Folclore ValeParaibano: uma análise de como o principal jornal do Vale do Paraíba
paulista trabalha os eventos folclóricos 1
Autor: José Aurélio Chiaradia Pereira2
Universidade Metodista de São Paulo
1
2
Trabalho apresentado ao NP 17—Folkcomunicação, do IV Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom.
José Aurélio Chiaradia Pereira é jornalista graduado pela UniFMU, mestrando em Comunicação Social da Universidade
Metodista de São Paulo (UMESP) e bolsista CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).
Resumo
O trabalho analisa a cobertura do folclore pelo caderno ValeViver! (do jornal diário
ValeParaibano, de São José dos Campos, São Paulo) em sua área de atuação. Nosso estudo tem
como recorte o mês de agosto de 2003, quando se comemora o Dia do Folclore. O trabalho foi
elaborado sob o referencial teórico de José Marques de Melo, que, baseado na “classificação
decimal do folclore brasileiro” de Edison Carneiro, estudou em 2002 a cobertura do
folclore realizada pelo jornal Estado de São Paulo.Fundado em Caçapava (São Paulo) há 52
anos, o ValeParaibano é o único jornal que cobre toda região administrativa do Vale do Paraíba
paulista, além dos municípios situados na Serra da Mantiqueira e Litoral Norte. Sediado em São
José dos Campos, o jornal, considerado o porta-voz do Vale do Paraíba, mantém no departamento
de redação uma estrutura de 62 profissionais e três sucursais.
Palavras -chave
ValeParaibano; ValeViver!; folclore.
I-
Introdução
Joseph LUYTEN 3 , citando o precursor da folkcomunicação (Luiz Beltrão), afirma que
“não há melhor laboratório para a observação do fenômeno comunicacional do que a
região”.
Ele completa dizendo que “uma região é o palco em que, por excelência, se definem os
diferentes sistemas de comunicação cultural, isto é, do processo humano de intercâmbio de
idéias, informações e sentimentos, mediante a utilização de linguagens verbais e não
verbais e de canais naturais e artificiais empregados para a obtenção daquela soma de
conhecimentos e experiências necessárias à promoção da convivência ordenada e do bemestar coletivo”.
Gilberto Freyre dizia que “para o conhecimento dos povos interessa mais o seu caráter,
o estilo de suas danças, suas associações, seus trajes, do que os feitos excepcionais de seus
heróis”.4 Assim, “o folclore constitui uma realidade social”5 .
Convencidos disso, propusemo-nos a estudar o folclore do Vale do Paraíba à luz da
cobertura jornalística realizada em 2003 pelo principal jornal da região—o ValeParaibano.
II-
Metodologia
Nosso estudo tem como recorte o mês de agosto, quando, em seu 22º dia, comemora-se
o Dia do Folclore. O escopo teórico da análise é oferecido por José MARQUES DE
MELO6 , que, baseado na “classificação decimal do folclore brasileiro”, de Edison Carneiro,
estudou em 2002 a cobertura do folclore pelo jornal O Estado de São Paulo.
Edison Carneiro estabeleceu que os estudos folclóricos devem se enquadrar nos
seguintes tópicos: ciência do folclore (conceitos, teorias, fontes); literatura oral (poesia
popular, contos, lendas, anedotas, pasquins, cordel); folclore infantil (rondas, jogos,
competições,
3
teatro);
crendices
e
superstições
(sobrenatural,
bruxaria,
fanatismo,
LUYTEN, Joseph Maria. A Literatura de Cordel em São Paulo. São Paulo: Loyola, 1981, pp. 28 e 29.
MEGALE, Nilza B. Folclore Brasileiro. Petrópolis: Vozes, 2000, p.12.
5
FERNANDES, Florestan. O Folclore em Questão. São Paulo: Hucitec, 1978, p. 28.
6
MARQUES DE MELO, José. O Folclore Midiático no Alvorecer da Sociedade Digital. Comunicação apresentada no
XXV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação—Núcleo de Pesquisa em Folkcomunicação. Intercom/Uneb.
Salvador, Bahia, Setembro de 2002.
4
devoções); lúdica ou diversões (jogos, bailes, cortejos, festas); artes e técnicas (pintura,
cerâmica, vestuário, brinquedos, máquinas); música (cantos e instrumentos); usos e
costumes
(agricultura,
culinária,
habitação,
medicina,
comércio);
linguagem
popular
(mímica, metáforas, frases feitas, glossários); pesquisa e registro (métodos, técnicas,
procedimentos).
Definida a metodologia, utilizamos técnicas de análise quantitativa e qualitativa para
estudar o número de ocorrências relacionadas ao folclore durante o período estudado, bem
como o espaço concedido a cada texto de divulgação do folclore.
III-
Cenário
Em agosto de 2003 foram registrados acontecimentos marcantes. No cenário político, o
governo federal aprovou em primeiro turno, na Câmara dos Deputados, a Reforma da
Previdência (5 de agosto). Ainda naquele mês os esportistas do país perpetravam número
recorde de medalhas nos jogos Pan-Americanos em Santo Domingo.
No dia 18 de agosto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou oficialmente o Vale
do Paraíba pela primeira vez. Um dia depois, o diplomata Sérgio Vieira de Melo morreu
com a explosão de um caminhão-bomba na sede da ONU (Organização das Nações Unidas)
em Bagdá.
Mas foi em 22 de agosto daquele ano, exatamente no Dia do Folclore, que ocorreu um
dos fatos mais trágicos de 2003. Durante seu lançamento na base de Alcântara, no
Maranhão, o foguete VLS-1 explodiu, matando 21 pessoas—todas residentes em São José
dos Campos.
IV-
Vale do Paraíba
A região administrativa do Vale do Paraíba, que abrange 41 municípios, é bastante rica
em personagens e costumes.
Terra do comediante Amácio Mazzaropi, do escritor Monteiro Lobato (ambos de
Taubaté) e do médico sanitarista Osvaldo Gonçalves Cruz (natural de São Luís do
Paraitinga, organizou, entre outros feitos, o combate à Peste Bubônica em Santos), a região
abriga em Aparecida o maior santuário católico do país. Sua “gastronomia passa por
influências indígena, africana e portuguesa, com pratos para todos os gostos”. 7
Apesar de São José dos Campos e Jacareí—onde acontece em julho a Fapija (Feira
Agropecuária e Industrial de Jacareí, o mais tradicional evento agropecuário da região)—
conviverem com a tecnologia industrial avançada, ainda hoje é possível “conhecer histórias
contadas por sítios arqueológicos e roteiros rurais muito charmosos”8 .
Pindamonhangaba, que é considerada a capital brasileira da reciclagem de alumínio,
mantém um dos mais bonitos passeios de trem pela Serra da Mantiqueira9 .
Em São Luiz do Paraitinga, que possui a maior arquitetura colonial preservada do
Estado de São Paulo, desde 31 de outubro de 2003 (data em que se comemora o Halloween
norte-americano) é comemorado o “Dia do Saci”10 . Esta data, reconhecida por meio de lei
elaborada pelo Poder Legislativo do município, tem por fim oferecer à população uma festa
autóctone e afastar o ensejo de se comemorar uma festividade forânea.
São Luís é conhecido pela autenticidade de seu carnaval, o que lhe rendeu o apelido de
Cidade Musical do Vale do Paraíba. Lá acontece anualmente o Festival de Marchinhas
Carnavalescas. Ainda neste município ocorre o desfile de bonecos gigantes, o que também
pode ser visto em Monteiro Lobato (com os Pereirões). O carnaval de Guaratinguetá é
também bastante popular11 .
Em Silveiras, peixes e pássaros feitos em caxeta atraem as atenções de compradores de
várias partes do Brasil, além de países como a Argentina e Estados Unidos. Neste
município ocorre no final de agosto a Festa do Tropeiro 12 .
Cunha apresenta a Tradição das Paneleiras. “Bananal é hoje também famosa por seu
artesanato em crochê de barbante. O fio é quase todo fabricado em Arapeí, município
vizinho.”13 .
Outra característica folclórica do Vale é a qualidade musical, que muitas vezes se
mistura à tradição religiosa.
7
http://www.explorevale.com.br/
Idem, ibidem.
9
Idem, ibidem.
10
http://noticias.uol.com.br/inter/reuters/2003/10/30/ult27u39108.jhtm
11
MAIA, Thereza Regina de Camargo. O Vale Paulista do Rio Paraíba: História, Geografia, Fauna, Flora, Folclore e
Cidades. Aparecida: Santuário, 2000.
12
Idem, ibidem.
13
http://cei.edunet.sp.gov.br/paginas/cultura/folclore.asp
8
“Desde adeptos de Krishna, que vivem em harmonia com a natureza num mosteiro Zen em
Pindamonhangaba, até a comunidade Canção Nova em Cachoeira Paulista que recebe 400
mil fiéis por ano, a Rota da Fé, como é conhecida, é uma perfeita amostra das
manifestações religiosas autênticas cuja grandiosidade compara-se às que existem nas
cidades de Fátima em Portugal ou Guadalupe no México. O município de Aparecida do
Norte, cartão postal da catolicismo brasileiro, recebe milhões de peregrinos que vêm orar
na maior Basílica do País.”14
Igrejas tradicionais e altamente ricas historicamente reúnem fiéis e agitam ruas e praças
há mais de 400 anos.
“Existem cantigas, toadas, modas que se escutam não somente em reuniões rurais, em festas
particulares ou em casamentos, como também nas praças, torneios, muitas vezes julgados
pelo próprio povo que acompanha com entusiasmo a arte dos cantadores e dos violeiros.
Musicalmente rico, conserva igualmente as músicas cíclicas tradicionais, muitas delas
ligadas ao velho Portugal, que renascem nas festas natalinas ou no Pentecostes. São as
Folias do Divino com suas bandeiras vermelhas, cheias de flores e de fitas. São as Folias de
Reis, com seus palhaços e mascarados.” 15
Na região do Fundo do Vale, grupos como o Moçambique—que exibe uma dança de
bastões—o Congada e o Cateretê misturam a cultura erudita e a popular, com variada e rica
coreografia própria 16 .
“Das festas dos padroeiros, com suas quermesses, novenas e procissões, destacam-se sem
dúvida as de S.João, em Queluz, de Santo Antonio, em Cachoeira Paulista e em
Guaratinguetá, a de N.S.Aparecida, com suas romarias em Aparecida, de N.S.da Piedade,
em Lorena e a de Bom Jesus do Livramento, em Bananal, cada uma com suas
peculiaridades.”17
V-
ValeParaibano
Maior e mais tradicional veículo impresso da região, o “ValeParaibano (...) cobre os 41
municípios localizados nas regiões administrativas do Vale do Paraíba, Litoral Norte e
Serra da Mantiqueira (4,5 milhões de pessoas)”18 . Criado pelo professor e policial militar
aposentado Francisco Pereira da Silva, o Chico Triste (1918/1981), “o ValeParaibano
14
http://www.uvesp.com.br/jornal/julhoagosto2002/ja12.asp
http://cei.edunet.sp.gov.br/paginas/cultura/folclore.asp
16
Idem, ibidem.
17
Idem, ibidem.
18
PEREIRA, José Aurélio Chiaradia. De São José dos Campos para o Vale: A Consolidação do Jornal ValeParaibano
como Porta-voz da Cultura do Vale do Paraíba. Comunicação apresentada no Regiocom 2003. Marília: 2003.
15
surgiu como veículo local na cidade de Caçapava (105 km a nordeste de São Paulo) em 6
de janeiro de 1952, um domingo. Naquela mesma época, o primeiro empresário das
comunicações no Brasil, Assis Chateaubriand, consolidava seu império por meio dos
Diários associados”19 .
Sediado em São José dos Campos, a estrutura de redação do jornal, considerado o
porta-voz do Vale, dispõe de quatro sucursais e abriga 62 profissionais, entre repórteres,
editores e diagramadores, entre outros.
É o único veículo impresso que consegue manter-se por tanto tempo e com uma
estrutura crescente, êxito não obtido no Vale por grandes empresas como Folha de São
Paulo e Gazeta Mercantil, além de periódicos menores como o Diário de São José dos
Campos e Região.
VI-
O caderno ValeViver!
O ValeViver!, suplemento do ValeParaibano, é um caderno de cultura, variedades e
serviços, que ganhou forma nos anos 80, quando passaram a ser publicadas páginas
específicas de cultura e variedades. Durante a semana (terças a sábados), seu corpo é de
seis páginas (desde 1994; antes, o jornal dedicava apenas uma página aos textos de cultura
e variedades). “Este é o número fixo, mas se a quantidade de anúncios for grande,
normalmente às quintas-feiras, o número de páginas sobe para oito. No domingo também
tem um número fixo de oito páginas.”20
Atualmente, o ValeViver! publica diariamente matérias e colunas que tratam de
assuntos variados, tais como televisão, comportamento, universo feminino, moda e coluna
social. Todos os textos são disponibilizados de forma irreverente e divertida.
“Queríamos deixar o caderno diferente dos outros cadernos. Todos os cadernos—o
Nacional, o Esportes—obedecem a mesma regra. Mas o ValeViver! é um caderno diferente.
É um caderno alegre, divertido, então criamos alguns adereços para mostrar que para a
gente o caderno era diferente. As capas são mais leves, diferenciadas, e os textos internos
são mais leves.”21
19
Idem, ibidem.
Lucimara Nascimento da Silva, editora do ValeViver!, em entrevista ao autor, concedida em 29 de março de 2004.
Lucimara é editora do ValeViver! desde novembro de 2000. Ela trabalha no ValeParaibano desde 1994.
21
Hélcio Costa, editor-chefe do jornal ValeParaibano, em entrevista pessoal ao autor, concedida em 3 de setembro de
2003.
20
Às terças, o caderno contem páginas de quadrinhos; às quartas, de crônicas; às quintasfeiras, de música; às sextas, de gastronomia. Aos sábados, há página sobre o universo
adolescente.
Aos domingos, a coluna “Conversa de Domingo” trata de política, entre outros
assuntos, de forma bastante descontraída. Neste mesmo dia, há coluna dedicada ao público
feminino. Normalmente a estrutura do ValeViver! conta, na capa, com uma matéria. Na
contra-capa, a quantidade de matérias varia de uma a três. As matérias da parte interna,
normalmente três pequenas, são publicadas na página 3.
VII-
O Vale Folclórico
A tabela a seguir mostra o número de textos relacionados ao folclore, nacional e
regional, que foram publicados no ValeViver! no mês de agosto de 2003. Para a elaboração
da tabela, registramos não somente trabalhos jornalísticos mas também composições
elaboradas por colunistas.
Tabela 1
D
1 2 3 5 6 7 8 9 10
CF
L
1
O
FI
CS 2 2 2
L
1 1
D
A
1
T
M 2 3 2
UC 1
T
1
1
1 2 1
12
13
14
15
1
1
1
1
2
1
1
1
1 1
2 2 2 2 2 2
2
1
2
5
3
1
2
2
2
2
1
16
1
2
6 7 5 7 8 6 4 3 6
8
7
6
2
1
20
21
22
23
2
1
1
1
2
1
2
1
1
2
2
2
1
2
24
26
27
28
1
2
2
2
1
2
2
29
30
31
T
1
1
1
7
19
2
1
2
1
2
1
1
1
19
1
2
1 1
1
17
6
1
1
1
6
3
6
7
55
20
1
1
1
5
5
5
5
4
2
1
1
1
7
3
5
1
1
1
4
5
3
1
1
21
13
7
5
148
Conforme já mencionamos, trabalhamos com as definições propostas por Edison
Carneiro (CF—Ciência do Folclore/ LO—Literatura Oral/ FI—Folclore Infantil/ CS—
Crendices e Superstições/ LD—Lúdica e Diversões/ AT—Artes e Técnicas/ M—Música/
UC—Usos e Costumes/ LP—Linguagem Popular/ PR—Pesquisa e Registro).
Os tópicos LP (Linguagem Popular) e PR (Pesquisa e Registro) foram excluídos da
tabela por não apresentarem nenhum registro a eles relacionado.
“O caderno ValeViver! é um divulgador de eventos e estudos realizados na região. Isso
pode explicar o fato de não haver nenhum registro no tópico ‘Linguagem Popular’. A
última ocorrência de que me recordo é do livro ‘Nas Trilhas do Zé Mira’, escrito a partir de
uma lei de incentivo fiscal por uma jornalista da região, a Lídia Bernardes, e que teve como
base a vida do tropeiro Zé Mira, um caboclo das Minas Gerais. Neste livro, havia um
espaço com glossário para explicar certos termos adotados pelos ‘caipiras’. Mas isso já faz
cinco anos. Desde então, os artistas, escritores, jornalistas da região não voltaram a recorrer
ao assunto, ou se recorreram, não procuraram o jornal para divulga-lo. O jornal, por si só,
não tem a função de fomentar estudos específicos, mas sim ser instrumento de divulgação
dos mesmos.”22
O ValeViver! teve em agosto de 2003 um total de 148 ocorrências de textos
relacionados ao folclore. O número de ocorrências de textos sobre crendices e superstições
atingiu registro recorde—55. É preciso notar, entretanto, que esta vantagem ocorre em
função das colunas de astrologia (horóscopo e esoterismo), diariamente publicadas em
páginas diferentes.
“Eu conheço um executivo de uma empresa grande de São José, grande mesmo, leitor
diário do ValeParaibano, que começa a ler o jornal pela seção de esoterismo, “Reflexão do
Dia”. Ele recorta o pensamento todos os dias e cola na mesa dele. (...) A gente não sabe
porque a pessoa lê jornal. Tem várias tendências e a gente trabalha com essas tendências.”23
Lucimara Nascimento da Silva, editora do ValeViver! afirma que o índice de leitura de
textos que exploram a religiosidade e as superstições é muito alto.
“O índice de leitura para esse assuntos (crendices e superstições) é muito grande. A coluna
‘esoterismo’, por exemplo, é uma das mais lidas, isso dentro de um universo de um caderno
que tem 92% de índice de leitura—perde apenas para a leitura da capa do jornal—segundo
a última pesquisa de opinião.”24
Se contabilizarmos apenas textos jornalísticos, teremos o tema “Música” como o
campeão de ocorrências—21. “Lúdica e Diversões” aparece logo em seguida, com 20
ocorrências.
“O caderno ValeViver! é um suplemento de serviços. E considerando essa característica, a
maior incidência é de eventos, justamente de shows. Por isso, existem mais ocorrências de
matérias ligadas ao universo musical. Normalmente costumamos dar muito espaço para
22
Lucimara Nascimento da Silva, editora do ValeViver!, em entrevista ao autor, concedida em 29 de março de 2004.
Lucimara é editora do ValeViver! desde novembro de 2000. Ela trabalha no ValeParaibano desde 1994
23
Hélcio Costa, editor-chefe do jornal ValeParaibano, em entrevista pessoal ao autor, concedida em 3 de setembro de
2003.
24
Lucimara Nascimento da Silva, editora do ValeViver!, em entrevista ao autor, concedida em 29 de março de 2004.
Lucimara é editora do ValeViver! desde novembro de 2000. Ela trabalha no ValeParaibano desde 1994.
shows com artistas de renome, mas também privilegiamos bandas e músicos regionais,
como a seção ‘Música do Vale’—página exclusiva de música veiculada às quintas.”25
Lucimara argumenta que o aspecto “religiosidade”, no entanto, é bastante valorizado
pelo caderno. Ela diz que o grande número de ocorrências de eventos musicais em
detrimento do baixo de eventos relacionados a crendices é explicado pelo fato de, em
agosto, não acontecerem festas típicas de santos.
“No mês de agosto existem poucas festas religiosas (...). Em outra épocas do ano são
comemoradas festas como Páscoa e Semana Santa e Festa de São Benedito (abril); Festa do
Divino (maio); Festas Juninas—São Pedro, São João e Santo Antonio e Corpus Christi
(junho)—algumas festas juninas são transferidas para julho; Cosme e Damião (setembro);
Nossa Senhora Aparecida e do Beato Frei Galvão (outubro) e festas natalinas. No fim de
novembro tem o Dia de Todos os Santos (dia 1), mas normalmente não é festejado. A
questão da religiosidade é bastante destacada no caderno ValeViver!. Não podemos nos
esquecer de que estamos situados próximos à Basílica Nacional, ícone da fé católica
brasileira.”26
VIII- Análise dos resultados
O estudo da cobertura do folclore pelo ValeParaibano mostrou que, no período
analisado, o jornal deu ênfase a notícias que buscavam a divulgação de eventos musicais.
Conforme esclareceu a editora do caderno ValeViver!, a conclusão a que chegamos deveuse ao fato de o mês de agosto não registrar eventos de natureza religiosa, também bastante
explorados pelo suplemento.
Como resultado geral da pesquisa, registramos que em agosto o ValeViver! produziu
223 textos jornalísticos, dos quais 87 falavam de folclore.
Em termos percentuais, portanto, podemos seguramente dizer que a cobertura
jornalística do folclore realizada pelo ValeParaibano no período estudado representou
39,01% do total das reportagens veiculadas pelo seu caderno de cultura e variedades. É
importante salientar ainda que esta cobertura não se limitou ao folclore regional, mas cobriu
toda a cultura folclórica brasileira.
25
26
Idem, ibidem.
Idem, ibidem.
IX-
Conclusões
Lucimara Nascimento da Silva explica que o “ValeViver! não tem equipe suficiente
para cobrir as pautas do dia-a-dia e ao mesmo tempo realizar pesquisas de campo em
comunidades distantes”, onde o folclore regional é mais explorado.
Ela diz também que o fato de o ValeViver! mostrar a cultura nacional e não somente a
regional é justificado pela alta influência que a sociedade brasileira sofre do “poder da
cultura de massa”, que privilegia em nosso país, por exemplo, o Halloween (Dia das
Bruxas), festa de origem norte-americana.
Outra conclusão interessante a que chegamos é a de que o folclore, no ValeViver!, é
tratado como assunto de capa. A matéria sobre o assunto ocupa página inteira muitas vezes.
Assim sendo, frisamos que os números que mostramos acima não levam em
consideração o tamanho das matérias, mas a quantidade de registros. O menor o percentual
de registro de matérias folclóricas não exprime o tratamento dado ao folclore pelo
ValeParaibano.
“O critério para algo sair na capa do ValeViver! é a importância do assunto, associada à sua
abrangência. O folclore, por ser um dos itens de maior relevância no nosso cenário cultural,
sempre merece capa, principalmente quando são ações combinadas. Por exemplo, a
prefeitura de uma determinada cidade resolve fazer uma vasta programação com
apresentações de jongo, catira, Folia de Reis, apresentações teatrais ligadas a personagens
folclóricos, exposições outras atividades. (...) Realmente se o assunto for folclore já é um
grande passo para que seja capa (...).”
Concluímos este estudo dizendo que o caderno ValeViver! oferece espaço de
divulgação privilegiado ao folclore nacional e regional. No mês de agosto, o nicho
folclórico mais explorado foi o musical. Entretanto, a coordenação editorial do caderno
esclareceu que a cultura religiosa regional é também bastante divulgada, atendendo tanto à
proposta inicial do suplemento—oferecer serviços—quanto à demanda por informação
cultural tipicamente brasileira.
X-
Bibliografia
1-
MAIA, Thereza Regina de Camargo. O Vale Paulista do Rio Paraíba:
história, geografia, fauna, flora, folclore e cidades. Aparecida: Santuário,
2000.
2-
http://www.escolavesper.com.br/folclore.htm
3-
http://cei.edunet.sp.gov.br/paginas/cultura/folclore.asp
4-
http://www.explorevale.com.br/
5-
http://noticias.uol.com.br/inter/reuters/2003/10/30/ult27u39108.jhtm
6-
http://www.uvesp.com.br/jornal/julhoagosto2002/ja12.asp
7-
LUYTEN, Joseph Maria. A Literatura de Cordel em São Paulo. São
Paulo: Loyola, 1981, pp. 28 e 29.
8-
FERNANDES, Florestan. O Folclore em Questão. São Paulo: Hucitec,
1978, p. 28.
9-
MARQUES DE MELO, José. O Folclore Midiático no Alvorecer da
Sociedade
10-
11-
Digital. Comunicação apresentada no XXV Congresso Brasileiro de
Ciências da Comunicação—Núcleo de Pesquisa em Folkcomunicação.
Intercom/Uneb. Salvador, Bahia, Setembro de 2002.
11- PEREIRA, José Aurélio Chiaradia. De São José dos Campos para o
Vale: A Consolidação do jornal ValeParaibano como Porta-voz da
Cultura do Vale do Paraíba. Comunicação apresentada no Regiocom
2003. Marília: 2003.
12-
MEGALE, Nilza B. Folclore Brasileiro. Petrópolis: Vozes, 2000, p.12.
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