COMUNITÁRIO Instituto Camargo Corrêa • Número 1 • Dezembro de 2007 Comunidades preparadas e envolvidas na solução de seus desafios Solo fértil para o O Instituto Camargo Corrêa inicia uma nova fase, em parceria com as empresas do grupo. O objetivo é promover o desenvolvimento comunitário sustentável e semear um horizonte melhor para crianças, adolescentes e jovens futuro Nesta Edição Número 1 | Dezembro de 2007 3 Editorial Junto com as empresas e com a comunidade 4 Entrevista Bernardo Toro “O primeiro passo para sair da pobreza é a organização“ 8O grupo e o Instituto Camargo Corrêa Inovação com sustentabilidade 14 Mobilização social Mãos à obra 16 Primeira infância Um investimento no futuro 24 Educação básica Relações renovadas 30Juventude Novas oportunidades 36 Voluntariado corporativo Unidos pela causa 42 Internacional Reconstrução em Angola 44 Ações & parcerias • Campanhas em prol do meio ambiente e da infância • Mobilizando a comunidade por uma alimentação saudável • Escola de Informática e Cidadania chega a Pedro Leopoldo 46 Artigo Zilda Arns Neumann Primeira infância e desenvolvimento social EditoriaL A publicação que você tem agora em mãos é fruto de uma nova estratégia do Instituto Camargo Corrêa (ICC). Com a visão do ICC estampada em sua capa, a revista Ideal Comunitário traz no nome e em cada uma de suas páginas a preocupação com a missão do Instituto de promover o desenvolvimento comunitário sustentável por meio do investimento em crianças, adolescentes e jovens. Ao lê-la, você irá perceber que há uma série de logotipos e pequenos textos informativos sobre as unidades de negócio do grupo. As empresas estão presentes nas nossas páginas porque fazem parte da vida do Instituto. São as protagonistas do investimento social da Camargo Corrêa. Ao ICC cabe orientá-las e acompanhá-las nesse desafio. As comunidades também têm vez e voz na Ideal Comunitário. A idéia é que as empresas do grupo sejam parceiras das localidades onde atuam, colaborando no seu desenvolvimento, respeitando e valorizando sua história, diversidade, cultura e potencialidades. Afinal, parcerias e redes são mecanismos fundamentais para o desenvolvimento social. Foi dessa crença que nasceu a revista. Para a sua realização, contamos com a colaboração das empresas do grupo e de suas assessorias de comunicação e de dois parceiros externos: a Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI) e a Cross Content Comunicação. A ANDI é uma associação civil de direito privado sem fins lucrativos cuja missão é contribuir para a construção de uma cultura que priorize a promoção dos direitos da criança e do adolescente. Seu papel foi zelar para que esses princípios estejam em cada uma de nossas linhas. Também nos ajudou a articular outra rede: a dos Jornalistas Amigos da Criança, que reúne 346 profissionais de comunicação de todo o Brasil comprometidos com a cobertura da agenda social e dos direitos da infância e da adolescência. Já a produção editorial da publicação ficou a cargo da Cross Content, empresa especializada no planejamento e na produção de veículos de comunicação customizados, com grande experiência na área social. Das cores utilizadas nas reportagens, relacionadas à identidade visual de cada um dos programas, ao papel, 100% reciclado, tudo foi planejado para que a revista esteja alinhada com os valores do Instituto e do grupo Camargo Corrêa e possa, mais do que levar informação, motivar e reconhecer o papel e a importância de cada um de nossos Foto: Carol Reis Junto com as empresas e com a comunidade “Parcerias e redes são mecanismos fundamentais para o desenvolvimento social ” parceiros. Boa leitura! Francisco de Assis Azevedo, diretor executivo do Instituto Camargo Corrêa ideal comunitário Entrevista foto: Mila petrillo Bernardo Toro “O primeiro passo para sair da pobreza é a organização” It illuptat nim dolore doloborperil utpat.Comunitário, Equipit, qui tie tisl il iu endrem veraessi Em entrevista exclusiva à Ideal o filósofo colombiano José sit, commolesse conummolor am vel ut loreetisit, conummolo Bernardo Toro levanta as sum competências básicas decommolesse uma sociedade sustentável ideal comunitário Para o filósofo José Bernardo Toro, um dos rarquizado. Como mudar esse paradigA pessoa que indicadores mais graves de pobreza é a falma? Em sua opinião, o desenvolvimento ta de organização. “É muito fácil violar os comunitário pode contribuir para isso? pertence a direitos de uma pessoa que não está orgaAs Cartas de Direitos Humanos (Fundaorganizações nizada”, disse ele nesta entrevista exclusimentais, Políticos, Econômicos, Sociais, tem mais va à revista Ideal Comunitário. E aponta Culturais, Ambientais e Difusos) conspossibilidades como um dos primeiros elementos para a tituem-se nos alicerces da nova humanisuperação da pobreza o desenvolvimento zação e da nova ética global. Os Direitos de que seus de pessoas autônomas e sua organização Humanos são o nosso novo paradigma. O direitos não sejam em instituições associativas. desenvolvimento comunitário contribui violados Autor do livro A Construção do Público: Cipara essa mudança na medida em que nos dadania, Democracia e Participação (Editora ensina a construir bens coletivos locais, a [X] Brasil e Editora Senac Rio), Bernarcriar convergências de interesses sobre as do Toro é um desses intelectuais que se dedicam ao estudo realidades próximas e a respeitar o outro, o que é fundade diferentes disciplinas, como filosofia, física, matemática, mental para a convivência. Ele também nos ensina a cuidar educação, e conseguem integrar seus conhecimentos num de nós mesmos e dos outros, e a entender a organização todo coerente e cheio de sentido. como meio para maximizar nossas capacidades individuais Colombiano, ele sabe empolgar suas platéias latino-ame- em favor dos bens coletivos. ricanas, estimulando-as a conhecer mais o próprio continente, seus artistas, suas músicas e sabores. Em suas palestras, a Qual é o papel das empresas nesse contexto? pergunta fatídica é de praxe: “Quem já esteve em Miami?”. Em termos práticos, a dignidade humana é poder, ao mesMuitos dos presentes manifestam-se positivamente. “E mo tempo, proteger os meus direitos e me auto-regular, de quantos estiveram no Equador, na Nicarágua, na Colômbia forma a tornar possível a dignidade de todas as pessoas – esou no Paraguai?”, provoca. Ao que poucos respondem. tejam elas próximas ou distantes. O estar organizado é o que Atualmente, Bernardo Toro é assessor da Fundação permite essa dupla possibilidade. A pessoa que pertence a Avina. Já trabalhou em diversos organismos multilaterais, organizações tem mais possibilidades de que seus direitos abordando desenvolvimento social e educação. Também foi não sejam violados. E, por estar organizada, também tem consultor para as reformas educativas de Minas Gerais e do maior autocontrole. Promover organizações no interior e no Chile. Nesta entrevista, ele fala sobre a importância de res- exterior da empresa é uma das formas pelas quais as compapeitar o próximo e de criar projetos coletivos e interesses co- nhias contribuem com o projeto ético e a sustentabilidade. muns. E levanta as competências básicas de uma sociedade sustentável: ética, modelos institucionais em que os envolvi- O senhor afirma que os negócios éticos serão os mais rendos, direta e indiretamente, ganham, o cuidado para consigo táveis daqui para a frente. A ética, como o senhor disse, será e com o outro, solidariedade, compaixão, desenvolvimento “o recurso mais importante para gerar riqueza”. Por quê? de pessoas autônomas e capacidade de se organizar. Porque a ética delimita a racionalidade dos bens e dos serviços “úteis”. Um bem ou um serviço “útil” é aquele que contribui Na sua visão, a sustentabilidade é um conceito novo, que para tornar a dignidade humana possível. Se entendermos a requer uma nova forma de “ordenar o mundo”, a partir da riqueza como o conjunto de bens, serviços, transações e valores dignidade humana, da ética, da solidariedade e do respeito que nos permitem ser felizes e viver dignamente, é fácil comao próximo. Por outro lado, nosso cérebro ainda não está preender por que a ética é fonte de riqueza. E uma noção ética preparado para isso, pois foi moldado por um mundo hiede riqueza nos ensina a não confundir riqueza com dinheiro. “ ” ideal comunitário Entrevista Fulano Bernardo de tal Toro e tal O Instituto Camargo Corrêa (ICC) tem como missão promover o desenvolvimento comunitário sustentável, investindo em crianças, adolescentes e jovens. Como o senhor avalia a decisão do ICC de investir prioritariamente no desenvolvimento comunitário, preparando e envolvendo as ou melhor, fazer tudo o que não prejudica a dignidade humana. Significa que a empresa e o Terceiro Setor podem atuar em um campo aberto à criação e à imaginação. Esse campo é o “tudo”. comunidades na solução de seus desafios? Quais as vantagens e desvantagens de se promover articu- Nosso idioma, todos os nossos conhecimentos, práticas, costumes, tradições e comportamentos são aprendidos. Todo o saber que possuímos, seja individual ou coletivo, é aprendido, não é natural. Tudo começa nos contextos, no que fazemos, em como crescemos, vivemos, trabalhamos, amamos etc. À medida que desenhamos contextos comunitários, nos quais as crianças e os jovens possam viver e participar dos processos orientados à construção e nos quais desfrutem de bens e serviços que lhes permitam viver dignamente e participar ativamente na sociedade, estaremos tomando a melhor decisão e fazendo um dos melhores investimentos. lações intersetoriais? Como o desenvolvimento comunitário fortalece a cultura democrática? Essa cultura favorece a organização da sociedade civil? De que maneira isso poderá contribuir para a erradicação da pobreza? Existem cinco articulações possíveis entre os três setores: o corporativismo, o populismo, a deslegitimação, o caos e a governabilidade. No corporativismo, o Estado e as empresas são aliados e a sociedade (o povo) está excluída e abandonada. No populismo, a sociedade e o Estado são aliados, excluindo ou atacando as empresas nos processos sociais. Na deslegitimação, empresas e sociedade são aliados, desconhecendo o Estado ou colocando-se contra ele. No caos, Estado, sociedade e empresas estão isolados e se desconhecem. Esse é o pior dos mundos. Ocorre quando as sociedades entram em dissolução. Nesse caso, há saques ao Estado, depredação de recursos naturais, e a sociedade está desnorteada, dispersa, sem organização. O melhor dos mundos, por outro lado, é a governabilidade, quando Estado, sociedade e empresas estão articulados para produzir, juntos, bens públicos e coletivos, que tornam possível a eqüidade e a dignidade humana. O maior indicador de pobreza é a falta de organização, pois é muito fácil violar os direitos de uma pessoa que não está organizada e, por isso, pouco auto-regulada. O primeiro passo para sair da pobreza é a organização. Não é possível gerar Em Mobilização Social: Um Modo de Construir a Democracia desenvolvimento comunitário sem organização. Promover, e a Participação, o senhor afirma que a democracia é como criar e fortalecer as organizações comunitárias são condições o amor: não se pode comprar, não se pode decretar, não se necessárias para o desenvolvimento comupode propor. Qual é o papel das empresas nitário. A organização supõe a capacidade e do Terceiro Setor nessa construção? de dar ordem a si mesmo, de se auto-reguA democracia existe quando existem cidaPromover, criar lar, ou seja, de criar governabilidade para dãos, ou seja, pessoas capazes de se orgatornar possível a dignidade das pessoas. nizar e de cooperar para criar, modificar ou e fortalecer as E isso é democracia. proteger a ordem social que elas desejam organizações para viver sua dignidade. São os cidadãos comunitárias O senhor costuma dizer que uma das prinorganizados que podem fazer surgir e legisão condições cipais potencialidades do setor privado e timar a política, as instituições e os polítinecessárias para o do Terceiro Setor é que eles, ao contrário cos. O poder de um político ou de uma insdo governo, podem fazer tudo o que não tituição pública depende da credibilidade desenvolvimento está vetado por lei. Que “tudo” é esse? e da validade que os cidadãos lhes dão. Se comunitário É poder fazer tudo o que não é proibido, um político perde seu prestígio e imagem, “ ” ideal comunitário perde seu poder. Hoje, assim como ontem, na democracia, o poder vem do povo. Mas tanto a empresa como as organizações do Terceiro Setor são cidadãos institucionais e, como tais, podem construir a democracia da mesma forma. A solidariedade, entendida como a capacidade de trabalhar para alcançar metas Novas formas e objetivos que beneficiem os outros, será institucionais e uma das competências mais requeridas pessoais de amor nos projetos de sustentabilidade das soe de cuidado são ciedades. E essa é uma competência que fundamentais para requer muita imaginação para se colocar Nos anos 90, o senhor sintetizou as sete no lugar do outro. a sustentabilidade competências básicas que devem ser deA iniqüidade, as guerras, a pobreza, da vida e do senvolvidas nos alunos. Quais as compeo narcotráfico, os conflitos civis internos, planeta tências básicas que, hoje, deveriam ser as máfias, os bandos, o trabalho escravo, os desenvolvidas pelas empresas, pelo gomaus-tratos infantis e familiares, o consuverno e pelo Terceiro Setor para alcançar mo e a produção de bens inúteis são fatores o desenvolvimento sustentável? que ameaçam a sustentabilidade da sociedade porque criam O desenvolvimento sustentável é, antes de tudo, um proje- dor e exclusão. São esses fatos que fazem da compaixão, ento ético, ou seja, de cuidado com a vida. Fazer da ética (en- tendida como a capacidade de evitar ou diminuir a dor na tendida como arte de escolher o que convém à vida digna humanidade – tal como a vê o Dalai Lama –, uma das comde todos) o norte de atuação e o critério para avaliarmos petências da sustentabilidade. valores agregados dos três setores é a competência básica Mas nada disso é possível se não cultivarmos e desenvoldo desenvolvimento sustentável. Hoje, entendemos que a vermos pessoas autônomas: pessoas com alto conhecimento de ética é o bem de maior valor para a empresa, para o Estado si mesmas, com auto-estima e capacidade de se auto-regular. e para toda a sociedade. A sustentabilidade requer a superação da atuação por medo e A segunda competência é a capacidade de desenhar ar- culpa. E uma nova sociedade, na qual as pessoas atuem com quiteturas institucionais, que gerem transações “ganha-ga- ética e responsabilidade porque se sentem livres. nha” nos e entre os três setores. Este é um dos novos paraPara completar, como já disse, a outra competência digmas emergentes da humanização e da sustentabilidade. fundamental para a sustentabilidade é a capacidade de orA abundância de modelos “ganha-ganha” nos níveis econô- ganizar, criar e fortalecer organizações de todos os tipos, mico, político, social e emocional é a forma efetiva de criar que gerem transações úteis nos níveis econômico, social, riqueza e aumentar a eqüidade. Porque os modelos “ganha- cultural e espiritual. perde” aumentaram a riqueza, mas também a iniqüidade. Os modelos “ganha-ganha” demandam novas formas de pensamento e de ordenamento da realidade. As sociedades PARA SABER MAIS que conseguirem avançar nessa direção serão as líderes do Livros futuro. Deduz-se desses modelos que o cuidado é outra v A Construção do Público: Cidadania, Democracia e Participação, José Bernardo Toro, Editora competência fundamental: o cuidado com nós mesmos, com [X] Brasil e Editora Senac Rio, 2005. v E l Ciudadano y su Papel en la Construcción de lo Social, José Bernardo Toro, Pontificia o próximo, com os que estão longe e com todo o planeta. Universidad Javeriana, 2000. Como diz Leonardo Boff, o cuidado tem a dupla capacidade vM obilização Social, José Bernardo Toro e Nísia Maria Duarte Werneck, Editora Autêntica, 2004. de reparar os danos passados e prevenir os prejuízos futuros. Links úteis Quem cuida ama, e aquele que ama cuida. Portanto novas v www.avina.net formas institucionais e pessoais de amor e de cuidado são v w ww.oei.es/noticias/spip.p hp?article563 fundamentais para a sustentabilidade da vida e do planeta. “ ” ideal comunitário O GRUPO E O INSTITUTO CAMARGO CORRÊA USINA DE TUCURUÍ Uma das obras que fizeram a história da Camargo Corrêa A preocupação com o progresso e o desenvolvimento do país faz parte da história da Camargo Corrêa, que, de olho no futuro, investe na sustentabilidade, conciliando nas suas unidades de negócio metas econômicas, sociais e ambientais Inovação com sustentabilidade “Não basta amar o Brasil. É preciso construir o Brasil do futuro.” A frase de Sebastião Camargo está impressa numa placa em sua homenagem na segunda casa de força da Usina Hidrelétrica de Tucuruí (PA), que recebeu o seu nome. E motivos para isso não faltam. Em poucas palavras, ela sintetiza não apenas a crença do fundador do grupo, mas uma prática que sempre pautou a trajetória da corporação. “De 1939 até hoje, a Camargo Corrêa fez obras significativas do ponto de vista do desenvolvimento do país”, lembra Renato de Oliveira Diniz, historiador responsável pelo Centro de Documentação e Memória Camargo Corrêa. Segundo ele, podemos contar parte da história recente do Brasil pela do grupo. “A Camargo ideal comunitário Corrêa participou de todos os grandes movimentos na área de infra-estrutura”, afirma. “Destacou-se na construção das primeiras grandes usinas de energia elétrica, da ponte Rio-Niterói, que é um símbolo de desenvolvimento do país, das rodovias e do sistema viário de Brasília.” Seu nome também está ligado a importantes inovações tecnológicas. Foi a empresa, por exemplo, que trouxe, no início dos anos 70, uma máquina que abria túneis para o metrô. Batizada de “tatuzão”, a novidade veio dos Estados Unidos e seu principal objetivo era vencer os desafios do trecho entre as estações Sé e São Bento, considerado o mais difícil da Linha 1 por passar debaixo de edifícios, ruas estreitas e monumentos históricos. globalizada, pensando realmente para fora”, afirma José Édison Barros Franco, responsável pela área de cimentos no grupo. De olho no futuro A estratégia do grupo é investir em negócios em que sua participação possa gerar valor no longo prazo. Nesse sentido, já em 2001, o Projeto Camargo Corrêa 2012 estabeleceu, segundo Franco, uma série de metas, como estar entre os cinco maiores grupos privados nãofinanceiros do Brasil, acelerar a internacionalização e continuar crescendo 13% ao ano. Mas não só. Em agosto de 2006, a “Carta da Sustentabilidade: O Desafio da Inovação” marcou uma nova fase também nos investimentos sociais e ambientais do grupo. “Temos que olhar as comunidades onde atuamos para que elas estejam em sintonia conosco. É importante trazer contribuição para elas e, ao mesmo tempo, evitar que a gente cause um impacto ambiental que impeça a continuidade das operações no futuro”, afirma Franco. “Essa visão que está embutida na sustentabilidade está por trás do alinhamento entre os interesses da comunidade (do ponto de vista social e também ambiental), dos acionistas, das empresas e dos próprios indivíduos que representam a empresa na comunidade”, conclui. “É estratégico que empresas participem cada vez mais do desenvolvimento local e do empoderamento do capital humano”, diz Renata de Camargo Nascimento, acionista do grupo e vicepresidente do Conselho do Instituto Camargo Corrêa (ICC). “Uma comunidade empoderada, com consumidores mais preparados, fornecedores mais qualificados prestando melhores serviços, será para a empresa um forte pilar para obter seu sucesso empresarial”, conclui. Um olhar para o passado mostra que essa preocupação de certa forma sempre existiu, mas, como os negócios, ela também foi evoluindo e se fotos: centro de documentação e memória Camargo corrêa O que hoje é um dos maiores conglomerados empresariais brasileiros começou numa pequena sala na rua Xavier de Toledo, no centro de São Paulo. Com um capital de 200 contos de réis, Sebastião Ferraz de Camargo Penteado, Sylvio Brand Corrêa e Mauro Marcondes Calasans criaram, em 27 de março de 1939, a construtora Camargo, Corrêa & Companhia Limitada. Atualmente, o grupo atua em engenharia e construção, controla um dos principais complexos de cimento da América do Sul (Cauê/Loma Negra) e é líder mundial em produção de tecidos para jeans, com a Tavex, que se fundiu com a Santista Têxtil. Sua marca também está por trás de produtos como as sandálias Havaianas, da Alpargatas, que só no ano passado venderam 162 milhões de pares. E o grupo participa ainda do bloco de controladores da CPFL Energia, maior investidora em energia elétrica do Brasil; da CCR, que administra as principais concessionárias de rodovias brasileiras; e da Usiminas, a número 1 em aços planos da América Latina, além de ter participação na Itaúsa, um dos maiores conglomerados financeiros nacionais. São ao todo 16 empresas, presentes em mais de 100 municípios brasileiros e em 19 países (Brasil, Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai, Bolívia, Equador, Colômbia, Venezuela, Suriname, México, Espanha, Marrocos, Angola, Panamá, Moçambique, África do Sul, Peru e Estados Unidos). Ainda hoje muitos se surpreendem ao saber que a Camargo Corrêa há muito tempo não é mais uma companhia dedicada quase exclusivamente à construção pesada. A Camargo Corrêa S.A., holding do grupo, nasceu há pouco mais de dez anos, em março de 1996. E seu primeiro fruto foi exatamente essa diversificação do grupo, com novos investimentos em energia e em transporte. A partir de 2000, a Camargo Corrêa assumiu o controle da Alpargatas e da Santista e, em 2001, começou a se internacionalizar. “Hoje, o grupo está com uma visão muito mais PIONeirismo Sebastião Camargo, o fundador do grupo ideal comunitário O GRUPO E O INSTITUTO CAMARGO CORRÊA Ponte rio-niterói Símbolo do desenvolvimento do país e marco importante da Camargo Corrêa transformando. “De uma visão mais tradicional – a do meu pai – de que o investimento social se dava na pessoa física, nossa geração já compreende a complexidade das demandas da sociedade e amplia a forma de atuação do investimento social”, explica Rosana Camargo de Arruda Botelho, acionista do grupo e presidente do Conselho do ICC. “O amadurecimento do grupo em relação a este tema se dá a partir da decisão de ‘institucionalizar’ os investimentos sociais por meio da criação do Instituto Camargo Corrêa.” A idéia de empreendedores como Sebastião Camargo era levar progresso a outras regiões do Brasil, desbravar. No final dos anos 70, a Camargo Corrêa, segundo Raphael Antonio Nogueira de Freitas, ex-presidente do Conselho de Administração, que ficou 43 anos no grupo, tinha 50 médicos e 480 professores trabalhando para ela em Tucuruí (PA), durante as obras de construção da usina hidrelétrica. “Isso que dava trabalho”, diz ele. “Viajava para lá toda segunda-feira e voltava na sexta, e mais da metade do tempo passava discutindo a questão da saúde, da educação, o hospital... Para descansar, eu ia para a obra”, relembra. “Em todas as outras grandes obras brasileiras, a construção da cidade sempre ficou por conta do poder público. Em Tucuruí, isso tudo foi delegado à construtora”, explica. Hoje, os desafios são outros. “Para tornar viável nossa missão neste novo mundo, uma nova dimensão precisa ser definitivamente incorporada à nossa visão de futuro: sustentabilidade”, frisa a Carta da Sustentabilidade. O processo que culminou com sua assinatura O papel de articular diversos públicos locais estimulando a atuação em rede é sem dúvida nosso maior desafio e também nossa maior contribuição Rosana Camargo de Arruda Botelho, presidente do Conselho do ICC 10 ideal comunitário começou em 2005. Criado em dezembro de 2000, o Instituto Camargo Corrêa ampliou nesse ano o seu conselho incorporando cada vez mais executivos dos negócios da empresa. Nesse período, iniciou-se também uma longa reflexão no grupo sobre investimento social e responsabilidade social corporativa. Em março de 2006, na primeira reunião do Conselho do Instituto, o desejo de reposicionamento fica claro. “Os executivos entendem que o investimento social é uma parcela de sua gestão do negócio como um todo, e eles mesmos convidam a um movimento de rever as práticas das empresas do grupo à luz da responsabilidade social corporativa amplamente entendida”, lembra Carla Duprat, diretora de sustentabilidade corporativa. O programa de Sustentabilidade surge daí, assim como um novo modelo de atuação do Instituto. Em 12 de abril de 2006, aconteceu o primeiro workshop de responsabilidade social. “O aprendizado número um foi que a gente não estava começando do zero”, avalia Carla. “Mas também ficou muito claro que nada disso era visto de forma sistêmica, o que faz com que se perca uma oportunidade enorme enquanto grupo de ver o tema como um todo, potenciais sinergias, escala e impacto mesmo.” O encontro não só aprofundou a reflexão da holding sobre sua atuação social como levou à criação do Grupo de Trabalho Sustentabilidade (GTS), coordenado por Marcelo Araujo, responsável pela área de calçados, têxtil e siderurgia no grupo. Composto de 15 pessoas, que representam as diferentes instâncias de poder e decisão dentro da Camargo Corrêa, o grupo subdividiuse em outros três. Um subgrupo ficou responsável pela filosofia, que incluiu a concepção da Carta, por exemplo; outro pela metodologia – ou seja, pela escolha dos instrumentos; e um terceiro pelo plano de implantação: a forma como isso vai acontecer em todas as empresas do grupo. RODOVIA ANCHIETA A Camargo Corrêa abriu caminhos para o desenvolvimento do Brasil construindo estradas como a Anchieta, em São Paulo Em 31 de agosto de 2006, as propostas foram validadas por todos e foi assinada a Carta da Sustentabilidade, com o sugestivo título O Desafio da Inovação. “Não é fazendo as mesmas coisas que vamos conseguir evitar esse eventual impacto ou atuar positivamente”, diz Franco. “Temos que pensar diferente para arranjar soluções, tanto do ponto de vista ambiental como na forma de gerir as comunidades. O título O Desafio da Inovação foi para demonstrar a nossa consciência que não é mais do mesmo. É rompendo com o modo de atuar e criando outras formas que nós vamos obter os resultados que esperamos”, explica. Guardiões e multiplicadores Para garantir que os princípios explicitados na Carta saíssem logo do papel, foram criadas duas figuras importantes nas empresas: a do diretor guardião e a dos multiplicadores. Os diretores guardiões foram escolhidos pela sua afinidade com o tema, e sua missão é zelar pela sustentabilidade na sua unidade de negócio. Sua primeira tarefa foi angariar profissionais nos mais diversos segmentos de atuação, os chamados multiplicadores da sustentabilidade. Hoje, há 11 diretores guardiões e 97 multiplicadores no grupo. Em 2007, além de “capacitar” esses novos atores, a Camargo Corrêa refinou os indicadores genéricos e identificou um conjunto de indicadores específicos de sustentabilidade. Os resultados por unidade de negócio serviram, segundo Carla Duprat, para identificar os estágios de evolução de cada uma das empresas e pensar os planos de ação. “Esse sempre foi o nosso grande objetivo”, explica ela. “Não fazer as coisas em paralelo, mas sim casadas já com o próprio processo de planejamento e gestão de cada uma das empresas.” O papel do Instituto O Instituto Camargo Corrêa tem papel fundamental nessa história toda. “Não havia outro lugar melhor para esse tema se desenvolver”, diz Carla, frisando, no entanto, que essa não é uma pauta só do Instituto. “A partir da organização de um trabalho social consistente, o movimento interno para pensar as outras dimensões quase que acontece naturalmente”, afirma. “Essa agenda é importante para avançar a questão da sustentabilidade”, conclui. O investimento social corporativo é, portanto, um aspecto importante dessa visão de sustentabilidade do grupo Camargo Corrêa. E ele se traduz no apoio financeiro e técnico a projetos sociais voltados ao desenvolvimento da comunidade, com ênfase nas localidades em que suas empresas atuam. “Uma das crenças do nosso grupo é que as empresas devem ser agentes de transformação da sociedade e que nossas empresas devem ser parceiras das comunidades onde atuam”, afirma Vitor Hallack, presidente do Instituto e do Conselho de Administração da Camargo Corrêa S.A. “Acreditamos que a sociedade espera e deseja ver as empresas socialmente responsáveis, reconhecendo-as e valorizando-as não só pelos seus negócios, mas também pelo compromisso com a sociedade.” O Instituto Camargo Corrêa, o Instituto Alpargatas e a Fundação Loma Negra são as três instituições responsáveis pelo investimento social, atuando com visão comum e colaborando umas “Acreditamos que a sociedade espera e deseja ver as empresas socialmente responsáveis, reconhecendo-as e valorizando-as não só pelos seus negócios, mas também pelo compromisso com a sociedade.” Vitor Hallack, presidente do Instituto e do Conselho de Administração da Camargo Corrêa S. A. metrô A Camargo Corrêa trabalhou na construção da Linha Norte-Sul do metrô de São Paulo ideal comunitário 11 O GRUPO E O INSTITUTO CAMARGO CORRÊA com as outras. “As três estão trabalhando intensamente numa agenda de aproximação junto com as empresas, percebendo que seu investimento social é alavancado com o maior envolvimento dos profissionais que estão ajudando a desenvolver de alguma forma a comunidade onde moram”, ressalta Carla. Em 2006, o Instituto Camargo Corrêa reviu seu planejamento estratégico e redefiniu seu foco de atuação. Segundo Olga Colpo, sócia da consultoria PricewaterhouseCoopers, que participou do processo, seu novo posicionamento e foco representam a alma do grupo Camargo Corrêa. Anteriormente dedicado a investir em projetos nas áreas de educação, saúde e cultura, dirigidos a crianças e adolescentes de famílias de baixa renda, o Instituto ampliou seu público-alvo para abranger jovens até 24 anos de idade e passou a ter como foco o desenvolvimento comunitário, por meio do apoio a projetos voltados para a educação e para a geração de renda em cidades onde as empresas do grupo estão presentes. “O Instituto deixa de ser unicamente financiador de projetos para ter um papel mais de articulação, fazendo um esforço para colocar a rede de relacionamentos da empresa a serviço de causas sociais”, explica Francisco Azevedo, diretor executivo do ICC. Segundo ele, a idéia é que o Instituto se coloque a serviço das unidades de negócio, con- A importância da comunicação “Sem a comunicação, é impossível implantar e cuidar do investimento social de um grupo desse tamanho”, resume Francisco Azevedo, diretor executivo do Instituto Camargo Corrêa. Por isso, o plano estratégico de comunicação foi montado antes mesmo de os programas começarem a atuar.“Num grupo dessa dimensão, com o tipo de aporte, abrangência e número de funcionários, a comunicação é fundamental para transversalizar os programas sociais na ação das unidades de negócio e para estimular a participação de todos”, ressalta Anna Penido, que conduziu o processo pela Cipó Produções e, atualmente, é coordenadora do escritório de São Paulo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). O plano, segundo ela, foi um trabalho de construção coletiva. Reunidos num workshop, em julho de 2007, profissionais de comunicação de todas as empresas do grupo e da assessoria de imprensa o elaboraram conjuntamente. “Além da riqueza que isso traz, o nível de co-responsabilidade é muito maior. Todo mundo é autor e, por isso, responsável pelo plano”, diz Anna. Para Luiza Nascimento Cruz, coordenadora de comunicação da área de sustentabilidade do grupo, o grande desafio é lidar com unidades de negócio com culturas, valores e dimensões muito diferentes. “Dentro das empresas há muitas tecnologias 12 ideal comunitário diferentes, muita riqueza, que serão perdidas se não conseguirmos interligá-las”, conclui. Clarissa Kowalski, coordenadora de comunicação do ICC, concorda com ela e acrescenta: “A comunicação é absolutamente transversal a todos os programas do Instituto”. Além de ter um papel articulador, ela é, segundo Clarissa, fundamental para que o ICC possa dar um retorno dos seus investimentos para a comunidade e para a sociedade. Veet Vivarta, secretário executivo da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI), parceira do Instituto nesta publicação, acredita que pensar a comunicação como estratégica está entre as prioridades das empresas mais modernas. Segundo ele, é importante que isso seja feito não apenas na divulgação das ações de responsabilidade social, mas também na elaboração de conteúdos de reflexão sobre essas ações e sobre seu foco, de maneira a contribuir para um debate público mais aprofundado sobre questões relacionadas a um desenvolvimento sustentável e inclusivo. É a partir desta proposta editorial da revista Ideal Comunitário que se estabelece a parceria com a ANDI, que para sua produção articula também participantes da Rede de Jornalistas Amigos da Criança. foto: arquivo icc tribuindo para que cada empresa do grupo seja socialmente responsável e dando apoio técnico, financeiro e de recursos humanos. “Cada empresa adota um programa, escolhe uma cidade piloto e, depois, transfere o programa para as outras unidades, de modo que em algum tempo teremos todas as empresas adotando todos os programas em todas as comunidades”, observa Azevedo. “O que almejamos é contribuir para que as comunidades sejam fortalecidas na busca da solução de seus problemas e, por meio do investimento em seus ativos, possamos ser co-partícipes deste modelo de desenvolvimento”, explica Rosana Camargo de Arruda Botelho. Tendo como missão promover o desenvolvimento comunitário sustentável, investindo em crianças, adolescentes e jovens, o Instituto Camargo Corrêa criou quatro programas: o Infância Ideal, cujo foco é a primeira infância; o Escola Ideal, que trabalha pela melhoria de gestão do Ensino Básico da escola pública; o Futuro Ideal, voltado para o empreendedorismo juvenil e geração de trabalho e renda; e o Ideal Voluntário, que tem como objetivo facilitar a ação voluntária dos funcionários. A base da atuação de todos eles é o diagnóstico. “Como fazer uma ação sem conhecer em profundidade a realidade de onde você quer atuar?”, questiona Azevedo. “O diagnóstico é uma ferramenta de gestão fundamental. A chance de fazer uma ação social que dê certo sem ele é muito pequena”, observa. A nova orientação pressupõe, além dessa base sólida, a participação intensa das unidades de negócio e o envolvimento dos funcionários como voluntários. “Queremos que cada gerente da unidade de negócio entenda o seu papel em relação à sociedade e à comunidade em que está presente e que esteja devidamente preparado e capacitado para contribuir para o seu desenvolvimento. Não só ele como as equipes”, afirma Azevedo. “As palavras comovem e os exemplos arrastam”, diz ele, mencionando um ditado popular. Para José Édison Barros Franco, o maior desafio do projeto de sustentabilidade do grupo é a mobilização dos seus cerca de 48 mil funcionários. O Conselho de Administração enviou, em outubro, para todas as empresas uma carta com as suas expectativas para o ano que vem e para os próximos cinco anos. Em todas elas, há o mesmo apelo: “Esperamos contribuições para a sustentabilidade”. “São os nossos milhares de funcionários que, num processo de discussão, de interação entre eles e com a comunidade, vão trazer contribuições e alterações que vão fazer a gente mudar não só nossos resultados como o mundo”, conclui. Conselho DELIBERATIVO do ICC Da esquerda para a direita, em pé, na última fileira: Francisco de Assis Azevedo, Flavia Buarque de Almeida, Márcio Utsch, José Édison Barros Franco, Celso Ferreira de Oliveira, Vitor Hallack, Raphael Antonio Nogueira de Freitas, Carlos Antonio Rossi Rosa e Marcelo Araujo. No sofá, da esquerda para a direita: Elisa Camargo de Arruda Botelho, Renata de Camargo Nascimento, Marcelo Pires Oliveira Dias, Rosana Camargo de Arruda Botelho e Carla Duprat. Também fazem parte do Conselho Deliberativo do ICC, mas não estão na foto: Maria Regina Camargo Pires Ribeiro do Valle, Maria Tereza Pires Oliveira Dias Graziano, Daniela Camargo Botelho de Abreu Pereira e Luiza Nascimento Cruz A empresa pode e deve participar do fortalecimento do capital humano nas comunidades e regiões onde estiver presente Renata de Camargo Nascimento, vice-presidente do Conselho do ICC ideal comunitário 13 Agradecimento: Atelier Hideko honma Foto: DanielA Picoral Mobilização social Mãos à obra A missão do Instituto Camargo Corrêa é promover o desenvolvimento comunitário sustentável, investindo em crianças, adolescentes e jovens. Um desafio que depende da participação de todo o elenco social das comunidades envolvidas 14 ideal comunitário Nos anos 50 e 60, a escritora canadense Jane Jacobs resolveu investigar por que algumas cidades americanas floresciam enquanto outras “morriam”. A ativista percebeu que as cidades que prosperavam eram aquelas nas quais as pessoas se conectavam para discutir problemas comuns e resolvê-los de forma coletiva. Concluiu, então, que a participação da comunidade nas questões públicas era um elemento indispensável à promoção do desenvolvimento. Partindo de premissa similar, o Instituto Camargo Corrêa (ICC) decidiu investir nas comunidades do entorno das unidades de negócio do grupo Camargo Corrêa, preparando-as para enfrentar seus próprios desafios. Cada empresa procurará ser indutora do desenvolvimento na comunidade em que está inserida. Para que isso aconteça, o ICC criou três programas estruturantes – Infância Ideal, Escola Ideal e Futuro Ideal – e um transversal a eles, Ideal Voluntário, que incentiva os funcionários das empresas a atuar, voluntariamente, naquelas iniciativas. Todos juntos A mecânica de funcionamento dos três programas estruturantes é bastante parecida. Para cada um deles – e em cada cidade – será montado um Comitê de Desenvolvimento Comunitário (CDC), composto de representantes dos três setores (poder público, iniciativa privada e Terceiro Setor). O CDC do Infância Ideal, por exemplo, reúne os atores sociais que trabalham com crianças de zero a 6 anos: Secretaria de Educação, Secretaria de Assistência Social, creches, organizações da sociedade civil, Conselhos Tutelares, Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente, pais, educadores, voluntários da empresa, entre outros. Os comitês terão caráter consultivo e deliberativo. Cada comitê vai ajudar a fazer o diagnóstico da realidade local, identificando seus ativos e desafios. A partir dessas informações, irá analisar as prioridades de atuação. A idéia é incentivar o diálogo entre os atores que trabalham na mesma área, avaliar as iniciativas existentes, propor o seu fortalecimento. “É comum ver três ou quatro organizações fazendo coisas parecidas sem se conversar. Criar um comitê com as principais organizações e provocar uma discussão entre elas, capacitá-las e fortalecê-las, para que encontrem caminhos em conjunto, é o que entendemos por desenvolvimento comunitário”, afirma Francisco Azevedo, diretor executivo do Instituto Camargo Corrêa. Cada CDC vai se reunir periodicamente para avaliar e traçar os caminhos do programa. Na opinião de especialistas, uma maneira natural de efetivar o desenvolvimento do capital social e humano da comunidade é promover a formação de redes sociais. Isso porque elas são uma forma de organização horizontal, democrática, que estimula a participação de seus integrantes. “Nem todas as pessoas sabem como participar. Em muitas comunidades, a lógica é a da passividade, de esperar para ver o que acontece, ou do combate, do enfrentamento. Quando se traz outra lógica, a da cooperação e co-responsabilidade, que é intrínseca ao processo de rede, o desenvolvimento se dá naturalmente”, defende Célia Schlithler, diretora de desenvolvimento comunitário do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis), organização sem fins lucrativos que trabalha para a estruturação e promoção do investimento social privado. Diálogo positivo Para Célia, a estratégia de a empresa incentivar a conectividade entre os atores, induzindo o desenvolvimento comunitário, é bastante interessante, pois, além de aumentar o capital humano e social, promove um diálogo positivo entre a empresa e a comunidade em que ela está inserida. Dessa forma, a empresa passa a se sentir parte da comunidade e começa a consultá-la em diversos momentos, inclusive em questões não relativas ao investimento social. Como pontua Jair Resende, coordenador do programa Futuro Ideal, do ICC, esse relacionamento também ajuda a romper as relações de dependência, que muitas vezes são estabelecidas entre as comunidades e as empresas. “Uma comunidade mais fortalecida cultural e economicamente passa a ser parceira da empresa e torna-se mais bem preparada para enfrentar seus desafios”, diz. Autonomia O desenvolvimento comunitário não é algo externo à comunidade. Augusto de Franco, que foi coordenador-geral da Agência de Educação para o Desenvolvimento (AED) de 2001 a 2005, diz que “o desenvolvimento não pode ser transferido como se faz uma ‘transfusão de sangue’ ”. Não há fórmula mágica. O que dá certo em um lugar não funciona necessariamente em outro. Cada comunidade precisa descobrir sua própria “combinação virtuosa”. Célia Schlithler concorda. Para ela, a comunidade precisa atuar em prol de seu próprio desenvolvimento, e as empresas podem ter o papel de “produtoras sociais” porque têm condições econômicas, organizacionais, técnicas e profissionais para que o processo de mobilização e desenvolvimento da sociedade se efetive. E é isso mesmo que as empresas do grupo Camargo Corrêa e o Instituto vão fazer. “O ICC será um facilitador para a criação de redes e conexão das pessoas, mas não tomará o lugar de nenhum desses atores”, ressalta Lorenza Longhi, coordenadora do programa Ideal Voluntário. PARA SABER MAIS Livros v A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura, em três volumes: A Sociedade em Rede, O Poder da Identidade e Fim de Milênio, Manuel Castells, Paz e Terra, 1999. v C apital Social, Augusto de Franco, 2001. vM orte e Vida das Grandes Cidades, Jane Jacobs, Martins Fontes, 2000. v R edes de Desenvolvimento Comunitário: Iniciativas para a Transformação Social, Célia Schlithler, Global/Idis, 2004. Links úteis v Em seu website pessoal (www. augustodefranco.com.br), Augusto de Franco montou uma bibliografia extensa sobre desenvolvimento local e temas correlatos. v Divesos sites de organizações nacionais e internacionais têm vasto material sobre o assunto. Vale a pena conferir: www. idis.org.br; www.northwestern. edu/ipr/abcd.html; www.polis. org.br; www.redeamerica.org; www.scielo.br/pdf/ci/v33n3/ a06v33n3.pdf. ideal comunitário 15 P r i m e i r a i n fâ n c i a Um investimento no Os seis primeiros anos são fundamentais para o desenvolvimento das crianças. Proporcionar melhores condições de vida neste período tão importante é o principal objetivo do programa Infância Ideal Logo depois de fechar seu salão de beleza, a manicure Eliane Cristina Marques Diniz, de 34 anos, chega às 17 horas na portaria da Creche Lar Espírita Chiquinho de Carvalho. Um ritual que a deixa feliz, pois vai encontrar o filho, Mateus, de 3 anos, depois de o menino cumprir uma programação que inclui café da manhã, brincadeiras, almoço, sono da tarde e lanche. Mateus abraça a mãe e, sem choramingar, se despede do pessoal da creche. Pode-se dizer que o garoto tem o perfil de vida infantil que o Instituto Camargo Corrêa (ICC) quer para as crianças que serão atendidas e acompanhadas pelo programa Infância Ideal, lançado em setembro de 2007, na cidade de Pedro Leopoldo, na região metropolitana de Belo Horizonte. Mateus e outros 39 colegas são beneficiários de uma das primeiras ações do Instituto no município mineiro. A creche, onde ele passa todos os dias da semana, ganha casa nova até o final do ano, totalmente reformada com recursos do ICC e do Fundo para Infância e Adolescência (FIA), administrado pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do 16 ideal comunitário futuro fotos: eugênio sávio ideal comunitário 17 P r i m e i r a i n fâ n c i a Adolescente (CMDCA). “Poderemos ampliar o nosso trabalho, passando a atender uma faixa etária ainda maior. Hoje aceitamos crianças de zero a 4 anos, mas devemos chegar a 100 vagas, com crianças de até 6 anos”, explica Tereza Bahia, vice-diretora e coordenadora pedagógica da creche. O Infância Ideal é um dos quatro programas sociais estruturados, em maio de 2007, pelo Instituto Camargo Corrêa para atender crianças, adolescentes e jovens nos municípios onde as empresas do grupo estão instaladas. Voltado para meninos e meninas de zero a 6 anos, o Infância Ideal foi implantado, como projeto piloto, em Pedro Leopoldo e, em breve, deve ser colocado em prática também em outras cidades onde a empresa de cimentos Cauê tem unidades (veja texto ao lado) e em Juruti (PA), onde a Camargo Corrêa tem obras de infra-estrutura. Perfil da empresa Tradicional no mercado, a Cauê produz mais de 3 milhões de toneladas de cimento por ano. Com sede em São Paulo, capital, a empresa possui seis unidades de produção: em Apiaí (SP), Bodoquena (MS), Pedro Leopoldo (MG), Santana do Paraíso (MG), Ijaci (MG) e Jacareí (SP). A Cauê está entre as maiores empresas do setor e tem como premissa o compromisso com a qualidade de seus produtos e o desenvolvimento social das comunidades onde atua. A unidade de Pedro Leopoldo foi incorporada pela Camargo Corrêa Cimentos em 1997. 18 ideal comunitário Parceria com a população A principal meta do programa é contribuir para o desenvolvimento saudável de crianças de zero a 6 anos, incentivando comportamentos de cidadania e cultura democrática. “Pretendemos contribuir para a melhoria do IDI (Índice de Desenvolvimento Infantil, criado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância) dos municípios onde o grupo Camargo Corrêa está presente. A intenção é apoiar e fortalecer as ações existentes desenvolvidas pelo poder público e organizações da sociedade civil, estabelecendo parcerias com esses atores e envolvendo a comunidade em todas as etapas do programa”, explica Juliana Di Thomazo, coordenadora do Infância Ideal. Em Pedro Leopoldo – cidade de 65 mil habitantes, entre os quais 6.623 têm menos de 6 anos –, essa aliança entre a comunidade, o poder público e o Instituto já está acontecendo. Representantes de associações comunitárias, órgãos municipais de saúde, esporte, educação, conselhos de apoio à infância, voluntários e funcionários da empresa Cauê lotaram o evento de lançamento para ouvir da acionista do grupo e presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Camargo Corrêa, Rosana Camargo de Arruda Botelho, as primeiras palavras oficiais de como o projeto buscará, num trabalho em equipe com a cidade, contribuir para melhorar as condições de vida da primeira infância. “A partir de hoje, o coração do Instituto Camargo Corrêa estará pulsando mais forte em Pedro Leopoldo. E os olhos dos acionistas, dos dirigentes e dos funcionários da Cauê e do grupo Camargo Corrêa passarão a acompanhar com carinho especial as notícias da cidade”, disse a presidente do Conselho Deliberativo. Ela destacou a enorme expectativa em relação ao Infância Ideal. A motivação interna da fábrica e a mobilização dos órgãos que trabalham com a juventude e a infância na cidade confirmam o princípio do programa: a união entre a empresa e sua comunidade. “Para serem eficientes, os projetos sociais devem estar alinhados com as políticas públicas”, complementou Rosana. Para Simone Maria Bellezzia, promotora de Justiça da Infância e da Juventude de Pedro Leopoldo, a estrutura do Infância Ideal é uma prova dessa intenção. “Ela mostra a preocupação do Instituto com projetos de fortalecimento da comunidade, mas também sanando as omissões existentes”, diz a promotora. Situação da infância e da juventude Pedro Leopoldo foi escolhida para ser a cidade piloto do programa Infância Ideal por possuir diversas organizações sociais e poder público atuante nas questões referentes à primeira infância. Além de oferecer infra-estrutura social, tem instituições que apresentam bons resultados e experiências na adoção de programas, como saúde da família, e seus Conselhos Tutelar e dos Direitos da Criança são ativos. Segundo o gerente industrial da Cauê em Pedro Leopoldo, Maurício Anacleto de Queiroz, o município faz a diferença pelo nível de compreensão e pela vontade de atuar em rede dos órgãos que defendem os direitos da infância e da juventude. “A comunidade está alerta. Nossos funcionários moram na cidade e conhecem as questões sobre as quais devemos atuar. Posso dizer que tanto na fábrica quanto nas escolas, no comércio e nos órgãos públicos, encontramos gente com vontade de participar do Infância Ideal”, garante Queiroz. O envolvimento da comunidade com as questões da infância e da adolescência talvez contribua para explicar o fato de os indicadores sociais do município serem melhores do que os de Minas Gerais e do Brasil, conforme detectou o estudo Diagnóstico da Situação da Primeira Infância em Pedro Leopoldo, realizado pela Acesso Consultoria, empresa especializada turma animada À esquerda, Eliane Diniz com o filho, Mateus. Acima, crianças da Creche Lar Espírita Chiquinho de Carvalho montam sua própria banda de música Pedro Leopoldo em números • • • • • • • • • • Crianças menores de 6 anos: 6.623 Crianças entre 4 anos e 6 anos: 3.301 Crianças menores de 1 ano: 1.059 Nascidos vivos: 805 Nascidos vivos de mães com sete pré-natais ou mais: 445 Cobertura vacinal em crianças menores de 1 ano (Tetravalente): 95% Alunos matriculados na pré-escola: 2.289 = 34,5% Percentual de mães com cobertura de pré-natal adequada: 55,28% (em Minas, esse número é 56,79% e no Brasil é 52,76%) P ercentual de mães entre 10 e 14 anos: 0,37% (em Minas, esse número é 0,57% e no Brasil, 0,88%) Percentual de mães entre 15 e 19 anos: 15,9% ideal comunitário 19 foto: carol reis P r i m e i r a i n fâ n c i a compromisso ofICIAL Durante evento de lançamento do Infância Ideal, organizações do município, que formam o Comitê de Desenvolvimento Comunitário, assinaram o termo de adesão das parcerias na gestão estratégica de projetos sociais no país. O Índice de Desenvolvimento Infantil (IDI), por exemplo, sem desdobrar suas inúmeras variáveis, apresenta o avanço de Pedro Leopoldo em relação ao estado e ao país. Em 2004, o indicador do Unicef colocava a cidade com 0,8; Minas Gerais com 0,649 e o Brasil com 0, 667. O IDI de um município vai de zero a 1, sendo 1 o valor máximo. “Escolhemos o IDI como índice norteador de nossa atuação, verificando todas as variáveis que o compõem, mas não trabalharemos só com esses dados. O objetivo é compreender como a criança de até 6 anos é atendida no município, olhar para ela levando em conta todos os aspectos necessários para o seu desenvolvimento: do atendimento em creches e pré-escolas ao trabalho com as famílias, que também é funda- Os indicadores utilizados Para avaliar a situação de meninos e meninas em Pedro Leopoldo e nas cidades onde o Instituto Camargo Corrêa desenvolverá ações voltadas para a faixa etária de zero a 6 anos, os instrumentos são o Índice de Desenvolvimento Infantil (IDI), do Unicef, os indicadores complementares sobre a primeira infância (dados dos censos e dos ministérios da Saúde, Previdência Social e Desenvolvimento Social) e informações institucionais sobre essa etapa da vida das crianças. Concebido pelo Unicef, o IDI é um instrumento que contribui para a formulação e o monitoramento de políticas 20 ideal comunitário públicas voltadas para a infância no Brasil. A criação desse índice surgiu da necessidade de promover ações orientadas para a população de zero a 6 anos. O IDI incorpora variáveis relacionadas à oferta de serviços de saúde e educação e ao cuidado e proteção que a família deve proporcionar à criança nos seis primeiros anos de vida, representada, neste caso, pela escolarização dos pais. Por sua desagregação municipal, o indicador é uma ferramenta importante para mobilizar recursos e vontade política no processo de descentralização e municipalização das ações e dos serviços destinados ao desenvolvimento infantil. O Infância Ideal vem complementar as ações do poder público voltadas para as crianças de zero a 6 anos Marcelo Jerônimo Gonçalves, prefeito de Pedro Leopoldo mental”, explica Juliana Di Thomazo (leia mais sobre o IDI e os outros indicadores na página 20). O economista João Marcelo Borges trabalhou no levantamento dos dados, cruzando informações do IBGE, do IDI e do Datasus, e concluiu que os números frios dos relatórios apontam uma situação favorável do município diante da realidade brasileira. “Com o trabalho em rede do poder público, do Terceiro Setor e da área produtiva, as informações do dia-a-dia e o conhecimento prático de quem vive na cidade serão incorporados e contribuirão bastante para a realização de um perfil mais detalhado, a partir do qual todos poderão atuar”, conclui. A presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Pedro Leopoldo, Maristela Xavier Cardoso, acha que a cidade está bem direcionada na área da primeira infância e, por isso, acredita que uma capacitação específica nesse campo só irá enriquecer e dinamizar ainda mais o trabalho já desenvolvido. O prefeito, Marcelo Jerônimo Gonçalves, conta que recentemente todas as creches da cidade foram municipalizadas e passaram a ser de responsabilidade da prefeitura. “Já na área da saúde, temos também diversos trabalhos sendo desenvolvidos, den- tre eles o do combate à desnutrição”, afirma o prefeito, comemorando a chegada do Infância Ideal, que, segundo ele, “vem complementar as ações do poder público voltadas para as crianças de zero a 6 anos”. Para Sara Helena Diniz Ferreira, secretária de Educação de Pedro Leopoldo, professora e pedagoga da rede municipal, “o diagnóstico apresentado pelo Instituto corroborou nossos indicativos sobre educação e saúde na primeira infância, nos dando mais certeza para onde devemos caminhar”. Segundo ela, a situação da educação infantil em Pedro Leopoldo é mais privilegiada em relação aos índices dos municípios vizinhos, mas existem muitos desafios a ser vencidos. “Apesar de ser uma política nova, com novas linhas governamentais de financiamento, nosso município já investe na primeira infância há mais de duas décadas Mas as metas traçadas pelo programa Infância Ideal refletem as necessidades mais urgentes, como a formação das pessoas que trabalham nas creches, envolvendo esses agentes para que a educação esteja nesse processo. É preciso que o cuidar das crianças ande junto com o educar. Desde as brincadeiras e cuidados pessoais até a formação da linguagem oral.” “Este é o momento, em todo o mundo, de trabalharmos em rede. Estamos todos esperançosos de que este projeto, realmente, contribua para o fortalecimento das relações sociais do município.” Maria de Lourdes da Costa, coordenadora do Serviço de Atenção à Criança, da Secretaria Municipal de Saúde “A cidade de Pedro Leopoldo já foi palco de vários projetos para a infância e a adolescência. Mas com esta estrutura, com este planejamento, envolvendo todas as esferas que trabalham com jovens e crianças de zero a 6 anos, nunca vimos antes.” Renato Vidigal, presidente do Conselho Tutelar Ação ampliada Na opinião da coordenadora nacional da Pastoral da Criança, Zilda Arns, um dos grandes ganhos que a população vai obter com o Infância Ideal é a ampliação do seu atendimento. “Em Pedro Leopoldo já existe a Pastoral, só que ela não atende a todas as crianças pobres. Vamos ajudar, aplicando nossa metodologia, multiplicando o conhecimento científico dos pais e de quem for voluntário, para que eles aprendam que não é só de saúde que as crianças precisam, mas de educação e um bom desenvolvimento físico, mental, social e espiritual”, defende Zilda Arns, que teve seu trabalho reproduzido em ideal comunitário 21 P r i m e i r a i n fâ n c i a PARA SABER MAIS Livros, relatórios e links v Desenvolvimento da primeira infância: Foco sobre o impacto das pré-escolas: importante pesquisa do Banco Mundial, publicada em 2001, sobre as características e os desafios da primeira infância no Brasil. v Fontes para a Educação Infantil: lançado em janeiro de 2003, pela Fundação Orsa e Unesco, com consultoria técnica da ANDI, o livro tem uma verão online disponível no site: www. fonteseducacaoinfantil.org. br/. Apresenta informações de instituições que lidam com a Educação Infantil no país, e disponibiliza textos sobre assuntos recorrentes na área, listagem de instituições, sugestões de links, livros e periódicos. v Situação da Infância Brasileira 2006: o relatório do Unicef apresenta informações e pesquisas sobre os principais problemas da primeira infância, além de mostrar experiências que geraram melhorias significativas em diversas áreas. Disponível para download na Biblioteca Virtual do Unicef: www.unicef.org.br. v O Município e a Criança de até 6 Anos: dividido em duas partes: “O que os municípios devem ter” e “O que os atores sociais podem fazer”, o livro, do Unicef, aborda tanto as estruturas institucionais necessárias para o fortalecimento da família e conseqüentemente de suas crianças quanto o que a comunidade pode fazer para garantir que os direitos de meninos e meninas sejam cumpridos, respeitados e protegidos. Também está disponível na Biblioteca Virtual do Unicef. 22 ideal comunitário mais de 17 países (leia o artigo Primeira infância e desenvolvimento social na página 46). Os métodos da Pastoral da Criança seguem também as metas estabelecidas nos projetos do ICC, sedimentadas nos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio, acordo assinado em 2000 por 191 países-membros da Organização das Nações Unidas (ONU). Mais do que metas, os representantes máximos dessas nações firmaram um pacto de promoção dos direitos humanos em oito pontos conhecidos como Objetivos do Milênio (erradicar a extrema pobreza e a fome, atingir o ensino básico universal, promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres, reduzir a mortalidade infantil, melhorar a saúde materna, combater o HIV/Aids, a malária e outras doenças, garantir a sustentabilidade ambiental, estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento). O compromisso é alcançá-los até 2015, tendo como base para comparação o ano de 1990. Sem esconder a satisfação de ver a Pastoral da Criança crescer em sua cidade, Maria Lídia Fraga, voluntária e auxiliar de enfermagem, hoje dedicada totalmente ao trabalho com crianças, diz que o grande desafio é fazer com que as famílias dêem prosseguimento ao atendimento. “Temos que colocar em prática ações de convencimento para que toda a família participe”, acredita. Segundo ela, em suas visitas ainda é comum encontrar crianças com deficiência alimentar, com baixo peso ou mesmo obesas. A coordenadora da Pastoral da Criança em Pedro Leopoldo e municípios vizinhos, Ilma Josefina, destaca que a maior parte das mães, cujos filhos ainda sofrem com problemas de saúde, nutrição, cidadania e educação, também viveu uma infância sem cuidados. “A maioria Um projeto como o Infância Ideal, que vai cobrir toda a cidade, nos dará condições de atender a todas as crianças de zero a 6 anos Ilma Josefina, coordenadora da Pastoral da Criança em Pedro Leopoldo é de adolescentes e mães que estão em condições bem precárias de vida. Nós trabalhamos diretamente nos bairros mais pobres, e um projeto como o Infância Ideal, que vai cobrir toda a cidade, nos dará condições de atender a todas as crianças de zero a 6 anos. Estamos realizando um sonho, pois poderemos usar os benefícios da segurança alimentar”, diz Ilma. Estratégias traçadas O Instituto Camargo Corrêa sabe que o desafio é transformar essa motivação da comunidade de Pedro Leopoldo em ações concretas. Antes de ser lançado, em setembro, o projeto ganhou a participação da população por meio de mais de uma dezena de organizações atuantes no município, formando o chamado Comitê de Desenvolvimento Comunitário (CDC). No final de outubro, representantes dos organismos que formam o CDC (Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Infância e Adolescência, Conselho Tutelar, Secretaria Municipal de Saúde, Secretaria Municipal de Educação, Pastoral da Criança, Maçonaria, Rotary Clube, Lions, Grupo de Ação Ideal Voluntário (GAIV ) da Cauê, Faculdade de Pedro Leopoldo, Prefeitura de Pedro Leo- foto: carol reis show à parte Meninos de Araçuaí se apresentam no lançamento do programa junto com o grupo teatral Ponto de Partida Música e emoção no lançamento do Infância Ideal Sempre que crianças e adolescentes são convidados a ser protagonistas de suas histórias o resultado é inesperado e positivo. Prova disso são os Meninos de Araçuaí – coro formado por cantores de 7 a 16 anos que superaram as dificuldades impostas pelo dia-a-dia de pobreza e miséria – alguns andavam até 15 quilômetros para assistir às aulas de dança e música oferecidas no projeto Ser Criança, do grupo mineiro Ponto de Partida. Convidados pelo Instituto Camargo Corrêa para encerrar a solenidade de lançamento do Infância poldo e Associação São Vicente de Paula) conheceram os dados do diagnóstico sobre a situação da infância em Pedro Leopoldo e, com sua vivência sobre a realidade do município, traçaram as primeiras áreas de atuação do Instituto Camargo Corrêa. Dentre as prioridades apontadas, o CDC definiu quatro: capacitação de profissionais de creches; gravidez na adolescência; acompanhamento de gestante e recém-nascido; e criar condições de uso e disponibilizar áreas de lazer para pais e crianças. Ideal, os meninos participaram do espetáculo junto com o grupo teatral Ponto de Partida e entraram no auditório cantando e jogando pétalas de flores para o público. A história dos cantores impressiona, tendo eles se tornado referência tanto artística quanto de pesquisa, registro e resgate da música brasileira. O grupo gravou DVDs e se apresentou com vários músicos, com destaque para Milton Nascimento, com quem ganhou o carisma da capital francesa com o show Ser Minas Tão Gerais. O economista João Marcelo Borges, com sua experiência de gestão estratégica de projetos sociais, acredita que o Instituto Camargo Corrêa, ao compartilhar seus projetos com a comunidade por meio do Comitê de Desenvolvimento Comunitário, está saindo na frente na forma de organização e de trabalho. “No Brasil, ainda é incomum tamanho detalhamento nas ações das ONGs e mesmos de institutos. A gestão participativa dos projetos é a garantia de compromisso de longo prazo com a cidade, de um futuro com mais qualidade de vida para as pessoas”, enfatiza. ideal comunitário 23 EDUCAÇÃO BÁSICA Relações renovadas O programa Escola Ideal tem como linha mestra o desenvolvimento e o apoio à gestão democrática e participativa de escolas públicas. Também propiciará uma ferramenta virtual de auto-avaliação e planejamento ALEGRIA E PRAZER Alunos se divertem na escola Dr. José Tavares, de Campina Grande (PB). Uma boa escola é aquela em que os alunos gostam de estar e na qual conseguem de fato aprender Materia_Escola_Ideal.indd 24 11/14/06 9:25:03 PM FOTOS: GUSTAVO MOURA Materia_Escola_Ideal.indd 25 Um olhar no processo de democratização e nas mudanças rápidas por que passa o país; outro nos desejos, nas necessidades e nas expectativas da população que cerca a escola e que faz parte dela. E, ainda, atenção ampliada à comunicação e à qualidade das relações. Tudo para que crianças e adolescentes sintam genuíno prazer de estudar, de estar na sala de aula e de avançar nos estudos. Tornar concreto esse comportamento tão sonhado para o ambiente escolar é o grande objetivo e o maior diferencial do programa Escola Ideal, criado pelo Instituto Camargo Corrêa. “Pesquisas recentes mostram que escolas que apresentam um bom rendimento dos alunos nas avaliações nacionais têm forte presença das famílias e da comunidade”, observa Maria Eugênia Franco, coordenadora do projeto. O foco do programa é a gestão escolar do Ensino Básico. Seu principal objetivo é apoiar as escolas nos municípios onde estão presentes unidades de negócios do grupo Camargo Corrêa para que elas aprimorem seu desempenho. Esse é um viés interessante, segundo o ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza. “No mundo todo vemos parcerias entre governo e iniciativa privada para melhorar a educação. As ações sociais de ponta são as que influenciam as políticas públicas. Considero a gestão a variável número 1 para melhorar a escola. Com técnicas modernas de liderança, as empresas têm muito a oferecer nesta área, tão importante para o sucesso”, avalia. O programa Escola Ideal vem ao encontro do convite constante de engajamento que o ministro da Educação Fernando Haddad tem feito em suas andanças pelo País desde abril, quando lançou o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). Em setembro, quando o Movimento Todos pela Educação comemorou um ano de existência, Haddad voltou a enfatizar: “A educação só vai melhorar quando houver envolvimento de toda a sociedade”. No 7 -º Encontro Nacional de Estudos Estratégicos, realizado em novembro em Brasília, o ministro ratificou a sua convicção de que podemos saldar a dívida de um século com a educação em cerca de 15 anos. Com início em 2008, o Escola Ideal se dará em municípios da Paraíba. Alguns deles já registram a atuação 11/16/06 6:56:34 PM EDUCAÇÃO BÁSICA do Instituto Alpargatas, com o programa Educação por meio do Esporte, que em 2006 beneficiou mais de 42 mil crianças e adolescentes (leia quadro à página 27). Parceiro do Escola Ideal, o Instituto Alpargatas facilitará a implantação do novo programa com sua rede de relacionamento e atuação. “Temos a crença de que é pela educação que podemos fazer diferença. Pessoas com maior nível educacional podem escolher melhor, exercer e exigir mais seus direitos e deveres”, afirma Márcio Utsch, presidente da Alpargatas. “Essa parceria é uma soma de forças na qual 1 mais 1 é igual a 3, e aí o Oswald de Souza não tem como explicar. Só Pitágoras”, declara, espirituoso. O projeto piloto envolverá 315 escolas paraibanas, sendo 130 urbanas e 185 rurais. A base da ação será Campina Grande; mas o programa se estenderá imediatamente para mais seis municípios: Alagoa Nova, Araruna, Guarabira, Ingá, Mogeiro Temos a crença de que é pela educação que podemos fazer diferença. Pessoas com maior nível educacional podem escolher melhor, exercer e exigir mais seus direitos e deveres Márcio Utsch, presidente da Alpargatas e Serra Redonda. “Além de a fábrica da Alpargatas estar presente na cidade, Campina Grande apresenta melhores resultados, maior envolvimento da prefeitura, da Secretaria de Educação, da comunidade e dos professores”, explica Berivaldo Araújo, diretor executivo do Instituto Alpargatas. A professora Janete Guedes da Silva, diretora de uma escola na zona leste da cidade, está cheia de expectativas. Ela acha que o programa tornará o ambiente escolar mais produtivo devido ao comprometimento das esferas governamentais e à mudança de mentalidade que exigirá dos diretores de escola. Algo, segundo a diretora, urgente e indispensável. “Infelizmente, ainda há gestores que estão no cargo por status. Nós devemos ser tempo, presença e exemplo. O gestor escolar deve estar consciente de que é uma liderança e que para liderar é preciso estar presente, acompanhar a realização das ações e cobrar resultados”, ressalta. Janete conta também os benefícios que o Educação por meio do Esporte trouxe à Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr. José Tavares, onde trabalha e mantém 368 alunos entre o pré-escolar e o 5º ano. “Estamos numa área de risco, carente. O esporte melhorou a auto-estima e o entusiasmo dos alunos e, com isso, a freqüência e o aproveitamento. Toda criança adora esportes e por meio dele os professores trabalham outros conteúdos”, detalha. MOMENTOS DE FOGO Para delinear o programa Escola Ideal, o Instituto Camargo Corrêa idealizou uma ferramenta de diagnóstico que teve como base uma extensa pesquisa bibliográfica, recheada depois com depoimentos de professores, diretores e secretários de Educação. Esse olhar de dentro da escola foi colhido em oficinas realizadas em São Paulo (SP) 26 IDEAL COMUNITÁRIO Materia_Escola_Ideal.indd 26 11/14/06 9:27:14 PM GOLPE DE MESTRE Com ações no contraturno escolar, o Instituto Alpargatas consegue melhorar o rendimento dos alunos e a motivação dos professores e João Pessoa (PB) em parceria com o Instituto Fonte para o Desenvolvimento Social. Nos encontros, profissionais de educação de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Norte foram estimulados a falar sobre seu dia-a-dia e narrar momentos de qualidade e momentos de “fogo” na escola, ou seja, situações que geravam movimento, empolgação ou criavam polêmica entre alunos e professores. “A pesquisa bibliográfica trouxe o que caracteriza uma boa escola do ponto de vista externo, de resultados. Buscamos conhecer nas oficinas os processos internos, sem julgar se os momentos de fogo eram bons ou ruins pedagogicamente”, relata Alexandre Randi, consultor do Instituto Fonte. Mestre em educação pela Unicamp, Randi entrou no setor social pela música. Dirigiu por oito anos a Banda Bate Lata, depois foi consultor no Centro de Formação em Educação Comunitária da Associação Cidade Escola Aprendiz, entre outras organizações. A consultoria partiu do pressuposto de que os momentos de “fogo” indicam qualidade na escola porque geram movimento, mantendo acesa a chama da curiosidade e do prazer – seguindo a linha do que em tese se diz de uma educação de quali- DIVULGAÇÃO ALPARGATAS Jogos e arte: uma dupla vencedora nas escolas Além de esporte, dança, música, teatro e coral são algumas das atividades que empolgam crianças e adolescentes de 7 a 17 anos que participam das ações do projeto Educação por meio do Esporte, do Instituto Alpargatas. O projeto começou em 2003, envolvendo 20 escolas públicas da cidade paraibana de Santa Rita. Nesse mesmo ano, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do município aumentou de 0,451 para 0,659, com melhoria apenas na área de educação – os outros dados que constituem o indicador, longevidade e saúde e renda per capita, ficaram inalterados. O que leva a crer que o programa contribuiu para a melhoria do índice. Com o sucesso do projeto piloto, as cidades de João Pessoa, Campina Grande e Natal também foram convidadas a participar e o programa cresceu, passando de 41 projetos em 2005 para 77 em 2007, com 42.589 alunos atendidos Constituído de duas frentes – a Ação Escola, realizada no período escolar, e a Ação Pós-Escola, que ocorre no contraturno –, o programa melhorou o rendimento escolar, o nível de agressividade e também o desempenho de professores, com capacitação e novas metodologias de ensino. “O esporte estimula um grande envolvimento da comunidade e da meninada. Interessados em continuar no projeto, alunos difíceis se tornam estudantes exemplares. A disposição do educador também é outra. Algumas escolas de periferia hoje são disputadas pelos professores só porque estão ligadas ao projeto”, atesta Bernadete de Lourdes Leite Farias, secretária adjunta de Educação de Campina Grande. Em João Pessoa, os alunos podem contar também com o Centro de Excelência Educacional e da Aprendizagem Sensório-Motora, instalado em parceria com o governo estadual, para atendimento a 28 escolas estaduais de Ensino Fundamental e Médio. Lá, eles são avaliados por uma equipe multidisciplinar que identifica suas habilidades esportivas, considerando preferências e perfil genético-esportivo. A partir dessa avaliação, a garotada é encaminhada para o esporte ao qual mais se adapta. IDEAL COMUNITÁRIO 27 Materia_Escola_Ideal.indd 27 11/14/06 9:27:37 PM EDUCAÇÃO BÁSICA Perfil da empresa Com um século de tradição, a São Paulo Alpargatas é líder nacional do setor de calçados, artigos esportivos e têxteis industriais e de varejo. Com marcas consagradas, como Havaianas, Topper, Rainha, Mizuno, Timberland, Sete Léguas, Locomotiva e Meggashop, a Alpargatas exporta para mais de 80 países. Em suas sete unidades brasileiras, a empresa emprega cerca de 13 mil pessoas. Em 2006 registrou um crescimento de 14,3% nas vendas e foi eleita Empresa do Ano pelo anuário EXAME Melhores e Maiores. Em 2007, inaugurou um escritório em Nova York, dando início à Alpargatas USA, e outro no Chile, centrado em marcas esportivas. Também anunciou a compra da Alpargatas Argentina e concluiu a aquisição da empresa Dupé. dade. “Fala-se muito que a aprendizagem tem de ser prazerosa, então temos de olhar o que dá prazer dentro da escola para identificar componentes de qualidade ou para saber por que esse prazer é gerado, mesmo que estejamos falando do recreio ou de atividades extra-escolares. Assim esses momentos poderão ser apropriados pedagogicamente”, esclarece Randi. O que se destacou nas oficinas foi o grau de importância que as relações interpessoais e a gestão participativa e democrática ganharam. “A escola ainda é uma organização de modelo clássico, hierarquizado, mas os educadores apontam para uma mudança de paradigma. Uma nova orientação, na qual a qualidade da escola depende muito mais da relação estreita entre alunos e professores e da presença ativa de pais e da comunidade do que da quantidade de lição de casa ou do tempo que a criança passa na escola”, completa Randi. escolas, para cada um dos critérios”, explica Ricardo Schoueri, um dos sócios da TerraForum. O questionário é uma espécie de espelho, no qual a escola verá refletidos seus pontos fortes e suas dificuldades. É uma ferramenta de auto-avaliação e reflexão. “Ela permitirá que a escola conheça, aprimore e/ou construa as condições necessárias para oferecer educação de qualidade. É tanto um instrumento de diagnóstico quanto uma ferramenta de planejamento, avaliação e acompanhamento das melhorias e do programa Escola Ideal em si”, descreve João Marcelo Borges, sócio-diretor da Acesso Consultoria. Mestre em economia política internacional pela London School of Economics, com especialização em gestão de projetos pela Fundação Getulio Vargas, Borges coordenou a elaboração do instrumento de mapeamento das escolas, denominado Indicadores de Gestão para Escola Ideal. COMO UM ESPELHO Foi encomendado à Acesso Consultoria, especializada em gestão estratégica de projetos sociais e cooperação internacional, um instrumento de diagnóstico capaz de mapear dimensões objetivas e subjetivas de uma escola ideal. De maneira resumida e simplificada, escola ideal é aquela que tem capacidade de atender todas as crianças e os adolescentes de seu entorno, de fazer com que os alunos gostem da escola, nela permaneçam e de fato aprendam. Outra empresa, a TerraForum, que faz consultoria e treinamento em gestão do conhecimento e tecnologia da informação, ficou com a responsabilidade de transformar esse instrumento em um software que poderá ser acessado por meio do site do Instituto Camargo Corrêa. A estrutura do software é a mesma utilizada pelo Instituto Ethos para que as empresas possam medir seu índice de responsabilidade social. “O uso de um software especializado permite que as próprias escolas cadastrem suas informações e obtenham relatórios acerca de sua posição relativa a outras DETALHES Em linhas gerais, a ferramenta vai mapear seis dimensões da escola (leia quadro à página 29). Com respostas de profundidade. “Quando houver um questionamento quanto a políticas e práticas pedagógicas, estaremos falando de como é o comportamento do professor em sala de aula ou em que medida ele tem tempo e condições de planejar suas aulas e se ele faz isso de fato. O item ambiente educativo vai nos mostrar qual o clima da escola, se é conflituoso, se há regras de conduta e se elas são conhecidas e seguidas”, exemplifica Borges. No caso de variáveis clássicas, como evasão escolar, fluxo e rendimento, a escola vai se perguntar como lida com isso: se acompanha e busca compreender as razões de tais índices, se conversa com alunos, pais e professores. “O mapa derivado da aplicação do questionário complementará outros indicadores sociais, como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Será possível ter um retrato mais rico da escola”, conclui o consultor. 28 IDEAL COMUNITÁRIO Materia_Escola_Ideal.indd 28 11/14/06 9:28:20 PM PARA SABER MAIS Vale a pena ver Pro Dia Nascer Feliz – documentário de João Jardim, ganhador do prêmio especial do júri no 10º- Cine-PE. Aborda a educação pública na adolescência. O ESSENCIAL Biblioteca, sala de vídeo, quadras; nada substitui a curiosidade e a satisfação de aprender MÉRITO Tanto cuidado em conhecer e retrabalhar a dinâmica das relações e o modo de direcionar as ações da escola fez com que o programa Escola Ideal recebesse um parecer técnico muito positivo do pedagogo e escritor Antônio Carlos Gomes da Costa, ex-membro do Comitê Internacional do Direitos da Criança, de Genebra, Suíça. “O programa revela ter mérito, relevância e impacto. Mérito pelo zelo extremo com que vem sendo planejado. Relevância porque não se trata de uma ação pontual, mas de uma iniciativa abrangente a serviço de uma causa. E, por esses motivos, sua capacidade de impactar positivamente unidades e redes de ensino é muito grande”, avalia o especialista. “Além disso, tem uma novidade qualitativa que é a centralidade na gestão”, complementa. Para Mário Sérgio Cortella, filósofo, escritor e professor de pósgraduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), toda vez que um grupo como a Camargo Corrêa se aproxima da escola numa parceria honesta e transparente, a cidadania cresce. “Na relação entre o estatal e o privado é preciso trazer à tona a dimensão pública, isto é, a construção da vida coletiva. Ao lado da competitividade, da lucratividade e da rentabilidade, um grupo socialmente comprometido consegue vitalizar o aparelho escolar com doses de eficiência”, observa o mestre. Livros e pesquisas v Aprova Brasil - O Direito de Aprender – livro editado pelo MEC e pelo Unicef com base nas práticas eficientes de 33 escolas públicas avaliadas pela Prova Brasil 2005. v Pesquisa Nacional Qualidade da Educação: A Escola Pública na Opinião dos Pais – estudo de 2005 do Inep/MEC sobre a relação família, escola e educação. Mostra a percepção dos pais sobre a qualidade das escolas públicas. Links úteis v www.acaoeducativa.org.br v www.cenpec.org.br v www.rinace.net As seis dimensões da escola A ferramenta virtual de avaliação e de planejamento de melhorias mostra também como são as relações interpessoais na escola 1. Profissionais da educação Mapeia a suficiência, a reativa com questões como o rendimento, a freqüência estabilidade e a assiduidade dos profissionais que atuam e o fluxo escolar. na escola, entre outras questões. 5. Ambiente educativo Traz informações sobre o clima 2. Condições de ensino Registro de espaço físico, da escola, se é conflituoso, se há violência, se há regras de instalações da escola e materiais didático-pedagógicos. conduta, se elas são conhecidas e cumpridas, se a escola 3. Políticas e práticas pedagógicas Indicadores que pontuam promove a cultura para a paz. desde o projeto pedagógico até o planejamento de aulas por 6. Gestão escolar A intenção é saber como a escola interage parte dos professores, do sistema de avaliação escolar até o com os programas governamentais e não-governamentais, incentivo à pratica de atividades fora da sala de aula. se ela toma decisões ouvindo a comunidade, se ela possui 4. Desempenho escolar Indicadores buscam mensurar conhecimento e ferramentas para a boa gestão de suas se e em que medida a escola lida de forma preventiva ou ações e recursos, entre outros. IDEAL COMUNITÁRIO 29 Materia_Escola_Ideal.indd 29 11/14/06 9:28:39 PM juventude sonhos e expectativas Menezes e Sulália desejam instalar no ReciclÂngela um empreendimento-escola que prepare jovens como Santana (atrás) a lidar com gestão ambiental 30 ideal comunitário Novas oportunidades fotos: ricardo benichio O programa Futuro Ideal investirá na capacitação profissional e na geração de renda, estimulando o protagonismo juvenil “Acesso mais rápido e fácil à formação.” A resposta vem ligeira quando Nilton Celestino Santana, de 25 anos, é questionado sobre o que espera oferecer ao filho de apenas 4 meses – Logan Yan Celestino Santana de Lima. Tão grande o nome do menino quanto a esperança de Santana no futuro. Grafiteiro e amante do desenho, ele vivia de bicos até o início do ano passado, quando se integrou ao ReciclÂngela, projeto social da Sociedade Santos Mártires, realizado no bairro de Jardim Ângela, zona sul de São Paulo. Hoje consegue, com outros sete companheiros, retirar em média 300 reais por mês com coleta e venda de papel e plástico para reciclagem. São jovens como ele – que muitas vezes nem concluem o Ensino Básico e já precisam trabalhar para seu sustento e o dos seus – que o programa Futuro Ideal, do Instituto Camargo Côrrea (ICC), irá atender no próximo ano. O objetivo é estimular a geração de trabalho e renda e o empreendedorismo juvenil em brasileiros de 16 a 24 anos sem nenhuma formação profissional. O ReciclÂngela é uma das instituições participantes do processo seletivo do programa. “Nosso foco é a inserção desse público por meio do negócio. Pretendeideal comunitário 31 juventude Perfil da empresa Com mais de 85 anos de existência e quase 3 mil funcionários, a CAVO é especializada em gestão ambiental de resíduos, águas e efluentes, sendo uma das principais representantes brasileiras do setor. Tem unidades em São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná, com clientes importantes, como Cosipa, Embraer, Riopol, Bosch e Novelis. Em Curitiba (PR), onde é responsável pela limpeza urbana, seu desempenho contribuiu para que a cidade fosse considerada pela Organização das Nações Unidas (ONU) uma das mais limpas do mundo. A empresa apresentou, em 2006, aumento de 20,4% em sua receita bruta, fechando o ano com 321 milhões de reais. Por suas ações pelo desenvolvimento socioambiental, a CAVO recebeu os prêmios Empresa Sustentável, concedido pela revista Meio Ambiente Industrial, em parceria com o Instituto Ethos de Responsabilidade Social e com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), e o de Empresa do Ano 2006 em Responsabilidade Socioambiental, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, além do Mérito Ambiental, entregue pelo Instituto Brasileiro de Defesa da Natureza. 32 ideal comunitário mos atuar nas comunidades onde as empresas do grupo estão inseridas, chamando os atores sociais locais para discutir e viabilizar projetos que tenham sinergia com os negócios das empresas, sempre levando em conta a vocação econômica do local”, explica Jair Resende, coordenador do programa Futuro Ideal. Esses atores podem ser instituições governamentais, organizações do Sistema S (Sesi, Senai, Sesc e Senac) ou organizações da sociedade civil, que serão convidadas a formar os Comitês de Desenvolvimento Comunitário (CDC), juntamente com representantes da empresa e do ICC. Um dado importante é que esses projetos estarão alinhados com a área de negócios das empresas parceiras, o que possibilitará a manutenção do próprio programa. “Temos especialistas altamente qualificados. Assim podemos utilizar a competência técnica dos funcionários, que trabalhariam como voluntários, e usar nossa rede de relacionamento – fornecedores e clientes – para aproveitamento dos negócios ou do trabalho dos jovens qualificados”, acrescenta Resende. No caso do ReciclÂngela, por exemplo, a empresa do grupo que dará apoio ao projeto será a Cavo, especializada em gestão ambiental de resíduos, águas e efluentes. “Vamos proporcionar aos jovens a possibilidade de ter um trabalho digno e sua própria renda. É uma forma de oferecer a eles as ferramentas para a conquista de um futuro melhor e, ao mesmo tempo, zelar pelo meio ambiente”, analisa Luiz Augusto Rosa Gomes, diretor-superintendente da CAVO. Alguns dados divulgados recentemente pelo Banco Mundial (BID) dão a dimensão da importância de iniciativas como esta, direcionadas aos jovens brasileiros – um total de 35.163.312 pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No relatório Jovens em Situação de Risco no Brasil, o BID afirma que o país perderá até 320 bilhões de reais na próxima década caso não invista na juventude nos próximos três anos. Na composição do cálculo estão os custos do atendimento público aos jovens de 15 a 24 anos durante toda a sua vida e uma estimativa da perda social gerada pela falta de estudo, de emprego e de uma vida digna, pois um terço desta geração vive abaixo da linha da pobreza, ou seja, com menos de 2 dólares por dia. O BID indica ainda que a população jovem é a que recebe menos investimentos – apenas 6% dos gastos sociais. Vamos proporcionar aos jovens a possibilidade de ter trabalho digno e renda. É uma forma de oferecer a eles ferramentas para um futuro melhor Luiz Augusto Rosa Gomes, diretor-superintendente da CAVO Ações e diagnóstico No programa Futuro Ideal já estão sendo articuladas quatro iniciativas: a de coleta seletiva e educação ambiental, com a CAVO e o Centro Empresarial Camargo Corrêa; outra de reciclagem em Curitiba, com a própria CAVO, que é responsável pela limpeza urbana na capital paranaense; uma de escola de jardinagem com a Camargo Corrêa Desenvolvimento Imobiliário (CCDI); e outra na área têxtil com a Santista, em Americana, interior de São Paulo. Após a análise de contexto na Santista, o Instituto e a direto- Perfil da empresa Projeto consumo consciente Os trainees Roberta Porto e Rielli comemoram com Pereira, da CAVO, a nova destinação dos resíduos gerados pelo Centro Empresarial Camargo Corrêa, em São Paulo ria da empresa concluíram que, entre os três programas estruturantes, o mais alinhado ao potencial da empresa e às demandas das comunidades é o Futuro Ideal. A Santista já possui uma estrutura de formação profissional na área de confecção denominada Universidade Santista. A proposta é que sejam desenvolvidos projetos de formação para o trabalho e geração de renda na área de design e moda, utilizando o potencial existente na empresa, incluindo espaço físico, equipamentos e equipe de profissionais. O projeto piloto será implantado no início de 2008 em Americana, onde se localiza uma das fábricas da empresa. Todas as ações estão em fase de diagnóstico. Duas delas estão mais adiantadas: a de reciclagem com a CAVO e a de paisagismo com a CCDI. A parceria com a CAVO nasceu juntamente com o projeto Consumo Consciente, desenvolvido pela turma de trainees corporativos 2006 do grupo Camargo Corrêa. Luiz Eduardo Rielli, um deles, conta como foi esse processo: “Chegamos ao consenso de que faríamos um projeto que abrangesse toda a empresa e os profissionais de maneira simples. Então, escolhemos o tema consumo consciente, que foi subdividido em recursos hídricos, energéticos e materiais recicláveis”. A intenção é aplicar o conceito inicialmente com os cerca de 1.600 funcionários do condomínio da Vila Olímpia, em São Paulo, onde está a sede da maioria das 20 empresas do grupo e mais oito prestadoras de serviço e terceirizadas. A etapa seguinte foi a análise da situação do prédio no que diz respeito a uso e bom aproveitamento dos recursos e dos materiais. “Houve uma proposta de intervenção nos pontos críticos do prédio para troca de torneiras e descargas antigas, para reaproveitamento de lâmpadas e colocação de coletores para separação do material a ser reciclado”, relata Rielli. As descobertas, no entanto, foram além da necessidade de troca de equipamentos hídricos e elétricos. E surpreenderam. “O condomínio gera 36,8 toneladas de resíduos, entre plástico e papel, por ano. Apenas 10% do volume deste material era aproveitado”, afirma Donata Oliveira Cardoso, gerente comercial da holding PMV, controladora do grupo Camargo Corrêa, e uma das multiplicadoras do Programa Corporativo de Sustentabilidade. A Santista Têxtil, subsidiária da espanhola Tavex na América do Sul, foi a primeira multinacional brasileira do setor têxtil. Desde 2005, a Santista integra o grupo Camargo Corrêa e, a partir da fusão com a Tavex, em março de 2006, tornouse a maior produtora mundial de denim e a líder no segmento de tecidos para roupas profissionais na América do Sul. A Tavex produz anualmente mais de 250 milhões de metros de denim e brim, com faturamento da ordem de 500 milhões de dólares. A Santista Têxtil tem sete plataformas industriais: cinco no Brasil, nos estados de São Paulo (Americana e Tatuí), Pernambuco (Paulista) e Sergipe (Aracaju e Nossa Senhora do Socorro); uma na Argentina, em Tucumán; e outra no Chile, em Chiguayante. A Santista gera 4.900 empregos diretos e exporta para mais de 50 países. A empresa mantém, na cidade de Americana (SP), o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento, tido como o principal da América do Sul, e inaugurou há dois anos a Universidade Santista Têxtil, contribuindo para a formação e o desenvolvimento contínuo de clientes e colaboradores, além de estilistas e outros estudantes. ideal comunitário 33 juventude PARA SABER MAIS Livros v O Empreendedorismo na Escola (Ed. Artmed) – Livro escrito pela educadora Marina Rodrigues Borges Acúrcio, da Rede Pitágoras, e pela psicopedagoga Rosamaria Calaes de Andrade. v Pedagogia Empreendedora (Ed. Cultura) – Obra de Fernando Dolabela, professor da Universidade Federal de Minas Gerais e criador da Pedagogia Empreendedora, um dos mais populares programas de ensino empreendedor na educação básica, que começou a ser aplicado a partir de 2002 em muitas escolas brasileiras. Links úteis v www.jabrasil.org.br – Fundação Junior Achievement Brasil, que atua capacitando professores e fornecendo material didático sobre empreendedorismo para escolas públicas e particulares. v www.universiabrasil.com.br – A rede Universia é uma referência para o mundo acadêmico nas áreas de empregabilidade, formação continuada, inclusão digital, empreendedorismo e divulgação de bolsas de estudo. v www.projovem.gov.br – Programa Nacional de Inclusão de Jovens do governo federal. Faz parte da Política Nacional de Juventude e foi implantado em 2005. v w ww.ciee.org.br – Instituição mantida há 43 anos pelo empresariado nacional com o objetivo de encontrar uma oportunidade de estágio para estudantes de nível médio, técnico e superior. 34 ideal comunitário Campanha Para mudar esse quadro era preciso trabalhar o entendimento do conceito de sustentabilidade e de educação ambiental dentro do condomínio. Foi então idealizada uma grande campanha interna de conscientização para os profissionais (leia mais à página 44). O projeto, no entanto, deveria atender a três esferas de atuação: a econômica, a ambiental e a social. Foi aí que o projeto Consumo Consciente encontrou sinergia com o programa Futuro Ideal, e pensou-se no ReciclÂngela para receber parte do volume de material reciclável do condomínio – em média 3,06 toneladas por mês. “A idéia é que, além de coletar o material, façamos aqui um empreendimento-escola, onde os jovens aprendam todo o processo de gestão de resíduos, com orientação sobre coleta seletiva, identificação e seleção de material, reciclagem industrial, atendimento a clientes e organização financeira e administrativa”, explica Sulália de Souza, que, juntamente com Gabriel Menezes, está à frente do ReciclÂngela. “Temos 5 mil metros quadrados de terreno e pretendemos estabelecer aqui várias frentes de geração de renda, entre elas a Arte-reciclagem, que é o artesanato de qualidade feito de sucata”, complementa Menezes. da região”, explica Denise Bulhões, gerente de recursos humanos da CCDI. O viveiro, que produzirá mudas e sementes das mais variadas espécies e tem previsão de inauguração em dezembro, funcionará também como escola. Oferecerá um curso profissionalizante de jardinagem, atendendo uma área muito carente de qualificação. “Fizemos uma pesquisa com as administradoras de condomínio e empresas de jardinagem para verificar as qualificações desejáveis desse profissional e, além de iniciativa e do conhecimento das plantas, vimos que é muito interessante que ele seja capaz de entender as especificações ou os desenhos feitos pelo paisagista”, conta Denise. O curso está planejado e deverá ser realizado a partir de março de 2008. Oferecerá, além Sementes No caso da CCDI, a parceria nasceu a partir do Projeto Socioambiental Viveiro de Mudas – Jardim Sul, que a empresa está desenvolvendo num terreno de 7 mil metros na zona sul de São Paulo. O objetivo é produzir mudas e sementes para os empreendimentos e para a Vila Andrade, local onde a empresa tem a proposta de implantar um projeto diferenciado de paisagismo assinado pelo reconhecido arquiteto Benedito Abbud. “Será um bairro agradável, planejado, com praças e outros locais de convivência, que vai beneficiar todos os moradores Donata Oliveira Cardoso, gerente comercial da holding PMV O condomínio gera 36,8 toneladas de resíduos, entre plástico e papel, por ano. Apenas 10% desse material era aproveitado da formação técnica em educação ambiental e jardinagem, orientações sobre gestão pessoal, empresarial e de negócios. Prevê ainda a realização de estágios, a inserção no mercado de trabalho, o estímulo a iniciativas próprias de desenvolvimento de pequenos negócios ou alternativas coletivas de trabalho e renda. As duas turmas de 24 alunos terão aulas de segun- Projeto arquitetônico do viveiro Perfil da empresa Centro de treinamento Viveiro Área de produção de mudas Vestiários Paisagem de ensino Além de produzir sementes e mudas, o viveiro oferecerá cursos de jardinagem. O projeto é do arquiteto Ricardo Julião e a proposta paisagística, ainda em fase de aprovação, de Benedito Abbud Área de produção de mudas Viveiro Viveiro Área de produção de mudas da a quinta-feira, de manhã ou à tarde, durante seis meses. A sexta-feira será dedicada a visitas e atividades práticas. A implantação do programa na comunidade está a cargo da Obra do Berço, que há 70 anos promove ações educativas, culturais e sociais na cidade de São Paulo, sendo muito presente na região onde estará situado o viveiro. “A Obra do Berço conhece as necessidades da população do entorno e será nossa parceira na realização da capacitação. A instituição fará a divulgação do curso, a seleção dos docentes e a produção do material didático, principalmente para as aulas de empreendedorismo, cidadania e informática”, complementa a coordenadora do programa. Para Carla Hagemann, gerente-geral da Obra do Berço, a parceria vem ao encontro também das demandas internas da associação. A instituição mantém desde 1994 o Programa de Educação em Empreendedorismo Juvenil – Escritório-Escola e o desenvolvimento de oficinas de gestão pessoal e profissional com Fonte: Área de Recursos Humanos da CCDI jovens de 14 a 18 anos, mas não tinha um programa mais abrangente para o público de até 24 anos. “A maioria dos jovens, mesmo os que terminam o Ensino Médio, tem dificuldade de inserção no mercado de trabalho, seja pela falta de oportunidades, de formação profissional ou, muitas vezes, pela impossibilidade de continuar os estudos formais ou realizar cursos complementares. Há uma grande carência de programas sociais para essa faixa etária”, aponta Carla. Dentro da perspectiva de empreendedorismo que permeia todo o programa Futuro Ideal, está também a prerrogativa de melhorar a qualidade de vida de outras pessoas das comunidades envolvidas. Para isso, os parceiros pretendem utilizar o estímulo ao protagonismo juvenil. “O jovem não pode ser uma realidade isolada em seu meio. Ele será o veículo para mudar os conceitos de seus familiares e vizinhos em ações de conscientização promovidas no bairro”, observa a gerente da Obra do Berço. Uma pequena mostra do poder transformador da formação. A Camargo Corrêa Desenvolvimento Imobiliário é uma das maiores companhias em incorporação de empreendimentos residenciais e comerciais de alta qualidade no Brasil. Com cerca de 200 funcionários e um banco de terrenos de cerca de 7,4 bilhões de reais em Valor Geral de Vendas, a empresa possui mais de 125 áreas para desenvolvimento nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. O ano de 2007 marcou a entrada da empresa no Novo Mercado da Bovespa e a expansão para o segmento de imóveis para baixa renda, com a aquisição de 51% da HM Engenharia e Construções. Entre os empreendimentos da incorporadora está o primeiro prédio comercial verde do Rio de Janeiro, o Ventura Corporate Towers. Em São Paulo, entre seus lançamentos, está o projeto Arquitetura de Morar, que homenageia Tom Jobim e traz uma proposta de reurbanização do bairro Jardim Sul, com construções de praças e calçadas ecológicas. ideal comunitário 35 V o lu n ta r i a d o co r p o r at i v o Unidos pela fotos: leo drumond Voluntários conquistam caminhoneiros para se tornarem agentes de prevenção da exploração sexual infanto-juvenil. Por meio do programa Ideal Voluntário, os profissionais e parceiros da Camargo Corrêa vão contribuir para o desenvolvimento das comunidades em que as empresas estão inseridas 36 ideal comunitário causa chapéu de m a t ÉRIA Todos juntos A Cauê é uma das empresas signatárias do Pacto Empresarial contra a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas Rodovias Brasileiras, iniciativa do Instituto WCF-Brasil, com o apoio da Organização Internacional do Trabalho e do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social ideal comunitário 37 V o lu n ta r i a d o co r p o r at i v o Mobilização é fundamental Segundo estudo realizado pelo Instituto WCF-Brasil, um terço dos caminhoneiros diz já ter feito programa com crianças ou adolescentes. Muitos deles afirmam não saber que isso é crime e desconhecer o impacto que a exploração sexual tem na vida de meninos e meninas. “Mas, se os caminhoneiros são parte do problema, pois admitem ser clientes da exploração sexual, também são parte fundamental da solução”, defende Carolina Padilha, coordenadora de programas do WCF. “Temos dois terços de caminhoneiros que não são clientes. Vamos trabalhar para que eles nos ajudem nesse processo de proteção e enfrentamento.” 38 ideal comunitário Contra uma rede de exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias brasileiras, outra foi formada e vem trabalhando firmemente em Pedro Leopoldo, no interior de Minas Gerais. Trata-se de uma rede articulada por profissionais voluntários da Cauê, que conta com a presença de importantes atores no combate à exploração sexual, como o Conselho Tutelar, o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o Projeto Sentinela, a Promotoria Pública, a Polícia Rodoviária Estadual e as transportadoras Cesa Logística, Rodolatina, Transvalente e Usifast. A idéia surgiu depois que a Cauê assinou o Pacto Empresarial contra a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas Rodovias Brasileiras e decidiu que Pedro Leopoldo levaria adiante o projeto piloto. Por meio do acordo, que faz parte do programa Na Mão Certa, a empresa se compromete a contribuir para a erradicação do problema em todos os elos de sua cadeia produtiva. Para isso, promove a cooperação intersetorial, a disseminação de informações e a sensibilização dos caminhoneiros, a fim de que se tornem agentes de prevenção, e o fortalecimento do sistema de garantia dos direitos das crianças e adolescentes. Desde novembro de 2006, quando foi lançado, mais de 200 empresas assinaram o pacto. O programa Na Mão Certa é uma iniciativa do Instituto WCF-Brasil, com o apoio da Organização Internacional do Trabalho e do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. Foi apresentado aos profissionais da Cauê em Pedro Leopoldo, no dia 26 de setembro, durante o lançamento do programa Infância Ideal (veja texto na página 16). Isso criou uma movimentação, sobretudo entre os funcionários que trabalham no ensacamento e na logística da empresa, no sentido de desenvolver uma ação em prol da implementação do programa. Assim surgiu a I Semana Na Mão Certa, realizada entre os dias 22 e 26 de outubro. Blitz Durante os cinco dias de evento, os caminhoneiros foram convidados a participar de atividades rápidas, como palestras, corte de cabelo, orientações sobre checagem de crédito e de saúde, na expedição da fábrica. Ao mesmo tempo, receberam informações sobre a exploração sexual infanto-juvenil e foram incentivados a trabalhar por sua erradicação. A rodovia MG 424, que liga Belo Horizonte a Sete Lagoas, também foi cenário da mobilização. As estradas e os postos de gasolina são locais de intensa exploração sexual infanto-juvenil. Meninas são atraídas por falsas promessas, muitas vezes por um prato de comida, um par de sapatos ou alguns trocados. Nessa ação, 181 motoristas receberam cartilhas, folhetos e adesivos da campanha. Durante toda a semana, o número de caminhoneiros sensibilizados foi de 593. Um dos voluntários dedicados à organização da semana foi Ardvander Joaquim de Melo, supervisor de produção da Cauê. Ele No rumo certo Quase 600 caminhoneiros foram sensibilizados durante a I Semana Na Mão Certa, organizada em Pedro Leopoldo (MG) pela ação voluntária de funcionários da Cauê, como Ardvander Joaquim de Melo (à esquerda) Empresas engajadas empresa. Em 26% das companhias, o índice de participação é superior a 20%. As atividades que mais mobilizam pessoas são as campanhas de doação (71%) e ações pontuais (51%), o que mostra que a cultura do voluntariado ainda não está consolidada na sociedade. A participação intensa de membros da diretoria no programa de voluntariado é apontada como fator preponderante para o engajamento dos colaboradores. Para 94% das pessoas que responderam à pesquisa, o sucesso de um programa de voluntariado empresarial depende de uma diretoria participativa. No entanto, apenas 25% das empresas afirmam possuir uma diretoria engajada nessas ações. divulgação A pesquisa Perfil do Voluntariado Empresarial no Brasil, lançada em 2007 pela Riovoluntário, mostra que 45% das empresas brasileiras já têm um programa de voluntariado institucionalizado, com planejamento e orçamento anual. Realizado junto a 103 empresas de todas as regiões do país e de diversos portes, o estudo revela que 65% das empresas esperam, com esse tipo de iniciativa, fortalecer seu relacionamento e atender as necessidades da comunidade do entorno. Quanto ao nível de participação dos colaboradores, 34% das empresas dizem que entre 1% e 5% de seus funcionários participam de atividades voluntárias apoiadas pela ideal comunitário 39 V o lu n ta r i a d o co r p o r at i v o trabalha diretamente com os cerca de 240 caminhoneiros cadastrados para levar o cimento da empresa para a região metropolitana de Belo Horizonte. Junto com os colegas, conseguiu mobilizar os diferentes parceiros da rede. “Procuramos o Conselho Tutelar e a Promotoria Pública e ficamos conhecendo mais esta realidade, que está em todo o país”, destaca. De acordo com Maurício Anacleto de Queiroz, gerente industrial da Cauê, o tema da exploração sexual será discutido continuamente na empresa. “A I Semana serviu de aprendizado, que será utilizado num programa anual. Vamos capacitar os profissionais da expedição e os carregadores para que, no dia-a-dia, no contato com os caminhoneiros, eles sejam multiplicadores”, afirma. E promete que outras Semanas virão – não apenas em Pedro Leopoldo, mas nas demais unidades da Cauê. “A motivação da equipe de Pedro Leopoldo e dos parceiros vai fazer o programa avançar muito além das fronteiras da nossa unidade”, garante. PARA SABER MAIS Livros v D oações e Trabalho Voluntário no Brasil: Uma Pesquisa, Leilah Landim e Maria Celi Scalon, Editora 7 Letras, 2000. v A Estratégia Lúdica com CD – Jogos Didáticos para a Formação de Gestores de Voluntariado, Juan Jose Mere Rouco e Maria Resende, Peirópolis, 2003. v O Trabalho Voluntário – Uma Questão Contemporânea e um Espaço para o Aposentado, Maria Cristina dal Rio, Editora Senac São Paulo, 2004. Links úteis v www.cvsp.org.br v www.facaparte.org.br v www.pnud.org.br/unv v www.portaldovoluntario.org.br v www.riovoluntario.org.br 40 ideal comunitário Foco nos protagonistas De fato, os funcionários da Cauê têm se mobilizado intensamente como voluntários. Dos 250 colaboradores da unidade, 83 mostraram interesse em participar das atividades apoiadas pela empresa. Ricardo Fonseca de Mendonça Lima, diretor de operações da Cauê, reconhece o empenho. “Em Pedro Leopoldo, há uma equipe bastante engajada nos trabalhos sociais, a começar pelo gerente”, diz. “Com isso, temos conseguido contagiar nossos profissionais. E esse foi um dos motivos que nos levaram a escolher a unidade para desenvolver o projeto piloto do Infância Ideal.” Segundo Lorenza Longhi, coordenadora do Ideal Voluntário, o programa é transversal aos programas estruturantes do Instituto Camargo Corrêa (Infância Ideal, Escola Ideal e Futuro Ideal) e vai constantemente criar oportunida- Quando você trabalha no desenvolvimento local, tem que estar ciente de que muda a vida das pessoas. É preciso agir com cuidado e ética Dirk Hegmanns, coordenador do Programa de Voluntariado das Nações Unidas no Brasil des para que o funcionário atue voluntariamente em sintonia com os projetos apoiados. Para isso, cada localidade vai montar Grupos de Ação Ideal Voluntário (GAIV), sendo que um deles vai coordenar os trabalhos e é composto pelo gerente da unidade, pela pessoa responsável pelo RH ou comunicação da empresa e dois funcionários voluntários. “O GAIV é o centro de referência local para os profissionais que desejam contribuir de alguma forma, pois vai constantemente divulgar possibilidades de participação”, afirma. “Ele vai acompanhar o desenvolvimento dos projetos de cada programa, manter contato com as equipes dos projetos, estar atento às contribuições que podem ser realizadas por meio de ações voluntárias, e dialogar com o Comitê de Desenvolvimento Comunitário local.” Isso garantirá que o voluntariado seja desenvolvido a partir das reais demandas identificadas na comunidade. Aliás, essa é uma preocupação constante dos especialistas. “Quando você trabalha no desenvolvimento local, tem que estar ciente de que muda a vida das pessoas. É preciso agir com muito cuidado e ética”, afirma Dirk Hegmanns, coordenador do Programa de Voluntariado das Nações Unidas no Brasil. Para ele, o desenvolvimento sustentável só será atingido com o engajamento de voluntários, de cidadãos e da sociedade civil em geral. Mas para isso a comunidade em que o voluntário atua não pode ser excluída do desenho do programa. Renata Gellers, coordenadora de comunicação do Riovoluntário, acrescenta que, se o voluntário não ouvir a comunidade, suas demandas e potencialidades, ele pode, em vez de ajudar, atrapalhar. Por isso defende que ele passe por um programa de capacitação, no qual entenda a necessidade de conhecer o público com o qual vai se relacionar. No caso do Ideal Voluntário, isso está previsto. Em Pedro Leopoldo, foram realizadas oficinas abordando os principais conceitos do voluntariado e experiências bem-sucedidas de projetos desenvolvidos por voluntários em programa similares. As oficinas contaram com a participação de Danusa Dias Reis, consultora da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, e de Vera Lúcia Dutra, coordenadora do Programa de Voluntariado da Fundação Acesita. Os primeiros resultados da atuação voluntária em Pedro Leopoldo já estão sendo sentidos pelo grupo. José Francisco de Campos, diretor de Recursos Humanos do grupo Camargo Corrêa, afirma que a relação da unidade da Cauê com a comunidade já se tornou mais próxima. A comunidade está percebendo que a empresa tem interesse em seu desenvolvimento. E isso se reflete em melhoria do clima organizacional e em todos os aspectos da sustentabilidade corporativa. Pelo lado do funcionário, também há ganhos: os profissionais estão mais motivados a participar de atividades voluntárias porque sabem que as chances de atingir seus objetivos são grandes. Num mundo de desigualdades, Anísia Sukadolnik, diretora do Centro de Voluntariado de São Paulo, considera que as empresas devem se preocupar com seu capital humano. Até porque, com a globalização, as companhias ficaram muito parecidas, e o que as diferencia são as pessoas. “Quando a empresa é capaz de incentivar o voluntariado, ela melhora seu capital humano, e isso faz bem para todos. Ganha a empresa, ganham os funcionários, ganham a sociedade e o país como um todo”, enfatiza. Marco Aurélio Santana (foto), funcionário da oficina da fábrica da Cauê em Pedro Leopoldo, trabalha das 7 às 17 horas e, depois dessa jornada, arranja tempo para ser voluntário. “Às vezes, 15 minutos de atenção a uma criança ou um idoso no asilo fazem tão bem quanto 1 hora construindo ou consertando alguma coisa”, diz ele, que considera o tempo o componente menos importante. Para ele, o Ideal Voluntário já marcou ponto desde o lançamento, com a palestra da líder da Pastoral da Criança, Zilda Arns. “Nossa cidade é pequena, e muitas vezes ficamos à margem desse tipo de formação. Foi sensacional ver o povo da cidade e da fábrica aprendendo com a Pastoral”, afirma. eugênio sávio Todo tempo é tempo ideal comunitário 41 fotos: francisco azevedo internacional A vida resiste Os moradores de Luanda e de seus arredores buscam alternativas para a falta de água e outros serviços essenciais Reconstrução em Atuando no país devastado pela guerra, a Camargo Corrêa Internacional implantará em Luanda uma ação de capacitação de mão-de-obra, em parceria com o Instituto Camargo Corrêa 42 ideal comunitário Angola Em sua atuação internacional, o grupo Camargo Corrêa se propõe a investir num sonho – a esperança dos angolanos de ver seu país reestruturado e longe das estatísticas alarmantes registradas por organismos internacionais, como o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Depois de mais de 30 anos de guerra civil, Angola está em 162º- lugar no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) – dentre 173 países, com taxa de mortalidade infantil de 260 por mil nascidos vivos. Cinqüenta e seis por cento da população, estimada em 17 milhões, tem até 18 anos, e a cada hora morrem 25 crianças no país, vítimas principalmente da desnutrição. Além disso, o número de órfãos devido à guerra e a doenças, como a Aids, chega a 1,2 milhão. Ao mesmo tempo que apresenta essa face retalhada e ferida pelos conflitos armados, Angola tem outra, rica e surpreendente. A do país cujo Produto Interno Bruto (PIB) vem crescendo substan- cialmente desde 2004, chegando a 26,9%, no ano passado. O motivo são suas ricas jazidas de petróleo e diamantes. “Angola é um dos principais produtores de petróleo, com tendência de se tornar o maior do mundo. Produz hoje 1,6 milhão de barris/dia e a previsão é que chegue em 2010 com 5 milhões de barris/dia”, informa Amauri Rodrigues Pinha, diretor regional do bloco África da Camargo Corrêa Internacional. A transformação dessa pujança financeira em melhorias para a população, no entanto, tem acontecido a passos lentos. Com esses dados em mãos, a Camargo Corrêa Angola – subsidiária local da Internacional –, que está no país há três anos, começou a delinear um projeto de responsabilidade social juntamente com o Instituto Camargo Corrêa. O primeiro impulso foi focar a atenção no programa Infância Ideal. Mas, ao analisar a fundo a questão da reconstrução de Angola, os dois parceiros mudaram de visão. A tendência é firmar posição num pro- grama de geração de renda, empreendedorismo e capacitação de mão-de-obra, mais alinhado com o Futuro Ideal. “A guerra causou um grande êxodo e a desestruturação é generalizada. Há carência de profissionais em todas as áreas, desde mão-de-obra básica até técnicos, engenheiros ou assistentes sociais”, relata Pinha. O desfalque de capital humano atinge também o poder público. “A capacidade executiva do Estado é pequena devido à falta de profissionais qualificados. Há carência inclusive de leis para regulamentar e fiscalizar as atividades”, complementa o executivo. Plano de Ação Entre as obras da empresa em Angola, está a reconstrução de duas grandes avenidas que ficam nos municípios de Sambizanga e de Cazenga. Estima-se que haja 2 milhões de habitantes em Cazenga, muitos deles refugiados de guerra. O problema da superpopulação toma toda a província de Luanda e seus arredores. A capital angolana tinha 1 milhão de habitantes em 1988, hoje tem cerca de 6 milhões, ou seja, quase a metade da população de todo o país. Cazenga, assim como outros aglomerados humanos no território, não tem saneamento básico nem água. Ali falta de tudo, atendimento à educação, à saúde, estrutura para moradia. “O que pretendemos fazer é formar mão-de-obra básica, com cursos profissionalizantes de pedreiro, marceneiro, eletricista, administração do lar, costura, hotelaria e informática, para melhorar a qualidade de vida dessas pessoas”, esclarece Francisco Azevedo, diretor executivo do Instituto Camargo Corrêa. Em visita recente a Angola, Azevedo e a assistente so- cial Rosana Góis, que coordenará o programa em Luanda, viram de perto as condições em que vivem as famílias moradoras do entorno das obras. De imediato, a parceria mais provável será com a organização Dom Bosco, de padres salesianos, com a qual a Camargo Corrêa já atua, propiciando estágio prático a seus alunos. A instituição possui 18 centros sociais comunitários. Mantém um colégio, três abrigos para crianças, uma creche, um escritório de encaminhamento ao trabalho e três postos de saúde, servidos por enfermeiros e promotores de saúde. Oferece ensino regular para crianças e adultos, cursos técnicos para formação de professores, gestores e contadores, além dos profissionalizantes nas áreas de carpintaria, serralheria, eletricidade doméstica e informática, entre outras. “Fomos recebidos pelo padre Marcelo Ciavatti. A escola funciona em três turnos e atende a 6 mil alunos. As necessidades são muitas: fornecimento adequado de água, livros para a pequena biblioteca, laboratórios de química, física, música e informática”, relata Rosana. O plano de ação inclui utilizar, de forma intensa, a capacidade de articulação, o poder de influência e a rede de relacionamento da empresa para atrair a colaboração de instituições governamentais e civis, tanto brasileiras quanto angolanas, para ampliar a abrangência do projeto. “Esse programa é aderente à nossa estratégia de desenvolvimento de mercado, mas queremos algo sustentável e não assistencialista. Queremos mudar consciências. Colocaremos nossa força de trabalho nessa direção e envolveremos outras empresas, o que causará, com certeza, um impacto social muito maior”, reafirma Pinha. Perfil da empresa A Engenharia e Construção, que é composta pelas empresas Camargo Corrêa Brasil, Internacional, Naval e Construções e Edificações, fechou 2006 com crescimento de 63,5% em relação ao ano anterior e receita bruta de 2,2 milhões de reais – 6,5% dos quais referentes à sua atuação internacional. A previsão é que esse índice cresça substancialmente, visto que, em 2007, a operação comercial em Angola apresentou aumento de 30%. E a expectativa para 2008 é de 60%. Há no país um investimento de 50 milhões de dólares em equipamentos de produção. O número de funcionários em Luanda, que é de 648 – 110 brasileiros –, aumentará para 2 mil no primeiro trimestre de 2008, com maioria angolana. PARA SABER MAIS Links úteis v www.consuladodeangola.org v www.angolapress-angop.ao v www.fflch.usp.br/cea v www.unicef.org/angola/pt/ overview.html ideal comunitário 43 iLUSTRAÇões: glair Ações&parcerias Campanhas em prol do meio ambiente e da infância Desde 12 de novembro, a sede do grupo Camargo Corrêa, na Vila Olímpia, em São Paulo, está agitada por causa da campanha “Obrigado! Consumo consciente. A vida agradece”. Idealizada pelos Trainees 2006, a ação pretende estimular os funcionários a adotar uma postura mais sustentável em seu cotidiano. Os trainees estudaram a temática e decidiram elaborar a campanha. “Os graus de maturidade de cada empresa nesse tema são muito diferentes. Entendemos que, para o grupo alçar vôos maiores, lançar produtos sustentáveis e prédios verdes, era preciso ter uma base bem formada em sustentabilidade. Dar o exemplo dentro de casa”, afirma Marília Verri, uma das trainees participantes. Por isso a campanha teve início entre os 1.600 colaboradores do condomínio da Vila Olímpia. A iniciativa respeitará o processo de assimilação do tema. Assim, vai começar pela sensibilização e pelo estímulo à reflexão sobre hábitos rotineiros, passar 44 ideal comunitário para a disseminação de informações, até incentivar a adoção de novas posturas e o surgimento de multiplicadores voluntários. A campanha pretende reduzir significativamente o consumo de recursos materiais, hídricos e energéticos da Camargo Corrêa. O material reciclado será doado para comunidades que usam essa matéria-prima para produzir artigos que gerem renda. A favor da criança Outra campanha que vai mobilizar os funcionários das sedes administrativas da Camargo Corrêa, em São Paulo, é a de doação de recursos para o Fundo da Infância e da Adolescência (FIA). O FIA é um instrumento de estímulo à captação de recursos para o financiamento de políticas públicas, programas e projetos em favor da criança e do adolescente. Cada cidade pode ter seu fundo municipal, que deve ser administrado pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. Pessoas físicas podem doar até 6% de seu imposto de renda devido ao fundo e as jurídicas até 1%. O grupo Camargo Corrêa, com o apoio do Instituto Camargo Corrêa, vai realizar uma campanha interna de conscientização dos funcionários. Os conselhos municipais também serão orientados a prestar contas sobre a destinação, tanto junto à Receita Federal quanto aos doadores. Segundo a pesquisa “Conhecendo a realidade”, lançada em 2007 pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos e pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, o potencial de arrecadação dos fundos, em 2005, foi seis vezes maior do que o efetivamente arrecadado. Rosa Maria Fischer, coordenadora da pesquisa e diretora do Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor, diz que as empresas têm um papel importante não só na divulgação desse incentivo fiscal, mas no apoio ao amadurecimento das práticas e da gestão dos conselhos. Mobilizando a comunidade por uma alimentação saudável A Camargo Corrêa Construções e Edificações (C&E), o Instituto Camargo Corrêa (ICC) e a Fundação Nestlé (FN) aliaram-se em Feira de Santana (BA) para desenvolver o projeto Construir para Nutrir, que promove a alimentação saudável no município. A idéia da iniciativa é unir a experiência da FN, que já trabalhava com alimentação saudável, por meio do programa Nutrir, com a do ICC em desenvolvimento comunitário, e articular lideranças, organizações da sociedade civil, poder público e empresas num projeto comum. Como a principal atividade da C&E é a construção de obras de curta duração, e projetos sociais de sucesso demandam mais tempo, a empresa decidiu estabelecer parcerias estratégicas para viabilizar o projeto. A primeira oportunidade apareceu na Bahia, onde a C&E fez a fábrica da Nestlé. Perfil da empresa De acordo com Carolina Stefano, a troca de experiências entre o ICC, a C&E e a FN está sendo rica. Silvia Zanotti, diretora da Fundação Nestlé, concorda. “A Nestlé está tendo a oportunidade de conhecer uma nova temática, que é o desenvolvimento comunitário. Nossa idéia é que esse trabalho seja um piloto, que oriente as ações futuras do programa Nutrir em outras localidades”, diz. Fundada em 2003, a Unidade de Negócios Construções & Edificações (C&E) atua com as marcas Camargo Corrêa e Reago. Com 1.700 funcionários, oferece soluções integradas para o segmento de edificações. Já realizou obras para o setor alimentício, hospitalar, de eletrodomésticos e papel e celulose. A empresa adota práticas para minimizar impactos ambientais na execução das obras. De 2007 a 2008, a C&E prevê um crescimento de sua receita de 550 milhões de reais para 750 milhões de reais. Escola de Informática e Cidadania chega a Pedro Leopoldo Por iniciativa de profissionais da Cauê, até o final de dezembro, Pedro Leopoldo (MG) deve ganhar sua primeira Escola da Informática e Cidadania (EIC), resultado de uma parceria do Instituto Camargo Corrêa (ICC) e da empresa com a Fundação José Hilário e com o Comitê para Democratização da Informática (CDI). “Fizemos várias reuniões e o curso de informática foi apontado como o maior pleito da comunidade”, diz Roberto Dinelli, presidente do conselho diretor da fundação. A proposta das EICs é formar agentes de transformação social que se apropriem da tecnologia para conhecer sua realidade, identificar desafios e resolver problemas locais. A EIC de Pedro Leopoldo será aberta à comu- nidade em fevereiro de 2008 e atenderá 200 alunos por ano. Pelo acordo, o ICC é responsável por doar os computadores e a Cauê por instalá-los na Fundação José Hilário, que, por sua vez, fica com a contratação e o custeio do educador. Já o CDI se ocupa da capacitação do professor e do acompanhamento do programa. Segundo Rodrigo Baggio, diretor executivo do CDI, as alianças intersetoriais são fundamentais para desenvolver projetos sociais de impacto e eficiência em comunidades de baixa renda, e essa parceria é um exemplo disso. “Por meio dela, vamos conseguir impactar essa cidade, levando a inclusão digital para pessoas que não tinham acesso”, diz. Hoje, o CDI está presente em 274 municípios brasileiros e 80 fora do Brasil. ideal comunitário 45 ARTIGO Zilda Arns Neumann foto: carol reis Primeira infância e desenvolvimento social Zilda Arns Neumann Médica pediatra e sanitarista; fundadora e coordenadora nacional da Pastoral da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa; representante da CNBB no Conselho Nacional de Saúde e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES). O investimento na infância começa no acompanhamento pré-natal de qualidade 46 ideal comunitário A estrutura familiar e comunitária, o ambiente em que a criança vive e o acesso a serviços públicos de qualidade influenciam diretamente no seu desenvolvimento. O fortalecimento dos vínculos familiares, por meio da multiplicação do saber e da solidariedade, proporciona condições mais adequadas para a criança crescer e se relacionar com o mundo. Os cuidados na gestação, parto de qualidade, aleitamento materno, alimentação saudável, carinho e educação, desde a concepção até os 6 anos de idade, são base para toda a vida. O investimento na infância começa no acompanhamento pré-natal de qualidade. Ele ajuda a evitar complicações na gravidez e ainda reduz significativamente a mortalidade infantil. Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil, a maior parte das mortes por afecções perinatais, que ocorrem nos primeiros 28 dias de vida, é decorrente de problemas durante a gravidez, parto e nascimento, e corresponde a mais de 50% das causas de óbitos no primeiro ano de vida. Os governos de todos os níveis, além de investir nos serviços de saúde, devem ampliar o acesso à educação de qualidade. Pesquisa do Unicef, de 2001, demonstrou que, quanto maior a escolaridade das mães, menor é a taxa de mortalidade infantil. Enquanto entre as crianças filhas de mulheres com até um ano de estudo o índice de mortalidade infantil era de 93 por mil, entre aquelas que tinham entre nove e 11 anos de estudo esse índice baixou para 28 por mil. É preciso que as comunidades pressionem os governos para que haja educação em tempo integral, que inclua arte, música, esporte e outras atividades que eduquem as crianças e os jovens para ter limites. Assim estaremos também prevenindo a violência. Além da educação formal, a informal, aquela que acontece na família, entre parentes, amigos e na comunidade, contribui significa- tivamente para o desenvolvimento infantil. O aleitamento materno é uma escola de amor que se aprende na família e na comunidade. A mãe se sente mais disposta a amamentar quando outras mulheres da família e da comunidade também amamentaram. O leite materno é o único alimento de que o bebê precisa até os 6 meses de vida. Ele protege de doenças como diarréias, resfriados, infecções e alergias. A amamentação também contribui para que a criança tenha boa dicção e melhor mastigação. Por isso, deve continuar, como alimentação complementar, até os 2 anos ou mais. A Pastoral da Criança procura fortalecer as famílias para que saibam cuidar melhor de seus filhos. Seus mais de 267 mil voluntários atuam em 43 mil comunidades pobres de todo o Brasil, compartilhando conhecimentos básicos sobre alimentação saudável, higiene, desenvolvimento infantil, prevenção de doenças e direitos entre 1.457.473 famílias todos os meses. A multiplicação do saber se faz acompanhada da solidariedade humana, o que fortalece o tecido social. Eles também são motivados a acompanhar as ações governamentais para que haja qualidade nos serviços prestados. Pela Constituição brasileira cabe às famílias, aos governos e à sociedade cuidar das crianças e dos adolescentes. Todos precisam unir esforços para que toda a população tenha acesso a serviços de saúde de qualidade e educação integral. O Instituto Camargo Corrêa é uma das organizações que contribuem com esse processo. Seus programas desenvolvem ações educativas para crianças e adolescentes com foco no desenvolvimento comunitário, por meio do apoio a projetos voltados para a educação e a geração de renda, nas regiões em que a empresa atua. Vamos continuar trabalhando unidos para que todas as crianças possam ter fé e vida em abundância. expediente CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA CAMARGO CORRÊA S.A. Presidente: Vitor Hallack Vice-presidentes: A.C. Reuter, Carlos Pires Oliveira Dias e Luiz Roberto Ortiz Nascimento Conselheira: Flavia Buarque de Almeida ConselHo Deliberativo do instituto camargo corrêa Presidente: Rosana Camargo de Arruda Botelho Vice-presidente: Renata de Camargo Nascimento Conselheiros: Carla Duprat, Carlos Antonio Rossi Rosa, Celso Ferreira de Oliveira, Daniela Camargo Botelho de Abreu Pereira, Elisa Camargo de Arruda Botelho, Flavia Buarque de Almeida, Francisco de Assis Azevedo, José Édison Barros Franco, Luiza Nascimento Cruz, Marcelo Araujo, Marcelo Pires Oliveira Dias, Márcio Utsch, Maria Regina Camargo Pires Ribeiro do Valle, Maria Tereza Pires Oliveira Dias Graziano, Raphael Antonio Nogueira de Freitas e Vitor Hallack Instituto Camargo Corrêa Presidente do grupo Camargo Corrêa e do Instituto: Vitor Hallack Diretor executivo: Francisco de Assis Azevedo Coordenadora de Comunicação: Clarissa Kowalski REVISTA IDEAL COMUNITÁRIO Comitê editorial Andréia Peres, Carla Duprat, Clarissa Kowalski, Francisco de Assis Azevedo, Luiza Nascimento Cruz, Sunara Avamilano e Veet Vivarta Produção Editorial Cross Content Comunicação ASSESSORIAS DE COMUNICAÇÃO DO GRUPO CAMARGO CORRÊA CAMARGO CORRÊA S.A. César Nogueira e Sunara Avamilano CAMARGO CORRÊA S.A./ SUSTENTABILIDADE Luiza Nascimento Cruz Alpargatas Cássia Navarro Camargo Corrêa Cimentos Fernanda Guerra CAVO SERVIÇOS E MEIO AMBIENTE Thiago Norio Sugiura ENGENHARIA & CONSTRUÇÃO Tuca Figueira TAVEX Luisa Chipoletti TAVEX AMÉRICA DO SUL Jaqueline Soares Entre em Contato Opiniões, dúvidas e sugestões sobre a revista Ideal Comunitário: Rua Funchal, 160, São Paulo (SP), CEP 04551- 903, tel. (11) 3841-5631, fax: (11) 3841-5894, e-mail: [email protected] Texto Andréia Peres (editora-chefe), Beatriz Lima, Laura Giannecchini, Patrícia Andrade, Rita Moraes (editoras) e Regina Pereira (revisora) Arte Cristiano Rosa e José Dionísio Filho (editores), Célia Rosa, K elven Frank (diagramadores), Patrícia Assis (produção) e Carol Reis (foto da capa) Pré-impressão Firstpress Impressão Pancrom Realização Parceiro