VII ENCONTRO ENSINO EM ENGENHARIA PROGRAMA COOPERATIVO RELATO DE EXPERIÊNCIA NO ENSINO DA GEOMETRIA DESCRITIVA ELIZABETH AMALIA BOSCHER TORRES - [email protected] INSTITUIÇÃO DE ORIGEM: DOUTORANDA- COPPE/UFRJ Resumo: Ensinar Geometria Descritiva nos cursos da área tecnológica e artística tem sido um estímulo desafiador na minha atuação de magistério. A experiência obtida há mais de duas décadas no ensino superior, propiciou coragem para a vivência de novas técnicas de ensino. Venho observando que a prática didática através da cooperação tem surtido um efeito muito favorável na aprendizagem, agindo como um elemento facilitador da relação professor-aluno. A relação desenvolvida pela cooperação gera consenso, confiança e líderes. Outro aspecto observado é o da importância da disposição circular das carteiras numa sala de aula. Esta forma geométrica facilita a integração, pois permite que alunos e professor se olhem num mesmo plano. O docente deve estar aberto para aprender com seus alunos. Importante não esquecer que o professor é educador pelo contato. Educa pelo exemplo, pelo silêncio, pelo olhar. Necessita estar em ressonância com seus discípulos. O presente trabalho ressalta a importância da relação e da ressonância entre professor e alunos para a melhoria da qualidade do ensino. Palavras-Chaves : aprendizagem, relação, ressonância. Introdução Podemos considerar Educação como mudança através do desenvolvimento, orientada no sentido adequado e desejável. Para que ocorra mudança, o binômio professor-aluno deve estar em relação. Relação é reciprocidade. O mecanismo de reciprocidade é a experimentação desta relação. Ao abrir sua intimidade ao outro, rompendo barreiras de seu próprio ser, de modo a experimentar a intimidade de outro ser, o homem encontra-se em relação. Segundo Martin Buber, a presença substancial do próximo é a única possibilidade humana de acesso ao ser. É uma atitude que pode conduzir ao nascimento de uma amizade autêntica, a um amor genuíno, que são relações essenciais. Para que haja educação, é necessário que o professor possua certas características. Ensinar, somente, não educa. É o professor quem educa. Um bom professor educa tanto em silêncio quanto em conversação, durante o intervalo, ao longo de um diálogo informal e através do seu comportamento. O professor é educador pelo contato. O diálogo deve ser de perguntas e respostas de ambos os lados, com observação conjunta de uma certa realidade- ou da natureza, ou da arte, ou da sociedade. Tem penetração mútua, referindo-se aos problemas da vida ou da verdadeira amizade. O relacionamento entre professor e aluno não deve ser realizado meramente num plano intelectual, mas numa conexão, para que uma entidade se defronte com a outra. A conexão geradora deste encontro denomina-se ressonância. Ressonância Ressonância pode ser compreendida como a percepção do fluxo de energia que o ser humano irradia. A forma de se colocar no mundo, de manifestar a carga energética, ni fluencia interação e a relação dos seres humanos. A energia manifesta através do corpo, estimula os plexos nervosos, que se expressa no organismo por sinais vibratórios. Denominamos ressonância mórfica a sintonia da vibração energética entre os indivíduos expressa através do corpo humano. Aplicação da Ressonância no Magistério Ensinar Geometria Descritiva há mais de duas décadas em cursos da área Artística e Tecnológica na Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ e atualmente na Universidade Estácio de Sá-UNESA, tem sido um estímulo desafiador na minha atuação de magistério. A experiência obtida pela observação consciente e inconsciente do quotidiano vivenciado em sala de aula, permitiu verificar que, acertando algumas vezes e equivocando-me em outras, o saldo tem sido positivo. A busca constante pela melhoria da qualidade do ensino levou-me ao caminho da relação. Tenho observado que aprende mais quem se relaciona melhor. De modo análogo, ensina melhor quem se relaciona mais. Para que ocorra relação, o professor deve colocar -se em estado de sintonia com sua turma, ou seja, estar em ressonância com seu grupo de alunos. Deve sentir em seu próprio corpo, as dores, angústias, dúvidas, ressentimentos e também alegrias, descobertas e amor que circulam num fluxo energético, quando está em contato com seus discentes. Ao perceber o outro como um ser especial, que está ali, não somente como aprendiz, mas também como mestre, o professor encontra-se em relação. Esta relação será a geradora da ressonância que propiciará o crescimento de ambos. Relato de Experiências A disciplina Geometria Descritiva costuma amedrontar os alunos, que geralmente encontram dificuldades para aprender o conteúdo de disciplinas que necessitam da capacidade de visualização e do raciocínio abstrato. No início da aula, coloco-me em sintonia com eles. Procuro entrar em contato com o meu silêncio interior, deixando meus problemas “lá fora”. Coloco-me em ressonância com eles. Percebo seus anseios, temores, carências, da forma mais discreta possível, sem que percebam. Certo dia, cheguei na sala de aula 15 minutos antes do horário de entrada e me perguntei o que lhes impedia o aprendizado: eram de classe social elevada, frequentaram boas escolas e tiveram alimentação adequada. O que estava emperrando o processo de aprendizagem daqueles jovens? A resposta obtida através da ressonância veio numa única palavra: “carência”. Percebi, então, que aqueles discentes de classe média alta, sofriam a ausência dos pais, que trabalhavam fora, dando-lhes todo o conforto material, mas privando-os da sua companhia e consequentemente de seu afeto. Seguindo um insight que surgiu imediatamente, juntei as carteiras, coloquei os alunos sentados numa forma circular e incluí-me na roda. Passei um exercício e percorri o círculo humano, tocando aluno por aluno, conectando-me com eles por ressonância e tratando-os com muito respeito e afeto. Notei que algo aconteceu ali, pois terminei a aula com uma aluna sentada muito próximo e segurando minha mão. Na semana seguinte, tive dúvidas se reunia outra vez as mesas, mas a resposta veio veloz. Uma aluna entrou na sala e perguntou, esfregando as mãos: professora, vai juntar? –“Vou. Me ajuda a arrumar as carteiras”. A partir de então, deu-se o resultado es perado. O carinho que foi gerado naquela turma propiciou a motivação para a aprendizagem que superou as minhas expectativas. Outro aspecto que observei no processo ensino-aprendizagem foi a importância da cooperação entre os alunos como fator potencial para a criatividade. Em determinada unidade do conteúdo programático, dividi os alunos em grupos de três e passei uma atividade para cada grupo, de modo que eles, por consenso, decidissem a parte do trabalho que caberia a cada um. Tratava-se da construção de modelos tridimensionais com a respectiva épura, que é a projeção ortogonal da maquete em planos, chamados de projeção. À medida em que os grupos trabalhavam em suas tarefas, pude perceber que o trabalho de interação dos alunos nos grupos, propiciou uma aceleração na conclusão dos trabalhos. Percebi que a maioria de um grupo, ao adquirir um determinado conhecimento, induz o restante à absorção daquele saber. Este fato não é novo . Autores já se debruçaram sobre este fenômeno e vêm estudando o assunto. Rupert Shelldrake denomina este evento de campo mórfico. Para ele, campo mórfico é a energia gerada por um grupo com interesses afins e que influencia outros grupos, mesmo à distância. Recentemente fiz outra experiência com uma turma de vinte alunos no curso de Desenho Industrial da Universidade Estácio de Sá. Após conectar -me com eles pela ressonância, tive desejo de utilizar uma técnica de ensino que promovesse a revisão do conteúdo programático através de um jogo. Pedi aos alunos que arrumassem suas carteiras em semicírculo e dividi a turma em dois grupos de dez. A arrumação espontânea propiciou o agrupamento por afinidade, pois os alunos já se conheciam. Solicitei a cada grupo que elaborasse um lista de perguntas para o outro num prazo de 40minutos e de forma secreta. A regra do jogo era: a) o grupo vencedor receberia uma bonificação de meio ponto para ser somado à nota da segunda verificação de aprendizagem. b) cada grupo faria uma pergunta ao outro grupo. c) A cada questão corretamente respondida pelo grupo, seria marcado um ponto no placar. d) O grupo respondente que não soubesse a resposta perderia um ponto. e) O grupo que elaborasse a pergunta e não soubesse a resposta perderia um ponto. f) Cada grupo escolheria um nome para identificação. g) Cada grupo teria cinco minutos para encontrar a solução do problema . h) O jogo terminaria ao final da aula. i) Os grupos escolheram quem iniciaria a dinâmica. j) Os alunos não puderam consultar os apontamentos. Foram elaboradas dez questões por grupo. Os estudantes se intitularam em equipe Chiclete e equipe Pirulito. A dinâmica transcorreu num clima de muita motivação e maturidade. Houve integração dos alunos de cada grupo durante a vivência e percebi lideranças. As perguntas formuladas foram de bom nível e evidenciaram que os dis centes estavam, em sua maioria, dominando o conteúdo da matéria. Senti necessidade de complementar a resposta em determinadas situações e verifiquei que a explicação transcorreu num clima de muito interesse por toda a turma. Ao término da aula, o escore ficou empatado e todos os alunos receberam meio ponto. Conclusão O educador deve ter a coragem de tratar seu aluno com afeto e respeito. De se relacionar com o aluno de forma harmoniosa, sem competição. Os jogos, nas dinâmicas de ensino, devem estimular a cooperação e as lideranças. O professor deve ser capaz de se surpreender sempre, de estar aberto ao novo e não ter medo de ousar experiências novas em sala de aula. Ter a coragem de dizer, no meio de uma aula, que resolveu fazer tudo diferente e que está torcendo para que a novidade dê certo! A experiência obtida nas aulas de Geometria Descritiva com a utilização técnicas de ensino motivando a integração tem gerado um clima de afeto e respeito que muito contribuem para a melhoria da qualidade do ensino . Bibliografia MOREIRA, Daniel Augusto. Didática do Ensino Superior: Técnicas e Tendências. São Paulo. Ed. Pioneira. 1997 COSETE Ramos .Sala de Aula de Qualidade Total. Ed. Qualitymark. Rio de Janeiro.1995 KANITZ Stephen. Revolucione a sala de aula. In Revista Veja, 18 de outubro de 2000 . TORRES, Elizabeth A.B. A Importância do Diálogo na Formação dos Estudantes.(artigo) Diálogo, nº 1, 2000. TORRES, Elizabeth A B., Vieira, Cláudio B. V., Martins Filho, Protásio D.A importância da Geometria Descritiva na Engenharia. In XXVII Congresso Brasileiro de Ensino de Engenharia. RN, Natal,1999