CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL NAYANA KELLY MAIA ALCOFORADO RIOS OS DESAFIOS E EXPECTATIVAS DAS ESTUDANTES DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL DA FACULDADE CEARENSE (FaC) QUE ENGRAVIDARAM DURANTE A GRADUAÇÃO. Fortaleza 2014 NAYANA KELLY MAIA ALCOFORADO RIOS OS DESAFIOS E EXPECTATIVAS DAS ESTUDANTES DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL DA FACULDADE CEARENSE (FaC) QUE ENGRAVIDARAM DURANTE A GRADUAÇÃO. Monografia submetida à aprovação do Curso de Serviço Social do Centro de Ensino Superior do Ceará Faculdade Cearense (FaC), como requisito parcial para obtenção do grau de Graduação. Orientadora: Prof.ª esp. Ana Paula Silveira Morais Vasconcelos FORTALEZA 2014 NAYANA KELLY MAIA ALCOFORADO RIOS OS DESAFIOS E EXPECTATIVAS DAS ESTUDANTES DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL DA FACULDADE CEARENSE (FaC) QUE ENGRAVIDARAM DURANTE A GRADUAÇÃO. Monografia apresentada como pré-requisito para obtenção do título de Bacharelado em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense-FaC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores. Data da aprovação: ____/____/_____ BANCA EXAMINADORA _________________________________________________ Profª. Esp. Ana Paula Silveira de Morais Vasconcelos (orientadora) __________________________________________________ Profª. Ms. Jane Meyre Silva Costa __________________________________________________ Esp. Eveline de Sousa Landim Com muito afeto, dedico esta monografia à minha professora número um, que me ensina diariamente sobre a simplicidade da vida e sobre o mais sublime amor, minha flor de laranjeira, minha menina, minha Marina. AGRADECIMENTOS Ao meu Deus, meu Mestre, minha tribo, meu mais sincero sentimento de gratidão! De onde recebia e recebo força e luz para seguir firme nessa caminhada. Aos meus amados e fiéis companheiros que estão comigo por onde eu vou, que me inspiram e não me deixaram desistir um só segundo desse desafio, meu esposo Lucas Rios e minha filha Marina, meu coração é de vocês! Amo a nossa família! Aos meus amados pais Berwan Alcoforado e Alyce Alcoforado, gratidão por todo amor dedicado a mim, por terem me dado a vida, por terem me conduzido para o caminho do bem, pela torcida e desejo que esse dia chegasse. Sim, consegui! Aos meus irmãos Wanber Alessandro e Luan Alessandro, grata! Só tenho boas lembranças das nossas convivências. Contem sempre comigo! À minha tia e madrinha Cristinne que sempre esteve presente na minha vida de maneira significativa, gratidão e meu amor! À minha orientadora Ana Paula Silveira, por ter se mostrado disposta e disponível desde nosso primeiro encontro. Suas contribuições foram de grande valia e sem elas eu não teria conseguido. Às minhas amigas do berçário Núcleo Tucunacá: Ludmila Rios, Patrícia Marques, Ticiana Diva, Márcia Fernandes, Lívia Lopes, por todo incentivo que me deram e pela amizade que colore a estrada, sou grata! Não podendo deixar de citar as amigas futuras mães do NT que me deram força sempre que eu desanimava: Juliana Dias e Magna Muniz. Vocês têm a minha amizade e que bom que eu a de vocês! Às amigas da faculdade que durante esses anos compartilharam e ainda compartilham comigo momentos de crescimento e alegria: Jamile Silva, Giovanna Cardoso, Nataly Pereira, Michelle Adrienne e Glaucianne Silva. Não podendo deixar de citar as minhas queridas com as quais estreitei laços de carinho e afeto: Angélica Braga, Danny Soares, Isalenny Silva, Jamylly Maciel, Eliane Avelino Lusiana Andrea, Jailma Rodrigues, Mayara Rodrigues, Andréa Ribeiro, Vanessa Maia, Mikaella Alves. Gratidão por todo apoio que tive de vocês nos momentos difíceis! Levarei comigo boas lembranças da nossa turma “Vamos nos permitir”. Permitam-me! A todos os professores do curso de Serviço Social da Faculdade Cearense por terem contribuído significantemente com a minha formação. Às colegas entrevistadas por terem disponibilizado alguns minutos do seu tempo para a realização das entrevistas. Meu sincero agradecimento! Sem vocês esse estudo não teria tornado-se possível. À professora Ms. Jane Meyre e à Esp. Eveline de Sousa pela disponibilidade em aceitarem participar desse momento tão importante e decisivo para mim e pelas contribuições dadas para a melhoria deste trabalho. Colaborações sempre serão bem vindas! GRATIDÃO! “Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado, mas, consciente do inacabamento, sei que posso ir mais além dele. Esta é a diferença profunda entre o ser condicionado e o ser determinado. A diferença entre o inacabado que não se sabe como tal e o inacabado que histórica e socialmente alcançou a possibilidade de saber-se inacabado”. Paulo Freire RESUMO A presente pesquisa teve por objetivo apresentar a partir do olhar das alunas da Faculdade Cearense que engravidaram durante o processo de formação as dificuldades vivenciadas por essas estudantes do curso de Serviço Social desta Instituição de Ensino Superior (IES) para conciliar a maternidade com a formação profissional, bem como trazer a luz que essa pesquisa revela e discutir essa questão que é compartilhada por diversas mulheres, apresentando as vicissitudes do ser mulher. Buscando também apontar as estratégias criadas por essas mulheres para o enfrentamento da dupla e, às vezes, tripla jornada, identificar as expectativas das entrevistadas ao descobrirem a gravidez, perceber de que forma elas encararam a pausa à faculdade e buscar desvelar quais as dificuldades do retorno à vida acadêmica e formas de enfrentá-las (Motivação x Desmotivação), bem como perceber a partir do olhar das pesquisadas qual a avaliação que elas fazem do seu desempenho acadêmico após a maternidade. Para atingir estes objetivos, fiz uso da pesquisa de natureza qualitativa, composta de uma pesquisa de campo e revisão bibliográfica sobre o tema e as categorias que o constitui. Utilizei como instrumento de coleta de dados entrevista semiestruturada com sete alunas do referido curso da Instituição de Ensino Superior (IES) acima citada. Após a realização das entrevistas organizei os depoimentos por meio da técnica de análise de conteúdo, nos quais foram retratados os principais desafios vivenciados pelas estudantes no desempenho da multiplicidade de suas atividades e as principais motivações para transpô-los. Para elas, vivenciar a maternidade no período acadêmico, apesar de acarretar muitas abdicações, no final das contas, os filhos tornam-se a força motriz nessa busca pela qualificação profissional. Palavras-chave: maternidade. Gênero. Educação. ABSTRACT This research had the purpose of presenting through the point of view of the female students of the Faculdade Cearense that got pregnant during the process of graduating the difficulties lived by those Social Service students from this superior education institution to manage their maternity along with the professional graduation, as well as bring the light that this research reveals and discuss this matter that is shared by many women, presenting the obstacles of being woman. Seeking as well to point the strategies created by those women for the confrontation of the double and sometimes triple journey, identify the expectations of the interviewed when discovered their pregnancy, realize how they faced the pause on their college and seek to reveal what are the difficulties of the return to the academic life and ways to face them (motivation x demotivation), as well as realize based on the look of the surveyed women what is the evaluation that they make of their performance after the maternity. To achieve these goals, I made use of a qualitative based research, made of a field research and a bibliographic review about the theme and the categories that constitute it. We used as instrument of data collection an interview semi structured with seven female students from the course of the superior education institution mentioned above. After the realization of the interviews we organized the testimonials through content analysis technique, in which were discussed the mainly challenges lived by the students on the performance of the multiplicity of their activities and the mainly motivations to transpose them. To them, experience the maternity on the academic period despite causing many waivers, in the end, the children become the driving force on this search for the professional qualification. Keywords: Maternity. Gender. Education. LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 Divisão sexual dos alunos do curso de Serviço Social da FaC.........46 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS FaC- Faculdade Cearense FIES- Fundo de Financiamento Estudantil FNDE- Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação IES- Instituição de Ensino Superior LULA- Luís Inácio Lula da Silva MEC- Ministério da Educação PROUNI- Programa Universidade para Todos SESU- Secretaria de Educação Superior SINAES- Sistema de Avaliação da Educação Superior SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO................................................................................................13 2 OS CAMINHOS PERCORRIDOS PARA A REALIZAÇÃO DA PESQUISA........................................................................................................15 2.1 PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES COM O OBJETO......................................15 2.2 DELIMITAÇÃO DO CAMPO DE PESQUISA...............................................16 2.3 O PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA.....................................17 2.4 PERFIL DAS ENTREVISTADAS.................................................................19 3 O LUGAR DA MULHER AO LONGO DA HISTÓRIA....................................21 3.1 A HISTÓRIA DAS MULHERES E A CONSTRUÇÃO SOCIAL DOS SEUS PAPÉIS..............................................................................................................21 3.2 CONTEXTUALIZAÇÕES DE GÊNERO E O MOVIMENTO FEMINISTA NO BRASIL..............................................................................................................34 4. EDUCAÇÃO EM FORMAÇÃO PROFISSIONAL NO BRASIL: ONDE E QUANDO ESSAS EQUAÇÕES SE ENCONTRAM.........................................39 4.1 A MULHER NO ESPAÇO ACADÊMICO....................................................44 5. A REALIDADE DAS ESTUDANTES DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL NO PROCESSO DE CONCILIAÇÃO DA MATERNIDADE COM A FORMAÇÃO PROFISSIONAL...............................................................................................47 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................55 REFERÊNCIAS................................................................................................58 APÊNDICES.....................................................................................................63 APÊNDICE I – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO................................................................................................64 APÊNDICE II – ROTEIRO DE ENTREVISTA...............................................65 13 1 INTRODUÇÃO A mulher desde quando ultrapassou os muros do seio familiar para lançar-se como parte integrante de um cenário no mundo do trabalho, deixou de ser ligada apenas ao âmbito doméstico e vem conquistando espaço no mercado de trabalho após o significativo aumento da industrialização. Com isso, há uma busca incessante da mulhere pela qualificação profissional através do ensino superior, pois embora tenha garantido seu espaço na academia, ainda é uma minoria em muitas áreas tidas como de competência masculina. Entretanto, essa inclusão do feminino no campo profissional e universitário não a desobrigou das tarefas maternas na esfera privada. Sendo assim, se antes ela era responsabilizada pela educação dos filhos e atividades do lar, hoje, além dessas funções já citadas, responde pelos compromissos do trabalho e da academia. Sendo os sujeitos da presente pesquisa mulheres, convivem com a condição biológica de engravidarem durante o curso de graduação. E quando isso ocorre, gera um conjunto de expectativas e desafios oriundos da dificuldade de conciliar diversos papéis ao mesmo tempo. Dessa forma, foquei alguns questionamentos que nortearam essa pesquisa, os quais foram: Quais as dificuldades vivenciadas por essas estudantes para retornar à vida acadêmica? O que lhes motiva a dar continuidade ao curso? Essas perguntas traçaram os objetivos desse estudo, os quais são: Elucidar as estratégias criadas para conciliar a maternidade à formação profissional, perceber os principais fatores que desmotivam essas mulheres a dar sequencia ao curso superior frente a essa realidade. Ratificando as discussões necessárias à compreensão do assunto pesquisado, elaborei o referencial teórico e a pesquisa de campo, utilizando como principais categorias de análise: maternidade, gênero e educação. No primeiro capítulo dei início ao trabalho apresentando a pesquisa, levantando os caminhos realizados para a realização da mesma, relatando como surgiu o interesse pela aproximação do objeto. Dando continuidade, apresento um breve histórico do campo da pesquisa, no caso a Faculdade Cearense (FaC), e em seguida trato de todo o percurso metodológico, 14 detalhando as especificidades da pesquisa. Por fim, exponho o perfil das entrevistadas. No segundo capítulo apresento uma discussão sobre “o lugar” da mulher ao longo da história e a construção social dos seus papéis. Exponho um breve resgate histórico da atribuição do feminino no seio da família, no espaço privado, e a gradativa mudança da organização familiar com chegada dela na esfera pública. Entende-se aí, esfera pública como a inserção da mulher no mercado de trabalho, numa ruptura com o “seu” mundo privado familiar. Essa inserção se deu através dos movimentos feministas e, portanto, contextualizo a categoria gênero para melhor compreensão dos princípios do movimento feminista abordado. O terceiro capítulo elucida um breve recorte do ensino superior desde seu surgimento no Brasil até o governo do Luiz Inácio Lula da Silva (Lula), pontuando em que momento a mulher passou a ter acesso ao ensino e como ela está inserida nessa realidade. No quarto capítulo demonstro uma análise das informações obtidas na pesquisa de campo e destaco as falas das entrevistadas fazendo um paralelo à pesquisa bibliográfica. Por fim, dentro das considerações finais estão os resultados encontrados da pesquisa, clarificando a partir do entrelace do estudo bibliográfico com os depoimentos das entrevistas, o desfecho dos objetivos traçados no início da monografia. 15 2 OS CAMINHOS PERCORRIDOS PARA A REALIZAÇÃO DA PESQUISA “Porque se é preciso promover a equidade de gênero na ciência, se é preciso inserir as mulheres de maneira mais ampla no processo científico, então também é preciso inserir as mulheres mães”. Lígia Moreiras Sena1. 2.1 Primeiras aproximações com o objeto Com o aumento da industrialização, a mulher passou a galgar espaço no mercado de trabalho e essa conquista está ligada a inserção da mulher no espaço acadêmico, que busca se profissionalizar para garantir sucesso profissional. Entretanto, ocorre que muitas, mulheres, engravidam dentro do espaço de tempo da graduação, gerando desafios a serem enfrentados e superados pelas mesmas. Acredito que o desafio surge ao tempo em que a mulher tenta corresponder à sociedade o tipo ideal de mãe imposto ao sexo feminino, pois é a partir daí que as mulheres passam a se revelar para harmonizar e conciliar as atividades maternas às acadêmicas. Nesse sentido, a aproximação com o objeto sucedeu da minha experiência pessoal de engravidar e maternar enquanto estudante acadêmica. Através da minha vivência, instigada pelo sentido da vida diária em conciliar meus múltiplos papéis, comecei a reparar que algumas colegas de sala de aula estavam passando pela mesma situação (grávidas) e que outras enfrentavam o desafio de conciliar a faculdade com a maternidade. Com isso, envolvida e movida pelo enredo do enfrentamento e superação dos obstáculos das mães estudantes que conciliam o exercício maternal com às atividades acadêmicas, optei por produzir o trabalho monográfico intitulado “Os desafios e expectativas das estudantes do curso de 1 Lígia é bióloga, cientista e mãe. Possui um blog denominado Cientista que virou mãe, onde retrata histórias e assuntos a partir da experiência de mulheres com a maternidade e seus conhecimentos científicos. 16 Serviço Social da Faculdade Cearense que engravidaram durante a graduação”. Por conseguinte, o presente trabalho teve por objetivos específicos apresentar as estratégias criadas por essas mulheres para o enfrentamento da dupla e às vezes tripla jornada, identificar as expectativas das entrevistadas ao descobrirem a gravidez, perceber de que forma elas encararam a pausa a faculdade e buscar desvelar quais as dificuldades do retorno à vida acadêmica e formas de enfrentá-las (Motivação x Desmotivação), bem como perceber a partir do olhar das pesquisadas qual a avaliação que elas fazem do seu desempenho acadêmico após a maternidade. Os resultados a serem obtidos desse estudo, a respeito das estratégias utilizadas pelas entrevistadas para o enfrentamento das dificuldades da conciliação da multiplicidade de papéis, resguardam a possibilidade real de incentivar outras mulheres que estão inseridas nessa mesma realidade. Com esses resultados surge a oportunidade de penetrar na natureza das mulheres que assumem a vida materna sem deixar de lado a vida acadêmica, podendo ultrapassar os limites acadêmicos, tornando-se uma efetiva contribuição para a diminuição dos efeitos negativos que as mulheres sofrem atualmente por parte da sociedade como: o preconceito e desistências de ordem pessoais. 2.2 Delimitação do campo de pesquisa O campo utilizado para a execução da pesquisa foi a Instituição de Ensino Superior (IES) privada Faculdade Cearense (FaC), fundada em 2002 na cidade de Fortaleza-Ceará. A referida IES visa como missão auxiliar no avanço do País, especialmente do Estado do Ceará, “por meio da qualidade do ensino ministrado, com base na qualificação de seu corpo docente, nas condições de trabalho e na infra-estrutura física, material e econômica oferecidas à comunidade acadêmica” (FaC, 2014). E tem como prioridade a “produção do conhecimento e aprendizagem competente, buscando a excelência no ensino, 17 na pesquisa e na extensão para a formação de profissionais competentes e atuantes” (FaC, 2014). Atualmente a FaC opera com duas unidades localizadas na Avenida João Pessoa, Fortaleza-Ceará, oferecendo à população os cursos de graduação nas áreas de: Serviço Social, Turismo, Publicidade e Propaganda, Pedagogia, Jornalismo, Direito, Ciências Contábeis e Administração. Sobre o curso de Serviço Social, escolhido para a realização da pesquisa, sua primeira turma teve início no ano de 2009 e tem como objetivo: Formar profissionais com concepção intelectual/científica e cultural generalista crítica; capaz de inserir-se no conjunto das relações sociais e do mercado de trabalho; que atua nas diversas expressões das questões sociais, formulando e implementando propostas de intervenção para seu enfrentamento; comprometido com os valores e princípios norteadores do Código de Ética do Assistente Social; com capacidade de favorecer o exercício da cidadania e contribuir para o desenvolvimento da região Nordeste (FAC, 2014). Atualmente, o corpo docente do curso de Serviço Social é formado por 42 profissionais e conta com 16 turmas, totalizando 917 alunos matriculados nesse curso de graduação. Esta IES foi a primeira instituição de ensino privada a oferecer o curso de graduação em Serviço Social na cidade de Fortaleza, bem como foi pioneira em adquirir o reconhecimento do curso antes da conclusão de uma primeira turma. Este reconhecimento foi obtido no ano de 2012. 2.3 O percurso metodológico da pesquisa Para alcançar os objetivos traçados pela pesquisa, utilizo a abordagem qualitativa, pois conforme analisa Goldenberg: A pesquisa qualitativa é útil para identificar conceitos e variáveis relevantes de situações que podem ser estudadas quantitativamente, [...] é evidente o valor da pesquisa qualitativa para estudar questões difíceis de quantificar como sentimentos, motivações, crenças e atitudes individuais (2004, p. 63). Partindo desse ponto, identifico o objeto como tendo natureza qualitativa, pois a mesma me permite fazer uma análise da realidade 18 vivenciada pelos sujeitos da pesquisa, tornando possível o enriquecimento do trabalho com detalhes que talvez não fossem possíveis de se obter com outro modelo de pesquisa. Realizei também uma revisão bibliográfica sobre o tema e das categorias que o constitui, o que me possibilitou um maior aprofundamento sobre a temática, sendo relevante para o norteamento do trajeto a ser percorrido, considerando que de acordo com Gil (1999), a pesquisa bibliográfica é realizada a partir da ótica de autores que já construíram um material sobre a temática, permitindo que o pesquisador se aproprie de conhecimento sobre o objeto, se fundamentando nas teorias abordadas por outros pesquisadores, sem que seja necessário pesquisar diretamente. Nesse trabalho utilizei a pesquisa de campo, para uma maior aproximação com o objeto pesquisado, pois conforme Minayo: “O trabalho de campo permite a aproximação do pesquisador da realidade sobre a qual formulou uma pergunta, mas também estabelecer uma interação com os ‘atores’ que conformam a realidade” (MINAYO, 2001, p. 61). Para a coleta de dados, a técnica utilizada foi a de entrevista semiestruturada, pois ainda segundo a autora citada: “Combina perguntas fechadas e abertas, em que o entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o tema em questão sem se prender a indagação formulada” (MINAYO, 2009, p. 64). Optei por esse modelo por acreditar que as entrevistadas se sentiriam mais confortáveis em falar algo além do indagado. Sobre as especificidades das entrevistas, Goldemberg (2004, p. 33) diz que: [...] é preciso apontar algumas de suas inúmeras limitações e dificuldades, como, por exemplo, o constrangimento que pode causar ao pesquisado o fato de ter suas informações gravadas ou anotadas pelo pesquisador. O pesquisador deve elaborar um roteiro de questões claras, simples e diretas, para não se perder em temas que não interessam ao seu objetivo. Para aplicar as entrevistas esclareci às entrevistadas que o uso do gravador nos daria um maior aproveitamento de suas falas. Vale ressaltar que os depoimentos foram autorizados por meio de suas assinaturas do Termo de 19 Compromisso Livre e Esclarecido2. E para atingir os objetivos propostos da pesquisa, as entrevistas foram guiadas por um roteiro constando 18 (dezoito) perguntas claras e objetivas. As aplicações da mesma foram realizadas na FaC com 7 (sete) mulheres inseridas no universo do estudo em questão; e a definição da amostra foi feita por meio de saturação. Também fiz uso da pesquisa documental através de documentos oficiais da IES e artigos constitucionais, com a finalidade da obtenção de informações precisas a respeito do histórico da Instituição, bem como a proposta pedagógica do curso de Serviço Social. Segundo Gil: A pesquisa documental assemelha-se muita à pesquisa bibliográfica. A única diferença entre ambas está na natureza das fontes. Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições de diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa (1987, p.73). A partir das entrevistas explorei o conteúdo produzido, e, posteriormente relacionei a pesquisa bibliográfica com os resultados obtidos a partir da análise dos dados apresentados na pesquisa de campo. 2.4 Perfil das entrevistadas Conforme já citado no item anterior, foram entrevistadas 7 (sete) estudantes do curso de Serviço Social da Faculdade Cearense que engravidaram em algum momento dentro do percurso acadêmico. Para garantir a preservação da identidade das entrevistadas, utilizei nomes fictícios relacionando-os a árvores frutíferas3 (Goiabeira, Macieira, Laranjeira, Amoreira, Pereira, Pitangueira e Cerejeira), fazendo um comparativo às mulheres que carregam consigo a possibilidade de gerar, parir e frutificar. O perfil do grupo entrevistado será apresentado abaixo: 2 No Termo citado constam os objetivos da pesquisa e nosso comprometimento com o sigilo das informações, garantindo assim os aspectos éticos que uma pesquisa científica demanda. 3 De acordo com Wikipédia uma Árvore frutífera é: Uma árvore que produz frutas, formadas pelo amadurecimento do ovário da flor, o qual contém uma ou mais sementes. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81rvore_frut%C3%ADfera Acesso 04 dez. 2014. 20 A faixa etária que prevaleceu entre as mulheres entrevistadas foi entre 20 (vinte) e 27 (vinte e sete) anos de idade. Das 7 (sete) mulheres, 4 (quatro) são solteiras e 3 (três) são casadas; quanto a trabalhar fora de casa, 3 (três) praticam essa atividade e 4 (quatro) não praticam; 5 (cinco) precisaram trancar o curso pós nascimento dos filhos e 2 (duas) conseguiram dar continuidade sem pausa; sobre o planejamento da gravidez, a maioria, 6 (seis), afirmaram não ter planejado, apenas 1 (uma) programou, somente 1 (uma) das mulheres possui dois filhos e as outras 6 (seis) entrevistadas possuem 1 (um) filho. Quando indagadas sobre as reações ao descobrirem a gravidez, vejamos algumas respostas: “Faltou o chão. Eu queria morrer. No começo pensei em abortar, mas graças a Deus não fiz isso. Meu filho hoje é tudo pra mim” (LARANJEIRA). Fiquei assim assusta, muita assustada e pensando como é que ia fazer. Como é que ia ser minha vida, já que tudo ia mudar. Seria bem melhor se eu tivesse engravidado depois da graduação, mas... (GOIABEIRA). Ao serem questionadas sobre o que é ser mãe, obtive algumas respostas como: “Ser mãe é tudo de bom. É muito gratificante ver o sorriso do bebê pra você. Toda tristeza e cansaço somem” (PEREIRA). Pra mim é a missão mais linda que existe, poder gerar um filho por nove meses, vê-lo nascer, crescer e se desenvolver é um presente de deus em minha vida. É o que me dar força e coragem pra seguir em frente e querer ser uma pessoa melhor, pra mim e para ela. É ter muito trabalho, o mesmo trabalho, todos os dias, sem folga, sem feriado e ainda assim me sentir feliz com tudo isso (PITANGUEIRA). É saber exatamente o que é amor. É ter o privilégio de vivenciar uma experiência única e totalmente prazerosa. É amar alguém de uma forma que você nunca imaginou que fosse capaz de amar. Um amor que não tem limites e não pede nada em troca para isso (MACIEIRA). Entendo que essas falas acima estão ancoradas numa produção social, o “mito da boa mãe”. Esses perfis discorrem uma amostra das especificidades do universo pesquisado, bem como a análise que algumas das entrevistadas fazem a respeito da maternidade e suas reações ao descobrirem a gestação. No próximo capítulo apresento os diferentes papéis assumidos pelas mulheres ao longo da história. 21 3. O LUGAR DA MULHER AO LONGO DA HISTÓRIA “Não basta saber ler que a Eva viu a uva. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho”. Paulo Freire. 3.1 A história das mulheres e a construção social dos seus papéis. Para debater sobre o papel exercido socialmente pelas mulheres ao longo da história, é necessário recorrer a autores que discutem sobre essa temática e sua importância para compreendermos a representatividade do feminino nos dias de hoje. De acordo com Cantuário (1998) a mulher representa um ser social voltada para exercer atividades consideradas “menos importantes” para a sociedade, como os afazeres domésticos e reprodução da espécie, sendo considerada sem capacidade de atingir níveis satisfatórios de conhecimento. Assim como cita Rodrigues: Subjulgadas fisicamente, reprimida mentalmente, dominadas ideologicamente, as mulheres foram, ao longo dos séculos rendidas à um conjunto de normas e valores religiosos, éticos, morais e científicos que as modelaram de acordo com os preceitos da época. Os sistemas de conhecimento através de suas instituições representativas levaram tanto homens quanto mulheres a acreditarem na superioridade masculina e em contrapartida na inferioridade feminina (1994, p. 5). Para Bruschini (1993), na sociedade agrária e escravocrata do Brasil colonial, a família desempenhava as funções econômicas e políticas, sendo instituição fundamental. E o modelo patriarcal era a base desse sistema, que fora herdado de padrões culturais portugueses, impostos sobre a colônia, desfazendo as estruturas familiares aqui já existente entre os indígenas. Conforme as concepções de Saffioti (2004), o conceito de patriarcado está relacionado à ideia de subordinação da mulher e opressão masculina sobre o sexo feminino, fazendo com que o termo seja bastante criticado, por ser reconhecido como algo detestável perante a sociedade. 22 No Brasil, numa época não muito remota, o machismo assumia um papel social, visto que o homem se comportava e era obedecido dentro do próprio espaço doméstico como dono absoluto da mulher, dos filhos, dos seus escravos e das decisões financeiras da casa. Constatava-se também que a cultura do patriarcado refletia-se nas posições sociais e econômicas que a mulher e o homem desempenham na sociedade, sucedendo em discriminações, opressões e dominação do homem como sexo forte sobre o sexo frágil, a mulher. E essa diferenciação ainda hoje é recorrente, pela submissão feminina ao longo da história, ainda que movimentos sociais, movimentos de libertação da mulher e outras entidades civis tenham tentado apagar e lutado incansavelmente pela paridade na participação feminina em todos os segmentos da vida sócio-econômica do país. Examinando o percurso familiar no decorrer do tempo, Áries (1981) aponta que a família até o século XVII não possuía privacidade, viviam em público e quase não existia intimidade entre seus membros. Os mesmos se relacionavam nas solidariedades comunitárias, coletivas e feudais. Corroborando nesta análise, Bruschini (1993) vem dizer que neste período aristocrata dos séculos XVI e XVII as famílias não se isolavam, quase não havia separação entre a esfera pública e a privada, e foi somente com a ascensão da burguesia (durante o século XVIII) que a instituição familiar passou a ser privada. Com base nas concepções de Freyre (2006), na composição da sociedade brasileira, a partir do século XVI, ou seja, desde o período da colonização portuguesa, a família foi constituída assumindo uma marca patriarcal e escravocrata, influenciando as desigualdades entre os gêneros, tendo a figura masculina autoridade incontestável. De acordo com Bruschini (1993), a família patriarcal considerava a mulher como propriedade do homem e era definida por uma restrição do sexo feminino, em que a finalidade dela dentro do casamento era unicamente 23 cumprir seu dever conjugal e procriar, com o objetivo de garantir a sucessão e a herança. Portanto, constata-se que o homem passa a dominar a mulher também através da reprodução, com o objetivo de lucrar financeiramente, através da força de trabalho dos filhos, além da oportunidade de perpetuar seu nome na sociedade. Analisando a definição da origem etimológica da palavra família, aparece uma manifestação dessa dominação do masculino sobre o feminino: deriva do vocabulário latino “famulus”, que significa escravo doméstico. De acordo com Osterne, esse termo foi criado para: [...] designar um grupo social surgido entre tribos latinas, quando da introdução da agricultura e da escravidão legal que se compunha de um chefe que mantinha sob seu poder a mulher e os filhos e certo número de escravos. Escravos com o poder de vida e morte sobre todos, o “paterpotestas”. Daí por diante o termo tem servido para designar agrupamentos sociais e instituições essencialmente díspares entre si, tanto do ponto de vista de sua estrutura, como de suas funções (2001, p. 57). Desse modo, essa definição exprimiu uma natureza possessiva, que compreende a subjugação de filhos e mulheres que obedeciam a um único sujeito: o patriarca. Esse sentido de poder e posse estão claramente ligados à origem e a evolução do grupo familiar. Sendo assim, é provável que a origem da palavra família explique a permanência até os dias atuais de mulheres e filhos que são submissos a um chefe de família, sem sequer contestar essa hierarquia (OSTERNE, 2001). Lévi-Strauss (1956) diz que é de acordo com o contexto social, em cada época histórica e em cada sociedade, que a vida doméstica assume determinado aspecto. Portanto família é uma instituição socialmente construída, e não natural. Contribuindo com esta análise, Morgan apud Engels (2009) especula que: A família é um princípio ativo. Nunca permanece estacionária, mas passa de uma forma inferior a uma forma superior, à medida que a sociedade evolui de uma condição inferir para outra superior (2009, p.45). 24 É possível entender, que a família atua como uma instituição diariamente edificada, com a finalidade de conduzir seus integrantes e traçar as relações familiares, assumindo, portanto, além do papel de reprodução biológica, a função social de suas partes. A mulher representava um ser manso e submisso ao tempo em que assumia papel fundamental na organização da família, pois administrava o lar e conduzia os escravos, na ausência do patriarca. As famílias dos seus escravos e a de seus senhores caracterizavamse, geralmente, pela ausência do componente masculino; e como, para os senhores de engenho, interessava apenas a reprodução dos escravos e não que estes gastassem tempo e energia com a criação dos filhos, tinha como eixo principal a mulher, responsável pela unidade e identificação familiar, assumindo fortes traços matriarcais (CALDEIRÓN & GUIMARÃES, 1994, p. 22). Todavia, o modelo patriarcal não era o único existente. De acordo com Bruschini (1993) esse modelo era relevante nas classes dominantes, já nas classes subalternas as relações que prevaleciam eram as de concubinatos e consensuais, em que o homem não assumia o compromisso paterno e as mulheres assumiam o papel de chefe de família. Sobre as mulheres das classes subalternas, Del Priori vem esclarecer que: Imersas pelo universo em que o trabalho físico pela sobrevivência tornava-se inevitável, e o abandono dos companheiros uma constante, mães e filhos lutavam contra a corrente da indigência. Concubinatas, amasiadas, casadas ou separadas, as mulheres encontravam na maternidade um papel que exerciam adaptado às suas realidades, porém distante das prédicas que incentivavam como uma missão (DEL PRIORI, 1994, p. 49). Nesse caso, fica claro que a mulher nada tinha de “sexo frágil”. Assumiam, quando necessário e na ausência do homem, funções atribuídas ao sexo masculino, como o trabalho fora do lar e a chefia da família, com independência e força. Nas camadas dominantes, no período colonial, de acordo com Nazzari (2001), as mulheres se casavam com quem o patriarca escolhesse e esse, por sua vez, escolhia o rapaz, filho de outro patriarca igualmente poderoso, a fim de garantir a manutenção do poder da família. E o pai da noiva, como recompensa, pagava ao noivo um dote. Já nas classes subalternas, as jovens 25 pobres, como a família não tinha dinheiro para pagar dote, seguiam a vida religiosa ou correria o risco de morrer solteira. Para Caeiro (2000), um casamento harmonioso só seria possível se houvesse respeito mútuo, assim como deveres e ocupações diferentes: não se envolvendo a mulher no que diz respeito à atividade do marido, nem o marido nos afazeres da mulher. Sobrando para a esposa os afazeres domésticos, a fim de que ela se mantivesse ocupada, bem como livrasse o marido dessa função. Resumindo então o mundo da mulher em o papel de esposa e a função de mãe. De acordo com Del Priori (1994) a maternidade era vista como algo grandioso e iluminado. Parir, além de uma tarefa nobre, representava para a igreja o uso do “bom sexo”. Nesse momento, o homem perde sua significância para a mulher que era vista como a poderosa. Porém, o olhar do médico obstetra começa a invadir esse momento feminino em que as parturientes se reuniam apenas com a parteira, comadres e vizinhas, numa união envolvente entre o espaço público e o privado. No Brasil colonial as mulheres, ainda segundo a autora acima citada, ao parirem, não levantavam as crianças, mas sim o pai. E ainda se dirigiam até as margens do rio ou lagoa mais próximo para se lavarem e ao retornarem as suas casas encontravam o marido deitado em suas redes, dormindo, descansando do parto como se fossem eles que tivessem parido. Além disso, os chefes de família recebiam visitas dos amigos e familiares, enquanto que a parida fazia os trabalhos da casa, servia ao marido e ainda buscavam água no rio como se não houvesse dado a luz4. Para Del Priori (2013), nesse período o conhecimento médico sobre o corpo feminino reduzia-se à reprodução. E esse conhecimento limitado fazia do útero uma zona singular, obscura, misteriosa. De um lado, a busca da medicina em desvelá-lo, do outro, a mulher se mostrava um depósito sagrado, misterioso, que necessitava frutificar. E tal mistério era negado pela crença geral de que a fêmea deveria servir apenas para ser fecundada pelo seu 4 Segundo o dicionário online de português Dar a luz significa: Dar vida a um ser. Disponível em: http://www.dicio.com.br/luz/. Acesso 08 out. 2014. 26 macho e procriar. Sob a visão de muitos médicos da época, o feminino fora criado por Deus para unicamente servir de reprodutora e ser passiva para que seu dono pudesse se servir. Conforme Del Priori: A medicina traduzia então as suas poucas descobertas sobre a natureza feminina em juízos fortemente misóginos e desconfiado em relações às funções do corpo da mulher. Na tentativa de isolar os fins aos quais a natureza feminina deveria obedecer, os médicos reforçavam tão somente a idéia de que o estatuto biológico da mulher (parir e procriar) estaria ligado a um outro, moral e metafísico: ser mãe, frágil, submissa, ter bons sentimentos etc. Convém notar que a valorização da madre5 como órgão reprodutor levava uma valorização da sexualidade feminina, mas não no sentido da sua realização e sim no de sua disciplina. Pensava-se que, ao contrariar sua função reprodutiva, a madre lançava a mulher numa cadeia de enfermidades, que iam da melancolia e da loucura até a ninfomania. (DEL PRIORI, 2013, p. 83) De acordo com Costa (1989), a criança que nascia era somente reflexo da luxúria humana e sendo assim, eram tratados como um mini adulto. Não havia uma relação de amor dos pais para com os filhos. Para Costa (1989, p. 155): A criança até o século XIX permaneceu prisioneira ao papel social do filho. Sua situação sentimental relativa à posição que este último desfrutava na casa. A imagem da criança frágil, portadora de uma vida delicada merecedora do desvelo absoluto dos pais é uma imagem recente. Nos séculos XIV e XVII, na França, as mulheres também não tinham os filhos como seres primordiais, capazes de sugar-lhes atenção, dedicação e cuidados. As abastardas eram ocupadas com seus compromissos sociais e muito mais tinha valor realizar suas ambições; e as mulheres pobres gastavam todo seu tempo trabalhando na cidade. Quando pariam entregavam seus filhos para as camponesas amas-de-leite para que elas amamentasse-os (CANTUÁRIO, 1998). 5 Nesse contexto, madre significa o útero. Era visto como órgão formado para receber um novo ser e também para expelir todo mês o excesso de sangue criado na mulher (FERREIRA apud DEL PRIORI; 2013, p. 81). 27 Com o passar do tempo, essa prática de mandar o filho para casa de ama-de-leite se difundiu entre as famílias urbanas francesas, tornando-se comum. Porém, com as condições precárias de saneamento básico, higiene, meios de transporte e comunicação eficiente, era corrente separações delongadas entre pais e filhos. E as mães não sentiam essa ausência de notícias de seus filhos. Muitas, quando recebiam algum tipo de informação, tratava-se da morte de sua criança e para algumas mães esse fato era tratado com naturalidade (CANTUÁRIO, 1998). O discurso da boa mãe surgiu com a finalidade de minimizar a mortalidade infantil, representado pelo saber higienista e políticos moralistas, sob a perspectiva de que a mulher teria que amamentar seus filhos e realizar tal tarefa com dedicação, desapoderando-lhe de sua liberdade em nome do filho. E para corporificar essa nova teoria nas mulheres, se preciso fosse, partiriam para ameaças tais como: estariam mais propícias ao câncer como também praticando pecado contra Deus; acarretando a uma culpabilização por não serem boas mães (CANTUÁRIO, 1998). O movimento higienista no Brasil, conforme Costa (1989), surgiu no final do século XIX com o objetivo de reeducar a população brasileira. Os médicos higienistas tinham o dever de zelar pela saúde e higiene do indivíduo e do país, pois se acreditava que os problemas da população eram oriundos das questões sanitárias. Sobre essas necessidades, o autor destaca: Os higienistas perceberam que todo o sistema herdado da Colônia tinha sido montado para satisfazer as exigências da propriedade e as necessidades dos adultos. As crianças tratadas como apêndice desse sistema, restavam as sobras do banquete. Foi contra esta situação que eles se bateram, vendo claramente que o inimigo principal era o pai, pivô e fulcro de toda a organização familiar (1989, p. 169). Ainda no século XIX, no Brasil, uma nova imagem se mostra na sociedade, em que o bebê e a criança passam a ser o centro das atenções da mãe. Os discursos promovidos pela medicina social moralista e administradores eram de que o amor materno era um sentimento inato, próprio da condição feminina, intenso e ilimitável (CANTUÁRIO, 1998). Ainda segundo a mesma autora: 28 O amor materno como inato determinaria o tipo ideal de mãe, aquela portadora de paciência, inteireza, generosidade, bondade eterna, inabalável e ilimitada. Essa mulher deveria encarar o modelo da Virgem Maria. A ela cabe o papel de parir, amamentar e educar com sucesso os filhos; responsável pelos desígnios do lar e de toda família. A casa será o espaço sacralizado da mulher-mãe (1998; p. 57). Podemos observar que ainda nos dias de hoje a mulher busca incorporar esse tipo de mãe sublime, em que o correto e bonito é exercer as inúmeras funções que a maternidade lhes atribui com satisfação, sem reclamar ou sequer transferir a responsabilidade de maternar para outra pessoa. Cantuário (1998) nos diz que Badinter ao estudar maternidade na sociedade francesa, nos séculos XVI e XVII encontrou evidências que antagonizam a ideia de que o amor materno é um sentimento natural: Não poderíamos pensar que se tivesse havido algum amor materno por ocasião do nascimento ele se teria estiolado à falta de cuidado? Será absurdo dizer que a falta de ocasiões propicias ao apego, o sentimento simplesmente não poderia nascer? Respondei-me-ão que levanto por minha vez a hipótese discutível de que o amor materno não é inato. É exato: acredito que ele é adquirido ao longo dos dias passado ao lado do filho e por ocasião dos cuidados que lhes dispensamos. É possível que à ausência do ser amado estimulem nossos sentimentos, mas ainda assim é necessário que estes tenham previamente, e que a separação não se prolongue demasiado. Todos sabem que o amor não se exprime a todo momento, e que pode perdurar em um estado latente. Mas se não se cuidada dele, ele pode se debilitar ao ponto de desaparecer. Se faltarem oportunidades para se exprimir propósito do amor, se as manifestações do interesse que se tem por outrem são demasiados raras então se corre o grande risco de vê-lo morrer (BADINTER apud CANTUÁRIO, 1985; p. 14-15). Concordando que o amor materno é construído e não inato, podemos entender que existem mulheres que não possuem afinidades com a maternidade, porém simulam ser dedicadas e amáveis, para não sofrerem represálias da sociedade que impõem que o feminino tem o dever de procriar e amar suas criaturas como obra do divino. Para Cantuário (1998) as sociedades têm valorizado e institucionalizado diferentes tipos de maternidade e as mulheres buscam se adaptar a eles com o objetivo de serem reconhecidas como mães. E historicamente o modelo de maternidade que predominou na sociedade brasileira foi definido de acordo com suas necessidades relacionadas a economia e a cultura, as quais antes 29 tinham influência direta da igreja, dos higienistas e outros aspectos provenientes de modelos criados pelo Estado. Castelo Branco apud Cantuário (1998) cita: “No Brasil colônia a maternidade tinha objetivos definidos: as mulheres deviam integrar o projeto colonial de povoamento e o projeto normatizador da Igreja; essa, atendendo às prescrições do Concílio de Trento procurava adestrá-las para que se submetessem ao modelo de boa-e-santa, concretizando dessa forma o projeto da mãe-ideal”. (1996, p. 2) Para Scavone (2001), esse modelo firmou em um pensamento que passou a engrandecer o papel natural da mulher como mãe, que se dedica integralmente e exclusivamente aos seus filhos em detrimento de sua convivência e ascensão social. Com isso, as mulheres pobres que necessitam sair para trabalhar são vistas como imperfeitas. Knibielher e Fouquet (1977, apud SCAVONE, 2001) vêm nos dizer que a prática desse ideal de maternidade para as mulheres que necessitam do trabalho para sobreviverem, é impossível: As classes dominantes que reinventam a maternidade como vocação feminina exclusiva estão em contradição absoluta com a realidade concreta: muitas mulheres trabalham no séc XIX devem assumir sua maternidade nas condições mais difíceis. A distância é imensa entre o ideal descrito e sonhado da mãe educadora, consagrada em tempo integral a suas crianças, e a vida cotidiana das mães de origem modesta (p. 49). O depoimento de uma das entrevistadas ilustra bem esse sentimento: Olha é complicado viu?! A gente escolhe estudar pra dar uma condição melhor para o filho, só que pra estudar e manter o filho tem que trabalhar porque nada vem do céu, aí a gente se sacrifica, acorda cinco da manhã e dorme meia noite sendo que tudo que faz é pensando no filho e quando é depois ainda é chamada de mãe ruim porque não tem tempo para o filho. Aí é mesmo que me matar, porque eu já vou trabalhar triste porque não vou ter o prazer de levar ele pra escola, não vou poder dar o almoço dele, banhar, quando saio do trabalho tenho que correr pra faculdade e não posso colocar ele pra dormir e ainda vir ser julgada?! Né fácil não! (LARANJEIRA). Assim, assimilando o discurso da boa mãe e esposa zelosa, responsável pelo possível infortúnio da família caso não fossem eficientes e dedicadas integralmente, as mulheres diante de tantas exigências na sociedade brasileira, apresentam como marca a auto-culpabilização, como evidencia Cantuário: 30 A mulher esposa-mãe deve ter como características a meiguice, sendo carinhosa e amorosa, mas também lhe é cobrado responsabilidade em apreender, com fortaleza, a imensa tarefa de encaminhar bem os filhos, o lar e a família como um todo. É fácil perceber que diante dos problemas quando ela consegue obter êxito as justificativas direcionam-se para dizer-lhe que não fez mais que sua obrigação “natural” do cuidado com a prole e do lar. Nos casos em que não consegue “acertar”, ou seja, atingir a plena harmonia, então desencadeiam-se cobranças por todos os lados, sobre ela recai denúncias do tipo “não soube ser eficiente como esposa-mãe” (1988, p. 65). Corroborando dessa ideia da forte presença da culpabilização das mães que não agem de acordo com o padrão de mãe determinado pela sociedade, Coutinho vem dizer que: Uma vez que a influência de mãe era considerada absolutamente determinante, o destino do filho passou a depender quase que inteiramente de sua boa ou má atuação. Isto é, o filho começa a ser visto como sinal e o critério de sua virtude ou vício, de sua vitória ou falha. À mãe caberiam todos os méritos e toda a culpa pelo sucesso ou fracasso alcançados pelos filhos. E, a sociedade estava de acordo em santificar a mãe admirável, a boa mãe, ela também estava de acordo em culpar e castigar a que fracassava em sua missão sagrada, a mãe má (COUTINHO, 1994; p. 57-38). Desse modo, as mulheres que não correspondem a esse padrão determinado, convivem com a culpa e vergonha, onde o primeiro levam-nas a uma busca de melhorar naquilo que lhe foi apontado, e o segundo geram-nas um sentimento de dor e insuficiência por terem desapontado o olhar dos outros (CANTUÁRIO, 1998). Constatei essa culpabilização e a busca de melhorias durante a pesquisa de campo, em que percebi nas falas de todas as entrevistadas as suas lamentações de não poderem dedicar-se o dia inteiro aos filhos e a associação desse tempo que gastam na faculdade e/ou trabalho ser em prol de oferecerem no futuro melhores condições de vida aos filhos. De acordo com Costa (1989), a idéia da privacidade e intimidade familiar passou a ser incentivado pelos médicos. A família passa a se relacionar melhor e a mulher que antes vivia apenas no casulo domiciliar com péssimas condições de higiene, passa a conviver com os filhos em um ambiente higienizado, sendo ela responsável pela educação e formação moral das crianças. Além disso, essa mãe era livre para o convívio social. Porém, 31 atendendo às normas higienistas, era dever dela manter a casa limpa e em ordem. Mas aqui nos cabe uma interrogação: Será que nos dias atuais a mulher continua sendo a única responsável por executar esse “papel” de limpar e zelar pelo lar mesmo com outras atividades assumidas na sociedade, como por exemplo: trabalhar e ser estudante acadêmica? Rago (1985) diz que esse novo formato familiar surge com a finalidade de atender uma ordem social vigente de construir uma nação forte e sadia. E proteger e cuidar das crianças evitaria futuros adultos insatisfeitos e rebeldes. Ratificando essa idéia, Costa (1989), argumenta: Ao Estado interessava não só a família fecunda, mas a família responsável. Manter os filhos era tão importante quanto produzi-los. [...] a família amorosa [...] não se contentava em apenas procriar. Rejubilava-se em ver crescer e desenvolver-se a prole, conforme as regras higiênicas. [...] Finalmente, o amor executava uma outra importante tarefa higiênica: a criação e a regulação de novos papéis sociais do homem e da mulher no casamento (COSTA, 1989, p. 234). Pinsky (2012) esclarece que as mulheres na primeira metade do século XX eram designadas ao casamento e a maternidade, sendo incontestável na natureza feminina na época. A família era vista como uma referência para sua identidade. As moças solteiras eram intituladas de filhas e as senhoras casadas, de esposa. A autora diz ainda que a dedicação ao lar era um elemento primordial, o que tornava o papel de dona de casa uma atribuição própria da mulher. Segundo as contribuições de Rago (1985), a mulher teria que abster-se à vida doméstica: A “nova mãe” passa a desempenhar um papel fundamental no nascimento da família nuclear. Vigilante, atenta, soberana no seu espaço de atuação, ela se torna responsável pela saúde das crianças e do marido, pela felicidade da família e pela higiene do lar [...] A casa é considerada como lugar privilegiado onde se forma o caráter das crianças, onde se adquire os traços que definirão a conduta da nova força de trabalho dos pais. Daí, a enorme responsabilidade moral atribuída à mulher para o engrandecimento na nação (RAGO, 1985, p. 80). Desse modo, em certo ponto os homens dependiam da mulher para que pudessem ter status diante das pessoas de seu convívio (D’INCAO, 2013). 32 Em outras palavras, significavam um capital simbólico importante, embora a autoridade familiar se mantivesse em mãos masculinas, do pai ou do marido. Esposas, tias, filhas, irmãs, sobrinhas (e serviçais) cuidavam da imagem do homem público; esse homem aparentemente autônomo, envolto em questões de política e economia, estava na verdade rodeado por um conjunto de mulheres das quais esperava que o ajudassem a manter sua posição social (D’Incao, 2013, p. 229-230). Nota-se que a mulher era submissa ao homem sim, mas apesar dessa dominação do patriarca sobre ela, o ser feminino assumia importantes posições dentro do ambiente familiar, como o de educar os filhos e zelar pela saúde e felicidade da família. No que se refere a inserção da mulher no espaço público, Bruschini (1993) destaca que com o surgimento das fábricas nas cidades, a família passa a ter função reprodutora. E com o surgimento dos estabelecimentos fabris, a mulher passa a trabalhar nas fábricas, sendo o sexo feminino a maior parte do número de operários. Rago (2013), explica que, o fato do número de mulheres operárias ter sido elevado no início do surgimento das fábricas brasileiras, não significava que elas estavam galgando espaço, perante o homem, no mercado fabril. Justo o oposto, com o desenvolvimento da indústria o feminino foi sendo gradualmente retirado das fábricas. As mulheres passavam por inúmeras dificuldades para adentrarem no âmbito profissional. Da variação salarial à intimidação física, da desqualificação intelectual ao assédio sexual, elas tiveram sempre de lutar contra inúmeros obstáculos para ingressar em um campo definido – pelos homens – como “naturalmente masculino”. Esses obstáculos não se limitavam ao processo de produção; começavam pela própria hostilidade com que o trabalho feminino fora do lar era tratado no interior da família. Os pais desejavam que as filhas encontrassem um “bom partido” para casar e assegurar o futuro, e isso batia de frente com as aspirações de trabalhar fora e obter êxito em suas profissões. Não socializar informações importantes era uma boa estratégia, e os homens se valiam dela procurando preservar seu espaço na esfera pública e desqualificar o trabalho feminino (RAGO, 2013, p. 581-582) Além da intensa jornada de trabalho que variavam de 10 a 14 horas diárias, as mulheres eram menosprezadas ficando com as atividades de baixo gabarito e ganhavam bem menos que os homens. E não havia nenhum órgão fiscalizador que pudesse protegê-las dos paradoxos que iam das condições precárias de trabalho ao assédio sexual. (Rago, 2013). 33 No tocante da moral social, Rago (2013) argumenta que a honra feminina foi colocada em questão com o ingresso da mulher no mercado de trabalho. “Essa visão está associada, direta ou indiretamente, à vontade de direcionar a mulher à esfera da vida privada” (RAGO, 2013, p. 585). Os jornais da época (1919) reforçavam argumentos característicos do discurso médico: O papel de uma mãe não consiste em abandonar seus filhos em casa e ir para a fábrica trabalhar, pois tal abandono origina muitas vezes consequências lamentáveis, quando melhor seria que somente o homem procurasse produzir de forma a prover as necessidades do lar (Jornal A Razão apud Rago, 2013, pág. 585). Existia uma preocupação de algumas pessoas no tocante de que a vida profissional das mulheres as desestimularia nos cuidados com a família e pela maternidade, deixando a desejar nos relacionamentos matrimoniais e criação dos filhos. Para os médicos e higienistas, o trabalho feminino fora do casulo dissolvia a família e abandonava os filhos no momento em que eles estariam formando seu caráter, colocando em risco o futuro da nação (RAGO, 2013). Podemos perceber na fala de uma das entrevistadas que essa visão de que o papel da mulher consistia em cuidar exclusivamente dos filhos permeia até os dias de hoje: Meu marido até queria que eu trabalhasse, mas depois que eu tive filho ele acha que não compensa eu trabalhar fora e pagar uma babá pra cuidar do bebê, que as vezes nem educa nosso filho. Aí preferi largar o emprego que eu tinha pra me dedicar ao meu filho, assim eu fico com a consciência mais tranquila de que não gerei o menino pra largar no mundo (CEREJEIRA). Sobre as trabalhadoras pobres, Rago (2013) afirma que essas eram consideradas completamente incompetentes e incapacitadas, eram vistas como racionalmente inferiores às mulheres de classe média e alta, que por sua vez, eram tidas como inferiores aos homens. Desde o princípio nota-se que existem desigualdades entre os gêneros feminino e masculino e que estas, por sua vez, vem se alastrando e se fortalecendo pela ordem do capital, desde o período colonial com o modelo da família patriarcal, pois a inserção das mulheres no mercado de trabalho não fora bastante para acabar com a discriminação. É notório também que ainda 34 nos dias de hoje existe subordinação da mulher ao homem, mesmo que em um número menor. 3.2 Contextualizações de gênero e o movimento feminista no Brasil Nesse tópico trataremos sobre a conceituação de gênero e as contribuições que o movimento feminista deixou, que ainda hoje se fazem presentes, através da sua história constante plena de lutas, conquistas, perdas e vitórias. O conceito de gênero é o meio de analisar a construção sócia histórica das identidades masculina e feminina, que vem se constituindo por elementos que estabelecem discursos de legitimação sexual, assim como define Scott: (...) Gênero é a organização social da diferença sexual. Mas isso não significa que o gênero reflita ou produza diferenças físicas, fixas e naturais entre mulheres e homens; mas propriamente o gênero é o conhecimento que estabelece significados para diferenças corporais. (...) Não podemos ver as diferenças sexuais a não ser como uma função do nosso conhecimento sobre o corpo, e esse conhecimento não é puro, não pode ser isolado de sua comunicação num amplo aspecto de contextos discursivos (SCOTT, 1988, p. 2). Contribuindo com essa conceituação, afirma: O conceito de gênero e de relações de gênero é utilizado no sentido de dar ênfase ao caráter social, cultural e relacional das distinções baseadas no sexo, visando superar o determinismo biológico, ressaltando sua dimensão histórica. Ou seja:, visa a desmistificar papéis e qualidades construídas socialmente, mas naturalmente atribuídas às mulheres e aos homens, gestadores das desigualdades de gênero. É importante perceber que, sendo, fundamentalmente, resultado de uma construção social, essas relações são mutáveis (2012, p. 51). De acordo com as citações acima se depreende que gênero é uma construção social, histórica dos antagonismos entre os sexos. Os comportamentos femininos e masculinos e a identidade sexual são enraizados historicamente e o que distingue gênero de sexo é o fato de que um é historicamente construído e o outro é dado biologicamente. (SCOTT, 1988). Para esta autora existem diversas construções teóricas a respeito do estudo de gênero, porém ela se debruça em apenas três: A primeira, um esforço inteiramente feminista que tenta explicar as origens do patriarcado. A segunda se situa no seio de uma tradição marxista e procura um compromisso com as críticas feministas. A 35 terceira, fundamentalmente dividida entre o pós-estruturalismo francês e as teorias anglo-americanas das relações de objeto, inspirase nas várias escolas de psicanálise para explicar a produção e reprodução da identidade de gênero do sujeito. (SCOTT, 1991, p. 03). Para Scavone (2001), a concepção de gênero nos traz a oportunidade de debatermos a maternidade em seus diversos papéis. Podendo ser entendida como um meio de realização da mulher, bem como o motivo de sua opressão e outras possibilidades, podendo ser entendida de acordo com os determinantes culturais, históricos, sociais e politicamente resposta das relações de poder de um sexo sobre o outro. A partir da década de 1970 o movimento feminista conseguiu dar visibilidade à luta contra o sexismo, abordando a subordinação e inferiorização das mulheres. Em busca de uma sociedade justa e igualitária, revertendo um quadro de desigualdades e combatendo as formas de preconceito e estigmas (GODINHO, 2004). Foi nesse período que o feminismo passou a estudar com maior profundidade os motivos da opressão feminina. Observo que dentro da sociedade humana o papel social da mulher no decorrer histórico passou por diversas mudanças de acordo com o padrão de desenvolvimento da produção, das normas sociais e valores. De acordo com Beauvoir (1975) a categoria trabalho é um dos agentes principais para tal mudança, pois afirma que: Foi pelo trabalho que a mulher cobriu em grande parte a distância que a separava do homem; só o trabalho pode assegurar-lhe uma liberdade completa. Desde que ela deixa de ser uma parasita, o sistema baseado em sua dependência desmorona; entre o universo e ela há mais necessidade de um mediador masculino. (BEAUVOIR, 1975, p. 449). Vejo alguns outros espaços ocupados pelas mulheres no século passado: No campo da política, tiveram além do direito ao voto, o direito de ser votada; há a inclusão no meio acadêmico, no trabalho fora de casa e a obtenção dos direitos trabalhistas, como licença maternidade. Porém, não de salários iguais. Nos dias de hoje ainda existe diferenciação entre valores financeiros e cargos a serem oferecidos entre o homem e o sexo “frágil”. 36 Considerando a relevância que o conceito de gênero tem nos dias atuais e por que precisamos conhecê-lo melhor para compreendermos as relações entre homens e mulheres, pactuamos com Cisne ao ratificar que: O conceito de gênero veio também no sentido de analisar de maneira relacional a subordinação da mulher ao homem, ou seja, os estudos sobre as mulheres não deveriam apenas limitar-se à categoria mulher, mas esta deve sempre ser analisada de forma relacional ao homem (CISNE, 2012, p. 78). Desse modo, houve uma busca das mesmas por conhecimento científico, a fim de aprimorar suas carreiras profissionais, possibilitando assim, uma melhor concorrência com os homens, levando-as a uma busca incessante por um bom desempenho na academia; como afirma Almeida apud Silva et al (2013). O mercado de trabalho vem exigindo profissionais cada vez mais capacitados, como afirma Barros: As estatísticas demonstram que as ampliações do grau de instrução e da formação profissional induzem a maior possibilidade de obtenção e conservação do emprego, qualquer que seja o estado civil da mulher e qualquer que seja a situação econômica do país, pois, um dos fatores que contribuem para que a mulher seja vitima do desemprego, principalmente em épocas de crises econômicas, em determinados setores, é sua formação profissional limitada, inadequada (BARROS, 1995, p. 205). Muitas mulheres passaram um longo período apenas na esfera privada (espaço da casa), obedecendo a lógica de uma sociedade patriarcal e isso fez com que as mulheres protelassem seu ingresso na educação, sendo ela educada apenas dentro de casa, no que diz respeito a prendas do lar, onde as mesmas não tinham nenhum acesso à ciência, como destaca Ariès, ao afirmar que “além da aprendizagem doméstica, as meninas não recebiam, por assim dizer, nenhuma educação. Nas famílias em que os meninos iam ao colégio, elas nada aprendiam” (1981, p. 190). Confirma-nos Feclesc afirmando que: Há tempos existe uma preocupação com a educação das mulheres. Porem, essa preocupação, sempre foi voltada para a educação doméstica. As mulheres eram ensinadas a bordar e costurar. Algumas tinham também aulas de etiqueta e as mulheres de família com maior poder econômico, a elas era ensinado também outra língua, principalmente o francês. Bem diferente da educação que era dada aos homens, que desde cedo eram ensinados a ler, a escrever, fazendo que diferentemente das mulheres pudessem ter acesso com enorme facilidade ao ensino superior (2013, p.2). 37 A mulher representava um ser submisso e dócil e ao mesmo tempo governava o domicílio e os escravos enquanto o patriarca estivesse ausente. Dessa forma, a mulher resumia-se ao papel de esposa e função de mãe. Somente no final do século XIX as mulheres conquistaram o direito de ingressar no ensino superior; havia uma grande imposição da sociedade para manter a mulher refém do lar. “Mas, aos poucos, com independência, algumas mulheres começariam a reivindicar a educação como via de integração no processo civilizatório da nação”. (MARQUES & RODRIGUES, 2013, p. 3). Ainda segundo os autores: Ao “civilizar” a mulher através da educação, teria sido aberto, através da prática da caridade cristã, um canal que lhes permitisse transitar entre as esferas públicas e privadas. O que contribuiu para que com o surgimento de colégios religiosos que abrigavam meninas, a figura feminina começasse a ganhar espaço. E, além de manter suas atividades domésticas e familiares, elas passariam a ter uma vida mais ampla na vida social e públicas, através da filantropia (MARQUES & RODRIGUES, 2013, p. 3-4). Concordo com Puelo (2004) quando nos diz que a religiosidade também fora grande influente no processo de inferiorização da mulher ao longo da história, em que na explicação da origem do mundo, no viés criacionista, as mulheres aparecem como coadjuvantes, em terem sido criadas a partir da costela de Adão, a fim de lhe fazer companhia. Estas interpretações direcionam a mulher à dependência ao homem e fortalece ainda mais a estigmatização da mesma. Conforme Vaz e Laimer (2011), a conquista do mercado de trabalho para a mulher se insere no contexto de três revoluções: A chegada dos métodos contraceptivos, a inserção delas na universidade e escolas e a luta pelo ingresso no mercado de trabalho. Contudo, a aquisição do mercado de trabalho para a mulher fora a mais relevante; teve início após a primeira guerra Mundial, na ocasião em que os homens iam para frente dos campos de batalha e as mulheres ficavam em casa ao cuidar do lar e dos assuntos da família. De acordo com Probst (2003), após o período de guerra alguns homens morreram, quando não, voltavam ao lar sem possibilidade de reassumir a 38 responsabilidade de chefia. Com isso, as mulheres que já estavam assumindo esse compromisso de coordenação da família continuaram chefiando, abrindo mão de cuidar dos filhos e do lar para prosseguir aos projetos profissionais de seus maridos. Entendo que esse acontecimento foi decisivo para as mulheres conquistarem seus espaços no mercado de trabalho. Sendo assim, sob a minha ótica, constatei que o movimento feminista fora fundamental para a consolidação das conquistas obtidas na esfera feminina, contudo, ainda há muito que se construir. Hoje temos a imagem da mulher que luta, batalha para conquistar seu espaço dentro do mercado de trabalho, muitas vezes é dona de casa, esposa, mãe, estudante, e busca não sofrer mais com a opressão e discriminação de gênero. 39 4. Educação em formação profissional no Brasil e o feminino: onde e quando essas equações se encontraram? “Se a educação não servir para tornar as pessoas mais felizes, ela não serve pra nada”. Rubem Alves. O ensino superior no Brasil, de acordo com Martins (2002), surgiu no século XIX por meio de cursos isolados (não universitários). Inicialmente com as escolas de Anatomia e Cirurgia em Salvador-BA e no Rio de Janeiro (que hoje são as Universidades Federais de Medicina dos respectivos Estados) e a Academia da Guarda Marinha, também no Rio de Janeiro. Até o final do século XIX se contabilizavam somente 24 cursos de ensino superior com aproximadamente dez mil estudantes. Foi quando surgiram as instituições de ensino privadas, criadas pela elite local e confessionais católica, e com isso, no decurso de 30 anos, o sistema educacional exprimiu um crescimento considerável: de 24 escolas isoladas para 133 (MARTINS, 2002). Entendo que é nesse momento que inicia a diversificação da estrutura didática superior que vemos nos dias de hoje: instituições privadas e públicas. Conforme Santos e Cerqueira (2009), a industrialização do país trouxe, além de desenvolvimento econômico, propostas para a reforma do ensino superior, que dizia respeito a eliminar as instituições autônomas em detrimento de grandes universidades com espaço para pesquisa e desenvolvimento do saber científico. Na década de 1930 com a reforma do governo, Vargas colocou em prática as propostas pensadas na década de 1920: implantou as universidades e padronizou um modelo a qual deveriam acatar todas as instituições de ensino superior (IES) que viessem a surgir no Brasil, contudo não estabeleceu o fim das escolas autônomas, como também não vetou o livre acesso para a iniciativa privada (SANTOS & CERQUEIRA, 2009). Martins esclarece que: 40 Foi com base nesses debates que o governo provisório de Getúlio Vargas promoveu (em 1931) ampla reforma educacional, que ficou conhecida como Reforma Francisco Campos (primeiro Ministro de Educação do país), autorizando e regulamentando o funcionamento das universidades, inclusive cobrança de anuidade, uma vez que o ensino público não era gratuito. A universidade deveria se organizar em torno de um núcleo constituído por uma escola de Filosofia, Ciência e Letras. Embora a reforma representasse um avanço, ela não atendia a principal bandeira do movimento da década de 1920 por não dar exclusividade pública ao ensino superior, além de permitir funcionamento de instituições isoladas (2002, p. 2). Santos e Cerqueira (2009) destaca que nesse mesmo período houve um embate pelo domínio das instituições de ensino entre os intelectuais liberais e a igreja. E o governo que pretendia ganhar o apoio da igreja católica, implantou o ensino religioso nas escolas públicas. Sobre o surgimento do primeiro curso de Serviço Social no Brasil, Castro, 2011, vem dizer ao público que essa criação se deu em São Paulo, no ano de 1936. E surge como: “uma resposta particular do Capitalismo nos países da América Latina, a partir do desenvolvimento das forças produtivas e das lutas de classes pelo controle do poder político” (p. 106). Stalliviere (2006) discorre que no decorrer dos anos as instituições de ensino foram gradativamente ampliando. E eis que surge na metade da década de 1950 o movimento estudantil, que tinha como objetivo romper com a estrutura existente, como crescimento das IES privada, e aumentar o número de vagas das universidades públicas, bem como agregar o ensino à pesquisa para que o país pudesse se desenvolver. Porém, conforme Martins (2002) o movimento estudantil foi perseguido pelo regime militar institucionalizado em 1964, ficando impossibilitado de qualquer ação ou manifestação. De acordo com Santos e Cerqueira (2009), o governo militar após ter vencido o movimento estudantil, fomentou a reforma universitária, por entender da necessidade de melhorias do sistema de ensino no país, como destaca os autores acima: A reforma dos militares continha basicamente as seguintes 6 mudanças: extinção da cátedra ; fim da autonomia das faculdades, criação de institutos, faculdades e/ou escolas; introdução do sistema 6 Segundo o dicionário online de português Cátedra significa: cadeira professoral; o mais alto posto da hierarquia do magistério: conquistar a cátedra de literatura. Disponível em: http://www.dicio.com.br/catedra/ Acesso 14 nov. 2014. 41 de créditos; ciclo básico antes da formação profissional; garantia da representação discente e docente; ingresso contínuo por carreiras e currículos mínimos fixados pelo MEC (não à flexibilização) (2009, p. 6). Na década de 1970 houve um aumento da demanda do ensino superior considerável, e essa elevação se deu ao desenvolvimento da classe média e às novas oportunidades de trabalho nas áreas mais contemporâneas da economia (SANTOS & CERQUEIRA, 2009). Sobre a década de 1990, Stalliviere (2006) esclarece que foi a partir desse período, com a Constituição de 1988 e a homologação das leis regulamentadoras das IES, que o sistema de educação brasileiro iniciou um novo ciclo. Esse novo ciclo garante o direito constitucional de acesso ao ensino superior, porém, com as influências de ideais neoliberais nas políticas sociais, houve a precarização dos equipamentos públicos e privatização latente do ensino, assim aumentando consideravelmente o número de universidades brasileiras e suas diversificações de áreas e cursos oferecidos. Ainda falando sobre os ideais neoliberais no Brasil, Llibrante (2008) afirma que com o início do neoliberalismo foi difundido que o estado não deveria responsabilizar-se sumariamente pela educação pública e que esta deveria ser favorecida pela iniciativa privada. O modelo neoliberal defende a minimização dos poderes do Estado, deixando a malha privada no controle da economia. No governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (de 1995 ao ano de 2002) constatei que houve uma economia de gastos no ensino superior, ficando por conta da iniciativa privada todo investimento destinado ao ensino médio e IES. Conforme as palavras do referido presidente: No MEC as prioridades eram óbvias: ampliar o ensino fundamental, melhorar a qualificação dos professores, tentar pagar-lhes melhor, sobretudo nas zonas mais pobres do país e, ao mesmo tempo, revitalizar o ensino profissional e racionalizar os gastos com o ensino superior. (...) Tivemos grandes dificuldades para pôr em prática políticas que invertiam as prioridades, passando-as do ensino superior para o fundamental e, ainda por cima, com medidas de descentralização administrativa, que incluíam, sempre que possível, critérios de mérito, com sucessivas avaliações (CARDOSO, 2006, p. 514-515). De acordo com os estudos de Lima e Pereira: 42 O projeto neoliberal para a universidade brasileira é claro e articula três núcleos básicos: (i) em relação ao projeto político pedagógico, operacionaliza a redução das universidades públicas a “escolões de terceiro grau” através da destituição da indissociabilidade entre o ensino, pesquisa e extensão especialmente para as áreas de humanas e ciências sociais aplicadas; (ii) em relação ao financiamento da política de educação superior ocorre o estímulo à privatização interna das instituições públicas e o aumento, tanto da isenção fiscal para os empresários da educação superior, como do número de IES privadas e; (iii) em relação ao trabalho docente, evidencia-se um aprofundamento da precarização das condições salariais e de trabalho, estimulado pela lógica produtivista e da competição pelas verbas dos órgãos de fomento (2009, p. 36). Já no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (de 2003 a 2010), identifiquei importantes iniciativas que impulsionaram o ensino superior no Brasil, as quais alguns autores críticos do assunto chamam de Reforma Universitária. De acordo com Trindade (2004) o maior objetivo da gestão do referido presidente era sobre a propagação e padronização do acesso. Com esse intuito, foram desenvolvidas ações que favorecessem o acesso e permanência da população a esse nível de ensino, valendo-se de órgãos e programas como: a Secretaria de Educação Superior, do Ministério da Educação (SESU/MEC) 7, o Programa Universidade para Todos (PROUNI) 8 e o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES) 9. O Fundo de Financiamento Estudantil (FIES)10 tem maior abrangência em número de atendimentos atualmente, uma vez que tem maior tempo de existência (o qual foi criado no ano de 1999, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso) e que foi se aprimorando durante o governo de Luís Inácio Lula da Silva. Em 2010 o FIES passou a funcionar em um novo formato. O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) passou a ser o Agente Operador do Programa (substituindo a Caixa Econômica Federal) e 7 É a unidade do Ministério da Educação responsável por planejar, orientar, coordenar e supervisionar o processo de formulação e implementação da Política Nacional de Educação Superior (MEC, 2014). Disponível em: http://mecsrv.mec.gov.br/sesu. Acesso em: 03 dez. 2014. 8 Tem como finalidade a concessão de bolsas de estudo integrais e parciais em cursos de graduação e sequenciais de formação especifica em instituições privadas de educação superior. Criado pelo Governo Federal em 2004 e institucionalizado pela Lei nº 11.096, em 13 de janeiro de 2005, oferece, em contrapartida, isenção de alguns tributos àquelas instituições de ensino que aderem ao Programa (PROUNI, 2014). Disponível em http://prouniportal.mec.gov.br . Acesso em: 29 nov. 2014. 9 Instituído pela Lei n} 10.861, de 14 de abril de 2004, com o objetivo de conduzir o processo de avaliação da educação superior e definir as regras para a autorização de IES e de cursos, o SINAES reforçaria o papel do Estado como regulador do sistema (TRÓPIA, 2007, p. 6). 10 É um programa do Ministério da Educação destinado a financiar a graduação na educação superior de estudantes matriculados em instituições não gratuitas (FIES, 2014). Disponível em: http://sisfiesportal.mec.gov.br. Acesso em: 03 dez. 2014. 43 promoveu algumas alterações no mesmo, a fim de torná-lo mais acessível, a exemplo de condições de pagamentos mais extensas (maior cobertura financiável do valor do curso e carência até 24 meses pós-conclusão do curso para iniciar a quitação do saldo devedor), além de ter proporcionado um acesso menos burocratizado e a possibilidade do estudante solicitar o financiamento em qualquer período do ano letivo (BRASIL, 2014). Examinando as mudanças que esta reforma universitária vem desenvolvendo, percebe-se que o principal incentivador é a modernização, o apoio à logica mercadológica capitalista, através da capacitação do homem para o trabalho, e que embora atenda algumas necessidades da sociedade, carrega em si uma filosofia dominante, a de garantir a sustentabilidade do mercado. Vejamos o que Lima e Pereira dizem a respeito: A análise das ações constitutivas das ações de Reforma no Ensino Superior realizada no governo Lula (2003-2009) indicam que uma nova fase/face do “milagre educacional” estão em curso. Estas ações integrantes da nova face/fase do “milagre educacional” podem ser agrupadas em quatro nucleações básicas: 1) O fortalecimento do empresariamento do ensino superior, 2) A introdução das parcerias publico privadas / PPP na educação superior, 3) a operacionalização dos contratos de gestão, eixos condutores dessa reforma do Estado Brasileiro, de Bresser-Cardoso, de Paulo Bernardo-Lula e 4) a garantia de coesão social em torno das reformas estruturais realizadas pelo governo federal em absoluta consonância com as politicas dos organismos internacionais do capital (2009, pag. 38). Portanto, pode-se entender que as ações do Estado relacionadas à educação são de interesses mercadológicos, tangenciados pela força do capital, havendo dessa forma, uma grande busca pelo ensino superior e sua privatização, ocorrendo que em sua maior parte sem qualidade, mascarada de democratização do ensino. Conforme explica Souza Jr. e Paula: A massificação da educação superior não deve comprometer a qualidade dos processos de criação e transmissão do conhecimento. A massificação do acesso não deve ser confundida com democratização; nem é um dos requisitos desta. A democratização compreende pelo menos duas outras dimensões: do processo de ensino e da qualidade e relevância social do que é produzido (2004, p.4). Na atualidade ainda é explícito que o acesso às faculdades públicas é restrito àqueles que possuem uma educação básica de qualidade pelo seu 44 número baixo de vagas disponíveis, e essa educação de qualidade é encontrada, na maioria das vezes, somente nas escolas particulares, tornando o acesso à educação superior gratuita, seletivo. O aceso ao ensino superior vem sendo priorizado pela população a fim de que possa adentrar no mercado de trabalho através da qualificação profissional. Desta maneira, a figura feminina como integrante da classe trabalhadora que busca espaço no mercado de trabalho, é parte numerosa no espaço acadêmico. Vejamos no próximo tópico os caminhos percorridos pelas mulheres na educação superior. 4.1 A mulher no espaço acadêmico Para debater sobre a trajetória da inserção da mulher no ensino superior, faz-se necessário o retomo ao período colonial, em que a figura feminina era mantida na esfera privada, voltadas para as atividades do lar. De acordo com os estudos de Àries (1981), apenas os meninos eram direcionados à escola, ficando as meninas somente com os ensinos das atividades domésticas. Percebe-se que essa idéia de distinção e exclusão da figura feminina no sistema educacional perdura aos dias de hoje. Vejamos a fala de uma das entrevistadas: [...] “pela minha mãe eu não faria faculdade. Ela diz ser coisa pra homem e que a mulher tem é que cuidar da casa, dos filhos e do marido” (AMOREIRA). Outra autora que fomenta uma discussão sobre a mulher voltada apenas para o âmbito familiar é a Feclesc que argumenta em sua obra que: Há tempos existe uma preocupação com a educação das mulheres. Porém, essa preocupação, sempre foi voltada para a educação doméstica. As mulheres eram ensinadas a bordar e costurar. Algumas tinham também aulas de etiqueta e a mulheres de família com maior poder econômico, a elas era ensinado também outra língua, principalmente o francês. Bem diferente da educação que era dada aos homens, que desde cedo eram ensinados a ler, a escrever, fazendo que diferentemente das mulheres pudessem ter acesso com enorme facilidade ao ensino superior (2013, p. 2). Ainda segundo a autora, foi somente no final do século XIX que a mulher conquistou o direito de inserção no ensino superior no Brasil. E foi a partir de seu ingresso que a educação universitária se expandiu por todo o Brasil. 45 Foi com a Revolução Industrial e o ingresso da figura feminina no mercado de trabalho que esta adquiriu seu lugar na academia. Porém, ainda nos dias de hoje é desafiador a inclusão delas em cursos superiores tidos pelo coletivo como áreas masculinas (BARROSO & MELO, 1976). Diante disto, pude perceber o processo de feminilização nas áreas das Ciências Humanas, principalmente no curso de Serviço Social, em que no seu histórico consta seu surgimento através da caridade e ações filantrópicas. Embora nos dias atuais exista a participação masculina, o Serviço Social ainda é uma profissão em que se percebe majoritariamente a presença feminina, por meio do estigma de que as mulheres são naturalmente adequadas a assumirem responsabilidades de caráter emocional e habilidades com o cuidado. Conforme afirma Giulani: A participação nos grupos comunitários organizados pela Igreja Católica, nas dioceses ou nas paróquias, resgata as práticas educativas no seio da família e na comunidade, onde a mulher é considerada o mais importante artífice de solidariedade [...] também ressalta a atuação da mulher no fortalecimento dos laços afetivos: seu papel de mãe, de esposa, de organizadora do lar. Sua identidade, portanto, é formada no interior do núcleo doméstico e completada na comunidade católica (2013, p. 646). Vejamos ainda o que nos diz Veloso: (...) A legitimidade e aceitabilidade das mulheres na profissão de assistente social, no que se refere ao gênero, se dá pelo fato de esta profissão demandar qualidades e atributos considerados femininos, ou seja, a mulher desempenhava, na esfera profissional, atividades semelhantes às que desempenhava na esfera doméstica. Era, portanto, uma saída das mulheres para a profissionalização com a atenuação dos preconceitos e da opressão (apud Cisne, 2012, p. 46). Constato esta realidade de diferenciação no quantitativo de gênero dentro do nosso campo de pesquisa, em que o curso de Serviço Social da FAC, no ano letivo de 2014.2, é composto por 96% de mulheres e 4% de homens, como demonstra o gráfico abaixo: 46 Gráfico 1 Divisão sexual dos alunos matriculados no curso de Serviço Social da FaC Divisão sexual 4% Homens Mulheres 96% Fonte: pesquisa direta realizada pela pesquisadora no período de dezembro de 2014. Concordo com os estudos de Cisne quando afirma que: Essa marca feminina é aqui compreendida como um processo hitórico-cultural de construção de práticas, saberes e valores em relação ao feminino, por meio de uma concepção diferenciada sobre os sexos, a qual dita, modela e institui o que é feminino. Torna-se, cria-se o feminino, de acordo com a conveniência dos interesses da classe dominante, resultando na produção de desigualdades entre homens e mulheres, reveladas por exemplo, na sua formação de inserção no mercado de trabalho (2012, p. 44). Portanto, torna-se importante a participação feminina no campo universitário, viabilizando melhores condições de competências a cargos de chefia e áreas censuradas como masculinas, desconstruindo a imagem da mulher voltada somente para o espaço privado, âmbito familiar. Consolidando sua emancipação e combatendo a desigualdade entre os sexos. 47 5. A REALIDADE DAS ESTUDANTES DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL NO PROCESSO DE CONCILIAÇÃO DA MATERNIDADE COM A FORMAÇÃO PROFISSIONAL “Mas embora se fale muito sobre essa tal dificuldade, o que pouco se fala é sobre a imensa satisfação de saber que é possível. Que damos conta do recado. Que conseguimos. Que temos uma fonte de inspiração quase inesgotável. Que desenvolvemos capacidades que antes sequer imaginávamos”. Lígia Moreiras Sena. A inserção da mulher no mercado de trabalho traduz não só um reflexo do desenvolvimento econômico e o aumento da industrialização, mas também carrega consigo o interesse do capital por mão de obra barata, visando o lucro. Com isso, clarificando essa ideia, Santos (2008) vem nos dizer que é antecipado afirmar que a mulher conquistou sua emancipação, haja vista que a figura feminina foi inserida e ainda permanece no espaço público com péssimas condições de trabalho. Corroborando dessa ideia, Bruschini (1993) argumenta que a entrada da mulher no mercado de trabalho atende os interesses da produção do capital, favorecendo o lucro, através da exploração da sua mão de obra. As mulheres tiveram que enfrentar preconceitos e discriminações, e desta maneira elas ainda permanecem na luta pela igualdade de direitos entre os sexos, fundamentalmente no que se refere a salários, como afirma Probst: [...] a inserção da mulher no mercado de trabalho vem sendo acompanhada, ao longo desses anos, por elevado grau de discriminação, não só no que tange à qualidade das ocupações que tem sido criadas tanto no setor forma, como no informal no mercado de trabalho, mas principalmente no que se refere à desigualdades salarial entre homens e mulheres (2003, p. 2). Sendo assim, a mulher vem buscando se qualificar para minimizar essas diferenças de gênero enfrentando o desafio da atual lógica capitalista, posto que o mercado de trabalho vem exigindo cada vez mais profissionais 48 capacitados. Com isso, de acordo com Rocha-Coutinho & Coutinho (2011), a mulher passou a buscar adquirir conhecimento científico a fim de se conceituar para um mercado de trabalho que exige excelência em competência. Concordo com os estudos de Spíndola, (2000) quando diz que conforme a mulher vem conquistando sua independência econômica, suas atividades e funções vêm aumentando, ocupando um espaço profissional correspondendo às responsabilidades e atividades estigmatizadas pela sociedade, sobrecarregando assim a mulher. Durante o período acadêmico, mulheres convivem com a possibilidade biológica de engravidarem (sendo planejadas ou não). Sendo assim, faz-se necessário administrar cuidados que a maternidade exige, somadas às demandas acadêmicas. E essa multiplicidade de papéis atribuídos ao feminino, pode gerar angústias, estresses, cansaço mental e físico, além de frustrações por não conseguirem conciliar seus diversos afazeres. Pude clarificar esta ideia nas falas das entrevistadas: “Voltar a estudar com o tanto de coisas que tenho que fazer durante o dia em casa é mais desgastante e cansativo por conta do bebê” (GOIABEIRA). Me deixa profundamente triste ter que sair pra faculdade e ter que deixar meus filhos sob os cuidados de uma outra pessoa que não terei certeza se vai estar cuidando dele do jeito que eu cuido. Logo no começo do meu retorno para a faculdade após o nascimento dele tive vontade de desistir por isso (MANGABEIRA). Não é nada fácil ter que sair de casa cansada de ter o dia todo cuidado da casa e do filho e ainda ter que ter energia e cabeça pra estudar e assistir às aulas. O cansaço físico e mental é o que mais me desmotiva nessa realidade (AMOREIRA). Outras dificuldades detectadas são a falta de oportunidade de acompanharem o desenvolvimento e crescimento dos filhos mais de perto, gerando nessas mulheres-mães o sentimento de culpa, a sensação de estarem abandonando os seus compromissos de educar e cuidar dos filhos. Conforme Spíndola: “Acompanhar o processo de crescimento dos filhos torna-se fundamental à medida que revela a importância do aspecto afetivo na vida das mulheres” (2000, p. 359). Vejamos o que argumenta uma das entrevistadas: 49 [...] preferi largar o emprego que eu tinha pra me dedicar a criação e educação do meu filho, assim eu fico com a consciência mais tranquila e feliz que só me ausento no período da noite para ir pra faculdade (CEREJEIRA). Sobre a caracterização da mulher ideal, da mãe abnegada, Cantuário aponta que: [...] boas reprodutoras, sem curiosidades, muito menos ambição, adormecida, privada de sua própria liberdade em nome do filho. Estudiosos formularam a teoria da maternagem – a mãe deveria “permanecer em casa para que fosse possível cuidar e prestar atenção aos filhos”. De acordo com essa ideologia da maternagem caberia a cada mulher retornar às atividades esquecidas da maternidade (1998, p. 55). Apesar das dificuldades encontradas a respeito do retorno ao cotidiano, constatei que as mulheres-mães entrevistadas contam com uma rede de apoio para que possam dar continuidade às suas vidas acadêmicas. Como destacam as entrevistadas: “Além da babá contei com o apoio da mãe, sogra e marido” (AMOREIRA). Tive que pedir minha mãe pra ir lá pra casa todos os dias que eu tivesse aula, tinha que desmamar e deixar tudo pronto só pra minha mãe dar a mamadeira dele. Nos dias que ela não podia ir eu tinha que faltar aula (CEREJEIRA). Retornei quando ela estava com 2 meses. Tinha bastante leite, então desmamava 2 mamadeiras cheias e deixava para o meu marido, sob a supervisão dos meus pais, dar para ela. Quando ia pra faculdade deixava eles lá, e na volta os pegava. Eles foram imprescindíveis, nesse momento (MACIEIRA). Sobre a rede de apoio Merighi et al., (2011) esclarece que esse suporte direcionado à mulher é o que torna possível a diversificação das atividades exercidas por ela, proporcionando-as também a sensação de que suas funções estão sendo exercidas por alguém de sua confiança. Por ouro lado, identifiquei um sentimento de angústia em algumas entrevistadas em terem que delegar funções e permitir que o restante da família exerçam também suas responsabilidades perante a criança. Para clarificar esse ponto, vejamos: É muito cansativo só a mãe saber dar a comida, colocar pra dormir, banhar... Quando tenho que me ausentar não fico tranquila, meu pensamento fica lá em casa, preocupada se ela vai estar sendo bem cuidada como eu cuido (CEREJEIRA) 50 Aqui cabe uma análise de Cantuário: [...] percebe-se que a criança passa a representar um ser privilegiado, de devotamento da mãe. A mulher dedicar-se-á, de modo absoluto, consumindo todo o seu tempo cuidando do filho, restringindo sua liberdade em favor da do seu filho. Sua vida resume-se em realizar tarefas ligadas à saúde, higiene e educação dos filhos (1998, p.67). Desse modo, entendo que essa intranquilidade da mulher em se ausentar do seu ninho é tomada pelo padrão da boa mãe apontado pela sociedade que determina que a genitora é a maior responsável pelo bem estar dos filhos, sendo assim, tendo ela que dispor maior parte do seu tempo às criaturas. Cordeiro argumenta que: “Há uma tendência a se considerar que a ausência da mulher acarreta carência de afeto, o que pode ser interpretado como maior associação do afeto com a quantidade de tempo dedicado, e menos com sua qualidade” (2008, p. 79). Nota-se também na fala de Cerejeira e Laranjeira a ausência da responsabilização paterna e desigualdades da divisão sexual do trabalho doméstico: “Quando a gente é mãe solteira fica bem complicado exercer a maternidade sem apoio de um pai responsável junto com você” (PEREIRA). Tive muita dificuldade de conseguir uma pessoa pra ficar com meu filho enquanto eu vinha assistir aula, porque mesmo eu estudando à noite e meu marido estando em casa, ele tinha medo de ficar sozinho com o Samuel (CEREJEIRA). [...] é complicado porque nessa sociedade machista que a gente vive o papel de cuidar do filho, alimentar, educar só recai sobre a mãe... o pai, quando é presente, só quer contribuir com o financeiro e olhe lá... sendo que dinheiro não é tudo não. Dinheiro não compra amor, carinho, educação... As vezes fico cansada demais! Mas não tenho oportunidade de deixar meu filho com o pai dele porque ele simplesmente diz que não sabe cuidar. Eu também nem sabia e num tive que aprender?! É difícil! Eu me considero mãe e pai! (LARANJEIRA) Silva et al., (2013) retrata a importância da divisão de tarefas da mãe com a figura paterna, para que esta última possa também desenvolver laços afetivos com a criança, além de possibilitar um descanso necessário para a mulher, propiciando bem estar de todos e o desempenho de suas funções com qualidade. 51 Outro ponto relacionado ao masculino que me chamou atenção foi a presença da cultura patriarcalista ainda nos dias atuais, influenciando, e, às vezes, estabelecendo, que a mulher pertence a esfera privada Meu marido até queria que eu trabalhasse, mas depois que eu tive filho ele acha que não compensa eu trabalhar fora e pagar uma babá pra cuidar do bebê, que as vezes nem educa nosso filho. E eu estando em casa também cuido dos afazeres domésticos da gente (CEREJEIRA). (Grifo nosso). Sob a nossa análise esse modelo “o homem provedor e a mulher cuidadora” só é possível se dá no cotidiano das famílias mais abastardas, haja vista que muitas mulheres são submetidas à carga horária extensa de trabalho pela necessidade de prover o sustento de si, dos filhos e de quem mais dela depender. Embora os depoimentos expressem bem a dedicação e doação que as mulheres têm para com os filhos, nem sempre esses momentos são compartilhados, De acordo com Spíndola (2000), muitas vezes elas são tomadas por frustações motivadas pela dificuldade de se empenharem como gostariam a fim de se qualificarem para atender a demanda de um mercado de trabalho competitivo. Vejamos o que diz Amoreira e Macieira a respeito de seus desempenhos na faculdade após a maternidade: Senti que deu uma caída leve no primeiro semestre pós-filhos, mas no semestre seguinte já pude recuperar e melhor me adaptar. Porém, acredito que se não tivesse filhos poderia me desenrolar melhor dentro das atividades acadêmicas (AMOREIRA). Como engravidei logo na primeira semana de faculdade, não sei como é estudar sem ter pensamento em filho, por que mesmo que na barriga, eu já estava resolvendo as coisas do quarto, chás de fraldas, reforma... Então eu não tenho como comparar. Mas sem dúvida, acredito que sem filhos, principalmente bebês, o estudante consegue focar melhor tanto nas aulas como nos estudos domiciliares. Acredito que é um estudo mais leve, mais tranquilo e mais proveitoso (MACIEIRA) As mulheres pesquisadas convivem diariamente com o desejo de poderem se empenhar melhor nos estudos acadêmicos, gerando uma disparidade constante entre o que conseguem produzir e o que realmente gostariam de produzir como discentes. Reconhecem que precisam aproveitar ao máximo o tempo disponibilizado em sala de aula, pois é a oportunidade 52 mais garantida de adquirirem conhecimento, haja vista que em casa, os afazeres domésticos e os cuidados com os filhos tomam todo seu tempo. No que concerne às motivações, as entrevistadas foram unânimes ao relatarem que o principal motivo que as levam a enfrentar a dupla e, às vezes, tripla jornada, não desistindo da graduação, é a possibilidade que elas enxergam de que, com o diploma em mãos, poderão oferecer um maior conforto financeiro aos filhos. Vejamos alguns depoimentos quando foram indagadas sobre o que lhes incentivava: “O que mais me motiva agora é o fato de eu ter uma filha. Quero conquistar minha independência financeira e oferecer o melhor pra ela” (GOIABEIRA). Ter uma formação profissional, conquistar um sonho e poder dar melhor qualidade de vida pros meus filhos. Por eles, pelo conforto deles, todo esforço vale a pena e todo cansaço é transformado em energia para batalhar (AMOREIRA). Dar o exemplo pro meu filho! Acho que o exemplo é o que a gente pode oferecer de melhor pros nossos filhos. Quero me formar, ter a condição de sustentar ele com dignidade e conforto. Sonho com esse dia! Por causa dele minha rotina de estudo fica mais difícil de ser cumprida, ao mesmo tempo em que é por ele que eu continuo aqui (faculdade) (LARANJEIRA). Assim, entendo que a busca pela emancipação financeira da mulher implica ou em protelar a maternidade, ou, no caso das entrevistadas, submeterem-se a condições de conciliação entre estar mais presente na criação dos filhos e exercer uma atividade profissional. E ainda que seja optada pela mulher a dedicação à profissionalização, essa é movida pelo anseio de suprir as necessidades de caráter financeiro dos filhos. No que diz respeito às expectativas, o desejo de terem maior disponibilidade de tempo para os cuidados aos filhos é um fator predominante na fala da depoente Cerejeira: “Falta tão pouco, quero terminar logo a graduação e poder ter um pouco mais de tempo com meu filho e minha família”. E para Laranjeira: “Às vezes eu deixo um pouco a desejar como mãe. Espero concluir à faculdade com êxito e poder acompanhar mais o crescimento da minha filha”. 53 Ainda no que concerne às expectativas, para finalizar, destaco que conclui as entrevistas com a seguinte pergunta: O que você acha que poderia existir para facilitar a vida dessas recém-mães acadêmicas? Vejamos as reflexões: Um berçário na faculdade seria um sonho, mas facilitaria muito a vida das mães. Deveria ser obrigatório isso. (PITANGUEIRA). Sinceramente, nunca pensei... Mas acho que poderia ter um local reservado e aconchegante na faculdade para que os bebês pudessem ficar com os acompanhantes enquanto as mamães assistissem aula. Acho que elas ficariam mais tranquilas sabendo que qualquer eventualidade eles estariam ali pertinho, fora nosso desempenho nas cadeiras que acredito que seria bem melhor (MACIEIRA). Na faculdade poderia ter uma sala de brinquedos com algumas auxiliares. Talvez desse pra levar ele pra faculdade e enquanto eu assistia aula ele ficava brincando. Seria bom demais, né?! A gente teria mais facilidade pra estudar (LARANJEIRA) Eu acho que deveria assim, os professores deveriam ser mais maleáveis. Não estou querendo que me passem sem meu esforço não, apenas que tenham mais sensibilidade quanto as dificuldades que enfrento durante o dia para estar sentada aqui na sala de aula de noite (GOIABEIRA) De acordo com Urpia e Sampaio (2009), o crescente número de estudantes que engravidam no percurso da formação universitária podem gerar demandas de políticas públicas estudantis que possibilitem a essas mulheres a chance de permanecer no campo acadêmico e concluir com êxito os estudos, tornando possível a inserção delas no campo do trabalho. É possível perceber nas falas acima uma preocupação não só com os filhos, mas também com a qualidade dos estudos dessas mulheres. Assim, acredito que a implementação de mecanismos de apoio a essas mãesestudantes como: amamentação e creche de acadêmica, justificativas de flexibilização faltas para de evitar horários para reprovações, possibilitariam a melhoria do desempenho escolar das estudantes, bem como suas permanências regularmente matriculadas, garantindo o direito à educação e o sucesso estudantil dessas. Nesta análise considero importante a preocupação dessas mulheres com a permanência delas no espaço acadêmico, pois acreditamos ser um meio fundamental para conquistarem a emancipação feminina e a igualdade de 54 direitos entre homens e mulheres no tocante ao exercício de trabalho e remuneração. 55 CONSIDERAÇÕES FINAIS Não faz muito tempo que a figura feminina estava relacionada apenas à maternidade, sua função era apenas exercer o papel de esposa, cuidadora do lar e da prole. Atualmente a busca pela inserção, permanência e qualificação no mercado de trabalho vem se tornando constante entre as mulheres, tornando-as antagônicas à figura feminina de há poucas décadas. O que ocorre é que com a multiplicidade de papéis e com a necessidade de conciliá-los, gera desgaste, sobrecarga e muitas vezes frustrações por não conseguirem fazer tudo quanto gostariam, como acompanhar mais de perto o desenvolvimento dos filhos, se dedicarem mais à discência e terem mais tempo para si, por conta do acúmulo de atribuições, pois o fato delas terem alcançado a inserção no mercado de trabalho e no ensino superior não as desvincularam das atividades do lar. O que me motivou a impulsionar a realização dessa pesquisa foram os percalços constatados com o nascimento da minha filha Marina e do meu eu mãe, ocasionando a suspensão temporária das minhas atividades de graduação para me dedicar à maternidade. Ao mesmo tempo em que foi a minha experiência de ser mãe e de conciliar papéis que me fizeram voltar ao meu foco de pesquisar sobre o tema desta monografia. E retornar aos patamares da faculdade não foi nada fácil! Foram madrugadas de luta contra o sono, cansaço físico, estafa mental... Por muitas vezes cheguei a pensar que eu não iria conseguir e que bom que eu me enganei todas essas vezes que pensei assim. O querer de chegar até aqui, nas considerações finais do presente trabalho, juntamente com disciplina e perseverança, foram fatores decisivos para a conclusão de mais uma etapa na minha vida. E, sem dúvida, início de muitas outras no tocante à trajetória acadêmica. Enquanto pesquisadora foi valoroso ler e entender autores que me fizeram perceber o assunto a partir de um olhar crítico e investigador, bem como pude perceber que muitas outras mulheres também vivenciam essa dualidade que é se graduar na maternidade e no curso superior simultaneamente. Dessa forma, constatei que as entrevistadas se apropriam de estratégias com a tentativa de transpor dificuldades relacionadas às suas permanências na 56 academia apesar dos desafios encontrados para tal. E o presente trabalho pretendeu conhecer de que forma esse processo de enfrentamento da dupla, e às vezes, tripla jornada se dá contextualizado no espaço social que a mulher ocupa em nossa sociedade. Observei que todas as depoentes contam com o apoio de alguém para cuidar dos seus filhos enquanto elas se ausentam de casa para o espaço acadêmico, porém é gerado nessas mulheres sentimento de descontentamento e angústia através da crença de que somente a mãe é capaz de cuidar bem do seu rebento. Vivenciar essa etapa de multiplicidade de papéis com entraves e conflitos é tido, para as entrevistadas, como peculiar do momento atravessado, uma vez que não foi identificado inconformação das mulheres diante de tantas funções a elas atribuídas, embora reconheçam como desafiador desempenhar múltiplos papéis com maestria, chegando à exaustão. Mesmo com todas as dificuldades de conciliação das atividades, observei que a motivação mais nítida, dentro do universo de pesquisa escolhido, para o não abandono do curso acadêmico, é a de que as mulheres entrevistadas consideram valoroso o esforço que fazem para se manterem no campo acadêmico, pois além de enxergarem o diploma como grande exemplo e incentivo aos seus filhos, contribuem para o alcance de suas realizações profissionais. Realizações essas que só se tornam possíveis se harmonizadas com o seio familiar, dado que para elas, o motivo central da busca pela qualificação profissional é o de oferecer melhores condições de moradia, alimentação, estudo e lazer para suas crias, garantindo assim o bem-estar de suas famílias. Vale salientar que apesar da mulher ter alcançado seu espaço na esfera pública estando inserida no mercado de trabalho e tendo maior participação no ensino superior em relação ao sexo masculino, a mesma ainda permanece em desvantagens em relação ao homem no mercado de trabalho, sofrendo discriminações quanto à estigma a respeito de sua competência profissional, reforçando e insistindo a ideia de que às atividades do lar só compete às 57 mulheres. Diante disso, acredito que seja de suma importância a continuidade da luta em busca da igualdade de direitos entre gêneros. Percebo ainda que o desempenho adequado ao curso superior gera medo de comprometer o exercício materno. Portanto, considero de extrema importância o desenvolvimento de suportes acadêmicos que contribuam para o acolhimento dessas mulheres, elaborando condições de apoio, evitando assim baixos rendimentos e abandono da graduação. A exemplo de estímulos ao processo de retomar os estudos após o nascimento do filho, através da criação de espaços como berçário, brinquedoteca, flexibilização da carga horária a cumprir, permitindo, assim, que a mãe amamente, prazo diferenciado de entrega de trabalhos e exercícios, dentre outros exemplos que foram citados pelas próprias entrevistadas. Nesse sentido, faz-se necessário o aprofundamento de estudos que abordem essa temática, contribuindo assim com a ciência acadêmica, além de apontar caminhos para a autonomia dessas mulheres na sociedade. Haja vista que nos dias atuais, nas faculdades, vem se tornando cada vez mais frequente encontrar mulheres diante do dilema de ser mãe e graduanda. 58 REFERÊNCIAS ARIÈS, P. História social da criança e da família. 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Esta pesquisa pretende compreender as dificuldades vivenciadas e como as estudantes do curso de Serviço Social da FaC (Faculdade Cearenses) conciliam o período de gravidez e o pós parto ao retorno do curso acadêmico. Sua participação é voluntária e se dará por meio de uma entrevista, que tratará de aspectos relativos a sua vida materna e acadêmica. Os resultados desta pesquisa serão publicados nos meios científicos e em nenhum momento a Senhora será identicada. A Senhora não terá nenhuma gasto ou ganho financeiro por participar desta pesquisa. Se depois de consentir em sua participação a Sra. Desistir de continuar participando, tem o direito e a liberdade de retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa, seja antes ou depois da coleta de dados, independente do motivo e sem nenhum prejuízo a sua pessoa. Para qualquer outra informação a Senhora poderá entrar em contato com a pesquisadora no endereço xxxxxxxxxxxxxx e telefones de contato xxxxxxxxxx. Consentimento Livre e Esclarecido. Eu __________________________________________________, após leitura deste documento e conversa com o pesquisador responsável pela pesquisa para esclarecimento de minhas dúvidas, autorizo minha participação e acredito estar informado, estando claro a minha participação voluntária e o fato de que posso me retirar da pesquisa a qualquer momento, sem penalidades. ___________________________________ Assinatura do participante ____________________________________ Assinatura do Responsável Data: __/__/__ 65 APÊNDICE II – Roteiro de entrevista 1. Data da Entrevista 2. Nome 3. Idade 4. Naturalidade 5. Estado Civil 6. Profissão 7. Quantos filhos 8. Sua gravidez foi planejada? 9. Qual foi a sua reação ao descobrir a gravidez? 10. Que dificuldades você encontrou para retomar o curso? 11. Que estratégias você utilizou para retomar o curso? Quem lhe ajudou nesse momento? 12. O que lhe motiva a dar continuidade ao curso? 13. O que lhe desmotiva? 14. Quais os principais desafios que você enfrenta? 15. Você sofreu algum tipo de preconceito por ter engravidado enquanto acadêmica? Qual? Qual sua análise sobre isso? 16. Como você avalia seu desempenho escolar após o filho? 17. O que você acha que poderia existir para facilitar a vida dessas recémmães? 18. Para você, o que é ser mãe?