RELAÇÃO DO USO DO ÁCIDO FÓLICO COM AS
CARACTERÍSTICAS SOCIOECONÔMICAS E DEMOGRÁFICAS
Filipe Reis Pinheiro1
Fernando Rabelo Siqueira2
Rafaela Roscoe Ramires Pereira3
Rayanne Rocha Baggio4
Helvécio Bueno5
Talitha Araujo Faria6
RESUMO
Com o objetivo de quantificar e analisar qualitativamente o uso ou não uso de suplementação
com o ácido fólico periconcepcional em relação as características socioeconômicas,
demográficas e grau de escolaridade, realizará um estudo descritivo transversal com todas as
grávidas cujos filhos tenham sido gestados ao decorrer do ano de 2013 e que tenham
frequentado o Hospital Escola em Paracatu, Minas Gerais, Brasil. A coleta de dados ocorrerá
no período de 01 de Agosto a 30 de Setembro de 2014 por meio da análise dos prontuários
fornecidos em ambiente hospitalar. A análise estatística foi realizada através do pacote Excel
2013. Sabendo-se da importância do uso do ácido fólico para o fechamento do tubo neural,
evitando-se diversas patologias e, sua relação com os baixos níveis socioeconômicos e
demográficos, é importante promover e incentivar seu uso por mulheres em idade fértil.
Palavras-chave: ácido fólico, gravidez, defeito no tubo neural, socioeconômico, descritivo
transversal.
1
Acadêmico de Medicina da Faculdade Atenas, Rua Juca Escrivão, número 347, CEP 37270-000,
[email protected], (035)91740451,
2
Acadêmico de Medicina da Faculdade Atenas, [email protected], (062)81096970,
3
Acadêmica de Medicina da Faculdade Atenas, [email protected],(038)98237537,
4
Acadêmica de Medicina da Faculdade Atenas, [email protected],(038)98686707,
5
Professor do curso de Medicina da Faculdade Atenas,
6
Professora do curso de Medicina da Faculdade Atenas.
ABSTRACT
In order to quantify and analyze the use or non-use of periconceptional
supplementation with folic acid in relation to the socioeconomic, demographic and
educational level, carry out a cross-sectional study of all pregnant whose children have been
gestated the course of the year 2013 and who have attended the School Hospital in Paracatu,
Minas Gerais, Brazil. Data collection will take place in the period from August 1 to
September 30, 2014 by analyzing the charts provided in a hospital setting. Statistical analysis
was performed using Excel 2013 package Knowing the importance of the use of folic acid for
neural tube, avoiding various diseases and their relation to the low socioeconomic and
demographic levels, it is important to promote and encourage its use by women of
childbearing age.
Keys words: folic acid, pregnancy, neural tube defect, socioeconomic, cross-sectional.
INTRODUÇÃO
O ácido fólico (ácido pteroiglutâmico),pertence ao grupo das vitaminas do
complexo B e participa da biossíntese de purinas e pirimidinas,substâncias essenciais na
formação de RNA e DNA segundo Mezzomo et al. (2007). Pode ser encontrado tanto em
fontes naturais (fígado,feijões e levedura), como na sua forma sintética, que compreende tanto
a suplementação medicamentosa, quanto o enriquecimento de alimentos. A suplementação
medicamentosa de 0,4mg a 0,8 mg diários de ácido fólico, para gestantes que não tiveram
filhos anteriormente com defeitos no tubo neural, e de 4mg para gestantes nas quais se deseja
reduzir o risco de recorrência dessas malformações (COOP e GREENE, 2009).
Além disso, segundo Hertrampf (2003), a suplementação poderá ser administrada
com enriquecimento de farinha branca, na ordem de 2,2 mg AF/Kg, apresentando redução dos
riscos de fechamento do tubo neural.
O ácido fólico possui papel fundamental no fechamento do tubo neural, que é
primórdio do sistema nervoso central. Quando esse tubo não consegue completar a
neurulação, pode originar doenças que causam morte ou sequelas graves nos recém nascidos,
sendo as mais frequentes anencefalia e espinha bífida (COOP e GREENE, 2009).
Pode-se observar que o baixo nível educacional e socioeconômico, a menoridade
materna, a falta de um parceiro e a gestação não planejada, são fortes preditores do uso
reduzido de ácido fólico periconcepcional da gestação. Em todo o mundo nascem cerca de
250 mil crianças portando defeitos de fechamento de tubo neural, tanto nas suas formas
craniais (anencefalia), como nas formas caudais (espinha bífida) (COOP e GREENE, 2009;
CABRAL e BRANDÃO, 2011).
Com base no exposto, acredita-se na necessidade de avaliar a prevalência do uso
de suplementação extra de ácido fólico periconcepcional como forma de quantificar e analisar
qualitativamente a prevenção dos defeitos do tubo neural na população de Paracatu-MG. Com
o objetivo de relacionar o mau uso ou não uso do ácido fólico com as características
socioeconômicas das gestantes, com as regiões demográficas de Paracatu-MG, de acordo com
a renda familiar e o grau de escolaridade das mesmas.
MÉTODOS
Realizou-se um estudo descritivo transversal representativo para gestantes
atendidas em um Hospital Escola, na cidade de Paracatu em Minas Gerais. A coleta de dados
foi feita no período de agosto a setembro de 2014, através dos prontuários disponibilizados
pelo setor de obstetrícia do hospital, com todas as grávidas cujos filhos tenham sido gestados
ao decorrer do ano de 2013. As variáveis que foram coletadas e analisadas através do
prontuário padrão do Ministério da Saúde (MS) 2013 foram: idade (em anos), renda familiar
(em reais), grau de escolaridade (em anos), local de residência da mãe (bairro). Além de
analisadas as variáveis de manejo médico em relação ao ácido fólico, como: prescrição
médica e período de suplementação.
O trabalho foi enviado para o Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Atenas
(CEP- Faculdade Atenas), Paracatu-MG. A realização deste trabalho obedeceu aos princípios
éticos para pesquisa envolvendo seres humanos, conforme resolução 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde.
O programa estatístico utilizado para contabilização dos dados foi o programa
Excel (2013).
RESULTADOS
Em uma análise socioeconômica, 1% das gestantes possui até o 1º grau completo,
13,6% até o 2ºgrau e apenas 5,4% até o ensino superior. Destaca-se que 80% dos prontuários
não relatavam o nível de escolaridade das mesmas (Gráfico 1). Quanto ao estado civil, 22,7%
são solteiras, 33,6% casadas e 43,6% dos prontuários não apresentam os dados em análise
(Gráfico 2).
Ao se analisar os 110 prontuários obstétricos do Hospital escola constatou-se uma
prevalência de 63% de grávidas que fizeram uso do ácido fólico durante o período
periconcepcional. Em contraposto, grávidas em não uso correspondem a 37% do total (IC de
95%; p=0,05).
Segundo os dados colhidos, 33,64% procuraram assistência pré-natal entre a
primeira e décima semana de gestação. Assim como 28,18% entre a 11º e 20º semana de
gestação, 13,63% entre a 21º e 30º, 12,72% entre 31 e 40 semanas, 0,91% com 41 ou mais
semanas (Gráfico 3). Dentre o número total de mulheres, não foi encontrada a idade
gestacional de 10,9%, por não constar nos prontuários e/ou não estarem presentes
informações suficientes para calculá-la (DUM e data da primeira consulta), excluindo-se a
possibilidade de um viés de seleção.
Considerou-se pertinente ao estudo a relação entre a quantidade de gestantes
divididos pela faixa etária em anos completos no período da consulta médica. A faixa etária
de mulheres gestantes entre 10 e 20 anos de idade representou 18,75% do total, entre 20 e 30
anos foram 41,97%, entre 30 e 40 anos foram 33,93% e entre 40 e 50 anos foram 5,35 %, e
não sendo encontradas mulheres acima de 50 anos (Gráfico 4).
Os números totais de gestações, partos e abortos traduzem variáveis de grande
importância ao estudo, visto que do universo em análise, 40,9% cursaram com apenas 1
gestação, 25,8% com 2 gestações e 33,3% 3 ou mais gestações (Gráfico 5). Gestantes que
nunca tiveram partos ou que tiveram até dois partos somam 42,4% respectivamente (Gráfico
6). Enquanto que 84,8% nunca abortaram em oposição às que realizaram 1 aborto, que são
15,2%. Para tanto, apenas 1,5 % das gestantes realizou 2 abortos (Gráfico 7).
Gráfico 1: Grau de escolaridade das gestantes.
90,00%
80%
80,00%
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
13,60%
10,00%
5,40%
1,00%
0,00%
1º grau
2º grau
3ºgrau
ausência de dados
Gráfico 2: Estado civil das gestantes.
50,00%
43,60%
45,00%
40,00%
33,60%
35,00%
30,00%
25,00%
22,70%
20,00%
15,00%
10,00%
5,00%
0,00%
Solteira
Casada
Ausência de dados
Gráfico 3: Idade gestacional na primeira consulta.
40
37
35
31
30
25
20
15
15
14
12
10
5
1
0
1 - 10 semanas
11 - 20
semanas
21 - 30
semanas
31 - 40
semanas
41 ou mais
semanas
Não consta
Gráfico 4: Faixa etária das gestantes que realizaram acompanhamento de pré natal.
50
47
45
38
40
35
30
25
21
20
15
10
6
5
0
10 - 20 anos
20 - 30 anos
30 - 40 anos
40 - 50 anos
Gráfico 5: Porcentagem do número de gestações das mulheres pesquisadas.
45,00%
40,90%
40,00%
33,30%
35,00%
30,00%
25,80%
25,00%
20,00%
15,00%
10,00%
5,00%
0,00%
1 gestação
2 gestações
3 ou mais
Gráfico 6: Porcentagem do número de partos das mulheres pesquisadas.
45,00%
42,40%
42,40%
40,00%
35,00%
30,00%
25,00%
20,00%
15,10%
15,00%
10,00%
5,00%
0,00%
0 partos
até 2 partos
3 ou mais
Gráfico 7: Porcentagem do número de abortos das mulheres pesquisadas.
90,00%
83,30%
80,00%
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
15,20%
10,00%
1,50%
0,00%
0 abortos
1 aborto
2 abortos
DISCUSSÃO
De acordo com o IBGE (2002), a taxa de fecundidade da brasileira está em queda,
mesmo persistindo discrepâncias entre as grandes regiões e sofrendo variações de acordo com
o nível de escolaridade da mulher. Mulheres com maior escolaridade (8 anos ou mais) tinham,
em média, 1,7 filhos, e as com menos de 4 anos de estudo tinham 3,7 filhos. Essa influência
da escolaridade na fecundidade é observada em todas as regiões. As maiores médias de filhos
por mulher foram observadas no Norte (3,2) e no Nordeste (2,7), mas essas duas regiões
foram as que apresentaram maior queda neste indicador.
No presente estudo foi observado que a maioria das mulheres entrevistadas fez o
uso correto do ácido fólico e assim diminuíram os riscos de um mal fechamento do tubo
neural do feto. Conforme explicitado por SANTOS (2007), o ácido fólico é um complemento
vitamínico (forma sintética do folato) encontrado em suplementos vitamínicos e em
alimentos. Essa suplementação de ácido fólico durante a gestação diminui os riscos do mal
fechamento do tubo neural. Seu uso adequado evita dentre as principais complicações a
anencefalia e a espinha bífida.
No estudo realizado, podemos observar que a maior parte das gestantes iniciaram
as consultas de pré-natal entre a primeira e a décima semana de gestação. Segundo o
Ministério da Saúde (MS), em sua cartilha de assistência pré-natal, Manual técnico de
assistência pré-natal (2000), o inicio do acompanhamento precoce e importante pois, possui
como principal objetivo o acolhimento das mulheres que passam por um período de mudanças
físicas e emocionais, as vivenciando e formas distintas, o que pode gerar medos, duvidas e até
curiosidades. De forma geral, a consulta pré-natal, consiste em um profissional de saúde que
pode realizar procedimentos simples, escutar demandas da gestante, apoiá-la e responder as
suas dúvidas. A adesão ao pré-natal se torna então, diretamente proporcional à qualidade da
assistência prestada pelos profissionais da saúde, e que então se relaciona com os índices de
mortalidade materna e perinatal.
No estudo foi observado que a gestação prevalece em sua maioria na faixa etária
entre 20 e 30 anos, ao contrário do IBGE (2002). Este diz que a queda da fecundidade
também não se distribuiu por todas as faixas de idade. Ao contrário, a incidência de gravidez
na adolescência (dos 15 aos 19 anos) aumentou em todas as regiões. O maior crescimento foi
registrado no Nordeste (40%), e o menor, no Centro-Oeste.
Sabendo-se que uma das principais causas de abortos durante o período da
gravidez consiste em defeitos no fechamento do tubo neural, a anencefalia e a espinha bífida
são as patologias mais recorrentes relacionadas à falta de ácido fólico. Não se sabe até o
momento o mecanismo pelo qual o ácido fólico previne os defeitos no fechamento do tubo,
mas a suplementação periconcepcional com o mesmo previne a ocorrência desse tipo de
defeito em cerca de 50 a 70%. Para tanto, percebe-se a alta incidência de abortos pela falta da
substância, o que corrobora com a taxa de 15,2% de mulheres que tiveram um aborto e 1,5%
dos que tiveram dois abortos neste estudo. Com esses dados, destaca-se a importância do prénatal e da suplementação orientada para evitar abortos por anencefalia ou espinha bífida.
Ao realizar o referido estudo, tiveram-se como limitações os prontuários
obstétricos preenchidos de forma incompleta, com ausência de datas da primeira consulta
pré-natal, renda, escolaridade e endereço das pacientes. Estes últimos com perda significativa
ao trabalho por alterar o objetivo de relacionar o mal uso da substância com características
socioeconômicas e demográficas das grávidas.
CONCLUSÃO
O presente estudo mostrou a prevalência de 63% de mulheres que fizeram a
suplementação com ácido fólico durante a gestação. Dentre os prontuários analisados apenas
5,4% das mulheres com o terceiro grau completo fizeram a suplementação de ácido fólico em
contraposto aos 13,6% das mulheres com apenas o segundo grau completo. Em relação a essa
variável, bastante significativa em nossos estudos, afirma-se a necessidade de um melhor e
mais completo preenchimento dos prontuários, visto que 80% deles não apresentavam o dado
explicitado. Diante dos dados apresentados e suas limitações, a escolaridade influenciou de
forma controversa nos resultados esperados. Outra variável que se mostrou associada ao
desfecho foi a idade da mãe. O uso de ácido fólico em mulheres com idade entre 20 e 30 anos
se mostrou superior as demais. Portanto, nesse estudo foi observado que as mulheres, em sua
maioria, que realizaram o pré-natal tiveram uma correta prescrição e administração do ácido
fólico na gravidez.
É também evidente que uma parcela das mulheres não fez a suplementação de
ácido fólico o que pode ter acarretado defeitos no fechamento do tubo neural no feto. Dessa
forma são necessários estudos que visem maneiras de estimular a promoção dessa conduta
preventiva, além de forma que aumentem o alcance dessas medidas para mulheres de todos os
níveis socioeconômicos.
Agradecimentos
Os autores agradecem a diretoria do HEFA, Hospital de Ensino da Faculdade
Atenas, por disponibilizarem os prontuários do ano de 2013 do setor de ginecologia e
obstetrícia utilizados no estudo. E também aos funcionários que colaboraram na organização
desses prontuários.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas da Saúde. Manual técnico de
assistência
pré-natal.
Brasília,
DF,
2000.
Disponível
em
http://www.bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd04_11.pdf)
CABRAL, Ântonio Carlos Vieira; CABRAL, Marcelo Araújo; BRANDÃO, Augusto
Henriques Fulgêncio. Prevenção dos defeitos de tubo neural com o uso periconcepcional
do ácido fólico. Rev. Med Minas Gerais 2011, v.21, n.2, pp. 186-189.
COOP, Andrew J.; GREENE, Nicholas D. E.; Genetics and development of neural tube
defects. Journal of Pathology 2010, v.220, pp. 217-230.
HERTRAMPF E., CORTÉS F., ERICKSON J. D., CAYAZZO M., FREIRE W., BEILEY L.
B., HOWSON C., KAUWELL G. P. A., PFEIFFER. Consumption of folic acid-fortified
Bread improves folate status in women of reproductive age in Chile. J Nutr.2003; v.133,
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Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/12062003indic2002.shtm).
MEZZOMO, Cíntia Leal Sclowtiz; GARCIAS, Gilberto de Lima; SCLOWITZ, Marcelo
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Ricardo Issler. Prevenção de defeitos do tubo neural; prevalência do uso da
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Grande do Sul, Brasil. Cad. Saúde Pública 2007, v.23, n.11, pp. 2716-2724.
SANTOS, Leonor Maria Pacheco; PEREIRA, Michelle Zanon. Efeito da fortificação com
ácido fólico na redução dos defeitos do tubo neural. Cad. Saúde Pública 2007, Rio de
Janeiro, v.23, n.1, pp.17-24.
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4 - relação do uso do ácido fólico com as características