Paulo Roberto de Núñez Soares Lorenza Cardoso Costa A legislatura do golpe: O perfil dos deputados da 42ª legislatura (1963-1966) Brasília 2012 1. IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO 1.1 Título: A legislatura do golpe – o perfil dos deputados da 42ª legislatura (1963-1966). 1.2 Autores (com identificação do coordenador e demais membros): Nome completo: Paulo Roberto de Núñez Soares (coord.) E-mail: [email protected] Instituição/Local de Trabalho: Câmara dos Deputados / CEFOR Ponto/Matrícula: P_7085 Endereço: CEFOR, sala 23. Ramal: 6-7652 Link para Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4767315D8 Nome completo: Lorenza Cardoso Costa E-mail: [email protected] Instituição/Local de Trabalho: Câmara dos Deputados / CEFOR Ponto/Matrícula: P_6620 Endereço: CEFOR, sala 23. Ramal: 6-7621 Link para Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4341662H1 Linha de Pesquisa: 3. Cidadania e práticas democráticas de representação, participação, comunicação e educação política. Data: Fevereiro de 2012 Resumo: A pesquisa tem por objetivo traçar o perfil dos deputados da 42ª legislatura (1963-1966), identificando sua formação profissional, suas tendências ideológicas e sua inserção nas forças partidárias presentes na Câmara dos Deputados. O levantamento permitirá analisar a relação entre o perfil dos deputados e o comportamento desta Casa Legislativa no ano precedente e nos imediatamente posteriores ao golpe militar de 1964. 2. APRESENTAÇÃO O projeto inspira-se no trabalho de José Murilo de Carvalho (2003), que em sua tese de doutorado estudou o perfil dos parlamentares brasileiros ao longo do século XIX, relacionando-o às transformações políticas ocorridas no período. Nossa proposta delimita escopo de tempo bem menor, limitando-se a uma legislatura, mas tem a intenção de servir de ensaio e modelo a estudo posterior sobre a 4ª República (1946-1964). Em 1964 a ordem constitucional brasileira foi rompida por um golpe militar. O Congresso Nacional, porém, contribuiu para a legitimação do novo regime dando-lhe acolhida legal. Nos dias imediatamente posteriores ao golpe, mais de quatro dezenas de deputados foram cassados sem que a Câmara interrompesse suas atividades. Os suplentes foram convocados e as votações continuaram normalmente (Silva Neto, 2003). Este apoio do Congresso é mais um elemento a demonstrar que o movimento que redundou no golpe possuía base complexa, tendo encontrado apoio em diversos setores da sociedade brasileira. Este apoio, porém, não foi pleno, tendo havido resistências dentro e fora dos espaços políticos. O período de 1946 a 1964 foi a primeira experiência efetivamente democrática no Brasil, com eleições regulares, liberdade de imprensa e de organização política e aumento da participação popular nos debates públicos sobre as questões nacionais (Carvalho, 2009). Foi interrompido abruptamente por um movimento retrógrado e conservador que não soube lidar com as mudanças de nossa sociedade, que se urbanizava, industrializava e ganhava complexidade (Carone, 1985a). Apesar da representação política ter começado a refletir esse aumento da complexidade social (Rêgo, 1999), a Câmara dos Deputados, no início da década de 1960, ainda era dominada pelas forças conservadoras que tinham dificuldade em atuar no novo ambiente político. Em nosso entendimento, este fator contribuiu para o papel legitimador do golpe, que esta Casa Legislativa assumiu, tendo aceito até o expurgo de alguns de seus membros, com apenas algumas manifestações individuais de repulsa. O levantamento do perfil dos deputados da 42ª legislatura contribuirá para o entendimento do papel da Câmara nos eventos da época. 3. PROBLEMA Nosso problema apresenta-se em duas questões: 1) Qual o perfil dos Deputados da 42ª legislatura? 2) Qual a relação entre este perfil e a atuação da Câmara no golpe militar de 1964? 4. OBJETIVOS 4.1 Objetivo geral: Levantar o perfil da 42ª legislatura como um elemento para compreender a atuação da Câmara dos Deputados diante do processo de destituição do presidente João Goulart e legitimação da nova ordem política autoritária. 4.2 Objetivos secundários: 4.2.1 Estabelecer um perfil geral para a 42ª legislatura; 4.2.2 Identificar as exceções deste perfil e estabelecer as características dos perfis divergentes; 4.2.3 Relacionar o perfil à atuação política; 4.2.4 Identificar padrões de atuação segundo o perfil apresentado; 4.2.5 Estabelecer uma tipologia descritiva que supere a dicotomia ‘direita/esquerda’ e seja adequada à situação política em análise. 5. METODOLOGIA A documentação referente aos Deputados brasileiros está disponível em perfis e dicionários biográficos (Beloch & Abreu, 1984; Brasil, 1966; Fleischer, 1981). Nosso trabalho será organizar esses dados de modo a estabelecer as características distintivas da legislatura que se estendeu de 1963 a 1966 e relacioná-las ao evento político mais marcante daquele período, a destituição do presidente João Goulart. Pretendemos levantar o perfil da 42ª legislatura destacando três aspectos: 1) Distribuição das forças partidárias. 2) Perfil social, ordenado a partir das profissões, relacionando-as à filiação partidária e campo político-ideológico do deputado; 3) Tendências ideológicas. A seleção destes aspectos inspira-se no trabalho de Leôncio M. Rodrigues sobre o perfil dos constituintes de 1988 (apud Braga, 1998, p.28), com pequenas alterações no escopo de cada um. Além disso, Rodrigues estudou quatro aspectos, acrescentando aos três acima elencados as etapas da carreira política do parlamentar, mas consideramos que essas etapas apenas subsidiam a definição de suas tendências ideológicas, não havendo necessidade de um campo específico para elas. A distribuição das forças partidárias reflete o impacto da presença do partido na Câmara e, para o perfil do deputado, indica o espaço de poder no qual se insere (se ocupa a Maioria ou a Minoria, se está num partido que se define como independente ou se claramente define-se como favorável ou contrário ao Governo). Entender a que correlação de forças pertence o deputado nos ajudará a entender sua atuação, verificando se age conforme a tendência de seu partido ou contrário a ela. O tamanho e o grau da dissidência poderão ser correlacionados ao perfil do deputado e contribuir para a identificação de perfis mais ou menos obedientes, se for possível estabelecer esta relação. O perfil social será ordenado a partir das profissões. O trabalho de José Murilo de Carvalho (2003) sobre a elite política do Império identificou uma profunda mudança no perfil profissional dos parlamentares ao longo do século XIX. A Câmara dos Deputados que, diferentemente do Senado, não possuía mandato vitalício, foi o órgão em que a mudança de perfil foi mais evidente. Majoritariamente servidores públicos e magistrados no início do século, os deputados passaram a ser majoritariamente profissionais liberais e advogados ao final. A alteração deste perfil fez do parlamento, àquela época, um órgão mais progressista, que não só não resistiu como aliou-se à República nascente. Acreditamos que o levantamento do perfil profissional da 42ª legislatura nos ajudará a entender seu caráter conservador e, ao mesmo tempo, identificar se havia setores que poderiam ser definidos como de natureza progressista ou, pelo menos, não autoritários. Rodrigues (2002), em trabalho sobre a composição social dos partidos da 50ª legislatura, os divide em nove categorias profissionais, a saber, empresários, profissionais liberais e intelectuais, administração pública, professores, comunicadores, pastores/padres, empregados não manuais em serviços, trabalhadores industriais/lavradores e outros. Não devemos, porém, atribuir as categorias a priori, pois só as poderemos delimitar a partir das informações das fontes. Em nosso levantamento inicial já pudemos identificar que a categoria ‘advogado’ possuía grande presença na Câmara em 1963, assim, não deveremos adotar a classificação mais geral de ‘profissionais liberais’, pois acabaríamos por reduzir a relevância dessa categoria profissional. O levantamento das tendências ideológicas dos deputados nos permitirá identificar o perfil padrão, se existir, dos campos ideológicos em luta no início da década de 1960. As tendências serão verificadas a partir dos pronunciamentos e manifestações em plenário, pois este é o palco principal da atividade parlamentar. Este aspecto do perfil é bastante relevante, pois, apesar de haver certa identidade intrapartidária, com a UDN claramente à direita e a favor do golpe e o PTB mais à esquerda, houve deputados da UDN que foram cassados e que se mostraram contrários às arbitrariedades do novo regime já em seu nascedouro e, do mesmo modo, houve parlamentares que poderiam ser considerados mais à esquerda que conseguiram ao menos alguma sobrevida política nesta legislatura. Para este levantamento, utilizaremos inicialmente a nomenclatura ‘esquerda’ e ‘direita’, identificando a esquerda com os apoiadores de Jango e a direita com seus opositores. Reconhecemos a limitação desta nomenclatura e, entre nossos objetivos, está a elaboração de uma nomenclatura mais adequada àquele momento político. Entendemos a análise da 42ª legislatura como um primeiro passo num projeto maior, de identificar o perfil do parlamentar, e suas alterações, ao longo da 4ª República (1946-1964). A seleção desta legislatura deve-se à sua relevância, já que encerra um período de nossa História. Sua análise servirá de ensaio e modelo para a ampliação do objeto, que ocorrerá numa próxima fase da pesquisa. O trabalho ora proposto já nos possibilita estabelecer um diálogo com a historiografia sobre o tema, que identifica uma tendência à redução do espaço conservador no parlamento entre 1946 e 1963 (Mainwaring; Meneguello; Power, 2000), mas que não significou automaticamente o aumento das tendências progressistas (Rêgo, 1999). A percepção ainda dominante de que houve uma bipolarização radical que teve como consequência o Golpe parece não se sustentar. A análise mais aprofundada do perfil dos parlamentares certamente contribuirá para ampliar nossa compreensão sobre as forças que ocupavam o espaço político na Câmara e quem representavam. 8. CRONOGRAMA Prevemos dois anos de trabalho, distribuído do seguinte modo: 6 meses: levantamento do perfil dos deputados e sua organização em planilhas que permitam cruzar dados; 6 meses: tabulação dos dados e estabelecimento de tipologias; 6 meses: análise dos dados; 6 meses: redação de artigo e relatório. 18 meses: revisão da literatura. 9. BIBLIOGRAFIA BELOCH, Israel; ABREU, Alzira Alves de (Coords.). Dicionário históricobiográfico brasileiro: 1930-1983. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, FGV, CPDOC, 1984. 4 v. BRAGA, Sérgio Soares. Quem foi Quem na Assembleia Nacional Constituinte de 1946: um perfil socioeconômico e regional da constituinte de 1946. Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 1998. BRASIL. Deputados brasileiros: repertório biográfico dos membros da Câmara dos Deputados a partir da quinta legislatura, 1963-1967. Brasília: Câmara dos Deputados, 1966. CARONE, Edgard. A República liberal: instituições e classes sociais (19461964). São Paulo: DIFEL, 1985a. ___________. A República liberal II: evolução política (1945-1964). São Paulo: DIFEL, 1985b. CARVALHO, José Murilo de. A Construção da Ordem/Teatro de Sombras. Rio de Janeiro: civilização brasileira, 2003. ____________. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: civilização brasileira, 2009. FLEISCHER, David. Deputados brasileiros: repertório biográfico dos Senhores Deputados abrangendo o período de 1946-1967. Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 1981. GRINBERG, Lúcia. Partido político ou bode expiatório: um estudo sobre a Aliança Renovadora Nacional - Arena (1965-1979). Rio de Janeiro: Faperj/Mauad X, 2009. MAINWARING, Scott; MENEGUELLO, Rachel; POWER, Timothy. Partidos conservadores no Brasil contemporâneo: quais são, o que defendem, quais são suas bases. São Paulo: Paz e Terra, 2000. RÊGO, João. As Bases sócio-econômicas dos partidos políticos no Brasil 1982/90 : estudo quantitativo sobre a estruturação do sistema partidário brasileiro Pós-1979. Recife: Massangana 1999. RODRIGUES, Leôncio Martins. Partidos, Ideologia e Composição Social. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 17, n. 48, p. 31-47, fev. 2002. ________________. Mudanças na classe política brasileira. São Paulo: Publifolha, 2004. SILVA NETO, Casimiro Pedro da. A construção da democracia : síntese histórica dos grandes momentos da Câmara dos Deputados, das assembleias nacionais constituintes e do Congresso Nacional. Brasília : Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 2003.