Folclore ValeParaibano: uma análise de como o principal jornal do Vale do Paraíba paulista trabalha os eventos folclóricos 1 Autor: José Aurélio Chiaradia Pereira2 Universidade Metodista de São Paulo 1 2 Trabalho apresentado ao NP 17—Folkcomunicação, do IV Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom. José Aurélio Chiaradia Pereira é jornalista graduado pela UniFMU, mestrando em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e bolsista CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Resumo O trabalho analisa a cobertura do folclore pelo caderno ValeViver! (do jornal diário ValeParaibano, de São José dos Campos, São Paulo) em sua área de atuação. Nosso estudo tem como recorte o mês de agosto de 2003, quando se comemora o Dia do Folclore. O trabalho foi elaborado sob o referencial teórico de José Marques de Melo, que, baseado na “classificação decimal do folclore brasileiro” de Edison Carneiro, estudou em 2002 a cobertura do folclore realizada pelo jornal Estado de São Paulo.Fundado em Caçapava (São Paulo) há 52 anos, o ValeParaibano é o único jornal que cobre toda região administrativa do Vale do Paraíba paulista, além dos municípios situados na Serra da Mantiqueira e Litoral Norte. Sediado em São José dos Campos, o jornal, considerado o porta-voz do Vale do Paraíba, mantém no departamento de redação uma estrutura de 62 profissionais e três sucursais. Palavras -chave ValeParaibano; ValeViver!; folclore. I- Introdução Joseph LUYTEN 3 , citando o precursor da folkcomunicação (Luiz Beltrão), afirma que “não há melhor laboratório para a observação do fenômeno comunicacional do que a região”. Ele completa dizendo que “uma região é o palco em que, por excelência, se definem os diferentes sistemas de comunicação cultural, isto é, do processo humano de intercâmbio de idéias, informações e sentimentos, mediante a utilização de linguagens verbais e não verbais e de canais naturais e artificiais empregados para a obtenção daquela soma de conhecimentos e experiências necessárias à promoção da convivência ordenada e do bemestar coletivo”. Gilberto Freyre dizia que “para o conhecimento dos povos interessa mais o seu caráter, o estilo de suas danças, suas associações, seus trajes, do que os feitos excepcionais de seus heróis”.4 Assim, “o folclore constitui uma realidade social”5 . Convencidos disso, propusemo-nos a estudar o folclore do Vale do Paraíba à luz da cobertura jornalística realizada em 2003 pelo principal jornal da região—o ValeParaibano. II- Metodologia Nosso estudo tem como recorte o mês de agosto, quando, em seu 22º dia, comemora-se o Dia do Folclore. O escopo teórico da análise é oferecido por José MARQUES DE MELO6 , que, baseado na “classificação decimal do folclore brasileiro”, de Edison Carneiro, estudou em 2002 a cobertura do folclore pelo jornal O Estado de São Paulo. Edison Carneiro estabeleceu que os estudos folclóricos devem se enquadrar nos seguintes tópicos: ciência do folclore (conceitos, teorias, fontes); literatura oral (poesia popular, contos, lendas, anedotas, pasquins, cordel); folclore infantil (rondas, jogos, competições, 3 teatro); crendices e superstições (sobrenatural, bruxaria, fanatismo, LUYTEN, Joseph Maria. A Literatura de Cordel em São Paulo. São Paulo: Loyola, 1981, pp. 28 e 29. MEGALE, Nilza B. Folclore Brasileiro. Petrópolis: Vozes, 2000, p.12. 5 FERNANDES, Florestan. O Folclore em Questão. São Paulo: Hucitec, 1978, p. 28. 6 MARQUES DE MELO, José. O Folclore Midiático no Alvorecer da Sociedade Digital. Comunicação apresentada no XXV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação—Núcleo de Pesquisa em Folkcomunicação. Intercom/Uneb. Salvador, Bahia, Setembro de 2002. 4 devoções); lúdica ou diversões (jogos, bailes, cortejos, festas); artes e técnicas (pintura, cerâmica, vestuário, brinquedos, máquinas); música (cantos e instrumentos); usos e costumes (agricultura, culinária, habitação, medicina, comércio); linguagem popular (mímica, metáforas, frases feitas, glossários); pesquisa e registro (métodos, técnicas, procedimentos). Definida a metodologia, utilizamos técnicas de análise quantitativa e qualitativa para estudar o número de ocorrências relacionadas ao folclore durante o período estudado, bem como o espaço concedido a cada texto de divulgação do folclore. III- Cenário Em agosto de 2003 foram registrados acontecimentos marcantes. No cenário político, o governo federal aprovou em primeiro turno, na Câmara dos Deputados, a Reforma da Previdência (5 de agosto). Ainda naquele mês os esportistas do país perpetravam número recorde de medalhas nos jogos Pan-Americanos em Santo Domingo. No dia 18 de agosto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou oficialmente o Vale do Paraíba pela primeira vez. Um dia depois, o diplomata Sérgio Vieira de Melo morreu com a explosão de um caminhão-bomba na sede da ONU (Organização das Nações Unidas) em Bagdá. Mas foi em 22 de agosto daquele ano, exatamente no Dia do Folclore, que ocorreu um dos fatos mais trágicos de 2003. Durante seu lançamento na base de Alcântara, no Maranhão, o foguete VLS-1 explodiu, matando 21 pessoas—todas residentes em São José dos Campos. IV- Vale do Paraíba A região administrativa do Vale do Paraíba, que abrange 41 municípios, é bastante rica em personagens e costumes. Terra do comediante Amácio Mazzaropi, do escritor Monteiro Lobato (ambos de Taubaté) e do médico sanitarista Osvaldo Gonçalves Cruz (natural de São Luís do Paraitinga, organizou, entre outros feitos, o combate à Peste Bubônica em Santos), a região abriga em Aparecida o maior santuário católico do país. Sua “gastronomia passa por influências indígena, africana e portuguesa, com pratos para todos os gostos”. 7 Apesar de São José dos Campos e Jacareí—onde acontece em julho a Fapija (Feira Agropecuária e Industrial de Jacareí, o mais tradicional evento agropecuário da região)— conviverem com a tecnologia industrial avançada, ainda hoje é possível “conhecer histórias contadas por sítios arqueológicos e roteiros rurais muito charmosos”8 . Pindamonhangaba, que é considerada a capital brasileira da reciclagem de alumínio, mantém um dos mais bonitos passeios de trem pela Serra da Mantiqueira9 . Em São Luiz do Paraitinga, que possui a maior arquitetura colonial preservada do Estado de São Paulo, desde 31 de outubro de 2003 (data em que se comemora o Halloween norte-americano) é comemorado o “Dia do Saci”10 . Esta data, reconhecida por meio de lei elaborada pelo Poder Legislativo do município, tem por fim oferecer à população uma festa autóctone e afastar o ensejo de se comemorar uma festividade forânea. São Luís é conhecido pela autenticidade de seu carnaval, o que lhe rendeu o apelido de Cidade Musical do Vale do Paraíba. Lá acontece anualmente o Festival de Marchinhas Carnavalescas. Ainda neste município ocorre o desfile de bonecos gigantes, o que também pode ser visto em Monteiro Lobato (com os Pereirões). O carnaval de Guaratinguetá é também bastante popular11 . Em Silveiras, peixes e pássaros feitos em caxeta atraem as atenções de compradores de várias partes do Brasil, além de países como a Argentina e Estados Unidos. Neste município ocorre no final de agosto a Festa do Tropeiro 12 . Cunha apresenta a Tradição das Paneleiras. “Bananal é hoje também famosa por seu artesanato em crochê de barbante. O fio é quase todo fabricado em Arapeí, município vizinho.”13 . Outra característica folclórica do Vale é a qualidade musical, que muitas vezes se mistura à tradição religiosa. 7 http://www.explorevale.com.br/ Idem, ibidem. 9 Idem, ibidem. 10 http://noticias.uol.com.br/inter/reuters/2003/10/30/ult27u39108.jhtm 11 MAIA, Thereza Regina de Camargo. O Vale Paulista do Rio Paraíba: História, Geografia, Fauna, Flora, Folclore e Cidades. Aparecida: Santuário, 2000. 12 Idem, ibidem. 13 http://cei.edunet.sp.gov.br/paginas/cultura/folclore.asp 8 “Desde adeptos de Krishna, que vivem em harmonia com a natureza num mosteiro Zen em Pindamonhangaba, até a comunidade Canção Nova em Cachoeira Paulista que recebe 400 mil fiéis por ano, a Rota da Fé, como é conhecida, é uma perfeita amostra das manifestações religiosas autênticas cuja grandiosidade compara-se às que existem nas cidades de Fátima em Portugal ou Guadalupe no México. O município de Aparecida do Norte, cartão postal da catolicismo brasileiro, recebe milhões de peregrinos que vêm orar na maior Basílica do País.”14 Igrejas tradicionais e altamente ricas historicamente reúnem fiéis e agitam ruas e praças há mais de 400 anos. “Existem cantigas, toadas, modas que se escutam não somente em reuniões rurais, em festas particulares ou em casamentos, como também nas praças, torneios, muitas vezes julgados pelo próprio povo que acompanha com entusiasmo a arte dos cantadores e dos violeiros. Musicalmente rico, conserva igualmente as músicas cíclicas tradicionais, muitas delas ligadas ao velho Portugal, que renascem nas festas natalinas ou no Pentecostes. São as Folias do Divino com suas bandeiras vermelhas, cheias de flores e de fitas. São as Folias de Reis, com seus palhaços e mascarados.” 15 Na região do Fundo do Vale, grupos como o Moçambique—que exibe uma dança de bastões—o Congada e o Cateretê misturam a cultura erudita e a popular, com variada e rica coreografia própria 16 . “Das festas dos padroeiros, com suas quermesses, novenas e procissões, destacam-se sem dúvida as de S.João, em Queluz, de Santo Antonio, em Cachoeira Paulista e em Guaratinguetá, a de N.S.Aparecida, com suas romarias em Aparecida, de N.S.da Piedade, em Lorena e a de Bom Jesus do Livramento, em Bananal, cada uma com suas peculiaridades.”17 V- ValeParaibano Maior e mais tradicional veículo impresso da região, o “ValeParaibano (...) cobre os 41 municípios localizados nas regiões administrativas do Vale do Paraíba, Litoral Norte e Serra da Mantiqueira (4,5 milhões de pessoas)”18 . Criado pelo professor e policial militar aposentado Francisco Pereira da Silva, o Chico Triste (1918/1981), “o ValeParaibano 14 http://www.uvesp.com.br/jornal/julhoagosto2002/ja12.asp http://cei.edunet.sp.gov.br/paginas/cultura/folclore.asp 16 Idem, ibidem. 17 Idem, ibidem. 18 PEREIRA, José Aurélio Chiaradia. De São José dos Campos para o Vale: A Consolidação do Jornal ValeParaibano como Porta-voz da Cultura do Vale do Paraíba. Comunicação apresentada no Regiocom 2003. Marília: 2003. 15 surgiu como veículo local na cidade de Caçapava (105 km a nordeste de São Paulo) em 6 de janeiro de 1952, um domingo. Naquela mesma época, o primeiro empresário das comunicações no Brasil, Assis Chateaubriand, consolidava seu império por meio dos Diários associados”19 . Sediado em São José dos Campos, a estrutura de redação do jornal, considerado o porta-voz do Vale, dispõe de quatro sucursais e abriga 62 profissionais, entre repórteres, editores e diagramadores, entre outros. É o único veículo impresso que consegue manter-se por tanto tempo e com uma estrutura crescente, êxito não obtido no Vale por grandes empresas como Folha de São Paulo e Gazeta Mercantil, além de periódicos menores como o Diário de São José dos Campos e Região. VI- O caderno ValeViver! O ValeViver!, suplemento do ValeParaibano, é um caderno de cultura, variedades e serviços, que ganhou forma nos anos 80, quando passaram a ser publicadas páginas específicas de cultura e variedades. Durante a semana (terças a sábados), seu corpo é de seis páginas (desde 1994; antes, o jornal dedicava apenas uma página aos textos de cultura e variedades). “Este é o número fixo, mas se a quantidade de anúncios for grande, normalmente às quintas-feiras, o número de páginas sobe para oito. No domingo também tem um número fixo de oito páginas.”20 Atualmente, o ValeViver! publica diariamente matérias e colunas que tratam de assuntos variados, tais como televisão, comportamento, universo feminino, moda e coluna social. Todos os textos são disponibilizados de forma irreverente e divertida. “Queríamos deixar o caderno diferente dos outros cadernos. Todos os cadernos—o Nacional, o Esportes—obedecem a mesma regra. Mas o ValeViver! é um caderno diferente. É um caderno alegre, divertido, então criamos alguns adereços para mostrar que para a gente o caderno era diferente. As capas são mais leves, diferenciadas, e os textos internos são mais leves.”21 19 Idem, ibidem. Lucimara Nascimento da Silva, editora do ValeViver!, em entrevista ao autor, concedida em 29 de março de 2004. Lucimara é editora do ValeViver! desde novembro de 2000. Ela trabalha no ValeParaibano desde 1994. 21 Hélcio Costa, editor-chefe do jornal ValeParaibano, em entrevista pessoal ao autor, concedida em 3 de setembro de 2003. 20 Às terças, o caderno contem páginas de quadrinhos; às quartas, de crônicas; às quintasfeiras, de música; às sextas, de gastronomia. Aos sábados, há página sobre o universo adolescente. Aos domingos, a coluna “Conversa de Domingo” trata de política, entre outros assuntos, de forma bastante descontraída. Neste mesmo dia, há coluna dedicada ao público feminino. Normalmente a estrutura do ValeViver! conta, na capa, com uma matéria. Na contra-capa, a quantidade de matérias varia de uma a três. As matérias da parte interna, normalmente três pequenas, são publicadas na página 3. VII- O Vale Folclórico A tabela a seguir mostra o número de textos relacionados ao folclore, nacional e regional, que foram publicados no ValeViver! no mês de agosto de 2003. Para a elaboração da tabela, registramos não somente trabalhos jornalísticos mas também composições elaboradas por colunistas. Tabela 1 D 1 2 3 5 6 7 8 9 10 CF L 1 O FI CS 2 2 2 L 1 1 D A 1 T M 2 3 2 UC 1 T 1 1 1 2 1 12 13 14 15 1 1 1 1 2 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 1 2 5 3 1 2 2 2 2 1 16 1 2 6 7 5 7 8 6 4 3 6 8 7 6 2 1 20 21 22 23 2 1 1 1 2 1 2 1 1 2 2 2 1 2 24 26 27 28 1 2 2 2 1 2 2 29 30 31 T 1 1 1 7 19 2 1 2 1 2 1 1 1 19 1 2 1 1 1 17 6 1 1 1 6 3 6 7 55 20 1 1 1 5 5 5 5 4 2 1 1 1 7 3 5 1 1 1 4 5 3 1 1 21 13 7 5 148 Conforme já mencionamos, trabalhamos com as definições propostas por Edison Carneiro (CF—Ciência do Folclore/ LO—Literatura Oral/ FI—Folclore Infantil/ CS— Crendices e Superstições/ LD—Lúdica e Diversões/ AT—Artes e Técnicas/ M—Música/ UC—Usos e Costumes/ LP—Linguagem Popular/ PR—Pesquisa e Registro). Os tópicos LP (Linguagem Popular) e PR (Pesquisa e Registro) foram excluídos da tabela por não apresentarem nenhum registro a eles relacionado. “O caderno ValeViver! é um divulgador de eventos e estudos realizados na região. Isso pode explicar o fato de não haver nenhum registro no tópico ‘Linguagem Popular’. A última ocorrência de que me recordo é do livro ‘Nas Trilhas do Zé Mira’, escrito a partir de uma lei de incentivo fiscal por uma jornalista da região, a Lídia Bernardes, e que teve como base a vida do tropeiro Zé Mira, um caboclo das Minas Gerais. Neste livro, havia um espaço com glossário para explicar certos termos adotados pelos ‘caipiras’. Mas isso já faz cinco anos. Desde então, os artistas, escritores, jornalistas da região não voltaram a recorrer ao assunto, ou se recorreram, não procuraram o jornal para divulga-lo. O jornal, por si só, não tem a função de fomentar estudos específicos, mas sim ser instrumento de divulgação dos mesmos.”22 O ValeViver! teve em agosto de 2003 um total de 148 ocorrências de textos relacionados ao folclore. O número de ocorrências de textos sobre crendices e superstições atingiu registro recorde—55. É preciso notar, entretanto, que esta vantagem ocorre em função das colunas de astrologia (horóscopo e esoterismo), diariamente publicadas em páginas diferentes. “Eu conheço um executivo de uma empresa grande de São José, grande mesmo, leitor diário do ValeParaibano, que começa a ler o jornal pela seção de esoterismo, “Reflexão do Dia”. Ele recorta o pensamento todos os dias e cola na mesa dele. (...) A gente não sabe porque a pessoa lê jornal. Tem várias tendências e a gente trabalha com essas tendências.”23 Lucimara Nascimento da Silva, editora do ValeViver! afirma que o índice de leitura de textos que exploram a religiosidade e as superstições é muito alto. “O índice de leitura para esse assuntos (crendices e superstições) é muito grande. A coluna ‘esoterismo’, por exemplo, é uma das mais lidas, isso dentro de um universo de um caderno que tem 92% de índice de leitura—perde apenas para a leitura da capa do jornal—segundo a última pesquisa de opinião.”24 Se contabilizarmos apenas textos jornalísticos, teremos o tema “Música” como o campeão de ocorrências—21. “Lúdica e Diversões” aparece logo em seguida, com 20 ocorrências. “O caderno ValeViver! é um suplemento de serviços. E considerando essa característica, a maior incidência é de eventos, justamente de shows. Por isso, existem mais ocorrências de matérias ligadas ao universo musical. Normalmente costumamos dar muito espaço para 22 Lucimara Nascimento da Silva, editora do ValeViver!, em entrevista ao autor, concedida em 29 de março de 2004. Lucimara é editora do ValeViver! desde novembro de 2000. Ela trabalha no ValeParaibano desde 1994 23 Hélcio Costa, editor-chefe do jornal ValeParaibano, em entrevista pessoal ao autor, concedida em 3 de setembro de 2003. 24 Lucimara Nascimento da Silva, editora do ValeViver!, em entrevista ao autor, concedida em 29 de março de 2004. Lucimara é editora do ValeViver! desde novembro de 2000. Ela trabalha no ValeParaibano desde 1994. shows com artistas de renome, mas também privilegiamos bandas e músicos regionais, como a seção ‘Música do Vale’—página exclusiva de música veiculada às quintas.”25 Lucimara argumenta que o aspecto “religiosidade”, no entanto, é bastante valorizado pelo caderno. Ela diz que o grande número de ocorrências de eventos musicais em detrimento do baixo de eventos relacionados a crendices é explicado pelo fato de, em agosto, não acontecerem festas típicas de santos. “No mês de agosto existem poucas festas religiosas (...). Em outra épocas do ano são comemoradas festas como Páscoa e Semana Santa e Festa de São Benedito (abril); Festa do Divino (maio); Festas Juninas—São Pedro, São João e Santo Antonio e Corpus Christi (junho)—algumas festas juninas são transferidas para julho; Cosme e Damião (setembro); Nossa Senhora Aparecida e do Beato Frei Galvão (outubro) e festas natalinas. No fim de novembro tem o Dia de Todos os Santos (dia 1), mas normalmente não é festejado. A questão da religiosidade é bastante destacada no caderno ValeViver!. Não podemos nos esquecer de que estamos situados próximos à Basílica Nacional, ícone da fé católica brasileira.”26 VIII- Análise dos resultados O estudo da cobertura do folclore pelo ValeParaibano mostrou que, no período analisado, o jornal deu ênfase a notícias que buscavam a divulgação de eventos musicais. Conforme esclareceu a editora do caderno ValeViver!, a conclusão a que chegamos deveuse ao fato de o mês de agosto não registrar eventos de natureza religiosa, também bastante explorados pelo suplemento. Como resultado geral da pesquisa, registramos que em agosto o ValeViver! produziu 223 textos jornalísticos, dos quais 87 falavam de folclore. Em termos percentuais, portanto, podemos seguramente dizer que a cobertura jornalística do folclore realizada pelo ValeParaibano no período estudado representou 39,01% do total das reportagens veiculadas pelo seu caderno de cultura e variedades. É importante salientar ainda que esta cobertura não se limitou ao folclore regional, mas cobriu toda a cultura folclórica brasileira. 25 26 Idem, ibidem. Idem, ibidem. IX- Conclusões Lucimara Nascimento da Silva explica que o “ValeViver! não tem equipe suficiente para cobrir as pautas do dia-a-dia e ao mesmo tempo realizar pesquisas de campo em comunidades distantes”, onde o folclore regional é mais explorado. Ela diz também que o fato de o ValeViver! mostrar a cultura nacional e não somente a regional é justificado pela alta influência que a sociedade brasileira sofre do “poder da cultura de massa”, que privilegia em nosso país, por exemplo, o Halloween (Dia das Bruxas), festa de origem norte-americana. Outra conclusão interessante a que chegamos é a de que o folclore, no ValeViver!, é tratado como assunto de capa. A matéria sobre o assunto ocupa página inteira muitas vezes. Assim sendo, frisamos que os números que mostramos acima não levam em consideração o tamanho das matérias, mas a quantidade de registros. O menor o percentual de registro de matérias folclóricas não exprime o tratamento dado ao folclore pelo ValeParaibano. “O critério para algo sair na capa do ValeViver! é a importância do assunto, associada à sua abrangência. O folclore, por ser um dos itens de maior relevância no nosso cenário cultural, sempre merece capa, principalmente quando são ações combinadas. Por exemplo, a prefeitura de uma determinada cidade resolve fazer uma vasta programação com apresentações de jongo, catira, Folia de Reis, apresentações teatrais ligadas a personagens folclóricos, exposições outras atividades. (...) Realmente se o assunto for folclore já é um grande passo para que seja capa (...).” Concluímos este estudo dizendo que o caderno ValeViver! oferece espaço de divulgação privilegiado ao folclore nacional e regional. No mês de agosto, o nicho folclórico mais explorado foi o musical. Entretanto, a coordenação editorial do caderno esclareceu que a cultura religiosa regional é também bastante divulgada, atendendo tanto à proposta inicial do suplemento—oferecer serviços—quanto à demanda por informação cultural tipicamente brasileira. X- Bibliografia 1- MAIA, Thereza Regina de Camargo. O Vale Paulista do Rio Paraíba: história, geografia, fauna, flora, folclore e cidades. Aparecida: Santuário, 2000. 2- http://www.escolavesper.com.br/folclore.htm 3- http://cei.edunet.sp.gov.br/paginas/cultura/folclore.asp 4- http://www.explorevale.com.br/ 5- http://noticias.uol.com.br/inter/reuters/2003/10/30/ult27u39108.jhtm 6- http://www.uvesp.com.br/jornal/julhoagosto2002/ja12.asp 7- LUYTEN, Joseph Maria. A Literatura de Cordel em São Paulo. São Paulo: Loyola, 1981, pp. 28 e 29. 8- FERNANDES, Florestan. O Folclore em Questão. São Paulo: Hucitec, 1978, p. 28. 9- MARQUES DE MELO, José. O Folclore Midiático no Alvorecer da Sociedade 10- 11- Digital. Comunicação apresentada no XXV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação—Núcleo de Pesquisa em Folkcomunicação. Intercom/Uneb. Salvador, Bahia, Setembro de 2002. 11- PEREIRA, José Aurélio Chiaradia. De São José dos Campos para o Vale: A Consolidação do jornal ValeParaibano como Porta-voz da Cultura do Vale do Paraíba. Comunicação apresentada no Regiocom 2003. Marília: 2003. 12- MEGALE, Nilza B. Folclore Brasileiro. Petrópolis: Vozes, 2000, p.12.