2º Volume Coordenadores: Beatriz O. Pereira, António C. Cunha, Zélia Anastácio & Graça S. Carvalho ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º Volume FICHA TÉCNICA: Título: Atas do IX Seminário Internacional de Educação Física, Lazer e Saúde (2º Volume) Proceedings of the IX International Seminar of Physical, Leisure and Health (2nd volume) Coordenadores de Edição: Beatriz O. Pereira, Camilo Cunha, Zélia Anastácio, Graça S. Carvalho. Comissão Editorial: Carla Silva, Cláudia Ferreira, Alberto Nídio Silva. Arranjo de textos: Carla Silva, Claudia Ferreira Data: Julho de 2013 Impressão: Instituto de Educação, Universidade do Minho, Braga. ISBN: 978-972-8952-28-0 Edição: Centro de Investigação em Estudos da Criança (CIEC), Instituto de Educação, Universidade do Minho, Campus de Gualtar, 4710-057 - Braga, Portugal. Telefone:253601212 Email: [email protected] URL: www.ciec-um.org CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 1 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança COMISSÃO CIENTÍFICA: Abel Figueiredo (IPViseu, Portugal) Alberto Nídio Silva (CIEC, IE, UM) Amália R. Marques (Instituto Piaget, Portugal) Amâncio Carvalho (CIEC, UTAD, Portugal) Ana Macara (FMH/UTL, Brasil) Ana Paula Batalha (FMH/UTL, Brasil) Ana Paula Martins (UMinho, Portugal) Beatriz Pereira (CIEC, IE, UM) Camilo Cunha (CIEC, IE, UM) Carlos Neto (FMH/UTL, Portugal) César Sá (CIEC, IPVC, Portugal) Dalton Nascimento (UTFPR, Brasil) Didier Jourdan (UBP, França) Dominque Berger (ULyon, França) Edson Azevedo (UFSC, Brasil) Graça S. Carvalho (CIEC, IE, UM) Guo Yong Wang (UShangai, China) Isabel Condessa (CIEC, UAC, Portugal) Isabel Mourão Carvalhal (UTAD, Portugal) Isidoro Cruz Neto (UFMA, Brasil) João Serrano (IPCB, Portugal) Lélio Moura Lourenço (UFJF, Brasil) Luís Paulo Rodrigues (IPVC, Portugal) Manuel Coelho e Silva (FCDEF/UC, Portugal) Márcio José Kerkoski (UTFPR, Brasil) Maria Elisa Caputo Ferreira (UFJF, Brasil) Maria Lourdes Gisi (PUCPR, Brasil) Marta Iossi Silva (USP, Brasil) Marcos Neira (USP, Brasil) Paula Queirós (FADE/UP, Portugal) Paulo Pereira (IPP, Portugal) Rosa Branca Tracana (CIEC, IPG, Portugal) Rui Marcelino (CIEC, ESE, Portugal) Rute Santos (UMinho, Portugal) Simone de Miranda (PUCPR, Brasil) Marcelo Melim (CIEC, DRERAM, Portugal) Vítor Lopes (IPBragança, Portugal) Zélia Anastácio (CIEC, IE, UM) COMISSÃO ORGANIZADORA: Beatriz Pereira (Coordenadora) Graça S. Carvalho (Coordenadora) Camilo Cunha Zélia Anastácio Alberto Nídio Silva Alexandre Rocha André Brito Carla Silva Cláudia Ferreira Cristina Alexandra Hilário Silva Inês Silva Janete Guedes José Bastos Leandra Gomes Nelson Vasconcelos Paulo Costa Rita Monteiro Rosana Farenzena Sónia Pereira Vânia Pereira Zenaide Galvão INSTITUIÇÕES PARCEIRAS: CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 2 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança Notas de APRESENTAÇÃO Nos dias 3, 4, 5 e 6 de julho de 2013 decorrerá no Instituto de Educação da Universidade do Minho, em Portugal, o IX SIEFLAS – Seminário Internacional de Educação Física, Lazer e Saúde. Destinado prioritariamente a docentes, investigadores, técnicos e estudantes que trabalham nas áreas de Educação Física, do Lazer, da Saúde e da Educação em geral, provenientes de escolas, autarquias locais, clubes desportivos, instituições particulares e de serviço, Health Clubs e todas as demais instituições que às temáticas se encontrem ligadas pelas atividades que desenvolvem, o Seminário reunirá um vastíssimo e multifacetado conjunto de intervenientes nacionais e internacionais, estes provenientes, sobretudo, do Brasil. Na trilogia “desporto, lazer e saúde”, podemos contextualizar o estudo de problemáticas que hoje a invadem e atravessam, quer seja na educação, na saúde física, na vertente psicossocial, quer, também, na formação para a preservação e efetiva apreensão dos valores morais e éticos que devem fazer parte da estrutura em que cada cidadão se terá de formatar. O IX SIEFLAS tem a pretensão de continuar o trabalho que os seus antecedentes puderam desenvolver, achegando-lhe outros e novos conhecimentos que contribuam para solidificar os saberes que em torno do desporto, do lazer e da saúde, se vão consolidando em cada ano de trabalho académico e científico, e que para aqui têm sido trazidos com toda a premência e validade. Nos textos que a seguir se deixam devidamente agrupados em diferenciadas áreas temáticas – Atividade Física e Saúde, Currículo e Formação de Professores em Educação Física, Dança e Educação, Desporto e Valores – Espírito Desportivo, Educação Artística, Desenvolvimento e Saúde, Atividade Física e Desporto, Jogo e Desenvolvimento Motor, Lazer, Recreação e Segurança e Psicologia, Sociologia e Filosofia do Desporto – fica a marca que tem pautado os Seminários Internacionais de Educação Física, Lazer e Saúde, e a dimensão participativa de todos quantos se encontram comprometidos com o que neles e a partir deles de relevante se registou para o encontro de novas e significativas geografias que ajudem a melhorar a vida quotidiana de cada um de nós. Alberto Nídio Silva, Beatriz Pereira,Graça S.Carvalho CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 3 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança ÍNDICE CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 4 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança TÍTULOS AUTORES PÁGINA CONTACTO CONFERÊNCIA DE ABERTURA 196 - Jogo e Educação Edison Souza [email protected] CONFERÊNCIA DE ENCERRAMENTO DAS ATIVIDADES CIENTÍFICAS 197 - La contribution de l’éducation physique à l’éducation à la santé [email protected] Didier Jourdan ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE Comunicações 26 - Relação entre atividade física e saúde 60 - Prevalência e fatores associados á insatisfação com a imagem corporal em jovens dos Açores 98 - Obesidade Infantil e Insucesso Escolar em Contextos Desfavorecidos 126 - Transporte para a escola na atividade física do adolescente 133 - Atividade Física e hábitos de vida: relação com a composição corporal e com alguns parâmetros fisiológicos 148 - A prática de actividade física em relação com o autoconceito, a autoestima e o rendimento escolar de alunos do primeiro ciclo do ensino básico 176 - Transporte ativo nas rotinas de vida das crianças. Estudo em escola urbana 178 - O impacto de um programa de adaptação curricular no IMC e na aptidão física: um estudo de caso com alunos obesos do 7º ano de escolaridade Amâncio Carvalho, Maria Helena Meneses, Maria Emília Matos, Maria Elisabete Espinheira, Vanessa Monteiro Eduarda Coelho, Sandra Fonseca, Isabel MourãoCarvalhal Isabel MourãoCarvalhal, Sandra Fonseca, Dolores Monteiro, Cecília Costa, Eduarda Coelho Ana Paula Matos, Beatriz Pereira, Maria João Almeida Rui Paulo, João Petrica, João Serrano, Júlio Martins Marco Batista, Sixto Cubo, Samuel Honório Beatriz Pereira, Inês Silva, Rita Monteiro, Rosana Farenzena, Rafaela Rosário Dinis Oliveira Moreira, Eduarda Coelho, Beatriz Pereira - - [email protected] [email protected] Resumo Resumo Resumo - [email protected] - [email protected]. br - [email protected] 17 [email protected] Atas 1º volume Atas 1º volume Atas 2º volume Atas 1º volume - [email protected] - [email protected] - [email protected] t Resumo Poster 15 - Estudo sobre a atividade física de crianças do 7º ano com e sem práticas extracurriculares André Brito, José Bastos, Helena CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 5 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança e a sua relação com a estrutura corporal e a alimentação 16 - Relação entre a perceção da imagem corporal e a Obesidade em adolescentes. 17 - Alunos com NEE na disciplina de Educação Física: identificação e modelos de atuação 18 - Diferenças entre os níveis de atividade física e aptidão física em jovens do ensino básicos 19 - Relação entre Atividade Física e Atividade Sexual em alunos Universitários 20 - Análise e descrição do nível de atividade física, aptidão física e da composição corporal de alunos de licenciatura e mestrado da Universidade do Minho 34 - Influência do Pilates na postura e movimento de um adulto saudável: um estudo de caso 36 - Obesidade no 1º ciclo – Desenho e implementação de um programa de intervenção num estudo transversal 51 - Leitura psicanalítica do festival de atividades desportivas e culturais (fad), do município de São Paulo – Brasil 69 - Relação entre aptidão cardiovascular e performance académica quanto ao género. Um estudo longitudinal em adolescentes do 8º ano numa Escola de Braga. 75 - Perceção do peso corporal e da atividade física praticada por adultos do Concelho de Amarante Sampaio, Beatriz Pereira, Graça S.Carvalho Eduarda Sá, Filipe Ferrão, Janete Guedes, Jorge Pereira, Luís Silva, Beatriz Pereira, Graça S. Carvalho Cirilo Sousa, Isabel Correia, Sónia Teixeira, Tiago Ventura, Beatriz Pereira, Graça S. Carvalho Ana Abreu, Leandra Gomes, Nelson Vasconcelos, Sónia Pereira, Beatriz Pereira, Graça Carvalho Emanuel Gonçalves, Melissa Antunes, Rafael Leite, Teresa Pinto, Beatriz Pereira, Graça Carvalho André Rocha, Henrique Alves, Hilário Silva, Marta Fernandes, Beatriz Pereira, Graça S. Carvalho Marco Abreu Joana Magalhães, Luís Cardoso, Luís Ferreira, Rui Silva, Beatriz Pereira, Graça S. Carvalho Diego Tiscar, Maria Odete Pereira Atas 1º volume - [email protected] Atas 1º volume - [email protected] Atas 1º volume - [email protected] emanuelsousa1987@gmail. com Atas 1º volume - - [email protected] om Atas 1º volume 40 [email protected] Atas 2º volume - [email protected] om.pt - [email protected] Atas 1º volume Rita Monteiro, Rute Santos, Beatriz Pereira 56 Graça S. Carvalho, Emília Gonçalves - [email protected] [email protected] Atas 1ºvolume Resumo Atas 2º volume Resumo CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 6 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança 86 - Associações entre aptidão cardiovascular e o sucesso académico, diferenças entre padrões alimentares associados à dieta mediterrânica. Um estudo em adolescentes do 8º ano de uma escola numa perspetiva longitudinal 105 - A Prática da atividade física de alunos dos 9 aos 17 anos do Concelho de Amarante 110 - Relação entre a prática de Desporto Escolar e a Aptidão Cardiorrespiratória e Índice de Massa Corporal 125 - A atividade física e a obesidade em idosos institucionalizados 182 - Comportamento Alimentar, Exercício Físico e Qualidade de Vida em Adolescentes Diabéticos Tipo 1 com diferentes perceções de peso ideal Inês Silva, Rute Santos, Beatriz Pereira Emília Gonçalves, Graça S. Carvalho Carlos Mata, Beatriz Pereira, Edson Azevedo Maria Manuela Melo, Beatriz Araújo, João Costa Amado, Alexandra Braga, Ana Margarida Araújo, Bárbara Rodrigues, Joana Melo S. Gonçalves, A. Rui Gomes, Vânia Barros Atas 2º volume 69 [email protected] 84 [email protected] 96 [email protected] Atas 2º volume - [email protected] Atas 1º volume - [email protected] Atas 2º volume Resumo CURRÍCULO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE Mesas 59 - Materiais audiovisuais como recurso didático na formação de professores de Educação Física 72 - Professores dos Futuros Professores de Educação Física. Um contributo reflexivo acerca destes profissionais. 78 - A legitimação como tarefa fundamental da Teoria Curricular 119 - O Desenvolvimento do Estagiário através do Ensino na Educação Física - A Singularidade dos Educadores de Infância e Professores do 1.ºCEB 153 - Refletindo sobre as experiências de estágio curricular supervisionado, identificando crenças e saberes sobre a prática de ensinar Educação Física na escola 161 - La importancia de las TICS en la formación de los profesores de la Educación Física 170 - Formação inicial em educação física para quê? 193 - Avaliação do currículo de formação em desporto e atividade física – a opinião dos formados em 2012 pela escola superior de educação de castelo branco sobre as suas necessidades de formação Suraya Darido, Aline Ferreira, Amarilis Carvalho, Irlla Diniz, Luiz Rufino - [email protected] César Sá - [email protected] Carlos Januário - [email protected] Atas 1º volume Resumo Atas 1º volume Resumo Isabel Condessa - [email protected] Atas 1º volume Samuel Neto, Roberto Iaochite - [email protected] Yolanda Sanchéz - [email protected] 117 [email protected] Cebrián Ricardo Rezer Tiago dos Santos, Leandro Morais, Eduardo Fernandes, António Faustino, João Petrica, João Atas 1º volume Atas 2º volume Atas 1º volume - [email protected] CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 7 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança Serrano, Pedro Mendes, Rui Paulo Comunicações 24 - Aquisição de valores no âmbito das atividades desportivas nos currículos transversais 37 - O processo de envelhecimento na escola: desmistificando pensamentos através da oficina de formação vida saudável. 76 - Competência Profissional em Educação Física - Autoperceção dos Professores dos Ensinos Básico e Secundário do Concelho de Viseu 104 - A autoscopia como estratégia: a perceção e reflexão de uma professora de Educação Física sobre sua ação pedagógica 112 - A importância das vivências em práticas físicas e desportivas do professor de Educação Física na construção do seu saber profissional 129 - Contribuições da extensão na formação docente universitária 136 - A promoção de competências de aprendizagem em ambientes online no ensino da Educação Física 200 - Referenciais orientadores para uma pedagogia do esporte: a Educação Física como protagonista... Carma Martins, Beatriz Oliveira Pereira, João Manuel Petrica Érica Pinto, Gutemberg Pinto, Gustavo Aranha, Jadna Santos, Joel Farias, Davi Correa Luiz Queiroga, Carlos Francisco Zenaide António Cunha Galvão, Camilo - karmamartins168@hotmail .com Atas 1º volume - [email protected] 132 [email protected] m [email protected] - [email protected] - [email protected] - [email protected] Sónia Pereira, Ricardo Rezer - [email protected] 49 - Políticas públicas de esporte, lazer e inclusão social: estratégias de acompanhamento pedagógico de um programa esportivo social de nível nacional – programa segundo tempo (PST). Sérgio Souza, Claudio Kravchychyn, Amauri Oliveira, Marta Soares, Adnelson Santos, Hamilton Júnior 147 143 - O ensino do Hip Hop em aulas de Educação Física: resultados de uma experiência de formação continuada Roberto Iaochite - [email protected] 32 - Esporte educacional: uma análise da implantação da proposta pedagógica do PST Adnelson Santos, Amauri Bassoli, Claudio Kravchychyn, Hamilton Ferro Jr, Sergio Souza, Marta Genú - [email protected] m.br 48 - “Sou eu maculelê sou eu”... Uma dança guerreira como possibilidade pedagógica nas aulas de educação física escolar. Flaviane Silva, Sérgio Souza - [email protected] Edison de Souza, Alba de Souza Maria da Glória Ribeiro, J. António Moreira Atas 2º volume Atas 1º volume - Isabel Augusto, Maria Condessa Atas 1º volume Atas 1º volume Resumo Atas 1º volume Resumo Workshops Atas 2º volume [email protected] Atas 1º volume Poster Resumo Resumo CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 8 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança 156 - A formação Inicial de Professores de Educação Física no Ensino Universitário: A Perspetiva dos Estudantes. Ricardo Lima, Rui Resende, Alberto Albuquerque Atas 1º volume - [email protected] DANÇA E EDUCAÇÃO/EDUCAÇÃO ARTÍSTICA, DESENVOLVIMENTO E SAÚDE Mesas 82 - A dança do carimbó como patrimônio cultural paraense 150 - Dança e multiculturalidade: uma proposta formativa para docentes do ensino básico e secundário 179 - Proposta ecológica de saúde e bem-estar 181 - Técnicas somáticas - alternativas de saúde e bem-estar Jairo Araújo, Ester Correa, Lilia Sales Alexandra Mendes, Margarida Moura, J. António Moreira Ana Paula Batalha, Kátia Mortari, Ana Macara Ana Macara, Ana Paula Batalha, Kátia Mortari - [email protected] - [email protected] Resumo Atas 1ºvolume 160 [email protected] Atas 2º volume 178 [email protected] Atas 2º volume Viviane Moura da Rocha 189 [email protected] om Atas 2º volume Denise Rocha, Graça S. Carvalho 206 [email protected] m 221 [email protected] - [email protected] m Comunicações 50 - A performance do boneco: avatar para educação, socialização e comunicação. 63 - Educação pela arte: perceções no contexto do grupo de apoio à crianças com câncer em Salvador-Bahia 138 - A Dança na escola em contexto de Educação Artística: conceções e práticas de professores portugueses 163 - Cultura Lúdica e formação de educadores: apontamento sobre a Capoeira Angola 180 – Corpo, técnica e movimento: possibilidade para sentir, expressar e estar bem. Luisa Alegre, Margarida Moura, Maria João Alves Roberto Sanches Rabello, António Camilo Cunha Kátia Mortari, Ana Paula Batalha, Ana Macara Atas 2º volume Atas 2ºvolume Atas 1º volume Atas 2º volume 232 [email protected] Workshop 40 - O bumba meu boi do Maranhão/Brasil Joel Farias, Érica Pinto, Camilla Gonçalves - [email protected] m Antônia Pontes, Sérgio Souza - [email protected] - joaosantos.iec.uminho@gm ail.com Resumo Poster 67 - Perceção do professor que atua com a disciplina de educação física sobre o conteúdo dança nas escolas municipais do ensino fundamental de Coroatá/MA. Atas 1º volume EDUCAÇÃO ESPECIAL, DESENVOLVIMENTO E SAÚDE Comunicações 27 - Desporto para Pessoas com Necessidades Especiais: O estado da arte em Portugal João Paulo Saraiva, Carla Oliveira, Marisa Almeida, Raquel Fernandes, Anabela CruzSantos Atas 1º volume CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 9 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança 44 - Bem-estar psicológico, stress parental, qualidade de vida e suporte social: um estudo em pais de crianças com Paralisia Cerebral 85 - Atividades Lúdicas de sensibilização: mudanças de atitudes sociais de crianças sem deficiência em contato com deficientes Paula Miranda, Sónia Gonçalves Conceição Pacheco, Silvana Silva, Sarah Bandeira, Tassiane Carvalho, Paulo Silva, Telma Chainni, Jossilene Alves Helena Mesquita, Isabel Simões - [email protected] om Atas 1º volume - [email protected] - [email protected] Hugo Simões, Beatriz Pereira - [email protected] Admilson Santos, Manuel Sarmento - [email protected] Raísa da Silva - [email protected] Edson Azevedo, Edison de Souza, William Salles, Tiaraju Ferreira - [email protected] Fernando Parente, Beatriz Pereira - [email protected] 115 - O tecido e o trapézio circense nas aulas de Educação Física escolar: o risco como fator motivacional Mérie Hellen Silva, Alipio Junior, Tatyanne Lazier, Cleber Junior, Aline Rodrigues, Elias Conceição, Victor Shing, Tiago Silva - [email protected] 147 – A perceção dos alunos sobre a sua competência em Educação Física, o comportamento do professor e os objetivos dessa disciplina Paulo Pereira, Fátima Bento 140 - Crianças com Deficit Cognitivo e Motor. Necessidades das famílias. 158 - Emergência ou urgência da Terapia Farmacológica na Perturbação e Hiperatividade com Défice de Atenção (PHDA)? Caracterização de crianças com PHDA de um Agrupamento de Escolas. 177 - A deficiência na ótica de crianças brasileiras e portuguesas Atas 1º volume Atas 1º volume Resumo Atas 1º volume Poster 4 - Brincando de ushiro – ukemi: a influência do Judô lúdico para melhoria da disfunção de integração sensorial – um estudo de caso Resumo EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTO Mesas 46 - Percepções discentes acerca das concepções de esportes: estudo de caso dos acadêmicos da licenciatura e bacharelado do Centro de Desportos da UFSC 91 - Oferta e procura desportiva dos estudantes do ensino superior - Estudo realizado com os alunos de 1º ano da Universidade do Minho Atas 1º volume Resumo Atas 1º volume Atas 1º volume - [email protected] - [email protected] - [email protected] om Comunicações 13 - Seleção brasileira feminina basquetebol: história e memória de 53 - A Educação Física Escolar no Estado Novo 92 - O jogo ofensivo no futebol. Proposta de interpretação da realidade dinâmica. Luiza da Cunha, Dagmar Hunger Rute Oliveira, Fernando Maia António Barbosa, Hugo Sarmento, 246 [email protected] Resumo Atas 1º volume Atas 2º volume CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 10 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança 135 - Comunicação do Treinador de Futebol Infanto-Juvenil em Situação de Competição 190 - O percurso da ginástica sueca em Portugal 195 - A avaliação por pares na transferência de aprendizagens nos desportos de invasão em Educação Física Antoni Anzano, Jorge Campaniço André Matias, João Serrano, João Petrica António Ferreira, Jorge de Oliveira Luís Mortágua - andreagostinhomatias@gm ail.com - [email protected] 263 [email protected] Atas 1º volume Resumo Atas 2º volume Poster 39 - Treino de flexibilidade no ensino secundário: um projeto de investigação-ação em aulas de Educação Física 54 - Caracterização do esporte na Sociedade Contemporânea: acepções e aspectos históricos. 100 - O "Brincar e Se-Movimentar" como fundamento básico da Educação Física na Educação Infantil 165 - A dimensão atitudinal nas aulas de Educação Física e a prática do Futebol Célia Matias, Tânia Almeida, Adriano Pereira, Adriana Gehres, Jorge Mendes Evelyze Teixeira, Simony Brasil, Marta Genú Soares Andrize Costa, Luana Pedrini, Elenor Kunz Altair Moioli, Afonso Machado, Marcelo Zanetti, António Gomes Atas 1º volume - [email protected] - [email protected] om - [email protected] - [email protected]. br 278 [email protected] Resumo Atas 1º volume Resumo JOGO E DESENVOLVIMENTO MOTOR Mesa 23 - O Lúdico como "optimal experience" 127 - Portuguese version of the pediatric berg balance scale 157 - O que encontro no meu recreio, como o utilizo? 166 - Jogos tradicionais e desenvolvimento motor da criança 186 - Aspectos sociais, motores e lúdicos na interação de crianças nas academias da primeira idade, Maringá, Paraná, Brasil Alberto Nídio Silva Rui Marcelino, Paulo Pereira, António Cardoso, Cristina Pinto, Jorge Pinho Amália Rebolo Marques, Débora Alves, Filipa Mesquita, Joana Matos, Maria Santos, Mónica Marques, Rita Varanda, Sara Flamino, Tomé Rocha, Vanessa Tavares Rui Mendes, Gonçalo Dias Giuliano Pimentel, Solange Silva Atas 2º volume Atas 1º volume - [email protected] - [email protected] .org - [email protected] Atas 1º volume 289 [email protected] Atas 1º volume Atas 2º volume Comunicações CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 11 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança 22 - Desenvolvimento infantil e capacitação materna como resultado da aplicação do programa de empowerment parental para o desenvolvimento infantil (PEPDI) Simão Vilaça, Graça S. Carvalho 304 81 - A motricidade humana e os jogos da cultura popular Elipaula Carvalho, Angelo Vargas, Tibério Machado - [email protected] Fernanda Figueiredo - fernandafigueiredoef@gma il.com Jessica Sá, Michael Silva, Marilane Santos - educacaofisica@unipacvale doaco.com.br - [email protected] om.br - [email protected] - [email protected] Maria José Araújo, Fabrício Costa, Melissa Ramos, Pedro Silva - [email protected] 114 - Recreação e jogos: um auxílio na dificuldade de aprendizagem e déficit motor Tatyanne Lazier, Cleber Junior, Mérie Hellen Silva, Tiago Silva, Alipio Junior - [email protected] m 167 - A influência de um programa de ginástica rítmica sobre o desenvolvimento motor e a percepção de competência de crianças Kelly de Azevedo, Míriam Palma - [email protected] Resumo - [email protected] m Atas 1º volume - [email protected] - [email protected] m 101 - Atividades Aquáticas como Estímulo ao desenvolvimento Psicomotor de bebês de 3 a 15 meses 102 - Analisar se os estímulos oferecidos nas aulas de Educação Física com ênfase nas capacidades coordenativas melhoram o desempenho motor dos alunos de 09 a 11 anos de uma escola do município de Ipatinga - MG 118 - Revivendo os jogos tradicionais infantis: a cultura lúdica em ação 139 - A influência do meio no Perfil Psicomotor 144 - Caraterização das rotinas da vida diária de uma criança - estudo de uma rapariga de 8 anos residente em Alferrarede-Velha 164 - Hoje não vou ao jogo! - Um estudo sobre as representações das crianças e dos encarregados de educação relativamente à importância do jogo enquanto modalidade desportiva no tempo livre Tiago Silva, Mérie Hellen Silva, Victor Shing, Tatyanne Lazier, Cleber Junior, Elias Conceição, Gisele Schwartz, Alipio Junior Luísa Nave, Helena Mesquita António Faustino, Eduardo Fernandes, Inês Santos, Vítor Lúcio [email protected] Atas 2º volume Atas 1º volume Resumo Atas 1º volume Atas 1º volume Atas 1º volume Atas 1º volume Atas 1º volume Poster Resumo LAZER, RECREAÇÃO E SEGURANÇA Comunicações 154 - Desportos de Natureza: caracterização dos praticantes residentes em Portugal 191 - O tempo de recreio na escola: que sentimentos? Que benefícios? Ricardo Melo, Rui Gomes Vânia Pereira, Beatriz Pereira, Isabel Condessa Atas 1º volume Workshop 116 - Educar para torcer e para jogar: Fotografando legados e impactos da COPA 2014. Erika Espinola, Tereza França, Laís Barbosa Resumo CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 12 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança Poster 47 - Espaços e equipamentos públicos de lazer na cidade de São Luís/MA: um estudo nos bairros Vila Isabel, Vila Nova e Vila Maranhão da área Itaqui-Bacanga. 68 - O lazer como uma das esferas de ação humana historicamente situada: colônias de férias da universidade federal de mato grosso entre 1979 e 1989. 95 - Os lazeres na São Luís oitocentista Margareth Santos, Sérgio Souza Talita Ferreira, Danielle Batista, Evando Carlos Moreira Paulo da Trindade Silva Atas 1º volume - [email protected] - [email protected] - [email protected] - [email protected] - [email protected] Resumo Atas 1º volume PROMOÇÃO DA SAÚDE E AMBIENTE Mesa 6 - Conceções prévias e obstáculos de aprendizagem em alunos do 1º CEB sobre excreção urinária. 88 - Abordar a Sexualidade no 1.ºCEB - as crianças também são capazes de discutir 137 - Estudo da Atividade Física em Instituições da 3ª idade Rosa Tracana, Alves Monteiro, Graça Carvalho Zélia Anastácio, Cláudia Pinto João Serrano, João Petrica, António Faustino, Rui Paulo, Pedro Mendes 320 [email protected] Resumo Atas 1º volume Atas 2º volume Comunicações 1 - Comportamentos alimentares de alunos de 10-17 anos em cantinas escolares: um estudo de caso 2 - The relationship between weight status and psychopathology in adolescence: The role of social support 11 - Intervenção na obesidade infantil: Avaliação da eficácia de um programa com recurso a novas tecnologias 21 - Avaliação do processamento auditivo em crianças com dificuldades de aprendizagem 65 - Relação entre o perfil psicomotor e o desenvolvimento mental de crianças com Dificuldades de Aprendizagem. 66 - O diário alimentar na monitorização das práticas alimentares dos adolescentes envolvidos no programa ‘Planear Saúde na Escola’. 109 - Sono, Saúde e Aprendizagem em Crianças do 1.º Ciclo do Ensino Básico 117 - Conceções sobre Sexualidade e Educação Sexual - Diferenças de Género nos 2.º e 3.º Ciclos do Ensino Básico Atas 1º volume Elsa Reis, Graça S. Carvalho - [email protected] Marta Rosa - [email protected] m - [email protected] - [email protected] Freitas- Cátia Silva, Paulo Machado Cristiane, Nunes, Graça, Carvalho, Liliane, Desgualdo Isabel Pereira, Mónica Moreira, Eduarda Coelho, Cecília Costa, Maria Dolores Monteiro, Isabel Mourão Atas 1º volume Resumo Atas 1º volume Resumo - [email protected] m Margarida Vieira, Graça S. Carvalho - m.margarida.vieira@gmail. com Sónia Coelho, Zélia Anastácio - salexandra_coelho@hotma il.com Susana Marinho, Zélia Anastácio - [email protected] Atas 1º volume Atas 1º volume Atas 1º volume CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 13 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança 159 - Caracterização do consumo de álcool entre os escolares de 12 a 21 anos de idade do distrito de Beja Teresa Tavares, Jorge Bonito, Maria Manuela Oliveira 339 [email protected] - [email protected] m - [email protected] m - [email protected]. br Atas 2º volume Poster 7 - Uma atividade de outdoor: caraterização ambiental do Rio Zêzere 9 - Educação sexual no 1º CEB: Uma experiência pedagógico-didática 28 - Hortas escolares urbanas agroecológicas: preparando o terreno para a Educação em Ciências e para a Educação em Saúde 52 - Prevalência de obesidade nas escolas do 1º ciclo da cidade de Vila Real 79 - Microrganismos e Saúde no 1.º e 2.º Ciclos do Ensino Básico – Perceções das crianças 107 - Microbiologia no 1.º CEB – uma proposta de atividade experimental sobre higiene oral 123 – Práticas de educação alimentar no contexto do ensino de ciências em classe hospitalar: relato de um curso de formação 192 - Caraterização das rotinas de vida diárias de idosos de castelo branco – estudo de caso de um idoso institucionalizado de 70 anos Direito, AF, Tracana, R.B., Ferreira, M.E. Rios, L.A, Ferreira, M.E., Tracana R.B. Elizabete Silva, Alexandre Fonseca, Graça S. Carvalho Mónica Moreira, Isabel Pereira, Sandra Fonseca, Maria Dolores Monteiro, Eduarda Coelho, Isabel Mourão Paulo Mafra, Graça Carvalho, Nelson Lima Nelson Lima, Paulo Mafra, Graça Carvalho Mônica Lobo, Isabel Martins, Graça Carvalho André Ramalho, António Faustino Resumo Resumo Atas 1º volume Atas 1º volume - [email protected] - [email protected] - [email protected] - [email protected] m - [email protected] - [email protected] Atas 1º volume Atas 1º volume Atas 1º volume Atas 1º volume PSICOLOGIA, SOCIOLOGIA E FILOSOFIA DO DESPORTO Mesas 151 - Manuel Sérgio: precursor da ciência da motricidade humana 160 - Saúde, Desporto e Educação Física: um equívoco 168 - Elementos da fenomenologia na compreensão do movimento humano significativo 169 - O lugar da teoria na Educação Física e Desporto Carlos Borelli, Ana Maria Pereira, Kátia Mortari Rui Garcia, Helena Bento Elenor Kunz, Danieli Marques, José Grunnenvaldt, Aguinaldo Surdi, António Camilo Cunha António Camilo Cunha Atas 1º volume 359 [email protected] 370 [email protected] 391 [email protected] Atas 2º volume Atas 2º volume Atas 2º volume Comunicações 132 - Perspectives about the Importance of Psychological Preparation and Personal Experiences with Sport Psychology: The Voices of Portuguese Elite Athletes With Disabilities Tânia Bastos, Rui Corredeira, Michel Probst, António Fonseca - [email protected] Resumo CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 14 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança 149 - Ciência da motricidade humana: a produção do conhecimento no Brasil 152 - O ensino da ginástica na escola sob o paradigma da ciência da motricidade humana 155 - Imagery: Diferenças entre as modalidades do Imagery (cinestésica e visual) nas crianças de 12 e 13 anos. 162 - O desporto no horizonte da paideia: reptos e inquietações. 175 - Os desafios do envelhecimento no cinema 202 - O conhecimento do treino vivido. Crítica/crítica a uma entrevista realizada a Aurélio Pereira treinador das camadas jovens do Sporting Club de Portugal Nilma Oliveira, Ana Maria Pereira Ana Maria Pereira, Thaís de Andrade, Marilene Cesário, Kátia Mortari Pedro Mendes, João Petrica, João Serrano, António Faustino, Rui Paulo Teresa Marinho Luciana Salvador Sandoval, Côrte José António Cunha, Galvão 406 [email protected] m Atas 2º volume Atas 1º volume - [email protected] Atas 1º volume - [email protected] - [email protected] - [email protected] - [email protected] t - [email protected] om - [email protected]. pt - [email protected] - [email protected] Atas 1º volume Mussi, Beltrina Bastos, Camilo Zenaide Resumo Resumo Poster 45 - Do “vale-tudo” para o MMA: a trajetória das artes marciais mistas na cidade de São Luís/MA. Gabriel Sousa, Sérgio Souza Resumo VIOLÊNCIA, BULLYING E INDISCIPLINA NA ESCOLA Mesa 43 - Violência e clima escolar, uma intervenção global 77 - Crianças e famílias: retratos de emoção e análise de discurso nos maus-tratos 96 - Adolescentes expostos à violência doméstica e envolvidos em bullying: possibilidades de intervenção com terapia cognitivo comportamental Marcelo Melim, Beatriz Pereira Judite ZamithCruz Lelio Lourenço, Luciana Senra, Beatriz Pereira Luciana Senra, Beatriz Pereira, Marcel Vieira, Lelio Lourenço - [email protected] 33 - O papel social do professor na prevenção à indicisciplina, bullying e violência escolar. Alberto Bezerra - [email protected] 42 - Agressividade, violência juvenil e bullying: Memórias de infância e o início de trajetórias desviantes. Estudo em contexto prisional Ana Beatriz Saraiva, Beatriz Pereira, Judite Zamith-Cruz - [email protected] om Alice Lopes, Judite Zamith-Cruz - [email protected] - [email protected]. br 97 - Prevalência de bullying entre adolescentes de um município de médio porte brasileiro Atas 1º volume Atas 1º volume Resumo Atas 1º volume Comunicações 84 - Bem-estar de jovens institucionalizadas: do dizer de profissionais à intervenção de Aceitação e Comprometimento 93 - Bullying: A intimidade da violência; um estudo acerca das potencialidades indutoras do fenômeno em escolas do município de Ipatinga – MG Atas 1º volume Resumo Atas 1º volume Atas 1º volume Marilane Santos, Angelo Vargas CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 15 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança 99 - Bullying: conhecer para minimizar consequências na saúde 106 - Entre o permitido e o transgressor – as respostas corporais-autorais das crianças no espaço-tempo escolar 185 - Bullying Escolar: um estudo longitudinal sobre vitimação Maria do Carmo Sousa, Beatriz Araújo, Beatriz Pereira Rosana Farenzena, Beatriz Pereira Paulo Costa, Rosana Farenzena, Hugo Simões, Beatriz Pereira - [email protected] - [email protected] Resumo Resumo Atas 2º volume 421 [email protected] Poster 64 - Brincadeira sim, bullying não! Cirlei Brandão, Evando Moreira - [email protected] Atas 1º volume CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 16 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança ATIVIDADE FISICA E SAÚDE A PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA EM RELAÇÃO COM O AUTOCONCEITO, A AUTOESTIMA E O RENDIMENTO ESCOLAR DE ALUNOS DO PRIMEIRO CICLO DO ENSINO BÁSICO Marco Batista1, Sixto Cubo Delgado1, Samuel Honório2 1 Universidad de Extremadura; 2 Escola Superior de Educação de Torres Novas CIFOC Resumo O presente estudo teve como objetivo geral relacionar a prática de atividade física na formação de auto conceito, auto-estima e rendimento escolar em crianças do primeiro ciclo do ensino básico. Trabalhámos com uma amostra de 531 alunos dos concelhos de Santarém, Torres Novas, Entroncamento e Tomar (Portugal), dos quais 295 alunos (55,6%) de género masculino e 236 alunos (44,4%) de género feminino, com uma média de idades da amostra de 9,13 anos, variando num mínimo de 8 anos e um máximo de 10 anos. Desta amostra, 394 alunos (74%) registam a prática de pelo menos uma atividade física formal de carácter extra curricular e 137 alunos (26%) da amostra total não registaram qualquer atividade física. Como instrumento de recolha de dados utilizou-se a Escala de Auto conceito de Susan Harter validada para a população portuguesa (Martins, Peixoto, Mata & Monteiro, 1995), onde procedemos a uma análise descritiva e inferencial dos dados de forma a confrontarmos os níveis médios de auto conceito, nos domínios de competência escolar, aceitação social, competência atlética, aparência física, comportamento e auto-estima global. Foram também registados os rendimentos escolares dos alunos em estudo nas áreas curriculares disciplinares de matemática, língua portuguesa e estudo do meio. A prática de atividade física regular não se revelou um fator determinantemente significativo no nível do auto conceito, da autoestima e do rendimento escolar dos CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 17 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança alunos. Porém, a variável autoconceito parece assumir uma evolução com o aumento do número de sessões semanais de atividade física, assim como aparentemente a prática de pelo menos uma modalidade desportiva eleva os níveis de auto-estima. Os alunos com maior número de horas semanais de prática de atividade física regular revelam um nível de rendimento escolar significativamente superior face a alunos com menos horas ou sem o registo de prática de atividade física regular semanal. Palavras-chave: Atividade Física, Autoconceito, Auto-estima, Rendimento escolar Introdução e Bases Teóricas A adesão à prática de atividade física é uma componente de um processo complexo que envolve o desenvolvimento, a aprendizagem e a assimilação de competências, valores, normas, auto perceções, identidades e papéis proporcionados por diferentes variáveis do enquadramento familiar e do envolvimento social, como o grupo sociodemográfico, a profissão, a educação e a área de residência, que podem ser potenciais fatores de influência na prática da atividade física das crianças e dos adolescentes no seu tempo livre (Yang, Telama & Laakso, 1996). Cocke, (2002), Tremblay, Inman & Willms (2000) Dwyer et al., (1983) e Shephard, (1997), referem que a parcela juvenil que participa em atividades físicas regulares tendem a demonstrar melhores atributos tais como o aumento da atividade cerebral e respetiva nutrição, dos níveis de concentração e de energia, das alterações na composição corporal afetando o autoconceito e o comportamento do indivíduo pela positiva, o que pode dar um maior suporte para a aprendizagem cognitiva. Parece clara também a associação da atividade física com a auto-estima e a autoeficácia McAuley & Rudolph (1995) assim como relativamente ao bem-estar emocional parece existir evidências de um efeito positivo da atividade física na redução dos sintomas depressivos e de ansiedade (Brown, Wang & Ward, 1995, in Esculcas, 1999). CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 18 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança De acordo com McAuley & Rudolph (1995), o exercício físico contribui para a integridade do complexo cerebral-vascular, o aumento do transporte de oxigénio para o cérebro, a síntese e degradação de neurotransmissores. Neto (1994) refere que o desporto é uma atividade que nos seus pressupostos deve contemplar a promoção dos valores humanos, os princípios de solidariedade e a cooperação social e cultural entre os seus intervenientes. O reconhecimento da pedagogia das atividades físicas, cujo espectro de abordagem em escalões etários infantis é bastante amplo, exerce uma função preponderante na formação global dos seus praticantes, permitindo-lhes o transfer do contexto desportivo para o seu contexto sócio cultural específico. A prática de atividade física e desportiva contribui para o desenvolvimento social e emocional das crianças porque a sua prática é repleta de importantes valores morais. Uma criança que pratica actividades físicas e desportivas, aprende a ser disciplinada, a confiar em si própria, a adquirir auto-controlo e auto-estima, a adaptar-se a novas situações e dificuldades, a cooperar, a ceder e resistir (Batista & Cubo Delgado, 2009, 2011) A atividade física e desportiva exerce um âmbito de intervenção no domínio cognitivo, social e físico-motor, sendo um excelente meio de desenvolvimento motor da criança, contribuindo para uma boa educação e formação da mesma, na medida em que promove atividades saudáveis num ambiente agradável, numa promoção de bemestar físico e psicológico. O bem-estar psicológico reúne uma série de formas específicas, nomeadamente a auto-estima, componente relacionada com o autoconceito, onde a atividade física e desportiva, potencia o desenvolvimento e promoção de ambos. Segundo Nash (1970) o esquema corporal e a imagem corporal são termos usados para descrever componentes relacionadas com o corpo que estão incluídas no autoconceito. Sastre (1999), Vasconcelos et al. (2004) referem entre outros fatores a aparência física e o corpo físico como fator de bem-estar. O exercício como meio para a promoção da saúde é um princípio aceite e, de algum tempo a esta parte integra a noção de que o bem-estar psicológico está associado CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 19 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança aos índices de participação em atividades físicas por parte dos indivíduos (Biddle & Mutrie, 2001). De entre as variáveis utilizadas para avaliar o bem-estar psicológico, a auto-estima parece ser aquela que reúne maior consenso (Sonstroem, 1984, 1997; Fox, 2000). Biddle & Mutrie (2001) afirmam que esta é a variável mais importante para avaliarmos o bem-estar. Na opinião de Lucas, Diener & Suh (1996) a auto-estima está fortemente associada ao bem-estar psicológico. O bem-estar psicológico pode ser entendido em pelo menos duas dimensões: a cognitiva (satisfação) e a afectiva (felicidade). Estas duas dimensões abarcam uma série de conceitos como competência escolar, aceitação social, competência atlética, aparência física, auto-eficácia, atitude comportamental, que são constituintes na formação do auto conceito. Vasconcelos Raposo, Teixeira & Gonçalves (2004) destaca o facto de que a satisfação corporal é um aspecto que tende a ser negligenciado pelos estudiosos neste domínio da investigação científica do bem-estar psicológico. Simão (2005), que referiu a desvalorização atribuída à participação em atividade física extracurricular como fator nada benéfico para o rendimento académico antes do século XX, acabou por concluir que este tipo de participação afeta positivamente o rendimento académico e ainda que os alunos que participavam em atividades extracurriculares apresentam perceções mais elevadas nas dimensões de competência escolar e de aceitação social. Na sua revisão Samulsky (2002), refere que o exercício do tipo aeróbio tem-se mostrado um eficiente meio na obtenção do bem-estar psicológico, com efeitos positivos sobre o stress, humor e auto conceito. Não só pelas suas possíveis relações com o aproveitamento/rendimento escolar, como pelas suas potencialidades em promover a saúde e bem-estar, a sociomotricidade, mas também como fomentador da criação/manutenção de hábitos de vida saudáveis e de higiene pessoal. Esta atividade pelas suas mais-valias na formação da personalidade do indivíduo, deveria ser alvo de abordagem obrigatória CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 20 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança nos programas curriculares de educação física no sistema educativo português, à semelhança de outros países europeus onde assume um lugar de destaque a França. Dos benefícios salientados da prática de atividades físicas e desportivas, salienta-se o bem-estar psicológico e os fatores que contribuem para esse estado, onde o autoconceito assume grande importância, nomeadamente na dependência com a conceção psicossomática do próprio corpo e consequente prestação de rendimento escolar. Objetivos do estudo O presente trabalho desenvolve-se sob o tema a prática de atividade física como fator potenciador do autoconceito, da auto-estima e do rendimento escolar de alunos do primeiro ciclo do ensino básico e tem como principal objetivo: 1. Verificar a influência da prática de atividades físicas regulares no autoconceito, auto-estima e rendimento escolar de alunos de primeiro ciclo. Dados e Metodologia Nesta investigação as variáveis em estudo foram o autoconceito nas suas dimensões constituintes (competência escolar, aceitação social, competência atlética, aspeto físico e comportamento); a auto-estima e o rendimento escolar, que foram analisadas em relação às variáveis volume capital, formação dos pais, número de vezes de prática semanal atividade física formal além das classes de educação física na escola. Trabalhámos com uma amostra de 531 alunos dos concelhos de Santarém, Torres Novas, Entroncamento e Tomar (Portugal), entre 2010 e 2011, dos quais 295 (55,6%) de género masculino e 236 (44,4%) de género feminino, com uma média de 9,13 anos, variando num mínimo de 8 anos e num máximo de 10 anos. Desta amostra, 394 alunos (74%) praticavam pelo menos uma atividade física formal de carácter extracurricular, com uma experiencia entre 9 meses e 5 anos y graduações entre cinto branco e cinto verde. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 21 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança Como instrumento de recolha de dados utilizou-se a Escala de Autoconceito de Susan Harter validada para la população portuguesa (Martins, Peixoto, Mata & Monteiro, 1995), onde procedemos a uma análise descritiva e inferencial dos dados de maneira a confrontar os níveis médios de autoconceito, nas dimensões de competência escolar, aceitação social, competência atlética, aspeto físico, comportamento e autoestima global. Também se registaram os rendimentos escolares dos alunos em estudo, em matemática, língua portuguesa e estudo do meio. Concretamente, este estudo centra-se numa investigação essencialmente quantitativa de base correlacional e causal, com recurso a dados de carácter quantitativo e qualitativo, de caráter descritivo, de modo a que não interfere com a realidade, apenas se limita a analisá-la, sem aplicar estímulos na amostra em estudo. Para o tratamento dos dados foi utilizado o programa informático de análise estatística SPSS, versão 17.0. O procedimento estatístico incidiu em provas paramétricas e não paramétricas de comparação de médias, prova “t” para amostras independentes, ANOVA unifactorial, prova H de Kruskal-Wallis e prova U de Mann-Witney , Wilcoxon, R de Pearson e Prova T para amostras relacionadas, a partir das quais se procedeu ao processo de contrastibilidade das hipóteses em estudo. Resultados e Discussão Neste capítulo iremos proceder à análise dos resultados descritivos obtidos da aplicação da escala de auto conceito de Susan Harter. Iremos descrever os resultados médios obtidos e desvio padrão nas dimensões que compõem a variável dependente auto conceito, nomeadamente competência escolar, aceitação social, competência atlética, aparência física e comportamento, bem como a variáveis dependentes auto conceito e auto-estima na mesma escala e rendimento escolar em função das variáveis independentes, modalidade desportiva, domínio desportivo, contexto da modalidade desportiva, escalão etário, número de treinos semanais, total de anos de prática da modalidade e graduação. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 22 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança Referente ao domínio desportivo praticado pelas crianças que integraram o nosso estudo, observamos na figura 1 que os alunos cuja prática incide em modalidades individuais registam um valor médio de auto-estima muito idêntica aos alunos cuja prática incide em modalidades coletivas, respetivamente M=2,4396 DP=0,54 e M=2,4399 DP=0,60. Segue-se o valor de auto-estima apresentado por alunos cuja prática incide sobre uma modalidade individual juntamente com uma modalidade coletiva, onde M=2,43 DP=0,42, ligeiramente mais baixa a dos alunos que apresentam apenas a prática de educação física institucionalizada curricularmente M=2,42 DP=0,47, e finalmente os alunos cuja média de auto-estima é mais baixa centra-se nos alunos sem qualquer tipo de prática de atividade física formal, onde M=2,34 DP=0,38. Na variável auto conceito, surge-nos o valor médio mais elevado nos alunos que apresentam uma prática de uma modalidade individual com uma modalidade coletiva M=2,51 DP=0,27, seguido dos alunos cuja prática incide em modalidades individuais M=2,49 DP=0,33, alunos com prática de educação física onde M=2,48 DP=0,27, os alunos que praticam modalidades coletivas apresentam M=2,476 DP=0,4, registando o valor médio mais reduzido de auto conceito os alunos que não apresentam nenhuma prática regular de atividade física formal, onde M=2,36 DP=0,26. 2,55 2,5 2,45 2,4 2,35 2,3 2,25 Autoestima Autoconceit o Figura 1: Gráfico de médias das variáveis auto-estima e autoconceito em função da variável domínio desportivo Na variável rendimento escolar, surge-nos igualmente o valor médio mais elevado nos alunos que apresentam uma prática de uma modalidade individual com uma CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 23 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança modalidade colectiva M=85,23% DP=11,37%, seguido dos alunos cuja prática incide em modalidades individuais M=81,18% DP=11,94%, apresentando estes dois grupos valores mais elevados que a média de rendimento escolar geral M=79,04% DP=14,01%. Mais reduzidos que esta ultima foram os valores dos alunos sem prática de atividade física M=78,28% DP=15,06%, os alunos que praticam modalidades coletivas apresentam M=76,55% DP=13,4%, registando o valor médio mais reduzido os alunos com prática de educação física onde M=72,19 DP=17,05%. 90 85 80 75 70 65 Rendimento Escolar Figura 2: Gráfico de médias da variável rendimento escolar em função da variável domínio desportivo Na variável total de atividade física semanal, observamos uma tendência crescente com o aumento do número de dias de atividade física semanal, tanto na variável autoestima como na variável auto conceito. Deste modo, o grupo que pratica um total de 7 horas ou mais apresentou o nível mais elevado de auto-estima M=2,65 DP=0,73, assim como o nível elevado de auto conceito M=2,58 DP=0,57. 2,7 2,6 2,5 2,4 Autoestima 2,3 Autoconceito 2,2 2,1 Sem actividade Até 3 horas 4a6 horas 7 ou mais horas CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 24 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança Figura 3: Gráfico de médias das variáveis auto conceito e auto-estima em função da variável total de atividade física semanal Na variável rendimento escolar também foi observável uma tendência crescente no rendimento escolar dos alunos, apresentando os dois grupos que mais atividade física regular praticam, os níveis mais elevados. O valor médio mais elevado de rendimento escolar foi registado no grupo que pratica entre 4 a 6 horas semanais onde M=81,43 DP=12,74. 82 81 80 79 78 77 76 75 74 Rendimento Escolar Figura 4: Gráfico de médias da variável rendimento escolar em função da variável total de actividade física semanal Ao incidirmos a nossa observação descritiva das variáveis auto-estima, auto conceito e rendimento escolar em função da variável tipologia desportiva, verificamos que existe uma predominância de valores mais elevados nos alunos que apresentam uma prática de modalidades desportivas formais cujo contacto corporal é parte integrante do regulamento e cultura dessa mesma modalidade. Deste modo, os alunos que praticam modalidades com contacto corporal apresentaram parâmetros médios de auto-estima M=2,45 DP=0,43, auto conceito M=2,52 DP=0,25 e rendimento escolar M=81,39% DP=12,62%, face aos alunos cuja prática desportiva não apresenta contacto corporal, na auto-estima M=2,43 DP=0,57, auto conceito M=2,48 DP=0,36 e rendimento escolar M=80,95% DP=12,14%. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 25 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança 2,54 81,5 2,52 81,4 2,5 81,3 2,48 81,2 Autoestima 2,46 2,44 Autoconceit o 2,42 81,1 Rendimen to escolar 81 80,9 80,8 2,4 80,7 2,38 Sem Contacto Corporal Sem Com Contacto Contacto Corporal Corporal Com Contacto Corporal Figura 5: Gráfico de médias das variáveis autoconceito e autoestima em função da variável tipologia desportiva Figura 6: Gráfico de médias da variável rendimento escolar em função da variável tipologia desportiva Iniciando as comparações com vista a responder ao objetivo do trabalho, centramonos na análise dos grupos que apresentam uma prática de atividade física regular com base nalgum domínio desportivo face ao grupo de indivíduos sem qualquer atividade física. Observamos portanto que o grupo que apresenta valores de auto conceito mais elevado é o grupo que aglutina a prática de atividade física de uma modalidade individual e coletiva. O valor médio de auto conceito inferior foi registado pelo grupo CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 26 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança sem atividade física. Para fazermos a comparação de grupos selecionámos a prova de Kruskal Wallis, onde obtivemos valores de significância de α=0,214, sendo o valor de p>0,05, o que nos leva a rejeitar a hipótese de diferenças estatísticas. Domínio Desportivo Auto conceito Modalidade Individual Modalidade Colectiva Modalidade Individual e Colectiva Educação Física Sem Actividade N.º de alunos Média Desvio Padrão 283 2,49 0,33 56 2,48 0,39 54 2,51 0,27 114 2,48 0,27 24 2,36 0,26 Kruskal Wallis Sig. 0,214 *Sig. α<0,05 Quadro 1: Prova Kruskal Wallis do autoconceito na variável domínio desportivo Da análise descritiva dos valores médios de auto-estima em função do domínio desportivo face ao grupo sem actividade física, verificamos que este ultimo grupo regista novamente o valor inferior do quadro em análise. Os valores mais elevados são registados nos grupos de prática de uma modalidade individual e de prática de uma modalidade colectiva. Realizando a prova de Kruskal Wallis verificamos que o nível de significância de α=0,999 sendo portanto o valor de p>0,05, o que nos leva a rejeitar a hipótese de diferenças estatísticas. Domínio Desportivo Auto-estima Modalidade Individual Modalidade Colectiva Modalidade Individual e Colectiva Educação Física N.º de alunos Média Desvio Padrão 283 2,44 0,54 56 2,44 0,60 54 2,43 0,42 114 2,42 0,46 Kruskal Wallis Sig. 0,999 CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 27 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança Sem Actividade 24 2,34 0,37 *Sig. α<0,05 Quadro 2: Prova Kruskal Wallis da autoestima na variável domínio desportivo Ao observarmos os dados descritivos, verificamos que o grupo que apresenta um valor superior de rendimento escolar é o grupo que apresenta uma prática conjunta de uma modalidade individual com uma modalidade coletiva. O grupo sem atividade apresenta um valor mais elevado de rendimento escolar face ao grupo que apenas regista a prática de uma modalidade coletiva, ou mesmo apenas regista a prática de educação física. Selecionámos a prova não paramétrica de Kruskal Wallis para estabelecermos comparações entre grupos. Domínio Desportivo Rendimento Escolar Modalidade Individual Modalidade Colectiva Modalidade Individual e Colectiva Educação Física Sem Actividade N.º de alunos Média Desvio Padrão 283 81,18 11,93 56 76,55 13,4 54 85,23 11,37 114 72,19 17,04 24 78,28 15,06 Kruskal Wallis Sig. 0,000*** *Sig. α<0,05 **Sig. α<0,01 ***Sig. α<0,001 Quadro 3: Prova Kruskal Wallis do rendimento escolar na variável domínio desportivo Da aplicação da prova registamos valores de significância de α=0,00, valores estes altamente significativos uma vez que p<0,001. Os grupos que registaram diferenças entre si na variável rendimento escolar, foi o grupo de educação física comparativamente com o grupo que apresenta a prática uma modalidade individual ou uma modalidade individual e coletiva. Foram ainda registados valores de diferença nesta variável entre o grupo que apresenta a prática de uma modalidade coletiva com o grupo que apresenta a prática de uma modalidade individual e coletiva. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 28 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança Ao observarmos os valores médios de auto conceito obtidos em função do total de horas de atividade física durante a semana, verificamos que o grupo que apresenta uma prática de maior carga horária evidencia um nível mais elevado, sendo o valor inferior apresentado pelo grupo de indivíduos sem atividade. Selecionámos a prova de Kruskal Wallis para comparação de grupos, onde se obteve um nível de significância de α=0,069, sendo o valor de p>0,05, que nos leva a rejeitar a hipótese de que os alunos com mais horas de prática de atividade física regular apresentam um nível de auto conceito superior face aos alunos com menos horas de prática. Auto conceito Total de actividade física semanal Sem Actividade Até 3 horas N.º de alunos Média Desvio Padrão 24 2,34 0,28 308 2,46 0,29 4 a 6 horas 7 ou mais horas 179 2,52 0,33 20 2,58 0,57 Kruskal Wallis Sig. 0,069 *Sig. α<0,05 Quadro 4: Prova Kruskal Wallis do autoconceito na variável total de actividade física semanal Ao nível da variável auto-estima observamos a mesma tendência do quadro anterior com registo mais elevado para o grupo de maior carga horária de prática, assim como um valor inferior no grupo sem atividade física. Auto-estima Total de actividade física semanal Sem Actividade Até 3 horas N.º de alunos Média Desvio Padrão 24 2,33 0,42 308 2,41 0,49 4 a 6 horas 7 ou mais horas 179 2,44 0,52 20 2,65 0,73 Kruskal Wallis Sig. 0,827 *Sig. α<0,05 Quadro 5: Prova Kruskal Wallis do autoestima na variável total de actividade física semanal Da comparação feita através da prova de Kruskal Wallis obtivemos um nível de significância de α=0,827, logo o valor de p>0,05, o que nos leva a rejeitar a hipótese CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 29 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança de que os alunos com mais horas de prática de atividade física regular apresentam um nível de auto-estima superior face aos alunos com menos horas de prática. Observando os valores descritivos da variável rendimento escolar verificamos que o grupo que apresenta um nível médio mais elevado é o grupo que tem um volume de prática de 4 a 6 horas semanais. O grupo que apresenta o nível inferior nesta variável é o grupo sem atividade física semanal. Da aplicação da prova de Kruskal Wallis obtivemos valores de significância de α=0,055. Não rejeitamos a hipótese de que os alunos com mais horas de prática de atividade física regular apresentam um nível de rendimento escolar superior face aos alunos com menos horas de prática, uma vez que apresenta um sentido evolutivo dos parâmetros descritivos suportado também no nível de significância estatística. Rendimento Escolar Total de actividade física semanal Sem Actividade Até 3 horas N.º de alunos Média Desvio Padrão 24 77 17,37 308 77,71 14,44 4 a 6 horas 7 ou mais horas 179 81,43 12,74 20 80,25 12,97 Kruskal Wallis Sig. 0,055 *Sig. α<0,05 Quadro 6: Prova Kruskal Wallis do rendimento escolar na variável total de atividade física semanal Nesta hipótese confrontamos os valores médios de auto conceito apresentados pelo grupo que pratica modalidades individuais face ao grupo que pratica modalidades coletivas. Os valores médios são bastante similares, e perante a aplicação da prova selecionada U Mann Whitney, obtivemos um nível de significância de α=0,515, onde para valores p>0,05 nos leva a rejeitar a hipótese de que os alunos praticantes de modalidades individuais apresentam um nível de auto conceito superior comparativamente a alunos de modalidades coletivas. Domínio Desportivo Auto conceito Modalidade Individual Modalidade Colectiva N.º de alunos Média Desvio Padrão 283 2,49 0,33 56 2,48 0,40 U Mann Whitney Sig. 0,515 CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 30 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança *Sig. α<0,05 Quadro 7: Prova U Mann-Whitney do autoconceito na variável domínio desportivo Ao centrarmo-nos na variável autoestima em função dos mesmos grupos de análise encontramos valores idênticos entre estes. Perante a aplicação da mesma prova não paramétrica anteriormente referida, obtivemos um valor de significância de α=0,9, o que nos leva a rejeitar a hipótese de que os alunos praticantes de modalidades individuais apresentam um nível de auto-estima superior comparativamente a alunos de modalidades coletivas. Domínio Desportivo Auto-estima Modalidade Individual Modalidade Colectiva N.º de alunos Média Desvio Padrão 283 2,43 0,54 56 2,43 0,60 U Mann Whitney Sig. 0,900 *Sig. α<0,05 Quadro 8: Prova U Mann-Whitney do autoestima na variável domínio desportivo Da observação dos valores descritivos apresentados pelos mesmos grupos de análise, observamos um valor mais elevado a favor do grupo cuja prática de atividade física incide em modalidades individuais. Da aplicação da prova U Mann Whitney para comparação de médias obtivemos um valor de significância estatística de α=0,017, inferior portanto para valores de p<0,05, não rejeitando a hipótese de que os alunos praticantes de modalidades individuais apresentam um nível de rendimento escolar superior comparativamente a alunos de modalidades coletivas. Domínio Desportivo Rendimento Escolar Modalidade Individual Modalidade Coletiva N.º de alunos Média Desvio Padrão 283 81,19 11,94 56 76,55 13,40 U Mann Whitney Sig. 0,017* *Sig. α<0,05 Quadro 9: Prova U Mann-Whitney do rendimento escolar na variável domínio desportivo CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 31 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança Analisando os valores descritivos apresentados pelos grupos da tipologia desportiva, modalidade sem contacto corporal e modalidade com contacto corporal, verificamos um nível médio de auto conceito mais elevado a favor deste último grupo. Selecionámos a prova não paramétrica U Mann Whitney para comparação de médias onde registámos valores de significância estatística para valores de p<0,05 onde α=0,012, não rejeitando portanto a hipótese de que os alunos praticantes de modalidades com contacto corporal apresentam um nível de auto conceito mais elevado comparativamente a alunos de modalidades sem contacto corporal. Tipologia Desportiva Auto conceito Modalidade Sem Contacto Corporal Modalidade Com Contacto Corporal N.º de alunos Média Desvio Padrão 283 2,48 0,36 U Mann Whitney Sig. 0,012* 110 2,52 0,25 *Sig. α<0,05 Quadro 10: Prova U Mann-Whitney do auto conceito na variável tipologia desportiva A mesma análise feita aos grupos referidos mas com incidência na variável autoestima, revelam valores descritivos próximos, embora mais elevados para o grupo que pratica atividade física com incidência em modalidades com contacto corporal. A aplicação da mesma prova não paramétrica para comparação de médias revelou um valor de p>0,05, onde α=0,305, o que nos leva a rejeitar a hipótese de que os alunos praticantes de modalidades com contacto corporal apresentam um nível de autoestima mais elevado comparativamente a alunos de modalidades sem contacto corporal. Tipologia Desportiva Auto-estima Modalidade Sem Contacto Corporal Modalidade Com N.º de alunos Média Desvio Padrão 283 2,43 0,57 U Mann Whitney Sig. 0,305 110 2,45 0,43 CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 32 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança Contacto Corporal *Sig. α<0,05 Quadro 11: Prova U Mann-Whitney da autoestima na variável tipologia desportiva Ao nível da variável rendimento escolar os valores descritivos obtidos são igualmente próximos, registando-se um nível mais elevado novamente a favor do grupo cuja modalidade incide numa tipologia de contacto corporal. A aplicação da mesma prova de contraste de médias revelou um nível de significância para valores de p>0,05, onde α=0,609 o que nos leva a rejeitar a hipótese de que os alunos praticantes de modalidades com contacto corporal apresentam um nível de rendimento escolar mais elevado comparativamente a alunos de modalidades sem contacto corporal. Tipologia Desportiva Rendimento Escolar Modalidade Sem Contacto Corporal Modalidade Com Contacto Corporal N.º de alunos Média Desvio Padrão 283 80,95 12,14 U Mann Whitney Sig. 0,609 110 81,39 12,62 *Sig. α<0,05 Quadro 12: Prova U Mann-Whitney do rendimento escolar na variável tipologia desportiva Respeitante ao objetivo de estudo, onde se procurou verificar a influência da prática de atividades físicas regulares no auto conceito, auto-estima e rendimento escolar de alunos de primeiro ciclo, este foi atingido tendo-se apurado fatores significativos ou tendências de observação face aos domínios contrastados. Deste modo, a prática de atividade física regular não se revelou um fator determinantemente significativo no nível de auto conceito dos alunos. Aparentemente não é pelo facto de os alunos praticarem atividade física regular que apresentam um nível de auto conceito significativamente superior aos alunos sem qualquer atividade física, ainda que a variável auto conceito pareça assumir uma evolução em sentido positivo com o aumento do número de sessões semanais de atividade física, sendo o grupo que apresenta registos de prática de sete sessões ou mais por semana que CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 33 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança apresenta valores de auto conceito mais elevados. Por sua vez, alunos que não registam nenhuma sessão de prática de atividade física revelam níveis de auto conceito mais reduzidos. A prática de modalidades individuais não se revelou um fator que determine um nível de auto conceito significativamente superior nos alunos face à prática de modalidades coletivas. Os alunos que conjugam a prática de uma modalidade individual com uma modalidade coletiva apresentam níveis de auto conceito mais elevados. A prática de uma modalidade individual parece favorecer a evolução do auto conceito, já que o grupo de alunos que confere esse tipo de prática apresenta igualmente níveis elevados na variável analisada. Deste modo, a prática de uma atividade física curricular ou extra curricular de uma forma periódica regular revelou-se aparentemente bastante importante. Por sua vez, a prática de modalidades coletivas, ainda que eleve os níveis de auto conceito, sugere que esta prática não associada a modalidades individuais tende a revelar níveis de auto conceito mais modestos, curiosamente inferiores aos alunos que apenas praticam a educação física curricular. Observou-se que a prática de modalidades com contacto corporal por parte dos alunos promove um aumento significativo do nível de auto conceito comparativamente a alunos que praticam modalidades sem contacto corporal. Na consecução do mesmo objectivo, a prática de atividade física não se revela como um fator de relevo significativo na auto-estima dos alunos praticantes face aos não praticantes. Aparentemente a prática de pelo menos uma modalidade desportiva eleva os níveis de auto-estima, uma vez que os alunos que apenas apresentam a prática de educação física curricular tendem a revelar níveis inferiores, continuando essa tendência para os alunos que não apresentam qualquer tipo de prática de atividade física regular. Ainda que com valores mais elevados, os alunos com maior número de horas semanais de prática de atividade física regular não apresentam um nível de autoCIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 34 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança estima significativamente superior face a alunos com menos horas ou sem o registo de prática de atividade física regular semanal. A prática de modalidades individuais não se revelou um fator que determine um nível de auto-estima significativamente superior nos alunos face à prática de modalidades coletivas. Ainda que os resultados descritivos sejam abonatórios da prática de modalidades com contacto corporal na evolução do nível de auto-estima, a prática deste tipo de modalidades por parte dos alunos não promove um aumento significativo do nível de auto-estima comparativamente a alunos que praticam modalidades sem contacto corporal. Face à variável rendimento escolar, foram observadas tendências e resultados abonatórios nesta variável. A prática de atividades físicas regulares não se revelou um fator que modele os níveis de rendimento escolar, dado que o grupo sem a prática de atividade física regular não se revelou significativamente inferior aos demais grupos. Aparentemente os resultados revelaram diferenças significativas favoráveis a alunos que praticam uma modalidade individual e/ou conjugam a prática de uma modalidade coletiva com uma modalidade individual face a alunos que apresentam apenas a prática de educação física curricular, assim como a prática de uma modalidade individual e coletiva revelou valores significativos favoráveis face a alunos que praticam apenas modalidades coletivas. Esta tendência igualmente observada ao nível do auto conceito, sugere que a prática de pelo menos uma modalidade individual surge como potenciador do rendimento escolar. Os alunos com maior número de horas semanais de prática de atividade física regular revelam um nível de rendimento escolar significativamente superior face a alunos com menos horas ou sem o registo de prática de atividade física regular semanal. A prática de modalidades individuais promove um rendimento escolar significativamente superior dos alunos face à prática de modalidades coletivas, não se revelando a tipologia característica da modalidade desportiva praticada pelos alunos um fator de benefício do rendimento escolar, ainda que, tal como a auto-estima CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 35 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança e auto conceito, também o rendimento escolar sai favorecido nos alunos que praticam modalidades com contacto corporal. Bibliografia Baptista, C. (2003). Judo da escola à competição (3ª ed.). Rio de Janeiro: Sprint. Batista, P. (1995). Satisfação com a imagem corporal e auto-estima – Estudo comparativo de adolescentes envolvidas em diferentes níveis de actividade física. Dissertação de Doutoramento não publicada, FCDEF – Universidade do Porto, Portugal. 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Assim, começo por fazer uma breve revisão histórica sobre a vida de Joseph Pilates e origem do método que desenvolveu, passando depois a descrever os benefícios deste tipo de atividade física. Apresento uma definição e breve introdução ao trabalho de flexibilidade e por fim, descrevo o método Pilates Tradicional tal como é praticado e ensinado na escola Nuno Gusmão. 1. História do Pilates Joseph Hubertus Pilates nasceu no ano de 1883, em Mönchengladbach, uma pequena cidade perto de Dusseldorf, Alemanha.Era uma criança pequena e doente, que sofria de asma, raquitismo e febre reumática e dedicou a sua vida a melhorar a sua força física. Além de esquiar frequentemente começou a estudar culturismo, yoga, artes marciais e ginástica. Com 14 anos tinha uma condição física que lhe permitia posar como CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 40 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança modelo de anatomia. Pilates desenvolveu a crença de que o estilo de vida moderno, más posturas, e respiração ineficiente eram os principais responsáveis pela falta de saúde. Assim, desenvolveu uma série de exercícios e técnicas de treino, inventou e e montou todo o equipamento, especificações e afinações necessárias para poder ensinar o seu método convenientemente (San Miguel, 2012). Em 1912, Pilates mudou-se para a Inglaterra, onde ganhou a vida como pugilista profissional, artista de circo e instrutor de defesa pessoal de detectives ingleses. Dois anos depois começava a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e em conjunto com outros alemães ficaram presos durante um ano no campo de Concentração de Lancaster, e depois na Ilha de Man. Pilates tornou-se enfermeiro e desenvolveu uma série de exercícios com a finalidade de se manter saudável e recuperar pessoas incapacitadas e enfermas por conta da guerra. Utilizou camas e molas para construir os aparelhos, que hoje são encontrados nos estúdios de Pilates. Ficou credibilizado quando nenhum dos seus internados sucumbiu devido á epidemia que matou milhares de pessoas (Gallagher & Kryzanowska, 1999). Após a guerra, continuou o seu trabalho em Hamburg, onde tinha iniciado os treinos com a força policial da cidade. Em 1926, desapontado com as condições politicas e sociais do seu país, Pilates emigrou para os Estados Unidos da América e no navio conheceu a sua futura mulher, a Clara (San Miguel, 2012). Depois de instalados, fundaram um estúdio em Nova Iorque, que hoje ainda funciona. Pilates e o seu método, a Contrologia, rapidamente ganharam seguidores no mundo da música. Bailarinos conhecidos como Martha Graham e George Balanchine rapidamente se tornaram seus devotos e enviaram os seus alunos. Posteriormente, mais atletas e artistas treinaram segundo o seu método (Gallagher & Kryzanowska, 1999). O fundador da prática faleceu aos 87 anos, em 1967. Hoje os seus métodos e exercícios são usados em todo o mundo por companhias de dança, grupos de teatro, estudantes de cursos de representação, equipas de desporto a nível profissional, clientes de spa, e entusiastas do fitness em health clubs e ginásios. Os exercícios CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 41 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança tem-se tornado cada vez mais populares junto do público em geral (Gallagher & Kryzanowska, 1999). 2. Benefícios do método Pilates Segundo Joseli Franceschet Comunello em Benefícios do Método Pilates e sua aplicação na reabilitação, a literatura aponta como vantagens do método Pilates: estimular a circulação, melhorar o condicionamento físico, a flexibilidade e o alinhamento postural. Pode melhorar os níveis de consciência corporal e a coordenação motora. Tais benefícios ajudariam a prevenir lesões e proporcionar um alívio de dores crónicas ( www.institutosalus.com). Busca-se promover o alongamento ou relaxamento de músculos encurtados ou tensionados demasiadamente e o fortalecimento ou aumento do tónus daqueles que estão sobre-alongados ou enfraquecidos. Portanto, diminuem-se os desequilíbrios musculares que ocorrem entre agonistas e antagonistas e são responsáveis por certos desvios posturais e problemas ortopédicos e reumatológicos. Por se tratar de uma actividade que não impõe desgaste articular e cujo número de repetições de cada exercício é reduzido, promove-se a prevenção e/ou tratamento de certas patologias, especialmente as ocupacionais (www.institutosalus.com). Segundo Joseli Franceschet Comunello em Benefícios do Método Pilates e sua aplicação na reabilitação a técnica Pilates apresenta muitas variações de exercícios e pode ser realizada por pessoas que buscam alguma actividade física, por indivíduos que apresentam alguma patologia em que a reabilitação é necessária, como desordens neurológicas, dores crónicas, problemas ortopédicos e distúrbios da coluna vertebral ( www.institutosalus.com). Muitos dos pequenos movimentos terapêuticos desenvolvidos para ajudar pessoas que se recuperam de lesões podem ser intensificados para desafiar atletas experientes, a fim de melhorar sua performance (www.institutosalus.com). Assim, torna-se indispensável o conhecimento da técnica e da patologia em questão (www.institutosalus.com). A flexibilidade é a amplitude de movimento disponível numa CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 42 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança articulação ou grupo de articulações www.institutosalus.com). É a capacidade de alongamento das estruturas que compõem os tecidos moles (músculos, tendões, tecido conjuntivo) através da amplitude de movimento articular disponível. O músculo é o maior contribuinte à amplitude de movimento das articulações (www.institutosalus.com). Segundo Sacco et al. (2005), em pessoas com patologias, a amplitude articular pode ser agravada por processos inflamatórios, redução da quantidade de líquido sinovial, presença de corpos estranhos na articulação e lesões cartilaginosas. Dessa forma, pode haver movimentos compensatórios de outras articulações, sendo que a limitação pode prejudicar o desempenho desportivo, laboral ou de actividades da vida diária (www.institutosalus.com). A falta de flexibilidade é um factor limitante ao desempenho desportivo e aumenta as probabilidades de lesões tais como as distensões musculares, porém, a flexibilidade excessiva pode provocar instabilidade articular gerando entorses articulares, osteoartrite e dores articulares (www.institutosalus.com). A promoção de maiores níveis de flexibilidade ocorre pela ocorrência sistematizada de estímulos denominados alongamentos, que são solicitações de aumento da extensibilidade do músculo e de outras estruturas, mantidas por um determinado tempo (www.institutosalus.com). O alongamento é categorizado baseado na forma como o movimento é executado, estática ou dinamicamente, sendo o alongamento estático simples o meio mais popular para aumentar flexibilidade. O alongamento também é categorizado baseado na forma como o movimento é alcançado, de forma activa ou passiva, ou se o movimento é alcançado por tensão de músculo agonista ou por inércia, gravidade, ou ambos (www.institutosalus.com). Vários estudos discutem as diferentes formas de alongamento, comparando sua eficácia. No método Pilates elas são realizadas concomitantemente (activo, passivo, estático, dinâmico) e, provavelmente, seus efeitos se somam. O alongamento activo aumenta a flexibilidade dos músculos encurtados enquanto, concomitantemente, melhora a função dos CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 43 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança músculos antagonistas, resultando em trauma de tecido diminuído (www.institutosalus.com). 3. Flexibilidade: Refere-se à amplitude de movimento sem dor através do qual uma articulação se move normalmente. A maioria dos desportos é composta por movimentos poliarticulares, como tal é importante que a função musculoesquelética não seja comprometida por falta de flexibilidade ( ACSM, 2011). Os alongamentos são o método mais utilizado para aumentar a amplitude de movimento de uma articulação. A recomendação da ACSM, para desenvolver e manter a flexibilidade em adultos é de inclusão de exercícios de alongamento dando enfase aos maiores grupos musculares pelo menos 2-3 vezes por semana. Tal como a força muscular, composição corporal, condição cardiorrespiratória a flexibilidade é classificada como uma dimensão do Fitness directamente relacionada com a saúde. A flexibilidade contribui para uma melhoria da qualidade de vida não só dos atletas como tambem da população em geral (ASCM,2011) Sgundo Hamill e Knutzen, vários factores determinam a flexibilidade: A estrutura da articulação, saúde do tecido á volta da articulação, comprimento dos múculos antagonistas, e temperatura dos tecidos que são esticados e as propriedades viscoelásticas dos tecidos á volta da articulação. A flexibilidade é largamente influenciada por quão bem estes factores permitem o movimento. Os músculos são responsáveis pelos movimentos dos ossos, no entanto músculos encurtados podem limitar os movimentos e limitar a flexibilidade. A própria arquitectura dos ossos pode limitar o movimento da articulação(ASCM,2011). Há ainda outros factores passíveis de limitar a flexibilidade: Idade- Aos 70 anos, já perdemos aproximadamente 25-30% da flexibilidade. A diminuição depende da articulação em questão. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 44 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança Sexo- Diversos estudos mostram que as mulheres são mais flexíveis devido a um padrão diferente de arquitectura óssea, morfologia do tecido conjuntivo e diferenças hormonais. Historial desportivo- Estudos mostram que um indivíduo fisicamente activo deverá ter uma amplitude de movimento superior a um sedentário (ACSM, 2011). Cornu et al. demonstrou que jogadores de voleibol apresentam maior flexibilidade na extensão do punho que indivíduos sedentários. Num estudo de Voorips et al em mulheres idosas ficou demonstrado que as mulheres activas tinham maior flexilidade na coluna e anca que as sedentárias. Para avaliação da flexibilidade são usados essencialmente dois métodos (Moras 1992): - Directos: Recorrem a medidas angulares, Goniometria ( Goniómetro) e Flexometria (Flexómetro). - Indirectos: Avaliam amplitudes de movimentos realizados por mais que uma articulação. Medem a distância que um segmento corporal percorre de um ponto de referência anatómico para outro ou para um objecto externo. 4. Escola Nuno Gusmão Método tradicional A Contrologia é a completa coordenação de corpo, mente e espírito. Através desta adquire-se primeiro o completo controlo do corpo e depois da repetição correcta dos seus exercícios, gradual e progressivamente, adquire-se o ritmo e coordenação naturais associados a todas as actividades rotineiras e automáticas. A boa postura pode ser atingida quando há controlo completo sobre o corpo. Os exercícios da Contrologia produzem uma estrutura harmoniosa a nível de bem-estar físico o que se reflecte numa união equilibrada de corpo, mente e espírito. Com corpo, mente e espírito a funcionar perfeitamente como um todo coordenado, o que mais se poderia esperar senão uma pessoa activa, alerta, disciplinada? Ainda mais, um corpo CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 45 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança assim, livre de tensão nervosa e cansaço acumulado é como um abrigo natural providenciado pela natureza para albergar uma mente equilibrada, plenamente capaz de enfrentar com sucesso os problemas da vida moderna ( Pilates, 1945). Tem de cumprir as instruções que acompanham os exercícios e manter sempre a mente concentrada no objectivo dos exercícios enquanto os executa. Os benefícios da Contrologia dependem unicamente da execução dos exercícios exactamente de acordo com as instrucções (PILATES, 1945). Segundo Gusmão (2012), o Método Pilates é uma forma de fazer exercício físico que se baseia em seis princípios: 1- Centralização, o principal objectivo é trazer a consciência para o centro de força do corpo, também chamado de core, power house, centro de energia ou de poder, como é denominado em algumas religiões. Este é o foco do trabalho em Pilates, pois é daqui que tudo parte e é no centro que a força se gera. 2- Concentração: Pilates é movimento consciente. Temos de saber onde está cada parte do corpo e o que está a fazer cada uma dessas partes. Não fazer o exercício de forma automática mas de forma intencional. Pode-se dizer que Pilates é 100% corpo, 100% mente, sem o contributo de qualquer um dos dois não é possível trabalhar de acordo com o método. 3- Controlo, além disto é necessário que haja um activar e/ou desactivar consciente de cada parte do corpo, não cair em “modo automático”. È necessário não só saber onde está cada parte do corpo, mas também comandar cada uma dessas partes, para que façam exactamente o que nós queremos. Assim o movimento é cada vez mais específico, não descuramos nenhuma parte do corpo, por insignificante que pareça no exercício, pois pode e irá fazer toda a diferença. 4- A Precisão: Cada movimento deve ter um ângulo/ amplitude, quantidade de força e respiração específica. Haverá sempre alguma coisa a melhorar e quanto mais se evoluir, mais precisão será necessária e o trabalho será sempre um desafio nesse sentido. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 46 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança 5- A Respiração deve ser natural, ou seja, tal que possibilite realizar todos os movimentos sem entrar em fadiga por descoordenação da respiração- esta é uma coadjuvante da estabilização, logo pode ser manipulada em função do objectivo. Uma grande parte dos problemas a nível postural e/ou desequilíbrios musculares tem origem na respiração. Um padrão respiratório corrrecto trará grandes benefícios. 6- A aplicação dos princípios anteriores e o conhecimento real e profundo do método levam á Fluidez (ligação com o conceito da Psicologia Flow, que significa consciência sem perturbação, fazer o movimento perfeito com ausência de esforço, sem percepção do passar do tempo) no movimento, ou seja a própria transição de um movimento para o outro é movimento também. Em vez de pensar numa sequência de exercícios fará mais sentido pensar num só exercício. A contrologia é um exercício físico e mental, isto é, treino consciente. Objectivo do estudo A finalidade deste estudo foi testar se a aplicação de uma sequência de Pilates a um adulto saudável produziu alterações posturais e de movimento. Houve interesse por perceber em que medida os treinos (e as adaptações/benefícios resultantes destes) alteraram a vida da Clara. Metodologia Começa-se com uma descrição daquilo em que consiste um estudo de caso e das várias possibilidades dentro desta opção metodológica, passando para a descrição dos testes de avaliação utilizados, passando para o plano de treino por fim. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 47 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança 1. Opção metodológica: O estudo de caso “ De acordo com diferentes autores, o estudo de caso tem origem na pesquisa médica e na pesquisa psicológica, com a análise de modo detalhado de um caso individual que explica a dinâmica e a patologia de uma doença dada. Com este procedimento se supõe que se pode adquirir conhecimento do fenómeno estudado a partir da exploração intensa de um único caso. Além das áreas médica e psicológica, tornouse uma das principais modalidades de pesquisa qualitativa em ciências humanas e sociais (Ventura, 2007). Já para Chizzotti, citado por Ventura (2007), o estudo de caso como modalidade de pesquisa origina-se nos estudos antropológicos de Malinowski e na Escola de Chicago e, posteriormente, teve seu uso ampliado para o estudo de eventos, processos, organizações, grupos, comunidades etc. Segundo Gil, a sua origem é bastante remota e se relaciona com o método introduzido por C.C.Laugdell no ensino jurídico nos Estados Unidos. A sua difusão, entretanto, está ligada à prática psicoterapêutica caracterizada pela reconstrução da história do indivíduo, bem como ao trabalho dos assistentes sociais junto a indivíduos, grupos e comunidades. Atualmente é adotado na investigação de fenómenos das mais diversas áreas do conhecimento, podendo ser visto como caso clínico, metodologia didática ou modalidade de pesquisa (p. 384). O estudo de caso como modalidade de pesquisa pode ser entendido como uma metodologia ou como a escolha de um objecto de estudo definido pelo interesse em casos individuais. Visa à investigação de um caso específico, bem delimitado, contextualizado em tempo e lugar para que se possa realizar uma busca circunstanciada de informações. Segundo Ventura (2007): Conforme os objectivos da investigação, o estudo de caso pode ser classificado como intrínseco ou particular, quando CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 48 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança procura compreender melhor um caso particular, nos seus aspectos intrínsecos; instrumental, ao contrário, quando se examina um caso para se compreender melhor outra questão, algo mais amplo, orientar estudos ou ser instrumento para pesquisas posteriores, e coletivo, quando estende o estudo a outros casos instrumentais conexos com o objectivo de ampliar a compreensão ou a teorização sobre um conjunto ainda maior de casos. Os pesquisadores devem procurar, a partir dessa categorização,tanto o que é comum como o que é particular em cada caso e o resultado final provavelmente mostrará alguma coisa original em consequência de um ou mais dos seguintes aspectos: a natureza e o histórico do caso; o contexto em que se insere; outros casos pelos quais é reconhecido e os informantes pelos quais pode ser conhecido. Para os estudos de caso naturalísticos ou que priorizam a abordagem qualitativa da pesquisa, as características consideradas fundamentais são a interpretação dos dados feita no contexto; a busca constante de novas respostas e indagações; a retratação completa e profunda da realidade; o uso de uma variedade de fontes de informação; a possibilidade de generalizações naturalísticas e a revelação dos diferentes pontos de vista sobre o objeto de estudo. Estas classificações não são absolutas e existem casos que se podem incluir em mais que uma categoria. Harrison White categoriza os casos das Ciências Sociais de acordo com três objectivos: Identidade, Explicação e Controlo. Uma forma comum de casos usados para ensino e consulta, resultam do estudo de caso instrumental. Podese ainda considerar uma categoria á parte para Biografias. Documentários CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 49 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança Televisivos, muitos classificáveis de estudo de caso tem os seus próprios métodos. A busca da generalização entra em conflito com a busca da individualização, ou seja, aquilo que deve ser dito acerca de um caso em particular é muito diferente do que deve ser dito acerca de todos os casos. Com a sua história única o caso é uma entidade complexa operando num número de contextos consideráveis ( físico, económico, ético, etc). No que respeita à selecção do caso, fará sentido escolher aquele caso com o qual podemos aprender mais, seja porque é o mais acessível ou até aquele com que podemos passar mais tempo. Faz mais sentido aprender muito com um caso atípico do que pouco com um típico (Stake,2000) 2. Desenho do estudo 1. Participante Neste estudo participou a Clara, que foi escolhida pelas seguintes razões: i) É uma pessoa que já treina habitualmente; ii) Já treinou Pilates no passado; iii) Tem necessidades específicas no seu corpo que vão de encontro ao trabalho desenvolvido em Pilates; iv) Tinha disponibilidade para se encaixar no meu horário, pois como trabalho por vezes torna-se complicado arranjar um compromisso. 2.Instrumentos de recolha de dados 2.1- Testes utilizados para a avaliação: 2.1. Teste de flexibilidade estática simples –Sit-and-reach: Este teste faz parte dos Métodos Indirectos- estes avaliam amplitudes de movimento realizados por mais do que uma articulação. Medem a distância (medida linear) que um segmento corporal percorrede um ponto de referência anatómico para outro, ou para um objecto externo (Moras,1992). CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 50 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança Os valores obtidos neste tipo de avaliação são influenciados não só pela mobilidade articular mas também pelas caracteristicas morfológicas do sujeito ( Rui Garganta, 2003). Descrição: A posição inicial deve ser sentado com os pés apoiados na caixa. As pernas em extensão. Fazer uma flexão do tronco á frente, sem fazer insistências e com as mãos paralelas manter 2 segundos. Há três factores passíveis de influenciar o resultado: 1- A relação comprimento do tronco e dos membros inferiores; 2- O resultado traduz a mobilidade/flexibilidade da cadeia posterior, não individualizando articulações; 3- O resultado também é influenciado pela força dos flexores da coxa e anca. 2.2. Do FMS, o Active Straight Leg Raise. Este teste tem como objectivo avaliar a capacidade de dissociar os M.I. da bacia e tronco. Avalia a flexibilidade dos posteriores da coxa e gémeos enquanto se mantém uma pélvis estávele extensão activa da perna oposta. Descrição: O indivíduo assume uma posição deitado em decúbito dorsal, com os braços em posição antómica descritiva e cabeça apoiada no chão. Apoia-se uma tábua debaixo dos joelhos. A pessoa que conduz o teste identifica o ponto médio entre crista ilíaca superior anterior e o ponto médio da patela. Uma barra é posicionada nesta posição perpendicular ao chão. O indivíduo recebe instrucção para elevar a perna a testar com CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 51 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança o pé em dorsiflexão e joelho esticado. Durante o teste o joelho oposto deve permanecer em contacto com a tábua, os dedos do pé apontados para cima e a cabeça no chão. O teste deve ser realizado 3 vezes para cada lado. Critérios: A anca flectida identifica a perna a ser testada; Assegurar que a perna que fica no chão não faz rotação externa; Se o tornozelo fica mesmo alinhado com a barra pontuar baixo. A Pontuação: 0- Se há dor em qualquer parte do teste; 1-Tornozelo fica entre o ponto médio da patela e o tornozelo; 2- Tornozelo entre o ponto médio da coxa e o ponto médio da patela; 3- Tornozelo entre o ponto médio da coxa e anca. . Do FMS também, o Shoulder Mobility. Este teste tem como objectivo avaliar amplitude de movimento simultâneo dos ombros, combinando rotação interna com adução e extensão e rotação externa com abdução e flexão. Também requer mobiçiadde escapular e extensão da coluna dorsal. Descrição: A pessoa que ministra o teste mede a distância que vai do punho a ponta do terceiro dedo. O indivíduo começa de pé com os pés juntos e fica nesta posição durante o teste. Este recebe instrução para cerrar os punhos com os polegares dentro das mãos. Depois pede-se para que assuma uma posição o máximo aduzida, em extensão e rotação interna com um ombro e uma posição o máximo abduzida, flectida e em rotação axterna de outro. Durante o teste as mãos devem ficar fechadas e colocadas nas costas ocm um movimento suave. Mede-se a distância entre as duas mãos nas CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 52 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança duas proeminências ósseas mais próximas. Deve-se realizar o teste três vezes para os dois lados. Critérios: O ombro em flexão identifica o lado a ser testado; Se a distância entre as mãos for exactamente igual á distância netre os dois pontos, deve-se pontuar para baixo; As mãos não se podem ajeitar nas costas para ir mais longe. A Pontuação: 0- Se há dor em qualquer parte do teste; 1- Punhos ficam a mais distância que uma mão e meia; 2- Punhos ficam á distânia de menos de uma mão e meia; 3- Punhos ficam á distância de menos de uma mão. . 3. Variável independente: Plano de Treino De acordo com a escola de Pilates Nuno Gusmão foi aplicado neste estudo o Método Tradicional. Reformer: Footwork- Toes, arches, heels, tendon stretch; Hundred; Rowing Preparation- Into the shoulders, Chest expantion; Into the sternum; Frogs; Diamong Shape; Up and Down; Long Box- Flying eagle; Pulling Straps I; Short Box- Round ,Flat , side-to-side, Spine Twist, Tree; Elephant; Stomach Massage- Round, Hands back, Reaching up. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 53 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança Knee stretch- Reverse, Round, Arched, Knees of; Running; Pelvic Lift. 2.2. Entrevista Na metodologia qualitativa pode e deverá recorrer-se a variadas estratégias como as observações, as entrevistas, os documentos e os artefactos (Bogdan & Biklen, 1994). Para realizar este estudo, recorri à entrevista e também tive em consideração alguns factos observados durante os treinos, os comportamentos, os quais seriam reveladores de sentimentos e sensações (por exemplo, ansiedade). Aqui também se trabalha com dados quantitativos que foram obtidos através das metodologias de avaliação já descritas 2.3.Procedimentos de recolha e análise dos dados A recolha de dados, por si só, não é suficiente para alcançar as conclusões de um estudo. Os dados são o material bruto sobre o qual o investigador deve realizar as operações que o levam a estruturar as informações de uma forma coerente e significativa. Assim, a análise de dados consiste nas manipulações, transformações, operações, reflexões e comprovações que se realizam sobre os dados a fim de extrair o significado relevante para o estudo (Gómez et al., 1999). Neste seguimento de ideias, não existem fórmulas pré-estabelecidas, tendo o investigador liberdade para seguir as suas próprias pautas de trabalho. 2.4. Procedimentos de apresentação dos resultados Os resultados de um estudo deverão avançar uma explicação, compreensão e conhecimento da realidade, para desta forma contribuir para uma explicação teórica ou necessidade de mais estudos acerca da problemática (Gómez et al., 1999). Este tipo de estudo apresenta um carácter crítico (permite confirmar, modificar ou ampliar o conhecimento acerca do objecto em estudo) e ao mesmo tempo único (cada CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 54 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança participante tem um carácter único, irrepetível e peculiar), o que considerei pertinente para levar a cabo o estudo proposto (Gómez et al.,1999). 3. Confidencialidade Para garantir o anonimato por parte da participante, garanti algumas condições que impõem ética e rigor. De acordo com Gómez et al. (1999), delineei e segui alguns passos importantes para manter a confidencialidade da participante, assim como a sua confiança em mim e no meu trabalho: - Expliquei, desde o início, qual o objectivo do estudo; - Coloquei a participante à vontade para não participar no estudo; - Expliquei que poderia desistir em qualquer fase; - Expliquei-lhe que poderia não responder às questões com as quais não se sentisse à vontade; - Em momento nenhum do estudo é referido qualquer dado que possa levar à identificação dos participantes; - No sentido de não dar a conhecer a identidade da participante não é referido o seu nome, sendo o mesmo substituído pelo nome da mulher de Joseph Pilates. - Nas fotografias, a cara da participante foi tapada para não dar a conhecer a sua identidade. 4. Critérios de confiança CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 55 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança Sendo a investigação qualitativa ainda sujeita a questões relacionadas com o rigor e a credibilidade, torna-se necessário estabelecer critérios de confiança que assegurem a credibilidade, transferibilidade, confirmabilidade e dependabilidade(Lincoln & Guba, 1985, citados por Martins, 2006). Conclusões Houve uma mudança perfeitamente visível no corpo da Clara desde a avaliação inicial até agora. Não tendo havido outra influência externa, pode-se concluir que a reorganização postural e o aumento da flexibilidade e mobilidade verificados nas avaliações se deveram ao Pilates. Nos questionários a Clara refere maior força de centro, melhor coordenação, mais consciência corporal, alívio de tensões, mais ânimo, mais energia. As alterações físicas da Clara, bem como a sensação de sucesso ao conseguir agora realizar, com relativa facilidade, tarefas que antes pareciam inatingíveis produziram alterações na sua maneira de estar, na sua confiança e atitude. A promessa de que o Método Pilates Tradicional dá uma maior consciência corporal e produz alterações significativas na postura pode-se considerar verificada. Será que com outros métodos de exercício poderia obter os mesmo resultados no mesmo período de tempo? O Método Pilates, para além dos aparelhos tem uma sequência de exercícios feita no solo sem recurso a qualquer máquina. Esta é uma forma mais fácil e económica de implementar o método. Será que se conseguiriam obter os mesmos resultados no mesmo período de tempo? CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 56 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança Relação entre aptidão cardiovascular e performance académica quanto ao género. Um estudo longitudinal em crianças de uma escola pública em Braga. Rita Monteiro1 Beatriz Pereira1,2, Rute Santos1,2 Instituto de Educação, Universidade do Minho – Braga, Portugal e 2Centro de Investigação em Estudos da Criança (CIEC), Universidade do Minho - Braga, Portugal Resumo O processo de desenvolvimento motor em todos os indivíduos, nomeadamente nas crianças adolescentes, é influenciado por todo o tipo de fatores interiores e exteriores expostos ao longo de todo o quotidiano. A atividade física aliada a todos os benefícios de uma boa aptidão cardiovascular resulta num sucesso académico na maioria das situações. Promover o sucesso nas áreas – educação física e sucesso escolar -, não só fará com que existam indivíduos instruídos assim como “construídos” de forma saudável. Este estudo possui como principal objetivo a caraterização de uma amostra dos alunos do 8º ano, aproximadamente 220, de uma escola EB 2/3 em Braga, relativamente ao nível da sua aptidão cardiovascular através do Teste Vai e Vem, da bateria de testes do Fitnessgram, versão 8.0. Através de elementos como SASE, e caraterização da escolaridade dos pais (mãe), será determinado o seu estatuto socioeconómico. Por sua vez, a performance académica será considerada tendo por base os resultados académicos do 1º período, através da obtenção de pautas pelo respetivo Diretor de Turma. Assim, torna-se importante, também, determinar as associações entre estes dois fatores, verificando as divergências entre sexos. Palavras-chave: aptidão cardiovascular, escola, género, performance académica. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 57 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança Contexto Teórico A partir do tema em comum, “Níveis de aptidão cardiovascular, obesidade, dieta mediterrânica e performance académica. Um estudo longitudinal em adolescentes do 8º ano de uma escola de Braga.”, tratei o subtema: “Relação entre aptidão cardiovascular e performance académica quanto ao género. Um estudo longitudinal em adolescentes do 8º ano numa escola de Braga.” Primordialmente, abordarei a atividade física como principal promotor de saúde no meio escolar, tentando sempre esclarecer sobre alguns conceitos básicos que me levaram à compreensão e interesse por este tema, servindo como base para toda a minha investigação. Assim, “A promoção de saúde em meio escolar pode definir-se como qualquer atividade que se leva a cabo para melhorar e/ou proteger a saúde de todos os utentes da escola. Trata-se de um conceito mais amplo do que o da educação para a saúde e inclui a disponibilização e o desenvolvimento de atividades relacionadas com políticas escolares saudáveis, o ambiente físico e social da escola, o currículo, a interligação com a comunidade e com os serviços de saúde” IUHPE, 2010 Este conceito de promoção de saúde desenvolvido pela IUHPE – Internacional Union for Health Promotion and Education – remete-nos a uma constante necessidade de proteção ou melhoria de todos os campos ao nível da saúde e promoção de uma educação para o desenvolvimento de um estilo de Vida saudável em qualquer parte do globo. A Educação para a Saúde surge como algo fundamental nos dias de hoje, pois cada vez mais estamos, enquanto seres humanos, expostos às maiores adversidades do ambiente em que vivemos. É neste contexto que surge o conceito de Saúde, adotado pela OMS – Organização Mundial de Saúde – no qual podemos constatar CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 58 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança que Saúde se define como sendo “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afeções e enfermidades” (OMS, 1948). Com o surgimento da Schools for Health in Europe (SHE,1991), que se designa como sendo uma plataforma Europeia com vista na promoção da saúde na Escola, foi possível estabelecer objetivos com o fim de criar condições sustentáveis a este nível. As escolas são assim “olhadas” como um local onde quer alunos, professores e funcionários podem aprender a lutar pela sua saúde e bem-estar, quer físico quer psicológico. Em 2009, no sentido de promover uma educação vincada em saúde através de uma melhoria ao nível escolar “Better Schools Trough Health”, na Terceira Conferência Europeia de Escolas Promotoras de Saúde, surgiu a Declaração de Vilnius, na qual foram discutidos objetivos comuns entre os dois pilares fundamentais: Educação e Saúde. Nesta declaração encontram-se patentes medidas possíveis de reforço nas escolas de forma a promover hábitos saudáveis nos meios de ensino e aprendizagem. Este sentido de aprendizagem “saudável” pode ser aplicado em qualquer parte do Mundo, independentemente das crenças e valores sociais em questão. Ao cargo do Ministério de Educação de Portugal e mais uma vez no sentido de promoção de saúde no ambiente escolar, existem vários projetos neste âmbito, como: II Programa de Ação para a Eliminação da Mutilação Genital Feminina; Regime de Fruta Escolar; Sistema de Planeamento e Avaliação de Refeições Escolares; Projeto E-Bug, entre outros. Existem protocolos e diretrizes para as Escolas Promotoras de Saúde, nos quais se encontram explícitos princípios como, por exemplo: promoção de saúde e bem-estar nos alunos; fornecimento de um ambiente seguro e saudável com o mínimo de condições exigidas; colaboração entre todas a comunidade; integração de saúde nos programas escolares. Como profissional na área das Ciências do Desporto e da Educação Física, penso que fará parte do meu cargo incentivar todos os alunos não só à prática de atividade física de forma apropriada e regular, como também ao mantimento de um estilo de CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 59 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança vida saudável. Na minha ótica, o facto de alertar num sentido mais lúdico, através de jogos ligados indiretamente à nutrição de forma correta, por exemplo, será uma boa forma de implementar hábitos de vida saudáveis nas gerações futuras. Cabe a todos nós fazer parte e contribuir para um futuro “puro” de todas as gerações. O processo de desenvolvimento motor em todos os indivíduos, nomeadamente nas crianças adolescentes, é influenciado por todo o tipo de fatores interiores e exteriores expostos ao longo de todo o quotidiano. Saraiva J. & Rodrigues, P. (2009), assumem que “ reforçar a importância do fomento da prática de atividade físicas em contexto escolar, quer através da frequência em aulas de Educação Física, competição no âmbito do Desporto Escolar ou pela simples participação em atividades físicas informais, devido ao impacto positivo que revelam sobre o rendimento escolar, as capacidades cognitivas e comportamentos associados. (…) Desenvolvimento humano poderá beneficiar de forma decisiva o nosso conhecimento sobre a intrincada relação entre os fatores da proficiência motora e o desempenho académico.”. Tendo por base este contexto, e ideias de outros autores não mencionados, a atividade física aliada a todos os benefícios de uma boa aptidão cardiovascular está associada ao sucesso académico na maioria das situações já analisadas. Promover o sucesso das áreas como Educação Física e sucesso escolar não só fará com que existam indivíduos instruídos assim como “construídos” de forma saudável. A prática de atividade física, dos “8 aos 80” anos de idade proporciona uma boa saúde mental e física, aquando da adesão de outros hábitos de vida ditos saudáveis. Torna-se, assim, importante controlar o peso assim como todos os fatores internos ao bom funcionamento do corpo. (British Medical Association, 2005). A adesão à prática de atividade física desde criança produz vantagens, nomeadamente, um crescimento rico e saudável, bem-estar físico e psicológico assim como diminuição da probabilidade de ativação de fatores de risco (obesidade, doenças cardiovasculares, diabetes, colesterol e hipertensão). (Ezquerra, Idoate & Barrero, 2003) Um estudo em jovens entre os 14 e 15 anos de idade do concelho de Matosinhos, defende que a prática de atividade física enquanto jovem aumenta a CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 60 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança probabilidade da mesma quando se atingir o estado adulto, o que constitui um fator de promoção de hábitos de vida saudáveis. (Pereira & Carvalho, 2003) Os resultados deste mesmo estudo demonstraram que a maior parte dos inquiridos pratica atividade física fora do contexto escolar, sendo que os rapazes são os que mais praticam. O que se deve ao gosto pelo desporto, pelo lazer e preocupação com a sua condição física. Por outro lado, os que revelam menor pratica alegam falta de tempo e/ou incompatibilidade de horários. Concluo assim, após análise dos resultados obtidos pelos investigadores, que apesar de não praticarem atividade física atualmente, 86,4% dos jovens gostariam de poder praticar no futuro. Os motivos para a prática futura de atividade física destes alunos são os mesmos que levam os praticantes a fazê-lo. Tanto os praticantes de desporto como os que gostariam de vir a praticar declaram as mesmas motivações, gosto pelo desporto e o divertimento e ocupação dos tempos livres. Quanto aos alunos que não praticam a atividade física desejada e os que não praticam nenhuma atividade física mencionam como principal razão a falta de tempo. Metodologia Objetivos Este estudo possuiu como principal objetivo a caraterização de uma amostra dos alunos do 8º ano, relativamente ao nível da sua aptidão cardiovascular e respetiva performance académica, assim, tornou-se importante, também, determinar as associações entre estes dois fatores, verificando as diferenças entre géneros. Metodologia Amostra A investigação em questão foi realizada numa escola pública do ensino básico de uma freguesia complementar ao distrito de Braga, situada numa área urbana ou suburbana, onde cerca de 65% dos alunos, aproximadamente, pertence a famílias com nível médio e alto de formação escolar. Este estudo é denominado como CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 61 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança longitudinal devido ao facto de procurarmos estabelecer comparações entre os resultados obtidos no ano letivo corrente e no anterior. Assim, procuramos analisar os mesmos alunos, frequentavam o 7º ano no ano letivo 2011/2012, ou seja, os alunos do 8º ano no ano letivo 2012/2013. Na tabela 1 apresento a caraterização total da idade, em anos, relativa à amostra em questão, constituída por 183 crianças com frequência no 8º ano de escolaridade do 3º ciclo do ensino básico da escola já mencionada. Mencionando, também, os valores recolhidos na mesma amostra aquando da investigação realizada no ano letivo anterior Tabela 1 - Caraterização da amostra por géneros 2012 2013 Amostra Total (n =183) Raparigas Rapazes (n=86) (n=97) Amostra Total Raparigas Rapazes (n=86) (n=183) (n=97) Média ± DP Idade 12,7 (anos) 0,6 ± 12,7 ± 0,6 12,6 0,5 ± 13,2 0,5 ± 13,2 ± 0,5 13,1 ± 0,5 4.3.2 – Procedimentos Os procedimentos, já utilizados no ano anterior, foram inicialmente, e mais uma vez, submetidos e aprovados pela professora supervisora da unidade curricular de prática de ensino supervisionada da Universidade do Minho. Em seguida foram solicitadas as autorizações ao diretor do agrupamento de escolas com vista à consulta das pautas das avaliações dos alunos, solicitando-se, da mesma forma, a autorização e apoio ao grupo disciplinar de Educação Física, para ceder uma aula de 90/45 minutos para que se conseguisse aplicar os testes, nomeadamente o teste “vaivém” e a medição do perímetro da cintura e os resultados dos testes antropométricos dos alunos. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 62 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança As datas de recolha de dados foram previamente acordadas com a direção, professores de Educação Física e investigadores (núcleo de estágio de Educação Física). Os investigadores, depois da análise das pautas, transcreveram as classificações obtidas por disciplinas para tabelas, ficando os alunos codificados. Procedimento que foi também adotado para todas as recolhas (perímetro da cintura e teste “vaivém”). As recolhas decorreram ao longo do mês de Janeiro do ano de 2013. Variáveis Independentes Aptidão Cardiovascular (ApCv) De forma a poder ser determinada a ApCv foi utilizada a bateria de testes denominada por FITNESSGRAM (Cooper, 1992), nomeadamente o teste de avaliação da ApCv – teste “vaivém”. (www.labes.fmh.utl.pt/programas/fitnessgram/index.htm) A ApCv foi estimada através do consumo máximo de oxigénio (VO2 máx) recorrendo ao número de percursos do teste “vaivém”, de acordo com a equação de estimação do VO2max de Léger e Lambert (1992). Protocolo do teste “vaivém”: o aluno que vai realizar o teste coloca-se atrás da linha de partida, ao primeiro sinal parte e deve correr pela área estipulada (percurso de 20m em linha reta), e deve ultrapassar ou pisar a linha quando ouvir o sinal sonoro. Ao sinal sonoro deve inverter o sentido e correr até à outra extremidade. Se o aluno atingir a linha antes do sinal sonoro, deverá esperar pelo mesmo para correr em sentido contrário. Um sinal sonoro indica o final de tempo de cada percurso e um triplo sinal sonoro (final de cada minuto) indica o final de cada patamar de esforço. Este tem a mesma função do sinal sonoro único alertando ainda os alunos que o ritmo vai acelerar e que a velocidade de corrida terá de aumentar. O teste acaba quanto o aluno não consegue atingir a linha em simultâneo com o sinal, deve inverter o sentido da sua corrida, ainda que não tenha atingido a linha. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 63 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança Deverá permitir-se que o aluno tente acompanhar o ritmo da corrida até que falhe dois sinais sonoros (não consecutivos, necessariamente) e só então deverá parar. O material necessário é a fita métrica, cronómetro, cones, campo de Voleibol ou largura do campo de Andebol (Léger e Lambert, 1982). Dados antropométricos Perímetro da cintura (PC): foi medido com fita métrica marca SECA® flexível e inextensível com escala em centímetros. A fita foi aplicada em torno do perímetro local que se pretendia medir. Todas as medidas foram realizadas aos participantes em posição antropométrica, e o local de avaliação foi marcado pela cicatriz umbilical com abdómen relaxado. O investigador colocou-se de frente para o participante. Estatuto socioeconómico: considerando através do estatuto do serviço de ação social. Variáveis Dependentes Desempenho académico (DA): foi considerado através dos resultados académicos do 1º período dos anos letivos 2011/2012 e 2012/2013, nomeadamente através da média aritmética dos desempenhos nas disciplinas comuns a todos os alunos do ano de escolaridade em questão (Língua Portuguesa, Língua Estrangeira I e II; História; Geografia; Matemática; Ciências Naturais; Ciências Físico-Químicas; Educação Visual e Educação Física). Análise estatística Os dados foram armazenados e posteriormente tratados no programa informático SPSS 20.0 Programa Estatístico. Para analisar as diferenças entre géneros, utilizamos as seguintes medidas descritivas: média e desvio padrão, sendo estas diferenças analisadas a partir do test t student. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 64 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança Foi utilizada a regressão linear múltipla, com intervalos de confiança de 95% para analisar a influência da variável VO2 máx sobre o DA.. O nível de significância para todas as análises foi fixado em 0,05. 1.3 – Apresentação e discussão dos resultados Relativamente aos resultados obtidos ao longo deste ano letivo, estes serão apresentados sob a forma de tabela (Tabela 2), no qual estão representadas Média ± DP de todos os elementos avaliados no âmbito das variáveis descritivas [Índice de Massa Corporal (IMC), VO2 máximo (VO2máx) e performance académica (PA)], ao longo de dois anos consecutivos. Assim, Tabela 2 - Valores médios de índice de massa corporal, aptidão cardiovascular e performance académica. 2012 2013 Amostr a Total (n=183) Perímetro da cintura (cm) 73,2 8,6 IMC 20,4 (kg/m2) 3,2 VO2 máx (ml.Kg-1.min1) ± 40,1 ± ± 4,1 Rapariga s (n=86) 72,5 ± 8 20,6 ± 3,4 38,2 ± 3 Rapaze Amostr s a (m=97) (n=183) 73,8 ± 72,8 9,1 20,2 ± 7,7 ± 20,6 3,1 41,7 Total ± 3,1 ± 41,8 ± Rapariga s (n=86) 71,1 ± 6,8 20,7 ± 3 38,6 ± 3,6 4,3 5,1 3,3 ± 0,5 3,3 ± 0,6 3,4 ± 0,6 Rapaze s (m=97) 74,3 ± 8,1 20,6 ± 3,1 44,5 ± 4,7 Performanc e 3,4 ± 0,6 3,5 ± 0,6 3,3 ± 0,6 Académica* *média das notas do 1º período nas disciplinas de Educação Física, Português, Língua Estrangeira, Matemática, Físico-Química, Ciências da Natureza, História e Geografia de Portugal. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 65 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança Já na tabela 3, apresentada de seguida, exponho todos os valores obtidos através da realização do teste “vaivém”, baseado na bateria de testes denominada Fitnessgram. Tendo por base, os resultados obtidos nos dois anos de investigação concluo, assim, que na amostra total no ano anterior (2012) 57,4% se encontravam abaixo da zona saudável, sendo que 42,6% encontravam-se na zona saudável, enquanto que este ano (2013) os valores alteraram positivamente no sentido em que 53,3% da amostra total se encontra na zona saudável, perfazendo um total de 46,7% abaixo da zona saudável. Tabela 3 - Distribuição da amostra segundo os critérios normativos relacionados com a saúde no teste "vaivém". Amostra total (n=100%) Zona Saudável Raparigas Rapazes (n=100%) (n=100%) 2012 2013 2012 2013 2012 2013 42,6% 53,3% 52,3% 50,6% 34% 55,7% 46,7% 47,7% 49,4% 66% 44,3% Abaixo da zona 57,4%% saudável Posso, desta forma, constatar que os níveis registados na zona saudável por parte das raparigas desceram face ao ano letivo anterior, sendo este fenómeno justificado através da entrada na puberdade. Assim, as raparigas apresentam uma quebra de 1,7% contrariando os valores dos rapazes que por sua vez apresentam uma melhoria de 11,4%. Nesta fase da adolescência torna-se preocupante para as raparigas a forma como expõe o corpo e as mudanças que ocorrem, constituindo a atividade física como uma “inimiga” na qual não se sentiram à vontade. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 66 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança Aptidão Cardiovascular Zona Saudável 47,7% 50,00% 52,00% 51,00% Raparigas 2012 Raparigas 2013 Abaixo da Zona Saudável 44,00% 66% 56% 34% Rapazes 2012 Rapazes 2013 Gráfico 1 – Percentagem, arredondada às décimas, de crianças que cumprem os critérios normativos relativos à saúde Posso, desta forma, constatar que os níveis registados ao longo deste trabalho de investigação desceram face ao ano letivo anterior, sendo este fenómeno justificado através da entrada na puberdade e pressuposto desenvolvimento motor. Respeitante à zona saudável, e como mencionei anteriormente, as raparigas apresentam uma quebra de 1,7% contrariando os valores dos rapazes que por sua vez apresentam uma melhoria de 11,4%. Nesta fase da adolescência torna-se preocupante para as raparigas a forma como expõe o corpo e as mudanças que ocorrem, constituindo a atividade física como uma “inimiga” na qual não se sentiram à vontade. Bibliografia CARTA DE OTTAWA (1986). Promoção da saúde nos países industrializados. 1ª Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde. Ottawa, Canadá, 17-21 de Novembro de 1986 CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 67 fios e oportunida ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2º volume des num Mundo em Mudança EZQUERRA, E., IDOATE, M., BARRERO, E. (2003). Exercício Físico. O talismã da saúde. Saúde para todos. Grandes Manuais Everest. Everest Editora, P.62-74. FERNANDES, J. M. (2001). As Provas de Aferição. O ministério e nós, os Outros Todos, Público, Educação, publicado em 28 de Dezembro de 2000. IUHPE (2009). Construindo escolas promotoras de saúde: directrizes para promover a saúde em meio escolar. Versão 2. IUHPE (2009). Declaração de Vilnius. Terceira Conferência Europeia de Escolas Promotoras de Saúde. Vilnius, Lituânia. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO (1991). Organização Curricular e Programas – Volume 1.EnsinoBásico,2ºCiclo. Lisboa: D.G.E.B.S. : Imprensa Nacional-Casa da Moeda.Endereço:http://www.dgidc.minedu.pt/ensinobasico/index.php?s=directorio&p id=44 MOTA, J., SALLIS, J.F., (2009). Actividade Física e Saúde. Factores de Influência da Actividade Física nas Crianças e nos Adolescentes. Campo Das Letras, P.12-21. PACCA, J. L. A. (1992). O Profissional de Educação e o Significado do Planejamento Escolar: Problemas dos Programas de Atualização. Revista Brasileira de Ensino de Física,14(1), pp.42. PEREIRA, B., CARVALHO, G. S. (2006). Educação Física, Saúde e Lazer. A Infância e Estilos de Vida Saudáveis. A prática desportiva e a sua importância na aquisição de hábitos de vida saudáveis. 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Referências Eletrónicas Direcção Geral da Saúde - http://www.dgsaude.pt/ Direcção Geral de Educação - http://www.dgidc.min-edu.pt/ Fitnessgram - www.labes.fmh.utl.pt/programas/fitnessgram/index.htm International Union for Health Promotion and Education - http://www.iuhpe.org/ Ministério da Saúde - www.min-saude.pt World Health Organization (WHO) - http://www.who.int/ Todos estes sites foram visitados de forma constante ao longo do trabalho realizado. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 69 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Associações entre aptidão cardiovascular e a performance académica, diferenças entre padrões alimentares associados à dieta mediterrânica. Um estudo em adolescentes do 8º ano de uma escola numa perspetiva longitudinal. , Inês Silva1, Rute Santos3,4 Beatriz Pereira1,2 1 Instituto de Educação, Universidade do Minho – Braga, Portugal; 2Centro de Investigação em Estudos da Criança (CIEC), Universidade do Minho - Braga, Portugal; 3Centro de Investigação em Atividade Física, Saúde e Lazer (CIAFEL) da Faculdade de Desporto, Universidade do Porto – Porto, Portugal; 4Instituto Superior da Maia – Maia, Portugal. RESUMO É do conhecimento público que duas das principais causas do excesso de peso e obesidade é o sedentarismo e os maus hábitos alimentares. A dieta mediterrânica é considerada um dos modelos de alimentação mais saudáveis. Vários estudos demonstram que nos países mediterrânicos onde se pratica esta dieta a taxa de morbilidade é menor e a esperança média de vida é maior (Serra-Majem, 2004). O excesso de peso pode provocar na criança distúrbios psicológicos que podem conduzir à diminuição do seu rendimento escolar como tal a escola tem a possibilidade de detetar e evitar previamente estas situações (Direção Geral de Saúde, 2007). Com a realização deste estudo pretendo caraterizar uma amostra de adolescentes do 8º ano de escolaridade quanto à sua aptidão cardiovascular, adesão à dieta mediterrânica e verificar a associação longitudinal destas variáveis com a performance académica numa amostra de 183 alunos do 8º ano de escolaridade de uma escola EB 2, 3 Braga que participaram no mesmo projeto no ano transato. Para a determinação da aptidão cardiovascular utilizou-se o teste “vaivém” da bateria de testes Fitnessgram, sendo o teste realizado apenas para este efeito. Para a determinação da adesão ou não da dieta mediterrânica foi aplicado o questionário do índice KIDMED - Mediterranean Diet Quality Índex. Para verificar a associação com a performance académica foram utilizadas as pautas do 1º período dos alunos do 8º ano de escolaridade que participam no estudo. Para a recolha dos dados antropométricos foi utilizada uma balança SECA – 769 para a recolha do peso, altura e cálculo de IMC e para a medição do perímetro da cintura foi utilizada uma fita métrica flexível e inextensível com escala em centímetros. Os resultados verificaram, em 2013, uma evolução positiva dos alunos relativamente à adesão à dieta mediterrânica e VO₂ máximo, sendo a performance académica a única varável onde se averiguou um CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 69 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE decréscimo. Não se verificaram longitudinalmente associações estaticamente significativas entre a aptidão cardiovascular e a adesão à dieta mediterrânica com a performance académica. Desta forma, é necessário que os investigadores da área se interessem pelo tema e realizem novos estudos que clarifiquem estas associações. Palavras-Chave: aptidão cardiovascular, dieta mediterrânica, performance académica REVISÃO BIBLIOGRÁFICA O desenvolvimento tecnológico, o crescimento económico, a modernização e globalização dos mercados alimentares promoveram alterações nos padrões comportamentais nas últimas décadas, alterações estas que promoveram por sua vez estilos de vida sedentários. É do conhecimento público que duas das principais causas do excesso de peso e obesidade são o sedentarismo e os maus hábitos alimentares. Em Portugal, tal como no resto do mundo, a adoção de maus hábitos alimentares tem vindo a aumentar pondo em risco caraterísticas importantes da dieta mediterrânica (Direção Geral de Saúde, 2006 cit. Gonçalves, Pereira & Rodrigues, 2012). Existem vários estudos que demonstram que os países mediterrânicos têm menor taxa de morbilidade e maior esperança média de vida e, por esta razão a dieta mediterrânica é considerada um dos modelos de alimentação mais saudáveis (SerraMajem et al, 2004). O padrão alimentar mediterrânico é caraterizado pela grande ingestão de legumes, fruta, pão, cereais integrais e nozes sendo estes alimentos consumidos na estação sofrendo pouco ou nenhum tratamento. O azeite permanece até hoje em dia como a gordura preferencial sendo o único elemento comum a todos os países mediterrânicos. O consumo da carne é esporádico sendo preferível que esta seja de cordeiro, coelho ou aves, o consumo de peixe é regular e os ovos são consumidos algumas vezes por semana. O iogurte e o queijo são consumidos abundantemente sendo preferencialmente derivados de caprinos e ovinos. O leite e o vinho devem ser consumidos moderadamente. Este padrão alimentar deve ser combinado com um CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 70 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE estilo de vida ativo. (Serra-Majem et al, 2004). A alimentação mediterrânica é caraterizada também pelo modo de confeção dos alimentos. Na maioria dos pratos estão presentes o alho, a cebola, o tomate, o azeite, as ervas aromáticas e as especiarias, tornando-os ricos em vitaminas e minerais (Direção Geral de Saúde, 2012). Esta menciona os vários benefícios desta dieta para a saúde entre os quais, a proteção contra doenças cardiovasculares, alguns tipos de cancro e doenças crónicas como diabetes, colesterol, hipertensão arterial e obesidade. O estudo concretizado por Martins, Mendes e Fernandes (2012) cuja amostra correspondia a 68 crianças dos 6 aos 16 anos provenientes do distrito de Viseu e Lisboa e que pretendia explorar os hábitos alimentares de crianças e jovens através da adesão à dieta mediterrânica revelou que 72,1% das crianças e jovens não toma o pequeno-almoço e quando tomam não decidem pelas melhores opções (94,1% consome bolos). A relação entre alimentação e a performance académica tem sido alvo de estudo pois de acordo com Teixeira (2009) a omissão nutricional é uma realidade internacional que pode interferir no correto crescimento a curto e a longo prazo, com o desenvolvimento motor e cognitivo e ainda no comportamento e no sucesso escolar. Para que o cérebro mantenha o seu correto funcionamento necessita de nutrientes como vitaminas, macro elementos como carbono, oxigénio, hidrogénio, cálcio e magnésio, elementos vegetais como o ferro, magnésio, selénio, iodo, cobre, zinco, manganês entre outros. Todas as vitaminas são importantes ao funcionamento do cérebro no entanto, algumas destas tem um papel mais relevante no domínio cognitivo. A vitamina B1 é importante pois facilita a utilização de glicose, garantindo a produção de energia, a vitamina B12 tem um papel relevante na melhoria da capacidade de aprendizagem, na memória, raciocínio e atenção. O défice de ferro não permite o fornecimento eficiente de oxigénio no cérebro e diminui a produção de energia no mesmo e como tal pode provocar apatia, sonolência, irritabilidade, diminuição de atenção, falta de concentração e perda de memória. Este défice durante o desenvolvimento da criança pode interferir nas funções cognitivas do cérebro a longo prazo (Bourre, 2006). CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 71 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Como já foi referido a alimentação pode influenciar positivamente a performance académica, interessa agora saber se também a aptidão cardiovascular pode influenciar positivamente o sucesso escolar. As sociedades ocidentais têm sofrido grandes alterações no que diz respeito à sua alimentação. COPEC (2001) afirma também que de uma alimentação baseada no fast food associada à falta de atividade física resulta um crescente número de crianças com excesso de peso e obesidade que pode originar doenças cardiovasculares, diabetes e outros problemas graves de saúde. Gonçalves (2011) indica um estudo realizado pelo Observatório Nacional da Atividade Física e Desporto em cinco cidades portuguesas entre 2007 e 2009 que concluiu que as crianças e adolescentes portugueses tem níveis uma atividade física muito abaixo do recomendado. Em média, os rapazes apenas realizam 50 dos 60 minutos recomendados e as raparigas cerca 30 minutos. Assim, apenas 30% dos rapazes e 10% das raparigas praticam atividade física de acordo com as recomendações. O aumento de peso pode ainda provocar na criança distúrbios psicológicos que podem conduzir à diminuição do seu rendimento escolar. A escola tem a possibilidade de detetar e evitar previamente estas situações (Direção Geral de Saúde, 2007). A atividade física desempenha assim um papel importante no sucesso escolar. Taras (2005) afirma que a atividade física nas escolas oferece condições sociais cujos resultados se podem traduzir no sucesso académico. As crianças que aprendem a cooperar, partilhar, a respeitar as regras, descobrir e testar as suas habilidades motoras tendem a sentir uma maior ligação à escola e comunidade. Os adolescentes fisicamente ativos tem menor tendência a tentar o suicídio, adotar comportamentos de risco e engravidar. Vasconcelos, Soares-Neta, Rodrigues e Ferraz (2011) consideram que a aptidão cardiovascular constitui um bom indicador da aptidão física pois refletem a capacidade de realizar esforços físicos por um longo período de tempo. Saba (2003 cit. João, 2008) define aptidão cardiovascular como a capacidade de continuar ou persistir na realização de um trabalho físico que envolva grandes grupos musculares. A aptidão cardiovascular é avaliada através do VO₂ máximo ou CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 72 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE seja a capacidade de efetuar um esforço aeróbio. Um individuo com uma boa aptidão cardiovascular pode melhorar a sua capacidade de memorização visto que certas áreas do cérebro são fortalecidas pela prática de exercício físico (Symons, Cinelli, James e Groff, 1997). As associações entre a aptidão cardiovascular e os aspetos fundamentais da cognição da criança são pouco exploradas. Não obstante, estudos mais recentes têm demostrado que a aptidão cardiovascular pode estar relacionada com a performance académica (Hillman, Castelli, Buck, 2005). Grissom (2005) constatou a pouca existência de estudos que relacionem a aptidão física com a performance académica. Nos estudos existentes em que se verificam associações positivas, o autor refere haver muitas limitações que os tornam menos validos. O fracasso dos projetos em encontrar associações positivas estatisticamente significativas desta área deve-se essencialmente à dificuldade em medir a performance académica. Kantomaa et al (2013) defende que as associações entre a aptidão física e a performance académica são complexas e que é necessário compreender melhor quais os mediadores para os efeitos da atividade física na performance académica. A atividade e aptidão física afetam positivamente o cérebro e a sua atividade pois, através do exercício físico é possível manter o correto funcionamento cognitivo em crianças e adultos (Vail, 2006). A literatura especializada acredita que a aptidão cardiovascular melhora com o aumento da idade, sendo observados, na adolescência, valores elevados. (Ghorayeb, Bozza, Ioos, Fuchs, 1999 cit Vasconcelos, Soares-Neta, Rodrigues e Ferraz, 2011). Nas crianças, a aptidão cardiovascular depende da sua faixa etária e das singularidades do seu desenvolvimento motor e intelectual. Ré (2011) acredita que as mudanças nas crianças não ocorrem todas na mesma idade, como tal o desenvolvimento físico das mesmas varia de acordo com os estados maturacionais em que estas se encontram. A puberdade é um período onde ocorrem muitas mudanças físicas nomeadamente no tamanho e composição corporal e também mudanças psicológicas (Henriques, 2009). Neste período pode surgir ainda uma crise psicológica que provoca sentimentos de frustração, incapacidade e falta de CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 73 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE confiança (Henriques, 2009). Henriques (2009) pensa ser necessário olhar para os pré-adolescentes de um modo compreensivo, refletindo sobre a fase de transição por que estão a passar e sobre qual a razão para as suas instabilidades comportamentais e oscilações ao nível da performance académica. A relação entre a aptidão cardiovascular e a adesão à dieta mediterrânica com a performance académica é ainda um tema pouco explorado pelos investigadores e por isso as conclusões quanto a esta relação são ainda muito inconsistentes. OBJETIVOS Caraterizar uma amostra de adolescentes do 8º ano de escolaridade quanto à sua aptidão cardiovascular, adesão à dieta mediterrânica e verificar a associação longitudinal destas variáveis com a performance académica. METODOLOGIA Caraterização da amostra A amostra foi constituída por 183 alunos, 97 (53%) do sexo masculino e 86 (47%) do sexo feminino, com idades compreendidas entre os 12 e os 15 anos (13,2±0,5) do 8º ano de escolaridade de uma escola EB 2,3 de Braga. Estes alunos participaram no mesmo projeto no ano transato enquanto alunos do 7º ano de escolaridade. Variáveis Dependentes: Performance académica. Independentes: aptidão cardiovascular, dieta mediterrânica, índice de massa corporal, perímetro da cintura. Instrumentos Para a determinação da aptidão cardiovascular utilizou-se o teste “vaivém” da bateria de testes Fitnessgram (Welk & Meredith, 2008). Protocolo do teste: o teste ocorre ao som de uma música que contem sinais sonoros que servem para orientação e correta execução do teste. Os alunos colocamse atrás da linha de partida e, ao sinal partem em corrida pela área estipulada CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 74 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE (percurso de 20 metros em linha reta) até à linha final onde devem esperar pelo sinal sonoro para depois fazer o percurso inverso e assim sucessivamente. Se o sinal sonoro soar e algum dos alunos não tiver chegado à linha final é marcada falta para aquele aluno. Um sinal sonoro assinala o tempo final para percorrer cada percurso e o triplo sinal sonoro, que ocorre ao final de cada minuto, indica o final de cada patamar de esforça e indica que este irá aumentar alertando os alunos para o aumento da sua velocidade de corrida. O final do teste ocorre quando o ultimo aluno em prova falha pela 2ª vez o tempo de chegada à linha final (Léger e Lambert, 1982). Para a determinação da adesão à dieta mediterrânica foi aplicado o questionário do índice KIDMED - Mediterranean Diet Quality Índex. Toda a amostra foi classificada segundo este índice que foi desenvolvido com base nos princípios que suportam ou deterioram o modelo alimentar mediterrânico. O índice KIDMED é avaliado através de um questionário com 16 perguntas. As perguntas que, em relação à dieta mediterrânica, tem uma conotação negativa valem (-1) e aquelas com conotação positiva valem (+1). Os resultados finais do índice KIDMED podem variar entre (-4) e (+12) pontos (Serra Majem et al., 2004). De acordo com as respostas dos alunos, estes são classificados em três níveis. O primeiro corresponde a uma dieta de baixa qualidade (≤3 pontos), o segundo a uma dieta com necessidade de ajustes (4 a 7 pontos) e uma dieta de elevada qualidade (≥8 pontos) (Serra Majem et al., 2004). Para verificar a associação com a performance académica serão utilizadas as avaliações do 1º período dos alunos do 8º ano de escolaridade. Será calculada a média aritmética das avaliações nas disciplinas comuns a todos os alunos (Português, Inglês, Língua Estrangeira II, História, Geografia, Matemática, Ciências Naturais, Ciências físico-químicas, Educação Visual e EF) Para a recolha dos dados antropométricos foi utilizada uma balança SECA – 769 para a recolha do peso, altura e cálculo de IMC e para a medição do perímetro da cintura foi utilizada uma fita métrica flexível e inextensível com escala em centímetros. A fita foi colocada em torno da cintura dos alunos, fazendo-a passar pela cicatriz umbilical sendo este perímetro e com abdómen relaxado. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 75 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Procedimentos Num primeiro momento foi solicitado ao grupo de EF a disponibilidade de algumas das suas aulas para a realização dos testes físicos e antropométricos. Posteriormente foi solicitada ao agrupamento de escolas a autorização para a consulta das pautas das avaliações referentes ao 1º período de todas as turmas dos 8ºs anos de escolaridade. Depois de concedidas as autorizações foi enviado a todos os diretores de turma das turmas dos 8ºs anos de escolaridade um pedido de dispensa dos alunos durante uma parte da aula de Cidadania para a realização dos questionários KIDMED que foram respondidos online. A realização dos testes e preenchimento dos questionários ocorreram no mês de Janeiro de 2013. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Tabela 1 – Caraterização da amostra quanto à idade, IMC, perímetro da cintura, teste vaivém (nº de percursos), VO₂ máximo, índice KIDMED e performance académica em 2012 e 2013. 2012 n=183 2013 n=183 Média ± DP Idade (anos) IMC (Kg/m²) Perímetro da cintura (cm) Teste Vaivém (nº de percursos) VO₂ máx. (ml/Kg/min) 12,7±0,6 13,2±0,5 20,4±3,2 20,6±3,1 73,2±8,6 72,8±7,7 27,7 ± 14,5 36,3±17,9 40,1±4,1 41,8±5,1 Índice KIDMED 7,2 ±2,0 7,4±2,0 Performance académica * 3,4±0,6 3,3±0,6 *Média das notas do 1º período nas disciplinas de Português, Inglês, Língua Estrangeira II, História, Geografia, Matemática, Ciências Naturais, Ciências FísicoQuímicas, Educação Visual e EF Tabela 2 - Variação média do VO₂ máximo, performance académica e índice KIDMED da amostra total entre 2012 e 2013. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 76 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE VO₂ máximo Performance académica Índice KIDMED 1,71±3,49 -0,08±0,27 0,05±2,1 Gráfico 1 – Distribuição da amostra de acordo com os critérios normativos relacionados com a saúde no teste “vaivém” da bateria de testes Fitnessgram. 100% 80% 42,6% 53,3% 60% 40% Acima da Zona Saúdavel 57,4% 46,7% Abaixo da Zona Saúdavel 20% 0% 2012 2013 Amostra total Na tabela 3 apresentam-se os modelos de regressão linear prevendo a performance académica. Não se verificaram associações estatisticamente significativas entre a variação do VO₂ máximo e a performance académica (β=-0,014; p=0,510) assim como não se encontraram diferenças estatisticamente significativas entre a variação do índice KIDMED e entre a variação da performance académica (β=-0,011; p=0,246). Tabela 3 – Coeficientes da equação de regressão linear (coeficientes não padronizados e erro padrão) prevendo a performance académica. Δ Performance académica β(IC a 95%) Δ Aptidão Cardiovascular -0,014 (-0,027:0,000) Δ Índice KIDMED -0,011 (-0,030:0,008) Ajustado para o sexo, Δ perímetro da cintura e idade em 2013 P 0,510 0,246 CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 77 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE DISCUSSÃO DOS RESULTADOS No que diz respeito à tabela 1 podemos constatar que entre 2012 e 2013 os alunos tiveram algumas melhorias em certos pontos e retrocessos em outros. O perímetro da cintura diminuiu ligeiramente relativamente a 2012 revelando ser uma boa melhoria pois, de acordo com a International Diabetes Federation (2006), o perímetro da cintura é uma medida antropométrica simples mas que constitui um importante indicador da obesidade central e do risco de doenças crónicas sendo mesmo utilizado como critério de diagnóstico da síndrome metabólica. O teste vaivém também revelou um aumento do número de percursos assim como o aumento do VO₂ máximo em 2013, a variação média entre os dois anos foi de 1,71±3,49 (tabela 2). Este resultado vai de encontro com as afirmações de Ghorayeb, Bozza, Ioos, Fuchs (1999 cit Vasconcelos, Soares-Neta, Rodrigues e Ferraz, 2011) que dizem que a aptidão cardiovascular melhora com o aumento da idade verificandose elevados níveis na adolescência. Relativamente ao índice KIDMED os valores apresentados em ambos os anos são, muito próximos de serem considerados de um dieta de elevada qualidade visto que, segundo Serra Majem et al (2004) uma pontuação entre 4 e 7 corresponde a uma dieta com necessidade de ajustes e uma pontuação de 8 ou mais corresponde a uma dieta de elevada qualidade. Visto que em 2013 o resultado foi ligeiramente superior do que em 2012, observando-se uma variação média de 0,05±2,1 (tabela 2), este resultado é ainda mais favoráveis e mostra haver uma melhoria em pelo menos alguns dos aspetos da dieta mediterrânica. Pelo contrário, os valores do IMC aumentaram ligeiramente, contudo estes permaneceram dentro das recomendações para a idade. De acordo com a WHO os indivíduos, com média de idades da amostra em 2013 (13,2±0,5) para se encontrarem com um IMC normal devem situar-se entre os valores 16.9 – 22.2 para as raparigas e entre 16.7 – 21.2 para os rapazes. Em relação à performance académica verificou-se uma pequena diminuição dos resultados relativamente a 2012 com uma variação média de -0,08±0,27 (tabela 2). CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 78 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE No gráfico 1, de acordo com os valores obtidos do VO₂ máximo, verifica-se, em 2013, o aumento da percentagem de alunos que se encontram na acima da zona saudável. A análise destes resultados demonstra que os alunos se encontram numa evolução positiva e de acordo com as recomendações nas diferentes variáveis com a exceção da performance académica. Com o avançar dos anos letivos a dificuldade e a exigência vão aumentando e isso requer dos alunos uma adaptação, com ajuste dos seus métodos e dedicação aos estudos no início de cada ano letivo. Sendo que no presente estudo a performance académica foi obtido através das notas do 1º período estas podem ainda refletir o processo adaptativo ao novo ano. No presente estudo, não se verificaram longitudinalmente associações estatisticamente significativas entre a aptidão cardiovascular e a performance académica (β=-0,014; p=0,510), assim como não se verificam associações estatisticamente significativas entre a dieta mediterrânica e a performance académica (β= -0,011; p=0,246) independentemente do sexo, da variação do perímetro da cintura e idade. Desta forma podemos constatar que longitudinalmente, a aptidão cardiovascular e a adesão à dieta mediterrânica não influenciaram positivamente a performance académica. Grinsom (2005) considera que a melhoria da aptidão aeróbia por si só não vai melhorar a performance académica mas sim promover a capacidade intelectual que, por sua vez pode levar à melhoria da performance académica. Assim, a associação positiva destas variáveis pode não de verificar a curto prazo mas a médio ou longo prazo. Por esta razão é essencial que, desde cedo, as famílias adotem estilos de vida saudáveis, através da prática regular de atividade física e hábitos de alimentação saudáveis, nomeadamente adesão à dieta mediterrânica para que futuramente as suas crianças possam vir a beneficiar de uma possível associação positiva entre aptidão cardiovascular e adesão à dieta mediterrânica com a performance académica. A inexistência de resultados estatisticamente significativos podem dever-se a variáveis externas que não foram controladas. Uma delas pode ser a evolução do estado maturacional dos alunos. A puberdade é um período onde ocorrem várias CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 79 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE mudanças nos adolescentes quer a nível físico (Ré, 2011) quer a nível psicológico (Henriques, 2009). Este último autor afirma ainda que estas mudanças podem fazer com que existam oscilações na performance académica. Desta forma, e não tendo sido esta variável trabalhada, estas alterações físicas e psicológicas podem ter influenciado negativamente estas associações. Foram apresentadas evidências, diretas e indiretas de que hábitos de alimentação saudáveis podem influenciar positivamente a performance académica [Teixeira (2009); Bourre (2006); Taras (2005)], no entanto tal não se verificou no presente estudo. Apesar dos alunos apresentarem uma boa pontuação no índice KIDMED a adesão à dieta mediterrânica trata-se de um processo gradual em que o respeito pelas características da mesma apenas se verificará quando esta for uma prática mais habitual no nosso país. Assim, tenho a convicção de que no nosso país, especialmente nas regiões mais afastadas da costa mediterrânica, os verdadeiros efeitos da dieta mediterrânica sobre a performance académica apenas se verificarão no futuro, quando as questões alimentares ganharem importância e a adesão a esta dieta se verificar em grande parte das famílias portuguesas. Após a análise destes resultados penso que teria particular interesse continuar com estudo no próximo ano pois tornaria possível verificar se de facto estas variáveis externas podem ter alguma influência nas associações entre as variáveis do estudo e dessa forma compreender se estas variáveis do estudo podem ou não determinar o sucesso dos alunos. CONCLUSÕES As escolas têm, cada vez mais, a necessidade de compreender quais os fatores que influenciam o sucesso académico dos seus alunos pois, desta forma estas podem dispor de diretrizes para a utilização mais eficaz dos seus recursos como são exemplo os espaços desportivos, e para melhorar a qualidade alimentar nomeadamente nas suas cantinas e bares. O presente estudo não verificou associações positivas entre a aptidão cardiovascular e adesão à dieta mediterrânica com a performance académica entre 2012 e 2013 e, por essa razão é importante que os investigadores da área se CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 80 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE interessem pelo tema e realizem novos estudos na tentativa de clarificar a associações entre as variáveis. Este estudo teve ainda algumas limitações como o número da amostra, que poderia ter sido maior se a realização da investigação abrangesse mais do que um ano de escolaridade e o facto de não se contabilizar variáveis que podem influenciar os resultados. É, portanto, fundamental garantir a prática de atividade física e uma alimentação saudável com base na dieta mediterrânica como algo valorizado pelas próprias crianças e jovens assim como aumentar a consciencialização de famílias e toda a comunidade escolar para os benefícios da prática de atividade física e adesão à dieta mediterrânica e suas possíveis repercussões na performance académica. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bourre, J. (2006). Effects of nutrients (in food) on the structure and function of the nervous system: update on dietary requirements for brain. Part 1: micronutrients. Journal of Nutrition, Health & Aging, 10(5), p. 377 COPEC (2001). Recess in elementary schools. 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Encontra-se em fase de desenvolvimento um estudo que pretende determinar se existe relação entre a prática da AF na infância e o subsequente estilo de vida na vida adulta. Para o efeito foram construídos e aplicados questionários a alunos (entre 9 e 17 anos) de dois agrupamentos de escolas de um mesmo Concelho bem como a familiares adultos. Foram também realizadas entrevistas a elementos chave da mesma amostra. No presente estudo apresentam-se os dados preliminares da AF desenvolvida por alunos dentro e fora da escola. Do total da amostra (404), 215 (53,2%) são do sexo feminino e 189 (46,8%) do masculino. De entre os dados apurados verificou-se que todos os 404 alunos praticam educação física (EF) na escola, sendo que 219 (54,2%) dizem nunca terem faltado e só 16 (4,0%) deram 5 ou mais faltas durante o ano letivo. Do total, 207 (51,2%) frequentavam aulas de desporto escolar e 159 (39,4%) praticavam uma modalidade desportiva fora da escola, sendo que, destes 159 alunos, 103 (64,8%) são rapazes e 77 (48,4%) praticam futebol. Para as atividades desportivas e outras atividades físicas, geralmente não vão sozinhos 262 (64,9%) e escolhem, maioritariamente, os amigos 169 (42,3%) e os irmãos 159 (39,8%) como companhia. Na opinião dos alunos inquiridos, os professores de EF (138; 34,2%) elucidam sobre a importância da AF na saúde, mas dizem que os médicos (223; 55,2%) são quem mais os informa sobre isso. Estes e outros resultados serão apresentados e discutidos com detalhe. Palavras-chave: Atividade física e desportiva; crianças e jovens; meio ambiente. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS A prática regular de atividade física (AF), considerada como um dos instrumentos de promoção da saúde (Carvalho & Gonçalves, 2011), favorece a criação de comportamentos saudáveis e propicia um estilo de vida mais saudável ao longo da vida (Carvalho, 2006), tendendo mesmo a dizer-se que comportamentos saudáveis atraem comportamentos idênticos (Rocha & Pereira, 2006). A educação para a saúde consiste numa ação interventiva (quer no individuo, quer no meio ambiente) no sentido de capacitar (“empowering”) as pessoas para a mudança para CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 84 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE estilos de vida saudáveis, considerando que o individuo deve ter uma participação ativa na promoção da sua saúde e no ambiente físico e socioeconómico (Carvalho, 2006). Wang, Pereira e Mota (2006) referem que a escola é um local privilegiado de promoção da saúde atendendo à idade das crianças e aos diversos recursos que se podem utilizar na prevenção de outros comportamentos. As práticas desportivas bem estruturadas propiciam valores adicionais no desenvolvimento das crianças e são consideradas um meio excelente de educação, de convívio e de ética social (Sarmento, 2004). Quando associadas à vertente extracurricular, motivam ainda mais os alunos para a vida escolar e criam hábitos de organização e de trabalho (Lucas, Pereira, & Monteiro, 2012). Segundo Sarmento (2004), para a criança todas as aquisições motoras são fundamentais e o seu domínio permite um controlo mais eficaz nas mais diversas situações do quotidiano. A nível pessoal, saber executar movimentos técnicos específicos, dota a criança de autoestima, autoconfiança e ensina-a a “aprender a utilizar o corpo” (Sarmento, 2004, p.155) a nível de situações de risco, desenvolver as capacidades físicas e psicológicas tornando-o mais rápido quer na tomada de decisões quer na sua execução. No entanto a vida sedentária das crianças encontrase cada vez mais evidente. Ao longo dos anos observa-se uma diminuição da prática da AF (Mota & Sallis, 2002). Dos fatores que contribuem para esta redução de AF encontra-se a influência dos pares, a vida profissional ativa e a responsabilidade familiar. Verifica-se que a finalização da vida académica é, para muitos, o términus da prática desportiva, principalmente para as raparigas (Mota & Sallis, 2002). Este trabalho enquadra-se num estudo mais abrangente que pretende conhecer as práticas desportivas realizadas por crianças e jovens e de seus familiares adultos, bem como a perceção destes sobre a importância da atividade física na infância como fator importante para a manutenção da AF e promoção da sua saúde ao longo da vida adulta. Assim, o presente trabalho analisa a frequência da AF praticada por crianças e jovens do concelho de Amarante, em modalidades desportivas fora da escola, pretendendo verificar a regularidade da prática de AF e CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 85 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE identificar os espaços desportivos mais frequentados, com vista a conhecer os seus hábitos de atividade física. METODOLOGIA Com vista a conhecer os hábitos de atividade física de crianças e jovens, optouse pela utilização de uma amostra de conveniência na cidade de Amarante, que é uma cidade que apresenta variados recursos para a prática de atividades físicas. Nela podemos encontrar o rio Tâmega, propício para a prática de canoagem, a serra do Marão, para a prática de ‘bicicleta todo o terreno’ (BTT), um parque aquático, uma ciclovia, um campo de golfe, um parque florestal, um estádio de futebol, as piscinas municipais, diversos ginásios, campos de futebol e de ténis, pavilhões gimnodesportivos, entre outros. Todos estes recursos apresentam-se disponíveis para a prática de atividades físicas diversificadas e, muitos deles, gratuitos. Dada a inexistência de instrumentos de referência que respondessem ao propósito de investigação, construiu-se um inquérito por questionário que, devido à sua estandardização, nas questões e na ordem, e a sua garantia de compatibilidade de respostas dadas pelos inquiridos (Ghiglione & Matalon, 1997), parece cumprir a sua função de aquisição de dados fiáveis. Realizou-se um teste piloto numa das turmas (6.º ano) que não fez parte da amostra, mas pertencente a um dos agrupamentos do estudo. Algumas adaptações foram introduzidas no questionário final, o qual ficou organizado em duas secções: dados pessoais; atividade física/desportiva e saúde. Este estudo foi aprovado pelo Conselho Diretivo do Agrupamento Vertical de Escolas de Vila Caiz e do Agrupamento Vertical de Escolas de Amarante. Os questionários foram aplicados aos alunos das turmas do 5º, 7º e 9º ano de escolaridade em sala de aula com ajuda dos professores de informática. Depois dos questionários devidamente preenchidos, os dados foram transportados para o programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences, versão 21) para subsequente análise estatística descritiva e inferencial (Carmo & Ferreira, 2008). CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 86 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Amostra A amostra foi composta por 404 alunos pertencentes a dois agrupamentos de escolas do concelho de Amarante, o de Amarante e o de Vila Caiz, recrutados no 5º, 7º e 9º ano de escolaridade. As suas idades variam entre os 9 e os 17 anos, tendo uma média de 12,04 e um desvio-padrão de 1,81. Encontram-se distribuídas por três anos de escolaridade (5.º, 7.º e 9.º) correspondendo 189 (46,8%) ao sexo masculino e 215 (53,2%) ao sexo feminino (fig. 1 A e B). B A Figura 1 – Distribuição dos inquiridos por anos de escolaridade e por idade e sexo. A idade da maioria dos alunos encontra-se entre os 10 e os 14 anos (fig. 2A). O peso médio da amostra é de 46,49kg (DP = 11,42), variando entre os 21,4 e os 90kg. O maior número de alunos tem o peso compreendido entre os 30kg e os 59kg (fig. 2B). A altura média da amostra é de 154,05 centímetros (DP = 11,45), variando entre 117 e 185 centímetros. A altura do maior número de alunos encontra-se compreendida entre as categorias intermédias (140 a 169 cms) verificando-se um maior número de raparigas, no entanto as alturas mais elevadas pertencem aos rapazes (fig. 2C). CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 87 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE A B C Figura 2 – Caraterização dos rapazes e raparigas da amostra por (A) idade (B) peso (C) e altura. RESULTADOS E DISCUSSÃO 1. Modalidades desportivas fora da escola Da totalidade dos 404 inquiridos no presente estudo, 245 (60,6%) dizem não praticar nenhuma atividade física ou modalidade desportiva fora da escola. Estes dados são mais elevados do que os encontrados no estudo de Fernandes e Pereira (2006), realizado com crianças dos 10 aos 15 anos, em que 40% não realiza qualquer AF e desportiva fora das aulas de educação física, aumentando assim a percentagem em relação ao estudo anterior. Os dados mostram ainda que dos 159 (39,4%) alunos que praticam AF fora da escola, 103 (64,8%) são do sexo masculino e apenas 56 (35,2%) são do sexo feminino, sendo a diferença estatisticamente significativa, 𝑥 2 (1)=34,11, p=0,001. O facto de os rapazes serem mais recetivos à prática de AF fora da escola confirma CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 88 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE outros estudos anteriores, como o de Fernandes e Pereira (2006), em que 82,0% dos rapazes e apenas 69,5% das raparigas praticavam AF fora da escola. Por anos de escolaridade verificamos que os alunos do 5.º ano, de ambos os sexos, são os que mais praticam uma modalidade fora da escola (Tabela 1), no entanto não se verificam diferenças estatisticamente significativas (p=0,053) pelo teste Kruskal-Wallis do Qui-quadrado. Tabela 1 – Frequência da prática de modalidade desportiva fora da escola 5.º ano 7.º ano M n 47 F % 29,6 n 39 9.º ano M % 24,5 n 33 F % 20,8 n 11 Total M % 6,9 n 23 F % 14,5 n 6 M % 3,8 n 103 F % 64,8 n 56 % 35,2 A modalidade que mais se destaca pelos alunos praticantes é o futebol (77 alunos; 48,4%) (fig. 3). Esta modalidade está representada, quase na totalidade, pelo sexo masculino (72 rapazes; 93,5%). A natação é o segundo desporto com mais adeptos (25 alunos; 15,7%), sendo as raparigas quem mais a prefere (15 raparigas; 60,0%). Figura 3 – Distribuição das modalidades desportivas praticadas por rapazes e raparigas fora da escola Procurou-se evidenciar quais os motivos que levam os alunos a procurar uma modalidade desportiva fora da escola. Verificou-se que 127 alunos (31,4%) referem o desejo de aprofundar uma modalidade desportiva, 92 (22,8%) ambicionam um possível ingresso em campeonatos federados, e 87 (21,5%) referem a existência de técnicos mais qualificados na modalidade que praticam fora da escola (Tabela 2). CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 89 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Tabela 2 – Razões “porque pratica uma modalidade desportiva fora da escola” Porque praticas uma modalidade desportiva fora da escola? Quero aprofundar uma área desportiva Penso em possível ingresso em campeonatos federados Fora da escola existe técnicos mais qualificados na modalidade que pratico Acompanhar os meus amigos Na minha escola não há a modalidade que pratico As aulas na escola são insuficientes para me manter em forma Sim n % 127 31,4 92 22,8 87 21,5 70 68 43 17,3 16,8 10,6 Por sua vez, o estudo de Fernandes e Pereira (2006), embora dirigido a atividades extracurriculares, revela que a procura pelas atividades físicas se centra no “divertimento e ocupação de tempos livres”, na “manutenção da condição física” e no “gostar de desporto”. 2. Prática de Atividade Física nas férias Nas férias os alunos dizem, predominantemente, que praticam “muitas vezes” ou “sempre” atividade física (Tabela 3), com uma média de 2,1 ± 0,8, sendo a moda “muitas vezes” (𝑀𝑜3 = 2). A escala utilizada foi “0=nunca”; “1=poucas vezes”; “2=muitas vezes”; e, “3=sempre”. Tabela 3 – Frequência da prática de Atividade Física nas férias Prática de AF nas férias Não pratico atividade física Raramente pratico atividade física Pratico muitas vezes atividade física Pratico sempre atividade física Total sempre % Valor médio (±DP) Moda 15 58 210 121 404 3,7 14,4 52,0 30,0 100,0 2,1±0,8 2 Das “muitas vezes” e “sempre” que os alunos praticam AF, escolhem os jogos de futebol ou outros jogos com os colegas, com uma média de 1,8 ± 1,1 e a moda “muitas vezes” (𝑀𝑜3 = 2). Pela observação da Figura 4 pode-se constatar que a prática de exercício físico nas férias é mais comum que a passividade ou sedentarismo. Os alunos gostam de se movimentar como evidenciam as primeiras três variáveis do gráfico, relacionadas com atividades físicas. Pelo contrário, as CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 90 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE atividades menos ativas (ir ao parque desportivo) e mais passivas (ver TV; descanso das aulas de EF; computador e jogos) não são práticas tão frequentes no período de férias. Figura 4 – Atividade Física praticada nas férias 3. Locais e companhia na prática de AF Apresentaram-se as estruturas locais para a prática de atividade física do concelho de Amarante para que os inquiridos indicassem quais e com que frequência as utilizavam, deixando ainda uma possibilidade em aberto para opção de “outro local”. A escala utilizada foi “0=0”; “1=1”; “2=2”; e, “3=3 ou mais”. Todos os resultados obtidos apresentam uma moda de “0” correspondendo a uma frequência de “0 vezes” na prática de AF nas variáveis apresentadas. No gráfico da figura 5 verifica-se que a maior frequência nas variáveis da escala para o valor 3 “3 vezes ou mais” se encontra no parque aquático (meses de verão) com 90 alunos (22,3%), seguida de 89 (22,0%) no campo de futebol da freguesia onde habitam e, em terceiro lugar, com 61 (15,1%) as piscinas municipais. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 91 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Figura 5 – Frequência da utilização dos locais de prática desportiva do concelho de Amarante. Na variável “outro local”, 90 alunos (22,3%) indicaram distintos locais de prática de AF: 50 (12,4%) em casa, 11 (2,7%) fazem caminhadas pela freguesia onde moram, 10 (2,5%) jogam no Amarante Futebol Clube, 6 (1,5%) frequentam o parque desportivo da Costa Grande, 5 (1,2%) fazem BTT na serra do Marão e os restantes praticam em locais desportivos fora da freguesia. No que respeita à companhia para o treino da AF (Figura 6), verifica-se que escolhem primeiramente “sempre” e “muitas vezes” ir com os amigos (169 (63+ 106); 42,3%), seguindo-se os irmãos (159 (83+76); 39,8%) e a mãe (158 (56+102); 39,5%). Figura 6 – Frequência da companhia na prática da Atividade Física Relativamente à questão “o que fazem as pessoas que te acompanham” obtiveram-se respostas validadas de 363 alunos. Da análise do gráfico da Figura 7 CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 92 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE verifica-se que, das posturas positivas relativamente à AF (pratica AF comigo; faz outros exercícios; faz uma caminhada no tempo de espera; e, não consegue fazer o que eu faço), só 185 (51,0%) acompanhantes as praticam “sempre” que acompanham os alunos, ao contrário de 113 (31,1%) que adotam “sempre” uma postura passiva. Figura 7 – Distribuição das frequências da prática de AF, ou não prática, enquanto esperam. CONCLUSÃO A prática de AF entra “muitas vezes” na vida dos alunos do concelho de Amarante. As principais conclusões do estudo demonstram que aproximadamente um terço da população inquirida pratica uma modalidade desportiva fora da escola. Verifica-se que, destes, o género masculino é significativamente mais praticante do que o feminino e verifica-se uma maior adesão dos alunos mais jovens, os do 5.º ano. As suas escolhas recaem no futebol com a ambição de aprofundar conhecimentos que os levem a competições em campeonatos federados com técnicos mais experientes na área. Nas férias, os inquiridos elegem a AF ao invés da passividade do computador ou da TV, preferem os jogos de futebol ou outros jogos na companhia dos irmãos e amigos mas escolhem atividades não restritas a um local específico (ginásio e parque desportivo). Dos locais para a prática da AF verificamos que aproveitam os meses de verão para a diversão no parque aquático mas não se esquecem, durante todo o ano, dos jogos de futebol na freguesia onde moram nem da piscina municipal. No entanto verifica-se pouca adesão semanal em todos eles. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 93 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE A maioria das pessoas que sempre os acompanha a locais de treino praticam AF com eles (amigos e irmãos) ou realizam outras atividades enquanto esperam. No entanto verificamos que, das muitas pessoas que não realizam qualquer atividade, optam por os transportar ao treino e, no final, os ir buscar ou então por sentar-se e esperar que o treino termine. Referências Bibliográficas Carmo, H., & Ferreira, M. M. (2008). Metodologia da investigação - Guia para autoaprendizagem (2.ª ed.). Lisboa: Universidade Aberta. Carvalho, G. S. (2006). Criação de ambientes favoráveis para a promoção de estilos de vida saudáveis. In B. C. Pereira, G. S. (Ed.), Atividade física, saúde e lazer; a infância e estilos de vida saudáveis (pp. 19 - 37). Lisboa: Lidel, Edições Técnicas. Carvalho, G. S., & Gonçalves, E. (2011). A abordagem da saúde na educação física em Portugal: programas e manuais escolares, e perspectiva dos professores. Revista Educação Skepsis, n. 2, III, 1901-1935. Fernandes, S., & Pereira, B. O. (2006). A prática desportiva dos jovens e a sua importância na aquisição de hábitos de vida saudáveis. In B. O. Pereira & G. S. Carvalho (Eds.), Educação física, saúde e lazer : a infância e estilos de vida saudáveis. Lisboa: Lidel. Ferraz, F., & Pereira, B. (2009). Práticas de lazer na ocupação dos tempos livre. Estudo com jovens, de ambos os sexos, em diferentes contextos sociais. In L. P. Rodrigues, L. Saraiva, J. Barreiros & O. Vasconcelos (Eds.), Estudos em Desenvolvimento Motor da Criança II (pp. 257-267). Viana do Castelo: Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Viana do Castelo. Ghiglione, R., & Matalon, B. (1997). O inquérito – teoria e prática (3.ª ed.). Oeiras: Celta Editora. Lucas, M. P., Pereira, B., & Monteiro, A. O. (2012). Desporto Escolar: uma construção a partir dos valores. In B. O. Pereira, A. Silva & G. S. Carvalho (Eds.), Atividade Física, Saúde e Lazer: o valor formativo do jogo e da brincadeira. Braga: Universidade do Minho. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 94 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Mota, J., & Sallis, J. F. (2002). Atividade Física e Saúde – Fatores de influência da atividade física nas crianças e nos adolescentes (1.ª ed.). Porto: Campo das Letras. Rocha, A., & Pereira, B. (2006). Avaliação da aptidão física e da atividade física associada à saúde em crianças de 10 anos de idade. In B. Pereira & G. S. Carvalho (Eds.), Educação Física, Saúde e Lazer: A Infância e Estilos de Vida Saudáveis (pp. 165-176). Lisboa: LIDEL Edições Técnicas, Lda. Sarmento, P. (2004). Pedagogia do desporto e observação. Cruz Quebrada: FMH Edições. Wang, G., Pereira, B., & Mota, J. (2006). A atividade física das crianças e a condição física relacionada com a saúde - um estudo de caso em Portugal. In B. Pereira & G. S. Carvalho (Eds.), Educação Física, Saúde e Lazer - A Infância e Estilos de Vida Saudáveis (pp. 141 - 149). Lisboa: Lidel. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 95 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE RELAÇÃO ENTRE A PRÁTICA DE DESPORTO ESCOLAR NA APTIDÃO CARDIORRESPIRATÓRIA E ÍNDICE DE MASSA CORPORAL Carlos Mata 1 Beatriz Pereira 2 Edson Azevedo 3 1. Mestrando em Ensino de Educação Física, IE, Universidade do Minho (UM) 2. Instituto de Educação, Centro de Investigação em Estudos da Criança (CIEC), UM 3. Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil Resumo Neste trabalho estudamos a relação entre a participação das crianças e adolescentes no Desporto Escolar (DE) e duas variáveis importantes relacionadas com a saúde: a aptidão cardiorrespiratória (ApCR) e índice de massa corporal (IMC). Os objetivos deste estudo são: 1) descrever e comparar a prevalência do sobrepeso/obesidade dos alunos praticantes e não praticantes de DE; 2) descrever e comparar a ApCR dos alunos praticantes e não praticantes de DE; 3) descrever e comparar a percentagem de alunos que se encontram na Zona Saudável de Aptidão Física (ZSAF), no que respeita à ApCR; 4) verificar as associações entre ApCR, IMC e idade; 5) verificar qual das quatro modalidades do clube de DE em estudo têm um contributo mais marcante para um IMC mais baixo e uma melhor ApCR. A população estudada apresenta um total de 366 crianças e adolescentes, estando dividida em praticantes regulares de DE (n=111) e não praticantes (n=255). As idades dos sujeitos estão compreendidas entre os 10 e os 14 anos (média de 12,1 1,4). 183 pertencem ao género feminino e 183 ao masculino. A avaliação da ApCR (teste Vaivém) e IMC seguiu o protocolo da bateria de testes Fitnessgram (2002). O VO2máx foi estimado com base na equação de Silva et al. (2012), partindo dos resultados obtidos no teste Vaivém. A categorização da ApCR foi realizada de acordo com os valores de referência propostos por Rodrigues et al. (2006) para a faixa etária 10-14 anos. A prevalência do sobrepeso/obesidade (com base nos pontos de corte de Cole et al., 2000) é de 23,4% nos alunos que praticam DE e de 43,5% nos que não praticam. Os alunos que participam no DE têm valores médios de IMC significativamente mais baixos do que os não participantes. Verificou-se que os valores de IMC aumentam com a idade em ambos os grupos. A percentagem de alunos com uma ApCR boa ou excelente é consideravelmente maior nos alunos praticantes de DE. Observamos uma correlação positiva, com significado estatístico, entre a idade e o VO 2máx neste grupo de alunos. Esta associação não se verificou no grupo não praticante. Verificamos, nos dois grupos, correlação negativa, com significado estatístico, entre IMC e VO 2máx. A modalidade que contribuiu para melhor ApCR foi o Atletismo. Não se verificaram diferenças com significado estatístico entre modalidades, no que respeita ao contributo para menor IMC. A percentagem de alunos que se encontram na ZSAF, no que se refere à ApCR, é superior nos alunos que participam no DE. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 96 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Palavras-chave: APTIDÃO CARDIORRESPIRATÓRIA; ESCOLAR; CRIANÇAS E ADOLESCENTES. IMC; DESPORTO Abstract The aim of this study is to try to understand the relationship between the participation of children and adolescents in School Sport (SS) with two important variables related to health: cardiorespiratory fitness (CRF) and body mass index (BMI). The goals of this study are: 1) to describe and compare the prevalence of overweight/obese students practicing and non practicing SS; 2) describe and compare the subjects CRF practicing and non practicing SS; 3) describe and compare the percentage of students who are in the Healthy Fitness Zone (HFZ), concerning the CRF; 4) assess relationships between CRF, BMI and age; 5) determine which of the four sports, belonging to the School Sports Club, have more contribution for lower BMI and better CRF. The population studied has a total of 366 children and adolescents, 183 girls and 183 boys, and is divided into regular practitioners of SS (n= 111) and nonpractitioners (n= 255). The ages of the subjects were between 10 and 14 years old (mean 12.1 ± 1.4). The evaluation of CRF (20m Shuttle-run test) and BMI followed the protocol of Fitnessgram (2002) tests. VO2máx was estimated based on equation of Silva et al. (2012), based on the results obtained in the 20m shuttle-run test. The categorization of CRF followed the reference valuessuggested by Rodrigues et al. (2006) for the 10-14 years age group. The prevalence of overweight/obesity (based on cutoff points of Cole et al., 2000) is 23.4% in students who practice SS and 43.5% in those who do not. Students participating in the SS have average BMI significantly lower than non-participants. It was found that the BMI increases with age in both groups. The percentage of students with a good or excellent CRF is considerably higher in students practicing SS. We observed a positive correlation, with statistical significance, between age and VO 2máx in this group of students. This association was not observed in the non-practitioner group. We observed in both groups, negative correlation with statistical significance between BMI and VO2máx. Athletics was the sport that contributes more to better CRF. There were no statistically significant differences between sports regarding the contribution to lower BMI. The percentage of students who are in HFZ, in relation to CRF, is higher in the students participating in the SS. Keywords: CARDIORRESPIRATORY CHILDREN AND ADOLESCENTS. FITNESS; BMI; SCHOOL SPORTS; CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 97 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 1. Introdução Considerando que as crianças e jovens passam a maior parte do tempo semanal na escola, será óbvio pensar que existe uma oportunidade importante de intervir neste contexto. Na escola deverão ser criadas condições facilitadoras de aumento do envolvimento em AF, até porque muitos jovens apenas têm oportunidade de participar em AF estruturada na escola, o que amplia a responsabilidade de professores e direções escolares face à necessidade de proporcionar possibilidades de prática generalizada. À luz das recomendações atuais de prática diária de AF, as aulas de EF, apesar das limitações impostas pelo desenho curricular vigente, o DE, onde se incluem as atividades de dinamização interna, o recreio e o transporte ativo casaescola, são áreas de intervenção a privilegiar, que deverão merecer particular atenção. Das áreas promotoras de AF na escola, destaca-se o DE, que pode e deve ser não só um instrumento fundamental na promoção da saúde, mas também de inclusão e combate ao abandono escolar. Deve proporcionar aos alunos a possibilidade de prática desportiva sustentada, regular e devidamente supervisionada. Representa, neste sentido, a garantia de igualdade de oportunidades a todos os alunos, independentemente do meio em que vivem, contribuindo para a valorização pessoal de forma transversal. Por outro lado, com esta oportunidade de prática desportiva que se proporciona a estes jovens, contribuímos também para a sua formação, numa perspectiva mais abrangente, no sentido em que no desporto estão enraizados princípios fundamentais para a formação integral do indivíduo: trabalho, rigor, empenho, objetivos, regras, disciplina, espírito critico, solidariedade, companheirismo, amizade. Verifica-se, na já vasta literatura debruçada sobre o tema das implicações da AF e de um estilo de vida ativo na saúde, que as conclusões e correlações verificadas representam um conhecimento importante para sublinharmos a relevância da promoção de programas de AF apropriada e direcionada aos objetivos consagrados à saúde. A assunção de que a aquisição de um estilo de vida ativo nas crianças e adolescentes (e dos efeitos benéficos na sua saúde) poderá ter implicações na CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 98 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE aquisição/manutenção de hábitos de prática de AF regular na vida adulta (Malina, 2001), aumenta, consideravelmente, o interesse pela implementação de programas/estratégias de promoção de AF. 2. Revisão da literatura Todas as evidências apontam para o impacto negativo de um estilo de vida sedentário no desenvolvimento de diversas doenças crónicas, com especial incidência para as cardiovasculares - uma das principais causas de morte mo mundo ocidental. Nas crianças e jovens, devido a novos padrões de entretenimento (TV, internet, jogos eletrónicos...), os comportamentos sedentários têm vindo a ocupar lugar preferencial na ocupação do tempo livre, coincidindo esta alteração com o aumento das taxas de sobrepeso e obesidade infanto-juvenil (Mota e Sallis, 2002). A AF tem sido descrita como um comportamento passível de influenciar positivamente um conjunto de marcadores de saúde, nomeadamente os associados às doenças cardiovasculares. Que quantidade de AF precisam, então, as crianças para que se produzam benefícios do ponto de vista da saúde? Métodos mais recentes e objetivos de avaliação do nível de AF têm permitido determinar de forma mais rigorosa a frequência, duração e intensidade da AF, o que conduz a dados mais fiáveis de correlação com marcadores importantes associados à saúde. Estudos recentes, recorrendo a metodologias objetivas, sugerem a implementação de um mínimo de 90 minutos de AF moderada a vigorosa na generalidade dos dias semanais, tendo em vista a prevenção da agregação dos diferentes fatores de risco de doença cardiovascular (Andersen et al., 2006). Todavia, o consenso atual relativamente às recomendações de prática de AF na população infanto-juvenil aponta para pelo menos 60 minutos diários de atividade moderada a vigorosa (Janssen e Leblanc, 2010; Strong et al., 2005; Cavill et al., 2001), sublinhando que alguns benefícios podem ser alcançados com uma média diária de 30 minutos diários. Acrescentam ainda que, duas ou três vezes por semana, dever-se-á incluir atividades de desenvolvimento da força, flexibilidade e massa óssea. Cavill et al. (2001), delinearam ainda sugestões práticas a serem trabalhadas pelas diferentes organizações, fornecendo uma forte CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 99 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE base para o planeamento de futuras políticas e programas para aumentar a participação dos jovens em AF benéfica para a saúde. Os dados conhecidos relativamente à prática de AF na população portuguesa, embora indiciem uma evolução positiva entre 2004 e 2009, revelam uma realidade pouco satisfatória (embora próxima da média europeia), na medida em que 55% dos portugueses referiram «Nunca» fazer exercício físico ou praticar desporto (Observatório Nacional da Atividade Física e Desporto, 2011). Neste estudo confirmase ainda o que vem descrito na literatura, sendo clara a diminuição da prática de AF (de intensidade pelo menos moderada) no intervalo entre os 10-11 anos e os 16-17, em ambos os géneros, apesar de mais significativo no género feminino (quadro 1). Quadro 1 - Percentagem de jovens portugueses que realiza 60 ou mais minutos diários de AF de intensidade pelo menos moderada Masculino Feminino Suficientemente Insuficientemente Suficientemente Insuficientemente ativos ativos ativos ativos 10-11 anos 53,0% 47,0% 23,1% 76,9% 12-13 anos 30,0% 70,0% 8,3% 91,7% 14-15 anos 18,8% 81,2% 5,1% 94,9% 16-17 anos 8,7% 91,3% 1,8% 98,2% Fonte: Observatório Nacional da Atividade Física e Desporto, IDP, 2011 É na escola que reside a oportunidade de intervir junto das crianças e adolescentes, no sentido de promover o aumento dos níveis de AF. Para além das aulas de EF, encontramos possibilidades de incremento de AF no DE, no espaço de recreio e nas deslocações ativas de casa para a escola. Há, portanto, um leque variado de opções de ação neste contexto favorável, que não deve (nem pode) ser desperdiçado. Com o propósito de responder ao declínio da AF, que ocorre tendencialmente na adolescência, bem como ao aumento substancial dos níveis de obesidade da população, os países mais desenvolvidos têm procurado incorporar nos programas de EF alterações que visem dar resposta a estes problemas. O interesse pelo potencial da disciplina de EF na promoção da saúde pública vem acrescentar relevância à discussão, na medida em que a prática de AF e desportiva no âmbito escolar, e portanto acessível a todos, poderá resultar em benefícios importantes para a população infanto-juvenil. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 100 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Por outro lado, os benefícios da AF nas crianças e adolescentes são transitórios, pelo que será mais importante implementar estratégias/programas que promovam a participação regular, e que haja manutenção desse comportamento até a idade adulta (Sallis et al., 1992). A EF, como disciplina curricular, contempla objetivos educacionais (cognitivos, sociais e emocionais), que visam a formação global e transversal do aluno. Do ponto de vista da saúde pública, como referem Seabra et al. (2004), deverão os programas de EF dar menos ênfase à aprendizagem de habilidades desportivas e aumentar o ensino de conteúdos associados às componentes da AF (aspetos cognitivos, afetivos e comportamentais). Por outro lado, o DE vem reforçar ainda mais o papel da escola na potencial influência na modificação de comportamentos das crianças e adolescentes, na medida em que, para além de proporcionar um incremento na AF semanal dos alunos, com as implicações positivas daí decorrentes, poderá possibilitar, por intermédio da prática desportiva, o desenvolvimento de práticas e estilos de vida saudáveis. Devemos, portanto, olhar para o DE como um veículo promotor de saúde e bem-estar, influenciador da aquisição de hábitos de vida ativa que perdurem, e também como agente integrador dos alunos na sociedade, no respeito pelos princípios, leis e valores, promovendo a autonomia, responsabilidade, cooperação e amizade, ou seja, valores de cidadania. Deste modo, o DE deve ser considerado como um dos instrumentos fundamentais no sistema educativo, que educa para a saúde e para a cidadania, em colaboração com outras áreas disciplinares. Neste sentido, a escola não pode ignorar o DE como um dos seus processos educativos essenciais, na medida em que representa um facto de grande amplitude na vida social das crianças e jovens. A escola, pelo DE, deve dar resposta às motivações e necessidades das crianças e jovens em relação à cultura motora, no sentido de facilitar e estimular o acesso às diferentes práticas lúdicas e desportivas (Santos e Soares, 2009). Também na escola, do ponto de vista do aumento dos índices de AF das crianças, o recreio escolar constitui um importante ambiente para promoção de AF devendo, por isso, ser valorizado e potenciado (Lopes et al., 2012; Mota et al., 2005). CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 101 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Um conjunto de estratégias simples e de baixo custo podem ser implementadas para maximizar o tempo de recreio atribuído às crianças: equipamentos/materiais, marcações para jogos, envolvimento de professores, jogos de vídeo ativos, criação da “atividade da semana” (Ickes et al., 2012). Proporcionar o acesso às instalações escolares, fornecendo equipamento aos alunos, e identificar formas de promover o incentivo à prática de AF poderão potenciar o aumento da AF durante os períodos de recreio (Ridgers et al., 2012; Haug et al., 2010). O transporte ativo casa-escola constitui outro campo relevante de intervenção no sentido de aumentar os índices de AF da população infanto-juvenil. Com efeito, vários estudos têm sublinhado que as crianças que se deslocam a caminhar ou de bicicleta são mais ativas e com melhores índices de ApCR, particularmente as que se deslocam de bicicleta (Roth et al. 2012; Ostergaard et al., 2012; Chillón et al., 2010). Do ponto de vista da saúde pública, será relevante desenvolver esforços para aumentar as deslocações ativas para a escola, na medida em que estas deslocações são suscetíveis de ter um impacto positivo na saúde das crianças e, eventualmente, diminuir as doenças metabólicas e cardiovasculares (Pizarro et al., 2013). Embora a associação entre a AF e obesidade não possa ser vista de forma linear, vários estudos têm identificado que crianças e adolescentes envolvidos mais tempo em AF moderada ou vigorosa apresentam valores de IMC e massa gorda mais baixos (Ekelund et al., 2004; Tremblay e Willms, 2003; Sallis et al., 1992). Bar-Or (2003) acrescenta que o aumento da AF tem poucas ou nenhumas implicações sobre a adiposidade de crianças e jovens não obesas, sublinhando, no entanto, a sua importância como elemento no tratamento e, possivelmente, na prevenção da obesidade juvenil. Janssen et al. (2005) destacam o efeito benéfico da prática de AF regular, acompanhada de uma dieta alimentar equilibrada, na diminuição da obesidade na população infanto-juvenil. Os dados mais recentes, no que se refere à prevalência do sobrepeso/obesidade para a população jovem portuguesa, de acordo com o estudo de Sardinha et al. (2011) – 22.048 crianças e adolescentes, entre os 10 e os 18 anos de idade – apontam para uma prevalência do sobrepeso/obesidade de 22,6% (17,4% sobrepeso e 5,2% de obesidade). No género feminino referem que 21,6% apresentam CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 102 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE sobrepeso/obesidade (17,0% sobrepeso e 4,6% de obesidade), sendo no género masculino de 23,5% (17,7% sobrepeso e 5,8% de obesidade). Recentemente, a ApCR tem vindo a ocupar um espaço de relevo, tornando-se uma importante variável de avaliação em estudos clínicos. Tem sido sugerido que os vários fatores de doenças cardiovasculares podem ser influenciados pela ApCR (Laaksonen et al., 2002). Estudos apontam a ApCR como um importante marcador de saúde cardiovascular em jovens (Lobelo e Ruiz, 2007). Estudos longitudinais têm revelado que a baixos níveis de ApCR durante a infância e adolescência estão associados a fatores de risco cardiovasculares na idade adulta, tais como hipertensão, hiperlipidemia e obesidade (Ruiz et al., 2006). Rodrigues et al. (2013) referem, com base num estudo longitudinal (9 anos) que a melhoria dos níveis de ApF pode influenciar positivamente a deposição de adiposidade durante o período de tempo que decorre entre a infância e a adolescência. As crianças com maior IMC e ApCR mais baixa têm maior suscetibilidade de ter maior IMC ao longo do tempo (Mota et al., 2011; Martins et al., 2009), sobressaindo a ideia de que, mesmo em idades jovens, o impacto benéfico de níveis crescentes de ApCR seria de grande relevância para a saúde pública e clínica. O aumento global dos níveis de AF, por meio de intervenções em diferentes domínios, tais como o transporte ativo, reduzindo atividades sedentárias (como o tempo passado a ver televisão) podem constituir estratégias eficazes para melhorar a ApCR na juventude. Níveis mais elevados de AF encontram-se associados a níveis mais elevados de ApCR, nomeadamente aqueles que apresentam valores de prática de AF superiores a 40 minutos de AF moderada a vigorosa (Ribeiro, 2010). Realça-se, portanto, a importância de programas de educação para a saúde que integrem a prática orientada de AF, de intensidade adequada, promotoras da melhoria da ApCR, e a implementação de hábitos alimentares saudáveis, como medidas preventivas. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 103 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 3. Objetivos Neste trabalho pretende-se estudar a influência da participação no DE na ApcR e IMC dos alunos. Os objetivos específicos deste estudo são: 1) descrever e comparar a prevalência do sobrepeso/obesidade dos alunos praticantes e não praticantes de DE; 2) descrever e comparar a ApCR dos sujeitos praticantes e não praticantes de DE; 3) descrever e comparar a percentagem de alunos que se encontram na Zona Saudável de Aptidão Física (ZSAF), no que respeita à ApCR; 4) verificar as associações entre ApCR, IMC e idade; 5) verificar qual das quatro modalidades do clube de DE em estudo têm um contributo mais marcante para um IMC mais baixo e uma melhor ApCR. 4. Material e métodos A população deste estudo é composta por alunos do 5º ao 9º ano de escolaridade de uma escola pública do distrito de Viana do Castelo. Os 366 alunos avaliados têm idades compreendidas entre os 10 e os 14 anos (média 12,0 ± 1,4), sendo 183 (50%) do género feminino e 183 (50%) do masculino. Os sujeitos foram pesados e medidos em calção e t-shirt, descalços, antes da aula de Educação Física. Para a determinação do IMC (Peso (Kg) / Estatura (m2)) utilizaram-se os valores obtidos na pesagem e medição. Os sujeitos foram classificados tendo como referência os valores de corte propostos por Cole et al. (2000) para o IMC, em função da idade/género. De acordo com os valores de IMC, os alunos foram distribuídos pelas categorias normal, sobrepeso e obeso. No que diz respeito à ApCR, foi aplicado o teste Vaivém – permitindo fazer uma predição do valor de VO2máx. Para estimar o VO2máx, utilizamos a fórmula proposta por Silva et al. (2012), pois é presentemente a fórmula recomendada para a população juvenil portuguesa: VO2máx= 43.313+4.567*sexo-0.560*IMC+2.785*percursos. (sexo: feminino=0; masculino=1; percursos: nº de percursos realizados no teste Vaivém). CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 104 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Posteriormente, confrontamos os valores de VO2máx com a categorização da ApCR sugerida por Rodrigues et al. (2006), para a faixa etária 10-14 anos, classificando, deste modo, os sujeitos da amostra de acordo os resultados obtidos. Os resultados conseguidos no teste Vaivém (número de percursos realizados) serão também comparados com os intervalos de referência para a ZSAF, no que respeita à ApCR (Fitnessgram, 2002). Estes valores de referência têm em consideração o género e idade dos sujeitos. As variáveis em estudo neste trabalho são as seguintes: género, idade, ApCR (VO2máx e ZSAF) e IMC - variáveis dependentes; participantes e não participantes no DE; modalidades do DE - variáveis independentes. Para além da análise exploratória inicial, foi utilizada a estatística descritiva, através da utilização de médias e desvios-padrão, para caraterizar a população deste estudo. Para a análise estatística dos dados recorreu-se ao programa SPSS (Statistical Package for Social Sciences, versão 20.0 para Mac, SPSS Inc, Chicago, USA) e folha de cálculo do programa Excel do Microsoft Office 2008. O nível de significado estatístico foi colocado em p 0,05. Para avaliar a normalidade recorreu-se ao teste de Shapiro-Wilk. Foi utilizada, para comparações múltiplas, a ANOVA – Teste Scheffe: especificamente para as variáveis IMC e VO2máx, comparando as diferentes modalidades do clube de DE. O coeficiente de correlação de Pearson foi utilizado para verificar a associação entre as variáveis idade, IMC e VO2máx, comparando os praticantes e não praticantes de DE. 5. Apresentação dos resultados A população total deste estudo (n=366) está dividida em alunos praticantes e não praticantes de DE, respetivamente, n=111 (30,3%) e n=255 (69.7%) (quadro 2). Neste quadro observamos diferenças entre os alunos que praticam DE, relativamente aos que não praticam: menor peso (média de 47,2 ± 10,7 contra 51,1 ± 14,0), menor CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 105 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE IMC (média de 19,8 ± 2,7 contra 21,5 ± 4,4) e VO2máx mais elevado (média de 52,0 ± 6,8 contra 46,6 ± 8,8). Quadro 2 - Caraterização da população (médias e desvios-padrão) para os aluno praticantes e não praticantes de desporto escolar Com Desporto Escolar n= 111 Variáveis Sem Desporto Escolar n= 255 DP Min Máx Total (n=366) DP Min Máx DP Min Máx Idade (anos) 12,2 1,4 10 14 12,0 1,4 10 14 12,1 1,4 10 14 Peso (Kg) 47,2 10,7 27,0 86,0 51,1 14,0 29,0 105,0 49,9 13,2 27,0 105,0 Estatura (m) 1,53 0,10 1,32 1,78 1,53 0,90 1,27 1,81 1,27 0,10 1,27 1,81 IMC (Kg/m2) 19,8 2,7 14,6 27,1 21,5 4,4 14,0 36,3 21 4,1 14,0 36,3 Vaivém (percursos) 49,5 18 10 96 35 18,5 5 92 39,6 19,5 5 96 VO2máx (ml.kg.min) 52,0 6,8 36,2 69,2 46,6 8,0 28,2 67,2 48,2 8,0 28,2 69,2 Nos alunos praticantes de DE, verifica-se que os rapazes apresentam valores médios de IMC idênticos às meninas (média de 19,9 ± 3,0 contra 19,8 ± 2,5), sendo que se observam diferenças entre géneros, no que respeita ao VO2máx, apresentando os rapazes valores significativamente superiores (média de 56,7 ± 5,3 contra 47,3 ± 4,7). Esta diferença é também visível nos alunos não praticantes de DE (média de 51,3 ± 7,2 no género masculino, contra 42,3 ± 6,9 no feminino). Os valores médios de IMC neste grupo são inferiores no género masculino (média de 20,7 ± 3,8 contra 22,3 ± 4,9 no género feminino) (quadro 3). Note-se que os rapazes praticantes de DE apresentam valores significativamente superiores de VO2máx e inferiores de IMC, quando comparados com os não praticantes, verificando-se este facto igualmente no género feminino. Quadro 3: Caraterização da população (médias e desvios-padrão) para os praticantes e não praticantes de desporto escolar, por género Com Desporto Escolar (n= 111) Sem Desporto Escolar (n= 255) n= 366 Masculino (n= 56 ) Variáveis Feminino (n= 55) DP Min Máx Masculino (n= 127 ) DP Min Máx Feminino (n= 128 ) DP Min Máx DP Min Máx Idade (anos) 12 1,5 10 14 12,3 1,4 10 14 12 1,4 10 14 12 1,4 10 14 Peso (Kg) 47,6 12,4 27 86 47 8,9 29 70 49 13,0 29 87 53 15,0 29 105 Estatura (m) 1,54 0,1 1,33 1,78 1,53 0,1 1,32 1,69 1,53 0,1 1,33 1,81 1,53 0,08 1,27 1,71 IMC (Kg/m2) 19,9 3,0 14,6 27,1 19,8 2,5 15,0 26,7 20,7 3,8 14,0 33,7 22,3 4,9 15,0 36,3 CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 106 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Vaivém (percursos) 58 18,0 22 96 41 13,7 10 73 42 20,0 6 92 29 14,0 5 80,0 VO2máx (ml.kg.min) 56,7 5,3 43,8 69,2 47,3 4,7 36,2 60,0 51,3 7,2 34,8 67,2 42,3 6,9 28,2 84,0 Observando o quadro 4, verificamos diferenças evidentes em relação à prevalência do sobrepeso/obesidade, de acordo com os valores de referência de Cole et al. (2000), na população praticante e não praticante de DE: 23,4% (21,6% sobrepeso e1,8% obesidade) contra 43,5% (30,2% sobrepeso e 13,3% obesidade). Quadro 4: Prevalência do sobrepeso e obesidade dos alunos com e sem DE Com Desporto Escolar (n= 111) n= 366 Sem Desporto Escolar (n= 255) IMC (Cat.) n % n % NORMAL 85 76,6 144 56,5 SOBREPESO 24 21,6 77 30,2 OBESIDADE 2 1,8 34 13,3 SOBREPESO/ OBESIDADE 26 23,4 111 43,5 De acordo com os pontos de corte de Cole et al. (2000) Relativamente à ApCR dos grupos participantes e não participantes no DE (quadro 5), constatamos igualmente diferenças notórias, com os alunos do DE a situarem-se, na sua maioria, nas categorias boa e excelente ApCR (respetivamente, 11,7% e 82,9%, ou seja, 94,6% dos alunos). Dos alunos sem DE, 67,1% encontramse nestas duas categorias (respetivamente, 16,9% e 50,2%). Sublinha-se ainda que, neste grupo, 17,3% têm uma ApCR muito fraca ou fraca. Quadro 5: ApCR dos alunos com e sem DE Com Desporto Escolar (n= 111) n= 366 Sem Desporto Escolar (n=255) ApCR (Cat.) n % n % MUITO FRACA 0 0 17 6,7 FRACA 1 0,9 27 10,6 REGULAR 5 4,5 40 15,7 BOA 13 11,7 43 16,9 EXCELENTE 92 82,9 128 50,2 De acordo com os Valores de referencia de Rodrigues et al. (2004) CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 107 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE No quadro 6 apresenta-se a percentagem de alunos que se encontram dentro da ZSAF (Fitnessgram), no que à ApCR diz respeito, constatando-se que 96,4% dos alunos que participam no DE se encontram na zona saudável. A população escolar não participante no DE apresenta uma percentagem de alunos dentro da zona saudável consideravelmente inferior: 69,8%. Quadro 6: Percentagem de alunos dentro e fora da ZSAF para a ApCR (com e sem DE) Com Desporto Escolar (n= 111) n= 366 SIM ZSAF (Fitnessgram) Sem Desporto Escolar (n= 255) NÃO SIM NÃO n % n % n % n % 107 96,4 4 3,6 178 69,8 77 30,2 No estudo correlacional (quadro 7), verificamos, em ambos os grupos, uma associação positiva, com significância, entre a idade e o IMC, indiciando este facto que o aumento da idade é acompanhado por aumento dos valores de IMC. No grupo praticante de DE, observamos uma correlação positiva, com significado estatístico, entre a idade e o VO2máx, o que nos permitirá concluir que os sujeitos deste grupo melhoram a ApCR com a idade. Esta associação não se verificou de forma estatisticamente significativa no grupo não praticante de DE. É notória nos dois grupos, a correlação negativa, com significado estatístico, entre IMC e VO2máx, percebendo-se desta associação que os sujeitos com melhor ApCR apresentam valores de IMC mais baixos. Quadro 7: Correlação (Pearson) entre IMC, IDADE e VO2máx: participantes e NÃO participantes no DE Participantes no DE n=111 IDADE IDADE IMC ,246** VO2máx ,238* ** p<0.01 NÃO Participantes no DE IMC VO2máx n=255 ,246** ,238* IDADE -,321** IMC ,244** VO2máx ,104 -,321** IDADE IMC VO2máx ,244** ,104 -,604** -,604** *p<0.05 Analisando o contributo de cada uma das modalidades do clube de DE (Atletismo, Badminton, Atividades Rítmicas e Expressivas e Voleibol) para uma melhor CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 108 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE ApCR e valores mais baixos de IMC (quadro 8), constata-se que as diferenças relativamente ao IMC não são estatisticamente significativas (a modalidade com valores de IMC mais elevados é o Voleibol: média de 20,2 ± 3,4). Já em relação ao VO2máx, podemos inferir que os contributos são diferenciados, e com significância estatística, com as modalidades de Atletismo (média de 55,2 ± 6,0) e Badminton (54,0 ± 6,5) a registarem os melhores resultados neste parâmetro de avaliação. Participam nas modalidades de Atletismo, Badminton e ARE alunos com idades compreendidas entre os 10 e os 14 anos de idade, de ambos os géneros. A modalidade de Voleibol é frequentada apenas por alunos do escalão de infantis (10-12 anos), igualmente de ambos os géneros. Quadro 8: médias e desvios-padrão do IMC e VO2máx por modalidades do DE n= 111 IMC (Kg/m2) Modalidade DE n ARE 21 Badminton VO2máx (ml.kg.min-1) DP Min Máx n DP Min Máx 19,7 1,5 17,2 22,4 21 47,1* 3,3 42,7 52,9 40 19,9 3,0 14,6 27,1 40 54,0* 6,5 41,3 64,6 Voleibol 18 20,2 3,4 15,7 26,7 18 47,4* 6,9 36,2 59,2 Atletismo 32 19,6 2,7 15,0 25,5 32 55,2* 6,0 45,0 69,2 *,000 6. Discussão dos resultados Os dados recolhidos apontam para uma prevalência de sobrepeso/obesidade da população estudada consideravelmente acima dos valores mencionados na literatura. Quando comparados com o estudo de Sardinha et al. (2011), os valores encontrados estão muito acima dos referidos por estes autores: 37,4% contra 22,6%. Verificamos igualmente diferenças notórias quando comparamos a prevalência por géneros: 21,6% e 23,5% para os géneros feminino e masculino no estudo de Sardinha et al. (2011), contra 37,2% e 37,7% para os géneros feminino e masculino no nosso estudo. No entanto, se diferenciarmos a prevalência nos alunos praticantes e não praticantes de DE, constatamos que os primeiros apresentam uma percentagem de sobrepeso/obesidade mais baixa e aproximada ao estudo de Sardinha et al. (2011): 23,4%. Por outro lado, a prevalência de 43,5% de sobrepeso/obesidade dos alunos não praticantes de DE revela uma situação inquietante, que deverá merecer atenção particular. Se considerarmos que os alunos que praticam DE são mais ativos CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 109 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE relativamente aos que não praticam (até porque a generalidade dos alunos não participa em AF fora da escola), este dado vem reforçar a ideia sustentada por vários autores, que referem uma associação negativa entre nível de AF e peso corporal (Rodrigues et al, 2013; Ekelund et al., 2004; Ribeiro et al., 2000). Constatamos igualmente diferenças significativas, no que se refere à ApCR, entre alunos participantes e não participantes no DE, com os alunos praticantes a evidenciarem uma percentagem consideravelmente superior (94,6%) nas categorias boa e excelente ApCR, comparativamente com o grupo não participante (67,1%). Esta constatação é reforçada, quando verificamos que a percentagem de alunos envolvidos no DE que se encontram dentro da ZSAF, no que se refere à ApCR, é consideravelmente superior aos não praticantes (96,4% contra 69,8%). Estes resultados confirmam os da literatura, na medida em que o aumento dos níveis de AF contribuem para a melhoria da ApCR dos jovens (Ribeiro, 2010). Verificamos no grupo participante e não participante no DE, uma associação positiva, estatisticamente significativa, entre a idade e IMC. Considerando que o IMC se altera consideravelmente com a idade nas crianças e adolescentes (Ross e Janssen, 2007), seria expectável que esta associação se verificasse. A correlação positiva, com significância estatística, entre a idade e o VO 2máx, observada nos alunos praticantes de DE, permite-nos concluir que os sujeitos deste grupo melhoram a ApCR com a idade. Não se verificou correlação estatisticamente significativa entre a idade e o VO2máx no grupo não praticante de DE. Atendendo a que os estudos recentes com a população infanto-juvenil portuguesa evidenciam uma diminuição acentuada dos níveis de AF à medida que a idade avança (Observatório Nacional da Atividade Física e Desporto, 2011), e que existe uma relação entre o nível de AF e a ApCR (Ribeiro, 2010), será razoável depreender que os alunos praticantes de DE e, portanto, mais ativos, revelem uma tendência para uma melhor ApCR, mesmo nas crianças mais velhas. Verificou-se nos dois grupos, correlação negativa, com significado estatístico, entre IMC e VO2máx, concluindo-se, desta associação, que os sujeitos com melhor ApCR apresentam valores de IMC mais baixos. Esta associação vai de encontro ao que tem sido descrito na literatura (Mota et al., 2011; Ribeiro, 2010; Martins et al., CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 110 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2009) realçando este facto a importância de intervenções assentes na procura da melhoria dos níveis de ApCR, na medida em que poderão ter implicações positivas na saúde das criança e adolescentes. Da análise do contributo das quatro modalidades pertencentes ao clube de DE para valores mais baixos de IMC e uma melhor ApCR, constatamos que não existem diferenças estatísticas relevantes no que se refere à contribuição de cada uma das modalidade, relativamente ao IMC. No entanto, verificaram-se diferenças estatisticamente significativas no que se refere ao VO2máx, sendo o Atletismo a modalidade a registar valores mais elevados nesta variável. Este facto poderá estar relacionado com o tipo e, em particular, com a intensidade de atividade que é realizada nesta modalidade, contribuindo, desta forma, para uma melhor ApCR. 7. Conclusões As conclusões que emanam deste estudo são as seguintes: 1) a prevalência do sobrepeso/obesidade dos alunos praticantes de DE é substancialmente inferior à dos não praticantes; 2) Os alunos que participam no DE têm valores médios de IMC significativamente mais baixos do que os não participantes; 3) O IMC aumenta com a idade em ambos os grupos; 4) A percentagem de alunos com uma ApCR boa ou excelente é consideravelmente maior nos alunos praticantes de DE; 5) O VO2máx aumenta com a idade no grupo praticante de DE, mas não no não praticantes; 6) A ApCR é melhor nos alunos com IMC mais baixo em ambos os grupos; 7) A modalidade que contribui para melhor ApCR foi o Atletismo. 8) A percentagem de alunos que se encontram na ZSAF, no que se refere à ApCR, é superior nos alunos que participam no DE. Revela-se de especial importância a intervenção na promoção da AF na escola, quer por via do DE, quer também através da criação de condições para a AF espontânea (recreio) e também a sensibilização da escola e encarregados de CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 111 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE educação para a valorização do transporte ativo casa-escola. Importa também sublinhar a importância da implementação de um plano anual de atividades desportivas que promova a prática regular e sistemática dos alunos. O que pretendemos, em última análise, é inscrever a AF nos hábitos dos nossos jovens, valorizando a prática, alterando ou reforçando a forma como encaram a AF e desportiva, para que possam ter um futuro ativo, saudável e feliz. 9. Referências bibliográficas 1. Andersen, L.; Harro, M.; Sardinha L. (2006). 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CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 116 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE CURRÍCULO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES FORMAÇÃO INICIAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA PARA QUÊ? Ricardo Rezer - Universidade Comunitária de Chapecó (UNOCHAPECÓ) RESUMO Entendo que a questão título, uma provocação decorrente de recorte de pesquisa anterior (REZER, 2010), não vem recebendo devida atenção da comunidade acadêmico-científica da Educação Física (EF). Este “esquecimento” pode produzir sensações ilusórias de que, concordando com Balbinot (2006), já conhecemos o suficiente do que ainda deve ser conhecido. Nesse caso, investigar o trabalho docente na Educação Superior, tomando o campo da EF como referência, trata-se de uma importante e complexa empreitada. Se a “presença” da EF vem sendo discutida em diferentes âmbitos, tais como a escola, academias, clubes, entre outros, também é importante discutir e problematizar sua “presença” na Educação Superior, o que permite também, refletir com futuros egressos acerca das responsabilidades da EF, qualquer que seja o âmbito de intervenção, no sentido de transpor para a universidade a discussão que muitas obras propõem para outros âmbitos, tais como a escola. Partindo disso, em pesquisa anterior (REZER, 2010), cujo recorte deu origem a este texto, subdividi o tema, “trabalho docente na Educação Superior no campo da EF”, em três momentos, articulados entre si, a fim de permitir maiores possibilidades de aprofundamento. Inicialmente, abordei o conhecimento “da” EF contemporânea, que se constitui a partir de diferentes interpretações deste campo. No segundo momento, para discutir o trabalho docente na Educação Superior no processo de formação inicial em EF, foi realizado um trabalho de campo (julho/2009 a março/2010), nos contextos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó). Finalmente, articulando as discussões desenvolvidas até então, no momento final, foram edificadas sínteses conclusivas, derivadas do conjunto do processo investigativo. Neste breve texto, procuro apresentar a síntese de uma questão que não foi pensada a priori na pesquisa, mas sim, edificada ao longo do trabalho de campo, tomando como referência os argumentos dos colaboradores: afinal, formação inicial em EF para quê? CONSIDERAÇÕES INICIAIS... Parto do pressuposto de que a questão título deste texto, uma provocação decorrente de recorte de uma pesquisa anterior (REZER, 2010), não vem recebendo devida atenção da comunidade acadêmico-científica da Educação Física (EF). Este “esquecimento” pode produzir sensações ilusórias de que, concordando com Balbinot (2006), já conhecemos o suficiente do que ainda deve ser conhecido. Ou como já se CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 117 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE referiu Nietzsche (2001), o que é conhecido é habitual e o habitual é o mais difícil de conhecer, de ver como problema, isto é, de ver como estranho, afastado, fora de nós. Partindo disso, compreendo que o panorama da EF na Educação Superior não se constitui “naturalmente”, mas sim, conectado a um contexto maior, no qual necessidades, desejos, conhecimentos e interesses se manifestam, em um jogo de forças cunhado ao longo de uma recente história. Este “jogo” vem se desenvolvendo sob diferentes correlações de força, com diferentes interesses, corporativos ou não, que merecem maior capacidade de estranhamento e esforço investigativo. Como exemplo, a exigência de produção acadêmico-científica (especialmente na pós-graduação), oriunda de uma política científica nacional, conseqüência de um modelo baseado na meritocracia, vem se desdobrando de diferentes formas no âmbito da formação inicial nos diversos campos do conhecimento, entre eles a EF. Considerando que este cenário vem exigindo cada vez mais a produção intelectual de pesquisadores que, na sua “origem” profissional, são professores, a atenção se volta para a pesquisa e o ensino, ao que parece, não vem recebendo a devida atenção na Educação Superior1. Nesse caso, investigar o trabalho docente na Educação Superior, tomando o campo da EF como referência, trata-se de uma importante e complexa empreitada, que ainda não foi enfrentada de forma consistente na EF brasileira. Por outro lado é necessário reconhecer um incremento nos estudos que abordam algumas das preocupações ora apresentadas, nomeadamente os trabalhos de Azevedo (1999); Gonzalez (1999, 2004, 2007); Oliveira e Silva (2003); Krüger e Krug (2009), bem como, desdobramentos de minha própria tese, Rezer (2010); Rezer, Nascimento e Fensterseifer (2011); Rezer, Fensterseifer e Nascimento (2011); Rezer, Nascimento, Fensterseifer e Braga (2012), entre outros. Embora isso, há ainda muitos mistérios envolvendo o trabalho docente na Educação Superior no campo da EF. Daí a importância de ampliar o processo de discussão e reflexão acerca deste assunto, por intermédio da pesquisa. Se a “presença” da EF vem sendo discutida em diferentes âmbitos, tais como a escola, Como exemplo, a pós-graduação teve sua “origem” voltada para qualificar a docência na Educação Superior e, ao longo do tempo, deslocou seu epicentro para a formação de pesquisadores. 1 CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 118 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE academias, clubes, entre outros, também é importante discutir e problematizar sua “presença” na Educação Superior, o que permite também, refletir com futuros egressos acerca das responsabilidades da EF, qualquer que seja o âmbito de intervenção, no sentido de transpor para a universidade a discussão que, por exemplo, muitas obras propõem para outros âmbitos, tais como a escola. Nessa direção, Tardif e Lessard (2005) destacam que o estudo da docência, entendida como um trabalho continua sendo negligenciado, o que pode justificar a dificuldade em estabelecer vínculos mais concretos com pesquisas que estudem o trabalho docente na Educação Superior. Concordando com Tardif (2002), já passou da hora dos professores estudarem e investigarem seu próprio trabalho. Partindo disso, em pesquisa anterior (REZER, 2010), cujo recorte deu origem a este texto, abordei o tema “trabalho docente na Educação Superior no campo da EF” a partir de uma perspectiva epistemológica, orientada hermeneuticamente2, a fim de compreender o trabalho docente no campo da EF neste âmbito. Neste breve texto, procuro apresentar uma síntese de uma questão que não foi pensada a priori para a pesquisa, mas edificada ao longo do trabalho de campo, tomando como referência os argumentos dos colaboradores: Formação inicial em EF para quê? A seguir, com todo o risco que isso exige, procuro enfrentar esta questão. TENCIONANDO A QUESTÃO INICIAL: FORMAÇÃO INICIAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA PARA QUÊ? “Esta é uma pergunta que o Google não responde.” Professor Antonio 2 Em seu conjunto, a pesquisa foi desenvolvida entre 2007 e 2010. Um trabalho de campo, realizado ao longo do segundo capítulo, foi desenvolvido entre julho/2009 e março/2010. O grupo de colaboradores foi constituído por 07 professores dos cursos de EF da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó), nominados de forma fictícia de: Antonio, Baltazar, Cezar, Dionísio, Everton, Francisco e Gabriela. O instrumento utilizado para o trabalho de campo foi a entrevista semi-estruturada. Destaco a importância ímpar, no conjunto deste processo, dos orientadores, professores Dr. Juarez V. Nascimento (UFSC) e Dr. Paulo E. Fensterseifer (Unijuí). Fica o respeito e o reconhecimento. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 119 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Uma resposta muito comum para o imaginário social, felizmente não encontrada nas entrevistas, poderia ser uma expressão freqüentemente empregada por algumas universidades em períodos de vestibular, em campanhas publicitárias, entre outros: “Venha vencer na vida, venha para a Universidade...”. Nesse sentido, vem sendo bastante difundida a noção de que a finalidade da Educação Superior seria formar profissionais competitivos para o mercado de trabalho, na perspectiva de que, sendo um “bom profissional”, as chances de “vencer na vida” aumentariam consideravelmente. Inicialmente, considero que chavões e clichês são bons para nos ajudar a parar de pensar. Penso que há mais preocupações teleológicas da Educação Superior do que formação para o mercado3. Porém, não é possível refutar essa incumbência, pois “formar bons profissionais para o mercado de trabalho” também é uma das prerrogativas de um processo de formação profissional, visto que o mundo em que vivemos se movimenta em meio a relações de mercado e necessitamos qualificar as respostas que damos a este cenário. Mesmo assim, esta compreensão não justifica pensar isso como “a” finalidade da Educação Superior. Enveredar esforços para isso, exclusivamente, é aceitar a universidade a reboque das demandas de mercado, e não, na medida do possível, dialogando com elas. Diferente disso vem se desenhando um quadro na contramão deste argumento, visto a tendência de diferentes universidades, mesmo as públicas federais, assumirem a lógica de uma formação (restritiva) para o mercado. Partindo dessa compreensão, abordo a questão proposta no título deste texto sem pretensões de resolvê-la, considerando sua complexidade e a pertinência de discutir sobre ela neste momento da EF brasileira. A epígrafe, derivada da entrevista com o Prof. Antonio, expressa de forma interessante que respostas à determinadas questões, mesmo que provisórias, dependem do esforço dos protagonistas do próprio campo, e não há alguma entidade “divina” (neste caso, o Google) que poderá responder sobre isso por nós. Como protagonistas responsáveis, lembro da Teleologia é uma palavra derivada do grego τέλοs, que significa ‘fim’. As origens da ideia de uma explicação dos fins é antiga, remontando a Anaxágoras, Platão e Aristóteles, este último, com a sua noção de que as coisas servem para algum propósito. Conforme Mora (2001, p. 665), foi empregada para designar a parte da filosofia que se propõe a explicar os fins das coisas. 3 CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 120 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE necessidade de discutir questões teleológicas, bem como epistemológicas e axiológicas, de nosso próprio campo. Principalmente pela condição de que reformas da Educação Superior parecem não trazer contribuições substanciais a questão, talvez pelo fato de que se preocupam muito mais com questões normativas. O argumento do professor Antonio, de que “essa é uma pergunta que é própria do humano, própria da filosofia e tem que ser respondida provisoriamente”, permite considerar que, se por um lado, a questão aqui enfrentada não se trata de pouca coisa, podemos respondê-la, mas com o cuidado e a provisoriedade que merecem. Desta forma, a pergunta “Formação inicial em EF para quê?” não é uma questão para ser respondida, tomando como referência Mario Osório Marques (1993), “de vez”, mas sim, “a cada vez”. Inclusive, não se trata de uma questão a ser resolvida por uma tese ou um artigo, por exemplo, mas sim, pensada e respondida “a cada vez” com o movimento do próprio campo, em diferentes contextos, na medida em que ele se movimenta, em um constante “respondendo”. Nas entrevistas realizadas, foi possível perceber uma pluralidade de idéias a respeito dessa pergunta, conforme a seguir. [...] as possibilidades das respostas vão ter que ser dadas por aquele professor que consiga fazer as diferentes leituras, que atualize conceitos que talvez estejam muito “dados”. Parece que todo mundo sabe ‘para que EF’, mas se a gente não retomar, não der uma nova ênfase a esses conceitos que parecem dados, a gente vai estar, do ponto de vista do reconhecimento enquanto área, prejudicado, no sentido de não estar conseguindo justificar a presença em um currículo (Professor Antonio). Para formar pessoas que possam atuar na sociedade, educando para uma vida melhor. Para se ter mais saúde e qualidade de vida e, acima de tudo, para ser senhor de si (Professor Baltazar). Começando com uma questão fundamental hoje que nunca foi claramente respondida: EF para que? [...] Não é pra se imitar e copiar movimento, não é apenas para fomento a saúde, a EF da escola não é apenas para compensar o que a vida hoje não oferece, mas sim, possibilitar uma cultura, que é indispensável para a vida, para um bom viver, mas não de forma técnica e para uma chamada qualidade de vida, não assim, mas para uma necessidade realmente humana (Professor Cezar). [...] porque existe um componente na formação geral dos jovens, das pessoas, que envolvem os aspectos físico-motores, os aspectos de relacionamento no ambiente esportivo, os aspectos de aprendizagem motora, não só com um fim em si próprio, mas como uma extrapolação para todas as áreas de vida das pessoas (Professor Dionísio). CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 121 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE [...] formamos um profissional que seja autônomo a partir do ensino fundamental e possa ter conhecimentos sobre atividade física, suficientes para não depender de uma academia (Professor Everton) [...] um dos papeis da formação é a autonomia da possibilidade de operar com conceitos. A partir do domínio de conceitos, do domínio conceitual, eu domino os conceitos e posso operar com os conceitos no campo de treinamento ou posso operar com esses conceitos no campo escolar (Professor Francisco). [...] os professores formados devem atuar com o processo de formação de ser humano em conjunto com outras áreas e a área escolar é primeiro passo, é uma área que não temos como esquecer, [...] porque se eles forem atuar numa escola onde os alunos vão passar 13 anos, 14 anos dentro da escola, para que isso? O que eles têm que ensinar lá? Que área é essa? (Professora Gabriela). Inicialmente, partindo das falas dos professores Antonio, Cezar e Gabriela, enfrentar conceitos muito dados parece ser uma necessidade para superar chavões e clichês que nos impedem de pensar. Da mesma forma, indicam a necessidade que a própria área tem de “se-problematizar”, esforço, ao que parece, não muito comum. Nesta perspectiva, aprender a operar com conceitos (Professor Francisco), de forma autônoma (Professores Baltazar, Francisco, Everton) em uma área que necessita de tratamento acadêmico (Professor Dionísio), parecem representar “saídas” importantes de serem consideradas no trato frente à questão proposta. Nesta pequena síntese de convergência/divergência construída pelas falas dos professores, é possível, mais do que simplificar a discussão, julgando seus argumentos, pensá-los como referências para qualificar novos argumentos. Para efeito de ilustração, penso como seria rica uma discussão entre os colaboradores sobre as finalidades da formação inicial em EF4. Partindo das falas dos colaboradores, é possível alçar “autonomia” a um dos destaques a serem explorados para uma reflexão mais elaborada, já que foi argumento expresso na fala de três colaboradores, mas importante destacar, implícito na fala dos demais, com significativa ênfase ao longo de cada entrevista. Porém, 4 A importância de enfrentar esta questão pode ser representada por um exemplo: na discussão referente às Novas Diretrizes Curriculares, que desdobra a formação inicial em EF em cursos de Licenciatura e Bacharelado, percebo um desvio improdutivo nos rumos que muitas discussões tomam, já que recorrentemente, o foco da discussão sobre o que seria um qualificado processo de formação se desloca para a “defesa” ou “ataque” a cisão, esquecendo muitas vezes, de perguntar sobre as finalidades do próprio campo onde esta cisão acontece e de que forma ela se justifica. Ou ainda, é perceptível uma confusão sobre as finalidades de cada formação. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 122 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE próximo do que afirma Tugendhat (2007, p. 32), não tenho preocupações em discutir o verdadeiro sentido das palavras, pois, o mais importante é ter bem claro, entre os diversos significados possíveis que possuem, o significado com que se quer empregálas. Baseado em Kant, é possível argumentar de que o processo educativo é um processo de conquista de autonomia, de aprender a “pensar por si” sem a direção de outrem, respondendo com responsabilidade pelas escolhas realizadas5. Porém, autonomia é sempre um processo, no qual não é possível afirmar: “chegamos!”, pois estamos sempre “no meio” e, na medida em que adentramos novos horizontes, nos colocamos na condição de caminhantes. Neste complexo processo, é importante pensar nos caminhos que podemos seguir, em meio ao próprio movimento do campo, construindo pontos de inflexão com os quais podemos operar, que permitem considerar sobre outras possibilidades, que não apenas “desempenhar um papel” em um script escrito por outros. Ou seja, uma condição que permite pensar que nossa história não está definida e ainda pode se dar por opção e não por destino. Considerando então, a importância de uma formação para a autonomia, entendo que é necessário fomentar na formação inicial, o que Paulo Freire (1987) se referia como Fome da cabeça. Ou seja, mais que ensinar “coisas”, fomentar o desejo de conhecer, de se sentir seduzido para querer saber mais, representa um ponto nevrálgico neste processo. Especialmente, pois a universidade é um contexto no qual, como se refere Gadamer (2007), existem vários espaços vazios a serem preenchidos. Assim, aprender a reconhecer espaços ainda a serem preenchidos, nem sempre fáceis de perceber, pode representar um princípio para o processo de formação inicial. Um contexto que torne possível aprender a enxergar, “por si”, brechas no mundo, bem como, a operar dentro de uma tradição anterior, na qual o próprio campo se edificou, sem tutela, significa elevada importância para o trabalho docente neste âmbito. Isso representa uma possibilidade que nunca é totalmente realizada nos seres humanos e 5 Lembro que autonomia se origina de auto (próprio) e nomos (leis), o que sugere a possibilidade de autolegislação, porém, sem descolamento do mundo no qual este processo se desenrola. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 123 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE que recebemos para desenvolver a graus mais elevados para todos, visto o objetivo da vida humana, de encontrar espaços livres e aprender a se mover neles (LAWN, 2007). Partindo da pretensão de uma formação inicial que possa ser um espaço de construção de autonomia6, que se aproxime de uma compreensão ampliada de formação (Bildung), e não se reduza a uma cópia (Nachbildung), em um caminho por conseqüência ampliado, o trabalho docente nos processos de formação inicial possui o compromisso de alargar horizontes, tanto os próprios horizontes do professor, como os horizontes dos estudantes, sem incorrer no equívoco de uma formação estreita, restritiva, especializada precocemente. Lembrando Gadamer (2007), recorrendo a Hegel, quem se entrega a particularidade, nesse caso, particularidades em condição precoce, é inculto (Ungebil), perspectiva contrária a idéia de autonomia apresentada anteriormente e possivelmente contrária a noção de autonomia presente nos argumentos dos colaboradores. Daí as críticas estabelecidas à formação com preocupações estritamente técnicas. Embora a formação técnica seja também necessária, ela não é suficiente para lidar com os desafios da docência na formação inicial. Se a formação técnica fosse suficiente, é possível retomar a antiga discussão, em que, por exemplo, um praticante de musculação ou um ex-jogador de futebol, ambos com muitos anos de prática, com conhecimentos específicos derivados de sua imersão nestas especificidades, bem poderiam ser ótimos instrutores de musculação ou futebol. Mas, se estes dois exemplos fossem atuar como instrutores de musculação ou futebol, quais seriam as contribuições de um curso de EF em suas trajetórias? Utilizo como exemplo, uma situação ocorrida na disciplina de Fundamentos em EF (1º. Período na grade curricular do curso de Licenciatura em EF da Unochapecó). Neste grupo, havia uma aluna com longos anos de intervenção no balé clássico. Questionada por seus colegas, sobre sua “autoridade” para exercer esta função, por não ser “formada”, abriu-se espaço na aula para uma boa discussão a respeito do assunto. Obviamente, mesmo não sendo “formada”, ela sabe/sabia muito mais de balé 6 Tanto técnica, ética, política, epistemológica, como expressam os objetivos de diversos cursos de EF, em diferentes universidades, inclusive, nas que serviram de palco para o estudo empírico base deste artigo. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 124 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE clássico que eu, que completo em 2013, 21 anos de formação em EF. Sem a pretensão de “convencê-la” acerca das “benesses” do curso, abri espaço nesta aula para esta polêmica – parti da idéia de que eu, na condição de professor, deveria enfrentar esta questão, procurando superar moralismos ou legalismos, com o compromisso de ampliar meu próprio horizonte de compreensão a partir do esforço de conduzir e qualificar este “debate”, onde os estudantes se manifestaram de diferentes formas, geralmente a favor ou contra a intervenção de sua colega. Com a provisoriedade que a resposta exige, parti da conhecida frase: “o que um peixe sabe sobre a água na qual nada a vida inteira?”. Partindo disso, a EF, enquanto processo de formação inicial, poderia permitir um alargamento da visão de mundo desta aluna, conduzindo-a a um saudável distanciamento daquilo que conhece e faz em seu cotidiano. Assim, a partir deste distanciamento saudável, sem perder a organicidade com o próprio fenômeno, do qual ela também faz parte, poderia ampliar a janela pela qual ela o percebe – ou seja, esforço que permitiria inclusive, questionar a tradição, ou não, do contexto do balé, algo provavelmente impensável para uma bailarina/professora na condição de apaixonada e defensora do balé. Talvez dessa forma, passando por eventos de experiência genuína no processo de formação inicial e por ampla formação teórica, possa sair da condição de uma instrutora apaixonada pelo balé, para a condição de uma professora de EF que lida com a tradição do balé, provavelmente com um arcabouço de conhecimentos mais alargado, que contribua com sua intervenção docente, permitindo maior “inteligência de navegação” em sua trajetória profissional, neste caso, possivelmente mais autônoma e qualificada7. Para Gadamer (2007, p. 49), baseado em Hegel, a formação teórica conduz para além do que os seres humanos sabem e vivenciam de imediato, o que permite 7 Isso permite pensar como construímos nossas verdades. Como metáfora disso, trabalho com os estudantes, o filme “A vila” (The Vilage), de M. Night Shyamalam. O filme se passa na zona rural da Pensilvânia em 1987, e conta a história de um pequeno vilarejo de Covington, com uma pequena população de 60 pessoas, rodeada por uma floresta onde os habitantes da vila acreditam haver criaturas míticas. Os moradores são livres, mas possuem uma restrição: todos são proibidos de adentrar a floresta, ou seja, todos os habitantes da vila devem viver isolados do restante do mundo, já que ninguém do exterior pode entrar lá também. Há postos de vigia, que servem tanto para afugentar as criaturas como para certificar que ninguém tentará fugir da vila. Entretanto, o vilarejo começa a ser ameaçado quando um morador começa a questionar sobre o confinamento das pessoas de lá. O final é surpreendente e pode servir de ilustração para compreendermos melhor como se edificam nossas próprias crenças, nossas relações com o mundo, bem como, nossa noção de verdade, nem sempre, retrato “fiel” do mundo. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 125 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE considerar que também o diferente tem sua validade e o encontro com pontos de vista universais permite compreender mais claramente “a coisa” em um processo contínuo de familiarização e estranhamento, e nova familiarização e novo estranhamento, sempre, de novo, e de novo, em um círculo infinito que não acaba, que nos permite uma ampliação de nossa capacidade humana de compreender o mundo, a nós mesmos e aos fenômenos com os quais nos deparamos. Desta forma, mais que ensinar o que pensar, a formação inicial deve contribuir significativamente com o ato de pensar, mas de pensar por si, de forma autônoma e responsável, fomentando a capacidade de discernimento dos estudantes, pelo testemunho do professor, bem como, explicitando o compromisso dos professores com futuras gerações. Esforço que, sem dúvida, não se trata de pouca coisa. CONSIDERAÇÕES FINAIS... Na perspectiva de sinalizar pontos de chegada, considerando os limites de qualquer comunicação escrita, apresento a seguir alguns apontamentos na direção de explicitar a forma como entendo ser possível tratar a questão título deste texto. a) Na formação inicial, é importante tratar este momento como um momento onde um mundo se abre para os estudantes, e a tarefa do professor é apresentar a eles como o mundo, nesse caso, a EF, funciona, sem a pretensão de ensiná-los como e para onde se movimentar. Se a perspectiva aqui é a busca pela autonomia, aquilo que se constrói pelo próprio esforço deixa encravado nas pessoas marcas que nunca mais se apagam. Ou, como se refere Wagenschein, citado por Kunz (1999), o que descobrimos por conta própria (autonomia) nos deixa pistas/caminhos, que depois podem ser usadas para outras possibilidades e oportunidades de conhecimento. b) Nesse caso, apresentar um mundo específico, tal como a EF, sem desconsiderar o entorno onde ele se edifica, exige do professor um olhar “panorâmico” e crítico endereçado ao campo e seu entorno. Desta forma, especializações precoces não são bem vindas, pois os estudantes necessitam de tempo para aprender sobre as diferentes “Educações Físicas”. Assim, mesmo em um contexto que tem finalidades expressas (projeto pedagógico, plano de ensino, ementa, entre outros), onde não “vale-tudo”, é possível abrir espaços para que, por um lado, professores e estudantes CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 126 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE percebam o movimento de diversidade no interior da EF brasileira, e por outro, aprendam a identificar que no interior do campo há talvez, muito mais semelhanças do que se percebe a primeira vista. c) Essa “visão panorâmica” e crítica necessita que os conhecimentos tratados se alarguem em espectro, mesmo sabendo que serão possivelmente, diminuídos em profundidade. Talvez seja possível alguns aprofundamentos ao final do curso. Um deles poderia ser o “aprofundamento na docência”, como referido pelo Professor Cezar. Porém, ainda mais do que aprofundamento, seria importante tratar a docência como centralidade do processo de formação. Ao mesmo tempo, temos de contar com o estudante, futuro professor, para lidar com os problemas do mundo, apostando em sua autonomia e capacidade para resolver problemas, de forma fundamentada. Desta forma, um processo de formação inicial deveria, a princípio, admitir a convivência entre “isso e aquilo” no decorrer do curso, ao invés de especificar “isso ou aquilo”, como em muitos casos se percebe. Aí está outra responsabilidade da docência na Educação Superior, superar a idéia de defender “seu” sub-campo específico, entendendo-o apenas como o lugar de onde se fala, sem pretensões metafísicas. d) Para dar conta deste esforço comunicativo, um professor na Educação Superior em um campo como a EF necessita exercitar a capacidade de construir “pontes” ao invés de “muros”. Talvez possíveis “pontes” qualifiquem possíveis respostas frente a diferentes perguntas importantes ao próprio campo. Um professor de EF na Educação Superior possui um universo de possibilidades para construir “pontes”, “janelas” que se abrem entre o saber e o não-saber, entre o seu mundo e o mundo dos estudantes, entre a tradição do campo e a vida de cada um, em meio a possibilidades de experimentar o mundo pela perspectiva do encontro com a cultura corporal de movimento, que pode permitir um alargamento dos horizontes pelo qual construímos e nos construímos no mundo. A EF passa então, a proporcionar contribuições para o estudante compreender, para além do vivenciar, a cultura corporal de movimento. Esse pano de fundo permite ampliar o espectro da intervenção dos docentes nos processos de formação, admitindo uma importância ao campo que transcende o fazer, sem, absolutamente, abrir mão dele. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 127 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE e) Nesse caso, penso que uma formação inicial pode fazer com que as pessoas tenham um olhar mais alargado sobre o mundo, pela “janela” que a EF perspectiva. Uma formação que seja profissional, pessoal, cultural, musical, artística, estética, erudita, técnica. Por exemplo, que considere a necessidade da aprendizagem de outros idiomas – lembro uma passagem de Gadamer, na qual afirma que ao conhecermos outras línguas, abrem-se novas “janelas” para o mundo. Porém, uma proposição como esta é impossível em um período de três ou quatro anos. Neste caso, a formação deve se preocupar em deixar marcas nos estudantes que não os permita abandonar a formação como um projeto ao longo da vida. Considero de elevada importância levar a sério a possibilidade de pensar processos de formação ampliados, sob risco de, ao invés de um alargamento de mundo na formação inicial, promovermos um estreitamento da visão de mundo, sob a lógica de uma formação restritiva. Talvez seja importante, ao promover reflexões acerca do processo de formação inicial, levar a sério uma frase de Warren McCulloch, citada por Damásio (1996, p. 33): “Quando aponto, olho para onde aponto, e não para meu dedo”. Esta frase nos mostra de forma impactante uma amplitude de possibilidades para os processos de formação inicial, possibilidades que não necessitam se apresentar de imediato, mas fundamentalmente, que nos permitam enxergar a importância de deixar em aberto as portas para o futuro. f) Nessa trajetória, é importante abandonar a postura de querer, pretensamente, na formação inicial, prever e resolver os problemas do egresso. É possível admitir que essa “promessa” é muito constante, talvez ainda derivada da idéia de formação universitária como porto de chegada. Por mais óbvio que pareça, como bem expresso pela Professora Gabriela, a formação inicial não é mais o último estágio da formação, mas o inicial. A educação/formação deixou de ser um estágio na vida para ser parte da vida das pessoas. Isso por um lado pode ser interessante, pois pode nos levar a “não parar mais” de conhecer. Por outro, aprisiona-nos em uma “gaiola de ouro”, que, mesmo de ouro, ainda é uma gaiola. Esse “não parar mais” vem se dando com uma velocidade impressionante (em uma sociedade capitalista, a velocidade é que nos sustenta e, tal como um ciclista para se manter em equilíbrio, não podemos parar nunca). Desta forma, é importante assumir uma condição de finitude nos CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 128 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE processos de formação inicial, entendendo-o como um momento significativo, mas que deve ser percebido na condição hermenêutica em que se encontra. Nesse caso, temos de contar com a inteligência de navegação dos egressos e da confiança de que foram suficientemente seduzidos a não aceitarem com facilidade a condição de “não saber”. g) O campo da EF passou, em determinado momento da história, a lidar no plano acadêmico, científico e profissional, com manifestações anteriores a ele, tais como a dança, as lutas, o jogo e o esporte, entre outros. Assim, a EF possui uma particularidade, pois é uma das poucas áreas do conhecimento que lida com a dimensão prática como um meio de seu próprio desenvolvimento. Nesse caso, a dimensão da “coisa prática” é uma expressão de excelência para perceber a condição humana, em uma área do conhecimento que lida com possibilidades de plenitude da vida humana, que se dá no jogo, na dança, enfim, nas manifestações da cultura humana de onde brotam as relações com o movimento. Portanto, sem esquecer a formação técnica, a noção de alargar as “janelas” pelas quais olhamos o mundo, ampliando nossa possibilidade de nos orientarmos nele, bem como, ampliando nossa capacidade de estranhamento e problematização da realidade, tratando a autonomia como categoria central no espaço da formação inicial, pode representar importantes contribuições dos docentes aos futuros professores. Assim, entendo que o papel docente na Educação Superior seria desafiar os estudantes ao desejo de querer saber mais sobre o campo no qual se debruçará como egresso. Em um movimento que não se contenta com a formação de um operário especialista, mas perspectiva a formação de um intelectual com autonomia para assumir uma postura interrogativa, exercitando a capacidade de ver o mundo por lentes mais alargadas, se abre a possibilidade de alargar também esta postura para o trabalho docente nos processos de formação inicial. Finalizo este texto recorrendo a uma ideia já desenvolvida nos escritos de Theodor W. Adorno, Paulo Freire e Maurice Tardif. Por diferentes caminhos, afirmaram que, na educação, o objetivo último dos professores é formar pessoas que não necessitem mais de professores porque serão capazes de dar sentido a sua CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 129 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE própria vida e a sua própria ação. Ou seja, no momento em que ocorre a formação, por sua própria finalidade, ela necessita deixar de existir, devido a pretensão da formação para uma vida de autonomia responsável e qualificada. Portanto, penso que uma das possibilidades, entre as que ainda nos restam, enquanto docentes da Educação Superior, é uma abordagem “panorâmica”, erudita e crítica do campo e de nosso próprio trabalho, que permita a auto-reflexão sobre o trabalho docente nos processos de formação profissional. Lembro que compreender melhor nosso próprio trabalho não se trata de outro esforço senão compreender melhor o mundo no qual vivemos, tarefa que não se trata de outra coisa, senão nos conhecermos melhor, em um jogo infinito que não acaba nunca, mas sempre se renova. O desafio nada fácil que nos cabe é qualificar este movimento. REFERÊNCIAS AZEVEDO, Â. C. B. Novas abordagens sobre o currículo de formação superior em Educação Física no Brasil: memória e documentos. Dissertação (Mestrado em Educação Física). 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CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 131 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE COMPETÊNCIA PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA AUTO PERCEÇÃO DOS PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO E SECUNDÁRIO DO CONCELHO DE VISEU Luiz Queiroga, Instituto Piaget – Viseu – Portugal Resumo O presente estudo tem como objetivo identificar a autoperceção das competências profissionais dos professores de Educação Física do concelho de Viseu. Concebemos o estudo baseado na investigação quantitativa, em que utilizamos um plano não experimental descritivo por inquérito. Após o levantamento do número total de professores que lecionam nas escolas deste concelho, foi aplicado um questionário de (Nascimento, 1999; Feitosa 2002), adaptado para Portugal por (Batista, 2008), denominado “Escala de Autoperceção de Competência Profissional em Educação Física e Desportos”, a partir da qual foi constituída a nossa amostra de 69 professores. Para analisarmos os resultados, utilizámos as técnicas de estatística comparativa, T-Teste e Anova one-way. Os resultados indicam que não existem diferenças estatisticamente significativas entre professores de Educação Física do sexo masculino e feminino e a autoperceção de competência profissional, nas dimensões conhecimentos, habilidades e atitudes. Por sua vez, os resultados apontam no sentido da não existência de diferenças estatisticamente significativas entre a experiência profissional e a autoperceção de competência profissional. Por último, existem diferenças estatisticamente significativas entre a autoperceção de competência profissional dos professores que obtiveram a sua formação inicial em universidade e institutos politécnicos, na dimensão conhecimentos. Palavras-Chave: Autoperceção; Competência Profissional e Professores de Educação Física Introdução Estudos centrados na competência do professor revelam um conjunto de dimensões que retratam o perfil do profissional e consequentemente, as suas competências. Atualmente, o sistema educativo exige um profissional qualificado, que possua conhecimentos abrangentes da área e do contexto no qual atua. Desta forma, torna-se evidente a necessidade de reconstruir e atualizar a perspetiva que os professores têm sobre as competências profissionais de forma a serem capazes de responder aos novos desafios. Segundo Perrenoud (1999), um professor possuir CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 132 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE conhecimentos ou capacidades não significa ser competente. Pode-se conhecer técnicas ou regras, contudo o docente pode não saber aplicá-las no momento oportuno. Deste ponto de vista, o professor tem que ser capaz de articular os conhecimentos teóricos e a prática profissional, utilizando, como acréscimo, as suas experiências profissionais e pessoais. O professor atua como um profissional competente e que deve desempenhar as suas práticas de forma a atender as reais necessidades dos alunos. Neste âmbito, a autoperceção de competência profissional em Educação Física emerge como a necessidade de aprofundar o estudo sobre o papel exercido pela componente emocional no trabalho profissional nessa área. Dessa forma, Nascimento (1999, citado por Batista, Matos & Graça, 2011) reconhece inicialmente que o sucesso profissional depende tanto da utilização adequada de conhecimentos e procedimentos quanto do sentimento de domínio manifestado em relação aos conhecimentos e habilidades inerentes ao desempenho profissional da área. Objetivos do estudo Os objetivos que pretendemos alcançar prendem-se com: 1- Determinar se existem diferenças na autoperceção da competência profissional entre os professores formados nos institutos politécnicos e universidades; 2- Perceber se há diferenças entre a variável experiência profissional e a autoperceção da competência profissional; 3- Verificar se a autoperceção de competência profissional difere relativamente à variável sexo. Competência Profissional A definição de competência não é consensual na literatura uma vez que não se limita apenas a um conhecimento e existem várias variações na nomenclatura, aparece associada a verbos como: saber agir, mobilizar recursos, integrar saberes múltiplos e complexos, saber aprender e assumir responsabilidades. Ao longo dos anos, o conceito foi sendo alterado, adaptado em função das necessidades dos contextos. Atualmente, e face às mudanças e evolução da sociedade, que obriga a que as organizações procurem cada vez mais respostas aos problemas surgidos, o CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 133 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE termo competência não está acabado, pelo contrário é um conceito em constante evolução. Há autores que associam a competência às estratégias que os indivíduos utilizam para resolverem os problemas inerentes à profissão e ao contexto onde estão inseridos. Outros referem que competência não se limita apenas aos conhecimentos teóricos e empíricos que o docente detém, nem se encontra enjaulada na tarefa. Para Perrenoud (2001), nos tempos atuais não existe uma definição que consiga agregar uma unanimidade de conceitos, portanto, estamos perante uma noção que não é consensual no universo académico. Para um melhor conhecimento desta temática, passaremos a expor algumas definições na perspetiva de alguns autores. Segundo Ceitil (2007), competência define-se como sendo modalidades estruturadas de ação, requeridas, exercidas e validadas num determinado contexto. Por outro lado, Allessandrini (2002), define-a como sendo a capacidade de compreender uma determinada situação, interagindo, modificando condutas, sendo que o indivíduo tem que ser capaz de reagir em conformidade com a necessidade do momento. Le Boterf (2005), sobre esta questão é bastante pragmático, afirmando que não é uma soma simples de saberes, de saber fazer e o de saber ser. Para ele, ser competente remete para o saber agir e possuir capacidade que permitam gerir situações complexas e instáveis. Neste entendimento, as competências são o resultado de um conjunto de fatores, sendo que o saber agir, refere-se ao modo como o indivíduo combina o conhecimento e o saber fazer, o querer agir, enquadra-se em aspetos motivacionais, relacionando, também se os contextos onde o indivíduo vai atuar, são ou não estimulantes. Por fim, o autor remete-nos para o factor de poder agir, que perspetiva a existência de um contexto, de uma organização do trabalho, de condições sociais, visionando que o indivíduo pode assumir responsabilidades no local de trabalho, e situações de riscos que possam ocorrer. Uma outra denominação, perspetiva-a como “a aptidão para enfrentar uma família de situações análogas, mobilizando de uma forma correta, rápida, pertinente e criativa e com múltiplos recursos cognitivos: saberes, capacidades, microcompetências, informações, valores, atitudes, esquemas de percepção, de avaliação e de raciocínio” (Perrenoud, 2002, p. 19). No campo da profissão de professor, Atlet (2001), entende que competência profissional, é o CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 134 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE conjunto formado pelos conhecimentos, savoir-faire e posturas, e acrescenta que na aplicabilidade no local de trabalho, o professor deve ter em conta a ação e as atitudes. Verifica-se, que o conceito é divergente e assume diversas conceções dependendo do aspeto situacional onde os profissionais estão inseridos, sendo que no campo da Educação Física a competência profissional é definida como um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes para uma adequada e coerente atuação profissional (Nascimento, 2008), segundo o qual, o nível de competência é influenciado pelo comportamento profissional do professor. Perante este enquadramento teórico de competência profissional, o professor de Educação Física necessita de possuir conhecimentos nas dimensões culturais, económica e social, bem como conhecimentos específicos dos conteúdos. A atividade docente é multifacetada, não se restringe apenas às atividades desenvolvidas na sala de aula, comporta um conjunto de situações inerentes ao processo educativo, que levam os docentes a agir e interagir, alicerçada em conhecimentos, habilidades e atitudes. Contudo, nestes envolvimentos o “desempenho profissional competente do professor resulta não só do nível de competência adquirida, mas também da autoavaliação que cada um faz do seu nível de competência” (Batista et al., 2011, p. 119). Por esse motivo, é de salientar que a competência profissional refere-se ao comportamento ativo, adaptativo, e efetivo do professor face ao alcance dos objetivos delineados. A autoperceção de competência é tida como a forma como o professor interpreta a sua capacidade de desempenho (Batista et al., 2011) e que, por conexão dos fatos, acaba por ser diferente de professor para professor. Metodologia da Investigação Optámos por utilizar para a implementação do estudo o plano de investigação não experimental, que segundo Coutinho (2011, p. 231), é aquele “que o investigador recorre quando procura descrever condições existentes num dado contexto, ou então, quando procura averiguar a forma como se relacionam as variáveis do estudo sem pretensão de causalidade”. Dentro desta conceção metodológica, enveredámos, por um lado, pelo plano descritivo, e por outro, pelo inquérito, em que os dados vão ser CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 135 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE usados para mencionar as características da população que estamos a estudar e tentar, desta forma, encontrar respostas para o nosso problema: Qual é a autoperceção das competências profissionais dos professores de Educação Física do 2º/3º ciclos e secundário do concelho de Viseu? Definição da hipótese Estamos perante uma investigação de caráter quantitativa, que pretende explicar o fenómeno que está adjacente ao problema a investigar através do método dedutivo, no âmbito do qual Fortin (2000, p. 102), considera que o investigador elabora suposições teóricas ou hipóteses baseadas em princípios científicos gerais. Desta forma, e perante este quadro concetual, partimos para a definição da nossa hipótese de estudo. Hipótese- Existem diferenças significativas entre os aspetos sociodemográficos (sexo, tempo serviço/experiência profissional, e instituições de formação) e a autoperceção de competência profissional dos professores de Educação Física do concelho de Viseu. Amostra do estudo A população deste estudo é constituída pelos professores de Educação Física dos 2º/3º ciclos e secundário, de 11 escolas públicas do concelho de Viseu, constituindo assim, os sujeitos a quem nós pretendemos generalizar os resultados obtidos na investigação. Para a definição da nossa amostra, optámos por um método de amostragem não probabilístico, mais propriamente por conveniência, utilizando o grupo já formado de professores de Educação Física das escolas do 2º/3º ciclos e secundário do concelho de Viseu. A amostra final do estudo ficou constituída por 69 professores de Educação Física do concelho de Viseu, em que 24 são do sexo feminino e 45 do sexo masculino, distribuídos da seguinte forma, A amostra final do nosso estudo ficou constituída por 69 professores de Educação Física do concelho de Viseu, em que 24 são do sexo feminino e 45 do sexo masculino, distribuídos da seguinte forma: 7 professores da EB 2,3 Azeredo Perdigão-Abraveses, 4 professores CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 136 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE da EB 2,3 D. Duarte – Vil de Soito, 3 professores pertencem à EB 2,3 D. Luís de Loureiro-Silgueiros, 7 professores da EB 2,3 Grão Vasco, 7 professores da EB 2,3 Infante D. Henrique – Repeses, 7 professores da EB 2,3 Mundão, 6 professores da EB 2,3 Viso, 4 professores pertencem à EBI D. João de Barros – Marzovelos, 10 professores da Escola Secundária de Viriato, 8 professores da Escola Secundária Emídio Navarro e 6 professores da Escola Secundária Alves Martins. Instrumento de recolha de dados Aplicámos um questionário denominado “Escala de Autoperceção de Competência Profissional em Educação Física e Desportos”, adaptado para Portugal pela investigadora (Batista, 2008) através da versão original de (Nascimento, 1999; Feitosa, 2002). O questionário está dividido em duas partes, na primeira pretendemos recolher os dados sociodemográficos, a segunda inclui 33 itens de competências que se propõem avaliar três dimensões, a dos conhecimentos, das habilidades e das atitudes. A dimensão dos conhecimentos está subdividida em duas categorias: conhecimento concetual e o conhecimento procedimental. Por sua vez, a dimensão habilidades apresenta como categorias: o planeamento, comunicação, avaliação, motivação e gestão. Na parte que concerne à organização do questionário por itens, 10 dizem respeito à dimensão dos conhecimentos sendo que os itens, 1, 2, 3, e 6 até ao 10, dizem respeito ao conhecimento concetual e os itens 4 e 5 ao conhecimento procedimental. A dimensão habilidades no total apresenta 14 itens, sendo que o 11 e 12 dizem respeito ao planeamento, o 17, 18 e 19, à categoria comunicação, o 13, 20 e 21 à avaliação, o 23 ao 26 à categoria motivação, e os itens 22 e 28 correspondem à gestão. A dimensão atitudes contempla os itens 29 até ao 33. Fidelidade interna do questionário A fidelidade do instrumento foi testada através do coeficiente Alpha de Cronbach8, que mede a capacidade explicativa de uma determinada variável ou factor 8 Alpha de Cronbach pode definir-se como a correlação que se espera obter entre a escala usada e outras escalas hipotéticas do mesmo universo, com igual número de itens, que meçam a mesma característica (Pestana & Gageiro, 2008, pp. 527, 528). CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 137 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE pelas perguntas que a compõem, sendo segundo Coutinho (2011), o indicador que é mais aconselhado na literatura para verificar a consistência interna dos instrumentos que apresentam uma escala do tipo Likert. O questionário (Nascimento, 1999; Feitosa, 2002), foi sujeito por Batista (2008) à uma validação de consistência interna, apresentando valores de Alpha de Cronbach superiores a 0,82, sendo considerado de Bom, na escala de medida de fiabilidade de (Pestana & Gageiro, 2008; Hill & Hill, 2009). Procedimentos Solicitámos autorização à Direção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular e aos diretores das onze escolas do concelho de Viseu. Para aplicar os questionários recorremos a onze professores de Educação Física, um de cada escola, aos quais, informámos dos procedimentos a adotar na aplicação do instrumento de recolha de dados. Os resultados obtidos com o questionário foram analisados através do programa de tratamento estatístico SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 18.0, tendo sido utilizadas as técnicas de estatística comparativa, T-Teste e Anova. Apresentação e Discussão dos Resultados Passaremos de seguida a expor alguns resultados obtidos através do questionário, bem como explicitaremos os passos seguidos para a testagem da hipótese: Existem diferenças significativas entre os aspetos sociodemográficos (sexo, tempo serviço/experiência profissional, e instituições de formação) e a autoperceção de competência profissional dos professores de Educação Física do concelho de Viseu. Variável Sexo Como se verifica da análise do quadro, os resultados indicam que não existem diferenças estatisticamente significativas da autoperceção de competência profissional entre homens e mulheres (p> 0,05), nas três dimensões de análise. Contudo, é de salientar que os professores de Educação Física do sexo masculino, têm uma autoperceção da competência profissional em todas as dimensões, com médias de ( X = 40,36) na dimensão conhecimentos, ( X = 75,47), habilidades, ( X = CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 138 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 19,96) e atitudes, superior às docentes do sexo feminino, com médias de ( X = 37,92) na dimensão conhecimentos, ( X = 72,63) na dimensão habilidades e ( X = 18,79) na atitudes. Quadro 1- Análise da autoperceção da competência profissional dos professores de Educação Física em função da variável sexo Dimensão Conhecimentos Habilidades Atitudes Sexo N Média Desvio Padrão t P Feminino 24 37,92 4,138 -1,91 0,06 Masculino 45 40,36 5,453 Feminino 24 72,63 9,306 -1,24 0,21 Masculino 45 75,47 8,844 Feminino 24 18,79 2,797 -1,67 0,098 Masculino 45 19,96 2,713 Conhecimentos t(67)= -1,91; p= 0,06; Habilidades t(67)= -1,24; p= 0,21; Atitudes t(67)= -1,67; p= 0,098 A formação de professores tem por objetivo dotar os futuros profissionais de ferramentas específicas e que para Carreiro da Costa, Carvalho, Onofre, Diniz, e Pestana (1996), assenta nas componentes teóricas, pedagógicas, técnica e pessoal que permita ao professor, na ação concreta do seu quotidiano, filtrar e tomar as decisões mais adequadas. Estas valências são ministradas de forma equitativa sem qualquer manifesto alusivo às diferenças de sexo. Os resultados do estudo indicam que não existem diferenças estatisticamente significativas da autoperceção de competência profissional entre os professores e as professoras de Educação Física. Indubitavelmente, estamos perante um quadro teórico formado por conceções de igualdade no mundo de trabalho, em que as mulheres não se sentem inferiores no domínio das competências necessárias para o desenvolvimento de um ensino eficaz. Verificámos através da interpretação dos resultados, que estes corroboram os encontrados no estudo de Rebelo (2009), em que não existem diferenças significativas entre os professores do sexo masculino e feminino no que concerne à autoperceção da competência profissional. Numa sociedade cada vez mais pautada pela equidade social e profissional, a classe docente apresenta níveis de competência percebida semelhantes para a variável sexo. Tempo de Serviço / Experiência Profissional Face aos resultados constantes no quadro 2, somos induzidos a interpretar que não existem diferenças estatisticamente significativas entre a autoperceção da CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 139 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE competência profissional e a experiência profissional, no que diz respeito às dimensões conhecimentos F(4)=1,339; p= 0,265; habilidades F(4)=0,457; p= 0,767 e atitudes F(4)=0,285; p= 0,886. Se dissecarmos em pormenor os dados referentes às médias pelas categorias de experiência profissional, os resultados indicam que os professores muito experientes (10-14 anos), são aqueles que na dimensão conhecimentos ( X = 41,47), possuem mais autoperceção da sua competência. Na dimensão habilidades, são os professores que se situam no nível de grande experiência (15-19 anos), que têm uma maior autoperceção da competência profissional ( X = 77,08). Por sua vez, os professores pouco experientes (0-4 anos de serviço) são aqueles que se autopercecionam com maiores índices de competência profissional na dimensão de competência atitudes ( X = 20,50). Quadro 2- Análise da autoperceção da competência profissional dos professores de Educação Física em função da variável experiência profissional Dimensão Conhecimentos Habilidades Atitudes EP N Média Desvio Padrão Pouco experiente 4 41,25 2,872 Experiente 10 37,30 3,129 Muito experiente 17 41,47 5,680 Grande experiência 12 38,58 2,875 Longa experiência 26 39,23 6,121 Pouco experiente 4 75,50 10,116 Experiente 10 72,30 5,579 Muito experiente 17 74,94 10,437 Grande experiência 12 77,08 8,017 Longa experiência 26 73,65 9,732 Pouco experiente 4 20,50 2,380 Experiente 10 19,40 1,955 Muito experiente 17 19,88 3,199 Grande experiência 12 19,67 2,774 Longa experiência 26 19,19 2,940 p F 1,339 0,265 0,457 0,767 0,285 0,886 Conhecimentos F(4)=1,339; p= 0,265; Habilidades F(4)=0,457; p= 0,767; Atitudes F(4)=0,285; p= 0,886 Os professores no processo de profissionalização e profissionalidade adquirem competências profícuas para desempenharem a sua ação e função, entretanto, os docentes não se encontram todos no mesmo nível de desenvolvimento profissional, portanto não dominam os mesmos construtos de conhecimentos, habilidades e atitudes. Nesta análise, importa salientar a ligação entre a experiência e o CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 140 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE desenvolvimento da competência profissional, e como refere Day (2001), não aprendemos a partir da experiência, mas esta tem que ser assimilada, analisada de modo a que se transforme em conhecimento. No que se refere à variável experiência profissional, os resultados obtidos neste estudo são idênticos aos encontrados por Rebelo (2009), em que comummente os dados indicam que não existem diferenças estatisticamente significativas entre os vários níveis de experiência profissional e a autoperceção de competência profissional dos professores de Educação Física. Marcelo (2009, p. 11) alude que uma das características do “professor prático reflexivo é ser detentor de conhecimento prévio quando acede à profissão, e que vai adquirindo mais conhecimento a partir de uma reflexão acerca da sua experiência”. Os resultados indicaram que os professores muito experientes (10-14 anos), são aqueles que na dimensão conhecimentos possuem mais autoperceção da sua competência. Verificase porém, que numa investigação realizada, Carter (1990, citado por Carreiro da Costa et al, 1996), demonstrou que tanto os professores inexperientes como os experientes apresentaram lacunas do conhecimento, mais propriamente nos conteúdos pedagógicos dos conteúdos. Por sua vez, na dimensão habilidades são os professores que se situam no nível de grande experiência (15-19 anos), que têm uma maior autoperceção da competência profissional. Day (2001) salienta que os professores peritos são aqueles que possuem um conhecimento tácito que lhes permite adaptarem-se aos constrangimentos, e por outro lado, têm a capacidade, na resolução dos problemas, de redefini-lo, apresentando soluções válidas. Por outro lado, os dados evidenciaram que os professores pouco experientes (0-4 anos de serviço) são aqueles que se autopercecionam com maiores índices de competência profissional na dimensão atitudes. O professor principiante segundo Day (2001), não consegue adequar o que aprendeu sobre o ensino e sua aplicação na prática, criandolhe dificuldades nas dimensões dos conhecimentos e habilidades. Para Piéron (1996) a principal tarefa destes docentes é ganhar experiência. Instituições de Formação Em primeiro lugar, e pela análise dos dados, os resultados indicam que existem diferenças estatisticamente significativas de autoperceção de competência profissional entre os professores que se formaram numa universidade e os que CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 141 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE obtiveram o seu grau num instituto politécnico, na dimensão de competência conhecimentos t(67)= -2,625; p= 0,01, ou seja o local de formação inicial interfere na autoperceção de competência profissional (p< 0,05). Em segundo lugar, salienta-se que os professores que se formaram nas universidades possuem em média, uma maior autoperceção de competência profissional nas três dimensões de competência, conhecimentos ( X = 40,61), habilidades ( X = 75,54) e atitudes ( X = 19,93), face aos que se formaram nos institutos politécnicos ( X = 37,30); ( X = 72,35) e ( X = 18,78). Quadro 3- Análise da autoperceção da competência profissional dos professores de Educação Física em função da variável instituição de formação inicial Dimensão Instituição de formação inicial N Média Desvio Padrão Conhecimentos Universidade 46 40,61 5,187 Instituto Politécnico 23 37,30 4,353 Universidade 46 75,54 8,640 Instituto Politécnico 23 72,35 9,637 Universidade 46 19,93 2,901 Instituto Politécnico 23 18,78 2,392 Habilidades Atitudes t P 2,625 0,011 1,394 0,168 1,644 0,105 Conhecimentos t(67)= -2,625; p= 0,01; Habilidades t(67)= -1,394; p= 0,168; Atitudes t(67)= - 1,644; p= 0,105 Neste âmbito, os resultados obtidos convergem em direção aos apresentados por Rebelo (2009), para as dimensões habilidades e atitudes, reforçando-os, no sentido de apontarem para a não existência de diferenças estatisticamente significativas na autoperceção da competência profissional entre os professores formados nos institutos politécnicos e universidades. Por outro lado, esta investigação indicou que existem diferenças estatisticamente significativas de autoperceção de competência profissional, entre os professores formados numa universidade em relação aos que obtiveram a sua formação num instituto politécnico, na dimensão de competência conhecimentos. Face ao exposto, estes dados podem ser justificados através da opinião de Rocha (1999), que salienta o facto de o modelo das universidades valorizar muito mais os conteúdos da área científica específica da Educação Física, enquanto que o modelo dos politécnicos é mais superficial nesta área, enfatizando as competências mais generalistas, assente num ensino mais dirigido para as áreas de formação não específicas da Educação Física. Por outro lado, Cunha (2008, p.130) alude que num estudo realizado, os “professores com formação politécnica apontaram que a competência científica necessária para um futuro professor, assenta em pressupostos de transmissão de conteúdos com rigor, e CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 142 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE os com formação universitária, referem que a mesma competência permite investigar, analisar e resolver problemas com base em conhecimentos. Conclusões Quando analisámos os resultados relativamente à variável sexo e à autoperceção de competência profissional dos professores de Educação Física, concluímos que os inquiridos pertencentes a esta classe profissional, interpretam a sua capacidade de desempenho nos vários itens dos domínios conhecimentos, habilidades e atitudes de igual modo, não existindo portanto, diferenças estatisticamente significativas neste parâmetro de investigação. Outra questão importante diz respeito à experiência profissional. Neste campo, concluímos que a experiência profissional não interfere na expressão da competência profissional dos professores de Educação Física do concelho de Viseu nas dimensões conhecimentos, habilidades e atitudes. Entretanto, os dados permitem concluir que na dimensão conhecimentos são os docentes muito experientes (10-14 anos), que possuem mais perceção da sua competência. Na dimensão habilidades são os professores que se situam no nível de grande experiência (15-19 anos), que têm uma consciencialização maior da sua capacidade de desempenho. Por fim, na dimensão atitudes os professores pouco experientes (0-4 anos de serviço), são aqueles que se percecionam com maiores índices de competência profissional. No que se refere à instituição de formação inicial e autoperceção da competência profissional, e através da análise dos resultados, concluímos que existem diferenças estatisticamente significativas entre os professores de Educação Física do concelho de Viseu, que se formaram nas universidades e nos institutos politécnicos, no que diz respeito à dimensão conhecimentos, verificando-se que os docentes que se formaram nas universidades, depreendem ser mais capazes de aplicar e desenvolver as suas competências no processo ensino aprendizagem. Por outro lado, podemos concluir, que nas dimensões conhecimentos, habilidades e atitudes os professores que se formaram nas universidades, denotaram uma superior consciência de capacidade de desempenho, face aos que se formaram nos institutos politécnicos. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 143 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Bibliografia Allessandrini, C. (2002). O Desenvolvimento de Competências e a Participação Pessoal na Construção de um Novo Modelo Educacional. In Perrenoud, P., & Thurler, M., (orgs). As Competências para Ensinar no Século XXI. A Formação dos Professores e o Desafio da Avaliação. 156- 176. São Paulo: Artmed Editora. Altet, M. (2001). As Competências do Professor Profissional: Entre Conhecimentos, Esquemas de acão e Adaptação, Saber Analisar. In (Org). L. Paquay, P. Perrenoud, Mª. Altet, É. Charlier. Formando Professores Profissionais. Quais Estratégias? 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Autoperceção das Competências Profissionais. Estudo em Professores de Educação Física a Exercer Funções nos Concelhos de Resende, Cinfães e Baião. Dissertação de Mestrado, não publicada. Faculdade de Desporto. Porto: Universidade do Porto. Rocha, L. (1999). A Formação de Professores de Educação Física em Portugal: Algumas Reflexões. Revista interuniversitária de formación del professorado. Nº 34. janeiro/abril, 277-285. Tuckman, B. (2000). Manual de Investigação em Educação. Como Conceber e realizar o Processo de Investigação em Educação. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. Zarifian, P. (1999). Objectif compétence. Paris: Liaisons. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 146 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESPORTE, LAZER E INCLUSÃO SOCIAL: ESTRATÉGIAS DE ACOMPANHAMENTO PEDAGÓGICO DE UM PROGRAMA ESPORTIVO SOCIAL DE NÍVEL NACIONAL – PROGRAMA SEGUNDO TEMPO. Sérgio A. R. Souza - Universidade Federal do Maranhão/UFMA/BRASIL Claudio Kravchychyn - Universidade Estadual de Maringá/UEM/BRASIL Amauri A. B. Oliveira - Universidade Estadual de Maringá/UEM/BRASIL Marta G. Soares - Universidade do Estado do Pará/UEPA/BRASIL Adnelson A. Santos - Universidade do Estado do Pará/UEPA/BRASIL Hamilton M. F. Júnior - Universidade Federal do Maranhão/UFMA/BRASIL RESUMO Ações e políticas têm sido estruturadas e executadas pelo Governo Brasileiro que objetivam democratizar o acesso ao esporte e lazer aos cidadãos brasileiros. É neste contexto que pauta-se o Programa Segundo Tempo (PST), executado pelo Ministério do Esporte (ME) e que apresenta diversas formas de atendimento em nível nacional. Entre estas, destacam-se principalmente: a) o PST Padrão, onde o Ministério do Esporte firma parcerias com entidades públicas (Prefeituras, Secretarias de Governo, etc.) e atende crianças e jovens de 7/17 anos em situação de vulnerabilidade social; b) o PST no Programa Mais Educação onde o Ministério do Esporte firma parceria com o Ministério da Educação (MEC) e atende os participantes das escolas públicas aderentes ao programa de Educação Integral e; c) PST Universitário/Esportes Adaptados onde o ME firma parcerias com Universidades Públicas para atendimento à comunidade universitária e pessoas com deficiência da comunidade em geral. O panorama do Programa clarifica a dimensão de atendimento desta política em nível nacional. Atualmente atende: aproximadamente 1.700.000 beneficiados, 1200 municípios, 26 estados brasileiros e Distrito Federal e, possibilita o envolvimento direto /indireto de aproximadamente 27.000 profissionais da área da Educação Física. O Workshop proposto objetiva apresentar a estrutura organizacional e metodológica do processo de acompanhamento que alicerça pedagogicamente a execução do programa PST. Criou-se criou uma rede de acompanhamento pedagógico denominada Rede de Equipes Colaboradoras que envolve aproximadamente 170 profissionais/estudantes de 44 Instituições de Ensino Superior. Atualmente é formada por 19 Equipes que tem como funções principais: capacitação dos recursos humanos, assessoramento pedagógico, Avaliações in loco nos espaços que o programa atua e, fomento de pesquisas e produção de conhecimento a partir das ações desenvolvidas. Entende-se que esta ação desenvolvida pelo Ministério do Esporte em parceria com as Universidades colabora na avaliação e fortalecimento de políticas de democratização do esporte e lazer aos cidadãos brasileiros. Palavras-chave: Programa Segundo Tempo, Inclusão Social, Políticas de Esporte e Lazer. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 147 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 1 INTRODUÇÃO O Programa Segundo Tempo (PST) é uma política pública que completa 10 anos de existência neste ano de 2013. Os fundamentos pedagógicos do Programa corroboram com a Política Nacional de Esporte (PNE) do Brasil para o esporte educacional, uma prática desenvolvida como auxílio ao desenvolvimento integral e a formação para a cidadania dos jovens e que entende o esporte como elemento de desenvolvimento humano, ultrapassando a ideia de práticas seletivas e hipercompetitivas. Para Tubino (2010), o esporte educacional pode ser praticado por crianças e adolescentes dentro e fora da escola, tendo como referência os princípios da inclusão, da participação, da cooperação, da coeducação e da corresponsabilidade. Nesse sentido, o PST é um programa estratégico do Governo Federal brasileiro que tem por objetivo principal o de [...] democratizar o acesso à prática e à cultura do esporte de forma a promover o desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens, como fator de formação da cidadania e melhoria da qualidade de vida, prioritariamente daqueles que se encontram em áreas de vulnerabilidade social (Filgueira, Perim & Oliveira, 2009). No seu processo de desenvolvimento e execução, o PST já atendeu aproximadamente seis milhões e trezentas mil crianças e adolescentes. Tal realidade fortalece o reconhecimento do Programa como um dos maiores programas sociais do mundo relacionados ao esporte e inclusão social. A magnitude do programa pode ser dimensionada em parte pelo volume de atendidos que atualmente se aproxima de um milhão e seiscentos mil beneficiados, distribuídos nas diversas estruturas em que expressa o seu atendimento, sendo: PST Padrão, PST Esporte na Escola/Mais Educação, PST Universitário, PST Esportes Adaptados e PST Navegar. Estes beneficiados são atendidos pelos convênios firmados entre o Ministério do Esporte e entidades públicas (ligadas às esferas CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 148 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Federal, Estaduais e Municipais). Destaca-se também o quantitativo de recursos humanos envolvidos na execução do Programa nas escolas e núcleos de esporte educacional, atualmente aproximadamente vinte e sete mil pessoas são envolvidas nos diversos níveis de execução (Coordenação Geral, Pedagógica, Setorial, Núcleo/professor de Educação Física, Monitores de Educação Física, Monitores complementares, técnicos administrativos, entre outros). A estrutura de desenvolvimento pedagógico e administrativo do PST exige um acompanhamento próximo dos convênios. Nesse sentido, no ano de 2008, a então SNEED, em conjunto com as Universidades Federal do Rio Grande do Sul e Estaduais de Maringá e Londrina, organizou o Projeto de Acompanhamento Pedagógico e Administrativo do Programa Segundo Tempo, que desde então vem estudando, apoiando e avaliando todas as ações do PST e sendo considerado como um avanço pedagógico na área. O objetivo do presente texto é apresentar a estrutura organizacional e metodológica do processo de acompanhamento (Capacitação, acompanhamento e avaliação) que alicerça pedagogicamente a execução do Programa Segundo Tempo nos núcleos de esporte educacional distribuídos em todas as regiões do Brasil. 2 A REDE DE EQUIPES COLABORADORAS DO PST E SUAS ATRIBUIÇÕES A partir do entendimento que a qualificação do atendimento seria potencializada por meio de uma colaboração pedagógica nas ações diretas executadas pelos convênios nos núcleos de esporte educacional que foram idealizadas e efetivamente implementadas as Equipes Colaboradoras (ECs) do Programa Segundo Tempo. Estas equipes são constituídas por profissionais de Educação Física vinculados a diversas Instituições de Ensino Superior (IES) públicas do país, assim como, por estudantes de Pós-Graduação em nível de mestrado e doutoramento. Atualmente a Rede é composta por dezenove ECs que envolvem aproximadamente 170 profissionais de quarenta e quatro IES, atendendo a todas as macro-regiões do Brasil. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 149 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Destaca-se que as ECs têm a função de prestar assessoria direta aos Coordenadores Gerais, Coordenadores Pedagógicos e Coordenadores de Núcleo; realizar a análise dos Planos Pedagógicos dos convênios e núcleos; desenvolver as capacitações dos coordenadores do PST e acompanhar as capacitações dos monitores envolvidos; realizar visitas de acompanhamento pedagógico e administrativo; manter um plantão permanente dentro das IES para atendimento aos convênios; avaliar o desenvolvimento das ações e fornecer as recomendações necessárias ao saneamento de eventuais problemas de ordem pedagógica e administrativa. Outras funções e ações das ECs têm obtido êxito junto ao desenvolvimento do Programa, principalmente no tocante à produção do conhecimento. As equipes e seus respectivos colaboradores têm participado na elaboração do arcabouço teórico e pedagógico do programa, bem como, diversas pesquisas e estudos têm sido realizadas e expressas em publicações científicas, apresentações em congressos e eventos científicos, trabalhos monográficos, projetos de mestrado e doutoramento, entre outros. Dentro dessa estrutura organizada, as ECs têm se mantido como um apoio geral ao PST e sua gestão, possibilitando atualmente à Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social (SNELIS) ações pontuais para o alcance de avanços significativos para o todo do Programa, especialmente no que tange aos aspectos pedagógicos. 3 O PROCESSO DE CAPACITAÇÃO DOS RECURSOS HUMANOS A Política de Formação Continuada desenvolvida pela SNELIS tem se caracterizada como ponto central na valorização do profissional envolvido com o Programa Segundo Tempo. Há uma preocupação e investimento na qualificação dos profissionais em seus diversos níveis: Gerencial: Capacitação destinada aos Coordenadores Gerais, Pedagógicos e Técnicos Administrativos dos convênios, que é de responsabilidade da Equipe Gestora do Programa e envolve aspectos diretamente relacionados à administração e execução do convênio como: CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 150 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE fundamentos gerais e estrutura funcional do PST; planejamento e procedimentos preliminares para ordem de início; acompanhamento operacional; apresentação dos sistemas de informação; sistemática na celebração, execução e acompanhamento de convênios – SICONV, entre outros. Pedagógica: Capacitação destinada aos profissionais que atuam diretamente nos núcleos com os beneficiados, ou seja, os Coordenadores de Núcleos (professores de Educação Física responsáveis pelas aulas), os Monitores de Esportes (preferencialmente acadêmicos de Educação Física que auxiliam os Coordenadores de Núcleos) e os Coordenadores Pedagógicos. Esta capacitação é de responsabilidade das Equipes Colaboradoras e tem se expressado em formato presencial, presencial com o uso do recurso de vídeo aulas e semi-presencial. No modelo presencial especialistas nas temáticas trabalham em dois dias consecutivos junto a grandes grupos (de 100 a 150 participantes), formados por convênios de grande porte ou por vários convênios, em um centro de convenções adequado, com anfiteatro e espaços esportivos, para o qual se deslocam os participantes. O segundo modelo, presencial com o uso de videoaulas em DVDs, realizado junto a grupos menores, dois a três membros das ECs se deslocam até a cidade do convênio e trabalham os temas com o auxílio do DVD – produzido para as capacitações e para municiar os núcleos com um material a ser utilizado na retransmissão dos conteúdos e em estudos em grupo – que contém as palestras dos autores do material didático utilizado como base das ações pedagógicas (Oliveira e Perim, 2009), mediando e contextualizando as informações. O Quadro 1 traz a constituição temática das capacitações, que têm base na obra Fundamentos Pedagógico do Programa Segundo Tempo: da reflexão à Prática, organizada por Oliveira & Perim (2009). CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 151 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Tema 01 02 03 Título Fundamentos do Programa Segundo Tempo: entrelaçamentos do esporte, do desenvolvimento humano, da cultura e da educação. Fundamentos do Lazer e da Animação Cultural. Corpo, gênero e sexualidade: educando para a diversidade. 04 Desenvolvimento e Aprendizagem Motora: aspectos relacionados à prática. 05 Questões da deficiência e as ações do Programa Segundo Tempo. 06 Organização e Desenvolvimento Pedagógico do Esporte no Programa Segundo Tempo. Procedimentos Metodológicos para o Programa Segundo Tempo. Autores José P. Melo; João Carlos N. de Souza e Nunes Dias. Victor A. de Melo; Angela Brêtas; Mônica B. Monteiro. Silvana V. Goellner. Míriam S. Palma; Nadia C. Valentini; Ricardo Petersen; Herbert Ugrinowitsch. Alexandre C. Marques; Ruth E. Cidade; Kathya Augusta T. Lopes. Pablo Juan Greco; Siomara Silva; Lucídio R. Santos. Suraya C. Darido; Amauri A. B. de Oliveira. Amauri A. B. de Oliveira; Planejamento do Programa Segundo Evando C. Moreira; Horácio 08 Tempo: a intenção é compartilhar A. Júnior; Marcello P. conhecimentos, saberes e mudar o jogo Nunes. Quadro 1 – Temas trabalhados na Capacitação Pedagógica do PST. Fonte: Oliveira e Perim (Orgs.), 2009. 07 Nesse modelo de capacitação há dois momentos de práticas pedagógicas, nos quais se preconiza a aplicação dos princípios pedagógicos trabalhados. Araújo et al. (2012) descrevem esses momentos: O formato da capacitação ofertada pelo Ministério do Esporte já reconhece esta necessidade de explicitar os procedimentos metodológicos em vivências práticas no sentido de dar consistência operacional ao aporte teórico produzido. Desse modo, reservam-se momentos de experimentação de jogos e atividades dentro da cargahorária da capacitação para socializar possibilidades de ação pedagógica que possam ser aproveitadas no cotidiano dos núcleos (p. 48). CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 152 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE No modelo presencial, o convênio fica responsável por multiplicar a capacitação junto aos monitores. Já no modelo presencial com o uso do DVD, como se trabalha com grupos menores, os monitores são capacitados em conjunto com os coordenadores, situação considerada positiva pelos convênios que têm tal possibilidade. 4 AS VISITAS IN LOCO – O OLHAR E COOPERAÇÃO PEDAGÓGICA Uma das principais ações e funções das Equipes Colaboradoras são as visitas in loco realizadas nos núcleos que atendem os beneficiados do PST. Desde o início efetivo de atendimento até o encerramento da vigência os convênios são visitados uma vez por semestre. A Equipe Gestora da SNELIS estratifica os núcleos a serem visitados sendo que: convênios com até dez núcleos, 50% dos núcleos devem ser visitados e acima desse número, uma amostragem de 20% (vinte por cento) dos núcleos recebem a visita dos avaliadores da Equipe Colaboradora. Esta estratificação possibilita que não se visite núcleos com as mesmas características, visto que o PST atua em escolas, centros esportivos, associações de bairros, quadras de esportes municipais, etc., assim os olhares são voltados à diversas realidades em que o esporte educacional é expresso. Como estratégia orientada os avaliadores permanecem por um dia inteiro de atividades nos núcleos, onde são verificados dados relativos a recursos humanos, público-alvo, planejamento e desenvolvimento das atividades, infraestrutura, horários de funcionamento, identificação visual, reforço alimentar (nos núcleos que oferecem), uniformes e materiais esportivos. Mais do que uma fiscalização, o momento da visita do avaliador ao núcleo é uma oportunidade de contato direto com a realidade dos convênios e de verificar como o atendimento vem sendo desenvolvido aos beneficiados. Os avaliadores das ECs se preocupam em interagir com os coordenadores de núcleo (professores) e monitores, interagindo até mesmo nas aulas que observa. Há reuniões e troca de experiências, os beneficiados são entrevistados e ouvidos em suas expectativas. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 153 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE O conjunto de avaliações de visitas a núcleos do mesmo convênio gera um documento denominado Relatório Consolidado (RC), que fornece, ao seu final, um diagnóstico das ações desenvolvidas no convênio, por meio do qual são efetuadas recomendações para ajustes necessários para o próximo semestre de atividades. O primeiro RC fecha o ciclo inicial do funcionamento de um convênio, ilustrado pela Figura 1 abaixo. Figura 1 – Ciclo de acompanhamento inicial de um convênio do PST No percurso dos meses que separam uma visita in loco da outra, coordenadores de núcleo e avaliadores são orientados a interagirem, a fim de sanar as deficiências apontadas. Esta interação ocorre a partir da visita realizada e posteriormente via telefone, internet e, ocasionalmente de forma presencial. A atuação próxima aos núcleos de esporte educacional contribui para a melhoria das ações, colabora com a evolução das ações dos atores envolvidos diretos nas ações (coordenadores/professores e monitores) e favorece a compreensão das diretrizes e fundamentos pedagógicos do Programa (Starepravo et al., 2012). CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 154 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 5 PROPOSTAS DE APRIMORAMENTO PEDAGÓGICO DA ATUAÇÃO DAS EQUIPES COLABORADORAS A capacitação de professores e monitores e o acompanhamento pedagógico aos convênios do PST vêm sendo referência no Brasil em termos de Programas sociodesportivos. Segundo Araújo et al. (2012), as pesquisas de opinião realizadas após as capacitações tem alcançado um alto índice de aprovação (93,2%) em escala nacional em relação aos temas e sua relevância para o exercício da atuação frente aos núcleos. Contudo, a materialização dos trabalhos da capacitação se efetiva ainda com muitas restrições. Transformar os conhecimentos e vivências adquiridos em ações efetivas é um desafio que se apresenta nas diversas esferas educacionais, e num Programa da dimensão do PST isso não seria diferente. É necessário, pois, dar novos passos na direção de uma formação continuada mais eficiente e que contemple, principalmente, a excelência no atendimento às crianças e jovens atendidos no Programa, as pessoas mais importantes no processo, afinal, é para elas que as ações são idealizadas e colocadas em prática. Nesse sentido, novas ações de capacitação e formação continuada – já bem avaliadas – envolvendo o Ensino à Distância estão sendo desenvolvidas como mais uma opção de formação continuada dos profissionais envolvidos com o desenvolvimento do Programa em nível nacional. Num país como o Brasil, de dimensões continentais, essa estratégia pode ser grande aliada na aproximação entre formadores e envolvidos nas ações pedagógicas – principalmente àqueles que atuam diretamente nos núcleos. Há, contudo, a necessidade de consideração das dificuldades de acesso à internet nas localidades do interior do Brasil, sobretudo nas regiões norte e nordeste – as quais atuam diretamente a maioria dos autores do presente estudo. São regiões em que muitos lugares ainda o acesso é muito difícil e lento ou então, sem acesso mesmo à internet, colocando em risco os objetivos traçados e o sucesso do processo de formação. Tais regiões carecem de uma maior atenção dos gestores públicos nesse sentido. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 155 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Entretanto, considerando que já existe um movimento do Ministério da Educação brasileiro no sentido de levar o EaD ao interior do país, a fim de suprir a demanda de cursos de formação inicial de professores (licenciaturas), espera-se que essa alternativa possa se ramificar para ações educacionais como a tratada neste estudo. A ideia central é que os formadores das ECs se constituam em tutores, corresponsáveis pelas ações planejadas, principalmente aquelas estabelecidas em virtude das deficiências pedagógicas dos núcleos. Esta nova estrutura de capacitações de coordenadores de núcleo e monitores de esportes prevê um primeiro ciclo tratando de cinco das temáticas propostas na capacitação (1, 4, 6, 7 e 8 – vide Quadro 1), consideradas essenciais para esse primeiro momento, pela ligação direta com as práticas pedagógicas. Estas serão desenvolvidas ao final do primeiro ciclo, com dois dias de atividades presenciais e finalização dos Planejamentos Pedagógicos dos Núcleos de Esporte Educacional (PPNs). Na sequência, os demais temas serão trabalhados e, ao final da capacitação, uma formação continuada será deflagrada no próprio ambiente moodle construído para a capacitação. A Figura 2, abaixo, demonstra a “linha do tempo” construída para contemplar todo o processo descrito no presente texto, já incluindo as novas ações de capacitação no formato EaD propostas. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 156 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Tempo indeterm inado 7 di as 4 1 2 6 di di 70 dias as as entre IE – 1ª visita 5 di as 1 4 di as 1 5 di as 1 0 di as Figura 2 – Linha do Tempo das ações pedagógicas do PST, incluindo a proposta de EaD. Espera-se, assim, que as distâncias territoriais sejam diminuídas, e que provoquem um impacto positivo nas ações pedagógicas do Programa. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS O processo de capacitação, acompanhamento e avaliação do PST encontrase em constante evolução sendo avaliado continuadamente pela equipe gestora do Programa. Semestralmente, os coordenadores e vice-coordenadores da ECs se reúnem para apresentar e discutir as ações realizadas, apontar novos caminhos e sugerir novas estratégias. A produção de conhecimento e de materiais de apoio objetivando o aprimoramento às questões pedagógicas do PST é outra ação contínua. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 157 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Recentemente o Programa por meio do Ministério do Esporte produziu a obra Ensinando e aprendendo esportes no Programa Segundo Tempo – Volumes 1 e 2 (2011), que foi elaborado pelos integrantes das Equipes Colaboradoras e por consultores do Programa e que disponibiliza aos professores e monitores que atuam nos núcleos conhecimentos e estratégias metodológicas de diversas modalidades esportivas, desde as tradicionais (Futsal, Futebol, Handebol, Basquetebol, Voleibol) até as considerada “menos tradicionais” nas escolas e projetos brasileiros em sua prática e ensino como: Capoeira, Rugby, Esportes com Raquete, Dança, Ginástica, entre outras. Tal produção é influenciada pelas muitas realidades observadas nos núcleos do PST pelo Brasil. Entendemos que a tão reclamada aproximação entre teoria e prática ou, indo além, da academia – celeiro das ECs – com a realidade (o chão da escola, o sol na cabeça, o campo de terra, etc.) encontra na capacitação, no acompanhamento pedagógico e na constante avaliação pedagógica um solo fértil para sua concretização. A abrangência do PST, sua atuação e a ação do acompanhamento pedagógico, coadunam com o objetivo da democratização do direito e acesso ao esporte e lazer aos cidadãos brasileiros, principalmente às comunidades geograficamente e socialmente distantes (Souza et al., 2012). REFERÊNCIAS Araújo, A.C., Cavalcanti, L.M.B., Tassitano, R.M., Lacerda, E.P.,& Tenório, M. C. M. (2012, Junho). Formação e atuação pedagógica no Programa Segundo Tempo: reflexões sobre o fazer cotidiano do professor. Motrivivência, Ano XXIV, Nº 38, P. 40-58. Filgueira, J. C. M., Perim, G. L., & Oliveira, A. A. B. (2009). Apresentação. In Oliveira, A. A. B., & Perim, G. L. (Orgs.). Fundamentos pedagógicos para o programa segundo tempo: da reflexão à prática. Maringá: EDUEM, p. 7-16. Oliveira, A. A. B., Perim, G. L. (Orgs.) (2009). Fundamentos pedagógicos para o programa segundo tempo: da reflexão à prática. Maringá: EDUEM. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 158 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Souza, S. A. R., Oliveira, A. A. B., Kravchychyn, C., Soares, M. G., & Santos, A. A. (2012). Deporte y educación: el programa segundo tempo y el seguimiento pedagógico en acción. Alto Rendimiento: ciencia deportiva, entrenamiento y fitness. Pontevedra - España: Alto Rendimiento Servicios Editoriales y Formación Deportiva S.L., v. 21, p. 1-10 Starepravo, F. A., Rinaldi, I. P. B., Pizani, J., Seron, T. D., Teixeira, R. T. S., & Oliveira, A. A. B. (2012, Dezembro). As Equipes Colaboradoras do Programa Segundo Tempo e suas contribuições para o desenvolvimento de uma política de esporte educacional. Motrivivência. Ano XXIV, Nº 39, P. 129-141. Tubino, M. J. G. (2010). Estudos brasileiros sobre o esporte: ênfase no esporteeducação. Maringá: Eduem. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 159 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE DANÇA E EDUCAÇÃO PROPOSTA ECOLÓGICA DE SAÚDE E BEM ESTAR (III) Ensaio Batalha, A.P. (INET-MD,FMH-UTL, Ulusíada) Lisboa-Portugal Mortari, K.S.M. (GEPEMH- EMH-UEL) Brasil Macara, A. (INET-MD, FMH-UTL) Lisboa-Portugal Resumo Neste artigo, pretendemos destacar a função da Motricidade Humana como instrumento de Saúde e Bem-Estar e realçar as variáveis do processo relativas aos comportamentos motores mais adequados que favorecem a qualidade de vida. Pretendemos igualmente promover o aconselhamento e o incentivo à prática regular, harmoniosa e continuada do exercício e de comportamentos conducentes ao bemestar e à preservação da saúde. Queremos apresentar uma actividade educativa salutogénica, com características de acção planeada, equilibrada, controlada, tendo em conta as possibilidades benéficas das técnicas somáticas analisadas, nomeadamente ao nível de padrões de comportamento benéficos, tais como a consciencialização corporal, respiração, re-alinhamento, libertação de tensões musculares fundamentalmente com o objectivo de promover o bem-estar. Neste enquadramento, ao valorizarmos os estilos de vida saudáveis, estamos a privilegiar a auto-observação, a actividade motora e o exercício que estabilizam as acções e permitem o aparecimento natural do bem estar. Na análise de várias Técnicas Somáticas tentámos categorizar e hierarquizar as invariáveis que cruzam essas mesmas técnicas, mas de modo nenhum é nossa intenção tornar rígidos conceitos ou limitar pensamentos, pois neste modelo de intervenção e especificamente no domínio da saúde e bem estar, devemos fornecer estruturas sem as fechar ou fixar, de modo a permitir a livre escolha de modelos individuais de funcionamento. Em síntese, analisámos e sistematizámos uma intervenção educativa ecológica que pode promover estilos de vida saudáveis, tendo por base o mais comum, o que se repete e o que converge deste tipo de técnicas e que valoriza a interiorização das sensações, as potencialidades motoras, a variedade das condições de execução, a correcção biomecânica das tarefas motoras e a saúde e o bem estar dos praticantes. Palavras chave: exercício, saúde, bem-estar, técnicas somáticas Introdução Pretendemos destacar a função da Motricidade Humana como instrumento de Saúde e Bem-Estar e realçar as invariáveis do processo somático, relativas aos comportamentos motores mais adequados e orgânicos que favorecem a qualidade de vida. Começamos por enquadrar as Técnicas Somáticas na sua perspectiva CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 160 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE estruturante a partir da qual introduzimos algumas reflexões sobre um conjunto de recomendações metodológicas, que reconhecemos de grande interesse e alcance, que demonstram evidentes vantagens e que na realidade se constituem como boas práticas que atravessam e persistem em todas elas. Assim, a partir do estudo de diferentes técnicas somáticas, procuramos apresentar e aprofundar as competências específicas que se destacaram ao nível da promoção da saúde e bem-estar, como por exemplo o controlo do stress, a recuperação da fadiga, a redução da dor, a prevenção das disfunções musculo-esqueléticas, a amplitude articular, o equilíbrio, a coordenação motora, o reequilíbrio do tónus corporal, a respiração, a concentração, as dinâmicas do corpo, suas percepções e emoções, o vigor, a vitalidade e o desenvolvimento eficaz do potencial motor. Queremos mostrar uma actividade educativa salutogénica, com características de acção planeada, equilibrada, controlada, tendo em conta as possibilidades benéficas de algumas das técnicas somáticas e mais especificamente ao nível da consciencialização corporal, respiração, re-alinhamento, libertação de tensões musculares e sempre com o objectivo de promover o bem-estar. Como ensinar então uma técnica somática repleta de skills específicos enquadrados de uma forma mais relevante ou menos relevante por expressividades subtis e por movimentos de complexidades variáveis, que não se coadunam com um modelo de ensino voltado simplesmente para os padrões motores, mas, necessita de uma metodologia virada para a exploração de um movimento ecológico de bem estar e para a interiorização das sensações? Esta problemática foi o nosso desafio e o que observamos e identificámos foi uma técnica e uma metodologia que valorizam a interiorização das sensações, a variedade das condições de execução, a correcção biomecânica das tarefas motoras e a saúde e o bem estar dos praticantes. Os modos de intervenção fazem sobretudo apelo a um movimento morfo-funcional equilibrado, apesar de por vezes utilizarem também padrões motores rígidos. O que têm em comum é um processo de subjetivação, ou seja um enquadramento diferente de abordar o corpo, um reconhecimento do valor das práticas somáticas na formação do ser humano ao refinar percepções que CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 161 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE contribuem para o autoconhecimento corporal, para a melhoria de uma técnica, para o desenvolvimento das relações e das capacidades de comunicação, para a ampliação do pensamento crítico e para a prevenção de lesões. Uma grande parte da formação com base na motricidade humana assenta numa ótica mecanicista do corpo que, segundo Woodruff (1999), privilegia o virtuosismo (mestria da forma), o quantitativo (o alto, o rápido, o grande) e o automatismo (repetir até decorar a sequência). No entanto pensamos que novas experiências corporais libertadoras e recriadoras são necessárias para resistir a algumas tecnologias da dominação. O presente artigo pretende refletir sobre a pertinência das técnicas de Educação Somática junto dos profissionais da motricidade humana. Seja como material de pesquisa performativa e aprimoramento técnico, como recurso pedagógico ou como instrumento para o controle de lesões e doença, pois é possível realizar movimentos naturais, saúde. agradáveis que promovam o bem estar e sem hipotecar a Destacam-se como objetivos principais a apresentação de alguns fundamentos que cruzam as técnicas somáticas e que são um instrumento poderoso de Saúde e Lazer, a análise de várias formas de intervenção holística tendentes a generalizar a prática diária saudável e apontar alguns princípios orientadores de vários métodos somáticos relacionando técnicas e práticas com os estilos de vida saudáveis. De uma forma mais específica, pretendemos fazer a exposição do campo teóricoprático que reúne diferentes métodos e técnicas somáticas e cujo eixo de pesquisa e actuação é o movimento como uma via de transformação de desequilíbrios: mecânico, fisiológico, neurológico, cognitivo e/ou afectivo. Por outro lado indicamos alguns métodos de Educação Somática que favorecem o desenvolvimento da função motora equilibrada e o auto-conhecimento mediante a auto-observação de comportamentos sensitivos e motores. Por fim promovemos o incentivo à prática regular e continuada do exercício e de comportamentos conducentes à preservação da saúde. Caraterização da Educação Somática CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 162 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Os métodos de Educação Somática nasceram na Europa e na América do Norte entre os séculos XIX e XX. Estas técnicas podem parecer á primeira vista desenquadradas de uma cultura desportiva contemporânea, mas são utilizadas de uma forma bem mais estruturante e no seguimento da nossa análise sobre os conteúdos, reconhecemos neste tipo de técnica, um aprofundamento sistemático, um grande incentivo a uma prática reflexiva com uma grande eficácia consolidante. Desde os anos 1970, que os métodos somáticos, vêm sendo progressivamente integrados na comunidade performativa. Estas práticas reconhecem a unidade corpo-mente e usam, simultaneamente, a observação objectiva e a interpretação subjectiva da experiência como métodos de construção do conhecimento. O termo somática tem origem na palavra grega soma, que significa corpo vivo. Segundo Hanna (2003), soma é o corpo subjetivo, percebido diretamente em “primeira pessoa”. E corpo é aquilo que se percebe em "terceira pessoa", ou seja, de fora... Outros autores, na análise dos princípios gerais da produção de conhecimento e na transmissão dessas práticas, identificam estratégias discursivas importantes e definem as Técnicas Somáticas como um sistema de aprendizagem prática que adota a experiência do corpo e a imaginação como referências de base para o refinamento dos processos da consciência, para o desenvolvimento saudável do movimento e para a transformação de atitudes e comportamentos. As Técnicas Somáticas podem ser entendidas como uma arte de movimento e respiração criadas com o objectivo de adquirir auto-controlo, aperfeiçoamento físico e mental. Aspectos que vão do treino do sistema muscular, flexibilidade, sistema respiratório, coordenação motora, equilíbrio, etc., até a alguns aspectos de aperfeiçoamento da personalidade. O trabalho corporal é realizado de forma suave, fluída. A Educação Somática é um campo teórico-prático que se interessa pela consciência corporal, pela manutenção da saúde e recuperação do bem-estar. Há quase quatro séculos René Descartes, pai da filosofia moderna, concebeu o acto de pensar como uma atividade separada do corpo e ainda hoje continua a influenciar ciências e humanidades do mundo ocidental, mas, a Educação Somática contesta esta visão. O campo de estudos da Educação Somática baseia-se na proeminência e na consciência do corpo, através de uma abordagem diferente que tem vindo a ser desenvolvida com as neurociências e com CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 163 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE os estudos e os livros de António Damásio. Os novos conceitos apontam para a exploração e consciencializão motora, para o desenvolvimento da criatividade, para a busca de ideias originais e para a procura do pensamento fora da caixa. As neurociências, têm igualmente ensinado que só podemos fazer conexões neuronais essenciais á vida humana e cada vez mais e mais se promovermos estas mesmas conexões em ambiente de confiança, alegria e de estimulação. Não existe uma só verdade absoluta nem uma só resposta. Contudo há muitos tipos de inteligência, em que se observa que há alunos que preferem a música e a poesia, mas no entanto outros preferem a lógica matemática e ainda outros dominam melhor o corpo. De realçar a importância de desenvolver a inteligência emocional dos jovens tendo por base um vasto leque de estímulos e sempre com um enquadramento que promova o pensamento divergente. Nas diversas abordagens somáticas, a experiência do corpo torna-se referência de base para os processos de percepção e consciência corporal, para o desenvolvimento das funções motoras equilibradas, para a transformação das acções nocivas e para a aquisição de comportamentos habituais saudáveis. Assim a Educação Somática reúne diferentes métodos cujo eixo de pesquisa e actuação é o movimento do corpo como uma via de transformação dos desequilíbrios do ser humano. A Educação Somática interessa-se pelas relações entre a motricidade humana, a consciência e a aprendizagem. A partir da mudança de paradigma estabelecida pelo pós-positivismo e do questionamento epistemológico da Fenomenologia, a experiência humana e a subjetividade passam a ser validadas como fonte de conhecimento. A Educação Somática preocupa-se em trabalhar o corpo, levando em conta as características e limites individuais. O foco do formador no âmbito da educação somática é a pessoa com todos os seus problemas. O professor orienta o aluno num processo de reaprendizagem motora que passa pelo movimento do seu corpo num espaço, tempo e dinâmicas específicas. Dependendo da história e das necessidades de cada um, a Educação Somática pode dar resultados eficazes: na melhoria da coordenação motora; na prevenção de problemas músculos-esqueléticos resultantes de excessos e de movimentos repetitivos; no desenvolvimento da capacidade de concentração; na recuperação do esgotamento físico e mental; em beneficiar o processo respiratório; CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 164 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE na melhoria da flexibilidade muscular e amplitude articular; no relaxamento de tensões excessivas e activação de músculos pouco utilizados; na transformação de hábitos posturais inadequados; no desenvolvimento global da capacidade motora e da expressividade. As Técnicas Somáticas reúnem diferentes métodos tais como Bartenieff, Feldenkrais, Técnica Alexander, “Body Mind Centering”, Pilates, Eutonia, entre outros. Algumas técnicas orientais (Yoga, Chi-kung, Tai Chi), Técnicas de Relaxação e Massagem de Relaxamento (Shiatsu). No entanto, as técnicas de Educação Somática não substituem quaisquer técnicas de dança ou de educação física. Associadas à linguagem motora, o seu papel é propor uma outra dinâmica de intervenção. Um ângulo que respeita o bem-estar, a saúde, os processos fisiológicos e as estruturas musculo-esqueléticas do corpo. Ao mesmo tempo, as explorações e os exercícios dos diferentes métodos de Educação Somática podem ser usados pelos performers como matéria prima, ou seja um alfabeto e um vocabulário para a comunicação expressiva. Os métodos de Educação Somática, têm uma filosofia, uma estética própria e baseiam-se numa linguagem específica. Em todo o mundo encontramos pesquisadores que estão de acordo que as lesões associadas ao uso repetitivo do corpo e com um alinhamento inadequado, provocam stresse dos tecidos e desgaste das estruturas osteoarticulares (Faria 2002). Segundo Fortin (1998), quando uma coreografia é transmitida a um corpo desintegrado, as funções sensitivas e motoras do bailarino estão desarticuladas. O não-reconhecimento dos limites das estruturas do corpo pode resultar em acidentes ou em compensações musculo-esqueléticas desastrosas e em consequência aparecem as dores. Destaca-se como grande princípio das Técnicas Somáticas sobretudo na formação performática o refinamento da funcionalidade do sistema proprioceptivo, cujo papel é permitir o reconhecimento dos limites do corpo e a relação das diferentes partes do corpo entre si. A compreensão e a interiorização do vocabulário utilizado é fundamental na expansão de aplicações posteriores com diferentes complexidades. Promove-se no âmbito destas técnicas uma consciência analítica exploratória seguida de uma reflexão que remete para a génese dos conteúdos somáticos. As estratégias pedagógicas da Educação Somática, ao enfatizarem a consciência corporal, a CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 165 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE autopercepção e o processo de interiorização na aquisição de novas habilidades motoras, tem um grande impacto na qualidade técnica do movimento (Domenici, 2012, p.78). A atividade motora, orientada sob a perspectiva da consciencialização, transformação ou renovação das tarefas motoras, leva a uma tomada de consciência das possibilidades de cada um e ao reconhecimento dos próprios limites. Por sua vez elaborar estratégias de superação requer, de quem ensina e também de quem aprende, aceitação, comprometimento, disponibilidade e vontade (Fortin 1999, p.255). A Educação Somática, não privilegia a correção de patologias ou disfunções, mas trabalha a consciencialização e o auto-controlo, para permitir que cada pessoa encontre a sua própria organização e consiga movimentar-se de forma mais eficaz. O professor tenta reativar os mecanismos naturais de auto-regulacão, a fim de recuperar o bem-estar do aluno. A compreensão de que o corpo e a consciência formam um todo, é o suporte da estratégia pedagógica dos educadores de Educação Somática. Isto significa que as aulas não são construídas somente em função dos sintomas apresentados pelos participantes. Cada um toma consciência do seu problema, que tem relação, entre outros fatores, com a maneira como se movimenta, a posição que adota na escola e no trabalho, os hábitos da vida diária, as relações com o meio envolvente, a percepção que tem de si mesmo, da sua vida afetiva, social etc. O reconhecimento do potencial do corpo e o respeito pelos seus limites, permitem a cada indivíduo estabelecer uma maior intimidade com o seu corpo e atingir um bemestar efetivo. É evidente que neste âmbito, a harmonia e o bem-estar estão relacionados com uma motricidade, que se deseja que melhore a qualidade de vida, a qual deve ser desenvolvida de forma consciente, controlada, continuada com movimentos adequados e sem sobrecargas evitando o desgaste e para tal o reforço na utilização do mínimo esforço. Destacamos destes métodos os grandes paradigmas do bemestar que se identificam com a auto-consciência das diferentes funções naturais, com a aprendizagem de novos modos de reagir e com o saber antecipar para se poder optar antes de reagir. Naturalmente surge a observação interior sistemática acerca da CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 166 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE respiração, do alongamento da coluna, da libertação dos ombros, cabeça e de todas as tensões indesejáveis. Tópicos Metodológicos e Códigos Motores Subjacentes Na aquisição das habilidades motoras é extremamente importantes a melhoria da aprendizagem através de uma boa observação, da atenção, das manifestações criativas, do diferenciar e sistematizar informações, do fazer relações, da resolução de problemas, da análise e síntese das diversas tarefas e de tantas outras qualidades relevantes à incorporação da informação. Gray (1989) discute uma variedade de condições que afetam as diferentes formas de aprendizagem motora, identificando na complexidade das práticas holísticas um caminho potencial à integração dos processos cognitivo, perceptivo e motor. Segundo ela, o holismo corresponde à visão da realidade como unidade orgânica e integrada, resultando numa totalidade maior que a soma de suas partes. Já a aprendizagem holística diz respeito ao tipo de processamento que integra estímulos quantitativos (analíticos e computacionais) e qualitativos (intuitivos e heurísticos). Atualmente, discute-se a grande contribuição que o estudo cinesiológico, psico-motor, o das práticas somáticas e o das técnicas de reeducação do movimento podem trazer à melhoria da aprendizagem e desempenho do intérprete, não apenas no sentido de uma apropriação gradual do corpo, mas também em direção a uma coordenação mais harmoniosa entre estrutura, funcionamento e realização (Feldenkrais, 1977: 73). Na dança, Fortin (1998), defende a possibilidade de aquisição de uma técnica isenta de estilo, fundada em princípios anatómicos funcionais, e na qual é dada prioridade à sensação do corpo e não à ênfase no modelo estético de uma linguagem como a de Graham, de Cunningham ou de Limón, suplantando os métodos de aprendizagem baseados no binómio observação/repetição. Ela argumenta que diversos coreógrafos internacionais de vanguarda têm trabalhado sob o enfoque de uma maior democracia estilística, sem vincular as companhias a uma escola de dança particular. Por sua vez, (Louppe, 2007) tem forçado criadores e dançarinos a um maior questionamento CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 167 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE sobre o conceito de técnica de dança, levando-os a experimentar uma maior relação entre o trabalho de preparação técnica e a investigação de novos códigos e estruturas de movimentos. A aplicação de estratégias criativas e recursos exploratórios às gramáticas instituídas vêm servindo não apenas para redefinir o conceito de técnica de dança, mas também para ampliar o rol de habilidades e de usos do corpo do dançarino contemporâneo. Gray (1989) salienta a grande contribuição destas abordagens na aprendizagem da dança, especialmente aquelas relacionadas com a idéia de técnica corporal, de habilidade, de savoir-faire (saber-fazer). Esta é considerada a mais valiosa forma de aprendizagem da dança na medida em que as respostas dependem da habilidade do estudante em perceber o problema, manipular idéias abstratas, valer-se de aprendizagens anteriores, analisar e sintetizar possíveis soluções, testá-las, avaliá-las e reformulá-las se necessário. Batalha (2006) defende que o movimento dançado não é exclusividade de corpos perfeitos, nem de uma elite. Atualmente, é um direito de todos os cidadãos e existe a possibilidade de todos os corpos dançarem. Por outro lado, o que fazer com pessoas sedentárias por natureza ou com as pessoas que têm doenças profissionais específicas, como perturbações visuais decorrentes de longas horas de trabalho no computador, falta de concentração, baixo rendimento laboral provocado por ambientes nocivos, desgaste articular de atletas de alta competição, tendinites que dão dores e vítimam muitas pessoas, faltas de ar e DPOCs motivadas por espaços pouco saudáveis e aquelas dores terríveis da coluna que diminuem a mobilidade? No seguimento dos nossos estudo, podemos afirmar que as técnicas de Educação Somática podem ser articuladas ora como material performático, ora como formas de prevenção de dores e mal estares, ora como apontamento didático junto a todas as populações. Estas técnicas, podem servir como intrumentos de aperfeiçoamento técnico e prevenção de distúrbios osteomusculares, tornando-se assim um capital que potencializa o seu campo de atuação, quer seja junto de performers, estudantes, jovens adultos e adultos em geral. Por todos estes motivos surgiram as técnicas somáticas na América do Norte e na Europa, a partir dos anos 60, com artistas e terapeutas a demonstrarem os seus benefícios. Estamos na época das vivências espirituais, dinâmicas terapêuticas e experiências artísticas variadas que se centram CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 168 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE na exploração da consciência, na liberação do corpo e na unificação do ser humano. Cada método de Educação Somática assume o corpo como um laboratório e tem sua própria história, princípios, técnicas e normalmente têm um idealizador, vários colaboradores, discípulos e assistentes que prolongam as metodologias específicas ao longo dos tempos. Passamos a realçar algumas das invariantes, ou seja aqueles elementos fundantes de cada ténica, mas que ao mesmo tempo cruzam todas elas. Focaremos assim alguns princípios e métodos mais comuns: Sistematizar, objectivar e operacionalizar a manutenção e recuperação da saúde Zelar pela integridade do corpo através da experimentação, consciencialização e articulação de uma atividade motora harmoniosa Ampliar os conhecimentos de modo a permitir a relativização do peso de uma corporeidade massificada Sensibilizar para a aceitação do novo e para a exploração novas fronteiras do movimento humano Aliar o belo ao funcional e a satisfação ao potencial criativo Incentivar a autonomia no alongamento e fortalecimento das principais cadeias musculares e na movimentação de todas as secções da coluna vertebral Incrementar competências para transformação dos maus hábitos posturais e das contraturas inadequados Determinar as prioridades no equilíbrio do sistema respiratório e identificar estratégias de recuperação Promover a capacidade de compreensão para vencer os obstáculos e tentar a superação diária Refletir sobre os problemas e fundamentar soluções de modo a permitir viver tranquilamente um momento de cada vez e desfrutar o presente. Valorizar cada instante da vida com pensamentos positivos de modo a possibilitar a adaptação e adequação à realidade social Aprender com a vida e encontrar a felicidade e a liberdade na realidade envolvente. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 169 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE As diferentes metodologias de Educação Somática que orientam os praticantes de acordo com um processo de reapropriação do sentir o corpo nas suas múltiplas relações com o espaço, tempo e dinâmica, utilizam uma grande variedade de estratégias pedagógicas. Assim, temos: Formas de consciencialização e interiorização de atuação que utilizam a motricidade e a imaginação e permitem através de um processo de reflexão ampliar a imagem corporal, facilitar a desconstrução de padrões motores nocivos e o gradual estabelecimento de padrões motores mais harmoniosos. O trabalho de auto-regulação, que aposta na autonomia e na autoobservação/compreensão e actua nas esferas emocional, psicológica e nervosa, acalmando emoções, aumentando a concentração, a resistência a distratores e proporcionando o controlo e a estabilidade mental – aprender a meditar na acção. Aprender a relaxar e aprender a estar presente na acção. Consciencializar o que se faz de maneira automática de modo a enriquecer as pessoas e permitir desfrutar mais e melhor cada momento da vida. Os exercícios respiratórios profundos e suaves que acompanham a maioria dos movimentos e que têm como finalidade desintoxicar e purificar. Os padrões motores e os movimentos em geral, são sustentados pelo ritmo respiratório próprio de cada pessoa, alternando exercícios de expansão com a contração respiratória. O encadeamento das posturas varia com as técnicas mas todas elas trabalham várias séries de posturas progressivamente mais complexas mas que formam um fluxo contínuo. Desfrutar o presente e sentir o corpo a fluir, são momentos preciosos que trazem entusiasmo, prazer e tranquilidade. Manter o pensamento na ação, apreciar e desfrutar o movimento é um investimento num percurso de bem-estar. Privilegia-se uma redução do esforço na realização dos movimentos a fim de induzir o relaxamento, a libertação de tensões excessivas, a regulação do tónus muscular e um ativação geral harmoniosa da musculatura em que lentamente e com fluidez se realizam alongamentos e flexões do corpo. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 170 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Ser activo é viver saudável e por este motivo devemos colher os melhores benefícios de uma vida activa que implique movimento e gasto de energia com o suporte de técnicas inovadoras que fazem parte da Motricidade Humana. Ao abordarmos várias Técnicas Somáticas viradas para a exploração do movimento orgânico de bem estar e para a consciencialização individual das acções, estamos a fazer apelo a um movimento morfo-funcional equilibrado, apesar de algumas utilizarem também padrões motores rígidos. Assim, destaca-se do suporte metodológico o ensino e a divulgação de algumas técnicas adaptadas, que valorizam a interiorização das sensações, o aprofundamento sistemático da reflexão crítica sobre a observação, a variedade das condições de execução, a correcção biomecânica das tarefas motoras e a saúde e bem estar dos praticantes. Entre a liberdade da arte e o rigor da ciência, os métodos de Educação Somática propõem de uma forma harmoniosa movimentos e exercícios a todos aqueles que o queiram com os seguintes propósitos muito imediatos: • Melhorar e articular a flexibilidade com a amplitude articular • Reequilibrar o tónus corporal • Consolidar a coordenação motora • Controlar e agilizar uma respiração mais equilibrada • Aumentar a capacidade de concentração • Reconhecer as dinâmicas do corpo, percepções e emoções • Solidificar e desenvolver o potencial motor e expressivo • Acalmar as dores crónicas e prevenir as disfunções musculo- esqueléticas • Optimizar a gestão do stresse e a recuperação da fadiga. Alguns aspectos técnicos são realmente importantes na realização destes métodos, pois privilegia-se a gestão de exercícios de concentração e consciencialização corporal, a respiração e fluidez, a prática de movimentos de re-alinhamento, treino de controlo corporal, técnicas de alongamento, libertação de tensões musculares e stresse, mecanismos de anti-gravidade e técnicas de bem-estar que corrigem o corpo desequilibrado. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 171 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Qualquer método utilizado tem naturalmente de garantir um bom alinhamento corporal, que deve ser mantido continuadamente, não só por uma questão de saúde e bem estar, mas também por uma questão de eficiência motora. Por outro lado deve promover a perceção e controle do centro de gravidade de modo a possibilitar um bom equilíbrio nas transferências de peso. Finalmente incentivar alongamentos frequentes e a realização de movimentos globais e específicos de forma fluida e controlada sempre acompanhados por uma respiração adequada nos “stretches/bends” e nos “contract/release”. Modelo de Intervenção e Transmissão de Conteúdos Um modelo ecológico de saúde e bem estar não deve ser enquadrado por estereotipos rígidos, conceitos inflexíveis ou práticas severas, mas permitir a livre escolha de modelos individuais de funcionamento adequados ás pessoas e situações, respeitando a liberdade, a diversidade, a autonomia e principalmente aceitando novos desafios e estimulando a criatividade (Mortari; Batalha 2011 p.595) Neste enquadramento, a actividade motora e o exercício, servem sobretudo para estabilizar as acções e permitir o aparecimento natural do bem estar e em que são valorizados principalmente os estilos de vida saudáveis. Para facilitar uma motricidade interiorizada e ecológica, para além da implementação do conhecimento, reconhecimento e desenvolvimento dos padrões motores, propõe-se o relacionacionamento de movimentos do quotidiano com os mecanismos emocionais, reforço das ações motoras com temáticas que abordem ideias, sentimentos e emoções, movimentos que estimulem a musculatura generalizada, introdução e correção de problemas posturais sem ações repetidas, prolongadas ou em tensão, relação entre atitude e postura de forma racional de modo a possibilitar a antecipação das ações, promoção da fluidez do movimento com sensibilidade, enfoque no início e finalização das ações, realização de sequências enquadradas por movimentos consciencializados, pensados e intencionais, exploração da comunição e expressão da realidade como um processo de recuperação física e emocional. Finalmente o incentivo á problemática do mindfulness- consciência do momento e do eneagrama- CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 172 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE descoberta da personalidade, no desenvolvimento de novos reportórios de ação. Considerando que as aulas acontecem em espaços abertos, é especialmente importante o domínio da aula, quer em termos conteudísticos, quer em termos pedagógicos. O professor normalmente neste tipo de técnicas é polifacetado, pois tem de construir o programa em função dos alunos e dos seus conhecimentos, tem que saber propõr estímulos e incentivos, porque o trabalho orgânico realizado lentamente requer muita disponibilidade e concentração. As incertezas e as faltas de segurança criam tensões nada oportunas para o desenvolvimento deste tipo de trabalho e o professor tem de saber recuperar a atenção e as energias perdidas dos seus alunos. Processo aberto, não linear, permeado de interacções e retroacções, de onde emerge a intervenção. É no processo de construção da formação que a aprendizagem se concretiza. É no fazer e reflectir que se percebe o “como “ mais adequado a cada situação. O posicionamento do professor neste processo frente ao seu objectivo de intervenção, da sua população alvo e de si próprio é que permite acreditar que esta metodologia dá saúde e bem estar. As atitudes dos professores e alunos é que irão possibilitar o desenvolvimento de saberes consciencializados, inovadores, eficazes e principalmente significativos e portadores de bem estar para quem os desenvolve. Conclusão O conjunto de reflexões apresentadas demonstram bem a importância de uma educação inovatória no âmbito da Motricidade. Para atingir esta finalidade, é necessário seguir um projecto objectivado, visto o objecto de estudo ter de ser encarado numa óptica interdisciplinar ou transdisciplinar, em que conhecimentos técnicos, científicos, filosóficos e artísticos têm de se cruzar para responder às solicitações do envolvimento. Procuramos de uma forma sucinta sensibilizar e promover uma atitude de reflexão face aos paradigmas das Técnicas Somáticas por os considerarmos de extraordinária importância, quando se quer promover uma educação motora de qualidade. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 173 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Pensamos que é necessário compreender as invariantes operacionais somáticas de uma forma dialéctica, de modo a permitir que o acto pedagógico, liberte saudáveis energias criadoras num exercício de cidadania construtiva. A actividade motora e o exercício tendo por base as Técnicas Somáticas, parecem ser uma alternativa de promoção e valorização de comportamentos saudáveis funcionando como estímulo: intelectual, biológico-motor, social, psicológico, artístico e cultural e não como uma dominação ou uma tortura. Pretendemos demonstrar, que este tipo de motricidade pode contribuir, de forma relevante, na promoção da saúde física e psicológica das populações e pode e deve desencadear prazer e bem-estar, o que melhora naturalmente a qualidade de vida dos praticantes. É necessário entender que a saúde e a corporeidade surgem no cruzamento de diversos saberes, entre sistemas individuais e colectivos e são fruto de produtos sociais e subjectivos (Siqueira, 2010, p. 45) A formação ecológica, tendo por base as normas de funcionamento e as práticas comuns do processo somático, que denominamos de invariantes dasTécnicas Somáticas é contínua, nunca se esgota e a própria intervenção pode caracterizar-se como um processo de aprendizagem ao longo da vida. Em síntese, passamos a destacar desta abordagem somática alguns dos seus pontos mais fortes: A actividade motora é uma manifestação natural do ser humano, em que se oportuniza momentos de vivência integrados. O movimento de intencionalidade ecológica promove um corpo sujeito, praxis e poiesis. Efetivação de atitudes autónomas, reflexivas, críticas e comprometidas com as tarefas motoras. As Técnicas Somáticas promovem um movimento harmonioso que possibilita sentir e expressar o Bem-Estar. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 174 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Neste nosso estudo, realçamos o modo de promover a descoberta do próprio corpo, a liberdade, a criatividade, a responsabilidade, a autonomia e a adaptação à diversidade cultural. Finalizamos com uma reflexão acerca do “pensamento menos um”, aquele em que falta sempre qualquer coisa, pois não encontramos a solução, não temos referências indestrutíveis, não existem modelos únicos, nem propostas ideais, mas é mais imaginativo, mais produtivo e dá mais possibilidades de resposta para os problemas da vida, permitindo formas mais originais de ler e viver a realidade e de construir com maior qualidade as nossas personalidades e os nossos sonhos. Bibliografia Batalha, A. P. 2006. O contributo das Expressões Artísticas cultivadas na cidadania construtiva. Dança e Movimento Expressivo. Textos e Resumos do Seminário Internacional (pp. 28 - 34). Cruz Quebrada: FMH Batalha, A. P. 2004. Metodologia do Ensino da Dança, Lisboa: FMH Edições,FMHUTL Bolsanello, D. P. (org.) 2010. Em pleno corpo: educação somática, movimento e saúde. Curitiba: Editora Juruá Damásio, A. 2010. O Livro da Consciência: a construção do cérebro consciente. Portugal: Temas e Debates/Círculo de Leitores Domenici, E. 2012. O encontro entre Dança e Educação Somática como uma interface de questionamento epistemológico sobre as Teorias do Corpo. Pro-Posições. Campinas, v. 21, n.2 (62), p.69-85, maio/ago. 2010. Faria, J. 2002. Exercício e Promoção da Saúde. Lisboa:Horizonte. Feldenkrais, M. 1989. The Elusive Obvious, Capitola, CA: Meta Publications. Feldenkrais, M. 1977. Consciência pelo movimento. 4. ed. São Paulo: Summus, Ginot, I. 2004. Para Uma Epistemologia dos Métodos de Educação Somática. Pantin, éd. CND.Paris VII FR. Fortin, S.1999. Educação somática: novo ingrediente da formação prática em dança. Cadernos do GIPE-CIT. Estudos do Corpo. Salvador, Editora da UFBA, n.2, fevereiro CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 175 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Fortin, S.1998. Quando a ciência da dança e a educação somática entram na aula de técnica de dança. Pro-Posições. Campinas : Editora da UNICAMP, v. 9, n. 2 (26), 7996 Gray, J.A. Jun 1989. Dance Instruction: Science applied to the Art of Movement. Illinois: Human Kinetics Books. Green, J. .2007. Student Bodies: Dance Pedagogy and the Soma. L. Bresler, International Handbook of Research in Arts Education, 1119–1132, Netherlands: Springer International. Green, J. 1999. Somatic authority and the myth of the ideal body in dance education. Dance Research Journal, 31(2), 80-100. Green, J. 2002. Somatics: a growing and changing field, Journal of Dance Education, 2:4, p. 113. Greene, D. 1997. Assumptions of somatics. Somatics. Nova York, no 2, vol. 11 Guimond, O.1999. L’éducation somatique: un changement de paradigme. Sans préjudice... pour la santé des femmes, Réseau québécois d’action pour la santé des femmes, v. 18, p. 5-6 Hanna, J. 2008. A Nonverbal Language for Imagining and Learning: Dance Education in K-12 Curriculum, Educational Researcher, 37:8, pp. 491–506. Hanna,T. 2003. What is Somatics? Somatics. Nova York no 2, vol.14 Johnson, D. 1995. Bone, breath and gesture: practices of embodiment. California: North Atlantic Books Louppe, L. 2007. Poétique de la Danse Contemporaine: la suite. Paris: Contredanse. Mortari, K., & Batalha, A. P. 2011. Dança e Educação: constante processo de formação, informação e renovação. Atas do VII Seminário Internacional de Educação Física, Lazer e Saúde. CDRomm, pp. 593 - 603. Braga:CIEC, Instituto de Educação, Universidade do Minho. Perry, P. 2013. Como manter a sanidade mental. The School of Life. Ed.Lua de Papel. ISBN: 9789892321851 Woodruff, D.1999. Treinamento na dança: visões mecanicistas e holísticas. In:Cadernos do GIPE-CIT, Salvador: UFBA/PPGAC, n. 2, fevereiro, p. 31-39. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 176 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Siqueira, D. 2010. O corpo percebido.In Estudos,Textos. Campinas: Autores Associados CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 177 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE TÉCNICAS SOMÁTICAS - ALTERNATIVAS DE SAÚDE E BEM-ESTAR Ana Macara, INET-MD, FMH-UTL Ana Paula Batalha, INET-FMH-UTL, ULusíada-Lisboa Kátia S.M. Mortari, (GEPEMH- EMH-UEL-Brasil) Resumo É nossa intenção abordar não apenas a importância da educação somática nos factores de equilíbrio energético e indicadores de bem-estar, como também o papel do meio profissional da dança na divulgação desta área junto do grande público. Neste trabalho, elencamos algumas técnicas somáticas e de reactivação de mecanismos de auto-controle como Pilates, Alexander, Feldenkrais, GDS, Body-Mind Centering, Bartenieff, entre outras, que podem ajudar a uma eficácia motora e uma prevenção de lesões. Veremos como várias técnicas que, não sendo à partida de Dança Teatral, são pelos profissionais da dança apropriadas como complemento ou base da formação. Estas técnicas dirigem-se à Motricidade Humana e fazem apelo a um movimento morfofuncional equilibrado, utilizando, ou não, padrões motores rígidos. A educação somática pode passar por diferentes técnicas, com skills específicos, mas é enquadrada de uma forma mais ou menos relevante por expressividades subtis e por diferentes movimentos com complexidades variáveis e que não se coadunam com um modelo de ensino voltado simplesmente para os estereótipos motores, mas, pelo contrário, necessita de uma metodologia virada para a exploração do movimento orgânico de bem estar passando, necessariamente, pela interiorização das sensações. Este tipo de metodologias foi fundamental no desenvolvimento da dança contemporânea e presentemente assiste-se a uma divulgação destas técnicas ao grande público, num movimento que inclui grande número de bailarinos e/ou ex-bailarinos que, na sua reconversão profissional, devolvem à comunidade muito do que aprenderam durante a sua formação profissional. Palavras chave: educação somática, técnicas somáticas, dança, saúde Introdução Ao longo do século xx a dança surgiu no mundo da Arte como uma das áreas que mais cresceu e floresceu, sendo comparada por Roger Copeland (1984) à fotografia: Duas artes que não dispensam a presença da realidade concreta que é exposta na obra (ao contrário da pintura que pode mostrar apenas formas e cores, ou da música que utiliza apenas os sons), aparecem num mundo em que o abstraccionismo imperou fugindo à presença do real. Mesmo em obras abstractas, a dança não pode fugir à realidade que é a presença do(s) corpo(s) em toda a sua CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 178 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE multifacetada aparência. Muitos estudos tem sido apresentados sobre o corpo e sua multiplicidade, mas o que gostaríamos de reter aqui prende-se com a distinção entre o corpo estereotipado criado pelo treino de técnicas bem específicas centradas no rigor do gesto em função de padrões estéticos bem definidos, e a procura de corpos personalizados, em que, para além de técnicas estilísticas adquiridas, se procura encontrar modos de aprimorar a performance de cada um centrada no desenvolvimento do “eu” individual, e no modo como o “eu” se exterioriza através do corpo. Nesta perspetiva, mais do que adaptar o corpo à técnica, procura-se adaptar a(s) técnica(s) ao corpo de cada um. E valorizar o que de individual existe em cada ser performático que se apresenta frente a um público, exteriorizando não apenas gestos técnicos, mas a interioridade de cada um, tornando visível a intensidade das pequenas sensações (Gil, 1996). Esta perspectiva foi, sobretudo a partir da segunda metade do século xx muito importante no desenvolvimento de novas tendências na dança contemporânea que sentiram a necessidade de quebrar com os cânones técnicos da dança Clássica e da Dança Moderna, procurando novas metodologias para desenvolver a consciência corporal, as qualidades performativas e a presença cénica. Por outro lado, ao longo dos anos, as lesões dos bailarinos têm sido um problema com que muitos se têm confrontado. Se é verdade que alguns acidentes serão sempre inevitáveis, sobretudo na prática de uma atividade com grandes demandas físicas, também sabemos que numerosos estudos (Anderson & Hanrahan, 2008, Ritter & Moore, 2008, Batson, 2007) demonstram o surgimento entre os bailarinos de lesões (como fraturas de stress, por exemplo), que são devidas à persistência em movimentos cuja repetição prolongada é altamente lesiva da integridade do praticante. Igualmente, o modo como o mesmo gesto técnico é executado pode afetar o desenvolvimento saudável do praticante. A procura de modos de desenvolver as capacidades performativas sem prejudicar a integridade e a saúde do bailarino tem sido a demanda de vários teóricos e praticantes que ao longo dos anos têm desenvolvido várias abordagens técnicas e metodológicas. Na confluência da procura de novas formas de expressão em cena e da procura de formas de ultrapassar dificuldades ou problemas físico-motores, foram sendo CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 179 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE desenvolvidos diferentes sistemas, técnicas e métodos que se dirigem ao “soma”, que significa corpo vivo, e se dirigem não só aos aspetos físicos, mas também sensoriais e emocionais de cada indivíduo. Estamos assim a falar de técnicas que, sendo muito distintas, procuram de um modo geral a relação entre os sintomas físicos e emocionais e a totalidade de ser, o equilíbrio pessoal, o bem-estar de cada um, de forma a poder melhor interagir com o ambiente, seja em cena seja na vida. Técnicas que foram designadas por técnicas somáticas, algumas provindas da área das terapias, outras de técnicas de dança ou da preparação física, frequentemente com influências de técnicas de origem oriental. Neste artigo procuramos apresentar e contextualizar algumas das técnicas somáticas hoje utilizadas, e apresentar o contributo do mundo da dança para o desenvolvimento de métodos de trabalho adequados não apenas a bailarinos, mas também à população em geral como prática de lazer e manutenção da saúde. Técnicas somáticas Segundo o Regroupement pour l’Education Somatique (s.d.), “[a] educação somática interessa-se pela aprendizagem e a consciência do corpo em movimento no interior de seu meio. A educação somática propõe uma descoberta pessoal de seus próprios movimentos, de suas próprias sensações. Este processo educativo é oferecido em cursos ou lições onde o orientador propõe pela palavra, ou ainda pelo gesto ou o tocar, atividades pedagógicas de movimento e de percepção do corpo”. E Bolsanello (2008) acrescenta que característico da Educação Somática é que nenhum de seus métodos ou técnicas se dirige ao domínio da forma. A tónica das aulas de Educação Somática é normalmente colocada na exploração individual dos movimentos propostos e não no aperfeiçoamento de posturas ou gestos coreográficos pré-definidos. A educação somática actual apresenta-se assim englobando uma multiplicidade de técnicas e métodos que, apesar de algumas características comuns, têm origens, desenvolvimento e objectivos específicos altamente variados. Para nos situarmos na área, passamos a expor um levantamento, necessáriamente incompleto, de algumas das técnicas que mais se desenvolveram e influenciaram esta área. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 180 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE a) Bartenieff Fundamentals - Método de trabalho criado pela bailarina alemã Irmgard Bartenieff, nascida em 1900, e que foi colaboradora próxima de Rudolf Laban. Desenvolveu-se como parte integrante do Sistema Laban, seguindo os seus princípios e fundamentos: pontos no espaço, qualidades rítmicas, formas e relacionamentos, etc. Bartenieff procurou trabalhar o corpo de maneira orgânica e o seu objectivo é o relacionamento harmonioso do corpo com/no mundo, optimizando as possibilidades anatómicas e funcionais do corpo para uma expressão pessoal e comunicativa, quer seja na produção de obras de arte ou nas atividades do dia-a-dia. É um método ainda muito utilizado tanto na europa como nos EUA. b) Método Feldenkrais – Método criado por um judeu ucraniano, Moshe Feldenkrais (1904-1994), doutorado em engenharia, e que foi o primeiro europeu a obter a faixa preta de judo. Feldenkrais foi vítima de um problema num joelho, que o levou a desenvolver uma sucessão de movimentos/exercícios que, influenciados pela técnica oriental, ressaltam a ligação entre os diferentes segmentos corporais, e ajudam a encontrar uma unidade no movimento altamente benéfica na prática de diferentes actividades físicas. Este método, que tem sido muito difundido nos EUA, utiliza o movimento e a percepção para desenvolver a autoconsciência, mediante a auto-observação de comportamentos sensitivos e motores, podendo funcionar como um catalisador para o desenvolvimento das funções motoras e ajudando a reconhecer o modo como os hábitos (bons ou maus) influenciam a qualidade das nossas vidas. c) Técnica Alexander – Esta técnica foi desenvolvida no início do século xx por um ator australiano, Frederick Matthias Alexander, cujo problema de perda de voz o levou a observar em si próprio as relações entre esse sintoma e a maneira como utilizava o próprio corpo. Essa procura levou a uma técnica baseada na autopercepção do movimento e das posturas corporais, centrada na zona em que o pescoço se articula com a cabeça, onde se situam as cordas vocais, e que se percebeu mais tarde ser aplicável a diversos casos relacionados com problemas na coluna, reabilitação, respiração e hábitos posturais. A técnica é ensinada em aulas, através de uma combinação de instruções verbais e de CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 181 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE manipulações pelo professor/terapeuta, que normalmente trabalha em sessões individuais. d) Método Pilates - Joseph Pilates foi um atleta alemão, prisioneiro durante a Primeira Guerra Mundial. Enfermeiro, começou a desenvolver com os prisioneiros os rudimentos do que hoje conhecemos como o Método Pilates, e foi pelo próprio criador desenvolvido até meados do século xx. Aplicou e desenvolveu o seu método com bailarinos, como forma de fortalecer a sua técnica e evitar lesões. Trata-se assim de uma técnica que valoriza a interiorização das sensações, a correcção biomecânica das tarefas motoras e a saúde e bemestar dos praticantes. Para o desenvolvimento da sua técnica Pilates criou uma série de aparelhos destinados a exercícios específicos. Depois de aperfeiçoados, estes aparelhos são ainda hoje utilizados. Graças à utilização de boas técnicas de marketing esta técnica é hoje certamente das mais difundidas. e) Eutonia - Gerda Alexander, bailarina alemã, sofreu, ainda nova, de problemas de coração, que não lhe permitiam grande esforço físico. Isto parece tê-la estimulado a desenvolver exercícios adaptados à sua condição, todo um sistema de trabalho que envolve o controle do tónus muscular. Segundo Alexander (1977), a eutonia (do grego, eu=bom; tonia=tónus muscular) leva-nos a um conhecimento mais profundo da nossa própria realidade física e espiritual em verdadeira unidade. A Eutonia pretende levar-nos a expandir a consciência libertando as forças criativas de forma a adaptar-nos a diferentes situações da vida. Trata-se assim de uma prática de observação das próprias sensações, do sentir o momento, do perceber a diferença entre as zonas do corpo relaxadas ou em tensão, que se difundiu sobretudo a nível da Europa. f) Método G.D.S - Godeliève Denys-Struyf nasceu no Congo Belga e formou-se em fisioterapia e belas artes. Usou o seu talento para desenhar pacientes e observar semelhanças de postura entre grupos de indivíduos bem como semelhanças a nível psicológico e comportamental relativas aos tipos de postura. A partir destas pesquisas, criou o método que leva as iniciais do seu nome. O método G.D.S. Denys-Struyf (1995, 2009), passa por uma interpretação das posturas dos CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 182 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE gestos e formas do corpo que permite a sua compreensão e o diálogo entre terapeuta e paciente (ou professor aluno). Esta interpretação indicará o tipo de trabalho a desenvolver a nível do sistema locomotor. g) Body-Mind Centering - Método criado pela bailarina e terapeuta ocupacional Norte-americana Bonnie Bainbridge Cohen, uma das personalidades mais influentes no desenvolvimento da dança contemporânea. Como o nome indica, procuram-se as melhores conexões entre o corpo e a mente. Cohen (1993) fala do seu método como de uma anatomia experimental, mas, para além de recorrer aos seus conhecimentos de anatomia, fez também uma pesquisa de carácter ontogénico e baseado na observação do movimento de crianças nos seus primeiros estádio de vida, como forma de encontrar formas de mover não condicionadas socialmente. O método desenvolve-se baseado em noções anatómicas, mas vai muito para além do conhecimento dos ossos e músculos que se movem: A procura das percepções e sensações relacionadas com os diferentes sistemas do corpo humano é fundamental neste método. Como vemos, as origens destas técnicas são muito variadas. Ao falarmos de técnicas sómáticas referimo-nos a uma grande diversidade de abordagens, que na sua origem tiveram contextos e objetivos bem diferenciados. Alguns autores consideram que a estas técnicas desenvolvidas no ocidente poderiam juntar-se outras técnicas de origem oriental, como o ioga, o tai-chi, ou o chi-kung que, de resto, há muitos anos influenciam muitas práticas corporais no ocidente. Em muitos aspectos, estas técnicas baseiam-se em princípios que se repercutem na educação somática actual. Educação somática da dança para a vida Vimos como várias técnicas que, não sendo à partida de Dança Teatral, são pelos profissionais da dança apropriadas como complemento ou base da formação. Estas técnicas dirigem-se à Motricidade Humana e fazem apelo a um movimento morfo-funcional equilibrado. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 183 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Podemos dizer que a dança contemporânea, desenvolvida a partir dos anos sessenta, como forma de ultrapassar os limites encontrados nas técnicas de dança moderna, se desenvolveu em paralelo com a educação somática. Acreditamos que muitos bailarinos sentiram a importância de uma educação somática complementar ou em substituição das técnicas tradicionais. Técnicas como o contact-improvisation, que procura a capacidade de responder adequada e criativamente a qualquer situação performativa, mais do que a aquisição de skills técnicos estereotipados, encontram nas técnicas somáticas parceiros fundamentais ao seu desenvolvimento. A dança contemporânea desenvolveu-se, assim, com assimilação dos princípios da educação somática. Mas esta assimilação, e o progresso da investigação nesta área, levou também outras áreas da dança a repensar os seus métodos. A educação somática tem hoje um importante papel no ensino da dança, e poderia mesmo dizer-se que existe hoje uma integração dos métodos somáticos no ensino da dança contemporânea (Fortin, Long & Lord, 2002, Fortin, Vieira, & Tremblay, 2009, Leijen, Lam, Simons & Wildschut, 2008). Estudos com base nas neurociências e aprendizagem motora têm demonstrado e explicado o valor destes métodos na formação em dança (Batson, & Schwartz, 2007), e o seu efeito na redução de lesões (Batson, 2007). Muitas das técnicas somáticas foram reconhecidas e utilizadas no meio da dança, e foram os bailarinos que lhes deram particular utilização e divulgação. Na atualidade, a grande maioria dos cursos de dança inclui nos seus currículos algumas destas técnicas, ou metodologias integradas nesta área. Em quase todo o mundo, podemos encontrar a formação em técnicas somáticas em estúdios de dança, e mesmo em muitas companhias profissionais. Isto, porque se reconhece na prática, e é confirmado por diversos autores (Green, 1999, 2002, 2007, Batson, 2007), que a educação somática influencia o ensino da performance e melhora a técnica dos bailarinos, sendo também utilizada na medicina da dança, como prevenção e tratamento de lesões. Enfim, verificou-se que, ao longo do século xx o meio da dança, ou pelo menos muitos dos seus agentes, foi desenvolvendo ou adoptando a educação somática, nas suas diferenciadas vertentes, como forma de melhorar a sua performance e CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 184 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE ultrapassar e prevenir lesões. A partir do final do século, são também muitos destes agentes, sobretudo bailarinos em reconversão de carreira que levam estas técnicas e métodos a outras áreas do trabalho corporal e ao grande público. O interesse for esta área de formação tem assim sido expandido. Linden (1994), por exemplo, sugere como a educação somática deveria ser incluída na educação física, Holland (2004) defende também a sua integração no sistema de ensino publico e Beaudoin (1999) estuda como as práticas somáticas podem ser integradas na vida de todos os dias. Numa época em que os média repercutem a importância da atividade física na manutenção da saúde, assiste-se hoje a uma grande proliferação de modalidades em que o grande valor é dado à quantidade da atividade – muito tempo de prática, muitas repetições, muita força, muita resistência. A divulgação da importância da educação somática poderá servir como contraponto nesta tendência, atuando sobre a qualidade da atividade desenvolvida, enquadrada de uma forma mais ou menos relevante por expressividades subtis e por diferentes movimentos com complexidades variáveis e que não se coadunam com modelos voltados simplesmente para a execução de estereótipos motores. A exploração do movimento orgânico de bem-estar passando, necessariamente pela interiorização das sensações, é indispensável não apenas à promoção da saúde, mas também ao equilíbrio emocional e ao bem-estar. Este tipo de metodologias foi fundamental no desenvolvimento da dança contemporânea e, presentemente, assiste-se a uma divulgação destas técnicas ao grande público, num movimento que inclui grande número de bailarinos e/ou ex-bailarinos que, na sua reconversão profissional, devolvem à comunidade muito do que aprenderam durante a sua formação profissional. Conclusões Neste ensaio, pretendemos abordar os princípios básicos da Educação Somática, relacionados a compreensão do Homem na sua integridade. É interessante observar que em tempos de globalização e onde se sabe que tudo está interligado, deparamos com um conjunto de técnicas, metodologias e sistemas que apontam para uma harmonização e para um ser global. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 185 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Difundir diferentes técnicas somáticas, numa contemporaneidade em que a diversidade cultural e a pluralidade imagética estão presentes, promove a democratização da informação, o acesso a uma motricidade global e à inclusão de todas as populações e em qualquer contexto tendo em vista um desenvolvimento social mais igualitário. Pensamos ter ajudado de forma positiva no conhecimento de técnicas que se identificam com um trabalho em que o corpo é estimulado para a interiorização e consciencializção do movimento. Dentro do processo das Técnicas Somáticas, os seres humanos são levados a reconsiderar as posições que adotam no dia a dia, no trabalho, na performance e nas suas relações com o meio em geral. Apurar a percepção que se tem de si mesmo e da vida afetiva e social é um bom contributo para a interconectividade cultural que certamente ajudará nos relacionamentos socioculturais do futuro. Referências bibliográficas Alexander, G. (1977). Le corps retrouvé par l'Eutonie. Paris: Tchou. Anderson, R., Hanrahan, J. (2008). Dancing in Pain: Pain Appraisal and Coping in Dancers, Journal of Dance Medicine & Science, 12 , 1, 9-16. Batson, G. (2007). Revisiting Overuse Injuries in Dance in View of Motor Learning and Somatic Models of Distributed Practice, Journal of Dance Medicine & Science, 11 , 3, 70-75. 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A brief history of somatic practices and dance: historical development of the field of somatic education and its relationship to dance. Journal of Dance and Somatic Practices, 1, 1, 11-27. Fortin, S., Long, W. & Lord, M. (2002). Three Voices: Researching how somatic education informs contemporary dance technique classes. Research in Dance Education, 3, 2, Fortin, S., Vieira, A. & Tremblay M. (2009). The experience of discourses in dance and somatics. Journal of Dance and Somatic Practices, 1, 1 . 47–64. doi: 10.1386/jdsp.1.1.47/1. GIL, J. (1996). A imagem nua e as pequenas percepções: Estética e metafenomenologia. Lisboa: Relógio d’Água Movimento Total. O Corpo e a Dança. São Paulo: Iluminuras, 2005. Green, J.( 1999), Somatic Authority and the Myth of the Ideal Body in Dance Education, Dance Research Journal, 31, 2, 80-100. Green, J. (2002). Somatic Knowledge: The Body as Content and Methodology in Dance Education. Journal of Dance Education. 2, 4. 114-118. Green, J. 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Journal of Dance Medicine & Science, 12 , 1, 23-31. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 188 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE A PERFORMANCE DO BONECO: AVATAR PARA EDUCAÇÃO, SOCIALIZAÇÃO E COMUNICAÇÃO. Drª Viviane Moura da Rocha. Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS, Porto Alegre/RS/Brasil. RESUMO Esta comunicação pretende divulgar o Projeto “A Performance do Boneco: avatar para educação, socialização e comunicação”, vinculado a atual pesquisa em desenvolvimento “Mnemosyne e Lethe: a memória e o esquecimento como fenômenos estéticos contemporâneos”, do meu Pós-Doutorado/Filosofia (UFRGS/CNPq/ Brasil), pois através do Teatro de Bonecos é possível inferir questões da identidade e alteridade, da memória individual e coletiva.Trata-se de um Projeto multidisciplinar, pois envolve as áreas das artes plásticas, cênicas, educação e ecologia. Este artigo tem como objetivos: apresentar a Performance do Boneco e seu potencial plástico, estético, social, educativo e comunicativo; propor diálogos e cruzamentos entre as artes plásticas, cênicas, educação e ecologia, porque promove uma oficina de confecção de bonecos através da transformação de sucata plástica doméstica reciclada artisticamente; e expor experiências realizadas com a Performance do Boneco como recurso educacional no Projeto “Teatro de Bonecos nas Escolas”, desenvolvido com professores e estudantes de instituições de ensino fundamental, públicas e privadas, no sul e norte do Brasil, e no Projeto “Arte-Educação com trabalhadoras da zona rural do Maranhão: identidade, saúde e cidadania”, realizado no norte do Brasil. A metodologia do Projeto parte de uma oficina, teórica-prática, de confecção e manipulação de bonecos até a encenação de uma peça de Teatro de Bonecos a partir dos personagens criados na oficina e dirigida a professores e/ou estudantes de educação artística ou arte-educadores. O Projeto tem como principais suportes teóricos Henri Bergson, Maurice Halbwachs, Joël Candau e Ana Maria Amaral. Portanto, vai evidenciar que o Teatro de Bonecos, além da sua função lúdica, pode auxiliar como instrumento educacional e de reflexão sobre questões como a violência, a tolerância, as diferenças, drogas e sexualidade entre outros temas contemporâneos, promovendo o desenvolvimento, a saúde física e emocional. PALAVRAS-CHAVE: arte, comunicação, memória, identidade. Partimos do pressuposto que todo educador deve estar preparado para usar toda e qualquer possível ferramenta e toda e qualquer informação de conhecimento que o abasteça para auxiliar seus educandos. Entendemos por conhecimento a compreensão inteligível da realidade, que o sujeito humano adquire através de sua confrontação com essa mesma realidade, ou seja, a realidade exterior adquire, no interior do ser humano, uma forma abstrata CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 189 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE pensada, que lhe permite saber e dizer o que essa realidade é. A realidade exterior se faz presente no interior do sujeito do pensamento. Existem duas formas de nos apropriarmos da realidade pelo conhecimento: uma através da investigação direta da realidade; e outra, através da exposição dos conhecimentos já produzidos e apresentados por seus autores. Mas é preciso ter cuidado com esta questão do conhecimento, pois dessa compreensão dependerá a forma de trabalhar com os alunos no processo de ensino/aprendizagem. Portanto, o conhecimento escolar só poderá vir a ser um conhecimento significativo e existencial na vida dos cidadãos se ele chegar a ser incorporado pela compreensão, exercitação e utilização criativa (LUCKESI, 2011, p.154,165). A comunicação determina a passagem do individual ao coletivo, condição para instaurar a vida social. Além de promover a socialização, a comunicação concorre para formar a identidade do sujeito ao fazê-lo adquirir a consciência de si e interiorizar comportamentos no intercâmbio de mensagens significativas. Compre-ender os mecanismos pelos quais ocorrem mudanças nas relações humanas e nos modos de comunicação constitui fato importante para o trabalho pedagógico em sala de aula, a fim de não considerar a criança ou jovem como uma figura cuja identidade se define de uma vez por todas. Perceber como esses processos de relações e comunicação estão envolvidos com estruturas de poder torna-se condição para identificar os elementos ideológicos que podem perturbar a educação voltada para a emancipação humana. Com o desenvolvimento dos meios eletrônicos de comunicação, estudiosos têm-se ocupado com a análise teórica do fenômeno da comunicação, sua natureza e as consequências de seu impacto. Com a indústria cultural, no século XX, o panorama das comunicações alterou-se profundamente; o prevaleci-mento do visual sobre a escrita, devido ao privilégio dado às imagens e aos estímulos sonoros, em detrimento da escrita é uma das características que se acentua neste inicio do século XXI (ARANHA, 2006,p.101,103). Confrontado hoje com essas novas tecnologias que passam a integrar a vida cotidiana das crianças e jovens, o educador encontra entre os diversos tipos de tecnologias aplicadas à educação, a tecnologia da comunicação. Sim, há os que questionam o lugar que cabe à comunicação verbal no processo de ensino, entre- CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 190 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE tanto percebemos que a comunicação oral é aplicável à maior parte das funções do ensino e só é limitada quanto á apresentação do estímulo, cabendo observar que são necessários para isso objetos ou imagens, e que muitas das funções do ensino oral podem ser realizadas com maior rapidez e eficiência se acompanhadas da comunicação escrita; além disso, as diversas combinações desses recursos adquirem capacidades suplementares para o ensino. Assim, é que nossos objetivos consistem em apresentar a Performance do Boneco no Teatro com todo seu potencial plástico, estético, social, educativo e comunicativo; propor diálogos e cruzamentos entre as artes plásticas, cênicas, educação e ecologia; e expor experiências realizadas com a Performance do Boneco como recurso educacional no Projeto “Teatro de Bonecos nas Escolas”, e no Projeto “Arte-Educação com trabalhadoras da zona rural do Maranhão: identidade, saúde e cidadania”, porque através do Teatro de Bonecos é possível inferir questões da identidade, da memória individual e coletiva, e também porque partimos da definição de “tecnologia” como a técnica ou conjunto de técnicas de um domínio particular. O Teatro e a tradição estão interligados, assim como os ritos interligam-se aos mitos. Ritos são cerimônias que o homem, desde os seus primórdios, realiza para captar a reverenciar deuses, espíritos da natureza ou de antepassados. O mito é a busca do passado e a tradição é o registro desse passado. Buscar as origens é buscar explicações da vida e do universo. Os mitos, ao contar a história de uma comunidade, mantêm vivas as suas memórias, as trajetórias das gerações anteriores: histórias de heróis e bandidos, deuses e demônios (Mircea Eliade,1991). As concepções modernas e contemporâneas veem a memória como conservação retomando a concepção agostiniana do tempo como duração de consciência, e veem na memória a conservação integral do espírito por parte de si próprio, ou seja, a persistência nele de todas as suas ações e afeições, de todas as suas manifestações ou modos de ser. Henri Bergson (2006) afirma que a memória não consiste na regressão do presente para o passado, mas, ao contrário, no progresso do passado ao presente. É no passado que nos situamos de imediato; partimos de um estado virtual, que pouco a pouco, através de uma série de planos de consciência diferentes, vamos conduzindo CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 191 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE até o termo em que ele se materializa em apercepção (apreensão direta, imediata, não reflexiva, de um objeto físico ou mental) atual, ou seja, até o ponto em que se transforma em estado presente e agente, enfim, até o plano extremo de nossa consciência sobre o qual se desenha nosso corpo. A recordação pura consiste nesse estado virtual. É a virtualidade ou potencialidade como marca da memória. Diz ele: Jamais atingiremos o passado se não nos colocarmos nele de saída. Essencialmente virtual, o passado não pode ser apreendido por nós como passado a menos que sigamos e adotemos o movimento pelo qual ele se manifesta em imagem presente, emergindo das trevas para a luz do dia (BERGSON, 2006, p.158). A duração é memória, consciência, liberdade, porque é memória em primeiro lugar. Essa identidade da memória com a própria duração é sempre apresentada por Bergson de duas maneiras: conservação e acumulação do passado no presente. Seja porque o presente encerra distintamente a imagem sempre crescente do passado, seja principalmente porque ele, pela sua contínua mudança de qualidade, dá testemunho da carga cada vez mais pesada que alguém carrega em suas costas à medida que vai envelhecendo. Ou ainda, a memória sob estas duas formas: por recobrir com uma capa de lembranças um fundo de percepção imediata e por contrair uma multiplicidade de momentos. Os objetos não são simplesmente suportes da memória funcional. Eles tomam frequentemente uma forma simbólica. Os altares, os templos, as cruzes dos caminhos lembram os espíritos invisíveis que povoam o mundo ou os deuses que presidem seu destino. A memória só se objetiva, entretanto com o aparecimento da escrita e com o sucesso do desenho, da pintura e dos meios de reprodução. Assim, a cultura de um grupo não se confunde mais com a soma de conhecimentos e de práticas que as pessoas têm presentes hoje na sua memória, isto é, um conjunto relativamente frágil e limitado. Ela comporta também todo o saber latente depositado nos livros e que pode ser reanimado a qualquer momento. As memórias objetivas são muito diversas CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 192 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE pelos seus suportes e pelos signos ou símbolos que utilizam. E as novas tecnologias tornam o conteúdo das memórias objetivas instantaneamente transferíveis à longa distância, pois é possível ter assim comunicação de textos tanto quanto de imagens (CLAVAL,2007,p.83-85). Desse modo, a memória parece ser um fenômeno individual, algo relativamente íntimo, próprio da pessoa, porém Maurice Halbwachs, nos anos de 1920 e 1930, já havia afirmado, em A Memória Coletiva (2006), que a memória deve ser entendida também ou, principalmente, como um fenômeno coletivo e social, ou seja, como um fenômeno construído coletivamente e submetido a flutuações, transformações e mudanças constantes. Ele acredita que a memória individual existe, mas está enraizada em diferentes contextos que a simultaneidade ou a contingência aproxima por um instante. Diz ele que a rememoração pessoal está situada na encruzilhada das redes de solidariedades múltiplas em que estamos envolvidos. A consciência jamais está encerrada em si mesma, não é vazia nem solitária (HALBWACHS,2006,p.12,13). Se a nossa impressão pode se basear na nossa lembrança, mas também na de outros, nossa confiança na exatidão de nossa recordação será maior, como se uma mesma experiência fosse recomeçada não apenas pela mesma pessoa, mas por muitas. Nossas lembranças permanecem coletivas e nos são lembradas por outros, ainda que se trate de eventos em que somente nós estivemos envolvidos e objetos que somente nós vimos. Isso acontece, diz Halbwachs, porque jamais estamos sós. Para confirmar ou recordar uma lembrança, não são necessários testemunhos no sentido literal da palavra, isto é, indivíduos presentes sob uma forma material e sensível. Uma ou muitas pessoas juntando suas lembranças conseguem descrever com muita exatidão fatos ou objetos que vimos ao mesmo tempo em que elas, e conseguem até reconstituir toda a sequência de nossos atos e nossas palavras em circunstâncias definidas, sem que nos lembremos de nada de tudo isso (HALBWACHS, 2006, p.29-31). Somente Mnemosýne, divindade da memória, permite unir aquilo que fomos ao que somos e ao que seremos. A perda da memória é, portanto, uma perda de identidade, afirma o antropólogo Joël Candau (2012). Sem memória o sujeito se esvazia, vive unicamente o momento presente, perde suas capacidades conceituais CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 193 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE e cognitivas. Sua identidade desaparece. A vasta mitologia da reminiscência que se desenvolve desde a Grécia arcaica é inteiramente povoada por essa questão, evidentemente central para a identidade dos indivíduos e dos grupos, identidade esta definida mais por coordenadas temporais do que espaciais. De fato, é o conjunto da personalidade de um indivíduo que emerge da memória. Origem do sentimento de continuidade temporal, condição necessária da representação da unidade do Eu é aí que me encontro comigo mesmo (CANDAU,2012, p.59-61). A memória, ao mesmo tempo em que nos modela, é também por nós modelada. A memória é a identidade em ação. O jogo da memória que vem fundar a identidade é necessariamente feito de lembranças e esquecimentos. Mesmo que ontológica e filogeneticamente a memória é necessariamente anterior em relação à identidade – essa última não é mais do que uma representação ou um estado adquirido, enquanto que a memória é uma faculdade presente desde o nascimento e a aparição da espécie humana – torna-se difícil consentir sobre a superioridade de uma sobre a outra quando se considera o homem em sociedade. Não há busca identitária sem memória e, inversamente, a busca memorial é sempre acompanhada de um sentimento de identidade. Mas, as noções de memória e identidade são ambíguas, sustenta Candau, pois ambas estão incluídas no termo representações, um conceito da área das Ciências Humanas e Sociais, referindo-se a um estado em relação à identidade e a uma faculdade em relação à memória. Transmitir uma memória é fazer viver, assim, uma identidade não consiste, portanto, em apenas legar algo, e sim uma maneira de estar no mundo. A transmissão pode ser protomemorial ou memorial. A primeira, imanente a toda vida social e a todo processo de aculturação. Ela se constitui por dispositivos e disposições inscritas no corpo. Podendo determinar atitudes e condutas, a transmissão protomemorial se faz sem pensar, age sobre os indivíduos de maneira involuntária, advém da imersão na sociedade, desde a primeira infância, mais do que transforma, cria e reconstrói. Possui como característica “a amnésia da origem, que nasce do costume”. Toda memória é social, mas não necessariamente coletiva, diz Candau, e em alguns casos e sob certas condições se produzem interferências coletivas que CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 194 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE permitem uma abertura recíproca, inter-relação, interpenetração e a concordância mais ou menos profunda de memórias individuais. A memória coletiva segue as leis das memórias individuais que, permanentemente, mais ou menos influenciada pelos marcos de pensamento e experiência da sociedade global, se reúnem e se dividem se encontram e se perdem se separam e se confundem se aproximam e se distanciam múltiplas combinações que formam, assim, configurações memoriais mais ou menos estáveis, duráveis e homogêneas. Assim, diz Candau: A memória coletiva, como a identidade da qual ela é o combustível, não existe se não diferencialmente, em uma relação mutável mantida com o outro (CANDAU, 2012,p.50). Podemos portando dizer que a memória é um elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual quanto coletiva, na medida em que ela é também um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstrução de si. Mas as velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, entraram em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, tido como sujeito unificado, observa Stuart Hall (2000). As identidades modernas se tornam descentradas, isto é, deslocadas ou fragmentadas. Um tipo diferente de mudança estrutural transforma as sociedades modernas no final do século XX. Isso fragmenta as paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, que, no passado, nos tinha fornecido sólidas localizações como indivíduos sociais. Estas transformações estão também mudando nossas identidades pessoais, abalando a ideia que temos de nós como sujeitos integrados. Esta perda de um “sentido de si” estável é chamada, de deslocamento do sujeito. (HALL,2000,p.9) É possível distinguir três concepções diferentes de identidade: 1) o sujeito do Iluminismo; 2) o sujeito sociológico; 3) o sujeito pós-moderno. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 195 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 1) O sujeito do Iluminismo, estava baseado numa concepção da pessoa humana como um indivíduo totalmente centrado, unificado, dotado das capacidades de razão, de consciência e de ação, cujo “centro” consistia num núcleo interior, que emergia pela primeira vez quando o sujeito nascia e com eles se desenvolvia, ainda que permanecendo essencialmente o mesmo, contínuo ou “idêntico” a ele, ao longo da existência do indivíduo. 2) A noção de sujeito sociológico refletia a crescente complexidade do mundo moderno e a consciência de que este núcleo interior do sujeito não era autônomo e autossuficiente, mas era formado na relação com outras pessoas importantes para ele, que mediavam para o sujeito os valores, sentidos e símbolos, a cultura dos mundos que ele ou ela habitava. A identidade, nessa concepção sociológica, preenche o espaço entre “interior” e o “exterior”, entre o mundo pessoal e público. 3) O sujeito pós-moderno é conceituado como não tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente. A identidade torna-se uma “celebração móvel”, formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos represen-tados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam. O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente. Dentro de nós há identidades contraditórias, empur-rando em diferentes direções, de tal modo que nossas identificações estão sendo continuamente deslocadas. A identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia. Ao invés disso, na medida em que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar, ao menos temporariamente (HALL,2000,p.13). Vejamos, rapidamente, quais foram as principais mudanças que ocorreram na sociedade pelas quais o conceito de identidade do sujeito pós-moderno emergiu, CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 196 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE através de cinco grandes avanços na teoria social e nas ciências humanas ocorridos no pensamento, cujo maior efeito foi o descentramento do sujeito: 1ª) foi a provocada pela tradição do pensamento marxista; Marx afirmou que a humanidade faz a história, mas apenas sob condições que lhes são dadas. No século XX esta afirmação foi interpretada no sentido de que os indivíduos não poderiam de nenhuma forma ser os “autores” ou agentes da história, uma vez que eles podiam agir apenas com base em condições históricas criadas por outros e sob as quais eles nasceram utilizando os recursos materiais e de cultura que lhes foram fornecidos por gerações anteriores; 2ª) vem da descoberta do inconsciente por Freud; sua teoria fundamenta que nossa identidade, nossa sexualidade e a estrutura de nossos desejos são formadas com base em processos psíquicos e simbólicos do inconsciente, que funciona de acordo com uma lógica muito diferente da Razão, pois existe um inconsciente que a razão não alcança; 3ª) está associada com o trabalho do linguista estruturalista Saussure; ele argumentou que nós não somos os autores das afirmações que fazemos ou dos significados que expressamos na língua, pois a linguagem é um sistema social e não individual. Falar uma língua não significa apenas expressar nossos pensamentos mais interiores e originais; significa também ativar a imensa gama de significados que já estão embutidos em nossa linguagem e em nossos sistemas culturais. Além disso, devemos lembrar que o significado das palavras não são fixos; 4ª) é o surgimento do “poder disciplinar” que Michel Foucault destaca, como um novo tipo de poder, que se desdobra ao longo do século XX. Este poder disciplinar está preocupado em primeiro lugar, com a regulação, a vigilância, é o governo da espécie humana ou de populações inteiras e, em segundo lugar, do indivíduo e do corpo. Seu objetivo consiste em manter as vidas, as atividades, o trabalho, as infelicidades e os prazeres do indivíduo, assim como sua saúde física e moral, suas práticas sexuais e sua vida familiar, através de rigoroso controle e disciplina, com base no poder dos regimes administrativos, do conhecimento especializado dos profissionais e no conhecimento fornecido pelas “disciplinas” das Ciências Sociais. Enfim, seu objetivo básico é produzir um ser humano dócil; CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 197 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 5ª) é o surgimento do movimento feminista tanto como crítica teórica quanto como um movimento social. O feminismo faz parte daquele grupo de “novos movimentos sociais”, que emergiram durante os anos de 1960, juntamente com as revoltas estudantis, os movimentos de contracultura e antibelicistas, as lutas pelos direitos civis, os movimentos revolucionários do “Terceiro Mundo” e os pela paz. A partir destas breves reflexões sobre a memória, a identidade e suas implicações tanto no indivíduo quanto no grupo, podemos testemunhar, através de nossa experiência no norte do Brasil com o Projeto “Arte-Educação com trabalhadoras da zona rural do Maranhão: identidade, saúde e cidadania que o uso do Teatro de Bonecos foi um dos métodos que possibilitou a expressão e comunicação entre as participantes dos encontros, além de possibilitar a verbalização de suas vivências difíceis relacionadas à sexualidade, violência doméstica, maternidade, entre outros temas, pois este Projeto envolvia trabalhadoras das mais diversas categorias profissionais como: trabalhadoras da roça e do lar, garimpeiras, quebradeiras de coco-babaçu, professoras, parteiras-leigas, pescadoras, costureiras, redeiras, rendeiras, artesãs e agentes de saúde, além de suas filhas e netas. Porque estávamos alinhadas com as reflexões do movimento nacional e internacional de mulheres, aplicamos também metodologias específicas como as oficinas de vivências, os grupos de estudos e oficinas como a Linha da Vida, um método que o movimento de mulheres criou para auxiliar na reconstrução de sua própria história de vida, de sua identidade, além das Oficinas de Artes, de Teatro e Teatro de Bonecos (confecção e manipulação) que nos auxiliavam nas reflexões dos temas tratados pelos grupos de estudos. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 198 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Oficina de confecção e manipulação de bonecos realizada com trabalhadoras da zona rural do Maranhão. Esses dispositivos podem ser muito simples, como uma vareta ou como um pescoço bem ajustado, como podem ser mecanismos de controle mais complexos, que vão desde o ancestral controle por fios, aos controles feitos através de cálculos matemáticos de computadores. Falar do passado é trazer sua memória, representá-lo é imitá-lo, e, para isso, nada melhor do que o boneco: imitação da imitação (AMARAL,2007,p. 43,47,55). O boneco por ser a síntese do homem tanto quanto a máquina é a exteriorização das faculdades humanas. No Teatro de Bonecos busca-se aliar a tecnologia ao corpo vivo do manipulador. A tecnologia acontece enquanto técnica de construção e de manipulação. Na verdade as duas coisas vêm sempre juntas. Construir um boneco é colocar nele dispositivos com os quais ele será depois animado. Bonecos confeccionados pelas trabalhadoras da zona rural do Maranhão. Animar um objeto é deixar-se refletir nele. Boneco/objeto animado não é senão energia refletida do manipulador. Portanto diferente do ator que é, existe, tem vida e em cena representa outra pessoa o Boneco não é, não existe, não tem vida própria, é o personagem o tempo todo. O que observamos durante a utilização do Boneco como auxílio nesta experiência com educação popular de trabalhadoras da zona rural foi que, o Boneco como avatar, como um processo metamórfico, possibilitou que as mulheres expressassem seus problemas, dores, temores, sofrimentos, anseios, sonhos e as dificuldades da sua comunidade. Apresentação de uma peça de Teatro de Bonecos com texto de criação coletiva realizado pelas trabalhadoras da zona rural do Maranhão. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 199 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Esse processo metamórfico do manipulador tornar-se outra pessoa através do Boneco aproxima-se do que hoje nossas crianças e jovens estudantes conhecem muito bem por meio dos jogos de videogame e jogos pela internet, como por exemplo, os que usam a realidade virtual. O conceito “realidade virtual” abreviado como RV, refere-se à criação de uma realidade 3D computadorizada e interativa mediante a qual o observador pode relacionar-se. Dessa forma, a situação representada vai-se modificando conforme a ação que o “espectador” executa. Um exemplo de jogo de computador na rede é a Second Life (SL) um mundo virtual radicado na internet que se baseia na animação 3D. Começou a funcionar online em junho de 2003. A ideia que se baseia a Second Life tem origem no romance Snow Crash, escrito por Neal Stephenson e publicado em 1992. Neste romance o autor idealiza um metauniverso, um mundo paralelo povoado por avatares, representações gráficas que dão vida a identidades artificiais. Em sânscrito “avatar” significa “encarnação”. No entanto, no ciberespaço e nos jogos de computador o seu uso foi alargado para designar uma personalidade virtual. Second Life, tal como outros famosos jogos de computador na rede, contribui de alguma forma para tornar possível um velho sonho da humanidade: uma pessoa criarse de novo a si própria, mudar de gênero ou inclusive conseguir ter diferentes personalidades, ocupar um espaço virtual e começar uma nova vida. Por outro lado, a pessoa real permanece anônima, livre das amarras próprias de um ambiente real. (LIESER,2009,p.104, 117). CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 200 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE A partir disso, percebemos que o Boneco, do Teatro de Bonecos, pode ser considerado como um “avatar”, um meio através do qual o jovem estudante pode comunicar suas questões sem se expor, pois vai se tornar este personagem em ação. Desse modo, criamos o Projeto “Teatro de Bonecos nas Escolas”, que foi desenvolvido com os professores e estudantes de instituições de ensino fundamental, públicas e privadas, no sul e norte do Brasil, em cidades como Porto Alegre e São Leopoldo no Rio Grande do Sul, e na cidade de São Luis do Maranhão. Apresentação em escolas do espetáculo de Teatro de Bonecos “O sonho da cobrinha Salomé” para estudantes e professores. O Projeto tem inicio com a apresentação de um espetáculo de Teatro de Bonecos nas escolas dirigida aos estudantes e aos professores, a fim de demonstrar a relação que se estabelece entre eles, além de revelar sua força educativa e comunicativa. A seguir propõe uma oficina de confecção e manipulação de Bonecos dirigida aos professores para que utilizem o Boneco como recurso educacional para trabalhar em sala de aula, tanto as questões contemporâneas que afetam crianças e jovens, quanto os conteúdos das disciplinas curriculares. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 201 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Oficina de confecção e manipulação de Bonecos com professoras de escolas públicas de São Luis do Maranhão. Apresentação de um espetáculo de Teatro de Bonecos realizado pelas professoras da Escola Pública João de Deus, em São Luis, Maranhão. Desse modo, conforme nossos objetivos em estabelecer diálogo com a ecologia, a oficina de confecção utiliza sucata plástica doméstica como potes de manteiga, caixas de ovos, garrafas plásticas de água ou refrigerante, entre outros materiais, como suporte para os Bonecos, que podem ser de técnicas variadas como: bonecos de luva, que o manipulador calça ou veste; bonecos de vara, que é manipulado através de varas ou varetas; de marote, também um boneco de luva mas que o manipulador veste e com sua mão e articula a boca do boneco (AMARAL, Teatro de Formas Animadas, 1991). Assim, associamos o aspecto lúdico do Teatro de Bonecos ao aspecto educativo que o mesmo pode adquirir, e um jogo se estabelece quando o Boneco está na mão da criança ou do jovem estudante, como no caso do avatar dos jogos de videogame ou computador. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 202 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Walter Benjamin no texto “o brinquedo e o jogo” defende a ideia de que a arte popular e a visão infantil do mundo começaram a ser entendidas como produtos coletivos. O mundo perceptível da criança é impregnado, por toda a parte, por vestígios da geração mais velha, com os quais se confronta o mesmo acontecendo nos seus jogos. Na verdade, diz ele, o jogo é mais do que a origem de todos os hábitos. Tal como o jogo, o hábito entra em nossa vida e as suas formas mais rígidas conservam um restinho de jogo até ao fim. Os hábitos são formas irreconhecivelmente petrificadas da nossa primeira felicidade, do nosso primeiro desgosto (BENJAMIN,1992,p.172,176). Essa experiência de metamorfose, da transformação em um avatar pode ser melhor compreendida a partir da interpretação de John Dewey na obra “A arte como experiência” (2008), onde afirma que a experiência ocorre continuamente porque a interação da criatura vivente e as condições que a rodeiam estão implicadas no processo da vida. Em condições de resistência e conflito, determinados aspectos e elementos do eu e do mundo implicados nesta interação requalificam a experiência com emoções e ideias, de tal maneira que surge a intenção consciente (DEWEY,2008,p.41). Esta afirmação possibilita pensarmos que a criança ou o jovem estudante, consciente e mesmo inconscientemente, possam expressar problemas como abuso infantil, o uso de drogas, sexualidade, violência, temores e tantas outras questões que os envolvem e que podem ser observadas pelo professor durante uma apresentação de Teatro de Bonecos realizada por seus alunos. A experiência, diz Dewey, é emocional, porém não há nela coisas separadas chamadas emoções. As emoções estão unidas a acontecimentos e objetos em seu movimento. Não são privadas, salvo em casos patológicos. A emoção é a força móvel e consolidada, pois proporciona unidade as partes variadas de uma experiên-cia. Uma experiência tem modelo e estrutura, porque não é somente um fazer e um sofrer que se alternam, mas que consiste nisso e suas relações. Por a mão no fogo, que a consome, não é uma experiência, afirma Dewey. A ação e sua consequência devem estar juntas na percepção. Esta relação é a que dá significado; captá-la é o objetivo de toda inteligência. O objetivo e o conteúdo das relações medem o conteúdo significativo da experiência. Experimentar, como respirar, consiste em um ritmo que alterna interiorização e exteriorização. (DEWEY,2008,p. 49,51). CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 203 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Portanto, após nossa experiência com os referidos projetos acreditamos plenamente na potência da Performance do Boneco como avatar para a educação, socialização e comunicação, tanto de adultos quanto de jovens e crianças que, além de sua função lúdica, auxilia na reflexão sobre violência, intolerância, drogas e sexualidade entre outros temas contemporâneos, promovendo o desenvolvimento, a saúde física e emocional. REFERÊNCIAS: AMARAL, Ana Maria. Teatro de Animação: da teoria à prática. 3ª ed., Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2007. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. 3.ed.revista e ampliada. São Paulo: Moderna, 2006. BENJAMIN, Walter. O brinquedo e o jogo. In: Sobre arte, técnica, linguagem e política. Tradução Mª Luz Moita et al... Lisboa, Portugal: Relógio D’Água Editores, 1992. BERGSON, Henri. Matéria e memória. Ensaio sobre a relação do corpo com o espírito. Tradução Paulo Neves. 3ª Ed. SP: Martins Fontes, 2006. CANDAU, Joël. Memória e Identidade. Tradução Mª Leticia Ferreira. SP: Contexto, 2012. DEWEY, John. El arte como experiência. Traduccion y prólogo Jordi Claramonte. Barcelona, Espanã: Ediciones Paidós Ibérica, 2008. ELIADE, Mircea. Imagens e Símbolos: ensaio sobre o simbolismo mágicoreligioso. Prefácio Georges Dumézil; Tradução Sonia Cristina Tamer. SP: Martins Fontes, 1991. HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Tradução Beatriz Sidou. SP: Centauro, 2006 CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 204 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE HALL, Stuart. A identidade cultural na Pós-Modernidade. Tradução Tomaz Tadeu da Silva e Guacira L.Louro. 4ª Ed. RJ: DP&A, 2000. LIESER, WOLF. Arte e Second Life. In: Arte Digital. Tradução Helena Morbey. Edição portuguesa: Tandem Verlang GmbH, 2009. LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2011. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 205 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE EDUCAÇÃO PELA ARTE: PERCEÇÕES NO CONTEXTO DO GRUPO DE APOIO À CRIANÇAS COM CÂNCER EM SALVADOR-BAHIA Denise Rocha & Graça S Carvalho CIEC, Instituto de Educação, Universidade do Minho, Braga, PORTUGAL A educação artística desempenha um importante papel como disciplina e atividade de ocupação no contexto da oncologia pediátrica. Pode contribuir para a melhoria do bem-estar das crianças enquanto estão em tratamento promovendo a expressão das suas emoções, interação com outras crianças, pais e profissionais de saúde, e ainda abstraindo-as da problemática do internamento e das consultas. Este estudo específico foi realizado no âmbito do Grupo de Apoio à Criança com Câncer (GACC), em Salvador-Bahia-Brasil, com o objetivo de conhecer e compreender a importância das atividades artísticas realizadas pelas crianças com câncer em fase de tratamento hospitalar e que se encontravam acolhidas na instituição. Nesta perspetiva procedeu-se a entrevistas à equipe de assistência à criança e aplicou-se um instrumento de avaliação - AAACTO – Atividades Artísticas Aplicadas a Crianças em Tratamento Oncológico, com 46 itens divididos em 10 subtemas a 3 grupos de inquiridos: Grupo A - Equipe de assistência à criança; Grupo B – Cuidador principal; e Grupo C – Crianças, tendo a amostra o total de 40 sujeitos. Os resultados obtidos permitiram-nos concluir que, nesta Instituição, os sujeitos têm uma visão positiva sobre a prática das atividades artísticas. A maioria dos três grupos sublinha a importância das atividades durante o tratamento a que as crianças são submetidas, destacam que elas gostam de participar, não sentem dificuldades no exercício das mesmas, ficam bem-dispostas e optam pelo trabalho individual ou em grupo, dependendo do contexto e espaço onde se realizam. Palavras-chave: educação artística, educação pela arte, oncologia pediátrica, crianças com câncer Introdução A crescente necessidade de enfatizar as expectativas num tratamento bem-sucedido teve um importante impacto nos cuidados que se começaram a ter com crianças com doença oncológica, passando o seu bem-estar psicológico e emocional a assumir uma importância destacada, para além das questões relacionadas com o desenvolvimento cognitivo e o desempenho escolar. Ou seja, com o aumento das taxas de CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 206 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE sobrevivência das crianças com câncer, verificou-se uma crescente preocupação na área da qualidade de vida (ARAÚJO, 2011). Sobre o câncer infantil, no geral, as três neoplasias mais frequentes em menores de 15 anos são as leucemias, os tumores do sistema nervoso central e linfomas. Ao conjunto da leucemia e linfomas é dada a designação de tumores líquidos. Os restantes tipos de câncer são denominados por tumores sólidos. Nesta categoria encontram-se todos os outros tipos de câncer que se desenvolvem nos tecidos do corpo com a exceção dos que se desenvolvem no sangue, na medula óssea e no sistema linfático (SILVA, 2007). Independentemente da patologia, a vivência de uma doença oncológica na infância coloca sempre a criança e a família perante uma série de situações normativas e potencialmente stressantes (SILVA, 2007). Assim, a assistência em saúde deve ser construída de maneira mais ampliada e humanizada, tendo por base conceções comuns e compartilhadas entre uma equipe interdisciplinar, para que a meta de melhoria da qualidade de vida seja efetivamente alcançada (OTHERO, 2010), contribuindo assim para facilitar as aprendizagens escolares. Progressivamente, as instituições de oncologia têm vindo a introduzir nos seus programas de assistência esta conceção de interdisciplinaridade (VASCONCELLOS, 2007), ampliando assim as possibilidades de terapêuticas complementares. Neste sentido, a terapia pela arte tem vindo a ser aplicada para ultrapassar algumas dificuldades de comunicação sentidas por pacientes crianças, proporcionando a expressão das suas emoções e perceções através da utilização de materiais muito simples e de fácil acesso (SOUSA, 2005). A prestação destas atividades dentro da prática educativa de apoio pedagógico e como atividade de ocupação viabilizam a expressão artística, nas suas variadas vertentes, de crianças hospitalizadas, favorecendo-lhes a expansão das suas potencialidades, desenvolvendo a criatividade, as capacidades cognitivas, a sociabilidade e o equilíbrio emocional. Este estudo tem como objetivo fundamental conhecer a importância e o papel que as atividades artísticas desempenham como mediador na melhoria da qualidade de vida e das condições de aprendizagem de crianças com câncer em tratamento que se CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 207 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE encontram alojadas no âmbito do Grupo de Apoio à Criança com Câncer (GACC) de Salvador – Brasil. Sobre o GACC O Grupo de Apoio à Criança com Câncer é uma instituição que tem como objetivo promover a assistência psicossocial, médica e financeira às crianças com câncer oriundas de famílias carentes do estado Bahia, e de dar as condições necessárias para elas serem submetidas ao tratamento médico adequado no combate à doença (GACC, 2011). Com sede própria, esta estrutura possui 4 pavimentos que se distribuem da seguinte forma: 1º Pavimento: Diretoria, auditório para 100 lugares, hall, 2 salas para reuniões, coordenação do voluntariado, assessoria de comunicação e assessoria de captação de recursos e 18 suítes. 2º Pavimento: Centro de diagnóstico, sala para psicólogos, espaço do adolescente, sala para assistente social, sala para curativos e fisioterapia e gabinete odontológico, 18 suítes. 3º Pavimento: Brinquedoteca, terapia ocupacional, gerência do alojamento, refeitório para 56 lugares, 8 suítes, cozinha, câmara frigorífica, lavandaria, almoxarifado, estacionamento e pátio de serviços. 4º Pavimento: Vestiário de funcionários, área de manutenção/depósito, salas de aula, biblioteca, play-ground coberto, 8 suítes e área externa verde com parque e horta. Nos quatro pavimentos, cada suíte possui dois leitos: um para a criança ou adolescente, e outro para o seu acompanhante. A maioria das atividades artísticas concentra-se no 3º e 4º pavimentos, onde estão as salas de aula, biblioteca, play-ground coberto, parque, horta e brinquedoteca, sendo este, o espaço mais procurado pelas crianças. Dentro do espaço da brinquedoteca funcionam ambientes variados para determinadas atividades: Desenho, leitura, CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 208 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE informática, jogos, brinquedos, expressão plástica (ambiente equipado com bancada e pia para tratamento dos trabalhos de pintura), vídeo, música e teatro. As atividades podem decorrer separadamente ou ao mesmo tempo. Para as atividades lúdicas e de apoio pedagógico as crianças contam com as equipes de educadores e professores, de terapia ocupacional, um professor de música, bibliotecários e voluntários. Metodologia A recolha de dados foi realizada em Novembro de 2010. A amostra foi composta por 40 sujeitos pertencentes a três grupos distintos: Grupo A – Equipe de assistência à criança, Grupo B – Pais e Grupo C – Crianças (Tabela 1). Tabela 1 - Dimensão da amostra GACC Grupos Crianças Pais Amostras 9 10 Total Equipe de assistência à criança 21 40 As crianças inquiridas apresentam idades entre 5 e 19 anos, sendo todos os 9 do género masculino. Como mostra a Tabela 2, as crianças inquiridas responderam apresentar as seguintes neoplasias: Leucemia, sarcoma, tumor na cabeça, tumor no crânio e tumor no pescoço. Tabela 2 - Neoplasias apresentadas pelas crianças Neoplasias Nº Leucemia 5 Sarcoma 1 Tumor na cabeça 1 Tumor no crânio 1 Tumor no pescoço 1 Total 9 CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 209 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE A partir do questionário aplicado num primeiro levantamento realizado na pediatria do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto – Portugal, em 2009 e 2010, aplicámos também no GACC três questionários para os três grupos de inquiridos: A – Equipe de assistência à criança, grupo B – Pais e grupo C – Crianças, cada um destes questionários constituído por 46 itens, relacionados ao contributo e às características atribuídas às atividades artísticas praticadas, e que sublinham os possíveis benefícios destas para a melhoria da qualidade de vida e bem-estar das crianças que estão a se tratar e que se encontram alojadas na Instituição. Na escala de avaliação, trabalhamos com 4 categorias: Concordo totalmente (CT), concordo (C), discordo (D) e discordo totalmente (DT). Durante a aplicação dos questionários realizamos entrevistas paralelas com a equipe de assistência à criança. Resultados Para a apresentação da análise dos dados, distribuímos os 46 itens relacionados com a prática da atividade artística no âmbito da oncologia pediátrica em 10 subtemas: (i) Relevância das atividades; (ii) Participação das crianças nas atividades artísticas; (iii) Preferências; (iv) Insatisfações; (v) Introspeção X Extroversão; (vi) Características de comportamento; (vii) Desenvolvimento cognitivo; (viii) Expressões artísticas; (ix) Expressões plásticas; e (x) Criatividade. Relevância das atividades A atividade artística no âmbito da oncologia pediátrica é de fundamental importância, pois além de viabilizar a expressão da criança, auxilia nas atividades de apoio pedagógico e de ocupação, preenchendo o intervalo de tempo entre os tratamentos a que as crianças são submetidas. A relevância que os inquiridos dos três grupos dão às atividades artísticas (AA) revelase positiva através da maior frequência de CT (Concordo totalmente) e C (Concordo), quando perguntamos se as crianças gostam de participar e se acham importante a prática das atividades no âmbito de tratamento (Tabela 3, itens 1 e 2). CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 210 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Tabela 3 – Relevância das atividades Equipe de assistência Crianças Pais à criança CT C D DT CT C D DT CT C D DT 1 4 4 1 0 5 4 1 0 8 13 0 0 2 5 3 1 0 4 6 0 0 7 12 2 0 1- Se gosta de participar em atividades artísticas 2- Se acha importante a prática das atividades artísticas Participação das crianças nas atividades artísticas Na perspetiva dos sujeitos dos três grupos (Crianças, Pais e Equipe Técnica), as crianças, na sua maioria, participam frequentemente nas atividades quando estão no âmbito de tratamento, e pedem frequentemente para realizar as AA como atividades de ocupação e mesmo quando estão em isolamento (Figura 1, itens 3-5). DT D C CT Figura 1. Perceção sobre a participação das crianças nas atividades artísticas 3- Se participa frequentemente em atividades artísticas quando está no hospital 4- Se pede frequentemente para participar em atividades artísticas como atividade de ocupação 5- Se pede frequentemente para participar em atividades artísticas mesmo quando está em isolamento Preferências Os sujeitos da equipe de assistência à criança concordam (CT e C) que as crianças ocupem a maior parte do tempo com AA (Tabela 4, item 6). CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 211 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Os pais e a equipe técnica consideram que as crianças gostam de praticar as AA mesmo quando estão a receber tratamento através de cateter e ligados a aparelhos. Pelo contrário, as crianças pronunciaram-se, com número relevante, que não concordam com esta afirmação (Tabela 4, item 7). No momento da quimioterapia, mais de 50% das crianças assinalam que mesmo nesta etapa do tratamento, ficam bem-dispostas quando realizam as AA (CT e C), equiparando assim com a opinião dos dois grupos de adultos inquiridos (Tabela 4, item 8). Tabela 4 – Preferências Equipe de assistência à criança CT C D DT CT C D DT CT C D DT 6 2 4 3 0 4 3 2 1 7 10 3 1 7 4 1 4 0 6 1 2 1 6 12 2 1 8 4 1 2 2 7 0 2 1 3 16 1 1 6- Se passa a maior parte do tempo que está no hospital a praticar atividades artísticas 7- Se gosta de realizar as atividades artísticas mesmo quando está a receber tratamento através de cateter e ligado a aparelhos 8- Se fica bem-disposta quando participa em atividades artísticas mesmo quando faz quimioterapia Crianças Pais Insatisfações Com respeito às questões que procuram averiguar se existe alguma rejeição às AA, todos os grupos discordam, na sua maioria, que as crianças não gostam e não têm vontade de praticar as AA no âmbito de tratamento (Figura 2, item 9). Discordam ainda que as crianças não praticam as AA quando estão tristes, logo após o internamento e/ou porque sentem dificuldades no exercício das mesmas (Figura 2, itens 10, 12-14). Somente quando os tratamentos são mais dolorosos, uma parte considerável da equipe de assistência à criança e os pais, acham que as crianças rejeitam as AA nesta etapa, enquanto as crianças afirmam manter a vontade na prática das AA: mais de 50% das crianças (Figura 2, item 11). CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 212 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE DT D C CT Figura 2. Perceção sobre a insatisfação das crianças nas atividades artísticas 9- Se recusa frequentemente a praticar atividades artísticas enquanto está no hospital em tratamento 10- Se não gosta de praticar atividade artística no hospital 11- Se não tem vontade de praticar a atividade artística no hospital quando os tratamentos são mais dolorosos 12- Se não tem vontade de praticar a atividade artística no hospital quando está triste 13- Se não tem vontade de praticar a atividade artística no hospital logo após o internamento 14- Se sente dificuldade da prática da atividade artística Introspeção X Extroversão As opiniões, quer dos adultos quer das crianças sobre se estas gostam de realizar atividades artísticas sozinhas não mostram uma tendência clara (Tabela 5, item 15), no entanto quando lhes é perguntado se preferem participar em atividades artísticas com os amigos (item 16) todos os grupos de inquiridos mostram claramente que concordam (C e CT). Quanto a preferência de espaço para realizarem as AA no GACC, a maioria dos sujeitos dos três grupos, afirmam que as crianças preferem a brinquedoteca (Tabela 5, item 17). Os sujeitos dos três grupos, na sua maioria, discordam que as crianças se isolam devido ao tratamento ou porque não gostam de estar em grupo (Tabela 5, item 18). CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 213 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 15 16 17 18 19 Tabela 5 – Introspeção X Extroversão Equipe de assistência Crianças Pais à criança CT C D DT CT C D DT CT C D DT 3 4 2 0 3 2 4 1 2 8 10 1 4 4 1 0 6 3 1 0 6 13 1 1 3 5 1 0 5 1 3 1 2 10 8 1 1 1 3 4 1 1 2 6 0 3 14 4 1 1 3 4 1 0 2 7 0 0 14 7 15- Se gosta de participar em atividades artísticas sozinho 16- Se prefere participar em atividades artísticas com os amigos 17- Se prefere praticar atividades artísticas na brinquedoteca 18- Se passa a maior parte do tempo isolada devido ao tratamento 19- Se passa a maior parte do tempo isolada porque não gosta de estar em grupo Características de comportamento De 70% a 100% dos três grupos de inquiridos assinalam que concordam totalmente ou concordam que ao realizarem as AA, as crianças sentem bem-estar, contentamento, felicidade, valorização pessoal, e para além disso confirmam ainda que as crianças têm uma melhor qualidade de vida devido à prática das AA durante o tratamento hospitalar (Figura 3, itens 20-26). DT D C CT Figura 3. Perceção sobre o comportamento das crianças nas atividades artísticas 20- Se sente frequentemente bem-estar ao realizar atividade artística durante o tratamento 21- Se fica contente quando realiza atividades artísticas 22- Se gosta de realizar atividades artísticas CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 214 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 23- Se sente-se bem com os colegas quando realiza atividades artísticas em grupo 24- Se sente-se importante quando está a realizar atividade artística 25- Se sente-se feliz quando realiza atividade artística 26- Se tem tido uma melhor qualidade de vida devido à pratica da atividade artística durante o tratamento hospitalar. Desenvolvimento cognitivo Os três grupos de inquiridos consideram que as AA contribuem para que as crianças sintam maior interesse e maior facilidade na aprendizagem de outras disciplinas (Tabela 6, itens 27-28). Tabela 6 – Desenvolvimento cognitivo Equipe de assistência Crianças Pais à criança CT C D DT CT C D DT CT C D DT 27 4 3 2 0 5 4 1 0 7 13 1 0 28 4 4 1 0 7 3 0 0 13 8 0 0 27- Se aprende melhor as outras disciplinas por fazer atividades artísticas 28- Se sente mais vontade de aprender devido à atividade artística Expressões artísticas Relativamente ao interesse pelos tipos de expressão artística, constatou-se que no GACC, as crianças optam em primeiro lugar pela pintura, seguida de música, construção de objetos, desenho, colagem, tocar instrumento musical, oficina de teatro, artesanato e modelagem (Figura 4, itens 29-37). DT D C CT Figura 4. Perceção sobre o tipo de expressões artísticas que as crianças gostam CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 215 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 29- Se gosta de desenhar 30- Se gosta de pintar 31- Se gosta de atividades com modelagem 32- Se gosta de atividades com colagem 33- Se gosta de construir objetos 34- Se gosta de participar em oficinas de teatro 35- Se gosta de fazer artesanato 36- Se gosta de participar em atividades com música 37-Se toca instrumento musical Expressões plásticas As crianças utilizam mais as cores quentes do que as frias, e pouco utilizam o preto como cor predominante (Tabela 7, itens 38-40). Tabela 7 - Expressões plásticas Equipe de assistência à criança CT C D DT CT C D DT CT C D DT 38 4 2 3 0 4 3 2 1 4 14 3 0 39 4 1 4 0 1 3 4 2 2 10 9 0 40 1 3 3 2 1 3 4 2 0 3 13 5 38- Se prefere cores quentes (vermelho, amarelo ou laranja) 39- Se prefere cores frias (azul, verde ou roxo) 40- Se utiliza o preto como cor predominante nos desenhos e pinturas Crianças Pais Criatividade Os inquiridos de todos os grupos consideram, na sua maioria, que as crianças têm o seu espírito criativo estimulado através as AA (Figura 5, item 41). Constatamos também que a grande maioria (entre 70% e 90%) dos grupos de adultos afirmam que as crianças representam as famílias nas suas expressões artísticas, o que discorda com a menor percentagem, aproximadamente 35%, referida pelas crianças (Figura 5, item 42). Por fim, os três grupos de inquiridos do GACC consideram que as crianças representam a vida quotidiana fora e dentro da Instituição, e que os desenhos e pinturas das crianças, na sua maioria, são alegres (Figura 5, itens 43-46). CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 216 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE DT D C CT Figura 5. Perceção sobre o espírito criativo das crianças 41- Se gosta de fazer coisas novas nas atividades artísticas 42- Se representa a minha família em desenhos e pinturas 43- Se representa a minha vida fora do hospital nos desenhos e pinturas 44- Se representa a minha vida dentro do hospital nos desenhos e pinturas 45-Se os desenhos e pinturas são alegres 46- Se os desenhos e pinturas são tristes 5. Discussão e Conclusões No presente estudo pretendemos conhecer as perceções que os membros da equipe de assistência à criança, os pais e as crianças têm sobre a prática de atividades artísticas (AA) das crianças em tratamento hospitalar, com vista a avaliar qual o papel que tais AA desempenham como mediador na melhoria da qualidade de vida e das condições de aprendizagem de crianças com câncer em tratamento. O GACC facilitou o acesso às crianças, pais e profissionais que lá trabalham, o que permitiu procedermos a um estudo aprofundado, que incluiu a observação, entrevistas e aplicação de questionários, sendo que no presente trabalho apresentamos apenas os dados deste último instrumento de coleta de dados. Os resultados permitem-nos apresentar alguns dos aspetos mais positivos que a educação artística desempenha no ambiente infantil durante o período de tratamento hospitalar: - As crianças manifestam interesse pelas atividades incluídas no programa de apoio pedagógico e como atividades de ocupação, não se sentindo impedidas de participar CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 217 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE nas atividades quando estão ligadas a cateteres, a aparelhos ou quando estão em processo quimioterápico, exceto, quando os tratamentos são muito dolorosos. - Para a prática das atividades podem optar pelo trabalho individual e, ou em grupo, a depender do contexto e espaço onde a atividade é proposta, e durante a execução apresentam características emocionais positivas que podem variar entre bem-estar, contentamento, felicidade e apreciação, o que somado a outros aspetos, ou não, pode ocasionar uma melhoria na qualidade de vida. - As atividades contribuem para um melhor desempenho escolar, visto que promove o interesse e auxilia na aprendizagem de outras disciplinas. Algumas das atividades oferecidas são mais procuradas do que outras (ex.: música), o que parece estar relacionado com o espaço e o material disponível onde estas são realizadas. É recomendável deixar que a imaginação manifeste-se com toda a sua liberdade. Em algumas crianças, seu desejo de expressão canaliza-se através de outros meios que não o desenho ou a pintura, como a música, a dança, o canto e os esportes. Cada qual encontrará o que mais lhe convier (Bédard, 2003). A oferta de variação de espaço é ampla, pois possui uma vasta área externa com pátios e horta, e ainda dispõe de uma biblioteca e uma brinquedoteca, equipada com bancada e pia para tratamento dos trabalhos de pintura, e um ambiente só com instrumentos musicais. Através da observação participada e da descrição da terapeuta ocupacional que coordena as atividades, é notório salientar que a maioria das AA ocorrem na brinquedoteca, podendo algumas delas ocorrerem ao mesmo tempo, pois o espaço é amplo e as possibilidades das crianças escolherem uma ou mais atividades é maior. Na elaboração das atividades de expressão artística, o estilo pessoal, que faz ressaltar as diferenças facilitando a identificação, é um processo que compreende tanto a descoberta das possibilidades representativas como a sua prática através de múltiplas experiências, a fim de que estejam disponíveis para o uso e para as escolhas sucessivas (Paín, 2009). No que diz respeito às cores, é interessante verificar que as crianças preferem as cores quentes, que denotam alegria, e utilizam em menor frequência as cores frias e o preto. A simbologia de cada uma das cores admite duas interpretações, uma positiva CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 218 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE e outra negativa. O estilo do desenho e/ou pintura e o conjunto das cores determinam que nos inclinemos sobre uma ou outra destas interpretações. O que interessa é a mensagem, plasmada consciente ou inconscientemente (Bédard, 2003). De uma forma geral, as atividades artísticas desempenham um papel importante no GACC, movimentando esse período em que as crianças estão em tratamento na busca pela normalidade do quotidiano e na promoção da saúde e qualidade de vida. Para além disso fomenta competências nas próprias crianças e nos profissionais de apoio terapêutico, contribuindo assim para a amplitude de interdisciplinaridades. Esta ideia leva-nos a crer que a educação artística é de fundamental importância na instituição, e que outras instituições de apoio à criança com doença oncológica que ainda não têm essa prática incluída em seus programas de cuidados aos pacientes, possam adotar esse modelo de inserção interdisciplinar. Este é um trabalho preliminar, que está ainda em fase de tratamento de dados e que com a análise das informações recolhidas do estudo qualitativo complementar, proporcionará um melhor conhecimento e compreensão da influência da atividade artística na promoção da saúde da criança com câncer e da sua influência no aumento das capacidades cognitivas da criança em tratamento oncológico. Referências Araújo, M. A doença oncológica na criança. Porto: Coisas de ler. 2011. Bédard, N. Como interpretar os desenhos das crianças. São Paulo: Editora Isis. 2003. GACC – Grupo de Apoio à Criança com Câncer. Disponível em: http://www.gaccbahia.org.br/ acesso em 29/06/2011. Othero, M. B. Terapia Ocupacional – Práticas em Oncologia. São Paulo: Editora Roca. 2010. Paín, S. Os fundamentos da arteterapia. Rio de Janeiro: Editora Vozes. 2009. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 219 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Silva, M. C. F. Estudo das variáveis psicológicas – esperança, qualidade de vida e dinâmica familiar – no processo de adaptação parental à doença oncológica infantil. Porto: Universidade do Porto. Tese de Mestrado. 2007. Sousa, A. B. Psicoterapias Activas (Arte-Terapias). Lisboa: Livros Horizonte. 2005. Vasconcellos, E. A. Enfrentando a doença no hospital: uma abordagem de pacientes com doenças crónicas. Dissertação de mestrado não-publicada, Universidade Estadual de Campinas. 2007. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 220 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE A DANÇA NA ESCOLA EM CONTEXTO DE EDUCAÇÃO ARTÍSTICA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS DE PROFESORES PORTUGUESES Luísa Alegre, Doutoranda em Motricidade Humana (especialidade de Dança), Faculdade de Motricidade Humana - UTL, Lisboa, Portugal Margarida Moura, Faculdade de Motricidade Humana - UTL, INET-MD, Lisboa, Portugal Maria João Alves, Faculdade de Motricidade Humana - UTL, INET-MD, Lisboa, Portugal Resumo Num estudo de investigação (em desenvolvimento) propusemo-nos identificar as concepções de ensino da Dança por parte dos professores que exercem funções docentes nas escolas públicas em Portugal, na área curricular da Educação Artística. A Dança é um tema que tem ganho contornos mais definidos nos últimos vinte anos, encerrando em si um nível de reflexão, de prática e de investigação cada vez maior, estando legitimada como disciplina autónoma na Educação Artística (Decreto-Lei n.º 6/2001 alterado pelo Decreto-lei n.º 18/2011), existindo uma condicionante na matriz curricular do 3.º CEB, indicando que esta “poderá oferecer outra disciplina da área da Educação Artística (Educação Musical, Teatro, Dança, etc.) se, sem necessidade de recrutamento adicional, dispuser de pessoal docente para a sua docência”. Por outro lado, o Relatório Nacional de Educação Artística (2007) aponta para o desconhecimento de quem são os profissionais responsáveis por esta área, pelo que pretendemos obter indicadores que respondam a este vazio, refletindo – também sobre os pensamentos dos docentes enquanto alicerces da sua prática pedagógica (Januário, 1988; Pajares, 1992 & Carreiro da Costa, 2004). Conduzidos por uma metodologia de investigação qualitativa, a amostra incluiu sessenta e três docentes, utilizando-se a técnica do repertório de Kelly (1955) sobre os pressupostos do paradigma do pensamento pré-ativo do professor (Clark & Peterson, 1986), no sentido de aproximar duas dimensões: (1) a abordagem do conteúdo de dança e (2) a forma como o professor organiza as aulas. Em ambos os casos, estamos convictas de que as competências do professor interferem na qualidade das aprendizagens dos alunos (Gray, 1989). De forma geral, os resultados indicam que os professores inquiridos apresentam pouca propensão na mobilização de estratégias que promovam um ambiente criativo e de inovação que – concomitantemente – atenda aos contextos, em muito devido ao pouco conhecimento da dança como fator promotor da Educação Artística. Palavras-chave: Dança, Professores, Educação Artística. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 221 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Introdução O estudo de investigação foi norteado pelo desconhecimento do tipo de decisões realizadas pelo professor na planificação da Dança na área de Educação Artística [doravante, designada de EA], nomeadamente no tipo de abordagem do conteúdo de dança (o quê?) e na forma de organizar a planificação da aula (como?). Apoiados nos pressupostos do paradigma mediacional do pensamento do professor (Clark & Peterson, 1986), Carreiro da Costa (2005: 262) sublinha que “estudos recentes na área do pensamento e ação do professor provam o que observamos na educação de forma geral: sua prática (planeamento e interação de ensino) é influenciada pelas suas crenças, valores e expectativas” e Neves (1995: 69) refere que “aquilo que os professores fazem é afectado pelo que pensam”. Assumindo que a prática do docente é orientada pelo seu pensamento ou pelo modo como concebe a prática (Carreiro da Costa, 2004; Januário, 1988; Pajares, 1992; Perez & Gimeno, 1988), somos - por outro lado - motivados por Gray (1989) que valoriza este tipo de estudos na área da Dança, constatando a importância e a necessidade de se identificar um núcleo de competências de ensino, uma vez que estas parecem representar um fator de influência na qualidade da aprendizagem. Recorremos à planificação de Dança realizada pelo professor da área curricular de Educação Física [doravante, designada de EF], com o propósito de diferenciá-la da planificação realizada na área de EA. Tivemos em consideração as orientações para as Atividades Rítmicas Expressivas definidas nos Programas Curriculares de Educação Física [PNEF] e as Orientações Curriculares de Dança para a EA, ambos os documentos respeitantes ao 3.º CEB. Relativamente ao primeiro, observa-se que veicula duas abordagens: (a) a matéria nuclear, de Dança Educativa 9(centrado no conteúdo expressivo e exploratório do movimento proposto por Laban) e (b) a matéria alternativa centrada nas linguagens e nos passos das danças sociais, tradicionais e 9 Delimbeuf (1987) observou que a matéria nuclear das Atividades Rítmicas Expressivas proposta no Programa Nacional de Educação Física possui características da Dança Educativa proposta por Laban. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 222 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE aeróbica10. A orientação curricular de Dança na EA, elaborada por Victorino (2001), aprofunda a abordagem expressiva e exploratória da Dança Educativa sobre os supostos – também - da teoria do movimento de Laban, enfatizando o seu potencial interdisciplinar. Assim, a nível curricular encontramos um ponto de interseção entre a matéria nuclear do PNEF e a abordagem das Orientações Curriculares de Dança inserida na EA. 2. Objetivos Desconhecendo-se o nível de decisão do professor de EA ao planificar a aula de Dança, formularam-se os seguintes objetivos que – no cômputo geral – possibilitaram conduzir o estudo empírico: 2.1 . Caracterizar o conteúdo que o professor de EA aborda nas aulas de Dança, nomeadamente na planificação do 3.º CEB. 2.2 . Identificar as concepções de ensino dos professores EA que guiam a organização da prática de ensino da Dança. 3. Metodología A metodologia de investigação inscreveu-se nas abordagens de tipo qualitativo, sendo um estudo de caso múltiplo, que julgamos adequado ao objeto em estudo. A informação recolhida foi analisada através de análise de conteúdo (Bardin, 2004; Fraleigh & Hanstein, 1998; Stake, 2007). 3.1 Os sujeitos da amostra No estudo participaram professores das diferentes Direções Regionais de Educação (21 de Lisboa; 16 do Norte; 13 do Centro; 6 do Alentejo e 7 do Algarve), perfazendo um total de 63 professores (28 do género masculino e 35 do género feminino), com média de idades de 40,15 (± 8.09 anos) e com média do tempo de serviço de 15,68 (±8.88 anos). Relativamente à sua formação profissional, 60 professores são 10 Segundo Costa & Palafox (2008), a “aeróbica” pode ser definida como uma mistura de ginástica aliada aos conceitos da forma física com movimentos suaves com origem na dança e executados numa determinada estrutura rítmica musical. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 223 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE licenciados em Educação Física e somente 3 professores são licenciados em Dança, o que nos permite afirmar que o ensino da Dança no Sistema Educativo público é assegurado pelos professores de EF, independentemente da área curricular a lecionar. Quanto à área de ensino, obtivemos 20 respostas de professores que ministram Dança na EA e 61 respostas de professores da área de EF, sabendo-se que o professor de EF pode ser responsável, também, pelo ensino de Dança na EA. 3.2 Instrumento e recolha de dados Para recolher informação, utilizámos a técnica da matriz de repertório de Kelly (cit. por Clark & Peterson, 1986) com o objetivo de explorar a construção dos significados pessoais relacionados com a teoria dos constructos (Fernandes, 2001; Perez & Gimeno, 1988). Nesse sentido – e apoiados na revisão de literatura de Alves (2007), de Batalha (2005), de Camacho & Noguera (2002), de Gray (1989) e de Mosston & Ashworth (1993) – foram elaborados quatro cartões de sequências, cada um contemplando características representativas das diferentes tipologias conceptuais de organização da aula de Dança (quadro 1). O processo de validação deste material esteve a cargo de três especialistas em dança e em educação. Concluída esta etapa, solicitou-se a cada professor a escolha de um cartão com o qual se identificasse, sendo permitido a escolha de dois ou de mais cartões, possibilitando a combinação e/ou a criação de um novo modelo ou tipologia e evitando-se posições unidirecionais. Quadro 1. Caracterização dos diferentes modelos de professor e concepções de ensino de Dança relativas à dimensão da organização da aula Caracterização Modelos de professor / concepções Professor A Organizo o ensino da aula de Dança pensando em garantir o seu cumprimento através de movimentos básicos e coreografias simples e aprendidas. Os alunos repetem os passos que são iguais para todas as turmas do mesmo nível. Professor B Organizo o ensino da aula Dança para garantir que meus alunos possam produzir uma linguagem técnica. Planeio as aulas, pensando nas estruturas técnicas dos passos que apresento/ demonstro explicando como se realizam. Os alunos repetem até dominar a técnica correta do movimento. Professor C Organizo o ensino da Dança pensando que, para além do domínio da técnica dos movimentos, os alunos descobrem novas estruturas e movimentos através da atribuição de tarefas e algumas atividades. Os alunos descobrem, criam e recriam novos movimentos. Professor D Organizo o ensino da Dança com propostas centradas no significado da aprendizagem da dança articulada às prioridades e necessidades do projeto educativo e curricular da escola. Os alunos usam a linguagem corporal como forma de comunicação Professor E Sinto que a maior dificuldade que tenho concentra-se… (neste âmbito pode criar livremente um novo modelo ou realizar combinações dos modelos anteriores). CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 224 Concepção ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Reprodução simples. (Organização reprodutiva dos padrões básicos do movimento). Reprodução elaborada (Organização reprodutiva dos padrões técnicos do movimento). Inovação não contextualizada (Produção e criação centrada no movimento). Inovação contextualizada (Produção e criação centrada na dinâmica da escola). Nova concepção 4. Resultados Relativamente ao conteúdo abordado nas aulas de dança de EF e EA, a tabela 1 sistematiza os resultados do estudo. Observamos – através do valor relativo - que os professores privilegiam como conteúdo para as aulas de Dança na área de EF a matéria alternativa (60,66%). Na área de EA é privilegiada esta mesma abordagem, de acordo com as respostas de 8 professores (40,00%), seguido da abordagem mista com 6 professores (30,00%) e a abordagem expressiva e explorativa da Dança Educativa de valor similar ao anterior (30,00%). Deste modo, verificamos que o mesmo conteúdo (matéria alternativa: Danças sociais, tradicionais e aeróbica) é abordado de forma privilegiada, tanto nas aulas de EF, como nas aulas de EA. Tabela 1. Valores absolutos e relativos em função do conteúdo que o professor de Educação Física e Educação Artística habitualmente aborda na planificação da aula de Dança. Abordagem Aulas EF Aulas EA Fa Matéria nuclear 4 6 (abordagem expressivo Fr (%) 6,56% 30,00% e exploratório) Fa Matéria alternativa 37 8 Fr (%) (ensino de passos) 60,66% 40,00% Fa 8 6 Misto11 Fr (%) 13,11% 30,00% Fa 4 0 Livre Fr (%) 6,56% 0,00% Fa 8 0 Não ensina Fr (%) 13,11% 0,00% Fa 61 20 Total de respostas Fr (%) 100,00% 100,00% Quanto à área de EA julgamos poder explicar o motivo destas decisões que não correspondem à natureza da Dança Educativa observada nas linhas de orientação curricular de Dança, tendo em atenção que (a) o professor que ministra a área de EA é o professor de EF, transferindo e transmitindo em ambas as áreas, a sua 11 A abordagem mista é a matéria nuclear e alternativa de EF. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 225 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE idiossincrasia, concepções e conhecimentos de Dança; (b) há falta de grupo de recrutamento de profissionais com formação pedagógica em Dança na escola pública; (c) a própria legislação vigente permite às unidades escolares delegar a responsabilidade de ensinar Dança a qualquer professor do quadro da escola desde que habilitado para este efeito. A tabela 2 mostra as diferentes concepções dos professores de EF e de EA sobre o modo de organizar habitualmente a aula de Dança. É curioso constatar que os professores de EF possuem catorze formas de concebê-la, sendo o dobro dos professores que ensinam Dança na EA. Este resultado é coincidente com o estudo de Vieira (2007), no qual comprova que os professores de EF possuem orientações educativas diversificadas. Tabela 2. Organização das aulas de Dança Modelo de Organização A fa Fr (%) B fa Fr (%) C fa Fr (%) D fa Fr (%) E fa Fr (%) AB fa Fr (%) AC fa Fr (%) AD fa Fr (%) ABC fa Fr (%) ABCD fa Fr (%) BC fa Fr (%) BCD fa Fr (%) CD fa Fr (%) Aulas de EF Aulas de EA 4 6,56% 5 8,20% 12 19,67% 3 4,92% 1 1,64% 2 3,28% 5 8,20% 1 1,64% 3 4,92% 3 4,92% 7 11,48% 1 1,64% 6 9,84% 1 5,00% 0 0,00% 6 30,00% 1 5,00% 0 0,00% 0 0,00% 0 0,00% 0 0,00% 2 10,00% 0 0,00% 4 20,00% 1 5,00% 5 25,00% CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 226 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Não ensinam fa Fr (%) Total de respostas fa Fr (%) 8 13,11% 61 100,00% 0 0,00% 20 100,00% Cruzando a informação do quadro 1 com as evidências da tabela 2, verificamos que a maior frequência relativa - tanto para a área de EF (19,67%) como para a área de EA (30,00%) - acontece para o modelo puro C que defende a “Inovação não contextualizada (produção e criação centrada no movimento).” Seguem-se os modelos combinados12 BC e CD13 na área de EF (11,48%; e 9,84%) e os modelos CD e BC na área de EA (respetivamente 25,00%; e 20,00%). Reparamos que o modelo C, que concebe a busca de inovação e criação do movimento, está presente nos modelos combinados, contrariamente ao modelo D, centrado na inovação contextualizada ou no contexto social e comunitário, o qual é pouco expressivo (6,86%). Este resultado apela - per si - para a necessidade de promover nas aulas de EA, ambientes de criação e de inovação através dos gestos e dos movimentos de Dança numa abordagem principalmente expressiva e exploratória, que não se centrem apenas no conteúdo14, mas contextualizado no seu entorno social, nas prioridades e nas necessidades socioeducativas da escola, em temas transversais, na articulação interdisciplinar, gerando fontes e aprendizagens significativas para os alunos através do processo de laboratório experimental do movimento humano nas aulas de EA (Victorino, 2001). Identificamos em Alegre (2011) um único modelo próprio E, porém de pouca expressão no conjunto de respostas (1,96%), nomeadamente no grupo de professores de EF, caracterizado pela improvisação e atribuição de total liberdade aos alunos: “Eu não organizo o ensino da dança. A dança para mim tem que ser por improvisação, eu 12 Relembramos que na recolha de dados cada professor podia optar por mais de um cartão, passando a designar-se este tipo de escolha como modelo combinado. 13 O modelo combinado “BC” diz respeito à “ reprodução elaborada dos padrões técnicos do movimento e à procura de criação/inovação centrado neste conteúdo e o modelo “CD” reflete a procura de criação/inovação centrado no contexto e dinâmica da escola. 14 Conforme resultados obtidos sobre o conteúdo privilegiado: a matéria alternativa e o ensino dos passos da Dança social, tradicional e aeróbica. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 227 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE não consigo fazer coisas planeadas, ainda que eu tenha uma estrutura, um esqueleto, uma linha condutora que me dá estrutura, mas eu não consigo decorar…” (entrevista 8). Este indicador é estruturante, na medida em que reconhece que os professores de EA ao abordar a Dança planificam com intencionalidade pedagógica. 5. Conclusões O presente estudo parece revelar que o ensino da Dança na área de EA é assegurado pelos professores de EF. Relativamente à caracterização do conteúdo que é planificado para as aulas de EA, a maioria dos professores manifestou centrarse principalmente na matéria alternativa de EF, direcionada para o ensino dos passos das Danças sociais, tradicionais e aeróbica, em detrimento da natureza da área disciplinar de EA centrada na abordagem da Dança Educativa [expressão e exploração do movimento] conforme as Orientações Curriculares. Quanto às concepções de ensino dos professores de EA que guiam a organização da sua prática, estas relacionam-se principalmente com o modelo puro C, o qual recorre à “Inovação não contextualizada (produção e criação centrada no movimento). Constatou-se ainda a existência de modelos combinados - BC e CD15 -, o que permite reforçar a tessitura complexa dos processos de pensamento do professor. A este respeito, Camacho (2001) refere que a flexibilização do uso dos estilos de ensino explica-se pelo facto do professor usá-los como meras ferramentas nas diferentes situações de ensino. Destes resultados depreende-se que o professor de EA procura aspetos de criação e de inovação dos alunos, condicionado pela linguagem da matéria alternativa de EF. Consequentemente, a procura de criação e de inovação almejada pelo professor fica limitada por ele próprio ao fechar-se na matéria alternativa, provocando rutura entre aquilo que o professor crê realizar [descoberta do movimento, do gesto e da Dança explicitas nas Orientações curriculares] e o tipo de proposta que faz e que está circunscrita num tipo de linguagem. A origem desta divergência [entre aquilo que se crê promover nas aulas de Dança na área e EA e aquilo que realmente se faz], poderá dever-se ao tipo de formação [inicial ou contínua], assim como à 15 Cf. Quadro 1 (síntese de cada modelo). CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 228 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE idoneidade desta área disciplinar ser assegurada por profissionais formados em Dança. Por outro lado, a pouca expressão do modelo D - centrado no movimento de inovação contextualizada - denuncia a necessidade desta concepção estar mais firme no ensino da Dança como área de conhecimento artístico e veículo educativo integrador, promotor de reflexão e de diálogo corporal, potenciando a aprendizagem vivencial/significativa no processo de produção/criação/transformação de situações centradas na problemática socioeducativa dos discentes inseridos numa comunidade, como elementos indissociáveis do desenvolvimento humano do aluno-cidadão. Referências bibliográficas Alegre, L. (2011, Maio). [Entrevista com Professor 8, Escola na DRELVT: estudo sobre o que os professores pensam e fazem nas aulas de Dança]. Gravação em áudio. 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Nestas reflexões explicita-se a necessidade de desenvolver um conhecer/compreender do corpo enquanto motricidade e indicar as muitas possibilidades de agir quando o mesmo se converte em Dança. Aborda-se também a compreensão do movimento técnico sob a perspetiva de apreensão e/ou criação de uma identidade própria e/ou coletiva e, ainda, característica de uma estética específica. Procura-se nesta abordagem superar o olhar reducionista que vincula técnica a rendimento, desempenho e produção e indica a possibilidade desta ser desenvolvida no intuíto de propiciar liberdade e superação àqueles que a desenvolvem. Apresenta-se o exemplo das Técnicas Somáticas como possibilidade de efetivação de uma práxis superadora. Encerra-se as reflexões suscitando alguns desafios no campo específico da Educação Física e da Dança, de modo a propiciar a vivência de um corpo total, expressivo e reflexivo que promova o estar bem do homem em sociedade. Palavras-chave: Corpo, Motricidade, Técnica, Dança. 1 – Introdução: uma trilha em construção Nietzsche ainda alerta pela boca de Zaratustra: “Por trás de seus pensamentos e sentimentos, meu irmão, há um senhor mais poderoso, um guia, um desconhecido. Chama-se ‘eu sou’. Habita no seu corpo, é o seu corpo.” Nietzsche (2005, p.26) Há muito o Corpo é tema de estudo e de investigação das diversas áreas do conhecimento, perpassando o campo das ciências sociais, humanas, biológicas e da saúde. De tal modo, é apresentado sob diferentes aspetos: como um objeto a ser desvelado, compreendido, apreciado, treinado, cuidado e, por que não dizer, transformado. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 232 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Abordado, muitas vezes, como o responsável pelo bem-estar, pela qualidade de vida e saúde dos indivíduos ao longo das diferentes etapas de vida, é intrigante verificar que, ainda hoje, é valorizado como objeto – de estudo/investigação, de consumo e de desejo – em detrimento, muitas vezes, do próprio sujeito (Andrieu, 2004). De modo especial na Educação Física esta abordagem é recorrente. Sob a égide de um paradigma positivista, racionalista, a Educação Física, desde que foi estabelecida como campo de conhecimento, tem por princípio valorizar o corpo como objeto, em função de seu determinismo, e remeter o sujeito para o campo das especulações, destacando seu carácter subjetivo e indeterminado. A compreensão do Corpo com objetivos sanitários ainda é percecionada, hoje, sob uma lógica que, se não é declaradamente cartesiana, pelo menos procede como tal. No entanto, Sérgio (2003; 2005a; 2005c), ao explicitar as limitações da área de estudos da Educação Física e identificá-la como um dos produtos do cartesianismo, fornece pistas para que se possa ir além desta área do conhecimento e perceber que também em outras áreas esta influência foi marcante. A separação dos aspetos físicos, biológicos, técnicos, táticos e psicológicos que constituem os processos pedagógicos da Educação Física, e do próprio treino desportivo, quer no campo da profissionalização quer no campo da ação, é ainda hoje evidenciado e pode também ser reconhecido nas ações pedagógicas e nos treinos da Dança (Ribeiro, 1997; Foster, 1996). Esta visão, herdada dos princípios racionalistas, tem caracterizado as ciências modernas e, embora tenha possibilitado seu avanço, contribuiu para a sua mitificação consolidando os parâmetros científicos como modelos absolutos, caracterizando-os como a própria realidade e não um de seus elementos (Melani, 1995). Nesta perspetiva, ao olhar para o objeto, o mesmo é evidenciado como aquele que é cognoscível, passível de ser isolado, dissecado, fragmentado. Como consequência a visão passa a ser, toda ela, também parcelar e a divisão corpo/alma, objeto/sujeito, justificada pela necessidade de desvelar uma verdade limitada e objetiva. Esta verdade, contida no objeto-corpo, é reconhecida como a principal fonte de investigação para a ciência (Morin E. , 2008). O sujeito neste contexto é, então, CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 233 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE considerado o desconhecido tornando-se, por vezes, a “[…] perturbação, a deformação, o erro que é preciso eliminar [da investigação] a fim de atingir o conhecimento objetivo […] (Idem, ibidem, p. 59). Deste “conhecimento” espera-se, principalmente, o entendimento e a explicação sobre os fenómenos. Na contemporaneidade, e de modo especial junto às ciências sociais e humanas, o entendimento e as explicações, caracterizadas somente por dados objetivos, já não são suficientes para responder às indagações referentes ao corpo. Também os questionamentos pertinentes à grande área da saúde têm instigado seus pesquisadores a conduzirem suas pesquisas de modo a buscar pela compreensão do fenómeno levando-os a percepcionar, e considerar, suas subjetividades (Minayo & Sanches, 1993). Bem se sabe que, hoje, o fazer científico tem subsistido da construção e produção do objeto a ser conhecido, com a ajuda de abstrações e de conceitos. Sabese também que não é contemplando, manipulando, mas, construindo que se alcança a verdade, ou melhor dizendo, o conhecimento. Esta construção não se efetiva de forma isolada e “os progressos do pensamento científico contemporâneo determinaram transformações nos próprios princípios do conhecer” (Bachelar, 1972, p. 14). Morin (2008), ao propor a superação da disjunção objeto/sujeito no fazer científico, anunciou uma nova concepção que emerge da relação complexa entre um e outro, bem como do caráter insuficiente e incompleto de uma ou outra noção. Assim, a possibilidade de converter, reformar o pensamento científico contemporâneo, evidenciou a necessidade do pesquisador olhar para o todo, incluindo aqui a subjetividade, de religar saberes e compreender que, assim como o conhecimento é dinâmico, de tal modo deve ser a forma de construir e se relacionar com ele (Morin E. , 2002). Este ensaio nasce desta conversão e, também, da preocupação em desenvolver junto ao processo de formação do profissional de Educação Física e da Dança reflexões que possibilitem apreender o corpo em sua totalidade e complexidade, compreendendo-o tanto como objeto cognoscível quanto sujeito cognoscente, ou seja, indicar ser impossível desvincular o corpo objeto do corpo CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 234 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE sujeito. Para tanto, assume que todo movimento corpóreo é fruto da intencionalidade que tem nesta dinâmica a possibilidade de expressão, comunicação e ação. A percepção de que o homem é um ser de linguagem, que se faz ao constituir-se como ser simbólico, permite identificar que, em cada momento da história, o sujeito constrói e reconstrói suas relações de forma diferente, tanto naquilo que diz respeito às suas compreensões e representações sobre o corpo quanto no referente às formas de concebê-lo, interpretá-lo e apresentá-lo. Assim o homem caracteriza-se como agente de sua produção de sentidos e a partilha entre quem a faz e, também, entre quem o observa, explicitando as particularidades presentes em cada momento de experimentação, utilização e representação de seu corpo (Fazenda, 1996). Neste ensaio, ao evidenciar a necessidade de ressignificar as compreensões sobre o corpo na contemporaneidade, pretende-se ampliar os olhares e instigar a tessitura de redes de relações de modo a permitir que as sínteses, até então construídas, possam ser problematizadoras de novos questionamentos, bem como geradoras de novas compreensões. Tendo por base a Teoria da Motricidade Humana proposta por Sérgio (1994; 2005b) optou-se por efetuar um recorde junto as possibilidades de experimentar esta dinâmica de compreensão e localizar o corpo, sujeito/objeto, no contexto da Dança. Esta, está aqui entendida como fenómeno próprio do ser humano, mas também como arte, atividade física e, disciplina. É pertinente esclarecer que o recorte efetuado preocupou-se em não desvincular o corpo de um contexto maior, pretendendo apenas indicar um determinado foco para as reflexões. Assim, objetiva-se instigar a reflexão sobre a complexidade de um corpo que é motricidade e, por assim o ser, abordar como esta motricidade pode se converter em Dança. Ao religar os campos de conhecimento, identifica-se a possibilidade de subsidiar, por meios dos fundamentos da Teoria da Motricidade Humana, os saberes e fazeres de uma Dança que possibilita o desenvolver da experiência estética, de uma compreensão de corpo próprio, da interpretação de seus sentidos e significados e, ainda, a percepção de suas necessidades e desejos. Sob este olhar, evidenciamos os trabalhos desenvolvidos pelas Técnicas Somáticas que CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 235 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE instigam a um domínio técnico constantemente ressignificado. Por meio destas vivências e experiências o indivíduo pode superar e superar-se e alcançar um estado de saudabilidade (Luz, 2012) tão almejado na atualidade. Construir este trajeto não se faz de modo linear. No entanto, não se deve ignorar a preocupação em planear um percurso. Assim, recorrendo às palavras de Teves (2001) este ensaio pretende suscitar a construção de “trilhas – e não trilhos” – que provoquem a reflexão sobre o entendimento humano de homem e de mundo e de estratégias que possibilitem não apenas o “bem estar” de um corpo objeto mas, principalmente, o “estar bem” de um corpo sujeito. 2 – Do corpo que é motricidade ou da motricidade que se faz corpo. O corpo, tão depreciado por esta ética da modernidade, é manifestação de vida; a motricidade é realização. E a vida só quer viver; quando a impedimos de fazê-lo, dói. Nossa dor é a vida não vivida. Manuel Sérgio A Teoria da Motricidade Humana (TMH) pode ser considerada uma via adequada para a compreensão do homem em movimento. Ao estabelecer entre seus princípios que o Ser e o mundo formam um todo indissociável reconhece que em toda ciência humana está o reflexo da totalidade humana (Sérgio M. , 2012). Esta Teoria apresenta-se, então, como alternativa àquelas práticas profissionais que reduzem o Ser humano somente à sua condição física, à sua condição de objeto. Ao refutar o racionalismo exagerado, a fragmentação dos saberes, o pensamento hegemónico do neoliberalismo dominante e, tendo sempre em vista a complexidade humana, busca estabelecer […] “o trânsito do físico ao corpo em ato (ou ação), dando relevo ao texto que a motricidade produz.” (Sérgio M. , 2005a, p. 51). De tal modo assume que é pelo corpo, no movimento intencional da transcendência, que se está e age no e para o mundo-da-vida. A TMH apresenta o humano inteiro Ser-no-mundo, envolvido na construção de projetos, na partilha do conhecimento, interagindo constantemente com o outro e com o ambiente, ao qual se conecta em essência e existência (Sérgio M. , 2000, pp. 139 -161). Sustenta que é pela motricidade que o homem manifesta seu desejo de CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 236 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE ultrapassar as barreiras que o impedem de ser mais e de ir além, que constrói suas compreensões por meio do diálogo, das incertezas, da auto-organização e da complexidade. Nesta abordagem pode-se inferir que é próprio do Ser humano o movimento intencional para o mundo da vida e, ainda, que todo homem é corpo e é movimento, é motricidade. Por meio da motricidade o Ser humano é, está e age no mundo formando com ele um todo indissociável, uma comunidade constituída por homem/mundo onde supõe-se a comunicação concreta a partir da ação. Percebe-se também que este agir intencionalmente requer uma consciência que é movimento, uma razoabilidade que se faz concreta enquanto síntese de um corpo empenhado em se comunicar. Sua constituição se faz através de um contínuo ato criativo que possibilita explorar a essência própria de cada sujeito, bem como construir suas dinâmicas de interações. Os sentidos e significados que o corpo assume passam, então, a ser sínteses destas relações: homem/mundo e homem/homem. O desafio está em possibilitar, junto aos futuros profissionais de Educação Física e da Dança, a tomada de consciência sobre a complexidade do homem. Leválos a reconhecer que é a necessidade de viver em constante interação com o seu meio, com os outros, compreendendo e aceitando a si próprio e também ao outro, que lhes possibilita desenvolver ações repletas de sentido e significações. O corpo neste processo é o próprio Ser em sua totalidade – de ações e inter-relações – de tal modo é então compreendido como motricidade ou o mesmo que dizer corporeidade. Analisar o fenômeno corporeidade é adentrar aos símbolos e signos que estão tatuados no corpo ao longo do tempo. O ser humano, por produzir cultura e história, ao mesmo tempo em que é modificado por essa cultura e essa história que produz, recebe marcas que estão presentes em seu modo de ser e de se relacionar com os outros e com o mundo. (Moreira, 2011, p. 95) Em uma via de mão dupla a corporeidade resulta na motricidade como condição de presença, participação e significação do homem no mundo e, em outra direção, a motricidade nos remete a uma corporeidade pactuada com o mundo onde CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 237 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE o corpo é aberto a este pela intencionalidade operante, ou seja, intenção que se torna real por meio da motricidade/corporeidade (Pereira & Mortari, 2011). Reconhecer estes símbolos e signos, tanto pode favorecer a leitura crítica de homem e de mundo, quanto possibilitar o desenvolvimento de linguagens que lhes permitam explicitá-la. 3 – Da motricidade à Dança Ao abordar a questão dos signos, sentidos e significados e associá-los à motricidade, nota-se que se está diante de questões extremamente abrangentes. A multidimensionalidade que esses conceitos abrangem permite referir-se a eles associando-os desde o sentido da vida até ao significado de palavras, gestos e movimentos (Rengel, 2012). A motricidade, ao converter-se em Dança, resgata os modos de significação que são criados, vivenciados e instiga a ressignificação. Por meio de distintas estéticas permite ao homem, que é corpo e é movimento, explorar suas capacidades criativas e transpor para o gesto Dançado sua leitura de mundo. Com a TMH é possível identificar que a motricidade é mais do que simplesmente movimento biomecânico, mensurável, técnico, muito embora o compreenda, mas é também “expressão e produção de experiências, [sentidos] e conhecimento”. (Sérgio M. , 2000, p. 18) A Dança sob esta perspectiva é considerada mais do que uma atividade física; é, principalmente, uma atividade humana e, também ela, ruma no sentido do movimento intencional da transcendência, que é o mesmo que dizer da superação. A Dança é Arte e é movimento, e por ser movimento transparece sua intencionalidade. Este movimento intencional reflete e projeta uma totalidade porque é movimento que integra diferentes processos desde os cognoscitivos, passando pelos aspetos formais, suas inserções nos processos culturais de desenvolvimento humano, caminhando em direção à efetivação dos processos de liberdade, criatividade, expressão e comunicação (Mortari, Batalha, & Macara, 2012). A Dança é assim compreendida como poiésis, manifestação autónoma que concretiza o desejo do Homem, ser carente, que ao percepcionar suas necessidades CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 238 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE (que não são meramente primárias), vai em busca de um caminho que o conduza à superação. Mas a Dança também é praxis uma vez que compreende a vivência consciente e intencional da corporeidade como processo privilegiado de relação com o mundo e de interação com o outro, onde é possível construir e reconstruir a própria existência. Afinal a praxis […] é tudo o que, através do contributo indispensável da motricidade, contribui para a manutenção e desenvolvimento da humanidade. Não é só um labor espiritual ou especulativo, mas algo que, objetiva e materialmente transforma a realidade. A teoria isolada, não tem eficácia real. Só a tem, quando se traduz em conduta motora. A prática é a teoria materializada e a teoria é a prática formalizada (Sérgio M. , 1996, p. 165). O saber fazer em Dança diz respeito às formas como o corpo-motricidade se capacita para construir uma linguagem específica (Dantas, 1999). Muitas vezes este saber fazer, poiético e práxico, vem revestido de técnicas que lhes possibilitam alcançar os objetivo traçados. Dominar técnicas e conseguir ressignificá-las passa, então, a ser um desafio àqueles que compreendem e assumem a complexidade do corpo na contemporaneidade. 4 – Dança – o fazer técnico para além da subjugação A técnica como bem se sabe, sempre esteve presente nas ações do homem, consequentemente é inerente ao ato de Dançar. Neste texto, quando há referências às técnicas, estas são consideradas mais do que uma ordenação de passos, modos determinados de deslocamentos no espaço. Estão associadas aos modos como o corpo é idealizado e utilizado em contexto da Dança, como estão a relacionar-se com todos os elementos circundantes e envolventes. Assim, tanto a objetividade quanto a subjetividade presente no movimento técnico é considerada. O movimento técnico, com esta característica, pode estar presente tanto nos processos de criação coreográfica quanto nos processos de aprendizagem, passando a ser um modo de formar e informar o corpo e, ao mesmo tempo, de facilitar o manifestar de uma Dança, ou seja, a técnica permite tornar o corpo que Dança ainda mais livre para Dançar. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 239 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Pode parecer um paradoxo mas, neste entendimento o domínio técnico – e aqui enquadra-se toda e qualquer modalidade técnica – pode permitir a liberdade de ação e a comunicação de um corpo em movimento rejeitando o enclausuramento e ou o policiamento do mesmo (Mortari K. S., 2013). No caso das Técnicas Somáticas esta não é só uma possibilidade, mas a principal característica para sua efetivação. Mauss (1974) indica o quanto o modo como ocorre uma aprendizagem ou como um gesto ou movimento é apreendido nas ações do quotidiano ficam registados por toda a vida e, sempre que solicitado ou quando o sujeito é posto em uma situação semelhante, em um primeiro momento é ele que emerge. De tal modo indica que em toda investigação e ou reflexões sobre o homem, torna-se imprescindível decifrar como a sociedade, na qual este homem habita, cria modos próprios para a utilização do seu corpo e consequentemente de seu movimento. Propiciar aos indivíduos refletirem estas questões é o desafio, converte-los e ressignificá-los é uma possibilidade presente no fazer das Técnicas Somáticas A especificidade é o que caracteriza a técnica, revela este mesmo autor e vai além ao afirmar que é cada sociedade que estabelece as características que lhes são convenientes e necessárias. Estas são passíveis de identificação em toda atitude corporal. A construção cultural é assim manifestada e a forma como o homem secrelaciona com seu corpo em movimento pode ser considerado reflexo do meio onde vive. Para Mauss (1974) a apreensão das técnicas pode ocorrer sob dois aspetos: o da imitação e o da educação. O primeiro corresponde muitas vezes a um determinado modismo, ou influência que, por detrás do gesto ou do movimento, tráz incutida toda uma gama de intenções e representações que aproxima o imitador de quem ele imita. Infere-se que, neste processo, o sujeito pode ser subjugado uma vez que não está a refletir sobre a ação, faz o movimento pelo movimento. Já o desenvolver da técnica em uma perspectiva educativa, permite ao indivíduo explorar suas capacidades, identificar seus limites e organizar estratégias de superação. É nesta última vertente que enquadram-se as Técnicas Somáticas. Estas permitem aos bailarinos reconhecerem-se em sua totalidade, trabalharem suas especificidades e alcançar objetivos que lhes são próprios, mesmo durante uma sessão coletiva. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 240 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Foster (1992) ao assumir que toda forma de Dança é cultural, enfatiza que seus movimentos são executados utilizando estratégias e/ou mecanismos que lhes permitem uma determinada especialização e consequente significação. Estas são construídas e consolidadas por diferentes grupos que possuem uma mesma concepção sobre o que é Dança e como deve ser desenvolvida. Ora, esta Dança, dependendo da forma como for desenvolvida, pode “amarrar” o indivíduo junto a uma única abordagem. A mesma autora no entanto, concebe o corpo do bailarino como representativo de tudo o que ele viveu bem como de tudo o que ele acredita. Neste sentido levar a uma consciencialização sobre estas “incorporações” permite ampliar o entendimento das técnicas ampliando as possibilidades de ação e reflexão. Assim as Técnicas Somáticas são também identificadas como possibilidade de trabalhar corpos adequados às disciplinas específicas mas, vislumbrando-se a possibilidade de desenvolver Corpos conscientes, sensíveis, saudáveis, expressivos e comunicantes. Neste sentido, se considerar que cada técnica de Dança contribui para a consolidação de uma determinada estética, de um padrão de movimento, e mesmo de uma reflexão e compreensão sobre um determinado fenómeno, as Técnicas Somáticas viabilizam tanto olhar para o movimento técnico específico e construir estratégias para sua apreensão, quanto superar o desenvolver de uma ação disciplinada, que engessa um fazer. Assim, as Técnicas Somáticas propõem a organização dos movimentos como possibilidade de superação. Nesta perspectiva, nota-se que a noção do saber-fazer em Dança é ampliada e passa a integrar a capacidade de articular os movimentos do Corpo às ideias, a um tempo e a um espaço específico e também favorecer a criação de novas formas de agir e deslocar-se neste mesmo tempo e espaço. A apropriação de novos sentidos e significados não impede o bailarino de convertê-los e/ou ressignificá-los. A técnica pode ser então apropriada como um possível caminho para a superação 5 – Chegando a um novo ponto de partida CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 241 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE A recorrência de estudos sobre o corpo é evidente no fazer científico da contemporaneidade. No entanto, a necessidade de, ainda hoje, buscar suscitar reflexões que instiguem o profissional de Educação Física e/ou da Dança a compreenderem sua totalidade e complexidade – corpo/sujeito/objeto - no desenvolver dos processos de formação e intervenção profissional pode ser um indicativo de que este continua a ser vivenciado, trabalhado e investigado de forma fragmentada, sob um paradigma racionalista voltado a interesses objetivos, pontuais, relacionados, muitas vezes, com mecanismos contemporâneos de submissão e controle. Assim questiona-se: como conscientizar para a necessidade de mudança de paradigma? Como propiciar experiencias que permitam viver esta totalidade? Para responder aos questionamentos optou-se por expor algumas premissas presentes à TMH objetivando indicar e refletir uma nova possibilidade de compreender e interpretar este corpo. De tal modo, esta opção permitiu desvelar a dificuldade, presente não só no campo da Educação Física, de voltar o olhar para um corpo polissêmico característico de um Ser que se quer bio-psico-sócio-cultural. Na busca por estratégias que permitissem uma nova abordagem de compreensão ao corpo explicitou-se a oportunidade de ampliar as possibilidades do homem agir intencionalmente e, por meio de um corpo que é motricidade utilizar- a Dança enquanto linguagem para se fazer ouvir e também para poder ler a realidade a sua volta. Ao converter a motricidade em Dança preocupou-se em religar diferentes campos dos saberes e permitir a emergência de novas formas de agir intencionalmente favorecendo novos sentidos e significados. De igual modo ao propor a ressignificação dos conceitos cristalizados de técnica, instigou-se ao exercício de uma práxis que se converte em poiesis de onde emerge uma nova praxis, em um contínuo sem fim, consolidando processos de superação. Foi neste contexto que se entendeu pertinente explicitar as premissas presentes no desenvolver das Técnicas Somáticas uma vez que estas permitem a conversão destas reflexões em ações efetivas que possam desencadear intervenções mais próximas às elucidações aqui anunciadas. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 242 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Utilizar destes diferentes saberes de modo a integrá-los nos processos de intervenção dos profissionais de Educação Física e Dança é o desafio que agora se apresenta e, de tal modo, o ponto de partida para mais uma jornada. Parafraseando Manuel Sérgio é importante lembrar que [é] pela motricidade que, em primeiro lugar, nos afirmamos como seres vivos, que manifestamos a coragem e a lucidez de quem deseja mudar de paradigma, ou seja, das verdades pela sua procura, do monólogo pelo diálogo, das certezas pelas incertezas também, do autoritarismo pela auto-organização e auto-determinação, da simplicidade pela complexidade.(Sérgio M. , 2011, p. 199) A assunção da complexidade do corpo e, de igual modo, do meio onde se vive impõe aos futuros e atuais profissionais de Educação Física e da Dança o desenvolvimento de ações que demandem imaginação e habilidade para sugerir alternativas às situações limitadoras e repressoras. Estas, por serem herdeiras de uma racionalidade há muito desvelada continuam presentes na intervenção dos profissionais da Educação Física e da Dança por meio de processos de homogeneização e manipulação do corpo e do movimento. Pensar o novo, investigar o diferente, aprender a aprender, assumir riscos e estender o pensamento para além do conhecido é a proposta que se faz para que, de fato, seja possível viver intensamente para sentir, expressar e estar bem, enquanto corpo que se é. 6 – Referências Bibliográficas Andrieu, B. (2004). A nova filosofia do corpo. Lisboa: Instituto Piaget. Bachelard, G. (1972). Filosofia do novo espírito científico : a filosofia do não . Lisboa: Presença. Dantas, M. (1999). Dança:O Enigma do Movimento. Porto alegre: Editora da Universidade. Foster, S. L. (1996). Corporealities : dancing knowledge, culture and power. New York: Routledge. Mauss, M. (1974). Sociologia e Antropologia (Vol. 2). (M. W. Puccinelli, Trad.) São Paulo: EPU/EDUSP. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 243 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Melani, R. (setembro de 1995). Educação Física e Educção Mental: será? 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CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 244 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Sérgio, M. (2011). Filosofia do Futebol. Lisboa: Prime Books. Sérgio, M. (1994). Motricidade humana: contribuições para um paradigma emergente. Lisboa: Instituto Piaget. Sérgio, M. (Out de 2005b). Motricidade Humana: qual o futuro? Motricidade , 1 n.4, pp. 271-283. Sérgio, M. (2005a). Para um novo Paradigma do saber e do Ser. Lisboa: Ariadne. Sérgio, M. (2000). Para uma epistemologia da Motricidade Humana. Lisboa: Compendium. Sérgio, M. (2005c). Uma reflexão sobre o corpo. In D. Rodrigues, O Corpo que (des) conhecemos (pp. 205 - 216). Cruz Quebrada: FMH. Siqueira, D. C. (2010). O Corpo na Dança Moderna de Ana Vitoria: Orixás, Quixotes e outras valises culturais. In A. Vitoria, Um traçado precioso da Dança (pp. 44 - 55). Rio de Janeiro: 7Letras. Teves, N. (2º semestre de 2001). 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As equipas constituintes da amostra foram o Internacional de Milão (2009/10) e o Real Madrid (2010/11). No processo de recolha de dados empregamos o instrumento validado por Sarmento et al. (2010). Codificamos 12 jogos por equipa, num total de 24. Para realização da análise sequencial de retardos, recorremos ao software SDIS-GSEQ (5.1). Atendendo ao convencionado, o retardo (R) máximo nunca excedeu o R-5, retrospetivamente, ou R+5, prospectivamente. Por último, agrupamos os resultados de acordo com a proposta de mapeamento e verificamos a sua validade. Analisando o método de jogo ofensivo (MJO) e as equipas, verificamos que nos inícios de forma aberta há maior ativação de condutas individuais. Nos inícios de forma fechada, há maior ativação de condutas que derivam da ativação do passe. Relativamente aos desenvolvimentos, verificamos a especificidade de condutas associadas ao processo inicial ou de construção, condutas de pré-finalização e condutas mistas. Relativamente aos finais, constatamos que os finais com insucesso ativam maior quantidade de condutas enquanto os finais com sucesso evidenciam grande imprevisibilidade. Constatamos a existência de pontos de correlação inter e entre equipas, ao longo dos diferentes MJO, mas a diferença é a nota mais marcante. Pensamos que os resultados poderão indicar uma adequada interpretação do modelo por nós esquematizado. Atendendo à amostra selecionada, julgamos que será fundamental a realização de mais estudos com diferentes equipas e cenários competitivos. Palavras-chave: Dinâmica, Futebol, Observação, Análise sequencial. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 246 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Introdução e Objetivos De acordo com diversos autores (e.g., Ferreira, Volossovitch & Gonçalves,2003; Oliveira, 2004) caraterizam processo ofensivo como sendo a fase em que uma equipa tem a posse de bola e através de ações coletivas e individuais, sem infringir as leis do jogo, tentar marcar golo. Este processo é influenciado por uma multiplicidade de variáveis e fatores que poderão condicionar a equipa na escolha dos comportamentos a realizar. Garganta (1998) afirma, que as ações de jogo ocorrem em contextos de elevada variabilidade, imprevisibilidade e aleatoriedade, aos jogadores é requerida uma permanente atitude estratégico-tática. Ao mesmo tempo, entre a ordem e o caos16 intrínseco do jogo, deveremos premiar os jogadores com indicações, sobre qual método de jogo ofensivo17 a utilizar e como proceder. Para esse fim, ativam o despoletar de um conjunto de mecanismos que permitem a ocorrência de um dos métodos de jogo ofensivo. Tendo em conta o anteriormente exposto, agrupamos algumas das variáveis que, no nosso entender, poderão influenciar o processo ofensivo (PO) e a consequente a tomada de decisão relativa ao MJO. Dos fatores levados em consideração, chamounos particular atenção o trinómio zona-espaço-tempo, enquadrados com o conceito de início desenvolvimento, pré-finalização e finalização, interligando a noção zona do campo (centro de jogo) espaço e tempo, para desenvolver o PO. O método utilizado para jogar deverá advir do objetivo (s) que o PO apresenta em determinado momento de jogo, enquadrado no contexto (resultado, relação numérica). A seleção do MJO deve atender aos elementos que condicionam o PO, espelhado no terreno de jogo pela seleção mais adequada do conjunto de comportamentos levados a cabo pela equipa. Achamos pertinente evidenciar os fatores que influenciam esta relação. 16 A teoria dos sistemas tem como principal objetivo: o esforço humano para prever o futuro. Segundo Bertalanffy (1975), sistema é um conjunto de unidades reciprocamente relacionadas, de onde decorrem dois conceitos: o de objetivo e o de totalidade. Estes dois conceitos retratam duas características básicas de um sistema. 17 Os métodos de jogo ofensivo (MJO) confinam a forma geral de organização das ações dos jogadores no ataque, estabelecendo um conjunto de princípios (subjacentes ao modelo de jogo) que visam a racionalização do processo ofensivo, desde a recuperação de bola até à progressão/finalização e/ou manutenção da posse da bola (Castelo, 1994, Claudino, 1993, Garganta, 1997, Luhtanen 1993). CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 247 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Assim, deverá existir uma relação entre os elementos influenciadores, a ter em conta no PO e a operacionalização do MJO. Esta relação, que em nosso entendimento é direta, deverá ser entendida com o intuito de promover o conhecimento operativo da equipa e assentar a ação individual (o jogador) com as premissas (fatores atuantes no jogo) que poderão e deverão ser interpretadas coletivamente (pela equipa). Com este conhecimento, a equipa promove um desempenho mais constante e padronizado, que tem por base elementos concretos que estão à sua disposição para observar, interpretar e aplicar durante o jogo. Na Erro! A origem da referência não foi encontrada. descrevemos alguns dos múltiplos elementos pertencentes ao jogo que coexistem e influenciam o PO. Sobre estes, técnicos e jogadores, deverão demonstrar a capacidade de os interpretar e, de acordo com os agentes influenciadores do processo ofensivo, definirem o MJO que mais se adequa à realidade vivida numa determinada ação. Dentro do jogo de futebol verifica-se uma divisão de elementos e componentes que são partes de um todo que devem ser constantemente tidas em conta ao longo das fases do processo ofensivo. Propomos alguns elementos que no nosso entender são condicionadores do processo ofensivo, CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 248 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Erro! A origem da referência não foi encontrada.. Estado do conhecimento atual Posto o ponto prévio, entendemos que o processo de caraterização da dinâmica do jogo é díspar do conhecimento atual. Procedemos de seguida à exposição do conhecimento relativo ao tema. Bayer (1994) define que o entendimento dualista, ou seja, o julgamento das situações e a tomada de decisão dos jogadores, depende do fator posse/não posse de bola, o que influenciará um conjunto de interações por parte dos demais atores do jogo. Figura 1 - Comportamento estratégico dos jogadores (adaptado de Bayer, 1994). Mantendo a divisão assente na posse de bola/não posse, Castellano-Paulis (2000) apresenta o modelo exposto na Figura 2. Um conceito de segmentação do fluxo condutoral da ação do jogo de futebol, que nos parece mais adequado atendendo à natureza dinâmica do jogo, no qual a posse/não posse de bola se revela um fator crítico nesta dinâmica. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 249 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Figura 2 - Segmentação do fluxo condutora do jogo de futebol (adaptado de Castellano-Paulis, 2000). Por sua vez, Cervera e Malavés (2001), expõem um modelo unitário, onde a fase ofensiva e defensiva, encontram-se edificadas sob uma verdadeira oposição lógica que são, no fundo, o complemento uma da outra, estando diretamente implicadas, o que traduz que a totalidade de uma fase se encontra na totalidade da outra, criando o modelo unitário de organização do jogo de futebol (Castelo, 1996; Suàrez, 1998; Silva (2004) descreve o modelo evidenciando a preocupação em manter um balanço que permita atacar sem com isso perder a segurança defensiva, quando se está na posse de bola e, analogamente, defender sem no entanto perder excessivamente a capacidade de marcar golos. Ou seja, o jogador deve ser capaz de atacar, situandose de forma a reagir em situação de perda de posse de bola, com eficiência, adequando os princípios defensivos à situação. Figura 3 - Modelo unitário da organização do jogo de futebol (adaptado de Cervera & Malavés, 2001). Mais recentemente, Barreira (2006), com a finalidade de estudar as transições ofensivas, (transição defesa /ataque), desenha o modelo de organização da dinâmica do jogo de futebol. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 250 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Figura 4 - Modelo de organização da dinâmica do jogo de Futebol, (adaptado de Barreira 2006). Proposta de modelo de organização da dinâmica do jogo de futebol A dinâmica do jogo deve atender a um modelo globalizante, onde os comportamentos têm dinâmica articulativa, ou seja, as ações individuais, grupais ou coletivas, na fase defensiva ou ofensiva tem repercussões na dinâmica geral do jogo. A relação entre os momentos e sua organização é influenciada pelo tipo de ocorrência (ações motoras) e estas condicionam a articulação das várias partes do MJ. Devemos interpretar o jogo atendendo à unidade celular, expostas pelas ações ocorridas no centro de jogo. Toda a ação deverá ser enquadrada numa dinâmica de influências. O jogo é composto por um conjunto de interações com base na ação e reação, ou seja, duas equipas em confronto com intenções destintas, agem em sentidos opostos. Quanto maior a capacidade de uma equipa impor o seu método de jogo maior é a sua capacidade em condicionar o adversário. A nossa compreensão sobre o jogo pressupõe que o processo ofensivo se carateriza por um cariz altamente dinâmico, influenciado à partida pela forma como a equipa procedeu à recuperação da posse de bola. O que precede este momento é a fase defensiva, da equipa em estudo, que condiciona o momento de transição defesaataque (ofensiva). Quando a equipa consegue a recuperação da posse da bola inicia o processo de transição ofensiva. Interpretamos que estes elementos juntamente com os mencionados no ponto prévio, condicionam o PO, e devem ser atendidos na tomada de opção relativa ao MJO que melhor se adequa à ação a decorrer. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 251 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Num modelo de perceção de jogo adequado à realidade do futebol atual, os jogadores deverão preparar e ajustar rapidamente as respostas motoras, antes da recuperação da posse de bola, interpretando e respondendo de acordo com a forma como a equipa conseguem a recuperação da mesma. Assim o sucesso ou insucesso na fase defensiva condiciona o início da fase ofensiva. Relativamente ao desenvolvimento, cada MJO e cada momento de organização ofensiva, tem especificidades delimitadoras, possuindo um conjunto de desenvolvimentos que se repetem, com maior regularidade, numa determinada zona. No final do processo ofensivo, a forma como a equipa culmina a ação, o seu sucesso ou insucesso condiciona o momento de transição defensiva e reflete-se ao longo da fase defensiva. Esta dinâmica dialogante deverá ser o elemento guia dos executantes (os jogadores) de acordo com o plano elaborado pelo mentor (o treinador). No momento de escolha ou de produção das respostas motoras do PO, os jogadores deverão atender aos pontos prévios, ao tipo de início, desenvolvimentos e tipo de final. O somatório destes elementos produz um MJO. Com isto, não pretendemos afirmar que os jogadores selecionam o MJO antes da recuperação da posse da bola, queremos sim evidenciar uma filosofia onde as ações motoras que se desenvolvem, advêm da leitura dos fatores condicionantes que atuam sobre as referidas ações motoras originando um MJO. Sintetizada a descrição conceptual, passaremos à exposição do modelo de interpretação do jogo. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 252 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Figura 5 - Proposta: modelo conceptual de organização da dinâmica do jogo de futebol. Pensamos que o presente modelo permite direcionar o processo de observação, com a finalidade de recolher informação precisa sobre o início, desenvolvimento(s) e final de acordo com MJO utilizado pela equipa em análise. Pretendemos criar uma proposta de organização dinâmica do processo ofensivo, esperando que a sua aplicação prática produza resultados capazes de controlar o processo, ou seja, através dos resultados, pretendemos intervir sobre o processo de treino verificando o seu desenvolvimento através da análise da dinâmica do jogo. Metodologia Para a realização do seguinte trabalho recorremos à metodologia observacional. O desenho do estudo foi do tipo seguimento (analisamos vários jogos), nomotético (estudámos duas equipas), multidimensional (existindo várias possibilidades de resposta). Utilizámos para a observação e análise o instrumento validado por Sarmento et al. (2010) que permite a extensa e pormenorizada análise dos métodos de jogo ofensivo. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 253 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE A amostra observacional é constituída por vinte e quatro jogos, doze da liga italiana, relativos a equipa do F.C. Internacional de Milão (IM) da época desportiva 2009-2010, e doze jogos da liga espanhola, da equipa do Real Madrid F.C. (RM), época desportiva 2010-2011.Tentando garantir a representatividade do diferentes contextos, para cada equipa foram observados seis jogos em casa e seis jogos fora. No que se refere a observação e registo dos dados o processo de observação fez-se atendendo a: i) Grau de cientificidade - recorrendo a observação ativa; ii) Grau de participação do observador - utilizamos a observação não participante; iii) Grau de percetividade através de observação indireta; iv) Níveis de resposta - estudamos condutas não-verbais. Recorremos à gravação de jogos televisionados. Como procedimento de registo, cada sequência ofensiva foi primeiramente observada e identificada seguindo-se o jogo com deslocação temporal normal. Posteriormente, voltou-se a observar a jogada, recolocando a linha de tempo no início da mesma, parando sempre que se verifica uma ação que deveria ser codificada. Na fase exploratória, aplicamos o instrumento em dois jogos: Inter x Bari, jogo da primeira jornada da Seri A 2009-2010, e Real Sociedad X Real Madrid relativo a terceira jornada liga BBVA 2010-2011. No que se refere aos procedimentos de interpretação, procedemos à análise e controlo da qualidade dos dados estudando a fiabilidade intraobservador e fiabilidade interobservadores que se verificou, por intermédio do índice de fiabilidade de Kappa18. Verificamos que todos os critérios possuem valores que garantem a fiabilidade da recolha dos dados (valores Kappa superiores a 0,89). Para o tratamento dos dados, recorremos técnica de análise sequencial de retardos19, utilizando o instrumento de análise - SDIS-GSEQ versão 5.0. Para Anguera (1990), a técnica de retardos “facilita senão a identificação direta e exata de padrões de ocorrência entre condutas, uma aproximação a elas”. Para Quera, (1993) na análise 18 O índice de fiabilidade de Kappa preconiza que para existir estabilidade entre observações, ou seja, para se verificar concordância no registo dos dados, o valor de Kappa para todos os critérios deve ser superior a 0,75 (Bakeman & Gottman,1989) 19 Para Anguera (1990), a técnica de retardos “facilita senão a identificação direta e exata de padrões de ocorrência entre condutas, uma aproximação a elas”. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 254 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE sequencial consideram-se dois tipos de condutas, conduta critério20 (CC) e a conduta objeto21 (CO). Este método operacionaliza-se através da eleição de uma determinada CC, posteriormente contabiliza-se as vezes ou o tempo em que determinada CO segue a CC no lugar de ordem seguinte, o qual supõe o primeiro retardo assim sucessivamente até chegar ao retardo máximo “max lag” que nos marca o fim do padrão de conduta para efeitos interpretativos, (Silva, 2004), ou seja, a correlação entre as referidas condutas, a CC poderá promover a ocorrência de uma determinada e CO. Analisamos os dados definindo as CC atendendo a divisão conceptual, ou seja, conduta de início, desenvolvimento e final. Procedemos ao estudo partindo da lógica do jogo, como tal o mesmo procedeu-se atendendo a possibilidade de ocorrência que cada CC poderia ter nas diferentes CO. Resultados Procederemos à apresentação e discussão dos resultados atendendo à clarificação das relações de interdependências verificadas. Analisamos os três métodos de jogo ofensivos atendendo à proposta de organização dinâmica do jogo de futebol, procurando descrever e interpretar os resultados, recorrendo às medidas de sequencialidade e as relações de dependência produzidas por cada equipa de acordo com a conduta critério. Para a criação dos grupos servimo-nos dos métodos de jogo ofensivo: contra-ataque, ataque rápido e ataque posicional. Atendendo à elevada quantidade de informação obtida sintetizaremos os resultados obtidos. Dentro de cada método de jogo ofensivo, agrupamos as condutas objeto. Para exposição dos resultados subdividimos em três subgrupos de análise: 1 - Inícios: i) inícios de forma aberta; ii) inícios de forma fechada. 2 - Desenvolvimentos, procurámos interpretar e estabelecer, uma relação entre os contextos espaciais ativados e as condutas critério. Com esse propósito dividiremos as condutas atendendo à caraterização espacial retrospetiva, com a finalidade de enquadrar comportamentos juntamente com as zonas do terreno de jogo onde 20 Para Quera, (1993), é a categoria a partir da qual na sequência de dados se contabilizam de forma prospetiva (para a frente), ou retrospetiva (para trás). 21 Quera, (1993), define a categoria até onde na sequência de dados se contabilizam as transições. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 255 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE ocorrem. Atendemos a criação de três campos: i) atendendo a (s) zonas do campo ativadas retrospetivamente; ii) ativação retrospetiva de contextos espaciais relativos ao setor médio ofensivo e ofensivo; iii) não ativação de qualquer zona do campo. 3 - Final da posse de bola: i) com sucesso; ii) sem sucesso. Passamos a descrever. 1- Contra-ataque Para o contra-ataque verificámos: 1.1 - Inícios: i) Inícios de PO de forma aberta: Identificamos alguns comportamentos, ativados posteriormente à recuperação da posse de bola, através de interceção de comportamentos com cariz essencialmente individual, como o drible ou a condução de bola. Relativamente aos contextos de caraterização espacial verifica-se a ativação de zonas do setor médio defensivo, médio ofensivo e setor ofensivo. ii) Inícios de PO de forma fechada: Através da análise sequencial supra mencionada, foi possível identificar alguns comportamentos de cariz mais coletivo. Parece-nos que quando as equipas recuperam a posse da bola por ação do guarda-redes e recorrem ao passe longo. Por sua vez, na interceção de bola por interrupção regulamentar verifica-se uma posterior ativação de passe curto/médio. 1.2 - Desenvolvimentos: i) Ativação retrospetiva de contextos espaciais relativos aos setores defensivo e médio defensivo, registamos diferenças entre as equipas contudo as condutas passe longo, duelo, condução são ativadas em comum. ii) No que se refere à ativação retrospetiva de contextos espaciais relativos ao setor médio ofensivo e defensivo, verificámos a ativação em comum do drible. Deveremos ainda ressalvar a relação, por parte da equipa do RM, de mais condutas relacionadas com a pré-finalização do MJO como o remate cruzamento e intervenção do guardaredes da equipa adversária. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 256 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE iii) Agrupamos condutas que não ativam qualquer zona do campo. Aferimos que as equipas partilham a não ativação de zonas do campo nas condutas receção/controle, passe curto/médio. Na equipa do IM registámos mais condutas que não ativam qualquer zonas do campo. 1.3 - Finais: i) Condutas de final de PO com sucesso. Constatámos a existência de uma grande variabilidade entre finais e entre equipas. Nos finais com golo, as equipas ativam a intervenção sem êxito do adversário. Os resultados demonstram que as equipas utilizam zonas e desenvolvimentos distintos. ii) Condutas de final de PO sem sucesso. Verifica-se a ativação de condutas essencialmente relacionadas, direta ou indiretamente, com o passe. 2- Ataque rápido Relativamente ao ataque rápido registamos: 2.1 - Inícios: i) Nos inícios de PO de forma aberta: aferimos diferenças entre as equipas: i) a não ativação de condutas por parte da equipa do IM, no início do PO por interceção e a ativação no RM; ii) a ativação de condutas que imprimem dinâmicas diferentes ao jogo, no início, por desarme. Em relação aos desenvolvimentos ativados, averiguamos a ativação do desenvolvimento por condução. ii) Nos inícios de PO de forma fechada: constatamos uma diferenciação vincada dos comportamentos entre equipas, principalmente na ativação de condutas comportamentais. A equipa do RM parece-nos recorrer a ações coletivas para desenvolver os inícios de forma fechada. Assim recorre a desenvolvimentos por passe curto/médio, receção/controle e passe longo. Por sua vez a equipa do IM ativa um desenvolvimento e este é de características individuais, o drible. 2.2 - Desenvolvimentos: i)Ativação retrospetiva de contextos espaciais relativos aos setores defensivo e médio defensivo, averiguamos a relação entre as condutas critério passe longo, condução e duelo às referidas zonas do campo. Registamos diferenças entre as equipas o IM ativa CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 257 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE paralelemente ações de incerteza relativa a continuidade da posse de bola a intervenção do adversário sem êxito, por sua vez o RM ativa o passe curto/médio. ii) No que se refere a ativação retrospetiva de contextos espaciais relativos ao setor médio ofensivo e ofensivo, e descrevendo as condutas que as equipas ativam, verificamos drible, intervenção do adversário sem êxito, cruzamento e remate. iii) Agrupamos condutas que não ativam qualquer zona do campo. A equipa do IM ativa maior quantidade de condutas que não se ativa retrospetivamente qualquer zona. As equipas ativam o desenvolvimento por ação do guarda-redes da equipa em fase ofensiva. 2.3 - Finais: i) Condutas de final de PO com sucesso. Verificámos que, os finais com remate ou com obtenção de golo demonstram maior imprevisibilidade, comparativamente ao final com o portador da bola, atingindo o quarto ofensivo de forma controlada. Constatámos que as equipas ativam poucos contextos espaciais. Nenhum dos contextos ativados é relativo a zona 11. ii) Condutas de final de PO sem sucesso. Aferimos que as condutas desenvolvimento através de passe longo e intervenção sem êxito do adversário são associadas a final do PO sem sucesso. 3- Ataque apoiado Relativamente ao ataque apoiado verificamos que: 3.1 - Os inícios: i) Nos inícios de PO de forma aberta constatamos que é mais ativado o desenvolvimento através de condução. Contudo, a ativação de condutas relativas a direção do passe, desenvolvimento por receção/controlo e ação do guarda-redes parecem indicar que as equipas recorrem à circulação de bola. ii) No que se refe aos inícios do PO de forma fechada, as equipas revelam tendências ofensivas distintas, mas recorrem com maior incidência a ações relacionadas com o passe 3.2 - Relação desenvolvimentos zona do campo ativada retrospetivamente: CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 258 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE i) Ativação retrospetiva de contextos espaciais relativos aos setores defensivo e médio defensivo como descrito nos MJO contra-ataque e ataque rápido, também no ataque posicional constatamos que as condutas critério desenvolvimento por passe longo e condução enquadram-se na premissa. ii) No que se refere a ativação retrospetiva de contextos espaciais relativos ao setor médio ofensivo e defensivo verificámos que as equipas ativam em comum desenvolvimentos por drible, remate, cruzamento e intervenção sem êxito do adversário. iii) Agrupamos condutas que não ativam qualquer zona do campo. No contra-ataque, ataque rápido e também no ataque posicional a equipa do RM, parece associar de forma superior ao acaso as condutas a uma zona do campo. Na equipa do IM, entendemos que o facto de as condutas não ativarem retrospetivamente qualquer zona deve-se à sua utilização de forma não superior ao acaso indicando maior flexibilidade na sua utilização. 3.3 - Finais: i) Condutas de final de PO com sucesso, relativamente aos desenvolvimentos as equipas ativam condutas diferentes. Contudo, verificamos a ativação de desenvolvimentos iguais, a conduta objeto desenvolvimento através de remate, ao nível do retardo -1 e -2. ii) Analisando as condutas, final de PO sem sucesso, verificamos que o desenvolvimento por passe longo, ou condutas relacionadas com a altura e direção de passe são várias vezes ativadas pelas equipas. Conclusões Tendo em conta o anteriormente exposto, chegámos as seguintes principais conclusões: i) Há pontos em comum, capazes de criar um laço unificador dentro de cada grupo e ao mesmo tempo capazes de os dissociar. Dos diferentes MJO não conseguimos definir dois grupos distintos início de forma aberta e início de forma fechada. Pensamos mais adequado a sua observação e análise de forma individual ou seja atendendo a caraterização existente na macro de observação; CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 259 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE ii)Estabelecer uma relação entre as condutas e a ativação retrospetiva de zonas do campo, permitiu-nos verificar: a. O papel que os diferentes desenvolvimentos têm nos diferentes MJO; b. Que cada equipa ativa retrospetivamente zonas diferentes atendendo ao desenvolvimento; c. Que se evidencia claramente ações relacionadas com o desenvolvimento do MJO e ações relacionadas com situações de préfinalização; iii)Relativamente aos finais do PO verificamos especificidade dentro de cada equipa e respetivos MJO. Pensamos que o sucesso ou insucesso deriva da forma como a equipa o realiza, adequando os inícios e os desenvolvimentos que condicionam o tipo de final; iv) Constatamos a existência de correlação que poderá indicar uma interpretação adequada do modelo conceptual por nós esquematizado, espelhando a dinâmica do jogo, e que perante a luz do conhecimento atual é fundamental o estudo dos comportamentos das condutas para o descrevemos com rigor. Contudo atendendo à amostra selecionada, pensamos que será necessário a realização de mais estudos com diferentes equipas, campeonatos e competições. A construção de modelos de organização geral da dinâmica de jogo, ideologia de jogo e a sua subjetividade, terá que assentar na flexibilidade. Com o propósito de criar/implementar modelos de jogo devem ser definidas um conjunto de guias de comportamento, por forma a verificar-se uma linguagem de interpretação comum. A construção de uma ideologia de jogo deve ser flexível, adequada aos hábitos que os jogadores são capazes de reproduzir. Referências Bibliográficas: Anguera, M. T. (1990). Métodología Observacional. In J. Arnau & M. T. Anguera (Eds.), métodología de la investigación en Ciencias del Comportamiento. Murcia: Secretariado de publicaciones de la Universidad de Murcia (pp. 125-236) Baker, R.; Gottman,J.M. (1989). Observación de la interaccion: introducción al análisis secuencial. Madrid: Ediciones Morata. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 260 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Bayer, C. (Ed.). (1994). O ensino dos jogos desportivos colectivos. Lisboa: Dina Livro. Barreira, D. (2006). Transição Defesa-Ataque em Futebol. 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Science and Futball II (215-220) Proccedings of the Second CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 261 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE World Congress of Science and Football Eindhoven. Netherlands, 1991. London: E & F.N. Spon. Oliveira, J. (2004). Conhecimento específico em futebol: contributos para a definição de uma matriz dinâmica do processo ensino aprendizagem-treino jogo. (Dissertação de mestrado). FADE-UP. Quera, V. (1993). Análisis secuencial. En M. T. Anguera (Ed.) Metodología observacional en la investigación psicológica (pp. 341-586). Barcelona: P.P.U. Sarmento, H., Anguera, T.; Campaniço, J. & Leitão, J. (2010). Developement and Validation of a Notational System to Study the Offensive Process in Football. Medicina(Kaunas), 46(6): 401-407. Silva, A. (2000, 5 de Janeiro). Análise das possibilidades de evolução do jogo de Futebol: necessidades e possíveis vias de progresso. 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A avaliação recíproca levada a cabo pelos alunos constitui-se como uma alternativa aos modelos de avaliação centrados no produto e com o professor como único mediador do processo. No presente documento desenhámos um instrumento adaptado do Games Performance Assessment Instrument (GPAI) que permite avaliar o conhecimento declarativo e processual através da compreensão táctica revelada pelos alunos nas respostas a um teste escrito e pelo desempenho em jogo ao longo do tempo com a aplicação de três unidades didácticas de basquetebol, andebol e futsal. Na comparação do grupo de controlo com o grupo experimental entre a avaliação de entrada e de saída, o grupo experimental (aquele que realizou a avaliação aos pares) melhorou significativamente em todos os indicadores avaliados ao longo da instrução das três unidades didácticas. Da mesma forma, podemos demonstrar que o modelo de avaliação construído permite a transferência de aprendizagens de uma unidade de ensino para outra, leccionada posteriormente, permitindo uma economia de tempo e esforço na transmissão de conteúdos estrutural e funcionalmente semelhantes. Palavras chave: avaliação de pares, conhecimento declarativo, conhecimento processual. Introdução De acordo com as mais recentes tendências da Educação Física a participação do aluno no processo de avaliação revela-se como um factor de motivação acrescido e de aprendizagem sem equivalente noutro âmbito das tarefas pedagógicas (Richard, Godbout & Gréhaigne, 2000). Assim, a observação aos pares de alunos será uma temática que colocaremos em evidência ao longo desta investigação. Nos últimos anos, assistimos, entre outros, ao desenvolvimento e à evolução de um novo instrumento de avaliação do desempenho dos alunos em desportos colectivos. O grupo de investigadores composto por Oslin, Michell & Griffin, (1998) desenvolveu um instrumento de observação e codificação dos comportamentos da performance (tomada de decisão, acções de apoio e execução das habilidades) que estão associados à resolução dos problemas tácticos dos jogos desportivos. Este CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 263 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE instrumento, de Game Performance Assessment Instrument, (GPAI), é sem dúvidas aquele que melhor atenção nos merece. Assim, a necessidade de conceber um instrumento de avaliação do desempenho individual dos alunos em desportos de invasão constantes dos programas nacionais de Portugal de Educação Física em situação real de jogo a partir de uma adaptação do modelo GPAI de Oslin, Michell & Griffin, (1998) e utilizando a observação de jogo realizada pelos pares de alunos constitui a problemática central do presente estudo, o que vem de acordo com as preocupações de alguns autores (Richard & Griffin, 2003; Nadeau, 2001; Richard, Godbout & Gréhaigne, 2000; Richard, 1998; Gréhaigne & Godbout, 1998; Méndez giménez, 1998; etc.). Este estudo tem como objectivo construir, aplicar e verifica a eficácia nas aprendizagens dos alunos do procedimento de avaliação em desportos colectivos (GPAI), criado por Oslin, Mitchell e Griffin (1998), para utilização no contexto de Educação Física escolar nas modalidades de basquetebol, andebol e futsal. Parecenos necessário conhecer mais sobre as repercussões pedagógicas da utilização do GPAI na modalidade de observação aos pares de alunos. Trazemos aqui ainda um tema que tem preocupado os especialistas, no âmbito dos jogos desportivos colectivos (JDC). A prática transferível dos JDC. A polémica gerada em seu torno tem sido alimentada, no nosso entender, pela proliferação de opiniões e convicções pouco fundamentadas e pela inexistência de conhecimentos provenientes de estudos de cunho científicos. Neste sentido, estamos de acordo com Garganta (1994) que refere não obstante a especificidade de cada um dos JDC, existem modalidades entre as quais é possível reconhecer semelhanças e, a partir daí, construir situações que permitem a assimilação de princípios comuns, recorrendo a meios e até a algumas técnicas comuns. Essas semelhanças estruturais e funcionais permitem agrupar, por exemplo, modalidades como o basquetebol, andebol e futebol. Desta forma os alunos através duma prática multiforme, asseguram a possibilidade de transferir as suas aquisições numa actividade, para outra modalidade. Contreras (1998), refere que a transferência diz respeito à forma como a aprendizagem de uma habilidade influência na aquisição de outras habilidades, de tal CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 264 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE forma que o que se aprende não é algo estritamente novo, mas sim uma nova combinação de habilidades e estratégias já adquiridas. Indiscutivelmente, uma das grandes finalidades do sistema educativo assenta sobre o conceito de transferência, uma vez que se pretende que os alunos adquiram e usem os novos conhecimentos, não só na situação concreta que acabaram de aprender, mas nas aulas subsequentes e acima de tudo no contexto da vida real/profissional (Oliveira, 2010). Se por um lado pretendemos demonstrar que a avaliação aos pares produz efeitos positivos nas aprendizagens dos alunos, por outro, não é menos verdade, que por essa via se conseguem transferir competências armazenadas na memória, para no contextos situacionais actual permitir respostas mais acertadas. No desporto, sobretudo na tomada de decisão, as situações novas aparecem quase constantemente, o que implica que se vão realizando adaptações, transferindo o que já se sabe, perante estes novos problemas. MATERIAL E MÉTODOS Amostra A amostra é composta por 48 alunos, divididos pelo grupo experimental (24 sujeitos) e pelo grupo de controlo (24 sujeitos), pertencentes a duas turmas do nono ano de escolaridade, que o autor do estudo leccionou no ano lectivo 2006/2007 na Escola EB 2,3 Maria Lamas, Porto, Portugal. As idades dos sujeitos variaram entre os 13 e os 16 anos. Objetivos O objetivo geral deste estudo consiste em verificar o impacto de um modelo de avaliação dos desportos de invasão na transferência de aprendizagens dos alunos ao longo do tempo, concebido e aplicado para o contexto de Educação Física escolar. Para a concretização deste propósito, procuramos alcançar os seguintes objetivos específicos: CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 265 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE identificar o impacto do modelo de avaliação na consciência táctica que os alunos detêm dos desportos de invasão (andebol, basquetebol e futsal); identificar o impacto do modelo de avaliação na tomada de decisão dos alunos em situação de jogo identificar o impacto do modelo de avaliação no rendimento global dos alunos ao longo do ano lectivo (aprendizagens transversais). Variável Dependente A variável dependente é o rendimento alcançado pelos alunos nos desportos de invasão (basquetebol, andebol e futsal) na Educação Física no seu conhecimento declarativo (rendimento cognitivo) e processual (rendimento motor). O conhecimento declarativo baseia-se na compreensão da natureza do jogo (aspectos regulamentares e princípios tácticos comuns) e no desenvolvimento da tomada de decisões (consciência táctica). O conhecimento declarativo foi medido mediante a aplicação de um teste escrito, e foram incluídos os dois tipos de questões processuais: o como executar habilidades (componente técnica) e quando as utilizar (componente táctica) ou de tomada de decisão. Estas questões, na sua maioria, foram retiradas do modelo de ensino de competências dos jogos de invasão, onde para cada uma das Formas básicas de jogo (FBJ), Formas parciais de jogo (FPJ) e Tarefas baseadas no jogo (TBJ) e respectivas estruturas parciais, os objectivos eram traçados sob a forma de pergunta (ESEP, 2005). O conhecimento processual baseia-se na execução motora, é saber como fazer algo. Trata-se de como realizar as diferentes ações desportivas, aos procedimentos que se empregam, às regras que se aplicam para solucionar os diferentes problemas que surgem nas situações desportivas (Ruiz e Arruza, 2005). Isto está relacionado especificamente com a resolução do problema e com a tomada de decisão, mas é baseado no conhecimento declarativo. O rendimento processual dos alunos foi medido através da observação do comportamento em jogo por parte de 3 expert mediante a aplicação do instrumento CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 266 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE GPAI. Para tal, desenhamos como instrumento de observação um formato de campo composto por dez categorias para observar a tomada de decisão e dez categorias para observar a execução das habilidades (Quadro 1). Quadro 1. Formato de campo utilizado Tomada de decisão Execução de Habilidades Recebe e enquadra-se com o alvo Lança se o alvo está ao seu alcance quando está sem marcação Passa a 1 companheiro livre em melhor posição Após passe, vai para o alvo Recebe com duas mãos com contacto visual A bola vai orientada com o alvo Progride para o alvo e lança quando tem caminho livre Movimentação sem a bola para criar linhas de passe Afasta-se do portador da bola Ocupa racionalmente o espaço Mantém a posição entre o jogador com bola e o alvo Não permite ou retarda a desmarcação do seu adversário A bola chega ao companheiro com precisão e velocidade adequada Consegue deixar para trás o seu adversário directo Progride com a bola controlada e sem cometer infracções Cria linhas de passe As suas movimentações produzem aclaramentos para o jogador com bola penetrar Garante amplitude e profundidade Consegue desarmar o adversário e impede a finalização O adversário directo não consegue criar linhas de passe FONTE: Mortágua (2007) Variável independente Modelo de avaliação dos desportos de invasão construído, contemplando a participação dos alunos numa perspectiva de coavaliação ou avaliação recíproca. Desenho da Investigação Grupo Experimental Grupo de controlo Apresentação de situações de jogo no que respeita a categorias de tomada de decisão e execução de habilidades Formação de observadores nas duas primeiras sessões Instrução da Unidade de ensino dos desportos de invasão Avaliação aos pares de alunos Avaliação pelos expert + Teste escrito CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 267 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Figura 1. Desenho da investigação (Mortágua, 2007) Análise estatística Para constatar se existem diferenças entre o grupo experimental e o de controlo no conhecimento declarativo e processual na avaliação de entrada e de saída utilizámos uma comparação de médias. RESULTADOS A apresentação dos resultados será efectuada de acordo com a especificidade da hipótese formulada considerando as cinco categorias nos três desportos estudados. Conhecimento Declarativo (teste escrito) O quadro 2 apresenta as médias de respostas certas ao teste escrito e a diferença de resultados entre o grupo experimental e grupo de controlo na avaliação de entrada e de saída nas três modalidades estudadas. Quadro 2 – Média de percentagens de respostas certas no teste escrito da avaliação de entrada e de saída, de ambos os grupos, valor da diferença e valor de p. Avaliação de entrada Med Med GE GC Dif. Basquetebol 66,66 69,38 Andebol 73,21 Futsal 77,02 Desporto Avaliação de saída Med Med p GE GC Dif. p -2,71 0,37 80,48 72,14 8,34 0,01* 71,79 1,42 0,67 84,85 77,52 7,33 0,01* 72,13 4,89 0,11 90,22 79,26 10,95 0,00* Recorrendo aos resultados expressos no quadro 2, vemos que o grupo experimental manteve a tendência crescente desde a primeira modalidade abordada até à última. Por sua vez, o grupo de controlo, com valores inferiores do número de respostas certas ao teste escrito, estagnou, com valores médios na casa dos 70%. A diferença entre os dois grupos situou-se entre os 7.33% e os 10.95% na avaliação final. Quando confrontamos a diferença de médias de respostas certas na avaliação de entrada entre os dois grupos verificamos que na modalidade de basquetebol é (– 2.71) com ligeira diferença positiva do grupo de controlo. Na modalidade de andebol a diferença CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 268 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE aumenta para 1.42 a favor do grupo experimental, atingindo na modalidade de futsal o valor máximo 4.89. Conhecimento Processual (Índice de Tomada de decisão) O Quadro 3 refere-se aos resultados médios dos valores do índice de tomada de decisão e à diferença de resultados entre o grupo experimental e grupo de controlo na avaliação de entrada e de saída nas três modalidades estudadas. Quadro 3 – Valores da média, diferença e p do índice de tomada de decisão, na avaliação de entrada e saída do grupo experimental e de controlo Avaliação de entrada Med Med Desporto GE GC Dif. Basquetebol 1,82 1,5 Andebol 2,42 Futsal 2,65 Avaliação de saída Med Med p GE GC Dif. p 0,32 0,25 5 2,93 2,06 0,00* 1,66 0,76 0,00* 5,98 2,94 3,05 0,00* 1,89 0,77 0,01* 6,53 2,82 3,71 0,00* No quadro 3, podemos observar o comportamento do índice de tomada de decisão dos dois grupos e constatar que o grupo experimental, que já se distinguia significativamente na avaliação final da primeira modalidade abordada, denota uma maior mudança nos resultados obtidos no final das três modalidades leccionadas, contribuindo para que na avaliação final exista uma maior diferença entre os dois grupos relativamente a este índice. A diferença entre os dois grupos situou-se entre os 2.06 e os 3.71 pontos na avaliação final. Quando confrontamos a diferença de médias do índice de tomada de decisão na avaliação de entrada entre os dois grupos verificamos que na modalidade de basquetebol é 0.32 pontos com diferença positiva para o grupo experimental. Na modalidade de andebol a diferença aumenta para 0.76 pontos, atingindo na modalidade de futsal, o valor máximo 0.77 pontos. Conhecimento Processual (Índice de Execução das habilidades) No quadro 4 são apresentados os resultados dos valores médios do índice de execução das habilidades e a diferença de resultados entre o grupo experimental e grupo de controlo na avaliação de entrada e de saída nas três modalidades estudadas. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 269 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Quadro 4 – Valores da média, diferença e p do índice de execução das habilidades, na avaliação de entrada e saída do grupo experimental e de controlo Avaliação de entrada Med Med Desporto GE GC Dif. Basquetebol 1,85 1,64 Andebol 2,4 Futsal 2,21 Avaliação de saída Med Med p GE GC Dif. p 0,21 0,51 3 2,41 0,59 0,13 2,01 0,39 0,22 4,09 2,68 1,41 0,00* 1,72 0,49 0,01* 3,47 2,65 0,82 0,09 Relativamente ao comportamento do índice de execução das habilidades nos dois grupos, entre as três modalidades estudadas, na avaliação final, podemos apurar que a média do índice de execução de habilidades no grupo experimental, apesar de sempre superior em relação ao grupo de controlo, tem uma tendência no mínimo estranha, visto ter aumentado muito com a segunda modalidade abordada (andebol) e ter diminuído bastante com a última (futsal). Quanto ao grupo de controlo, podemos constatar que a média do índice de execução das habilidades mantém-se praticamente a mesma ao longo das três modalidades leccionadas. Socorrendo-nos do Quadro 3 verificamos que a diferença entre os dois grupos situou-se entre os 0.59 e os 1.41 pontos na avaliação final. Quando confrontamos a diferença de médias do índice de execução das habilidades na avaliação de entrada entre os dois grupos, verificamos que na modalidade de basquetebol é 0.21 pontos com diferença positiva para o grupo experimental. Na modalidade de andebol a diferença aumenta para 0.39 pontos e atingindo na modalidade de futsal, o valor máximo de 0.49 pontos. Conhecimento Processual (Rendimento global) No Quadro 5 é possível verificar os resultados dos valores médios do rendimento global e a diferença de resultados entre o grupo experimental e grupo de controlo na avaliação de entrada e de saída nas três modalidades estudadas. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 270 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Quadro 5 – Valores da média, diferença e p do rendimento global, na avaliação de entrada e saída do grupo experimental e de controlo Avaliação de entrada Med Med Desporto GE GC Dif. Basquetebol 1,84 1,57 Andebol 2,41 Futsal 2,43 Avaliação de saída Med Med p GE GC Dif. p 0,27 0,34 3,99 2,67 1,33 0,01* 1,83 0,58 0,03* 5,04 2,81 2,23 0,00* 1,80 0,63 0,03* 5 2,73 2,27 0,00* Relativamente ao comportamento do rendimento global nos dois grupos, o grupo experimental obteve na primeira modalidade leccionada logo melhores resultados. Tendo de seguida, uma evolução significativa na segunda modalidade abordada (andebol) e estagnado na última (futsal). Quanto ao grupo de controlo, manteve os mesmos valores ao longo da abordagem das três unidades de ensino. A diferença entre os dois grupos situou-se entre os 1.33 e os 2.27 pontos na avaliação final. Quando confrontamos a diferença de médias do rendimento global na avaliação de entrada, entre os dois grupos verificamos que na modalidade de basquetebol é 0.27 pontos com diferença positiva para o grupo experimental. Na modalidade de andebol a diferença aumenta para 0.58 pontos, atingindo na modalidade de futsal, o valor máximo 0.63 pontos. Os resultados relativos a esta categoria foram os esperados na medida que decorrem da fórmula (RG= (ITD + IEH)/2) e conforme se constatou a categoria, índice de tomada de decisão, apresenta valores muito elevados a favor do grupo experimental. Conhecimento Processual (Envolvimento em jogo) O Quadro 6 apresenta os resultados dos valores médios do envolvimento em jogo e a diferença de resultados entre o grupo experimental e grupo de controlo na avaliação de entrada e de saída nas três modalidades estudadas. Quadro 6 – Valores da média, diferença e p do envolvimento em jogo, na avaliação de entrada e saída do grupo experimental e de controlo Avaliação de entrada Desporto Med Med GE GC Dif. p Avaliação de saída Med Med GE GC Dif. p CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 271 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Basquetebol 6,24 6,5 -0,25 0,46 8,42 8,06 1,33 0,27 Andebol 6,77 7,16 -0,39 0,30 8,31 7,94 2,23 0,03* Futsal 6,82 7,05 -0,23 0,52 8,15 7,46 2,27 0,05* Quando o Quadro 6, relativamente ao envolvimento dos alunos em jogo no grupo experimental e de controlo, entre as três modalidades investigadas, podemos verificar que a média do envolvimento em jogo dos alunos do grupo experimental é superior nas avaliações finais realizadas para cada um dos desportos. Podemos ainda apurar, que a média do envolvimento em jogo dos dois grupos mantém-se praticamente constante nas avaliações finais, apesar de um decréscimo na modalidade de futsal para ambos os grupos e mais acentuado no grupo de controlo. A diferença entre os dois grupos situou-se entre os 0.36 e os 0.74 pontos na avaliação final. DISCUSSÃO Na presente investigação analisámos o impacto da avaliação recíproca levada a cabo pelos alunos no desenvolvimento de três unidades didácticas de basquetebol, andebol e futsal sobre o conhecimento declarativo e processual alcançado ao finalizar as mesmas, e por conseguinte se se verifica transferência de aprendizagens entre as referidas unidades didácticas. Concretamente mediante o estudo procurámos indagar o impacto do modelo de avaliação construído sobre o conhecimento táctico, a execução das habilidades técnico-tácticas, a tomada de decisão e o rendimento global dos alunos e o seu envolvimento no jogo em situação real de jogo. A hipótese formulada na presente investigação considera que a participação dos alunos no processo de observação do desempenho dos pares contribui para a melhoria do rendimento global ao longo do tempo, na medida em que os resultados obtidos na observação do desempenho ao longo do ano lectivo melhoram significativamente no grupo experimental, tanto na avaliação de entrada como da de saída, e da avaliação da primeira modalidade leccionada (basquetebol) para a última (futsal) em relação ao grupo de controlo. Os resultados deste estudo confirmam esta hipótese, já que na avaliação de saída os alunos do grupo experimental alcançaram sempre valores mais altos nas variáveis CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 272 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE consideradas do que o grupo de controlo, nomeadamente no resultado dos testes escritos com uma diferença de 8,34% no basquetebol, 7,33% no andebol e 10,95% no futsal; no índice de tomada de decisão com diferenças de 2,06 pontos no basquetebol, 3,05 pontos no andebol e 3,71pontos no futsal; no índice de execução das habilidades com diferenças entre os grupos de 0,59 pontos no basquetebol, 1,41 pontos no andebol e menos significativa no futsal, contudo, de 0,82 pontos; relativamente a variável rendimento global, sendo RG= ITD+IEH/2, influenciada principalmente pelos resultados do índice de tomada de decisão também foi visível um incremento de aprendizagens. Assim, 1,33 pontos no basquetebol, 2,23 pontos no andebol e 2,27 pontos no futsal. Por último o envolvimento em jogo revelou uma diferença de 1,33 pontos no basquetebol, 2,23 no andebol e 2,27 pontos no futsal. A existência de diferenças estatisticamente significativas entre os grupos na avaliação de entrada no andebol e futsal pode justificar a transferência de princípios de jogo desenvolvidos na modalidade anterior e, igualmente, a aprendizagem que o grupo experimental adquiriu com o modelo de avaliação aplicado. Estes resultados estão na mesma linha de outros estudos (Turner et al., 1992; Griffin et al., 1995; Mitchell et al., 1995, Turner et al., 1995; French Werner, Rink et al., 1996; French Werner, Taylor, et al., 1996; Turner et al., 1999; Rovegno, Nevett y Babiarz, 2001), nos quais o grupo experimental evidenciou uma maior evolução no rendimento individual em comparação com o grupo de controlo. De acordo com Ricardo, De La Torre e Velázquez (2001), em vez de considerar o ensino e a aprendizagem de uma determinada modalidade desportiva como se faz habitualmente no processo de desenvolvimento das capacidades tácticas e técnicas dos alunos e de repetir sequencialmente o mesmo processo com outras modalidades, utilizam-se em paralelo diferentes modalidades desportivas que possuem princípios tácticos comuns e estruturas de jogo similares e portanto, a mesma lógica interna, com a finalidade de iniciar o desenvolvimento das correspondentes capacidades tácticas nos alunos. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 273 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE CONCLUSÕES A aplicação de um modelo de avaliação dos desportos de invasão na aprendizagem dos alunos do 3º ciclo do ensino básico produziu resultados interessantes que poderiam conduzir cada vez mais professores a adoptarem esta estratégia pedagógica nas suas aulas de Educação Física. As vantagens associadas à aprendizagem de técnicas de observação e o desenvolvimento do pensamento crítico podem constituir-se de grande importância na formação desportiva dos alunos. Como se verificou nesta investigação, inclusive com um curto período de formação e treino como observadores na aplicação prática do GPAI, é possível obter resultados positivos nos processos de formação dos alunos. Tanto no conhecimento declarativo como no processual o método de ensino baseado no modelo de avaliação adaptado do GPAI com a participação dos pares na observação do desempenho dos alunos em jogo permite alcançar melhores resultados. O índice de tomada de decisão é francamente a categoria que apresenta maior incremento e sempre progressivo ao longo de um ano escolar o que indicia que as percepções de tomada de decisão transferem-se de um desporto para outro, e mais, apresentam nos desportos de invasão características similares sendo que os professores de Educação Física muito beneficiam com a avaliação recíproca realizada pelos pares de alunos na medida em que facilita a sua tarefa sempre difícil e morosa de avaliar produzindo aprendizagens transferíveis de um desporto para outro. O efeito da transferência de princípios gerais de jogo ficou bem patente no grupo experimental que revelou uma progressão contínua em todas as modalidades e em todas as categorias. Com efeito, os alunos podem adquirir conhecimentos e consciência táctica e melhorar o seu desempenho numa perspectiva horizontal dos desportos de invasão se participarem no processo de avaliação do desempenho em jogo dos companheiros, definindo uma estratégia pessoal a desenvolver quando passarem à posição de jogadores. Griffin et al. (1997) referem a propósito da transferência dos conhecimentos adquiridos pelos alunos, que podem transferir a sua compreensão entre os diversos desportos com as mesmas características. Como os jogos dentro da mesma categoria, contêm CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 274 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE muitos problemas tácticos similares, é possível o entendimento dos conteúdos de jogo para que os alunos possam transferi-los para jogos similares, reduzindo o tempo necessário para se converterem profícuos em novos jogos desportivos. Assim, ao nível do ensino dos desportos de invasão na escola, parece ser conveniente construir, nas fases iniciais da aprendizagem, uma metodologia que favoreça a assimilação de princípios comuns aos desportos de invasão estrutural e funcionalmente semelhantes. BIBLIOGRAFIA Contreras, O. (1998): Didáctica de la Educación Fíisca: Un enfoque constructivista. Inde. Barcelona ESEP (2005). New didactics in teaching ganes with applications to basketball and team handball. On ESEP (CD-Rom). Macromedia. Inc. French, K. E., Nevett, M. E., Spurgeon, J. H., Graham, K. C., Rink, J. E. y McPherson, S. L. (1996). Knowledge representation and problem solution in expert and novice youth baseball players. Research Quarterly for Exercise and Spor, 67(4), 386-395. French, K., Werner, P., Taylor, K., Hussey, K. y Jones, J. (1996). The Effects of a 6 – Week Unit of Tactical, Skill, or Combined Tactical and Skill Instruction on Badminton Performance of Ninth- Grade Students. 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CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 276 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Richard, J. e Griffin, L. (2003): Authentic Assessement in Games Education: An Introduction to Team Sport Assessmnet Procedure and the Game Performance Assessment Instrument. In. Teaching Games for Understanding. In Physical education and sport. Joy Butler, Linda Griffin, Bem Lombard e Richard Nastasi editors, AAHPERD Publications. U.S.A. pág. 155 – 166. Ruiz Pérez, L. e Arruza, J. (2005): El proceso de toma de decisiones en el deporte. Clave de la eficiencia y el rendimiento óptimo. Paidós Educación física, Barcelona. Turner, A., Martinex, T. (1992): A comparative analysis of two models for teaching games (technique approach and game centered (tactical focus) approach). Internacional journal of physical education (schorndorf, FRG) 29(4), 4th quarter 1992, 15 31 Refs: 35. Turner, A. y Martinek, T. (1995). 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CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 277 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE JOGO E DESENVOLVIMENTO MOTOR O LÚDICO COMO OPTIMAL EXPERIENCE Alberto Nídio Silva Centro de Investigação em Estudos da Criança Instituto de Educação Universidade do Minho – Braga - Portugal Resumo Todo o compromisso que envolva uma determinada tarefa desafiante para um sujeito dado, que provoca uma retroação imediata indicativa da forma competente como está a ser desempenhada, indutora, consequentemente, da tomada de atitudes conformes à situação que possibilitam um controlo efetivo sobre as suas ações, fruto de uma concentração tão intensa que não deixa lugar a nenhumas distrações ou preocupações consigo, de tal forma que, não raras vezes, tem uma noção trocada do tempo, constitui uma optimal experience (Experiência ideal, perfeita) (Csikszentmihalyi, 2000 e 2004). Na peugada de Brougère (2005), que, para o efeito, se serve dos estudos de Csikszentmihalyi (1979), podemos considerar que a brincadeira, na multitude das configurações que pode adquirir, ao propiciar a realização de experiências lúdicas voluntárias, autotélicas e desligadas da vida real, torna-se num poderosos instrumento propiciador de uma praxis que a montante se pode constituir como compensação para a falta de flow (fluxo – acto de fluir; escoamento ou movimento contínuo de algo que segue um curso) na vida de todos os dias e, nesse sentido, veiculá-lo a jusante naquilo que é capaz de produzir enquanto (en)formador de crianças cada vez mais implicadas nas tarefas do quotidiano, portadoras de personalidades sólidas sustentadas numa autoestima que transmita grande segurança às suas ações e, concomitantemente, maiores probabilidades de as lograrem terminar com pleno êxito. A partir de um excerto das entrevistas coletivas tirado de um estudo qualitativo alargado (Silva, 2012) envolvendo famílias de condição sociodemográfica diferenciada onde coexistiam quatro gerações vivas, exemplificaremos quanto o envolvimento apaixonado em atividades que as crianças perseguem com denodado espírito lúdico de conquista pode, no domínio em apreço, representar. Nascerá por aí um contributo importante para a construção de uma cultura de busca de objetivos pelo esforço, quantas vezes sofrido, com que se procura atingir uma dada meta, num processo de seminal importância na formação para a vida adulta que a cada criança deve ser propiciado. Palavras-chave – Lúdico, brincadeira, flow, optimal experience Notas introdutórias É tão impossível de perceber o quotidiano de uma criança donde o lúdico se encontre arredio, como o é, concomitantemente, falar-se de um processo de socialização sem que essa componente primordial das culturas da infância se constitua e aí assuma CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 278 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE como seminal para que o tempo de preparação para a adultez não fique severamente amputado na estrutura que o deve consumar sem que nada de significativo para o seu sucesso fique por realizar (Grigorowitschs, 2009; Neto, 1998; Piaget, 1975). O trabalho que aqui se dá a conhecer traz à colação a importância das experiências lúdicas mais exigentes na sua consecução quando olhadas de viés através da consistência dos dados revelados pelos estudos da psicologia evolutiva, que alguns sociólogos e antropólogos contemporâneos avocaram para a ementa das suas investigações e ensaios feitos a partir delas. Fica no fim o doce amargo duma realidade de que as crianças deveras gostam mas que cada vez menos oportunidades têm de vivenciar pelo estreitamente das nesgas que a institucionalização massiva das suas vidas as vai impedindo de livremente usufruir. Enquadramento teórico Provindo da psicologia positiva e, como anotam Cavalli-Sforza e Cavalli-Sforza (2002), utilizado por alguns sociólogos contemporâneos, o termo inglês flow22 serve para designar o estado comum às pessoas que retiram uma elevada satisfação da vida, que lhes proporciona a vivência de momentos de grande felicidade recompensadores das conquistas que, por si só e, quantas vezes, após esforços denodados, lograram atingir: em estado de fluxo, o indivíduo envolve-se profundamente no que está a fazer (ainda que apenas mergulhado numa atividade contemplativa) e durante a execução da tarefa apenas com ela se encontra sintonizado, nada mais à sua volta parecendo interessar-lhe (e.g., a experiência do alpinista, do velejador, do cirurgião, do jogador de futebol, do ciclista…). Nos seus trabalhos de campo, Csikszentmihalyi (2000) descreve minuciosamente os processos que induzem estados de fluxo no corpo, no pensamento, nas relações societárias, na atividade laboral, no desporto, na brincadeira, no lazer, etc., demonstrando como todos a eles podem aceder, constituindo-se naquilo que representam para a formação do sujeito como parte integrante do património cultural 22 Fluxo: acto de fluir; escoamento ou movimento contínuo de algo que segue um curso (cf. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, p. 1766. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 279 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE de cada ser humano. Para a plena vivência e afirmação de uma ‘experiência de fluxo’ importa que ela contenha os seguintes traços: Que seja realizada, plenamente conseguida nos seus propósitos originais e, consequentemente, logre atingir o fim a que se destinou, constituindo, nessa conformidade, um desafio a exigir uma atitude particular do sujeito; Que implique e envolva o sujeito numa concentração total no conjunto de todas as tarefas a executar; Que essa concentração seja consequência da forma clara como a tarefa e as metas que com ela se pretendem atingir se apresentam; Que o desenrolar da tarefa ofereça ao sujeito uma retroalimentação imediata através da qual a performance da acção executada possa a cada instante ser corrigida e coadunada com o intento de reforçar o seu desempenho, de forma a que, assim, seja possível buscar e atingir os melhores resultados; Que se verifique um profundo compromisso e consequente envolvimento do sujeito na tarefa sem que para tal por si seja necessário desenvolver qualquer esforço a tal atinente, de tal forma que, no decurso dela, afaste da sua consciência as preocupações e frustrações da vida quotidiana; Que, pelo que de agradável a experiência tem, permita aos sujeitos experimentarem um sentimento de controlo efetivo sobre as suas ações; Provoque o desaparecimento da preocupação do sujeito para consigo próprio, ainda que, paradoxalmente, o sentimento acerca da sua própria personalidade surja mais forte depois da experiência de fluxo; Que pela amplitude da imersão do sujeito na acção a percepção de duração do tempo se altera substancialmente, as horas passem em minutos e os minutos possam prolongar-se até parecerem horas. Nesta conformidade, todo o compromisso que envolva uma determinada tarefa desafiante para um sujeito dado, que provoca uma retroação imediata indicativa da forma (in)competente como está a ser desempenhada, indutora, consequentemente, da tomada de atitudes conformes à situação que possibilitam um controlo efetivo sobre as suas ações, fruto de uma concentração tão intensa que não deixa lugar a nenhumas distrações ou preocupações consigo, de tal forma que, não raras vezes, CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 280 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE tem uma noção trocada do tempo, constitui uma optimal experience”23 (Csikszentmihalyi, 2000; 2004). Já todos experimentamos situações em que sentimos um controlo real das nossas ações e com isso a sensação de sermos donos do nosso próprio destino dentro de uma sociedade onde somos agredidos todos os dias. Por essas alturas fomos invadidos por um profundo sentimento de alegria, que nos marca de uma forma indelével, porque nos mostra um lado prazeroso da vida. Essas experiências ‘óptimas’ são transversais a todos os povos, estratos sociais e a todas as culturas e constituem algo que, por partir da nossa acção empenhada, fazemos que aconteça nas suas mais diversificadas formas. Para uma criança, uma experiência ‘óptima’, muito boa e, enquanto tal, ideal para o seu processo de formação, pode ser pôr com as suas mãos trémulas o último bloco de uma torre que construiu, mais alta ainda que todas as que construíra até então, como para um nadador pode ser desafiar os seus próprios limites batendo um seu recorde que de outrem anteriormente já lograra derrubar 24. Para Csikszentmihalyi (2000; 2004), as atividades autotélicas25 encerram os condimentos necessários para a emergência de uma experiência ‘óptima’ dada a sua autocentralidade e consequente irrelevância para além do efeito sobre si própria (perder um jogo de ténis pode não ser muito grave). Assim, os jogos, todos os jogos26, 23 Experiência ideal, perfeita (cf. Infopédia, Porto: Porto Editora, em http://www.infopedia.pt/inglesportugues/optimal). Na versão castelhana a tradução é literal: experiência óptima, como superlativa de boa (cf. Csikszentmihalyi, 2000). 24 Tais experiências não têm que ser necessariamente agradáveis no momento em que ocorrem. Os músculos do nadador podem ter doído durante a corrida memorável, os seus pulmões podem ter estado prestes a explodir e talvez haja sofrido de um pouco de enjoo e fadiga; contudo, podem ter sido os melhores momentos da sua vida. Ter o controlo da vida nunca é fácil e às vezes pode ser doloroso, mas a longo prazo as ‘experiências óptimas’ acrescentam um sentimento de mestria (ou melhor dizendo, um sentimento de participação ao determinar o conteúdo da vida) que está tão perto do que queremos normalmente dizer como felicidade, como qualquer outra coisa que possamos imaginar” (Csikszentmihalyi, 2000) 25 A palavra autotélico deriva de duas palavras gregas: auto, que significa em si mesmo, e telos que significa finalidade. Nesta conformidade, uma experiência autotélica é a que não apresenta qualquer finalidade ou objectivo fora ou para além de si mesma. (Cf. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa). 26 A partir da classificação dos jogos postulada por Caillois (1990) – Agon (jogo de competição), Alea (jogo de azar), Ilinx (jogo de vertigem) e Mimése (jogo de imitação) – e usando a palavra jogo em sentido mais amplo para incluir nela todas as formas de actividade agradável, Csikszentmihalyi considera que “se pode dizer que os jogos oferecem oportunidades para ir mais além dos limites da experiência ordinária de quatro maneiras diferentes: Nos jogos agonísticos, o participante deve tirar o máximo das suas habilidades para enfrentar o desafio que lhe colocam as habilidades dos seus adversários (competir significa buscar juntos, lembra-o Caillois). O que cada jogador busca é tornar efectivos o seu potencial, e esta tarefa realiza-se mais facilmente quando os demais nos forçam a fazê-lo o melhor que possamos. Com CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 281 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE os desportos, a escalada, a construção com legos, constituem alguns bons exemplos de atividades susceptíveis de produzirem nos seus atores verdadeiros estados de fluxo conducentes a experiências óptimas indutoras de estados de felicidade e bemestar nos sujeitos que as praticam, assumindo-se, concomitantemente, como um valoroso contributo para o crescimento da sua personalidade. Nos tempos de lazer podemos encontrar espaço para a emergência de atividades potenciadoras destas experiências, onde, naturalmente, está reservado aos jogos um papel modelar para a sua prossecução. A experiência lúdica na infância tem associada à sua emergência uma relação muito estreita e intensa com o princípio do prazer, que pelo poder que exerce sobre o jogo se constitui como uma das razões mais profundas para explicar a forma quase inconsciente que impele a criança para o jogo e, como, facilmente, se pode ainda hoje constatar algures por aí, a nele se embrenhar de tal forma que nada mais lhe importa do que à sua volta possa acontecer para além do próprio jogo, que pela sua futilidade nada alterará na sua vida. Buhler teorizou27 há décadas atrás que “o prazer da função certeza, a competição melhora a experiência unicamente enquanto a atenção está enfocada primariamente sobre a atividade em si mesma. Se as metas extrínsecas – tais como vencer os adversários – são apenas o que preocupa, então é provável que a competição se converta numa distração, em lugar de ser um incentivo para enfocar a consciência sobre o que sucede. Os jogos de azar são agradáveis porque nos dão a ilusão de controlar o futuro que não vemos; A vertigem é a maneira mais direta de alterar a consciência. Às crianças pequenas encanta-as dar voltas em círculo até enjoar; A imitação faz-nos sentir que somos mais do que somos na realidade através da fantasia, da vaidade e do disfarce. Nos nossos estudos, lembra o autor, constatamos que toda a atividade de fluxo que envolvesse a competição, o azar, ou qualquer outra dimensão de experiência, tinha isto em comum: oferecia uma sensação de descobrimento, um sentimento criativo que transportava a pessoa para uma nova realidade. Empurrava o sujeito até aos níveis mais altos de rendimento e conduzia a estados de consciência que não havia experimentado antes. Em suma, transformava a personalidade tornando-a mais completa. Neste crescimento da personalidade está a chave das atividades de fluxo” (2000); 27 As principais teorias do jogo estão agrupadas em duas grandes áreas: as teorias clássicas encerram a teoria de Spencer (o jogo como consumidor da energia sobrante), a teoria de Hall (o jogo como recapitulação dos estados evolutivos da espécie humana), a teoria de Groos (o jogo como préexercício de preparação para a vida, partindo da teoria de Darwin – sobrevivem as espécies que melhor se adaptem ao meio) e a teoria de Lazarus (o jogo como distensão ou recuperação do e para o trabalho); as teorias modernas comportam a teoria de Buytendijk (o jogo objecto – o jogo é jogar com algo), a teoria de Freud (o jogo como catarse, como projecção de desejos e também como uma representação de conflitos e sucessos desagradáveis com o fim de dominá-los), a teoria de Piaget (o jogo como processo de assimilação e integração nas estruturas prévias de novas e progressivas competências correlativamente ao desenvolvimento da inteligência),a teoria de Buhel (o jogo como prazer funcional), a teoria de Berlyne (o jogo carece de uma finalidade que lhe é intrínseca), a teoria de Vygotsky (o jogo como realidade mutável e sobretudo impulsionadora do desenvolvimento mental da criança), a teoria de White (a causa e explicação do jogo é a necessidade de produzir efeito no ambiente CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 282 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE de jogar não está vinculado à mera repetição dos atos, mas ao progresso que se vai conquistando na função e no controlo e domínio da mesma” (1935 apud Llera, 1991: 19), revelando e relevando sobretudo e sobre todos os demais componentes a importância predominante que o desfrute do prazer que o domínio progressivo e competente das regras e técnicas do jogo representam para a criança e o quanto lhe apraz ser agente pela sua acção dessa própria descoberta. Assim sendo e tido o lado essencialmente prazeroso do jogo (Llera, 1991) e respigados os postulados que em torno da construção dos caminhos conducentes à identificação de uma psicologia da felicidade, que os estudos de Csikszentmihalyi atrás sintetizados procuram desvendar, sustentando-se para tal na teoria do flow como suporte estruturante de experiências que podem conduzir a estados de realização pessoal e bem-estar, e que, enquanto tal, se podem revelar como ideais e, paralelamente, como verdadeiros suportes da vida real, Brougère (2005) entende que o jogo infantil congrega todos os pressupostos para se constituir como espaço para a realização de uma experience optimale28, enquanto arena onde as crianças buscam incessantemente o estatuto de mestres brincantes, que lhes confere a capacidade de jogar de uma forma competente e, dessa forma, colher o prazer que as conquistas lúdicas alcançadas faz seguramente emergir como recompensa do seu empenho em conseguir tal desiderato, o que a torna feliz e possuída de uma agradável sensação de bem-estar e felicidade pessoais. Na peugada de Csikszentmihalyi (1979), corroborada por Brougère (2005), podemos considerar que a brincadeira e, sobretudo, o jogo de regras, ao propiciar a realização de experiências lúdicas voluntárias, autotélicas e desligadas da vida real, constituem poderosos instrumentos para veicular uma praxis que a montante se pode constituir como compensação para a falta de flow na vida de todos os dias e a jusante como uma preparação para o flow da vida de todos os dias, naquilo que são capazes de produzir enquanto enformadores de crianças cada vez mais implicadas nas tarefas do quotidiano, portadoras de personalidades mais sólidas sustentadas numa – capacidade de interactuar efetivamente com o meio ambiente), e a teoria de Secadas (as etapas evolutivas superam-se mediante um processo de eliminação selectiva das experiências assimiladas para aprontar outras novas (síntese feita a partir de Llera, 1991) 28 Brougère (2005) opta pelo ‘afrancesamento’ da palavra inglesa (Optime optimale). CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 283 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE autoestima que transmita grande segurança às suas ações e, concomitantemente, maiores probabilidades de as lograrem terminar com pleno êxito. Lavega (1998) vê, por isso, numa aprendizagem lúdica colectiva pautada pelo princípio do prazer e que, consequentemente, cultive nas crianças o desejo de desfrutar e divertir-se com o jogo, o melhor caminho para a concretização de experiências criativas vividas conjuntamente com intensidade do princípio ao fim, cumprindo-se nelas, também e desse modo, a função de verdadeiro educador que lhe está inerente. Proporcionar um ambiente que apoie e estimule as crianças a desenvolver atividades onde sentem que podem com toda a segurança elevar gradualmente os desafios lúdicos que as brincadeiras e os jogos lhes colocam, proporcionando a possibilidade de desenvolver as suas habilidades e competências lúdicas, despertará a sua curiosidade e encorajará o desejo de explorar novas possibilidades, impedindoas, nesse sentido, de se entregarem tão frequentemente a distrações passivas. Ensinar as crianças a retirar prazer dos jogos e das brincadeiras é, em suma e como recomenda o Institut Canadien de la Recherche (2009), convidá-las a neles se envolverem de uma forma cada vez mais intensa e regular e mostrar-lhes que despendendo um pouco de energia nas suas brincadeiras terão uma experiência mais satisfatória e gratificante do que a que lhes advém do envolvimento em qualquer coisa que é fácil e aborrecida de realizar. O lúdico como Optimal Experience Num pequeno detalhe extraído de um estudo qualitativo mais alargado (Silva, 2011) que envolveu um conjunto de dez famílias provenientes de estratos sociais diferenciados do meios urbanos citadino e de uma pequena vila do interior e do meio rural intermédio e profundo, todos localizados no Baixo Minho, onde existiam quatro gerações vivas que ouvimos em entrevistas coletivas a contarem-se nos tempos em que cada um foi criança (no conjunto foram entrevistados oitenta e dois indivíduos), podemos perceber como numa brincadeira saída de um desejo indómito de uma criança proveniente do segundo estrato geracional ouvido, se consubstancia a emergência de um estado de envolvimento total potenciador da vivência de uma CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 284 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE experiência perfeita, ideal para de per si ser susceptível de se constituir como indutora no ator da convicção de que a busca do esforço denodado e a persistência que parece afrontar os seus limites de resistência física e psicológica, é capaz de ajudar a vencer uma tarefa ou desafios dados e mesmo, quando com tal confrontado, triunfar perante as vicissitudes da vida quotidiana. Não nos passou, então, despercebida a transversalidade com que o fenómeno da bicicleta percorre o espectro do universo dos informantes da pesquisa em toda a sua dimensão contextual. A seu tempo, nada mais desafiante para uma criança do que adquirir a destreza que lhe permite domar o artefacto de duas rodas inventado há pouco mais de um século, tarefa deveras exigente e não raras vezes cheia de atropelos pelo caminho. Foi temerário o percurso em que o Adelino Oliveira, um dos entrevistados que se nos contou a partir da criança que há meio século foi na cidade de Braga, se abalançou para atingir o velho desiderato que faltava na ementa da sua vasta cultura lúdica, metendo-se literalmente por caminhos que extravasavam a sua competência velocipédica de então, fixado que estava por essa altura numa inultrapassável vontade de usufruir do prazer de dominar a máquina, o tempo e a distância. Numa narrativa deveras assertiva contou que O filho do Isaltino que morava à beira dos Congregados… lá está…tinha uma bicicleta, o que eu sempre imaginei poder vir a um dia ter. Quando num ano vim de férias do seminário cheguei a saber que o meu pai tinha comprado uma bicicleta, que tinha estado lá em casa uns dias, mas minha mãe…’tal, o rapaz vai-se matar com a bicicleta… tal’..., e… tratou de despachar a bicicleta. Isso para mim foi uma machadada, foi um desgosto tremendo…sonhava com a bicicleta…muitas vezes, sem nunca a ter visto, imaginava, até, de que cor é que era, o que tinha e…tal… Era a bicicleta e…aquele amigo da Avenida Central, morava ali, era só atravessar a rua, vinha muitas vezes com a bicicleta e cedia, deixava-me andar quando lhe pedia às vezes e…ah! O que mais queria o Adelino, infere-se das suas palavras, passava pela expectante possibilidade de um dia poder estar por conta própria perante tão desejado e aliciante desafio. Tinha passado do sonho a uma realidade apenas de quando em vez concretizada, mas, contudo, capaz de atenuar o desgosto que lhe causara a intransigência de sua mãe na aceitação de uma oferta do pai que o iria aguardar para estrear e usar numas férias escolares. Houve um dia, porém, que a oportunidade surgiu de forma inopinada, como no-lo contou: CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 285 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Mais tarde, já para aí com 15 anos, numa altura em que estava na praia com uns tios e era necessário fazer um recado, a bicicleta foi o recurso para ir da Apúlia a Vila do Conde…sem grande experiência de andar na estrada…fiquei todo partido, cheguei de noite, sem ninguém saber de mim, mas…a bicicleta!...foi a grande oportunidade para…hum! O Adelino, por entre sonhos e desilusões, acalentou sempre o desejo de um dia poder viver uma aventura velocipédica, por ele, sem mais ninguém por perto a tolher a liberdade com que desejava fazê-lo. A experiência autotélica que teve ensejo de realizar numa feliz oportunidade que circunstancialmente lhe surgiu num dia de veraneio de umas férias grandes que corriam à beira mar, conjugou a um mesmo tempo a bicicleta, no recado de que fora incumbido a oportunidade ansiada de com ela ficar por sua única companheira de aventura, a consequente entrega plena à tarefa com que se comprometera e a vontade de a lograr cumprir com êxito, a perda da noção do tempo de tão absorto que ficara, o esforço titânico levado ao sofrimento que a sensação de corpo “todo partido” bem demonstra, permitiram ao Adelino viver uma experiência que constituiu “a grande oportunidade” para cumprir um velho desiderato. Foi num estado de fluxo (Csikszentmihalyi, 2000) que a viveu e com sofrido regozijo concretizou plenamente, noite adentro e, momentaneamente, algures perdido da sua gente. Mas, conseguiu! Síntese Conclusiva As crianças sempre brincaram e, por muito que as coisas mudem, sempre o irão continuar a fazer. Faz parte da sua condição e uma infância onde as crianças não brincassem pereceria na sua essência e com ela pereceriam a breve trecho muitos dos contributos que daí chegam connosco à vida adulta com naturais reflexos na estrutura formativa de todos nós. O sentido lúdico que marca a vida das crianças e a forma como aí reinterpretam o mundo dos adultos, constitui-se, tantas vezes, como campo privilegiado para a emergência de experiências de extrema complexidade e, quantas delas, pejadas de obstáculos que cada uma procura vencer sem olhar a meios. Fica-lhes nessas alturas mais delicadas o ensinamento de que “quem porfia, sempre alcança”, realidade que mais tarde hão de lembrar como condição essencial para vencer na vida e aí, CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 286 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE sobretudo, quando confrontadas com as vicissitudes que a ela estão muitas vezes associadas. Bibliografia Brougère, Gilles (2005). Jouer/Apprendre. Paris: Economica Anthropos Caillois, Roger (1990). O Jogo e os Homens. Lisboa: Cotovia. Cavalli-Sforza, Luigi e Cavalli-Sforza, Francesco (2002). Os Caminhos da Felicidade – Razões e valores da nossa vida. Lisboa: Presença. Csikszentmihalyi, Mihaly (1979). The Concept of Flow. In Brian Sutton-Smith (ed.). Play and Learning. (257-274). New York: Gardner Press. Csikszentmihalyi, Mihaly (2000). Fluir. Barcelona: Kairós. Csikszentmihalyi, Mihaly (2004). Vivre, la psychologie du bonheur. Paris: Robert Laffont. Grigorowitschs, Tamara. Jogo Infantil Colectivo como Problema Sociológico. Recuperado de http://www.anped.org.br/reunioes/29ra/trabalhos/trabalho/GT14- 1695--Int.pdf, em 2009-05-08. Institut Canadien de la Recherche. Vivre une expérience optimale. Le dossier de la Recherche, n.º 96-07. Em http://www.cflri.ca/pdf/f/dr9607.pdf - Acedido em 2009-1014. Lavega, Pere (1998). Revisión crítica de las deficiones del juego. Reflexiones y propuestas en torno a la aplicación educativa/recreativa del juego. European IPA Congress. Belgium: Antwerp. Documento recuperado em 2009. 10 22, de http://www.praxiologiamotriz.inefc.es/PDF/Joc_Definicion.pdf Llera, Jesús Beltrán (1991). Sentido Psicológico del Juego. In Tomás Andrés Tripero. Juegos, Juguetes y Ludotecas. (11-27). Madrid: Publicaciones Pablo Montesino. Neto, Carlos (1998). O Desenvolvimento da Criança e a Perspectiva Ecológica do Jogo. In Rui Krebi, Fernando Coletti e Thaís Beltram, (Orgs.) Discutindo o CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 287 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Desenvolvimento Infantil. (161-174). Brasil: Sociedade Internacional Para o Estudo da Criança. Piaget, Jean (1975). A formação do símbolo na criança: imitação, jogo e sonho, imagem e representação. Rio de Janeiro: Zahar. Silva, Alberto Nídio (2011). Jogos, brinquedos e brincadeiras – Trajetos intergeracionais. Barbudo-Vila Verde: ATAHCA – Associação das Terras Altas do Homem, Cávado e Ave. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 288 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE ASPECTOS SOCIAIS, MOTORES E LÚDICOS NA INTERAÇÃO DE CRIANÇAS NAS ACADEMIAS DA PRIMEIRA IDADE, MARINGÁ, PARANÁ, BRASIL Giuliano Gomes de Assis Pimentel; Solange Batista da Silva Universidade Estadual de Maringá (UEM), Maringá – Paraná, Brasil. Neste trabalho estudamos as Academias da Primeira Idade; referente às interações que este ambiente proporciona às crianças que o frequentam. O estudo parte da premissa de que existe relação recíproca entre tarefa-indivíduo-meio e, quanto mais diversificados são os estímulos, melhor o desenvolvimento integral da criança. Neste sentido, as APIs podem se constituir em ambientes para desenvolvimento de habilidades cognitivas, sociais e motoras, numa perspectiva lúdica. Para tanto, como as crianças se apropriam - com ou sem mediação - desses equipamentos de lazer? Assim, o objetivo geral foi analisar a dinâmica de interação da clientela das Academias da Primeira Idade – APIs, com enfoque sobre aspectos motores, lúdicos e sociais. Os objetivos específicos foram caracterizar crianças frequentadoras das APIs de Maringá, Brasil, observar os estados interacionais presentes nos tipos de brinquedos e brincadeiras presentes neste espaço e listar as ações motoras que as crianças realizam, relacionando lazer e tempo livre para as crianças. Realizamos uma entrevista semi-estruturada junto aos pais ou responsáveis pelas crianças, bem como observação direta e sistemática. Como resultados, a pesquisa indica que as APIs de Maringá são frequentadas por crianças entre dois e doze anos de idade e que os brinquedos mais procurados pelos usuários são os giratórios. As crianças produzem entre si modos de brincar que solucionam os desafios dos brinquedos, mas a mediação dos adultos interferiu na qualidade dos movimentos e na motivação das crianças. O estudo permite sugerir que os brinquedos das APIs devem ser pensados segundo as habilidades motoras de crianças em diferentes faixas etárias. Deste modo, é importante que os gestores públicos mantenham a preocupação em assegurar adequações como segurança e acessibilidade, bem como a disponibilização um profissional da área de Educação Física ou do Lazer para o monitoramento e orientações às crianças em atividade física na API. Apoio: Fundação Araucária e Pró-Reitoria de Pós-graduação da UEM. Palavras-chave: lazer; brinquedos; segurança, riscos. 1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS A criança, na contemporaneidade, é caracterizada como um ser ativo em processo de desenvolvimento, com necessidades de lazer. Para que o brincar seja construtivo, necessita de ambientes que estimulem a sua capacidade criadora, que contribuam para o seu desenvolvimento global. Desta forma, seu tempo livre é, em grande parte, utilizado para que ela reconstrua experiências diversas, mediante a CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 289 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE aquisição de conhecimentos, a formação de atitudes e o desenvolvimento de habilidades motoras (Pereira, Tolocka & Marcellino, 2006). Para tanto, a fim de contrabalançar a tendência de isolamento social e sedentarismo quando a criança tem lazer no ambiente doméstico (Souza Júnior, Vilela Júnior & Tolocka; 2010) políticas públicas tem sido voltadas para que crianças desenvolvam o contato com situações de risco/aventura planificados (Pimentel & Gomes, 2012), visando, em geral, maior gasto energético e demanda sensorial, além de mais qualidade no contato com outras crianças e adultos. Nessa perspectiva, a cidade de Maringá-PR instalou parques denominados Academia da Primeira Infância – API, projeto este que garante a montagem e manutenção de academias ao ar livre para crianças, nos moldes da ATI - Academia da Terceira Idade, esta última direcionada aos idosos. A API é composta por brinquedos com layout diferente do convencional no país, porém semelhante a um playground, com escorregador, escalador, gangorra e outros equipamentos que podem enriquecer a vivência motora da criança. Nesta pesquisa abordamos as Academias da Primeira Idade (API) como espaços lúdicos nas quais crianças interagem realizando tarefas motoras como correr, saltar, agarrar, pegar, dentre outras. O estudo parte da premissa de que existe relação recíproca entre tarefa-indivíduo-meio e, quanto mais diversificados são os estímulos, melhor o desenvolvimento integral da criança (Gallahue & Ozmum, 2005). Logo, as APIs podem se constituir em ambientes para desenvolvimento de habilidades cognitivas, sociais e motoras, numa perspectiva lúdica. O objetivo do estudo foi analisar a dinâmica de interação da clientela das Academias da Primeira Idade – APIs com enfoque sobre aspectos motores, lúdicos e sociais. E os objetivos específicos foram caracterizar as crianças frequentadoras das APIs de Maringá-PR, observar a associação dos estados interacionais com os tipos de brinquedos e brincadeiras presentes nas APIs e listar as ações motoras que as crianças realizam nas APIs. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 290 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2. METODOLOGIA Os sujeitos da pesquisa foram cem (100) crianças frequentadoras de três (03) Academias da Primeira Idade – Maringá-PR, com idade entre um ano e dez meses e doze anos, sendo cinquenta e três meninos e quarenta e sete meninas. Os instrumentos utilizados na pesquisa foram inventário da API roteiro de observação da criança e entrevista semi-estruturada com pais ou responsáveis pelo menor, além de entrevista com o idealizador da Academia da Primeira Idade. Nas observações, se conversou com os pais ou responsáveis pelas crianças sobre o local onde elas moram, se costumam frequentar a API regularmente e em quais horários. Foi solicitado que eles se manifestassem a respeito da API, informando o que acham deste local. Foi questionado, ainda, o caráter que eles conferem à brincadeira infantil e, solicitado que, justificassem sua resposta. Neste caso observou-se o que eles disseram quanto ao local destinado à brincadeira, o tipo de brincadeiras preferidas pelos pequenos e a opinião deles sobre a API, procedendose uma síntese das mesmas. Quanto às crianças, se ateve à chegada da criança (quem a acompanhava e que roupa a criança utilizava). Em relação à brincadeira, foi observado como a criança brincou, suas interações29 com os outros usuários da API, o tipo de brincadeira e se tiverem a mediação dos pais, se estes também brincaram, se a criança se sujou ou não e se, houve nos grupos observados, a preferência por algum tipo de brinquedo. Quanto aos aspectos motores, foram observados e registrados equilíbrio corporal e os movimentos axiais com o corpo estável. Das habilidades locomotoras, se priorizou a caminhada, a corrida, o salto e o pulo. Quanto à manipulação, deu ênfase à habilidade de alcançar, segurar e soltar, pegar, bater e arremessar por cima, bem como chutar (Gallahue & Ozmum, 2005). No inventário da API foram registrados tipos de brinquedos e suas funções, localização, segurança, manutenção, e brinquedos mais utilizados pelas crianças. A pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética em pesquisa e os pais autorizaram o trabalho. 29 Nesta pesquisa utilizaremos interações significando as brincadeiras, as conversas e as trocas afetivas que as crianças realizam com outras crianças e com os adultos quando estão num mesmo espaço coletivo e público. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 291 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 3. RESULTADOS Em Maringá há sete Academias da Primeira Idade. A primeira delas foi inaugurada em maio de 2008. No geral, observamos que nas APIs onde os brinquedos foram instalados sobre o gramado. A terra, por sua vez, no ponto de vista de alguns pais, caracteriza-se como um fator complicador no período de chuvas. Os brinquedos, no máximo de 11 tipos diferentes, são geralmente voltados para habilidades de locomoção e estabilização. A observação dos brinquedos permitiu distinguir suas funções e usos: 01 – Gangorra em pé: Estimular as noções de equilíbrio, fortalecendo a musculatura dos membros inferiores, superiores e tronco. O presente brinquedo foi confeccionado com tubos de aço carbono; tampão de metal arredondado - oferecendo segurança aos usuários – e permite a prática de 2 (dois) usuários simultaneamente. 02 – Escalada: Fortalecer as articulações dos membros superiores com atividades motoras que proporcionam noções de espaço em diferentes alturas com relação ao solo. Este brinquedo foi construído com tubos de aço carbono e permite a prática de 4 (quatro) usuários simultaneamente. 03 – Carrossel em pé: Fortalecer as articulações dos membros superiores (ombros, cotovelos e punhos) e tronco. 04 – Multi (5 funções) - Escorregador: Possibilitar o controle da velocidade da descida pressionando a coxa nos tubos que apóiam o quadril, fortalecendo assim o grupo muscular adutor das coxas - Argolas giratórias: Fortalecer os grupos musculares dos membros superiores e tronco proporcionando a noção de transferência do peso corporal entre os membros superiores. - Argolas fixas: Fortalecer os grupos musculares dos membros superiores e tronco proporcionando a noção de transferência do peso corporal entre os membros superiores, mas, com grau de dificuldade inferior. - Serpentina: Trabalhar a coordenação motora, equilíbrio e controlar a insegurança relacionada a atividades recreativas em alturas. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 292 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE - Gira-gira: Estimular o trabalho de força centrífuga com atuação direta dos membros superiores, coordenação motora e equilíbrio. 05 - Tornado: Alongar e fortalecer as articulações dos membros superiores, dando equilíbrio e noções de transferência de peso corporal. 06 - Cavalinho duplo: Estimular as noções de transferência de peso corporal e fortalecer as articulações dos membros superiores. 07 - Cisne: Estimular as noções de transferência de peso corporal, fortalecendo as articulações dos membros superiores e inferiores. 08 - Escalada torcida: Fortalecer as articulações dos membros superiores com atividades motoras que proporcionam noções de espaço em diferentes alturas e dificuldades com relação ao solo. 09 - Escorregador de rolete: Possibilitar o controle de velocidade da descida com noções de altura, pressionando os pés junto às laterais, fortalecendo o grupo muscular abdutor das coxas e equilíbrio geral. 10 - Gangorra em nível: Fortalecer as articulações e músculos dos membros superiores, dando noções de equilíbrio. 11 - Gangorra forçada dupla: Fortalecer as articulações e músculos dos membros inferiores e músculos anteriores e posteriores do tronco. 12 – Gangorra forçada simples: Fortalecer as articulações e músculos dos membros inferiores e músculos anteriores e posteriores do tronco. De acordo com a especificidade de cada brinquedo, foi possível identificar as seguintes atividades: 01 – Gangorra em pé: as crianças exploraram o equilíbrio corporal movimentando o corpo. Elas usaram a força dos membros superiores e inferiores para impulsionar o tronco, comportamento usual. Algumas crianças, usando a força dos membros superiores, bem como do equilíbrio dinâmico, fizeram da gangorra um obstáculo a ser transposto, enquanto comportamento não-usual. 02 – Escalada: as crianças subiam no brinquedo sozinhas ou em grupo ora utilizando movimentos amplos, ora alternando pés e mãos. Algumas escalavam de uma só vez, outras necessitavam de ajuda de colegas ou dos pais, outras faziam movimentos com o corpo, passando-o por dentro dos círculos existentes no CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 293 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE brinquedo, explorando o brinquedo de maneira não convencional. Este brinquedo foi amplamente explorado. A altura pareceu um problema para poucas crianças. No geral, elas observavam as demais e depois se propunham a subir e descer do brinquedo. Ficavam muito felizes quando tinham êxito. 03 – Carrossel em pé: Das APIs visitadas visualizamos este brinquedo instalado na API do Conjunto Sanenge e do Parque do Ingá. Não foi possível observar crianças fazendo uso do mesmo. 04 – Multi: Este brinquedo permite que muitas crianças brinquem próximas umas das outras, possibilitando uma maior interação entre elas, e permite, ainda, a utilização do mesmo de maneira usual ou não-convencional. Compõe este brinquedo: escorregador, argolas giratórias, argolas fixas, serpentina e gira-gira. Escorregador: este aparelho foi o mais explorado pelas crianças maiores, isto porque o tamanho delas lhes permite o encaixe parcial do quadril para escorregar. As crianças menores, além de enfrentarem o obstáculo da altura, porque o equipamento é alto para elas, encaixavam o quadril todo no espaço do brinquedo e tem mais atrito para o deslizamento no brinquedo. Seu corpo ficava sem apoio devido e elas tinham que improvisar a descida no brinquedo, considerando que não havia aviso limitando alguma faixa etária. Um aspecto observado como limitante a brincadeira da criança foi a vestimenta utilizada por elas. Aquelas que vestiam shorts com o cumprimento próximo ao joelho ou mesmo calça, deslizaram com maior facilidade, já as que usavam shorts curto ou vestido, onde a parte posterior da coxa ficava diretamente em contato com o brinquedo deslizavam e ao final algumas diziam: “ai, queimou a minha perna” ou mesmo desistiam de deslizar. A altura foi mais um obstáculo para as crianças menores. Mas, cada uma lidou de uma forma com o medo da altura; algumas apresentaram riso nervoso, próximo ao “histérico”, outras observaram os maiores e solicitaram a ajuda dos pais e outras só “permitiram” que o pai ficasse próximo delas, mas fizeram questão de realizar o movimento, sozinhas. Argolas giratórias: neste brinquedo as crianças puderam impulsionar o corpo para alcança a argola e segurar na mesma. Destas, algumas, então, CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 294 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE deslocarem-se em suspensão, alternando a mão de apoio/pegada e concentrando a força nos membros superiores, percebendo seu limite físico. As crianças entre sete e onze anos brincaram bastante neste brinquedo e experimentavam grande prazer quando conseguiam executar os movimentos, sozinhas. Observamos que a autonomia no brincar provoca grande prazer nas crianças (Wallon, 1979). Argolas fixas: observamos que as crianças menores (2 a 4 anos) optavam mais por este brinquedo do que pela argola giratória. A habilidade de sustentar o corpo em movimento é ainda para elas uma barreira. Como neste brinquedo o grau de dificuldade é menor, elas optavam mais por ele. No entanto, as crianças menores necessitaram do auxílio de um adulto para fazer uso deste brinquedo. Pensamos como Gallahue & Ozmum (2005) que elas estão na fase de desenvolvimento de habilidades fundamentais. Serpentina: As crianças menores usavam a parte mais baixa do brinquedo como apoio para os pés e o movimento neste se dava de forma mais lenta. Por outro lado, os mais velhos exploraram a altura/extensão do mesmo, apoiando-se e movimentando-se nas partes superiores do mesmo. Movimentando-o de forma mais ágil, alguns, neste momento, apoiaram-se no brinquedo fazendo com que parte do corpo ficasse suspenso. Cada criança explorou o brinquedo segundo sua capacidade motora. Gira-gira: este brinquedo é muito bem representado pelas crianças. Elas imaginavam situações diversas, como quem estava num “trem”, “avião”, “ônibus com dois andares”, faziam paradas para outras crianças subirem. Giravam ora com força, ora mais devagar. É um brinquedo que comporta uma criança de cada vez, porém, as crianças brincaram também em duplas, permitindo a socialização da brincadeira (Kishimoto, 2002). Nas APIs observadas os brinquedos tornado, cavalinho duplo, cisne, escalada torcida, escorregador de rolete, gangorra em nível, gangorra forçada dupla e gangorra forçada simples encontram-se instalados somente na API do Parque do Ingá onde, até o momento, encontra-se fechado para a entrada do público, com exceção do carrossel, também instalado na API do Conjunto Sanenge, mas, no momento da visita a API não havia crianças no local. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 295 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Em relação à influência social, a presença dos pais ou responsáveis nem sempre foi sinônimo de envolvimento na brincadeira. Há aqueles que liberam a criança para brincar e permanecem no carro. Nos bairros, mais afastados do centro de Maringá observamos outro comportamento dos responsáveis, eles brincam com as crianças, as ajudam a utilizar os brinquedos. Entre as crianças foi recorrente a brincadeira cooperativa e associativa, bem como o uso do brinquedo gira-gira. Elas se misturavam e interagiam livremente, preocupavam-se em brincar pelo brincar, como direito ao lazer. Assimilavam as propriedades dos brinquedos e as modificavam, em sua mente, adaptavam cada brinquedo aos seus interesses. Quanto aos horários, observou-se que as APIS são mais frequentadas após as 18 horas, nos dias da semana e nos fins de semana e que o horário de verão contribuiu para que as famílias permanecessem mais tempo neste espaço. O Gráfico 1 evidencia os brinquedos utilizados pelas crianças – meninas e meninos – na API que se encontram na Fase sensório-motora. Brinquedos utilizados por crianças de 1 ano e 10 meses a 2 anos 4 2 Meninos 0 Es ca lad or Ga ng or ra Ca rro ss Es el co rre ga do r Gi ra -g ira Se rp Ar en go tin las a gir at ór ias Ar go las fix as Meninas Gráfico 1: Brinquedos utilizados por crianças de 1 ano e 10 meses a 2 anos Por meio do gráfico acima, podemos observar que as meninas brincaram mais no gira-gira e escalador. Os meninos, por sua vez, optaram pela serpentina e pelas gira-gira, tendo o auxílio dos pais. Entendemos que as crianças brincaram de acordo com o desenvolvimento cognitivo (Piaget, 1975) e motor (Gallahue & Ozmun, 2005) esperados para esta fase. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 296 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Neste período de desenvolvimento a criança é extremamente ativa, capaz de simbolizar a realidade. O egocentrismo marca o início deste período e por volta dos sete anos a maioria das crianças já consegue se por na perspectiva do outro e apresentar um grande prazer nas atividades em grupo, coletivas. Tem um desenvolvimento linguístico acentuado e grande poder de imaginação (Piaget, 1972). A preferência se deu no brincar com os brinquedos da API, porem, brincaram mais com crianças de idade diferente e o mesmo sexo. O brincar paralelo e associativo foi observado nesta fase. As crianças brincaram no escalador, na gangorra, no escorregador, no gira-gira, na serpentina e argolas fixas. As argolas giratórias não foram manipuladas por estas crianças. O gira-gira, seguido do escalador foram também explorados pelos meninos. A habilidade motora fundamental de locomoção apresentada de forma mais evidente foi a corrida, seguida da caminhada. O salto e o pulo também foram movimentos motores apresentados pelos meninos. Quanto às habilidades manipulativas visualizamos: alcançar, segurar e soltar, aparecendo também, o movimento de pegar, chutar e lançar. A observação das habilidades dos meninos pode ser lida segundo o que nos aponta Gallahue & Ozmun (2005) e Tani et all (1988) quando mencionam que os meninos apresentam um melhor desenvolvimento da coordenação motora em relação as meninas, em virtude destes terem socialmente mais oportunidades do que as meninas. Por outro lado, Pereira e Pereira (2012), ao estudarem o recreio escolar, apontam para a tendência das meninas realizarem mais jogos de perseguição do que jogos passivos, sendo apenas em quantidade inferior aos meninos. Abaixo apresentamos no Gráfico 2 os brinquedos que as crianças do Fase do pensamento pré-operacional exploraram: CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 297 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Brinquedos utilizados por crianças de 2 a 7 anos 25 20 15 10 Meninos 0 Meninas Es ca lad or Ga ng or ra Ca rro ss Es el co rre ga do r Gi ra -g ira Se rp Ar en go tin las a gir at ór ias Ar go las fix as 5 Gráfico 2: Brinquedos utilizados por crianças de 2 a 7 anos Observamos que meninas e meninos brincaram mais no gira-gira e na serpentina. Os meninos, também exploraram com frequência o escalador. A escolha pelo brincar na serpentina e no escalador evidencia que a criança deste período domina habilidades motoras mais complexas do que as crianças da fase anterior. As meninas que compõem este grupo exploraram a maioria dos brinquedos, evidenciando a interação no gira-gira e serpentina. A exemplo do encontrado por Pereira & Pereira (2012), meninas se envolvem praticamente nas mesmas atividades que meninos, embora difiram quantitativamente. Os brinquedos argola fixa e gangorra foram utilizados com menor regularidade. A habilidade locomotora mais evidente foi a caminhada, seguida da corrida. Pudemos perceber que o pulo faz parte do repertório motor destas crianças. O saltito e o salto ocorreram em número reduzido. No Gráfico 3 observam-se os brinquedos utilizados pelas crianças de 7 a 11 anos de idade. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 298 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Brinquedos utilizados por crianças de 7 a 11 anos 20 10 Meninos Meninas Es ca lad or Ga ng or Ca ra rro Es co ssel rre ga do r Gi ra -g ira Se Ar r p go las enti na gir at ór Ar ias go las fix as 0 Gráfico 3: Brinquedos utilizados por crianças de 7 a 11 anos Por meio do gráfico observamos que meninas e meninas brincaram mais no gira-gira e serpentina. Evidenciando que nesta fase eles têm o domínio de várias habilidades motoras e que os brinquedos da API possibilitam a exploração delas. Brinquedos utilizados por crianças de 11 a 12 anos 3 2 1 Meninos Meninas Es ca lad or Ga ng or Ca ra rro Es co ssel rre ga do r Gi ra -g ir a Se Ar rp go las enti na gir at ór Ar ias go las fix as 0 Gráfico 4: Brinquedos utilizados por crianças de 11 a 12 anos Todas as crianças apresentaram o padrão de movimento de equilíbrio – dinâmico e estático – e de movimentos axiais. Observamos, ainda, que grande parcela das crianças fez uso dos equipamentos da ATI, em especial, as que se encontram na Fase das Operações CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 299 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Concretas e na Fase das Operações Formais do desenvolvimento cognitivo de Jean Piaget. Já as crianças menores utilizavam com menor frequência o escorregador, em razão da altura do mesmo. Mas, elas utilizavam a escada do escorregador e ali brincavam, sem de fato, escorregar. No geral, as crianças desta fase possuíam as habilidades motoras esperadas para os sujeitos com idade entre onze e doze anos (Gallahue & Ozmun, 2005). Contudo, observamos que elas pareciam preferir circular pelos espaços da API e da ATI, sendo que a interação realizada por estas não era mediada pela brincadeira, mas pelo contato com o outro através da linguagem. Embora os gráficos explicitem a distribuição das brincadeiras por faixa etária, muitos resultados apontam a mediação das crianças mais velhas para contribuir para a diversão das menores. Ao relacionar lúdico, interação social e os aspectos motores, o estudo registrou, por meio das observações, diferentes situações nas quais essas variáveis se imbricam. Para ilustrar, uma criança, de três anos, chegou a API acompanhada pela mãe e por sua irmã, de cinco. Ela foi direto ao escorregador, e foi auxiliada pela mãe a subir na escada. Quando estava no terceiro degrau, parou e verbalizou que estava alto, pedindo para descer. A irmã, por sua vez, subiu as escadas e desceu escorregando e ela permaneceu desocupada, observando-a. A criança menor pediu ajuda da mãe e novamente dirigiu-se a escada do escorregador, tendo desistido novamente, em função da altura. Esta cena repetiuse por algumas vezes. A irmã mais velha se dispôs a subir a escada com ela, mas esta recusou. A vontade de ela escorregar era visível, ela manteve-se próxima ao brinquedo por algum tempo e cada criança que escorregada ela observava atentamente e sorria. A mãe, então, sugeriu que ela escorregasse da metade do escorregador para baixo, sem fazer uso da escada e se propôs a ajudá-la, desta vez não houve a recusa. E assim fizeram, a mãe auxiliou-a, colocou-a sentada no escorregador e segurou-a pela cintura, pedindo que ela escorregasse e ela atendeu ao pedido da mãe. Depois a mãe colocou-a um pouco mais para cima, e o processo se repetiu. A irmã mais velha se prontificou a escorregar com ela desde o inicio do escorregador e ela aceitou. Correram em direção à escada. Entusiasmadas. A criança menor subiu os degraus com auxílio. Ela segurou as laterais da escada de forma firme e alternou o olhar ora CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 300 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE para a irmã, ora para os próprios pés. A irmã mais velha chegou ao topo do escorregador, sentou-se, segurando-se nas laterais e escorregou alguns centímetros. Depois, parou, aguardando a chegada da irmã mais nova. Esta se aproximou, sentouse atrás da irmã e segurando nos ombros da mesma, escorregaram, devagar. A mãe esteve próxima ao brinquedo e auxiliou a filha menor quando esta estava na metade do escorregador. As meninas repetiram a brincadeira várias vezes, apontando para o lúdico da atividade. Esses resultados são condizentes com o estado da arte sobre o brincar infantil, realçando a importância do nível de desenvolvimento infantil para a gestão pedagógica dos brinquedos. Por fim, em relação aos riscos oferecidos pelas APIS, os pais não observam perigos iminentes, afora comentários sobre focos de contaminação com dejetos animais e resíduos de borracha (colocada pela prefeitura para cobrir as áreas de terra). De fato, a ampliação da segurança dos espaços de lazer é fruto de uma política de preservação da vida ao mesmo tempo em que se difundem os meios de educação para que o indivíduo seja capaz de gerir seu próprio risco (Pimentel & Gomes, 2012). Na realidade estudada, a maior preocupação dos pais é em relação às violências possíveis no trajeto. Dada essa percepção, a presença dos pais nem sempre é efetiva e, com isso, algumas crianças exploram por si ou com o auxílio de outras o controle do risco. Todavia, conforme as observações, houve mais sucesso quando ocorreu mediação. 4. CONCLUSÃO No geral, observamos que as crianças brincaram em todos os brinquedos. Mas, aspectos do indivíduo como a hereditariedade, as limitações (medo, inexperiência, inibição) e as potencialidades (criatividade, cognição, acervo motor) e do meio (encorajamento dos mediadores, especialmente) afetavam o que cada criança era capaz de realizar. Em geral, as observações atestam que, para elas, é um desafio movimentar-se no escorregador, nas argolas giratórias, nas argolas fixas. O estudo de campo nos permitiu observar que em Maringá, crianças, em diferentes faixas etárias frequentam as APIs. Elas, em geral, moram próximas às APIs CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 301 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE ou vão até esta no intervalo de atividades cotidianas de seus pais. Os finais de tarde e início de noite são os horários preferidos pelas famílias em razão do clima agradável. As APIs favorecem a interação entre as crianças e seus familiares e com outras crianças. O espaço privilegia a brincadeira livre, a escolha no que brincar e a determinação do que fazer no tempo livre. Muitos pais participam junto com os filhos. As APIs influenciam sócio-culturalmente no cotidiano de pais e filhos, a medida que eles utilizam o tempo livre para se divertir, aprender e estreitar os laços afetivos. Observamos que os brinquedos são atrativos e que as crianças gostam do desafio de explorar as potencialidades deles e criar novas formas de interação com os mesmos. Nas APIs, as crianças realizam brincadeiras locomotoras, manipulativas e estabilizadoras. Meninos e meninas exploram o espaço corporalmente segundo suas demandas afetivas, cognitivas e motoras. Utilizam seu repertório de habilidades prévias para criar novos movimentos e conhecer as possibilidades de seu corpo. Observamos, ainda, uma preocupação dos idealizadores do Programa API de, adequá-lo às necessidades das crianças quanto à altura, segurança, flexibilidade de movimentos e outros. Embora nas APIs observadas os brinquedos sejam mais adequados para crianças maiores, já existem brinquedos pensados e projetados para as crianças de dois a quatro anos. A pesquisa permite pensar a importância dos gestores públicos disponibilizarem um profissional da área de Educação Física ou do Lazer para o monitoramento e orientações às crianças em atividade física na API. Ação hoje inexistente nas APIs. A autonomia motora é um aspecto relevante na pesquisa. Observamos os diversos significados que as crianças conferem ao movimento. As diferenças de habilidades observadas dizem respeito à relação recíproca entre tarefa-indivíduomeio e quanto mais diversificados são os estímulos, maior o desenvolvimento integral da criança. O domínio corporal caminha junto com o desenvolvimento afetivo e social. As tarefas que elas realizam na API revelam o significado cultural que nossa sociedade confere à atividade física. Cada vez mais, as pessoas procuram os espaços públicos para interagir e movimentar o corpo, revelando que a atividade criativa é uma necessidade de todos nós. No movimento, o ser humano encontra sua essência. Na atividade motora, a criança concentra habilidades básicas para sua ação em CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 302 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE sociedade. O domínio de movimentos sejam estes reflexos, rudimentares, fundamentais e especializados são muito importantes na forma como a criança vai interagir no mundo. Entendemos que estimular a atividade física em crianças de 02 a 12 anos de idade, nas APIs é uma estratégia para melhorar seu desenvolvimento motor, exercitar a capacidade de gerir riscos e ampliar a interação social. REFERÊNCIAS Gallahue, D. L., & Ozmun, J. C. (2005). Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. (3ª ed). São Paulo: Phorte. Kishimoto, T. (2002). O brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira. Pereira, J. V. S., Tolocka, R. E., Marcellino, N. C. (2006). Lazer Infantil: direitos legais, transformações sociais e implicações ao crescimento e habilidades motoras básicas. Licere, 9, 81-96. Pereira, V., Pereira, B. (2012). Jogos, brincadeiras e interações nos recreios do 1º ciclo: diferenças entre gêneros e idades. In B. Pereira, A. Silva & G. Carvalho. (Eds). Atividade física, saúde e lazer: o valor formativo do jogo e da brincadeira. (p. 61-71). Braga: IEC. Piaget, J. (1975). O nascimento da inteligência na criança. (2ª ed). Rio de Janeiro: Zahar. Piaget, J. (1972). Psicologia e Pedagogia. (2ª ed). Rio de Janeiro: Forense Universitária. Pimentel, G., Gomes, R. (2012) As práticas de risco no brincar infantil e as políticas de preservação da vida. In B. Pereira, A. Silva & G. Carvalho. (Eds). Atividade física, saúde e lazer: o valor formativo do jogo e da brincadeira. (p. 27-38). Braga: IEC. Sousa Junior, J. G., Vilela Junior, G. B., Tolocka, R. E. (2010). Mudanças ocorridas na cidade de Uberaba-MG e suas possíveis influências no lazer infantil. Licere, 13, 15. Tani, G. (1988). Educação física escolar: fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira. Wallon, H. (1979). Psicologia e Educação da criança. Lisboa: Vega/Universidade. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 303 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE “DESENVOLVIMENTO INFANTIL E CAPACITAÇÃO MATERNA COMO RESULTADO DA APLICAÇÃO DO PROGAMA DE EMPOWERMENT PARENTAL PARA O DESENVOLVIEMNTO INFANTIL (PEPDI)” Simão Vilaça 1,2 & Graça S. Carvalho 2 1. NIE, Escola Superior de Enfermagem, Universidade do Minho, Braga, Portugal 2. CIEC, Instituto de Educação, Universidade do Minho, Braga, Portugal Resumo Neste estudo, ensaio clinico randomizado, foi desenvolvido o programa de formação parental PEPDI (Programa de Empowerment Parental para o Desenvolvimento Infantil). Participaram 411 díades de mãe/filho randomizadas pelo grupo de controlo (C) e experimental (E). As sessões do PEPDI, grupo experimental, foram realizadas a cada mãe/filho durante a 1ª semana de vida, 2º, 4º e 6º mês de vida, incluíam os seguintes conteúdos: comportamento da criança, alimentação, competências desenvolvimentais, situações previsíveis de ocorrer, e preocupações parentais. A recolha de dados, antes e após as intervenções, incluiu o nível socioeconómico (NSE), a tipologia área residencial, o número de irmãos, a ansiedade materna (STAIY), o conhecimento materno (KIDI) e o desenvolvimento infantil (SGS-II). As combinações das características, avaliadas no momento inicial – KIDI, STAI-Y, número de irmãos e NSE – permitiram criar clusters que evidenciaram que os 2 grupos (C e E) estavam equivalentes, no momento inicial da avaliação. Os resultados demonstraram que: i) os índices de desenvolvimento das crianças do grupo experimental (PEPDI) foram significativamente superiores (p < 0,001) aos índices das crianças do grupo de controlo, com grande magnitude do efeito (effect size) (r = 0,92); ii) os índices de ansiedade-estado materno foram significativamente inferiores (p < 0,001) no grupo experimental comparativamente ao controlo, que também teve influência significativa (p < 0,001) quando as mães aumentaram o seu índice de conhecimento materno; iii) os índices de ansiedade-traço materna foram significativamente inferiores (p < 0,001) no grupo experimental. Apresentaram também efeito significativo para esta diminuição o aumento do conhecimento materno (p < 0,001), pertencerem ao NSE baixo comparativamente ao alto, médio-alto e medio (p = 0,006), bem como residirem na área predominantemente urbana comparativamente a residentes em área medianamente urbana (p = 0,019). O PEPDI pode ser implementado com sucesso para o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da criança nos primeiros 6 meses de vida para reduzir os níveis de ansiedade materna, bem como promover o empowerment da mãe no sentido de um melhor desenvolvimento da criança. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 304 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Palavras chave: parentalidade, formação parental, desenvolvimento infantil, ansiedade materna, ensaio clinico randomizado. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 305 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 1. INTRODUÇÃO Nos primeiros anos de vida da criança, a família desempenha quase a totalidade das funções de socialização e cuidados psico-afetivos, sendo que os conhecimentos e atitudes parentais atuam como mediadores nas práticas da parentalidade. A família, torna-se um elo fundamental para a efetiva concretização do desenvolvimento infantil. Tem vindo a ser demonstrado que os conhecimentos parentais atuam como mediadores, influenciando práticas de cuidados parentais (Ribas Jr, Moura, & Bornstein, 2003), o que, por sua vez, tem efeitos diversos sobre as atitudes para com a criança, o seu comportamento e o seu desenvolvimento. Numa revisão da literatura sobre o conhecimento parental, os mesmos autores identificaram algumas tendências principais: (i) relação entre o nível socioeconómico e o conhecimento parental, sendo o nível educacional dos pais, em especial da mãe, com maior valor discriminatório em estudos sobre o desenvolvimento infantil; e (ii) o conhecimento dos pais sobre o desenvolvimento infantil afeta os comportamentos parentais, e consequentemente o desenvolvimento infantil Os primeiros anos de vida de uma criança têm um impacto significativo sobre o seu futuro, apoiar a transição para a parentalidade torna os pais a chave para o desenvolvimento de crianças felizes, pais confiantes e apoiados, na fase da vida com crianças pequenas, estarão melhor preparados para construir famílias fortes e contribuir positivamente para as comunidades e sociedade em geral. Na verdade, sabe-se que o desempenho da parentalidade interfere ao nível da saúde e bem-estar da criança, denotando-se que a ausência ou perturbação da parentalidade pode interferir no saudável desenvolvimento da criança, culminando no aparecimento de problemas de saúde e sociais significativos (Gage, Everett, & Bullock, 2006). O estudo do desenvolvimento infantil e a relação com os níveis de ansiedade materna, têm vinda a aumentar. No trabalho de Davids, Holden, and Gray (1963) é referido que as crianças com os piores desempenhos nos testes de desenvolvimento intelectual e os piores índices de ajustamento emocional, aos 8 meses de vida, estão associados às mães que estiveram altamente ansiosas durante a gravidez. Num outro estudo CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 306 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE (Brouwers, van Baar, & Pop, 2001), com controlo de variáveis estranhas, verificou-se que um menor desenvolvimento mental da criança aos 2 anos de idade, se associava a elevados níveis de ansiedade materna durante a fase final da gravidez, este estudo, prospetivo, foi realizado com um grupo de 105 mulheres caucasianas saudáveis e respetivos filhos. O trabalho de Van den Bergh (2010) debruçou-se sobre o temperamento da criança, referindo que as dificuldades temperamentais das crianças às 10 semanas e aos 7 meses de idade estavam relacionadas de forma positiva e significativa, com elevados níveis de ansiedade estado e traço da mãe no final da gravidez. A transição da parentalidade é o processo de transformação através do qual os pais redefinem a sua identidade parental e desenvolvem competências para lidar com as mudanças e exigências desenvolvimentais, situacionais e de saúde/doença que ocorrem na vida da criança (Meleis, Sawyer, Im, Messias, & Schumacher, 2000; Schumacher & Meleis, 1994). Neste estudo foi desenvolvido o PEPDI - Programa de Empowerment Parental para o Desenvolvimento Infantil, que tem o propósito de assistir os pais, facilitando a transição dirigida para a sua própria saúde e daqueles que dependem de si – as crianças –, facilitando a perceção de bem-estar, mestria, nível de funcionamento e conhecimento (Meleis & Trangenstein, 1994). Estas atividades, de promoção para a saúde, poderão ser enquadradas como práticas avançadas em enfermagem (Callaghan, 2008; Higgins et al., 2012), estruturadas atendendo ao Modelo de Promoção da Saúde (MPS). O MPS fornece uma estrutura simples e clara, em que o enfermeiro pode realizar cuidados de forma individual, ou em grupo, permitindo o planeamento, a intervenção e a avaliação das suas intervenções, “serve como um guia para investigar os complexos processos biopsicossociais que motivam os indivíduos a envolverem-se em comportamentos de saúde que são direcionados para a melhoria da saúde” (Pender, Murdaugh, & Parsons, 2011, p. 44). O Modelo de Promoção da Saúde pode ser considerado como um modelo de enfermagem, podendo, no entanto, ser utilizado para implementar e avaliar ações de promoção da saúde, através do estudo da inter-relação dos seus três pontos CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 307 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE principais: i) as características e experiências individuais, ii) os sentimentos e conhecimentos sobre o comportamento que se quer alcançar e iii) o comportamento de promoção da saúde desejável. Propusemo-nos a desenvolver um estudo que responda à questão de investigação: qual o efeito do PEPDI (Programa de Empowerment Parental para o Desenvolvimento Infantil), no desenvolvimento infantil? 2. METODOLOGIA Para estudar as relações entre o conhecimento, níveis de ansiedade materno, níveis socioeconómicos e o desenvolvimento infantil, realizou-se uma investigação do tipo experimental, que tem como característica essencial, o investigador controlar e manipular as condições que determinam os acontecimentos a serem estudados, tal como referido por Carmo and Ferreira (1998). Este estudo pretendeu manipular tais condições, as variáveis (independentes) potencialmente condicionadoras do desenvolvimento infantil. Optou-se assim por formar dois grupos (GE-grupo experimental e GC-grupo de controlo) constituídos por sujeitos equivalentes, distribuídos de forma aleatória (Rrandomização), em que no grupo experimental (GE) é administrado um protocolo experimental (X). Estudaram-se as diferenças entre as observações finais (O2 e O4) e as iniciais (O1 e O3), dos dois grupos do estudo GE (O1 e O2) e GC (O3 e O4), relativamente às variáveis: i) desenvolvimento infantil, ii) nível de ansiedade materno, iii) nível de conhecimento materno sobre desenvolvimento infantil, tendo em conta o estudo sobre o modo como o nível socioeconómico interfere no desenvolvimento infantil em cada um dos grupos. O desenho de investigação designa-se como ‘preteste-posttest control group’, conforme descrito por Campbell and Stanley (1963) e que serepresenta da seguinte forma: Para desenvolver uma base de evidência para atividades e intervenções complexas, como a educação para a saúde no foco das competências da enfermagem, atendendo às emergentes necessidades em saúde, e sendo a enfermagem, como referem CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 308 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE (Richards & Hamers, 2009), por excelência, um complexo de intervenções, optou-se por um design de investigação de ensaio clínico randomizado controlado (RCT’s), seguindo as guidelines da declaração CONSORT (2010), considerada internacionalmente como instituidora de boas práticas para ensaios clínicos randomizados. Os critérios de inclusão na amostra deste estudo foram: (i) Gravidez vigiada, parto eutócico sem complicações; (ii) Recém-nascido de termo e Índice de Apgar 7 a 10. Os critérios de exclusão foram: (i) Doença materna do foro mental; (ii) Antecedentes familiares de atraso global de desenvolvimento. Um total de 427 sujeitos (díades) elegíveis fora abordado para o estudo dos quais 13 díades, devido a (i) recusa em participar, a razão mais comum para não participar foi a falta de interesse, n = 9; (ii) comprovação de antecedentes familiares de doença mental, n = 1; e (iii) outras razões, n = 3; não participaram. No global, 414 (96,9%) concordou em fazer parte do estudo. Um total de 206 indivíduos foram randomizados para o grupo experimental e 208 indivíduos foram randomizados para o grupo de controlo. Três (3) díades desistiram de participar no estudo, antes da segunda avaliação, pertencentes ao grupo de controlo. A amostra final randomizada pelo grupo controle e experimental foi 205 e 206 respetivamente. De acordo com Almeida and Freire (2008) a constituição dos grupos em comparação (Grupo Experimental e Grupo de Controlo) devem ser usados processos de amostragem diretamente dirigidos para a equivalência dos grupos. Assim, todos os sujeitos elegíveis e incluídos na amostra para serem randomizados pelos dois grupos (GE e GC) atenderam às características apresentadas: i) Nível de ansiedade materna; ii) nível de conhecimento materno sobre desenvolvimento infantil; iii) número de crianças com que iria conviver, nenhuma ou pelo menos uma (1) mais velha; iv) nível socioeconómico. Para cada uma dessas variáveis, adotou-se categorias que pudessem diferenciar os sujeitos, nomeadamente: (i) o nível socioeconómico determinado pela escala de Graffar (1956), adaptada por Amaro (2010), que demarca cinco níveis possíveis desde o superior denominado “classe I” ao inferior denominado “classe V”; para as restantes CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 309 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE características existem dois níveis possíveis para cada uma, nomeadamente (ii) não existirem crianças ou pelo menos uma mais velha; (iii) score obtido na avaliação inicial relativo à ansiedade traço (STAI-Y) superior ou inferior/igual a 40; (iv) score da avaliação inicial sobre o conhecimento materno relativo ao desenvolvimento infantil (KIDI) superior/igual ou inferior a 44. Conjugando todas combinações possíveis destas variáveis, cinco para NSE, duas para número de crianças, duas para STAI-Y e duas para KIDI, foram constituídos 40 blocos, cada um representa um conjunto de sujeitos que partilham, todos, iguais níveis das variáveis. as características (i) basilares (socioeconómicas, de tipologia de área residencial, número de irmãos, índice de Apgar e sexo), (ii) antropométricas, (iii) de ansiedade e de conhecimento materno, (iv) e de idade (dias das crianças nos momentos de avaliação e de intervenção não diferiram significativamente entre os grupos Controlo e Experimental. Assim, todas as características que constituem a combinação dos estratos (bloking design) têm distribuição similar nos dois grupos controlo e experimental, demonstrando a adequabilidade das subamostras neste estudo. Assim, neste estudo pretendemos identificar a diferença relativa ao desenvolvimento infantil da criança durante os primeiros 6 meses vida, quando a família é submetida a um programa de educação para a saúde, bem como outras alterações observadas nas mães (grupo experimental). Para o efeito, comparámos os efeitos do programa de educação para a saúde (PEPDI) com um grupo constituído por crianças, cujas famílias não tiveram qualquer intervenção nossa em termos de educação para a saúde (grupo controlo). Pretendemos, assim, conhecer até que ponto a educação à família com foco na parentalidade influencia o desenvolvimento infantil. Foi delineando um estudo de natureza experimental, ensaio clinico randomizado, Para o tratamento e a análise dos dados foi utilizado como recurso, o programa Social Package Statiscal Science®20.0 (SPSS, 2012), todos os testes foram realizados considerando valor de significância de α <.05. Para os resultados principais foi utilizado o modelo linear misto: (i) para testar o efeito da intervenção, como variável independente, relativamente ao desenvolvimento infantil, considerando os fatores CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 310 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE NSE, número de crianças conviventes, ansiedade (estado e traço) e conhecimento materno, sendo esta análise entre sujeitos, com este procedimento para além da análise anterior é possível incluirmos no modelo um fator de análise intra-sujeitos, neste caso relativa aos momentos de avaliação (nascimento, 2,4 e 6 meses); (ii) para testar o efeito da intervenção na ansiedade materna (estado e traço) considerando os fatores NSE, número de crianças e conhecimento materno, bem como o fator de análise intra-sujeitos. Neste estudo, tal como noutros estudos com medidas repetidas, o objetivo é avaliar a mudança ao longo dos momentos, possibilitando a realização de uma avaliação clara dessas mudanças e identificar possíveis fatores que influenciam essas mudanças (Nobre & Singer, 2011), para além de observar a variável dependente, dos sujeitos em análise, considerando níveis constantes de outras covariaveis que possam influenciá-la. De acordo com alguns autores (Field, 2009; Krueger & Tian, 2004) os modelos lineares mistos possibilitam a análise de dados longitudinais assumindo um papel cada vez mais importante na análise de dados biocomportamentais. Os modelos lineares mistos desempenham um importante papel na análise estatística e oferecem vantagens sobre as análises mais tradicionais (Howell, 2010). Para a análise das diferenças entre os níveis de cada fator (NSE, nº de irmãos e tipologia área residencial) em cada grupo (controlo e experimental) foi utilizado o teste de ANOVA one-way e teste post-hoc quando as diferenças fossem significativas, para as variáveis que não respeitaram a assunção da esfericidade utilizou ou teste de Welch da ANOVA para avaliar a significância das diferenças entre os níveis de cada fator em função da variável dependente em teste. 3. RESULTADOS A análise das diferenças entre os níveis (diferenciados) de cada variável, tipologia área residencial, número de irmãos e NSE, revelaram (i) ao nível da ansiedade-traço aos 6 meses, diferenças marginalmente significativas (p < 0,10) entre a mães, do grupo de controlo, residentes na APU, com score de ansiedade médio superior ao das mães residentes na AMU; (ii) bem como diferenças marginalmente significativas (p < 0,10) ao nível da ansiedade traço, aos 6 meses do grupo de controlo, entre as mães CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 311 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE de NSE alto com média de score ansiedade-traço superior aos das mães de NSE médio-baixo e baixo; neste grupo (controlo) foram ainda identificadas diferenças significativas (p < 0,05) no score médio de ansiedade-traço das mães de NSE médio (score superior) relativamente ás mães de NSE médio-baixo e baixo; (iii) foram identificadas diferenças muito significativas (p < 0,01), no grupo experimental aos 6 meses, ao nível da ansiedade-traço entre as mães de NSE alto (score superior) e as mães de NSE baixo. Pela análise dos modelos lineares mistos a evolução dos níveis de ansiedade-estado dos 0 aos 6 meses tem uma influência muito significativa (p < 0,001) do PEPDI e dos níveis de conhecimento materno, isto é as mães que usufruíram do PEPDI diminuíram significativamente os seus níveis de ansiedade-estado até aos 6 meses, e de igual forma, as mães que aumentaram o seu nível de conhecimento também diminuíram Grupo de Controlo Grupo Experimental significativamente os seus níveis de ansiedade-estado até aos 6 meses, como se observa na Figura 6. A evolução dos níveis de ansiedade-traço dos 0 aos 6 meses tem uma influência muito significativa (p < 0,001) do PEPDI e dos níveis de conhecimento materno, e significativa (p < 0.05) do NSE e tipologia área residencial, isto é as mães que usufruir do PEPDI bem como as mães que aumentaram o seu nível de conhecimento diminuíram significativamente os seus níveis de ansiedade-traço até aos 6 meses como se observa na Figura 7, no caso do NSE as mães de classe alta, média-alta e média apresentam um aumento significativo da ansiedade-traço até aos 6 meses CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 312 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE relativamente ás mães de NSE baixo, relativamente á área residencial o aumento, significativo, da ansiedade-traço é nas mães residentes em AMU relativamente ás mães residentes em APU. Figura 6 Relação da evolução da variável ansiedade-estado em função da evolução do conhecimento materno, para os dois grupos, controlo e experimental. Grupo de Controlo Grupo Experimental Figura 7 Relação da evolução da variável ansiedade-traço em função da evolução do conhecimento materno, para os dois grupos, controlo e experimental. A análise do modelo linear misto ajustado para a variável desenvolvimento infantil, revelou que a variável intervenção (grupo controlo e grupo experimental) teve um efeito muito significativo (p < 0,001) no score de desenvolvimento infantil F(1, 388,26)= 2.104,49, p < 0,001. As outras variáveis incluídas no modelo, não revelaram, de per si, ter influência significativa (p > 0,05) no score de desenvolvimento infantil (ansiedade-estado F(1, 388,86)= 0,51, p = 0,476; ansiedade-traço F(1, 396,15) = 3,53, p = 0,061; conhecimento materno F(1, 389,67) = 0,21, p < 0,648; NSE F(4, 388,59) = 0,29; p < 0,887). No entanto, os critérios de avaliação do modelo linear misto (AIC e BIC) apresentam estas variáveis com fatores importantes para a análise do modelo, pois melhoram a especificação do modelo, para o desenvolvimento infantil nos primeiros 6 meses de vida da criança. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 313 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE A Figura 8 mostra a evolução do desenvolvimento infantil da amostra total (ambos os grupos C e E, com n= 411), visualizando-se uma ramificação em dois grupos de sujeitos entre o 2º e 4º mês de vida, a qual se mantém até aos 6 meses. Figura 8 Evolução do desenvolvimento infantil da amostra total. Fazendo a análise separada dos grupos controlo e experimental (Figura 9) observa-se que o ramo de scores de desenvolvimento infantil mais elevado pertence ao grupo experimental, tal como revelado pela estimativa do parâmetro no modelo linear misto para a variável desenvolvimento. A determinação do effect size (r), de acordo com Field (2009), foi determinado para a intervenção de educação para a saúde (PEPDI) tendo-se encontrado um valor muito elevado, de acordo com os níveis estipulados por Cohen (1992), de r = 0,92. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 314 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Figura 9 Evolução do desenvolvimento infantil por grupo (controlo e experimental). A evolução do desenvolvimento infantil dos 0 aos 6 meses tem uma influência muito significativa (p < 0,001) do PEPDI, isto é as mães que usufruíram do PEPDI promoveram condições promotoras do desenvolvimento infantil, detendo os seus filhos uma evolução do seu índice de desenvolvimento significativamente superior aos filhos de mães pertencentes ao grupo de controlo. 4. CONCLUSÃO Além da sua relevância clínica, os dados obtidos no presente estudo, apontam para um efeito positivo do PEPDI, na diminuição da ansiedade relacionada com a transição para a parentalidade. Como tivemos oportunidade de estados de ansiedade associados ao papel parental constitui um denominador importante, que influenciam significativamente o desenvolvimento da criança. A associação da ansiedade materna com o desenvolvimento e comportamentos da criança, encontra-se bem documentada na literatura científica deste domínio (Brouwers et al., 2001; Davids et al., 1963; Van den Bergh, 2010). O impacto positivo da intervenção (PEPDI) em termos de CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 315 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE ansiedade-estado é extremamente relevante do ponto de vista funcional, tendo em conta o efeito preditor da ansiedade no desenvolvimento infantil. Neste estudo pretendeu-se verificar como o Programa de Empowerment Parental para o Desenvolvimento Infantil (PEPDI), estruturado em função das necessidades específicas de cada fase da díada criança/mãe, atendendo ao ambiente, estimulando a função parental, promovendo o empowerment das competências parentais para com a criança, consegue regular o desenvolvimento infantil mesmo que existam condicionantes como o NSE da família, o contexto residencial e a ansiedade materna. Outros estudos com programas de formação parental têm sido documentados com indicadores de sucesso, mas dirigidos para populações com algum grau de risco ou vulnerabilidade, como crianças com alterações do comportamento, maltratadas, ou de NSE específico (Belsky & de Haan, 2011). O desenvolvimento de um programa dirigido para as famílias/crianças de contextos regulares, pretendeu demonstrar que o potencial humano de cada criança, especificamente o seu desenvolvimento infantil, mesmo que inscrito no seu material genético, é potenciado pelo ambiente em que está inserido. Para além disso, as competências parentais catalisarão esse potencial, sendo possível criar um empowerment parental, criando capacidades parentais conducentes à obtenção de ganhos em saúde. O presente estudo demonstrou o impacto da intervenção no desenvolvimento infantil, isto é, o PEPDI - Programa de Empowerment Parental para o Desenvolvimento Infantil, dirigido para a transição da parentalidade, que revelou ter efeitos significativos ao nível do desempenho da criança. Esta evidência espelha a relevância clínica das intervenções de enfermagem ao nível da transição para a parentalidade. O Programa de Empowerment Parental para o Desenvolvimento Infantil tem na sua essência, e plasmada em cada tema, o modelo de promoção para a Saúde de Pender et al. (2011), o que o torna único, pois conjuga a perspetiva salutogénica com o know how necessário sobre as capacidades do papel parental essenciais para capacitar os pais nesta transição. Assim, o estudo de fenómenos, como os que se associam à capacitação para a parentalidade, com enfoque para a promoção do desenvolvimento infantil, tal como o CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 316 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE proposto neste estudo, é complexo. Como tal, propôs-se um processo metodológico cuidadoso com carácter experimental, com intenção de verificar como a intervenção proposta (Programa de Empowerment Parental para o Desenvolvimento Infantil) funcionaria em condições reais, tendo por isso um cariz mais pragmático. A prática baseada na evidência apresenta inúmeros desafios para os enfermeiros, que são responsáveis pelo desenvolvimento de intervenções e de ampliar a base de conhecimento associada. Neste estudo propõem-se uma intervenção de promoção para a saúde dirigida a mães com enfoque nas competências para a parentalidade, que pretende, para além de contribuir para a sustentação da prática, incrementar o nível de qualidade de cuidados às crianças/famílias. Consideramos que o programa proposto neste estudo reúne condições para ser implementado na prática clinica e assim contribuir para a efetivação das responsabilidades parentais, assim como evidenciar o alcance das intervenções de enfermagem que produzem ganhos em saúde significativos, com os benefícios que advém quer para as crianças quer para as mães. Destaca-se de uma forma genérica que o programa – PEPDI - parece produzir os efeitos desejados mesmo que em contextos, à partida, condicionadores como NSE, entre outros. Os resultados deste estudo demonstram que a intervenção para a capacitação da parentalidade (Programa de Empowerment Parental para o Desenvolvimento Infantil), dirigida a mães, no âmbito da promoção para a saúde, com foco no desenvolvimento infantil, pode contribuir para níveis mais baixos de ansiedade materna e assim criar condições para haver um empowerment materno com vista a um melhor desenvolvimento da criança. Dada a importância dos primeiros anos da criança e do número limitado de estudos controlados sobre intervenções dirigidas para a promoção da parentalidade, este resultado torna-se de grande relevância para a investigação, o ensino a prática clínica e a comunidade. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 317 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE BIBLIOGRAFIA Almeida, L. S., & Freire, T. (2008). Metodologia da Investigação em Psicologia e Educação (5ª ed.). Braga: Psiquilíbrios. Amaro, F. 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O presente estudo teve como principal objetivo caracterizar a atividade física da 3ª Idade no concelho de Castelo Branco. A amostra foi composta por 24 instituições e para a recolha de dados foi aplicada uma entrevista semiestruturada aos responsáveis pelas atividades físicas em cada uma delas. Após o processamento e tratamento de dados, concluímos que num universo de 24 instituições no concelho, apenas 4 proporcionam atividade física regular com professor aos seus idosos. As condições espaciais e materiais para a prática de atividade física apresentam algumas limitações. O número de participantes nas aulas é por norma baixo e muito variável e a idade da maioria oscila entre os 60 e os 80 anos. As instituições onde a oferta é regular, oferecem 2 sessões semanais, cuja duração não ultrapassa uma hora. A intensidade das mesmas é geralmente baixa ou moderada e o tipo de trabalho efetuado é normalmente em grupo. Para que as aulas decorram num ambiente agradável, são tidas em conta algumas preocupações quer em termos de espaço, quer pessoais (temperatura ambiente do espaço, a adequação do vestuário utilizado, clima positivo durante as atividades…). O trabalho efetuado é direcionado de acordo com várias vertentes (saúde/bem-estar e animação/socialização e lúdico-recreativa), sendo as atividades mais realizadas a Dança/Folclore, as Caminhadas e também a Ginástica de Manutenção, que são aquelas que são mais do agrado dos idosos. As principais gratificações no trabalho com os idosos são a empatia criada bem como a alegria por eles demonstrada. As principais dificuldades apontadas CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 320 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE prendem-se com a dificuldade na motivação para a prática, por vezes a falta de compreensão por parte dos idosos e também a perceção dos seus limites para a realização de determinadas atividades. Palavras-Chave – Atividade Física, gerontomotricidade, idosos Introdução O envelhecimento é um processo normal, que conduz á terceira idade da vida e que se manifesta em todo o organismo (Martins, 1999). Com o aumento da idade o ser humano vai perdendo parte das suas capacidades, refletindo-se este facto na limitação ocorrida ao nível da sua independência funcional ou seja, as pessoas começam a ter maior dificuldade ao nível da mobilidade e realização das tarefas do quotidiano. Géis (2003) compara mesmo o corpo humano a uma máquina, referindo que é importante que a mesma se mantenha em funcionamento e lubrificada, caso contrário, com o passar do tempo, a tendência é que fique cada vez mais deteriorada. O facto relatado anteriormente demonstra a importância que assume a prática de atividade física regular nesta fase da vida. Zambrana (1991) refere, que a atividade física pode não aumentar os anos de vida, mas com toda a certeza poderá dar mais vida aos anos. A atividade física na Terceira Idade está direcionada para a obtenção de vários objetivos, tais como, a prevenção, a manutenção, a reabilitação e a recreação. Existem diversos motivos para que os idosos pratiquem atividade física, no entanto é fundamental em primeiro lugar que eles se consciencializem da necessidade e da importância dessa mesma atividade para a manutenção de um estado de saúde adequado às suas necessidades. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 321 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE A Importância e os Benefícios da Atividade Física na 3ª Idade A atividade física na 3ª idade desempenha um papel fundamental, sendo os seus benefícios inúmeros. Evans (1999) refere que devido ao seu baixo nível de funcionalidade e grande incidência de doenças crónicas, não existe outro segmento da população que beneficie mais do exercício físico do que a população idosa. Partilhando da mesma opinião Bento, (1991), acrescenta que uma atividade física ajustada compensa as modificações típicas do envelhecimento, prolongando a capacidade de funcionamento do sistema cardio-respiratório e dos músculos esqueléticos, incluindo a flexibilidade das grandes articulações do corpo. Nied & Franklin, (2002) citados por Caetano (2004), vão mais longe quando dizem que a atividade física, está mesmo associada a uma diminuição da mortalidade e morbilidade na população idosa. Um dos campos com o qual tem sido mais relacionada a prática de atividade física na 3ª idade, tem sido o campo da saúde. Para Blair & Brodney (1999) a atividade física regular atenua claramente os riscos para a saúde associados às doenças relacionadas com um estilo de vida sedentário. É por isso importante saber como evitar esses riscos e reforçar os efeitos positivos, conhecendo com rigor a quantidade e características necessárias para que a atividade física seja benéfica para a saúde, e saber também que quantidade é suficientemente para promover efeitos biológicos positivos sobre a saúde (Zambrana, 1992). Nied & Franklin (2002) apresentam um quadro, onde se podem observar benefícios da atividade física na população idosa: Benefícios Cardiovasculares - Melhoria parâmetros fisiológicos (V02 Máx., rendimento cardíaco) - Melhoria da pressão sanguínea - Diminuição dos riscos de aterosclerose/cardiopatia isquémica Melhoria do perfil lipídico Benefícios na Diabetes Mellitus, Tipo 2 - Diminuição da incidência - Melhoria do controlo glicémico - Diminuição dos níveis de hemoglobina A1C CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 322 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Melhoria da sensibilidade à insulina Benefícios na Osteoporose - Diminuição da perda de densidade óssea em mulheres pós-menopáusicas - Diminuição de fraturas na anca (cabeça do fémur) e das vértebras (coluna vertebral) Diminuição dos riscos de queda Benefícios na Saúde Neumropsicológica - Melhoria da qualidade de sono - Melhoria das funções cognitivas - Diminuição dos níveis de depressão, melhorando os valores depressivos de Beck Melhoria da memória a curto prazo Benefícios a nível oncológico - Potencial diminuição do risco de cancro do cólon, da mama, da próstata e do recto - Melhoria da qualidade de vida Diminuição da fadiga geral Outros Benefícios - Diminuição da mortalidade - Diminuição da morbilidade - Diminuição do risco de obesidade Melhoria dos sintomas em doenças obstrutivas vasculares periféricas (Adaptado de Nied & Franklin, 2002, pag. 420) Zambrana (1992), refere que a prática de atividade física pode ir além da prevenção, assumindo também e de igual modo um contributo decisivo na recuperação de determinadas enfermidades. A prática regular de atividade física na 3ª idade pode ser também associada a outros benefícios para além da saúde. Caetano (2004) refere que para além de melhorias da capacidade cárdio-respiratória, não nos podemos esquecer que pode também interferir na melhoria da eficiência e eficácia de várias atividades do dia-a-dia (tal como escrever, comer, vestir, folhear um livro, colocar e retirar objetos, pegar numa caneta do chão, girar 360º, caminhar, entre outras. Zambrana (1992), acrescenta que a atividade física pode constituir-se para os idosos como um contributo essencial na sua valorização e integração social. No fundo o que é importante é que a atividade física surja na vida do idoso como um elemento potenciador da qualidade de vida, na medida em que o seu nível de independência funcional está dependente da sua capacidade de manter autonomamente as diferentes facetas da sua atividade diária, por isso é importante que encontrem um interesse pessoal e que tomem consciência da CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 323 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE necessidade de praticar uma atividade física de forma regular (Cunningham e col., 1993; cit. por Zambrana, 1992). Fatores que motivam os idosos para a prática de atividade física Segundo Géis (2003), para os idosos, a atividade física tem um objetivo utilitário. Os motivos que fazem com que eles pratiquem atividade física são diversos, no entanto, podemos reuni-los segundo o autor em quatro grandes grupos. Os três primeiros são: prevenção, manutenção e reabilitação, que podem ser agrupados sob o conceito de bem-estar físico e saúde e que têm uma finalidade basicamente utilitária. Um quarto grupo, chamado de recreativo, englobaria aspetos lúdicos, sociais e afetivos. Fala-se de uma atividade que implique não só movimento, mas na qual existam relação, jogo, comunicação, bem-estar companhia (…). Qualquer pessoa, seja da idade que for, que realize atividade física faz com um desses objetivos, ou para melhorar e manter a saúde, ou para sentir-se bem, ocupar o seu tempo livre, no qual resulta, num melhor bem-estar psíquico. Metodologia 1 - Objetivo do estudo O objetivo do nosso estudo foi saber quais as instituições da terceira idade (Lares e Centros de Dia) do Concelho de Castelo que oferecem atividade física regular aos seus idosos e fazer a caracterização dessa mesma atividade física. 1.1 - Questões do Estudo As principais questões do estudo foram: - Saber quantas instituições têm atividade física regular no concelho; - Conhecer o espaço onde são realizadas as atividades físicas; - Fazer uma caracterização dos idosos envolvidos nas atividades físicas e como é a sua participação; CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 324 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE - Caracterizar a atividade física desenvolvida (frequência, duração e intensidade das sessões, metodologias de trabalho usadas, materiais…); - Perceber os cuidados a ter na preparação das aulas (antes, durante e depois) e no contacto com os idosos. - Saber em que medida a prática regular da atividade física melhora o bem-estar ou a qualidade de vida desta população, e se essa melhoria é visível com o tempo. 2 - Procedimentos 2.1 – Amostra Das vinte e quatro instituições identificadas no concelho de Castelo Branco, apenas quatro referiram desenvolver atividade física regular. A recolha de dados recaiu assim nessas quatro instituições. 2.2 - Procedimentos de recolha dos dados Para recolher os dados começamos por identificar o número de instituições (Lares e Centros de Dia) existentes no concelho de Castelo Branco e nesse sentido dirigimo-nos á Câmara Municipal de Castelo Branco onde nos foi facultado o número preciso de Lares e Centros de Dia pertencentes a este concelho. De seguida contactamos via telefone com todas as instituições para saber quais as que ofereciam atividade física regular aos seus idosos, tendo verificado que eram apenas quatro. Posteriormente enviámos uma carta aos diretores destas instituições, explicando as nossas intenções e pedindo autorização para contactar os responsáveis pelas aulas de atividade física. Finalmente falamos com os responsáveis pelas aulas de atividade física nas instituições pedindo a sua colaboração no estudo CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 325 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2.3 - Instrumento de recolha dos dados O instrumento de recolha de dados foi uma entrevista semi-estruturada ao responsável pelas aulas de atividade física em cada uma das instituições. 3 - Apresentação, análise e discussão dos resultados 3.1 – Caracterização das instituições da 3ª idade do concelho de castelo Branco No concelho de Castelo Branco existem 24 instituições de acolhimento para a terceira idade. Destas instituições apenas quatro oferecem atividade física regular aos seus idosos (Lar Major Rato de Alcains, Centro Social de Salgueiro do Campo, Santa Casa da Misericórdia de Castelo Branco e Centro Social e Paroquial de Almaceda). Vamos agora passar a caracterizar a atividade física realizada nos quatro Lares e Centros de Dia do concelho de Castelo Branco que oferecem este tipo de atividade aos seus idosos. 3.2 – Espaço onde decorrem as atividades e material disponível Nas instituições onde foram recolhidos os dados pudemos constatar que os idosos desenvolvem as suas atividades físicas fundamentalmente em três espaços (ginásio, sala de convívio e espaço exterior. Os resultados revelaram que apenas uma das instituições possui ginásio, o que demonstra que na conceção das infraestruturas para albergar os idosos na maioria das vezes não se tem em conta a importância de um espaço de desenvolvimento das atividades físicas. Géis (2003) reforça esta nossa constatação quando afirma que para a realização da atividade física é necessário dispor de um espaço adequado, mas que nem sempre as instalações disponíveis nas instituições da 3ª idade estão arquitetonicamente adaptadas para a realização das atividades. O autor refere que as instituições devem possuir as melhores condições possíveis para a prática desportiva, nomeadamente: o espaço disponível sem barreiras arquitetónicas, boa CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 326 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE iluminação (se possível com luz natural), boa ventilação e um piso que não seja deslizante. Deve-se também adaptar o espaço disponível em cada lugar de acordo com o tipo de atividade a ser realizada. Quanto ao material disponível para realização das aulas de atividades físicas, encontramos também nas instituições muitas deficiências, quer ao nível da qualidade, quer ao nível da quantidade. Os professores referem mesmo: “temos de ser nós a levar a maioria dos materiais móveis para as aulas”. 3.3 – Caracterização dos participantes nas aulas de atividade física e participação nas mesmas. Nas instituições onde decorreu o estudo, os idosos não são obrigados a participar nas aulas de atividade física, por isso, o número de participantes nem sempre é fixo, varia muito de instituição para instituição e mesmo de aula para aula dentro da mesma instituição. Uma das professoras relata mesmo uma situação que é esclarecedora da variabilidade do número de participantes nas atividades físicas ao longo do ano quando diz que: “é frequente chegar na semana seguinte e saber que uma das pessoas que participavam nas sessões faleceu e já entraram mais outras duas, ou determinada pessoa já estar mais debilitada.”. O número de participantes nas atividades pode considerar-se baixo pois raramente ultrapassa os vinte, no entanto, os professores referem que “são quase sempre os mesmos a participar” ou “o número de participantes é os que houver”. Em todas as instituições se constatou que há uma maior participação por parte das senhoras, mas mesmo assim, “é preciso insistir muito” na opinião das professoras. Os homens que inicialmente se mostram muito relutantes, vão começando a participar aos poucos ao longo do ano. Após estarem integrados no grupo, quer as senhoras quer os homens demonstram uma atitude empenhada e participativa. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 327 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Zambrana (1992), refere que é importante haver classes mistas, embora no início exista um certo receio por parte dos homens, o que vem confirmar os resultados obtidos no nosso estudo. 3.3.1 – Idade dos participantes nas aulas de atividade física Relativamente à idade dos praticantes nas atividades físicas das instituições, a maioria (75%), encontra-se numa faixa etária entre os 60 e os 80 anos. Este resultado parece-nos lógico, pois a partir dos 80 anos grande parte dos idosos apresenta já uma disponibilidade física e mental com muitas limitações, sendo essa a justificação por parte das professoras para o número diminuto de participantes nas atividades físicas, com idade superior aos 80 anos. Quadro 1 – Idade dos praticantes das atividades físicas nas diferentes instituições 60 Aos 80 anos 75% 81 Aos 100 anos 25% Para participar nas aulas de atividade física os idosos não necessitam de ter um perfil específico, uma vez que o trabalho a desenvolver está muito relacionado com as capacidades gerais dos participantes nas aulas em cada uma das instituições e por isso terá de ser um trabalho generalizado. Os professores referem que: “O trabalho personalizado dentro do grupo torna-se difícil pois este é muito heterogéneo”, que “as aulas têm que ser para todos” ou “o mais importante é a força de vontade porque há sempre possibilidade de fazer adaptações”. 3.3.2 - Passado desportiva dos idosos Os resultados apresentados no quadro 2 permitem-nos verificar o passado desportivo dos idosos que participam nas atividades físicas nas instituições: Quadro 2 – Passado desportivo dos idosos que participam na Act. Física Passado desportivo dos praticantes Sim Não 0% 100% CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 328 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Constatamos que os idosos que participam nas aulas de atividades físicas nas diferentes instituições não tiveram nenhum passado desportivo. Podemos no entanto afirmar, e de acordo com a opinião dos professores que embora não tivessem praticado nenhuma atividade desportiva ao longo da vida tiveram uma atividade física muito intensa, uma vez que a maioria trabalhava no campo (agricultura pastorícia…), e como sabemos estas atividades exigiam por vezes um grande desgaste energético e grande esforço físico. 3.4 – Frequência, duração e intensidade. Relativamente à frequência das sessões de atividade física constatamos que é variável de instituição para instituição. O número de sessões varia entre uma e três por semana sendo que, a maioria dos professores orienta 2 sessões. O numero de sessões semanais nem sempre é fixo, podendo variar de acordo com diferentes fatores (tipo de aula, condições climáticas…) Em relação à duração das mesmas, a grande maioria dos professores orienta sessões que varia entre os 30 minutos a 1 hora, existindo também quem oriente sessões de apenas 30 minutos, no entanto gostaríamos de salientar que a duração das aulas também ela é variável porque como referem os professores “…também depende da disposição deles (idosos)…”. Quadro 3 – Frequência, duração e intensidade das sessões. Frequência 1x Semana 2x Semana 25% 50% Duração Até 30m 30m a 1h Intensidade 3x Semana 25% Mais que 1h 25% Baixa 75% Moderada 0% Alta 50% 50% 0% Estes resultados vão ao encontro da opinião de Zambrana (1992), que afirma que as sessões deverão ser de 30 a 45 minutos no máximo, e que deverão ter uma frequência de 2 ou 3 vezes por semana. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 329 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE A intensidade das sessões é baixa ou moderada como seria de esperar, e vão ao encontro das recomendações de Feigenbaum e Pollock (1999) quando referem que as sessões iniciais devem ser de baixa intensidade, aumentando continuamente o peso das cargas em pequenos incrementos, mas nunca chegando a intensidades muito elevadas. Santos (1997) acrescenta que os problemas relacionados com a intensidade aparecem quando o idoso foi antigo praticante e esquece-se da sua atual idade, pensando que pode fazer o mesmo que quando era mais novo. 3.5 – Métodos de organização utilizados durante as aulas. Quando questionamos os professores sobre o tipo de organização usado nas aulas constatamos que recorriam a todos os tipos de organização. No entanto a maioria das vezes eram exercícios dirigidos a toda a classe ou em grupos, sendo o trabalho individualizado apenas efetuado em situações muito particulares, indo ao encontro de necessidades individuais quando existem diferentes patologias. Relativamente à forma de organização das aulas, Barbosa (2000) refere que é indiferente ser individuais ou em grupo, pois o que realmente interessa é que sejam direcionados para as necessidades dos idosos envolvidos. Zambrana (1992), acrescenta que o trabalho em grupo e em pares é normalmente bem tolerado por este tipo de população. 3.6 - Cuidados a ter antes, durante e depois das aulas na preparação das mesmas e no contacto com os idosos. No que respeita à preparação das aulas, há várias preocupações por parte dos professores no contacto com os idosos. As principais preocupações estão relacionadas com o conforto e bem-estar dos idosos. Tem-se em conta as condições climatéricas nas saídas para o exterior, procura-se aconselhar os idosos relativamente ao tipo de vestuário a usar nas aulas, um outro aspeto referenciado como muito importante tem a ver com a preparação prévia dos idosos para a realização das atividades a propor (é sempre necessário CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 330 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE fazer um bom aquecimento para evitar lesões), um outro fator igualmente importante está relacionado com o clima das aulas (deve-se procurar manter um clima positivo, para que os idosos se sintam motivados e continuem a querer participar nas aulas de atividade física. Segundo Martins (1999), a motivação é fundamental para garantir a continuidade e, consequentemente, atingir os vários objetivos/benefícios do exercício. O autor refere que não se devem desprezar alguns aspetos como a roupa e calçado adequados, as variações climatéricas e as fases obrigatórias de aquecimento, no início da atividade e o relaxamento no fim da mesma. Os aspetos vêm ao encontro das preocupações manifestadas pelas professoras que fizeram parte do estudo. 3.7 – Atividades desenvolvidas e materiais usados nas aulas O plano de atividades contempla a ginástica de manutenção, as danças, os passeios e na opinião dos professores “…outras atividades regulares nas quais se vai aumentando a intensidade ao longo do ano, bem como a variabilidade do tipo de exercícios tentando melhorar a resistência”. Foi-nos possível também apurar que o tipo de trabalho realizado é direcionado para várias vertentes, tais como saúde e bem-estar, animação/socialização e também lúdico/recreativa, como se pode observar nas frases dos professores quando dizem que: “procuramos que se sintam melhor com eles próprios…” para “…os pôr a viver a vida duma forma mais positiva…”, “é importante que convivam uns com os outros”, ou ainda “serve para passar o tempo de forma divertida”. O tipo de atividades realizadas com mais frequência são aquelas que fazem parte do plano de atividades (Dança/Folclore, Caminhadas, Ginástica de Manutenção), privilegiando-se nesta última os exercícios de coordenação, flexibilidade, equilíbrio e motricidade fina. São também desenvolvidos diferentes jogos tradicionais e jogos infantis (jogo do anel, jogo da teia, jogos de roda e coreografias), adaptando-os às idades dos participantes. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 331 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Carvalho (1999) e Barbosa (2000), referem que no trabalho com idosos é importante que os exercícios atendam às necessidades individuais, devendo de igual modo ser relaxantes e agradáveis e ainda ser continuados regularmente. Os autores acrescentam que os idosos aderem bem a programas de exercícios simples tais como, caminhadas, danças, subir degraus, natação, bicicleta ergométrica, exercícios na cadeira e exercícios na cama…). Martins (1999), refere que a atividade física deve ser variada e atrativa, com conteúdos simples e de fácil assimilação. É recomendável que aqueles que levaram uma vida muito sedentária comecem por atividades mais fáceis, é necessário também estabelecer limites e não os ultrapassar. Quanto ao tipo de materiais usados nas aulas, a maioria dos professores utiliza bolas, bastões, balões, elásticos e outro tipo de materiais móveis. As cadeiras são usadas no desenvolvimento de muitos exercícios porque garantem um maior apoio e estabilidade aos idosos, uma vez que muitos deles apresentam problemas a nível osteo-articular. Um aspeto importante a salientar é a utilização da música durante as sessões, funcionando muito como um fator motivador para a participação nas atividades. Para Zambrana (1999), a utilização de diferentes tipos de material e música é fundamental nos programas de atividade física com idosos, pois para além de tornar a aula mais motivante e lúdica, potencia a relação e comunicação. O autor acrescenta ainda que na mesma sessão não deve ser utilizado uma grande variedade de material pois pode desorientar os participantes. Para Géis (1996), o material deve servir como elemento de suporte para alcançar um objetivo pretendido e não deve ser considerado um elemento básico. Deve-se procurar os diferentes recursos que cada material nos fornece, aproveitando para um amplo leque de exercícios introduzi-lo no momento mais adequado da sessão. O autor refere ainda que, os instrumentos utilizados nas aulas podem ser grandes e pequenos, material fixo e móvel. Entre os grandes, os espaldares oferecem diversas possibilidades de uso, os bancos e sobretudo as cadeiras são necessários em toda CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 332 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE a aula de atividade física para os idosos. Os instrumentos pequenos, são os que oferecem à terceira idade as maiores possibilidades de realizar um tipo de atividade que vai além da técnica. 3.8 – Recetividade aos exercícios propostos, atividades preferidas Relativamente à recetividade dos idosos às atividades propostas, verificamos que a totalidade dos idosos (100%) se mostraram totalmente recetivos. No que toca às atividades preferidas, destacam-se as danças, “o bailarico” como eles lhe chamam, as caminhadas, os jogos e exercícios de flexibilidade, de coordenação e equilíbrio, principalmente aqueles onde estão sentados em cadeiras porque se sentem mais seguros e apoiados. Quadro 4 – Atividades preferidas Atividades Preferidas Dança Caminhada Jogos Géis (2003), refere que quando falamos de preferências encontramos uma grande variabilidade de interesses, enquanto uns preferem atividades físicas de acordo com aulas tradicionais, outros preferem realizar atividade divertindo-se, comunicando, falando, de uma maneira mais informal e relaxante. 3.9 – Principais gratificações e dificuldades encontradas no trabalho com idosos. Os resultados demonstraram que entre os aspetos positivos se destacam a empatia criada com os participantes e também a alegria por eles demonstrada. Os professores disseram mesmo: “…é bom sentir que uma pessoa é bem-vinda e que é fonte de alguma alegria para eles”. Um aspeto também muito importante apontado pelos professores foi contactar com uma faixa etária desconhecida, o que permitiu tomar na opinião dos professores: “conhecimento do passado e experiência de cada CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 333 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE pessoa…, conhecendo e contactando vários tipos de vida, experiências positivas e negativas.”. Quadro 5 – Principais gratificações e dificuldades Conhecer uma faixa etária desconhecida Gratificações Empatia Alegria dos praticantes Falta de compreensão Dificuldades Motivação dos idosos Perceber os limites dos praticantes Relativamente às dificuldades, as principais foram a dificuldade na motivação dos idosos para a prática das atividades, por vezes a falta de compreensão por parte dos idosos e também a perceção dos limites dos praticantes. Um aspeto que foi também referido está relacionado com as perdas de praticantes ao longo do ano, seja por falecimento ou por agravamento de doença. A este respeito os professores referiram: “Os factos piores do trabalho é chegar semana a semana e ver que uma pessoa já não vem porque faleceu, e por vezes pensar que uma pessoa está a melhorar e que de repente teve uma quebra.”. 3.10 – Relação entre a prática regular de atividade física e melhoria do bemestar e qualidade de vida dos idosos Relativamente a esta questão, a resposta por parte dos professores foi unânime, a melhoria é visível com o tempo quer a nível físico, quer a nível psicológico, como se pode constatar nas afirmações: “…chegam mais depressa aos sítios… e ganham mais alguma independência.”, “havia idosos que andavam de bengala e deixaramna”, “há idosos que dizem que dormem melhor à noite quando têm atividade física.”. A International Society of Sport Psychology (ISSP) emitiu em 1992 um position statement relativamente à atividade física e aos seus benefícios psicológicos afirmando que o exercício físico a longo prazo, é geralmente associado a uma redução do neuroticismo e diminuição dos níveis de leves a moderadas depressões, pode ser considerada uma ajuda para o tratamento de depressões severas, redução de stress e pode ainda originar efeitos emocionais positivos. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 334 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE A Direção Geral da Saúde, num dos seus guias para as pessoas idosas (2001), alerta para a necessidade de se manterem ativos, sendo por isso necessário e fundamental praticar uma atividade física regular, porque esta pode conduzir ao aumento da capacidade cardio-respiratória, da produção de força e da melhoria da eficiência e eficácia de várias atividades do dia-a-dia (tal como escrever, comer, vestir, folhear um livro, colocar e retirar objetos, …) (Peel, Utsey & MacGregor, 1999). Zambrana (1992), alerta ainda para outro pormenor, referindo que quando se fala em benefícios do exercício físico, devemos referir-nos a uma prática racional, controlada, dirigida por especialistas, ou assessorada por eles. Uma atividade física desordenada, irregular, sem nenhuma orientação profissional ou apoio de especialistas, pode ser prejudicial. Conclusões 1. No concelho de Castelo Branco pudemos concluir que num universo de 24 instituições apenas 4 apresentam atividade física com idosos, o que pensamos ser um número reduzido tendo em conta o número de instituições existentes, sendo consequentemente uma área a trabalhar futuramente. 2. Relativamente aos espaços de atividade física, verificámos que as instituições estudadas apresentam condições deficientes, apenas uma das instituições possui um ginásio, decorrendo as atividades nas restantes instituições em salas de convívio, normalmente de dimensões reduzidas e pouco adequadas. As instituições possuem de igual modo poucos recursos materiais para as aulas. 3. Relativamente à participação nas aulas de atividade física os idosos não necessitam de ter um perfil específico nem são obrigados a participar, muito de instituição para instituição e mesmo de aula para aula dentro da mesma instituição. O número de participantes nas atividades pode considerar-se baixo e são quase sempre os mesmos. A maioria dos participantes nas aulas situa-se na faixa etária CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 335 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE que se situa entre os 60 e os 80 anos, não tiveram nenhum passado desportivo e em todas as instituições se constatou que há uma maior participação por parte das senhoras. Após estarem integrados no grupo, quer as senhoras quer os homens demonstram uma atitude empenhada e participativa. 4. No que respeita à frequência, intensidade e duração das sessões, averiguámos que a maioria das instituições têm tem apenas 2 sessões semanais, a sua duração não ultrapassa uma hora e a intensidade das mesmas é geralmente baixa ou moderada. 5. As sessões são na sua maioria direcionadas para grupos ou para toda a classe, usando-se o trabalho individualizado em situações muito particulares indo ao encontro de necessidades individuais dos idosos relacionados com diferentes patologias. 6. Entre as principais preocupações a ter por parte dos professores, no trabalho com esta faixa etária destacam-se a temperatura ambiente do espaço onde se realizam as aulas, a adequação do vestuário utilizado pelo participantes, a preparação prévia dos idosos para a realização das atividades, e a criação de um clima positivo para gerar motivação nos participantes. 7. O tipo de trabalho realizado nas aulas é direcionado para várias vertentes, tais como saúde e bem-estar, animação/socialização e também lúdico/recreativa, sendo as atividades mais realizadas a Dança/Folclore, as Caminhadas e também a Ginástica de Manutenção, privilegiando-se nesta última os exercícios de coordenação, flexibilidade, equilíbrio e motricidade fina. São também desenvolvidos diferentes jogos tradicionais e jogos infantis. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 336 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Quanto aos materiais mais usados nas aulas são as bolas, bastões, balões, elásticos e outro tipo de materiais móveis. As cadeiras são usadas no desenvolvimento de muitos exercícios porque garantem um maior apoio e estabilidade aos idosos. Concluímos também que a música tem uma presença constante nas aulas, funcionando muito como um fator motivador para a participação nas atividades. 8 – Os idosos que participam nas atividades físicas, mostram-se totalmente recetivos, preferem as danças, as caminhadas, os jogos e exercícios de flexibilidade, de coordenação e equilíbrio, principalmente aqueles onde estão sentados em cadeiras porque se sentem mais seguros e apoiados. 9. As principais gratificações no trabalho com idosos são a empatia criada bem como a alegria por eles demonstrada. As principais dificuldades prendem-se com a dificuldade na motivação para a prática, a falta de compreensão por parte dos idosos e também a perceção dos seus limites. 10 – Quanto aos benefícios da prática os professores referiram que a melhoria é visível com o tempo quer a nível físico, quer a nível psicológico Referências Bibliográficas - Barbosa, R. (2000) “Educação Física Gerontológica saúde e qualidade de vida na Terceira idade”. 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CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 338 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE CARATERIZAÇÃO DO CONSUMO DE ÁLCOOL ENTRE OS ESCOLARES DE 12 A 21 ANOS DE IDADE DO DISTRITO DE BEJA Teresa Tavares,1 Jorge Bonito,2 & Maria Manuela Oliveira3 1 Escola Secundária com 3.º ciclo D. Manuel I de Beja. Universidade de Évora. Baja. Portugal [email protected] 2 Universidade de Évora. Centro de Investigação Didática e Tecnologia na Formação de Formadores da Universidade de Aveiro. Évora. Portugal. [email protected] 3 Escola de Ciências e Tecnologia da Universidade de Évora. Centro de Investigação em Matemática e Aplicações (CMA). Évora. Portugal. [email protected] Resumo O facto do consumo de álcool ser bem tolerado pela sociedade, faz com que seja a substância psicoativa mais procurada no mundo, registando-se um aumento do consumo pelos jovens, entre 1995 e 2011 (ECATD, 2011; ESPAD, 2012; INME, 2011; HBSC, 2012). Segundo a OEDC Health Data 2012, Portugal é o segundo país do mundo com maior consumo per capita, in ex aequo com a Áustria. Ainda assim, apresenta valores ligeiramente abaixo da média dos resultados do relatório ESPAD 2011, tendo 74% dos alunos consumido álcool nos últimos 12 meses e 52% nos últimos 30 dias. O presente estudo pretende caracterizar o consumo de álcool pelos adolescentes escolares entre os 12 e os 21 anos de idade, do distrito de Beja e identificar fatores determinantes desse comportamento. Foi realizado um inquérito por questionário, construído para o efeito, validado por peritos externos e em testagem piloto. Apenso a este questionário, aplicou-se o auto-teste AUDIT, para avaliar o tipo de consumo dos jovens. Obtivemos 501 questionários válidos, procedentes de 8 escolas do distrito de Beja. A análise de dados incluiu medidas de tendência central e de dispersão, e coeficientes de correlação V de Cramer e testes de Kendall, com o objetivo de analisar a intensidade e o sentido da associação entre as diferentes variáveis nominais. Os resultados obtidos apontam para que os primeiros consumos de álcool ocorrerem entre os 12 e os 14 anos de idade, com os amigos, em contextos festivos, preferencialmente à noite e aos fins de semana. Os jovens consomem essencialmente cerveja e bebidas brancas, para obter alegria, gastando até cerca de 10 euro por semana e já mais de metade dos alunos experienciaram estado de embriaguez. A esta realidade preocupante, de consumos em idades precoces, junta-se a recente decisão do Conselho de Ministros em manter a CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 339 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE idade dos 16 anos como a legal para a venda e consumo de cerveja e de vinho, sem evidência científica, dilatado a idade permitida de acesso às bebidas destiladas para os 18 anos. Palavras-chave: Adolescentes, hábito, consumo, álcool. 1. Introdução O facto do consumo de bebidas alcoólicas ser muito bem tolerado pela sociedade portuguesa, faz com que o álcool seja a substância psicoativa mais consumida pelos jovens portugueses. Enquanto o Decreto-Lei n.º 9/2002, de 24 de Janeiro estabelecia a proibição de venda e de consumo de qualquer tipo de bebida alcoólica a menores de 16 anos de idade, o Decreto-Lei n.º 50/2013, de 16 de abril, veio revogar o anterior com exceção do art.º 9.º, mantendo essa proibição, passando o consumo de bebidas, espirituosas para os 18 anos de idade. A cerveja e o vinho são consideradas bebidas não espirituosas, podendo ser consumidas indiscriminadamente por jovens maiores de 16 anos. O quadro legal continua, desta forma, a dar a entender que as bebidas alcoólicas não são substâncias psicoativas. O European School Survey Project on Alcohol and other Drugs – ESPAD baseiase na aplicação de inquéritos europeus escolares, a estudantes entre os 15 e os 16 anos, de 36 países da Europa, incluindo Portugal, e pretende obter informações acerca dos consumos de substâncias psicoativas, bem como avaliar as tendências ao longo do tempo. De acordo com o ESPAD 2003 (ESPAD, 2004), cerca de 90% dos estudantes da generalidade dos países envolvidos no estudo e 80% dos alunos portugueses já consumiu álcool pelo menos uma vez ao longo da sua vida. A média de prevalência do consumo de álcool ao longo da vida permanece, em 2007 em 90% e, em 2011, desceu ligeiramente para 87% (ESPAD, 2008, 2012). Segundo o relatório ESPAD consumo de álcool pelos jovens portugueses, em 2011, já se aproxima da média CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 340 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE europeia, apesar de nos relatórios de 2003 e de 2007 ser inferior, verificando-se um aumento do consumo de álcool pelos alunos portugueses. O Estudo sobre o Consumo de Álcool, Tabaco e Drogas (ECATD) corresponde a uma versão alargada do ESPAD. É utilizado o mesmo questionário e a mesma metodologia e aplica-se a amostras representativas de alunos de cada um dos grupos etários dos 13 aos 18 anos (do 7.º ao 12.º anos de escolaridade). O ESPAD baseia-se nas respostas dos alunos de 16 anos de idade. Considerando os resultados do ECATD obtidos ao longo dos nove anos de aplicação (20032011) verifica-se um aumento da prevalência de consumo de bebidas alcoólicas ao longo da vida, de 2003 (47,2% para os 13 anos, 85,2% para os 16 anos e 93,5% para os 18 anos) para 2007 (50,5% aos 13 anos, 87,5% aos 16 anos e os 93,8% aos 18 anos) e uma diminuição de 2007 para 2011 (36,5% para os 13 anos, 82,2% para os 16 anos e 90,6% para os 18 anos), em todas as faixas etárias consideradas, sendo progressivamente crescente dos 13 para os 18 anos e semelhante entre rapazes e raparigas. O Inquérito Nacional em Meio Escolar (INME) é um estudo periódico, realizado pelo ex-Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT) de cinco em cinco anos, tendo sido aplicado pela primeira vez em 2001. Incide sobre alunos do 3.º ciclo do ensino básico e do ensino secundário. De acordo com os dados do INME, para o 3.º ciclo do ensino básico, e tendo em conta a prevalência ao longo da vida, verifica-se uma pequena diminuição da experimentação do consumo de álcool de 2001 para 2006 (de 67% para 60%), voltando a aumentar em 2011 (67%). No ensino secundário verifica-se uma pequena diminuição da experimentação do consumo de 2001 para 2006 (de 91% para 87%), voltando a aumentar em 2011 (93%). O Health Behavior in School-aged Children (HBSC/WHO) é um estudo da Organização Mundial de Saúde que se baseia num questionário aplicado a alunos do 6.º, 8.º e 10.º anos, procurando encontrar um máximo de adolescentes com idades de 11, 13 e 15 anos. Segundo os resultados do HBSC/WHO 2010 CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 341 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE (Matos et al., 2012), 42% dos adolescentes portugueses refere ter consumido álcool pela primeira vez entre os 12 e os 13 anos de idade e cerca de 62% refere que se embriagou pela primeira vez, por volta dos 14 anos. Os locais de eleição dos jovens para consumirem bebidas alcoólicas são as discotecas e os bares, seguindo-se a casa de amigos e a casa dos pais (ESPAD, 2004). No relatório de 2011 (ESPAD, 2012), 45% refere que, nos últimos 30 dias, as bebidas alcoólicas consumidas foram adquiridas em estabelecimentos públicos, tais como, bares e discotecas. A cerveja é bebida mais consumida por cerca de metade dos jovens da totalidade dos países participantes no ESPAD 2003 (ESPAD, 2004), e por cerca de 35% dos portugueses, havendo um maior consumo por parte dos rapazes. Segue-se o consumo de vinho e de bebidas destiladas. Na última ocasião, para cerca de metade dos jovens (49%), a bebida mais consumida foi a cerveja, seguindo-se uma franja de 42% que consome bebidas destiladas e apenas cerca de 1/3 ingere vinho. Cerca de 81% dos alunos consideram que fácil ou muito fácil obter bebidas alcoólicas, não havendo grandes diferenças entre rapazes e raparigas (ESPAD, 2012). Lomba, Apóstolo, Mendes e Campos (2011), num estudo sobre jovens portugueses, com idades compreendidas entre os 15 e os 35 anos, que frequentam ambientes recreativos noturnos, verificam que estes saem cerca de seis noites por mês, correspondendo a uma média de mais do que uma noite por fim de semana e visitam entre dois a três locais de diversão por noite. Nestas saídas noturnas, que duram entre 5 a 6 horas, por noite, os jovens gastam em média 16 euro. Cerca de 96% dos jovens tendem a selecionar os ambientes recreativos tendo em conta a possibilidade de encontrar amigos e cerca de 59% dos jovens preferem locais de diversão com possibilidade de acesso a bebidas alcoólicas baratas. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 342 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2. Metodologia 2.1. Participantes No ano letivo de 2010/2011 a população teórica de alunos do 9.º ao 12.º ano, do ensino público, do distrito de Beja, era constituída por 4 416 alunos, sendo 1 051 alunos do 9.º ano, 708 alunos do 10.º ano, 660 alunos do 11.º ano e 1997 alunos do 12.º ano. Foi selecionada uma amostra aleatória estratificada, que se desejava superior a 10% da população. Foi definido um erro amostral de 5%, com um nível de confiança de 95%. A amostra necessária era de 282 alunos do 9.º ano, 250 do 10.º, de 244 do 11.º ano e de 323 do 12.º ano. No total, aplicámos 1 176 questionários, com uma taxa de retorno de 42,6% (501 questionários respondidos), abrangendo 11,4% da população total. O erro amostral efetivo, por ano de escolaridade, foi de 7,72% no 9.º ano (140 questionários válidos), de 7,69% no 10.º ano (133 questionários válidos), de 8,25% no 11.º ano (117 questionários válidos) e de 9,05% no 12.º ano (111 questionários válidos). 2.2 Instrumentos de recolha de informação Foi construído um inquérito por questionário, de raiz, que se encontrava dividido em três dimensões: sociocultural, pessoal e representações sociais. Apenso ao questionário, juntou-se o Alcohol Use Disorders Identification Test - AUDIT (Babor, Higgin-Biddle, Saunders & Monteiro, 2001), que consiste num autoteste para avaliar o tipo de consumo dos alunos (consumo de baixo risco, consumo nocivo/abusivo ou dependência). O questionário foi sujeito à apreciação de um painel de quatro especialistas: António Neto (Universidade de Évora), Domingos Neto (Faculdade de Ciências Médicas – UNL); Jorge Bonito (Universidade de Évora) e Margarida Gaspar de Matos (Faculdade de Motricidade Humana – UL). As sugestões dos especialistas foram discutidas e consideradas, procedendo-se às devidas alterações. Posteriormente foi aplicado um pré-teste a uma amostra de 14 alunos do 9.º ano e 13 do 12.º ano da Escola Secundária c/ 3.º ciclo do ensino básico, permitindo CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 343 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE recolher as suas opiniões, analisar os comentários que elaboraram, as perguntas que ofereciam dificuldade de compreensão, com o objetivo de otimizar a versão final. Obteve-se um valor de 0,862 para o Alpha de Cronbach, considerando que o instrumento apresenta alta confiabilidade. Tivemos autorização da Direção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular do Ministério da Educação (n.º 0202900001), para aplicação do questionário no meio escolar e, também, dos diretores dos agrupamentos de escolas e das escolas não agrupadas, assim como dos encarregados de educação dos alunos envolvidos. A aplicação fez-se entre maio e junho de 2011. A informação dos questionários foi tratada com recurso ao programa SPSS 21.0. 3. Resultados 3.1. Caracterização da amostra Dos 501 alunos da amostra em estudo, 140 pertencem ao 9.º ano, 133 alunos ao 10.º, 117 ao 11.º ano e 111 ao 12.º ano. Os alunos do 9.º ano pertencem a escolas básicas e integradas com 2.º e 3.º ciclo ou a escolas secundárias com 3.º ciclo. Os alunos do 10.º ao 12.º ano pertencem a escolas secundárias com 3.º ciclo. Os alunos do 9.º ano de escolaridade apresentam em média 14,9 anos (DP 0,891 e erro standard da média 0,075), sendo o valor modal de 15 anos. A idade mínima é de 12 anos e a máxima de 18 anos. Relativamente ao 10.º ano, a média de idades é de 15,9 anos (DP 0,774 e erro standard da média 0,067), sendo o valor mais frequente de 15 anos. A idade mínima é de 15 anos e a máxima de 19 anos. No 11.º ano os alunos têm uma média 16,7 anos (DP 0,853 e erro standard da média 0,079). O valor modal é 16 anos, com uma idade mínima de 16 e máxima de 21. Os alunos do 12.º ano apresentam uma média de 17,7 anos CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 344 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE (DP 0,669 e erro standard da média 0,064), sendo a moda 17 anos, com uma idade mínima de 17 anos e máxima de 19 anos. Da amostra total, 279 questionários (55,7%) foram respondidos por raparigas. Por anos de escolaridade e do sexo feminino, 78 alunas (55,7%) são do 9.º ano; 72 (54,1%) do 10.º ano; 70 (59,8%) do 11.º ano; e 59 (53,2%) do 12.º ano. 3.2 Apresentação e discussão dos resultados O questionário encontra-se dividido em três partes/dimensões: a parte I representa a dimensão sociocultural; a parte II contem um conjunto de questões relacionadas com os hábitos de consumo dos alunos; e a parte III apresenta as representações sociais dos alunos acerca do consumo de álcool. Para este trabalho consideram-se as variáveis “Idade” e “Sexo” (dimensão sociocultural) com vista à caraterização da amostra e as variáveis “Já consumiu álcool”, “Idade da 1ª bebida”, “Em que contextos sociais/ocasiões consome bebidas alcoólicas”, “O que procura no consumo de bebidas alcoólicas”, “Em que parte do dia costuma consumir bebidas alcoólicas”, “Quando tomou o último copo”, “Que bebidas alcoólicas costuma consumir”, “Quanto dinheiro costuma gastar em bebidas alcoólicas, por semana” (dimensão pessoal) e “Teste AUDIT”, para caracterizar os hábitos de consumo de álcool dos alunos. “Já consumiu álcool?” Uma reduzida franja de inquiridos (7,2%) declara nunca ter consumido bebidas alcoólicas: 9% (9.º ano); 10% (10.º ano); 4,3% (11.º ano) e 5,4% (12.º ano). Estes resultados estão na continuidade dos encontrados pelos estudos ECATD (2011), ESPAD (2012), INME (2011) e HBSC (2012). CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 345 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE “Idade com que consumiu a primeira bebida alcoólica?” Todos os alunos declararam ter consumido a sua primeira bebida alcoólica antes dos 18 anos de idade e apenas 5,6% o fez com mais de 16 anos. Para um pouco mais de 1/4 dos alunos do 9.º ano, o primeiro contacto com o álcool fez-se aos 13 anos de idade, ainda que cerca de 20% a tivesse experimentado um ano antes. A média das idades do 1.º consumo é de 12,7 anos (DP = 2,056 e erro standard da média = 0,183). No 10.º ano, 27,6% consumiu aos 14 anos e 22,5% aos 13 anos, com a média do primeiro consumo situada em 13,0 anos (DP = 2,039 e erro standard da média = 0,186). Relativamente aos alunos do 11.º ano, a média de idades do primeiro consumo sobre para 13,6 anos (DP = 1,855 e erro standard da média = 0,179), tendo 22,4% iniciado aos 14 anos e a mesma percentagem aos 15 anos. Os alunos do 12.º ano apresentam uma média de 13,5 anos para o primeiro consumo (DP = 1,998 e erro standard da média = 0,198), tendo 23,9% iniciado aos 15 anos ex aequo com o grupo dos 13 anos. Estes resultados, com uma média de 13,3 anos entre anos de escolaridade, não diferem dos encontrados em outros estudos (ECATD, 2011; ESPAD, 2012; INME, 201; HBSC, 2012), que situam a idade de experimentação de bebidas alcoólicas entre os 12 e os 13 anos. “Em que contextos sociais costuma consumir bebidas alcoólicas”? Cerca de 24,2% dos alunos do 9.º ano refere que consome bebidas alcoólicas em festas; 23,4% também com os amigos e 20% ainda principalmente aos fins de semana. Encontram-se variadas combinações de ocasiões preferenciais de consumos de álcool, estando as festas agregadas a 85,1% dos contextos sociais para o efeito. No 10.º ano, 19,2% dos alunos refere que consome em festas, saídas com os amigos, preferencialmente aos fins de semana e, a mesma percentagem, acrescenta ainda os finais de período. Os contextos festivos estão associados a 84,1% das respostas. Cerca de 25% dos alunos do 11.º ano refere que consome bebidas alcoólicas em festas e saídas com os amigos; 20,5% bebe CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 346 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE preferencialmente em festas e cerca de 12% consome também com os amigos e aos fins de semana. Os contextos festivos voltam a ser preferência destes alunos, onde os consumos estão associados a cerca de 80% das respostas. Por último, os alunos do 12.º ano também consomem preferencialmente em contextos festivos e com os amigos (23,8%), seguindo-se as festas (19,1%), com os amigos e principalmente aos fins de semana. Os contextos festivos estão associados a grande parte das respostas dadas pelos alunos (82,9%). Verifica-se que a maior parte dos consumos de álcool pelos jovens dos quatro níveis de escolaridade está associada a contextos festivos, com amigos e principalmente ao fim de semana (40%). Estes dados confirmam os do inquérito HBSC (Matos et al, 2012), em que cerca de 37% dos alunos declararam consumir bebidas alcoólicas nesse período da semana, bem como os do estudo de Lomba et al. (2011) onde se verifica que os jovens escolares saem cerca de seis noites por mês, correspondendo a uma média de mais do que uma noite por fim de semana. “O que procura no consumo de bebidas alcoólicas?” De entre a enorme diversidade de efeitos que os jovens procuram obter através do consumo de álcool, há a destacar a procura de “diversão” e a “alegria”, como as opções mais escolhidas por todos. Estes indicadores estão associados a 78,1% das escolhas dos alunos do 9.º ano, a 84,2% no 10.º ano, a 80,4% no 11.º ano e a 69,5% no 12.º ano. Os estudos ESPAD (2012) e HBSC (Matos et al, 2012) apontam resultados idênticos aos que que encontrámos, onde a maior parte dos alunos procura diversão, esquecer/lidar com os problemas e otimização social. “Em que parte do dia costuma consumir bebidas alcoólicas?” Verificamos que a maior parte dos consumos de bebidas alcoólicas se fazem preferencialmente à noite (91% no 9.º ano, 81% no 10.º ano, 88% no 11.º ano e CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 347 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 80% entre os alunos do 12.º ano). Contudo, consideramos preocupante que alguns declarem consumir bebidas alcoólicas às refeições ou que se levantem durante a noite para consumir álcool (referência no 9.º ano). Cruzando esta informação com a dos contextos sociais, verifica-se que a maior parte dos alunos consome álcool em contextos festivos, com os amigos, preferencialmente aos fins de semana e à noite. Estes dados confirmam os encontrados pelos estudos do HBSC (Matos et al, 2012) e de Lomba et al. (2011). “Quando tomou o último copo?” A maior parte dos alunos dos quatro anos de escolaridade consumiu o último copo de bebida alcoólica na última semana, seguindo-se o consumo entre uma semana e um mês, tratando-se de consumos atuais. Tendo em conta que o questionário foi aplicado durante o terceiro período, verificamos que 75,7% dos alunos do 9.º ano, 77,5% no 10.º ano, 83% no 11.º ano e 76,2% dos alunos no 12.º ano declarou ter consumido bebidas alcoólicas no último mês, sendo indicador de um consumo habitual. Cerca de 2% dos alunos da amostra refere ter consumido no próprio dia da aplicação do questionário. Os nossos resultados estão de acordo com os estudos referidos anteriormente, onde se verifica um aumento da prevalência de consumos com o aumento da idade e cerca de metade dos jovens tomou o último copo, nos últimos 30 dias. “Que bebidas alcoólicas costuma consumir?” Os adolescentes do 9.º ano consomem, preferencialmente, cerveja (15,6%), seguindo-se as bebidas brancas (14,8%) ou ambas (12,7%). Mais de 14% costuma consumir estes dois tipos de bebidas e ainda shots. As bebidas brancas estão associadas a 71,9% dos consumos e a cerveja a cerca de 60% das preferências. Em relação aos alunos do 10.º ano, as preferências recaem sobre a cerveja, shots e bebidas brancas (16,7%), seguindo-se cerveja e bebidas brancas (11,7%). Destas três bebidas, as mais consumidas são as brancas CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 348 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE (10,8%), seguida da cerveja (8,3%). As bebidas destiladas estão associadas a 75% das preferências e a cerveja a 67,5% das várias opções. Também no 11.º ano as preferências recaem novamente no conjunto de cerveja, shots e bebidas brancas (11,6%), tal como no conjunto de todas as bebidas. Isoladamente, as bebidas espirituosas continuam a ser as mais consumidas (10,7%), seguidas da cerveja (5,4%). As bebidas brancas estão associadas a 79,4% das preferências e a cerveja a 70,5% das diversas respostas. No 12.º ano, a maior parte dos alunos prefere consumir bebidas brancas (14,3%), seguindo-se a associação da cerveja, com shots e bebidas brancas (11,4%). As bebidas brancas estão associadas a 81,9% das preferências, enquanto a cerveja relaciona-se com 60% das opções. À medida que se avança na escolaridade, verifica-se um aumento da preferência no consumo de bebidas espirituosas, em detrimento da cerveja. Os estudos ECATD (2011), ESPAD (2012), INME (2011) e HBSC (Matos et al, 2012) corroboram estes resultados. Em síntese, os jovens consomem essencialmente cerveja e bebidas destiladas, sendo geralmente a cerveja mais consumida pelos rapazes e as bebidas destiladas pelas raparigas. “Quanto dinheiro costuma gastar em bebidas alcoólicas, por semana?” Mais de metade dos alunos do 9.º ano (61,7%) gasta até 10 euro por semana, enquanto 34,4% usa menos que 5 euro. Contudo, 11 alunos consomem sem pagar, o que pode contribuir para um aumento desse consumo. Entre os alunos do 10.º ano, 35,8% gasta menos de 5 euro por semana e 32,5% gasta entre 5 a 10 euro. Encontrámos, de igual forma, 11 alunos que conseguem consumir álcool sem pagar. No 12.º ano, menos de metade (40,2%) gasta menos de 5 euro/semana, e 30,3% gasta entre 5 e 10 euro. Há quatro alunos que declaram consumir sem pagar. Destacam-se, como desvio à norma, dois alunos do 9.º ano e um aluno de cada um restantes anos letivos, que declaram gastar mais de 30 euro por semana, em bebidas alcoólicas. Lomba et al. (2011) verificam que CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 349 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE nestas saídas noturnas, que duram entre 5 a 6 horas, os jovens gastam em média 16 euro. Segundo o HBSC (Matos et al, 2012), cerca de 81% dos jovens inquiridos consideram ser fácil ou muito fácil obter bebidas alcoólicas. “Test-AUDIT” Este autoteste pretende avaliar os tipos de consumos de álcool, classificando-os em “Consumo de baixo risco”, se os resultados se encontram entre 0 e 7; “Consumo nocivo/abusivo”, para valores entre 8 e 19; e “Dependência”, se os valores estiverem compreendidos entre 20 e 40. Para o 9.º ano, obteve-se uma média de 4,94 (DP = 5,216 e erro standard da média=0,457), sendo o valor modal 1, com o mínimo de 0 e o máximo de 20. No 10.º ano, a média é de 4,84 (DP = 4,507 e erro standard da média=0,398). O valor mais frequente é também um, com mínimo de 0 e o máximo de 24. Assistese à subida da média no 11.º ano, para 5,54, com desvio padrão de 5,109 e erro standard da média de 0,487. O valor modal é de 1, com o mínimo de 0 e o máximo de 25. No último ano, a média subiu ainda um pouco mais (5,58), para valor modal de 1, mínimo de 0 e o máximo de 40 (DP=6,008 e erro standard da média = 0,584). A maior parte dos alunos (70,1%, no 9.º ano, 78,2 no 10.º ano, 70,9% no 11.º ano e 69,3% no 12.º ano) apresenta um “consumo de baixo risco”, havendo 21,3% de alunos do 9.º ano, 17,5% do 10.º ano, 21,7% do 11.º ano e 23,4% do 12.º ano, com “consumo nocivo/abusivo e, é com alguma apreensão que, verificamos que 1,4% de alunos (2 alunos) do 9.º ano, 1,4% (1 aluno) do 10.º ano, 1,8% (2 alunos) do 11.º ano e 2,7% (3 alunos) do 12.º ano revelam encontrar-se numa situação de “dependência”. Para um total de 474 respostas válidas, oito alunos (1,7%) apresentam consumos de dependência. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 350 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 3.3.2 Medidas de associação Para avaliar a dependência entre as diferentes variáveis em estudo, recorremos ao estudo do grau de associação através de medidas adequadas para variáveis nominais, tais como as baseadas no Teste do Qui-quadrado, Phi e V de Cramer e para as variáveis ordinais calculámos o Teste Kendall tau e Gama (Maroco, 2010). Considerou-se uma probabilidade de erro de tipo I (α) de 0,05 em todas as análises inferenciais. As hipóteses em estudo são: “H0 – As variáveis em estudo são independentes” e “H1 – Existe uma relação entre as variáveis”. Na Tabela 1 apresentam-se apenas as variáveis cujo valor do p-value foi ≤ 0,05, pelo que revela que as variáveis consideradas são dependentes. Tabela 1. Análise da intensidade e sentido da associação entre variáveis “Idade” e as restantes, nos alunos do 9.º, 10.º, 11.º e 12.º anos Ano de N.º de Cramer`s V Approx. Kendall's Approx. Variáveis escolaridade casos Value Sig. tau-b Sig. Válidos Value Idade x Já consumiu 9.º 137 0,260 0,023 0,241 0,001 álcool? Idade x Idade em que 9.º 126 0,516 0,000 0,167 0,043 consumiu a primeira bebida alcoólica? Idade x Em que contextos 9.º 126 0,375 0,042 sociais costuma consumir bebidas alcoólicas? Idade x Quando tomou o 9.º 128 0,229 0,044 - 0,191 0,014 último copo? Idade x Já consumiu 10.º 133 0,231 0,045 álcool? Idade x Idade em que 10.º 120 0,233 0,002 consumiu a primeira bebida alcoólica? Idade x Em que parte do 10.º 114 0,341 0,002 dia costuma consumir bebidas alcoólicas? Idade x Que bebidas 10.º 117 0,533 0,002 alcoólicas costuma consumir? Idade x Idade em que 11.º 108 0,192 0,014 consumiu a 1.º bebida alcoólica? * p-value é inferior aos usuais níveis de significância (0,05; 0,01; 0,1) Observa-se que a maior parte dos alunos do 9.º ano já consumiu álcool mais do que uma vez, mas são os alunos com 14 e 15 anos de idade onde se verificam os consumos mais frequentes (Figura 1). A partir dos 16 anos não se CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 351 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE referenciaram alunos que nunca tivessem consumido álcool ou que apenas o fizessem uma vez. A maior parte dos alunos mais novos, com 14 e 15 anos consumiu a primeira bebida alcoólica aos 13 anos (Figura 2). Figura 1. Gráfico de frequências das variáveis “Idade” e “Já consumiu álcool?”, do 9.º ano. Figura 2. Gráfico de frequências das variáveis “Idade” e “Idade em que consumiu a primeira bebida alcoólica”, do 9.º ano. A análise das Figuras 3 e 4 mostra-nos que a maior parte dos alunos do 9.º ano costuma consumir em festas e saídas com os amigos, sobretudo entre os 14 e os 15 anos. A maior parte dos alunos “tomou o último copo” na última semana, ou entre a última semana e um mês, predominando estes consumos entre ao 14 e os 15 anos. Figura 3. Gráfico de frequências das variáveis “Idade” e “Em que contextos sociais costuma consumir bebidas alcoólicas?”, do 9.º ano. Figura 4. Gráfico de frequências das variáveis “Idade” e “Quando tomou o último copo?”, do 9.º ano. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 352 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Verifica-se, com base na Figura 5, que a maior parte dos alunos do 10.º ano, de qualquer faixa etária, já consumiu álcool mais do que uma vez, ou até mesmo regularmente. A maior parte dos alunos do 10.º ano, representados na Figura 6, com 15 e 16 anos de idade, consumiram a primeira bebida alcoólica entre os 12 e os 14 anos; os alunos com 17 e 18 anos consumiram-na entre os 14 e os 15 anos, o parecendo assistir-se a uma tendência para iniciar o consumo de álcool de modo cada vez mais precoce. Figura 5. Gráfico de frequências das variáveis “Idade” e “Já consumiu álcool?”, do 10.º ano. Figura 6. Gráfico de frequências das variáveis “Idade” e “Idade em que consumiu a 1.ª bebida alcoólica?”, do 10.º ano. Os estudantes do 10.º ano, de qualquer faixa etária, costumam consumir bebidas alcoólicas, preferencialmente à noite (Figura 7), preferindo consumir cerveja, shots e bebidas espirituosas (Figura 8). Figura 7. Gráfico “Idade”dosFigura 8. Gráfico frequências das variáveis De acordo comdeafrequências Figura 9,das a variáveis maior parte alunos do 11.ºdeano, de qualquer e “Em que parte do dia costuma consumir bebidas “Idade” e “Que bebidas alcoólicas costuma faixa etária, consumiu a primeira bebida alcoólica entre os 14 e os 15 anos. alcoólicas?”, do 10.º ano. consumir?”, do 10.º ano. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 353 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Figura 9. Gráfico de frequências das variáveis “Idade” e “Idade em que consumiu a 1.ª bebida alcoólica?”, do 11.º ano. A análise da Figura 10 revela que a maior parte das raparigas do 9.º ano refere já ter consumido álcool mais do que uma vez, e que os rapazes ficam divididos entre terem consumido álcool mais do que uma vez e o seu consumo regular. Tanto os rapazes como as raparigas referem que costumam consumir bebidas alcoólicas em festas, saídas com os amigos e fins de semana. Enquanto a maior parte das raparigas do 9.º ano prefere consumir bebidas brancas, a maior parte dos rapazes prefere a cerveja. No 10.º ano a cerveja, shots e bebidas brancos apresentam a maior preferência no sexo feminino, enquanto os rapazes optam pela cerveja. A maior parte dos alunos do 10.º ano consome álcool, tendo as raparigas referido que já consumiram mais do que uma vez e os rapazes com regularidade. As raparigas do 10.º ano consumiram a primeira bebida alcoólica entre os 14 e os 15 anos de idade, e os rapazes um ano mais cedo que estas. Percebe-se que a maior parte das raparigas do 10.º ano costuma consumir bebidas alcoólicas em festas, saídas com amigos e fins de semana enquanto os rapazes o faz em festas, saídas com amigos, fins de semana e finais de período. As raparigas do 10.º ano tomaram o último copo entre uma semana e um mês e os rapazes tomou-o na última semana.Tanto os rapazes como das raparigas do 11.º ano referem ter consumido o último copo de álcool na última semana, CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 354 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE havendo mais rapazes que o fizeram no próprio dia em que responderam ao questionário e mais raparigas que no período entre um e três meses e há mais de três meses. A opinião das raparigas acerca do preço das bebidas alcoólicas varia entre o muito elevado e o acessível. Os rapazes consideram-no acessível. A maior parte das raparigas e dos rapazes do 12.º ano já consumiu álcool, mais do que uma vez, havendo maior percentagem de rapazes que o faz regularmente. A maior parte das raparigas e dos rapazes consomem preferencialmente bebidas alcoólicas em festas, saídas com amigos e aos fins de semana. As raparigas do 12.º ano preferem consumir bebidas brancas, enquanto os rapazes preferem a cerveja. Enquanto a maior parte das raparigas considera que o preço das bebidas alcoólicas é elevado ou muito elevado, a maior parte dos rapazes considera-o acessível. 4. Conclusões Os resultados encontrados neste estudo permitem concluir que o álcool é uma substância psicoativa muito consumida pelos adolescentes. A maioria (cerca de 92%) já consumiu, pelo menos, uma vez ao longo da vida. Pese embora o preceito legal que estabelece os 16 anos como idade mínima para este tipo de consumos, e os 18 anos para o consumo de bebidas destiladas, os alunos tendem a iniciar o consumo de álcool cada vez mais cedo, havendo uma diminuição da idade do primeiro consumo dos 14 para os 12-13 anos. Apenas 5,8% dos adolescentes referiu ter consumido a primeira bebida alcoólica com 16 ou mais anos (1,6% no 9.º ano, 2,5% no 10.º ano, 11,6% no 11.º ano e 7,6% no 12.º ano). A ingestão de álcool ocorre, predominantemente, em festas, saídas com amigos e fins de semana, preferencialmente à noite, e com o objetivo de obter alegria e diversão. Entre a panóplia de bebidas disponíveis, os alunos preferem a cerveja, as bebidas espirituosas e os shots, gastando até EUR 10,00 €. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 355 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE A maior parte dos alunos apresenta, ainda assim, consumos de baixo risco. Os consumos abusivos tendem a aumentar proporcionalmente com a idade. Encontrámos 1,7% de alunos com dependência declarada do álcool. Este estudo confirma no distrito de Beja o fenómeno caraterizado em termos nacionais por outros trabalhos (ECATD, 2011; ESPAD, 2012; INME, 2011; Matos et al., 2012). Acentua a necessidade da escola assumir-se como promotora de saúde, capacitando as crianças e os adolescentes para as escolhas positivas e para a adoção comportamentos saudáveis. Consideramos que a situação atual, sem intervenção, potencia problemas de saúde pessoais e públicos e de natureza social. Deixar que o fenómeno do consumo de álcool passe ao lado dos educadores e das autoridades de saúde, sem intervenção capacitante, incluindo o fortalecimento dos contextos, é, no nosso ponto de vista, comprometer o futuro destes jovens e, consequentemente, da sociedade saudável que desejamos. Referências Bibliográficas Babor, T. F., Higgins-Biddle, J. C., Saunders, J. B., & Monteiro, M. G. (2001). AUDIT. The alcohol use disordes identification test. Guidelines for use in primary care (2nd ed.). s.l.: World Health Organization. Balsa, C. (2001). Inquérito Nacional ao Consumo de Substâncias Psicoativas na População Portuguesa 2001. 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Aliás o estabelecimento desta identidade nem sequer pode ser considerado como apanágio do nosso tempo, mas herdeira de uma longa tradição, iniciada pelo menos no pensamento clássico da Grécia e continuado de forma inequívoca pelo iluminismo, desaguando nos nossos dias mas com uma alteração paradigmática, qual seja, a instrumentalização e a cristalização do próprio conceito de saúde. O discurso em prol desta identidade é imenso, abrangendo inúmeras áreas do conhecimento humano, sendo atualmente uma das mais produtivas linhas de investigação das Ciências do Desporto. É nosso propósito refletir um pouco sobre o conceito de saúde, integrá-lo numa discussão mais vasta no campo da axiologia educacional, tentando demonstrar que este importante valor é apenas um dos eixos por onde a Educação Física que deve reger, sendo um efeito indiscutível mas não o seu fundamento matricial. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 359 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Para uma compreensão do conceito de saúde Naturalmente que as palavras valem aquilo que cada um quer que valham. As palavras, bem como o seu valor, são representações culturais, sendo difícil concebê-las desligadas do próprio ser humano, pelo que, mais do que nunca, se impõe uma verdadeira hermenêutica da palavra, para mais em campos tão vastos como aqueles que enformam o mundo das denominadas ciências do desporto. Cremos, e é uma crença apenas, que não é um costume muito arreigado na tradição das ciências do desporto uma reflexão aturada sobre o(s) valor(es) das palavras utilizadas comummente por todos, partindo-se do princípio que o campo semântico de cada é unidirecional, e por isso inequívoco, e não pluridimensional, o que invoca uma pluralidade – embora não infinita - de sentidos. Por um lado temos uma redução do valor das palavras a um só sentido o que impossibilita qualquer tentativa de confronto com outras perspetivas. No outro extremo temos uma amplitude tal de significados, qual Torre de Babel, que torna impossível estabelecer qualquer tipo de comunicação, tal o fundamentalismo que está por detrás destas posições. O conceito de saúde ilustra o primeiro tipo de conduta. Com efeito aceita-se sem discussão este conceito, pensando-se que saúde é aquilo e nada mais, num autêntico a priori indiscutível, e na esperança que nunca ninguém nos pergunte o que efetivamente é. Para evidenciar a posição polar, da discussão infinita, o melhor exemplo que se pode apresentar é a própria palavra desporto. A busca de um conceito de desporto dá lugar a tudo menos à monotonia, tal o enorme manancial de perspetivas, definições, pontos de vista, crenças, paradigmas, correntes e aporias existentes. Parece que ninguém está de acordo com quem quer que seja, convocando-se para sustentar a sua posição uma tal variedade de autores – mesmo que nunca tenham refletido sobre o desporto -, que torna quase impossível um verdadeiro diálogo construtivo. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 360 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Se sobre o conceito de desporto todos opinam, sendo necessário saber à partida a perspetiva de cada um a fim de se situar o diálogo, já sobre o conceito de saúde há apenas uma linha de entendimento, aquela preconizada pela definição da Organização Mundial de Saúde (OMS), não sendo autorizados desvios de espécie alguma. Contudo nem devemos levar o desporto ao extremo de ser tudo o que se quer, nem a palavra saúde a ser apenas aquilo que uma organização, por mais credível que ela for, queira que seja. Ora, se há tantas dificuldades para pontuar o desporto e a saúde, mais haverá se quisermos (co)relacionar uma entidade com a outra. Vejamos, então, o que pode ser a saúde para que depois, cada um por si, a possa ligar ao conceito alargado de desporto. Quando a Organização Mundial de Saúde propôs um conceito de saúde afirmando que esta não era apenas a ausência de doenças, o avanço foi enorme. Um novo paradigma se instaurou, o do bem estar global e não apenas aquele normalmente associado ao corpo. Assim, a OMS, instituição vinculada às Nações Unidas e por isso com uma legitimidade garantida, propõe para definição de saúde o seguinte enunciado: um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doenças ou de enfermidade30. Esta definição de saúde, vulgarizada por tudo quanto é meio de grande difusão, marcou, como já apontámos, uma nova visão pois procedia a uma distinção entre saúde e não ter doenças31. Mas olhemos mais de perto para a referida definição. 30 Esta definição institucional foi retirada da Enciclopédia Verbo Luso Brasileira de Cultura, Edição Século XXI, verbete ‘saúde’ e confirmada em publicações oficiais da OMS 31 Em trabalhos académicos que decorrem sob nossa orientação, já verificamos que o senso comum atribui a saúde ao facto de não estar doente, à aparência ou à capacidade para trabalhar. Notamos diferenças consideráveis no imaginário das pessoas relativamente ao conceito de saúde, especialmente no que se refere à origem urbana ou rural das mesmas CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 361 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Com efeito não é condição suficiente para se ter saúde não ter doenças, mas tal estado é condição necessária (e não apenas da definição). Nesta mesma linha, Winslow, a respeito de saúde pública, assegura que saúde é a ciência e a arte de, entre outros aspetos: a) Prevenir a doença; b) Prolongar a vida. Finalmente, importa frisar que, dentro destas perspetivas institucionais, promoção da saúde é incutir nas pessoas e nas sociedades hábitos e estilos de vida saudáveis, eliminando ou reduzindo os fatores de risco para a saúde. Na linha teórica de Bryan Turner, saúde é entendida como um valor antropológico, não sendo possível separá-la da cosmovisão do povo de quem se está a falar. Assim sendo, considera-se que saúde não é o mesmo em povos que vivem em diferentes estádios histórico-culturais. Mesmo numa sociedade tendencialmente regular, como a portuguesa, notam-se diferenças apreciáveis quando comparamos o conceito de saúde em pessoas pertencentes ao mundo urbano, com aquele preconizado por pessoas que habitam o mundo rural. No primeiro caso, essas respostas situam-se bastante no âmbito da aparência, enquanto no segundo caso se ligam mais à capacidade produtiva, isto é, ao trabalho. A saúde tem que ser compreendida através de diversas formas, cujo espectro vai desde o seu conceito sagrado, quer individual quer coletivo (caso dos tabus ou interditos), até àquelas conceções mais atuais, caso da medicina, de carácter social, ou dos meios alopáticos, de cariz mais individual. É dentro desta multiplicidade de sentidos que a saúde se inscreve, sendo um equívoco ficar dependente de perspetivas únicas, para mais num ambiente de diversidade como é este onde agora estamos inseridos, realçando apenas determinada componente, esquecendo outras. Se hoje o paradigma médico é hegemónico em determinada sociedade, a urbana e industrializada, não nos podemos esquecer que milhões e milhões de pessoas vivem, e bem, entendendo a saúde CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 362 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE por uma ótica diversa. Aliás, é frequente assistirmos a choques entre visões diferenciadas de saúde, principalmente em sociedades onde o multiculturalismo é uma realidade. Leonardo Boff, grande humanista brasileiro conhecido pela sua intervenção no meio teológico, cita um determinado médico alemão, para quem a saúde não é a ausência de danos. Saúde é a força de viver com esses danos, reorientando desta forma a saúde para uma visão antropológica e devidamente situada ao longo da vida de cada um. A vida não pode ser separada do sofrimento nem da morte, pelo que saúde, ainda para Boff, não é um estado nem um ato existencial, mas uma atitude face a várias situações que podem ser doentias ou sãs. Humanizar o sofrimento torna-se assim numa admirável manifestação de saúde. Basta olhar para o momento do nascimento de alguém para compreendermos o significado profundamente humano encerrado na dor ou no sofrimento. Já Miguel de Unamuno nos fez ver que uma vida sem dores faria de nós seres irracionais. Importa, nesta ocasião, relembrar a definição de saúde da OMS. Diz esta prestigiada instituição que saúde não é apenas a ausência de doenças (condição necessária embora não suficiente). Isto diz a ciência. Mas o teólogo diz que saúde é saber viver com as doenças que o tempo traz. E diz o poeta, Teixeira de Pascoaes, que toda a doença é um ataque de velhice. Então, envelhecer neste mundo marcado pela imagem juvenil é já uma morte, talvez simbólica mas por vezes os símbolos são mais dramáticos do que a realidade. Se um dos dramas da morte é o esquecimento, ser esquecido em vivo torna-se ainda mais angustiante. Saúde não é, nem pode deixar de ser, a ausência de doenças. Estas são tão naturais como o envelhecimento. Também a promoção da saúde não deve ser entendida como a eliminação ou redução dos fatores de risco. O tempo, o constante fluir do tempo, é um desses fatores, talvez mesmo o mais importante, CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 363 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE que não pode eliminado, a não ser que o homem sonhe que é Deus e consiga suspendê-lo... O campo semântico da palavra saúde é imenso, não sendo possível separar a palavra conceito da expressão eu penso. A subjetividade apresenta-se, deste modo, como uma dimensão necessária para a conceptualização da ideia de saúde. Se a evolução dos conceitos científicos, dentro dos quais está o de saúde, apresenta, a partir do racionalismo francês, a substituição do sentido pela busca do binómio causa-efeito, hoje assistimos a uma recuperação de alguns dos valores tradicionais em plena consonância com as determinantes positivistas, num claro diálogo entre as diversas racionalidades. Através desta visão de mundo que promove o diálogo de racionalidades, a saúde é então um valor eminentemente antropológico, não podendo ficar dependente apenas de valores estereotipados e normalizados, cujas variáveis são as conhecidas, mas também dependente de fatores subjetivos – outro aspeto em crescendo no nosso tempo. Saúde, tal como o conceito de vida plena encontrada em Carl Rogers, deve ser entendida como um processo humano e não como alguma coisa ou um determinado estado cristalizado no tempo, não se considerando o natural fluxo da vida humana, desde o nascimento até ao seu final. É óbvio que esta análise pode ser apodada de superficial mas é legítima, como legítima é a aceitação sem qualquer crítica da definição produzida pela OMS. Desporto e valores Quando falamos de valores estamos a falar de uma área da filosofia, a axiologia, pelo que qualquer reflexão sobre este tema terá que seguir um pouco a própria filosofia. Igualmente quando discutimos a questão dos valores, e dada a nossa pouco formação nestes domínios, por vezes atribuímos o estatuto de valor àquilo que pode ser traduzido por comportamentos ou atitudes. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 364 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Falemos, então, um pouco sobre valores para que depois possamos compreender o mundo do desporto e da Educação Física, que é, afinal, o mundo que nos une aqui nesta reflexão. Sem querermos ser exaustivos, nem ainda mais aborrecidos, podemos apresentar o seguinte quadro hierárquico de valores: Valores vitais ou económicos; Valores práticos, ou de utilidade; Valores hedonísticos, ou de prazer; Valores lógicos, ou do saber; Valores estéticos, ou de beleza; Valores éticos, ou do bem; e Valores religiosos, ou do sagrado ou do divino. Vejamos o seguinte exemplo relativamente à alimentação. Comer é a realização de um valor vital. Se não comer a vida entra em colapso. Os animais “vivem” muito do seu dia em busca da realização deste valor. “Eu”, pessoalmente, sei cozinhar, isto é, concretizo um valor prático. Tenho de comer e sei cozinhar. Muitos de nós gostamos de comer – valor hedonístico. Para além da necessidade intrínseca aos seres vivos de terem que comer, podemos sentir muito prazer naquilo ou na forma como comemos. Também sabemos o que devemos ou não comer. É conhecimento deveras importante, que progressivamente vai sendo apropriado por todos, no que se constitui no valor lógico. Diz o povo que muitas pessoas comem com olhos. Os hotéis de luxo são especialistas em transformar uma simples refeição numa atraente manifestação estética. Ninguém come com as mãos, havendo todo uma série de procedimentos, de regras e de boas maneiras para realizarmos o tal valor vital. Entramos, grosso modo, no domínio dos valores éticos. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 365 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Finalmente, há muitas pessoas que em nome da religião não comem durante determinado tempo. Por exemplo, durante o Ramadão, os muçulmanos apenas podem ingerir alimentos durante uma parte do dia. Noutros povos há alimentos proibidos pela própria religião, podendo alguém morrer de fome e ao lado haver alimentos disponíveis. Como se pode depreender por esta hierarquia de valores, a comida, a simples comida, poderá ser objetivada de formas bem diferentes. Entre a simples realização de um valor vital até à experiência transcendental, tudo poderá ser vivido por alguém. Ao longo da vida a nossa relação com a alimentação alterase como é fácil de se perceber. Como nos assevera o Professor Manuel Ferreira Patrício, o homem vive todos os valores, mas não os vive com a mesma intensidade nem eles ocupam o mesmo lugar na vida de cada um. Dizemos mais, ao longo do tempo a pessoa vai reconfigurando a vida em função dos valores, acentuando mais uns num dado momento ou outros noutra idade ou condição. Pensemos agora no desporto. Este não é muito diferente da comida. Uma prática desportiva poderá ser desenvolvida também em nome de cada um dos valores atrás enunciados. É tudo uma questão de vontade pessoal, de moda ou de interpretação. Podemos divinizar uma prática desportiva ou estarmos totalmente dependentes no ponto de vista económico dela. Isto é, o desporto não se concretiza num determinado valor mas no ser humano, que vive em todos estes valores. A saúde, enquanto valor vital, é um deles mas não o único. Não há muito tempo fomos tentar compreender este aumento exponencial de clientes das novas academias gímnicas. O estudo foi realizado no Grande Porto e envolveu centenas de clientes com mais de 35 anos. Indagámos a razão que levava a pessoa a frequentar estes locais, verdadeiros templos do corpo. Havia três possibilidades de resposta, a saber: saúde, beleza ou juventude. Praticamente todas as respostas apontavam a saúde – valor vital – como a razão CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 366 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE imediata, porventura única, para a prática desportiva. Diz o povo que quando a esmola é grande o pobre desconfia. E nós desconfiámos! Então, em vez de uma pergunta apenas e de uma resposta fria num simples papel, mudámos de estratégia. Uma equipa de investigadores começou a frequentar as academias na condição de cliente. Começámos a ouvir as conversas dos vestiários, dos corredores, do bar, dos locais das aulas e ficámos surpreendidos com o teor das mesmas. A saúde é o valor declarado, mas nem de perto nem de longe é aquele que na realidade justifica a adesão ao desporto. É o argumento politicamente correto mas na verdade as pessoas vão em busca de outras coisas. Vão em busca do ideal de beleza associado ao ideal da juventude. Só uma das pessoas que trabalhou neste amplo projeto colecionou dezenas de formas para moldar o corpo e para concretizar a utópica tentativa de enganar o tempo, muitas delas ao arrepio do tradicional conceito de saúde. O valor estético no seu esplendor. Estamos a falar de grandes populações e não apenas de algumas pessoas. Por outro lado é visível o aumento da frequência de praticantes nas academias nos meses que antecedem o verão. Não cremos que seja em prol da saúde. Muito provavelmente estaremos perante um outro valor, que não o vital. E nada resulta de mal para a pessoa. Provavelmente estamos perante dois valores intimamente associados, o estético e o hedonístico, isto é o prazer proporcionado pelo valor estético. O grande poeta brasileiro Drummond de Andrade já escreveu um magnífico poema sobre esta relação. Como sempre, os poetas vivem antes do tempo e percebem os problemas melhor do que nós enquanto pessoas da ciência. A nossa sociedade, e aqui o conceito de nossa sociedade é referente ao mundo ocidental urbano, dado que noutras paragens e no mundo rural do nosso país as coisas não são de todo decalcáveis com estas ideias, orienta-se muito por valores estéticos e hedonísticos, isto é, pelo prazer. Não nos parece que o valor vital, neste nosso tempo de consumo e de risco, seja um valor real muito importante mas apenas aquele que é mais declarado em nome da decência. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 367 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE O desporto, como muitas outras atividades humanas, através dos tempos reconfigura os valores que lhe são inerentes. Se nos Jogos Olímpicos da Antiga Grécia os valores mais importantes eram os religiosos, atualmente outros aparecem para legitimar as práticas físicas. Quando analisamos o atual panorama das justificativas do desporto e mesmo da Educação Física, verificamos que há um tema recorrente, qual seja, a saúde. Parece que este valor assume uma hegemonia explicativa do valor da Educação Física enquanto disciplina escolar que tem o desporto como a sua centralidade. Somos um daqueles investigadores, admitimos que poucos, que gostam de procurar os fundamentos mais profundos sobre as coisas que estudamos. O desporto não se fundamenta pelo desporto, mas, indiscutivelmente, pelo praticante, invariavelmente o ser humano. É neste ser que buscamos as razões do desporto. Por outro lado tentamos distinguir os fundamentos dos efeitos. Tememos que hoje em dia haja um desviar dos efeitos para a categoria dos fundamentos. A saúde é um bom efeito do desporto, da própria Educação Física enquanto disciplina escolar, tal como são a estética, o prazer, o saber fazer etc., mas nenhum destes valores se pode considerar como sendo um dos seus fundamentos. As crianças não são sensíveis ao discurso da saúde. É um valor que se distancia em grau elevado das suas preocupações quando se referem à prática desportiva. Acreditamos – temos dados comprovativos – que outros valores se levantam em relação à Educação Física. O prazer de jogar, a vivência de novas experiências motoras, a aprendizagem de algumas técnicas desportivas com as quais poderão retirar mais prazer no ato de jogar parecem-nos valores mais consentâneos com o ser-se jovem. A melhoria de alguns indicadores de saúde, sem dúvida presente, acaba por ser um efeito benéfico mas não propriamente o leitmotiv da aula de Educação Física. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 368 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE A saúde, especialmente quando não nos preocupamos em definir os seus contornos mais profundos, pode ser um ótimo argumento, o tal politicamente correto, para justificar determinadas práticas. Mas a saúde, enquanto manifestação do valor vital atrás referenciada, não pode ter a pretensão de subordinar todos os outros valores, reduzindo o homem a um ser preocupado em exclusivo com determinada dimensão da vida. Uma criança é um ser que ainda não pressente a sua condição de mortal, e por tal ainda não intui o valor da saúde. Cremos que há conceitos que merecem um outro grau de aprofundamento, pelo menos quando relativizados às crianças e aos jovens. Notas Finais A saúde é entendida como uma verdadeira categoria filosófica que repousa na nossa existência, muito mais do que uma simples categoria biológica médica ou instrumental, resistindo hoje e sempre a definições. Entendemos ainda que a saúde comporta uma importante dimensão antropológica, podendo e devendo ser compreendida ainda enquanto categoria pedagógica. A educação em valores não deve ficar refém de um ou outro valor mas orientarse para a vivência dos mais variados, onde, naturalmente, a saúde ocupará o seu lugar. Mas esse lugar não deve ser exclusivo dos valores vitais, devendo percorrer toda a hierarquia axiológica proposta. Em conformidade, a Educação Física não deve realizar o seu percurso tendo a saúde como a sua grande preocupação, mas encará-la como uma natural consequência da prática de atividades desportivas, entendendo-a como um efeito e não como fundamento. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 369 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE ELEMENTOS DA FENOMENOLOGIA COMO UMA DAS POSSIBILIDADES DE COMPREENDER O JOGO COMO UM MOVIMENTO HUMANO SIGNIFICATIVO Elenor Kunz Universidade Federal de Santa Maria – Santa Maria – Brasil Aguinaldo Cesar Surdi Universidade Federal de Santa Catarina – Florianópolis – Brasil Antônio Camilo Cunha Universidade do MINHO – Braga – Portugal RESUMO O presente trabalho tem como objetivo fazer uma reflexão a respeito das possíveis relações entre o jogo e o movimento humano significativo. Jogo aqui entendido como conteúdo da Educação Física, que trata de atividades físicas e esportivas e outras formas de movimentos; movimentos esses que são realizados por pessoas com a intenção de auxiliar na descoberta do mundo de forma crítica e criativa. Procurou-se, através da teoria do se-movimentar, mostrar como o jogo e o movimento humano significativo se aproximam, pois tanto um como o outro possuem características em comum. Dentre elas, podemos citar a questão da subjetividade, a relação entre processo e produto e a ludicidade, que proporciona uma sensação de harmonia, fazendo com que o sujeito se entregue totalmente à atividade. PALAVRAS-CHAVES: Jogo; Movimento humano significativo; Subjetividade; Lúdico. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 370 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE INTRODUÇÃO Por isso a estética de Kant, sem renunciar à razão, nem ao sentimento, aos quais confere um estatuto essencial no juízo do gosto, orienta-se resolutamente em direção do barroco, pelo menos enquanto essa arte do excesso consegue conter-se nos limites do bom gosto e assim conservar uma relação satisfatória (para o sentimento) com as ideias (da razão) (FERRY, 1995, p. 154). Tal como o gosto, discorrer sobre o jogo, tendo em vista a complexidade que envolve o tema, se apresenta como uma pretensão marcada pela ousadia, principalmente quando se procura creditar ao jogo a sua função de não utilidade imediata, em que se busca a preservação dos seus aspectos estético-expressivos. Isso porque são raras as incursões sobre o tema do jogo que conseguem fugir aos ditames da lógica produtivista da sociedade industrial e, mais recentemente, da cobrança sutil, invasiva e sedutora com que os jogos eletrônicos “fazem a cabeça” de crianças, adolescentes e jovens. Nesses termos, é possível considerar a escola como instituição, entre outras, que foi criada para desenvolver o processo de socialização das novas gerações, como largamente conservadora, na medida em que aciona mecanismos capazes de assegurar “a reprodução social e cultural como requisito para a sobrevivência mesma da sociedade (GÓMEZ, 1998, p 14). Assim, fica evidente que, para os autores e para as correntes da sociologia da educação, os objetivos-funções básicos e prioritários da socialização dos educandos na escola são: a) prepará-los para serem absorvidos no mundo do trabalho; b) a formação do cidadão para sua intervenção na vida pública. Procuraremos evidenciar com duas passagens de Gómez (1998) cada uma das duas funções basilares da socialização da escola. Sobre a primeira: CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 371 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Desde as correntes funcionalistas até a teoria da correspondência, passando pela teoria do capital humano, do enfoque credencialista ou das diferenças posições marxistas e estruturalistas, todos, ainda que com importantes matizes diferenciais, concordam em admitir que, ao menos desde o surgimento das sociedades industriais, a função principal que a sociedade delega e encarrega à escola é a incorporação futura ao mundo do trabalho (GÓMEZ, 1998, p. 14). Quanto à segunda: A escola deve prepará-los para que se incorporem à vida adulta e pública, de modo que se possa manter a dinâmica e o equilíbrio nas instituições, bem como as normas de convivência que compõem o tecido social da comunidade humana(GÓMEZ, 1998, p. 15). Embora existam as evidências do caráter reprodutor da instituição escolar –, a argumentação sociológica procura demonstrar –, a relativa autonomia da ação da escola não é oriunda somente das contradições internas e externas, mas fruto do processo de reprodução conservadora da cultura dominante. Acreditar no movimento interno das escolas, como produtora de cultura, então faz sentido, pois socializar humanizando possibilita à escola exercer sua função educativa. A função educativa ultrapassa, vai mais além da reprodução, pelo menos teoricamente. A mesma tensão dialética que aparece em qualquer formação social, entre tendências conservadoras que se propõem garantir a sobrevivência mediante a reprodução do status quo e das aquisições históricas já consolidadas (socialização ) e as correntes renovadoras que impulsionam a mudança, o progresso e a transformação, como condição também de sobrevivência e enriquecimento da condição humana (humanização), acontece de forma específica e singular na escola (GÓMEZ, 1998, p, 21). Já é possível a afirmação de que a Educação Física procura se legitimar enquanto área de conhecimento que tem um espaço nos currículos escolares, com um corpo de conhecimento reconhecidamente consolidado, cujo objetivo é CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 372 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE a produção de cultura, colaborando na construção do ser humano, buscando a formação da sua personalidade e da sua participação ativa na sociedade. Não obstante essa preocupação de constituir sua legitimidade, frente às disciplinas já consolidadas na escola e perante seus professores a Educação Física tornou-se uma disciplina no sistema escolar da modernidade, mas parece faltar-lhe a função específica nesse sistema. Portanto, ao adentrar a escola sem as mesmas justificativas que as demais disciplinas escolares que já se consolidaram, a Educação Física, que se pretendia e se pretende componente curricular, parece estar acometida da “síndrome do patinho feio”, pois lhe estaria faltando o entendimento de que existem formas heterogêneas de aprender ou dominar uma atividade e, essa consideração se faz necessária, quando se tem em mente a “Cultura técnica, Artes ou a Educação Física”. Entende-se, portanto, a assertiva de Charlot (2009), quando diz que “ainda bem que a Educação Física não é uma disciplina como as demais”. Este texto procura apresentar o jogo como conteúdo escolar capaz de tencionar dentro da escola a função de sua própria socialização, portanto, sua função conservadora.Também procura creditar ao jogo e à sua utilização para o enriquecimento da condição humana dos educandos, com ênfase na sua função educativa. Discorreu-se, em seguida, sobre o movimento humano significativo, fundado a partir da concepção dialógica de movimento. Por fim, traçaram-se alguns apontamentos que tornam o jogo como parte essencial da educação física e do movimento humano significativo. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 373 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE E AGORA, ATENÇÃO, QUE O JOGO JÁ VAI COMEÇAR... Conforme Kunz (2004), a Educação Física, historicamente, vem utilizando práticas corporais, social e culturalmente construídas, como ginástica, esporte, dança, jogos e lutas. Dentre essas manifestações da cultura corporal de movimento ou cultura de movimento, o desenvolvimento das modalidades esportivas tem sido amplamente privilegiado nos planejamentos da Educação Física, previstos, inclusive, nas próprias legislações oficiais. O jogo, nas aulas de Educação Física, com frequência, não tem sido utilizado como conteúdo que se basta por si mesmo. Ele tem sido usado, geralmente, como meio para aprendizado de outros conteúdos, tornando-se, portanto, um instrumento metodológico, utilizado normalmente para facilitar o aprendizado do esporte. As práticas que envolvem jogos e brincadeiras como conteúdos das aulas de Educação Física, compõem um conjunto de possibilidades que ampliam a percepção e a interpretação da realidade. É possível, ainda, que talvez os professores de Educação Física sem se aperceberem disso, atribuam insignificância ao conteúdo jogo, tendo em vista que estão marcados por uma leitura que preceitua que o jogo deve estar em função de um trabalho produtivo. Parece que, com relação ao jogo, que congrega dor e prazer, cansaço e leveza, tristeza e alegria, sofrimento e satisfação. Assim, fica evidente que, em nenhuma outra atividade, essa ambivalência positiva se faz tão presente. Na Educação Física, o jogo e as atividades “não racionais” estão com o passe livre para transitar. Vejamos os Parâmetros Curriculares Nacionais, o que estabelecem: O desenvolvimento moral do indivíduo, que resulta das relações entre a afetividade e a racionalidade, encontra no universo da cultura corporal um contexto bastante peculiar, no qual a intensidade e a qualidade dos estados afetivos experimentados CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 374 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE corporalmente nas práticas da cultura de movimento literalmente afetam as atitudes e decisões racionais (PCNs, 1998, p. 34) A ludicidade é a concretização corporal da espontaneidade, senso de humor, alegria e prazer expressados através dos movimentos e das ações do sujeito. Não obstante, o avanço sugerido pelos PCNs, Santin (1993), comentando sobre a esportivização das práticas corporais, salienta que, “brincar tornou-se uma atividade dependente dos conhecimentos científicos, dos segredos técnicos e dos interesses econômicos”, valendo mais a vitória que o prazer de jogar. E frisa que “os comportamentos lúdicos são tão importantes quanto o comer e o beber” (p.104). Parece que interesse e desinteresse se cruzam quando o jogo está em questão. Neste sentido, Santin (1994) pergunta: Por que o jogo? E, comenta que o jogo, apesar de não ser a única, é uma excelente forma de compreender as estruturas sociais, porque contempla a ideia de liberdade e de espontaneidade, de acaso sem pré-determinismos. Desse modo, o jogo se configura um código corporal não verbal, que vai irradiando sentidos não determinados; desfruta, portanto, de um estatuto que corresponde ao da autonomia da obra de arte (WISNIK, 2008). Segundo o Coletivo de Autores (1992), o homem inventou o brincar, "um ato em que sua intencionalidade e curiosidade resultam num processo criativo para modificar, imaginariamente, a realidade e o presente", (p. 64). Conceitos como intencionalidade, expressão, espontaneidade, lúdico, liberdade e outros, conferem ao jogo em sua forma original, um enfoque primordial em direção ao entendimento significativo do movimento humano. O JOGO, O MOVIMENTO HUMANO E A TEORIA DO SE-MOVIMENTAR A concepção dialógica do movimento humano procura um entendimento não mecânico do movimento. Esta teoria se orienta na relação entre ser humano e mundo por meio da ação que é, exatamente, o diálogo que o ser humano desenvolve com o CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 375 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE mundo através do seu se-movimentar. Este se--movimentar para Tamboer apud Trebels (2006) “é junto com o pensar e falar, entre outras ações, uma das múltiplas formas nas quais a unidade primordial do ser humano com o mundo se manifesta” (p. 40). Trebels (2006, p. 40) salienta ainda que o “se-movimentar é a forma de um agir original do ser humano, por meio da qual ele se garante como ser-no-mundo e na qual – neste agir – ele mesmo, como sujeito, e o mundo, como sua contraface imaginária, adquirem contornos visíveis”. Por sua vez, o jogo, segundo Huizinga (2001, p.33) é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotadas de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência do ser diferente da vida cotidiana. Podemos perceber que o poder da ação ou, ainda, da intenção de agir, recai sobre o sujeito desta ação. Tanto no jogo como na concepção dialógica do movimento humano o ser humano é livre para agir de forma original e voluntária. As regras existem, podendo ser criadas e modificadas pelos envolvidos, que elaboram normas para melhor interagirem consigo mesmos, com as pessoas e com o mundo. Queremos enfocar, aqui, o jogo como movimento humano, inserido no mundo de movimento das pessoas e que se faz conteúdo da educação física escolar. Ao se movimentar, as pessoas questionam o mundo, as outras pessoas e as coisas com as quais compartilham a existência. Esses questionamentos não são direcionados pela lógica da racionalidade científica. Portanto, o sujeito se permite validar aspectos que são da esfera da sensibilidade, do sentimento, da emoção e do autoconhecimento, o que permite a liberação de intencionalidades que permeiam toda relação existente entre o homem e o mundo. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 376 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Esta intencionalidade habita o jogo que, por si só, tem uma conotação de liberdade, que conduz o ser humano a um estado de euforia, mostrando que a intencionalidade do sujeito só pode existir quando este está livre das pressões e de resultados que lhe são impostos. A intencionalidade não significa apenas o ser humano dirigir a atenção ao objeto, mas também, estar atento de forma préconsciente e pré-racional para todas “as peças do cenário” que o homem configura com o mundo. Desta forma Gordijn apud Trebels (2006) comenta que o se-movimentar significa, sobremaneira, a atualização dos significados motores em situações concretas, correspondendo à realização de movimentos a partir de possibilidades individuais. Estar em situação de jogo permite que cada indivíduo possua uma gama cultural que distingue as pessoas umas das outras, porque se trata de uma atividade em que o inusitado e a imprevisibilidade permeiam as ações O jogo e sua natureza lúdica permitem uma relação do sujeito com o mundo de forma interpretativa e, portanto, significativa. Nesse sentido, é capaz de facilitar a ocorrência simultânea da relação dialógica entre desenvolvimento e aprendizagem. Podemos perceber que tanto no se-movimentar do homem como no jogo, as relações que os envolvem devem receber um destaque interdisciplinar e integral. O homem se movimenta como um ser unitário e total. A intencionalidade do movimento humano gera um sentimento global de significação que envolve todas as esferas do homem em movimento em direção ao mundo. Esse sentimento de integração é proporcionado pela forma própria que o ser humano criou no seu se-movimentar e que vai oportunizar o conhecimento do mundo e manter relações de forma significativa. O jogo não é prerrogativa apenas da Educação Física, já que jogos e brincadeiras permeiam toda ação humana. O jogo pode ser vinculado à cultura, à ordem social e aos interesses ideológicos e, CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 377 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE portanto, pode ser material de pesquisa da linguística, da história, da sociologia, da filosofia e da matemática para citar somente algumas áreas. Kunz (1991) enfatiza que o se-movimentar, entendido como diálogo entre homem e mundo, envolve sempre o sujeito e a sua intencionalidade. É através da intencionalidade que o se-movimentar se constitui como sendo significativo. “O movimento humano é fundado na intencionalidade” (p. 175). É essa intencionalidade que procura superar a relação dualista de sujeito congnoscente e objeto cognoscível. Tudo é uma totalidade, ambos os fatores estão intimamente relacionados e interligados, sendo impossível existir um sem o outro. Nesta relação, não podemos distinguir nada no mundo como sendo objeto ou sujeito, tudo pertence a um mundo de relações intencionais. Nesse sentido, Kunz (1991, p. 175) defende que o “sentido/significado é assim constituído na relação homem/mundo, e não pode ser localizado somente no sujeito ou no (s) objetos(s)”. Com efeito, comentando a relação do mundo com o sujeito, o jogo está na gênese do pensamento, da descoberta de si mesmo, da possibilidade de experimentar, de criar e de transformar o mundo, pelo fato de comportar o lúdico no seu fazer-se. A idéia de jogo é central para a civilização. O jogo, segundo Huizinga (2001), vem como uma categoria absolutamente primária da vida, tão essencial quando o raciocínio (homo sapiens) e a fabricação de objetos (homo faber). O homem que brinca, não substitui o homo sapiens, que sabe e que raciocina, mas se coloca ao lado e um pouco abaixo deste, mais ou menos na mesma categoria em que o homo faber, que trabalha. O caráter de ficção é um dos elementos constitutivos do jogo, no sentido de fantasia criativa, da imaginação. E, ao contrário, do que muitas pessoas podem admitir, é algo muito sério e necessário, além de ser um direito. Enquanto o jogo dura, as regras que regem a realidade cotidiana ficam suspensas. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 378 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE O jogo, entendido como categoria primária da vida, pode ser mais bem compreendido no mundo pré-reflexivo, ou ainda pré-consciente, tendo em vista que ele é continuamente constituído através de nossas experiências. Este mundo é o mundo vivido. Mundo este que nos proporciona uma oportunidade ímpar para sermos quem realmente somos, com nossas emoções, sentimentos, alegrias e frustrações. É nele que podemos ser autênticos e criar formas intencionais e originais de nos relacionar com o mundo e de transformá--lo ao nosso modo. Nesse universo, não existem formas de movimentos préestabelecidas, mas construídas livremente baseadas na subjetividade. O mundo vivido ou ainda mundo da vida que é a tradução da palavra alemã (Lebenswelt), é um termo utilizado por Husserl para designar o mundo da experiência humana que é considerado antes de qualquer tematização conceitual. Segundo Japiassu e Marcondes (1996), o mundo da vida é o que se aceita como dado, como pressuposto e que constitui nossa experiência cotidiana. “Trata-se do real em seu sentido pré-teórico e pré-reflexivo”(p. 190). Segundo Surdi (2010) a ciência moderna e sua consequente forma de quantificar a realidade se tornaram alvo de muitas críticas por ignorar inúmeras questões significativas que fazem parte do mundo da vida. O mundo em que vivemos produz uma gama de possibilidades e diversidades de sons, imagens, árvores, paisagens, rios, lagos e muito mais, que são entendidas como qualidades secundárias pela ciência. Estas qualidades fazem parte do mundo irreal, enquanto que o mundo real é fornecido pelo conhecimento científico da natureza. Dessa forma, o mundo da ciência é o verdadeiro, ao passo que aquele que vivenciamos de forma direta é ilusório e insignificante. As visões mecanicistas do movimento humano, baseado nas análises biomecânicas, interpretam o movimento humano para construir padrões de movimento eficazes para determinado gesto técnico, seja no esporte ou outra atividade de rendimento. Este tipo de entendimento não leva em considerações CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 379 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE fatores essenciais e cruciais para que o movimento humano seja um fator importante na vida das pessoas com possibilidade de conhecer o mundo e modificá-lo. As diferenças individuais e toda a cultura que cada pessoa possui são excluídas. O sujeito pensante, que brinca, que questiona a realidade e produz cultura fica de fora deste movimento padronizado externamente. O mundo vivido é a individualidade que caracteriza cada ser humano em movimento. Apenas neste contexto o lúdico pode ter seu devido valor. É no mundo vivido que estas manifestações originais e subjetivas podem ser entendidas como significativas e importantes para a vida das pessoas. A teoria do se-movimentar humano baseia-se em princípios que procuram resgatar o significado/sentido humano do movimento. Para isso, as interpretações devem basear-se, principalmente, em três dimensões: primeiramente, ao Ator do movimento, ou seja, ao sujeito da ação, pois, todas as ações de movimento são produzidas por atores, que são os descobridores das condutas motoras; depois, uma situação concreta onde as ações de movimento estão vinculadas, situação que, além do ambiente físico, deve contemplar os contextos sociais e culturais onde os movimentos serão realizados. E, por fim, um sentido/significado que orienta a ação e a estruturação do movimento. Esse sentido/significado deve ser constituído pela cultura de movimento das pessoas, através do seu mundo vivido (BUYTENDKIJK, GORDIJN, TAMBOER, TREBELS apud KUNZ, 2005). Huizinga (2001) entende o jogo como algo de irracional que, em alguns momentos, foge do controle e não consegue ser aprisionado na racionalidade; é quando provoca o desligamento do cotidiano para introduzir um mundo de faz de conta, de ficção. Esse mundo é o vivido, antes de ser “representado” pela ciência. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 380 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Dessa forma, podemos perceber que, realmente, existe um diálogo entre o ser humano e o mundo, através do movimento. Neste se-movimentar, a pessoa participa ativamente da ação e, com isto, consegue entender o mundo à sua volta, através da experimentação. Nesta relação entre o ator, a situação e o significado, surge um momento de troca, que possibilita uma assimilação da ocasião que proporciona um entendimento da pessoa que se movimenta sobre aquele momento da realidade. Segundo Kunz (2005, p. 385-386), o “se--movimentar é o movimento próprio do ser humano; movimento que deve ser interpretado de forma consciente, e sempre a partir das referências anteriores apresentadas”. A cultura mostra a presença ativa do fator lúdico, como criador de muitas formas fundamentais da vida social. Pode-se dizer, então, que a fase primitiva da cultura é o jogo. Não que a cultura nasça do jogo, mas ela surge no jogo e, enquanto jogo, nunca mais sai da cultura. O homem, chamado de “Homo Sapiens” merece ser chamado também de “Homo Ludens”, pois considera o jogo toda e qualquer atividade humana, é um fator fundamental presente em tudo o que acontece no mundo. Segundo Huizinga (2001), é no jogo e pelo jogo que a civilização surge e se desenvolve. Portanto, jogo é um fenômeno cultural e não biológico, pode ser estudado sob uma perspectiva histórica e não científica. O SE-MOVIMENTAR PROPORCIONA UM MUNDO DE SIGNIFICAÇÕES E SUA APROPRIAÇÃO SE DÁ EM TRÊS ETAPAS. Tais significações são intencionais e devem, no dizer de Tamboer apud Kunz (1991, p. 175), “transcender limites”. Para este autor, o movimento humano intencional pode ser adquirido baseado em três formas diferentes. O primeiro é a forma direta, onde a transcendência acontece na base da intencionalidade espontânea das pessoas como uma ação não pensada. Esta forma está relacionada com o plano pré-reflexivo, ou seja, as respostas são fornecidas livre e espontaneamente ao mundo. Como exemplo, Kunz (1991) cita os primeiros CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 381 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE contatos de uma criança com a bola. Ela sabe o que fazer com a bola e, gradativamente, vai brincando através do chutar, rebater, quicar e com isto vai dialogando com o mundo, construindo o seu mundo de significações. A segunda forma é a apreendida. Ela surge pela aprendizagem, ou ainda pela intencionalidade que desenvolve através da idéia de imagem do movimento. Nessa forma, a questão principal é fornecer pistas sobre a ideia do movimento para que o problema seja resolvido. Não se quer valorizar a imitação, mas simplesmente mostrar parcialmente a intenção de que o movimento pode ser executado para se chegar a um fim. Este movimento que, segundo Tamboer apud Kunz (1991), deve ser aprendido através de uma estratégia, onde ao autor denominou de “imitação de uma intenção” (p. 176). A terceira forma é a criativa/inventiva, que surge da intencionalidade inventiva e criativa por parte de cada um. A transcendência do mundo é feita a partir da criação e invenção. O ser humano explora e constituí o mundo com novos significados/sentidos que lhe fornecem uma maior compreensãode--mundo. A partir desta compreensão, o ser humano adquire capacidades para mudar o mundo situacional em que vive e, consequentemente, mudar a si próprio. O JOGO, O LÚDICO E O BRINCAR: FATORES QUE CARACTERIZAM O MOVIMENTO HUMANO SIGNIFICATIVO O jogo inclui o lúdico que engloba o brincar. No brincar, a intencionalidade do ser humano é maximizada pelo fato dele ser o ator de sua ação. Desta forma o jogo engloba o movimento humano e é englobado por ele. Ambos se tornam coesos com objetivos comuns. No jogo também são exploradas as formas de criação e invenção. As condutas partem do sujeito, que buscam construir regras, brincadeiras, atividades condizentes com os participantes. Existe um respeito com as diferenças, no sentido que os papéis não são impostos externamente, mas discutidos no grupo. Nesse sentido, todo ser humano tem o poder de mudar CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 382 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE o mundo e claro como dissemos anteriormente de mudar a si mesmo. O jogo possibilita que as pessoas se entreguem totalmente à atividade proposta. A ludicidade fornece um impulso para que este ato seja intrínseco e cheio de significações. Huizinga (2001) comenta que a essência do jogo reside em sua intensidade, fascinação e capacidade de excitar, expressando-se através do ritmo e harmonia, evidenciando o elemento lúdico em toda a sua análise e interpretação. Tal conceito mostra o jogo com um fenômeno cultural, fixado em nossa tradição, com raízes em todo o processo de humanização do homem, valorizado pela ludicidade e pela estética. Para Huizinga, “A vivacidade e a graça estão originalmente ligadas às formas mais primitivas do jogo. É neste que a beleza do corpo humano em movimento atinge seu apogeu”. (p. 9). Salienta, ainda, que os laços entre beleza e jogo sejam bastante íntimos, o que mostra a importância da expressão corporal, da beleza do movimento como vivência e experiência que são construídos subjetivamente. Segundo Gordijn apud Trebels (2006), o se-movimentar relaciona-se de forma bastante coesa com fatores intencionais intrínsecos e a percepção de objetos e fenômenos do mundo: “Aquele que se movimenta experiência e adquire um mundo de significados motores. Neste conceito, os significados subjetivos, ou seja, incluídos intencionalmente, e os significados objetivos, isto é, os pré-dados e percebidos no mundo, inter-relacionam-se organicamente. Os significados motores não são só produção de sentidos individuais (apenas como uma intenção de movimento) nem, tampouco, unicamente o resultado de experiências com as qualidades intrínsecas dos objetos (o mundo percebido no serassim), mas, sim, uma delimitação e mútua complementaridade dessas perspectivas. Ambas se encontram numa relação de nexos que são coincidentes”(p. 41). CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 383 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Nosso mundo é sempre um mundo vivido. É nele que nossas possibilidades de se-movimentar se tornam humanas, significativas e belas. Nossas experiências originais são fundamentais para que nossa compreensão de mundo seja significativa. Temos que agir e participar ativamente na relação que temos com este mundo, relação essa que se dá, muitas vezes, pelo movimento e esse movimento tem que ser inventivo e individual, pois todas as pessoas são diferentes. E, por serem diferentes, devem compreender o mundo a seu modo e dessa forma criar o seu se-movimentar, que proporciona uma comunicação com o mundo também significativa. Esse poder de criação motora está direcionado ao sujeito que pratica o movimento e não ao movimento propriamente dito. O poder proporcionado ao sujeito da ação, o objetivo é o de que ele seja participativo e controlador de todas as suas ações de movimento. A intervenção da subjetividade nesse processo é indispensável, pois ela adquire características sociais que se desenvolvem através das vivências individuais. Dessa forma, Kunz (1994), fazendo uma relação à educação, desenvolver pessoas críticas e emancipadas, é abrir uma gama de possibilidades individual e subjetiva de cada aluno para com o mundo. A subjetividade é a nossa forma verdadeira de conhecer o mundo. O mundo e as coisas que o habitam não existem definidas “em si”, mas são constituídas de possibilidades infinitas de agir, perceber, sentir e outras. A subjetividade de cada pessoa é o que traduz seu lado humano de ser o que você é. As vivências subjetivas do movimento humano são fundamentais para as crianças, e se baseiam na cultura de movimento de cada um, sem parâmetros nem modelos. As experiências individuais proporcionam a naturalidade e a originalidade desse movimento o que os faz significantes para que a criança tome consciência do seu movimente próprio, que traduz a sua forma autêntica de desvendar o mundo. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 384 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Com muita similaridade, Huizinga (2001), ressalta as características fundamentais do jogo, como sendo este um ato voluntário, que se concretiza como evasão da vida real, com orientação própria, ocorrendo dentro de limites de tempo e de espaço, criando a ordem através de uma perfeição temporária e limitada. Enfatiza como de grande importância no jogo, a tensão, que se expressa pela incerteza e pelo acaso, jamais se deve saber o final ou desfecho antes que este acabe como exemplo os jogos de azar e as competições esportivas. Contudo, não se deve esquecer o papel fundamental das regras em um jogo, “e não há dúvida de que a desobediência às regras implica a derrocada do mundo do jogo” (p.14). O autor assim aborda mais um conceito de jogo, como sendo: “uma atividade livre, conscientemente tomada como “não séria” e exterior à vida habitual, mas ao mesmo tempo capaz de absorver o jogador de maneira intensa e total. É uma atividade desligada de todo e qualquer interesse material, com a qual não se pode obter lucro, praticada dentro de limites espaciais e temporais próprios, segundo uma certa ordem e certas regras” (p.16). Fica evidente que tanto no jogo como na realização do movimento humano significativo, que o praticante se entrega por inteiro.Tais atividades se tornam parte do sujeito. Esta intencionalidade que não deixa de ter o poder lúdico, proporciona o desligamento do mundo real e parte para o mundo da vida ou vivido, onde nossas experiências são postas em jogo, expressadas e exteriorizadas de forma consciente. A possibilidade de criação é oportunizada pelo sentido de abertura que este mundo pré-reflexivo nos propõe. Nada é preestabelecido, mas sim criado pelos sujeitos baseados em sua intersubjetividade. A cultura vivida pelo ser humano é de grande importância no processo de conhecimento e compreensão do mundo, é o que proporciona que ele se mostre como realmente é. Kunz (1994) comenta que: CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 385 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE “Manter o ser humano distante ou afastado do real e do sensível à cultura, ao seu modo de agir, pensar e sentir é fragmentar sujeito e conhecimento, é evitar o conhecimento reprimido a curiosidade e a paixão pelo mundo, pelas ciosas e pelo outro, é mantê-lo na ignorância. Pode-se facilmente identificar onde e quando esses momentos acontecem na escola (embora a escola não seja a única instância em que isto acontece). [...] Na proibição do falar; no desencorajamento de expressões de afeto, ou de emoção, como o riso e o choro; pela censura a atitudes infantis; pela separação em meninos e meninas, e principalmente pelo controle e disciplinamento do seu semovimentar” (p. 114). A realidade deve ser construída pelo sujeito, através de sua relação vivida com o mundo. Esta relação deve passar por uma reflexão rigorosa do sujeito da ação, que busca o melhor para si e para o mundo em que vive. As decisões do se-movimentar devem ser tomadas pelo ator do movimento, através das suas experiências, levando em consideração critérios individuais como velocidade, força, ritmo e outras qualidades humanas que são próprias de cada pessoa. Na busca pelo entendimento do movimento humano como significativo Santin (1987), salienta existirem várias possibilidades de compreender o movimento humano. Primeiramente, ele classifica como uma ação motora, baseada, como falamos anteriormente, nos princípios e nas leis da física e da mecânica. Aqui podemos citar os movimentos desenvolvidos biomecanicamente com intenção de melhorar o rendimento humano e, também, os movimentos destinados à melhoria na realização de determinada modalidade esportiva. Esta visão está ligada à funcionalidade mecânica do movimento humano. Outra possibilidade de compreensão do movimento humano é a locomoção de um lugar para outro, que pode igualar o homem a qualquer animal. Movimentos como correr, saltar e andar são entendidos aqui como simples formas de movimento que passam de geração a geração. O terceiro ponto de entendimento do movimento humano o caracteriza como fonte de energia e produtividade. O CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 386 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE trabalho do homem produz um gasto calórico que é fundamental para que muitas tarefas sejam realizadas e os objetivos sejam alcançados. Como última forma de entendimento do movimento humano, ele é entendido como linguagem ou ainda como capacidade expressiva. O homem, através de seus movimentos se expressa, pela sua forma de se postar, de olhar, de gesticular e outros. “O corpo humano é fala e expressão” (p. 34). Essa forma significativa de entender o movimento humano é sempre intencional e cheio de sentido. O jogo, como forma de beleza se torna arte, porque se expressa com o mundo de forma direta e imprevisível; através de seus movimentos ele fala, discute e reflete sobre aquele mundo. Esse movimento significativo e expressivo é o que distingue o homem no mundo e lhe proporciona o poder de transformálo a seu modo. A ludicidade se faz presente no processo de humanização do homem, no qual se expressam, principalmente, os sentimentos de prazer e de alegria, servindo como estímulo primordial e fonte de inspiração para os diversos jogos. Segundo Santin (1994) “a ludicidade se constitui por uma atmosfera de total liberdade e autonomia”. Para o autor, a ludicidade surge da vontade de “querer brincar”, de forma espontânea e surpreendente. Salienta, ainda, que a ludicidade “não pode ser apreendida pela palavra, mas pela fruição. O comportamento lúdico é vivência, isto é, é fruição”(p. 28). Baseado nessa ótica que abordamos, o movimento humano significativo, como também o jogo podem ser entendidos sendo uma real possibilidade de descoberta do mundo pelo homem, através do diálogo que o homem em movimento faz como o mundo. Compreender o mundo pela ação, quer dizer utilizar o movimento próprio do ser humano em direção ao mundo, mundo este que é sempre um mundo vivido, aquele pré-reflexivo, onde utilizamos nossas experiências e intencionalidade. vivências O motoras mais originais, se-movimentar consiste impulsionadas nas experiências pela motoras CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 387 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE significativas e individuais, onde o indivíduo busca um contato com o mundo. Este contato deve ser entendido como dialógico e para que isto aconteça o ser humano deve ser participativo, criativo e produzir intencionalmente uma comunicação para que o diálogo se efetive e assim compreender este complexo mundo e ser compreendido por ele. O jogo entendido como expressão primordial do ser humano, carrega o potencial lúdico que fornece as possibilidades essenciais para que o ser humano em seu se-movimentar desenvolva este diálogo com o mundo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Podemos perceber que a relação entre o jogo e o movimento humano significativo é bastante ampla. O jogo como atividade de movimento que é utilizado pela educação física deve ter como fator fundador o sujeito da ação, que está no centro do processo de realização deste movimento. Este movimento, por ser subjetivo, é uma ação intencional que oportuniza ao individuo ter o poder sobre o seu se-movimentar. Os padrões de movimento existem, mas o que importa nesta ótica são as pessoas se movimentando livremente, o que caracteriza o jogo e, consequentemente, o componente lúdico. A ludicidade só acontece em um espaço livre, onde a criação é motivada e a atividade é feita por prazer. O lúdico ultrapassa as necessidades que temos de forma imediata da vida diária. Ele possui um valor em si mesmo, constituindo assim uma realidade própria. Por isso, quando estamos realizando uma atividade realmente lúdica, nos envolvemos de tal forma na atividade que ela própria nos satisfaz por inteiro. Doamo-nos por completo e é exatamente nesse momento que percebemos muito do que realmente somos e da capacidade que possuímos. Nosso eu se revela através do lúdico, caracterizado pela realização de atividades significativas, dentre elas o se-movimentar, que oportuniza um conhecimento se CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 388 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE si, através das formas de se relacionar com o mundo, onde podemos nos expressar de forma autônoma e espontânea. Neste mundo vivido, nosso movimento não é entendido como um simples deslocamento físico em um determinado espaço e tempo, como o mundo da ciência procura nos mostrar. É muito mais complexo, envolve expressão, arte, criação alegria e prazer. Surge das nossas intencionalidades, que proporcionam um contato dialógico com o mundo, possibilitando, assim, que tanto o sujeito da ação como o mundo sejam transformados mutuamente. É o nosso movimento próprio que vem das nossas individualidades e nossas necessidades como sujeitos autônomos. O jogo, como atividade, inclui elementos essenciais para o ser humano. O jogo pode representar para os sujeitos uma “segunda natureza”, na medida em que ela consegue permanecer vigilante e atenta às necessidades de prazer, alegria e satisfação das pessoas. O jogo, como atividade, conteúdo e conhecimento da educação física escolar pode possibilitar a manifestação do movimento humano em toda a sua amplitude. Assim, os movimentos que configuram a situações de sujeitos em jogo na escola, não necessariamente precisam estar orientados segundo os padrões de referência dos interesses da quantificação objetiva. Em ação, o binômio movimento humano e o jogo permitem momentos de expressão da subjetividade, que foi esquecida nos dias de hoje pelo predomínio dos ditames da racionalidade científica. REFERÊNCIAS Coletivo de Autores. (2005) Metodologia Do Ensino De Educação Física. São Paulo: Cortez. Huizinga, J. (2001) Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5ª edição. São Paulo: Perspectiva. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 389 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Japiassú, H.; Marcondes, D. (1996) Dicionário Básico de Filosofia. 3ª edição revisada e ampliada. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. Kunz, E. (1991) Educação Física: Ensino & Mudanças. Ijuí, RS: Livraria UNIJUI Editora. . (1994) Transformação didático – pedagógico do esporte. 3ª edição. Ijuí, RS: Editora UNIJUI. . (1995) A relação teoria/prática no ensino/pesquisa da educação física. Motrivivência. Ano 7. nº 08. Centro de Desportes. UFSC. Florianópolis SC. . (2005) Se-Movimentar. In: Gonzäles, F. J., Fensterseifer, P. E. (orgs). Dicionário Crítico de Educação Física. R.S: Editora Unijuí. Ijuí, RS: p.383-386. Santin, S. (1987) Educação Física: Uma abordagem filosófica da corporeidade. Ijuí, RS: Editora da UNIJUÍ. _______. (1993) Educação física – outros caminhos. 2ª ed. Porto Alegre: EST/ESEF-UFRGS. _______. (1994) Educação Física: da alegria do lúdico à opressão do rendimento. Porto Alegre: EST/ESEF-UFRGS. Surdi, A. C. (2010) Educação Física e o Movimento Humano Significativo: Uma possibilidade fenomenológica. Videira, SC: Editora Êxito. Trebels, A. (1992) Plaidoyer para um diálogo entre teorias do movimento humano e teorias do movimento no esporte. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Maringá: PR. 13 (3), p. 338 – 344. Wisnik, J. M. (2008) Veneno remédio: o futebol e o Brasil. São Paulo: Companhia das Letras. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 390 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE O LUGAR DA TEORIA - NA EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTO António Camilo Cunha – CIEC / IE – Universidade do Minho - Braga / Portugal Resumo A reflexão parte de algumas constatações/proposições para depois analisar o lugar da teoria na Educação Física e Desporto. As constatações/proposições: desporto clássico tinha (tem) como grande objetivo a competição e a obtenção de mais e melhores resultados. Era (é) um desporto para alguns, desporto que não fazia (faz) parte da vida quotidiana. Desporto de um grupo (atletas) que praticava (pratica) e competia (compete); o Desporto clássico tinha também na sua essência uma manifestação que poderia ser educativa e por isso foi chamado a integrar essa missão. O maior exemplo deste fato, pode ser encontrado no projeto educativo helénico, onde a Educação Física concorria de igual forma com as outras áreas educativas - canto, retórica… escultura, pintura. Hoje, também está presente na escola fazendo parte do projeto educativo moderno; com a modernidade (revolução industrial, iluminismo) o desporto continua a ter estas duas direções, acrescentando agora uma nova variável: o social. O Desporto invadiu o social sendo simultaneamente produtor e produto social, constituindo-se como uma manifestação cultural. Na base desta dialética (mais do que dicotomia ou dualidade) está uma melhoria das condições básicas de vida (para lá da sobrevivência… mais tempo para o ócio) associado à evolução da técnica, da informação e da comunicação. Esta evolução permitiu: um maior processo de comunicação – comunicação de pessoas, de seres humanos, seres de comunhão, de partilha, que vivem em comum; uma valorização do corpo através do desporto – assiste-se ao elogio da saúde, da estética, do prazer…exaltação do corpo e o regresso à natureza; novos espaços informais e não formais são contemplados. O Corpo que antes era um instrumento produtivo, passa a ser instrumento e um locus de vida, realização individual e coletiva, manifestação de felicidade. Ora, todas estas proposições têm na retaguarda um sentido teórico. Mas, que teoria!? É isso que pretendemos desconstruir. Palavras-Chave: Teoria/Prática, Educação Física/Desporto, Corpo, Cultura. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 391 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 1- Introdução A reflexão que a seguir se apresenta procura fazer o elogio ao lugar da teoria (1) para, depois, elevar o lugar da teoria na Educação Física e Desporto. Neste envolvimento, podemos afirmar, com algum acerto, que o positivismo lógico – paradigma, ainda hoje, dominante no campo da Educação (Física) –, fez com que o valor da teoria fosse “aprisionado” pelo número e pela objetividade. Não discordando desse facto – note-se que o positivismo se constituiu como caminho de evolução técnica, utilitária… –, é nosso entendimento que a prática será mais rica se tiver como “mola de impulso” uma teoria rica, fundamentada e sólida, pois, como referimos, o número (expressão positiva) não poderá ser o fim (um fim em si mesmo), mas o início e o caminho para a reflexão e para o conhecimento/entendimento. Foram estas constatações (simples) que inspiraram a feitura do presente texto. 2 – Desenvolvimento 2.1 – A origem da teoria Nada melhor que entender (desconstruir) uma palavra, recuando à sua origem ou à sua raiz etimológica. Assim, o vocábulo teoria deriva do Grego - Theorein - que significa: fixar a atenção, conhecer a pureza, conhecer a verdade tal como ela é, considerar. Algumas constatações histórico/ filosóficas dão-nos conta ou substantivam o essencial destes sentidos: - Platão, nos diálogos, alude à teoria como um modo de vida. Um modo de vida não apenas utilitário – conceitos, formas, comportamentos –, mas também contemplativo – o olhar o céu…; - Aristóteles, na metafísica, refere que todos os homens, pela sua natureza, desejam conhecer; - Heidegger, ao fazer a análise etimológica à palavra teoria, regista: “ olhar com atenção sobre a aparência exterior… onde a verdade entra pelos olhos”. NoteCIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 392 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE se o alcance semântico-pragmático da expressão “aparência exterior”, pois, na verdade, Heidegger sabia que é impossível conhecer a verdade pura ou as coisas como elas são realmente – conhecer as coisas mesmas é uma tarefa difícil, senão impossível. 2.2 - Algumas proposições sobre a (s) teoria (s) A partir dos sentidos atribuídos à teoria já evocados, podemos adiantar algumas proposições: a) A teoria como uma intencionalidade, um desejo dirigido ao mundo por forma a percebê-lo, a entendê-lo e a conhecê-lo ou como possibilidade de perscrutar os seus sentidos mais insondáveis; b) A teoria como modo de vida simultaneamente utilitário e contemplativo; c) A verdade é aparente (aparência exterior), pois é ontologicamente impossível sermos puros (Deuses) para fixar o olhar e ver a pureza. Todo o olhar tem uma construção prévia, assente em preconceitos, dogmas, cultura, etc., que nos impedem de “ver a Deusa”. Aquele desejo de regressar às coisas mesmas, que encontramos em Edmund Husserl e em Merleau-Ponty, parece ser difícil ou mesmo impossível. Talvez possamos fazer uma aproximação ao momento em que nos situamos no mundo da infância onde o movimento e a linguagem parecem estar carregados de naturalidade, pureza e autenticidade. “Retornar às coisas mesmas é retornar a este mundo anterior ao conhecimento do qual o conhecimento sempre fala, e em relação ao qual toda determinação cientifica é abstrata, significativa e dependente, como a geografia em relação à paisagem – primeiramente nos aprendemos o que é uma floresta, um prado ou um riacho. Este movimento é absolutamente distinto do retorno idealista à consciência, e a exigência de uma descrição CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 393 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE pura exclui tanto o procedimento da análise reflexiva quanto o da explicação científica” (Merleau-Ponty, 2006, p.4). Neste envolvimento, mesmo a teoria mais valorizada (status quo) ou a teoria científica/positiva considera que a observação, verificação, confirmação/infirmação não podem ser realizadas sem preconceitos. Um instrumento é um preconceito, um método é um preconceito. Quem o preconiza é o pai do positivismo - Auguste Comte - na obra Discurso sobre o espírito positivo. d) A teoria é o ponto de partida para ver o fenómeno. O fenómeno vai-se dar a conhecer, vai mostrar-se e manifestar-se. A teoria dá-nos a ver. Nós não conseguimos ver a teoria, mas ela dá-nos a ver. No mesmo sentido, também não vemos os nossos olhos (só ao espelho), mas eles dão-nos a ver. Os instrumentos de medida (não só a ciência tem instrumentos de observação e medida) são uma teoria. O microscópio (excelência da ciência) assim como o vedor (excelência da doxa) podem ser entendidos como prolongamentos do olho e do espírito. Merleau-Ponty na obra O olho e o espírito aborda esta dimensão dos instrumentos como prolongamentos… e) Não existe teoria (uma teoria), mas sim teorias(2). As várias teorias de hoje correspondem às várias formas de ver o mundo. São as diversas formas de olhar e conhecer os fenómenos. São as várias formas de ser homem. f) Não existem teorias melhores ou piores. Levi-Strauss, na obra O Pensamento Selvagem, vem defender que há uma teoria em qualquer ser humano. Não há um lado da ciência e um lado da ignorância, pois a teoria é resultado do humano e o humano é feito de cultura e preconceitos, crenças, geografias, ideologias, tradições (a neutralidade pura - como supostamente encontramos nos “Deuses” - não existe). Estamos, assim, perante um homem ”contaminado” onde cabem todas as teorias. O Índio da Amazónia tem sua teoria; o camponês tem sua teoria; o homem da cidade tem sua teoria; o intelectual (homem da ciência) tem CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 394 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE sua teoria - teoria científica. Existem, assim, várias teorias/epistemes que vão dizer o empírico, a vida, a beleza…o Homem. g) A maior parte das teorias são legitimadas por uma ou uma pluralidade de práticas, sendo a prática entendida como pôr em, efetuar, forma de agir, dar valor. Gizadas as constatações/proposições motivadas pela problematização do conceito de teoria, é talvez, agora, possível chegar a uma primeira grande conclusão: Todas as teorias são válidas pois a ideia de teorias boas de um lado e teorias más do outro, não será um estado definitivo, mas um estado que estará de acordo com a posição cultural, axiológico… de quem as professa. Assim, todas as teorias são resultado de construções e preconceitos - sejam culturais, ideológicos, culturais, axiológicos… A pureza não existe em nós. Se existisse, tínhamos a possibilidade de encontrar a teoria pura, a contemplação plena, a compreensão cabal, o conhecimento integral – total/radical. A teoria é, ao fim ao cabo, a forma, o caminho (sempre imperfeito) de conhecer, de entender o mundo e de procurar a felicidade. Assim a entendemos: a teoria como caminho da felicidade – ver a Deusa! 2.3 – O lugar da teoria no século XXI Quando nos situamos no século XXI, constatamos que as grandes correntes do conhecimento existentes não foram todas adotadas da mesma forma, na medida em que umas foram elevadas, ao passo que outras foram relegadas para planos inferiores. Numa rápida análise a essas teorias, podemos enfatizar cinco grandes correntes ou cinco correntes bastante conhecidas, vindas já do séc. XX, e que apresentamos sucintamente: - Atomismo lógico(3): Corrente da filosofia analítica, teoria do significado e do esclarecimento - lógica dos enunciados. A verdade de uma proposição é feita CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 395 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE por elementos (átomos lógicos – vindos de uma vontade geral) que a constituem. Neste sentido, e atendendo ao pluralismo irredutível do mundo, a verdade de uma proposição nunca poderá ser sintetizada/reduzida a um único elemento. - Positivismo/empirismo lógico (Circulo de Viena)(4): Corrente que pretende contribuir para a elaboração de leis gerais, sendo muito inspirada nas ciências naturais e na verdade da metodologia científica - empírica, objetiva, passível de generalização e neutra axiologicamente. - Neo-Kantianos(5): Corrente humanista, interpretativa, ao defender a “máxima” de que cada elemento da sociedade tem o seu ritmo, o seu valor, que, sendo individual, é também universal. - Fenomenologia(6): Corrente que pretende “voltar às coisas mesmas” - pessoas, experiência humana, social, experiência de (da) vida, construção e reconstrução do mundo, a partir das manifestações iniciáticas, puras e autênticas. - Marxistas (Escola de Frankfurt) (7): Corrente que faz uma crítica à ascensão do capitalismo. Se o capitalismo aparentemente tinha um “bom sentido” - com contributos aparentemente bons -, ele veio a revelar-se com muitas contradições e paradoxos, exibindo caraterísticas como: exploração, estratificação social ou classes, conflitos de classes, domínio de classe, economia, capital, grupos, entre outros. - Marx – Weber: Teoria que apela ao compromisso, à interpretação, à ação humana; teoria que faz o elogio à significação da vida, à subjetividade, aos valores, às atitudes e às crenças - aceitação radical da diversidade. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 396 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 2.3.1 – O que aconteceu O Século XX foi o da consagração do positivismo lógico e a sua máxima: a verdade é resultado da experiência/fatos. O peso do positivismo lógico foi poderoso, esmagador, consagrando a verificabilidade empírica - hipótese, número, padrão, generalização, lei - como manifestações do verdadeiro conhecimento e, por isso, da verdadeira teoria. O positivismo tem sua teoria - o número. Ora, este caminho faz sentido para as ciências exatas/naturais. Foi deste facto que se assistiu à emergência do conhecimento e produção da técnica, tecnológica, nuclear, do armamento e do mercado – da produção material… Com efeito, este caminho – o da exclusividade positivista – parece ser de exclusão e, até, de desconhecimento epistemológico, quando situado no campo das ciências humanas e do comportamento. Na verdade, quando se trata de pessoas, o conhecimento da observação, da descrição exata, quantitativa, objetiva, parece ser redutor e afastado das grandes questões como: o homem, a vida, a subjetividade, as emoções, os afetos ou os sons; ou ainda, na esteira de Kant, o sentido da estética, do juízo do gosto, da sensibilidade e da razão pura. As formas de conhecimento nas ciências humanas e do comportamento - é bom (re) lembrar, por exemplo, que Educação Física e o Desporto se situam, na sua essência, nas ciências humanas e do comportamento - necessitam de outras formas de conhecimento que contemplem expressões culturais, axiológicas, filosóficas e teóricas, entre outras. Foram estas realidades que fizeram com que, na década de 60 do Século XX, emergisse um tempo de mudança - uma mudança cultural pelo elogio ao “capital” humano, social, cultural, investigativo e, com ela, o elogio ao sentido pluriparadigmático do conhecimento e da teoria. Neste envolvimento, as outras várias teorias (que se encontravam, até ali, mais ou menos silenciosas) começam a manifestar-se, sendo que, hoje, a ideia da comunicação CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 397 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE epistemológica é aquela que se mostra com mais sentido. Assim, uma práxis conforme os contextos sociais, políticos, culturais, numa permanente construção/reconstrução, reinterpretação teórica são caminhos que parecem servir melhor o humano, a comunidade e o mundo. A teoria científica (de cariz positivista) começa a revelar-se frágil (ao serviço do homem) e a necessidade de incorporar conhecimentos mais próximos das ciências humanas parece ser determinante. 2.4 - O valor e o lugar natural da teoria hoje A teoria é um pressuposto fundamental, pois nela reside a informação, o conhecimento e a sabedoria. A excelência da teoria (como acabamos de sustentar) é quando nela se fazem não apenas juízos empíricos, mas também metafísicos, culturais, axiológicos, filosóficos, políticos… A teoria serve para fundamentar o conhecimento (episteme), bem como para possibilitar sempre uma meta-análise, uma crítica/crítica em torno de si mesma. A teoria é exigente, está em constante confronto, diálogo, reinterpretação numa dialética de construção e destruição. Este é o seu valor epistemológico. Assim, as práticas empíricas, intelectuais e científicas não possuem apenas um estatuto meramente empírico. Elas têm em si uma dimensão normativa, axiológica, metafísica, cultural, valorativa capaz de fazer um mapa da realidade (humana) - teoria humana. O homem (e suas manifestações) é, antes de mais, do campo das ciências humanas e do comportamento e, por isso, não há uma rutura radical entre o empírico e as proposições não empíricas - que são culturais, valorativas, metafísicas e, por isso, muitas vezes, abstratas, irracionais, axiológicas, subjectivas, particulares e gerais. O Homem é, assim, do campo das grandes narrativas ou das construções filiadas não apenas no mundo históricofactual ou empírico, mas também no universo contra-factual e/ou ficcional. Deste modo, as questões teóricas podem ser avaliadas sem ser empiricamente, podendo ter (têm) a sua validade teórica, enquanto fruto de continuada reflexão CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 398 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE expressa em avanços e recuos. Há uma crítica /crítica teórica, metafísica, política, cultural, filosófica, contemplativa…que é mais forte que as evidências empíricas. Neste sentido, as mudanças teóricas não se dão apenas porque algumas constatações empíricas assim sugerem. Elas são, antes de mais, resultado de uma reflexão teórica profunda – sentido pluriparadigmático. Os acontecimentos científicos não são uma evidência da experiência, mas da teoria, que vai questionar a evidência empírica. 2.5 – A Educação Física e o Desporto neste contexto A Educação Física e o Desporto são, antes de mais, - como já tivemos oportunidade de referir - do campo das ciências humanas, do campo das grandes teorias/narrativas. Esta afirmação pode ser encontrada na história (sentido da história)(8) onde a podemos situar de forma direta e indireta. Ao pertencer ao campo das ciências humanas (o Homem como um fim em si mesmo e, com ela, a ideia de comunicação – com ele e com o outro), acaba por ser do domínio da teoria que não se reduz apenas a fatos empíricos. Contudo, vamos constatar que a Educação Física e o Desporto também não conseguiram fugir ao desígnio do positivismo. A Educação Física e Desporto, ao considerarem o resultado, a competição, a eficácia ou o produto foram naturalmente assimilados pelo positivismo e, com ele, observa-se a emergência da teoria empírica ou da teoria reduzida aos factos técnicos e mecânicos. O Homem (corpo) veio a constitui-se assim como um instrumento, uma máquina, um meio. Ora, para que a Educação Física e Desporto possam cumprir a dimensão competitiva, educativa e social (forjar a comunidade), não deverão apenas situarse no sentido positivo e terão de convocar o campo interpretativo/hermenêutico – a autenticidade, o face a face, a presença, a personalidade, a alteridade ou a relação, por exemplo. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 399 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE O lugar da teoria na Educação Física e Desporto!? É o lugar de uma teoria reflexiva sustentada, exigente, profunda que tem em conta não apenas as evidências empíricas, mas também o sentido subjetivo, intersubjetivo, interpretativo, de acordo com os sentidos culturais, axiológicos, valorativos, filosóficos e políticos, entre outros. Notas 1-A forma mais simples e precisa de perceber, de imediato, o significado da palavra teoria é mergulhar nos dizeres dos dicionários: Assim, numa rápida consulta ao dicionário (geral) da língua portuguesa vamos constatar que existem quatro sentidos para a palavra teoria: a-Teoria como conhecimento ideal, conhecimento puro; b-Teoria como conhecimento especulativo, não sistematizado, independente das aplicações; c-Teoria como conjunto de regras, de leis sistematicamente organizadas que servem de base a uma ciência e dão explicação de um grande número de fatos (teoria científica – teorizar a realidade tendo um método e uma referência/objeto que é empírico); d-Teoria como conjunto sistematizado de opiniões, de ideias sobre determinado assunto (teoria como doxa – senso comum – teorizar a realidade tomando como referenciais as crenças, a tradição, a cultura). No dicionário geral e analógico da língua portuguesa, emerge a teoria como: “ noções gerais; princípios fundamentais de qualquer arte ou ciência; utopia; deputação ou comissão que, na antiguidade, era enviada ou mandada em nome de uma cidade, para ir fazer sacrifícios aos deuses ou consultar o oráculo”(p.1174). Por sua vez, no dicionário etimológico da língua portuguesa a teoria vem do grego que significa: “ acto de ver, de observar, de examinar; acto de ver um espetáculo, de assistir a uma festa; (…)contemplação do espírito, meditação, espírito; especulação teórica, teoria (em oposição à prática)”; do latim Théoria como: “ a especulação, a investigação especulativa”.p.290. Já na grande enciclopédia portuguesa e brasileira a teoria refere: “doutrina ou opinião sobre os princípios de uma ciência ou arte ou sobre a causalidade de algum facto; especulação; doutrina especulativa (…), relação entre um facto geral e os factos particulares que dependem dele(…); (do grego teoria, de theorein - considerar)…”(p.299). “teo…elemento de composição que traduz a ideia de deus, divindade: teologia - do grego: theos”(p.281). 2- Se procedermos a uma análise à história do Homem (cultura ocidental), podemos eventualmente construir uma pequena taxonomia à ideia de teoria - e à prática a ela correspondente. Neste sentido, tomamos a liberdade de considerar cinco focos teóricos: - Primeira teoria – resultado da representação racional e irracional da realidade fundamentada num ideal, numa ideia de perfeição/imperfeição. É aqui que se vai situar o mito, o arquétipo, o religioso, a imagem (i)maculada. A prática surge como forma de agir de acordo com os dizeres e as recomendações dessas representações – à procura da vida boa, o herói, das conquistas, da perfeição versus evitar a decadência, o caminho errático, o pecado, a perversão… - Segunda teoria – resultado, também, ela de uma representação racional e irracional que vai estruturar a ideia de cultura e, com ela, as dinâmicas de tradição, costumes, senso comum (Doxa). A prática correspondia a formas de agir de acordo com a cultura – os costumes, o folclore, a moral e a ética. - Terceira teoria – surge na antiga Grécia. Teoria resultado do conhecimento sistematizado sobre determinado domínio pela observação empírica (Aristóteles como um dos precursores) e pela formulação de hipóteses que a confirmam ou infirmam. A prática carrilava nas formas de agir de acordo com os princípios, regras ou recomendações dessa teoria. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 400 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE - Quarta teoria – Uma que surge também do Grego como: estudo e contemplação; a outra, encontramo-la no Latim como especulação filosófica. As formas de agir estão assentes numa praxis (sentido ontológico) – atividade que visa a transformação psicológica, física e emocional, tendo em vista a contemplação, a felicidade, a reflexão e o transcendente. - Quinta teoria - emerge com a modernidade, sendo muito ligada ao económico, aos media, à indústria cultural e tendo um sentido muito forte de produtividade e eficácia. A prática é, muitas vezes, do campo paradoxal e irracional, levando à não prática, a práticas perversas, especulativas…onde a verdade é, muitas vezes, mentira e a mentira se assume como verdade… A manifestação destas teorias e respetivas práticas irão consagrar a ideia de valor epistemológico – valor do conhecimento… 3- O atomismo lógico, herdeiro do trabalho de Gottlob Frege no Século XIX, é uma doutrina filosófica sustentada por Bertrand Russell e Ludwig Wittgenstein, durante a primeira metade do Século XX. Foi fundada sobre a recusa do monismo tipo idealista de Hegel e a afirmação do reconhecimento de um pluralismo irredutivel no mundo (mundo como diversidade). 4- Positivismo lógico é uma posição filosófica geral, também denominada empirismo lógico ou neopositivismo, desenvolvida por membros do Círculo de Viena (década de 20 do Século. XX). Tem por base no pensamento empírico tradicional e o desenvolvimento da lógica moderna – muito influenciado pelo seu precursor Auguste Comte – na primeira metade do Século XIX. O positivismo lógico restringiu o conhecimento à ciência e utilizou o Verificacionismo para rejeitar a Metafísica não como falsa, mas como destituída de significado. A importância da ciência levou os positivistas lógicos proeminentes a estudar o método científico e explorar a lógica da teoria da confirmação. O positivismo lógico, hoje em dia, é “desconsiderado”/criticado pela maioria dos filósofos. Mas as correntes filosóficas desdobradas de Thomas Kuhn (que estabelece o caráter paradigmático da ciência) e Paul Feyerabend, demonstrando que, na prática científica, a ciência não evolui segundo normas pré-estabelecidas, parecem continuar a ser objeto de análises várias. Moritz Schlick; Rudolf Carnap; John Locke, David Hume, Karl Marx (pelo tratamento científico da história), Gottfried Leibniz (pelas matemáticas e lógica), são também homens precursores e continuadores desta posição filosófica e científica. 5- O neokantismo ou neocriticismo é uma corrente filosófica desenvolvida principalmente na Alemanha, a partir de meados do século XIX até os anos 1920. Preconizou o retorno aos princípios de Immanuel Kant, opondo-se ao idealismo objetivo de Georg Friedrich Hegel, então predominante, e a todo tipo de metafísica, mas também se colocava contra o cientificismo positivista e sua visão absoluta da ciência. O neokantismo pretendia portanto recuperar a atividade filosófica como reflexão crítica acerca das condições que tornam válida a atividade cognitiva - principalmente a Ciência, mas também os demais campos do conhecimento - da Moral à Estética. As principais vertentes do neocriticismo alemão foram a Escola de Baden, que tendia a enfatizar a lógica e a ciência, e a Escola de Marburgo, que influenciaram boa parte da filosofia alemã posterior, particularmente o Historicismo e a Fenomenologia. Os seus principais representantes são Hermann Cohen, o líder da Escola de Marburgo, Paul Natorp e Ernst Cassirer. 6 - Fenomenologia do grego phainesthai - aquilo que se apresenta ou que se mostra - logos - explicação, estudo, afirma a importância dos fenômenos da consciência, os quais devem ser estudados em si mesmos – tudo que podemos saber do mundo resume-se a esses fenômenos, a esses objetos ideais que existem na mente, cada um designado por uma palavra que representa a sua essência, a sua "significação". Os objetos da Fenomenologia são os dados absolutos apreendidos em intuição pura, com o propósito de descobrir estruturas essenciais dos atos (noesis) e as entidades objetivas que correspondem a elas (noema). Os fenomenologistas “lutaram” contra o historicismo e o psicologismo. Idealizando um recomeço para a filosofia como uma investigação subjetiva e rigorosa que se iniciaria com os estudos dos fenômenos como aparentam a mente para encontrar as verdades da razão. As suas investigações lógicas influenciaram até mesmo os filósofos e matemáticos da mais forte corrente oposta - o empirismo lógico. A Fenomenologia representou uma reação à eliminação da metafísica, pretensão de grande parte dos filósofos CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 401 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE e cientistas do século XIX e início do século XX Franz Brentano, Edmund Husserl e Merleau-Ponty são considerados os representantes maiores. “A expressão ‘fenomenologia’ aparece pela primeira vez no século XVIII na escola de Christian Wolff, no Neues Oragnon de Lambert, diretamente ligada a desenvolvimentos análogos populares naquela época, tais como dianologia e alethiologia, que significava a teoria da ilusão - uma doutrina para evitar as ilusões. Algo parecido aparece em Kant. Numa carta à Johann Heinrich Lambert, ele escreve: Isso (a fenomenologia) aparece de um modo bastante particular, como uma disciplina propedêutica que deve preceder a metafísica, onde os valores e limites do princípio da sensibilidade são determinados. Mais tarde, a ‘fenomenologia’ vai constituir-se como um título maior na obra de Hegel. (...) ‘Fenomenologia’ aparece também nas conferências de Franz Brentano acerca da metafísica.” (Heidegger, 2005, p.3). “Desde os seus primórdios, a fenomenologia apresentou-se como uma tentativa para resolver um problema… mas talvez o problema do século: problema que se punha desde 1900 para todo o mundo e que ainda hoje é colocado. Com efeito, o esforço filosófico de Husserl, no seu espírito, destinou-se a resolver, simultaneamente, uma crise das ciências do homem e uma crise das ciências simplesmente, da qual ainda não escapamos.” (Merleau-Ponty, 1983.p.11). 7 - Escola de Frankfurt (em alemão: Frankfurter Schule) refere-se a uma escola de teoria social interdisciplinar neo-marxista particularmente associada com o Instituto para Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt – 1924. A escola, inicialmente composta por cientistas sociais marxistas dissidentes que acreditavam que alguns dos seguidores de Karl Marx, tinham-se tornado "papagaios" de uma limitada seleção de ideias de Marx, e utilizadas em defesa dos ortodoxos partidos comunistas. Entretanto, muitos desses teóricos experimentaram que a tradicional teoria marxista não poderia explicar adequadamente o turbulento e inesperado desenvolvimento de sociedades capitalistas no século XX. Críticos tanto do capitalismo e do socialismo da União Soviética, as suas escritas apontaram para a possibilidade de um caminho alternativo para o desenvolvimento social. Apesar de algumas vezes apenas espontaneamente afilhados, os teóricos da Escola de Frankfurt falaram com um paradigma comum em mente, compartilhando, portanto, os mesmos pressupostos e sendo preocupados com questões similares. A fim de preencher as percebidas omissões do marxismo tradicional, eles solicitaram extrair de outras escolas de pensamento, por isso usaram ensaios de sociologia antipositivista, psicanálise, filosofia existencialista e outras disciplinas. As principais figuras da escola foram solicitadas a aprender e sintetizar os trabalhos de variados pensadores, como Kant, Hegel, Marx, Freud, Weber e Lukács. Seguindo Marx, eles estavam preocupados com as condições que permitiam mudanças sociais e o estabelecimento de instituições racionais. A sua ênfase na componente "crítico" da teoria foi derivada significativamente pela tentativa de superar os limites do positivismo, materialismo e determinismo retornando à filosofia crítica de Kant e aos seus sucessores no idealismo alemão, principalmente a filosofia de Hegel, e a sua ênfase na dialética e contradição como propriedades inerentes da realidade. Max Horkheimer, Theodor Adorno, Herbert Marcuse, Friedrich Pollock, Erich Fromm, Otto Kirchheimer, alguns dos seus fundadores e precursores. 8 - Se atendermos ao sentido da história e à dimensão humanista da Educação Física/Desporto, podemos elaborar uma pequena taxonomia e elevar algumas constatações/proposições: a– O desporto clássico tinha (tem) como grande objetivo a competição e a obtenção de mais e melhores resultados - manifestação olímpica. Era (é) um desporto para alguns, desporto que não fazia (faz) parte da vida quotidiana. É desporto de um grupo (atletas) que praticava (pratica) e competia (compete). b – No entanto, o desporto clássico tinha também na sua essência (os Gregos sabiam disso) uma manifestação que poderia ser educativa e, por isso, foi chamado a integrar essa missão. O maior exemplo deste fato pode ser encontrado no projeto educativo helénico, onde a Educação Física concorria de igual forma com as outras áreas educativas - canto, retórica, escultura e pintura. Hoje, esse sentido continua presente, fazendo parte do projeto educativo moderno - faz parte do currículo escolar… CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 402 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE c – Com a modernidade (revolução industrial, iluminismo…), o desporto continua a ter estas duas direções, acrescentando, agora, uma nova direção: o social. O Desporto invadiu o social, sendo simultaneamente produtor e produto social, constituindo-se como uma manifestação cultural. Na base desta dialética (mais do que dicotomia ou dualidade), está uma melhoria das condições básicas de vida (para lá da sobrevivência… “mais tempo” para o ócio…) associado à evolução da técnica, da informação e da comunicação. De salientar que esta manifestação cultural do desporto (para além da sua manifestação mais purista) foi instrumentalizada por uma indústria cultural e pelos media…o que veio trazer outras implicações, nomeadamente mercantis e consumistas, ideológicas (consolidação capitalista…) Independentemente das tendências atuais do desporto, podemos afirmar que esta evolução permitiu: Um maior processo de comunicação – comunicação de pessoas, de seres humanos…seres de comunhão, de partilha, que vivem em comum. Uma valorização do corpo através do desporto – assiste-se ao elogio da saúde, da estética, do prazer, observando-se a exaltação do corpo e o regresso à natureza; novos espaços informais e não formais são contemplados. O Corpo, que, antes, era um instrumento produtivo, “passa” a ser instrumento e um locus de vida, realização individual e coletiva, manifestação de felicidade, apesar, naturalmente, de olhares opostos que veem, hoje, o corpo “escravo” do modelo consumista. "O verdadeiro sábio procura a ausência de dor, e não o prazer." (Aristóteles) Bibliografia ARISTÓTELES. (1985). Metafísica. Tradução de Mário da Gama Kury. Brasília: Editora Universidade de Brasília. BIVAR, A. (1952). Dicionário geral e analógico da língua portuguesa. Porto: Edições Ouro, II, pp.1173-1174. CAMILO CUNHA, A. (2008). Pós-Modernidade, socialização e profissão dos professores de educação física - para uma nova reconceptualização. Viseu: Vislis Editores. CAMILO CUNHA, A. e PETRICA, J. 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Ana Maria Pereira Docente da Universidade Estadual de Londrina - UEL – Brasil Pesquisa financiada pelo CNPq Conselho Nacional Desenvolvimento Científico e Tecnológico - Brasil Resumo Esta pesquisa teve como objetivo investigar parte da produção científica de uma área de conhecimento, que propõe uma ruptura epistemológica com a atual Educação Física, a Ciência da Motricidade Humana. O levantamento da produção dos Artigos Publicados em Periódicos produzidos em nível nacional, no país Brasil, considerou os estudos desde o final do século XX, ano 1996, e início de século XXI, ano 2012. Para levantar a produção em Motricidade Humana recorremos ao Sistema de Publicação Eletrônica da (Plataforma Lattes) para identifica-la nos currículos dos pesquisadores com Doutorado. Esta pesquisa de natureza qualitativa primeiramente de caráter documental (Gil, 1988), visou o levantamento da produção acadêmica. E, posteriormente, se ateve à análise dos conteúdos da produção em questão. Constatamos que os estudos em Motricidade estão ligados à muitas áreas no âmbito da Educação Física, e também, a outras áreas, tais como a da Dança, Música, Ergonomia e da Fisioterapia. Encontramos pesquisas com o objeto de estudo totalmente vinculado à Ciência da Motricidade Humana, entretanto estas são de número reduzido. Observamos que as discussões e reflexões sobre a Motricidade se fizeram presentes com bastante intensidade na última década do século XX, tendo em vista os debates acerca da crise vivida na Educação Física, e ainda, que muitos estudos e pesquisas em Motricidade Humana estão disponíveis de modo impresso e não revistas, na versão plataforma on line. Palavras-chave: Motricidade Humana; Pesquisa Científica; Conhecimento. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 406 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 1- Introdução/problematização 1.2 - A Ciência da Motricidade Humana Nas últimas décadas, designadamente a partir da década de 70, temos observado uma quantidade considerável de produção de conhecimento em Educação Física. Entretanto, a esmagadora maioria desses trabalhos não apresenta uma sólida investigação epistemológica, desconhecendo o paradigma científico no qual se fundamentam. A Educação Física, ainda não agregou, num paradigma comum e de forma generalizada, o jogo, o esporte, a luta, a ginástica e a dança. Aliás, se não laboramos em erro grave, é Manuel Sérgio o primeiro autor, em língua portuguesa, que além de levantar a questão da necessidade de uma investigação epistemológica, para determinar qual o paradigma em que se assenta a teorização das práticas anteriormente citadas, propôs um objeto de estudo para a área. O objeto de estudo é a Motricidade Humana, motricidade esta pautada no homem que se-movimenta intencionalmente, rumo à sua transcendência. O fato é que no final do século passado toda a Educação Física entrou em crise e passou por um processo de crítica, seguido de revisão de seus pressupostos e fundamentos epistemológicos, ontológicos e metodológicos. A Educação Física tem reclamado por mudanças e por revisão no que se refere à conceituação de sua identidade, à definição do objeto de estudo, à sua nomenclatura que remete somente a educação de um físico, e, também, à resignificação do campo de atuação e da intervenção metodológica. A Educação Física questionou a sua práxis imitativa, decorrente da concepção de humano centrado no dualismo cartesiano e, ainda, de seu marco teórico oriundo das ciências médicas e de sua prática advinda do militarismo. Há que considerar uma tendência com novas proposições no âmbito da Educação Física, sendo esta mais consistente, abrangente, complexa e legítima às questões referentes à história, à filosofia, à política e à cultura, para refutar o CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 407 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE tradicional, pautado nos biologismos do físico tão só, nos dualismos ontológicos e da falta de uma definição epistemológica. O processo de mudanças ocorre desde a década de 70 e com mais intensidade na década de 80 do século XX. Observa-se a trajetória de alguns autores internacionais, os franceses Jean Le Boulch (1961, 1987) e Pierre Parlebas (1987), o espanhol José Maria Cagigal (1974), o português Manuel Sérgio (1986). E no âmbito nacional os brasileiros Victor Marinho de Oliveira (1980), João Paulo Subirá Medina (1984), João Bosco da Silva (1995) e Claudia Guedes. Todos estes preocupados com a identidade e o objeto de Estudo da Educação Física. Manuel Sérgio, diz que “só está em crise o que está vivo”. Portanto, a crise, na Educação Física, deveria entender-se como um sinal de vida e de transformação. Nota-se que atualmente os profissionais da área não se preocupam mais com crise do passado recente. Parece não ser relevante as discussões do objeto de estudo e de sua identidade, mas o assunto ainda não foi resolvido. Nós profissionais da Educação Física estamos nas universidades, nas escolas, nos clubes, nas academias, ou seja, lá onde, a fazer cada um a sua parte e de olhos vendados para o todo complexo. Várias interrogações já foram respondidas: A Educação Física é um produto do cartesianismo, assentada numa ontologia em que considera o humano dilacerado em corpo e mente; está assentada e legitimada na educação de um físico tão só. Portanto, o objeto de estudo da Educação Física é o próprio físico. Ora, a Educação Física já morreu! Entretanto, nós profissionais estamos agarrados em premissas de ordem corporativa e temos medo da mudança radical, rigorosa e de conjunto. Vamos mudando aos poucos. Aliás, a comunidade científica já diz que temos a Educação Física Tradicional e a Nova Educação Física, que é aquela que estuda o movimento humano consciente e intencional. Entretanto, toda a sociedade em geral e a comunidade científica de outras áreas do conhecimento CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 408 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE ainda nos vêem como “instrutores de físico”. Mudanças ocorrem vagarosamente e é preciso como diz Edgar Morin que haja o equilíbrio entre o antigo e o novo. Há, de fato, dúvidas a resolver. A crise ainda existe não tão evidente, mas presente. E, por isso, não é de se estranhar a necessidade da investigação de caráter epistemológico. O estudo em questão não é novo. Entretanto, não está desatualizado. Esta questão tem incomodado há algum tempo. A Educação Física carece de maiores debates de caráter epistemológico e a Ciência da Motricidade Humana é uma teoria em que seus pressupostos e fundamentos podem consolidar avanços para a área em questão. Estes aspectos apontados nos remetem a alguns questionamentos: Como está o trato acerca da Ciência da Motricidade Humana, nos Institutos de Ensino Superior e/ou Faculdades de Educação Física? Qual a produção científica neste campo de estudo? O que está sendo publicados nos artigos, produzidos por Professores Doutores, que versam sobre a Ciência da Motricidade Humana. 1.2- A produção do conhecimento em Educação Física no Brasil. Observa-se que a geração da produção do conhecimento em Educação Física no Brasil está atrelada aos programas de pós-graduação, principalmente os de Strito Sensu. Todavia, destacamos que nos últimos 20 anos a produção do conhecimento cresceu muito, no âmbito da Educação Física, e esta produção é realizada em sua maioria em universidades públicas, sendo estas federais e estaduais. Evidencia-se o crescimento da produção atrelada ao movimento de crescimento da área, em que se materializou na atualidade por volta de 1000 cursos de graduação em Educação Física. A questão para refletirmos aqui neste trabalho não se restringe apenas ao crescimento das pesquisas em Educação Física, mas sim no tipo de produção científica que está sendo desenvolvida em áreas preocupada com estudos epistemológicos. É nesse sentido que centra o nosso interesse, o de saber o que CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 409 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE está sendo produzido no âmbito da pesquisa científica sobre a Ciência da Motricidade Humana. De outro modo, o que apontam as pesquisas científicas em Motricidade Humana? Fez-se necessário realizar o levantamento da produção científica de determinadas áreas do conhecimento, tendo em vista conhecer a realidade da Motricidade no Brasil. Objetivou-se investigar parte da produção científica de uma área de conhecimento, que propõe uma ruptura epistemológica com a atual Educação Física: a Ciência da Motricidade Humana, sob a luz dos pressupostos teóricos ensinados pelo filósofo português o Professor Doutor Manuel Sérgio. Através de uma pesquisa de natureza fenomenológica qualitativa, primeiramente de caráter documental (Gil, 1988) e depois com análise do conteúdo, Para tanto utilizou-se a metodologia subseqüente. 2 - O percurso Metodológico Levantou-se os Artigos Publicados em Periódicos Científicos que constam na lista de produção do “Currículo Lattes” dos Doutores que estudam e pesquisam a Ciência da Motricidade Humana, artigos esses disponíveis no Sistema de Publicação Eletrônica da (Plataforma Lattes). Recorreu-se aos dados e informações disponíveis pela ferramenta eletrônica supra mencionada, referentes aos artigos publicados em Periódicos, buscando realizar o levantamento e a organização da produção do conhecimento, especificamente, sobre a temática: Ciência da Motricidade Humana. Executou-se o acesso a “Rede Mundial de Computadores – internet”, precisamente ao sitio: (http:/lattes.cnpq.br), domínio eletrônico do Sistema de Publicação Eletrônica (Plataforma Lattes), onde encontra-se disponibilizado, entre seus inúmeros recursos, a ferramenta denominada “busca”, que foi amplamente utilizada, na modalidade “busca simples”. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 410 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE O recurso em tela, apresenta algumas opções para direcionamento digital da pesquisa aos elementos que se deseja na sua base de dados. Em utilização, disponibiliza um campo especifico para esta escolha, em que decidiu-se então, fazer uso de palavras chave, no caso especifico: Motricidade Humana. Ao digitar as palavras, na forma de sentença: Motricidade Humana, a ferramenta eletrônica apresentada, no dia 27/09/2011, elencou 449 currículos de Professores Doutores, em ordem cronológica de inclusão no Sistema de Publicação Eletrônica (Plataforma Lattes). Procedeu-se então, o acesso eletrônico aos 449 currículos elencados, precisamente, no item “Artigos completos publicados em periódicos”, com a cópia do conteúdo em “pastas” eletrônicas, para facilitar as operações em ambiente “off-line”. O exercício de cópia e salvamento foi realizado em arquivos unitários do “software” “Microsoft Office Word 2007”, contemplando 04 lotes de 100 arquivos e 01 lote de 49 arquivos, catalogados em ordem cronológica de levantamento e numerados de 01 a 100, de 101 a 200, de 201 a 300, de 301 a 400 e finalmente de 401 a 449. Realizou então, em ambiente “off-line”, o levantamento dos conteúdos dos currículos elencados, buscando os artigos científicos produzidos sobre o assunto “Motricidade Humana”, através da detida leitura e analise dos artigos. Identificando-se 38 artigos de Professores Doutores, do período de 1996 a 2011, sendo que 09 destes foram produzidos em conjunto, tipificando em 01 artigo, coautoria tripla e em 03 artigos, co-autoria dupla, perfazendo, em refinamento de dados, objeto com 38 autores e 33 artigos. Organizou-se os 38 artigos em estudo, em “pasta” eletrônica dedicada, em arquivos unitários do “software” “Microsoft Office Word 2007” ordenados por nome do autor, na forma alfabética crescente. Dando continuidade ao preterido objetivo, procedeu-se pesquisa pela “Rede Mundial de Computadores – internet”, utilizando-se dos recursos disponíveis no sitio (http\\google.com.br) com a finalidade de obter acesso aos CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 411 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE conteúdos completos dos artigos publicados em Periódico, e posteriormente efetuar copiar o conteúdo em “pastas” eletrônicas, para facilitar eventuais consultas em ambiente “off-line”. O exercício de cópia e salvamento foi realizado por arquivos unitários com extensão digital “pdf” e “html”. Em seguida, organizou-se os dados identificadores dos artigos em “pasta” eletrônica dedicada, na forma de planilha eletrônica, do “software” “Microsoft Office Excel 2007”, componente de “pasta” eletrônica dedicada. A planilha eletrônica em tela, foi composta por: 38 linhas, identificadas e numeradas de 1 a 38; 11 colunas identificadas alfabeticamente e ordenadas crescentemente da esquerda para a direita, de A à K, contendo: A tipificação do objeto (artigos), identificação sequencial numérica, nome completo do autor, titulo do artigo e atalho, para acesso ao seu conteúdo na modalidade “off-line” através de arquivo com extensão digital “pdf” e “html”, Foi necessário fazer um atalho para acesso ao conteúdo somente do resumo na modalidade “off-line” através de arquivo com extensão “html “, com identificação do periódico que apresentou a publicação, ano de publicação, perfil de abrangência profissional do periódico que apresentou a publicação (Educação Física). Atalho na modalidade “hiperlink” para acesso via Rede Mundial de Computadores ao conteúdo completo do artigo, e temática componente dos artigos fundamentados ou ligados à Motricidade Humana. E finalmente, de posse dos dados objeto deste, devidamente organizados e disponíveis para operações de pesquisa, procedemos a análise quantitativa e de conteúdo da Produção do Conhecimento por Professores Doutores Brasileiros, no período de 1996 a 2011 sobre o assunto Ciência da Motricidade Humana. Na análise de conteúdo passou-se à fase de interpretação, em que se realizou o exercício hermenêutico do material bibliográfico, tendo em vista categorizar material científico. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 412 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 3- Resultados e Discussões Em análise mais apurada da produção científica do currículo destes 449 pesquisadores pré-selecionados, 411 destes foram desconsiderados porque, embora apareça em suas produções a palavra: Motricidade Humana, não desenvolvem pesquisa na temática do assunto proposto a Ciência da Motricidade Humana sob a luz dos pressupostos teóricos ensinados pelo filósofo Português Manuel Sérgio (Sergio, 1989). Então, somente 38 currículos apresentavam artigos publicados no período de 1996 a 2011, referentes ao assunto: Ciência da Motricidade Humana. Observamos uma quantidade considerável de artigos que trata de analisar a Educação Física no âmbito de questões epistemológicas, abordando a “crise de identidade”, a falta de objeto de estudo próprio e de estatuto epistemológico. Estes artigos normalmente apresentam em seus conteúdos todas a tendências que tentam resolver tal problemática e, nesse sentido, perpassam pela Ciência da Motricidade Humana, uma vez que esta propõe um objeto de estudo para a área. Estes trabalhos fogem do escopo desta investigação, pois o nosso interesse é estudar os trabalhos que estão mais diretamente ligados na teoria ou que tem a motricidade como sustentação teórica. 3.1- A Produção do Conhecimento em Motricidade Levando em consideração os objetivos e os critérios deste estudo verificamos que os pesquisadores que se detém aos estudos e pesquisas sobre a Motricidade estão em sua maioria profissionalmente inserido no âmbito da Educação Física e da Fisioterapia e estes estão a pesquisar sobre os temas relacionados às seguintes categorias, tais como: epistemologia, educação escolar, ensino superior: motricidade humana na universidade, pessoas com necessidades especiais, imaginário e representações sociais, dança, esporte e saúde, música, arte, educação infantil, educação cultural, ética, fenomenologia e educação física. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 413 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Epistemologia e método Em uma análise mais detida sobre a produção de pesquisas em Motricidade encontramos 11(onze) artigos que se referem a: a) pesquisas cujo objeto de investigação se atém aos pressupostos epistemológicos e fundamentos da Ciência da Motricidade Humana, envolvendo temas como a sua evolução e as suas características principais tais como: superação do paradigma cartesiano, transcendência e intencionalidade operante; b) temas que tratam de estudos dos paradigmas no âmbito das ciências e as contribuições de Thomas Kuhn sobre a ruptura dos paradigmas, traçando um paralelo entre as ideias de Kuhn e as proposituras de Manuel Sérgio; c) aspectos metodológicos da Motricidade, como o método integrativo utilizando métodos das diferentes correntes teóricas metodológicas, como a fenomenologia, o pensamento complexo e o materialismo histórico dialético. Quanto ao método da Motricidade ele é o integrativo que converge com a ideia de transgressão metodológica, sendo um modo pesquisa que conecta com outras vertentes metodológicas; d) organização de glossário para orientar a compreensão da Motricidade e definir uma termologia especifica para a emergente ciência. Educação Escolar 14 (quatorze) trabalhos abordam temas relacionados com a educação escolarizada, tendo preocupação fundamental com a formação do humano durante a sua formação na educação básica. No que se refere a Motricidade Humana e a educação escolarizada os pesquisadores estão preocupados em pesquisas que tratam de: a) orientação na educação de jovens e adultos à luz da Motricidade humana; CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 414 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE b) o aspecto central do desenvolvimento humano, em relação com o processo de aprendizagem em geral, tendo como base os pressupostos teóricos da Ciência da Motricidade Humana, do português Manuel Sérgio; c) organização de propostas pedagógicas no âmbito educacional pautada nos pressupostos da Ciência da Motricidade humana, considerando a perspectiva fenomenológica. d) operacionalizar a Ciência da Motricidade na Educação, nomeadamente, na Educação Física; e) analisar a relação entre os fatores biológicos, sócio-culturais das crianças de 05 a 06 anos de idade, durante as atividades espontâneas no contexto do pré-recreio escolar; f) analisar habilidades motoras e conceitos de movimento vivenciados nas aulas de Educação Física para Educação Infantil. Verificou que os programas de intervenção destes professores oferecem habilidades locomotoras mas com pouca diversificação e que as ações corporais propostas eram na maioria fechadas, restringindo os conceitos de movimento e habilidades enfocadas. g) processos de ensino-aprendizagem, em que verifica a relação entre ao que a criança aprende no cotidiano e como isso acontece nos processos de aprendizagem. Ensino Superior 02 (duas) pesquisas em que os temas estão vinculados as questões da Motricidade nas Instituições de Ensino Superior: a) Relato de experiência do ensino da Motricidade Humana na universidade, formação inicial em Educação Física, em que inclui uma descrição do plano de ensino e a análise das respostas dadas pelos alunos, em relação as diferenças entre Educação Física e Motricidade. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 415 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE b) Defesa em que os cursos de Educação Física, na qualidade de disciplina acadêmica, tendo como objeto de estudo o movimento deveria conhecer os princípios da Motricidade defendida por Manuel Sérgio. Pessoas de Necessidades Especiais (PNE) 02 (dois) artigos em que a Motricidade Humana constitui na base de programas desenvolvido para as Pessoas de Necessidades Especiais (PNE): a) um deles usa a base das teorias de Manuel Sergio e considera a Motricidade Humana contribuindo nas diferentes áreas do conhecimento para compreender o homem que se movimenta intencionalmente em busca de superação; b) outro a Motricidade Humana se apresenta ligada ao programa desenvolvido para as Pessoas de Necessidades Especiais (PNE) utilizando de estudos da Ciência da Motricidade Humana em um olhar sobre a prática pedagógica. Esporte e saúde 02 (dois) trabalhos, em que um trata de esporte e saúde numa relação estreita com os fundamentos da Motricidade. E o outro referente atividades físicas e esportes a) o primeiro estudo revela a motricidade humana como uma expressão da totalidade complexa do homem, as suas manifestações guardam relação de reciprocidade com a saúde. O estado de saúde expressa-se também na motricidade e, reciprocamente, o exercício da motricidade é um dos fatores que condicionam o estado de saúde. b) A segunda pesquisa trata do tema Motricidade Humana, movimento, atividades físicas e esportes. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 416 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Dança 01 (uma) pesquisa dedicada a dança e a Motricidade Humana. Neste estudo, especificamente, a dança é sugerida enquanto conteúdo da Educação Física e a autora defende que a dança sob o paradigma da motricidade pode contribuir para os processos de educação e de formação do ser humano. Música 01 (um) artigo relaciona a teoria da Motricidade no ensino das atividades rítmicas e músicas. A Educação Física tendo como conteúdo em suas atividades rítmicas que envolvem música nas aulas. A presente pesquisa defende que os estudantes aprendam e vivenciem as atividades rítmicas e motrizes de modo prazeroso com sentido e com significados. Representações e Imaginário Encontramos 01 (um) artigo em que as reflexões estão pautadas em afinidades existentes entre o imaginário social e Motricidade, sugerindo a análise do discurso, a mitocrítica e a mitoanálise como procedimento metodológico importante para se trabalhar em pesquisas sobre Motricidade Humana. Ética Todavia, encontramos 01 artigo dedicado aos estudos da ética e da Motricidade Humana, em que os estudos da Ética e da Motricidade Humana estão pautados nos diálogos entre Nietzche, Merleau-Ponty e Manuel Sérgio que se apropria da filosofia de ambos para explicar o corpo enquanto dimensão ética na sua teoria. Arte Também verificamos 01 pesquisa cujo seu objeto de estudos está dedicado à arte e Motricidade Humana, em suas relações com a pinturas, a danças, a poesias na produção da cultura humana de formas de signos e significados. A motricidade do ser humano que planeja e intervém na sociedade possui uma relação direta com as artes e estas permitirão a criação de uma CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 417 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE identidade simbólica através da expressão e comunicação de pensamentos, valores e ideologias que estão presentes na cultura. Formação profissional do fisioterapeuta 02 artigos sobre os pressupostos teóricos da Motricidade na fundamentação e na filosofia da formação profissional do fisioterapeuta. Os artigos propõe um repensar sobre a formação do profissional fisioterapeuta tendo a transdisciplinaridade como meta e propõe como eixo filosófico para a Fisioterapia os estudos da Motricidade Humana. Observamos que a temática de maior incidência nos artigos estudados é relacionados à motricidade e suas questões epistemológicas. Verificamos também grande interesse na Ciência da Motricidade os pesquisadores da área educacional, seguida de outras tais como, ensino superior: motricidade humana na universidade, pessoas com necessidades especiais, imaginário e representações sociais, dança, esporte e saúde, música, pessoas com necessidades especiais, arte, educação infantil, educação cultural, ética, fenomenologia e educação física. 4- Conclusões Observamos que em muitos currículos da Plataforma Lattes constam a palavra Motricidade Humana. Entretanto, quando nos atemos a fazer uma análise detalhada da produção dos professores, os artigos publicados não são da Ciência da Motricidade Humana defendida por Manuel Sérgio. Encontramos 38 artigos publicados, em revistas on line, no período de 1996 a 2011, referentes ao assunto: Ciência da Motricidade Humana. Concluímos tratar-se de uma amostra muito discreta dentro do universo da pesquisa cientifica relativo à Educação Física. Entretanto, infere-se que a maior incidência da produção em motricidade ocorreu na década de 90 do século passado e as revistas não dispunham seus artigos em versão on line. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 418 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE A produção em Motricidade se encontram sob as temáticas: Conhecimento/Epistemologia, Educação Escolar, Motricidade Humana na Universidade, Dança, Esporte e saúde, Música, Pessoas com Necessidade Especiais (PNE), Ética, Arte, Educação Infantil, Educação Cultural, Fenomenologia, Imagem Corporal, Fisioterapia, Educação Física e Cultura. Pode-se afirmar que os pesquisadores em seus artigos aqui tratados, dedicam-se a diferentes áreas de conhecimento, porém aliam seus estudos à Ciência da Motricidade Humana, de acordo com os pressupostos teóricos do Filósofo Português Manuel Sérgio (Sergio, 1989). Observa-se que há necessidade de fortalecimento da comunidade Cientifica dos pesquisadores da Ciência da Motricidade Humana. Para isso, seria interessante a edificação de mais eventos na área, criação de periódicos sobre tema especifico em Ciência da Motricidade Humana, e os professores pesquisadores se envolverem em programas de Mestrado e Doutorado. 5 - Referências Bibliográficas Bardin. L. ( 1977). Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70. CastellanI Filho, L. (1991). Educação Física no Brasil: a história que não se conta. (2º edição). Campinas, SP: Papirus. Gil. A. C. (1988). Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas. Lakatos, E. M.; Marconi, M. A. (1991). Fundamentos da metodologia científica. 3. ed. São Paulo: Atlas Martins, J. (1989) A pesquisa qualitativa. In: Fazendo, I. et al. Metodologia da pesquisa educacional. São Paulo: Cortez. Masini, E. F. S. (1989). Enfoque fenomenológico de pesquisa em educação. In: Fazenda, I. et al. Metodologia da pesquisa educacional. São Paulo: Cortez. Morin, Edgar. (1990). Ciência com consciência. Lisboa: Publicações Europa – América. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 419 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Sérgio, M. (1989). Educação física ou ciência da motricidade humana? Campinas: Papirus. ________. (1993). Motricidade humana: um paradigma emergente. In: Moreira V.W. Educação física e esporte: perspectiva para o século XXI. Campinas: Papirus. ________. (1981). Filosofia das atividades corporais. Lisboa: Compendium. ________. (1978). A prática e a educação física. 2ed. Lisboa: Compendium. ________. (1999). Um corte epistemológico: da educação física a motricidade humana. Lisboa, Instituto Piaget. ________. (1994). Motricidade humana: contribuições para um paradigma emergente. Lisboa, Instituto Piaget. ________. Epistemologia da motricidade humana. Lisboa. Edição Faculdade de Motricidade Humana, 1996. Tojal, J. B. (1994). Motricidade humana: o paradigma emergente. Campinas, S.P.: Editora da Unicamp. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 420 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE VIOLÊNCIA, BULLYING E INDISCIPLINA NA ESCOLA Bullying Escolar: um estudo longitudinal sobre vitimação Paulo Costa1 Rosana Coronetti Farenzena1,2 Hugo Simões1 Beatriz Pereira1 1Instituto de Educação – CIEC – Centro de Estudos da Criança – Universidade do Minho – Portugal 2 Faculdade de Educação – Universidade de Passo Fundo – Brasil Resumo A vitimação na escola está frequentemente ligada à intimidação, aos maus tratos, à rejeição ou aos abusos, entre pares. Na lógica de uma compreensão contextual e longitudinal da vida escolar de crianças e jovens, desenvolvemos um estudo sensível às especificidades das interações entre pares. Nesta perspetiva, a investigação realizada com alunos de escolas públicas portuguesas, tem como objetivo conhecer a incidência dos comportamentos de vitimação intra-geracional no 3º ciclo do ensino básico e a respectiva evolução ao longo de dois anos letivos, através da descrição e análise da frequência e das múltiplas formas de vitimação associadas ao género. Descrevemos e analisámos a prevalência das múltiplas formas de vitimação ocorridas entre pares, durante dois anos letivos (7º e 8ºanos) com o mesmo grupo de alunos, através de um questionário aplicado a 164 alunos (1º momento – Dezembro 2011), 172 alunos (2º momento – Junho 2011) e 160 alunos (3º momento – Junho 2012), com idades compreendidas entre os 11 e os 17 anos (𝑋̅=12,85 e = 0,994). Os resultados permitem leituras abrangentes e profundas do contexto de pesquisa, especialmente no que diz respeito à relação género e bullying. Também suscitam a retomada dos quadros referenciais do fenómeno, afirmados a partir dos primeiros estudos sobre o bullying. Palavras-chave: Bullying – Vitimação – Género - Múltiplas formas CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 421 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE INTRODUÇÃO O bullying constitui um tema inevitável. Esse fenómeno, que logrou gozar de uma denominação única nos diversos contextos geográficos, conota-se como universal e inerente ao clima escolar, ganhando contornos de problemática global. Num curto espaço de tempo, que corresponde a não mais que três décadas, consolidou-se como um fenómeno colado a vida das escolas. De natureza processual, tem as propriedades de expandir-se nas linhas de tempo das vivências da escola e, de caracterizar a interatividade que pauta o clima institucional. Diferenciando-se de manifestações isoladas do quadro de violência escolar, o bullying ocorre quando comportamentos agressivos e de intimidação (Pereira, 2008) se manifestam de forma repetida (semanas, meses ou anos), com intenção de magoar outros que, por si só, não conseguem se defender devido a uma assimetria de poder entre pares (Olweus, 1993; Smith & Sharp, 1994; Solberg & Olweus, 2003). O termo bullying, está consolidado numa escala internacional, na perspetiva de que conceitua a prática do abuso sistemático de poder entre pares (Smith, Depra, & Rigby, 2004), provocado por um individuo ou mais e, perante uma vítima ou mais, através de um processo de agressão intencional e continuado (Olweus, 1993). É uma tarefa exigente e indispensável diferenciar o bullying de outros comportamentos de agressão entre pares. Requer que sejam identificados os comportamentos envolvidos; como evoluem; as características de idade e o género; os diferentes tipos de participação dos pares (Fernandes & Seixas, 2012); bem como a observação das variáveis «intencionalidade, frequência/forma e assimetria de poder», subjacentes à manifestação do fenómeno. É suficiente um olhar em profundidade para o nível de envolvimento em comportamentos de vitimação, para que se perceba tratar-se de uma CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 422 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE problemática multidimensional. Quatro tipos de vítimas foram identificados em estudo de (Shuster, 1999), a partir da percepção das próprias vítimas e dos seus pares. A saber, um grupo de alunos que não se percecionava como vitima e também não o era pelos pares «Não envolvidos»; um outro grupo que simultaneamente se autodenominava e era nomeado pelos pares como vítima «vítimas»; um terceiro grupo que não se autodenominava como vítima, embora assim tenha sido nomeado pelos pares «vítimas defensivas» e um último grupo de crianças e jovens que se autodenominavam como vítimas, embora não tenham sido nomeados pelos pares «vítimas sensíveis». A problemática do bullying remete para uma disfunção multifatorial, referida em diversos estudos e, as suas variações estão associadas à frequência, duração e forma, entre outros fatores (Costa, Pereira, Simões, & Farenzena, 2011; Skrzypiec, Slee, Murray-Harvey, & Pereira, 2011). Os comportamentos de bullying podem ser manifestados de várias formas (Freire, Veiga Simão, & Ferreira, 2006; Martins, 2009; Olweus, 1999) por meio direto e/ou indireto. Estes últimos não são de fácil identificação. O bullying direto compreende as ações diretas à vítima, (Bjorkqvist, Lagerspetz, & Kaukainen, 1992; Carvalhosa, 2010; Genta, Menesini, Fonzi, Costabile, & Smith, 1996; Glover, Gough, Johnson, & Cartwright, 2000; Ramirez, 2001) do tipo verbal ou físico (Carvalhosa, 2010; Meyer, 2011; Olweus, 1993; Pereira, 2008). Inclui ações como bater ou ameaçar fazê-lo; dar pontapés; roubar objetos que pertencem a outros colegas; estragar os objetos dos colegas; extorquir dinheiro ou ameaçar fazê-lo; forçar comportamentos sexuais ou ameaçar fazê-lo; obrigar ou ameaçar os colegas a realizar tarefas contra sua vontade; insultar, chamar nomes ou colocar alcunhas contra a vontade do destinatário; goza; fazer comentários racistas e/ou que evidenciam qualquer defeito ou deficiência. Identifica-se por bullying direto aquele que ocorre «face a face» e se caracteriza por comportamentos de confrontação direta face ao sujeito-alvo, onde o agressor CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 423 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE e a vítima conhecem a identidade um do outro (Fernandes & Seixas, 2012; Olweus, 1993; Pereira, 2008; Rivers & Smith, 1994). O bullying indireto ocorre «por trás das costas», não existindo uma confrontação direta. Concretiza-se através de comportamentos manipulativos como o excluir sistematicamente do grupo de pares e/ou espalhar boatos com o intuito de destruir a reputação (Pereira, 2008). Na maioria das vezes o aluno-alvo encontra-se ausente, não existindo dessa forma a confrontação presencial, sendo comuns comportamentos de vitimação associados à manipulação de redes de amizade (categorizado como bullying relacional/exclusão social) ou ainda, à utilização das novas tecnologias de comunicação, onde as vítimas são atacadas num contexto virtual. Designa-se cyberbullying aos comportamentos de bullying com recurso à internet ou outro tipo de comunicação digital, com a utilização de redes sociais como sejam o facebook; hi5 ou twitter (Amado, 2010; Fernandes & Seixas, 2012). Estudos desenvolvidos com crianças e jovens em situação de bullying (Costa, et al., 2011; Martins, 2009; Pereira, 2008) reforçam a existência de uma diferenciação quanto aos recursos utilizados nos comportamentos agressivos, que pode estar relacionada com as variáveis como sejam, idade e de género, entre outras. Dos estudos iniciais sobre o bullying, datados numa cultura com normativas rígidas para os comportamentos de género, emergiu a ideia de que se tratava de um fenómeno tipicamente masculino. Uma revisão critica, que está em curso, permitiu relativizar esse pressuposto. Mantém-se, entretanto, ativa a ideia de que o recurso à violência física é uma prática comum ao território masculino. Há notável corpo de publicações a indicar que os alunos do género masculino estão mais envolvidos no bullying, tanto como vítimas como agressores (Berger, 2007; Carvalhosa, Lima, & Matos, 2001; Liang, Flisher, & Lombard, 2007; Olweus, 1993). Também, que os primeiros recorrem preferencialmente às condutas violentas, diretas e antissociais, enquanto as CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 424 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE alunas tendem a utilizar expressões indiretas de violência, categorizadas como recursos de manipulação ou de exclusão social (Bjorkqvist, et al., 1992; Crick & Grotpeter, 1995; Fernandes & Seixas, 2012; Liang, et al., 2007; Matos, Negreiros, Simões, & Gaspar, 2009; Olweus, 1997; Rivers & Smith, 1994). Ocorre que os limites das primeiras investigações estiveram condicionados à definição do comportamento agressivo físico, direto, «na realidade mais facilmente observável e, de facto, mais frequente entre os alunos rapazes», associando ao género masculino os índices mais elevados de envolvimento em episódios de bullying. (Fernandes & Seixas, 2012). No âmbito dos resultados específicos de estudos desenvolvidos com o espaçar de uma década, faz-se percetível uma tendência que se manteve para a generalidade das constatações empíricas. Para Crick & Grotpeter (1995) as ações concretizadas pelo género feminino são mais de natureza relacional, onde as interações sociais são manipuladas para causar prejuízo no relacionamento entre pares, envolvendo ameaças de expulsão do grupo; exclusão proposital; comentários prejudiciais, entre outros, com o intuito de provocar a rejeição do grupo de pares. Para Bandeira & Hutz (2011) o género masculino utiliza preferencialmente a agressão física e a ameaça verbal, enquanto, o feminino as formas mais indiretas de bullying, como sejam, a intriga e a exclusão do grupo social, de tal forma que não é facilmente percebido. A diferenciação manifestada em termos qualitativos (forma, diferentes formas e múltiplas-formas de vitimação de comportamentos de bullying) associados ao género, não assume a mesma correspondência em termos quantitativos, onde se verifica uma percentagem semelhante de envolvimento em comportamentos de bullying por parte de ambos os géneros (Bandeira & Hutz, 2011; Costa, et al., 2011; Fernandes & Seixas, 2012). Pelo que a constatação de que o género masculino se envolve, com maior frequência, em CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 425 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE atos de bullying, não deve ser instrumentalizada em favor da tese de uma agressividade natural e incontornável. Pesquisas recentes não contradizem essa leitura do fenómeno, entretanto desvelam uma especificidade que torna inevitável a desconstrução da rotulagem de género, de orientação maniqueísta e normalizadora. Esses novos elementos, visibilizados no corpo de metodologias sensíveis a voz das crianças e jovens, sinalizam para um cenário não de igualdade, mas de grande proximidade, entre os géneros, nas formas de vitimação (Costa, et al., 2011). Faz-se, portanto, necessário um olhar crítico à tese primeira e generalista, do género masculino como portador de uma agressividade natural e incontrolável. Gini e Pozzoli (2006) afirmam que as diferenças entre géneros estão no tipo de agressão utilizada e não na incidência de agressão. Esta breve revisão da literatura evidencia a complexidade do fenómeno bullying. Compreende-lo em profundidade e na abrangência da etiologia multifatorial que abarca exige estudos robustos, pelo que desenvolvemos uma investigação longitudinal, focalizada nas questões de género e às múltiplas formas de vitimação implicadas nessa variável. Método Objetivos O presente estudo tem como objetivo conhecer a incidência dos comportamentos de vitimação entre pares no 3º ciclo do ensino básico e a respetiva evolução ao longo de dois anos letivos, através da descrição e análise da frequência e das múltiplas formas de vitimação associadas ao género. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 426 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Amostra O estudo foi realizado numa escola pública do ensino básico do norte de Portugal. A amostra corresponde ao total população para o ano de escolaridade (7ºano -2010/11 e 8º ano – 2011/12), a qual registou uma ligeira variação em termos de participação ao longo dos três momentos de recolha da informação (Tabela 1). Globalmente participaram 166 alunos, 86 (51,9%) do género feminino e 80 (48,1%) do masculino, com idades compreendidas entre os 11 e os 17 anos, com uma média global de idades de 12,84 e com o desvio padrão de 0,994. Tabela 1 – Caraterização da amostra Fases do estudo Escolaridade Total participantes Género Idade Fem – 86 1º Fase – Dez 2010 7ºano 164 (52,4%) 11-15 𝑋̅ =12,18 Mas – 78 anos =,599 (53,5%) 11-15 𝑋̅ =12,58 Mas – 80 anos =,708 (49,7%) 13-17 𝑋̅ =13,80 Mas – 81 anos =,840 Fem-86 (51,9%) 11-17 𝑋̅ =12,84 Mas -80 (48,1%) anos =,994 (47,6%) Fem – 92 2º Fase – Jun 2011 7ºano 172 (46,5%) Fem – 80 3ª Fase – Jun 2012 8ºano 161 (50,3%) Total 7º e 8ºano 166 Instrumento Definiu-se pela versão online32 adaptada do questionário de autorrelato «Bullying – a agressividade entre crianças no espaço escolar» de (Olweus, 1989), adaptado à população portuguesa por (Pereira, 1997), autorizado pela DGIDC com o número de registo 0163700001, denominado por «Bullying – A agressividade entre crianças na escola» (Costa, et al., 2011). O questionário 32 https://www.surveymonkey.com/s/JM95WR9 CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 427 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE remete os participantes para as questões relacionadas com os comportamentos agressivos e intimidatórios que tenham ocorrido nas últimas 8 semanas (2 meses). Procedimentos A escolha do 7ºano de escolaridade liga-se ao facto de o mesmo situarse como um momento de transição de ciclo de escolaridade, caracterizando-se pela maior suscetibilidade para a ocorrência de comportamentos de vitimação/agressão entre pares em contexto escolar (Amado & Freire, 2002; Olweus, 1999). Os comportamentos agressivos e intimidatórios parecem atingir o seu auge aos 13 anos (Carvalhosa, 2010), idade que corresponde em termos de escolaridade ao 7º/8º ano. Para Meyer (2011) os comportamentos agressivos de carácter sexual, na sua vertente homofóbica e de assédio, constituem uma das formas mais prejudiciais na vida dos alunos em idade escolar, com especial incidência na puberdade (11 aos 14 anos). Contemplamos de forma exigente e rigorosa, as questões éticas dos estudos com crianças e jovens, como a salvaguarda do livre arbítrio quanto a participar ou não na investigação, o direito ao anonimato nas respostas, a respetiva confidencialidade e o melhor destino do conhecimento resultante da investigação. A obtenção do consentimento informado, que atenda a estes procedimentos prévios é um fator protetivo às crianças, diante de investigações instrumentalizadas, invasivas ou abusivas (Alderson, 2005). Os diretores de turma do conselho de turma e os representantes dos encarregados de educação das turmas selecionadas emitiram sua autorização. A aplicação do instrumento foi realizada pelos próprios professores, após reuniões colegiadas de discussão sobre o tema e, de planeamento participativo da investigação. Os questionários foram aplicados em três momentos a todos os alunos que, de forma voluntária e informada decidiram participar, durante o CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 428 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE tempo regular de aula (Formação Cívica e Tecnologias de Informação e Comunicação). Para efeitos de análise e tratamento estatístico dos dados recolhidos foram submetidos a processamento eletrónico, usando-se o software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), Windows (versão 20). Operacionalização de conceitos O bullying escolar diz respeito a uma forma de afirmação intencional e persistente de poder entre pares através das múltiplas formas de agressão e intimidação sobre uma ou mais vítimas. No presente estudo foram considerados dezassete comportamentos agressivos e intimidatórios reconhecidos pela literatura (Amado & Freire, 2002; Martins, 2005; Meyer, 2011; Olweus, 1993; Pereira, 2008; Sanmartin, 2006; Scheithauer, Hayer, Petermann, & Juger, 2006; Skrzypiec, et al., 2011), correspondendo cada um, a uma forma de vitimação. Por diferentes tipos de vitimação consideramos seis, nomeadamente, físico, sexual, exclusão, verbal, cyberbullying e ameaça. Assim, adotamos a seguinte categorização tipo/forma (s) dos comportamentos agressivos e de intimidação: vitimação física (Bateram-me, deram-me murros ou pontapés; Tiraram-me coisas; Estragaram-me coisas); vitimação sexual (Tocaram em partes intimas do corpo; Fizeram-me gestos obscenos para me magoar; Insultaram-me com nomes ou frases de natureza sexual); Vitimação por exclusão (Deixaram-me só porque não queriam se divertir comigo; Não me falaram para me magoar; Impediram-me de participar nas atividades dos meus colegas; Andaram a falar mal de mim e disseram segredos); vitimação verbal (Chamaram-me nomes ou gozaram-me de forma desagradável; Insultaram-me pela minha cor ou raça); Vitimação por cyberbullying (Ameaçaram-me através do telemóvel ou internet; Espalharam mensagens via telemóvel ou internet para CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 429 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE me fazer mal) e vitimação por ameaça (Ameaçaram-me com armas; Ameaçaram-me ou meteram-me medo; Obrigaram-me a dar-lhes dinheiro). Tendo por base a categorização anteriormente referida vamos usar o termo «diferentes formas de vitimação» para designar comportamentos agressivos e de intimidação dentro de uma mesma categoria. A designação «múltiplas formas de vitimação» ou diferentes tipos de vitimação compreende os episódios resultantes de mais de uma categoria de vitimação. Em relação à frequência da agressão e/ou vitimação, e no contexto dos estudos já realizados, consideramos que o número de vezes para que um aluno seja considerado vítima de bullying, corresponde ao seguinte critério: «bullying pouco persistente» (1 a 4 vezes) e «persistente» (5 ou mais vezes) relativo às últimas oito semanas. Apresentação dos resultados Em termos globais verifica-se que 40,1% dos inquiridos referem ter sido vítimas de comportamentos agressivos intimidatórios, dos quais 30,2% foram vítimas de comportamentos de «bullying pouco persistente» (1 a 4 vezes) e 9,9% de «bullying persistente» (5 ou mais vezes). Acrescente-se que as situações de «bullying persistente» registaram maior aumento ao longo do estudo, comparativamente às restantes (Tabela 2). Na primeira fase do estudo, constata-se que o envolvimento em comportamentos de vitimação ao longo do 7ºano regista uma descida dos valores de incidência (43,9% para 33,3%). Em relação ao 8ºano observa-se um aumento dos comportamentos de vitimação (43,2%), ou seja, com valores semelhantes ao 1º momento. No que diz respeito aos comportamentos de vitimação que ocorrem com maior «persistência» (5 ou mais vezes), observa-se um aumento ao longo dos dois anos letivos, de 7,9% para 11,9% (Tabela 2). CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 430 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Os comportamentos de vitimação de «bullying pouco persistente» e «bullying persistente» associados à variável género não registam diferenças estatisticamente significativas ao longo das três fases do estudo (com exceção da 1ª fase nas categorias de diferentes formas de vitimação física e exclusão social), no entanto, verifica-se uma trajetória diferenciada ao nível do género. No género feminino, observa-se uma participação decrescente em termos de envolvimento em episódios de vitimação, passando de 41,9% (1ª fase), para 32,6% (2ªfase) e 38,7% (3ª fase). Relativamente ao masculino, confirma-se um aumento, passando de 46,2% (1º fase) para 48,1% (3º fase). Tendo por referência a frequência dos episódios de vitimação, observa-se que na 1ª fase do estudo o género masculino registou valores superiores ao feminino nas situações de bullying pouco persistente (1 a 4 vezes) e persistente (5 ou mais vezes). Na 3ª fase do estudo, o género feminino apresenta valores superiores ao masculino na vitimação persistente (5 ou mais vezes), enquanto na vitimação pouco persistente (1 ou 4 vezes) o masculino apresenta valores superiores ao feminino (Tabela 2). CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 431 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Tabela 2 – Frequência da vitimação associado ao género Fases do Estudo 1º Fase – Dez 2010 N=164 2º Fase – Jun 2011 N=171 3ª Fase – Jun 2012 N=161 Nenhuma vez n % n % n % Amostra 1a4 veze s 5 ou mais vezes Nenhuma vez Feminino 1a4 5 ou mais veze vezes s Nenhuma vez Masculino 1a4 5 ou mais veze vezes s 92 56,1 59 36,0 13 7,9 50 58,1 30 18,3 6 7,0 42 53,8 29 37,2 7 9,0 NS 114 66,7 40 23,4 17 9,9 62 67,4 22 23,9 8 8,7 52 65,8 18 22,8 9 11,4 NS 91 56,9 50 31,3 19 11,9 49 61,3 21 26,2 10 12,5 42 51,9 29 35,8 9 11,1 NS *p≤0,05 **p≤0,01 ***p≤0,001 Considerando-se as diferentes formas de vitimação associados à frequência «bullying pouco persistente» (1 a 4 vezes») e «bullying persistente» (5 ou mais vezes»), durante as três fases do estudo, verifica-se que em termos globais a vitimação por exclusão (25%) foi a que registou maior percentagem de envolvimento ativo, seguida pela categoria vitimação física (21,7%), verbal (19,3%), ameaça (10,5%), sexual (9,3%) e cyberbullying (4,5%). Atendendo que a recolha dos dados foi realizada durante dois anos consecutivos, verifica-se uma tendência semelhante relativamente à evolução das diferentes formas de vitimação, registando-se uma variação quanto à respetiva incidência (Tabelas 3 a 8). Assim, em quatro das seis categorias referentes aos diferentes comportamentos de vitimação, se registou um aumento, nomeadamente, «física» (14,5%), «ameaça» (3,2%), «verbal» (0,4%), «cyberbullying» (1,3%), enquanto nas categorias, «exclusão» e «sexual», registou-se uma ligeira diminuição (0,5%) de episódios de vitimação entre pares. Em termos globais verifica-se, através da Tabela 3, que a vitimação física regista valores superiores no género masculino (27,3%) comparativamente ao feminino (16,8%), assinalando-se diferenças estatisticamente significativas apenas na 1ª fase do estudo. Considerando a análise longitudinal (1ª e 3ª fase), o género p feminino regista um maior aumento médio (15,7%) dos CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 432 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE comportamentos de vitimação física comparativamente ao masculino (14,7%). Os resultados indicam que na 3ª fase ambos os géneros registam valores relativos superiores comparativamente às restantes fases. Consequentemente, a vitimação expressa por agressões de forma direta e física registou um aumento ao longo do estudo. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 433 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Tabela 3 – Frequência das diferentes formas de vitimação física associado ao género Nenhum a vez % n n Feminino 1a4 veze s 5 ou mais vezes Nenhum a vez 138 84,1 26 15,9 0 0 140 81,4 28 16,3 3 1,7 112 69,6 45 28,0 3 1,9 Masculino 1a4 veze s 5 ou mais vezes 78 90,7 8 9,3 0 0 60 76,9 18 23,1 0 0 ** p=,01 77 83,7 15 16,3 0 0 63 78,8 13 16,2 3 3,8 NS 60 75,0 19 23,8 1 1,2 52 64,2 26 32,1 2 2,5 NS 2ª Fase 5 ou mais vezes 3ª 1º Fase 2ª Fase % 3ª n % Fase F í s i c a Amostra 1a4 veze s Nenhuma vez Fase Vitimação p *p≤0,05 **p≤0,01 ***p≤0,001 Os comportamentos de vitimação na categoria exclusão, constituída pelas ações destruidoras ou de controlo/manipulação e maldosa das relações sociais do aluno vítima, no presente estudo constituí a categoria que regista maior frequência (25%) em comparação às restantes. Observa-se que ao longo do estudo, a vitimação por exclusão em termos globais registou um ligeiro decréscimo (28% para 23%). Relativamente à frequência de episódios de bullying «pouco persistente», também se verificou uma descida (7,6%), em oposição os episódios de vitimação de bullying «persistente», que registou um aumento de aproximadamente 2%. A vitimação por exclusão quando associada ao género revela que o género feminino (27,9%) apresenta maior envolvimento em episódios de bullying comparativamente ao masculino (20,8%), em todas as fases do estudo, registando-se apenas diferenças estatisticamente significativas entre os géneros na 1ª fase do estudo. Em termos longitudinais o género feminino apresenta globalmente uma diminuição (36% para 25%) da vitimação por exclusão. Em relação aos intervalos de frequência, constata-se que o género feminino registou uma diminuição nas situações «bullying pouco persistente» (33,7% para 20%) e um aumento nas situações de «bullying persistente» (2,3% para 5%). O género masculino regista um aumento (19,2% para 20,2%) ao longo do estudo, embora registe uma tendência semelhante ao feminino relativamente aos intervalos de CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 434 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE frequência, ou seja, uma ligeira diminuição no «bullying pouco persistente» (17,9% para 17,3%) e um aumento das situações de «bullying persistente» (1,3% para 2,5%). CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 435 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Tabela 4 – Frequência das diferentes formas de vitimação por exclusão associado ao género Nenhum a vez % n n Feminino 1a4 veze s 5 ou mais vezes Nenhum a vez 118 72,0 43 26,2 3 1,8 133 77,3 32 18,6 6 3,5 124 77,0 30 18,6 6 3,7 Masculino 1a4 veze s 5 ou mais vezes 55 64,0 29 33,7 2 2,3 63 80,8 14 17,9 1 1,3 71 77,2 18 19,6 3 3,3 62 77,5 14 17,5 3 3,8 NS 60 75 16 20 4 5,0 64 79 14 17,3 2 2,5 NS 2ª Fase 5 ou mais vezes 3ª 1º Fase 2ª Fase % 3ª n % Fase E x c l u s ã o Amostra 1a4 veze s Nenhuma vez Fase Vitimação p * p=0,0 5 *p≤0,05 **p≤0,01 ***p≤0,001 Em relação à vitimação verbal observa-se que, em termos globais ao longo do estudo, ocorreu um ligeiro aumento (20,7% para 21,1%). Em relação à frequência de episódios de bullying «pouco persistente», também se verificou um aumento (17,1% para 19,3%), em oposição aos episódios de vitimação de bullying «persistente», que diminuiu (3,7% para 1,2%). Em termos longitudinais o género feminino apresenta globalmente um aumento do envolvimento em situações de vitimação verbal (17,4% para 22,5%), enquanto o masculino regista uma diminuição (24,4% para 19,8%). Em relação aos intervalos de frequência, observa-se que o género feminino com uma participação crescente nas situações “bullying pouco persistente» (15,1% para 22,5%), enquanto nas situações de «bullying persistente» não se constata qualquer envolvimento. O género masculino regista uma diminuição no «bullying pouco persistente» (19,2% para 16%) e um aumento das situações de «bullying persistente» (5,1% para 2,5%). No entanto, na 3ª fase do estudo o género feminino nas situações de vitimação «pouco persistente» regista valores relativos superiores ao masculino com um aumento de 7,4% face à 1ª fase. Tabela 5 – Frequência das diferentes formas de vitimação verbal associado ao género Vitimação Nenhuma vez Amostra 1a4 Veze s 5 ou mais Vezes Nenhum a vez Feminino 1a4 veze s 5 ou mais vezes Nenhum a vez Masculino 1a4 veze s p 5 ou mais vezes CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 436 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 6 3,7 71 82,6 13 15,1 2 2,3 59 75,6 15 19,2 4 5,1 NS 144 83,7 25 14,5 2 1,2 81 88,0 10 10,9 1 1,1 63 78,8 15 18,8 1 1,2 NS 127 78,9 31 19,3 2 1,2 62 77,5 18 22,5 0 0 65 80,2 13 16 2 2,5 NS 2ª Fase n 28 17,1 3ª 3ª % n 130 79,3 Fase 1º Fase 2ª Fase % Fase V e r b a l n % *p≤0,05 **p≤0,01 ***p≤0,001 Os comportamentos de vitimação na categoria «ameaça», situa-se no presente estudo na quarta posição (10,5%), comparativamente às restantes cinco categorias. Ao longo do estudo a vitimação por «ameaça» em termos globais registou um aumento (9,8% para 13%).No entanto, relativamente à frequência de episódios de «bullying pouco persistente», também se verificou uma subida (8,5% para 11,8%). Em oposição, os episódios de vitimação «ameaça persistente», têm pouca expressão. A vitimação com recurso à «ameaça» quando associada ao género indica que ambos os géneros registem um aumento ao longo dos dois anos consecutivos, constituindo o género masculino o grupo que manifesta em média maior percentagem de envolvimento (13,7%) ao feminino (7,4%). Relativamente à evolução, o género masculino também regista valores superiores (aumento de 4,5%), comparativamente ao feminino (aumento de 1,8%). Nos episódios de «bullying pouco persistente» ambos os géneros manifestam um aumento ao longo do estudo, de forma mais expressiva no género masculino (4,5%). De salientar a ausência de comportamentos de vitimação por ameaça no género feminino na forma «bullying persistente», os quais também apresentam valores residuais no género masculino. Tabela 6 – Frequência das diferentes formas de vitimação por ameaça associado ao género 1º A m e Fase Vitimação Nenhuma vez n % 148 90,2 Amostra 1a4 Veze s 5 ou mais Vezes Nenhum a vez 14 8,5 2 1,2 80 93,0 Feminino 1a4 veze s 5 ou mais vezes Nenhum a vez 6 7,0 0 0 68 87,2 Masculino 1a4 veze s 5 ou mais vezes 8 10,3 2 2,6 p NS CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 437 n 14 8,1 1 0,6 140 87,0 19 11,8 1 0,6 86 93,5 6 6,5 0 0 71 88,8 73 91,2 7 8,8 0 0 67 82,7 2ª Fase % 157 91,3 3ª 2ª Fase 3ª n % Fase a ç a Fase ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 8 10,0 1 1,2 NS 12 14,8 1 0,6 NS *p≤0,05 **p≤0,01 ***p≤0,001 Observa-se através da Tabela 7, que a vitimação de carater sexual em termos globais registou uma ligeira diminuição (10,4% para 9,9%). Quanto à frequência, os resultados globais apontam para um ligeiro decréscimo no intervalo de frequência de (8,5% para 7,5%) «bullying pouco persistente» e uma manutenção nos comportamentos de «bullying persistente». Os episódios de vitimação de carater sexual associados às questões de género indicam, no presente estudo, um maior envolvimento médio do género masculino como vítima (13%) comparativamente ao feminino (5,8%). Relativamente aos intervalos de frequência, constata-se que o género feminino manifesta um aumento de participação nas situações «bullying pouco persistente» (4,7% para 5%) e o género masculino, uma diminuição (12,8% para 9,9%). As situações de «bullying persistente» registaram uma manutenção, para ambos os géneros. Tabela 7– Frequência das diferentes formas de vitimação de natureza sexual associado ao género Nenhum a vez Fase Fase % Fase % n n Feminino 1a4 veze s 5 ou mais vezes Nenhum a vez 147 89,6 14 8,5 3 1,8 159 92,4 10 5,8 2 1,2 145 90,1 12 7,5 3 1,9 Masculino 1a4 veze s 5 ou mais vezes 81 94,2 4 4,7 1 1,2 66 84,6 10 12,8 2 2,6 NS 87 94,6 4 4,3 1 1,1 72 90,0 6 7,5 1 1,2 NS 75 93,8 4 5,0 1 1,2 70 86,4 8 9,9 2 2,5 NS 2ª Fase 5 ou mais Vezes 3ª 1º 2ª n % 3ª S e x u a l Amostra 1a4 Veze s Nenhuma vez Fase Vitimação p *p≤0,05 **p≤0,01 ***p≤0,001 Os comportamentos de vitimação na categoria cyberbullying constituída por ações desestruturantes ou de controlo/manipulação maldosa das relações CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 438 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE sociais do aluno «vítima», com recurso às tecnologias de informação e comunicação, em particular nas redes sociais, onde destaca-se o facebook, configura-se, nesta pesquisa, como a categoria de menor frequência (valor médio 4,2%) em comparação às restantes. No entanto, ao longo do estudo, a vitimação por cyberbullying em termos globais registou um ligeiro aumento de 1,3%. Relativamente à frequência de episódios de «bullying pouco persistente», também se verificou uma subida (3,7% para 4,3%). Em oposição os episódios de vitimação de «cyberbullying persistente», não têm qualquer expressão. Na vitimação por «cyberbullying» nota-se uma percentagem de envolvimento muito semelhante entre os géneros, embora os valores que correspondem ao género feminino (4,4%), sejam ligeiramente superiores ao género masculino (4,1%). Tendo por referência a evolução dos valores de envolvimento em comportamentos de bullying por cyberbullying, o género feminino regista uma manutenção e o masculino um ligeiro aumento ao longo do estudo. Observa-se apenas para o género masculino e com valores pouco expressivos, o envolvimento no «bullying persistente». Tabela 8– Frequência das diferentes formas de vitimação por cyberbullying associado ao género Nenhum a vez % n n Feminino 1a4 veze s 5 ou mais vezes Nenhum a vez 158 96,3 6 3,7 0 0 165 95,9 6 3,5 1 0,6 153 95,0 7 4,3 1 0,6 Masculino 1a4 veze s 5 ou mais vezes 82 95,3 4 4,7 0 0 76 97,4 2 2,6 0 0 NS 89 96,7 3 3,3 0 0 76 95 3 3,8 1 1,2 NS 76 95,0 4 5,0 0 0 77 95,1 3 3,7 1 0,6 NS 2ª Fase 5 ou mais Vezes 3ª 1º Fase 2ª Fase % 3ª n % Fase C y b e r Amostra 1a4 Veze s Nenhuma vez Fase Vitimação p *p≤0,05 **p≤0,01 ***p≤0,001 A figura 1, apresentada a seguir, permite ver que os comportamentos de vitimação, na categoria «exclusão», predominam nas situações de bullying. O género feminino surge com maior envolvimento na vitimação por exclusão, CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 439 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE nas situações de «bullying pouco persistente» e «persistente». No entanto, em termos longitudinais, o género masculino registou um maior aumento comparativamente ao feminino, o qual registou uma diminuição de 11% (bullying pouco persistente+bullying persistente). Em relação à vitimação «física», o género masculino regista maior envolvimento comparativamente ao feminino, embora este último manifeste um maior aumento ao longo do estudo. Na vitimação «verbal», globalmente o género masculino regista um maior envolvimento, no entanto, o feminino na 3ª fase do estudo, apresenta valores superiores ao masculino, bem como maior aumento no que diz respeito ao envolvimento durante do estudo. A vitimação com recurso à «ameaça» associado ao género registou um maior envolvimento em comportamentos de vitimação pelo género masculino. Ambos os géneros manifestam uma tendência crescente ao longo do estudo em termos de vitimação por ameaça, sendo mais expressiva no género masculino. Na vitimação de natureza «sexual», também se observa uma maior participação do género masculino comparativamente ao masculino, embora em termos longitudinais se registe um aumento das situações de vitimação no género feminino, enquanto no masculino se verifica uma diminuição. Por último, na categoria «cyberbullying», o género feminino apresenta maior envolvimento nos comportamentos de vitimação, comparativamente ao masculino, apesar de em termos longitudinais o masculino registar um crescimento maior ao longo do estudo. Acrescente-se que as situações de «bullying persistente» registaram expressão em ambos os géneros nas categorias física, exclusão, verbal, sexual, enquanto nas categorias ameaça e cyberbullying, apenas o género masculino manifestou envolvimento. Figura 1 – Evolução da frequência das diferentes formas de vitimação associados ao género CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 440 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE 20,00 % 15,00 10,00 5,00 ,00 1ª 2ª 3ª 1ª 2ª 3ª 1ª 2ª 3ª 1ª 2ª 3ª 1ª 2ª 3ª 1ª 2ª 3ª fase fase fase fase fase fase fase fase fase fase fase fase fase fase fase fase fase fase Verbal Gén. Masc. Ameaça Cyber Gén. Fem. Exclusão Linear (Gén. Masc.) Sexual Física Linear (Gén. Fem.) Discussão dos resultados Investigações desenvolvidas nas últimas duas décadas revelam que alunos em todo o mundo testemunham e reportam regularmente a experiência de bullying (Eslea, et al., 2004; Jimerson, et al., 2010; Olweus, 1993a; Rigby, 1997; Whitney & Smith, 1993). Dados do relatório da UNICEF sobre o bem-estar infantil em países europeus, revelam uma variação significativa associada à prevalência do bullying nos diferentes países. A variação de acordo com o referido relatório oscila de índices 15% de vitimação (em países como a Suécia) a superiores aos 40%, entre os quais se situa Portugal (UNICEF, 2007). A indicação de que aproximadamente metade da população pesquisada no presente estudo, sentiu-se ou sente-se vítima de comportamentos agressivos e intimidatórios no espaço escolar, confirma os altos índices apontados no estudo da UNICEF, bem como desnuda os limites, contradições e os desafios da escola. Uma instituição de acesso universal e obrigatório para toda uma geração não pode descuidar de olhar para o lugar em que está e para o que faz. O estudo longitudinal que desenvolvemos liberta-se de alguns dos constrangimentos típicos das investigações pontuais, na medida em que supera a análise fragmentária e viabiliza um campo de conhecimento e de interpretação, detalhado e ampliado da vida na escola. Há particularidades importantes e variações nos comportamentos de género ao longo do tempo, quer seja nas CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 441 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE formas, quer seja no envolvimento com a vitimação. A persistência da vitimação mais intensa, que não cessa com o passar do tempo e com a progressão na escolaridade tem nuances significativas de género. A vitimação corresponde, portanto, a uma realidade do quotidiano escolar e, como confirmam os resultados desta pesquisa longitudinal, perdura ao longo da escolaridade, acentuando-se nos casos de maior gravidade desde a origem. Pontos fulcrais da organização da escola emergem diante desse indicador, tais como a fragilidade democrática nas vivências e práticas institucionais; a precariedade da escuta das crianças e adolescentes que protagonizam essas interações; a sedimentação de um modelo socializador assentado no individualismo e na falta de confiança básica; as diferenças como favorecedoras de desigualdades; o alcance limitado e não problematizado (r) da intervenção educativa; a existência de modelos de interações do mundo adulto inspiradores do abuso de poder – o que ultrapassa o âmbito da escola -, entre outros. A naturalização das violências entre pares, confirmada pela estabilidade do alto índice de vitimação, expõe uma cultura educativa alheia ao próprio contexto e que tarda ou falha, na intervenção, ao aceitar a vitimação como inevitável, episódica e com poder intrínsico de cessação. (Paul & Cillessen, 2007; Pereira, Costa, Melim, & Farenzena, 2011). Tendo por referência o início do 7º ano de escolaridade e o final do 8º ano, fez-se possível constatar, em termos gerais, uma diminuição dos comportamentos de vitimação «bullying pouco persistente» (1 ou 4 vezes) e um aumento «bullying persistente» (5 ou mais vezes). Tal resultado aponta a uma condição de inoperância ou incapacidade institucional para identificar, intervir e transformar, em âmbito tão precoce quanto contínuo, perfis condicionados por comportamentos de agressão e/ou de vitimação. Da mesma forma, evidencia lacunas nos processos socializadores e de vivência cidadã, na medida em que CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 442 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE os observadores permanecem distantes da função ativa que poderiam exercer na evitação das violências entre pares. Os contornos dessa cristalização de papéis, que culmina em comportamentos reiterados de «bullying persistente», precisam ser compreendidos nas múltiplas dimensões da problemática, remetendo para as questões de género. Os resultados requerem o devido detalhamento, para que as partes não sejam tomadas pelo todo. Os dados globais relativos à 3ª fase do estudo exemplificam quão complexa é a questão: o género feminino apresenta valores superiores ao masculino na vitimação «persistente», enquanto na vitimação «pouco persistente» o masculino apresenta valores superiores. Assim, observam-se nuances em cada um dos momentos que desconstroem os supostos de uma marca comportamental de género válida para o fenómeno do bullying. Relativamente à frequência e às diferentes formas de vitimação de bullying associadas ao género, diversos estudos tem confirmado a transição de uma perspetiva inicial, defensora da forte relação entre o fenómeno bullying e o género masculino para outra, que o reconhece como fenômeno protagonizado por ambos os géneros (Costa, et al., 2011; Crick & Grotpeter, 1995). É neste eixo que se inscrevem os principais achados deste estudo. Considerando as 3 fases da investigação, verifica-se que o género feminino regista um crescente aumento nos comportamentos de vitimação de «pouco persistente» e «persistente», enquanto, o masculino apresenta uma diminuição na vitimação «pouco persistente» e um aumento da vitimação «persistente». No âmbito dos comportamentos de vitimação de bullying, os resultados do presente estudo confirmam não só variações de género, como a manutenção, com percentagem elevada, das formas de vitimação habitualmente atribuídas a crianças com idades inferiores. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 443 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE O conhecimento e as interações produzidas são reprodutivas dos seus atores sociais, assim, as grandes lacunas socializadoras cumprem uma função de espelho da sociedade dos adultos. Descolar dos dados numéricos, sem perdê-los como referenciais de análise, para que se possa ampliar o olhar, levanos a refletir sobre as medidas disciplinares usualmente adotadas nas práticas educativas escolares. Estão encravadas num modelo de exclusão: destinar um lugar separado, isolado para o aluno transgressor; impedir-lhe o recreio, passeios escolares, quando não a prática da Educação Física ou do desporto escolar... Atividades situadas na zona das grandes preferências das crianças e jovens. O paradigma punitivo parece determinar o elenco das ações intergeracionais, levadas adiante em nome da mais eficaz ação educativa. Esse modelo, apropriado de forma autoral pelas gerações mais novas, e por isto diferenciado da simples reprodução manifesta-se, ao que tudo indica, de forma imprevisível e ainda não compreendida, nas socializações que se afirmam como tendências de convívio institucional. O decréscimo dos comportamentos de exclusão manifestados pelo género feminino, bem como a intensificação do uso desse recurso pelo género masculino, constatados ao longo do estudo, são indicadores para novos investimentos de pesquisa, na medida em que provocam para uma desconstrução de estereótipos e expectativas culturais de género Os dados apontam para a vitimação física, como a segunda categoria de maior prevalência e com discreta ascendência, para ambos os géneros, interrogam as teorias que apresentam um fenómeno condicionado aos padrões etários e que induzem a convicção no princípio do abandono progressivo e inevitável da vitimação física na adolescência. Tal como observado com a vitimação por exclusão social, a vitimação física, também apenas registou diferenças estatisticamente significativas entre os géneros na 1ª fase do estudo. Acrescente-se que o género feminino obteve um maior envolvimento na vitimação física (2ª fase do estudo) e verbal (3ª fase CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 444 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE do estudo) no «bullying pouco persistente», comparativamente ao masculino. Em termos de evolução dos comportamentos de vitimação física, verifica-se que em termos globais, o género feminino regista um maior aumento comparativamente ao masculino. Interpretar a informação de que as diferenças entre os géneros se esbatem, requer considerar o contexto socializador concreto, de intenso convívio partilhado; de influências recíprocas e de re-construção conjunta de uma identidade humana, cada vez mais desapegada dos estereótipos de género. Escolhas de comportamentos são também influenciadas pelas expetativas culturais de cada género (Gini & Pozzoli, 2006), pelo que cada género assume uma forma de estar no mundo, ou seja, tornamo-nos sujeitos de género feminino e/ou masculino no interjogo das relações com os outros e com a cultura vigente. Em relação ao cyberbullying, o estudo mostrou tratar-se de uma forma de agressão secundarizada pelos alunos embora o quotidiano seja pautado pela participação ativa nas redes sociais e pela familiaridade com as tecnologias de informação. Considerando a equiparação das crianças a «corposcyber» ou a «nativos digitais» patrocinada por alguns estudos (Bayne & Ross, 2007); bem como sua inserção num quotidiano pautado pela participação ativa nas redes sociais e pela familiaridade com as tecnologias de informação, não deixa de surpreender o baixo valor levantado no presente estudo, que confirma o cyberbullying como forma secundária de vitimar, embora ao longo do estudo se tenha registado ligeiro aumento. O envolvimento do género feminino em situações de vitimação de bullying escolar, com o registo de valores superiores aos apresentados pelo género masculino, em diferentes categorias («bullying pouco persistente Físico» - 2ª fase do estudo- «bullying pouco persistente» e «persistente» por exclusão social - todas as fases do estudo - «bullying pouco persistente verbal» - 3ª fase do CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 445 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE estudo - e «bullying pouco persistente por cyberbullying» -1ª e 3ª fases do estudo), torna ainda mais pertinentes os questionamentos desencadeados por outros estudos ao constructo biologista, da assimetria do potencial de agressividade como um produto ou especificidade de género. Por outro lado, ao ter em consideração a evolução dos comportamentos de vitimação, os dados apontam para um aumento da vitimação física em ambos os géneros, sendo mais expressivo no feminino. No entanto, se o foco incidir sobre a vitimação por exclusão social, ambos os géneros no «bullying pouco persistente» registaram uma diminuição, de forma mais elevada no feminino. Na vitimação verbal apenas o género feminino regista um aumento dos comportamentos de vitimação verbal «pouco persistente», enquanto no masculino se observa uma diminuição ao longo do estudo. Neste sentido, é preciso repensar a conservadora divisão de fronteiras, veiculada pelo projeto educativo escolar, entre o que sejam atividades e condutas próprias de um e de outro género. Mais do que pensarmos em territórios demarcados por condutas de género, há que pensarmos em garantirmos o direito à coexistência pacífica no ambiente escolar, enquanto eixo formativo de cidadania extensiva a todos os seus protagonistas. O abandono progressivo do ensino por géneros comprova a diluição de um modelo que, por muito tempo, foi considerado absoluto. Muito há ainda que avançarmos nesse terreno que tende a categorização e padronização de condutas e comportamentos. Passado o momento inicial de definições estruturais do fenómeno bullying, faz-se a hora de abordá-lo com um compromisso de investigação que não tema produzir conhecimento fora das margens dos estudos clássicos desenvolvidos. É dessa tentativa de olhar diferente, de buscar o novo, o detalhe, o particular e o global, até mesmo de revisar e confirmar, se for o caso, o que já foi produzido e, acima de tudo de um olhar interdisciplinar, que se constitui este trabalho de investigação longitudinal. CIEC, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE DO MINHO, BRAGA/PORTUGAL 03 a 06 de Julho de 2013 446 ATAS DO IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E SAÚDE Referências bibliográficas Alderson, P. (2005). Crianças como investigadoras. In P. C. A. 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