GUIA PARA A TRILHA ADAPTADA DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA: UMA PROPOSTA MULTIDISCIPLINAR SOB A PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA Renata Maia Ribeiro de Barros Braga1; Andréa Espinola de Siqueira1; Erika Winagraski2 1 Universidade do Estado do Rio de Janeiro/Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes; 2Instituto Nacional de Educação de Surdos - [email protected] INTRODUÇÃO As Unidades de Conservação (UC) representam relevantes locais de patrimônio natural e cultural, capazes de proporcionar, dentre muitos aspectos, vários benefícios aos seus frequentadores, assim como, do ponto de vista ecológico, efeitos positivos para a biota dos locais onde estejam inseridas. Conhecido popularmente como Floresta da Tijuca, o Parque Nacional da Tijuca (PARNA Tijuca) representa uma das maiores florestas urbanas do mundo. O Parque é um exemplo de UC apta a integrar diversas possibilidades de uso, que vão desde o turismo ecológico até o aproveitamento de seu potencial multidisciplinar, ainda pouco explorado como espaço não formal de ensino. O PARNA Tijuca é uma das poucas UC do Brasil que oferece um caminho adaptado a pessoas com necessidades especiais. A iniciativa, idealizada pelo Instituto Terra Brasil em parceria com o PARNA Tijuca, surgiu no sentido de democratizar o acesso da comunidade de visitantes à UC, possibilitando o contato direto com o bioma da Mata Atlântica. Esta trilha adaptada foi inaugurada em 2011, dentro das comemorações dos 150 anos da criação do Parque, mas ainda é pouco conhecida da população em geral. Paralelamente, a inclusão de pessoas com necessidades especiais tem sua relevância cada vez mais reconhecida, sobretudo para a obtenção de uma sociedade plenamente democrática. Contudo, ações que efetivamente promovam melhorias na vida desses cidadãos, ainda são muito incipientes. A Educação Inclusiva representa uma das iniciativas mais promissoras destinadas a minimizar essas diferenças (GIL, 2005). Segundo Sánchez (2005), essa vertente da Educação dá mais ênfase à diversidade do que à semelhança entre os alunos. Desta forma, repensar e adaptar os métodos tradicionais de ensino, para favorecer diferentes processos de aprendizagem, são requisitos necessários a uma educação de qualidade para todos. Além do potencial em servir como espaço não formal de ensino, as oportunidades de contemplação e bem estar proporcionadas pelo ambiente natural são muitas e indiscutíveis. Segundo o artigo 6º da Constituição Federal o lazer é um direito assegurado a todo cidadão (ANJOS, 2008). Dessa forma, desfrutar de espaços que ofereçam alternativas de entretenimento, não deve ser visto como algo exclusivo de quem não apresenta necessidades especiais, mas como uma possibilidade acessível a todos. Diante do exposto, o presente trabalho se propôs a apresentar um guia de campo para a trilha adaptada do PARNA Tijuca, denominada Caminho Dom Pedro Augusto, adequada para pessoas com necessidades especiais. O referido guia destina-se a auxiliar professores da Educação Básica em aulas externas, com abordagens multidisciplinares. As informações contidas nesse roteiro podem ser utilizadas por qualquer visitante do Parque interessado em entender a diversidade vegetal do local e o contexto histórico-cultural em que ela foi estabelecida. Seu conteúdo consiste, entre outros elementos, de fotografias e sugestões de abordagens didáticas, considerando-se as adequações pertinentes ao campo da Educação Inclusiva. METODOLOGIA A metodologia do trabalho foi definida por uma abordagem qualitativa, de acordo com Silveira e Córdova (2009), que caracterizam os dados analisados, como não-métricos, ou seja, baseiam-se em aspectos da realidade não quantificáveis. A coleta de dados foi obtida através de oito saídas de campo. Nas seis visitas iniciais, buscou-se realizar o levantamento das características da trilha, identificando os possíveis aspectos a serem abordados no roteiro. Nesse processo de reconhecimento da área de estudo, buscou-se também pela presença de elementos que pudessem ser manuseados para estimular a interação entre o público e o local e servir como ferramenta didática, considerando o paradigma da Educação Inclusiva – no que se refere, por exemplo, à importância do tato e do olfato para pessoas com deficiência visual para a formação de conceitos e representações mentais (BRASIL, 2007). Nas visitas finais, foram estabelecidas as estratégias de divisão da trilha em segmentos e as formas de abordagem dos conteúdos (baseados nos recursos oferecidos pelo trajeto), estimando-se o tempo necessário para cada trecho. Optou-se por dividir o caminho em duas partes objetivando atender os visitantes com dificuldades em realizar todo o percurso e facilitar o planejamento do professor em sua aula externa. Nessa etapa final, buscou-se também observar de forma mais crítica alguns elementos característicos da trilha para sugerir recomendações que garantissem mais segurança aos visitantes. Os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN (BRASIL, 1998) foram utilizados como referência para a seleção dos temas incluídos na elaboração do roteiro. Visando auxiliar a compreensão dos leitores, foram selecionadas 26 palavras, destacadas em negrito no Guia, para composição de um glossário. RESULTADOS E DISCUSSÃO O percurso do Caminho Dom Pedro Augusto apresenta uma extensão de 630 metros e um desnível de 4 metros. A trilha é percorrida por fios interligados por pequenos postes, o que possibilita um deslocamento orientado e mais seguro de visitantes com necessidades especiais (Fig.1). Ao longo do trajeto, distribuem-se dezenove espécies vegetais identificadas (nome popular, nome científico e família) em placas metálicas, em impressão tradicional e em Braille. A confecção das placas foi feita pelo Instituto Benjamin Constant através de uma parceria com o Parque (Fig.2). O roteiro proposto apresenta uma descrição, adequada ao público em geral, dessas espécies. Figura 1: Vista parcial da trilha adaptada do Parque Nacional da Tijuca. Os cabos de aço ao longo do trajeto orientam os visitantes com necessidades especiais no percurso. Figura 2: Placa metálica com a identificação de uma espécie vegetal, em impressão tradicional e em Braille. Ao longo da trilha, além das espécies vegetais indicadas pelas placas, há outras que se destacam por uma textura diferenciada em suas estruturas (Fig.3). Vegetais com essas características podem constituir ótimas ferramentas didáticas, principalmente para alunos com deficiência visual. A exploração tátil dessas superfícies permite tratar de temas mais gerais como diversidade e ecologia, que podem ser desenvolvidos em outros mais específicos, como taxonomia e herbivoria. Esses e outros assuntos relacionados às Ciências e Biologia são sugeridos no guia para o professor trabalhar com seus alunos durante a aula externa. Figura 3: Inflorescência de Piperaceae facilmente reconhecida pelo toque manual. Além da descrição das espécies botânicas sinalizadas no trajeto, o guia realiza uma contextualização histórica, a partir do aproveitamento de elementos artísticos presentes no trajeto, como recursos didáticos, o que proporciona seu caráter multidisciplinar. Dentre os temas elencados, ganham destaque a Revolução Industrial na Europa e os períodos do Brasil - Colônia e Império. O Caminho Dom Pedro Augusto pode ser classificado como uma trilha interpretativa, de acordo com a definição de Guimarães (2003 apud ANJOS, 2008). Segundo o autor, trilhas dessa categoria são de pequena extensão e tem entre seus objetivos, sensibilizar o visitante em relação ao meio ambiente, a partir de reflexões sobre a importância da conservação ambiental, possibilitadas pelo entendimento de características, naturais e construídas, presentes no local em questão. A iniciativa de identificar as espécies em placas é interessante para qualquer grupo de visitantes, sobretudo por contemplar o viés da inclusão, através do Sistema Braille. Contudo, há alguns aspectos a serem observados que podem contribuir para aprimorar a interação entre o visitante e os atrativos da trilha. Um deles é a ausência de uma indicação expressa nas placas diferenciando o nome popular do científico, o que pode dificultar a compreensão do público leigo ou não representar significado algum a ele. Dessa forma, acrescentar tal distinção poderia auxiliar no melhor entendimento do visitante. A adição de informações e curiosidades sobre as espécies em placas adjacentes também poderia estimular o interesse em conhecer e valorizar a diversidade vegetal ali encontrada, visto que a Educação Inclusiva não visa apenas atender às pessoas com necessidades especiais, mas à população em geral. O roteiro produzido pode se constituir como um facilitador para a interpretação ambiental e compreensão de alguns dos elementos presentes na trilha, suprindo de certo modo as necessidades apontadas. CONCLUSÕES O Caminho Dom Pedro Augusto possibilita o acesso de pessoas com necessidades especiais a uma UC, viabilizando o contato direto com o ambiente natural e representando uma importante alternativa para a abordagem multidisciplinar de diferentes conteúdos curriculares desenvolvidos na Educação Básica. A existência da trilha adaptada no PARNA Tijuca, portanto, deve ser reconhecida pela sua importância e oportunidade em oferecer às pessoas com limitações físicas, os benefícios obtidos do contato com o ambiente natural. O guia produzido deteve-se a elaborar sugestões de intervenção didática relacionadas às disciplinas de Ciências/Biologia, Artes e História, sem a pretensão de esgotar as possibilidades oferecidas pela trilha adaptada. O professor que venha mediar a interação entre seus alunos e o caminho adaptado, pode contribuir com seus conhecimentos, ampliando as potencialidades e o aproveitamento da aula externa. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANJOS, S.V. Ecoturismo como forma de inclusão social: trilha interpretativa para deficientes visuais. 2008. 58p. Monografia (Graduação em Turismo) – Centro Universitário de Brasília, 2008. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ciências Naturais. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental, 1998. BRASIL. Ministério da Educação. Atendimento Educacional Especializado : Deficiência visual. Brasília: SEESP, 2007. GIL, M. (coord.) et al. Educação Inclusiva: o que o professor tem a ver com isso? São Paulo: Imprensa oficial, 2005. GUIMARÃES, S. T. L. Percepção e interpretação ambiental: reflexão a respeito da construção do sentido do lugar e das experiências de topofilia e topofobia. In: HISTORICAL DIMENSIONS OF RELATIONSHIP BETWEEN SPACE AND CULTURE, 2003, Rio de Janeiro. Anais…Rio de Janeiro: s.ed., 2003. SÁNCHEZ, P. A. A Educação inclusiva: um meio de construir escolas para todos no século XXI. INCLUSÃO – Revista da Educação Especial, Brasília, n.1, p. 7-18, out.2005. SILVEIRA, D. T.; CÓRDOVA, F.P. A pesquisa científica. In: GERHARDT, T.E.; SILVEIRA, D.T. (org.). Métodos de Pesquisa. Porto Alegre: Editora de UFRGS, 2009. P. 31 – 42.