AS CONFERÊNCIAS IMPOSITIVAS DOS CONGRESSOS Prof. Dr. Paulo Cesar Naoum Professor Titular pela UNESP Diretor da Academia de Ciência e Tecnologia [email protected] Assessor Científico do CDA Laboratório [email protected] Acadêmico da ARLC O tema que apresento nesta edição do Labornews tem muito a ver com os congressos que ocorrem nas áreas de análises clínicas, patologia clínica e hematologia. As sociedades científicas que os promovem são sempre muito cuidadosas em elaborar os temas de suas conferências, mesas redondas e cursos. Entretanto, é difícil conhecer a dinâmica de cada apresentador e, em alguns casos, o que cada apresentador representa para plateias de centenas de profissionais. Como é do conhecimento de quase todas as pessoas que frequentam congressos, notadamente os da área de saúde, há uma intrínseca colaboração financeira de empresas farmacêuticas, de produtos e equipamentos laboratoriais, e mais recentemente de laboratórios de apoio, para a efetivação de fato desses congressos. Como recompensa a este fato há convites para que um ou mais profissionais de destaque de cada empresa, que prestigiam significativamente o congresso, apresente temas relacionados à suas representações. É um sistema justo, a meu ver, pois admite-se que novidades tecnológicas serão apresentadas e centenas de profissionais se atualizam com tecnologias recentes. E, realmente, na maioria das vezes, isto acontece, e resultam na ampliação de conhecimentos daqueles que assistem o evento. Apesar disso, exageros tem sido frequentes por parte de alguns poucos conferencistas, com péssimos resultados de interpretação de parte da platéia. Esses exageros têm repercussões que mais atrapalham do que solucionam, instabilizam profissionais e demonizam estruturas consagradas científica e tecnologicamente. Um desses exageros se refere quando o apresentador mostra a utilidade de um novo equipamento que sua empresa está lançando. Ao comparar o equipamento em questão com aquele que está em uso na maioria dos laboratórios, o apresentador tira o crédito do antigo, como se determinasse a sentença do seu desuso. Por se tratar, muitas vezes, de pessoas com prestígio na área, vários profissionais que estão assistindo o evento, notavelmente os mais joAs Conferências impositivas dos Congressos vens, ficam abalados com a informação e acham que seus procedimentos estão errados e/ou defasados. Como se sabe, a saúde no Brasil não decorre do emprego da alta tecnologia disponível nas capitais e cidades importantes, mas sim em milhares de cidades pequenas em que somente profissionais com coragem encaram o desafio. Nesses milhares de laboratórios, em que se usam tecnologias não sofisticadas, seus laudos agradam aos médicos e solucionam problemas. Pois se tratam de exames feitos com tecnologias de base, sem as quais não existiriam as atuais, dita modernas e hightech. Esquecem alguns desses divulgadores de novas tecnologias que, apesar da complexidade desses equipamentos que apregoam como os mais modernos, a infraestrutura elétrica, hidráulica e, principalmente, dos valores pagos pelos serviços prestados, comprometem seus usos e são passíveis de erros, comprometendo, inclusive os laudos emitidos. Na próxima edição comentaremos sobre as conferências de alguns profissionais dos laboratórios de apoio que desconhecem a importância do laboratório dos sertões desse país. LABORNEWS – EDIÇÃO 277