de fluxo com alumina. É conveniente que a peça já esteja fria, pois então o fluxo estará endurecido, o que facilita sua remoção. Utilizo quaisquer lâminas metálicas para este propósito, até mesmo faca de cozinha, visto que esta borra é fracamente aderente. Em seguida, com uma escova de dente, faço uma boa esfregação com pasta dental (que é abrasiva). Este último cuidado proporciona a limpeza fina e dá o brilho final. Agora que o substrato de estanho está incorporado à peça de alumínio, termina-se a soldagem com a outra peça, que pode ser de cobre ou mesmo outra peça com substrato de estanho. A potência do ferro de soldar agora fica por conta do convencional, pois não há mais necessidade de aplicação de substratos de estanho. Leva-se em conta apenas as dimensões das peças para escolha do ferro de soldar, e esta experiência já é de domínio do técnico ou experimentador. Nesta fase pode-se utilizar um maçarico a gás, desde que a outra peça esteja também devidamente estanhada (a liga de estanho não forma óxido). Na figura 4 se pode ver um estator fixo de um capacitor variável do tipo “butterfly” que está sendo construído para ser utilizado em uma antena de laço magnético (“magnetic loop”). O estator de alumínio foi recortado com tesoura em chapa de alumínio de espessura 0,8 mm. A borda do furo (com diâmetro 3/8”) foi limada e sobre esta borda limada foi aplicado o substrato de estanho por meio da técnica que descrevi. Figura 4 – Peça em alumínio pronta para soldagem com o substrato de estanho já aplicado O acabamento da camada de estanho não importa neste instante, e pode-se perceber que a superfície se encontra algo irregular. Ocorre que tanto estanho quanto alumínio são muito bons propagadores de calor, transferindo-o muito facilmente para toda a superfície da peça, fazendo com que o estanho trabalhe no limite de temperatura de seu estado líquido. Outro motivo para a dificuldade de acabamento prévio está no fato da aderência do estanho sobre alumínio ser mecanicamente muito forte, o que dificulta o trabalho de espalhamento produzido pela ponta do ferro de soldar. O acabamento do estanho melhora quando se utiliza ferro de solda de elevada potência. Para aplicação do estanho na peça da figura 4, que tem uma superfície total de cerca de 30 cm2, foi utilizado um ferro de solda com potência de 50W. Notar que ainda sobrou uma pequena parte do fluxo de solda contaminado com óxido de alumínio à volta do substrato de estanho. Na soldagem final com outra peça de cobre ou alumínio, pode-se então usar ferro de solda muito potente, ou mesmo maçarico a gás, para produzir um fino acabamento. No furo com borda estanhada do estator da figura 4 será posicionado um cano de cobre de diâmetro externo de 3/8” utilizado em refrigeração. Este pedaço de cano de cobre funcionará como um suporte para os vários estatores que comporão as seções capacitivas do capacitor variável. Cada estator será soldado neste “barramento” de cobre a uma distância de 4,8 mm, fazendo com que todas as seções capacitivas estejam ligadas em paralelo. O processo passo a passo Eis um exemplo de soldagem de uma peça de alumínio com outra peça de cobre. A peça em alumínio é um estator rotativo de um capacitor “butterfly” e a peça de cobre um separador de montagem, feito a partir de um cano de cobre para refrigeração com 3/8” de diâmetro externo. Ambos são visíveis no estado original na figura 5. Figura 5 – As peças a serem unidas por estanho Passo 1 A área da peça de alumínio que deve receber é preparada por raspagem, como se pode ver na figura 6. A largura da área raspada é de cerca de 1mm. Usei uma lima, mas poderia ter sido uma ponta de faca de aço inox. Figura 6 – Preparação da peça de alumínio Passo 2 O substrato de estanho é aplicado sobre a área raspada, em torno de 3mm de comprimento de cada vez. A raspagem com a ponta do ferro de soldar é fundamental, e o processo é visto na figura 7. Nos trechos onde possa haver dificuldade de estanhamento, raspar a peça novamente com a lima ou com uma faca de aço. Figura 7 – Aplicação do substrato de estanho Passo 3 Na figura 8, o estanhamento está concluído. Figura 8 – Peça de alumínio concluída Passo 4 A peça de cobre, previamente limpa, é posicionada no local, como se vê na figura 9. Figura 9 – Posicionamento da peça de cobre Passo 5 Com o ferro de solda de 50W, foi aplicado estanho à parte do cobre, unindo o estanho do lado de cobre com o estanho do lado de alumínio. Neste ponto, a soldadura está concluída, mas deve ser retocada. O conjunto montado é visto na figura 10. Figura 10 – Conjunto cobre-alumínio pronto Passo 6 Com o ferro de solda de 320W ou com um maçarico, o estanho de toda região soldada é novamente derretido para que nenhum defeito possa sobrar. O produto final foi então limpo com pasta de dentes. A figura 11 mostra o resultado final do processo Figura 11 – Detalhe do produto final O autor autoriza a reprodução total deste texto em quaisquer meios de comunicação, desde que o crédito de autoria seja preservado e citado. O autor também autoriza a tradução do presente texto para quaisquer idiomas, bem como a livre circulação por todos os meios, garantido o crédito de autoria. PY2IAV – Sávio (Engenheiro e Físico) 28 de Novembro de 2.010