ISSN 1809-9475 Centro Universitário de Volta Redonda - Ano VII - Edição nº 20 - Dezembro / 2012 CADERNOS UniFOA - Ano VII - Edição nº 19 - Agosto / 2012 Campus Olezio Galotti Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325, Três Poços Volta Redonda - RJ Tel.: (24) 3340-8400 Fax: (24) 3340-8404 Campus Aterrado Av. Lucas Evangelista, nº 862, Aterrado Volta Redonda - RJ Tel.: (24) 3338-2764 (24) 3338-2925 Campus Colina Anexo ao Hospital São João Batista Rua Nossa Senhora das Graças, nº 273, Colina Volta Redonda - RJ Tel.: (24) 3340-8400 Campus Vila Rua 31, nº 43 Vila Santa Cecília Volta Redonda - RJ Tel.: (24) 3348-5991 Campus João Pessoa Fagundes Rua 28, nº 619 Tangerinal Volta Redonda/RJ CEP: 27.264-330 Telefone: (24) 3348.1441 (24) 3348.1314 Campus Leonardo Mollica Rua Jaraguá nº 1084 Retiro Volta Redonda/RJ CEP: 27277-130 Telefone: (24) 3344.1850 (24)3344.1851 Formando para a vida. CADERNOS UniFOA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA ISSN 1809-9475 CADERNOS UniFOA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA ANO VII - nº 20 - Dezembro/2012 FOA EXPEDIENTE FOA Presidente Dauro Peixoto Aragão UniFOA Reitor Alexandre Fernandes Habibe Vice-Presidente Jairo Conde Jogaib Pró-reitora Acadêmica Cláudia Yamada Utagawa Diretor Administrativo - Financeiro Iram Natividade Pinto Pró-reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Daniella Regina Mulinari Diretor de Relações Institucionais José Tarcísio Cavaliere Superintendente Executivo Eduardo Guimarães Prado Cadernos UniFOA Editora Executiva Flávia Lages de Castro Superintendência Geral José Ivo de Souza Editora Científica Daniella Regina Mulinari Comitê Editorial Prof. André Resende de Senna Prof.ª Denise Celeste Godoy de Andrade Rodrigues Prof. Vitor Barletta Machado Conselho Editorial ad hoc Conselho Editorial Prof. Agamêmnom Rocha de Souza Prof. André Barbosa Vargas Prof. Carlos Alberto Sanches Pereira Prof. Carlos Roberto Xavier Prof. Élcio Nogueira Prof.ª Ivanete da Rosa da Silva de Oliveira Prof. Júlio César de Almeida Nobre Prof. Júlio César Soares Aragão Prof.ª Margareth Lopes Galvão Saron Prof.ª Maria Auxiliadora Motta Barreto Prof. Mauro César Tavares de Souza Prof. Sérgio Elias Vieira Cury Prof.ª Sinara Borborema Gabriel Claudinei dos Santos Doutor em Engenharia de Materiais - Escola de Engenharia de Lorena - Universidade de São Paulo - EEL/USP Douglas Mansur da Silva Doutor em Antropologia Social - Universidade Federal de Viçosa Fábio Aguiar Alves Doutor em Biologia Celular e Molecular - Fundação Oswaldo Cruz Luiz Augusto Fernandes Rodrigues Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense - UFF Maria José Panichi Vieira Doutora em Engenharia Metalúrgica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Revisão de textos Língua Portuguesa Claudia Maria Gil Silva Maricinéia Pereira Meireles da Silva Língua Inglesa Maria Amália Sarmento Rocha de Carvalho Capa e Editoração Laert dos Santos / Caio Rossatto / Henrique Rossatto Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA Campus Três Poços Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325 Três Poços, Volta Redonda /RJ CEP 27240-560 Tel.: (24) 3340-8400 - FAX: 3340-8404 www.unifoa.edu.br Versão On-line da Revista Cadernos UniFOA www.unifoa.edu.br/cadernos Submissões www.unifoa.edu.br/cadernos/ojs FICHA CATALOGRÁFICA Bibliotecária Gabriela Leite Ferreira - CRB 7/RJ - 5521 C122 Cadernos UniFOA / Centro Universitário de Volta Redonda. – ano VII, n. 20 (dezembro 2012). – Volta Redonda: FOA, 2012. Quadrimestral ISSN 1809-9475 1. Publicação periódica. 2. Ciências exatas e tecnológicas – Periódicos. 3. Ciências da saúde e biológicas – Periódicos. 3. Ciências humanas e sociais aplicadas – Periódicos. I. Fundação Oswaldo Aranha. II. Título. CDD – 050 SUMÁRIO EDITORIAL.......................................................................................................................................................................09 CIÊNCIAS EXATAS Análise sobre as alterações do marco regulatório do petróleo Francisco Dourado e Hernani Aquini Fernandes Chaves............................................................................................................................. 11 Efeito do duplo envelhecimento nas propriedades da liga ti-12mo-13nb Thallys Fillip Barbosa Vieira ,Juliana Torres ,Mauricio Bessa de Oliveira ,Emanuel Santos Jr. ,Luiz Henrique de Almeida ,Carlos Angelo Nunes ,Jean Dille ,Sinara Borborema Gabriel ............................................................................................................................................ 27 Isolamento térmico de duto circular em escoamento laminar completamente desenvolvido de fluidos imiscíveis (Água-Óleo) Artur Kimura e Élcio Nogueira.................................................................................................................................................................... 33 Solução analítica em aleta de perfil retangular: comparação de desempenho térmico entre aluminio e ferro fundido em motores elétricos Denise Freire Duarte, Ariane Novaes e Élcio Nogueira............................................................................................................................... 43 CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E HUMANAS Energia em diferentes contextos: uma proposta atual para sua definição Edison de Sousa, Alexandre Yasuda Miguelote e Cristina Novikoff ........................................................................................................... 53 Naming: Uma metodologia para desenvolvimento do nome de um veículo de carga no Brasil Cristiana de Almeida Fernandes, Luis Cláudio Belmonte dos Santos, Carla Fernandes Lima, Danton Gravina Baêta Rodrigues, Matheus Moraes Amorim Pereira, Pedro Lima de Oliveira e Thiago Philippe Catarino de Mello................................................................ 65 Saúde mental e reforma psiquiátrica brasileira: reflexões acerca da cidadania dos portadores de transtornos mentais Amanda de Alvarenga Caldas e Júlio Cesar de Almeida Nobre..................................................................................................................... 71 CIÊNCIAS DA SAÚDE E BIOLÓGICAS A contribuição da musicoterapia na saúde do idoso Glauber Correia de Oliveira, Vanessa Ramos da Silva Lopes, Maria José Caetano Ferreira Damasceno e Elizete Mello da Silva4........... 85 A interface entre o Diabetes Mellitus tipo II e a hipertensão arterial sistêmica: aspectos bioquímicos Pedro Lopes Fraga, Bruno José Martini-Santos, Bruno Nonato dos Santos Severino, Marise Ramos de Souza Oliveira e Guilherme Rapozeiro França.......................................................................................................................................................................................... 95 Ecologia da comunidade de metazoários parasitos do Xixarro, Trachurus lathami Nichols, 1920 (Osteichthyes: Carangidae) do litoral do Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Paulo Henrique da Silva Gonçalves e Dimitri Ramos Alves....................................................................................................................... 105 Ocorrência de ovos de Ancylostoma spp. em amostras de fezes de gatos (Felis catus LINNAEUS, 1758) domiciliados em uma área escolar da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, RJ, Brasil Viviane Abreu de Andrade, Marco Antonio Ferreira da Costa e Júlio Vianna Barbosa............................................................................ 115 LIST OF CONTRIBUTIONS EDITORIAL.......................................................................................................................................................................09 EXACT SCIENCES Analysis of changes in the Oil Law Brazilian Regulatory Francisco Dourado e Hernani Aquini Fernandes Chaves............................................................................................................................. 11 Effect Of Double Aging In The Properties Of Ti-12Mo-13Nb Alloy Thallys Fillip Barbosa Vieira ,Juliana Torres ,Mauricio Bessa de Oliveira ,Emanuel Santos Jr. ,Luiz Henrique de Almeida ,Carlos Angelo Nunes ,Jean Dille ,Sinara Borborema Gabriel ............................................................................................................................................ 27 Circular duct thermal insulation in laminar flow completely developed in immiscible fluids (Water-Oil) Artur Kimura, Élcio Nogueira...................................................................................................................................................................... 33 Analytical solution in fins of rectangular profiles: comparing thermal performance between aluminum and cast iron in electric motors Denise Freire Duarte, Ariane Novaes e Élcio Nogueira............................................................................................................................... 43 HUMANITIES SCIENCES AND APPLIED SOCIAL SCIENCES Energy in different contexts: a current proposal for its definition Edison de Sousa, Alexandre Yasuda Miguelote e Cristina Novikoff ........................................................................................................... 53 Naming: A methodology to develop a commercial vehicle name in Brazil Cristiana de Almeida Fernandes, Luis Cláudio Belmonte dos Santos, Carla Fernandes Lima, Danton Gravina Baêta Rodrigues, Matheus Moraes Amorim Pereira, Pedro Lima de Oliveira e Thiago Philippe Catarino de Mello............................................................................... 65 Mental Health and Brazilian Psychiatric Reform: reflections on the citizenship of people with mental disorders Amanda de Alvarenga Caldas e Júlio Cesar de Almeida Nobre .................................................................................................................... 71 HEALTH SCIENCE AND BIOLOGICAL The music therapy contribution in the elderly health Glauber Correia de Oliveira, Vanessa Ramos da Silva Lopes, Maria José Caetano Ferreira Damasceno, Elizete Mello da Silva .............. 85 The interface between the type ii diabetes mellitus and systemic arterial hypertension: biochemical aspects Pedro Lopes Fraga, Bruno José Martini-Santos, Bruno Nonato dos Santos Severino, Marise Ramos de Souza Oliveira e Guilherme Rapozeiro França.................................................................................................................................................................................................. 95 Community ecology of the metazoan parasites of rough scad, Trachurus lathami Nichols, 1920 (Osteichthyes: Carangidae) from the coastal zone State of Rio de Janeiro, Brazil. Paulo Henrique da Silva Gonçalves e Dimitri Ramos Alves....................................................................................................................... 105 Occurrence of Ancylostoma spp. eggs in cats (Felis catus LINNAEUS, 1758) fecal samples in a school area in Rio de Janeiro Metropolitan Region Viviane Abreu de Andrade e Marco Antonio Ferreira da Costa, Júlio Vianna Barbosa ........................................................................... 115 9 Editorial A Revista Cadernos UniFOA é um veículo de divulgação técnica e científica do UniFOA com objetivo substancial de divulgar, para a comunidade científica em geral, resultados de pesquisas realizadas na Instituição que, de alguma forma, contribuam para o estado da arte das diversas áreas do conhecimento. Neste editorial, venho confirmar minha imensa satisfação em apresentar a Edição nº 20. Em todas as edições a Instituição tem buscado contínuas melhorias, com o objetivo de primar pela qualidade e incentivar os autores em divulgar suas pesquisas. Desta forma, o conselho editorial da Revista Cadernos UniFOA agradece aos colaboradores que tem mantido o elevado nível de nossos artigos científicos. Em nome da Pró-reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão e da Editora FOA agradeço aos docentes e discentes do UniFOA que participaram significativamente dessas produções. Profa. Dra. Daniella Regina Mulinari Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA Pró-reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão 11 Análise sobre as alterações do Marco Regulatório do petróleo Analysis of changes in the Oil Law Brazilian Regulatory Francisco Dourado¹ Hernani Aquini Fernandes Chaves² Artigo Original Marco Regulatório Pré-Sal Abstract Countries through their governments, oil companies celebrate with basically two types of trade agreements: Concessions and Contracts. Since contracts can be divided into: Simple Contract, Production Sharing Contracts and Service Agreement. In Brazil, the overwhelming majority of trade agreements in the oil industry are concessions. In 2008, the Federal Government under the pretext of ensuring greater participation of state and society in the proceeds from oil production coming from the pre-salt layer, proposed the adoption of contracts under the Scheme Shares in these areas. But a deeper analysis shows that there was no need to include a new system of contract, requiring only the adjustment of rates and criteria for payment of royalties and special participation. The creation of the Social Fund, the capitalization of Petrobras, its choice as the sole operator, creating a new state, the Pre-Salt A / S, Bonus Signing of Production Sharing Contracts, the extinction Special Participation (EP) and the geographical scope and not geological limits of the pre-salt were points that were either not informed or their justifications were not satisfactorily during the course of Proposed Law (PL). In addition to financial claims, was used as an excuse the Union needs to have more control over the production and export of oil and natural gas. But the existence of the National Agency of Petroleum and National Energy Policy Council who have the assignment and duty to bequeath to exercise these controls overthrows this justification. Original Paper Recebido em 05/2012 Aprovado em 12/2012 Keywords: Royalties Government Participation Taxes Economy of Rio de Janeiro State 1 Departamento de Geologia Aplicada, Faculdade de Geologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro 2 Departamento de Estatigrafia e Paleontologia, Faculdade de Geologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro Edição nº 20 - Dezembro/2012 Royalties do petróleo Resumo Os países, através de seus governos, celebram com empresas de petróleo basicamente dois tipos de acordos comerciais: Concessões e Contratos. Sendo que os contratos se subdivididem em: Simples, Partilha de Produção e Contrato de Serviço. No Brasil, a maioria esmagadora dos acordos comerciais na indústria do petróleo são Concessões. Em 2008, o Governo Federal com o pretexto de garantir uma maior participação do Estado e da sociedade nos recursos advindos da produção do petróleo oriundo da camada Pré-Sal, propôs a adoção de Contratos sob o Regime de Partilha nessas áreas. Porém uma análise mais profunda mostra que não havia a necessidade da inclusão de um novo regime de contrato, apenas necessitando o ajuste de alíquotas e critérios de pagamento dos Royalties e da Participação Especial. A criação do Fundo Social, a capitalização da Petrobras, sua escolha como operadora única, a criação de uma nova estatal, a Pré-Sal S/A, o bônus de Assinatura em contratos de Partilha de Produção, a extinção Participação Especial (PE) e a delimitação geográfica e não geológico dos limites do Pré-Sal foram pontos que, ou não foram esclarecidos, ou suas justificativas não foram a contento durante a tramitação das Propostas de Lei (PL). Além da alegação financeira, foi utilizada como justificativa a União precisar ter um controle maior sobre a produção e exportação de petróleo e gás natural. Porém a existência da Agencia Nacional do Petróleo e do Conselho Nacional de Política Energética que têm a atribuição legar e o dever de exercer esses controles lança por terra essa justificativa. Cadernos UniFOA Palavras-chave: 12 Introdução Após Novembro de 2007, com a divulgação dos primeiros resultados dos poços que ultrapassaram a camada de sal aptiniano da Bacia de Santos, houve uma comoção generalizada no país a respeito do volume de recursos que seria gerado pelo pagamento de Royalties e Participação Especial. Esta discussão levou a criação de uma Comissão Interministerial para analisar a mudança do Marco Regulatório do Petróleo. Foram então, apresentadas pela comissão, quatro propostas de alteração da legislação que estabelece e regulamenta a atividade de exploração e produção de petróleo e gás natural no Brasil. Estas propostas previam a alteração no tipo de contrato, a criação de um fundo para perpetuação das riquezas geradas pela exploração do petróleo, a criação de uma empresa pública para gerir o óleo produzido e a cessão onerosa de 5 bilhões de barris para a PETROBRAS S/A. Considerando os atuais contratos de concessão, para ter o direito de explorar e produzir petróleo ou gás natural no Brasil, uma empresa deve ter sede e administração em território brasileiro, comprovar capacidade financeira e técnica qualificando-se entre não-operadora ou operadora, que pode ser do tipo A (opera em todos os blocos), B (opera em blocos em terra e em águas rasas) ou C (opera apenas em blocos terrestres). Este sistema prevê a regulação e a fiscalização das operações das empresas concessionárias por uma agência de regulação específica para este fim, além do pagamento de taxas e impostos sobre a produção e os lucros e mecanismos de sobretaxação para campo de alta rentabilidade. Apresenta também diversos mecanismos de controle sobre a produção tais como limites de produção visando o combate à exploração predatória das reservas ou a limitação dos volumes de exportação visando a prioridade do abastecimento interno. 1.1. Regulamentação (Órgãos ou Agências) Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA 1. Contratos de Exploração e Produção de Petróleo no Brasil Atualmente, os acordos comerciais na indústria do petróleo se dividem basicamente em dois grupos: as concessões e os contratos. Este último pode se subdividir em: Contrato Simples, Contratos de Partilha de Produção e Contrato de Serviço (Tabela 1), que ainda pode ser um Contrato de Risco (Van Meurs, 2008 e Johnston, 2002). Como pode ser visto na Tabela 1, as principais diferenças entre os tipos de contrato, estão ligados ao direito de exploração e à propriedade da produção dos hidrocarbonetos. Atualmente a maior parte dos contratos vigentes são concessões, com a ocorrência isolada de alguns Contratos de Risco concentrados na Bacia Potiguar celebrados na década de 70. Com a promulgação da Lei n° 12.351 de 22 de dezembro de 2010 foi autorizado o regime de Partilha de Produção na região delimitada pela lei como Área do Pré-Sal e outras áreas que venham ser classificadas como de interesse especial. Até Março de 2012 ainda não foi anunciado nenhum novo leilão de áreas pela ANP, onde poderiam ser celebrados os primeiros contratos de Partilha de Produção na história da produção de petróleo no Brasil. Através da Lei 9.478/97, foram instituídos o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) e a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), os órgãos de regulação da indústria de petróleo e gás natural. A função do CNPE é promover a política nacional para o aproveitamento racional dos recursos energéticos do País, seguindo o princípio da preservação do interesse nacional e do meio ambiente. Por sua vez, compete à ANP executá-la através de licitações e contratos em nome da União com os concessionários em atividades de exploração, desenvolvimento e produção de petróleo e gás natural e da fiscalização das atividades das indústrias reguladas. 1.2. Government take O Government take é a total de recursos que o governo se apropria em um projeto de E&P desde a aquisição da área, passando por todas as taxas e impostos diretos e indiretos, até o pagamento da última taxa de retenção de área ao entregar um bloco licitado. Algumas taxas e impostos são muito claros e óbvios, tais como os Royalties, a Participação Partindo da premissa que em geral a Nação é proprietária do solo e do subsolo do seu espaço geográfico (os Estados Unidos da América são um exemplo da exceção à regra, onde o proprietário da terra tem direitos sobre os minerais do subsolo), os acordos comerciais para extração dos bens minerais seguem as regras estabelecidas por cada país. Deste modo, naquela época, a extração do petróleo era condicionada às mesmas regras que as utilizadas para a extração de qualquer outro bem mineral. Não havia regras distintas para sua produção. De uma maneira geral, bens minerais se distribuem através de estruturas geológicas, obedecendo a regras impostas pela natureza, independente de ações antrópicas. Já a propriedade da superfície depende da posse ou de relações comerciais. Quando se constataram os problemas da relação mineralização/propriedade, surgiu então a necessidade de introduzir o dualismo jurídico das duas propriedades – a do solo e a do subsolo – para permitir a exploração dos recursos minerais sem interferência do proprietário da superfície. Esta separação foi estabelecida pela primeira vez no Código Mineiro de Napoleão, em 1810 (Holtman, 1981). Quarenta e dois anos após o Coronel Drake perfurar o primeiro poço de petróleo 13 1.4. Royalties O verdadeiro significado do pagamento de Royalties ligados à produção de petróleo e gás natural é, por vezes, deturpado ou mal entendido pela sociedade e até pelos próprios governantes e administradores públicos. Os Royalties são uma das formas de compensação pelo empobrecimento e desvalorização do subsolo ou por danos que podem ser causados ao ambiente relacionados com as atividades de exploração e produção de petróleo e gás natural. Esta palavra inglesa derivada de Royal que significa “do Rei”, “da Realeza”; ou seja, royalty era uma compensação paga ao Rei, em geral, com parte da própria produção, pelo uso de suas terras ou seus recursos (Barbosa, 2002). Do mesmo modo, hoje, os Royalties são compensações financeiras pagas à Federação pelas concessionárias de produção pelo uso e exploração do subsolo brasileiro (Art. 7, da Lei 7.990/1989). É uma arrecadação federal visto que, pela Constituição Brasileira, o subsolo pertence à União, que por sua vez concede a terceiros o direito de exploração. 1.5. A evolução das leis no Brasil sobre os Royalties Em 1953, com a entrada em vigor da Lei n° 2.004 (03/10/1953), é estabelecido pelo governo federal o pagamento de Royalties relativos à produção de petróleo. Esta lei determinava que 4% da produção bruta de petróleo e gás natural fossem pagos aos estados produtores e 1% da produção bruta aos municípios. Edição nº 20 - Dezembro/2012 1.3. Participações Governamentais (em Titusville – Pensilvânia, em 1859), se deu início ao primeiro sistema de concessões específico para o petróleo com a primeira concessão outorgada pela antiga Pérsia (atual Irã) ao cidadão inglês William Knox D’Arcy. A concessão previa a cessão do direito sobre o uso do subsolo de dois terços do país (1.243.000 km²) por 60 anos pelo valor de 20.000 libras e 16% dos lucros anuais da empresa (Tavern, 1994). Esta prática se difundiu em todo o Oriente Médio, no Norte da África, no Leste Europeu e na América Latina, pois a prospecção era principalmente conduzida por empresas inglesas e americanas. Cadernos UniFOA Especial, o Bônus de Assinatura, o Pagamento ao proprietário da terra e por Retenção de áreas, outros são mais comuns ao mundo dos contabilistas e distantes da nossa percepção, como, por exemplo, os Tributos Diretos e os Tributos Indiretos: Segundo Lima (2008), o Government Take no Brasil gira por volta de 60%. Este é o mesmo valor desde 2002 segundo o levantamento realizado por Gaffigan (2007). Neste trabalho, sintetizado na Tabela 2, podemos observar que o Brasil apresenta o mesmo valor da média dos 36 países estudados. Para esse conjunto de países, os valores de Government Take variaram entre 93% no Irã e 20% na Irlanda. Entre os 10 países que optaram pela Concessão de áreas, a média foi de 50%, com máxima de 75% e mínima de 35%. Nos 15 países que aparecem como optantes do Contrato de Partilha a taxa média foi de 68%, enquanto a máxima e a mínima foram de 87% e 43% respectivamente. Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA 14 Além disso, dava início ao monopólio estatal com a criação da PETROBRAS. Na década de 80, com o início da produção off-shore um novo cenário da produção fica estabelecido. Para o embasamento legal deste novo cenário é promulgada a Lei nº 7.453 (27/12/1985) que estabelece novos critérios para o pagamento dos Royalties, embora o percentual de 5% sobre o valor da produção seja mantido. No caso da produção em terra a distribuição fica inalterada. No caso da produção off-shore passa a ser distribuído da seguinte forma: 1,5% da produção bruta de petróleo e gás natural seriam pagos aos estados confrontantes aos poços produtores, 1,5% para os municípios confrontantes aos poços produtores e aqueles pertencentes à região geoeconômica destes municípios, 1% ao Ministério da Marinha e 1% para um Fundo Especial. A Lei nº 7.525 (22/06/1986) estabelece conceitos como região geoeconômica e extensão dos limites territoriais entre estados e municípios litorâneos, de competência do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Com o Decreto nº 93.189 (29/08/1986) as linhas de projeção dos limites entre os estados e entre os municípios ficam regulamentadas. Em 1989, a Lei nº 7.990 (28/12/1989) regulamentada pelo Decreto nº 01 (11/01/1991) modifica a distribuição dos Royalties adicionando uma parcela de 0,5% da produção bruta de petróleo e gás natural para os municípios que tenham em seu território instalações de embarque e desembarque de petróleo ou gás natural. A introdução deste recurso reduz a alí- quota destinada aos estados (um corte de 3,5 p.p.), no caso de extração em terra, e do Fundo Especial (menos 0,5 p.p.) no caso de extração off-shore (Figura 1). A “Lei do Petróleo” (Lei nº 9.478 de 06/08/1997 e regulamentada pelo Decreto nº 2.705 de 03/08/1998) altera a alíquota-base dos Royalties de 5% para 10% da produção bruta de petróleo e gás natural. Entretanto esta alíquota pode variar entre 5% e 10% em função dos riscos geológicos, da expectativa de produção e de outros fatores. Esta porção variável apresenta uma forma diferente de distribuição em relação à porção fixa de 5%. No caso de exploração em terra: 2,625% para o estado onde houver a extração, 0,75% para o município onde houver a extração, 0,375% para os municípios afetados pela operação de embarque e desembarque de petróleo e gás natural (segundo critérios da ANP) e 1,25% para o Ministério de Ciência e Tecnologia. No caso de exploração off-shore: 1,125% da produção bruta de petróleo e gás natural para os estados confrontantes com campos produtores, 1,125% para os municípios confrontantes com campos produtores, 0,375% para os municípios afetados por operações de embarque e desembarque de petróleo e gás natural, 0,375% para o Fundo Especial, 0,75% para o Ministério da Marinha e 1,25% para o Ministério de Ciência e Tecnologia. Considerando-se uma alíquota total de 10%, a distribuição dos Royalties é apresentada na Figura 1. Desta forma, o valor a ser recolhido em Royalties deve ser calculado da seguinte forma: Vrecolhido= Volume * Preço de venda * Taxa de Câmbio (1) onde, Vrecolhido= Valor a ser recolhido em Royalties Volume = % da produção bruta (de 5% a 10%) em m3 Preço de venda = Preço médio de venda de uma cesta de petróleo e gás natural usada como referência em US$/m3 Taxa de Câmbio = valor de US$ 1 em Reais Os Royalties são creditados aos estados e municípios beneficiários no segundo mês a partir do fato gerador. Assim, por exemplo, os Royalties referentes à produção do mês de Janeiro são depositados no Tesouro Nacional em até 30 dias após o fechamento do mês de produção (fim de Fevereiro) e são creditados aos beneficiários até o vigésimo dia do mês de Março. A Figura 2 mostra o fluxo de pagamento dos Royalties se a sua posterior distribuição aos beneficiários. 15 1.7. Bônus de Assinatura (Bonus bidding) O bônus de assinatura é uma compensação financeira paga pelo vencedor da licitação estabelecida no artigo 46 da Lei do Petróleo. O bônus tem o seu valor mínimo estabelecido no edital de licitação do bloco e é proporcional ao potencial econômico conhecido do bloco. Quanto maior o potencial, maior será o bônus estabelecido. Por lei, o bônus de assinatura deveria ser destinado ao custeio das necessidades operacionais da ANP e à pesquisa e desenvolvimento do setor de petróleo, o que na prática não ocorre devido ao contingenciamento do orçamento da União. Os valores arrecadados em Bônus de Assinatura são significativos, desde a primeira até a décima rodada de licitações, já foram arrecadados mais de R$ 5,48 bilhões em bônus (Gráfico 1). 1.8. Retenção de áreas (Rental fees) Também é uma compensação financeira paga pelo concessionário pelo uso das áreas com o objetivo do desempenho de uma atividade econômica. Gutman (2007) ressalta que diferentemente do aluguel de uma área, contrato no qual o locador cede a posse de um bem, a taxa de retenção de áreas tem por objetivo compensar a União pela cessão do direito de exercer a atividade de Exploração e Produção (E&P) na área em questão. Este pagamento deve ser efetuado anualmente pelos concessionários, a partir da data de assinatura do contrato, disposto no edital de licitação e nas cláusulas contratuais. As faixas de valores por quilômetro quadrado e por fase de processo de E&P, adotadas para fins de cálculo desta participação, estão definidas no Decreto n° 2.705/98. Para fixação destes valores a ANP levará em conta as características geológicas, a Bacia Sedimentar em que o bloco se situar, bem como outros fatores pertinentes. Os recursos provenientes desta participação governamental destinam-se, assim como o bônus de assinatura, ao custeio das despesas da ANP para o exercício de suas atividades. Edição nº 20 - Dezembro/2012 A Participação Especial (PE) foi criada no artigo 50 da Lei nº 9.478 (A Lei do Petróleo) e regulamentada pelo Decreto nº 2705/98. A PE estabelece uma compensação financeira sobre os campos com grandes volumes de produção ou grande rentabilidade (Gutman, 2007). Esta compensação financeira variável, de caráter progressivo, ou seja, quanto maior a produção maior a alíquota a ser paga, não é uma exclusividade da legislação brasileira. Outros países apresentam ferramentas de sobretaxação similares (e.g.: Windfall Profit Tax dos Estados Unidos, Hydrocarbon Tax da Noruega e o Petroleum Revenue Tax do Reino Unido). Os recursos arrecadados são distribuídos da seguinte forma: 40% ao Ministério de Minas e Energia (MME), 10% ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), 40% para o Estado e 10% para o Município onde ocorrer a produção em terra ou confrontante com a plataforma continental onde ocorrer a produção (Figura 3). O MME deve investir os recursos em estudos e serviços de geologia e geofísica aplicados à prospecção de petróleo e gás natural, a serem promovidos pela ANP com o objetivo de regular a execução de serviços de geologia e geofísica aplicados à prospecção petrolífera, visando ao levantamento de dados técnicos, destinados à comercialização, em bases não exclusivas. Por sua vez, o MMA deve investir os recursos no desenvolvimento de estudos e projetos relacionados com a preservação do meio ambiente e recuperação de danos ambientais causados pela atividade da indústria do petróleo. Ainda não foi regulamentada a aplicação dos recursos da cota-parte devida a Estados (40%) e Municípios (10%). A Portaria ANP 10/99 (alterada pela Portaria ANP no 102/99) permite aos concessionários deduzirem alguns valores do montante a ser pago em Participação Especial. Tais deduções são: o bônus de assinatura, do pagamento da retenção de área, o pagamento aos proprietários da terra, o investimento em pesquisa e desenvolvimento (de acordo com o artigo 18 da portaria citada, as empresas que pagam PE devem obrigatoriamente investir 1% da receita bruta em pesquisa e desenvolvimento) e alguns gastos nas fases de exploração, produção e desenvolvimento. Estas deduções geram perdas para Estados e Municípios, uma vez que esses dois beneficiados pela PE não são beneficiados por nenhuma dessas deduções e não recebem nenhuma contrapartida devido a essas deduções. Por este motivo, tais deduções são duramente criticadas por estados e municípios. Cadernos UniFOA 1.6. Participação Especial 16 1.9. Pagamento ao proprietário da terra O pagamento ao proprietário da terra é uma taxa paga ao detentor do direito de propriedade da superfície, seja ele uma pessoa física, jurídica ou mesmo União, Estados ou Municípios e pode variar entre 0,5% e 1% da produção de cada poço. É uma prática comum do setor de mineração baseada no artigo no 176 da Constituição Federal e consta no artigo no 52 da Lei do Petróleo. Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA 2. Propostas de alteração das participações governamentais Apesar de a população em geral considerar que é recente sua descoberta, a existência de hidrocarbonetos em camadas de idade pré-Aptiniana (chamadas de Pré-Sal nas bacias de Campos e Santos) já é conhecida desde 1962 com perfuração do poço descobridor do campo produtor de petróleo de Carmópolis em Sergipe e sua produção comercial que data do ano seguinte. Na realidade o que houve no dia oito de Novembro de 2007 foi a divulgação, ao público, de resultados promissores da perfuração do poço 1-BRSA-369A-RJS, finalizada em Outubro de 2006, que indicava que o poço havia ultrapassado a camada de sal e encontrado indicações da presença de grandes volumes de hidrocarbonetos. A partir dos resultados deste poço e de outros poços que foram perfurados na região que ultrapassaram a camada de sal aptiniano, o setor previu no mínimo a duplicação das atuais reservas brasileiras de petróleo. Esses números despertaram a cobiça de políticos de alguns estados não-produtores que por sua vez pressionaram o governo federal pela mudança dos critérios de distribuição dos Royalties e da Participação Especial oriunda da produção petrolífera. Em função desta pressão política, o Governo Federal criou uma Comissão Interministerial para discutir o tema. A discussão interna desta Comissão durou até 31 de agosto de 2009 quando foram apresentados quatro Projetos de Lei e que foram imediatamente enviados pelo Poder Executivo para o Congresso Federal sem qualquer discussão prévia com a Sociedade Brasileira, Setor Industrial, Governos Estaduais ou Municipais: • • • • PL 5.938/08 - Dispõe sobre a exploração e a produção de petróleo, de gás natural e de outros hidrocarbonetos fluidos sob o regime de partilha de produção, em áreas do pré-sal e em áreas estratégicas, altera dispositivos da Lei nº. 9.478, de 6 de agosto de 1997, e dá outras providências. PL 5.939/08 - Autoriza o Poder Executivo a criar a empresa pública denominada Empresa Brasileira de Administração de Petróleo e Gás Natural S/A - Pré-Sal S/A, e dá outras providências. PL 5.940/08 - Projeto do pré-sal que cria o Fundo Social - FS com a finalidade de constituir fonte regular de recursos para a realização de projetos e programas nas áreas de combate à pobreza e de desenvolvimento da educação, da cultura, da ciência e tecnologia e da sustentabilidade ambiental. PL 5.941/08 - Autoriza a União a ceder onerosamente a Petróleo Brasileiro S.A. - PETROBRAS o exercício das atividades de pesquisa e lavra de petróleo, de gás natural e de outros hidrocarbonetos fluidos de que trata o inciso I do art. 177 da Constituição, e dá outras providências. Destes projetos, o que estabelece o Regime de Partilha de Produção nos campos da área do Pré-Sal foi aprovado pelo Senado e pela Câmara dos Deputados sob Lei nº 12.351/10 e que também criou o Fundo Social. A empresa Pré-Sal Petróleo S/A foi criada através da Lei nº 12.304/10 e a cessão onerosa à PETROBRAS foi autorizada pela Lei nº 12.276/10. 2.1. Discussão sobre os Projetos de Lei Durante as discussões sobre a mudança do Marco Regulatório do Petróleo, o único consenso que houve entre Governo Federal, sua base, oposição e sociedade é a idéia de transformar a renda do petróleo desta região em benefício para a sociedade brasileira. Quanto ao modus operandi, as divergências foram muitas: existiam correntes que advogavam que todas as intenções propostas nos Projetos de Lei podem ser alcançadas sem mudanças radicais no Marco Regulatório do Petróleo, bastando apenas ajustes pontuais tais como a mudança das alíquotas e das faixas de cobrança na Participação Especial, o que se- Atualmente, o único tipo de Contrato vigente entre a União e as empresas de produção de petróleo e gás natural é o de Concessão (Com exceção de alguns poucos contratos de risco que ainda estão em vigor). A Lei n° 12.351 de 22 de dezembro de 2010 trata da inserção do contrato para o Contrato de Partilha para a área do Pré-Sal e outras áreas de especial interesse. Ainda aguarda-se a realização da primeira rodada de licitação, pós-mudança do Marco Regulatório, para que sejam firmados os primeiros contratos de partilha no Brasil. Os Contratos de Partilha mudam de acordo com os interesses estratégicos, políticos e econômicos de cada país. A justificativa utilizada para a mudança foi aumentar a apropriação dos recursos gerados pela exploração dos hidrocarbonetos do Pré-Sal, que segundo a justificativa não apresenta “risco” para quem for explorá-la, e o controle estratégico desses recursos. Tais justificativas não se sustentam quando discutidas mais aprofundadamente: 2.3. Apropriação dos recursos gerados Além do IRPF e outros impostos, a maneira mais simples da União se apropriar de parte dos recursos gerados pela exploração do petróleo são os Royalties e a Participação Especial,pois não há o envolvimento direto da União e seus representantes na produção do 17 2.4. Controle estratégico da produção de petróleo Outro argumento utilizado para a mudança do tipo de contrato foi o controle estratégico da produção de petróleo. A tese novamente não se sustenta, pois o atual modelo permite o controle estratégico da produção de petróleo pela União através do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), cuja função é determinar a política do uso de energia no país e garantir o fornecimento dela de maneira econômica e sustentável e pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), cuja função é regular o setor de petróleo, gás natural e biocombustíveis. O CNPE é responsável por determinar as regiões de exploração e a velocidade das licitações, delineando a Política Energética do país e aprovando as áreas indicadas pela ANP que por sua vez aprova os planos de produção dos campos a serem explorados e fiscaliza a produção. Em caso de situação de emergência, a destinação do petróleo (exportação ou consumo interno) pode ser estabelecida pelo CNPE e pela ANP em conjunto. Edição nº 20 - Dezembro/2012 2.2. A mudança do regime de contrato petróleo. No caso dos Royalties, a alíquota a ser recolhida pelos concessionários e seus critérios de distribuição foram criados pelas leis 7.990/89 e 9.478/97. Já a Participação Especial foi criada pela lei 7.990/89 e a alíquota a ser recolhida por ela e seus critérios de distribuição foram estabelecidos pelo Decreto 2.705/98. O fato da alíquota a ser recolhida e dos critérios de distribuição da Participação Especial terem sido regulamentados através de um decreto (Decreto 2.705/98), concede ao Presidente da República, o direito de através de um novo decreto, alterar a alíquota e os critérios de distribuição. O que não é possível fazer para os Royalties, pois os mesmos foram estabelecidos por uma lei. Tais mudanças, no caso dos Royalties, demandariam a aprovação das propostas pela Câmara de Deputados e pelo Senado para uma posterior sanção do presidente. Considerando que os Royalties têm um caráter compensatório, enquanto a Participação Especial tem um caráter taxativo, portanto se a União quisesse sobretaxar as grandes produções de petróleo, bastaria alterar as alíquotas e os critérios da Participação Especial através de um decreto presidencial (Dourado, 2010). Cadernos UniFOA gundo seus defensores traria agilidade ao processo de mudança e tranquilidade ao mercado. Outras correntes contestavam argumentando que a propriedade do petróleo é ponto fundamental para melhorar a posição geopolítica do Brasil no cenário mundial, justificada pela crescente escassez dessa commodity. Eram vários os argumentos e os contra-argumentos que falavam muito do “como fazer”. Porém, a principal discussão é a linha política que o Estado Brasileiro quer seguir: em um extremo, um Estado fortemente presente nos processos decisórios e por vezes visto como autoritário, ou no outro extremo um Estado aberto à atração de investimentos estrangeiros e visto por outros como neoliberal. As lacunas que ficaram sem discussão ou sem um consenso foram muitas. 18 Deste modo, não era condição imprescindível à mudança do regime de contrato para aumentar a apropriação dos recursos gerados pela exploração dos hidrocarbonetos bastando a alteração de alíquotas e critérios de distribuição da Participação Especial (Dourado, 2010). 2.5. Dúvidas e pontos que não esclarecidos durante a tramitação Durante a tramitação dos projetos algumas dúvidas sobre as proposições não foram esclarecidas, como por exemplo: Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA 2.6. A delimitação do Pré-Sal O conceito Pré-Sal é geológico e não geográfico. No Brasil está relacionado a rochas reservatórios de idade pré-Aptiniana, pois seu selo é um sal depositado durante o Aptiniano (Idade do Cretáceo Inferior da era Mesozóica do éon Fanerozóico compreendida entre 125 milhões e 112 milhões de anos (ICS, 2004).). Na Figura 4, podemos observar o polígono definido pela Lei n° 12.351/2010 que define os limites da área do PréSal. Aparentemente, estes limites estão relacionados à batimetria do litoral brasileiro no trecho em questão e às descobertas de hidrocarbonetos conhecidas na região. O projeto de lei ainda prevê a criação de novas áreas a serem licitadas sob o regime de Partilha de Produção, mas não especifica quais critérios técnicos para enquadrá-las. Apesar do conhecimento limitado sobre as áreas onde existem rochas com as características geológicas do Pré-Sal, dados técnicos (a partir de poços de exploração) indicam a inexistência de reservatórios em partes da área delimitada pela lei como Pré-Sal. A área delimitada como PréSal reúne regiões com características geológicas e de economicidade diferentes em apenas um conjunto. Esse fato poderá prejudicar áreas, então não promissoras, que serão obrigadas a ser licitadas sob os critérios dos Contratos de Partilha de Produção, que poderiam ser promissoras se licitadas sob o Contrato de Concessão. Ainda existe o problema de reservatórios que estão localizados sobre o sal Apitiano, ou seja, fora da camada Pré-Sal, tenham que ser licitados usando a modalidade de contrato de Partilha de Produção, o que vai de encontro a proposta original da aplicação desse tipo de contrato (Dourado, 2010). 2.7. Os Royalties Os Royalties são compensações financeiras devidas a União, Estado e Municípios em função do empobrecimento de seu espaço geográfico. Não podemos esquecer que bem mineral pertence à União, nem que o espaço geográfico permeia as três esferas de governo. É necessário estabelecer uma forma que não prejudique os estados e municípios produtores. Para isso, essa diferença teria origem no aumento da alíquota retida da produção para os Royalties. A proposta seria a criação de uma nova da alíquota dos Royalties de 5% da produção bruta de petróleo e/ou gás natural, que sobre posta aos 10% atuais somaria o total de 15% da produção bruta. Esses 5% adicionais poderiam ser destinados ao Fundo Especial de Estados e Municípios ou distribuído apenas aos Estados e Municípios não produtores, o que aumentaria assim o acesso de todos os estado e municípios da federação às riquezas geradas pela produção desse bem mineral (Dourado, 2010). 2.8. A extinção da Participação Especial (PE) Em função da natureza dos Contratos de Partilha de Produção, a Lei n° 12.351/2010 não contempla o pagamento de Participação Especial. Dados históricos mostram a Participação Especial como um instrumento mais eficaz na apropriação dos recursos gerados pela produção de petróleo no Brasil do que os Royalties. Apesar das inúmeras deduções possíveis, nos últimos anos, a Participação Especial tem apresentado um volume 1,7 vezes maior que arrecadação dos Royalties. Sua extinção acarretaria um grande prejuízo aos estados e municípios produtores. Os recursos destinados ao pagamento da Participação Especial terminaram sendo distribuídos entre a Operadora e a União, pois a PE deixará de ser um custo, passará a fazer parte dos lucros que por sua vez, pelo Contrato de Partilha, serão divididos, de acordo com um contrato prévio, entre a Operadora e a União. A manutenção da cobrança da Participação Especial seria outra forma de aumentar a participação nos lucros da atividade petrolífera. Para potencializar essa par- O Bônus de Assinatura é um instrumento que não é utilizado no mercado internacional em Contratos de Partilha de Produção. Podemos considera-lo uma forma de antecipação das receitas para União, pois posteriormente pode ser deduzido no pagamento da Participação Especial. É uma receita totalmente destinada à União, não é compartilhado com os estados e municípios e como foi citado anteriormente ainda pode ser deduzido na Participação Especial, diminuindo a arrecadação de estados e municípios. Sua extinção também seria um grande prejuízo para o Brasil para o plano atual de crescimento do país, assumindo que sem os Bônus de Assinatura, a arrecadação de um campo de petróleo ou gás natural só aconteceria quando o mesmo entrasse em operação, ou seja, de 6 a 10 anos após sua licitação. Considerando que o Bônus de Assinatura é um processo de aquisição de ativos para a empresa e considerando que o preço médio de venda/aquisição de ativos (de reservas provadas) no mercado internacional de US$ 10,00/ barril, temos que, se comprovado o potencial de até 80 bilhões de barris de reserva provadas no Pré-Sal (após certificação dos recursos) a União poderia arrecada até 800 bilhões de dólares em Bônus de Assinatura (Dourado, 2010). 2.9. Operadora única Na Lei n° 12.351/2010 foi estabelecido que a Petrobras seja a única empresa autorizada a operar os campos de produção no PréSal. A Petrobras ainda será obrigada a ter um mínimo de 30% de participação em todas as áreas a serem exploradas no Pré-Sal. Partindo dessa obrigatoriedade alguns problemas irão acontecer: • A Petrobras será obrigada a entrar em áreas que não tem interesse comercial; e O enfraquecimento da indústria de fornecedores de bens e serviços, devido ao número restrito de compradores. 19 Essa determinação poderá levará ao enfraquecimento do mercado de bens e serviços do setor de petróleo no Brasil devido ao fato de haver apenas um e somente um comprador. O mercado brasileiro de engenharia e de produção de bens fica completamente limitado, utilizando unicamente as especificações da PETROBRAS, criando um empecilho para a internacionalização do setor e dificultando que o Brasil desfrute de tecnologias diferentes existentes em outras regiões do planeta. Uma análise histórica da PETROBRAS mostra que a abertura do setor de petróleo no Brasil fortaleceu a empresa. A confirmação da existência de reservatórios com hidrocarbonetos no Pré-Sal ocorreu após a abertura do mercado. Dos 14 bilhões de barris de reservas provadas atuais, quase 8 bilhões foram incorporados após essa abertura (Dourado, 2010). 2.10.A nova estatal para comercializar a cota-parte da união nos novos Contratos de Partilha – a Pré-Sal S/A Os Contratos de Partilha pressupõe a existência de um representante da União que será responsável pela gerência e venda da cota-parte em petróleo devida pela Operadora à União. Na Lei nº 12.304/10, o Governo criou uma nova estatal que será responsável pela comercialização do petróleo produzido através dos Contratos de Partilha. Em cada bloco de concessão haverá um Comitê de Operação onde a nova estatal terá poder de veto sobre as decisões. Como vimos no item anterior, ainda há a exigência que a Petrobras tenha no mínimo 30% de participação em cada bloco de produção. Baseado nesses fatos pressupõe-se que devido ao excessivo controle da União e da obrigatoriedade da PETROBRAS como terceira “sócia” e operadora, a atração de novos players internacionais provavelmente seja reduzida. É possível que apenas empresas estatais de petróleo de países com crescente demanda de petróleo (e.g. NOCC/China) e alguns fundos internacionais de investimento Edição nº 20 - Dezembro/2012 O Bônus de Assinatura • Cadernos UniFOA ticipação, o Governo Federal poderia ainda estabelecer que a Participação Especial não fosse mais deduzida do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ), que é recolhido pela União e apenas parte dele vai para o Fundo de Participação de Estado e Municípios que é distribuído entre todos os estado e municípios da federação como vimos no tópico anterior (Dourado, 2010). 20 tenham interesse em participar das licitações de blocos no Pré-Sal (Dourado, 2010). Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA A criação do Fundo Social Proposto inicialmente pela PL 5.940/08, a proposta de criação do Fundo Social foi fundida com a PL 5.938/08 e deu origem a Lei nº 12.351/10, a lei que cria o Regime de Partilha de Produção. O Fundo Social tem como objetivo constituir fonte regular de recursos para a realização de projetos e programas nas áreas de combate à pobreza e de desenvolvimento da educação, da cultura, da ciência e tecnologia e da sustentabilidade ambiental. Esse Fundo Social é conhecido em outros países como Fundo Soberano. Este fundo receberá recursos diretos da União, dos Royalties, do Bônus de Assinatura e parte dos lucros da nova estatal criada para gerenciar os recursos oriundos da venda da cota-parte devida pela Operadora à União em função dos Contratos de Partilha. A gerência dos recursos será realizada por um Comitê de Gestão Financeira cujo objetivo é buscar a rentabilidade, a segurança e a liquidez de suas aplicações, e assegurar sua sustentabilidade financeira para o cumprimento das finalidades do fundo e um Conselho Deliberativo do Fundo Social cuja atribuição é deliberar sobre a prioridade e a destinação dos recursos resgatados. Em geral os Fundos Soberanos são compostos por títulos de países com economias sólidas (exceto a do país proprietário do fundo) e de empresas altamente qualificadas economicamente (considerando rentabilidade e segurança) excetuando empresas que tenham atividades econômicas no setor de petróleo. O objetivo destas restrições é blindar o Fundo Soberano de impactos negativos gerados pela economia local do país e das variações do mercado internacional de petróleo. Na distribuição dos Royalties, além das compensações à União e aos estados e municípios produtores, a Lei do Petróleo anterior prevê (ainda em vigor nos contratos de concessão) um percentual da arrecadação para o Fundo Especial de Estados e Municípios que contempla todos os estados e municípios da federação. Os recursos desse fundo são distribuídos da mesma forma que o Fundo de Participação de Estados e Municípios, ou seja, proporcionalmente à população e inversamente proporcional ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), sendo 20% do total arrecadado distribuído para todos os estados e o Distrito Federal e 80% para todos os municípios da federação. Então qual a necessidade da criação do um novo Fundo Social? Para aumentar o acesso dos benefícios gerados pela exploração deste bem mineral a toda a população brasileira, sem a criação de nada novo, bastaria aumentar a alíquota destinada ao Fundo Especial de Estados e Municípios. Outro ponto temerário é que no processo de capitalização da PETROBRAS grande parte das ações disponibilizadas na oferta de ações da empresa foi adquirida pelo Fundo Soberano contrariando as prerrogativas apresentadas no parágrafo anterior. Esse fato expõe o Fundo Soberano às variações que as ações da PETROBRAS sofrerem no mercado (Dourado, 2010). A capitalização da Petrobras A capitalização tem como objetivo dar acesso à empresa aos recursos financeiros necessários para a exploração e a produção dos hidrocarbonetos da camada Pré-Sal previstos no Plano de Negócios 2010-2014 da PETROBRAS (Petrobras, 2010a). A União, como principal acionária da empresa, fez a cessão onerosa de cinco bilhões de barris, através da Lei nº 12.276/10, em uma área de 3.865 km² na bacia de Santos, dentro do “Cluster do Pré-Sal”. Essas reservas foram “transformadas” em recursos contábeis e serviram como aporte da União no processo de capitalização. Posteriormente esses recursos contábeis serão ajustados de acordo com os resultados da venda da produção desses 5 bboe. O restante dos recursos veio da aquisição de novas ações que os atuais acionistas tiveram direito de adquirir devido ao aumento de capital realizado pela União. Parte das ações que foram ofertadas a estes acionistas e que não forem adquiridas, a própria União adquiriu, prioritariamente, e o restante foi ofertado ao público em geral no mercado de capitais. Segundo comunicação da empresa, dados preliminares apontam que esse processo captou entre 75 e 100 bilhões de Reais (Petrobras, 2010b). A inclusão de um novo tipo de contrato, o de Partilha de Produção, parece não ser uma obrigatoriedade para que a União alcance o objetivo de garantir uma maior participação do Estado e da sociedade nos recursos advindos da produção do petróleo oriundo da camada Pré-Sal. 21 Edição nº 20 - Dezembro/2012 3. Conclusões Ficou claro que a inclusão de uma nova alíquota de Royalties, aos mesmos moldes da Lei 9.748/97 regulamentada pelo Decreto 2.705/98, para os novos contratos e a alteração dos parâmetros (profundidade, produtividade, etc...) para o cálculo do pagamento de Participação Especial, assim como de suas alíquotas, são formas de aumentar a participação do Estado e da sociedade nos recursos advindos da produção do petróleo oriundo da camada Pré-Sal sem a inclusão de um novo regime de contrato. A justificativa de que a União precisa ter um controle maior sobre a produção e exportação de petróleo e gás natural para a inclusão de um novo tipo de contrato no Marco Regulatório do Petróleo no Brasil, chega a ser um insulto a Agencia Nacional do Petróleo e ao Conselho Nacional de Política Energética que têm a atribuição legar e o dever de exercer esses controles. A própria criação do Fundo Social se fazia desnecessária visto que o Fundo Especial de Participação dos Municípios e o Fundo Especial de Participação dos Estados, que já existem, poderiam ser regulamentados para o mesmo fim, sem a necessidade da criação de um novo fundo. Além desses itens, outros pontos como a capitalização da Petrobras, sua escolha como operadora única, a criação de uma nova estatal, a Pré-Sal S/A, o bônus de Assinatura em contratos de Partilha de Produção, a extinção Participação Especial (PE) e a delimitação geográfica e não geológico dos limites do PréSal foram pontos que, ou não foram esclarecidos, ou suas justificativas não foram a contento. Esse processo de alteração do tipo de contrato para os campos da região delimitada como Pré-Sal além de atrasar em pelo menos quatro anos a exploração dos prospectos, abalou a credibilidade do setor no mercado internacional devido à mudança radical no tipo de contrato. Por fim, observou-se então que as mudanças impostas foram muito mais ligados às diretrizes políticas-filosóficas de uma política de Governo do que uma política de Estado cuja intenção seria aumentar a apropriação pelo Estado dos recursos provenientes da produção de petróleo e gás natural no Brasil. Cadernos UniFOA A Tabela 3 lista os cinco blocos que fornecerão os cinco bilhões de barris do contrato de cessão onerosa. Note na Tabela 3, uma área chamada Peroba que foi contingenciada, ou seja, bloqueada para novas licitações. Esta área só será utilizada caso não seja possível extrair os 5 bboe das seis outras áreas cedidas. Será de Peroba retirada a diferença restante para alcançar os 5 bboe do contrato de cessão onerosa . Dois pontos chamam atenção no processo: a. O volume potencial total de recursos da área contingenciada é quase o dobro do volume inicialmente concedido. b. Segundo a lei aprovada, os 4,87 bboe excedentes na área estão bloqueados, ou seja, impedidos de serem leiloados e poderão ser posteriormente incluídos oficialmente na cessão onerosa, caso seja interesse da União. O Plano de Negócios 2010-2014 prevê um montante US$ 33 bilhões. Esses recursos não serão suficientes para todo o desenvolvimento dos prospectos conhecidos na camada “Pré-Sal”, mas serão suficientes para o inicio dos investimentos e provavelmente os lucros gerados pela exploração do “Pré-Sal” será reinvestido na continuidade da exploração e desenvolvimento destes prospectos. Outro ponto que deve ser observado é que a PETROBRAS é a uma empresa pública de capital misto. Em Julho de 2010, 33% de todas as ações da empresa pertenciam à União, entre as ações ordinárias a participação era de 51% (IBOVESPA, 2010a) e após o processo de capitalização, os percentuais subiram para 43% e 58% respectivamente (IBOVESPA, 2010b). Desta forma qualquer benefício financeiro dado à Petrobras, assim como o pagamento de dividendos por ação, a União será diretamente beneficiada, mas também os demais acionistas, sejam eles investidores nacionais ou estrangeiros (Dourado, 2010). 22 4. Bibliografia 1. BARBOSA, D. H. (coordenador). Guia dos Royalties do Petróleo e do Gás Natural. 1. ed., Rio de Janeiro: ANP, 2001. 2. BARBOSA, A. R. Breve Panorama dos Contratos no Setor de Petróleo. In.: Temas de Direito do Petróleo e do Gás Natural. Rio de Janeiro, RJ. Lumen Juris, p. 33-56, 2002. 3. Banco de Dados de Exploração e Produção, BDEP (Brasil), Disponível em <http://maps.bdep.gov.br/website/mapas/ viewer.htm>, Acesso em: 22 de Outubro de 2010. 4. DOURADO, Francisco, A Influência da descoberta do pré-sal na economia fluminense. 2010. Tese (Doutorado em Geologia)____Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Geologia, Rio de Janeiro, 2010. Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA 5. GAFFIGAN, M. E., Oil and Gas Royalties: A Comparison of the Share of Revenue Received from Oil and Gas Production by the Federal Government and Other Resource Owners, Ref. GAO07-676R, United States Government Accountability Office, Washington, 1o de Maio de 2007. 6. GUTMAN, J. Tributações e outras obrigações na indústria do petróleo. Freitas Bastos Editora, Rio de Janeiro, 2007. 9. ______, Empresas listadas: Petrobras, Disponível em <http://www.bmfbovespa. com.br/>, Acesso em: 22 de Outubro de 2010b. 10. JOHNSTON, D.. Petroleum Tax Design. Workshop on Petroleum Revenue Management, Washington, DC, 23 e 24 de Outubro de 2002. 11. LIMA, H., Desafios imediatos para a exploração de petróleo no Brasil, Apresentação no IV Seminário de Petróleo e Gás no Brasil, IBP/FGV, Rio de Janeiro, 14 de Abril de 2008. 12. PETROBRAS (Brasil), Plano de Negócios 2010-2014, Disponível em: <http://www. petrobras.com.br/ri/>, Apresentação de Sergio Gabrielli, Rio de Janeiro, 2010a. 13. ______, Contrato de Cessão Onerosa, Disponível em: <http://www.petrobras. com.br/ri/>, Apresentação de Sergio Gabrielli Rio de Janeiro, 2010b. 14. TAVERNE, B., An Introduction to the Regulation of the Petroleum Industry: Laws, Contracts and Conventions, Dordrecht /Boston / London, Kluwer Academic Publishers. 1994. 15. VAN MEURS, P. Government Take and Petroleum Fiscal Regimes, Disponível em:<http://www.krg.org/ uploads/documents/Government_ Take_and_Petroleum_Fiscal_ Regimes__2008_06_30_h14m7s53. doc>, Acessado em: Outubro de 2010. 7. HOLTMAN, R. B. The Napoleonic Revolution, Baton Rouge: Louisiana State University Press, 1981. 8. IBOVESPA (Brasil), Empresas listadas: Petrobras, Disponível em: <http://www. bmfbovespa.com.br/>, Acesso em: 12 de Julho de 2010a. Endereço para Correspondência: Francisco Dourado [email protected] Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rua São Francisco Xavier, 524 sala 2019/A Rio de Janeiro - RJ CEP: 20550-900 5. Tabelas, figuras e gráfico. 23 Tabela 1 – Tipos de acordos comerciais na indústria do petróleo no mundo (Compilado de Van Meurs, 2008 e Johnston, 2002) Direitos Sistemas Modelos Como funcionam os exclusivos de Proprietário exploração e da Produção modelos Países produção Empresas privadas Brasil, USA, adquirem através UK, Noruega, de leilões as (Concessions ou CA) produto extraído é Empresa Empresa de propriedade das Venezuela e são obrigadas a pagar Arábia Saudita. impostos e royalties. A empresa estatal se Indonésia, associa a companhias Malásia, China, privadas para cuidar da prospecção. É (Production-sharing o investidor que contracts ou PSC) assume o risco. Em Nova Zelândia, Rússia, Argentina, empresas, mas elas Partilha de produção Holanda, Austrália, Paquistão, Yemen, Governo Governo e Oman, Síria, Empresa Rússia, Egito, Ligia, Algeria, caso de sucesso, ele Nigéria, Angola e recebe uma parte da Trinidad&Tobago. produção. A empresa privada Contrato Simples Contrato ou SC) Com ou sem Contrato de risco para o Risco (Risk- concessionário. Este service não possui qualquer agreements) título sobre o petróleo extraído. Governo Governo Venezuela, México e Irã Edição nº 20 - Dezembro/2012 Serviço Contracts indeniza ou paga por barril produzido. de (Service produz e o Estado Cadernos UniFOA Concessão Dinamarca, concessões. Todo o Concessões Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA 24 Tabela 2 – Government take e os tipos de contrato no mundo (adaptado de Gaffigan, 2007) Government Take (%) País Tipo de Contrato Angola PCS Argentina CA Austrália CA Azerbaijão PCS 61.54 Brasil CA 60.19 Canadá CA 57.40 35.17 Cazaquistão PCS 35.10 51.88 83-88 China PCS 74.10 42.81 72-77 Dinamarca CA Egito PCS Estados Unidos 1997 2002 2006 59.93 81-88 40.50 46.93 47-49 61.20 45.51 53-56 47.20 73.04 79-82 CA 64.24 48-51 Holanda CA 41.92 Iêmen PCS Índia PCS Indonésia PCS Irã SC 93.26 Líbia PCS 78.73 Malásia PCS México SC Nigéria PCS 85.00 87.44 Noruega CA 84.20 74.74 Nova Zelândia CA 37.51 Omã PCS 83.19 Paquistão PCS 58.90 45.46 Reino Unido CA 33.40 43.54 Russia CA/PSC 81.40 Síria PCS 84.50 Trinidad e Tobago PCS 68.20 69.00 62-66 Venezuela CA/SC 95.10 49.56 88-93 CA-Concessão SC-Contrato de serviço PSC-Contrato de partilha Tipo Misto 63.60 74.60 85.00 67.40 75.36 72-79 66.82 61-69 71.01 69-71 81.24 69-74 30-32 83-87 Tabela 3 – Campos cedidos pela União à Petrobras para sua capitalização (adaptado de PETROBRAS, 2010b) 25 Bloco Volume Cedido (mboe) Volume potencial da área (mboe) Valor do barril (US$) Franco Entorno de Iara Florim NE Tupi Sul Guará 3.058 611 292 291 144 6.056 1.088 292 291 144 9,04 5,82 9,01 8,54 7,94 Sul Tupi 203 203 7,85 Sub-Total/Preço médio 5.000 8.074 8,51 Peroba* 1.069 1.796 Total/Preço médio 6.069 9.870 8,51 * Bloco Contingente Figura 3 – Beneficiários da Participação Especial (adaptado de Barbosa, 2001) Edição nº 20 - Dezembro/2012 Figura 2 – Fluxograma de pagamento dos Royalties (adaptado de Barbosa, 2001) Cadernos UniFOA Figura 1 – Distribuição dos Royalties relativos à produção na plataforma continental (adaptado de Barbosa, 2001) 26 Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA Figura 4 – Limites da área do Pré-Sal (fonte da base cartográfica: BDEP, 2010) Gráfico 1 – Arrecadação desde 2000 em Bônus de Assinatura (Dourado, 2010) Efeito do duplo envelhecimento nas propriedades da liga ti-12mo-13nb 27 Effect Of Double Aging In The Properties Of Ti-12Mo-13Nb Alloy Ligas de Titânio Propriedades Duplo envelhecimento 1 Resumo Ligas de Ti do tipo β tem sido muito estudadas para aplicação em dispositivos biomédicos por apresentarem um balanço de vantagens em relação às outras ligas de Ti, tais como alta relação resistência / densidade, excelente resistência à fadiga e, além disso, tendem a apresentar o menor módulo dentre todos os tipos de ligas. Contudo, para um material ser utilizado como implante ortopédico é necessário um balanço entre alta resistência e baixo módulo de elasticidade. Estudos mostram que não é trivial obter simultaneamente baixo módulo de elasticidade e alta resistência nas ligas de Ti. Várias microestruturas podem ser obtidas por diferentes tratamentos de envelhecimento os quais influenciam várias propriedades das ligas e, portanto um satisfatório tratamento de envelhecimento poderá resultar num melhor balanço entre baixo módulo de elasticidade e alta resistência. Há vários tratamentos de envelhecimento que podem ser realizados em uma liga β metaestável. Um destes é o duplo envelhecimento, que consiste em dois processos. Realiza-se um envelhecimento em uma temperatura em torno de 250 ºC que favoreça a precipitação da fase ω (isotérmica) e um subsequente envelhecimento numa temperatura maior para a precipitação de fase α. O foco deste envelhecimento é obter uma precipitação de fase α mais fina e uniforme. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi estudar o efeito do duplo envelhecimento nas propriedades da liga Ti-12Mo-13Nb. A liga Ti-12Mo-13Nb foi processada termomecanicamente e passou por um duplo envelhecimento que consistiu primeiramente num envelhecimento na temperatura de 300 ᵒC por 10 min, 45 min e 3 h e um subsequente envelhecimento na temperatura de 500 ºC por 24 h. Como resultado foi observado que não houve variação significativa na dureza e no módulo de elasticidade com a variação da fração volumétrica da fase ω durante o envelhecimento prévio da temperatura externa. Acadêmico do curso de Engenharia Civil do Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA Doutor em Engenharia Metalúrgica e de Materiais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – COPPE/UFRJ - Rio de Janeiro 2 3 Doutor em Engenharia Mecânica pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP-Campinas 4 Doutor em Engenharia de Materiais pela Université Libre de Bruxelles – ULB – Bruxelas, Bélgica Doutora em Engenharia Metalúrgica e de Materiais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – COPPE/UFRJ - Rio de Janeiro 5 Original Paper Recebido em 09/2012 Aprovado em 12/2012 Edição nº 20 - Dezembro/2012 Palavras-chave Artigo Original Cadernos UniFOA Thallys Fillip Barbosa Vieira 1 Juliana Torres 1 Mauricio Bessa de Oliveira 1 Emanuel Santos Jr. 2 Luiz Henrique de Almeida 2 Carlos Angelo Nunes 3 Jean Dille 4 Sinara Borborema Gabriel 3 28 Abstract Ti alloys have been widely studied for use in biomedical devices because they have a advantages over other Ti alloys, such as high ratio strength / density, excellent fatigue resistance and, moreover, tend to have the lowest modulus among all types of alloys. However, materials to be used as orthopedic implants require a balance of high strength and low modulus. Studies have shown that it is not trivial to achieve both low modulus and high strength in Ti alloys. Several microstructures may be obtained by various aging treatments which influence various properties of the alloys, and therefore a satisfactory treatment of aging may result in a better balance between low modulus and high strength. There are several aging treatments that may be performed in a metastable β alloy. One of them is the double aging, which consists of two processes. Aging is carried out at a temperature around 250 ° C, which favors the precipitation of ω phase (isothermal) and a subsequent aging at a higher temperature for the precipitation of α phase. The focus of this aging process is to obtain a precipitation of α phase more thin and uniform. Of this form, the objective of this study was to study the effect of double aging on the properties of the Ti-13Nb-12Mo alloy. The Ti-13Nb-12Mo was thermomechanically processed and passed through a double aging consisting first aging at a temperature of 300 ° C for 10 min, 45 min and 3 hours and a subsequent aging at a temperature of 500 ° C for 24 h. As a result it was observed no significant variation in hardness and modulus with the variation of volume fraction of ω phase during aging prior. Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA 1. INTRODUÇÃO O aumento da expectativa de vida da população em geral tem acarretado um maior número de pessoas idosas, principalmente nos países desenvolvidos (Gunawarman et al., 2005) e isso têm conduzido a um contínuo aumento na demanda de materiais para implantes biomédicos (Oliveira, 2008). Estima-se que, próximo a 2030 serão realizadas por ano aproximadamente 272 mil substituições totais de quadril somente nos Estados Unidos (Rack, 2006). Doenças ósseas degenerativas, tais como osteoporose, artrites reumáticas e hipercalcemia são um problema crescente, que podem levar a necessidade de cirurgia utilizando materiais para substitutos ósseos. Um substituto ósseo necessita exibir várias características a fim de ser satisfatório (Boehlert et al., 2005). Algumas destas características incluem biocompatibilidade, excelente resistência à corrosão em meio corpóreo e apropriadas propriedades mecânicas em serviço, como alta resistência mecânica e boa resistência à fadiga para garantir uma operação segura do implante durante o período de tempo estimado, baixo módulo de elasticidade, baixa densidade e boa resistência ao desgaste (Nag et al., 2007). Os materiais metálicos convencionais mais utilizados como implantes ortopédicos são: o aço inoxidável, as ligas Co-Cr e Ti co- Keywords Ti alloys Properties Double Aging mercialmente puro (cp) e suas ligas, sendo que nesta classe a mais utilizada é a Ti-6Al-4V. Dentre os materiais metálicos, Ti e suas ligas são os que apresentam menor módulo de elasticidade, sendo este, um fator chave para o material ser usado como substituto ósseo (Zhou, 2008), pois possibilita uma melhor distribuição de tensão entre o implante e o osso. Dessa forma, Ti e suas ligas são utilizados em aplicações ortopédicas como placas, pinos, parafusos e endoprosteses. O Ti cp tem sido, gradualmente substituído por ligas, por estas apresentarem maior resistência mecânica, sendo que a liga mais freqüentemente utilizada é a Ti-6Al-4V (Ando et al, 2008). Contudo, estudos desta particular liga têm mostrado que a liberação de pequenas quantidades dos elementos V e Al no corpo humano podem induzir efeitos citotóxicos e desordens neurológicas, respectivamente (Cremasco et al, 2008; Raabe et al, 2007; Vadiraj, 2007). Embora a liga Ti-6Al-4V apresente um menor módulo de elasticidade quando comparada com o aço inoxidável e as ligas de Co-Cr, esse valor (110 - 120 GPa) é alto comparado ao do tecido ósseo (~10 - 40 GPa). A diferença entre o módulo do metal e do tecido ósseo pode resultar em reabsorção óssea e eventual falha do implante (Hon et al., 2003). Estudos recentes têm visado o desenvolvimento de novas ligas de Ti, do tipo b, 2. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAl A liga Ti-12Mo-13Nb foi forjada a frio até 80 % de redução em área, respectivamente. Em seguida passou por um duplo envelhecimento que consistiu em dois processos. Realizou-se um envelhecimento na temperatura de 300 °C por 10 min, 45 min e 3h (Mansur et al., 2012) para a precipitação da fase ω (isotérmica) e um subseqüente envelhecimento na temperatura de 500 °C por 24h para a precipitação de fase α. As análises de fases da liga nas diferentes condições na forma polida foram realizadas por difração de raios-X (DRX) usando uma Shimadzu modelo DRX 6000 nas seguintes condições: radiação CuKa (l = 1,5418 Å) com 29 Edição nº 20 - Dezembro/2012 entre 350 e 500 °C mostraram que a precipitação de fase α na matriz b durante o tratamento de envelhecimento ocorreu na forma de agulhas e quanto menor a temperatura de envelhecimento menores os precipitados. A liga exibiu um significativo endurecimento durante o envelhecimento a curto tempo em baixa temperatura. Devido à supressão da fase ω, foi possível obter um balanço de propriedades como alta resistência e baixo módulo através do tratamento de envelhecimento. É mostrado na literatura que a precipitação de w atua como precursor para a fina precipitação de a. Há vários tratamentos de envelhecimento que podem ser realizados em uma liga β metaestável. Tem-se o chamado duplo envelhecimento que consiste em dois processos. Realiza-se um envelhecimento em uma temperatura em torno de 250 ºC que favoreça a precipitação da fase ω (isotérmica) e um subseqüente envelhecimento numa temperatura maior para a precipitação de fase α. Normalmente este tipo de envelhecimento é feito em sistemas onde a fase ω precipita na forma de partículas elipsoidais. O foco deste envelhecimento é obter uma precipitação mais fina e uniforme da fase α. Deste modo, o objetivo deste trabalho foi estudar o efeito da fase ω na precipitação da fase α durante o envelhecimento nas propriedades da liga Ti12Mo-13Nb. Cadernos UniFOA compostas de elementos não tóxicos, como Nb, Ta, Mo, Zr e Sn. As vantagens destas ligas incluem seu baixo módulo de elasticidade, boa compatibilidade mecânica (Matsumoto et al., 2008) e além disso, as variáveis de processamento podem ser controladas para obter propriedades desejadas (Oliveira et al., 2007). Nessa classe, as ligas na condição b metaestável têm ganhado aceitação para aplicação em dispositivos biomédicos por apresentarem um balanço de vantagens em relação às outras ligas de Ti, tais como alta relação resistência / densidade, excelente resistência à fadiga e resistência à propagação de trinca e, além disso, tendem a apresentar o menor módulo dentre todos os tipos de ligas. Contudo, para um material ser utilizado como implante ortopédico é necessário um balanço entre alta resistência e baixo módulo de elasticidade (Zhou, 2008). Estudos mostram que não é trivial obter simultaneamente baixo módulo de elasticidade e alta resistência nas ligas de Ti. A superioridade das ligas de Ti-b (metaestável) é mais pronunciada na condição tratada e envelhecida, na qual o tamanho de grão b, fração volumétrica, morfologia, tamanho e espaçamento dos precipitados (Matsumoto et al., 2007) controlam os níveis de resistência. Já o módulo de elasticidade é uma medida de rigidez do material determinado pelas forças de ligação entre os átomos. Já que essas forças não podem variar sem que ocorram mudanças básicas na natureza do material, o módulo de elasticidade pode ser afetado pela adição de elementos de liga, tratamentos térmicos e mecânicos (Zhou, 2008). Em um material, diferentes fases têm diferentes valores de módulo de elasticidade e, portanto o módulo de elasticidade de uma liga multifásica é principalmente determinado pelo módulo de elasticidade de cada fase (varia com a composição química) e suas frações volumétricas. ( Majumdar et al., 2008, Zhou, 2008). Várias microestruturas podem ser obtidas por diferentes tratamentos de envelhecimento os quais influenciam várias propriedades das ligas e, portanto um satisfatório tratamento de envelhecimento poderá resultar num melhor balanço entre baixo módulo de elasticidade e alta resistência (Zhou et al., 2004). Estudos propostos por Li et al. (2008) para a liga Ti-24Nb-4Zr-7,6Sn envelhecida 30 monocromador de grafite, tensão de 40 kV, corrente de 30 mA, varredura (2q) de 30 a 90 graus, passo angular de 0,05 º e tempo de contagem de 5 s por ponto. As fases foram identificadas através da comparação com difratograma simulado. As simulações foram realizadas através do programa Powdercell (Kraus & Nolze, 1996) inserindo dados das fases β e α (Villars & Calvert, 1991), como grupo espacial, parâmetros de rede e posições atômicas. A microdureza da liga nas diferentes condições (polidas) foi medida utilizando um equipamento Micromet 2004, Buehler, com uma carga de 200 gf durante 30 s. Os valores de microdureza representam a média de 5 medidas. O valor do módulo de elasticidade da liga foi obtido usando a técnica de indentação instrumentada usando um nanoindentador MTS. Cada valor do módulo representa a média de 27 medidas. 3. Resultados e Discussão 3.1. Dureza e módulo de elasticidade Os valores médios (com os desvios-padrão) de microdureza Vickers e do módulo de elasticidade para a liga Ti-12Mo-13Nb na condição forjada, pré-envelhecida após forjamento na temperatura de 300°C por 10 min, 45 min e 3 h seguido de resfriamento em água e envelhecimento a 500 °C por 24h são mostrados na Tabela 1. Observou-se que não houve uma variação significativa na dureza e no módulo da liga independente do prévio envelhecimento. Tabela 1- Dureza da liga Ti-12-Mo-13Nb em em diferentes condições de envelhecimento. Condição (envelhecimento) Dureza (HV) Módulo (GPa) 300°C/10 min- 500°C/24h 348,8 ± 14,3 119,43 ± 1,75 300°C/45min- 500°C/24h 347,8 ± 30,2 120,76 ± 2,06 300°C/3h- 500°C/24h e 356,4 ± 31,2 118,67 ±1,86 3.2. Difração de raios X Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA A Figura 1 mostra o padrão de DRX da liga Ti-12Mo-13Nb após duplo envelhecimento a 300°C/45min - 500°C/24h. Verificou-se a presença de reflexões da fase α na matriz β. O mesmo foi observado para as outras condições de envelhecimento. Além disso, não foi observado variação da fração volumétrica da fase α nas diferentes condições. Figura 1 – Difratograma da liga Ti-12Mo-13Nb após duplo envelhecimento a 300°C/45min - 500°C/24h De acordo com os resultados obtidos foi observado que não houve variação significativa da dureza e do módulo de elasticidade após o duplo envelhecimento (precipitação da fase α) com a variação da fração volumétrica da fase ω durante o envelhecimento prévio. 5. AGRADECIMENTOS Acta, v. 53, p. 4867-4874, 2008. 4. GUNAWARMAN, B., NIINOMI, M., AKAHORI, T., et al., Materials Science and Engineering C, Mechanical properties of Ti-4,5Al-3V-2Mo2Fe and possibility for healthcare applications v.25, p. 296-303, 2005. 5. HON, Y. H., WANG, J. Y., PAN, Y. N., Composition/Phase Structure and Properties of Titanium-Niobium alloys”,Materials Transactions ,v. 44, n. 11, p. 2384-2390, 2003. 6. Kraus W. and Nolze , G. J. Appl. Cryst., v..29, p 301-303, 1996. 7. LI, S. J. CUI, T. C., HAO, Y. L., et al., Fatigue properties of a metastable β-type titanium alloy with reversible phase transformation, Acta Biomaterialia, v. 4 ,p. 305-317, 2008. Os autores agradecem ao Departamento de Engenharia de Materiais da Escola de Engenharia de Lorena (EEL/USP), a Universidade Federal do Rio de Janeiro e ao Núcleo de Pesquisa do UniFOA pelo desenvolvimento deste trabalho. 8. MAJUMDAR, P., SINGH, S. B., CHAKRABORTY, M., Elastic modulus 6. REFERÊNCIAS 9. Mansur, L. S., Torres, J., DE ALMEIDA, L. H., Nunes, Carlos Angelo, Santos I. D., GABRIEL, S. B. INFLUÊNCIA DA PRECIPITAÇÃO DA FASE ω NA DUREZA DAS LIGAS Ti-10Mo-20Nb E Ti-12Mo-13Nb, Cadernos UniFOA, (Impresso), In Press. 1. ANDO, T., NAKASHIMA, K., TSUCHIYAMA, T., et al., Materials Science and Engineering A, Microstructure and mechanical properties of a high nitrogen titanium alloy, v. 486 p. 228-234, 2008. 2. BOEHLERT, C.J., COWEN, C.J., JAEGER, C.R., et al., Tensile and fatigue evaluation of Ti-15Al-33Nb (at. %) and Ti-21Al-29Nb (at.%) alloys for biomedical applications, Materials Science and Engineering C, v. 25, p. 263-275, 2005. 3. CREMASCO, A., OSÓRIO, W. H., FREIRE, C. M. A., et al., Electrochemical 31 of biomedical titanium alloys by nanoindentation and ultrasonic techniques – A comparative study , Materials Science and Engineering A, v. 489, p. 419-425, 2008. 10. MATSUMOTO, H., WATANABE, S., HANADA, S., Microstructures and mechanical properties of metastable β TiNbSn alloys cold rolled and heat treated, Journal of Alloys Compounds, v.439, p. 146-155, 2007. 11. MATSUMOTO, H., CHIBA, A., HANADA, S., Anisotropy of Young’s modulus and tensile properties in cold rolled α’ martensite Ti-V-Sn alloys, Edição nº 20 - Dezembro/2012 4. CONCLUSÃO corrosion behavior of a Ti-35Nb alloy for medical prostheses, Electrochimica Cadernos UniFOA De acordo com os resultados obtidos e com os estudos realizados por Mansur et al. (2012) que mostraram que o aumento do tempo de envelhecimento a 300°C acarretou no aumento da fração volumétrica da fase ω pode-se concluir que a variação da fração volumétrica da fase ω (envelhecimento prévio) não acarretou numa variação microestrutural (após o duplo envelhecimento) visto que não houve uma variação expressiva nos valores de dureza e do módulo de elasticidade. 32 Materials Science and Engineering A, v. 486, p. 503-510, 2008. Journal of Alloys and Compounds, v. 466 , p. 535-542, 2008. 12. NAG, S., BANERJEE, R., FRASER, H.L., A novel combinatorial approach 20. ZHOU, Y. L., NIINOMI, M., AKAHORI, T., Decomposition of martensite for understanding microstructural evolution and its relationship to mechanical properties in metallic biomaterials, Acta Biomaterialia, v. 3, p. 369-376, 2007. 13. OLIVEIRA, N. T. C., ALEIXO, G., CARAM, R., et al., Development of Ti- Mo alloys for biomedical applications: Microstructure and electrochemical characterization, Materials Science and Engineering A, v. 452-453, p. 727731, 2007. 14. OLIVEIRA, N. T. C., GUASTALDI, A. C., Electrochemical behavior of TiMo alloys as biomaterial, Corrosion Science, v.50, p. 938-945, 2008 15. RAABE, D., SANDER, B., FRIÁK, M., et al., Theory-guided botton-up design of β-titanium alloys as biomaterials based on first principles calculations: Theory and experiments Acta Materialia, v. 55, p. 4475-4487, 2007. 16. RACK, H. J., QAZI, J. I., 2 006, Titanium alloys for biomedical applications, Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA Materials Science and Engineering C, v. 26, p. 1269-1277, 2006. 17. VADIRAJ, A., KAMARAJ, M., Effect of surface treatments on fretting fatigue damage of biomedical titanium alloys, Tribology International, v. 40, p. 82-88, 2007. 18. Villars, P.; Calvert, L.D. Pearson’s Handbook of Crystallographic Data for Intermetallic phases, 2º ed., ASM International, Materials Park, four vol, 1991. 19. ZHOU, Y. L., NIINOMI, M., Microstructures and mechanical properties of Ti-50mass%Ta alloy for biomedical applications, a’’ during aging treatments and resulting mechanical properties of Ti-Ta alloys, Materials Science and Engineering A, v. 384 p. 92-101, 2004. Isolamento térmico de duto circular em escoamento laminar completamente desenvolvido de fluidos imiscíveis (Água-Óleo) 33 Circular duct thermal insulation in laminar flow completely developed in immiscible fluids (Water-Oil) Artur Kimura1 Élcio Nogueira2 Palavras-chave Isolamento Térmico FluidosImiscíveis (água – óleo) Transferência de Calor Escoamento Laminar completamente desenvolvido Artigo Original Resumo O objetivo principal deste trabalho foi o de efetuar uma análise relacionada com a espessura de isolamento térmico em regime laminar de fluidos imiscíveis (água-óleo) em dutos circulares. O sistema água-óleo é utilizado, na prática, para diminuição da potência de bombeamento (perda de carga), através da introdução de um filme de água entre o óleo e a parede do duto. Demonstrou-se que existe, claramente, uma relação de compromisso entre o problema de redução da potência de bombeamento e o problema de máxima troca de energia na forma de calor. Nesse sentido, efetuou-se uma análise da espessura do isolante térmico necessário para manutenção da temperatura ótima de potência de bombeamento, em relação à variação da temperatura externa. Original Paper Recebido em 07/2012 Aprovado em 12/2012 Perda de Carga Keywords Thermal Insulation Immiscible fluids (water - oil) Heat Transfer laminar flow completely developed Edição nº 20 - Dezembro/2012 load waste Cadernos UniFOA Abstract The purpose of this paper is to analyze the thickness of insulation in the laminar regime of immiscible fluids (water-oil) in circular ducts. The oil-water is used in practice to reduce the pumping power by introducing a water film between the oil and the duct wall. It is shown that there is clearly a compromise between the problem of reducing the pumping power and the problem of maximum exchange of energy as heat. We propose, indeed, to analyze the thickness of thermal insulation required to maintain the optimum temperature pumping power in relation to the variation of external temperature. 1 Bacharel em Engenharia Mecânica - UniFOA 2 Professor Doutor do Curso de Engenharia Mecânica - UniFOA 1. Introdução Resultados experimentais disponíveis na literatura para sistemas gás-líquido e líquido-líquido foram apresentados por Brauner (2001), Angeli & Hewitt (2000), Prada & Bannwart (1999), onde se demonstra que a forma mais interessante para transporte de óleo muito viscoso, em escoamento horizontal, consiste de injeção de água na forma de camada anular lubrificante. Resultados teóricos para escoamento e transferência de calor, neste tipo de sistema, foram apresentados por Nogueira e Cotta (1990), Bentwich & Sideman(1964), Hasson & Fink (1974) e Kimura & Nogueira (2011). Esses trabalhos demonstram que a queda na pressão e a redução na potência de bombeamento, sob condições laminares, são maiores do que em condições de escoamento turbulento-turbulento. Brauner (2001) concluiu, também, que para um núcleo altamente viscoso, o regime, no núcleo, é essencialmente laminar, evidenciando que o estudo de um escoamento bifásico líquido-líquido em regime laminar é muito importante, tanto em termo teórico quanto prático. Nogueira (2002) efetua um estudo de transferência de calor para sistemas líquido-líquido, demonstrando que há um significativo aumento da taxa de transferência de calor quando uma camada de fluido de maior condutividade é inserido no escoamento próximo à parede do duto. Considerando aspectos relacionados com potência de bombeamento e transferência de calor, há evidências na literatura especializada, Nogueira (1988), Kimura e Nogueira (2011), de que há uma espessura de filme adequada, que leva em consideração esses dois fatores com o objetivo de se obter o melhor desempenho em termos de dissipação de energia. Neste trabalho efetuam-se análises da espessura de filme e do isolante térmico necessá- rios para que se possa trabalhar em condições ideais de operação, na condução de petróleo circundado por um filme de água em dutos circulares. 2. Objetivos Este trabalho visa demonstrar que existe uma relação entre a espessura ótima de isolamento térmico e a potência de bombeamento mínima, em que ocorre o escoamento de fluidos newtonianos imiscíveis, em condições de regime laminar de escoamento anular completamente desenvolvido e termicamente desenvolvido. O objetivo principal é analisar a influência do isolamento térmico em duto circular, nas condições de escoamento enunciadas (líquido-líquido, anular, horizontal). As grandezas de interesse na análise são: espessura de filme, potência de bombeamento, transferência de calor e espessura de isolante térmico, através da variação dos coeficientes de transferência de calor interno e externo. A análise efetuada considera, como objetivo principal, a obtenção da espessura ideal do isolante, uma vez que esta espessura afeta significativamente a taxa de transferência de calor. 3. Desenvolvimento 3.1. Análise de escoamento O escoamento laminar desenvolvido de fluidos Newtonianos imiscíveis em um duto cirular Figura 1, sem estratificação e com propriedades constantes, é analiticamente descrito pela seguinte forma já simplificada da equação de quantidade de movimento na direção axial, Nogueira (1988) e Kimura e Nogueira (2011): Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA 34 Figura 1: Representação esquemática de escoamento anular de fluidos imiscíveis e parede do duto com isolante térmico 35 Definindo-se Quando se considera a vazão interna e total, e Q, iguais, tem-se as seguintes equações, de acordo com o desenvolvimento apresentado em Nogueira (1988): A partir dos resultados representados através da Figura 2, determinou-se a menor relação entre as potências de bombeamento, considerando-se a variação da relação entre as viscosidades. Neste trabalho, Figura 3, obteve-se o ponto de mínimo, demonstrando-se que a menor relação entre as potências ocorre à temperatura de 9.4 ºC Edição nº 20 - Dezembro/2012 Figura 2: Gráfico da relação entre as potências com relação à espessura de filme e variação da relação de viscosidades Cadernos UniFOA Equações das quais se obteve a solução para a representação gráfica na Figura 2, que representa a relação entre as potências de bombeamento e a espessura de filme de água. 36 Figura 3: Ponto de mínimo para menores relações entre as potências, em função da relação entre as viscosidades. Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA Com a escolha do material do duto e conhecendo-se suas dimensões físicas, realizou-se uma análise para garantir escoamento laminar a partir das seguintes equações e dados abaixo (Tabela 1): Tabela 1: Valores para o petróleo [Pitts e Sisson ( 1981 )] Temperatura [ºC] 9.4 Viscosidade dinâmica Viscosidade cinética (μ μ) [Kg/ms] (υ υ) [m²/s] 0.00606 0.00000712 A Figura 4, abaixo, demonstra a consistência do modelo de escoamento apresentado, para escoamento em regime laminar (Re ≤ 2300). Observa-se que a maior velocidade média é aproximadamente 1,4 m/s para água e 0,3 m/s Peso específico (ρ ρ) [Kg/m³] 851.12 Relação entre as viscosidades ( )( ) 0.168 para óleo, como esperado fisicamente. Esses valores diminuem quando baixamos o valor do número de Reynolds (Re). Resultados similares, de forma aproximada, foram encontrados por Bentwich e Sideman (1964). 37 Figura 4: Relação entre a velocidade média do fluido interno com o Delta ( δ ) para diversos valores de Reynolds na temperatura de mistura 9,4 °C. Os resultados da Figura 5 foram obtidos através de interpolação, a partir de tabelas numéricas apresentadas por Nogueira (1988). Foram escolhidos para o desenvolvimento do trabalho dutos circulares de aço da norma API 5L (API: American Petroleum Institute). São tubos para oleodutos e gasodutos (line pipes) que variam, a partir de 1/8’’ até 30” ou mais, com espessuras variadas. As resistências à tração variam desde o grau A, com limite de escoamento mínimo de 30.000 psi (21,1 Kg/mm²) até o grau X80 com 80.000 psi (56.2 Kg/mm²). Edição nº 20 - Dezembro/2012 Determinada a situação física onde ocorre a menor relação entre a potência de bombeamento [9.4 ºC , é de extremo interesse determinar a taxa de transferência de calor para essa situação específica, e a espessura de isolante térmico na parede, necessário para que essa situação se mantenha estável. Nesse caso, efetuou-se um estudo relacionado com o comportamento do número de Nusselt para escoamento completamente desenvolvido. Os resultados para número de Nusselt médio [encontram-se representados na Figura 5, abaixo. Cadernos UniFOA 3.2. Análise da transferência de calor em função da espessura do isolante térmico 38 Figura 5. Número de Nusselt em função da espessura de filme, representando a ocorrência do ponto de máximo A partir da Figura 5 obteve-se a seguinte expressão do número de Nusselt, em função de espessura de filme (δ), (Nu= -8638.89δ4 + 293730.7δ3 - 38294.9δ2 +21885δ – 4678.21), cujo ponto de máximo ocorre em 5.35 [Delta (δ )= 0.938, Nusselt= 5.35]. Tabela 2: Dimensões do duto utilizado e suas propriedades Diâmetro Espessura da parede Condutividade térmica (C3) mm polegada mm Polegada W/mK 101.60 4 5.74 0.226 45.8 Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA Optou-se a trabalhar com o isolante térmico do tipo lã de vidro, cujas propriedades encontram-se representados através da Tabela 3. Tabela 3: Propriedades do isolantes térmico – Lã de Vidro Tipo C4 [W/mK] Norma Fonte Lã de vidro 0.054 Petrobrás N - 1618 Pitts, Sisson, 1981 Para a determinação do valor do coeficiente de transferência de calor interno hf utilizou-se o valor da condutividade térmica da água [Pitts e Sisson (1981 )]. em que, o diâmetro hidráulico é definido por: Para o duto considerado e, neste caso, podemos determinar o coeficiente de transferência de calor por convecção (hf; Equação 10), em função do número de Nusselt. Para análise do fluxo de transferência de calor, através da parede do duto e do isolante térmico, utilizou-se a equação de condução de calor para regime permanente abaixo: 39 s=3, aço da tubulação (vide Figura 1) s=4, isolante térmico (vide Figura 1) Condições de contorno e de interface para o problema térmico: Neste caso, temos os seguintes perfis de temperatura para os meios sólidos: Para condições genéricas na região externa, demonstra-se que o fluxo de calor é obtido em função do coeficiente de transferência de calor externo () por: Edição nº 20 - Dezembro/2012 e Cadernos UniFOA Logo, temos: 40 Abaixo, na Figura 6 e Figura 7, apresentam-se as temperaturas internas e o fluxo de calor em função da espessura do isolante térmico, considerando-se temperatura prescrita externa igual a 25º C, com relação à variação da temperatura de mistura dos fluidos. Nesse caso, uma espessura de aproximadamente 10 mm de lã de vidro possibilita um isolamento térmico adequado, permitindo-se, dessa forma, uma temperatura de mistura conveniente para um bom desempenho em relação à potência de bombeamento. Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA Figura 6: Relação da temperatura na parede do tubo em relação à espessura do isolante térmico (r4) Figura 7: Fluxo de calor em relação à variação do número de Nusselt, função da espessura de filme, para temperatura externa prescrita igual a 25º C e temperatura de mistura igual a 9.4º C 41 4. Conclusão Comprovou-se, neste trabalho, que existe uma relação entre a espessura ótima de isolamento térmico e a potência de bombeamento mínima para o sistema sobre análise. Os argumentos abaixo permitem concluir que há uma espessura de isolante térmico adequada para o sistema na temperatura ideal de desempenho hidrodinâmico (9.4 ºC). Demonstrou-se no trabalho de Kimura e Nogueira (2011) que há uma variação significativa da relação de bombeamento entre escoamento unifásico de óleo e uma mistura anular de água-óleo, com um filme de água próximo à parede do duto e que esta redução na potência de bombeamento depende da temperatura de mistura dos fluidos. O principal resultado observado por Kimura e Nogueira (2011) é que existe uma relação de compromisso entre a potência de bombeamento e a taxa de transferência de calor no duto, uma vez que a taxa altera a temperatura de mistura dos fluidos. Neste trabalho demonstrou-se que a potência de bombeamento passa por um mínimo à temperatura aproximada de 9.4º C, para os fluidos analisados. Demonstrou-se, ainda, que há um máximo de transferência de calor para espessuras de filme relativamente pequenas, de acordo com Figura 5. Nas situações analisadas, uma espessura aproximada de 10 mm de lã de vidro possibilita manutenção da temperatura interna, de 9.4 ºC, para uma condição de temperatura externa igual a 25º C. O mesmo ocorre para espessuras de filme de água relativamente elevadas, de acordo com os resultados apresentados na Fig. (7). Além disso, de acordo com o estudo efetuado, resultados similares são obtidos para diferentes temperaturas externas (15º C, 30º C, 40º C). A espessura de filme ideal para melhor desempenho hidrodinâmico, na situação analisada, é da ordem de 0,26. Nessa situação, de acordo com resultados apresentados nas Figuras 6 e 7, a espessura adequada de lã de vidro, como isolante térmico, é de aproximadamente 10 mm, conforme discutido no parágrafo anterior. Como síntese geral de nossas conclusões, apresentamos os resultados mais relevantes dos estudos efetuados: Edição nº 20 - Dezembro/2012 A Figura 7 e Figura 8 representam o fluxo de calor para duas condições de contorno externas: temperatura prescrita e variação do coeficiente de transferência de calor externo. Há uma evidente consistência entre os dois resultados apresentados, para as espessuras do isolante térmico analisado, quando o coeficiente de transferência de calor externo tende para infinito, caso de temperatura prescrita, Figura 7. e temperatura externa igual a 25º C Cadernos UniFOA Figura 8: Fluxo de calor com a condutividade externa tendendo ao infinito 42 1- a potência de bombeamento é função da temperatura global média dos fluidos utilizados; 2- a mínima potência de bombeamento ocorre para 9.4 ºC (petróleo; relação de densidade S=0.86; relação de viscosidades µ=0.168), com uma redução da ordem de 64% em relação ao escoamento unifásico; 3- a máxima redução de potência de bombeamento ocorre para uma espessura relativa de água igual a 0.153; 4- com relação à transferência de energia na forma de calor, a espessura relativa ótima de água ocorre em 0.062 (muito próximo da parede do duto, com número de Nusselt igual a 5.35; aproximadamente 1.5 vezes maior que o número de Nusselt na região termicamente desenvolvida em escoamento unifásico); 5- na espessura relativa ótima de filme para potência de bombeamento (0.153) a relação entre os números de Nusselt é da ordem de 1.3; 6- a espessura ideal para isolamento térmico, quando utilizado lã de vidro, é de 10 mm. 5. Agradecimentos Os autores agradecem à Administração do Centro Universitário de Volta Redonda – UNIFOA, que possibilitou que este trabalho fosse efetuado fornecendo uma bolsa de Iniciação Científica ao aluno do Curso de Engenharia Mecânica Artur Kimura. Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA 6. Referências Bibliográficas 1. KIMURA, Artur; OLIVEIRA, Carolina Valente de; NOGUEIRA, Elcio. “Hidrodinâmica de Líquidos Imiscíveis (Água-Óleo) em escoamentos internos: Seção Reta Circular e Placas Planas Paralelas”. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, Ano VI, n. 17, dezembro 2011. Disponível em: http://www.unifoa.edu. br/cadernos/edicao/17/17.pdf 2. Nogueira, E., 1988, “Escoamento Laminar e Transferência de Calor em Fluidos Imiscíveis sem Estratificação”, São José dos Campos, Brasil, pp. 131-134. 3. Nogueira, E., Cotta, R. M., 1990 “Heat Transfer Solution in Laminar Cocurent of Immiscibible Liquids”. Warme-Ünd Stoffübertagung, Vol. 25, SpringerVerlag, Alemanha, pp. 361-367. 4. Nogueira, E., Dantas, L. B., Cotta, R. M., 2002, “Heat Transfer in Liquid-Liquid Annular Two-Phase Flow in a Vertical Duct”. Hybrid Methods in Engineering, Vol. 4, pp. 1-19. 5. Nogueira, E., Cotta R. M., 1988 “Thermohyfraulic Performance in Cocurrent Laminar Flow of Immiscibible Liquids”. II Encontro de Ciências Térmicas – ENCIT, Águas de Lindóia, Brasil, pp. 307-310. 6. Prada, V., Bannwart, J. W., 1999 “Pressure drop in vertical core annular flow” XV COBEM, Congresso Brasileiro de Engenharia Mecânica, Águas de Lindóia, Brasil. 7. Angeli, P., & Hewitt, G. F. (2000). “Flow structure in horizontal oil-water flow”. Int. J. Multiphase Flow, 26, 1117-1140. 8. Brauner, N., 2001, “The prediction of dispersed flows in liquid-liquid and gás–liquid sistems”. Int. J. Multiphase Flow”, 27, 59-76. 9. Hasson, D. Orell, A., & Fink, M. (1974). “A study of vertical annular liquid-liquid flow – Part I: Laminar condictions”. Paper No. 5, Multiphase Flow Systems Symp., Inst. Chem Engng. Symp., Ser. No. 38, 1-15. 10. Bentwich, M. & Sideman, S. (1964). “Temperature distribuition and heat transfer in annular two-phase (liquidliquid) flow”. Canad. J. Chem. Eng., 9-13. 11. Pitts, D. R., Sisson, L. E., 1981, “Fenômenos de Transporte”. São Paulo, Brasil, pp. 319 – 328. Endereço para Correspondência: Élcio Nogueira - Professor Dr. UniFOA [email protected] Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA Campus Universitário Olezio Galotti Av. Paulo Erley Abrantes, 1325 Três Poços - Volta Redonda - RJ CEP: 27.240-560 Solução analítica em aleta de perfil retangular: comparação de desempenho térmico entre aluminio e ferro fundido em motores elétricos 43 Analytical solution in fins of rectangular profiles: comparing thermal performance between aluminum and cast iron in electric motors Denise Freire Duarte1 Ariane Novaes2 Élcio Nogueira3 Transmissão de Calor Eficiência Térmica Motor Elétrico Resumo A utilização de aletas para potencializar a eficiência na troca de energia na forma de calor tem sido um procedimento comum utilizado há várias décadas. Provemos, neste trabalho, soluções analíticas para condução de calor em aletas de perfis retangulares, utilizando dois diferentes tipos de materiais, o Alumínio e o Ferro Fundido, que são materiais comumente utilizados na confecção de carcaças de motores elétricos. Uma das aplicações industriais mais comuns de sistemas de aletas ocorre em motores elétricos, que se tornaram um dos mais notórios inventos do homem ao longo de seu desenvolvimento tecnológico. Utilizamos dados reais de um motor elétrico (Weg modelo W21), que pode ser utilizado na indústria para o acionamento de bombas, ventiladores, exaustores, britadores, moinhos, talhas, compressores e outras aplicações. A partir dos dados obtidos do motor elétrico, sobre suas características físicas e de operação de trabalho, foram obtidos resultados numéricos e gráficos, para ambos os materiais. Os resultados demonstram o benefício que se consegue com a utilização de aletas na determinação da taxa de transferência de calor, neste tipo de equipamento. Abstract The use of fins to maximize efficiency in the exchange of energy as heat has been common procedure, used for several decades. Analytical solutions for heat conduction in fins of rectangular profiles, using two different types of materials - Aluminum and Cast Iron were provided in this paper. These kinds of materials are commonly used in the manufacture of electric motors carcasses. One of the most common industrial applications of systems of fins occurs in electric motors, which have become one of the most notorious inventions of man along its technological development. Real data from an electric motor (WEG W21 model), which can be used in industry to drive pumps, fans, blowers, crushers, grinders, hoists, compressors and other applications were used. The data obtained from the electric motor on its physical characteristics and operation work, provided numerical results and graphs for both materials. The results demonstrate the benefit achieved with the use of fins on determining the rate of heat transfer. Recebido em 07/2012 Aprovado em 12/2012 Key words: Fins Heat Transfer Thermal Efficiency Electric Motor 1 Aluna do Curso de Engenharia de Produção do UNIFOA 2 Aluna do Curso de Engenharia Mecânica 3 Professor Dr. Assistente do UNIFOA; Professor Adjunto da Faculdade de Tecnologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ Edição nº 20 - Dezembro/2012 Aletas Original Paper Cadernos UniFOA Palavras-chave: Artigo Original Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA 44 1. Introdução Motores elétricos são partes importantíssimas do processo produtivo industrial, não só no Brasil como no mundo (Garcia, 2003). Baseando-se no número de equipamentos e facilidades existentes, como geradores de força motriz, o parque de motores elétricos é responsável pelo consumo de um terço de toda a energia ofertada no país (Garcia, 2003). Em um cenário em que a eficiência energética torna-se tão presente, uma vez que a energia elétrica é a solução viável para a substituição de energias ‘sujas’, como as por queima de combustível fóssil, reduzir o consumo de energia dos motores elétricos é fator crucial para a economia e sustentabilidade da sociedade humana como um todo. O motor elétrico é um dispositivo cuja finalidade é transformar a energia elétrica a ele aplicada em energia mecânica através de interações eletromagnéticas entre as partes que o constituem. É o mais usado de todos os tipos de motores, pois combina às vantagens da energia elétrica, baixo custo, facilidade de transporte, limpeza e simplicidade de comando, com as de construção simples, custo reduzido, grande versatilidade de adaptação às cargas dos mais diversos tipos e melhores rendimentos ( Catálogo WEG, 2011, referência 3). É possível obter um maior ganho na taxa de transferência de calor apenas mudando o material que compõe a carcaça ou, por sua vez, as aletas, mudando, desta forma, o valor da condutividade térmica do material, que no caso do alumínio é superior ao do ferro fundido (Incropera, 2012; Sissom & Pitts , 2000 ) . Resultados analíticos para aletas retangulares são obtidos na literatura especializada com facilidade (Silva & Nogueira, 1997; Incropera, 2012; Sissom e Pitts, 2000). Os autores desconhecem, entretanto, na literatura aberta, trabalhos que utilizam a técnica analítica para aletas em motores eleétricos, com o fim específico de comparação entre alumínio e ferro fundido. 2. Objetivos Este trabalho visa estudar o ganho obtido na troca de energia na forma de calor com a utilização de aletas de perfil retangular comparando dois diferentes tipos de material: motores com carcaça de alumínio e motores com carcaça de ferro fundido. As grandezas de interesse estudadas são: perfil de temperatura ao longo da aleta, material utilizado, taxa de transferência de calor, altura ideal, largura ideal e eficiência global do sistema. Pretende-se determinar se o equipamento utilizado na simulação possui aletas de tamanho ideal, qual o tipo de material é mais eficiente, alumínio ou ferro fundido, e qual o efeito dos parâmetros altura, largura e condutividade na eficiência térmica. 3. Metodologia A metodologia utilizada foi a solução de equações diferenciais ordinárias (EDO) para o perfil de temperatura, utilizando o método analítico para determinação da taxa de transferência de energia na forma de calor e outras grandezas de interesse. Utilizou-se o sistema de linguagem ForTran (Power Station) e o sistema gráfico Grapher para representação gráfica. A utilização da linguagem de programação ForTran (Formula Translation), através do software Power Station, permite, através de um programa fonte, que as equações deduzidas no trabalho sejam compiladas e executadas, obtendo-se, assim, os resultados numéricos utilizados na confecção dos gráficos. A programação em ForTran é utilizada desde o início da década de 60 como linguagem de alto nível, e sua utilização nos dias de hoje - apesar de todo avanço computacional ao longo destes últimos 50 anos, como linguagem de cunho científico - é justificada em função de que a maior biblioteca de programas na área de matemática e estatística (IMSL - International of Mathematic and Statistical Library) encontra-se em ForTran. A NASA utiliza sistematicamente o IMSL. Novas rotinas computacionais utilizadas pela agência espacial citada, e outras entidades de igual prestígio no mundo, são criadas, preferencialmente, na linguagem ForTran. O perfil de temperatura foi obtido para diferentes valores de temperatura externa, com a variação do coeficiente de transferência de calor por convecção. Através da integração do perfil de temperatura é possível obter a taxa de trans- ferência de calor. A análise da taxa de transferência de calor foi efetuada a partir da variação da temperatura do motor em relação ao meio ambiente. A eficiência, diferente do definido nos textos clássicos (Incropera, 2012), foi calculada utilizando a razão da taxa de transferência do motor com aleta de alumínio em relação à taxa do motor com aleta de ferro fundido. 4. Desenvolvimento 45 A equação unidimensional da distribuição de temperatura em regime permanente de uma aleta de seção transversal constante (Figura 1) pode ser descrita como [Silva & Nogueira (1997).; Incropera (2012)]. Figura 1: Representação esquemática de uma aleta retangular. Onde: A solução geral da equação diferencial ordinária de segunda ordem (Eq. 2) é: Utilizando a equação 3 em x=0: Edição nº 20 - Dezembro/2012 Logo, a equação 1 se reescreve: Cadernos UniFOA Por conveniência estabelecemos a seguinte troca de variável: 46 Para x= L: Onde obtemos: Definimos: Substituindo C1 C1 C2 C2 na equação 3 temos a seguinte equação para o perfil de temperatura ao longo da aleta: Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA E a taxa de transferência de energia na forma de calor: Neste trabalho foi utilizado um motor elétrico da Weg modelo W21 [http://www.weg. net/files/products/WEG-motores-eletricosbaixa-tensao-mercado-brasil-050-catalogoportugues-br.pdf; referência 3]. Este modelo atende uma série de normas que vão desde a sua forma de construção até o tipo de isolamento empregado para fins de normalização. O modelo W21 é um motor elétrico trifásico IP 55 (motores blindados), que possui as suas dimensões construtivas atendendo a norma NBR – 5432. Sua carcaça é feita de ferro fundido (NBR – 8441), com potência que vai de 0.16 a 500 Cv. É de categoria N (NBR – 7094), está entre a maioria dos motores encontrados no mercado atendendo ao acionamento de cargas normais. E possui classe de isolamento F (NBR – 7034). Tabela 1: Composição da temperatura do catálogo da Weg 47 Classe de Isolamento F Temperatura ambiente 40°C ΔT = elevação de temperatura (método da resistência) 105°C Diferença entre o ponto mais quente e a temperatura média 10°C Temperatura do ponto mais quente 155°C O motor elétrico utilizado para estudo possui armadura e aletas retangulares feitas de ferro fundido. Com as mesmas características físicas, utilizamos os dados do material alumínio para fazer as comparações: FERRO FUNDIDO ALUMÍNIO Condutividade térmica (k) 80 W/ m°K 237 W/ m°K Calor específico 450 j/Kg°K 900 j/Kg°K Massa específica 7,20g/cm3 2,70g/cm³ Ponto de fusão °C 1200 660,3 Estado da matéria Sólido Sólido Eletronegatividade (Pauling) 1,83 1,61 Densidade (g/cm³) 7,3 2,7 Figura 2: Representação dos componentes do motor elétrico Weg [03] Efetuaram-se medições na armadura do motor e nas aletas onde foram retirados os seguintes dados: Edição nº 20 - Dezembro/2012 Substância Cadernos UniFOA Tabela 2: Dados do Alumínio e do ferro fundido 48 Tabela 3: Dados obtidos do motor Diâmetro externo do motor Largura do motor Largura da base da aleta Altura da aleta Número de aletas 139.60 mm 130.13 mm 5.84 mm 17.00 mm 32 O motor opera com potência máxima de 750 W, e para efeito de análise foi estipulado que a temperatura máxima de trabalho na parede do motor é de 98 °C, e a temperatura externa no ambiente de trabalho variando em 15 °C, 25 °C, 40°C, 55°C e 70 °C. Escolhemos neste trabalho a temperatura ambiente de 25 °C como padrão, por ser um valor intermediário, uma vez que o fabricante especifica como a temperatura máxima ambiente em 40 °C. Temperaturas acima desse valor são consideradas um caso especial de operação, mas para efeito de análise do comportamento do sistema, estas temperaturas foram utilizadas. Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA 5. Resultados e Discussão Figura 3: Taxa de transferência de calor com variação da temperatura externa. A Figura 3 mostra os valores da taxa de transferência de calor entre o alumínio e o ferro fundido, para temperatura prescrita na base da aleta, condição imposta neste trabalho. É visível o aumento desta taxa para o alumínio em relação ao ferro fundido em todos os valores assumidos para a temperatura ambiente, para um mesmo valor de transferência de calor externo. Na Figura 3, acima, podemos perce- ber que para todas as temperaturas avaliadas, a aleta de alumínio necessita de um coeficiente de transferência de calor externo (h2) menor que a aleta de ferro fundido para trocar a mesma quantidade de energia na forma de calor. Isso ocorre, como esperado fisicamente, pelo fato do valor da condutividade térmica do alumínio ser maior do que o do ferro fundido. 49 Figura 4: Perfil de temperatura ao longo das aletas de alumínio e ferro fundido com Tinf=15ºC. riação no perfil de temperatura ao longo da aleta que para o ferro fundido. Como definido anteriormente, a taxa de transferência de calor máxima foi fixada em 750 watts, o que forneceu valores máximos de coeficientes de transferência de calor externo (h2) de 2400 (W/m2.K) para aleta de alumínio e 5000 (W/m2.K) para de ferro fundido, já que o alumínio necessita de um coeficiente de transferência de calor externo (h2) menor que o ferro fundido para trocar a mesma quantidade de energia na forma de calor. Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA É possível visualizar, através da Figura 4, que aletas de ferro fundido possuem maior variação no perfil de temperatura quando comparadas a aletas de alumínio. Isso é justificado pela condutividade térmica do alumínio (k) ser da ordem de 237 (W/m.K) enquanto que a do ferro fundido é de 80 (W/m.K), assim o alumínio tanto transfere mais energia na forma de calor para o ambiente que a aleta de ferro fundido, como também absorve mais energia na forma de calor do motor que o ferro fundido é capaz de absorver. Dessa forma, para o alumínio, tem-se uma menor va- Figura 1: Perfil de temperatura ao longo das aletas de alumínio e ferro fundido com Tinf=40ºC. 50 Assim como observado através da Figura 4, o Gráfico 5, acima, também apresenta variação no perfil de temperatura maior para aletas constituídas de ferro fundido. A Tabela 3, abaixo, apresenta os valores máximos de coeficiente de transferência de calor externo, em função da temperatura externa. Tabela 3: Máximos Coeficientes de Transferência de Calor externo (h2). Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA Máximos valores de H2 (W/m2.k Tinf (ºC) Alumínio Ferro Fundido 25 2.800 6.400 40 4.000 10.100 60 8.300 23.600 70 14.800 43.700 80 35.800 100.000 Figura 6: Taxa de transferência de calor entre alumínio e ferro fundido com variação da largura da base. A Figura 6 representa a taxa de transferência de calor em aletas de alumínio e ferro fundido, com área da base duplicada, quando submetidas a diferentes temperaturas e coeficientes de transferência de calor por convecção (h2) no meio externo ao motor. Quando comparamos a Figura 6 com os resultados apresentados através da Figura 3, percebemos que para todas as temperaturas avaliadas, a aleta de alumínio continua necessitando de um coeficiente de transferência de calor externo (h2) menor que a aleta de ferro fundido para trocar a mesma quantidade de energia na forma de calor. Porém agora, para ambos os materiais o coeficiente de transferência de calor externo (h2) máximo é menor, posto que a área disponível para troca é maior, permitindo um menor coeficiente de transferência de calor. Ao analisarmos a Figura 7, abaixo, temos também a comprovação da necessidade de um menor coeficiente de transferência de calor externo (h2) para transferir a mesma quantidade de energia na forma de calor para aletas com base duplicada quando comparadas a aletas sem duplicação da base, isso ocorre devido a maior área disponível para a troca de energia, como já foi citado anteriormente. 51 6. Conclusão Os resultados obtidos neste trabalho estão consistentes fisicamente e demonstram que é mais vantajosa, em termos de desempenho, a utilização do alumínio no lugar de ferro fundido para aletas de motores elétricos. A utilização de métodos numéricos permite análise de novas geometrias, diferentes da aleta retangular. Em função da carcaça do motor ser cilíndrica, a aleta acompanha a geometria do mesmo e sua base é também cilíndrica, e este fato se torna mais significativo para aletas com bases maiores. Este último caso pode ser resolvido numericamente, utilizando o Método de Frobenius, ou analiticamente, utilizando a Técnica da Transformada Integral (GITT). O Método de Frobenius é uma extensão do Método de Potência, muito utilizado e referenciado em literatura de soluções numéricas de Equações Diferenciais Ordinárias (EDO). A Técnica da Transformada Integral (GITT) é uma extensão das técnicas clássicas de transformação de equações diferenciais (Transformada de Laplace e Transformada de Fourier). Edição nº 20 - Dezembro/2012 Ainda, da Figura 7, acima, podemos ver a eficiência do uso do alumínio, quando comparado ao ferro fundido, na troca de calor realizada por aletas em motores elétricos. Nos casos analisados, a aleta de alumínio assumiu valores de taxa de transferência de calor de aproximadamente 70% maiores que em aletas de ferro fundido, para valores extremos de h2. Cadernos UniFOA Figura 7: Relação entre as taxas de transferência de calor entre alumínio e ferro fundido 52 7. Referências 1. Denise, F. D.; Élcio N. “Aplicação de equações diferenciais em eficiência da troca de calor em motores aletados”. 10º Congresso Nacional de Iniciação Científica CONIC-SEMESP, realizado nos dias 19 e 20 de novembro de 2010, na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo - SP. 2. Silva, E. L. P; E. Nogueira. “Estudo de Técnicas Matemáticas para Solução de Equações Diferenciais – Uma Aplicação em Condução de Calor em Aletas”. Universidade do Vale do Paraíba, 1997, São José dos Campos - SP 3. Incropera, F. P., Witt D. P. “Fundamental of Heat and Mass Transfer”, 4rd Ed., 2012. 4. http://www.weg.net/files/products/WEGmotores-eletricos-baixa-tensao-mercadobrasil-050-catalogo-portugues-br.pdf 5. Sissom, L. E., Pitts D. R. “Fenômenos de Transporte”. 96 – 140, 2000. Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA 6. GARCIA, Agenor Gomes Pinto. “Impacto da Lei de Eficiência Energética para Motores Elétricos no Potencial de Conservação de Energia na Indústria”. Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro 2003. Endereço para Correspondência: Élcio Nogueira - Professor Dr. UniFOA [email protected] Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA Campus Universitário Olezio Galotti Av. Paulo Erley Abrantes, 1325 Três Poços - Volta Redonda - RJ CEP: 27.240-560 Energia em diferentes contextos: uma proposta atual para sua definição 53 Energy in different contexts: a current proposal for its definition Edison de Sousa 1 Alexandre Yasuda Miguelote ² Cristina Novikoff 1,3 Artigo Original Contexto Histórico Definição Física Abstract In this paper, the term energy was presented in different contexts. A historical approach to the use of such term was done, and many directions were included on it. It was placed the fact that energy is a conserved quantity, though in different areas of physics. And it was concluded that, although it is a concept of paramount importance, little progress towards finding a consensus on a suitable definition for the term energy was done. Therefore, nowadays, there are great perspectives for its complete definition. Recebido em 10/2012 Aprovado em 12/2012 Keywords: Energy Context Historical Definition Physics ¹ Universidade do Grande Rio - UNIGRANRIO ² Programa de Pós-Graduação em Ensino das Ciências, Escola de Educação, Ciências, Letras, Artes e Humanidades, Universidade do Grande Rio - UNIGRANRIO ³ Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA Original Paper Edição nº 20 - Dezembro/2012 Energia Resumo Neste artigo, o termo energia foi apresentado em diferentes contextos. Fez-se uma abordagem histórica do uso de tal termo, na qual se incluiu diversos direcionamentos. O fato de a energia ser uma grandeza conservada, ainda que em diferentes áreas da física, foi colocado e concluiu-se que, embora seja um conceito de suma importância, pouco se avançou na direção de se encontrar um consenso sobre uma definição mais apropriada para o termo energia. Existe, portanto, atualmente, grandes perspectivas para a sua completa definição. Cadernos UniFOA Palavras-chave: 54 1. Introdução O Botafogo chegou ontem de Assunção Este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de se analisar algumas das definições do conceito de energia. Isto se deve ao fato de que há uma grande inquietação por parte da comunidade científica no processo de definição de tal conceito. O que acarreta a existência de lacunas no tratamento do tema. Portanto, gostaríamos de esclarecer que o propósito deste trabalho se limita apenas à apresentação das discussões que envolvem o assunto, mostrando-se diversas abordagens apresentadas por diferentes autores, onde se discute o assunto em foco, sem que se objetive finalizar esta polêmica questão. Verificou-se que, embora as diversas formas em que se apresenta tenham suas definições, ainda nos encontramos distante de apresentarmos uma definição ideal para a energia, considerando sua importância e sua grande utilização no cotidiano. A sequência deste artigo foi desenvolvida da seguinte forma: na seção dois foram apresentados diferentes contextos utilizados no cotidiano para o termo energia. Em seguida, foi apresentado um histórico onde se coloca a etimologia do vocábulo energia e já se inicia uma discussão sobre a sua conservação, a qual foi vista com mais detalhes na seção quatro. Por fim, são apresentadas as conclusões. par a zona de rebaixamento no Brasilei- Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA 2. Diferentes contextos para a energia De acordo com Nikolay Umov “a nossa percepção do mundo, desde a experiência diária mais simples ao conteúdo mais sofisticado, é uma coleção de modelos [...]” que, como representações da realidade vivida, estão carregados pelos sentimentos dos indivíduos em suas relações cotidianas. (Umov apud Romanoviskis, 2001, p.1) Então, o texto a seguir, representa parte de uma reportagem sobre futebol constante do caderno de esportes do jornal Extra, intitulada “Dia de recuperar a energia do time”, onde destacamos algumas palavras que são de uso corrente, mas que também estão incorporadas no contexto científico; com sentido diferente daquele. com o peso de saber que voltou a ocuro, por causa da vitória do Santo André sobre o Palmeiras. O discurso de que só se sai dessa situação com trabalho, no entanto, teve que ser deixado de lado, temporariamente. Ao desembarcar no Rio, o cansaço pesou, e o treino marcado para ontem, [...], foi cancelado. Tudo para tentar recarregar as baterias para o clássico [...]. (Machado, 2009, p.7) As palavras que estão em destaque são relevantes para uma primeira aproximação do tema energia, por representarem comparações naturais quando se aborda o assunto e os diversos tipos de manifestações em que se situa, considerando os distintos pontos de vista das pessoas na sociedade, como também as diferentes abordagens na educação e na ciência. Apesar de suas referências se concentrarem nas questões fisiológicas dos atletas, com repercussões psíquicas, essa matéria jornalística pode enfocar algumas ideias que se utilizam na física; mas, com outras características. Por exemplo, trabalho tem o sentido de esforço (força), um conceito importante da física. Peso, que é o produto da massa pela aceleração da gravidade, aparece aqui em termos comportamentais; pois, se sentindo desgostoso um jogador pode experimentar um “peso”. Cansaço pode ser aproximado para perda de energia, enquanto recarregar as baterias remete à eletricidade. Recarregar é colocar mais carga e bateria lembra pilha ou gerador ou “acumuladores” de energia. E, aproveitando a ocasião, ainda existem no comércio pilhas recarregáveis. O que reforça tanto o conceito quanto mostra também que a alusão inicial à fisiologia não é aparente; mas, uma possibilidade a que recorrem a ciência e a tecnologia quando, algumas vezes, veem na “máquina” humana (analogia) um modelo para desenvolver engenhos tecnológicos. Ou mesmo, como o próprio Galileu Galilei, que ao fazer um experimento sobre o movimento de uma bola sobre um trilho em um plano inclinado, não somente observou-o,como também o mediu. Mas, como mediu o tempo do movimen- Segundo Guisasola, Montero e Fernandez (2008) há concordância de que o entendimento de conceitos e teorias necessita que se conheça, entre outros eventos, o seu contexto de desenvolvimento. Então, a energia pode ser estudada segundo essa perspectiva, pois consideramos esse contexto como a realidade cultural dos envolvidos no processo. Portanto, se for possível admitir que houvesse, verdadeiramente, por parte dos envolvidos no processo, o objetivo em conceituar a energia, pode-se dizer que a tentativa em desenvolver o conceito não teve o mesmo caminho na ciência e na educação nem tampouco no cotidiano das pessoas que estavam envolvidas no árduo trabalho nas indústrias do início da revolução industrial. Enquanto que na ciência a ideia ou o processo fundamental que deu origem ao tema possa ser situado no período iniciado no século XVI indo até o século XIX; um marco na educação encontra-se em meados da década iniciando-se no ano de 1960 quando a Fundação Nuffield publica um guia para professores seguido de livros para os alunos, visando uma reforma do ensino secundário de ciências. Este documento destinava-se a alunos na faixa de 14 a 16 anos de idade e realçava a ocorrência universal da energia, entre outros conteúdos (Mclldowie, 2004). O assunto energia também toma força com a crise do petróleo por volta de 1973 (Koliopoulos & Tiberghien, 1986), porém adicionando outras questões. Entretanto, isso não significa que o tema estivesse ausente do currículo e dos livros escolares. Isso é confirmado quando Mclldowie (2004, p.212) relata que os textos da época pouco mencionavam a energia; mas, “nos 55 3.1. O vocábulo energia Primeiramente, pode-se afirmar que o vocábulo energia vem do grego energeia: “atividade, operação”, de energos “ativo, trabalhando”, en (em, dentro) + ergon (ação, trabalho). Esse termo era usado por Aristóteles com o sentido de “força de expressão” (http://www. etymonline.com; http://etimologias.dechile. net). Ou como diz Bristoti (Bristoti, p.1), “força em ação.” Segundo ele, “Isto quer dizer que qualquer tipo de força e de ação ou movimento estão relacionados com a ideia de energia.” Mas, conforme Elkana (Elkana, 1967 apud Trumper, 1990, p.208), em vários idiomas esta palavra tem seu uso mais comum na literatura. Nessa perspectiva, Heisenberg (1959, p.46), fazendo um paralelo entre as ideias de Heráclito e a física moderna, coloca o tema já naquela época. Porém, o que se conhece atualmente foi o resultado de diferentes trabalhos que culminaram com o estabelecimento do princípio de conservação da energia. Entretanto, no período em questão, referia-se a muitos dos fenômenos explicados através da “vis viva” ou “força viva” do sistema (Gottfried Wilhelm Leibniz, 1646–1716) e de um “fluido” denominado de “calórico” (Lavoisier, século XVIII). De início, a pro- Edição nº 20 - Dezembro/2012 3. Histórico textos de teoria da eletricidade é claro que os escritores estão satisfeitos quando a energia é definida unicamente em termos de trabalho, energia cinética, [...].” O que mostrava a necessidade da mudança percebida e proposta pela Fundação Nuffield. Deste modo, pode-se dizer que nessa breve explanação percebem-se dois direcionamentos possíveis a respeito do uso do termo: como resultado de experimentos e hipóteses, e em relação à sua posterior incorporação nos manuais escolares. No primeiro caso, como dizem Guisasola, Montero e Fernandez (2008, p.1), “os conceitos e teorias científicas não emergem milagrosamente; mas, é o resultado de um processo árduo de resolução de problemas e de contrastação rigorosa de hipóteses iniciais.” Além de incorporar a participação dos engenheiros, operários e técnicos das fábricas, combinando teoria e prática. Essa foi a trajetória do assunto em questão, enquanto parte desse processo. Cadernos UniFOA to? Usou seu pulso contando as batidas de sua pulsação (Feynman, Leighton & Sands, 2008). Então, como uma oportunidade para o esclarecimento dos diferentes processos que podem clarificar a compreensão do tema energia, tentar-se-á abordar algumas questões que contribuirão com o trabalho dos professores envolvidos com o ensino dos jovens na educação básica, onde se torna necessário explicitar didaticamente o objeto em questão. 56 posta era que havia “uma quantidade finita de força no universo, que tomava a forma de vis viva.” (Lehrman, 1973, p.16) Depois, Christiaan Huygens contribuiu com a ideia que a vis viva é conservada em colisões e, em 1717, John Bernoulli propôs a palavra energia para essa quantidade conservada, que Leibniz havia definido como o produto da massa pelo quadrado da velocidade ( , como uma entidade relacionada ao seu cálculo diferencial (Westfall, 1971; Parkinson, 1973 apud Coopersmith, 2010). Uma medida de toda a atividade. Quanto ao calórico, como propriedade material do fogo, tal fato vem desde os alquimistas (Sousa e Brito, 2008). No entanto, é atribuída a Joseph Black “a sugestão da hipótese do calórico para explicar os fenômenos caloríficos.” (Idem, p.6). Com o desenvolvimento das investigações científicas, vis viva e calórico, ao longo do tempo, perderam seus significados iniciais; mas, contribuirão para a formação do conceito científico da energia que foi sendo construído tanto durante os procedimentos que redundaram na lei de conservação da energia quanto nos anos que se seguiram. Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA 3.2. Um preâmbulo Quando da apresentação da etimologia do vocábulo energia, observou-se que Aristóteles empregava-o como ‘força de expressão’ e Bristoti apresentou-o como ‘força em ação’. Então, verifica-se que o uso da energia como algo que exerce uma ação está presente há algum tempo na história. Portanto, o entendimento da energia como “uma força para fazer as coisas acontecerem, para a condução de todo o tipo de processo, máquina, dispositivo ou, uma fonte de energia para moinhos (de vento) e rodas d’água (turbinas)”, é antigo (Coopersmith, 2010, p.5). Assim, concorda-se que seria importante tentar entender essas mesmas máquinas; mas, por um ponto de vista quantitativo. E tal posicionamento requererá formas úteis de energia. Isto é, transformações da energia. Assim sendo, a autora citada elegeu a alavanca como ponto de partida para uma análise inicial, a qual aderimos. Primeiramente, cabe lembrar os trabalhos de Arquimedes (250 a.C.) quando trou- xe informações importantes; mas, antes dele, os seguidores de Aristóteles, os denominados peripatéticos (300 a.C.) procuraram respostas para questões como: “Por que forças pequenas podem mover grandes pesos por meio de uma alavanca?” (Coopersmith, 2010, p.5) Observando-se, então, essas colocações, percebe-se que já sabiam da relação entre o ponto central da alavanca (ponto de apoio) e as distâncias exigidas para a aplicação da força para o movimento do peso. No entanto, davam como causa primeira o círculo, porque admitiam que “é bastante natural que seja assim, [...] não há nada de estranho em uma maravilha menor sendo causada por uma maravilha maior.” Portanto, “é uma maravilha que os contrários devem estar presentes em conjunto, e o círculo” possui tal característica: “É composto de contrários.” Neste caso, para eles, enquanto o ponto central descansa, a circunferência do círculo está em movimento. (Hiebert, 1981; Ord-Hume, 1980 apud Coopersmith, 2010, p.5) Coopersmith também faz referência à primeira roda d’água encontrada na China por volta de 200 a. C., bem como ao desenvolvimento de engrenagens, que permitiu mover rodas por meio de bois. Cita, ainda, moinhos movidos por água para o esmagamento de milho na Albânia (100 a.C.); o chinês Ko Yu (1 d.C.) que teria inventado o carrinho de mão; Hero de Alexandria (60 d.C.) e os primeiros moinhos movidos pelo vento encontrados na Pérsia por volta de 600 d.C., utilizados para a moagem de grãos. Seguindo então esse roteiro histórico, coloca-se a pergunta fundamental: E quando não houver água nem vento? Como pôr aquela força em ação? Coopersmith conclui, com razão, que aquelas célebres máquinas desenvolvidas com o intuito de criar um movimento perpétuo resolveria o problema, na concepção dos envolvidos na questão. E, dentre as muitas ideias que mostravam a impossibilidade deste movimento, a ‘coroa de esferas’ de Stevin (15481620) teria sido a primeira, segundo a autora. Mas, Feynman, em Lições de Física, v.1, 2008 também abordou essa questão. Nesse sentido, então, Simon Stevin (1548-1620) propôs um método de resolução do problema do equilíbrio de um corpo sobre Fonte: http://lirias.kuleuven.be/ bitstream/123456789/216866/1/review.pdf. Por fim, como foi assegurado anteriormente, Feynman, Leighton & Sands (2008, p. 4.5) usaram figura semelhante (triângulo retângulo 3-4-5) para resolver um problema com roldana; confirmando, assim, a aplicação do princípio de conservação da energia para a resolução de problemas que envolveriam um grande número de relações. 4. A conservação da energia Na física, os princípios possuem papel fundamental. Entre eles, os chamados princípios de conservação que, nas palavras de Baptista (2006, p.543), estabelecerão “a preservação de grandezas independentes do ponto de vista do observador ou da maneira de representar estas grandezas.” Na verdade, “as teorias na física são frequentemente formuladas em termos de alguns conceitos e equações, onde são identificadas como “leis da natureza”” e, por este motivo, sugere-se sua aplicabilidade 57 Figura 2: O triângulo de Stevin. Fonte: Cindra (2008, p.3601-2) universal. Portanto, leis e teorias científicas “quando são acolhidas se tornam parte da nossa compreensão do Universo” ou dos modelos elaborados com seu auxílio, tornando-se também a “base para a exploração de áreas menos bem-entendidas do conhecimento.” Mas, esses modelos, assumindo diferentes concepções científicas, dependerão da forma como se escolhem os objetos de pesquisa, como são observados e uma série de outros fatores que representarão as diferentes visões de mundo dos envolvidos no processo. Além disso, alguns julgam incorreto que, no caso dos modelos, se admita que os fenômenos estudados tenham correspondência direta com as teorias que a mente elabora; assim, simplesmente, seriam produtos dessa mente que estabelece as leis e teorias científicas. Por outro lado, não deve ser afastada a dimensão cultural na análise do tema. Neste caso, Baracca (2002, p.287) explica que “os conceitos e leis científicas não são um puro reflexo da natureza”; mas, a atividade científica Edição nº 20 - Dezembro/2012 Figura 1: a coroa de esferas de Stevin, 1586. cuja medida é o dobro deste. Caso a corrente se movesse sobre o plano inclinado, seria mantida a mesma proporcionalidade entre os dois lados do triângulo. Deste modo, não haveria movimento espontâneo e assim, o conceito de conservação da energia está subentendido. Observem, também, a relação entre conservação, energia e geometria. Cadernos UniFOA um plano inclinado utilizando-se de uma corrente com quatorze contas como nas figuras a seguir (Figuras 1 e 2). E observem que o princípio de conservação da energia apresenta-se implicitamente nessa ideia de Stevin; pois, ao eliminar a parte inferior da corrente, o equilíbrio das seis contas restantes não seria afetado. As duas contas sobre o cateto menor estão em equilíbrio com as quatro contas sobre o cateto 58 nasce, pelo contrário, da relação ativamente estabelecida entre o homem e a natureza. Porém, toma sua forma e desenvolvimento no marco da cultura de uma época, das formas de conceitualizar e argumentar, e ainda mais do papel que o cientista desenvolve em relação com as tarefas sociais, com os problemas concretos e conceituais que tem que enfrentar e resolver naquela época, naquele contexto econômico e social. (Barraca, 2002, p.287) Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA Assim, observa-se que neste processo estava o chamado engenheiro prático que não possuía a formação acadêmica como atualmente se conhece; porém, buscava meios técnicos para dar conta dos novos processos, pois estava envolvido diretamente na produção. Particularmente, a contribuição da área têxtil teve destaque, considerando-se o auxilio dos técnicos cujos esforços tomarão parte no desenvolvimento do conceito da energia; tanto operacionalmente (colocando a força em ação) quanto através do desenvolvimento de máquinas e aparatos tecnológicos (equilibrando e realimentando a força). Por esse prisma, os trabalhos iniciais dos artesãos com teares evoluirão para uma forma de agrupamento, onde em conjunto, estes equipamentos ganharão outra dinâmica; mas, esse processo chegará até a construção de plantas industriais movidas por máquinas. Enfim, es- tavam criadas as condições necessárias aos trabalhos dos cientistas, que foram logo percebidas (Barraca, 2002). Também notamos que Coopersmith (2010, p.157) confirma esses pontos de vista quando inclui o trabalho dos engenheiros como um de seus blocos de energia, necessários à construção do conceito científico. No entanto, lembra que mesmo hoje, esse bloco “se sente estranhamente na física”, pois relaciona “tanto artefatos humanos como máquinas, [...] tendo uma procedência incomum, sem usar um nome latino alternativo como vis ou vis viva.” Incomum quando não se considera cultura e conhecimento como duas faces do mesmo poliedro multifacetado. Consequentemente, o princípio de conservação da energia emergiu dos debates travados pelos cientistas da época; mostrando-se também que as leis e teorias da física, a respeito da energia, calor, entropia e trabalho foram elaboradas pouco a pouco por meio dos trabalhos de inúmeros atores nas fábricas e fora destas, durante a revolução industrial dos séculos XVII, XVIII e XIX. Portanto, as tentativas da construção do conceito revestiram-se de bases teóricas, experimentais e tecnológicas (motores, caldeiras,...) concebidas no processo descrito. Quanto, especificamente, aos trabalhos dos cientistas que redundaram na lei de conservação da energia, as contribuições de Clausius, Helmholtz, Huygens, John Bernoulli, Joule, Leibniz, Mayer, entre outros, foram fundamentais. Devendo-se lembrar também que eram oriundos de distintas áreas do conhecimento. Galileu Galilei (1564-1642)| René Descartes (1596-1650)| Christiaan Huygens (1629-1695)| Isaac Newton (1643-1727)| Gottfried Leibniz (1646-1716)| Anteriormente, foi dito que Galileu havia medido o tempo do experimento com a bola descendo um trilho, por meio da pulsação; mas, Coopersmith (2010) afirma que ele o mediu utilizando-se do canto. A respeito de Huygens, por exemplo, mesmo considerando a mudança da velocidade e da própria vis viva durante o movimento, admitia que a “vis viva de um sistema readquire o mesmo valor quando o sis- tema readquire as mesmas posições, independentemente das trajetórias para voltar a essas posições” (Bevilacqua, p.40-41) . Logo, para esse autor, isso significa que a conservação da vis viva representava uma recuperação. Contudo, segundo Baptista (2006, p.545), essa descoberta de Huygens nasceu de suas reflexões a respeito dos trabalhos de Galileu sobre a queda de um corpo ao longo de um plano inclinado. Assim, também observou que, se “todo corpo de peso p , deixado cair de uma altura H, ao longo de um plano inclinado”, atinge “a mesma altura H no seu retorno, [...]”, então, “o trabalho realizado pelo peso sobre o corpo em queda é igual à metade da força viva adquirida pelo mesmo ao longo da queda.”Ou seja: . Na verdade, os trabalhos de Galileu também propiciaram a introdução da ideia de sistema - imprescindível à formulação do conceito de energia, a introdução da contagem do tempo – mesmo que as coisas não dependam do tempo absoluto, “a relatividade do movimento e a relação ∞ h”; quanto a Descartes, intro- 59 Hermann Von Helmholtz (1821-1894) Rudolf Clausius (1822-1888) (Coopersmith, 2010). Assim, para Young, a energia relaciona-se com a capacidade de um corpo fazer determinado tipo de trabalho mecânico. O que hoje ecoaria como reducionismo; visto que o princípio da conservação da energia é válido para qualquer campo da física. Mas, era um modelo: O produto da massa de um corpo pelo quadrado da sua velocidade pode ser corretamente denominado a sua energia. [...] Este produto foi chamado a força viva ou força crescente, uma vez que a altura da ascensão vertical é proporcional à ela; e alguns a consideraram como a verdadeira medida da quantidade de movimento; mas, embora este parecer tenha sido universalmente rejeitado, ainda assim a força estimada bem merece uma denominação distinta. (Young, 1807, p.52) Enquanto que para Bevilacqua a contribuição de Helmholtz situava-se no campo da física teórica, Coopersmith afirma que também deixou sua contribuição no campo experimental. Porém, com respeito a quem estabeleceu primeiro a lei de conservação da energia, Elkana (Elkana, 1967 apud Trumper, 1990, p.208) considera que foi mesmo Helmholtz, apesar Edição nº 20 - Dezembro/2012 Quando Young afirmou que “a luz poderia ser uma onda transversal”, “duas fontes de luz poderiam ser combinadas para produzir ... trevas” e que “havia interferência ao se sobrepor duas ou mais fontes de luz”, mesmo com suas dúvidas, eram ideias arrojadas para uma época em que “a ideia de ondas no espaço vazio era impensável.” Então, admitindose a concepção da época, Coopersmith (2010, p.174) afirmou que somente haveria a possibilidade dessa ocorrência se “algum tipo de meio ou éter estivesse implicado.” Observa-se que Young associou luz e calor porque “foi um dos primeiros a sugerir que o calor e a luz eram realmente a mesma coisa. Como a luz era uma ondulação, assim era o calor” (Coopersmith, 2010, p.174) . Portanto, em 1807, Thomas Young, em seu livro A Course of Lectures on Natural Philosophy And The Mechanical Arts (Um Curso de Palestras Sobre Filosofia Natural e As Artes Mecânica) faz a distinção entre força e energia, usando a palavra grega energeia no lugar de força viva. Entretanto, John Bernoulli, em 1717 já havia usado esse termo quando abordou o conceito de trabalho virtual, e, antes dele, Gilbert já o usara (Mottlelay, 1893). No caso de Young, restringia-se ao que hoje se denomina energia cinética. Finalmente, o termo foi prontamente aplicado a diversas espécies de energia Cadernos UniFOA Thomas Young (1773-1829) duziu “as medidas ‘quantidade de movimento’ (mv) e ‘trabalho de uma máquina’ (peso x altura)”; já “Huygens descobriu que era constante; seu apelo a simetrias e leis de conservação pagaria dividendos nos séculos seguintes.” A respeito de Newton, “trouxe a força em um mundo débil e anêmico, fundando a Mecânica Newtoniana. Finalmente, Leibniz valeu-se de como ‘força viva’, a causa de todo o efeito no universo.” Nesse sentido, então, “sua nova análise dinâmica era moderna em todos os aspectos, exceto um – ele não reconheceu o ‘movimento das pequenas partes ‘como calor’.” (Coopersmith, 2010, p.45) Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA 60 de nem mesmo ele ter “claramente definido o conceito de energia”; pois, a denominava força. Nesse sentido, então, Helmholtz, “introduziu um novo significado de conservação: a kraft (energia) é conservada durante o movimento e uma variação da vis viva corresponde a uma variação do oposto da força de tensão.” E, a seguir, deduziu o princípio das velocidades virtuais de conservação das forças: “Um aumento da vis viva pode resultar apenas do consumo de uma quantidade de força de tensão.” Assim, segundo ele, quando um sistema estiver em repouso, permaneceria em repouso “se não houver nenhum consumo das forças de tensão para cada direção possível de movimento no primeiro instante.” (Koenigsberger, 1906, p.48) Em síntese, era fundamental para seus resultados que as forças centrais dependessem apenas das distâncias. Contudo, tais resultados ainda não estavam isentos de problemas; mostrando-se, deste modo, que o processo de construção de teorias é árduo e com algumas incertezas. Mesmo assim, Koenigsberger (1906, p.48) considera que Helmholtz trouxe significativa contribuição ao desenvolvimento da física. Neste sentido, mostrou, também, que quando “os corpos naturais” atuarem “uns sobre os outros” por meio de “forças atrativas ou repulsivas”; mas, que não possuam relação com o tempo e a velocidade, isto é, sejam independentes dessas grandezas, “a soma de suas vires vivæ e ‘as forças tensivas’ deve ser constante.” Entretanto, se são dependentes de “tempo e velocidade, ou agem em outras direções senão as das linhas que unem dois pontos materiais ativos, então [...] as combinações de tais corpos serão possíveis no que a energia também pode ser perdida ou ganha”; mas, “infinitamente”. Enfim, quando as condições descritas anteriormente se efetivarem, “as forças são descritas como ‘conservativas’”. Isto é, “a Lei de Conservação da Energia diz simplesmente que todas as forças naturais elementares são conservativas.” (Ibid.) Finalmente, Helmholtz, por questões filosóficas; porém, sem abandonar a lei de conservação da energia, deixou de observá-la como “o princípio superior orientador da física.” Agora, passa a focar suas ações “no princípio da mínima ação”. Os últimos anos de sua vida serão direcionados a esse objetivo; contudo, não houve grande sucesso. Para Coopersmith, devido aos trabalhos de Helmholtz, o ‘vitalismo’ deixou de existir. Apesar da relutância de seus compatriotas alemães, no início, adotaram o princípio da energia com “tamanho entusiasmo”, que a massa ou a força obtiveram substituto, pois “defenderam a energia como a quantidade principal.” E, a maior parte desses defensores era de químicos. (Coopersmith, 2010, p.282-283) No entanto, somente após a demonstração matemática desse princípio por Rudolf Clausius em 1865 é que foi considerada lei universal, sendo posteriormente denominada a Primeira Lei da Termodinâmica. Como consequência, então, o termo energia passa a ser considerado como “função de estado”. Consequentemente, não se poderia descuidar do “forte vínculo” que a energia possui, por sua constituição, com o calor e o trabalho. (Bucussi, 2006, p.13) Em síntese, esse vínculo pode ser identificado no seguinte relato: Clausius foi convencido pela conversão calor trabalho de Joule [...] e viu que estas acabaram por ser explicadas pela teoria dinâmica do calor - que o calor é um movimento de constituintes microscópicos. No entanto, ele tinha consciência do desenvolvimento da Primeira Lei [...] sem recurso a quaisquer suposições microscópicas estranhas. (Coopersmith, 2010, p.289) Isso nos mostrou que também existe uma relação entre calor, energia e trabalho. Embora afirmado por Elkana que Helmholtz estabeleceu o princípio de conservação da energia; nota-se, contudo, que as personagens apresentadas até o momento contribuíram com importantes parcelas para o estabelecimento do conceito científico da energia; inclusive técnicos e engenheiros. Entretanto, em relação aos trabalhos de Thomson e Clausius, Coopersmith (2010, p.299) afirma, ainda, que: É impossível dizer quem contribuiu mais para essas descobertas [...]. Thomson foi mais influente na introdução da energia para toda a física, enquanto o legado de Clausius foi particularmente na área da termodinâmica. Clausius foi ceito sutil, energia. Essa exposição corrobora a posição de que a lei de conservação da energia é uma síntese dos trabalhos de um período histórico no qual os experimentos e as teorias caminharam conjuntamente sob a luz de Clausius, Huygens, Joule e outros atores do processo. Também não se pode esquecer que, como resultado das inúmeras experiências, a formulação matemática do princípio da energia vinculava-se às necessidades dos engenheiros do início da revolução industrial, mostrando como a construção de uma lei física possui raízes no contexto socioeconômico de uma época. Então, essa lei representou um desafio que resultou em novas ideias, novos procedimentos e no conhecimento de novos domínios no campo científico e tecnológico. Por isso, na visão de Bevilacqua, após 1847, as questões teóricas ganharam espaço em relação aos resultados experimentais, mas sem anulá-los. Nesse sentido, as leis físicas teriam de enfrentar o desenvolvimento desses resultados que também teriam de ser julgados teoricamente. Com efeito, tanto relativamente ao princípio de conservação da energia quanto a outros. Desse modo, a aceitação da energia como uma quantidade que se conserva somente tomou impulso com esta lei. Portanto, se por um lado, a lei de conservação é o resultado de inúmeras experiências com motores, baterias e outros dispositivos; por outro lado, se insere também no que Guisasola, Montero e Fernandez (2008) se referiram quanto as “quantidades calculadas e somadas como parte da contrastação rigorosa de hipóteses iniciais”, úteis e decorrentes das observações e teorias que as orientam. Por isso, representou uma hipótese ou conjunto de hipóteses relacionadas que foram confirmadas através de repetidos ensaios experimentais. Diz então o princípio de conservação da energia: “Em um sistema isolado, toda a energia que temos no início também teremos no final. Manifestamos isso dizendo que a energia é conservada.” Conclui-se, então, que a conservação da energia é um conceito fundamental da física juntamente com a conservação da massa e a conservação do momento. Porém, dentro de algum domínio estabelecido para análise de um problema, a quantidade de energia permanece constante e a energia não é criada nem destruída. Esta é a visão sistêmica da energia como abordaram Coopersmith (2010), Doménech (2007; 2010) e Feynman, Leighton & Sands (2008). “Dentro do sistema, cada bloco de energia mantém sua formulação matemática específica.” No entanto, a energia pode ser convertida de uma forma para outra. Ou seja, “uma interação contínua entre os blocos, uma perpétua ‘dança para a música do tempo’.” Por exemplo, a energia potencial pode ser convertida em energia cinética; entretanto, a energia total dentro do domínio estabelecido permanece constante. Consequentemente, “há um preço a pagar pela versatilidade e aplicabilidade universal da abordagem de sistemas - a ‘energia’ é mais variada, complicada e menos intuitivamente compreensível do que a força.” (Coopersmith, 2010, p.355). 61 5. Conclusões Verificamos que, embora o conceito de energia seja utilizado há muito tempo em diversas áreas da ciência, não se chegou a um consenso sobre uma definição mais apropriada. Ainda que diversos autores consagrados tenham se pronunciado em relação à essa questão, pouco foi feito no sentido de termos o fechamento satisfatório, onde se venha consagrar uma definição plausível, em que a gigantesca estrutura conceitual de energia esteja totalmente contemplada. A própria complexidade do tema pode ensejar tal dificuldade. Existe, portanto, por parte de pesquisadores e professores, uma grande perspectiva de que se encontre uma definição coerente e satisfatória para o termo energia, já que, o que se tem, como vimos, são definições particulares, incompletas e insatisfatórias. Edição nº 20 - Dezembro/2012 til teve de ser substituído por um con- Cadernos UniFOA quem percebeu que o fluido de calor su- 62 6. Referências 1. APPENDIX E: Introduction to the scientific method. Disponível em: <http:// www.d.umn.edu/~pschoff/documents/ ScientificMethod.pdf>. Acesso em: 18 dez. 2009. 2. BAPTISTA, J. P. Os princípios fundamentais ao longo da história da física. Revista Brasileira de Ensino de Física, São Paulo, v. 28, n.4, p.541-553, 2006. 3. BARACCA, A. El desarrollo de los conceptos energéticos en la mecánica y la termodinámica desde mediados del siglo XVIII hasta mediados del siglo XIX. LUL, v. 25, n.53, p.285-325, 2002. Disponível em: <http://clio.rediris.es/ n31/llull53.pdf>. Acesso em: 20 jan. 2011 4. BEVILACQUA, F. Conservation and innovation: Helmholtz’s struggle with energy problems (1845-1894) and the birth of theoretical physics. Disponível em: <http://ppp.unipv.it/silsis/Pagine/ Corso1/En%20lez/En%20lez%20Art/2_ Helmholtz.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2011 Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA 5. BRISTOTI, A. Energias renováveis. Meio ambiente e desenvolvimento sustentável. Núcleo de Energia. UFRGS. Disponível em: <http://coralx.ufsm.br/ cenergia/arquivos_downloads/bristoti1. pdf>. Acesso em: 20 jan. 2011 6. BUCUSSI, A. A. Introdução ao conceito de energia. Textos de apoio ao professor de física. UFRGS, Porto Alegre, v. 17, n.3, 2006. Disponível em: <http://www. if.ufrgs.br/tapf/v17n3_Bucussi.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2010 7. CINDRA, J. L. Um esboço da história do conceito de trabalho virtual e suas aplicações. Revista Brasileira de Ensino de Física, São Paulo, v. 30, n. 3, p. 360112, 2008. 8. COOPERSMITH, J. Energy, the subtle concept: the discovery of Feynman’s blocks from Leibniz to Einstein. New York: Oxford University Press, 2010. 9. DOMÉNECH, J. L. et al. Teaching of energy issues: a debate proposal for a global reorientation. Science & Education, v.16, p. 43-64, 2007. 10. DOMÉNECH, J. L.; MARTINEZTORREGROSA, J. Disponenlos estudiantes de secundaria de una compreensión adecuada de los conceptos de trabajo y calor y su relación con la energía? Revista Brasileira de Ensino de Física, São Paulo, v.32, n.1, 1308, 2010. 11. FEYNMAN, R. P.; LEIGHTON, R. B.; SANDS, M. Lições de física de Feynman: edição definitiva. Porto Alegre: Bookman, v.1, 2008. 12. GUISASOLA, J., MONTERO, A.; FERNANDEZ, M. La historia del concepto de fuerza electromotriz en circuitos elétricos y la elección de indicadores de aprendizaje comprensivo. Revista Brasileira de Ensino de Física, São Paulo, v. 30, n. 1, p. 1604-1/8, 2008 13. HEISENBERG, W. Física y filosofía (Physics and Philosophy). Buenos Aires: Ediciones La Isla, 1959. 14. KOENIGSBERGER, L. Hermann von Helmholtz. Oxford at the Clarendon Press, 1906. 15. KOLIOPOULOS, D.; TIBERGHIEN, A. Elements d’une bibliographie concernant l’enseignement de l’energie au niveau des colleges, p.167-178, 1986. 16. LEHRMAN, R. L. Energy is not the ability to do work. Physics Teaching, v.11, n.1, p. 15-18, jan.1973. 17. MACHADO, V. Dia de recuperar a energia do time. 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Disponível em: <http://www.archive. org/details/lecturescourseof02younrich>. Acesso em: 22 jun. 2010 Endereço para Correspondência: Alexandre Yasuda Miguelote [email protected] Programa de Pós-Graduação em Ensino das Ciências, Escola de Educação, Ciências, Letras, Artes e Humanidades, Universidade do Grande Rio UNIGRANRIO Rua Prof. José de Souza Herdy, 1160 Duque de Caxias - RJ. Edição nº 20 - Dezembro/2012 19. MOTTELAY, P. F. William Gilbert of Colchester, physician of London, on the loadstone and magnetic bodies, and on the great magnet the earth. New York: John Wiley & Sons, 1893 23. SOUSA E BRITO, A. A. de. “Flogisto”, “calórico” & “éter”. Ciência & Tecnologia dos Materiais, v. 20, n. 3/4, 2008. Cadernos UniFOA 18. McLLDOWIE, E. A trial of two energies. Physics Education, p. 212-214, March 2004 Naming: Uma metodologia para desenvolvimento do nome de um veículo de carga no Brasil 65 Naming: A methodology to develop a commercial vehicle name in Brazil Cristiana de Almeida Fernandes1 Luis Cláudio Belmonte dos Santos1 Carla Fernandes Lima2 Danton Gravina Baêta Rodrigues2 Matheus Moraes Amorim Pereira2 Pedro Lima de Oliveira2 Thiago Philippe Catarino de Mello2 Palavras-chave: Transversalidade Naming Caso real Artigo Original Original Paper Resumo Este ensaio pretende abordar a metodologia de naming – processo de criação de nomes para produtos, marcas, serviços etc - desenvolvida para atender a um projeto experimental de um veículo inteligente de distribuição urbana (V.I.D.U.), fruto de uma parceria entre a MAN Latin America e o Curso de Graduação em Design. Tal projeto busca atender uma demanda oferecida como experiência para docentes e discentes desenvolverem um produto real de grande porte, assim como ampliar os horizontes de ambos acerca da prática de naming pertinente ao lançamento de novos produtos, marca, serviços no mercado. Aprovado em 12/2012 Keywords: Transversalit Naming Real case Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA Abstract This essay aims to address the methodology of naming - the process of creating names for products, brands, services, etc. - designed to meet an experimental project for a smart urban distribution vehicle (VIDU), the result of a partnership between MAN and Latin America Undergraduate Course Design Center University. This project seeks to meet the demands offered as experience for teachers and students develop a product real large, as well as broaden the horizons of both on the practice of naming relevant to new product launches, brand marketing services. Recebido em 11/2012 1 Docente do Curso de Design do Centro Universitário de Volta Redonda, UniFOA. 2 Discente do Curso de Design do Centro Universitário de Volta Redonda, UniFOA. Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA 66 1. Introdução O nome revela em parte a origem da marca, aponta para o princípio de sua construção, O UniFOA – Centro Universitário de Volta Redonda, situado na área estratégica industrial localizada no interior do Estado do Rio de Janeiro, possui um curso de Design fundado para atuar de forma ampla atendendo às necessidades empresariais regionais do Sul Fluminense. Com o foco em formar profissionais preparados para esse mercado, o curso possui parcerias empresariais; frutos de uma política de prospecção que objetiva conhecer o meio empresarial e a produção regional. Como exemplo oportuno e atual, citamos a prática profissional ora desenvolvida com a MAN Latin America. Essa parceria teve início com uma proposta da Volkswagen Caminhões, hoje pertencente ao grupo MAN, situado na cidade vizinha de Porto Real, cuja atividade é a montagem de caminhões de grande porte, onde os veículos desenvolvidos pela VW Caminhões são criados por designers contratados pela MAN L.A. Em busca de novos olhares, numa abordagem experimental, o curso de Design do UniFOA foi convidado a desenvolver um projeto de um veículo inteligente de distribuição urbana, V.I.D.U., para o ano de 2020. Os alunos participantes da atividade prática não obrigatória, orientados por docentes com expertises projetuais distintas, ficariam encarregados de o todo processo produtivo. Conforme o habitual do processo de design, o projeto iniciou com obtenção de um briefing junto a MAN. Sequencialmente, essas informações nortearam uma pesquisa, que, a priori, serviram como fonte de informações do público-alvo, de linha estética e de sugestão de tecnologia e necessidades técnicas. Seu resultado convergiu em três conceitos, inicialmente não lapidados e definidos por três palavras-chave, que representavam não só as expectativas do cliente como as ansiedades do público e as diretrizes e requisitos para os designers. Após a pesquisa, o projeto caminhou com a execução de etapas em paralelo, sendo cada grupo de alunos responsável por uma determinada etapa do todo. Entre as etapas, a que temos como foco do presente artigo refere-se ao desenvolvimento de um nome que traduzisse as palavras-chaves resultantes da pesquisa em um nome próprio que batizasse o veículo. e a identidade é também definida por essa origem. Assim um bom projeto de desenvolvimento e escolha do nome de uma marca, conhecido como Naming, pode contribuir para posicioná-la corretamente no mercado e facilitar a comunicação com seus diversos públicos de interesse.(Rodriges, 2011) Tal prática, conhecida como naming, não é exclusiva do profissional de design, sendo pertinente também a outras áreas de comunicação, como a publicidade, o jornalismo e até mesmo aos profissionais de letras. Contudo, a transversalidade característica da profissão faz com que o designer esteja também preparado para traduzir ideias em palavras tanto quanto já faz com formas e imagens. O caráter interdisciplinar do design permite ao profissional da área participar efetivamente de ações ligadas ao processo de gestão e construção de identidade de marca. Vivemos um momento no qual a adoção do “Design Thinking” mostra a capacidade que o designer tem em articular soluções complexas articulando conhecimento de diversas áreas. (Rodrigues, 2011, p. 97) 2. Desenvolvimento O nome é sem dúvida, um dos pontos de contato mais importantes para uma marca e pode contribuir positivamente na construção da identidade e ser uma forte arma competitiva. (Rodrigues, 2011, p.74) Para o realização da atividade criativa de desenvolvimento do nome foi realizada uma seção de brainstorming. Em um suporte de papel amplo adequado para a atividade, a equipe escreveu as três palavras-chave e sugeriu outras palavras que tivessem relação com algum desses três pilares do projeto, expandindo cada palavra-chave em grupos de termos associados. Como resultado desse procedimento divergente, obteve-se um mapa mental onde surgiram referencias diversas, ainda sem preocupações ou julgamentos de coerência (Figura 1). 67 Figura 1: Grupos de termos de associação a partir das palavras escolhidas pela Equipe. que teve sua recorrência aprovada era selecionado e as palavras que não eram recorrentes em outras palavras-chave eram descartadas (Figura 2). Em seguida, foi montado um painel com cada palavra aprovada do brainstroming. Dessa forma, ficou mais fácil visualizar que, se reorganizassem a ordem das palavras, formariam quatro grandes grupos de conceitos dentro das necessidades de representar as palavras-chave (Figura 3). Edição nº 20 - Dezembro/2012 Figura 2: Termos associativos mais relevantes. Cadernos UniFOA Após a etapa divergente, foi testada a relevância de cada termo citado com as outras duas palavras-chaves das quais não teve origem. Aquele 68 Figura 3: Grupos de conceitos. caracterizavam-se como duas importâncias fundamentais apresentadas no briefing pelo cliente: o primeiro seria a coerência com o conceito da marca da empresa fabricante e o segundo seria aquilo que a empresa pretende oferecer como fator diferenciador para o seu público (Figura 4). Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA Entretanto, esses grupos tinham quatro abordagens completamente distintas para traduzir uma mesma necessidade. Assim, foi preciso filtrar novamente os grupos de conceitos com mais dois requisitos importantes diagnosticados pelos alunos no processo de pesquisa. Esses dois novos filtros Figura 4: Filtragem de grupos de conceitos definidos para a escolha do nome do produto. Como dois grupos de conceito eram completamente contrários às ideias das novas palavras-chave incluídas como filtro, foram automaticamente retirados. Ainda com a mesma técnica, palavras destoantes dentro de grupos de conceito aprovados também fora retiradas. Dessa forma, garantimos no final das filtragens um grupo de palavras conexas, coesas, e adequadas ao desenvolvimento de um único universo (Figura 5). 69 Figura 5: Processo de naming Cada uma dessas palavras foi utilizada para a formação de um texto, que contou com a criatividade da equipe para criar um conceito final do projeto. Esse manifesto, escrito e também transformado em vídeo, teve como objetivo inspirar a definição do nome próprio para o veículo como oferecer suporte a outras gerações de alternativas distintas que caminhavam em paralelo. escrita do nome e a sua pronúncia deveriam ser consideradas adequadas para o português e para o maior número possível de idiomas. Considerarmos uma pronuncia com proximidade ao inglês seria uma opção vantajosa, tendo visto a grande difusão da língua. O uso de nomes globais em um mundo sa ser incluído no kit de ferramentas do tantes para uma pessoa que chega a um design thinker – no sentido não de um país estranho e não tem conhecimento início, meio e fim claramente discerní- da língua. (Rodrigues, p. 80 e 81) veis, mas de uma narrativa contínua e aberta que envolva as pessoas e as incentive a dar prosseguimento a ela e a escrever as próprias conclusões. (Brown, 2010, p. 138) . Mediante as informações sobre o cenário do produto, foi simples sugerir nomes que batizassem o veículo. Cada integrante do grupo listou entre três e cinco nomes, certos de que todos teriam completa relação com o todo graças ao processo de naming desenvolvido. Como o produto desenvolvido foi pensado com a premissa de um suposto lançamento no Brasil e em outros países, a forma Dessa forma, tais restrições apontaram para três nomes válidos. Ficou a cargo do cliente, representante MAN LA no projeto, escolher a melhor opção com base em toda sua experiência nos veículos Volkswagen. 3. Conclusão Esse artigo exemplifica a utilização de processos metodológicos de Design para o desenvolvimento de um nome para um Veículo Inteligente de Distribuição Urbana – V.I.D.U. - mediante a necessidade do próprio projeto Edição nº 20 - Dezembro/2012 que as marcas sejam referências impor- Cadernos UniFOA onde as distâncias se encurtam faz com Em consequência, o storytelling preci- Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA 70 automotivo. A parceria entre a Volkswagen – MAN Latin America e o UniFOA – Centro Universitário, trouxe a necessidade da aplicação de um processo de naming pelos alunos participantes do projeto que conseguiram não só batizar o veículo, mas estruturar uma forma de desenvolvê-lo e descrevê-lo posteriormente para que fosse registrado e reutilizado em novas oportunidades. É por isso que o corrente texto não apresenta resoluções e exemplos reais embora se trate de um caso real. O propósito aqui é registrar a utilização dos processos de Design para, mais uma vez, encontrar uma solução para um problema, por mais que a palavra não o problema mais recorrente nem a mais usada forma de expressão desse profissional. Espera-se que essa demonstração de interdisciplinaridade da formação em Design e do foco no processo, métodos e técnicas sejam exemplo de que o designer pode orientar projetos de naming caso exista a necessidade de suprir essa demanda. 4. Referências 1. RODRIGUES, Delano. Naming: o nome da marca. Rio de Janeiro: 2AB, 2011. 2. BROWN, Tim. Design thinking: uma metodologia poderosa para decretar o fim das velhas ideias. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. Endereço para Correspondência: Cristiana Fernandes de Almeida [email protected] Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA Campus Universitário Olezio Galotti Av. Paulo Erley Abrantes, 1325 Três Poços - Volta Redonda - RJ CEP: 27.240-560 Saúde Mental e Reforma Psiquiátrica Brasileira: Reflexões Acerca da Cidadania dos Portadores de Transtornos Mentais 71 Mental Health And Brazilian Psychiatric Reform: Reflections On The Citizenship Of People With Mental Disorders Amanda de Alvarenga Caldas ¹ Júlio Cesar de Almeida Nobre ² Reforma Psiquiátrica Brasileira Portadores de Transtornos Mentais Cidadania Abstract The present work aims to promote, through a bibliographic research, a reflection about the citizenship produced to the people with mental disorders in Brazil from the movement of psychiatric reform. For this, it is necessary to understand madness in its temporal dimension and how it has been organized in the context of human rights and citizenship. Thus, our observation begins by madness that produces itself articulated with exclusion, passing by the moment that it becomes object of knowledge of psychiatry and coming into the psychiatry reform - in the international setting as well as in its propagation in the Brazilian reality. Finally, in order to dialogue madness and citizenship we tried to comprehend how the rights were produced, how they became citizenship and how the mad people were excluded from this dynamic and reinserted in the contemporary society. ¹ Bacharel em Serviço Social pelo UniFOA. ² Doutor em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social – Docente do UniFOA. Recebido em 08/2012 Aprovado em 12/2012 Keywords: Madness Brazilian Psychiatric Reform People with Mental Disorders Citizenship Edição nº 20 - Dezembro/2012 Loucura Resumo O presente trabalho pretende promover, através de pesquisa bibliográfica, uma reflexão acerca da cidadania produzida para os portadores de transtornos mentais no Brasil a partir do movimento de reforma psiquiátrica. Para isso, faz-se necessário compreender a loucura em sua dimensão temporal e de que modo, atualmente, esta vem se articulando a toda uma argumentação no âmbito dos direitos humanos e cidadania. Desse modo, nossa reflexão tem início com uma loucura que se produz articulada à exclusão, perpassando pelo momento em que ela se torna objeto de poder-saber da psiquiatria e desembocando na reforma psiquiátrica – tanto no cenário internacional quanto sua propagação na realidade brasileira. Por fim, para que possamos fazer dialogar a questão da loucura com a cidadania, buscamos compreender como os direitos foram produzidos, de que modo transformaram-se em cidadania e de que maneira os loucos foram excluídos dessa dinâmica e reinseridos na sociedade contemporânea. Original Paper Cadernos UniFOA Palavras-chave: Artigo Original Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA 72 1. Introdução Podemos afirmar, a partir de autores diversos, que potentes articulações sociais conectaram a psiquiatria com a loucura e formataram o hospício como uma espécie de “meio natural” dos loucos. Desse modo, tais indivíduos, trancafiados intramuros, acabam por se configurar como estando predestinados a esse espaço e devendo ser mantidos por lá. Produzem-se como não sendo dotados de lugar fora dos muros, não tendo pertencimento algum no mundo dos homens ditos comuns. Há quem diga que, com a Reforma Psiquiátrica, tudo isso muda – e de fato certas coisas parecem realmente estar se modificando. Porém, no mesmo passo que soluções para antigas questões são levantadas, outros problemas se insinuam e apontam para renovadas controvérsias. No presente trabalho, seguiremos a história da loucura – apresentada por quem se interessou a conhecer através dos olhos dos excluídos – nos guiando rumo à tese de que “(...) a loucura não é um fato da natureza, mas da civilização” (SANDER, 2010, p. 382). Michel Foucault (2007) argumenta que a loucura, do modo como a entendemos hoje, teve seu início no momento em que ter razão passou a ser sinônimo de normalidade – no mesmo passo em que o domínio da desrazão se produziu através do internamento. O autor, por meio de uma genealogia da loucura, demonstra o quanto tal concepção binária – razão e desrazão – denota uma função normatizadora e produtora de lugares. Desse modo, abordaremos como, ao longo da trajetória da loucura, os ditos loucos tiveram sua cidadania roubada, seus direitos violados, sendo enclausurados em espaços desumanos, afastados do convívio de seus familiares e do cotidiano daqueles considerados como normais. Mais ainda, passam a receber tratamentos que, ao invés de potencializarem o indivíduo para a realidade cotidiana, parecem agravar seu estado psíquico, físico e social. Porém, tudo isso teve perspectiva de mudança com a Reforma Psiquiátrica. Entendemos que a relevância social deste trabalho encontra-se na reflexão que podemos fazer acerca da produção da loucura – silen- ciada através do internamento – e da efetividade – ou não – do movimento da Reforma Psiquiátrica em sua intenção de resgate de cidadania daqueles que parecem nunca terem tido o “status” de cidadão. Sendo assim, faremos uma leitura de processos produtivos da loucura como excluída e do modo como esta veio se articulando com a cidadania, no Brasil, a partir das lutas referentes ao movimento da respectiva reforma. Primeiramente, abordaremos – com base em Michel Foucault e Paulo Amarante – tal produção temporal da loucura como exclusão, bem como o surgimento da psiquiatria articulada a tal quadro. Em seguida, buscaremos compor a Reforma Psiquiátrica no cenário internacional no sentido de demonstrar a articulação de seus fundamentos com uma possibilidade de reação a produção de uma loucura desprovida de voz. Mais a frente, com um foco no Brasil, o artigo abordará a institucionalização da loucura, bem como a Reforma Psiquiátrica e as redes de assistência que surgiram nesse processo. Daremos seguimento ao argumento com uma reflexão acerca da cidadania e loucura – com base em Norberto Bobbio e Thomas Marshall – enfatizando como os direitos humanos e a cidadania, na Modernidade, se produziram, ambos, articulados à razão. Desse modo, tal quadro acabou por demarcar uma loucura como desprovida de cidadania no mesmo passo em que se produzia como desrazão – situação esta que parece se instabilizar na atualidade. 2. Loucura, Psiquiatria E Reforma Psiquiátrica. Podemos observar, nos estudos em Michel Foucault (2007) acerca da loucura, o quanto a articulação desta com a exclusão vem se produzindo fortemente em conjunto com uma dimensão temporal que a sustenta. O autor aponta que, ainda no período do Renascimento, por exemplo, já havia uma forte imbricação da loucura com a segregação, quando aborda o fenômeno da Nau dos Loucos. Tal acontecimento apontava para indivíduos que, considerados loucos, eram colocados em embarcações e seguiam navegando sem destino com o objetivo de resgate de sua razão – compelidos a confrontar-se com sua Sendo assim, a alienação mental foi o primeiro termo conceituado por um médico sobre a loucura. Para Pinel, o alienado era aquele que não mantinha o equilíbrio de suas paixões, sendo estranho àqueles que estavam a sua volta e as novas regras produzidas como sendo moral e ética. Formatada pela Modernidade como irracional, a loucura – aqui já introduzida a concepção cunhada por Pinel de alienados – foi colocada em instituições denominadas como manicômios. O modelo manicomial era baseado em instituições fechadas onde o sujeito alienado ficava sob tutela, custódia, vigilância e disciplina, promovendo o isolamento e a segregação destes. Desse modo, a institucionalização da loucura configurava-se como um dispositivo que mantinha os loucos afastados das cidades e sua loucura silenciada sob o poder da psiquiatria positiva. Essa reforçava a ideia de que um louco deveria ser entendido como um ser alienado, doente, necessitando de uma prática voltada para sua cura. Aproximando-nos do pensamento de Zygmunt Bauman (1999), podemos afirmar que a perspectiva moderna objetiva a ordem e a estabilidade de fronteiras, produzindo um argumento que se quer sólido, verdadeiro. Porém, ao delimitar o que é verdade, coloca de fora, de modo negativizado e como sim- 73 Edição nº 20 - Dezembro/2012 A psiquiatria surge na França com Pinel, como especialidade médica, sob a vigência da Revolução Francesa. A nova ordem social, agora centrada no homem, descontextualizado do fato social, passa a ser guiada pelos preceitos de liberdade, igualdade e fraternidade. Contudo, os loucos desafiam a universalidade desses preceitos. O princípio de liberdade está referido ao homem racional, livre para fazer escolhas — leia-se livre para vender sua força de trabalho no mercado. Portanto, o louco, considerado des- provido de razão, daquilo que define a própria humanidade, não é humano, é alienado (aliens), sendo excluído do próprio estatuto de cidadão. Também não se aplica a ele o preceito de igualdade, posto que, não se ajustando ao modo de produção, não pode ser tido como modelo de homem. Resta-lhe tão somente o princípio de fraternidade, que vai ser traduzido por cuidado, porém na ótica da tutela. É nesse caldo de cultura que se institui o hospital psiquiátrico. Numa só cajadada, a sociedade se “livra” da convivência com os loucos e reafirma os preceitos da revolução, necessários à sustentação da sociedade capitalista. O isolamento torna-se a tecnologia de cuidado à loucura. (ROBAINA, 2010, p. 340) Cadernos UniFOA própria verdade moral. Essa prática, estendida como podendo salvar a sociedade e a eles mesmos desse mal, acaba por evidenciar um modo bastante singular de exclusão referente aos portadores da loucura. Seguindo adiante na genealogia da loucura de Foucault, encontramos uma singular produção do louco como excluído, articulada a um processo de organização das cidades. Tais indivíduos passam a ser despejados nos denominados Hospitais Gerais, na companhia de mendigos, pobres, vagabundos, criminosos dentre outras categorias consideradas como causadoras de desordem social. Nesse momento, as cidades estavam se articulando a um novo sistema político e econômico que implicaria em uma forte transformação social e cultural. Estamos diante do soerguimento dos pilares da Modernidade, em que a uma nova cultura, uma ciência como norte para a verdade, um homem racional como sujeito cidadão e o louco negativizado como desrazão parecem se produzir simultaneamente. Segundo Amarante (2003), em meados do século XVIII, a loucura começa a adquirir um status bastante singular. Os loucos, gradativamente, articulados à ciência, vão se produzindo como alienados. No Hospital Geral de Paris, havia um médico responsável, chamado Philippe Pinel, que participava da reorganização do hospital e “(...) buscava, em suas próprias palavras, uma base ‘verdadeiramente científica’ para o conhecimento da realidade” (AMARANTE, 2003, p. 54). Seu método partia do princípio de observar, descrever, comparar e classificar os fatos. Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA 74 ples reflexo dessa suposta solidez, em um mesmo movimento, tudo aquilo que entendido como “não verdade”. Assim, a verdade da Modernidade, articulada fortemente com a ciência, produzia um potente homem racional e uma cidade racionalmente organizada. A loucura, articulada aos processos modernos, é formatada como sólida inimiga dessa ordem, um lado de fora, alienado, que perturbava ordenamentos. Sendo assim, os loucos, passivizados como não racionais, deveriam ser excluídos em instituições psiquiátricas, ou seja, ficarem em manicômios sob a ordem de quem detinha a razão. A institucionalização da loucura sob o poder-saber do médico psiquiatra sofreu críticas desde a criação dos primeiros manicômios (SANDER, 2010). Mas, somente após a Segunda Guerra Mundial, quando os hospitais psiquiátricos são comparados aos campos de concentração nazistas, que começam a surgir questionamentos referentes aos tratamentos dados no interior dos manicômios. Desse modo, a promoção do homem ideal, racional, articulado ao capitalismo e acreditando ser um desenvolvimento positivo da sociedade, começa a dar indícios de instabilidade. Após a destruição que a Segunda Guerra Mundial ocasionou ao mundo, novas formas de relação começam a despontar “(...) tendo em vista redimensionar a cultura e o passado fragilizado pelo trauma da guerra” (ALVES, et al., 2009, p. 89). Em meio a tais processos, algumas novas experiências começaram a despontar com intuito de modificação dos hospitais psiquiátricos. Essas experiências partiram de movimentos diversos, em busca de certa humanização dos asilos. Segundo Amarante (1995), num primeiro momento, as críticas aos manicômios eram referentes à estrutura institucional, ou seja, ao hospital psiquiátrico em si – visto que, após a institucionalização do indivíduo, eram grandes os índices de cronificação da doença mental. As propostas que surgiram em torno dessa crítica ainda estavam amarradas à produção do manicômio como um local de cura e que, desse modo, seria necessário “(...) resgatar esse caráter positivo da instituição através de uma reforma interna da organização psiquiátrica” (AMARANTE, 1995, p. 22). Assim, iniciaram-se movimentos para reformar o hos- pital psiquiátrico, tais como: o movimento das Comunidades Terapêuticas, na Inglaterra e EUA, bem como a Psicoterapia Institucional, na França. Num segundo momento, outras experiências surgem, trazendo uma nova proposta, representadas pelos movimentos de Psiquiatria de Setor, na França e Psiquiatria Comunitária ou Preventiva, nos EUA. Tal nova proposta tinha por estratégia a “(...) expansão da psiquiatria ao espaço público, organizando-o com o objetivo de prevenir e promover a ‘saúde mental’” (AMARANTE, 1995, p. 22). Outros movimentos surgiram, mas com proposta bastante diferenciada das apresentadas acima. Na década de 60, despontam duas propostas que questionam a psiquiatria propriamente dita, sendo elas: a Antipsiquiatria e a Psiquiatria Democrática Italiana, tendo como proposta a ruptura com o modelo manicomial. Essa ruptura se refere “(...) a um olhar crítico voltado para os meandros constitutivos do saber/prática psiquiátricos” (AMARANTE, 1995, p.22). Ou seja, a atitude era de rompimento com a ideia do saber médico sobre a loucura e com o tratamento que era dado a partir do que era construído com base nesse saber científico, tido como o certo para os loucos. Desse modo, buscavam a desconstrução do aparato psiquiátrico, compreendido como sendo (...) um conjunto de relações entre instituições/práticas/saberes que se legitimam como científicos, a partir da delimitação de objetos e conceitos aprisionadores e redutores da complexidade dos fenômenos (AMARANTE, 1995, p. 22). O movimento da psiquiatria democrática italiana promovida por Franco Basaglia na década de 60 foi “(...) a maior ruptura epistemológica e metodológica entre o saber/prática psiquiátrico, vivenciada até então” (ALVES et al, 2009, p. 90). Ou seja, foi o movimento que levantou maiores críticas ao saber psiquiátrico e seu domínio sobre a loucura, enfatizando, em consonância com o pensamento de Foucault, que “(...) a loucura foi enclausurada e excluída da sociedade; há que libertá-la, dar-lhe cidadania” (SANDER, 2010, p. 384). Assim, na década de 70, Basaglia dá início ao processo de “(...) desmontagem do aparato Segundo Amarante (2003), com a chegada da família real, em 1808, ocorreram mudanças no cenário político, econômico e cultural no Brasil. A transferência da Corte Real Portuguesa para o Rio de Janeiro ocasionou uma série de transformações para o país, principalmente na saúde e habitação. Com tal processo de urbanização se iniciando, houve um crescimento desordenado da população, o que de fato contribuiu para a criação do primeiro hospício no Brasil – assim como ocorreu na Europa em seu processo de industrialização. Nessa época, não havia nenhuma ação específica na área da saúde no Brasil. Em 1830, houve um movimento da população para a criação de hospícios – com o slogan “Aos loucos, hospício” (Amarante, 2003). Eles criticavam o abandono dos loucos à sua própria sorte e reivindicavam a construção de um hospício para estes. Desse modo, foi decretada pelo Imperador, em 1841, a criação 75 Edição nº 20 - Dezembro/2012 3. Reforma psiquiatrica brasileira e cidadania em saúde mental do Hospício Pedro II – mas este só veio a ser inaugurado em 1852. A loucura passou a ser tratada como doença sob o modelo Europeu, tornando-se objeto do saber médico-psiquiátrico – salientamos que, nessa época, havia intensa crítica aos médicos psiquiatras devido aos maus-tratos e ausência de cura. Em 1890, o hospício foi desvinculado da Santa Casa, dando aos médicos uma maior liberdade de aplicar seus conhecimentos de modo desvinculado da prática religiosa – vínculo este, até então, firmemente estabelecido no Brasil. A proposta terapêutica do hospício, nessa época, baseava-se no tratamento moral, no isolamento, organização do espaço terapêutico, vigilância e distribuição do tempo – estratégias herdadas de Pinel. Nos anos entre 1910 e 1920, surgiu uma nova proposta terapêutica, a partir da qual foram construídas colônias com objetivo de cura através do trabalho agropecuário, diminuindo os gastos do Estado com a estada dos doentes. Uma dessas colônias foi a Juliano Moreira, criada na década de 20, que utilizava a proposta terapêutica de pequenas oficinas e trabalho agrícola – sofrendo influência da colônia de Geel, localizada na Bélgica (Amarante, 2003). Entre 1841 e 1930, a assistência psiquiátrica pública, no Brasil, se concentrou na construção de leitos psiquiátricos ou em reforma dos mesmos. Em 1930, começam a surgir novos hospícios já com uma estruturação diferenciada dos anteriores. Nesse momento, os loucos passam a ser realocados conforme sexo, poder aquisitivo e comportamento. A partir da década de 50 surgem as terapias biológicas como as eletroconvulsoterapias, as psicocirurgias e os psicofármacos – e de acordo com Amarante (2003), essas terapias contribuíam para o agravamento do estado mental dos pacientes. O movimento da reforma psiquiátrica no Brasil tem como estopim a crise da DINSAM – Divisão Nacional de Saúde Mental –, órgão destinado a formular políticas de saúde. Os profissionais e estagiários da área passam a trabalhar como bolsistas e em condições precárias, sendo expostos a violências institucionais. Começam a ser frequentes as denúncias de agressões, trabalho escravo, mortes suspeitas dentre outras violências institucionais. Desse modo, em 1978, profissionais e estagiários Cadernos UniFOA manicomial, seguido da constituição de novos espaços e formas de lidar com a loucura e a doença mental” (AMARANTE, 1995, p. 49). Deu-se início à construção de centros de saúde mental nas cidades, além da criação de vários grupos-apartamentos que se tornaram residências dos usuários. Alguns moravam sozinhos enquanto outros, por necessidade, residiam acompanhados de técnicos ou voluntários que prestavam cuidados aos moradores. De acordo com Alves et al (2009), Basaglia tinha como premissa a necessidade de se produzir um outro imaginário social da loucura onde fosse possível desvinculá-la da ideia de perigo, incapacidade, diferença, exclusão dentre outros – construindo, desse modo, uma nova relação entre o louco e o cotidiano. As experiências de reformas psiquiátricas no cenário internacional foram de suma importância para o cenário brasileiro, principalmente a reforma psiquiátrica democrática italiana, que viria a influenciar no processo de construção da reforma psiquiátrica no Brasil, na década de 70 – tendo, inclusive, a participação de Franco Basaglia em congressos brasileiros. 76 de alguns hospitais psiquiátricos iniciam uma grande greve – apoiada por forças sociais democráticas que iam contra o regime militar. A partir de Amarante (1995), podemos afirmar que tal movimento se produziu articulado a reivindicações e denúncias realizadas no sentido de melhores salários, férias e garantia de outros direitos trabalhistas – visando também uma melhoria na formação de recursos humanos, modificação das relações entre instituição, clientela e profissionais, bem como o estabelecimento de uma crítica ao modelo médico-assistencial e das condições de atendimento. Na década de 70/80 houve um boom de encontros, congressos, na área da saúde mental por todo Brasil, com intuito de discutir melhorias nas condições de trabalho dos profissionais e no tratamento dado aos pacientes dos hospitais psiquiátricos. Nesse período, Michel Foucault realizou importantes conferências no Brasil, mas esses encontros não versavam diretamente sobre a loucura. Tinham o foco na discussão sobre o poder e sua relação com as várias formas de exclusão (SANDER, 2010). Apesar disso, a (...) apropriação que se fez de suas obras, de suas conferências, de seus ensinamentos, que tornou possível a catalisação de pensamentos, críticas e ações que contribuíram para a reforma psiquiátrica e o progressivo desmonte do manicômio (...) de nosso país. (SANDER, Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA 2010, p. 385) Nesses encontros foram levantadas muitas questões por parte de porta-vozes e grupos defensores dos direitos humanos que, articuladas, acabaram por auxiliar na produção de uma preocupação em relação à defesa dos direitos dos pacientes psiquiátricos. O objetivo era de que todas as instituições psiquiátricas tivessem tal preocupação como princípio. É constituída uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Congresso Nacional, para apurar as distorções na assistência psiquiátrica no Brasil, bem como rever a legislação penal e civil pertinente ao doente mental. Tinha ainda, o objetivo de vincular, organicamente a luta da saúde aos movimentos populares, que lutam não só pela liberdade de organização e participação políticas, como também pela democratização da ordem econômico-social. (AMARANTE, 1995, p. 56) Em 1986, na cidade de Brasília, ocorreu a VIII Conferência Nacional de Saúde e, pela primeira vez na história dessa conferência, foi aberta ao público, tendo um caráter de consulta e participação social. Uma nova concepção de saúde é formatada no evento, colocando a saúde como um direito do cidadão e um dever do Estado. Sendo assim (...) permitiu a definição de alguns princípios básicos, tais como a universalização do acesso à saúde, a descentralização e a democratização, que implicaram uma nova visão do Estado (como promotor de políticas de bem-estar social) e uma nova visão de saúde (como sinônimo de qualidade de vida) (AMARANTE, 2003, p. 43) Esses princípios básicos foram proclamados em 1988, através da Constituição Federal, com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), onde foram estabelecidas as condições institucionais para a implantação de novas políticas de saúde, dando subsídios para criação de legislações em saúde mental. A Declaração de Caracas, na década de 90, levou em consideração a estratégia da Organização Mundial da Saúde e da Organização Pan-Americana da Saúde de que todos os países deveriam atingir a meta de saúde para todos até no ano de 2000. Tal posicionamento contribuiu para que o Brasil pudesse desenvolver legislações especificas em saúde mental – redes assistenciais substitutivas ao modelo manicomial que foram sendo incorporadas ao SUS. A década de 90 foi um momento intenso tanto na arena política quanto normativa para a saúde mental, consolidando assim a Reforma Psiquiátrica no país. A concepção de uma sociedade sem manicômios que, aparentemente, poderia parecer utópica, tornou-se possível após a lei do deputado Paulo Delgado – que prevê a extinção progressiva dos manicômios, além de direitos aos portadores de transtornos mentais. Tal lei – 10.216/01 – também reorganiza os serviços de atendimento aos portadores de transtornos mentais e sua família. Os aparatos legais criados e implantados durante a década de 90 e os anos 2000 passam a ser formatados tendo por foco o argumento dos direitos humanos e os direitos civis, políticos e sociais para os portadores de transtornos mentais. A maioria das legislações e dispositivos assistenciais vem apontando para a promoção de cidadania, através da reinserção social, do trabalho, do tratamento em seu território, dentre outras estratégias voltadas a quem teve a liberdade violada por muito tempo. Porém, há que se refletir sobre essa cidadania que parece se produzir para os loucos após a implantação da Reforma Psiquiátrica. Para pensarmos a questão de cidadania em saúde mental no Brasil é preciso que realizemos uma breve reflexão acerca do conceito de direitos humanos e cidadania – termos que são bastante utilizados hoje nas legislações em saúde mental. Desse modo, estabeleceremos uma compreensão possível de como tais elementos vêm circulando pelo social e, simultaneamente, se articulando à concepção de cidadania para os portadores de transtornos mentais. 4. Cidadania e Loucura Os direitos do homem configuram-se, desse modo, como uma característica fortemente articulada ao Estado moderno – que marcou a modificação da relação soberano/súditos para a relação moderna Estado/cidadão. Essa transformação implicou no direito de resistência a opressão, pressupondo um direito do indivíduo a não ser oprimido e podendo gozar de determinadas liberdades fundamentais: “(...) fundamentais porque naturais, e naturais porque cabem ao homem enquanto tal e não dependem do beneplácito do soberano” (BOBBIO, 2004, p. 4). Desse modo, o autor acaba por realizar um certo entrelaçamento entre direitos fundamentais e direitos naturais, porém, ao mesmo tempo, salienta seu caráter histórico – visto que estes são apresentados como adquiridos devido às lutas em defesa da liberdade – em contraponto à ideia do jusnaturalismo de que os direitos naturais – de igualdade e liberdade – nascem com os indivíduos. Opondo-se ao jusnaturalismo, Bobbio (2004) questiona os direitos inatos. O autor defende o argumento de que não há um fundamento absoluto, na medida em que os direitos são sempre históricos e estarão em constante construção. 77 O elenco dos direitos do homem se modificou, e continua a se modificar, com a mudança das condições históricas, ou seja, dos carecimentos e dos interesses, das classes no poder, dos meios disponíveis para a realização dos mesmos, das que foram declarados absolutos no final do século XVIII, como a propriedade sacre et inviolable, foram submetidos a radicais limitações nas declarações contemporâneas; direitos que as declarações do século XVIII nem sequer mencionavam, como os direitos sociais, são agora proclamados com grande ostentação nas recentes declarações. Não é difícil prever que, no futuro, poderão Direitos do homem, democracia e paz são emergir novas pretensões que no mo- três momentos necessários do mesmo mo- mento nem sequer podemos imaginar, vimento histórico: sem direitos do homem como o direito a não portar armas con- reconhecidos e protegidos, não há demo- tra a própria vontade, ou o direito de cracia; sem democracia não existem as respeitar a vida também dos animais e condições mínimas para a solução pacífica não só dos homens. O que prova que dos conflitos. (BOBBIO, 2004, p. 1) não existem direitos fundamentais por Edição nº 20 - Dezembro/2012 transformações técnicas, etc. Direitos Cadernos UniFOA Para abordarmos, mesmo que brevemente, o conceito de cidadania, remeteremos nossa reflexão a noção de direitos a partir de Bobbio (2004), importante referência nessa temática. Em tal autor encontramos o argumento de que os primeiros direitos que obtiveram reconhecimento e proteção do Estado foram os direitos dos homens – salientamos aqui a articulação de tal quadro a Modernidade. Esse argumento aponta que, no sentido do reconhecimento e da concretização da proteção desses direitos, faz-se necessário a paz nos Estados e, desse modo, de acordo com o autor: 78 natureza. O que parece fundamental ções dominadas a um exame completo numa época histórica e numa deter- de modo a transformá-las numa socie- minada civilização não é fundamental dade ordeira, afinada com os preceitos em outras épocas e em outras culturas. da razão. A sociedade racionalmente (BOBBIO, 2004, p. 18) planejada era a causa finalis declarada Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA do Estado moderno. O Estado era um Para o autor, não existe uma definição exata de direitos, sendo que esse termo pode ser utilizado tanto para indicar os direitos enunciados numa declaração quanto àqueles efetivamente protegidos por aparatos constitucionais. Porém, ele salienta que há uma grande diferença entre o direito declarado e o efetivado, levantando uma crítica acerca dos direitos sociais que estão proclamados – pois a maioria deles não seria efetivada, ou seja, não estariam sendo reconhecidos nem protegidos, mesmo que proclamados. A partir da criação do Estado e do reconhecimento dos direitos humanos – que acabou por possibilitar a reivindicação de novos direitos – foi possível construir a concepção de direitos civis, políticos e sociais – concepções estas que se articulam ao conceito de cidadania. Em se tratando do termo cidadania, de acordo com Marshall (1967), na sociedade feudal não existia o status de cidadão, pois, nesse período, o status era definido por herança de classe – onde os humanos eram diferenciados por serem nobres, plebeus, servos ou livres. Não havia leis que determinassem os direitos das pessoas, bem como não existia o Estado. Somente com a Modernidade e o Estado moderno que o status de cidadão toma uma robusta forma, evidenciando que a cidadania não é algo inerente à natureza humana atemporal, mas sim um elemento que se produz socialmente (Amarante apud Escobar, 2010). Conforme Marshall (1967), cidadania é um status conferido aos indivíduos que são membros integrais de uma comunidade, onde todos que possuem tal status são iguais tendo em vista os direitos e deveres – estes amarrados ao conceito de cidadão. O autor aponta que, concomitantemente a luta pela cidadania, existe a produção de uma de cidadania ideal – aos moldes de Bauman (1999), um sólido ordenamento a separar o dentro do fora. O Estado moderno nasceu como uma força missionária, proselitista, de cruzada, empenhado em submeter as popula- Estado jardineiro. Sua postura era a do jardineiro. (...) O projeto, supostamente ditado pela suprema e inquestionável autoridade da Razão, fornecia os critérios para avaliar a realidade do dia presente (1999, p. 29). Ao articularmos as concepções acerca dos direitos e cidadania com argumentos desenvolvidos acerca da historicidade da loucura e sua produção moderna, parece-nos sugerir que o status de cidadão – produzido amarrado a tal Modernidade – estava associado à autoridade da razão – visto que somente o homem racional poderia fazer parte dessa sociedade, ou seja, a era moderna atrela o ideal de cidadania a uma base racional, enquanto aqueles que não a detivessem, deveriam ser imobilizados em uma condição negativizada. Desse modo, a loucura produzida pela Modernidade como desrazão, veio sendo excluída de um estatuto de cidadania. Para que os alienados pudessem gozar de direitos, deveriam privar-se de suas características, ou seja, deveriam abdicar de sua loucura, tornar-se homens racionalizados para serem reconhecidos como iguais a todos os outros homens de sua nação. Do contrário, sob os ditames da razão, seriam formatados como fora da razão, uma espécie de “lugar do sem lugar”. Faz-se importante salientar que os direitos políticos e sociais associados à cidadania não se produziram no século XVIII, simultaneamente à Revolução Francesa como os direitos civis. Marshall (1967) vai dizer que os direitos políticos datam do século XIX e que são aqueles que garantem a participação política, tanto como membro de uma organização quanto eleitor. Quanto aos direitos sociais, estes surgem apenas no século XX e dizem respeito ao bem-estar econômico, garantias básicas de viver em sociedade – como o acesso à educação, saúde, alimentação, dentre outros que foram conquistados ao longo das reivindicações em movimentos diversos. Porém, faz-se importante lembrar, apoiados ainda em Marshall, que os direitos políticos e so- é deveras problemática, uma vez que foi justamente em seu nome, isto é, em nome da constituição de sujeitos cidadãos, racionais e disciplinados, que se baniu a desrazão: é na construção da cidade ordenada, racionalizada, que se institui a cidadania e se bane a loucura. E não deixa de ser paradoxal encontrar a cidadania como possível solução para a exclusão, como ponto final para esta querela, quando, na verdade, ela está no princípio do problema (SANDER, 2010, p. 384). Tal possibilidade começa a ganhar contornos quando a concepção moderna de homem racional e potente se fragiliza, em muito, por conta da destruição causada pela segunda guerra, já apontada anteriormente. Com um social instabilizado e em busca de transformação na cultura racional, produziu-se uma possibilidade de desvio na direção de um processo de mudança dos hospitais psiquiátricos e a implementação de uma controvérsia acerca da loucura como cidadã no cenário internacional. Enquanto isso, no Brasil, o processo de produção daquilo que entendemos por cidadania se dava de modo bastante diferente do que foi construído no cenário internacional. No cenário nacional, conforme Carvalho (2002), o surgimento dos direitos tem seu início pelo reconhecimento dos direitos sociais, depois políticos e, por último, os direitos civis. Podese dizer que na Constituição Brasileira, criada em 1824, já havia indicativos de alguns di- 5. Considerações Finais A partir das reflexões realizadas, podemos afirmar que a loucura não é um fato da natureza, mas uma produção articulada de toda uma realidade complexa. Desse modo, a partir do momento em que o tecido social se transforma em sociedade civil, pertencente a um Estado moderno, a loucura é excluída dessa dinâmica na medida em que este mesmo Estado surge fundamentado na razão – onde somente deteria o status de cidadão aquele que pudesse contribuir para o desenvolvimento da cidade de forma racional. A loucura, então, é inserida no campo da desrazão, tornando-se alvo de enclausuramento e de poder-saber para a psiquiatria. 79 Edição nº 20 - Dezembro/2012 (...) a própria noção de cidadania (...) reitos sociais ao povo brasileiro, seguindo os moldes da Declaração dos Direitos do Homem da Revolução Francesa de 1789. Também foram regulados os direitos políticos, sendo definido quem teria o direito de votar e ser votado. Os direitos civis ainda eram muito restritos, vindo a serem reconhecidos após muitos anos. Em 1988, o Brasil formatou uma constituição federal que reconheceu os direitos civis, políticos e sociais a todos, inclusive aos portadores de transtornos mentais. Antes disso, os loucos não eram sequer reconhecidos como cidadãos, além de serem submetido a tratamentos entendidos como desumanos, que estavam em desencontro com os direitos humanos e as ideias de reforma psiquiátrica que já circulavam naquele momento. Porém, voltando aos argumentos acerca do conceito de cidadania e articulados com Bobbio (2004) e suas ideias em relação aos direitos proclamados e não efetivados, temos o Brasil como uma questão no tema do transtorno mental. O país produziu todo um processo de Reforma Psiquiátrica na década de 90, com o surgimento de muitas legislações em saúde mental que preconizam os direitos humanos e a cidadania, além da construção de modelos substitutivos aos hospitais psiquiátricos. Porém questionamos o modo como têm se dado as práticas e os argumentos acerca da cidadania voltados a toda população considerada como portadores de transtornos mentais. Cadernos UniFOA ciais foram desenvolvidos sob a mesma ótica que constituiu os direitos civis na Revolução Francesa – uma Modernidade onde, somente através da razão, haveria possibilidades de um progresso social. Desse modo, cidadania, direitos e razão parecem configurar-se como elementos fortemente articulados. Voltando nosso olhar mais uma vez para a loucura, de acordo com Birman apud Escobar (2010), para que o louco pudesse ser inserido na sociedade na condição de cidadão, seria preciso superar a ideia clássica de cidadania apresentada acima e reconstruí-la tendo em vista o reconhecimento de suas singularidades. No dizer de Sander: 80 Os argumentos acerca da cidadania passam a se articular com os portadores de transtornos mentais a partir do momento em que a loucura começa a ser entendida não mais como doença que necessita de cura para ser reconhecida como um elemento da saúde mental. Tal mudança significa que a loucura passa a ser entendida como parte da pessoa e, ao invés de se promover a cura da doença, deveria ser promovida a saúde. Isso foi possível, em muito, pelas ações do movimento de reforma psiquiátrica que propôs uma desconstrução da psiquiatria tradicional e, no lugar da cura da doença mental, sugeriu a invenção de saúde. “Inventar saúde” como é entendido no âmbito da Reforma Psiquiátrica, é fazer com que os profissionais e sociedade reconheçam que no contato com a loucura não se lida exclusivamente com a doença, mas, com pessoas que passam por crises, momentos difíceis de sofrimento mental ou psíquico, cuja resposta do especialista não deve ser o isolamento manicomial. (AMARANTE, 2003, p. 63) Entendemos que potencializar a diferença, o desvio, é o que se coloca aqui. Como apontava Pelbart, (...) é preciso insistir desde já que não basta destruir os manicômios. Tampouco basta acolher os loucos, nem Trazendo essa questão para o Brasil, sabemos que a reforma psiquiátrica ocorreu durante os anos 90 e 2000, momento em que surgiram muitas legislações no âmbito da saúde mental, em que muitas dessas legislações foram direcionadas a substituição do modelo manicomial, sugerindo novos modelos assistenciais. Ferreira (2002), ao abordar tal quadro, indica que o movimento de antipsiquiatria acaba por desenvolver uma nova lógica de controle, onde a ordem não se estabelece mais pelo confinamento, mas através de um apoderamento dos corpos “(...) exercido ao ar livre e de modo contínuo” (FERREIRA, 2002, p. 3). Essa questão nos possibilita a reflexão de que a reforma psiquiátrica, pautada na extinção dos hospitais psiquiátricos e na criação de dispositivos assistenciais substitutivos ao modelo manicomial, pode se articular a uma nova lógica que passa por uma desresponsabilização do Estado com os loucos. Esse Estado, não sendo mais responsável pelo portador de transtornos mentais, se limitaria ao reconhecimento e efetivação dos direitos que muita das vezes está somente no papel, mas não são consolidados. Para dar base a esse argumento, Ferreira (2002) busca em Foucault a fundamentação do Estado liberal, um sistema fundamentado na concepção de que os setores diversos se auto-regulam, principalmente aqueles que têm a sociedade civil como parceira – conhecido como as organizações sem fins lucrativos ou Terceiro Setor. mesmo relativizar a noção de loucura Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA compreendendo determinantes Assim, se os grupos ligados à Reforma psicossociais, como se a loucura fosse seus Psiquiátrica visam conceder cidadania ao só distúrbio e sintoma social, espécie louco, em oposição ao sequestro e con- de ruga que o tecido social, uma vez finamento compulsório, o atual governo devidamente “esticado” através de uma pode ver aí uma simples possibilidade de revolucionária plástica sociopolítica, se desobrigar, de lavar as mãos perante o se encarregaria de abolir. Nada disso mercado na regulação da vida daqueles basta, e essa é a questão central, se ao que, em nome do perigo ou da fragilida- livrarmos os loucos dos manicômios de ele até então tutelava. Eles agora que mantivermos intacto um outro manicô- gerenciem os riscos que eles mesmos mio, mental, em que confinamos a des- portam. Não apenas os loucos, mas os razão (apud SANDER, 2010, p. 385). doentes, os idosos e outras classes de esquecíveis. Eis uma marca do liberalismo Isso nos remete a pensar de que modo a cidadania e loucura – termos até então fortemente articulados à razão, estão se produzindo simultaneamente. Temos de fato a diferença sendo potencializada? mesclado às práticas de governo: delegar aos indivíduos a gestão e a responsabilidade sobre seus próprios riscos, repassando a estes os encargos do próprio Estado. (FERREIRA, 2002, p. 4) Com base nisso, Ferreira (2002) aponta para um problema que essa questão pode acarretar para os portadores de transtornos mentais. De início não se deseja aqui afirmar que esta conjugação de forças é tão simples como se pretende aqui esquadrinhar. Mas muros, uma população antes trancada pode se encontrar em um extramuros. Encontro esse que, agora, poderia confinar a loucura às ruas – com os detentores da razão confinados em suas casas, em seus muros de proteção erguidos solidamente. O autor denomina tal quadro como Grande Exclausuramento. 81 houve e há uma forte simpatia pelo projeto por parte de setores do governo, o que Se a produção, a mais racional, lucrati- não implica necessariamente comunhão va e eficaz comporta sempre um resto, de interesses com os grupos proponentes um dejeto (seja pelo excedente, seja deste projeto, imbuídos em restituir a ci- pelo não aproveitável), por que o mes- dadania à loucura. Atrás dos bons acordos mo não deve se dar com as populações, nem sempre se encontram as melhores agora tão precarizadas quanto o traba- intenções (...), pois a dominação sobre lho que delas se esperava na geração a loucura sedimentada durante cinco sé- de riquezas? Sempre um resto popula- culos não haveria de se suprimir com a cional do qual tentaremos nos defender simples concessão de cidadania à loucu- vagará no coração das cidades, levando ra. (FERREIRA, 2002, p. 4) a uma separação cada vez mais radical Importante se faz salientar que o autor procura sempre deixar evidente que seu intuito não é criticar a Reforma Psiquiátrica, mas apenas evidenciar os riscos que ela traz ao romper com o modelo manicomial, provocando um desmonte de alguns serviços públicos consolidados, como no caso dos leitos psiquiátricos nos hospitais gerais. Ele aponta que tais leitos vêm sendo reduzidos progressivamente. Muitos deles eram ofertados pelo Estado em hospitais particulares, mas devido à ruptura com o modelo manicomial, houve também rompimento do vínculo com tais hospitais que forneciam os leitos. De acordo com Silva et al (2011), os poucos leitos que existem hoje, ofertados pelas instituições privadas, são de alto custo, deixando uma parcela de portadores de transtornos mentais mais graves sem cobertura. Os indivíduos, com o desaparelhamento do Estado nessa área e uma política de internações curtas, segundo Ferreira (2002), acabam por necessitar de clínicas particulares ou dos cuidados familiares. Desse modo, caso tais indivíduos sejam despossuídos de possibilidades financeiras, muito provavelmente terão a rua como futuro – visto que a família e seus respectivos membros, na atualidade, encontram-se todos articulados ao trabalho. Desse modo, uma situação muito inusitada parece poder se configurar: uma reedição diferenciada da Nau dos Loucos apresentada por Foucault. Ferreira aponta que, agora fora dos entre o interior gradeado e o exterior Edição nº 20 - Dezembro/2012 Desse modo, teríamos na loucura – assim como em casos de outras ordens – uma sobra indesejada do processo produtivo, dejeto que, trancado no lado de fora dos muros, estaria excluído, agora, no exterior das cidades. Uma Nau dos Loucos que os conduziria para o exterior no interior das cidades. Tudo isso articulado, ironicamente, a argumentos de cidadania. Tendo em vista que a cidadania não é somente os direitos políticos, entendemos que os direitos sociais, em muito, ficam por conta da efetivação das políticas em saúde mental – e os direitos civis dos indivíduos entendidos como portadores de transtornos mentais também podem ser entendidos como que articulados a essa mesma política. Sendo assim, a implementação de uma efetiva cidadania para a loucura pode passar por uma política de saúde mental que disponibilize dispositivos necessários para que os chamados loucos não venham a pertencer ao quadro de Exclausuramento que Ferreira (2002) nos apontou acima. Por fim, com base no presente artigo, afirmamos que não podemos deixar de reconhecer que a reforma psiquiátrica brasileira tem tido um importante e positivo impacto para os indivíduos entendidos como portadores de transtorno mental. Entendemos que a proposta da rede assistencial que visa substituir o modelo hospitalocêntrico, é um aparato inovador. Porém, Cadernos UniFOA nas cidades. (FERREIRA, 2002, p. 4) 82 ainda há muito que fazer para que o estigma do louco como perigoso porque sem razão, seja desconstruído socialmente e que estes sejam capazes de viver de modo potente, exercendo uma cidadania. Pois como aponta Sander, (...) afinal, se há algo na desrazão, uma parte dela que é desmoronamento e dor; há outra parte que é potência e invenção. Temos enfatizado demais a primeira, pois ela tem se mostrado com maior frequência. Talvez o que precisemos é de uma ampliação de perspectiva, uma maior abertura nos muros e nas mentes. Talvez mesmo a própria noção de desrazão não seja suficiente para que possamos acessar algumas potências vitais estranhas e mal compreendidas (SANDER, 2010, p. 385). 6. Referências Bibliográficas Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA 1. ALVES, C. F. O. et al. Uma breve história da reforma psiquiátrica. In: Neurobiologia, 72 (1) 85 – 96. jan/mar, 2009. Disponível em: <URL: http:// www.neurobiologia.org/ex_2009/ Microsoft%20Word%20-%2011_Ribas_ Fred_et_al_Rev_OK_.pdf> Acesso em: 02 de maio de 2012 2. AMARANTE, P. Loucos pela vida: a trajetória da Reforma Psiquiátrica no Brasil. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1995. 3. AMARANTE, P. (Org.). 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The therapy can be active, when the patient uses some instrument, or passive, when the therapist uses the music to perform the treatment. This study aims to show the benefits that the music therapy can afford to elderly, directly or indirectly. In other words, how the music therapy can improve the elderly quality of life, prevent or help the treatment of common diseases in this age group and their complications. The methodology used in this study was the integrative review of articles with connected subject-matter in Lilacs, Bireme, Bvs, Scielo, Electronic Journal of Nursing, Embap, Usp, Fap e ABC databases. Through this data collection, we have concluded that the music therapy has an important role as multidisciplinary therapy and as elderly common diseases prevention, mainly hypertension, Alzheimer, Parkinson, skeletal muscle pain and depression, besides improving the elderly quality of life. Furthermore, this is an area of study that needs researching, although the music therapy has proven its effectiveness. Recebido em 02/2012 Aprovado em 12/2012 Keywords: Music Therapy Geriatrics Quality of life Rehabilitation Chronic Diseases ¹ Acadêmico de medicina da Escola de Ciências Médicas de Volta Redonda – UniFOA. ² Acadêmica de enfermagem da Fundação Educacional do Município de Assis – FEMA. ³ Mestranda em Biologia e Envelhecimento na Faculdade de Medicina de Marília (FAMEMA), Enfermeira, docente do curso de Enfermagem da Fundação Educacional do Município de Assis – FEMA e Coorientadora deste Projeto de Pesquisa. Doutora em História, Mestre em História, Graduada em Licenciatura em História, docente do curso de Enfermagem da Fundação Educacional do Município de Assis – FEMA e Orientadora deste Projeto de Pesquisa. 4 Original Paper Edição nº 20 - Dezembro/2012 Musicoterapia Resumo A musicoterapia é recente como ciência, porém, é utilizada desde a antiguidade de diversas maneiras como medida preventiva, paliativa e, às vezes, até como terapêutica, como é o caso da depressão e de alguns distúrbios neurodegenerativos. A terapia pode ser ativa, quando o próprio paciente utiliza algum instrumento; ou passiva, quando o terapeuta utiliza-se da música para realizar o tratamento. Este estudo visa mostrar os benefícios que a musicoterapia proporciona para os idosos, direta ou indiretamente, ou seja, como a musicoterapia pode melhorar a qualidade de vida dos idosos e prevenir ou auxiliar o tratamento de doenças, comuns nessa faixa etária, e suas comorbidades. Para isso, utilizamos como metodologia a revisão bibliográfica de artigos relacionados ao tema nos bancos de dados Lilacs, Bireme, Bvs, Scielo, Revista Eletrônica de Enfermagem, Embap, Usp, Fap e ABC. Através desse levantamento de dados, pudemos concluir que a musicoterapia apresenta um papel importante como terapêutica multidisciplinar e na prevenção de diversas doenças comuns das pessoas idosas, principalmente HAS, Alzheimer, Parkinson, dor Musculoesquelética e Depressão, além de melhorar a qualidade de vida dos idosos de maneira geral. Por outro lado, essa é uma área ainda carente de pesquisas, embora a terapia através da música seja comprovadamente eficaz. Cadernos UniFOA Palavras-chave: Artigo Original Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA 86 1. Introdução O conceito de saúde tem se tornado cada vez mais abrangente, levando em consideração não só a ausência das doenças, mas também a manutenção da qualidade de vida, a prevenção das doenças e a recuperação e reabilitação do paciente e da população. Com isso, há cada vez mais uma busca pelo bem-estar, levando o homem a se preocupar com fatores relacionados à saúde e doença, fato que tem propiciado uma grande quantidade de pesquisas que trazem inovações quanto a práticas que possam gerar melhor qualidade à saúde da população. Assim, houve o surgimento das terapias complementares, como a musicoterapia, que pode agir tanto no aspecto de prevenção de doenças, quanto no tratamento ou cura das mesmas. A preocupação com o fator saúde-doença existe desde a antiguidade. Hipócrates, pai da medicina, considerava que o estado de saúde dependia da harmonia do homem com a natureza (Landmann, 1989). Também desde a antiguidade a música era observada como um fator que faz bem para a saúde. Acredita-se que em 1500 a.C, os médicos egípcios consideravam a música uma terapia capaz de aumentar a fertilidade da mulher. Além disso, o médico Esculápio e os filósofos Platão e Aristóteles, julgavam a música como um benefício para a mente. Na segunda metade do século XX, nos EUA, músicos passaram a utilizar recursos musicais com intuito de proporcionar uma melhor recuperação dos que foram atingidos pela guerra. Essa experiência teve significativa influência sobre a percepção dos benefícios que a música pode causar. A partir dos resultados observados, ocorreu o avanço de pesquisas relacionadas à influência da música na saúde. Com isso, a musicoterapia foi denominada ciência, a qual consiste na utilização da música e seus elementos para proporcionar melhores condições de saúde, sendo capaz de gerar benefícios físicos, psicológicos e sociais (Costa, 1989). Com essa nova definição de saúde e com a melhora da qualidade de vida e da saúde da população, a expectativa de vida das diversas populações tem aumentado cada vez mais em diversas regiões do planeta. Além disso, a taxa de fecundidade tem diminuído em muitos países, aumentando significativamente a população idosa. A população brasileira vem acompanhando essa tendência, crescendo nas últimas décadas, enquanto ocorre a diminuição da taxa de fecundidade (World, 1998; Kalache,1987). Com a tendência à inversão da pirâmide etária, ocorre também um aumento na incidência e na prevalência de determinadas enfermidades características dessa população ou mais comuns nela. Dentre elas, podemos ressaltar a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), juntamente com suas complicações; doença de Parkinson; doença de Alzheimer; acidentes vasculares encefálicos; depressão; dores musculoesqueléticas, entre tantas outras. Assim, o perfil de cuidado e de políticas de saúde tem direcionado atenção especial para essa população. Dentre essas políticas, uma das principais é a preservação da qualidade de vida, através de estratégias que incluam os idosos na sociedade de maneira ativa. Dessa forma, busca-se também a prevenção de doenças emocionais, como depressão que ocorre com frequência devido ao isolamento, sentimento de inutilidade no meio em que vive. Na cidade de Tóquio (Japão) foi criado recentemente, um ônibus musical, que permite aos passageiros um passeio turístico incluindo atividades musicais. O público alvo são pessoas com idade acima de 64 anos, quais relatam que esse veículo e seus aspectos musicais, proporcionam bem-estar quando cantam ou estão em contato direto com a música. Contudo, podemos afirmar que é de grande importância a conscientização sobre a eficácia da musicoterapia como forma de prevenção, reabilitação e cura das doenças. É importante que a sociedade reconheça que o idoso necessita de intervenções que possibilitam melhor qualidade de vida. A partir desse raciocínio, os objetivos traçados neste trabalho foram: observar qual a contribuição da musicoterapia nos diversos tipos de tratamentos mais comuns à população idosa, além de descrever quais foram os benefícios alcançados em cada tipo de tratamento; entender como se dá a aplicação desse tipo de terapia e quais são os princípios aplicados a ela; compreender como a musicoterapia pode atuar na prevenção, no tratamento paliativo ou até mesmo na cura dessas doenças e de que maneira pode auxiliar na reabilitação das fun- A pesquisa consiste em revisão de literatura, mediante a busca de artigos contidos nas bases de dados Lilacs, Bireme, Bvs, Scielo, Revista Eletrônica de Enfermagem, Embap, Usp, Fap e Associação Brasileira de Cardiologia (ABC), onde os descritores utilizados foram “Musicoterapia”, “Geriatria”, “População idosa”, “Doenças crônicas”. Os critérios de inclusão foram: artigos que relacionassem a musicoterapia com a saúde da população idosa ou que descrevessem a técnica utilizada; estivessem em português ou inglês; tenham sido publicados a partir do ano de 2000, a fim de fornecer as informações mais recentes possíveis; e que estivessem disponíveis nas bases de dados descritas acima. Foram excluídos os artigos que não relacionassem a musicoterapia com a população idosa, salvo os que continham informações importantes sobre a técnica utilizada; que estivessem em outras línguas além do português e do inglês; e os que foram publicados antes do ano 2000. A partir da análise de diversos artigos, foram selecionados 22, publicados entre os anos de 2000 e 2012, que foram analisados e de onde foram extraídas as informações contidas neste trabalho. 3. A Música A música é considerada como meio de comunicação e expressão universal e seus elementos apresentam muitas diversidades, a atração pelos diferentes ritmos, instrumentos e elementos derivados, variam e estão relacionadas à questão social e cultural do ser humano (Cunha, 2003). Também é uma linguagem universal, está presente em qualquer época e cultura, e é aceita pelo ser humano conforme as reações psicológicas que esta proporciona a um indivíduo. Segundo a “Teoria Modal dos Gregos”, a música é dividida em três elementos básicos, 87 Edição nº 20 - Dezembro/2012 2. Metodologia tais são: melodia, harmonia e ritmo, os quais podem provocar alterações fisiológicas em um ser humano (Blasco, et al. 2003). A terapia através da música, denominada musicoterapia, é considerada uma terapia não verbal, que possibilita o aumento da autoestima de um indivíduo, além de propiciar interações em grupo, auxiliar no tratamento de doenças, proporcionando melhor qualidade de vida. Estes benefícios ocorrem através da influência da música, dos sons, movimentos, manuseio de instrumentos musicais, entre outros (Padilha, 2008). Nos primórdios, a doença era tida como uma influência sobrenatural e maligna sobre um indivíduo, portanto, os meios de cura utilizados eram relacionados a procedimentos religiosos, que incluíam músicas e danças. Até hoje os povos indígenas fazem danças por acreditar que ocorrerá a expulsão dos espíritos através da música, portanto, durante toda a história da humanidade, a música foi vista com um forte poder terapêutico, até que no século XIX essa aceitação entrou em declínio devido ao conceito positivista da ciência (RUUD 1990). A música voltou a fazer parte das questões médicas durante o renascimento, e no século XVII passou a ser utilizada em casos psiquiátricos, em que houve a observação da eficácia da música para esse tipo de tratamento. Em 1749 Richard Brocklesby escreve o primeiro tratado de musicoterapia e começa a crescer as pesquisas nesta área, mas o reconhecimento da musicoterapia como ciência teve seu início nos EUA na segunda metade do século XX, visando o tratamento de depressão após a segunda guerra mundial. (Costa, 1989) A World Federation of Music Therapy define musicoterapia como a utilização da música e/ou dos elementos musicais (som, ritmo, melodia e harmonia) pelo musicoterapeuta e pelo cliente, de forma individual ou grupo, em um processo estruturado para facilitar e promover a comunicação, o relacionamento, a aprendizagem, a mobilização, a expressão e a organização (física, emocional, mental, social e cognitiva) para desenvolver potenciais e desenvolver ou recuperar funções do indivíduo de forma que ele possa alcançar melhor integração entra e interpessoal e, consequentemente, uma melhor qualidade de vida (WFMT, s/d) Cadernos UniFOA ções de um indivíduo; e entender como é possível utilizar esse tipo de terapia para melhorar a qualidade de vida dessa população e em quais situações ela pode ser utilizada. 88 Segundo Fonseca et al (2006), em uma pesquisa realizada em Goiânia sobre a credibilidade e aceitação da musicoterapia pelos pacientes concluiu que estes apresentaram boa aceitação da música e ressaltaram que essa terapia deveria ser mais divulgada. Essa pesquisa mostrou ser ideal o desenvolvimento de novas pesquisas sobre a maneira como a música age no organismo, para que haja maior expansão do trabalho dos musicoterapeutas. Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA 4. O Idoso A população mundial está envelhecendo e segundo as estatísticas da Organização Mundial da Saúde, em 2025 teremos aproximadamente 840 milhões de pessoas idosas, ou seja, 70% da população mundial e o Brasil será o 6º país com o maior número de idosos (World, 1998). Para Vargas (1983), um indivíduo envelhece fisicamente, psicologicamente e biologicamente, portanto, ocorre uma série de transformações na vida do mesmo, como a tendência a obter lentidão, diminuição da concentração, dificuldade de lembrar fatos recentes, declínio na visão e audição, entre outros. O equilíbrio psíquico do idoso depende da maneira como ele aceita a realidade que o cerca e quando isso não acontece de maneira positiva, surgem as reações psicopatológicas do envelhecimento. Com o surgimento das doenças que acometem a terceira idade, o indivíduo pode ser submetido a uma série de dificuldades e dependências que prejudicam na progressão e recuperação. Pode-se afirmar que o surgimento da doença pode afetar o grupo familiar em aspecto físico, emocional, econômico, sendo que esse grupo familiar tem maior proximidade com o paciente e poderá ter grande influência na sua recuperação. As pessoas idosas consideradas na fase final da vida ou fora de possibilidades terapêuticas, geralmente são isoladas nos hospitais pela família e sociedade, e isso faz com que aumente a solidão, o esquecimento, a angústia, levando-os à morte biológica. O relacionamento interpessoal está ligado aos processos envolvidos na comunicação, sendo que a institucionalização dos idosos, aposentadoria e outros fatores, promovem o isolamento destes devido o fato de deixarem de ser saudáveis e produtivos. (Cortelletti, et al, 2004). A diminuição da comunicação pode ocasionar inúmeros prejuízos aos idosos, sendo que pode afetar a atividade simpática e parassimpática, podendo comprometer a vitalidade das vísceras (Both, 2004). A inserção dos idosos de forma ativa na sociedade reflete na intensificação da atividade diencefálica (Both, 2004). Quando um indivíduo é considerado fora de possibilidades terapêuticas de cura, surgem inúmeras dificuldades que também afetam família e cuidadores (Genezini, Cruz, 2006). Geralmente, esses pacientes, em ambiente hospitalar, são isolados, gerando o aumento da solidão, exclusão, tendo como consequência o aumento do sofrimento e o medo da morte. Neste caso, é necessário que o olhar dos cuidadores esteja voltado para o fator emocional, espiritual e social do indivíduo (Carvalho, Merighi, 2004). Para isso, é importante que haja ações e políticas de saúde específicas que visam ao bem-estar e qualidade de vida do idoso, pois, segundo o Art 3º do Estatuto do Idoso, é obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. 5. A Utilização da Musicoterapia A musicoterapia é algo transdisciplinar, pois são inúmeros os fatores que envolvem a música e terapia (Bruscia, 2000). O pensamento que associa a música à cura está ligado a diversas culturas desde a antiguidade até os dias de hoje, sendo que a música tornou-se um objeto de estudo da neurociência (Baeck, 2002; Correa,1999; Sacks, 2007). Essa terapia deve ser aplicada por um musicoterapeuta graduado, o qual deve seguir procedimentos descritos na “Standards of Clinical Practice” da “National Association of Music Therapy”. No Brasil, essa terapia tem sido aplicada principalmente em escolas, clínicas, hospitais, centros de realibitação, sendo que tem grande envolvimento em questões psiquiátricas, com função de auxiliar na recu- lizada a favor da humanização do ambiente (Inchoste, ET AL, 2007). Segundo Sales et al (2009), a música promove bem-estar para os pacientes e seus cuidadores. A participação dos pacientes na escolha do repertório resulta em satisfação pessoal. Ressaltam, também, que a música serve como suporte espiritual, psicoemocional, permitindo que o paciente enfrente de melhor forma a doença. Segundo Bergold (2009), a música como recurso terapêutico, potencializa a restauração do paciente hospitalizado, devido à promoção de humanização no ambiente, conforto, relaxamento, bem-estar, interação em grupo, expressão das emoções, além de ser um recurso responsável pelo desejo de desenvolver movimentos. 89 6. A influência da musicoterapia na saúde do Idoso Edição nº 20 - Dezembro/2012 A influência musical em um paciente idoso é um fator significativo para proporcionar a este uma melhor qualidade de vida, pois a música pode melhorar o desenvolvimento motor e cognitivo, é responsável por facilitar a expressão de sentimentos, é considerada uma forma de comunicação que permite maior interação social e também é capaz de estimular o indivíduo a refletir sobre sua vida (Padilha, 2008). A música se insere no contexto de cuidado paliativo que pode proporcionar conforto, estímulo à memória, atuar como forma de entretenimento, além de auxiliar na criatividade (Othero, Costa, 2007 ; Foxglove, 1999). Estudos relatam que para integrarmos os diversos elementos da música, tais como ritmo, harmonia, timbres e tons, utilizamos diversas partes do cérebro (Sacks, 2007). Além disso, os estudos demonstram que a música age no sistema nervoso autônomo de forma que é capaz de aliviar a dor, diminuir o estresse, possibilitando a redução do consumo de analgésicos (Ikonomidou, Rehnstrom, Naesh, 2004). Este efeito é explicado pela teoria do portal no controle da dor, a qual considera que a música age de forma competitiva à dor, portanto, proporciona tal alívio (Todres, 2006). A musicoterapia tem se mostrado benéfica como tratamento complementar de pessoas com deficiências físicas, como distrofia mus- Cadernos UniFOA peração dos indivíduos. (BACKES et al, 2003; CHICYBAN, 1991; GALLICCHIO, 2002; LEÃO & SILVA, 2004). O musicoterapeuta pode realizar tratamentos de forma individual ou em grupos organizados. Antes de iniciar determinado tratamento, é necessária a realização de uma avaliação clínica do indivíduo, pois, somente assim, será possível determinar a melhor maneira de seguir com o tratamento (Padilha, 2008). Para o musicoterapeuta, primeiramente é essencial conhecer a Identidade Sonora (ISO) do paciente, sendo que Bebenzon (1988) preconiza a palavra ISO que vem do grego isos que significa igual e este desenvolve o conceito de ISO, qual “resume a noção de existência de um som ou um conjunto de sons ou o de fenômenos acústicos e de movimentos internos que caracterizam ou individualizam cada ser humano”. Antes de o musicoterapeuta apresentar ao paciente propostas de atividades, deve-se, primeiramente, o conduzir a um relaxamento e aquecimento, com o objetivo de diminuir a tensão, que permite que o indivíduo esteja mais apto para conhecer as propostas (Barcellos, 2006). Existem estudos que relatam os benefícios da música no tratamento de doenças como Parkinson, Alzheimer, sendo que é relatado que o ato de ouvir música provoca liberação de substâncias cerebrais responsáveis por melhorar o humor, reduzir agressividade, além de ser influente na melhora do sono e estado depressivo. (GIANNOTTI & PIZZOLI, 2004, p.36). Marconato et al (2001) realizaram um estudo para investigar os efeitos da musicoterapia receptiva. Foram estudados dois homens e oito mulheres com idade superior a 18 anos, que apresentavam sintomas de estresse, sofrimento emocional e necessidade de mudar hábitos de vida em benefício da saúde. Primeiramente, foi feita anamnese dos participantes, os quais também responderam a questionários e foram submetidos a estímulos musicais. Após tais interferências, foi possível perceber uma significativa melhora nos níveis de estresse, hábitos alimentares e satisfação pessoal. O uso da musicoterapia vem crescendo gradativamente, devido ao fato de proporcionar conforto, facilitar comunicação e relacionamento, diminuir a dor e ansiedade (Bergold, Et Al, 2006). Além disso, esta pode ser uti- Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA 90 cular e paralisia, deficiência visual e auditiva, além de apresentar efeitos positivos no tratamento de distúrbios como esquizofrenia, depressão, autismo, entre outros (Padilha, 2008). Esse recurso, também permite melhora da autoestima, diminuição do desespero e se torna eficaz na promoção do conforto e bem-estar (Bergold,2009). Há alguns estudos sobre a eficácia da musicoterapia no controle da dor e diminuição da ansiedade, sendo que há relatos de que esta é semelhante aos benzodiazepínicos em questão de redução da ansiedade. Portanto, pacientes submetidos a tal influência musical, necessitam de quantidades menores de sedativos durante a anestesia espinhal (Lepage , 2011 ; Berbel , 2007). A interferência musical, também tem se mostrado capaz de diminuir a confusão e os delírios dos idosos (McCaffrey, Locsin, 2004), além de auxiliar na diminuição dos distúrbios de humor em pessoas que são submetidas a tratamentos com altas doses de quimioterapia (Cassileth, Vickers, Magill, 2003). Entre os efeitos psicológicos proporcionados pela música estão inseridos: o despertar das emoções, pois estimula a criatividade, e o desenvolvimento do raciocínio, o que e facilita a aprendizagem por ativar um grande número de neurônios. Além disso, a música é significativa quanto ao aspecto de socialização de um indivíduo (Blasco, et al.,2002). Costa e Vianna (1982) fizeram um estudo referente a pacientes com transtornos mentais que foram submetidos à seções de musicoterapia, em que faziam produções rítmicas simples, exploravam sons corporais e vocais, experimentavam instrumentos, entres outros. Contudo, concluíram que a música foi um meio de comunicação não verbal entre os pacientes e viabilizou uma melhor socialização dos mesmos. A música também é um importante fator de contribuição para o desenvolvimento da coordenação motora e restabelecimento da memória. Dessa forma, essa terapia também é capaz de auxiliar na reinserção do indivíduo na sociedade, já que este, além de recuperar a capacidade motora de determinados movimentos, também passa a se sentir útil para a sociedade e para si mesmo, tendo mais autonomia e menos solidão, evitando doenças depressivas, características da terceira idade. 7. A Contribuição da Música na Doença de Parkinson e Alzheimer Segundo Sacks (2007) a música obtém grande potencial terapêutico para serem utilizadas em pessoas com doenças neurológicas as quais acometem a terceira idade, tais como: Parkinson e Alzheimer. A doença de Alzheimer compromete a área do cérebro responsável pela memória, pensamento e linguagem, sendo que a sua evolução leva ao comprometimento cognitivo, motor e linguístico. Essas manifestações podem levar o indivíduo a ter dificuldades de interação social, o que propicia a entrada na pessoa um estado depressivo, no entanto, é sabido que a musicoterapia pode facilitar não só nesse processo como também na expressão e comunicação, permitindo ao idoso, um melhor convívio social (Cunha, 1999). Logo, uma pessoa que possui Alzheimer sofre perda de memória ou até mesmo pode obter amnésia profunda, dificuldade de comunicação e autopercepção, e a música pode influenciar na preservação dos aspectos da personalidade, além de agir nas emoções, faculdades cognitivas, pensamentos e memória. A doença de Parkinson compromete o sistema nervoso central, mais precisamente, o sistema motor, originando tremores nos pés, nas mãos, acinesia, bradicinesia, alterações na fala, escrita, etc. A musicoterapia possibilita o relaxamento, a expressão, além de beneficiar as funções físicas e mentais do indivíduo com essa patologia (Lodovici Neto, 2006). Corte, em 2009, realizou uma pesquisa qualitativa, tendo como foco a relação da gerontologia e musicoterapia. A metodologia consistiu em entrevista realizada na Associação Brasil Parkinson (ABP) paulistana, com indivíduos que possuem determinada relação com a doença de Parkinson (DP). O objetivo da pesquisa era verificar a importância da musicoterapia no tratamento de pessoas que possuíam essa doença. A partir da interpretação dos dados, pode-se concluir que a musicoterapia é excelente nesse tipo de tratamento, pois permite que haja a diminuição do sofrimento do indivíduo. Sacks afirma, em 1997, que com a aplicação da música como método terapêutico, os A hipertensão arterial é uma doença que acomete grande parte da população e pode gerar graves problemas cardiovasculares (Jardim,1998). De acordo com as Diretrizes de Hipertensão Arterial, é importante que uma equipe multiprofissional vise o bem-estar do paciente hipertenso. O musicoterapeuta se insere neste contexto, podendo contribuir no tratamento não medicamentoso dessa moléstia. Em diversos estudos há exploração da influência da música no aspecto fisiológico relacionado à pressão arterial, respiração, frequência cardíaca, eletro encefalograma, sensibilidade à dor e variações emocionais ( Hatem, 2006 ; Didolich, 2008). Bernardi, Porta, Sleight (2006) fizeram um estudo sobre alterações cardiovasculares, cerebrovasculares e respiratórias, a partir de interferências musicais, e concluíram que as músicas lentas permitiam relaxamento, diminuição da pressão arterial, frequência cardíaca e da ventilação pulmonar, enquanto músicas de ritmos mais acelerados, através da ativação do sistema nervoso simpático, proporcionavam aumento da pressão arterial, frequência cardíaca e ventilação pulmonar. Dessa forma, pesquisas afirmam que é positiva a influência da música calma no tratamento de pacientes que sofreram infarto agudo do miocárdio (White, 1999). A musicoterapia tem sido reconhecida por melhorar o período de hospitalização do paciente, assim como é capaz de lhe proporcionar melhor qualidade de vida (Myskja, 2008). Qualidade de vida consiste em viver bem no aspecto social, afetivo, profissional e de saúde (Lipp, 1994). Inúmeros fatores são res- 91 9. Os efeitos da musicoterapia no tratamento da dor crônica. A dor crônica é um dos problemas de saúde mais comuns em todo mundo, especialmente no ocidente, e os gastos no tratamento e no controle da dor são muito grandes para o paciente para o Estado. Assim sendo, diversas medidas não farmacológicas têm sido usadas para esse tratamento, entre elas estão programas educativo-comportamentais e a musicoterapia. Sabe-se que a música abrange as dimensões biológica, mental, emocional e espiritual do ser humano, de forma que o mecanismo de ação no controle da dor é muito grande. A música é capaz de induzir o relaxamento, liberar endorfinas e provocar distração, tudo isso ajudando na diminuição e no controle da dor. Além disso, a música é capaz de criar imagens mentais, criando um elo entre percepção, emoção e mudança corporal, sendo capaz de mudar o foco perceptual da dor. Diversos estudos em que as pessoas com dor crônica leve-moderada eram submetidas a uma sessão de audição (sessão onde as pessoas ouvem um determinado repertório musical) mostraram que a intensidade da dor era reduzida após a sessão. Dessa forma, a necessidade do tratamento farmacológico é reduzida, reduzindo também os gastos e aumentando a qualidade de vida. O estudo de LEÃO & SILVA (2004) mostrou justamente esse efeito sobre a intensi- Edição nº 20 - Dezembro/2012 8. Os efeitos da musicoterapia na qualidade de vida e pressão arterial. ponsáveis por propiciar a um indivíduo uma melhor qualidade de vida, como boa condição dos fatores biológicos, físicos, sociais, além do nível de independência e relação no meio em que vive (OMS 1998). A musicoterapia pode contribuir para uma melhor qualidade de vida do idoso, pois, esta é capaz de elevar a autoestima, independência, melhorar relações interpessoais, restabelecimento da melhoria, entre outros benefícios (Neri, 2001). Zanini (2009) constatou em seu estudo realizado com hipertensos de idade superior a 50 anos, que sessões de musicoterapia proporcionam significativa melhora na pressão arterial e na qualidade de vida. Cadernos UniFOA pacientes dançavam e cantavam, e essa interferência musical possibilitava a eles a estabilidade, controle, sincronicidade, facilidade para falar e realizar outros movimentos complexos. Porém, para que houvesse o resultado terapêutico esperado, era necessário que a música pertencesse ao gosto musical do paciente e este fosse sensível à mesma. 92 dade da dor e a formação de imagens mentais durante uma audição de um repertório de músicas eruditas, que teve como resultado uma grande quantidade de imagens mentais e uma redução significativa da dor nos pacientes que aceitaram participar da pesquisa. 10.Resultados e Discussão Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA Diante dos dados encontrados, foi possível observar que a metodologia utilizada na musicoterapia é altamente eficaz no tratamento de diversas doenças que acometem a população idosa, seja como tratamento principal, seja como tratamento adjuvante, dependendo da gravidade em que se encontra o paciente e dos recursos disponíveis para o tratamento necessário. Também foi possível observar a eficácia desse tipo de terapia na prevenção de diversas patologias frequentes nessa faixa etária, assim como na preservação da qualidade de vida dessas pessoas. Portanto, a utilização da musicoterapia é muito ampla, podendo ser aplicada em diversos tipos de situações e nas mais diferentes patologias que acometem os idosos, como por exemplo, a depressão, a ansiedade, a hipertensão arterial sistêmica, a dor músculo-esquelética, a Doença de Alzheimer, a Doença de Parkinson, a distrofia muscular, as paralisias, as deficiências visuais e auditivas, a esquizofrenia, entre tantas outras. 11.Considerações finais. A musicoterapia é uma terapia não verbal que consiste na utilização da música e seus elementos para intervir na saúde. Esta deve ser aplicada por um musicoterapeuta graduado, o qual fará a avaliação do paciente em vários aspectos para definir a melhor maneira de seguir com o tratamento. Em vista dos benefícios que a música pode proporcionar, é possível afirmar que a contribuição da musicoterapia na saúde do idoso é muito relevante, pois é capaz de possibilitar uma melhora clínica dos distúrbios que acometem essa faixa etária, o que permite a participação mais ativa e influente destes na sociedade, além de possibilitar melhor qualidade de vida. Estudos relatam que esta terapia é eficaz no tratamento de vários distúrbios que afetam a população idosa, tais como: depressão, ansiedade, hipertensão arterial, dor músculo-esquelética, Alzheimer, Parkinson, distrofia muscular, paralisia, deficiência visual e auditiva, esquizofrenia. Também se mostra capaz de estimular a criatividade, o raciocínio, facilitar a aprendizagem, melhorar o desenvolvimento motor e cognitivo, estimular as emoções, facilitar a expressão e comunicação. Esta, também pode ser utilizada a favor da humanização do ambiente, melhora da autoestima, diminuição do desespero e se torna eficaz na promoção do conforto, bem-estar, além de atuar como forma de entretenimento. Musicoterapia foi reconhecida como ciência há pouco tempo, e isso explica o fato de não ser tão conhecida e aplicada. O campo da musicoterapia é muito amplo e ainda há muitos fatores a serem exploradas nesta área, tanto com o objetivo de novas descobertas, quanto para aumentar a credibilidade e conscientização sobre sua eficácia, além de contribuir para a aplicação desta nos hospitais. É importante que os profissionais da área da saúde busquem conhecer diversas medidas que auxiliam na prevenção e tratamento de doenças, assim como a musicoterapia, proporcionando uma melhor qualidade de vida, especialmente aos idosos, já que a expectativa de vida vem aumentando. 12.Referências 1. BERGOLD, Leila Brito; ALVIM, Neide Aparecida Titonelli. 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Endereço para Correspondência: Glauber Correia de Oliveira [email protected] Rua Cristóvão Colombo, 303, casa 2 Jardim Amália II Volta Redonda- RJ CEP: 27250-710 A interface entre o Diabetes Mellitus tipo II e a hipertensão arterial sistêmica: aspectos bioquímicos 95 The interface between the type ii diabetes mellitus and systemic arterial hypertension: biochemical aspects Pedro Lopes Fraga1 Bruno José Martini-Santos1 Bruno Nonato dos Santos Severino1 Marise Ramos de Souza Oliveira2 Guilherme Rapozeiro França3 Hipertensão arterial Inibidores da ECA Resumo: O Diabetes Mellitus Tipo II é uma doença que cursa com uma resposta tecidual subnormal a determinadas concentrações de insulina, através de um mecanismo de resistência à insulina, representando cerca de 90 a 95% dos casos de diabetes mellitus diagnosticados. Há correlação direta entre a angiotensina II e resistência insulínica em portadores de hipertensão arterial e/ou diabetes mellitus tipo II. O objetivo deste artigo é explicar, através de aspectos bioquímicos (reações e mudanças que ocorrem a nível celular, de que forma o Diabetes Mellitus Tipo II e a Hipertensão Arterial Sistêmica se inter-relacionam, no sentido de uma doença poder gerar a outra. Para isso, foram levantados artigos sobre o tema nas bases de dados Scielo, PubMed-Medline, além de livros que abordam o tema. Conclui-se que o principal mecanismo bioquímico envolvido é a ativação da via JAK/STAT/SOCS3, mediado pela ativação do receptor AT1, que por sua vez, determina a ubiquitinação dos substratos responsivos de insulina. Dessa forma, a interface entre o Diabetes Mellitus Tipo II e a Hipertensão Arterial Sistêmica fica melhor compreendida através do entendimento das mudanças bioquímicas que ocorrem na gênese destas duas patologias. Abstract The Type II diabetes mellitus is a condition that leads to a sub-normal tissue response to certain concentrations of insulin through a mechanism of insulin resistance, representing about 90-95% of cases diagnosed with diabetes mellitus. There is direct correlation between angiotensin II and insulin resistance in patients with hypertension and / or type II diabetes mellitus. The purpose of this article is to explain through biochemical aspects (reactions and changes that occur at the cellular level) how the Type II Diabetes Mellitus and Hypertension interrelate in order to generate a disease to another. Articles were surveyed in the databases SciELO, PubMed-Medline, and books that address the topic. It was concluded that the primary mechanism involved is the biochemical pathway activation JAK/STAT/SOCS3 mediated by activation of the AT1 receptor, which in turn determines the ubiquitination of substrates responsive of insulin. Thus, the interface between the Type II Diabetes Mellitus and Hypertension is best understood by understanding the biochemical changes that occur in the genesis of these two pathologies. 1 Acadêmicos do curso de Medicina do Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA. 2 Mestre em Educação e Saúde pelo UniFOA. Docente do curso de Medicina do UniFOA. 3 Doutor em Ciências Biológicas (Biofísica) pela UFRJ. Recebido em 05/2012 Aprovado em 12/2012 Keywords: Diabetes Mellitus arterial hypertension ECA inhibitors Edição nº 20 - Dezembro/2012 Diabetes Mellitus Original Paper Cadernos UniFOA Palavras-chave: Artigo Original Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA 96 1. Introdução O Diabetes Mellitus do Tipo II representa cerca de 90 a 95% dos casos de diabetes mellitus diagnosticados. Ele é uma desordem metabólica de etiologia múltipla caracterizada por hiperglicemia crônica, com distúrbios no metabolismo dos carboidratos, gorduras e proteínas, originários de uma defeituosa secreção e/ou ação da insulina nos tecidos-alvos (VASQUES et al., 2007). De acordo com a Associação Americana de Diabetes, existem quatro classificações de Diabetes Mellitus: Tipo 1 ou insulino- dependente ( DM1); Tipo 2 ou não insulino- dependente (DM2); gestacional; e secundário a outras patologias. Independente da classificação, a principal característica do DM é a manutenção da glicemia em níveis acima dos valores considerados normais. O retardo para o início do tratamento do DM pode acarretar no desenvolvimento de doenças cardiovasculares, retinopatias, neuropatias autonômicas e periféricas, nefropatias, doença vascular periférica, aterosclerose, doença cerebrovascular, hipertensão, susceptibilidade a infecções e doenças periodontais (ARSA et al., 2009). O Diabetes Mellitus Tipo II apresenta inter-relações significativas com a pressão arterial sistêmica. É, portanto, de suma importância estabelecer a correlação entre o diabetes mellitus tipo II e a hipertensão arterial, uma vez que ambas as patologias possuem diversos efeitos sistêmicos e necessitam de um correto tratamento. O objetivo desta revisão é expor através de bases bioquímicas a possível interface entre essas duas enfermidades. 2. Abordagem metodológica Para a revisão de literatura proposta, foram levantados artigos sobre o tema nas bases de dados Scielo, PubMed-Medline, além de livros disponíveis na biblioteca do Centro Universitário de Volta Redonda- UniFOA. Esse material bibliográfico conduziu à compreensão de como o Diabetes Mellitus Tipo II e a Hipertensão Arterial Sistêmica se relacionam, no sentido de uma patologia contribuir para o aparecimento da outra, de acordo com aspectos bioquímicos, ou seja, das principais reações intracelulares envolvidas na gênese destas duas patologias. 3. Revisão de Literatura 3.1. Secreção de Insulina A insulina é um hormônio importante para a manutenção da homeostase glicêmica e também para o crescimento e diferenciação celular. Tem função anabólica e é secretada pelo pâncreas (células beta das Ilhotas de Langerhans), em função da elevação da glicemia, dos níveis circulantes de aminoácidos e de ácidos graxos livres, como ocorre após a realização de refeições (ARSA et al., 2009). O aumento da concentração de glicose sanguínea é o controlador primário da secreção de insulina pelas células beta pancreáticas (GUYTON.; HALL, 2011). Estas apresentam um grande número de transportadores de glicose (GLUT-2) que permitem uma taxa de influxo de glicose proporcional à concentração sérica na faixa fisiológica. Quando a glicose sanguínea aumenta, os transportadores GLUT-2 carregam a glicose para dentro das células beta, em que é imediatamente convertida em glicose-6-fosfato pela hexocinase IV (glicocinase) e entra na via da glicólise. Com a taxa de catabolismo da glicose mais alta, a concentração de trifosfato de adenosina (ATP) aumenta, causando o fechamento dos canais de K+ controlados por ATP na membrana plasmática. A despolarização abre canais de Ca++ controlados por voltagem, e o aumento resultante na [Ca++] citosólica desencadeia a liberação de insulina por exocitose (LEHNINGER, 2011). Esses mecanismos básicos para a secreção de insulina pelas células beta pancreáticas são demonstrados na figura 1. 97 O receptor de insulina é formado por uma combinação de quatro subunidades que se mantêm unidas por meio de ligações dissulfeto: duas subunidades alfa, que se situam inteiramente do lado externo da membrana celular e duas subunidades beta, que penetram através da membrana, projetando-se no citoplasma celular (GUYTON.; HALL, 2011). A ação da insulina inicia-se, a partir da sua ligação às suas subunidades alfa do receptor específico na membrana, estimulando a subunidade beta que se autofosforila e implementa sua capacidade tirosina cinase. A subunidade beta é capaz de se autofosforilar e de fosforilar outras proteínas ou substratos sinalizadores intracelulares, dentre eles o substrato 1 do receptor de insulina (IRS-1) e o substrato 2 do receptor de insulina (IRS-2). Após a fosforilação do IRS1, este pode se associar à fosfatidilinositol-3-cinase (PI3-cinase), ativando-a. Essa ativação é necessária para a estimulação do transporte de glicose pela insulina, e é suficiente para induzir, pelo menos parcialmente, a translocação do GLUT-4 para a membrana plasmática. Após a fosforilação da PI3-cinase, essa proteína passa a ativar outros substratos citoplasmáticos, como as serinas cinases, proteína cinase B (AKT) e a proteína cinase C (PKC), que, uma vez fosforiladas, também participam das vias de transdução do sinal de insulina durante o transporte de glicose (MARREIRO et al., 2004). As etapas de sinalização da insulina desde a sua ligação ao receptor até a ativação do transporte de glicose são esquematizadas na figura 2. Edição nº 20 - Dezembro/2012 3.2. Vias de Sinalização da Insulina Cadernos UniFOA Figura 1: Mecanismo primário de estímulo da glicose na secreção da insulina pelas células beta do pâncreas. Adaptado de Guyton.; Hall, 2011. Glut 2 : Transportador de glicose tipo 2; ATP: Trifosfato de adenosina. 98 Figura 2: As vias de sinalização da insulina, através de sua ligação às subunidades alfa do receptor específico, levando a autofosforilação das subunidades beta. Isso permite a fosforilação dos substratos sinalizadores intracelulares que contribuem para a inserção do transportador de glicose na membrana celular, via ativação de enzimas específicas. IRS-1: Substrato 1 do receptor de insulina; IRS-2: Substrato 2 do receptor de insulina; PI(3)K: Fosfatidilinositol-3-cinase; AKT: Proteína cinase B; GLUT: Transportador de glicose. Fonte: Tabela feita pelo autor com base na referência Guyton.; Hall, 2011. 3.3. Hipertensão arterial e receptores de angiotensina acompanha várias situações clínicas, como a obesidade, o diabetes mellitus tipo 2, a hiper- Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA tensão arterial, processos infecciosos, algumas Os efeitos das angiotensinas são exercidos através de receptores heptaelicoidais acoplados à proteína G. Os dois subtipos de receptores de angiotensina são usualmente designados como AT1 e AT2. O papel funcional dos receptores AT2 não está bem definido; entretanto, esse receptor pode exercer efeitos antiproliferativos, pró-apoptóticos, vasodilatadores e anti-hipertensivos (JACKSON, 2006). A angiotensina II provoca constrição das arteríolas pré-capilares e, em menor grau, das vênulas pós-capilares ao ativar os receptores AT1 localizados nas células musculares lisas vasculares, de modo que a ocorrência de aumentos modestos nas concentrações plasmáticas de angiotensina II provoca elevação aguda da pressão arterial (JACKSON, 2006). 3.4. Resistência Insulínica, DM2 e o desenvolvimento de Hipertensão arterial A resistência à insulina é definida como uma resposta biológica subnormal a uma determinada concentração desse hormônio. Cada vez mais prevalente em nossa sociedade, ela doenças endócrinas e a síndrome do ovário policístico (CARVALHO-FILHO et al., 2007). O hormônio angiotensina II é um peptídeo biologicamente ativo que apresenta efeitos pleiotrópicos sobre os sistemas nervoso, cardiovascular e endócrino, os quais são iniciados pela ativação de receptores específicos acoplados à proteína G, pertencentes à família dos receptores de sete segmentos transmembrana, chamados AT1 e AT2. Embora AT1 e AT2 sejam igualmente distribuídos em cardiomiócitos, vários estudos têm revelado que a maioria das respostas da Angiotensina II é mediada pelo subtipo AT1 (ITO et al., 1995; SADOSHIMA e IZUMO, 1996). Existem diversas vias de sinalização intracelular que participam da transdução do sinal da angiotensina II em células alvo, a exemplo da via que envolve a ativação da proteína Gq. Entretanto, a inter-relação entre a hipertensão arterial e o diabetes mellitus tipo II fica melhor compreendida através da ativação da cinase intracelular JAK2 (Janus quinase 2), que rapidamente direciona o sinal para o núcleo pelas proteínas transdutoras de sinal e ativadoras da transcrição (STAT) (SCHINDLER e DARNELL, 1995). 99 Edição nº 20 - Dezembro/2012 SOCS3 pela angiotensina II impede a ativação da via JAK-2/STAT-5b pela insulina. No nível funcional, o aumento da expressão de SOCS3 induzido pela angiotensina II impede a translocação do GLUT intracelular para a superfície da membrana. Portanto, a SOCS3 representa uma interface distal nos sistemas de sinalização de insulina e angiotensina II. Se, por um lado, isso pode representar uma proteção dos órgãos-alvo da insulina contra um estímulo constante de crescimento, por outro lado a indução da expressão da SOCS3 pode impedir uma transmissão eficiente do sinal de insulina pela via metabólica, dificultando a aquisição de energia (CARVALHO-FILHO et al., 2007). A resistência à insulina, com inibição do IRS-1, leva a uma hiperinsulinemia compensatória e ao desenvolvimento de disfunção endotelial, uma vez que o IRS-1 inibido impede a ativação da PI3-cinase, que está envolvida na geração do estímulo para a produção de óxido nítrico nas células endoteliais. Com a diminuição do estímulo para a produção do óxido nítrico, a atividade contrátil da angiotensina II se torna mais evidente, produzindo vasoconstrição, bem como nefropatia, retinopatia, neuropatia e hipertensão arterial (ARSA et al., 2009). O mecanismo básico da interação da angiotensina II e o seu receptor AT1, promovendo a ativação da via JAK/STAT, com sua principal implicação molecular e funcional é demonstrado na figura 3. Cadernos UniFOA A ativação da via JAK/STAT pela angiotensina II foi observada em células musculares lisas vasculares (MARRERO et al., 1995), fibroblastos cardíacos (BHAT et al., 1995), células musculares cardíacas (MASCARENO et al., 1998) e tecido cardíaco in vivo (VELLOSO et al., 1996). Por fim, por meio de uma combinação de efeitos diretos e secundários, a via JAK/STAT é ativada, com indução de uma variedade de fatores reguladores da transcrição (JACKSON, 2006). Como revisto por Calegari (2006), as proteínas SOCS, embora tenham sido, originalmente, descritas na sinalização das citocinas, podem ser induzidas através da ativação da via JAK/STAT por vários hormônios, como leptina, insulina, hormônio do crescimento, prolactina e angiotensina II. Além disso, SOCS3 é capaz de se ligar diretamente às proteínas IRS e direcioná-las para a degradação proteossômica (RUI et al., 2002). Dessa forma, sugere-se que as proteínas SOCS3 sejam potentes inibidores da sinalização da insulina. Esse fato é de grande interesse, uma vez que a expressão de SOCS3 está aumentada em várias situações associadas com resistência à insulina (UEKI et al., 2005). A interação da SOCS3 induzida pela angiotensina II com as proteínas das vias de sinalização insulínica tem implicações moleculares e funcionais. No nível molecular, essa interação impede a fosforilação em tirosina de IRS-1 e IRS-2 e a fosforilação em serina e a ativação da AKT. Além disso, a indução da 100 Figura 3: Modelo esquemático de hiperglicemia relacionado com a ativação de receptores AT1. JAK: Proteína Janus cinase; STAT: Proteínas transdutoras de sinal e ativadoras da transcrição; SOCS: Proteínas da família dos supressores de sinalização de citocinas; IRS-1: Substrato 1 do receptor de insulina; IRS-2: Substrato 2 do receptor de insulina; AKT: Proteína cinase B; GLUT-4: Transportador de glicose do tipo 4. Fonte: Figura feita pelo autor com base na referência Calegari, 2006. Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA 4. Discussão: a Angiotensina II pode alterar a ação da insulina? As ações da angiotensina II e da insulina envolvem múltiplos aspectos bioquímicos no processo de transdução de sinais, especialmente quando se pensa na inter-relação entre resistência insulínica, DM2 e Hipertensão arterial. Como revisto por Calegari (2006), vários mecanismos estão envolvidos na regulação dos sinais intracelulares transduzidos através da via JAK/STAT, entre eles, a internalização do receptor, a degradação pelo sistema ubiquitina/proteosoma, a ativação de proteínas PIAS (proteínas inibidoras ativadas pelas STATs) e também a expressão de moléculas reguladoras da sinalização, como as tirosinas fosfatases e as proteínas da família SOCS. De acordo com evidências crescentes na literatura, o sistema ubiquitina/proteosoma torna-se crucial na marcação de determinadas proteínas intracelulares alterando a cascata de sinalização insulínica, uma vez que a SOCS3 é capaz de ligar-se ao IRS-1 e IRS-2, provocando sua degradação proteossômica, através do mecanismo de ubiquitinação (CARVALHOFILHO et al., 2007). Nesse sentido, a angiotensina II pode alterar a ação da insulina? Há indicações de que a angiotensina II pode alterar a ação da insulina in vivo por pelo menos dois motivos principais. A angiotensina II através do seu efeito vasoconstritor pode reduzir a eliminação de insulina nos tecidos periféricos e assim levar a um excesso de insulina tecidual, o que por sua vez, levaria a uma hipossensibilização do receptor à ação da insulina (FLISER et al., 1997). Vários estudos têm demonstrado que o uso de agentes que inibem a ação da angiotensina II, como inibidores da enzima conversora de angiotensina II (ECA) e os antagonistas do receptor AT1, não somente reduzem a pressão sanguínea como também melhoram a sensibilidade à insulina em indivíduos hipertensos e resistentes à insulina (FELDMAN, 2000; SCHEEN, 2004). Dessa forma, torna-se claro que o sistema renina-angiotensina exerce papel regulatório importante sobre a ação da insulina. Peraldi e colaboradores (2001) demonstraram que a insulina induz a expressão do RNAm de SOCS3 em adipócitos e a translocação desta proteína para a membrana plasmática onde, através de seu domínio SH2, interage com a fosfotirosina 960 (py960) do receptor de insulina podendo, dessa forma, participar da dessensibilização do sinal da insulina já que co ou nenhum efeito sobre a pressão arterial, em angiotensina II, um potente vasoconstritor, atuando sobre os receptores AT1 e AT2. A ECA tem presença abundante na superfície endotelial do pulmão e além de formar angiotensina II, também inativa a ação de peptídeos vasoativos como a bradicinina e a calidina (ARSA et al., 2009). O tratamento com bloqueadores dos receptores AT1 da angiotensina II, assim como o uso de inibidores da ECA, vem sendo associado a uma menor incidência de novos casos de diabetes mellitus tipo 2 (ABUISSA et al., 2005). Sabe-se que a via JAK/STAT é ativada pela angiotensina II através do receptor AT1 (ALI et al., 1997). Inibidores farmacológicos da atividade deste receptor, como Losartan, podem bloquear a atividade in vivo da angiotensina II (ARDAILLOU, 1999). Os bloqueadores dos receptores AT1 da angiotensina II são de uso corrente no tratamento da hipertensão arterial, evitando assim os efeitos maléficos da angiotensina II (RIBEIRO, 2007). Reduzir o impacto do DM2 e da hipertensão arterial significa, antes de tudo, reduzir a incidência das doenças, antecipando-se ao aparecimento com medidas preventivas, sobretudo em indivíduos de alto risco. Intervenções comportamentais e farmacológicas têm sido estudadas e implementadas com esse objetivo. 101 5. Considerações Finais Edição nº 20 - Dezembro/2012 Conclui-se que há correlação direta entre a angiotensina II e resistência insulínica em portadores de hipertensão arterial e/ou diabetes mellitus tipo II. O principal mecanismo bioquímico envolvido é a ativação da via JAK/STAT/ SOCS3, mediado pela ativação do receptor AT1, que por sua vez, determina a ubiquitinação dos substratos responsivos de insulina. O controle farmacológico da hipertensão arterial sistêmica deve ser instituído, sempre que possível com inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA), com o propósito de diminuir a ativação dos receptores AT1, pela angiotensina II, portanto, assim, minimizar os efeitos de resistência insulínica desses pacientes. Cadernos UniFOA compete com STAT5b por este sítio. A SOCS3 reduz a fosforilação em tirosina de IRS-1 e sua subsequente associação à subunidade p85 (subunidade regulatória) da enzima PI3-K, demonstrando que a ligação de SOCS3 à py960 inibe o acoplamento entre IRS-1 e o receptor de insulina (EMANUELLI et al., 2001). Conforme vários autores, a insulina regula finamente sua sinalização através de várias alças de controle negativo (RICORT et al., 1995; VIRKAMAKI et al., 1999) e, dessa forma, vários circuitos de controle são necessários para manter a ordem adequada nas múltiplas vias de sinalização ativadas pelo hormônio e, portanto, permitir uma resposta celular final coordenada. Acredita-se que a indução de SOCS3 pela insulina constitua-se em um dos meios utilizados por este hormônio para controlar sua própria sinalização e de estabelecer uma comunicação com outros hormônios. Sabe-se que cerca de 50% dos pacientes portadores de diabetes mellitus tipo II apresentam hipertensão arterial e que, quase a totalidade de pacientes primariamente hipertensos, são resistentes à ação da insulina (FERRANNINI et al., 1987). A resistência à insulina em pacientes hipertensos e diabéticos tipo II é caracteristicamente acompanhada por hiperinsulinemia (DEFRONZO e FERRANNINI, 1991). Altos níveis circulantes de insulina podem causar hiperatividade do sistema nervoso simpático, o que poderia contribuir para o desenvolvimento da hipertensão arterial (LANDSBERG, 1999). Dessa forma, tanto a hipertensão arterial quanto o DM2 são patologias que podem se expressar de forma recíproca, isto é, quando uma dessas não é tratada, tem grande chance de evoluir levando ao aparecimento da outra enfermidade, o DM2 pela ativação da SOCS3 que induz a degradação proteossômica dos substratos responsivos de insulina diminuindo, dessa forma, a sinalização insulínica e a hipertensão arterial oriunda, dentre outros fatores, como consequência de uma super ativação do sistema nervoso simpático. Nesse sentido, o DM2 e a hipertensão arterial necessitam de alguns tratamentos, entre eles o farmacológico. Sabe-se que a formação da angiotensina II é dada pela ação da ECA (enzima conversora de angiotensina), responsável pela conversão da angiotensina I, a qual tem pou- 102 6. Referências Bibliográficas 1. ABUISSA, H.; JONES, P.G.; MARSO S.P.; O’KEEFE, J.H. Angiotensinconverting enzymeinhibitors or angiotensinreceptor blockers for prevention of type 2 diabetes:a metaanalysis of randomized clinical trials. J Am CollCardiol., v.46, p.821–26, 2005. 2. ALI, M.S. et al. Angiotensin II stimulates tyrosine phosphorylation and activation of insulin receptor substrate 1 and proteintyrosine phosphatase 1D in vascular smooth muscle cells. J Biol Chem., v.272, n.12, p.373-79, 1997. 3. ARDAILLOU, R. Angiotensin II receptors. J Am SocNephrol., v. 11, p.30-9, 1999. 4. ARSA et al. Diabetes Mellitus Tipo 2: Aspectos fisiológicos, genéticos e formas de exercício físico para seu controle. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum., v.11, n.1, p.103-11, 2009. Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA 5. BHAT, G.J.; THEKKUMKARA, T.J.; THOMAS, W.G.; CONRAD, K.M.; BAKER, K.M. Activation of the STAT pathway by angiotensin II in T3CHO/AT1 a cells. 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Endereço para Correspondência: Pedro Lopes Fraga [email protected] Centro Universitário de Volta Redonda Campus Três Poços Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, no 1325, Três Poços – Volta Redonda / RJ CEP: 27240-560 Edição nº 20 - Dezembro/2012 17. LEHNINGER, A. L.; NELSON, D. L.; COX, M. M. Lehninger: Princípios de Bioquímica. Porto Alegre: Artmed, 2011. 25. SADOSHIMA, J.; IZUMO, S. The heterotrimeric Gq protein-coupled angiotensin II receptor activates p21 ras via the tyrosine kinase-Shc-Grb2-Sos pathway in cardiac myocytes. Embo J., v.15, p.775-87, 1996. Cadernos UniFOA 16. LANDSBERG, L. Insulin resistance and hypertension. Clin Exp Hypertens., v.21, p.885-94, 1999. Ecologia da comunidade de metazoários parasitos do xixarro, Trachurus lathami Nichols, 1920 (Osteichthyes: Carangidae) do litoral do Estado do Rio de Janeiro, Brasil. 105 Community ecology of the metazoan parasites of rough scad, Trachurus lathami Nichols, 1920 (Osteichthyes: Carangidae) from the coastal zone State of Rio de Janeiro, Brazil. Artigo Original Paulo Henrique da Silva Gonçalves¹ Dimitri Ramos Alves2 Trachurus lathami Carangidae Abstract From November 2009 to April 2010, 64 specimens of rough scad, Trachurus lathami Nichols, 1920 (Osteichthyes: Carangidae) collected from coastal zone of the state of Rio de Janeiro (21-23ºS, 41-45ºW), were necropsied to study their infracommunities of metazoan parasites. Nine species of metazoan parasites were collected: 2 digeneans, 1 monogenean, 1 cestode, 1 acantocephala, 3 nematodes and 1 copepod. All the T. lathami specimens were parasitized by, at least, one metazoan specie. A total of 725 parasites were collected, an average of 11.32 ± 9.19 per fish. The digeneans were the majority of the specimens collected, with 78.34%. Ectenurus virgulus Linton, 1910 was the dominant species with highest abundance, prevalence, frequency of dominance and media relative dominance. The parasites of T. lathami showed a typical aggregate pattern of distribution. The average richness of parasite species was 2.1 ± 0.8. None of the metazoan parasites species showed correlation among the fish total length and the prevalence, abundance and richness parasite. Recebido em 07/2012 Aprovado em 12/2012 Keywords: Metazoan parasites Trachurus lathami Carangidae 1 Discente do Curso de Ciências Biológicas do Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA 2 Docente do Curso de Ciências Biológicas – UniFOA. Edição nº 20 - Dezembro/2012 Metazoários parasitos Resumo Entre novembro de 2009 e abril de 2010, 64 espécimes do xixarro, Trachurus lathami Nichols, 1920 (Osteichthyes: Carangidae) coletados no litoral do Estado do Rio de Janeiro (21-23ºS, 41-45ºW), foram necropsiados para o estudo das infracomunidades de metazoários parasitos. Nove espécies de metazoários parasitos foram coletadas: duas espécies de digenéticos, uma de monogenético, uma de cestóide, uma de acantocéfalo, três de nematóides e uma de copépode. Todos os espécimes de T. lathami estavam parasitados por pelo menos uma espécie de metazoário. Foram coletados 725 espécimes de parasitos, com média de 11,32 ± 9,19 por peixe. Os digenéticos corresponderam a maioria dos espécimes coletados, com 78,34%. Ectenurus virgulus Linton, 1910 foi a espécie dominante, com os maiores valores de abundância, prevalência, frequência de dominância e dominância relativa média. Os parasitos de T. lathami apresentaram típico padrão de distribuição agregada. A riqueza parasitária média foi de 2,1 ± 0,8. Nenhuma espécie de metazoário parasito apresentou correlação entre o comprimento total do hospedeiro e a prevalência, abundância e a riqueza parasitárias. Cadernos UniFOA Palavras-chave: Original Paper Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA 106 1. Introdução 2. Material E Métodos Os peixes pertencentes ao gênero Trachurus têm ampla distribuição mundial, ocorrendo na maioria das áreas neríticas e oceânicas, em regiões tropicais e temperadas. Das 15 espécies desse gênero, apenas Trachurus lathami Nicols, 1920 ocorre no Atlântico ocidental (SACCARDO, 1987; SACCARDO; KATSURAGAWA, 1995; SUDA et al., 1995; NELSON, 2006). No Brasil, esse peixe é conhecido como xixarro, alcança aproximadamente 40cm de comprimento e cerca de 0,5Kg, forma cardumes grandes em águas relativamente afastadas da costa e constitui um importante recurso pesqueiro. Alimenta-se de invertebrados planctônicos, como copépodes e larvas de gastrópodos, e se distribui desde o Golfo do Maine (EUA) ao norte da Argentina (MENEZES; FIGUEIREDO, 1980; LOWEMCCONNELL, 1999; FIGUEIREDO et al., 2002; CARVALHO; SOARES, 2006). No Brasil, estudos sobre a ecologia das comunidades de metazoários parasitos carangídeos foram realizados por Takemoto et al. (1995, 1996) e Takemoto e Luque (2002) com Oligoplites spp.; Luque e Alves (2001) com Caranx hippos (Linnaeus, 1766) e Caranx latus Agassiz, 1831; Luque e Cezar (2004) com Trachinotus goodei Jordan e Evermann, 1896 e Cordeiro e Luque (2004) com Selene setapinnis (Mitchill, 1815). Ressaltamos também os estudos realizados por Luque e Poulin (2004, 2007), Luque et al. (2004) e Poulin et al. (2011) com a inclusão de carangídeos do litoral do Estado do Rio de Janeiro nas análises sobre biodiversidade parasitária. Em relação aos registros e/ou descrições de espécies de metazoários parasitos de T. lathami, podemos destacar os trabalhos realizados por Amato (1982), Fernandes et al. (1985) e Kohn et al. (2007). O presente trabalho tem como objetivo desenvolver uma análise ecológica da comunidade de metazoários parasitos do xixarro, Trachurus lathami, proveniente do litoral do Estado do Rio de Janeiro, realizando uma análise ao nível de infracomunidade e comunidade componente. No período de novembro de 2009 a abril de 2010 foram necropsiados 64 espécimes de T. lathami, coletados no litoral do Estado do Rio de Janeiro (21-23°S, 41-45°W). Os peixes foram adquiridos de pescadores artesanais. Uma vez obtidos, os mesmos foram acondicionados em caixas de isopor contendo gelo, para assegurar boas condições da coleta dos parasitos e protegê-los durante o transporte até o Laboratório de Zoologia do Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA), onde foram realizadas as necropsias. A determinação dos peixes foi feita de acordo com Menezes e Figueiredo (1980) e Figueiredo et al. (2002). A coleta, registro e processamento dos parasitos foram realizados de acordo com os procedimentos indicados por Eiras et al. (2000). A análise incluiu somente as espécies com prevalência maior que 10% (BUSH et al., 1990). O cálculo da frequência de dominância e da dominância relativa (número de espécimes de uma espécie/número total de espécimes de todas as espécies de cada infracomunidade) foi feito seguindo a metodologia de Rohde et al. (1995). O quociente entre a variância e a abundância média (índice de dispersão) foi calculado para cada espécie de parasito com o intuito de determinar seu padrão de distribuição, sendo sua significância testada com o estatístico d (LUDWIG; REYNOLDS, 1988). O coeficiente de correlação por postos de Spearman, rs, foi usado para determinar possíveis correlações entre o comprimento total do hospedeiro e a abundância de infecção/infestação. O coeficiente de correlação de Pearson, r, foi usado para determinar a possível correlação entre o comprimento total do hospedeiro e a prevalência da infecção/infestação parasitária, com prévia transformação angular dos dados de prevalência (ZAR, 1996). As amostras dos hospedeiros foram separadas em quatro intervalos de classe com amplitude de 1,5cm. A terminologia ecológica usada é a recomendada por Bush et al. (1997). Todos os valores que correspondem à média de alguma variável são acompanhados do respectivo desvio padrão. O nível de significância estatística adotado foi P < 0,05. 3. Resultados letado, com abundância média de 11,32 ± 9,19. O digenético Ectenurus virgulus Linton, 1910 foi o mais prevalente e abundante (Tabela 1). Os digenéticos, nematóides e o acantocéfalo corresponderam a 78,34%, 17,51% e 2,34% do total de parasitos coletados, respectivamente. Os componentes da comunidade parasitária do T. lathami apresentaram o típico padrão de distribuição superdispersão (Tabela 2). Ectenurus virgulus apresentou a maior frequência de dominância e o maior valor de dominância relativa média (Tabela 3). Nenhuma espécie de metazoário parasito apresentou correlação entre o comprimento total do hospedeiro e a prevalência e abundância. A abundância média (rs = 0,241; P = 0,054) e a riqueza parasitária (2,1 ± 0,8; rs = 0,147, P= 0,246) não apresentaram relação com o comprimento do hospedeiro. 3.1. Componentes da comunidade parasitária Os espécimes de T. lathami mediram 18,2 ± 1,1 (16 – 22) cm de comprimento total. Os espécimes machos (n = 14) mediram 18,3 ± 0,7cm, os espécimes fêmeas (n = 21) mediram 18,3 ± 1,1cm e os demais espécimes (n = 29), cujo sexo não foi determinado, mediram 17,9 ± 1,2cm de comprimento total. O comprimento total dos espécimes machos e fêmeas não apresentou diferença significativa (t = - 0, 263; P = 0,796). Todos os espécimes de T. lathami estavam parasitados por pelo menos uma espécie de metazoário. Um total de 725 espécimes de parasitos pertencentes a nove espécies foi co- 107 Tabela 1. Prevalência, amplitude da intensidade, intensidade média, abundância média e local de infecção/infestação dos metazoários parasitos de Trachurus lathami do litoral do Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Prevalência Local (%) Amplitude da intensidade Intensidade média Abundância média Aponurus laguncula 26,56 1–4 1,76 ± 0,97 0,46 ± 0,92 Estômago Ectenurus virgulus 92,18 1 – 34 9,11 ± 7,94 8,40 ± 8,01 Estômago 1,56 - 1 0,01 ± 0,12 Brânquias 7,81 1–2 1,87 ± 2,10 0,10 ± 0,40 Mesentério 15,62 1–7 1,7 ± 1,88 0,26 ± 0,94 Mesentério Anisakis sp. (Larva) 9,37 1–8 3,0 ± 2,89 0,28 ± 1,20 Mesentério Pseudoterranova sp. (Larva) 46,87 1 – 11 3,26 ± 2,83 1,53 ± 2,53 Mesentério Raphidascaris sp. (Larva) 7,81 1–4 2,2 ± 2,10 0,17 ± 0,67 Mesentério 4,68 1–2 1,66 ± 0,57 0,7 ± 0,36 Brânquias Parasitos de infecção Digenea Cestoidea Grillotia sp. (Plerocercóide) Acanthocephala Corynosoma sp. (Cistacanto) Nematoda Copepoda Caligus sp. Edição nº 20 - Dezembro/2012 Pseudaxine trachuri Cadernos UniFOA Monogenea 108 Tabela 2. Índice de dispersão (ID) e do estatístico d dos metazoários parasitos de Trachurus lathami do litoral do Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Índice de dispersão Parasitos d (ID) Aponurus laguncula 1,829 4,000* Ectenurus virgulus 7,635 19,836* Corynosoma sp. (Cistacanto) 3,381 9,459* Pseudoterranova sp. (Larva) 4,187 11,788* (*) Valores significativos. Tabela 3. Frequência de dominância, frequência de dominância compartilhada e dominância relativa média dos componentes das infracomunidades de metazoários parasitos de Trachurus lathami do litoral do Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Parasitos Frequência de dominância Frequência de dominância compartilhada Aponurus laguncula 0 2 0,02 ± 0,05 Ectenurus virgulus 51 3 0,68 ± 0,30 Corynosoma sp. (Cistacanto) 4 2 0,04 ± 0,16 Pseudoterranova sp. (Larva) 6 3 0,14 ± 0,21 Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA 4. Discussão Os resultados obtidos no presente trabalho indicam a dominância do digenético Ectenurus virgulus na comunidade de metazoários de Trachurus lathami. A maioria dos estudos sobre a comunidade parasitária de peixes marinhos do litoral do Estado do Rio de Janeiro relata o padrão de dominância de endoparasitos, sejam estes digenéticos (LUQUE et al., 1996; TAKEMOTO et al., 1996; KNOFF et al., 1997; LUQUE; CHAVES, 1999; SILVA et al., 2000; ALVES et al., 2004; TAVARES et al., 2004; LUQUE et al., 2008; MARQUES; ALVES, 2011), nematóides adultos (ALVES; LUQUE, 2001; ALVES et al., 2002) ou larvas de nematóides (LUQUE et al., 2002, 2003; SABAS; LUQUE, 2003) apresentando similaridade com o resultado encontrado. Corroborando com o estudo realizado por Braicovich et al. (2012). Outra característica observada na composição da comunidade de parasitos do xixarro foi a presença de um número maior de espécies em estágio larval (Grillotia sp.; Corynosoma sp; Anisakis sp.; Pseudoterranova sp.; Raphidascaris sp.) em relação aos endoparasitos adultos (Aponurus laguncula; Ectenurus Dominância relativa média virgulus) e ectoparasitos (Pseudaxine trachuri e Caligus sp.). A primeira característica, dominância de E. virgulus, pode estar associada ao hábito alimentar de T. lathami que se baseia principalmente no consumo de moluscos, crustáceos e quetognatos (MENEZES; FIGUEIREDO, 1980; SACCARDO, KATSURAGAWA, 1995; SUDA et al., 1995; FIGUEIREDO et al., 2002; CARVALHO; SOARES, 2006), os quais podem atuar como hospedeiro intermediário para o digenético supracitado (DAPONTE et al., 2006; 2008; BRAICOVICH et al., 2009). A presença de larvas de parasitos em T. lathami pode ser considerada um reflexo do nível trófico intermediário dessa espécie (GEORGE-NASCIMENTO, 1987; LUQUE; POULIN, 2004). Belleggia et al. (2011) registraram a ocorrência T. lathami como item alimentar do elasmobrânquio Mustelus schmitti (Carcharhiniformes: Triakidae), sendo este hospedeiro definitivo de cestóides tripanorinquídeos (BEVERIDGE; CAMPBELL, 2010). No presente estudo, observamos a presença de Grillotia sp. (plerocercóide) na cavidade celomática de T. lathami. Tal fato vem a reforçar a posição intermediária do xixarro na cadeia alimentar. Takemoto et al. (1995; 1996), Luque e Alves (2001), Cordeiro e Luque (2004) e Braicovich et al. (2012). Nesses estudos os digenéticos hemiurídeos (Digenea: Hemiuridae), representado pelos gêneros Ectenurus, Lecithochirium e Parahemiurus, estiveram presentes, assim como os cestóides tripanorinquídeos (Cestoda: Trypanorhyncha) e os anisaquídeos (Nematoda: Anisakidae). Os ectoparasitos, representados pelos monogenéticos e crustáceos, apresentaram maior especificidade quanto aos carangídeos. Nas espécies de hospedeiros mais próximas filogeneticamente (Caranx spp., Senele spp. e Oligoplites spp.) podemos observar a similaridade a nível de espécie. Em relação aos estudos sobre a comunidade de metazoários parasitos de Trachurus spp. da América do Sul, podemos destacar os estudos de Oliva (1994) com Trachurus symetricus murphyi Nickols, 1920 provenientes do Chile e Braicovich et al. (2012) com espécimes de T. lathami provenientes da Argentina e Brasil. A fauna parasitária de Trachurus spp., nos estudos supracitados, apresentou o mesmo padrão na composição das espécies de parasitos. 109 5. Agradecimento Agradecemos ao Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA) pelo apoio financeiro. Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA O caráter agregado ou superdisperso da distribuição dos parasitos na amostra de T. lathami, do presente trabalho, é considerado um aspecto típico do parasitismo em função da amplitude das dimensões dos nichos e da heterogeneidade das diversas populações de hospedeiros. Luque et al. (1996) citaram vários exemplos relacionados com a dispersão de parasitos de peixes marinhos. A comunidade parasitária de T. lathami apresentou menor número de espécies, riqueza parasitária, em relação às comunidades de carangídeos estudadas da costa brasileira (TAKEMOTO et al., 1996; LUQUE; ALVES, 2001; CORDEIRO; LUQUE, 2004; BRAICOVICH et al., 2012). Tal fato pode ser atribuído às características biológicas, a distribuição geográfica e peculiaridades físico-químicas de cada região onde os espécimes foram coletados (OLIVA; GONZALEZ, 2005). Braicovich et al. (2012) registraram 18 espécies de metazoários parasitos em T. lathami provenientes da região de Cabo Frio, Rio de Janeiro, número maior do que observado no presente estudo (n = 9). Essa região, localizada a nordeste do Estado do Rio de Janeiro, apresenta, devido à conjunção de fatores geográficos, meteorológicos e hidrológicos, a particularidade do fenômeno da ressurgência (SADD; NETTO, 1992). Entretanto, observamos similaridade qualitativa em relação aos táxons registrados por 110 6. Referências 1. ALVES, D. R.; LUQUE, J. L. Community ecology of the metazoan parasites of the White Croaker Micropogonias furnieri (Osteichthyes: Sciaenidae), from the coastal zone of the State of Rio de Janeiro, Brazil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v. 96, n. 2, p. 145-153, 2001. 2. ALVES, D. R.; LUQUE, J. L.; PARAGUASSÚ, A. R. 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Ocorrência de ovos de Ancylostoma spp. em amostras de fezes de gatos (Felis catus LINNAEUS, 1758) domiciliados em uma área escolar da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, RJ, Brasil 115 Occurrence of Ancylostoma spp. eggs in cats (Felis catus LINNAEUS, 1758) fecal samples in a school area in Rio de Janeiro Metropolitan Region Viviane Abreu de Andrade1 Marco Antonio Ferreira da Costa2 Júlio Vianna Barbosa3 Artigo Original Original Paper Recebido em 04/2012 Ancylostoma Helmintos Gatos Fezes. Abstract The present work accomplished the coproparasitology assessment for helminthes from a cats population sample that lives in a school area placed in the north zone of Rio de Janeiro. There were 24 feces samples that were collected and processed according to the sucrose solution centrifugal-fluctuation diagnosis method (d=1,203 g/cm3). Ancylostomid eggs were detected in 95,8% of the analyzed samples. The increased level of positive samples shows the necessity of intestinal parasitism control of the cats population from the studied area in addition to educational actions aiming human/animal health protection. The results obtained indicate that the school area studied reveal potential zoonotic hazard to the acquisition of Cutaneous Larva migrans. Key-words: Zoonosis Ancylostoma Helminth Cats Feces 1 Doutoranda em Ensino em Biociências e Saúde, Instituto Oswaldo Cruz, Laboratório de Inovações em Terapias, Ensino e Bioprodutos, FIOCRUZ/RJ Laboratório de Educação Profissional em Técnicas Laboratoriais em Saúde, Escola Politécnica Joaquim Venâncio, FIOCRUZ/RJ 2 3 Laboratório de Educação em Ambiente e Saúde, Instituto Oswaldo Cruz, FIOCRUZ/RJ Aprovado em 12/2012 Edição nº 20 - Dezembro/2012 Zoonose Resumo O presente trabalho teve por objetivo realizar o inquérito coproparasitológico para helmintos de uma amostra da população de gatos, que vivia na área de uma escola localizada na Zona Norte do Município do Rio de Janeiro. Foram colhidas e processadas 24 amostras de fezes de acordo com o método de diagnóstico de centrífugo-flutuação em solução de sacarose (d=1,203g/cm3). Foram encontrados ovos de Ancylostoma spp. em 95,8% (23/24) das amostras analisadas. A elevada taxa de amostras positivas apontou a necessidade de aplicação de medidas de controle do parasitismo intestinal da população de gatos da área estudada, além de medidas educativas, destinadas à proteção da saúde animal e humana. Os resultados obtidos indicaram que a área escolar estudada apresentava potencial risco zoonótico para aquisição de Larva migrans cutânea. Cadernos UniFOA Palavras-chave: Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA 116 1. Introdução As fezes de gatos têm sido tratadas por diversos autores como um problema de saúde pública (CÔRTES et al., 1988; CASTILLO et al., 2000; NUNES et al., 2000; COELHO et al., 2001; RAGOZO et a., 2002; ALONSO et al., 2004; MERCADO et al., 2004; SANTARÉM et al., 2004 & GUIMARÃES et al., 2005; REY, 2008). O contato com fezes contaminadas de animais de estimação como gato, cachorro, pássaros e outros, pode promover algumas doenças conhecidas como zoonoses parasitárias. As zoonoses, segundo a Organização Mundial de Saúde (2009), são caracterizadas como todas as doenças e infecções, que de forma natural, acometem tanto animais vertebrados quanto o homem. Dentre as zoonoses associadas às fezes de gatos, este artigo tratará especificamente da dermatite serpiginosa ou Larva migrans cutânea. A Larva migrans cutânea (LMC) é uma dermatite provocada pela migração de larvas de nematódeos em um hospedeiro não habitual (NEVES, 2005; REY, 2008). A Infecção humana por LMC ocorre onde há cães e gatos infectados por Ancylostoma spp. e solos arenosos. Esses animais, especialmente os gatos, apresentam o hábito de enterrar seus excrementos. E tal hábito, associado ao calor e a umidade elevada do ambiente, favorece o desenvolvimento das larvas e a consequente eclosão dos ovos dos ancilostomídeos (REY, 2008). O homem, ao entrar em contato com esse tipo de solo, pode se contaminar em razão da possibilidade de penetração das larvas de ancilostomídeos em sua pele. Os pés, as pernas, as nádegas e as mãos são as partes do corpo mais afetadas (ARAÚJO et al, 2000; CASTRO et al., 2002; SANTARÉM et al.,2004; NEVES, 2005; REY, 2008). No organismo humano, essas larvas não conseguem completar as migrações habituais do ciclo de vida do parasito e, por essa razão, escavam a região entre a epiderme e a derme até morrer. Na tentativa de conseguir seguir o caminho, no organismo hospedeiro, para realizar o ciclo pulmonar, essas larvas causam erupções serpiginosas a partir do ponto de penetração na pele e seguem percorrendo um trajeto irregular, podendo se alongar como um traçado de um mapa. Por essa razão, essa zoonose é conhecida popularmente como “bicho geográfico” (ARAÚJO et al, 2000; NUNES et al., 2000; NEVES, 2005; REY, 2008;) ou “bicho das praias” (REY, 2008). No Brasil, Ancylostoma braziliensis e Ancylostoma caninum são os principais nematódeos envolvidos nas manifestações patológicas do tipo Larva migrans cutânea (NEVES, 2005; REY, 2008). Estudos mostram que a contaminação de caixas de areia e solo por fezes de gatos e cães com ancilostomídeos, em ambientes escolares e praças públicas, pode favorecer a infecção e o desenvolvimento de dermatites por Larva migrans na população humana (LIMA et al., 1984; UGA & KATOAKA, 1995; ABREU et al., 1996; ARAÚJO et al., 2000; MERCADO et al., 2004 & GUIMARÃES et al., 2005). O trabalho teve como objetivo identificar a presença de nematódeos gastrointestinais em amostras de fezes de gatos de comportamento domiciliado, em semiconfinamento, que viviam na área de uma escola, localizada na Zona Norte do Município do Rio de Janeiro - que atende aproximadamente 7.000 alunos. 2. Metodologia A pesquisa foi desenvolvida numa área escolar com 32.960,00m2, localizada na Zona Norte do Município do Rio de Janeiro, RJ, no período de julho de 2004 a agosto de 2004. Inicialmente, foi realizada a estimativa da população de gatos da área estudada segundo o censo real. Segundo Mendes-de-Almeida (2002), este consiste na contagem de todos os indivíduos de determinada área. O parâmetro utilizado para a identificação e contagem dos indivíduos que ocupavam a área pesquisada foi o padrão de cores da pelagem dos animais. Esses padrões foram registrados por meio de ensaio fotográfico. E, a identificação dos gatos foi realizada por meio das fotografias obtidas. Destaca-se que, o extenso padrão de atividade diurna, apresentado pela população estudada e a sua indiferença quanto à observação humana favoreceram a etapa de elaboração do censo populacional real. A opção pela não captura dos animais foi motivada pelo suporte, de natureza relacionada à infraestrutura laboratorial, insuficiente para tal procedimento no locus da pesquisa. Figura 1. Planta baixa da área pesquisada, fornecida pela prefeitura da escola. I ponto de coleta I, II ponto de coleta II e III ponto de coleta III. Foram coletadas e analisadas 24 amostras de fezes. O material foi processado pelo método de centrifugo-flutuação em solução saturada de sacarose (d= 1,203g/cm3). A descrição do método adotado foi obtida em Carli (2001) e a sua aplicação foi mencionada por Basso et al. (1998), Gennari et al. (1999), Ragozo et al. (2002) e Serra et al. (2003), em seus trabalhos de identificação de ocorrência de helmintos e protozoários em fezes de gatos. Esse método foi utilizado, também, por Guimarães et al. (2005) para identificar ovos de Toxocara sp. e de Ancylostoma sp. em solo e areia de praças públicas, creches, unidades escolares e clubes. 3. Resultados e Discussão 3.1. O nicho ecológico Foram encontrados 17 gatos, vivendo em semiconfinamento na área da escola. Foi verificado que esses animais encontravam-se distribuídos em quatro regiões diferentes da área escolar, formando grupos os quais foram denominados por letras (A, B, C, e D). O grupo A era constituído por quatro (4) gatos que viviam na área destinada à garagem da escola, onde recebiam alimentos sob forma de ração e restos de alimentos próprios para o consumo humano. Os alimentos eram forneci- 117 Edição nº 20 - Dezembro/2012 de moradia, hábitos, inimigos naturais, estratégias de sobrevivência, etc (REY, 2008). A determinação do nicho ecológico ocupado pela população de gatos permitiu a identificação e quantificação dos gatos; a localização das áreas ocupadas por estes; a determinação dos pontos de obtenção (fonte) de alimentos e os principais pontos onde estes defecavam. A seleção dos pontos de coletas das fezes para análise foi associada aos resultados encontrados, referentes ao nicho ecológico. Dessa forma, foram determinados três pontos de coleta: o Ponto I, que se encontrava localizado em um banco de areia próximo ao parque esportivo da escola, o Ponto II, numa praça de convivência e o Ponto III, na área destinada ao lixo produzido pela escola (Figura 1). Cadernos UniFOA Concomitantemente ao levantamento da estimativa populacional, foi realizada a pesquisa e a caracterização do nicho ecológico ocupado pela população de gatos da área pesquisada, com base em observações da movimentação dos animais. As observações foram realizadas, durante as 24 horas do dia, em um período de 10 dias consecutivos, no mês de julho de 2004. Segundo Odum (1988) e Futuyma (1996), nicho ecológico é o conjunto de relações e de atividades características de uma espécie em seu ambiente. Ou seja, trata-se da atividade da espécie dentro de seu habitat (NEVES, 2005). O nicho ecológico engloba desde a maneira pela qual uma espécie se alimenta até suas condições de reprodução, tipo Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA 118 dos pelos funcionários da escola. Esse grupo defecava num banco de areia existente entre o Bloco F e a pista de atletismo do Parque Esportivo (Figura 1). O grupo B era composto por seis (6) gatos que viviam na área destinada ao lixo produzido pela instituição. Nesse local, os animais se alimentavam basicamente de restos de alimentos, fornecidos pelos funcionários, e lixo. Nesse espaço havia uma área não cimentada, e com areia, que era utilizada, pelos animais, como o local para defecar. O grupo C era composto por cinco (5) gatos que viviam na praça (jardim), onde recebiam restos de alimentos oferecidos pelos transeuntes, funcionários e estudantes, dessa área. Este grupo raramente defecava no jardim, provavelmente pela consistência do solo desta área, muito compactado, o que dificultava o ato de enterro das fezes. Talvez por essa razão, estes animais frequentemente defecavam em duas praças, cujos solos eram arenosos, localizadas próximas ao Bloco I. E o grupo D era composto por somente dois (2) gatos que viviam na área destinada à gráfica da escola, onde recebiam alimentos cedidos por funcionários e defecavam em porções de areia colocadas no chão, dentro da gráfica, pelos mesmos funcionários. Apesar da distribuição espacial dos animais (Figura 1), ter se demonstrado bem demarcada, foi verificada uma variação dos pontos onde os animais defecavam nos dias de tempo chuvoso. Como esses animais têm como hábito enterrar suas fezes (REY, 2008), com o solo úmido em razão da ocorrência de chuva, foi observado que os animais defecavam em locais alternativos e incomuns como vasos de plantas com terra e caixas de areia para descarte de lixo localizados nos corredores da escola, jardins parcialmente cobertos e até mesmo no piso dos corredores do Bloco D. 3.2. Análise coproparasitológica A análise coproparasitológica mostrou a presença de ovos de Ancylostoma spp. (Figura 2) em 95,8% (23/24) (Tabela 1) das amostras analisadas. Não foram encontrados ovos de Toxocara sp. e/ou oocistos de protozoários. Figura 2. Ovos de ancilostomídeos encontrados nas amostras de fezes analisadas. Fotos obtidas por meio de microscopia óptica - Laboratório de Biologia Animal/UFRRJ. A. (100X), B. e C. (400X). Foi verificada a ausência de ancilostomídeos, somente, na amostra número cinco (5), pertencente ao grupo C, que foi coletada no ponto II (Praça do Bloco I). O resultado dessa amostra foi associado à introdução de um animal jovem na área do jardim, durante o período de realização desta pesquisa. Sugere-se que, talvez este animal não estivesse infectado ou no caso positivo para infecção, não estivesse liberando ovos de ancilostomídeos em suas fezes. 119 Tabela 1. Resultados das análises coproparasitológicas Amostra Pontos de 01 02 03 04 05 06 07 08 12/07/2004 15/07/2004 19/07/2004 22/07/2004 26/07/2004 29/07/2004 03/08/2004 05/08/2004 I + + + + + + + + II + + + + - + + + III + + + + + + + + Coleta de síndrome de Larva migrans em comunidades carentes onde há falta de informação, presença de animais errantes, limitação financeira e o desconhecimento da importância do tratamento dos animais domésticos. Entretanto, os resultados encontrados neste trabalho nos fazem refletir quanto ao “real” desafio e amplitude do quadro da síndrome de Larva migrans, uma vez que, a área pesquisada comporta uma escola que atende, principalmente, a classe média da sociedade carioca. E as condições encontradas não divergem muito, exceto pela situação financeira, daquelas apontadas por Heukelbach et al. (2003). Contudo, concordamos que ambas as situações refletem a carência de educação em saúde. Epizootias zoonóticas, infecções que circulam entre animais, dessa natureza tratam-se de eventos importantes do ponto de vista sanitário, já que colocam o segmento populacional que vive na área em questão sob risco de infecção, apesar do homem não representar um elo necessário na cadeia de transmissão do parasito (REY, 2008). Esse contexto exige, dos serviços responsáveis, a implementação imediata de medidas voltadas ao tratamento dos animais, à profilaxia de casos humanos e à implementação de medidas educativas que possibilitem a identificação do problema, a compreensão dos riscos associados, o julgamento e o enfrentamento da situação mediante a tomada de decisão para interrupção do ciclo evolutivo do parasito e de possíveis transmissões entre os gatos e o homem. Edição nº 20 - Dezembro/2012 A presença de ovos de ancilostomídeos nas fezes dos gatos que viviam na área pesquisada indica um potencial risco de infecção e ocorrência de LMC na população humana que frequenta essa área. Entretanto, o contato direto com estes animais não pode ser considerado um risco potencial de infecção, pois, os ovos de ancilostomídeos requerem pelo menos duas semanas, em condições de umidade e temperatura específicas para atingirem a forma infectante (3° estádio larvário), o qual é capaz de penetrar na pele humana (COELHO et al., 2001; NEVES, 2005; REY, 2008). Contudo, os relatos de casos humanos de Larva migrans em escolas, associados à presença de animais e às áreas de lazer (ARAÚJO et al., 2000; NUNES et al., 2000) realçam a importância da adequada implementação de medidas educativas e preventivas para tal enfermidade com o objetivo de estabelecer uma barreira efetiva à disseminação de doenças entre os gatos e entre os gatos e o homem na área escolar em que ocorreu esta pesquisa. Apesar da síndrome da LMC não apresentar predominância quanto à raça, sexo ou idade, é comum observar a incidência maior de casos em faixas etárias menores (crianças). Santarém et al. (2004) justificam esta ocorrência, relatando a maior exposição das crianças ao solo, em virtude das caixas de areia das áreas de recreação de escolas e parques, e das brincadeiras típicas da infância. Heukelbach et al. (2003) dissertam sobre o quadro desafiador Cadernos UniFOA Resultados: (+) = amostra positiva (-) = amostra negativa quanto à presença de ancilostomídeos. 95,8% de amostras positivas Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA 120 Ragozo et al. (2002), em seus estudos, referem-se à presença de animais domésticos em locais públicos com ressalvas, pois estes animais constituem fonte de infecção tanto para o homem quanto para outros animais e para o ambiente. Entretanto, segundo Mendesde Almeida (2005), a erradicação ou a transferência da população de gatos não são medidas indicadas para as áreas onde existe um nicho pré-estabelecido. Nesses casos, uma possível desocupação do nicho, promovida pela retirada dos animais, resultará na pronta ocupação da área por outra colônia de gatos, que, também, pode portar agentes etiológicos zoonóticos. Na área escolar pesquisada, a presença dos gatos e a ausência de medidas de controle do parasitismo intestinal dessa população, somadas a ausência de conteúdos e/ou propostas de trabalhos e projetos, no programa curricular, de nível médio, da instituição de ensino localizada na área pesquisada, que discutam temas como zoonoses, parasitismo, saúde pública dentre outros, indicam a desatenção e a pouca valorização, por parte da instituição e de seus profissionais da área de educação, dos conhecimentos científicos relacionados às interações (doenças/enfermidades) parasitárias, do contexto no qual os alunos encontram-se inseridos e da Educação em Saúde. Desse modo, a postura adotada pela instituição, diante da presença da população de gatos, encontrada na área escolar pesquisada, e do desconhecimento dos casos de enteroparasitismo desta mesma população, até a realização deste trabalho, colocava em risco de contaminação o solo, os animais e a população humana que frequentava essa área. Tal risco devia-se à infecção presente na população de gatos, aos hábitos destes animais e a proximidade da população humana com a de gatos, somada aos hábitos dos alunos de sentarem no chão dos corredores e nos bancos do jardim, enquanto aguardam as aulas ou conversam durante os horários de intervalos entre as aulas. Além disso, a prática esportiva na área próxima ao ponto de coleta I (Figura 1), também poderia expor os estudantes à contaminação pelo o contato com solo arenoso, onde os gatos eliminavam as fezes contaminadas por ancilostomídeos. Assim como, o uso inadequado de equipamento de proteção individual por parte das pessoas que trabalhavam varren- do o jardim, recolhendo o lixo, realizando a limpeza geral dos corredores e na manutenção dos vasos de plantas. Destacamos que a ausência de oocistos de Toxoplasma sp. nas amostras analisadas, não diverge dos resultados obtidos por Serra et al.(2003) e dos dados da literatura que relatam a dificuldade deste diagnóstico por meio de análises coprológicas (SERRA et al., 2003; REY, 2008). Para tanto, é recomendada a análise sorológica para alcançar diagnóstico mais preciso quanto à presença e/ou ausência de T. gondii (LUCAS et al., 1999; LANGONI et al., 2001; SERRA et al., 2003; REY, 2008). 3.3. Divulgação dos resultados das análises coproparasitológicas e recomendações Com base nos achados, foi recomendado, por intermédio de um relatório de situação encaminhado à direção da escola, o tratamento sistemático dos animais, sob orientação e supervisão de um Médico Veterinário, com anti-helmínticos de largo espectro, para assegurar o controle da infecção e impedir reinfecções nos animais e impedir a infecção humana (NEVES, 2005; REY, 2008). Foi sugerida a instalação de caixas de areia, próprias para gatos defecarem, nos pontos de coleta de amostras de fezes determinados por esta pesquisa. Outra recomendação conferida, porém, menos viável, por se tratar de animais em semiconfinamento, estava relacionada ao impedimento do acesso dos gatos aos tanques de areia da praça de esportes (NEVES, 2005; REY, 2008), visto que o contato com o solo contaminado pelas fezes destes animais aumenta a exposição humana aos agentes causadores de zoonoses, gerando risco à saúde e a integridade do organismo dos estudantes que realizam atividades físicas neste local. O relatório, também, enfatizou a necessidade de reforçar a orientação da necessidade de utilização de equipamentos de proteção individual, como botas e luvas, pela equipe de limpeza terceirizada que atuava na escola. Por fim, foram apresentadas duas alternativas complementares: o tratamento, com o lançamento de água fervente, do solo arenoso da área de prática de Educação Física, com vista à eliminação das larvas, e/ou substituição da areia do parque esportivo (REY, 2008). dante (ALVES, 2005). Assim, entendemos que a educação em saúde pode oferecer subsídios para o desenvolvimento e adoção de hábitos e condutas saudáveis, que poderão impactar, de forma positiva, a qualidade de vida do indivíduo no ambiente e o exercício da cidadania. Destacamos que, pela busca bibliográfica realizada sobre o tema abordado por este artigo, as pesquisas no Brasil ensaiam discussões pontuais quanto a presença e a convivência com animais domésticos em ambientes públicos como, escolas e praças de lazer. Porém, não foi verificada uma política pública, de cunho educacional, efetiva para esse assunto. Apesar de vários trabalhos destacarem as consequências da presença de animais domésticos em tais ambientes, uma vez que estes, quando contaminados, constituem fonte de infecção tanto para os animais quanto para o ambiente e para o homem. 121 4. Conclusão 5. Agradecimentos Ao Departamento de Assuntos Acadêmicos da escola na qual foi realizado este trabalho pelo apoio institucional e financeiro necessário para a realização deste trabalho. Ao Departamento de Biologia Animal do Instituto de Biologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, por ter viabilizado a identificação e a obtenção de fotos dos parasitos encontrados nos exames coproparasitológicos realizados. Edição nº 20 - Dezembro/2012 Os resultados deste trabalho reforçam a importância da necessidade de discussão sobre a presença de animais domésticos e a epidemiologia de zoonoses, como LMC, nos ambientes escolares. E da valorização do contexto escolar como mais um elemento para subsidiar a prática de ensino por meio de discussões que relacionem temas cotidianos, o ambiente no qual os indivíduos encontram-se inseridos, com tópicos das Biociências, como sugerido pelas orientações educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) do Ensino Médio (BRASIL, 2002). Cadernos UniFOA Em resposta a situação apresentada pelo relatório, a instituição promoveu a vermifugação dos animais e realizou reformas na área destinada à lixeira da escola. Esta pesquisa foi desenvolvida junto à Coordenação da disciplina Biologia e Programas de Saúde, da escola, e contou com a participação de 3 alunos. Estes acompanharam todas as etapas da pesquisa realizadas na área escolar e desenvolveram um trabalho em educação e saúde, sob orientação da primeira autora deste trabalho, cujo intuito era apresentar à comunidade escolar, o processo de desenvolvimento desta pesquisa, os resultados encontrados, as discussões e os desdobramentos do trabalho resultante da pesquisa, além de informá-la sobre a parasitose de caráter zoonótico que circulava no ambiente escolar frequentado por esta. Dessa forma, buscamos inserir e apresentar tópicos do tema parasitoses no contexto escolar de maneira a situá-lo em um ambiente real (o da própria escola) em que as interações entre os seres vivos (gatos, parasitos e homem) e o ambiente fossem facilmente percebidas. Assim, os resultados desta pesquisa foram apresentados num evento acadêmico que acontece anualmente na escola. Verificamos, por meio de relatos orais, durante a apresentação desses resultados o desconhecimento, por parte do público, de assuntos como zoonoses e síndrome de Larva migrans, além da presença de gatos na área escolar. Foi observado, também, grande interesse pelo tema, perante a apresentação do mesmo por meio de uma situação real, concreta e próxima aos sujeitos. Sugerimos que o interesse da população escolar pelo tema e pela forma de apresentação seja justificado em razão da grande procura por informações junto aos alunos que apresentaram os resultados desta pesquisa no evento acadêmico e pela procura para visitar o stand no qual ficou exposto o material produzido para apresentação do trabalho, mesmo nos horários em que não estava prevista a apresentação do trabalho pelos alunos. À Coordenação da disciplina Biologia e Programas de Saúde foram recomendados o desenvolvimento e a valorização da educação em saúde. Entendida neste estudo, como a construção de conhecimentos, compreensão e a adoção de práticas orientadas para a prevenção e a promoção da saúde no cotidiano do estu- 122 6. Referências 1. ALVES, V. S. A health education model for the Family Health Program: towards comprehensive health care and model reorientation. Interface - Comunic., Saúde, Educ., v.9, n.16, p.39-52, set.2004/fev.2005. 2. ABREU, A. C.; FRIOZI, E.; CARVALHO F.G.; CONCIANI, D.L.; GOMES, A. T.; MAKSOUD, J.C. Contaminação das areias dos parques de recreação por ovos de parasitas gastrointestinais, em Campo grande, MS, Brasil. In: Abstracts of the 15th Panamerican Congress of Veterinary Sciences, p.25-26, 1996. 3. ALONSO, J.M.; LÓPEZ, M.A.; BOJANICH, M.V.; MARULL, J. Infección por Toxocara canis en población adulta sana de un área subtropical de Argentina. Parasitol. Latinoam., v.59, p.61-64, 2004. 4. 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Publica prioritariamente pesquisas originais e contribuições de caráter descritivo e interpretativo, baseadas na literatura recente, bem como artigos sobre temas atuais ou emergentes e comunicações breves sobre temas relevantes e inéditos desenvolvidos em nível de Graduação, e Pós-graduação Lato e Stricto Sensu. Seleção de artigos: na seleção de artigos para publicação, avaliam-se a originalidade, a relevância do tema e a qualidade da metodologia científica utilizada, além da adequação às normas editoriais adotadas pelo periódico. Revisão por pareceristas: todos os artigos publicados são revisados por pareceristas resguardado o anonimato dos autores para uma avaliação mais acurada. Ineditismo do material: o conteúdo do material enviado para publicação na Revista Cadernos UniFOA não pode ter sido publicado anteriormente, nem submetido para publicação em outros locais. Para serem publicados em outros locais, ainda que parcialmente, necessitam aprovação por escrito dos Editores. Os conceitos e declarações contidos nos trabalhos são de total responsabilidade dos autores. Direitos Autorais: ao encaminhar um original à revista, os autores devem estar cientes de que, se aprovado para publicação, os direitos autorais do artigo, incluindo os de reprodução em todas as mídias e formatos, deverão ser concedidos exclusivamente para a Revista Cadernos UniFOA. Para tanto é solicitado ao autor principal que assine declaração sobre o Conflito de interesses e Transferência de Direitos Autorais e envie para Editora FOA - Campus Três Poços - Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325, Três Poços, Volta Redonda - RJ. CEP: 27240-560. (Conferir anexo). Serão aceitos trabalhos para as seguintes seções: (1) Revisão - revisão crítica da literatura sobre temas pertinentes à saúde pública (máximo de 10.000 palavras); (2) Artigos - resultado de pesquisa de natureza empírica, experimental ou conceitual (máximo de 10.000 palavras); (3) Notas - nota prévia, relatando resultados parciais ou preliminares de pesquisa (máximo de 2.000 palavras); (4) Resenhas - resenha crítica de livro relacionado ao campo temático de CSP, publicado nos últimos dois anos (máximo de 1.200 palavras); (5) Cartas crítica a artigo publicado em fascículo anterior do Cadernos UniFOA – Pós-graduação ou nota curta, relatando observações de campo ou laboratório (máximo de 1.200 palavras); (6) Artigos especiais – os interessados em contribuir com artigos para estas seções deverão consultar previamente o Editor: (7) Debate - artigo teórico que se faz acompanhar de cartas críticas assinadas por autores de diferentes instituições, convidados pelo Editor, seguidas de resposta do autor do artigo principal (máximo de 6.000 palavras); (8) Fórum - seção destinada à publicação de 2 a 3 artigos coordenados entre si, de diferentes autores, e versando sobre tema de interesse atual (máximo de 12.000 palavras no total). O limite de palavras inclui texto e referências bibliográficas (folha de rosto, resumos e ilustrações serão considerados à parte). Apresentação do Texto: Serão aceitas contribuições em português ou inglês. O original deve ser apresentado em espaço duplo e submetido eletronicamente, fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12, com margens superiores de 3,0 cm e as demais em 2,5 cm. Entre linhas deve-se respeitar o espaçamento de 2,0 cm. Deve ser enviado com uma página de rosto, onde constará título completo (no idioma original e em inglês) e título corrido, nome(s) do(s) autor(es) e da(s) respectiva(s) instituição(ões) por extenso, com endereço completo apenas do autor responsável pela correspondência. Notas de rodapé não serão aceitas. Ilustrações: as figuras deverão ser enviadas em alta qualidade, em preto-e-branco e/ou diferentes tons de cinza e/ou hachuras. Os custos adicionais para publicação de figuras em cores serão de total responsabilidade dos autores. É necessário o envio dos gráficos, separadamente, no formato do programa em que foram gerados (SPSS, Excel, Harvard Graphics etc.), acompanhados de seus parâmetros quantitativos, em forma de tabela e com nome de todas as variáveis. Também é necessário o envio de mapas no formato WMF, observando que os custos daqueles em cores serão de responsabilidade dos autores. O número de tabelas e/ou figuras deverá ser mantido ao mínimo (máximo de sete tabelas e/ou figuras). Resumos: Com exceção das contribuições enviadas às seções Resenha ou Cartas, todos os artigos submetidos em português deverão ter resumo na língua principal e em inglês. Os artigos submetidos em inglês deverão vir acompanhados de resumo Pesquisas envolvendo seres humanos: A publicação de artigos que trazem resultados está condicionada ao cumprimento dos princípios éticos contidos na Declaração de Helsinki (1964, reformulada em 1975, 1983, 1989, 1996 e 2000), da World Medical Association (http://www.wma.net/e/policy/ b3.htm), além do atendimento a legislações específicas (quando houver) do país no qual a pesquisa foi realizada. Artigos que apresentem resultados de pesquisas envolvendo seres humanos deverão conter uma clara afirmação deste cumprimento (tal afirmação deverá constituir o último parágrafo da seção Metodologia do artigo). Em caso de dúvida e em não havendo Comitê especializado na IES de origem, o(s) autor(res) pode(m) entrar em contato com [email protected] (Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos) para maiores esclarecimentos e possível envio da pesquisa para avaliação neste. Agradecimentos - Contribuições de pessoas que prestaram colaboração intelectual ao trabalho como assessoria científica, revisão crítica da pesquisa, coleta de dados entre outras, mas que não preencham os requisitos para participar de autoria devem constar dos “Agradecimentos”. Também podem constar desta parte agradecimentos a instituições pelo apoio econômico, material ou outros. Referências: as referências devem ser identificadas indicando-se autor(es), ano de publicação e número de página, quando for o caso. Todas as referências devem ser apresentadas de modo correto e completo. A veracidade das informações contidas na lista de referências é de responsabilidade do(s) autor(es) e devem seguir o estabelecido pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). RIBEIRO, R. A.; CORRÊA, M. S. N. P.; COSTA, L. R. R. S. Tratamento pulpar em dentes decíduos. In: CORRÊA, M. S. N. P. Odontopediatria na primeira infância. 2. ed. São Paulo: Santos, 2005. p. 581-605. 3 Dissertação e Tese: EZEQUIEL, Oscarina da Silva. Avaliação da acarofauna do ecossitema domiciliar no município de Juiz de Fora, estado de Minas Gerais, Brasil. 2000. Dissertação (Mestrado em Biologia Parasitária)___FIOCRUZ, Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2000. CUPOLILO, Sonia Maria Neumann. Reinfecção por Leishmania L amazonensis no modelo murino: um estudo histopatológico e imunohistoquímico. 2002. Tese (Doutorado em Patologia)___FIOCRUZ, Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2002. 4 Artigos: ALVES, M. S.; RILEY, L. W.; MOREIRA, B. M. A case of severe pancreatitis complicated by Raoultella planticola infection. Journal of Medical Microbiology, Edinburgh, v. 56, p. 696-698, 2007. COOPER, C. W.; FALB, R. D. Surgical adhesives. Annals of the New York Academy of Sciences, New York, v. 146, p. 214-224, 1968. 5 Documentos eletrônicos: INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER (Brasil). Estimativa 2006: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: <http://www.inca.gov.br/ >. Acesso em 4 ago. 2007. Envio de manuscritos: Exemplos: Os artigos deverão ser enviados exclusivamente pelo sistema de avaliação através do link www.unifoa.edu.br/cadernos/ojs, seguindo os padrões especificados anteriormente. 1 Livro: OBS: Se professor do UniFOA, informar em quais cursos leciona. MOREIRA FILHO, A. A. Relação médico paciente: teoria e prática. 2. ed. Belo Horizonte: Coopmed Editora Médica, 2005. 125 Edição nº 20 - Dezembro/2012 Nomenclatura: devem ser observadas rigidamente as regras de nomenclatura zoológica e botânica, assim como abreviaturas e convenções adotadas nas disciplinas especializadas. 2 Capítulo de Livros: Cadernos UniFOA em português, além do abstract em inglês. Os resumos não deverão exceder o limite de 500 palavras e deverão ser acompanhados de 3 a 5 palavras-chave. Instructions For Authors 126 Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA UniFOA Reports is a six-monthly journal that publishes original publishes original research and contributions of descriptive character, based in recent literature, as well as articles on current or emergent subjects and brief communications on developed excellent and unknown subjects in level of Lato and Stricto Sensu pos graduation programs. The journal accepts articles for the following sections: (1) Literature reviews - critical reviews of the literature on themes pertaining to public health (maximum 10,000 words); (2) Articles - results of empirical, experimental, or conceptual research (maximum 8,000 words); (3) Research notes - short communications on partial or preliminary research results (maximum 2,000 words); (4) Book reviews - critical reviews of books related to the journal’s thematic field, published in the last two years (maximum 1,200 words); (5) Letters - critiques of articles published in previous issues of the journal or short notes reporting on field or laboratory observations (maximum 1,200 words); (6) Special articles - authors interested in contributing articles to this section should consult the Editor in advance; (7) Debate - theoretical articles accompanied by critiques signed by authors from different institutions at the Editor’s invitation, followed by a reply by the author of the principal article (maximum 6,000 words); and (8) Forum - section devoted to the publication of 2 or 3 interrelated articles by different authors, focusing on a theme of current interest (maximum 12,000 words for the combined articles). The above-mentioned maximum word limits include the main text and bibliographic references (the title page, abstracts, and illustrations are considered separately). Presentations of Papers Contributions in Portuguese or English are welcome. The original should be double-spaced and submitted eletronically, using Arial or Times New Roman size 12 font with 2.5cm margins. All manuscripts should be submitted with a title page, including the complete title (in the original language and English) and running title, name(s) of the author(s) and institutional affiliation(s) in full and the complete address for the corresponding author only. All manuscripts should be submitted with a diskette or CD containing the article’s file and identifying the software program and version used (Windows-compatible programs only). Footnotes will not be accepted. Authors are required to send a letter informing whether the article is being submitted for the first time or re-submitted to our Secretariat. When sending a second version of the article, one print copy should be sent, together with the diskette or CD. Illustrations: figures should be sent in a high-quality print version in black-and-white and/or different tones of gray and/or hachure. Any additional cost for publication of color figures will be covered entirely by the author(s). Graphs should be submitted separately in the format of the program in which they were generated (SPSS, Excel, Harvard Graphics, etc.), accompanied by their quantitative parameters in table form and with the names of all the variables. Maps should also be submitted in WMF format, and the cost of colored maps will be covered by the author(s). Maps that have not been generated electronically must be submitted on white paper (do not use tracing paper). Tables and/or figures should be kept to a minimum (maximum seven tables and/or figures). Abstracts: with the exception of contributions submitted to the Book review or Letters sections, all manuscripts submitted in Portuguese should include an abstract in both the principal language and English. Articles submitted in English should include an abstract in Portuguese, in addition to the English abstract. The abstracts should not exceed 250 words and should include 3 to 5 key words. Nomenclature: rules for zoological and botanical nomenclature should be strictly followed, as well as abbreviations and conventions adopted by specialized disciplines. Research involving Ethical Principles: publication of articles with the results of research involving human beings is conditioned on the ethical principles contained in the Helsinki Declaration (1964, revised in 1975, 1983, 1989, 1996, and 2000), of the World Medical Association (http://www.wma.net/e/ policy/b3.htm), in addition to complying with the specific legislation (when existing) of the country in which the research was performed. Articles presenting the results of research involving human beings must contain a clear statement of such compliance (this statement should be the last paragraph of the article’s Methodology section). After acceptance of the article for publication, all the authors are required to sign a form provided by the Editorial Secretariat of UniFOA Reposts – Pos graduation stating their full compliance with the specific ethical principles and legislation. Acknowledgements: Contributions of people, grants and institutions must consist the section of Acknowledgements. Declaration: the main author must send, by post office, declaration on the Conflict of Interests and Transference of Copyrights. Examples: a) Periodical articles Hedberg B, Cederborg AC, Johanson M. Care-planning meetings with stroke survivors: nurses as moderators of the communication. J Nurs Manag, 15(2):214-21, 2007. b) Institution as author European Cardiac Arrhythmia Society 2nd Annual Congress, April 2-4, 2006, Marseille, France. Pacing Clin Electrophysiol. Suppl 1:S1103, 2006. c) Without author specification Rubitecan: 9-NC, 9-Nitro-20(S)-camptothecin, 9-nitro-camptothecin, 9-nitrocamptothecin, RFS 2000, RFS2000. Drugs R D. 5(5):305-11, 2004. d) Books and other monographs FREIRE P e SHOR I. Medo e ousadia – O cotidiano do professor. 8 ed. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 2000. · Editor or organizer as author Duarte LFD, Leal OF, organizers. Doença, sofrimento, perturbação: perspectivas etnográficas. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 1998. · Institution as author and publisher Institute of Medicine recommends new P4P system for Medicare. Healthcare Benchmarks Qual Improv., 13(12):133-7, 2006. e) Chapter of book Aggio A. A revolução passiva como hipótese interpretativa da história política latino- americana. In: Aggio, Alberto (org.). Gramsci: a vitalidade de um pensamento. São Paulo: Unesp, 1998. f) Events (conference proceedings) Vitti GC & Malavolta E. Fosfogesso - Uso Agrícola. In: Malavolta E, Coord., SEMINÁRIO SOBRE CORRETIVOS AGRÍCOLAS. Campinas,SP. Fundação Cargill, p. 161-201, 1985. g) Paper presented at an event Bengtson S, Solheim BG. Enforcement of data protection, privacy and security in me- 127 The articles must be sent for the following electronic address: [email protected]. Edição nº 20 - Dezembro/2012 References should be numbered consecutively according to the order in which they appear in the manuscript. They should be identified by superscript Arabic numerals (e.g., Oliveira1). References cited only in tables and figures should be numbered according to the last reference cited in the body of the text. Cited references should be listed at the end of the article in numerical order. All references should be presented in correct and complete form. The veracity of the information contained in the list of references is the responsibility of the author(s). dical informatics. In: Lun KC, Degoulet P, Piemme TE, Rienhoff O, editors. MEDINFO 92. Proceedings of the 7th World Congress on Medical Informatics; 1992 Sep 6-10; Geneva, Switzerland. Amsterdam: North Holland; 1992. p. 1561-5. h) Theses and dissertations Rodriques GL. Poeira e ruído na produção de brita a partir de basalto e gnaisse nas regiões de Londrina e Curitiba, Paraná: Incidência sobre os trabalhadores e Meio Ambiente. Tese (Doutorado). Universidade Federal do Paraná.Curitiba, 2004. i) Other published work · Journal article Lee G. Hospitalizations tied to ozone pollution: study estimates 50,000 admissions annually. The Washington Post 1996 Jun 21; Sect. A:3. · Legal documents MTE] Ministério do Trabalho e Emprego. Secretaria de Segurança do Trabalho. Portaria N°. 25 de 29/12/1994. Norma Regulamentadora N° 9: Programas de Prevenção de Riscos Ambientais. j) Electronic material · CD-ROM Severino LS, Vale LS, Lima RLS, Silva MIL, Beltrão NEM, Cardoso GDC. Repicagem de plântulas de mamoneira visando à produção de mudas. In: I Congresso Brasileiro de Mamona - Energia e Sustentabilidade (CD-ROM). Campina Grande: Embrapa Algodão, 2004 · Internet UMI ProQuest Digital Dissertations. Disponível em: <http://wwwlib.umi.com/ dissertations/>. Acesso em: 20 Nov. 2001. Cadernos UniFOA References 128 Permutas Institucionais informações sobre permuta [email protected] ABMES - Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior – Brasília/DF ANGRAD - Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração - Duque de Caxias/RJ Centro de Ensino Superior de Jatí - Jataí/GO Centro Universitário Assunção - São Paulo/SP Centro Universitário Claretiano - Batatais/SP Centro Universitário de Barra Mansa - Barra Mansa/RJ Centro Universitário de Goiás - Goiânia/GO Centro Universitário Evangélica - Anápolis/GO Centro Universitário Feevale - Novo Hamburgo/RS Centro Universitário Leonardo da Vinci - Indaial/SC Centro Universitário Moura Lacerda - Riberão Preto/SP Centro Universitário Paulistano - São Paulo/SP Centro Universitário São Leopoldo Mandic - Campinas/SP CESUC - Centro Superior Catalão - Catalão/GO CESUPA - Centro de Ensino Superior do Pará - Belém/PA EBAPE - Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas - Rio de Janeiro/RJ Escola de Serviço Social da UFRJ - Rio de Janeiro/RJ FABES - Faculdades Bethencourt da Silva - Rio de Janeiro/RJ FACESM - Faculdade de Ciencias Sociais Aplicadas do Sul de Minas - Itajubá/MG FACI- Faculdade Ideal - Belém/PA Facudade 2 de Julho - Salvador/BA Facudades Integradas de Cassilândia - Cassilândia/MS Faculdade Arthur Sá - Petrópolis/RJ Faculdade de Ciências - Bauru/SP Faculdade de Direito de Olinda - Olinda/PE Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas - UFBA - Salvador/BA Edição nº 20 - Dezembro/2012 Cadernos UniFOA Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro - Uberaba/MG Faculdade de Minas - Muriaé/MG Faculdade de Pimenta Bueno - Pimenta Bueno/RO Faculdade de Tecnologia e Ciência - Salvador/BA Faculdade Internacional de Curitiba - Curitiba/PR Faculdade Metodista IPA - Porto Alegre/RS Faculdade SPEI - Curitiba/PR Faculdades Guarapuava - Guarapuava/PA Faculdades Integradas Antônio Eufrásio de Toledo - Presidente Prudente/SP Faculdades Integradas Curitiba - Curitiba/PR Faculdades Integradas de Cassilândia - Cassilândia/MS Faculdades Integradas do Ceará - Fortaleza/CE Faculdades Integradas Torricelli - Guarulhos/SP Faculdades Santa Cruz - Curitiba/PR FAFICH - Universidade Federal de Minas Gerais - Belo Horizonte/MG FAFIJAN - Faculdade de Jandaia do Sul - Jandaia do Sul/PA Permutas Institucionais informações sobre permuta [email protected] 129 FAFIL - Filadélfia Centro Educacional - Santa Cruz do Rio Pardo/SP FAPAM - Faculdade de Pará de Minas - Pará de Minas/MG FCAP: Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco - Recife/PE FECAP - Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado - São Paulo/SP FGV - Fundação Getúlio Vargas - Rio de Janeiro/RJ FOCCA - Faculdade Olindense de Ciências Contábeis e Administrativas - Olinda/PE FUNADESP - Fundação Nacional de Desenvolvimento do Ensino Superior Particular - Brasília/DF Fundação Educacional de Patos de Minas - Patos de Minas/MG Fundação Santo André - Santo André/SP Fundação Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Rio Grande/RS IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - Centro de Documentação e Disseminação de Informações - Rio de Janeiro/RJ Instituição São Judas Tadeu - Porto Alegre/RS Instituto Catarinense de Pós-Graduação -Blumenau/SC Instituto de Administração do Rio de Janeiro - IARJ - Tijuca/RJ Instituto de Estudo Superiores da Amazônia - Belém/PA Instituto Municipal de Ensino Superior - São Caetano/SP Mestrado em Integração Latino-Americana - Santa Maria/RS MPF - Ministério Público Federal - Brasília/DF MPRJ - Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ Organização Paulista Educacional e Cultural - São Paulo/SP PUC - Campinas: Pontifícia Universidade Católica - Campinas/SP PUC - SP: Pontifícia Universidade Católica - Campinas/SP TCE - Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais - Belo Horizonte/MG The U.S. Library Of Congress Office - Washington, DC/USA TJ - Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ UFF - Universidade Federal Fluminense - Niterói/RJ UGB - Faculdades Integradas Geraldo Di Biase - Volta Redonda/RJ UNB - Universidade de Brasília - Brasília/DF UNIABEU - Assossiação de Ensino Superior - Belford Roxo/RJ União das Faculdades de Alta Floresta - Alta Floresta/MT Unibrasil - Faculdades Integradas do Brasil - Curitiba/PR Unicapital - Centro Universitário Capital - São Paulo/SP Unicastelo - Universidade Camilo Castelo Branco - São Paulo/SP UNIDERP - Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal - Campo Grande/MS UNIFAC - Assossiação de Ensino de Botucatu - Botucatu/SP Unifeso - Centro Universitário da Serra dos Órgãos - Teresópolis/RJ UniNilton Lins - Centro Universitário Nilton Lins - Amazonas/AM Uninove - Universidade Nove de Julho - Vila Maria/SPE Edição nº 20 - Dezembro/2012 Ucam - Universidade Cândido Mendes - Rio de Janeiro/RJ Cadernos UniFOA TRF - Tribunal Reginal Federal - RJ - Rio de Janeiro/RJ Formando para vida. ISSN 1809-9475 Centro Universitário de Volta Redonda - Ano VII - Edição nº 20 - Dezembro / 2012 CADERNOS UniFOA - Ano VII - Edição nº 19 - Agosto / 2012 Campus Olezio Galotti Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325, Três Poços Volta Redonda - RJ Tel.: (24) 3340-8400 Fax: (24) 3340-8404 Campus Aterrado Av. Lucas Evangelista, nº 862, Aterrado Volta Redonda - RJ Tel.: (24) 3338-2764 (24) 3338-2925 Campus Colina Anexo ao Hospital São João Batista Rua Nossa Senhora das Graças, nº 273, Colina Volta Redonda - RJ Tel.: (24) 3340-8400 Campus Vila Rua 31, nº 43 Vila Santa Cecília Volta Redonda - RJ Tel.: (24) 3348-5991 Campus João Pessoa Fagundes Rua 28, nº 619 Tangerinal Volta Redonda/RJ CEP: 27.264-330 Telefone: (24) 3348.1441 (24) 3348.1314 Campus Leonardo Mollica Rua Jaraguá nº 1084 Retiro Volta Redonda/RJ CEP: 27277-130 Telefone: (24) 3344.1850 (24)3344.1851 Formando para a vida.