Entrevista FOTO GERALDO KOSINSKI Planejamento Financeiro faz ajustes para vencer desafios O engenheiro eletricista, com pós-graduação em Contabilidade, MBA em Finanças e em Gerência de Energia, Victor Albano da Silva Esteves, veio de Angola para o Brasil no ano de 1975, com 23 anos. Um ano depois, entrou em FURNAS como assistente administrativo da Diretoria de Planejamento, Engenharia e Construção. Mais tarde, passou para a Diretoria Financeira e foi conquistando espaços na Empresa até ser nomeado, no ano passado, gerente da Superintendência de Planejamento Financeiro e Orçamentos (OP.F). Nesta entrevista, Victor Albano fala sobre a atuação de sua unidade e dos desafios que encontrou. 4 • abril 2004 • Linha Direta nº 307 Como está estruturada a superintendência? A OP.F tem dois departamentos e uma assessoria. O Departamento de Planejamento Financeiro (DPF.F) é responsável pelo planejamento financeiro de FURNAS, reajustes de tarifas junto à Aneel, cálculo de remuneração de investimentos e estudos macroeconômicos. O Departamento de Orçamentos (DOR.F) responde pela gestão orçamentária de FURNAS. A Assessoria de Coordenação e Análise Financeira (ACA.F) tem por atribuição avaliar as questões financeiras ligadas às licitações e analisar todos os pleitos impetrados pelos prestadores de serviços e fornecedores contratados por FURNAS, além de elaborar diversos estudos de matéria financeira. Porém, o mais importante, é que, independente da estrutura formal, esses órgãos trabalham de forma integrada, em total colaboração e sincronia de informações. Como é feito o planejamento financeiro? O planejamento financeiro é um processo alinhado ao planejamento global da Empresa. Projetam-se as conseqüências futuras a partir de decisões presentes e da análise de determinadas variáveis macroeconômicas, da configuração dos mercados de energia e financeiro, da legislação e de outras que, de alguma forma, influenciam o negócio de energia elétrica. O estudo dessas variáveis permite compor cenários de curto, médio e longo prazos que servem de base para a tomada de decisão sobre opções de investimento e de financiamento, bem como para a escolha de alternativas incorporadas ao plano financeiro. Outro fator importante nesse processo é a avaliação do desempenho em face dos objetivos previamente estabelecidos. De uma forma mais simples, podemos dizer que o planejamento financeiro é a ferramenta que usamos para dar consistência às decisões presentes para evitar surpresas no futuro. Victor, uma das questões mais polêmicas nas empresas é a orçamentária. Ninguém gosta de ter sua verba contingenciada. Como a OP.F administra os conflitos que surgem? O orçamento é uma peça primordial do planejamento financeiro. Quando nos referimos a orçamento temos que expandir um pouco a noção primária de que ele é constituído, apenas, de investimento e estrutural. O processo orçamentário envolve a estimativa de dispêndios, não limitada a investimento e estrutural mas, principalmente, a projeção de receitas e de recursos para viabilizá-los. Por outro lado, o orçamento das estatais é regido por legislação própria, que começa na Lei das Diretrizes Orçamentárias, da qual resulta a Lei Orçamentária Anual, e culmina com a sua regulamentação por decreto que determina os limites orçamentários e as metas de resultado primário atribuídos a cada uma das estatais. Então, os conflitos internos acontecem quando a verba destinada por lei não atende aos anseios de realização da Empresa. A nossa preocupação em 2003 foi tornar transparente esse processo e chamar as áreas para participar de todas as etapas, tanto internas como externas, da consolidação orçamentária. Esta gestão participativa, pautada numa relação de confiança, transparência e ética foi a forma que encontramos para reduzir e até eliminar conflitos porque, afinal, a boa execução orçamentária é uma obrigação de todos nós. Como está o desempenho da Assessoria de Coordenação e Análise Financeira? A ACA.F vem afirmando, cada vez mais, o seu papel de prestadora de serviços a todos os órgãos da Empresa, especialmente no equacionamento de questões de ordem financeira envolvendo contratações de bens e serviços. Em 2003, foram emitidos cerca de 1.200 pareceres com foco em novas contratações, aditamento dos contra- tos existentes e avaliação de desequilíbrio econômico-financeiro, envolvendo um total de R$ 2,4 bilhões. A atuação da assessoria, em parceria com as demais áreas de FURNAS, permitiu uma economia de, aproximadamente, R$ 120 milhões. Além disso, a ACA.F vem desempenhando um papel importante no apoio à gestão orçamentária efetuada pelo DOR.F. Quando assumiu a superintendência qual foi o cenário de curto prazo encontrado? Posso dizer que essa foi uma das situações mais difíceis que enfrentei na minha vida profissional em FURNAS. Tinha acabado de assumir a superintendência e a primeira missão era comunicar à Diretoria, também recém-empossada, que o nosso planejamento financeiro apontava um déficit de caixa de R$ 780 milhões em 2003, sendo R$ 490 milhões em março e R$ 240 milhões em abril, ou seja, no mês seguinte. Porém, essa projeção deflagrou, de imediato, uma série de ações visando modificar o quadro desfavorável. Toda a Diretoria Financeira se engajou para, em parceria com as demais diretorias, viabilizar os recursos necessários. Enfim, o planejamento financeiro apoiou a tomada de decisões, em tempo hábil, para superar as dificuldades encontradas no início de 2003. Os primeiros meses foram conturbados... Sem dúvida. Tivemos que lidar com situações adversas. Tínhamos problemas de caixa, investimentos e compromissos a cumprir e uma descontratação de 25% da energia vinculada aos contratos iniciais, numa situação de sobreoferta. Mas entendo que conseguimos um saldo positivo em 2003. Porém, não significa que podemos descansar. O mercado de energia ainda não apresenta sinais evidentes de recuperação, o que demandará, cada vez mais, um planejamento financeiro de qualidade que aponte os pontos críticos e permita identificar alternativas para vencê-los. Além desta questão imediata de caixa, qual outro desafio que você encontrou ao assumir a superintendência? Foi a descontinuidade em termos gerenciais e de pessoal. Para se ter uma idéia, no final de 2002 e início de 2003, com o advento da demissão incentivada e transferências internas, 90% dos cargos gerenciais da superintendência foram substituídos, neles incluídos a própria superintendência e os três gerentes com nível de departamento. Além disso, perdemos técnicos de primeira linha, tanto do quadro efetivo, quanto do quadro de contratados. Somese a isso o fato de a Empresa, como um todo, estar passando por situação semelhante e não serem permitidas novas contratações, o que dificultava a recomposição de pessoal da superintendência, com transferências de outras áreas. Só havia uma maneira de lidar com essa situação. Era estabelecer uma filosofia de trabalho em equipe. Quebrar barreiras internas, reconhecer os erros, resgatar a confiança mútua e a ética no trato. Hoje, temos uma equipe pequena, mas coesa e apta a enfrentar desafios. E a médio prazo, o que lhe traz mais preocupação? Na realidade, não chamaria de preocupação, mas sim de necessidade de atenção redobrada. O setor elétrico aguarda ansioso a regulamentação da Lei nº 10.848, que dispõe sobre a comercialização de energia. Essa regulamentação, associada à evolução da economia brasileira e, conseqüentemente, ao comportamento do mercado, são os fatores preponderantes na definição dos cenários para planejamento financeiro. Portanto, temos por meta o incremento de qualidade das atividades da OP.F, como um todo, dentro da filosofia de trabalho implantada na DF, visando o aprimoramento do padrão de governança corporativa. Linha Direta nº 307 • abril 2004 • 5