ESCOLAS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES: BRASIL E PORTUGAL NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX Ana Clara Bortoleto Nery - UNESP-Marília Eixo temático 2. História da profissão docente e das instituições escolares Na história da profissão docente e das instituições escolares as escolas de formação de professores ocupam espaço privilegiado. As escolas de formação de professores para a escola primária no Brasil e em Portugal, no período de 1911 a 1950 foram importantes pólos de produção e circulação de modelos pedagógicos. Analisar tais modelos leva a uma aproximação dos saberes e práticas disseminados nestas instituições. Por outro lado, a produção de impressos por docentes e alunos destas instituições, que são portadores dos modelos pedagógicos, são reveladores, também, do cotidiano delas. Este trabalho tem por objetivo analisar as escolas de formação de professores através das publicações feitas por seus alunos e professores, no Brasil e em Portugal, com a finalidade de desvelar as práticas presentes nestas instituições, no período especificado. Marta Carvalho, ao atentar para as transformações que reconfiguram a História da Educação tendo por eixo a História Cultural, especialmente baseada nos escritos de Chartier e Certeau, traça considerações em torno dessas transformações que passam a “abolir a rígida demarcação das fronteiras” entre a história das instituições escolares e a história das idéias pedagógicas. Os impressos como fonte dos estudos sobre a História Cultural das práticas educativas tem duplo sentido: “como dispositivo de normatização pedagógica, mas também como suporte material das práticas escolares”. A importância do uso dos impressos se dá pela materialidade dos processos de produção, circulação, imposição e apropriação dos saberes pedagógicos. As instituições de formação de professores no Brasil: um olhar sobre as Escolas Normais paulistas No Brasil, especificamente no caso paulista, de 1911 a 1950, as escolas de formação de professores se denominam Escola Normal, exceção feita à escola Caetano de Campos que, desde 1934 passou a se constituir como Instituto de Educação, por força do Código de Educação de 1933. O ano de 1911 marca a expansão do Ensino Normal em São Paulo tanto pela necessidade da formação de professores quanto por questões políticas que acabaram por determinar o mapa paulista das Escolas Normais, principalmente na fase inicial. Até o final da primeira década do século XX a formação de professores no estado de São Paulo se dava na Escola Normal da Capital e em cinco Escolas Complementares. Discussões em torno da necessidade de melhorar a formação dos professores das escolas primárias – influenciadas pelo modelo americano e por instituições do Chile e Argentina – aliada à necessidade da pulverização dos professores pelo interior do estado resultaram nas modificações efetuadas a partir de 1911 quando são criadas 8 escolas no interior do estado, somadas às 2 escolas da capital. Neste momento inicial há uma dualidade de modelos de formação de professores uma vez que das 10 escolas normais, 3 são normais secundárias e as demais são normais primárias que determinam diferenças nos currículos e nas destinações dos professores formados por elas. A unificação dos modelos segundo os parâmetros das escolas Normais Secundárias ocorrerá com a Reforma Sampaio Dória, em 1920. A partir de então, quer por motivos de ordem político-administrativas, quer por questões ligadas aos modelos de formação de professores, várias alterações são realizadas. A proposta de criação dos Institutos de Educação como lócus de formação de professores, presente no Código de Educação de 1933, terá reflexos unicamente na Escola Normal Caetano de Campos. Somente a partir dos anos de 1950, portanto, após a Lei Orgânica do Ensino Normal (1946), em nível federal, as escolas normais começam a serem transformadas em Institutos de Educação. Das dez Escolas Normais criadas em 1911, três foram eleitas para esta comunicação: a Escola Normal de São Carlos, a Escola Normal de Piracicaba e a Escola Normal de Botucatu. Seus professores e alunos publicaram, em veículos variados, textos que informam sobre atividades, dificuldades, embates, entre outras questões, referentes ao cotidiano destas escolas. Periódicos como a Revista da Escola Normal de São Carlos (1916-1923), Excelsior!(1911-1939), Revista de Educação (1921-1923), Revista Escolar (1925-1927) e Educação (1927-1964) e artigos em jornais locais trazem indícios do dia-adia das instituições. Dentre as práticas reveladas pelos periódicos paulistas temos as agremiações de alunos, o escotismo, Festas Escolares com sarais artísticos, cultos cívicos e o Orfeão Escolar, Conferências Pedagógicas, além dos embates entre os vários membros das escolas. A construção de prédios para abrigar as novas Escolas Normais foi a primeira medida tomada pelo governo paulista. As 3 escolas estudadas possuíam prédios próprios já a partir de 1916. Construídos com materiais nobres, as escolas forma planejadas segundo o modelo republicano de construção escolar. Os prédios são grandes, cheios de marcas de cultura como demonstram as pinturas, esculturas, afrescos e vitrais presentes nos halls de entrada e nos Salões Nobres. Aula no Laboratório de Física e Química na Escola Normal de Piracicaba Fonte: Revista de Educação, v. 2, n. 3. No Brasil, especificamente em São Paulo, as Escolas Normais pouca importância deram às suas publicações. A fonte privilegiada dos professores das Normais foram os jornais locais ou de grande circulação. Nesse sentido, damos atenção especial aos periódicos publicados pela Escola Normal de São Carlos – Revista da Escola Normal de São Carlos e Excelsior! – e pela Escola Normal de Piracicaba – Revista de Educação 1 . Seguido ao término destas publicações a Diretoria Geral da Instrução Pública passa a publicar revistas que passam a ser os suportes materiais dos textos dos professores das Escolas Normais. A primeira delas, neste período, é a Revista Escolar (1925-1927) que será substituída pela revista Educação (1927-1930) que terá outros títulos e será publicada na maior parte do tempo como Revista de Educação, até meados da década de 1960. Esses periódicos mais se preocupam com os saberes destinados à formação de professores, principalmente na discussão das disciplinas da Escola Normal e da Escola Primário. Mesmo assim, há vários indícios das práticas nas Escolas Normais. A principal fonte, até por se caracterizar mais como um jornal, apesar de auto-intitular-se como revista, é Excelsior!. A revista, depois de se iniciar como fonte de discussão sobre as questões que envolvem o trabalho do professor “passa a se caracterizar pela exposição dos trabalhos desenvolvidos nas aulas, de apoio das práticas escolares. Somente no artigo de O. Penteado “Lançamento da Pedra Fundamental do novo predio da Escola Normal” é que são retomadas as temáticas afins aos 1 Nas pesquisas realizadas descobrimos que a Escola Complementar de São Carlos publicou um periódico, de iniciativa dos professores, com o título de O Estudo. Já a Escola Complementar de Piracicaba teria publicado o jornal O Monitor. As Escolas Complementares foram as precursoras das Escolas Normais no interior do estado de São Paulo. No entanto, nenhum desses periódicos foi localizado. primeiros números. São tratados aspectos do lançamento da pedra fundamental do novo prédio da Escola Normal de S.Carlos, das pessoas presentes, assim como dos motivos da construção do novo prédio, e dificuldades para sua instalação. São narrados os eventos da passagem do Secretário do Interior. Verifica-se a presença dos alunos em quase todos as festividades, seja assistindo, discursando e até promovendo encontros: “O Grémio Normalista em homenagem ao sr. dr.Altino Arantes organizou uma soirée que teve logar no Club Concórdia 2 ” (Excelsior!, 1913, n.4, p.14)”. (SILVA, 2006, p. 42) As Conferências Pedagógicas nas Escolas Normais paulistas eram proferidas por convidados. Nas escolas estudadas as Conferências parecem ser atividades relevantes, ocasião em que elas se tornavam local de cultura pedagógica e a cidade voltava seus olhos para a instituição. A presença da direção, dos professores e dos alunos, ao que tudo indica, era obrigatória. Além da Conferência, com temáticas de interesse da formação de professores, ocorriam atividades culturais como apresentação do Orfeão, dos trabalhos manuais ou mesmo uma exposição de pinturas feitas pelos alunos. As Conferências eram instituídas pela Cadeira de Psicologia e Pedagogia. A Festas Cívicas são marcas importantes dos anos iniciais das Escolas Normais paulistas. Promovidas pelos professores que eram membros da Liga Nacionalista, eram ocasiões marcantes das escolas. O Orfeão, pela presença dos professores Fabiano Lozano, em Piracicaba, e de Lázaro Rodrigues Lozano, em São Carlos, desenvolve atividades musicais diversas, até com excursões às demais Escolas Normais do estado. Além dos exercícios os alunos que faziam parte do Orfeão também compunham músicas variadas. Parte dessas partituras ainda pode ser encontrada no acervo da antiga Escola Normal de Piracicaba. Uma atividade incentivada por Lourenço Filho, quando professor da Escola Normal de Piracicaba, foi a correspondência entre alunos das várias Escolas Normais do país. A Revista de Educação, da Escola Normal de Piracicaba, publicou algumas destas correspondências trocadas entre os alunos desta escola com os alunos da Escola Normal do Ceará, quando da estadia de Lourenço Filho nesta instituição. As instituições de formação de professores em Portugal: um olhar estrangeiro sobre as Escolas 2 Primeira associação recreativa e cultural de São Carlos fundada em 1877, dedicada às letras e vida social, era acusado de aristocrática e extremamente seletiva na admissão de novos sócios. Em Portugal as escolas têm diferentes denominações no período. De 1911 a 1930 são Escolas Normais Primárias e a partir de 1930, por ato normativo, passam a chamar-se Escola do Magistério Primário. O ano de 1911 marca o início do modelo republicano de formação de professores naquele país. Durante toda a 1ª República Portuguesa (19101926) pequenas alterações são realizadas nas escolas Normais Primárias depois de criadas. As influências do movimento escolanovista provocam uma série de modificações que culminará com a remodelação daquelas instituições, tal como afirma ADÃO no seguinte trecho: A 1ª República pretende instalar um ensino normal primário que corresponda às exigências da pedagogia moderna e que tenha como objetivo principal o desenvolvimento intelectual dos professores tornando-os aptos para a sua função. As escolas normais remodeladas começam a funcionar em 1918-1919, com um elenco de matérias de carácter essencialmente teórico, com cursos especiais e uma formação pedagógica que inclui exercícios práticos em escolas primárias anexas (1993, p. 126). No entanto, a partir de 1930, com a implantação do Estado Novo inicia-se um período de mudanças. A cada ano uma nova norma passa a alterar estas instituições. Alguns autores afirmam que a proposta do Estado Novo pouco mudou sobre a formação de professores. No entanto, por várias questões, em 1936 é encerada a matrícula de alunos ingressantes nas Escolas do Magistério Primário que aos poucos deixam de funcionar. Somente em 1942 elas serão reabertas com novas alterações e novos professores. Após este período as Escolas Normais são reabertas “para se tornarem verdadeiros santuários de uma pedagogia passadista em que Claparède e Dewey eram apontados como subversivos” (FERNANDES, 1993, p.164) A eleitas para este trabalho são as do Porto, de Braga e de Coimbra. Os periódicos analisados são publicados pelos alunos, com a participação dos professores como Escola Renovada (1930), Escola Remoçada (1944-1976), O Alvorecer (1912-1914), entre outras, e periódicos exógenos como a Revista Escolar (1921-1935). Quanto às práticas presentes nas escolas de formação de professores portuguesas estão as Conferências Pedagógicas (de natureza diversa do caso paulista), as Excursões de Estudo, a presença de agremiações de alunos e ex-alunos, a Caixa Escolar, o Conselho Escolar. Há uma grande influência de princípios e presença de rituais católicos no cotidiano destas escolas. Para pensar as práticas existentes nas escolas de formação de professores em Portugal é necessário partir dos prédios em que tais práticas ocorriam. Das 3 escolas estudadas, apenas a do Porto tinha um edifício próprio construído ainda no período da monarquia. Cuidadosamente planejado para abrigar uma escola de formação de professores para a escola primária, o prédio apresentava espaços apropriadas e instalações adequadas, segundo atestam os periódicos. A Escola Normal Primária de Braga foi instalada num antigo convento que, somente após as reformas realizadas pelo Estado Novo, adequou-se para seus fins. Já a Escola Normal de Coimbra foi a que mais prejuízos teve no desenvolvimento das atividades. Em 1926 Álvaro Viana de Lemos defende a imediata construção e protesta contra a idéia de instalá-la em edifícios já existentes na cidade como o Páteo da Inquisição, o edifício da cadeia ou o Hospício da Praça da República. Contrário a idéia de que a Escola Normal deve ser no centro da cidade argumenta que a vida do professor é de muito sacrifício e luta e que deve então ter uma iniciação apropriada. (Os Novos, n. 2, 10 fev 1926, p.1) Os alunos assim escrevem sobre o prédio onde funcionava a escola: Basta dizer-se que a escola primária anexa onde tecnicamente noc preparamos para a vida que escolhemos, está instalada de mistura numa casa de hóspedes, sem muito do indispensável e necessário que a moderna pedagogia impõe. Não experimentamos os métodos novos. Somos sacrificados à rotina.(Os Novos, n. 3, 12 mar 1926, p. 1) Os alunos descrevem, nesta época, a escola como um local anti-higiênico, sem estrutura física e adequado mobiliário para as atividades de formação. A Escola só terá prédio próprio construído na década de 1950, durante regime ditatorial, quando já era denominada Escola do Magistério Primário de Coimbra. A forte presença de uma imprensa acadêmica nas Escolas de Formação de Professores em Portugal, durante todo o período estudado já é um ponto de partida privilegiado e instigante. Não há indícios, no material pesquisado, de que haveria uma orientação oficial para que as escolas publicassem tais periódicos. Mesmo porque, a Escola Normal de Lisboa terá um único exercício de publicação com a iniciativa de Irene Lisboa, enquanto aluna. Somente em 1949 os alunos da então Escola do Magistério Primário de Lisboa passam a publicar a revista Educação, que, curiosamente, será dirigida pelo diretor da escola. Neste intervalo não há periódicos publicados pela escola. Nas escolas estudadas, por outro lado, há iniciativas por quase todo o período. O único período que não encontramos publicações é aquele quando as escolas são fechadas. Tal imprensa acadêmica era, na maioria das vezes, produto da atividade das Associações de Alunos ou de Ex-alunos das escolas. Além das publicações, estas instituições promoviam uma série de atividades de ordem cultural e pedagógica. As reuniões dos ex-alunos eram constantes. Dentre os jornais publicados em Portugal chama-nos a atenção a presença de O Clarão (1931). Não era uma publicação da Escola do Magistério Primário do Porto e sim uma publicação de um órgão particular: a empresa O Clarão cujo diretor era Faustino de Gouveia. No entanto, o periódico, como exposto em seu cabeçalho era órgão defensor dos interesses dos alunos da EMPP. Em seu editorial menciona um decreto, sem especificar qual seja, que havia levado à inatividade vários professores das Escolas do Magistério Primário. A co-educação é debatida e defendida já na primeira página. Deixa claro que na referida escola não havia a co-educação dos sexos 3 . Outro artigo sobre a biblioteca da escola 4 demonstra a precariedade dela. Além das poucas obras, havia uma desorganização geral. Ausência de catalogação, de arrumação das estantes, dificuldades de consultas, etc. A necessidade dos alunos buscarem nos impressos os conhecimentos necessários ao enriquecimento de sua cultura geral para adaptarem-se melhor aos métodos e processos didático-pedagógicos da Pedagogia Moderna. Nos demais periódicos a importância e a precariedade das bibliotecas das escolas de formação de professores é lembrada. Os alunos e os professores realizavam campanhas de doação para ampliar os acervos. Há um editorial interessante no n. 2 que afirma haver adversários ao grupo do jornal (não fica bem clara esta questão) mas, parece que o que este grupo adversário ataca é a forma de seleção dos alunos da EMPP, afirmando estarem ali apenas crianças loiras ou um simples colégio de meninas e não uma instituição de formação de professores. (O Clarão, n.2, p.1). Na mesma página há um grande artigo cujo tema é o exame de admissão dos alunos externos a EMPP. Há uma crítica ao decreto que permitia que alunos provenientes do bacharel, por meio de adaptações e exames – esses de cultura geral – ascendessem ao Magistério, contrariando, segundo o autor, os ditames da Pedagogia Moderna. Nesta mesma edição há um longo artigo rebatendo duas colunas do jornal Educação Nacional (do grupo Figueirinhas) que teria atacado a publicação, os diretores da escola e os alunos que o apóiam. (p. 1). Havia uma divergência evidente entre os responsáveis pelo jornal e a Associação de Alunos da EMPP. (n 2, p.2). Este jornal é uma amostra do quanto se pode desvelar das práticas presentes nestas instituições. A prática pedagógica, uma atividade curricular, era desenvolvida nas escolas de aplicação que, quando existentes, eram anexas às escolas de formação de professores. No 3 4 CUNHA, Ferreira da. A célebre questão. O Clarão, ano I, n. 1, dez 1931, p. 1. PIRES. A biblioteca da Escola do Magistério Primário do Porto. O Clarão, ano I, n. 1, dez 1931, p. 2. jornal Escola Remoçada, de novembro de 1946, há um artigo escrito por uma aluna da escola em que afirma Dois anos de lida no Curso do Magistério Primário e, durante eles, várias visitas a outras Escolas e várias conversas com colegas do mesmo ofício permitiram-me tomar conhecimento da maneira como é orientada a aula de práticas pedagógicas. (...). As escolas de aplicação, destinadas à prática pedagógica, são quase todas de uma só classe. (Escola Remoçada, 11/1946, p. 1) Professor de Trabalhos Manuais na Escola Normal Primária de Coimbra e um dos expoentes da Educação Nova, Viana Lemos tem uma visão diferenciada e bastante instigante, se tomarmos em consideração o movimento pedagógico ao qual adere e representa, sobre a formação do professor ao afirmar que (...) eu desejaria ver no ensino normal mais preparação para a prática imediata da vida. – É principalmente precisa a investigação e o estudo, livre da estreitesa de programas e preconceitos tradicionais, das mil situações novas e portanto verdadeiras surpresas que ides encontrar ao sair da escola. Queria que forjásseis aqui todas as armas com que havereis de vencer. – Uma tempera moral, uma ideologia social, o amor à espinhosa missão que abraçais, interesse pela invocação racional e scientificamente conduzida, solicitude pelo trabalho e ambição insaciável pelo saber e pela perfectabilidade.(Idem, p.2) Lemos parece defender a idéia de uma prática pedagógica mais efetiva durante a formação do professor. No período que se inicia após a reabertura das Escolas do Magistério Primário há a presença de várias atividades religiosas. As atividades diárias se iniciavam com orações. Nas comemorações, fossem cívicas ou religiosas, havia a presença de um representante da igreja católica. As Conferências Pedagógicas, uma atividade desenvolvida desde as primeiras Escolas Normais em Portugal, se caracterizavam como prática obrigatório para os alunos. Nestas, os alunos proferiam uma palestra cuja temática era ligada à Pedagogia. As Conferências dos alunos eram avaliadas pelos professores e registradas em livros apropriados para este fim. Também haviam conferências feitas por convidados. Algumas delas eram realizadas por ex-alunos da escola. A troca de Correspondência era uma das atividades estimuladas entre os alunos. Tais correspondências eram enviadas para alunos de outras escolas congêneres portuguesas e também estrangeiras. Tal atividade era chamada de Intercâmbio Escolar e era defendida nos periódicos para o professor como um dever e aos alunos como uma necessidade. As práticas desenvolvidas nas Escolas de Formação de Professores no Brasil e em Portugal nos dão mostras das marcas culturais destas instituições. Para além do previsto nos currículos havia uma série de atividades que acabavam por compor a formação dos professores das escolas primárias. Os periódicos publicados por estas escolas trazem pormenores destas práticas, muitas das vezes com opiniões sobre elas. No caso paulista os elementos presentes nos periódicos foram traçados nesta comunicação. No caso português há varias práticas que não foram aqui contempladas. Os periódicos Escola Remoçada e Rumo tinham correspondentes em todas as outras Escolas do Magistério Primário de Portugal. Assim, temos indícios das práticas presentes em boa parte delas. Há a necessidade de verificarmos a partir de outras fontes maiores informações sobre tais práticas. Os periódicos, talvez pela natureza deles, dão-nos a idéia de que as práticas aqui elencadas eram bastante freqüentes. As festas cívicas, por exemplo, parecem se intensificar a partir dos períodos de regime ditatorial em ambos os países. Ao tomarmos por referência Nóvoa (1998) que afirma a necessidade da educação comparada compreender como “a história dos sentidos que os sujeitos que as diferentes comunidades dão as suas ações e que lhes permitem construir o mundo” (p.83), percebemos que olhar para as práticas presentes nos periódicos pode significar uma aproximação, ou melhor, uma apreensão dos sentidos que as comunidades de professores a alunos davam a tais práticas. Referências Bibliográficas ADÃO, Áurea. A história da profissão docente em Portugal: balanço da investigação realizada nas últimas décadas. In NÓVOA, A. e BÉRRIO, J.R. A história da educação em Espanha e Portugal. Lisboa: Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação, 1993, p. 123-35. CHARTIER, Roger. Os desafios da escrita. São Paulo: Editora UNESP, 2002. FERNANDES, Rogério. História das inovações educativas (1875-1936). In NÓVOA, A. e BÉRRIO, J.R. A história da educação em Espanha e Portugal. 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