UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ
CAMPUS DE FRANCISCO BELTRÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS - CCH
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
NÍVEL DE MESTRADO
DANIELE INÊS DE MORAES
PLANEJAMENTO, IMPLANTAÇÃO E MANEJO DE
TRILHAS ECOLÓGICAS EM FRAGMENTOS
FLORESTAIS: UMA PROPOSTA DE USO
CONSERVACIONISTA
FRANCISCO BELTRÃO – PR
2014
DANIELE INÊS DE MORAES
PLANEJAMENTO, IMPLANTAÇÃO E MANEJO DE TRILHAS
ECOLÓGICAS EM FRAGMENTOS FLORESTAIS: UMA
PROPOSTA DE USO CONSERVACIONISTA
Dissertação de mestrado apresentada como
requisito parcial à obtenção do grau de
mestre em Geografia na Universidade
Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE,
campus de Francisco Beltrão.
Área de concentração: Dinâmica, Utilização
e Conservação do Meio Ambiente.
Orientador: Prof. Dr. Luciano Zanetti Pessôa
Candiotto
FRANCISCO BELTRÃO – PR
2014
Dedico este trabalho a meus pais Juscelino e Maria Salete e
ao meu esposo Leandro.
AGRADECIMENTOS
Ao professor e orientador Luciano Candiotto, por acreditar na pesquisa e por
todo apoio, paciência e dedicação prestados em todos os momentos dessa trajetória.
Aos professores Fabrício Pedroso Bauab e Fernando César Manosso pelas
contribuições dadas no exame de qualificação e pelo aceite em participar da banca de
defesa.
Aos professores Rosana Biral Leme, Roseli Alves dos Santos, Fabrício
Pedroso Bauab e Beatriz Rodrigues Carrijo pelos ensinamentos desde o período de
graduação.
A professora Marga Elis Pontelli pela disposição em me ajudar nos estudos no
laboratório.
Aos proprietários do Recanto Renascer Adelino e Assunta Menegatti, por
permitirem a realização dos estudos em sua propriedade, e pela amizade,
disponibilidade e carinho prestados.
A UNIOESTE pela oportunidade de graduação e mestrado.
A CAPES pela bolsa concedida.
Aos meus pais Juscelino e Maria Salete de Moraes pelo amor, carinho e
incentivo.
Ao meu esposo Leandro Moos, pela paciência, dedicação e companheirismo.
A minha amiga Leila Pazolini, pela paciência e por sempre ter uma palavra de
apoio e carinho nos momentos de angustia e desanimo.
A minha Tia Maria Helena, que sempre me ajudou com os problemas de saúde
de minha mãe, permitindo que eu realizasse meus estudos.
A minha amiga Clariana Bressiane pelo incentivo no início da pesquisa.
A minha amiga e colega de mestrado Veridiane da Silva, grande companheira
em todos os momentos da pesquisa.
Ao meu amigo e colega de mestrado Luiz Barcelos pelo apoio na elaboração
dos mapas.
A todos que de forma direta ou indireta contribuíram para o desenvolvimento
desta pesquisa, meus sinceros agradecimentos.
RESUMO
Esta pesquisa teve como objetivo principal conhecer os procedimentos
necessários para a implantação e manejo de trilhas ecológicas em áreas florestais,
considerando benefícios e problemáticas de seu uso em pequenos estabelecimentos
rurais. Através da revisão bibliográfica e dos estudos empíricos realizados, foi possível
fazer um levantamento dos métodos e técnicas de implantação, uso e manejo das
trilhas em áreas florestais, além de avaliar as condições físico-ambientais, o perfil dos
usuários e as atividades interpretativas desenvolvidas em duas trilhas ecológicas
localizadas em um pequeno estabelecimento rural aberto à visitação, denominado
Recanto Renascer, no município de Francisco Beltrão-PR. Para o levantamento dos
impactos nas trilhas, foi utilizada a metodologia Monitoramento do Impacto da
Visitação (MIV). Para a análise dos atrativos de cada trilha, utilizou-se a metodologia
Índice de Atratividade de pontos Interpretativos (IAPI). Também foram realizadas
análises de solo, para verificação da compactação dos solos nas trilhas. Os resultados
obtidos com a pesquisa permitiram desenvolver propostas de adequação físicoambiental e interpretativa das duas trilhas do Recanto Renascer, além da elaboração de
um material técnico-informativo destinado a proprietários de estabelecimentos rurais
interessados em implantar trilhas ecológicas ou adequar as já existentes.
Palavras – chave: Trilhas ecológicas, fragmentos florestais, usos conservacionistas.
ABSTRACT
This research aimed to identify the procedures required for nature trails in
forested areas´ deployment and management, considering benefits and problems of its
use in small farms. Through literature review and empirical studies, it was possible to
survey the methods and techniques of deployment, use and management of trails in
forested areas, and to evaluate physical and environmental conditions, the user profile
and interpretative activities in two ecological trails located in a small farm open to
visitors, called Recanto Renascer, located in the municipality of Francisco Beltrão,
state of Parana, Brazil. To assess the impact on the trails, the methodology Monitoring
the Impact of the Visitation (IVM) was used. For the analysis of the attractiveness of
each track, we used the methodology of Interpretative Attractiveness Index Points
(IAPI). Soil analysis for verification of soil compaction on the trails were also done.
The results obtained from the research used to develop proposals for physicalenvironmental and interpretive adequacy of the two tracks of Recanto Renascer,
beyond the preparation of a material with technical information to owners of farms
interested in establishing nature trails or in adapting existing trails.
Key words: Nature trails, forest fragments, conservation uses.
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1
Perfil Topográfico - Trilha da Estrada Velha............................................
129
Gráfico 2
Perfil Topográfico – Trilha dos Sentidos..................................................
133
Gráfico 3
Faixa etária dos visitantes.........................................................................
135
Gráfico 4
Grau de escolaridade dos visitantes...........................................................
136
Gráfico 5
Ocupação dos visitantes............................................................................
136
Gráfico 6
Município de procedência dos visitantes...................................................
137
Gráfico 7
Meio de informação com que o visitante tomou conhecimento da
existência das trilhas..................................................................................
137
Gráfico 8
Frequência dos visitantes nas trilhas.........................................................
138
Gráfico 9
Motivação para a visita nas trilhas............................................................
138
Gráfico 10
Fator que os visitantes consideram mais importante nas trilhas
Gráfico 11
Gráfico 12
ecológicas..................................................................................................
139
Percepção dos visitantes nas trilhas...........................................................
142
Contribuição
do
visitante
na
minimização
de
impactos
nas
trilhas.........................................................................................................
143
Gráfico 13
Elementos para maior atratividade nas trilhas...........................................
143
Gráfico 14
Resultado da Experiência Vivenciada.......................................................
144
Gráfico 15
Resultado
MIV
por
parcelas
na
Trilha
da
Estrada
Velha..........................................................................................................
153
Gráfico 16
Resultado MIV por parcelas na Trilha dos Sentidos ................................
161
Gráfico 17
Densidade Aparente e porosidade na Trilha da Estrada Velha.................
173
Gráfico 18
Densidade Aparente e Porosidade na Trilha dos Sentidos.......................
174
LISTA DE MAPAS
Mapa 1
Localização geográfica da área de Estudo................................................
Mapa 2
Espacialização do uso do solo no Recanto Renascer – Francisco
118
Beltrão- PR................................................................................................
122
Mapa 3
Trilha da Estrada Velha – Recanto Renascer – Francisco Beltrão – PR...
126
Mapa 4
Trilha dos Sentidos - Recanto Renascer – Francisco Beltrão – PR...........
130
Mapa 5
Distribuição entre os pontos de maior e menor atratividade na Trilha da
Estrada Velha.............................................................................................
Mapa 6
166
Distribuição entre os pontos de maior e menor atratividade na Trilha
dos Sentidos...............................................................................................
169
Mapa 7
Proposta de pontos interpretativos para a Trilha da Estrada Velha...........
181
Mapa 8
Proposta de pontos interpretativos para a Trilha dos Sentidos.................
185
LISTA DE FIGURAS
Figura 1
Ficha de campo MIV................................................................................
24
Figura 2
Ficha de campo IAPI................................................................................
25
Figura 3
Passos para uma abordagem integrada de trilhas.....................................
59
Figura 4
Exemplos de formatos de trilhas ecológicas............................................
76
Figura 5
Ilustração de alguns dos termos utilizados no vocabulário de trilhas......
81
Figura 6
Anatomia de trilha ecológica em área florestal........................................
82
Figura 7
Marcando o talude superior da trilha.........................................................
91
Figura 8
Corte do piso da trilha...............................................................................
92
Figura 9
Corte do talude superior da trilha..............................................................
92
Figura 10
Inclinação lateral e molde da borda crítica...............................................
93
Figura 11
Modelos de degraus em madeira...............................................................
97
Figura 12
Localização dos pontos de coleta de solo na Trilha da Estrada Velha.....
170
Figura 13
Localização dos pontos de coleta de solo na Trilha dos Sentidos.............
171
Figura 14
Esquema de coleta do solo para analise da densidade real X porosidade
171
LISTA DE QUADRO
Quadro 1
Identificação do tipo de solo em campo...................................................
65
Quadro 2
Tipo básico de solo e adequabilidade para as trilhas.................................
66
Quadro 3
Exemplos de pontos de controle e sua potencialidade/limitações para as
Quadro 4
trilhas.........................................................................................................
72
Atividades de manutenção comuns às trilhas ecológicas..........................
103
Quadro 5
Lista de indicadores de impactos biofísicos e sociais..............................
113
Quadro 6
Planilha de campo MIV.............................................................................
146
Quadro 7
Indicadores de Impacto e seus verificadores avaliados pelo MIV na
Trilha da Estrada Velha.............................................................................
Quadro 8
Nível de impacto dos parâmetros avaliados pelo MIV na Trilha da
Estrada Velha.............................................................................................
Quadro 9
158
Nível de impacto dos parâmetros avaliados pelo MIV na Trilha dos
Sentidos.....................................................................................................
Quadro 11
152
Indicadores de Impacto e seus verificadores avaliados pelo MIV na
Trilha dos Sentidos....................................................................................
Quadro 10
149
160
Índice de Atratividade de Pontos Interpretativos na Trilha da Estrada
Velha..........................................................................................................
165
Quadro 12
Índice de Atratividade de Pontos Interpretativos na Trilha dos Sentidos..
168
Quadro 13
Impactos constatados, possíveis causas e estratégias de manejo para a
Trilha da Estrada Velha a partir da metodologia MIV..............................
179
Quadro 14
Pontos interpretativos e possíveis temas para a Trilha da Estrada Velha.
181
Quadro 15
Impactos constatados, possíveis causas e estratégias de manejo para a
Quadro 16
Trilha dos Sentidos a partir da metodologia MIV....................................
183
Pontos interpretativos e possíveis temas para a Trilha dos Sentidos.........
186
LISTA DE FOTOS
Foto 1
Piso natural – Recanto Renascer – Francisco Beltrão – PR......................
Foto 2
Piso com pó de rocha – Refúgio Biológico Bela Vista – Foz do Iguaçu
79
– PR...........................................................................................................
80
Foto 3
Piso pavimentado com concreto – Parque Nacional do Iguaçu.................
80
Foto 4
Piso de trilha com árvores não removidas – Refúgio Biológico Bela
Vista – Foz do Iguaçu – PR.......................................................................
Foto 5
Bueiro em área de encosta – Reserva Salto Morato – Guaraqueçaba –
PR..............................................................................................................
Foto 6
83
85
Ponte em trilha ecológica na Reserva Salto Morato – Guaraqueçaba –
PR..............................................................................................................
86
Foto 7
Ponte pênsil – Parque Nacional do Iguaçu – PR.......................................
Foto 8
Passarela com corrimões – Horto Florestal do Litoral Norte de
Tamandaí – RS..........................................................................................
Foto 9
87
Placa na trilha da Figueira - Reserva Salto Morato – Guaraqueçaba –
PR..............................................................................................................
Foto 10
86
89
Painel explicativo sobre relações ecológicas do palmito Jussara –
Reserva Salto Morato – Guaraqueçaba – PR.............................................
89
Foto 11
Canal lateral de escoamento – Parque Nacional do Iguaçu–PR................
94
Foto 12
Barreira de drenagem com bueiro - Reserva Salto Morato Guaraqueçaba – PR...................................................................................
95
Foto 13
Trilha com degraus – Estação Ecológica Juréia – Peruíbe – SP...............
97
Foto 14
Degraus com rochas – Trilha da Onça – Marechal Candido Rondon –
PR..............................................................................................................
98
Foto 15
Barreira de contenção com tela – Parque Nacional do Iguaçu – PR.........
99
Foto 16
Elevação de piso em área plana com rochas – Reserva Salto Morato –
Guaraqueçaba – PR...................................................................................
Foto 17
Piso elevado coberto com geotêstil – Reserva Salto Morato –
Guaraqueçaba – PR...................................................................................
Foto 18
127
Visão do Rio Marrecas - Trilha da Estrada Velha – Recanto Renascer –
PR..............................................................................................................
Foto 22
125
Placa de Identificação em árvore – Trilha da Estrada Velha – Recanto
Renascer– PR.............................................................................................
Foto 21
124
Ponto de entrada Trilha dos sentidos – Recanto Renascer- Francisco
Beltrão-PR.................................................................................................
Foto 20
101
Ponto de entrada Trilha da Estrada Velha – Recanto RenascerFrancisco Beltrão-PR.................................................................................
Foto 19
100
128
Espécies arbóreas em processo de regeneração – Trilha dos SentidosRecanto Renascer......................................................................................
131
Foto 23
Placa interpretativa – Trilha dos Sentidos – Recanto Renascer – PR.......
132
Foto 24
Ponto de parada/contemplação – Trilha dos Sentidos – Recanto
Renascer - Francisco Beltrão – PR............................................................
Foto 25
132
Pinguela sob curso d’água – Trilha dos Sentidos – Recanto Renascer PR..............................................................................................................
133
Foto 26
Alterações de largura – Trilha da Estrada Velha.......................................
154
Foto 27
Afundamento do piso e perda da borda crítica- Trilha da Estrada Velha
155
Foto 28
Atalho para o Rio Marrecas- Trilha da Estrada Velha..............................
155
Foto 29
Árvore caída sobre o piso e lixo na área marginal - Trilha da Estrada
Velha..........................................................................................................
Foto 30
156
Área de encosta sem estruturas de segurança na seção 2 (200 a 300m) Trilha da Estrada Velha.............................................................................
157
Foto 31
Problemas de manutenção em estruturas – Trilha dos Sentidos................
162
Foto 32
Perda da borda crítica - Trilhas dos Sentidos............................................
162
Foto 33
Impactos na seção 4 (de 300 a 400 m) - Trilha dos Sentidos....................
163
Foto 34
Impactos potenciais na seção 5 (de 400 a 500 m) – Trilha dos Sentidos..
163
Foto 35
Piso da trilha com degraus – Trilha de Estrada Velha...............................
178
Foto 36
Estrutura de contenção – Trilha de Estrada Velha....................................
178
LISTA DE TABELAS
Tabela 1
Diretrizes gerais de planejamento conforme perfil do visitante...............
61
Tabela 2
Associação entre declividade e grau de dificuldade das trilhas.................
77
Tabela 3
Grau de dificuldade de acordo com a declividade....................................
78
LISTA DE SIGLAS
APP
Área de preservação Permanente
APPs
Áreas de Preservação Permanentes
CC
Capacidade de Carga
CMMAD
Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento
CONAMA
Conselho Nacional de Meio Ambiente
CRESOL
Cooperativa de Crédito Solidário
ECO
Conferencia das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável
EIA
Estudo Prévio de Impacto Ambiental
EMATER
Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural
FOM
Floresta Ombrófila Mista
GPS
Sistema de Posicionamento Global
IAPI
Índice de Atratividade de pontos Interpretativos
IAP
Instituto Ambiental do Paraná
IBAMA
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis
LAC
Limite Aceitável de Câmbio
MIV
Monitoramento do Impacto da Visitação
ONGs
Organizações não-governamentais
ONU
Organização das Nações Unidas
PNMA
Política Nacional do Meio Ambiente
PR
Paraná
RJ
Rio de Janeiro
RL
Reserva Legal
RIMA
Relatório de Impacto Ambiental
ROS
Expectro de Oportunidade de Recreação
RS
Rio Grande do Sul
SAFs
Sistemas Agroflorestais
SEMA/SP
Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Estado de São Paulo
SIG
Sistema Geográfico de Informação
SISNAMA
Sistema Nacional do Meio Ambiente
SNUC
Sistema Nacional de Unidade de Conservação
SP
São Paulo
IUCN
Naturais
União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos
UNESCO
Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura
UPVFs
Unidades de Produção e Vida Familiar
VAMP
Processo de Gerenciamento da Visitação
VERP
Experiência do visitante e proteção dos recursos
WWF
Fundo Mundial da Natureza
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO............................................................................................................
16
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .............................................................
20
3 USOS CONSERVACIONISTAS DE ÁREAS FLORESTAIS................................
27
3.1 Apropriação e uso capitalista da natureza e a problemática ambiental.......................
27
3.2 Breve Trajetória da Preocupação Ambiental: do Preservacionismo ao
Conservacionismo.............................................................................................................
30
3.3 Usos conservacionistas de florestas em pequenos estabelecimentos rurais:
modificando percepções, criando possibilidades..............................................................
42
3.4 As Trilhas Ecológicas.................................................................................................
46
3.4.1 A Percepção e Interpretação ambiental como objetivos das atividades
recreativo educativas em trilhas ecológicas..........................................................
48
3.5 Trilhas Ecológicas em Pequenos Estabelecimentos Rurais: Potenciais e
Problemáticas....................................................................................................................
4
PLANEJAMENTO,
CONSTRUÇÃO
E
MANEJO
DE
53
TRILHAS
ECOLÓGICAS EM ÁREAS FLORESTAIS..............................................................
58
4.1 Planejamento..............................................................................................................
58
4.1.1 Objetivos de uma trilha ecológica................................................................
60
4.1.2 Usuários........................................................................................................
61
4.1.3 Análise de Sítio............................................................................................
62
4.1.3.1 Solo................................................................................................
64
4.1.3.2 Hidrografia....................................................................................
67
4.1.3.3 Vegetação......................................................................................
68
.1.3.4 Fauna..............................................................................................
69
4.1.3.5 Geomorfologia...............................................................................
70
4.1.3.6 Regime Climático..........................................................................
71
4.1.3.7 Pontos de Controle........................................................................
71
4.1.3.8 Contexto socioeconômico.............................................................
73
4.1.3.9 Mapeamento..................................................................................
73
4.1.4 Design...........................................................................................................
74
4.1.4.1 Forma.............................................................................................
75
4.1.4.2 Grau de Dificuldade......................................................................
77
4.1.4.3 Cabeceira da Trilha e Áreas de Estacionamento...........................
78
4.1.4.4 Piso................................................................................................
79
4.2 Construção..................................................................................................................
81
4.2.1Termologia Básica de Trilhas.......................................................................
81
4.2.2 Limpeza do corredor....................................................................................
82
4.2.3 Estruturas para cruzamento d’água..............................................................
84
4.2.3.1 Bueiros...........................................................................................
84
4.2.3.2 Pontes............................................................................................
85
4.2.3.3 Passarela e Corrimões ...................................................................
87
4.2.4 Sinalizações..................................................................................................
88
4.2.5 Construção de Trilhas em Áreas Declivosas................................................
90
4.2.5.1 Canais Laterais de Escoamento.....................................................
93
4.2.5.2 Valas de Drenagem........................................................................
94
4.2.5.3 Barreiras de Drenagem..................................................................
95
4.2.5.4 Degraus..........................................................................................
96
4.2.5.5 Barreiras de Contenção de Contenção...........................................
98
4.2.6 Construção de Trilhas em Áreas Planas.......................................................
99
4.3 Manejo........................................................................................................................
101
4.3.1Manutenção...................................................................................................
102
4.3.2 Monitoramento e Avaliação de Impactos ...................................................
104
4.3.3 Fechando, Recuperando e Realocando Trilhas............................................
105
4.4 Metodologias de Avaliação de Impactos....................................................................
107
4.4.1Capacidade de Carga.....................................................................................
107
4.4.2 Limite Aceitável de Cambio (LAC).............................................................
108
4.4.3 Processo de Gerenciamento da Visitação (VAMP).....................................
110
.4.4 Experiência do Visitante de Proteção dos Recursos (VERP)........................
111
4.4.5 Espectro de Oportunidade de Recreação (ROS)..........................................
111
4.4.6 Manejo do Impacto da Visitação (MIV)......................................................
112
4.4.7 Índice de Avaliação de Impactos (IAP).......................................................
115
5
TRILHAS
ECOLÓGICAS
EM
FRAGMENTOS
FLORESTAIS
DE
PEQUENOS ESTABELECIMENTOS RURAIS: UM ESTUDO NO RECANTO
RENASCER, MUNICÍPIO DE FRANCISCO BELTRÃO-PR.................................
118
5.1 Localização e caracterização geográfica da área de Estudo........................................
118
5.1.1 Aspectos Abióticos.......................................................................................
119
5.1.2 Aspectos Bióticos.........................................................................................
119
5.1.3 Aspectos Socioeconômicos......................................................................................
121
5.1.4 As Trilhas: caracterização físico-ambiental.................................................
124
5.1.4.1 Trilha da Estrada Velha.................................................................
126
5.1.4.2 Trilha dos Sentidos........................................................................
129
5.2 Perfil dos visitantes e sua percepção sobre os impactos e conservação das
trilhas.................................................................................................................................
134
6 DIAGNÓSTICO FÍSICO-AMBIENTAL, ÍNDICE DE ATRATIVIDADE E
PROPOSTAS DE MANEJO PARA AS TRILHAS DO RECANTO RENASCERPR.....................................................................................................................................
146
6.1 Indicadores de Impactos e Metodologia MIV.............................................................
148
6. 1.1 Monitoramento do Impacto da Visitação (MIV) na Trilha da Estrada
Velha....................................................................................................................
148
6.1.2 Monitoramento do Impacto da Visitação (MIV) na Trilha dos Sentidos....
157
6.2 Índice de Atratividade em Pontos Interpretativos nas Trilhas do Recanto
Renascer............................................................................................................................
164
6.2.1 Índice de Atratividade de pontos Interpretativos (IAPI) da Trilha da
Estrada Velha........................................................................................................
164
6.2.2 Índice de Atratividade de pontos Interpretativos (IAPI) da Trilha dos
Sentidos.................................................................................................................
167
6.3 Estudo Comparativo sobre a Compactação do solo pela visitação.............................
170
6.3.1 Análise da densidade aparente X porosidade...............................................
170
6.4 Proposta de Manejo para as Trilhas do Recanto Renascer ........................................
175
6.4.1 Propostas Gerais de Manejo para as Trilhas do Recanto Renascer..............
175
6.4.2 Propostas Específicas de Manejo para as Trilhas do Recanto Renascer......
177
6.4.2.1 Trilha da Estrada Velha.................................................................
177
6.4.2.2 Trilha dos Sentidos........................................................................
183
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................
188
8 REFERÊNCIAS...........................................................................................................
193
9 APÊNDICES.................................................................................................................
202
APÊNDICE A – Roteiro de entrevista realizada com o casal de proprietário do
Recanto
Renascer.........................................................................................................
202
APÊNDICE B – Questionário aplicado aos visitantes das trilhas ecológicas do
Recanto Renascer..............................................................................................................
203
16
1 INTRODUÇÃO
As trilhas ecológicas apresentam-se como um dos principais instrumentos da prática
recreativa em áreas naturais, atraindo um grande número de adeptos, especialmente de
procedência urbana, que buscam a proximidade e a vivência com ambientes pouco
transformados, para lazer, práticas de esporte, estudos do ambiente ou simplesmente para
descanso e contemplação.
Criadas com diferentes formas, larguras e comprimentos, as trilhas ecológicas têm
sido utilizadas tanto como um atrativo secundário aos objetivos principais da visitação em
áreas naturais (visitar uma cachoeira, lago, afloramento rochoso, etc.) quanto sendo o próprio
sentido da caminhada ou mesmo da visitação. Nas áreas protegidas (unidades de conservação)
são também utilizadas como instrumento de manejo, deslocamento da comunidade,
fiscalização e em programas de educação ambiental.
Apesar de poderem ser implantadas em diferentes ambientes, é nas áreas florestais que
o uso público das trilhas tem ganhado maior destaque. Isso se deve ao fato das trilhas
possibilitarem o acesso e o contato direto do visitante com esses ecossistemas, que devido ao
atual estágio de antropização, são cada vez mais raros e distantes dos ambientes cotidianos.
Nas áreas florestais - sejam elas pertencentes a Unidades de Conservação, Áreas de
Preservação Permanente, Reserva Legal ou em áreas não protegidas pela legislação - as trilhas
ecológicas são tidas como uma alternativa de uso conservacionista, por permitir através da
visitação, a utilização socioeconômica desses ecossistemas e de seus elementos, sem que suas
especificidades e potencialidades primitivas sejam comprometidas ou afetadas de forma
significativa.
A possibilidade de uso conservacionista, aliada à crescente demanda pelas áreas de
floresta para a prática recreativa, coloca as trilhas ecológicas como uma alternativa
interessante de renda e de conservação e recuperação de áreas florestais em estabelecimentos
rurais, especialmente os minifúndios, onde diante do modelo agrícola consolidado e da pouca
disponibilidade de terra para as práticas agrícolas convencionais, é comum que as áreas de
floresta sejam encaradas como espaços perdidos em termos de uso do solo e produtividade
agrícola. Essa percepção, aliada a políticas ambientais ineficientes, tem contribuído para uma
constante perda das áreas florestais nos diversos estabelecimentos rurais, bem como para o
descumprimento da legislação ambiental.
Na região Sudoeste do Paraná, alguns pequenos estabelecimentos rurais abertos à
visitação turística, têm utilizado as trilhas em áreas florestais como uma forma de atrair
17
visitantes e diversificar a oferta de atrativos na propriedade. É o caso da propriedade rural
denominada Recanto Renascer, localizada no município de Francisco Beltrão- PR. No local,
existem duas trilhas implantadas no fragmento de floresta que pertence a uma Área de
Preservação Permanente. Uma das trilhas é denominada “Trilha da Estrada Velha” e possui
1.500m de extensão. A outra se chama “Trilha dos Sentidos” e possui uma extensão de 500m.
Essas trilhas apresentam tanto atrativos paisagísticos vinculados à beleza cênica, quando a
aspectos referentes ao potencial educativo/pedagógico, que podem contribuir para o
desenvolvimento de interpretação ambiental.
Porém, apesar se ser considerada uma alternativa de uso conservacionista, o uso
público de trilhas em áreas florestais acaba gerando preocupações, pois, quando mal
planejadas, mal estruturadas e sem uma manutenção eficiente, as trilhas podem trazer riscos
aos visitantes e funcionar como indutoras de impactos negativos sobre os diferentes elementos
do meio biofísico (solo, vegetação, fauna, hidrografia e declividade). Trabalhos realizados por
diferentes profissionais, entre eles geógrafos, têm tratado dos impactos gerados pelo uso
público de trilhas em áreas naturais. Destaque para os trabalhos de Costa (2006) no Parque
Estadual Pedra Branca-RJ; Takahashi (1998) no Parque Estadual do Marumbi-Pr; Magro
(1999) no Parque Nacional de Itatiaia-RJ; e Feola (2009) no Parque Estadual Pico MarumbiPr. Para esses pesquisadores, o uso público de trilhas ecológicas afeta diretamente o solo
através do pisoteio, ocasionado sua compactação, erosão e consequentemente, o afundamento
e alterações de largura da trilha. A visitação também pode contribuir para afugentar animais e
destruir ou dificultar o desenvolvimento da vegetação, entre outros impactos.
De forma geral, esses trabalhos tratam do uso de trilhas em Unidades de Conservação,
porém, ao analisar a atividade nos pequenos estabelecimentos rurais, verifica-se a existência
de um agravante, uma vez que as áreas onde geralmente as trilhas são implantadas nesses
locais, correspondem a pequenos fragmentos de floresta circundados pela agricultura, e que
pelo histórico de perturbação, tamanho e dispersão, já se encontram potencialmente
fragilizados pela ação antrópica. Tal fato reforça a necessidade de se ter um maior
esclarecimento sobre esse tipo de atividade, de modo que suas potencialidades e limitações
sejam identificadas e se evite situações de riscos aos usuários e o acirramento de processos de
degradação ambiental.
Outro aspecto diz respeito ao potencial das trilhas como instrumento didático para
estudos do meio ambiente e de conscientização ambiental, que se devidamente utilizado pode
ser uma importante ferramenta para atividades educativas e de manejo para as trilhas.
18
Assim, considerando o potencial da trilha ecológica como uma alternativa de uso
conservacionista para as áreas de floresta em estabelecimentos rurais e como ferramenta para
estudos do meio ambiente e de educação ambiental, juntamente com os possíveis impactos
negativos que uma implantação e uso inadequado podem acarretar, o objetivo geral dessa
pesquisa esteve em conhecer os procedimentos necessários para a implantação e manejo de
trilhas em áreas florestais, considerando benefícios e problemáticas de seu uso em pequenos
estabelecimentos rurais.
Já os objetivos específicos foram os seguintes:
Discorrer, com base na literatura utilizada, sobre os usos conservacionistas em
fragmentos florestais, com destaque para as trilhas ecológicas;
Avaliar as possibilidades e restrições do uso de trilhas em pequenos
estabelecimentos rurais (considerados aqui aqueles com área de até 50
hectares);
Identificar as técnicas de implantação e manejo de trilhas ecológicas em
fragmentos florestais;
Realizar diagnóstico físico-ambiental em duas trilhas ecológicas, localizadas
no Recanto Renascer, município de Francisco Beltrão- PR, visando identificar:
a) ocorrências de impactos ambientais; b) problemas relacionados a
infraestruturas; c) perfil socioeconômico dos visitantes e sua percepção em
relação ao ambiente e aos impactos ambientais; d) potencial das trilhas para
atividades de educação ambiental;
Apresentar a partir dos estudos realizados, alternativas de manejo para as
trilhas estudadas, a fim de minimizar a ocorrência de possíveis impactos
negativos e potencializar as trilhas como instrumento recreativo-pedagógico no
local.
Organizar material informativo (manual) para agricultores que tenham
interesse em implantar trilhas em fragmentos florestais ou em realizar a
manutenção correta em trilhas já existentes.
Desta forma, a dissertação está organizada conforme a seguinte estrutura: os itens 1 e
2 correspondem à introdução e apresentação dos procedimentos metodológicos. O item 3,
intitulado “Usos Conservacionistas de Áreas Florestais”, apresenta uma análise da
apropriação e uso da natureza pela sociedade capitalista, e da conservação ambiental a partir
19
da dualidade existente entre preservacionismo e conservacionismo, consideradas correntes do
movimento ambiental ou ambientalismo. Apresenta-se também o levantamento de algumas
possibilidades de uso conservacionista de áreas florestadas nas propriedades rurais, enfocando
as trilhas ecológicas no contexto.
No item 4, com o título “Planejamento, Construção e Manejo de Trilhas Ecológicas
em Áreas Florestais” foi realizado um levantamento das técnicas de implantação e manejo de
trilhas. O item 5, denominado “Trilhas Ecológicas em Fragmentos Florestais de Pequenos
Estabelecimentos Rurais: Um Estudo no Recanto Renascer, Município de Francisco BeltrãoPR” apresenta a caracterização geográfica da área escolhida para a pesquisa empírica, a
caracterização geral das trilhas ecológicas do local e o perfil de seus visitantes.
No item 6, intitulado “Diagnóstico Físico-Ambiental, Índice de Atratividade e
Propostas de Manejo para as Trilhas do Recanto Renascer-PR”, apresentamos os resultados
dos estudos realizados em campo e as propostas de manejo para as trilhas.
Por fim, nas considerações finais, buscamos desenvolver uma avaliação geral dos
resultados obtidos com a pesquisa e de suas possíveis contribuições.
20
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A presente pesquisa analisa as trilhas ecológicas como uma alternativa de uso
conservacionista para fragmentos florestais localizados em pequenos estabelecimentos rurais
e como instrumento recreativo-pedagógico.
Nessa perspectiva, para o desenvolvimento da pesquisa emprega-se o método
dialético1, baseado no materialismo histórico, onde por meio de dados quantitativos e
qualitativos, busca-se analisar o uso das trilhas ecológicas a partir de um contexto social,
cultural, político, econômico e ambiental. É a partir de sua percepção e do uso em relação aos
espaços florestais que o homem modifica tais espaços, mesmo com usos conservacionistas, e
influencia a própria percepção dos usuários das trilhas, através das informações disponíveis,
do manejo das trilhas, entre outros fatores.
Para o aporte teórico da pesquisa, buscamos realizar uma análise das formas de
apropriação e uso da natureza pela sociedade capitalista e de como a preocupação ambiental
vai sendo estruturada a partir das duas principais correntes do movimento ambientalista:
preservacionismo e conservacionismo. Como base, utilizamos Smith (1988), Porto-Gonçalves
(1990 e 2006), Moreira (1990), Mc Cormick (1992), Bressan (1996), Cavalcanti (1997),
Diegues (2001), Ferreti (2002), Bernardes e Ferreira (2003), Cunha e Coelho (2003), Leff
(2001 e 2006), Wendel (2005), Boff (2012), entre outros.
Para fundamentar a abordagem sobre a relevância ambiental, econômica e social das
trilhas ecológicas e dos métodos e técnicas de implantação, uso e manejo, utilizamos como
principal suporte os estudos de Vasconcellos (1997, 2003, 2006), Andrade (2003), Takahashi
(1998, 2001 e 2004), Lechener (2006), Costa (2006), Manual da Secretaria do Meio
Ambiente/SP (2006) e Andrade e Rocha (2008). Outro suporte importante para o
levantamento das técnicas de implantação e manejo de trilhas foi a visita de estudo realizada
durante o mês de novembro de 2012 nas trilhas da Reserva de Salto Morato, em
Guaraqueçaba – PR. Na ocasião foi possível verificar as estruturas e planos de manejo
adotados para a visitação nas trilhas do local, bem como, os métodos e técnicas utilizadas no
desenvolvimento da interpretação ambiental.
Como um dos objetivos do trabalho corresponde à organização de um material
destinado a agricultores e proprietários de estabelecimentos rurais interessados em implantar
1
De acordo com Gil (2008, p. 14) “[...] a dialética fornece as bases para uma interpretação dinâmica e totalizante
da realidade, uma vez que estabelece que os fatos sociais não podem ser entendidos quando considerados
isoladamente, abstraídos de suas influências políticas, econômicas, culturais etc.”.
21
trilhas ou adequar as já existentes em suas propriedades, essas informações também foram
utilizadas para a elaboração desse material.
Para realizar a análise do uso de trilhas ecológicas em pequenos estabelecimentos
rurais, selecionamos uma propriedade vinculada ao roteiro de turismo rural do município de
Francisco Beltrão/PR denominada Recanto Renascer, que entre outros atrativos possui duas
trilhas ecológicas implantadas na área de floresta da propriedade.
A escolha dessas trilhas para a investigação empírica se deu em função de estarem
localizadas em um estabelecimento rural com menos de 50 hectares de terra, possuírem um
volume de visitação significativo e por sua importância no fomento da oferta de lazer e
turismo da localidade.
Buscamos avaliar nas trilhas selecionadas o histórico de sua implantação, as atividades
de manejo desenvolvidas, as características físicas das trilhas (forma, largura, comprimento,
grau de dificuldade, tipo de piso, estruturas e atrativos), suas condições ambientais (referentes
ao leito, borda, solo, vegetação, saneamento, fauna, som e riscos), seu potencial para o
desenvolvimento de atividades interpretativas, além do perfil e da percepção ambiental dos
visitantes.
Como subsídio para os estudos empíricos foram levantados e analisados estudos que
tratam da avaliação ambiental e interpretativa de trilhas em áreas naturais. Dentre eles,
destacam-se algumas dissertações, teses e artigos, como o estudo de doutorado de Costa
(2006), intitulado “Proposta de Manejo e Planejamento Ambiental de Trilhas Ecoturísticas:
Um Estudo no Maciço da Pedra Branca - Município do Rio de Janeiro (RJ)” desenvolvido na
Universidade Federal do Rio de Janeiro; O trabalho desenvolvido por Ikemoto et. al (2009),
com o título “Avaliação do potencial interpretativo da trilha do Jequitibá, Parque Estadual dos
Três Picos, Rio de Janeiro” publicado pela Revista Sociedade & Natureza; e o estudo de
mestrado de Feola (2009) com o título “Análises do processo erosivo em trilhas: subsídio ao
planejamento e manejo” desenvolvido na Universidade Federal do Paraná.
Para o desenvolvimento da pesquisa empírica, foram utilizadas informações primárias
e secundárias para a coleta de dados. Entre as informações primárias, foram realizadas
entrevistas com o proprietário, questionário com visitantes, observações e coleta de dados em
campo (sinalização, obstáculos, traçado com GPS, fotos), medições nas trilhas, além da coleta
e análise de amostras de solo em laboratório. As fontes de informações secundárias foram
concentradas no levantamento bibliográfico e na análise de dados físico-ambientais e
socioeconômicos da área estudada.
22
O procedimento inicial da pesquisa empírica foi à solicitação de autorização junto aos
proprietários do estabelecimento selecionado para a realização dos estudos de campo. Na
ocasião foram apresentados os objetivos da pesquisa e quais os estudos que seriam realizados.
Em seguida, foi feita uma entrevista semiestruturada juntos aos proprietários (APÊNDICE A)
para obter informações referentes ao histórico e processo de implantação, uso e manejo das
trilhas no estabelecimento rural.
Para realizar o diagnóstico físico-ambiental nas trilhas selecionadas, foi utilizada a
metodologia Monitoramento do Impacto da Visitação-MIV, onde inicialmente foram
selecionados os indicadores de impacto, e em seguida, determinados os parâmetros de análise
(condições desejadas para cada indicador). Para tanto, foi utilizado como subsídio o estudo de
Costa (2006) que aplicou a metodologia em três trilhas ecológicas do Parque Nacional Pedra
Branca – RJ.
Porém, para obter uma compreensão mais direta e específica das condições de uso e
manejo das trilhas do Recanto Renascer, os indicadores e parâmetros utilizados por Costa
(2006) passaram por algumas adaptações, tanto no tipo de indicador quanto do parâmetro de
análise.
Nesta perspectiva, os indicadores de impactos analisados nas trilhas, através do MIV
foram os seguintes:
a) Largura: medida (em metros) tomada com uma trena entre duas estacas fixadas
nas extremidades da trilha, para verificar a eventual ocorrência de alargamento do
seu corredor.
b) Afundamento: medida (em centímetros) da ocorrência de rebaixamento do piso
da trilha, comparado com as áreas marginais.
c) Erosão: análise visual da presença de algum tipo de erosão no solo: erosão laminar
(superficial); erosão em sulcos (mais profunda com fissuras no solo ravinamento).
d) Alagamentos: Análise visual de pontos alagados ou passiveis de sofrer
alagamentos em períodos chuvosos.
e) Perda da borda crítica: medida (em centímetros) da ocorrência de perda de solo
na parte inferior do piso da trilha.
f) Desbarrancamento de encosta: medida (em centímetros) da ocorrência de perda
de solo na parte superior do piso da trilha, localizado em área declivosa.
g) Manutenção de estruturas: análise visual das condições de conservação das
estruturas nas trilhas.
23
h) Atalhos: medida do número de bifurcações (caminhos secundários) existentes
interligadas ao traçado principal da trilha.
i) Solo exposto: através de análise visual, avaliar a área do corredor das trilhas (em
cm) que apresentam: solo exposto, ou seja, sem vegetação.
j) Aclives/declives: Observação visual de áreas com aclives ou declives acentuados,
que oferecem dificuldade na caminhada e susceptibilidade a ações erosivas.
k) Rochas aflorantes: Percepção visual da existência de rochas sobre o piso da trilha.
l) Raízes expostas: medida (em centímetros) da exposição de raízes sobre o piso da
trilha.
m) Vandalismos: presença de fogueiras, desmatamento, pichações em árvores, rochas
e sinalizações, depredação de infraestruturas (bancos, pontes e placas), animais
mortos ou vestígios de caça.
n) Lixo: número de materiais inorgânicos (latas, sacolas plásticas, garrafas pet,
garrafas de vidro, etc.) encontrados no corredor da trilha.
o) Espécies domésticas: análise visual da presença de animais domésticos
(cachorros, gatos, aves, etc.) no leito da trilha ou em áreas próximas.
p) Som: percepção auditiva de barulhos provenientes de aparelhos eletrônicos e de
visitantes que podem interferir na dinâmica faunística local.
q) Riscos: análise visual de situações que oferecem riscos aos visitantes (escorregar,
cair ou fatal).
A avaliação dos indicadores de impacto se deu através da observação direta de
alterações visíveis nas trilhas. A partir da marcação das seções equidistantes de 100 metros,
essa observação foi realizada sobre o piso e áreas marginais da trilha. Algumas ferramentas
também se fizeram necessárias, tais como: fita métrica; câmera fotográfica; estacas de
madeira com fita colorida para identificar as seções de análise e ficha de campo (Figura 1).
Figura 1 - Ficha de campo MIV
Fonte: COSTA (2006).
Adaptado por: MORAES, D. I. de (2013).
24
A fim de obter uma análise mais detalhada dos impactos do uso sobre o solo, também
foi realizada coleta e análise de solo em cinco seções nas trilhas, sendo que em cada seção,
foram coletadas três amostras de solo, uma na área central do piso e uma em cada área
marginal. A partir da análise da densidade e porosidade destas amostras, buscou-se identificar
a possível ocorrência de compactação, e se a área afetada pelo pisoteio, estava restrita
somente ao piso das trilhas ou abrangia também suas áreas marginais.
Para avaliar o potencial interpretativo das trilhas analisadas, foi utilizada a
metodologia Índice de Atratividade de Pontos Interpretativos – IAPI. Para tanto, as trilhas
foram inicialmente classificadas quanto a:
Temática: presença de eixo temático para a interpretação;
Pontos interpretativos; caracterização quantitativa dos pontos;
Presença ou não de recursos interpretativos variados: conteúdo, harmonia com o meio,
relevância.
Sinalização: conteúdo, clareza, harmonia com o meio, relevância.
Modalidade: guiadas ou autoguiadas.
Diferenciação: oferta de atividades para vários tipos de público.
Após o levantamento inicial das características da trilha e o pré-levantamento de seus
atrativos, foram selecionados com base nos estudos de Ikemoto et al. (2009) e Magro e
Freixêdas (1998) os indicadores de atratividade. Sendo eles:
Visibilidade (inferior, médio e superior): refere-se à posição do atrativo em relação aos
olhos do observador.
Estímulo sensorial: Corresponde aos estímulos visuais, auditivos, táteis e olfativos que
os atrativos proporcionam.
Escala e Distância: (primeiro pano, médio pano e pano de fundo). O primeiro pano
corresponde aos atrativos que permitem o contato direto ou toque pelo visitante. O
médio pano é o atrativo que está próximo do leito da trilha, mas não permite o contato
direto pelo visitante. O pano de fundo são os atrativos distantes do leito da trilha,
como um pano de fundo na paisagem.
Recursos observados: Observação de recursos variados a partir do ponto
interpretativo:
- Água: Visual (cursos d’água são visualizados a partir do ponto); Som (apenas o som
da água é perceptível).
- Rocha: Identificação de rochas em tamanhos e formas variadas.
25
- Epífitas: (bromélia, orquídeas e outras plantas sob o tronco e galho das árvores).
Para a escolha do peso dos indicadores, utilizamos os mesmos parâmetros utilizados
por Ikemoto et al. (2009), no qual, posição superior, som da água, presença de rochas e
epífitas receberam peso 2, enquanto os indicadores pano de fundo e visual da água receberam
peso 3; os demais indicadores receberam peso 1. Para determinar a intensidade ou abundância
dos atrativos foram utilizados os parâmetros de Costa (2006), no qual 1= presente, 2= grande
quantidade e 3= predominante. Como “presente”, é considerado os elementos pouco
expressivos visualmente e quantitativamente; “grande quantidade” os elementos visualmente
e quantitativamente em destaque; e “predominante” os elementos que dominam e se destacam
na paisagem. Para marcar a intensidade dos recursos analisados, foi utilizado o símbolo “X”,
no qual X = presente; XX = grande quantidade; XXX = predominância.
A intensidade anotada para cada indicador foi revertida em números de 1 a 3. O valor
da atratividade de cada ponto selecionado foi determinado através da multiplicação do peso
dos indicadores com a intensidade ou abundância do atrativo.
Seguindo as indicações de Magro e Freixêdas (1998), a análise das trilhas, por ser
mais subjetiva, foi realizada em duplas a fim de evitar mudanças de critérios. O levantamento
da presença ou ausência destes indicadores em cada um dos pontos selecionados foi
computado em planilha de campo (Figura 2).
Figura 2– Ficha de campo do IAPI.
Legenda: inf.- inferior; sup.- superior; vis.- visual; ta.- tato; ol- olfato
Fonte: IKEMOTO ET AL. (2009)
Adaptado por: MORAES, D. I. de (2013).
Também foram aplicados questionários com questões objetivas aos visitantes das duas
trilhas estudadas (APÊNDICE B) com o objetivo de identificar o perfil desses visitantes e a
sua percepção em relação aos atrativos e impactos ambientais nas trilhas.
Após a aplicação desses procedimentos metodológicos foi realizada uma avaliação dos
resultados, com o intuito de verificar aspectos que estão corretos e que devem ser mantidos,
26
bem como, os aspectos problemáticos relacionados às duas trilhas existentes e analisadas no
estabelecimento rural. Essa avaliação foi divulgada e debatida com o proprietário do
estabelecimento, com o intuito de orientá-lo para a melhoria de suas trilhas, reduzindo
possíveis riscos ambientais e para os visitantes e otimizando determinados atrativos potenciais
que não vêm sendo utilizados.
27
3 USOS CONSERVACIONISTAS DE ÁREAS FLORESTAIS
3.1 Apropriação e uso capitalista da natureza e a problemática ambiental
Estabelecer relações com a natureza faz parte das estratégias de sobrevivência da
humanidade desde suas primeiras formas de organização. Porém, as características dessa
relação se alteraram significativamente a partir da Revolução Industrial e consolidação do
modo de produção capitalista.
Segundo Wendel (2005) o período que corresponde ao final do século XVIII marca
definitivamente a incorporação da natureza a vida social¸ seja em função das técnicas
desenvolvidas e aperfeiçoadas, seja pela cultura vigente, na qual a natureza passa a ser tida
como um recurso utilizado em benefício da produção e reprodução da vida social e dos
interesses de riqueza de uma minoria.
Dois sistemas de ideias conhecidos como Higienismo e Esteticismo, foram bastante
significativos para o processo de incorporação social da natureza e também para as ideias a
ela atribuídas que perduram até os dias atuais.
No esteticismo, a natureza selvagem é considerada feia e hostil e por isso precisa ser
primeiramente domesticada e padronizada, para depois ter sua beleza e grandiosidade
ressaltadas em jardins, praças e parques. A natureza tida como sinônimo de paisagem passa a
ser medida e valorada a partir dos padrões estéticos impostos pela classe dominante.
[...] a natureza, imbuída e valorada pelo seu conteúdo estético irá
ser altamente incorporada à vida econômica da sociedade. A
apropriação da natureza, uma apropriação e apreciação estética
da natureza, constituindo numa salva guarda das suas belezas
como forma de agregação de valor a uma propriedade privada,
passa também pela privação de sua componente estética,
separando-a dos olhares dos homens, através de cercas ou
muros, definitivamente ou impondo uma única forma de
apreciação através da compra de um ingresso (WENDEL, 2005,
p.168).
No Higienismo, a natureza selvagem é tida como algo sujo e letal. Por isso, deve ser
“limpa” e padronizada para se tornar algo agradável e habitável. Esse sistema de ideias
fundamentou as ações de saneamento das cidades, eliminando áreas como brejos e mangues,
tidos como sinônimo de sujeira e estagnação. A higienização da natureza tornou-se possível
através de técnicas que surgem para esta finalidade, “entretanto, seu uso é determinado pelo
poder econômico e consequentemente político, pois somente a nobreza e a burguesia têm
28
acesso a estas técnicas, enquanto as classes mais pobres continuam em meio à natureza hostil
e insalubre” (WENDEL, 2005, p.164-165).
Tanto o higienismo quanto o esteticismo são concepções pautadas na separação
homem-natureza, na qual a natureza é tida como objeto a ser dominado e manipulado pelo
sujeito, o homem. Essa ruptura é originária da tradição judaico-cristã (SMITH, 1998) e
tornou-se com o advento das ciências naturais e do modo de produção capitalista a concepção
predominante, tanto em nível do pensamento quanto da realidade objetiva, construída pelo
homem.
A necessidade de domesticação de tudo que era natural e selvagem, aliada à
capacidade de dominar e manipular a natureza permitida pela ciência e pela técnica, fez com
que o homem passasse a criar uma segunda natureza, socializada, artificializada e inserida no
território. Um recurso, medido e valorizado “de acordo com a escala de valores estabelecidos
pela sociedade para aqueles bens que antes eram chamados de naturais” (SANTOS, 2000,
p.18).
Domesticada e incorporada ao modo de produção capitalista, a natureza tornou-se um
objeto de produção utilizado em escala ampliada (SMITH, 1988), e com a vida material
totalmente dependente da produção de excedente, o ritmo do homem passou a não ser mais o
ritmo da natureza, mas o ritmo do próprio capital (PORTO-GONÇALVES, 2006).
O aumento exponencial na capacidade de produção decorrente do desenvolvimento
técnico-científico fez surgir a “ilusão de crescimento ilimitado de produtos materiais numa
mesma unidade de tempo abstrato” (PORTO-GONÇALVES, 2006, p. 328), na qual as coisas
passam a serem produzidas, consumidas e descartadas em uma escala de tempo da qual a
natureza não consegue acompanhar, pois, além da exploração excessiva dos recursos naturais,
há também a geração de uma série de resíduos decorrentes do processo produtivo, que
impedem a capacidade de regeneração natural do equilíbrio ecossistêmico.
Como destaca Porto-Gonçalves (2006), o capital não só se apropria do tempo que o
trabalhador dedica na produção de riquezas através da extração da mais-valia, como também
“de todo um tempo materializado na energia fóssil, que não tem como restituir porque não é
tempo abstrato, mas tempo do ser, tempo das coisas na sua materialidade” e mesmo que o
conhecimento sobre a matéria possibilite uma maior exploração de sua potencialidade, “o
conhecimento da matéria não produz a matéria enquanto tal, que é produzida pela natureza”
(p.329).
Assim, o modelo de desenvolvimento adotado pela sociedade capitalista e o ritmo
conferido a este processo, no qual as coisas surgem tão rapidamente como são devoradas e
29
abandonadas “sem jamais durarem o tempo suficiente para conter em seu meio o processo
vital” (ARENDT, 1997, p.147), afetam diretamente o meio ambiente, provocando impactos
de difícil recuperação ou até mesmo irreversíveis, como a fragmentação de habitats,
empobrecimento
da
fertilidade
dos
solos,
erosões,
deslizamentos,
desertificação,
assoreamentos de cursos d’água, alterações climáticas, proliferação de pragas e espécies
exóticas, desertificação, comprometimento na qualidade e disponibilidade dos recursos
hídricos, excesso de lixo, mudanças climáticas, perda de biodiversidade, entre várias outras
consequências danosas, que comprometem a qualidade ambiental do planeta e a maioria da
população, especialmente das classes menos favorecidas. Estas, longe de lucrar com os
benefícios obtidos através da exploração capitalista da natureza, acabam, na maioria das
vezes, obtendo apenas o ônus resultante da degradação ambiental.
Conforme ressaltado por Porto-Gonçalves (1990, p. 26-27):
A natureza é, em nossa sociedade, um objeto a ser dominado por um
sujeito, o homem, muito embora saibamos que nem todos os homens são
proprietários da natureza. Assim, são alguns poucos homens que dela
verdadeiramente se apropriam. A grande maioria dos outros homens não
passa, como ela também, de objeto que pode até ser descartado.
No capitalismo, a “natureza converte-se assim num meio de produção, objeto de uma
apropriação social, atravessado por relações de poder” (LEFF, 2001, p. 66), onde quem se
apropria e se beneficia dessa apropriação, geralmente corresponde a uma pequena minoria de
indivíduos e grupos (empresas e instituições) que concentram o poder econômico e também
político.
A problemática ambiental não é ideologicamente neutra nem é alheia a
interesses econômicos e sociais. Sua gênese dá-se num processo histórico
dominado pela expansão do modo de produção capitalista, pelos padrões
tecnológicos gerados por uma racionalidade econômica guiada pelo
propósito de maximizar os lucros e os excedentes econômicos a curto prazo,
numa ordem econômica mundial marcada pela desigualdade entre nações e
classes sociais (LEFF, 2006, p.62).
Em meio a essa ótica insustentável de produção e consumo, que tende a acirrar as
contradições e desigualdades socioespaciais, o antagonismo de classes e os problemas
ambientais decorrentes desse processo, emerge a preocupação ambiental, conhecida também
como movimento ambiental ou ambientalismo, que em sua trajetória vai apresentar diferentes
interesses, intencionalidades, contradições e concepções da relação sociedade-natureza.
30
3.2
Breve
Trajetória
da
Preocupação
Ambiental:
do
Preservacionismo
ao
Conservacionismo
Para Mc Cormick (1992), o movimento ambientalista2 não teve início definido. Ele
“emergiu em lugares diferentes, em tempos diferentes e geralmente por motivos diferentes (p.
21)”. Isso se deve ao fato de que as primeiras ações relacionadas aos problemas ambientais
eram locais, mas com o passar do tempo, o que era local se tornou um movimento nacional,
internacional e por fim, global.
Em sua trajetória, o ambientalismo apresenta duas grandes correntes ideológicas com
concepções de proteção da natureza bastante distintas e que ao longo dos últimos anos, vêm
influenciando a racionalidade ambientalista e as diferentes ações desenvolvidas em prol das
questões ambientais. Essas correntes se dividem entre aqueles que defendem a proteção da
natureza a partir do isolamento de áreas sem a presença humana, denominados
preservacionistas, e aqueles que acreditam em estratégias de uso sustentável dos recursos
naturais, denominados de conservacionistas (CUNHA; COELHO, 2003).
Ambas as correntes se mantém nos dias atuais atuando em conjunto ou de forma
paralela, porém, a corrente conservacionista tornou-se predominante, especialmente pelo fato
de ser a mais coerente com as descobertas científicas mais recentes e com as concepções de
meio ambiente da atualidade, onde existe uma busca pela visão holística da relação sociedadenatureza, em detrimento da dicotomia imposta pelas concepções cientificistas tradicionais.
A corrente preservacionista emergiu no início do século XIX, como um movimento
que defendia a proteção da natureza a partir do isolamento de áreas pelo seu valor cênico, e
conforme as possibilidades de usos atuais e futuros (BRESSAN, 1996). Nessa abordagem, o
natural seria algo que prescindisse da ação humana, devendo manter-se isolado e intocado
para ser utilizado como reduto da diversidade biológica do planeta.
O homem considerado um destruidor do mundo natural deveria, portanto, ser mantido
separado das áreas naturais, que para manterem-se preservadas, necessitariam de uma
“proteção total” (DIEGUES, 2001).
Casstells (1999 apud BERNARDES; FERREIRA, 2003, p. 31) define o ambientalismo como “as
formas de comportamento que, tanto em seus discursos como em sua prática, visam corrigir formas
destrutivas de relacionamento entre o homem e seu ambiente natural, contrariando a lógica estrutural e
institucional atualmente predominante”.
2
31
A concepção de proteção da natureza mediante o isolamento de espaços e espécies, foi
materializada com a criação do primeiro Parque Nacional do mundo, o Yellowstone, em
meados do século XIX nos Estados Unidos. Nesse país, o preservacionismo teve como maior
representante John Muir, que defendia a proteção das áreas naturais a partir da exclusão de
qualquer atividade humana que não fosse para a visitação e atividades recreativas. Segundo
Diegues (2001), Muir foi considerado um preservacionista ativista por definir os valores
intrínsecos da natureza selvagem e por lutar pela implantação de Parques Nacionais nos
Estados Unidos, tendo êxito na criação do Parque Nacional de Yosemit (1890). Ele também
fundou o Sierra Club, uma das mais influentes organizações ambientalistas deste período. Sua
teoria estava fundamentada na ideia de uma natureza fruto da criação divina, na qual o
homem era tão importante quanto qualquer outra espécie de animal e, por isso, não poderia ter
direitos superiores sobre eles.
A partir da criação do parque de Yellowstone, as concepções preservacionistas
passaram a serem transferidas para diversos países do mundo, influenciando a criação de
Parques Nacionais no Canadá (1885), Nova Zelândia (1984), Austrália, África do Sul e
México (1898), Argentina (1903), Chile (1929), Equador (1934), Venezuela e Brasil (1937)
(DIEGUES, 2001).
Porém, embora o preservacionismo tenha sua origem geralmente associada ao século
XIX nos EUA, Mc Cormik (1992) afirma que o movimento ambientalista surgiu muito antes
na Europa, ganhando maior notoriedade a partir do século XVIII. Para o autor, os europeus
tiveram três grandes influencias sobre o início do movimento: 1) o estudo da história natural,
associado a concepções de artistas românticos e primitivistas, contrários as mudanças
realizadas na paisagem pela agricultura; 2) o movimento contra a crueldade com os animais,
sendo apoiado pelas classes médias e altas e pelos naturalistas; 3) a reação contra a miséria
associou-se ao anseio por espaços abertos e natureza, resultando na criação de parques e
reservas naturais para a visitação pública.
Thomas (1983, apud DIEGUES 2001) também atribui o início do movimento ao
continente europeu, onde a poluição atmosférica gerada pelas atividades fabris no início da
Revolução Industrial e o crescimento acelerado das cidades inglesas contribuíram para
sentimentos antissociais. A vida nas áreas urbanas até então tida como sinal de civilização e
superioridade frente à rusticidade da vida no campo, passou a ser criticada e desvalorizada,
gerando sentimentos e atitudes de retorno à vida selvagem como lugar de reflexão e
isolamento espiritual. Essas ideias tiveram grande contribuição dos escritores românticos
europeus deste período, que tinham no contato com a natureza primitiva o lugar da descoberta
32
da alma humana, da inocência infantil, da espiritualidade, do paraíso perdido e da intimidade
com o belo e o sublime. A exemplo, Jean-Jaques Rousseau (1712-1778), em sua obra
“Devaneios do caminhante solitário” descreve:
Moro no centro de Paris. Saindo de casa, desejo ardentemente o campo e a
solidão, mas é preciso ir procurá-lo tão longe que antes de poder respirar à
vontade, encontro em meu caminho mil objetos que me comprimem o coração
e a metade do dia se passa em angústias, até ter atingido o refúgio que vou
procurar. Sou feliz quando pelo menos me deixam terminar meu caminho. O
momento em que escapo ao cortejo dos maus é delicioso e logo que vejo sob
as árvores, em meio à verdura, cério estar no paraíso terrestre e saboreio um
prazer íntimo tão vivo quanto se fosse o mais feliz dos mortais (ROUSSEU,
1995, p.111-112).
Aliada às concepções românticas de natureza, a criação das áreas protegidas como
locais intocados e intocáveis também tiveram a influência das grandes religiões, em especial a
cristã, através do mito do paraíso terrestre, ou seja, de um lugar onde era possível contemplar
as maravilhas da natureza fruto da criação divina, mas pelo qual o homem está fisicamente
separado desde a saída do Éden (DIEGUES, 2001).
Segundo Diegues (2001), a proteção da natureza a partir da concepção de
externalidade e intocabilidade trouxe efeitos negativos e também contradições. Isso porque,
ao mesmo tempo em que as populações tradicionais que ocupavam os locais destinados à
preservação, foram totalmente marginalizadas pela restrição ao uso da terra. Esses espaços
tiveram o acesso facilitado para a classe burguesa, através das práticas ecoturísticas.
Outro fator importante a ser considerado na criação dessas áreas protegidas é a forma
como a relação sociedade-natureza foi compreendida nesse processo. Nela, a “influência das
relações entre os homens sobre as relações entre estes e a natureza” é desconsiderada
(BRESSAN, 1996, p. 23), numa compreensão “naturalista” de meio ambiente, compreendido
em seus aspectos físicos e biológicos como dissociado da sociedade, o que reforça a
dicotomia homem/natureza, típica de concepções científicas e economicistas tradicionais.
Em outras palavras, o enfoque dominante é o do controle de parcelas do
meio natural, apartadas do processo geral de desenvolvimento da sociedade
e, por conseguinte, distantes das concepções que expressam a conveniência
de gestão do espaço em sua totalidade, ou seja, como base física (natural,
territorial etc.) e como realidade social (BRESSAN, 1996, p. 45).
Observa-se, porém, que no final do século XIX, houve uma mudança de foco nas
questões ambientais, que passaram a incorporar preocupações com a manutenção dos recursos
33
naturais para atividades econômicas e para as futuras gerações. O movimento ambientalista
americano dividiu-se então em dois grupos: de um lado os preservacionistas, tendo como
maior representante John Muir, e do outro, os conservacionistas, com o principal expoente
Grifford Pinchot (DIEGUES, 2001).
Pinchot era engenheiro florestal e pregava o uso racional dos recursos naturais e
defendia a conservação da natureza a partir de três princípios básicos: uso dos recursos
naturais pela geração presente; prevenção de desperdícios; e uso dos recursos naturais para
benefícios da maioria dos cidadãos (DIEGUES, 2001).
De acordo com Diegues (2001), Pinchot agia dentro de um contexto de natureza
enquanto mercadoria, que devido ao seu processo lento de regeneração deveria ser utilizada
de forma eficiente pelo manejo, com o objetivo de obter níveis ótimos de produção sem
ameaçar a reposição de seus estoques, para benéficos das gerações presente e futuras. Estas
ideias são tidas como precursoras do desenvolvimento sustentável e estiveram presentes na
concepção de ecodesenvolvimento da década de 1970; nos debates da conferência de
Estocolmo em 1972; nas publicações internacionais Estratégias para a Conservação da
UICN/WWF (1980) e Nosso Futuro Comum (1986); bem como nos debates da conferência
Eco-92 e Rio +20, ambas realizada na cidade do Rio de Janeiro.
Os conservacionistas acreditam ser possível a exploração dos recursos naturais de
forma racional e duradoura. Para isso, defendem as ações de proteção, conservação e
manutenção (MC CORMIK, 1992).
Na concepção conservacionista, as ações de preservação compreendem o resguardo de
elementos da biosfera que não admitem interferências de natureza antrópica, seja pela
fragilidade dos ecossistemas que abrigam, seja pelas funções ecológicas que desempenham.
Como exemplo, têm-se as Áreas de Preservação Permanente, que devido à importância para o
equilíbrio ecossistêmico local precisam manter-se protegidas, devendo ter usos bem restritos.
Já as ações de manutenção, compreendem a utilização de elementos da biosfera, mediante a
manutenção de suas especialidades e a correção de suas deficiências, sem reduzir suas
potencialidades primitivas. As ações de restauração ou recuperação envolvem a reabilitação
de elementos da biosfera a exercerem suas funções primitivas, eliminando os fatores que
contribuem para sua degradação (DENARDIN, s/d).
Mesmo emergindo a partir da análise racional e econômica da natureza, a corrente
conservacionista trouxe novas perspectivas na análise da relação sociedade-natureza,
passando de uma perspectiva “naturalista” que reforça a dicotomia entre ambas, para uma
perspectiva “socioambientalista” na qual a questão ambiental passa a ser integrada à questão
34
social e econômica, a fim de se buscar a partir das relações entre o homem e os elementos da
biosfera, condições ideais para o bem estar de toda a vida no planeta.
Essa busca por um caráter holístico na relação homem-natureza tornou-se mais
contundente após a Segunda Guerra Mundial, período marcado por críticas ao modo de vida
das sociedades capitalista e socialista, e por profecias alarmistas quanto ao futuro incerto do
planeta frente à superpopulação mundial, ao esgotamento dos recursos naturais, as guerras
nucleares, a poluição e as tecnologias opressivas (BRESSAN, 1996).
Conforme destaca Ferreti (2002), após a Segunda Guerra Mundial, a humanidade
passou a perceber que o modelo de acumulação e consumo realizado por meio da exploração
indiscriminada dos recursos naturais, gera efeitos perversos ao funcionamento de ciclos da
natureza e ao próprio homem. Surgem então, movimentos ativistas que passam a propagar
uma nova forma de análise da relação sociedade-natureza, na qual a questão ambiental é
integrada à questão econômica e social e o meio ambiente passa a ser compreendido como o
resultado das interrelações entre sociedade e natureza.
Bernardes e Ferreira (2003) apontam alguns acontecimentos que foram bastante
significativos para a tomada de consciência da sociedade, frente aos riscos impostos pela
industrialização e ao uso indiscriminado das tecnologias. São eles:
a) O Lançamento das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki: com um total de
105 mil mortos a humanidade pode acompanhar o potencial destrutivo do avanço técnico–
científico;
b) Os grandes acidentes ambientais: no período entre 1950 e 1990 houve diversos
acidentes de grande repercussão, como a contaminação da água na Baía de Minamata no
Japão, provocada pela indústria Chisso Corporation no final da década de 1950; e o
vazamento de 40 milhões de litros de petróleo no Alasca em 1989, ocasionado pelo navio
Exon Valdez, que ao se chocar com um rochedo, espalhou o óleo atingindo 250 km²;
c) O livro Silent Spring publicado em 1962, da autora americana Rachel Carlson. A
obra detalhou os perigos dos inseticidas e pesticidas para o meio ambiente e para a saúde das
pessoas. O livro vendeu meio milhão de cópias e o debate suscitado resultou na proibição das
substâncias mais tóxicas listadas pela autora.
A partir destes e de outros acontecimentos que marcaram o século XX como o período
dos desastres ambientais, ampliou-se a percepção de que existe limite à dominação da
natureza e que a produção e consumo ilimitado sob a ótica de uma natureza de recursos
limitados, colocam em risco a vida humana e do planeta como um todo.
35
Essa nova percepção da realidade influenciou a formulação de políticas
públicas nacionais, primeiro nos países desenvolvidos e depois nos países
em desenvolvimento, voltadas a resolução de problemas ambientais que se
multiplicavam e a estabelecer novos padrões de uso dos recursos naturais.
Tratados internacionais começam a ser negociados para encaminhar soluções
para problemas ambientais globais, ao mesmo tempo em que um número
cada vez maior de organizações não-governamentais passou a se interessar
pelo tema e em que os organismos internacionais reorientaram suas
estratégias de ação, incorporando as preocupações com a degradação
ambiental (CUNHA; COELHO, 2003, p. 56).
No início da década de 1970, o movimento ambientalista ganha força com o apoio
científico, através de publicações que alertavam sobre os riscos da produção e consumo
acelerada de mercadorias e a exploração indiscriminada dos recursos naturais. Destacam-se o
Relatório produzido pelo Clube de Roma em 1972, denominado Os Limites do Crescimento,
que alertava para o caráter finito dos recursos naturais e os custos que as poluições colocavam
à vida do planeta; e a teoria do “ecodesenvolvimento” de Ignacy Sachs, que propunha novas
formas de desenvolvimento a partir das características e potencialidades dos ecossistemas e
no manejo sensato dos recursos naturais. Leff (2009) aponta que Sachs propõe que o
desenvolvimento deveria abranger seis aspectos fundamentais: satisfação das necessidades
básicas; solidariedade com as futuras gerações; participação da população envolvida;
preservação dos recursos naturais e do meio ambiente; elaboração de um sistema social que
garanta emprego, segurança e respeito com outras culturas; programas de educação.
Ainda na década de 1970, o movimento ambientalista é marcado pela maior
manifestação ecológica da história: o Dia da Terra, ocorrido em 22 de abril de 1970 nos
Estados Unidos, envolveu cerca de 300 mil pessoas nos diferentes estados americanos. A
partir de então, o ecologismo se tornou um movimento de massa e encontrou o caminho para
a incorporação da questão ambiental na agenda das políticas públicas tanto nacionais quanto
globais (MC CORMICK, 1992).
Cunha e Coelho (2003) destacam que dentro do próprio paradigma conservacionista
emergente, surgem duas diferentes abordagens filosóficas e epistemológicas: uma
denominada ecocêntrica, que considera a Terra como um organismo vivo, o qual só poderá
ser salvo do processo de degradação mediante mudanças radicais nas bases produtivas da
sociedade capitalista; e a outra, denominada corrente instrumental (antropocêntrica), onde o
planeta é visto como um sistema gigante de recursos, que devem ser protegidos pelo seu valor
econômico, sem que isso comprometa os fundamentos filosóficos da sociedade industrial.
Nela, os seres humanos são considerados capazes de utilizar os recursos naturais de maneira
36
controlada e equilibrada, através de técnicas eficientes de manejo, inclusive para as áreas
protegidas.
A hegemonia da corrente instrumental sob a ecocêntrica é tida por Cunha e Coelho
(2003) como o resultado da crescente institucionalização das questões ambientais, onde as
instituições políticas, econômicas e sociais existentes são tidas como capazes de proteger o
meio ambiente por meio de um programa de direcionamento de políticas públicas. Assim,
mesmo reconhecendo o caráter estrutural da problemática ambiental, não há uma oposição às
causas estruturais da insustentabilidade, o que torna o discurso ambiental, em sua maioria,
funcional ao sistema capitalista.
Sob a ótica da corrente instrumental, a problemática ambiental passa a ser discutida
em nível mundial através de grandes conferências internacionais, a começar pela Conferência
das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada na cidade de Estocolmo em 1972.
Um dos pontos mais marcantes da conferência de Estocolmo foi o embate entre
ambientalistas e desenvolvimentistas, impulsionada pelas propostas do Clube de Roma, de
“crescimento zero”, que sugere o congelamento do crescimento da população global e do
capital industrial. Foi também a primeira vez que aspectos políticos, sociais e econômicos do
ambiente global foram discutidos em um fórum intergovernamental. Como resultado, a
agenda da conferência foi ampliada para incluir questões como deterioração do solo,
desertificação, administração do ecossistema tropical, suprimento de água e assentamentos
humanos. A conferência também criou alguns programas e comissões importantes no debate
da problemática ambiental, como o Programa das nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA), o Earthwatch3, e a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e desenvolvimento
(CMMAD) (BERNARDES; FERREIRA, 2003).
Bressan (1996) destaca que a Conferência de Estocolmo além de lançar as bases para
uma legislação internacional de meio ambiente, propunha também a ideia de articulação entre
desenvolvimento e proteção da natureza, que posteriormente resultou na proposta intitulada
ecodesenvolvimento.
A partir desse conceito o processo de desenvolvimento local e regional deve
ser compatibilizado com as características das áreas em questão,
considerando o uso adequado e racional dos recursos naturais e a aplicação
de tecnologias e de formas de organização que respeitem os ecossistemas
naturais e os padrões sócio-culturais (BRESSAN, 1996, p.28).
Plano de Ação relativo à avaliação do meio ambiente mundial, denominado “Plano Vigia”
(Earthwatch) (SOARES, 2003, p. 44).
3
37
O movimento ambientalista passa a influenciar crescentemente as políticas públicas
mundiais a partir da Conferência de Estocolmo. Além disso, o período após a convenção é
caracterizado por um grande crescimento do número e da profissionalização de organizações
não-governamentais ambientalistas (BERNARDES; FERREIRA, 2003).
No Brasil, em consonância com as tendências globais, o movimento ambientalista
ganha maior força no final da década de 1970, quando são desenvolvidas diversas campanhas
importantes, como o movimento para salvar as Sete Quedas, o movimento de defesa da
Amazônia, e o movimento contra a construção de usinas nucleares (VIOLA, 1992).
Segundo Viola (1992), na década de 1980 a principal característica do movimento
ecológico esteve no processo de discussão sobre o desenvolvimento sustentável, que ganhou
força no campo teórico, com a publicação da União Internacional de Conservação da
Natureza (UICN), intitulada Estratégia Mundial para a Conservação de 1980. Essa
publicação apresentou como meta principal a integração entre conservação e desenvolvimento
e conclamou cada país a estabelecer suas diretrizes de ação baseadas em três princípios:
manutenção dos processos ecológicos; preservação da diversidade genética; e uso sustentável
dos recursos naturais.
A década de 1980 também é um marco importante para a questão ambiental no Brasil,
especialmente no que se refere à legislação ambiental e sua repercussão sobre a sociedade
quanto à necessidade de cuidados ao meio ambiente. Desatacam-se o estabelecimento da
Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) em 1981 (Lei 6.938/81), que organiza o
sistema para a conservação ambiental e cria o SISNAMA (Sistema Nacional de Meio
Ambiente) – órgão gerenciador, o CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente) –
conselho deliberativo, e o IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) – órgão executor e
fiscalizador. Essa Política institui no Brasil o início do planejamento ambiental integrado
como forma de orientação ao ordenamento territorial. Como resultados surgem a partir de
1986 diversas resoluções do CONAMA, que vieram a se tornar leis posteriormente. Entre elas
destaca-se a Resolução n. 001/CONAMA, que instituiu a obrigatoriedade da elaboração de
Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) para a
realização de obras geradoras de impactos no ambiente físico, social e/ou biológico (CUNHA;
COELHO, 2003).
Influenciada pela grande popularização das questões ambientais que se deu na década
de 1980, a Constituição Brasileira de 1988 também atribuiu grande destaque à proteção dos
principais ecossistemas brasileiros, incumbindo aos estados e municípios poderes para legislar
38
sobre seus recursos e ordenar seus espaços. Outras duas ações importantes em termos de
legislação ambiental foram o estabelecimento de penalidades aos crimes ambientais instituída
em 1998 pela Lei n. 9.605 e a organização das unidades de conservação que ocorreu por meio
da instituição do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), em julho de 2000
(Lei Federal 9.985) (CUNHA; COELHO, 2003).
Em 1987 a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU
publicou o Relatório Brundtland, conhecido como Nosso Futuro Comum, lançando o conceito
de desenvolvimento sustentável como “aquele que satisfaz as necessidades do presente sem
comprometer as capacidades das gerações futuras para satisfazer as suas” e para o qual, “não
há limites absolutos, mas limitações impostas pelo estágio atual da tecnologia e da
organização social, no tocante aos recursos ambientais e pela capacidade da biosfera de
absorver os efeitos da atividade humana” (CMMAD, 1988, p. 09).
Moreira (1999), Leff (2001) e Cavalcanti (1997) são alguns dos autores que criticam
esse conceito. Para eles, trata-se de um conceito que tende a camuflar as referências
históricas, as contradições e as relações de poder que estão no interior do processo de
construção e reprodução do espaço geográfico e que são responsáveis pelo processo de
degradação ambiental.
Outro aspecto questionado é a utilização do termo “necessidade”, uma vez que não há
uma clareza de que necessidades seriam essas. Necessidade de obter as condições básicas de
sobrevivência ou a necessidade de consumir uma quantidade demasiada de mercadorias cuja
produção, consumo e descarte são realizados em um ritmo cada vez mais rápido e mais
degradante? E ainda, quais as necessidades das gerações futuras? Essas são algumas das
questões que demostram o caráter vago, alienado e alienante desse conceito, que ao ocultar as
causas estruturais da problemática ambiental acaba tornando-se mais um instrumento de
apropriação e interesse do capital.
Na retórica do desenvolvimento sustentável, a década de 1990 é marcada pela
publicação conjunta da UICN/PNUMA/WWF denominada Cuidando do Planeta Terra, e
com a Conferência do Meio Ambiente e Desenvolvimento realizado no Rio de Janeiro em
1992 (ECO 92) que simbolizou um marco da discussão da problemática ambiental em escala
global, tendo a participação de 179 chefes de Estado e de Governo, bem como de uma inédita
participação da sociedade civil por meio do Fórum das ONGs. Na ocasião, foram aprovados
os documentos: a Convenção da Mudança Climática; a Convenção da Diversidade Biológica;
a Agenda 21; o Protocolo de Florestas; e a Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio
39
Ambiente e Desenvolvimento. Esses documentos passaram a ser constantemente avaliados
nas posteriores discussões ambientais globais (BERNARDES; FERREIRA, 2003).
Também ganha destaque a Carta da Terra, proposta na Eco 92 e ratificada pela
UNESCO no ano de 2000. Ela teve como função a regulação das relações entre
desenvolvimento e meio ambiente. Como destaca Boff (2004, p.60) “o mérito principal da
Carta é colocar como eixo articulador a categoria da inter-retro-relação de tudo com tudo”, o
que “lhe permite sustentar o destino comum do Planeta e da humanidade” reafirmando o
paradigma holístico da ecologia.
Ferreti (2002) aponta que apesar dos discursos articulados dentro e fora da Eco 92
terem contribuído para a conscientização de problemas agudos como a pobreza, a exclusão
social e as desigualdades socioeconômicas entre os países, eles partem de empresas
responsáveis pela degradação socioambiental em países mais pobres, mostrando que esse
debate surge a partir de intencionalidade e interesses dos atores hegemônicos ligados ao
capitalismo globalizado.
Em 2002 na 3º Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (Rio+10) realizada em Johanesburgo na África do Sul, foram revistas as
metas estabelecidas na Eco 92 e avaliados os resultados alcançados pelos diversos países no
decorrer dos últimos 10 anos. Na ocasião, foi constatado que os compromissos firmados para
minimizar a degradação ambiental global e impulsionar o desenvolvimento sustentável não se
transformaram em ações efetivas e em alguns casos houve retrocessos, como o da Convenção
sobre Mudanças Climáticas, com a recusa dos Estados Unidos em assinar o Protocolo de
Kyoto (1997), apesar de ser o país mais poluidor e causador do efeito estufa (BERNARDES;
FERREIRA, 2003).
Vinte anos após a Cúpula da Terra (Rio 92), é realizada em junho de 2012 na cidade
do Rio de Janeiro a mais nova Conferencia das Nações Unidas sobre o desenvolvimento
sustentável (chamada Rio + 20). Nela, as discussões estiveram focadas em dois temas
principais: como desenvolver uma economia verde de forma a alcançarmos um
desenvolvimento sustentável e eliminar a pobreza global; e como ampliar a coordenação
internacional para o desenvolvimento sustentável.
Boff (2012, p 04), ao analisar o documento resultante da Conferência, conclui:
O documento final, entretanto, não nos fornece o mapa nem os meios de
percorrê-la. Ele é medroso, sem ambições e sem sentido ético e espiritual da
história humana. Refém de uma visão reducionista e até materialista da
economia, não forjou um novo e necessário software social e civilizacional
40
que nos desse esperança de um futuro que não fosse simplesmente o
prolongamento do passado e do presente. [...] Levá-lo teimosamente avante é
empurrar-nos para a borda de um abismo que se abre lá na frente, num
tempo não muito distante. [...] Há um complexo de crises em curso,
particularmente a do aquecimento global, da insustentabilidade do planeta
Terra e ultimamente a econômico-financeira, atingindo o coração dos países
opulentos, sem saber como saírem dela. Há ainda o crescimento do número
de pobres e miseráveis que em 2008 eram 860 milhões e que agora, devido à
crise global, passaram a um bilhão e duzentos milhões. Muitos analistas
desenham cenários dramáticos para o próximo futuro da Terra e da
Humanidade. Há uma guerra total, movida contra a Terra viva (Gaia) pelas
elites mundiais e pelas mega empresas multilaterais, pela forma como
produzem e acumulam, pondo em risco o sistema-vida e o sistemacivilização. Há poucas chances para uma paz duradoura e uma globalização
solidária.
Como salienta Leonardo Boff, o documento resultante da conferência é carente
justamente dos meios de implementação das ações pretendidas, pois, não há o
estabelecimento de decisões práticas. O que existe nele são apenas intenções, metas, que
representam muito mais os interesses dos atores hegemônicos do capitalismo globalizado, do
que a busca por um modelo de desenvolvimento coerente com as questões socioambientais
globais.
O fato é que a realidade ainda é de uma produção e consumo da economia mundial
ecologicamente insustentável, socialmente injusta e depredadora do meio ambiente. A tão
sonhada sustentabilidade ambiental nos parece no cenário atual, um sonho distante e como
ponderam Lazzarini e Gunn (2004, p 24), só poderá ser alcançada quando houver o
“equilíbrio entre o que é ecologicamente necessário, socialmente desejável e politicamente
atingível” reconhecendo a insustentabilidade dos padrões de produção e consumo
hegemônicos e estabelecendo um novo paradigma de desenvolvimento.
Porém, apesar do discurso ambiental estar fortemente incorporado na atualidade por
organizações econômicas e políticas que buscam, sob a retórica da sustentabilidade, fortalecer
o modelo econômico hegemônico, o movimento ambientalista e a crise ambiental vivenciada
sobretudo a partir da década de 1960 (PORTO-GONÇALVES, 2006), contribuíram na
inclusão da questão ambiental em decisões sociais importantes nas diferentes escalas espaciais
(global, nacional, regional, local), mudando valores e perspectivas no entendimento da relação
sociedade/natureza, questionando a racionalidade econômica dominante e apontando para
uma utilização equilibrada dos recursos naturais e para uma melhor distribuição dos
benefícios sociais e econômicos decorrentes desses usos.
41
Como aponta Leff (2008), a crise ambiental da atualidade marca uma ruptura e
renovação da racionalidade econômica, na qual os paradigmas de conhecimento e modelos
societários são questionados e se propõe a construção de uma nova racionalidade, pautada em
novos valores e saberes e em modelos produtivos sustentados em bases ecológicas e
significações culturais.
Esse paradigma de desenvolvimento no qual a natureza e a cultura são integradas
como forças produtivas (LEFF, 2009), acabou influenciando entre outras ações, a adoção de
formas ativas de manejo nas áreas naturais protegidas, nas quais “as comunidades locais, com
suas práticas e valores, deixam de ser vistas como “saqueadoras da natureza” e passam a
serem encaradas como atores sociais importantes para a conservação dos recursos” naturais
(CUNHA; COELHO, 2003). É o caso das Unidades de Conservação de Uso Sustentável no
Brasil, que são divididas em sete categorias: Área de Proteção Ambiental, Área de Relevante
Interesse Ecológico, Floresta Nacional, Reserva Extrativista, Reserva de Fauna, Reserva de
Desenvolvimento Sustentável e Reserva Particular do Patrimônio Natural. Nessas unidades,
são permitidas atividades que envolvam coleta e uso dos recursos naturais, desde que ocorram
de forma responsável, sem exaurir esses recursos ou comprometer os processos ecológicos
existentes.
Na perspectiva do uso conservacionista, as Unidades de Conservação passam a ter
além da função ecológica, uma função social, já que através de práticas de manejo buscam
conciliar o objetivo de manutenção de serviços ambientais com a exploração dos recursos
naturais pelas populações locais. Esse fato é um indicador do predomínio da corrente
conservacionista no final do século XX e início do século XXI.
Outra ação desenvolvida são os modelos de gestão ambiental pautados no conceito de
totalidade, no qual se busca integrar os diferentes interesses que envolvem o uso dos recursos
naturais e a conservação ambiental. Um exemplo é o manejo integrado de bacias
hidrográficas, cujo propósito é adequar a interferência antrópica às características biofísicas
dessas unidades naturais (ordenamento do uso/ocupação da paisagem, observadas as aptidões
de cada segmento e sua distribuição espacial na respectiva bacia hidrográfica) de forma a
promover a sustentabilidade ambiental e a equidade social (BRESSAN, 1996).
Todavia, para que esses modelos de gestão ambiental possam ser efetivados, se faz
necessário entre outras ações, o estabelecimento de práticas voltadas à intensificação de usos
conservacionistas dos ecossistemas e de seus recursos, seja em áreas protegidas (unidades de
conservação, áreas de preservação permanente e reservas legais), mas também em áreas
urbanas e rurais não protegidas pela legislação.
42
Considerando que nossa pesquisa tem seu objeto em pequenos estabelecimentos
rurais, enfocaremos na sequência, algumas das possibilidades de usos conservacionistas em
áreas de florestas situadas nesses estabelecimentos.
3.3 Usos conservacionistas de florestas em pequenos estabelecimentos rurais:
modificando percepções, criando possibilidades.
A intenção de preservar áreas de floresta em estabelecimentos rurais esteve presente
no primeiro Código Florestal brasileiro aprovado em 1934, no governo de Getúlio Vargas. A
lei previa que os proprietários de terras cobertas por matas, não poderiam cortar mais do que
75% da vegetação nativa existente. Essa primeira versão do código instituiu também as
“florestas protetoras”, que embora com conceito bastante semelhante às Áreas de Preservação
Permanente (APPs), não previa no caso de corpos d’água, as distâncias mínimas de vegetação
destinadas à proteção (INSTITUTO REFLORESTA S/D).
De acordo com o Instituto Refloresta (s/d, p. 17) o código de 1934 praticamente
passou despercebido, pois “os fazendeiros viam a lei como uma restrição incompatível, que
limitaria a exploração econômica da produção agrícola” e por isso “quase ninguém a cumpriu,
e não houve quem a fizesse cumprir”.
Em 1965 foi sancionado um novo Código Florestal (Lei Federal nº 4.771/65), em
vigor até o ano de 2012. Nele, criam-se dois mecanismos de proteção das áreas de floresta nas
propriedades rurais: as áreas de Reserva Legal (RL) e as Áreas de Preservação Permanente
(APPs).
O código de 1965 determina que a reserva legal seja averbada à margem da inscrição
da matrícula do imóvel e que a recomposição da vegetação tenha de ser feita com espécies
nativas. Fixa a possibilidade da compensação da reserva legal por outra área equivalente em
importância ecológica e extensão, desde que no mesmo ecossistema e na mesma microbacia.
Pelo código, essa cobertura vegetal corresponde a uma porcentagem de vegetação
independente das APPs, que varia de 20% até 80% dependendo da Unidade Federativa, e
deve ser conservada ou utilizada sustentavelmente, mediante plano de manejo florestal, com o
objetivo de assegurar a reprodução da biodiversidade (fauna e flora), além da regulação do
clima local, regional e global (BORGES et al., 2011).
As Áreas de Preservação Permanente (APPs) são definidas pela Lei 4.771/65, como
áreas protegidas com objetivo de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade
ecológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem
43
estar das populações. Essas áreas correspondem à faixa de mata ciliar nas margens de cursos
d’água e entorno de nascentes dependendo da largura do rio, abrangendo também, as áreas ao
redor das lagoas, lagos, reservatórios d’água, nascentes d’água, topo de morros, encostas com
declividade superior a 45°, restingas, bordas de tabuleiros ou chapadas, em altitude superior
a1.800 metros (BRASIL,1965).
Ocorre, no entanto, que mesmo com as determinações impostas pela legislação
ambiental, elas não têm sido suficientes para assegurar a manutenção dessas áreas nas
propriedades, tendo em vista, que diante do modelo agrícola consolidado no campo brasileiro,
isto implica inviabilizar economicamente uma parcela significativa da propriedade
(BORGES, et al., 2011).
Esse sentimento anti-florestal, como destacam Rodrigues et al. (2007), deve-se em
grande parte a percepção de que as florestas não possuem valor econômico, que são áreas
improdutivas e verdadeiros obstáculos ao processo de desenvolvimento.
Sob essa perspectiva, se deparam as polêmicas disputas entre ambientalistas e
ruralistas, sobre a regulamentação entre a manutenção florestal e o uso agropecuário do solo
nas propriedades. Em meio a esse conflito de interesses, encontram-se os pequenos
estabelecimentos rurais, que devido a pouca disponibilidade de terra para a prática agrícola
convencional, são utilizados como argumento pela bancada ruralista nas constantes pressões
para mudanças no código florestal do país. Ocorre que, por traz desse discurso estão os
interesses dos atores hegemônicos ligados ao agronegócio, que ao colocar as áreas de floresta
como “causa” dos problemas socioeconômicos na pequena propriedade, tenta mascarar as
causas estruturais dessa problemática, decorrentes de um modelo produtivo alicerçado na
concentração fundiária, no sistema monocultor, no uso indiscriminado de agrotóxicos, no
trabalho degradante e na degradação ambiental.
Nesse sentido, o Novo Código Florestal aprovado pela Lei 12.651 de 25 de maio de
2012 e modificado pela Lei 12.727 de outubro de 2012, demonstra claramente a forma com
que as áreas de florestas são tratadas por aqueles que buscam o desenvolvimento econômico a
qualquer custo. Entre anistias a crimes ambientais e um prazo de até 20 anos para a
recomposição das áreas desmatadas, a Lei determina que propriedades de até quatro módulos
fiscais4 com largura de rio de até 10 metros recomponham a mata ciliar numa faixa que vai de
4
O Módulo Fiscal corresponde a unidade de medida expressa em hectares, fixada para cada
município, considerando fatores como tipo de exploração predominante no município e renda obtida
com a mesma. No Paraná a média para cada módulo fiscal corresponde a 18 hectares (FAEP, 2012, p.
06).
44
5 a 20 metros, dependendo do tamanho da propriedade. (Pelo Código de 1965 a faixa mínima
para essa largura de rio era de 30 metros). Com o novo código, as propriedades de até quatro
módulos fiscais também não precisam mais recompor as reservas legais, pois, passa a valer o
percentual de vegetação nativa existente na propriedade até o dia 22 de julho de 2008. O
código também determina que propriedades maiores de quatro módulos fiscais, poderão
incluir as Áreas de Preservação Permanente no cálculo da Reserva Legal (BRASIL, 2012).
Essas são algumas das mudanças ou “conquistas” como chamam os representantes do
modelo desenvolvimentista, mas que na verdade, representa um retrocesso para a conservação
florestal do país. Essas mudanças devem levar a uma redução significativa de áreas que
deveriam ser recuperadas diante da importância que possuem para a manutenção e qualidade
dos recursos hídricos, conservação dos solos, regulação climática, manutenção da
biodiversidade, entre várias outras funções ambientais, que afetam diretamente a qualidade de
vida da população e da própria produtividade agrícola.
Nesse cenário, a viabilização econômica das áreas de floresta nas propriedades rurais é
uma forma de quebrar esse paradigma dicotômico entre floresta e desenvolvimento, pois,
através de práticas conservacionistas, os proprietários têm a possibilidade de gerar renda,
diversificar as atividades produtivas e manter uma relação diferenciada com as áreas florestais
nesses espaços. Passando de uma perspectiva de enclave econômico, para uma alternativa especialmente para os pequenos estabelecimentos rurais da agricultura familiar - de
enfrentamento dos problemas sociais, econômicos e ambientais, gerados pelas práticas
agrícolas convencionais (RODRIGUES et al., 2007).
As possibilidades de uso conservacionista para essas áreas são bastante diversificadas
e segundo Ahrens (2005), devem ser praticadas de modo a manter os mecanismos de
sustentação do ecossistema, ou seja, manter os processos ecológicos essenciais ao equilíbrio
ecossistêmico local, como por exemplo, a polinização, a dispersão e a germinação de
sementes, a regeneração natural e a diversidade da fauna e flora.
Destaca-se nesse contexto, o manejo florestal sustentável, em que é possível extrair
espécies madeireiras, medicinais, recursos alimentícios, matéria-prima para artesanato e
ornamentação, óleos, resinas, gomas e sementes; a apicultura, que disponibiliza além de
produtos alimentícios o aumento da produtividade em culturas agrícolas através da
polinização; os Sistemas Agroflorestais (SAFs), no qual espécies lenhosas perenes são
cultivadas juntamente com espécies herbáceas de ciclos curtos, médios e longos; e o uso
recreativo, onde as florestas são utilizadas turisticamente, geralmente por visitantes de
procedência urbana (BORGES et al., 2011).
45
Vale destacar que nas áreas de preservação permanente o uso econômico inicialmente
era restrito, porém, a partir da Resolução CONAMA nº 369, de 28 de março de 2006, alguns
tipos de intervenção passaram a ser permitidos, tais como a abertura de trilhas para as práticas
de ecoturismo, e no caso de pequenos estabelecimentos rurais, o manejo florestal sustentável.
Todavia, apesar de existirem diferentes alternativas para viabilizar economicamente as
áreas de floresta de forma conservacionista, essas práticas têm sido pouco desenvolvidas pelos
proprietários rurais, fato que segundo Rodrigues et al. (2007) ocorre principalmente pela falta
de incentivos das políticas governamentais, falta de informações e de assessoria técnica por
parte de órgãos ambientais e extensionistas, além da própria dificuldade do produtor rural em
fazer a manutenção e compreender os benefícios biológicos e econômicos que essas áreas
proporcionam.
As dificuldades apontadas acima estão vinculadas a um contexto político onde
predomina o modelo agropecuário do agronegócio, estruturado na produção em larga escala,
na redução das variedades produzidas, no uso de agroquímicos e em grandes propriedades
rurais, tendo como consequências ambientais a eliminação da cobertura florestal, o aumento
de processos erosivos e perda da fertilidade dos solos, assoreamento e contaminação dos
cursos
d’
água,
redução
da
biodiversidade
local,
entre
outros
impactos
que,
consequentemente, se refletem na redução da produtividade agrícola, no aumento dos custos
requeridos à produção e em dificuldades para a sobrevivência e manutenção dos agricultores
familiares/camponeses em seus estabelecimentos rurais.
Contudo, ainda que as práticas conservacionistas nas áreas de floresta ainda não sejam
tão difundidas, é importante salientar que elas representam para os agricultores
familiares/camponeses, uma oportunidade de viabilização ecológica e econômica dessas
áreas, diversificando e elevando a renda da população local e contribuindo para a
permanência no campo com qualidade, levando também a benefícios diretos e indiretos
proporcionados pela conservação florestal.
Entre o usos conservacionistas apresentados por Borges et al. (2011), o uso recreativo,
tem sido uma atividade potencial para o desenvolvimento de atividades de lazer e turismo nas
propriedades. Isso se deve ao crescente desejo especialmente de moradores das áreas urbanas
pelo contato com as áreas florestais, sejam para atividades de caminhada, práticas de esporte,
conhecimento ou somente contemplação.
Conforme destaca Lima (1972), as florestas tendem a oferecer o oposto da rotina
massificada e artificializada da vida moderna. O silêncio, quebrado somente por ruídos
produzidos pelos seres que ali habitam; o ar puro, livre de poeiras, fumaça e substâncias
46
tóxicas; a amenização da temperatura e as belezas cênicas são alguns dos fatores que as
diferenciam dos espaços cotidianos e as tornam tão atrativas para a visitação.
Para viabilizar esse uso, uma das alternativas é a implantação de trilhas/caminhos para
serem percorridos pelos visitantes e que podem tanto ser utilizados como um atrativo
secundário aos objetivos principais – visitar uma cachoeira, caverna, corredeira, etc.- quanto
ser o próprio sentido da caminhada ou mesmo da visitação (SALVATI, 2003).
3.4 As Trilhas Ecológicas
Andar em trilhas é uma habilidade antiga do ser humano, motivada principalmente
pela necessidade de deslocamento. Contudo, nos últimos anos, a caminhada incorporou um
novo significado. De simples meio de deslocamento, elas passaram a ser um novo meio de
contato e integração com a natureza (ANDRADE, 2003).
O desejo pelo contato e fruição da natureza preservada, fez das trilhas caminhos
construídos com o objetivo de aproximar o visitante com o ambiente natural e atuar como um
espaço de interação e familiaridade com o meio ambiente (KROEFF; VERDUM, 2011).
Em termos conceituais, as trilhas em áreas naturais recebem várias definições e
significados. Para Menezes (1998, p. 12) a trilha é “um corredor linear, na terra ou na água,
com status de proteção e acesso público para recreação e transporte”. Vasconcellos (2006,
p.46) as vê como caminhos “através de um espaço geográfico, histórico ou cultural, traçados
pelo homem para a sua mobilidade física ou intelectual”.
Guillaumon (1977) acredita que a trilha é um percurso em um sítio natural e/ou
artificial que consegue promover um contato mais estreito entre o homem e a natureza,
tornando-se um instrumento pedagógico importante que possibilita o conhecimento de fauna,
flora, geologia, dos processos biológicos, das relações ecológicas do meio ambiente e de sua
proteção.
Na definição apresentada por Salvati (2003, p. 1):
Trilhas são caminhos existentes ou estabelecidos, com diferentes
formas, comprimentos e larguras, que possuem o objetivo de
aproximar o visitante ao meio natural, ou conduzi-lo a um atrativo
específico possibilitando seu entretenimento ou educação, através de
sinalizações ou recursos interpretativos.
Sabendo que existem definições para o termo “trilha”, Costa (2006, p. 23) chama a
atenção para o fato de todas elas apresentarem duas características em comum: “o fato dela
47
permitir ao caminhante o contato com a natureza e que é através dela que se pratica o
ecoturismo5”.
No fomento da prática recreativa, as trilhas possuem diferentes tipologias, tais como:
trilhas ecológicas, ecoturística, geoturísticas, interpretativas, entre outras. Das tipologias
apresentadas, as que são utilizadas no decorrer deste estudo são as trilhas ecológicas e as
trilhas interpretativas. A diferença entre ambas está no fato da trilha ecológica permitir uma
contemplação passiva do ambiente, enquanto que a trilha interpretativa busca através de
elementos originais e ilustrativos, traduzir fatos e fenômenos que estão além das aparências,
ou que mesmo aparentes, não são comumente percebidos pelos visitantes, por isso, são
consideradas importantes instrumentos para as atividades de educação ambiental (COSTA,
2006).
Atualmente a caminhada em trilhas é uma das principais atividades do ecoturismo
(KROEFF; VERDUM, 2011), muito embora, elas tenham sido corriqueiramente utilizadas
apenas como meio de deslocamento para determinado atrativo de alto valor estético, e não
como o sentido próprio da caminhada. Isso faz com que o indivíduo, na ânsia de chegar ao
atrativo principal, geralmente utilizado como ponto final da trilha, deixe de apreciar e
vivenciar o ambiente como um todo, fazendo com que a caminhada na trilha não tenha um
valor em si (VASCONCELLOS, 2003).
Nas Unidades de Conservação além de ser um instrumento da prática recreativa, as
trilhas também são consideradas importantes ferramentas de manejo e de deslocamento da
população residente dentro e no entorno da unidade, para realizar atividades de subsistência
tais como agricultura, extrativismo, pesca, etc.(MAGRO; TALORA, 2006).
As trilhas também têm sido uma ferramenta utilizada no desenvolvimento de
atividades de educação ambiental. Autores como Andrade e Rocha (1990); Guillaumon
(1997); Schellhas (1986); Vasconcellos (1997); Andrade (2003); Menguini (2005); Magro
(1999); Salvati (2003); Bedim (2004); Lechener (2006); Feola (2006); Costa (2006), entre
outros, têm destacado o potencial educativo/pedagógico das trilhas. Eles acreditam que o uso
de trilhas permite desenvolver e praticar a observação, percepção, contemplação e
De acordo com órgão responsável pelo setor turístico no Brasil, a EMBRATUR, “ecoturismo é um
segmento da atividade turística que utiliza de forma sustentável o patrimônio natural e cultural,
incentiva a conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista pela interpretação do
ambiente, promovendo o bem estar das populações (...). (EMBRATUR, 1994, apud SERRANO, 1997,
p.17).
5
48
interpretação de elementos naturais observados. Trata-se de uma oportunidade de integração
com a natureza, conhecimento de diversas funções ambientais de espécies e ecossistemas e
sensibilização dos visitantes para as causas conservacionistas.
Porém, como destaca Vasconcellos (1997) as trilhas ecológicas por si só, não se
concretizam como um instrumento para sensibilizar ou conscientizar ambientalmente os
visitantes. Para isso, é necessária a adoção de recursos interpretativos que instiguem a
percepção dos indivíduos, de forma criativa, atrativa e motivadora, por meio de pontos
estratégicos para paradas e interpretação.
Nessa perspectiva, apresentamos na sequência, a importância da percepção e
interpretação ambiental como método para difundir a educação ambiental nas trilhas
ecológicas.
3.4.1 A Percepção e Interpretação ambiental como objetivos das atividades recreativoeducativas em trilhas ecológicas
A percepção e a interpretação ambiental têm sido comumente utilizadas como
instrumentos para a educação ambiental. Como enfatiza Melazo (2005), conhecer o modo
como os indivíduos percebem e entendem o ambiente contribui na construção de
metodologias capazes de despertar a tomada de consciência frente aos problemas ambientais e
estimular ações conservacionistas.
A percepção ambiental também tem sido um instrumento utilizado pela ciência
geográfica, como forma de analisar a interrelação do homem com o meio e o modo como os
indivíduos percebem e entendem o espaço em que habitam (COSTA; MELLO, 2005).
Nas trilhas, a percepção e a interpretação ambiental são utilizadas como instrumentos
de manejo, de sensibilização e de educação dos visitantes. Através delas, os indivíduos são
instigados a desenvolver reflexões, sensações e emoções, frente às ocorrências, fatos,
fenômenos e realidade dos sistemas ambientais observados (VASCONCELLOS, 1997).
A percepção ambiental é definida por Costa e Mello (2005), como a maneira pela qual
cada indivíduo sente e compreende o meio ambiente, através da apreensão de objetos e
sentidos dentro do campo sensorial.
Na percepção, os sentidos, principalmente a visão, são partes necessárias e
fundamentais (OLIVEIRA; MACHADO, 2004). Entretanto, a percepção também está
associada a processos mentais, cognitivos e a uma série de simbolismos existentes em cada
indivíduo e em cada grupo social, com suas diferenças culturais e até limites fisiológicos ou
49
biológicos, que acabam influenciando na interrelação e percepção da natureza (MELAZO,
2005).
Oliveira e Machado (2004) destacam que o processo de percepção ocorre em dois
momentos. Em um primeiro momento ela é individual e seletiva, sujeita a valores e
experiências prévias e memórias. Em seguida, entram em ação os filtros culturais, sociais e
ainda, individuais, tendo como papel importante os aspectos econômicos e as vivências e
experiências que cada indivíduo dispõe conforme sua idade, sexo e grau de escolaridade.
Fatores como presença de outros visitantes, encontro entre grupos e tipo de atividade
desenvolvida, também influenciam no processo de percepção, bem como, na qualidade da
experiência vivenciada (TAKAHASHI, 2004).
Para Tuan (1980, apud COSTA, 2006) a percepção do indivíduo sobre o ambiente
visitado é puramente estética, e por isso, a necessidade de desenvolver medidas que
provoquem no visitante a empatia em relação à vida e aos valores dos habitantes do local,
bem como, a consciência dos possíveis impactos que podem ser desencadeados pela visitação.
Takahashi (2004) ressalta que a percepção dos impactos nas trilhas é algo bastante
limitado por parte do visitante, que geralmente se reduz a presença ou não de lixo. A autora
relata que em estudos realizados em parques norte-americanos, constatou-se que a maioria dos
visitantes classificou a condição das áreas visitadas como boas ou excelentes, mesmo em
locais onde mais de ¾ do solo se encontrava compactado em razão do excessivo pisoteio. Os
poucos visitantes que perceberam a presença do impacto, responderam, entretanto, que essa
condição não afetava a qualidade de sua visitação.
Esse fato pode ser explicado pela pouca ou nenhuma consciência ecológica por parte
do visitante, que na grande maioria, sob a ótica do “consumo do verde”, busca somente a
satisfação e o bem estar individual, abdicando de qualquer responsabilidade ou preocupação
com o ambiente visitado.
Apesar disso, a percepção ambiental tem sido bastante utilizada como instrumento de
manejo das trilhas, especialmente por meio de metodologias ligadas a interpretação ambiental
que tendem a proporcionar ao visitante o conhecimento do local e a motivação de interagir
com o ambiente visitado, bem como, de tomar “consciência não só de suas belezas cênicas,
mas de seus problemas (sociais, econômicos, políticos e ambientais)” (COSTA, 2006, p. 24).
Conforme enfatiza Vasconcellos (1997), as pessoas que buscam atividades de lazer
como caminhada em trilhas, geralmente não estão à espera de leituras e ensinamentos. Por
isso, faz-se necessário desenvolver a arte e a técnica da interpretação ambiental, na qual os
50
visitantes são instigados a perceber, conhecer e compreender o ambiente através da
experiência direta e de meios ilustrativos.
A interpretação ambiental surge, assim, como “um instrumento de comunicação, que
favorece as conexões intelectuais e emocionais entre os interesses da audiência e os
significados inerentes aos recursos” (VASCONCELLOS, 2006, p. 23). Ela é uma forma
estimulante de fazer com que as pessoas entendam o seu entorno ecológico, para em seguida,
sensibilizá-las a uma nova postura ética em prol das questões ambientais. A linguagem da
natureza traduzida para a linguagem comum das pessoas - para que percebam um mundo que
nunca tinham visto antes - e o modo como essa tradução é feita, são fatores que diferenciam a
interpretação ambiental da simples comunicação de informações (VASCONCELLOS, 1997).
Milano (1997) define a interpretação ambiental como:
[...] uma atividade educativa, cujo propósito é dar a conhecer o significado
dos recursos através de aspectos originais, por experiência direta ou por
meios ilustrativos, ao invés do simples comunicar de sua significância ou
importância. As técnicas de interpretação em áreas naturais silvestres
objetivam confundir as atividades de recreação e educação,
imperceptivelmente, de maneira que o visitante desenvolva sua Educação
Ambiental sem se perceber disso. (MILANO, 1997 apud COSTA, 2006, p.
27-28).
Para Silva et al. (2006, p.195) a interpretação ambiental é uma “oportunidade de
desenvolvimento humano que estimula a capacidade investigadora, levando o homem a
repensar seu modo de ver e sentir o planeta como um todo, a partir da leitura e da percepção
da realidade ambiental”.
Nesta perspectiva, Melazo (2005) explica que a junção entre a percepção e a
interpretação ambiental tem por objetivos proporcionar ao indivíduo e a comunidade, uma
maior sensibilização em relação ao meio ambiente visitado, fortalecendo a cidadania, as
relações interpessoais com a natureza e acelerando o desenvolvimento de atitudes “capazes de
produzirem novas ações coerentes com a sustentabilidade ambiental, cultural, econômica,
social e espacial” (p. 51).
Boff (2003) destaca que enquanto intérprete da paisagem, o homem sente a vida a
partir de sua própria experiência e busca novas sensações através de uma prática sinestésica
própria, interiorizando-a por meio de imagens, memórias e significações. Esta internalização
por sua vez, contribui para consolidar uma nova postura ética em relação ao meio ambiente,
concomitante à tomada da consciência de seus limites e ao desenvolvimento de uma
51
espiritualidade ecológica capaz de promover o respeito aos humanos e a todos os demais seres
da natureza.
Kroeff e Verdum (2011) chamam a atenção para o fato de que as potencialidades de
percepção e interpretação ambientais das trilhas ecológicas normalmente não são
aproveitadas, sendo as trilhas utilizadas apenas como um meio de deslocamento para um
atrativo de valor estético e não para a reflexão, questionamento e compreensão da relação
homem-natureza. Para esses autores, as trilhas devem ser o próprio sentido da caminhada,
onde o indivíduo é chamado a interagir com o ambiente visitado, descobrir novas paisagens,
entender os processos ambientais que a formam e adquirir maior familiaridade com o
ambiente natural.
Para Vasconcellos (1997), ao estimular a percepção e a interpretação ambientais, as
trilhas se tornam caminhos geográficos capazes de traduzir fatos e fenômenos além das
aparências, e que comumente, olhos distraídos não conseguem enxergar.
Ao invés de simplesmente transmitir informações de forma literal, as trilhas
interpretativas buscam revelar os significados e as relações com o meio ambiente. Aliando
entretenimento, significado, organização e também uma mensagem a ser comunicada
(ANDRADE; ROCHA, 2008). Para isso, a interpretação ambiental deve estar organizada em
torno de um tema, ser prazerosa, apresentar informações relevantes, significativas
(VASCONCELLOS, 2006), e principalmente, utilizar informações a partir de investigações
científicas (MOREIRA, 2011).
Nas trilhas, a interpretação ambiental pode ser realizada com a presença de guias
(trilhas guiadas) ou sem a presença de guia (trilhas autoguiadas) (ANDRADE; ROCHA,
2008). Em trilhas guiadas, o condutor desempenha um importante papel na experiência do
visitante, pois é através dele, que o indivíduo é conduzido a observar, sentir, descobrir e
questionar sobre fatos e fenômenos relacionados ao tema em questão. Por isso, a qualidade da
interpretação ambiental depende muito da capacidade, preparo e interesse desse profissional
(MOREIRA, 2011).
Nas trilhas autoguiadas, nas quais a interpretação é estimulada por meios de placas,
painéis e folders, folhetos ou oralmente antes do visitante dar início ao percurso, a eficiência
da interpretação ambiental depende fundamentalmente da qualidade do material
interpretativo, o qual deve adotar uma linguagem amena, organizada e temática, de modo a
instigar no visitante o interesse pelo tema estabelecido (VASCONSCELLOS, 2003).
No geral, as áreas florestais oferecem inúmeras possibilidades interpretativas. Os
temas para a interpretação são bastante variados, podendo ter como enfoque a história local,
52
antropologia, relação homem-natureza, relações alimentares, vida social dos animais,
biodiversidade, comunicação com animais, relação de tamanho das plantas (altura, diâmetro e
volume), uso dos sentidos (cores, tons, som dos pássaros e do vento nas árvores), entre vários
outros (VASCONCELLOS, 1997).
Silva e Junior (2010) destacam que em áreas de floresta, as árvores são os elementos
mais importantes a serem considerados no processo de interpretação, pois na medida em que
estruturam a floresta, dão característica ao ecossistema e são os elementos mais visíveis na
paisagem. Por isso, muitas vezes a caracterização florística, o grau de beleza e o destaque no
ambiente, são utilizados como referência para determinar o traçado original das trilhas e para
definir os pontos interpretativos. Além disso, os autores destacam que fragmentos mais
densos passam uma sensação de mistério, de algo a ser descoberto, e isso acaba instigando a
curiosidade e a aspiração do visitante em fazer o percurso.
Silva e Junior (2010) acreditam que a interpretação ambiental em área de floresta é
capaz de promover: a) sensibilização ambiental: obtida quando a abordagem do guia ou de
materiais interpretativos permitem ao visitante perceber as interações ecológicas existentes na
floresta com mais facilidade, internalizar a importância da conservação desta e se emocionar
com a maneira destrutiva com que o ser humano interage com ela; b) compreensão ambiental:
obtida na medida em que o visitante entende a dinâmica dos sistemas naturais na floresta e a
forma com que o ser humano participa dessa dinâmica; e c) a responsabilidade ambiental:
alcançada ao criar laços afetivos com a floresta por meio da sensibilização e ao compreender
melhor o efeito de suas ações nesse ambiente, a tomada das responsabilidades é facilitada.
A responsabilidade ambiental e a verdadeira compreensão das relações de um
ecossistema, para Silva e Junior (2010) são facilitadas, mas dificilmente serão alcançadas,
devido ao curto tempo da visita e outras questões de ordem subjetiva. Contudo, estimular a
percepção e a interpretação ambiental, pode ser uma maneira eficiente de instigar a
consciência ambiental dos visitantes, de modo que eles primem pela sustentabilidade,
melhorando inclusive a qualidade da visitação, uma vez que, estando mais sensibilizados para
as causas conservacionistas, os visitantes podem agir de maneira mais responsável em relação
ao ambiente visitado.
Considerando que nos pequenos estabelecimentos rurais, devido ao tamanho do
fragmento de floresta, as trilhas são geralmente de curta distância, o desenvolvimento de
atividades interpretativas pode ser uma estratégia eficiente para aperfeiçoar a experiência
vivenciada nas trilhas, aumentar o tempo gasto na realização do percurso e atrair um maior
53
número e diversidade de visitantes. Neste contexto, Apresentamos a seguir, alguns dos
benefícios e problemáticas do uso de trilhas ecológicas nesses estabelecimentos.
3.5 Trilhas Ecológicas em Pequenos Estabelecimentos Rurais: Potencias e Problemáticas
Consideradas intervenções de baixo impacto ambiental, as trilhas ecológicas são
permitidas tanto para a Reserva Legal quanto para as Áreas de Preservação Permanente, que
legalmente, possuem uma possibilidade de intervenção econômica mais restrita (CONAMA
nº 369/2006).
Nos pequenos estabelecimentos rurais, as trilhas têm sido uma alternativa para
desenvolver ou incrementar a oferta turística local e gerar renda, seja diretamente cobrando
uma taxa de visitação, ou indiretamente, por meio de refeições servidas por adesão ou
comercialização de produtos locais e regionais (SILVA, 2006).
A viabilização social e econômica através das trilhas, para Jesus e Ribeiro (2005)
acaba se refletindo em ações de preservação, manutenção e recuperação das áreas de floresta
nas propriedades, tendo em vista, que quanto mais preservado estiver o fragmento de floresta,
maior será sua atratividade para a visitação.
Através das trilhas, as áreas legalmente protegidas deixam de serem espaços
economicamente perdidos na propriedade e passam a ser uma oportunidade de renda e
qualidade ambiental. Ao conservar ou recuperar áreas anteriormente degradadas por outras
formas de apropriação e uso do solo nas propriedades, os proprietários acabam obtendo
benefícios não apenas econômicos, mas também socioambientais, já que a manutenção dessas
áreas afeta diretamente qualidade do ambiente local e, consequentemente, a qualidade de vida
da população residente no entorno.
As trilhas também podem promover a cooperação da comunidade local para que
fragmentos florestais de diversas propriedades sejam integrados através de um circuito de
trilhas, possibilitando a geração de renda e conservação de áreas florestais em diferentes
localidades e o aumento no potencial atrativo das trilhas, através de elementos naturais,
arquitetônicos e humanos que se diferem de uma propriedade para outra e podem
proporcionar experiências ricas à visitação (LECHENER, 2006).
No Recanto Renascer, onde se localizam as duas trilhas ecológicas utilizadas como
foco da investigação empírica dessa dissertação, é possível afirmar que essa integração
ressaltada por Lechener (2006) existe, pois uma das trilhas do local possui boa parte de seu
traçado no fragmento de floresta da propriedade vizinha, o que possibilita uma maior
54
diversidade de atrativos na trilha e um percurso de maior distância. Contudo, a renda obtida
com a visitação ainda permanece apenas com o proprietário do Recanto Renascer.
Porém, apesar dos benefícios socioeconômicos e ambientais, o uso das trilhas
ecológicas também pode trazer uma série de impactos indesejáveis tanto ao ambiente quanto
aos visitantes e gestores da atividade. Esses impactos, segundo Barros e Dines (2000),
geralmente estão associados à falta de planejamento, aumento no número de visitantes e
intensidade das visitações.
É importante considerar que as áreas de fragmentos florestais em estabelecimentos
rurais são geralmente pequenas, em virtude da ocupação do entorno e possuem maior
suscetibilidade a impactos, se comparados aos fragmentos de maior porte pertencentes às
Unidades de Conservação. Assim, impactos ambientais comumente atribuídos à implantação
e uso das trilhas, tendem a ser intensificados nesses locais.
Dentre os possíveis impactos proporcionados ao ambiente natural através das trilhas,
autores como Takahashi (1998), Feola (2006), Andrade e Rocha (1990), Takahashi (2004),
Costa (2006), Lechener (2006) e Magro (1999) destacam: erosão e transporte de solos;
contaminação de rios e outros corpos d’água por assoreamento; perda da vegetação ao longo
da trilha; introdução de espécies invasoras; aumento do acesso às áreas por espécies
predadoras ou indesejáveis; perturbações/deslocamento da vida selvagem; fragmentação de
habitats; alargamento do corredor e do piso da trilha; usos múltiplos/sobreposição de usos;
perda da borda crítica; ruptura no talude; aprofundamento do leito da trilha; entupimento por
sedimentos em drenos, barragens de água, drenagens e bueiros; inundação do piso da trilha;
redução do banco de sementes do solo; e o uso indevido, não ordenado ou intensivo da trilha
por comunidades locais.
Barros e Dines (2000) indicam que os impactos se dão sobre o solo, água, vegetação e
fauna local. Conforme os autores, o impacto sobre o solo tem início com a destruição da
serrapilheira, seguido pela compactação decorrente do pisoteio, causando alterações no
processo de aeração, temperatura, umidade, nutrição e organismos. A redução da capacidade
de infiltração causada pela compactação tende a aumentar o escoamento superficial e
consequentemente acelerar os processos erosivos.
Magro (1999) ressalta que a compactação no solo afeta diretamente o crescimento de
novas plantas e o desenvolvimento das já existentes, pois, suas taxas de crescimento e
capacidade reprodutiva são diminuídas na medida o comprimento da sua haste é reduzido por
sua base apresentar dificuldade em se expandir no solo compactado. Além disso, as perdas da
cobertura vegetal e da matéria orgânica intensificam os processos erosivos, reduzindo o banco
55
de sementes do solo e consequentemente, a propagação das plantas. Outra ação impactante na
vegetação destacada por Andrade e Rocha (2008) é a retirada de espécies nativas ou exóticas
pelos visitantes, como bromélias, orquídeas, entre outras.
Neste contexto, a fauna também é afetada principalmente pela mudança em seu
habitat, causado, entre outros fatores, pela compactação do solo e retirada da vegetação. Os
impactos, também podem ser de forma direta através da morte de animais, da caça, da pesca,
da introdução de espécies e distúrbios alimentares provocados por restos de alimentos
deixados ou fornecidos pelos visitantes (COSTA, 2006).
Segundo Pontes (2006), a intensa visitação em áreas próximas a corpos d’água
(cachoeiras, córregos, rios e poços) situadas ao longo da trilha, pode provocar impactos sobre
espécies aquáticas raras ou pouco conhecidas, que não toleram aumento da turbidez da água e
modificação do leito dos corpos hídricos.
A utilização das trilhas pode provocar a morte de pequenos vertebrados terrestres, ou
então, no caso de espécies taxonômicas como as serpentes, o encontro com os visitantes pode
gerar riscos a ambos, pois, tanto o visitante pode ser atacado pelo animal quanto matá-lo,
principalmente por vê-lo como um elemento de risco e não como um ser que está em seu
habitat natural (FARIA; MORENI, 2000).
O lixo gerado pela visitação, especialmente plásticos se não devidamente descartado é
também um problema para a fauna local, pois causa poluição do habitat e, se ingeridos,
podem causar intoxicação e morte. Mesmo quando as áreas da trilha oferecem lixeiras para o
descarte de materiais, elas podem ser utilizadas pelos animais como uma fonte fácil de
alimentos, alterando o comportamento natural de algumas espécies e sendo armadilhas fatais
para outras. Galões altos e sem tampas podem ser facilmente escalados durante a noite por
animais que depois não conseguem sair e acabam morrendo ou pela falta de água e comida,
ou afogadas pela água da chuva (PONTES, 2006).
Em relação aos recursos hídricos, Pontes (2006) destaca que os impactos são
provenientes da sedimentação gerada pela erosão do solo, do lixo lançado por visitantes, da
contaminação patogênica, entre outros fatores, que acabam por diminuir a quantidade de
oxigênio dissolvido na água, afetando sua qualidade e alterando o desenvolvimento e a
sobrevivência de plantas e animais.
Quanto aos impactos sociais, Andrade e Rocha (2008), Barros e Dines (2000),
Takahashi (2004), Lechener (2006), Magro (1999) e Costa (2006) destacam como os mais
corriqueiros: os congestionamentos, excesso de lixo, vandalismos (pichações, depredações,
etc.), choque cultural, perda da autenticidade e integridade das tradições culturais, conflito
56
entre visitantes e moradores da comunidade local, conflito entre os visitantes e sua
insatisfação com a experiência vivenciada.
O número de pessoas que o visitante pode encontrar ao longo das trilhas torna-se um
impacto, quando este interfere diretamente na qualidade da experiência da visitação, uma vez
que, algumas pessoas valorizam a sensação de isolamento, de modo que o encontro com os
demais visitantes pode diminuir a qualidade de sua experiência (BARROS; DINES, 2000).
Candiotto (2010) destaca que nas diversas modalidades de turismo, o convívio entre
visitantes e moradores do local nem sempre corresponde a uma relação harmônica e
construtiva, pois muitas vezes o comportamento de superioridade frente aos hábitos e cultura
da população local por parte dos visitantes, leva a conflitos, desvalorização cultural e ao
denominado efeito demonstração, no qual a população residente busca incorporar o
comportamento e o estilo de falar e de vestir dos visitantes, por acreditarem que estes, são
melhores e mais modernos.
Candiotto (2010) e Oliveira e Melo (2012) também apontam a apropriação predatória
do ambiente por parte do visitante/turista, que busca nesse espaço um lugar idealizado,
bucólico e com os mesmos padrões de qualidade e conforto ofertados na cidade, não
considerando nesta relação, as especificidades do ambiente e o modo de vida já existente no
local.
Entre os possíveis impactos econômicos, Costa (2006) destaca a especulação
imobiliária com sobrevalorização de terras e imóveis rurais, o aumento do custo de vida e a
concentração e/ou perda de renda da comunidade local.
O aumento no número de visitantes pode exigir investimentos extras em
infraestruturas e atividades de manutenção nas trilhas, elevando as despesas e diminuindo a
renda obtida com a atividade. Além disso, no caso dos pequenos estabelecimentos, cujos
gestores das atividades são os membros da família e geralmente agricultores familiares, a
intensa visitação nas trilhas pode demandar a necessidade de contratar empregados,
descaracterizando a essência de uma unidade de produção e vida familiar (UPVF).
Todos esses fatores demostram que o uso de trilhas ecológicas em práticas recreativas
exige planejamento e um plano de manejo coerente às especificidades tanto ecológicas quanto
socioeconômicas locais. O objetivo do planejamento e do plano de manejo está em evitar ou
minimizar impactos indesejáveis desencadeados por uma construção e visitação inadequadas,
que podem tanto afetar o equilíbrio ambiental local, quanto à qualidade da experiência
vivenciada e o contentamento de visitantes e moradores do local.
57
Nesse sentido, considerando o objeto e o objetivo geral dessa pesquisa, o próximo
item abordará as principais técnicas para a implantação e o manejo de trilhas ecológicas em
áreas florestais.
58
4 PLANEJAMENTO, CONSTRUÇÃO E MANEJO DE TRILHAS ECOLÓGICAS
EM ÁREAS FLORESTAIS
4.1 Planejamento
O planejamento em um sentido amplo pode ser entendido como um processo racional,
contínuo e permanente de ordenação e previsão, destinado a resolver os problemas que afetam
uma sociedade em determinada época e espaço. Ele é, portanto, uma ferramenta fundamental
de gestão (FLORIANO, 2004).
Quando a ação planejada corresponde à implantação de uma trilha ecológica, o
planejamento tem a função de garantir a integridade do meio físico e biológico, controlar e
limitar o uso dos recursos naturais e atrativos, e a qualidade e segurança da visitação
(SIMIQUELI et al., 2009).
Para Costa et al. (2003), o planejamento de trilhas deve ser uma atividade
interdisciplinar, na qual diversos especialistas ligados à pesquisa ambiental (geógrafos,
ecólogos, biólogos, engenheiros florestais, etc.) devem estar envolvidos, a fim de avaliar e
minimizar as alterações físicas e biológicas do meio.
Na linha da interdisciplinaridade, o americano Larry Lechener desenvolveu em 2006 o
Material: “Planejamento, Implantação e Manejo de Trilhas Ecológicas”, publicado na série
Cadernos de Conservação da Fundação O Boticário de Proteção a Natureza, propõe a
abordagem integrada para o planejamento de trilhas a fim de garantir a sustentabilidade das
trilhas e a satisfação daqueles que as utilizam (Figura 3).
59
Figura 3: Passos para uma abordagem integrada de trilhas
.
Fonte: LECHENER (2006).
Lechener propõe nessa abordagem integrada que todas as fases de manejo (planejar,
construir, monitorar e manter), estejam vinculadas por intermédios de retorno e interações
contínuas, demonstrando uma interdependência entre elas e a necessidade de que sejam
desenvolvidas de forma integrada e também conjunta.
Seguindo os passos da abordagem integrada proposta por Lechener (2006), Simiqueli
et al. (2009) destacam que o planejamento de trilhas deve respeitar o deslocamento e hábitos
dos animais silvestres, controlar os processos erosivos, organizar um sistema de drenagem da
água, sinalizar vias de acesso e considerar os impactos provenientes do uso público das
trilhas, sejam eles positivos ou negativos. Os objetivos da trilha, o perfil dos usuários e o
contexto e características biofísicas e sociais da área pretendida, também são elementos que
devem ser considerados e compreendidos.
Com um planejamento adequado, Lechener (2006) ressalta que as trilhas podem
potencialmente alcançar objetivos conservacionistas, aumentando as oportunidades sociais
com baixo impacto ambiental e garantindo a satisfação e a segurança de seus usuários.
Andrade e Rocha (1990) destacam que quando bem planejadas e devidamente
mantidas, as trilhas oferecem impactos mínimos ao ambiente, que raramente excedem 2% do
total da área utilizada e concentram-se geralmente em 1 metro de cada lado, no corredor da
trilha e nos locais de acampamento, abrigos e demais espaços de agrupamento de visitantes.
Entretanto, por ser considerada uma atividade de baixo impacto ambiental, é comum
que as trilhas sejam implantadas sem um planejamento formal ou sem que as condições e
características naturais e humanas da área sejam compreendidas. Isso faz com que impactos
60
indesejáveis ao ambiente, a população local e aos próprios visitantes sejam potencializados,
aumentando riscos de acidentes, custos de construção, manutenção e em alguns casos a
própria inutilidade da trilha.
Assim, Andrade (2003) destaca que o planejamento se mostra uma etapa
extremamente importante no processo de implantação e manejo das trilhas ecológicas. Sua
eficácia garante a proteção dos recursos naturais, minimiza impactos indesejáveis, maximiza a
qualidade da experiência da visitação, oferece segurança aos usuários e reduz gastos
desnecessários com infraestruturas e atividades de manutenção.
Nas seções seguintes, apresentamos os principais elementos que devem ser
considerados para o planejamento de uma trilha ecológica, no sentido de integrar o uso e
proteção dos recursos naturais, a segurança e satisfação dos usuários, e atender aos objetivos
dos proprietários rurais.
4.1.1 Objetivos de uma trilha ecológica
A primeira etapa do planejamento começa com a definição dos objetivos da trilha, que
posteriormente nortearão as decisões tomadas à implantação e à manutenção das mesmas. Por
isso, os objetivos devem ser claros e coerentes às características sociais, econômicas e
ambientais da área, de modo a evitar as ações e os impactos indesejáveis (ANDRADE, 2003).
Lechener (2006) propõe algumas questões que podem contribuir para a definição dos
objetivos e também, para que o planejador verifique se as intenções estabelecidas para a trilha
estão coerentes ao uso conservacionista. São elas: Porque implantar uma trilha nesta área? O
que queremos e o que podemos alcançar com essa trilha? Qual é o público alvo? O que vai ser
construído? Onde vai ser construído? Quem vai construir? Porque vai ser construído? Quando
vai ser construído?
É importante que os objetivos priorizem a integridade do ecossistema, o senso de
responsabilidade e compromisso com ambiente visitado e a melhoria da qualidade de vida da
população residente. Caso contrário, diversos elementos podem ser acrescentados para o
conforto e satisfação daqueles que o visitam, mesmo que isso traga artificialidade à paisagem
e impactos negativos ao ambiente local.
61
4.1.2 Usuários
Identificar o perfil do visitante, se idoso, jovem, criança, portador de necessidades
especais, entre outros, é um elemento importante para o planejamento, principalmente para
que a trilha possa ser segura, acessível e atrativa.
Implantar uma trilha incoerente ao perfil dos visitantes pode gerar situações
indesejáveis tanto para quem à visita, quanto ambientais. Um exemplo é quando a largura do
piso não condiz com as características do visitante, que acaba utilizando as áreas marginais
como passagem, alargando o corredor da trilha e acelerando as ações erosivas. Ou então,
devido à falta de estruturas adequadas, o visitante se depara com situações de risco,
desconforto e insegurança na realização do percurso (LECHENER, 2006).
Quando planejadas para atender crianças em idade escolar, as trilhas devem ser curtas
(100 a 500 m), apresentar equipamentos de segurança, sinalização, pavimentação (pedras,
tijolos ou madeira), ter mais de 170 cm de largura e permitir o acesso aos portadores de
necessidades especiais. Idosos também necessitam de trilhas bem estruturadas e de fácil
acesso e locomoção. Se os visitantes forem preferencialmente jovens e adultos, a trilha pode
ser mais longa, ter um nível maior de dificuldade em seu percurso, manter seu piso original,
ser mais estreita e com menos equipamentos de segurança e sinalização (ANDRADE;
ROCHA, 2008).
Lechener (2006) aponta algumas diretrizes gerais para o planejamento de acordo com
o perfil do visitante, conforme exposto na tabela 1.
Tabela 1 – Diretrizes gerais de planejamento conforme perfil do visitante.
Perfil do
visitante
Pedestre
Largura
do piso
60 - 95 cm
Altura do corredor
2,5 m
Largura do
corredor
1,2 - 1,5 m
Cavaleiro
60 - 95 cm
3,73 m
1,8 m
Ciclista
60 - 95 cm
2,5 m
1,2 – 1,5 m
Portadores de
necessidades
especiais
60 - 95 cm
2,5 cm
1,2 – 1,5 m
Multiuso
60 - 95 cm
2,5– 3,75m
1,8 – 5 m
Fonte: LECHENER, 2006.
Org. MORAES, D. I. de (2012)
62
Os dados da tabela mostram que o perfil do visitante influencia diversas características
da trilha, como largura e altura do corredor e largura. São indicações que não garantem apenas
a segurança do visitante, mas também a integridade do ambiente natural e da própria trilha.
Por isso, identificar o perfil dos visitantes (atuais e futuros) é uma forma de garantir a
eficiência da trilha enquanto atrativo e enquanto prática conservacionista.
4.1.3 Análise de Sítio
A análise de sítio consiste em examinar o local onde a trilha pretende ser implantada,
de modo que as características e potencialidades dos recursos naturais e humanos e as
fragilidades do ambiente natural sejam identificadas.
Antes de ir a campo, a análise de sítio deve ocorrer com o levantamento de dados e
materiais como mapas, fotografias aéreas, escrituras e documentos legais, ocupação e uso,
entre outros. Estes, além de economizar tempo e energia, também possibilitam uma visão
geral das características e condições biofísicas e socioeconômicas do local e podem contribuir
para um esboço preliminar de uma possível rota para a trilha (LECHENER, 2006).
Em campo, o planejador deve observar a paisagem e identificar os elementos naturais
e humanos que a caracterizam. Tendo como pressuposto, que essa paisagem não é estática,
sendo então, o “resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos físicos,
biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem
um conjunto único e indissociável, em perpetua evolução” (BERTRAND, 1971, p.2).
Ross (2006) considera que a análise estática e descritiva da paisagem torna-se
insuficiente quando o objetivo é a utilização racional e conservacionista dos recursos
ecológicos. Para isso, é necessário entender sua totalidade, partindo do que é facilmente
perceptível (formas e fisionomias), seguindo pelo que é estático (estruturas), dinâmico
(funcionalidade) e por último, identificando as fragilidades do ambiente diante das
intervenções humanas.
Esse tipo de avaliação exige do planejador um bom conhecimento da funcionalidade
do ecossistema local e uma análise integrada de todos os seus elementos que o compõem.
Como destaca Ross (2006, p.54) a integração e interdependência entre os fluxos de energia e
matéria nos ecossistemas:
[...] não permitem, por exemplo, o entendimento da dinâmica e da gênese
dos solos sem que se conheça o clima, o relevo, a litologia e seus
63
respectivos arranjos estruturais, ou, ainda a análise da fauna sem associá-la
à flora – e esta lhe proporcione suporte –, que, por sua vez não pode ser
entendida sem o conhecimento do clima, da dinâmica das águas, dos tipos
de solos, e assim sucessivamente.
Essa análise integrada não abrange apenas elementos naturais, mas também humanos,
tendo em vista que o homem e suas dinâmicas também interferem nos fluxos de energia e
matéria dos ecossistemas, geralmente, em ritmos bem mais intensos do que aqueles
produzidos normalmente pela natureza (ROSS, 2006).
Ross (2006, p. 50), destaca que quando todos os componentes naturais e sociais são
analisados e entendidos no contexto das interações e interdependências, tem-se a
possibilidade de compreender “a complexidade da totalidade de um determinado espaço
territorial, enquanto forma, estrutura, funcionalidade e dinâmica”.
Para Lechener (2006), uma das formas de compreender essa dinâmica e
interdependência é visitar a área em diferentes períodos do ano e em diferentes situações
atmosféricas. Fazer uma visita logo após uma tempestade, por exemplo, quando os padrões de
drenagem estão mais evidentes, pode ser uma importante estratégia para na identificação dos
locais mais suscetíveis a alagamentos e deslizamentos e que oferecem riscos aos visitantes na
travessia de cursos d’água.
A interação entre as forças que fluem no local faz com que os impactos causados pela
intervenção humana tragam consequências não apenas no local, mas também no sentido do
fluxo. Um exemplo é quando a trilha implantada nas proximidades de um riacho apresenta
compactação e erosão do solo. Isso acaba afetando não apenas a trilha, mas também o riacho,
através do assoreamento e do transporte de sedimentos (LECHENER, 2006).
Em meio a todas essas complexidades e especificidades que o local apresenta, tanto
em termos ambientais quanto sociais e econômicos, a análise de sítio mostra-se uma etapa
difícil, porém, imprescindível para o planejamento das trilhas, pois todas as informações
produzidas irão fornecer bases para muitos detalhes do designer, construção, manutenção e na
definição de estratégias de manejo.
Lechener (2006) destaca alguns elementos essenciais a serem considerados na análise
de sítio, tais como:
Tipo de solo;
Regime climático;
Topografia;
Padrões de drenagem;
64
Distribuição de água superficial e subsuperficial;
Padrões de vegetação (o que está crescendo aqui e por que);
Fauna local e presença de espécies invasoras;
Usos históricos;
Uso já implantado na área;
Situação da terra (zoneamento, se pública ou privada, incentivos, etc.);
Relação com outras infraestruturas, estradas, oportunidades de recreação, etc.;
Considerações quanto à segurança.
De acordo com o manual da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo –
SEMA/SP (2009) a análise de sítio também tem por objetivos:
Verificar pontos de controle e identificar pontos adicionais que não tenham sido
percebidos ao estudar mapas e fotos aéreas;
Verificar se a rota esboçada é praticável;
Identificar pontos de controle que enriqueçam a experiência do usuário.
Verificar que a rota pretendida seja razoável.
Diante de todas as especificidades que uma análise de sítio exige, analisaremos a
seguir, alguns dos principais elementos que devem ser considerados, destacando suas
características, importâncias ambientais e como podem interferir ou influenciar a implantação
e utilização das trilhas ecológicas.
4.1.3.1 Solos
Os solos, como todos os elementos naturais, são dinâmicos na natureza e sofrem
influência direta ou indireta de diversos fatores, como o clima, organismos, topografia, ação
antrópica, material original e tempo. Sua composição básica provém de partículas minerais,
matéria orgânica, água e ar (FEOLA, 2006).
As partículas minerais são as principais componentes do solo (50 a 80%) e variam
muito de tamanho, podendo ser extremamente finas como a argila, finas como o silte ou
grossas como a areia e cascalho. O tamanho das partículas minerais é denominado “textura do
solo” e exerce enorme influência sobre a drenagem e propensão do solo à erosão e
compactação (FEOLA, 2006).
De acordo com o manual da SEMA/SP (2009), as partículas pequenas tendem a dar ao
solo uma textura barrenta quando molhada e empoeirada quando seca, e geralmente não
65
oferecem boa drenagem. Já as partículas grandes que não se ligam umas as outras, são muito
soltas e, portanto, mais suscetíveis à erosão. Por outro lado, são mais resistentes ao transporte
devido à necessidade de maior força desprendida para o seu deslocamento. O mesmo não
ocorre com as partículas menores, que devido a sua maior coesão, são mais resistentes ao
desprendimento, mas menos resistente ao transporte.
Para Montovani (1987), o tamanho das partículas influencia também no processo de
compactação, pois, as partículas de diâmetro diferentes, quando submetidas à pressão, tendem
a se arranjar e preencher os poros dificultando a infiltração e deixando o solo compactado.
Além dos teores de silte, argila e areia, Guerra (2001) destaca que outras propriedades
também devem ser consideradas, como por exemplo, o teor de matéria orgânica que também
contribui na agregação das frações granulométricas e, portanto, na suscetibilidade do solo aos
processos erosivos.
Segundo alguns autores, a textura do solo pode ser identificada durante a análise de
sítio através de técnicas simples realizadas em campo. Em alguns casos, a identificação
somente é possível com análises laboratoriais ou pequenas escavações para examinar seus
horizontes.
Para a identificação em campo, Lechener (2006) apresenta uma técnica na qual a
textura pode ser identificada comprimindo uma porção de solo entre as mãos e criando três
formas básicas:
a) Bloco: Torrão formado ao pressionar na mão fechada uma amostra de solo.
b) Cilindro: Formado ao rolar a amostra de solo na palma da mão.
c) ”Panqueca”: Formada ao apertar uma pequena amostra de solo entre o polegar e o
indicador.
O quadro 1 demonstra como essas três formas (bloco, cilindro e “panqueca”)
permitem ao planejador identificar o tipo de solo encontrado.
Quadro 1 - Identificação do tipo de solo em campo.
Tipo de Solo
Teste de
Médio-arenoso Médiocampo
siltoso
Bloco
Pode ser
cuidadosamente
manipulado
sem quebrar
Pode ser
manipulado
sem
quebrar
Médio
Médio- argiloso Argiloso
Pode ser
facilmente
manipulado
sem quebrar
Sólido,
facilmente
manipulado.
Pode ser
moldado sem
quebrar
66
Denso, friável,
Cilindro facilmente
quebrável.
Denso,
macio,
facilmente
quebrável.
Pode ser
finamente
moldado;
facilmente
quebrável.
Não forma uma Não forma Forma
“Panque “panqueca”
uma
“panquecas”
ca”
“panqueca” pequenas e
grossas que se
quebram por
seu próprio
peso
Cilindro forte
pode ser
facilmente
enrolado
Cilindro
forte e
plástico,
facilmente
enrolado.
Forma
“panquecas”
finas que se
quebram por seu
próprio peso
“Panqueca”
longas e
flexíveis que
não se
quebram por
seu próprio
peso
Fonte: LECHENER (2006).
Org. MORAES, D. I. de (2012)
Para Andrade (2003), Lechener (2006), Feola (2006) e Costa (2006), os solos mais
adequados à implantação das trilhas ecológicas são aqueles que oferecem maior possibilidade
de drenagem e apresentam quantidades moderadas de areia, argila e conteúdo minerais. Solos
argilosos, siltosos, areia pura, alto teor de matéria orgânica, finos ou delicados, devem ser
evitados, pois estão mais suscetíveis ao processo de erosão e compactação, como mostra o
quadro 2.
Quadro 2– Tipo básico de solo e adequabilidade para as trilhas.
Tipo de solo
Siltoso
Argiloso
Descrição
Adequabilidade para as
trilhas
Partículas finas; pobremente drenados. Pouca, quase sempre indica
uma subestrutura fraca, que
deve
ser
evitada
por
apresentar maior propensão à
compactação do solo. Isso se
deve a uma maior dificuldade
de drenagem, que pode
também ocasionar em dias
chuvosos o alagamento do
piso da trilha.
Partículas finas; pobremente drenados; Pouca, especialmente em
pulverulento quando seco; altamente áreas de grande declividade, e
erosivos em encostas inclinadas.
moderado quando misturado a
outros
tipos
de
solos.
Geralmente
a
uma
suscetibilidade a processos
erosivos e a compactação.
67
Arenoso
Partículas maiores com estrutura
granulosa mais grosseira; muito bem
drenado; sujeito a erosão eólica e
hídrica.
Textura
Média
Uma mistura de areia, silte e argila em
variadas
quantidades;
suas
características
dependem
das
proporções desta mistura, mas
geralmente são bem drenados.
Pouca,
devido
a
sua
suscetibilidade à erosão, que
em áreas declivosas pode
levar a ruptura do talude e a
perda da borda crítica,
exigindo gastos elevados com
estruturas e manutenção.
Desejável,
especialmente
quando as proporções da
mistura conferem coesão,
drenagem e estabilidade. Isso
faz com que os processos
erosivos e os gastos com
estruturas nas trilhas sejam
minimizados.
Fonte: LECHENER (2006).
Org. MORAES, D. I. de (2012)
Andrade e Rocha (2008) destacam que a umidade do solo também é um fator
importante. Solos muito úmidos podem indicar a presença de nascentes, olhos d’água, rios
intermitentes e escoamento superficial, o que leva ao aceleramento das ações erosivas,
afundamento do piso, alagamento das áreas marginais e uma possível inundação da trilha em
períodos chuvosos.
4.1.3.2 Hidrografia
A distribuição da água na superfície e no subsolo (rios, córregos, lagos, zonas úmidas,
açudes, represas, entre outros) e os padrões de drenagem, influenciam diretamente nas
decisões tomadas quanto à localização, o designer e o número e tipo de estruturas a serem
implantadas nas trilhas (ANDRADE, 2003).
Trilhas que atravessam corpos d’água necessitam de infraestruturas para a segurança
dos usuários e proteção do recurso hídrico, como pontes, passarelas, bueiros, entre outras, que
tornam mais elevados os custos com a implantação e a manutenção da trilha.
Outro elemento importante são os padrões de drenagem, que conforme Feola (2006)
são influenciados principalmente pelo tipo de solo e pela topografia do terreno e podem
indicar quais as áreas estão em maior e menor suscetibilidade aos processos de erosão. Áreas
com encostas longas e acentuadas contribuem para o grande e rápido fluxo de água e podem
causar erosões rápidas e severas no piso da trilha.
68
Para Lechener (2006) um das melhores formas de compreender os padrões de
drenagem do local é visitar a área durante o período chuvoso, ou durante e logo após uma
tempestade, pois é possível identificar quais as áreas são mais suscetíveis a deslizamentos e
alagamentos.
Porém, apesar dos problemas que a hidrografia local pode representar à construção e
manutenção da trilha, ela também pode ser um instrumento de grande atratividade, na medida
em que rios, riachos, e cachoeiras geralmente são locais que atraem e instigam o visitante a
fazer o percurso e podem ser utilizados como pontos limitadores, destinos desejáveis, locais
de recreação e interpretação ambiental (ANDRADE; ROCHA, 2008).
4.1.3.3 Vegetação
A vegetação tem importantes funções no equilíbrio ecossistêmico e nas forças que nele
atuam. Tem as funções de amenizar a ação erosiva das águas pluviais, influenciar os fluxos
naturais da água e contribuir no processo de infiltração.
De acordo com Guerra (2001) a cobertura vegetal pode atuar de duas formas: na
diminuição da quantidade de água que chega ao solo e na energia cinética das gotas de agua
da chuva, por meio da intercepção e da alteração de sua distribuição e tamanho.
A vegetação atua como uma capa protetora ou de amortecimento entre a atmosfera e o
solo. As folhas, galhos e troncos absorvem parte da energia das gotas, do movimento da água
e da ação do vento, de modo que o processo erosivo seja reduzido em relação ao solo desnudo
(FEOLA, 2006).
Ross (2006, p. 42) destaca que:
No nível do solo, a presença de cobertura vegetal densa, com vários extratos
vegetais, favorece o processo de infiltração da água no solo e proporciona
fornecimento de matéria orgânica vegetal, que contribui para a pedogênese,
ao mesmo tempo protege os solos contra os processos erosivos laminares e
lineares.
A inexistência de cobertura vegetal, “além de não condicionar a infiltração das águas
pluviais no solo, contribuindo para o seu ressecamento, favorece o escoamento superficial,
facilitando a atividade erosiva” (ROSS, 2006, p. 41-42).
Ao retirar a vegetação que fica no corredor da trilha, os padrões naturais de fluxo e
infiltração da água são alterados, tornando-se necessárias ações mitigadoras, que sejam
69
capazes de diminuir a velocidade da água superficial e minimizar os processos erosivos, como
por exemplo, a construção de canaletas e barreiras de drenagem, degraus entre outras
estruturas (ANDRADE, 2003).
Além de sua importância ambiental, a vegetação também é um elemento de grande
atratividade para a trilha. Flores, folhagens, árvores de maior porte e com características
peculiares, chamam a atenção e instigam o visitante a observar e interagir com o ambiente.
Para que as potencialidades e restrições da flora local sejam identificadas e utilizadas
como um elemento de atratividade a visitação, Proudman (1977 apud ANDRADE; ROCHA,
2008) destaca que a implantação da trilha deve ser um misto de técnica e sensibilidade, pois,
construir uma trilha ambientalmente correta não necessariamente à torna atrativa. Por isso, o
planejador deve ter um olhar sensível à paisagem, identificando os elementos que podem ser
apreciados durante a caminhada ou nos locais de descanso.
4.1.3.4 Fauna
A fauna local pode tanto ser um elemento de atratividade para a trilha, através dos
sons dos pássaros, da observação de espécies, dos ninhos, entre outros, ou representar um
risco à visitação, principalmente através do encontro com animais como cobras, abelhas,
aranhas, formigas, entre outros (ANDRADE; ROCHA, 2008).
A fauna também tem funções extremante importante para as áreas florestais,
especialmente na dispersão e polinização de semente. Além disso, como parte integrante de
um mesmo ecossistema, qualquer interferência em seu habitat ou em determinada espécie,
pode provocar desequilíbrios sobre todas as outras espécies e sobre o ecossistema como um
todo (COSTA, 2009).
O manual da SEMA/SP (2009) destaca que a fauna local contribui na fragmentação do
solo que compõe o seu piso, e pode deixá-lo mais suscetível ao processo de erosão. Tal fato
ocorre por que os “animais escavam através da trilha, perambulam ao redor dela, cruzam-na
descendo, introduzem atalhos, tombam pedras sobre a trilha, mastigam o piso, ou escavam
raízes ao longo do caminho” (p.33).
Para evitar riscos aos visitantes e a fauna local, Andrade e Rocha (2008) enfatizam que
a trilha não deve interferir nas rotas, nos locais de criadouros, alimentação e descanso dos
animais. Por isso, o trajeto e as estruturas implantadas devem ser pensados a partir das
características e comportamentos dos animais que habitam o local.
70
O comportamento e a reprodução especialmente de pequenos anfíbios, mamíferos e
aves, é também um bom indicador da qualidade ambiental da área, pois, a fragmentação do
habitat pode tanto levar a reprodução desordenada de determinada espécie, quanto à redução
da população e o abandono da área por outras (ANDRADE, 2003).
4.1.3.5 Geomorfologia
As características geomorfológicas do terreno tanto podem facilitar a implantação de
uma trilha e o manejo dos fluxos de água, quanto tornarem-se um grande desafio para o
planejador, principalmente nos locais onde a declividade é muito acentuada, a precipitação
pluviométrica é grande e as condições do solo são suscetíveis a processos de erosão
(LECHENER, 2006).
As áreas planas e áreas com inclinação maior que 20% devem ser evitadas como
passagem para a trilha, pois podem potencializar a compactação e erosão do solo, representar
riscos e desconfortos aos visitantes e tornar a trilha inutilizável (ANDRADE; ROCHA, 2008).
Segundo Andrade (2003), para utilizar a topografia em favor da implantação e do
manejo, a trilha deve ser desenhada acompanhando os contornos naturais da área e
atravessando as curvas em ângulos oblíquos, para que os padrões naturais de drenagem
possam ser facilmente restabelecidos. As trilhas que sobem perpendicularmente até o topo da
elevação são facilmente utilizadas como caminhos dos fluxos de água, resultando em erosões
severas, alterações no padrão de drenagem e assoreamento de cursos d’água.
Medir o ângulo de inclinação do terreno (declividade) é variável considerada
“essencial para a determinação de vulnerabilidade a erosão, grau de dificuldade da trilha e
descrição de trabalhos de correção” (ANDRADE; ROCHA, 2008, p. 17). Nas declividades
acima de 12° é necessário utilizar infraestruturas que facilitem o acesso dos usurários e
minimizem as ações erosivas. Para os trechos mais curtos é indicada a construção de escadas,
e para os trechos mais longos, as trilhas em formato de ziguezague ou curvilíneas
(LECHENER, 2006).
A declividade é classificada por Lemos e Santos (1996 p. 57) como:
a) Plana: declividade abaixo de 2o;
b) Baixa: de 2 a 5o;
c) Média: de 5 a 11o;
d) Alta: de 11 a 24o; e
e) Muito alta: acima de 24o.
71
No item “Construção de Trilhas em Áreas Declivosas” trataremos algumas das
técnicas e procedimentos adequados à implantação de trilhas em locais com declividades mais
acentuadas.
4.1.3.6 Regime Climático
O clima é determinado pelo conjunto de condições meteorológicas que caracterizam
uma região – precipitação, temperatura, pressão atmosférica, umidade do ar e ventos. Seu
estudo é considerado um elemento essencial para o uso racional dos recursos naturais
(SANTOS, 2004).
No planejamento de trilhas ecológicas, o estudo do clima se faz necessário para que a
potencialidade das ações erosivas das chuvas, os períodos de estiagem e geadas possam ser
identificados. Essas informações são obtidas através de alguns dados climáticos como
temperatura média, amplitude térmica e índice pluviométrico anual, mensal e diário (COSTA,
2006).
Padrões de passagem do sol e dos ventos, são destacados por Lechener (2006) como
fatores importantes na localização da trilha, pois podem auxiliar na secagem da superfície do
piso e proporcionar brisas mais refrescantes aos visitantes.
Locais de climas chuvosos exigem estruturas específicas para as trilhas, que evitem
tanto o encharcamento do piso em áreas mais planas, quanto o rápido fluxo da água em áreas
de declive, de modo a contribuir para a segurança dos usuários e proteção do ambiente,
especialmente, no que refere ao controle de ações erosivas que podem em algumas situações,
levar a destruição total do piso da trilha.
4.1.3.7 Pontos de controle
Os pontos de controle correspondem aos elementos naturais que podem representar
pontos limitadores ou destinos desejáveis para as trilhas, como brejos, rochas, cachoeiras,
riachos e vistas.
O manual da SEMA/SP (2009) destaca alguns dos pontos de controle tidos como
positivos e negativos na implantação e uso das trilhas ecológicas. Os positivos são atrações
como mirantes de especial beleza cênica, lagos e cachoeiras. Já os negativos são áreas com
solos pobres, habitats críticos para a vida selvagem ou que abriguem espécies ameaçadas de
extinção, que devem ser evitados como passagens da trilha ou como destino final.
72
O quadro 3 apresenta os pontos de controle mais comuns em sistemas de trilhas,
destacando suas características e como contribuem ou dificultam sua implantação e utilização.
Quadro 3 - Exemplos de pontos de controle e suas potencialidades/limitações para as trilhas.
Pontos de Descrição
controle
Afloramento Geralmente inadequados para a construção de
rochoso
trilhas, pois dependendo do perfil dos
visitantes (principalmente crianças e idosos)
pode representar riscos. Pode ser uma
possível área de destino,
Topografia
É geralmente o ponto de controle decisivo
para a localização de trilhas.
Considerações
Evitá-los como ponto de
passagem
da
trilha;
podem ser procurados
como destino.
Evitar declividades muito
acentuadas (>20%) e
áreas
completamente
planas.
Brejos
Estão entre as áreas mais difíceis de construir Evitar
sempre
e manter trilhas; essas áreas devem ser possível.
identificadas pela vegetação e condições do
solo durante a análise de sítio.
Outras
trilhas
Quando compatível com o plano da trilha Desejáveis.
principal, a ligação destas com outras trilhas
pode aumentar as oportunidades de visitação
e a gama de experiências.
Rodovias
A interseção de trilhas com rodovias devem
ser
cuidadosamente
consideradas,
especialmente se não existirem projetos para
implantar uma cabeceira de trilha ou uma área
de estacionamento.
Corpos
d’água
Uma zona-tampão deve ser mantida no Evitar como passagem de
entorno de corpos d’água para evitar trilha, procurar como
perturbações a vida silvestre e degradação do possível área de destino.
corpo d’água.
Rios
Manter uma zona-tampão entre a trilha e o Evitar como local de
riacho. Só atravessar o leito quando passagem, procurar como
necessário, em ângulos retos, nos pontos mais possível local de destino.
estreitos.
Fonte: LECHENER (2006).
Org. MORAES, D. I. de (2012)
que
Pode
abrir
novas
oportunidades para o
manejo e para visitantes;
facilitar o acesso não
esperado; representar um
riso a segurança dos
visitantes.
73
O quadro 3 demostra que os pontos de controle são elementos que influenciam no
formato, na direção e nas estruturas da trilha, e podem ser tanto um desafio para quem
constrói e maneja a trilha, quanto um elemento de grande atratividade para a mesma.
4.1.3.8 Contexto socioeconômico
O contexto socioeconômico se remete ao processo de desenvolvimento e organização
do espaço em um determinado lugar. Sua compreensão permite analisar o quanto a trilha pode
interferir nas particularidades do lugar, ou seja, no espaço de vivencia, das relações diárias e
de experiências formadoras da identidade cultural (COSTA, 2006).
No caso de trilhas implantadas em estabelecimentos rurais de base familiar, ou seja,
onde os gestores da atividade são os componentes da família (geralmente agricultores
familiares), é importante avaliar a viabilidade econômica e social do uso das trilhas como um
atrativo para a visitação no local. Isso porque, as trilhas podem contribuir para a geração de
renda na propriedade e para a valorização das características culturais locais, costumes,
hábitos de vida, culinária, entre outros. Mas também, podem levar a impactos negativos a
esses moradores, como conflitos com visitantes, elevação do custo de vida e desvalorização
do estilo de vida e da cultura local.
4.1.3.9 Mapeamento
O mapeamento da trilha quando acurado, torna-se uma ferramenta bastante útil para o
planejamento, monitoramento e manejo da visitação, oferecendo informações sobre o traçado,
a direção, à distância, os atrativos, o grau de dificuldade, entre outras, que são importantes
não apenas para o bem estar e a satisfação do visitante, mas também para sua segurança.
O mapa da trilha pode ser gerado através de:
a) Desenho da trilha fazendo sobreposição em carta topográfica já existente;
b) Medição da distância, rumo e declividade dos segmentos da trilha a partir de um
ponto já conhecido: Pode ser feito durante a demarcação da rota em campo;
c) Uso de GPS para estabelecer as coordenadas da trilha e um Sistema Geográfico de
Informações (SIG) para organizar os dados;
d) Incorporação de dados recolhidos durante a análise de sítio (LECHENER, 2006).
74
Os mapas geralmente são expostos em banners, placas, folder e folhetos, como forma
de informação, orientação, divulgação e atratividade ao visitante, que ao conhecer as
características do percurso pode sentir-se instigado a percorrê-lo.
4.1.4 Design
O design corresponde ao desenho do traçado da trilha e compreende elementos como
forma, comprimento, grau de dificuldade, largura e infraestruturas.
De acordo com o manual da SEMA (2009, p.29) trilhas bem desenhadas:
[...] valem-se de elementos naturais de drenagem, reduzindo a manutenção
que acabaria sendo necessária, ao mesmo tempo em que vai de encontro às
necessidades dos usuários. [...] As melhores trilhas quase não apresentam
evidências nos esforço nela investidos.
Lechener (2006, p.47) também considera um bom design aquele que busca reduzir ou
evitar conflitos entre os visitantes, separando-os de acordo com as experiências que buscam
vivenciar na trilha, principalmente em trilhas onde são admitidas múltiplas atividades. Nesses
casos, o autor enfatiza:
Nas trilhas multiusos, onde a observação da vida silvestre é uma atividade
comum, pode ser estratégico incluir desvios como pontos de observação ou
de descanso. Isso permitirá aos usuários parar e observar a vida selvagem
sem estar no caminho de outros caminhantes ou sem ter que sair da trilha
para permitir que outros usuários passem por eles.
Proudman (1997 apud ANDRADE; ROCHA) considera que desenhar uma trilha que
se harmonize na paisagem e ao mesmo tempo traga segurança e satisfação aos usuários e
proteção aos recursos exige um balanço entre beleza e objetivo, no qual, as características
naturais e cênicas da paisagem são combinadas de forma harmônica e criativa. Para isso, o
levantamento de algumas questões é fundamental, como: Qual a forma da trilha mais
adequada às características da paisagem? Os visitantes devem voltar pelo mesmo caminho? O
traçado proposto pode trazer conflitos entre os usuários? Onde e como serão instalados o
estacionamento e os sanitários? Qual será a largura da trilha e o seu comprimento? Que tipo
de superfície e material será utilizado? Quais infraestruturas são necessárias? Qual o grau de
dificuldade que essa trilha vai apresentar? Como os pontos de controle poderão ser utilizados?
75
Segundo o manual da SEMA/SP (2009), os elementos que influenciam diretamente no
design de uma trilha correspondem às atividades recreativas que se pretende oferecer, a
intensidade do uso, as características físicas do terreno, as considerações ecológicas e também
as características estéticas da paisagem.
Para Andrade (2003), outro elemento que influencia o design é a categoria da trilha
(guiada ou autoguiada) principalmente no que se refere ao grau de dificuldade e às
sinalizações.
Nas trilhas guiadas, a capacidade de interpretação do guia/condutor é fundamental
para o sucesso da trilha. A função do guia é estabelecer um canal de comunicação e uma
relação afetiva entre o intérprete e os visitantes. Por isso, sua preparação física, experiência
técnica e conhecimentos ecológicos são elementos bastante importantes na qualidade da
interpretação ambiental.
Os passeios guiados podem ser desenvolvidos de diversas formas, tais como: a) O
intérprete pode fixar previamente os locais de parada e os temas trabalhados, sem que o
público possa designar novas investigações; b) As observações vão acontecendo conforme os
eventos aparecem (animais, floração etc.); c) A interpretação ocorre de acordo com as
motivações dos usuários (MOREIRA, 2011).
As trilhas autoguiadas permitem o contato dos visitantes com o ambiente sem a
presença do guia. Nelas, os recursos visuais e gráficos indicam a direção a seguir, os
elementos a serem destacados (árvores nativas, plantas medicinais, ninhos de pássaros etc.) e
temas desenvolvidos (mata ciliar, recursos hídricos, etc.). A condução dos visitantes pode se
dar através de placas numeradas ou meio ilustrativos dispostos na trilha (MOREIRA, 2011).
Conforme o manual da SEMA/SP (2009), o design tem início com o reconhecimento e
a demarcação da rota que foi previamente esboçada durante a análise de sítio, para em
seguida, definir a largura do piso, o comprimento do trajeto, o grau de dificuldade, as áreas de
estacionamento, as infraestruturas e as sinalizações.
4.1.4.1 Forma
O formato de uma trilha é influenciado por fatores como: características físicas do
terreno; intensidade do uso; perfil do visitante; considerações ecológicas e estéticas da
paisagem e características recreativas que a trilha pretende oferecer (MANUAL SEMA/SP,
2009).
76
A figura 4 traz alguns dos formatos mais comuns às trilhas ecológicas, com suas
respectivas características.
Figura 4 – Exemplos de formato de trilhas ecológicas.
Forma
Característica
Capazes de oferecer ao visitante a
possibilidade de retornar ao ponto de
partida sem repetir o trajeto ou encontrar
outros visitantes no sentido contrário.
Possibilita o aumento no uso dos espaços,
sendo ideais em áreas pequenas. Tornandose mais interessantes para o uso turístico,
pois auxiliam na dispersão dos impactos
ambientais, onde o turista não volta pelo
mesmo
caminho,
ampliando
as
oportunidades de visitação.
São utilizadas com intuito de interligar o
caminho principal a um ponto de destino,
como cachoeiras, cavernas, lagos, etc. Sua
desvantagem está no retorno ser o mesmo
trajeto da ida, permitindo o encontro entre
visitantes no sentido contrário.
Tem início e fim em diferentes pontos de
uma trilha, porém o objetivo não é cortar
caminho, mas sim mostrar áreas
alternativas.
Ferradura
Começa e termina em locais diferentes,
evitando o encontro entre visitantes, que
pode ser um fator de conflito e também de
experiências desagradáveis aos visitantes,
especialmente para aqueles que preferem o
silencio e o isolamento durante a realização
do percurso.
77
Ziguezague ou em “S”
Utilizadas em áreas declivosas, possuem
um traçado com seções curtas que
continuam a subir quando a trilha muda de
direção, diminuindo a sensação de subida.
Exige estruturas de drenagem e de
sustentação do piso, e a manutenção ou
construção de barreiras naturais (rochas ou
galhos) entre as curvas, com intuito de
evitar que os visitantes criem atalhos.
Fonte: ANDRADE (2003); LECHENER (2006).
Org. MORAES, D. I. de (2012)
As trilhas também podem conter bifurcações ou interseções, ou seja, divisões de uma
via de acesso em dois ou mais ramais que se afastam do acesso à trilha principal. Tal fato
pode ser problemático, se as bifurcações terminarem em outras interseções, podendo
confundir os usuários. Além disso, quando uma bifurcação termina em uma estrada
movimentada, pode representar um risco a segurança da visitação (COSTA, 2006).
4.1.4.2 Grau de dificuldade
Segundo Andrade (2003) o grau de dificuldade de uma trilha é diferenciado entre as
trilhas guiadas e autoguiadas. É também algo subjetivo, devido a fatores associados ao perfil
do visitante, como idade, condicionamento físico e peso da mochila.
Mitraud (2003) classificou o grau de dificuldade nas trilhas de acordo com a escala de
declividade, como mostra a tabela 2.
Tabela 2 - Associação entre declividade e grau de dificuldade das trilhas.
Grade
Grau de Dificuldade
Declividade < 10%
Sem dificuldade
10% < Declividade < 20%
Dificuldade mediana
Declividade > 20%
Grande dificuldade
Fonte: MITRAUD (2003).
Org. MORAES, D. I. de (2012).
Dias et al. (1986) também define o grau de dificuldade com base na rampa média ao
longo do percurso (Tabela 3).
78
Tabela 3 – Grau de dificuldade de acordo com a declividade.
Declividade
Grau de dificuldade
0 –10%- leve
Leve
10–20%- média
Média
20–50%- difícil
Difícil
50–100% - muito difícil
Muito difícil
> 100% - alpinismo
Alpinismo
Fonte: DIAS et al. (1986).
Org. MORAES, D. I. de (2012).
Andrade e Rocha (2008) apresentam a classificação realizada pela prefeitura
Municipal de Brotas (SP) que regulamentou em 2003 o grau de dificuldade de acordo com a
distância a ser percorrida e com a presença ou não de obstáculos. Determinando da seguinte
maneira:
a) Trilha leve: com distancia de até 500 m, exigindo pouco esforço físico, sem
apresentar obstáculos e não exigindo qualquer técnica específica.
b) Trilha Moderada: com distância de até 1.500 m, exigindo esforço físico moderado,
apresentando pequenos obstáculos, como desníveis, escadas, pedras, troncos, riachos, mas não
exige técnica especifica.
c) Trilha avançada: distancia superior a 1.500 m, exigindo esforços físicos intensos,
apresentando obstáculos e exigindo o uso de técnicas especificas como natação e escaladas.
4.1.4.3 Cabeceiras de Trilha e Áreas de Estacionamento
A cabeceira de uma trilha corresponde ao (s) ponto(s) de acesso ao início do sistema
de trilhas e deve(m) estar localizadas em áreas de boa visibilidade e conter orientações
referentes à rota, distância, atrativos, regras e regulamentos. Essas informações permitem que
o visitante tenha um conhecimento prévio sobre as características gerais da trilha e o tempo
gasto para executar o seu percurso (LECHENER, 2006).
A área demarcada para estacionamento de (cavalos, bicicletas, carros, etc.) bem como
sua capacidade e piso, também devem ser consideradas, pois segundo Lechener (2006)
quando inadequadas, podem proporcionar problemas de segurança, degradação ambiental,
abertura de caminhos informais e conflito entre visitantes. Um exemplo são os veículos
automotivos, que se conter vazamentos de óleos e combustíveis podem contaminar o solo e as
79
águas superficiais e subterrâneas. Por isso, o autor recomenda que as áreas de estacionamento
estejam localizadas no mínimo a 30 m da margem de córregos, rios, lagos e brejos.
4.1.4.4 Piso
O piso corresponde à área por onde os visitantes devem caminhar na trilha. Devido a
circunstâncias adversas, como o grande número de visitantes, o perfil do usuário, a
suscetibilidade a erosão e os recursos financeiros disponíveis, o piso da trilha pode ser natural
no qual o pisoteio se dá diretamente no solo, ou pavimentado, quando materiais com madeira,
pedras, concreto entre outros, são utilizados para recobrir a superfície da área de
pisoteamento.
Para Lechener (2006) os materiais utilizados na construção do piso de uma trilha
devem ser naturais e harmônicas ao ambiente, de forma a não causar alterações dos padrões
visuais de elementos naturais e artificialidade na paisagem.
As fotos 1, 2 e 3 demonstram tipos distintos de piso em trilhas ecológicas. A foto 1
corresponde a um piso com características naturais, onde a única intervenção foi à retirada da
cobertura vegetal no corredor. A foto 2 demonstra um piso que recebeu uma fina camada de
pó de rocha e está separado das áreas marginais por rochas basálticas. A foto 3 apresenta um
piso com superfície de concreto e com estruturas de segurança, devido ao fato desta trilha
estar implantada em uma área bastante íngreme e apresentar intensa visitação.
Foto 1 – Piso natural – Recanto Renascer - Francisco Beltrão- PR
Autor: MORAES, D. I. de, março/2012.
80
Foto 2 – Piso com pó de rocha – Refúgio Biológico Bela Vista, Foz do Iguaçu - PR
Autor: MORAES, D. I. de, abril/2012.
Foto 3 – Piso pavimentado com concreto - Parque Nacional do Iguaçu – PR.
Autor: MORAES, D. I. de, abril/2012.
A largura do piso de acordo com Andrade (2003) pode variar conforme o terreno, a
vegetação, o uso e o perfil do usuário. Entretanto, o autor destaca que quanto menor for à
largura da trilha, menor será o pisoteio e consequentemente, o impacto ambiental.
81
Quando as trilhas forem, por exemplo, destinadas a caminhadas de aventura, Lechener
(2006) recomenda uma largura de 75 cm, ou então, quando planejadas para crianças em idade
escolar e cadeirantes, a largura deve ser de aproximadamente de 1,20 cm a 1,80 cm.
4.2 Construção
4.2.1 Termologia básica de trilhas
Como destaca Costa (2006), muitos dos termos utilizados para as trilhas são
adaptações do vocábulo inglês ou espanhol, por serem os estrangeiros os pioneiros na
elaboração de manuais de construção, manutenção e avaliação dos impactos decorrentes da
atividade.
Para Lechener (2006) embora não exista um vocábulo oficial e universalmente aceito para
as trilhas, a compreensão de alguns termos é necessário para o design e a comunicação
adequada. Os termos mais utilizados são: Piso ou leito da trilha, corredor, zona de influência,
zona tampão, áreas marginais, inclinação natural, talude superior, borda crítica, ponto crítico e
linha central (Figura 5).
Figura 5 – Ilustração de alguns dos termos utilizados no vocabulário de trilhas.
Fonte: COSTA (2006).
Org.: MORAES, D. I de, 2012.
O piso ou leito da trilha corresponde à área de pisoteio e normalmente é uma
superfície natural, mas pode ser também pavimentada com materiais como cascalho, areia, pó
82
de pedra, asfalto, madeira, entre outros. O corredor compreende a toda a área que circundam
a trilha, ou seja, suas bordas, a zona tampão e o piso, compondo a chamada zona de
influência. As Bordas denominadas de áreas marginais correspondem à porção continua à
superfície de pisoteio. A zona tampão é a vegetação que fica ao entorno da trilha.
Quando a trilha possui em seu traçado áreas que sobem e descem em função da
topografia do terreno denominamos de inclinação natural. A borda que se localiza na parte
superior da encosta e que é cortada na construção da trilha é chamada de talude superior. O
lado oposto do talude é denominado de borda crítica, denominada algumas vezes de ponto
crítico por ser considerada uma área crítica quando não devidamente implantada e mantida. A
linha central corresponde ao centro da trilha, que pode ficar reduzida de acordo com a
largura da trilha e ser prejudicada pelas ações erosivas.
4.2.2 Limpeza do corredor
O primeiro passo da construção da trilha é a limpeza do seu futuro corredor, que inclui
o piso e os espaços que estão acima e em suas laterais, denominadas áreas marginais. A figura
6 apresenta o corredor e seus componentes (piso e áreas marginais) de uma trilha implantada
em área florestal.
Figura 6 – Anatomia de trilha ecológica em área florestal.
Org.: MORAES, D. I de (2012).
83
A limpeza do corredor é realizada com a retirada de galhos, troncos caídos, rochas,
solos, serrapilheira, pequenas plantas e arbustos no piso e a poda de árvores nas áreas
marginais. Existem algumas trilhas que mantém árvores de maior porte sobre o piso como
demonstra a foto 4. Entretanto, como salienta o manual da SEMA/SP (2009) o pisoteio pode
danificar raízes e prejudicar o desenvolvimento da planta. Nesse caso, é recomendada a
retirada total da planta, ou então, a mudança no traçado da trilha.
Os materiais e a serrapilheira removida do piso devem ser depositados em locais onde
não provoquem impactos visuais ou possam bloquear a drenagem da água. Além disso,
conforme destaca Lechener (2006) quando ocorrer a remoção total de árvores, os troncos
retirados podem ser reaproveitados em estruturas como escadas, pontes, canais de contenção,
entre outras estruturas, dando-lhes um aspecto mais natural e diminuindo o custo com a
aquisição se materiais.
A matéria orgânica do solo não deve ser totalmente retirada, pois sua presença
diminuir o impacto mecânico e o rápido escoamento superficial causador da erosão
(ANDRADE, 2003).
Foto 4 - Piso de trilha com árvores não removidas – Refúgio Ecológico Bela Vista – PR
Autor: MORAES, D. I. de, abril/2012.
Nas áreas marginais a poda da vegetação, especialmente aquela de grande porte, deve
ser uniforme e não ultrapassar 40 % da planta, caso isso ocorra, o ideal é remover a árvore
84
totalmente, pois “deixar de pé árvores radicalmente podadas é desagradável visualmente e cria
necessidades de trabalho extra no futuro” (LECHENER, 2006 p. 59).
As dimensões do corredor (largura e altura) são determinadas pelas necessidades do
público alvo e pelo uso pretendido da trilha. “Trilhas de caminhada são limpas até 2,5 metros
de altura e até uma largura total de 2 metros. Já trilhas para cavaleiros e tropas de animais são
limpas até 3 metros de altura e 2,5 metros de largura” (MANUAL SEMA/SP, 2009, p. 48-49).
4.2.3 Estruturas para Cruzamento d’ água
A travessia de cursos d’água apresenta um desafio aos planejadores de trilhas, “que
precisam equilibrar os níveis de dificuldade, a segurança, a conveniência, os custos, eventuais
consequências ambientais, e naturalmente a estética” (MANUAL SEMA/SP, 2009, p. 95).
As opções de estruturas para os cruzamentos d’água são variadas e dependem de
fatores como a disponibilidade de recursos financeiros, o perfil dos usuários e as condições
ambientais do local. Algumas estruturas podem estar mais direcionadas a rusticidade e ao
desafio, como exemplo, o uso de uma corda ou cabo de aço suspenso e ancorado em árvores
ou estacas, ou então, o uso de troncos de madeira alojados de uma margem a outra do curso
d’água.
Entretanto, quando o perfil dos visitantes são crianças, idosos e portadores de
necessidades especiais, essas estruturas devem primordialmente garantir a segurança, por isso
sua construção requer maior conhecimento e disponibilidade de recursos financeiros.
As estruturas mais comuns na travessia dos cursos d’água em trilhas ecológicas são:
bueiros, pontes e passarelas.
4.2.3.1 Bueiros
Os bueiros são utilizados em lugares onde a trilha corta nascente, olhos d’água,
pequenos riachos ou então em áreas de encosta onde os fluxos de água tendem a ser intensos
nos períodos chuvosos (Foto 5). Seu diâmetro deve ser grande o suficiente para desafogar a
máxima vazão prevista durante a época das chuvas, ter pelo menos 25 cm (MANUAL
SEMA/SP, 2009) e conter uma inclinação de 3% para que drenagem e os sedimentos possam
ser facilmente escoados (LECHENER, 2006).
85
Foto 5 – Bueiro em área de encosta - Reserva Salto Morato – Guaraqueçaba - PR.
Autor: MORAES, D. I. de, dez./2012.
4.2.3.2 Pontes
As pontes podem ser construídas de diversos materiais, desde as mais simples como
torras rolada ou rochas sobre o córrego, até estruturas mais sofisticadas de madeira, concreto e
ferro.
Lechener (2006) salienta que essas estruturas devem estar adequadas às características
do ambiente e ao perfil do visitante, por isso, sua construção deve levar em consideração
fatores como: regime hidrológico do curso d’água, para evitar que as pontes sejam submersas
pela água durante os períodos de cheia; características das margens do córrego para evitara
erosão do solo e possível queda da estrutura construída; e número e perfil dos usuários para
que a largura, resistência e material utilizado, estejam adequados as necessidade e
característica desse público.
Para trilhas com características de aventura e desafios recomenda-se o uso de
pinguelas feitas com troncos de árvores, que podem ser usadas para cruzar pequenos riachos
ou garantir o acesso durante o período das cheias. A construção dessa estrutura utiliza apenas
um ou dois troncos e dormentes de apoio. O tronco deve estar na horizontal e apoiado sobre
os dormentes em cada extremidade, pois se colocado diretamente sobre o solo apodrecerá
com maior facilidade. A pinguela deve ter pelo menos 45 cm de diâmetro e sua parte superior
86
deve ser aplainada para oferecer uma superfície trafegável e plana, contendo pelo menos 25
cm de largura (MANUAL SEMA/SP, 2009).
As fotos 6 e 7 demonstram pontes que utilizam diferentes matérias e apresentam
diferentes graus de dificuldade.
Foto 6- Ponte em Trilha ecológica na Reserva Salto Morato – Guaraqueçaba – PR.
Autor: MORAES, D. I. de, dez./2012.
Foto 7 - Ponte pênsil – Parque Estadual de Campos do Jordão – SP.
Fonte: ANDRADE; ROCHA (2008).
87
4.2.3.3 Passarelas e Corrimões
Geralmente as passarelas são estruturas utilizadas em áreas planas, onde “o chão é tão
encharcado que uma trilha não consegue ser nivelada, e não existe maneira de drenar a água”
(MANUAL SEMA/SP, 2009, p.104).
A passarela de madeira consiste em um tablado, ripado ou piso de madeira montado
sobre vigas de madeira tratada ou troncos locais, colocadas sobre dormentes para elevar a
trilha.
O ripado é um tipo primitivo de passarela feito com troncos deitados na terra
assentados transversalmente sobre troncos mais finos e pregados como uma esteira. Essas
estruturas apesar de ter uma aparência mais rústica e natural, consomem uma quantidade
elevada de materiais e apodrecem rapidamente, por isso não devem ser construídas como uma
estrutura permanente, mas apenas como estruturas temporárias (MANUAL SEMA/SP, 2009).
Os corrimões são estruturas construídas para oferecer segurança aos visitantes que
caminham sobre o piso da trilha, especialmente para aquelas que perpassam em seu trajeto
área de encosta e cursos d’água. Os materiais utilizados nos corrimões são variados como
tábuas, ferro, galhos, bambu e cordas.
A foto 8 mostra uma passarela de madeira com corrimões de bambu, construída em
área plana e de densa cobertura vegetal.
Foto 8 - Passarela com corrimão - Horto Florestal do Litoral Norte de Tramandaí/RS.
Fonte: http://matasnativas.wordpress.com/category/administracao-publica/
88
4.2.4 Sinalizações
As sinalizações na trilha têm por objetivos garantir a segurança, a orientação dos
visitantes e a proteção dos recursos naturais. Por isso, devem ser “compreensíveis,
sistemáticas e a prova de vandalismos” (ANDRADE, 2003, p.256).
Agate (1983) destaca que a sinalização em trilhas tem por vantagens:
Evitar custos aos usuários com aquisição de mapas;
Possibilitar que os caminhos em áreas florestais sejam facilmente encontrados;
Reduzir invasões acidentais;
Encorajar o uso de trilhas pouco conhecidas.
Os sinais de sinalizações de acordo com Andrade e Rocha (2008) podem ser:
Indicação: Orienta os visitantes quanto ao sentido do percurso;
Interpretação: Busca explicar aos visitantes aspectos ambientais, históricos e culturais;
Aviso de segurança: Busca através de sinais e mensagens alertar uma postura indicada
do visitante, para que os impactos ao ambiente e o risco de acidentes sejam evitados.
Conforme Agate (1983) os instrumentos utilizados para a sinalização podem ser
variados e conter maior ou menos grau de informações, sendo as placas, os banners, as
marcações a tinta e as fitas coloridas as mais utilizadas nas áreas de floresta. Os principais
instrumentos de sinalização são os seguintes:
a) Placas e Painéis: Podem ser confeccionados em pedra, madeira ou metal. Construídas ao
longo da trilha elas podem conter informações diversas sobre distância, grau de dificuldade,
atalhos, pontos de controle, fauna, flora, entre outros.
A foto 9 apresenta uma placa implantada no início da trilha ecológica da Figueira, na
Reserva de Salto Morato em Guaraqueçaba- PR, que contém um mapa identificando o trajeto
e os pontos de controle (atrativos), o tempo médio de caminhada e a distância a ser percorrida.
Os painéis geralmente são interpretativos, com informações sobre os elementos
naturais do local, como flora, fauna, recursos hídricos, entre outros. Estas informações
contribuem para o maior conhecimento e apreciação dos recursos naturais disponíveis no
local, bem como o conhecimento e a reflexão dos possíveis impactos causados pela ação
humana e pela visita sobre tais recursos (Foto 10).
89
Foto 9 – Placa na Trilha da Figueira – Reserva Salto Morato Guaraqueçaba – PR.
Autor: MORAES, D. I. de, dez./2012.
Foto 10 - Painel explicativo sobre as relações ecológicas do Palmito Jussara – Reserva
de Salto Morato – Guaraqueçaba – PR.
Autor: MORAES, D. I. de, dez./2012.
90
Os tamanhos e as espessuras das placas são variáveis de acordo com o comprimento
da mensagem e sua localização. Placas no início de trilha geralmente apresentam um maior
número de informações e por isso devem ter aproximadamente 1 m de largura por 0,90 cm de
altura e 3,5 cm de espessura. As demais placas instaladas no trajeto da trilha podem ter
espessura de 1 a 2 cm (ANDRADE; ROCHA, 2008).
As placas e painéis podem ser instalados em postes de madeira, troncos, galhos e
arbustos, ou ainda, ser apoiada sobre pilhas de pedra (tótem). Os materiais utilizados em sua
fixação devem ser arames ou fios de nylon. Utilizar pregos fixados diretamente em árvores é
inconveniente, tanto do ponto de vista ético quanto estético (LECHENER, 2006).
b) Marcações a tinta: São colocadas em troncos de árvores ou rochas. As cores mais
utilizadas são o amarelo, azul, vermelho branco e laranja. O uso de cores primárias é indicado
para a trilha principal e as cores secundárias para as trilhas secundárias (ANDRADE;
ROCHA, 2008).
c) Fitas: Utilizam-se fitas coloridas, de plástico ou tecido, amarrados em troncos, galhos,
arbustos ou no alto de estacas de madeira ou bambu. Cada cor representa uma determinada
informação como, por exemplo, a direção do traçado da trilha principal e das trilhas
secundárias. Entretanto o significado da coloração das fitas deve ser apresentado aos
visitantes no início do percurso através de folhetos informativos, banner ou oralmente,
evitando com isso que o visitante se confunda e acabe percorrendo caminhos que não fazem
parte da trilha (ANDRADE; ROCHA, 2008).
4.2.3 Construção de Trilha em Áreas Declivosas
A principal preocupação de construir trilhas em áreas declivosas é o manejo da água,
que deve ser eficiente o bastante para mantê-la fora do piso, caso contrário, este será
facilmente erodido, podendo contaminar cursos d’água e criar condições escorregadias para
os visitantes, que possivelmente para evitar as áreas encharcadas contornaram a trilha pelas
áreas marginais alargando o seu piso e potencializando a degradação ambiental.
Para Lechener (2006), o manejo adequado da água começa durante a análise de sítio
com a compreensão dos padrões naturais de drenagem do local identificando sua origem e
fluxo. Ao conhecer os padrões de drenagem e a origem da água de escoamento, a situação
91
pode ser mitigada desviando a água da trilha através de estruturas ou afastando a trilha da
fonte de água.
A ação erosiva da água também pode ser mitigada com a construção da trilha em
formato de “S” ou em ziguezague que devem seguir os contornos naturais do relevo. A ideia
básica é quebrar a declividade incluindo rampas curtas “subindo numa trilha que está
descendo” a cada 10 ou 20 metros de distância. A inversão da declividade impede que a água
escoe pelo piso e comece a erodi-lo e também, possibilita realçar a experiência do visitante,
na medida em que a trilha contorna grandes pedras ou se curva para cima e ao redor de
grandes árvores (MANUAL SEMA/SP, 2009).
O método para construir uma trilha em área declivosa é apresentado por Lechener
(2006, p. 60) em quatro etapas, de acordo com o Manual do Líder de Equipes -1992
desenvolvido pela Instituição Norte Americana Volunteers for Outdoor Colorado.
Etapa 1- Estabelecer horizontalmente a linha central da trilha de acordo com a largura já
especificada nas anotações. Com um enxadão, picareta ou outra ferramenta, raspar uma linha
demarcando o lado superior da trilha que deve corresponder a metade de sua largura, e retirar
o material superficial e a serrapilheira necessário apenas para definir o limite superior da
trilha, como ilustra a figura 7.
Figura 7 - Marcando o talude superior da trilha.
Fonte: LECHENER (2006).
Org.: MORAES, D. I de (2012).
Etapa 2- Definir o limite inferior da trilha, que é a metade da largura do piso. Remover a
serrapilheira e as raízes de dentro dos limites definidos para a borda externa da trilha. Cavar
lentamente em direção ao cento da trilha, dispersando o material retirado para fora da linha
visual da trilha e onde não danifique a vegetação, corpos d’água ou outras áreas frágeis. Nesta
92
etapa apenas a vegetação, a serrapilheira, raízes e solo mineral contendo matéria orgânica
devem ser removidos. Depois de retirado os restos orgânicos é dado forma ao nível do piso,
de um lado a outro, sem escavar muito profundamente. O material retirado nesta etapa pode
ser utilizado para preencher buracos deixados pela retirada de troncos ou restabelecer o piso
em áreas que se fazem necessário (Figura 8).
Figura 8 - Corte do piso da trilha.
Fonte: LECHENER (2006).
Org.: MORAES, D. I de (2012).
Etapa 3- Cortar o talude superior, mantendo seu formato original sempre que possível. Além
da função estética o corte do talude é importante para prevenir deslizamentos ou erosões.
Iniciar com a definição do limite superior para o talude para em seguida remover a vegetação
e o solo esculpindo o talude de forma que se harmonize ao piso da trilha. Evitar transições
abruptas no topo e na base do talude para possibilitar o fluxo de água e criar um efeito natural.
Embora o talude possa parecer rústico no início, ele será rapidamente recoberto pela
vegetação. Em áreas muito íngremes o talude deve ser reforçado com paredes de rocha ou
madeira (Figura 9).
Figura 9- Corte do talude superior da trilha.
Fonte: LECHENER (2006).
Org. MORAES, D. I de (2012).
93
Etapa 4- A etapa final consiste em dar forma à vertente abaixo da trilha, a partir de sua borda.
Uma inclinação natural de 7 a 10% (ou seja, de 7 a 10 cm por metro de largura do piso) de um
lado a outro é adequada para a drenagem do piso da trilha e também é confortável para
caminhadas. A inclinação lateral do piso permite que a água saia da trilha lateralmente em vez
de correr trilha abaixo ou encharcá-la, e pode ser medida utilizando um nível ou uma garrafa
com água. Depois de implantar a inclinação lateral do piso, é necessário limpar e arredondar a
borda crítica, ou seja, o limite inferior da trilha, pois com o tráfico dos visitantes, o piso da
trilha tende a ser compactado e a borda crítica tende a tornar-se mais alta do que a parte
externa do piso. Além disso, os sedimentos transportados pela água tendem a se acumular ao
longo da borda crítica impedindo o escoamento da água. Por isso, a borda crítica necessita de
planos de manutenção contínuos e eficientes (Figura 10).
Figura 10- Inclinação lateral e molde da borda crítica.
Fonte: LECHENER (2006).
Org.: MORAES, D. I de (2012).
4.2.5.1 Canais laterais de escoamento
Para evitar que a água pluvial ganhe velocidade e utilize o piso da trilha como um
canal de escoamento, uma das formas mais utilizadas em áreas declivosas é a construção de
canais laterais em toda a extensão do piso da trilha.
Os canais laterais de escoamento podem ser construídos de concreto, como podemos
observar na foto 11, ou apenas ser uma escavação feita no solo com uma inclinação e
profundidade adequada ao montante de água que possivelmente irá escoar.
94
Foto 11 - Canal lateral de escoamento – Parque Nacional do Iguaçu – PR.
Autor: MORAES, D.I de abril/2012.
4.2.5.2 Vala de Drenagem
São escavações feitas sobre o piso da trilha com o objetivo de drenar a água antes que
ela ganhe velocidade e volume suficiente para causar erosão.
A construção da vala de
drenagem consiste em escavar uma seção mais baixa na trilha conhecida como dreno, que
deve ser estendido da parte superior do piso da trilha até a sua parte mais baixa, constituindo
assim o vertedouro, que deve conter tamanho e largura suficiente para direcionar a água para
fora do piso da trilha. Para conter a velocidade da água, o dreno deve apresentar uma
inclinação de 30 a 45 graus em relação ao piso da trilha, possuir uma entrada gradual
denominada de rampa superior para o desvio da água, e uma seção inclinada mais profunda
com uma altura suficiente para embolsar o fluxo d’água, denominada de rampa inferior
(LECHENER, 2006).
Apesar de serem estruturas bastante eficientes na contenção dos fluxos d’água, as
valas de drenagem não devem ser construídas em locais onde possam transportar sedimentos
para dentro de lagos, rios e riachos.
95
4.2.5.3 Barreiras de drenagem
As barreiras de drenagem são estruturas assim como as valas de drenagem, construídas
para evitar que o piso da trilha seja erodido pelas águas superficiais. Entretanto, ao invés de
escavar uma rampa sobre o piso, é feita uma barreira de pedra ou madeira elevada na lateral
do piso da trilha (Figura 12).
Foto 12 – Barreira de drenagem com bueiro– Reserva Salto Morato – Guaraqueçaba PR.
Autor: MORAES, D. I de, 2012.
Segundo o manual da SEMA/SP (2009) as barreiras de drenagem são mais eficientes
para declividades menores que 5%, por terem uma menor probabilidade de entupir com os
sedimentos. Já em declividades de 15 a 20% existe uma maior propensão ao entupimento,
principalmente se a barreira estiver em um ângulo menor que 45 graus em relação ao eixo da
trilha. Em declividades acima de 20 % as barreiras de drenagem tornam-se estruturas inúteis
devido à alta propensão de entupimento do seu escoadouro.
Quando mal construídas e mal mantidas, as barreiras de drenagem acabam tornando-se
obstáculos para os usuários, que ao desviá-la provocam o alargamento do piso da trilha.
Assim, para serem eficientes, as barreiras de drenagem devem ser instaladas com um ângulo
correto, atravessar de um lado a outro o piso da trilha, possuir inversão de declividade e
utilizar preferencialmente pedras para a sua construção (MANUAL SEMA/SP, 2009).
96
Quando o material utilizado for pedras, Lechener (2006) recomenda que estas devem
ser grandes, estarem enterradas no mínimo 2/3 do seu tamanho, e apresentar um ângulo
apropriado à declividade do terreno, evitando que a água ultrapasse a estrutura e continue
trilha abaixo. Para o autor, as barreiras também podem ser construídas fora da trilha em áreas
mais instáveis, com intuito de estabilizar a erosão e evitar danos ao piso.
Apesar de serem estruturas eficazes na contenção da água em declividades baixas, as
barreiras de drenagem também pode representar riscos aos visitantes, principalmente quando
os visitantes são idosos, crianças, portadores de necessidades especiais ou ciclistas.
4.2.5.4 Degraus
Os degraus são estruturas recomendadas para as inclinações do leito da trilha iguais ou
superiores a 12 % (ANDRADE, 2003) ou quando se pretende ganhar considerável elevação
em curta distância. Os componentes do degrau são: a altura (medida vertical da face de cada
degrau), a passada (distância da borda de um degrau ao pé do degrau seguinte), uma rampa ou
plataforma (extensão de trilha plana logo acima dos degraus) e muitas vezes troncos de
contenção (utilizados em locais onde a plataforma consiste de terra compactada para a
contenção do aterro) (MANUAL SEMA/SP, 2009).
Para que os degraus sejam estruturas confortáveis, Lechener (2006) recomenda que
deva haver um equilíbrio entre sua largura e altura, as quais quando somadas, devem estar
entre 38 a 46 cm. Por exemplo, se a altura for de 20 cm a largura deve estar entre 18 e 26 cm.
Os degraus também devem estar inclinados para baixo ou apresentar suave caimento para um
dos lados, permitindo que a água escoe para fora da estrutura.
Os materiais utilizados na construção dos degraus devem ser naturais e harmônicos ao
ambiente, por isso é recomendável utilizar preferencialmente rochas, troncos e pranchas de
madeira e rochas.
Para Lechener (2006), o melhor material para construir degraus são as rochas, devido
a sua durabilidade e estabilidade no terreno. As rochas devem pesar de 90 a 100 quilos e
serem enterrada no solo no mínimo 2/3 de seu tamanho. Os degraus são construídos
sobrepondo rochas achatadas uma sobre a outra e em alguns casos, utilizando concreto para
estabilizar as rochas menores.
Ao utilizar madeira como matéria prima, os degraus podem ser feitos de várias
maneiras, como mostra a figura 11.
97
Figura 11 - Modelos de degraus em madeira.
Fonte: ANDRADE; ROCHA, 2008.
Org. MORAES, D. I de (2012).
As fotos 13 e 14 apresentam degraus em trilhas feitos de diferentes materiais. A
primeira utiliza tábuas e torretes de madeiras alternados e fixados com dormentes. A segunda,
uma sobreposição de rochas.
Foto 13 - Trilha com degraus - Estação Ecológica Juréia-Itatins, Peruíbe - SP.
Fonte: http://www.blogcaicara.com/2010/07/gestao-turistica-em-uc-e-capacidade de.html.
98
Foto 14 - Degraus com rochas - Trilhas da Onça – Marechal Candido Rondon – PR.
Fonte: MORAES, D. I. de, outubro/ 2012.
4.2.5.5 Barreiras de Contenção
São construídas para fazer a estabilidade estrutural da encosta evitando e/ou
amenizando os processos erosivos e a deposição de materiais provenientes da encosta no piso
da trilha. Podem ser feitas de pedras, troncos, sacos de areia ou solo, telas, entre outras
(ANDRADE, 2003).
De acordo com Lechener (2006) as barreiras feitas com pedras são bastante úteis para
manter o piso no lugar, construir ziguezagues e estabilizar o talude em áreas muito íngremes.
Para conseguir a estabilidade da estrutura, o autor recomenda não utilizar rochas quebradiças
ou então utilizá-las dentro da parede e não na parte externa. As pedras devem ser sobrepostas
e encaixadas contra a encosta utilizando as pedras maiores na parte da frente.
A foto 15 apresenta uma barreira de contenção feita com tela fina em área de encosta.
Porém, não é a mais recomendada, por dar um aspecto mais artificial à paisagem (MANUAL
SEMA/SP, 2009).
99
Foto 15- Barreira de contenção com tela - Parque Nacional do Iguaçu- PR
Autora: MORAES D. I. de, abril/2012.
Quando feitas com troncos de madeira sobrepostos, estes devem ser transpassando
com longos pinos metálicos ou entalhados nas juntas e sustentados por alguns dormentes com
ângulo perpendicular a parede. Cada fileira deve ser assentada um pouco mais para dentro da
encosta, para que possa resistir à pressão do escorregamento da encosta (MANUAL
SEMA/SP, 2009).
4.2.6 Construção de Trilhas em Áreas Planas
As áreas planas são entendidas como mais problemáticas para a construção e manejo
das trilhas ecológicas, pois tendem a ser mal drenadas, suscetíveis a compactações e em
climas chuvosos são úmidas ou pantanosas.
Em áreas baixas o acúmulo de água no leito da trilha pode gerar diversos tipos de
problemas, como a destruição e o alargamento do piso e deslizamentos.
Poças que se formam em trilhas planas provocam diversos tipos de estragos
no piso. O tráfego que começa a contornar uma poça alarga a trilha (e
eventualmente a própria poça). Água parada geralmente enfraquece o piso e
o talude [...]. O pisoteamento da borda inferior de uma poça pode induzir ao
colapso da borda critica, já que os andarilhos também pisam além da borda
da trilha, desfazendo-a. Colapsos da borda externa são uma das principais
causas de deslizamentos de trilhas. (MANUAL SEMA/SP, 2009, p. 38).
100
Para evitar os impactos causados pelo acúmulo de água no piso da trilha, as principais
ações são: construção de deques ou passarelas de madeira; elevação do piso da trilha; e
construção de valas de drenagem ligeiramente arredondadas em toda a lateral da trilha. Para a
elevação do piso, é necessário utilizar material de aterro retirado das valas de drenagem ou de
outras áreas. Podem ser utilizadas também madeira serrada, torras, rochas, argila entre outros
materiais de preenchimento (Foto 16).
Foto 16 – Elevação do piso em área plana com rochas - Reserva Salto Morato –
Guaraqueçaba –PR.
Autor: MORAES, D. I. de, dez./2012.
Os pisos elevados são mais baratos e mais fáceis de construir do que as passarelas de
madeira, sendo recomendados principalmente em trilhas com inclinação de até 10 %, que
apresentem lençol freático alto e solos mal drenados (MANUAL SEMA/SP, 2009).
Além da elevação, existem também materiais que contribuem para manter o piso da
trilha com pouca umidade. É o caso do geotêxtil, uma manta bastante resistente que impede o
acúmulo de água sobre o piso da trilha e facilita sua secagem (Foto17).
101
Foto 17 - Piso elevado coberto com geotêxtil - Reserva Salto Morato- Guaraqueçaba –
PR
Autor: MORAES, D. I. de, dez./2013.
4.3 Manejo
O manejo das trilhas corresponde ao estabelecimento de ações que são necessárias
para prevenir, controlar, compensar e corrigir possíveis impactos negativos causados pela
construção e uso público das trilhas. Por isso, é um elemento fundamental mesmo para trilhas
implantadas sem planejamento.
Para Barros e Dines (2000) o manejo deve estar voltado à integração dos visitantes aos
objetivos de cada área, de modo a influenciar o comportamento do visitante de maneira
positiva. Para isso, a acessibilidade, integração com o ambiente natural e a possibilidade de
vivenciar plenamente o ambiente visitado, são fatores que devem ser considerados. Nesse
processo, existe um conjunto de princípios importantes tanto para nortear a escolha do método
de manejo, quanto para as ações desenvolvidas. São eles:
Princípio 1: O Manejo adequado depende dos objetivos da área.
Princípio 2: A área deve ser manejada de modo a respeitar a variedade de condições
em cada local e a diversidade de expectativas de cada visitante.
Princípio 3: O manejo deve ser realizado de modo a influenciar a redução das
alterações induzidas pela ação humana.
102
Princípio 4: Os impactos sobre os recursos naturais e sobre as condições sociais são
consequências inevitáveis do uso público.
Princípio 5: Os impactos podem ser temporal e/ou espacialmente descontínuos.
Princípio 6: A relação entre uso e impacto não é linear e pode ser influenciada por
diversas variáveis.
Princípio 7: Muitos problemas de manejos não dependem da intensidade de uso.
Princípio 8: Limitar o uso é apenas uma das varias opções de manejo.
Princípio 9: O monitoramento é essencial ao manejo eficiente.
Princípio 10: O processo de tomada de decisões deve separar as decisões técnicas do
julgamento de valores.
Princípio 11: É necessário atingir o consenso entre os grupos afastados/interessados
pelas ações propostas para que as estratégias de manejo em áreas naturais tenham sucesso
(BARROS; DINES, 2000).
O manejo envolve ações de manutenção, monitoramento e avaliação dos impactos
causados pela visitação.
4.3.1 Manutenção
Andrade e Rocha (2008) destacam que os planos de manutenção das trilhas devem ser
projetados em um espaço de cinco a dez anos e devem ter como prioridade, a proteção dos
recursos, a segurança e necessidades dos usuários, o nível de uso e os custos e benefícios das
intervenções.
As atividades de manutenção mais comuns em sistemas de trilhas correspondem à
remoção da vegetação, arbustos, galhos e entulhos no corredor, nas valas de drenagem, nas
barreiras de água e nos bueiros. Os acúmulos de materiais nessas estruturas e no corredor da
trilha acarretam impactos como o alargamento do seu piso, provocado principalmente pelo
desvio de obstáculos e pela aceleração dos processos erosivos, na medida em que o fluxo de
drenagem é alterado ou interrompido (Quadro 4).
103
Quadro 4 – Atividades de manutenção comuns às trilhas ecológicas.
Operação
Ferramentas
Trabalho Requerido
Limpeza do corredor da Serra de mão, motosserras, Limpeza de arbustos e
trilha
machado, facão, enxadão, restabelecimento
do
picareta.
corredor;
remoção
de
pequenas árvores e arbustos
ao longo dos limites da
trilha; verificação tanto da
altura, quanto da largura do
corredor.
Limpeza das estruturas de Pás, picareta, enxadão.
escoamento e drenagem
Remoção de sedimentos e
entulhos das estruturas e
escoadouros; aprofundar as
valas quando necessário.
Piso da trilha
Pás, picaretas,
machadinha.
Escadas e degraus
Alavancas, pás, colher de Manter
sustentação
e
pedreiro,
cortador
de drenagem,
reconstruir
pedras, luvas, martelo.
degraus.
Sinalização e estruturas
Martelo, pincéis, chaves de Repara o que for necessário,
fenda,
chave
inglesa, remover qualquer sinal de
alavancas.
vandalismo, removera a
sinalização se necessário.
Lixo
enxadão, Restabelecer bordas críticas
e
talude,
remover
obstruções como raízes,
rochas, etc.; checar as
condições gerais.
Sacos de lixo e luva
Remover o lixo.
FONTE: LECHENER (2006, P. 97).
Org. MORAES, D. I de (2012).
A manutenção do piso abrange desde a retirada de detritos caídos sobre o piso até a
remoção de raízes e pedras que estejam salientes e possam oferecer riscos aos visitantes. A
manutenção também inclui o restabelecimento de estruturas, nova forma ao talude, entre
outras (MANUAL SEMA/2009).
104
4.3.2 Monitoramento e Avaliação de Impactos
O objetivo principal do monitoramento e da avaliação de impactos é melhorar o
desempenho da trilha, minimizando ou evitando os impactos socioambientais e de uso e
permitir aos gestores, analisar e avaliar o nível de impactos decorrentes da visitação.
Para Takahashi (2004) o monitoramento ambiental cumpre duas funções básicas. A
primeira é permitir que os administradores mantenham um registro formal das condições
sociais e ecológicas da área. A segunda consiste em avaliar a efetividade das ações de manejo,
auxiliando os administradores a compreender se as ações foram suficientes para a resolução
dos problemas.
Para que o programa de monitoramento das trilhas seja eficaz, Lechener (2006, p. 91)
destaca que seus objetivos devem ser claramente definidos, considerando questões como:
Porque estamos monitorando?
O que iremos monitorar?
Qual é a frequência deste monitoramento?
Quem fará o monitoramento?
Que recursos essa pessoa terá?
Que variáveis serão monitoradas?
Que padrões podem ser utilizados para avaliar os dados coletados em campo?
Como as informações derivadas da atividade em campo serão armazenadas?
Como a informação obtida com a atividade de monitoramento será utilizada?
De acordo com Cole (1983, apud LECHENER 2006), o levantamento dos impactos
em trilhas pode ocorrer a partir de três bases técnicas:
a) Técnica replicável de medida: são estudos quantitativos de pontos amostrais, selecionados
em um determinado intervalo de tempo. Geralmente os pontos amostrados são somente
realizados nas áreas com alto nível de deterioração ou sítios com potencial para apresentar
problemas. São estabelecidos transectos e medidos na trilha onde são vistas as suas principais
variáveis, tais como: tipo e perda de solo, profundidade da trilha, vegetação, regime
hidrológico, tipo de usuários, entre outros. Este método pode ser pouco útil para os programas
de manejo, mas é útil para as atividades de manutenção, pois, permite a obtenção de
conhecimentos sobre os padrões de uso, materiais utilizados, estrutura da trilha, entre outros.
105
b) Levantamentos Expeditos: Consiste na realização de observações rápidas sobre as
condições gerais da trilha e como ela vem mudando ao longo do tempo. Um grande número
de pontos de levantamentos comparativos, que tenham sofrido modificações ao longo do
tempo, pode ser selecionado. Também alguns parâmetros podem ser levantados sobre um
conjunto de variáveis a cada 50 metros na trilha, tais como: largura, profundidade, presença
de umidade, raízes, condições da vegetação e da estrutura da trilha em um raio de 3 metros, a
partir do ponto de amostragem. As variáveis dependerão da disponibilidade de recursos, do
propósito do levantamento e das condições ambientais.
c) Técnicas de censo: Corresponde a identificação e a descrição, em detalhes das condições da
trilha. A trilha é subdividida em segmentos que podem ser identificados como: sem danos,
danos pequenos, danos moderados, e danos severos. Podem ser utilizados números que
correspondem às condições gerais do segmento, tais como:
0= sem danos
1= danos pequenos
2= danos moderados
4= danos severos
Para Lechener (2006) o censo dos problemas apresentados, é talvez a ferramenta mais
comum e eficiente para o monitoramento e a avaliação de impactos voltados ao manejo de
trilhas.
4.3.3 Fechando, Recuperando e Realocando Trilhas
A necessidade de fechar ou realocar uma trilha pode ocorrer devido a fatores ligados
principalmente à erosão e/ou compactação do solo, perturbação da vida selvagem, segurança
dos visitantes, conflitos entre visitantes, ou entre estes e os moradores locais, entre outros.
O fechamento da trilha pode ser temporário, quando a intenção é permitir que a área se
recupere da degradação ambiental, ou definitivo, quando o acesso é impedido por meio de
barreiras naturais através da transplantação de árvores de grande porte nos pontos de entrada
da trilha.
Quando a realocação for necessária, todos os procedimentos tomados a respeito do
planejamento, design e construção, devem ser os mesmos que os de uma nova trilha. Além
disso, na análise de sítio, as causas dos problemas encontrados na trilha antiga, devem ser
106
identificadas, com intuito de prevenir ou evitar que estes problemas ocorram novamente na
trilha realocada.
Para recuperar uma trilha degradada, além do fechamento e isolamento da área,
algumas técnicas de recuperação ambiental, também podem ser desenvolvidas, tais como:
a) Estabilização do piso da trilha com toras, pedras e pequenas barragens de
contenção, que aprisionam sedimentos e impedem a erosão;
b) Escarificação do solo compactado permitindo sua aeração, infiltração e introdução
das sementes;
c) cobertura do solo com arbustos ou restos de vegetais, para impedir que o solo seja
erodido pelo vento ou pela chuva (LECHENER, 2006).
Para Andrade e Rocha (2008), um bom indicador na recuperação de trilhas é avaliar o
potencial do ambiente local em se recuperar sozinho, como por exemplo, as áreas planas,
úmidas e com solos férteis, que possui um potencial de recuperação maior que as áreas muito
acidentadas, áridas e com solo pobre. Depois de analisar esses aspetos, a recuperação pode
ocorrer de forma passiva ou ativa. A recuperação passiva consiste em deixar o solo em
pousio, para que se recupere sozinho. Tal procedimento é eficaz especialmente em locais em
que o impacto é pequeno e não sofre invasões de gramíneas e lianas (cipós) (fatores agravados
pelo efeito de borda).
Já a recuperação ativa, consiste em uma intervenção direta que pode ser realizada
através do plantio de mudas cultivadas, ou pelo transplante de vegetação vizinha. Em ambos
os casos, as espécies utilizadas devem ser nativas e autóctones da região, podendo aproveitar
o potencial de cada espécie no processo de recuperação, por exemplo, o ingazeiro que é
eficiente para a contenção de encostas, a aroeira pimenteira, eficaz na minimização do efeito
de borda, entre outras.
Vale lembrar que a recuperação, realocação ou fechamento das trilhas é decorrente de
um planejamento de implantação e manejo ineficientes, que muitas vezes, não levam em
conta as condições e características biofísicas e sociais da área e o perfil dos usuários. Por
isso, planejar uma trilha não é uma tarefa simples, tampouco banal. Ela depende de
conhecimentos específicos, de planejamento detalhado e plano de monitoramento e avaliação
eficazes e condizentes com um uso efetivamente conservacionista.
Nessa perspectiva apresentamos algumas metodologias utilizadas para avaliar os
impactos decorrentes da visitação e o seu potencial interpretativo das trilhas. São
metodologias norte americanas, que têm sido aplicadas em diferentes estudos realizados em
trilhas de áreas protegidas no Brasil.
107
4.4 Metodologias de Avaliação de Impactos
De acordo com Costa (2006), as metodologias mais utilizadas na avaliação físicoambiental e interpretativo das trilhas de áreas protegidas são: Capacidade de Carga (CC);
Limits of Acceptable Charge (Limite Aceitável de Câmbio - LAC); Visitor Activity
Management Process (Processo de Gerenciamento da Visitação - VAMP); Visitor Experience
and Resource Protection (Experiência do Visitante e Proteção de Recursos - VERP);
Recreacional Oportunities Spectrum (Espectro de Oportunidade de Recreação – ROS);
Visitor Impact Management (Monitoramento de Impacto da Visitação - VIM/MIV); e Índice
de Atratividade de Pontos Interpretativos (IAPI).
Na sequência, apresentamos elementos básicos de cada uma dessas metodologias.
Como estaremos trabalhando com as metodologias MIV - Monitoramento do Impacto da
Visitação e IAPI – Índice de Atratividade de Pontos Interpretativos, para avaliação dos
impactos e do potencial interpretativo das trilhas escolhidas para a pesquisa empírica,
detalharemos essas duas.
4.4.1 Capacidade de Carga – CC
O conceito de capacidade de carga foi primeiramente utilizado pela biologia e pela
pecuária. A primeira fazia referência ao número de animais que podiam ser mantidos em
determinado habitat sem a ocorrência de impactos de ordem biológica e ecológica. A segunda,
tinha por objetivo estabelecer o número de animais que poderiam utilizar uma área de
pastagem, sem causar danos irreversíveis ao meio ambiente (TAKAHASHI, 2004).
No contexto das recreações ao ar livre, em especial nas trilhas ecológicas, a
capacidade de carga, começou a ser utilizada a partir da década de 1950 nos EUA, onde a
visitação em unidades de conservação, principalmente em parques nacionais era crescente.
Neste período, o conceito era atribuído ao número de visitantes que um lugar poderia receber,
sem considerar suas experiências e comportamentos (COSTA, 2006).
Um dos métodos mais utilizados no cálculo da capacidade de carga em ambientes
naturais é proposto por Miguel Cifuentes (1992) que em seu manual “Determinación de
capacidad de carga turística em áreas protegidas”, apresenta os procedimentos
metodológicos aplicados a reserva Biológica de Caracas na Costa Rica. O cálculo da
capacidade de carga desenvolvido por Cifuentes busca estabelecer o número máximo de
108
visitas que uma área protegida pode receber durante um dia, de acordo com as condições
físicas, biológicas e de manejo que se apresentam no momento do estudo.
4.4.2 Limite Aceitável de Câmbio – LAC
Criado na década de 1980 pelo Serviço Florestal dos Estados Unidos, o LAC se
preocupa com as condições desejadas e o quanto de mudanças pode ser tolerado pelo
ambiente natural, considerando como parâmetros de análise a infraestrutura da trilha, a
interpretação ambiental e o perfil do visitante (TAKAHASHI, 2004).
O sistema LAC permite decidir onde e quais modificações são aceitáveis, a fim de que
sejam controladas por um adequado plano de monitoramento (COSTA, 2006).
Takahashi (2004) destaca as dez etapas necessárias para selecionar os indicadores de
impactos através do limite aceitável de câmbio. São elas:
Etapa 1 - Definir os objetivos e as condições desejadas.
Consiste em reunir os mandatos legais e políticos, que guiarão as ações de manejo,
desenvolvendo uma perspectiva sobre a importância da área, suas características e sua
abrangência local e regional.
Etapa 2 - Identificar valores, preocupações e limitações.
Considerando os objetivos da categoria de manejo, as características ou qualidades
especiais que necessitam de atenção devem ser identificadas, de forma a unificar o
entendimento sobre os valores e as questões importantes.
Etapa 3 - Identificar e descrever as zonas.
A partir das informações coletadas na etapa 2, o número de zonas será definido,
descrevendo as condições ecológicas, recreativas e administrativas adequadas para cada uma.
Elas devem estar compatíveis aos objetivos a área pretendida.
Etapa 4 - Selecionar os indicadores de impactos.
Os indicadores consistem em elementos específicos que representam as condições
julgadas adequadas e aceitáveis para cada zona. Estes devem ser fáceis de serem medidos e
passiveis de controle e manejo. Entretanto a escolha de apenas um indicador não é suficiente
109
para descrever as condições de uma área em especial, sendo necessário, a utilização de um
grupo de indicadores.
Etapa 5 - Inventariar os recursos e as condições existentes.
O inventário é orientado por meio dos indicadores selecionados na etapa quatro. Os
dados são mapeados, de forma que as condições e localização dos indicadores sejam
conhecidos. A constatação do nível de impacto norteará onde e quais ações de manejo devem
ser tomadas. Além disso, as informações do inventário auxiliarão na avaliação das
consequências das ações de manejo e no estabelecimento de limites ou padrões de uso.
Etapa 6 - Especificar os limites dos indicadores.
A definição dos limites dos indicadores representa o nível máximo de impacto
aceitável para cada indicador em cada zona. Entretanto, o limite não é um objetivo buscado
pelo manejo.
Etapa 7 - Identificar as condições para cada zona.
Tem por objetivos definir quais indicadores de impacto devem ser mantidos para cada
zona.
Etapa 8 - Identificar as ações de manejo para cada opção.
Ao comparar as condições existentes (etapa 5) com os limites aceitáveis (etapa 6), é
possível identificar os locais onde os problemas existem e quais ações de manejo são
necessárias. Quando as condições existentes são menores que os limites, há pouca
necessidade para mudanças no manejo.
Etapa 9 - Avaliar e selecionar a melhor opção.
As opções de manejo selecionadas devem considerar o tipo de custo e o benefício a ela
associado, sendo necessária a participação não só dos administradores, como também dos
demais grupos envolvidos.
Etapa 10 - Implementar ações e monitorar as condições.
A partir da seleção das melhores opções, as ações de manejo são executadas
juntamente com a instituição de um programa de monitoramento, o qual irá comparar os
110
indicadores selecionados na etapa quatro e as condições identificadas nos limites. Quando as
condições não estão melhorando, novas ações de manejo devem ser instauradas.
4.4.3 Processo de Gerenciamento da Visitação – VAMP
Devido à crescente demanda por atividades recreativas nas áreas protegidas do Canadá
no final da década de 1970, o Parks Canada Policy buscou incentivar às atividades que
promovessem a compreensão, interpretação e a sensibilização dos visitantes, com o mínimo
de instalações construídas. Concomitante a esse processo, na década de 1980, é desenvolvido
a metodologia VAMP, que contribuiu para a seleção de critérios para o estabelecimento de
atividades apropriadas a serem realizadas nestas áreas (GUIMARÃES, 2009).
O método VAMP tem como objetivo priorizar os exercícios de interpretação e
sensibilização dos visitantes, a fim de promover as oportunidades recreativas. Ao contrário
dos métodos ROS e LAC, que focam o gerenciamento dos recursos, o VAMP possui enfoque
voltado para o usuário destes recursos e aos serviços de interpretação que são oferecidos.
Deste modo, faz-se necessário desenvolver perfis de atividades que estejam conectados com
as características sociais e demográficas dos participantes, as condições presentes no ambiente
e as tendências que afetam estas atividades (STIGLIANO, 2004).
Por focar nos visitantes, o VAMP possibilita o desenvolvimento de dados e
informações relativas aos hábitos dos usuários, compreendendo seus comportamentos, para se
necessário, modificá-lo.
As etapas do Método são:
1. Elaboração dos principais conceitos (termos de referência);
2. Criação de base de dados e análise da situação;
3. Organização, identificação e priorização de oportunidades;
4. Estabelecimento dos objetivos e estratégias;
5. Implantação, monitoramento e atualização de planos (STILGLIANO, 2004).
Guimarães (2009) considera o método VAMP como um dos métodos mais completos
de gerenciamento da visitação. O seu potencial mais significativo está no foco voltado para o
entendimento dos visitantes, de forma que as expectativas dos usuários possam ser
equilibradas com as da administração do parque e com os princípios de proteção do ambiente.
A partir disso, podem ser desenvolvidas atividades especificas para determinados públicos,
estimando novas práticas de interpretação ambiental.
111
4.4.4 Experiência do visitante de Proteção de Recursos – VERP
Desenvolvido pelo Serviço de Parques Nacionais dos Estados Unidos na década de
1990, o VERP é uma metodologia que tem por objetivos descrever o potencial de
experiências da visitação e as condições dos recursos, através do zoneamento e
monitoramento dos recursos e indicadores sociais.
De acordo com Takahashi (2001), o método VERP é baseado em elementos e técnicas
do LAC e do VIM, e é constituído em de nove etapas. As seis primeiras são requisitos gerais
ao planejamento da área natural (parque) e as três últimas requerem revisão e manejo anuais.
Etapa 1. Reunir uma equipe interdisciplinar para o projeto.
Etapa 2. Desenvolver uma estratégia para envolver o público.
Etapa 3. Desenvolver propostas referentes aos objetivos primários da área protegida,
importância e temas interpretativos.
Etapa 4. Analisar o recurso natural e uso publico existente.
Etapa 5. Descrever o nível de experiência dos visitantes e as condições do meio
natural.
Etapa 6. Determinar a localização de possíveis áreas de uso.
Etapa 7. Selecionar indicadores e especificar padrões para cada área; desenvolver um
programa de monitoramento.
Etapa 8. Monitorar indicadores ecológicos e sociais.
Etapa 9. Implementar ações de manejo.
4.4.5 Espectro de Oportunidade de Recreação – ROS
O ROS é uma metodologia fundamental no manejo baseado em experiências, porque
propõe que as experiências recreacionais e os benefícios dela derivados aconteçam dentro de
um conjunto de eventos particulares, vistos a partir de um gradiente (espectro) que vai do
primitivo ao urbano. Seu método de análise consiste em dividir a área em classes de
oportunidades de recreação em termos locais, qualificadas pelos tipos de condições sociais e
de recursos que são aceitáveis para aquela classe, bem como, o tipo de ação administrativa
considerada apropriada. Isso significa que os elementos como design, instalação e
características sociais, podem ser relacionados com o tipo de satisfação que o visitante
procura ter na área protegida (LECHENER, 2006).
112
O ponto negativo do ROS segundo Stigliano (2004) é o fato de ser baseado na
determinação da capacidade de carga, que por si só já apresenta uma capacidade limitada e
ineficiente. Os pontos positivos segundo o autor correspondem à união entre oferta e
demanda, a possibilidade de integração com outros métodos e a diversificação das
oportunidades de lazer propiciada aos visitantes.
4.4.6 Manejo de Impacto da Visitação – MIV
Proposta por Kuss (1990 apud Castro e Stipp, 2003), esta metodologia abrange três
categorias de indicadores – sociais, físicas e biológicas – e tem como objetivos promover a
observação dos impactos e analisá-los de acordo com suas possíveis origens e causas, de
forma a estabelecer ações de manejo capazes de minimizar ou reverter o quadro negativo
encontrado (COSTA, 2006).
O MIV (VIM em inglês), parte do princípio de que toda e qualquer tipo de visitação
em ambientes naturais causa impactos. Portanto, não busca o impacto “zero”, mas sim, mantêlo em níveis aceitáveis, conforme os critérios estabelecidos e os objetivos da área.
A partir de suas três proposições iniciais - 1. Condição do impacto; 2. Causa do
impacto; e 3. Estratégias de manejo potenciais, Freixêdas et. al (2000) propuseram oito etapas
complementares e de fácil entendimento e aplicação para o MIV. As cinco primeiras são
voltadas à identificação das condições dos impactos e as etapas seguintes, à identificação das
causas e estratégias de manejo.
Etapa 1: Pré-avaliação e Revisão de Informações
Tem por objetivos levantar todas as informações já existentes sobre a área protegida.
Os planos de manejo, o Código Florestal e a legislação ambiental, podem ser ferramentas
importantes no entendimento e escolha das atividades e estruturas adequadas para a área a ser
monitorada.
Etapa 2: Revisão dos Objetivos de Manejo
Nesta etapa serão realizados levantamentos e revisão dos objetivos de manejo da área,
de modo a verificar quais as atividades previstas para o local e se estas estão ocorrendo de
modo planejado. É fundamental que os objetivos estabelecidos para a área estejam de acordo
113
com as informações obtidas na Etapa 1, evitando com isso, conflitos entre o uso proposto e as
restrições e condições impostas pelos documentos oficiais.
Etapa 3: Seleção dos indicadores de Impacto
Os indicadores de impactos escolhidos devem permitir a avaliação efetiva de
alterações no ambiente em função da visitação. Esses indicadores devem permitir, através de
sua análise, a observação das condições da trilha e a experiência da visitação. Para isso,
devem ser:
1. Facilmente observáveis e mensuráveis (evitando subjetividade na leitura);
2. Compatíveis com os objetivos de manejo da área;
3. Relacionados ao uso (visitação);
4. Responder a ações de manejo ou intervenção.
O quadro 5 apresenta alguns dos indicadores que podem ser utilizados como
parâmetros para avaliar os impactos nas trilhas.
Quadro 5 - Lista de indicadores de impactos biofísicos e sociais.
Indicador
Leito
Borda
Solo
Vegetação
Saneamento
Risco
Verificadores
Superfície descoberta (incidência solar)
Alteração de largura
Afundamento
Erosão em sulcos
Erosão em canais
Erosão laminar
Canal de drenagem (água pluvial ou fluvial)
Atalhos
Manutenção de infraestruturas (bancos, sinalizações)
Desbarrancamento de encosta
Perda da borda critica
Compactação
Solo exposto (sem litter)
Rochas aflorantes
Raízes expostas
Alagamentos
Árvores caídas
Espécies exóticas
Vegetação danificada na borda (mortas)
Incêndios
Inscrições (pichação rochas, árvores ou sinalização)
Lixo (visualização)
Fatal
Cair de encosta
Escorregar
114
Fauna
Som
Espécies domésticas
Percepção de música
Percepção de gritos de pessoas
Fonte: COSTA; MELO (2005).
Org. MORAES, D. I. de (2012)
Etapa 4: Seleção de padrões para indicadores de impactos
Uma vez definidos os indicadores e as metodologias de medição e avaliação destes, é
possível determinar os padrões máximos de impactos aceitáveis para cada indicador. Os
resultados obtidos com o monitoramento serão comparados com os padrões, de modo a
verificar se a situação da trilha ou do atrativo está dentro do ideal, ou se apresenta algum tipo
de impacto acima dos limites aceitáveis.
Etapa 5: Comparação dos padrões com as condições verificadas
Nesta etapa, a situação verificada será comparada com os padrões estabelecidos com
base nos indicadores de impactos selecionados. Se os valores obtidos forem inferiores ou
igual ao padrão estabelecido, pode-se considerar que a trilha ou o atrativo apresenta uma
condição adequada e que a visitação não esta alterando o ambiente de forma significativa.
Entretanto, se o valor for superior ao determinado pelo padrão, então é entendível que o
impacto existe, e uma ação de manejo deve ser realizada para minimizá-lo.
Etapa 6: Identificação das prováveis causas dos impactos
Para os indicadores de impactos que tenham seus padrões excedidos, é necessário que
as causas que estão levando a tal situação sejam identificadas. É importante considerar todos
os aspectos da visitação que podem influenciar tal situação, relacionado os indicadores de
impactos com aspectos específicos do uso, como tipo de uso, tamanho dos grupos, tempo de
uso, período de permanência, concentração de uso, frequência do período de alta temporada,
quantidade total de uso e comportamento dos visitantes. É necessário também considerar se a
causa do impacto não está relacionada a uma falha de manejo e gestão da visitação.
Etapa 7: Identificação das estratégias de manejo
Nesta fase, é importante que o foco de análise não esteja voltado nas condições dos
impactos, mas sim, nas suas prováveis causas. As estratégias de manejo podem incluir
abordagens diretas que regulam ou restringem atividades de visitação e que busquem alcançar
o resultado desejado, influenciando o comportamento do visitante.
115
Etapa 8: Implementação
Depois de estabelecidas a estratégia de manejo, sua aplicação deve ocorrer o mais
rápido possível para que o quadro de impacto da área seja revertido. A constante avaliação
dos indicadores de impactos é fundamental para determinar a eficiência dessas ações,
verificando se os resultados são os desejados e se outras características do local e a
experiência do visitante não foram alteradas.
Atualmente o MIV é uma das metodologias mais utilizadas em áreas protegidas
(COSTA, 2006). Além de permitir a identificação dos impactos, a metodologia possibilita
estabelecer mecanismos para promover o manejo e o monitoramento da visitação como um
processo dinâmico para diagnóstico de seus impactos e de sua qualidade. Carvalho (2003),
Costa e Mello (2005), Costa (2006), Ribeiro e Castro (2006) são alguns dos autores que
utilizaram a metodologia MIV para avaliar os impactos gerados pelo uso público em trilhas de
Unidades de Conservação.
4.4.7 Índice de Atratividades em Pontos Interpretativos – IAPI
O Índice de Atratividades em Pontos Interpretativos (IAPI) é um método que tem por
objetivos facilitar a definição de pontos de interpretação ao longo de trilhas para finalidades
educativas e interpretativas. Pode ser utilizado tanto na definição de pontos estratégicos de
interpretação, quanto em trilhas interpretativas já implantadas, permitindo avaliar as formas
de condução da visitação à interpretação ambiental e levantar os atrativos e as temáticas
interpretativas (IKEMOTO, et al., 2009).
De acordo com Magro e Freixêdas (1998), o IAPI é composto por cinco fases, sendo
elas:
Fase 01: Levantamento de pontos potenciais para a interpretação
Corresponde a um diagnóstico geral dos atrativos naturais e culturais. É basicamente
um exercício de observação, onde se define que temas podem ser trabalhados. Determinado o
tema de interesse, inicia-se a seleção dos pontos que estarão no roteiro previsto. É
recomendado identificar e numerar os pontos com fitas coloridas que aceitem escritas e que
possam ser retiradas posteriormente.
116
Fase 02: Levantamento e seleção de indicadores
Consiste no levantamento dos recursos naturais visíveis a partir dos pontos préselecionados. Caracterizam-se pela facilidade de identificação em campo e sua repetição por
um segundo observador (como filtro da subjetividade das impressões). A atratividade do local
é percebida e, geralmente, relacionada a: corpos d’água, variedade de vegetação, relevo, áreas
históricas, entre outros. Pode ocorrer da atratividade ser definida pela combinação de dois ou
mais fatores, como por exemplo água e relevo.
Aspectos negativos, tais como presença de insetos, riscos para fauna e exposição ao
perigo podem também ser contabilizados para garantir a qualidade da visitação.
Fase 03: Elaboração de ficha de campo
Em uma ficha de campo relaciona-se a ausência ou presença dos indicadores a serem
avaliados em cada um dos pontos selecionados. É importante haver uma ficha para cada área
analisada contendo os elementos considerados mais importantes.
Fase 4: Uso da ficha de campo
Para utilizar a ficha de campo, usamos uma graduação para facilitar a identificação dos
recursos analisados no local (1 = presente; 2 = grande quantidade; 3 = predominante). Embora
subjetiva, podemos buscar uma padronização através da análise de cada trilha, por duplas de
apontadores, para que analisem seus pontos do início ao fim criando consenso e evitando
mudanças de critérios. Na prática, é uma segunda visita a trilha, onde de posse da listagem de
atrativos dentro do tema eleito, busca-se padronizar os critérios de avaliação dos indicadores
escolhidos. A intensidade anotada deve ser multiplicada pelo seu respectivo peso. Estes
valores somados permitem chegar à pontuação final dos sítios. A atribuição de valor numérico
para o indicador objetiva facilitar a contagem de pontos para cada local analisado.
Fase 5: Seleção final
Os pontos interpretativos com maior pontuação são selecionados de maneira
definitiva, após uma checagem final em campo. O mesmo procedimento pode ser utilizado
para a escolha de locais de descanso (colocação de bancos) ao longo da trilha.
No Brasil, o IAPI tem sido utilizado principalmente em unidades de conservação, para
avaliar o potencial de trilhas interpretativas já existentes. É o caso das pesquisas
desenvolvidas por Ikemoto et al. (2009) que aplicou a metodologia nas trilhas do Jequitibá,
localizadas no Parque Estadual dos Três Picos/RJ; Costa (2006) em três trilhas do Parque
117
Estadual Pedra Branca/RJ e Costa e Mello (2005) na trilha do Rio Grande no Parque Estadual
Pedra Branca/RJ.
Contudo, após abordar os principais elementos que envolvem o processo de
implantação e manejo de trilhas ecológicas em fragmentos florestais, passamos no item
seguinte, a trabalhar com a situação empírica, na qual, analisamos duas trilhas ecológicas
localizadas em um pequeno estabelecimento rural denominado Recanto Renascer. Buscamos
nessa experiência, relacionar a situação empírica com os elementos teóricos aqui apresentados
sobre as técnicas de implantação e manejo das trilhas e também na perspectiva da trilha como
uma alternativa de uso conservacionista para as áreas florestais. O objetivo foi desenvolver
uma análise das trilhas do local, com intuito de conhecer suas características e condições
ecológicas, identificar os possíveis impactos atuais e futuros, as potencialidades
interpretativas e o perfil de seus visitantes, para posteriormente, oferecer subsídios a um
manejo eficiente, visando reduzir os impactos ambientais e otimizar o potencial turístico e
educativo das trilhas.
118
5 TRILHAS ECOLÓGICAS EM FRAGMENTOS FLORESTAIS DE PEQUENOS
ESTABELECIMENTOS RURAIS: UM ESTUDO NO RECANTO RENASCER
MUNICÍPIO DE FRANCISCO BELTRÃO-PR
5.1 Localização e Caracterização Geográfica da Área de Estudo
O Recanto Renascer é um estabelecimento rural com 43,5 hectares, localizado na
comunidade de Água Vermelha, município de Francisco Beltrão. As coordenadas geográficas
são 26º 08’ 04” latitude Sul, e 53º 06’ 46” longitude Oeste (Mapa 1), e as altitudes variam
entre 580 a 682 metros. A propriedade está a 13 km do centro urbano de Francisco Beltrão e
se destaca como um dos poucos estabelecimentos rurais no município a oferecer lazer e
atividades recreativas em área de floresta. Ele faz parte do Roteiro de Turismo Rural do
município, denominado “Caminho do Marrecas”.
Mapa 1 – Localização geográfica da área de Estudo.
Org.: PEREIRA, L. S. B (2013).
119
5.1.1 Aspectos Abióticos
A área de estudo se insere na zona climática subtropical mesotérmica úmida, Cfa na
classificação de Köeppen. Possui verões quentes e com ocorrência de frequentes geadas no
inverno. A média de temperatura dos meses mais quentes é superior a 22° e dos meses mais
frios, inferior a 18º. A média pluviométrica anual é de 2.000 mm, com chuvas bem
distribuídas ao longo do ano (IPARDES, 2004).
O relevo da região é caracterizado como ondulado e também escarpado nas encostas
das maiores elevações. Apresenta altitudes que variam de 500 m nas margens do rio Marrecas
a 948 metros na cabeceira do rio Jacutinga (MINEROPAR, 2002).
O solo da região de acordo com a empresa de serviços geológicos do ParanáMINEROPAR (2002) é classificado como predominantemente latossolo roxo, com
profundidade elevada principalmente nas partes plainas do relevo. Nas áreas íngremes e
escarpadas, ocorre grande quantidade de afloramentos de rocha, cobertas por delgada camada
de solo novo.
Os latossolos constituem uma categoria de solos maduros que apresentam horizonte B
bem desenvolvido. Possuem composição argilosa, são homogêneos, porosos e de cor
arroxeada. Sua principal característica física é a grande espessura de geralmente 3 metros,
podendo passar os 10 metros nas regiões de relevo plano. Apresentam estrutura granular
muito pequena. São macios quando secos e altamente friáveis quando úmidos. O teor de silte
é inferior a 20% e a argila varia entre 15% e 80%. São solos com alta permeabilidade à água e
bastantes resistentes a erosão (EMBRAPA, 2007).
A área estudada pertence à bacia hidrográfica do Rio Marrecas, o qual é afluente do
rio Chopim e drena uma área aproximada de 846 Km. O Rio Marrecas tem sua nascente nos
municípios de Flor da Serra do Sul e Marmeleiro, possui seu médio curso no município de
Francisco Beltrão e se caracteriza como bacia hidrográfica assimétrica, com maior
desenvolvimento de afluentes na margem esquerda (PAISANI et al., 2008).
5.1.2 Aspectos Bióticos
O fragmento de floresta da área de estudo pertence à região fitogeográfica da Floresta
Ombrófila Mista, popularmente conhecida como “mata de araucária” ou “pinheiral”. Esta
formação florestal é típica do planalto meridional, em regiões de clima pluvial subtropical
120
com altitudes que variam de 500 a 1200 m. Ocorre com maior frequência nos Estados do
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul (VELOSO et al., 1991).
No Estado do Paraná, a Floresta Ombrófila Mista é encontrada nos três planaltos,
ocorrendo também na região dos campos na forma de capões ou no vale dos rios. A
característica básica desta floresta é o fato do pinheiro araucária (Araucária angustifolia) ser a
espécie predominante e formar o andar superior, dando a impressão de uniformidade à
paisagem. Entretanto, junto à araucária estão associadas várias outras espécies, que variam de
acordo com as condições microclimáticas e de solo locais (VELOSO, et al, 1991).
A Floresta Ombrófila Mista pode ser dividida em três formações distintas: Floresta
Ombrófila Mista Aluvial; Floresta Ombrófila Mista Montana; Floresta Ombrófila Mista Alto
Montana (FERRETTI, et al, 2006), que serão descritas a seguir:
a) Floresta Ombrófila Mista Aluvial
Esta floresta, também denominada de florestas ciliares ou de galeria, se desenvolve às
margens de rios que percorrem terrenos de geomorfologia plana até suave-ondulada.
Suportam frequentes inundações dos rios e podem chegar até 15 metros de altura, sendo
constituída principalmente por Araucária angustifolia, Luehea divaricata (Açoita-Cavalo) e
mirtáceas no estrato emergente e por Sebastiania commersoniana (Branquilho) no estrato
arbóreo contínuo.
Segundo Ferretti et al. (2006), a Floresta Ombrófila Mista Aluvial está associada a
ambientes campestres importantes em termos de diversidade florística e espécies endêmicas,
que são os campos de inundação (várzeas) e lagos, muitas vezes originados de meandros
abandonados dos rios.
b) Floresta Ombrófila Mista Montana
Esta formação ocupava originalmente quase que inteiramente os planaltos acima de
500 metros de altitude dos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, sendo
encontrada atualmente, em poucas reservas particulares e no Parque Nacional do Iguaçu.
Em estágios iniciais essa floresta apresenta apenas um estrato arbóreo de até 15 metros
de altura e com troncos de diâmetros reduzidos. A árvore emergente é a araucária (Araucária
angustifolia) com cerva de 30 metros de altura nas associações maduras.
c) Floresta Ombrófila Mista Alto Montana
Conhecida também como “florestas nebulares”, “florestas altimontanas” ou “matinhas
nebulares”, a Floresta Ombrófila Mista Alto Montana é encontrada no Paraná nas altitudes
121
acima dos 1.000 metros. Apresenta diferenças estruturais significativas se comparada às
florestas de patamares altimétricos menores, das quais se destacam o pequeno porte das
árvores (em torno de 4 metros), a formação de somente um estrato com copas entremeadas
formando um dossel denso e sem a presença de árvores emergentes, troncos e galhos
retorcidos, folhas pequenas, abundância de epífitas, redução da diversidade de espécies com a
elevação da altitude e alto grau de endemismo (SCHEER; MOCOCHINSKI, 2009).
A partir das características das três formações pertencentes à floresta Ombrófila Mista,
a formação vegetal existente na área de estudo pode ser identificada como Ombrófila Mista
Aluvial, pelo fato de estar localiza as margens do Rio Marrecas e apresenta em seu extrato
superior a Araucária Angustifólia e nos extratos inferiores árvores mais baixas e/ou arbustos
em grande parte pertencente às mirtáceas (pitanga, uvaia, cereja, guabiroba, entre outras
espécies), que dão à paisagem vegetativa, a fisionomia característica desta formação.
5.1.3 Aspectos Socioeconômicos
A propriedade rural utilizada como instrumento de investigação é composta por 43,5
hectares, dos quais, 9,8 ha são utilizados em atividades agropecuárias, com cultivo de
produtos para a comercialização (soja e milho) e também frutas, legumes e hortaliças,
juntamente com a e criação de animais para a subsistência. O restante da propriedade, cerca
de 33 hectares, é utilizada em atividades não agrícolas voltadas ao lazer e turismo rural. As
atividades desenvolvidas caracterizam uma unidade familiar pluriativa6.
A espacialização do uso do solo no estabelecimento rural que abriga o Recanto
Renascer encontra-se no mapa abaixo.
Sacco dos Anjos (2003, p. 90-91) define a pluriatividade como: “[...] um fenômeno no qual os
componentes de uma unidade familiar executam diversas atividades com o objetivo de obter uma
remuneração pelas mesmas, que tanto podem desenvolverem-se no interior como no exterior da
própria exploração, através da venda da força de trabalho familiar, da prestação de serviços a outros
agricultores ou de iniciativas centradas na própria exploração (industrialização a nível da propriedade,
turismo rural, agroturismo, artesanato e diversificação produtiva) que conjuntamente impliquem no
aproveitamento de todas as potencialidades existentes na propriedade e/ou em seu entorno.”
6
122
Mapa 2 – Espacialização do uso do solo no Recanto Renascer – Francisco BeltrãoPR.
Fonte: Trabalho de campo – abril a junho/2013.
A oferta de lazer e turismo teve início em 2002, motivada principalmente pela
necessidade de diversificar e elevar a renda familiar. A suinocultura até então praticada,
estava passando por um momento de crise e tornou-se uma atividade inviável na propriedade.
Diante disso, os proprietários buscaram orientações inicialmente com técnicos da Cooperativa
de Crédito Rural Solidário (CRESOL) e, posteriormente, com técnicos do Instituto
Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), que incentivaram a família
a aproveitar o espaço às margens do rio Marrecas, composto por um vasto bosque com
árvores nativas de diversas espécies, para a oferta de lazer e turismo rural.
Assim, desde 2004 a oferta turística compõe a principal renda da família (cerca de
70%), que em virtude do aumento do fluxo de visitantes e da diversidade nas atividades
ofertadas, acabaram por reduzir a dedicação às atividades agropecuárias.
123
A área destinada ao lazer e turismo possui atualmente as seguintes infraestrutura e
atrativos: duas casas para locação; lanchonete na qual são servidas refeições para grupos;
quiosque; churrasqueiras; banheiros; playground; cancha de bocha; campo de futebol; área de
camping e duas trilhas ecológicas. A taxa de visitação é de R$ 2,00 a partir de oito anos de
idade, R$ 5,00 para acampar e, R$ 40,00 por dia no aluguel das casas.
O recanto está no fragmento de floresta da propriedade, porém, na área destinada ao
camping, a cobertura vegetal é mais esparsa, contendo apenas espécies de grande porte e
cobertura do solo com gramíneas. Nas áreas de cobertura vegetal mais densa, se inserem as
trilhas ecológicas.
O número de visitantes na alta temporada (meses mais quentes) é em média de 150
pessoas por fim de semana, dos quais, 60% em média visitam as trilhas. No inverno, a
redução no número de visitantes é compensada pela oferta de jantares para grupos e aluguéis
das casas e do campo de futebol.
Oliveira e Melo (2012) destacam que a oferta de lazer e turismo é cada vez mais
realizada por agricultores familiares, “que buscam nesta prática uma maneira de continuar
vivendo e trabalhando em suas propriedades”, mas como “qualquer outra atividade
econômica, tanto pode provocar impactos positivos quanto negativos” (p.09).
Candiotto (2007) faz uma ampla discussão das mudanças e permanências ocorridas em
unidades rurais familiares que passaram a receber visitantes, dentro do Circuito Italiano de
Turismo Rural (CITUR), no município de Colombo-PR. Além disso, aborda teoricamente a
questão do turismo rural na agricultura familiar, considerando o discurso vigente e as
implicações socioespaciais da inserção na atividade turística.
Através da entrevista com o proprietário do Recanto Renascer e com sua esposa, o
casal apontou como aspecto positivo da abertura do estabelecimento à visitação, o fato de a
atividade ser menos cansativa que a anteriormente realizada; de ter aumentado
significativamente a renda familiar; e possibilitado o contato e a interação com pessoas de
diversos locais. Como pontos negativos, apontam o desgaste em trabalhar nos finais de
semana, muitas vezes sem poder dormir para cuidar do camping à noite; o distanciamento de
vizinhos e da comunidade devido à dedicação que a atividade exige; e a falta de mão-de-obra
para trabalhar nos períodos de maior fluxo de visitantes.
124
5.1.4 As Trilhas Ecológicas: Caracterização Físico-ambiental
Entre os principais atrativos do Recanto Renascer, estão as duas trilhas ecológicas, que
juntas, somam 2 km de extensão. A implantação dessas trilhas se deu pela necessidade de
diversificar a oferta de atrativos na propriedade e foi realizada pelos próprios proprietários.
Como critério para a escolha do traçado utilizaram as espécies arbóreas que mais se
destacavam pelo tamanho e/ou aspecto cênico na paisagem.
A primeira trilha foi construída no ano de 2002 e é denominada Trilha da Estrada
Velha (Foto 18). A segunda se chama Trilha dos Sentidos e foi construída no ano de 2010
(Foto 19).
Foto 18- Ponto de entrada Trilha da Estrada Velha – Recanto Renascer-PR
Autor: MORAES, D. I. de (2013).
125
Foto 19- Ponto de entrada da Trilha dos sentidos – Recanto Renascer-PR
Autor: MORAES, D. I. de (2013).
As trilhas apresentam em seu percurso, algumas estruturas como pinguelas para
travessias de curso d’água com corrimões, placas de sinalização, orientação e interpretativas e
bancos para parada e observação da paisagem. Todas essas estruturas estão em harmonia com
o ambiente e foram construídas, com exceção das placas com identificação nas árvores e da
distância do percurso, reutilizando materiais do próprio ambiente, como troncos de árvores
caídas durante tempestades. O piso é natural e coberto com serrapilheira.
Algumas atividades educativas também são desenvolvidas por meio de placas
interpretativas, com dizeres de sensibilização e conscientização ambiental e de informações
sobre espécies da flora local.
A sazonalidade na atividade de lazer e turismo na propriedade faz com que a
manutenção das trilhas seja realizada somente três vezes ao ano. No período próximo a época
de temporada (final do inverno), os proprietários realizam a “limpeza” do corredor, retirando
troncos e galhos caídos e pequenos arbustos e plantas, mas mantendo a serrapilheira. Nas
áreas marginas, é feita a poda de galhos que crescem sobre o corredor e que acabam
interferindo no fluxo dos visitantes. Durante os períodos de maior visitação, os proprietários
realizam periodicamente a retirada de lixo, principalmente embalagens plásticas deixadas
pelos visitantes, e também retiram galhos sobre o piso oriundos de tempestades.
O casal de proprietários destacam as trilhas ecológicas como um diferencial na
propriedade e por isso, acreditam que elas contribuem significativamente para atrair visitantes
126
que buscam o contato e apreciação da natureza preservada. Entretanto, também destacam que
o atrativo possui alguns pontos negativos, relacionados ao uso indevido de alguns visitantes
que insistem em percorrer a trilha de moto, jogam lixo no ambiente e depredam árvores e
infraestruturas. Outra dificuldade apontada é a falta de subsídios técnicos para a manutenção e
adequação ambiental das trilhas, que são realizadas de acordo com o conhecimento empírico
dos proprietários.
5.1.4.1 Trilha da Estrada Velha
Com 1.500 m de extensão, a Trilha da Estrada Velha possui parte de seu traçado no
fragmento de floresta da propriedade vizinha, que pertence à mesma família do proprietário
do Recanto. A escolha do nome se remete a uma antiga estrada já desativada, pela qual
trafegavam os primeiros colonizadores da região e por onde a trilha traspassa em alguns
pontos. O mapa 3 apresenta a forma da trilha, indicando a presença de placas, de drenagem e
de árvores identificadas.
Mapa 3 – Trilha da Estrada Velha – Recanto Renascer Francisco Beltrão – PR.
Fonte: Trabalho de campo – abril a junho/2013.
127
A trilha possui uma área de pisoteio que permite apenas um caminhante de cada vez.
Seu traçado em forma de “ferradura” tem início e fim em pontos diferentes, que evitam o
encontro entre visitantes. Suas estruturas são: dezenove placas de identificação em árvores,
com o nome popular, nome científico e idade aproximada; cinco placas de orientação, duas no
início do percurso, informando a extensão e proibindo a entrada de motos, e três no decorrer
da trilha, duas delas com frases de conscientização ambiental, com os dizeres: “não jogue
lixo. A natureza agradece” e “Tire apenas fotos, deixe apenas pegadas”, e a última indicando
o sentido da trilha. A trilha também atravessa um canal de drenagem intermitente, sem
estrutura para sua travessia.
Utilizando a classificação de Andrade e Rocha (2008), o grau de dificuldade da trilha é
moderado, devido a sua distância de 1.500m e por apresentar em seu percurso alterações na
declividade que dão a caminhada um grau maior de dificuldade.
As árvores identificadas com placas possuem o nome científico, o nome popular e a
idade aproximada e estão descritas da seguinte maneira: Angico Vermelho (110 anos); Açoita
Cavalo (190/200 anos); Cerejeira (25 anos); Sete Capote (25 anos); Açoita Cavalo (60 anos);
Ingá (20 anos); Canela Lora (25 anos); Guajuvira (130 anos); Gabiroba (25 anos); Guajuvira
(130 anos); Gabiroba (120 anos); Camboatá Vermelho (200 anos); Canela do Brejo (50 anos
); Xaxim (50 anos); Cabriúva vermelha (50 anos); Carrapicho do Mato (70 anos); Araucária
(55 anos); Carrapicho do Mato (120 anos) e Maria Preta (100 anos)(Foto 20).
Foto 20 - Placa de identificação em árvore – Trilha da Estrada Velha– Recanto Renascer–PR.
Autor: MORAES, D. I. de (2012).
128
Ao longo do percurso, os visitantes têm a oportunidade de apreciar a beleza cênica do
local, como por exemplo, o rio Marrecas, que fica à esquerda e a poucos metros da trilha, a
vegetação secundária intercaladas com árvores centenárias, apresentando vários estratos de
dossel, além da fauna, que em alguns casos pode ser observada diretamente, especialmente
pássaros, ou então, indiretamente por meio de pegadas, ninhos, tocas, entre outras (Foto 21).
Foto 21 – Visão do Rio Marrecas - Trilha da Estrada Velha – Recanto Renascer –PR.
Autor: MORAES, D. I. de (2012).
Embora apresente variações de declividade, sobretudo na transição das margens do rio
Marrecas com as partes de altitude mais elevada, que dão um maior grau de dificuldade na
caminhada e uma maior suscetibilidade a processos erosivos (Gráfico 1), essa trilha não
possui estruturas de drenagem e de segurança aos visitantes, como canais laterais de
escoamento, barreiras de contenção, degraus, corrimões, etc.
129
Gráfico 1 - Perfil Topográfico - Trilha da Estrada Velha.
Fonte: Trabalho de Campo (junho/2013).
Org.: MORAES, D. I. de (2013).
Através do perfil topográfico é possível verificar que dos 700 aos 1100 metros de
distância, há uma elevação significativa, de 575 a 610 metros de altitude, ou seja, de 45
metros em um intervalo de 400 metros. Consequentemente, essa parte da trilha é a mais
difícil, e também aquela que apresenta maior susceptibilidade aos processos erosivos.
5.1.4.1 Trilha dos Sentidos
A trilha dos sentidos possui 500 m de extensão e tem esse nome por apresentar em seu
percurso pontos de interpretação que sugerem a utilização dos sentidos olfativo, auditivo,
sonoro e visual. A largura do piso é bastante variável. Em alguns pontos chega a 1,20 metros
permitindo que duas pessoas caminhem lado a lado, e em outros, uma largura de 70
centímetros (0,70 m), que permite somente um caminhante por vez. Seu traçado, apesar de ter
início e fim em pontos diferentes, permite a visualização entre os visitantes em alguns locais,
devido à proximidade dos caminhos e à vegetação de pequeno porte. O mapa 4 apresenta a
forma da trilha, indicando a presença de placas, de drenagem, de estruturas para travessia de
curso d´água e de árvores identificadas.
130
Mapa 4 – Trilha dos Sentidos – Recanto Renascer Francisco Beltrão – PR.
Fonte: Trabalho de campo – abril a junho/2013.
Pela classificação de Andrade e Rocha (2008), o grau de dificuldade desta trilha é
leve, devido a sua curta extensão e por exigir pouco esforço físico.
As estruturas existentes são: local com bancos para que os visitantes possam sentar e
apreciar a paisagem; placa sobre a distância e nome da trilha no início do percurso; oito placas
de identificação nas árvores (nome científico, nome popular e idade aproximada); quatro
pinguelas para travessia de curso d’água; local para apreciação do rio Marrecas; e sete placas
com frases de estímulo à percepção e interpretação ambiental.
A trilha apresenta oito árvores identificadas com placas, expostas da seguinte maneira:
Canela Amarela (30 anos); Marmeleiro (60 anos); Angico Vermelho (150 anos); Branquilho
131
(20 anos); Gabiroba (80 anos); Açoita Cavalo (80 anos); Uvaia (20 anos) e Rabo de Bugio (25
anos).
A vegetação na trilha, apesar de também possuir árvores centenárias, apresenta um sub
bosque menos desenvolvido que a trilha da Estrada Velha, devido a outras práticas
anteriormente desenvolvidas no local. Como relatam os proprietários, parte da mata utilizada
para implantar essa trilha não é original, pois há cerca de 20 anos atrás a área era ocupada pela
suinocultura e bovinocultura e somente com o abandono dessas atividades e isolamento da
área, é que a vegetação foi se reconstituindo e regenerando o fragmento de floresta atual.
Informações que podem ser comprovadas através foto 22, que mostra uma parte desta trilha,
cujas áreas marginais e zona tampão apresentam espécies em diferentes estágios de
regeneração. Isso indica que a atual atividade de lazer e turismo, tem contribuído para a
recuperação de áreas de floresta anteriormente degradadas por outras formas de apropriação e
uso do solo na propriedade.
Foto 22 – Espécies arbóreas em processo de regeneração – Trilha dos Sentidos – Recanto
Renascer- PR.
Autor: MORAES, D. I. de, abril/2012.
As placas de estímulo à percepção e conscientização ambiental na trilha contêm as
seguintes frases: “Não jogue lixo, preserve o meio ambiente”, “Tire apenas fotos, deixe
apenas pegadas”, “Meditação”, “Odor, sentir o cheiro da mata”; “Visão: contemplar a
exuberância da natureza” e “Audição: ouvir o vento, a água, os pássaros” (Foto 23).
132
Foto 23 – Placa interpretativa – Trilha dos Sentidos – Recanto Renascer - PR.
Autor: MORAES, D. I. de, junho/2013.
As fotos 24 e 25 apresentam outras estruturas da trilha. A primeira corresponde ao
local onde os visitantes podem sentar e apreciar a paisagem e a segunda mostra uma das
pinguelas utilizadas para cruzar o curso d’água, pelo qual a trilha transpassa quatro vezes.
Foto 24 – Ponto de parada/contemplação – Trilha dos Sentidos – Recanto Renascer-PR.
Autor: MORAES, D. I. de, junho/2013.
133
Foto 25 - Pinguela sobre curso d’água– Trilha dos Sentidos - Recanto Renascer-PR.
Autor: MORAES, D. I. de (2012).
Além de possuir uma pequena extensão, seu perfil topográfico torna o percurso suave,
sem grandes oscilações de declividade (Gráfico 2). Porém, em alguns pontos a dificuldade de
drenagem da água superficial deixa o piso constantemente úmido e escorregadio, oferecendo
riscos à segurança dos visitantes que podem escorregar e cair, além de formar uma crosta na
camada superficial do solo que favorece a compactação.
Gráfico 2 – Perfil Topográfico – Trilha dos Sentidos.
Fonte: Trabalho de campo (junho/2013).
Org.: MORAES, D. I. de (2013).
134
Apesar da baixa dificuldade na realização do percurso, a trilha não está adequada a
todos os tipos de público, uma vez que não possibilita a travessia de portadores de
necessidades especiais (cadeirantes) principalmente devido a largura, obstáculos no piso e
tipo de estrutura utilizada na travessia dos cursos d’água.
5.2 Perfil do visitante e sua percepção sobre impactos ambientais e conservação das
trilhas
Para avaliar o perfil e a percepção dos visitantes das trilhas do Recanto Renascer,
foram aplicados no ano de 2013, 70 questionários, da seguinte maneira: 20 questionários
aplicados nos dia 6 e 20 de janeiro; 14 questionários no dia 23 de abril; e 24 no dia 1º de maio
(Apêndice B).
Através do questionário buscamos obter as seguintes informações:
- Características da visita: informações que descrevem atributos relevantes da visita
entre elas:
a) Objetivos da visita: Dados obtidos através das Questões 3 e 10, as quais descrevem
o motivo e aspirações da visita. Esse dado é importante porque permite verificar se as
trilhas satisfazem os objetivos e expectativa do visitante e se estes estão coerentes a
um uso conservacionista do fragmento florestal.
- Características do Visitante: demonstra as características pessoais dos visitantes,
como dados demográficos, preferências e experiências. Os atributos analisados foram: a) local
de procedência, idade, sexo e grau de escolaridade (Questão 1 a 6); b) Histórico das visitas
(Questão 8).
- Percepção ambiental do visitante: dados obtidos através da questão 11, na qual os
visitantes foram questionados sobre sua avaliação das condições ambientais da trilha. A
percepção do visitante gera informações importantes para o monitoramento e manutenção, na
medida em que expõe o modo como o indivíduo percebe e interage com o ambiente visitado.
- Grau de responsabilidade e compromisso ambiental: obtido através da questão 14, na
qual os visitantes foram questionados sobre as ações de mínimo impacto que devem ser
realizadas durante a visitação.
135
- Satisfação com a visita: obtida através das questões 16, 18, 19 e 20, nas quais os
visitantes puderam expressar o contentamento com a visita realizada nas trilhas.
Após a aplicação dos questionários, os dados foram tabulados e transformados em
gráficos com a utilização do software Excel para a análise dos resultados, como se segue.
Do total de visitantes analisados, 46 são do sexo feminino e 24 do sexo masculino,
com faixa etária (Gráfico 3) composta predominantemente por adultos, na sua maioria de
pessoas jovens e até meia idade (67% entre 21 e 55 anos) e com renda familiar média
predominante de 2 a 4 salários mínimos.
Gráfico 3–Faixa etária dos visitantes.
Nº de visitantes
30
20
10
0
menos de
20 anos
21 - 30
31 - 40
41 - 50
51 - 60
mais de 60
anos
Fonte: pesquisa de campo (2013).
Org. MORAES, D. I. de (2013).
Conforme o levantamento feito, apesar da maior parte dos usuários ser composta por
jovens e adultos, 14,3% possuem mais de 51 anos. Isso mostra que a trilhas precisam estar
adequadas também a esse público, que necessitam de estruturas que facilitem a travessia e
proporcionem maior segurança durante a realização do percurso, como por exemplo os
degraus e corrimões.
A análise do grau de escolaridade (Gráfico 4) e ocupação exercida pelos visitantes
(Gráfico 5), permitiu identificar que a maioria dos frequentadores são estudantes com Ensino
Médio incompleto ou Ensino Superior incompleto. Esses dados demonstram que o
desenvolvimento de atividades educativas voltadas à sensibilização ambiental e a informações
sobre o ambiente local, sejam dos elementos biofísicos (tipo de solo, vegetação, fauna, relevo,
hidrográfica, clima, entre outros) ou do histórico da propriedade e de suas características
136
socioeconômicas, pode ser um elemento importante de atratividade a esse público nas trilhas.
Para isso, é necessário utilizar técnicas de interpretação ambiental que permitam transmitir
essas informações de forma criativa, atrativa e motivadora.
Gráfico 4 - Grau de escolaridade dos visitantes.
pós graduação completa
pós graduação incompleta
Superior completo
Superior incompleto
ens. Médio completo
ens. Médio incompleto
ens. Fundamental incompleto
ens. Fundamental completo
0
5
10
15
20
Nº de visitantes
Fonte: pesquisa de campo (2013).
Org. MORAES, D. I. de (2013).
Gráfico 5 - Ocupação dos visitantes.
Fonte: pesquisa de campo (2013).
Org. MORAES, D. I. de (2013).
A análise da procedência dos visitantes (Gráfico 6) permitiu constatar que a maioria
(75%) reside no município de Francisco Beltrão e 22% em Marmeleiro, município vizinho.
Esse dado, juntamente com a análise do meio pelo qual os visitantes tiveram conhecimento
137
das trilhas (Gráfico 7) demonstra que a maioria dos usuários do Recanto e das trilhas residem
nos municípios mais próximos ao local, indicando que a divulgação do Recanto deve buscar
atrair esse público, que caracteriza mais uma atividade de lazer do que propriamente de
turismo (considerando que o turista necessariamente pernoita no local).
Gráfico 6 - Município de procedência dos visitantes.
60
50
40
30
20
10
0
Francisco Beltrão
Marmeleiro
Saudade do Iguaçu
Fonte: pesquisa de campo (2013).
Org. MORAES, D. I. de (2013).
Gráfico 7 –Meio de informação com que o visitante tomou conhecimento das trilhas.
70
Nº de visitants
60
50
40
30
20
10
0
Indicação de família/amigos
Outros meios
Fonte: pesquisa de campo (2013).
Org. MORAES, D. I. de (2013).
Para a maioria dos visitantes, a primeira vez que haviam percorrido as trilhas ocorreu
na ocasião da entrevista (Gráfico 8), de modo que a percepção deles sobre as trilhas estava
sendo construída através daquele experiência. Para os outros, o fato de já conhecerem as
138
trilhas contribui nessa percepção e em uma observação mais detalhada dos aspectos positivos
e negativos dessas trilhas.
Gráfico 8–Frequência dos visitantes nas trilhas.
Fonte: Pesquisa de campo (2013).
Org. MORAES, D. I. de (2013).
O interesse dos visitantes nas trilhas está em sua maioria na possibilidade de realizar a
atividade de caminhada, desfrutanto das belezas cênicas do local e mantendo um contato mais
próximo com os ambiente preservado (Gráfico 9). Por isso, consideram a conservação
ambiental das trilhas o fator mais importante em uma trilha ecológica (Gráfico 10), seguido
pela diversidade de atrativos para apreciação. No entanto, para 23 entrevistados, a sinalização
e a segurança devem ser prioritários.
Gráfico 9 – Motivação para a visita nas trilhas.
Fonte: Pesquisa de campo (2013).
Org. MORAES, D. I. de (2013).
139
Gráfico 10 – Fator que os visitantes consideram mais importante nas trilhas ecológicas.
Fonte: Pesquisa de campo (2013).
Org. MORAES, D. I. de (2013).
Os motivos pelos quais os indivíduos visitam as trilhas e o que consideram como
relevante nessa visitação é um indicativo importante para a análise do modo como a sociedade
contemporânea pensa e se relaciona com a natureza. Isso porque, enquanto produto pensado e
construído historicamente a partir das relações sociais (LENOBLE, 1969), o que os visitantes
entendem por natureza, faz parte de um conjunto de conceitos e ideias que foram sendo
construídos e moldados em diferentes épocas e sociedades e que se manifestam na atualidade
de maneira complexa, interrelacionada e também contraditória.
Segundo Smith (1989), apesar de existir uma variedade e uma complexidade no
entendimento da natureza pela sociedade atual, essas concepções estão organizadas em um
dualismo entre a natureza externa e a natureza universal. A primeira corresponde a um mundo
primitivo que existe fora da sociedade. A segunda, a um ambiente no qual o homem é tido
como um ser biológico, além de um ser social.
Como considera Smith (1989, p. 28):
De um lado a natureza é externa, uma coisa, o reino dos objetos e dos
processos que existem fora da sociedade. A natureza exterior é
primitiva criada por Deus, autônoma; é a matéria-prima da qual a
sociedade é constituída, a fronteira que o capitalismo industrial
frequentemente faz recuar. Como árvores e rochas, rios e tempestades, a
natureza está esperando para ser internalizada no processo de produção
social. Por outro lado a natureza é claramente percebida como
universal. Ao lado da natureza externa nós também temos a natureza
humana, na qual está explicito que os seres humanos e seu
140
comportamento social são absolutamente tão naturais quanto os
aspectos ditos “externos” da natureza.
A ideia de natureza como elemento externo é uma característica típica do pensamento
moderno, onde o desenvolvimento científico e tecnológico permitiu ao homem dominar a
natureza primeira, criando uma segunda natureza, humanizada, artificializada e onde
elementos naturais praticamente inexistem. Essa capacidade de domínio e transformação fez
com que o homem, mesmo inserido na natureza, passasse a não tê-la mais como parte
integrante e significativa de seu meio ambiente.
Assim, o contato com as áreas naturais é, segundo Smith (1989), uma experiência que
vai da externalidade da natureza para a universalidade da natureza, onde o indivíduo passa “de
um agir sobre a natureza a um trocar gestos recíprocos com a natureza” (BRANDÃO, 1994,
p. 76).
Essa experiência, segundo Brunhs (2007, p. 136), em alguns casos expressa “uma
busca de reconhecimento do espaço ocupado por esse corpo na sua relação com o mundo,
uma revisão de valores, bem como um encontro muito particular do homem com ele mesmo”.
Porém, a experiência da externalidade para a universalidade da qual se refere Smith
(1989), também acaba por reforçar a ideia de natureza enquanto objeto externo, já que ela é
tida somente quando se tem o contato com o ambiente preservado e não através das matérias e
formas da qual a sociedade se constitui e sobrevive. Isso faz com que os conceitos de
externalidade e universalidade da natureza sejam consideradas pelo autor como
interrelacionados e mutuamente contraditórios.
Atrelado ao conceito de natureza externa e universal, a visão estética de natureza
também é um elemento importante a ser analisado na visitação de áreas naturais. Isso porque,
existe uma tendência em medir e valorizar o ambiente visitado a partir daquilo que a classe
dominante considera belo e passível de admiração. Tal fato contribui muitas vezes, para que o
indivíduo deixe de apreciar o ambiente como um todo, dando valor apenas a determinados
elementos de alto valor estético ou somente a partir do momento em que elementos humanos
são acrescentados. Isso, em alguns casos, contribui para a introdução de estruturas que
proporcionam artificialidade à paisagem, causam impactos ambientais e fortalecem a
percepção de que a beleza da natureza está justamente em sua domesticação (BRUHNS,
1997).
Essas diferentes ideias de natureza (estética, externa e universal) podem ser verificadas
entre os visitantes das trilhas do Recanto, já que os dados apresentados pelo Gráfico 9
141
indicam que para a grande maioria dos indivíduos, o interesse em percorrer as trilhas está na
possibilidade de contato com a natureza e na possibilidade de apreciar a paisagem local. Isso
mostra que os visitantes buscam apreciar esteticamente e integrar-se a uma natureza da qual
se sentem fisicamente separados, seja em função da artificialidade de seus espaços cotidianos,
seja da própria ideia que atribuem ao conceito de natureza.
Esses dados, mostram que vivenciar a experiência do contato com as áreas naturais
está muito além da condição físico-biológica que permite ao ser humano ver, ouvir, cheirar
sentir e pensar. Ela está vinculada a aspectos econômicos e a vivências e experiências que
cada indivíduo dispõe conforme sua idade, sexo e grau de escolaridade, as quais acabam
fornecendo “o rosto de suas visões, de seus sentimentos e pensamentos, criando novos
cheiros, novos sons e novas visões, construindo novos universos – e novos corpos”
(RODRIGUES, 1979 apud BRUNHS, 1997, p. 131).
Bruhns (1997) destaca que algumas pessoas ao visitarem as áreas naturais, buscam
vivenciar a realidade e captar as coisas, num total descompromisso com o tempo. Outras, no
entanto, na ânsia em vencer o tempo, não se conectam com o lugar, de modo que o
indivíduo não percebe nada além daquilo que está explicitamente exposto na paisagem. Isso
mostra que a experiência vivenciada no contato com os ambientes naturais está intimamente
ligada a questões subjetivas e também culturais, que podem tanto conduzir o indivíduo a
uma postura ética e de conexão com o meio, quanto a um total descompromisso com o
ambiente visitado, vendo-o apenas como mais uma mercadoria a ser consumida de forma
alienada.
Essas diferenças nas formas de integração com o ambiente visitado também podem ser
percebidas na análise da percepção dos visitantes das trilhas do Recanto, tanto no que se
refere a existência de determinadas ocorrências nas trilhas quanto a intensidade das mesmas.
Conforme mostra o Gráfico 11, os impactos relacionados a vandalismos (em placas,
árvores, estruturas, etc) foram percebidos por 70% dos entrevistados, sendo que 48%
declarou ter notado poucas ocorrências e 22% muitas. Os acessos secundários foram
percebidos por 65%, dos quais, 48% declararam pouca quantidade e 12% muita. A falta de
segurança em alguns pontos nas trilhas foi notada por 81%, sendo que 67% consideram a
possibilidade de escorregar, sofrer queda ou se machucar pequena, e 14% consideram alta.
A maioria (74%) não percebeu a presença de animais domésticos. Destes, 58% declararam
observar poucos animais silvestres, enquanto 42% não preceberam se avistaram animais.
Os impactos relacionados a salubridade (lixo) foram percebidos por 64% dos
visitantes e a presença de solo compactado e erosões foram notados por 58%, dos quais 51%
142
declarou ter observado pouco e 7% muito. Áreas sem vegetação foram percebidas por 30% e
raízes expostas por 90%, sendo que, 64% declarou pouca ocorrência deste impacto.
Gráfico 11- Percepção dos visitantes nas trilhas.
Fonte: Pesquisa de campo (2013).
Org. MORAES, D. I. de (2013).
Embora para uma parcela de visitantes a ocorrência de determinadas situações não seja
percebida ou então não represente um impacto para sua experiência e ao meio, a maioria
identificou a existência de alterações. Isso desmostra a necessidade de ações de manejo,
especialmente no que se refere a minimização de ações erosivas, concientização dos usuários
para evitar vandalismos e descarte inadequado de lixo, e adequação em estruturas de
segurança.
Quando questionados sobre a contribuição dos visitantes na minimização dos impactos
percebidos (Gráfico12), 62% acreditam que o descarte correto do lixo é o fator mais
importante; 18% destacam a não depredação da vegetação e de estruturas; 14% o barrulho
emitido pelo visitante de modo a não impactar sobre a fauna e a experiência de outros
usuários; enquanto 6% apontam a permanência do visitante no leito da trilha.
143
Gráfico 12 - Contribuição do visitante na minimização de impactos nas trilhas.
70
60
Nº de visitantes
50
40
30
20
10
0
não jogar lixo
não fazer barulho
não entrar em atalhos
Fonte: Pesquisa de campo (2013).
Org. MORAES, D. I. de (2013).
Sobre os fatores que poderiam contribuir para uma maior atratividade das trilhas
(Gráfico 13), 47% destacou a existência de um maior número de elementos da fauna e flora.
Muito embora, para a maioria (53%) a melhoria da experiência estaria ligada a
disponibilidade de informações sobre a fauna e flora do local (31%), sinalizações (23%) e
estruturas adequadas (6%). Esses dados, juntamente com a análise do perfil do visitante (faixa
etária, grau de escolaridade e profissão) reforçam a necessidade de aperfeiçoar as atividades
de interpretação ambiental enquanto instrumento de atratividade nas trilhas, já que existe um
interesse não somente em apreciar o ambiente visitado mas também em conhecer suas
características e elementos, potencializando o desenvolvimento de atividades de educação
ambiental no local.
Gráfico 13 –Elementos para maior atratividade das trilhas.
estruturas
mais informações sobre a fauna e
flora local
mais sinalização
mais vegetação e animais silvestres
0
10
20
30
Nº de Visitantes
Fonte: Pesquisa de campo (2013).
Org. MORAES, D. I. de (2013).
40
144
O grau de dificuldade das trilhas foi considerado de leve (46%) a moderado (54%), e o
tempo necessário para percorrer as duas trilhas, dividiu-se entre até uma hora (53%) e de uma
a duas horas (47%). A rápida realização do percurso demonstra que a maioria dos visitantes
pratica a atividade da caminhada fazendo poucas paradas para observar e apreciar o ambiente.
Por isso, a interpretação ambiental se mostra de fundamental importância para essas trilhas, de
modo que através dela, o visitante se sinta instigado a parar, apreciar, conhecer e integrar-se
ao ambiente visitado, o que consequentemente, vai se refletir em um maior tempo de
permanência nas trilhas e no enriquecimento da experiência vivenciada.
Sobre a experiência vivenciada nas trilhas (Gráfico 14) a grande maioria destacou
como positiva, proporcionando além de tranquilidade e bem estar pela proximidade com a
natureza, o incentivo a ações de preservação. Para todos os visitantes as espectativas iniciais
foram satisfeitas, sendo que 35% declararam-se muito satisfeitos, e 65% satisfeitos. Desse
modo, todos demonstraram interesse em retornar às trilhas para novas visitas, recomendandoas também para outas pessoas.
Gráfico 14- Resultado da experiência vivenciada.
Incentivo a preservação ambiental
Tranquilidade e bem estar
Desconforto pela falta de infraestruturas
adequadas
Desconforto pela contato com plantas e
animais
Outros
0
10
20
30
40
50
60
70
Nº de visitantes
Fonte: Pesquisa de campo (2013).
Org. MORAES, D. I. de (2013).
A análise do perfil e da percepção do visitante mostrou elementos importantes para
fins de planejamento e monitoramento da visitação nas trilhas, como por exemplo, o interesse
do visitante em obter mais informações sobre o ambiente local, potencializando o
desenvolvimento de atividades educativas que possibilitem aos visitantes conhecimentos e
145
sensibilização quanto à importância ecológica e socioeconômica de áreas como a existente no
Recanto.
Também foi possível constatar que existem algumas situações de impactos ambientais
e riscos para os visitantes, demonstrando que as trilhas precisam de adequações e de um plano
de manejo especifico e coerente às condições ambientais locais e ao perfil de seus usuários.
146
6
DIAGNÓSTICO
FISICO-AMBIENTAL,
ÍNDICE
DE
ATRATIVIDADE
E
PROPOSTAS DE MANEJO PARA AS TRILHAS DO RECANTO RENASCER-PR
6.1 Indicadores de Impactos e Metodologia MIV
Os indicadores de impactos em trilhas correspondem aos elementos ou parâmetros que
fornecem a situação específica de determinado aspecto na trilha. Sua análise e monitoramento
podem ocorrer de forma quantitativa (representado em escala numérica) ou qualitativa
(classificado em categorias ou níveis) (COSTA, 2006).
O trabalho relacionado aos indicadores de impactos é geralmente constituído de três
fases e pode apresentar diferentes ordens dependendo da metodologia utilizada. São elas:
determinação dos indicadores (quais aspectos serão analisados na trilha), determinação de
padrões (níveis aceitáveis de impacto para cada indicador) e monitoramento das condições da
área por meio dos indicadores previamente determinados (COSTA, 2006).
Das metodologias anteriormente apresentadas no item 4, que se encarregam de medir
os indicadores de impactos de uma trilha, utilizamos como estudo de caso nas trilhas do
Recanto Renascer, a Metodologia MIV, por permitir através do diagnóstico dos impactos
ambientais, o desenvolvimento de mecanismos para um manejo eficiente, capaz de minimizar
impactos atuais e futuros e potencializar o uso conservacionista das trilhas.
O quadro 6 apresenta a ficha de campo utilizada na aplicação da metodologia. Nela,
estão contidos os indicadores de impactos analisados (leito, borda, solo, vegetação,
saneamento, som e riscos) juntamente com seus respectivos parâmetros de análise.
Quadro 6 – Planilha de campo MIV.
MIV
LOCAL: Recanto Renascer
Nº
TRILHA:
DATA:
Indicador/verificador
LEITO DA TRILHA
Alterações de largura
Afundamento
Erosão Laminar
(superficial)
Erosão em Sulcos
(mais profunda com
ravinamento)
Número de Seções
(100m de distancia entre os pontos)
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Objetivos:
Diagnóstico físico-ambiental
Parâmetros:
Ocorr.
na % na trilha
Referencial
Parcela
<0,8 m ou
01 a 03
30
>1,30 m
01 a 03
25
< 0,05 m
01 a 03
15
< 0,3 m
147
01 a 03
15
<0,3 m
01 a 05
20
< 5,0 m
01 a 02
00
00
Canais de drenagem
Alagamento (ou passível de
alagar)
Parâmetros:
BORDA
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Perda de borda crítica
Desbarrancamento de
Encosta
Manutenção
de estruturas
Sinalização
Bancos
Atalhos
Ocorr.
Parcela
na
% na trilha
Referencial
01 a 03
35
<0,5m
Ma01 a 03
15
<0,5 m
1
10
1
00
10
00
Dano
Falta de
manutenção
00
Parâmetros:
SOLO
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
% na trilha
Referencial
Solo
exposto
(sem
serrapilheira)
Raízes expostas
Ocorr. na
Parcela
S- sim ou
N- não
< 10 m
30
N- não
20
<10 m
Rochas aflorantes
1 a 10m
20
<10m
Aclives/declives acentuados
S-sim ou Nnão
00
00
Parâmetros:
VEGETAÇÃO
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Árvores caídas
Ocorr.
na
Parcela
1-3(causas
naturais)
Espécies exóticas
Vegetação danificada na
borda (morta)
% na trilha
Referencial
15
1
S – Sim ou
N – Não
20
N- Não
S – Sim ou
N – Não
00
N – Não
Parâmetros:
SANEAMENTO
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Inscrições (pichações em
rochas, árvores ou
sinalizações)
Lixo na trilha
FAUNA
1
2
3
4
5
6
7
8
9
1
2
3
4
5
6
7
8
9
na
Percepção de gritos de
pessoas
Referencial
00
N – Não
01 a 03
15
(Ocorrência
visual)
Parâmetros:
Ocorr.
na
Parcela
S – Sim ou
N – Não
% na trilha
Ocorr.
na
Parcela
1a3
% na trilha
10
Percepção de música
% na trilha
S – Sim ou
N – Não
10
Espécies domésticas
SOM
Ocorr.
Parcela
00
Referencial
N –Não
Parâmetros:
1a3
Referencial
10
00
10
00
Parâmetros:
RISCOS
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Ocorr.
Parcela
na
% na trilha
Referencial
148
De escorregar
<2
10
00
De cair da encosta
<1
00
00
Fatal
S – Sim ou
N – Não
00
N – Não
Fonte: Costa (2006).
Adaptado por: MORAES, D. I. De (2013).
Os parâmetros de ocorrência e o referencial utilizado foram importantes para verificar
se as alterações identificadas nas trilhas estavam dentro do limite tolerável para cada
parâmetro. Um exemplo é o indicador riscos de escorregar, onde o parâmetro utilizado para
cada parcela foi o de declarar < que duas ocorrências e detalhar o percentual máximo para a
existência suportada, que nesse caso, foi considerado 10% do total de parcelas na trilha.
6.1.1 Monitoramento do Impacto da Visitação (MIV) na Trilha da Estrada Velha
Com 1.500 m de extensão, a Trilha da Estrada Velha foi dividida em 15 seções de
análise, onde através do exercício do olhar, buscou-se verificar as condições dos indicadores
selecionados, a fim de identificar possíveis impactos ambientais locais e também as condições
de uso e manejo visitação na trilha (Quadro 7).
149
Quadro 7- Indicadores de Impactos e seus verificadores avaliados pelo MIV na Trilha da
Estrada Velha.
FONTE: COSTA (2006).
Org.: MORAES, D. I. de (2013).
150
FONTE: COSTA (2006).
Org.: MORAES, D. I. de (2013).
151
A partir do levantamento feito em campo, os parâmetros foram comparados entre si
com o objetivo de verificar quais apresentam maior e menor situação problemática na trilha.
Para isso, foi utilizado o método adaptado de Costa (2006), no qual cada um dos indicadores
recebeu um percentual mínimo e máximo suportável na trilha. Para avaliar os parâmetros que
excederam esses percentuais, foi utilizada a classificação: baixo (até 30%), médio (de 30 a
60%) e alto (de 60 a 100%) em relação ao nível de impacto geral na trilha. Um exemplo é o
indicador alterações de largura, cujo percentual mínimo de ocorrência é de 10% e máximo de
30%. Porém, ao ser analisado na trilha da Estrada Velha, esse indicador esteve presente nas
quinze seções analisada, totalizando 100% de ocorrência na trilha e consequentemente, um
alto impacto ambiental (Quadro 8).
152
Quadro 8– Nível de impacto dos parâmetros avaliados pelo MIV na Trilha da Estrada Velha.
FONTE: COSTA (2006).
Org.: MORAES, D. I. de (2013).
153
A comparação entre os parâmetros mostrou que a Trilha da Estrada Velha possui duas
situações de alto impacto, relacionada a solo exposto, provocado pelo escoamento da
superficial e a alterações de largura do leito, decorrentes da falta de manutenção e uso
indevido das áreas marginais pelo visitante. Existem também várias outras ocorrências que
precisam ser corrigidas, pois se encontram numa situação de médio e baixo impacto ambiental
e se não receberem a devida manutenção, podem em pouco tempo, tornar-se uma situação de
alto impacto ambiental na trilha.
Para verificar quais pontos (parcelas) apresentam situações mais problemáticas e que
precisam ser mitigadas a partir de um plano de manejo mais eficiente na trilha, foi elaborado
um gráfico (Gráfico 15) com os dados mostrados pelos principais indicadores (leito, borda,
solo, vegetação, saneamento e riscos).
Gráfico 15– Resultado MIV por parcelas - Trilha da Estrada Velha.
110
100
90
Indicadores (% )
80
70
60
50
40
30
20
10
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
Parcelas (Nº)
LEITO
BORDA
SOLO
VEGETAÇÃO
SANEAMENTO
RISCOS
Org.: MORAES, D. I. de (2013).
Com relação ao leito da trilha, as parcelas que apresentam impactos mais
significativos são as parcelas 8 (de 700 a 800 m) e 14 (de 1.300 a 1.400 m). Estas parcelas
estão em uma área de aclive (parcela 8) e declives (parcela 14) acentuados e não possuem
154
canaletas de drenagem que facilitem o escoamento superficial. Isso faz com que a água da
chuva utilize o leito da trilha como um canal de drenagem, gerando perda de serrapilheira e
consequentemente favorecendo as ações erosivas.
Outro aspecto ligado ao leito está relacionado a alterações de largura, que foram
observadas em todas as parcelas analisadas na trilha. Em alguns trechos a largura é de 20 cm e
em outros chega a medir 1,20 cm (Fotos 26a e b).
Uma área de pisoteio muito estreita ou muito larga é sempre vista como propícia a
impactos, que podem tanto afetar o ambiente visitado quanto a experiência vivenciada e a
segurança do visitante. Isso porque, é comum a presença de animais nas áreas marginais da
trilha, e se a área de pisoteio for muito estreita eles podem entrar em contato direto com o
visitante, oferecendo riscos para ambas as partes. O estreitamento do leito também contribui
para a compactação do solo, já que o pisoteio é concentrado em uma pequena parcela do
terreno. Por outro lado, o alargamento do leito contribui para a perda da vegetação e para o
aumento da área afetada pelo pisoteio.
Fotos 26 a e b- Alterações de largura – Trilha da Estrada Velha.
Autor: MORAES, D. I. de (2013).
Com relação à borda, os maiores problemas estão associados à perda da borda crítica
que foram identificados nas seções 11 (de 1.000 a 1.100 m) e 13 (1.200 a 1.300 m) (Foto 27).
A perda da borda crítica promove a perda de solo do próprio leito da trilha, que
consequentemente, tende a ficar cada vez mais estreito e mais propenso a situações de risco
aos visitantes que podem escorregar e cair da encosta.
155
Foto 27 – Afundamento do piso e perda da borda crítica-Trilha da Estrada Velha.
Autor: MORAES, D. I. de (2013).
Outro fator impactante relacionado à borda é a existência de bifurcações/atalhos que
foram registrados em 50% das parcelas analisadas e que na maioria das vezes levam às
margens do rio Marrecas (Foto 28). Essas bifurcações/atalhos contribuem principalmente para
a perda da vegetação nativa gerada pelo aumento da área de pisoteio e consequentemente,
para o aumento da área afetada pelo uso recreativo.
Foto 28– Atalho para o Rio Marrecas- Trilha da Estrada Velha.
Autor: MORAES, D. I. de (2013).
156
Os maiores impactos relacionados ao solo estão na seção 8 (de 700 a 800 m) e nas
parcelas de 1.100 a 1.400 metros de distância. Nesses trechos, há uma grande quantidade de
solo exposto (sem serrapilheira) e de ações erosivas facilitadas pela declividade. A seção 8
apresenta ainda uma grande quantidade de rochas aflorantes, algumas delas expostas
naturalmente sobre o leito da trilha. Outras, foram colocadas no intuito de formar degraus
para facilitar a caminhada e minimizar a sensação de subida. Porém, pela falta de manutenção,
algumas dessas rochas encontram-se soltas sobre o piso e representam riscos aos visitantes.
As seções 10 (900 a 1000 m) e 13 (1.200 a 1.300 m) apresentam a situação mais
problemática relacionada à vegetação, principalmente pela presença de árvores caídas sobre o
piso e danificadas (mortas) na borda. Essas duas seções também apresentaram a ocorrência de
material inorgânico (lixo) na área marginal da trilha (Fotos 29 a e b).
Fotos 29 a e b– Árvore caída sobre o piso e lixo na área marginal - Trilha da Estrada Velha.
Autor: MORAES, D. I. de (2013).
Situações de riscos aos visitantes foram identificadas em boa parte das seções da
trilha. Isso ocorre principalmente pela falta de estruturas adequadas como os corrimões, que
além de servir de apoio ao visitante também evitam que este ultrapasse os limites do leito da
trilha e se coloque em situações de perigo, como demonstra a foto 30, na qual se o visitante
escorregar, pode cair dentro do rio que margeia a trilha. Outro fator que contribui para
situações de risco é a falta de manutenção de estruturas existentes, especialmente degraus
colocados sobre o piso sem os torretes. Isso faz com que estas estruturas fiquem soltas e
passíveis de deslocamento quando pressionadas pela ação do pisoteio e do escoamento
superficial.
157
Foto 30 – Área de encosta sem estruturas de segurança na seção 2 (200 a 300 m) - Trilha da
Estrada Velha.
Autor: MORAES, D. I. (2013).
6.1.2 Monitoramento do Impacto da Visitação (MIV) na Trilha dos Sentidos
Na Trilha dos Sentidos foram selecionadas cinco seções de análise, e da mesma forma
que na Trilha da Estrada Velha, a avaliação físico-ambiental se deu através da observação
direta de alterações visíveis na trilha (Quadro 09). Esses indicadores também foram
comparados entre si (Quadro 10), permitindo identificar as situações mais problemáticas, e
que representam um alto e médio impacto na trilha.
158
Quadro 9- Indicadores de Impactos e seus verificadores avaliados pelo MIV na Trilha dos
Sentidos.
FONTE: COSTA (2006).
Org.: MORAES, D. I. de (2013).
159
FONTE: COSTA (2006).
Org.: MORAES, D. I. de (2013).
160
Quadro 10– Nível de impacto dos parâmetros avaliados pelo MIV na Trilha dos Sentidos.
FONTE: COSTA (2006).
Org.: MORAES, D. I. de (2013).
161
A comparação entre os parâmetros permitiu identificar três situações de alto impacto
na trilha, ligadas ao risco de escorregar, alterações de largura e solo exposto. Outras situações
problemáticas estão relacionadas ao afundamento, lixo e riscos de escorregar e cair da
encosta.
O gráfico 16 demonstra a relação dos impactos mostrados pelos principais indicadores
(leito, borda, solo, vegetação, saneamento e riscos), onde é possível verificar quais seções
apresentam situações mais problemáticas na trilha e que precisam ser mitigadas através de
ações de manutenção e monitoramento do seu uso.
Gráfico 16– Resultado MIV por parcelas - Trilha dos Sentidos.
80
Indicadores (%)
70
60
50
40
30
20
10
0
1
2
3
4
5
Parcelas (Nº)
LEITO
BORDA
SOLO
VEGETAÇÃO
SANEAMENTO
RISCOS
Org.: MORAES, D. I. de (2013).
Nos primeiros 100 metros analisados, os impactos estão relacionados a alterações de
largura da trilha, que em alguns trechos apresenta 40 cm e em outro chega a 1,40 cm. Essa
seção também possui pontos com solo exposto, raízes expostas, presença de lixo na borda e
risco de escorregar e cair devido a falta de manutenção nas estruturas existentes (degraus).
Na seção 2 (de 100 a 200 metros de distância) a situação mais problemática está no
leito da trilha que apresenta trechos de solo exposto, afundamento do piso e erosão. Ocorre
também a incidência de raízes expostas, atalho, alterações de largura e falta de manutenção
em estruturas (Foto 31).
162
Foto 31 – Problemas de manutenção em estruturas – Trilha dos Sentidos.
Autor: MORAES, D. I. de (2013).
Os mesmos impactos foram encontrados na seção seguinte (de 200 a 300 m), porém, a
situação mais problemática na seção 3 se refere ao rebaixamento do piso e à perda da borda
crítica, ocasionada pela falta de estruturas de contenção. O material erodido se direciona para
o córrego próximo, que em períodos chuvosos transborda e alaga o leio da trilha (Foto 32).
Foto 32- Perda da borda crítica - Trilhas dos Sentidos.
Autor: MORAES, D. I. de (2013).
163
Na seção 4 (de 300 a 400 m) existem pontos com perda de serrapilheira que
contribuem para ações erosivas e de compactação do solo. São visíveis também raízes
expostas, atalho, vegetação danificada na borda (morta) e lixo (Fotos 33a e b).
Fotos 33a e b - Impactos na seção 4 (de 300 a 400 m) - Trilha dos Sentidos.
Org.: MORAES, D. I. de (2013).
A seção 5 (de 400 a 500m) é um dos pontos mais problemáticos da trilha. Isso porque
esse trecho não apresenta canaletas de drenagem que facilitem o escoamento da água
superficial, fazendo com que o leito fique alagado em períodos chuvosos. Esse constante
alagamento do leito acaba retirando a serrapilheira e criando uma crosta na camada superficial
do solo que favorece a compactação e deixa o piso da trilha escorregadio. A alteração de
largura também é um fator de impacto no leito nesse trecho, que varia de 30 cm até 2,10 m
(Fotos 34a e b).
Fotos 34a e b – Impactos potenciais na seção 5 (de 400 a 500 m) – Trilha dos Sentidos.
Org.: MORAES, D. I. de (2013).
164
Juntamente com a identificação das áreas de impacto, outro elemento importante a ser
analisado para fins de manejo é se esses impactos afetam os pontos interpretativos nas trilhas.
Como destaca Takahashi (2004), trilhas mal construídas e mal mantidas tendem a afetar
diretamente a experiência vivenciada pelo visitante e consequentemente, as atividades de
interpretação ambiental.
Para avaliar se as áreas de impacto determinadas pelo MIV estão comprometendo de
algum modo à interpretação ambiental no local foi preciso primeiramente identificar qual a
atividade interpretativa desenvolvida, os pontos interpretativos existentes e quais são seus
índices de atratividade. Esse levantamento também se mostrou importante para o
melhoramento
da
atividade
interpretativa
desenvolvida
e
consequentemente,
na
potencialização das trilhas como ferramenta para as atividades de educação ambiental.
6.2 Índice de Atratividade em Pontos Interpretativos nas Trilhas do Recanto Renascer
Conforme já exposto no item 3, a interpretação ambiental é considerada um
importante instrumento para as atividades educativas em trilhas ecológicas. Através dela, as
trilhas deixam de serem caminhos voltados somente à contemplação passiva do ambiente e
passam a ser espaços cheios de significados históricos, sociais e ecológicos. A interpretação
também pode ser utilizada como um importante instrumento de manejo da visitação nas
trilhas.
6.2.1 Índice de Atratividade de pontos Interpretativos (IAPI) da Trilha da Estrada
Velha
A trilha da Estrada Velha apresenta como eixo temático para a interpretação ambiental
a flora local. Por ser uma trilha autoguiada o recurso interpretativo utilizado são placas,
algumas de madeira e outras de metal nas cores verde claro e branco. As estruturas estão em
harmonia com o ambiente e suas informações apesar de bastante limitadas, instigam o
visitante a parar e observar as características da espécie identificada, algumas delas, bastante
raras na região devido ao processo de ocupação territorial e ao uso indiscriminado da madeira.
No total, a trilha possui 21 pontos interpretativos e a atividade interpretativa desenvolvida está
acessível a vários tipos de público.
165
Devido à sua distribuição e relevância para a atratividade da trilha, dos 21 pontos
interpretativos existentes, foram escolhidos 15 para a análise. O quadro 11 apresenta os
pontos selecionados e o resultado da análise dos indicadores de atratividade.
Quadro 11 - Índice de Atratividade de Pontos Interpretativos na Trilha da Estrada Velha.
Fonte: Pesquisa de campo setembro/2013.
Org. MORAES, D. I. de (2013).
Conforme demostra o quadro 13, dos quinze pontos analisados, nove possuem uma
pontuação maior que 10 e destes, quatro somam mais de 15 pontos. Isso mostra que existem
na trilha quatro pontos com grande potencial atrativo e que podem ser utilizados para o
aprimoramento da atividade interpretativa, uma vez que as atividades desenvolvidas se
limitam apenas a informações referentes ao nome científico, popular e idade aproximada de
algumas espécies da flora local.
Considerando como baixa atratividade os pontos com somatória menor que 10; média
atratividade de 11 a 15; e alta atratividade acima de 15, é possível verificar a existência de
uma desproporção na distribuição desses pontos, na qual os três pontos mais atrativos estão
166
concentrados no início da trilha, enquanto o restante de seu trajeto apresenta pontos de média
e baixa atratividade (Mapa 5).
Mapa 5- Distribuição entre pontos de maior e menor atratividade na Trilha da Estrada Velha.
Fonte: Pesquisa de campo setembro/2013.
Org. MORAES, D. I. de (2013).
Entre os pontos de maior atratividade, o ponto 13 merece destaque, pois, sua
localização antecede um grande trajeto de pontos de baixa atratividade e por isso ele se mostra
um ponto estratégico para o desenvolvimento da atividade interpretativa no local.
Outro fator importante constatado através do IAPI é que a trilha da Estrada Velha
possui uma grande variedade de temas que podem ser abordados pela interpretação ambiental.
Juntamente com uma variedade de espécies nativas centenárias, existem vários outros
elementos ecológicos e sociais que podem ser aproveitados, como por exemplo, a estrada que
167
existia no local e que era um importante meio de deslocamento para os primeiros
colonizadores da região; a fauna que mesmo não tendo uma visibilidade facilmente acessível
deixa sinais de sua existência e diversidade através de ninhos, tocas e pegadas; o rio Marrecas,
que é utilizado no abastecimento da área urbana do município; o tipo de solo; fitofisionomia
vegetativa, entre outros.
Quanto à relação entre os impactos determinados pelo MIV e a localização dos pontos
interpretativos na trilha, verificou-se que embora existam em alguns pontos interpretativos a
ocorrência de impactos relacionados a solo exposto, rebaixamento do piso e raízes expostas,
estes, de modo geral, não interferem na qualidade da experiência vivenciada pelo visitante,
como foi anteriormente constatado na avaliação de sua percepção em relação aos impactos
ambientais. Apesar disso, é importante que haja a adequação físico-ambiental da trilha, pois
se não devidamente corrigidos, esses problemas podem ser propagados e trazer impactos mais
severos ao ambiente e riscos ao visitante, o que consequentemente, se refletirá na experiência
vivenciada e na atividade interpretativa desenvolvida.
6.2.2 Índice de Atratividade de pontos Interpretativos (IAPI) da Trilha dos Sentidos
A Trilha dos Sentidos apresenta como eixo temático para a interpretação os sentidos
do corpo humano. No total são 14 pontos interpretativos e os recursos utilizados são placas de
metal e de madeira nas cores verde claro e branca. Estas estruturas estão em harmonia com o
ambiente e buscam estimular o visitante a contemplar e sentir através do olfato, audição e
visão o ambiente visitado. A trilha é autoguiada e a atividade interpretativa desenvolvida esta
adequada para vários tipos de público. Porém, as informações apresentadas se limitam a
dizeres de conscientização ambiental e ao nome popular, científico e idade aproximada de
algumas espécies da flora local.
Devido à proximidade dos pontos interpretativos, a análise foi realizada em 10 pontos
da trilha, conforme mostra o quadro 12.
168
Quadro 12- Índice de Atratividade de Pontos Interpretativos na Trilha dos Sentidos.
Fonte: Pesquisa de campo setembro/2013.
Org. MORAES, D. I. de (2013).
A aplicação da metodologia permitiu constatar que, dos dez pontos analisados, cinco
possuem alta atratividade (>15 pontos), dois de média atratividade (de 11 a 15 pontos) e três
de baixa atratividade (<10 pontos). Quanto à distribuição dos pontos de maior atratividade na
trilha é possível verificar através do mapa 6, que existe uma distribuição uniforme entre eles,
o que acaba contribuindo para a utilização desses pontos no desenvolvimento da interpretação
ambiental. Isso porque quando bem distribuída, especialmente quando os recursos utilizados
forem painéis ou banner, a atividade interpretativa se torna menos cansativa e mais atrativa
para o visitante, que vai ter entre um ponto interpretativo e outro, o tempo necessário para
receber as informações, refletir sobre elas e também contemplar o ambiente visitado.
169
Mapa 6 - Distribuição entre os pontos de maior e menor atratividade na Trilha dos Sentidos.
Fonte: Pesquisa de campo setembro/2013.
Org. MORAES, D. I. de (2013).
No que se refere à relação dos pontos interpretativos e os impactos identificados pelo
MIV, foi possível constatar que em três destes pontos, os impactos existentes afetam direta ou
indiretamente na atividade interpretativa. No ponto de alta atratividade onde se localiza o
espaço destinado à “meditação”, o comprometimento está na falta de manutenção nas
estruturas existentes, que dificultam a passagem dos visitantes e impedem que estes se sentem
para apreciar o ambiente. O outro ponto identificado como de média atratividade apresenta
problemas relacionados à perda da borda crítica e erosão que contribuem para o risco do
visitante escorregar e cair da encosta. O último ponto interpretativo na trilha também é
prejudicado pela crosta que se formou sobre o solo devido à falta de serrapilheira e aos
170
constantes alagamentos. Isso faz com que o piso fique liso e escorregadio e o visitante
preocupado em não escorregar, deixe de apreciar a espécie identificada no local.
Tal situação reforça a necessidade de elaboração de um plano de manejo e
monitoramento para essa trilha, no sentido de adequá-la ambientalmente e potencializá-la
como instrumento de recreação e educação ambiental.
6.3 Estudo Comparativo sobre a Compactação do solo pela visitação
6.3.1 Análise da densidade aparente X porosidade
Para verificar as alterações nas propriedades do solo provocadas pela sobrecarga do
pisoteio, optou-se por coletar material com uma profundidade máxima de 10 cm. Como
destaca Feola (2009), são nas profundidades superficiais que se dão as alterações como o
adensamento e a compactação do solo.
As amostras foram coletadas em cinco pontos das trilhas, escolhidos por apresentarem,
devido à localização e características físicas, uma maior propensão à compactação. No total
foram selecionados três pontos na trilha da Estrada Velha, sendo que o ponto 1 localiza-se em
uma área mais plana, próxima ao Rio Marrecas (a 100 metros de distância do início da trilha);
o ponto 2 em uma área de maior declividade (a 800 metros de distância do início da trilha); e
o ponto 3 em outra área plana, porém de maior altitude, situada na parte final da trilha (a
1.300 metros de distância do início da trilha) (FIGURA 12). Na Trilha dos Sentidos, foram
selecionados dois pontos, sendo o ponto 1 situado em uma área plana (a 200 metros de
distância do início da trilha); e o ponto 2, também em uma área plana e que possui um
rebaixamento do piso (a 400 metros de distância do início da trilha) ( FIGURA 13).
Figura 12 - Localização dos pontos de coleta de solo na Trilha da Estrada Velha.
Org.: MORAES, D. I. de (2014).
171
Figura 13- Localização dos pontos de coleta de solo na Trilha dos Sentidos.
Org.: MORAES, D. I. de (2014).
Em cada um dos pontos selecionados, foram coletadas três amostras de solo, uma na
área central do leito e uma em cada área marginal, como ilustra a figura 14.
Figura 14 – Esquema de coleta do solo para analise da densidade real X porosidade.
Org.: MORAES, D. I. de (2013).
As amostras foram coletadas com anel volumétrico de 92,4259 g/cm³ e depositadas em
sacos plásticos devidamente identificados. Em seguida, essas amostras foram levadas para as
análises em laboratório.
As propriedades físicas do solo avaliadas foram: densidade real, densidade aparente e
porosidade. Para tanto, foi utilizada a metodologia do Manual de Métodos de Análises físicas
do solo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA (1997). As análises
172
foram desenvolvidas no Laboratório de Análises de Formações Superficiais da UNIOESTE,
campus de Francisco Beltrão.
A densidade aparente foi obtida pela divisão do peso da amostra seca a 100°C pelo
volume do anel, segundo a fórmula descrita abaixo:
Onde:
A densidade real foi calculada por meio da desagregação de 20 g de amostra seca a
100ºC, onde se utilizou a seguinte fórmula:
Onde:
A porosidade total foi calculada através da densidade aparente e da densidade real, de
acordo com a fórmula descrita a seguir:
Onde:
173
Segundo Feola (2009), a densidade aparente é um meio utilizado para avaliar a
compactação do solo e quando apresenta valores elevados, contribui para uma menor
infiltração da água da chuva fazendo com que o escoamento superficial seja acelerado e com
isso, contribua para a formação de sulcos, ravinas e erosão laminar no solo da trilha. Assim,
quanto mais elevada for a densidade aparente, menor será a porosidade, ou seja, a capacidade
do solo em absorver e drenar a água pluvial.
Os valores que acompanham essa relação podem ser observados nas cinco seções
analisadas, sendo que três delas ficam na Trilha da Estrada Velha (Gráfico 17) e duas na
Trilha dos Sentidos (Gráfico 18).
Gráfico 17- Densidade aparente e porosidade na Trilha da Estrada Velha.
100
1,4
1,2
1
0,8
0,6
0,4
0,2
0
80
60
40
20
0
A1 - LE A1 - C A1 - LD A2 - LE A2 - C A2 - LD A3 - LE A3 - C A3 - LD
Nº de seções analisadas
Porosidade
Legenda: A- Amostra; LE- Lado Esquerdo; LD - Lado Direito; C - Centro.
Org.: MORAES, D.I. de (2013).
Densidade Aparente
g/cm³
Porosidade (%)
Densidade Aparente X Porosidade - Trilha da
Estrada Velha
174
Gráfico 18- Densidade Aparente e Porosidade na Trilha dos Sentidos.
Densidade Aparente X Porosidade - Trilha dos
Sentidos
1,4
1,2
80
1
60
0,8
40
0,6
0,4
20
0,2
0
0
A4 - LE
A4 - C
A4 - LD
A5 - LE
A5 - C
A5 - LD
Nº de seções analisadas
Porosidade
Densidade Aparente
g/cm³
Porosidade (%)
100
Densidade Aparente
Legenda: A- Amostra; LE- Lado Esquerdo; LD - Lado Direito; C – Centro.
Org.: MORAES, D.I. de (2013).
Os valores mais elevados de densidade aparente estão localizados nas áreas que
pertencem ao piso e começam a serem visíveis a partir da seção 1. Os valores mais elevados
de densidade aparente estão na área central das seções 1 (1,29 g/cm³) e 2 (1,28 g/cm³), o que
demostra uma maior compactação nessas seções, que provavelmente, se devem a presença se
solo exposto (seção 1 e 2) e à alta declividade (seção 2). Respectivamente, a porosidade
nessas seções apresenta índices relativamente baixos (38,87% na seção 1 e, 39,33 na seção 2).
Outra alteração identificada se refere à densidade aparente apresentada pelas áreas
marginas das trilhas. As maiores alterações estão na seção 2 que apresenta 0,70 g/cm³ na área
marginal esquerda e 1,12 g/cm³ na direita e, na seção 5, onde o lado esquerdo apresenta 0,85
g/cm³ e o direito 0,66 g/cm³. Essas alterações possivelmente se devem pelo fato dos visitantes
ultrapassarem os limites do leito da trilha e percorrer com maior intensidade por uma das
áreas marginais, ocasionando o aumento da área afetada pelo pisoteio. A compactação nessas
áreas também pode estar relacionada à largura da trilha, uma vez que as áreas marginais com
maior compactação possuíam um leito mais estreito.
Na Trilha dos Sentidos, os maiores problemas relacionados à compactação estão nas
áreas centrais das duas seções analisadas (seção 4 e 5) que apresentam uma densidade
aparente de 2,63 g/cm³ e 2,32 g/cm³. Essas alterações provavelmente se devem à presença de
175
solo exposto, a alterações de largura e falta de canaletas de drenagem que conduzam o
escoamento da água pluvial para fora do leito da trilha.
A partir desses dados fica evidente a necessidade de manutenção e monitoramento
para as duas trilhas, de modo que os problemas relacionados à compactação possam ser
corrigidos e também evitados, pois geralmente esse impacto está associado ou conduz a outras
situações impactantes nas trilhas, tais como: rebaixamento do piso; dificuldade de
desenvolvimento de plantas; dificuldade de drenagem da água superficial; e erosões.
As análises comprovam a hipótese de que o leito da trilha apresenta solos mais
compactados que as bordas, em virtude da circulação de pessoas nesse espaço. Certamente,
essa compactação influencia o escoamento das águas pluviais e o transporte de matéria
orgânica e sedimentos no trecho das trilhas.
Considerando a realização do diagnóstico físico-ambiental e interpretativo das trilhas
do Recanto Renascer, procuramos elaborar algumas propostas de manejo para essas trilhas,
que serão apresentadas a seguir.
6.4 Propostas de Manejo para as Trilhas do Recanto Renascer
As discussões teórico-conceituais apresentadas, as análises desenvolvidas e os
resultados obtidos, serviram de base para propor algumas ações de manejo para as trilhas do
Recanto Renascer. Com o objetivo de não contribuir somente para o uso conservacionista das
trilhas do local, mas também, de melhorar as oportunidades de recreação e o potencial
educativo das trilhas, as propostas sugeridas estão divididas em dois grupos. O primeiro grupo
reúne propostas de ações de cunho geral, que permitem minimizar impactos e maximizar o
uso recreativo-educativo das duas trilhas analisadas. O segundo incorpora ações pontuais de
conservação e uso dos recursos naturais específicas para cada uma das trilhas.
6.4.1 Propostas Gerais de Manejo para as trilhas do Recanto Renascer
As análises desenvolvidas mostram que as trilhas do Recanto Renascer não possuem
impactos que necessitem de ações mais drásticas, como seu fechamento. No entanto, existe
uma série de situações ligadas ao manejo que precisam ser corrigidas para que não ganhem
proporções maiores e acabem proporcionando impactos mais severos ao ambiente e ao uso
recreativo das trilhas. Outro aspecto está ligado ao uso das trilhas para atividades educativas,
176
que precisa ser mais bem aproveitado através do desenvolvimento de atividades de
interpretação ambiental.
Nessa perspectiva, as propostas gerais de manejo para as duas trilhas do Recanto são as
seguintes:
Exposição dos mapas das trilhas na área de camping, de modo a orientar e instigar os
visitantes a realizarem o percurso. Essa ação se faz necessária pelo fato de que muito
dos visitantes do Recanto não sabem da existência das trilhas. Esses mapas também
contribuem para mostrar que as trilhas não são simples caminhos abertos em meio à
vegetação, mas um atrativo criado e mantido a partir de critérios específicos e de um
planejamento.
O fato de termos elaborado os mapas das trilhas é um elemento que pode contribuir
para o proprietário realizar essa ação, que seria a de mandar fazer duas placas na
entrada das trilhas, indicando o trajeto mapeado e os atrativos existentes;
Obter parcerias com Universidades e órgãos governamentais para o desenvolvimento
da interpretação ambiental, especialmente no que se refere aos recursos financeiros
para as estruturas necessárias (painéis, banners, etc.) e para o levantamento científico
dos conteúdos expostos. Como o Recanto Renascer faz parte do Roteiro de Turismo
Rural “Caminho do Marrecas”, o Departamento de Turismo da Prefeitura Municipal
de Francisco Beltrão poderia contribuir nesse processo, complementando a
experiência lúdica dos visitantes, com uma experiência pedagógica, de aprendizado
sobre o processo de interpretação e de sensibilização ambiental;
Realizar parceria com Universidades para o levantamento das espécies nativas da flora
local, com o objetivo de identificar novas espécies e corrigir erros de identificação e
idade em espécies já identificadas. Durante o desenvolvimento da pesquisa, foi
possível conduzir um grupo de discentes do curso de Geografia para um trabalho de
campo nas trilhas. Um dos discentes, com conhecimentos em botânica, informou que
haviam alguns erros nas placas de identificação das árvores. Posteriormente, esse
discente fez um levantamento fitogeográfico de algumas árvores, que pode ser
utilizado para adequar as placas e ampliar a identificação das árvores de grande porte
existentes nas trilhas;
177
Obter parcerias com a secretaria municipal de educação de Francisco Beltrão, para a
utilização das trilhas por grupos escolares, no desenvolvimento de práticas
pedagógicas voltadas à educação ambiental;
Procurar minimizar ou mitigar os impactos identificados nas trilhas, através de ações
como a melhoria do piso (redução da compactação do solo, construção de degraus em
áreas de maior declividade, redução do escoamento de água nas trilhas); melhorias na
acessibilidade e mobilidade nas trilhas (cordas, corrimões), entre outras;
Realizar o monitoramento contínuo do uso das trilhas, com o objetivo de mitigar
impactos reais e potencias ocasionado pela visitação;
Efetuar um diagnóstico físico-ambiental das trilhas pelo menos a cada dois anos
através da metodologia MIV, com o objetivo de identificar áreas mais vulneráveis e a
ocorrência de impactos.
6.4.2 Propostas Específicas de Manejo para as Trilhas do Recanto Renascer
Os resultados obtidos através do MIV, IAPI e das análises de solo também permitiram
elaborar propostas de conservação e de aproveitamento dos recursos naturais especificas para
cada uma das trilhas, a fim de mitigar impactos reais e potenciais e maximizar as
oportunidades recreativas e educativas existentes.
6.4.2.1 Trilha da Estrada Velha
Antes da exposição das possíveis estratégias de manejo para a Trilha da Estrada Velha,
é importante destacar que algumas ações já foram desenvolvidas no decorrer da pesquisa, no
intuito de coibir situações de impactos visivelmente percebidos na trilha. Essas estratégias
foram inicialmente expostas e debatidas com proprietário do local, que prontamente se
disponibilizou a realizar as duas ações propostas. Uma delas diz respeito a duas áreas mais
vulneráveis da trilha devido ao declive/aclive acentuado, localizadas nas seções 7 (de 700 a
800 metros de distância do início da trilha) e 5 (de 1.400 a 1.500 metros de distância). Para
minimizar a ação erosiva decorrente do escoamento superficial, foi sugerido à construção de
degraus utilizando como material torretes de madeira, conforme ilustrado na foto 35.
178
Foto 35 – Piso da trilha com degraus – Trilha de Estrada Velha.
Autor: MORAES, D. I. de (2013).
Outra ação sugerida e já desenvolvida na trilha foi a colocação de estrutura de
contenção na seção 11 (de 1.000 a 1.100 m), devido a uma acentuada perda da borda crítica
que oferecia riscos do visitante cair da encosta e impactos sobre o solo ligados a erosão. Esta
estrutura, apesar de bastante rudimentar e de utilizar matérias de reaproveitamento do próprio
ambiente, mostrou-se bastante eficiente, dando sustentação ao piso da trilha e coibindo a ação
impactante no local (Foto 36).
Foto 36- Estrutura de contenção – Trilha de Estrada Velha.
Autor: MORAES, D. I. de (2013).
179
Expostas as ações já realizadas na trilha, o quadro 13 traz a sintetização dos impactos
verificados, suas possíveis causas e as estratégias de manejo que precisam ser desenvolvidas
no local.
Quadro 13 – Impactos constatados, possíveis causas e estratégias de manejo para a Trilha da
Estrada Velha a partir da metodologia MIV.
Impacto Contatado
Indicador
LEITO
BORDA
SOLO
VEGETAÇÃO
Verificador
Alto Impacto:
Alteração
de
largura na trilha.
Médio Impacto:
Afundamento do
piso;
Alagamentos;
Erosão laminar.
Possíveis causas
Estratégia de Manejo
A falta de manutenção das áreas
marginais faz com que a vegetação
rasteira avance sobre o piso da
trilha;
A falta de canaletas de drenagem
faz com que a água superficial
(chuva) provoque a retirada da
cobertura superficial gerando
erosão, afundamento do piso e em
algumas situações o alagamento da
trilha.
Construção de canaletas
de drenagem;
Nivelamento do piso e
padronização da largura
da trilha (1m).
A utilização das trilhas por
pescadores contribui para a criação
de atalhos que ligam a trilhas as
margens do rio Marrecas.
O formato retilíneo da trilha em
uma área de declive/aclive
acentuado contribui para que
ocorra o desbarrancamento do
talude superior e inferior e para
que a água superficial utilize o
leito da trilha como um canal de
drenagem, provocando retirada da
cobertura vegetal e acelerando as
ações erosivas.
Falta
de
manutenção
nas
estruturas existentes.
Alto Impacto: Geradas
pelo
escoamento
Solo exposto.
superficial que transporta a
para
as
áreas
Baixo Impacto: serrapilheira
Raízes expostas; marginais da trilha.
Aclives/declives Formato inadequado da trilha.
acentuados;
Construção de barreiras
de contenção com troncos
de
árvores
(reaproveitamento
de
árvores caídas);
Fechar
e
reflorestar
atalhos;
Mudar traçado da trilha
para o formato de
ziguezague em áreas de
declive/aclive acentuados.
Falta de manutenção, poda
incorreta das áreas marginais e
introdução de espécies pelos
visitantes.
Retirada da vegetação
caída sobre o leito e evitar
podas
drásticas
e
desnecessárias nas áreas
marginais.
Médio Impacto:
Atalhos/
Bifurcações.
Baixo Impacto:
Canais
de
drenagem;
Perda de borda
crítica;
Manutenção de
estruturas.
Médio Impacto:
Árvores caídas.
Baixo Impacto:
Vegetação
danificada
na
Nivelar
o
solo
e
acrescentar serrapilheira
retirada de locais não
utilizados pela visitação.
Mudar o formato da trilha
para ziguezague.
180
borda (morta);
Espécies
exóticas.
Realizar
vistoria
realizado periodicamente
para
retirada de materiais
inorgânicos da trilha;
SANEAMENTO
Instigar a sensibilização
ambiental do visitante;
Implantar lixeiras para
depósitos dos materiais
descartáveis.
de
declive/aclive Modificar traçado da
Médio Impacto: Presença
Escorregar;
acentuados, perda da borda crítica trilha;
RISCOS
Cair da encosta. provocando o estreitamento do
degraus,
piso e falta de estruturas e de Construir
corrimões
e
barreiras
de
manutenção
nas
estruturas
contenção.
existentes.
Médio Impacto: Descarte inadequado
Lixo.
pelo visitante.
Fonte: Adaptado de Costa (2006).
Org.: MORAES, D. I. de (2013).
No que se refere à interpretação ambiental, é importante considerar que pelo fato desta
trilha ser autoguiada, a eficácia da atividade interpretativa depende essencialmente do
interesse do visitante, de sua capacidade de percepção e integração, e da qualidade das
informações apresentadas. Por isso, é fundamental que os materiais e as informações sejam
colocados de forma criativa, atrativa e motivadora, de modo que os visitantes se sintam
instigados a receber essas informações, refletir sobre elas e ao mesmo tempo apreciar e
integrar-se ao ambiente visitado.
Outro aspecto diz respeito à localização dessas estruturas, as quais devem estar
distribuídas de forma que não sobrecarreguem o ambiente e nem o visitante, com o excesso de
informações sem o devido tempo para sua análise e reflexão.
Diante disso, as propostas para essa trilha estão ligadas à implantação de painéis
ilustrativos com informações sobre as características socioambientais locais. Considerando
que a trilha possui quatro pontos de alta atratividade, mas três deles estão concentrados no
início da trilha, propomos a utilização de dois pontos de alta atratividade, de um ponto de
média e dois pontos de baixa atratividade, de modo que haja um distribuição regular dessas
estruturas interpretativas na trilha (Mapa 7).
181
Mapa 7- Proposta de pontos interpretativos para a trilha da Estrada Velha.
Org. MORAES, D. I. de, 2013.
Dos cinco pontos interpretativos propostos, um deve oferecer informações aos
visitantes quanto às características do percurso e os outros quatro informações referentes
às características biofísicas e socioculturais locais, conforme exposto no quadro 14.
Quadro 14– Pontos interpretativos e possíveis temas para a Trilha da Estrada Velha.
Ponto
Localização
Interpretativo
P1
Início da
trilha
Conteúdo apresentado
Objetivos
- Mapa da trilha com as seguintes
informações:
- Objetivo/tema: Apresentar
noções básicas das características
ambientais e socioculturais locais.
- Atrativos principais: Espécies
centenárias identificadas com
placas e a antiga estrada utilizada
pelos colonizadores da região.
- Extensão: 1.500 metros.
Orientar os visitantes
sobre as características
físico-ambientais
da
trilha.
182
P2
Árvore
Açoita
Cavalo
- Duração: 1 hora.
- Acessibilidade: parcial (não está
acessível a portadores de
necessidades especiais, como
cadeirantes).
- Grau de dificuldade: moderado
- Indicação de público: Indicada ao
público em geral, inclusive
crianças e idosos, desde que em
bom estado de saúde e preparo
físico.
- Acompanhamento: Autoguiada
- Formato: em ferradura
Identificação de três espécies da Contribuir
para
a
percepção do visitante
fauna local:
na identificação direta
- Capivara7 (Hydrochoerus
ou indireta dessas
hydrochaeris).
espécies no ambiente,
através
de
tocas,
-Tatu-bola (Tolypeutes tricinctus).
ninhos, pegadas, canto,
etc.
- Cutia (Dasyprocta leporina).
Com as seguintes informações:
nome científico, nome popular,
distribuição geográfica,
características físicas, alimentação
e reprodução e grau de ameaça de
extinção.
P3
P4
7
Promover
a
compreensão
do
visitante
sobre
a
importância do local
para a existência e
sobrevivência dessas
espécies.
Informações sobre o histórico da Promover
a
antiga estrada existente no local valorização históricoÁrvore Ingá (época em que foi utilizada e cultural do local.
importância como meio de
deslocamento na região).
Xaxim
Informações sobre a espécie de
Xaxim existente (sua importância
ecossistêmica,
utilização
econômica e riscos de extinção).
Instigar a percepção do
visitante
sobre
a
espécie identificada e
mostrar que se trata de
uma espécie ameaçada
de extinção, em razão
da
sua
intensa
exploração comercial
destinada à jardinagem
As espécies da fauna foram selecionadas em conjunto com os proprietários do Recanto, utilizando como
critério a facilidade na percepção direta e indireta desta espécie no ambiente das trilhas.
183
e floricultura.
P5
Promover
o
conhecimento
do
Árvore
Informações sobre o tipo de solo e visitante referente às
Maria Preta relevo da região.
características
geomorfológicas
e
pedológicas da área
visitada.
Org. MORAES, D. I. de, 2013.
6.4.2.2 Trilha dos Sentidos
Diferentemente da Trilha da Estrada Velha, em que algumas ações de manutenção
foram desenvolvidas no decorrer da pesquisa, na Trilha dos Sentidos nenhuma ação prévia foi
realizada. Isso porque as situações mais problemáticas da trilha exigem ações que demandam
recursos financeiros e maior planejamento, uma vez que estão ligadas a ações de contenção de
encosta, estruturas de segurança e elevação do piso em alguns pontos da trilha. Por isso,
optou-se em desenvolver todos os estudos de campo, para depois propor e debater junto aos
proprietários do local a implementação dessas estruturas.
Os impactos constatados, suas possíveis causas e as propostas de manejo para a Trilha
dos Sentidos estão expostos no quadro 15.
Quadro 15 – Impactos constatados, possíveis causas e estratégias de manejo para a Trilha dos
Sentidos a partir da metodologia MIV.
Indicador
LEITO
Impacto Contatado
Possíveis causas
Verificador
Alto Impacto:
Alteração de
largura
na
trilha.
Médio
Impacto:
Afundamento
do piso;
Baixo
Impacto:
Erosão
laminar;
A falta de manutenção das
áreas marginais faz com
que a vegetação rasteira
avance sobre o piso da
trilha;
A falta de canaletas de
drenagem faz com que a
água superficial (chuva)
provoque a retirada da
cobertura
superficial
gerando
erosão,
afundamento do piso e em
Estratégia de Manejo
Construção de canaletas de
drenagem;
Nivelamento do piso e
padronização da largura da
trilha (1m).
Elevação do piso com
material de empréstimo (solo
e rochas) para facilitar o
escoamento superficial.
184
BORDA
SOLO
Alagamentos. algumas
situações
o
alagamento da trilha.
A utilização das trilhas por
pescadores contribui para a
Baixo
criação de atalhos que
Impacto:
Canais
de ligam a trilhas as margens
drenagem;
do rio Marrecas.
Perda
de O formato retilíneo da
borda crítica; trilha em uma área de
Manutenção
declive/aclive
acentuado
de estruturas; contribui para que ocorra o
Atalhos/
desbarrancamento do talude
bifurcações.
superior e inferior e para
que a água superficial
utilize o leito da trilha
como
um
canal
de
drenagem,
provocando
retirada
da
cobertura
vegetal e acelerando as
ações erosivas.
A falta de manutenção em
estruturas de contenção
também contribui para essa
ação impactante.
Geradas pelo escoamento
superficial que transporta a
Baixo
serrapilheira para as áreas
Impacto:
Solo exposto; marginais da trilha.
Raízes
Formato inadequado da
expostas.
trilha.
Construção de barreiras de
contenção com troncos de
árvores (reaproveitamento de
árvores caídas);
Fechar e reflorestar atalhos.
Nivelar o solo e acrescentar
serrapilheira retirada de locais
dentro da floresta não
utilizados pela visitação.
Retirada da vegetação caída
Falta de manutenção, poda sobre o leito e evitar podas
Baixo
VEGETAÇÃO
incorreta
das
áreas drásticas e desnecessárias nas
Impacto:
Vegetação
marginais.
áreas marginais.
danificada na
borda (morta).
Realizar
vistoria
periodicamente para retirada
Descarte inadequado de de materiais inorgânicos da
Alto
materiais pelo visitante.
trilha;
Impacto:
SANEAMENTO Lixo.
Instigar
a sensibilização
ambiental do visitante para
que não deposite esses
materiais no ambiente;
Implantar lixeiras
para
depósitos
dos
materiais
descartáveis.
Presença de declive/aclive Construir degraus, corrimões
Alto
acentuados, perda da borda
Impacto:
185
RISCOS
Escorregar.
Médio
Impacto:
Cair
da
encosta.
crítica
provocando
o e barreiras de contenção.
estreitamento do piso e
falta de estruturas e de
manutenção nas estruturas
existentes.
Fonte: Adaptado de Costa (2006).
Org.: MORAES, D. I. de (2013).
Em relação à atividade interpretativa, as sugestões para essa trilha são a exposição de
painéis fixados em madeira, com informações que proporcionem o conhecimento e a
sensibilização do visitante através dos estímulos sensoriais (tato, olfato, odor e visão). Diante
das características físicas e das estruturas já implantadas na trilha, propormos a exposição
dessas informações em quatro pontos na trilha. Um deles determinado como de média
atratividade e os outros três, de alta atratividade (Mapa 8).
Mapa 8 - Pontos interpretativos propostos para a Trilha dos Sentidos.
Org. MORAES, D. I. de, 2013.
186
Os conteúdos propostos para cada um dos pontos estão expostos no quadro 16.
Quadro 16– Pontos interpretativos e possíveis temas para a Trilha dos Sentidos.
Ponto
Localização
Interpretativo
P1
P2
Início da
trilha
Local de
meditação
(audição)
Conteúdo apresentado
Objetivo
- mapa da trilha com as seguintes
informações:
- Objetivo/tema: Apresentar noções
básicas
de
ecologia,
da
biodiversidade
da
floresta
Ombrófila-mista e hidrografia local.
- Atrativos principais: pinguelas
sobre córregos, pontos de parada
para contemplação da flora e fauna
local, árvores nativas centenárias
identificadas com placas.
- Extensão: 500 metros.
- Duração: 30 minutos.
Acessibilidade: parcial (não está
acessível
a
portadores
de
necessidades
especiais,
como
cadeirantes).
- Grau de dificuldade: leve.
- Indicação de público: Indicada ao
público em geral, inclusive crianças
e idosos.
- Acompanhamento: Autoguiada.
- Formato: em ferradura.
Identificação de três espécies da
fauna local:
- Orientar o visitante
sobre as características e
atrativos da trilha e
instigá-lo a realizar o
percurso.
- Maitaca (Pionus maximiliani)
- Tucano (Ramphastos toco).
-Sabiá-Laranjeira
rufiventris).
(Turdus
Contribuir
para
a
percepção do visitante na
identificação direta ou
indireta (tocas, ninhos,
canto,
etc.)
dessas
espécies no ambiente.
Promover
conhecimento sobre
Com as seguintes informações: biodiversidade local.
nome científico, nome popular,
distribuição
geográfica,
características físicas, alimentação e
reprodução e grau de ameaça de
extinção.
P3
Placa
“Olfato:
Informações
sobre
a
floreta
Ombrófila mista aluvial, suas
características,
espécies
predominantes, área de abrangência
o
a
Instigar o visitante a
contemplar e reconhecer
no ambiente as principais
espécies dessa tipologia
187
sentir o
cheiro da
mata”
P4
e importância ecossistêmica.
Informações sobre o rio Marrecas
Placa Visão (nascente, municípios que abrange,
foz e importância para Francisco
Beltrão).
florestal.
Promover
o
conhecimento sobre as
características do rio
Marrecas
e
sua
importância
socioambiental.
Org. MORAES, D. I. de (2013).
Enfatiza-se que todas as propostas de manutenção e manejo desenvolvidas para as
duas trilhas do Recanto Renascer serão expostas e debatidas junto aos proprietários do local,
de modo que os resultados obtidos com a pesquisa possam contribuir para a adequação
ambiental destas trilhas e também para o aprimoramento de seu potencial recreativoeducativo.
188
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A literatura acerca da implantação e uso das trilhas ecológicas em áreas florestais
mostra que atividade exige planejamento, conhecimento técnico e uma constante manutenção
e monitoramento de impactos. Ao contrário do comumente entendido, as trilhas implantadas
nessas áreas não são simples caminhos abertos em meio à vegetação, mas percursos, que
devem ser criados a partir de técnicas e critérios específicos e coerentes às potencialidades e
limitações socioambientais locais.
Ao fazer o levantamento dos estudos desenvolvidos sobre o uso público de trilhas em
áreas naturais, verificou-se que apesar de existirem uma variedade de pesquisas sobre a
temática, elas estão concentradas nas Unidades de Conservação, enquanto que nos
estabelecimentos rurais, o uso de trilhas ecológicas mostra-se uma atividade ainda pouco
conhecida e difundida, tanto entre os atores vinculados ao ecoturismo e turismo rural, quanto
de estudos científicos relacionados ao uso e manejo das trilhas nesses estabelecimentos.
Ao analisar o uso público das trilhas em fragmentos de floresta de pequenos
estabelecimentos rurais, tendo como objeto de pesquisa o Recanto Renascer, foi possível
obter informações bastante significativas em relação ao uso público das trilhas nesses
estabelecimentos, especialmente no que se refere ao desconhecimento, tanto por parte dos
visitantes quanto dos gestores da atividade, em relação aos impactos ambientais que uma
implantação e uso inadequados podem desencadear e, também, do real potencial da trilha
como um atrativo.
No caso do Recanto Renascer, as trilhas ecológicas, apesar de serem diferenciais em
relação a outras propriedades vinculadas ao Roteiro de Turismo Rural do município de
Francisco Beltrão, apresenta-se como um atrativo ainda pouco explorado, já que muitos dos
visitantes da área de camping do local não ficam sabendo da existência das trilhas. Outro
aspecto está relacionado a dificuldade que o produtor rural possui em realizar a manutenção e
o manejo correto dessas trilhas, principalmente devido à falta de conhecimento técnico para
fazê-lo.
Mesmo passando 11 anos desde a implantação da primeira trilha no local, o único
suporte oferecido ao produtor rural para o desenvolvimento da atividade foi à identificação de
algumas espécies da flora local feita por um funcionário da EMATER.
O uso das trilhas como elemento educativo também se encontra pouco explorado e
difundido, dado ao potencial apresentado pelo local. Para desenvolver esse potencial é
189
preciso, no entanto, que haja apoio de profissionais especializado sejam eles geógrafos,
biólogos, engenheiros florestais, entre outros, que através de investigações científicas sobre as
características físico-ambientais locais, possam orientar os proprietários sobre os
procedimentos para desenvolver atividades educativas nas trilhas. Se houvesse interesse por
parte dos órgãos educativos do munícipio, esse potencial também poderia ser uma ótima
opção para desenvolver atividades com grupos escolares voltadas à educação ambiental e
demais estudos ambientais.
Parcerias também poderiam ser desenvolvidas com universidades e escolas da rede
pública e privada para utilizar esse local como um laboratório para estudos ambientais e
também em outras atividades educativas. Trabalhos de campo geralmente são realizados em
ambientes distantes da vivência dos alunos, enquanto locais como o existente no Recanto,
com suas características físicas (relevo, hidrografia), fitogeográficas, zoogeográficas e
históricas, muitas vezes não são valorizados e aproveitados em visitas de estudo e no
desenvolvimento de pesquisas científicas.
Acreditamos que o local possui um rico potencial educativo a ser explorado, que pode
tanto oportunizar conhecimentos e contribuir na conscientização ambiental dos visitantes,
quanto colaborar nas ações de manutenção e conservação desse ambiente.
Nesse sentido, os estudos desenvolvidos sobre o perfil e a percepção ambiental dos
visitantes e o tipo de atividade interpretativa existente nas trilhas do Recanto Renascer,
permitiram verificar que o desenvolvimento da interpretação ambiental é uma alternativa
importante de manejo e de atratividade para essas trilhas. Isso se dá porque existe o interesse
do visitante em conhecer mais detalhadamente o ambiente visitado e também devido à
ocorrência de impactos ambientais que podem ser minimizados através da atividade
educativa, especialmente no que se refere ao depósito inadequado de lixo e vandalismos.
O perfil e a percepção dos visitantes também se mostraram elementos importantes de
análise das diferentes relações e interações que os indivíduos estabelecem com o ambiente
durante a visitação. Dos visitantes analisados, muitos não perceberam a ocorrência de
impactos ou situações de riscos. Há também a falta de consciência ecológica de alguns, que
depositam lixo e depredam estruturas e elementos do ambiente. Essa falta de compromisso
com o ambiente muitas vezes está atrelada a uma visão de natureza como mercadoria, no qual
o visitante ao pagar o ingresso, abdica-se de qualquer responsabilidade e cuidado com o
ambiente visitado, vendo-o somente como um produto a ser consumido em benefício da sua
satisfação e bem estar individual. Por outro lado, existem também aqueles que buscam se
integrar ao ambiente, observar e entender os elementos e processos que o compõe, mantendo
190
uma relação de responsabilidade e zelo com o local. Isso ocorre em função de uma
consciência ambiental já formada no visitante, que mesmo utilizando esse espaço para o seu
lazer e entretenimento, entende e reconhece sua importância ambiental.
As observações em campo juntamente com as análises desenvolvidas mostraram que
as duas trilhas estudadas – Trilha da Estrada Velha e Trilha dos Sentidos - apresentam
características, potencialidades e situações de impactos distintas e em diferentes níveis (baixo,
médio e alto), ocasionadas principalmente pela falta de conhecimento técnico por parte dos
proprietários sobre como realizar as ações de manejo e manutenção corretos e específicos para
cada situação impactante. Essas alterações, apesar de não afetarem diretamente a experiência
vivenciada pelo visitante, conforme foi constatado durante a investigação de sua percepção
em relação aos impactos ambientais, mostram-se relevantes para a segurança dos usuários e
para a qualidade ambiental das trilhas.
A Trilha dos Sentidos, que possui uma pequena extensão, uma topografia plana e cujo
fragmento de floresta encontra-se em vários estágios sucessionais de regeneração decorrentes
da degradação gerada pela atividade anteriormente praticada, apresenta alguns impactos
ocasionados principalmente pela falta de estruturas adequadas e também de manutenção. Por
outro lado, essa trilha possui um rico potencial recreativo-interpretativo, em virtude de sua
proximidade com o Rio Marrecas, de seu formato curvilíneo que transpassa o córrego do local
e também por possuir espécies vegetativas centenárias e raras na região.
Já a Trilha da Estrada Velha, além de possuir um maior percurso, percorre ambientes
mais preservados, com uma área florestal em estágio sucessional de médio a alto. Porém, sua
variação topográfica a torna mais susceptível as ações erosivas e riscos aos usuários, o que
demanda a implantação de estruturas que minimizem a ação do escoamento superficial e
proporcionem maior sustentação ao piso da trilha.
Ao analisar o impacto do pisoteio sobre o solo nas trilhas, também foi possível
identificar que as alterações relacionadas à compactação estão presentes não somente no leito,
mas também em boa parte das áreas marginais analisadas. Isso demonstra uma maior
abrangência da área afetada pelo pisoteio e a necessidade de ações de manejo que minimizem
a ocorrência destes impactos, através de uma padronização na largura do piso das trilhas e
também de sua cobertura com serrapilheira.
Assim, para que as adequações físico-ambientais das duas trilhas ocorram, conforme
as ações sugeridas no item 6, propõe-se duas frentes principais de atuação. A primeira diz
respeito à padronização da largura do piso, no qual se indica a largura de 1 metro e também a
redução da velocidade do escoamento superficial nas áreas de declive e aclive, através de
191
estruturas que reduzam a velocidade da água como degraus feitos de rochas ou torretes de
madeira com dormentes e de estruturas que reduzam a distância do fluxo, como pequenos
canais de drenagem voltados para o interior da mata.
Após estabilizar a velocidade do escoamento superficial sobre o piso da trilha,
recomenda-se a construção de estruturas de sustentação em locais com perda de borda crítica
e cobertura do solo com serrapilheira extraída do interior da floresta, para que os impactos
relacionados à erosão e compactação possam ser minimizados. Uma terceira frente de atuação
indicada estaria na construção de painéis ilustrativos com os conteúdos interpretativos
anteriormente propostos.
No que se refere às metodologias utilizadas para realizar o diagnóstico físicoambiental das trilhas, estas se mostraram de suma importância para identificar situações de
impactos atuais e potenciais, que além de trazer prejuízos ambientais também acabam
prejudicando o desempenho das trilhas como instrumento recreativo no local. A identificação
desses impactos através do MIV e das análises de solo, permitiram o desenvolvimento de
propostas de manejo gerais e específicas para cada trilha e também iniciar as primeiras ações
de mitigação e controle de impactos, realizadas na Trilha da Estrada Velha, em parceria com
os proprietários do local. No mesmo segmento, a metodologia IAPI possibilitou avaliar a
atividade interpretativa desenvolvida e identificar potencias ainda não explorados, que podem
ser elementos importantes de atratividade nas trilhas.
No entanto, a falta de dados sobre o número mensal e anual de visitantes nas trilhas
impediu uma análise comumente desenvolvida em estudos sobre o uso publico de trilhas em
áreas naturais, que é o estudo da capacidade de carga. Essa análise permite identificar o
número ideal ou suportável de visitantes nas trilhas, e pode ser um elemento relevante para
que impactos gerados pela intensificação do uso sobre o ambiente e sobre a experiência
vivenciada possam ser evitados ou minimizados.
Contudo, apesar das dificuldades e limitações relacionadas à utilização das trilhas
como um atrativo turístico no Recanto Renascer, é importante considerar que a atividade tem
se mostrado bastante significativa para a preservação ambiental local, bem como, para a
atratividade do estabelecimento. Com a utilização das trilhas ecológicas, o fragmento de
floresta degradado por práticas agrícolas convencionais, passou a ser preservado e recuperado,
tornando-se um espaço importante de manutenção de espécies da vegetação nativa, que são
consideradas raras pelo grau de desenvolvimento em que se encontram no local e pela
escassez na região. A manutenção dessa área florestal contribui também para a diversidade de
espécies da fauna, com diferentes espécies de pássaros, mamíferos, répteis, etc.. Outro aspecto
192
está relacionado à importância dessa área na proteção dos recursos hídricos existentes, já que
corresponde a uma mata ciliar que protege além do rio Marrecas, outros córregos e nascentes
existentes no local.
A realidade existente no Recanto é um exemplo de que
o
desenvolvimento
de
alternativas menos degradantes dos ecossistemas e de seus elementos é uma ação possível. E
mesmo que correspondam a ações pontuais dentro de uma lógica social e ambientalmente
degradantes, elas tem se mostrado relevantes na busca por uma relação mais equilibrada entre
o uso socioeconômico dos recursos naturais e a proteção ambiental. O local comprova ainda,
que as áreas de floresta nas propriedades rurais não são espaços economicamente perdidos,
mas áreas que juntamente com a importância ambiental, podem ser uma alternativa
importante de geração e diversificação de renda nas propriedades e também de melhoria na
qualidade de vida da população (moradores e visitantes).
É importante considerar, no entanto, que mesmo vendo o uso das trilhas ecológicas
como uma iniciativa positiva de conservação florestal e geração de renda nas propriedades
rurais, elas por si só, não garantem o uso conservacionista, o qual só poderá ser alcançado a
partir de um planejamento detalhado das vantagens e riscos socioeconômicos e ambientais do
uso público das trilhas nesses locais e também, de conhecimentos técnicos sobre sua
implantação e manejo. Para tanto, é preciso um maior incentivo e apoio por parte dos órgãos
governamentais para o desenvolvimento correto da atividade, juntamente com o
desenvolvimento de mais estudos científicos sobre a viabilidade social, econômica e
ambiental do uso público das trilhas nesses estabelecimentos.
Espera-se, contudo, que esta pesquisa e a elaboração do material técnico-informativo,
possam oferecer subsídios para o desenvolvimento de outros estudos relacionados à temática
que envolve o uso público das trilhas ecológicas, bem como, para o desenvolvimento correto
da atividade no Recanto Renascer e em outros estabelecimentos rurais da Região Sudoeste do
Paraná e de outras regiões, que desejam utilizar as trilhas como um atrativo a visitação e como
uma alternativa de uso das áreas florestais, efetivamente conservacionista.
193
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202
9 APÊNDICES
APÊNDICE A - Roteiro de Entrevista com o casal de proprietário do Recanto Renascer
1- Como se encontrava a área de floresta destinada às trilhas quando o senhor passou a morar
na propriedade? Em que ano isso aconteceu? Tratava-se de uma mata nativa? Haviam
clareiras?
2- A área de floresta destinada às trilhas sofreu alguma modificação depois que o senhor
passou a morar na propriedade? Algo foi retirado ou plantado?
3- As trilhas foram construídas desde o início da abertura de sua propriedade para o lazer e o
turismo rural?
4- A ideia de implantar trilhas na propriedade partiu da família ou de terceiros?
5-Quais as intenções com a implantação das trilhas?
6- Quem abriu e organizou as trilhas?
7- Na construção das trilhas foi utilizado algum material técnico ou assistência de profissional
especializado?
8- Houve custos na construção? Quanto?
9- As trilhas são os atrativos principais ofertados na propriedade?
10- A manutenção das trilhas é realizada:
( ) diariamente
( ) a cada seis meses
( ) semanalmente
( ) mensalmente
( ) uma vez por ano
( ) outras __________________
11- Dos visitantes na propriedade, os que percorrem o trajeto das trilhas são:
( ) todos
( ) grande maioria
( ) poucos
12- Quais os pontos positivos que o senhor destaca no uso das trilhas ecológicas em sua
propriedade?
13- Quais os pontos negativos?
14- Os objetivos iniciais buscados com a implantação das trilhas foram alcançados?
15 – O senhor está satisfeito com a utilização das trilhas como atrativo na propriedade?
16 – Há intenções de investir em infraestruturas na trilha? Quais?
17- As trilhas contribuíram para que o fragmento de floresta na propriedade fosse preservado?
18 – As trilhas contribuíram para que áreas de mata fossem recuperadas na propriedade?
203
APÊNDICE B – Questionário Socioambiental aplicado aos visitantes das trilhas
ecológicas do Recanto Renascer – Francisco Beltrão – PR.
QUESTIONÁRIO SOCIOAMBIENTAL
Data:___/_____/____
PERFIL DO VISITANTE
1) Gênero: ( ) M
(
)F
2) Idade: ____________
3) Escolaridade:
( ) ens. fundamental completo
( ) ens. médio completo
( ) ens. superior completo
( ) pós-graduação completa
(
(
(
(
) ens. fundamental incompleto
) ens. médio incompleto
) ens. superior incompleto
) pós-graduação incompleta
4) Ocupação: __________________________________________
5) Cidade onde mora: ___________________________________
6) Renda familiar:
( ) até 1 salário mín. (R$622,00)
( ) 1 a 2 sal.mín. (R$623 a R$1.244)
( ) 2 a 4 sal. mín. (R$1.245 a R$2.490)
( ) 5 a 10 sal.mín. (R$3.111 a R$6.22)
( ) mais de 10 sal.mín. ( acima de R$6.220)
AVALIAÇÃO DA VISITA
7) Como você tomou conhecimento sobre as trilhas?
(
(
(
(
(
) já conhecia
) indicação de amigos/família
) guias de viagens, jornais, revistas
) internet / rádio
) outro meio. Qual: ______________________________
8) Já visitou as trilhas antes?
( ) não
( ) sim - quantas vezes? _____
9) Qual o motivo que te levou a percorrer as trilhas? (você pode assinalar mais de uma
204
alternativa).
(
(
(
(
(
) contato com a natureza
( ) aventura
) caminhar
( ) lazer e diversão
) estudo (aprendizagem)
( ) apreciar a paisagem
) descanso
( ) interesse em conhecer a flora local
) outro. Qual? ___________________________________________
10) O que você considera mais importante em uma trilha ecológica?
(
(
(
(
(
) conservação ambiental
) sinalização
) estruturas de segurança (pontes, degraus e corrimões)
) atrativos para a apreciação ( cachoeiras, plantas, animais)
) conforto e segurança
11) Ao percorrer as trilhas você percebeu a ocorrência de:
a) árvores danificadas
(
b) raízes expostas
(
c) áreas sem vegetação
(
d) solo compactado/sem cobertura vegetal (
e) lixo:
(
f) animais silvestres:
(
g) animais domésticos (gatos, cachorro
(
h) riscos (de escorregar, machucar, ...)
(
i) atalhos
(
j) vandalismo (placas, árvores, ...)
(
) pouco
) pouco
) pouco
) pouco
) pouco
) pouco
) pouco
) pouco
) pouco
) pouco
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
) muito
) muito
) muito
) muito
) muito
) muito
) muito
) muito
) muito
) muito
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
) não percebeu
) não percebeu
) não percebeu
) não percebeu
) não percebeu
) não percebeu
) não percebeu
) não percebeu
) não percebeu
) não percebeu
12) O grau de dificuldade da caminhada na trilha é:
( ) leve
( ) moderado
( ) elevado
13) O ambiente na trilha lhe proporcionou: ( pode ser assinalado mais de uma alternativa)
(
(
(
(
(
) tranquilidade e bem estar.
) incentivo a preservação ambiental
) desconforto pelo contato com espinhos, galhos e animais como formigas, mosquitos, etc.
) desconforto pela falta de infraestruturas adequadas ( pontes, sinalizações,...)
) outros _______________________
14) Na sua opinião como os visitantes poderiam contribuir para diminuir ou evitar impactos
ambientais nas trilhas?
( ) não jogar lixo
( ) não fazer barulho
( ) não entrar em atalhos
205
( ) outros
15) A trilha poderia ser mais atrativa se possuísse:
(
(
(
(
) mais vegetação e animais silvestres
) mais sinalizações
) mais informações sobre a fauna e flora do local
) outro. Qual? _____________________________
16) Suas expectativas iniciais com as trilhas foram satisfeitas?
(
) sim
( ) não
17) Quanto tempo durou a visita nas trilhas?
(
) até 1 hora
( ) de 1h a 2 h
( ) de 2h a 3h
( ) acima de 3h
18) No geral, qual é seu grau de satisfação em relação à visita nas trilhas?
(
) muito satisfeito
(
) satisfeito
(
) insatisfeito
( ) muito insatisfeito
19) Considerando a experiência vivenciada nas trilhas, você pretende fazer outras visitas?
( ) Sim
( ) não
20) Recomendaria a visita nas trilhas a outras pessoas?
( ) sim
( ) não
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Trilha da Estrada Velha