CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL COMISSÃO ESPECIAL - POLÍTICAS PÚBLICAS PARA JUVENTUDE EVENTO: Audiência Pública N°: 0685/04 DATA: 27/5/2004 INÍCIO: 10h07min TÉRMINO: 11h31min DURAÇÃO: 01h23min TEMPO DE GRAVAÇÃO: 1h23min PÁGINAS: 26 QUARTOS: 17 DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO WELTON TRINDADE - Representante da ONG Estruturação - Grupo de Homossexuais de Brasília. ZULEIDE ARAÚJO TEIXEIRA - Representante do Centro Feminista de Estudos e Assessoria — CFEMEA. SUMÁRIO: Debate sobre temas essenciais para elaboração de uma política nacional de juventude. OBSERVAÇÕES Há termo ininteligível. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - Políticas Públicas para Juventude Comissão Especial - Políticas Púb. para Juventude Número: 0685/04 Data: 27/5/2004 O SR. PRESIDENTE (Deputado Reginaldo Lopes) - Havendo número regimental, declaro aberta a presente reunião de audiência pública, com o tema de gênero. Convido para compor a Mesa o Relator da Comissão, Deputado Benjamin Maranhão; a Sra. Zuleide Araújo Teixeira, representante do Centro Feminista de Estudos e Assessoria — CFEMEA; e o Sr. Welton Trindade, representante da ONG Estruturação - Grupo de Homossexuais de Brasília, que já tivemos o prazer de ter conosco outras vezes. Antes de conceder a palavra ao primeiro palestrante, esclareço que os convidados vão dispor, inicialmente, de 20 minutos para suas explanações. Encerrada a fala dos expositores, cada Deputado disporá de 3 minutos para considerações e perguntas, com o mesmo prazo para resposta e possíveis réplica e tréplica. Para situar o debate, nós, da Comissão Especial de Políticas Públicas para a Juventude, vimos há mais de 1 ano realizando debates e audiências públicas sobre todas as temáticas que envolvem os jovens. No ano passado, chegamos a produzir um relatório preliminar, que orientou os debates nos Estados. Nossa intenção é, no final do trabalho, propor ao País uma política nacional de juventude para os próximos 10 anos e algum marco regulatório da relação dos direitos da juventude no País. Encerraremos esse trabalho na Conferência Nacional de Juventude, que será realizada nos dias 16, 17 e 18 de junho, no Minas Tênis Clube. Depois da Conferência, a Comissão aprovará os documentos finais, que estamos chamando de Plano Nacional de Políticas para a Juventude, ou talvez um estatuto ou PEC, além de várias recomendações para o Governo Federal no sentido de se criar um órgão responsável para tratar das políticas de juventude no âmbito do Executivo. Também discutiremos a melhor composição, o melhor desenho institucional de um Conselho Nacional de Juventude. Haverá discussões também sobre o Brasil ter uma fundação ou um instituto de juventude em âmbito nacional, para estabelecer parcerias com mecanismos internacionais, a sociedade civil e a iniciativa privada. No final de todo esse trabalho, da primeira etapa, que foi de estudo e apresentação do relatório preliminar, que orientou os debates nas capitais brasileiras 1 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - Políticas Públicas para Juventude Comissão Especial - Políticas Púb. para Juventude Número: 0685/04 Data: 27/5/2004 — realizamos audiências nas 26 Capitais e no Distrito Federal, para dar oportunidade ao jovem de participar do processo e mostrar seu olhar —, chegamos à conclusão de que era importante aprofundar o debate na temática das especificidades da juventude, que, entre aspas, teve um grupo chamado “Juventude e Minorias”, que tratava dos jovens homossexuais, mulheres, afrodescendentes, índios, de zonas rurais e do semi-árido. Na opinião pessoal deste Presidente, no plano nacional, o País é desenvolvido, mas muito injusto, tem dificuldades financeiras, e precisamos criar uma política nacional capaz de atender aos jovens mais pobres, mulheres, afrodescendentes, do Norte e Nordeste, índios, do campo. Nossa intenção é estabelecer um projeto de metas para os próximos 10 anos que, dentro da possibilidade financeira do Estado brasileiro — não seria uma meta do Lula, mas do Estado em relação à juventude —, possa seguir o que no nosso entendimento seria o melhor caminho para universalizar. Entendo que, no primeiro momento, é o caminho para a universalização das políticas públicas. Por isso a importância desse debate hoje e a contribuição de vocês para a questão de gênero. Passo a palavra ao primeiro palestrante, Welton Trindade, que terá 20 minutos para a sua exposição, que é o representante da ONG Estruturação - Grupo de Homossexuais de Brasília. O SR. WELTON TRINDADE - Bom dia a todos. Agradeço imensamente o convite. Realmente, é bom que façamos esse histórico, Deputado, sobre o acúmulo de experiências e a construção coletiva. É bom que cada cidadão brasileiro possa se apropriar desse conhecimento, até desmistificando a idéia de que Brasília é uma cidade muito fechada, assim como este Congresso, com seus tapetes verdes e azuis, pois cada um aqui também pode ajudar na elaboração de políticas, de forma coletiva, seja participando do trabalho em comissões, nas conferências ou nos demais encontros. Podemos, sim, contribuir com essas políticas. Outro aspecto importante é a forma de abordagem do tema, não mais discutindo a questão da orientação sexual de maneira resumida, superficial. A juventude é realmente alegre. É e sempre foi assim. Devemos preservá-la desse jeito. 2 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - Políticas Públicas para Juventude Comissão Especial - Políticas Púb. para Juventude Número: 0685/04 Data: 27/5/2004 É curioso, quando tentamos definir um grupo — tarefa que já é difícil —, constatarmos mais e mais especificidades, mais detalhes, mais nuances. Debatemos muito sobre esse ponto nos movimentos de homossexuais e bissexuais, ou seja, algo que para nós é muito peculiar: a diversidade. O nosso símbolo é a bandeira arco-íris, que tem 6 cores, cada uma representando uma questão da vida. O movimento achou importante essa representação no final da década de 70. Mas a gente sempre comenta que mais do que essa bandeira, que representa a diversidade em suas cores vermelho, amarelo, verde e azul, também há as nuanças, outros tons. Quando discutimos o tema Juventude, é importante sabermos que jovem é esse. Com a evolução da discussão no meio social sobre a juventude, chegou-se, enfim, à questão do gênero, que é importantíssimo, tal como o são a etnia e outras especificidades. Mas é bem recente o debate no que concerne à orientação sexual — feliz e infelizmente, posso dizer. Trata-se, portanto, de fato histórico a atualidade deste debate. Tenho 25 anos e minha educação formal remetia a questão da sexualidade à biologia. Discutia-se sobre reprodutores e gametas. E era isso. Para onde iria toda a efervescência e tudo o que se passava na cabeça do adolescente sobre sexualidade? Para se ter idéia da dificuldade de abordar o assunto e de como as coisas são difíceis, apenas em um passado recente passamos a discutir sexualidade não mais sob a concepção biológica, mas sobre sexualidade de forma geral. Apesar de as escolas terem avançado um pouco nessa discussão, ainda assim notamos que não se deu um passo completo. A primeira vez que ouvi falar sobre homossexualidade na escola foi na sétima série — aliás, a única vez — quando apresentaram um vídeo do Ministério da Saúde, distribuído para as escolas de ensino fundamental, sobre prevenção das DST e AIDS. Havia uma bela abordagem, na metade da década de 90, sobre grupos de risco. Foi a primeira e única vez que ouvi falar sobre homossexualidade na escola. Os trabalhos apresentados intitulavam-se Grupos de Risco e AIDS; Profissionais do Sexo; Homossexuais; Usuários de Drogas. Foram os temas da apresentação. 3 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - Políticas Públicas para Juventude Comissão Especial - Políticas Púb. para Juventude Número: 0685/04 Data: 27/5/2004 Eu ainda estava em processo de descoberta. A juventude é isso: um processo de descoberta. E este deve ser um processo alegre, bonito, o que não ocorre na questão da homossexualidade e bissexualidade, pois descobrir esse desejo, o amor e todas essas questões que nos parecem suaves pode ser um motivo de tristeza capaz de abalar a auto-estima da pessoa e todo o processo de seu desenvolvimento. Estou falando sobre a questão dos jovens homossexuais e bissexuais. Chegamos, enfim, à necessidade urgente de falar sobre orientação sexual, se é que verdadeiramente se quer falar do bem-estar da jovem e do jovem. Sem isso, corremos sério risco de estarmos elaborando ações e políticas públicas vazias. É fato que os Direitos Humanos são indivisíveis. Por mais que se possa discutir a questão sob o enfoque de raça e diferença social — e há realmente necessidade de se fazer debates sobre afrodescendência, etnia ou gênero —, se nos limitarmos a isso, não estaremos tratando do ser humano de forma completa. Eu não me sentiria completo se se tratasse apenas disso, negligenciando o restante, por exemplo, a condição do homossexual. Em todo debate sobre a questão de gênero há subentendido que se trata da relação que se estabelece de homem para mulher e de mulher para homem. Lá na Estruturação, uma entidade que completará 10 anos em 2004, com larga experiência na discussão sobre o tema de Direitos Humanos, ouvimos experiências de jovens e temos, inclusive, um projeto específico para começar no segundo semestre. Esses jovens fazem relatos sobre a ausência de discussão acerca da homossexualidade na escola, dizem-nos que nunca ouviram falar e parece que não existem. Outros alegam que são notados, mas são alvo de xingamento dos colegas, da omissão dos professores, que, por vezes, até colaboram com a discriminação. Uma imagem clássica que apresentamos quando dos debates sobre homossexualidade é o professor explicando alguma matéria na lousa enquanto o homossexual está sendo discriminado entre os alunos, mesmo na presença do professor. Ele ouve, mas continua inerte, explicando a lição. Portanto, é sério o debate sobre a função da escola. O educador não deve ensinar apenas a ordem dos planetas, do Sol a Plutão, ou funções exponenciais, tem ele o dever de formar cidadãos. 4 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - Políticas Públicas para Juventude Comissão Especial - Políticas Púb. para Juventude Número: 0685/04 Data: 27/5/2004 Nesse caso, a discriminação — o que inclusive em Direitos Humanos é consenso — se dá pela omissão. A omissão é colaboração, é crime. É o caso desse professor que se omitiu diante de uma discriminação e continuou passando a matéria à turma, apenas cumprindo o currículo para que os alunos passassem no vestibular. As escolas precisam discutir educação com esse sentido maior. Dados da UNESCO apontam para uma realidade estarrecedora, tal como divulgados na segunda-feira: 60% do professorado brasileiro acha inadmissível o relacionamento entre dois homens ou duas mulheres. Sou jornalista e compreendo a pressão que existe sobre o profissional de educação. Que responsabilidade! Não estamos apenas apontando o dedo acusatório ou dizendo que os professores são preconceituosos, queremos dar-lhes as mãos e tentar solucionar o problema. Vamos cobrar do Poder Público e dos Governos em todos os seus âmbitos cursos de capacitação e maior investimento em recursos humanos para que os professores possam falar livremente sobre o assunto, esclarecendo, inclusive, as próprias dúvidas. Quando se fala em homossexualidade na escola — e citei o exemplo do sexo na biologia —, observamos que os professores sequer estão preparados para enfrentar o tema. Além disso, passam para o aluno a questão do preconceito. E há um fato gravíssimo sobre o qual já falei aqui em outra oportunidade: o índice de suicídio entre jovens homossexuais e bissexuais, em todo o mundo, em todas as pesquisas que o Movimento Homossexual Internacional faz, é sempre maior quando comparado com o índice médio de suicídio entre adolescentes. E aí notamos a questão do preconceito e a conseqüência. Há um símbolo internacional da luta contra a AIDS, que é o vermelho; mas há também um laço branco, que é o símbolo internacional da luta contra o suicídio de jovens homossexuais. E o que seria a solução para esses dados estarrecedores? Eu tive 2 amigos que se suicidaram. Em determinado evento eu falava sobre família, adolescência e homossexualidade quando uma mãe ligou para dar um testemunho sobre o suicídio do filho há 3 semanas em Brasília. Ele era homossexual, a mãe não o aceitava, o pai muito menos, e ele se suicidou. Na carta ele falava sobre isso. E a mãe fez um relato sentido sobre a questão. 5 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - Políticas Públicas para Juventude Comissão Especial - Políticas Púb. para Juventude Número: 0685/04 Data: 27/5/2004 Também, ao se falar em violência física, deve-se perquirir o que leva a isso. Quando eu era chamado de mariquinhas na escola, chegava em casa e ia direto para o quarto chorar. E sempre falo sobre a questão específica dos homossexuais como a mais grave, pois um jovem negro discriminado na escola ou em ambientes sociais de convivência e socialização pode chegar em casa, falar com o pai ou a mãe, também negros, enfim, com a família sobre a discriminação que sofreu. Ou seja, ele tem aliados. Espera-se que a mãe ou o pai ajudem, inclusive por já terem essa consciência. O mesmo, porém, não ocorre com o homossexual, pois a própria família agrava essa discriminação. Recebemos várias denúncias na Estruturação sobre jovens expulsos de casa. No mês passado uma mãe expulsou a filha de casa. O meu exemplo é a medida dessa discriminação. Eu sempre fui o melhor da sala, o primeiro lugar, mas quando falei para minha mãe que era homossexual tudo se desconstruiu. Minutos antes eu era o melhor filho do mundo; depois já não o era. Agora vou falar sobre soluções. A saída é a disseminação da cultura de direitos humanos, de respeito às individualidades. Não podemos colaborar com a hipocrisia, tal qual ocorre no Brasil e em grande parte do mundo, de falar sobre direitos humanos e excluir os direitos dos homossexuais. Para se ter idéia do patamar que está o debate, uma resolução apresentada pelo Governo brasileiro no ano retrasado sugeria que a ONU considerasse o direito de homossexuais e bissexuais como integrante do feixe de direitos humanos, porque ainda não havia — e não há — esse reconhecimento. Os países islâmicos e o Vaticano são contrários a essa pretensão. No Plano Nacional de Direitos Humanos I, de 1995 ou 1996, não se falava sobre a questão de homossexualidade e bissexualidade. Apenas no Plano Nacional de Direitos Humanos II colocou-se a questão. Portanto, temos que avançar nessa questão. Por isso é importantíssimo, ao falarmos sobre juventude e desmembramentos legais na legislação, por meio de emendas, projetos de lei ou estatutos, lembrarmos da questão da orientação sexual. Aí, sim, se estará atendendo ao jovem em sua integridade, pretendendo a qualidade de vida desse jovem. 6 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - Políticas Públicas para Juventude Comissão Especial - Políticas Púb. para Juventude Número: 0685/04 Data: 27/5/2004 O preconceito na escola, no Brasil e em todo o mundo, de forma geral, está diminuindo. Essa construção foi muito árdua. Somos da militância em Direitos Humanos e qualquer militante da área está vinculado a ONGs e começa a luta dentro de casa, ensinando para o filho a não repetir a discriminação. Ninguém nasce achando que homossexual é anormal ou que mulher tem que ir para o fogão e negro é inferior. Quando ando pelo shopping com meu namorado, às vezes, sou repreendido por estar externando minha orientação sexual em meio a crianças. Mas as crianças de 6 ou 7 anos sequer nos olham, não estão nem aí. Por outro lado, as “crianças” de até 90 anos já começam a nos notar. Aquelas crianças não nasceram com preconceito, são puras, é o pai quem as ensina a nos xingar de “viadinhos”. A televisão as ensina a bater, a xingar e a humilhar homossexuais. Elas crescem assim. Há vários casos muito sérios de grupos de skinheads atuando em Brasília. Estamos, em colaboração com a Polícia Civil, fazendo o monitoramento dessas gangues. Em outubro do ano passado foram agredidas 4 pessoas, uma delas sofreu traumatismo craniano. Houve um caso emblemático no Brasil, em São Paulo: um adestrador de cães, Edson Néris, que morreu após ser agredido por um grupo de carecas na Praça da República. À época escrevi um artigo para o CFEMEA no qual ressaltei a comoção pública com a questão da morte de um homossexual, mas também escrevi que os jovens envolvidos com aquela violência repetiram atos que são fruto de uma discriminação social que pode ter sido a eles passada pelo pai que os ensinou a xingar o vizinho, ou pela televisão que apresentou programas humilhando homossexuais. O certo é que aquela violência não se dá por geração espontânea. A homofobia, o racismo, a misoginia, todos nascem de um processo que desemboca na violência, no assassinato. No lançamento do Plano Brasil sem Homofobia falei ao Correio Braziliense sobre a importância dessa interface entre a Comissão, os debates sobre as políticas da juventude e as questões específicas que poderão ser abordadas quando da 7 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - Políticas Públicas para Juventude Comissão Especial - Políticas Púb. para Juventude Número: 0685/04 Data: 27/5/2004 discussão desse Plano elaborado pela Secretaria Especial de Direitos Humanos. A articulação entre os Ministérios foi muito bem feita, mas, agora, além da bonita cartilha arco-íris que publicamos, devemos colocar as políticas em prática. O lançamento foi anteontem, mas já estamos cobrando ações. Devemos caminhar justamente para essa construção coletiva e colocar a questão da dificuldade em lidar com o tema nas escolas. O Ministério da Educação apenas recentemente se abriu para essa questão da diversidade de orientação sexual. Era tema proibido. E aí vem toda a questão da sexualidade como assunto proibido. Até em países ditos desenvolvidos, a exemplo dos Estados, há proibição de se falar sobre o assunto Mas o Brasil possui uma legislação que permite aos Direitos Humanos ser um tema transversal. Os militantes da área não se cansam de discutir sobre educação em Direitos Humanos, insistindo que o tema seja tratado como disciplina curricular e tema transversal. Mas o problema não é tratado dessa forma, o que nos causa angústia muito grande. Neste ponto, o principal investimento deve ser na capacitação do professor como política educacional. Passa por aí a questão de se evitar uma política vazia. Já testemunhei muitos debates sobre Direitos Humanos que sequer tocaram no tema da homossexualidade e da bissexualidade. Não existe respeito ao negro nem ao homossexual. Não existe. Anteontem, em entrevista ao Correio Braziliense sobre o lançamento do Plano Brasil sem Homofobia, citei que sempre achei estranho as escolas fomentarem trabalhos sobre a Guerra do Iraque ou outros conflitos mundiais, enfim, estudos geopolíticos — e realmente interessante entendermos o mundo —, mas não proporem estudos sobre o respeito aos colegas homossexuais. E dei o exemplo da campanha “Paz no Trânsito”, afirmando que a paz deve ser semeada em nosso próprio meio, com o colega que está sentado ao lado na sala de aula. Basta não xingar a pessoa, tratá-la cordialmente, com respeito e discutir o tema nas salas de aula. A questão está perdida em meio às escolas. Existe na legislação do Distrito Federal a Semana dos Direitos Humanos. Portanto, vamos discutir o tema sem hipocrisia. Vamos falar sobre questões que contemplem etnia e gênero, enfim, todas essas questões fundamentais para o jovem, inclusive a orientação sexual. 8 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - Políticas Públicas para Juventude Comissão Especial - Políticas Púb. para Juventude Número: 0685/04 Data: 27/5/2004 Tenho 25 anos e já estou com inveja da força dessa galera jovem. É impressionante. Na Estruturação temos o Projeto Crescer. Falamos sobre o “crer” e o “ser”. Falamos muito sobre ser você mesmo, ser feliz. Não importa quem você ame e qual seja o seu desejo. Vamos fazer oficinas de fanzines, publicações em xerox sobre sexualidade, cidadania, direitos humanos, de maneira bem informal, como é a cara dos jovens. Haverá computação gráfica e outros. Os jovens vão abordar os assuntos que desejarem e distribuir os exemplares nas escolas. Estamos vencendo a batalha paulatinamente. Mas ainda temos muito a caminhar. Pesquisa da UNESCO recentemente publicada indica que a média de 25% do alunado brasileiro não gostaria de estudar com um homossexual ou um bissexual. Dentre as mulheres, 17% não gostariam; entre os homens o índice chega a 40%. É mais uma prova de como são indivisíveis os Direitos Humanos. Não se pode separar as coisas. Por que 40% dos homens não gostariam de estudar com um homossexual e apenas 17% das mulheres adotaram essa posição? Machismo. Se percebermos essa questão de gênero, também atingiremos a homofobia, o racismo e outras discriminações. O mínimo a se exigir é o respeito à diferença. Ninguém é melhor do que ninguém, apenas são diferentes. Então, vemos essa questão do machismo muito forte no homem, o que se reflete na homofobia. Portanto, é bom estarmos somando forças porque a luta é comum. É hipocrisia minha querer falar sobre orientação sexual sem falar sobre gênero, etnia e questão social. Infelizmente, tudo isso já foi tratado, mas não se falou sobre a orientação sexual. Na Estruturação temos um rede de apoio, com reuniões semanais para falar sobre mídia e homossexualidade, relacionamento, família etc. e tal. Os temas que abordam família e religião são os mais polêmicos. Os católicos e evangélicos são extremistas. É preconceituoso falarmos que os evangélicos são preconceituosos. Quando fizemos um protesto contra o Vaticano, assim agimos em razão de o Vaticano ter redigido um documento oficial cujo teor apontava a homossexualidade como anormal. Não criticamos a Igreja Católica. Sabemos, pela nossa experiência, que as pessoas que atuam na base, os padres, as freiras, as pessoas que estão 9 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - Políticas Públicas para Juventude Comissão Especial - Políticas Púb. para Juventude Número: 0685/04 Data: 27/5/2004 mais em contato com o povo, longe da cúpula, agem de maneira diferente. Não estou falando que são muito diferentes, mas são diferentes. A pesquisa da CNBB revela que 60% dos padres brasileiros não consideram a homossexualidade algo contrário a Deus. Enquanto o Vaticano, que pretensamente quer representar a Igreja Católica, considera a homossexualidade um comportamento anormal. Enfim, estamos mostrando que estamos avançando. É difícil, mas é recompensador cada passo que damos. Quando falamos sobre o tema família na Estruturação, o assunto é tratado com muita seriedade, tanto que criamos uma reunião de pais e parentes de homossexuais e bissexuais. Nas terças-feiras há reuniões gerais. Quando colocamos em debate o tema, a média de freqüência aumenta. Os depoimentos são vários. Há pais que descobrem em e-mails que os filhos são homossexuais e param de falar com eles. É triste ouvir isso. Na questão da família, criamos a rede social de apoio, pois é fundamental. Portanto, queremos que a escola se transforme em centro da comunidade para discutir orientação sexual, que o professor seja o protagonista e que a sociedade civil organizada ou não também seja fomentadora. Não é só o aluno o interessado. A pesquisa da UNESCO a que me referi também revela que 30% dos pais não gostariam que o filho estudasse com um colega homossexual. O índice para os jovens é menor. Mas o fato é que as coisas estão melhorando. Temos que insistir. Se melhora aos poucos, é porque estamos trabalhando muito. Nada pode nos cercear ou obstaculizar essa nossa construção. Outra questão séria, muito pertinente, é a prevenção DST e AIDS. Por exemplo, entre homossexuais e bissexuais, também mercê de muito trabalho, a epidemia se estabilizou. O crescimento hoje se verifica entre mulheres, pessoas mais pobres e do interior do País. Infelizmente, a estabilização foi conseguida em um ponto muito alto, cerca de 27%. Quando falamos sobre a prevenção de DST e AIDS e qualidade de vida, obrigatoriamente tratamos de saúde. A tendência de crescimento da epidemia é notada entre adolescentes homossexuais na faixa etária de 14 a 24 anos. De forma 10 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - Políticas Públicas para Juventude Comissão Especial - Políticas Púb. para Juventude Número: 0685/04 Data: 27/5/2004 geral, a epidemia está estabilizada, mas nota-se que entre homossexuais adolescentes a doença está se generalizando. Isso pode ser fruto das questões sobre auto-estima, preconceito, enfim, há reflexos no pensamento desses adolescentes sobre saúde. Eles não podem falar sobre camisinha com o namorado porque o desejo é tratado socialmente como algo anormal, pecaminoso, nojento, abominável, inaceitável pelos pais, rejeitado pela escola etc. Será a última coisa em que o adolescente irá pensar. O pensamento sobre saúde é mais global. A camisinha é fim do processo, não é início de nada. O jovem irá falar sobre saúde quando estiver se sentindo bem, podendo levar o namorado para a casa e falar sobre o assunto na escola. Eu nunca aprendi na escola método de prevenção de doenças entre homens, mas somente entre homens e mulheres. Portanto, nunca utilizei. Quer dizer, não se fala sobre isso na escola, negligência que em muito contribui para a questão do preconceito e da falta de atenção à saúde. Deve-se falar também sobre prevenção entre mulheres, o que é fundamental, porque há uma falsa noção de que não há ocorrências de DST entre mulheres. A escola não informa e o ginecologista também não. É um problema sério abordado pelo movimento de lésbicas. O profissional de saúde também não está capacitado para falar sobre a questão. Então, o adolescente passa pela escola sem a devida orientação. Ele somente se toca quando os colegas o chamam de “viadinho” no recreio. Mas não há uma abordagem oficial, uma discussão em sala de aula. Há o problema quanto às transgêneros, muito estigmatizadas. Uma transgênero que participa da Estruturação tem 16 anos, a família já a aceita. Houve um processo difícil de conscientização, mas ela enfrentava preconceito na escola. Ela me fala que não quer ir para a rua, prostituir-se — e nada tenho contra a prostituição, enfim, é uma questão pessoal. E me dizia ela que desejava estudar, mas a diretora não a deixava entrar de saia na escola. É uma transgênero com uma história boa, que a família aceita, tem apoio, mas a diretora da escola em Samambaia, uma cidade-satélite de Brasília, não a deixa entrar de saia nem aceita a orientação sexual dela. Enfim, não a deixa sentar no banco escolar para estudar. É assim que empurramos as pessoas para a marginalidade, para a consciência de que não são cidadãs. É fundamental. Devemos trabalhar sobre isso. 11 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - Políticas Públicas para Juventude Comissão Especial - Políticas Púb. para Juventude Número: 0685/04 Data: 27/5/2004 Para encerrar, vou falar sobre a visibilidade para essas questões e as Paradas do Orgulho GLBT. A expansão do movimento tem sido muito feliz. Ao final da década de 70 havia 3 ou 4 organizações no Brasil. Até semana passada já se contavam 162 organizações. Ontem fiquei sabendo de outra, portanto, são 163 entidades de militância em todas as Unidades da Federação. Estamos trabalhando junto ao Legislativo, ao Executivo e à sociedade, levando nossas mensagem à mídia e construindo esse caminho coletivamente. As Paradas do Orgulho Gay são a maior manifestação de Direitos Humanos do País, uma das maiores do mundo. Marchamos ao lado de simpatizantes, pessoas que estão dando força à causa. A primeira Parada do Orgulho Homossexual e Bissexual do Brasil aconteceu em 1994, no Rio de Janeiro, com 18 pessoas. No ano passado, em São Paulo — à qual somam-se outras 35 pelo País afora —, reuniram-se 1 milhão de pessoas na Avenida Paulista. É a metade da população de Brasília; a maior do mundo, disputando com Nova York e Toronto. Foi em junho do ano passado. Logo em seguida fizemos uma pesquisa com historiadores brasileiros e soubemos que ao evento só se equiparava o Movimento Diretas Já e os 504 Anos do Brasil. As paradas hoje no Brasil reúnem 2 milhões de pessoas, já com um processo de interiorização. O interior da Bahia já realiza paradas, cidades com 30 mil habitantes. Vemos que isso está acontecendo. Vemos que os governantes, os responsáveis pelas políticas públicas, se não ficarem atentos à questão da homossexualidade e bissexualidade, à cidadania de milhões e milhões de brasileiros e brasileiras, estarão se isolando. Serão como aqueles governantes que fecham a janela e colocam isolamento acústico para não ouvirem o que o povo está dizendo do outro lado. O Congresso está sofrendo disso. Há aqui projetos importantíssimos. O Congresso está virando uma ilha de preconceito. A sociedade está dando o exemplo de como as coisas estão avançando, mas aqui não avançam. Conseguimos formar a Frente Parlamentar pela Livre Expressão Sexual, tão grande quanto as nossas principais opositoras, mas temos que acordar para este fato. 12 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - Políticas Públicas para Juventude Comissão Especial - Políticas Púb. para Juventude Número: 0685/04 Data: 27/5/2004 Sempre falo que a Argentina, país vizinho, já tem legislação sobre parceria civil registrada, que é uma grande bandeira do movimento, assim como Portugal, outros países da Europa, Canadá e Estados Unidos. Temos que aprender com a história. O Brasil foi o último país do mundo a abolir a escravidão. É uma vergonha que vamos carregar o resto da vida. Mas o Brasil novamente não aprende, está se transformando em uma ilha de discriminação contra homossexuais e bissexuais. Os exemplos positivos estão se multiplicando por aí, e estamos aqui ainda discutindo questões básicas, que é o respeito, por exemplo, na escola, sobre políticas públicas para essa questão. Vamos acordar, do contrário estamos brincando de fazer democracia, uma brincadeira de mau gosto. Sou também presidente do Estruturação e da Associação da Parada do Orgulho Homossexual de Brasília. Vou fazer um convite a todos para o evento a ser realizado no dia 20 de junho, domingo, quando vamos fazer a VII Parada do Orgulho LGTBS — lésbicas, gays, transgêneros, bissexuais e, por pressão muito grande, colocamos também simpatizantes. Será a VII Parada de Brasília, precedida por vários outros eventos, inclusive um seminário que irá discutir juventude e homossexualidade, além do direito e homossexualidade e a questão da educação, especificamente sobre juventude, no Teatro dos Bancários. Vamos passar a programação a todos. Este ano vamos fazer a parada não no Eixão ou na W-3, resolvemos ocupar a Esplanada, a Praça dos Três Poderes. Pela primeira vez na história a parada em Brasília será na Praça dos Três Poderes. A concentração será às 14h. Ali é o nosso lugar. Não é outro lugar. Temos pessoas eleitas, mas todos fazem parte. Nossa parada vai ser colorida e cheia de alegria. A Parada do Orgulho Gay é uma manifestação. Até nosso beijo é político. Dois homens beijarem-se num shopping — assim exercendo um direito seu — é político, duas mulheres darem-se as mãos é político. De toda essa questão vamos tratar. Repito: nossa concentração vai ser na Praça dos Três Poderes, às 14h. Vamos percorrer a Esplanada no sentido norte até a Rodoviária do Plano Piloto. 13 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - Políticas Públicas para Juventude Comissão Especial - Políticas Púb. para Juventude Número: 0685/04 Data: 27/5/2004 Que possamos cobrar sempre a construção de um país igualitário, diverso como o arco-íris, que contemple questões de gênero, idade, orientação sexual, etnia e todas as outras que haja. Que realmente isso aconteça. Muito obrigado. O SR. PRESIDENTE (Deputado Reginaldo Lopes) - Obrigado, Welton. Eu concordo que temos dificuldade em formar formadores e que, em geral, na base há menos preconceito — a base seriam as crianças. Lembro de ter lido em um livro de pedagogia alternativa que o preconceito vem da família, vem dos pais; que a criança rica, quando vai à casa de uma criança pobre, acha tudo interessante. Senta no chão porque faltam alguns móveis e acha o espaço extremamente criativo. O pai rico é que acha que seu filho não deve conviver com o pobre, a criança vai formando sua consciência e passa a ter preconceito contra pobre. Criança acha tudo normal. Alguém é que diz a ela que homem deveria estar beijando mulher, e vice-versa. Muitas coisas acontecem por inércia. O movimento Diretas foi bonito, alegre. Cada um pôde pegar uma informação aqui, outra ali. Em questão de direitos humanos, especificamente no que se refere aos homossexuais, precisamos criar uma energia positiva que contagie nossos professores, que em geral assumem responsabilidades além de suas obrigações, embora ganhem 400 reais. Geralmente, são as professoras que mantêm sua casa quando o marido está desempregado. Às vezes elas precisam desenvolver outra atividade, como vender roupas. Acho importante criar no País uma energia positiva, e as Paradas do Orgulho Gay são fantásticas, muito alegres, divertidas. Muita gente bonita participa. Vão até os simpatizantes, e isso é fantástico. Hoje, cidades médias e pequenas estão criando associações. Eu fui padrinho de uma Parada Gay em São João Del Rei. Acho fantástico. Temos de fortalecer os movimentos de massa, eles carregam muita informação. Pegando uma informação aqui, outra ali, vão-se criando novas gerações. Esse movimentos promovem uma mudança cultural. Sou otimista, portanto acredito que o Brasil vai ser mais justo. 14 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - Políticas Públicas para Juventude Comissão Especial - Políticas Púb. para Juventude Número: 0685/04 Data: 27/5/2004 Passo a palavra à Sra. Zuleide Araújo Teixeira, representante do Centro Feminista de Estudos — CFEMEA. A SRA. ZULEIDE ARAÚJO TEIXEIRA - Bom-dia a todos. Cumprimento os colegas da Mesa, o Presidente e o brilhante palestrante Welton, que sempre dá seu recado com brilhantismo. Quero parabenizá-los pela iniciativa. Não desanimem com a aparente ausência de pessoas, porque essas manifestações extrapolam as paredes da sala. E são indispensáveis para o crescimento da nossa sociedade, que deixa cada vez mais visível a sua heterogeneidade. Estive lendo esta semana obra de uma autora que fala sobre a educação na Espanha. Ela diz uma coisa muito interessante: que quanto mais diversa a sociedade, quanto maior a sua heterogeneidade, maiores são as incertezas. Diz também que a escola, a família e todos os fóruns coletivos têm de se reestruturar para dar conta dessa heterogeneidade. Essa diversidade sempre existiu, só não tinha visibilidade. Mas, felizmente, em nossa organização social e política, ela está se manifestando a cada dia que passa. Não vou repetir o que Welton disse, embora concorde com tudo. Vou discorrer sobre as políticas públicas para a juventude e sobre educação — sou viciada em política, planejamento e educação. Quero chamar atenção para o momento feliz que estamos vivendo, uma vez que está em pauta a política para a juventude. Isso é muito importante. Às vezes vivemos um cotidiano tão atropelado que só com o passar do tempo é que observamos certos fatos que marcam a nossa história. E um dos fatos que estão marcando nossa história é a discussão, em sua diversidade, das políticas para a juventude. Se alguém já me ouviu falar em algum outro fórum a partir de 2000 sabe que me repito em um ponto. Sempre digo que o Brasil vive uma situação para a qual a maioria dos gestores ainda não acordou, muito menos a maioria da população. O Brasil vive um fato inédito na sua história desde o descobrimento: nunca teve um contingente tão grande de jovens entre 15 e 24 anos, contingente esse que os demógrafos tratam como “Onda Adolescente” e Elza Berquó chama de “a barriga jovem da pirâmide demográfica do País”. 15 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - Políticas Públicas para Juventude Comissão Especial - Políticas Púb. para Juventude Número: 0685/04 Data: 27/5/2004 Entre os 170 milhões de brasileiros, 50% têm até 25 anos. Na faixa de 15 a 19 anos está o maior contingente de pessoas que o Brasil já teve na sua história, em segundo lugar, estão os jovens entre 19 e 24 anos — por uma questão de organização, tratamos o jovem de 15 a 19 anos como adolescente e o de 19 a 24 anos como juventude. Imaginem que prioridade dever-se-ia dar a esse contingente. É para esse fato que chamo atenção. E faço um mea-culpa, porque até um mês atrás estive no Executivo, na Secretaria Especial de Políticas para a Mulher, e participei da elaboração do PPA. Apesar das muitas coisas boas que o PPA 2004/2007 traz, inclusive o recorte da inclusão e da participação — fiz isso na prática, andando pelo País inteiro — da população em um plano plurianual, pela primeira vez, além de audiências setoriais sobre questões de gênero e orientação sexual, mesmo assim, ainda não há o recorte explícito de política para a juventude. Agora, felizmente, com uma atitude mais democratizante, está surgindo um novo desenho na política de juventude, com esse fenômeno, com esse grupo que participa desta audiência, depois de tantas já realizadas. O maior pecado, e temos de nos redimir, cometido em relação a esses movimentos que participam dessas audiências relacionadas com a formulação de políticas para a juventude, está em não tentar garantir a transversalização. Por outro lado, a transversalidade já está dada. O que não ocorreu ainda foi a transversalização. Temos de garantir a articulação, a integração e a transversalização das políticas para que o fenômeno da transversalidade da juventude, com suas diversidades, seja garantido, explicitado e trabalhado. Voltando ao tema da barriga jovem, ou da adolescente, preocupa-nos o que os estudiosos vêm chamando de feminilização da AIDS e de rejuvenescimento da fecundidade. Outro fenômeno que ocorre nessa faixa etária de 15 a 24 anos é o aumento da gravidez entre 15 e 19 anos. Até meados da década de 90, era de 19 a 24 anos, mas de 1999 a 2004 chega a um percentual maior que 20% o número de jovens grávidas entre 14 e 19 anos. Pior, isso fez crescer tanto a feminilização da AIDS quanto o número de abortos feitos de forma inconsciente. O problema aqui não é a AIDS nem o aborto, mas a falta de consciência, porque hoje acho até que já se tem o conhecimento de como fazer sexo seguro. Há essa dificuldade política, e concordo com o Welton, de garantir o uso da camisinha e outros procedimentos que 16 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - Políticas Públicas para Juventude Comissão Especial - Políticas Púb. para Juventude Número: 0685/04 Data: 27/5/2004 resguardem a saúde e ajudem no planejamento familiar, não no controle. Essa consciência sobre o seu corpo e a consciência política do que deve ser feito é muito frágil do que o conhecimento sobre os procedimentos de garantia da sua saúde. Por exemplo, às vezes para não perder o parceiro ou a parceira se abre mão desses dados. Isso é falta de consciência política, seja heterossexual, seja homossexual, seja lésbica, seja bissexual, qualquer que seja a opção sexual, há essa ignorância política em relação a esses cuidados. De outro lado, a família e a escola têm de se reestruturar nessa linha — vamos dizer assim — é diferente ser reacionário e ser conservador. Às vezes, a família não é reacionária nem conservadora. A escola não age no sentido de renovar uma metodologia mais ativa, onde as minorias, as chamadas minorias políticas, passem a ter uma visibilidade de protagonista, de sujeito da sua história, seja em questões de gênero, seja em questões raciais, seja em questões sexuais; é conservadora na forma, embora não seja no conteúdo falado. Isso se traduz nos livros didáticos, isso se traduz na formação dos formadores — não é isso? Então, na minha opinião, é indispensável uma reformulação. Ou melhor, não é que tenha de simplesmente se atualizar, mas porque a sociedade vem exigindo que as suas diferenças não se transformem em desigualdades. As bases fundamentais para que isso ocorra estão na família e na escola, com o processo formativo, seja a escola formal, seja a informal. Por exemplo, outra situação que temos de ficar atentos, quando se discute políticas de juventude, é a inserção dos jovens no mundo do trabalho. Outra vez temos de nos referir à faixa de 15 a 24 anos. É basicamente uma situação diferenciada em 2 grupos dentro desse contingente — sempre os de 15 a 19 vivem uma situação e os de 19 a 24 vivem outra. Outro exemplo, nos de 15 a 19 há uma busca incansável pelo primeiro emprego, conseqüência de uma situação fragilizada em termos de classe social e em termos de renda. Aqui, a mulher é muito mais penalizada, como também na faixa de 19 a 24, quando há a coincidência com o desemprego. O Ministério do Trabalho e do Emprego tem tentado contornar no PPA e na sua programação essa situação oferecendo o PPA às faixas de 15 a 24 anos. Temos participado de muitos debates sobre como inserir esses grupos 17 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - Políticas Públicas para Juventude Comissão Especial - Políticas Púb. para Juventude Número: 0685/04 Data: 27/5/2004 diferenciados, como esse programa daria visibilidade ao trabalho dos grupos chamados de minorias políticas. Não basta dizer primeiro emprego para a faixa etária de 15 a 24 anos. Ainda será necessário a explicitação com o recorte visível dos grupos que precisam ser fortalecidos: gênero, raça, opção sexual etc. Tudo isso ainda precisa ser explicitado em todas as propostas. E o primeiro emprego é hoje uma das boas alternativas. Ele faz parte desse desenho do PPA, de uma nova política de direitos para a sociedade, de inclusão e participação, voltada para a faixa etária de 15 a 24 anos. Há exceções: os de 25 até podem ser incluídos. (Risos.) Fala-se muito de 15 a 24, mas cabe uma explicação: é o maior contingente. Nós, que trabalhamos com dados do Ministério da Educação, sabemos que os jovens de 15 a 19 anos deveriam estar no ensino médio, mas há um contingente muito grande de adolescentes dessa faixa no ensino fundamental. Por quê? Porque, apesar de se prever a faixa de 7 a 14 anos no ensino fundamental, a média de conclusão no ensino fundamental em nosso País é de 11 anos. A população, em sua maioria, passa 11 anos para fazer o ensino fundamental regular; não me estou referindo à demanda reprimida socialmente, àqueles que nem entram nas escolas. Mas os que entram, permanecem e não praticam a evasão, fazem, em sua maioria, o fundamental em 11 anos. Como professora da Licenciatura no Ensino da Arte na Faculdade (Ininteligível.) fazia questão, quando começava o semestre, de o aluno preencher uma ficha de caracterização pessoal para uma primeira conversa conosco. Pegava aquelas fichas e discutia o perfil da turma com eles mesmos. Fazia todas as perguntas, discretas e indiscretas, sobre a vida de cada um — claro, antes discutindo com eles todos os itens para saber qual turma que estava trabalhando conjuntamente determinada situação. E a maioria não conseguia fazer o fundamental em 8 anos e muito menos o médio em 3 anos — muito menos na faixa de 15 a 17, a chamada relação idade séria. Começamos a fazer comentários e saímos do roteiro. Isso prova que nada pode ser segmentado ou isolado. Voltando, então, ao primeiro emprego, enfim, posso afirmar que ele é uma grande alternativa na revisão do PPA. Outra grande alternativa, e devemos insistir, é a prioridade que está sendo dada ao ensino médio e profissionalizante. 18 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - Políticas Públicas para Juventude Comissão Especial - Políticas Púb. para Juventude Número: 0685/04 Data: 27/5/2004 Eu, particularmente, como profissional da área, sou contra o ENEM. Digo isso e muita gente se escandaliza. Por que sou contra o ENEM? Porque eu acho que se o ensino médio responder à sua função socioeducativa, os jovens entrarão na universidade sem dificuldade. Concordo com a necessidade de políticas afirmativas — e lembro do mestre Celso Furtado, que desde 1960 já afirmava a necessidade de haver em todo o planejamento contextualizado o paralelo, o emergencial e o estrutural —, com a política de cotas para o ingresso no ensino superior, mas, paralelamente, devemos trabalhar de modo exaustivo para fazer reforma estrutural do ensino superior e da educação básica. A faixa etária de 15 a 19 anos é aquela em que estão mais explicitadas as diferenças, em que surgem muitas dúvidas e perguntas e a escola e a família devem responder juntas. O jovem não sabe se vai trabalhar e em que área. É cobrada maior definição na sua identidade sexual, não sabe se constituirá família e qual família constituirá. No caso do homens, não sabem se servirão ao Exército. Ou seja, o nosso alunado só tem perguntas a fazer, não necessariamente relativas ao conhecimento científico, sobre o conteúdo de geografia, português, matemática etc. Claro que há necessidade da apropriação de conhecimento clássico, científico, porque ele também faz parte do saber e do ser. Agora, intrinsecamente aliado a isso há “n” questões que o ensino médio tem de responder, e não é somente preparar para a universidade. Ensino médio não é vestibular, não é educação compensatória, mas tem função social em si, como todos os níveis. A escola tem de primar por essa função social relativa a gênero, raça, opção sexual, etnia, faixa etária, seja o que for, é uma etapa de grandes incertezas. Por isso, ao participar da confecção de emendas para Lei de Diretrizes Orçamentárias, fiquei muito feliz ao ver a Comissão de Educação e Cultura dar prioridade ao ensino médio e à educação profissionalizante, que não se destina unicamente a preparar jovem para o mundo do trabalho, para exercer determinada ocupação. A educação profissional é integrada, enquanto a educação tecnológica, como o próprio nome já diz, é a técnica, a ciência e a arte. Quem primeiro fez técnica no mundo foram os artistas; ela teve início com os artesãos, mas não nos lembramos desse detalhe. A educação tecnológica tem implícita a arte, a tecnologia e a ciência. Logo, a educação profissional tem de 19 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - Políticas Públicas para Juventude Comissão Especial - Políticas Púb. para Juventude Número: 0685/04 Data: 27/5/2004 trabalhar também o conhecimento integrado, geral e tecnológico, para que a nossa juventude saiba se reacomodar na flutuação do setor produtivo. Com a globalização, há mudanças na inovação tecnológica a cada seis meses. O ensino profissional no setor primário é um dos mais machistas. Milito nessa área desde 1960 e durante 8 anos trabalhei numa escola técnica. Podemos ver o conteúdo do currículo da educação profissional. Veja o Sistema S. Cuba convidou 30 pesquisadores de países capitalistas para debaterem a educação profissional nos países socialistas. À época, trabalhava no IPEA, e fui uma das pesquisadoras convidadas. Fiquei revoltada ao ver que na exibição das grandes artes culinárias do Brasil não havia uma mulher, só mestrescucas, todos do SENAI e do SENAC. Agora, quando se fala em empregada doméstica, é mulher, a maioria negra, extremamente pobre, numa relação informal de trabalho. Hoje, há no Brasil 5 milhões e 900 domésticas, com grande incidência de juventude negra. Porém, quando o Sistema S vai exibir a nossa arte culinária no exterior, são convidados apenas homens. Em cada setor da sociedade na escola está presente o preconceito, a diferenciação, refletindo desigualdades. E a escola continua conservadora. Outra vez lembro Celso Furtado, um dos maiores e mais respeitados economistas do mundo, quando, em uma aula inaugural da USP, disse que o desenvolvimento sustentável do País estava nas mãos da mudança cultural, que deveria ser feita em termos de valores, de convivência social, de coletividade no desenvolvimento. Não consigo falar só de gênero, de raça, de homossexualismo, de lesbianismo etc. quando abordo qualquer política, especialmente a política da juventude. Devemos estar juntos nas diferenças para garantir a igualdade. Nesse sentido, chamo a atenção mais uma vez para o peso da presença da escola. Para nossa tristeza, mais de 50% dos jovens está fora de qualquer alternativa de educação, com o agravante da saída de alunos no fundamental, o que impõe a necessidade de ampliação de vagas no ensino médio. Houve aumento na demanda social reprimida daqueles que estão fora dessa faixa, que seria da educação de jovens e adultos. Isso também implica ampliação. E lembro que 20 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - Políticas Públicas para Juventude Comissão Especial - Políticas Púb. para Juventude Número: 0685/04 Data: 27/5/2004 educação de jovens e adultos e educação profissional não têm menor responsabilidade no processo ativo, tanto na ciência quanto na cultura, que o ensino regular de nível médio. As pesquisas da UNESCO, por sinal muito boas, enfocam a dificuldade de se enfrentar o homossexualismo nas escolas, gerando a violência, conforme também abordado pelo Welton. Navegando pela Internet, obtive a informação — parece cômico — de que há mais de 160 programas em ONGs e instituições oficiais voltadas para a juventude, todos são muitos bons, porém sendo operados de forma desarticulada e a escola sem absorvê-los isoladamente. Se não fizermos o esforço de aglutinar essas iniciativas, muitas delas serão jogadas fora. Um exemplo que temos é o da alfabetização. Há “n” pesquisas que indicam que depois de 1 ano menos de 10%, no máximo 10%, de alfabetizados ainda podem escrever e ler, se não houver a continuidade do processo formativo. Não adianta, efetivamente, programas isolados de menino de rua, de combate ao crime, à violência contra a mulher e aos homossexuais e às lésbicas se não se trabalha o conhecimento, o processo formativo, a família e a região. Pesquisa recente do Bolsa-Escola comprova que na família mais escolarizada o aluno tem mais sucesso. Por isso, em razão do sucesso do Bolsa-Escola com a família mais escolarizada foi proposto pelo MEC adicionar a esse programa a alfabetização de adultos. A Conferência Nacional dos Trabalhadores na Educação — CNTE tem pesquisa sobre a auto-estima dos professores. O número de casos de suicídio e de alcoolismo é alarmante entre os professores pela falta de auto-estima e pelo assédio moral, para o qual chamo atenção. O que tanto se falou da omissão casa muito bem com o assédio moral que se dá no trabalho, na escola, em todos os espaços coletivos de convivência. O assédio sexual é mais explícito, o assédio moral é permanente e não é explícito. O autoritarismo e a omissão são formas de assédio moral; tudo aquilo que leva à baixa estima, à baixa produtividade é violência implícita, é assédio moral. Trabalhamos muito pouco com isso nos currículos e nos movimentos sociais também. Coloco-me à disposição para o debate. 21 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - Políticas Públicas para Juventude Comissão Especial - Políticas Púb. para Juventude Número: 0685/04 Data: 27/5/2004 O SR. PRESIDENTE (Deputado Reginaldo Lopes) - Concedo a palavra ao Welton para suas considerações finais. O SR. WELTON TRINDADE - Espero que possamos atuar sempre em parceria. Esqueci-me de dizer que em Curitiba, há duas semanas, foi fundado o núcleo jovem da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros. Fizemos reunião específica de jovens em Curitiba. Era um seminário e nos intervalos nos reuníamos. Muito obrigado. O SR. PRESIDENTE (Deputado Reginaldo Lopes) - Convido-os a participarem da Conferência Nacional nos dias 16, 17 e 18 de junho, no Minas. Já temos a página na Internet, que é www.conferencianacionaldejuventude.com.br. A proporcionalidade das inscrições é garantida pelo tamanho do Estado. O critério é duas vezes o número de assentos que cada Estado tem na Câmara dos Deputados. Por exemplo, um Estado que tem 30 Deputados tem 60 vagas na Conferência Nacional. Vamos abrir 376 vagas para os movimentos nacionais setoriais da juventude. Gostaria que o Movimento Nacional do Orgulho Gay também participasse. Indago ao Plenário se há alguma pergunta direcionada à Sra. Zuleide? (Pausa.) Vamos depois tentar garantir a representatividade e a proporcionalidade de todos os setores da juventude. Se o Brasil é heterogêneo, a juventude é o maior foco da heterogeneidade. No que se refere ao ENEM, em vários debates sobre educação, as pessoas dizem assim: antes quem estudava até a 4ª série conseguia passar no Banco do Brasil, conseguia empregos bons, com o segundo grau entrava-se direto na universidade. É um erro avaliar-se o ensino público pelo ingresso na universidade e, também, apostar na qualidade do ensino médio como possibilidade de ingresso na universidade. É também uma possibilidade, mas não pode ser a única, o ENEM é a principal. O problema de se entrar na universidade federal, principalmente, concentra-se na falta de vagas, a limitação está na falta de vagas. Temos de lutar 22 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - Políticas Públicas para Juventude Comissão Especial - Políticas Púb. para Juventude Número: 0685/04 Data: 27/5/2004 pelo ensino médio de qualidade e levar em consideração a formação para a vida, os valores, a formação de um todo do ser humano, porque se for avaliar o ensino médio público pelo número de jovens que ingressam na universidade, nunca vamos atingir o ensino médio de qualidade, porque as vagas são limitadas. Vamos ter de lutar para ampliar as vagas nas universidades. Concedo a palavra à Sra. Zuleide Araújo para suas considerações finais. A SRA. ZULEIDE ARAÚJO TEIXEIRA - O CFEMEA sente-se honrado de ter sido convidado e faz muita questão de estar presente nesses momentos, porque isso faz parte do nosso quotidiano e é nossa razão de ser, contribuir, na qualidade de sociedade organizada, para que os avanços da luta pela igualdade dos diversos grupos que compõem nossa sociedade se dê de forma cada vez mais ágil em busca da felicidade. Lembro-me do meu amado Prof. Florestan Fernandes, que dizia algo muito interessante: “Como a gente tem medo em falar que está lutando para ser feliz, que está buscando a felicidade”. Esse livro que mencionei sobre a educação na Espanha trata da educação multicultural e antecipatória e até de algo interessante que, para muitos, seria simplório, trabalhar a tolerância e a generosidade. São coisas que eu gostaria de ver todo mundo falar com mais tranqüilidade, com mais propriedade, como algo que faz parte de nós, querer ser feliz, querer uma sociedade igual, mais feliz, mais tranqüila, que garanta, dessa forma, parceria maior no desenvolvimento sustentável do nosso País e de cada um de nós. Muito obrigada. O SR. PRESIDENTE (Deputado Reginaldo Lopes) - Presente o Deputado Isaías Silvestre, coloco em discussão a ata da reunião anterior, de 20 maio. O SR. DEPUTADO ISAÍAS SILVESTRE - Sr. Presidente, peço dispensa da leitura da ata, uma vez que já foi distribuída. O SR. PRESIDENTE (Deputado Reginaldo Lopes) - Passamos à discussão. (Pausa.) Não havendo Deputados que queiram discutir, passamos à votação. Os Srs. Deputados que concordam com a aprovação da ata permaneçam como se encontram. (Pausa.) 23 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - Políticas Públicas para Juventude Comissão Especial - Políticas Púb. para Juventude Número: 0685/04 Data: 27/5/2004 Aprovada. Concedo a palavra ao Deputado Isaías Silvestre. O SR. DEPUTADO ISAÍAS SILVESTRE - Sr. Presidente, cumprimento a Sra. Zuleide Araújo, representante do CFEMEA, por estar presente dando essa grande colaboração a esta Comissão, que tem a intenção de prestar serviços à juventude brasileira, tão carente de políticas para sua permanência no contexto político-administrativo da Nação. Fomos alijados desse contexto por muitos anos. Nossos governantes não se preocuparam em formar pessoas da classe estudantil com vocação, instinto e compromisso com a sociedade. Os jovens e adolescentes não têm oportunidade de se espelharem em cima de valores que venham a ser colocados à disposição da sociedade para que nos pleitos, não só de âmbito legislativo ou executivo, mas de todos os segmentos, possam ter oportunidade de colocar seus valores à disposição da sociedade. E os governantes não viram o que estamos vivendo hoje na Casa com esta reunião. O Governo Lula acolheu muito bem a proposta inicial, que está sendo levada adiante pelo Deputado Reginaldo Lopes . Esta é uma das Comissões que tem dado oportunidade de despertar valores para políticas que venham contemplar a juventude do Brasil. Parabenizo a senhora por ter aceito o convite de participar desta reunião conosco nesta manhã. O quorum dos Deputados está baixo, em decorrência dos nossos tantos compromissos, mas nossa Assessoria está presente e vai colher os dados para que possamos levar avante este objetivo de nossa reunião, de valorizar a nossa juventude. Embora eu seja um Deputado de juventude acumulada, prezo muito a juventude que confiou o voto em mim, esperando que possa lhes dar respaldo. E só podemos dar respaldo a essa juventude com a ajuda de pessoas como a senhora, que tem vivência e compreensão do momento atual, dessa política tão conturbada do Brasil, que peca por não ter princípio de responsabilidade com os segmentos organizados, a juventude e a escola. Um grande avanço que temos hoje é a existência de uma política voltada não só para o jovem que está na escola, mas também para o que não está na escola, que não tem a educação à sua disposição. 24 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - Políticas Públicas para Juventude Comissão Especial - Políticas Púb. para Juventude Número: 0685/04 Data: 27/5/2004 Na Comissão, estamos procurando ajuda de pessoas como a senhora, que dá oportunidade ao jovem de descobrir sua vocação nessa época tão carente de valores. Temos certeza de que, no meio da juventude brasileira que está excluída da área educacional, também existem valores. Só com políticas públicas vamos conseguir as mudanças necessárias em prol desse segmento. O SR. PRESIDENTE (Deputado Reginaldo Lopes) - Nobre Deputado, informo a V.Exa. que já estão abertas as inscrições para a conferência nacional, na página de Internet: www.conferenciadejuventude.com.br. Peço também a V.Exa. um apoio no sentido de garantir a representatividade da juventude evangélica, do Conselho Nacional da Mocidade Evangélica, nesse evento. Vamos fechar hoje com minha assessoria a proporcionalidade dos setores organizados da juventude. Peço a V.Exa. que articule os movimentos para garantir as vagas e as inscrições dos evangélicos, para que se faça um amplo debate com a juventude. O SR. DEPUTADO ISAÍAS SILVESTRE - Muito obrigado, Deputado. Pode ficar certo de que estaremos representados por um grande número de jovens nesse encontro. O SR. PRESIDENTE (Deputado Reginaldo Lopes) - Obrigado, Deputado. Srs. Deputados, registro ofício justificando a ausência da Deputada Ann Pontes por encontrar-se a serviço da CPMI da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes em Manaus. Registro também que o Secretária da Juventude do Governo do Estado do Tocantins encaminhou a esta Comissão proposta de programação daquele Estado. O primeiro painel especial será um relato da Sra. Márcia Barbosa, da Secretaria Estadual da Juventude. O segundo, será uma exposição do produto da primeira audiência pública no Tocantins para a consolidação das políticas públicas da juventude. Eles pedem que seja feito no pátio do clube, onde vai ser realizada a conferência. Serão expostas fotos da audiência de Tocantins, a Carta de Tocantins, os documentos das audiências nos Estados e haverá apresentação de telão. 25 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão Especial - Políticas Públicas para Juventude Comissão Especial - Políticas Púb. para Juventude Número: 0685/04 Data: 27/5/2004 Ana, nossa maior militante desta Comissão, vai ter um espaço para o relato de todas as conferências estaduais. Vamos ter que acertar se esses relatos devem ser feitos pelos coordenadores dos Estados. Então, vai ser impossível ser a Márcia. Como o evento será realizado num pátio, vamos construir vários espaços para socializar as informações. Inclusive, solicitar fotos da audiência que vamos colocar na página da conferência. Então, já poderíamos enviar as fotos. Vamos fazer um resumo de todas as cartas e produzir um novo documento que também vai orientar os debates. Agradeço a todos a presença. Antes de encerrar, convoco reunião de audiência pública para a próxima quinta-feira, às 9h30min, com o tema Juventude Afrodescendente . Está encerrada a reunião. 26