XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" ANÁLISE DA COMPETITIVIDADE NA PRODUÇÃO DE CENOURA NO ALTO PARANAÍBA: UM ESTUDO MULTI-CASO MÁRCIO LOPES PIMENTA; LUIZ HENRIQUE BARROS VILAS BOAS. UFU, UBERLÂNDIA, MG, BRASIL. [email protected] APRESENTAÇÃO ORAL ADMINISTRAÇÃO RURAL E GESTÃO DO AGRONEGÓCIO Análise da competitividade na produção de cenoura no Alto Paranaíba: um estudo multi-caso Grupo de Pesquisa: Administração Rural e Gestão do Agronegócio Resumo As empresas brasileiras produtoras de hortaliças, se encontram em um ambiente pouco propício ao alcance de eficácia na adoção de estratégias deliberadas de competição devido às características da estrutura de mercado predominante. Essas empresas têm dificuldades para formular meios de incrementar a rentabilidade em seus negócios seja, por gestão de custos, seja por investimentos que visem diferenciar seus produtos. Com base na literatura sobre competitividade em agronegócios e o auxílio empírico de um estudo multi-caso com produtores de cenoura da região do Alto Paranaíba, Minas Gerais, este trabalho detalha essas dificuldades e aponta algumas estratégias, como: análise e seleção de mercado/ produto, seleção de canais e aplicação de tecnologias de cultivo para a redução de custos de produção, na crença de que tais ferramentas possam interferir na capacidade competitiva deste tipo de empreendimento. Palavras chaves: Cenoura. Alto Paranaíba. Gestão Agroindustrial. Abstract The Brazilian vegetable producers are inside of a low favorable environment to get effectiveness in adoption of deliberate strategies of competition in reason of the predominant market structure characteristics. These companies have difficulties to formulate ways to increment their business profitability, by cost management or by differentiated products. Based on the agribusiness competitive strategy literature and with a help of an empirical multi-case study involving carrot producers of Alto Paranaíba region, Minas Gerais, this paper details these difficulties and suggest some strategies like: product/ 1 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" market analysis and selection, distribution channels selection and application of production technologies that provides cost reducing, in order to believe that these strategies might bring about better competitive approach for this kind of enterprise. Key Words: Carrot. Alto Paranaíba. Agroindustrial Management. 1. Introdução O setor de produção agrícola de alimentos consiste em um elo essencial da cadeia de produção agroindustrial, que segundo Batalha e Silva (2001) compreende todas as atividades necessárias para a concepção e distribuição de um determinado produto final. Nessa visão, a produção agrícola se encaixa como um elemento que executa uma das atividades da cadeia, bem como os setores de matéria prima, distribuição e comercialização, que também são necessários para o cumprimento das atividades relacionadas ao ciclo de operação da cadeia. Em uma análise mais aprofundada do contexto, mais especificamente no Brasil, nota-se que as unidades de produção agrícola em geral contam com um poderio competitivo inferior em relação a outras entidades da cadeia, principalmente fornecedores de insumos (caracterizados por grandes empresas multinacionais) e grandes redes varejistas. Essa situação acaba implicando em um baixo poder de barganha do produtor rural para com os demais elementos da cadeia. A visão da estratégia, na perspectiva de cadeia agroindustrial, implica em uma variedade de elementos (firmas) que realizam processos distintos de forma que uma matéria prima possa passar por sucessivas etapas de transformação ou logística até que chegue ao poder do consumidor final. Nesse contexto, Araújo (2005) e Batalha e Silva (2001) sugerem que para cada firma existe um determinado papel dentro da cadeia, ou seja, uma atividade específica, assim, as características do público alvo são distintas, o que implica em estratégias de marketing distintas para cada firma. No entanto, todos os elos da cadeia estão agrupados para o atendimento de um único público alvo final, fato que exige também o desenvolvimento de estratégias de integração de processos e de informação entre as firmas no intuito de agregar valor por aumento do nível de serviço logístico e reduzir os custos de transação oriundos dos relacionamentos entre os agentes da cadeia. Na análise específica do setor de hortaliças no Brasil, identifica-se uma estrutura que predomina em questão da distribuição nacional: As centrais de abastecimento, ou Ceasas, que atualmente consistem em estruturas público-privadas, onde cabe aos Estados e Municípios o controle de questões legais, normativas e de infra-estrutura; já a estrutura de comercialização é formada por empresas privadas, que em geral possuem boxes (lojas que comercializam produtos adquiridos de produtores rurais) ou “pedras” que são espaços onde o próprio produtor, ou seu representante, oferta seus produtos diretamente ao mercado. Esse tipo de estrutura, não viabiliza a adoção de estratégias de diferenciação, pelo fato de concentrar em um ambiente que em seu conjunto caracteriza um grande mercado atacadista, muitos vendedores, sem poder de influência no preço de venda. Além disso, as hortaliças são produtos muito perecíveis, que necessitam de cuidados especiais de transporte e armazenagem, não podendo assim permanecer em estoque sem uma tecnologia de resfriamento adequada. Essas e outras particularidades que podem ser vistas ao longo deste artigo, causam dificuldades na elaboração de estratégias de distribuição e comercialização de hortaliças por parte das empresas produtoras. 2 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Diante destas limitações, surge uma indagação sobre que tipo de estratégias podem ser utilizadas por produtores rurais do ramo de hortaliças para que ganhem competitividade. No intuito de identificar possíveis respostas para a indagação citada acima o presente estudo apresenta uma pesquisa que, delimitada ao produto cenoura, busca identificar estratégias de competição utilizadas por empresas produtoras e sugerir estratégias alternativas para o setor. Envolve uma pesquisa bibliográfica sobre o tema, análise e adaptação de dados documentais obtidos em sites de organizações de pesquisa agropecuária e um estudo multi-caso envolvendo oito produtores da região do Alto Paranaíba, Minas Gerais. Como limitação, deve-se destacar que a viabilidade de tais estratégias, não se aplica de modo geral, devido à heterogeneidade das características dos sistemas de produção no Brasil, que podem apresentar diferenças em relação ao sistema ilustrado em termos de padrão de produto, preço de venda e disponibilidade de condições e recursos de questão natural. 2. Competitividade em agronegócios A produção agropecuária possui características operacionais que a diferencia dos setores industriais. Dentre tais particularidades, Araújo (2005) cita: − Sazonalidade da produção: a produção depende de condições climáticas de cada região, fato que ocasiona períodos de safra e entressafra (causa de variações de preço entre período, necessidade de estruturas diferenciadas de estocagem e logística); − Influência de fatores biológicos: os produtos agropecuários estão sujeitos a doenças e pragas no campo e até depois da colheita (acarretando elevação de custos com controle de pragas e riscos para o ambiente); − Perecibilidade rápida: Mesmo após a colheita a atividade biológica dos produtos continua em ação, dessa forma, sua vida útil diminui aceleradamente. Por motivos como estes acima citados, a atividade agropecuária carece de tratamento diferenciado quando comparamo-na com outros setores, ou seja, há necessidade de desenvolver, de forma específica, tecnologias e métodos para classificação, benefício, embalagem, armazenagem, transporte de forma a suportar suas especificidades. Segundo Batalha e Silva (2001), todo método estratégico deve proporcionar ao administrador subsídios para que ele possa conduzir a organização no alcance de seus objetivos. Nessa perspectiva, os autores sugerem seis opções para implementação de estratégias, sendo elas: − Especialização: consiste na concentração em um determinado mercado ou no uso de uma determinada tecnologia; − Integração vertical: visa à apropriação dos lucros situados em outros elos da cadeia; − Diversificação: aumento na variedade de produtos e/ ou mercados; − Inovação: inserção de novos paradigmas; − Fusões e aquisições: Visa, por exemplo, a obtenção de economia de escala, market share, sinergias operacional e financeira; − Estratégias de corte: corte de despesas ou retiradas de linha de mercado. 3 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Segundo Farina (1999), a competitividade, apesar de possuir diversas definições dependentes da perspectiva de análise, pode ser conceituada como a capacidade de sobreviver e de preferência crescer de forma sustentável em mercados correntes ou em novos mercados. Há que se considerar a influência de fatores externos à firma, principalmente no que se diz respeito aos integrantes de sua cadeia produtiva, que podem, de forma integrada, desenvolver estratégias conjuntas para aumentar a competitividade das atividades da cadeia como um todo, e não somente de seus integrantes, de uma forma individual. Questões como gestão da informação ao longo da cadeia, integração vertical, economia de custos de transação, são exemplos de algumas ferramentas para o desenvolvimento de estratégias de competição em cadeias produtivas. Observa-se que tais ferramentas propiciam a gerência de interações entre membros da cadeia (PIGATTO E ALCÂNTARA, 2006), (COUGHLAN et al, 2002), NEVES (1999). Coughlan et al (2002), Rosenbloom (2002), Stern e Reve (1980), definem que quanto maior o nível de concentração de poder uma entidade possuir, maior a capacidade de influenciar os demais elementos com os quais se relaciona em um canal de marketing. No contexto das empresas de produção agrícola, observa-se que em certos mercados, como o de hortaliças frescas, os produtos comercializados possuem baixa diferenciação. Nessa situação os produtores passam a possuir pouco poder de barganha na cadeia, pois, se relacionam com grandes empresas detentoras de recursos a montante, e ainda, intermediários a jusante que detêm informações sobre preferências de mercado e sazonalidade. Porter (1986), afirma que existem somente dois tipos básicos de vantagem competitiva que uma empresa pode possuir: baixo custo e diferenciação, que combinadas com o escopo resultam em três estratégias genéricas para alcançar um desempenho superior: liderança em custo, diferenciação e foco. Segue abaixo a definição de cada uma: − Liderança em custo: através de produção em grande escala, acompanhamento cuidadoso dos custos, gerenciamento de qualidade e outras medidas, busca-se a posição de menor custo na indústria sem que se precise reduzir o preço de venda por motivo de perda de valor percebido pelo cliente; − Diferenciação: trabalhar com produtos ou serviços únicos, com melhor qualidade, melhor desempenho ou características únicas, que justifiquem preços mais altos; − Foco: limitar a determinados segmentos de demanda, como grupo de clientes, linha de produtos ou região geográfica, podendo ser de foco na diferenciação ou foco no menor custo. Segundo Porter (1986) a vantagem em custo pode defender a empresa contra a concorrência de forma a aumentar as margens de lucro, numa situação onde os demais concorrentes possuem processos operacionais mais onerosos, ou então repassar parte da margem como redução de preço no caso da ameaça de bens substitutos ou da redução de preço de venda por parte da concorrência, dessa forma, como a empresa em questão é líder em custo, os lucros dos concorrentes tendem a ser erodidos antes. Porter (1989) destaca que o valor estratégico de uma vantagem competitiva baseada em custo implica que esta seja uma vantagem sustentável, ou seja, que seja de difícil replicação ou imitação por parte dos concorrentes. Segundo Hitt (2002) os critérios da vantagem competitiva sustentável são: 4 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" − Capacidades valiosas: Exploram oportunidades ou neutralizam ameaças; − Capacidades raras: Desenvolvem e exploram capacidades que a concorrência não explora; − Capacidades difíceis de imitar: Cultura organizacional, imitação dispendiosa, complexidade social; − Capacidades insubstituíveis: Não possuem equivalentes estratégicos, quanto menos visível a capacidade menos substitutos terá; De acordo com Saes (2004), produtores rurais podem adotar estratégias de diferenciação para se proteger de variações negativas e preço, que venham a prejudicar sua rentabilidade. No entanto, tal estratégia não garante que o ganho adicional de receita relacionado ao investimento do produtor, seja entregue diretamente ao produtor, visto que este distribui seus produtos por meio de canais de distribuição existentes em sua cadeia produtiva e que estes canais podem ser compostos de elementos dotados de poder competitivo em níveis mais elevados que o produtor. Saes (2004, p.09) destaca três tipos de estratégias de diferenciação que podem ser utilizadas por produtores rurais, e detalha os atributos diferenciais: − Qualidade excepcional: produto de qualidade superior e perceptível, localização do atributo chave (ex. marca); − Orgânico: ausência de agrotóxicos e fertilizantes altamente solúveis; − Origem: Referência regional, Região, fazenda, núcleo de produtores, alcance de preços acima da concorrência. A agregação de valor pode estar presente não apenas no elo de produção rural, pode, por exemplo, estar na marca ou na região da empresa que beneficia e embala o produto. O consumidor que demanda por tais atributos passa a perceber valores na relação com o produto e essa empresa ganha poder competitivo em relação aos demais elos da cadeia produtiva, por ser responsável pelo desenvolvimento dos atributos que são relevantes ao público alvo. Vasconcelos e Cyrino (2006) citam algumas disfunções do modelo de Porter: − Papel secundário aos processos internos; − As diferenças entre firmas são reduzidas aos aspectos: tamanho e posicionamento; − Caráter exógeno e determinante das forças externas em relação às firmas individuais sugere a adaptação interna às exigências externas e a conformação em relação a estas forças citadas como “incontroláveis” Tais disfunções implicam que o modelo Porteriano explana sobre como a empresa deve perceber e se adaptar a ocorrências em seu ambiente externo, no entanto, não aborda aspectos internos como processos e capacidades dinâmicas de inovação que a organização pode aplicar para que obtenha vantagem competitiva. Desta maneira a empresa não apenas se adapta a imperfeições de mercado para obter vantagens acima da concorrência, mas ainda, gera inovação, criando novos nichos de mercado e adaptando outros. 5 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Existem ainda, autores que abordam a seleção de canais de distribuição como fatores de ganho de competitividade, onde o agricultor pode selecionar os canais mais rentáveis. Lourenzani (2003) destaca que produtores de tomate do Estado de São Paulo têm obtido resultados satisfatórios ao recorrer a canais de distribuição alternativos, ou seja, que não as Centrais de Abastecimento (Ceasas). Para obter uma conclusão sobre essa alternativa no contexto aqui apresentado, é necessária a realização de estudos nesse sentido para a região do Alto Paranaíba e seus respectivos tipos de cultivares. De acordo com Araújo (2005), o marketing em agronegócios é desenvolvido em termos de empresa e em termos de produto agropecuário. Na primeira perspectiva, a empresa deve identificar sua posição ao longo de sua cadeia produtiva, podendo estar na produção agropecuária, a montante desta (antes da porteira) ou a jusante (depois da porteira). Dependendo da sua posição, a empresa deve adotar estratégias de marketing diferenciadas, visto que o público será diferenciado dependendo do elo da cadeia em que se encontra. Dessa forma, fica claro que deve ser compartilhada com todos os componentes uma visão conjunta de toda a cadeia, de forma a entender o comportamento da cadeia, os efeitos de ações tomadas e seus possíveis impactos mercadológicos. As empresas situadas a montante da produção agropecuária, são fornecedores de fertilizantes, sementes, defensivos, serviços, genética, tecnologias e outros recursos necessários para o suprimento das empresas de produção agropecuária. Em geral caracterizadas por grandes empresas detentoras de alto nível de conhecimento e tecnologia aplicada; já as empresas situadas a jusante da produção agropecuária nas quais se enquadram centrais de abastecimento (atacadistas), agroindústrias, representantes comerciais, entre outros. É nesse elo da cadeia onde geralmente são atribuídos marcas e certificados de origem, fazendo com que os produtos deixem de ser commodities por meio da agregação de valor. Os produtores rurais, empresas localizadas na posição de produção agropecuária, têm certa liberdade para escolher seus mercados no que se refere ao tipo de produto que será produzido. Para este setor, é importante que se faça uma análise nos ambientes micro e macro para a determinação da estratégia. Visto que as duas ações devem se basear nos ciclos de produção, que variam em período no ano e duração, conclui-se que as estratégias devem ser desenvolvidas e aplicadas a cada ciclo produtivo. A justificativa para o parágrafo acima se faz pela necessidade de acompanhar variáveis como preço de venda, nível de abastecimento do mercado, rentabilidade de canais, com o intuito de reformular a estratégia a cada ciclo produtivo no que se refere a “o que plantar” e a “quanto plantar”. Em outras palavras e seguindo a definição de Kotler (1998), a empresa deve identificar as oportunidades após uma análise de segmentos em que pretende atuar e então, selecionar seu mercado alvo. Dessa forma a empresa pode optar por plantar uma área maior com culturas que apontem boas tendências de rentabilidade ao final do ciclo. Quanto ao micro ambiente, Farina (1999) destaca a importância da capacidade em reduzir custos de produção, integrar ações gerenciadas com outros membros da cadeia no intuito de eliminar custos de transação, buscar economias de escala e escopo. Outra estratégia bastante comum e defendida por Campeão (2003) é o agrupamento entre produtores em um mesmo mercado para somar forças competitivas a jusante ou gerar volume de compra e melhorar o poder de barganha com empresas a montante. 6 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" A segunda perspectiva de marketing agropecuário segundo Araújo (2005) consiste na adequação dos produtos de acordo com as características e quantidades demandadas pelo mercado. A agregação de valor a produtos agrícolas, tem sido facilitada pelo avanço da tecnologia de processamento de alimentos e de outros produtos agropecuários. Exemplos como o controle do teor de gordura de produtos derivados de leite, o biodiesel, a classificação de café por peneiras diferenciadas e os sistemas de rastreio da produção, têm contribuído para a adoção de estratégias de diferenciação. 3. O contexto da produção e da comercialização de cenoura A cultura de hortaliças se diferencia de outras culturas, como por exemplo, das culturas de grãos e de café, por se tratar de uma cultura temporária, com alto potencial de geração de empregos, maior volume de movimentação econômica por área cultivada, maior perecibilidade e maior complexidade no que se refere às atividades produtivas. O segmento possui deficiências que levam o produtor à perda de competitividade em razão da própria estrutura de mercado. Machado (2002) comenta sobre algumas destas deficiências que compreendem, por exemplo, a falta de padronização pública de classificação e formato dos produtos, fato que abre lacunas para que intermediários avaliem os produtos de forma subjetiva. Em complemento, Vilela e Henz (2000) destacam que apesar da sazonalidade de oferta e consequentemente de preços de venda (por se tratarem de commodities), o segmento de hortaliças desperta atratividade em função das possibilidades de elevados ganhos por hectare, em geral, ganhos bem maiores que os obtidos em lavouras de cereais. O aumento de produtividade em hortaliças é uma tendência que vem ocorrendo mais intensamente a partir do início da década de 1990. Tal produtividade, no aspecto geral, de acordo com a Embrapa (2007) mais que dobrou entre 1990 e 2003. Segundo dados da Embrapa (2007), a área colhida de cenoura no Brasil passou de 13.549 hectares em 1990 para 26.420 hectares em 2003, um crescimento de 95%. No entanto, a produção no mesmo período passou de 291.000 toneladas para 758.000 toneladas, um acréscimo de aproximadamente 160%. Isso demonstra uma variação maior da produção em relação à variação de área plantada, indicando que a causa da diferença é o aumento de produtividade, que passou de 21.5 toneladas por hectare para 28.7 toneladas por hectare, no mesmo período. Ano Produção em toneladas 493.000 691.000 750.000 755.000 758.000 689.400 Área plantada em hectares 18.300 25.850 27.700 27.399 26.420 25.134 Produtividade 1999 26.9 2000 26.7 2001 27.1 2002 27.6 2003 28.7 Média anual do 27.4 qüinqüênio Tabela 1 – Dados sobre a produção brasileira de cenoura entre 1999 e 2003 Fonte: Embrapa (2007) Para posicionar a agricultura de cenoura do Brasil em relação à mundial, pode-se observar dados do USDA, United States Department of Agriculture, quais identificam os quatro países que mais produziram cenoura entre 1999 e 2003 (média anual em toneladas): 7 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" China, com 6.390.215, Estados Unidos, com 1.843.196, Rússia, com 1.550.744 e Polônia com 860.363. A China, apesar do grande volume produzido, obteve baixo índice de produtividade: 18.6 toneladas por hectare, enquanto Estados Unidos, Rússia e Polônia obtiveram 38.4, 18.2 e 27.2 respectivamente. Média de área Média de plantada produção do anual em qüinqüênio em hectares do toneladas qüinqüênio 2003 8.126.460 342.848 6.390.215 1.900.110 47.950 1.843.196 1.735.260 85.182 1.550.744 834.621 31.652 860.363 587.300 9.000 690.460 681.528 16.285 673.125 630.000 21.620 664.840 577.811 13.322 576.432 500.000 37.500 498.640 426.038 8.990 419.306 378.517 15.401 370.630 6.937.811 337.727 6.715.000 País 1999 2000 2001 2002 China 4.846.009 5.740.164 6.111.984 7.126.460 Estados Unidos 1.941.950 1.858.610 1.837.440 1.677.870 Rússia 1.372.200 1.597.090 1.575.070 1.474.100 Polônia 906.477 946.736 921.911 692.073 Reino Unido 673.200 710.500 763.900 717.400 França 672.000 658.376 649.489 704.236 Japão 676.700 681.700 691.300 644.500 Itália 509.849 642.065 590.997 561.442 Ucrânia 384.700 496.500 560.000 552.000 Alemanha 379.544 431.541 444.448 414.960 México 363.368 376.847 355.903 378.517 Outros Países 6.740.062 6.672.279 6.667.074 6.557.774 Produção 967.477 19.466.059 20.812.408 21.169.516 21.501.332 23.315.456 Mundial Tabela 2 – Os dez países com maior volume produzido de cenoura entre 1999 e 2003. Fonte: Adaptado de USDA (2007) 21.252.954 Quanto à produtividade por hectare, os vinte países com maior índice entre 1999 e 2003 se destacam na tabela a seguir: País Reino Unido Bélgica-Luxemburgo Israel Espanha Áustria Kuwait Suécia Alemanha Suíça Itália Holanda Média de produção anual do qüinqüênio 690.460 186.552 78.540 349.897 68.942 2.096 82.440 419.306 58.928 576.432 348.000 Média de área plantada anual em hectares do qüinqüênio 9.000 2.986 1.366 6.632 1.319 41 1.693 8.990 1.311 13.322 8.320 Média de produtividade do qüinqüênio 76.7 62.5 57.5 52.8 52.3 50.9 48.7 46.6 44.9 43.3 41.8 8 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Dinamarca 70.956 1.697 41.8 França 673.125 16.285 41.3 Austrália 272.982 6.928 39.4 Estados Unidos 1.843.196 47.950 38.4 Finlândia 60.882 1.654 36.8 Chipre 1.876 54 34.5 República Coreana 146.411 4.339 33.7 Canadá 283.804 8.487 33.4 Portugal 154.708 4.679 33.1 Média Mundial (considerando países não listados nesta tabela) 22 Tabela 3 – Produção, área e produtividade de cenoura dos vinte países mais produtivos entre 1999-2003. Fonte: Adaptado de USDA (2007) O Brasil não foi incluído nesta estatística, porém, se considerarmos, de modo ilustrativo, os dados da Embrapa (2007), referentes ao qüinqüênio 1999-2003 e expostos na tabela 1, conclui-se que estaria posicionado como sexto maior produtor do mundo (689.000 toneladas), com uma produtividade de 27.4 toneladas por hectare (5.4 toneladas acima da média mundial). A maior parte das hortaliças produzidas no Brasil é comercializada por meio das Centrais Estaduais de Abastecimento Sociedade Anônima (CEASA), que estão presentes nas capitais dos Estados e nas principais cidades brasileiras. De acordo com Vilela e Henz (2000) o volume comercializado pelas Ceasas gira em torno de 60 % da produção nacional. Lourenzani e Silva (2003) confirmam essa maioria. As Ceasas são estruturas atacadistadistribuidoras de alimentos que tem por função integrar o setor de produção agrícola com os mercados varejista e consumidor. Segundo Lourenzani (2003) a ineficiência no processo de comercialização de hortaliças é um dos maiores entraves para que a toda a cadeia produtiva funcione de forma eficiente. Machado (2002) acrescenta um fator que dificulta muito o controle de informações gerenciais e por conseqüência a gestão de empresas produtoras que consiste na desmedida informalidade no processo de comercialização. Segundo Cunha (2006, p.06), Existem alguns pontos essenciais sobre o papel das Ceasas, dos quais cita: − As Ceasas são espaços de regulação normativa que influenciam o sistema à montante e à jusante, no estabelecimento de normas de horários, de padrões de embalagem, sanidade, informação de preços e origens; − A capacidade efetiva de regulação tem um componente endógeno (empresarial, da empresa gestora) e exógeno (ambiente institucional, governo, mercados, concessionários, produtores) cuja interação dita as possibilidades de alcance e efetividade de suas normas; − São pouco percebidas pelas instâncias governamentais as possibilidades e os ganhos de coordenação possíveis neste espaço normativo. Por exemplo: a atual incapacidade de adotar um padrão obrigatório de rotulagem de FLV (Frutas, Legumes e Verduras) entre as unidades demonstra a necessidade de coordenação de ações com diversos agentes da produtiva para efetivar normas. 9 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Cunha (2006), ainda declara que existe um conhecimento do funcionamento do mercado, na forma de conhecimento tácito, mais do que conhecimento formal, dos funcionários em coordenação operacional de mercado e que tais conhecimentos estão pouco sistematizados gerencialmente. Na comercialização de hortaliças em centrais de abastecimento, os produtores não têm como comandar o preço de venda, inviabilizando a aplicação de diferenciação, pois nesse caso, o produto que passou por investimentos adicionais, cairia num mesmo regime de padronização que o produto do concorrente comum. Considerando as informações sobre as Ceasas discutidas acima e analisando sua estrutura de mercado sob a égide da Teoria Microeconômica, notamos que pela própria formação institucional, as Ceasas formam estruturas de mercado assemelhadas ao modelo de concorrência pura, definida por McConnell e Brue (2001) como estruturas de mercado que possuem um número muito grande de concorrentes que comercializam commodities. Nesse sistema, as empresas vendedoras são tomadoras de preço, ou seja, não exercem qualquer tipo de influência no estabelecimento do preço de venda e as barreiras de entrada e saída são praticamente inexistentes. Segundo Chaim (1999) a regulação de preços é proporcionada pela própria estrutura institucional da Ceasa, e objetiva que um determinado produto seja vendido pelo mesmo preço por todos os atuantes na central de abastecimento, não quer dizer que as centrais sejam capazes de controlar a sazonalidade de preços, que na verdade, é causada pela variação da oferta. Dessa forma, percebe-se a existência de empecilhos para implementar um posicionamento em hortaliças com base em diferenciação sob a estrutura de comercialização das Ceasas. Para um possível êxito desse tipo de posicionamento, deve-se selecionar outro tipo de canal de distribuição cuja estrutura de mercado onde exista sensibilidade por diferenciação e onde a empresa produtora tenha certo controle sobre o preço. 4. Competitividade no cultivo de cenoura no Alto Paranaíba Esta parte do estudo consiste na análise de fatores competitivos do mercado de hortaliças produzidas na região do Alto Paranaíba, Minas Gerais, em especial da cultura da cenoura. A região se destaca pela produção de hortaliças como a cenoura, batata, cebola e alho. Foi empregado o método do estudo de múltiplos casos. De acordo com Yin (2005), a aplicação de estudo de caso implica na investigação empírica de elementos que entremeiam um fenômeno e seu contexto. Focaliza acontecimentos contemporâneos e busca descrever “como?” e “porque?” , ou seja, citar as características das ações e as razões para tais elementos incorporarem essas características. Yin (2005) destaca que o estudo de múltiplos casos possui uma representatividade mais elevada que o estudo de caso único, pois, depois de obtidas as características do objeto de análise de um agente pesquisado (caso), pode-se tentar obter a replicação desses resultados na análise dos demais agentes, identificando assim, convergências ou divergências que contribuirão para a resolução do problema proposto. Enfatiza-se o caráter qualitativo da pesquisa, onde foram entrevistadas pessoalmente as oito maiores unidades de produção ou representantes destas, na região do Padap, por meio de questionários semi-estruturados (com abertura para comentários 10 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" adicionais) que indagavam sobre as tecnologias aplicadas, e os resultados alcançados no ano de 2006 (produtividade, área plantada e produção total da cultura cenoura). O critério para a seleção dos produtores que seriam entrevistados foi a quantidade de hectares anuais cultivados de cenoura, devendo tal área ser maior que 100. Considerouse também, que certas unidades de produção entrevistadas são compostas por vários sócios (produtores) que se aglomeram para obter vantagens de escala, mas que formam uma só organização e por conseqüência, compartilham das mesmas técnicas de cultivo e comercialização. De acordo com Camargo Filho, Alves e Camargo (2005) houve significativo aumento da produção mineira de cenoura, em virtude da expansão de cultivo na região do Alto Paranaíba, que com adoção das inovações tecnológicas ocorridas permitiu a produção durante o ano todo. Segundo Padilha (1989), no início da década de 1970, por iniciativa do Governo de Minas Gerais e apoio de organizações do meio rural, houve um pedido de desapropriação de uma área de 72.600 hectares de cerrado no Alto Paranaíba. O pedido, concedido pelo Governo Federal em 1973, teve a intenção de desenvolver a produção agrícola na região de forma a identificar produtos exportáveis sob o uso de uma agricultura de mecanizada e de grande escala. Nesse contexto, surgia o Padap (Plano de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba), cujas terras atingiam os municípios mineiros de São Gotardo, Rio Paranaíba, Ibiá e Campos Altos, a 260 quilômetros da Capital, Belo Horizonte. A região do Padap, antes da exploração pioneira, se caracterizava por áreas com solos ácidos, pobres em matéria orgânica e fósforo, no entanto, este pôde ser recuperado com o uso de fertilizantes e corretivos. As principais entidades envolvidas no processo de assentamento dos colonos foram a Ruralminas, organização do Governo de Minas Gerais empossada das terras e encarregada pelo desenvolvimento e manutenção de infra-estrutura, e a Cooperativa Agrícola de Cotia, que instalou uma unidade no Padap com a função primordial de selecionar os colonos que iriam obter posse das terras, fornecer insumos, assistência técnica, orientação econômico-financeira, beneficiamento e comercialização da produção. As primeiras culturas implantadas foram: soja, arroz, trigo e café. Mais adiante foi implantado o milho e, ao fim da década de 1980, começaram a ser cultivadas as hortaliças como cenoura, alho, batata e cebola, culturas que atualmente contribuem para o destaque da região perante o contexto agrícola nacional. Segundo a Embrapa (2006) a cenoura é uma hortaliça da família Apiaceae, do grupo das raízes tuberosas, cultivada em larga escala nas regiões Sudeste, Nordeste e Sul do Brasil. Os principais municípios produtores são: Carandaí, Santa Juliana e São Gotardo (Minas Gerais); Piedade, Ibiúna e Mogi das Cruzes (São Paulo); Marilândia (Paraná); Lapão e Irecê (Bahia). Segundo informações da Embrapa (2006) a temperatura é o fator climático mais importante para a produção de raízes. A germinação das sementes de cenoura ocorre sob temperaturas de 8 a 35ºC, sendo que a velocidade e a uniformidade de germinação variam com a temperatura dentro destes limites. A faixa ideal para uma germinação rápida e uniforme é de 20 a 30 ºC, dando-se a emergência de 7 a 10 dias após a semeadura. Tomando por base dados do município de São Gotardo fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a temperatura média anual da região é de 20,7º C com altitude variando entre 1000 e 1100 metros em relação ao nível do mar. Segundo Kotler (1998), o ambiente natural corresponde a uma das seis forças macro11 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" ambientais qual se deve considerar em uma análise de ambiente de marketing. As demais cinco forças macro-ambientais são: demográficas, econômicas, tecnológicas, políticolegais e sócio-culturais. As características do ambiente natural do Alto Paranaíba que representam adequação da região para com o cultivo de cenoura, contando desta forma como uma vantagem competitiva regional, no entanto, existe na região a presença de algumas ameaças naturais quanto aos solos. Pragas como nematóides e ervas daninhas como a tiririca causam atualmente sérias perdas de produtividade aos produtores da região, devendo ser controladas com medidas preventivas ou tratamentos curativos que podem requerer vários anos para surtir efeito. Na abordagem das ações realizadas no cultivo de hortaliças na região do Padap, se nota um estilo de agricultura baseado no incremento de tecnologia, principalmente no que se refere a investimentos em insumos de qualidade, mecanização de processos e ciência agronômica aplicada. Estes investimentos, apesar de incrementarem os custos de produção em um sentido de custo total por área plantada (custo por hectare), visam obter um menor custo por unidade de produto por meio do aumento de produtividade, que no caso da agricultura, se traduz na quantidade produzida por área. Os produtores entrevistados, além da cultura da cenoura, produzem beterraba, cebola, alho, entre outras culturas, podendo assim compartilhar recursos utilizados, obter economia de escopo e selecionar a quantidade (área de plantio) e o tipo de cultura a ser plantada dependendo das tendências de preço de venda estimadas na época, visto que tais culturas possuem um ciclo de produção curto (entre três e quatro meses). A partir dos dados obtidos, pode-se notar que os principais agricultores da região aplicam basicamente duas formas de estratégias que implicam na redução do custo de produção e consequentemente na competitividade de seu negócio: o investimento em tecnologias atualizadas de insumos e de mecanização. Os agricultores entrevistados afirmaram utilizar sementes híbridas (geneticamente modificadas), por estas proporcionarem maiores produtividades devido a sua maior resistência a doenças e pragas. Apesar do custo de sementes híbridas ser mais alto que os custos de variedades comuns, se ganha no aumento de produção por hectare. Outro ponto em comum é o investimento em pessoas capacitadas como agrônomos e técnicos especializados na cultura da cenoura e hortaliças em geral, que empregam técnicas para a realização correta de análises de solo, análises foliares, adubações, aplicações de defensivos, irrigação por pivô central e manejo da cultura em geral. A intenção desse tipo de investimento é direcionar com precisão os insumos em questão de tipos e quantidades corretas para que a condução da lavoura seja saudável e sem desperdícios. Os canteiros de plantio da cenoura possuem de 1.75 a 4 metros, por meio do investimento em maquinários modernos (encanteiradeira com bitola grande), aumentando assim, a quantidade de plantas por hectare em relação aos canteiros tradicionais de 1.2 metros. Os produtores pesquisados obtiveram em 2006, produtividades entre 41.6 e 66.7 toneladas por hectare, cultivando de 100 a 900 hectares. Em relação aos países mais produtivos (vide tabela 3), pode-se afirmar que a produtividade do grupo entrevistado se posiciona como uma das maiores do mundo, e ainda, tal grupo se mostra responsável por aproximadamente 20% da produção brasileira, em relação aos dados da Embrapa (2007). Uma posição relevante em uma estrutura de mercado caracterizada uma produção pulverizada. 12 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Produção total em Área cultivada em toneladas hectares Produtor 1 60.030 900 Produtor 2 20.880 360 Produtor 3 15.950 340 Produtor 4 14.616 280 Produtor 5 10.440 210 Produtor 6 10.150 200 Produtor 7 7.134 120 Produtor 8 4.158 100 Totalização Ilustrativa 143.358 2510 Tabela 4 – Comparativo de resultados no ano de 2006 dos produtores entrevistados Fonte: Dados da pesquisa Produtividade média anual em toneladas 66.7 58.0 46.9 52.2 49.7 50.7 59.4 41.6 57.11 A tabela 5 mostra de modo agrupado, o desempenho das oito empresas produtoras no ano de 2006. O custo de produção apresentado, representa o custo da cenoura colhida no campo, ou seja, sem custos de pós-colheita, tais como lavação, classificação e embalagem, e foi extraído de FNP (2007, p.275), cuja pesquisa foi realizada em 2006, junto à Cooperativa Agropecuária do Alto Paranaíba, em dois sistemas de produção: utilizando tecnologias de padrão alto (como as utilizadas pelos produtores entrevistados) e tecnologias tradicionais. Produção Total Produtividade Área cultivada Custo Médio de Custo Médio de Anual em Média Anual em de cenoura (em Produção por Produção por toneladas toneladas hectares). Hectare tonelada 143.258 57.11 2510 R$ 11.248 R$ 196.95 Tabela 5 – Dados sobre a cenoura cultivada em 2006 pelos oito agricultores pesquisados. Fonte: Adaptado de dados da pesquisa/ FNP (2007, p.275) De modo a ilustrar o desempenho nacional diante do desempenho destas oito empresas em análise, foi adaptada outra tabela com dados da Embrapa (2007), sobre a produção brasileira de 2005, e ainda, com um custo de produção baseado em um sistema de produção tradicional extraído de FNP (2007). Produção Total Produtividade Área cultivada Custo Médio de Anual em Média Anual em de cenoura (em Produção por toneladas toneladas hectares). Hectare 766.000 29.46 26.000 R$ 9.356 Tabela 6 – Dados sobre a cenoura cultivada em 2005 no Brasil. Fonte: Embrapa/ FNP (2007, p.275) Custo Médio de Produção por tonelada R$ 317.58 Nota-se que os resultados obtidos no sistema de produção mais sofisticado se aproximam aos obtidos em países líderes mundiais de produtividade e que, apesar do custo de produção por hectare ser maior por causa do uso intensivo de tecnologia, o custo por tonelada é menor devido o ganho de produtividade, quase o dobro em comparação com a média nacional, caracterizando, uma vantagem competitiva de custo em relação a outras regiões produtoras. 5. Considerações Finais O uso de alta tecnologia e a disponibilidade de fatores naturais como clima, altitude, umidade relativa do ar e temperatura média proporciona um incremento 13 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" significativo na produtividade de hortaliças, fato que reflete em redução de custos por unidade produzida. Esses dois pontos representam vantagens competitivas de custo, porém não suficientemente sustentáveis, ou seja, caso empresas de outras regiões com características geográficas favoráveis procurassem utilizar o mesmo nível de tecnologia que se utiliza no Alto Paranaíba, poderiam alcançar resultados similares. O que pode ser considerada uma vantagem competitiva sustentável da região estudada consiste na existência de uma cultura regional que defende práticas de cultivo capazes de levar a região a alcançar altos índices de produtividade. No contexto mundial, o Brasil se destaca como grande produtor de cenoura em relação ao volume de produção, no entanto, suas produtividades representam aproximadamente metade das produtividades obtidas nos países mais produtivos. Apesar disso, os produtores pesquisados compartilham de um sistema de produção que proporciona o alcance de resultados comparáveis aos de países líderes de produtividade. Verifica-se por este estudo que o mercado de cenoura, cuja maioria do volume produzido é comercializado por meio das Ceasas, possui uma estrutura mercadológica com limitações conceituais que dificulta o desempenho de empresas que pretendem adotar estratégias de diferenciação, tendo estas como opção, buscar canais alternativos que reconheçam valores agregados como, por exemplo: produtos orgânicos, com certificado de origem e manejo adequado. O estudo de canais alternativos para a distribuição desse tipo de produto, de modo sensível à diferenciação, é um tema relevante que pode ser desenvolvido em pesquisas futuras. Referências ABRACEN, Associação Brasileira das Centrais de Abastecimento. Disponível em <http://www.abracen.org.br/Lnk01.htm>. Acesso em 21/07/2006. ARAÚJO, Massilon J. Fundamentos de agronegócios. São Paulo: Atlas, 2005. BATALHA, M. O. e SILVA, A. L. S. (2001), Gerenciamento de Sistemas Agroindustriais: Definições e Correntes Metodológicas. In: BATALHA, M. O. (Coord.) Gestão Agroindustrial, v.1, Ed. Atlas, São Paulo. CAMARGO FILHO, W. P. C.; ALVES, H. S.; CAMARGO, A. M. M. P. de. Mercado de cenoura no MERCOSUL: análise da produção e de preços no Brasil e na Argentina. 45º Congresso Brasileiro de Olericultura: Fortaleza. 2005. CAMPEÃO, Patrícia. Sistemas locais de produção agroindustrial: um modelo de competitividade. 2004. 265 f. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos. 2004. CHAIM, Nuria Abrahão. Mudanças no abastecimento de frutas, legumes e verduras e o papel dos supermercados. 1999. 110 f. Dissertação (Mestrado em Economia) – Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia. 1999. COUGHLAN, Anne T., ANDERSON, Erins, STERN, Louis W., EL-ANSARY, Adeli I. Canais de marketing e distribuição. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2002. 14 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" CUNHA, Altivo Roberto Andrade de Almeida. Os paradigmas de uma gestão participativa: a importância das alianças estratégicas para a sustentabilidade dos mercados. Conferência Mundial de Mercados Atacadistas. São Paulo. 2006. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Cultivo da cenoura. Disponível em <http://www.cnph.embrapa.br/sistprod/cenoura/index.htm>, Acesso em 20 jul. 2006. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Hortaliças em números. Disponível em <http://www.cnph.embrapa.br/paginas/hortalicas_em_numeros/hortalicas_em_numeros.ht m>, Acesso em 30 mar. 2007. FARINA, E.M.M.Q. Competitividade e Coordenação de Sistemas Agroindustriais: um ensaio conceitual. Revista Gestão & Produção, São Carlos, v. 6, n. 3, 147-161, dez./1999. FNP. Agrianual: Anuário da Agricultura Brasileira. 11 Ed. São Paulo, 2006. HITT, M. A.; IRELAND, R. D.; HOSKISSON, R. E. Administração Estratégica. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Projeto Cidades. Disponível em: <www.ibge.gov.br> acesso em 20 jul. 2006. KOTLER, Philip. Administração de Marketing: Análise, planejamento, implementação e controle. Tradução de Ailton Bomfim Brandão. 5 ed. São Paulo: Atlas, 1998. 725 p. Título original: Marketing management: analysis, planning, implementation, and control. LOURENZANI, A. E. B. S. Análise da competitividade dos principais canais de distribuição de hortaliças: o caso do tomate in natura no estado de São Paulo. 2003. 147 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos. 2003. MACHADO, E. L. O papel da reputação na coordenação vertical da cadeia produtiva de frutas, legumes e verduras frescos. 2002. 182 f. Tese (Doutorado em Economia) – Universidade de São Paulo, São Paulo. 2002. McCONNEL, Campbell R.; BRUE, Stanley L. Microeconomia: princípios, problemas e políticas. Tradução de Flávia Dias Rangel; revisão técnica de José Luís da Costa Oreiro. 14 ed. Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 2001. 469 p. Título original: Microeconomics Principles, problems, and policies. NEVES, Marcos Fava. Um modelo para planejamento de canais de distribuição no setor de alimentos.1999. 297 f. Tese (Doutorado em Administração) – Universidade de São Paulo, São Paulo. 1999. PADILHA, Dráuzio Leme. CAC: cooperativismo que deu certo. São Paulo: CAC, 1989. 15 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" PIGATTO, G.; ALCÂNTARA, R. L. C. Relacionamento Colaborativo nos Canais de Distribuição. In: ZUIN, L. F. S.; QUEIROZ, T. R.(Org.). Agronegócio: gestão e inovação. São Paulo: Saraiva, 2006. p.133-166. PORTER, Michael E. Estratégia Competitiva: Técnicas para análise de indústrias e da Concorrência. Tradução de Elizabeth Maria de Pinho Braga; revisão técnica de Jorge A. Garcia Gómez. Rio de Janeiro: Elsevier Editora, 1986. 362 p. PORTER, Michael E. Vantagem Competitiva: Criando e sustentando um desempenho superior. Tradução de Elizabeth Maria de Pinho Braga; revisão técnica de Jorge A. Garcia Gómez. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1989. 511 p. ROSENBLOOM, Bert. Canais de marketing: uma visão gerencial. São Paulo: Atlas, 2002. SAES, Maria Macchione. Evitando a queda da rentabilidade na produção agrícola: basta diferenciar? In: XXVIII Encontro da Anpad, 2004, Curitiba. Anais... Rio de Janeiro, Anpad, 2004. STERN, Louis W.; REVE, Torger. Distribution Channels as Political Economies: A Framework for Comparative Analisys. Journal of Marketing; Summer 1980; 44, 000003; pg. 52-64 United States Department of Agriculture. <http://www.usda.gov> , acesso em 30 mar. 2007. US carrots. Disponível em VASCONCELOS, F.C.; CYRINO, A.B. Vantagem competitiva: os modelos teóricos atuais e a convergência entre estratégia e teoria organizacional. In: BERTERO, C.O. (coordenador). Gestão Organizacional: estratégias organizacionais. São Paulo: Atlas, 2006. Vilela, N. J.; Henz G. P. Situação Atual Da Participação Das Hortaliças No Agronegócio Brasileiro E Perspectivas Futuras. Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, v.17, n.1, p.71-89, jan./abr. 2000. Yin, Robert K., Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2005. 16 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural