ENADE COMENTADO 2007 Medicina Chanceler Dom Dadeus Grings Reitor Joaquim Clotet Vice-Reitor Evilázio Teixeira Conselho Editorial Ana Maria Lisboa de Mello Elaine Turk Faria Érico João Hammes Gilberto Keller de Andrade Helenita Rosa Franco Jane Rita Caetano da Silveira Jerônimo Carlos Santos Braga Jorge Campos da Costa Jorge Luis Nicolas Audy – Presidente José Antônio Poli de Figueiredo Jurandir Malerba Lauro Kopper Filho Luciano Klöckner Maria Lúcia Tiellet Nunes Marília Costa Morosini Marlise Araújo dos Santos Renato Tetelbom Stein René Ernaini Gertz Ruth Maria Chittó Gauer EDIPUCRS Jerônimo Carlos Santos Braga – Diretor Jorge Campos da Costa – Editor-chefe Maria Helena Itaqui Lopes Caroline de Cássia Monteiro (Organizadoras) ENADE COMENTADO 2007 Medicina Porto Alegre 2010 © EDIPUCRS, 2010 CAPA Rodrigo Valls REVISÃO DE TEXTO Rafael Saraiva EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Gabriela Viale Pereira Questões retiradas da prova do ENADE 2007 da Medicina EDIPUCRS – Editora Universitária da PUCRS Av. Ipiranga, 6681 – Prédio 33 Caixa Postal 1429 – CEP 90619-900 Porto Alegre – RS – Brasil Fone/fax: (51) 3320 3711 e-mail: [email protected] - www.pucrs.br/edipucrs Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) E56 ENADE comentado 2007 : medicina [recurso eletrônico] / Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (organizadoras). – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : EDIPUCRS, 2010. 75 p. Sistema requerido: Adobe Acrobat Reader Modo de acesso: <http://www.pucrs.br/orgaos/edipucrs/> ISBN 978-85-397-0037-0 1. Ensino Superior - Brasil. 2. Exame Nacional de Desempenho de Estudantes. 3. Medicina – Estudo e Ensino. I. Lopes, Maria Helena. II. Monteiro, Caroline. CDD 378.81 Ficha Catalográfica elaborada pelo Setor de Tratamento da Informação da BC-PUCRS. SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ..................................................................................................... 6 COMPONENTE ESPECÍFICO - QUESTÕES OBJETIVAS QUESTÃO 11 ............................................................................................................. 8 QUESTÃO 12 ............................................................................................................. 9 QUESTÃO 13 ........................................................................................................... 11 QUESTÃO 14 ........................................................................................................... 13 QUESTÃO 15 ........................................................................................................... 14 QUESTÃO 16 ........................................................................................................... 18 QUESTÃO 17 ........................................................................................................... 20 QUESTÃO 18 ........................................................................................................... 21 QUESTÃO 19 ........................................................................................................... 22 QUESTÃO 20 ........................................................................................................... 23 QUESTÃO 21 ........................................................................................................... 24 QUESTÃO 22 ........................................................................................................... 26 QUESTÃO 23 ........................................................................................................... 28 QUESTÃO 24 ........................................................................................................... 30 QUESTÃO 25 ........................................................................................................... 34 QUESTÃO 26 ........................................................................................................... 36 QUESTÃO 27 ........................................................................................................... 38 QUESTÃO 28 ........................................................................................................... 40 QUESTÃO 29 ........................................................................................................... 43 QUESTÃO 30 ........................................................................................................... 46 QUESTÃO 31 ........................................................................................................... 48 QUESTÃO 32 ........................................................................................................... 50 QUESTÃO 33 ........................................................................................................... 52 QUESTÃO 34 ........................................................................................................... 55 QUESTÃO 35 ........................................................................................................... 58 QUESTÃO 36 ........................................................................................................... 60 COMPONENTE ESPECÍFICO - QUESTÕES DISCURSIVAS QUESTÃO 37 ........................................................................................................... 64 QUESTÃO 38 ........................................................................................................... 66 QUESTÃO 39 ........................................................................................................... 69 QUESTÃO 40 ........................................................................................................... 71 PROFESSORES COLABORADORES PARA ELABORAÇÃO DAS RESPOSTAS . 74 APRESENTAÇÃO A construção do conhecimento é tarefa multivariada. Aos professores cabe a seleção de materiais de aprendizagem adequados e estímulos apropriados para que os alunos possam buscar o seu próprio desenvolvimento ativamente. É dessa forma que o material ora disponibilizado para estudo foi concebido. Trata-se de questões que foram apresentadas nos exames ENADE, nas duas versões do mesmo, em 2004 e 2007. As questões foram em parte respondidas por alunos da Faculdade de Medicina, que estão concluindo o curso, neste ano de 2010, e também por professores das respectivas áreas abordadas, incluindo-se comentários com referências para busca da complementação de leitura e estudo. O resultado desse movimento coletivo, no qual se buscou a qualidade para auxiliar o estudo dos alunos torna-se agora, com muita satisfação, disponível através deste e-book. Agradecemos muito a todos os colaboradores que tornaram possível esse empreendimento. Direção da FAMED e Membros da Comissão ENADE Diretor: Ivan Carlos Antonello Vice-Diretora e Coordenadora da Comissão ENADE: Maria Helena Itaqui Lopes Membros da Comissão ENADE: Alfredo Cataldo Neto Carlos Kupski Hamilton Petry de Souza Mariangela Badalotti Margareth Salerno Vinicius Duval da Silva 6 Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (Orgs.) COMPONENTE ESPECÍFICO QUESTÕES OBJETIVAS QUESTÃO 11 O médico da Unidade Básica de Saúde é acionado pela enfermeira, por solicitação dos pais, para averiguar uma possível reação pós-vacinal num lactente de 2 meses, do sexo masculino. A mãe relata que, 4 horas após receber as vacinas programadas, a criança passou a apresentar crise de choro inconsolável que já perdurava por 3 horas. Diante do quadro, o médico, acertadamente, notificou o caso como sendo uma provável reação devido à vacina contra (A) tétano. (B) poliomielite. (C) difteria. (D) coqueluche. (E) Haemophilus influenzae. Gabarito: D Comentários: A)Tétano – Pode provocar reações locais, como dor, eritema, edema ou induração local por até dez dias. B) Poliomielite – O principal risco associado (vacina oral) é a paralisia infantil associada à vacina. O risco dessa eventualidade é de um para 2,4 milhões de doses oferecidas à crianças saudáveis. O risco é muito maior em imunodeprimidos (cerca de 3 mil vezes maior). C) Difteria – Apenas dor e eritema no local da aplicação. D) Coqueluche – É o componente da vacina DPT que mais frequentemente causa efeitos colaterais. Dentre eles o choro persistente por mais de 3 horas, pode ocorrer de 380 a 550 para 100.000 doses oferecidas da vacina de células inteiras (DPT) e cai para 26 a 100 para a vacina acelular (DpaT). E) Haemophilus inflenzae – As reações adversas locais (dor, eritema, induração) e gerais (febre, irritabilidade, sonolência) são raras e de baixa intensidade. Em mais de 90% dos casos, os sintomas se limitam as primeiras 24 horas após a aplicação. Referência 1. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Calendário Básico de vacinação da criança. Disponível em: http:portal.saude.gov.br Acessado em: 15/6/2010. 8 Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (Orgs.) QUESTÃO 12 Um menino com 1 mês de vida, raça negra, morador de área urbana, com condições de vida adequadas, é levado à Unidade Básica de Saúde para atendimento de rotina e vacinação, pelos pais, que não têm queixas. Não oferecem nenhum medicamento ao seu filho, que recebe aleitamento materno exclusivo. O médico avalia a criança, que tem exame físico normal, com ganho de 40 g/dia desde o nascimento. Pergunta se oferecem vitamina D ao filho e a mãe diz que, apesar de ter sido prescrita pelo médico da maternidade, ela não considera necessária, já que oferece exclusivamente o seio. O médico deverá conversar com os pais e propor uma conduta. Considera-se correto que o médico (A) admita que a suplementação pode ser dispensada enquanto a criança estiver em aleitamento materno exclusivo, mas deverá ser iniciada assim que for introduzido outro alimento ou fórmula láctea. (B) esclareça que morar em área urbana e ser de raça negra são considerados fatores de risco para raquitismo e que a oferta de vitamina D é segura e evita o aparecimento desta doença. (C) admita que a suplementação é facultativa, desde que programem a coleta de cálcio e fósforo no sexto mês de vida da criança. (D) concorde com a mãe acerca do real efeito protetor do leite materno, mas aponte que a conduta, por ser universal, não pode ser individualizada, independentemente de não haver risco, como neste caso. (E) advirta a mãe sobre o atraso no início da oferta da vitamina D e esclareça que seu filho tem risco de desenvolver raquitismo, que pode levar a deformidades ósseas e predispor ao desenvolvimento de cretinismo. Gabarito: B Comentário: A prevenção do raquitismo através da exposição solar está na dependência do tempo de exposição ao sol, local de moradia (zona rural ou urbana), cor da pele, entre outros, sendo que a pele de cor mais escura diminui a absorção, assim como morar em área urbana. Devido a todas essas variáveis, a Academia Americana de Pediatria recomenda a administração de 200UI de vitamina D por dia para todas as crianças, mesmo as amamentadas exclusivamente ao seio materno, devendo ser iniciada nos primeiros 2 meses de vida. Assim, a assertiva correta é o item (B). A quantidade de vitamina D do leite humano é insuficiente, pois tem habitualmente uma concentração de 25 UI/L, portanto a assertiva (A) não é correta. ENADE Comentado 2007: Medicina 9 Não há indicação de aferição de níveis séricos de cálcio e fósforo, como afirma o item C, assim como a administração não é facultativa, conforme a recomendação acima descrita. Crianças negras são especialmente suscetíveis ao raquitismo, sendo este um fator de aumento de risco, estando, portanto, incorreta a assertiva (D). O Cretinismo é uma deficiência mental causada pelo hipotireoidismo congênito, e não tem correlação com deficiência de vitamina D, como afirma a assertiva (E). Referência 1. Prevention of Rickets and Vitamin D Deficiency: new guidelines for vitamin D intake: Pediatrics, vol.111, nº 4, p. 908-910, 2003. 10 Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (Orgs.) QUESTÃO 13 Um menino, com 3 anos e meio de idade, morador de zona rural, é levado ao médico pelos pais, que se queixam que a criança está branquinha e se cansa fácil. Nascida em hospital distante 30 km do domicílio, os pais puderam levá-la ao médico apenas 4 vezes, uma vez no primeiro ano de vida. Aleitamento materno exclusivo até 8 meses de vida. Após o exame físico (peso e altura no percentil 50), o médico observa palidez intensa e solicita exames, abaixo descritos (entre parênteses, valores normais). Hemograma: Hb: 7,5 g/dL (11-14,5); Ht: 25% (33-43); VCM: 62 fL (74-89); HCM: 21 p. (24-32); CHCM: 26 g/dL (32-37); RDW (variação do volume eritrocitário): 21% (12-14). Leucócitos: 7.500/mm3 (diferencial dentro dos limites da normalidade). Plaquetas: 475.000/mm3 (150.000-400.000 /mm3). Capacidade total de ligação do ferro: 655 μg/dL (250-425 μg/dL). Ferro sérico e Ferritina: em análise. Pode-se afirmar que: (A) a principal hipótese é de anemia ferropriva, uma vez que, além da microcitose e hipocromia, observa-se elevada variação do volume eritrocitário. (B) a presença de microcitose e hipocromia em criança bem nutrida impõe a αtalassemia como principal diagnóstico. (C) o diagnóstico de β-talassemia (traço) é o mais provável, uma vez que há grande variação do volume eritrocitário e a criança é bem nutrida, além de ser a hemoglobinopatia mais freqüentemente diagnosticada nesta faixa etária. (D) o diagnóstico de anemia falciforme deve ser excluído com a realização da prova de falcização, uma vez que a alta capacidade de ligação do ferro e a acentuada anemia caracterizam este diagnóstico nesta idade. (E) a deficiência da atividade da G6PD (glicose-6-fosfato desidrogenase) nas hemácias é a principal hipótese diagnóstica, pois trata-se de um caso de anemia intensa, certamente aguda (criança com peso normal), em criança do sexo masculino. Gabarito: A Comentário: A) alternativa correta: anemia ferropriva apresenta-se com microcitose, hipocromia e aumento do elevada RDW (variação do volume eritrocitário). ENADE Comentado 2007: Medicina 11 B) errada: criança bem nutrida não significa aporte de ferro adequado. C) errada: na β-talassemia (traço) a variação do volume eritrocitário é menor ou normal e no traço talassêmico em geral a anemia é leve. D) errada: anemia falciforme não tem alta capacidade de ligação do ferro. E) errada: deficiência da atividade da G6PD (glicose-6-fosfato desidrogenase) é uma anemia hemolítica, com VCM normal ou elevado. Referência 1. Braunwald E., et al. Harrison’s Principles of Internal Medicine. 16th ed. McGraw-Hill, 2006, p. 586-610. 12 Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (Orgs.) QUESTÃO 14 Um lactente de 2 meses é admitido em uma enfermaria pediátrica com quadro de vômitos repetidos e desidratação. Os pais negam febre ou outros sintomas, mas referem que o filho tem vômitos pós-alimentares há 1 mês. Ao exame físico, a criança apresenta-se desidratada de algum grau, hipoativa e é possível perceber pequena tumoração à palpação abdominal do epigástrio. Diante deste quadro, a hipótese diagnóstica mais provável, o exame complementar mais adequado e o tratamento são respectivamente: (A) estenose hipertrófica do piloro; endoscopia; jejum e descompressão gástrica. (B) pâncreas anular; colangiopancreatografia; jejum e descompressão gástrica. (C) estenose hipertrófica do piloro; ultra-sonografia de abdome; tratamento cirúrgico. (D) estenose hipertrófica do piloro; pHmetria; jejum e descompressão gástrica. (E) pâncreas anular; pHmetria e tratamento cirúrgico. Gabarito: C Comentário: Essa questão apresenta um tema relevante em Pediatria Clínica e Cirúrgica, assunto de discussões clínicas no âmbito das especialidades citadas. A resposta correta é a assertiva (C): apresenta um quadro clínico clássico de Estenose Hipertrófica de Piloro, patologia prevalente (2 a 3:1.000 nascimentos vivos) e, raramente, o surgimento dos sintomas ocorre ao nascimento, bem como após os 5 meses de idade. Com relação a investigação diagnóstica, considera-se a ultrassonografia abdominal altamente sensível e, por permitir a visualização direta da musculatura pilórica, tem sido aclamada como método de escolha para diagnóstico e/ou exclusão de EHP. Com relação ao tratamento indicado: é sempre cirúrgico, não havendo indicação cirúrgica de urgência, pois deve haver cuidados pré-operatórios importantes, tais como correção dos distúrbios eletrolíticos previamente à cirurgia; e o procedimento preconizado é a Piloromiotomia clássica de Fredet-Ramsted somente. Referências 1. Ketzer de Souza J.C. Estenose Hipertrófica de Piloro. Cirurgia Pediátrica Teoria e Prática. 1ª ed.São Paulo: Roca Ltda, 2008, p.345-350. 2. Haller JO, Cohen HL. Hypertrophic pyloric stenosis: diagnosis using US. Radiology 1986;161:335– 9. ENADE Comentado 2007: Medicina 13 QUESTÃO 15 Mãe leva o seu filho de 5 anos a consulta ambulatorial na Unidade Básica de Saúde, queixando-se que o mesmo estaria muito baixo. Refere que o menino é o menor entre os amiguinhos. A criança não apresenta antecedentes mórbidos significativos. Ao exame físico, observa-se que o menor é clinicamente normal e encontra-se no percentil 10 para a idade. O pai e a mãe têm estaturas de 1,72 m e 1,60 m, respectivamente. A melhor conduta a ser adotada neste momento é (A) encaminhar o caso para um endocrinologista pediátrico, para avaliação e seguimento. (B) iniciar a investigação de baixa estatura com a realização de dosagem de hormônio de crescimento (GH) basal. (C) realizar prova terapêutica com GH por um período de 3 meses e reavaliar a curva de crescimento. (D) realizar exame de idade óssea, para descartar hipopituitarismo. (E) tranquilizar a mãe, pois a criança encontra-se nos limites de normalidade. Gabarito: E Comentário: O Ministério da Saúde e a Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) adotam os seguintes parâmetros para avaliação do estado nutricional de crianças (menores de 10 anos): peso por idade, estatura por idade, peso por estatura e IMC por idade. Os pontos de corte para avaliação do estado nutricional da criança utilizados são listados a seguir. Pontos de corte de peso para idade para crianças menores de 10 anos < Percentil 0,1 Peso muito baixo para idade ≥ do Percentil 0,1 e < Percentil 3 Peso baixo para a idade ≥Percentil 3 e < Percentil 97 Peso adequado ou eutrófico ≥Percentil 97 Peso elevado para a idade Pontos de corte de estatura para idade para crianças menores de 10 anos < Percentil 3 Baixa estatura para a idade ≥ Percentil 3 Estatura adequada para a idade 14 Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (Orgs.) Pontos de corte de peso por estatura para crianças menores de 10 anos < Percentil 3 Peso baixo para estatura ≥ Percentil 3 e < Percentil 97 Peso adequado ou eutrófico ≥ Percentil 97 Peso elevado para a estatura Pontos de corte de IMC por idade para menores de 20 anos < Percentil 3 Baixo IMC para idade ≥ Percentil 3 e < Percentil 85 IMC adequado ou eutrófico ≥Percentil 85 e < Percentil 97 Sobrepeso ≥ Percentil 97 Obesidade O registro periódico do peso e estatura da criança na caderneta de saúde da criança é considerado o melhor método de acompanhamento do crescimento infantil. Atualmente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde recomendam a utilização dos valores de referência para o acompanhamento do crescimento e ganho de peso das Curvas da OMS de 2006 (crianças menores de 5 anos) e 2007 (faixa etária dos 5 aos 19 anos). Embora não se trate de um caso de baixa estatura, são feitas algumas considerações a respeito dessa condição. Quando a criança está abaixo do percentil 3 apresenta baixa estatura. Nesse caso, também deve-se obter a altura de ambos os pais porque o cálculo do alvo parental indica o canal de crescimento da criança. A determinação da estatura-alvo do paciente é feita utilizando-se as fórmulas a seguir: Meninas = [altura da mãe + (altura do pai – 13 cm) / 2] ± 9 Meninos = [altura do pai + (altura da mãe +13 cm) / 2] ± 10 De modo geral, o paciente deve ser revisto três meses depois, para o cálculo da velocidade de crescimento. Na nova consulta também se avalia a idade óssea. Apresenta-se a seguir um algoritmo de decisão com respeito ao diagnóstico de baixa estatura. ENADE Comentado 2007: Medicina 15 Apesar de existirem patologias determinantes de baixa estatura, as causas mais frequentes de baixa estatura na infância são variações extremas da normalidade, casos em que a velocidade de crescimento é normal. Em relação à baixa estatura sem causas patológicas, os dois grupos mais citados são descritos a seguir: Baixa estatura familiar (genética) Crianças que crescem abaixo do percentil 3 com velocidade de crescimento normal, cuja trajetória de crescimento vai ao encontro do canal familiar. Os pais são baixos (um ou ambos) e uma parte variável do canal familiar vai estar abaixo do percentil 3; portanto, essas crianças podem permanecer com baixa estatura na vida adulta. Não há atraso da idade óssea, e a puberdade e o estirão puberal ocorrem na idade cronológica usual. 16 Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (Orgs.) Baixa estatura constitucional É também chamada de atraso constitucional do crescimento e maturação. Essas crianças nascem com tamanho normal, apresentam uma desaceleração do crescimento no primeiro ou segundo ano de vida, mantendo-se abaixo do percentil 3, com velocidade normal durante toda a infância. Apresentam um atraso significativo da idade óssea e o início da puberdade, o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários e o estirão também atrasam. Os pais não são baixos e o canal familiar encontra-se acima do percentil 3, com potencial normal para estatura final. Frequentemente há uma história de atraso puberal na família. Referências 1. Aerts DR, Giugliani ER. Vigilância do estado nutricional da criança. In: Duncan B, Schmidt MI, Giugliani ER, editores. Medicina ambulatorial: condutas clínicas em atenção primária. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2004: 180- 189. 2. Brasil. MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE POLÍTICAS DE SAÚDE. SAÚDE DA CRIANÇA. Acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil. Brasília (DF): O Ministério, 2002. (Série Cadernos de Atenção Básica, 11. Série A: Normas e manuais técnicos, p.173). 3. Brasil. MINISTÉRIO DA SAÚDE. GRUPO HOSPITALAR CONCEIÇÃO. GERÊNCIA DE SAÚDE COMUNITÁRIA. Atenção à saúde da criança de 0 a 12 anos. Maria Lucia Medeiros Lenz, Rui Flores (org.). Porto Alegre. Hospital Nossa Senhora da Conceição, 2009. Disponível em: http://www2.ghc.com.br/GepNet/publicacoes/livroatencaoacrianca.pdf. Acesso em 10/7/2010 4. Brasil. MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE. DEPARTAMENTO DE ATENÇÃO BÁSICA. COORDENAÇÃO GERAL DA POLÍTICA DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO. Incorporação das curvas de crescimento da Organização Mundial da Saúde de 2006 e 2007 no SISVAN. Disponível em: http://dtr2004.saude.gov.br/nutricao/documentos/curvas_oms_2006_2007.pdf. Acesso em 10/7/2010. 5. Brasil. MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE. DEPARTAMENTO DE ATENÇÃO BÁSICA. COORDENAÇÃO GERAL DA POLÍTICA DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO. Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN). Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/orientacoes_basicas_sisvan.pdf. Acesso em 10/7/2010. 6. Zeferino AMB, Barros Filho AA, Bettiol H, Barbieri MA. Acompanhamento do crescimento. Jornal de Pediatria. Rio de Janeiro, 2003; 79 (Supl.1): S23-S32. ENADE Comentado 2007: Medicina 17 QUESTÃO 16 Uma menina saudável, com 9 anos de idade, é levada ao pronto-socorro do hospital de referência de seu domicílio, com queixa de dor e inchaço em articulação de joelho direito há 1 dia e febre hoje. Os pais referiam queda de bicicleta e trauma fechado em perna esquerda há 10 dias, que evoluiu bem após formação de hematoma no local. Ao exame, a criança estava em bom estado, corada, hidratada e não havia envolvimento de outras articulações. O joelho direito apresentava edema, calor e hiperemia e a criança queixava-se de muita dor. O pediatra solicitou a avaliação do ortopedista, que indicou a punção da articulação, após a avaliação física e do Rx, que demonstrava edema de partes moles adjacentes e discreto alargamento da cápsula articular. Os médicos conversaram com os pais acerca da hipótese de artrite séptica e da necessidade de internação para a punção, exames de sangue e tratamento. Os pais da criança solicitam a realização de ultrassonografia antes da punção, disponível em um hospital a 250 km de distância, em uma situação de difícil locomoção. Os médicos devem (A) explicar aos pais que não há vantagem em se realizar a ultra-sonografia e que as informações obtidas com o Rx são as mesmas que podem ser extraídas da ultra-sonografia e que não poderiam autorizar a saída para outro hospital, exceto com a alta a pedido. (B) transferir a criança para internação em outro hospital, ainda que distante, pois exames de ultra-sonografia ou tomografia realmente se impõem nesta circunstância. (C) solicitar aos pais a assinatura de um termo de responsabilidade e liberá-los para procurarem um hospital que possa oferecer todos os recursos, uma vez que a punção só pode ser realizada sob a visão da ultra-sonografia. (D) tranqüilizar os pais acerca da segurança do procedimento para a análise do líquido, especialmente a bacteriologia, e da importância de se iniciar precocemente o tratamento intravenoso com oxacilina. (E) administrar antiinflamatório intravenoso e encaminhar de ambulância para a realização da ultra-sonografia e retorno, para então realizar a punção e iniciar o tratamento com vancomicina, uma vez que a artrite ocorreu após trauma fechado. Gabarito: D 18 Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (Orgs.) Comentário: Resposta A: As informações obtidas com a ecografia complementam as informações radiológicas, especialmente quanto à presença de derrame articular e sua consistência (fluido, grumoso). No entanto, em articulações superficiais, a presença de derrame articular de qualquer origem é detectável clinicamente e facilmente verificado por punção articular sob anestesia local. Adicionalmente sob o ponto de vista ético e legal, a alta a pedido em menores de idade não é praticável, sendo necessária comunicação ao conselho tutelar ou autoridade policial, quando tal atitude gerar risco para o menor. Qualquer transferência deve ser precedida de contato médico a médico para garantir a vaga e o atendimento e repassar as informações relevantes por relatório médico. Resposta B: O padrão ouro para diagnóstico da patologia é a punção articular seguida de exame bacteriológico, o que pode ser feito com anestesia local, mesmo em um ambulatório, não sendo imprescindíveis os exames sofisticados de imagem. Resposta C: A punção de articulações superficiais dispensa o uso de métodos de imagem para orientação. A exceção é a articulação do quadril (profunda) que é feita sob orientação de um intensificador de imagens, com anestesia geral. O termo de responsabilidade já foi comentado. Resposta D: A punção é realmente o padrão ouro no diagnóstico. A maior parte das infecções em crianças acima dos 4 anos é causada por Staphylococcus aureus, sendo indicada a administração de oxacilina por via intravenosa associada ou não a drenagem cirúrgica conforme as condições específicas do caso. Resposta E: A ecografia é dispensável no caso, sendo imperativa a punção articular. A Vancomicina é reservada para o caso de germes resistentes, o que não é frequente em infecções comunitárias. Referência 1. Academia Americana de Cirurgiões Ortopédicos. Atualização em conhecimentos ortopédicos – Pediatria. B. Stephens Richards MD (editor). São Paulo: Livraria Atheneu, 2002. p. 39-49. ENADE Comentado 2007: Medicina 19 QUESTÃO 17 Uma adolescente de 16 anos completos, saudável, estudante do ensino médio, procura atendimento na Unidade Básica de Saúde, sem acompanhante. Refere que já iniciou a vida sexual e gostaria de fazer uso da pílula anticoncepcional, apesar de utilizar o preservativo. O médico que a atende diz que só pode prescrever o método pedido após falar com um de seus pais ou responsável legal. A conduta do médico está (A) errada. Tal atitude pode ser considerada infração ética, pois, mesmo sendo menor de idade, a paciente mostra-se capaz de tomar decisões relativas à sua saúde e não há necessidade de comunicar aos responsáveis legais assuntos de sua vida sexual. (B) correta. A paciente é menor de idade, portanto, legalmente incapaz. É importante que seus pais ou o responsável legal saibam que ela tem vida sexual. Com a anuência deles, a pílula pode ser prescrita. (C) errada. Ele poderia prescrever a pílula anticoncepcional, desde que reforçasse a necessidade de continuar usando o preservativo e convocasse os pais ou o responsável legal para deixá-los cientes da situação. (D) errada. Não há obrigação em informar os pais ou o responsável, mas ele não pode prescrever método anticoncepcional para adolescente, devendo encaminhá-la a serviço especializado em adolescência para orientação multiprofissional. (E) correta. Ele deve exigir a presença dos pais ou do responsável, mesmo porque a pílula anticoncepcional está contra-indicada para adolescente, pelo risco de abandono do uso do preservativo. Gabarito: A Comentário: A paciente, embora menor, tem o direito a manter o conteúdo do seu contato médico protegido pelo princípio da confidencialidade. Não existe nenhuma obrigação pela parte dos médicos em comunicar aos pais da paciente qualquer orientação com relação à orientação sexual a ela dada, incluindo prescrição de contraceptivos orais. Não há obrigatoriedade de encaminhá-la a serviço especializado: serviços de atendimento primário têm como prerrogativa prescrição de fármacos a critério de seu juízo clínico. Não existe contraindicação para uso de AO em adolescentes. Referência 1. Francisconi C. F., Goldim J.R. Aspectos Bioéticos da Confidencialidade e Privacidade; Introdução à Bioética. Conselho Federal de Medicina, 1998, p. 269-284. 20 Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (Orgs.) QUESTÃO 18 Mulher de 25 anos, primigesta, vai para a primeira consulta de acompanhamento prénatal na Unidade Básica de Saúde (UBS). Sua idade gestacional, pela menstruação, é de 10 semanas. Refere enjôos, por vezes com vômitos, perdeu um pouco de peso desde que soube estar grávida. Tem tido sonolência e tonturas com escurecimento visual com relativa freqüência, melhorando ao se deitar por alguns instantes. Não toma café da manhã, pois está sempre atrasada para o trabalho, fazendo apenas duas refeições: almoço e jantar. Apesar de a gestação ser desejada, ela e o marido têm tido discussões freqüentes e ela acha que em parte por culpa dela, pois está com pouca paciência com o marido, chorando por qualquer motivo, mesmo insignificante. Está com medo de seu casamento acabar em separação. Ao exame físico, peso =61 kg, altura =1,64 m, PA = 110 x70 mmHg, pulso =80 bpm. O médico explicará à paciente que (A) os enjôos são comuns, mas como ela tem vômitos, com perda de peso e tonturas, será necessária internação por alguns dias para hidratação e medicações intravenosas. No hospital, um nutricionista orientará a dieta. (B) esses sintomas são próprios da gravidez e a orientará quanto à dieta correta e fracionada. Se for necessário, será encaminhada para um nutricionista. As alterações emocionais são comuns na gravidez. Se não houver melhora, necessitará de uma avaliação psicológica. (C) perder peso na gravidez não é normal. Por isso, ela deverá tomar vitaminas e procurar um nutricionista. Concomitantemente, deverá procurar orientação psicológica para “salvar seu casamento”. (D) os sintomas apresentados podem ser considerados próprios da gestação, exceto as tonturas e sonolência freqüentes. Por isso, a encaminhará a um especialista. Solicitará orientação nutricional e psicológica, se esses serviços forem oferecidos na UBS. (E) os sintomas apresentados são comuns na gravidez, por causa da queda dos níveis de progesterona que ocorre após a implantação embrionária, o que também leva a alterações emocionais. Gabarito: B Comentário: A resposta B é autoexplicativa, não requer comentário nenhum complementar. O único comentário pertinente, seria a questão E que fala da redução dos níveis de progesterona, que na verdade ocorre exatamente o contrário. Referência 1. Rezende J. Obstetrícia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A. 2005. 10ª ed. cap. 8, p. 143-173. ENADE Comentado 2007: Medicina 21 QUESTÃO 19 Paciente de 25 anos procura ambulatório para primeira rotina ginecológica de sua vida. Refere início da vida sexual por volta dos 15 anos e diz que já teve vários parceiros sexuais. Utiliza a pílula anticoncepcional, indicada por uma amiga, pois muitas vezes se esquece do preservativo. Ao exame ginecológico, é encontrada hiperemia no colo uterino e algumas micropapilas no intróito vaginal. Submetida a colposcopia, encontrou-se epitélio acetobranco, que, à biópsia, mostrou tratar-se de neoplasia intraepitelial cervical grau I (NIC I), com positividade para o papilomavírus humano (HPV). Nesse caso, é correto (A) suspender a pílula anticoncepcional, que é fator de risco para NIC I, e retornar em um ano para a colpocitologia oncológica. (B) tratar a paciente e seu parceiro com medicação antiviral, por ser elevada a concomitância de positividade no parceiro sexual. (C) explicar à paciente que ela tem um câncer em fase inicial e encaminhá-la para tratamento especializado, comunicando-se previamente com o colega que irá atendê-la. (D) fazer apenas controle anual e recomendar que o parceiro faça uma avaliação. (E) explicar que ela tem uma lesão que pode progredir para um câncer de colo uterino e deve submeter-se a tratamento da infecção pelo HPV. Gabarito: E Comentário: A paciente com lesão intraepitelial de baixo grau tem indicação de avaliação citológica e colposcópica no período que não exceda seis meses, observando sua regressão, a priori, de 58% no primeiro ano. O tratamento com agentes medicamentosos só ocorre em pesquisas clínicas até o presente momento. A resposta que mais se aproxima seria a alternativa E, considerando que a chance de evolução ao câncer é de apenas 1% nessas lesões de baixo grau e que o tratamento é conservador. Referência 1. Berek J. Berek & Novak: tratado de Ginecologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A. 14ª Ed. Cap. 17, p. 417-448. 22 Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (Orgs.) QUESTÃO 20 Mulher de 37 anos, um parto há 4 anos com nascimento de criança normal, procura atendimento em pronto-socorro com queixa de sangramento vaginal há cerca de uma hora. Última menstruação normal há 8 semanas, referindo teste de gravidez de urina positivo há 2 semanas. Ao exame físico, paciente afebril, observando-se sangramento vaginal em moderada quantidade, sem se notarem restos ovulares. Ao toque, colo amolecido com dilatação de cerca de 1 cm, útero de volume aumentado, compatível com o tempo de atraso menstrual. Os dados clínicos permitem afirmar: (A) Trata-se de um abortamento completo, em vista de ter ocorrido na fase inicial da gravidez. (B) As chances de ser abortamento por aneuploidia do concepto são pequenas, considerando-se que a gestação anterior foi normal. (C) Trata-se, provavelmente, de abortamento inevitável, pois há dilatação cervical e sangramento. (D) O quadro clínico caracteriza ameaça de aborto, podendo a paciente retornar para casa, necessitando apenas de repouso. (E) Ausência de restos ovulares na vagina, durante o exame ginecológico, descarta abortamento incompleto. Gabarito: C Comentário: No abortamento completo o colo está fechado. A aneuploidia (gestação com defeito genético) não é afastada por haver uma gestação normal anterior. Na ameaça de aborto o colo também está fechado e o sangramento costuma ser leve e a ausência de restos ovulares no exame vaginal não descartam abortamento incompleto. Portanto, é caso típico de abortamento inevitável, ou seja, o útero ainda contém o material ovular, eventualmente embrião vivo, mas a dilatação cervical denota essa probabilidade clínica. Referência 1. Rezende J. Obstetrícia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A. 2005. 10ª ed. cap. 23, p. 749-775. ENADE Comentado 2007: Medicina 23 QUESTÃO 21 Mulher de 23 anos procura pronto-socorro com queixa de dor em todo o abdome inferior, que iniciou há uma semana e vem piorando progressivamente. Última menstruação, há 10 dias. Nega febre, náuseas ou vômitos e refere hábito intestinal e micções normais. Relata ainda que vinha apresentando corrimento vaginal há 2 meses e estava para marcar consulta ginecológica, quando o quadro atual se iniciou. Como método anticoncepcional, refere “tabelinha” e, eventualmente, preservativo. Ao exame físico, temperatura de 37,8 °C, abdome levemente distendido, com ruídos presentes. Dor à palpação de abdome inferior, pouco mais doloroso à descompressão brusca. Ao exame ginecológico, presença de secreção purulenta no colo uterino, que se encontra hiperemiado. Ao toque vaginal, útero de tamanho normal, dor à palpação pélvica, inclusive em regiões anexiais e à mobilização cervical. É correto afirmar: (A) É um quadro infeccioso genital alto, provavelmente decorrente de uma vaginite prévia, recomendando-se cultura de secreção vaginal e tratamento com antibiótico após antibiograma. (B) Trata-se de abdome agudo infeccioso com sinais de irritação peritoneal, recomendando-se a realização de laparotomia exploradora. (C) Deve-se realizar, inicialmente, hemograma e radiografia de abdome e, havendo leucocitose ou leucopenia e sinais de íleo paralítico, indicar laparotomia de urgência. (D) Trata-se de infecção genital superior polimicrobiana por contaminação ascendente, com provável participação inicial de clamídia ou gonococo. Deve ser iniciado tratamento com esquema antibiótico de amplo espectro. (E) O diagnóstico é doença inflamatória pélvica grave com irritação peritoneal. A melhor abordagem terapêutica é a antibioticoterapia de amplo espectro seguida, em 12 horas, pela exploração cirúrgica. Gabarito: D Comentário: Trata-se de uma infecção genital ascendente de muito provável contaminação sexual (90% dos casos) por Chlamydia trachomatis (CT) ou Neisseria gonorrhoeae (NG), pois as relações sexuais não são seguramente protegidas e os sinais e sintomas são bastante evidentes, com quadro de pelve-peritonite álgica leve, febrícula, cervicite purulenta e toque vaginal doloroso. O risco de comprometimento das trompas de Falópio é significativo em infecções clinicamente evidentes, tanto 24 Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (Orgs.) por CT quanto por NG. No caso, atenção deve ser dispensada a idade da paciente e a, provável, prole não estabelecida. Nesse momento, a apresentação clínica não justifica uma intervenção cirúrgica e o tratamento com antibióticos deve ser imediato, independente da pesquisa etiológica. A doença tende a ser polimicrobiana (no caso, reforçado pela queixa da paciente de corrimento vaginal) o que justifica o uso de antimicrobianos de amplo espectro que abranja CT, NG, anaeróbios, gram-negativos e Streptococcus. Embora não haja náuseas e vômitos para uso de terapia oral, o quadro geral suscita o uso da via parenteral inicial. Um esquema que pode ser adotado é a Cefoxitina 2g a cada 6h, associada a Doxiciclina 100mg VO ou EV de 12/12h. Outra opção é a Clindamicina 900mg EV 8/8h associado à Gentamicina com dose de ataque de 2mg/kg e manutenção de 1,5mg/kg a cada 8h (cuidado deve ser dispensado com a função renal). Nesse caso, é recomendável, além do hemograma completo, uma ultrassonografia transvaginal para avaliar a possibilidade de abscesso tubo-ovariano, que justificaria a associação com Metronidazol ou Clindamicina. Não esquecer o diagnóstico diferencial com gravidez ectópica, apendicite, infecções do trato urinário, torção ou ruptura de cistos ovarianos e litíase ureteral. Referência 1. Berek J. Berek & Novak: tratado de Ginecologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A. 14ª Ed. Cap. 16, p. 404-416. ENADE Comentado 2007: Medicina 25 QUESTÃO 22 Mulher de 58 anos procura serviço médico ambulatorial queixando-se de urgência miccional com perdas urinárias e noctúria, com piora progressiva há alguns anos. Questionada, refere alguma perda urinária desencadeada com o ato de tossir ou espirrar. Menopausa aos 51 anos, sem terapêutica hormonal. Refere 4 gestações, com 3 partos vaginais hospitalares e 1 abortamento espontâneo. Durante o exame ginecológico, observou-se cistocele leve, sem perda de urina à manobra de Valsalva. A melhor opção de exame subsidiário e provável tratamento são: (A) ultra-sonografia perineal e fármaco parassimpatomimético. (B) teste urodinâmico e fármaco anticolinérgico. (C) teste do cotonete e tratamento cirúrgico. (D) teste urodinâmico e fármaco bloqueador alfa-adrenérgico. (E) ultra-sonografia perineal e tratamento cirúrgico. Gabarito: B Comentário: Essa paciente tem incontinência urinária de esforço ou de estresse e, segundo o consenso, urodinâmica não seria critério necessário para diagnóstico de incontinência urinária desse tipo. A realização desse exame deveria ser considerada em casos complexos, quando a história e exame físico não fossem suficientemente elucidativos ou em que existisse suspeita de condição oculta (neurológica subclínica). No entanto, de acordo com a Sociedade Internacional de Continência (ICS), através de seu subcomitê de normatização e terminologia, na tentativa de uniformizar as definições das disfunções do trato urinário inferior (LUTD), desde 2002 adotou como norma que toda disfunção fosse definida por sinais, sintomas e achados urodinâmicos, devendo ser aplicada para todas as idades. Portanto, a resposta certa deve iniciar por teste urodinâmico (B ou D). Quanto ao tratamento está baseado na inibição da acetilcolina, efeito parassimpaticolítico como o da atropina. Fisiopatologicamente a disfunção deriva do estímulo adicional da acetilcolina que é liberada nas terminações colinérgicas do detrusor, promovendo sua contração. Os anticolinérgicos melhoram a acomodação vesical do músculo detrusor e à medida que o volume vesical aumenta, essa medicação reduz a hiperatividade, permite alívio da urgência, oferece maior 26 Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (Orgs.) capacidade de armazenamento e retardo do primeiro desejo miccional. Assim, a resposta para o tratamento dessa situação deve ser o uso de fármaco anticolinérgico (B). Se, como já foi dito, para definir a disfunção do trato urinário inferior é necessária a urodinâmica, qualquer resposta que não envolva esse exame no presente caso é incorreta. Ao se discutir fármacos ao definirmos parassimpaticolíticos como escolha, está incorreto o uso de drogas com efeitos contrários, ou seja, parassimpaticomiméticos ou bloqueadores adrenérgicos. A cirurgia só estaria indicada em casos refratários aos antagonistas colinérgicos ou de intolerância aos seus para-efeitos. Referências 1. Guidelines for the surgical management of Female Stress Urinary Incontinence: Uptodate, 2009. 2. Jarvis GJ, Stamps S. An assessment of urodynamic examination in incontinent women. Br. J Obst Gyn, 1980; 87: 893-896. ENADE Comentado 2007: Medicina 27 QUESTÃO 23 Mulher de 66 anos, do lar, procura atendimento ambulatorial para acompanhamento médico de rotina. Foi submetida recentemente a cirurgia por fratura no fêmur direito, após queda por escorregamento em casa. Relata menopausa aos 51 anos e diz que nunca fez uso da terapêutica hormonal da pós-menopausa, apesar das fortes ondas de calor na época. Atualmente ainda sente alguns calores. Queixa-se de desânimo para as atividades diárias e não tem vontade de sair de casa, por vezes sentindo-se triste sem motivo aparente, acreditando que isso seja devido à saída do filho de casa, porque se casou, embora o veja quase diariamente. Refere que era muito alegre e disposta antes da menopausa. Nega problemas no relacionamento conjugal, mas o desejo sexual está muito diminuído. Nesse caso (A) é esperado que o hormônio folículo estimulante (FSH) esteja baixo, estimulando pouco o ovário. Assim, há menor produção de androgênios, levando a redução da libido. (B) se a paciente tivesse feito uso da terapêutica hormonal da pós-menopausa, a chance de fratura seria similar, já que ela teve uma fratura do tipo traumático. (C) os calores que a paciente sente agora não têm relação com a deficiência estrogênica, pois a menopausa ocorreu há 15 anos. Assim, a terapêutica hormonal não a aliviaria. (D) o estado depressivo da paciente decorre do desequilíbrio entre o hormônio folículo estimulante (FSH) e o luteinizante (LH), que altera os níveis de serotonina. (E) a fratura deve ter sido decorrente de osteoporose, possivelmente conseqüente ao hipoestrogenismo prolongado. Gabarito: E Comentário: a) A secreção de FSH está sob controle (por feedback negativo), majoritariamente pelos níveis de inibina e secundariamente pelos níveis de estrogênio. Tanto a inibina quanto o estrogênio estão diminuídos na pós-menopausa, o que leva à elevação dos níveis de FSH. A produção de androgênios é estimulada pelo LH, que também está aumentado na pós-menopausa. Redução na produção androgênica pode levar à diminuição da libido. 28 Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (Orgs.) b) Em torno de 50% das fraturas na pós-menopausa são secundárias ao hipoestrogenismo (osteoporose pós-menopáusica). O osso mais atingido pela osteoporose por hipoestrogenismo é o trabecular, presente predominantemente nas vértebras e nas epífises dos ossos longos (como o fêmur), por ter metabolismo mais ativo. O uso de terapia hormonal reduz significativamente a perda de massa óssea e o risco das fraturas secundárias ao hipoestrogenismo. c) Os fogachos em 75% das pacientes se mantêm por menos de cinco anos. Entretanto, 5 a 10% terão fogachos indefinidamente. A terapêutica hormonal (TH) teria grande chance de reduzir os fogachos dessa paciente, mas não deve ser indicada, pois a mesma está há mais de dez anos em hipoestrogenismo e, nesse caso, a TH aumentaria o risco de eventos cardiovasculares. d) O hipoestrogenismo é o fator envolvido na depressão, e não o “equilíbrio” entre FSH e LH, ambos aumentados nessa fase. Na fraturas de fêmur, a questão do envelhecimento per se não pode ser esquecida como causa, mas, certamente, o hipoestrogenismo levando à osteoporose tem papel fundamental. Referência 1. Berek J. Berek & Novak: tratado de ginecologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A. 14ª ed. cap. 32, p. 974-988. ENADE Comentado 2007: Medicina 29 QUESTÃO 24 Uma mulher de 60 anos, diabética, hipertensa grave de longa data, portadora de angina estável, procura o pronto-socorro com náusea e intensa dor precordial, com irradiação para o braço esquerdo, há 1 hora. Ela afirma que costuma ter dor semelhante, de menor intensidade, provocada por esforços físicos, que cede com o uso de nitrato sublingual e repouso, em 15 a 20 minutos. Estava repousando após o almoço, quando se iniciou a dor atual. Está calma, pálida, hemodinamicamente estável, pulso rítmico, com ausculta cardíaca e pulmonar normais. O eletrocardiograma mostra: O hospital não dispõe de Serviço de Hemodinâmica e não há vaga na unidade de tratamento intensivo. O diagnóstico mais provável e as medidas que devem ser implementadas na sala de emergência, após acesso venoso, repouso e monitorização cardíaca e de pressão, são: (A) angina instável; iniciar analgesia com morfina ou nitroglicerina, aspirina, clopidogrel e betabloqueador e anticoagulação profilática com heparina de baixo peso molecular. (B) angina prolongada em paciente já portadora de insuficiência coronária crônica; iniciar analgesia com nitroglicerina, oxigênio por cateter, aspirina e betabloqueador. (C) angina instável ou infarto agudo do miocárdio sem elevação de ST; iniciar analgesia com morfina ou nitroglicerina, oxigênio por cateter, aspirina e betabloqueador e anticoagulação plena com heparina; iniciar coleta seriada de enzimas cardíacas. (D) angina instável ou infarto agudo do miocárdio sem elevação de ST; iniciar analgesia com morfina, oxigênio por cateter e fibrinólise, com estreptoquinase ou alteplase, seguida de aspirina e betabloqueador e anticoagulação plena com heparina; iniciar coleta de enzimas somente depois de 2 horas do início dos sintomas. (E) infarto agudo do miocárdio sem elevação de ST; iniciar fibrinólise com estreptoquinase ou alteplase, analgesia com nitroglicerina, betabloqueador e anticoagulação plena com heparina; iniciar coleta seriada de enzimas cardíacas. 30 Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (Orgs.) Gabarito: C Comentário: Manejo clínico no atendimento dos pacientes com angina instável / infarto agudo do miocárdio sem elevação do segmento ST. As Síndromes Isquêmicas Agudas sem supra do segmento ST englobam pacientes com angina instável (AI) ou com infarto agudo do miocárdio sem supra do ST (IAMSST). Ela é caracterizada por uma desproporção entre a oferta e a demanda de 02 pelo miocárdio e, geralmente, associa-se à ruptura de placa aterosclerótica acompanhada de estreitamento da artéria coronária devido a um trombo não oclusivo e também a risco aumentado de morte cardíaca. Todos os pacientes com SIMI ou suspeita de SIMI devem realizar eletrocardiograma (ECG). Idealmente, o ECG deve ser realizado em até 10 minutos após a chegada do paciente ao hospital. O ECG deve ser repetido nos casos não diagnósticos, pelo menos uma vez, em até 6 horas. Na presença de eletrocardiograma prévio, o mesmo deve ser utilizado para comparação. Qualquer alteração nova ou presumidamente nova do segmento ST ou onda T está associada com maior chance de doença coronária. Em pacientes que se apresentam com quadro sugestivo de SCA, nos quais o diagnóstico de infarto do miocárdio não está estabelecido, os marcadores bioquímicos são úteis para confirmar o diagnóstico de infarto. Os marcadores devem ser medidos na admissão e repetidos pelo menos uma vez, 6-9 horas após (preferencialmente 9-12 horas após o início dos sintomas), caso a primeira dosagem seja normal ou discretamente elevada. A CK-MB e troponinas são os marcadores bioquímicos de escolha. Para pacientes que chegam precocemente à emergência (antes de 6 horas do início dos sintomas), mioglobina e subformas de CKMB podem ser consideradas em adição a um marcador mais tardio (CK-MB ou troponina). O manejo clínico dos pacientes com SIMI ou suspeita de SIMI de risco intermediário ou alto deve ser realizado da seguinte forma: A – Internação: Todos os pacientes com SIMI de risco intermediário e alto devem ser internados em Unidade Coronária (UCO), sempre que possível. ENADE Comentado 2007: Medicina 31 B – Oxigenoterapia: Geralmente a suplementação de oxigênio é mantida por até 4 horas após o desaparecimento da dor. A administração desnecessária de oxigênio por tempo prolongado pode causar vasoconstrição sistêmica e ser prejudicial quando desnecessária. C – Analgesia e sedação: Recomenda-se a utilização de analgésicos potentes a pacientes com dor isquêmica, refratários à terapêutica antianginosa. O sulfato de morfina é considerado o analgésico de eleição, sendo administrado quando a dor não for aliviada com o uso de nitratos sublingual, ou nos casos de recorrência da dor apesar da adequada terapêutica anti-isquêmica. D – Nitratos: O tratamento é iniciado administrando-se o nitrato por via sublingual (nitroglicerina, mononitrato ou dinitrato de isossorbida). Caso não haja alívio rápido da dor, esses pacientes podem se beneficiar com a administração intravenosa. Os nitratos estão contraindicados na presença de hipotensão arterial importante (pressão arterial sistólica PAS< 100 mmHg) ou uso prévio de sildenafil nas últimas 24h. E – Betabloqueadores: Seus benefícios estão relacionados à diminuição da frequência cardíaca, pressão arterial e contratilidade miocárdica, provocando uma redução do consumo de oxigênio pelo miocárdio. Recomenda-se o uso rotineiro de beta-bloqueador oral nos pacientes sem contraindicação, devendo-se iniciar sua utilização com o paciente estável. G- Ácido Acetil-Salicílico: Deve ser utilizado em todo paciente com suspeita de Síndrome Coronariana Aguda. A dose recomendada é de 200 mg/dia e a dose de manutenção a longo prazo de 100 mg/dia. É contraindicado apenas nos pacientes que apresentam hipersensibilidade ao fármaco ou sangramento digestivo ativo, sendo então prescrito Clopidogrel. H – Heparina Não Fracionada (HNF): Forma um complexo com a antitrombina III e acelera, de forma marcante, a inibição da trombina. A consequência imediata é a redução dos fenômenos trombóticos, pela formação reduzida de fibrina e menor ativação plaquetária. A dose recomendada é 5.000 UI em "bolus", seguida de 1.000 UI/h, por via intravenosa. O TTPA deve permanecer entre duas e três vezes do valor controle. 32 Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (Orgs.) Considerações: É melhor utilizar a expressão sindrome coronariana aguda com supra de st ( scacsst) ou sem supra de st (scassst). Não havendo elevação dos marcadores é angina instável. Quanto ao tratamento, a utilização de antitrombótico inclui não só o aas como também clopidogrel. Referências 1. Braunwald’s heart disease 8ª ed. 2007, cap. 51 e 53. 2. Condutas práticas em cardiologia.Editora manole, 2010: Hurs’t the heart. 12ª ed. 3. Hurs’t the heart. 12ª ed. cap. 59 e 60. ENADE Comentado 2007: Medicina 33 QUESTÃO 25 Uma senhora de 56 anos, com peso de cerca de 60 kg, foi atropelada. É levada pelo SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) ao pronto-socorro, onde chega 1 hora depois do atropelamento. Está consciente, embora queixosa e agitada. Tem fratura exposta de perna esquerda, com extensa laceração de partes moles. O sangramento foi controlado com um torniquete, aplicado logo acima do joelho. O socorrista que atendeu a vítima no local explica que o sangramento era, inicialmente, muito intenso e difuso. Tentou controlá-lo com enfaixamento compressivo, mas não conseguiu. Optou então por usar o torniquete, aplicado há cerca de 30 minutos. Não há outras lesões aparentes. Sinais vitais: pulso: 120 batimentos por minuto, regular; freqüência respiratória: 32 ventilações por minuto, sendo a expansão torácica simétrica e superficial; pressão arterial: 80 x 60 mmHg. O tratamento do choque desta paciente (A) deve ser feito com a administração precoce de drogas vasoativas, além da reposição volêmica adequada. O objetivo é garantir a normalização da pressão arterial, para manter a perfusão cerebral. (B) deveria ter sido iniciado já no local do atropelamento, antes do transporte, com a administração rápida de 2 litros de Ringer lactato ou de soro fisiológico, para normalizar a pressão arterial. (C) fica muito prejudicado pelo uso do torniquete, que piora a perfusão distal da perna. Sua retirada pode levar às complicações da síndrome de reperfusão. O socorrista deve ser orientado a não adotar mais tal estratégia para controlar a hemorragia. (D) deve ser feito pelo controle da hemorragia, em centro cirúrgico, e pela reposição de volume (solução salina e sangue). O controle da adequação da reanimação volêmica é feito pelo débito urinário, que deve ser de, pelo menos, 30 mL/hora. (E) deve ser iniciado logo depois de excluída lesão cerebral e abdominal, de preferência por tomografia computadorizada. O tratamento de tais lesões pode ser mais urgente. Gabarito: D Comentário: (A) Segundo o Colégio Americano de Cirurgiões, o uso de drogas vasopressoras estão contraindicados no choque hipovolêmico, uma vez que nessa patologia, a resposta fisiológica ao choque inicia com aumento do débito cardíaco seguido de vasoconstricção periférica ocasionada pela 34 Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (Orgs.) ação de catecolaminas endógenas (adrenalina, dopamina) e outros hormônios com ação vasoativos (bradicinina, histamina, beta-endorfinas). Sendo assim, o efeito adicional de drogas vasoativas seria ínfimo. (B) Como houve dificuldade em parar o sangramento com medidas simples no local do acidente, há a necessidade rápida do deslocamento da vítima a um centro de atendimento a pacientes politraumatizados, com centro cirúrgico para tratar o caso. (C) O torniquete foi necessário para parar o sangramento, pois não foi possível com o enfaixamento compressivo, porém a vítima tem que ser deslocada rapidamente a um centro cirúrgico para controle adequado do sangramento e choque. (D) CORRETA (E) O controle do choque é prioridade frente a esses problemas apontados na alternativa “E”, apenas as vias aéreas (Airway) e a ventilação (Breathing) teriam prioridade ante ao choque, abordado no item circulação. Referência 1. GOLDMAN L., Ausiello D. Cecil: Tratado de Medicina Interna, 23ª edição, 2008. cap.107 , p. 742-749. ENADE Comentado 2007: Medicina 35 QUESTÃO 26 Um homem de 40 anos, assintomático, procura o ambulatório médico para controle de hepatite B. Afirma que há 6 meses procurou a Unidade Básica de Saúde de sua cidade com náusea e vômitos. Na ocasião, o médico solicitou exames, confirmou o diagnóstico de hepatite B e encaminhou-o para seguimento ambulatorial. Como mudou de cidade, só agora está procurando seguimento médico. Quer saber se pode retomar o uso de bebidas alcoólicas e deixar de usar preservativo nas relações sexuais com sua esposa. Não trouxe os exames iniciais. O exame físico é normal e os exames laboratoriais mostram: ALT = 90 U/L, AST = 70 U/L, bilirrubinas normais, HBsAg: (+),anti-HBc: (+), anti-HBs: (-), HBeAg: (-), anti-HBe: (+), anti-HCV: (-) e antiHAV IgG: (+). A orientação correta é (A) explicar que o uso de preservativo não será determinado pelo risco de transmissão de hepatite A ou B e a restrição ao álcool deve ser mantida até a normalização das transaminases; solicitar sorologia de vírus B para a esposa e os filhos. (B) manter o uso de preservativo, não liberar álcool e solicitar sorologia de vírus B para a esposa e para os contactantes domiciliares. (C) manter a restrição alcoólica; o uso de preservativo segue a mesma orientação da população em geral; a esposa e os filhos devem receber imunização passiva para hepatite A e B. (D) dizer que o uso de preservativo e a restrição ao álcool seguem a mesma orientação da população em geral; a esposa e os filhos devem receber imunização ativa para hepatite B. (E) manter o uso de preservativo e a restrição ao álcool até a normalização das transaminases; indicar imunização ativa para a esposa e contactantes domiciliares. Gabarito: B Comentário: Esse paciente é portador do vírus da hepatite B e, apesar de ser assintomático, com exame físico normal, pouco aumento de transaminases e marcador de replicação do vírus da hepatite B negativo (isto é, HBeAg negativo), há constante risco de transmissão parenteral, sexual e vertical (caso fosse mulher) do vírus B. Portanto, nesse caso, deve manter uso de preservativo com o contato sexual. 36 Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (Orgs.) Como o álcool também é hepatotóxico, devemos sempre orientar a abstenção total de ingesta alcoólica em qualquer indivíduo portador de doença hepática crônica ativa ou inativa, independente do nível de transaminases. Quanto aos contactantes domiciliares, esposa e filhos, devemos solicitar sorologias para sabermos senão são também portadores do HBV e conforme resultado, indicar imunização ativa contra o vírus hepatite a fim de adquirirem imunidade, confirmada com o anti-HBs positivo. Em relação ao vírus da hepatite A, esse indivíduo apresenta um anti-HVA IgG positivo, resultado que representa imunidade contra vírus da hepatite A, que pode ser adquirida por contato prévio (geralmente de forma assintomática na infância) ou através de imunização ativa. Referência 1. Goldman L., Ausiello D. Cecil Medicine. 23ª ed. Philadelphia: Saunders Elsevier: 2008. p.1.101-1.116. ENADE Comentado 2007: Medicina 37 QUESTÃO 27 Un hombre de 52 años procura la emergencia de un hospital, quejándose de orina oscura hace dos días y de dolor intenso en la región lombar derecha, con irradiación para el vientre, hace una hora. No tiene histórico médico relevante. Dice que el dolor en la espalda es muy fuerte y no hay posición que le mejore. Ha tomado 2 pastillas de paracetamol, pero no ha mejorado. Esta muy mareado, pero no ha vomitado. Se sospecha de cólico nefrético, siendo el paciente medicado por via intravenosa, con mejoría de todos los sintomas. El examen de orina revela hematuria (> 1.000.000 hemacias/mL) y la ultrasonografía muestra un cálculo de 0,4 cm en el uréter derecho, a 1,5 cm de la yuncción ureterovesical, con ureterohidronefrosis muy discreta. Para dar seguimiento al tratamiento de este paciente, debe considerarse que (A) la mayor parte de los cálculos ureterales con menos de 0,5 cm de diámetro es eliminada espontáneamente. (B) el riesgo de infección y de pérdida de la función renal es muy grande, porque el cálculo es obstructivo. (C) lo ideal es que el paciente sea sometido tan pronto sea posible a la retirada o la fragmentación del cálculo, para evitar nuevas crisis de dolor. (D) aunque muy frecuentemente recomendada, la ingestión de grandes cantidades de líquido no disminuye el riesgo de formación de nuevos cálculos. (E) diuréticos tiazídicos deben ser evitados, porque aumentan la calciuria; debe prescribirse vitamina D, para prevenir la formación de nuevos cálculos de oxalato de calcio. Gabarito: A Comentário: O principal determinante da eliminação espontânea de um cálculo ureteral é o seu tamanho e, com menos importância, a sua localização. Segundo as estatísticas, a metade dos pacientes com cálculos entre 4 e 6 mm, vão necessitar de intervenção para a sua retirada. Nos casos de eliminação espontânea, esta ocorre, em média, após 22 dias, sendo que, em 40 dias, aproximadamente, 95% dos pacientes eliminam os cálculos (ver referências abaixo). Comentários sobre as outras opções: A opção B não é correta porque não existem evidências de infecção no caso descrito, e a hidronefrose, além de discreta, desaparecerá com a eliminação espontânea do cálculo. 38 Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (Orgs.) A opção C não é correta porque existe efetivamente uma boa probabilidade de que o cálculo saia espontaneamente, sem necessidade de manipulação da via urinária, o que aumentaria o risco de complicações. Como no caso não há indícios de infecção, pode-se aguardar a eliminação espontânea do cálculo. A afirmação da opção D não é correta, pois ao contrário, a ingestão de grande quantidade de líquido aumentará a chance de eliminação espontânea do cálculo. A opção E não é correta porque os tiazídicos diminuem a calciúria, a vitamina D aumenta a calcemia, aumentando a chance de desenvolvimento de urolitíase. Referências 1. Miller OF. Time of Stone passage for observed ureteral calculi: a guide for patient education. Journal Urol 1999; 162:688. 2. Parekatil SJ. External validation of outcome ureteral/renal calculi. J Urol 2006; 175:575. prediction model for ENADE Comentado 2007: Medicina 39 QUESTÃO 28 Num plantão noturno de pronto-socorro, são admitidos três pacientes com quadro súbito de diminuição da consciência. - Paciente 1: homem de 65 anos, hipertenso com tratamento irregular. A família relata quadro agudo de cefaléia, náusea, vômito e provavelmente um episódio de convulsão tônico-clônica. Está comatoso, com hemiplegia esquerda e pressão arterial de 190 X160 mmHg. - Paciente 2: mulher de 30 anos, sem antecedentes mórbidos, com quadro súbito de cefaléia holocraniana de forte intensidade, acompanhada de náusea. Está sonolenta, sem déficit motor, com sinais de irritação meníngea e pressão arterial de 140 X 90 mmHg. - Paciente 3: homem de 50 anos, diabético, tabagista, com antecedente de febre reumática e com fibrilação atrial há pelo menos 12 meses. Está sonolento, com hemiparesia esquerda e pressão arterial de 150 X100 mmHg. São realizadas tomografias computadorizadas dos 3 pacientes, expostas abaixo: É mais provável que as imagens I, II e III correspondam, respectivamente, aos pacientes (A) 3, 2 e 1 (B) 3, 1 e 2 (C) 2, 3 e 1 (D) 2, 1 e 3 (E) 1, 2 e 3 Gabarito: B 40 Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (Orgs.) Comentário: São apresentadas 3 Tomografias Computadorizadas do Encéfalo, sem uso de contraste iodado, para correlação com 3 quadros clínicos neurológicos, cuja características são compatíveis com Acidente Vascular Cerebral Encefálico ( AVE ). Para responder essa pergunta o aluno deverá ter conhecimentos de imagem, que permitam o diagnóstico diferencial entre os quadros isquêmicos e os hemorrágicos, correlacionando os dados tomográficos com os casos clínicos. Em primeiro lugar, analisaremos as histórias clínicas desses supostos pacientes. No paciente 1 estamos diante de uma história típica de AVE hemorrágico,pela apresentação abrupta, presença de fatores de risco para hemorragia cerebral (hipertenso mal controlado) e sinais neurológicos compatíveis com Síndrome de Hipertensão Intracraniana (cefaleia, náusea, vômitos e deterioração do sensório) associados à lesão piramidal manifesta por déficit motor e convulsões. Tais pacientes apresentam, via de regra, extensos hematomas cerebrais profundos, denominados para-capsulares (daí o déficit motor). Na paciente 2, mulher, jovem (30 anos ), sem história pregressa de doença neurológica quadro de instalação súbita com cefaleia intensa, náuseas e síndrome meníngea. Trata-se de uma apresentação clássica de hemorragia subaracnoidea em vista da ausência de déficit motor, associado a sinais clínicos de irritação meníngea, além do grupo etário, típico dos pacientes que apresentam ruptura de aneurismas cerebrais. No paciente 3, um homem com 50 anos de idade, encontramos várias causas de doença vascular isquêmica agravadas pela presença de fibrilação atrial que certamente é responsável por um processo embólico envolvendo a artéria carótida direita, num evento que explicaria o quadro abrupto de sonolência, hemiplegia esquerda e HAS. Em relação às imagens apresentadas, os alunos devem saber que a presença de sangue fora dos vasos cerebrais, produz uma imagem de alta densidade, branca, semelhante ao cálcio da calota óssea, configurando extravasamento de sangue em direção ao parênquima cerebral ou espaço subaracnoideo. Nos quadros isquêmicos, por outro lado, observa-se no parênquima cerebral áreas escuras, que representam o acúmulo de água extravascular, ENADE Comentado 2007: Medicina 41 indicando a presença de edema secundário a isquemia. Sendo assim, podemos afirmar com segurança que a TC I pertence a um paciente com isquemia hemisférica direita, a TC II indica um extenso hematoma cerebral profundo para-capsular e a TC III uma hemorragia subaracnoidea pela definição, através do sangue extravasado, das cisternas do espaço subaracnoideo. Correlacionando, agora, os quadros clínicos com as imagens, não resta dúvida que a resposta certa para questão é a B. Quero salientar, que essa questão me parece muito bem elaborada, abordando uma patologia muito prevalente (AVE) e que representa a tendência atual do ensino da patologia neurológica correlacionando quadro clínico X imagem. Referência 1. Mark S. Greenberg. Handbook of Neurosurgery. p. 737, 738,745,754,755, 756. 42 Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (Orgs.) QUESTÃO 29 Uma mulher de 24 anos, portadora de anemia falciforme, é levada à Unidade Básica de Saúde (UBS) por apresentar febre e tosse há 8 horas. A mãe diz que trouxe a filha, porque constatou temperatura de 40 graus, há 2 horas. A jovem está sonolenta – o que a mãe atribui à dipirona que tomou – sem dor, com T = 38,8 ºC, pressão arterial = 112 × 74 mmHg, pulso = 126 bat/min e freqüência respiratória = 32 mov/min; há estertores subcrepitantes em base pulmonar esquerda e sopro sistólico 3+/6+ em área mitral, sem irradiação. O médico suspeita de pneumonia e sugere removê-la para um hospital onde possa fazer avaliação radiológica e laboratorial e, provavelmente, permanecer internada. A mãe reluta em aceitar. A enfermeira da UBS argumenta que conhece bem a paciente e os familiares e que concorda que a jovem poderia tentar fazer tratamento domiciliar sob observação do agente de saúde. O médico deve (A) insistir na remoção, porque se sabe que as infecções pulmonares em portadores de anemia falciforme têm como principal agente etiológico Pseudomonas sp, necessitando antibioticoterapia intravenosa. (B) concordar com o tratamento domiciliar, desde que haja acompanhamento diário do agente de saúde, e iniciar tratamento com levofloxacina ou claritromicina por via oral. (C) insistir na remoção, porque os dados de que dispõe, pela anamnese e exame da paciente, indicam uma infecção com repercussão clínica de moderada a grave. (D) insistir na remoção, porque esta paciente necessita de transfusão de glóbulos vermelhos para aumentar o transporte de oxigênio. (E) concordar com o tratamento domiciliar, desde que seja possível trazer a paciente diariamente à UBS para avaliação médica, e iniciar levofloxacina ou ciprofloxacina por via oral. Gabarito: C Comentário: Portadores de anemia falciforme apresentam defeito do sistema imunológico que exige assistência meticulosa e nas circunstâncias descritas no caso precisam contar com recursos diagnósticos e terapêuticos reservados ao ambiente hospitalar. Febre de início recente com taquipneia e sinais de repercussão hemodinâmica são dados preocupantes que indicam uma emergência médica. ENADE Comentado 2007: Medicina 43 Além disso, o quadro de sonolência precisa ser esclarecido. Pode estar relacionado a baixa saturação de oxigênio por infecção respiratória, mas também é preciso afastar possibilidade de meningite. Nesse caso, conhecer bem a paciente e seus familiares não garantem a assistência necessária para evitar o risco de o quadro evoluir de forma negativa. (A) insistir na remoção, porque se sabe que as infecções pulmonares em portadores de anemia falciforme têm como principal agente etiológico Pseudomonas sp, necessitando antibioticoterapia intravenosa. Comentário: Principal agente etiológico é o streptococus pneumoniae que vai requerer uso de antibioticoterapia inicialmente empírica (penicilina ou derivados) em nível hospitalar por se tratar de uma portadora de anemia falciforme. (B) concordar com o tratamento domiciliar, desde que haja acompanhamento diário do agente de saúde, e iniciar tratamento com levofloxacina ou claritromicina por via oral. Comentário: por se tratar de uma portadora de anemia falciforme que a deixa mais suscetível a contrair infecções (asplenia funcional), visita da ACS e antibioticoterapia via oral seriam medidas inadequadas. (C) insistir na remoção, porque os dados de que dispõe, pela anamnese e exame da paciente, indicam uma infecção com repercussão clínica de moderada a grave. (D) insistir na remoção, porque esta paciente necessita de transfusão de glóbulos vermelhos para aumentar o transporte de oxigênio. Comentário: por se tratar de uma portadora de anemia falciforme que a deixa mais suscetível a contrair infecções (asplenia funcional), essa paciente irá requerer investigação e tratamento em nível hospitalar que não se limita a manejar desaturação de oxigênio. 44 Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (Orgs.) (E) concordar com o tratamento domiciliar, desde que seja possível trazer a paciente diariamente à UBS para avaliação médica, e iniciar levofloxacina ou ciprofloxacina por via oral. Comentário: pelos motivos já expostos, o tratamento proposto nessa alternativa não está indicado. Referências 1. Angulo IL. Sickle cell crisis. Medicina, Ribeirão Preto, 36: 427-430, apr./dec. 2003. 2. Benz Jr., E. in Harrison. Principles of Internal Medicine. Editora McGraw Hill, ch. 98, p.635-638, 2008. 3. The Management of Sickle Cell Disease. NIH Publication Nº. 02-2117, june 2002. Disponível em www.nhlbi.nih.gov/health/prof/blood/sickle/index.htm. ENADE Comentado 2007: Medicina 45 QUESTÃO 30 Um homem de 75 anos, com quadro demencial avançado e câncer de próstata com metástases vertebrais, é trazido ao ambulatório médico. Os familiares relatam que há 5 dias diminuiu muito a ingesta alimentar, tem apresentado febre e notaram urina turva e de odor fétido. Foi orquiectomizado há 6 anos, recebe analgésicos comuns eventualmente, além de medicação anti-hipertensiva e haloperidol quando tem agitação. Dosagens recentes de PSA e cálcio são normais. O exame mostra um paciente que não contactua nem reconhece as pessoas, está emagrecido e levemente edemaciado, desidratado, taquicárdico, febril, com pressão arterial de 89 x 60 mmHg. Os familiares queixam-se das dificuldades que têm para mantê-lo bem cuidado e solicitam internação definitiva em um hospital de cuidados paliativos. Não há previsão de vaga nesse tipo de hospital. A conduta médica mais adequada é (A) explicar que se trata de uma intercorrência infecciosa, mas que, diante do quadro demencial avançado, não há sentido em iniciar antibiótico; indicar uma internação rápida apenas para hidratação parenteral e, em seguida, encaminhar o paciente para casa. (B) concordar com a internação definitiva, esclarecer que, diante do quadro neoplásico avançado, não há sentido em introduzir qualquer cuidado adicional e encaminhá-lo para espera da vaga hospitalar em casa. (C) concordar com a internação definitiva, providenciar sonda nasoenteral para hidratação e alimentação e deixar o paciente aguardar a vaga hospitalar em casa. (D) concordar com a internação definitiva, providenciar sonda nasoenteral para hidratação, alimentação e administração de antibiótico e deixar o paciente aguardar a vaga hospitalar em casa. (E) explicar que se trata de uma intercorrência infecciosa de gravidade relativa que requer internação, provavelmente breve, para hidratação e antibioticoterapia parenterais, e que, após esse período, deverá voltar para casa com os cuidados habituais. Gabarito: E Comentário: (A) explicar que se trata de uma intercorrência infecciosa, mas que, diante do quadro demencial avançado, não há sentido em iniciar antibiótico; indicar uma internação rápida apenas para hidratação parenteral e, em seguida, encaminhar o paciente para casa. 46 Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (Orgs.) Essa opção não se justifica, pois a complicação que o paciente apresenta é potencialmente reversível. Não administrar tratamento com antibióticos adequados para a intercorrência infecciosa é inadequado. O fato de o paciente ter um quadro demencial não deve interferir nessa decisão. (B) concordar com a internação definitiva, esclarecer que, diante do quadro neoplásico avançado, não há sentido em introduzir qualquer cuidado adicional e encaminhá-lo para espera da vaga hospitalar em casa. Essa opção também julga que um tratamento como antibioticoterapia para uma infecção potencialmente reversível, não deve ser utilizado em vistas a uma neoplasia avançada. A evolução de uma neoplasia de próstata avançada com metástases ósseas, embora incurável, pode ser de muitos meses e eventualmente de anos. (C) concordar com a internação definitiva, providenciar sonda nasoenteral para hidratação e alimentação e deixar o paciente aguardar a vaga hospitalar em casa. Essa opção também não contempla tratar o motivo reversível de desestabilização do paciente. (D) concordar com a internação definitiva, providenciar sonda nasoenteral para hidratação, alimentação e administração de antibiótico e deixar o paciente aguardar a vaga hospitalar em casa.O paciente apresenta um quadro de infecção com repercussão hemodinâmica. Não é adequado enviar o paciente para casa. (E) explicar que se trata de uma intercorrência infecciosa de gravidade relativa que requer internação, provavelmente breve, para hidratação e antibioticoterapia parenterais, e que, após esse período, deverá voltar para casa com os cuidados habituais. Tratar a intercorrência e enviar o paciente para casa, permitindo a evolução espontânea do seu quadro clínico (crônico), é a alternativa mais apropriada das apresentadas. Referência 1. GOLDMAN L., Ausiello D. Cecil: Tratado de Medicina Interna, 23ª ed. 2008. cap. 211 , p. 1.516-1.519. ENADE Comentado 2007: Medicina 47 QUESTÃO 31 Homem de 55 anos está em acompanhamento no Programa de Saúde da Família. É diabético há vários anos e como viveu em diversas cidades fez até agora tratamento irregular. Nega etilismo e tabagismo é sedentário e tem 2 irmãos diabéticos. Tem antecedentes de cirurgia de catarata e revascularização miocárdica. Interconsultas recentes com neurologista e oftalmologista revelaram neuropatia periférica em “bota e luva” e microaneurismas retinianos. O exame físico mostra índice de massa corpórea de 33 kg/m2, PA de 160 x 100 mmHg, circunferência abdominal de 110 cm e diminuição de pulsos pediosos. Laboratorialmente, detecta-se glicemia de jejum de 155 mg/dL, hemoglobina glicada de 8,5%, triglicérides de 320 mg/dL e microalbuminúria de 200 mg/dia. Ao discutir o caso com alunos de graduação de uma faculdade de medicina que têm estágio didático nesta unidade, o médico explicou que na fisiopatologia das inúmeras complicações apresentadas por este paciente é provável o encontro de HDL-colesterol (em mg/dL) (A) superior a 40 e apoptose de células beta do pâncreas. (B) inferior a 40 e aumento da conversão de sorbitol em glicose. (C) inferior a 40 e resistência à ação da insulina nos tecidos muscular, adiposo e hepático. (D) superior a 40 e aumento do nível sérico de insulina. (E) inferior a 40 e bloqueio da via de aldose redutase. Gabarito: C Comentário: Trata-se de paciente diabético tipo 2, em tratamento irregular, portador de complicações microvasculares (retinopatia, nefropatia incipiente [microalbuminúria entre 30 e 300 mg/24h] e neuropatia periférica), macrovasculares (cardiopatia isquêmica, aterosclerose obliterante periférica) e catarata. Como costuma acontecer na maior parte dos pacientes portadores de DM 2, esse paciente apresenta características típicas de um paciente portador de síndrome metabólica, a saber: DM, HAS, triglicérides > 150 mg/dL e obesidade centrípeta (circunferência abdominal > 102 cm para pacientes do sexo masculino). Nessa situação, o colesterol HDL costuma também estar diminuído (< 40 mg/dL em homens e < 50 mg/dL em mulheres). 48 Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (Orgs.) O diagnóstico de síndrome metabólica, segundo os critérios do NCEP/ATP III (um dos mais utilizados na prática clínica) requer a presença três ou mais dos seguintes critérios: Obesidade abdominal (circunferência > 102 cm em homens e > 88 cm em mulheres); Triglicerídeos > 150 mg/dL; HDL-colesterol < 40 mg/dL em homens e < 50 mg/dL em mulheres; PA ≥ 130/85 mmHg Glicemia de jejum ≥ 100 mg/dL Na fisiopatologia do DM 2, a resistência à insulina (habilidade diminuída da insulina em agir efetivamente nos órgãos-alvo: fígado, tecido adiposo e músculo estriado) é um dos aspectos proeminentes, e resulta de uma combinação de suscetibilidade genética, estilo de vida inadequado (obesidade e sedentarismo) e envelhecimento. Além da resistência insulínica, é necessária a presença de disfunção de célula beta pancreática (diminuição da secreção de insulina) e, aceita-se hoje, a disfunção da célula alfa pancreática (aumento da secreção de glucagon). Esses dois últimos elementos devem-se também a uma diminuição da secreção de hormônios gastrointestinais (“incretinas”), especialmente o GLP-1 (Glucagon-Like Peptide Type 1). Dessa maneira, a resposta correta é a letra (C), que combina o nível apropriado de HDL-colesterol para o diagnóstico de síndrome metabólica com um dos elementos principais da fisiopatologia do DM 2. Referência 1. Harrison’s Principles of Internal Medicine. 17th Edition (2008) – p. 1.509-1.513, p. 2.280-2.282. ENADE Comentado 2007: Medicina 49 QUESTÃO 32 Um homem de 74 anos, com índice de massa corporal de 27,8 kg/m2, é acompanhado na Unidade da Saúde da Família para tratamento de hipertensão arterial com enalapril, 10 mg por dia. Estava bem controlado há anos, mas passou a apresentar PA = 160 x 90 mmHg repetidas vezes. O médico solicita acompanhamento com nutricionista e atenção do agente de saúde, visando diminuição do peso e de sal na dieta. No período de 60 dias, perdeu 2 quilos e houve necessidade de aumento progressivo da medicação. Está tomando enalapril 20 mg, hidroclorotiazida 25 mg e atenolol 50 mg, com pulso de 54 bpm e PA = 168 x 94 mmHg. A avaliação laboratorial de rotina é normal. O médico deve (A) dosar catecolaminas e metanefrinas urinárias. (B) dosar renina plasmática. (C) manter a mesma orientação, a menos que a pressão sistólica atinja 180 mmHg ou a diastólica 100 mmHg. (D) solicitar Doppler de artérias renais. (E) aumentar a dose de atenolol. Gabarito: D Comentário: - Trata-se, provavelmente, de hipertensão secundária: início abrupto de elevação da PA (após período de controle estável), não resposta adequada mesmo após elevação/associação de drogas e otimização do controle dietético, em paciente idoso; - Quadro clínico não sugere feocromocitoma (ao menos em sua apresentação clássica); - As dosagens de catecolaminas e/ou renina não teriam resultados confiáveis (a menos que houvesse preparo prévio, incluindo suspensão de drogas já em uso); - O aumento do Atenolol não seria benéfico, especialmente num paciente já bradicárdico; - Os exames iniciais (potássio sérico? creatinina?) estariam normais, com pouca possibilidade para o diagnóstico de hiperaldosteronismo; 50 Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (Orgs.) - Assim: a resposta D é ainda a "melhor", considerando-se que as causas renais são as mais prevalentes quando pensamos na possibilidade de hipertensão secundária. Referências 2. 1.Goldman L, Ausiello D. Cecil: textbook of medicine. 22th edition (2004). 3. Lúcio V. Endocrinologia Clínica. 4ª edição (2009). ENADE Comentado 2007: Medicina 51 QUESTÃO 33 A 70 year old man has diabetes, cardiopathy and Parkinson´s disease and has been treated with enalapril, metformin, aspirin, amiodarone, and levodopa. Due to symptoms of malaise, cognitive impairment, and depression, he seeks the advice of a family physician. Blood tests revealed his TSH levels were over 40 mU/mL. At this point, medical management of this patient should include the withdrawal of a medication the patient has been taking, a blood test for an antibody and the prescription of a new drug. The drug that should be withdrawn, the antibody that he should be tested for and the new drug that should be prescribed are, respectively (A) amiodarone, antithyroid peroxidase (anti-TPO) and levothyroxine. (B) levodopa, antithyrotrophin receptor (TRAb) and liothyronine. (C) amiodarone, antithyrotrophin receptor (TRAb) and levothyroxine. (D) levodopa, antithyroid peroxidase (anti-TPO) and levothyroxine. (E) amiodarone, antithyroid peroxidase (anti-TPO) and liothyronine. Gabarito: A Comentário: Hipotireoidismo provocado por amiodarona A indução de hipofunção tireoideana pela amiodarona pode ser mediada pelo seu conteúdo em iodeto. A grande quantidade desse íon liberado pelo metabolismo da droga inibe a biossíntese e a liberação dos hormônios tireoideanos (efeito Wolff-Chaikoff). Em condições normais, ocorre um escape a esse efeito, mesmo em presença de níveis plasmáticos elevados de iodeto. A persistência de hipofunção tireoideana em pacientes com hipotireoidismo induzido pela amiodarona (ou por outros produtos iodados) é atribuída em parte a uma falha no escape do efeito Wolff-Chaikoff. O papel da autoimunidade tireoideana tem sido ressaltado como importante no desenvolvimento de hipotireoidismo induzido pela amiodarona, sendo assim pacientes com tireoidite de Hashimoto apresentam uma maior incidência dessa disfunção. Esses dados sugerem que a doença tireoideana autoimune de base torne a glândula mais suscetível aos efeitos inibitórios do iodeto, com exteriorização de eventual anormalidade tireoideana subclínica. Entretanto, outros estudos não 52 Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (Orgs.) relacionaram o desenvolvimento de hipotireoidismo induzido pela amiodarona à presença de anticorpos antitireoide. A estratégia terapêutica do hipotireoidismo induzido pela amiodarona deve ser dirigida a cada situação. Se a droga puder ser retirada e substituída por outro antiarrítmico, deve-se monitorizar o retorno ao eutireoidismo, frequentemente lento, em função da meia-vida prolongada do medicamento. Quando o uso da amiodarona se impõe, pode-se tentar reduzir sua dose ou, mais comumente, iniciar terapêutica de reposição com levotiroxina (L-T4). O objetivo do tratamento de substituição hormonal, do ponto de vista laboratorial, é levar os níveis séricos de T4 para valores normais altos ou até ligeiramente supranormais, como é visto em pacientes eutireoideanos em uso de amiodarona. Deve-se ter o cuidado de não reduzir excessivamente os níveis de TSH, pelo risco de levar os pacientes ao hipertireoidismo subclínico. Como se sabe, parte dos efeitos antiarrítmicos da amiodarona é devido ao estado de hipotireoidismo intracelular miocárdico induzido por metabólito da droga. Dessa forma, a reposição com L-T4 deve ser iniciada com doses baixas (12,5 a 50 µg/dia) e aumentada em intervalos de quatro a seis semanas, dependendo da idade, do grau de hipotireoidismo e da gravidade da arritmia do paciente. Os níveis de T4 estabilizam-se antes dos de TSH, e devem servir como primeira orientação para a decisão da dose ideal de reposição. Referências 1. Bogazzi F, Bartalena L, Gasperi M, Braverman LE, Martino E. The various effects of amiodarone on thyroid function. Thyroid 2001; 11: 511-519. 2. Martino E, Bartalena L, Bogazzi F, Braverman LE. The effects of amiodarone on the thyroid. Endocr Rev 2001; 22: 240-254. Complementação de Resposta Paciente idoso, portador de diversas comorbidades, está apresentando manifestações clínicas típicas de hipotireoidismo, bem como TSH extremamente elevado, em vigência de uso de amiodarona. O diagnóstico é de um hipotireoidismo primário induzido por amiodarona. Nessa situação, deve-se retirar a droga (se for possível), solicitar a pesquisa de anticorpos antitireoperoxidase (anti-TPO) para avaliar a possibilidade de o paciente apresentar uma tireoidite crônica linfocítica ENADE Comentado 2007: Medicina 53 (tireoidite de Hashimoto) não diagnosticada previamente e tratar o paciente com doses progressivas de levotiroxina (L-T4) já que esse é idoso, cardiopata e portador de arritmia cardíaca. A pesquisa de anticorpo antirreceptor de TSH (TRAb) é solicitada, muito raramente, na prática clínica diária, para o diagnóstico diferencial das tireotoxicoses, com a finalidade de identificar um paciente portador de doença de Basedow-Graves. A liotironina (L-T3) não é utilizada para tratamento do hipotireoidismo por ter uma ação muito intensa e de pouca duração, o que pode ser deletério num paciente portador de cardiopatia isquêmica. Além disso, não é disponível comercialmente no Brasil. Dessa maneira, a resposta correta é a letra (A). 54 Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (Orgs.) QUESTÃO 34 Mulher de 53 anos procura Unidade de Saúde da Família. Vem acompanhada por uma vizinha, já que é viúva sem filhos e mora sozinha. Relatou ao clínico que a atendeu que, há cerca de um ano, apresenta quase todos os dias sensação de tristeza e melancolia, perda de apetite, com emagrecimento de 5 kg, e insônia. O médico solicitou avaliação da psicóloga da unidade, que detectou que a paciente já teve ataques de pânico e, nos últimos 6 meses, surgiu falta de interesse em realizar suas atividades habituais, além de fadiga, déficit de concentração e sentimento de menos-valia. A vizinha relatou confidencialmente que a paciente abusa do consumo de álcool, atualmente fala frases como: "viver assim é melhor morrer", “eu não agüento mais” e teve um irmão que cometeu suicídio. O exame físico e os testes laboratoriais (hemograma, glicemia e TSH) foram normais. O médico deve considerar, nessa paciente, como fatores de risco de suicídio, (A) o sexo feminino e a história de alcoolismo e perguntar abertamente à paciente sobre a intenção e os meios de se matar. (B) a história de alcoolismo e a viuvez sem filhos e explicar-lhe que a ideação de terminar com a vida é manifestação da depressão e não uma aberração. (C) a idade inferior a 55 anos e o antecedente de ataques de pânico e indicar eletroconvulsoterapia. (D) viuvez sem filhos e a idade inferior a 55 anos e indicar farmacoterapia e psicoterapia. (E) o antecedente familiar de suicídio e o fato de morar sozinha e não conversar abertamente sobre a ideação de morte. Gabarito: B Comentário: A pergunta no enunciado é: O médico deve considerar, nessa paciente, como fatores de risco de suicídio: (i) A resposta (A) está errada, pois implica em uma resposta parcial a essa pergunta, uma vez que mulheres em si, não representam um risco maior para cometerem suicídio, mas somente pensam mais em suicídio, em relação aos homens, que pensam menos, mas quando tentam, são mais efetivos em consumar o ato autodestrutivo. ENADE Comentado 2007: Medicina 55 (ii) A resposta correta é a (B), no entanto, na segunda parte da resposta há um conselho: “explicar-lhe que a ideação de terminar com a vida é manifestação da depressão e não uma aberração” e o enunciado é sobre quais fatores de risco devemos considerar em relação ao risco de suicídio e não qual conselho será terapêutico (a questão é sobre o processo de anamnese e exames complementares para fins diagnósticos. Algum aluno poderá considerar essa resposta como parcialmente errada. (iii) A resposta (C) está errada, “a idade inferior a 55 anos e o antecedente de ataques de pânico e indicar eletroconvulsoterapia” são três variáveis não relacionadas a Fatores de Risco para suicídio (a pergunta do enunciado não poderia ser respondida dessa forma dissociada, sem fundamentação científica. Além do mais, não se indica ECT nessas condições clínico-psiquiátricas (este está indicado em T. Depressivo Maior não responsivo aos antidepressivos previamente prescritos, em tempo e doses adequados, ou quando o paciente apresenta sintomas psicóticos, e essa paciente não tentou nenhum antidepressivo até então e nem está psicótica, isto é, não perdeu o contato com a realidade, não apresenta alucinações , nem delírios ( ver bibliografia: Kaplan, Benjamin J. & Sadock, Virginia A. Manual Conciso de Psiquiatria Clínica. 2ª edição. ARTMED- ABP. 2008. Transtorno do Humor – p. 195-223; e, ECT – Indicações: p. 546. Também o fato de ter apresentado antecedente de pânico não se relaciona com aumento de risco para suicídio e nem com indicação de ECT. (iv) A resposta (D) está errada, pois não responde ao enunciado, uma vez que “a viuvez sem filhos e a idade inferior a 55 anos” (o risco de suicídio aumenta com a idade e, portanto, idade inferior a 55 anos não é forte indicador de risco aumentado para suicídio. E “indicar farmacoterapia e psicoterapia” também não responde ao enunciado SOBRE FATORES DE RISCOS DE SUICÍDIO, ainda que possa ser uma indicação correta em se tratando de depressão (Kaplan, Benjamin J. & Sadock, Virginia A. Manual Conciso de Psiquiatria Clínica. 2ª edição. ARTMED- ABP. 2008. Suicídio – p.423). 56 Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (Orgs.) (v) A resposta (E): “o antecedente familiar de suicídio e o fato de morar sozinha” (de fato são indicadores que reforçam o risco aumentado para suicídio (Kaplan, Benjamin J. & Sadock, Virginia A. Manual Conciso de Psiquiatria Clínica. 2ª edição. ARTMED- ABP. 2008. Suicídio – p. 423). No entanto, a segunda parte da resposta está errada: não conversar abertamente sobre a ideação de morte, uma vez que essa paciente até fala, conversa, abertamente sobre suicídio: "viver assim é melhor morrer", “eu não agüento mais”... (vi) Por outro lado: ser do sexo feminino e apresentar a história de abuso de álcool são variáveis que na depressão, agravam o seu prognóstico. Mulheres são mais propensas à depressão, como na vinheta, onde surgem clássicos sintomas depressivos: sensação de tristeza e melancolia, perda de apetite, com emagrecimento de 5 kg, e insônia; também pensam mais em suicídio do que os homens (como foi citado anteriormente), homens cometem quatro vezes mais suicídio. (referência bibiográfica: Kaplan, Benjamin J. & Sadock, Virginia A. Manual Conciso de Psiquiatria Clínica. 2ª edição. ARTMED- ABP. 2008. Transtorno do Humor – p. 195-223) e (Kaplan, Benjamin J. & Sadock, Virginia A. Manual Conciso de Psiquiatria Clínica. 2ª edição. ARTMED- ABP. 2008. Suicídio – p. 423). (vii) o alcoolismo fragiliza-a mais, principalmente na meia idade (climatério) e na condição de ser uma paciente solitária, sem sustentação familiar (Kaplan, Benjamin J. & Sadock, Virginia A. Manual Conciso de Psiquiatria Clínica. 2ª edição. ARTMED- ABP. 2008. p. 97-106. Transtornos Relacionados ao Álcool). Referência 1. Kaplan BJ. & Sadock VA. Manual Conciso de Psiquiatria Clínica. 2ª edição. ARTMED- ABP. 2008. p. 97- 106. ENADE Comentado 2007: Medicina 57 QUESTÃO 35 Uma cidade de médio porte sofre uma epidemia de dengue. O médico chefe de uma Unidade Básica de Saúde (UBS) reúne os profissionais da unidade e líderes da comunidade com o propósito de implementar o enfrentamento da epidemia. São definidas duas áreas de atuação: uma dirigida à coletividade e outra junto aos médicos. Além de divulgar entre a clientela da UBS a necessidade de evitar água parada nas residências, onde estão mais de 90% dos focos do mosquito transmissor, e a facilitação da visita dos agentes da Vigilância Sanitária para identificar esses focos, deve-se também (A) orientar os médicos a iniciar o tratamento empírico com aciclovir nos casos suspeitos e a encaminhar aos hospitais os mais graves ou impossibilitados de receber medicação por via oral. (B) divulgar a necessidade da vacinação contra a doença, principalmente para aqueles que a tenham adquirido uma vez. (C) instruir os agentes de saúde a encaminhar à UBS todos os casos suspeitos, com exceção daqueles mais graves, que devem ser encaminhados diretamente aos hospitais. (D) orientar os médicos para encaminhar aos hospitais todos os casos que apresentem sinais de gravidade, tais como febre alta, cefaléia intensa ou refratária, e todos que já tenham contraído a doença uma vez. (E) orientar os médicos para encaminhar aos hospitais os casos suspeitos que apresentem sinais de gravidade, tais como manifestações gastrointestinais intensas, derrame pleural ou ascite. Gabarito: E Comentário: Tratamento empírico com aciclovir para dengue é um absurdo, descarta-se a alternativa A. Infelizmente não existe vacina para dengue, o que torna a alternativa B outro absurdo. A letra C parte de uma ideia correta (casos mais graves devem ter cobertura hospitalar), mas não é papel do agente comunitário de saúde decidir isso, pois há critérios diagnósticos envolvidos, que devem ser determinados por um médico. Todos os pacientes devem ser vistos por um médico que deverá definir a conduta terapêutica mais adequada conforme os algoritmos do Ministério da Saúde. Lembrando, o papel do agente comunitário de saúde é de educação e busca ativa na comunidade de casos faltosos em programas de saúde, por exemplo. 58 Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (Orgs.) A letra D contém uma frase enganadora: os pacientes com sinais de gravidade devem ser encaminhados para internação (às vezes até CTI), mas febre alta, cefaleia intensa ou refratária são parte da lista de sinais sugestivos de quadro viral e não são representativas de gravidade. Relembrando: todo o paciente deve ser considerado suspeito de dengue com quadro por até sete dias e vindo de área endêmica ou que tenha viajado para área endêmica e que apresente mialgia, artralgia, febre, cefaleia, dor retro-orbitária, prostração e exantema. Diarreia, náuseas e vômitos podem ocorrer em alguns casos. Pacientes que já contraíram a doença uma vez podem adoecer novamente, pois a dengue tem quatro sorotipos virais, e não há imunidade para quem sofreu com um sorotipo viral e contrai outro. A letra E contém a resposta correta: os médicos devem encaminhar para atendimento hospitalar os casos que apresentarem sinais de gravidade (ou alerta), tais como: manifestações gastrointestinais intensas, derrame pleural ou ascite. Além desses citados pela resposta, tem-se como sinal de gravidade: hipotensão postural, hipotensão arterial, hemorragias importantes, cianose, extremidades frias, pulso rápido e fraco, diminuição da diurese, agitação e/ou letargia, aumento súbito do hematócrito (deve ser monitorado de 2/2 horas em casos graves), diminuição da temperatura corporal. Importante: qualquer sinal de choque requer terapêutica intensiva. Entre os sinais e sintomas gastrointestinais destacam-se: dor abdominal intensa e contínua, vômitos persistentes, hepatomegalia dolorosa, hematêmese e hematoquezia. Deve-se sempre ter em mente tais sinais ao avaliar um paciente com suspeita de dengue, pois a forma hemorrágica pode ser letal, e o mecanismo fisiopatológico se dá por perda sanguínea e de líquidos para o terceiro espaço, por isso o tratamento deve ser com hidratação venosa agressiva, “à moda do tratamento para cólera” (a comparação facilita a memorização). Tanto casos brandos como complicados devem ser notificados. Referências 1. Brasil. Cadernos de Atenção Básica. v. 21. Ministério da Saúde, Brasília, 2008. p. 21-47. Recomenda-se fortemente a leitura dessa publicação que trata do assunto de forma abrangente: apresentação clínica, terapêutica (com algoritmos e fluxogramas), medidas na comunidade e papéis das equipes no atendimento de epidemias e casos individuais. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/abcad21.pdf Acesso em 1º/6/2010. 2. Duncan B, Schmidt, MI, Giugliani ERJ. Medicina Ambulatorial. 3ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2004. p. 1.494-1.499. ENADE Comentado 2007: Medicina 59 QUESTÃO 36 Mulher de 74 anos procura assistência em Unidade de Saúde da Família. Vem acompanhada da filha, de 50 anos, que responde grande parte da anamnese, devido ao déficit auditivo da mãe. Há o relato de duas quedas nos últimos 6 meses, sem perda da consciência ou trauma craniano. A paciente sofre de insuficiência cardíaca, osteoartrose, depressão leve e insônia, fazendo uso de fluoxetina, furosemida, captopril, atenolol e diazepam. Seus problemas crônicos parecem estáveis. Usa óculos bifocais e fez avaliação oftalmológica recente que mostrou catarata bilateral. A assistente social realiza um questionário sobre as características do sobrado onde mora. Ao examiná-la, nota-se dificuldade em sentar e levantar da cadeira sem usar os braços. O exame neurológico não mostra sinais focais. A pressão arterial deitada é de 130 × 80 mmHg e em pé de 108 × 70 mmHg e o pulso é de 60 bpm. Eletrocardiograma, hemograma, glicemia e creatinina são normais e a densitometria óssea mostra osteoporose. Das alternativas abaixo, assinale a que contém apenas medidas corretas para prevenir futuras quedas. (A) Fisioterapia para melhorar força muscular, diminuição da dose dos antihipertensivos e dosar eletrólitos e TSH. (B) Diminuir gradualmente o antidepressivo e o benzodiazepínico, indicar meia elástica e realizar ressonância magnética de crânio. (C) Operar a catarata, instalar corrimão no banheiro e realizar eletroencefalograma. (D) Evitar óculos bifocais enquanto caminha, levantar sempre lentamente e realizar ecodopplercardiograma. (E) Tomar cálcio e alendronato, retirar tapetes dos cômodos da casa e realizar Doppler das carótidas. Gabarito: A Comentário: Contexto A prevenção do risco de queda pelo idoso pode ser diminuída. Conforme as pessoas envelhecem, elas podem cair com mais frequência por uma variedade de razões, incluindo problemas com o equilíbrio, a déficit de visão e demência. A taxa anual de queda pode ser de até 30%. Apesar de uma em cada cinco quedas podem necessitar de cuidados médicos, menos de uma em dez resultados em uma fratura. 60 Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (Orgs.) O medo de cair pode resultar em níveis de atividade autolimitada. Pode não ser possível para evitar quedas completamente, mas as pessoas que tendem a cair com frequência podem ser treinadas a cair menos vezes. Hipotensão ortostática Quando a pressão arterial é medida corretamente, hipotensão ortostática é definida como uma diminuição na pressão sistólica de pelo menos 20 mm Hg ou pressão arterial diastólica de pelo menos 10 mm Hg dentro de três minutos de pé. A hipotensão ortostática é inferida como um fator de risco evidente para quedas. A Idade e o Risco de queda para pacientes com idade de 65 a 74 anos, a probabilidade de queda foi de 31% para 32%, para aqueles com 70 a 74 anos, 22% a 33%, para aqueles com 75 a 79 anos, 25% para 36%, para aqueles com 80 anos ou mais, 34% para 37%. TSH O hormônio da tireoide afeta diretamente o coração e o sistema vascular periférico. O hormônio pode aumentar o inotropismo do miocárdio e da frequência cardíaca e dilatam as artérias periféricas para aumentar o débito cardíaco. Uma deficiência excessiva de hormônios da tireoide pode causar a doença cardiovascular e agravar muitas condições pré-existentes. A prevenção Os programas de exercício físico podem ter meta força, equilíbrio, flexibilidade e resistência. Os programas que contenham dois ou mais desses componentes podem reduzir a taxa de quedas e o número de pessoas acometidas. Exercícios em grupos de supervisão, participando de Tai Chi, e realização de programas de exercícios prescritos individualmente em casa são todos eficazes. Referências 1. Gillespie LD, Robertson MC, Gillespie WJ, Lamb SE, Gates S, Cumming RG, Rowe BH. Interventions for preventing falls in older people living in the community. Cochrane Database Syst Rev. 2009, Apr 15; (2):CD007146. 2. David A. Ganz, MD, MPH; Yeran Bao, MD; Paul G. Shekelle, MD, PhD; Laurence Z. Rubenstein, MD, MPH Will My Patient Fall? JAMA: 2007; 297:77-86. 3. Mardi Gomberg-Maitland, William H.F. Thyroid hormone and cardiovascular disease. American Heart Journal. Volume 135, Issue 2, February 1998, p. 187-196. ENADE Comentado 2007: Medicina 61 COMPONENTE ESPECÍFICO QUESTÕES DISCURSIVAS As questões 37, 38, 39 e 40, do COMPONENTE ESPECÍFICO, são itens abertos, ou seja, demandam respostas discursivas. A propósito dessas, o INEP apresentou, junto com o gabarito dos itens objetivos, o “Padrão de resposta esperado” para cada questão. Por essa razão, reproduzimos as questões e os respectivos padrões de resposta fornecidos pelo INEP, para que o leitor possa ter à disposição a prova referente ao componente específico em sua totalidade. ENADE Comentado 2007: Medicina 63 QUESTÃO 37 Homem de 70 anos, com seqüela motora de acidente vascular cerebral isquêmico, desenvolve câncer de pulmão associado a tabagismo crônico. O estadiamento revela metástases ósseas e, após várias sessões de quimioterapia e radioterapia, os oncologistas definem que a neoplasia está fora de possibilidade de cura e que a sobrevida estimada é inferior a 6 meses. O paciente retorna à sua residência e a equipe multiprofissional da qual você é o clínico geral conduzirá o caso. O paciente apresenta dor óssea e dispnéia, mesmo com saturação de O2 de 91% em ar ambiente. Apresenta períodos de anorexia com dificuldade de engolir alguns tipos de alimento, chegando a engasgar e piorar a dispnéia. a) O filho do paciente pergunta a você: “Doutor, não há nada mais que se possa fazer?” Qual sua resposta (valor: 2,0 pontos) b) Que profissional da sua equipe pode definir com precisão o tipo de alimento que o paciente pode deglutir? (valor: 2,0 pontos) c) Foi decidido jejum por via oral e contra-indicada sonda nasoenteral devido à ocorrência de sinusites durante seu uso no período hospitalar. O doente apresenta veias periféricas de difícil acesso. Qual a sua proposta mais racional? (valor: 2,0 pontos) d) O paciente apresenta dor de intensidade 9 numa escala de 0 a 10, em uso de paracetamol, diclofenaco e codeína. Qual sua proposta? (valor: 2,0 pontos) e) Depois de 5 meses, o paciente falece em casa. Qual é a conduta a ser tomada em relação ao atestado de óbito? (valor: 2,0 pontos) 64 Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (Orgs.) Padrão de resposta: a) Pode-se cuidar: aliviar o sofrimento (ansiedade, depressão, dor e falta de ar), oferecer apoio psicológico, social e espiritual buscando melhora da qualidade de vida, oferecendo cuidado paliativo. b) Fonoaudiólogo, médico ou nutricionista. c) Gastrostomia endoscópica. d) Opiáceo, associado ou não a antiinflamatórios não hormonais e adjuvantes. e) O atestado de óbito deve ser emitido pelo médico assistente ou substituto, em domicílio. (causa de óbito bem definida). Comentários: a) Sempre há algo que se possa fazer pelo paciente perto do fim de sua vida. Pode-se cuidar no sentido de aliviar o sofrimento (ansiedade, depressão, dor e falta de ar), oferecer apoio psicológico, social e espiritual, buscando melhoria de sua qualidade de vida, oferecer cuidados paliativos eficientes. b) Fonoaudiólogo, médico ou nutricionista. c) Gastrostomia endoscópica. d) Opiáceo, associado ou não a anti-inflamatórios não hormonais e adjuvantes. e) O atestado de óbito deve ser emitido pelo médico assistente ou substituto, em domicílio. (causa básica do óbito bem definida). Referências 1. Código de Ética Médica - Conselho Federal de Medicina, 2010. 2. Goldman L., Aausiello D. Cecil Medicine. 23ª ed. Philadelphia: Saunders Elsevier: 2008. p.3-22. 3. http://www.bioetica.ufrgs.br/ Acesso em 15/8/2010. ENADE Comentado 2007: Medicina 65 QUESTÃO 38 Um adolescente com 14 anos de idade realiza seguimento irregular para controle de asma, diagnóstico que tem desde os 2 anos e meio de idade. Estava bem até há 3 anos, quando voltou a freqüentar o pronto-socorro, devido ao aumento na freqüência dos sintomas. Fazia inalação e tomava corticoesteróide por via oral, durante 3 ou 4 dias, com melhora. Procura o médico para saber o que pode ser feito, uma vez que, nos últimos meses, tem perdido aulas com freqüência e passado várias noites dormindo muito mal, devido à exacerbação dos sintomas. O médico solicita provas de função pulmonar e, com a história e os exames, classifica o quadro como persistente leve. Pergunta-se: a) Qual o medicamento de escolha para o controle da asma neste paciente? Defina a via de administração e o período. (valor: 4,0 pontos) b) Cite duas comorbidades que devem ser investigadas e tratadas e que, além de mimetizarem, pioram a sintomatologia da asma. (valor: 4,0 pontos) c) Além dos cuidados ambientais, que medida profilática deve ser indicada para este adolescente? (valor: 4,0 pontos) Padrão de resposta: a) Corticóide. Via inalatória. Período: de semanas a meses, reduzindo 25% a cada 2 meses até um bom controle da asma. Utilizar o menor número possível de doses ao dia (melhor aderência) e a menor dose diária total. b) Rinite, sinusite, rinossinutite e refluxo gastroesofágico. c) Vacinação anual contra influenza. Indicação de corticóide. Comentários: - Corticoide inalatório (CI) na asma: trata-se do principal medicamento utilizado no tratamento profilático anti-inflamatório, tanto em adultos como em crianças. Grande parte dos pacientes com asma persistente leve obtém o controle com doses baixas, enquanto que outros necessitam de doses moderadas ou altas. O tratamento de 66 Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (Orgs.) manutenção com CI reduz a frequência e gravidade das exacerbações, o número de hospitalizações e de atendimentos nos serviços de emergência, melhorando a qualidade de vida, a função pulmonar e a hiperresponsividade brônquica, e reduzindo a broncoconstrição induzida pelo exercício. O controle dos sintomas e a melhora da função pulmonar podem ocorrer após uma ou duas semanas de tratamento, enquanto que a reversão da hiperresponsividade brônquica pode levar um período mais prolongado de tratamento. A suspensão do tratamento com CI pode levar à piora clínica. Dessa forma, a adesão ao tratamento é essencial e um dos maiores desafios clínicos no manejo da doença. Os efeitos colaterais dos CI são habitualmente observados com utilização de doses elevadas e por tempo prolongado. Perda de massa óssea, inibição do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e déficit de crescimento, sem alteração da maturação da cartilagem de crescimento, são os efeitos colaterais mais comuns nessas situações. Candidíase oral, disfonia e tosse crônica por irritação das vias aéreas superiores podem ser observadas com qualquer dose e são reduzidas se a recomendação de higiene oral após o uso for seguida. O Quadro 1 mostra a equivalência de doses dos CI utilizados no Brasil. Quadro 1 - Equivalência de dose dos corticoides inalatórios utilizados no Brasil. Adultos Fármaco Dose baixa (mcg) Dose média (mcg) Dose elevada (mcg) Beclometasona 200-500 500-1.000 > 1.000 Budesonida 200-400 400-800 > 800 Ciclesonida 80-160 160-320 > 320 Fluticasona 100-250 250-500 > 500 Beclometasona 100-400 400-800 > 800 Budesonida 100-200 200-400 > 400 Fluticasona 100-200 200-500 > 500 Ciclesonida* * * * Crianças ENADE Comentado 2007: Medicina 67 Comorbidades: a rinite alérgica é uma doença altamente prevalente e fortemente associada a asma. A ausência de diagnóstico e consequente tratamento pode resultar em sintomas respiratórios frequentes e piora do controle da asma. A sinusite bacteriana é uma complicação, frequentemente secundária a rinite alérgica não controlada ou infecções respiratórias virais. Da mesma forma que a rinite alérgica, resulta em sintomas respiratórios e pode exacerbar sintomas de asma. Seu diagnóstico precoce e tratamento adequado é importante no manejo de pacientes asmáticos. Vacinação contra influenza: pacientes com asma persistente devem ser aconselhados a fazer a vacina anual para influenza. A vacinação anual, no entanto, não parece proteger contra exacerbações ou para um melhor controle da asma. Sua prioridade deve ser para aqueles com asma moderada a grave. Referências 1. IV Diretrizes brasileiras para o manejo da asma da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. 2. Global Initiative for Asthma (GINA). 68 Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (Orgs.) QUESTÃO 39 Mulher de 66 anos, enfermeira aposentada, com menopausa aos 55 anos, fazendo uso da terapêutica de reposição hormonal da pós-menopausa desde então, procura ambulatório médico por ter detectado nódulo na mama esquerda durante autoexame. Demonstra bastante preocupação, pois uma amiga faleceu recentemente por câncer mamário, mesmo após cirurgia de “retirada da mama”, realizada anos antes. Refere menarca aos 10 anos e diz que seus ciclos menstruais sempre foram relativamente regulares, teve uma única gestação que culminou com um parto normal há 30 anos, sem amamentação. Ao exame clínico das mamas, notou-se nódulo de aproximadamente 2 cm de diâmetro no quadrante súpero-lateral da mama esquerda, móvel, bem delimitado, de consistência fibroelástica e indolor. Além disso, o tecido glandular mostrou-se bastante denso para a idade. Também foram notados linfonodos móveis, de consistência fibroelástica, em ambas as axilas. a) Quais são os fatores de risco para câncer de mama que esta paciente apresenta? (valor: 5,0 pontos) b) Segundo diretrizes internacionais, qual é o exame mais apropriado para rastreamento do câncer mamário? (valor: 2,0 pontos) c) Um outro médico recomendara interromper imediatamente a terapêutica hormonal, por ser grande a chance de o nódulo ser um câncer, e quis fazer biópsia por agulha fina durante o exame físico, antes de qualquer outro exame, mas ela se recusou. Qual sua opinião sobre a conduta desse médico? Explique sucintamente. (valor: 3,0 pontos) Padrão de Resposta: a) Menopausa tardia; menarca precoce (longo período de exposição aos estrogênios endógenos); terapêutica de reposição hormonal por mais de 5 anos; primeiro parto tardio (após os 30 anos); falta de aleitamento materno; baixo número de gestações a termo; sexo feminino; idade. b) Mamografia. ENADE Comentado 2007: Medicina 69 c) Conduta inadequada, pois clinicamente o nódulo tem características benignas. Por isso, não se recomendaria a interrupção imediata da terapêutica de reposição hormonal que possivelmente causaria sintomas menopausais. Além disso, o médico poderia estar causando grandes preocupações desnecessárias na paciente. Recomenda-se sempre a avaliação do nódulo por método de imagem, antes de fazer uma análise citopatológica ou histopatológica. Comentários: a) Já bem respondida pela aluna (anexar). b) A mamografia ainda é o exame mais apropriado porque é o único que demonstrou em estudos randomizados a capacidade de reduzir mortalidade quando empregado como rastreamento (pacientes assintomáticas). c) está parcialmente correta a resposta. Não é necessário a parada abrupta de TRH antes de avaliação adequada. A segunda parte da resposta é discutível. Pode-se sim realizar uma PAFF como 1º exame, ainda mais nesse caso em que a possibilidade de cisto (em virtude da TRH) pode ser levantada (a descrição do exame é típica de fibroadenoma, porém é muito mais comum um cisto pós-TRH do que o crescimento de uma FAD que a paciente desconhecia possuir). Alguns autores sugerem que antes de punções devemos obter exames de imagem para não "mascarar" as margens da lesão em caso de hematoma. Porém, caso ocorra algum acidente de punção, é só fazer compressão por alguns minutos que o hematoma não se forma. Se fosse um cisto e ele fosse esvaziado após a PAAF, a paciente poderia tranquilamente realizar seus exames de maneira menos intempestiva. Além disso, em serviço público, a PAAF é muito mais acessível do que os exames de imagem, que às vezes demoram meses. Se a PAAF vier suspeita podemos chamar a paciente e realizar os outros exames mais rapidamente. A avaliação histopatológica é que não fazemos de costume sem exames de imagem, pois o risco de um hematoma é maior pelo calibre da agulha. Referências 1. Berek J. Berek & Novak: tratado de Ginecologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A. 14ª Ed. Cap. 38, p. 1.177-1.198. 2. Cadernos de Educação Básica. Ministério da Saúde. 2006, nº 13. acesso em 5/10/2010. 70 Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (Orgs.) QUESTÃO 40 P.J.B., um homem de 62 anos, pedreiro, procura o pronto-socorro com queixa de dor abdominal há 2 dias. Diz que a dor é "no meio da barriga" e vem aumentando. No começo, melhorou com analgésico que a esposa lhe deu, mas agora não passa e dói "a barriga toda". Vomitou duas vezes ontem e três hoje. Evacuou muito pouco hoje cedo. Diz que não elimina gases desde o início da dor. Passou no pronto-socorro perto de sua casa, onde fez a radiografia mostrada a seguir, tomou medicação na veia, que aliviou um pouco a dor e as náuseas, e foi orientado a procurar um hospital maior, se a dor voltasse. Está sem fome, embora sinta muita sede. Diz que desde ontem "não pára nada no estômago". O exame físico revela que o paciente está em bom estado geral, mas bastante desidratado. O abdome é globoso, está bastante distendido e é difusamente doloroso. Na região inguinal direita, nota-se um abaulamento de cerca de 5 cm de diâmetro. É doloroso e tenso. Não está hiperemiado. O paciente diz que não se queixou "desse caroço", porque faz mais de 2 anos que ele "aparece e recolhe" e só dói quando é palpado. Há 2 dias apareceu e não saiu mais. Tendo em mente o diagnóstico e o tratamento deste paciente, responda: a) Qual é o diagnóstico sindrômico? E o diagnóstico etiológico? (valor: 3,0 pontos) b) Indique 2 informações que não estão muito claras na história clínica e que, se adequadamente pesquisadas, ajudariam a suspeitar mais precocemente do diagnóstico sindrômico e, mesmo, do diagnóstico etiológico. (valor: 3,0 pontos) ENADE Comentado 2007: Medicina 71 c) No exame deste paciente, como é esperado que sejam os ruídos hidroaéreos? (valor: 1,0 ponto) d) Qual deve ser o plano de tratamento deste paciente nas próximas duas horas? (valor: 3,0 pontos) Padrão de Resposta: a) Diagnóstico sindrômico: abdome agudo obstrutivo. Etiologia: hérnia inguinal encarcerada. b) Características da dor abdominal, antecedentes de cirurgia abdominal e hábito intestinal. c) Presentes e aumentados; eventualmente, de timbre metálico. d) Acesso venoso. Passagem de sondanasogástrica. Reposição de volume. Analgesia. Exames gerais pré-operatórios, com correção de possíveis distúrbios de eletrólitos. Cirurgia para correção da hérnia inguinal. Não é aceitável: reduzir a hérnia e dispensar o paciente. Comentários: Questão muita bem elaborada, apresentando um quadro clássico de abdome agudo obstrutivo. As imagens, apesar de não muito nítidas, demonstram claramente radiografias sugestivas de um quadro de obstrução intestinal no intestino delgado. Respostas específicas: a) Toda a sintomatologia do paciente (dor e desconforto abdominal, seguidos de vômitos e parada da eliminação de fezes e flatos) é sugestiva de um quadro de abdome agudo obstrutivo. A ausência de sinais de irritação peritoneal descarta a possibilidade de abdome agudo inflamatório. Dentre as causas de obstrução intestinal no intestino delgado, as mais frequentes são: aderências intestinais devido a cirurgias prévias, tumores e encarceramento de hérnias da parede abdominal. A história de abaulamento na região inguinal faz supor que a etiologia do quadro é devido a hérnia inguinal encarcerada. b) Características da dor abdominal sucedida por vômitos (deveriam ser mais bem caracterizados – cor, odor, quantidade). Hábito intestinal prévio para descartar etiologia por neoplasia obstrutiva de cólon e antecedentes de cirurgia abdominal para verificar a possibilidade de aderências intestinais. Não é descrito o toque retal, fundamental na avaliação de paciente com quadro de abdome agudo obstrutivo 72 Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (Orgs.) c) Na fase inicial do quadro espera-se que os ruídos hidroaéreos estejam aumentados; eventualmente, de timbre metálico. Em situações extremas é possível a visualização dos movimentos peristálticos das alças na parede abdominal no exame físico. d) Nos quadros de obstrução intestinal causador por hérnia inguinal há 2 dias como nesse paciente, o tratamento é cirúrgico pelo risco de sofrimento vascular na estrutura encarcerada. Contudo, como o paciente encontra-se desidratado e sem sinais de peritonite, podem ser realizadas manobras com intuito de melhorar as condições do paciente. A obtenção de um acesso venoso periférico calibroso para reposição de volume e correção de possíveis distúrbios de eletrólitos normalmente é a primeira medida. Passagem de sonda nasogástrica deve ser realizada para aliviar os vômitos e diminuir o risco de aspiração e diminuir a distensão das alças intestinais no momento da operação. Após estabilização do paciente deve ser indicada cirurgia para correção da hérnia inguinal. Referência 1. Doherty G.M. Current Surgical. Diagnosis & Treatment.12a ed. New York: Lange Medical Publications. p. 662-667. ENADE Comentado 2007: Medicina 73 PROFESSORES COLABORADORES PARA ELABORAÇÃO DAS RESPOSTAS Alexandre Losekann Alfredo Cataldo Neto Ana Medeiros André Palmini Antônio Marrone Brasília Aché Cândida Neves Carlos Alberto Musse Carlos Cevenini Carlos Fernando Francesconi Carlos Henrique Barrios Carlos Kupski Carmen Daudt Cláudia Piccoli Daniella Machado Felipe Zerwes Gianfranco Lardi Guilherme Dantas Gustavo Franco Carvalhal Hamilton Petry de Souza Ivan Carlos Antonello João Carlos Guaragna João Cyrus Bastos João Michelon João Steibel José M. Chatkin 74 Maria Helena Lopes, Caroline Monteiro (Orgs.) José Vicente Spolidoro Leonardo Pinto Luciano Diogo Lúcio Fillmann Luiz C. Bodanese Manoel Afonso Marcelino Poli Marcelo Toneto Marcos Fridman Margareth Salerno Maria Helena Itaqui Lopes Maria José Zanella Mariangela Badalotti Mário Sérgio Mário Wagner Mariza Schaan Natan Estivalet Ney Arthur Azambuja Patrícia Lichtenfels Paulo Márcio Condessa Pitrez Pedro Ferreira Ricardo Breigeiron Rosângela Panta Sérgio Lerias de Almeida Vinícius Duval da Silva Virgílio Tonietto