LOGÍSTICA REVERSA DE PRODUTOS NÃO CONSUMIDOS: UMA DESCRIÇÃO DAS PRÁTICAS DAS EMPRESAS ATUANDO NO BRASIL. PAULO ROBERTO LEITE ELIANE PEREIRA ZAMITH BRITO ÍNDICE 1.INTRODUÇÃO 1. INTRODUÇÃO 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1. LOGÍSTICA REVERSA 2.2 COMPETITIVIDADE ATRAVÉS DA LOGISTICA REVERSA 3. METODOLOGIA 4. RESULTADOS DA PESQUISA 5. CONCLUSÕES PRINCIPAIS 6. OUTRAS CONCLUSÕES 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA A administração logística, historicamente, não foi vista nas empresas como uma atividade que pudesse agregar valor a seus produtos e serviços. Este panorama está mudando em razão de diversos fatores, entre eles estão: sistemas de informação mais eficientes a um custo menor; melhoria na tecnologia de movimentação e armazenamento de materiais; métodos mais eficientes de controle de produção e estoque; e outros fatores que permitem o melhor planejamento e execução das atividades da área. Com isto a área tem recebido destaque, e sua imagem como geradora de custos, passou para atividades que podem gerar diferenciais competitivos para as mesmas (CHISTOPHER,1999; BOWERSOX; CLOSS, 2001; AT. KEARNEY, 1993). Apesar da mudança de status da logística, muito ainda pode ser feito, principalmente em termos do gerenciamento do fluxo de retorno de produtos não consumidos. Esse fluxo, assim como o direto, sofre oscilações e essas podem ser maiores em tempos de turbulência econômica, exigindo maior capacidade gerencial do canal de distribuição, que deve estar preparado para absorver as variações mais acentuadas da demanda num curto prazo. Muitas são as diferenças entre o fluxo de entrega de bens vendidos e o fluxo de bens retornados, mas apesar disso poucos são os estudos em canais de distribuição e logística que tratam do canal reverso de produtos não consumidos. A avaliação que se poderia fazer é que na prática os mesmos métodos estão sendo aplicados para os dois fluxos ou ainda, que o fluxo reverso não está sendo considerado pelas empresas. Este possível tratamento não diferenciado entre os canais de distribuição direto e reverso impede que as empresas desenvolvam as práticas adequadas que ocasionaria melhoria de seu desempenho econômico e de percepção valor pelos clientes. A falta de conhecimento dos ganhos potenciais associados aos canais reversos deve ser o principal impeditivo para que as empresas não mudem seus procedimentos. O objetivo do presente estudo é descrever as práticas de logística reversa para produtos não consumidos no Brasil. A idéia é avaliar a importância atribuída ao canal reverso na busca da melhoraria do desempenho, tanto econômico quanto mercadológico, dos produtos comercializados pela empresa. O estudo não trata de todos os retornos de produtos vendidos e não consumidos que ocorrem no canal de distribuição, limitando-se às trocas entre produtor e seu elo seguinte do canal. Portanto, o retorno de produtos vendidos e não consumidos envolvendo o varejista e o consumidor final não será tratado, podendo ser o foco de trabalhos futuros. As análises não ficaram restritas ao ambiente competitivo de um segmento econômico, podendo neste caso apresentar variações sensíveis entre segmentos, como é apontado na literatura, mas que poderão ser tratadas em pesquisas futuras. 2. REFERENCIAL TEÓRICO Nessa seção são apresentadas as idéias dos autores que serviram de base para a pesquisa de campo elaborada para o presente estudo. 2.1. LOGÍSTICA REVERSA Em termos macroeconômicos a logística é a responsável pelo fluxo físico dos materiais no setor industrial e deste para o consumidor, passando pelos diversos elos dos canais de distribuição (BOWERSOX, CLOSS, 2001). Nas empresas o termo é utilizado para descrever as atividades relacionadas com os fluxos de entrada de materiais e de saída de produtos e tende a ganhar uma visão integrada entre as organizações à medida que estas passam a planejar suas atividades de forma conjunta, para melhor servir o mercado e ganhar eficiência e eficácia (BALLOU, 2001). Dornier et al. (2000, p. 39) colocam que a definição atual de logística deveria englobar todas as formas de movimentos de produtos e informações. Essa nova visão da logística amplia o escopo de atuação da área, passando a incluir não só fluxos diretos tradicionalmente considerados, mas também os fluxos de retorno de peças a serem reparadas, de embalagens e seus acessórios, de produtos vendidos e devolvidos e de produtos usados ou consumidos a serem reciclados. Bowersox e Closs (2001, 51,52) apresentam, por sua vez, a idéia de “Apoio ao Ciclo de Vida” como um dos objetivos operacionais da logística moderna referindo-se ao prolongamento da logística para além do fluxo direto dos materiais, considerando também os fluxos reversos de produtos em geral. Rogers e Tibben-Lembke (1999, p.2) definem logística reversa como o processo de planejamento, implementação e controle do fluxo de produtos acabados e as respectivas informações, desde o ponto de consumo até o ponto de origem, com o propósito de recapturar valor ou adequar o seu destino. Stock (1998,20) por sua vez define que a logística reversa trata do retorno de produtos, reciclagem, substituição de materiais, reuso de materiais, disposição de resíduos e reforma, reparação e remanufatura de bens retornados. A logística reversa pode, portanto, ser entendida como a área da logística empresarial que visa equacionar os aspectos logísticos do retorno dos bens ao ciclo produtivo ou de negócios através da multiplicidade de canais de distribuição reversos de pós–venda e de pós–consumo, agregando-lhes valor econômico, ecológico, legal e de localização (LEITE, 2003; CLM, 1993; FULLER, ALLEN,1995). Estes canais reversos apresentam importância crescente, tanto do ponto de vista estratégico empresarial como do ponto de vista econômico. Pesquisa estima que em 1997 nos Estados Unidos, que o retorno de bens absorveu cerca de 35 bilhões de dólares, ou seja, cerca de 0,5 % do PNB do país, ou 4% dos custos logísticos totais (US$ 862 bilhões em 1997). A mesma pesquisa obteve os níveis de devoluções médios entre setores de atividade econômica diferentes, cujo extrato apresentamos a seguir na Tabela 1. Tabela 1– Porcentagem de Retorno de Bens Pós – Venda Fonte: Roger and Tibben-Lemblke, 1999, p. 7 Ramo de Atividade % Média de Retorno Editores de Revistas 50% Editores de Livros 20-30% Distribuidores de Livros 10-20% Distribuidores de Eletrônicos 10-12% Fabricantes de Computadores 10-20% Fabricantes de CD – Roms 18-25% Impressoras para Computador 4-8% Peças Industria Automotiva 4-6% Blumberg (1999, p.6) estima que o custo total da logística reversa nos Estados Unidos foi de US$ 4,7 bilhões em 1996. Morrel (2001) estima em 30% o retorno dos bens comercializados via Internet. Richardson (2001) destaca que o instituto de pesquisa em informática Gartner Group prevê um valor de US$11bilhões de retorno de bens no segmento do comércio eletrônico (e-commerce) e que em conseqüência as perdas correspondentes deverão se situar entre US$ 1,8 e US$2,5 bilhões em 2002 (ROGERS, TIBBEN-LEMBKE, 1999; STOCK, 1998). Estatísticas como essas relativas ao mercado brasileiro ainda não estão disponíveis e pouco se conhece das práticas relacionadas a esses problemas utilizadas pelas empresas atuando no Brasil. Os produtos de pós-venda retornam através da própria cadeia de distribuição direta, tendo em geral como origem do retorno um dos elos da cadeia ou o próprio consumidor final e tendo como destino geralmente o fabricante do produto. A Figura 1 a seguir detalha as diversas possibilidades de retorno desta categoria de bens. Autores como CLM (1993), FULLER e ALLEN (1995), ROGER e TIBBEN-LEMBLKE (1999), STOCK(1998) e LEITE ( 2003) com maior ou menor ênfase exploram estes fluxos reversos dos produtos não consumidos, denominados de pós-venda por LEITE (2003). O fluxo reverso é destinado novamente ao mercado, a mercados secundários, aos pontos de reforma, ao desmanche, à reciclagem dos produtos e de seus materiais constituintes, ou ainda à disposição final. Figura 1 – Categorias de Retorno de Pós - Venda Bens de Pós–Venda Garantia/ Qualidade Comerciais Contratuais Não Contratuais Retorno ao Ciclo de Negócios Validade de Produtos Disposição Final Substituição de Componentes Conserto Reforma Remanufatura de Produtos Remanufatura de Componentes Desmanche Reciclagem Mercado Primário de Bens Mercado Secundário de Bens Mercado Secundário de Componentes Mercado Secundário de Matérias Primas Fonte: LEITE, 2003 p. 211 O retorno de pós-venda é devido a dois motivos principais, genericamente chamados de problemas de garantia ou qualidade e a problemas comerciais. Os principais exemplos de motivos que originam retorno dos bens de pós-venda foram resumidos na Tabela 2 a seguir: Tabela 2 - Motivos Principais de Retorno Fonte: CALDWELL(1999), ROGERS e TIBBEN-LEMBKE(1999); LEITE(2003); STOCK(1998). Retornos Comerciais Exemplos de Motivos de Retorno Retornos não contratuais Erros de expedição do pedido, erros na recepção Retornos comerciais contratuais Retorno de produtos em consignação Retorno de ajuste de estoques de canal Excesso de estoque no canal, baixa rotação do estoque, introdução de novos produtos, moda ou sazonalidade. Retornos por Garantia Qualidade Garantia, defeituosos, danificados Validade de produto Expiração da validade Fim de vida Expiração da utilidade Recall Manutenção, recolhimento de produto do mercado. Os produtos retornados serão encaminhados a diferentes destinos em função das possibilidades de aproveitamento, conforme apresentado na Figura 1. Caldwell (1999), LEITE (2003, p.216-218), ROGERS e TIBBEN- LEMBKE, (1999, p.78-86), apresentam os principais destinos dos produtos retornados sem consumo listados a seguir: 1. Revenda no mercado primário - Os produtos de retorno devido a ajustes de estoques nos canais de distribuição direta normalmente possuem condições gerais de serem reenviados ao mercado primário, ou seja, o mercado original, com a marca do fabricante e através de redistribuição; 2. Reparações e consertos - No caso de exigências desta natureza os produtos de retorno serão destinados às reparações necessárias e poderão ser comercializados no mercado primário ou mais freqüentemente no mercado secundário; 3. Desmanche - O destino de desmanche ocorre quando o bem retornado apresenta-se sem condições de funcionamento para a utilidade de projeto e existe valor de uso em seus componentes. Esta operação é normalmente realizada por empresas que arrematam os produtos nestas condições e os componentes serão enviados ao mercado secundário de peças ou subconjuntos ou antes passando por processo de remanufatura. Os produtos salvados em acidentes de trajeto e o destino de peças de veículos ao mercado secundário são exemplos desta categoria de canal reverso; 4. Remanufatura - O processo de remanufatura se dará quando os componentes do desmanche de bens retornados apresentaram defeitos e devem ser refeitos para ser encaminhados ao mercado secundário. Muitas empresas de grande porte utilizam o sistema de desmontagem de componentes e revisão para alimentar o seu mercado de peças de reposição recuperando valores importantes; 5. Reciclagem industrial - Os subconjuntos ou partes da estrutura dos bens são comercializados com empresas especializadas na reciclagem dos materiais constituintes destes produtos; 6. Disposição final - Não havendo nenhuma outra solução de agregar valor de qualquer natureza ao produto retornado ou de suas partes ou materiais, os mesmos são destinados a aterros sanitários ou ao processo de incineração dependendo das peculiaridades de cada país ou região; e 7. Doação - O caso de doações é normalmente um destino de produtos retornados quando existe interesse de fixação de imagem por parte do fabricante e normalmente associado a produtos com certo grau de obsolescência. Caso muito comum no setor de computadores que apresentam vida média útil muito curta, mas que apresentam interesse no mesmo país ou em outros países mais necessitados. 2.2 COMPETITIVIDADE ATRAVÉS DA LOGISTICA REVERSA A competição intensa vivida pelas empresas nos dias atuais tem levado as empresas à organizações em cadeia de suprimento privilegiando relacionamentos duradouros com seus clientes e fornecedores. O cliente direto na cadeia de suprimento torna-se tão importante quanto o consumidor final, alvo principal do marketing tradicional, transformando-se em foco de trabalho do marketing de relacionamento. Esta visão moderna baseia-se no fato comprovado de que é mais econômico manter clientes do que conquistar novos clientes. Desta forma é necessário criar valor diferenciado ao cliente propiciando-lhe a percepção dos benefícios do fornecimento, melhorando a relação “Percepção de Benefícios” sobre o “Custo total de propriedade”, examinado por Christopher (1999, p.72). Ainda segundo o autor a percepção do cliente é proporcional ao incremento de resultado obtido pelo cliente. Os custos empresariais tiveram modificações importantes nas últimas décadas motivadas principalmente pela intensa globalização das economias, automatização e pela tendência de terceirização das atividades meios empresariais. Estas tendências aumentam os custos indiretos de administração e de fornecimentos externos em relação aos custos diretos do produto. NOVAES (2002, p.224) estima que as despesas indiretas e de administração representam mais de 50% do total dos custos do produto contra 10% até a segunda guerra mundial. A nítida redução do ciclo de vida de produtos que se observa nas últimas décadas gera excedentes de produtos de pós- consumo e de pós – venda cujo retorno precisa ser equacionado. As empresas terão estratégias diferentes na busca de preservação de suas imagens corporativas: serão proativas , reativas ou aproveitarão as oportunidades de gerar valor aos clientes por meio da introdução das variáveis ambientais em sua estratégia empresarial. (LEITE, 2003, p. 135) As considerações anteriores sugerem que a identificação de oportunidades de oferta de serviços diferenciados e o equacionamento de seus correspondentes custos poderão fornecer condições diferenciadas de competitividade através de serviços perceptíveis aos clientes. A Logística Reversa é uma das oportunidades que empresas modernas utilizam para a geração deste valor aos seus clientes diretos. O gerenciamento logístico tem impacto sobre os resultados do marketing, fazendo com que os serviços logísticos oferecidos aos clientes passe ocupar seu espaço nas estratégias mercadológicas que antes focavam basicamente nas marcas, no preço e promoção. A visão estratégica e integrada da rede de operações, o Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos (SCM), tem permitido ampliar a visão dos fluxos logísticos além da entrega dos produtos ao mercado. A decisão de gerenciar os fluxos reversos amplia ainda mais as oportunidades de acréscimo de valor de diferentes naturezas que a atividade logística pode agregar ao bem (CHRISTOPHER, 1999). Empresas modernas utilizam-se da Logística Reversa, diretamente ou através de terceirizações com empresas especializadas e o fazem principalmente como uma forma de ganho de competitividade no mercado conforme atestam os dados da Tabela 3, que foram extraídos de uma pesquisa nos Estados Unidos. Tabela 3 - Motivos estratégicos de empresas operarem os canais reversos Fonte: Rogers e Tibben- Lembke, 1999. Motivo Estratégico Porcentagem de Empresas Respondentes Aumento de Competitividade 65,2% Limpeza de Canal – Estoques 33,4% Respeito à Legislações 28,9% Revalorização Econômica 27,5% Recuperação de Ativos 26,5% O acréscimo de valor oferecido pela implementação da Logística Reversa de pós – venda pode ser resumido no Quadro 2 a seguir onde são apresentados alguns exemplos de agregação de valor ao cliente no retorno de bens de pós-venda e os benefícios correspondentes advindos para a empresa. Quadro 2 - Agregação de Valor da Logística Reversa Fonte: Extrato de LEITE ( 2003, p. 207) ACRÉSCIMO DE VALOR PARA CLIENTES E FORNECEDORES q LIBERAÇÃO DE ÁREA DE LOJA q REDISTRIBUIÇÃO DE ESTOQUES NOS CANAIS q SERVIÇO PERCEPTÍVEL AO CLIENTE q REVALORIZAÇÃO DE ATIVOS q REAPROVEITAMENTO DE COMPONENTES q REAPROVEITAMENTO DE MATERIAIS q INCENTIVO À NOVA AQUISIÇÃO RESULTANDO EM: • MAIOR COMPETITIVIDADE • REDUÇÃO DE CUSTOS • IMAGEM CORPORATIVA 3. MÉTODOS DA PESQUISA DE CAMPO A pesquisa realizada, de acordo com Vergara (1998, p. 44-46), pode ser definida como uma pesquisa descritiva, na medida em que tenta descrever os aspectos de uma amostra selecionada de empresas com relação a alguns aspectos do gerenciamento do seu canal reverso. O assunto pesquisado é de extrema carência de dados, principalmente no Brasil. Quanto aos meios de investigação utilizados esta pesquisa se classifica como de campo, no entender do mesmo autor. A coleta de dados se deu por meio de questionários estruturados de autopreenchimento. O questionário continha dez questões com múltipla escolha e foi dirigido a quatro grupos de executivos em diferentes ocasiões e em reunião em diferentes locais o que permitiu uma certa variedade randômica à amostra. Algumas limitações do método utilizado podem ser resumidas como segue. A amostra disponível pelo método não permite generalizações, ou seja, os resultados têm validade restrita, circunscrita ao grupo de empresas pesquisadas. Os resultados contem dados de diversos setores da economia, não podendo sinalizar as possíveis práticas de algum setor específico. 4. RESULTADOS DA PESQUISA Nesta seção estão apresentados os resultados da pesquisa de campo. Os resultados da presente pesquisa foram várias vezes comparados com uma pesquisa anterior de 2002 e publicada em 2003 dos mesmos autores e que consta da lista de referências (LEITE; BRITO, 2003). Para efeito de simplificação essa pesquisa foi sempre referida nessa seção como a pesquisa anterior. A pesquisa anterior levantou dados das práticas de 57 empresas de setores diversos. Nessa segunda fase da pesquisa outras 60 empresas responderam a pesquisa, mas apenas 56 respostas foram consideradas válidas. Assim como na pesquisa anterior, os respondentes dessa fase pertenciam a setores diversos, sendo que mais de 15 setores foram declarados, em razão da opção outros setores. Assim como na pesquisa anterior, os setores de produtos eletrônicos (6 respostas) e alimentício (4 respostas) tiveram o maior número de respondentes diferentemente das pesquisas anteriores o setor de logística (4 respostas) configurou com igual número de respondentes que o setor alimentício. Os três somados representaram 25% das respostas. Esta abrangência de setores empresariais permite se continue evidenciando as diferenças e semelhanças das práticas nos diversos setores e traçar estudos futuros por setor. Predominou o setor de transformação ou indústria, com alguns casos do setor logístico. O varejo não esteve presente nessa fase da pesquisa. Numa próxima fase seria interessante focar exclusivamente no setor varejo, que tanto sofre com o problema de retorno de itens não consumidos. O preço de venda unitário médio do principal grupo de produtos das empresas dos respondentes era relativamente baixo sendo que mais de 60% assinalou preço inferior a R$ 100, sendo que 45% dos preços ficaram abaixo de R$ 20. Como na pesquisa anterior, observou-se certa dispersão de validade de produtos da empresas respondentes, pode-se, no entanto, colocar que 46% dos produtos das empresas dos respondentes apresentavam prazo de validade acima de 2 anos. Cresceu o número de empresas cujos produtos não têm prazo de validade definido (27%), indicando maior presença de empresas dos setores de material de construção, papel, têxtil, automotivo e bebidas, que na pesquisa anterior. Poucas empresas (3,3%) revelam claramente a não aceitação de retorno de seus produtos não consumidos. Esse percentual é ainda menor do que na pesquisa anterior, que algo em torno de 10% dos respondentes declararam não aceitar produtos retornados. O aumento de empresas fora do setor alimentício e crescimento de setores pouco representados na pesquisa anterior causou esse efeito. O retorno de produto que não têm prazo de validade pode não significar problema para seus fabricantes que podem revendê-los ou retorná-los para fluxo direto sem maiores custos. Enquanto que para o setor alimentício, raras vezes o retorno pode ser reaproveitado, por questões de segurança e qualidade do bem retornado. A complementaridade desse dado é o fato de quase 30% dos respondentes indicaram que aceitam todos os retornos, ou seja, políticas de retorno totalmente liberal. Os respondentes, regra geral, associam mais de um objetivo estratégico às ações relacionadas ao fluxo reverso nas suas empresas. O objetivo mais citado é a eliminação produtos impróprios para consumo (Ver Tabela 4), mas é importante notar que os objetivos listados são quase que igualmente importantes para a amostra pesquisada. Esse resultado assemelha-se ao da pesquisa anterior, com exceção do crescimento do objetivo de recuperação de produto para revenda. Mais uma vez esse resultado reflete a mudança de composição da amostra. Tabela 4 – Objetivo estratégico da política de retorno de produtos não consumidos Objetivo estratégico do retorno Eliminar produtos impróprios para consumo Ter diferencial competitivo Recuperação produtos p/reprocessá-los Cumprir responsabilidade ecológica Cumprir a lei Recuperar produto para revenda Número de respondentes 27 23 23 22 22 16 Os respondentes apontaram que a operação de logística reversa de produtos não consumidos é realizada com recursos internos das empresas, sendo as áreas de vendas e logística direta as mais freqüentemente responsáveis (46% dos casos) pelo gerenciamento da mesma. A totalidade dos respondentes acreditava não poder estimar o impacto dos produtos retornados sobre o lucro da empresa. Esse resultado pode evidenciar que pouca atenção tem sido dada pelas empresas brasileiras ao problema do retorno sob o ponto de vista econômico, ressaltando o resultado da pesquisa anterior, na qual apenas 47% não soube estimar o impacto. O ciclo de retorno dos produtos é menor que 30 dias para 70% das empresas dos respondentes. Esse prazo parece ser bastante razoável, dada a falta de infra-estrutura associada ao fluxo reverso. Não há um consenso entre os respondentes sobre as possíveis barreiras ao desenvolvimento das atividades de logística reversa no Brasil. Entre as barreiras citadas pode-se colocar: falta de política das empresas; não obrigação legal; falta de recursos humanos; falta de recursos financeiros; a concorrência não atua; importância relativa pequena da atividade; e falta de sistemas de informação adequados. Analisando-se essas citações verifica-se que as empresas pesquisadas de fato ainda não despertaram para o benefício mercadológico da operação de logística reversa e não calculam quanto podem estar perdendo com a não operacionalização do fluxo reverso dos produtos não consumidos. Perguntados sobre a importância da criação de uma política de retorno de produtos não consumidos para a sua empresa e apenas cinco dos 56 respondentes colocou como muito importante. Essa resposta pode indicar que os respondentes desconhecem as necessidades comerciais das empresas, pois problemas de fluxo reverso são freqüentes e ter uma política só ameniza potenciais problemas com seus clientes e pode servir como um diferencial de vendas. Os respondentes podiam indicar mais de uma resposta para a questão do local de destino primário dos produtos retornados. Os respondentes apontaram em média dois destinos para os produtos não consumidos, sendo reforma o mais citado (30% das citações) a remanufatura foi o segundo mais citado (28%), o desmonte ficou em terceiro (26% das citações) e por fim a revenda (16%). Será importante incluir em pesquisas posteriores questões que abordem o controle do processo de retrabalho, venda, destruição, doação ou outra modalidade de reaproveitamento do produto retornado, no sentido de verificar o cuidado que as empresas têm com suas marcas nesse processo. Como na pesquisa anterior a maior parte das atividades do fluxo reverso é feito pela própria empresa, sendo que a proporção da pesquisa atual foi ainda maior que da pesquisa anterior (70% contra 65%). Seria interessante investigar o grau de profissionalismos da operacionalização do fluxo reverso nas empresas atuando no Brasil. Perguntados sobre a avaliação comparativa da importância do adequado tratamento do fluxo reverso nas empresas em relação a fatores tais como preço, qualidade, variedade de produtos e logística direta e evidentemente, o resultado foi que o fluxo reverso é avaliado como menos importante como diferencial competitivo. Seria importante conduzir uma pesquisa que avaliasse a importância relativa do fluxo reverso associado com outras características do setor de atuação da empresa, tais como grau de competição, importância relativa do bem para o orçamento do consumidor, entre outros. 5. CONCLUSÕES O estudo permitiu comparar os resultados da presente pesquisa e pesquisa anterior realizada também com outras empresas atuando no Brasil.Os resultados não foram consolidados em razão das alterações executadas no instrumento de coleta de dados para melhor captar as características do mercado brasileiro. Novas alterações terão que ser feitas novamente, em função do aprendizado constante sobre esse campo novo de estudo em logística. No entanto, pode-se colocar que o perfil dos respondentes diferiu nas duas pesquisas e isso ocasionou o surgimento de alguns resultados pouco diferentes da pesquisa anterior, pois o número de empresas produtoras de itens não perecíveis trouxe novas reflexões e acentuou as diferenças entre setores da economia, quanto ao tratamento do fluxo reverso de produtos não consumidos. Além disso, os resultados mais uma vez permitiram compreender melhor as diversas categorias de pesquisas que podem ser empreendidas nesta área em setores específicos e examinando aspectos específicos dos que foram observados até então. O desconhecimento do custo da logística reversa sobre o lucro da empresa e a custo da logística reversa sobre o custo total da logística da empresa pela totalidade dos respondentes revela coerência nas ações das empresas pesquisadas, pois à medida que desconhecem o quanto estão perdendo, ou deixando de ganhar não há razão para empreender muitos esforços com a operação. Isso fica reforçado pela baixa importância atribuída para a criação de uma política de retornos de produtos. Além disso, tem-se a percepção do respondente que o fluxo reverso de produtos não consumidos em menos importante que preço, qualidade, variedade de produtos e o desempenho da logística direta como diferencial competitivo. Não está sendo advogado aqui que o fluxo reverso é mais importante que essas outras variáveis, mas sim que pela percepção existente, dificilmente o fluxo reverso será encarado como uma vantagem competitiva para a empresa, num mundo de iguais. O interessante é olhar a logística reversa como uma nova fronteira a ser explorada. Várias foram as sugestões de pesquisas relacionadas ao assunto colocadas na seção de resultados, mas é importante salientar que é igualmente importante continuar tentando caracterizar as práticas das empresas atuando no Brasil de maneira geral e relacionando com outros aspectos típicos do nosso mercado. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. AT. 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