COMUNITÁRIO
Instituto Camargo Corrêa • Número 1 • Dezembro de 2007
Comunidades preparadas e envolvidas na solução de seus desafios
Solo fértil
para o
O Instituto Camargo Corrêa inicia uma
nova fase, em parceria com as empresas
do grupo. O objetivo é promover o
desenvolvimento comunitário sustentável
e semear um horizonte melhor para
crianças, adolescentes e jovens
futuro
Nesta Edição
Número 1 | Dezembro de 2007
3 Editorial
Junto com as empresas e com a comunidade
4 Entrevista Bernardo Toro
“O primeiro passo para sair da pobreza é a organização“
8O grupo e o Instituto Camargo Corrêa
Inovação com sustentabilidade
14 Mobilização social
Mãos à obra
16 Primeira infância
Um investimento no futuro
24 Educação básica
Relações renovadas
30Juventude
Novas oportunidades
36 Voluntariado corporativo
Unidos pela causa
42 Internacional
Reconstrução em Angola
44 Ações & parcerias
• Campanhas em prol do meio ambiente e da infância
• Mobilizando a comunidade por uma alimentação saudável
• Escola de Informática e Cidadania chega a Pedro Leopoldo
46 Artigo Zilda Arns Neumann
Primeira infância e desenvolvimento social
EditoriaL
A publicação que você tem agora em mãos é fruto de uma nova estratégia do Instituto Camargo Corrêa (ICC). Com a visão do ICC estampada em sua capa, a revista
Ideal Comunitário traz no nome e em cada uma de suas páginas a preocupação com a
missão do Instituto de promover o desenvolvimento comunitário sustentável por meio
do investimento em crianças, adolescentes e jovens.
Ao lê-la, você irá perceber que há uma série de logotipos e pequenos textos informativos sobre as unidades de negócio do grupo. As empresas estão presentes nas nossas
páginas porque fazem parte da vida do Instituto. São as protagonistas do investimento
social da Camargo Corrêa. Ao ICC cabe orientá-las e acompanhá-las nesse desafio.
As comunidades também têm vez e voz na Ideal Comunitário. A idéia é que as empresas do grupo sejam parceiras das localidades onde atuam, colaborando no seu desenvolvimento, respeitando e valorizando sua história, diversidade, cultura e potencialidades.
Afinal, parcerias e redes são mecanismos fundamentais para o desenvolvimento social.
Foi dessa crença que nasceu a revista. Para a sua realização, contamos com a colaboração das empresas do grupo e de suas assessorias de comunicação e de dois parceiros
externos: a Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI) e a Cross Content
Comunicação. A ANDI é uma associação civil de direito privado sem fins lucrativos
cuja missão é contribuir para a construção de uma cultura que priorize a promoção
dos direitos da criança e do adolescente. Seu papel foi zelar para que esses princípios
estejam em cada uma de nossas linhas. Também nos ajudou a articular outra rede: a dos
Jornalistas Amigos da Criança, que reúne 346 profissionais de comunicação de todo
o Brasil comprometidos com a cobertura da agenda social e dos direitos da infância e
da adolescência. Já a produção editorial da publicação ficou a cargo da Cross Content,
empresa especializada no planejamento e na produção de veículos de comunicação customizados, com grande experiência na área social.
Das cores utilizadas nas reportagens, relacionadas à identidade visual de cada um
dos programas, ao papel, 100% reciclado, tudo foi planejado para que a revista esteja
alinhada com os valores do Instituto e do grupo Camargo Corrêa e possa, mais do que
levar informação, motivar e reconhecer o papel e a importância de cada um de nossos
Foto: Carol Reis
Junto com as empresas e com a comunidade
“Parcerias e redes
são mecanismos
fundamentais para o
desenvolvimento social ”
parceiros. Boa leitura!
Francisco de Assis Azevedo, diretor executivo do Instituto Camargo Corrêa
ideal comunitário Entrevista
foto: Mila petrillo
Bernardo Toro
“O primeiro passo para sair
da pobreza é a organização”
It illuptat
nim
dolore doloborperil
utpat.Comunitário,
Equipit, qui tie
tisl il iu endrem
veraessi
Em
entrevista
exclusiva à Ideal
o filósofo
colombiano
José
sit, commolesse
conummolor
am vel ut loreetisit,
conummolo
Bernardo Toro
levanta as sum
competências
básicas decommolesse
uma sociedade
sustentável
ideal comunitário
Para o filósofo José Bernardo Toro, um dos
rarquizado. Como mudar esse paradigA
pessoa
que
indicadores mais graves de pobreza é a falma? Em sua opinião, o desenvolvimento
ta de organização. “É muito fácil violar os
comunitário pode contribuir para isso?
pertence a
direitos de uma pessoa que não está orgaAs Cartas de Direitos Humanos (Fundaorganizações
nizada”, disse ele nesta entrevista exclusimentais, Políticos, Econômicos, Sociais,
tem
mais
va à revista Ideal Comunitário. E aponta
Culturais, Ambientais e Difusos) conspossibilidades
como um dos primeiros elementos para a
tituem-se nos alicerces da nova humanisuperação da pobreza o desenvolvimento
zação e da nova ética global. Os Direitos
de que seus
de pessoas autônomas e sua organização
Humanos são o nosso novo paradigma. O
direitos não sejam
em instituições associativas.
desenvolvimento comunitário contribui
violados
Autor do livro A Construção do Público: Cipara essa mudança na medida em que nos
dadania, Democracia e Participação (Editora
ensina a construir bens coletivos locais, a
[X] Brasil e Editora Senac Rio), Bernarcriar convergências de interesses sobre as
do Toro é um desses intelectuais que se dedicam ao estudo realidades próximas e a respeitar o outro, o que é fundade diferentes disciplinas, como filosofia, física, matemática, mental para a convivência. Ele também nos ensina a cuidar
educação, e conseguem integrar seus conhecimentos num de nós mesmos e dos outros, e a entender a organização
todo coerente e cheio de sentido.
como meio para maximizar nossas capacidades individuais
Colombiano, ele sabe empolgar suas platéias latino-ame- em favor dos bens coletivos.
ricanas, estimulando-as a conhecer mais o próprio continente, seus artistas, suas músicas e sabores. Em suas palestras, a Qual é o papel das empresas nesse contexto?
pergunta fatídica é de praxe: “Quem já esteve em Miami?”. Em termos práticos, a dignidade humana é poder, ao mesMuitos dos presentes manifestam-se positivamente. “E mo tempo, proteger os meus direitos e me auto-regular, de
quantos estiveram no Equador, na Nicarágua, na Colômbia forma a tornar possível a dignidade de todas as pessoas – esou no Paraguai?”, provoca. Ao que poucos respondem.
tejam elas próximas ou distantes. O estar organizado é o que
Atualmente, Bernardo Toro é assessor da Fundação permite essa dupla possibilidade. A pessoa que pertence a
Avina. Já trabalhou em diversos organismos multilaterais, organizações tem mais possibilidades de que seus direitos
abordando desenvolvimento social e educação. Também foi não sejam violados. E, por estar organizada, também tem
consultor para as reformas educativas de Minas Gerais e do maior autocontrole. Promover organizações no interior e no
Chile. Nesta entrevista, ele fala sobre a importância de res- exterior da empresa é uma das formas pelas quais as compapeitar o próximo e de criar projetos coletivos e interesses co- nhias contribuem com o projeto ético e a sustentabilidade.
muns. E levanta as competências básicas de uma sociedade
sustentável: ética, modelos institucionais em que os envolvi- O senhor afirma que os negócios éticos serão os mais rendos, direta e indiretamente, ganham, o cuidado para consigo táveis daqui para a frente. A ética, como o senhor disse, será
e com o outro, solidariedade, compaixão, desenvolvimento “o recurso mais importante para gerar riqueza”. Por quê?
de pessoas autônomas e capacidade de se organizar.
Porque a ética delimita a racionalidade dos bens e dos serviços
“úteis”. Um bem ou um serviço “útil” é aquele que contribui
Na sua visão, a sustentabilidade é um conceito novo, que
para tornar a dignidade humana possível. Se entendermos a
requer uma nova forma de “ordenar o mundo”, a partir da
riqueza como o conjunto de bens, serviços, transações e valores
dignidade humana, da ética, da solidariedade e do respeito
que nos permitem ser felizes e viver dignamente, é fácil comao próximo. Por outro lado, nosso cérebro ainda não está
preender por que a ética é fonte de riqueza. E uma noção ética
preparado para isso, pois foi moldado por um mundo hiede riqueza nos ensina a não confundir riqueza com dinheiro.
“
”
ideal comunitário Entrevista
Fulano
Bernardo
de tal
Toro
e tal
O Instituto Camargo Corrêa (ICC) tem como missão promover o desenvolvimento comunitário sustentável, investindo em crianças, adolescentes e jovens. Como o senhor
avalia a decisão do ICC de investir prioritariamente no desenvolvimento comunitário, preparando e envolvendo as
ou melhor, fazer tudo o que não prejudica a dignidade humana. Significa que a empresa e o Terceiro Setor podem
atuar em um campo aberto à criação e à imaginação. Esse
campo é o “tudo”.
comunidades na solução de seus desafios?
Quais as vantagens e desvantagens de se promover articu-
Nosso idioma, todos os nossos conhecimentos, práticas, costumes, tradições e comportamentos são aprendidos. Todo o
saber que possuímos, seja individual ou coletivo, é aprendido, não é natural. Tudo começa nos contextos, no que fazemos, em como crescemos, vivemos, trabalhamos, amamos
etc. À medida que desenhamos contextos comunitários, nos
quais as crianças e os jovens possam viver e participar dos
processos orientados à construção e nos quais desfrutem de
bens e serviços que lhes permitam viver dignamente e participar ativamente na sociedade, estaremos tomando a melhor
decisão e fazendo um dos melhores investimentos.
lações intersetoriais?
Como o desenvolvimento comunitário fortalece a cultura
democrática? Essa cultura favorece a organização da sociedade civil? De que maneira isso poderá contribuir para a
erradicação da pobreza?
Existem cinco articulações possíveis entre os três setores:
o corporativismo, o populismo, a deslegitimação, o caos e
a governabilidade. No corporativismo, o Estado e as empresas são aliados e a sociedade (o povo) está excluída e
abandonada. No populismo, a sociedade e o Estado são
aliados, excluindo ou atacando as empresas nos processos
sociais. Na deslegitimação, empresas e sociedade são aliados, desconhecendo o Estado ou colocando-se contra ele.
No caos, Estado, sociedade e empresas estão isolados e se
desconhecem. Esse é o pior dos mundos. Ocorre quando
as sociedades entram em dissolução. Nesse caso, há saques
ao Estado, depredação de recursos naturais, e a sociedade está desnorteada, dispersa, sem organização. O melhor
dos mundos, por outro lado, é a governabilidade, quando
Estado, sociedade e empresas estão articulados para produzir, juntos, bens públicos e coletivos, que tornam possível a
eqüidade e a dignidade humana.
O maior indicador de pobreza é a falta de organização, pois
é muito fácil violar os direitos de uma pessoa que não está
organizada e, por isso, pouco auto-regulada. O primeiro passo para sair da pobreza é a organização. Não é possível gerar Em Mobilização Social: Um Modo de Construir a Democracia
desenvolvimento comunitário sem organização. Promover, e a Participação, o senhor afirma que a democracia é como
criar e fortalecer as organizações comunitárias são condições o amor: não se pode comprar, não se pode decretar, não se
necessárias para o desenvolvimento comupode propor. Qual é o papel das empresas
nitário. A organização supõe a capacidade
e do Terceiro Setor nessa construção?
de dar ordem a si mesmo, de se auto-reguA democracia existe quando existem cidaPromover,
criar
lar, ou seja, de criar governabilidade para
dãos, ou seja, pessoas capazes de se orgatornar possível a dignidade das pessoas.
nizar e de cooperar para criar, modificar ou
e fortalecer as
E isso é democracia.
proteger a ordem social que elas desejam
organizações
para viver sua dignidade. São os cidadãos
comunitárias
O senhor costuma dizer que uma das prinorganizados que podem fazer surgir e legisão condições
cipais potencialidades do setor privado e
timar a política, as instituições e os polítinecessárias
para
o
do Terceiro Setor é que eles, ao contrário
cos. O poder de um político ou de uma insdo governo, podem fazer tudo o que não
tituição pública depende da credibilidade
desenvolvimento
está vetado por lei. Que “tudo” é esse?
e da validade que os cidadãos lhes dão. Se
comunitário
É poder fazer tudo o que não é proibido,
um político perde seu prestígio e imagem,
“
”
ideal comunitário
perde seu poder. Hoje, assim como ontem,
na democracia, o poder vem do povo. Mas
tanto a empresa como as organizações do
Terceiro Setor são cidadãos institucionais
e, como tais, podem construir a democracia da mesma forma.
A solidariedade, entendida como a capacidade de trabalhar para alcançar metas
Novas formas
e objetivos que beneficiem os outros, será
institucionais e
uma das competências mais requeridas
pessoais de amor
nos projetos de sustentabilidade das soe de cuidado são
ciedades. E essa é uma competência que
fundamentais para requer muita imaginação para se colocar
Nos anos 90, o senhor sintetizou as sete
no lugar do outro.
a sustentabilidade
competências básicas que devem ser deA iniqüidade, as guerras, a pobreza,
da vida e do
senvolvidas nos alunos. Quais as compeo narcotráfico, os conflitos civis internos,
planeta
tências básicas que, hoje, deveriam ser
as máfias, os bandos, o trabalho escravo, os
desenvolvidas pelas empresas, pelo gomaus-tratos infantis e familiares, o consuverno e pelo Terceiro Setor para alcançar
mo e a produção de bens inúteis são fatores
o desenvolvimento sustentável?
que ameaçam a sustentabilidade da sociedade porque criam
O desenvolvimento sustentável é, antes de tudo, um proje- dor e exclusão. São esses fatos que fazem da compaixão, ento ético, ou seja, de cuidado com a vida. Fazer da ética (en- tendida como a capacidade de evitar ou diminuir a dor na
tendida como arte de escolher o que convém à vida digna humanidade – tal como a vê o Dalai Lama –, uma das comde todos) o norte de atuação e o critério para avaliarmos petências da sustentabilidade.
valores agregados dos três setores é a competência básica
Mas nada disso é possível se não cultivarmos e desenvoldo desenvolvimento sustentável. Hoje, entendemos que a vermos pessoas autônomas: pessoas com alto conhecimento de
ética é o bem de maior valor para a empresa, para o Estado si mesmas, com auto-estima e capacidade de se auto-regular.
e para toda a sociedade.
A sustentabilidade requer a superação da atuação por medo e
A segunda competência é a capacidade de desenhar ar- culpa. E uma nova sociedade, na qual as pessoas atuem com
quiteturas institucionais, que gerem transações “ganha-ga- ética e responsabilidade porque se sentem livres.
nha” nos e entre os três setores. Este é um dos novos paraPara completar, como já disse, a outra competência
digmas emergentes da humanização e da sustentabilidade. fundamental para a sustentabilidade é a capacidade de orA abundância de modelos “ganha-ganha” nos níveis econô- ganizar, criar e fortalecer organizações de todos os tipos,
mico, político, social e emocional é a forma efetiva de criar que gerem transações úteis nos níveis econômico, social,
riqueza e aumentar a eqüidade. Porque os modelos “ganha- cultural e espiritual.
perde” aumentaram a riqueza, mas também a iniqüidade.
Os modelos “ganha-ganha” demandam novas formas de
pensamento e de ordenamento da realidade. As sociedades
PARA SABER MAIS
que conseguirem avançar nessa direção serão as líderes do
Livros
futuro. Deduz-se desses modelos que o cuidado é outra
v A Construção do Público: Cidadania, Democracia e Participação, José Bernardo Toro, Editora
competência fundamental: o cuidado com nós mesmos, com
[X] Brasil e Editora Senac Rio, 2005.
v
E
l Ciudadano y su Papel en la Construcción de lo Social, José Bernardo Toro, Pontificia
o próximo, com os que estão longe e com todo o planeta.
Universidad Javeriana, 2000.
Como diz Leonardo Boff, o cuidado tem a dupla capacidade
vM
obilização Social, José Bernardo Toro e Nísia Maria Duarte Werneck, Editora Autêntica, 2004.
de reparar os danos passados e prevenir os prejuízos futuros.
Links úteis
Quem cuida ama, e aquele que ama cuida. Portanto novas
v www.avina.net
formas institucionais e pessoais de amor e de cuidado são
v w ww.oei.es/noticias/spip.p hp?article563
fundamentais para a sustentabilidade da vida e do planeta.
“
”
ideal comunitário O GRUPO E O INSTITUTO CAMARGO CORRÊA
USINA DE TUCURUÍ
Uma das obras que fizeram a
história da Camargo Corrêa
A preocupação com o
progresso e o desenvolvimento
do país faz parte da história
da Camargo Corrêa, que, de
olho no futuro, investe na
sustentabilidade, conciliando nas
suas unidades de negócio metas
econômicas, sociais e ambientais
Inovação com
sustentabilidade
“Não basta amar o Brasil. É preciso construir o
Brasil do futuro.” A frase de Sebastião Camargo
está impressa numa placa em sua homenagem
na segunda casa de força da Usina Hidrelétrica
de Tucuruí (PA), que recebeu o seu nome. E
motivos para isso não faltam. Em poucas palavras, ela sintetiza não apenas a crença do fundador do grupo, mas uma prática que sempre
pautou a trajetória da corporação.
“De 1939 até hoje, a Camargo Corrêa fez
obras significativas do ponto de vista do desenvolvimento do país”, lembra Renato de Oliveira
Diniz, historiador responsável pelo Centro de
Documentação e Memória Camargo Corrêa.
Segundo ele, podemos contar parte da história
recente do Brasil pela do grupo. “A Camargo
ideal comunitário
Corrêa participou de todos os grandes movimentos na área de infra-estrutura”, afirma. “Destacou-se na construção das primeiras grandes
usinas de energia elétrica, da ponte Rio-Niterói,
que é um símbolo de desenvolvimento do país,
das rodovias e do sistema viário de Brasília.”
Seu nome também está ligado a importantes inovações tecnológicas. Foi a empresa, por
exemplo, que trouxe, no início dos anos 70, uma
máquina que abria túneis para o metrô. Batizada de “tatuzão”, a novidade veio dos Estados
Unidos e seu principal objetivo era vencer os
desafios do trecho entre as estações Sé e São
Bento, considerado o mais difícil da Linha 1
por passar debaixo de edifícios, ruas estreitas e
monumentos históricos.
globalizada, pensando realmente para fora”,
afirma José Édison Barros Franco, responsável
pela área de cimentos no grupo.
De olho no futuro
A estratégia do grupo é investir em negócios
em que sua participação possa gerar valor no
longo prazo. Nesse sentido, já em 2001, o Projeto Camargo Corrêa 2012 estabeleceu, segundo Franco, uma série de metas, como estar
entre os cinco maiores grupos privados nãofinanceiros do Brasil, acelerar a internacionalização e continuar crescendo 13% ao ano.
Mas não só. Em agosto de 2006, a “Carta da
Sustentabilidade: O Desafio da Inovação” marcou uma nova fase também nos investimentos
sociais e ambientais do grupo. “Temos que olhar
as comunidades onde atuamos para que elas estejam em sintonia conosco. É importante trazer
contribuição para elas e, ao mesmo tempo, evitar
que a gente cause um impacto ambiental que
impeça a continuidade das operações no futuro”,
afirma Franco. “Essa visão que está embutida na
sustentabilidade está por trás do alinhamento
entre os interesses da comunidade (do ponto de
vista social e também ambiental), dos acionistas,
das empresas e dos próprios indivíduos que representam a empresa na comunidade”, conclui.
“É estratégico que empresas participem cada
vez mais do desenvolvimento local e do empoderamento do capital humano”, diz Renata de
Camargo Nascimento, acionista do grupo e vicepresidente do Conselho do Instituto Camargo
Corrêa (ICC). “Uma comunidade empoderada,
com consumidores mais preparados, fornecedores mais qualificados prestando melhores serviços, será para a empresa um forte pilar para obter
seu sucesso empresarial”, conclui.
Um olhar para o passado mostra que essa
preocupação de certa forma sempre existiu, mas,
como os negócios, ela também foi evoluindo e se
fotos: centro de documentação e memória Camargo corrêa
O que hoje é um dos maiores conglomerados
empresariais brasileiros começou numa pequena
sala na rua Xavier de Toledo, no centro de São
Paulo. Com um capital de 200 contos de réis,
Sebastião Ferraz de Camargo Penteado, Sylvio
Brand Corrêa e Mauro Marcondes Calasans
criaram, em 27 de março de 1939, a construtora
Camargo, Corrêa & Companhia Limitada.
Atualmente, o grupo atua em engenharia e
construção, controla um dos principais complexos
de cimento da América do Sul (Cauê/Loma Negra) e é líder mundial em produção de tecidos para
jeans, com a Tavex, que se fundiu com a Santista
Têxtil. Sua marca também está por trás de produtos
como as sandálias Havaianas, da Alpargatas, que só
no ano passado venderam 162 milhões de pares. E
o grupo participa ainda do bloco de controladores
da CPFL Energia, maior investidora em energia
elétrica do Brasil; da CCR, que administra as principais concessionárias de rodovias brasileiras; e da
Usiminas, a número 1 em aços planos da América
Latina, além de ter participação na Itaúsa, um dos
maiores conglomerados financeiros nacionais.
São ao todo 16 empresas, presentes em mais
de 100 municípios brasileiros e em 19 países (Brasil, Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai, Bolívia,
Equador, Colômbia, Venezuela, Suriname, México,
Espanha, Marrocos, Angola, Panamá, Moçambique, África do Sul, Peru e Estados Unidos).
Ainda hoje muitos se surpreendem ao saber
que a Camargo Corrêa há muito tempo não é
mais uma companhia dedicada quase exclusivamente à construção pesada. A Camargo Corrêa
S.A., holding do grupo, nasceu há pouco mais
de dez anos, em março de 1996. E seu primeiro
fruto foi exatamente essa diversificação do grupo, com novos investimentos em energia e em
transporte. A partir de 2000, a Camargo Corrêa
assumiu o controle da Alpargatas e da Santista e, em 2001, começou a se internacionalizar.
“Hoje, o grupo está com uma visão muito mais
PIONeirismo
Sebastião Camargo,
o fundador do grupo
ideal comunitário O GRUPO E O INSTITUTO CAMARGO CORRÊA
Ponte rio-niterói
Símbolo do desenvolvimento
do país e marco importante
da Camargo Corrêa
transformando. “De uma visão mais tradicional
– a do meu pai – de que o investimento social se
dava na pessoa física, nossa geração já compreende a complexidade das demandas da sociedade e
amplia a forma de atuação do investimento social”, explica Rosana Camargo de Arruda Botelho, acionista do grupo e presidente do Conselho
do ICC. “O amadurecimento do grupo em relação a este tema se dá a partir da decisão de ‘institucionalizar’ os investimentos sociais por meio
da criação do Instituto Camargo Corrêa.”
A idéia de empreendedores como Sebastião
Camargo era levar progresso a outras regiões do
Brasil, desbravar. No final dos anos 70, a Camargo Corrêa, segundo Raphael Antonio Nogueira de Freitas, ex-presidente do Conselho
de Administração, que ficou 43 anos no grupo,
tinha 50 médicos e 480 professores trabalhando
para ela em Tucuruí (PA), durante as obras de
construção da usina hidrelétrica. “Isso que dava
trabalho”, diz ele. “Viajava para lá toda segunda-feira e voltava na sexta, e mais da metade do
tempo passava discutindo a questão da saúde, da
educação, o hospital... Para descansar, eu ia para
a obra”, relembra. “Em todas as outras grandes
obras brasileiras, a construção da cidade sempre
ficou por conta do poder público. Em Tucuruí,
isso tudo foi delegado à construtora”, explica.
Hoje, os desafios são outros. “Para tornar
viável nossa missão neste novo mundo, uma
nova dimensão precisa ser definitivamente incorporada à nossa visão de futuro: sustentabilidade”, frisa a Carta da Sustentabilidade.
O processo que culminou com sua assinatura
O papel de articular diversos públicos locais
estimulando a atuação em rede é sem dúvida nosso
maior desafio e também nossa maior contribuição
Rosana Camargo de Arruda Botelho, presidente do Conselho do ICC
10 ideal comunitário
começou em 2005. Criado em dezembro de 2000,
o Instituto Camargo Corrêa ampliou nesse ano o
seu conselho incorporando cada vez mais executivos
dos negócios da empresa. Nesse período, iniciou-se
também uma longa reflexão no grupo sobre investimento social e responsabilidade social corporativa.
Em março de 2006, na primeira reunião
do Conselho do Instituto, o desejo de reposicionamento fica claro. “Os executivos entendem que o investimento social é uma parcela
de sua gestão do negócio como um todo, e eles
mesmos convidam a um movimento de rever
as práticas das empresas do grupo à luz da responsabilidade social corporativa amplamente
entendida”, lembra Carla Duprat, diretora de
sustentabilidade corporativa.
O programa de Sustentabilidade surge daí,
assim como um novo modelo de atuação do
Instituto. Em 12 de abril de 2006, aconteceu o
primeiro workshop de responsabilidade social.
“O aprendizado número um foi que a gente
não estava começando do zero”, avalia Carla. “Mas também ficou muito claro que nada
disso era visto de forma sistêmica, o que faz
com que se perca uma oportunidade enorme
enquanto grupo de ver o tema como um todo,
potenciais sinergias, escala e impacto mesmo.”
O encontro não só aprofundou a reflexão da
holding sobre sua atuação social como levou à
criação do Grupo de Trabalho Sustentabilidade
(GTS), coordenado por Marcelo Araujo, responsável pela área de calçados, têxtil e siderurgia no
grupo. Composto de 15 pessoas, que representam as diferentes instâncias de poder e decisão
dentro da Camargo Corrêa, o grupo subdividiuse em outros três. Um subgrupo ficou responsável pela filosofia, que incluiu a concepção da
Carta, por exemplo; outro pela metodologia – ou
seja, pela escolha dos instrumentos; e um terceiro
pelo plano de implantação: a forma como isso
vai acontecer em todas as empresas do grupo.
RODOVIA ANCHIETA
A Camargo Corrêa abriu caminhos
para o desenvolvimento do Brasil
construindo estradas como a
Anchieta, em São Paulo
Em 31 de agosto de 2006, as propostas
foram validadas por todos e foi assinada a
Carta da Sustentabilidade, com o sugestivo
título O Desafio da Inovação. “Não é fazendo
as mesmas coisas que vamos conseguir evitar
esse eventual impacto ou atuar positivamente”, diz Franco. “Temos que pensar diferente
para arranjar soluções, tanto do ponto de vista
ambiental como na forma de gerir as comunidades. O título O Desafio da Inovação foi para
demonstrar a nossa consciência que não é mais
do mesmo. É rompendo com o modo de atuar
e criando outras formas que nós vamos obter
os resultados que esperamos”, explica.
Guardiões e multiplicadores
Para garantir que os princípios explicitados na
Carta saíssem logo do papel, foram criadas duas
figuras importantes nas empresas: a do diretor
guardião e a dos multiplicadores. Os diretores
guardiões foram escolhidos pela sua afinidade
com o tema, e sua missão é zelar pela sustentabilidade na sua unidade de negócio. Sua primeira
tarefa foi angariar profissionais nos mais diversos
segmentos de atuação, os chamados multiplicadores da sustentabilidade. Hoje, há 11 diretores
guardiões e 97 multiplicadores no grupo.
Em 2007, além de “capacitar” esses novos
atores, a Camargo Corrêa refinou os indicadores
genéricos e identificou um conjunto de indicadores específicos de sustentabilidade. Os resultados
por unidade de negócio serviram, segundo Carla
Duprat, para identificar os estágios de evolução de
cada uma das empresas e pensar os planos de ação.
“Esse sempre foi o nosso grande objetivo”, explica
ela. “Não fazer as coisas em paralelo, mas sim casadas já com o próprio processo de planejamento
e gestão de cada uma das empresas.”
O papel do Instituto
O Instituto Camargo Corrêa tem papel fundamental nessa história toda. “Não havia outro lugar melhor para esse tema se desenvolver”, diz Carla, frisando, no entanto, que essa não é uma pauta só do
Instituto. “A partir da organização de um trabalho
social consistente, o movimento interno para pensar as outras dimensões quase que acontece naturalmente”, afirma. “Essa agenda é importante para
avançar a questão da sustentabilidade”, conclui.
O investimento social corporativo é, portanto, um aspecto importante dessa visão de
sustentabilidade do grupo Camargo Corrêa.
E ele se traduz no apoio financeiro e técnico
a projetos sociais voltados ao desenvolvimento
da comunidade, com ênfase nas localidades em
que suas empresas atuam.
“Uma das crenças do nosso grupo é que as
empresas devem ser agentes de transformação da
sociedade e que nossas empresas devem ser parceiras das comunidades onde atuam”, afirma Vitor
Hallack, presidente do Instituto e do Conselho de
Administração da Camargo Corrêa S.A. “Acreditamos que a sociedade espera e deseja ver as empresas socialmente responsáveis, reconhecendo-as
e valorizando-as não só pelos seus negócios, mas
também pelo compromisso com a sociedade.”
O Instituto Camargo Corrêa, o Instituto Alpargatas e a Fundação Loma Negra são as três
instituições responsáveis pelo investimento social,
atuando com visão comum e colaborando umas
“Acreditamos que a
sociedade espera e
deseja ver as empresas
socialmente responsáveis,
reconhecendo-as e
valorizando-as não
só pelos seus negócios,
mas também pelo
compromisso com a
sociedade.”
Vitor Hallack, presidente
do Instituto e do Conselho
de Administração da
Camargo Corrêa S. A.
metrô
A Camargo Corrêa
trabalhou na construção
da Linha Norte-Sul
do metrô de São Paulo
ideal comunitário 11
O GRUPO E O INSTITUTO CAMARGO CORRÊA
com as outras. “As três estão trabalhando intensamente numa agenda de aproximação junto com as
empresas, percebendo que seu investimento social é
alavancado com o maior envolvimento dos profissionais que estão ajudando a desenvolver de alguma
forma a comunidade onde moram”, ressalta Carla.
Em 2006, o Instituto Camargo Corrêa reviu seu planejamento estratégico e redefiniu seu
foco de atuação. Segundo Olga Colpo, sócia da
consultoria PricewaterhouseCoopers, que participou do processo, seu novo posicionamento e foco
representam a alma do grupo Camargo Corrêa.
Anteriormente dedicado a investir em projetos
nas áreas de educação, saúde e cultura, dirigidos
a crianças e adolescentes de famílias de baixa
renda, o Instituto ampliou seu público-alvo para
abranger jovens até 24 anos de idade e passou a ter
como foco o desenvolvimento comunitário, por
meio do apoio a projetos voltados para a educação e para a geração de renda em cidades onde as
empresas do grupo estão presentes. “O Instituto
deixa de ser unicamente financiador de projetos
para ter um papel mais de articulação, fazendo um
esforço para colocar a rede de relacionamentos da
empresa a serviço de causas sociais”, explica Francisco Azevedo, diretor executivo do ICC.
Segundo ele, a idéia é que o Instituto se coloque a serviço das unidades de negócio, con-
A importância da comunicação
“Sem a comunicação, é impossível implantar e cuidar do investimento social de um grupo desse tamanho”, resume Francisco
Azevedo, diretor executivo do Instituto Camargo Corrêa.
Por isso, o plano estratégico de comunicação foi montado
antes mesmo de os programas começarem a atuar.“Num grupo
dessa dimensão, com o tipo de aporte, abrangência e número
de funcionários, a comunicação é fundamental para transversalizar os programas sociais na ação das unidades de negócio
e para estimular a participação de todos”, ressalta Anna Penido,
que conduziu o processo pela Cipó Produções e, atualmente, é
coordenadora do escritório de São Paulo do Fundo das Nações
Unidas para a Infância (Unicef).
O plano, segundo ela, foi um trabalho de construção coletiva. Reunidos num workshop, em julho de 2007, profissionais de
comunicação de todas as empresas do grupo e da assessoria de
imprensa o elaboraram conjuntamente. “Além da riqueza que
isso traz, o nível de co-responsabilidade é muito maior. Todo
mundo é autor e, por isso, responsável pelo plano”, diz Anna.
Para Luiza Nascimento Cruz, coordenadora de comunicação
da área de sustentabilidade do grupo, o grande desafio é lidar
com unidades de negócio com culturas, valores e dimensões
muito diferentes. “Dentro das empresas há muitas tecnologias
12 ideal comunitário
diferentes, muita riqueza, que serão perdidas se não conseguirmos interligá-las”, conclui.
Clarissa Kowalski, coordenadora de comunicação do ICC,
concorda com ela e acrescenta: “A comunicação é absolutamente transversal a todos os programas do Instituto”. Além de
ter um papel articulador, ela é, segundo Clarissa, fundamental
para que o ICC possa dar um retorno dos seus investimentos
para a comunidade e para a sociedade.
Veet Vivarta, secretário executivo da Agência de Notícias dos
Direitos da Infância (ANDI), parceira do Instituto nesta publicação, acredita que pensar a comunicação como estratégica está
entre as prioridades das empresas mais modernas. Segundo ele,
é importante que isso seja feito não apenas na divulgação das
ações de responsabilidade social, mas também na elaboração
de conteúdos de reflexão sobre essas ações e sobre seu foco, de
maneira a contribuir para um debate público mais aprofundado
sobre questões relacionadas a um desenvolvimento sustentável e inclusivo.
É a partir desta proposta editorial da revista Ideal Comunitário que se estabelece a parceria com a ANDI, que para sua
produção articula também participantes da Rede de Jornalistas
Amigos da Criança.
foto: arquivo icc
tribuindo para que cada empresa do grupo seja
socialmente responsável e dando apoio técnico,
financeiro e de recursos humanos. “Cada empresa
adota um programa, escolhe uma cidade piloto e,
depois, transfere o programa para as outras unidades, de modo que em algum tempo teremos todas
as empresas adotando todos os programas em todas as comunidades”, observa Azevedo.
“O que almejamos é contribuir para que as
comunidades sejam fortalecidas na busca da solução de seus problemas e, por meio do investimento em seus ativos, possamos ser co-partícipes deste modelo de desenvolvimento”, explica
Rosana Camargo de Arruda Botelho.
Tendo como missão promover o desenvolvimento comunitário sustentável, investindo em
crianças, adolescentes e jovens, o Instituto Camargo Corrêa criou quatro programas: o Infância Ideal,
cujo foco é a primeira infância; o Escola Ideal, que
trabalha pela melhoria de gestão do Ensino Básico
da escola pública; o Futuro Ideal, voltado para o
empreendedorismo juvenil e geração de trabalho e
renda; e o Ideal Voluntário, que tem como objetivo
facilitar a ação voluntária dos funcionários.
A base da atuação de todos eles é o diagnóstico. “Como fazer uma ação sem conhecer
em profundidade a realidade de onde você
quer atuar?”, questiona Azevedo. “O diagnóstico é uma ferramenta de gestão fundamental.
A chance de fazer uma ação social que dê certo sem ele é muito pequena”, observa.
A nova orientação pressupõe, além dessa base
sólida, a participação intensa das unidades de negócio e o envolvimento dos funcionários como
voluntários. “Queremos que cada gerente da unidade de negócio entenda o seu papel em relação
à sociedade e à comunidade em que está presente
e que esteja devidamente preparado e capacitado
para contribuir para o seu desenvolvimento. Não
só ele como as equipes”, afirma Azevedo. “As palavras comovem e os exemplos arrastam”, diz ele,
mencionando um ditado popular.
Para José Édison Barros Franco, o maior desafio do projeto de sustentabilidade do grupo é a
mobilização dos seus cerca de 48 mil funcionários. O Conselho de Administração enviou, em
outubro, para todas as empresas uma carta com
as suas expectativas para o ano que vem e para os
próximos cinco anos. Em todas elas, há o mesmo
apelo: “Esperamos contribuições para a sustentabilidade”. “São os nossos milhares de funcionários
que, num processo de discussão, de interação entre
eles e com a comunidade, vão trazer contribuições
e alterações que vão fazer a gente mudar não só
nossos resultados como o mundo”, conclui.
Conselho DELIBERATIVO
do ICC
Da esquerda para a direita,
em pé, na última fileira:
Francisco de Assis Azevedo,
Flavia Buarque de Almeida,
Márcio Utsch, José Édison
Barros Franco, Celso Ferreira
de Oliveira, Vitor Hallack,
Raphael Antonio Nogueira
de Freitas, Carlos Antonio
Rossi Rosa e Marcelo Araujo.
No sofá, da esquerda para
a direita: Elisa Camargo
de Arruda Botelho, Renata
de Camargo Nascimento,
Marcelo Pires Oliveira Dias,
Rosana Camargo de Arruda
Botelho e Carla Duprat.
Também fazem parte do
Conselho Deliberativo do
ICC, mas não estão na foto: Maria Regina Camargo Pires
Ribeiro do Valle, Maria Tereza
Pires Oliveira Dias Graziano,
Daniela Camargo Botelho
de Abreu Pereira e Luiza
Nascimento Cruz A empresa pode e deve participar do
fortalecimento do capital humano nas
comunidades e regiões onde estiver presente
Renata de Camargo Nascimento, vice-presidente do Conselho do ICC
ideal comunitário 13
Agradecimento: Atelier Hideko honma
Foto: DanielA Picoral
Mobilização social
Mãos
à obra
A missão do Instituto Camargo Corrêa é
promover o desenvolvimento comunitário
sustentável, investindo em crianças,
adolescentes e jovens. Um desafio que depende
da participação de todo o elenco social das
comunidades envolvidas
14 ideal comunitário
Nos anos 50 e 60, a escritora canadense Jane
Jacobs resolveu investigar por que algumas cidades americanas floresciam enquanto outras
“morriam”. A ativista percebeu que as cidades
que prosperavam eram aquelas nas quais as
pessoas se conectavam para discutir problemas
comuns e resolvê-los de forma coletiva. Concluiu, então, que a participação da comunidade
nas questões públicas era um elemento indispensável à promoção do desenvolvimento.
Partindo de premissa similar, o Instituto
Camargo Corrêa (ICC) decidiu investir nas comunidades do entorno das unidades de negócio
do grupo Camargo Corrêa, preparando-as para
enfrentar seus próprios desafios. Cada empresa
procurará ser indutora do desenvolvimento na
comunidade em que está inserida. Para que isso
aconteça, o ICC criou três programas estruturantes – Infância Ideal, Escola Ideal e Futuro
Ideal – e um transversal a eles, Ideal Voluntário,
que incentiva os funcionários das empresas a
atuar, voluntariamente, naquelas iniciativas.
Todos juntos
A mecânica de funcionamento dos três programas estruturantes é bastante parecida. Para
cada um deles – e em cada cidade – será montado um Comitê de Desenvolvimento Comunitário (CDC), composto de representantes dos
três setores (poder público, iniciativa privada e
Terceiro Setor). O CDC do Infância Ideal, por
exemplo, reúne os atores sociais que trabalham
com crianças de zero a 6 anos: Secretaria de
Educação, Secretaria de Assistência Social, creches, organizações da sociedade civil, Conselhos
Tutelares, Conselhos Municipais dos Direitos
da Criança e do Adolescente, pais, educadores,
voluntários da empresa, entre outros.
Os comitês terão caráter consultivo e deliberativo. Cada comitê vai ajudar a fazer o diagnóstico da realidade local, identificando seus
ativos e desafios. A partir dessas informações,
irá analisar as prioridades de atuação. A idéia é
incentivar o diálogo entre os atores que trabalham na mesma área, avaliar as iniciativas existentes, propor o seu fortalecimento. “É comum
ver três ou quatro organizações fazendo coisas
parecidas sem se conversar. Criar um comitê
com as principais organizações e provocar uma
discussão entre elas, capacitá-las e fortalecê-las,
para que encontrem caminhos em conjunto, é
o que entendemos por desenvolvimento comunitário”, afirma Francisco Azevedo, diretor
executivo do Instituto Camargo Corrêa. Cada
CDC vai se reunir periodicamente para avaliar
e traçar os caminhos do programa.
Na opinião de especialistas, uma maneira
natural de efetivar o desenvolvimento do capital social e humano da comunidade é promover a formação de redes sociais. Isso porque
elas são uma forma de organização horizontal,
democrática, que estimula a participação de
seus integrantes. “Nem todas as pessoas sabem
como participar. Em muitas comunidades, a
lógica é a da passividade, de esperar para ver o
que acontece, ou do combate, do enfrentamento. Quando se traz outra lógica, a da cooperação e co-responsabilidade, que é intrínseca ao
processo de rede, o desenvolvimento se dá naturalmente”, defende Célia Schlithler, diretora
de desenvolvimento comunitário do Instituto
para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis), organização sem fins lucrativos que
trabalha para a estruturação e promoção do
investimento social privado.
Diálogo positivo
Para Célia, a estratégia de a empresa incentivar a conectividade entre os atores, induzindo
o desenvolvimento comunitário, é bastante
interessante, pois, além de aumentar o capital
humano e social, promove um diálogo positivo
entre a empresa e a comunidade em que ela
está inserida.
Dessa forma, a empresa passa a se sentir
parte da comunidade e começa a consultá-la
em diversos momentos, inclusive em questões
não relativas ao investimento social. Como
pontua Jair Resende, coordenador do programa Futuro Ideal, do ICC, esse relacionamento também ajuda a romper as relações de dependência, que muitas vezes são estabelecidas
entre as comunidades e as empresas. “Uma
comunidade mais fortalecida cultural e economicamente passa a ser parceira da empresa
e torna-se mais bem preparada para enfrentar
seus desafios”, diz.
Autonomia
O desenvolvimento comunitário não é algo
externo à comunidade. Augusto de Franco, que
foi coordenador-geral da Agência de Educação para o Desenvolvimento (AED) de 2001
a 2005, diz que “o desenvolvimento não pode
ser transferido como se faz uma ‘transfusão
de sangue’ ”. Não há fórmula mágica. O que
dá certo em um lugar não funciona necessariamente em outro. Cada comunidade precisa
descobrir sua própria “combinação virtuosa”.
Célia Schlithler concorda. Para ela, a comunidade precisa atuar em prol de seu próprio desenvolvimento, e as empresas podem
ter o papel de “produtoras sociais” porque têm
condições econômicas, organizacionais, técnicas e profissionais para que o processo de
mobilização e desenvolvimento da sociedade
se efetive. E é isso mesmo que as empresas do
grupo Camargo Corrêa e o Instituto vão fazer.
“O ICC será um facilitador para a criação de
redes e conexão das pessoas, mas não tomará o lugar de nenhum desses atores”, ressalta
Lorenza Longhi, coordenadora do programa
Ideal Voluntário.
PARA SABER MAIS
Livros
v A Era da Informação: Economia,
Sociedade e Cultura, em três volumes: A Sociedade em Rede, O Poder
da Identidade e Fim de Milênio,
Manuel Castells, Paz e Terra, 1999.
v C apital Social, Augusto de
Franco, 2001.
vM
orte e Vida das Grandes Cidades,
Jane Jacobs, Martins Fontes, 2000.
v R edes de Desenvolvimento Comunitário: Iniciativas para a Transformação Social, Célia Schlithler,
Global/Idis, 2004.
Links úteis
v Em seu website pessoal (www.
augustodefranco.com.br), Augusto de Franco montou uma bibliografia extensa sobre desenvolvimento local e temas correlatos.
v Divesos sites de organizações
nacionais e internacionais têm
vasto material sobre o assunto. Vale a pena conferir: www.
idis.org.br; www.northwestern.
edu/ipr/abcd.html; www.polis.
org.br; www.redeamerica.org;
www.scielo.br/pdf/ci/v33n3/
a06v33n3.pdf.
ideal comunitário 15
P r i m e i r a i n fâ n c i a
Um investimento no
Os seis primeiros anos são
fundamentais para o
desenvolvimento das crianças.
Proporcionar melhores condições
de vida neste período tão
importante é o principal objetivo
do programa Infância Ideal
Logo depois de fechar seu salão de beleza,
a manicure Eliane Cristina Marques Diniz,
de 34 anos, chega às 17 horas na portaria da
Creche Lar Espírita Chiquinho de Carvalho.
Um ritual que a deixa feliz, pois vai encontrar
o filho, Mateus, de 3 anos, depois de o menino cumprir uma programação que inclui café
da manhã, brincadeiras, almoço, sono da tarde e lanche. Mateus abraça a mãe e, sem choramingar, se despede do pessoal da creche.
Pode-se dizer que o garoto tem o perfil de
vida infantil que o Instituto Camargo Corrêa
(ICC) quer para as crianças que serão atendidas e acompanhadas pelo programa Infância Ideal, lançado em setembro de 2007, na
cidade de Pedro Leopoldo, na região metropolitana de Belo Horizonte.
Mateus e outros 39 colegas são beneficiários de uma das primeiras ações do Instituto
no município mineiro. A creche, onde ele passa todos os dias da semana, ganha casa nova
até o final do ano, totalmente reformada com
recursos do ICC e do Fundo para Infância e
Adolescência (FIA), administrado pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do
16 ideal comunitário
futuro
fotos: eugênio sávio
ideal comunitário 17
P r i m e i r a i n fâ n c i a
Adolescente (CMDCA). “Poderemos ampliar o nosso trabalho, passando a atender
uma faixa etária ainda maior. Hoje aceitamos
crianças de zero a 4 anos, mas devemos chegar a 100 vagas, com crianças de até 6 anos”,
explica Tereza Bahia, vice-diretora e coordenadora pedagógica da creche.
O Infância Ideal é um dos quatro programas sociais estruturados, em maio de 2007,
pelo Instituto Camargo Corrêa para atender
crianças, adolescentes e jovens nos municípios
onde as empresas do grupo estão instaladas.
Voltado para meninos e meninas de zero a 6
anos, o Infância Ideal foi implantado, como
projeto piloto, em Pedro Leopoldo e, em breve, deve ser colocado em prática também em
outras cidades onde a empresa de cimentos
Cauê tem unidades (veja texto ao lado) e em
Juruti (PA), onde a Camargo Corrêa tem
obras de infra-estrutura.
Perfil da empresa
Tradicional no mercado, a Cauê
produz mais de 3 milhões de
toneladas de cimento por ano.
Com sede em São Paulo, capital,
a empresa possui seis unidades
de produção: em Apiaí (SP), Bodoquena (MS), Pedro Leopoldo
(MG), Santana do Paraíso (MG),
Ijaci (MG) e Jacareí (SP). A Cauê
está entre as maiores empresas
do setor e tem como premissa o
compromisso com a qualidade
de seus produtos e o desenvolvimento social das comunidades onde atua. A unidade de
Pedro Leopoldo foi incorporada
pela Camargo Corrêa Cimentos
em 1997.
18 ideal comunitário
Parceria com a população
A principal meta do programa é contribuir para
o desenvolvimento saudável de crianças de zero
a 6 anos, incentivando comportamentos de cidadania e cultura democrática. “Pretendemos
contribuir para a melhoria do IDI (Índice de
Desenvolvimento Infantil, criado pelo Fundo
das Nações Unidas para a Infância) dos municípios onde o grupo Camargo Corrêa está presente. A intenção é apoiar e fortalecer as ações
existentes desenvolvidas pelo poder público e
organizações da sociedade civil, estabelecendo parcerias com esses atores e envolvendo a
comunidade em todas as etapas do programa”,
explica Juliana Di Thomazo, coordenadora do
Infância Ideal.
Em Pedro Leopoldo – cidade de 65 mil
habitantes, entre os quais 6.623 têm menos de
6 anos –, essa aliança entre a comunidade, o
poder público e o Instituto já está acontecendo.
Representantes de associações comunitárias,
órgãos municipais de saúde, esporte, educação,
conselhos de apoio à infância, voluntários e funcionários da empresa Cauê lotaram o evento de
lançamento para ouvir da acionista do grupo e
presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Camargo Corrêa, Rosana Camargo de
Arruda Botelho, as primeiras palavras oficiais
de como o projeto buscará, num trabalho em
equipe com a cidade, contribuir para melhorar
as condições de vida da primeira infância.
“A partir de hoje, o coração do Instituto Camargo Corrêa estará pulsando mais
forte em Pedro Leopoldo. E os olhos dos
acionistas, dos dirigentes e dos funcionários da Cauê e do grupo Camargo Corrêa
passarão a acompanhar com carinho especial as notícias da cidade”, disse a presidente do Conselho Deliberativo. Ela destacou
a enorme expectativa em relação ao Infância Ideal. A motivação interna da fábrica
e a mobilização dos órgãos que trabalham
com a juventude e a infância na cidade confirmam o princípio do programa: a união
entre a empresa e sua comunidade. “Para
serem eficientes, os projetos sociais devem
estar alinhados com as políticas públicas”,
complementou Rosana.
Para Simone Maria Bellezzia, promotora
de Justiça da Infância e da Juventude de Pedro
Leopoldo, a estrutura do Infância Ideal é uma
prova dessa intenção. “Ela mostra a preocupação do Instituto com projetos de fortalecimento da comunidade, mas também sanando as
omissões existentes”, diz a promotora.
Situação da infância e da juventude
Pedro Leopoldo foi escolhida para ser a cidade
piloto do programa Infância Ideal por possuir
diversas organizações sociais e poder público
atuante nas questões referentes à primeira infância. Além de oferecer infra-estrutura social,
tem instituições que apresentam bons resultados e experiências na adoção de programas,
como saúde da família, e seus Conselhos Tutelar e dos Direitos da Criança são ativos.
Segundo o gerente industrial da Cauê em
Pedro Leopoldo, Maurício Anacleto de Queiroz, o município faz a diferença pelo nível de
compreensão e pela vontade de atuar em rede
dos órgãos que defendem os direitos da infância e da juventude. “A comunidade está alerta.
Nossos funcionários moram na cidade e conhecem as questões sobre as quais devemos
atuar. Posso dizer que tanto na fábrica quanto
nas escolas, no comércio e nos órgãos públicos,
encontramos gente com vontade de participar
do Infância Ideal”, garante Queiroz.
O envolvimento da comunidade com as
questões da infância e da adolescência talvez
contribua para explicar o fato de os indicadores
sociais do município serem melhores do que os
de Minas Gerais e do Brasil, conforme detectou o estudo Diagnóstico da Situação da Primeira Infância em Pedro Leopoldo, realizado
pela Acesso Consultoria, empresa especializada
turma animada
À esquerda, Eliane Diniz
com o filho, Mateus. Acima,
crianças da Creche Lar
Espírita Chiquinho de
Carvalho montam sua
própria banda de música
Pedro Leopoldo em números
•
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•
•
•
•
•
Crianças menores de 6 anos: 6.623
Crianças entre 4 anos e 6 anos: 3.301
Crianças menores de 1 ano: 1.059
Nascidos vivos: 805
Nascidos vivos de mães com sete pré-natais ou mais: 445
Cobertura vacinal em crianças menores de 1 ano (Tetravalente): 95%
Alunos matriculados na pré-escola: 2.289 = 34,5%
Percentual de mães com cobertura de pré-natal adequada: 55,28%
(em Minas, esse número é 56,79% e no Brasil é 52,76%)
P
ercentual de mães entre 10 e 14 anos: 0,37%
(em Minas, esse número é 0,57% e no Brasil, 0,88%)
Percentual de mães entre 15 e 19 anos: 15,9%
ideal comunitário 19
foto: carol reis
P r i m e i r a i n fâ n c i a
compromisso ofICIAL
Durante evento de
lançamento do Infância
Ideal, organizações do
município, que formam o
Comitê de Desenvolvimento
Comunitário, assinaram o
termo de adesão das parcerias
na gestão estratégica de projetos sociais no
país. O Índice de Desenvolvimento Infantil
(IDI), por exemplo, sem desdobrar suas inúmeras variáveis, apresenta o avanço de Pedro
Leopoldo em relação ao estado e ao país. Em
2004, o indicador do Unicef colocava a cidade com 0,8; Minas Gerais com 0,649 e o
Brasil com 0, 667. O IDI de um município
vai de zero a 1, sendo 1 o valor máximo.
“Escolhemos o IDI como índice norteador
de nossa atuação, verificando todas as variáveis
que o compõem, mas não trabalharemos só com
esses dados. O objetivo é compreender como a
criança de até 6 anos é atendida no município,
olhar para ela levando em conta todos os aspectos necessários para o seu desenvolvimento:
do atendimento em creches e pré-escolas ao
trabalho com as famílias, que também é funda-
Os indicadores utilizados
Para avaliar a situação de meninos e meninas em Pedro
Leopoldo e nas cidades onde o Instituto Camargo
Corrêa desenvolverá ações voltadas para a faixa etária
de zero a 6 anos, os instrumentos são o Índice de
Desenvolvimento Infantil (IDI), do Unicef, os indicadores
complementares sobre a primeira infância (dados dos
censos e dos ministérios da Saúde, Previdência Social e
Desenvolvimento Social) e informações institucionais
sobre essa etapa da vida das crianças.
Concebido pelo Unicef, o IDI é um instrumento que
contribui para a formulação e o monitoramento de políticas
20 ideal comunitário
públicas voltadas para a infância no Brasil. A criação desse
índice surgiu da necessidade de promover ações orientadas
para a população de zero a 6 anos. O IDI incorpora variáveis
relacionadas à oferta de serviços de saúde e educação e
ao cuidado e proteção que a família deve proporcionar à
criança nos seis primeiros anos de vida, representada, neste
caso, pela escolarização dos pais. Por sua desagregação
municipal, o indicador é uma ferramenta importante
para mobilizar recursos e vontade política no processo de
descentralização e municipalização das ações e dos serviços
destinados ao desenvolvimento infantil.
O Infância Ideal
vem complementar
as ações do poder
público voltadas
para as crianças
de zero a 6 anos
Marcelo Jerônimo Gonçalves,
prefeito de Pedro Leopoldo
mental”, explica Juliana Di Thomazo (leia mais
sobre o IDI e os outros indicadores na página 20).
O economista João Marcelo Borges trabalhou no levantamento dos dados, cruzando
informações do IBGE, do IDI e do Datasus,
e concluiu que os números frios dos relatórios
apontam uma situação favorável do município
diante da realidade brasileira. “Com o trabalho
em rede do poder público, do Terceiro Setor e
da área produtiva, as informações do dia-a-dia
e o conhecimento prático de quem vive na cidade serão incorporados e contribuirão bastante
para a realização de um perfil mais detalhado, a
partir do qual todos poderão atuar”, conclui.
A presidente do Conselho Municipal dos
Direitos da Criança e do Adolescente de Pedro Leopoldo, Maristela Xavier Cardoso, acha
que a cidade está bem direcionada na área da
primeira infância e, por isso, acredita que uma
capacitação específica nesse campo só irá enriquecer e dinamizar ainda mais o trabalho já
desenvolvido. O prefeito, Marcelo Jerônimo
Gonçalves, conta que recentemente todas as
creches da cidade foram municipalizadas e
passaram a ser de responsabilidade da prefeitura. “Já na área da saúde, temos também
diversos trabalhos sendo desenvolvidos, den-
tre eles o do combate à desnutrição”, afirma o
prefeito, comemorando a chegada do Infância
Ideal, que, segundo ele, “vem complementar as
ações do poder público voltadas para as crianças de zero a 6 anos”.
Para Sara Helena Diniz Ferreira, secretária
de Educação de Pedro Leopoldo, professora
e pedagoga da rede municipal, “o diagnóstico
apresentado pelo Instituto corroborou nossos
indicativos sobre educação e saúde na primeira
infância, nos dando mais certeza para onde devemos caminhar”. Segundo ela, a situação da
educação infantil em Pedro Leopoldo é mais
privilegiada em relação aos índices dos municípios vizinhos, mas existem muitos desafios a ser
vencidos. “Apesar de ser uma política nova, com
novas linhas governamentais de financiamento,
nosso município já investe na primeira infância
há mais de duas décadas Mas as metas traçadas
pelo programa Infância Ideal refletem as necessidades mais urgentes, como a formação das pessoas que trabalham nas creches, envolvendo esses
agentes para que a educação esteja nesse processo. É preciso que o cuidar das crianças ande junto
com o educar. Desde as brincadeiras e cuidados
pessoais até a formação da linguagem oral.”
“Este é o momento,
em todo o mundo, de
trabalharmos em rede.
Estamos todos esperançosos
de que este projeto,
realmente, contribua
para o fortalecimento
das relações sociais do
município.”
Maria de Lourdes da Costa,
coordenadora do Serviço
de Atenção à Criança, da
Secretaria Municipal de Saúde
“A cidade de Pedro
Leopoldo já foi palco de
vários projetos para a
infância e a adolescência.
Mas com esta estrutura,
com este planejamento,
envolvendo todas as
esferas que trabalham
com jovens e crianças
de zero a 6 anos, nunca
vimos antes.”
Renato Vidigal, presidente
do Conselho Tutelar
Ação ampliada
Na opinião da coordenadora nacional da Pastoral da Criança, Zilda Arns, um dos grandes ganhos que a população vai obter com o Infância
Ideal é a ampliação do seu atendimento. “Em
Pedro Leopoldo já existe a Pastoral, só que ela
não atende a todas as crianças pobres. Vamos
ajudar, aplicando nossa metodologia, multiplicando o conhecimento científico dos pais e de
quem for voluntário, para que eles aprendam
que não é só de saúde que as crianças precisam,
mas de educação e um bom desenvolvimento
físico, mental, social e espiritual”, defende Zilda Arns, que teve seu trabalho reproduzido em
ideal comunitário 21
P r i m e i r a i n fâ n c i a
PARA SABER MAIS
Livros, relatórios e links
v Desenvolvimento da primeira infância: Foco sobre o impacto das
pré-escolas: importante pesquisa
do Banco Mundial, publicada
em 2001, sobre as características e os desafios da primeira
infância no Brasil.
v Fontes para a Educação Infantil:
lançado em janeiro de 2003,
pela Fundação Orsa e Unesco,
com consultoria técnica da
ANDI, o livro tem uma verão online disponível no site: www.
fonteseducacaoinfantil.org.
br/. Apresenta informações de
instituições que lidam com a
Educação Infantil no país, e disponibiliza textos sobre assuntos
recorrentes na área, listagem de
instituições, sugestões de links,
livros e periódicos.
v Situação da Infância Brasileira
2006: o relatório do Unicef apresenta informações e pesquisas
sobre os principais problemas
da primeira infância, além de
mostrar experiências que geraram melhorias significativas em
diversas áreas. Disponível para
download na Biblioteca Virtual
do Unicef: www.unicef.org.br.
v O Município e a Criança de até 6
Anos: dividido em duas partes:
“O que os municípios devem
ter” e “O que os atores sociais
podem fazer”, o livro, do Unicef, aborda tanto as estruturas
institucionais necessárias para o
fortalecimento da família e conseqüentemente de suas crianças quanto o que a comunidade
pode fazer para garantir que os
direitos de meninos e meninas
sejam cumpridos, respeitados
e protegidos. Também está
disponível na Biblioteca Virtual
do Unicef.
22 ideal comunitário
mais de 17 países (leia o artigo Primeira infância
e desenvolvimento social na página 46).
Os métodos da Pastoral da Criança seguem também as metas estabelecidas nos
projetos do ICC, sedimentadas nos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio, acordo assinado em 2000 por 191 países-membros da Organização das Nações Unidas
(ONU). Mais do que metas, os representantes máximos dessas nações firmaram um
pacto de promoção dos direitos humanos
em oito pontos conhecidos como Objetivos
do Milênio (erradicar a extrema pobreza e
a fome, atingir o ensino básico universal,
promover a igualdade entre os sexos e a
autonomia das mulheres, reduzir a mortalidade infantil, melhorar a saúde materna,
combater o HIV/Aids, a malária e outras
doenças, garantir a sustentabilidade ambiental, estabelecer uma parceria mundial
para o desenvolvimento). O compromisso é
alcançá-los até 2015, tendo como base para
comparação o ano de 1990.
Sem esconder a satisfação de ver a Pastoral da Criança crescer em sua cidade, Maria
Lídia Fraga, voluntária e auxiliar de enfermagem, hoje dedicada totalmente ao trabalho
com crianças, diz que o grande desafio é fazer
com que as famílias dêem prosseguimento ao
atendimento. “Temos que colocar em prática ações de convencimento para que toda a
família participe”, acredita. Segundo ela, em
suas visitas ainda é comum encontrar crianças
com deficiência alimentar, com baixo peso ou
mesmo obesas.
A coordenadora da Pastoral da Criança em
Pedro Leopoldo e municípios vizinhos, Ilma
Josefina, destaca que a maior parte das mães,
cujos filhos ainda sofrem com problemas de
saúde, nutrição, cidadania e educação, também
viveu uma infância sem cuidados. “A maioria
Um projeto como
o Infância Ideal,
que vai cobrir toda
a cidade, nos dará
condições de atender a
todas as crianças
de zero a 6 anos
Ilma Josefina, coordenadora da Pastoral
da Criança em Pedro Leopoldo
é de adolescentes e mães que estão em condições bem precárias de vida. Nós trabalhamos
diretamente nos bairros mais pobres, e um
projeto como o Infância Ideal, que vai cobrir
toda a cidade, nos dará condições de atender
a todas as crianças de zero a 6 anos. Estamos
realizando um sonho, pois poderemos usar os
benefícios da segurança alimentar”, diz Ilma.
Estratégias traçadas
O Instituto Camargo Corrêa sabe que o desafio
é transformar essa motivação da comunidade
de Pedro Leopoldo em ações concretas. Antes
de ser lançado, em setembro, o projeto ganhou
a participação da população por meio de mais
de uma dezena de organizações atuantes no
município, formando o chamado Comitê de
Desenvolvimento Comunitário (CDC).
No final de outubro, representantes dos
organismos que formam o CDC (Conselho
Municipal de Defesa dos Direitos da Infância
e Adolescência, Conselho Tutelar, Secretaria
Municipal de Saúde, Secretaria Municipal de
Educação, Pastoral da Criança, Maçonaria,
Rotary Clube, Lions, Grupo de Ação Ideal
Voluntário (GAIV ) da Cauê, Faculdade de
Pedro Leopoldo, Prefeitura de Pedro Leo-
foto: carol reis
show à parte
Meninos de Araçuaí se
apresentam no lançamento do
programa junto com o grupo
teatral Ponto de Partida
Música e emoção no lançamento do Infância Ideal
Sempre que crianças e adolescentes são convidados a ser
protagonistas de suas histórias o resultado é inesperado
e positivo. Prova disso são os Meninos de Araçuaí – coro
formado por cantores de 7 a 16 anos que superaram as
dificuldades impostas pelo dia-a-dia de pobreza e miséria
– alguns andavam até 15 quilômetros para assistir às aulas
de dança e música oferecidas no projeto Ser Criança, do
grupo mineiro Ponto de Partida.
Convidados pelo Instituto Camargo Corrêa para
encerrar a solenidade de lançamento do Infância
poldo e Associação São Vicente de Paula)
conheceram os dados do diagnóstico sobre
a situação da infância em Pedro Leopoldo e,
com sua vivência sobre a realidade do município, traçaram as primeiras áreas de atuação
do Instituto Camargo Corrêa.
Dentre as prioridades apontadas, o CDC
definiu quatro: capacitação de profissionais
de creches; gravidez na adolescência; acompanhamento de gestante e recém-nascido; e
criar condições de uso e disponibilizar áreas
de lazer para pais e crianças.
Ideal, os meninos participaram do espetáculo junto
com o grupo teatral Ponto de Partida e entraram no
auditório cantando e jogando pétalas de flores para
o público.
A história dos cantores impressiona, tendo eles se tornado referência tanto artística quanto de pesquisa, registro e resgate da música brasileira. O grupo gravou DVDs
e se apresentou com vários músicos, com destaque para
Milton Nascimento, com quem ganhou o carisma da capital francesa com o show Ser Minas Tão Gerais.
O economista João Marcelo Borges, com sua
experiência de gestão estratégica de projetos sociais, acredita que o Instituto Camargo Corrêa, ao
compartilhar seus projetos com a comunidade por
meio do Comitê de Desenvolvimento Comunitário, está saindo na frente na forma de organização
e de trabalho. “No Brasil, ainda é incomum tamanho detalhamento nas ações das ONGs e mesmos
de institutos. A gestão participativa dos projetos é
a garantia de compromisso de longo prazo com a
cidade, de um futuro com mais qualidade de vida
para as pessoas”, enfatiza.
ideal comunitário 23
EDUCAÇÃO BÁSICA
Relações
renovadas
O programa Escola Ideal tem como linha
mestra o desenvolvimento e o apoio
à gestão democrática e participativa de
escolas públicas. Também propiciará
uma ferramenta virtual de
auto-avaliação e planejamento
ALEGRIA E PRAZER
Alunos se divertem na escola
Dr. José Tavares, de Campina
Grande (PB). Uma boa escola
é aquela em que os alunos
gostam de estar e na qual
conseguem de fato aprender
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FOTOS: GUSTAVO MOURA
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Um olhar no processo de democratização e nas mudanças
rápidas por que passa o país; outro nos desejos, nas necessidades e nas expectativas da população que cerca a escola
e que faz parte dela. E, ainda, atenção ampliada à comunicação e à qualidade das relações. Tudo para que crianças e
adolescentes sintam genuíno prazer de estudar, de estar na
sala de aula e de avançar nos estudos. Tornar concreto esse
comportamento tão sonhado para o ambiente escolar é o
grande objetivo e o maior diferencial do programa Escola
Ideal, criado pelo Instituto Camargo Corrêa. “Pesquisas
recentes mostram que escolas que apresentam um bom
rendimento dos alunos nas avaliações nacionais têm forte
presença das famílias e da comunidade”, observa Maria
Eugênia Franco, coordenadora do projeto.
O foco do programa é a gestão escolar do Ensino Básico. Seu principal objetivo é apoiar as escolas nos municípios onde estão presentes unidades de negócios do grupo
Camargo Corrêa para que elas aprimorem seu desempenho. Esse é um viés interessante, segundo o ex-ministro da
Educação Paulo Renato Souza. “No mundo todo vemos
parcerias entre governo e iniciativa privada para melhorar
a educação. As ações sociais de ponta são as que influenciam as políticas públicas. Considero a gestão a variável
número 1 para melhorar a escola. Com técnicas modernas
de liderança, as empresas têm muito a oferecer nesta área,
tão importante para o sucesso”, avalia.
O programa Escola Ideal vem ao encontro do convite
constante de engajamento que o ministro da Educação
Fernando Haddad tem feito em suas andanças pelo País
desde abril, quando lançou o Plano de Desenvolvimento
da Educação (PDE). Em setembro, quando o Movimento Todos pela Educação comemorou um ano de existência, Haddad voltou a enfatizar: “A educação só vai melhorar quando houver envolvimento de toda a sociedade”. No
7 -º Encontro Nacional de Estudos Estratégicos, realizado
em novembro em Brasília, o ministro ratificou a sua convicção de que podemos saldar a dívida de um século com a
educação em cerca de 15 anos.
Com início em 2008, o Escola Ideal se dará em municípios da Paraíba. Alguns deles já registram a atuação
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EDUCAÇÃO BÁSICA
do Instituto Alpargatas, com o programa Educação por meio do Esporte, que em 2006 beneficiou
mais de 42 mil crianças e adolescentes (leia quadro
à página 27). Parceiro do Escola Ideal, o Instituto
Alpargatas facilitará a implantação do novo programa com sua rede de relacionamento e atuação.
“Temos a crença de que é pela educação que podemos fazer diferença. Pessoas com maior nível
educacional podem escolher melhor, exercer e exigir mais seus direitos e deveres”, afirma Márcio
Utsch, presidente da Alpargatas. “Essa parceria é
uma soma de forças na qual 1 mais 1 é igual a 3,
e aí o Oswald de Souza não tem como explicar.
Só Pitágoras”, declara, espirituoso.
O projeto piloto envolverá 315 escolas paraibanas, sendo 130 urbanas e 185 rurais. A base da
ação será Campina Grande; mas o programa se estenderá imediatamente para mais seis municípios:
Alagoa Nova, Araruna, Guarabira, Ingá, Mogeiro
Temos a crença de que é pela educação que
podemos fazer diferença. Pessoas com maior
nível educacional podem escolher melhor, exercer
e exigir mais seus direitos e deveres
Márcio Utsch, presidente da Alpargatas
e Serra Redonda. “Além de a fábrica da Alpargatas
estar presente na cidade, Campina Grande apresenta melhores resultados, maior envolvimento da
prefeitura, da Secretaria de Educação, da comunidade e dos professores”, explica Berivaldo Araújo,
diretor executivo do Instituto Alpargatas. A professora Janete Guedes da Silva, diretora de uma escola na zona leste da cidade, está cheia de expectativas. Ela acha que o programa tornará o ambiente
escolar mais produtivo devido ao comprometimento das esferas governamentais e à mudança
de mentalidade que exigirá dos diretores de escola.
Algo, segundo a diretora, urgente e indispensável.
“Infelizmente, ainda há gestores que estão no cargo por status. Nós devemos ser tempo, presença e
exemplo. O gestor escolar deve estar consciente de
que é uma liderança e que para liderar é preciso
estar presente, acompanhar a realização das ações
e cobrar resultados”, ressalta.
Janete conta também os benefícios que o Educação por meio do Esporte trouxe à Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr. José Tavares, onde
trabalha e mantém 368 alunos entre o pré-escolar
e o 5º ano. “Estamos numa área de risco, carente. O
esporte melhorou a auto-estima e o entusiasmo dos
alunos e, com isso, a freqüência e o aproveitamento.
Toda criança adora esportes e por meio dele os professores trabalham outros conteúdos”, detalha.
MOMENTOS DE FOGO
Para delinear o programa Escola Ideal, o Instituto Camargo Corrêa idealizou uma ferramenta
de diagnóstico que teve como base uma extensa
pesquisa bibliográfica, recheada depois com depoimentos de professores, diretores e secretários
de Educação. Esse olhar de dentro da escola foi
colhido em oficinas realizadas em São Paulo (SP)
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GOLPE DE MESTRE
Com ações no contraturno
escolar, o Instituto
Alpargatas consegue
melhorar o rendimento
dos alunos e a motivação
dos professores
e João Pessoa (PB) em parceria com o Instituto
Fonte para o Desenvolvimento Social. Nos encontros, profissionais de educação de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande
do Norte foram estimulados a falar sobre seu
dia-a-dia e narrar momentos de qualidade e
momentos de “fogo” na escola, ou seja, situações
que geravam movimento, empolgação ou criavam
polêmica entre alunos e professores. “A pesquisa
bibliográfica trouxe o que caracteriza uma boa escola do ponto de vista externo, de resultados. Buscamos conhecer nas oficinas os processos internos,
sem julgar se os momentos de fogo eram bons ou
ruins pedagogicamente”, relata Alexandre Randi,
consultor do Instituto Fonte. Mestre em educação pela Unicamp, Randi entrou no setor social
pela música. Dirigiu por oito anos a Banda Bate
Lata, depois foi consultor no Centro de Formação
em Educação Comunitária da Associação Cidade
Escola Aprendiz, entre outras organizações.
A consultoria partiu do pressuposto de que os
momentos de “fogo” indicam qualidade na escola
porque geram movimento, mantendo acesa a chama da curiosidade e do prazer – seguindo a linha
do que em tese se diz de uma educação de quali-
DIVULGAÇÃO ALPARGATAS
Jogos e arte: uma dupla
vencedora nas escolas
Além de esporte, dança, música, teatro e coral são algumas
das atividades que empolgam crianças e adolescentes de 7
a 17 anos que participam das ações do projeto Educação por
meio do Esporte, do Instituto Alpargatas. O projeto começou
em 2003, envolvendo 20 escolas públicas da cidade paraibana de Santa Rita. Nesse mesmo ano, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do município aumentou de 0,451 para
0,659, com melhoria apenas na área de educação – os outros
dados que constituem o indicador, longevidade e saúde e
renda per capita, ficaram inalterados. O que leva a crer que
o programa contribuiu para a melhoria do índice. Com o sucesso do projeto piloto, as cidades de João Pessoa, Campina
Grande e Natal também foram convidadas a participar e o
programa cresceu, passando de 41 projetos em 2005 para 77
em 2007, com 42.589 alunos atendidos
Constituído de duas frentes – a Ação Escola, realizada no
período escolar, e a Ação Pós-Escola, que ocorre no contraturno –, o programa melhorou o rendimento escolar, o nível de
agressividade e também o desempenho de professores, com
capacitação e novas metodologias de ensino. “O esporte estimula um grande envolvimento da comunidade e da meninada.
Interessados em continuar no projeto, alunos difíceis se tornam
estudantes exemplares. A disposição do educador também é
outra. Algumas escolas de periferia hoje são disputadas pelos
professores só porque estão ligadas ao projeto”, atesta Bernadete de Lourdes Leite Farias, secretária adjunta de Educação de
Campina Grande.
Em João Pessoa, os alunos podem contar também com o
Centro de Excelência Educacional e da Aprendizagem Sensório-Motora, instalado em parceria com o governo estadual, para
atendimento a 28 escolas estaduais de Ensino Fundamental e
Médio. Lá, eles são avaliados por uma equipe multidisciplinar
que identifica suas habilidades esportivas, considerando preferências e perfil genético-esportivo. A partir dessa avaliação, a garotada é encaminhada para o esporte ao qual mais se adapta.
IDEAL COMUNITÁRIO 27
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EDUCAÇÃO BÁSICA
Perfil da empresa
Com um século de tradição, a
São Paulo Alpargatas é líder
nacional do setor de calçados,
artigos esportivos e têxteis
industriais e de varejo. Com
marcas consagradas, como
Havaianas, Topper, Rainha, Mizuno, Timberland, Sete Léguas,
Locomotiva e Meggashop, a
Alpargatas exporta para mais
de 80 países. Em suas sete
unidades brasileiras, a empresa emprega cerca de 13 mil
pessoas. Em 2006 registrou um
crescimento de 14,3% nas vendas e foi eleita Empresa do Ano
pelo anuário EXAME Melhores e
Maiores. Em 2007, inaugurou
um escritório em Nova York,
dando início à Alpargatas
USA, e outro no Chile, centrado
em marcas esportivas. Também
anunciou a compra da Alpargatas Argentina e concluiu a aquisição da empresa Dupé.
dade. “Fala-se muito que a aprendizagem tem de
ser prazerosa, então temos de olhar o que dá prazer
dentro da escola para identificar componentes de
qualidade ou para saber por que esse prazer é gerado, mesmo que estejamos falando do recreio ou de
atividades extra-escolares. Assim esses momentos
poderão ser apropriados pedagogicamente”, esclarece Randi. O que se destacou nas oficinas foi o
grau de importância que as relações interpessoais e
a gestão participativa e democrática ganharam. “A
escola ainda é uma organização de modelo clássico,
hierarquizado, mas os educadores apontam para
uma mudança de paradigma. Uma nova orientação, na qual a qualidade da escola depende muito
mais da relação estreita entre alunos e professores e
da presença ativa de pais e da comunidade do que
da quantidade de lição de casa ou do tempo que a
criança passa na escola”, completa Randi.
escolas, para cada um dos critérios”, explica Ricardo Schoueri, um dos sócios da TerraForum.
O questionário é uma espécie de espelho, no
qual a escola verá refletidos seus pontos fortes e suas
dificuldades. É uma ferramenta de auto-avaliação e
reflexão. “Ela permitirá que a escola conheça, aprimore e/ou construa as condições necessárias para
oferecer educação de qualidade. É tanto um instrumento de diagnóstico quanto uma ferramenta de
planejamento, avaliação e acompanhamento das
melhorias e do programa Escola Ideal em si”, descreve João Marcelo Borges, sócio-diretor da Acesso
Consultoria. Mestre em economia política internacional pela London School of Economics, com
especialização em gestão de projetos pela Fundação
Getulio Vargas, Borges coordenou a elaboração do
instrumento de mapeamento das escolas, denominado Indicadores de Gestão para Escola Ideal.
COMO UM ESPELHO
Foi encomendado à Acesso Consultoria, especializada em gestão estratégica de projetos sociais e
cooperação internacional, um instrumento de
diagnóstico capaz de mapear dimensões objetivas
e subjetivas de uma escola ideal. De maneira resumida e simplificada, escola ideal é aquela que tem
capacidade de atender todas as crianças e os adolescentes de seu entorno, de fazer com que os alunos gostem da escola, nela permaneçam e de fato
aprendam. Outra empresa, a TerraForum, que faz
consultoria e treinamento em gestão do conhecimento e tecnologia da informação, ficou com a
responsabilidade de transformar esse instrumento
em um software que poderá ser acessado por meio
do site do Instituto Camargo Corrêa. A estrutura do software é a mesma utilizada pelo Instituto
Ethos para que as empresas possam medir seu
índice de responsabilidade social. “O uso de um
software especializado permite que as próprias
escolas cadastrem suas informações e obtenham
relatórios acerca de sua posição relativa a outras
DETALHES
Em linhas gerais, a ferramenta vai mapear seis
dimensões da escola (leia quadro à página 29).
Com respostas de profundidade. “Quando houver um questionamento quanto a políticas e práticas pedagógicas, estaremos falando de como é
o comportamento do professor em sala de aula
ou em que medida ele tem tempo e condições de
planejar suas aulas e se ele faz isso de fato. O item
ambiente educativo vai nos mostrar qual o clima
da escola, se é conflituoso, se há regras de conduta e se elas são conhecidas e seguidas”, exemplifica Borges. No caso de variáveis clássicas, como
evasão escolar, fluxo e rendimento, a escola vai se
perguntar como lida com isso: se acompanha e
busca compreender as razões de tais índices, se
conversa com alunos, pais e professores. “O mapa
derivado da aplicação do questionário complementará outros indicadores sociais, como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
(Ideb). Será possível ter um retrato mais rico da
escola”, conclui o consultor.
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PARA SABER MAIS
Vale a pena ver
Pro Dia Nascer Feliz – documentário de João Jardim, ganhador
do prêmio especial do júri no
10º- Cine-PE. Aborda a educação
pública na adolescência.
O ESSENCIAL
Biblioteca, sala de vídeo,
quadras; nada substitui
a curiosidade e a
satisfação de aprender
MÉRITO
Tanto cuidado em conhecer e retrabalhar a
dinâmica das relações e o modo de direcionar as ações da escola fez com que o programa Escola Ideal recebesse um parecer técnico
muito positivo do pedagogo e escritor Antônio
Carlos Gomes da Costa, ex-membro do Comitê Internacional do Direitos da Criança, de
Genebra, Suíça. “O programa revela ter mérito,
relevância e impacto. Mérito pelo zelo extremo
com que vem sendo planejado. Relevância porque
não se trata de uma ação pontual, mas de uma
iniciativa abrangente a serviço de uma causa. E,
por esses motivos, sua capacidade de impactar positivamente unidades e redes de ensino é muito
grande”, avalia o especialista. “Além disso, tem
uma novidade qualitativa que é a centralidade
na gestão”, complementa. Para Mário Sérgio
Cortella, filósofo, escritor e professor de pósgraduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), toda vez que um
grupo como a Camargo Corrêa se aproxima
da escola numa parceria honesta e transparente,
a cidadania cresce. “Na relação entre o estatal
e o privado é preciso trazer à tona a dimensão
pública, isto é, a construção da vida coletiva. Ao
lado da competitividade, da lucratividade e da
rentabilidade, um grupo socialmente comprometido consegue vitalizar o aparelho escolar
com doses de eficiência”, observa o mestre.
Livros e pesquisas
v Aprova Brasil - O Direito de Aprender – livro editado pelo MEC e
pelo Unicef com base nas práticas
eficientes de 33 escolas públicas
avaliadas pela Prova Brasil 2005.
v Pesquisa Nacional Qualidade da
Educação: A Escola Pública na Opinião dos Pais – estudo de 2005 do
Inep/MEC sobre a relação família,
escola e educação. Mostra a percepção dos pais sobre a qualidade
das escolas públicas.
Links úteis
v www.acaoeducativa.org.br
v www.cenpec.org.br
v www.rinace.net
As seis dimensões da escola
A ferramenta virtual de avaliação e de planejamento de melhorias mostra também como são as relações interpessoais na escola
1. Profissionais da educação Mapeia a suficiência, a
reativa com questões como o rendimento, a freqüência
estabilidade e a assiduidade dos profissionais que atuam
e o fluxo escolar.
na escola, entre outras questões.
5. Ambiente educativo Traz informações sobre o clima
2. Condições de ensino Registro de espaço físico,
da escola, se é conflituoso, se há violência, se há regras de
instalações da escola e materiais didático-pedagógicos.
conduta, se elas são conhecidas e cumpridas, se a escola
3. Políticas e práticas pedagógicas Indicadores que pontuam
promove a cultura para a paz.
desde o projeto pedagógico até o planejamento de aulas por
6. Gestão escolar A intenção é saber como a escola interage
parte dos professores, do sistema de avaliação escolar até o
com os programas governamentais e não-governamentais,
incentivo à pratica de atividades fora da sala de aula.
se ela toma decisões ouvindo a comunidade, se ela possui
4. Desempenho escolar Indicadores buscam mensurar
conhecimento e ferramentas para a boa gestão de suas
se e em que medida a escola lida de forma preventiva ou
ações e recursos, entre outros.
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juventude
sonhos e expectativas
Menezes e Sulália desejam instalar no
ReciclÂngela um empreendimento-escola
que prepare jovens como Santana (atrás)
a lidar com gestão ambiental
30 ideal comunitário
Novas
oportunidades
fotos: ricardo benichio
O programa Futuro
Ideal investirá na
capacitação profissional
e na geração de
renda, estimulando o
protagonismo juvenil
“Acesso mais rápido e fácil à formação.” A
resposta vem ligeira quando Nilton Celestino Santana, de 25 anos, é questionado sobre o que espera oferecer ao filho de apenas
4 meses – Logan Yan Celestino Santana de
Lima. Tão grande o nome do menino quanto
a esperança de Santana no futuro. Grafiteiro
e amante do desenho, ele vivia de bicos até
o início do ano passado, quando se integrou
ao ReciclÂngela, projeto social da Sociedade Santos Mártires, realizado no bairro de
Jardim Ângela, zona sul de São Paulo. Hoje
consegue, com outros sete companheiros, retirar em média 300 reais por mês com coleta
e venda de papel e plástico para reciclagem.
São jovens como ele – que muitas vezes nem
concluem o Ensino Básico e já precisam trabalhar para seu sustento e o dos seus – que o
programa Futuro Ideal, do Instituto Camargo
Côrrea (ICC), irá atender no próximo ano.
O objetivo é estimular a geração de trabalho e renda e o empreendedorismo juvenil
em brasileiros de 16 a 24 anos sem nenhuma
formação profissional. O ReciclÂngela é uma
das instituições participantes do processo seletivo do programa. “Nosso foco é a inserção
desse público por meio do negócio. Pretendeideal comunitário 31
juventude
Perfil da empresa
Com mais de 85 anos de existência e quase 3 mil funcionários, a
CAVO é especializada em gestão
ambiental de resíduos, águas e
efluentes, sendo uma das principais representantes brasileiras
do setor. Tem unidades em São
Paulo, Rio de Janeiro e Paraná,
com clientes importantes, como
Cosipa, Embraer, Riopol, Bosch e
Novelis. Em Curitiba (PR), onde é
responsável pela limpeza urbana,
seu desempenho contribuiu para
que a cidade fosse considerada
pela Organização das Nações Unidas (ONU) uma das mais limpas
do mundo. A empresa apresentou, em 2006, aumento de 20,4%
em sua receita bruta, fechando o
ano com 321 milhões de reais.
Por suas ações pelo desenvolvimento socioambiental, a
CAVO recebeu os prêmios Empresa Sustentável, concedido
pela revista Meio Ambiente
Industrial, em parceria com o
Instituto Ethos de Responsabilidade Social e com a Confederação Nacional da Indústria
(CNI), e o de Empresa do Ano
2006 em Responsabilidade Socioambiental, da Universidade
Tecnológica Federal do Paraná,
além do Mérito Ambiental, entregue pelo Instituto Brasileiro
de Defesa da Natureza.
32 ideal comunitário
mos atuar nas comunidades onde as empresas
do grupo estão inseridas, chamando os atores
sociais locais para discutir e viabilizar projetos que tenham sinergia com os negócios das
empresas, sempre levando em conta a vocação
econômica do local”, explica Jair Resende, coordenador do programa Futuro Ideal.
Esses atores podem ser instituições governamentais, organizações do Sistema S (Sesi,
Senai, Sesc e Senac) ou organizações da sociedade civil, que serão convidadas a formar
os Comitês de Desenvolvimento Comunitário
(CDC), juntamente com representantes da
empresa e do ICC. Um dado importante é que
esses projetos estarão alinhados com a área de
negócios das empresas parceiras, o que possibilitará a manutenção do próprio programa.
“Temos especialistas altamente qualificados.
Assim podemos utilizar a competência técnica
dos funcionários, que trabalhariam como voluntários, e usar nossa rede de relacionamento
– fornecedores e clientes – para aproveitamento dos negócios ou do trabalho dos jovens
qualificados”, acrescenta Resende. No caso do
ReciclÂngela, por exemplo, a empresa do grupo que dará apoio ao projeto será a Cavo,
especializada em gestão ambiental de resíduos,
águas e efluentes. “Vamos proporcionar aos jovens a possibilidade de ter um trabalho digno
e sua própria renda. É uma forma de oferecer
a eles as ferramentas para a conquista de um
futuro melhor e, ao mesmo tempo, zelar pelo
meio ambiente”, analisa Luiz Augusto Rosa
Gomes, diretor-superintendente da CAVO.
Alguns dados divulgados recentemente
pelo Banco Mundial (BID) dão a dimensão
da importância de iniciativas como esta, direcionadas aos jovens brasileiros – um total
de 35.163.312 pessoas, segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No relatório Jovens em Situação de Risco
no Brasil, o BID afirma que o país perderá
até 320 bilhões de reais na próxima década
caso não invista na juventude nos próximos
três anos. Na composição do cálculo estão os
custos do atendimento público aos jovens de
15 a 24 anos durante toda a sua vida e uma
estimativa da perda social gerada pela falta de
estudo, de emprego e de uma vida digna, pois
um terço desta geração vive abaixo da linha
da pobreza, ou seja, com menos de 2 dólares
por dia. O BID indica ainda que a população
jovem é a que recebe menos investimentos
– apenas 6% dos gastos sociais.
Vamos proporcionar aos
jovens a possibilidade de ter
trabalho digno e renda.
É uma forma de oferecer
a eles ferramentas para
um futuro melhor
Luiz Augusto Rosa Gomes,
diretor-superintendente da CAVO
Ações e diagnóstico
No programa Futuro Ideal já estão sendo
articuladas quatro iniciativas: a de coleta seletiva e educação ambiental, com a CAVO e
o Centro Empresarial Camargo Corrêa; outra de reciclagem em Curitiba, com a própria CAVO, que é responsável pela limpeza
urbana na capital paranaense; uma de escola
de jardinagem com a Camargo Corrêa Desenvolvimento Imobiliário (CCDI); e outra
na área têxtil com a Santista, em Americana, interior de São Paulo. Após a análise de
contexto na Santista, o Instituto e a direto-
Perfil da empresa
Projeto consumo consciente Os trainees Roberta Porto e Rielli comemoram com Pereira, da CAVO,
a nova destinação dos resíduos gerados pelo Centro Empresarial Camargo Corrêa, em São Paulo
ria da empresa concluíram que, entre os três
programas estruturantes, o mais alinhado
ao potencial da empresa e às demandas das
comunidades é o Futuro Ideal. A Santista já
possui uma estrutura de formação profissional na área de confecção denominada Universidade Santista. A proposta é que sejam
desenvolvidos projetos de formação para
o trabalho e geração de renda na área de
design e moda, utilizando o potencial existente na empresa, incluindo espaço físico,
equipamentos e equipe de profissionais. O
projeto piloto será implantado no início de
2008 em Americana, onde se localiza uma
das fábricas da empresa.
Todas as ações estão em fase de diagnóstico. Duas delas estão mais adiantadas: a de
reciclagem com a CAVO e a de paisagismo
com a CCDI. A parceria com a CAVO nasceu
juntamente com o projeto Consumo Consciente, desenvolvido pela turma de trainees
corporativos 2006 do grupo Camargo Corrêa.
Luiz Eduardo Rielli, um deles, conta como foi
esse processo: “Chegamos ao consenso de que
faríamos um projeto que abrangesse toda a
empresa e os profissionais de maneira simples.
Então, escolhemos o tema consumo consciente, que foi subdividido em recursos hídricos,
energéticos e materiais recicláveis”. A intenção
é aplicar o conceito inicialmente com os cerca
de 1.600 funcionários do condomínio da Vila
Olímpia, em São Paulo, onde está a sede da
maioria das 20 empresas do grupo e mais oito
prestadoras de serviço e terceirizadas.
A etapa seguinte foi a análise da situação
do prédio no que diz respeito a uso e bom
aproveitamento dos recursos e dos materiais.
“Houve uma proposta de intervenção nos pontos críticos do prédio para troca de torneiras e
descargas antigas, para reaproveitamento de
lâmpadas e colocação de coletores para separação do material a ser reciclado”, relata Rielli.
As descobertas, no entanto, foram além da necessidade de troca de equipamentos hídricos
e elétricos. E surpreenderam. “O condomínio
gera 36,8 toneladas de resíduos, entre plástico
e papel, por ano. Apenas 10% do volume deste
material era aproveitado”, afirma Donata Oliveira Cardoso, gerente comercial da holding
PMV, controladora do grupo Camargo Corrêa, e uma das multiplicadoras do Programa
Corporativo de Sustentabilidade.
A Santista Têxtil, subsidiária da espanhola Tavex na América do Sul,
foi a primeira multinacional brasileira do setor têxtil. Desde 2005, a
Santista integra o grupo Camargo
Corrêa e, a partir da fusão com a
Tavex, em março de 2006, tornouse a maior produtora mundial de
denim e a líder no segmento de
tecidos para roupas profissionais
na América do Sul. A Tavex produz
anualmente mais de 250 milhões
de metros de denim e brim, com
faturamento da ordem de 500
milhões de dólares.
A Santista Têxtil tem sete plataformas industriais: cinco no Brasil,
nos estados de São Paulo (Americana e Tatuí), Pernambuco (Paulista) e Sergipe (Aracaju e Nossa
Senhora do Socorro); uma na Argentina, em Tucumán; e outra no
Chile, em Chiguayante. A Santista
gera 4.900 empregos diretos e exporta para mais de 50 países.
A empresa mantém, na cidade de Americana (SP), o Centro
de Pesquisa e Desenvolvimento,
tido como o principal da América
do Sul, e inaugurou há dois anos
a Universidade Santista Têxtil,
contribuindo para a formação e
o desenvolvimento contínuo de
clientes e colaboradores, além de
estilistas e outros estudantes.
ideal comunitário 33
juventude
PARA SABER MAIS
Livros
v O Empreendedorismo na Escola
(Ed. Artmed) – Livro escrito pela
educadora Marina Rodrigues Borges Acúrcio, da Rede Pitágoras, e
pela psicopedagoga Rosamaria
Calaes de Andrade.
v Pedagogia Empreendedora (Ed.
Cultura) – Obra de Fernando Dolabela, professor da Universidade
Federal de Minas Gerais e criador
da Pedagogia Empreendedora,
um dos mais populares programas de ensino empreendedor na
educação básica, que começou a
ser aplicado a partir de 2002 em
muitas escolas brasileiras.
Links úteis
v www.jabrasil.org.br – Fundação
Junior Achievement Brasil, que
atua capacitando professores e
fornecendo material didático
sobre empreendedorismo para
escolas públicas e particulares.
v www.universiabrasil.com.br – A
rede Universia é uma referência
para o mundo acadêmico nas
áreas de empregabilidade, formação continuada, inclusão digital,
empreendedorismo e divulgação
de bolsas de estudo.
v www.projovem.gov.br – Programa Nacional de Inclusão de Jovens
do governo federal. Faz parte da
Política Nacional de Juventude e
foi implantado em 2005.
v w ww.ciee.org.br – Instituição
mantida há 43 anos pelo empresariado nacional com o objetivo de
encontrar uma oportunidade de
estágio para estudantes de nível
médio, técnico e superior.
34 ideal comunitário
Campanha
Para mudar esse quadro era preciso trabalhar o
entendimento do conceito de sustentabilidade
e de educação ambiental dentro do condomínio. Foi então idealizada uma grande campanha interna de conscientização para os profissionais (leia mais à página 44). O projeto, no
entanto, deveria atender a três esferas de atuação: a econômica, a ambiental e a social. Foi aí
que o projeto Consumo Consciente encontrou
sinergia com o programa Futuro Ideal, e pensou-se no ReciclÂngela para receber parte do
volume de material reciclável do condomínio
– em média 3,06 toneladas por mês.
“A idéia é que, além de coletar o material, façamos aqui um empreendimento-escola, onde os
jovens aprendam todo o processo de gestão de resíduos, com orientação sobre coleta seletiva, identificação e seleção de material, reciclagem industrial,
atendimento a clientes e organização financeira
e administrativa”, explica Sulália de Souza, que,
juntamente com Gabriel Menezes, está à frente
do ReciclÂngela. “Temos 5 mil metros quadrados
de terreno e pretendemos estabelecer aqui várias
frentes de geração de renda, entre elas a Arte-reciclagem, que é o artesanato de qualidade feito de
sucata”, complementa Menezes.
da região”, explica Denise Bulhões, gerente de
recursos humanos da CCDI.
O viveiro, que produzirá mudas e sementes das mais variadas espécies e tem previsão
de inauguração em dezembro, funcionará
também como escola. Oferecerá um curso
profissionalizante de jardinagem, atendendo uma área muito carente de qualificação.
“Fizemos uma pesquisa com as administradoras de condomínio e empresas de jardinagem para verificar as qualificações desejáveis
desse profissional e, além de iniciativa e do
conhecimento das plantas, vimos que é muito
interessante que ele seja capaz de entender as
especificações ou os desenhos feitos pelo paisagista”, conta Denise.
O curso está planejado e deverá ser realizado a partir de março de 2008. Oferecerá, além
Sementes
No caso da CCDI, a parceria nasceu a partir
do Projeto Socioambiental Viveiro de Mudas
– Jardim Sul, que a empresa está desenvolvendo num terreno de 7 mil metros na zona sul de
São Paulo. O objetivo é produzir mudas e sementes para os empreendimentos e para a Vila
Andrade, local onde a empresa tem a proposta
de implantar um projeto diferenciado de paisagismo assinado pelo reconhecido arquiteto
Benedito Abbud. “Será um bairro agradável,
planejado, com praças e outros locais de convivência, que vai beneficiar todos os moradores
Donata Oliveira Cardoso, gerente
comercial da holding PMV
O condomínio gera 36,8
toneladas de resíduos,
entre plástico e papel, por
ano. Apenas 10% desse
material era aproveitado
da formação técnica em educação ambiental
e jardinagem, orientações sobre gestão pessoal, empresarial e de negócios. Prevê ainda a
realização de estágios, a inserção no mercado
de trabalho, o estímulo a iniciativas próprias
de desenvolvimento de pequenos negócios ou
alternativas coletivas de trabalho e renda. As
duas turmas de 24 alunos terão aulas de segun-
Projeto arquitetônico do viveiro
Perfil da empresa
Centro de treinamento
Viveiro
Área de produção
de mudas
Vestiários
Paisagem
de ensino
Além de produzir
sementes e mudas,
o viveiro oferecerá cursos
de jardinagem. O projeto
é do arquiteto Ricardo Julião e
a proposta paisagística, ainda em
fase de aprovação, de Benedito Abbud
Área de produção
de mudas
Viveiro
Viveiro
Área de produção
de mudas
da a quinta-feira, de manhã ou à tarde, durante
seis meses. A sexta-feira será dedicada a visitas
e atividades práticas. A implantação do programa na comunidade está a cargo da Obra do
Berço, que há 70 anos promove ações educativas, culturais e sociais na cidade de São Paulo,
sendo muito presente na região onde estará
situado o viveiro. “A Obra do Berço conhece as
necessidades da população do entorno e será
nossa parceira na realização da capacitação. A
instituição fará a divulgação do curso, a seleção
dos docentes e a produção do material didático,
principalmente para as aulas de empreendedorismo, cidadania e informática”, complementa
a coordenadora do programa.
Para Carla Hagemann, gerente-geral da
Obra do Berço, a parceria vem ao encontro
também das demandas internas da associação.
A instituição mantém desde 1994 o Programa
de Educação em Empreendedorismo Juvenil
– Escritório-Escola e o desenvolvimento de
oficinas de gestão pessoal e profissional com
Fonte: Área de Recursos Humanos da CCDI
jovens de 14 a 18 anos, mas não tinha um programa mais abrangente para o público de até
24 anos. “A maioria dos jovens, mesmo os que
terminam o Ensino Médio, tem dificuldade de
inserção no mercado de trabalho, seja pela falta
de oportunidades, de formação profissional ou,
muitas vezes, pela impossibilidade de continuar
os estudos formais ou realizar cursos complementares. Há uma grande carência de programas sociais para essa faixa etária”, aponta Carla.
Dentro da perspectiva de empreendedorismo que permeia todo o programa Futuro Ideal,
está também a prerrogativa de melhorar a qualidade de vida de outras pessoas das comunidades envolvidas. Para isso, os parceiros pretendem
utilizar o estímulo ao protagonismo juvenil. “O
jovem não pode ser uma realidade isolada em
seu meio. Ele será o veículo para mudar os conceitos de seus familiares e vizinhos em ações de
conscientização promovidas no bairro”, observa a
gerente da Obra do Berço. Uma pequena mostra
do poder transformador da formação.
A Camargo Corrêa Desenvolvimento Imobiliário é uma das
maiores companhias em incorporação de empreendimentos
residenciais e comerciais de alta
qualidade no Brasil. Com cerca de
200 funcionários e um banco de
terrenos de cerca de 7,4 bilhões
de reais em Valor Geral de Vendas, a empresa possui mais de
125 áreas para desenvolvimento
nos estados de São Paulo, Rio de
Janeiro e Minas Gerais. O ano de
2007 marcou a entrada da empresa no Novo Mercado da Bovespa e a expansão para o segmento
de imóveis para baixa renda, com
a aquisição de 51% da HM Engenharia e Construções.
Entre os empreendimentos da
incorporadora está o primeiro
prédio comercial verde do Rio
de Janeiro, o Ventura Corporate
Towers. Em São Paulo, entre
seus lançamentos, está o projeto Arquitetura de Morar, que
homenageia Tom Jobim e traz
uma proposta de reurbanização do bairro Jardim Sul, com
construções de praças e calçadas
ecológicas.
ideal comunitário 35
V o lu n ta r i a d o co r p o r at i v o
Unidos pela
fotos: leo drumond
Voluntários conquistam
caminhoneiros para se
tornarem agentes de
prevenção da exploração
sexual infanto-juvenil. Por
meio do programa Ideal
Voluntário, os profissionais
e parceiros da Camargo
Corrêa vão contribuir para
o desenvolvimento das
comunidades em que as
empresas estão inseridas
36 ideal comunitário
causa
chapéu
de
m a t ÉRIA
Todos juntos
A Cauê é uma das
empresas signatárias do
Pacto Empresarial contra
a Exploração Sexual de
Crianças e Adolescentes
nas Rodovias Brasileiras,
iniciativa do Instituto
WCF-Brasil, com o apoio da
Organização Internacional
do Trabalho e do Instituto
Ethos de Empresas e
Responsabilidade Social
ideal comunitário 37
V o lu n ta r i a d o co r p o r at i v o
Mobilização
é fundamental
Segundo estudo realizado pelo
Instituto WCF-Brasil, um terço
dos caminhoneiros diz já ter
feito programa com crianças
ou adolescentes. Muitos deles
afirmam não saber que isso é
crime e desconhecer o impacto
que a exploração sexual tem
na vida de meninos e meninas.
“Mas, se os caminhoneiros são
parte do problema, pois admitem ser clientes da exploração
sexual, também são parte fundamental da solução”, defende
Carolina Padilha, coordenadora
de programas do WCF. “Temos
dois terços de caminhoneiros
que não são clientes. Vamos
trabalhar para que eles nos
ajudem nesse processo de proteção e enfrentamento.”
38 ideal comunitário
Contra uma rede de exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias brasileiras, outra
foi formada e vem trabalhando firmemente em
Pedro Leopoldo, no interior de Minas Gerais.
Trata-se de uma rede articulada por profissionais
voluntários da Cauê, que conta com a presença de
importantes atores no combate à exploração sexual,
como o Conselho Tutelar, o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o
Projeto Sentinela, a Promotoria Pública, a Polícia
Rodoviária Estadual e as transportadoras Cesa
Logística, Rodolatina, Transvalente e Usifast.
A idéia surgiu depois que a Cauê assinou
o Pacto Empresarial contra a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas Rodovias
Brasileiras e decidiu que Pedro Leopoldo levaria adiante o projeto piloto. Por meio do acordo, que faz parte do programa Na Mão Certa,
a empresa se compromete a contribuir para a
erradicação do problema em todos os elos de
sua cadeia produtiva. Para isso, promove a cooperação intersetorial, a disseminação de informações e a sensibilização dos caminhoneiros,
a fim de que se tornem agentes de prevenção,
e o fortalecimento do sistema de garantia dos
direitos das crianças e adolescentes. Desde novembro de 2006, quando foi lançado, mais de
200 empresas assinaram o pacto.
O programa Na Mão Certa é uma iniciativa do
Instituto WCF-Brasil, com o apoio da Organização Internacional do Trabalho e do Instituto Ethos
de Empresas e Responsabilidade Social. Foi apresentado aos profissionais da Cauê em Pedro Leopoldo, no dia 26 de setembro, durante o lançamento do programa Infância Ideal (veja texto na página
16). Isso criou uma movimentação, sobretudo entre
os funcionários que trabalham no ensacamento e
na logística da empresa, no sentido de desenvolver
uma ação em prol da implementação do programa.
Assim surgiu a I Semana Na Mão Certa, realizada
entre os dias 22 e 26 de outubro.
Blitz
Durante os cinco dias de evento, os caminhoneiros foram convidados a participar de atividades rápidas, como palestras, corte de cabelo, orientações sobre checagem de crédito e
de saúde, na expedição da fábrica. Ao mesmo
tempo, receberam informações sobre a exploração sexual infanto-juvenil e foram incentivados a trabalhar por sua erradicação.
A rodovia MG 424, que liga Belo Horizonte
a Sete Lagoas, também foi cenário da mobilização.
As estradas e os postos de gasolina são locais de
intensa exploração sexual infanto-juvenil. Meninas
são atraídas por falsas promessas, muitas vezes por
um prato de comida, um par de sapatos ou alguns
trocados. Nessa ação, 181 motoristas receberam
cartilhas, folhetos e adesivos da campanha. Durante toda a semana, o número de caminhoneiros
sensibilizados foi de 593.
Um dos voluntários dedicados à organização da semana foi Ardvander Joaquim de
Melo, supervisor de produção da Cauê. Ele
No rumo certo
Quase 600 caminhoneiros
foram sensibilizados durante
a I Semana Na Mão Certa,
organizada em Pedro
Leopoldo (MG) pela ação
voluntária de funcionários
da Cauê, como Ardvander
Joaquim de Melo (à esquerda)
Empresas engajadas
empresa. Em 26% das companhias, o índice de participação é superior a 20%.
As atividades que mais mobilizam pessoas são as campanhas de doação (71%) e ações pontuais (51%), o que mostra
que a cultura do voluntariado ainda não
está consolidada na sociedade.
A participação intensa de membros
da diretoria no programa de voluntariado é apontada como fator preponderante para o engajamento dos colaboradores. Para 94% das pessoas que
responderam à pesquisa, o sucesso de
um programa de voluntariado empresarial depende de uma diretoria participativa. No entanto, apenas 25% das empresas afirmam possuir uma diretoria
engajada nessas ações.
divulgação
A pesquisa Perfil do Voluntariado Empresarial no Brasil, lançada em 2007 pela Riovoluntário, mostra que
45% das empresas brasileiras já têm um programa de
voluntariado institucionalizado, com planejamento e
orçamento anual. Realizado junto a
103 empresas de todas as regiões do
país e de diversos portes, o estudo
revela que 65% das empresas esperam, com esse tipo de iniciativa, fortalecer seu relacionamento e atender as necessidades da comunidade
do entorno.
Quanto ao nível de participação
dos colaboradores, 34% das empresas dizem que entre 1% e 5%
de seus funcionários participam de
atividades voluntárias apoiadas pela
ideal comunitário 39
V o lu n ta r i a d o co r p o r at i v o
trabalha diretamente com os cerca de 240 caminhoneiros cadastrados para levar o cimento da empresa para a região metropolitana de
Belo Horizonte. Junto com os colegas, conseguiu mobilizar os diferentes parceiros da rede.
“Procuramos o Conselho Tutelar e a Promotoria Pública e ficamos conhecendo mais esta
realidade, que está em todo o país”, destaca.
De acordo com Maurício Anacleto de
Queiroz, gerente industrial da Cauê, o tema da
exploração sexual será discutido continuamente
na empresa. “A I Semana serviu de aprendizado,
que será utilizado num programa anual. Vamos
capacitar os profissionais da expedição e os carregadores para que, no dia-a-dia, no contato com
os caminhoneiros, eles sejam multiplicadores”,
afirma. E promete que outras Semanas virão
– não apenas em Pedro Leopoldo, mas nas demais unidades da Cauê. “A motivação da equipe
de Pedro Leopoldo e dos parceiros vai fazer o
programa avançar muito além das fronteiras da
nossa unidade”, garante.
PARA SABER MAIS
Livros
v D oações e Trabalho Voluntário
no Brasil: Uma Pesquisa, Leilah
Landim e Maria Celi Scalon,
Editora 7 Letras, 2000.
v A Estratégia Lúdica com CD – Jogos Didáticos para a Formação
de Gestores de Voluntariado,
Juan Jose Mere Rouco e Maria
Resende, Peirópolis, 2003.
v O Trabalho Voluntário – Uma
Questão Contemporânea e um
Espaço para o Aposentado,
Maria Cristina dal Rio, Editora
Senac São Paulo, 2004.
Links úteis
v www.cvsp.org.br
v www.facaparte.org.br
v www.pnud.org.br/unv
v www.portaldovoluntario.org.br
v www.riovoluntario.org.br
40 ideal comunitário
Foco nos protagonistas
De fato, os funcionários da Cauê têm se mobilizado intensamente como voluntários. Dos 250
colaboradores da unidade, 83 mostraram interesse
em participar das atividades apoiadas pela empresa.
Ricardo Fonseca de Mendonça Lima, diretor de
operações da Cauê, reconhece o empenho. “Em
Pedro Leopoldo, há uma equipe bastante engajada nos trabalhos sociais, a começar pelo gerente”,
diz. “Com isso, temos conseguido contagiar nossos
profissionais. E esse foi um dos motivos que nos
levaram a escolher a unidade para desenvolver o
projeto piloto do Infância Ideal.”
Segundo Lorenza Longhi, coordenadora do
Ideal Voluntário, o programa é transversal aos
programas estruturantes do Instituto Camargo
Corrêa (Infância Ideal, Escola Ideal e Futuro
Ideal) e vai constantemente criar oportunida-
Quando você trabalha no
desenvolvimento local, tem
que estar ciente de que muda a
vida das pessoas. É preciso agir
com cuidado e ética
Dirk Hegmanns, coordenador do Programa de
Voluntariado das Nações Unidas no Brasil
des para que o funcionário atue voluntariamente em sintonia com os projetos apoiados.
Para isso, cada localidade vai montar Grupos
de Ação Ideal Voluntário (GAIV), sendo que um
deles vai coordenar os trabalhos e é composto pelo
gerente da unidade, pela pessoa responsável pelo
RH ou comunicação da empresa e dois funcionários voluntários. “O GAIV é o centro de referência local para os profissionais que desejam contribuir de alguma forma, pois vai constantemente
divulgar possibilidades de participação”, afirma.
“Ele vai acompanhar o desenvolvimento dos projetos de cada programa, manter contato com as
equipes dos projetos, estar atento às contribuições
que podem ser realizadas por meio de ações voluntárias, e dialogar com o Comitê de Desenvolvimento Comunitário local.” Isso garantirá que o
voluntariado seja desenvolvido a partir das reais
demandas identificadas na comunidade.
Aliás, essa é uma preocupação constante dos
especialistas. “Quando você trabalha no desenvolvimento local, tem que estar ciente de que muda a
vida das pessoas. É preciso agir com muito cuidado e ética”, afirma Dirk Hegmanns, coordenador
do Programa de Voluntariado das Nações Unidas
no Brasil. Para ele, o desenvolvimento sustentável
só será atingido com o engajamento de voluntários, de cidadãos e da sociedade civil em geral. Mas
para isso a comunidade em que o voluntário atua
não pode ser excluída do desenho do programa.
Renata Gellers, coordenadora de comunicação do Riovoluntário, acrescenta que, se
o voluntário não ouvir a comunidade, suas
demandas e potencialidades, ele pode, em vez
de ajudar, atrapalhar. Por isso defende que ele
passe por um programa de capacitação, no qual
entenda a necessidade de conhecer o público
com o qual vai se relacionar. No caso do Ideal
Voluntário, isso está previsto. Em Pedro Leopoldo, foram realizadas oficinas abordando os
principais conceitos do voluntariado e experiências bem-sucedidas de projetos desenvolvidos por voluntários em programa similares. As
oficinas contaram com a participação de Danusa Dias Reis, consultora da Federação das
Indústrias do Estado de Minas Gerais, e de
Vera Lúcia Dutra, coordenadora do Programa
de Voluntariado da Fundação Acesita.
Os primeiros resultados da atuação voluntária em Pedro Leopoldo já estão sendo sentidos
pelo grupo. José Francisco de Campos, diretor de
Recursos Humanos do grupo Camargo Corrêa,
afirma que a relação da unidade da Cauê com a
comunidade já se tornou mais próxima.
A comunidade está percebendo que a empresa tem interesse em seu desenvolvimento.
E isso se reflete em melhoria do clima organizacional e em todos os aspectos da sustentabilidade corporativa. Pelo lado do funcionário,
também há ganhos: os profissionais estão mais
motivados a participar de atividades voluntárias
porque sabem que as chances de atingir seus
objetivos são grandes.
Num mundo de desigualdades, Anísia Sukadolnik, diretora do Centro de Voluntariado de São
Paulo, considera que as empresas devem se preocupar com seu capital humano. Até porque, com a
globalização, as companhias ficaram muito parecidas, e o que as diferencia são as pessoas. “Quando a
empresa é capaz de incentivar o voluntariado,
ela melhora seu capital humano, e isso faz bem
para todos. Ganha a empresa, ganham os funcionários, ganham a sociedade e o país como
um todo”, enfatiza.
Marco Aurélio Santana (foto), funcionário da oficina da
fábrica da Cauê em Pedro Leopoldo, trabalha das 7 às 17
horas e, depois dessa jornada, arranja tempo para ser voluntário. “Às vezes, 15 minutos de atenção a uma criança
ou um idoso no asilo fazem tão bem quanto 1 hora construindo ou consertando alguma coisa”, diz ele, que considera o tempo o componente menos importante.
Para ele, o Ideal Voluntário já marcou ponto desde o
lançamento, com a palestra da líder da Pastoral da Criança, Zilda Arns. “Nossa cidade é pequena, e muitas vezes
ficamos à margem desse tipo de formação. Foi sensacional ver o povo da cidade e da fábrica aprendendo com a
Pastoral”, afirma.
eugênio sávio
Todo tempo é tempo
ideal comunitário 41
fotos: francisco azevedo
internacional
A vida resiste
Os moradores de Luanda
e de seus arredores
buscam alternativas
para a falta de água e
outros serviços essenciais
Reconstrução em
Atuando no país
devastado pela
guerra, a Camargo
Corrêa Internacional
implantará em
Luanda uma ação
de capacitação
de mão-de-obra,
em parceria
com o Instituto
Camargo Corrêa
42 ideal comunitário
Angola
Em sua atuação internacional, o grupo Camargo
Corrêa se propõe a investir num sonho – a esperança dos angolanos de ver seu país reestruturado
e longe das estatísticas alarmantes registradas por
organismos internacionais, como o Fundo das
Nações Unidas para a Infância (Unicef). Depois
de mais de 30 anos de guerra civil, Angola está
em 162º- lugar no Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) – dentre 173 países, com taxa
de mortalidade infantil de 260 por mil nascidos
vivos. Cinqüenta e seis por cento da população,
estimada em 17 milhões, tem até 18 anos, e a cada
hora morrem 25 crianças no país, vítimas principalmente da desnutrição. Além disso, o número
de órfãos devido à guerra e a doenças, como a
Aids, chega a 1,2 milhão.
Ao mesmo tempo que apresenta essa face
retalhada e ferida pelos conflitos armados, Angola
tem outra, rica e surpreendente. A do país cujo Produto Interno Bruto (PIB) vem crescendo substan-
cialmente desde 2004, chegando a 26,9%, no ano
passado. O motivo são suas ricas jazidas de petróleo
e diamantes. “Angola é um dos principais produtores de petróleo, com tendência de se tornar o maior
do mundo. Produz hoje 1,6 milhão de barris/dia e
a previsão é que chegue em 2010 com 5 milhões
de barris/dia”, informa Amauri Rodrigues Pinha,
diretor regional do bloco África da Camargo Corrêa Internacional. A transformação dessa pujança
financeira em melhorias para a população, no entanto, tem acontecido a passos lentos.
Com esses dados em mãos, a Camargo Corrêa Angola – subsidiária local da Internacional –,
que está no país há três anos, começou a delinear
um projeto de responsabilidade social juntamente com o Instituto Camargo Corrêa. O primeiro
impulso foi focar a atenção no programa Infância
Ideal. Mas, ao analisar a fundo a questão da reconstrução de Angola, os dois parceiros mudaram
de visão. A tendência é firmar posição num pro-
grama de geração de renda, empreendedorismo
e capacitação de mão-de-obra, mais alinhado
com o Futuro Ideal. “A guerra causou um grande êxodo e a desestruturação é generalizada. Há
carência de profissionais em todas as áreas, desde
mão-de-obra básica até técnicos, engenheiros ou
assistentes sociais”, relata Pinha. O desfalque de
capital humano atinge também o poder público.
“A capacidade executiva do Estado é pequena
devido à falta de profissionais qualificados. Há
carência inclusive de leis para regulamentar e fiscalizar as atividades”, complementa o executivo.
Plano de Ação
Entre as obras da empresa em Angola, está a reconstrução de duas grandes avenidas que ficam
nos municípios de Sambizanga e de Cazenga.
Estima-se que haja 2 milhões de habitantes em
Cazenga, muitos deles refugiados de guerra. O
problema da superpopulação toma toda a província de Luanda e seus arredores. A capital angolana
tinha 1 milhão de habitantes em 1988, hoje tem
cerca de 6 milhões, ou seja, quase a metade da
população de todo o país. Cazenga, assim como
outros aglomerados humanos no território, não
tem saneamento básico nem água. Ali falta de
tudo, atendimento à educação, à saúde, estrutura
para moradia. “O que pretendemos fazer é formar mão-de-obra básica, com cursos profissionalizantes de pedreiro, marceneiro, eletricista,
administração do lar, costura, hotelaria e informática, para melhorar a qualidade de vida dessas
pessoas”, esclarece Francisco Azevedo, diretor
executivo do Instituto Camargo Corrêa. Em visita recente a Angola, Azevedo e a assistente so-
cial Rosana Góis, que coordenará o programa em
Luanda, viram de perto as condições em que vivem as famílias moradoras do entorno das obras.
De imediato, a parceria mais provável será
com a organização Dom Bosco, de padres salesianos, com a qual a Camargo Corrêa já atua, propiciando estágio prático a seus alunos. A instituição
possui 18 centros sociais comunitários. Mantém
um colégio, três abrigos para crianças, uma creche,
um escritório de encaminhamento ao trabalho
e três postos de saúde, servidos por enfermeiros
e promotores de saúde. Oferece ensino regular
para crianças e adultos, cursos técnicos para formação de professores, gestores e contadores, além
dos profissionalizantes nas áreas de carpintaria,
serralheria, eletricidade doméstica e informática,
entre outras. “Fomos recebidos pelo padre Marcelo Ciavatti. A escola funciona em três turnos e
atende a 6 mil alunos. As necessidades são muitas: fornecimento adequado de água, livros para a
pequena biblioteca, laboratórios de química, física,
música e informática”, relata Rosana.
O plano de ação inclui utilizar, de forma
intensa, a capacidade de articulação, o poder de
influência e a rede de relacionamento da empresa para atrair a colaboração de instituições
governamentais e civis, tanto brasileiras quanto
angolanas, para ampliar a abrangência do projeto. “Esse programa é aderente à nossa estratégia
de desenvolvimento de mercado, mas queremos
algo sustentável e não assistencialista. Queremos
mudar consciências. Colocaremos nossa força
de trabalho nessa direção e envolveremos outras
empresas, o que causará, com certeza, um impacto
social muito maior”, reafirma Pinha.
Perfil da empresa
A Engenharia e Construção, que
é composta pelas empresas Camargo Corrêa Brasil, Internacional, Naval e Construções e
Edificações, fechou 2006 com
crescimento de 63,5% em relação
ao ano anterior e receita bruta de
2,2 milhões de reais – 6,5% dos
quais referentes à sua atuação internacional. A previsão é que esse
índice cresça substancialmente,
visto que, em 2007, a operação
comercial em Angola apresentou
aumento de 30%. E a expectativa
para 2008 é de 60%. Há no país
um investimento de 50 milhões
de dólares em equipamentos de
produção. O número de funcionários em Luanda, que é
de 648 – 110 brasileiros –,
aumentará para 2 mil no primeiro trimestre de 2008, com
maioria angolana.
PARA SABER MAIS
Links úteis
v www.consuladodeangola.org
v www.angolapress-angop.ao
v www.fflch.usp.br/cea
v www.unicef.org/angola/pt/
overview.html
ideal comunitário 43
iLUSTRAÇões: glair
Ações&parcerias
Campanhas em prol do meio ambiente e da infância
Desde 12 de novembro, a sede do grupo
Camargo Corrêa, na Vila Olímpia, em
São Paulo, está agitada por causa da campanha “Obrigado! Consumo consciente.
A vida agradece”. Idealizada pelos Trainees 2006, a ação pretende estimular os
funcionários a adotar uma postura mais
sustentável em seu cotidiano.
Os trainees estudaram a temática
e decidiram elaborar a campanha. “Os
graus de maturidade de cada empresa
nesse tema são muito diferentes. Entendemos que, para o grupo alçar vôos
maiores, lançar produtos sustentáveis e
prédios verdes, era preciso ter uma base
bem formada em sustentabilidade. Dar o
exemplo dentro de casa”, afirma Marília
Verri, uma das trainees participantes.
Por isso a campanha teve início entre
os 1.600 colaboradores do condomínio da
Vila Olímpia. A iniciativa respeitará o processo de assimilação do tema. Assim, vai
começar pela sensibilização e pelo estímulo
à reflexão sobre hábitos rotineiros, passar
44 ideal comunitário
para a disseminação de informações, até
incentivar a adoção de novas posturas e o
surgimento de multiplicadores voluntários.
A campanha pretende reduzir significativamente o consumo de recursos
materiais, hídricos e energéticos da Camargo Corrêa. O material reciclado será
doado para comunidades que usam essa
matéria-prima para produzir artigos que
gerem renda.
A favor da criança
Outra campanha que vai mobilizar os funcionários das sedes administrativas da Camargo Corrêa, em São Paulo, é a de doação
de recursos para o Fundo da Infância e da
Adolescência (FIA). O FIA é um instrumento de estímulo à captação de recursos
para o financiamento de políticas públicas,
programas e projetos em favor da criança
e do adolescente. Cada cidade pode ter seu
fundo municipal, que deve ser administrado
pelo Conselho Municipal dos Direitos da
Criança e do Adolescente. Pessoas físicas
podem doar até 6% de seu imposto de renda
devido ao fundo e as jurídicas até 1%.
O grupo Camargo Corrêa, com o apoio
do Instituto Camargo Corrêa, vai realizar
uma campanha interna de conscientização
dos funcionários. Os conselhos municipais
também serão orientados a prestar contas
sobre a destinação, tanto junto à Receita
Federal quanto aos doadores.
Segundo a pesquisa “Conhecendo a
realidade”, lançada em 2007 pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos e
pelo Conselho Nacional dos Direitos da
Criança e do Adolescente, o potencial
de arrecadação dos fundos, em 2005, foi
seis vezes maior do que o efetivamente
arrecadado. Rosa Maria Fischer, coordenadora da pesquisa e diretora do Centro
de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor, diz que as
empresas têm um papel importante não
só na divulgação desse incentivo fiscal,
mas no apoio ao amadurecimento das
práticas e da gestão dos conselhos.
Mobilizando a comunidade
por uma alimentação saudável
A Camargo Corrêa Construções e Edificações (C&E), o Instituto Camargo Corrêa
(ICC) e a Fundação Nestlé (FN) aliaram-se
em Feira de Santana (BA) para desenvolver
o projeto Construir para Nutrir, que promove a alimentação saudável no município.
A idéia da iniciativa é unir a experiência
da FN, que já trabalhava com alimentação
saudável, por meio do programa Nutrir,
com a do ICC em desenvolvimento comunitário, e articular lideranças, organizações
da sociedade civil, poder público e empresas
num projeto comum.
Como a principal atividade da C&E
é a construção de obras de curta duração, e
projetos sociais de sucesso demandam mais
tempo, a empresa decidiu estabelecer parcerias estratégicas para viabilizar o projeto. A
primeira oportunidade apareceu na Bahia,
onde a C&E fez a fábrica da Nestlé.
Perfil da empresa
De acordo com Carolina Stefano,
a troca de experiências entre o ICC, a
C&E e a FN está sendo rica. Silvia Zanotti, diretora da Fundação Nestlé, concorda. “A Nestlé está tendo a oportunidade
de conhecer uma nova temática, que é
o desenvolvimento comunitário. Nossa
idéia é que esse trabalho seja um piloto,
que oriente as ações futuras do programa
Nutrir em outras localidades”, diz.
Fundada em 2003, a Unidade
de Negócios Construções & Edificações (C&E) atua com as marcas Camargo Corrêa e Reago.
Com 1.700 funcionários, oferece soluções integradas para o
segmento de edificações.
Já realizou obras para o setor
alimentício, hospitalar, de eletrodomésticos e papel e celulose. A empresa adota práticas
para minimizar impactos ambientais na execução das obras.
De 2007 a 2008, a C&E prevê um
crescimento de sua receita de
550 milhões de reais para 750
milhões de reais.
Escola de Informática e Cidadania chega a Pedro Leopoldo
Por iniciativa de profissionais da Cauê, até o final de dezembro,
Pedro Leopoldo (MG) deve ganhar sua primeira Escola da Informática e Cidadania (EIC), resultado de uma parceria do Instituto
Camargo Corrêa (ICC) e da empresa com a Fundação José Hilário e com o Comitê para Democratização da Informática (CDI).
“Fizemos várias reuniões e o curso de informática foi apontado
como o maior pleito da comunidade”, diz Roberto Dinelli,
presidente do conselho diretor da fundação.
A proposta das EICs é formar agentes de
transformação social que se apropriem da
tecnologia para conhecer sua realidade, identificar desafios e resolver problemas locais. A
EIC de Pedro Leopoldo será aberta à comu-
nidade em fevereiro de 2008 e atenderá 200 alunos por ano.
Pelo acordo, o ICC é responsável por doar os computadores e a
Cauê por instalá-los na Fundação José Hilário, que, por sua vez, fica
com a contratação e o custeio do educador. Já o CDI se ocupa da
capacitação do professor e do acompanhamento do programa.
Segundo Rodrigo Baggio, diretor executivo do CDI, as
alianças intersetoriais são fundamentais para desenvolver
projetos sociais de impacto e eficiência em comunidades
de baixa renda, e essa parceria é um exemplo disso. “Por
meio dela, vamos conseguir impactar essa cidade, levando a inclusão digital para pessoas que não tinham
acesso”, diz. Hoje, o CDI está presente em 274 municípios brasileiros e 80 fora do Brasil.
ideal comunitário 45
ARTIGO
Zilda Arns Neumann
foto: carol reis
Primeira infância e desenvolvimento social
Zilda Arns Neumann
Médica pediatra e
sanitarista; fundadora e
coordenadora nacional
da Pastoral da Criança
e da Pastoral da Pessoa
Idosa; representante
da CNBB no Conselho
Nacional de Saúde e
membro do Conselho
de Desenvolvimento
Econômico e Social (CDES).
O investimento
na infância
começa no
acompanhamento
pré-natal
de qualidade
46 ideal comunitário
A estrutura familiar e comunitária, o ambiente
em que a criança vive e o acesso a serviços públicos de qualidade influenciam diretamente no seu
desenvolvimento. O fortalecimento dos vínculos
familiares, por meio da multiplicação do saber
e da solidariedade, proporciona condições mais
adequadas para a criança crescer e se relacionar
com o mundo. Os cuidados na gestação, parto de
qualidade, aleitamento materno, alimentação saudável, carinho e educação, desde a concepção até
os 6 anos de idade, são base para toda a vida.
O investimento na infância começa no acompanhamento pré-natal de qualidade. Ele ajuda a
evitar complicações na gravidez e ainda reduz significativamente a mortalidade infantil. Segundo o
Ministério da Saúde, no Brasil, a maior parte das
mortes por afecções perinatais, que ocorrem nos
primeiros 28 dias de vida, é decorrente de problemas durante a gravidez, parto e nascimento, e
corresponde a mais de 50% das causas de óbitos
no primeiro ano de vida.
Os governos de todos os níveis, além de investir nos serviços de saúde, devem ampliar o
acesso à educação de qualidade. Pesquisa do Unicef, de 2001, demonstrou que, quanto maior a
escolaridade das mães, menor é a taxa de mortalidade infantil. Enquanto entre as crianças filhas de
mulheres com até um ano de estudo o índice de
mortalidade infantil era de 93 por mil, entre aquelas que tinham entre nove e 11 anos de estudo
esse índice baixou para 28 por mil. É preciso que
as comunidades pressionem os governos para que
haja educação em tempo integral, que inclua arte,
música, esporte e outras atividades que eduquem
as crianças e os jovens para ter limites. Assim estaremos também prevenindo a violência.
Além da educação formal, a informal, aquela que acontece na família, entre parentes, amigos e na comunidade, contribui significa-
tivamente para o desenvolvimento infantil.
O aleitamento materno é uma escola de amor
que se aprende na família e na comunidade.
A mãe se sente mais disposta a amamentar
quando outras mulheres da família e da comunidade também amamentaram. O leite materno é o único alimento de que o bebê precisa
até os 6 meses de vida. Ele protege de doenças
como diarréias, resfriados, infecções e alergias.
A amamentação também contribui para que
a criança tenha boa dicção e melhor mastigação. Por isso, deve continuar, como alimentação
complementar, até os 2 anos ou mais.
A Pastoral da Criança procura fortalecer as
famílias para que saibam cuidar melhor de seus
filhos. Seus mais de 267 mil voluntários atuam em
43 mil comunidades pobres de todo o Brasil, compartilhando conhecimentos básicos sobre alimentação saudável, higiene, desenvolvimento infantil,
prevenção de doenças e direitos entre 1.457.473
famílias todos os meses. A multiplicação do saber
se faz acompanhada da solidariedade humana,
o que fortalece o tecido social. Eles também são
motivados a acompanhar as ações governamentais
para que haja qualidade nos serviços prestados.
Pela Constituição brasileira cabe às famílias,
aos governos e à sociedade cuidar das crianças e
dos adolescentes. Todos precisam unir esforços
para que toda a população tenha acesso a serviços de saúde de qualidade e educação integral.
O Instituto Camargo Corrêa é uma das organizações que contribuem com esse processo. Seus
programas desenvolvem ações educativas para
crianças e adolescentes com foco no desenvolvimento comunitário, por meio do apoio a projetos
voltados para a educação e a geração de renda,
nas regiões em que a empresa atua. Vamos continuar trabalhando unidos para que todas as crianças possam ter fé e vida em abundância.
expediente
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
DA CAMARGO CORRÊA S.A.
Presidente: Vitor Hallack
Vice-presidentes: A.C. Reuter, Carlos Pires Oliveira Dias
e Luiz Roberto Ortiz Nascimento
Conselheira: Flavia Buarque de Almeida
ConselHo Deliberativo do
instituto camargo corrêa
Presidente: Rosana Camargo de Arruda Botelho
Vice-presidente: Renata de Camargo Nascimento
Conselheiros: Carla Duprat, Carlos Antonio Rossi Rosa,
Celso Ferreira de Oliveira, Daniela Camargo Botelho de
Abreu Pereira, Elisa Camargo de Arruda Botelho, Flavia
Buarque de Almeida, Francisco de Assis Azevedo, José
Édison Barros Franco, Luiza Nascimento Cruz, Marcelo
Araujo, Marcelo Pires Oliveira Dias, Márcio Utsch, Maria
Regina Camargo Pires Ribeiro do Valle, Maria Tereza
Pires Oliveira Dias Graziano, Raphael Antonio Nogueira
de Freitas e Vitor Hallack Instituto Camargo Corrêa
Presidente do grupo Camargo Corrêa e
do Instituto: Vitor Hallack
Diretor executivo: Francisco de Assis Azevedo
Coordenadora de Comunicação: Clarissa Kowalski
REVISTA IDEAL COMUNITÁRIO
Comitê editorial
Andréia Peres, Carla Duprat, Clarissa Kowalski,
Francisco de Assis Azevedo, Luiza Nascimento Cruz,
Sunara Avamilano e Veet Vivarta
Produção Editorial
Cross Content Comunicação
ASSESSORIAS DE COMUNICAÇÃO
DO GRUPO CAMARGO CORRÊA
CAMARGO CORRÊA S.A.
César Nogueira e Sunara Avamilano
CAMARGO CORRÊA S.A./ SUSTENTABILIDADE
Luiza Nascimento Cruz
Alpargatas
Cássia Navarro
Camargo Corrêa Cimentos
Fernanda Guerra
CAVO SERVIÇOS E MEIO AMBIENTE
Thiago Norio Sugiura
ENGENHARIA & CONSTRUÇÃO
Tuca Figueira
TAVEX
Luisa Chipoletti
TAVEX AMÉRICA DO SUL
Jaqueline Soares
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Texto
Andréia Peres (editora-chefe), Beatriz Lima,
Laura Giannecchini, Patrícia Andrade, Rita Moraes
(editoras) e Regina Pereira (revisora)
Arte
Cristiano Rosa e José Dionísio Filho (editores),
Célia Rosa, K elven Frank (diagramadores),
Patrícia Assis (produção) e Carol Reis (foto da capa)
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