UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ CAMPUS DE FRANCISCO BELTRÃO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS - CCH CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA NÍVEL DE MESTRADO DANIELE INÊS DE MORAES PLANEJAMENTO, IMPLANTAÇÃO E MANEJO DE TRILHAS ECOLÓGICAS EM FRAGMENTOS FLORESTAIS: UMA PROPOSTA DE USO CONSERVACIONISTA FRANCISCO BELTRÃO – PR 2014 DANIELE INÊS DE MORAES PLANEJAMENTO, IMPLANTAÇÃO E MANEJO DE TRILHAS ECOLÓGICAS EM FRAGMENTOS FLORESTAIS: UMA PROPOSTA DE USO CONSERVACIONISTA Dissertação de mestrado apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de mestre em Geografia na Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, campus de Francisco Beltrão. Área de concentração: Dinâmica, Utilização e Conservação do Meio Ambiente. Orientador: Prof. Dr. Luciano Zanetti Pessôa Candiotto FRANCISCO BELTRÃO – PR 2014 Dedico este trabalho a meus pais Juscelino e Maria Salete e ao meu esposo Leandro. AGRADECIMENTOS Ao professor e orientador Luciano Candiotto, por acreditar na pesquisa e por todo apoio, paciência e dedicação prestados em todos os momentos dessa trajetória. Aos professores Fabrício Pedroso Bauab e Fernando César Manosso pelas contribuições dadas no exame de qualificação e pelo aceite em participar da banca de defesa. Aos professores Rosana Biral Leme, Roseli Alves dos Santos, Fabrício Pedroso Bauab e Beatriz Rodrigues Carrijo pelos ensinamentos desde o período de graduação. A professora Marga Elis Pontelli pela disposição em me ajudar nos estudos no laboratório. Aos proprietários do Recanto Renascer Adelino e Assunta Menegatti, por permitirem a realização dos estudos em sua propriedade, e pela amizade, disponibilidade e carinho prestados. A UNIOESTE pela oportunidade de graduação e mestrado. A CAPES pela bolsa concedida. Aos meus pais Juscelino e Maria Salete de Moraes pelo amor, carinho e incentivo. Ao meu esposo Leandro Moos, pela paciência, dedicação e companheirismo. A minha amiga Leila Pazolini, pela paciência e por sempre ter uma palavra de apoio e carinho nos momentos de angustia e desanimo. A minha Tia Maria Helena, que sempre me ajudou com os problemas de saúde de minha mãe, permitindo que eu realizasse meus estudos. A minha amiga Clariana Bressiane pelo incentivo no início da pesquisa. A minha amiga e colega de mestrado Veridiane da Silva, grande companheira em todos os momentos da pesquisa. Ao meu amigo e colega de mestrado Luiz Barcelos pelo apoio na elaboração dos mapas. A todos que de forma direta ou indireta contribuíram para o desenvolvimento desta pesquisa, meus sinceros agradecimentos. RESUMO Esta pesquisa teve como objetivo principal conhecer os procedimentos necessários para a implantação e manejo de trilhas ecológicas em áreas florestais, considerando benefícios e problemáticas de seu uso em pequenos estabelecimentos rurais. Através da revisão bibliográfica e dos estudos empíricos realizados, foi possível fazer um levantamento dos métodos e técnicas de implantação, uso e manejo das trilhas em áreas florestais, além de avaliar as condições físico-ambientais, o perfil dos usuários e as atividades interpretativas desenvolvidas em duas trilhas ecológicas localizadas em um pequeno estabelecimento rural aberto à visitação, denominado Recanto Renascer, no município de Francisco Beltrão-PR. Para o levantamento dos impactos nas trilhas, foi utilizada a metodologia Monitoramento do Impacto da Visitação (MIV). Para a análise dos atrativos de cada trilha, utilizou-se a metodologia Índice de Atratividade de pontos Interpretativos (IAPI). Também foram realizadas análises de solo, para verificação da compactação dos solos nas trilhas. Os resultados obtidos com a pesquisa permitiram desenvolver propostas de adequação físicoambiental e interpretativa das duas trilhas do Recanto Renascer, além da elaboração de um material técnico-informativo destinado a proprietários de estabelecimentos rurais interessados em implantar trilhas ecológicas ou adequar as já existentes. Palavras – chave: Trilhas ecológicas, fragmentos florestais, usos conservacionistas. ABSTRACT This research aimed to identify the procedures required for nature trails in forested areas´ deployment and management, considering benefits and problems of its use in small farms. Through literature review and empirical studies, it was possible to survey the methods and techniques of deployment, use and management of trails in forested areas, and to evaluate physical and environmental conditions, the user profile and interpretative activities in two ecological trails located in a small farm open to visitors, called Recanto Renascer, located in the municipality of Francisco Beltrão, state of Parana, Brazil. To assess the impact on the trails, the methodology Monitoring the Impact of the Visitation (IVM) was used. For the analysis of the attractiveness of each track, we used the methodology of Interpretative Attractiveness Index Points (IAPI). Soil analysis for verification of soil compaction on the trails were also done. The results obtained from the research used to develop proposals for physicalenvironmental and interpretive adequacy of the two tracks of Recanto Renascer, beyond the preparation of a material with technical information to owners of farms interested in establishing nature trails or in adapting existing trails. Key words: Nature trails, forest fragments, conservation uses. LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 Perfil Topográfico - Trilha da Estrada Velha............................................ 129 Gráfico 2 Perfil Topográfico – Trilha dos Sentidos.................................................. 133 Gráfico 3 Faixa etária dos visitantes......................................................................... 135 Gráfico 4 Grau de escolaridade dos visitantes........................................................... 136 Gráfico 5 Ocupação dos visitantes............................................................................ 136 Gráfico 6 Município de procedência dos visitantes................................................... 137 Gráfico 7 Meio de informação com que o visitante tomou conhecimento da existência das trilhas.................................................................................. 137 Gráfico 8 Frequência dos visitantes nas trilhas......................................................... 138 Gráfico 9 Motivação para a visita nas trilhas............................................................ 138 Gráfico 10 Fator que os visitantes consideram mais importante nas trilhas Gráfico 11 Gráfico 12 ecológicas.................................................................................................. 139 Percepção dos visitantes nas trilhas........................................................... 142 Contribuição do visitante na minimização de impactos nas trilhas......................................................................................................... 143 Gráfico 13 Elementos para maior atratividade nas trilhas........................................... 143 Gráfico 14 Resultado da Experiência Vivenciada....................................................... 144 Gráfico 15 Resultado MIV por parcelas na Trilha da Estrada Velha.......................................................................................................... 153 Gráfico 16 Resultado MIV por parcelas na Trilha dos Sentidos ................................ 161 Gráfico 17 Densidade Aparente e porosidade na Trilha da Estrada Velha................. 173 Gráfico 18 Densidade Aparente e Porosidade na Trilha dos Sentidos....................... 174 LISTA DE MAPAS Mapa 1 Localização geográfica da área de Estudo................................................ Mapa 2 Espacialização do uso do solo no Recanto Renascer – Francisco 118 Beltrão- PR................................................................................................ 122 Mapa 3 Trilha da Estrada Velha – Recanto Renascer – Francisco Beltrão – PR... 126 Mapa 4 Trilha dos Sentidos - Recanto Renascer – Francisco Beltrão – PR........... 130 Mapa 5 Distribuição entre os pontos de maior e menor atratividade na Trilha da Estrada Velha............................................................................................. Mapa 6 166 Distribuição entre os pontos de maior e menor atratividade na Trilha dos Sentidos............................................................................................... 169 Mapa 7 Proposta de pontos interpretativos para a Trilha da Estrada Velha........... 181 Mapa 8 Proposta de pontos interpretativos para a Trilha dos Sentidos................. 185 LISTA DE FIGURAS Figura 1 Ficha de campo MIV................................................................................ 24 Figura 2 Ficha de campo IAPI................................................................................ 25 Figura 3 Passos para uma abordagem integrada de trilhas..................................... 59 Figura 4 Exemplos de formatos de trilhas ecológicas............................................ 76 Figura 5 Ilustração de alguns dos termos utilizados no vocabulário de trilhas...... 81 Figura 6 Anatomia de trilha ecológica em área florestal........................................ 82 Figura 7 Marcando o talude superior da trilha......................................................... 91 Figura 8 Corte do piso da trilha............................................................................... 92 Figura 9 Corte do talude superior da trilha.............................................................. 92 Figura 10 Inclinação lateral e molde da borda crítica............................................... 93 Figura 11 Modelos de degraus em madeira............................................................... 97 Figura 12 Localização dos pontos de coleta de solo na Trilha da Estrada Velha..... 170 Figura 13 Localização dos pontos de coleta de solo na Trilha dos Sentidos............. 171 Figura 14 Esquema de coleta do solo para analise da densidade real X porosidade 171 LISTA DE QUADRO Quadro 1 Identificação do tipo de solo em campo................................................... 65 Quadro 2 Tipo básico de solo e adequabilidade para as trilhas................................. 66 Quadro 3 Exemplos de pontos de controle e sua potencialidade/limitações para as Quadro 4 trilhas......................................................................................................... 72 Atividades de manutenção comuns às trilhas ecológicas.......................... 103 Quadro 5 Lista de indicadores de impactos biofísicos e sociais.............................. 113 Quadro 6 Planilha de campo MIV............................................................................. 146 Quadro 7 Indicadores de Impacto e seus verificadores avaliados pelo MIV na Trilha da Estrada Velha............................................................................. Quadro 8 Nível de impacto dos parâmetros avaliados pelo MIV na Trilha da Estrada Velha............................................................................................. Quadro 9 158 Nível de impacto dos parâmetros avaliados pelo MIV na Trilha dos Sentidos..................................................................................................... Quadro 11 152 Indicadores de Impacto e seus verificadores avaliados pelo MIV na Trilha dos Sentidos.................................................................................... Quadro 10 149 160 Índice de Atratividade de Pontos Interpretativos na Trilha da Estrada Velha.......................................................................................................... 165 Quadro 12 Índice de Atratividade de Pontos Interpretativos na Trilha dos Sentidos.. 168 Quadro 13 Impactos constatados, possíveis causas e estratégias de manejo para a Trilha da Estrada Velha a partir da metodologia MIV.............................. 179 Quadro 14 Pontos interpretativos e possíveis temas para a Trilha da Estrada Velha. 181 Quadro 15 Impactos constatados, possíveis causas e estratégias de manejo para a Quadro 16 Trilha dos Sentidos a partir da metodologia MIV.................................... 183 Pontos interpretativos e possíveis temas para a Trilha dos Sentidos......... 186 LISTA DE FOTOS Foto 1 Piso natural – Recanto Renascer – Francisco Beltrão – PR...................... Foto 2 Piso com pó de rocha – Refúgio Biológico Bela Vista – Foz do Iguaçu 79 – PR........................................................................................................... 80 Foto 3 Piso pavimentado com concreto – Parque Nacional do Iguaçu................. 80 Foto 4 Piso de trilha com árvores não removidas – Refúgio Biológico Bela Vista – Foz do Iguaçu – PR....................................................................... Foto 5 Bueiro em área de encosta – Reserva Salto Morato – Guaraqueçaba – PR.............................................................................................................. Foto 6 83 85 Ponte em trilha ecológica na Reserva Salto Morato – Guaraqueçaba – PR.............................................................................................................. 86 Foto 7 Ponte pênsil – Parque Nacional do Iguaçu – PR....................................... Foto 8 Passarela com corrimões – Horto Florestal do Litoral Norte de Tamandaí – RS.......................................................................................... Foto 9 87 Placa na trilha da Figueira - Reserva Salto Morato – Guaraqueçaba – PR.............................................................................................................. Foto 10 86 89 Painel explicativo sobre relações ecológicas do palmito Jussara – Reserva Salto Morato – Guaraqueçaba – PR............................................. 89 Foto 11 Canal lateral de escoamento – Parque Nacional do Iguaçu–PR................ 94 Foto 12 Barreira de drenagem com bueiro - Reserva Salto Morato Guaraqueçaba – PR................................................................................... 95 Foto 13 Trilha com degraus – Estação Ecológica Juréia – Peruíbe – SP............... 97 Foto 14 Degraus com rochas – Trilha da Onça – Marechal Candido Rondon – PR.............................................................................................................. 98 Foto 15 Barreira de contenção com tela – Parque Nacional do Iguaçu – PR......... 99 Foto 16 Elevação de piso em área plana com rochas – Reserva Salto Morato – Guaraqueçaba – PR................................................................................... Foto 17 Piso elevado coberto com geotêstil – Reserva Salto Morato – Guaraqueçaba – PR................................................................................... Foto 18 127 Visão do Rio Marrecas - Trilha da Estrada Velha – Recanto Renascer – PR.............................................................................................................. Foto 22 125 Placa de Identificação em árvore – Trilha da Estrada Velha – Recanto Renascer– PR............................................................................................. Foto 21 124 Ponto de entrada Trilha dos sentidos – Recanto Renascer- Francisco Beltrão-PR................................................................................................. Foto 20 101 Ponto de entrada Trilha da Estrada Velha – Recanto RenascerFrancisco Beltrão-PR................................................................................. Foto 19 100 128 Espécies arbóreas em processo de regeneração – Trilha dos SentidosRecanto Renascer...................................................................................... 131 Foto 23 Placa interpretativa – Trilha dos Sentidos – Recanto Renascer – PR....... 132 Foto 24 Ponto de parada/contemplação – Trilha dos Sentidos – Recanto Renascer - Francisco Beltrão – PR............................................................ Foto 25 132 Pinguela sob curso d’água – Trilha dos Sentidos – Recanto Renascer PR.............................................................................................................. 133 Foto 26 Alterações de largura – Trilha da Estrada Velha....................................... 154 Foto 27 Afundamento do piso e perda da borda crítica- Trilha da Estrada Velha 155 Foto 28 Atalho para o Rio Marrecas- Trilha da Estrada Velha.............................. 155 Foto 29 Árvore caída sobre o piso e lixo na área marginal - Trilha da Estrada Velha.......................................................................................................... Foto 30 156 Área de encosta sem estruturas de segurança na seção 2 (200 a 300m) Trilha da Estrada Velha............................................................................. 157 Foto 31 Problemas de manutenção em estruturas – Trilha dos Sentidos................ 162 Foto 32 Perda da borda crítica - Trilhas dos Sentidos............................................ 162 Foto 33 Impactos na seção 4 (de 300 a 400 m) - Trilha dos Sentidos.................... 163 Foto 34 Impactos potenciais na seção 5 (de 400 a 500 m) – Trilha dos Sentidos.. 163 Foto 35 Piso da trilha com degraus – Trilha de Estrada Velha............................... 178 Foto 36 Estrutura de contenção – Trilha de Estrada Velha.................................... 178 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Diretrizes gerais de planejamento conforme perfil do visitante............... 61 Tabela 2 Associação entre declividade e grau de dificuldade das trilhas................. 77 Tabela 3 Grau de dificuldade de acordo com a declividade.................................... 78 LISTA DE SIGLAS APP Área de preservação Permanente APPs Áreas de Preservação Permanentes CC Capacidade de Carga CMMAD Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente CRESOL Cooperativa de Crédito Solidário ECO Conferencia das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável EIA Estudo Prévio de Impacto Ambiental EMATER Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural FOM Floresta Ombrófila Mista GPS Sistema de Posicionamento Global IAPI Índice de Atratividade de pontos Interpretativos IAP Instituto Ambiental do Paraná IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis LAC Limite Aceitável de Câmbio MIV Monitoramento do Impacto da Visitação ONGs Organizações não-governamentais ONU Organização das Nações Unidas PNMA Política Nacional do Meio Ambiente PR Paraná RJ Rio de Janeiro RL Reserva Legal RIMA Relatório de Impacto Ambiental ROS Expectro de Oportunidade de Recreação RS Rio Grande do Sul SAFs Sistemas Agroflorestais SEMA/SP Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Estado de São Paulo SIG Sistema Geográfico de Informação SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente SNUC Sistema Nacional de Unidade de Conservação SP São Paulo IUCN Naturais União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos UNESCO Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura UPVFs Unidades de Produção e Vida Familiar VAMP Processo de Gerenciamento da Visitação VERP Experiência do visitante e proteção dos recursos WWF Fundo Mundial da Natureza SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................................ 16 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................. 20 3 USOS CONSERVACIONISTAS DE ÁREAS FLORESTAIS................................ 27 3.1 Apropriação e uso capitalista da natureza e a problemática ambiental....................... 27 3.2 Breve Trajetória da Preocupação Ambiental: do Preservacionismo ao Conservacionismo............................................................................................................. 30 3.3 Usos conservacionistas de florestas em pequenos estabelecimentos rurais: modificando percepções, criando possibilidades.............................................................. 42 3.4 As Trilhas Ecológicas................................................................................................. 46 3.4.1 A Percepção e Interpretação ambiental como objetivos das atividades recreativo educativas em trilhas ecológicas.......................................................... 48 3.5 Trilhas Ecológicas em Pequenos Estabelecimentos Rurais: Potenciais e Problemáticas.................................................................................................................... 4 PLANEJAMENTO, CONSTRUÇÃO E MANEJO DE 53 TRILHAS ECOLÓGICAS EM ÁREAS FLORESTAIS.............................................................. 58 4.1 Planejamento.............................................................................................................. 58 4.1.1 Objetivos de uma trilha ecológica................................................................ 60 4.1.2 Usuários........................................................................................................ 61 4.1.3 Análise de Sítio............................................................................................ 62 4.1.3.1 Solo................................................................................................ 64 4.1.3.2 Hidrografia.................................................................................... 67 4.1.3.3 Vegetação...................................................................................... 68 .1.3.4 Fauna.............................................................................................. 69 4.1.3.5 Geomorfologia............................................................................... 70 4.1.3.6 Regime Climático.......................................................................... 71 4.1.3.7 Pontos de Controle........................................................................ 71 4.1.3.8 Contexto socioeconômico............................................................. 73 4.1.3.9 Mapeamento.................................................................................. 73 4.1.4 Design........................................................................................................... 74 4.1.4.1 Forma............................................................................................. 75 4.1.4.2 Grau de Dificuldade...................................................................... 77 4.1.4.3 Cabeceira da Trilha e Áreas de Estacionamento........................... 78 4.1.4.4 Piso................................................................................................ 79 4.2 Construção.................................................................................................................. 81 4.2.1Termologia Básica de Trilhas....................................................................... 81 4.2.2 Limpeza do corredor.................................................................................... 82 4.2.3 Estruturas para cruzamento d’água.............................................................. 84 4.2.3.1 Bueiros........................................................................................... 84 4.2.3.2 Pontes............................................................................................ 85 4.2.3.3 Passarela e Corrimões ................................................................... 87 4.2.4 Sinalizações.................................................................................................. 88 4.2.5 Construção de Trilhas em Áreas Declivosas................................................ 90 4.2.5.1 Canais Laterais de Escoamento..................................................... 93 4.2.5.2 Valas de Drenagem........................................................................ 94 4.2.5.3 Barreiras de Drenagem.................................................................. 95 4.2.5.4 Degraus.......................................................................................... 96 4.2.5.5 Barreiras de Contenção de Contenção........................................... 98 4.2.6 Construção de Trilhas em Áreas Planas....................................................... 99 4.3 Manejo........................................................................................................................ 101 4.3.1Manutenção................................................................................................... 102 4.3.2 Monitoramento e Avaliação de Impactos ................................................... 104 4.3.3 Fechando, Recuperando e Realocando Trilhas............................................ 105 4.4 Metodologias de Avaliação de Impactos.................................................................... 107 4.4.1Capacidade de Carga..................................................................................... 107 4.4.2 Limite Aceitável de Cambio (LAC)............................................................. 108 4.4.3 Processo de Gerenciamento da Visitação (VAMP)..................................... 110 .4.4 Experiência do Visitante de Proteção dos Recursos (VERP)........................ 111 4.4.5 Espectro de Oportunidade de Recreação (ROS).......................................... 111 4.4.6 Manejo do Impacto da Visitação (MIV)...................................................... 112 4.4.7 Índice de Avaliação de Impactos (IAP)....................................................... 115 5 TRILHAS ECOLÓGICAS EM FRAGMENTOS FLORESTAIS DE PEQUENOS ESTABELECIMENTOS RURAIS: UM ESTUDO NO RECANTO RENASCER, MUNICÍPIO DE FRANCISCO BELTRÃO-PR................................. 118 5.1 Localização e caracterização geográfica da área de Estudo........................................ 118 5.1.1 Aspectos Abióticos....................................................................................... 119 5.1.2 Aspectos Bióticos......................................................................................... 119 5.1.3 Aspectos Socioeconômicos...................................................................................... 121 5.1.4 As Trilhas: caracterização físico-ambiental................................................. 124 5.1.4.1 Trilha da Estrada Velha................................................................. 126 5.1.4.2 Trilha dos Sentidos........................................................................ 129 5.2 Perfil dos visitantes e sua percepção sobre os impactos e conservação das trilhas................................................................................................................................. 134 6 DIAGNÓSTICO FÍSICO-AMBIENTAL, ÍNDICE DE ATRATIVIDADE E PROPOSTAS DE MANEJO PARA AS TRILHAS DO RECANTO RENASCERPR..................................................................................................................................... 146 6.1 Indicadores de Impactos e Metodologia MIV............................................................. 148 6. 1.1 Monitoramento do Impacto da Visitação (MIV) na Trilha da Estrada Velha.................................................................................................................... 148 6.1.2 Monitoramento do Impacto da Visitação (MIV) na Trilha dos Sentidos.... 157 6.2 Índice de Atratividade em Pontos Interpretativos nas Trilhas do Recanto Renascer............................................................................................................................ 164 6.2.1 Índice de Atratividade de pontos Interpretativos (IAPI) da Trilha da Estrada Velha........................................................................................................ 164 6.2.2 Índice de Atratividade de pontos Interpretativos (IAPI) da Trilha dos Sentidos................................................................................................................. 167 6.3 Estudo Comparativo sobre a Compactação do solo pela visitação............................. 170 6.3.1 Análise da densidade aparente X porosidade............................................... 170 6.4 Proposta de Manejo para as Trilhas do Recanto Renascer ........................................ 175 6.4.1 Propostas Gerais de Manejo para as Trilhas do Recanto Renascer.............. 175 6.4.2 Propostas Específicas de Manejo para as Trilhas do Recanto Renascer...... 177 6.4.2.1 Trilha da Estrada Velha................................................................. 177 6.4.2.2 Trilha dos Sentidos........................................................................ 183 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... 188 8 REFERÊNCIAS........................................................................................................... 193 9 APÊNDICES................................................................................................................. 202 APÊNDICE A – Roteiro de entrevista realizada com o casal de proprietário do Recanto Renascer......................................................................................................... 202 APÊNDICE B – Questionário aplicado aos visitantes das trilhas ecológicas do Recanto Renascer.............................................................................................................. 203 16 1 INTRODUÇÃO As trilhas ecológicas apresentam-se como um dos principais instrumentos da prática recreativa em áreas naturais, atraindo um grande número de adeptos, especialmente de procedência urbana, que buscam a proximidade e a vivência com ambientes pouco transformados, para lazer, práticas de esporte, estudos do ambiente ou simplesmente para descanso e contemplação. Criadas com diferentes formas, larguras e comprimentos, as trilhas ecológicas têm sido utilizadas tanto como um atrativo secundário aos objetivos principais da visitação em áreas naturais (visitar uma cachoeira, lago, afloramento rochoso, etc.) quanto sendo o próprio sentido da caminhada ou mesmo da visitação. Nas áreas protegidas (unidades de conservação) são também utilizadas como instrumento de manejo, deslocamento da comunidade, fiscalização e em programas de educação ambiental. Apesar de poderem ser implantadas em diferentes ambientes, é nas áreas florestais que o uso público das trilhas tem ganhado maior destaque. Isso se deve ao fato das trilhas possibilitarem o acesso e o contato direto do visitante com esses ecossistemas, que devido ao atual estágio de antropização, são cada vez mais raros e distantes dos ambientes cotidianos. Nas áreas florestais - sejam elas pertencentes a Unidades de Conservação, Áreas de Preservação Permanente, Reserva Legal ou em áreas não protegidas pela legislação - as trilhas ecológicas são tidas como uma alternativa de uso conservacionista, por permitir através da visitação, a utilização socioeconômica desses ecossistemas e de seus elementos, sem que suas especificidades e potencialidades primitivas sejam comprometidas ou afetadas de forma significativa. A possibilidade de uso conservacionista, aliada à crescente demanda pelas áreas de floresta para a prática recreativa, coloca as trilhas ecológicas como uma alternativa interessante de renda e de conservação e recuperação de áreas florestais em estabelecimentos rurais, especialmente os minifúndios, onde diante do modelo agrícola consolidado e da pouca disponibilidade de terra para as práticas agrícolas convencionais, é comum que as áreas de floresta sejam encaradas como espaços perdidos em termos de uso do solo e produtividade agrícola. Essa percepção, aliada a políticas ambientais ineficientes, tem contribuído para uma constante perda das áreas florestais nos diversos estabelecimentos rurais, bem como para o descumprimento da legislação ambiental. Na região Sudoeste do Paraná, alguns pequenos estabelecimentos rurais abertos à visitação turística, têm utilizado as trilhas em áreas florestais como uma forma de atrair 17 visitantes e diversificar a oferta de atrativos na propriedade. É o caso da propriedade rural denominada Recanto Renascer, localizada no município de Francisco Beltrão- PR. No local, existem duas trilhas implantadas no fragmento de floresta que pertence a uma Área de Preservação Permanente. Uma das trilhas é denominada “Trilha da Estrada Velha” e possui 1.500m de extensão. A outra se chama “Trilha dos Sentidos” e possui uma extensão de 500m. Essas trilhas apresentam tanto atrativos paisagísticos vinculados à beleza cênica, quando a aspectos referentes ao potencial educativo/pedagógico, que podem contribuir para o desenvolvimento de interpretação ambiental. Porém, apesar se ser considerada uma alternativa de uso conservacionista, o uso público de trilhas em áreas florestais acaba gerando preocupações, pois, quando mal planejadas, mal estruturadas e sem uma manutenção eficiente, as trilhas podem trazer riscos aos visitantes e funcionar como indutoras de impactos negativos sobre os diferentes elementos do meio biofísico (solo, vegetação, fauna, hidrografia e declividade). Trabalhos realizados por diferentes profissionais, entre eles geógrafos, têm tratado dos impactos gerados pelo uso público de trilhas em áreas naturais. Destaque para os trabalhos de Costa (2006) no Parque Estadual Pedra Branca-RJ; Takahashi (1998) no Parque Estadual do Marumbi-Pr; Magro (1999) no Parque Nacional de Itatiaia-RJ; e Feola (2009) no Parque Estadual Pico MarumbiPr. Para esses pesquisadores, o uso público de trilhas ecológicas afeta diretamente o solo através do pisoteio, ocasionado sua compactação, erosão e consequentemente, o afundamento e alterações de largura da trilha. A visitação também pode contribuir para afugentar animais e destruir ou dificultar o desenvolvimento da vegetação, entre outros impactos. De forma geral, esses trabalhos tratam do uso de trilhas em Unidades de Conservação, porém, ao analisar a atividade nos pequenos estabelecimentos rurais, verifica-se a existência de um agravante, uma vez que as áreas onde geralmente as trilhas são implantadas nesses locais, correspondem a pequenos fragmentos de floresta circundados pela agricultura, e que pelo histórico de perturbação, tamanho e dispersão, já se encontram potencialmente fragilizados pela ação antrópica. Tal fato reforça a necessidade de se ter um maior esclarecimento sobre esse tipo de atividade, de modo que suas potencialidades e limitações sejam identificadas e se evite situações de riscos aos usuários e o acirramento de processos de degradação ambiental. Outro aspecto diz respeito ao potencial das trilhas como instrumento didático para estudos do meio ambiente e de conscientização ambiental, que se devidamente utilizado pode ser uma importante ferramenta para atividades educativas e de manejo para as trilhas. 18 Assim, considerando o potencial da trilha ecológica como uma alternativa de uso conservacionista para as áreas de floresta em estabelecimentos rurais e como ferramenta para estudos do meio ambiente e de educação ambiental, juntamente com os possíveis impactos negativos que uma implantação e uso inadequado podem acarretar, o objetivo geral dessa pesquisa esteve em conhecer os procedimentos necessários para a implantação e manejo de trilhas em áreas florestais, considerando benefícios e problemáticas de seu uso em pequenos estabelecimentos rurais. Já os objetivos específicos foram os seguintes: Discorrer, com base na literatura utilizada, sobre os usos conservacionistas em fragmentos florestais, com destaque para as trilhas ecológicas; Avaliar as possibilidades e restrições do uso de trilhas em pequenos estabelecimentos rurais (considerados aqui aqueles com área de até 50 hectares); Identificar as técnicas de implantação e manejo de trilhas ecológicas em fragmentos florestais; Realizar diagnóstico físico-ambiental em duas trilhas ecológicas, localizadas no Recanto Renascer, município de Francisco Beltrão- PR, visando identificar: a) ocorrências de impactos ambientais; b) problemas relacionados a infraestruturas; c) perfil socioeconômico dos visitantes e sua percepção em relação ao ambiente e aos impactos ambientais; d) potencial das trilhas para atividades de educação ambiental; Apresentar a partir dos estudos realizados, alternativas de manejo para as trilhas estudadas, a fim de minimizar a ocorrência de possíveis impactos negativos e potencializar as trilhas como instrumento recreativo-pedagógico no local. Organizar material informativo (manual) para agricultores que tenham interesse em implantar trilhas em fragmentos florestais ou em realizar a manutenção correta em trilhas já existentes. Desta forma, a dissertação está organizada conforme a seguinte estrutura: os itens 1 e 2 correspondem à introdução e apresentação dos procedimentos metodológicos. O item 3, intitulado “Usos Conservacionistas de Áreas Florestais”, apresenta uma análise da apropriação e uso da natureza pela sociedade capitalista, e da conservação ambiental a partir 19 da dualidade existente entre preservacionismo e conservacionismo, consideradas correntes do movimento ambiental ou ambientalismo. Apresenta-se também o levantamento de algumas possibilidades de uso conservacionista de áreas florestadas nas propriedades rurais, enfocando as trilhas ecológicas no contexto. No item 4, com o título “Planejamento, Construção e Manejo de Trilhas Ecológicas em Áreas Florestais” foi realizado um levantamento das técnicas de implantação e manejo de trilhas. O item 5, denominado “Trilhas Ecológicas em Fragmentos Florestais de Pequenos Estabelecimentos Rurais: Um Estudo no Recanto Renascer, Município de Francisco BeltrãoPR” apresenta a caracterização geográfica da área escolhida para a pesquisa empírica, a caracterização geral das trilhas ecológicas do local e o perfil de seus visitantes. No item 6, intitulado “Diagnóstico Físico-Ambiental, Índice de Atratividade e Propostas de Manejo para as Trilhas do Recanto Renascer-PR”, apresentamos os resultados dos estudos realizados em campo e as propostas de manejo para as trilhas. Por fim, nas considerações finais, buscamos desenvolver uma avaliação geral dos resultados obtidos com a pesquisa e de suas possíveis contribuições. 20 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A presente pesquisa analisa as trilhas ecológicas como uma alternativa de uso conservacionista para fragmentos florestais localizados em pequenos estabelecimentos rurais e como instrumento recreativo-pedagógico. Nessa perspectiva, para o desenvolvimento da pesquisa emprega-se o método dialético1, baseado no materialismo histórico, onde por meio de dados quantitativos e qualitativos, busca-se analisar o uso das trilhas ecológicas a partir de um contexto social, cultural, político, econômico e ambiental. É a partir de sua percepção e do uso em relação aos espaços florestais que o homem modifica tais espaços, mesmo com usos conservacionistas, e influencia a própria percepção dos usuários das trilhas, através das informações disponíveis, do manejo das trilhas, entre outros fatores. Para o aporte teórico da pesquisa, buscamos realizar uma análise das formas de apropriação e uso da natureza pela sociedade capitalista e de como a preocupação ambiental vai sendo estruturada a partir das duas principais correntes do movimento ambientalista: preservacionismo e conservacionismo. Como base, utilizamos Smith (1988), Porto-Gonçalves (1990 e 2006), Moreira (1990), Mc Cormick (1992), Bressan (1996), Cavalcanti (1997), Diegues (2001), Ferreti (2002), Bernardes e Ferreira (2003), Cunha e Coelho (2003), Leff (2001 e 2006), Wendel (2005), Boff (2012), entre outros. Para fundamentar a abordagem sobre a relevância ambiental, econômica e social das trilhas ecológicas e dos métodos e técnicas de implantação, uso e manejo, utilizamos como principal suporte os estudos de Vasconcellos (1997, 2003, 2006), Andrade (2003), Takahashi (1998, 2001 e 2004), Lechener (2006), Costa (2006), Manual da Secretaria do Meio Ambiente/SP (2006) e Andrade e Rocha (2008). Outro suporte importante para o levantamento das técnicas de implantação e manejo de trilhas foi a visita de estudo realizada durante o mês de novembro de 2012 nas trilhas da Reserva de Salto Morato, em Guaraqueçaba – PR. Na ocasião foi possível verificar as estruturas e planos de manejo adotados para a visitação nas trilhas do local, bem como, os métodos e técnicas utilizadas no desenvolvimento da interpretação ambiental. Como um dos objetivos do trabalho corresponde à organização de um material destinado a agricultores e proprietários de estabelecimentos rurais interessados em implantar 1 De acordo com Gil (2008, p. 14) “[...] a dialética fornece as bases para uma interpretação dinâmica e totalizante da realidade, uma vez que estabelece que os fatos sociais não podem ser entendidos quando considerados isoladamente, abstraídos de suas influências políticas, econômicas, culturais etc.”. 21 trilhas ou adequar as já existentes em suas propriedades, essas informações também foram utilizadas para a elaboração desse material. Para realizar a análise do uso de trilhas ecológicas em pequenos estabelecimentos rurais, selecionamos uma propriedade vinculada ao roteiro de turismo rural do município de Francisco Beltrão/PR denominada Recanto Renascer, que entre outros atrativos possui duas trilhas ecológicas implantadas na área de floresta da propriedade. A escolha dessas trilhas para a investigação empírica se deu em função de estarem localizadas em um estabelecimento rural com menos de 50 hectares de terra, possuírem um volume de visitação significativo e por sua importância no fomento da oferta de lazer e turismo da localidade. Buscamos avaliar nas trilhas selecionadas o histórico de sua implantação, as atividades de manejo desenvolvidas, as características físicas das trilhas (forma, largura, comprimento, grau de dificuldade, tipo de piso, estruturas e atrativos), suas condições ambientais (referentes ao leito, borda, solo, vegetação, saneamento, fauna, som e riscos), seu potencial para o desenvolvimento de atividades interpretativas, além do perfil e da percepção ambiental dos visitantes. Como subsídio para os estudos empíricos foram levantados e analisados estudos que tratam da avaliação ambiental e interpretativa de trilhas em áreas naturais. Dentre eles, destacam-se algumas dissertações, teses e artigos, como o estudo de doutorado de Costa (2006), intitulado “Proposta de Manejo e Planejamento Ambiental de Trilhas Ecoturísticas: Um Estudo no Maciço da Pedra Branca - Município do Rio de Janeiro (RJ)” desenvolvido na Universidade Federal do Rio de Janeiro; O trabalho desenvolvido por Ikemoto et. al (2009), com o título “Avaliação do potencial interpretativo da trilha do Jequitibá, Parque Estadual dos Três Picos, Rio de Janeiro” publicado pela Revista Sociedade & Natureza; e o estudo de mestrado de Feola (2009) com o título “Análises do processo erosivo em trilhas: subsídio ao planejamento e manejo” desenvolvido na Universidade Federal do Paraná. Para o desenvolvimento da pesquisa empírica, foram utilizadas informações primárias e secundárias para a coleta de dados. Entre as informações primárias, foram realizadas entrevistas com o proprietário, questionário com visitantes, observações e coleta de dados em campo (sinalização, obstáculos, traçado com GPS, fotos), medições nas trilhas, além da coleta e análise de amostras de solo em laboratório. As fontes de informações secundárias foram concentradas no levantamento bibliográfico e na análise de dados físico-ambientais e socioeconômicos da área estudada. 22 O procedimento inicial da pesquisa empírica foi à solicitação de autorização junto aos proprietários do estabelecimento selecionado para a realização dos estudos de campo. Na ocasião foram apresentados os objetivos da pesquisa e quais os estudos que seriam realizados. Em seguida, foi feita uma entrevista semiestruturada juntos aos proprietários (APÊNDICE A) para obter informações referentes ao histórico e processo de implantação, uso e manejo das trilhas no estabelecimento rural. Para realizar o diagnóstico físico-ambiental nas trilhas selecionadas, foi utilizada a metodologia Monitoramento do Impacto da Visitação-MIV, onde inicialmente foram selecionados os indicadores de impacto, e em seguida, determinados os parâmetros de análise (condições desejadas para cada indicador). Para tanto, foi utilizado como subsídio o estudo de Costa (2006) que aplicou a metodologia em três trilhas ecológicas do Parque Nacional Pedra Branca – RJ. Porém, para obter uma compreensão mais direta e específica das condições de uso e manejo das trilhas do Recanto Renascer, os indicadores e parâmetros utilizados por Costa (2006) passaram por algumas adaptações, tanto no tipo de indicador quanto do parâmetro de análise. Nesta perspectiva, os indicadores de impactos analisados nas trilhas, através do MIV foram os seguintes: a) Largura: medida (em metros) tomada com uma trena entre duas estacas fixadas nas extremidades da trilha, para verificar a eventual ocorrência de alargamento do seu corredor. b) Afundamento: medida (em centímetros) da ocorrência de rebaixamento do piso da trilha, comparado com as áreas marginais. c) Erosão: análise visual da presença de algum tipo de erosão no solo: erosão laminar (superficial); erosão em sulcos (mais profunda com fissuras no solo ravinamento). d) Alagamentos: Análise visual de pontos alagados ou passiveis de sofrer alagamentos em períodos chuvosos. e) Perda da borda crítica: medida (em centímetros) da ocorrência de perda de solo na parte inferior do piso da trilha. f) Desbarrancamento de encosta: medida (em centímetros) da ocorrência de perda de solo na parte superior do piso da trilha, localizado em área declivosa. g) Manutenção de estruturas: análise visual das condições de conservação das estruturas nas trilhas. 23 h) Atalhos: medida do número de bifurcações (caminhos secundários) existentes interligadas ao traçado principal da trilha. i) Solo exposto: através de análise visual, avaliar a área do corredor das trilhas (em cm) que apresentam: solo exposto, ou seja, sem vegetação. j) Aclives/declives: Observação visual de áreas com aclives ou declives acentuados, que oferecem dificuldade na caminhada e susceptibilidade a ações erosivas. k) Rochas aflorantes: Percepção visual da existência de rochas sobre o piso da trilha. l) Raízes expostas: medida (em centímetros) da exposição de raízes sobre o piso da trilha. m) Vandalismos: presença de fogueiras, desmatamento, pichações em árvores, rochas e sinalizações, depredação de infraestruturas (bancos, pontes e placas), animais mortos ou vestígios de caça. n) Lixo: número de materiais inorgânicos (latas, sacolas plásticas, garrafas pet, garrafas de vidro, etc.) encontrados no corredor da trilha. o) Espécies domésticas: análise visual da presença de animais domésticos (cachorros, gatos, aves, etc.) no leito da trilha ou em áreas próximas. p) Som: percepção auditiva de barulhos provenientes de aparelhos eletrônicos e de visitantes que podem interferir na dinâmica faunística local. q) Riscos: análise visual de situações que oferecem riscos aos visitantes (escorregar, cair ou fatal). A avaliação dos indicadores de impacto se deu através da observação direta de alterações visíveis nas trilhas. A partir da marcação das seções equidistantes de 100 metros, essa observação foi realizada sobre o piso e áreas marginais da trilha. Algumas ferramentas também se fizeram necessárias, tais como: fita métrica; câmera fotográfica; estacas de madeira com fita colorida para identificar as seções de análise e ficha de campo (Figura 1). Figura 1 - Ficha de campo MIV Fonte: COSTA (2006). Adaptado por: MORAES, D. I. de (2013). 24 A fim de obter uma análise mais detalhada dos impactos do uso sobre o solo, também foi realizada coleta e análise de solo em cinco seções nas trilhas, sendo que em cada seção, foram coletadas três amostras de solo, uma na área central do piso e uma em cada área marginal. A partir da análise da densidade e porosidade destas amostras, buscou-se identificar a possível ocorrência de compactação, e se a área afetada pelo pisoteio, estava restrita somente ao piso das trilhas ou abrangia também suas áreas marginais. Para avaliar o potencial interpretativo das trilhas analisadas, foi utilizada a metodologia Índice de Atratividade de Pontos Interpretativos – IAPI. Para tanto, as trilhas foram inicialmente classificadas quanto a: Temática: presença de eixo temático para a interpretação; Pontos interpretativos; caracterização quantitativa dos pontos; Presença ou não de recursos interpretativos variados: conteúdo, harmonia com o meio, relevância. Sinalização: conteúdo, clareza, harmonia com o meio, relevância. Modalidade: guiadas ou autoguiadas. Diferenciação: oferta de atividades para vários tipos de público. Após o levantamento inicial das características da trilha e o pré-levantamento de seus atrativos, foram selecionados com base nos estudos de Ikemoto et al. (2009) e Magro e Freixêdas (1998) os indicadores de atratividade. Sendo eles: Visibilidade (inferior, médio e superior): refere-se à posição do atrativo em relação aos olhos do observador. Estímulo sensorial: Corresponde aos estímulos visuais, auditivos, táteis e olfativos que os atrativos proporcionam. Escala e Distância: (primeiro pano, médio pano e pano de fundo). O primeiro pano corresponde aos atrativos que permitem o contato direto ou toque pelo visitante. O médio pano é o atrativo que está próximo do leito da trilha, mas não permite o contato direto pelo visitante. O pano de fundo são os atrativos distantes do leito da trilha, como um pano de fundo na paisagem. Recursos observados: Observação de recursos variados a partir do ponto interpretativo: - Água: Visual (cursos d’água são visualizados a partir do ponto); Som (apenas o som da água é perceptível). - Rocha: Identificação de rochas em tamanhos e formas variadas. 25 - Epífitas: (bromélia, orquídeas e outras plantas sob o tronco e galho das árvores). Para a escolha do peso dos indicadores, utilizamos os mesmos parâmetros utilizados por Ikemoto et al. (2009), no qual, posição superior, som da água, presença de rochas e epífitas receberam peso 2, enquanto os indicadores pano de fundo e visual da água receberam peso 3; os demais indicadores receberam peso 1. Para determinar a intensidade ou abundância dos atrativos foram utilizados os parâmetros de Costa (2006), no qual 1= presente, 2= grande quantidade e 3= predominante. Como “presente”, é considerado os elementos pouco expressivos visualmente e quantitativamente; “grande quantidade” os elementos visualmente e quantitativamente em destaque; e “predominante” os elementos que dominam e se destacam na paisagem. Para marcar a intensidade dos recursos analisados, foi utilizado o símbolo “X”, no qual X = presente; XX = grande quantidade; XXX = predominância. A intensidade anotada para cada indicador foi revertida em números de 1 a 3. O valor da atratividade de cada ponto selecionado foi determinado através da multiplicação do peso dos indicadores com a intensidade ou abundância do atrativo. Seguindo as indicações de Magro e Freixêdas (1998), a análise das trilhas, por ser mais subjetiva, foi realizada em duplas a fim de evitar mudanças de critérios. O levantamento da presença ou ausência destes indicadores em cada um dos pontos selecionados foi computado em planilha de campo (Figura 2). Figura 2– Ficha de campo do IAPI. Legenda: inf.- inferior; sup.- superior; vis.- visual; ta.- tato; ol- olfato Fonte: IKEMOTO ET AL. (2009) Adaptado por: MORAES, D. I. de (2013). Também foram aplicados questionários com questões objetivas aos visitantes das duas trilhas estudadas (APÊNDICE B) com o objetivo de identificar o perfil desses visitantes e a sua percepção em relação aos atrativos e impactos ambientais nas trilhas. Após a aplicação desses procedimentos metodológicos foi realizada uma avaliação dos resultados, com o intuito de verificar aspectos que estão corretos e que devem ser mantidos, 26 bem como, os aspectos problemáticos relacionados às duas trilhas existentes e analisadas no estabelecimento rural. Essa avaliação foi divulgada e debatida com o proprietário do estabelecimento, com o intuito de orientá-lo para a melhoria de suas trilhas, reduzindo possíveis riscos ambientais e para os visitantes e otimizando determinados atrativos potenciais que não vêm sendo utilizados. 27 3 USOS CONSERVACIONISTAS DE ÁREAS FLORESTAIS 3.1 Apropriação e uso capitalista da natureza e a problemática ambiental Estabelecer relações com a natureza faz parte das estratégias de sobrevivência da humanidade desde suas primeiras formas de organização. Porém, as características dessa relação se alteraram significativamente a partir da Revolução Industrial e consolidação do modo de produção capitalista. Segundo Wendel (2005) o período que corresponde ao final do século XVIII marca definitivamente a incorporação da natureza a vida social¸ seja em função das técnicas desenvolvidas e aperfeiçoadas, seja pela cultura vigente, na qual a natureza passa a ser tida como um recurso utilizado em benefício da produção e reprodução da vida social e dos interesses de riqueza de uma minoria. Dois sistemas de ideias conhecidos como Higienismo e Esteticismo, foram bastante significativos para o processo de incorporação social da natureza e também para as ideias a ela atribuídas que perduram até os dias atuais. No esteticismo, a natureza selvagem é considerada feia e hostil e por isso precisa ser primeiramente domesticada e padronizada, para depois ter sua beleza e grandiosidade ressaltadas em jardins, praças e parques. A natureza tida como sinônimo de paisagem passa a ser medida e valorada a partir dos padrões estéticos impostos pela classe dominante. [...] a natureza, imbuída e valorada pelo seu conteúdo estético irá ser altamente incorporada à vida econômica da sociedade. A apropriação da natureza, uma apropriação e apreciação estética da natureza, constituindo numa salva guarda das suas belezas como forma de agregação de valor a uma propriedade privada, passa também pela privação de sua componente estética, separando-a dos olhares dos homens, através de cercas ou muros, definitivamente ou impondo uma única forma de apreciação através da compra de um ingresso (WENDEL, 2005, p.168). No Higienismo, a natureza selvagem é tida como algo sujo e letal. Por isso, deve ser “limpa” e padronizada para se tornar algo agradável e habitável. Esse sistema de ideias fundamentou as ações de saneamento das cidades, eliminando áreas como brejos e mangues, tidos como sinônimo de sujeira e estagnação. A higienização da natureza tornou-se possível através de técnicas que surgem para esta finalidade, “entretanto, seu uso é determinado pelo poder econômico e consequentemente político, pois somente a nobreza e a burguesia têm 28 acesso a estas técnicas, enquanto as classes mais pobres continuam em meio à natureza hostil e insalubre” (WENDEL, 2005, p.164-165). Tanto o higienismo quanto o esteticismo são concepções pautadas na separação homem-natureza, na qual a natureza é tida como objeto a ser dominado e manipulado pelo sujeito, o homem. Essa ruptura é originária da tradição judaico-cristã (SMITH, 1998) e tornou-se com o advento das ciências naturais e do modo de produção capitalista a concepção predominante, tanto em nível do pensamento quanto da realidade objetiva, construída pelo homem. A necessidade de domesticação de tudo que era natural e selvagem, aliada à capacidade de dominar e manipular a natureza permitida pela ciência e pela técnica, fez com que o homem passasse a criar uma segunda natureza, socializada, artificializada e inserida no território. Um recurso, medido e valorizado “de acordo com a escala de valores estabelecidos pela sociedade para aqueles bens que antes eram chamados de naturais” (SANTOS, 2000, p.18). Domesticada e incorporada ao modo de produção capitalista, a natureza tornou-se um objeto de produção utilizado em escala ampliada (SMITH, 1988), e com a vida material totalmente dependente da produção de excedente, o ritmo do homem passou a não ser mais o ritmo da natureza, mas o ritmo do próprio capital (PORTO-GONÇALVES, 2006). O aumento exponencial na capacidade de produção decorrente do desenvolvimento técnico-científico fez surgir a “ilusão de crescimento ilimitado de produtos materiais numa mesma unidade de tempo abstrato” (PORTO-GONÇALVES, 2006, p. 328), na qual as coisas passam a serem produzidas, consumidas e descartadas em uma escala de tempo da qual a natureza não consegue acompanhar, pois, além da exploração excessiva dos recursos naturais, há também a geração de uma série de resíduos decorrentes do processo produtivo, que impedem a capacidade de regeneração natural do equilíbrio ecossistêmico. Como destaca Porto-Gonçalves (2006), o capital não só se apropria do tempo que o trabalhador dedica na produção de riquezas através da extração da mais-valia, como também “de todo um tempo materializado na energia fóssil, que não tem como restituir porque não é tempo abstrato, mas tempo do ser, tempo das coisas na sua materialidade” e mesmo que o conhecimento sobre a matéria possibilite uma maior exploração de sua potencialidade, “o conhecimento da matéria não produz a matéria enquanto tal, que é produzida pela natureza” (p.329). Assim, o modelo de desenvolvimento adotado pela sociedade capitalista e o ritmo conferido a este processo, no qual as coisas surgem tão rapidamente como são devoradas e 29 abandonadas “sem jamais durarem o tempo suficiente para conter em seu meio o processo vital” (ARENDT, 1997, p.147), afetam diretamente o meio ambiente, provocando impactos de difícil recuperação ou até mesmo irreversíveis, como a fragmentação de habitats, empobrecimento da fertilidade dos solos, erosões, deslizamentos, desertificação, assoreamentos de cursos d’água, alterações climáticas, proliferação de pragas e espécies exóticas, desertificação, comprometimento na qualidade e disponibilidade dos recursos hídricos, excesso de lixo, mudanças climáticas, perda de biodiversidade, entre várias outras consequências danosas, que comprometem a qualidade ambiental do planeta e a maioria da população, especialmente das classes menos favorecidas. Estas, longe de lucrar com os benefícios obtidos através da exploração capitalista da natureza, acabam, na maioria das vezes, obtendo apenas o ônus resultante da degradação ambiental. Conforme ressaltado por Porto-Gonçalves (1990, p. 26-27): A natureza é, em nossa sociedade, um objeto a ser dominado por um sujeito, o homem, muito embora saibamos que nem todos os homens são proprietários da natureza. Assim, são alguns poucos homens que dela verdadeiramente se apropriam. A grande maioria dos outros homens não passa, como ela também, de objeto que pode até ser descartado. No capitalismo, a “natureza converte-se assim num meio de produção, objeto de uma apropriação social, atravessado por relações de poder” (LEFF, 2001, p. 66), onde quem se apropria e se beneficia dessa apropriação, geralmente corresponde a uma pequena minoria de indivíduos e grupos (empresas e instituições) que concentram o poder econômico e também político. A problemática ambiental não é ideologicamente neutra nem é alheia a interesses econômicos e sociais. Sua gênese dá-se num processo histórico dominado pela expansão do modo de produção capitalista, pelos padrões tecnológicos gerados por uma racionalidade econômica guiada pelo propósito de maximizar os lucros e os excedentes econômicos a curto prazo, numa ordem econômica mundial marcada pela desigualdade entre nações e classes sociais (LEFF, 2006, p.62). Em meio a essa ótica insustentável de produção e consumo, que tende a acirrar as contradições e desigualdades socioespaciais, o antagonismo de classes e os problemas ambientais decorrentes desse processo, emerge a preocupação ambiental, conhecida também como movimento ambiental ou ambientalismo, que em sua trajetória vai apresentar diferentes interesses, intencionalidades, contradições e concepções da relação sociedade-natureza. 30 3.2 Breve Trajetória da Preocupação Ambiental: do Preservacionismo ao Conservacionismo Para Mc Cormick (1992), o movimento ambientalista2 não teve início definido. Ele “emergiu em lugares diferentes, em tempos diferentes e geralmente por motivos diferentes (p. 21)”. Isso se deve ao fato de que as primeiras ações relacionadas aos problemas ambientais eram locais, mas com o passar do tempo, o que era local se tornou um movimento nacional, internacional e por fim, global. Em sua trajetória, o ambientalismo apresenta duas grandes correntes ideológicas com concepções de proteção da natureza bastante distintas e que ao longo dos últimos anos, vêm influenciando a racionalidade ambientalista e as diferentes ações desenvolvidas em prol das questões ambientais. Essas correntes se dividem entre aqueles que defendem a proteção da natureza a partir do isolamento de áreas sem a presença humana, denominados preservacionistas, e aqueles que acreditam em estratégias de uso sustentável dos recursos naturais, denominados de conservacionistas (CUNHA; COELHO, 2003). Ambas as correntes se mantém nos dias atuais atuando em conjunto ou de forma paralela, porém, a corrente conservacionista tornou-se predominante, especialmente pelo fato de ser a mais coerente com as descobertas científicas mais recentes e com as concepções de meio ambiente da atualidade, onde existe uma busca pela visão holística da relação sociedadenatureza, em detrimento da dicotomia imposta pelas concepções cientificistas tradicionais. A corrente preservacionista emergiu no início do século XIX, como um movimento que defendia a proteção da natureza a partir do isolamento de áreas pelo seu valor cênico, e conforme as possibilidades de usos atuais e futuros (BRESSAN, 1996). Nessa abordagem, o natural seria algo que prescindisse da ação humana, devendo manter-se isolado e intocado para ser utilizado como reduto da diversidade biológica do planeta. O homem considerado um destruidor do mundo natural deveria, portanto, ser mantido separado das áreas naturais, que para manterem-se preservadas, necessitariam de uma “proteção total” (DIEGUES, 2001). Casstells (1999 apud BERNARDES; FERREIRA, 2003, p. 31) define o ambientalismo como “as formas de comportamento que, tanto em seus discursos como em sua prática, visam corrigir formas destrutivas de relacionamento entre o homem e seu ambiente natural, contrariando a lógica estrutural e institucional atualmente predominante”. 2 31 A concepção de proteção da natureza mediante o isolamento de espaços e espécies, foi materializada com a criação do primeiro Parque Nacional do mundo, o Yellowstone, em meados do século XIX nos Estados Unidos. Nesse país, o preservacionismo teve como maior representante John Muir, que defendia a proteção das áreas naturais a partir da exclusão de qualquer atividade humana que não fosse para a visitação e atividades recreativas. Segundo Diegues (2001), Muir foi considerado um preservacionista ativista por definir os valores intrínsecos da natureza selvagem e por lutar pela implantação de Parques Nacionais nos Estados Unidos, tendo êxito na criação do Parque Nacional de Yosemit (1890). Ele também fundou o Sierra Club, uma das mais influentes organizações ambientalistas deste período. Sua teoria estava fundamentada na ideia de uma natureza fruto da criação divina, na qual o homem era tão importante quanto qualquer outra espécie de animal e, por isso, não poderia ter direitos superiores sobre eles. A partir da criação do parque de Yellowstone, as concepções preservacionistas passaram a serem transferidas para diversos países do mundo, influenciando a criação de Parques Nacionais no Canadá (1885), Nova Zelândia (1984), Austrália, África do Sul e México (1898), Argentina (1903), Chile (1929), Equador (1934), Venezuela e Brasil (1937) (DIEGUES, 2001). Porém, embora o preservacionismo tenha sua origem geralmente associada ao século XIX nos EUA, Mc Cormik (1992) afirma que o movimento ambientalista surgiu muito antes na Europa, ganhando maior notoriedade a partir do século XVIII. Para o autor, os europeus tiveram três grandes influencias sobre o início do movimento: 1) o estudo da história natural, associado a concepções de artistas românticos e primitivistas, contrários as mudanças realizadas na paisagem pela agricultura; 2) o movimento contra a crueldade com os animais, sendo apoiado pelas classes médias e altas e pelos naturalistas; 3) a reação contra a miséria associou-se ao anseio por espaços abertos e natureza, resultando na criação de parques e reservas naturais para a visitação pública. Thomas (1983, apud DIEGUES 2001) também atribui o início do movimento ao continente europeu, onde a poluição atmosférica gerada pelas atividades fabris no início da Revolução Industrial e o crescimento acelerado das cidades inglesas contribuíram para sentimentos antissociais. A vida nas áreas urbanas até então tida como sinal de civilização e superioridade frente à rusticidade da vida no campo, passou a ser criticada e desvalorizada, gerando sentimentos e atitudes de retorno à vida selvagem como lugar de reflexão e isolamento espiritual. Essas ideias tiveram grande contribuição dos escritores românticos europeus deste período, que tinham no contato com a natureza primitiva o lugar da descoberta 32 da alma humana, da inocência infantil, da espiritualidade, do paraíso perdido e da intimidade com o belo e o sublime. A exemplo, Jean-Jaques Rousseau (1712-1778), em sua obra “Devaneios do caminhante solitário” descreve: Moro no centro de Paris. Saindo de casa, desejo ardentemente o campo e a solidão, mas é preciso ir procurá-lo tão longe que antes de poder respirar à vontade, encontro em meu caminho mil objetos que me comprimem o coração e a metade do dia se passa em angústias, até ter atingido o refúgio que vou procurar. Sou feliz quando pelo menos me deixam terminar meu caminho. O momento em que escapo ao cortejo dos maus é delicioso e logo que vejo sob as árvores, em meio à verdura, cério estar no paraíso terrestre e saboreio um prazer íntimo tão vivo quanto se fosse o mais feliz dos mortais (ROUSSEU, 1995, p.111-112). Aliada às concepções românticas de natureza, a criação das áreas protegidas como locais intocados e intocáveis também tiveram a influência das grandes religiões, em especial a cristã, através do mito do paraíso terrestre, ou seja, de um lugar onde era possível contemplar as maravilhas da natureza fruto da criação divina, mas pelo qual o homem está fisicamente separado desde a saída do Éden (DIEGUES, 2001). Segundo Diegues (2001), a proteção da natureza a partir da concepção de externalidade e intocabilidade trouxe efeitos negativos e também contradições. Isso porque, ao mesmo tempo em que as populações tradicionais que ocupavam os locais destinados à preservação, foram totalmente marginalizadas pela restrição ao uso da terra. Esses espaços tiveram o acesso facilitado para a classe burguesa, através das práticas ecoturísticas. Outro fator importante a ser considerado na criação dessas áreas protegidas é a forma como a relação sociedade-natureza foi compreendida nesse processo. Nela, a “influência das relações entre os homens sobre as relações entre estes e a natureza” é desconsiderada (BRESSAN, 1996, p. 23), numa compreensão “naturalista” de meio ambiente, compreendido em seus aspectos físicos e biológicos como dissociado da sociedade, o que reforça a dicotomia homem/natureza, típica de concepções científicas e economicistas tradicionais. Em outras palavras, o enfoque dominante é o do controle de parcelas do meio natural, apartadas do processo geral de desenvolvimento da sociedade e, por conseguinte, distantes das concepções que expressam a conveniência de gestão do espaço em sua totalidade, ou seja, como base física (natural, territorial etc.) e como realidade social (BRESSAN, 1996, p. 45). Observa-se, porém, que no final do século XIX, houve uma mudança de foco nas questões ambientais, que passaram a incorporar preocupações com a manutenção dos recursos 33 naturais para atividades econômicas e para as futuras gerações. O movimento ambientalista americano dividiu-se então em dois grupos: de um lado os preservacionistas, tendo como maior representante John Muir, e do outro, os conservacionistas, com o principal expoente Grifford Pinchot (DIEGUES, 2001). Pinchot era engenheiro florestal e pregava o uso racional dos recursos naturais e defendia a conservação da natureza a partir de três princípios básicos: uso dos recursos naturais pela geração presente; prevenção de desperdícios; e uso dos recursos naturais para benefícios da maioria dos cidadãos (DIEGUES, 2001). De acordo com Diegues (2001), Pinchot agia dentro de um contexto de natureza enquanto mercadoria, que devido ao seu processo lento de regeneração deveria ser utilizada de forma eficiente pelo manejo, com o objetivo de obter níveis ótimos de produção sem ameaçar a reposição de seus estoques, para benéficos das gerações presente e futuras. Estas ideias são tidas como precursoras do desenvolvimento sustentável e estiveram presentes na concepção de ecodesenvolvimento da década de 1970; nos debates da conferência de Estocolmo em 1972; nas publicações internacionais Estratégias para a Conservação da UICN/WWF (1980) e Nosso Futuro Comum (1986); bem como nos debates da conferência Eco-92 e Rio +20, ambas realizada na cidade do Rio de Janeiro. Os conservacionistas acreditam ser possível a exploração dos recursos naturais de forma racional e duradoura. Para isso, defendem as ações de proteção, conservação e manutenção (MC CORMIK, 1992). Na concepção conservacionista, as ações de preservação compreendem o resguardo de elementos da biosfera que não admitem interferências de natureza antrópica, seja pela fragilidade dos ecossistemas que abrigam, seja pelas funções ecológicas que desempenham. Como exemplo, têm-se as Áreas de Preservação Permanente, que devido à importância para o equilíbrio ecossistêmico local precisam manter-se protegidas, devendo ter usos bem restritos. Já as ações de manutenção, compreendem a utilização de elementos da biosfera, mediante a manutenção de suas especialidades e a correção de suas deficiências, sem reduzir suas potencialidades primitivas. As ações de restauração ou recuperação envolvem a reabilitação de elementos da biosfera a exercerem suas funções primitivas, eliminando os fatores que contribuem para sua degradação (DENARDIN, s/d). Mesmo emergindo a partir da análise racional e econômica da natureza, a corrente conservacionista trouxe novas perspectivas na análise da relação sociedade-natureza, passando de uma perspectiva “naturalista” que reforça a dicotomia entre ambas, para uma perspectiva “socioambientalista” na qual a questão ambiental passa a ser integrada à questão 34 social e econômica, a fim de se buscar a partir das relações entre o homem e os elementos da biosfera, condições ideais para o bem estar de toda a vida no planeta. Essa busca por um caráter holístico na relação homem-natureza tornou-se mais contundente após a Segunda Guerra Mundial, período marcado por críticas ao modo de vida das sociedades capitalista e socialista, e por profecias alarmistas quanto ao futuro incerto do planeta frente à superpopulação mundial, ao esgotamento dos recursos naturais, as guerras nucleares, a poluição e as tecnologias opressivas (BRESSAN, 1996). Conforme destaca Ferreti (2002), após a Segunda Guerra Mundial, a humanidade passou a perceber que o modelo de acumulação e consumo realizado por meio da exploração indiscriminada dos recursos naturais, gera efeitos perversos ao funcionamento de ciclos da natureza e ao próprio homem. Surgem então, movimentos ativistas que passam a propagar uma nova forma de análise da relação sociedade-natureza, na qual a questão ambiental é integrada à questão econômica e social e o meio ambiente passa a ser compreendido como o resultado das interrelações entre sociedade e natureza. Bernardes e Ferreira (2003) apontam alguns acontecimentos que foram bastante significativos para a tomada de consciência da sociedade, frente aos riscos impostos pela industrialização e ao uso indiscriminado das tecnologias. São eles: a) O Lançamento das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki: com um total de 105 mil mortos a humanidade pode acompanhar o potencial destrutivo do avanço técnico– científico; b) Os grandes acidentes ambientais: no período entre 1950 e 1990 houve diversos acidentes de grande repercussão, como a contaminação da água na Baía de Minamata no Japão, provocada pela indústria Chisso Corporation no final da década de 1950; e o vazamento de 40 milhões de litros de petróleo no Alasca em 1989, ocasionado pelo navio Exon Valdez, que ao se chocar com um rochedo, espalhou o óleo atingindo 250 km²; c) O livro Silent Spring publicado em 1962, da autora americana Rachel Carlson. A obra detalhou os perigos dos inseticidas e pesticidas para o meio ambiente e para a saúde das pessoas. O livro vendeu meio milhão de cópias e o debate suscitado resultou na proibição das substâncias mais tóxicas listadas pela autora. A partir destes e de outros acontecimentos que marcaram o século XX como o período dos desastres ambientais, ampliou-se a percepção de que existe limite à dominação da natureza e que a produção e consumo ilimitado sob a ótica de uma natureza de recursos limitados, colocam em risco a vida humana e do planeta como um todo. 35 Essa nova percepção da realidade influenciou a formulação de políticas públicas nacionais, primeiro nos países desenvolvidos e depois nos países em desenvolvimento, voltadas a resolução de problemas ambientais que se multiplicavam e a estabelecer novos padrões de uso dos recursos naturais. Tratados internacionais começam a ser negociados para encaminhar soluções para problemas ambientais globais, ao mesmo tempo em que um número cada vez maior de organizações não-governamentais passou a se interessar pelo tema e em que os organismos internacionais reorientaram suas estratégias de ação, incorporando as preocupações com a degradação ambiental (CUNHA; COELHO, 2003, p. 56). No início da década de 1970, o movimento ambientalista ganha força com o apoio científico, através de publicações que alertavam sobre os riscos da produção e consumo acelerada de mercadorias e a exploração indiscriminada dos recursos naturais. Destacam-se o Relatório produzido pelo Clube de Roma em 1972, denominado Os Limites do Crescimento, que alertava para o caráter finito dos recursos naturais e os custos que as poluições colocavam à vida do planeta; e a teoria do “ecodesenvolvimento” de Ignacy Sachs, que propunha novas formas de desenvolvimento a partir das características e potencialidades dos ecossistemas e no manejo sensato dos recursos naturais. Leff (2009) aponta que Sachs propõe que o desenvolvimento deveria abranger seis aspectos fundamentais: satisfação das necessidades básicas; solidariedade com as futuras gerações; participação da população envolvida; preservação dos recursos naturais e do meio ambiente; elaboração de um sistema social que garanta emprego, segurança e respeito com outras culturas; programas de educação. Ainda na década de 1970, o movimento ambientalista é marcado pela maior manifestação ecológica da história: o Dia da Terra, ocorrido em 22 de abril de 1970 nos Estados Unidos, envolveu cerca de 300 mil pessoas nos diferentes estados americanos. A partir de então, o ecologismo se tornou um movimento de massa e encontrou o caminho para a incorporação da questão ambiental na agenda das políticas públicas tanto nacionais quanto globais (MC CORMICK, 1992). Cunha e Coelho (2003) destacam que dentro do próprio paradigma conservacionista emergente, surgem duas diferentes abordagens filosóficas e epistemológicas: uma denominada ecocêntrica, que considera a Terra como um organismo vivo, o qual só poderá ser salvo do processo de degradação mediante mudanças radicais nas bases produtivas da sociedade capitalista; e a outra, denominada corrente instrumental (antropocêntrica), onde o planeta é visto como um sistema gigante de recursos, que devem ser protegidos pelo seu valor econômico, sem que isso comprometa os fundamentos filosóficos da sociedade industrial. Nela, os seres humanos são considerados capazes de utilizar os recursos naturais de maneira 36 controlada e equilibrada, através de técnicas eficientes de manejo, inclusive para as áreas protegidas. A hegemonia da corrente instrumental sob a ecocêntrica é tida por Cunha e Coelho (2003) como o resultado da crescente institucionalização das questões ambientais, onde as instituições políticas, econômicas e sociais existentes são tidas como capazes de proteger o meio ambiente por meio de um programa de direcionamento de políticas públicas. Assim, mesmo reconhecendo o caráter estrutural da problemática ambiental, não há uma oposição às causas estruturais da insustentabilidade, o que torna o discurso ambiental, em sua maioria, funcional ao sistema capitalista. Sob a ótica da corrente instrumental, a problemática ambiental passa a ser discutida em nível mundial através de grandes conferências internacionais, a começar pela Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada na cidade de Estocolmo em 1972. Um dos pontos mais marcantes da conferência de Estocolmo foi o embate entre ambientalistas e desenvolvimentistas, impulsionada pelas propostas do Clube de Roma, de “crescimento zero”, que sugere o congelamento do crescimento da população global e do capital industrial. Foi também a primeira vez que aspectos políticos, sociais e econômicos do ambiente global foram discutidos em um fórum intergovernamental. Como resultado, a agenda da conferência foi ampliada para incluir questões como deterioração do solo, desertificação, administração do ecossistema tropical, suprimento de água e assentamentos humanos. A conferência também criou alguns programas e comissões importantes no debate da problemática ambiental, como o Programa das nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o Earthwatch3, e a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e desenvolvimento (CMMAD) (BERNARDES; FERREIRA, 2003). Bressan (1996) destaca que a Conferência de Estocolmo além de lançar as bases para uma legislação internacional de meio ambiente, propunha também a ideia de articulação entre desenvolvimento e proteção da natureza, que posteriormente resultou na proposta intitulada ecodesenvolvimento. A partir desse conceito o processo de desenvolvimento local e regional deve ser compatibilizado com as características das áreas em questão, considerando o uso adequado e racional dos recursos naturais e a aplicação de tecnologias e de formas de organização que respeitem os ecossistemas naturais e os padrões sócio-culturais (BRESSAN, 1996, p.28). Plano de Ação relativo à avaliação do meio ambiente mundial, denominado “Plano Vigia” (Earthwatch) (SOARES, 2003, p. 44). 3 37 O movimento ambientalista passa a influenciar crescentemente as políticas públicas mundiais a partir da Conferência de Estocolmo. Além disso, o período após a convenção é caracterizado por um grande crescimento do número e da profissionalização de organizações não-governamentais ambientalistas (BERNARDES; FERREIRA, 2003). No Brasil, em consonância com as tendências globais, o movimento ambientalista ganha maior força no final da década de 1970, quando são desenvolvidas diversas campanhas importantes, como o movimento para salvar as Sete Quedas, o movimento de defesa da Amazônia, e o movimento contra a construção de usinas nucleares (VIOLA, 1992). Segundo Viola (1992), na década de 1980 a principal característica do movimento ecológico esteve no processo de discussão sobre o desenvolvimento sustentável, que ganhou força no campo teórico, com a publicação da União Internacional de Conservação da Natureza (UICN), intitulada Estratégia Mundial para a Conservação de 1980. Essa publicação apresentou como meta principal a integração entre conservação e desenvolvimento e conclamou cada país a estabelecer suas diretrizes de ação baseadas em três princípios: manutenção dos processos ecológicos; preservação da diversidade genética; e uso sustentável dos recursos naturais. A década de 1980 também é um marco importante para a questão ambiental no Brasil, especialmente no que se refere à legislação ambiental e sua repercussão sobre a sociedade quanto à necessidade de cuidados ao meio ambiente. Desatacam-se o estabelecimento da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) em 1981 (Lei 6.938/81), que organiza o sistema para a conservação ambiental e cria o SISNAMA (Sistema Nacional de Meio Ambiente) – órgão gerenciador, o CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente) – conselho deliberativo, e o IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) – órgão executor e fiscalizador. Essa Política institui no Brasil o início do planejamento ambiental integrado como forma de orientação ao ordenamento territorial. Como resultados surgem a partir de 1986 diversas resoluções do CONAMA, que vieram a se tornar leis posteriormente. Entre elas destaca-se a Resolução n. 001/CONAMA, que instituiu a obrigatoriedade da elaboração de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) para a realização de obras geradoras de impactos no ambiente físico, social e/ou biológico (CUNHA; COELHO, 2003). Influenciada pela grande popularização das questões ambientais que se deu na década de 1980, a Constituição Brasileira de 1988 também atribuiu grande destaque à proteção dos principais ecossistemas brasileiros, incumbindo aos estados e municípios poderes para legislar 38 sobre seus recursos e ordenar seus espaços. Outras duas ações importantes em termos de legislação ambiental foram o estabelecimento de penalidades aos crimes ambientais instituída em 1998 pela Lei n. 9.605 e a organização das unidades de conservação que ocorreu por meio da instituição do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), em julho de 2000 (Lei Federal 9.985) (CUNHA; COELHO, 2003). Em 1987 a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU publicou o Relatório Brundtland, conhecido como Nosso Futuro Comum, lançando o conceito de desenvolvimento sustentável como “aquele que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer as capacidades das gerações futuras para satisfazer as suas” e para o qual, “não há limites absolutos, mas limitações impostas pelo estágio atual da tecnologia e da organização social, no tocante aos recursos ambientais e pela capacidade da biosfera de absorver os efeitos da atividade humana” (CMMAD, 1988, p. 09). Moreira (1999), Leff (2001) e Cavalcanti (1997) são alguns dos autores que criticam esse conceito. Para eles, trata-se de um conceito que tende a camuflar as referências históricas, as contradições e as relações de poder que estão no interior do processo de construção e reprodução do espaço geográfico e que são responsáveis pelo processo de degradação ambiental. Outro aspecto questionado é a utilização do termo “necessidade”, uma vez que não há uma clareza de que necessidades seriam essas. Necessidade de obter as condições básicas de sobrevivência ou a necessidade de consumir uma quantidade demasiada de mercadorias cuja produção, consumo e descarte são realizados em um ritmo cada vez mais rápido e mais degradante? E ainda, quais as necessidades das gerações futuras? Essas são algumas das questões que demostram o caráter vago, alienado e alienante desse conceito, que ao ocultar as causas estruturais da problemática ambiental acaba tornando-se mais um instrumento de apropriação e interesse do capital. Na retórica do desenvolvimento sustentável, a década de 1990 é marcada pela publicação conjunta da UICN/PNUMA/WWF denominada Cuidando do Planeta Terra, e com a Conferência do Meio Ambiente e Desenvolvimento realizado no Rio de Janeiro em 1992 (ECO 92) que simbolizou um marco da discussão da problemática ambiental em escala global, tendo a participação de 179 chefes de Estado e de Governo, bem como de uma inédita participação da sociedade civil por meio do Fórum das ONGs. Na ocasião, foram aprovados os documentos: a Convenção da Mudança Climática; a Convenção da Diversidade Biológica; a Agenda 21; o Protocolo de Florestas; e a Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio 39 Ambiente e Desenvolvimento. Esses documentos passaram a ser constantemente avaliados nas posteriores discussões ambientais globais (BERNARDES; FERREIRA, 2003). Também ganha destaque a Carta da Terra, proposta na Eco 92 e ratificada pela UNESCO no ano de 2000. Ela teve como função a regulação das relações entre desenvolvimento e meio ambiente. Como destaca Boff (2004, p.60) “o mérito principal da Carta é colocar como eixo articulador a categoria da inter-retro-relação de tudo com tudo”, o que “lhe permite sustentar o destino comum do Planeta e da humanidade” reafirmando o paradigma holístico da ecologia. Ferreti (2002) aponta que apesar dos discursos articulados dentro e fora da Eco 92 terem contribuído para a conscientização de problemas agudos como a pobreza, a exclusão social e as desigualdades socioeconômicas entre os países, eles partem de empresas responsáveis pela degradação socioambiental em países mais pobres, mostrando que esse debate surge a partir de intencionalidade e interesses dos atores hegemônicos ligados ao capitalismo globalizado. Em 2002 na 3º Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio+10) realizada em Johanesburgo na África do Sul, foram revistas as metas estabelecidas na Eco 92 e avaliados os resultados alcançados pelos diversos países no decorrer dos últimos 10 anos. Na ocasião, foi constatado que os compromissos firmados para minimizar a degradação ambiental global e impulsionar o desenvolvimento sustentável não se transformaram em ações efetivas e em alguns casos houve retrocessos, como o da Convenção sobre Mudanças Climáticas, com a recusa dos Estados Unidos em assinar o Protocolo de Kyoto (1997), apesar de ser o país mais poluidor e causador do efeito estufa (BERNARDES; FERREIRA, 2003). Vinte anos após a Cúpula da Terra (Rio 92), é realizada em junho de 2012 na cidade do Rio de Janeiro a mais nova Conferencia das Nações Unidas sobre o desenvolvimento sustentável (chamada Rio + 20). Nela, as discussões estiveram focadas em dois temas principais: como desenvolver uma economia verde de forma a alcançarmos um desenvolvimento sustentável e eliminar a pobreza global; e como ampliar a coordenação internacional para o desenvolvimento sustentável. Boff (2012, p 04), ao analisar o documento resultante da Conferência, conclui: O documento final, entretanto, não nos fornece o mapa nem os meios de percorrê-la. Ele é medroso, sem ambições e sem sentido ético e espiritual da história humana. Refém de uma visão reducionista e até materialista da economia, não forjou um novo e necessário software social e civilizacional 40 que nos desse esperança de um futuro que não fosse simplesmente o prolongamento do passado e do presente. [...] Levá-lo teimosamente avante é empurrar-nos para a borda de um abismo que se abre lá na frente, num tempo não muito distante. [...] Há um complexo de crises em curso, particularmente a do aquecimento global, da insustentabilidade do planeta Terra e ultimamente a econômico-financeira, atingindo o coração dos países opulentos, sem saber como saírem dela. Há ainda o crescimento do número de pobres e miseráveis que em 2008 eram 860 milhões e que agora, devido à crise global, passaram a um bilhão e duzentos milhões. Muitos analistas desenham cenários dramáticos para o próximo futuro da Terra e da Humanidade. Há uma guerra total, movida contra a Terra viva (Gaia) pelas elites mundiais e pelas mega empresas multilaterais, pela forma como produzem e acumulam, pondo em risco o sistema-vida e o sistemacivilização. Há poucas chances para uma paz duradoura e uma globalização solidária. Como salienta Leonardo Boff, o documento resultante da conferência é carente justamente dos meios de implementação das ações pretendidas, pois, não há o estabelecimento de decisões práticas. O que existe nele são apenas intenções, metas, que representam muito mais os interesses dos atores hegemônicos do capitalismo globalizado, do que a busca por um modelo de desenvolvimento coerente com as questões socioambientais globais. O fato é que a realidade ainda é de uma produção e consumo da economia mundial ecologicamente insustentável, socialmente injusta e depredadora do meio ambiente. A tão sonhada sustentabilidade ambiental nos parece no cenário atual, um sonho distante e como ponderam Lazzarini e Gunn (2004, p 24), só poderá ser alcançada quando houver o “equilíbrio entre o que é ecologicamente necessário, socialmente desejável e politicamente atingível” reconhecendo a insustentabilidade dos padrões de produção e consumo hegemônicos e estabelecendo um novo paradigma de desenvolvimento. Porém, apesar do discurso ambiental estar fortemente incorporado na atualidade por organizações econômicas e políticas que buscam, sob a retórica da sustentabilidade, fortalecer o modelo econômico hegemônico, o movimento ambientalista e a crise ambiental vivenciada sobretudo a partir da década de 1960 (PORTO-GONÇALVES, 2006), contribuíram na inclusão da questão ambiental em decisões sociais importantes nas diferentes escalas espaciais (global, nacional, regional, local), mudando valores e perspectivas no entendimento da relação sociedade/natureza, questionando a racionalidade econômica dominante e apontando para uma utilização equilibrada dos recursos naturais e para uma melhor distribuição dos benefícios sociais e econômicos decorrentes desses usos. 41 Como aponta Leff (2008), a crise ambiental da atualidade marca uma ruptura e renovação da racionalidade econômica, na qual os paradigmas de conhecimento e modelos societários são questionados e se propõe a construção de uma nova racionalidade, pautada em novos valores e saberes e em modelos produtivos sustentados em bases ecológicas e significações culturais. Esse paradigma de desenvolvimento no qual a natureza e a cultura são integradas como forças produtivas (LEFF, 2009), acabou influenciando entre outras ações, a adoção de formas ativas de manejo nas áreas naturais protegidas, nas quais “as comunidades locais, com suas práticas e valores, deixam de ser vistas como “saqueadoras da natureza” e passam a serem encaradas como atores sociais importantes para a conservação dos recursos” naturais (CUNHA; COELHO, 2003). É o caso das Unidades de Conservação de Uso Sustentável no Brasil, que são divididas em sete categorias: Área de Proteção Ambiental, Área de Relevante Interesse Ecológico, Floresta Nacional, Reserva Extrativista, Reserva de Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentável e Reserva Particular do Patrimônio Natural. Nessas unidades, são permitidas atividades que envolvam coleta e uso dos recursos naturais, desde que ocorram de forma responsável, sem exaurir esses recursos ou comprometer os processos ecológicos existentes. Na perspectiva do uso conservacionista, as Unidades de Conservação passam a ter além da função ecológica, uma função social, já que através de práticas de manejo buscam conciliar o objetivo de manutenção de serviços ambientais com a exploração dos recursos naturais pelas populações locais. Esse fato é um indicador do predomínio da corrente conservacionista no final do século XX e início do século XXI. Outra ação desenvolvida são os modelos de gestão ambiental pautados no conceito de totalidade, no qual se busca integrar os diferentes interesses que envolvem o uso dos recursos naturais e a conservação ambiental. Um exemplo é o manejo integrado de bacias hidrográficas, cujo propósito é adequar a interferência antrópica às características biofísicas dessas unidades naturais (ordenamento do uso/ocupação da paisagem, observadas as aptidões de cada segmento e sua distribuição espacial na respectiva bacia hidrográfica) de forma a promover a sustentabilidade ambiental e a equidade social (BRESSAN, 1996). Todavia, para que esses modelos de gestão ambiental possam ser efetivados, se faz necessário entre outras ações, o estabelecimento de práticas voltadas à intensificação de usos conservacionistas dos ecossistemas e de seus recursos, seja em áreas protegidas (unidades de conservação, áreas de preservação permanente e reservas legais), mas também em áreas urbanas e rurais não protegidas pela legislação. 42 Considerando que nossa pesquisa tem seu objeto em pequenos estabelecimentos rurais, enfocaremos na sequência, algumas das possibilidades de usos conservacionistas em áreas de florestas situadas nesses estabelecimentos. 3.3 Usos conservacionistas de florestas em pequenos estabelecimentos rurais: modificando percepções, criando possibilidades. A intenção de preservar áreas de floresta em estabelecimentos rurais esteve presente no primeiro Código Florestal brasileiro aprovado em 1934, no governo de Getúlio Vargas. A lei previa que os proprietários de terras cobertas por matas, não poderiam cortar mais do que 75% da vegetação nativa existente. Essa primeira versão do código instituiu também as “florestas protetoras”, que embora com conceito bastante semelhante às Áreas de Preservação Permanente (APPs), não previa no caso de corpos d’água, as distâncias mínimas de vegetação destinadas à proteção (INSTITUTO REFLORESTA S/D). De acordo com o Instituto Refloresta (s/d, p. 17) o código de 1934 praticamente passou despercebido, pois “os fazendeiros viam a lei como uma restrição incompatível, que limitaria a exploração econômica da produção agrícola” e por isso “quase ninguém a cumpriu, e não houve quem a fizesse cumprir”. Em 1965 foi sancionado um novo Código Florestal (Lei Federal nº 4.771/65), em vigor até o ano de 2012. Nele, criam-se dois mecanismos de proteção das áreas de floresta nas propriedades rurais: as áreas de Reserva Legal (RL) e as Áreas de Preservação Permanente (APPs). O código de 1965 determina que a reserva legal seja averbada à margem da inscrição da matrícula do imóvel e que a recomposição da vegetação tenha de ser feita com espécies nativas. Fixa a possibilidade da compensação da reserva legal por outra área equivalente em importância ecológica e extensão, desde que no mesmo ecossistema e na mesma microbacia. Pelo código, essa cobertura vegetal corresponde a uma porcentagem de vegetação independente das APPs, que varia de 20% até 80% dependendo da Unidade Federativa, e deve ser conservada ou utilizada sustentavelmente, mediante plano de manejo florestal, com o objetivo de assegurar a reprodução da biodiversidade (fauna e flora), além da regulação do clima local, regional e global (BORGES et al., 2011). As Áreas de Preservação Permanente (APPs) são definidas pela Lei 4.771/65, como áreas protegidas com objetivo de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade ecológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem 43 estar das populações. Essas áreas correspondem à faixa de mata ciliar nas margens de cursos d’água e entorno de nascentes dependendo da largura do rio, abrangendo também, as áreas ao redor das lagoas, lagos, reservatórios d’água, nascentes d’água, topo de morros, encostas com declividade superior a 45°, restingas, bordas de tabuleiros ou chapadas, em altitude superior a1.800 metros (BRASIL,1965). Ocorre, no entanto, que mesmo com as determinações impostas pela legislação ambiental, elas não têm sido suficientes para assegurar a manutenção dessas áreas nas propriedades, tendo em vista, que diante do modelo agrícola consolidado no campo brasileiro, isto implica inviabilizar economicamente uma parcela significativa da propriedade (BORGES, et al., 2011). Esse sentimento anti-florestal, como destacam Rodrigues et al. (2007), deve-se em grande parte a percepção de que as florestas não possuem valor econômico, que são áreas improdutivas e verdadeiros obstáculos ao processo de desenvolvimento. Sob essa perspectiva, se deparam as polêmicas disputas entre ambientalistas e ruralistas, sobre a regulamentação entre a manutenção florestal e o uso agropecuário do solo nas propriedades. Em meio a esse conflito de interesses, encontram-se os pequenos estabelecimentos rurais, que devido a pouca disponibilidade de terra para a prática agrícola convencional, são utilizados como argumento pela bancada ruralista nas constantes pressões para mudanças no código florestal do país. Ocorre que, por traz desse discurso estão os interesses dos atores hegemônicos ligados ao agronegócio, que ao colocar as áreas de floresta como “causa” dos problemas socioeconômicos na pequena propriedade, tenta mascarar as causas estruturais dessa problemática, decorrentes de um modelo produtivo alicerçado na concentração fundiária, no sistema monocultor, no uso indiscriminado de agrotóxicos, no trabalho degradante e na degradação ambiental. Nesse sentido, o Novo Código Florestal aprovado pela Lei 12.651 de 25 de maio de 2012 e modificado pela Lei 12.727 de outubro de 2012, demonstra claramente a forma com que as áreas de florestas são tratadas por aqueles que buscam o desenvolvimento econômico a qualquer custo. Entre anistias a crimes ambientais e um prazo de até 20 anos para a recomposição das áreas desmatadas, a Lei determina que propriedades de até quatro módulos fiscais4 com largura de rio de até 10 metros recomponham a mata ciliar numa faixa que vai de 4 O Módulo Fiscal corresponde a unidade de medida expressa em hectares, fixada para cada município, considerando fatores como tipo de exploração predominante no município e renda obtida com a mesma. No Paraná a média para cada módulo fiscal corresponde a 18 hectares (FAEP, 2012, p. 06). 44 5 a 20 metros, dependendo do tamanho da propriedade. (Pelo Código de 1965 a faixa mínima para essa largura de rio era de 30 metros). Com o novo código, as propriedades de até quatro módulos fiscais também não precisam mais recompor as reservas legais, pois, passa a valer o percentual de vegetação nativa existente na propriedade até o dia 22 de julho de 2008. O código também determina que propriedades maiores de quatro módulos fiscais, poderão incluir as Áreas de Preservação Permanente no cálculo da Reserva Legal (BRASIL, 2012). Essas são algumas das mudanças ou “conquistas” como chamam os representantes do modelo desenvolvimentista, mas que na verdade, representa um retrocesso para a conservação florestal do país. Essas mudanças devem levar a uma redução significativa de áreas que deveriam ser recuperadas diante da importância que possuem para a manutenção e qualidade dos recursos hídricos, conservação dos solos, regulação climática, manutenção da biodiversidade, entre várias outras funções ambientais, que afetam diretamente a qualidade de vida da população e da própria produtividade agrícola. Nesse cenário, a viabilização econômica das áreas de floresta nas propriedades rurais é uma forma de quebrar esse paradigma dicotômico entre floresta e desenvolvimento, pois, através de práticas conservacionistas, os proprietários têm a possibilidade de gerar renda, diversificar as atividades produtivas e manter uma relação diferenciada com as áreas florestais nesses espaços. Passando de uma perspectiva de enclave econômico, para uma alternativa especialmente para os pequenos estabelecimentos rurais da agricultura familiar - de enfrentamento dos problemas sociais, econômicos e ambientais, gerados pelas práticas agrícolas convencionais (RODRIGUES et al., 2007). As possibilidades de uso conservacionista para essas áreas são bastante diversificadas e segundo Ahrens (2005), devem ser praticadas de modo a manter os mecanismos de sustentação do ecossistema, ou seja, manter os processos ecológicos essenciais ao equilíbrio ecossistêmico local, como por exemplo, a polinização, a dispersão e a germinação de sementes, a regeneração natural e a diversidade da fauna e flora. Destaca-se nesse contexto, o manejo florestal sustentável, em que é possível extrair espécies madeireiras, medicinais, recursos alimentícios, matéria-prima para artesanato e ornamentação, óleos, resinas, gomas e sementes; a apicultura, que disponibiliza além de produtos alimentícios o aumento da produtividade em culturas agrícolas através da polinização; os Sistemas Agroflorestais (SAFs), no qual espécies lenhosas perenes são cultivadas juntamente com espécies herbáceas de ciclos curtos, médios e longos; e o uso recreativo, onde as florestas são utilizadas turisticamente, geralmente por visitantes de procedência urbana (BORGES et al., 2011). 45 Vale destacar que nas áreas de preservação permanente o uso econômico inicialmente era restrito, porém, a partir da Resolução CONAMA nº 369, de 28 de março de 2006, alguns tipos de intervenção passaram a ser permitidos, tais como a abertura de trilhas para as práticas de ecoturismo, e no caso de pequenos estabelecimentos rurais, o manejo florestal sustentável. Todavia, apesar de existirem diferentes alternativas para viabilizar economicamente as áreas de floresta de forma conservacionista, essas práticas têm sido pouco desenvolvidas pelos proprietários rurais, fato que segundo Rodrigues et al. (2007) ocorre principalmente pela falta de incentivos das políticas governamentais, falta de informações e de assessoria técnica por parte de órgãos ambientais e extensionistas, além da própria dificuldade do produtor rural em fazer a manutenção e compreender os benefícios biológicos e econômicos que essas áreas proporcionam. As dificuldades apontadas acima estão vinculadas a um contexto político onde predomina o modelo agropecuário do agronegócio, estruturado na produção em larga escala, na redução das variedades produzidas, no uso de agroquímicos e em grandes propriedades rurais, tendo como consequências ambientais a eliminação da cobertura florestal, o aumento de processos erosivos e perda da fertilidade dos solos, assoreamento e contaminação dos cursos d’ água, redução da biodiversidade local, entre outros impactos que, consequentemente, se refletem na redução da produtividade agrícola, no aumento dos custos requeridos à produção e em dificuldades para a sobrevivência e manutenção dos agricultores familiares/camponeses em seus estabelecimentos rurais. Contudo, ainda que as práticas conservacionistas nas áreas de floresta ainda não sejam tão difundidas, é importante salientar que elas representam para os agricultores familiares/camponeses, uma oportunidade de viabilização ecológica e econômica dessas áreas, diversificando e elevando a renda da população local e contribuindo para a permanência no campo com qualidade, levando também a benefícios diretos e indiretos proporcionados pela conservação florestal. Entre o usos conservacionistas apresentados por Borges et al. (2011), o uso recreativo, tem sido uma atividade potencial para o desenvolvimento de atividades de lazer e turismo nas propriedades. Isso se deve ao crescente desejo especialmente de moradores das áreas urbanas pelo contato com as áreas florestais, sejam para atividades de caminhada, práticas de esporte, conhecimento ou somente contemplação. Conforme destaca Lima (1972), as florestas tendem a oferecer o oposto da rotina massificada e artificializada da vida moderna. O silêncio, quebrado somente por ruídos produzidos pelos seres que ali habitam; o ar puro, livre de poeiras, fumaça e substâncias 46 tóxicas; a amenização da temperatura e as belezas cênicas são alguns dos fatores que as diferenciam dos espaços cotidianos e as tornam tão atrativas para a visitação. Para viabilizar esse uso, uma das alternativas é a implantação de trilhas/caminhos para serem percorridos pelos visitantes e que podem tanto ser utilizados como um atrativo secundário aos objetivos principais – visitar uma cachoeira, caverna, corredeira, etc.- quanto ser o próprio sentido da caminhada ou mesmo da visitação (SALVATI, 2003). 3.4 As Trilhas Ecológicas Andar em trilhas é uma habilidade antiga do ser humano, motivada principalmente pela necessidade de deslocamento. Contudo, nos últimos anos, a caminhada incorporou um novo significado. De simples meio de deslocamento, elas passaram a ser um novo meio de contato e integração com a natureza (ANDRADE, 2003). O desejo pelo contato e fruição da natureza preservada, fez das trilhas caminhos construídos com o objetivo de aproximar o visitante com o ambiente natural e atuar como um espaço de interação e familiaridade com o meio ambiente (KROEFF; VERDUM, 2011). Em termos conceituais, as trilhas em áreas naturais recebem várias definições e significados. Para Menezes (1998, p. 12) a trilha é “um corredor linear, na terra ou na água, com status de proteção e acesso público para recreação e transporte”. Vasconcellos (2006, p.46) as vê como caminhos “através de um espaço geográfico, histórico ou cultural, traçados pelo homem para a sua mobilidade física ou intelectual”. Guillaumon (1977) acredita que a trilha é um percurso em um sítio natural e/ou artificial que consegue promover um contato mais estreito entre o homem e a natureza, tornando-se um instrumento pedagógico importante que possibilita o conhecimento de fauna, flora, geologia, dos processos biológicos, das relações ecológicas do meio ambiente e de sua proteção. Na definição apresentada por Salvati (2003, p. 1): Trilhas são caminhos existentes ou estabelecidos, com diferentes formas, comprimentos e larguras, que possuem o objetivo de aproximar o visitante ao meio natural, ou conduzi-lo a um atrativo específico possibilitando seu entretenimento ou educação, através de sinalizações ou recursos interpretativos. Sabendo que existem definições para o termo “trilha”, Costa (2006, p. 23) chama a atenção para o fato de todas elas apresentarem duas características em comum: “o fato dela 47 permitir ao caminhante o contato com a natureza e que é através dela que se pratica o ecoturismo5”. No fomento da prática recreativa, as trilhas possuem diferentes tipologias, tais como: trilhas ecológicas, ecoturística, geoturísticas, interpretativas, entre outras. Das tipologias apresentadas, as que são utilizadas no decorrer deste estudo são as trilhas ecológicas e as trilhas interpretativas. A diferença entre ambas está no fato da trilha ecológica permitir uma contemplação passiva do ambiente, enquanto que a trilha interpretativa busca através de elementos originais e ilustrativos, traduzir fatos e fenômenos que estão além das aparências, ou que mesmo aparentes, não são comumente percebidos pelos visitantes, por isso, são consideradas importantes instrumentos para as atividades de educação ambiental (COSTA, 2006). Atualmente a caminhada em trilhas é uma das principais atividades do ecoturismo (KROEFF; VERDUM, 2011), muito embora, elas tenham sido corriqueiramente utilizadas apenas como meio de deslocamento para determinado atrativo de alto valor estético, e não como o sentido próprio da caminhada. Isso faz com que o indivíduo, na ânsia de chegar ao atrativo principal, geralmente utilizado como ponto final da trilha, deixe de apreciar e vivenciar o ambiente como um todo, fazendo com que a caminhada na trilha não tenha um valor em si (VASCONCELLOS, 2003). Nas Unidades de Conservação além de ser um instrumento da prática recreativa, as trilhas também são consideradas importantes ferramentas de manejo e de deslocamento da população residente dentro e no entorno da unidade, para realizar atividades de subsistência tais como agricultura, extrativismo, pesca, etc.(MAGRO; TALORA, 2006). As trilhas também têm sido uma ferramenta utilizada no desenvolvimento de atividades de educação ambiental. Autores como Andrade e Rocha (1990); Guillaumon (1997); Schellhas (1986); Vasconcellos (1997); Andrade (2003); Menguini (2005); Magro (1999); Salvati (2003); Bedim (2004); Lechener (2006); Feola (2006); Costa (2006), entre outros, têm destacado o potencial educativo/pedagógico das trilhas. Eles acreditam que o uso de trilhas permite desenvolver e praticar a observação, percepção, contemplação e De acordo com órgão responsável pelo setor turístico no Brasil, a EMBRATUR, “ecoturismo é um segmento da atividade turística que utiliza de forma sustentável o patrimônio natural e cultural, incentiva a conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista pela interpretação do ambiente, promovendo o bem estar das populações (...). (EMBRATUR, 1994, apud SERRANO, 1997, p.17). 5 48 interpretação de elementos naturais observados. Trata-se de uma oportunidade de integração com a natureza, conhecimento de diversas funções ambientais de espécies e ecossistemas e sensibilização dos visitantes para as causas conservacionistas. Porém, como destaca Vasconcellos (1997) as trilhas ecológicas por si só, não se concretizam como um instrumento para sensibilizar ou conscientizar ambientalmente os visitantes. Para isso, é necessária a adoção de recursos interpretativos que instiguem a percepção dos indivíduos, de forma criativa, atrativa e motivadora, por meio de pontos estratégicos para paradas e interpretação. Nessa perspectiva, apresentamos na sequência, a importância da percepção e interpretação ambiental como método para difundir a educação ambiental nas trilhas ecológicas. 3.4.1 A Percepção e Interpretação ambiental como objetivos das atividades recreativoeducativas em trilhas ecológicas A percepção e a interpretação ambiental têm sido comumente utilizadas como instrumentos para a educação ambiental. Como enfatiza Melazo (2005), conhecer o modo como os indivíduos percebem e entendem o ambiente contribui na construção de metodologias capazes de despertar a tomada de consciência frente aos problemas ambientais e estimular ações conservacionistas. A percepção ambiental também tem sido um instrumento utilizado pela ciência geográfica, como forma de analisar a interrelação do homem com o meio e o modo como os indivíduos percebem e entendem o espaço em que habitam (COSTA; MELLO, 2005). Nas trilhas, a percepção e a interpretação ambiental são utilizadas como instrumentos de manejo, de sensibilização e de educação dos visitantes. Através delas, os indivíduos são instigados a desenvolver reflexões, sensações e emoções, frente às ocorrências, fatos, fenômenos e realidade dos sistemas ambientais observados (VASCONCELLOS, 1997). A percepção ambiental é definida por Costa e Mello (2005), como a maneira pela qual cada indivíduo sente e compreende o meio ambiente, através da apreensão de objetos e sentidos dentro do campo sensorial. Na percepção, os sentidos, principalmente a visão, são partes necessárias e fundamentais (OLIVEIRA; MACHADO, 2004). Entretanto, a percepção também está associada a processos mentais, cognitivos e a uma série de simbolismos existentes em cada indivíduo e em cada grupo social, com suas diferenças culturais e até limites fisiológicos ou 49 biológicos, que acabam influenciando na interrelação e percepção da natureza (MELAZO, 2005). Oliveira e Machado (2004) destacam que o processo de percepção ocorre em dois momentos. Em um primeiro momento ela é individual e seletiva, sujeita a valores e experiências prévias e memórias. Em seguida, entram em ação os filtros culturais, sociais e ainda, individuais, tendo como papel importante os aspectos econômicos e as vivências e experiências que cada indivíduo dispõe conforme sua idade, sexo e grau de escolaridade. Fatores como presença de outros visitantes, encontro entre grupos e tipo de atividade desenvolvida, também influenciam no processo de percepção, bem como, na qualidade da experiência vivenciada (TAKAHASHI, 2004). Para Tuan (1980, apud COSTA, 2006) a percepção do indivíduo sobre o ambiente visitado é puramente estética, e por isso, a necessidade de desenvolver medidas que provoquem no visitante a empatia em relação à vida e aos valores dos habitantes do local, bem como, a consciência dos possíveis impactos que podem ser desencadeados pela visitação. Takahashi (2004) ressalta que a percepção dos impactos nas trilhas é algo bastante limitado por parte do visitante, que geralmente se reduz a presença ou não de lixo. A autora relata que em estudos realizados em parques norte-americanos, constatou-se que a maioria dos visitantes classificou a condição das áreas visitadas como boas ou excelentes, mesmo em locais onde mais de ¾ do solo se encontrava compactado em razão do excessivo pisoteio. Os poucos visitantes que perceberam a presença do impacto, responderam, entretanto, que essa condição não afetava a qualidade de sua visitação. Esse fato pode ser explicado pela pouca ou nenhuma consciência ecológica por parte do visitante, que na grande maioria, sob a ótica do “consumo do verde”, busca somente a satisfação e o bem estar individual, abdicando de qualquer responsabilidade ou preocupação com o ambiente visitado. Apesar disso, a percepção ambiental tem sido bastante utilizada como instrumento de manejo das trilhas, especialmente por meio de metodologias ligadas a interpretação ambiental que tendem a proporcionar ao visitante o conhecimento do local e a motivação de interagir com o ambiente visitado, bem como, de tomar “consciência não só de suas belezas cênicas, mas de seus problemas (sociais, econômicos, políticos e ambientais)” (COSTA, 2006, p. 24). Conforme enfatiza Vasconcellos (1997), as pessoas que buscam atividades de lazer como caminhada em trilhas, geralmente não estão à espera de leituras e ensinamentos. Por isso, faz-se necessário desenvolver a arte e a técnica da interpretação ambiental, na qual os 50 visitantes são instigados a perceber, conhecer e compreender o ambiente através da experiência direta e de meios ilustrativos. A interpretação ambiental surge, assim, como “um instrumento de comunicação, que favorece as conexões intelectuais e emocionais entre os interesses da audiência e os significados inerentes aos recursos” (VASCONCELLOS, 2006, p. 23). Ela é uma forma estimulante de fazer com que as pessoas entendam o seu entorno ecológico, para em seguida, sensibilizá-las a uma nova postura ética em prol das questões ambientais. A linguagem da natureza traduzida para a linguagem comum das pessoas - para que percebam um mundo que nunca tinham visto antes - e o modo como essa tradução é feita, são fatores que diferenciam a interpretação ambiental da simples comunicação de informações (VASCONCELLOS, 1997). Milano (1997) define a interpretação ambiental como: [...] uma atividade educativa, cujo propósito é dar a conhecer o significado dos recursos através de aspectos originais, por experiência direta ou por meios ilustrativos, ao invés do simples comunicar de sua significância ou importância. As técnicas de interpretação em áreas naturais silvestres objetivam confundir as atividades de recreação e educação, imperceptivelmente, de maneira que o visitante desenvolva sua Educação Ambiental sem se perceber disso. (MILANO, 1997 apud COSTA, 2006, p. 27-28). Para Silva et al. (2006, p.195) a interpretação ambiental é uma “oportunidade de desenvolvimento humano que estimula a capacidade investigadora, levando o homem a repensar seu modo de ver e sentir o planeta como um todo, a partir da leitura e da percepção da realidade ambiental”. Nesta perspectiva, Melazo (2005) explica que a junção entre a percepção e a interpretação ambiental tem por objetivos proporcionar ao indivíduo e a comunidade, uma maior sensibilização em relação ao meio ambiente visitado, fortalecendo a cidadania, as relações interpessoais com a natureza e acelerando o desenvolvimento de atitudes “capazes de produzirem novas ações coerentes com a sustentabilidade ambiental, cultural, econômica, social e espacial” (p. 51). Boff (2003) destaca que enquanto intérprete da paisagem, o homem sente a vida a partir de sua própria experiência e busca novas sensações através de uma prática sinestésica própria, interiorizando-a por meio de imagens, memórias e significações. Esta internalização por sua vez, contribui para consolidar uma nova postura ética em relação ao meio ambiente, concomitante à tomada da consciência de seus limites e ao desenvolvimento de uma 51 espiritualidade ecológica capaz de promover o respeito aos humanos e a todos os demais seres da natureza. Kroeff e Verdum (2011) chamam a atenção para o fato de que as potencialidades de percepção e interpretação ambientais das trilhas ecológicas normalmente não são aproveitadas, sendo as trilhas utilizadas apenas como um meio de deslocamento para um atrativo de valor estético e não para a reflexão, questionamento e compreensão da relação homem-natureza. Para esses autores, as trilhas devem ser o próprio sentido da caminhada, onde o indivíduo é chamado a interagir com o ambiente visitado, descobrir novas paisagens, entender os processos ambientais que a formam e adquirir maior familiaridade com o ambiente natural. Para Vasconcellos (1997), ao estimular a percepção e a interpretação ambientais, as trilhas se tornam caminhos geográficos capazes de traduzir fatos e fenômenos além das aparências, e que comumente, olhos distraídos não conseguem enxergar. Ao invés de simplesmente transmitir informações de forma literal, as trilhas interpretativas buscam revelar os significados e as relações com o meio ambiente. Aliando entretenimento, significado, organização e também uma mensagem a ser comunicada (ANDRADE; ROCHA, 2008). Para isso, a interpretação ambiental deve estar organizada em torno de um tema, ser prazerosa, apresentar informações relevantes, significativas (VASCONCELLOS, 2006), e principalmente, utilizar informações a partir de investigações científicas (MOREIRA, 2011). Nas trilhas, a interpretação ambiental pode ser realizada com a presença de guias (trilhas guiadas) ou sem a presença de guia (trilhas autoguiadas) (ANDRADE; ROCHA, 2008). Em trilhas guiadas, o condutor desempenha um importante papel na experiência do visitante, pois é através dele, que o indivíduo é conduzido a observar, sentir, descobrir e questionar sobre fatos e fenômenos relacionados ao tema em questão. Por isso, a qualidade da interpretação ambiental depende muito da capacidade, preparo e interesse desse profissional (MOREIRA, 2011). Nas trilhas autoguiadas, nas quais a interpretação é estimulada por meios de placas, painéis e folders, folhetos ou oralmente antes do visitante dar início ao percurso, a eficiência da interpretação ambiental depende fundamentalmente da qualidade do material interpretativo, o qual deve adotar uma linguagem amena, organizada e temática, de modo a instigar no visitante o interesse pelo tema estabelecido (VASCONSCELLOS, 2003). No geral, as áreas florestais oferecem inúmeras possibilidades interpretativas. Os temas para a interpretação são bastante variados, podendo ter como enfoque a história local, 52 antropologia, relação homem-natureza, relações alimentares, vida social dos animais, biodiversidade, comunicação com animais, relação de tamanho das plantas (altura, diâmetro e volume), uso dos sentidos (cores, tons, som dos pássaros e do vento nas árvores), entre vários outros (VASCONCELLOS, 1997). Silva e Junior (2010) destacam que em áreas de floresta, as árvores são os elementos mais importantes a serem considerados no processo de interpretação, pois na medida em que estruturam a floresta, dão característica ao ecossistema e são os elementos mais visíveis na paisagem. Por isso, muitas vezes a caracterização florística, o grau de beleza e o destaque no ambiente, são utilizados como referência para determinar o traçado original das trilhas e para definir os pontos interpretativos. Além disso, os autores destacam que fragmentos mais densos passam uma sensação de mistério, de algo a ser descoberto, e isso acaba instigando a curiosidade e a aspiração do visitante em fazer o percurso. Silva e Junior (2010) acreditam que a interpretação ambiental em área de floresta é capaz de promover: a) sensibilização ambiental: obtida quando a abordagem do guia ou de materiais interpretativos permitem ao visitante perceber as interações ecológicas existentes na floresta com mais facilidade, internalizar a importância da conservação desta e se emocionar com a maneira destrutiva com que o ser humano interage com ela; b) compreensão ambiental: obtida na medida em que o visitante entende a dinâmica dos sistemas naturais na floresta e a forma com que o ser humano participa dessa dinâmica; e c) a responsabilidade ambiental: alcançada ao criar laços afetivos com a floresta por meio da sensibilização e ao compreender melhor o efeito de suas ações nesse ambiente, a tomada das responsabilidades é facilitada. A responsabilidade ambiental e a verdadeira compreensão das relações de um ecossistema, para Silva e Junior (2010) são facilitadas, mas dificilmente serão alcançadas, devido ao curto tempo da visita e outras questões de ordem subjetiva. Contudo, estimular a percepção e a interpretação ambiental, pode ser uma maneira eficiente de instigar a consciência ambiental dos visitantes, de modo que eles primem pela sustentabilidade, melhorando inclusive a qualidade da visitação, uma vez que, estando mais sensibilizados para as causas conservacionistas, os visitantes podem agir de maneira mais responsável em relação ao ambiente visitado. Considerando que nos pequenos estabelecimentos rurais, devido ao tamanho do fragmento de floresta, as trilhas são geralmente de curta distância, o desenvolvimento de atividades interpretativas pode ser uma estratégia eficiente para aperfeiçoar a experiência vivenciada nas trilhas, aumentar o tempo gasto na realização do percurso e atrair um maior 53 número e diversidade de visitantes. Neste contexto, Apresentamos a seguir, alguns dos benefícios e problemáticas do uso de trilhas ecológicas nesses estabelecimentos. 3.5 Trilhas Ecológicas em Pequenos Estabelecimentos Rurais: Potencias e Problemáticas Consideradas intervenções de baixo impacto ambiental, as trilhas ecológicas são permitidas tanto para a Reserva Legal quanto para as Áreas de Preservação Permanente, que legalmente, possuem uma possibilidade de intervenção econômica mais restrita (CONAMA nº 369/2006). Nos pequenos estabelecimentos rurais, as trilhas têm sido uma alternativa para desenvolver ou incrementar a oferta turística local e gerar renda, seja diretamente cobrando uma taxa de visitação, ou indiretamente, por meio de refeições servidas por adesão ou comercialização de produtos locais e regionais (SILVA, 2006). A viabilização social e econômica através das trilhas, para Jesus e Ribeiro (2005) acaba se refletindo em ações de preservação, manutenção e recuperação das áreas de floresta nas propriedades, tendo em vista, que quanto mais preservado estiver o fragmento de floresta, maior será sua atratividade para a visitação. Através das trilhas, as áreas legalmente protegidas deixam de serem espaços economicamente perdidos na propriedade e passam a ser uma oportunidade de renda e qualidade ambiental. Ao conservar ou recuperar áreas anteriormente degradadas por outras formas de apropriação e uso do solo nas propriedades, os proprietários acabam obtendo benefícios não apenas econômicos, mas também socioambientais, já que a manutenção dessas áreas afeta diretamente qualidade do ambiente local e, consequentemente, a qualidade de vida da população residente no entorno. As trilhas também podem promover a cooperação da comunidade local para que fragmentos florestais de diversas propriedades sejam integrados através de um circuito de trilhas, possibilitando a geração de renda e conservação de áreas florestais em diferentes localidades e o aumento no potencial atrativo das trilhas, através de elementos naturais, arquitetônicos e humanos que se diferem de uma propriedade para outra e podem proporcionar experiências ricas à visitação (LECHENER, 2006). No Recanto Renascer, onde se localizam as duas trilhas ecológicas utilizadas como foco da investigação empírica dessa dissertação, é possível afirmar que essa integração ressaltada por Lechener (2006) existe, pois uma das trilhas do local possui boa parte de seu traçado no fragmento de floresta da propriedade vizinha, o que possibilita uma maior 54 diversidade de atrativos na trilha e um percurso de maior distância. Contudo, a renda obtida com a visitação ainda permanece apenas com o proprietário do Recanto Renascer. Porém, apesar dos benefícios socioeconômicos e ambientais, o uso das trilhas ecológicas também pode trazer uma série de impactos indesejáveis tanto ao ambiente quanto aos visitantes e gestores da atividade. Esses impactos, segundo Barros e Dines (2000), geralmente estão associados à falta de planejamento, aumento no número de visitantes e intensidade das visitações. É importante considerar que as áreas de fragmentos florestais em estabelecimentos rurais são geralmente pequenas, em virtude da ocupação do entorno e possuem maior suscetibilidade a impactos, se comparados aos fragmentos de maior porte pertencentes às Unidades de Conservação. Assim, impactos ambientais comumente atribuídos à implantação e uso das trilhas, tendem a ser intensificados nesses locais. Dentre os possíveis impactos proporcionados ao ambiente natural através das trilhas, autores como Takahashi (1998), Feola (2006), Andrade e Rocha (1990), Takahashi (2004), Costa (2006), Lechener (2006) e Magro (1999) destacam: erosão e transporte de solos; contaminação de rios e outros corpos d’água por assoreamento; perda da vegetação ao longo da trilha; introdução de espécies invasoras; aumento do acesso às áreas por espécies predadoras ou indesejáveis; perturbações/deslocamento da vida selvagem; fragmentação de habitats; alargamento do corredor e do piso da trilha; usos múltiplos/sobreposição de usos; perda da borda crítica; ruptura no talude; aprofundamento do leito da trilha; entupimento por sedimentos em drenos, barragens de água, drenagens e bueiros; inundação do piso da trilha; redução do banco de sementes do solo; e o uso indevido, não ordenado ou intensivo da trilha por comunidades locais. Barros e Dines (2000) indicam que os impactos se dão sobre o solo, água, vegetação e fauna local. Conforme os autores, o impacto sobre o solo tem início com a destruição da serrapilheira, seguido pela compactação decorrente do pisoteio, causando alterações no processo de aeração, temperatura, umidade, nutrição e organismos. A redução da capacidade de infiltração causada pela compactação tende a aumentar o escoamento superficial e consequentemente acelerar os processos erosivos. Magro (1999) ressalta que a compactação no solo afeta diretamente o crescimento de novas plantas e o desenvolvimento das já existentes, pois, suas taxas de crescimento e capacidade reprodutiva são diminuídas na medida o comprimento da sua haste é reduzido por sua base apresentar dificuldade em se expandir no solo compactado. Além disso, as perdas da cobertura vegetal e da matéria orgânica intensificam os processos erosivos, reduzindo o banco 55 de sementes do solo e consequentemente, a propagação das plantas. Outra ação impactante na vegetação destacada por Andrade e Rocha (2008) é a retirada de espécies nativas ou exóticas pelos visitantes, como bromélias, orquídeas, entre outras. Neste contexto, a fauna também é afetada principalmente pela mudança em seu habitat, causado, entre outros fatores, pela compactação do solo e retirada da vegetação. Os impactos, também podem ser de forma direta através da morte de animais, da caça, da pesca, da introdução de espécies e distúrbios alimentares provocados por restos de alimentos deixados ou fornecidos pelos visitantes (COSTA, 2006). Segundo Pontes (2006), a intensa visitação em áreas próximas a corpos d’água (cachoeiras, córregos, rios e poços) situadas ao longo da trilha, pode provocar impactos sobre espécies aquáticas raras ou pouco conhecidas, que não toleram aumento da turbidez da água e modificação do leito dos corpos hídricos. A utilização das trilhas pode provocar a morte de pequenos vertebrados terrestres, ou então, no caso de espécies taxonômicas como as serpentes, o encontro com os visitantes pode gerar riscos a ambos, pois, tanto o visitante pode ser atacado pelo animal quanto matá-lo, principalmente por vê-lo como um elemento de risco e não como um ser que está em seu habitat natural (FARIA; MORENI, 2000). O lixo gerado pela visitação, especialmente plásticos se não devidamente descartado é também um problema para a fauna local, pois causa poluição do habitat e, se ingeridos, podem causar intoxicação e morte. Mesmo quando as áreas da trilha oferecem lixeiras para o descarte de materiais, elas podem ser utilizadas pelos animais como uma fonte fácil de alimentos, alterando o comportamento natural de algumas espécies e sendo armadilhas fatais para outras. Galões altos e sem tampas podem ser facilmente escalados durante a noite por animais que depois não conseguem sair e acabam morrendo ou pela falta de água e comida, ou afogadas pela água da chuva (PONTES, 2006). Em relação aos recursos hídricos, Pontes (2006) destaca que os impactos são provenientes da sedimentação gerada pela erosão do solo, do lixo lançado por visitantes, da contaminação patogênica, entre outros fatores, que acabam por diminuir a quantidade de oxigênio dissolvido na água, afetando sua qualidade e alterando o desenvolvimento e a sobrevivência de plantas e animais. Quanto aos impactos sociais, Andrade e Rocha (2008), Barros e Dines (2000), Takahashi (2004), Lechener (2006), Magro (1999) e Costa (2006) destacam como os mais corriqueiros: os congestionamentos, excesso de lixo, vandalismos (pichações, depredações, etc.), choque cultural, perda da autenticidade e integridade das tradições culturais, conflito 56 entre visitantes e moradores da comunidade local, conflito entre os visitantes e sua insatisfação com a experiência vivenciada. O número de pessoas que o visitante pode encontrar ao longo das trilhas torna-se um impacto, quando este interfere diretamente na qualidade da experiência da visitação, uma vez que, algumas pessoas valorizam a sensação de isolamento, de modo que o encontro com os demais visitantes pode diminuir a qualidade de sua experiência (BARROS; DINES, 2000). Candiotto (2010) destaca que nas diversas modalidades de turismo, o convívio entre visitantes e moradores do local nem sempre corresponde a uma relação harmônica e construtiva, pois muitas vezes o comportamento de superioridade frente aos hábitos e cultura da população local por parte dos visitantes, leva a conflitos, desvalorização cultural e ao denominado efeito demonstração, no qual a população residente busca incorporar o comportamento e o estilo de falar e de vestir dos visitantes, por acreditarem que estes, são melhores e mais modernos. Candiotto (2010) e Oliveira e Melo (2012) também apontam a apropriação predatória do ambiente por parte do visitante/turista, que busca nesse espaço um lugar idealizado, bucólico e com os mesmos padrões de qualidade e conforto ofertados na cidade, não considerando nesta relação, as especificidades do ambiente e o modo de vida já existente no local. Entre os possíveis impactos econômicos, Costa (2006) destaca a especulação imobiliária com sobrevalorização de terras e imóveis rurais, o aumento do custo de vida e a concentração e/ou perda de renda da comunidade local. O aumento no número de visitantes pode exigir investimentos extras em infraestruturas e atividades de manutenção nas trilhas, elevando as despesas e diminuindo a renda obtida com a atividade. Além disso, no caso dos pequenos estabelecimentos, cujos gestores das atividades são os membros da família e geralmente agricultores familiares, a intensa visitação nas trilhas pode demandar a necessidade de contratar empregados, descaracterizando a essência de uma unidade de produção e vida familiar (UPVF). Todos esses fatores demostram que o uso de trilhas ecológicas em práticas recreativas exige planejamento e um plano de manejo coerente às especificidades tanto ecológicas quanto socioeconômicas locais. O objetivo do planejamento e do plano de manejo está em evitar ou minimizar impactos indesejáveis desencadeados por uma construção e visitação inadequadas, que podem tanto afetar o equilíbrio ambiental local, quanto à qualidade da experiência vivenciada e o contentamento de visitantes e moradores do local. 57 Nesse sentido, considerando o objeto e o objetivo geral dessa pesquisa, o próximo item abordará as principais técnicas para a implantação e o manejo de trilhas ecológicas em áreas florestais. 58 4 PLANEJAMENTO, CONSTRUÇÃO E MANEJO DE TRILHAS ECOLÓGICAS EM ÁREAS FLORESTAIS 4.1 Planejamento O planejamento em um sentido amplo pode ser entendido como um processo racional, contínuo e permanente de ordenação e previsão, destinado a resolver os problemas que afetam uma sociedade em determinada época e espaço. Ele é, portanto, uma ferramenta fundamental de gestão (FLORIANO, 2004). Quando a ação planejada corresponde à implantação de uma trilha ecológica, o planejamento tem a função de garantir a integridade do meio físico e biológico, controlar e limitar o uso dos recursos naturais e atrativos, e a qualidade e segurança da visitação (SIMIQUELI et al., 2009). Para Costa et al. (2003), o planejamento de trilhas deve ser uma atividade interdisciplinar, na qual diversos especialistas ligados à pesquisa ambiental (geógrafos, ecólogos, biólogos, engenheiros florestais, etc.) devem estar envolvidos, a fim de avaliar e minimizar as alterações físicas e biológicas do meio. Na linha da interdisciplinaridade, o americano Larry Lechener desenvolveu em 2006 o Material: “Planejamento, Implantação e Manejo de Trilhas Ecológicas”, publicado na série Cadernos de Conservação da Fundação O Boticário de Proteção a Natureza, propõe a abordagem integrada para o planejamento de trilhas a fim de garantir a sustentabilidade das trilhas e a satisfação daqueles que as utilizam (Figura 3). 59 Figura 3: Passos para uma abordagem integrada de trilhas . Fonte: LECHENER (2006). Lechener propõe nessa abordagem integrada que todas as fases de manejo (planejar, construir, monitorar e manter), estejam vinculadas por intermédios de retorno e interações contínuas, demonstrando uma interdependência entre elas e a necessidade de que sejam desenvolvidas de forma integrada e também conjunta. Seguindo os passos da abordagem integrada proposta por Lechener (2006), Simiqueli et al. (2009) destacam que o planejamento de trilhas deve respeitar o deslocamento e hábitos dos animais silvestres, controlar os processos erosivos, organizar um sistema de drenagem da água, sinalizar vias de acesso e considerar os impactos provenientes do uso público das trilhas, sejam eles positivos ou negativos. Os objetivos da trilha, o perfil dos usuários e o contexto e características biofísicas e sociais da área pretendida, também são elementos que devem ser considerados e compreendidos. Com um planejamento adequado, Lechener (2006) ressalta que as trilhas podem potencialmente alcançar objetivos conservacionistas, aumentando as oportunidades sociais com baixo impacto ambiental e garantindo a satisfação e a segurança de seus usuários. Andrade e Rocha (1990) destacam que quando bem planejadas e devidamente mantidas, as trilhas oferecem impactos mínimos ao ambiente, que raramente excedem 2% do total da área utilizada e concentram-se geralmente em 1 metro de cada lado, no corredor da trilha e nos locais de acampamento, abrigos e demais espaços de agrupamento de visitantes. Entretanto, por ser considerada uma atividade de baixo impacto ambiental, é comum que as trilhas sejam implantadas sem um planejamento formal ou sem que as condições e características naturais e humanas da área sejam compreendidas. Isso faz com que impactos 60 indesejáveis ao ambiente, a população local e aos próprios visitantes sejam potencializados, aumentando riscos de acidentes, custos de construção, manutenção e em alguns casos a própria inutilidade da trilha. Assim, Andrade (2003) destaca que o planejamento se mostra uma etapa extremamente importante no processo de implantação e manejo das trilhas ecológicas. Sua eficácia garante a proteção dos recursos naturais, minimiza impactos indesejáveis, maximiza a qualidade da experiência da visitação, oferece segurança aos usuários e reduz gastos desnecessários com infraestruturas e atividades de manutenção. Nas seções seguintes, apresentamos os principais elementos que devem ser considerados para o planejamento de uma trilha ecológica, no sentido de integrar o uso e proteção dos recursos naturais, a segurança e satisfação dos usuários, e atender aos objetivos dos proprietários rurais. 4.1.1 Objetivos de uma trilha ecológica A primeira etapa do planejamento começa com a definição dos objetivos da trilha, que posteriormente nortearão as decisões tomadas à implantação e à manutenção das mesmas. Por isso, os objetivos devem ser claros e coerentes às características sociais, econômicas e ambientais da área, de modo a evitar as ações e os impactos indesejáveis (ANDRADE, 2003). Lechener (2006) propõe algumas questões que podem contribuir para a definição dos objetivos e também, para que o planejador verifique se as intenções estabelecidas para a trilha estão coerentes ao uso conservacionista. São elas: Porque implantar uma trilha nesta área? O que queremos e o que podemos alcançar com essa trilha? Qual é o público alvo? O que vai ser construído? Onde vai ser construído? Quem vai construir? Porque vai ser construído? Quando vai ser construído? É importante que os objetivos priorizem a integridade do ecossistema, o senso de responsabilidade e compromisso com ambiente visitado e a melhoria da qualidade de vida da população residente. Caso contrário, diversos elementos podem ser acrescentados para o conforto e satisfação daqueles que o visitam, mesmo que isso traga artificialidade à paisagem e impactos negativos ao ambiente local. 61 4.1.2 Usuários Identificar o perfil do visitante, se idoso, jovem, criança, portador de necessidades especais, entre outros, é um elemento importante para o planejamento, principalmente para que a trilha possa ser segura, acessível e atrativa. Implantar uma trilha incoerente ao perfil dos visitantes pode gerar situações indesejáveis tanto para quem à visita, quanto ambientais. Um exemplo é quando a largura do piso não condiz com as características do visitante, que acaba utilizando as áreas marginais como passagem, alargando o corredor da trilha e acelerando as ações erosivas. Ou então, devido à falta de estruturas adequadas, o visitante se depara com situações de risco, desconforto e insegurança na realização do percurso (LECHENER, 2006). Quando planejadas para atender crianças em idade escolar, as trilhas devem ser curtas (100 a 500 m), apresentar equipamentos de segurança, sinalização, pavimentação (pedras, tijolos ou madeira), ter mais de 170 cm de largura e permitir o acesso aos portadores de necessidades especiais. Idosos também necessitam de trilhas bem estruturadas e de fácil acesso e locomoção. Se os visitantes forem preferencialmente jovens e adultos, a trilha pode ser mais longa, ter um nível maior de dificuldade em seu percurso, manter seu piso original, ser mais estreita e com menos equipamentos de segurança e sinalização (ANDRADE; ROCHA, 2008). Lechener (2006) aponta algumas diretrizes gerais para o planejamento de acordo com o perfil do visitante, conforme exposto na tabela 1. Tabela 1 – Diretrizes gerais de planejamento conforme perfil do visitante. Perfil do visitante Pedestre Largura do piso 60 - 95 cm Altura do corredor 2,5 m Largura do corredor 1,2 - 1,5 m Cavaleiro 60 - 95 cm 3,73 m 1,8 m Ciclista 60 - 95 cm 2,5 m 1,2 – 1,5 m Portadores de necessidades especiais 60 - 95 cm 2,5 cm 1,2 – 1,5 m Multiuso 60 - 95 cm 2,5– 3,75m 1,8 – 5 m Fonte: LECHENER, 2006. Org. MORAES, D. I. de (2012) 62 Os dados da tabela mostram que o perfil do visitante influencia diversas características da trilha, como largura e altura do corredor e largura. São indicações que não garantem apenas a segurança do visitante, mas também a integridade do ambiente natural e da própria trilha. Por isso, identificar o perfil dos visitantes (atuais e futuros) é uma forma de garantir a eficiência da trilha enquanto atrativo e enquanto prática conservacionista. 4.1.3 Análise de Sítio A análise de sítio consiste em examinar o local onde a trilha pretende ser implantada, de modo que as características e potencialidades dos recursos naturais e humanos e as fragilidades do ambiente natural sejam identificadas. Antes de ir a campo, a análise de sítio deve ocorrer com o levantamento de dados e materiais como mapas, fotografias aéreas, escrituras e documentos legais, ocupação e uso, entre outros. Estes, além de economizar tempo e energia, também possibilitam uma visão geral das características e condições biofísicas e socioeconômicas do local e podem contribuir para um esboço preliminar de uma possível rota para a trilha (LECHENER, 2006). Em campo, o planejador deve observar a paisagem e identificar os elementos naturais e humanos que a caracterizam. Tendo como pressuposto, que essa paisagem não é estática, sendo então, o “resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, em perpetua evolução” (BERTRAND, 1971, p.2). Ross (2006) considera que a análise estática e descritiva da paisagem torna-se insuficiente quando o objetivo é a utilização racional e conservacionista dos recursos ecológicos. Para isso, é necessário entender sua totalidade, partindo do que é facilmente perceptível (formas e fisionomias), seguindo pelo que é estático (estruturas), dinâmico (funcionalidade) e por último, identificando as fragilidades do ambiente diante das intervenções humanas. Esse tipo de avaliação exige do planejador um bom conhecimento da funcionalidade do ecossistema local e uma análise integrada de todos os seus elementos que o compõem. Como destaca Ross (2006, p.54) a integração e interdependência entre os fluxos de energia e matéria nos ecossistemas: [...] não permitem, por exemplo, o entendimento da dinâmica e da gênese dos solos sem que se conheça o clima, o relevo, a litologia e seus 63 respectivos arranjos estruturais, ou, ainda a análise da fauna sem associá-la à flora – e esta lhe proporcione suporte –, que, por sua vez não pode ser entendida sem o conhecimento do clima, da dinâmica das águas, dos tipos de solos, e assim sucessivamente. Essa análise integrada não abrange apenas elementos naturais, mas também humanos, tendo em vista que o homem e suas dinâmicas também interferem nos fluxos de energia e matéria dos ecossistemas, geralmente, em ritmos bem mais intensos do que aqueles produzidos normalmente pela natureza (ROSS, 2006). Ross (2006, p. 50), destaca que quando todos os componentes naturais e sociais são analisados e entendidos no contexto das interações e interdependências, tem-se a possibilidade de compreender “a complexidade da totalidade de um determinado espaço territorial, enquanto forma, estrutura, funcionalidade e dinâmica”. Para Lechener (2006), uma das formas de compreender essa dinâmica e interdependência é visitar a área em diferentes períodos do ano e em diferentes situações atmosféricas. Fazer uma visita logo após uma tempestade, por exemplo, quando os padrões de drenagem estão mais evidentes, pode ser uma importante estratégia para na identificação dos locais mais suscetíveis a alagamentos e deslizamentos e que oferecem riscos aos visitantes na travessia de cursos d’água. A interação entre as forças que fluem no local faz com que os impactos causados pela intervenção humana tragam consequências não apenas no local, mas também no sentido do fluxo. Um exemplo é quando a trilha implantada nas proximidades de um riacho apresenta compactação e erosão do solo. Isso acaba afetando não apenas a trilha, mas também o riacho, através do assoreamento e do transporte de sedimentos (LECHENER, 2006). Em meio a todas essas complexidades e especificidades que o local apresenta, tanto em termos ambientais quanto sociais e econômicos, a análise de sítio mostra-se uma etapa difícil, porém, imprescindível para o planejamento das trilhas, pois todas as informações produzidas irão fornecer bases para muitos detalhes do designer, construção, manutenção e na definição de estratégias de manejo. Lechener (2006) destaca alguns elementos essenciais a serem considerados na análise de sítio, tais como: Tipo de solo; Regime climático; Topografia; Padrões de drenagem; 64 Distribuição de água superficial e subsuperficial; Padrões de vegetação (o que está crescendo aqui e por que); Fauna local e presença de espécies invasoras; Usos históricos; Uso já implantado na área; Situação da terra (zoneamento, se pública ou privada, incentivos, etc.); Relação com outras infraestruturas, estradas, oportunidades de recreação, etc.; Considerações quanto à segurança. De acordo com o manual da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo – SEMA/SP (2009) a análise de sítio também tem por objetivos: Verificar pontos de controle e identificar pontos adicionais que não tenham sido percebidos ao estudar mapas e fotos aéreas; Verificar se a rota esboçada é praticável; Identificar pontos de controle que enriqueçam a experiência do usuário. Verificar que a rota pretendida seja razoável. Diante de todas as especificidades que uma análise de sítio exige, analisaremos a seguir, alguns dos principais elementos que devem ser considerados, destacando suas características, importâncias ambientais e como podem interferir ou influenciar a implantação e utilização das trilhas ecológicas. 4.1.3.1 Solos Os solos, como todos os elementos naturais, são dinâmicos na natureza e sofrem influência direta ou indireta de diversos fatores, como o clima, organismos, topografia, ação antrópica, material original e tempo. Sua composição básica provém de partículas minerais, matéria orgânica, água e ar (FEOLA, 2006). As partículas minerais são as principais componentes do solo (50 a 80%) e variam muito de tamanho, podendo ser extremamente finas como a argila, finas como o silte ou grossas como a areia e cascalho. O tamanho das partículas minerais é denominado “textura do solo” e exerce enorme influência sobre a drenagem e propensão do solo à erosão e compactação (FEOLA, 2006). De acordo com o manual da SEMA/SP (2009), as partículas pequenas tendem a dar ao solo uma textura barrenta quando molhada e empoeirada quando seca, e geralmente não 65 oferecem boa drenagem. Já as partículas grandes que não se ligam umas as outras, são muito soltas e, portanto, mais suscetíveis à erosão. Por outro lado, são mais resistentes ao transporte devido à necessidade de maior força desprendida para o seu deslocamento. O mesmo não ocorre com as partículas menores, que devido a sua maior coesão, são mais resistentes ao desprendimento, mas menos resistente ao transporte. Para Montovani (1987), o tamanho das partículas influencia também no processo de compactação, pois, as partículas de diâmetro diferentes, quando submetidas à pressão, tendem a se arranjar e preencher os poros dificultando a infiltração e deixando o solo compactado. Além dos teores de silte, argila e areia, Guerra (2001) destaca que outras propriedades também devem ser consideradas, como por exemplo, o teor de matéria orgânica que também contribui na agregação das frações granulométricas e, portanto, na suscetibilidade do solo aos processos erosivos. Segundo alguns autores, a textura do solo pode ser identificada durante a análise de sítio através de técnicas simples realizadas em campo. Em alguns casos, a identificação somente é possível com análises laboratoriais ou pequenas escavações para examinar seus horizontes. Para a identificação em campo, Lechener (2006) apresenta uma técnica na qual a textura pode ser identificada comprimindo uma porção de solo entre as mãos e criando três formas básicas: a) Bloco: Torrão formado ao pressionar na mão fechada uma amostra de solo. b) Cilindro: Formado ao rolar a amostra de solo na palma da mão. c) ”Panqueca”: Formada ao apertar uma pequena amostra de solo entre o polegar e o indicador. O quadro 1 demonstra como essas três formas (bloco, cilindro e “panqueca”) permitem ao planejador identificar o tipo de solo encontrado. Quadro 1 - Identificação do tipo de solo em campo. Tipo de Solo Teste de Médio-arenoso Médiocampo siltoso Bloco Pode ser cuidadosamente manipulado sem quebrar Pode ser manipulado sem quebrar Médio Médio- argiloso Argiloso Pode ser facilmente manipulado sem quebrar Sólido, facilmente manipulado. Pode ser moldado sem quebrar 66 Denso, friável, Cilindro facilmente quebrável. Denso, macio, facilmente quebrável. Pode ser finamente moldado; facilmente quebrável. Não forma uma Não forma Forma “Panque “panqueca” uma “panquecas” ca” “panqueca” pequenas e grossas que se quebram por seu próprio peso Cilindro forte pode ser facilmente enrolado Cilindro forte e plástico, facilmente enrolado. Forma “panquecas” finas que se quebram por seu próprio peso “Panqueca” longas e flexíveis que não se quebram por seu próprio peso Fonte: LECHENER (2006). Org. MORAES, D. I. de (2012) Para Andrade (2003), Lechener (2006), Feola (2006) e Costa (2006), os solos mais adequados à implantação das trilhas ecológicas são aqueles que oferecem maior possibilidade de drenagem e apresentam quantidades moderadas de areia, argila e conteúdo minerais. Solos argilosos, siltosos, areia pura, alto teor de matéria orgânica, finos ou delicados, devem ser evitados, pois estão mais suscetíveis ao processo de erosão e compactação, como mostra o quadro 2. Quadro 2– Tipo básico de solo e adequabilidade para as trilhas. Tipo de solo Siltoso Argiloso Descrição Adequabilidade para as trilhas Partículas finas; pobremente drenados. Pouca, quase sempre indica uma subestrutura fraca, que deve ser evitada por apresentar maior propensão à compactação do solo. Isso se deve a uma maior dificuldade de drenagem, que pode também ocasionar em dias chuvosos o alagamento do piso da trilha. Partículas finas; pobremente drenados; Pouca, especialmente em pulverulento quando seco; altamente áreas de grande declividade, e erosivos em encostas inclinadas. moderado quando misturado a outros tipos de solos. Geralmente a uma suscetibilidade a processos erosivos e a compactação. 67 Arenoso Partículas maiores com estrutura granulosa mais grosseira; muito bem drenado; sujeito a erosão eólica e hídrica. Textura Média Uma mistura de areia, silte e argila em variadas quantidades; suas características dependem das proporções desta mistura, mas geralmente são bem drenados. Pouca, devido a sua suscetibilidade à erosão, que em áreas declivosas pode levar a ruptura do talude e a perda da borda crítica, exigindo gastos elevados com estruturas e manutenção. Desejável, especialmente quando as proporções da mistura conferem coesão, drenagem e estabilidade. Isso faz com que os processos erosivos e os gastos com estruturas nas trilhas sejam minimizados. Fonte: LECHENER (2006). Org. MORAES, D. I. de (2012) Andrade e Rocha (2008) destacam que a umidade do solo também é um fator importante. Solos muito úmidos podem indicar a presença de nascentes, olhos d’água, rios intermitentes e escoamento superficial, o que leva ao aceleramento das ações erosivas, afundamento do piso, alagamento das áreas marginais e uma possível inundação da trilha em períodos chuvosos. 4.1.3.2 Hidrografia A distribuição da água na superfície e no subsolo (rios, córregos, lagos, zonas úmidas, açudes, represas, entre outros) e os padrões de drenagem, influenciam diretamente nas decisões tomadas quanto à localização, o designer e o número e tipo de estruturas a serem implantadas nas trilhas (ANDRADE, 2003). Trilhas que atravessam corpos d’água necessitam de infraestruturas para a segurança dos usuários e proteção do recurso hídrico, como pontes, passarelas, bueiros, entre outras, que tornam mais elevados os custos com a implantação e a manutenção da trilha. Outro elemento importante são os padrões de drenagem, que conforme Feola (2006) são influenciados principalmente pelo tipo de solo e pela topografia do terreno e podem indicar quais as áreas estão em maior e menor suscetibilidade aos processos de erosão. Áreas com encostas longas e acentuadas contribuem para o grande e rápido fluxo de água e podem causar erosões rápidas e severas no piso da trilha. 68 Para Lechener (2006) um das melhores formas de compreender os padrões de drenagem do local é visitar a área durante o período chuvoso, ou durante e logo após uma tempestade, pois é possível identificar quais as áreas são mais suscetíveis a deslizamentos e alagamentos. Porém, apesar dos problemas que a hidrografia local pode representar à construção e manutenção da trilha, ela também pode ser um instrumento de grande atratividade, na medida em que rios, riachos, e cachoeiras geralmente são locais que atraem e instigam o visitante a fazer o percurso e podem ser utilizados como pontos limitadores, destinos desejáveis, locais de recreação e interpretação ambiental (ANDRADE; ROCHA, 2008). 4.1.3.3 Vegetação A vegetação tem importantes funções no equilíbrio ecossistêmico e nas forças que nele atuam. Tem as funções de amenizar a ação erosiva das águas pluviais, influenciar os fluxos naturais da água e contribuir no processo de infiltração. De acordo com Guerra (2001) a cobertura vegetal pode atuar de duas formas: na diminuição da quantidade de água que chega ao solo e na energia cinética das gotas de agua da chuva, por meio da intercepção e da alteração de sua distribuição e tamanho. A vegetação atua como uma capa protetora ou de amortecimento entre a atmosfera e o solo. As folhas, galhos e troncos absorvem parte da energia das gotas, do movimento da água e da ação do vento, de modo que o processo erosivo seja reduzido em relação ao solo desnudo (FEOLA, 2006). Ross (2006, p. 42) destaca que: No nível do solo, a presença de cobertura vegetal densa, com vários extratos vegetais, favorece o processo de infiltração da água no solo e proporciona fornecimento de matéria orgânica vegetal, que contribui para a pedogênese, ao mesmo tempo protege os solos contra os processos erosivos laminares e lineares. A inexistência de cobertura vegetal, “além de não condicionar a infiltração das águas pluviais no solo, contribuindo para o seu ressecamento, favorece o escoamento superficial, facilitando a atividade erosiva” (ROSS, 2006, p. 41-42). Ao retirar a vegetação que fica no corredor da trilha, os padrões naturais de fluxo e infiltração da água são alterados, tornando-se necessárias ações mitigadoras, que sejam 69 capazes de diminuir a velocidade da água superficial e minimizar os processos erosivos, como por exemplo, a construção de canaletas e barreiras de drenagem, degraus entre outras estruturas (ANDRADE, 2003). Além de sua importância ambiental, a vegetação também é um elemento de grande atratividade para a trilha. Flores, folhagens, árvores de maior porte e com características peculiares, chamam a atenção e instigam o visitante a observar e interagir com o ambiente. Para que as potencialidades e restrições da flora local sejam identificadas e utilizadas como um elemento de atratividade a visitação, Proudman (1977 apud ANDRADE; ROCHA, 2008) destaca que a implantação da trilha deve ser um misto de técnica e sensibilidade, pois, construir uma trilha ambientalmente correta não necessariamente à torna atrativa. Por isso, o planejador deve ter um olhar sensível à paisagem, identificando os elementos que podem ser apreciados durante a caminhada ou nos locais de descanso. 4.1.3.4 Fauna A fauna local pode tanto ser um elemento de atratividade para a trilha, através dos sons dos pássaros, da observação de espécies, dos ninhos, entre outros, ou representar um risco à visitação, principalmente através do encontro com animais como cobras, abelhas, aranhas, formigas, entre outros (ANDRADE; ROCHA, 2008). A fauna também tem funções extremante importante para as áreas florestais, especialmente na dispersão e polinização de semente. Além disso, como parte integrante de um mesmo ecossistema, qualquer interferência em seu habitat ou em determinada espécie, pode provocar desequilíbrios sobre todas as outras espécies e sobre o ecossistema como um todo (COSTA, 2009). O manual da SEMA/SP (2009) destaca que a fauna local contribui na fragmentação do solo que compõe o seu piso, e pode deixá-lo mais suscetível ao processo de erosão. Tal fato ocorre por que os “animais escavam através da trilha, perambulam ao redor dela, cruzam-na descendo, introduzem atalhos, tombam pedras sobre a trilha, mastigam o piso, ou escavam raízes ao longo do caminho” (p.33). Para evitar riscos aos visitantes e a fauna local, Andrade e Rocha (2008) enfatizam que a trilha não deve interferir nas rotas, nos locais de criadouros, alimentação e descanso dos animais. Por isso, o trajeto e as estruturas implantadas devem ser pensados a partir das características e comportamentos dos animais que habitam o local. 70 O comportamento e a reprodução especialmente de pequenos anfíbios, mamíferos e aves, é também um bom indicador da qualidade ambiental da área, pois, a fragmentação do habitat pode tanto levar a reprodução desordenada de determinada espécie, quanto à redução da população e o abandono da área por outras (ANDRADE, 2003). 4.1.3.5 Geomorfologia As características geomorfológicas do terreno tanto podem facilitar a implantação de uma trilha e o manejo dos fluxos de água, quanto tornarem-se um grande desafio para o planejador, principalmente nos locais onde a declividade é muito acentuada, a precipitação pluviométrica é grande e as condições do solo são suscetíveis a processos de erosão (LECHENER, 2006). As áreas planas e áreas com inclinação maior que 20% devem ser evitadas como passagem para a trilha, pois podem potencializar a compactação e erosão do solo, representar riscos e desconfortos aos visitantes e tornar a trilha inutilizável (ANDRADE; ROCHA, 2008). Segundo Andrade (2003), para utilizar a topografia em favor da implantação e do manejo, a trilha deve ser desenhada acompanhando os contornos naturais da área e atravessando as curvas em ângulos oblíquos, para que os padrões naturais de drenagem possam ser facilmente restabelecidos. As trilhas que sobem perpendicularmente até o topo da elevação são facilmente utilizadas como caminhos dos fluxos de água, resultando em erosões severas, alterações no padrão de drenagem e assoreamento de cursos d’água. Medir o ângulo de inclinação do terreno (declividade) é variável considerada “essencial para a determinação de vulnerabilidade a erosão, grau de dificuldade da trilha e descrição de trabalhos de correção” (ANDRADE; ROCHA, 2008, p. 17). Nas declividades acima de 12° é necessário utilizar infraestruturas que facilitem o acesso dos usurários e minimizem as ações erosivas. Para os trechos mais curtos é indicada a construção de escadas, e para os trechos mais longos, as trilhas em formato de ziguezague ou curvilíneas (LECHENER, 2006). A declividade é classificada por Lemos e Santos (1996 p. 57) como: a) Plana: declividade abaixo de 2o; b) Baixa: de 2 a 5o; c) Média: de 5 a 11o; d) Alta: de 11 a 24o; e e) Muito alta: acima de 24o. 71 No item “Construção de Trilhas em Áreas Declivosas” trataremos algumas das técnicas e procedimentos adequados à implantação de trilhas em locais com declividades mais acentuadas. 4.1.3.6 Regime Climático O clima é determinado pelo conjunto de condições meteorológicas que caracterizam uma região – precipitação, temperatura, pressão atmosférica, umidade do ar e ventos. Seu estudo é considerado um elemento essencial para o uso racional dos recursos naturais (SANTOS, 2004). No planejamento de trilhas ecológicas, o estudo do clima se faz necessário para que a potencialidade das ações erosivas das chuvas, os períodos de estiagem e geadas possam ser identificados. Essas informações são obtidas através de alguns dados climáticos como temperatura média, amplitude térmica e índice pluviométrico anual, mensal e diário (COSTA, 2006). Padrões de passagem do sol e dos ventos, são destacados por Lechener (2006) como fatores importantes na localização da trilha, pois podem auxiliar na secagem da superfície do piso e proporcionar brisas mais refrescantes aos visitantes. Locais de climas chuvosos exigem estruturas específicas para as trilhas, que evitem tanto o encharcamento do piso em áreas mais planas, quanto o rápido fluxo da água em áreas de declive, de modo a contribuir para a segurança dos usuários e proteção do ambiente, especialmente, no que refere ao controle de ações erosivas que podem em algumas situações, levar a destruição total do piso da trilha. 4.1.3.7 Pontos de controle Os pontos de controle correspondem aos elementos naturais que podem representar pontos limitadores ou destinos desejáveis para as trilhas, como brejos, rochas, cachoeiras, riachos e vistas. O manual da SEMA/SP (2009) destaca alguns dos pontos de controle tidos como positivos e negativos na implantação e uso das trilhas ecológicas. Os positivos são atrações como mirantes de especial beleza cênica, lagos e cachoeiras. Já os negativos são áreas com solos pobres, habitats críticos para a vida selvagem ou que abriguem espécies ameaçadas de extinção, que devem ser evitados como passagens da trilha ou como destino final. 72 O quadro 3 apresenta os pontos de controle mais comuns em sistemas de trilhas, destacando suas características e como contribuem ou dificultam sua implantação e utilização. Quadro 3 - Exemplos de pontos de controle e suas potencialidades/limitações para as trilhas. Pontos de Descrição controle Afloramento Geralmente inadequados para a construção de rochoso trilhas, pois dependendo do perfil dos visitantes (principalmente crianças e idosos) pode representar riscos. Pode ser uma possível área de destino, Topografia É geralmente o ponto de controle decisivo para a localização de trilhas. Considerações Evitá-los como ponto de passagem da trilha; podem ser procurados como destino. Evitar declividades muito acentuadas (>20%) e áreas completamente planas. Brejos Estão entre as áreas mais difíceis de construir Evitar sempre e manter trilhas; essas áreas devem ser possível. identificadas pela vegetação e condições do solo durante a análise de sítio. Outras trilhas Quando compatível com o plano da trilha Desejáveis. principal, a ligação destas com outras trilhas pode aumentar as oportunidades de visitação e a gama de experiências. Rodovias A interseção de trilhas com rodovias devem ser cuidadosamente consideradas, especialmente se não existirem projetos para implantar uma cabeceira de trilha ou uma área de estacionamento. Corpos d’água Uma zona-tampão deve ser mantida no Evitar como passagem de entorno de corpos d’água para evitar trilha, procurar como perturbações a vida silvestre e degradação do possível área de destino. corpo d’água. Rios Manter uma zona-tampão entre a trilha e o Evitar como local de riacho. Só atravessar o leito quando passagem, procurar como necessário, em ângulos retos, nos pontos mais possível local de destino. estreitos. Fonte: LECHENER (2006). Org. MORAES, D. I. de (2012) que Pode abrir novas oportunidades para o manejo e para visitantes; facilitar o acesso não esperado; representar um riso a segurança dos visitantes. 73 O quadro 3 demostra que os pontos de controle são elementos que influenciam no formato, na direção e nas estruturas da trilha, e podem ser tanto um desafio para quem constrói e maneja a trilha, quanto um elemento de grande atratividade para a mesma. 4.1.3.8 Contexto socioeconômico O contexto socioeconômico se remete ao processo de desenvolvimento e organização do espaço em um determinado lugar. Sua compreensão permite analisar o quanto a trilha pode interferir nas particularidades do lugar, ou seja, no espaço de vivencia, das relações diárias e de experiências formadoras da identidade cultural (COSTA, 2006). No caso de trilhas implantadas em estabelecimentos rurais de base familiar, ou seja, onde os gestores da atividade são os componentes da família (geralmente agricultores familiares), é importante avaliar a viabilidade econômica e social do uso das trilhas como um atrativo para a visitação no local. Isso porque, as trilhas podem contribuir para a geração de renda na propriedade e para a valorização das características culturais locais, costumes, hábitos de vida, culinária, entre outros. Mas também, podem levar a impactos negativos a esses moradores, como conflitos com visitantes, elevação do custo de vida e desvalorização do estilo de vida e da cultura local. 4.1.3.9 Mapeamento O mapeamento da trilha quando acurado, torna-se uma ferramenta bastante útil para o planejamento, monitoramento e manejo da visitação, oferecendo informações sobre o traçado, a direção, à distância, os atrativos, o grau de dificuldade, entre outras, que são importantes não apenas para o bem estar e a satisfação do visitante, mas também para sua segurança. O mapa da trilha pode ser gerado através de: a) Desenho da trilha fazendo sobreposição em carta topográfica já existente; b) Medição da distância, rumo e declividade dos segmentos da trilha a partir de um ponto já conhecido: Pode ser feito durante a demarcação da rota em campo; c) Uso de GPS para estabelecer as coordenadas da trilha e um Sistema Geográfico de Informações (SIG) para organizar os dados; d) Incorporação de dados recolhidos durante a análise de sítio (LECHENER, 2006). 74 Os mapas geralmente são expostos em banners, placas, folder e folhetos, como forma de informação, orientação, divulgação e atratividade ao visitante, que ao conhecer as características do percurso pode sentir-se instigado a percorrê-lo. 4.1.4 Design O design corresponde ao desenho do traçado da trilha e compreende elementos como forma, comprimento, grau de dificuldade, largura e infraestruturas. De acordo com o manual da SEMA (2009, p.29) trilhas bem desenhadas: [...] valem-se de elementos naturais de drenagem, reduzindo a manutenção que acabaria sendo necessária, ao mesmo tempo em que vai de encontro às necessidades dos usuários. [...] As melhores trilhas quase não apresentam evidências nos esforço nela investidos. Lechener (2006, p.47) também considera um bom design aquele que busca reduzir ou evitar conflitos entre os visitantes, separando-os de acordo com as experiências que buscam vivenciar na trilha, principalmente em trilhas onde são admitidas múltiplas atividades. Nesses casos, o autor enfatiza: Nas trilhas multiusos, onde a observação da vida silvestre é uma atividade comum, pode ser estratégico incluir desvios como pontos de observação ou de descanso. Isso permitirá aos usuários parar e observar a vida selvagem sem estar no caminho de outros caminhantes ou sem ter que sair da trilha para permitir que outros usuários passem por eles. Proudman (1997 apud ANDRADE; ROCHA) considera que desenhar uma trilha que se harmonize na paisagem e ao mesmo tempo traga segurança e satisfação aos usuários e proteção aos recursos exige um balanço entre beleza e objetivo, no qual, as características naturais e cênicas da paisagem são combinadas de forma harmônica e criativa. Para isso, o levantamento de algumas questões é fundamental, como: Qual a forma da trilha mais adequada às características da paisagem? Os visitantes devem voltar pelo mesmo caminho? O traçado proposto pode trazer conflitos entre os usuários? Onde e como serão instalados o estacionamento e os sanitários? Qual será a largura da trilha e o seu comprimento? Que tipo de superfície e material será utilizado? Quais infraestruturas são necessárias? Qual o grau de dificuldade que essa trilha vai apresentar? Como os pontos de controle poderão ser utilizados? 75 Segundo o manual da SEMA/SP (2009), os elementos que influenciam diretamente no design de uma trilha correspondem às atividades recreativas que se pretende oferecer, a intensidade do uso, as características físicas do terreno, as considerações ecológicas e também as características estéticas da paisagem. Para Andrade (2003), outro elemento que influencia o design é a categoria da trilha (guiada ou autoguiada) principalmente no que se refere ao grau de dificuldade e às sinalizações. Nas trilhas guiadas, a capacidade de interpretação do guia/condutor é fundamental para o sucesso da trilha. A função do guia é estabelecer um canal de comunicação e uma relação afetiva entre o intérprete e os visitantes. Por isso, sua preparação física, experiência técnica e conhecimentos ecológicos são elementos bastante importantes na qualidade da interpretação ambiental. Os passeios guiados podem ser desenvolvidos de diversas formas, tais como: a) O intérprete pode fixar previamente os locais de parada e os temas trabalhados, sem que o público possa designar novas investigações; b) As observações vão acontecendo conforme os eventos aparecem (animais, floração etc.); c) A interpretação ocorre de acordo com as motivações dos usuários (MOREIRA, 2011). As trilhas autoguiadas permitem o contato dos visitantes com o ambiente sem a presença do guia. Nelas, os recursos visuais e gráficos indicam a direção a seguir, os elementos a serem destacados (árvores nativas, plantas medicinais, ninhos de pássaros etc.) e temas desenvolvidos (mata ciliar, recursos hídricos, etc.). A condução dos visitantes pode se dar através de placas numeradas ou meio ilustrativos dispostos na trilha (MOREIRA, 2011). Conforme o manual da SEMA/SP (2009), o design tem início com o reconhecimento e a demarcação da rota que foi previamente esboçada durante a análise de sítio, para em seguida, definir a largura do piso, o comprimento do trajeto, o grau de dificuldade, as áreas de estacionamento, as infraestruturas e as sinalizações. 4.1.4.1 Forma O formato de uma trilha é influenciado por fatores como: características físicas do terreno; intensidade do uso; perfil do visitante; considerações ecológicas e estéticas da paisagem e características recreativas que a trilha pretende oferecer (MANUAL SEMA/SP, 2009). 76 A figura 4 traz alguns dos formatos mais comuns às trilhas ecológicas, com suas respectivas características. Figura 4 – Exemplos de formato de trilhas ecológicas. Forma Característica Capazes de oferecer ao visitante a possibilidade de retornar ao ponto de partida sem repetir o trajeto ou encontrar outros visitantes no sentido contrário. Possibilita o aumento no uso dos espaços, sendo ideais em áreas pequenas. Tornandose mais interessantes para o uso turístico, pois auxiliam na dispersão dos impactos ambientais, onde o turista não volta pelo mesmo caminho, ampliando as oportunidades de visitação. São utilizadas com intuito de interligar o caminho principal a um ponto de destino, como cachoeiras, cavernas, lagos, etc. Sua desvantagem está no retorno ser o mesmo trajeto da ida, permitindo o encontro entre visitantes no sentido contrário. Tem início e fim em diferentes pontos de uma trilha, porém o objetivo não é cortar caminho, mas sim mostrar áreas alternativas. Ferradura Começa e termina em locais diferentes, evitando o encontro entre visitantes, que pode ser um fator de conflito e também de experiências desagradáveis aos visitantes, especialmente para aqueles que preferem o silencio e o isolamento durante a realização do percurso. 77 Ziguezague ou em “S” Utilizadas em áreas declivosas, possuem um traçado com seções curtas que continuam a subir quando a trilha muda de direção, diminuindo a sensação de subida. Exige estruturas de drenagem e de sustentação do piso, e a manutenção ou construção de barreiras naturais (rochas ou galhos) entre as curvas, com intuito de evitar que os visitantes criem atalhos. Fonte: ANDRADE (2003); LECHENER (2006). Org. MORAES, D. I. de (2012) As trilhas também podem conter bifurcações ou interseções, ou seja, divisões de uma via de acesso em dois ou mais ramais que se afastam do acesso à trilha principal. Tal fato pode ser problemático, se as bifurcações terminarem em outras interseções, podendo confundir os usuários. Além disso, quando uma bifurcação termina em uma estrada movimentada, pode representar um risco a segurança da visitação (COSTA, 2006). 4.1.4.2 Grau de dificuldade Segundo Andrade (2003) o grau de dificuldade de uma trilha é diferenciado entre as trilhas guiadas e autoguiadas. É também algo subjetivo, devido a fatores associados ao perfil do visitante, como idade, condicionamento físico e peso da mochila. Mitraud (2003) classificou o grau de dificuldade nas trilhas de acordo com a escala de declividade, como mostra a tabela 2. Tabela 2 - Associação entre declividade e grau de dificuldade das trilhas. Grade Grau de Dificuldade Declividade < 10% Sem dificuldade 10% < Declividade < 20% Dificuldade mediana Declividade > 20% Grande dificuldade Fonte: MITRAUD (2003). Org. MORAES, D. I. de (2012). Dias et al. (1986) também define o grau de dificuldade com base na rampa média ao longo do percurso (Tabela 3). 78 Tabela 3 – Grau de dificuldade de acordo com a declividade. Declividade Grau de dificuldade 0 –10%- leve Leve 10–20%- média Média 20–50%- difícil Difícil 50–100% - muito difícil Muito difícil > 100% - alpinismo Alpinismo Fonte: DIAS et al. (1986). Org. MORAES, D. I. de (2012). Andrade e Rocha (2008) apresentam a classificação realizada pela prefeitura Municipal de Brotas (SP) que regulamentou em 2003 o grau de dificuldade de acordo com a distância a ser percorrida e com a presença ou não de obstáculos. Determinando da seguinte maneira: a) Trilha leve: com distancia de até 500 m, exigindo pouco esforço físico, sem apresentar obstáculos e não exigindo qualquer técnica específica. b) Trilha Moderada: com distância de até 1.500 m, exigindo esforço físico moderado, apresentando pequenos obstáculos, como desníveis, escadas, pedras, troncos, riachos, mas não exige técnica especifica. c) Trilha avançada: distancia superior a 1.500 m, exigindo esforços físicos intensos, apresentando obstáculos e exigindo o uso de técnicas especificas como natação e escaladas. 4.1.4.3 Cabeceiras de Trilha e Áreas de Estacionamento A cabeceira de uma trilha corresponde ao (s) ponto(s) de acesso ao início do sistema de trilhas e deve(m) estar localizadas em áreas de boa visibilidade e conter orientações referentes à rota, distância, atrativos, regras e regulamentos. Essas informações permitem que o visitante tenha um conhecimento prévio sobre as características gerais da trilha e o tempo gasto para executar o seu percurso (LECHENER, 2006). A área demarcada para estacionamento de (cavalos, bicicletas, carros, etc.) bem como sua capacidade e piso, também devem ser consideradas, pois segundo Lechener (2006) quando inadequadas, podem proporcionar problemas de segurança, degradação ambiental, abertura de caminhos informais e conflito entre visitantes. Um exemplo são os veículos automotivos, que se conter vazamentos de óleos e combustíveis podem contaminar o solo e as 79 águas superficiais e subterrâneas. Por isso, o autor recomenda que as áreas de estacionamento estejam localizadas no mínimo a 30 m da margem de córregos, rios, lagos e brejos. 4.1.4.4 Piso O piso corresponde à área por onde os visitantes devem caminhar na trilha. Devido a circunstâncias adversas, como o grande número de visitantes, o perfil do usuário, a suscetibilidade a erosão e os recursos financeiros disponíveis, o piso da trilha pode ser natural no qual o pisoteio se dá diretamente no solo, ou pavimentado, quando materiais com madeira, pedras, concreto entre outros, são utilizados para recobrir a superfície da área de pisoteamento. Para Lechener (2006) os materiais utilizados na construção do piso de uma trilha devem ser naturais e harmônicas ao ambiente, de forma a não causar alterações dos padrões visuais de elementos naturais e artificialidade na paisagem. As fotos 1, 2 e 3 demonstram tipos distintos de piso em trilhas ecológicas. A foto 1 corresponde a um piso com características naturais, onde a única intervenção foi à retirada da cobertura vegetal no corredor. A foto 2 demonstra um piso que recebeu uma fina camada de pó de rocha e está separado das áreas marginais por rochas basálticas. A foto 3 apresenta um piso com superfície de concreto e com estruturas de segurança, devido ao fato desta trilha estar implantada em uma área bastante íngreme e apresentar intensa visitação. Foto 1 – Piso natural – Recanto Renascer - Francisco Beltrão- PR Autor: MORAES, D. I. de, março/2012. 80 Foto 2 – Piso com pó de rocha – Refúgio Biológico Bela Vista, Foz do Iguaçu - PR Autor: MORAES, D. I. de, abril/2012. Foto 3 – Piso pavimentado com concreto - Parque Nacional do Iguaçu – PR. Autor: MORAES, D. I. de, abril/2012. A largura do piso de acordo com Andrade (2003) pode variar conforme o terreno, a vegetação, o uso e o perfil do usuário. Entretanto, o autor destaca que quanto menor for à largura da trilha, menor será o pisoteio e consequentemente, o impacto ambiental. 81 Quando as trilhas forem, por exemplo, destinadas a caminhadas de aventura, Lechener (2006) recomenda uma largura de 75 cm, ou então, quando planejadas para crianças em idade escolar e cadeirantes, a largura deve ser de aproximadamente de 1,20 cm a 1,80 cm. 4.2 Construção 4.2.1 Termologia básica de trilhas Como destaca Costa (2006), muitos dos termos utilizados para as trilhas são adaptações do vocábulo inglês ou espanhol, por serem os estrangeiros os pioneiros na elaboração de manuais de construção, manutenção e avaliação dos impactos decorrentes da atividade. Para Lechener (2006) embora não exista um vocábulo oficial e universalmente aceito para as trilhas, a compreensão de alguns termos é necessário para o design e a comunicação adequada. Os termos mais utilizados são: Piso ou leito da trilha, corredor, zona de influência, zona tampão, áreas marginais, inclinação natural, talude superior, borda crítica, ponto crítico e linha central (Figura 5). Figura 5 – Ilustração de alguns dos termos utilizados no vocabulário de trilhas. Fonte: COSTA (2006). Org.: MORAES, D. I de, 2012. O piso ou leito da trilha corresponde à área de pisoteio e normalmente é uma superfície natural, mas pode ser também pavimentada com materiais como cascalho, areia, pó 82 de pedra, asfalto, madeira, entre outros. O corredor compreende a toda a área que circundam a trilha, ou seja, suas bordas, a zona tampão e o piso, compondo a chamada zona de influência. As Bordas denominadas de áreas marginais correspondem à porção continua à superfície de pisoteio. A zona tampão é a vegetação que fica ao entorno da trilha. Quando a trilha possui em seu traçado áreas que sobem e descem em função da topografia do terreno denominamos de inclinação natural. A borda que se localiza na parte superior da encosta e que é cortada na construção da trilha é chamada de talude superior. O lado oposto do talude é denominado de borda crítica, denominada algumas vezes de ponto crítico por ser considerada uma área crítica quando não devidamente implantada e mantida. A linha central corresponde ao centro da trilha, que pode ficar reduzida de acordo com a largura da trilha e ser prejudicada pelas ações erosivas. 4.2.2 Limpeza do corredor O primeiro passo da construção da trilha é a limpeza do seu futuro corredor, que inclui o piso e os espaços que estão acima e em suas laterais, denominadas áreas marginais. A figura 6 apresenta o corredor e seus componentes (piso e áreas marginais) de uma trilha implantada em área florestal. Figura 6 – Anatomia de trilha ecológica em área florestal. Org.: MORAES, D. I de (2012). 83 A limpeza do corredor é realizada com a retirada de galhos, troncos caídos, rochas, solos, serrapilheira, pequenas plantas e arbustos no piso e a poda de árvores nas áreas marginais. Existem algumas trilhas que mantém árvores de maior porte sobre o piso como demonstra a foto 4. Entretanto, como salienta o manual da SEMA/SP (2009) o pisoteio pode danificar raízes e prejudicar o desenvolvimento da planta. Nesse caso, é recomendada a retirada total da planta, ou então, a mudança no traçado da trilha. Os materiais e a serrapilheira removida do piso devem ser depositados em locais onde não provoquem impactos visuais ou possam bloquear a drenagem da água. Além disso, conforme destaca Lechener (2006) quando ocorrer a remoção total de árvores, os troncos retirados podem ser reaproveitados em estruturas como escadas, pontes, canais de contenção, entre outras estruturas, dando-lhes um aspecto mais natural e diminuindo o custo com a aquisição se materiais. A matéria orgânica do solo não deve ser totalmente retirada, pois sua presença diminuir o impacto mecânico e o rápido escoamento superficial causador da erosão (ANDRADE, 2003). Foto 4 - Piso de trilha com árvores não removidas – Refúgio Ecológico Bela Vista – PR Autor: MORAES, D. I. de, abril/2012. Nas áreas marginais a poda da vegetação, especialmente aquela de grande porte, deve ser uniforme e não ultrapassar 40 % da planta, caso isso ocorra, o ideal é remover a árvore 84 totalmente, pois “deixar de pé árvores radicalmente podadas é desagradável visualmente e cria necessidades de trabalho extra no futuro” (LECHENER, 2006 p. 59). As dimensões do corredor (largura e altura) são determinadas pelas necessidades do público alvo e pelo uso pretendido da trilha. “Trilhas de caminhada são limpas até 2,5 metros de altura e até uma largura total de 2 metros. Já trilhas para cavaleiros e tropas de animais são limpas até 3 metros de altura e 2,5 metros de largura” (MANUAL SEMA/SP, 2009, p. 48-49). 4.2.3 Estruturas para Cruzamento d’ água A travessia de cursos d’água apresenta um desafio aos planejadores de trilhas, “que precisam equilibrar os níveis de dificuldade, a segurança, a conveniência, os custos, eventuais consequências ambientais, e naturalmente a estética” (MANUAL SEMA/SP, 2009, p. 95). As opções de estruturas para os cruzamentos d’água são variadas e dependem de fatores como a disponibilidade de recursos financeiros, o perfil dos usuários e as condições ambientais do local. Algumas estruturas podem estar mais direcionadas a rusticidade e ao desafio, como exemplo, o uso de uma corda ou cabo de aço suspenso e ancorado em árvores ou estacas, ou então, o uso de troncos de madeira alojados de uma margem a outra do curso d’água. Entretanto, quando o perfil dos visitantes são crianças, idosos e portadores de necessidades especiais, essas estruturas devem primordialmente garantir a segurança, por isso sua construção requer maior conhecimento e disponibilidade de recursos financeiros. As estruturas mais comuns na travessia dos cursos d’água em trilhas ecológicas são: bueiros, pontes e passarelas. 4.2.3.1 Bueiros Os bueiros são utilizados em lugares onde a trilha corta nascente, olhos d’água, pequenos riachos ou então em áreas de encosta onde os fluxos de água tendem a ser intensos nos períodos chuvosos (Foto 5). Seu diâmetro deve ser grande o suficiente para desafogar a máxima vazão prevista durante a época das chuvas, ter pelo menos 25 cm (MANUAL SEMA/SP, 2009) e conter uma inclinação de 3% para que drenagem e os sedimentos possam ser facilmente escoados (LECHENER, 2006). 85 Foto 5 – Bueiro em área de encosta - Reserva Salto Morato – Guaraqueçaba - PR. Autor: MORAES, D. I. de, dez./2012. 4.2.3.2 Pontes As pontes podem ser construídas de diversos materiais, desde as mais simples como torras rolada ou rochas sobre o córrego, até estruturas mais sofisticadas de madeira, concreto e ferro. Lechener (2006) salienta que essas estruturas devem estar adequadas às características do ambiente e ao perfil do visitante, por isso, sua construção deve levar em consideração fatores como: regime hidrológico do curso d’água, para evitar que as pontes sejam submersas pela água durante os períodos de cheia; características das margens do córrego para evitara erosão do solo e possível queda da estrutura construída; e número e perfil dos usuários para que a largura, resistência e material utilizado, estejam adequados as necessidade e característica desse público. Para trilhas com características de aventura e desafios recomenda-se o uso de pinguelas feitas com troncos de árvores, que podem ser usadas para cruzar pequenos riachos ou garantir o acesso durante o período das cheias. A construção dessa estrutura utiliza apenas um ou dois troncos e dormentes de apoio. O tronco deve estar na horizontal e apoiado sobre os dormentes em cada extremidade, pois se colocado diretamente sobre o solo apodrecerá com maior facilidade. A pinguela deve ter pelo menos 45 cm de diâmetro e sua parte superior 86 deve ser aplainada para oferecer uma superfície trafegável e plana, contendo pelo menos 25 cm de largura (MANUAL SEMA/SP, 2009). As fotos 6 e 7 demonstram pontes que utilizam diferentes matérias e apresentam diferentes graus de dificuldade. Foto 6- Ponte em Trilha ecológica na Reserva Salto Morato – Guaraqueçaba – PR. Autor: MORAES, D. I. de, dez./2012. Foto 7 - Ponte pênsil – Parque Estadual de Campos do Jordão – SP. Fonte: ANDRADE; ROCHA (2008). 87 4.2.3.3 Passarelas e Corrimões Geralmente as passarelas são estruturas utilizadas em áreas planas, onde “o chão é tão encharcado que uma trilha não consegue ser nivelada, e não existe maneira de drenar a água” (MANUAL SEMA/SP, 2009, p.104). A passarela de madeira consiste em um tablado, ripado ou piso de madeira montado sobre vigas de madeira tratada ou troncos locais, colocadas sobre dormentes para elevar a trilha. O ripado é um tipo primitivo de passarela feito com troncos deitados na terra assentados transversalmente sobre troncos mais finos e pregados como uma esteira. Essas estruturas apesar de ter uma aparência mais rústica e natural, consomem uma quantidade elevada de materiais e apodrecem rapidamente, por isso não devem ser construídas como uma estrutura permanente, mas apenas como estruturas temporárias (MANUAL SEMA/SP, 2009). Os corrimões são estruturas construídas para oferecer segurança aos visitantes que caminham sobre o piso da trilha, especialmente para aquelas que perpassam em seu trajeto área de encosta e cursos d’água. Os materiais utilizados nos corrimões são variados como tábuas, ferro, galhos, bambu e cordas. A foto 8 mostra uma passarela de madeira com corrimões de bambu, construída em área plana e de densa cobertura vegetal. Foto 8 - Passarela com corrimão - Horto Florestal do Litoral Norte de Tramandaí/RS. Fonte: http://matasnativas.wordpress.com/category/administracao-publica/ 88 4.2.4 Sinalizações As sinalizações na trilha têm por objetivos garantir a segurança, a orientação dos visitantes e a proteção dos recursos naturais. Por isso, devem ser “compreensíveis, sistemáticas e a prova de vandalismos” (ANDRADE, 2003, p.256). Agate (1983) destaca que a sinalização em trilhas tem por vantagens: Evitar custos aos usuários com aquisição de mapas; Possibilitar que os caminhos em áreas florestais sejam facilmente encontrados; Reduzir invasões acidentais; Encorajar o uso de trilhas pouco conhecidas. Os sinais de sinalizações de acordo com Andrade e Rocha (2008) podem ser: Indicação: Orienta os visitantes quanto ao sentido do percurso; Interpretação: Busca explicar aos visitantes aspectos ambientais, históricos e culturais; Aviso de segurança: Busca através de sinais e mensagens alertar uma postura indicada do visitante, para que os impactos ao ambiente e o risco de acidentes sejam evitados. Conforme Agate (1983) os instrumentos utilizados para a sinalização podem ser variados e conter maior ou menos grau de informações, sendo as placas, os banners, as marcações a tinta e as fitas coloridas as mais utilizadas nas áreas de floresta. Os principais instrumentos de sinalização são os seguintes: a) Placas e Painéis: Podem ser confeccionados em pedra, madeira ou metal. Construídas ao longo da trilha elas podem conter informações diversas sobre distância, grau de dificuldade, atalhos, pontos de controle, fauna, flora, entre outros. A foto 9 apresenta uma placa implantada no início da trilha ecológica da Figueira, na Reserva de Salto Morato em Guaraqueçaba- PR, que contém um mapa identificando o trajeto e os pontos de controle (atrativos), o tempo médio de caminhada e a distância a ser percorrida. Os painéis geralmente são interpretativos, com informações sobre os elementos naturais do local, como flora, fauna, recursos hídricos, entre outros. Estas informações contribuem para o maior conhecimento e apreciação dos recursos naturais disponíveis no local, bem como o conhecimento e a reflexão dos possíveis impactos causados pela ação humana e pela visita sobre tais recursos (Foto 10). 89 Foto 9 – Placa na Trilha da Figueira – Reserva Salto Morato Guaraqueçaba – PR. Autor: MORAES, D. I. de, dez./2012. Foto 10 - Painel explicativo sobre as relações ecológicas do Palmito Jussara – Reserva de Salto Morato – Guaraqueçaba – PR. Autor: MORAES, D. I. de, dez./2012. 90 Os tamanhos e as espessuras das placas são variáveis de acordo com o comprimento da mensagem e sua localização. Placas no início de trilha geralmente apresentam um maior número de informações e por isso devem ter aproximadamente 1 m de largura por 0,90 cm de altura e 3,5 cm de espessura. As demais placas instaladas no trajeto da trilha podem ter espessura de 1 a 2 cm (ANDRADE; ROCHA, 2008). As placas e painéis podem ser instalados em postes de madeira, troncos, galhos e arbustos, ou ainda, ser apoiada sobre pilhas de pedra (tótem). Os materiais utilizados em sua fixação devem ser arames ou fios de nylon. Utilizar pregos fixados diretamente em árvores é inconveniente, tanto do ponto de vista ético quanto estético (LECHENER, 2006). b) Marcações a tinta: São colocadas em troncos de árvores ou rochas. As cores mais utilizadas são o amarelo, azul, vermelho branco e laranja. O uso de cores primárias é indicado para a trilha principal e as cores secundárias para as trilhas secundárias (ANDRADE; ROCHA, 2008). c) Fitas: Utilizam-se fitas coloridas, de plástico ou tecido, amarrados em troncos, galhos, arbustos ou no alto de estacas de madeira ou bambu. Cada cor representa uma determinada informação como, por exemplo, a direção do traçado da trilha principal e das trilhas secundárias. Entretanto o significado da coloração das fitas deve ser apresentado aos visitantes no início do percurso através de folhetos informativos, banner ou oralmente, evitando com isso que o visitante se confunda e acabe percorrendo caminhos que não fazem parte da trilha (ANDRADE; ROCHA, 2008). 4.2.3 Construção de Trilha em Áreas Declivosas A principal preocupação de construir trilhas em áreas declivosas é o manejo da água, que deve ser eficiente o bastante para mantê-la fora do piso, caso contrário, este será facilmente erodido, podendo contaminar cursos d’água e criar condições escorregadias para os visitantes, que possivelmente para evitar as áreas encharcadas contornaram a trilha pelas áreas marginais alargando o seu piso e potencializando a degradação ambiental. Para Lechener (2006), o manejo adequado da água começa durante a análise de sítio com a compreensão dos padrões naturais de drenagem do local identificando sua origem e fluxo. Ao conhecer os padrões de drenagem e a origem da água de escoamento, a situação 91 pode ser mitigada desviando a água da trilha através de estruturas ou afastando a trilha da fonte de água. A ação erosiva da água também pode ser mitigada com a construção da trilha em formato de “S” ou em ziguezague que devem seguir os contornos naturais do relevo. A ideia básica é quebrar a declividade incluindo rampas curtas “subindo numa trilha que está descendo” a cada 10 ou 20 metros de distância. A inversão da declividade impede que a água escoe pelo piso e comece a erodi-lo e também, possibilita realçar a experiência do visitante, na medida em que a trilha contorna grandes pedras ou se curva para cima e ao redor de grandes árvores (MANUAL SEMA/SP, 2009). O método para construir uma trilha em área declivosa é apresentado por Lechener (2006, p. 60) em quatro etapas, de acordo com o Manual do Líder de Equipes -1992 desenvolvido pela Instituição Norte Americana Volunteers for Outdoor Colorado. Etapa 1- Estabelecer horizontalmente a linha central da trilha de acordo com a largura já especificada nas anotações. Com um enxadão, picareta ou outra ferramenta, raspar uma linha demarcando o lado superior da trilha que deve corresponder a metade de sua largura, e retirar o material superficial e a serrapilheira necessário apenas para definir o limite superior da trilha, como ilustra a figura 7. Figura 7 - Marcando o talude superior da trilha. Fonte: LECHENER (2006). Org.: MORAES, D. I de (2012). Etapa 2- Definir o limite inferior da trilha, que é a metade da largura do piso. Remover a serrapilheira e as raízes de dentro dos limites definidos para a borda externa da trilha. Cavar lentamente em direção ao cento da trilha, dispersando o material retirado para fora da linha visual da trilha e onde não danifique a vegetação, corpos d’água ou outras áreas frágeis. Nesta 92 etapa apenas a vegetação, a serrapilheira, raízes e solo mineral contendo matéria orgânica devem ser removidos. Depois de retirado os restos orgânicos é dado forma ao nível do piso, de um lado a outro, sem escavar muito profundamente. O material retirado nesta etapa pode ser utilizado para preencher buracos deixados pela retirada de troncos ou restabelecer o piso em áreas que se fazem necessário (Figura 8). Figura 8 - Corte do piso da trilha. Fonte: LECHENER (2006). Org.: MORAES, D. I de (2012). Etapa 3- Cortar o talude superior, mantendo seu formato original sempre que possível. Além da função estética o corte do talude é importante para prevenir deslizamentos ou erosões. Iniciar com a definição do limite superior para o talude para em seguida remover a vegetação e o solo esculpindo o talude de forma que se harmonize ao piso da trilha. Evitar transições abruptas no topo e na base do talude para possibilitar o fluxo de água e criar um efeito natural. Embora o talude possa parecer rústico no início, ele será rapidamente recoberto pela vegetação. Em áreas muito íngremes o talude deve ser reforçado com paredes de rocha ou madeira (Figura 9). Figura 9- Corte do talude superior da trilha. Fonte: LECHENER (2006). Org. MORAES, D. I de (2012). 93 Etapa 4- A etapa final consiste em dar forma à vertente abaixo da trilha, a partir de sua borda. Uma inclinação natural de 7 a 10% (ou seja, de 7 a 10 cm por metro de largura do piso) de um lado a outro é adequada para a drenagem do piso da trilha e também é confortável para caminhadas. A inclinação lateral do piso permite que a água saia da trilha lateralmente em vez de correr trilha abaixo ou encharcá-la, e pode ser medida utilizando um nível ou uma garrafa com água. Depois de implantar a inclinação lateral do piso, é necessário limpar e arredondar a borda crítica, ou seja, o limite inferior da trilha, pois com o tráfico dos visitantes, o piso da trilha tende a ser compactado e a borda crítica tende a tornar-se mais alta do que a parte externa do piso. Além disso, os sedimentos transportados pela água tendem a se acumular ao longo da borda crítica impedindo o escoamento da água. Por isso, a borda crítica necessita de planos de manutenção contínuos e eficientes (Figura 10). Figura 10- Inclinação lateral e molde da borda crítica. Fonte: LECHENER (2006). Org.: MORAES, D. I de (2012). 4.2.5.1 Canais laterais de escoamento Para evitar que a água pluvial ganhe velocidade e utilize o piso da trilha como um canal de escoamento, uma das formas mais utilizadas em áreas declivosas é a construção de canais laterais em toda a extensão do piso da trilha. Os canais laterais de escoamento podem ser construídos de concreto, como podemos observar na foto 11, ou apenas ser uma escavação feita no solo com uma inclinação e profundidade adequada ao montante de água que possivelmente irá escoar. 94 Foto 11 - Canal lateral de escoamento – Parque Nacional do Iguaçu – PR. Autor: MORAES, D.I de abril/2012. 4.2.5.2 Vala de Drenagem São escavações feitas sobre o piso da trilha com o objetivo de drenar a água antes que ela ganhe velocidade e volume suficiente para causar erosão. A construção da vala de drenagem consiste em escavar uma seção mais baixa na trilha conhecida como dreno, que deve ser estendido da parte superior do piso da trilha até a sua parte mais baixa, constituindo assim o vertedouro, que deve conter tamanho e largura suficiente para direcionar a água para fora do piso da trilha. Para conter a velocidade da água, o dreno deve apresentar uma inclinação de 30 a 45 graus em relação ao piso da trilha, possuir uma entrada gradual denominada de rampa superior para o desvio da água, e uma seção inclinada mais profunda com uma altura suficiente para embolsar o fluxo d’água, denominada de rampa inferior (LECHENER, 2006). Apesar de serem estruturas bastante eficientes na contenção dos fluxos d’água, as valas de drenagem não devem ser construídas em locais onde possam transportar sedimentos para dentro de lagos, rios e riachos. 95 4.2.5.3 Barreiras de drenagem As barreiras de drenagem são estruturas assim como as valas de drenagem, construídas para evitar que o piso da trilha seja erodido pelas águas superficiais. Entretanto, ao invés de escavar uma rampa sobre o piso, é feita uma barreira de pedra ou madeira elevada na lateral do piso da trilha (Figura 12). Foto 12 – Barreira de drenagem com bueiro– Reserva Salto Morato – Guaraqueçaba PR. Autor: MORAES, D. I de, 2012. Segundo o manual da SEMA/SP (2009) as barreiras de drenagem são mais eficientes para declividades menores que 5%, por terem uma menor probabilidade de entupir com os sedimentos. Já em declividades de 15 a 20% existe uma maior propensão ao entupimento, principalmente se a barreira estiver em um ângulo menor que 45 graus em relação ao eixo da trilha. Em declividades acima de 20 % as barreiras de drenagem tornam-se estruturas inúteis devido à alta propensão de entupimento do seu escoadouro. Quando mal construídas e mal mantidas, as barreiras de drenagem acabam tornando-se obstáculos para os usuários, que ao desviá-la provocam o alargamento do piso da trilha. Assim, para serem eficientes, as barreiras de drenagem devem ser instaladas com um ângulo correto, atravessar de um lado a outro o piso da trilha, possuir inversão de declividade e utilizar preferencialmente pedras para a sua construção (MANUAL SEMA/SP, 2009). 96 Quando o material utilizado for pedras, Lechener (2006) recomenda que estas devem ser grandes, estarem enterradas no mínimo 2/3 do seu tamanho, e apresentar um ângulo apropriado à declividade do terreno, evitando que a água ultrapasse a estrutura e continue trilha abaixo. Para o autor, as barreiras também podem ser construídas fora da trilha em áreas mais instáveis, com intuito de estabilizar a erosão e evitar danos ao piso. Apesar de serem estruturas eficazes na contenção da água em declividades baixas, as barreiras de drenagem também pode representar riscos aos visitantes, principalmente quando os visitantes são idosos, crianças, portadores de necessidades especiais ou ciclistas. 4.2.5.4 Degraus Os degraus são estruturas recomendadas para as inclinações do leito da trilha iguais ou superiores a 12 % (ANDRADE, 2003) ou quando se pretende ganhar considerável elevação em curta distância. Os componentes do degrau são: a altura (medida vertical da face de cada degrau), a passada (distância da borda de um degrau ao pé do degrau seguinte), uma rampa ou plataforma (extensão de trilha plana logo acima dos degraus) e muitas vezes troncos de contenção (utilizados em locais onde a plataforma consiste de terra compactada para a contenção do aterro) (MANUAL SEMA/SP, 2009). Para que os degraus sejam estruturas confortáveis, Lechener (2006) recomenda que deva haver um equilíbrio entre sua largura e altura, as quais quando somadas, devem estar entre 38 a 46 cm. Por exemplo, se a altura for de 20 cm a largura deve estar entre 18 e 26 cm. Os degraus também devem estar inclinados para baixo ou apresentar suave caimento para um dos lados, permitindo que a água escoe para fora da estrutura. Os materiais utilizados na construção dos degraus devem ser naturais e harmônicos ao ambiente, por isso é recomendável utilizar preferencialmente rochas, troncos e pranchas de madeira e rochas. Para Lechener (2006), o melhor material para construir degraus são as rochas, devido a sua durabilidade e estabilidade no terreno. As rochas devem pesar de 90 a 100 quilos e serem enterrada no solo no mínimo 2/3 de seu tamanho. Os degraus são construídos sobrepondo rochas achatadas uma sobre a outra e em alguns casos, utilizando concreto para estabilizar as rochas menores. Ao utilizar madeira como matéria prima, os degraus podem ser feitos de várias maneiras, como mostra a figura 11. 97 Figura 11 - Modelos de degraus em madeira. Fonte: ANDRADE; ROCHA, 2008. Org. MORAES, D. I de (2012). As fotos 13 e 14 apresentam degraus em trilhas feitos de diferentes materiais. A primeira utiliza tábuas e torretes de madeiras alternados e fixados com dormentes. A segunda, uma sobreposição de rochas. Foto 13 - Trilha com degraus - Estação Ecológica Juréia-Itatins, Peruíbe - SP. Fonte: http://www.blogcaicara.com/2010/07/gestao-turistica-em-uc-e-capacidade de.html. 98 Foto 14 - Degraus com rochas - Trilhas da Onça – Marechal Candido Rondon – PR. Fonte: MORAES, D. I. de, outubro/ 2012. 4.2.5.5 Barreiras de Contenção São construídas para fazer a estabilidade estrutural da encosta evitando e/ou amenizando os processos erosivos e a deposição de materiais provenientes da encosta no piso da trilha. Podem ser feitas de pedras, troncos, sacos de areia ou solo, telas, entre outras (ANDRADE, 2003). De acordo com Lechener (2006) as barreiras feitas com pedras são bastante úteis para manter o piso no lugar, construir ziguezagues e estabilizar o talude em áreas muito íngremes. Para conseguir a estabilidade da estrutura, o autor recomenda não utilizar rochas quebradiças ou então utilizá-las dentro da parede e não na parte externa. As pedras devem ser sobrepostas e encaixadas contra a encosta utilizando as pedras maiores na parte da frente. A foto 15 apresenta uma barreira de contenção feita com tela fina em área de encosta. Porém, não é a mais recomendada, por dar um aspecto mais artificial à paisagem (MANUAL SEMA/SP, 2009). 99 Foto 15- Barreira de contenção com tela - Parque Nacional do Iguaçu- PR Autora: MORAES D. I. de, abril/2012. Quando feitas com troncos de madeira sobrepostos, estes devem ser transpassando com longos pinos metálicos ou entalhados nas juntas e sustentados por alguns dormentes com ângulo perpendicular a parede. Cada fileira deve ser assentada um pouco mais para dentro da encosta, para que possa resistir à pressão do escorregamento da encosta (MANUAL SEMA/SP, 2009). 4.2.6 Construção de Trilhas em Áreas Planas As áreas planas são entendidas como mais problemáticas para a construção e manejo das trilhas ecológicas, pois tendem a ser mal drenadas, suscetíveis a compactações e em climas chuvosos são úmidas ou pantanosas. Em áreas baixas o acúmulo de água no leito da trilha pode gerar diversos tipos de problemas, como a destruição e o alargamento do piso e deslizamentos. Poças que se formam em trilhas planas provocam diversos tipos de estragos no piso. O tráfego que começa a contornar uma poça alarga a trilha (e eventualmente a própria poça). Água parada geralmente enfraquece o piso e o talude [...]. O pisoteamento da borda inferior de uma poça pode induzir ao colapso da borda critica, já que os andarilhos também pisam além da borda da trilha, desfazendo-a. Colapsos da borda externa são uma das principais causas de deslizamentos de trilhas. (MANUAL SEMA/SP, 2009, p. 38). 100 Para evitar os impactos causados pelo acúmulo de água no piso da trilha, as principais ações são: construção de deques ou passarelas de madeira; elevação do piso da trilha; e construção de valas de drenagem ligeiramente arredondadas em toda a lateral da trilha. Para a elevação do piso, é necessário utilizar material de aterro retirado das valas de drenagem ou de outras áreas. Podem ser utilizadas também madeira serrada, torras, rochas, argila entre outros materiais de preenchimento (Foto 16). Foto 16 – Elevação do piso em área plana com rochas - Reserva Salto Morato – Guaraqueçaba –PR. Autor: MORAES, D. I. de, dez./2012. Os pisos elevados são mais baratos e mais fáceis de construir do que as passarelas de madeira, sendo recomendados principalmente em trilhas com inclinação de até 10 %, que apresentem lençol freático alto e solos mal drenados (MANUAL SEMA/SP, 2009). Além da elevação, existem também materiais que contribuem para manter o piso da trilha com pouca umidade. É o caso do geotêxtil, uma manta bastante resistente que impede o acúmulo de água sobre o piso da trilha e facilita sua secagem (Foto17). 101 Foto 17 - Piso elevado coberto com geotêxtil - Reserva Salto Morato- Guaraqueçaba – PR Autor: MORAES, D. I. de, dez./2013. 4.3 Manejo O manejo das trilhas corresponde ao estabelecimento de ações que são necessárias para prevenir, controlar, compensar e corrigir possíveis impactos negativos causados pela construção e uso público das trilhas. Por isso, é um elemento fundamental mesmo para trilhas implantadas sem planejamento. Para Barros e Dines (2000) o manejo deve estar voltado à integração dos visitantes aos objetivos de cada área, de modo a influenciar o comportamento do visitante de maneira positiva. Para isso, a acessibilidade, integração com o ambiente natural e a possibilidade de vivenciar plenamente o ambiente visitado, são fatores que devem ser considerados. Nesse processo, existe um conjunto de princípios importantes tanto para nortear a escolha do método de manejo, quanto para as ações desenvolvidas. São eles: Princípio 1: O Manejo adequado depende dos objetivos da área. Princípio 2: A área deve ser manejada de modo a respeitar a variedade de condições em cada local e a diversidade de expectativas de cada visitante. Princípio 3: O manejo deve ser realizado de modo a influenciar a redução das alterações induzidas pela ação humana. 102 Princípio 4: Os impactos sobre os recursos naturais e sobre as condições sociais são consequências inevitáveis do uso público. Princípio 5: Os impactos podem ser temporal e/ou espacialmente descontínuos. Princípio 6: A relação entre uso e impacto não é linear e pode ser influenciada por diversas variáveis. Princípio 7: Muitos problemas de manejos não dependem da intensidade de uso. Princípio 8: Limitar o uso é apenas uma das varias opções de manejo. Princípio 9: O monitoramento é essencial ao manejo eficiente. Princípio 10: O processo de tomada de decisões deve separar as decisões técnicas do julgamento de valores. Princípio 11: É necessário atingir o consenso entre os grupos afastados/interessados pelas ações propostas para que as estratégias de manejo em áreas naturais tenham sucesso (BARROS; DINES, 2000). O manejo envolve ações de manutenção, monitoramento e avaliação dos impactos causados pela visitação. 4.3.1 Manutenção Andrade e Rocha (2008) destacam que os planos de manutenção das trilhas devem ser projetados em um espaço de cinco a dez anos e devem ter como prioridade, a proteção dos recursos, a segurança e necessidades dos usuários, o nível de uso e os custos e benefícios das intervenções. As atividades de manutenção mais comuns em sistemas de trilhas correspondem à remoção da vegetação, arbustos, galhos e entulhos no corredor, nas valas de drenagem, nas barreiras de água e nos bueiros. Os acúmulos de materiais nessas estruturas e no corredor da trilha acarretam impactos como o alargamento do seu piso, provocado principalmente pelo desvio de obstáculos e pela aceleração dos processos erosivos, na medida em que o fluxo de drenagem é alterado ou interrompido (Quadro 4). 103 Quadro 4 – Atividades de manutenção comuns às trilhas ecológicas. Operação Ferramentas Trabalho Requerido Limpeza do corredor da Serra de mão, motosserras, Limpeza de arbustos e trilha machado, facão, enxadão, restabelecimento do picareta. corredor; remoção de pequenas árvores e arbustos ao longo dos limites da trilha; verificação tanto da altura, quanto da largura do corredor. Limpeza das estruturas de Pás, picareta, enxadão. escoamento e drenagem Remoção de sedimentos e entulhos das estruturas e escoadouros; aprofundar as valas quando necessário. Piso da trilha Pás, picaretas, machadinha. Escadas e degraus Alavancas, pás, colher de Manter sustentação e pedreiro, cortador de drenagem, reconstruir pedras, luvas, martelo. degraus. Sinalização e estruturas Martelo, pincéis, chaves de Repara o que for necessário, fenda, chave inglesa, remover qualquer sinal de alavancas. vandalismo, removera a sinalização se necessário. Lixo enxadão, Restabelecer bordas críticas e talude, remover obstruções como raízes, rochas, etc.; checar as condições gerais. Sacos de lixo e luva Remover o lixo. FONTE: LECHENER (2006, P. 97). Org. MORAES, D. I de (2012). A manutenção do piso abrange desde a retirada de detritos caídos sobre o piso até a remoção de raízes e pedras que estejam salientes e possam oferecer riscos aos visitantes. A manutenção também inclui o restabelecimento de estruturas, nova forma ao talude, entre outras (MANUAL SEMA/2009). 104 4.3.2 Monitoramento e Avaliação de Impactos O objetivo principal do monitoramento e da avaliação de impactos é melhorar o desempenho da trilha, minimizando ou evitando os impactos socioambientais e de uso e permitir aos gestores, analisar e avaliar o nível de impactos decorrentes da visitação. Para Takahashi (2004) o monitoramento ambiental cumpre duas funções básicas. A primeira é permitir que os administradores mantenham um registro formal das condições sociais e ecológicas da área. A segunda consiste em avaliar a efetividade das ações de manejo, auxiliando os administradores a compreender se as ações foram suficientes para a resolução dos problemas. Para que o programa de monitoramento das trilhas seja eficaz, Lechener (2006, p. 91) destaca que seus objetivos devem ser claramente definidos, considerando questões como: Porque estamos monitorando? O que iremos monitorar? Qual é a frequência deste monitoramento? Quem fará o monitoramento? Que recursos essa pessoa terá? Que variáveis serão monitoradas? Que padrões podem ser utilizados para avaliar os dados coletados em campo? Como as informações derivadas da atividade em campo serão armazenadas? Como a informação obtida com a atividade de monitoramento será utilizada? De acordo com Cole (1983, apud LECHENER 2006), o levantamento dos impactos em trilhas pode ocorrer a partir de três bases técnicas: a) Técnica replicável de medida: são estudos quantitativos de pontos amostrais, selecionados em um determinado intervalo de tempo. Geralmente os pontos amostrados são somente realizados nas áreas com alto nível de deterioração ou sítios com potencial para apresentar problemas. São estabelecidos transectos e medidos na trilha onde são vistas as suas principais variáveis, tais como: tipo e perda de solo, profundidade da trilha, vegetação, regime hidrológico, tipo de usuários, entre outros. Este método pode ser pouco útil para os programas de manejo, mas é útil para as atividades de manutenção, pois, permite a obtenção de conhecimentos sobre os padrões de uso, materiais utilizados, estrutura da trilha, entre outros. 105 b) Levantamentos Expeditos: Consiste na realização de observações rápidas sobre as condições gerais da trilha e como ela vem mudando ao longo do tempo. Um grande número de pontos de levantamentos comparativos, que tenham sofrido modificações ao longo do tempo, pode ser selecionado. Também alguns parâmetros podem ser levantados sobre um conjunto de variáveis a cada 50 metros na trilha, tais como: largura, profundidade, presença de umidade, raízes, condições da vegetação e da estrutura da trilha em um raio de 3 metros, a partir do ponto de amostragem. As variáveis dependerão da disponibilidade de recursos, do propósito do levantamento e das condições ambientais. c) Técnicas de censo: Corresponde a identificação e a descrição, em detalhes das condições da trilha. A trilha é subdividida em segmentos que podem ser identificados como: sem danos, danos pequenos, danos moderados, e danos severos. Podem ser utilizados números que correspondem às condições gerais do segmento, tais como: 0= sem danos 1= danos pequenos 2= danos moderados 4= danos severos Para Lechener (2006) o censo dos problemas apresentados, é talvez a ferramenta mais comum e eficiente para o monitoramento e a avaliação de impactos voltados ao manejo de trilhas. 4.3.3 Fechando, Recuperando e Realocando Trilhas A necessidade de fechar ou realocar uma trilha pode ocorrer devido a fatores ligados principalmente à erosão e/ou compactação do solo, perturbação da vida selvagem, segurança dos visitantes, conflitos entre visitantes, ou entre estes e os moradores locais, entre outros. O fechamento da trilha pode ser temporário, quando a intenção é permitir que a área se recupere da degradação ambiental, ou definitivo, quando o acesso é impedido por meio de barreiras naturais através da transplantação de árvores de grande porte nos pontos de entrada da trilha. Quando a realocação for necessária, todos os procedimentos tomados a respeito do planejamento, design e construção, devem ser os mesmos que os de uma nova trilha. Além disso, na análise de sítio, as causas dos problemas encontrados na trilha antiga, devem ser 106 identificadas, com intuito de prevenir ou evitar que estes problemas ocorram novamente na trilha realocada. Para recuperar uma trilha degradada, além do fechamento e isolamento da área, algumas técnicas de recuperação ambiental, também podem ser desenvolvidas, tais como: a) Estabilização do piso da trilha com toras, pedras e pequenas barragens de contenção, que aprisionam sedimentos e impedem a erosão; b) Escarificação do solo compactado permitindo sua aeração, infiltração e introdução das sementes; c) cobertura do solo com arbustos ou restos de vegetais, para impedir que o solo seja erodido pelo vento ou pela chuva (LECHENER, 2006). Para Andrade e Rocha (2008), um bom indicador na recuperação de trilhas é avaliar o potencial do ambiente local em se recuperar sozinho, como por exemplo, as áreas planas, úmidas e com solos férteis, que possui um potencial de recuperação maior que as áreas muito acidentadas, áridas e com solo pobre. Depois de analisar esses aspetos, a recuperação pode ocorrer de forma passiva ou ativa. A recuperação passiva consiste em deixar o solo em pousio, para que se recupere sozinho. Tal procedimento é eficaz especialmente em locais em que o impacto é pequeno e não sofre invasões de gramíneas e lianas (cipós) (fatores agravados pelo efeito de borda). Já a recuperação ativa, consiste em uma intervenção direta que pode ser realizada através do plantio de mudas cultivadas, ou pelo transplante de vegetação vizinha. Em ambos os casos, as espécies utilizadas devem ser nativas e autóctones da região, podendo aproveitar o potencial de cada espécie no processo de recuperação, por exemplo, o ingazeiro que é eficiente para a contenção de encostas, a aroeira pimenteira, eficaz na minimização do efeito de borda, entre outras. Vale lembrar que a recuperação, realocação ou fechamento das trilhas é decorrente de um planejamento de implantação e manejo ineficientes, que muitas vezes, não levam em conta as condições e características biofísicas e sociais da área e o perfil dos usuários. Por isso, planejar uma trilha não é uma tarefa simples, tampouco banal. Ela depende de conhecimentos específicos, de planejamento detalhado e plano de monitoramento e avaliação eficazes e condizentes com um uso efetivamente conservacionista. Nessa perspectiva apresentamos algumas metodologias utilizadas para avaliar os impactos decorrentes da visitação e o seu potencial interpretativo das trilhas. São metodologias norte americanas, que têm sido aplicadas em diferentes estudos realizados em trilhas de áreas protegidas no Brasil. 107 4.4 Metodologias de Avaliação de Impactos De acordo com Costa (2006), as metodologias mais utilizadas na avaliação físicoambiental e interpretativo das trilhas de áreas protegidas são: Capacidade de Carga (CC); Limits of Acceptable Charge (Limite Aceitável de Câmbio - LAC); Visitor Activity Management Process (Processo de Gerenciamento da Visitação - VAMP); Visitor Experience and Resource Protection (Experiência do Visitante e Proteção de Recursos - VERP); Recreacional Oportunities Spectrum (Espectro de Oportunidade de Recreação – ROS); Visitor Impact Management (Monitoramento de Impacto da Visitação - VIM/MIV); e Índice de Atratividade de Pontos Interpretativos (IAPI). Na sequência, apresentamos elementos básicos de cada uma dessas metodologias. Como estaremos trabalhando com as metodologias MIV - Monitoramento do Impacto da Visitação e IAPI – Índice de Atratividade de Pontos Interpretativos, para avaliação dos impactos e do potencial interpretativo das trilhas escolhidas para a pesquisa empírica, detalharemos essas duas. 4.4.1 Capacidade de Carga – CC O conceito de capacidade de carga foi primeiramente utilizado pela biologia e pela pecuária. A primeira fazia referência ao número de animais que podiam ser mantidos em determinado habitat sem a ocorrência de impactos de ordem biológica e ecológica. A segunda, tinha por objetivo estabelecer o número de animais que poderiam utilizar uma área de pastagem, sem causar danos irreversíveis ao meio ambiente (TAKAHASHI, 2004). No contexto das recreações ao ar livre, em especial nas trilhas ecológicas, a capacidade de carga, começou a ser utilizada a partir da década de 1950 nos EUA, onde a visitação em unidades de conservação, principalmente em parques nacionais era crescente. Neste período, o conceito era atribuído ao número de visitantes que um lugar poderia receber, sem considerar suas experiências e comportamentos (COSTA, 2006). Um dos métodos mais utilizados no cálculo da capacidade de carga em ambientes naturais é proposto por Miguel Cifuentes (1992) que em seu manual “Determinación de capacidad de carga turística em áreas protegidas”, apresenta os procedimentos metodológicos aplicados a reserva Biológica de Caracas na Costa Rica. O cálculo da capacidade de carga desenvolvido por Cifuentes busca estabelecer o número máximo de 108 visitas que uma área protegida pode receber durante um dia, de acordo com as condições físicas, biológicas e de manejo que se apresentam no momento do estudo. 4.4.2 Limite Aceitável de Câmbio – LAC Criado na década de 1980 pelo Serviço Florestal dos Estados Unidos, o LAC se preocupa com as condições desejadas e o quanto de mudanças pode ser tolerado pelo ambiente natural, considerando como parâmetros de análise a infraestrutura da trilha, a interpretação ambiental e o perfil do visitante (TAKAHASHI, 2004). O sistema LAC permite decidir onde e quais modificações são aceitáveis, a fim de que sejam controladas por um adequado plano de monitoramento (COSTA, 2006). Takahashi (2004) destaca as dez etapas necessárias para selecionar os indicadores de impactos através do limite aceitável de câmbio. São elas: Etapa 1 - Definir os objetivos e as condições desejadas. Consiste em reunir os mandatos legais e políticos, que guiarão as ações de manejo, desenvolvendo uma perspectiva sobre a importância da área, suas características e sua abrangência local e regional. Etapa 2 - Identificar valores, preocupações e limitações. Considerando os objetivos da categoria de manejo, as características ou qualidades especiais que necessitam de atenção devem ser identificadas, de forma a unificar o entendimento sobre os valores e as questões importantes. Etapa 3 - Identificar e descrever as zonas. A partir das informações coletadas na etapa 2, o número de zonas será definido, descrevendo as condições ecológicas, recreativas e administrativas adequadas para cada uma. Elas devem estar compatíveis aos objetivos a área pretendida. Etapa 4 - Selecionar os indicadores de impactos. Os indicadores consistem em elementos específicos que representam as condições julgadas adequadas e aceitáveis para cada zona. Estes devem ser fáceis de serem medidos e passiveis de controle e manejo. Entretanto a escolha de apenas um indicador não é suficiente 109 para descrever as condições de uma área em especial, sendo necessário, a utilização de um grupo de indicadores. Etapa 5 - Inventariar os recursos e as condições existentes. O inventário é orientado por meio dos indicadores selecionados na etapa quatro. Os dados são mapeados, de forma que as condições e localização dos indicadores sejam conhecidos. A constatação do nível de impacto norteará onde e quais ações de manejo devem ser tomadas. Além disso, as informações do inventário auxiliarão na avaliação das consequências das ações de manejo e no estabelecimento de limites ou padrões de uso. Etapa 6 - Especificar os limites dos indicadores. A definição dos limites dos indicadores representa o nível máximo de impacto aceitável para cada indicador em cada zona. Entretanto, o limite não é um objetivo buscado pelo manejo. Etapa 7 - Identificar as condições para cada zona. Tem por objetivos definir quais indicadores de impacto devem ser mantidos para cada zona. Etapa 8 - Identificar as ações de manejo para cada opção. Ao comparar as condições existentes (etapa 5) com os limites aceitáveis (etapa 6), é possível identificar os locais onde os problemas existem e quais ações de manejo são necessárias. Quando as condições existentes são menores que os limites, há pouca necessidade para mudanças no manejo. Etapa 9 - Avaliar e selecionar a melhor opção. As opções de manejo selecionadas devem considerar o tipo de custo e o benefício a ela associado, sendo necessária a participação não só dos administradores, como também dos demais grupos envolvidos. Etapa 10 - Implementar ações e monitorar as condições. A partir da seleção das melhores opções, as ações de manejo são executadas juntamente com a instituição de um programa de monitoramento, o qual irá comparar os 110 indicadores selecionados na etapa quatro e as condições identificadas nos limites. Quando as condições não estão melhorando, novas ações de manejo devem ser instauradas. 4.4.3 Processo de Gerenciamento da Visitação – VAMP Devido à crescente demanda por atividades recreativas nas áreas protegidas do Canadá no final da década de 1970, o Parks Canada Policy buscou incentivar às atividades que promovessem a compreensão, interpretação e a sensibilização dos visitantes, com o mínimo de instalações construídas. Concomitante a esse processo, na década de 1980, é desenvolvido a metodologia VAMP, que contribuiu para a seleção de critérios para o estabelecimento de atividades apropriadas a serem realizadas nestas áreas (GUIMARÃES, 2009). O método VAMP tem como objetivo priorizar os exercícios de interpretação e sensibilização dos visitantes, a fim de promover as oportunidades recreativas. Ao contrário dos métodos ROS e LAC, que focam o gerenciamento dos recursos, o VAMP possui enfoque voltado para o usuário destes recursos e aos serviços de interpretação que são oferecidos. Deste modo, faz-se necessário desenvolver perfis de atividades que estejam conectados com as características sociais e demográficas dos participantes, as condições presentes no ambiente e as tendências que afetam estas atividades (STIGLIANO, 2004). Por focar nos visitantes, o VAMP possibilita o desenvolvimento de dados e informações relativas aos hábitos dos usuários, compreendendo seus comportamentos, para se necessário, modificá-lo. As etapas do Método são: 1. Elaboração dos principais conceitos (termos de referência); 2. Criação de base de dados e análise da situação; 3. Organização, identificação e priorização de oportunidades; 4. Estabelecimento dos objetivos e estratégias; 5. Implantação, monitoramento e atualização de planos (STILGLIANO, 2004). Guimarães (2009) considera o método VAMP como um dos métodos mais completos de gerenciamento da visitação. O seu potencial mais significativo está no foco voltado para o entendimento dos visitantes, de forma que as expectativas dos usuários possam ser equilibradas com as da administração do parque e com os princípios de proteção do ambiente. A partir disso, podem ser desenvolvidas atividades especificas para determinados públicos, estimando novas práticas de interpretação ambiental. 111 4.4.4 Experiência do visitante de Proteção de Recursos – VERP Desenvolvido pelo Serviço de Parques Nacionais dos Estados Unidos na década de 1990, o VERP é uma metodologia que tem por objetivos descrever o potencial de experiências da visitação e as condições dos recursos, através do zoneamento e monitoramento dos recursos e indicadores sociais. De acordo com Takahashi (2001), o método VERP é baseado em elementos e técnicas do LAC e do VIM, e é constituído em de nove etapas. As seis primeiras são requisitos gerais ao planejamento da área natural (parque) e as três últimas requerem revisão e manejo anuais. Etapa 1. Reunir uma equipe interdisciplinar para o projeto. Etapa 2. Desenvolver uma estratégia para envolver o público. Etapa 3. Desenvolver propostas referentes aos objetivos primários da área protegida, importância e temas interpretativos. Etapa 4. Analisar o recurso natural e uso publico existente. Etapa 5. Descrever o nível de experiência dos visitantes e as condições do meio natural. Etapa 6. Determinar a localização de possíveis áreas de uso. Etapa 7. Selecionar indicadores e especificar padrões para cada área; desenvolver um programa de monitoramento. Etapa 8. Monitorar indicadores ecológicos e sociais. Etapa 9. Implementar ações de manejo. 4.4.5 Espectro de Oportunidade de Recreação – ROS O ROS é uma metodologia fundamental no manejo baseado em experiências, porque propõe que as experiências recreacionais e os benefícios dela derivados aconteçam dentro de um conjunto de eventos particulares, vistos a partir de um gradiente (espectro) que vai do primitivo ao urbano. Seu método de análise consiste em dividir a área em classes de oportunidades de recreação em termos locais, qualificadas pelos tipos de condições sociais e de recursos que são aceitáveis para aquela classe, bem como, o tipo de ação administrativa considerada apropriada. Isso significa que os elementos como design, instalação e características sociais, podem ser relacionados com o tipo de satisfação que o visitante procura ter na área protegida (LECHENER, 2006). 112 O ponto negativo do ROS segundo Stigliano (2004) é o fato de ser baseado na determinação da capacidade de carga, que por si só já apresenta uma capacidade limitada e ineficiente. Os pontos positivos segundo o autor correspondem à união entre oferta e demanda, a possibilidade de integração com outros métodos e a diversificação das oportunidades de lazer propiciada aos visitantes. 4.4.6 Manejo de Impacto da Visitação – MIV Proposta por Kuss (1990 apud Castro e Stipp, 2003), esta metodologia abrange três categorias de indicadores – sociais, físicas e biológicas – e tem como objetivos promover a observação dos impactos e analisá-los de acordo com suas possíveis origens e causas, de forma a estabelecer ações de manejo capazes de minimizar ou reverter o quadro negativo encontrado (COSTA, 2006). O MIV (VIM em inglês), parte do princípio de que toda e qualquer tipo de visitação em ambientes naturais causa impactos. Portanto, não busca o impacto “zero”, mas sim, mantêlo em níveis aceitáveis, conforme os critérios estabelecidos e os objetivos da área. A partir de suas três proposições iniciais - 1. Condição do impacto; 2. Causa do impacto; e 3. Estratégias de manejo potenciais, Freixêdas et. al (2000) propuseram oito etapas complementares e de fácil entendimento e aplicação para o MIV. As cinco primeiras são voltadas à identificação das condições dos impactos e as etapas seguintes, à identificação das causas e estratégias de manejo. Etapa 1: Pré-avaliação e Revisão de Informações Tem por objetivos levantar todas as informações já existentes sobre a área protegida. Os planos de manejo, o Código Florestal e a legislação ambiental, podem ser ferramentas importantes no entendimento e escolha das atividades e estruturas adequadas para a área a ser monitorada. Etapa 2: Revisão dos Objetivos de Manejo Nesta etapa serão realizados levantamentos e revisão dos objetivos de manejo da área, de modo a verificar quais as atividades previstas para o local e se estas estão ocorrendo de modo planejado. É fundamental que os objetivos estabelecidos para a área estejam de acordo 113 com as informações obtidas na Etapa 1, evitando com isso, conflitos entre o uso proposto e as restrições e condições impostas pelos documentos oficiais. Etapa 3: Seleção dos indicadores de Impacto Os indicadores de impactos escolhidos devem permitir a avaliação efetiva de alterações no ambiente em função da visitação. Esses indicadores devem permitir, através de sua análise, a observação das condições da trilha e a experiência da visitação. Para isso, devem ser: 1. Facilmente observáveis e mensuráveis (evitando subjetividade na leitura); 2. Compatíveis com os objetivos de manejo da área; 3. Relacionados ao uso (visitação); 4. Responder a ações de manejo ou intervenção. O quadro 5 apresenta alguns dos indicadores que podem ser utilizados como parâmetros para avaliar os impactos nas trilhas. Quadro 5 - Lista de indicadores de impactos biofísicos e sociais. Indicador Leito Borda Solo Vegetação Saneamento Risco Verificadores Superfície descoberta (incidência solar) Alteração de largura Afundamento Erosão em sulcos Erosão em canais Erosão laminar Canal de drenagem (água pluvial ou fluvial) Atalhos Manutenção de infraestruturas (bancos, sinalizações) Desbarrancamento de encosta Perda da borda critica Compactação Solo exposto (sem litter) Rochas aflorantes Raízes expostas Alagamentos Árvores caídas Espécies exóticas Vegetação danificada na borda (mortas) Incêndios Inscrições (pichação rochas, árvores ou sinalização) Lixo (visualização) Fatal Cair de encosta Escorregar 114 Fauna Som Espécies domésticas Percepção de música Percepção de gritos de pessoas Fonte: COSTA; MELO (2005). Org. MORAES, D. I. de (2012) Etapa 4: Seleção de padrões para indicadores de impactos Uma vez definidos os indicadores e as metodologias de medição e avaliação destes, é possível determinar os padrões máximos de impactos aceitáveis para cada indicador. Os resultados obtidos com o monitoramento serão comparados com os padrões, de modo a verificar se a situação da trilha ou do atrativo está dentro do ideal, ou se apresenta algum tipo de impacto acima dos limites aceitáveis. Etapa 5: Comparação dos padrões com as condições verificadas Nesta etapa, a situação verificada será comparada com os padrões estabelecidos com base nos indicadores de impactos selecionados. Se os valores obtidos forem inferiores ou igual ao padrão estabelecido, pode-se considerar que a trilha ou o atrativo apresenta uma condição adequada e que a visitação não esta alterando o ambiente de forma significativa. Entretanto, se o valor for superior ao determinado pelo padrão, então é entendível que o impacto existe, e uma ação de manejo deve ser realizada para minimizá-lo. Etapa 6: Identificação das prováveis causas dos impactos Para os indicadores de impactos que tenham seus padrões excedidos, é necessário que as causas que estão levando a tal situação sejam identificadas. É importante considerar todos os aspectos da visitação que podem influenciar tal situação, relacionado os indicadores de impactos com aspectos específicos do uso, como tipo de uso, tamanho dos grupos, tempo de uso, período de permanência, concentração de uso, frequência do período de alta temporada, quantidade total de uso e comportamento dos visitantes. É necessário também considerar se a causa do impacto não está relacionada a uma falha de manejo e gestão da visitação. Etapa 7: Identificação das estratégias de manejo Nesta fase, é importante que o foco de análise não esteja voltado nas condições dos impactos, mas sim, nas suas prováveis causas. As estratégias de manejo podem incluir abordagens diretas que regulam ou restringem atividades de visitação e que busquem alcançar o resultado desejado, influenciando o comportamento do visitante. 115 Etapa 8: Implementação Depois de estabelecidas a estratégia de manejo, sua aplicação deve ocorrer o mais rápido possível para que o quadro de impacto da área seja revertido. A constante avaliação dos indicadores de impactos é fundamental para determinar a eficiência dessas ações, verificando se os resultados são os desejados e se outras características do local e a experiência do visitante não foram alteradas. Atualmente o MIV é uma das metodologias mais utilizadas em áreas protegidas (COSTA, 2006). Além de permitir a identificação dos impactos, a metodologia possibilita estabelecer mecanismos para promover o manejo e o monitoramento da visitação como um processo dinâmico para diagnóstico de seus impactos e de sua qualidade. Carvalho (2003), Costa e Mello (2005), Costa (2006), Ribeiro e Castro (2006) são alguns dos autores que utilizaram a metodologia MIV para avaliar os impactos gerados pelo uso público em trilhas de Unidades de Conservação. 4.4.7 Índice de Atratividades em Pontos Interpretativos – IAPI O Índice de Atratividades em Pontos Interpretativos (IAPI) é um método que tem por objetivos facilitar a definição de pontos de interpretação ao longo de trilhas para finalidades educativas e interpretativas. Pode ser utilizado tanto na definição de pontos estratégicos de interpretação, quanto em trilhas interpretativas já implantadas, permitindo avaliar as formas de condução da visitação à interpretação ambiental e levantar os atrativos e as temáticas interpretativas (IKEMOTO, et al., 2009). De acordo com Magro e Freixêdas (1998), o IAPI é composto por cinco fases, sendo elas: Fase 01: Levantamento de pontos potenciais para a interpretação Corresponde a um diagnóstico geral dos atrativos naturais e culturais. É basicamente um exercício de observação, onde se define que temas podem ser trabalhados. Determinado o tema de interesse, inicia-se a seleção dos pontos que estarão no roteiro previsto. É recomendado identificar e numerar os pontos com fitas coloridas que aceitem escritas e que possam ser retiradas posteriormente. 116 Fase 02: Levantamento e seleção de indicadores Consiste no levantamento dos recursos naturais visíveis a partir dos pontos préselecionados. Caracterizam-se pela facilidade de identificação em campo e sua repetição por um segundo observador (como filtro da subjetividade das impressões). A atratividade do local é percebida e, geralmente, relacionada a: corpos d’água, variedade de vegetação, relevo, áreas históricas, entre outros. Pode ocorrer da atratividade ser definida pela combinação de dois ou mais fatores, como por exemplo água e relevo. Aspectos negativos, tais como presença de insetos, riscos para fauna e exposição ao perigo podem também ser contabilizados para garantir a qualidade da visitação. Fase 03: Elaboração de ficha de campo Em uma ficha de campo relaciona-se a ausência ou presença dos indicadores a serem avaliados em cada um dos pontos selecionados. É importante haver uma ficha para cada área analisada contendo os elementos considerados mais importantes. Fase 4: Uso da ficha de campo Para utilizar a ficha de campo, usamos uma graduação para facilitar a identificação dos recursos analisados no local (1 = presente; 2 = grande quantidade; 3 = predominante). Embora subjetiva, podemos buscar uma padronização através da análise de cada trilha, por duplas de apontadores, para que analisem seus pontos do início ao fim criando consenso e evitando mudanças de critérios. Na prática, é uma segunda visita a trilha, onde de posse da listagem de atrativos dentro do tema eleito, busca-se padronizar os critérios de avaliação dos indicadores escolhidos. A intensidade anotada deve ser multiplicada pelo seu respectivo peso. Estes valores somados permitem chegar à pontuação final dos sítios. A atribuição de valor numérico para o indicador objetiva facilitar a contagem de pontos para cada local analisado. Fase 5: Seleção final Os pontos interpretativos com maior pontuação são selecionados de maneira definitiva, após uma checagem final em campo. O mesmo procedimento pode ser utilizado para a escolha de locais de descanso (colocação de bancos) ao longo da trilha. No Brasil, o IAPI tem sido utilizado principalmente em unidades de conservação, para avaliar o potencial de trilhas interpretativas já existentes. É o caso das pesquisas desenvolvidas por Ikemoto et al. (2009) que aplicou a metodologia nas trilhas do Jequitibá, localizadas no Parque Estadual dos Três Picos/RJ; Costa (2006) em três trilhas do Parque 117 Estadual Pedra Branca/RJ e Costa e Mello (2005) na trilha do Rio Grande no Parque Estadual Pedra Branca/RJ. Contudo, após abordar os principais elementos que envolvem o processo de implantação e manejo de trilhas ecológicas em fragmentos florestais, passamos no item seguinte, a trabalhar com a situação empírica, na qual, analisamos duas trilhas ecológicas localizadas em um pequeno estabelecimento rural denominado Recanto Renascer. Buscamos nessa experiência, relacionar a situação empírica com os elementos teóricos aqui apresentados sobre as técnicas de implantação e manejo das trilhas e também na perspectiva da trilha como uma alternativa de uso conservacionista para as áreas florestais. O objetivo foi desenvolver uma análise das trilhas do local, com intuito de conhecer suas características e condições ecológicas, identificar os possíveis impactos atuais e futuros, as potencialidades interpretativas e o perfil de seus visitantes, para posteriormente, oferecer subsídios a um manejo eficiente, visando reduzir os impactos ambientais e otimizar o potencial turístico e educativo das trilhas. 118 5 TRILHAS ECOLÓGICAS EM FRAGMENTOS FLORESTAIS DE PEQUENOS ESTABELECIMENTOS RURAIS: UM ESTUDO NO RECANTO RENASCER MUNICÍPIO DE FRANCISCO BELTRÃO-PR 5.1 Localização e Caracterização Geográfica da Área de Estudo O Recanto Renascer é um estabelecimento rural com 43,5 hectares, localizado na comunidade de Água Vermelha, município de Francisco Beltrão. As coordenadas geográficas são 26º 08’ 04” latitude Sul, e 53º 06’ 46” longitude Oeste (Mapa 1), e as altitudes variam entre 580 a 682 metros. A propriedade está a 13 km do centro urbano de Francisco Beltrão e se destaca como um dos poucos estabelecimentos rurais no município a oferecer lazer e atividades recreativas em área de floresta. Ele faz parte do Roteiro de Turismo Rural do município, denominado “Caminho do Marrecas”. Mapa 1 – Localização geográfica da área de Estudo. Org.: PEREIRA, L. S. B (2013). 119 5.1.1 Aspectos Abióticos A área de estudo se insere na zona climática subtropical mesotérmica úmida, Cfa na classificação de Köeppen. Possui verões quentes e com ocorrência de frequentes geadas no inverno. A média de temperatura dos meses mais quentes é superior a 22° e dos meses mais frios, inferior a 18º. A média pluviométrica anual é de 2.000 mm, com chuvas bem distribuídas ao longo do ano (IPARDES, 2004). O relevo da região é caracterizado como ondulado e também escarpado nas encostas das maiores elevações. Apresenta altitudes que variam de 500 m nas margens do rio Marrecas a 948 metros na cabeceira do rio Jacutinga (MINEROPAR, 2002). O solo da região de acordo com a empresa de serviços geológicos do ParanáMINEROPAR (2002) é classificado como predominantemente latossolo roxo, com profundidade elevada principalmente nas partes plainas do relevo. Nas áreas íngremes e escarpadas, ocorre grande quantidade de afloramentos de rocha, cobertas por delgada camada de solo novo. Os latossolos constituem uma categoria de solos maduros que apresentam horizonte B bem desenvolvido. Possuem composição argilosa, são homogêneos, porosos e de cor arroxeada. Sua principal característica física é a grande espessura de geralmente 3 metros, podendo passar os 10 metros nas regiões de relevo plano. Apresentam estrutura granular muito pequena. São macios quando secos e altamente friáveis quando úmidos. O teor de silte é inferior a 20% e a argila varia entre 15% e 80%. São solos com alta permeabilidade à água e bastantes resistentes a erosão (EMBRAPA, 2007). A área estudada pertence à bacia hidrográfica do Rio Marrecas, o qual é afluente do rio Chopim e drena uma área aproximada de 846 Km. O Rio Marrecas tem sua nascente nos municípios de Flor da Serra do Sul e Marmeleiro, possui seu médio curso no município de Francisco Beltrão e se caracteriza como bacia hidrográfica assimétrica, com maior desenvolvimento de afluentes na margem esquerda (PAISANI et al., 2008). 5.1.2 Aspectos Bióticos O fragmento de floresta da área de estudo pertence à região fitogeográfica da Floresta Ombrófila Mista, popularmente conhecida como “mata de araucária” ou “pinheiral”. Esta formação florestal é típica do planalto meridional, em regiões de clima pluvial subtropical 120 com altitudes que variam de 500 a 1200 m. Ocorre com maior frequência nos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul (VELOSO et al., 1991). No Estado do Paraná, a Floresta Ombrófila Mista é encontrada nos três planaltos, ocorrendo também na região dos campos na forma de capões ou no vale dos rios. A característica básica desta floresta é o fato do pinheiro araucária (Araucária angustifolia) ser a espécie predominante e formar o andar superior, dando a impressão de uniformidade à paisagem. Entretanto, junto à araucária estão associadas várias outras espécies, que variam de acordo com as condições microclimáticas e de solo locais (VELOSO, et al, 1991). A Floresta Ombrófila Mista pode ser dividida em três formações distintas: Floresta Ombrófila Mista Aluvial; Floresta Ombrófila Mista Montana; Floresta Ombrófila Mista Alto Montana (FERRETTI, et al, 2006), que serão descritas a seguir: a) Floresta Ombrófila Mista Aluvial Esta floresta, também denominada de florestas ciliares ou de galeria, se desenvolve às margens de rios que percorrem terrenos de geomorfologia plana até suave-ondulada. Suportam frequentes inundações dos rios e podem chegar até 15 metros de altura, sendo constituída principalmente por Araucária angustifolia, Luehea divaricata (Açoita-Cavalo) e mirtáceas no estrato emergente e por Sebastiania commersoniana (Branquilho) no estrato arbóreo contínuo. Segundo Ferretti et al. (2006), a Floresta Ombrófila Mista Aluvial está associada a ambientes campestres importantes em termos de diversidade florística e espécies endêmicas, que são os campos de inundação (várzeas) e lagos, muitas vezes originados de meandros abandonados dos rios. b) Floresta Ombrófila Mista Montana Esta formação ocupava originalmente quase que inteiramente os planaltos acima de 500 metros de altitude dos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, sendo encontrada atualmente, em poucas reservas particulares e no Parque Nacional do Iguaçu. Em estágios iniciais essa floresta apresenta apenas um estrato arbóreo de até 15 metros de altura e com troncos de diâmetros reduzidos. A árvore emergente é a araucária (Araucária angustifolia) com cerva de 30 metros de altura nas associações maduras. c) Floresta Ombrófila Mista Alto Montana Conhecida também como “florestas nebulares”, “florestas altimontanas” ou “matinhas nebulares”, a Floresta Ombrófila Mista Alto Montana é encontrada no Paraná nas altitudes 121 acima dos 1.000 metros. Apresenta diferenças estruturais significativas se comparada às florestas de patamares altimétricos menores, das quais se destacam o pequeno porte das árvores (em torno de 4 metros), a formação de somente um estrato com copas entremeadas formando um dossel denso e sem a presença de árvores emergentes, troncos e galhos retorcidos, folhas pequenas, abundância de epífitas, redução da diversidade de espécies com a elevação da altitude e alto grau de endemismo (SCHEER; MOCOCHINSKI, 2009). A partir das características das três formações pertencentes à floresta Ombrófila Mista, a formação vegetal existente na área de estudo pode ser identificada como Ombrófila Mista Aluvial, pelo fato de estar localiza as margens do Rio Marrecas e apresenta em seu extrato superior a Araucária Angustifólia e nos extratos inferiores árvores mais baixas e/ou arbustos em grande parte pertencente às mirtáceas (pitanga, uvaia, cereja, guabiroba, entre outras espécies), que dão à paisagem vegetativa, a fisionomia característica desta formação. 5.1.3 Aspectos Socioeconômicos A propriedade rural utilizada como instrumento de investigação é composta por 43,5 hectares, dos quais, 9,8 ha são utilizados em atividades agropecuárias, com cultivo de produtos para a comercialização (soja e milho) e também frutas, legumes e hortaliças, juntamente com a e criação de animais para a subsistência. O restante da propriedade, cerca de 33 hectares, é utilizada em atividades não agrícolas voltadas ao lazer e turismo rural. As atividades desenvolvidas caracterizam uma unidade familiar pluriativa6. A espacialização do uso do solo no estabelecimento rural que abriga o Recanto Renascer encontra-se no mapa abaixo. Sacco dos Anjos (2003, p. 90-91) define a pluriatividade como: “[...] um fenômeno no qual os componentes de uma unidade familiar executam diversas atividades com o objetivo de obter uma remuneração pelas mesmas, que tanto podem desenvolverem-se no interior como no exterior da própria exploração, através da venda da força de trabalho familiar, da prestação de serviços a outros agricultores ou de iniciativas centradas na própria exploração (industrialização a nível da propriedade, turismo rural, agroturismo, artesanato e diversificação produtiva) que conjuntamente impliquem no aproveitamento de todas as potencialidades existentes na propriedade e/ou em seu entorno.” 6 122 Mapa 2 – Espacialização do uso do solo no Recanto Renascer – Francisco BeltrãoPR. Fonte: Trabalho de campo – abril a junho/2013. A oferta de lazer e turismo teve início em 2002, motivada principalmente pela necessidade de diversificar e elevar a renda familiar. A suinocultura até então praticada, estava passando por um momento de crise e tornou-se uma atividade inviável na propriedade. Diante disso, os proprietários buscaram orientações inicialmente com técnicos da Cooperativa de Crédito Rural Solidário (CRESOL) e, posteriormente, com técnicos do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), que incentivaram a família a aproveitar o espaço às margens do rio Marrecas, composto por um vasto bosque com árvores nativas de diversas espécies, para a oferta de lazer e turismo rural. Assim, desde 2004 a oferta turística compõe a principal renda da família (cerca de 70%), que em virtude do aumento do fluxo de visitantes e da diversidade nas atividades ofertadas, acabaram por reduzir a dedicação às atividades agropecuárias. 123 A área destinada ao lazer e turismo possui atualmente as seguintes infraestrutura e atrativos: duas casas para locação; lanchonete na qual são servidas refeições para grupos; quiosque; churrasqueiras; banheiros; playground; cancha de bocha; campo de futebol; área de camping e duas trilhas ecológicas. A taxa de visitação é de R$ 2,00 a partir de oito anos de idade, R$ 5,00 para acampar e, R$ 40,00 por dia no aluguel das casas. O recanto está no fragmento de floresta da propriedade, porém, na área destinada ao camping, a cobertura vegetal é mais esparsa, contendo apenas espécies de grande porte e cobertura do solo com gramíneas. Nas áreas de cobertura vegetal mais densa, se inserem as trilhas ecológicas. O número de visitantes na alta temporada (meses mais quentes) é em média de 150 pessoas por fim de semana, dos quais, 60% em média visitam as trilhas. No inverno, a redução no número de visitantes é compensada pela oferta de jantares para grupos e aluguéis das casas e do campo de futebol. Oliveira e Melo (2012) destacam que a oferta de lazer e turismo é cada vez mais realizada por agricultores familiares, “que buscam nesta prática uma maneira de continuar vivendo e trabalhando em suas propriedades”, mas como “qualquer outra atividade econômica, tanto pode provocar impactos positivos quanto negativos” (p.09). Candiotto (2007) faz uma ampla discussão das mudanças e permanências ocorridas em unidades rurais familiares que passaram a receber visitantes, dentro do Circuito Italiano de Turismo Rural (CITUR), no município de Colombo-PR. Além disso, aborda teoricamente a questão do turismo rural na agricultura familiar, considerando o discurso vigente e as implicações socioespaciais da inserção na atividade turística. Através da entrevista com o proprietário do Recanto Renascer e com sua esposa, o casal apontou como aspecto positivo da abertura do estabelecimento à visitação, o fato de a atividade ser menos cansativa que a anteriormente realizada; de ter aumentado significativamente a renda familiar; e possibilitado o contato e a interação com pessoas de diversos locais. Como pontos negativos, apontam o desgaste em trabalhar nos finais de semana, muitas vezes sem poder dormir para cuidar do camping à noite; o distanciamento de vizinhos e da comunidade devido à dedicação que a atividade exige; e a falta de mão-de-obra para trabalhar nos períodos de maior fluxo de visitantes. 124 5.1.4 As Trilhas Ecológicas: Caracterização Físico-ambiental Entre os principais atrativos do Recanto Renascer, estão as duas trilhas ecológicas, que juntas, somam 2 km de extensão. A implantação dessas trilhas se deu pela necessidade de diversificar a oferta de atrativos na propriedade e foi realizada pelos próprios proprietários. Como critério para a escolha do traçado utilizaram as espécies arbóreas que mais se destacavam pelo tamanho e/ou aspecto cênico na paisagem. A primeira trilha foi construída no ano de 2002 e é denominada Trilha da Estrada Velha (Foto 18). A segunda se chama Trilha dos Sentidos e foi construída no ano de 2010 (Foto 19). Foto 18- Ponto de entrada Trilha da Estrada Velha – Recanto Renascer-PR Autor: MORAES, D. I. de (2013). 125 Foto 19- Ponto de entrada da Trilha dos sentidos – Recanto Renascer-PR Autor: MORAES, D. I. de (2013). As trilhas apresentam em seu percurso, algumas estruturas como pinguelas para travessias de curso d’água com corrimões, placas de sinalização, orientação e interpretativas e bancos para parada e observação da paisagem. Todas essas estruturas estão em harmonia com o ambiente e foram construídas, com exceção das placas com identificação nas árvores e da distância do percurso, reutilizando materiais do próprio ambiente, como troncos de árvores caídas durante tempestades. O piso é natural e coberto com serrapilheira. Algumas atividades educativas também são desenvolvidas por meio de placas interpretativas, com dizeres de sensibilização e conscientização ambiental e de informações sobre espécies da flora local. A sazonalidade na atividade de lazer e turismo na propriedade faz com que a manutenção das trilhas seja realizada somente três vezes ao ano. No período próximo a época de temporada (final do inverno), os proprietários realizam a “limpeza” do corredor, retirando troncos e galhos caídos e pequenos arbustos e plantas, mas mantendo a serrapilheira. Nas áreas marginas, é feita a poda de galhos que crescem sobre o corredor e que acabam interferindo no fluxo dos visitantes. Durante os períodos de maior visitação, os proprietários realizam periodicamente a retirada de lixo, principalmente embalagens plásticas deixadas pelos visitantes, e também retiram galhos sobre o piso oriundos de tempestades. O casal de proprietários destacam as trilhas ecológicas como um diferencial na propriedade e por isso, acreditam que elas contribuem significativamente para atrair visitantes 126 que buscam o contato e apreciação da natureza preservada. Entretanto, também destacam que o atrativo possui alguns pontos negativos, relacionados ao uso indevido de alguns visitantes que insistem em percorrer a trilha de moto, jogam lixo no ambiente e depredam árvores e infraestruturas. Outra dificuldade apontada é a falta de subsídios técnicos para a manutenção e adequação ambiental das trilhas, que são realizadas de acordo com o conhecimento empírico dos proprietários. 5.1.4.1 Trilha da Estrada Velha Com 1.500 m de extensão, a Trilha da Estrada Velha possui parte de seu traçado no fragmento de floresta da propriedade vizinha, que pertence à mesma família do proprietário do Recanto. A escolha do nome se remete a uma antiga estrada já desativada, pela qual trafegavam os primeiros colonizadores da região e por onde a trilha traspassa em alguns pontos. O mapa 3 apresenta a forma da trilha, indicando a presença de placas, de drenagem e de árvores identificadas. Mapa 3 – Trilha da Estrada Velha – Recanto Renascer Francisco Beltrão – PR. Fonte: Trabalho de campo – abril a junho/2013. 127 A trilha possui uma área de pisoteio que permite apenas um caminhante de cada vez. Seu traçado em forma de “ferradura” tem início e fim em pontos diferentes, que evitam o encontro entre visitantes. Suas estruturas são: dezenove placas de identificação em árvores, com o nome popular, nome científico e idade aproximada; cinco placas de orientação, duas no início do percurso, informando a extensão e proibindo a entrada de motos, e três no decorrer da trilha, duas delas com frases de conscientização ambiental, com os dizeres: “não jogue lixo. A natureza agradece” e “Tire apenas fotos, deixe apenas pegadas”, e a última indicando o sentido da trilha. A trilha também atravessa um canal de drenagem intermitente, sem estrutura para sua travessia. Utilizando a classificação de Andrade e Rocha (2008), o grau de dificuldade da trilha é moderado, devido a sua distância de 1.500m e por apresentar em seu percurso alterações na declividade que dão a caminhada um grau maior de dificuldade. As árvores identificadas com placas possuem o nome científico, o nome popular e a idade aproximada e estão descritas da seguinte maneira: Angico Vermelho (110 anos); Açoita Cavalo (190/200 anos); Cerejeira (25 anos); Sete Capote (25 anos); Açoita Cavalo (60 anos); Ingá (20 anos); Canela Lora (25 anos); Guajuvira (130 anos); Gabiroba (25 anos); Guajuvira (130 anos); Gabiroba (120 anos); Camboatá Vermelho (200 anos); Canela do Brejo (50 anos ); Xaxim (50 anos); Cabriúva vermelha (50 anos); Carrapicho do Mato (70 anos); Araucária (55 anos); Carrapicho do Mato (120 anos) e Maria Preta (100 anos)(Foto 20). Foto 20 - Placa de identificação em árvore – Trilha da Estrada Velha– Recanto Renascer–PR. Autor: MORAES, D. I. de (2012). 128 Ao longo do percurso, os visitantes têm a oportunidade de apreciar a beleza cênica do local, como por exemplo, o rio Marrecas, que fica à esquerda e a poucos metros da trilha, a vegetação secundária intercaladas com árvores centenárias, apresentando vários estratos de dossel, além da fauna, que em alguns casos pode ser observada diretamente, especialmente pássaros, ou então, indiretamente por meio de pegadas, ninhos, tocas, entre outras (Foto 21). Foto 21 – Visão do Rio Marrecas - Trilha da Estrada Velha – Recanto Renascer –PR. Autor: MORAES, D. I. de (2012). Embora apresente variações de declividade, sobretudo na transição das margens do rio Marrecas com as partes de altitude mais elevada, que dão um maior grau de dificuldade na caminhada e uma maior suscetibilidade a processos erosivos (Gráfico 1), essa trilha não possui estruturas de drenagem e de segurança aos visitantes, como canais laterais de escoamento, barreiras de contenção, degraus, corrimões, etc. 129 Gráfico 1 - Perfil Topográfico - Trilha da Estrada Velha. Fonte: Trabalho de Campo (junho/2013). Org.: MORAES, D. I. de (2013). Através do perfil topográfico é possível verificar que dos 700 aos 1100 metros de distância, há uma elevação significativa, de 575 a 610 metros de altitude, ou seja, de 45 metros em um intervalo de 400 metros. Consequentemente, essa parte da trilha é a mais difícil, e também aquela que apresenta maior susceptibilidade aos processos erosivos. 5.1.4.1 Trilha dos Sentidos A trilha dos sentidos possui 500 m de extensão e tem esse nome por apresentar em seu percurso pontos de interpretação que sugerem a utilização dos sentidos olfativo, auditivo, sonoro e visual. A largura do piso é bastante variável. Em alguns pontos chega a 1,20 metros permitindo que duas pessoas caminhem lado a lado, e em outros, uma largura de 70 centímetros (0,70 m), que permite somente um caminhante por vez. Seu traçado, apesar de ter início e fim em pontos diferentes, permite a visualização entre os visitantes em alguns locais, devido à proximidade dos caminhos e à vegetação de pequeno porte. O mapa 4 apresenta a forma da trilha, indicando a presença de placas, de drenagem, de estruturas para travessia de curso d´água e de árvores identificadas. 130 Mapa 4 – Trilha dos Sentidos – Recanto Renascer Francisco Beltrão – PR. Fonte: Trabalho de campo – abril a junho/2013. Pela classificação de Andrade e Rocha (2008), o grau de dificuldade desta trilha é leve, devido a sua curta extensão e por exigir pouco esforço físico. As estruturas existentes são: local com bancos para que os visitantes possam sentar e apreciar a paisagem; placa sobre a distância e nome da trilha no início do percurso; oito placas de identificação nas árvores (nome científico, nome popular e idade aproximada); quatro pinguelas para travessia de curso d’água; local para apreciação do rio Marrecas; e sete placas com frases de estímulo à percepção e interpretação ambiental. A trilha apresenta oito árvores identificadas com placas, expostas da seguinte maneira: Canela Amarela (30 anos); Marmeleiro (60 anos); Angico Vermelho (150 anos); Branquilho 131 (20 anos); Gabiroba (80 anos); Açoita Cavalo (80 anos); Uvaia (20 anos) e Rabo de Bugio (25 anos). A vegetação na trilha, apesar de também possuir árvores centenárias, apresenta um sub bosque menos desenvolvido que a trilha da Estrada Velha, devido a outras práticas anteriormente desenvolvidas no local. Como relatam os proprietários, parte da mata utilizada para implantar essa trilha não é original, pois há cerca de 20 anos atrás a área era ocupada pela suinocultura e bovinocultura e somente com o abandono dessas atividades e isolamento da área, é que a vegetação foi se reconstituindo e regenerando o fragmento de floresta atual. Informações que podem ser comprovadas através foto 22, que mostra uma parte desta trilha, cujas áreas marginais e zona tampão apresentam espécies em diferentes estágios de regeneração. Isso indica que a atual atividade de lazer e turismo, tem contribuído para a recuperação de áreas de floresta anteriormente degradadas por outras formas de apropriação e uso do solo na propriedade. Foto 22 – Espécies arbóreas em processo de regeneração – Trilha dos Sentidos – Recanto Renascer- PR. Autor: MORAES, D. I. de, abril/2012. As placas de estímulo à percepção e conscientização ambiental na trilha contêm as seguintes frases: “Não jogue lixo, preserve o meio ambiente”, “Tire apenas fotos, deixe apenas pegadas”, “Meditação”, “Odor, sentir o cheiro da mata”; “Visão: contemplar a exuberância da natureza” e “Audição: ouvir o vento, a água, os pássaros” (Foto 23). 132 Foto 23 – Placa interpretativa – Trilha dos Sentidos – Recanto Renascer - PR. Autor: MORAES, D. I. de, junho/2013. As fotos 24 e 25 apresentam outras estruturas da trilha. A primeira corresponde ao local onde os visitantes podem sentar e apreciar a paisagem e a segunda mostra uma das pinguelas utilizadas para cruzar o curso d’água, pelo qual a trilha transpassa quatro vezes. Foto 24 – Ponto de parada/contemplação – Trilha dos Sentidos – Recanto Renascer-PR. Autor: MORAES, D. I. de, junho/2013. 133 Foto 25 - Pinguela sobre curso d’água– Trilha dos Sentidos - Recanto Renascer-PR. Autor: MORAES, D. I. de (2012). Além de possuir uma pequena extensão, seu perfil topográfico torna o percurso suave, sem grandes oscilações de declividade (Gráfico 2). Porém, em alguns pontos a dificuldade de drenagem da água superficial deixa o piso constantemente úmido e escorregadio, oferecendo riscos à segurança dos visitantes que podem escorregar e cair, além de formar uma crosta na camada superficial do solo que favorece a compactação. Gráfico 2 – Perfil Topográfico – Trilha dos Sentidos. Fonte: Trabalho de campo (junho/2013). Org.: MORAES, D. I. de (2013). 134 Apesar da baixa dificuldade na realização do percurso, a trilha não está adequada a todos os tipos de público, uma vez que não possibilita a travessia de portadores de necessidades especiais (cadeirantes) principalmente devido a largura, obstáculos no piso e tipo de estrutura utilizada na travessia dos cursos d’água. 5.2 Perfil do visitante e sua percepção sobre impactos ambientais e conservação das trilhas Para avaliar o perfil e a percepção dos visitantes das trilhas do Recanto Renascer, foram aplicados no ano de 2013, 70 questionários, da seguinte maneira: 20 questionários aplicados nos dia 6 e 20 de janeiro; 14 questionários no dia 23 de abril; e 24 no dia 1º de maio (Apêndice B). Através do questionário buscamos obter as seguintes informações: - Características da visita: informações que descrevem atributos relevantes da visita entre elas: a) Objetivos da visita: Dados obtidos através das Questões 3 e 10, as quais descrevem o motivo e aspirações da visita. Esse dado é importante porque permite verificar se as trilhas satisfazem os objetivos e expectativa do visitante e se estes estão coerentes a um uso conservacionista do fragmento florestal. - Características do Visitante: demonstra as características pessoais dos visitantes, como dados demográficos, preferências e experiências. Os atributos analisados foram: a) local de procedência, idade, sexo e grau de escolaridade (Questão 1 a 6); b) Histórico das visitas (Questão 8). - Percepção ambiental do visitante: dados obtidos através da questão 11, na qual os visitantes foram questionados sobre sua avaliação das condições ambientais da trilha. A percepção do visitante gera informações importantes para o monitoramento e manutenção, na medida em que expõe o modo como o indivíduo percebe e interage com o ambiente visitado. - Grau de responsabilidade e compromisso ambiental: obtido através da questão 14, na qual os visitantes foram questionados sobre as ações de mínimo impacto que devem ser realizadas durante a visitação. 135 - Satisfação com a visita: obtida através das questões 16, 18, 19 e 20, nas quais os visitantes puderam expressar o contentamento com a visita realizada nas trilhas. Após a aplicação dos questionários, os dados foram tabulados e transformados em gráficos com a utilização do software Excel para a análise dos resultados, como se segue. Do total de visitantes analisados, 46 são do sexo feminino e 24 do sexo masculino, com faixa etária (Gráfico 3) composta predominantemente por adultos, na sua maioria de pessoas jovens e até meia idade (67% entre 21 e 55 anos) e com renda familiar média predominante de 2 a 4 salários mínimos. Gráfico 3–Faixa etária dos visitantes. Nº de visitantes 30 20 10 0 menos de 20 anos 21 - 30 31 - 40 41 - 50 51 - 60 mais de 60 anos Fonte: pesquisa de campo (2013). Org. MORAES, D. I. de (2013). Conforme o levantamento feito, apesar da maior parte dos usuários ser composta por jovens e adultos, 14,3% possuem mais de 51 anos. Isso mostra que a trilhas precisam estar adequadas também a esse público, que necessitam de estruturas que facilitem a travessia e proporcionem maior segurança durante a realização do percurso, como por exemplo os degraus e corrimões. A análise do grau de escolaridade (Gráfico 4) e ocupação exercida pelos visitantes (Gráfico 5), permitiu identificar que a maioria dos frequentadores são estudantes com Ensino Médio incompleto ou Ensino Superior incompleto. Esses dados demonstram que o desenvolvimento de atividades educativas voltadas à sensibilização ambiental e a informações sobre o ambiente local, sejam dos elementos biofísicos (tipo de solo, vegetação, fauna, relevo, hidrográfica, clima, entre outros) ou do histórico da propriedade e de suas características 136 socioeconômicas, pode ser um elemento importante de atratividade a esse público nas trilhas. Para isso, é necessário utilizar técnicas de interpretação ambiental que permitam transmitir essas informações de forma criativa, atrativa e motivadora. Gráfico 4 - Grau de escolaridade dos visitantes. pós graduação completa pós graduação incompleta Superior completo Superior incompleto ens. Médio completo ens. Médio incompleto ens. Fundamental incompleto ens. Fundamental completo 0 5 10 15 20 Nº de visitantes Fonte: pesquisa de campo (2013). Org. MORAES, D. I. de (2013). Gráfico 5 - Ocupação dos visitantes. Fonte: pesquisa de campo (2013). Org. MORAES, D. I. de (2013). A análise da procedência dos visitantes (Gráfico 6) permitiu constatar que a maioria (75%) reside no município de Francisco Beltrão e 22% em Marmeleiro, município vizinho. Esse dado, juntamente com a análise do meio pelo qual os visitantes tiveram conhecimento 137 das trilhas (Gráfico 7) demonstra que a maioria dos usuários do Recanto e das trilhas residem nos municípios mais próximos ao local, indicando que a divulgação do Recanto deve buscar atrair esse público, que caracteriza mais uma atividade de lazer do que propriamente de turismo (considerando que o turista necessariamente pernoita no local). Gráfico 6 - Município de procedência dos visitantes. 60 50 40 30 20 10 0 Francisco Beltrão Marmeleiro Saudade do Iguaçu Fonte: pesquisa de campo (2013). Org. MORAES, D. I. de (2013). Gráfico 7 –Meio de informação com que o visitante tomou conhecimento das trilhas. 70 Nº de visitants 60 50 40 30 20 10 0 Indicação de família/amigos Outros meios Fonte: pesquisa de campo (2013). Org. MORAES, D. I. de (2013). Para a maioria dos visitantes, a primeira vez que haviam percorrido as trilhas ocorreu na ocasião da entrevista (Gráfico 8), de modo que a percepção deles sobre as trilhas estava sendo construída através daquele experiência. Para os outros, o fato de já conhecerem as 138 trilhas contribui nessa percepção e em uma observação mais detalhada dos aspectos positivos e negativos dessas trilhas. Gráfico 8–Frequência dos visitantes nas trilhas. Fonte: Pesquisa de campo (2013). Org. MORAES, D. I. de (2013). O interesse dos visitantes nas trilhas está em sua maioria na possibilidade de realizar a atividade de caminhada, desfrutanto das belezas cênicas do local e mantendo um contato mais próximo com os ambiente preservado (Gráfico 9). Por isso, consideram a conservação ambiental das trilhas o fator mais importante em uma trilha ecológica (Gráfico 10), seguido pela diversidade de atrativos para apreciação. No entanto, para 23 entrevistados, a sinalização e a segurança devem ser prioritários. Gráfico 9 – Motivação para a visita nas trilhas. Fonte: Pesquisa de campo (2013). Org. MORAES, D. I. de (2013). 139 Gráfico 10 – Fator que os visitantes consideram mais importante nas trilhas ecológicas. Fonte: Pesquisa de campo (2013). Org. MORAES, D. I. de (2013). Os motivos pelos quais os indivíduos visitam as trilhas e o que consideram como relevante nessa visitação é um indicativo importante para a análise do modo como a sociedade contemporânea pensa e se relaciona com a natureza. Isso porque, enquanto produto pensado e construído historicamente a partir das relações sociais (LENOBLE, 1969), o que os visitantes entendem por natureza, faz parte de um conjunto de conceitos e ideias que foram sendo construídos e moldados em diferentes épocas e sociedades e que se manifestam na atualidade de maneira complexa, interrelacionada e também contraditória. Segundo Smith (1989), apesar de existir uma variedade e uma complexidade no entendimento da natureza pela sociedade atual, essas concepções estão organizadas em um dualismo entre a natureza externa e a natureza universal. A primeira corresponde a um mundo primitivo que existe fora da sociedade. A segunda, a um ambiente no qual o homem é tido como um ser biológico, além de um ser social. Como considera Smith (1989, p. 28): De um lado a natureza é externa, uma coisa, o reino dos objetos e dos processos que existem fora da sociedade. A natureza exterior é primitiva criada por Deus, autônoma; é a matéria-prima da qual a sociedade é constituída, a fronteira que o capitalismo industrial frequentemente faz recuar. Como árvores e rochas, rios e tempestades, a natureza está esperando para ser internalizada no processo de produção social. Por outro lado a natureza é claramente percebida como universal. Ao lado da natureza externa nós também temos a natureza humana, na qual está explicito que os seres humanos e seu 140 comportamento social são absolutamente tão naturais quanto os aspectos ditos “externos” da natureza. A ideia de natureza como elemento externo é uma característica típica do pensamento moderno, onde o desenvolvimento científico e tecnológico permitiu ao homem dominar a natureza primeira, criando uma segunda natureza, humanizada, artificializada e onde elementos naturais praticamente inexistem. Essa capacidade de domínio e transformação fez com que o homem, mesmo inserido na natureza, passasse a não tê-la mais como parte integrante e significativa de seu meio ambiente. Assim, o contato com as áreas naturais é, segundo Smith (1989), uma experiência que vai da externalidade da natureza para a universalidade da natureza, onde o indivíduo passa “de um agir sobre a natureza a um trocar gestos recíprocos com a natureza” (BRANDÃO, 1994, p. 76). Essa experiência, segundo Brunhs (2007, p. 136), em alguns casos expressa “uma busca de reconhecimento do espaço ocupado por esse corpo na sua relação com o mundo, uma revisão de valores, bem como um encontro muito particular do homem com ele mesmo”. Porém, a experiência da externalidade para a universalidade da qual se refere Smith (1989), também acaba por reforçar a ideia de natureza enquanto objeto externo, já que ela é tida somente quando se tem o contato com o ambiente preservado e não através das matérias e formas da qual a sociedade se constitui e sobrevive. Isso faz com que os conceitos de externalidade e universalidade da natureza sejam consideradas pelo autor como interrelacionados e mutuamente contraditórios. Atrelado ao conceito de natureza externa e universal, a visão estética de natureza também é um elemento importante a ser analisado na visitação de áreas naturais. Isso porque, existe uma tendência em medir e valorizar o ambiente visitado a partir daquilo que a classe dominante considera belo e passível de admiração. Tal fato contribui muitas vezes, para que o indivíduo deixe de apreciar o ambiente como um todo, dando valor apenas a determinados elementos de alto valor estético ou somente a partir do momento em que elementos humanos são acrescentados. Isso, em alguns casos, contribui para a introdução de estruturas que proporcionam artificialidade à paisagem, causam impactos ambientais e fortalecem a percepção de que a beleza da natureza está justamente em sua domesticação (BRUHNS, 1997). Essas diferentes ideias de natureza (estética, externa e universal) podem ser verificadas entre os visitantes das trilhas do Recanto, já que os dados apresentados pelo Gráfico 9 141 indicam que para a grande maioria dos indivíduos, o interesse em percorrer as trilhas está na possibilidade de contato com a natureza e na possibilidade de apreciar a paisagem local. Isso mostra que os visitantes buscam apreciar esteticamente e integrar-se a uma natureza da qual se sentem fisicamente separados, seja em função da artificialidade de seus espaços cotidianos, seja da própria ideia que atribuem ao conceito de natureza. Esses dados, mostram que vivenciar a experiência do contato com as áreas naturais está muito além da condição físico-biológica que permite ao ser humano ver, ouvir, cheirar sentir e pensar. Ela está vinculada a aspectos econômicos e a vivências e experiências que cada indivíduo dispõe conforme sua idade, sexo e grau de escolaridade, as quais acabam fornecendo “o rosto de suas visões, de seus sentimentos e pensamentos, criando novos cheiros, novos sons e novas visões, construindo novos universos – e novos corpos” (RODRIGUES, 1979 apud BRUNHS, 1997, p. 131). Bruhns (1997) destaca que algumas pessoas ao visitarem as áreas naturais, buscam vivenciar a realidade e captar as coisas, num total descompromisso com o tempo. Outras, no entanto, na ânsia em vencer o tempo, não se conectam com o lugar, de modo que o indivíduo não percebe nada além daquilo que está explicitamente exposto na paisagem. Isso mostra que a experiência vivenciada no contato com os ambientes naturais está intimamente ligada a questões subjetivas e também culturais, que podem tanto conduzir o indivíduo a uma postura ética e de conexão com o meio, quanto a um total descompromisso com o ambiente visitado, vendo-o apenas como mais uma mercadoria a ser consumida de forma alienada. Essas diferenças nas formas de integração com o ambiente visitado também podem ser percebidas na análise da percepção dos visitantes das trilhas do Recanto, tanto no que se refere a existência de determinadas ocorrências nas trilhas quanto a intensidade das mesmas. Conforme mostra o Gráfico 11, os impactos relacionados a vandalismos (em placas, árvores, estruturas, etc) foram percebidos por 70% dos entrevistados, sendo que 48% declarou ter notado poucas ocorrências e 22% muitas. Os acessos secundários foram percebidos por 65%, dos quais, 48% declararam pouca quantidade e 12% muita. A falta de segurança em alguns pontos nas trilhas foi notada por 81%, sendo que 67% consideram a possibilidade de escorregar, sofrer queda ou se machucar pequena, e 14% consideram alta. A maioria (74%) não percebeu a presença de animais domésticos. Destes, 58% declararam observar poucos animais silvestres, enquanto 42% não preceberam se avistaram animais. Os impactos relacionados a salubridade (lixo) foram percebidos por 64% dos visitantes e a presença de solo compactado e erosões foram notados por 58%, dos quais 51% 142 declarou ter observado pouco e 7% muito. Áreas sem vegetação foram percebidas por 30% e raízes expostas por 90%, sendo que, 64% declarou pouca ocorrência deste impacto. Gráfico 11- Percepção dos visitantes nas trilhas. Fonte: Pesquisa de campo (2013). Org. MORAES, D. I. de (2013). Embora para uma parcela de visitantes a ocorrência de determinadas situações não seja percebida ou então não represente um impacto para sua experiência e ao meio, a maioria identificou a existência de alterações. Isso desmostra a necessidade de ações de manejo, especialmente no que se refere a minimização de ações erosivas, concientização dos usuários para evitar vandalismos e descarte inadequado de lixo, e adequação em estruturas de segurança. Quando questionados sobre a contribuição dos visitantes na minimização dos impactos percebidos (Gráfico12), 62% acreditam que o descarte correto do lixo é o fator mais importante; 18% destacam a não depredação da vegetação e de estruturas; 14% o barrulho emitido pelo visitante de modo a não impactar sobre a fauna e a experiência de outros usuários; enquanto 6% apontam a permanência do visitante no leito da trilha. 143 Gráfico 12 - Contribuição do visitante na minimização de impactos nas trilhas. 70 60 Nº de visitantes 50 40 30 20 10 0 não jogar lixo não fazer barulho não entrar em atalhos Fonte: Pesquisa de campo (2013). Org. MORAES, D. I. de (2013). Sobre os fatores que poderiam contribuir para uma maior atratividade das trilhas (Gráfico 13), 47% destacou a existência de um maior número de elementos da fauna e flora. Muito embora, para a maioria (53%) a melhoria da experiência estaria ligada a disponibilidade de informações sobre a fauna e flora do local (31%), sinalizações (23%) e estruturas adequadas (6%). Esses dados, juntamente com a análise do perfil do visitante (faixa etária, grau de escolaridade e profissão) reforçam a necessidade de aperfeiçoar as atividades de interpretação ambiental enquanto instrumento de atratividade nas trilhas, já que existe um interesse não somente em apreciar o ambiente visitado mas também em conhecer suas características e elementos, potencializando o desenvolvimento de atividades de educação ambiental no local. Gráfico 13 –Elementos para maior atratividade das trilhas. estruturas mais informações sobre a fauna e flora local mais sinalização mais vegetação e animais silvestres 0 10 20 30 Nº de Visitantes Fonte: Pesquisa de campo (2013). Org. MORAES, D. I. de (2013). 40 144 O grau de dificuldade das trilhas foi considerado de leve (46%) a moderado (54%), e o tempo necessário para percorrer as duas trilhas, dividiu-se entre até uma hora (53%) e de uma a duas horas (47%). A rápida realização do percurso demonstra que a maioria dos visitantes pratica a atividade da caminhada fazendo poucas paradas para observar e apreciar o ambiente. Por isso, a interpretação ambiental se mostra de fundamental importância para essas trilhas, de modo que através dela, o visitante se sinta instigado a parar, apreciar, conhecer e integrar-se ao ambiente visitado, o que consequentemente, vai se refletir em um maior tempo de permanência nas trilhas e no enriquecimento da experiência vivenciada. Sobre a experiência vivenciada nas trilhas (Gráfico 14) a grande maioria destacou como positiva, proporcionando além de tranquilidade e bem estar pela proximidade com a natureza, o incentivo a ações de preservação. Para todos os visitantes as espectativas iniciais foram satisfeitas, sendo que 35% declararam-se muito satisfeitos, e 65% satisfeitos. Desse modo, todos demonstraram interesse em retornar às trilhas para novas visitas, recomendandoas também para outas pessoas. Gráfico 14- Resultado da experiência vivenciada. Incentivo a preservação ambiental Tranquilidade e bem estar Desconforto pela falta de infraestruturas adequadas Desconforto pela contato com plantas e animais Outros 0 10 20 30 40 50 60 70 Nº de visitantes Fonte: Pesquisa de campo (2013). Org. MORAES, D. I. de (2013). A análise do perfil e da percepção do visitante mostrou elementos importantes para fins de planejamento e monitoramento da visitação nas trilhas, como por exemplo, o interesse do visitante em obter mais informações sobre o ambiente local, potencializando o desenvolvimento de atividades educativas que possibilitem aos visitantes conhecimentos e 145 sensibilização quanto à importância ecológica e socioeconômica de áreas como a existente no Recanto. Também foi possível constatar que existem algumas situações de impactos ambientais e riscos para os visitantes, demonstrando que as trilhas precisam de adequações e de um plano de manejo especifico e coerente às condições ambientais locais e ao perfil de seus usuários. 146 6 DIAGNÓSTICO FISICO-AMBIENTAL, ÍNDICE DE ATRATIVIDADE E PROPOSTAS DE MANEJO PARA AS TRILHAS DO RECANTO RENASCER-PR 6.1 Indicadores de Impactos e Metodologia MIV Os indicadores de impactos em trilhas correspondem aos elementos ou parâmetros que fornecem a situação específica de determinado aspecto na trilha. Sua análise e monitoramento podem ocorrer de forma quantitativa (representado em escala numérica) ou qualitativa (classificado em categorias ou níveis) (COSTA, 2006). O trabalho relacionado aos indicadores de impactos é geralmente constituído de três fases e pode apresentar diferentes ordens dependendo da metodologia utilizada. São elas: determinação dos indicadores (quais aspectos serão analisados na trilha), determinação de padrões (níveis aceitáveis de impacto para cada indicador) e monitoramento das condições da área por meio dos indicadores previamente determinados (COSTA, 2006). Das metodologias anteriormente apresentadas no item 4, que se encarregam de medir os indicadores de impactos de uma trilha, utilizamos como estudo de caso nas trilhas do Recanto Renascer, a Metodologia MIV, por permitir através do diagnóstico dos impactos ambientais, o desenvolvimento de mecanismos para um manejo eficiente, capaz de minimizar impactos atuais e futuros e potencializar o uso conservacionista das trilhas. O quadro 6 apresenta a ficha de campo utilizada na aplicação da metodologia. Nela, estão contidos os indicadores de impactos analisados (leito, borda, solo, vegetação, saneamento, som e riscos) juntamente com seus respectivos parâmetros de análise. Quadro 6 – Planilha de campo MIV. MIV LOCAL: Recanto Renascer Nº TRILHA: DATA: Indicador/verificador LEITO DA TRILHA Alterações de largura Afundamento Erosão Laminar (superficial) Erosão em Sulcos (mais profunda com ravinamento) Número de Seções (100m de distancia entre os pontos) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Objetivos: Diagnóstico físico-ambiental Parâmetros: Ocorr. na % na trilha Referencial Parcela <0,8 m ou 01 a 03 30 >1,30 m 01 a 03 25 < 0,05 m 01 a 03 15 < 0,3 m 147 01 a 03 15 <0,3 m 01 a 05 20 < 5,0 m 01 a 02 00 00 Canais de drenagem Alagamento (ou passível de alagar) Parâmetros: BORDA 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Perda de borda crítica Desbarrancamento de Encosta Manutenção de estruturas Sinalização Bancos Atalhos Ocorr. Parcela na % na trilha Referencial 01 a 03 35 <0,5m Ma01 a 03 15 <0,5 m 1 10 1 00 10 00 Dano Falta de manutenção 00 Parâmetros: SOLO 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 % na trilha Referencial Solo exposto (sem serrapilheira) Raízes expostas Ocorr. na Parcela S- sim ou N- não < 10 m 30 N- não 20 <10 m Rochas aflorantes 1 a 10m 20 <10m Aclives/declives acentuados S-sim ou Nnão 00 00 Parâmetros: VEGETAÇÃO 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Árvores caídas Ocorr. na Parcela 1-3(causas naturais) Espécies exóticas Vegetação danificada na borda (morta) % na trilha Referencial 15 1 S – Sim ou N – Não 20 N- Não S – Sim ou N – Não 00 N – Não Parâmetros: SANEAMENTO 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Inscrições (pichações em rochas, árvores ou sinalizações) Lixo na trilha FAUNA 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 2 3 4 5 6 7 8 9 na Percepção de gritos de pessoas Referencial 00 N – Não 01 a 03 15 (Ocorrência visual) Parâmetros: Ocorr. na Parcela S – Sim ou N – Não % na trilha Ocorr. na Parcela 1a3 % na trilha 10 Percepção de música % na trilha S – Sim ou N – Não 10 Espécies domésticas SOM Ocorr. Parcela 00 Referencial N –Não Parâmetros: 1a3 Referencial 10 00 10 00 Parâmetros: RISCOS 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Ocorr. Parcela na % na trilha Referencial 148 De escorregar <2 10 00 De cair da encosta <1 00 00 Fatal S – Sim ou N – Não 00 N – Não Fonte: Costa (2006). Adaptado por: MORAES, D. I. De (2013). Os parâmetros de ocorrência e o referencial utilizado foram importantes para verificar se as alterações identificadas nas trilhas estavam dentro do limite tolerável para cada parâmetro. Um exemplo é o indicador riscos de escorregar, onde o parâmetro utilizado para cada parcela foi o de declarar < que duas ocorrências e detalhar o percentual máximo para a existência suportada, que nesse caso, foi considerado 10% do total de parcelas na trilha. 6.1.1 Monitoramento do Impacto da Visitação (MIV) na Trilha da Estrada Velha Com 1.500 m de extensão, a Trilha da Estrada Velha foi dividida em 15 seções de análise, onde através do exercício do olhar, buscou-se verificar as condições dos indicadores selecionados, a fim de identificar possíveis impactos ambientais locais e também as condições de uso e manejo visitação na trilha (Quadro 7). 149 Quadro 7- Indicadores de Impactos e seus verificadores avaliados pelo MIV na Trilha da Estrada Velha. FONTE: COSTA (2006). Org.: MORAES, D. I. de (2013). 150 FONTE: COSTA (2006). Org.: MORAES, D. I. de (2013). 151 A partir do levantamento feito em campo, os parâmetros foram comparados entre si com o objetivo de verificar quais apresentam maior e menor situação problemática na trilha. Para isso, foi utilizado o método adaptado de Costa (2006), no qual cada um dos indicadores recebeu um percentual mínimo e máximo suportável na trilha. Para avaliar os parâmetros que excederam esses percentuais, foi utilizada a classificação: baixo (até 30%), médio (de 30 a 60%) e alto (de 60 a 100%) em relação ao nível de impacto geral na trilha. Um exemplo é o indicador alterações de largura, cujo percentual mínimo de ocorrência é de 10% e máximo de 30%. Porém, ao ser analisado na trilha da Estrada Velha, esse indicador esteve presente nas quinze seções analisada, totalizando 100% de ocorrência na trilha e consequentemente, um alto impacto ambiental (Quadro 8). 152 Quadro 8– Nível de impacto dos parâmetros avaliados pelo MIV na Trilha da Estrada Velha. FONTE: COSTA (2006). Org.: MORAES, D. I. de (2013). 153 A comparação entre os parâmetros mostrou que a Trilha da Estrada Velha possui duas situações de alto impacto, relacionada a solo exposto, provocado pelo escoamento da superficial e a alterações de largura do leito, decorrentes da falta de manutenção e uso indevido das áreas marginais pelo visitante. Existem também várias outras ocorrências que precisam ser corrigidas, pois se encontram numa situação de médio e baixo impacto ambiental e se não receberem a devida manutenção, podem em pouco tempo, tornar-se uma situação de alto impacto ambiental na trilha. Para verificar quais pontos (parcelas) apresentam situações mais problemáticas e que precisam ser mitigadas a partir de um plano de manejo mais eficiente na trilha, foi elaborado um gráfico (Gráfico 15) com os dados mostrados pelos principais indicadores (leito, borda, solo, vegetação, saneamento e riscos). Gráfico 15– Resultado MIV por parcelas - Trilha da Estrada Velha. 110 100 90 Indicadores (% ) 80 70 60 50 40 30 20 10 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Parcelas (Nº) LEITO BORDA SOLO VEGETAÇÃO SANEAMENTO RISCOS Org.: MORAES, D. I. de (2013). Com relação ao leito da trilha, as parcelas que apresentam impactos mais significativos são as parcelas 8 (de 700 a 800 m) e 14 (de 1.300 a 1.400 m). Estas parcelas estão em uma área de aclive (parcela 8) e declives (parcela 14) acentuados e não possuem 154 canaletas de drenagem que facilitem o escoamento superficial. Isso faz com que a água da chuva utilize o leito da trilha como um canal de drenagem, gerando perda de serrapilheira e consequentemente favorecendo as ações erosivas. Outro aspecto ligado ao leito está relacionado a alterações de largura, que foram observadas em todas as parcelas analisadas na trilha. Em alguns trechos a largura é de 20 cm e em outros chega a medir 1,20 cm (Fotos 26a e b). Uma área de pisoteio muito estreita ou muito larga é sempre vista como propícia a impactos, que podem tanto afetar o ambiente visitado quanto a experiência vivenciada e a segurança do visitante. Isso porque, é comum a presença de animais nas áreas marginais da trilha, e se a área de pisoteio for muito estreita eles podem entrar em contato direto com o visitante, oferecendo riscos para ambas as partes. O estreitamento do leito também contribui para a compactação do solo, já que o pisoteio é concentrado em uma pequena parcela do terreno. Por outro lado, o alargamento do leito contribui para a perda da vegetação e para o aumento da área afetada pelo pisoteio. Fotos 26 a e b- Alterações de largura – Trilha da Estrada Velha. Autor: MORAES, D. I. de (2013). Com relação à borda, os maiores problemas estão associados à perda da borda crítica que foram identificados nas seções 11 (de 1.000 a 1.100 m) e 13 (1.200 a 1.300 m) (Foto 27). A perda da borda crítica promove a perda de solo do próprio leito da trilha, que consequentemente, tende a ficar cada vez mais estreito e mais propenso a situações de risco aos visitantes que podem escorregar e cair da encosta. 155 Foto 27 – Afundamento do piso e perda da borda crítica-Trilha da Estrada Velha. Autor: MORAES, D. I. de (2013). Outro fator impactante relacionado à borda é a existência de bifurcações/atalhos que foram registrados em 50% das parcelas analisadas e que na maioria das vezes levam às margens do rio Marrecas (Foto 28). Essas bifurcações/atalhos contribuem principalmente para a perda da vegetação nativa gerada pelo aumento da área de pisoteio e consequentemente, para o aumento da área afetada pelo uso recreativo. Foto 28– Atalho para o Rio Marrecas- Trilha da Estrada Velha. Autor: MORAES, D. I. de (2013). 156 Os maiores impactos relacionados ao solo estão na seção 8 (de 700 a 800 m) e nas parcelas de 1.100 a 1.400 metros de distância. Nesses trechos, há uma grande quantidade de solo exposto (sem serrapilheira) e de ações erosivas facilitadas pela declividade. A seção 8 apresenta ainda uma grande quantidade de rochas aflorantes, algumas delas expostas naturalmente sobre o leito da trilha. Outras, foram colocadas no intuito de formar degraus para facilitar a caminhada e minimizar a sensação de subida. Porém, pela falta de manutenção, algumas dessas rochas encontram-se soltas sobre o piso e representam riscos aos visitantes. As seções 10 (900 a 1000 m) e 13 (1.200 a 1.300 m) apresentam a situação mais problemática relacionada à vegetação, principalmente pela presença de árvores caídas sobre o piso e danificadas (mortas) na borda. Essas duas seções também apresentaram a ocorrência de material inorgânico (lixo) na área marginal da trilha (Fotos 29 a e b). Fotos 29 a e b– Árvore caída sobre o piso e lixo na área marginal - Trilha da Estrada Velha. Autor: MORAES, D. I. de (2013). Situações de riscos aos visitantes foram identificadas em boa parte das seções da trilha. Isso ocorre principalmente pela falta de estruturas adequadas como os corrimões, que além de servir de apoio ao visitante também evitam que este ultrapasse os limites do leito da trilha e se coloque em situações de perigo, como demonstra a foto 30, na qual se o visitante escorregar, pode cair dentro do rio que margeia a trilha. Outro fator que contribui para situações de risco é a falta de manutenção de estruturas existentes, especialmente degraus colocados sobre o piso sem os torretes. Isso faz com que estas estruturas fiquem soltas e passíveis de deslocamento quando pressionadas pela ação do pisoteio e do escoamento superficial. 157 Foto 30 – Área de encosta sem estruturas de segurança na seção 2 (200 a 300 m) - Trilha da Estrada Velha. Autor: MORAES, D. I. (2013). 6.1.2 Monitoramento do Impacto da Visitação (MIV) na Trilha dos Sentidos Na Trilha dos Sentidos foram selecionadas cinco seções de análise, e da mesma forma que na Trilha da Estrada Velha, a avaliação físico-ambiental se deu através da observação direta de alterações visíveis na trilha (Quadro 09). Esses indicadores também foram comparados entre si (Quadro 10), permitindo identificar as situações mais problemáticas, e que representam um alto e médio impacto na trilha. 158 Quadro 9- Indicadores de Impactos e seus verificadores avaliados pelo MIV na Trilha dos Sentidos. FONTE: COSTA (2006). Org.: MORAES, D. I. de (2013). 159 FONTE: COSTA (2006). Org.: MORAES, D. I. de (2013). 160 Quadro 10– Nível de impacto dos parâmetros avaliados pelo MIV na Trilha dos Sentidos. FONTE: COSTA (2006). Org.: MORAES, D. I. de (2013). 161 A comparação entre os parâmetros permitiu identificar três situações de alto impacto na trilha, ligadas ao risco de escorregar, alterações de largura e solo exposto. Outras situações problemáticas estão relacionadas ao afundamento, lixo e riscos de escorregar e cair da encosta. O gráfico 16 demonstra a relação dos impactos mostrados pelos principais indicadores (leito, borda, solo, vegetação, saneamento e riscos), onde é possível verificar quais seções apresentam situações mais problemáticas na trilha e que precisam ser mitigadas através de ações de manutenção e monitoramento do seu uso. Gráfico 16– Resultado MIV por parcelas - Trilha dos Sentidos. 80 Indicadores (%) 70 60 50 40 30 20 10 0 1 2 3 4 5 Parcelas (Nº) LEITO BORDA SOLO VEGETAÇÃO SANEAMENTO RISCOS Org.: MORAES, D. I. de (2013). Nos primeiros 100 metros analisados, os impactos estão relacionados a alterações de largura da trilha, que em alguns trechos apresenta 40 cm e em outro chega a 1,40 cm. Essa seção também possui pontos com solo exposto, raízes expostas, presença de lixo na borda e risco de escorregar e cair devido a falta de manutenção nas estruturas existentes (degraus). Na seção 2 (de 100 a 200 metros de distância) a situação mais problemática está no leito da trilha que apresenta trechos de solo exposto, afundamento do piso e erosão. Ocorre também a incidência de raízes expostas, atalho, alterações de largura e falta de manutenção em estruturas (Foto 31). 162 Foto 31 – Problemas de manutenção em estruturas – Trilha dos Sentidos. Autor: MORAES, D. I. de (2013). Os mesmos impactos foram encontrados na seção seguinte (de 200 a 300 m), porém, a situação mais problemática na seção 3 se refere ao rebaixamento do piso e à perda da borda crítica, ocasionada pela falta de estruturas de contenção. O material erodido se direciona para o córrego próximo, que em períodos chuvosos transborda e alaga o leio da trilha (Foto 32). Foto 32- Perda da borda crítica - Trilhas dos Sentidos. Autor: MORAES, D. I. de (2013). 163 Na seção 4 (de 300 a 400 m) existem pontos com perda de serrapilheira que contribuem para ações erosivas e de compactação do solo. São visíveis também raízes expostas, atalho, vegetação danificada na borda (morta) e lixo (Fotos 33a e b). Fotos 33a e b - Impactos na seção 4 (de 300 a 400 m) - Trilha dos Sentidos. Org.: MORAES, D. I. de (2013). A seção 5 (de 400 a 500m) é um dos pontos mais problemáticos da trilha. Isso porque esse trecho não apresenta canaletas de drenagem que facilitem o escoamento da água superficial, fazendo com que o leito fique alagado em períodos chuvosos. Esse constante alagamento do leito acaba retirando a serrapilheira e criando uma crosta na camada superficial do solo que favorece a compactação e deixa o piso da trilha escorregadio. A alteração de largura também é um fator de impacto no leito nesse trecho, que varia de 30 cm até 2,10 m (Fotos 34a e b). Fotos 34a e b – Impactos potenciais na seção 5 (de 400 a 500 m) – Trilha dos Sentidos. Org.: MORAES, D. I. de (2013). 164 Juntamente com a identificação das áreas de impacto, outro elemento importante a ser analisado para fins de manejo é se esses impactos afetam os pontos interpretativos nas trilhas. Como destaca Takahashi (2004), trilhas mal construídas e mal mantidas tendem a afetar diretamente a experiência vivenciada pelo visitante e consequentemente, as atividades de interpretação ambiental. Para avaliar se as áreas de impacto determinadas pelo MIV estão comprometendo de algum modo à interpretação ambiental no local foi preciso primeiramente identificar qual a atividade interpretativa desenvolvida, os pontos interpretativos existentes e quais são seus índices de atratividade. Esse levantamento também se mostrou importante para o melhoramento da atividade interpretativa desenvolvida e consequentemente, na potencialização das trilhas como ferramenta para as atividades de educação ambiental. 6.2 Índice de Atratividade em Pontos Interpretativos nas Trilhas do Recanto Renascer Conforme já exposto no item 3, a interpretação ambiental é considerada um importante instrumento para as atividades educativas em trilhas ecológicas. Através dela, as trilhas deixam de serem caminhos voltados somente à contemplação passiva do ambiente e passam a ser espaços cheios de significados históricos, sociais e ecológicos. A interpretação também pode ser utilizada como um importante instrumento de manejo da visitação nas trilhas. 6.2.1 Índice de Atratividade de pontos Interpretativos (IAPI) da Trilha da Estrada Velha A trilha da Estrada Velha apresenta como eixo temático para a interpretação ambiental a flora local. Por ser uma trilha autoguiada o recurso interpretativo utilizado são placas, algumas de madeira e outras de metal nas cores verde claro e branco. As estruturas estão em harmonia com o ambiente e suas informações apesar de bastante limitadas, instigam o visitante a parar e observar as características da espécie identificada, algumas delas, bastante raras na região devido ao processo de ocupação territorial e ao uso indiscriminado da madeira. No total, a trilha possui 21 pontos interpretativos e a atividade interpretativa desenvolvida está acessível a vários tipos de público. 165 Devido à sua distribuição e relevância para a atratividade da trilha, dos 21 pontos interpretativos existentes, foram escolhidos 15 para a análise. O quadro 11 apresenta os pontos selecionados e o resultado da análise dos indicadores de atratividade. Quadro 11 - Índice de Atratividade de Pontos Interpretativos na Trilha da Estrada Velha. Fonte: Pesquisa de campo setembro/2013. Org. MORAES, D. I. de (2013). Conforme demostra o quadro 13, dos quinze pontos analisados, nove possuem uma pontuação maior que 10 e destes, quatro somam mais de 15 pontos. Isso mostra que existem na trilha quatro pontos com grande potencial atrativo e que podem ser utilizados para o aprimoramento da atividade interpretativa, uma vez que as atividades desenvolvidas se limitam apenas a informações referentes ao nome científico, popular e idade aproximada de algumas espécies da flora local. Considerando como baixa atratividade os pontos com somatória menor que 10; média atratividade de 11 a 15; e alta atratividade acima de 15, é possível verificar a existência de uma desproporção na distribuição desses pontos, na qual os três pontos mais atrativos estão 166 concentrados no início da trilha, enquanto o restante de seu trajeto apresenta pontos de média e baixa atratividade (Mapa 5). Mapa 5- Distribuição entre pontos de maior e menor atratividade na Trilha da Estrada Velha. Fonte: Pesquisa de campo setembro/2013. Org. MORAES, D. I. de (2013). Entre os pontos de maior atratividade, o ponto 13 merece destaque, pois, sua localização antecede um grande trajeto de pontos de baixa atratividade e por isso ele se mostra um ponto estratégico para o desenvolvimento da atividade interpretativa no local. Outro fator importante constatado através do IAPI é que a trilha da Estrada Velha possui uma grande variedade de temas que podem ser abordados pela interpretação ambiental. Juntamente com uma variedade de espécies nativas centenárias, existem vários outros elementos ecológicos e sociais que podem ser aproveitados, como por exemplo, a estrada que 167 existia no local e que era um importante meio de deslocamento para os primeiros colonizadores da região; a fauna que mesmo não tendo uma visibilidade facilmente acessível deixa sinais de sua existência e diversidade através de ninhos, tocas e pegadas; o rio Marrecas, que é utilizado no abastecimento da área urbana do município; o tipo de solo; fitofisionomia vegetativa, entre outros. Quanto à relação entre os impactos determinados pelo MIV e a localização dos pontos interpretativos na trilha, verificou-se que embora existam em alguns pontos interpretativos a ocorrência de impactos relacionados a solo exposto, rebaixamento do piso e raízes expostas, estes, de modo geral, não interferem na qualidade da experiência vivenciada pelo visitante, como foi anteriormente constatado na avaliação de sua percepção em relação aos impactos ambientais. Apesar disso, é importante que haja a adequação físico-ambiental da trilha, pois se não devidamente corrigidos, esses problemas podem ser propagados e trazer impactos mais severos ao ambiente e riscos ao visitante, o que consequentemente, se refletirá na experiência vivenciada e na atividade interpretativa desenvolvida. 6.2.2 Índice de Atratividade de pontos Interpretativos (IAPI) da Trilha dos Sentidos A Trilha dos Sentidos apresenta como eixo temático para a interpretação os sentidos do corpo humano. No total são 14 pontos interpretativos e os recursos utilizados são placas de metal e de madeira nas cores verde claro e branca. Estas estruturas estão em harmonia com o ambiente e buscam estimular o visitante a contemplar e sentir através do olfato, audição e visão o ambiente visitado. A trilha é autoguiada e a atividade interpretativa desenvolvida esta adequada para vários tipos de público. Porém, as informações apresentadas se limitam a dizeres de conscientização ambiental e ao nome popular, científico e idade aproximada de algumas espécies da flora local. Devido à proximidade dos pontos interpretativos, a análise foi realizada em 10 pontos da trilha, conforme mostra o quadro 12. 168 Quadro 12- Índice de Atratividade de Pontos Interpretativos na Trilha dos Sentidos. Fonte: Pesquisa de campo setembro/2013. Org. MORAES, D. I. de (2013). A aplicação da metodologia permitiu constatar que, dos dez pontos analisados, cinco possuem alta atratividade (>15 pontos), dois de média atratividade (de 11 a 15 pontos) e três de baixa atratividade (<10 pontos). Quanto à distribuição dos pontos de maior atratividade na trilha é possível verificar através do mapa 6, que existe uma distribuição uniforme entre eles, o que acaba contribuindo para a utilização desses pontos no desenvolvimento da interpretação ambiental. Isso porque quando bem distribuída, especialmente quando os recursos utilizados forem painéis ou banner, a atividade interpretativa se torna menos cansativa e mais atrativa para o visitante, que vai ter entre um ponto interpretativo e outro, o tempo necessário para receber as informações, refletir sobre elas e também contemplar o ambiente visitado. 169 Mapa 6 - Distribuição entre os pontos de maior e menor atratividade na Trilha dos Sentidos. Fonte: Pesquisa de campo setembro/2013. Org. MORAES, D. I. de (2013). No que se refere à relação dos pontos interpretativos e os impactos identificados pelo MIV, foi possível constatar que em três destes pontos, os impactos existentes afetam direta ou indiretamente na atividade interpretativa. No ponto de alta atratividade onde se localiza o espaço destinado à “meditação”, o comprometimento está na falta de manutenção nas estruturas existentes, que dificultam a passagem dos visitantes e impedem que estes se sentem para apreciar o ambiente. O outro ponto identificado como de média atratividade apresenta problemas relacionados à perda da borda crítica e erosão que contribuem para o risco do visitante escorregar e cair da encosta. O último ponto interpretativo na trilha também é prejudicado pela crosta que se formou sobre o solo devido à falta de serrapilheira e aos 170 constantes alagamentos. Isso faz com que o piso fique liso e escorregadio e o visitante preocupado em não escorregar, deixe de apreciar a espécie identificada no local. Tal situação reforça a necessidade de elaboração de um plano de manejo e monitoramento para essa trilha, no sentido de adequá-la ambientalmente e potencializá-la como instrumento de recreação e educação ambiental. 6.3 Estudo Comparativo sobre a Compactação do solo pela visitação 6.3.1 Análise da densidade aparente X porosidade Para verificar as alterações nas propriedades do solo provocadas pela sobrecarga do pisoteio, optou-se por coletar material com uma profundidade máxima de 10 cm. Como destaca Feola (2009), são nas profundidades superficiais que se dão as alterações como o adensamento e a compactação do solo. As amostras foram coletadas em cinco pontos das trilhas, escolhidos por apresentarem, devido à localização e características físicas, uma maior propensão à compactação. No total foram selecionados três pontos na trilha da Estrada Velha, sendo que o ponto 1 localiza-se em uma área mais plana, próxima ao Rio Marrecas (a 100 metros de distância do início da trilha); o ponto 2 em uma área de maior declividade (a 800 metros de distância do início da trilha); e o ponto 3 em outra área plana, porém de maior altitude, situada na parte final da trilha (a 1.300 metros de distância do início da trilha) (FIGURA 12). Na Trilha dos Sentidos, foram selecionados dois pontos, sendo o ponto 1 situado em uma área plana (a 200 metros de distância do início da trilha); e o ponto 2, também em uma área plana e que possui um rebaixamento do piso (a 400 metros de distância do início da trilha) ( FIGURA 13). Figura 12 - Localização dos pontos de coleta de solo na Trilha da Estrada Velha. Org.: MORAES, D. I. de (2014). 171 Figura 13- Localização dos pontos de coleta de solo na Trilha dos Sentidos. Org.: MORAES, D. I. de (2014). Em cada um dos pontos selecionados, foram coletadas três amostras de solo, uma na área central do leito e uma em cada área marginal, como ilustra a figura 14. Figura 14 – Esquema de coleta do solo para analise da densidade real X porosidade. Org.: MORAES, D. I. de (2013). As amostras foram coletadas com anel volumétrico de 92,4259 g/cm³ e depositadas em sacos plásticos devidamente identificados. Em seguida, essas amostras foram levadas para as análises em laboratório. As propriedades físicas do solo avaliadas foram: densidade real, densidade aparente e porosidade. Para tanto, foi utilizada a metodologia do Manual de Métodos de Análises físicas do solo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA (1997). As análises 172 foram desenvolvidas no Laboratório de Análises de Formações Superficiais da UNIOESTE, campus de Francisco Beltrão. A densidade aparente foi obtida pela divisão do peso da amostra seca a 100°C pelo volume do anel, segundo a fórmula descrita abaixo: Onde: A densidade real foi calculada por meio da desagregação de 20 g de amostra seca a 100ºC, onde se utilizou a seguinte fórmula: Onde: A porosidade total foi calculada através da densidade aparente e da densidade real, de acordo com a fórmula descrita a seguir: Onde: 173 Segundo Feola (2009), a densidade aparente é um meio utilizado para avaliar a compactação do solo e quando apresenta valores elevados, contribui para uma menor infiltração da água da chuva fazendo com que o escoamento superficial seja acelerado e com isso, contribua para a formação de sulcos, ravinas e erosão laminar no solo da trilha. Assim, quanto mais elevada for a densidade aparente, menor será a porosidade, ou seja, a capacidade do solo em absorver e drenar a água pluvial. Os valores que acompanham essa relação podem ser observados nas cinco seções analisadas, sendo que três delas ficam na Trilha da Estrada Velha (Gráfico 17) e duas na Trilha dos Sentidos (Gráfico 18). Gráfico 17- Densidade aparente e porosidade na Trilha da Estrada Velha. 100 1,4 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 80 60 40 20 0 A1 - LE A1 - C A1 - LD A2 - LE A2 - C A2 - LD A3 - LE A3 - C A3 - LD Nº de seções analisadas Porosidade Legenda: A- Amostra; LE- Lado Esquerdo; LD - Lado Direito; C - Centro. Org.: MORAES, D.I. de (2013). Densidade Aparente g/cm³ Porosidade (%) Densidade Aparente X Porosidade - Trilha da Estrada Velha 174 Gráfico 18- Densidade Aparente e Porosidade na Trilha dos Sentidos. Densidade Aparente X Porosidade - Trilha dos Sentidos 1,4 1,2 80 1 60 0,8 40 0,6 0,4 20 0,2 0 0 A4 - LE A4 - C A4 - LD A5 - LE A5 - C A5 - LD Nº de seções analisadas Porosidade Densidade Aparente g/cm³ Porosidade (%) 100 Densidade Aparente Legenda: A- Amostra; LE- Lado Esquerdo; LD - Lado Direito; C – Centro. Org.: MORAES, D.I. de (2013). Os valores mais elevados de densidade aparente estão localizados nas áreas que pertencem ao piso e começam a serem visíveis a partir da seção 1. Os valores mais elevados de densidade aparente estão na área central das seções 1 (1,29 g/cm³) e 2 (1,28 g/cm³), o que demostra uma maior compactação nessas seções, que provavelmente, se devem a presença se solo exposto (seção 1 e 2) e à alta declividade (seção 2). Respectivamente, a porosidade nessas seções apresenta índices relativamente baixos (38,87% na seção 1 e, 39,33 na seção 2). Outra alteração identificada se refere à densidade aparente apresentada pelas áreas marginas das trilhas. As maiores alterações estão na seção 2 que apresenta 0,70 g/cm³ na área marginal esquerda e 1,12 g/cm³ na direita e, na seção 5, onde o lado esquerdo apresenta 0,85 g/cm³ e o direito 0,66 g/cm³. Essas alterações possivelmente se devem pelo fato dos visitantes ultrapassarem os limites do leito da trilha e percorrer com maior intensidade por uma das áreas marginais, ocasionando o aumento da área afetada pelo pisoteio. A compactação nessas áreas também pode estar relacionada à largura da trilha, uma vez que as áreas marginais com maior compactação possuíam um leito mais estreito. Na Trilha dos Sentidos, os maiores problemas relacionados à compactação estão nas áreas centrais das duas seções analisadas (seção 4 e 5) que apresentam uma densidade aparente de 2,63 g/cm³ e 2,32 g/cm³. Essas alterações provavelmente se devem à presença de 175 solo exposto, a alterações de largura e falta de canaletas de drenagem que conduzam o escoamento da água pluvial para fora do leito da trilha. A partir desses dados fica evidente a necessidade de manutenção e monitoramento para as duas trilhas, de modo que os problemas relacionados à compactação possam ser corrigidos e também evitados, pois geralmente esse impacto está associado ou conduz a outras situações impactantes nas trilhas, tais como: rebaixamento do piso; dificuldade de desenvolvimento de plantas; dificuldade de drenagem da água superficial; e erosões. As análises comprovam a hipótese de que o leito da trilha apresenta solos mais compactados que as bordas, em virtude da circulação de pessoas nesse espaço. Certamente, essa compactação influencia o escoamento das águas pluviais e o transporte de matéria orgânica e sedimentos no trecho das trilhas. Considerando a realização do diagnóstico físico-ambiental e interpretativo das trilhas do Recanto Renascer, procuramos elaborar algumas propostas de manejo para essas trilhas, que serão apresentadas a seguir. 6.4 Propostas de Manejo para as Trilhas do Recanto Renascer As discussões teórico-conceituais apresentadas, as análises desenvolvidas e os resultados obtidos, serviram de base para propor algumas ações de manejo para as trilhas do Recanto Renascer. Com o objetivo de não contribuir somente para o uso conservacionista das trilhas do local, mas também, de melhorar as oportunidades de recreação e o potencial educativo das trilhas, as propostas sugeridas estão divididas em dois grupos. O primeiro grupo reúne propostas de ações de cunho geral, que permitem minimizar impactos e maximizar o uso recreativo-educativo das duas trilhas analisadas. O segundo incorpora ações pontuais de conservação e uso dos recursos naturais específicas para cada uma das trilhas. 6.4.1 Propostas Gerais de Manejo para as trilhas do Recanto Renascer As análises desenvolvidas mostram que as trilhas do Recanto Renascer não possuem impactos que necessitem de ações mais drásticas, como seu fechamento. No entanto, existe uma série de situações ligadas ao manejo que precisam ser corrigidas para que não ganhem proporções maiores e acabem proporcionando impactos mais severos ao ambiente e ao uso recreativo das trilhas. Outro aspecto está ligado ao uso das trilhas para atividades educativas, 176 que precisa ser mais bem aproveitado através do desenvolvimento de atividades de interpretação ambiental. Nessa perspectiva, as propostas gerais de manejo para as duas trilhas do Recanto são as seguintes: Exposição dos mapas das trilhas na área de camping, de modo a orientar e instigar os visitantes a realizarem o percurso. Essa ação se faz necessária pelo fato de que muito dos visitantes do Recanto não sabem da existência das trilhas. Esses mapas também contribuem para mostrar que as trilhas não são simples caminhos abertos em meio à vegetação, mas um atrativo criado e mantido a partir de critérios específicos e de um planejamento. O fato de termos elaborado os mapas das trilhas é um elemento que pode contribuir para o proprietário realizar essa ação, que seria a de mandar fazer duas placas na entrada das trilhas, indicando o trajeto mapeado e os atrativos existentes; Obter parcerias com Universidades e órgãos governamentais para o desenvolvimento da interpretação ambiental, especialmente no que se refere aos recursos financeiros para as estruturas necessárias (painéis, banners, etc.) e para o levantamento científico dos conteúdos expostos. Como o Recanto Renascer faz parte do Roteiro de Turismo Rural “Caminho do Marrecas”, o Departamento de Turismo da Prefeitura Municipal de Francisco Beltrão poderia contribuir nesse processo, complementando a experiência lúdica dos visitantes, com uma experiência pedagógica, de aprendizado sobre o processo de interpretação e de sensibilização ambiental; Realizar parceria com Universidades para o levantamento das espécies nativas da flora local, com o objetivo de identificar novas espécies e corrigir erros de identificação e idade em espécies já identificadas. Durante o desenvolvimento da pesquisa, foi possível conduzir um grupo de discentes do curso de Geografia para um trabalho de campo nas trilhas. Um dos discentes, com conhecimentos em botânica, informou que haviam alguns erros nas placas de identificação das árvores. Posteriormente, esse discente fez um levantamento fitogeográfico de algumas árvores, que pode ser utilizado para adequar as placas e ampliar a identificação das árvores de grande porte existentes nas trilhas; 177 Obter parcerias com a secretaria municipal de educação de Francisco Beltrão, para a utilização das trilhas por grupos escolares, no desenvolvimento de práticas pedagógicas voltadas à educação ambiental; Procurar minimizar ou mitigar os impactos identificados nas trilhas, através de ações como a melhoria do piso (redução da compactação do solo, construção de degraus em áreas de maior declividade, redução do escoamento de água nas trilhas); melhorias na acessibilidade e mobilidade nas trilhas (cordas, corrimões), entre outras; Realizar o monitoramento contínuo do uso das trilhas, com o objetivo de mitigar impactos reais e potencias ocasionado pela visitação; Efetuar um diagnóstico físico-ambiental das trilhas pelo menos a cada dois anos através da metodologia MIV, com o objetivo de identificar áreas mais vulneráveis e a ocorrência de impactos. 6.4.2 Propostas Específicas de Manejo para as Trilhas do Recanto Renascer Os resultados obtidos através do MIV, IAPI e das análises de solo também permitiram elaborar propostas de conservação e de aproveitamento dos recursos naturais especificas para cada uma das trilhas, a fim de mitigar impactos reais e potenciais e maximizar as oportunidades recreativas e educativas existentes. 6.4.2.1 Trilha da Estrada Velha Antes da exposição das possíveis estratégias de manejo para a Trilha da Estrada Velha, é importante destacar que algumas ações já foram desenvolvidas no decorrer da pesquisa, no intuito de coibir situações de impactos visivelmente percebidos na trilha. Essas estratégias foram inicialmente expostas e debatidas com proprietário do local, que prontamente se disponibilizou a realizar as duas ações propostas. Uma delas diz respeito a duas áreas mais vulneráveis da trilha devido ao declive/aclive acentuado, localizadas nas seções 7 (de 700 a 800 metros de distância do início da trilha) e 5 (de 1.400 a 1.500 metros de distância). Para minimizar a ação erosiva decorrente do escoamento superficial, foi sugerido à construção de degraus utilizando como material torretes de madeira, conforme ilustrado na foto 35. 178 Foto 35 – Piso da trilha com degraus – Trilha de Estrada Velha. Autor: MORAES, D. I. de (2013). Outra ação sugerida e já desenvolvida na trilha foi a colocação de estrutura de contenção na seção 11 (de 1.000 a 1.100 m), devido a uma acentuada perda da borda crítica que oferecia riscos do visitante cair da encosta e impactos sobre o solo ligados a erosão. Esta estrutura, apesar de bastante rudimentar e de utilizar matérias de reaproveitamento do próprio ambiente, mostrou-se bastante eficiente, dando sustentação ao piso da trilha e coibindo a ação impactante no local (Foto 36). Foto 36- Estrutura de contenção – Trilha de Estrada Velha. Autor: MORAES, D. I. de (2013). 179 Expostas as ações já realizadas na trilha, o quadro 13 traz a sintetização dos impactos verificados, suas possíveis causas e as estratégias de manejo que precisam ser desenvolvidas no local. Quadro 13 – Impactos constatados, possíveis causas e estratégias de manejo para a Trilha da Estrada Velha a partir da metodologia MIV. Impacto Contatado Indicador LEITO BORDA SOLO VEGETAÇÃO Verificador Alto Impacto: Alteração de largura na trilha. Médio Impacto: Afundamento do piso; Alagamentos; Erosão laminar. Possíveis causas Estratégia de Manejo A falta de manutenção das áreas marginais faz com que a vegetação rasteira avance sobre o piso da trilha; A falta de canaletas de drenagem faz com que a água superficial (chuva) provoque a retirada da cobertura superficial gerando erosão, afundamento do piso e em algumas situações o alagamento da trilha. Construção de canaletas de drenagem; Nivelamento do piso e padronização da largura da trilha (1m). A utilização das trilhas por pescadores contribui para a criação de atalhos que ligam a trilhas as margens do rio Marrecas. O formato retilíneo da trilha em uma área de declive/aclive acentuado contribui para que ocorra o desbarrancamento do talude superior e inferior e para que a água superficial utilize o leito da trilha como um canal de drenagem, provocando retirada da cobertura vegetal e acelerando as ações erosivas. Falta de manutenção nas estruturas existentes. Alto Impacto: Geradas pelo escoamento Solo exposto. superficial que transporta a para as áreas Baixo Impacto: serrapilheira Raízes expostas; marginais da trilha. Aclives/declives Formato inadequado da trilha. acentuados; Construção de barreiras de contenção com troncos de árvores (reaproveitamento de árvores caídas); Fechar e reflorestar atalhos; Mudar traçado da trilha para o formato de ziguezague em áreas de declive/aclive acentuados. Falta de manutenção, poda incorreta das áreas marginais e introdução de espécies pelos visitantes. Retirada da vegetação caída sobre o leito e evitar podas drásticas e desnecessárias nas áreas marginais. Médio Impacto: Atalhos/ Bifurcações. Baixo Impacto: Canais de drenagem; Perda de borda crítica; Manutenção de estruturas. Médio Impacto: Árvores caídas. Baixo Impacto: Vegetação danificada na Nivelar o solo e acrescentar serrapilheira retirada de locais não utilizados pela visitação. Mudar o formato da trilha para ziguezague. 180 borda (morta); Espécies exóticas. Realizar vistoria realizado periodicamente para retirada de materiais inorgânicos da trilha; SANEAMENTO Instigar a sensibilização ambiental do visitante; Implantar lixeiras para depósitos dos materiais descartáveis. de declive/aclive Modificar traçado da Médio Impacto: Presença Escorregar; acentuados, perda da borda crítica trilha; RISCOS Cair da encosta. provocando o estreitamento do degraus, piso e falta de estruturas e de Construir corrimões e barreiras de manutenção nas estruturas contenção. existentes. Médio Impacto: Descarte inadequado Lixo. pelo visitante. Fonte: Adaptado de Costa (2006). Org.: MORAES, D. I. de (2013). No que se refere à interpretação ambiental, é importante considerar que pelo fato desta trilha ser autoguiada, a eficácia da atividade interpretativa depende essencialmente do interesse do visitante, de sua capacidade de percepção e integração, e da qualidade das informações apresentadas. Por isso, é fundamental que os materiais e as informações sejam colocados de forma criativa, atrativa e motivadora, de modo que os visitantes se sintam instigados a receber essas informações, refletir sobre elas e ao mesmo tempo apreciar e integrar-se ao ambiente visitado. Outro aspecto diz respeito à localização dessas estruturas, as quais devem estar distribuídas de forma que não sobrecarreguem o ambiente e nem o visitante, com o excesso de informações sem o devido tempo para sua análise e reflexão. Diante disso, as propostas para essa trilha estão ligadas à implantação de painéis ilustrativos com informações sobre as características socioambientais locais. Considerando que a trilha possui quatro pontos de alta atratividade, mas três deles estão concentrados no início da trilha, propomos a utilização de dois pontos de alta atratividade, de um ponto de média e dois pontos de baixa atratividade, de modo que haja um distribuição regular dessas estruturas interpretativas na trilha (Mapa 7). 181 Mapa 7- Proposta de pontos interpretativos para a trilha da Estrada Velha. Org. MORAES, D. I. de, 2013. Dos cinco pontos interpretativos propostos, um deve oferecer informações aos visitantes quanto às características do percurso e os outros quatro informações referentes às características biofísicas e socioculturais locais, conforme exposto no quadro 14. Quadro 14– Pontos interpretativos e possíveis temas para a Trilha da Estrada Velha. Ponto Localização Interpretativo P1 Início da trilha Conteúdo apresentado Objetivos - Mapa da trilha com as seguintes informações: - Objetivo/tema: Apresentar noções básicas das características ambientais e socioculturais locais. - Atrativos principais: Espécies centenárias identificadas com placas e a antiga estrada utilizada pelos colonizadores da região. - Extensão: 1.500 metros. Orientar os visitantes sobre as características físico-ambientais da trilha. 182 P2 Árvore Açoita Cavalo - Duração: 1 hora. - Acessibilidade: parcial (não está acessível a portadores de necessidades especiais, como cadeirantes). - Grau de dificuldade: moderado - Indicação de público: Indicada ao público em geral, inclusive crianças e idosos, desde que em bom estado de saúde e preparo físico. - Acompanhamento: Autoguiada - Formato: em ferradura Identificação de três espécies da Contribuir para a percepção do visitante fauna local: na identificação direta - Capivara7 (Hydrochoerus ou indireta dessas hydrochaeris). espécies no ambiente, através de tocas, -Tatu-bola (Tolypeutes tricinctus). ninhos, pegadas, canto, etc. - Cutia (Dasyprocta leporina). Com as seguintes informações: nome científico, nome popular, distribuição geográfica, características físicas, alimentação e reprodução e grau de ameaça de extinção. P3 P4 7 Promover a compreensão do visitante sobre a importância do local para a existência e sobrevivência dessas espécies. Informações sobre o histórico da Promover a antiga estrada existente no local valorização históricoÁrvore Ingá (época em que foi utilizada e cultural do local. importância como meio de deslocamento na região). Xaxim Informações sobre a espécie de Xaxim existente (sua importância ecossistêmica, utilização econômica e riscos de extinção). Instigar a percepção do visitante sobre a espécie identificada e mostrar que se trata de uma espécie ameaçada de extinção, em razão da sua intensa exploração comercial destinada à jardinagem As espécies da fauna foram selecionadas em conjunto com os proprietários do Recanto, utilizando como critério a facilidade na percepção direta e indireta desta espécie no ambiente das trilhas. 183 e floricultura. P5 Promover o conhecimento do Árvore Informações sobre o tipo de solo e visitante referente às Maria Preta relevo da região. características geomorfológicas e pedológicas da área visitada. Org. MORAES, D. I. de, 2013. 6.4.2.2 Trilha dos Sentidos Diferentemente da Trilha da Estrada Velha, em que algumas ações de manutenção foram desenvolvidas no decorrer da pesquisa, na Trilha dos Sentidos nenhuma ação prévia foi realizada. Isso porque as situações mais problemáticas da trilha exigem ações que demandam recursos financeiros e maior planejamento, uma vez que estão ligadas a ações de contenção de encosta, estruturas de segurança e elevação do piso em alguns pontos da trilha. Por isso, optou-se em desenvolver todos os estudos de campo, para depois propor e debater junto aos proprietários do local a implementação dessas estruturas. Os impactos constatados, suas possíveis causas e as propostas de manejo para a Trilha dos Sentidos estão expostos no quadro 15. Quadro 15 – Impactos constatados, possíveis causas e estratégias de manejo para a Trilha dos Sentidos a partir da metodologia MIV. Indicador LEITO Impacto Contatado Possíveis causas Verificador Alto Impacto: Alteração de largura na trilha. Médio Impacto: Afundamento do piso; Baixo Impacto: Erosão laminar; A falta de manutenção das áreas marginais faz com que a vegetação rasteira avance sobre o piso da trilha; A falta de canaletas de drenagem faz com que a água superficial (chuva) provoque a retirada da cobertura superficial gerando erosão, afundamento do piso e em Estratégia de Manejo Construção de canaletas de drenagem; Nivelamento do piso e padronização da largura da trilha (1m). Elevação do piso com material de empréstimo (solo e rochas) para facilitar o escoamento superficial. 184 BORDA SOLO Alagamentos. algumas situações o alagamento da trilha. A utilização das trilhas por pescadores contribui para a Baixo criação de atalhos que Impacto: Canais de ligam a trilhas as margens drenagem; do rio Marrecas. Perda de O formato retilíneo da borda crítica; trilha em uma área de Manutenção declive/aclive acentuado de estruturas; contribui para que ocorra o Atalhos/ desbarrancamento do talude bifurcações. superior e inferior e para que a água superficial utilize o leito da trilha como um canal de drenagem, provocando retirada da cobertura vegetal e acelerando as ações erosivas. A falta de manutenção em estruturas de contenção também contribui para essa ação impactante. Geradas pelo escoamento superficial que transporta a Baixo serrapilheira para as áreas Impacto: Solo exposto; marginais da trilha. Raízes Formato inadequado da expostas. trilha. Construção de barreiras de contenção com troncos de árvores (reaproveitamento de árvores caídas); Fechar e reflorestar atalhos. Nivelar o solo e acrescentar serrapilheira retirada de locais dentro da floresta não utilizados pela visitação. Retirada da vegetação caída Falta de manutenção, poda sobre o leito e evitar podas Baixo VEGETAÇÃO incorreta das áreas drásticas e desnecessárias nas Impacto: Vegetação marginais. áreas marginais. danificada na borda (morta). Realizar vistoria periodicamente para retirada Descarte inadequado de de materiais inorgânicos da Alto materiais pelo visitante. trilha; Impacto: SANEAMENTO Lixo. Instigar a sensibilização ambiental do visitante para que não deposite esses materiais no ambiente; Implantar lixeiras para depósitos dos materiais descartáveis. Presença de declive/aclive Construir degraus, corrimões Alto acentuados, perda da borda Impacto: 185 RISCOS Escorregar. Médio Impacto: Cair da encosta. crítica provocando o e barreiras de contenção. estreitamento do piso e falta de estruturas e de manutenção nas estruturas existentes. Fonte: Adaptado de Costa (2006). Org.: MORAES, D. I. de (2013). Em relação à atividade interpretativa, as sugestões para essa trilha são a exposição de painéis fixados em madeira, com informações que proporcionem o conhecimento e a sensibilização do visitante através dos estímulos sensoriais (tato, olfato, odor e visão). Diante das características físicas e das estruturas já implantadas na trilha, propormos a exposição dessas informações em quatro pontos na trilha. Um deles determinado como de média atratividade e os outros três, de alta atratividade (Mapa 8). Mapa 8 - Pontos interpretativos propostos para a Trilha dos Sentidos. Org. MORAES, D. I. de, 2013. 186 Os conteúdos propostos para cada um dos pontos estão expostos no quadro 16. Quadro 16– Pontos interpretativos e possíveis temas para a Trilha dos Sentidos. Ponto Localização Interpretativo P1 P2 Início da trilha Local de meditação (audição) Conteúdo apresentado Objetivo - mapa da trilha com as seguintes informações: - Objetivo/tema: Apresentar noções básicas de ecologia, da biodiversidade da floresta Ombrófila-mista e hidrografia local. - Atrativos principais: pinguelas sobre córregos, pontos de parada para contemplação da flora e fauna local, árvores nativas centenárias identificadas com placas. - Extensão: 500 metros. - Duração: 30 minutos. Acessibilidade: parcial (não está acessível a portadores de necessidades especiais, como cadeirantes). - Grau de dificuldade: leve. - Indicação de público: Indicada ao público em geral, inclusive crianças e idosos. - Acompanhamento: Autoguiada. - Formato: em ferradura. Identificação de três espécies da fauna local: - Orientar o visitante sobre as características e atrativos da trilha e instigá-lo a realizar o percurso. - Maitaca (Pionus maximiliani) - Tucano (Ramphastos toco). -Sabiá-Laranjeira rufiventris). (Turdus Contribuir para a percepção do visitante na identificação direta ou indireta (tocas, ninhos, canto, etc.) dessas espécies no ambiente. Promover conhecimento sobre Com as seguintes informações: biodiversidade local. nome científico, nome popular, distribuição geográfica, características físicas, alimentação e reprodução e grau de ameaça de extinção. P3 Placa “Olfato: Informações sobre a floreta Ombrófila mista aluvial, suas características, espécies predominantes, área de abrangência o a Instigar o visitante a contemplar e reconhecer no ambiente as principais espécies dessa tipologia 187 sentir o cheiro da mata” P4 e importância ecossistêmica. Informações sobre o rio Marrecas Placa Visão (nascente, municípios que abrange, foz e importância para Francisco Beltrão). florestal. Promover o conhecimento sobre as características do rio Marrecas e sua importância socioambiental. Org. MORAES, D. I. de (2013). Enfatiza-se que todas as propostas de manutenção e manejo desenvolvidas para as duas trilhas do Recanto Renascer serão expostas e debatidas junto aos proprietários do local, de modo que os resultados obtidos com a pesquisa possam contribuir para a adequação ambiental destas trilhas e também para o aprimoramento de seu potencial recreativoeducativo. 188 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS A literatura acerca da implantação e uso das trilhas ecológicas em áreas florestais mostra que atividade exige planejamento, conhecimento técnico e uma constante manutenção e monitoramento de impactos. Ao contrário do comumente entendido, as trilhas implantadas nessas áreas não são simples caminhos abertos em meio à vegetação, mas percursos, que devem ser criados a partir de técnicas e critérios específicos e coerentes às potencialidades e limitações socioambientais locais. Ao fazer o levantamento dos estudos desenvolvidos sobre o uso público de trilhas em áreas naturais, verificou-se que apesar de existirem uma variedade de pesquisas sobre a temática, elas estão concentradas nas Unidades de Conservação, enquanto que nos estabelecimentos rurais, o uso de trilhas ecológicas mostra-se uma atividade ainda pouco conhecida e difundida, tanto entre os atores vinculados ao ecoturismo e turismo rural, quanto de estudos científicos relacionados ao uso e manejo das trilhas nesses estabelecimentos. Ao analisar o uso público das trilhas em fragmentos de floresta de pequenos estabelecimentos rurais, tendo como objeto de pesquisa o Recanto Renascer, foi possível obter informações bastante significativas em relação ao uso público das trilhas nesses estabelecimentos, especialmente no que se refere ao desconhecimento, tanto por parte dos visitantes quanto dos gestores da atividade, em relação aos impactos ambientais que uma implantação e uso inadequados podem desencadear e, também, do real potencial da trilha como um atrativo. No caso do Recanto Renascer, as trilhas ecológicas, apesar de serem diferenciais em relação a outras propriedades vinculadas ao Roteiro de Turismo Rural do município de Francisco Beltrão, apresenta-se como um atrativo ainda pouco explorado, já que muitos dos visitantes da área de camping do local não ficam sabendo da existência das trilhas. Outro aspecto está relacionado a dificuldade que o produtor rural possui em realizar a manutenção e o manejo correto dessas trilhas, principalmente devido à falta de conhecimento técnico para fazê-lo. Mesmo passando 11 anos desde a implantação da primeira trilha no local, o único suporte oferecido ao produtor rural para o desenvolvimento da atividade foi à identificação de algumas espécies da flora local feita por um funcionário da EMATER. O uso das trilhas como elemento educativo também se encontra pouco explorado e difundido, dado ao potencial apresentado pelo local. Para desenvolver esse potencial é 189 preciso, no entanto, que haja apoio de profissionais especializado sejam eles geógrafos, biólogos, engenheiros florestais, entre outros, que através de investigações científicas sobre as características físico-ambientais locais, possam orientar os proprietários sobre os procedimentos para desenvolver atividades educativas nas trilhas. Se houvesse interesse por parte dos órgãos educativos do munícipio, esse potencial também poderia ser uma ótima opção para desenvolver atividades com grupos escolares voltadas à educação ambiental e demais estudos ambientais. Parcerias também poderiam ser desenvolvidas com universidades e escolas da rede pública e privada para utilizar esse local como um laboratório para estudos ambientais e também em outras atividades educativas. Trabalhos de campo geralmente são realizados em ambientes distantes da vivência dos alunos, enquanto locais como o existente no Recanto, com suas características físicas (relevo, hidrografia), fitogeográficas, zoogeográficas e históricas, muitas vezes não são valorizados e aproveitados em visitas de estudo e no desenvolvimento de pesquisas científicas. Acreditamos que o local possui um rico potencial educativo a ser explorado, que pode tanto oportunizar conhecimentos e contribuir na conscientização ambiental dos visitantes, quanto colaborar nas ações de manutenção e conservação desse ambiente. Nesse sentido, os estudos desenvolvidos sobre o perfil e a percepção ambiental dos visitantes e o tipo de atividade interpretativa existente nas trilhas do Recanto Renascer, permitiram verificar que o desenvolvimento da interpretação ambiental é uma alternativa importante de manejo e de atratividade para essas trilhas. Isso se dá porque existe o interesse do visitante em conhecer mais detalhadamente o ambiente visitado e também devido à ocorrência de impactos ambientais que podem ser minimizados através da atividade educativa, especialmente no que se refere ao depósito inadequado de lixo e vandalismos. O perfil e a percepção dos visitantes também se mostraram elementos importantes de análise das diferentes relações e interações que os indivíduos estabelecem com o ambiente durante a visitação. Dos visitantes analisados, muitos não perceberam a ocorrência de impactos ou situações de riscos. Há também a falta de consciência ecológica de alguns, que depositam lixo e depredam estruturas e elementos do ambiente. Essa falta de compromisso com o ambiente muitas vezes está atrelada a uma visão de natureza como mercadoria, no qual o visitante ao pagar o ingresso, abdica-se de qualquer responsabilidade e cuidado com o ambiente visitado, vendo-o somente como um produto a ser consumido em benefício da sua satisfação e bem estar individual. Por outro lado, existem também aqueles que buscam se integrar ao ambiente, observar e entender os elementos e processos que o compõe, mantendo 190 uma relação de responsabilidade e zelo com o local. Isso ocorre em função de uma consciência ambiental já formada no visitante, que mesmo utilizando esse espaço para o seu lazer e entretenimento, entende e reconhece sua importância ambiental. As observações em campo juntamente com as análises desenvolvidas mostraram que as duas trilhas estudadas – Trilha da Estrada Velha e Trilha dos Sentidos - apresentam características, potencialidades e situações de impactos distintas e em diferentes níveis (baixo, médio e alto), ocasionadas principalmente pela falta de conhecimento técnico por parte dos proprietários sobre como realizar as ações de manejo e manutenção corretos e específicos para cada situação impactante. Essas alterações, apesar de não afetarem diretamente a experiência vivenciada pelo visitante, conforme foi constatado durante a investigação de sua percepção em relação aos impactos ambientais, mostram-se relevantes para a segurança dos usuários e para a qualidade ambiental das trilhas. A Trilha dos Sentidos, que possui uma pequena extensão, uma topografia plana e cujo fragmento de floresta encontra-se em vários estágios sucessionais de regeneração decorrentes da degradação gerada pela atividade anteriormente praticada, apresenta alguns impactos ocasionados principalmente pela falta de estruturas adequadas e também de manutenção. Por outro lado, essa trilha possui um rico potencial recreativo-interpretativo, em virtude de sua proximidade com o Rio Marrecas, de seu formato curvilíneo que transpassa o córrego do local e também por possuir espécies vegetativas centenárias e raras na região. Já a Trilha da Estrada Velha, além de possuir um maior percurso, percorre ambientes mais preservados, com uma área florestal em estágio sucessional de médio a alto. Porém, sua variação topográfica a torna mais susceptível as ações erosivas e riscos aos usuários, o que demanda a implantação de estruturas que minimizem a ação do escoamento superficial e proporcionem maior sustentação ao piso da trilha. Ao analisar o impacto do pisoteio sobre o solo nas trilhas, também foi possível identificar que as alterações relacionadas à compactação estão presentes não somente no leito, mas também em boa parte das áreas marginais analisadas. Isso demonstra uma maior abrangência da área afetada pelo pisoteio e a necessidade de ações de manejo que minimizem a ocorrência destes impactos, através de uma padronização na largura do piso das trilhas e também de sua cobertura com serrapilheira. Assim, para que as adequações físico-ambientais das duas trilhas ocorram, conforme as ações sugeridas no item 6, propõe-se duas frentes principais de atuação. A primeira diz respeito à padronização da largura do piso, no qual se indica a largura de 1 metro e também a redução da velocidade do escoamento superficial nas áreas de declive e aclive, através de 191 estruturas que reduzam a velocidade da água como degraus feitos de rochas ou torretes de madeira com dormentes e de estruturas que reduzam a distância do fluxo, como pequenos canais de drenagem voltados para o interior da mata. Após estabilizar a velocidade do escoamento superficial sobre o piso da trilha, recomenda-se a construção de estruturas de sustentação em locais com perda de borda crítica e cobertura do solo com serrapilheira extraída do interior da floresta, para que os impactos relacionados à erosão e compactação possam ser minimizados. Uma terceira frente de atuação indicada estaria na construção de painéis ilustrativos com os conteúdos interpretativos anteriormente propostos. No que se refere às metodologias utilizadas para realizar o diagnóstico físicoambiental das trilhas, estas se mostraram de suma importância para identificar situações de impactos atuais e potenciais, que além de trazer prejuízos ambientais também acabam prejudicando o desempenho das trilhas como instrumento recreativo no local. A identificação desses impactos através do MIV e das análises de solo, permitiram o desenvolvimento de propostas de manejo gerais e específicas para cada trilha e também iniciar as primeiras ações de mitigação e controle de impactos, realizadas na Trilha da Estrada Velha, em parceria com os proprietários do local. No mesmo segmento, a metodologia IAPI possibilitou avaliar a atividade interpretativa desenvolvida e identificar potencias ainda não explorados, que podem ser elementos importantes de atratividade nas trilhas. No entanto, a falta de dados sobre o número mensal e anual de visitantes nas trilhas impediu uma análise comumente desenvolvida em estudos sobre o uso publico de trilhas em áreas naturais, que é o estudo da capacidade de carga. Essa análise permite identificar o número ideal ou suportável de visitantes nas trilhas, e pode ser um elemento relevante para que impactos gerados pela intensificação do uso sobre o ambiente e sobre a experiência vivenciada possam ser evitados ou minimizados. Contudo, apesar das dificuldades e limitações relacionadas à utilização das trilhas como um atrativo turístico no Recanto Renascer, é importante considerar que a atividade tem se mostrado bastante significativa para a preservação ambiental local, bem como, para a atratividade do estabelecimento. Com a utilização das trilhas ecológicas, o fragmento de floresta degradado por práticas agrícolas convencionais, passou a ser preservado e recuperado, tornando-se um espaço importante de manutenção de espécies da vegetação nativa, que são consideradas raras pelo grau de desenvolvimento em que se encontram no local e pela escassez na região. A manutenção dessa área florestal contribui também para a diversidade de espécies da fauna, com diferentes espécies de pássaros, mamíferos, répteis, etc.. Outro aspecto 192 está relacionado à importância dessa área na proteção dos recursos hídricos existentes, já que corresponde a uma mata ciliar que protege além do rio Marrecas, outros córregos e nascentes existentes no local. A realidade existente no Recanto é um exemplo de que o desenvolvimento de alternativas menos degradantes dos ecossistemas e de seus elementos é uma ação possível. E mesmo que correspondam a ações pontuais dentro de uma lógica social e ambientalmente degradantes, elas tem se mostrado relevantes na busca por uma relação mais equilibrada entre o uso socioeconômico dos recursos naturais e a proteção ambiental. O local comprova ainda, que as áreas de floresta nas propriedades rurais não são espaços economicamente perdidos, mas áreas que juntamente com a importância ambiental, podem ser uma alternativa importante de geração e diversificação de renda nas propriedades e também de melhoria na qualidade de vida da população (moradores e visitantes). É importante considerar, no entanto, que mesmo vendo o uso das trilhas ecológicas como uma iniciativa positiva de conservação florestal e geração de renda nas propriedades rurais, elas por si só, não garantem o uso conservacionista, o qual só poderá ser alcançado a partir de um planejamento detalhado das vantagens e riscos socioeconômicos e ambientais do uso público das trilhas nesses locais e também, de conhecimentos técnicos sobre sua implantação e manejo. Para tanto, é preciso um maior incentivo e apoio por parte dos órgãos governamentais para o desenvolvimento correto da atividade, juntamente com o desenvolvimento de mais estudos científicos sobre a viabilidade social, econômica e ambiental do uso público das trilhas nesses estabelecimentos. Espera-se, contudo, que esta pesquisa e a elaboração do material técnico-informativo, possam oferecer subsídios para o desenvolvimento de outros estudos relacionados à temática que envolve o uso público das trilhas ecológicas, bem como, para o desenvolvimento correto da atividade no Recanto Renascer e em outros estabelecimentos rurais da Região Sudoeste do Paraná e de outras regiões, que desejam utilizar as trilhas como um atrativo a visitação e como uma alternativa de uso das áreas florestais, efetivamente conservacionista. 193 8 REFERÊNCIAS ANDRADE, Waldir J. de. Implantação e Manejo de Trilhas. In: MITRAUD, Sylvia (Org.). Manual de Ecoturismo de Base Comunitária: Ferramenta para um planejamento responsável. Brasília: WWF Brasil, 2003. 470p. p.247-259. ANDRADE, W. J. de; ROCHA, R. F. Manejo de trilhas: um manual para gestores. Instituto Florestal, São Paulo. 2008. 74 p. ANDRADE, W. J.; ROCHA, L. M. Planejamento, implantação e manutenção de trilhas. 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Algo foi retirado ou plantado? 3- As trilhas foram construídas desde o início da abertura de sua propriedade para o lazer e o turismo rural? 4- A ideia de implantar trilhas na propriedade partiu da família ou de terceiros? 5-Quais as intenções com a implantação das trilhas? 6- Quem abriu e organizou as trilhas? 7- Na construção das trilhas foi utilizado algum material técnico ou assistência de profissional especializado? 8- Houve custos na construção? Quanto? 9- As trilhas são os atrativos principais ofertados na propriedade? 10- A manutenção das trilhas é realizada: ( ) diariamente ( ) a cada seis meses ( ) semanalmente ( ) mensalmente ( ) uma vez por ano ( ) outras __________________ 11- Dos visitantes na propriedade, os que percorrem o trajeto das trilhas são: ( ) todos ( ) grande maioria ( ) poucos 12- Quais os pontos positivos que o senhor destaca no uso das trilhas ecológicas em sua propriedade? 13- Quais os pontos negativos? 14- Os objetivos iniciais buscados com a implantação das trilhas foram alcançados? 15 – O senhor está satisfeito com a utilização das trilhas como atrativo na propriedade? 16 – Há intenções de investir em infraestruturas na trilha? Quais? 17- As trilhas contribuíram para que o fragmento de floresta na propriedade fosse preservado? 18 – As trilhas contribuíram para que áreas de mata fossem recuperadas na propriedade? 203 APÊNDICE B – Questionário Socioambiental aplicado aos visitantes das trilhas ecológicas do Recanto Renascer – Francisco Beltrão – PR. QUESTIONÁRIO SOCIOAMBIENTAL Data:___/_____/____ PERFIL DO VISITANTE 1) Gênero: ( ) M ( )F 2) Idade: ____________ 3) Escolaridade: ( ) ens. fundamental completo ( ) ens. médio completo ( ) ens. superior completo ( ) pós-graduação completa ( ( ( ( ) ens. fundamental incompleto ) ens. médio incompleto ) ens. superior incompleto ) pós-graduação incompleta 4) Ocupação: __________________________________________ 5) Cidade onde mora: ___________________________________ 6) Renda familiar: ( ) até 1 salário mín. (R$622,00) ( ) 1 a 2 sal.mín. (R$623 a R$1.244) ( ) 2 a 4 sal. mín. (R$1.245 a R$2.490) ( ) 5 a 10 sal.mín. (R$3.111 a R$6.22) ( ) mais de 10 sal.mín. ( acima de R$6.220) AVALIAÇÃO DA VISITA 7) Como você tomou conhecimento sobre as trilhas? ( ( ( ( ( ) já conhecia ) indicação de amigos/família ) guias de viagens, jornais, revistas ) internet / rádio ) outro meio. Qual: ______________________________ 8) Já visitou as trilhas antes? ( ) não ( ) sim - quantas vezes? _____ 9) Qual o motivo que te levou a percorrer as trilhas? (você pode assinalar mais de uma 204 alternativa). ( ( ( ( ( ) contato com a natureza ( ) aventura ) caminhar ( ) lazer e diversão ) estudo (aprendizagem) ( ) apreciar a paisagem ) descanso ( ) interesse em conhecer a flora local ) outro. Qual? ___________________________________________ 10) O que você considera mais importante em uma trilha ecológica? ( ( ( ( ( ) conservação ambiental ) sinalização ) estruturas de segurança (pontes, degraus e corrimões) ) atrativos para a apreciação ( cachoeiras, plantas, animais) ) conforto e segurança 11) Ao percorrer as trilhas você percebeu a ocorrência de: a) árvores danificadas ( b) raízes expostas ( c) áreas sem vegetação ( d) solo compactado/sem cobertura vegetal ( e) lixo: ( f) animais silvestres: ( g) animais domésticos (gatos, cachorro ( h) riscos (de escorregar, machucar, ...) ( i) atalhos ( j) vandalismo (placas, árvores, ...) ( ) pouco ) pouco ) pouco ) pouco ) pouco ) pouco ) pouco ) pouco ) pouco ) pouco ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ) muito ) muito ) muito ) muito ) muito ) muito ) muito ) muito ) muito ) muito ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ) não percebeu ) não percebeu ) não percebeu ) não percebeu ) não percebeu ) não percebeu ) não percebeu ) não percebeu ) não percebeu ) não percebeu 12) O grau de dificuldade da caminhada na trilha é: ( ) leve ( ) moderado ( ) elevado 13) O ambiente na trilha lhe proporcionou: ( pode ser assinalado mais de uma alternativa) ( ( ( ( ( ) tranquilidade e bem estar. ) incentivo a preservação ambiental ) desconforto pelo contato com espinhos, galhos e animais como formigas, mosquitos, etc. ) desconforto pela falta de infraestruturas adequadas ( pontes, sinalizações,...) ) outros _______________________ 14) Na sua opinião como os visitantes poderiam contribuir para diminuir ou evitar impactos ambientais nas trilhas? ( ) não jogar lixo ( ) não fazer barulho ( ) não entrar em atalhos 205 ( ) outros 15) A trilha poderia ser mais atrativa se possuísse: ( ( ( ( ) mais vegetação e animais silvestres ) mais sinalizações ) mais informações sobre a fauna e flora do local ) outro. Qual? _____________________________ 16) Suas expectativas iniciais com as trilhas foram satisfeitas? ( ) sim ( ) não 17) Quanto tempo durou a visita nas trilhas? ( ) até 1 hora ( ) de 1h a 2 h ( ) de 2h a 3h ( ) acima de 3h 18) No geral, qual é seu grau de satisfação em relação à visita nas trilhas? ( ) muito satisfeito ( ) satisfeito ( ) insatisfeito ( ) muito insatisfeito 19) Considerando a experiência vivenciada nas trilhas, você pretende fazer outras visitas? ( ) Sim ( ) não 20) Recomendaria a visita nas trilhas a outras pessoas? ( ) sim ( ) não