A UTILIZAÇÃO DO JOGO “A SENHA” PARA TRABALHAR A PERMUTAÇÃO SIMPLES EM TURMAS DE ENSINO MÉDIO Igor Jean Ferreira1 Patrícia Evangelista Sales2 Rosana Maria Mendes3 1 Universidade Federal de Lavras/Dex, [email protected] ²Universidade Federal de Lavras/Dex,patrí[email protected] ³Universidade Federal de Lavras/Dex, [email protected] Resumo O presente relato de experiência traz as observações de um grupo de trabalho do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) da Universidade Federal de Lavras (UFLA); sobre a utilização de um jogo para a inserção do conteúdo de Análise Combinatória – Permutação Simples em turmas de segundo ano do ensino médio de uma escola da rede pública de Lavras – Minas Gerais. Trabalhamos na perspectiva de resolução de problemas. Nossos objetivos eram que os alunos explorassem, aprofundassem e associassem o jogo ao conteúdo matemático que estava sendo abordado e que através deste conseguissem entender melhor os conceitos. Palavras-chave: Resolução de Problemas, Jogo, Análise Combinatória, Permutação Simples, PIBID. O PIBID MATEMÁTICA NA UFLA O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) da área de Licenciatura em Matemática da Universidade Federal de Lavras (UFLA) é composto por 24 bolsistas licenciandos, por quatro professores orientadores da UFLA e quatro professores supervisores das escolas da rede pública da cidade de Lavras MG. O programa em questão é organizado em três subgrupos, trabalhamos com ensino fundamental, ensino médio e educação especial. Esse relato traz a experiência vivida de um grupo que atua com o segundo ano do ensino médio. Esse é composto por seis bolsistas divididos em três duplas, sendo que cada dupla desenvolve as atividades em salas diferentes. As atividades são planejadas em reuniões conjuntas e seguem o mesmo plano de ações. O grupo conta também com dois professores doutores que orientam e supervisionam os estudos e os trabalhos na universidade e um professor supervisor, que fica a cargo de supervisionar os trabalhos realizados na escola. O programa escolhe previamente um tema a ser trabalhado por um período de tempo, este é cuidadosamente estudado com antecedência na universidade por meio degrupos de estudos críticos e materiais técnicos científicos. Neste semestre, estávamos trabalhando com o tratamento de informação, que visa ler e interpretar sobre diversos assuntos, coletar e organizar as informações e formular perguntas, tais habilidades são essenciais para o exercício da cidadania. Devido ao pouco tempo estimado para trabalhar com os conteúdos estabelecidos pelo Currículo de Base Comum (CBC), e por ainda usarmos uma das quatro aulas de matemática disponíveis por semana para exercer as atividades do PIBID, optamos juntamente com o professor, por realizar atividades dentro do conteúdo estipulado pelo livro didático, Análise Combinatória. Optamos também por trabalhar usando a perspectiva de Resolução de Problemas, uma vez que esta “desenvolve nos alunos a convicção de que eles são capazes de fazer matemática e de que a matemática faz sentido”(VAN DE WALLE 2007 p.59). O PLANEJAMENTO DA ATIVIDADE Ao definirmos que o conteúdo a ser trabalhado seria Análise Combinatória, escolhemos primeiramente estudar sobre este conjunto de conceitos, então foi pedido para que cada bolsista estudasse individualmente os conceitos que trataríamos e levasse na reunião posterior tudo aquilo que ele viu para que fosse discutido e sintetizado de forma a construir uma normatização que seria usada pelo grupo no decorrer das atividades, de forma a não serem usadas diferentes formalizações dos mesmos conceitos pelo grupo. Buscamos as concepções usadas em cada conceito para compreendermos o porquê das fórmulas e como chegaram nesta padronização. Quando começamos a pensar sobre as atividades em sala de aula surgiu o primeiro questionamento: Como trabalhar com Análise Combinatória sob uma perspectiva de Resolução de Problemas? Para responder a esta, buscamos qual metodologia seria a mais adequada para se trabalhar com o conceito do Princípio Multiplicativo. Escolhemos o jogo, uma vez que O uso de jogos como recurso às aulas de matemática favorece um ambiente adequado para a resolução de problemas, aplicação e exploração de conceitos matemáticos e/ou para um aprofundamento destes. Assim, torna-se relevante a prática de jogos nas aulas de matemática, pois esses propiciam momentos de desbloqueios dos estudantes que, normalmente apresentam aversão a essa disciplina (CARVALHO,2009, p.31). O jogo escolhido foi “A Senha”, como uma maneira de iniciar o ensino de Análise Combinatória de uma maneira interativa. Confeccionamos o nosso próprio tabuleiro com 10 linhas constituídas por cinco circunferências maiores e cinco circunferências menores como mostra a figura: Figura 1: Tabuleiro do jogo “A Senha” Fonte – HAAS, D.B, 2012, p.32 Antes que o jogo fosse levado à escola, analisamos as regras e o jogamos por mais de uma vez no Laboratório de Ensino de Matemática (LEM) da nossa universidade com os bolsistas do grupo, o professor supervisor e os dois professores orientadores do projeto, para garantir sua funcionalidade diante da nossa proposta de conteúdo. A Atividade O primeiro momento da atividade foi a elaboração de como seria adaptado este jogo à aula sobre o princípio multiplicativo. Estipulamos as regras: inicialmente usaríamos senhas coloridas, para que pudéssemos elaborá-las, usaríamos canetas hidrocor de cores diferentes, dividiríamos a turma em duplas e cada uma receberia cinco canetas coloridas e dois tabuleiros do jogo. O jogador que iria começar a jogada seria escolhido pelo jogo par ou ímpar. Após determinar quem começaria o jogo, o jogador (A) deveria definir quais as cores que seriam utilizadas em sua senha de forma que deveria mostrá-las ou deixar claro quais seriam. As primeiras senhas deveriam conter três cores selecionadas pelo jogador A e não poderia haver repetição. A ordem da senha iria de acordo com a escolha de quem estivesse elaborando-a. O jogador A deveria pintar as três primeiras circunferências maiores de sua folha, e o outro jogador (B), que iria adivinhar as senhas, deveria usar também suas três primeiras circunferências maiores para lançar seus palpites na tentativa de adivinhar a ordem das cores da senha de seu colega . Após dar um palpite, o jogador B entregaria sua folha ao jogador A que vai usar as circunferências pequenas para analisar a senha que foi suposta. Se a cor estivesse no lugar certo, deveria preencher toda a circunferência pequena com uma caneta. Se estiver na posição errada deveria marcar um X também na circunferência pequena correspondente a cor da circunferência grande. Na escola, ao levarmos o jogo para a sala de aula, explicamos as regras e entregamos os materiais aos alunos (dois tabuleiros e cinco canetas hidrocor). Houve confusão dos alunos durante a primeira rodada do jogo. Como foi entregue a cada dupla cinco canetas coloridas, o jogador A deveria, inicialmente escolher apenas três cores para a sua primeira senha e mostrá-las ao seu adversário, porém, algumas duplas já começaram com mais de três cores, outras faziam a senha e misturavam as canetas usadas com as não usadas para que o adversário tivesse que adivinhar as cores usadas na senha e só depois dar um palpite sobre a ordem das cores, que era nossa finalidade. Figura 2: Tabuleiro usado do jogo Inicialmente, jogando com três cores o número de possibilidades de senhas distintas seriam seis. O intuito da primeira rodada era que os alunos percebessem que existia um número finito de possibilidades e que á cada rodada, os palpites vão ficando mais fáceis e limitados já que não poderia haver repetições de senhas. Figura 3: Alunos jogando o jogo “A senha” Após isso, era o momento de fazer novas senhas com quatro cores, as possibilidades de senha aumentariam, mas os alunos conseguiriam chegar ao número exato de senhas usando apenas quatro cores sem repetição? Este segundo momento da atividade só foi encerrado na semana seguinte quando retornamos na escola e demos sequência às atividades. Na semana seguinte voltamos com a mesma atividade e pedimos que continuassem elaborando as senhas de quatro cores. Muitos não descobriram que 24 seria o número exato de senha, alguns desistiram da atividade quando viram que era o mesmo jogo da aula anterior. Dividimos a aula em dois momentos o primeiro para retomar o jogo e o segundo para responder um questionário sobre as atividades que estávamos trabalhando. Para o segundo momento, levamos perguntas para que os alunos refletissem sobre os métodos utilizados em cada rodada: “Sabendo que o desafiador fez a seguinte aposta (rosa, amarelo, verde) e recebeu a dica a seguir ( X, X ), qual a melhor estratégia para a próxima jogada?” A partir dessas perguntas fizemos com que os alunos pensassem matematicamente sobre as estratégias utilizadas em cada jogada. Segue na imagem a seguir uma das respostas dos alunos. Figura 4: Resposta do aluno “ se ele acertou a primeira cor e o resto estava errado depois é só inverter as que ele errou” A escolha desta atividade foi minuciosa, preparamos cada detalhe e testamos tudo entes de levar para a escola, o questionário que foi parte da segunda aula, foi elaborado e discutido pelos bolsistas, juntamente com dois professores da universidade e o professor da escola pública. Escolhemos um jogo de regras porque para Grando 2000, p. 16, (...) o jogo de regras trabalha com a dedução, o que implica numa formulação lógica, baseada em raciocínio hipotético-dedutivo, capaz de levar as crianças a formulações do tipo: teste de regularidades e variações, controle das condições favoráveis, observação das partidas e registro, análise dos riscos e possibilidades de cada jogada, Pesquisar, problematizar sobre o jogo, produzindo conhecimento. Dando continuidade ao segundo momento na escola, após o questionário os bolsistas iniciaram uma discussão com a turma sobre as respostas e as melhores estratégias para seguirem nas rodadas posteriores. A partir deste momento iniciou-se a formalização do conceito sobre o princípio multiplicativo, seguimos os conceitos do livro didático dos alunos “Permutação de n elementos é qualquer sequência (agrupamento ordenado) desses n elementos, (n!)”. Com isso, encerramos todo o processo de aprendizagem sobre Permutação Simples e finalizamos com alguns exercícios relacionados ao mesmo processo do jogo, elaboração de senhas, números de telefones entre outros. Conclusão Acreditamos que a prática pedagógica utilizada para a abordagem do ensino de Análise Combinatória permitiu que as fórmulas fossem obtidas por meio de conjecturas. Os alunos estavam habituados com aulas expositivas, que embora seja um método válido, não atraía o interesse da turma. A abordagem feita através do jogo “A Senha” sem que fosse mencionado o conteúdo, fez com que os alunos argumentassem sobre algo não comentado e chegassem por meio do próprio raciocínio, à idéia de Permutação, usando suas próprias palavras, “mudar as cores de lugar”, “inverter as posições”, todas relacionadas às ordens dos elementos. A utilização desta atividade foi importante para nós, professores em formação, que a introdução de um conteúdo de forma dinâmica permite uma melhor participação e interação dos alunos durante o processo de ensino de Análise Combinatória. Consideramos também o quão significativo foram os estudos iniciais para adquirir domínio do conteúdo a ser desenvolvido. Pois só tínhamos contato com o tema na perspectiva de aluno, e dentro da proposta do PIBID, em que os bolsistas ministram as aulas, precisaríamos dominar o conteúdo de uma maneira satisfatória para esclarecer todas as dúvidas e questionamentos que viessem a surgir durante a realização da atividade. REFERÊNCIAS BARROSO, J.M. Conexões com a matemática.1 edição. São Paulo: Moderna, 2010. VAN DE WALLE, J.A.Ensinando pela Resolução de Problemas. In: VAN DE WALLE, J.A. Matemática no ensino fundamental. Porto Alegre: Artmed, 2009. v.6º,p. 57-81. HAAS, D.B. Uma experiência de contagem no ensino médio.2012.72 .f. Trabalho de conclusão do curso de Matemática Licenciatura, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2012 CARVALHO, G.Q. O uso de jogos na resolução de problemas de contage: um estudo de caso em turma do 8º ano do Colégio Militar de Porto Alegre.2000. Dissertação de Mestrado em Ensino de Matemática, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,Porto Alegre, 2000. GRANDO, R.C. O conhecimento matemático e o uso de jogos na sala de aula.2000. 239.f. Tese de Doutorado em Educação Matemática – Faculdade deEducação , Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2000.