Editorial SECÇÃO REGIONAL DO CENTRO JORNAL DA SECÇÃO REGIONAL DO CENTRO DA ORDEM DOs ENFERMEIROs Setembro de 2010 | ANO 8 | N.º 24 2 Editorial 3 Fibrose Quística 5 Testemunho 6 O consumo de cannabis e o risco de esquizofrenia 8 22 de Setembro Dia Europeu sem carros 9 É hora do lanche 10 Na Água… a sua Saúde... 11 Quem escorrega pode cair 12 Velhos são os trapos 13 A AEAPE 14 A ASSOL 15 Cultura e Lazer 16 Previna-se… o frio vem aí Água é fonte de Vida e Saúde ... Preserve-as Enfermagem e o Cidadão | 1 Editorial SECÇÃO REGIONAL DO CENTRO Defesa do SNS: da retórica à acção A propósito do Dia Nacional do Serviço Nacional de Saúde (SNS), 15 de Setembro, que celebrámos com elevado apreço, importa reafirmar que o SNS é o instrumento fundamental, promotor de solidariedade, coesão social e de materialização da democracia, para garantir o acesso à saúde de todos os portugueses, independentemente da sua situação socioeconómica. Se dúvidas houvesse relativamente a este pressuposto, confirma-se hoje, empiricamente, com o aumento da procura dos serviços públicos no contexto de crise económico-financeira que vivemos. No momento em que, a propósito de uma suposta proposta de revisão constitucional, eventualmente se venha a defender a eliminação do carácter «tendencialmente gratuito» inscrito na Constituição da República Portuguesa, importa em defesa do princípio referido em epígrafe, que pela defesa do SNS se passe definitivamente da retórica à acção. Os diagnósticos estão feitos, as recomendações elaboradas, no entanto, persistem a não decisão política ou a sua não implementação, conducente à resolução da maioria dos problemas diagnosticados. Globalmente, o grande desafio, no sentido da criação de valor em saúde, coloca-se ao nível da concepção e implementação de um modelo de organização de cuidados de saúde que aposte na articulação, integração, continuidade e proximidade de cuidados, centrado no cidadão, de forma a garantir a sustentabilidade, acessibilidade e equidade no SNS, suportadas por um sistema efectivo de governação clínica promotor da sua efectividade e eficiência, que passe pela rentabilização da capacidade instalada no sector público, da qualidade em saúde e da implementação de uma cultura efectiva de accountability (prestação de contas) de forma a acautelar a boa utilização do erário público por parte de todos - políticos, gestores, prestadores e cidadãos. Apesar dos ganhos em saúde conhecidos, decorrentes de três décadas do SNS, urge o seu reforço, pois persistem iniquidades e desigualdades em saúde e cuidados de saúde no nosso país, predominantemente de origem geográfica, socioeconómica, literacia, organização e prestação de cuidados de saúde, apesar do reconhecimento da pouca evidência científica existente no país ao “nível da medição e explicação sobre os determinantes das desigualdades” (Furtado e Pereira, 2010). Para este reforço, impõe-se o desenvolvimento de políticas públicas saudáveis multissectoriais e transversais, relativas a todas as áreas da governação: educação, economia, saúde, cultura, ambiente, emprego e solidariedade social, etc. Na área da saúde constituem prioridades de acção: – Desenvolvimento de um plano estratégico, que evidencie de forma prospectiva as reais necessidades em cuidados de saúde e as condições para garantir a resposta adequada (carta de equipamentos; despesa pública em saúde, financiamento, etc); – Efectivação da participação do cidadão na saúde; – Garantir o investimento devido aos Cuidados de Saúde Primários (CSP), como pilar do SNS, pela sua importância na promoção da saúde e prevenção da doença e contributo fundamental para a correcção das desigualdades em saúde e sustentabilidade financeira do SNS; – Desenvolvimento de medidas de protecção a grupos sociais vulneráveis, nomeadamente às crianças, aos idosos, doentes crónicos, aos cidadãos com deficiência, pobres e excluídos socialmente, entre outros. – Desenvolvimento de boas práticas de gestão, assentes na exigência de competências para os seus responsáveis, implementação de um sistema de contratualização efectivo e responsabilizante, desocultando os maus exemplos, que ponham em causa a mais-valia do SNS, imputando as devidas consequências; – Assegurar as dotações seguras em recursos humanos na saúde. Nesta área, exige-se a correcção urgente do deficit de enfermeiros nas instituições de saúde, face à situação paradoxal que se vive, entre as necessidades reais existentes e o desemprego reinante na profissão, corrigindo o desperdício evidente no que concerne ao investimento público na sua formação; – Avaliação das várias reformas em curso, nomeadamente a dos CSP, Empresarialização do Hospitais; Rede de Requalificação das Urgências e Pré-Hospitalar e Saúde Mental, assim como, a implementação da Rede Nacional dos Cuidados Continuados Integrados, adoptando as medidas correctoras necessárias; – Desenvolvimento de uma política eficiente relativamente ao medicamento e inovação tecnológica em saúde; – Implementação de Sistemas de Informação em Saúde que promovam a integração e qualidade de cuidados, ao longo do contínuo de vida, na saúde e na doença, compatíveis com a intervenção individual, familiar e comunitária. Por um SNS forte e coeso, estamos todos convocados a participar da sua defesa. Contem connosco, porque acreditamos que este é a via para garantir a nossa saúde, sem quaisquer descriminações, respeitando princípios e valores promotores de uma sociedade que pretendemos cada vez mais justa e solidária em Portugal. Manuel Oliveira Presidente do Conselho Directivo Regional Secção Regional do Centro – Ordem dos Enfermeiros Ficha Técnica Distribuição Gratuita • Jornal da Secção Regional do Centro da Ordem dos Enfermeiros; Av. Bissaya Barreto, 185; 3000-076 COIMBRA; Tel.: 239 487 810; Fax: 239 487 819; www.ordemenfermeiros.pt; E-mail: [email protected] • Director Manuel Oliveira • Coordenação Editorial Filipe Marcelino; Manuela Coimbra • Conselho Editorial Áurea Andrade; Fernando Júlio; Gina Reis; João Domingos; Natércia Sequeira; Patrícia Batista; Rosa Meneses; Tânia Morgado; Elisabete Santos; • Conselho Científico Manuela Coimbra; Manuel Oliveira; Cristina P. Carmona; Conceição Martins; José Manuel Cavalete • Colaboradores Especiais Andréia Góis; Ivone Simões; Eduardo Santos; Elizabete Fernandes; Luisa Brito, Elena Junqueira; Pedro Quintas; Paula Leite; Ana Rita Capitão; Ana MAria Lopes; Nyno Miguel C. Correia; João Gama Marques; Mário Pereira • Revisão Editorial Tânia Morgado; M.ª João Henriques • Fotografia Diana Marcelino • Secretariado Rute Dias da Silva; João Pedro Pinto; Elizabete Figueira; Liliana Reis; Fernanda Marques • Maquetização, Produção PMP COIMBRA • Tiragem 5.000 exemplares • Depósito Legal 178374/02 • Impressão PMP 2 | Enfermagem e o Cidadão SECÇÃO REGIONAL DO CENTRO Falando Sobre... Fibrose Quística Andreia Góis Enfermeira Fibrose quística, fibrose cística ou mucoviscidose é uma doença hereditária de elevada mortalidade que afecta todo o organismo, com principal manifestação a nível respiratório e digestivo. Na origem desta doença encontra-se uma mutação no gene designado regulador de condutância transmembranar de fibrose quística e que intervém na produção de suor, dos sucos digestivos e dos mucos. Esta patologia afecta quase a totalidade das glândulas exócrinas (glândulas que segregam líquidos para o interior de um canal). As secreções são anormais e afectam o funcionamento das glândulas. É uma patologia mais comum na raça caucasiana e a sua incidência varia de país para país. Em Portugal, estima-se que um em cada 4000 recém-nascidos tenha esta doença. O envolvimento pulmonar é responsável por 95% das causas de morte precoce, sendo a principal causa a infecção respiratória originada por uma bactéria - Pseudomonas aeruginosa. Não há cura para esta doença, no entanto a esperança de vida tem vindo a aumentar. SINTOMAS Os pulmões são normais ao nascer, no entanto as secreções dos brônquios são espessas e podem obstruir as vias aéreas, causando a sua inflamação. As paredes dos brônquios espessam-se, as vias aéreas enchem-se de secreções infectadas e os gânglios linfáticos aumentam de tamanho. Estas alterações limitam a capacidade do pulmão fornecer oxigénio ao organismo. A tosse é o sintoma mais frequente, podendo ser acompanhada de náuseas, vómitos e alterações do sono. À medida que a doença progride, o tórax adopta a forma de barril e a falta de oxigénio Enfermagem e o Cidadão | 3 Falando Sobre... SECÇÃO REGIONAL DO CENTRO Na origem desta doença encontra-se uma mutação no gene designado regulador de condutância transmembranar de fibrose quística e que intervém na produção de suor, dos sucos digestivos e dos mucos. Esta patologia afecta quase a totalidade das glândulas exócrinas (glândulas que segregam líquidos para o interior de um canal). As secreções são anormais e afectam o funcionamento das glândulas. torna os dedos em forma de baqueta de tambor, com pele azulada. As infecções respiratórias recorrentes vão destruindo os pulmões. A nível do aparelho digestivo, ocorre insuficiência pancreática, causando síndrome de má-absorção, cirrose biliar, obstrução intestinal e refluxo. Em alguns casos o pâncreas deixa de produzir insulina suficiente, sendo necessário recorrer à administração de insulina. Os adolescentes podem apresentar atraso do crescimento e menor resistência física. DIAGNÓSTICO O diagnóstico pode ser efectuado antes do nascimento através do exame genético ou no início da infância pelo teste do suor sendo que, em portadores de fibrose quística, os níveis de sal no suor são mais elevados. A fim de travar o avanço da doença tem-se recorrido ao transplante pulmonar. TRATAMENTO A terapia inclui a prevenção e o tratamento dos problemas pulmonares, uma boa nutrição, actividade física e apoio psicológico e social. O apoio dos pais é um elemento fundamental no tratamento. As intervenções dependem dos sintomas presentes e sua gravidade. A alimentação é fundamental no tratamento desta doença, sendo importante na prevenção e no combate das infecções. Os portadores de fibrose quística necessitam de um aporte calórico elevado, portanto a sua alimentação deve incluir alimentos ricos em proteínas, gorduras e hidratos de carbono. As refeições devem incluir alimentos de elevado 4 | Enfermagem e o Cidadão valor energético como: frutos secos, massa, arroz, pão, azeite, queijo, entre outros. Recomendam-se 3 refeições principais e 2 a 3 refeições secundárias. Uma alimentação adaptada às necessidades do doente reflecte-se na manutenção do peso adequado. Em caso de o apetite ser reduzido, poderá ser necessário complementar com suplementos alimentares ou recorrer a alimentação enteral, através de sonda nasogástrica ou de gastrostomia. Os portadores de fibrose quística perdem mais sal no suor do que a maioria das pessoas. Por este motivo, quando se verifica uma maior sudação, é necessário aumentar o aporte de sal. Quando se verifica um aumento do gasto energético do organismo, nomeadamente em caso de infecção, o aporte de nutrientes e seu valor calórico também tem que ser aumentado. A nível pulmonar, a Cinesiterapia é essencial. É utilizado um conjunto de técnicas respiratórias como a percussão, a drenagem postural entre outras, com o objectivo de drenar as secreções, impedindo complicações pulmonares. Estas técnicas consistem em realizar um conjunto de respirações acompanhadas de tosse, com o corpo em várias posições, de forma a eliminar as secreções das diversas áreas dos pulmões. O uso de broncodilatadores e expectorantes é também importante. Em alguns casos pode ser necessário suporte de oxigénio. Nos últimos anos tem-se assistido a um aumento de esperança de vida de portadores de fibrose quística e a sua qualidade de vida depende intimamente de uma intervenção precoce. Sites consultados: www.manualmerk.net; www.itqb.unl.pt; www.fibrosequistica.com; www.medicina.med.up.pt SECÇÃO REGIONAL DO CENTRO Tem a Palavra ...tenho em mim todos os sonhos do mundo Ivone Simões Dois anos de idade. Um prolapso rectal anunciava o início de uma longa história: a Fibrose Quística. No compasso de espera entre as consultas frequentes e um conjunto de cuidados diários que asseguravam o meu bem-estar físico, psíquico e social, fui crescendo. A cinesiterapia entrou nos meus dias como que um simples hábito de lavar os dentes ou escovar o cabelo. Felizmente, e também graças ao apoio familiar incondicional que desde sempre tive, a minha infância e adolescência passaram-se de uma forma bastante regular e positiva. Refiro-me não só ao apoio emocional, mas também ao apoio na cinesiterapia que, desde cedo, pautava a minha educação. Muitos dos problemas que surgem no decorrer desta doença são vividos e sentidos não só pelos doentes, como pelos familiares e amigos mas, durante a infância e adolescência, estes problemas são vividos mais perto pelos pais. Contudo, a transição para a fase adulta não reflecte uma libertação total dos pais para com os problemas, pois continuam a sentir e evidenciar a mesma preocupação e dedicação aos “nossos” problemas, mas fazem-no de uma forma mais discreta e menos sistemática. Isto é consequência do natural percurso da vida. Aprender a confiar nos profissionais de saúde, médicos e enfermeiros, reconhecer o seu difícil trabalho, colaborar, aprender também a esperar quando é preciso esperar, aprender, ainda que cumprindo minimamente o tratamento, podemos contribuir para uma vida melhor… Sentir que estamos todos no mesmo caminho, percorremos o mesmo percurso… o desconhecido, o desafio… a sedução chama-se Qualidade de Vida. É aqui que reconhecemos o que nos identifica: a Paixão e a Esperança. Dar Vida aos anos e não apenas anos à Vida. A entrada na faculdade, o curso e a academia a que sempre desejei pertencer eram um sonho que conquistei e que agarrei com todas as forças, mas que por alguns momentos senti “escorregar” por entre os dedos… Falta de apetite e a consequente perda de peso, mais tosse e maior dificuldade em respirar, mais cansaço… tudo isto, são indicadores de que se avizinha um internamento. Estes internamentos, o cansaço, perder algumas aulas, exames e avaliações levavam à consequente desmotivação. Muitas vezes, o ter de mudar de planos, de métodos, de estratégia para a adaptação a novas situações era uma tarefa que dependia essencialmente de mim, mas que sozinha tornava mais difícil superar… Pedir ajuda. É um aspecto que importa realçar. Aprendi com alguém que me é muito querido, que existe sempre o outro lado da vida que nos pode levar a procurar outras soluções. Por exemplo, na faculdade existe um gabinete de apoio ao estudante com necessidades educativas especiais que me acompanha em diferentes situações da vida académica. “Atitude positiva: a escolha é tua”. Pensar que os problemas que normalmente enfrentamos merecem a importância que nós lhe quisermos atribuir, e eles só valem o que, na justa medida, merecem. A adaptação à nova vida tornava-me mais confiante, a começar a ver as coisas de uma forma mais positiva. E além do mais estamos sempre a aprender. Hoje, aos 30 anos, “Não sou nada… à parte isso tenho em mim todos os sonhos do mundo”. Enfermagem e o Cidadão | 5 Todos os Dias são Dias SECÇÃO REGIONAL DO CENTRO O consumo de cannabis e o risco de esquizofrenia Eduardo Santos; Elisabete Fernandes; Luísa Brito Enfermeiro; Enfermeira; Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica, Professora Adjunta A esquizofrenia é uma doença mental grave, crónica e muito incapacitante, porque surge habitualmente no final da adolescência ou início da idade adulta, com uma prevalência de cerca de 1-1,5% da população. É uma doença do cérebro, que se manifesta através de diversas alterações no comportamento, relacionadas com distúrbios do pensamento, senso-percepção, emoção e sentimento. Não é ainda conhecida uma causa específica da esquizofrenia. No entanto, considera-se que a etiologia desta doença é multifactorial, podendo surgir de uma predisposição genética ou congénita (provocada por infecções virusais ou bacterianas), que por sua vez poderá ser potenciada por diferentes factores ambientais que contribuem para a manifestação da doença [1]. Dentre os factores ambientais associados à ocorrência de esquizofrenia salienta-se o consumo de substâncias, e em es6 | Enfermagem e o Cidadão pecial a Cannabis (Cannabis sativa), que é afinal a droga ilícita mais consumida mundialmente [1, 2]. Em Portugal, segundo os dados do Relatório Anual do IDT (2008), entre 2001 e 2007 registou-se um aumento da prevalência do consumo de Cannabis de 12,4% para 17% na população jovem adulta (15-34 anos). Devido ao facto de recentemente se ter constatado que as alterações fisiológicas cerebrais que ocorrem nos consumidores de Cannabis, nomeadamente ao nível dos neurónios dopaminérgicos, são muito semelhantes às que se encontram nas pessoas com esquizofrenia, surgiu nos meios científicos e clínicos a hipótese da relação entre o consumo de Cannabis e o aumento do risco de esquizofrenia, dado que as manifestações/sintomas da doença são também muito semelhantes. Sobre esta temática são de referir os resultados da revisão de literatura realizada por Santos, Fernandes e Ligeiro [3] SECÇÃO REGIONAL DO CENTRO que, com base na análise sistematizada de um conjunto de 17 trabalhos científicos recentes, de vários países, indicam que o consumo de Cannabis é um factor de risco importante para o aumento da ocorrência de esquizofrenia, duplicando o risco de primeiro surto da doença, e tornando as recaídas muito mais frequentes nos indivíduos que, já com a doença, continuam a consumir Cannabis. Além disso, o risco de esquizofrenia parece aumentar quanto mais precoce for o consumo e numa relação ‘dose-efeito’. Face a esta situação, torna-se premente uma actuação preventiva junto dos adolescentes, visto serem eles os maiores consumidores de Cannabis, e os que correm maior risco de adoecerem com esquizofrenia, por se encontrarem ainda numa fase de grande actividade neuro-desenvolvimental. Neste sentido, alguns dos estudos apontam para que 8%, 10% e 13% dos casos de esquizofrenia na Nova Zelândia, Alemanha e Holanda, respectivamente, podiam ser prevenidos através da eliminação do consumo de Cannabis [4, 5]. Torna-se por isso necessário informar os jovens no sentido de evitarem o consumo de Cannabis. Nesta tarefa são chamados a participar pais, professores, e profissionais de saúde [4], com especial destaque para os enfermeiros que, sobretudo nos Centros de Saúde, deverão desempenhar um papel importante de informação sistemática a pais, jovens e professores. Assim, e numa estratégia de prevenção primária, contribuir-se-á para que a população passe a encarar de outra forma o consumo de Cannabis, que até agora tem sido considerada como uma droga ‘leve’ e meramente recreativa. Se isto se verificar, os ganhos em saúde pública – através da redução na incidência de esquizofrenia - serão, sem dúvida, muito importantes e significativos. Todos os Dias são Dias A esquizofrenia é uma doença mental grave, crónica e muito incapacitante, porque surge habitualmente no final da adolescência ou início da idade adulta, com uma prevalência de cerca de 1-1,5% da população. É uma doença do cérebro, que se manifesta através de diversas alterações no comportamento, relacionadas com distúrbios do pensamento, senso-percepção, emoção e sentimento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] SADOCK, Benjamim; SADOCK, Virginia – Compêndio de psiquiatria: ciência do comportamento e psiquiatria clínica. 9.ª Edição. Porto Alegre: Artmed, 2007. [2] OLIVEIRA, Vanessa; MOREIRA, Estefânia – Maconha: fator desencadeador de esquizofrenia? Semina: Ciências. Biológicas e da Saúde; Volume 28, n.º 2 ( Julho-Dezembro, 2007), p.99-108. [3] SANTOS, Eduardo; FERNANDES, Elisabete; LIGEIRO, Vera – O consumo de Cannabis e o risco de esquizofrenia: uma revisão ‘Quasisistemática’ da literatura. Monografia realizada no âmbito da licenciatura em Enfermagem. Coimbra: ESEnfC (2010). [4] ARSENEAULT, Louise; CANNON, Mary; WITTON, John [et al.] – Causal association between cannabis and psychosis: examination of the evidence. British Journal of Psychiatry. Volume 184, n.º 2 (2004) p. 110-117. [5] ZAMMIT, Stanley; ALLEBECK, Peter; ANDREASSON, Sven [et al.] – Self reported cannabis use as a risk factor for schizophrenia in Swedish conscripts of 1969: historical cohort study BMJ. Volume 325, n.º 2 (Novembro, 2002) p. 1195-1212. Enfermagem e o Cidadão | 7 Todos os Dias são Dias SECÇÃO REGIONAL DO CENTRO 22 de Setembro Dia Europeu sem carros Viaje bem, viva melhor! Helena Junqueira e Pedro Quintas Enfermeiros “O transporte é o símbolo da liberdade individual. Enquanto o ambiente é um bem colectivo”. Caro cidadão este é o ponto de partida para o artigo que se apresenta. Pretendemos com ele criar um espaço de reflexão pessoal e colectivo sobre o problema crescente que é o impacto dos transportes no ambiente que nos rodeia e na nossa saúde. Sob o mote Viaje bem, Viva melhor teve lugar no mês de Setembro mais uma edição da Semana Europeia da Mobilidade (SEM), com o objectivo de promover e dar a conhecer formas de mobilidade quotidiana mais amigas do ambiente, que criem uma vivência da cidade mais saudável e sustentável. No presente ano de 2010 pretendeu-se que a SEM desse um enfoque particular nas ligações existentes entre transporte e saúde. Assim, durante a SEM, que se iniciou a 16 de Setembro e que terminou no dia 22 com o Dia Europeu Sem Carros, foram testadas novas soluções urbanas que proporcionem outra vivência e usufruto do espaço público pelas populações. Andar a pé, de transportes colectivos, de bicicleta ou noutro meio de transporte não poluente, são as opções a que se quer dar prioridade neste dia. O objectivo global da SEM é incentivar a consciência pública para a necessidade de agir contra a poluição causada pelo aumento do tráfego de veículos motorizados em meio urbano. Na verdade, não é apenas uma questão de combate à poluição atmosférica ou do ruído mas, também, de melhorar a qualidade de vida urbana. Este ano Saúde & Mobilidade são os grandes temas da SEM. De facto, nos últimos anos, o aumento maciço do tráfego de veículos motorizados nas nossas cidades, tem gerado uma forte reacção pública contra o ruído, poluentes do ar e congestionamento rodoviário. Estes factores têm um impacto negativo sobre a nossa saúde (sistemas respiratório e cardiovascular) e, em última análise, causam stress, sendo nos grupos vulneráveis, como crianças e idosos, que estas consequências se fazem sentir com mais intensidade. 8 | Enfermagem e o Cidadão A SEM fornece assim a plataforma ideal para comunicar o papel central da mobilidade sustentável, informando os cidadãos sobre os passos que as autoridades locais estão a tomar para um futuro mais verde e saudável e, ao mesmo tempo, mostrando também o que as pessoas podem fazer pela sua própria saúde, bem como para com a dos seus concidadãos. Convide a sua Câmara Municipal a participar nos próximos anos na SEM. Faça-o pela sua e pela nossa saúde. Faça pressão, dê sugestões sustentáveis ao seu município! Contribua para um ambiente sustentável! Como cidadão, pode tomar as seguintes acções: - escolha viver perto das redes de transportes públicos e perto do local de trabalho; - para se deslocar use alternativas em relação ao seu carro, tais como, andar a pé, de bicicleta, de transporte público, partilhe com os outros a sua viagem e o seu carro; - peça flexibilidade de horário; - quando tiver de conduzir, guie o mais suavemente possível para evitar a emissão de gazes de efeito de estufa, controle regularmente a pressão dos pneus do seu carro, respeite os limites de velocidade, bem como a periodicidade das manutenções; - escolha a escola mais próxima para os seus filhos e participe em iniciativas escolares como fazer caminhadas ou andar de bicicleta; - dê a conhecer aos seus filhos a rede de transportes públicos, horários e percursos; - faça ver às autoridades locais que você toma medidas de mobilidade sustentável e incentive-as a melhorar e a criar as infra-estruturas necessárias para os transportes públicos, peões e ciclistas. Bibliografia Potocnik, Janez (2010), Travel Smarter, Live Better, Brussels: Eurocities. Consigo pela Sua Saúde SECÇÃO REGIONAL DO CENTRO É hora do lanche Paula Leite Especialista em Enfermagem Comunitária Com o início das aulas, sabemos que para si a alimentação do seu filho é um aspecto importante e nem sempre fácil de acompanhar quando não está com ele. Nestas alturas, as escolhas alimentares do seu filho são influenciadas pelo grupo de amigos, pela oferta disponível e pelos conhecimentos alimentares que adquire. A alimentação, particularmente na infância e adolescência, tem uma influência determinante no desenvolvimento emocional, intelectual e social. Para evitar que as escolhas do seu filho sejam erradas deverá: – Incutir hábitos alimentares saudáveis em casa e servir de exemplo; – Ensinar conceitos de alimentação saudável de forma descontraída e, se possível, durante a refeição; – Decidir em conjunto com o seu filho o que ele almoçará no refeitório da escola; – Preparar com ele o lanche para levar para a escola; – Aproveitar as reuniões de pais para despertar o interesse da escola para as questões da alimentação saudável. A importância dos lanches Os lanches são determinantes para o equilíbrio do dia alimentar: – Ajudam a fornecer a energia e os nutrientes de que o organismo necessita para se manter activo entre as refeições principais; – Ajudam à concentração e ao melhor rendimento escolar; – Permitem controlar os apetites vorazes responsáveis pelo aumento da ingestão de produtos muito açucarados ou com muita gordura. Nos bares escolares e/ou Máquinas de Venda cada criança faz a sua escolha, baseada na oferta. É aqui que ela deve ser ensinada a escolher e não proibida de consumir. Interessa disponibilizar uma variedade de alimentos, suficiente para ir ao encontro das suas expectativas, como exemplo: – Leite e iogurtes meio-gordos, simples ou aromatizados, sempre que possível sem adição de açúcar, queijo fresco, curado fundido ou requeijão; – Sumos naturais de fruta e/ou vegetais sem adição de açúcar e/ou comerciais “100%” sumo e água não gaseificada e sem aromas; – Variedade de pão, pouco refinado e com pouco sal (ex: pão integral, de mistura, centeio…), simples ou com adição de queijo/fiambre, manteiga, compotas com pouco açúcar; – Cereais em flocos e/ou barras, ricos em fibras alimentares e com pouco sal e açúcar; – Apenas bolos sem cremes, com pouca gordura de preferência confeccionados em casa; – Evitar alimentos fritos e folhados como as batatas fritas ou os salgados. Produtos de charcutaria. Gelados compostos maioritariamente por natas, aromas e corantes. Rebuçados, chocolates, caramelos e outras guloseimas, refrigerantes. Bolachas com recheio. Produtos de pastelaria e confeitaria. Um bom lanche deve sempre incluir: – Pão ou barra de cereais ou cereais de pequeno-almoço; – Iogurte ou leite; – Uma peça de fruta ou sumo natural. As nossas sugestões: 1 2 3 4 5 6 1 iogurte líquido de aromas 1 pão de leite com queijo 1 sumo natural ou 100% fruta 1 leite achocolatado 1 pão de mistura com fiambre de frango e folha de alface 1 maçã 1 iogurte de cereais 1 pão meio sal com manteiga 1 pêra 1 iogurte natural 1 porção de cereais integrais 1 laranja 1 nectar de fruta (50% fruta) 1 pão de mistura com queijo 1 banana 1 iogurte sólido de aromas 1 barra de cereais 1 pêssego 1 iogurte de pedaços de fruta 3 a 4 bolachas tipo Maria 1 sumo natural ou 100% fruta Nota: Sempre que possível, as sandes deverão ser enriquecidas com vegetais ou fruta. Para acompanhar o lanche sempre água. 7 Bibliografia: http://www.nestle.pt; Ministério da Educação, Educação Alimentar em Meio Escolar, Referencial para uma alimentação saudável, Outubro 2006, Lisboa; http://www.plataformacontraaobesidade.dgs Enfermagem e o Cidadão | 9 Consigo pela Sua Saúde SECÇÃO REGIONAL DO CENTRO Na Água… a sua Saúde... Patrícia Batista Enfermeira As Nações Unidas dedicaram este ano ao tema “Água limpa para um Mundo Saudável”. Tentar aumentar a consciência pública da importância da conservação dos recursos de água potável é o objectivo do Dia Mundial da Água que se assinalou a 22 de Março. A água como é do senso comum, é um bem essencial à vida. Participa em enúmeras reacções bioquímicas no metabolismo animal e vegetal, condicionando o seu bem-estar na medida em que a água mineralizada é formada por muitas moléculas benéficas e nocivas. Existe em elevada abundância no planeta, mas só uma pequena parte é água doce e desta só uma reduzida parte é potável. Quando pensamos na água devemos lembrar-nos do ciclo da 10 | Enfermagem e o Cidadão água. Este inicia-se com o processo de destilação, que consiste na evaporação da água ao nível dos mares e oceanos pelo sol, origina vapor de água, formando nuvens e, após condensação, precipita-se na forma de chuva, numa localização mais continental. Ao tomar contacto com o solo mineraliza-se adquirindo diversas moléculas que podem condicionar a nossa saúde. Aglomera-se e forma rios que caminham para os mares e oceanos. A forma como olhamos este problema não pode ser visto numa dicotomia água/Homem mas numa perspectiva ecológica, uma vez que a poluição da água interfere com o ecossistema, estando o Homem incluído. A água é o elo que une todos os seres vivos do planeta e está ligada directamente aos objectivos das Nações Unidas: melhorar a saúde materna e das crianças, a esperança de vida, a emancipação das mulheres, o desenvolvimento sustentável, bem como a adaptação e a atenuação das mudanças climáticas. Existem algumas doenças que apresentam uma relação mais consistente com a ingestão da água não-potável. Destacam-se a diarreia (causada por vírus, bactérias ou protozoários), a cólera, as parasitoses intestinais, schistosomíase, tracoma, febre tifóide e paratifóide, hepatite A e E, ascariose. Numa perspectiva história e epidemiológica, esta relação água e doença, foi descrita por John Snow, em 1854, quando relacionou a frequência de casos de cólera em Londres com as três diferentes companhias de fornecimento de água. Tendo por base estes princípios pede-se à população que zele pela qualidade da água que diariamente ingere. A água distribuída na rede pública é diariamente testada, sendo fiável o seu consumo. As fontes de água privadas (poços, minas, fontanários e outras) devem ser testadas periodicamente quanto às suas propriedades bioquímicas, toxicológicas e bacteriológicas. Como dizia Paracelsus, o pai da toxicologia, “a dose faz o veneno” e, desta forma, é importante saber quanto existe do quê na minha água; se assume condições para consumo, higiene ou só para a rega; se existem fossas sépticas na periferia ou poluição industrial. Mas o problema da água não diz respeito somente à sua utilização ao nível doméstico. Por exemplo, os recintos públicos de divertimento tal como: piscinas, praias marítimas ou fluviais devem ser frequentadas com uma atitude crítica em relação à qualidade da água. Lembrar que um dos grandes avanços em ganhos de saúde e na esperança da vida actual se deve ao investimento público na rede de saneamento e no fornecimento de água potável através da rede pública ao longo das últimas décadas. Por isso, a preocupação contínua em usufruir de água com qualidade para todos é um dos passos importantes para obter ganhos em saúde. Independentemente do local onde viva, passe férias ou se divirta aos fins-de-semana, exigir e zelar por ter água com qualidade é um imperativo ético e de cidadania. SECÇÃO REGIONAL DO CENTRO Consigo pela Sua Saúde Quem escorrega pode cair Ana Rita Capitão Enfermeira Com o avançar da idade, o risco de cair tende a aumentar significativamente. Urge então a adopção de medidas preventivas e reduzir, o mais possível, os factores de risco que predispõem à queda. A família assume um papel de suma importância na prevenção, pois deve estar atenta às condições de segurança e solucionar os ardis que representam pequenos objectos dentro de casa. É preconizado, deste modo, a adopção de medidas de prevenção destes acidentes, tais como o acompanhamento médico regular no sentido de identificar e corrigir possíveis alterações de saúde/patologias predisponentes a uma queda, tais como alterações visuais, auditivas, perda de capacidade mental e alteração da mobilidade, entre outras. Os familiares devem informar-se sobre o efeito de cada medicamento que a pessoa toma, no sentido de conhecer possíveis reacções e antecipar os seus efeitos, nomeadamente medicação que cause sedação, alteração do equilíbrio, hipotensão e outra que possa favorecer a queda. O idoso tende a adoptar alguns comportamentos mais arriscados, como por exemplo subir escadotes, pelo que deve procurar formas de o ajudar sem que ele se sinta inferiorizado ou menos activo. Deve ser assegurada uma boa iluminação no domicílio, ava- liando a necessidade de uso de luzes de presença no quarto e casa de banho durante a noite. A fim de evitar as frequentes idas nocturnas à casa de banho, incentive o uso de urinol, bacio ou arrastadeira à noite. Consequentemente, os caminhos a percorrer em casa devem estar desimpedidos, evitando o contornar móveis, fios de telefone, candeeiros ou extensões, dispondo a mobília doutro modo e fixando os fios na parede. Igual atenção é requerida sempre que existirem crianças em casa, pois é comum haver brinquedos pelo chão. Os tapetes do chão, se não tiverem dupla face ou superfície anti-derrapante, devem ser retirados de forma a não escorregar ou tropeçar neles. No caso de existir carpetes ou alcatifas deve assegurar-se que não têm pontas soltas ou enroladas. Cuidado com as banheiras e bases de chuveiro escorregadios, utilize um tapete apropriado. O idoso deve ser encorajado a praticar exercício físico, para maximizar as suas capacidades e evitar a perda de massa muscular, flexibilidade articular e força. Por outro lado, a roupa deve ser confortável de modo a permitir a execução dos movimentos e o calçado bem adaptado, sem saltos e com sola antiderrapante, evitando os chinelos. Valorize sempre queixas de tonturas, fraqueza ou outras alterações, e em dúvida, procure ajuda entre os profissionais de saúde. Não espere pela queda para começar a agir. Enfermagem e o Cidadão | 11 Consigo pela Sua Saúde SECÇÃO REGIONAL DO CENTRO Velhos são os trapos actividade física e osteoporose Ana Maria Lopes Nuno Miguel Catela Correia Enfermeiros As evidências epidemiológicas sustentam que quando um indivíduo adopta um estilo de vida activo, através da prática de actividade física, esta minimiza os efeitos do processo de envelhecimento e, consequentemente, melhora a qualidade de vida. Com o aumento da população idosa na sociedade contemporânea, a osteoporose passa a ser considerada um grave problema de saúde pública, devido ao facto de se associar a morbilidade, mortalidade, incapacidade e custos sócio-económicos elevados. De acordo com estudos sobre a prevalência da osteoporose nos Estados Unidos, esta torna-se o principal problema de saúde pública para mais de 28 milhões de americanos, sendo que 80% destes são mulheres. O tecido ósseo possui um alto grau de rigidez e resistência à pressão. As suas principais funções estão relacionadas com a protecção e suporte do peso corporal, funcionando também como alavanca e apoio para os músculos, aumentando a coordenação e a força do movimento proporcionado pela contracção do tecido muscular. Após o osso atingir o tamanho e forma adultos, o tecido ósseo antigo é constantemente destruído e formado novo tecido. A remodelação ocorre em diferentes velocidades nas várias partes do corpo O pico de massa óssea é atingido por volta dos 35 anos de idade em homens e mulheres. Após essa idade, as mulheres perdem aproximadamente 1% de massa óssea por ano e podem perder até 6% por ano durante os primeiros 5 anos pós-menopausa. Os homens apenas começam a perder massa óssea, em percentagem muito menor por volta dos 50 anos. A osteoporose é uma doença, caracterizada por diminuição progressiva da massa óssea. Este facto leva à diminuição da resistência óssea e a um maior risco de fracturas, em presença de traumas de baixa energia ou menor impacto. São causas de osteoporose secundária as doenças do sistema endócrino, as doenças inflamatórias crônicas intestinais, as cirurgias do sistema digestivo, o sedentarismo, a imobilidade, a ingestão de alguns medicamentos, as doenças renais crônicas, a síndrome de má absorção e a baixa ingestão de cálcio A abordagem mais eficiente na osteoporose é a prevenção. A actividade física contribui activamente através da prescrição de exercícios com carga. São exemplos destes: a caminhada, a corrida, subir e descer escadas, a dança e a ginástica de manutenção. No entanto, exercícios como a natação, a hidroginástica ou o ciclismo trazem também benefícios. Os doentes antes de iniciarem os exercícios devem ser submetidos a avaliação endocrinológica, densitometria óssea de 12 | Enfermagem e o Cidadão corpo inteiro, avaliação cardíaca e teste ergométrico de esforço, avaliação de amplitude articular, grau, frequência e localização da dor, assim como da mobilidade da coluna. Deve ser ainda avaliada a capacidade ventilatória. Outro factor a ter em conta é a diminuição da acuidade visual e auditiva frequente em idosos o que os torna mais propensos a quedas. Desta forma, a actividade física deve ter em conta o grau de limitação, incapacidade, presença de dor e morbilidade. Deve começar de forma suave e aumentar progressivamente. O doente deve interiorizar que a osteoporose pode ser uma doença silenciosa durante muito tempo. Progressivamente, se não for avaliada e tratada, pode causar limitações severas. Podemos então concluir que indivíduos que pratiquem actividade física de uma forma regular e devidamente orientada além de prevenir a osteoporose, serão mais felizes, integrados na sociedade, independentes, autónomos e bastante mais confiantes nas suas capacidades, mesmo que iniciem tardiamente o seu programa de actividade física ou demonstrem certas incapacidades. Espaço Cidadania SECÇÃO REGIONAL DO CENTRO Associação de Educação e Apoio na Esquizofrenia (AEAPE): Uma Breve Introdução… João Gama Marques Médico Interno de Psiquiatria,Vice-Presidente da AEAPE A Associação de Educação e Apoio na Esquizofrenia (AEAPE) foi oficialmente constituída a 10 de Julho de 2002, com publicação em Diário da República a 2 de Dezembro do mesmo ano, com estatuto de Instituição Particular de Solidariedade Social, e sede no Hospital de Júlio de Matos situado no Parque da Saúde de Lisboa, no número 53 da Avenida do Brasil. Nos seus objectivos constavam: a) Intervir, a todos os níveis, na defesa dos direitos, legítimos interesses e qualidade de vida dos doentes e suas famílias; b) Sensibilizar as instâncias oficiais competentes no sentido do reconhecimento do papel das famílias como prestadoras informais de cuidados; c) Proporcionar informação científica e pedagógica para a promoção da saúde, a luta contra a doença, a prevenção de recaídas, a reabilitação psicossocial e a inserção social dos doentes; d) Promover acções de investigação, informação e formação, com destaque para o combate ao estigma e exclusão social e a abertura a uma cultura de cidadania, co-responsabilidade e solidariedade; e) Colaborar com instâncias oficiais, centrais e locais, e cooperar com instituições nacionais e estrangeiras que prossigam fins similares; f ) Contribuir para um diagnóstico mais precoce da doença e uma eficiente prevenção de recaídas, através de acções de formação; g) Promover a publicação de documentação especializada no âmbito da Associação. Março de 2010: Palestras pedagógicas sobre Esquizofrenia a cerca de 100 alunos do 10º ano de 2 escolas do Ensino Secundário da área de Lisboa, em colaboração com a Clínica Psiquiátrica II do CHPL: o projecto “Saúde Mental Também se Aprende”. Abril de 2010: Organização de colóquios dedicados à Esquizofrenia, abertos a todos os interessados. Destaque para o “1º Encontro Luso- Brasileiro de Amigos e Familiares da Pessoa com Esquizofrenia”. Maio de 2010: A edição do 8º número do boletim “Empatia” que, com periodicidade anual, distribuição gratuita e tiragem de 2000 exemplares. Junho de 2010: participação com uma banca de informação, uma nova brochira e um poster “Um ano de Actividade do Blog da AEAPE” no Colóquio Internacional de Esquizofrenia do Porto. Apesar de jovem a AEAPE tem desenvolvido trabalho no apoio aos doentes com Esquizofrenia e seus familiares, e na luta contra o estigma presente na nossa sociedade. Gratos pelo apoio, contamos com a colaboração de todos para fazer mais e melhor. A AEAPE tem desenvolvido várias acções das quais destacamos as mais recentes: Junho de 2008: Participação activa em encontros nacionais e internacionais de organizações de defesa dos direitos dos doentes com Esquizofrenia onde se faz um interessante intercâmbio de ideias e materiais, como aconteceu no “V International Patient Summit” de Praga (Republica Checa). Abril de 2009: A criação de um blog na internet, onde estejam disponíveis informações e contactos para esclarecimentos através de e-mail, telefone ou entrevista personalizada. Nos últimos 12 meses e somando as três modalidades, terão sido feitos quase 700 atendimentos. Fevereiro de 2010: A reedição de folhetos informativos (1000 cópias cada) em papel desdobrável dirigidos ao público em geral com informação sobre Esquizofrenia. Enfermagem e o Cidadão | 13 Espaço Cidadania SECÇÃO REGIONAL DO CENTRO A ASSOL Uma plataforma para a inclusão social Mário Pereira Director Técnico da ASSOL A ASSOL- Associação de Solidariedade Social de Lafões foi fundada em 1987 com o objectivo de promover a inclusão social das pessoas com deficiência na região de Lafões (Oliveira de Frades, Vouzela e S. Pedro do Sul) e, a partir de 1999, também as pessoas com doença psiquiátrica crónica e incapacitante. A actividade continua focada em Lafões, onde o objectivo é assegurar apoio a todas as pessoas com deficiência em necessidade, embora com acções pontuais nos concelhos de Tondela e Castro Daire. A ASSOL desenvolve acções de apoio desde o nascimento à idade adulta, nomeadamente: intervenção precoce na infância, apoio à inclusão escolar, formação profissional, apoio ao emprego, apoio ocupacional e apoio residencial. O grande sonho da ASSOL é dotar a região de Lafões de uma rede de apoios às pessoas com limitações decorrentes de deficiências ou doenças psiquiátricas crónicas e incapacitantes, que potencie a sua integração social e familiar, permita o recurso aos serviços apenas quando necessário e que esse apoios possam ser tão flexíveis quanto as necessidades de cada pessoa. Sonhamos tornar possível que as estruturas de apoio às pessoas adultas deixem de ter lotações limitadas e passem a funcionar numa lógica mais próxima de um serviço de porta aberta, a que quem precisa possa recorrer em qualquer momento. Ao longo dos anos a ASSOL assumiu duas palavras de ordem que afirmam com clareza a importância de todas as estruturas e pessoas da comunidade: “Nunca sós” e “Connecting people”. A ASSOL é um instrumento da comunidade e como tal é influenciada e influencia todo o sistema social e humano em que se integra. Estas parcerias locais são vitais para o sucesso, pois só através delas é possível: - A integração de todas as crianças e jovens nas escolas regulares; - Assegurar locais para que todos os formandos possam realizar a formação tecnológica prática em situações reais de trabalho; - Assegurar tarefas ocupacionais em empresas. Hoje mais de metade das pessoas apoiadas no Fórum Sócio Ocupacional e no CAO – Centro de Actividades Ocupacionais podem realizar experiências sócio profissionais que lhes permitem sentir-se cidadãos contributivos para a vida colectiva. A Filosofia de Actuação O apoio a cada pessoa é negociado com cada uma delas, anualmente, devendo ser o suficiente para que a pessoa possa utilizar os recursos da comunidade, tornando-se menos dependente dos apoios institucionais. 14 | Enfermagem e o Cidadão A metodologia que orienta este processo é o Planeamento Centrado na Pessoa, segundo a qual o importante é ajudar a pessoa a criar uma visão do futuro desejado, sendo função do apoio, ajudar cada pessoa a realizar os seus sonhos. A Pedagogia da Interdependência, que usamos nas actividades quotidianas baseia-se no reconhecimento da igualdade inerente a todas as pessoas humanas, no uso da não-violência e na procura de uma sociedade mais justa e respeitadora dos direitos humanos. Procura conseguir que as pessoas se sintam seguras, amadas, envolvidas na vida comunitária e capazes de amar os outros. O que procuramos com o nosso trabalho é o incremento da Qualidade de Vida das Pessoas Apoiadas e o Reforço do Poder e da Capacidade das Pessoas Apoiadas. Este princípio, designado por empowerment, implica que sejam dados às pessoas apoiadas o poder e meios para decidirem sobre os próprios apoios e tomarem controlo sobre a sua própria vida. A ASSOL realiza um esforço inovação constante, o qual já resultou na edição de vários livros, que podem ser encomendados atrás do site www.assol.pt Entre os livros traduzidos e editados, destacamos do Professor John McGee, que é o fundador e impulsionador desta abordagem, a ASSOL traduziu e editou três livros (em 2008): – O Essencial da Pedagogia da Interdependência; – Uma Pedagogia da Interdependência; – Uma pedagogia do Companheirismo. De Jack Pearpoint e outros: –“PATH – Manual para Planeamento de Futuros Positivos e Possíveis para Escolas, Organizações, Empresas ou Famílias, (2009). Cultura e Lazer SECÇÃO REGIONAL DO CENTRO Viaje bem, viva melhor! “O homem que pedala, que ped´alma com o passado a tiracolo, ao ar vivaz abre as narinas: tem o por vir na pedaleira.”. Alexandre O´Neill Sugestão de Leitura: O livro “Nascidos para Correr” de Christopher McDougall (2010) da editora Cadernos de Investigação. Visite na Net: O Clube Mob Carsharing em http:// www.mobcarsharing.pt/ e o CARPOOL – Partilha de Viagens em http://www.carpool.com.pt/. Sugestão de Viagem: Pedalada poética em Lisboa – faça um passeio de bicicleta junto às margens do rio Tejo. Enquanto pedala leia no asfalto da mais nova ciclovia de Portugal trechos do poema “O guardador de rebanhos” de Fernando Pessoa. DIVIRTA-SE RECORDANDO… Sistema Solar Encontre os planetas e coloque-os por ordem a partir do SOL Soluções: Mercúrio, Vénus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Neptuno e Plutão Enfermagem e o Cidadão | 15 SECÇÃO REGIONAL DO CENTRO Previna-se… o frio vem aí Fernando Júlio Bernardino Pinto. Especialista em Enfermagem Comunitária Falar em frio numa altura em que ainda sentimos a proximidade tórrida do último verão pode parecer descabido, mas o certo é que o inverno já se vem aproximando sorrateiramente, e de certo não queremos ser apanhados desprevenidos. O frio está à porta e com ele as constipações e as gripes, responsáveis por tantos dias de mal estar. A semelhança da sintomatologia destas duas doenças leva a que muitas vezes sejam, por quem é afectado, todas catalogadas como gripe, o que não é de todo correcto, uma vez que há entre elas diferenças significativas. Para que possa compreender melhor estas diferenças e ainda para prevenir o seu aparecimento, vamos de forma simples , deixar algumas pistas acerca destas doenças. Perguntamo-nos, muitas vezes: Porque estas doenças, surgem com maior intensidade no Inverno? Isto acontece pelo facto de que quando a temperatura é baixa e há uma menor incidência da radiação ultra-violeta, os vírus encontram condições para sobreviver durante mais tempo, o que permite facilitar a transmissão de pessoa a pessoa. É no Inverno também que vamos encontrar maiores concentrações de pessoas em espaços fechados e menos arejados. Como se transmitem? Transmitem-se de forma idêntica, através de gotículas de saliva e secreções respiratórias dispersas através da tosse ou espirros e no contacto directo pessoa a pessoa. Como distingo se tenho uma gripe ou uma constipação? De modo muito genérico poderemos dizer que uma constipação é uma doença viral benigna que afecta o nosso tracto respiratório superior, enquanto que a gripe é uma doença respiratória aguda, causada pelo vírus influenza, com sintomatologia e consequências mais graves. Entrando no campo da sintomatologia de cada uma delas, poderemos dizer que na constipação a febre e as dores de cabeça raramente estão presentes ou aparecem de forma ligeira, enquanto que na gripe estes sintomas aparecem de forma marcada e estão presentes por vários dias. Outros sintomas como as dores no corpo e a fadiga e fraqueza, surgem nas constipações de forma ligeira, nas gripes, são frequentes intensas e no caso da fadiga podendo perduras por algumas semanas. Sendo frequente no início de uma gripe, a exaustão, nunca surge nas constipações, ao contrário no entanto os espirros, a garganta inflamada e o nariz entupido, tão frequentes na constipação, já muito raramente aparecem na gripe. A tosse que na constipação é ligeira a moderada e geralmente 16 | Enfermagem e o Cidadão seca, na gripe é frequente e pode tornar-se grave. Por fim, as complicações da constipação normalmente são a congestão dos seios nasais e as dores de garganta e ouvidos, na gripe podem ser graves e passam pelas bronquites e pneumonias que podem assumir uma gravidade extrema. Como procedo relativamente ao tratamento de cada uma delas? Enquanto às constipações se aplica sobretudo um tratamento direccionado ao alívio dos sintomas, com o recurso aos antipiréticos e analgésicos, para a gripe é necessário um tratamento mais intensivo dirigido ao alivio sintomático e à prevenção das complicações, recorrendo por vezes ao uso de anti-virais e antibióticos, sendo sempre necessária supervisão médica. No entanto, em ambas as situações uma correcta alimentação e a ingestão abundante de líquidos é fundamental para uma boa evolução da situação. Como posso prevenir estas doenças? Para prevenir esta situações, é importante que tenhamos hábitos de vida saudáveis, uma alimentação equilibrada, uma boa ingestão de líquidos, exercício físico regular, e ao mesmo tempo evitar no Inverno locais de grande concentração de pessoas, promover um bom arejamento dos edifícios, manter uma cuidada higiene pessoal , evitar mudanças bruscas de temperatura e exposição a correntes de ar. Para o caso específico da gripe o recurso à vacinação é uma arma importantíssima na prevenção da doença. Todos podemos ser vacinados contra a gripe? Salvaguardando algumas situações, todos podemos vacinar-nos contra a gripe, no entanto, têm indicações especiais para serem vacinados, indivíduos com 65 anos e mais, (principalmente se residentes em instituições); portadores de doenças crónicas ao nível pulmonar, cardíaco, hepático, ou renal, diabéticos, ou que tenham qualquer outra doença que vá diminuir a sua capacidade de resistência. A vacina, dada a capacidade do vírus sofrer mutações, é apenas eficaz durante um ano, sendo aconselhada a sua administração no período de Outono/inverno, está no entanto contra-indicada a pessoas que desenvolvam alergia às proteínas do ovo, uma vez que o meio de cultura utilizado na elaboração da vacina contém essas proteínas. Agora já sabe está na sua mão prevenir-se pratique um estilo de vida saudável, faça uma boa hidratação, e vacine-se porque o frio pode tardar,… mas vem aí.