UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS A CONTRIBUIÇÃO DA POLÍTICA DE AGROPOLOS PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL O CASO DO BAIXO JAGUARIBE FÁTIMA COELHO BENEVIDES FALCÃO Fortaleza-CE 2005 A CONTRIBUIÇÃO DA POLÍTICA DE AGROPOLOS PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL O CASO DO BAIXO JAGUARIBE FÁTIMA COELHO BENEVIDES FALCÃO Dissertação submetida à Coordenação do Curso de Mestrado em Avaliação de Políticas Públicas, da Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre. Orientador: Prof. José Borzacchiello da Silva, PhD Fortaleza-CE 2005 F163c Falcão, Fátima Coelho Benevides A contribuição da política de agropolos para o desenvolvimento regional: o caso do baixo Jaguaribe / Fátima Coelho Benevides Falcão 203 f., il. color. enc. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2005. Orientador: Prof. Dr. José Borzacchiello da Silva Área de concentração: Avaliação de políticas públicas l. Agropolo 2. Desenvolvimento regional – Baixo Jaguaribe 3. Políticas públicas I. Silva, José Borzacchiello da II. Universidade Federal do Ceará, Pós-graduação em Avaliação de políticas públicas III. Título CDD 338.9 CDU 338.2:711.4 Esta dissertação foi submetida à Coordenação do Curso de Mestrado em Avaliação de Políticas Públicas, como parte dos requisitos para obtenção do Grau de Mestre, outorgado pela Universidade Federal do Ceará. Um exemplar da presente dissertação encontra-se à disposição dos interessados na biblioteca do Departamento de Ciências Sociais da referida instituição. A citação de qualquer trecho desta dissertação é permitida desde que seja feita de conformidade com as normas da ética científica. Fátima Coelho Benevides Falcão DISSERTAÇÃO APROVADA EM 14/12/2005. Prof. José Borzacchiello da Silva, PhD Orientador Prof. Jair do Amaral Filho, PhD Examinador Prof. Eustógio Wanderley Correia Dantas, Dr. Examinador Profa. Lea Carvalho Rodrigues, Dra. Suplente Aos cearenses que insistem em sobreviver da agricultura nas condições de semi-aridez deste Estado. DEDICO Agradecimentos Ao meu inesquecível Pai, pelo seu exemplo e por ter me passado o interesse pelo conhecimento. À minha querida Mãe, pela sua atenção e zelo constantes, e por tantas orações. Ao meu marido Marcius, pelos finais de semanas monótonos, pelas contribuições e o apoio decisivo na conclusão deste estudo. À Germana, Manuela, Marcius e Hermes, meus filhos, pela maturidade cedo demonstrada, me permitindo realizar com tranqüilidade este projeto de vida. Ao meu irmão Homero, pela revisão cuidadosa, interessada e criteriosa que realizou neste trabalho. Às minhas irmãs, pelo desejo sincero de me ver alcançar mais essa realização. Ao Prof. José Borzacchiello por ter emprestado a esta pesquisa seu conhecimento e orientação, enriquecendo-a. Aos Professores Jair do Amaral e Eustógio Dantas, por me concederem o privilégio de serem Examinadores da banca de defesa deste estudo. Ao Prof. Luiz Antônio Maciel e à Profa. Lea Carvalho que tornaram possível a realização e conclusão exitosa deste Mestrado. Ao João Marcos Maia, então Secretário Adjunto da SEPLAN, por seu empenho para viabilizar parte do financiamento deste Mestrado pelo governo do Estado. Ao Paulo Roque, pelo apoio à pesquisa, sistematização dos dados, elaboração de mapas e formatação desta Dissertação. Aos meus amigos e amigas da SDLR, que me deram seu apoio, me compreenderam, torceram e oraram por mim no difícil período de elaboração desta Dissertação. Aos nossos colegas do BNB, pela presteza e apoio dispensados durante a realização do curso de Mestrado. Aos meus companheiros de Administração Pública, pela atenção no atendimento das informações solicitadas e pelas contribuições dadas ao trabalho. À Helena Mota, responsável pela biblioteca do IPECE, pelas vezes que me atendeu e pela revisão das referências bibliográficas. Ao setor de cartografia do IPECE, na pessoa do Sérgio Brito, pela colaboração na confecção dos mapas. Não por último, mas principalmente a Deus, por todos eles e por tudo que me fez ser. SUMÁRIO LISTA DE TABELAS............................................................................................................ x LISTA DE GRÁFICOS........................................................................................................ xii LISTA DE ABREVIATURAS ............................................................................................. xiv RESUMO ......................................................................................................................... xvi ABSTRACT..................................................................................................................... xviii 1 2 INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 20 1.1 Considerações iniciais........................................................................................ 20 1.2 Objetivos.............................................................................................................. 25 1.3 Metodologia ......................................................................................................... 26 DESENVOLVIMENTO REGIONAL NO ENFOQUE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS ........................................................................................................ 28 2.1 O caso do Nordeste ............................................................................................ 28 2.2 Planejamento estadual: reflexos e trajetória ..................................................... 33 2.2.1 Planejamento estadual com enfoque espacial .............................................. 34 2.2.2 Programas estruturantes e a perspectiva de sua contribuição para o desenvolvimento regional ............................................................................. 45 3 CEARÁ NA VISÃO DO DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL.................................... 66 3.1 Desenvolvimento do semi-árido na formação histórica do Ceará................... 66 3.2 Mudanças estruturais na economia cearense................................................... 68 3.3 Desigualdades regionais no Ceará .................................................................... 70 3.4 Região de estudo - Agropolo Baixo Jaguaribe ................................................. 74 3.4.1 Formação histórica ....................................................................................... 75 3.4.2 Ambiente natural .......................................................................................... 79 3.4.3 Estruturação regional.................................................................................... 82 3.4.4 Economia regional ........................................................................................ 86 3.4.5 Desenvolvimento humano ............................................................................ 90 4 3.4.7 Abordagem institucional da região como pólo de desenvolvimento ............ 101 Conceitos basilares .......................................................................................... 103 4.1.1 Região ........................................................................................................ 103 4.1.2 Pólos de crescimento e de desenvolvimento .............................................. 106 4.1.3 Desenvolvimento Sustentável..................................................................... 109 4.2 A irrigação como política de desenvolvimento regional ................................ 112 4.3 Agropolo como proposta metodológica.......................................................... 119 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS E INFORMAÇÕES...................................... 123 5.1 Dinâmica urbano-regional do Agropolo Baixo Jaguaribe .............................. 123 5.2 Economia regional e agricultura irrigada ........................................................ 128 5.3 6 Recursos hídricos e irrigação ....................................................................... 92 FUNDAMENTOS TEÓRICOS E ANALÍTICOS PARA TRATAR O TEMA ................ 103 4.1 5 3.4.6 5.2.1 Produto Interno Bruto - PIB......................................................................... 129 5.2.2 Emprego..................................................................................................... 135 5.2.3 Agronegócio da agricultura irrigada ............................................................ 142 5.2.4 Contribuição à economia estadual.............................................................. 154 5.2.5 Outros indicadores da atividade econômica................................................ 164 Efeito no campo social ..................................................................................... 168 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ..................................................................... 173 6.1 Conclusões........................................................................................................ 173 6.2 Recomendações................................................................................................ 185 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................. 188 ANEXOS ........................................................................................................................ 194 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Distribuição da população ocupada e do PIB por setores econômicos - Ceará - 1985/2002. ......................................................................................... 69 Tabela 2: Distribuição da população por macrorregiões - Ceará - 1980/2000. .................. 73 Tabela 3: Renda média mensal, por grupos de população das pessoas de 10 anos e mais de idade - Ceará - 2002................................................................. 73 Tabela 4: Indicadores demográficos - Agropolo Baixo Jaguaribe - 1991/2005. ................. 82 Tabela 5: Quantidade e área dos imóveis rurais, por classes de área - Agropolo Baixo Jaguaribe e Ceará - Julho/2000............................................................... 85 Tabela 6: Pessoas de 10 anos ou mais de idade, economicamente ativas e ocupadas na semana de referência - Agropolo Baixo Jaguaribe - 2000................. 87 Tabela 7: Pessoas de 10 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência, por setor de atividade do trabalho principal - Agropolo do Baixo Jaguaribe - 2000. ...................................................................................... 88 Tabela 8: IDH-M - Agropolo Baixo Jaguaribe, Fortaleza e Ceará - 1991 e 2000.................... 91 Tabela 9: Reservatórios do Agropolo Baixo Jaguaribe - Atualizado em 08/09/2005 ........................................................................................................ 93 Tabela 10: Projetos de irrigação do complexo Castanhão - Agropolo Baixo Jaguaribe - 2003 ............................................................................................... 94 Tabela 11: Dados básicos - Perímetro Irrigado de Jaguaruana - 2005................................ 95 Tabela 12: Dados básicos - Perímetro Irrigado de Morada Nova- 2005. ............................. 97 Tabela 13: Dados básicos - Perímetro Irrigado de Jaguaribe-Apodi - 2005......................... 98 Tabela 14: Dados básicos - Perímetro Irrigado de Tabuleiros de Russas - 2005 .............. 100 Tabela15: Dados básicos - Perímetro Irrigado de Tabuleiros de Russas - 1ª etapa - em licitação - 2005 .............................................................................. 100 Tabela16: Dados básicos dos Perímetros Irrigados do Agropolo Baixo Jaguaribe - 2005 .............................................................................................................. 101 Tabela 17: Indicadores demográficos - Agropolo Baixo Jaguaribe - 1991, 2000, 2005. ............................................................................................................... 125 Tabela 18: Distribuição dos municípios segundo as faixas de população Agropolo Baixo Jaguaribe - 2000 e 2005......................................................... 127 Tabela 19: Produto interno bruto total a preços de mercado correntes e valor adicionado por setores econômicos - Agropolo Baixo Jaguaribe 1999 e 2002. ................................................................................................... 131 Tabela 20: PIB per capita a preços de mercado correntes - Agropolo Baixo Jaguaribe - 1999 e 2002.................................................................................. 134 Tabela 21: Unidades locais segundo a classificação nacional de atividades econômicas - Região do Baixo Jaguaribe - 1996, 1999 e 2002............................. 137 x Tabela 22: Pessoal ocupado segundo a classificação nacional de atividades econômicas - Região do Baixo Jaguaribe - 1996, 1999 e 2002............................. 138 Tabela 23: Pessoal ocupado nas unidades locais - Agropolo Baixo Jaguaribe - 1996, 1999 e 2002...................................................................................................... 139 Tabela 24: Unidades locais - Agropolo Baixo Jaguaribe - 1996, 1999 e 2002. ........................ 140 Tabela 25: Pessoal ocupado e unidades locais na atividade agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal - Agropolo Baixo Jaguaribe - 1996, 1999 e 2002. ................................................................................................... 141 Tabela 26: Evolução das áreas irrigadas - Agropolo Baixo Jaguaribe - 19992004(*). ........................................................................................................... 144 Tabela 27: Área plantada das principais culturas - Agropolo Baixo Jaguaribe 1996, 1999 e 2003 .......................................................................................... 148 Tabela 28: Valor da produção das principais culturas - Agropolo Baixo Jaguaribe - 1996, 1999 e 2003 ........................................................................................ 148 Tabela 29: Valor da produção por hectare plantado, das principais culturas Agropolo Baixo Jaguaribe - 1996, 1999 e 2003. .............................................. 149 Tabela 30: Indicadores da produção agrícola das principais culturas - Agropolo Baixo Jaguaribe - 1996, 1999 e 2003. ............................................................. 150 Tabela 31: Atração de negócios 2002 a 2005 - Agropolo Baixo Jaguaribe........................ 153 Tabela 32: Exportações cearenses pelos principais produtos - 1999-2004(*) ................... 156 Tabela 33: Exportações por municípios do Agropolo Baixo Jaguaribe - 2002 2004 (Base de dados: domicílio fiscal do exportador)...................................... 158 Tabela 34: Arrecadação do ICMS (*) segundo os municípios - Agropolo Baixo Jaguaribe - 1996-2003 .................................................................................... 162 Tabela 35: Evolução do consumo de energia elétrica, por classes de consumo Agropolo Baixo Jaguaribe - 1996/1999 e 1999/2003 ....................................... 165 Tabela 36: Evolução do consumo de energia elétrica, por classes de consumo Agropolo Baixo Jaguaribe – 1996 1999 e 2003 ............................................... 166 Tabela 37: Evolução da matricula inicial no ensino médio, por dependência administrativa - Agropolo Baixo Jaguaribe - 1996, 1999 e 2003. ..................... 169 Tabela 38: Alunos matriculados no CENTEC de Limoeiro do Norte, por cursos regulares - 1997.2 a 2005.2............................................................................. 171 Tabela 39: Alunos matriculados no CENTEC de Limoeiro do Norte por curso e município de residência - 2003.1 ..................................................................... 171 xi LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: População residente por situação do domicílio em %- Ceará e Agropolo Baixo Jaguaribe - 1991. .................................................................................................... 83 Gráfico 2: População residente por situação do domicílio em % - Ceará e Agropolo do Baixo Jaguaribe - 2000. .................................................................................................... 83 Gráfico 3: Imóveis rurais, por classes de área em % - Agropolo Baixo Jaguaribe e Ceará - Julho/2000 ........................................................................................................... 85 Gráfico 4: Áreas de imóveis rurais, por classes de área em % - Agropolo Baixo Jaguaribe e Ceará - Julho/2000. ...................................................................................... 86 Gráfico 5: IDH-M - municípios de maior índice - Agropolo Baixo Jaguaribe, Fortaleza e Ceará - 1991 e 2000. ........................................................................................................ 91 Grafico 6: Evolução da População - Agropolo Baixo Jaguaribe, Fortaleza, Interior e Ceará - 1991, 2000 e 2005............................................................................................ 124 Gráfico 7: PIB total a preços de mercado correntes - Agropolo Baixo Jaguaribe, Interior e Ceará - 1999 e 2002 .................................................................................................... 130 Gráfico 8: PIB per capita a preço de mercado correntes - Agropolo Baixo Jaguaribe, Interior e Ceará – 1999 e 2002....................................................................................... 135 Gráfico 9: Pessoal ocupado na atividade agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal (%) - Agropolo Baixo Jaguaribe no Ceará- 1996, 1999 e 2002........................ 142 Gráfico 10: Evolução das áreas irrigadas - produção de frutas (ha) - Ceará e Agropolo Baixo Jaguaribe - 1999-2004(*)...................................................................................... 145 Gráfico 11: Evolução das áreas irrigadas - produção de frutas (%) - Ceará e Agropolo Baixo Jaguaribe - 1999-2004(*)...................................................................................... 145 Gráfico 12: Variação da quantidade produzida e Valor da Produção - Agropolo Baixo Jaguaribe - 1996/1999 .................................................................................................... 151 Gráfico 13: Variação da quantidade produzida e Valor da Produção - Agropolo Baixo Jaguaribe - 1999/2003 .................................................................................................... 151 Gráfico 14: Evolução das exportações dos agronegócios cearenses em %- Melão 1996, 1999-2004............................................................................................................. 155 Gráfico 15: Evolução das exportações dos agronegócios cearenses em % - Camarão 1996, 1999-2004............................................................................................................. 157 Gráfico 16: Evolução das exportações dos agronegócios cearenses em % - Castanha de caju - 1996, 1999-2004 (%). ........................................................................................... 157 Gráfico 17: Arrecadação do ICMS - Agropolo Baixo Jaguaribe - 1996-2003 ................................... 163 Gráfico 18: Consumo de energia elétrica, por classes de consumo em %- Agropolo Baixo Jaguaribe - 1996 ................................................................................................... 167 Gráfico 19: Consumo de energia elétrica, por classes de consumo em % - Agropolo Baixo Jaguaribe - 1999 ................................................................................................... 167 Gráfico 20: Consumo de energia elétrica, por classes de consumo em %- Agropolo Baixo Jaguaribe - 2003 ................................................................................................... 167 Gráfico 21: Matrícula inicial no ensino médio - Agropolo Baixo Jaguaribe - 1996/1998 e 1999/2003. ...................................................................................................................... 170 xii LISTA DE MAPAS Mapa I: Plano de Metas do Governo (PLAMEG) 1963/1967 e Plano de Ação Integrada do Governo (PLAIG) 1967/1970 ............................................ 35 Mapa II: Plano de Governo do Estado do Ceará (PLAGEC) 1971/1974 ....................... 37 Mapa III: I Plano de Desenvolvimento do Ceará – I PLANDECE 1975/1979 ................. 39 Mapa IV: POLONORDESTE - PLANDECE 1975/1979.................................................. 40 Mapa V: Segundo Plano de Metas do Governo (PLAMEG II) 1979/1983 ..................... 42 Mapa VI: Plano Estadual de Desenvolvimento (PLANED) 1983/1987 ........................... 43 Mapa VII: Plano das Mudanças (1987-1991) e Plano Ceará Melhor (1992/1995) .................................................................................................... 44 Mapa VIII: Plano de Desenvolvimento Sustentável (PDS) 1995/1998 ............................. 47 Mapa IX: Plano de Desenvolvimento Sustentável 1999/2002 - Consolidando o Novo Ceará .................................................................................................... 51 Mapa X: Plano de Governo 2003/2006, Ceará Cidadania – Crescimento com Inclusão Social. .............................................................................................. 55 Mapa XI: Eixos de Desenvolvimento.............................................................................. 57 Mapa XII: Agropolos de Desenvolvimento Agrícola - 2003 ............................................. 63 Mapa XIII: Área Livre da Mosca das Frutas ................................................................... 154 xiii LISTA DE ABREVIATURAS ABIPTI Associação Brasileira das Instituições de Pesquisas Tecnológicas ADR Área de Desenvolvimento Regional APL Arranjo Produtivo Local BNB Banco do Nordeste do Brasil CENTEC Instituto Centro de Ensino Tecnológico CEPAL Centro de Estudos Econômicos para a América Latina CNAE Cadastro Nacional de Atividades Econômicas COELCE Companhia Energética do Ceará CODEVASF Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente CNI Confederação Nacional da Indústria CNPQ Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico DISTAR Distrito de Irrigação Tabuleiros de Russas DNOCS Departamento Nacional de Obras Contra as Secas EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária FADE Fundação de Apoio ao Desenvolvimento FAO Food and Agriculture Organization FEIR Fundo Estadual de Irrigação FOB Free on Board GTDN Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste ICMS Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços IDH Índice de Desenvolvimento Humano IDH M Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IEL Instituto Euvaldo Lodi IICA Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura IPECE Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará IPLANCE Instituto de Planejamento do Estado do Ceará IPPUR Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano MDIC Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio PAR Plano de Ação Regional PEA População Economicamente Ativa PDRI Programa de Desenvolvimento Rural Integrado PDR Plano de Desenvolvimento Regional xiv PDS Plano de Desenvolvimento Sustentável PIB Produto Interno Bruto PIN Programa de Integração Nacional PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PND Plano Nacional de Desenvolvimento PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento POLONORDESTE Programa de Áreas Integradas do Nordeste PPC Paridade do Poder de Compra PPT Programa Prioritário de Termoelétricas PROCEAGRI Programa Cearense de Agricultura Irrigada PRODETUR Programa de Ação para o Desenvolvimento do Turismo no Nordeste PROMOVALE Programa de Valorização do Baixo e Médio Jaguaribe PROURB Programa de Desenvolvimento Urbano e de Gestão de Recursos Hídricos RMF Região Metropolitana de Fortaleza SEAGRI Secretaria de Agricultora Irrigada (1998-2002) Secretaria da Agricultura e Pecuária (2003) SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SECEX Secretaria do Comércio Exterior SEPLAN Secretaria de Planejamento do Estado do Ceará SIGA Sistema de Informação Gerencial Agrícola SDLR Secretaria de Desenvolvimento Local e Regional SRH Secretaria de Recursos Hídricos SUDEC Superintendência do Desenvolvimento do Estado de Ceará SUDENE Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste UFPE Universidade Federal de Pernambuco UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro xv RESUMO O desenvolvimento regional foi enfoque central das políticas públicas no Brasil, notadamente nas décadas de 1960 a 1980. Após um período em que passou a ter papel secundário no planejamento de governo, retorna à agenda pública face aos desafios e impactos da globalização nos diferentes espaços do território brasileiro, ao final da década de 1990. A análise da trajetória do planejamento no Ceará evidencia que entre avanços e recuos as políticas de nível federal e estadual acirraram os desequilíbrios entre a região metropolitana e o interior. O viés institucional para tratar a questão tem se mostrado parte do problema. O planejamento e a ação, além da estrutura organizacional dos governos sendo tradicionalmente setoriais não priorizam as políticas comprometidas com o desenvolvimento de subespaços estaduais. Uma proposta de intervenção com visão espacial foi adotada pelo governo estadual com a política de desenvolvimento dos Agropolos. Com a implementação dessa política, cujo marco foi a criação da Secretaria de Agricultura Irrigada (SEAGRI) em 1998, a região do baixo Jaguaribe revelou-se pólo emergente do agronegócio da fruticultura irrigada no Ceará. O novo enfoque para essa atividade é a parceria do Estado com o Governo Federal na gestão dos programas de irrigação. A política oportunizou a modernização da economia agrícola regional e seus efeitos em cadeia a partir de um conjunto de condicionantes favoráveis dados pelo potencial natural (clima tropical e solo), vantagens e facilidades logísticas como posição estratégica em relação a mercados consumidores e infraestrutura hidroagrícola e portuária construídas no Estado. As intervenções governamentais para conferir à região do baixo Jaguaribe a condição de Agropolo são resultados da reestruturação produtiva da agricultura brasileira face às exigências do mercado quanto aos padrões de competitividade, e da prioridade dada à implantação de infra-estrutura hídrica em território cearense. O desempenho do Agropolo Baixo Jaguaribe confirma a entrada da região em um novo ciclo de especialização produtiva baseada na fruticultura irrigada de alto valor agregado, e com isso, sua inserção no contexto da economia globalizada. A região que conforma esse Agropolo se caracteriza por uma estrutura singular no Ceará, possuindo uma rede urbana equilibrada, cuja concentração demográfica (57% em 2005) divide-se entre quatro centros intermediários do Estado: Aracati, Limoeiro do Norte, Russas e Morada Nova. Participa com 5,5% da população estadual (estimativas 2005), no entanto, abriga 9% dos habitantes rurais do Ceará (censo 2000) e sua taxa de urbanização (53,8%) está abaixo da do Interior indicando uma tendência menos intensa de “desruralização”. Se avaliada pelo IDH-M é uma das regiões do Ceará com melhor qualidade de vida. Limoeiro do Norte tem um IDH médio–alto (0,711), superior ao estadual (0,700), considerado médio. A política de desenvolvimento dos Agropolos no Baixo Jaguaribe produziu efeitos diretos no agronegócio regional iniciando-se pela evolução das áreas irrigadas, que apresentou um aumento de 66% no total da região e de 182% das áreas com fruticultura, no período de 1999 a 2004. A performance desse Agropolo valeu ao Ceará a posição de segundo produtor de melão (2002) e primeiro estado xvi exportador de abacaxi (2004) no país, além da expansão experimentada por outros cultivos de demanda nacional e externa, como a banana. A atração de empresas foi determinante para os resultados alcançados. Além dos investimentos iniciais, para o período de 2002 a 2005 os negócios privados atraídos para a região somam R$103,4 milhões. A maior empresa instalada no Agropolo, líder mundial no mercado de frutas é responsável por 70% das exportações de melão e abacaxi. A expansão do agronegócio da agricultura irrigada no Agropolo Baixo Jaguaribe foi responsável por mudanças na pauta de exportações cearenses. As exportações de melão, que estavam abaixo de US$ 2 milhões em 2002, saltaram para US$ 12,9 milhões, alcançando a oitava posição em 2004, com um valor de US$ 16,74 milhões. Foi no emprego que se fez sentir o efeito mais significativo da política em análise, com uma elevação de 311%, entre 1999 e 2002, chegando a região a responder por um quarto do emprego formal no setor da agricultura do Estado, proporção que não chegava a 10% em 1999. A agricultura emprega 8,3% do pessoal ocupado no mercado formal de trabalho regional (2002). Configura-se uma modernização espacialmente seletiva nas áreas dos projetos das grandes empresas, instalando-se o assalariamento no campo no Agropolo Baixo Jaguaribe e novas formas de produção com a parceria empresa/produtores locais. O PIB per capita da região, que representava 76% do valor estadual em 1999, passou a 81% em 2002. Enquanto a contribuição do Agropolo no PIB total cearense não chega a 5% (2002) o valor adicionado da agricultura regional corresponde a 10,5% desse indicador setorial produzido em todo o Estado. A intensificação no nível da atividade econômica regional foi sentida no aumento do ICMS de 42%, enquanto o registrado para o Ceará foi 26%, entre 1999 e 2002. O efeito combinado da política de promoção da educação tecnológica, na qual a região foi destaque pela infra-estrutura do CENTEC e da política hidroagrícola está fortalecendo o Agropolo como espaço de formação profissional. O Agropolo tende a se consolidar como “novo foco de dinamismo no Nordeste”. A política ainda não assegurou algumas características básicas recomendáveis de Agropolo, e assim se verifica a pouca verticalização da produção e incipiente formação de cadeias produtivas e a ausência de pequenas e médias empresas agroindustriais, entre outras. A política apresenta pontos de vulnerabilidade e entre os principais vale lembrar a necessidade de aperfeiçoar o gerenciamento dos conflitos no uso dos recursos hídricos, o crescimento/desenvolvimento econômico altamente dependente de fatores exógenos relacionados com a visão de mercado voltada para a produção e o consumo globalizado, colocando a reboque questões ambientais como devastação da cobertura vegetal nativa. Com efeito, a política de Agropolos conduzida no Ceará tem como grande desafio a adoção de estratégias que compensem a produção de um passivo não só ambiental, mas social com a retirada das famílias de suas terras de origem, com a contrapartida de um desenvolvimento econômico regional includente. xvii ABSTRACT Regional development has been the main focus lately. After a period in which it started to play a secondary role in government's planning, it comes back to the public agenda due to the challenges and impacts of globalization in the different spaces of the Brazilian territory at the end of the nineties. The analysis of the planning course in Ceará shows that between advances and setbacks, the state and federal level policies have provoked imbalances between the metropolitan region and the hinterland. The institutional bias that deals with this issue has shown part of this problem. By being traditionally sectoral, planning and action do not prioritize the policies aligned with the development of state sub-spaces. An intervention proposal with a spatial vision has been adopted by the state government with the development policies of the Agropolos. With the implementation of that policy whose mark was the creation of the Secretariat of Irrigated Agriculture (SEAGRI) in1998, the low Jaguaribe region has been revealed as an emerging pole of agribusiness of irrigated fruit growing in Ceará. The new focus towards that activity is the State's partnership with the Federal Government in the management of the irrigation programs. The policy has created the opportunity to modernize the regional agricultural economy and its chain effects from a set of favorable conditions offered by the natural potential (tropical climate and soil), advantages and logistic facilities as a strategic position in regard to consuming markets and a hydro-agricultural and port infrastructure built in the State. The governmental interventions in order to attach Agropolo condition to the low Jaguaribe region result from the productive restructuring of Brazilian agriculture to meet the market's demands as to competitiveness standards and the priority given to the implementation of water infrastructure in Ceará's territory. The performance of Low Jaguaribe Agropolo confirms the region's entry into a new cycle of productive specialization based on irrigated fruit-growing of high added value and with that its insertion into the globalized economy context. The region that constitutes this Agropolo is characterized by a unique structure in Ceará and it features a balanced urban network whose demographic concentration (57% in 2005) is divided into four intermediate centers in the State: Aracati, Limoeiro do Norte, Russas and Morada Nova. It represents 5.5% of the State's population (2005 estimates), however, it shelters 9% of Ceará's rural inhabitants (2000 census) and its urbanization rate (53.8%) is below that of the Interior indicating a less intense "de-ruralization". When evaluated by M-HDI it is one of the regions in Ceará with better quality of life. Limoeiro do Norte has a medium to high HDI (0.711), higher than that of the State (0.700), considered medium. The development policy of Agropolos in the Low Jaguaribe has produced direct effects on the regional agribusiness starting with the evolution of irrigated areas that presented a 66% increase in the region's total and 182% increase in the fruit-growing areas in the 1999 to 2004 period. This Agropolo's performance ranked Ceará as the second greatest melon producer in Brazil (2000) as well as the main pineapple exporting State in Brazil (2004). The State has also experienced an expansion of other cultures of national and external demand like banana. The attraction of xviii enterprises to the State was a determining factor in achieving results. Besides the initial investments for the 2002-2005 period, the private businesses attracted to the region amount to R$103.4 million. The biggest enterprise established in the Agropolo, a world leader in the fruit market is responsible for 70% of melon and pineapple export. The expansion of irrigated agriculture agribusiness in the Low Jaguaribe Agropolo was responsible for changes in Ceará's export list. Melon export, which was below US$2 million in 2002 rose to US$12.9 million obtaining the eighth position in 2004 with a US$16.74 million value. The most significant effect of the policy in analysis was most felt in employment with a 311% increase between 1999 and 2002 when the region was responsible for a fourth of the formal employment in the State's agricultural sector, a proportion that did not come to 10% in 1999. Agriculture employs 8.3% of the people employed in the regional formal work (2002). A spatially selective modernization is formed in the areas of big-enterprises projects, and employment for wages is established in the field in the Low Jaguaribe Agropolo and new forms of production are introduced with the partnership of enterprises and local producers. The region's per capita GDP, which represented 76% of the State's value in 1999, went to 81% in 2002. While Agropolo's contribution in Ceará's total GDP does not reach 5% (2002), the added value of regional agriculture corresponds to 10.5% of this sectoral indicator produced in the whole State. The enhancement in the regional economic activity level was noticed by the 42% increase in the Value-Added Tax on Sales and Services, while the increase registered for the State was 26% between 1999 and 2002. The combined effect of policies to promote technological education at which the region was a highlight through CENTEC's infrastructure and the hydro-agriculture is strengthening the Agropolo as a space for professional development. The Agropolo tends to consolidate itself as "a new energy focus in the Northeast". That policy has not assured yet some basic characteristics recommendable for Agropolo and so little verticalization is noticed in production as well as in the incipient development of productive chains and in the absence of small and medium agribusinesses among others. That policy presents vulnerable points among which it is worth remembering the need to improve the management of conflicts in the use of water resources, the highly dependent economic growth/development on exogenous factors related to the market vision directed to production and globalized consumption, dragging environmental issues such as the devastation of native forest cover. In fact, the Agropolos' policy conducted in Ceará has as a great challenge the adoption of strategies that compensate the production of a not only environmental but also social liability such as the removal of families from their original land with the counterpart of an inclusive regional economic development. xix 1 INTRODUÇÃO 1.1 Considerações iniciais Interpretações teóricas sobre desenvolvimento econômico, diagnósticos das desigualdades regionais, formulação de diretrizes básicas e planos de ação para as regiões pobres, destacadamente o Nordeste, realização de investimentos e viabilização de incentivos governamentais, críticas, análise e avaliação das políticas públicas, reunindo a esfera pública e os meios acadêmicos, fizeram meio século de história sobre a questão regional no país. O estudo da contribuição da política de Desenvolvimento dos Agropolos no Ceará, como ação governamental estruturante, na região do Baixo Jaguaribe, remete, necessariamente, a uma reflexão sobre as inter-relações que envolvem os temas políticas públicas e desenvolvimento regional, passando pela abordagem de pólos de crescimento e de desenvolvimento. Na atualidade, os impactos e desafios do processo de globalização nos diferenciados espaços do território brasileiro, a retomada do debate no ambiente internacional, estimulado por políticas regionais como as da União Européia, renovaram o interesse pelo tema no país, motivando trabalhos de pesquisadores e de estudiosos da questão, e estratégias de política governamental, apesar da fragilidade dos instrumentos para operacionalizá-las. DINIZ (2001) lembra que a questão do desenvolvimento econômico passou a ser tema central da agenda dos governos e organismos de coordenação econômica e política no mundo capitalista, após passadas as instabilidades e crises do período das guerras mundiais, pressionados, como se encontravam, pela opção socialista. Até esse período, o planejamento regional tinha apenas dado os primeiros passos. Na análise de TAVARES (2002), a evolução capitalista, nas primeiras décadas do século XX, que culminou com a grande depressão (1929), veio confirmar a tese do desenvolvimento desigual, de que são exemplos a concentração econômica que ocorria em Londres paralelamente ao empobrecimento de antigas áreas industriais 20 e, nos Estados Unidos, o enorme bolsão de pobreza do vale do Tennessee, contrastando com as áreas altamente prósperas do país. E desta forma, registram-se a experiência de aproveitamento do vale americano com a criação da Tennessee Valley Autority (TVA), em 1930, e a política de desconcentração industrial da Inglaterra, que ocorreu mais precisamente entre 1944 e 1946, a partir do Plano Abercombrie. Ainda na análise de TAVARES (2002), a tese do desenvolvimento desigual, traduzida pelo enfoque dos desequilíbrios espaciais, levou autores progressistas dos pós-guerra a elaborações teóricas que resultaram em políticas de desenvolvimento do território. A teoria dos pólos de desenvolvimento, formulada por François Perroux (1955), foi a que mais se difundiu. Entre 1950 e 1960, nos países europeus, as políticas de desenvolvimento regional passaram então, a ser concebidas como tarefas do Estado-nação, conduzidas de forma centralizada. Daí, surgem instituições de poder como a Cassa per il Sviluppo del Mezzogiorno (1950), na Itália, para coordenar isenções, tarifas preferenciais de transportes e créditos especiais, e a criação, em 1963, da Délégation de l’Aménagement du Territoire – Datar, à qual foi conferida a política de desenvolvimento do interior da França, em oposição à região parisiense. Nesse mesmo sentido, BOISIER (in: HADDAD Org., 1989) ressalta o auge de experimentos mais integrados de desenvolvimento de regiões problemas, como o Nordeste do Brasil, no início da década de 60, estimulados no momento por modelos europeus. O início dos estudos sobre a questão no Brasil deu-se por cientistas estrangeiros que influenciaram os estudiosos e técnicos nacionais, resultando daí, a aplicação dos conhecimentos científicos e das técnicas de planificação, como as de “pólos de desenvolvimento”, na política de desenvolvimento regional (ANDRADE, 1970). Foi, portanto, o reconhecimento do atraso da economia, com o conseqüente reflexo da pobreza nas regiões mais carentes, que transpôs para o país, a discussão sobre desenvolvimento regional. Em 1959, quando foi lançado o documento do Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN) – Uma Política de Desenvolvimento Econômico para o Nordeste – o grande debate no momento era o desenvolvimento do Brasil que estava, de fato, se fazendo, porém 21 comandado por uma industrialização fortemente concentrada no Sudeste, enquanto o setor primário exportador do Nordeste mostrava-se incapaz de continuar impulsionando o desenvolvimento econômico. A política proposta fundamentava-se nas idéias do Centro de Estudos Econômicos para a América Latina (CEPAL), que buscavam explicar o subdesenvolvimento a partir do modelo centro-periferia, em outras palavras, pelas relações de trocas internacionais, através das quais, o “centro” do mundo capitalista exportava bens industrializados e a “periferia” exportava bens primários, cujos preços não oscilavam com a demanda em função do excesso de fatores de produção (terra e trabalho). O documento constituiu um marco na discussão sobre a questão regional brasileira e bases da estratégia desenvolvimentista para o Nordeste. As disparidades regionais exigiram do setor público um papel de maior responsabilidade com as regiões mais pobres, reafirma Celso Furtado1 (1998), depois de uma trajetória como cientista da problemática brasileira e latinoamericana, e que a política representa muito menos para uma região rica do que para uma região como o Nordeste. Nas regiões mais desenvolvidas a ação do governo federal é complementar, não essencial. Em regiões como a Amazônia e o Nordeste, cujos problemas são estruturais, a ação do governo torna-se fundamental. ANDRADE (1970), em análise sobre as tentativas de aplicação da Teoria de Pólos de Desenvolvimento ao espaço brasileiro, salienta que a partir de vários estudos realizados, a teoria da polarização passou a ser utilizada em trabalhos de planificação de organizações como o Ministério da Fazenda, o Escritório de Pesquisas Econômicas Aplicadas, o Conselho Nacional de Geografia e a Comissão Interestadual da Bacia Paraná-Uruguai, para citar algumas delas. Desta forma, em 1966, registra-se a adesão da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) à aplicação da teoria de polarização, estabelecendo em seu III Plano Diretor para o período 1966-68, uma abordagem em termos de economia espacial, com ênfase na identificação de pólos de crescimento da região em cada um dos estados nordestinos, como áreas prioritárias 1 para alocação de recursos, Seca e Poder – entrevista com Celso Furtado/ entrevistadores Maria da Conceição Tavares, Manuel Correia de Andrade e Raimundo Pereira. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 1998. – (Ponto de Partida), p. 52. 22 aproveitando vantagens locacionais, particularmente ligadas aos recursos naturais, implantando grandes projetos, visando à criação de novos pólos de dinamização da economia regional. O aproveitamento de bacias fluviais, a criação de grandes complexos industriais a partir da disponibilidade de recursos naturais e o início de estudos em potenciais pólos existentes, como a aglomeração urbana Petrolina (Pernambuco)-Juazeiro (Bahia), além do debate sobre planificação regional e polarização, marcam a relevância do III Plano Diretor da SUDENE. Retomando a análise de DINIZ (2001) conclui-se que a implementação das diretrizes do GTDN e os planos diretores da SUDENE tornaram-se difíceis, não apenas pela escassez de recursos, mas, principalmente, pelos conflitos de interesses que inviabilizaram as transformações estruturais do setor agrícola, ou mesmo a implantação da chamada indústria de base. Francisco de Oliveira, em apresentação do livro O GTDN – Da Proposta à Realidade – Ensaios sobre a Questão Regional (1994), escreveu que três décadas teriam sido suficientes para cumprir o programa quase quimérico-visionário de Celso Furtado - nas palavras de Assis Chateaubriand (1959). “A industrialização se fez, sem sombra de dúvidas. Uma verdejante Califórnia exporta sol em mangas, uvas e melões das margens outrora inóspitas, visitadas pelas carrancas escalavradas na proa dos barcos, quem sabe para meterem medo à seca...”. Continua o autor a sua crítica: “O Maranhão, um Nordeste conquistado, refúgio contra a seca e saída para os excedentes populacionais... que na verdade ocultava a ausência de um programa de reforma agrária”. Sobre as velhas forças políticas oligárquicas escreve: “parece encarnar a ironia de uma história que, quanto mais muda, mais parece retornar”. Sobre a realidade que não mudou expressa: “a seca, de novo, legiões... novas legiões de “informais” – o termo não engana, quer dizer sem forma”. A despeito dessa realidade, não se pode desconhecer que o objetivo de superação do atraso relativo da região Nordeste, inaugurou um processo de planejamento regional, com a implementação efetiva de ações e políticas públicas (sobretudo nas décadas de 60, 70 e 80 passadas), instrumentos de políticas e programas foram criados e aplicados, com forte influência na atuação dos governos estaduais. Dentre os principais podem ser citados: Incentivos Fiscais, Fundos de Redistribuição de Rendas, Programa de Integração Regional (PIN), Programas de 23 Desenvolvimento Rural Integrado (PDRIs), Programa de Irrigação do Nordeste e Programas Especiais de Crédito Rural. Para o êxito do plano de desenvolvimento econômico da região, expressava o documento do GTDN, era decisiva a cooperação com os governos estaduais, iniciando-se pela prestação de assistência técnica, a fim de habilitá-los a formular seu plano de desenvolvimento. Os planos estaduais, por algumas décadas, refletiram as diretrizes nacionais e o alinhamento com os programas regionais. A industrialização e o crescimento econômico pretendido eram processos que pressupunham a estruturação de um sistema urbano hierarquizado, como suporte ao fortalecimento de pólos de desenvolvimento. A política nacional e a política coordenada pela SUDENE integravam as estratégias de fomento econômico às de organização dos subespaços regionais. Regionalização e desenvolvimento urbano foram temas da mesma política visando o desenvolvimento regional no Brasil. No período recente, a formulação da proposta de Agropolos tem raízes no conceito de pólos de crescimento, desta feita apoiado na concepção moderna de integração das cadeias produtivas e de território socialmente organizado, conforme se discute em Agropolos como proposta metodológica (item 3.3). A partir dessas considerações iniciais e para dar conta do tema proposto, o trabalho foi estruturado, além desta Introdução, em que se abordam a seguir os objetivos e a metodologia da pesquisa, em cinco seções. A primeira trata do Desenvolvimento Regional no Enfoque das Políticas Públicas, direcionando a abordagem ao planejamento estadual, seus reflexos e trajetória. Na seção seguinte apresenta-se o Ceará na Visão do Desenvolvimento Territorial considerando o desenvolvimento do semi-árido na formação histórica do Ceará, as mudanças estruturais na economia cearense nas últimas décadas, as desigualdades regionais dominantes no Ceará e a apresentação da região de estudo. A revisão da literatura se faz na seção Fundamentos Teóricos e Analíticos para tratar o Tema, incluindo os conceitos basilares para o estudo – região e pólos de crescimento e de desenvolvimento e desenvolvimento sustentável – uma abordagem da irrigação como política de desenvolvimento regional e de Agropolo como proposta metodológica. Na seção em que se apresentam a Análise e Discussão dos Dados e Informações 24 discute-se a contribuição da política de desenvolvimento dos Agropolos no Baixo Jaguaribe, sob o ponto de vista da dinâmica urbano-regional, do desempenho da economia e da agricultura irrigada na região, o comportamento de outros indicadores que aferem o nível de atividade econômica e efeitos no campo social, tomando-se a formação para o trabalho como o foco dessa abordagem. Encerra-se o estudo com as Conclusões, a partir das quais são formuladas as Recomendações. 1.2 Objetivos A motivação que levou à realização desta pesquisa foi analisar uma política pública de enfoque espacial definida a partir do reconhecimento de regiões estratégicas para o desenvolvimento do Ceará, acreditando-se assim, ter a proposta de desenvolvimento dos Agropolos maior efetividade que as ações governamentais de caráter meramente setorial. O conceito de Agropolo fundamenta-se numa proposta metodológica (item 3.3) e encerra em si, uma estratégia de desenvolvimento regional. Com base nesse entendimento, propõe-se investigar os efeitos da política de desenvolvimento dos Agropolos na região do Baixo Jaguaribe e sua contribuição como vetor de desenvolvimento regional. Para isso objetivou-se pesquisar os efeitos dessa política na dinâmica urbano-regional, no comportamento dos indicadores econômicos, e seus reflexos na área social (educação para o desenvolvimento profissional), bem como analisar os resultados da política sob o ponto de vista da sua contribuição para o fortalecimento da região como pólo de desenvolvimento ou como subespaço estadual com características de um ambiente diferenciado. Além do mais, buscou-se evidenciar outros achados importantes demonstrados pelos dados e fornecer elementos para se avançar na pesquisa sobre os efeitos da Política na promoção do desenvolvimento local do Agropolo em destaque. 25 1.3 Metodologia A metodologia de desenvolvimento da pesquisa envolveu a definição de indicadores que pudessem traduzir os efeitos da política de desenvolvimento em uma região levada à condição de Agropolo. Para tanto, foram pesquisadas variáveis que captam a dinâmica demográfica no Agropolo, e procedeu-se à eleição de indicadores que retratassem os efeitos diretos da política de Agropolos, orientada, em primeiro plano, para o alcance de resultados econômicos e aumento da competitividade do Estado, e que aferem o dinamismo da economia. Por fim, identificou-se o indicador que medisse o reflexo social da política na região. Desta forma, a análise dos dados e informações inicia-se por uma abordagem da dinâmica espacial do Agropolo, considerando a variável populacional na estruturação do contexto urbano-regional. Mudanças no perfil econômico são investigadas através dos indicadores do Produto Interno Bruto (PIB) e do emprego. Os efeitos diretos da política são analisados pelos dados e informações referentes ao agronegócio da agricultura irrigada (área irrigada, produção agrícola e exportações). Em outros indicadores como consumo de energia elétrica e arrecadação de ICMS buscou-se aferir a influência da política de Agropolos no dinamismo da economia da região. Por fim, considerou-se a educação, em especial, o ensino médio e tecnológico, como o setor social capaz de reagir aos estímulos da expansão da agricultura irrigada e aos seus efeitos em cadeia, pela perspectiva da geração de novas oportunidades para a força de trabalho regional, e de formação profissional atendendo a novo perfil tecnológico. No levantamento dos dados procurou-se enfocar o período antes e depois da implementação da política de Agropolos no Ceará, no sentido de se poderem estabelecer comparações sobre o comportamento dos indicadores selecionados entre os referidos anos. Portanto, foram considerados os períodos 1996/1999 e 1999/2002 e dependendo da disponibilidade de dados, o segundo período chegou a 2003, 2004, 26 ou mesmo 2005, como está explicitado nos itens referentes a cada indicador, na seção pertinente (5). Para facilitar a formulação das conclusões, os indicadores foram abordados em três categorias. Os de efeitos diretos são os que demonstram a evolução das áreas e da produção irrigadas e do emprego no Agropolo e as mudanças na pauta de exportações cearenses. Classificaram-se como de efeitos para os quais a política contribuiu, os indicadores de desempenho do PIB, da arrecadação do ICMS e do consumo de energia elétrica. Como reveladores dos efeitos indiretos da política figuraram os dados educacionais e de formação profissional na área tecnológica. 27 2 DESENVOLVIMENTO REGIONAL NO ENFOQUE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS 2.1 O caso do Nordeste Reflexão sobre o tema foi oferecida por AMARAL FILHO (2005)2 no trabalho Celso Furtado e a Economia Regional, sua contribuição não só à teoria, mas à formulação de políticas e estratégias de desenvolvimento. Essa contribuição, na visão do autor citado, se confunde com a teoria geral do desenvolvimento econômico aplicada à região Nordeste. Numa avaliação conclusiva ainda escreve “Furtado formulou propostas de políticas públicas que significaram um divisor de águas na trajetória das intervenções do governo federal na região Nordeste” (p. 1). Do trabalho destacam-se pontos importantes para a temática deste estudo. Ressalta o autor que, quando Furtado, na década de 1950, se dedicou a estudar as desigualdades regionais, não só o Nordeste representava o problema da questão regional no Brasil, mas também a região Centro-Oeste constituía-se em caso de insegurança nacional pelo aspecto do seu despovoamento. Ao contrário do Nordeste, o Centro-Oeste, de imediato foi incorporado à agenda do governo Juscelino Kubitschek como parte de seu projeto político (construção de Brasília). Tardiamente a questão regional nordestina, por pressões sociais e populares passou a integrar a política do governo JK, cuja forma e conteúdo das intervenções tiveram fortes influências das argumentações técnicas de Celso Furtado como economista do GTDN e Diretor Regional do Banco nacional de Desenvolvimento Econômico – BNDE. Ainda, segundo AMARAL FILHO (2005), Furtado considerava como fontes das desigualdades que caracterizavam o Nordeste: as endógenas, decorrentes da história e das estruturas econômicas e sociais da região; e as exógenas, reconhecendo na política macroeconômica de desenvolvimento federal a principal responsável. Assim, Furtado rompia com os argumentos fatalistas de que a seca se constituía no principal problema da região e a engenharia hidráulica na saída para o 2 Texto preparado para o “Seminário Celso Furtado e o Século XXI” organizado pelo Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ, 15-17 de agosto de 2005, Rio de Janeiro. 28 problema. Na tese de Furtado, a questão regional residia no fato de ser o Nordeste uma “região pobre e superpovoada, marcada por um excedente de mão-de-obra que realizava uma produção insuficiente de alimentos, além de não resistir às secas severas” (ibid., p.9). No trabalho citado, AMARAL FILHO ressalta, que além da própria avaliação de Furtado (1984) de que “a raiz da fragilidade nordestina estava em seu setor agrário”, outras duas teses se auto-reforçavam e geravam um processo vicioso na economia da região: formação histórica, sistemas produtivos (cana-de-açúcar, pecuária-algodão-cultura de subsistência) com alto poder de concentração de renda, impedindo a formação de um mercado interno que justificasse o desenvolvimento industrial e o surgimento de uma burguesia esclarecida; e a política federal até então aplicada na região que reforçava essas estruturas (controladas pelos latifundiários das zonas úmidas e semi-áridas). Esse quadro se agravava com a política de desenvolvimento nacional apoiada nas políticas cambial, alfandegária e de subsídios aos industriais do Centro-Sul do país. Quanto às propostas contidas no clássico documento apresentado pelo GTDN, AMARAL FILHO analisa que são claras as influências das noções de “pólos de desenvolvimento” de Perroux (ao qual se reportará no item 5.1.3), bem como de fluxo de causação circular cumulativo, introduzido na teoria de desenvolvimento econômico por Nurkse e Myrdal3. Tendo dado origem a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE, as propostas do GTDN passaram a integrar os Planos Diretores de Desenvolvimento dessa instituição. As “estratégias visavam quebrar o círculo vicioso da pobreza, dando lugar ao círculo virtuoso de crescimento e de desenvolvimento” e consistiam em : • aumentar a produção de alimentos a partir de três frentes: ampliação das áreas de produção de alimentos nas zonas úmidas por meio da 3 Ragnar Nurkse centrou suas análises nos problemas de formação de capital em países subdesenvolvidos. Gunnar Myrdal, com base em referências de Nurkse, verificou que haveria uma inter-relação causal e circular nos fatores ligados à questão do desenvolvimento, formulando o conceito de “causação circular cumulativa” (1957). Os dois autores enriqueceram o debate teórico da época, engrossando a discussão iniciada pela CEPAL e contribuindo para a formação da ideologia nacional-desenvolvimentista, na década de 1950. 29 reforma agrária, aproveitamento as margens do São Francisco com a produção agrícola irrigada e abertura de uma fronteira agrícola na parte oriental do Maranhão; • promover a reestruturação da indústria tradicional da região, especialmente a têxtil, além de promover um novo processo de industrialização, criando novos segmentos através dos incentivos fiscais, para Furtado, o instrumento capaz de gerar um diferencial que pudesse atrair as empresas para se instalarem no Nordeste. É ainda em AMARAL FILHO (2005) que se buscou uma avaliação das propostas implementadas a partir do GTDN. O autor enquadra no grupo dos acertos, em primeiro lugar a SUDENE, como elemento chave na coordenação das decisões políticas e econômicas do processo de desenvolvimento do Nordeste, na fase de governo pré-militar. Em segundo lugar coloca a reestruturação e modernização da indústria têxtil, em particular no Ceará, resultado da implementação dos programas de modernização tecnológica pela SUDENE. Em terceiro lugar destaca o aproveitamento das margens do São Francisco com a agricultura irrigada, que transformou a região de Juazeiro e Petrolina numa grande produtora e exportadora de frutas. Por último, ressalta a diversificação da base industrial, com a infra-estrutura introduzida e ampliada pela SUDENE, além dos incentivos fiscais destinados às empresas que se deslocaram para região. Entre os erros e frustrações, ressalta a excessiva crença no planejamento creditando ao Estado, a capacidade de transformar a sociedade e o mercado, ou mesmo substituí-lo (problema do modelo nacional desenvolvimentista). Como técnica, no entanto, ressalta o autor que o planejamento introduzido por Furtado foi de grande importância para o combate aos efeitos da seca, eliminando a improvisação nas ações, substituindo por informações estratégicas e ações antecipativas, bem como, para absorção de recursos federais sob a responsabilidade da SUDENE, introduzindo com os Planos Diretores de Desenvolvimento, uma racionalidade estruturadora nos investimentos. Como frustração relaciona também, a falta de não se ter alcançado a eliminação da cultura de subsistência na zona semi-árida, a transformação das zonas úmidas em produtoras e ofertantes de alimentos, e a consolidação de uma nova fronteira agrícola na parte oriental do Maranhão, nos moldes da colonização, produzindo alimentos e absorvendo mão-de-obra liberada pelo semi-árido. 30 O autor em referência classifica o terceiro grupo como o de tendências não percebidas na época, assim identificadas: a emergência e crescimento do setor do Turismo; a abertura das novas fronteiras agrícolas, comandadas por emigrantes gaúchos, produzindo soja nos estados da Bahia, Piauí e Maranhão, o colapso dos sistemas produtivos locais (babaçu, algodão, carnaúba, cacau) devido à abertura comercial; e o novo impulso na industrialização promovido pelas políticas estaduais de incentivos fiscais. Num balanço da implementação das propostas do GTDN, duas questões essenciais para transformação das estruturas arcaicas e alimentadoras da estagnação econômica foram frustradas, na avaliação de Furtado, segundo AMARAL FILHO (2005). Tendo em vista seu reconhecimento do papel que assumia o setor agrário no atraso da economia nordestina, uma grande frustração foi a derrota no Congresso Nacional, pelas oligarquias agrárias e bancadas federais, do Projeto de Lei da Irrigação fundamentado no aproveitamento das águas armazenadas nos açudes e que continha um projeto de reforma agrária. Em relação às áreas urbanas, a recomendação da “industrialização, não apenas para diversificar a base produtiva e absorver o emprego, mas para constituir uma classe dirigente moderna, portadora de uma ideologia transformadora, em oposição à ideologia oligárquica”, não se verificou em todos os estados da região Nordeste, “por influência do processo de industrialização exógeno, calcado nos incentivos fiscais do FINOR – Fundo de Investimento do Nordeste, que promoveu a transposição de capitais de outras regiões do país para o Nordeste”. Os mesmos empresários que contribuíam para formação do Fundo, passaram a beneficiar-se dos incentivos (ibid., p. 13-14). Na abordagem do desenvolvimento regional no enfoque das políticas públicas cabe fazer referência à estratégia federal de combate às secas. Furtado avaliou como erro básico o fato da política sustentar-se na construção de açudes realizada pelo DNOCS, com o objetivo de reter água das chuvas, cujo ponto crítico residia na apropriação dos recursos hídricos pelos grandes latifundiários do sertão tendo em vista proteger o seu criatório bovino (AMARAL FILHO, 2005). Como estratégia de combate ao círculo vicioso da pobreza no Nordeste, a irrigação pública no modelo implementado revelou-se, quando não um equívoco, uma política de insatisfatórios resultados, o que se evidencia nas mudanças em sua trajetória e na decisão atual de corrigi-la, a partir de novas premissas. 31 A implantação de projetos públicos de irrigação iniciou-se ao final da década de 1960, com a constituição do Grupo Executivo para a Irrigação e Desenvolvimento Agrícola - GEIDA, composto de representantes de vários ministérios, responsável por fomentar a implantação de sistemas de irrigação como forma de promover a integração social dos estratos menos favorecidos da população, especialmente na região Nordeste. Os projetos públicos de irrigação norteavam-se por duas premissas: coincidência favorável de solo e água e a desapropriação de terras para assentar famílias de pequenos produtores rurais selecionados com base, principalmente, na sua precária situação econômica. Apesar de perdurar a desapropriação obrigatória, atualmente os projetos instalados sob os modernos sistemas utilizam a licitação de lotes para pequenos produtores e para exploração dos lotes de maior tamanho pelas grandes empresas. A instalação de sistemas de irrigação estava centralizada no extinto Ministério do Interior, em suas entidades vinculadas, Departamento Nacional de Obras contra as Secas - DNOCS, Superintendência do Vale do São Francisco - SUVALE, hoje dos Vales do São Francisco e Parnaíba - CODEVASF e no Departamento Nacional de Obras de Saneamento - DNOS, cuja missão estava voltada ao saneamento rural, mas que foi pioneiro na implantação de sistemas de irrigação. Atualmente, sob a responsabilidade do Ministério de Integração Nacional, a irrigação como política pública está entrando em uma nova fase. A recente medida adotada por esse ministério de licitar a concepção de um modelo geral de concessão de projetos públicos de irrigação para doze projetos no Brasil, inclusive Jaguaribe/Apodi e Tabuleiros de Russas, (localizados na região de estudo desta pesquisa), confirma o esgotamento da capacidade do poder público quanto ao investimento e à operacionalização desses projetos. O próprio edital lançado se apóia numa política de irrigação baseada em novos postulados como: a agricultura irrigada é intensiva, de alta produtividade, voltada exclusivamente para o mercado, e não à subsistência; os projetos públicos de irrigação devem ser implantados como integrantes de uma estratégia de desenvolvimento regional e devem nascer em condições para 32 emancipação dos projetos; a participação da iniciativa privada tende a ser crescente em todas as fases do projeto, entre outros. Pode-se aceitar que os projetos públicos de irrigação ocupam, nos dias atuais, uma área de 500.000 ha, dos quais perto de 90.000 se encontram em produção; os outros 410.000 ha encontram-se em diferentes estágios de implantação. A inexpressiva área de produção, quando cotejada com o potencial de terras irrigáveis no Brasil, considerando solos e água, está a colocar de forma inequívoca o pouco avanço da irrigação pública. Na atualidade, o Brasil, dentre outros países americanos, ostenta a mais baixa relação de área irrigada por habitante. Os parcos resultados alcançados com a implantação de projetos públicos de irrigação, em termos de área em produção e promoção socioeconômica das famílias assentadas, indicam, sem dúvidas, a necessidade de corrigir o rumo, bem como a adoção de uma nova visão. Essas referências estão expressas no referido edital e significam uma síntese avaliativa de mais de 35 anos de experiência de irrigação no Brasil. Em sintonia com a política federal e orientado pelas diretrizes estabelecidas para os estados segundo a ótica da política de desenvolvimento regional proposta para o Nordeste, o Ceará inicia-se no planejamento governamental (década de 1960) definindo uma trajetória para alcançar o desenvolvimento, conforme expresso nos planos de governo. 2.2 Planejamento estadual: reflexos e trajetória A introdução da política de desenvolvimento dos Agropolos, no presente estudo, exige uma contextualização que busca interpretar como evoluiu o planejamento do Ceará, dos Planos de Governo elaborados a partir de 1960, com a visão das políticas nacionais e regionais à proposta de desenvolvimento sob o novo paradigma do desenvolvimento sustentável. Os planos revelam os períodos em que o enfoque regional constituía-se tema da política, reproduzindo estratégias nacionais e regionais de desenvolvimento, e em seguida a fase em que se conferiu papel secundário ao planejamento espacial, para 33 recentemente retomá-lo, na ótica de pólo, apoiado numa vertente setorial, o da agricultura irrigada. 2.2.1 Planejamento estadual com enfoque espacial O tratamento conferido à questão regional no Estado, ao longo de diferentes administrações, se fez sentir no seu esforço regionalizador, com tentativas empíricas de distribuição espacial do planejamento, desenvolvimento econômico e descentralização administrativa dos serviços sociais e de assistência governamental básicos. Entre avanços e recuos, conforme se evidencia na análise a seguir, o Governo do Estado, em suas políticas de enfoque territorial não consolidou uma estrutura espacial equilibrada a partir de uma rede de cidades interligadas e com a formação de espaços urbano-regionais economicamente dinâmicos, capazes de assegurar qualidade de vida em todo o território cearense. Uma análise dos Planos de Governo estaduais permite constatar que não foi a falta de entendimento para tratar a questão e de proposição de políticas públicas com foco no território que produziu o Ceará macrocefálico e a incipiente estrutura econômica e urbana do Interior, que restringe a qualidade do trabalho, a capacidade de geração de renda e o potencial de consumo da população local. O Plano de Metas do Governo (PLAMEG) - 1963/1967 constituiu o marco temporal do início da atividade de planejamento governamental, com capítulo específico sobre Desenvolvimento Regional. Apresentou uma hierarquia dos centros urbanos estaduais, definiu 15 regiões geoeconômicas (MAPA I), sendo Fortaleza, especial, e as demais, em níveis diferenciados: a) Crato, Juazeiro do Norte e Sobral: b) Iguatu; c) Crateús, Russas e Senador Pompeu; d) Limoeiro do Norte, Tauá, Quixadá, Ipu, Baturité, Aracati, Brejo Santo, Canindé e Jaguaribe. Além das regionalizações para fins administrativos, visando a Interiorização dos serviços da Secretaria de Agricultura e de Educação, selecionou oito áreas, onde deveriam ser implantados os programas específicos visando o desenvolvimento econômico local: a) vales do Jaguaribe, Acaraú, Curu e Coreaú; b) serras de Baturité e Ibiapaba; c) chapadas do Apodi e Araripe. 34 Fonte: PLAMEG e PLAIG. MAPA BASE IPECE – Organização da autora Mapa I: Plano de Metas do Governo (PLAMEG) 1963/1967 e Plano de Ação Integrada do Governo (PLAIG) 1967/1970 35 O Plano de Ação Integrada do Governo para 1967/70 (PLAIG) considerando o estágio alcançado nas oito regiões selecionadas no PLAMEG, decidiu pela concentração de esforços nas regiões do vale do Jaguaribe, serras de Baturité e Ibiapaba, e Fortaleza (MAPA I), prevendo para essa última um estudo integrado socioeconômico. Estudo para divisão do Estado em regiões socioeconômicas, diagnóstico visando à caracterização dessas regiões, articulação entre os órgãos atuantes no Estado, para solução dos problemas básicos e gestão para obter cooperação de organismos internacionais para implementação das ações foram as propostas básicas do período administrativo referido. A proposta de desenvolvimento regional do Plano de Governo do Estado do Ceará – 1971/74 – PLAGEC (MAPAI II) voltava-se para o estabelecimento de regiões programa, áreas suscetíveis de responder a esforços concentrados de programas globais. Definiu assim, pólos de desenvolvimento com o estabelecimento de centro de regiões: a) Metrópole Regional – Fortaleza; b) Grandes Centros Regionais – Crato, Sobral, Juazeiro do Norte e Iguatu; c) Centros Regionais Secundários – Crateús, Russas, Limoeiro do Norte, Quixadá e Senador Pompeu; d) Centros de Zonas – Brejo Santo, Camocim, Ipu, Canindé, Baturité, Aracati, Tauá, Itapipoca, Campos Sales, São Benedito e Lavras da Mangabeira; e) Centros Estratégicos – Crateús, Tauá, Itapipoca e Lavras da Mangabeira. Considerando que inexistia um estudo técnico mais aprofundado de regionalização no Estado que melhor fundamentasse a divisão do espaço territorial cearense, adotaram-se os critérios de menor distância e facilidade para o aperfeiçoamento da regionalização proposta pelo PLAGEC. Em 1974, por decreto, o Estado foi dividido em treze regiões, sendo as seguintes: 1ª Fortaleza, 2ª Crateús, 3ª Crato, 4ª Iguatu, 5ª Juazeiro do Norte, 6ª Limoeiro do Norte, 7ª Quixadá, 8ª Russas, 9ª Senador Pompeu, 10ª Sobral, 11ª Tauá, 12ª Tianguá e 13ª Itapipoca. Em cada uma deveria ser instalado um Centro Executivo Regional composto de escritórios de cada secretaria estadual. 36 Fonte: PLAGEC. MAPA BASE IPECE – Organização da autora Mapa II: Plano de Governo do Estado do Ceará (PLAGEC) 1971/1974 37 Avaliação da atuação governamental no domínio regional (SUDEC, 1975) evidenciava que a política de ação espacial concentrava-se em três focos: identificação de áreas com grande potencial em termos de recursos naturais, para fins de implantação de programas específicos; eleição de regiões para fins de descentralização administrativa; e conhecimento mais aprofundado das microrregiões de Sobral, de Crato/Juazeiro do Norte, da Região Metropolitana e de Baturité, e implantação de entidades responsáveis pela elaboração de seus planos de desenvolvimento. Destacava a avaliação à época que, levando-se em conta que a ação regional em áreas subdesenvolvidas deverá orientar e dinamizar as relações intra e interregionais, como forma de promover o seu desenvolvimento econômico e social, ainda restava muito a fazer no estado do Ceará. Para o período 1975/79, o I Plano de Desenvolvimento do Ceará – I PLANDECE (MAPA III) procurou compatibilizar suas propostas com os macroplanos da esfera federal, I e II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND). Em termos de desenvolvimento regional, reconheceu que o Estado ainda não havia definido sua política, pois “todo esforço de regionalização se fez presente nas tentativas, até certo ponto empíricas, da distribuição espacial da ação do governo” (p.195). Neste aspecto, considerou relevante o papel dos centros urbanos com população superior a 15 mil habitantes, que sediavam a infra-estrutura de comercialização e serviços, como propulsores da política de regionalização. Deu destaque aos centros polarizadores do Estado, Fortaleza, Crato/Juazeiro do Norte e Sobral, devendo ser coadjuvados por outros centros dinâmicos, notadamente Crateús, Iguatu, Itapipoca, Quixadá, Russas, Senador Pompeu e Tianguá. O PLANDECE incorpora uma nova visão de planejamento territorial com o programa especial de desenvolvimento rural integrado, cuja concepção doutrinária proveio do Banco do Nordeste (BNB) e do Banco Mundial (MAPA IV). O Programa de Áreas Integradas do Nordeste (POLONORDESTE) partia da convicção ideológica de que o desenvolvimento rural é mais que agrícola, deve ser multissetorial, abrangendo a melhoria da educação, saúde e nutrição, além de outros elementos de apoio às atividades produtivas. Seus objetivos resumiam-se na promoção da melhoria das condições de vida e de bem-estar da população rural nordestina. 38 Fonte: I PLANDECE. MAPA BASE IPECE – Organização da autora Mapa III: I Plano de Desenvolvimento do Ceará – I PLANDECE 1975/1979 39 Fonte: I PLANDECE. Mapa IV: POLONORDESTE - PLANDECE 1975/1979 40 Partindo do estudo realizado pela Superintendência do Desenvolvimento do Estado do Ceará - SUDEC, o II PLAMEG (1979/83) adotou para orientação da política espacial a hierarquização estabelecida para as cidades (MAPA V): a) Centro Especial - Fortaleza; b) Centros de 1º nível - Crato, Juazeiro do Norte, Iguatu e Sobral; c) Centros de 2º nível - Baturité, Barbalha, Caucaia, Crateús, Icó, Limoeiro do Norte, Maranguape, Russas, Senador Pompeu: Centros de 3º nível - Acopiara, Aracati, Brejo Santo, Camocim, Canindé, Campos Sales, Cedro, Ipu, Itapipoca, Jaguaribe, Lavras da Mangabeira, Morada Nova, Mombaça, Nova Russas, Quixadá, Quixeramobim, São Benedito, Tauá, Tianguá e Ubajara; e) Centros elementares - os 107 restantes. Sem a preocupação de redefinir regiões para o Estado, o PLANED (1983 - 1987) tratou a questão espacial a partir dos parâmetros definidos pelo IBGE, adotando como regionalização as quatro Mesorregiões e as 23 Microrregiões Homogêneas do estado do Ceará (MAPA VI). Reconhecia a existência de duas regiões estaduais: a Capital, onde se observa a progressiva concentração dos resultados do desenvolvimento; e o Interior, com poucos resultados em termos absoluto e relativo. Priorizando a descentralização, a máquina administrativa seria interiorizada. “O processo de tomada de decisão do Governo do Estado se deslocará, em boa parte, para diversos centros do Interior, onde serão ouvidas as lideranças locais quanto às medidas de interesse das respectivas regiões” (p. 12). A era Jereissati, inaugurada com o Plano de Mudanças 1987–1991, conferia ao espaço uma nova dimensão, a de vetor de desenvolvimento. Essa visão levou à fragmentação do Estado em 20 Regiões Administrativas, para, segundo o Plano, um agressivo programa de planejamento. O Plano foi desagregado em Planos de Ação Regional (PAR), para as 20 regiões (MAPA VII), com o objetivo de regionalizar os programas setoriais e intersetoriais e projetos específicos de cada região. Os PARs ficaram apenas nos diagnósticos e criaram Conselhos que não foram operacionalizados. 41 Fonte: PLAMEG II. MAPA BASE IPECE – Organização da autora Mapa V: Segundo Plano de Metas do Governo (PLAMEG II) 1979/1983 42 Fonte: IBGE – MAPA BASE IPECE – Organização da autora Mapa VI: Plano Estadual de Desenvolvimento (PLANED) 1983/1987 43 Fonte: Planos de Governo. MAPA BASE IPECE Mapa VII: Plano das Mudanças (1987-1991) e Plano Ceará Melhor (1992/1995) 44 As 20 regiões administrativas projetadas em sete Áreas de Desenvolvimento Regional (ADRs) constituíram a base espacial do Plano Ceará Melhor (1992/1995) (MAPA VII), que não chegou a ser publicado. A compartimentação do território, realizada sem critérios técnicos ou científicos, formava, em alguns casos, regiões de características físicas, sociais e econômicas díspares, porém tratadas por diversos órgãos como unidades de planejamento. A política de interiorização previa a dotação, em cada ADR, de infra-estrutura econômica e social compatível com as potencialidades e carências. Apesar da continuidade das políticas, que se seguiria com a sucessão dos governos Tasso Jereissati, Ciro Gomes, Tasso Jereissati (1987/2002), o Plano de Mudanças encerra uma fase de planejamento no Ceará, de planos governamentais apoiados em políticas tradicionais, propostas de forma desvinculadas das condições objetivas da administração estadual, em termos técnicos, de gestão e de recursos para seu financiamento. Faltava ao planejamento, a estruturação dos planos a partir de um princípio organizador da ação governamental. As constatações sobre o caminho seguido pelas políticas públicas para uma ação de desenvolvimento regional no Ceará levam à conclusão de que quatro décadas de planejamento estão a requerer uma avaliação da atuação do setor público como fator determinante do desenvolvimento das regiões do Estado. O planejamento governamental de enfoque regional, em muito, ficou nas propostas, quando não representou retrocessos, estando os atuais desequilíbrios espaciais e econômico-sociais do Estado a demonstrar esse fato, conforme consta da abordagem do próximo item desta pesquisa. 2.2.2 Programas estruturantes e a perspectiva de sua contribuição para o desenvolvimento regional A persistência das desigualdades regionais no país, associadas ao desgaste do planejamento e das políticas públicas de desenvolvimento regional, constatados no início da década de 90, levando ao reconhecimento de que não 45 existia consenso do caminho a seguir, fez nascer em 1992, o Projeto ÁRIDAS. Coadunando-se com a visão contemporânea do desenvolvimento, o projeto propunha que o Nordeste devia proceder a uma profunda reorientação de rumos na trajetória da evolução regional, para alcançar o desenvolvimento sustentável. A estratégia do Projeto foi concebida tendo a sustentabilidade como idéiaforça do desenvolvimento do Nordeste. Desta forma, a nova estratégia de transformação da sociedade regional, centrada no homem, como seu agente e beneficiário, tinha como objetivo-síntese o desenvolvimento sustentável, globalmente considerado em suas quatro dimensões: geoambiental – contemplando a utilização racional e conservação dos recursos naturais aliadas à proteção do meio ambiente, patrimônio insubstituível; econômico-social – buscando conciliar eficiência e eqüidade, crescimento econômico com competitividade, inclusão e solidariedade sociais; científico-tecnológico – perseguindo eficaz interconexão entre o conhecimento e a inovação, com a aplicação de tecnologias voltadas para a competitividade e a conservação dos recursos naturais; político-institucional – incorporando o modelo de gestão integrada e descentralizada, envolvendo ação “concertada” das esferas pública e privada da qual resultem parcerias interinstitucionais, participação da sociedade e universalização da cidadania. Adotando os mesmos delineamentos estratégicos, o governo do Ceará concebeu o Projeto ÁRIDAS – Ceará – 2020, com o mesmo objetivo central de elaborar uma estratégia de desenvolvimento sustentável, neste caso, para o Estado. Assim, o Plano de Desenvolvimento Sustentável (PDS) 1995-1998 (MAPA VIII) representou um marco no planejamento do Estado ao introduzir uma proposta de desenvolvimento do Ceará de consolidação no longo prazo, objetivando conferir ao Estado uma base física e econômico-social para superação de problemas estruturais. 46 Fonte: PDS. MAPA BASE IPECE Mapa VIII: Plano de Desenvolvimento Sustentável (PDS) 1995/1998 47 O Plano, na perspectiva do objetivo definido pelo Projeto ÁRIDAS, estabeleceu como visão de futuro o alcance do desenvolvimento sustentável, no horizonte do ano de 2020. Isso se expressa no seu objetivo - síntese: tornar o Ceará desenvolvido no prazo de uma geração, de forma consistente com a melhora, no curto prazo, na qualidade de vida de todos os cearenses. Na busca desse objetivo, organizou a ação do Governo em cinco vetores de intervenção, composto por projetos prioritários, qualificados de estruturantes. São esses vetores: Proteção do Meio Ambiente, Reordenamento do Espaço, Capacitação da População, Geração de Emprego, Desenvolvimento Sustentável da Economia e Desenvolvimento da Cultura, Ciência, Tecnologia e Inovação. Os documentos oficiais (discursos, Mensagens à Assembléia Legislativa) registram que a recuperação da capacidade fiscal e o aumento da eficiência da gestão pública nos períodos entre 1987 e 1994 foram decisivos para a definição de grandes programas. Conceitos como os de desenvolvimento sustentável e de projetos estruturantes embasaram a nova concepção de planejamento. A sustentabilidade incorpora ao conceito de desenvolvimento, a visão de longo prazo, priorizando as relações do homem com os recursos naturais, de modo a racionalizar o seu uso e a maximizar seus efeitos sobre a renda e o trabalho, e integrando as várias dimensões estruturadoras de uma sociedade. Como conceito basilar, desenvolvimento sustentável será discutido no próximo item deste trabalho. O Plano reconheceu a necessidade de aperfeiçoamento da gestão pública, para atuar no longo prazo, estabelecendo um modelo de gestão participativa com base em mecanismos de coordenação para integração interna do Governo e de mediação Governo-Sociedade. No âmbito desse modelo foram criados os Conselhos Regionais de Desenvolvimento Sustentável, em 1995, nas 20 regiões administrativas, estabelecidas em Lei, cujo papel inicial foi indicar prioridades para o Plano Plurianual 1996-1999. A regionalização definiu-se a partir da Região Metropolitana de Fortaleza e as demais regiões tiveram como parâmetros para sua conformação as potencialidades naturais, a solidariedade social e a polarização em torno de um centro urbano. 48 O conceito de programa estruturante expressa-se no Plano de Desenvolvimento Sustentável, nos pressupostos orientadores da formulação desses programas. Inicialmente, a visão de longo prazo, tendo como horizonte 2020; a projeção de cenários macroeconômicos, reconhecendo a responsabilidade do Governo, não só como provedor de infra-estrutura básica ao desenvolvimento integrado, mas, sobretudo de mobilizador de recursos e iniciativas da sociedade para potencializar a geração de emprego e renda. Neste aspecto são enfatizados o estímulo seletivo a segmentos com forte efeito multiplicador sobre o emprego para crescimento da renda interna e a prioridade de capacitar a população e qualificar a força de trabalho. Por sua vez, o reconhecimento dos grandes desafios - degradação ambiental, baixa capacitação da população, desequilíbrio na ocupação do espaço, vulnerabilidade e falta de sustentação da economia estadual, atraso cultural, científico e tecnológico, e política de clientela e estado patrimonialista – das potencialidades e restrições nortearam a concepção dos programas, apontando para a superação de questões estruturais e fortalecimento das bases para o desenvolvimento, estruturantes exprimem a que sua se pretende condição sustentável. de suporte à Os programas perspectiva de desenvolvimento do Ceará no século XXI. Programa estruturante assume, por conseguinte, como definição, para o enfoque desse trabalho: conjunto de ações articuladas que concorrem para dotar o Estado de base física, econômica e social indutoras do desenvolvimento, constituindo-se em vetores para estruturação de atividades promotoras de trabalho e renda, sustentáveis no longo prazo. A estratégia proposta consubstanciou também o Plano de Desenvolvimento Sustentável (PDS) 1999-2002 (MAPA IX), consolidando o Novo Ceará, priorizando a continuidade da implementação dos programas estruturantes e definindo programas complementares, numa proposta de desenvolvimento integrado. O objetivo-síntese do Plano de Avançar no Crescimento Econômico com Desenvolvimento Social pressupunha atuar através de quatro opções estratégicas. A primeira, de Capacitar a População para o Desenvolvimento, baseava-se na elevação do seu perfil educacional e da qualificação profissional para o trabalho. A 49 segunda opção estratégica voltava-se a Avançar no Crescimento Econômico apoiado no incremento do potencial do turismo, da agricultura irrigada de alto valor agregado, de diversificação e descentralização dos investimentos industriais, na modernização da agricultura tradicional, desenvolvimento da indústria cultural e fortalecimento da infra-estrutura estratégica para o desenvolvimento. A opção estratégica de Melhorar a Qualidade de Vida da População relacionava-se com o equilíbrio das ações de preservação ambiental e garantia do acesso aos serviços básicos de educação, saúde, habitação, saneamento básico, assistência social, segurança, cultura e lazer. Garantir a Oferta de Água e Convívio com o Semi-árido, constituía a quarta opção estratégica e tinha como principal objetivo aumentar a oferta regularizada de água no Ceará. As ações na área da gestão pública assegurariam as condições para realização das estratégias em que teve destaque, a reforma do Estado. Articulando a abordagem dos Planos com o tema desenvolvimento regional, cumpre destacar que a política pública contida nos dois destacados planos trazia implícita uma forte contribuição ao reordenamento do espaço, com a prioridade concedida ao turismo, agricultura irrigada, desconcentração espacial da indústria, construção de uma infra-estrutura hídrica e logística de transportes para o desenvolvimento, além do fortalecimento da estrutura urbana estadual. Todas essas intervenções governamentais pressupõem a definição das áreas potenciais e estratégicas para sua atuação, contribuindo assim, para uma nova conformação do território cearense. O atual Plano de Governo 2003-2006 intitulado por seu objetivo–síntese Ceará Cidadania – Crescimento com Inclusão Social, definiu programas e projetos estruturantes. “São programas e projetos prioritários, capazes de induzir novos investimentos produtivos e reduzir desigualdades regionais e sociais” (p.17). 50 Fonte: PDS I. MAPA BASE IPECE Mapa IX: Plano de Desenvolvimento Sustentável 1999/2002 - Consolidando o Novo Ceará 51 Estruturado em quatro Eixos de Articulação – Ceará Empreendedor, Ceará Vida Melhor, Ceará Integração e Ceará – Estado a Serviço do Cidadão, esse plano avança na política de promoção do desenvolvimento local e regional. O primeiro Eixo está focado no estímulo à exportação, na consolidação do Ceará como destino turístico preferencial, no desenvolvimento do meio rural, no estímulo à capacidade de inovação das empresas, no fortalecimento da infra-estrutura e no apoio à atividade mineira em base competitiva. O Eixo Ceará Vida Melhor propõe uma ação integrada de governo para provimento dos serviços públicos com qualidade, sobretudo às camadas mais vulneráveis da população assegurando melhor acesso à saúde, educação, segurança, emprego, renda e demais serviços que condicionam uma qualidade de vida desejável. Eixo Ceará Integração retoma o enfoque territorial como resposta aos desafios da globalização e da integração econômica dos mercados. Constitui-se numa alternativa de desenvolvimento inserida no objetivo do governo de dinamizar a economia do Ceará, desconcentrando o processo de urbanização, minimizando as disparidades entre as áreas metropolitanas e não metropolitanas, privilegiando a criação de oportunidades de trabalho e renda de forma mais equilibrada. Por fim, reestruturação e modernização institucional, definição, acompanhamento e avaliação de metas e indicadores de inclusão social, gestão compartilhada, participação e controle social, descentralização e integração regional e aperfeiçoamento das ações de finanças e de controle são ações que caracterizam o Eixo Estado a Serviço do Cidadão. Cumpre salientar que, para formulação da proposta de desenvolvimento regional mencionada, retoma-se o sistema de hierarquização de cidades (MAPA X), com forte ênfase, na perspectiva de desenvolvimento do Interior, o que há cerca de mais de 20 anos constituía a visão territorial do II PLAMEG (1979-83), no entanto, sem uma retrospectiva da trajetória já registrada. O avanço evidenciado na condução da atual política no Estado foi a elaboração de Planos de Desenvolvimento Regional – PDRs de cinco regiões de interesse estratégico para o desenvolvimento estadual: em 2001, o do Maciço de Baturité, por solicitação da própria região e, em 2003, das regiões do Vale do Coreaú/Ibiapaba, Vale do Acaraú, Baixo Jaguaribe e Centro-Sul/Vale do Salgado. Neste sentido, AMARAL FILHO (2005) escreve que a abertura das economias e a globalização induziram os governos estaduais a um papel mais 52 importante em seu processo interno de desenvolvimento, levando à adoção de estratégias estaduais diversas, que variaram em função da capacidade de percepção das elites e formuladores de política locais, e relativamente à complexidade dos problemas e desafios. A despeito de reconhecer o esforço do governo do Ceará na construção de uma infra-estrutura necessária ao novo processo de desenvolvimento e de estimular a aceleração dos investimentos em eixo dinâmico da economia, como o industrial, nos últimos quinze anos, salienta a persistência do quadro de desigualdades social e setorial, que se repercute nos desequilíbrios entre a capital e o interior estadual. Com base nessa análise, o autor frisa a definição pelo governo estadual, de uma política explícita de desenvolvimento local e regional, resultado das ações desenvolvidas no último governo Tasso Jereissati e concretizadas no atual governo Lúcio Alcântara, com a criação da Secretaria do Desenvolvimento Local e Regional. A política conjuga a estratégia de estruturação de uma rede de cidades intermediárias no interior do Estado, com outra de caráter econômico e institucional, visando o fortalecimento do tecido socioeconômico, no qual o capital humano, o capital social e as micro e pequenas empresas, espacialmente organizadas em Arranjos Produtivos Locais – APLs, são focos dos programas, projetos e ações. Principais programas estruturantes Os principais programas estruturantes implantados ou em implantação apontam para um redesenho do território estadual. Integram uma proposta de política de desenvolvimento no longo prazo e definidos a partir de 1995 e vêm tendo continuidade por três gestões. Portanto, compõem os Vetores do Desenvolvimento Sustentável (1995-1998), as Opções Estratégicas e Macroobjetivos de Governo (1999-2002) e os Eixos de Articulação (2003-2006), com diferentes nomenclaturas. O Programa de Desenvolvimento dos Agropolos, com forte vertente regional, priorizou seis áreas com maior potencial de irrigação, visando o aproveitamento de bacias hidrográficas com ocorrência dos solos mais férteis do Estado e áreas de chapadas. Conforme se discutirá melhor neste trabalho, os Agropolos são: Baixo Acaraú, Ibiapaba, Metropolitano, Baixo Jaguaribe, Centro-Sul e Cariri. Têm como objetivos específicos a identificação de tecnologias de produção 53 agrícola irrigada, o aumento do emprego e renda rurais e a formação de uma cultura do agronegócio. O Programa de Atração de Indústria mudou o perfil da economia do Estado, tornando-o industrializado. Estudo do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE) acusa que, em 2002, existiam 27 municípios no Ceará com predominância do setor industrial em suas economias (acima de 25% do PIB). No período de 1995 a 2002, instalaram-se 345 unidades industriais em municípios da área metropolitana e do Interior. O Ceará figura, hoje, como o segundo pólo têxtil do Brasil, o primeiro centro de produção metal-mecânica do Norte e Nordeste e como o terceiro pólo calçadista do país, em função das plantas dessa indústria instaladas no Interior estadual. A política de recursos hídricos implanta uma nova geografia no Estado, com a construção da barragem do Castanhão, elemento central dessa política, e do eixo de transposição das águas desse açude para o sistema de Fortaleza e para o Pecém, que permitirão o aproveitamento de 40 mil ha de terras através da irrigação e deverá assegurar o abastecimento de uma população superior a 2,7 milhões de habitantes das regiões do Baixo Jaguaribe e Metropolitana de Fortaleza. O aumento da capacidade de acumulação de água saiu de 10,21 bilhões de m³ (1999) para 17,21 bilhões de m³ (2003). No campo da infra-estrutura estratégica, o Aeroporto Internacional Pinto Martins permitiu um incremento da demanda turística, via Fortaleza, de 800 mil passageiros/ano, em 1999, para 1,65 milhão, em 2002. O fortalecimento de Fortaleza, como pólo receptor, e do litoral estadual, foi também conferido pelo Programa de Ação para o Desenvolvimento do Turismo no Nordeste – PRODETUR, com a implantação da via estruturante Costa do Sol Poente interligando seis municípios a Fortaleza por acesso litorâneo – Caucaia, São Gonçalo do Amarante, Paracuru, Paraipaba, Trairi e Itapipoca. Atualmente, o PRODETUR II contemplará o Pólo Costa do Sol no Ceará (MAPA XI). 54 Fonte: Plano de Governo 2003-2006. MAPA BASE IPECE Mapa X: Plano de Governo 2003/2006, Ceará Cidadania – Crescimento com Inclusão Social. 55 O Complexo Industrial-Portuário do Pecém integra a cadeia logística do transporte marítimo e rodoviário do Estado, com potencial para se tornar núcleo de irradiação do desenvolvimento estadual e regional. O fortalecimento da matriz energética do Estado contou com o Programa de Energia Renovável para a implantação dos parques eólicos de Mucuripe (Fortaleza), Prainha (Aquiraz) e Taíba (São Gonçalo do Amarante), e com a instalação do Gasoduto Guamaré - RN/Fortaleza/Pecém (397 km). O Programa de Desenvolvimento Urbano e de Gestão de Recursos Hídricos (PROURB) traduz-se numa política de estímulo à desconcentração de atividades econômicas e serviços básicos, ao objetivar a estruturação de uma rede de cidades estratégicas (44) no Interior do Estado. Em sua concepção, incorporou o papel de fortalecer os municípios para os quais se orientava o fluxo de interiorização industrial e os que seriam suporte aos projetos de agricultura irrigada e de turismo. Numa análise sintética, a política estadual efetivada através dos programas estruturantes da área econômica e de infra-estrutura está conformando dois eixos de desenvolvimento no Estado: um litorâneo, que se estende de Fortaleza ao litoral norte do Estado, adentrando na bacia do Baixo Acaraú e na região da Ibiapaba, através dos respectivos Agropolos, fortalecido pelo PRODETUR, porto do Pecém e Programa de Energia; e um eixo norte-sul, na porção leste do Estado, compreendendo o Baixo e o Médio Jaguaribe, estendendo-se à região Centro-Sul e integrando-se com a região do Cariri, em função da implantação das obras hídricas e dos Agropolos nas três regiões mencionadas. Os pólos prioritários de turismo, que reforçam esses eixos (MAPA XI). 56 Fonte: Programas de Governo. MAPA BASE IPECE 2003 - Organização da autora Mapa XI: Eixos de Desenvolvimento 57 Programa de Desenvolvimento dos Agropolos Contexto O Programa em estudo foi definido como componente da Opção Estratégica de Governo Avançar no Crescimento Econômico, na gestão 1998-2002. No Plano de Governo atual, 2003-2006, integra o Eixo Ceará Empreendedor, tendo sido redenominado de Desenvolvimento do Agronegócio da Agricultura Irrigada. A sinalização da prioridade que seria conferida ao Programa estava expressa no vetor geração de emprego e desenvolvimento sustentável da economia, no período de Governo 1995-1998. “O Estado ingressa, daqui para frente, em um novo estágio de enfrentamento dos grandes desafios para corrigir as distorções estruturais e espaciais acumuladas e dar lugar ao aumento da renda e sua redistribuição, com a conseqüente melhoria na qualidade de vida”. (Plano de Desenvolvimento Sustentável 1995-1998, p. 9). O reordenamento do espaço contemplava o planejamento regionalizado das ações governamentais, a interiorização do desenvolvimento da indústria e dos serviços, a redistribuição da infra-estrutura de transporte, energia e comunicações e o desenvolvimento urbano. Desta forma, o vetor de desenvolvimento se traduzia nas ações espacializadas do planejamento setorial, não em um planejamento a partir das regiões. Transferia-se à política dos setores estratégicos o papel de promoção de uma política de desenvolvimento dos subespaços estaduais. Assim, expressava o próprio plano, que os pólos agroindustriais poderão significar a “redefinição da geografia humana do Ceará” (p. 28). O necessário avanço no planejamento dos recursos hídricos, permitindo o desenvolvimento da infra-estrutura hidroagrícola e a ampliação da oferta hídrica para abastecimento humano e industrial, era o forte indutor da redistribuição das atividades econômicas e do ordenamento urbano no espaço estadual. A ampliação da base econômica primária do Estado, como pré-condição para a geração de renda e trabalho, devia apoiar-se no aproveitamento do potencial irrigável associado à agroindústria, além da modernização da agricultura tradicional. No tocante a essa questão, o Plano (1995/1998) ressalta o potencial cearense de área irrigável, superior a 300 mil hectares, e o seu aproveitamento associado ao 58 processamento industrial e comercialização. Expressa textualmente – “Os pólos agroindustriais terão o papel de aumentar a produção agrícola com produtos de alto valor e de incentivar via os efeitos de encadeamento o desenvolvimento regional no Interior do Estado” (p. 47). Essa afirmação constitui importante parâmetro para as discussões e conclusões sobre o Programa de Agropolos, como projeto estruturante prioritário da política governamental do Estado. O Plano Consolidando o Novo Ceará (1999/2002) considerando que o Estado continuaria a basear seu crescimento nos seus principais ativos, como as condições naturais, a opção estratégica econômica conferia prioridade a setores com vantagens comparativas, como a agricultura de alto valor agregado. A modernização do setor primário cearense, portanto, como política pública, se respaldou na opção pela agricultura irrigada, sob a ótica do agronegócio, baseada, sobretudo, na vocação do Estado para a fruticultura. O Governo do Estado passou a assumir um novo papel no setor da agricultura cearense, definindo estratégias para atuar na gestão da política de irrigação, visando fomentar agronegócio de alto valor agregado. Contrastando com a Secretaria de Desenvolvimento Rural, com responsabilidade de atuar no desenvolvimento da agricultura tradicional, é criada a Secretaria da Agricultura Irrigada (SEAGRI) ao encerrar o ano de 1998. O Governo do Estado define-se por uma política de intensificar investimentos e articular parcerias públicas e privadas, para inserção competitiva dos agronegócios cearenses da agricultura irrigada nos mercados local, regional e internacional, conferindo força política à nova instituição. Programa Competitividade, Cearense trabalho da publicado Agricultura pela Irrigada SEAGRI - Irrigando (2000), para caracteriza a as potencialidades da agricultura irrigada no Ceará, considerando primeiramente, as tendências dos mercados mundial e nacional de frutas e enfatiza as vantagens comparativas naturais, adquiridas e a serem construídas. Salienta que a tendência de crescimento das exportações mundiais de frutas alia a preocupação do consumidor externo com a saúde e estética e o aumento da demanda por produtos primários das economias carentes ou em transição. 59 Embora o Brasil se caracterize como o terceiro maior produtor mundial de frutas (após China e Índia), seu desempenho como exportador ainda é baixo. No entanto, há potenciais promissores de mercado. Como enfatiza o referido trabalho, a sofisticação da demanda dos consumidores, buscando dispor de frutas frescas o ano inteiro, criou e vem ampliando a exportação de longo curso em função da demanda de espécies de clima temperado durante o período de entressafra nos países do hemisfério Norte, o mercado das frutas “fora de época”. Esses consumidores dos mercados importadores, ao mesmo tempo, têm sido receptivos a novas variedades, abrindo espaços para as frutas tropicais, a exemplo do que ocorreu na Europa, nos anos 60, com o abacate de Israel, nos anos 70, com o kiwi da Nova Zelândia, com a papaia brasileira, nos anos 80, e no final da década passada, com a gama de frutas exóticas colombianas. A adesão do mercado americano, por razões inclusive comerciais, é mais recente, mas opera-se rapidamente, como foi o caso da manga no final dos anos 80 (PROCEAGRI, 2000). O governo respalda a política de incentivo ao agronegócio, nas amplas perspectivas de mercado, uma vez que as frutas brasileiras ainda são pouco conhecidas na Europa e nos Estados Unidos, e o esforço promocional iniciado pelo governo brasileiro, em 1998, com atuação também dos estados, vinha sendo fortalecido. O Programa Cearense de Agricultura Irrigada (PROCEAGRI) apóia-se também, no fato de que no mercado nacional, vislumbram-se como oportunidades para a fruta do Ceará, a expansão da demanda nos mercados do sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), tradicionalmente consumidora de frutas temperadas e o abastecimento do parque agroindustrial de sucos, doces e outros processados, que está operando com capacidade ociosa, por falta de matéria-prima. As vantagens comparativas naturais – temperaturas, intensa luminosidade e baixa umidade relativa do ar – favorecem o maior controle sobre as varáveis que influenciam a produção, permitindo múltiplas safras anuais e produtividades elevadas. Conjugam-se com esse potencial as condições edafo-climáticas propícias à produção de variedades, em particular, de frutas e flores, com um potencial de áreas aptas estimado em 300 mil hectares, a proximidade dos grandes mercados da Comunidade Européia e dos Estados Unidos e a disponibilidade de mão-de-obra para atividades agrícolas, agroindustriais e de serviços. 60 As vantagens denominadas adquiridas na literatura oficial do governo estadual, no período recente, estão relacionadas como: o aumento da capacidade de armazenamento de água em mais de cinco bilhões de metros cúbicos com a construção do açude Castanhão, cerca de 50 mil ha de projetos públicos de irrigação a serem explorados com métodos mais eficazes de produção e gestão, infra-estrutura de transporte ampliada, estrutura agroindustrial, sistema de gerenciamento de recursos hídricos e estruturas de ensino tecnológico e de formação profissional no Interior do Estado. Por fim, o Governo estadual tem um aparato institucional para apoiar a competitividade do agronegócio com ações relacionadas ao marketing, distribuição e aquisição dos insumos e serviços de apoio à produção, pós-colheita, processamento e comercialização dos produtos. O Plano de Governo da atual gestão Ceará Cidadania condensa no Eixo Ceará Empreendedor, sua política para os setores da economia. O fortalecimento do agronegócio da agricultura irrigada é objetivo–meio para Promover o Desenvolvimento do Meio Rural, apresentado como objetivo estratégico do referido Eixo. Aponta linhas de ação para a consolidação dos Agropolos com desenvolvimento do agronegócio, em que se destacam: a gestão eficaz da água nos projetos de irrigação, a eliminação de gargalos tecnológicos e comerciais, a integração dos agentes produtivos, a inserção dos produtos, em larga escala, nos mercados consumidores, a dotação de infra-estrutura e logística necessárias à competitividade das cadeias produtivas, a promoção do desenvolvimento da agroindústria, as ações de rigoroso controle da defesa fitossanitária das lavouras e produtos e o apoio aos arranjos produtivos entre produtores rurais. Agropolos como indutores do desenvolvimento regional Os programas estruturantes, quando da sua concepção inicial, compunham os vetores de desenvolvimento, dentre os quais, a geração de emprego e desenvolvimento econômico sustentável, cuja estratégia destacava o desenvolvimento rural, com foco econômico de combate à pobreza. Conjuga essa estratégia os objetivos de resolver problemas econômico-sociais das comunidades rurais do Interior e de aumentar, de forma acentuada, os índices de produtividade e 61 de reduzir as flutuações anuais da produção, identificados como pontos críticos da agricultura no semi-árido. O grande resultado estabelecido pelo governo do Ceará com a criação da SEAGRI inovando a gestão da agricultura irrigada, foi garantir competitividade aos agronegócios cearenses para assegurar a conquista dos mercados mundiais: “o governo desempenha papel de articulador e indutor das atividades públicas e privadas, criando um ambiente institucional capaz de maximizar os talentos humanos e financeiros e a infra-estrutura consolidada pelo 4 Governo do Estado” (Irrigando para a Competitividade) . O PROCEAGRI foi a ação inicial para a efetivação da política proposta pela SEAGRI. Tinha como papel principal a centralização das macropolíticas para o setor, porém com processos descentralizados. Envolvendo gestão tecnológica, organização da produção, promoção comercial, capacitação e infra-estrutura, representou uma proposta abrangente de atuação do governo para o setor. Na sua definição compreendia o Programa de Desenvolvimento dos Agropolos, com foco principalmente na produção para o mercado externo, e o Programa Caminhos de Israel, voltado para apoiar a pequena irrigação. O Programa de Desenvolvimento dos Agropolos, integrante, assim, do PROCEAGRI, representa a moderna estratégia para o desenvolvimento da agricultura irrigada. Cobre uma área de 80 municípios e potencializa a produção agrícola nos seis Agropolos (MAPA XII), atualmente assim definidas: acerola e maracujá, hortaliças e flores na Ibiapaba; abacaxi, banana, mamão, manga, maracujá, melão e uva no Baixo Acaraú; ata, banana, coco verde, goiaba e graviola, no Metropolitano; abacaxi, banana, goiaba, manga e uva no Cariri; abacaxi, banana, mamão, manga, melão, pinha e uva no Baixo Jaguaribe; e a substituição de cultura tradicional por produto de alto valor agregado, banana e goiaba no centro-sul do Estado. 4 Lema do PROCEAGRI – Programa Cearense de Agricultura Irrigada. 62 Fonte: IPECE. MAPA BASE IPECE 2003 - Alteração no Agropolo Baixo Jaguaribe – da autora Mapa XII: Agropolos de Desenvolvimento Agrícola - 2003 63 Com uma metodologia de atuação baseada na integração dos agentes produtivos, as ações do programa envolvem um trabalho de articulação institucional, organização de produtores, apoio ao agronegócio e desenvolvimento tecnológico para implementar o aumento da área irrigada, das exportações, introdução de novas culturas, elevação do padrão tecnológico da fruticultura e geração de emprego e renda. Constituiu-se eixo do programa o trabalho de atração de investimentos, marketing e comercialização, com a divulgação no país e no exterior das oportunidades de negócios na agricultura irrigada do Estado. Valeu-se o Programa de tecnologias de irrigação e de gestão como instrumentos básicos para modernizar, diversificar, agregar valor aos produtos e dinamizar a atividade. O Plano de Governo Ceará Cidadania – Crescimento com Inclusão Social (2003-2006), no Eixo Ceará Empreendedor redenomina o Programa de Desenvolvimento dos Agropolos para Desenvolvimento do Agronegócio da Agricultura Irrigada cujo objetivo é a redução de entraves tecnológicos, de mercado e de assistência creditícia, e o acesso à infra-estrutura básica e logística adequada, o apoio aos arranjos produtivos e a integração com o segmento agroindustrial. É importante frisar, que o objeto dessa pesquisa é a análise, para avaliação dos efeitos da política de desenvolvimento dos Agropolos de agricultura irrigada, definida quando da criação da SEAGRI. A visão ampliada, trazida pelo último plano de governo é de Agropolos dos diversos agronegócios, em função da estrutura da SEAGRI atual, que incorporou novas competências, com a junção com a Secretaria do Desenvolvimento Rural, passando a ser Secretaria da Agricultura e Pecuária. Os Agropolos cearenses, notadamente os que possuem maior suporte de infra-estrutura hídrica, sobretudo o do Baixo Jaguaribe, apresentam potencial para chegar a transformar-se em um novo foco de dinamismo da economia regional, definindo diferente trajetória na dinâmica econômica local. É com base nessa perspectiva, portanto, que a análise desse Agropolo constitui estudo de caso deste trabalho. 64 A visão até aqui apresentada é a da moderna política agrícola voltada à exportação do Governo brasileiro e da proposta de desenvolvimento da agricultura irrigada no Estado, no contexto do planejamento recente. O objetivo foi apresentar o agronegócio como prioridade para fortalecimento da estrutura econômica e modernização do setor primário estadual, ficando evidente que sua viabilização só se operacionaliza em bases empresariais. O Interior estadual, no entanto, caracteriza-se pela sua incipiência e atraso, em função dos baixos indicadores sociais, em especial os níveis educacionais da população. Se os resultados da modernização agrícola no Ceará já são perceptíveis nos indicadores regionais, sobretudo econômicos, e que mudanças esses indicadores apontam na trajetória do desenvolvimento regional, é o que se buscará investigar. 65 3 CEARÁ NA VISÃO DO DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL 3.1 Desenvolvimento do semi-árido na formação histórica do Ceará A expressão que o binômio gado-algodão assumiu historicamente na economia cearense e na ocupação do território estadual explica, até hoje, a dependência que tem a economia do Ceará em relação ao setor primário, para ocupação da força de trabalho residente no Interior. “Sendo colonizado a partir do deslocamento de correntes migratórias oriundas das regiões açucareiras da Bahia e de Pernambuco, o Ceará, encontrou na pecuária sua principal atividade econômica, além de pequenas lavouras de subsistência no Interior da fazenda voltada à pecuária” (SILVA, 1995, p. 81). Destaca também o autor que, posteriormente, o algodão passou a assumir papel de destaque na economia cearense fomentado pelo surgimento das economias primário-exportadoras. Citando CAIO PRADO (1979), salienta que o algodão, produto nativo da América, inclusive do Brasil, já era utilizado pelos indígenas antes da chegada dos europeus. Porém, somente quando adquiriu importância no mercado internacional, tornou-se uma das principais riquezas da Colônia. “O algodão ligado à pecuária encontrou nesse aliado a base de sua fixação e sustentação no sertão nordestino” (SILVA, 1989: p. 81). A pecuária extensiva, utilizando mão-de-obra livre (a escrava era importada e, portanto, cara), não oferecia vantagens no sertão, onde as terras permaneciam secas por grande parte do ano. Como atividade básica para garantia da mão-de-obra necessária para o cultivo do algodão, a pecuária se consorcia com essa cultura, o que permite sua disseminação no sertão do Nordeste. Desta forma, evidencia o autor que a pecuária tornou-se uma das atividades mais importantes para organização do espaço cearense, fato relevante para um Estado que tem 93% de sua superfície contida na área definida como “Polígono das Secas” (SILVA, 1995, p. 83). Concorreram para essa realidade alguns fatores históricos e econômicos: a intensificação da ocupação do Interior da região Nordeste devido o domínio holandês no litoral (1637 a 1654), com a conseqüente decadência da economia 66 canavieira; a expansão do povoamento através de novas fazendas, uma vez que o trabalhador da fazenda de gado, ao final de um período em torno de quatro anos, tinha direito a uma entre cada quatro cabeças de novos bezerros (FURTADO, apud SILVA, 1989); o papel da pecuária para a atividade açucareira da Zona da Mata, através do fornecimento de animais para o trabalho e para o abastecimento de carne e couro a várias cidades, haja vista a proibição da criação de gado no litoral; a criação de um mercado de “carne de sol”, substituindo o “gado em pé”, que perdia muito peso ao deslocar-se na direção do mercado consumidor, possibilitando a larga utilização do couro no Interior cearense (SILVA, 1995, p. 85). SILVA (1995) chama atenção para o fato de que embora sendo a pecuária e a cultura do algodão as bases econômicas da Capitania, a produção algodoeira assume feições comerciais mais evoluídas, compatíveis com o que se verificava na metade do século XIX, para o que concorreu os estímulos externos representados pela Revolução Industrial (progressos técnicos, máquinas), Guerra de Secessão americana e queda da produção de outros fornecedores. A criação de gado e o algodão foram, também, responsáveis pelas primeiras atividades ligadas às transformações industriais, bases do desenvolvimento urbano de Fortaleza. O início do período fabril com a instalação da indústria têxtil e o aproveitamento do couro, com a instalação de curtumes, firmaram Fortaleza como centro coletor, beneficiador e exportador de produtos ligados à economia agrária. A existência de extensas áreas no Interior estadual desprovidas de centros urbanos intermediários e a ausência de áreas agrícolas no entorno de Fortaleza exigiram que a cidade coletasse a produção do Interior e até de áreas adjacentes dos estados vizinhos, o que ocasionou um rápido crescimento de sua população. Alterações significativas deram-se na economia cearense a partir de 1930, após a crise da “grande depressão” mundial, com a política de diversificação da agricultura do centro-sul do país, pela introdução de novos cultivos, entre eles o do algodão. A entrada do capital no campo, nessa região, e a rápida capacidade do produtor sulista atender às necessidades do mercado internacional com uma diversificação de produtos (algodão, amendoim, soja) produzindo para as grandes empresas, resultaram na perda de poder do Nordeste em termos econômicos e nas decisões nacionais. 67 Segundo ainda, a interpretação de SILVA (1995, p. 91), a pecuarização da economia sertaneja, fomentada por ajuda oficial, provocando a entrada do grande capital no campo e o aumento de áreas de pastagens, significaram a gradativa redução das áreas destinadas ao algodão, enquanto outras lavouras voltadas para exportação ocupavam largas faixas do litoral e porção dos vales e serras úmidas. Desta forma, processava-se paulatinamente, a organização do espaço cearense. 3.2 Mudanças estruturais na economia cearense A despeito das adversidades climáticas e das condições dos solos que caracterizam a maior parte do Interior cearense, impondo pesadas restrições ao crescimento econômico, o gado e a agricultura constituíram a base econômica tradicional dessa região. Contudo, uma tendência, de longo prazo de decréscimo da agricultura na economia, sentida mais fortemente nas últimas décadas, constata estrangulamentos do setor no processo de desenvolvimento do Interior. BAR-El (2002), em trabalho publicado pelo governo estadual - Reduzindo a Pobreza através do Desenvolvimento Econômico do Interior do Ceará - faz uma leitura dessa realidade econômica. Com efeito, analisa que a participação da agropecuária no total da ocupação das atividades econômicas no Estado vem decrescendo de forma rápida, tendo passado de 60% em 1970 para 44% em 1980. Dados da PNAD (IBGE) confirmam que essa participação reduziu-se para 35,5% em 1998 (ano de seca) e, segundo os dados mais recentes (PNAD, 2002), caiu para 30,1%, a contribuição do setor primário na ocupação da força de trabalho cearense. Ressalte-se, no entanto, que esse decréscimo se dá a um ritmo mais lento do que a participação desse setor na formação do produto estadual (PIB). Embora as instabilidades climáticas se reflitam nos dados estatísticos, no Ceará, os anos apresentados na Tabela 1 mostram uma média da situação no período e podem ser considerados representativos como tendência no longo prazo. 68 Tabela 1: Distribuição da população ocupada e do PIB por setores econômicos - Ceará - 1985/2002. SETORES 1985 1990 1998 2002 % no PIB Agricultura 15,32 12,13 5,32 6,05 Indústria 34,01 33,75 37,44 36,76 Serviços 50,67 54,12 57,24 57,18 % na PEA Agricultura 41,00 33,33 35,51 30,74 Indústria 20,74 19,40 17,56 20,72 Serviços 36,66 46,02 45,85 44,00 Outros 1,60 1,25 1,10 4,53 Fontes: Plano de Governo do Estado do Ceará - 1999/2002. Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais.. Em 2002 dados sujeitos à revisão. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios / IBGE - 2002.. A TABELA 1 evidencia assim, que o decréscimo da participação da agricultura na economia estadual se dá de forma mais intensa ainda na sua capacidade de geração do PIB estadual, que se reduziu de 15,3% em 1985 para 6,1% em 2002, significando uma queda nessa participação superior a 50%. A diferença entre o comportamento da participação da agricultura na ocupação e no valor adicionado da economia (PIB a preços básicos) é oposta à prevista num processo de crescimento econômico com desenvolvimento. Espera-se com o crescimento da produtividade e melhoria tecnológica em uma economia em desenvolvimento, um conseqüente decréscimo na participação da agricultura na ocupação, mais rápido do que no produto interno. No entanto, os dados testemunham fortemente a ausência de uma adaptação do setor agrícola ao processo de crescimento econômico no Ceará. Uma parcela significativa da mão-deobra excedente da agricultura não encontra trabalho alternativo em outros setores e permanece no setor agrícola, na realidade, numa forma de desemprego disfarçado, condicionando os baixos níveis de produtividade do setor. A par dessas constatações, cabe no presente trabalho, uma referência às políticas e linhas de ação governamentais adotadas nos últimos anos, no sentido do enfrentamento e superação da baixa capacidade de resposta do setor agrícola. 69 Cumpre destacar a pressão que ainda representa no Ceará, uma população de 1,1 milhão de pessoas com ocupação dependente da agricultura (PNAD, 2002) vivendo em áreas de semi-aridez, que caracterizam o Interior estadual. Para correção dessas desigualdades, as políticas públicas no Ceará, expressas nos Planos de Governo (1995-2003) traduziram-se por: estratégia de desenvolvimento rural, com foco econômico e de combate à pobreza; ampliação da base econômica primária do Estado, baseada no aproveitamento do potencial irrigável associado à agroindústria, além da modernização da agricultura tradicional; programas integrados para permitir a expansão da agropecuária simultaneamente com a evolução dos setores da indústria e dos serviços; organização fundiária; aumento da produtividade das culturas; assistência técnica, geração, adaptação e transferência de tecnologia, beneficiamento de produtos agropecuários e criação de oportunidades de trabalho não agrícola. Um novo enfoque mais específico para agricultura irrigada foi implantado pelo governo do Ceará em virtude da parceria com o governo federal na gestão dos programas de irrigação. Nesse caso, incluíam-se os projetos de Tabuleiros de Russas e Baixo Acaraú, além do Projeto Jaguaribe/Apodi, que representam quase 25 mil ha disponíveis, em operação e a operar, para serem gerenciados. Além disso, existem 14 mil ha de áreas públicas irrigadas na modalidade de colonização, as quais requeriam reorganização e melhor utilização. Esse diagnóstico motivou a criação da Secretaria da Agricultura Irrigada (SEAGRI), no final de 1998. 3.3 Desigualdades regionais no Ceará O diagnóstico do qual parte esta pesquisa se traduz nas desigualdades regionais verificadas no Estado, tendo como principal característica a supremacia da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) sobre as demais regiões do Interior, em termos populacional e econômico, como centro de negócios e concentrador de fatores de atração de capital e população economicamente ativa, de oferta de serviços de infraestrutura urbana, que se convencionou denominar “macrocefalia”. Essa desigualdade espacial, a um só tempo, contribui para a estrutura desigual da renda, pelo acentuado 70 hiato existente entre a renda da RMF e a do Interior, como é efeito do processo de acumulação capitalista, que pressupõe economias de escalas e, portanto, de aglomeração, concentrando os investimentos e seu retorno e as alternativas de trabalho, inclusive da população menos qualificada, na região da capital do Estado. O problema assume contornos mais evidentes quando se observa que o planejamento estadual prioriza, ou tradicionalmente, é de recorte setorial. O planejamento regional, com uma estrutura institucional própria no âmbito do governo estadual, é recente e data do início da atual administração (2003), com a criação da Secretaria de Desenvolvimento Local e Regional (SDLR). A abordagem espacial do desenvolvimento remete à questão de que o Ceará apresenta problemas estruturais de natureza socioeconômica e espacial. Além dos condicionantes naturais - 93% de seu território situado no semi-árido nordestino, com uma combinação de solos cristalinos, temperaturas altas, chuvas irregulares com constantes secas - o seu processo de formação histórica, ligado à agricultura e pecuária, levaram a uma estruturação econômica fortemente dependente de uma atividade primária de baixíssima produtividade. Em 2002, o setor primário da economia cearense absorvia 30,7% das pessoas ocupadas (IBGE/PNAD), enquanto respondia pela geração de apenas 6,1% do PIB estadual (IPECE-2002). Para os mesmos anos, a indústria alcançou o patamar de 36,7% de representatividade no PIB garantindo a ocupação de 20,7% da população trabalhadora, enquanto o comércio e os serviços 57,2 % do produto da economia, concentrando 44,0% das ocupações, no ano referido. Como reflexo das desigualdades econômicas, os desequilíbrios espaciais não são menos graves. Na área metropolitana residem mais de 55% da população ocupada nos setores de mais alta produtividade, a indústria e os serviços, enquanto na área não metropolitana estão os 96% da população ligada às atividades agrícolas no Estado (IBGE/PNAD-2001). Concorreram para a acentuação das desigualdades regionais o processo de urbanização ocorrido nas últimas décadas no Estado e o pouco estímulo, através das políticas públicas, às regiões mais deprimidas. 71 O estado do Ceará, segundo dados do Censo do Demográfico de 2000, tem uma população de 7.430.661 habitantes, com uma taxa de urbanização de 71,53%. Ressalte-se que essa concentração da população nas áreas urbanas foi resultado da expansão demográfica da RMF e cidades de médio porte em ritmo muito intenso. Sobre este aspecto, o trabalho Macrocefalia de Fortaleza – suas raízes (IPLANCE, 1977) destaca que a urbanização no Nordeste se deu por um processo indutivo da política nacional de formação do mercado interno. Desta forma é que os governos, no período da industrialização brasileira, começaram a incentivar o crescimento via injeção de recursos nas atividades administrativas e promoção do comércio nas capitais e alguns antigos centros. “A urbanização passa a constituir-se então, num fator de adaptação interregional ao processo nacional da economia industrial” (ibid., p. 89), constatando-se deste modo, que a urbanização no Nordeste, e mais especialmente no Estado, precedeu à industrialização. No caso do Estado, essa urbanização deu-se espacialmente muito concentrada em Fortaleza. Antecedentes históricos como a implantação das linhas férreas, no início do século XIX, visando o escoamento da produção agrícola para os portos marítimos e, posteriormente, a industrialização nascente no Brasil, que requereu a expansão da malha viária, integrando o Ceará ao Nordeste e ao país, consolidaram a soberania de Fortaleza no Estado e como pólo comercial distribuidor (período pós 1947). A malha rodoviária convergente para capital e a atração de Fortaleza, pela sua infra-estrutura e melhores condições de vida, como ainda os períodos de seca, intensificaram o fluxo migratório. Esse, por sua vez, por ser um processo seletivo, transfere indivíduos produtivos e capitais das origens esvaziando as regiões do Interior. O crescimento das taxas de urbanização registrado a partir da segunda metade do século passado mostra a intensidade do processo ocorrido. Em 1960, o percentual de população urbana do Estado era de 33,3%, passando à metade da população estadual em 1980, chegando a 63,4% em 1991, e alcançando os atuais 71,5% em 2000 (Censos Demográficos dos referidos anos, IBGE). Enquanto a população do Estado, no período 1980-2000, cresceu a uma taxa de 1,72 % ao ano, a população da RMF experimentou um incremento de 3,23% 72 seguida do segundo maior crescimento (considerando as macrorregiões do Estado), o da região do Litoral Leste, de 1,4 % ao ano. Em 1980, a RMF concentrava 29,9% dos habitantes estaduais, em 1991 essa proporção era de 36,2% e, nesta última década, chegou aos 40,2%. É importante destacar que essa é a proporção observada para o Brasil (40,1%), enquanto as áreas metropolitanas no Nordeste abrigam 36,2% da população regional (IBGE-2000), confirmando o caráter ainda mais concentrador da “metropolização” no Estado (TABELA 2). Tabela 2: Distribuição da população por macrorregiões - Ceará - 1980/2000. População (em 1.000) Participação no Ceará (%) Macrorregião Variação anual (%) 1980 1991 2000 1980 1991 2000 1980/00 Metropolitana 1.580 2.307 2.985 29,9 36,2 40,2 3,23 Litoral Oeste 545 640 720 10,3 10,1 9,7 1,40 Sobral/ Ibiapaba 574 639 737 10,9 10,0 9,9 1,26 Sertão dos Inhamuns 365 373 399 6,9 5,9 5,4 0,45 Sertão Central 527 535 564 10,0 8,4 7,6 0,34 Baturité 177 190 210 3,3 3,0 2,8 0,86 Litoral Leste/Jaguaribe 518 582 590 9,8 9,1 7,9 0,65 Cariri/ Centro Sul 1.003 1.101 1.226 19,0 17,3 16,5 1,01 Total 5.288 6.367 7.431 100,0 100,0 100,0 1,72 Fontes: A Reestruturação Espacial como Componente da Estratégica de Combate à Pobreza Rural – 2002 – SEPLAN / IPLANCE. Tabela 3: Renda média mensal, por grupos de população das pessoas de 10 anos e mais de idade - Ceará - 2002. Grupos selecionados Renda média mensal (R$) Nº de pessoas (milhares) % de pessoas sobre o total Ceará 226 6.044 RMF 329 2.522 42 Urbano 263 4.589 76 Rural 108 1.455 24 Proporções (%) Rural/urbano 41,1 Rural/RMF 32,8 Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2002 - IBGE . 73 O efeito combinado das desigualdades espaciais e econômicas evidenciase nos níveis e distribuição de renda, ilustrados na TABELA 3. As relações entre os níveis de renda auferidos pela população no Estado mostram que no Interior, o setor urbano provê uma renda média quase duas vezes e meia à assegurada pelo setor rural. No entanto, essa renda média urbana corresponde a 79,9% da renda da RMF. A relação que melhor caracteriza as disparidades espaciais é a encontrada entre a renda rural do Interior e da RMF, situando-se em 32,8%. As centralidades de Fortaleza como Metrópole tendem a reforçar-se. Uma análise sobre a tendência de mudanças nos espaços metropolitanos em função do atual processo de reestruturação produtiva dominante no país é apresentada por SILVA (2005 p. 107-108). Nesse sentido o autor visualiza esses espaços como “lugares privilegiados e entrecruzamentos de múltiplos interesses, adquirindo papel e função de nó de rede vital para a dinâmica territorial de um vasto espaço regional”. O viés institucional para tratar a questão tem se mostrado parte do problema. Apesar das diversas abordagens espaciais propostas nos planos de diferentes gestões, a prática do planejamento e da ação, da mesma forma que a estrutura organizacional de governo, é setorial. Isso impede um diagnóstico integrado da questão e a formulação de políticas numa visão do ordenamento espacial do território do Estado, compatibilizada com o desenvolvimento dos subespaços estaduais a partir da afirmação da identidade e das potencialidades regionais. A proposta de intervenção com visão espacial, como se propõe com os Agropolos, estimula a investigação dos efeitos que estão sendo gerados com essa estratégia. 3.4 Região de estudo - Agropolo Baixo Jaguaribe A região que constitui o Agropolo Baixo Jaguaribe definido pelo PROCEAGRI, já referido, abrange 15 municípios situados nas bacias do médio e baixo Jaguaribe. A redefinição dessa área, em 2003, passou a incluir o município de Alto Santo, excluindo o de Banabuiú. Para fins do presente trabalho, considerou-se, 74 no levantamento dos dados regionais, as informações referentes à região composta por dezesseis municípios, incluindo: Alto Santo, Aracati, Banabuiú, Ibicuitinga, Icapuí, Itaiçaba, Jaguaretama, Jaguaribara, Jaguaruana, Limoeiro do Norte, Morada Nova, Palhano, Quixeré, Russas, São João do Jaguaribe e Tabuleiro do Norte. A região de interesse deste estudo, portanto, ocupa uma superfície de 15.428,4 km², o equivalente a 10,75 % do território cearense. Em função da sua importância estratégica para o desenvolvimento do Ceará, em 2003 o governo estadual, através da Secretaria de Desenvolvimento Local e Regional, coordenou a elaboração do Plano de Desenvolvimento Regional (PDR) do Baixo Jaguaribe. A apresentação da formação histórica da região e do ambiente geoambiental, que se seguem, teve esse Plano como fonte de pesquisa. 3.4.1 Formação histórica A evolução histórica da região jaguaribana traduz em seu contexto as diferentes tentativas de inserção do Ceará na economia internacional, desde o século XVII. O PDR buscou demonstrar a importância do rio Jaguaribe no processo de ocupação e colonização de seu vale, inscrevendo-o em três momentos históricos distintos: no século XVII, nas primeiras expedições de exploração do território semiárido cearense; do século XVIII ao XIX, quando da utilização do leito ribeirinho como via de penetração interiorana e propícia ao desenvolvimento dos quatro ciclos econômicos por que passou a região – o da pecuária, das charqueadas, da cotonicultura e da industrialização da cera-de-carnaúba; e do século XX à época contemporânea, quando a ampla exploração do potencial hídrico possível pelos avanços tecnológicos, ensejou a expansão das atividades agrícolas, centrada na fruticultura, para além das áreas de várzea. Como a quase totalidade do norte do território brasileiro, a capitania do Siará Grande, somente no século XVII assistiu às primeiras tentativas de 75 colonização, com o objetivo de explorar o rio Jaguaribe em busca de ouro e prata. As experiências foram marcadas por constantes incursões de holandeses e franceses e pela resistência do gentio à submissão pretendida pelos europeus. Esses fatores aliados às condições de clima hostis, sobretudo para os oriundos de zonas temperadas, retardaram a ocupação lusitana, restringindo-a ao litoral, de forma incipiente, a alguns pontos do Interior, onde se organizaram as missões jesuíticas, e à foz do rio Jaguaribe. Constituindo-se, conforme ressaltado, acesso preferencial aos sertões da antiga província através de sua rede hídrica, bem como área propícia para instalação de colonos, dada à fertilidade do solo aluvial e à presença abundante de água em pontos do seu território, a região jaguaribana assumiu um importante papel na formação histórica do Ceará. No entanto, a economia local passou a consolidar-se somente ao longo do século XVIII, com a atividade pecuária assumindo o papel de principal atividade econômica, utilizando os cursos d’água para condução das boiadas, uma vez que a cana-de-açúcar não se desenvolveu satisfatoriamente na Capitania. A Coroa Portuguesa, ainda no século XVII, adotou como estratégia de ocupação territorial, em face da necessidade da presença da autoridade metropolitana nos sertões cearenses, a concessão de sesmarias, em outras palavras, a doação de terras àqueles determinados a sua exploração e colonização. O número de sesmarias distribuídas ao longo da rede hídrica do vale jaguaribano, se comparado ao total de concessões em toda a capitania, chegou a representar 56%, entre fins do século XVII e primeiro quarto do século XIX (in: PDR Baixo Jaguaribe - Caracterização, p. 7). É assim que o rio Jaguaribe passa a assumir papel destacado no processo de fixação de colonos no Interior da província, quer como importante via de comunicação entre as áreas costeiras e o sertão, quer como área propícia para o desenvolvimento da pecuária e da agricultura de subsistência às margens dos cursos d’água. As dificuldades surgidas em função de prejuízos na comercialização da carne forçaram os proprietários a preparar industrialmente mantas de carne bovina seca e conservada pelo sal conhecidas como charque, capazes de resistir a longas viagens. O PDR, citando GIRÃO (1985 p.138), frisa que tão grande foi o êxito das “fábricas, também designadas charqueadas ou oficinas, que pelo resto 76 do século constitui o principal e quase exclusivo comércio da Capitania – a exportação de carne do Ceará”, fazendo surgir grande número de propriedades ao longo do rio Jaguaribe. O declínio desse ciclo veio com o crescimento da atividade no Rio Grande do Sul e com os efeitos devastadores da Seca Grande (1791-1793). Dois fatores foram decisivos para a reafirmação da economia da região: a crise de abastecimento de matérias-primas para as indústrias têxteis européias, em conseqüência da Guerra de Secessão americana (1861-1865), especializando-se a região no plantio do algodão para fornecimento aos citados mercados e a valorização da cera de carnaúba, na primeira metade do século XX, abundante nas planícies aluviais do rio Jaguaribe, o que levou os grandes e médios fazendeiros a investir na industrialização do produto. A partir da década de 1960 a introdução dos produtos sintéticos para sua substituição acarretou a diminuição do preço da cera junto aos mercados consumidores. Os ciclos econômicos regionais da cotonicultura e cera de carnaúba representaram a primeira e segunda especialização do território jaguaribano para conseqüente integração à produção capitalista internacional. A aptidão regional para fruticultura já se revelou na década de 50, quando as porções da planície aluvial desprovidas de carnaubais foram sendo ocupadas gradativamente por pomares, cuja expansão deveu-se à irrigação, com uso de cata-ventos, das culturas da banana, laranja, limão e ao crescimento dos mercados consumidores de Fortaleza, Mossoró, Natal e Recife. Fundamentais para o escoamento da produção, os sistemas de transportes e de comunicações tiveram melhorias na região. O desenvolvimento da fruticultura nas áreas ribeirinhas foi possível com a modernização agrícola através da introdução de técnicas mais avançadas e eficientes de irrigação, materializando-se, na década de 70, com a implantação dos perímetros públicos irrigados em Morada Nova e Jaguaruana, cuja produção, com diversificação de culturas, objetivava assegurar sustentabilidade às famílias dos irrigantes e do Programa de Valorização do Baixo e Médio Jaguaribe (PROMOVALE). 77 O funcionamento, a partir de 1989, da 1ª fase do projeto Jaguaribe-Apodi, com 2.893 ha, inaugura a exploração agrícola econômica, em áreas não ribeirinhas do vale do jaguaribano. A década de 1990 na região foi marcada pela realização de grandes investimentos públicos em infra-estrutura tecnológica de irrigação e em infraestrutura hídrica na bacia do rio Jaguaribe, abrindo fortes perspectivas para o seu desenvolvimento econômico. Sem dúvida, com a conclusão do Perímetro Irrigado Tabuleiros de Russas (10.700 ha) e do açude Castanhão (6,7 bilhões de m³), com a implantação do Eixo de Integração das bacias do Jaguaribe e Metropolitana (255,9 km), atualmente em construção, a política governamental objetivou dotar a região do Agropolo Baixo Jaguaribe de uma infra-estrutura e logística necessária para atrair grandes investimentos e incrementar o agronegócio. A implementação da política pública visando consolidar a fruticultura irrigada como especialização produtiva do Agropolo Baixo Jaguaribe, possibilitou sua inserção na produção globalizada. A ação governamental tem se dirigido especialmente para as áreas de atração de investimentos, marketing, apoio à comercialização, organização da produção e promoção da inovação tecnológica. No contexto da infra-estrutura existente na região, destaca-se ainda a necessidade de conclusão do Distrito de Irrigação Jaguaribe-Apodi com a operação da 2ª etapa do projeto (2.500 ha) e emancipação do perímetro. Esses condicionantes permitem projetar economicamente a região como um pólo dinâmico no Estado e no Nordeste pela possibilidade de consolidação da fruticultura e de surgimento de novas oportunidades ligadas ao agronegócio, entre as quais, a piscicultura, além do turismo e do lazer. 78 3.4.2 Ambiente natural Procurar-se-á neste item do trabalho descrever o ambiente natural da região, em um quadro conciso e substancial, a partir das informações constantes do Plano de Desenvolvimento Regional do Baixo Jaguaribe. A abordagem enfoca os aspectos relevantes das condições geoespaciais da região relacionadas ao seu uso e ocupação e ao seu aproveitamento econômico. O seu conteúdo técnico baseia-se nos levantamentos do Projeto Radambrasil realizados em trabalhos de campo, a partir de imagens de radar e LANDSAT, em pesquisas bibliográficas, confirmadas em visitas de campo procedidas pela equipe de elaboração do referido PDR. A descrição técnica dos componentes geoambientais do Agropolo de interesse registra as características marcantes de semi-aridez que se impõe a 90% do território estadual. Este tipo climático regional se define pela irregularidade temporal e espacial da pluviometria, associada às altas temperaturas, distinguindose a intensidade de semi-aridez entre os municípios. O clima inclui assim: chuvas no período verão-outono, em curto período chuvoso, com médias anuais variando de 488,9 a 882,75 mm, e período de estiagem altamente instável, em conjugação com regime térmico uniforme e estável de temperaturas elevadas (médias anuais de 26 °C) e baixas amplitudes anuais (5 °C). O verão concentra, em média, 53% das chuvas e o inverno se caracteriza pela ocorrência de meses secos. A irregularidade provoca máximos de estiagem, quando ocorrem secas calamitosas e chuvas excepcionais causando cheias, notadamente na área adjacente ao grande vale fluvial do rio Jaguaribe, hoje controladas pelas grandes barragens do Orós (fora do Agropolo), do Banabuiú e da recente barragem do Castanhão, que se espera controle definitivamente as cheias. No Interior da dominância semi-árida encontram-se zonas úmidas, em vales resguardados e em contrafortes de serras isoladas e da chapada do Apodi, sendo tanto mais expressivas quanto mais associadas ao solo sedimentar permeável e poroso. 79 Sob o ponto de vista geomorfológico, de um modo geral, o relevo da região está conformado a leste pela chapada sedimentar do Apodi e apresenta-se extremamente recortada por vales fluviais e tabuleiros sedimentares de pouco destaque no relevo, em meio a um meio físico de características litológicas cristalinas e sedimentares. As cotas de altitude variam de 13 metros em Itaiçaba a 480 metros no ponto mais elevado. Dentre as unidades geomorfológicas, cabe evidenciar as de interesse do presente trabalho, por sua potencialidade como área Agropolo: a planície fluvial, os tabuleiros costeiros, os tabuleiros sedimentares isolados, no caso o Tabuleiros de Russas e a chapada do Apodi. A planície fluvial do rio Jaguaribe apresenta forma alongada, grosseiramente orientada no sentido norte sul, com maior desenvolvimento para leste até o limite da chapada do Apodi. Todas as áreas de acumulação fluvial foram tradicionalmente, e são intensamente trabalhadas em processos agrícolas de produção, o que vem lhe alterando as características naturais. As pequenas declividades entre as bordas e a calha do rio verificam-se em todo o vale fluvial, no entanto, onde essa declividade aumenta é comum, nas épocas de estio, as águas escoadas e infiltradas descobrirem parcialmente o leito maior sem, porém, descobrir o leito menor no trecho perenizado pelos açudes Banabuiú e Orós. A área de inundação lateral que ocorre sazonalmente em períodos de pluviometria excessiva é descrita como várzea, também conhecida como vazante que se constitui na típica área da planície. É importante ressaltar que a atividade agrícola constante e a açudagem tem impedido o desenvolvimento das planícies fluviais, resultando na redução da própria área fluvial. Os tabuleiros litorâneos ocorrem ao longo do litoral da região e representam os extremos nordeste e centro-norte da área de interesse. O relevo apresenta declives fracos e aplainamento no topo, provavelmente pelo controle eólico e as áreas de fundo acumulam sedimentos fluviais. A cultura do caju é a atividade agrícola predominante nessa Unidade e o ambiente mantém-se estável com baixa vulnerabilidade ao uso e ocupação. São propícios à prática de atividades agropecuárias, ao extrativismo e silvicultura, como seu uso se compatibiliza com a expansão urbana e a implantação de infra-estrutura viária. 80 Predominam na paisagem da região: na quase totalidade dos municípios a mata caducifólia, sobressaindo-se pastagens e culturas temporárias, associadas à exploração pecuária e a atividades agrícolas com métodos tradicionais de produção; as zonas de brejos, aluviões e nos tabuleiros e na chapada do Apodi, as áreas irrigadas, bastante expressivas por sua participação em termos territoriais em Limoeiro do Norte, São João do Jaguaribe, Quixeré, Morada Nova, Russas e Jaguaribara; na parte norte da região destaca-se a vegetação de coqueiros e cajueiros, predominantemente em Aracati e Icapuí, havendo ocorrência de águas salobras nos municípios que sofrem influência marítima – Palhano, Jaguaruana e Itaiçaba – onde se concentram as atividades de carcinicultura. O Agropolo Baixo Jaguaribe diferencia-se das demais regiões do Estado pelo volume de águas superficiais. Somente o açude Castanhão tem capacidade de armazenar 6,7 bilhões de m³ de água, devendo possibilitar mudanças significativas nas características de uso e ocupação do solo em função do desenvolvimento de atividades produtivas Situada no semi-árido, a ocupação da região do Agropolo Baixo Jaguaribe é bastante influenciada pela disponibilidade de água e fertilidade dos solos o que deixa essas áreas mais sujeitas à degradação ambiental. É desta forma, que nas proximidades dos rios, onde se concentram os minifúndios, verificam-se as maiores perdas das características naturais, enquanto no sertão as grandes áreas pouco ou não ocupadas se conservam mais próximas das ambiências naturais. Na zona rural, as condições ambientais estão sujeitas a formas de uso e prática de produção, como queimadas localizadas, e exploração indiscriminada da flora e fauna, devendo ser área preferencial de controle ambiental. Estão entre as zonas impactadas e muito impactadas na região, as áreas de várzea, pela intensa utilização do solo, e a chapada do Apodi com situações de impactação mediana, e tendência a se intensificar, em função da expansão das propriedades para implantação de cultivos irrigados. Áreas de desmatamento recente ocorrem em relevante proporção do município de Morada Nova, além da remoção da vegetação para implantação dos grandes projetos de irrigação. 81 3.4.3 Estruturação regional A região em estudo, embora se destaque como pólo de desenvolvimento no Estado, representa, segundo o Censo Demográfico – 2000 (IBGE), 5,56% da população estadual, com um contingente populacional de 413.425 habitantes. No período 1991-2000 acusou um incremento médio anual de 1,24%, um crescimento, portanto, inferior ao do Interior estadual (1,57%) e de todo o Estado do Ceará (1,73%). Em função do ritmo de crescimento apresentado, dados estimados para 2005 evidenciam uma região com 446.735 habitantes (TABELA 4), representando 5,52% do contingente estadual e 7,8% da população residente no Interior, participações que se reduziram gradativamente em relação aos dois anos censitários. Tabela 4: Indicadores demográficos - Agropolo Baixo Jaguaribe - 1991/2005. Taxa Média Geométrica de Increm. Anual (1991-2000) 2000 (%) 413.425 1,24 População Residente Município 1991 Região 369.885 Ceará 6.366.647 7.430.661 1,73 Taxa de Urbanização (%) População Estimada Total – 2005 1991 2000 47,32 53,82 446.735 65,37 71,53 8.097.276 Fortaleza 1.768.637 2.141.402 2,15 100 100 2.374.944 Ceará (Interior) 4.598.010 5.289.259 1,57 52,05 60,01 5.722.332 A.B.Jaguaribe / Ceará (%) 5,81 5,56 5,52 A.B.Jaguaribe / Ceará (Interior) (%) 8,04 7,82 7,81 Fonte: Anuário Estatístico do Ceará - 2001 - IPLANCE. Estimativa da População para 1º de julho de 2005 - IBGE. Ceará (Interior) : Todo o Estado do Ceará excluindo o Município de Fortaleza. Dinâmica urbana O Baixo Jaguaribe é hoje uma região urbanizada. Nos anos 1990, reverteu-se o quadro da distribuição da população no espaço intra-regional. A região deixou de ser predominantemente rural em 1991 (52,7%), chegando em 2000 com um nível de urbanização de 53,8% (GRÁFICOS 1 e 2). 82 Gráfico 1: População residente por situação do domicílio em %- Ceará e Agropolo Baixo Jaguaribe - 1991. Rural 34,6 Urbano Urbano 47,3 65,4 Rural 52,7 A. B. Jaguaribe Ceará Fonte: Censo Demográfico – 1991 - IBGE. Gráfico 2: População residente por situação do domicílio em % - Ceará e Agropolo do Baixo Jaguaribe - 2000. Rural Rural 28,5 Urbano Urbano 46,2 53,8 71,5 B. Jaguaribe Ceará Fonte: Censo Demográfico - 2000 - IBGE. Apresenta característica singular. Embora considerada pólo regional emergente, não está entre as regiões de maior concentração demográfica do Interior estadual, com os quatro municípios mais populosos possuindo entre 50 mil e 70 mil habitantes, estrategicamente distribuídos no espaço intra-regional, especialmente no litoral e na porção central do Agropolo. Desta forma, os municípios de Morada Nova e Aracati, seguidos de Russas e Limoeiro do Norte, têm peso significativo na determinação do tamanho populacional da região, de 56%, que, apesar de não ter se alterado entre 1991 e 2000, os dados estimados relativos a 2005 confirmam sua tendência de ascensão, 56,8%. No que se refere à dinâmica demográfica, um total de nove municípios mostrou taxa de crescimento anual no período 1991-2000 acima da média regional e cinco acima da média do Interior do Estado, com destaques para Russas e Quixeré, cujo crescimento anual foi de 2,34% e 2,25%, respectivamente, e ainda Limoeiro do Norte (1,95%) e Icapuí (1,81%), com incrementos superiores à média estadual. 83 Espaço rural - Estrutura fundiária As características ambientais, em especial os recursos hídricos, principais eixos de penetração e de fixação dos colonizadores, condicionaram a fragmentação do território da região do Médio e Baixo Jaguaribe. Isso significa que a influência da disponibilidade de água e de bons solos das zonas de várzea imprimiu uma conformação própria ao espaço rural do vale jaguaribano, onde as áreas próximas aos rios se constituem, principalmente, de minifúndios e de pequenos propriedades. Constata-se assim, que os municípios com maior proporção de solo tipo aluvial (Aracati, Limoeiro do Norte, Russas, Jaguaruana e São João do Jaguaribe) possuem expressiva concentração de minifúndios (TABELA A1 do Anexo). De outra forma, nas zonas distantes dos cursos d’água localizam-se as médias e grandes propriedades, onde surgiram cultivos de sequeiro e sobretudo a criação extensiva de gado presentes em grandes porções de praticamente todos os municípios. A estrutura de posse da terra vincula-se à definição de duas subzonas: uma constituída pelos vales irrigáveis, onde há tradição de pequenos proprietários, dotada de investimentos em infra-estrutura rural; e outra, com grandes fazendas e atividades produtivas tradicionais. A chapada do Apodi, como uma exceção, ou área de transição, explorada com fruticultura por empresas agrícolas, alia concentração fundiária e modernas formas de plantio. De forma sintética são esses os aspectos qualitativos relevantes da estrutura fundiária do Agropolo em estudo, apresentada no Plano de Desenvolvimento Regional (2003). Passando-se à análise dos indicadores da estrutura fundiária regional, constates da TABELA 5, vale inicialmente ressaltar que o Agropolo Baixo Jaguaribe detém 11% do total de imóveis rurais e 9,6% da área desses imóveis do Ceará (2000). A sua participação é mais expressiva nos estratos de minifúndios e pequenas propriedades (até 5 ha), cujas áreas e número de imóveis correspondem a 17,1% do total existente no Estado. 84 Participação também expressiva é a dos imóveis rurais com área superior a 1.000 hectares, cerca de 14,6% no mesmo estrato cearense. Tabela 5: Quantidade e área dos imóveis rurais, por classes de área Agropolo Baixo Jaguaribe e Ceará - Julho/2000. Imóveis Classes de área Total Agropolo Ceará Área (ha) Agropolo /Ceará Agropolo 11,02% 898.822,5 9.343.169,6 9,62% 14.835 134.672 Ceará Agropolo/ Ceará Até 5 3.904 22.840 17,09% 10.304,3 61.270,4 16,82% Mais de 5 a 10 2.433 16.829 14,46% 18.586,3 128.473,6 14,47% Mais de 10 a 50 5.260 54.731 9,61% 128.714,6 1.417.077,7 9,08% Mais de 50 a 100 1.605 20.128 7,97% 114.687,0 1.436.860,3 7,98% Mais de 100 a 500 1.355 17.659 7,67% 276.025,5 3.541.010,0 7,80% Mais de 500 a 1.000 175 1.707 10,25% 121.576,8 1.186.599,5 10,25% Mais de 1.000 103 778 13,24% 228.928,0 1.571.878,1 14,56% Fonte: Anuário Estatístico do Ceará - 2003 - IPECE. A distribuição entre número de imóveis rurais e área ocupada por esses imóveis no Agropolo dão sinais da própria concentração de renda regional (GRÁFICOS 3 e 4). Os imóveis rurais com até cinco hectares são 26,3% do total, enquanto representam 1,1% da área. Contrariamente, os imóveis rurais com maior classe de área, mais de 1.000 ha significam 0,6% do total, porém detém 25,4% de toda a área ocupada por esses imóveis na região (2000). Gráfico 3: Imóveis rurais, por classes de área em % - Agropolo Baixo Jaguaribe e Ceará - Julho/2000 1,1 Região 0,6 A.B. Jaguaribe 9,1 1,3 Ceará Ceará 0,6 26,3 16,9 16,4 10,8 35,4 12,5 13,1 14,9 Fonte: Anuário Estatístico do Ceará – 2003 - IPECE. 85 40,6 Ha <5 > 5 a 10 > 10 a 50 > de 50 a 100 > 100 a 500 > 500 a 1.000 > 1.000 Gráfico 4: Áreas de imóveis rurais, por classes de área em % - Agropolo Baixo Jaguaribe e Ceará - Julho/2000. 1,1 2,06 A.B. Região Jaguaribe 14,3 25,4 Ceará Ceará 1,3 0,6 12,7 16,8 30,7 15,1 12,7 13,5 15,3 37,9 Ha <5 > 5 a 10 > 10 a 50 > de 50 a 100 > 100 a 500 > 500 a 1.000 > 1.000 Fonte: Anuário Estatístico do Ceará – 2003 - IPECE. Torna-se importante notar ainda que a região exibe uma estrutura que se diferencia da estadual, pela participação significativamente maior no Agropolo dos latifúndios acima de 1.000 ha, 25,4%, contra os 16,8% do Estado. Os minifúndios abaixo de 10 hectares, por sua vez, são, de forma considerável, mais numerosos na região, 42,7%, comparativamente à proporção mostrada em todo o espaço rural do Estado, 29,4%, apesar da pequena participação das áreas nos dois casos (GRÁFICOS 3 e 4) . 3.4.4 Economia regional PIB A economia do Agropolo Baixo Jaguaribe vem se destacando nos últimos anos, pela modernização e dinamismo do setor agrícola, apoiado na fruticultura irrigada, cujos efeitos já são acusados pelo indicador de geração de riqueza da economia, o Produto Interno Bruto (PIB), no que se refere à composição do seu valor adicionado. O PIB regional, em 2002, somava R$ 1,09 bilhão a preços de mercado correntes de 2002 (ver TABELA 19). Considerando-se a composição setorial do valor adicionado, observa-se que a agricultura concorreu com 14,2%, a indústria com 35% e o setor de serviços com 50,7%. O PIB regional representa 4,5% do indicador estadual e 7,63% do mesmo indicador calculado para o Interior do Estado. Em termos per capita o 86 PIB de R$ 2.540 (preços correntes de 2002) equivale a cerca de 81,2% do PIB cearense e 97,4% do PIB do Interior. A abordagem da evolução desse indicador do Agropolo em estudo encontra-se no item Análise e Discussão dos Dados e Informações. Ocupação O Agropolo Baixo Jaguaribe tem uma força de trabalho representada pela população economicamente ativa, que corresponde a 50,2% da população de 10 anos e mais de idade, levemente abaixo do indicador estadual (51,4%) e equivalente à do Interior (2000), conforme demonstra a TABELA 6. Considerando-se a relação população ocupada/PEA, 87,3%, pode-se afirmar que a região provê uma condição de trabalho que supera a do estadual, situada em 86,7%, no entanto está abaixo da ocupação que se verifica no Interior e relativamente à PEA de 88,5%. Tabela 6: Pessoas de 10 anos ou mais de idade, economicamente ativas e ocupadas na semana de referência - Agropolo Baixo Jaguaribe - 2000. Município Total (A) Part%* 3,70 14,78 3,65 2,25 3,92 1,63 4,25 2,13 7,13 12,23 15,54 2,05 4,02 13,87 2,21 6,63 100,0 Pessoas de 10 anos ou mais de idade Economicamente Ocupadas na semana ativas na semana de (B/A) %* de referência (C) referência (B) 5.704 47,17 4.938 23.957 49,62 20.011 5.339 44,72 4.536 3.164 42,95 2.942 6.442 50,28 5.665 2.891 54,44 2.646 6.587 47,46 6.191 3.798 54,46 3.112 12.681 54,40 11.238 20.924 52,38 18.364 24.658 48,55 22.287 3.194 47,71 2.931 6.351 48,31 5.849 22.924 50,59 19.314 3.527 48,94 2.988 11.956 55,17 10.295 164.097 50,22 143.307 2.985.079 51,42 2.589.104 (C/B) %* Alto Santo Aracati Banabuiú Ibicuitinga Icapuí Itaiçaba Jaguaretama Jaguaribara Jaguaruana Limoeiro do Norte Morada Nova Palhano Quixeré Russas São João do Jaguaribe Tabuleiro do Norte A.B.Jaguaribe Ceará 12.092 48.278 11.939 7.366 12.811 5.310 13.880 6.974 23.310 39.947 50.785 6.694 13.147 45.315 7.207 21.671 326.726 5.805.366 Fortaleza 1.730.839 956.698 55,27 794.780 83,08 Ceará (Interior) A.B.Jaguaribe / Ceará (%) A.B.Jaguaribe / Ceará (Interior) (%) 4.074.527 2.028.381 49,78 1.794.324 88,46 5,63 5,50 5,54 8,02 8,09 7,99 Fonte: Censo Demográfico 2000 - IBGE. Notas: Ceará (Interior): Todo o Estado do Ceará excluindo o Município de Fortaleza. * Participação dos municípios na Região. 87 86,57 83,53 84,96 92,98 87,94 91,53 93,99 81,94 88,62 87,77 90,38 91,77 92,10 84,25 84,72 86,11 87,33 86,73 Alguns municípios chamam atenção por apresentarem posição bem superior à média regional, como é o caso de Jaguaretama, Ibicuitinga, Quixeré, Palhano e Itaiçaba em termos dos indicadores de ocupação. Cumpre salientar que o comportamento dessas variáveis de trabalho e ocupação evidenciadas pelos dados tenderia a mostrar melhoria da situação, caso se contasse com informações atualizadas (relativas aos anos iniciais da atual década), em função do incremento da atividade da agricultura irrigada e seus reflexos em setores econômicos, em alguns espaços intra-regionais. Tabela 7: Pessoas de 10 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência, por setor de atividade do trabalho principal - Agropolo do Baixo Jaguaribe - 2000. Agricultura % Total Alto Santo Aracati Banabuiú Ibicuitinga Icapuí Itaiçaba Jaguaretama Jaguaribara Jaguaruana L .do Norte Morada Nova Palhano Quixeré Russas S. J. Jaguaribe Tab. do Norte A.B.Jaguaribe Ceará Fortaleza Ceará (Interior) A.B.Jaguaribe / Ceará (%) A.B.Jaguaribe / Ceará (Interior) (%) 4.938 20.011 4.536 2.942 5.665 2.646 6.191 3.112 11.238 18.364 22.287 2.931 5.849 19.314 2.988 10.295 143.307 2.589.104 794.780 1.794.324 2.504 4.981 2.157 1.478 2.757 954 3.628 1.515 3.950 5.724 9.865 1.650 2.822 4.957 1.553 4.427 54.922 708.892 7.592 701.300 5,54 7,75 5,40 4,61 4,42 3,67 7,99 7,83 8,49 8,10 7,85 7,85 50,7 24,9 47,6 50,2 48,7 36,1 58,6 48,7 35,1 31,2 44,3 56,3 48,2 25,7 52,0 43,0 38,3 27,4 1,0 39,1 Indústria 963 3.131 506 232 772 341 525 464 4.343 3.578 3.144 357 860 5.511 387 1.484 26.598 492.778 179.406 313.372 % 19,5 15,6 11,2 7,9 13,6 12,9 8,5 14,9 38,6 19,5 14,1 12,2 14,7 28,5 13,0 14,4 18,6 19,0 22,6 17,5 Comércio 459 3.731 382 284 612 286 535 306 877 2.769 2.708 190 560 2.915 312 1.612 18.538 402.300 173.345 228.955 % 9,3 18,6 8,4 9,7 10,8 10,8 8,6 9,8 7,8 15,1 12,2 6,5 9,6 15,1 10,4 15,7 12,9 15,5 21,8 12,8 Serviços 927 7.554 1.467 916 1.488 984 1.449 807 2.031 6.233 6.487 719 1.587 5.838 732 2.735 41.954 949.777 415.595 534.182 % Atividades mal definidas 84 616 24 32 35 81 54 20 35 61 83 14 21 93 6 38 1.297 35.356 18.842 16.514 Município 18,8 37,7 32,3 31,1 26,3 37,2 23,4 25,9 18,1 33,9 29,1 24,5 27,1 30,2 24,5 26,6 29,3 36,7 52,3 29,8 % 1,7 3,1 0,5 1,1 0,6 3,1 0,9 0,6 0,3 0,3 0,4 0,5 0,4 0,5 0,2 0,4 0,9 1,4 2,4 0,9 Fonte: Censo Demográfico 2000. - IBGE Notas: Ceará (Interior): todo o Estado do Ceará excluindo o Município de Fortaleza * Participação dos municípios na Região Os setores de atividades englobam: Agricultura: Agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal e pesca Indústria : Indústria de construção, extrativa, indústria de transformação e distribuição de eletricidade, gás e água Comércio: Comércio, reparação de veículos automotores, objetos pessoais e domésticos Serviços: Alojamento e alimentação; Transporte, armazenagem e comunicação; Intermediação financeira e atividades imobiliárias, aluguéis e serviços prestados às empresas; Administração pública, defesa e seguridade social; Educação; Saúde e serviços sociais; Outros serviços coletivos, sociais e pessoais; Serviços domésticos ;Organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais 88 A TABELA 7 evidencia o papel preponderante que assume a agricultura na ocupação da força de trabalho, não somente regional, mas do Interior, e a relevância, em todo o Estado e na capital, do setor de serviços (2000). Nos pólos regionais de Aracati, Limoeiro do Norte e Russas, no entanto, a agricultura não assume liderança na ocupação, confirmando os dados, suas características de centros de indústria e de serviços do Agropolo. Morada Nova, embora se destaque como centro regional, por sua taxa de urbanização, ainda baixa em relação aos demais (2000), mostra a importância de sua economia agrícola. Atividades econômicas A diversidade de culturas e a produção de frutas para exportação caracterizam a principal atividade agrícola da região. Pelo volume de produção destacam-se os cultivos de melão, banana, milho e abacaxi. Quixeré já ocupa a posição de segundo produtor de melão do país e Tabuleiro do Norte é o maior produtor regional de algodão herbáceo. Têm ainda destaque regional: Jaguaruana, principal produtor de laranja, uva, mandioca e tomate; Russas, pela produção de coco-da-baía e goiaba; Morada Nova com manga e feijão; e Jaguaretama, com predominância de cultivos de sequeiro – milho, feijão e mandioca. Enquanto as atividades agrícolas se concentram próximas aos recursos hídricos, nas zonas de sertão, a pecuária mista (carne e leite) é a principal atividade econômica destacando-se a ovinocaprinocultura, e os efetivos de bovinos e suínos em Morada Nova, Jaguaretama, Russas e Jaguaruana. A apicultura é uma atividade emergente, merecendo destaque o arranjo produtivo de Limoeiro do Norte. No litoral, a carcinicultura está em ascensão em Aracati e encontra oportunidades para seu desenvolvimento ainda em Itaiçaba, Jaguaruana e Russas. A produção agrícola oferece potencial para expansão da agroindústria ligada principalmente à produção de mel, polpas, doces, sucos e produtos laticínios. A indústria de transformação reúne médias e pequenas indústrias tendo destaque a indústria de calçados atraída para a região, através do programa estadual de atração de empresas, situada em Russas, e os ramos industriais de cerâmica vermelha, redes de dormir, móveis e metal-mecânica. 89 A concentração das atividades econômicas na região aponta para existência de uma efetiva polarização exercida pelos municípios de Aracati, Limoeiro do Norte, Russas e Morada Nova, para os quais acorre a quase totalidade dos demais municípios em busca de comércio e serviços. Por sua vez, constata-se um movimento tendencial de instalação dessas atividades no sentido de Jaguaruana e Tabuleiro do Norte, que supre parte da demanda dos municípios menores. 3.4.5 Desenvolvimento humano Uma compreensão sintética do desenvolvimento da região na dimensão social pode ser obtida através de uma análise do comportamento do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, calculado para os anos de 1991 e 2000. Segundo o PNUD, o objetivo da elaboração desse indicador é oferecer um contraponto ao indicador comumente usado, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que considera apenas a dimensão econômica do desenvolvimento. Da mesma forma que o PIB, o IDH se tornou uma referência mundial, no entanto, como medida sintética do desenvolvimento humano de países e unidades subnacionais. Além de computar o PIB per capita, depois de corrigi-lo pelo poder de compra da moeda de cada país, portanto expresso em dólar PPC (paridade do poder de compra), o IDH agrega a longevidade e educação da população. Assim, a longevidade é aferida pelo dado de esperança de vida ao nascer e a educação é avaliada pela taxa de alfabetização e de matrícula em todos os níveis de ensino. A julgar pelo IDH-M, a região do Agropolo Baixo Jaguaribe destaca-se entre as regiões do Interior estadual pelas melhores condições de vida da população. Em 1991, a despeito da quase totalidade dos municípios terem sido classificados como de baixo IDH (até 0,499), o IDH estadual alcançou 0,593, um índice médio (0,500-0,799). Apenas seis municípios situaram-se nesse patamar, Fortaleza, dois municípios da região metropolitana, Caucaia e Maracanaú, e no Interior Crato, Juazeiro do Norte e Limoeiro do Norte. 90 Gráfico 5: IDH-M - municípios de maior índice - Agropolo Baixo Jaguaribe, Fortaleza e Ceará - 1991 e 2000. 0,786 0,8 0,7 0,6 0,717 0,609 0,599 0,711 0,698 0,700 0,593 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 1991 Limoeiro do Norte 2000 Russas Fortaleza Ceará Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil - 2003 - PNUD. Em 2000, o Ceará destacou-se como o estado que mais posições conquistou no IDH no Brasil, tendo subido no ranking da 23ª posição para a 19ª, com o IDH de 0,700. No Interior, o destaque foi, novamente, dos municípios de Crato e Limoeiro do Norte, cujos índices enquadram-se no nível médio-médio (0,600-0,699). Tabela 8: IDH-M - Agropolo Baixo Jaguaribe, Fortaleza e Ceará - 1991 e 2000. Município Alto Santo Aracati Banabuiú Ibicuitinga Icapuí Itaiçaba Jaguaretama Jaguaribara Jaguaruana Limoeiro do Norte Morada Nova Palhano Quixeré Russas São João do Jaguaribe Tabuleiro do Norte Fortaleza Ceará 1991 2000 0,533 0,561 0,486 0,508 0,547 0,535 0,527 0,553 0,543 0,609 0,565 0,521 0,536 0,599 0,581 0,573 0,717 0,593 0,654 0,672 0,629 0,642 0,631 0,641 0,645 0,653 0,654 0,711 0,670 0,649 0,652 0,698 0,694 0,698 0,786 0,700 IDHM Renda Longevidade 1991 2000 1991 2000 0,463 0,529 0,661 0,764 0,504 0,554 0,578 0,697 0,408 0,511 0,587 0,700 0,438 0,477 0,598 0,731 0,515 0,525 0,578 0,650 0,444 0,502 0,548 0,650 0,447 0,518 0,648 0,722 0,485 0,522 0,648 0,722 0,474 0,517 0,638 0,743 0,520 0,588 0,665 0,783 0,491 0,556 0,664 0,749 0,393 0,478 0,638 0,731 0,473 0,510 0,638 0,756 0,529 0,558 0,641 0,783 0,494 0,559 0,638 0,783 0,538 0,577 0,638 0,781 0,685 0,729 0,683 0,744 0,563 0,616 0,613 0,713 Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil - 2003 - PNUD. 91 Educação 1991 2000 0,476 0,669 0,602 0,765 0,464 0,675 0,487 0,718 0,548 0,718 0,614 0,770 0,486 0,694 0,525 0,714 0,517 0,702 0,643 0,763 0,539 0,705 0,533 0,737 0,496 0,691 0,627 0,754 0,612 0,740 0,544 0,736 0,784 0,884 0,604 0,772 No ranking do IDH-M (TABELA 8) para o Ceará, todos os municípios do Agropolo Baixo Jaguaribe ocupam posições na primeira metade dessa classificação, e doze desses municípios estão entre as 54 primeiras posições. A melhoria desse indicador no Estado e na região deveu-se sobretudo, ao avanço em termos de longevidade e educação, em 2000. Um total de doze dos quinze municípios apresenta um índice de longevidade superior ao estadual, constatação que não se confirma no índice de educação, onde a média estadual supera os índices registrados pelos municípios da região. Para o IDH sintético, Limoeiro do Norte sobressai-se, superando a média do Estado, com um índice médio-alto, de 0,711. Os demais municípios da região exibem um IDH de nível médio-médio. 3.4.6 Recursos hídricos e irrigação As informações aqui apresentadas foram extraídas do Plano de Desenvolvimento Regional do Baixo Jaguaribe, dos sites do DNOCS e da SRH, disponíveis na Internet (www.dnocs.gov.br e www.shr.ce.gov.br). A bacia hidrográfica do rio Jaguaribe é a maior do Estado do Ceará, drenando uma área aproximada de 74.600 km², quase toda a montante da cidade de Itaiçaba. A região do Agropolo situa-se nas sub-bacias do médio e do baixo Jaguaribe. Atualmente as grandes barragens, açudes Orós e Banabuiú, garantem a perenização do leito principal, uma vez que o rio e seus tributários são temporários, com volumes de escoamento muito variável em função da incidência pluviométrica. A capacidade de armazenamento de água no Agropolo soma 8,8 bilhões de m³ (TABELA 9), devendo-se destacar ainda, que a região detém o maior potencial de área irrigável no Estado. A obra do açude Castanhão, concluída em 2003, representa a possibilidade de consolidação da vocação da região para agricultura irrigada. O açude consiste em uma barragem de 60 metros de altura e um lago artificial com capacidade de acumular 6,5 bilhões de m³, dos quais 4,2% representam o chamado volume útil. O açude tem o duplo papel de aumentar a 92 vazão regularizada do rio Jaguaribe e controlar as inundações a que fica sujeita a região nas temporadas de precipitações pluviométricas mais intensas. Tabela 9: Reservatórios do Agropolo Baixo Jaguaribe - Atualizado em 08/09/2005 CAPACIDADE 3 (1000m ) ATUAL 3 (1000m ) ATUAL (%) Banabuiú 1.601.000 1.170.908 73,1 Castanhão / Pe. Cícero Alto Santo 6.700.000 4.170.482 62,2 Curral Velho Morada Nova 12.174 9.682 79,5 Poço do Barro Morada Nova 52.000 27.986 53,8 Santo Antonio de Russas Russas 24.000 14.756 61,5 P. Brancas /V.Berredo Banabuiú 434.057 137.789 31,7 8.823.231 5.531.603 62,7 14.819.989 9.596.609 64,8 AÇUDE / BARRAGEM MUNICÍPIO Banabuiú/Arrojado Lisboa A. B. Jaguaribe Ceará - 63 AÇUDES (DNOCS) A. B. Jaguaribe / Ceará (%) 59,5 57,6 Fonte: DNOCS - 2005 (www.dnocs.gov.br) O complexo açude do Castanhão/Canal da Integração possibilitará o desenvolvimento hidroagrícola nas áreas de tabuleiros da bacia jaguaribana, atendendo a projetos de irrigação no decorrer do seu traçado, como o Tabuleiros de Russas, de 10.500 hectares, cuja fonte hídrica, o açude Banabuiú, encontra-se atualmente com disponibilidade insuficiente. O Canal da Integração realiza a transposição do açude Castanhão para reforçar o abastecimento da RMF e do Pecém, integrando as bacias do Baixo Jaguaribe e Metropolitana. O seu traçado estende-se por 250 km, aproximadamente, com início à jusante do Castanhão até o sistema de abastecimento de água da RMF, percorrendo assim, os trechos Castanhão/Morada Nova/Grande Fortaleza (o prolongamento do sistema adutor para zona a oeste de Fortaleza, entre o açude Gavião e o Pecém, corresponde a um trecho adicional de 55 km). No seu percurso prevê-se beneficiar 43.000 hectares de solos férteis, favoráveis à agricultura irrigada e garantirá o abastecimento da capital, por pelo menos 30 anos, potencializando o desenvolvimento de 10 municípios. Atualmente, encontram-se concluídos os 55 km do trecho inicial. O Agropolo Baixo Jaguaribe possui a maior área de infra-estrutura de irrigação pública e privada do Ceará. Além dos perímetros públicos, cuja 93 implantação iniciou-se na década de 1970, projetos de irrigação foram instalados no complexo Castanhão, através de parceria do DNOCS e do Governo do Estado, totalizando 2.128,6 hectares de área total, 1.383 hectares de área irrigada, com 445 famílias (TABELA 10), em três áreas. Tabela 10: Projetos de irrigação do complexo Castanhão - Agropolo Baixo Jaguaribe - 2003 Área Projeto Famílias Alagamar 104 582,6 Curupati 151 770 500 mamão formosa Mandacaru 190 776 571 banana, coco, hortaliças Total 445 2.128,6 Total Culturas Irrigadas 312 banana, coco, hortaliças 1.383 Renda mensal / Lote (R$) 800,00 1.500,00 800,00 3.100,00 Fonte: O agronegócio da agricultura irrigada no Ceará (1999 a 2003) - SEAGRI Os principais perímetros públicos de irrigação estão, a seguir, descritos. Perímetro Irrigado de Jaguaruana Situa-se no vale do baixo rio Jaguaribe, no município de Jaguaruana. É ligado aos principais centros consumidores do Estado e do País pela BR-116 e pela CE-090, que dá acesso à cidade de Jaguaruana. A implantação do perímetro irrigado foi iniciada no ano de 1975 e a sua conclusão deu-se em 1979. Os serviços de administração, operação e manutenção da infra-estrutura de uso comum foram iniciados no ano de 1977. O perímetro irrigado apresenta um relevo plano, sem elevações nem depressões na parte de solos arenosos, e um relevo plano, com depressões, nos solos de textura mais fina. O solo, do tipo aluvial, tem, em 60% de sua extensão, textura muito grossa, com problemas de drenagem, razão pela qual são irrigados por aspersão, enquanto nos solos de textura média e fina, a irrigação é feita pelo sistema de gravidade. A profundidade também é bastante variável, sendo que nos solos de textura grossa existe uma camada impermeável a pouca profundidade, o que impossibilita a exploração de muitas culturas. O suprimento hídrico do Perímetro Irrigado Jaguaruana é garantido pelo rio Jaguaribe, “perenizado” pela liberação de águas dos açudes Orós e Arrojado Lisboa (Banabuiú). 94 A área desapropriada é de 343,07 hectares, a área de sequeiro perfaz 141,07 hectares e a área irrigável e implantada com produtor tem 202,00 hectares. O desenho da operação do Perímetro Irrigado Jaguaruana foi traçado com base nas características dos solos e levando em conta a produção econômica, visando à sustentabilidade das famílias dos irrigantes. O perímetro irrigado produz, atualmente, arroz, feijão, milho, tomate de mesa, banana, coco, goiaba, mamão, manga, maracujá, uva, algodão herbáceo, sorgo e capim de corte. Outras atividades: pecuária leiteira (bovinos), produção de carne (bovinos e ovinos) e criação de animais para reprodução (bovinos e ovinos). Os sistemas de irrigação utilizados no perímetro irrigado são: 45% da área por superfície (gravidade), 52,52% da área por aspersão convencional e 2,48% da área por gotejamento Para atender às necessidades de administração, organização, operação e manutenção do perímetro, os produtores criaram a Associação dos Irrigantes do Perímetro Irrigado de Jaguaruana – ASSIJA. Tabela 11: Dados básicos - Perímetro Irrigado de Jaguaruana - 2005 CATEGORIA DE IRRIGANTE Pequeno Produtor ÁREA MÉDIA (ha) 5,05 QUANTIDADE ÁREA TOTAL (ha) 40 202 40 202 PART. QTDE PART. ÁREA (%) TOTAL (%) 100,0 100,0 Técnico Agrícola Engº Agrônomo Empresa Total Fonte: DNOCS - 2005 (www.dnocs.gov.br). Perímetro de Irrigação Morada Nova O Perímetro Irrigado Morada Nova localiza-se nos municípios de Morada Nova e Limoeiro do Norte, no Estado do Ceará, mais especificamente na microregião do Baixo Jaguaribe, no subvale do Banabuiú, a 170 km de Fortaleza, com sua maior área (70%) encravada no município de Morada Nova. O acesso ao perímetro irrigado é feito pela BR–116 até o km 90 e, em seguida, pela rodovia CE138, ambas pavimentadas. A implantação do perímetro irrigado foi iniciada no ano 95 de 1968 e os serviços de administração, operação e manutenção da infra-estrutura de uso comum tiveram início no ano de 1970. Os solos aluvionais do Perímetro Irrigado Morada Nova, em razão de sua textura diversificada, permitem a exploração de uma extensa gama de culturas. Sua fertilidade natural é, em geral, constante, embora seja necessário prover, em muitos casos, um melhoramento orgânico. A área do Perímetro Irrigado Morada Nova é constituída por 22% de solos leves, 41% de solos de textura média e de 37% de solos pesados. O suprimento hídrico é feito através dos sistemas açude público Arrojado Lisboa (Banabuiú), com uma capacidade de armazenamento de 1.601.000.000 m³, e do açude público Vinícius Berredo (Pedras Brancas), com 434.049.000 m³. A área desapropriada é de 11.025,12 hectares, a área de sequeiro possui uma extensão de 6.692,12 ha, a área irrigável de 4.333,00 ha e a área implantada com 3.677,00 ha. O sistema de irrigação utilizado no perímetro irrigado é 100% da área por superfície (gravidade) O delineamento do perfil agrícola do Perímetro Irrigado Morada Nova foi elaborado com base nas características dos solos, visando a uma produção econômica capaz de dar sustentabilidade às famílias dos irrigantes. Pela gama de culturas incluídas no planejamento, nota-se a preocupação com a diversificação da fonte de receita. O perímetro irrigado produz atualmente, arroz, feijão, banana, acerola, coco, graviola e capim de corte. Outras atividades: pecuária para produção de leite (bovinos), produção de carne (bovinos, caprinos, ovinos e suínos) e criação de animais para reprodução (bovinos e caprinos). A estrutura organizacional dos Irrigantes para atender às necessidades de administração, organização e manutenção do Perímetro está representada pela Associação dos Usuários do Distrito de Irrigação (AUDIPIMN), agregando todos os irrigantes. Existe ainda a Cooperativa Central Agropecuária dos Irrigantes do Vale do Banabuiú (CIVAB) e mais três cooperativas singulares: Cooperativa do Projeto Irrigado de Morada Nova (CAPI), Cooperativa dos Pequenos Produtores 96 Agropecuaristas de Morada Nova (COPAMN) e a Cooperativa Agropecuária do Perímetro Irrigado do Vale do Banabuiú (CAPIVAB). Tabela 12: Dados básicos - Perímetro Irrigado de Morada Nova- 2005. CATEGORIA DE IRRIGANTE ÁREA MÉDIA (ha) QUANTIDADE ÁREA TOTAL (ha) PART. QTDE PART. ÁREA (%) TOTAL (%) Pequeno Produtor 4,64 782 3630 99,6 98,7 15,66 3 47 0,4 1,3 785 3677 Técnico Agrícola Engº Agrônomo Empresa Total Fonte: DNOCS - 2005 (www.dnocs.gov.br) Perímetro Irrigado Jaguaribe-Apodi O Perímetro Irrigado Jaguaribe-Apodi está localizado na chapada do Apodi, no Estado do Ceará, mais precisamente no município de Limoeiro do Norte. O acesso é feito pela BR-116, totalmente pavimentada, até a cidade de Limoeiro do Norte e pela CE 209 até o perímetro irrigado, que iniciou sua implantação em 1987, e os serviços de administração, operação e manutenção da infra-estrutura de uso comum tiveram seu início no ano de 1989. A área apresenta grande uniformidade do ponto de vista topográfico, já que constitui apenas uma fração do vasto planalto da chapada do Apodi. As condições do relevo são, assim, amplamente favoráveis para a mecanização agrícola. Para irrigação por gravidade, as necessidades de movimentação de terras para sistematização serão mínimas, haja vista a grande uniformidade do terreno e os declives pouco acentuados. O suprimento hídrico do perímetro irrigado é assegurado pelo rio Jaguaribe, perenizado pelo açude Orós, com capacidade de 2.100.000.000 m³, com derivação através da barragem de Pedrinhas, localizada no braço do Jaguaribe, denominado rio Quixeré. A área desapropriada soma 13.229 ha, a área de sequeiro 7.836 ha, a área irrigável e implantada correspondem a 5.393 ha, enquanto a área implantada com produtor é de 2.834 ha. 97 O perímetro irrigado produz, atualmente: banana, milho verde, melão, mamão, goiaba, ata, melancia, pimentão, graviola, algodão herbáceo, feijão vigna, sorgo e capim de corte, utilizando sistemas de irrigação nas seguintes proporções: 87,04 % da área por pivô central, 6,48 % por gotejamento e 6,48 % por microaspersão. A Federação dos Produtores do Projeto Irrigado Jaguaribe-Apodi – FAPIJA é a entidade responsável pela administração, organização, operação e manutenção da infra-estrutura de irrigação do perímetro. Tabela 13: Dados básicos - Perímetro Irrigado de Jaguaribe-Apodi - 2005. CATEGORIA DE IRRIGANTE Pequeno Produtor ÁREA MÉDIA (ha) QUANTIDADE ÁREA TOTAL (ha) PART. QTDE PART. ÁREA (%) TOTAL (%) 7,85 231 1815 92,0 64,0 50,95 20 1019 8,0 36,0 251 2834 Técnico Agrícola Engº Agrônomo Empresa Total Fonte: DNOCS - 2005 (www.dnocs.gov.br). Perímetro Irrigado Tabuleiros de Russas O Perímetro Irrigado Tabuleiros de Russas está localizado nos municípios de Russas, Limoeiro do Norte e Morada Nova, mais precisamente no baixo vale do Jaguaribe, na chamada zona de Transição Norte dos Tabuleiros de Russas. A área, de um modo geral, é constituída por uma faixa contínua de terras agricultáveis ao longo da margem esquerda do rio Jaguaribe, desde a cidade de Russas até a confluência com o rio Banabuiú. O acesso ao perímetro dá-se pela BR-116, que margeia o limite leste da área e segue paralela ao rio Jaguaribe, alcançando as cidades de Russas e Limoeiro do Norte. As distâncias rodoviárias do Perímetro Irrigado Tabuleiros de Russas são: Fortaleza 160 km; Recife 642; Salvador 1.197; Brasília 2.811, Rio de Janeiro 2.651 e São Paulo 2.902 km. As vazões necessárias à irrigação do perímetro procedem do rio Banabuiú, afluente da margem esquerda do rio Jaguaribe. Para garantia dos níveis de água operacionais, a captação fica localizada na margem do rio, logo à montante da barragem de derivação existente. A regularização das vazões do rio, para 98 atendimento às necessidades hídricas do perímetro, é feita através da operação conjunta dos dois açudes localizados à montante do ponto de captação: açude Arrojado Lisboa, situado no rio Banabuiú (volume máximo de 1.601.000.000 m³), no local denominado Boqueirão do Meio; e açude Vinícius Berredo, sobre o rio Sitiá, afluente do rio Banabuiú, com volume máximo de 434.049.000 m³. O plano de desenvolvimento agrícola preconizado para o Perímetro Irrigado Tabuleiros de Russas foi elaborado com base nas características edafológicas da área, nas exigências das culturas e nos aspectos socioeconômicos. A exploração das áreas irrigadas será centrada na fruticultura. Foram assentados 75 pequenos produtores com objetivo do treinamento em sistema de irrigação. Os sistemas de irrigação utilizados no perímetro irrigado são: 50% da área por microaspersão e 50% por gotejamento A concepção do projeto da rede viária objetiva permitir a ligação das estradas internas do perímetro à malha existente, proporcionando a interligação das diversas áreas irrigadas e núcleos habitacionais aos pólos potenciais da região. O Convênio PGE Nº. 50/98, celebrado entre o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas e o Estado de Ceará, através da Secretaria da Agricultura Irrigada (SEAGRI), tem como objetivo a transferência, ao Estado da administração, operação e manutenção de toda a infra-estrutura de irrigação, de uso comum, do Perímetro Irrigado Tabuleiros de Russas. O Perímetro está na fase inicial das atividades de desenvolvimento agrícola, com a realização dos trabalhos referentes à regularização fundiária, seleção dos pequenos produtores reassentados e licitação dos lotes irrigáveis, destinados a profissionais de ciências agrárias empresários. Dos 658 lotes previstos, apenas 78 foram entregues e os irrigantes são associados do Distrito de Irrigação Tabuleiro de Russas (DISTAR), entidade representativa dos irrigantes para assumir as atividades de administração, operação e manutenção da infra-estrutura de uso comum, a serem repassados pela SEAGRI. 99 Tabela 14: Dados básicos - Perímetro Irrigado de Tabuleiros de Russas - 2005 CATEGORIA DE IRRIGANTE ÁREA MÉDIA (há) QUANTIDADE ÁREA TOTAL (ha) 8 499 3.992 75,4 37,8 Técnico Agrícola 16 65 1.058 9,8 10,0 Engº Agrônomo 24 20 480 3,0 4,5 37 a 145 78 5.034 11,8 47,7 662 10.564 Pequeno Produtor Empresa Total PART. QTDE PART. ÁREA (%) TOTAL (%) Fonte: DNOCS - 2005 (www.dnocs.gov.br). Conforme se observa na TABELA 15, dos 10.564 hectares de área instalada, 4.314,07 hectares estão prontos para operar, e atualmente em fase de licitação. A área destinada a empresários corresponde a 60% da primeira etapa do perímetro, enquanto foi reservado ao pequeno produtor o equivalente a 30% dessa área. Tabela15: Dados básicos - Perímetro Irrigado de Tabuleiros de Russas - 1ª etapa - em licitação - 2005 CATEGORIA Nº DE LOTES ÁREA (ha) ÁREA/LOTE (ha) Pequeno Produtor 137 1.146,50 R$ 519,61/ha Técnico Agrícola 24 401,54 Agrônomo 3 72,94 R$ 519,61/ha Empresários 38 2.693,09 R$ 519,61/ha Total 202 4.314,07 Com Infra-Estrutura R$ 7.133,32/ha Sem Infra-Estrutura R$ 519,61/ha Fonte: DNOCS - 2005 (www.dnocs.gov.br). O Agropolo Baixo Jaguaribe concentra um total de infra-estrutura de irrigação operando e pronta para operar de 11.027 hectares (TABELA 16), dos quais 61.6.% hectares para pequenos produtores. A área destinada à agricultura irrigada empresarial soma 3.712,09 hectares, o que representa 33,7% da área disponível atual. Considerando-se a infra-estrutura existente no Jaguaribe/Apodi a ser recuperada (2ª etapa), como também a segunda etapa do Tabuleiro de Russas a ser implantada, o Agropolo Baixo Jaguaribe soma em seu território um total de área com estrutura integrante de sistema de irrigação de cerca de 20 mil hectares. 100 Tabela16: Dados básicos dos Perímetros Irrigados do Agropolo Baixo Jaguaribe - 2005 CATEGORIA DE IRRIGANTE Pequeno Produtor ÁREA ÁREA QUANTIDADE MÉDIA (ha) TOTAL (ha) PART. QTDE (%) PART. ÁREA TOTAL (%) 5,71 1.190 6.793,5 93,1 61,6 Técnico Agrícola 16,73 24 401,54 1,9 3,6 Engº Agrônomo 19,99 6 119,94 0,5 1,1 Empresa 64,00 58 3.712,09 4,5 33,7 1.278 11.027,07 Total Fonte: DNOCS - 2005 (www.dnocs.gov.br). Cumpre salientar que em agosto de 2005, o Ministério da Integração lançou edital de concorrência pública visando a contratação de serviços de consultoria para concepção de um modelo geral de concessão de projetos públicos de irrigação e elaboração dos editais para licitar a concessão de doze projetos, entre esses, no Ceará, Tabuleiros de Russas, Jaguaribe/Apodi e Baixo Acaraú. No caso dos projetos do Agropolo Baixo Jaguaribe, a concessão a ser licitada prevê a ocupação da segunda etapa, desenvolvimento agrícola, operação e manutenção do Perímetro Irrigado Jaguaribe/Apodi e conclusão da ocupação da primeira etapa e da infra-estrutura da segunda etapa, desenvolvimento agrícola, operação e manutenção do Perímetro Irrigado Tabuleiros de Russas. 3.4.7 Abordagem institucional da região como pólo de desenvolvimento A região do Baixo Jaguaribe, por sua importância estratégica para o desenvolvimento do Ceará, recebeu no período recente um tratamento institucional que a destaca como espaço prioritário das políticas públicas em nível federal e estadual. O Banco do Nordeste, a partir de 1997, implantou e coordenou em parceria com o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, o Projeto Pólos de Desenvolvimento Integrado, que buscava assegurar um ambiente favorável de cooperação e negociação estratégica entre os diversos segmentos sociais em um espaço geográfico delimitado, com o objetivo de promover o desenvolvimento sustentável, elevando a eficiência das cadeias produtivas, enfocando as dimensões 101 ambiental, econômica, político-institucional e informação e conhecimento. Este projeto foi desenvolvido a partir da estruturação de treze pólos, em regiões do Nordeste, norte de Minas Gerais e noroeste do Espírito Santo, com eixos econômicos centrados na irrigação, produção de grãos e de frutas cítricas e pecuária de leite. No Ceará, os pólos selecionados foram Baixo Jaguaribe, onde os trabalhos se desenvolveram com maior intensidade, e posteriormente, o Cariri. Do ponto de vista do governo estadual, em 1998, com a criação da SEAGRI, foram realizados estudos e identificadas seis áreas que reúnem características e vantagens comparativas para se consolidar como Agropolos. O Agropolo Baixo Jaguaribe revelou-se como o de maior capacidade de provocar o dinamismo econômico na região de influência, e de atrair o interesse dos investidores privados, inclusive externos, em diferentes elos da cadeia produtiva. As políticas nos dois níveis de governo atuaram conjuntamente, e as fontes oficiais, como a do Balanço Social 2003 dos Pólos de Desenvolvimento Integrado e do Governo Estadual, destacam entre a realização de projetos nas quatro dimensões referidas: a reestruturação do Perímetro Irrigado Jaguaribe-Apodi – com a parceria entre BNB, SEAGRI, DNOCS e Associação dos Irrigantes do Perímetro, contemplando plano de produção de substituição de culturas e no sistema de irrigação, com vistas à economicidade do agronegócio das culturas; instalação de empresas, diagnóstico das demandas de Pesquisa e Desenvolvimento de fruticultura e agroindústria no Pólo: implantação da Comissão de Comércio Exterior da Região Vale do Jaguaribe (CCE-Leste); e treinamento e capacitação de produtores e profissionais especializados, com instituições parceiras. Também em nível do governo estadual, a gestão iniciada em 2003 definiu como estratégia de desenvolvimento regional, conforme falado na abordagem do respectivo Plano de Governo, uma política de reestruturação espacial, a partir de uma rede de cidades intermediárias, visando desconcentrar o desenvolvimento, destacando-se entre essas, os pólos Limoeiro do Norte, Russas e Morada Nova. Assim o Baixo Jaguaribe passa também a figurar como área de interesse estratégico para o desenvolvimento do Ceará, sob a ótica da atual política estadual e teve elaborado seu Plano de Desenvolvimento Regional, contando com a participação da sociedade a partir do qual se estimulou a formação de um Conselho de Desenvolvimento Regional, para gerir a implantação do Plano. 102 4 FUNDAMENTOS TEÓRICOS E ANALÍTICOS PARA TRATAR O TEMA Munidos de um instrumental de análise que reúne conhecimentos teóricos, referências conceituais e estudos analíticos sobre a questão, procurou-se embasar a discussão dos dados e informações para obtenção das conclusões do estudo. Mostrouse importante para o tema da pesquisa considerar conceitos basilares, como região, pólos de crescimento e de desenvolvimento, e atualizar a análise submetendo-o ao enfoque do desenvolvimento sustentável. Pela pertinência do Programa em estudo, a abordagem da irrigação como alternativa de política de desenvolvimento regional requereu consideração neste estudo.. 4.1 Conceitos basilares Os conceitos basilares estão na raiz do objeto dessa pesquisa. Agropolo encerra em si uma proposta de desenvolvimento regional. Traduz também uma política de concentrar ações institucionais e investimentos em espaços econômicos prioritários do território, constituindo pólos de crescimento. Pelos riscos ambientais que traz, o tema remete ao conceito de desenvolvimento sustentável, uma vez que envolve o uso dos recursos naturais limitados, solo e água, esta, o desafio do terceiro milênio (SENRA, 2001). 4.1.1 Região Segundo BENJAMIN HIGGENS (1969), citado por FERREIRA (in: HADDAD 1989, p. 49) “poucos esforços em toda a história dos empreendimentos científicos mostraram ser tão estéreis como a tentativa de encontrar uma definição universal aceitável de região. O fracasso reflete o simples fato de que nenhum 103 conceito de região pode satisfazer, ao mesmo tempo, a geógrafos, cientistas políticos, economistas, antropólogos etc”. Por sua vez, SILVA (in: Castro et alii, 1999, p. 101) analisa que os conceitos de Região e Desenvolvimento se cruzam constantemente. No início, o que se sobressaía na delimitação do espaço que definia a Região era a idéia de natureza. Posteriormente, o nível de “desenvolvimento” impôs-se na definição dos limites e recortes regionais. Entre os conceitos bem elaborados sobre espaço econômico e região sobressaem-se os dos mestres franceses François Perroux e Jacques Boudeville (FERREIRA, in: HADDAD, 1989, p. 50). Perroux, segundo o autor, conceitua como abstratos os espaços econômicos os quais são constituídos por um conjunto de relações que se referem aos fenômenos econômicos, sociais, institucionais e políticos interdependentes, não localizados geograficamente, tendo apenas uma dimensão econômica, social e política. Assim, os espaços econômicos foram classificados por Perroux em três categorias. O espaço econômico como um agregado homogêneo é constituído por elementos que apresentam características semelhantes; o espaço econômico como um campo de forças constitui-se de focos de concentração das atividades econômicas, sociais, políticas e administrativas, inter-relacionados com outros pontos do espaço numa relação de dominação, sendo reconhecido como espaço polarizado; e o espaço econômico definido por um plano ou programa de ação corresponde às áreas nas quais várias partes estão dependentes de uma mesma coordenação, ou decisão. BOUDEVILLE (apud FERREIRA, 1989, p. 52-53) por sua vez, insiste na necessidade de localizar geograficamente as regiões e defende que seu conceito tem de atender a três requisitos básicos. O princípio finalístico ou teológico sugere que quando se regionaliza o espaço geográfico de uma federação em subespaços torna-se indispensável precisar-se a finalidade que se deseja atingir com essa divisão, “particularmente no caso de regiões para fins de planejamento”. O segundo requisito, da descrição material do objeto, diz respeito à caracterização dos aspectos sociais e econômicos de cada região para compará-los com as demais. Como terceiro pré-requisito aponta as relações e dependências sociais, econômicas, políticas, institucionais, administrativas etc, nos enfoques inter-regional e intra104 regional, que resultam na divisão do espaço com base nos focos de desenvolvimento. Desta forma, reconhece três tipos de regiões: de planejamento, homogêneas e polarizadas. Considerando-se o foco dessa pesquisa é importante buscar em ANDRADE (1970, p. 45-50) sua análise de região como unidade dinâmica baseada no pensamento do Professor Bernard Kayser (1966). Assim, este autor admitindo o primado da ação do homem na formação das regiões e o dinamismo da concepção regional, elaborou um conceito de região a ser aplicado ao mundo desenvolvido e procurou fazer uma classificação das formas de utilização do espaço no mundo subdesenvolvido. Assim, para Kaiser, a região organizada que é típica dos países desenvolvidos se caracterizaria por três aspectos fundamentais: solidariedade existente entre seus habitantes; organização em torno de um centro; e participação em um conjunto. Assim, ANDRADE (1970, p. 46-47), no mesmo trabalho, transcreve que a solidariedade (relações e caracteres comuns) “quase sempre constitui a base de coesões especiais: de minorias étnicas, sistema de produção especializada – agrícola mineira - das quais participam todos os homens residentes num determinado território, estruturas sociais definindo certos tipos de relações entre habitantes de tal região”. Esclarece o autor, que esses laços embora imprimam ao espaço certa heterogeneidade, só têm condições para produzir uma região se são capazes de criar uma organização econômica e social. Cada região só se organiza em torno de um centro (pólo ou nó), que não só polariza em torno de si, como domina e orienta a vida econômica da sua área de influência. Esse centro é sempre uma cidade (pólo de desenvolvimento). Na definição de Kaiser a região não pode ser considerada uma região isolada, uma vez que está permanentemente em contato como o exterior, como parte de um todo mais amplo. É quase sempre dominada, pois a capacidade superior de decisão quer financeira ou política lhe escapa, pois a região no plano administrativo é um nível intermediário entre poder central e organismos locais. Em sua teoria Kaiser não concorda inteiramente com a conceituação das regiões homogêneas de Perroux, devido à impossibilidade de o espaço homogêneo dar origem a regiões, assim como por achar que região plano só se realiza em uma estrutura polarizada (ibid., p. 47). 105 Embora numa literatura não atual, ainda em ANDRADE (1970, p. 48-50), a teoria de Kaiser se aplica aos dias atuais. Fora dos países desenvolvidos, as regiões organizadas só aparecem excepcionalmente, em conseqüência da desigualdade do desenvolvimento regional existente no país. Distingue assim, as várias formas de organização ou de desorganização do espaço: indiferenciado, onde há ausência total de fluxos organizados (já à época era rara no mundo); as regiões de especulação que se caracterizam por sua abertura para o mundo exterior. São áreas em que a exploração de recursos minerais é feita em geral, em grande escala - Congo, por exemplo – ou onde se desenvolveram plantações de produtos tropicais de alto valor – Malásia, por exemplo. Elas, em alguns casos, se assemelham às regiões organizadas, sobretudo nas suas formas exteriores, mas não se apresentam integradas no todo nacional; as bacias urbanas constituem zonas que se acham sob a influência de uma cidade na qual os fluxos econômicos e culturais fluem da área para a cidade, sem haver, em contrapartida, um refluxo, uma compensação em sentido contrário da cidade para a zona. Salienta Kaiser, por fim, a existência ainda do que chama região de intervenção, a qual se caracteriza por ser sede ou o objeto de um verdadeiro programa de desenvolvimento, aplicado por um governo visando a torná-la uma região organizada. 4.1.2 Pólos de crescimento e de desenvolvimento O estudo de caso deste trabalho, constituindo-se num espaço regional elevado à condição de pólo por diferentes entes públicos, induz à busca dos conceitos de pólos de crescimento e de desenvolvimento. Formulados por François Perroux e seus colaboradores, na década de 1950, para trabalhar as desigualdades de crescimento no conjunto de uma economia, como etapa para alcançar o equilíbrio do desenvolvimento sob o ponto de vista regional, a teoria inspirou o planejamento e programas de redução das disparidades entre regiões dinâmicas e periféricas em países desenvolvidos e posteriormente foram aplicados à planificação dos países em busca do desenvolvimento. 106 Para tratar o tema, reporta-se a ANDRADE (1970:59-63). Na sua análise, Perroux baseou-se no conhecimento de experiências e de estudos de historiadores e geógrafos que freqüentemente apontavam, em uma região, pontos que comandavam o crescimento ou desenvolvimento econômico, para formular a teoria dos pólos de desenvolvimento, segundo a qual o crescimento econômico não se faz por todo o espaço de um país, mas se manifesta em pontos discretos do seu território, com intensidades variáveis e por difusão, expandindo-se sobre o conjunto da economia, a que denominou pólos de crescimento. Para o mestre francês, o crescimento econômico ocorre em áreas favorecidas por variadas circunstâncias, onde surge uma indústria motriz, cujo crescimento se propaga pela região que a cerca, sendo assim, para ela polarizada. O grande interesse pela teoria de Perroux e por sua aplicação, frisa ANDRADE (1970, p. 60), decorre da observação da existência de pólos surgidos espontaneamente e da constatação da possibilidade de criação de pólos através da atuação de agências de desenvolvimento. Para sintetizar, o autor afirma que para Perroux, o pólo é o centro econômico dinâmico de uma região e que seu crescimento se faz sentir sobre a região que o cerca, criando fluxos da região para o centro e refluxos do centro para a região, o que condiciona o desenvolvimento regional à ligação com o próprio pólo. Torna-se importante destacar que ANDRADE (1970, p. 63-64), ainda estudando Perroux, afirma ter sido a teoria da polarização desenvolvida em função da indústria, pelo fato de ter realizado seus estudos em país industrializado - a França. Porém, admite o mestre francês estender a função motriz a atividades primárias. Como exemplo, cita o caso da exploração petrolífera na Venezuela, do cobre no Congo, da produção agrícola de banana na América Central e de chá na Índia. Acrescenta Andrade, o caso da produção de café no Brasil sudeste. F. Perroux distingue pólos de crescimento e de desenvolvimento. Assim, ressalta “para que um país subdesenvolvido atinja o estágio dos países desenvolvidos é necessário que sua população esteja convicta da necessidade de modificar suas estruturas econômicas”. Os pólos espontâneos, surgidos sem planificação podem ser chamados de crescimento quando provocam elevação do produto e da renda per capita sem acarretar transformações sensíveis às estruturas regionais, e podem ser 107 considerados de desenvolvimento, quando além do produto provocam igualmente, modificações de estruturas que favorecem à população da região por ele polarizada. Assim, o pólo de desenvolvimento é às vezes espontâneo, porém quase sempre planejado. Podem os planejadores orientar o crescimento da função polarizadora de um pólo espontâneo, através da implantação de infra-estrutura, e criar pólos em regiões onde esses não existem (ibid., p. 62-63). Transportando-se o tema para a atualidade brasileira, especificamente, nordestina, encontra-se na literatura a análise dos processos econômicos resultantes das políticas de desenvolvimento concentrado, aplicadas nas últimas décadas, em espaços estratégicos. Nesse sentido, ARAÚJO (1995 e 2003) dá grande contribuição à discussão do desenvolvimento apoiado em pólos econômicos. Na interpretação de que mudanças importantes remodelaram a realidade econômica nordestina, questionando visões tradicionalmente consagradas sobre a região, a autora chama atenção para a atual e crescente complexidade da economia regional, com características marcantes de grande diversidade e crescente heterogeneidade de suas estruturas que convivem com as tradicionais áreas agrícolas e agropastoris. As tendências de acumulação privada, reforçadas pela ação estatal, resultaram no surgimento de subespaços na região dotados de estruturas econômicas modernas e ativas, focos de dinamismo, estruturas tratadas na literatura especializada ora como “pólos dinâmicos”, ora como “frentes de expansão”, “manchas ou focos” de dinamismo, ou mesmo, “cadeias produtivas” estratégicas, em grande parte responsáveis pelo desempenho relativamente positivo apresentado pelas atividades econômicas da região (ARAÚJO, 2003). Dentre esses destaca o pólo petroquímico de Camaçari, o pólo têxtil e de confecções de Fortaleza, o complexo minero-metalúrgico de Carajás, no que se refere às atividades industriais, além do pólo agroindustrial de Petrolina/Juazeiro, com base na agricultura irrigada do submédio São Francisco, e o moderno pólo de fruticultura do Rio Grande do Norte, apoiado na agricultura irrigada do vale do Açu, e mais recente são as áreas de moderna agricultura de grãos (sul do Maranhão e Piauí), de pecuária intensiva no agreste pernambucano e de carcinicultura no Rio Grande do Norte e Ceará. 108 4.1.3 Desenvolvimento Sustentável Desenvolvimento sustentável impõe-se como um conceito basilar para fundamentar as conclusões desta pesquisa, tendo em vista a intervenção direta da atividade da agricultura irrigada nos ecossistemas. A noção moderna de desenvolvimento sustentável originada em Estocolmo, em 1972, e consolidada 20 anos mais tarde no Rio de Janeiro (ECO92), teve sua definição internacionalmente adotada pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Relatório BRUNDTLAND, 1987): aquele que satisfaz às necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades. GUIMARÃES (2001)5, ao escrever no trabalho “A ética da sustentabilidade e a formulação de políticas de desenvolvimento” lança as questões mais relevantes que permeiam o conceito de sustentabilidade. Abordando a complexidade e os valores da sociedade atual, reconhece nas relações entre “modernidade e meio ambiente” (grifo do autor) as verdadeiras tensões provocadas pela trajetória da civilização ocidental. “Modernidade e meio ambiente resultam de uma mesma dinâmica: o protagonismo crescente do ser humano em relação às superestruturas e, ao mesmo tempo, à progressiva centralidade que assume o fato de termos de repensar as relações entre seres humanos e natureza. Isto, entretanto, não se opõe ao fato de, ao nos preocupar com o meio ambiente, sermos obrigados a questionar profundamente a atual modernidade, o que termina por instaurar os próprios fundamentos de um novo paradigma de desenvolvimento” (ibid., p. 44). Como verdadeiros dilemas ou desafios do novo milênio, seu conteúdo de valor ou ética dão significado a essa “tensão”. Assim, se o socialismo representou a resistência anti-sistêmica à modernidade “industrial” hegemônica, construída pela Inglaterra em meados do século XIX, o ambientalismo representa, hoje, a resistência à modernidade “do consumo”, construída sob a hegemonia dos Estados Unidos (Taylor, 1997) cem anos mais tarde (Ibid). Esclarece ainda, que o socialismo construído no século XX respondia à modernidade dos cem anos anteriores (a do “cidadão”), a qual foi ultrapassada pela modernidade contemporânea (a do 5 In: O desfio da Sustentabilidade: Um debate socioambiental no Brasil. Gilney Viana, Marina Silva, Nilo Diniz (organizadores) – São Paulo, 2001. 109 “consumidor”) (ibid., p. 44). Corrobora essa questão o pensamento de BOISIER (apud GUIMARÃES, 2001, p.49) de que nos últimos tempos “a aceleração do crescimento econômico caminha pari passu com a desaceleração do desenvolvimento”, com a deterioração dos indicadores que medem a evolução qualitativa entre setores, territórios e pessoas. A acumulação de riqueza, o crescimento como meio de se chegar ao desenvolvimento, de um papel intermediário, passa a um fim em si mesmo, cada vez mais dependente de fatores exógenos. Na prática, no caso brasileiro e principalmente nordestino, confirma-se o pensamento de BOISIER (1997), expresso na citação de GUIMARÃES (2001), de que a atenção dos atores envolvidos com o fortalecimento dos territórios subnacionais concentrou-se quase que exclusivamente na criação de condições favoráveis à atração de mais investimentos provenientes de outros territórios que não os seus. Segundo HELRES (1995), citado por MARTINS et alii (2001, p.164), no trabalho “Instrumentos tecnológicos e jurídicos para a construção da sociedade sustentável”6, a diversidade conceitual de sustentabilidade vai de tendências mais “conservadoras” às mais “radicais” (destaques do autor). Assim, refere-se a uma sustentabilidade débil, dependente da capacidade de durabilidade do meio físico, com redução de insumos industriais e aplicação mais eficiente e priorização de insumos biológicos e biotecnológicos. Nesse contexto enquadra-se a agricultura sustentável, com objetivos de curto prazo, que visam melhorar a eficiência e racionalidade do padrão da agricultura dita convencional, enfoque tecnocêntrico. No outro extremo, define uma sustentabilidade forte, segundo a qual seria impossível harmonizar economia e ambiente nos atuais padrões do sistema econômico internacional, exigindo transformações profundas em todo sistema agroalimentar, com estratégias de longo prazo, enfoque ecocêntrico (grifos do autor). Prevê, desta forma, em função das pressões do ideal da sustentabilidade, um processo de transição que deverá combinar práticas e princípios da agricultura convencional com as vertentes alternativas, como os conhecimentos da pesquisa agroecológica. Por sua vez, VEIGA (1997), citado pelos autores do mencionado trabalho (2001, p. 164), propõe uma reflexão sobre o que denomina de transição 6 In: Desafio da Sustentabilidade:um debate socioambiental no Brasil, dos autores Sérgio Roberto Martins, Antônio Porciúncula Soler E Alexandre Melo Soares. São Paulo, 2001 ( p.157-181). 110 agroambiental relacionada com as grandes mudanças que poderão ocorrer nas esferas energética, agroalimentar, ambiental e do desemprego, em uma próxima fase de expansão capitalista. Nessa discussão, cabe acrescentar que: “o paradigma da sustentabilidade se consolida como o principal, se não o único, projeto utópico para o próximo século (leia-se atual), pois aglutina opiniões quanto à aspiração universal do equilíbrio entre as dimensões econômica, social e ambiental” (MARTINS et alii, 2001). O tema do desenvolvimento sustentável, no contexto da globalização, suscitou a construção de outras visões do desenvolvimento. Na concepção de ALBUQUERQUE (1998) as políticas de desenvolvimento local manifestam-se como resposta necessária aos principais desafios e imperativos da globalização exigidos pelo ajuste estrutural das economias latino-americanas, uma vez que devem orientar-se à introdução de inovações tecnológicas e organizativas na base produtiva de cada território. É claro o autor, ao afirmar que busca de um crescimento econômico com eqüidade, representa o principal desafio da atual fase histórica de transição, exigindo, ao nível “micro”, mudanças de paradigma técnico-econômico e organizativo da produção, além de reformas e mudanças em nível “meso” com adaptações sociais, culturais e institucionais, estabelecidas estrategicamente com os diversos agentes socioeconômicos territoriais (destaques do autor). A importância de considerar o “território” como ator do desenvolvimento e não somente como “espaço” ou suporte passivo do desenvolvimento de atividades, no processo de difusão do crescimento econômico, assim como o espaço territorial concebido como agente de transformação social e não como um mero espaço funcional, são traduções sintéticas do pensamento de ALBUQUERQUE (1998, p. 21). Desenvolvimento local conjuga-se ao conceito de desenvolvimento endógeno, tendo este como pressuposto. 111 4.2 A irrigação como política de desenvolvimento regional Em alguns autores, estudiosos do desenvolvimento econômico, encontram-se análises que corroboram a idéia de que a irrigação constitui uma alternativa para superação do atraso secular do setor da agricultura no Nordeste brasileiro, no entanto, ressalvam-se pontos cruciais da política, relevantes para discussão do tema desse trabalho de pesquisa. Em entrevista a ANDRADE (1998)7, Celso Furtado declara a importância da irrigação para desenvolver a região semi-árida nordestina: “São muitos os problemas do Nordeste. Uma das possibilidades de ação é a irrigação. A irrigação tem de ser feita dentro de um contexto maior, porque sabemos que, se você faz irrigação para concentrar renda, o problema social fica de pé. A irrigação teria de vir com o controle do uso do solo que permitisse uma divisão de renda. Esse é o sistema do mundo inteiro. Você chega a Israel e vê pequenas áreas de terra que são irrigadas. Pode-se ter uma boa renda com um hectare irrigado. Por outro lado, precisa-se ter uma visão de conjunto da região, com uma política global. Resta saber se a irrigação está ajudando a resolver o problema da produção de alimentos. Ela parece orientada para a fruticultura de exportação, a produção de vinhos. Nesse caso, tem de se atacar o problema por outro ângulo: reduzir a população do semi-árido. A irrigação não vai absorver tanta mão-de-obra”. ABLAS (1989), citado por SEGUNDO (1998, p. 3) reconhece a contribuição da irrigação “primeiramente como indutora de um processo de crescimento de produção e depois como modificadora das formas de produzir”. Ressalta sua importância dos objetivos dos programas de irrigação: aumento da produção de alimentos e de matérias-primas industriais; redução dos riscos climáticos na frustração de safras e aumento das oportunidades de emprego e melhoria nas condições de trabalho nas zonas rurais. Em que pese a questão do financiamento dos projetos de irrigação, dependentes muitas vezes de subsídios estatais, há indicações de que poderão criar as condições mínimas para o desenvolvimento regional. Ademais a sua característica de criação de empregos agrícolas, deve justificar por si, sua implantação, posiciona-se o autor. Por sua vez, SEGUNDO (1998), citando ainda MAFFEI & SOUZA, enfatiza o processo de modernização tecnológica através da irrigação, pela possibilidade de incorporação de uma maior quantidade de mão-de-obra, devido 112 à maior intensidade do uso da terra e ao desenvolvimento de culturas mais intensivas em trabalho. A exigência da tecnologia no processo de irrigação propicia um aumento da participação do trabalho assalariado em substituição ao trabalho familiar e, assim, maior peso da mão-de-obra permanente com conseqüente redução do emprego temporário. Não se pode deixar de reconhecer que a política de irrigação foi uma das responsáveis pelas mudanças ocorridas no perfil da produção da agropecuária nordestina a partir dos anos 70. ARAÚJO (2003), no texto “O Velho e o Novo Nordeste”, destaca o crescente peso na produção regional, de culturas não tradicionais, pelo seu valor de mercado, como o mamão, a manga, a melancia, a uva, o tomate, o café e, especialmente, a soja. Dentre os subespaços de modernização agrícola, conforme já referido neste trabalho, os pólos agroindustriais de Petrolina/Juazeiro (com base na agricultura irrigada do submédio São Francisco), de agricultura de grãos dos cerrados baianos, sul dos estados do Maranhão e do Piauí e o moderno pólo de fruticultura do Rio Grande do Norte têm estabelecido importantes articulações econômicas extra-regionais, inclusive com o mercado internacional, principalmente às voltadas ao destino da produção. Caracterizada como uma das áreas de modernização intensa do Nordeste brasileiro, conforme qualifica a autora, o complexo agroindustrial de PetrolinaJuazeiro, estruturado a partir de grandes projetos de irrigação, expandiu-se, não apenas pelo cultivo de produtos de elevado valor comercial, destinados tanto à venda in natura para os mercados de maior poder aquisitivo, inclusive externo, quanto pelo processamento local em plantas industriais. Destaca a intensificação do uso de capital com a implantação de grandes projetos de médias empresas nacionais e, mesmo internacionais, em ramos industriais variados: processamento de alimentos, bens de capital, embalagens, equipamentos para irrigação, materiais de construção, fertilizantes e rações. No entanto, reconhece ARAÚJO (2003) que, mesmo onde a irrigação introduziu uma agricultura moderna no semi-árido, a “modernização” foi conservadora, inclusive da estrutura fundiária. Citando GRAZIANO (1989), corrobora o pensamento de que a base técnica modernizou-se e a questão fundiária agravou-se. 113 GOMES (2001, p. 193-194), contestando os que desaprovam as iniciativas de irrigação, reconhecendo que “a má vontade, por exemplo, de alguns economistas com a irrigação é notória”, enfatiza “que a irrigação, na sua versão competitiva, não na assistencialista, representa uma das poucas boas notícias a respeito do Semi-árido”. Assim, “ignorando preconceitos” procura demonstrar que: “Petrolina-Juazeiro e Mossoró-Açu, onde se produzem frutas para o mercado doméstico e para exportação, constituem os melhores exemplos de núcleos de atividade econômica de alto rendimento (extremamente raros, mas existentes, no Sertão), que precisam ser reproduzidos em muitos outros locais”. Em seu estudo, GOMES (2001) denota a aceleração no ritmo de implantação de áreas irrigadas a partir de 1970, pela Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (CODEVASF), que contabilizava 105 mil hectares em seus perímetros públicos, o correspondente a um terço da área total irrigada no vale do São Francisco, calculado com base em fotografias aéreas (354 mil hectares), sendo a diferença atribuída à iniciativa privada. Além da expansão das áreas, entre os principais aspectos salientados por GOMES (2001), registram-se as modificações economicamente vantajosas no tipo de produção e de comercialização associados no vale. A uva de mesa e a manga tornaram-se as culturas mais importantes da região. A produção de uvas experimentou um crescimento de 293%, entre 1991 e 1997, e a manga, no mesmo período, de 616%, com um aumento do rendimento agrícola de 99% no caso da uva e de 25% no da manga. Os produtos da economia tradicional do semi-árido, mandioca, milho e feijão, no Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte, mostraram taxas relativas de crescimento do produto, da área e da produtividade, negativas. Para sintetizar os principais pontos que salienta o autor é importante ressaltar: a produção deixa de ser exclusiva das empresas e a partir dos anos 80, com a difusão de capital e tecnologia na região, os colonos, que insistiam em plantar culturas tradicionais, foram se iniciando no plantio de culturas perenes, como uva e manga e a participar das exportações; em 1996, 77% e 74% dos colonos cultivavam manga e uva, respectivamente, nos perímetros irrigados da CODEVASF; no início dos anos 90, Petrolina-Juazeiro tinha se transformado numa área produtora de um vasto conjunto de produtos irrigados 114 de alto valor, incluindo uvas de mesa e manga, exportadas para a Europa e os Estados Unidos; esse pólo produzia 90% das exportações de manga do país e 30% de uvas de mesa, tendo ultrapassado os estados de São Paulo e do Rio Grande do Sul (DAMIANI, apud GOMES, 2001). Diante às limitações de cálculo das estimativas de emprego, um exercício alternativo, segundo ainda GOMES (2001), foi comparar a evolução do emprego total em Petrolina-Juazeiro e em um conjunto de municípios com características semelhantes a esses dois municípios antes da irrigação. A pesquisa realizada pela FADE/UFPE, considerou a hipótese de que a diferença observada, no longo prazo, entre a evolução do emprego (aproximado pela população economicamente ativa) em Petrolina-Juazeiro e no grupo de controle poderia ser explicada pelo maior desenvolvimento da agricultura irrigada no referido pólo. No período de cobertura da pesquisa, 1960/1996, o emprego total cresceu 543% em Petrolina e 369% em Juazeiro, e expandiu-se nos municípios do vale, tomados em conjunto, apenas em 155%. Considerou razoável, admitiu o autor, que se não tivesse havido irrigação, Petrolina e Juazeiro seriam apenas mais dois municípios do vale, cujo desempenho com relação ao emprego, não deveria diferir muito daquele efetivamente observado para os demais municípios da mesma região. Ao lado do panorama quantitativo, as informações relativas à qualidade dos empregos criados no pólo Petrolina-Juazeiro (SOUZA, apud GOMES, 2001) já tinham observado que a irrigação no semi-árido do Nordeste, não especificamente em Petrolina-Juazeiro, vinha apresentando, dependendo do tipo de produto cultivado, coeficientes técnicos de mão-de-obra superiores aos da agricultura de sequeiro, podendo, assim, 100 hectares irrigados gerar entre 50 e 650 empregos agrícolas diretos anuais, enquanto área de igual dimensão de agricultura de sequeiro geraria apenas 30 empregos anuais. Há ainda que se considerar a maior produtividade do emprego característico de uma agricultura moderna, de alta tecnologia. Alguns argumentos, que coloca também GOMES (2001) depõem, fortemente, em favor da irrigação, na medida em que esse setor de alta produtividade começa a se consolidar. De imediato surge uma forte demanda por trabalhadores e empresários melhor qualificados, sendo provável que as gerações mais novas venham a se qualificar, com possibilidade de obter remunerações maiores que as gerações de seus antecessores. A demanda por educação terminará 115 criando a própria oferta, pelos canais de pressão e em função de interesses mútuos de empresários e trabalhadores. Em tais condições, a irrigação empresarial, exportadora, poderá se tornar fator importante de formação de uma nova geração de trabalhadores e empresários agrícolas no sertão. Cumpre destacar, nessa abordagem da irrigação como política pública de desenvolvimento regional, LEITE (Org., 2002:198-199), ao enfatizar que, no semiárido, a irregularidade e escassez das chuvas, juntamente com a pobreza dos solos, conjugadas às políticas agrícolas pouco realistas e descontínuas, têm desestimulado a aplicação de capital e tecnologia mais avançada nessas atividades, por parte da iniciativa privada, gerando um processo de estagnação difícil de romper no nível de produtividade do setor. Nessas condições, afirma o autor que “a irrigação constitui um caminho alternativo para a modernização da agropecuária e, certamente, como o mais seguro meio para viabilizar a aplicação de capital e tecnologia modernas com a finalidade de estabilizar e elevar a produtividade e o nível de vida das pessoas envolvidas nessa atividade”. (ibid, p. 198-199) Fundamenta-se LEITE (Org., 2002), em estudo de avaliação pertinente ao Programa de Irrigação de responsabilidade do DNOCS e da CODEVASF, realizada pela equipe da Divisão de Estudos Agrícolas do Banco do Nordeste (sob sua coordenação), para apontar resultados obtidos por esse programa, num balanço de custos/benefícios sociais (início dos anos 1980). Dentre os fatores relevantes, vale mencionar: a lentidão na execução dos programas devido à complexidade da modernização agrícola pretendida, os reduzidos recursos e a pulverização em muitos projetos; a grande disparidade no desempenho agronômico entre colonos de perímetros distintos como do mesmo perímetro, com implicações sobre suas rendas; os problemas decorrentes do baixo nível de associativismo e de renda dos filiados, bem como deficiências administrativas e organizacionais; a operação e manutenção dos perímetros prejudicados pela escassez de recursos, ausência e deficiência de planos; as dificuldades de concessão do crédito na oportunidade devida; a deficiência de pessoal habilitado na prestação de assistência técnica, financeira e social; os problemas de relacionamento entre diversos órgãos e técnicos atuantes nos perímetros. Alguns aspectos avaliativos e conclusivos citados pelo autor são parâmetros importantes para discussão e resultados da análise sobre a contribuição de programas de irrigação para o desenvolvimento regional. Um deles diz respeito ao fato dos órgãos de 116 irrigação do Nordeste ressentirem-se da escassez de recursos para desenvolver seus perímetros, o que pode ser também atribuído ao redirecionamento de verbas para a execução de grandes obras, deixando de lado a operação de projetos já iniciados, com repercussões no nível de renda dos colonos. Outra questão que merece a consideração do autor é a de que não se deve tirar o mérito da pequena irrigação, aludindo que não é correto fazer comparações entre os programas de colonização e esse tipo de irrigação. “Onde ela for possível e viável economicamente, deve ser incentivada e apoiada para que se multipliquem as propriedades que utilizem esse importante elemento de aumento da produtividade da agricultura” (ibid., p. 208). Como contribuição relevante, recomenda um novo esquema mais participativo, no qual os governos estaduais deviam assumir a coordenação dos programas de irrigação, colaborando ativamente no planejamento, execução e operação dos projetos, ação que se efetivou com a criação da Secretaria da Agricultura Irrigada do Governo do Estado, em 1998. Desaprova LEITE (2002, p. 211) o esquema complementar ao programa de colonização adotado pelo DNOCS e CODEVASF, através de investimentos e assistência para a implantação da agricultura irrigada por empresa privada, (cabendo-lhe executar as obras dentro de sua gleba) ao afirmar que a concessão de grandes áreas para exploração pelo sistema privado favorece a concentração da renda, gera menos emprego e contribui para manter um contingente de trabalhadores rurais na condição de “bóias frias”. Como se pode depreender, as análises dos autores citados fornecem pistas para orientar a busca de informações e a análise que se objetiva concluir sobre a contribuição dos Agropolos de fruticultura irrigada do Baixo Jaguaribe, para o desenvolvimento da região. No entanto, como também fica evidente, há diferenciação de enfoques e controvérsias nas diversas análises, o que significa que a discussão sobre o tema apenas iniciou-se. Dos aspectos ressaltados, alguns merecem comentários. O modelo de irrigação com programas de colonização foi reconhecidamente crítico, testemunhando esse fato, áreas desses projetos existentes, inclusive no Estado, estagnadas, desativadas ou pouco produtivas. O ponto de mais forte controvérsia parece ser o da participação da iniciativa privada em projetos de responsabilidade de órgãos públicos. LEITE (2001, p. 212-213) é claro ao concluir que social e economicamente não se 117 justifica “o uso, por grandes empresas privadas, do mais importante e limitante fator de produção regional, a água, em áreas desapropriadas por interesse público e com infraestrutura construída com recursos governamentais”. A literatura atual sobre o tema lança pontos inquestionáveis sobre o atual modelo de exploração da agricultura irrigada. ELIAS (in: SILVA, 2005, p. 439) discute que no Brasil, nos últimos 15 anos, muitas áreas foram incorporadas à produção e ao consumo globalizado e novos espaços agrícolas foram disponibilizados à produção moderna. Com base na constatação de que a fruticultura é apontada como uma das soluções para a agricultura semi-árida nordestina ressalta a atenção especial conferida pelo governo federal através do Programa de Apoio e Desenvolvimento da Fruticultura Irrigada do Nordeste, em 1997. As frutas escolhidas para receber incentivos foram especialmente a manga, a uva, o melão, a melancia e a banana, as mais solicitadas pelo mercado externo. Reconhece a autora que a região do Baixo Jaguaribe é a que mais vem se moldando à agricultura empresarial, ao agronegócio da fruticultura. Diante da análise que faz sobre a prioridade concedida pela política nacional à fruticultura científica e do agronegócio e sobre a observância do governo estadual à reestruturação produtiva da agropecuária que essa política impõe, afirma que o semi-árido cearense está sendo considerado como uma fração do espaço total do planeta, cada vez mais aberto às determinações exógenas e aos novos signos contemporâneos (ibid. p. 450). ELIAS (in: SILVA 2005 p. 453 - 456) chama atenção para o acirramento de questões ligadas à reestruturação da produção e do espaço agrário do semi-árido mostrando a impossibilidade da consecução de uma sociedade mais justa e equilibrada. Dentre essas questões cabe relacionar: “oligopolização do espaço agrário, com fortalecimento da privatização da terra e da água”; a desarticulação crescente da pequena agricultura de base camponesa”; “a transformação das relações de trabalho com o aumento da expropriação dos pequenos produtores, meeiros, parceiros e pequenos arrendatários”; “acirramento do mercado de terras as quais têm seu preço aumentado, contrariando, ainda mais, as aspirações para uma reforma agrária” e “expansão da monocultura”, para citar as mais preocupantes. 118 Contraria esse pensamento e mostra que a irrigação no Brasil ingressa em nova fase, medida recente adotada pelo Ministério da Integração Nacional (MI) de lançamento do edital de concorrência pública (agosto/2005), visando a contratação de serviços de consultoria para concepção de um modelo geral de concessão de projetos públicos de irrigação e de elaboração dos editais para licitar a concessão de doze projetos no Nordeste e norte de Minas. O modelo deve fornecer as bases legais, institucionais e técnicas sobre as quais se iniciará o processo de concessão de sistemas públicos de irrigação no Brasil. 4.3 Agropolo como proposta metodológica O projeto de pesquisa com enfoque em Agropolos contou com pesquisa elaborada pela ABIPT, com apoio do SEBRAE, CNPq, CNI/IL e EMBRAPA, em 1997, resultando daí uma proposta metodológica de implantação e operacionalização de um sistema no Brasil, diretamente relacionado com o agronegócio regional. Partiu-se de pressupostos de que o Brasil ainda carece de experiência na condução de programas, de âmbito sub-regional, que contribuíam, eficazmente, para acelerar o processo de desenvolvimento do agronegócio. Este modelo proposto tem como principal objetivo contribuir para que haja uma adequada homogeneização conceitual dos programas de desenvolvimento dos Agropolos, nas diferentes regiões do país, assegurando, dessa forma, maior uniformidade nos objetivos, nos procedimentos e na estratégia de ação. A caracterização básica desejável dos Agropolos envolve uma dimensão físico-econômica e político-institucional. Na primeira dimensão incluem-se como variáveis: • Espaço Estratégico – uma sub-região adequadamente delineada, evitando dispersão de uso de recursos estratégicos disponíveis; • Centro de Convergência – presença no espaço geográfico de um centro urbano destacado por fatores tais como: melhor infra-estrutura de serviços sociais, concentração da base institucional, entroncamento de transporte, 119 facilidade de comunicação, concentração de unidades de transformação industrial e fluxo de matéria-prima; • Priorização de produtos/lógica de mercado – concentração das ações em produtos prioritários na economia sub-regional em termos de valor da produção e emprego, rentabilidade econômica em função de avanço tecnológico das unidades de produção agropecuária e agroindustriais, de agregação de valor à produção e potencial de mercado; • Cadeias produtivas/verticalização dos produtos prioritários visualizando os segmentos da cadeia agroindustrial, as operações e conexões e definindo estratégias para eliminar e minimizar os estrangulamentos existentes; • Complexo agroindustrial – particularmente, em regiões mais pobres, há que se admitir a necessidade de fomentar a criação de pequenas e médias empresas agroindustriais passando o Programa Agropolo a cumprir relevantes funções, mormente no que concerne à inovação tecnológica nos processos agroindustriais, comercialização de crédito e organização da produção. • Interação tecnologia/agroindustrialização baseada na geração e inovação tecnológica e gestão mercadológica, concebida como uma arma do Programa, e na agroindústria como parte integrante do processo de desenvolvimento no campo, fator preponderante de difusão de tecnologia em nível do empreendedor rural. A dimensão político-institucional requer: • Disponibilidade de base institucional em especial para geração, captação e transferência de tecnologia, formação de recursos humanos, qualificação de mão-deobra, financiamento à produção, prestação de serviços tecnológicos especializados, organização da produção e operacionalização de redes de informação; • Integração, articulação institucional sendo essenciais nesse processo o delineamento do campo atual das instituições envolvidas, de mecanismo de articulação, planejamento participativo das ações e avaliação conjunta dos resultados; • Gestão compartilhada/coordenação com o desafio da instituição coordenadora de reunir capacidade para organizar competências, devendo contar com a 120 participação de representantes da base institucional, das lideranças rurais e empresariais e do poder político local; • Conteúdo Social com a identificação dos reais estrangulamentos confrontados pelos estratos mais pobres da população rural, assegurando a efetiva incorporação dos pequenos produtores selecionados, através de: tecnologias e sistemas de produção apropriados; organização dos produtores como instrumento facilitador dos processos de transferência de tecnologia e de comercialização da produção; apoio na integração com o segmento de transformação; esforço concentrado de articulação com os serviços voltados para a educação fundamental e qualificação da mão-de-obra; e esforço de integração com programas especiais de apoio à agricultura familiar. • Preservação Ambiental pautada essencialmente em três instrumentos de política governamental, para orientar as estratégias e procedimentos dos programas Agropolos: Protocolo verde, lançado pelo Governo Federal, em 1995, que se constitui na Carta de Princípios para o desenvolvimento sustentável, firmada com bancos federais, induzindo a efetiva incorporação da variável ambiental como critérios indispensáveis no processo de análise para a concessão de crédito institucional e de benefícios fiscais; A Resolução 273, de 1997, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) entre outros dispositivos que estabelece normas para o licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais e/ou potencialmente poluidoras; A Política Nacional de Recursos Hídricos, estabelecida pela Lei n° 9.433, traduzida no estabelecimento de cinco instrumentos básicos: Plano Nacional de Recursos Hídricos; outorga de direito de uso de recursos hídricos; cobrança pelo uso da água; enquadramento dos cursos de água em classes de uso; e sistema nacional de informação sobre os recursos hídricos; • Redes de Informação regional em cada Agropolo, resultante da associação dos centros de pesquisa, instituições de educação e extensão rural, instituições 121 financeiras e laboratórios de análise, serviços especializados, empresas agroindustriais e produtores rurais, entre outros; • Ação inovadora orientada com uma visão de longo prazo, objetivando o alcance de resultados concretos que contribuam para melhoria das condições das comunidades inseridas na área de abrangência do Agropolo. 122 5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS E INFORMAÇÕES É importante ter presente que todos os dados e informações econômicos a serem discutidos e analisados sobre os efeitos que possa ter gerado a política de Agropolos, no Ceará, trazem o reflexo das estratégias governamentais influenciadas pela ótica neoliberal, de supremacia do mercado e produção globalizada, características da segunda metade dos anos de 1990 e início do atual século. 5.1 Dinâmica urbano-regional do Agropolo Baixo Jaguaribe Analisar a dinâmica demográfica do Agropolo Baixo Jaguaribe, na atualidade e em sua perspectiva, torna necessário um retorno ao período de mudanças significativas no seu padrão de comportamento. MENELEU (In: ELIAS Org., 2002: p.177-1985), com base nos resultados dos censos populacionais na região do Baixo Jaguaribe, ao longo de mais de um século, constata que, até 1970, a região apresentou fortes oscilações no crescimento da população relacionadas aos deslocamentos campo-cidade e às migrações inter-regionais mostrando uma tendência de arrefecimento da dinâmica demográfica. No entanto, sua entrada no padrão da transição demográfica, como todo o Estado, se deu com a inflexão da tendência das taxas geométricas de crescimento, tendo sido crítica nesse aspecto, a passagem de 1960 a 1970. Entre as questões analisadas, cabe assinalar: constituíram-se vetores do comportamento declinante observado, o “efeito migração” com crescimento do êxodo rural e o deslocamento da população em idade ativa (PIA) para atender às transformações no perfil econômico do Ceará, com a metropolização de Fortaleza e o processo de industrialização, a partir dos anos de 1960; mesmo a reversão da tendência de região exportadora de mão-de-obra, foi insuficiente para impedir a perda no crescimento demográfico, influenciado pelo declínio das taxas de fecundidade das mulheres em idade fértil, reflexo do comportamento populacional registrado no país, à exceção de municípios mais dinâmicos como Limoeiro do Norte 123 e Russas; resultados do Censo Demográfico 2000 confirmam a tendência de expansão da população da região a taxas de variação decrescentes. A partir dessas constatações volta-se à análise referente ao período mais recente, considerando-se os dois últimos censos demográficos, e às estimativas de população para o ano 2005 (IBGE), constante da TABELA 17. Gráfico 6: Evolução da População - Agropolo Baixo Jaguaribe, Fortaleza, Interior e Ceará - 1991, 2000 e 2005. 9.000 8.000 7.000 6.000 5.000 8.097,3 7.430,7 6.366,6 4.598,0 5.722,3 5.289,3 4.000 3.000 2.141,4 2.374,9 369,9 413,4 446,7 1991 2000 2005 1.768,6 2.000 1.000 - A.B.Jaguaribe Fortaleza Interior Ceará Fonte: Anuário Estatístico do Ceará - 2001 - IPLANCE e Estimativa da População para 1º de julho de 2005 - IBGE. A despeito do dinamismo conferido pelas políticas e projetos públicos, notadamente as obras hídricas e o desempenho da agricultura irrigada, nos últimos 15 anos, o Baixo Jaguaribe não manteve sua representatividade na população estadual. No período 1991-2000, apresentou um crescimento anual da população a uma taxa 1,24%, menor do que o crescimento observado para o para o Interior (1,57%) e para Ceará (1,73%). Tomando-se os dados do Ceará sem Fortaleza, a participação da região reduziu-se de 8% em 1991, para 7,8% em 2000. Relativamente a todo o Estado, esse percentual sai de 5,8% para 5,6% nos mesmos anos. O comportamento observado, nas duas comparações, pode ser explicado pelo ritmo de crescimento demográfico dos municípios da RMF, como também pela dinâmica demográfica das regiões do Interior estadual, que apresentam variações anuais mais expressivas, como Litoral Oeste, Sobral/Ibiapaba e Cariri, em função do maior peso populacional. 124 Tabela 17: Indicadores demográficos - Agropolo Baixo Jaguaribe - 1991, 2000, 2005. Município Total Alto Santo POPULAÇÃO RESIDENTE 2000 1991 Urbana 13.610 3.919 Rural Total 9.691 Urbana Taxa Média Geomátrica de Incremento Anual (1991-2000) Rural 15.394 5.447 9.947 1,38% Taxa de Urbanização (%) 1991 2000 28,80 35,38 População Estimada Total - 2005 16.512 Taxa Média Geomátrica de Incremento Anual (2000-2005) 1,41% Aracati 60.687 33.990 26.697 61.187 39.179 22.008 0,09% 56,01 64,03 67.533 1,99% Banabuiú 14.364 4.021 10.343 16.173 7.622 8.551 1,33% 27,99 47,13 17.306 1,36% Ibicuitinga 8.598 2.424 6.174 9.435 4.387 5.048 1,04% 28,19 46,50 9.959 1,09% 13.661 5.100 8.561 16.052 4.662 11.390 1,81% 37,33 29,04 17.550 1,80% 5.701 3.210 2.491 6.579 3.672 2.907 1,60% 56,31 55,81 7.129 1,62% 17.580 5.436 12.144 18.024 7.295 10.729 0,28% 30,92 40,47 18.302 0,31% Icapuí Itaiçaba Jaguaretama Jaguaribara 7.718 2.878 4.840 8.730 3.539 5.191 1,38% 37,29 40,54 9.364 1,41% Jaguaruana 25.917 11.734 14.183 29.735 16.580 13.155 1,54% 45,28 55,76 32.127 1,56% Limoeiro do Norte 41.700 23.342 18.358 49.620 28.213 21.407 1,95% 55,98 56,86 54.582 1,92% Morada Nova 58.912 26.499 32.413 64.400 33.869 30.531 0,99% 44,98 52,59 67.838 1,05% Palhano 7.946 3.525 4.421 8.166 4.259 3.907 0,30% 44,36 52,16 8.304 0,34% Quixeré 13.801 6.692 7.109 16.862 9.857 7.005 2,25% 48,49 58,46 18.780 2,18% Russas 46.566 27.055 19.511 57.320 35.323 21.997 2,34% 58,10 61,62 64.057 2,25% São João do Jaguaribe 8.018 2.519 5.499 8.650 2.744 5.906 0,85% 31,42 31,72 9.046 0,90% 25.106 12.687 12.419 27.098 15.852 11.246 0,85% 50,53 58,50 28.346 0,90% 369.885 175.031 194.854 413.425 222.500 190.925 1,24% 47,32 53,82 446.735 1,56% Ceará 6.366.647 4.162.007 2.204.640 7.430.661 5.315.318 2.115.343 1,73% 65,37 71,53 8.097.276 1,73% Fortaleza 1.768.637 1.768.637 - 2.141.402 2.141.402 - 2,15% 100,00 100,00 2.374.944 2,09% Ceará (interior) 4.598.010 2.393.370 2.204.640 5.289.259 3.173.916 2.115.343 1,57% 52,05 60,01 5.722.332 1,59% Tabuleiro do Norte A.B.Jaguaribe A.B.Jaguaribe / Ceará 5,81% 4,21% 8,84% 5,56% 4,19% 9,03% 5,52% A.B.Jaguaribe / Ceará (Interior) 8,04% 7,31% 8,84% 7,82% 7,01% 9,03% 7,81% Fonte: Anuário Estatístico do Ceará - 2001 - IPLANCE. Estimativa da População para 1º de julho de 2005 -IBGE. Ceará (Interior): Todo o Estado do Ceará excluindo o Município de Fortaleza. 125 A concentração populacional nos maiores municípios da região, Morada Nova, Aracati, Russas e Limoeiro do Norte, está tendendo a se acentuar, como evidencia a mudança da participação desse conjunto de municípios no total da região, de 55,2% para 56,3 % entre 1991 e 2000. O aumento da urbanização dos quatro maiores municípios citados contribuiu de forma decisiva, para a conformação dessa realidade, embora elevação significativa da taxa de urbanização tenha sido observada em praticamente toda a região, com exceção de São João do Jaguaribe, cuja urbanização basicamente, não sofreu alteração, e Icapuí que teve a participação da população urbana reduzida de 37,3% para 29%, em função de redução absoluta de população urbana. Apesar de as estatísticas registrarem um aumento da urbanização no Baixo Jaguaribe, esse processo se deu num ritmo menos intenso do que o verificado no Interior. A representatividade da região na população urbana do Interior estadual mostrou, apesar de discreta, uma redução (de 7,3% para 7%) entre 1991 e 2000, bem como em termos de toda a população (8% para 7,8%, respectivamente). Por outro lado, há evidência nos dados, da característica do Baixo Jaguaribe como uma região de atividades econômicas vinculadas à permanência da população no campo no contexto do Interior do Ceará. Enquanto o Estado mostrou uma queda de 4,1% no contingente de habitantes rurais, a diminuição na região foi de 2% nos anos censitários da década passada. Assim é que o Baixo Jaguaribe concentra 5,6% da população total do Estado. No entanto, abriga 9% da sua população rural (2000). Essa posição vem se mostrando uma tendência, pois era 8,8% em 1991, contra os 5,8% de representatividade no total da população. Dos dezesseis municípios integrantes do Agropolo, sete são ainda tipicamente rurais, em função da distribuição espacial da sua população. A experiência sugere que os níveis de urbanização se associam ao tamanho populacional. Esse fato se confirma nos casos de Aracati e Russas, que exibem taxas de população urbana mais próximas à do Estado (2000) e de Limoeiro do Norte, com uma das taxas mais altas da região. Fogem à regra, no entanto, o caso de Quixeré, especialmente, e de Tabuleiro do Norte, ambos ocupando a terceira posição em proporção de população urbana (58%), superior à de Morada 126 Nova, o município de maior contingente demográfico. Por sua vez, outros municípios pouco populosos, Itaiçaba, Palhano e Jaguaruana, também já superaram os 50% de taxa de urbanização. Projeções da população para 2005, que podem captar a tendência recente da dinâmica demográfica pela intensificação de atividades econômicas na região, evidenciam o Baixo Jaguaribe com 446.735 habitantes, confirmando uma perspectiva dos municípios de Morada Nova, Aracati, Russas e Limoeiro do Norte de acentuarem sua característica de pólos de atração regional, com a elevação de sua participação no total regional para 56,8% (TABELA 18). Projeta-se para o Agropolo Baixo Jaguaribe uma intensificação do ritmo de crescimento demográfico, 1,56% de incremento médio anual, contra 1,24% da década anterior, o que leva a supor um aumento do fluxo migratório inter-regional para as cidades pólo e municípios em que se amplia o agronegócio da fruticultura irrigada. A despeito desse fato, os dados não apontam para um crescimento da representatividade da região no Interior estadual, confirmando-se os 7,8% registrados em 2000, segundo os dados da população estimada. Tabela 18: Distribuição dos municípios segundo as faixas de população Agropolo Baixo Jaguaribe - 2000 e 2005. 2000 Faixas de População Municípios Part. % 2005 População Part. % Municípios Part. % População Part. % até 10.000 5 31,3 41.560 10,1 5 31,3 43.802 9,8 10.001 a 20.000 5 31,3 82.505 20,0 5 31,3 88.450 19,8 20.001 a 30.000 2 12,5 56.833 13,7 1 6,3 28.346 6,3 30.001 a 40.000 - - 0 - 1 6,3 32.127 7,2 40.001 a 50.000 1 6,3 49.620 12,0 - - 0 0,0 50.001 a 60.000 1 6,3 57.320 13,9 1 6,3 54.582 12,2 mais de 60.000 2 12,5 125.587 30,4 3 18,8 199.428 44,6 SOMA 16 413.425 16 446.735 Fonte dos dados básicos: Censos Demográficos - 2000 e Estimativa da População para 1º de julho de 2005 - IBGE Fonte: Cálculos da autora. 127 Mudanças na estruturação urbano-regional são observadas quando se analisa a distribuição dos municípios por faixas de população, considerando a população estimada para 2005. A população regional está mais concentrada nos pólos, uma vez que os municípios menores, com menos de 30 mil habitantes, têm sua participação reduzida no total da população regional, enquanto a região passa a ter três municípios com mais de 60 mil habitantes, com um contingente populacional que se aproxima dos 45% da população total do Agropolo. A perspectiva analítica de MENELEU (2001) de que a pressão demográfica deveria continuar exercendo influência nas áreas de expansão dos negócios turísticos, sobretudo na linha de costa (Aracati e Icapuí), assim como nas áreas de crescimento acentuado, que correspondem aos espaços de expansão dos investimentos de modernização agrícola, como Limoeiro do Norte, Morada Nova, Russas e Quixeré, se confirma nos dados apresentados. 5.2 Economia regional e agricultura irrigada A ainda incipiente economia do Agropolo Baixo Jaguaribe permite investigar efeitos de uma política pública, como a do agronegócio da agricultura irrigada, em indicadores econômicos regionais, embora se reconheça o curto período de análise após a implantação do programa. As variáveis trabalhadas podem captar: diretamente os efeitos do Programa, nos dados referentes ao emprego e às estatísticas do agronegócio na região; os resultados para os quais o Programa concorre como os medidos pelo PIB; e efeitos indiretos em outros indicadores econômicos a exemplo do ICMS e do consumo de energia elétrica; e ainda reflexos em indicadores educacionais selecionados pela pesquisa. 128 5.2.1 Produto Interno Bruto - PIB Com o objetivo de aferir a geração de riqueza no Agropolo Baixo Jaguaribe, a análise contempla dois aspectos: a representatividade dos indicadores regionais – PIB total e PIB per capita no Ceará e Interior do Estado; e a mudança na estrutura produtiva da região, ou seja, do Valor Adicionado por setor de atividade. Não há dados disponíveis relativos ao período anterior à implementação do Programa de Desenvolvimento dos Agropolos, conforme se vinha considerando, revistos segundo a nova metodologia adotada pelo IBGE e elaborados com a participação dos Estados. Portanto, não serão possíveis comparações, antes e depois do Programa. A análise pode ser acompanhada seguindo-se a TABELA 19. Entre 1999 e 2002 elevou-se a participação do PIB total da região no mesmo indicador estadual, embora com uma variação pouco expressiva, de 4,25% para 4,5%, respectivamente. A região não exibe a mesma performance quando se trata da relação com o Interior. Em 1999 a região contribuiu com 7,9% para o PIB do Interior e, em 2002, essa participação ficou em 7,63%. O PIB do Ceará, em quatro anos, alterou sua composição com um incremento do setor terciário, que elevou sua participação para mais de 57%, e uma redução relativa do setor da atividade industrial, situando-se em 36,8%. Esse comportamento do setor de serviços é esperado à medida que avança o processo de urbanização e de modernização econômica, no caso do Ceará, fortemente influenciado por Fortaleza (41% do PIB total estadual). 129 Gráfico 7: PIB total a preços de mercado correntes - Agropolo Baixo Jaguaribe, Interior e Ceará - 1999 e 2002 30.000 24.203,8 25.000 19.510,9 20.000 14.275,8 15.000 10.489,8 10.000 5.000 1.088,9 828,3 0 1999 A.B.Jaguaribe Interior 2002 Ceará Fonte: Produto Interno Bruto dos Municípios 1999-2002 - IBGE - 2005. Nos anos do período em análise, acentuou-se a diferença entre a estrutura setorial dos PIBs regionais e do Interior. Na região, o setor da agricultura influenciou essa mudança, ao sair de 12,2% em 1999, para 14,2%, a sua participação na composição do Valor Adicionado. No Interior os setores de serviços, sobretudo, e da agricultura apresentaram redução em favor de um aumento da representatividade do setor industrial, reflexo do programa de atração de indústria de médio e grande porte e de desconcentração espacial do setor, implementado nas últimas gestões pelo governo estadual. 130 Tabela 19: Produto interno bruto total a preços de mercado correntes e valor adicionado por setores econômicos Agropolo Baixo Jaguaribe - 1999 e 2002. PIB 1999 Município Alto Santo Aracati Total (R$ 1.000) PIB / Baixo Jaguaribe (%) Valor Adicionado por Setor de Atividade (%) Agricultura Industria Serviços Total (R$ 1.000) PIB / Baixo Jaguaribe (%) PIB 2002 Valor Adicionado por Setor de Atividade (%) Agricultura Industria Serviços 59.569 7,19 5,95 70,54 23,50 42.177 3,87 13,04 50,98 35,98 133.119 16,07 6,94 40,61 52,45 197.638 18,15 6,64 41,41 51,95 Banabuiú 22.544 2,72 20,44 19,95 59,61 28.305 2,60 30,47 12,85 56,68 Ibicuitinga 11.146 1,35 20,51 16,79 62,70 14.596 1,34 24,12 15,89 59,99 Icapuí 55.710 6,73 11,02 56,41 32,57 49.552 4,55 17,22 32,39 50,38 Itaiçaba 11.429 1,38 7,49 39,45 53,06 14.253 1,31 18,03 28,32 53,65 Jaguaretama 27.144 3,28 35,33 12,94 51,73 32.928 3,02 34,42 13,80 51,78 Jaguaribara 27.273 3,29 13,59 55,27 31,14 54.515 5,01 14,92 62,95 22,13 Jaguaruana 51.435 6,21 14,67 31,93 53,40 66.923 6,15 9,41 40,09 50,49 Limoeiro do Norte 105.396 12,72 16,20 29,16 54,64 132.227 12,14 12,34 28,09 59,57 Morada Nova 111.491 13,46 13,57 35,48 50,95 152.444 14,00 11,42 42,80 45,77 9.351 1,13 13,93 14,51 71,56 13.023 1,20 20,07 19,45 60,48 Palhano Quixeré 23.313 2,81 10,86 23,86 65,28 59.628 5,48 51,64 13,27 35,10 Russas 120.457 14,54 5,96 37,36 56,68 164.124 15,07 5,84 36,40 57,76 São João do Jaguaribe 14.918 1,80 23,22 18,29 58,48 17.295 1,59 27,32 16,38 56,31 Tabuleiro do Norte 43.979 5,31 14,29 20,39 65,32 49.240 4,52 10,46 22,75 66,79 A.B.Jaguaribe 12,18 37,14 50,68 1.088.867 19.510.907 5,71 39,26 55,03 9.021.062 0,20 40,78 10.489.845 10,45 A.B.Jaguaribe / Ceará 4,25% A.B.Jaguaribe / Ceará (Interior) 7,90% Ceará Fortaleza Ceará (interior) 828.275 100,00 14,16 35,08 50,75 24.203.764 6,05 36,76 57,18 59,02 9.927.916 0,09 31,75 68,17 37,96 51,59 14.275.848 10,33 40,36 49,32 9,27% 4,11% 4,00% 4,50% 10,57% 4,31% 4,01% 9,43% 7,91% 7,94% 7,63% 10,63% 6,74% 7,97% Fonte: Produto Interno Bruto dos Municípios 1999-2002 - IBGE - 2005. Ceará (Interior): todo o Estado do Ceará excluindo o Município de Fortaleza. 131 100,00 Nos municípios onde se verificou a expansão do agronegócio da agricultura irrigada, foco do programa em análise, Quixeré se destacou com um aumento da contribuição do setor agrícola no Valor Adicionado do Município, de 10,9% em 1999, para 51,6% em 2002. Dentre os eventos dignos de nota, aponta-se o desempenho conseguido pela agricultura do Agropolo Baixo Jaguaribe que se fez sentir no aumento da contribuição dessa região para formação do Valor Adicionado do setor de todo o Estado e do Interior. Nos dois casos elevou-se para mais de 10,5%, em 2002, enquanto em 1999 situava-se em torno de 9%. Alterações se operaram na economia regional a partir do maior ou menor dinamismo das economias municipais, revelando-se na formação do PIB do Agropolo, sob o ponto vista espacial. A liderança dos municípios de Aracati, Russas, Morada Nova e Limoeiro do Norte evidencia-se em 1999 e em 2002. Respondendo por 56,8% do PIB do Agropolo, em 1999, passaram a ser responsáveis por quase 60% desse indicador. Os dados registram assim, uma forte concentração econômica nos pólos regionais do Baixo Jaguaribe. Esse comportamento poderia ser esperado tendo em vista, não somente serem áreas de concentração do agronegócio regional - agricultura irrigada e pesca, mas também centros que atendem às demandas locais de mercado e de serviços e preferencialmente, serem procurados para a instalação de novas unidades empresariais. Tendem, portanto, a fortalecer suas centralidades, ou afirmar seu papel de centros de comércio, de serviços, de atividades industriais, de ensino e de gerências regionais administrativas, entre outras. O município de Quixeré é a principal evidência, como caso para se analisar o efeito da política de Agropolos na economia do município. Saiu em 1999, da 10ª posição no ranking do PIB do Agropolo para a 6ª posição em 2002, com uma significativa transformação na composição do seu Valor Adicionado, já destacado. Contrariamente, Alto Santo ocupava a 5ª posição entre os municípios líderes e caiu para a 10ª posição no período, em função de forte retração do setor industrial. 132 A participação da agricultura no PIB elevou-se na metade dos municípios do Agropolo, cinco dos quais, os de menores PIB municipais. Por sua vez, nos pólos regionais e em especial, em Limoeiro do Norte, Morada Nova e Russas, onde se localizam as áreas de irrigação, a representatividade da agricultura nos seus valores adicionados, não só se reduziu, como situou-se abaixo da participação do setor no PIB da região. Nos casos de Limoeiro do Norte e de Russas, merece ênfase a proporção assumida pelo setor de serviços com 59,6% e 57,8%, respectivamente. Essa constatação corrobora a teoria de que o crescimento se dá na medida da capacidade da economia de gerar valor agregado aos produtos e serviços, o que implica no dinamismo dos setores industrial e terciário. LIMA e ROCHA (in: ELIAS, et alii, 2002) estudando a expansão do setor terciário da região do Baixo Jaguaribe denotam que a modernização da economia e a maior demanda por serviços de qualidade exigiram a inserção de novas técnicas e procedimentos organizacionais, com agregação à produção de uma gama de serviços resultantes dos setores primário e industrial, causando uma sensível ampliação do setor terciário. De conformidade com os autores citados, pode-se também afirmar que o alto grau de cientificidade aplicado à agricultura moderna, com mecanização do processo produtivo, sistemas de irrigação informatizados, insumos químicos, ao mesmo tempo em que reduz a ocupação em atividades primárias, gera a necessidade de serviços de manutenção, fornecimento de tecnologia, capacitação de profissionais, assessorias e consultorias, criando desta forma novos empregos. Comportamento semelhante ao observado para o PIB total, encontrou-se para PIB per capita regional (TABELA 20). Em 1999 esse indicador regional era 76% do estadual, enquanto superava o do Interior (101%). Em 2002 o PIB per capita do Agropolo alcançou 81,2% do per capita cearense, porém mostrou que a economia da região não acompanhou o desempenho do Interior, reduzindo sua representação, ainda que levemente, para 97,6%. É surpreendente, nos dados referentes a esse indicador, em 2002, o destaque de Jaguaribara, exibindo um PIB quase o dobro do estadual, e de Quixeré, 133 com esse indicador equivalente ao estadual e um terço superior à média regional. Por sua vez, o PIB per capita dos quatro principais pólos regionais, com exceção de Aracati, não apresenta destaque, como se constata na TABELA 20. Por outro lado, municípios menores como Icapuí e Alto Santo estão acima da média regional. Tabela 20: PIB per capita a preços de mercado correntes - Agropolo Baixo Jaguaribe - 1999 e 2002. Município PIB per Capita (R$ 1,00) PIB 1999 Part. PIB per capita Mun. CE (%) PIB 2002 Part. PIB per capita Mun. Baixo Jaguaribe (%) PIB per Capita (R$ 1,00) PIB per capita / PIB per capita / CE (%) Baixo Jaguaribe (%) Alto Santo 3.890 147,19 193,03 2.652 84,75 104,39 Aracati 2.192 82,94 108,78 3.084 98,56 121,40 Banabuiú 1.401 53,01 69,52 1.696 54,20 66,76 Ibicuitinga 1.186 44,88 58,86 1.509 48,22 59,39 Icapuí 3.494 132,21 173,40 2.960 94,62 116,55 Itaiçaba 1.748 66,13 86,73 2.086 66,69 82,14 Jaguaretama 1.508 57,04 74,81 1.814 57,98 71,42 Jaguaribara 3.141 118,83 155,84 6.044 193,17 237,94 Jaguaruana 1.740 65,83 86,34 2.171 69,38 85,46 Limoeiro do Norte 2.140 80,95 106,17 2.548 81,44 100,32 Morada Nova 1.738 65,76 86,24 2.311 73,85 90,97 Palhano 1.147 43,38 56,89 1.583 50,58 62,30 Quixeré 1.394 52,74 69,18 3.361 107,43 132,33 Russas 2.120 80,20 105,18 2.717 86,84 106,97 São João do Jaguaribe 1.730 65,47 85,87 1.958 62,59 77,10 Tabuleiro do Norte 1.628 61,61 80,81 1.780 56,88 70,06 A.B. Jaguaribe 2.015 76,25 100,00 2.540 81,18 100,00 Ceará 2.643 100,00 3.129 100,00 Fortaleza 4.246 4.416 Ceará (interior) 1.995 2.601 Região / Ceará 76,25% 81,18% 101,01% 97,64% Região / Ceará (interior) Fonte: Produto Interno Bruto dos Municípios 1999-2002 - IBGE - 2005. Ceará (Interior): todo o Estado do Ceará excluindo o Município de Fortaleza. 134 Gráfico 8: PIB per capita a preço de mercado correntes - Agropolo Baixo Jaguaribe, Interior e Ceará – 1999 e 2002. 3.500 3.129 3.000 2.643 2.601 2.540 2.500 2.015 2.000 1.995 1.500 1.000 500 0 1999 A.B.Jaguaribe Interior 2002 Ceará Fonte: Produto Interno Bruto dos Municípios 1999-2002 - IBGE - 2005. 5.2.2 Emprego A avaliação da variável emprego permitirá aferir somente a evolução da economia formal tomando-se, para tanto, os dados do Cadastro Central de Empresas referentes a unidades locais e pessoal ocupado segundo os municípios integrantes do Agropolo e de acordo com o Cadastro Nacional de Atividades Econômicas (CNAE). O objetivo é considerar essas variáveis como um “termômetro” da economia regional nos períodos antes e depois do Programa de Desenvolvimento de Agropolos. Corroborando os resultados encontrados na análise do PIB, o comportamento do número de empresas e pessoal ocupado mostra um incremento das atividades primárias no período 1999-2002. O número de unidades locais cresceu significativamente na agropecuária (44%) e pesca (410,5%), como também o total de pessoal ocupado. O setor primário da economia formalizada que, em 1996, respondia por 4,94% do emprego no Agropolo e mostrou, em 1999, uma participação ainda menor, em 2002, foi responsável por 11,3% da ocupação formal. Esse comportamento 135 do emprego, como das unidades locais instaladas atestam resultados esperados da política dos governos federal e estadual de transformação do setor primário do Ceará com a implantação da agricultura empresarial em larga escala. É notório o aumento exibido por setores que potencialmente podem ter absorvido os efeitos de encadeamento da expansão da agricultura irrigada na região, sendo esses: construção civil; comércio, reparação de veículos automotores, objetos pessoais e domésticos; alojamento e alimentação; transportes, armazenagem e comunicações; atividades imobiliárias, aluguéis e serviços prestados às empresas. A pesquisa registra um crescimento econômico no Agropolo Baixo Jaguaribe no período de implementação do Programa em foco, com maior dinamismo frente a todo o Estado. Segundo as estatísticas, o pessoal ocupado nas unidades locais cresceu 61,5%, nos quatro anos, contra os 55,9% no nível estadual. A contribuição do Agropolo Baixo Jaguaribe no emprego no Ceará elevou-se de 3% em 1996 para 4% em 2002. Registre-se, no entanto, que o incremento nessa participação foi maior no período anterior (1996/99) quando se elevou em 0,84%. A TABELA 23 traz as variações experimentadas no emprego, pelas atividades econômicas, nos períodos antes e depois do Programa. Não se pode deixar de salientar que a economia da região vinha em crescimento, entre os anos 1996 a 1999, fortemente influenciado pela expansão da indústria de transformação e da construção experimentada, cujos empregos se elevaram em 99,6 e 225,7%, respectivamente. As unidades empresariais locais registraram um aumento que não correspondeu ao do emprego (cerca de 28% menos) no período após a implantação do Programa e menor do que a variação verificada entre 1996 e 1999. Essa maior elevação do total de pessoal ocupado comparativamente ao total das unidades empresariais locais confirma o dinamismo da economia pelo crescimento do número de unidades empresariais de maior porte. 136 Tabela 21: Unidades locais segundo a classificação nacional de atividades econômicas - Região do Baixo Jaguaribe - 1996, 1999 e 2002. (CNAE) 1996 Part. % 1999 Part. % 2002 Part. % Variação % 1996 / 1999 Variação % 1999 / 2002 A Agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal 80 2,04 84 1,51 121 1,63 5,00 44,05 B Pesca C Indústrias extrativas 11 13 0,28 0,33 10 18 0,18 0,32 51 23 0,69 0,31 (9,09) 38,46 410,00 27,78 673 17,14 793 14,26 869 11,69 17,83 9,58 15 0,38 7 0,13 12 0,16 (53,33) 71,43 43 1,09 63 1,13 76 1,02 46,51 20,63 2.476 63,05 3.347 60,19 4.498 60,50 35,18 34,39 97 2,47 150 2,70 197 2,65 54,64 31,33 67 1,71 109 1,96 129 1,74 62,69 18,35 29 0,74 31 0,56 115 1,55 6,90 270,97 78 1,99 128 2,30 190 2,56 64,10 48,44 31 0,79 32 0,58 32 0,43 3,23 - 23 0,59 80 1,44 145 1,95 247,83 81,25 45 1,15 54 0,97 78 1,05 20,00 44,44 246 6,26 655 11,78 899 12,09 166,26 37,25 3.927 95.228 48.137 47.091 100 5.561 118.475 56.022 62.453 100 7.435 155.949 69.728 86.221 100 41,61 24,41 16,38 32,62 33,70 31,63 24,47 38,06 D Indústrias de transformação E Produção e distribuição de eletricidade, gás e água F Construção G Comércio; reparação de veículos automotores, objetos pessoais e domésticos H Alojamento e alimentação I Transporte, armazenagem e comunicações J Intermediação financeira, seguros, previdência complementar e serviços relacionados K Atividades imobiliárias, aluguéis e serviços prestados às empresas L Administração pública, defesa e seguridade social M Educação N Saúde e serviços sociais O Outros serviços coletivos, sociais e pessoais A.B. JAGUARIBE CEARÁ FORTALEZA CEARÁ (Interior) A.B. JAGUARIBE / CEARÁ A.B. JAGUARIBE / CEARÁ (Interior) 4,12% 4,69% 4,77% 8,34% 8,90% 8,62% Fonte: Cadastro Central de Empresas – 1996-2002 - IBGE 137 Tabela 22: Pessoal ocupado segundo a classificação nacional de atividades econômicas - Região do Baixo Jaguaribe - 1996, 1999 e 2002. (CNAE) A Agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal 1996 Part. % 1999 Part. % 2002 Part. % Variação % 1996 / 1999 Variação % 1999 / 2002 873 4,70 783 3,26 3.221 8,29 (10,31) 311,37 B Pesca 45 0,24 93 0,39 1.182 3,04 106,67 1.170,97 C Indústrias extrativas 11 0,06 28 0,12 124 0,32 154,55 342,86 2.485 13,37 4.961 20,63 7.251 18,67 99,64 46,16 184 0,99 117 0,49 82 0,21 (36,41) (29,91) 381 2,05 1.241 5,16 1.722 4,43 225,72 38,76 3.649 19,64 4.874 20,27 7.705 19,84 33,57 58,08 185 1,00 268 1,11 491 1,26 44,86 83,21 110 0,59 121 0,50 286 0,74 10,00 136,36 185 1,00 146 0,61 191 0,49 (21,08) 30,82 233 1,25 208 0,86 377 0,97 (10,73) 81,25 986 5,31 2.639 10,97 942 2,43 167,65 (64,30) 284 1,53 633 2,63 788 2,03 122,89 24,49 469 2,52 420 1,75 396 1,02 (10,45) (5,71) 425 2,29 641 2,67 2.514 6,47 50,82 292,20 18.583 100 24.050 100 38.842 100 D Indústrias de transformação E Produção e distribuição de eletricidade, gás e água F Construção G Comércio; reparação de veículos automotores, objetos pessoais e domésticos H Alojamento e alimentação I Transporte, armazenagem e comunicações J Intermediação financeira, seguros, previdência complementar e serviços relacionados K Atividades imobiliárias, aluguéis e serviços prestados às empresas L Administração pública, defesa e seguridade social M Educação N Saúde e serviços sociais O Outros serviços coletivos, sociais e pessoais A.B. JAGUARIBE 29,42 61,51 CEARÁ 613.035 625.979 976.271 2,11 55,96 FORTALEZA 369.692 363.908 543.863 (1,56) 49,45 CEARÁ (Interior) A.B. JAGUARIBE / CEARÁ A.B. JAGUARIBE / CEARÁ (Interior) 243.343 262.071 432.408 7,70 65,00 3,03% 3,84% 3,98% 7,64% 9,18% 8,98% Fonte: Cadastro Central de Empresas – 1996-2002 - IBGE A análise dessas variáveis sob o ponto de vista espacial aponta para uma redução da participação relativa dos pólos regionais Aracati, Limoeiro do Norte e Morada Nova. Comportamento contrário é observado com relação a Russas, que dobrou o emprego no primeiro período da análise e saiu da 4ª para a 2ª posição no ranking do emprego regional, considerando-se os anos de 1999 e 2002. 138 Tabela 23: Pessoal ocupado nas unidades locais - Agropolo Baixo Jaguaribe 1996, 1999 e 2002. (CNAE) Alto Santo 1996 Part. % 1999 Part. % 2002 Part. % Variação % 1996 / 1999 Variação % 1999 / 2002 536 2,88 1.078 4,48 1.593 4,10 101,12 47,77 3.790 20,39 4.217 17,53 7.256 18,68 11,27 72,07 Banabuiú 553 2,98 506 2,10 1.063 2,74 (8,50) 110,08 Ibicuitinga 426 2,29 488 2,03 694 1,79 14,55 42,21 Icapuí 572 3,08 687 2,86 1.790 4,61 20,10 160,55 Itaiçaba 267 1,44 390 1,62 567 1,46 46,07 45,38 Jaguaretama 559 3,01 670 2,79 754 1,94 19,86 12,54 Jaguaribara 234 1,26 453 1,88 1.282 3,30 93,59 183,00 Jaguaruana 1.604 8,63 1.748 7,27 2.161 5,56 8,98 23,63 Limoeiro do Norte 2.671 14,37 3.131 13,02 4.867 12,53 17,22 55,45 Morada Nova 2.619 14,09 3.357 13,96 4.168 10,73 28,18 24,16 Palhano 490 2,64 421 1,75 554 1,43 (14,08) 31,59 Quixeré 733 3,94 761 3,16 3.085 7,94 3,82 305,39 Russas 2.251 12,11 4.503 18,72 6.846 17,63 100,04 52,03 S. J. Jaguaribe 352 1,89 408 1,70 460 1,18 15,91 12,75 Tabuleiro do Norte 926 4,98 1.232 5,12 1.702 4,38 33,05 38,15 18.583 100,00 24.050 100,00 38.842 100,00 29,42 61,51 Aracati A.B. Jaguaribe Ceará 613.035 625.979 976.271 2,11 55,96 Fortaleza 369.692 363.908 543.863 (1,56) 49,45 Ceará (Interior) 243.343 262.071 432.408 7,70 65,00 A.B. Jaguaribe / Ceará 3,03 3,84 3,98 A.B. Jaguaribe / Ceará (Interior) 7,64 9,18 8,98 Fonte: Cadastro Central de Empresas – 1996-2002 - IBGE 139 Tabela 24: Unidades locais - Agropolo Baixo Jaguaribe - 1996, 1999 e 2002. (CNAE) 1996 Part. % 1999 Part. % 2002 Part. % Variação % 1996 / 1999 Variação % 1999 / 2002 Alto Santo 129 3,28 156 2,81 217 2,92 20,93 39,10 Aracati 694 17,67 977 17,57 1.290 17,35 40,78 32,04 95 4 2,42 0,10 76 20 1,37 0,36 181 62 2,43 0,83 (20,00) 400,00 138,16 210,00 133 3,39 242 4,35 354 4,76 81,95 46,28 42 1,07 36 0,65 80 1,08 (14,29) 122,22 Jaguaretama 168 4,28 215 3,87 258 3,47 27,98 20,00 Jaguaribara 74 1,88 99 1,78 167 2,25 33,78 68,69 Jaguaruana Limoeiro do Norte 284 721 7,23 18,36 334 1.109 6,01 19,94 407 1.411 5,47 18,98 17,61 53,81 21,86 27,23 Morada Nova 39,22 Banabuiú Ibicuitinga Icapuí Itaiçaba 330 8,40 538 9,67 749 10,07 63,03 Palhano 41 1,04 62 1,11 92 1,24 51,22 48,39 Quixeré 134 3,41 188 3,38 254 3,42 40,30 35,11 Russas 676 17,21 985 17,71 1.196 16,09 45,71 21,42 São João do Jaguaribe Tabuleiro do Norte A.B. Jaguaribe 69 333 1,76 8,48 104 420 1,87 7,55 145 572 1,95 7,69 50,72 26,13 39,42 36,19 3.927 100,00 5.561 100,00 7.435 100,00 41,61 33,70 Ceará 95.228 118.475 155.949 24,41 31,63 Fortaleza 48.137 56.022 69.728 16,38 24,47 Ceará (Interior) 47.091 62.453 86.221 32,62 38,06 4,12 4,69 4,77 8,34 8,90 8,62 A.B. Jaguaribe / Ceará A.B. Jaguaribe / Ceará (Interior) Fonte: Cadastro Central de Empresas – 1996-2002 - IBGE Enquanto em Aracati as atividades primárias, notadamente a pesca, responderam de forma expressiva pelo aumento verificado de pessoal ocupado na região, em Limoeiro do Norte, Morada Nova e Russas, áreas de localização dos perímetros irrigados, foram os setores do comércio e da indústria de transformação que produziram o incremento de novas ocupações. Isso se explica, em parte, pelo fato de as estatísticas não alcançarem os últimos anos, quando começaram a se instalar as novas empresas no Perímetro Irrigado Tabuleiros de Russas. A grande evidência no emprego, como se poderia esperar, é o município de Quixeré, exibindo uma elevação no número de trabalhadores formais de 305,4% no período após o tratamento da região do Baixo Jaguaribe como Agropolo de Agricultura Irrigada. Somente o setor da agricultura absorveu 85% dos novos trabalhadores empregados. O Agropolo mostrou um comportamento ascendente na sua contribuição ao Estado na geração da ocupação de maneira formalizada. Com relação ao Interior estadual esta posição praticamente manteve-se. O desempenho da região entre 140 1999 e 2002 se fez sentir expressivamente na sua contribuição ao setor da agricultura (setor A da CNAE) do Ceará. Tabela 25: Pessoal ocupado e unidades locais na atividade agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal - Agropolo Baixo Jaguaribe - 1996, 1999 e 2002. Municípios Pessoal Ocupado Variação % Variação % 1999 2002 1996 / 1999 1999 / 2002 1996 1996 Unidades Locais Variação % Variação % 2002 1996 / 1999 1999 / 2002 1999 Alto Santo X X - - - 2 1 - (50,00) - Aracati Banabuiú Ibicuitinga 309 - 425 - 586 X - 37,54 - 37,88 - 22 - 20 - 26 1 - (9,09) - 30,00 - X 8 X - X X X - X 121 X X - - 1 3 2 - 1 2 2 - 1 6 1 1 (33,33) - 200,00 (50,00) - 436 47 273 33 183 232 (37,39) (29,79) (32,97) 603,03 9 12 9 14 10 29 16,67 11,11 107,14 Morada Nova 37 11 14 (70,27) 27,27 8 10 11 25,00 10,00 Palhano Quixeré Russas São João do Jaguaribe 9 19 X 8 25 X 2.040 31 X (11,11) 31,58 - 25.400,00 24,00 - 5 10 1 6 14 1 11 17 1 20,00 40,00 - 83,33 21,43 - 8 873 9.812 1.963 8 783 8.262 2.021 14 3.221 12.888 1.619 (10,31) (15,80) 2,95 75,00 311,37 55,99 (19,89) 5 80 1.096 278 4 84 1.172 246 6 121 1.306 293 (20,00) 5,00 6,93 (11,51) 50,00 44,05 11,43 19,11 7.849 8,90% 11,12% 6.241 9,48% 12,55% 11.269 24,99% 28,58% (20,49) 6,52 12,80 80,56 163,71 127,82 818 7,30% 9,78% 926 7,17% 9,07% 1.013 9,26% 11,94% 13,20 (1,81) (7,25) 9,40 29,27 31,68 Font Icapuí Itaiçaba Jaguaretama Jaguaribara Jaguaruana Limoeiro do Norte Tabuleiro do Norte Região Ceará Fortaleza Ceará (Interior) Região / Ceará Região / Ceará (interior) e: Cadastro Central de Empresas – 1996-2002 - IBGE O Agropolo Baixo Jaguaribe chegou a responder por um quarto do emprego gerado na atividade agrícola no Estado, em 2002, proporção que não chegava a 10% em 1999. Com relação à expressão desse Agropolo na economia agrícola do Interior, atesta-se uma participação na variável emprego que já alcança 28,6%, considerando-se os dados de 2002. Ressalte-se que a relação de trabalho formal não é uma característica comum da economia do setor agropecuário do Nordeste e menos ainda do Ceará, o que demonstra vir a região passando por um processo de reestruturação produtiva da agricultura, face às exigências do mercado quanto aos padrões de competitividade, confirmando mais um ciclo de inserção da região na economia internacional, desta feita num contexto de globalização econômica (GRÁFICO 9). 141 Gráfico 9: Pessoal ocupado na atividade agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal (%) - Agropolo Baixo Jaguaribe no Ceará1996, 1999 e 2002. Fonte: Cadastro Central de Empresas – 1996-2002 - IBGE As mudanças na economia regional do Agropolo Baixo Jaguaribe apreendidas pelos dados refletem os efeitos da política de agricultura irrigada conduzida pela parceria dos governos federal e estadual de exploração da atividade com culturas de alto valor agregado voltadas para exportação, por grandes empresas internacionais. Quixeré é o caso mais visível do impacto econômico da política em execução. Enquanto o número de empresas do setor da agricultura se elevou em 5 no município, entre 1999 e 2002, o número de pessoal ocupado nessas unidades cresceu de 8 para 2.040 pessoas, em grande medida por força da instalação de empresa multinacional líder mundial na produção do cultivo do melão, no início dos anos 2000. 5.2.3 Agronegócio da agricultura irrigada A demonstração dos efeitos diretos produzidos pelo Programa em análise no Agropolo Baixo Jaguaribe está nos dados referentes à expansão da agricultura irrigada, envolvendo a evolução das áreas irrigadas, notadamente com fruticultura, e os indicadores da produção agrícola. 142 Evolução das áreas irrigadas De acordo com informações da SEAGRI (TABELA 26), dados de 2004 (área prevista), o total de áreas irrigadas na região soma 18,2 mil ha, dos quais 52,6% % ocupados com fruticultura. Sobressai-se o melão com uma área de 5,27 mil ha, a banana com 2,02 mil ha e o abacaxi com 610 ha. Goiaba, manga e melancia figuram com uma área superior a 400 ha, cada uma dessas frutíferas. A produção de hortaliças resume-se praticamente a milho verde, com uma área que evoluiu em 98% entre 1999 e 2002, ocupando atualmente 1,49 mil ha. É significativa a área ocupada com culturas tradicionais, somando 7 mil ha, com mais de 53% representada pelo arroz, a despeito do Plano Águas do Vale resultante de convênio assinado em 2001 entre o Governo estadual e a Agência Nacional de Águas (ANA) visando incentivar o plantio de frutíferas, hortaliças e pastagens irrigadas em lugar das antigas plantações de arroz para evitar o desperdício de água e assegurar seu uso racional na irrigação. O cultivo de capineira coloca-se a seguir com 1,3 mil ha e feijão e algodão ocupando 1 mil ha cada cultura. O destaque conferido ao Agropolo Baixo Jaguaribe como região de fruticultura irrigada se explica pelo valor da produção gerada com as culturas de maior valor agregado e sua contribuição para a pauta de exportações cearenses. O Agropolo participa com 31% do total das áreas irrigadas do Ceará com fruticultura, o que se deve a maiores extensões de culturas irrigadas em outras regiões estaduais, com destaque para o coco e a banana, figurando ainda maracujá, acerola e manga, entre as principais. Considerando-se o total do Agropolo comparativamente ao total do Estado, essa participação fica em aproximadamente 24%. É um Agropolo cujo crescimento econômico vem se dando por sua especialização produtiva na fruticultura irrigada. As estatísticas demonstram uma expansão das áreas com irrigação, no Ceará de 42%, e no Baixo Jaguaribe de 66%, entre 1999 e 2003. Com relação às áreas irrigadas com fruticultura, o desempenho da região foi bem mais expressivo 182,7% nesse período, embora o incremento estadual tenha se mostrado também significativo. 143 Tabela 26: Evolução das áreas irrigadas - Agropolo Baixo Jaguaribe - 1999-2004(*). 1999 (HA) PRODUTO 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 1 2 3 4 5 6 Abacate abacaxi Acerola Ata Banana Cajá Cajueiro Coco Goiaba Graviola Laranja Limão Mamão Manga Maracujá Melancia Melão Tangerina Sapoti Uva Outras frutas TOTAL FRUTAS Abóbora Alho Batata Inglesa Batata Doce Beterraba Cebola Cenoura Chuchu Maxixe Milho Verde Pepino Pimenta Pimentão Repolho Tomate Outras olerícolas TOTAL HORTALIÇAS Arroz Café Cana de açucar Feijão Algodão Capineira TOTAL O. PRODUTOS TOTAL GERAL BAIXO JAGUARIBE 4,0 20,0 12,0 1.168,5 6,0 31,0 66,0 38,0 57,0 155,0 133,5 14,0 156,3 1.485,0 33,8 3.380,1 5,0 749,0 1,0 28,2 24,2 807,4 4.000,0 1.800,0 42,0 900,0 6.742,0 10.929,5 2000 (HA) ÁREA TOTAL (CE) 15,6 14,0 847,2 21,5 4.900,3 2,0 408,0 6.363,8 104,0 43,0 162,0 323,5 1.490,9 342,8 861,5 267,9 1.625,0 53,0 17,6 180,4 18.044,0 126,0 5,0 8,6 5,0 9,0 30,0 80,0 72,8 1.257,6 31,3 165,9 40,0 874,0 364,1 3.069,3 12.650,0 307,0 7.390,0 6.088,0 240,0 6.094,0 32.769,0 53.907,2 BAIXO JAGUARIBE 10,0 20,0 12,0 1.168,5 4,0 31,0 66,0 38,0 57,0 155,0 133,5 14,0 1,8 156,3 1.784,0 10,0 37,0 3.698,1 5,0 749,0 28,0 1,0 28,2 25,1 836,3 4.000,0 1.800,0 42,0 900,0 6.742,0 11.276,4 2001 (HA) ÁREA TOTAL (CE) 75,6 20,0 778,8 21,5 4.935,6 2,0 676,9 6.399,3 105,0 68,4 162,0 323,5 1.551,4 342,8 862,8 267,9 1.924,0 53,0 10,0 17,6 187,9 18.786,0 126,0 5,0 8,6 5,0 9,0 30,0 80,0 73,3 1.267,1 31,3 32,0 165,9 40,0 882,0 365,2 3.120,4 12.650,0 307,0 7.390,0 5.541,0 200,0 6.850,0 32.938,0 54.879,3 BAIXO JAGUARIBE 176,0 87,0 20,0 1.150,0 4,0 21,5 273,0 240,0 57,0 155,0 221,0 236,0 156,0 3.589,0 10,0 36,0 65,0 6.496,5 0,5 5,0 1.105,0 98,0 15,0 19,0 38,4 1.280,9 3.366,0 3,5 1.791,0 62,0 982,0 6.204,5 13.981,9 2002 (HA) ÁREA TOTAL (CE) BAIXO JAGUARIBE 85,6 186,0 743,8 29,5 5.006,1 4,0 877,9 6.440,7 302,0 267,9 162,0 323,5 1.647,1 565,8 858,0 275,1 3.765,0 80,0 10,0 53,9 219,0 21.902,9 126,0 5,0 351,0 87,0 20,0 1.534,5 4,0 21,5 318,5 258,0 57,0 155,0 334,0 286,0 367,0 3.942,0 10,0 60,5 78,8 7.884,8 2,0 - 9,1 5,0 9,0 30,0 80,0 73,3 1.611,1 31,3 136,0 172,0 40,0 871,8 399,0 3.598,5 11.716,0 307,0 7.546,5 6.030,0 120,0 7.286,0 33.005,5 58.554,7 1,0 10,0 1.239,0 115,0 15,0 21,0 43,4 1.446,4 2.130,0 3,5 1.930,5 62,0 982,0 5.108,0 14.439,2 Fonte: Instituto Agropolos/SEAGRI - SIGA-Sistema de Informação Gerencial Agrícola (*) ANO 2004: Área prevista até dez/2004. 144 2003 (HA) ÁREA TOTAL (CE) 115,6 447,8 909,8 32,5 5.599,6 4,0 884,6 6.896,7 447,0 320,2 162,0 323,5 1.801,1 662,3 865,5 538,1 4.147,1 80,0 14,0 89,1 245,9 24.586,4 131,5 5,0 23,5 32,6 10,0 16,0 35,0 80,0 73,3 1.919,7 31,3 196,5 180,5 42,0 985,1 392,1 4.154,1 10.380,0 310,0 7.746,5 7.085,5 112,0 7.735,0 33.369,0 62.188,0 BAIXO JAGUARIBE 390,0 87,0 34,0 1.684,5 4,0 21,5 392,5 40,0 57,0 155,0 250,0 311,0 367,0 4.584,0 10,0 18,0 84,9 8.490,4 2,0 1,0 10,0 1.239,0 115,0 15,0 21,0 43,4 1.446,4 3.000,0 4,0 2.000,0 62,0 1.000,0 6.066,0 16.004,3 2004 (HA)* ÁREA TOTAL (CE) 115,6 476,7 1.096,8 58,5 5.760,1 4,2 943,0 7.769,3 633,6 274,4 149,0 238,0 852,9 839,0 1.552,1 678,9 4.798,0 82,0 49,2 79,7 287,9 26.738,7 169,3 15,0 5,0 366,6 190,5 34,8 369,5 116,0 75,0 2.041,5 33,0 144,0 352,8 103,5 914,6 491,5 5.422,6 7.350,0 316,0 9.024,0 7.800,0 122,0 8.381,0 32.993,0 65.281,5 BAIXO JAGUARIBE 610,0 104,0 43,0 2.021,5 420,0 40,0 30,0 155,0 35,0 404,5 403,0 5.270,0 21,0 9.557,0 10,0 3,0 1.486,8 30,0 18,0 29,0 1.576,8 3.750,0 1.000,0 1.000,0 1.300,0 7.050,0 18.185,3 EVOLUÇÃO 1999/2004 (%) ÁREA TOTAL (CE) 115,6 716,0 1.189,8 94,0 7.551,5 4,5 1.000,5 7.855,0 899,0 304,0 130,0 258,0 793,0 1.182,5 1.772,0 891,0 5.586,0 92,0 56,2 167,3 246,5 30.904,4 281,0 47,0 80,0 421,6 247,5 48,5 428,5 163,0 100,0 2.401,8 53,0 85,0 413,0 138,0 1.171,0 483,1 6.562,0 11.100,0 325,0 8.510,0 8.620,0 1.120,0 9.230,0 38.905,0 76.536,9 BAIXO JAGUARIBE 15.150,0 420,0 258,3 73,0 536,4 5,3 (47,4) (73,8) 2.789,3 157,8 254,9 182,7 (40,0) 98,5 1.700,0 2,8 95,3 (6,3) (44,4) 2.281,0 44,4 4,6 66,4 ÁREA TOTAL (CE) 641,0 5.014,3 40,4 337,2 54,1 125,0 145,2 23,4 764,4 607,0 (19,8) (20,2) (46,8) 245,0 105,7 232,6 243,8 73,6 850,6 36,6 71,3 123,0 840,0 4.802,3 4.850,0 438,9 1.328,3 103,8 37,4 91,0 69,3 148,9 245,0 34,0 32,7 113,8 (12,3) 5,9 15,2 41,6 366,7 51,5 18,7 42,0 Gráfico 10: Evolução das áreas irrigadas - produção de frutas (ha) - Ceará e Agropolo Baixo Jaguaribe - 1999-2004(*). 35000 30.904,4 30000 25000 20000 26.738,7 24.586,4 21.902,9 18.044,0 18.786,0 15000 10000 5000 6.496,5 3.380,1 8.490,4 7.884,8 9.557,0 3.698,1 0 1999 2000 2001 2002 A.B. Jaguaribe 2003 2004 Ceará Fonte: Instituto Agropolos/SEAGRI - SIGA-Sistema de Informação Gerencial Agrícola (*)ANO 2004: Área prevista até dez/2004. Gráfico 11: Evolução das áreas irrigadas - produção de frutas (%) - Ceará e Agropolo Baixo Jaguaribe - 1999-2004(*). 200,0% 180,0% 160,0% 140,0% 120,0% 100,0% 80,0% 60,0% 40,0% 20,0% 0,0% 182,7% 151,2% 133,3% 92,2% 71,3% 9,4% 1999 36,3% 21,4% 48,2% 4,1% 2000 2001 A.B. Jaguaribe 2002 2003 2004 Ceará Fonte: Instituto Agropolos/SEAGRI - SIGA-Sistema de Informação Gerencial Agrícola (*)ANO 2004: Área prevista até dez/2004. Produção Agrícola das principais culturas FrutiSéries 2, de setembro/2003, informativo do Ministério da Integração Nacional, em divulgação na página eletrônica da SEAGRI (www.seagri.ce.gov.br) 145 noticia que o Ceará é o segundo produtor de melão nacional. O aumento da área cultivada e da produção, verificado a partir do final da década de 90, significa ganhos de eficiência no cultivo dessa fruta e incorporação de novas tecnologias. A estrutura da produção do melão cearense está baseada em grandes empresas-âncora, que detêm 42% da área cultivada. As demais áreas estão distribuídas entre médios produtores, com área média de 25 hectares e associação ou grupos organizados de produtores, onde a média é de apenas 6 hectares. A maior produção dessa fruta no Ceará (informa ainda FrutiSéries) está concentrada no Agropolo Baixo Jaguaribe, nos municípios de Aracati, Icapuí, Itaiçaba, Jaguaruana, Quixeré e Limoeiro do Norte, onde são cultivados 4.500 hectares. A nova área de expansão da cultura do melão está no Projeto Baixo Acaraú, com cerca de 300 hectares. A variedade predominante no Estado pertence ao tipo amarelo, cultivada basicamente para exportação, com 70% da produção, e o restante com melões de variedades nobres. Entretanto, esclarece também o informativo, que em função das exigências do mercado externo e do curto intervalo existente para as exportações, e das janelas de mercado, a proporção da produção estadual do melão tipo amarelo que é exportada é de 35%. Os restantes 65% são destinados ao mercado interno, especialmente às redes de varejistas e atacadistas do Nordeste, além de abastecer as demais regiões como o Sudeste e o Centro-Oeste. No auge da safra, boa parte desta produção, de classificação inferior, é comercializada em caminhões em diversos pontos do país a preços populares. O Agropolo Baixo Jaguaribe gera 5.532 empregos diretos e 11.065 indiretos. Os maiores produtores estão em Icapuí, Itaiçaba, Jaguaruana e Quixeré. Este último abriga a maior empresa produtora de melão no Estado, que usa tecnologia de Israel na produção. Entre os 2.620 hectares plantados no município, a maior parte da safra de 2002 foi destinada ao mercado externo, 31,4 mil toneladas contra 27,2 mil toneladas que ficaram no país. Somente a grande empresa instalada no município de Quixeré congrega cerca de 1.800 dos 5.532 trabalhadores diretos no cultivo de melão, em 1.800 146 hectares. Além dos melões, a empresa começa a produzir melancia de algumas variedades, todas com ou sem semente, usando tecnologia importada. No cultivo de melão no Estado são obtidas duas safras por ano, podendo chegar a três, e o melhor período é de setembro a fevereiro. Favorecem a cultura do melão no Agropolo do Estado, a temperatura média de 27 graus centígrados, a baixa umidade relativa do ar, a alta luminosidade e o solo arejado, solto e de baixa acidez. Cumpre comentar as informações referentes ao emprego apresentadas no informativo FrutiSéries, dada a análise realizada no item anterior baseada nas informações do IBGE. Embora os dados das duas fontes refiram-se aos anos de 2003 e 2002, respectivamente, as diferenças evidenciadas sugerem uma análise. O total de empregos gerados na agricultura, segundo o Cadastro Central de Empresas (IBGE) no Agropolo Baixo Jaguaribe, soma 3.221 pessoas em 2002, enquanto FrutiSéries informa um total de 5.532 empregos. A variação entre os dados das duas fontes indica uma proporção de cerca de 58% das ocupações geradas na agricultura irrigada na região, através do emprego formal, enquanto os 42% restantes estão representados por produtores integrantes de associações ou outras organizações, ou mesmo constituem-se trabalhadores informais. O expressivo crescimento obtido pelo setor da agricultura irrigada nos últimos anos, e que coincide com os de implementação do Programa em estudo, está expresso nas estatísticas de produção das principais culturas da região. As TABELAS 27, 28 e 29 apresentam os indicadores referentes às frutas, cujos dados se destacam no contexto do Agropolo, e às culturas tradicionais para se estabelecer alguns comparativos. Sobressai-se, no Agropolo, a castanha de caju, no indicador área plantada, porém não é cultura irrigada, e no valor da produção, destacadamente, o melão e a banana.Tomando-se os dados de 2003, a castanha de caju representa 43,4% da área plantada com as principais culturas, enquanto o melão 2,6% e a banana 1,6%. A posição se diferencia significativamente, quando se considera o valor da produção. O melão detém 30,7%, a banana 14,8%, enquanto a castanha de caju 10% do total do valor gerado com a produção das principais frutas cultivadas no Agropolo Baixo Jaguaribe. 147 Tabela 27: Área plantada das principais culturas - Agropolo Baixo Jaguaribe 1996, 1999 e 2003 Produto ABACAXI BANANA CASTANHA DE CAJU COCO-DA-BAÍA GOIABA LARANJA LIMÃO MAMÃO MANGA MARACUJÁ MELANCIA MELÃO UVA) FRUTAS ARROZ FEIJÃO MILHO (EM GRÃO) ALGODÃO HERBÁCEO CANA-DE-AÇÚCAR MANDIOCA TOMATE TOTAL Área Plantada 1999 1996 2003 Part. (%) 1999 1996 2003 1.588 61.399 1.045 47 34 871 11 73 241 863 11 68.179 1.593 57.692 1.345 58 116 858 100 133 85 1.060 65.039 2.318 64.573 1.490 254 174 831 93 357 15 20 3.900 18 76.046 1,1 40,9 0,7 0,0 0,0 0,6 0,0 0,0 0,2 0,6 0,0 44,1 0,9 34,1 0,8 0,0 0,1 0,5 0,1 0,1 0,1 0,6 37,3 1,6 43,4 1,0 0,2 0,1 0,6 0,1 0,2 0,0 0,0 2,6 0,0 49,7 5.220 42.002 30.314 2.732 71 3.227 317 152.062 7.306 47.695 36.030 14.135 38 688 176 171.107 3.312 44.340 22.250 3.567 30 1.325 29 150.899 3,5 28,0 20,2 1,8 0,0 2,2 0,2 4,3 28,2 21,3 8,4 0,0 0,4 0,1 2,2 29,8 14,9 2,4 0,0 0,9 0,0 100,0 100,0 100,0 Fonte dos dados básicos: IBGE - SEAGRI (www.seagri.ce.gov.br). Cálculos da autora. Tabela 28: Valor da produção das principais culturas - Agropolo Baixo Jaguaribe - 1996, 1999 e 2003 Produto ABACAXI BANANA CASTANHA DE CAJU COCO-DA-BAÍA GOIABA LARANJA LIMÃO MAMÃO MANGA MARACUJÁ MELANCIA MELÃO UVA) FRUTAS ARROZ FEIJÃO MILHO (EM GRÃO) ALGODÃO HERBÁCEO CANA-DE-AÇÚCAR MANDIOCA TOMATE TOTAL 1996 Valor da Produção 1999 2003 6.315 11.153 1.546 164 360 1.948 109 642 1.501 5.771 810 9.243 8.998 1.962 296 471 1.412 1.372 520 317 12.457 - 22.407 16.382 2.416 964 627 5.246 2.403 1.338 244 101 46.556 2.110 7,3 12,9 1,8 0,2 0,4 2,2 0,1 0,7 1,7 6,7 0,9 32.315 39.045 102.797 12.332 21.672 7.793 1.769 133 2.427 8.197 21.726 26.810 14.471 10.840 52 611 5.589 12.921 20.357 8.994 4.406 19 1.613 448 119.145 151.555 86.639 - Part. (%) 1999 1996 - - - - 7,8 7,6 1,6 0,2 0,4 1,2 1,2 0,4 0,3 10,5 - 14,8 10,8 1,6 0,6 0,4 3,5 1,6 0,9 0,2 0,1 30,7 1,4 37,3 32,8 67,8 14,2 25,0 9,0 2,0 0,2 2,8 9,5 18,2 22,5 12,1 9,1 0,0 0,5 4,7 8,5 13,4 5,9 2,9 0,0 1,1 0,3 100,0 100,0 100,0 Fonte dos dados básicos: IBGE - SEAGRI (www.seagri.ce.gov.br). Cálculos da autora. Valores atualizados a preços de 2003. 148 2003 Tabela 29: Valor da produção por hectare plantado, das principais culturas Agropolo Baixo Jaguaribe - 1996, 1999 e 2003. Produto ABACAXI BANANA CASTANHA DE CAJU COCO-DA-BAÍA GOIABA LARANJA LIMÃO MAMÃO MANGA MARACUJÁ MELANCIA MELÃO UVA) FRUTAS ARROZ FEIJÃO MILHO (EM GRÃO) ALGODÃO HERBÁCEO CANA-DE-AÇÚCAR MANDIOCA TOMATE TOTAL Valor da Produção / Ha Plantado (R$) 1996 1999 2003 - - - 3.976 182 1.480 3.485 10.600 2.237 9.928 8.797 6.226 6.687 73.668 5.802 156 1.458 5.099 4.058 1.646 13.719 3.908 3.726 11.752 - 9.667 254 1.621 3.795 3.603 6.313 25.839 3.748 16.267 5.050 11.937 117.222 129.262 53.323 207.319 2.362 516 257 648 1.877 752 25.859 2.974 562 402 767 1.381 888 31.756 3.901 459 404 1.235 633 1.217 15.448 161.533 92.052 230.618 Fonte dos dados básicos: IBGE - SEAGRI (www.seagri.ce.gov.br). Cálculos da autora. Valores atualizados a preços de 2003. Procurou-se nesta pesquisa observar o valor da produção por hectare plantado, no intuito de conhecer a rentabilidade das culturas irrigadas, que na literatura oficial se constitui no grande argumento da opção governamental pela política de desenvolvimento dos Agropolos de agricultura irrigada, o que traduz, portanto, a agricultura de alto valor agregado. Com base assim, na TABELA 29, e considerando as frutas cujo valor da produção tem maior expressão (2003), observa-se o valor por hectare plantado que alcançam o melão, R$ 11,9 mil, e o limão, R$ 6,3. As culturas da uva e do mamão apresentam as mais altas rentabilidades, no entanto são inexpressivos em termos de área. Os menores valores ficam com a castanha de caju e o coco-da-baía, que, no entanto, são culturas permanentes tradicionais. A evolução dos indicadores da produção das principais culturas irrigadas acentuou-se no Baixo Jaguaribe com a implantação do Agropolo. A TABELA 30 exibe as variações nos indicadores antes e depois do Programa, merecendo destaques algumas culturas, pelo comportamento de seus indicadores no período 149 1999/2003. Quanto à banana, a elevação no valor da produção de 142% e na rentabilidade por hectare, de 66,6%, enquanto verificou-se menor incremento da área plantada, 45,5%, indicando essa relação o aumento de eficiência, com a modernização tecnológica introduzida na agricultura regional. O melão experimentou aumentos entre 260 e 273%, portanto equivalentes, nos três primeiros indicadores referidos, e de menos de 2% na rentabilidade por hectare plantado com a cultura. Essa constatação mostra os resultados da atração de novos investimentos na fruticultura da região, no entanto sugere que a produção irrigada de fruta já vinha se operando com padrões da moderna tecnologia, não tendo registrado significativos ganhos, como os atestados no caso da banana. Tabela 30: Produto Indicadores da produção agrícola das principais culturas Agropolo Baixo Jaguaribe - 1996, 1999 e 2003. Área Plantada 1996/1999 ABACAXI BANANA CASTANHA DE CAJU COCO-DA-BAÍA GOIABA LARANJA LIMÃO MAMÃO MANGA MARACUJÁ MELANCIA MELÃO UVA) FRUTAS ARROZ FEIJÃO MILHO (EM GRÃO) ALGODÃO HERBÁCEO CANA-DE-AÇÚCAR MANDIOCA TOMATE 0,31 (6,04) 28,71 23,40 241,18 (1,49) 809,09 82,19 (64,73) 22,83 (4,75) 39,96 13,55 18,86 417,39 (46,48) (78,68) (44,48) 1999/2003 45,51 11,93 10,78 337,93 50,00 (3,15) (7,00) 168,42 (76,47) 267,92 17,45 (54,67) (7,03) (38,25) (74,76) (21,05) 92,59 (83,52) Quantidade produzida 1996/1999 1999/2003 62,05 (51,09) 8,02 21,75 84,60 (1,01) 1.707,10 25,23 (54,12) 156,77 - * 152,13 151,99 (46,57) (63,89) (85,13) 191,57 (11,32) 14,83 260,66 - 68,57 18,41 76,58 576,05 (34,71) (72,80) (34,37) (54,94) (4,02) (38,75) (63,31) (31,44) 136,23 (83,70) Valor da Produção 1996/1999 46,37 (19,32) 26,85 80,52 30,61 (27,52) 1.156,18 (19,07) (78,89) 115,87 22,19 76,18 23,71 85,69 512,72 (60,60) (74,83) (31,82) 1999/2003 142,43 82,07 23,17 225,98 33,20 271,49 75,16 157,45 (68,11) 273,73 172,08 (40,53) (24,07) (37,85) (59,36) (63,81) 164,12 (91,98) Valor da Produção por Hectare Plantado 1996/1999 45,91 (14,14) (1,45) 46,29 (61,72) (26,42) 38,18 (55,58) (40,16) 75,75 28,28 25,87 8,94 56,23 18,43 (26,38) 18,04 22,80 Fonte dos dados básicos: IBGE - SEAGRI (www.seagri.ce.gov.br). Cálculos da autora. * Dados omitidos devido mudança a partir de 2001, os valores passaram a ser expresso em toneladas. 150 1999/2003 66,60 62,67 11,18 (25,56) (11,20) 283,57 88,34 (4,09) 35,53 1,58 131,65 31,19 (18,32) 0,64 61,06 (54,15) 37,14 (51,35) Gráfico 12: Variação da área plantada e valor da Produção - Agropolo Baixo Jaguaribe - 1996/1999 76,18 39,96 ARROZ 46,37 BANANA 0,31 (19,32) (6,04) CASTANHA DE CAJU 26,85 28,71 COCO-DA-BAÍA 1.156,18 MAMÃO 809,09 MANGA (19,07) 82,19 (78,89) (64,73) MELANCIA 115,87 22,83 MELÃO (300) (100) 100 300 500 Área Plantada 700 900 1.100 1.300 Valor da Produção Fonte dos dados básicos: IBGE - SEAGRI (www.seagri.ce.gov.br). Cálculos da autora. Gráfico 13: Variação da área plantada e valor da Produção - Agropolo Baixo Jaguaribe - 1999/2003 (40,53) ARROZ (54,67) 142,43 BANANA 45,51 82,07 CASTANHA DE CAJU 11,93 23,17 10,78 COCO-DA-BAÍA 75,16 MAMÃO (7,00) 157,45 168,42 MANGA (68,11) (76,47) MELANCIA 273,73 267,92 MELÃO (300) (200) (100) - Área Plantada 100 200 Valor da Produção Fonte dos dados básicos: IBGE - SEAGRI (www.seagri.ce.gov.br). Cálculos da autora. 151 300 400 Outros produtos foram apresentados na tabela referida para se ter uma referência para comparação. Entre as culturas tradicionais, o arroz tem posição destacada, uma vez que seu valor da produção por hectare plantado alcança R$ 3,9 mil (2003), superior, portanto, ao da manga (R$ 3,7 mil), uma das frutas do agronegócio do Ceará. Observando-se nos indicadores de área plantada, quantidade produzida, valor da produção e valor da produção por hectare plantado nos dois períodos de análise, evidenciam-se mais variações negativas após a implantação do Programa. Os melhores desempenhos em termos de rentabilidade no mesmo período foram apresentados pelo algodão herbáceo, mandioca e arroz, que ocupam juntas pouco mais de 8 mil hectares, enquanto o feijão respondendo pela maior área plantada (44 mil hectares), mostrou decréscimo, e o milho (22 mil hectares) praticamente não registrou alteração no mencionado indicador. Estas constatações exibem de forma clara as prioridades da política da agricultura no Estado e a confirmação de resultados econômicos esperados com a política de incentivo à agricultura irrigada com base no agronegócio. As pesquisas nos documentos de Mensagem à Assembléia Legislativa referentes aos anos de 2000 a 2005 que trazem as realizações governamentais, permitiram um levantamento das ações conduzidas pela SEAGRI para desenvolver os Agropolos, em especial o Baixo Jaguaribe. Muita ênfase foi dada à atração de investimentos, apoio à comercialização, promoção da inovação tecnológica e viabilização de infra-estrutura. Registra o referido documento (2002) o início de grandes investimentos privados em 2001, de três grandes empresas no Agropolo de produção de frutas para exportação. A aprovação da atualização da legislação do Fundo Estadual de Irrigação (FEIR) em 2001 assegurou mais recursos por parte do governo estadual para modernização da agricultura irrigada. De acordo com a nova concepção pretendida de exploração de projetos públicos, a SEAGRI atuou para substituir processos de irrigação com elevado consumo de água, por sistemas de irrigação localizada (gotejamento e microaspersão), e de lavouras de subsistência por frutículas e hortaliças, culturas de maior valor agregado, visando tornar os projetos públicos auto-sustentáveis. Os investimentos do governo do Estado na agricultura irrigada foram dirigidos à melhoria da infra-estrutura de uso comum no projeto Jaguaribe/Apodi e na 152 construção de unidades de beneficiamento de frutas (packing house). O governo criou a marca institucional “Frutas do Ceará” para apoiar a comercialização dos produtos. Tabela 31: Atração de negócios 2002 a 2005 - Agropolo Baixo Jaguaribe Área de Cultivo (ha) Cultura Empregos Diretos Aracati 177 Frutas 453 3.696,00 135,00 30/9/2003 Jaguaribe 52 Frutas 100 690,08 - 16/9/2002 130 PimentaTab . 1.353 8.312,40 300,00 3/4/2002 DESCRIÇÃO Município Agrícola Santa Fé Agroindústria de Frutas Tropicais Diógenes Ltda. Agropecuária Avaí 956 Ltda. Banesa – Bananas do Nordeste S/A Del Monte Fresh Produce Brasil Ltda. Del Monte Fresh Produce Brasil Ltda. J. S. Sallouti EPP Nolem Comercial Imp. Exp. Ltda. Organics do Brasil Ltda. Total Geral de Negócios Atraídos Valor Invest. (R$1.000) Privado Obras (R$1.000) Inv.Público Data Protocolo Limoeiro do Norte Limoeiro do Norte Limoeiro do Norte 1.500 Frutas 2.250 65.059,00 374,00 25/4/2005 500 Frutas 500 9.000,00 - 20/7/2004 Quixeré 500 Frutas 500 12.000,00 - 22/8/2005 Quixeré 100 Frutas 91 2.205,00 - 10/6/2002 Quixeré 610 Frutas 699 583,71 289,62 25/3/2002 Quixeré 130 Frutas 40 1.875,00 231,76 25/3/2002 5.986 103.421,19 1330,38 3.699 Fonte: Instituto Agropolos do Ceará - Posição em: 31/08/2005 Além dos investimentos privados iniciais os negócios privados atraídos para o Baixo Jaguaribe no período de 2002 a 2005 somam R$ 103,4 milhões, segundo informações da SEAGRI, requerendo a realização de obras públicas no valor de R$ 1,3 milhão. Recentemente o zoneamento e controle de pragas e patógenos que atingem a fruticultura no Baixo Jaguaribe, realizado pelo Governo do Estado, levou ao reconhecimento de uma área de 5.676 km² do Agropolo em questão, pelo Ministério da Agricultura, como área livre da incidência da mosca das frutas (Anastrepha grandis), como é possível visualizar no MAPA XIII. 153 Fonte: SEAGRI – 2005 – adaptações da Autora Mapa XIII: Área Livre da Mosca das Frutas 5.2.4 Contribuição à economia estadual A emergência do Agropolo Baixo Jaguaribe valeu ao Estado contribuições significativas para o crescimento econômico no período recente. Segundo dados do Estado referentes às exportações cearenses pelos principais produtos, constante da TABELA 32, até o ano de 2000 as exportações de melões não ultrapassavam US$ 3 milhões (FOB), que representaram, nesse ano, 0,6% do total dos produtos cearenses exportados. O ano de 2002 registrou o salto ocorrido nas exportações de melões que elevou para US$ 12,9 milhões (FOB) o seu valor, passando essa fruta a representar 2,4% de todo o valor exportado pelo Ceará. É importante salientar que a política estadual teve forte influência nas mudanças da composição da pauta cearense de exportação a partir da segunda metade dos anos 1990 e início dos anos 2000. Os produtos primários, amêndoa da castanha de caju e lagosta, que lideraram tradicionalmente a comercialização para o exterior, 154 perderam posição para calçados e partes, que de 2,7% em 1996, passou a ocupar o primeiro lugar com 21,7% do valor exportado no Ceará (2004), mostrando o crescimento alcançado pelo setor. O melão foi outro produto destacado nesse aspecto. A tabela mencionada mostra a ascensão da fruta entre os principais produtos exportados, saindo da décima-quarta posição em 1996 para a oitava em 2004. Os dados mostram, a partir do ano 2000, a influência do Programa de Desenvolvimento dos Agropolos na exportação de melões frescos, saindo da décima-sexta posição no ano de 2.000 e garantindo o oitavo lugar na pauta das exportações cearenses. Dentre os principais agronegócios de exportação do Ceará, cabe ressaltar também, o comportamento oscilante da castanha de caju no mercado externo, entre 1996 e 2004, e o camarão, que como o melão, por sua vez, mostrou a carcinicultura como uma atividade emergente no Ceará, valendo uma elevação do produto, na pauta de exportações cearenses, em função de um aumento na participação de 0,7%, em 1999, para 7,6%, no total dos produtos, em 2004. O comportamento positivo do melão nas exportações pode ser visualizado, numa visão comparativa, nos GRÁFICOS 14, 15 e 16 referentes aos agronegócios citados. Gráfico 14: Evolução das exportações dos agronegócios cearenses em %Melão - 1996, 1999-2004. 600 519,8 471,4 500 400 340,7 286,1 300 200 100 (34,4) - (1,3) (100) 1996 1999 2000 2001 Fonte: Ministério do Desenvolvimento Industria e Comercio- MDIC 155 2002 2003 2004 Tabela 32: Exportações cearenses pelos principais produtos - 1999-2004(*) Produtos Amendoa de castanha de caju 1996 149.985.004 Part. Produtos Amendoa de 39,4% castanha de caju 1999 115.786.483 Part. Produtos Amendoa de 31,2% castanha de caju 2000 137.479.200 Part. Produtos 2001 27,8% Calçados e partes Tecido de algodao 43.835.179 11,5% Calçados e partes 71.651.803 19,3% Calçados e partes 81.252.002 16,4% Lagosta congelada 42.058.076 11,1% Tecido de algodao 33.537.822 9,0% Tecido de algodao 55.560.044 Cera de carnaúba 37.755.516 9,9% Lagosta congelada 29.638.317 8,0% Couro / pele bovino 53.663.444 Amendoa de castanha de caju 106.458.007 Part. Produtos 20,2% Calçados 2002* Part. Produtos 110.767.936 Calçados e suas 20,4% partes 79.986.254 14,7% Castanha de caju 87.919.755 16,7% Castanha de caju 11,2% Tecido de algodao 70.280.067 13,3% Couros e peles (todo tipo) 64.267.152 11,8% Peles e couros 10,8% Couro/pele bovino 67.380.071 12,8% Tecidos de algodão 60.573.520 11,1% Tecidos de 10,1% algodão Camarões congelados Fio textil (algodão) 17.729.646 4,7% Couro/pele bovino 23.793.790 6,4% Lagosta congelada 35.433.647 7,2% Lagosta congelada 34.341.967 6,5% Camarões 54.759.630 Calçados e partes 10.269.054 2,7% Cera de carnaúba 20.155.091 5,4% Camarão 20.381.566 4,1% Camarão 30.957.195 5,9% Lagostas 40.915.112 7,5% Fios de algodão 11.571.347 3,1% Cera de carnaúba 19.560.615 4,0% Cera de carnaúba 17.651.524 3,3% Fios 24.953.787 4,6% Fio sintético (fibras/acrilica) Lagostas congeladas Couro/pele 9.228.477 2,4% Vestuário e acessórios 7.055.478 1,9% Fio textil (algodão) 11.078.322 3,0% Fio textil (algodão) 17.580.144 3,6% Fio textil (algodão) 16.976.890 3,2% Cêras vegetais 14.878.157 2,7% Melão fresco Fios sintéticos (fibras/acrilica) 6.748.888 1,8% Consumo de bordo 6.838.435 1,8% Consumo de bordo 10.849.852 2,2% Consumo de bordo 11.875.678 2,3% Melão fresco 12.914.345 2,4% 6.228.967 Fio sintético 1,7% (fibras/acrilica) consumo de bordo 6.488.224 1,7% Camarão 8.473.910 1,7% Melões 11.315.014 2,1% Consumo de bordo Ferrossilicio 6.328.897 1,7% Sucos e extratos vegetais 5.205.211 1,4% Sucos e extratos vegetais 5.603.807 1,1% Vestuário e acessórios 8.557.267 1,6% Mel Natural Aparelho de cozinha 3.995.255 1,1% Aparelho de cozinha 4.683.278 1,3% Vestuário e acessórios 4.713.622 1,0% Sucos e extratos vegetais 4.851.105 0,9% Sucos e extratos vegetais 3.600.809 0,9% Ferrossilicio 3.499.798 0,9% Aparelho de cozinha 4.225.562 0,9% Fio sintético (fibras/acrilica) 3.323.689 0,6% Vestuário e partes Melões 2.930.308 0,8% Mica (trabalhada) 2.826.130 0,8% Ferrossilicio 2.940.483 0,6% Aparelho de cozinha 3.201.027 0,6% Mica (aglomerada / reconstituida) Camarão 2.762.534 1.773.979 0,7% Vestuário e acessórios 1.923.172 0,5% Melões 1.052.272 0,3% 619.259 0,2% Peixe Granito talhado e em blocos 499.828 0,1% Suco de frutas Suco de frutas 363.978 0,1% Total do Estado 26.405.326 380.433.715 0,7% Mica (trabalhada) 0,5% Melões Peixe Demais 2.526.090 Granito (em bloco e talhado) 6,9% Demais Total do Estado Granito (em bloco e talhado) 2.898.800 2.891.203 0,6% Mica (trabalhada) 0,6% Granito (em bloco e talhado) Total do Estado 156 12,9% 80.944.384 10,6% Tecidos de algodão 91.056.415 10,6% 79.887.719 Camarões 10,5% congelados 65.187.775 7,6% Lagostas congeladas 40.097.728 4,7% 39.928.012 5,2% 30.756.009 4,0% Fios de algodão 26.519.174 3,1% 18.161.246 2,4% Melão fresco 16.743.807 1,9% 12.767.505 1,7% 10.235.502 1,2% 7.679.324 0,9% 7.123.992 0,8% Obras de couro natural 0,5% Sucos de outras frutas 4.090.789 0,5% Granito cortado em bloco ou placas 6.791.429 0,8% 2.099.883 0,4% Granito cortado em bloco ou placas 2.646.166 0,3% Mel Natural 4.523.825 0,5% 1.078.371 Consumo de bordo 0,1% Combustíveis e lubrificantes 3.474.216 0,4% 1.735.977 0,3% Melancias Frescas 848.281 0,1% Abacaxi 3.552.000 0,4% 696.444 0,1% Ceras vegetais 1.378.195 0,2% 0,0% Melancias Frescas 1.150.332 0,1% 117.879.263 13,7% 1.605.697 10,0% Demais Fonte: Ministério da Indústria e Comércio – MDIC / SEXEC (*) Dados sujeitos a retificação. 110.546.242 2.758.705 0,5% Granito talhado 43.079.039 11,5% Peles e couros 0,8% 2.464.134 527.051.145 87.647.025 6.798.062 54.643.059 6,0% Demais 16,5% Sucos de outras frutas 0,2% Abacaxi 29.753.285 142.109.570 0,7% 1.176.453 495.097.834 14,4% Castanha de caju 5.642.279 Freios e suas 0,3% partes p/ tratores/automóveis 576.201 109.947.173 0,6% Mel Natural 0,2% Melancias Frescas 0,1% Peixe 21,7% 3.252.141 1.066.709 464.811 186.520.089 1,0% Barras de ferro/aço 0,3% Barras de ferro/aço 0,1% Peixe 167.514.704 7.598.784 1.550.308 217.103 Part. 3.461.945 0,3% Ferrossilicio 0,1% Suco de frutas 2004* 10.490.835 2,0% Ceras vegetais 1.672.460 474.687 5,0% Demais Mica (aglomerada / reconstituida) Produtos Calçados e suas 22,0% partes Consumo de bordo 0,6% Combustíveis e lubrificantes 11.064.283 0,2% Ferrossilicio 0,1% Suco de frutas 18.531.154 0,6% Sucos e extratos de vegetais Part. Freios e suas 1,4% partes p/ tratores/automóveis 897.150 461.144 371.205.729 3.103.346 Aparelhos p/cozinhar Obras de couro natural 2003* 29.000 0,1% 8,2% Demais Total do Estado 543.902.399 Total do Estado 86.350.063 760.927.314 11,3% Demais Total do Estado 859.369.027 Gráfico 15: Evolução das exportações dos agronegócios cearenses em % Camarão - 1996, 1999-2004. 5.000 4.462,9 4.500 4.000 3.574,7 3.500 2.986,8 3.000 2.500 2.000 1.645,1 1.500 1.048,9 1.000 500 251,1 - 1996 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Fonte: Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio - MDIC Gráfico 16: Evolução das exportações dos agronegócios cearenses em % Castanha de caju - 1996, 1999-2004 (%). - - (5,3) (5) (8,3) (10) (15) (20) (22,8) (26,7) (25) (30) (35) (41,4) (40) (46,7) (45) (50) 1996 1999 2000 2001 Fonte: Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio - MDIC 157 2002 2003 2004 Por sua vez, a contribuição dos municípios do Agropolo Baixo Jaguaribe no valor das exportações do Ceará está na TABELA 33, exibindo a tendência recente do incremento da participação da região nesse indicador econômico do Estado. Em 2004, Aracati respondeu por mais de 50% do valor das exportações que saíram do Agropolo, seguido por Quixeré, e mais de longe, por Morada Nova e Icapuí. Limoeiro do Norte, importante área de perímetro irrigado, em 2004, é que apresentou um crescimento significativo das exportações, com uma proporção no valor regional exportado de 5,3%, evidenciando o destino da sua produção, o mercado regional e nacional. Tabela 33: Exportações por municípios do Agropolo Baixo Jaguaribe - 2002 2004 (Base de dados: domicílio fiscal do exportador) Município Aracati Banabuiú Icapui Jaguaruana Limoeiro do Norte Morada Nova Quixere A.B.Jaguaribe Ceará Fortaleza Ceará (interior) A.B.Jaguaribe / Ceará A.B.Jaguaribe / Ceará (interior) 2003 % 2004 % 13.741.950 3.459.328 8.446.182 2.399.870 229.309 5.722.617 12.436.771 46.436.027 749.320.234 248.730.181 500.590.053 6,20% 29,6 7,4 18,2 5,2 0,5 12,3 26,8 100 38.671.435 2.657.466 5.241.096 1.408.733 3.843.299 5.750.519 15.369.001 72.941.549 852.295.618 240.072.902 612.222.716 8,56% 53,0 3,6 7,2 1,9 5,3 7,9 21,1 100 9,28% Variação % 2004/2003 181,41 (23,18) (37,95) (41,30) 1.576,03 0,49 23,58 57,08 13,74 (3,48) 22,30 11,91% Fonte: Secretaria de Comércio Exterior - SECEX/MDIC Segundo dados da FAO (FrutiSéries, setembro/2003), a produção mundial de melão foi de 21,7 milhões de toneladas em 2002, respondendo a China, a Turquia, os Estados Unidos, o Irã e a Espanha por mais de 60% dessa produção. Os principais países importadores desse produto são os Estados Unidos, Reino Unido, França, Canadá e Alemanha, que concentraram em 2002, 68,3% das importações mundiais. Entre 1997 e 2002 as exportações de melão tiveram incremento de 23%. O Brasil ocupa o 6º lugar com 7% da produção, depois dos principais países exportadores, Espanha, México, Estados Unidos, Costa Rica e França. Os Estados Unidos além de produtor posiciona-se como grande exportador, especialmente entre novembro e maio, quando não há produção interna. A performance do Ceará, pode-se dizer do Agropolo Baixo Jaguaribe nas exportações de frutas nos últimos anos, deu-se com a instalação de empresa americana, que trouxe para o Estado investimentos da ordem de mais de 100 milhões 158 de reais. Segundo a revista Agronegócio cearense (nº 01, ano 01) está entre as três maiores empresas de comercialização de frutas in natura do mundo, sendo líder mundial na produção e comercialização de abacaxi e no mercado americano, de produção de melão. Atua no Ceará, no Agropolo Baixo Jaguaribe, na chapada do Apodi, onde produz melão e abacaxi. Atualmente já possui mais de 3 mil hectares em produção e suas exportações já representam mais de 50% de tudo que é exportado através do porto do Pecém. Na época da colheita este índice já chega a 80%. A empresa pretende ampliar as operações no Ceará nos próximos três anos, desde que novos investimentos venham a garantir maior capacidade de água no DIJA e o melhoramento em estradas para escoamento da produção. Matéria veiculada no jornal Diário do Nordeste, em 12 de setembro de 2005, informa que o Ceará, além de segundo exportador de melão do país, já figura como o primeiro em abacaxi. A grande empresa multinacional instalada no Agropolo é responsável por 70% das exportações das duas frutas, sendo 25% desse total em abacaxi e o restante, em melão. O mercado de destino é a União Européia, destacando-se Itália, Alemanha, Holanda e Reino Unido. O planejamento da empresa é dobrar a produção de melão em 2006 e quadruplicar, até 2007, a produção de abacaxi. A segunda maior empresa exportadora de melão cearense está localizada no município de Icapuí e é uma das que mais investem em tecnologia para plantio de melancia sem semente. A citada fonte informa que as exportações do setor da fruticultura deverão render US$ 30,6 milhões, ainda em 2005, superando os US$ 24,8 milhões comercializados em 2004. O projeto do Governo do Estado, Frutas do Ceará, tem como meta exportar US$ 127 milhões até 2010. Em 2006, a meta é atingir os mercados norteamericano e argentino com exportações de melão e mamão, prevendo-se para tanto, investimentos na defesa fitossanitária. O Baixo Jaguaribe é o principal Agropolo a responder pelo alcance dessa meta. 159 O figo, informa também edição do jornal Diário do Nordeste, anteriormente mencionado, apresenta-se como o próximo potencial atrativo na pauta de exportações do Ceará, já tendo acontecido sua primeira remessa para o mercado internacional, neste ano. A produção de quatro hectares, de cultivo semiorgânico, está localizada no Distrito de Irrigação Jaguaribe-Apodi, em Limoeiro do Norte, de responsabilidade da empresa que é a primeira no ranking de exportação da fruta. A meta prevista é ampliar o cultivo em mais 100 hectares de outros produtos. Com isso e com a ampliação da câmara frigorífica instalada no Aeroporto Pinto Martins, o destino do produto será o mercado europeu. As fontes oficiais têm destacado a importância dos condicionantes naturais e da logística para atrair investimentos no Estado, e é desta forma que se divulga o Perímetro Irrigado Tabuleiros de Russas, na sua fase inicial de implantação, uma grande oportunidade para o agronegócio voltado à exportação. Divulgam-se como fatores de atração do novo Perímetro, o clima tropical semi-árido associado ao tipo de solo da região e o abastecimento de água garantido pela perenização dos rios Banabuiú e Jaguaribe e pelo açude do Castanhão (6,7 bilhões de m³). Destacam-se a infra-estrutura aeroportuária (aeroporto internacional) e portuária que coloca os produtos a apenas 8 dias dos Estados Unidos e 10 da Europa e a distância de 210 km do porto do Pecém e 160 km do porto do Mucuripe. Além disso, ressalta a utilização da mais moderna tecnologia do mundo em irrigação, para assegurar competitividade na produção e pós-colheita, como também a exploração agrícola centrada em produtos de baixa dependência de água e alta rentabilidade, principalmente frutas. Conforme se pode depreender das informações apresentadas, a ação governamental tem sido decisiva para instalação das empresas e, no atual estágio, para a expansão da produção e dos mercados. Fica evidenciado este fato, com a previsão de investimentos em fitossanidade, com a necessidade expressa pelas grandes empresas de investimentos como infra-estrutura para o escoamento da produção, garantia de água e melhoramento da infra-estrutura aeroportuária, como câmara de frios, que vem demandando significativos aportes de recursos públicos. 160 Sobre o assunto a revista Agronegócio cearense, anteriormente citada, na matéria Novos Investimentos, novos horizontes, salienta que quase R$ 500 milhões foram investidos nos últimos anos, no setor de Agronegócios no Ceará, através da SEAGRI e do Instituto Agropolos. O trabalho da SEAGRI envolveu ações de promoção e atração de negócios, com um rastreamento em vários países, de grupos econômicos e empresas, para convidá-los a instalarem-se no Ceará apresentandolhes as condições estratégicas do Estado: solo de qualidade, cadeia produtiva, construção de infra-estrutura básica necessária, atendimento e informações necessárias aos investidores. Os ganhos alcançados no agronegócio da agricultura irrigada têm custado aos governos federal e estadual recursos e esforços, nos últimos anos, que somente se dispensaria a setores prioritários estratégicos para a política de Estado. A análise que, de princípio, emerge dos dados e constatações até aqui apresentadas sobre a evolução da agricultura irrigada no Agropolo Baixo Jaguaribe, no período recente, é a de que os ganhos gerados são de forma significativa apropriados pelas grandes empresas. A despeito do efeito gerado pelo Programa, de projetar o Ceará e a região num seleto segmento internacional de mercado, de trazer inovação tecnológica para um setor econômico do Estado, ainda caracterizado fortemente pela baixa produtividade, há que se questionar se a opção dos governos não deveria ser uma política mais includente. Classicamente, alguns indicadores são considerados quando se quer avaliar o ritmo do crescimento da economia. Tomou-se assim, a evolução da arrecadação do ICMS como um indicador capaz de poder captar a intensidade do processo econômico que vem se operando no Baixo Jaguaribe, com a atuação do Programa que o tornou Agropolo. Os dados constantes da TABELA 34 expressam a evolução desse indicador no período 1999 a 2003, e o objetivo principal é estabelecer uma comparação do desempenho do ICMS antes e depois do Programa. 161 Tabela 34: Arrecadação do ICMS (*) segundo os municípios - Agropolo Baixo Jaguaribe - 1996-2003 Município Alto Santo 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Comparativo 1996/1999 2003 Comparativo 1999/2002 Comparativo 1999/2003 548,33 1.111,48 725,52 496,40 588,89 622,57 542,24 275,67 -9,5% 9,2% -44,5% 7.267,35 7.365,51 6.859,06 5.827,89 4.871,17 7.557,23 7.525,66 6.755,40 -19,8% 29,1% 15,9% Banabuiú 25,66 32,50 87,59 95,28 78,96 266,38 319,35 567,38 271,3% 235,2% 495,5% Ibicuitinga 16,80 40,82 25,20 32,05 31,47 43,00 49,45 72,85 90,7% 54,3% 127,3% 453,11 276,43 171,94 91,51 129,62 277,63 207,00 234,24 -79,8% 126,2% 156,0% Itaiçaba 19,10 13,55 19,23 43,38 20,39 19,81 35,62 52,22 127,2% -17,9% 20,4% Jaguaretama 77,70 73,29 69,38 59,53 68,37 93,90 139,23 132,09 -23,4% 133,9% 121,9% Jaguaribara 21,98 27,52 33,23 45,97 38,38 42,76 94,74 124,19 109,2% 106,1% 170,2% Jaguaruana 1.406,50 980,24 1.153,86 2.400,36 2.444,59 2.149,04 2.694,74 2.330,31 70,7% 12,3% -2,9% Limoeiro do Norte 2.444,95 4.067,93 4.284,31 3.354,87 3.843,77 2.881,18 3.395,32 3.877,25 37,2% 1,2% 15,6% Morada Nova Aracati Icapuí 4.140,13 3.502,63 2.622,73 2.024,91 2.181,30 1.936,04 1.640,94 1.381,77 -51,1% -19,0% -31,8% Palhano 95,14 90,28 101,72 81,95 67,41 58,23 61,31 48,82 -13,9% -25,2% -40,4% Quixeré 204,01 116,08 165,34 175,73 195,07 202,88 246,10 396,12 -13,9% 40,0% 125,4% Russas 2.956,56 2.231,02 3.757,47 7.014,26 9.400,12 9.223,96 14.161,59 10.911,08 137,2% 101,9% 55,6% 131,31 204,78 137,49 90,92 50,01 33,04 30,90 63,49 -30,8% -66,0% -30,2% 1.194,92 953,28 1.036,58 1.124,03 1.125,14 1.172,94 1.424,67 1.447,62 -5,9% 26,7% 28,8% 21.003,57 21.087,35 21.250,66 22.959,03 25.134,70 26.580,57 32.568,85 28.670,51 9,3% 41,9% 24,9% Ceará 2.009.273,52 1.993.777,42 2.079.405,30 2.248.234,20 2.586.386,65 2.734.291,24 2.834.232,18 2.633.552,52 11,9% 26,1% 17,1% Fortaleza 1.574.744,97 1.555.657,33 1.608.865,71 1.712.559,74 1.972.751,63 2.115.034,06 2.149.075,81 2.068.372,35 8,8% 25,5% 20,8% 434.528,55 438.120,09 470.539,60 535.674,46 613.635,03 619.257,18 685.156,38 565.180,17 23,3% 27,9% 5,5% 1,05% 1,06% 1,02% 1,02% 0,97% 0,97% 1,15% 1,09% 78,37% 78,03% 77,37% 76,17% 76,27% 77,35% 75,83% 78,54% 4,83% 4,81% 4,52% 4,29% 4,10% 4,29% 4,75% 5,07% São João do Jaguaribe Tabuleiro do Norte A. B. Jaguaribe Ceará (interior) A. B. Jaguaribe / Ceará Fortaleza / Ceará A. B. Jaguaribe/ Ceará (interior) Fonte: Anuários Estatísticos do Ceará – IPECE - 1999 a 2004 * Valores atualizados pelo INPC (a preços constantes de 2003) 162 O comportamento da arrecadação do ICMS (TABELA 34) revela uma intensificação no nível da atividade econômica regional superior à registrada no Ceará e no Interior estadual, no período de interesse (1999/2003). Enquanto o total arrecadado desse imposto no Agropolo elevou-se em 25%, o total do Estado, mesmo com Fortaleza crescendo 21 % , foi de 17% no período em foco. Tendo em vista que 2003, início de uma nova administração estadual, registrou uma queda, situação não típica na série analisada, torna-se conveniente observar o período 1999/2002. Nestes quatro anos a região exibiu um aumento no valor arrecadado de ICMS de 41,9 %, consideravelmente maior do que o registrado pelo Estado (26%) e pelo seu Interior (27,9%). Apesar do desempenho observado, o Agropolo praticamente mantém estável sua participação no total estadual do ICMS, em torno de 1%. Gráfico 17: Arrecadação do ICMS - Agropolo Baixo Jaguaribe - 1996-2003 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% -10% 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 A. B. Jaguaribe 0,40% 1,18% 9,31% 19,67% 26,55% 55,06% 36,50% Ceará -0,77% 3,49% 11,89% 28,72% 36,08% 41,06% 31,07% Fortaleza -1,21% 2,17% 8,75% 25,27% 34,31% 36,47% 31,35% Interior 0,83% 8,29% 23,28% 41,22% 42,51% 57,68% 30,07% Fonte: Anuários Estatísticos do Ceará – IPECE - 1999 a 2004 * Valores atualizados pelo INPC (a preços constantes de 2003) Relativamente ao Interior a região registra uma tendência crescente da sua participação, no período mais recente, de 4,29% em 1999, para 5,07% em 2003. Russas é o município que mais contribuiu na arrecadação do ICMS no Agropolo, seguindo-se Aracati, esses dois representando 61,6% do volume arrecadado 163 na região. Limoeiro do Norte contribui com um valor correspondente a menos de 60% do valor desse imposto gerado em Aracati. A arrecadação do ICMS em Morada Nova registra um decréscimo gradativo entre 1996 e 2003, mostrando um valor que não condiz com sua condição de pólo regional, conferido a esse município por outras variáveis já analisadas. A partir de 1999 passa a apresentar valor inferior ao que se arrecada no município de Jaguaruana, confirmando tal situação, os dados até 2003. Assim, é importante notar que os reflexos do Programa em análise, na economia do Agropolo, medidos pela arrecadação do principal imposto estadual, se fez sentir com maior intensidade em municípios médios e pequenos da região. A arrecadação do ICMS aumentou em quase 6 vezes no município de Banabuiú, e em mais de duas vezes e meia em Jaguaribara, entre 1999 e 2003. Icapuí foi o município a apresentar o terceiro maior incremento de arrecadação (156%) no mesmo período, seguido de Ibicuitinga e Quixeré, cujos valores arrecadados mais que duplicaram após a implantação do Programa de Desenvolvimento dos Agropolos. 5.2.5 Outros indicadores da atividade econômica Outro indicador clássico de aferição do comportamento da economia é o consumo de energia elétrica por refletir o ritmo de crescimento das atividades econômicas, o processo de urbanização e o poder aquisitivo da população, estes dois últimos retratados no nível do consumo residencial. Entre 1996 e 1999 o consumo de eletricidade no Agropolo Baixo Jaguaribe apresentou maior crescimento (45,5%) do que no período de execução do Programa de Desenvolvimento dos Agropolos. No entanto, pode-se constatar que a região apresentou a melhor performance no período de interesse do estudo, ou seja, 24,2% de aumento no consumo desse indicador contra os 5,6% do Ceará, o decréscimo do consumo de Fortaleza e a elevação do 15,3% do incremento verificado para o Interior (TABELA 35). Decompondo-se a análise por classes de consumo evidencia-se que os maiores crescimentos da região ficaram com o setor rural (54%) e industrial (39,95), no referido período. 164 Tabela 35: Evolução do consumo de energia elétrica, por classes de consumo - Agropolo Baixo Jaguaribe - 1996/1999 e 1999/2003 Município Total Residencial 1996/1999 Industrial Comercial Rural Outros Total Residencial 1999/2003 Industrial Comercial Rural Outros Alto Santo 72,62 58,79 148,29 7,83 36,15 26,75 2,60 (8,40) (41,95) (1,40) 104,53 33,73 Aracati 33,60 29,67 31,34 40,73 48,61 28,76 67,34 1,15 70,67 26,50 339,54 16,63 Banabuiú (24,15) 66,43 (99,95) 41,76 125,73 39,76 7,58 9,60 118,70 (7,50) 6,45 12,16 Ibicuitinga 73,70 67,58 84,62 156,90 81,01 63,49 61,33 34,45 (25,28) 23,94 136,82 75,83 Icapuí 10,58 25,42 (11,02) 66,78 536,89 59,14 58,91 21,35 70,46 32,54 64,43 27,47 425,15 23,36 231,91 44,60 91,63 984,82 (45,04) 7,56 (31,31) 9,34 293,57 (76,44) Jaguaretama 51,59 56,24 145,16 74,46 72,28 17,92 26,40 (2,07) (32,93) 26,71 100,70 27,06 Jaguaribara 25,11 27,61 23,08 30,69 39,12 (2,28) 53,33 20,38 1.227,26 123,20 (0,39) 167,87 Jaguaruana 13,75 39,52 7,67 89,00 (0,35) 16,91 52,85 (0,23) 109,87 5,59 65,00 13,98 Limoeiro do Norte 81,51 45,13 60,48 64,64 112,11 34,96 0,80 (10,25) (6,29) 4,73 4,42 3,83 Morada Nova 28,00 22,19 17,95 49,15 33,63 29,34 10,00 (1,71) (12,34) (25,05) 34,76 30,97 Palhano 38,49 49,05 69,16 113,56 (23,47) 22,75 14,30 (7,30) (53,02) 6,74 298,16 28,71 Quixeré 91,02 66,08 148,87 130,05 121,74 23,49 67,63 (6,83) (6,52) 45,75 120,40 23,35 Russas 36,29 37,02 127,97 31,04 (2,72) 26,98 22,30 (3,53) 45,90 18,34 45,40 8,53 São João do Jaguaribe 30,60 33,31 260,47 3,89 33,24 9,30 (0,36) (34,39) (57,68) (13,68) 23,51 28,27 Tabuleiro do Norte 40,04 36,62 10,49 55,29 95,11 2,44 8,56 (8,33) (35,76) (3,74) 32,42 42,07 A.B. Jaguaribe 45,50 36,62 19,09 47,70 64,66 66,32 24,23 (2,44) 39,91 10,82 53,98 (4,59) Ceará 28,71 30,09 21,96 30,18 38,53 36,39 5,25 (4,26) 2,70 8,43 58,45 6,47 Fortaleza 17,28 23,67 (3,02) 25,94 12,77 20,00 (6,38) (10,01) (23,81) 7,60 (63,70) 6,19 Ceará (interior) 40,48 38,80 39,62 43,95 39,46 47,46 15,25 2,68 62,00 6,63 Itaiçaba Fonte: Anuários Estatísticos do Ceará – IPECE – 1997, 2000 e 2004. 165 15,71 10,80 O Agropolo Baixo Jaguaribe elevou continuamente sua participação no consumo de eletricidade estadual de 4,5% em 1996, para 5,12 em 1999, chegando a 6,1% em 2003. Com relação à participação no consumo do Interior essa proporção saiu de 9,2% para 9,5, alcançando 10,3% nos respectivos anos. O incremento observado intensificou-se no último período. Tabela 36: Evolução do consumo de energia elétrica, por classes de consumo - Agropolo Baixo Jaguaribe – 1996 1999 e 2003 Município 1996 1999 2003 A.B. Jaguaribe Ceará Fortaleza Ceará (Interior) A.B. Jaguaribe / Ceará A.B. Jaguaribe / Interior A.B. Jaguaribe Ceará Fortaleza Ceará (Interior) A.B. Jaguaribe / Ceará A.B. Jaguaribe / Interior A.B. Jaguaribe Ceará Fortaleza Ceará (Interior) A.B. Jaguaribe / Ceará A.B. Jaguaribe / Interior Total 200.701 4.428.888 2.246.252 2.182.636 4,53% 9,20% 292.023 5.700.486 2.634.414 3.066.072 5,12% 9,52% 362.774 5.999.864 2.466.267 3.533.597 6,05% 10,27% Consumo de energia elétrica (mwh) Residencial Industrial Comercial 56.159 45.319 14.775 1.508.842 1.336.072 770.576 868.572 553.321 589.117 640.270 782.751 181.459 3,72% 3,39% 1,92% 8,77% 5,79% 8,14% 76.726 53.970 21.822 1.962.831 1.629.532 1.003.171 1.074.159 536.635 741.952 888.672 1.092.897 261.219 3,91% 3,31% 2,18% 8,63% 4,94% 8,35% 74.853 75.510 24.184 1.879.163 1.673.465 1.087.751 966.656 408.873 798.325 912.507 1.264.592 289.426 3,98% 4,51% 2,22% 8,20% 5,97% 8,36% Rural 57.162 244.053 8.478 235.575 23,42% 24,26% 94.122 338.087 9.561 328.526 27,84% 28,65% 144.927 535.690 3.471 532.219 27,05% 27,23% Outros 27.286 562.275 226.764 335.511 4,85% 8,13% 45.383 766.865 272.107 494.758 5,92% 9,17% 43.299 816.508 288.942 527.567 5,30% 8,21% Fonte: Anuários Estatísticos do Ceará – IPECE – 1997, 2000 e 2004. A estrutura do consumo de eletricidade por classes de consumo no Agropolo evidencia a importância do setor rural na economia regional. Os gráficos XX confirmam essa realidade. Enquanto o setor rural representa, segundo dados de 2003, 15% da energia elétrica consumida no Interior estadual, proporção que saiu de 11% nos anos de 1996 e 1999, no Agropolo Baixo Jaguaribe a área rural é a maior consumidora, com uma representação no consumo total da região que evoluiu de 28,5% em 1996, para 32,2% em 1999, alcançando 40% em 2003. 166 Gráfico 18: Consumo de energia elétrica, por classes de consumo em %Agropolo Baixo Jaguaribe - 1996 Outros R ural 11% 14% Rural O utro s 15% C o m erc ial 8% 28% Residencial R e sid e n c ia l 28% 29% Comercial 7% Ind ustri al 3 7% Industrial 23% A.B. Jaguaribe Interior Fonte: Anuários Estatísticos do Ceará – IPECE – 1997, 2000 e 2004. Gráfico 19: Consumo de energia elétrica, por classes de consumo em % Agropolo Baixo Jaguaribe - 1999 Outros Rural Outros 16% 10,7% 16,1% Rural Comercial 33% 8,5% Residencial Residencial 26% 29,4% Comercial Industrial Industrial 7% 18% 35,6% A.B. Jaguaribe Interior Fonte: Anuários Estatísticos do Ceará – IPECE – 1997, 2000 e 2004. Gráfico 20: Consumo de energia elétrica, por classes de consumo em %Agropolo Baixo Jaguaribe - 2003 Rural Outros Rural Outros 11,9% 15,1% 15,0% Residencial 39,9% Comercial 21% Industrial Comercial Residencial 8,2% 29,4% Industrial 20,8% 35,9% 6,7% A.B. Jaguaribe Interior Fonte: Anuários Estatísticos do Ceará – IPECE – 1997, 2000 e 2004. 167 5.3 Efeito no campo social Poder-se-ia esperar, com o dinamismo da agricultura irrigada na região do Agropolo Baixo Jaguaribe, reflexos na demanda educacional, devido às novas perspectivas de trabalho que se abriram nos últimos anos. Da análise até aqui realizada, constata-se que a região, como espaço prioritário de investimentos públicos federais e estaduais, no campo hidroagrícola, e tecnológico, com a ação do Centro de Ensino Tecnológico (CENTEC), já vinha demonstrando características de mudanças, antes mesmo de uma ação ”mais agressiva” (grifo nosso) por parte do governo estadual, de torná-la o Agropolo preferencial de internacionalização do agronegócio cearense. Procurando-se inferir se a política de expansão da agricultura está gerando efeitos na área social, considerou-se a educação como o setor que pode indicar a tendência de mudanças no perfil do desenvolvimento humano da população. Para isso, abordam-se informações referentes à expansão da matrícula no ensino médio e no CENTEC, nos cursos de formação de tecnólogos de nível superior, pela sua importância para o desenvolvimento profissional da população local. A TABELA 37 evidencia uma evolução nas estatísticas educacionais, no Agropolo em estudo, antes da ação do Programa de Desenvolvimento dos Agropolos, fato que pode ser explicado pelo próprio comportamento verificado para todo o Estado e para o Interior. No período de1996 a 1999 a matrícula no ensino médio na região elevouse em 51,7%, superior ao incremento registrado pelo Estado, inferior, porém, ao apresentado pelo Interior, de 69% (TABELA 37). Esse comportamento traz a influência da política educacional da gestão 1995-1998, de avanço na municipalização do ensino fundamental, permitindo ao governo estadual atuar de forma mais efetiva da quinta à oitava séries do ensino fundamental e no nível médio. 168 Tabela 37: Evolução da matrícula inicial no ensino médio, por dependência administrativa - Agropolo Baixo Jaguaribe 1996, 1999 e 2003. Aracati - 844 181 - 181 - - Icapuí 322 - Itaiçaba 161 - 322 - 563 175 - - Jaguaribara 117 - - Jaguaruana 728 - 375 267 409 267 224 418 407 Particular Municipal Estadual Federal Total Particular Municipal Estadual - - 407 - 500 1999 / 2003 138 93,48 52,43 2.555 - 1.913 3.519 - 3.019 - 40,69 37,73 - - 313 - 313 - - 633 - 633 - - 72,93 102,24 - - 209 - 209 - - 486 - 486 - - 100,00 132,54 - - 368 - 368 - - 552 - 552 - - 14,29 50,00 161 360 - 270 - 90 441 - 359 - 82 123,60 22,50 338 - 276 62 - 554 - 554 - - 93,14 63,91 117 204 - 152 - 52 316 - 316 - - 74,36 54,90 183 170 1.154 - 789 101 264 1.416 - 1.168 - 248 58,52 22,70 436 1.909 - 1.350 127 432 2.393 - 1.868 - 525 28,55 25,35 403 184 1.825 - 1.207 519 99 2.968 - 2.903 - 65 59,39 62,63 (12,25) - Jaguaretama Federal - Total - Particular - 1.816 Banabuiú Ibicuitinga Municipal 138 Estadual Alto Santo Federal Total Município Variação % do Total de Matriculas 2003 1996 / 1999 MATRICULA INICIAL 1999 1996 175 - - Limoeiro do Norte 1.485 - 1.049 Morada Nova 1.145 - 558 Palhano 204 - 204 - - 506 - 506 - - 444 - 444 - - 148,04 Quixeré 258 - 258 - - 427 - 427 - - 778 - 778 - - 65,50 82,20 Russas 1.284 - 1.055 - 229 1.757 - 1.509 - 248 2.871 - 2.553 - 36,84 63,40 São João do Jaguaribe 182 - 148 - 34 253 - 253 - - 389 - 389 - - 39,01 53,75 Tabuleiro do Norte 547 - 379 - 168 820 - 777 - 43 1.011 - 1.011 - - 49,91 23,29 A.B. Jaguaribe - 318 8.743 - 5.373 1.324 2.046 13.265 - 10.586 1.033 1.646 19.178 - 17.440 - 1.738 51,72 44,58 174.704 3.676 87.943 22.316 60.769 261.815 3.873 190.046 9.657 58.239 379.145 2.780 318.553 1.736 56.076 49,86 44,81 Fortaleza 87.150 2.950 43.584 1.992 38.624 113.826 2.736 68.639 1.647 40.804 148.206 1.610 105.601 877 40.118 30,61 30,20 Ceará (interior) 87.554 726 44.359 20.324 22.145 147.989 1.137 121.407 8.010 17.435 230.939 1.170 212.952 859 15.958 69,03 56,05 A.B. Jaguaribe / Ceará 5,00% 0,00% 6,11% 5,93% 3,37% 5,07% 0,00% 5,57% 10,70% 2,83% 5,06% 0,00% 5,47% 0,00% 3,10% Região / Ceará (interior) 9,99% 0,00% 12,11% 6,51% 9,24% 8,96% 0,00% 8,72% 12,90% 9,44% 8,30% 0,00% 8,19% 0,00% 10,89% Ceará Fonte: Anuários Estatísticos do Ceará – IPECE – 1997, 2000 e 2004. 169 Gráfico 21: Matrícula inicial no ensino médio - Agropolo Baixo Jaguaribe 1996/1998 e 1999/2003. 100 90 80 69,03 70 60 51,72 50 40 30 56,05 49,86 44,58 44,81 30,61 30,20 1996 / 1999 1999 / 2003 20 10 - Região Interior Fortaleza Ceará Fonte: Anuários Estatísticos do Ceará – IPECE – 1997, 2000 e 2004. Entre 1999 e 2003, a demanda pela matrícula no ensino médio no Agropolo Baixo Jaguaribe refletiu a do Estado, ambos exibindo um crescimento de aproximadamente 45%. No Interior, o aumento revelou-se como no período anterior, ainda maior, de 56%, fato que pode ter suas razões na forte carência das regiões mais deprimidas do Estado e na pressão da demanda por esse nível de ensino nos municípios da Região Metropolitana de Fortaleza. Ressalte-se ainda, que a exigência do nível médio de escolaridade para admissão nos postos de trabalho criados pelas indústrias atraídas pela política do governo estadual, explica em parte a elevação do contingente de jovens matriculados no período mais recente. Efeito combinado da política em foco, com a de promoção da educação tecnológica pode ser sentida nas informações relativas à expansão da matrícula na unidade do CENTEC, em Limoeiro do Norte. 170 Tabela 38: Alunos matriculados no CENTEC de Limoeiro do Norte, por cursos regulares - 1997.2 a 2005.2. CURSOS 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Tecnologia de Alimentos 35 64 93 139 151 156 161 158 145 Eletromecânica 28 57 68 113 124 147 171 165 161 32 38 91 122 145 157 159 167 25 37 72 101 128 148 160 167 178 236 415 498 576 637 642 640 Recursos Hídricos / Irrigação Recursos Hídricos / Saneamento Ambiental TOTAL 31 94 Fonte: Instituo CENTEC. Obs.: 1.No ano de 1997 só houve vestibular na Unidade de Limoerio do Norte. Obs.: 2.A partir de 1998 ocorreu um desmembramento do curso de Recursos Hídricos que se dividiu em dois: Recursos Hídricos/Irrigação e Recurso Hídricos/Saneamento Ambiental. Tabela 39: Alunos matriculados no CENTEC de Limoeiro do Norte por curso e município de residência - 2003.1 Tec. Alimentos Eletromecânica Rec Hid Irrigação Rec Hid San Amb Alto Santo 2 2 5 - 9 1,56 Ibicuitinga 1 - - - 1 0,17 Itaiçaba 2 2 6 4 14 2,43 Jaguaretama - 1 1 1 3 0,52 Jaguaruana 3 4 3 3 13 2,26 Limoeiro do Norte 63 49 61 32 205 35,59 Morada Nova 17 19 10 71 12,33 Nova Jaguaribara 2 1 3 4 10 1,74 Palhano 1 - 2 3 6 1,04 Quixeré 2 7 4 4 17 2,95 Russas 25 18 18 15 76 13,19 6 6 6 2 20 3,47 Tabuleiro do Norte 18 14 21 11 64 11,11 Outros municípios 14 24 5 24 67 11,63 156 147 145 128 576 100,00 Municípios São João do Jaguaribe Total 25 Total Part. (%) Fonte: Instituo CENTEC. O aumento da demanda pelo ensino tecnológico resultou numa evolução da matrícula no CENTEC, conforme expressa a TABELA 38. Além disso, a adequação do CENTEC à realidade da região nota-se na oferta dos cursos de formação em tecnologias e áreas de suporte à agricultura irrigada. Segundo 171 informação colhida junto à própria unidade, o curso de Recursos Hídricos/Irrigação e Eletroeletrônica forma profissionais para saber lidar com a água e sua aplicação na agricultura, o curso de Tecnologia de Alimentos assegura a formação voltada ao aproveitamento da produção e agregação de valor aos produtos locais em agroindústrias, e com o objetivo de ter profissionais habilitados para tratamento dos riscos ambientais decorrentes da irrigação, o CENTEC tem o curso de Recursos Hídricos/Saneamento Ambiental. Fato também importante é o alcance regional dessa unidade de ensino. Dados da matrícula de 2005.2 (TABELA 39) evidenciam que 36% dos alunos residem em Limoeiro do Norte, enquanto 64% nos outros municípios componentes do Agropolo, com destaque para Russas com 13% e Morada Nova com 12% (2003). A formação do CENTEC tem foco também no empreendedorismo, por isso a instituição trabalha também com incubadoras de empresas, uma vez que seu objetivo é formar empresários para aproveitar o potencial local. Em que pese os resultados alcançados no Baixo Jaguaribe como Agropolo de agricultura irrigada, a medida recente do Ministério de Integração Nacional de licitar a concepção de um modelo geral de concessão de projetos públicos de irrigação para doze projetos no Brasil, inclusive Jaguaribe/Apodi e Tabuleiros de Russas, exige uma reflexão sobre o futuro da irrigação no Brasil e uma avaliação do que pode representar uma mudança na atuação do Governo na gestão dos perímetros públicos irrigados em pólos dinâmicos. 172 6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 6.1 Conclusões A pesquisa acusou mudanças significativas sob o ponto de vista econômico e social com a implantação do Programa de Desenvolvimento dos Agropolos na região do Baixo Jaguaribe. Os resultados alcançados em curto período de execução do Programa, 1999/2002, explicam o atual reconhecimento da região como Agropolo emergente, em função de sua especialização produtiva na agricultura irrigada. O processo pelo qual o Agropolo Baixo Jaguaribe vem passando, nessa fase recente, é resultado da reestruturação produtiva da agricultura brasileira, face às exigências do mercado quanto aos padrões de competitividade, confirmando a entrada da região em um novo ciclo de especialização produtiva baseada na fruticultura irrigada de alto valor agregado, e com isso, sua inserção no contexto da economia globalizada. Assim é que, a condição de pólo emergente do agronegócio da fruticultura irrigada, não foi conferida ao Baixo Jaguaribe, pelo Programa de Desenvolvimento dos Agropolos, mas revelada e potencializada. O Programa oportunizou a modernização da economia agrícola regional e efeitos em cadeia, a partir de um conjunto de condicionantes favoráveis, dados pelo potencial natural (clima tropical semi-árido e tipo de solo), vantagens e facilidades logísticas, como posição estratégica em relação a mercados consumidores, infra-estrutura portuária e infraestrutura hidroagrícola. As vantagens adquiridas na região, representadas por obras de grande porte como a do açude Castanhão, Canal de Integração Castanhão-Bacia Metropolitana, perímetros públicos irrigados e facilidades para introdução da irrigação privada, aliadas ao potencial de mercado dos agronegócios da fruticultura, e de outros como pesca e mel natural, conferem ao Agropolo Baixo Jaguaribe forte perspectiva de crescimento econômico. 173 O Agropolo Baixo Jaguaribe concretiza, hoje, os resultados de uma política nacional definida numa ampla visão, que combinou o Programa de Apoio e Desenvolvimento da Fruticultura Irrigada do Nordeste, com a estratégia de desenvolvimento de Agropolos no país, como proposta de homogeneização conceitual de programas de desenvolvimento do agronegócio, seguida com fidelidade, pelo governo estadual, devido a identidade dos macroobjetivos desenvolvimentistas apoiados na política neoliberal dos dois governos, e possível em função da prioridade conferida à implantação de infra-estrutura hídrica em território cearense. Valendo-se da teoria de pólos de crescimento, elaborada por Perroux na segunda metade da década de 1950, de que a não ser com o planejamento consciente, podem ser obtidos efeitos do pólo sobre o crescimento e desenvolvimento do conjunto do território e de suas populações, é importante frisar a prioridade que deve ser dada pelas instâncias de governo, em especial, estadual e federal, no atual estágio, ao planejamento regional, visando orientar o crescimento econômico e a evolução da estrutura urbano-regional do Agropolo Baixo Jaguaribe. Os argumentos até aqui apresentados fundamentam-se nos principais pontos conclusivos extraídos da pesquisa, conforme salientam-se a seguir. O Agropolo Baixo Jaguaribe caracteriza-se por uma estrutura urbanoregional singular no contexto do Ceará. Embora sua ocupação tenha sido bastante influenciada pela disponibilidade de água e pela fertilidade dos solos, destacando-se suas condições geoambientais na semi-aridez cearense, a região não se define a partir da predominância de um centro maior, localizado do Interior do Estado. Ao contrário, possui uma rede urbana equilibrada, cuja concentração demográfica (57%, 2005) no espaço intra-regional, divide-se entre quatro centros intermediários do Estado. Assim, a ação polarizadora que se verifica na região é exercida pelo bipolo Limoeiro do Norte/Russas e Morada Nova, na área central, e por Aracati, com influência nos municípios do litoral e do seu entrono. Os municípios com população de até 20 mil habitantes representam 30% da população, e dois possuem população em torno de 30 mil habitantes (estimavas de 2005). 174 O Agropolo Baixo Jaguaribe participa com 5,5% da população do Estado, 7,8% da população do Interior (dados estimados de 2005), percentuais que não têm sido mantidos, nos dois casos (em 1991 eram 5,8% e 8% respectivamente), devido as taxas de crescimento apresentadas nos períodos 1991/2000 e 2000/2005 serem menores do que as do Estado e do Interior, a despeito da dinâmica econômica conferida ao Agropolo, nos últimos dez anos, em função das obras hídricas, construção da nova cidade de Jaguaribara e do fortalecimento da infra-estrutura de irrigação, com o projeto Tabuleiros de Russas. Os dados referentes à dinâmica demográfica da última década censitária já deixava revelar-se sua característica de região com alternativas econômicas ligadas à permanência da população no campo. Enquanto na região residem 7% da população urbana do Interior do Estado, no seu território estão 9% dos habitantes rurais do Ceará, tendo esta última proporção mostrado uma discreta elevação entre os dois anos de censo. Ressaltese também que a taxa de urbanização do Agropolo elevou-se menos do que a do Interior, entre 1991 e 2000, estando em 53,8%, tendo a do Interior já atingido os 60%. Pode-se concluir da análise, que a dinâmica demográfica observada no Agropolo Baixo Jaguaribe está indicando uma tendência de “desruralização” da região menos intensa do que a constatada em todo o Estado e no Interior. Se avaliada pelo IDH-M, é uma das regiões do Ceará com melhor qualidade de vida. Limoeiro do Norte tem um IDH que o classifica na condição de médio-alto (0,711), superior, portanto, ao do Estado (0,700). Todos os municípios do Agropolo ocupam posições na primeira metade do ranking estadual desse indicador, doze dos quais, entre as 50 primeiras posições. Os efeitos do Programa de Desenvolvimento dos Agropolos presentes nos dados pesquisados, para melhor interpretação, foram caracterizados como: efeitos diretos; efeitos observados para os quais o Programa contribuiu (efeitos de contribuição); e efeitos indiretos. 175 Os efeitos diretos são os de evolução das áreas irrigadas no Agropolo, da produção agrícola, do emprego e mudanças na pauta de exportações cearenses. Os efeitos para os quais o Programa contribui, podendo ser chamados de efeitos de contribuição, são o desempenho do PIB, da arrecadação do ICMS e de outro indicador do nível de atividade econômica, o consumo de energia elétrica. Por fim, procurou-se obter os efeitos indiretos através de dados educacionais e de formação profissional na área tecnológica. A conclusão também apresenta uma análise do Programa tomando como parâmetro a definição de Agropolo como proposta metodológica e alguns achados importantes que não se constituíam objeto da pesquisa. Informações oficiais contidas em Mensagens à Assembléia Legislativa (Governo do Estado) entre 2000 e 2005 enfatizam que, além da atração de investimentos, marketing, organização da produção e promoção da inovação tecnológica, a SEAGRI prestou apoio à comercialização, identificando mercados estratégicos para os produtos da agricultura irrigada, aproximando produtores, processadores, atacadistas, varejistas e consumidores nacionais e internacionais. O Programa em análise produziu resultados diretos no agronegócio da agricultura irrigada com maior intensidade no Agropolo Baixo Jaguaribe, iniciando-se pela evolução das áreas de irrigação, que apresentou um aumento de 66% do total da região, e de 182,7% das áreas com fruticultura, superiores, portanto, aos incrementos registrados pelo Estado, de 42% e de 71,3%, respectivamente, no período de 1999 e 2004. O Agropolo Baixo Jaguaribe soma atualmente 18.185,3 hectares de áreas irrigadas, o que representa ainda 20% do total estadual, porém com um grande destaque na produção dos cultivos irrigados de maior valor agregado. A produção de melão do Baixo Jaguaribe assegurou ao Ceará a posição de segundo produtor nacional. O melão experimentou aumentos nos indicadores de área plantada, quantidade produzida e valor da produção entre 260 e 273% no período de execução do Programa. No indicador de rentabilidade, expresso pelo valor da produção por hectare plantado, a variação foi de menos de 2%, atestando que a produção irrigada da fruta já vinha se operando com padrões de moderna tecnologia. 176 A banana foi destaque entre os produtos da fruticultura irrigada do Agropolo pelos aumentos exibidos no valor da produção de 142% e na rentabilidade por hectare, de 66,6%, enquanto o incremento na área plantada foi de 45,5%, indicando essa diferença encontrada nos resultados, o aumento de eficiência, com a modernização tecnológica introduzida na cultura, na região em estudo. Embora ainda não se disponha de estatísticas da produção agrícola referentes ao período 2004, informações da SEAGRI noticiam que o Ceará já figura como o primeiro exportador de abacaxi do país, e o figo apresenta-se como grande potencial para ser o próximo atrativo na pauta de exportações da fruticultura cearense. A atração de empresas foi determinante para essa performance alcançada pela região. Os negócios privados atraídos para a região somam R$ 103,4 milhões, somente no período de 2002 a 2005, o que requereu a realização de investimentos públicos necessários para a operação desses projetos da ordem de R$. 1,3 milhão. A maior empresa instalada no Agropolo é responsável por 70% das exportações de melão e abacaxi, outras grandes empresas produzem para exportação, e o restante da produção está nas mãos de empresários locais, associações ou outras organizações de produtores. Se por um lado, o desenvolvimento da fruticultura irrigada no Agropolo Baixo Jaguaribe está resultando no aumento da capacidade de geração de riqueza na região, por outro lado, está favorecendo a concentração de capital na região por empresas nacionais e multinacionais, que expandem suas atividades adquirindo novas áreas, estimulando assim, a retirada de produtores locais dos solos com melhores condições de fertilidade. A condição da região do Baixo Jaguaribe como Agropolo emergente, valeu ao Ceará, nos últimos anos, mudanças na sua pauta de exportações. O melão, em 1996, representava 0,8% das exportações cearenses, e até o ano 2000, a exportação do produto não ultrapassava os US$ 3 milhões. Em 1999, quando se iniciou o Programa de Desenvolvimento dos Agropolos, as exportações de melão estavam abaixo dos US$ 2 milhões. O ano de 2002 registrou o salto ocorrido na produção, elevando as exportações da fruta para US$ 12,9 milhões (FOB), quando chegou a representar na pauta cearense, 2,4% do valor exportado pelo Ceará. 177 Da décima-quinta posição em 2000, as exportações de melão ascenderam, gradativamente, alcançando a oitava posição em 2004, com um valor de US$ 16,74 milhões, o que significou 1,9% do total dos produtos cearenses exportados. É importante notar que melancias frescas, cuja produção está concentrada no Agropolo Baixo Jaguaribe, em 2004 já figuravam nas exportações cearenses com um valor de mais de US$ 1 milhão, com uma participação em torno de 0,1%. O mel natural vem fomentando a economia do agronegócio no Estado e figurou, em 2002, como produto de exportação, tendo registrado, em 2004 um valor de US$ 4,5 milhões (0,5% do total exportado), para o qual o Agropolo contribuiu como uma das regiões de maior produção no Ceará. Sem dúvida, foi no emprego que se fez sentir o efeito mais significativo do Programa em análise. De princípio, poder-se-ia entender que não seria esse, o melhor indicador para avaliar mudanças na atividade agrícola, pela característica da informalidade da ocupação no setor, como também por seu caráter familiar, sobretudo em estados como o Ceará. Segundo dados do Censo Demográfico de 2000, a população ocupada na agricultura no Agropolo Baixo Jaguaribe é de 54,9 mil pessoas. Informações da SEAGRI divulgam um total de ocupações geradas com a atividade da agricultura irrigada de 5.532 pessoas (2002). Dados do Cadastro Central de Empresas (IBGE) indicam um total de 3.221 pessoas empregadas nas atividades de agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal, concentradas principalmente, nos municípios de Aracati, Itaiçaba, Jaguaruana, Limoeiro do Norte e Quixeré, portanto áreas de expansão da fruticultura de alto valor agregado. No período de implantação do Programa de interesse deste estudo, o emprego na atividade da agricultura no Agropolo Baixo Jaguaribe elevou-se em 311%, chegando a região a responder por um quarto do emprego gerado nesse setor no Estado, em 2002, proporção que não chegava a 10% em 1999. Por sua vez, a contribuição do Agropolo no emprego agrícola do Interior chegou a 28,6%, em 2002, mostrando uma mudança significativa em relação a 1999, quando essa participação se situava em 12,6%. A grande evidência neste aspecto é o município de Quixeré, cujo número de trabalhadores formais na agricultura saiu de 8 para 2.040 pessoas, entre 1999/2002. 178 Nesse município, a elevação no emprego total foi de 305%, de 761 empregados para 3.085, valendo ressaltar que somente a agricultura respondeu por 85% dos novos empregos gerados no período mencionado. Quixeré passou a ocupar a quinta posição no ranking do emprego total no Agropolo (2002), após os pólos regionais. Segundo o dado mais recente (2002), a agricultura emprega 8,3% do pessoal ocupado no mercado formal de trabalho regional, sendo superada apenas pelas atividades de comércio e de serviços de reparação de veículos e objetos pessoais e domésticos (19,8%) e pela indústria de transformação (18,7%). Não se pode deixar de salientar que antes do Programa, entre os anos de 1996 e 1999, a economia do Agropolo vinha em crescimento, fortemente influenciada pela expansão da indústria de transformação e da construção, cujos empregos se elevaram em 99,6 e 225,7% respectivamente. No período recente (1999/2002), considerando o indicador de emprego, o Agropolo mostrou mais dinamismo do que o Estado. O pessoal ocupado nas unidades empresariais locais registrou uma elevação de 61,5% nos três anos, enquanto em nível estadual, o aumento foi de 55,9%. O mesmo comportamento não se verificou com relação ao Interior, cujo crescimento na variável emprego chegou a 65%, no mesmo período. As informações dão sinais de desconcentração espacial do emprego regional; os pólos regionais Aracati, Limoeiro do Norte, Morada Nova e Russas, apesar do crescimento registrado no período após implantação do Programa (entre 11 e 19%), reduziram sua participação no emprego regional de 63,2 para 59,5% entre 1999 e 2002. Em Aracati, a pesca, a indústria de transformação e o comércio responderam, de forma significativa, pelo aumento do pessoal ocupado. Em Limoeiro do Norte, Morada Nova e Russas, áreas de localização de perímetros irrigados, foram também os setores secundários e terciários principalmente, que produziram novos empregos, nos três anos recentes analisados. Saliente-se, porém, que as estatísticas disponíveis do emprego não alcançaram os últimos anos, quando começaram a se instalar novas empresas no perímetro no Perímetro Irrigado Tabuleiros de Russas. As mudanças na economia agrícola do Baixo Jaguaribe, apreendidas pelos dados como efeitos da política conduzida pela parceria dos governos federal e estadual 179 na região, configuram uma modernização espacialmente seletiva nas áreas dos projetos agrícolas das grandes empresas. De outra forma, instala-se no Agropolo, com a consolidação de sua aptidão regional para a fruticultura voltada para a exportação, o “assalariamento” no campo e novas formas de produção através da parceria de empresas com produtores locais, assegurando a transferência de tecnologia para a substituição de culturas tradicionais por cultivos de maiores rentabilidades e retorno sobre a área plantada e a infra-estrutura de irrigação construída. Em entrevista realizada, o Presidente da Federação das Associações dos Produtores do Distrito de Irrigação Jaguaribe-Apodi revelou, na sua ótica, as vantagens que trouxe o trabalho desenvolvido a partir da criação da SEAGRI. Ressaltou que “o projeto conseguiu ter sucesso”. Entre as ações que geraram resultados relacionou: organizou produtores, incentivou a produção em parceria, induziu a substituição do grão pela fruta, trouxe técnicos especialistas e agrônomos para região, possibilitou a modernização do sistema de energia elétrica, presta apoio jurídico, e principalmente, realiza um trabalho de atrair investidores para região, ampliando as oportunidades para manter a população local. Acrescentou que as grandes empresas trouxeram a valorização da atividade, com novos investimentos e a possibilidade de conhecimento de novas tecnologias. A produção em parceria representa um grande ganho. Viabiliza a compra de insumos e dá a garantia, ao pequeno produtor, da venda de sua produção. Quanto à organização dos produtores, esta se dá no caso da fruta, para a comercialização e a compra de insumo de forma coletiva. No caso do grão, a atividade desenvolve- se de forma individual. Embora os dados disponíveis não alcancem os últimos anos, indicadores da economia regional dão mostras de que a política de agricultura irrigada vem imprimindo um dinamismo ao Agropolo Baixo Jaguaribe, que superou o experimentado pelo Estado, no período de 1999 a 2002. Isso pode se confirmar no comportamento do PIB regional e na arrecadação de ICMS frente ao total do Estado. Mudanças registraram-se no comportamento do PIB do Agropolo Baixo Jaguaribe com relação a sua contribuição e composição setorial relativamente ao indicador estadual. O PIB per capita da região representava 76% do valor estadual, em 1999, e essa relação elevou-se para 81,2% em 2002. A região também conseguiu aumentar sua participação na formação do PIB total do Ceará, embora com uma 180 variação pouca expressiva, de 4,25 % (1999) para 4,5% (2002). É digno de nota, o fato de que a economia do Interior mostrou maior dinamismo, uma vez que, contrariamente, a região não conseguiu manter sua participação nesses mesmos indicadores para o Interior, a qual se reduziu, ainda que levemente, entre os anos em foco. O destaque do Baixo Jaguaribe como região agrícola do Ceará pode ser percebido na sua contribuição ao PIB da agricultura estadual. Enquanto a contribuição da região para o PIB total cearense, conforme mencionado, não chega a 5% (2002), a agricultura regional gera um PIB correspondente a 10,5% desse indicador setorial produzido em todo o Estado. O aumento dessa participação de 9,4% em 1999, para 10,6% em 2002, mostra o efeito da política pública de irrigação no Agropolo. A estrutura setorial do PIB mostrou alteração e, se comparada à do Interior (o que faz mais sentido do que compará-la à do Estado), a diferença acentuou-se. Pode-se constatar que a política de desenvolvimento dos Agropolos contribuiu, em curto período, para elevar a participação da agricultura no valor adicionado da economia do Baixo Jaguaribe, de 12,18 para 14,16%, variação significativa, se considerado o curto período de 1999 a 2002. No Interior, por sua vez, o setor primário manteve uma participação em torno de 10,4%, nos anos de 1999 e 2002, e a mudança na composição setorial do valor adicionado deu-se pelo desempenho do setor da indústria que, último ano em análise, já respondeu por 40,4% desse indicador. Os pólos regionais Aracati, Limoeiro do Norte, Morada Nova e Russas são responsáveis pela geração de 60% do PIB do Baixo Jaguaribe. Além de áreas de concentração demográfica e de agronegócios regionais – fruticultura irrigada e pesca – caracterizam-se como centros de atendimento à demanda local e, preferencialmente, são procurados para a instalação de novos negócios. Tendem assim, a fortalecer suas centralidades, ao afirmarem-se como centros de comércio, de serviços, de atividades industriais, de ensino e de gerências regionais administrativas, entre outras. As informações referentes à arrecadação de ICMS corroboram a tendência da economia demonstrada pelo PIB. Apesar de 78,5% do ICMS corresponder à arrecadação de Fortaleza, é importante notar que, nos anos de implantação do Programa em foco, no Agropolo Baixo Jaguaribe, registrou-se um aumento da arrecadação do tributo de 25%, valor consideravelmente superior ao 181 apresentado pelo Interior, de apenas 5,5%, e que superou o do Estado (17,1%). Isso foi suficiente para a região melhorar sua participação no total do ICMS arrecadado no Interior, porém praticamente não alterou a representatividade do Agropolo nesse indicador estadual. O dinamismo da atividade econômica no campo é traduzido na estrutura do consumo do indicador energia elétrica. Em 1996, o consumo de eletricidade rural (28%) equivalia ao residencial e a partir de 1999, verificava-se uma diferença significativa em favor do consumo residencial (33%). Com a expansão da agricultura irrigada, o consumo rural já responde por uma fatia de 40% do consumo regional de eletricidade (2003) confirmando a característica da região como Agropolo possuidor de uma infra-estrutura instalada que favorece o desenvolvimento de outras atividades econômicas, inclusive não agrícolas, na área rural. A pressão por serviços de educação, sobretudo pela necessidade de melhoria do nível de escolaridade e de formação profissional, para acessar o mercado de trabalho, está evidente no avanço do número de matrículas no ensino médio e tecnológico ofertado no Agropolo Baixo Jaguaribe. Ressalte-se, no entanto, o comportamento ascendente desse indicador em todo o Estado e ainda maior no Interior, nos períodos antes e depois do Programa em análise, 1996/1999 e 1999/2002, refletindo o resultado da política educacional e as exigências para admissão nos postos de trabalho, em especial os criados com a atração de médias e grandes empresas pelo governo estadual. A matrícula no ensino médio no Agropolo (como em nível estadual) aumentou em cerca 45%, no período de implantação do Programa em foco, 1999/2003. O efeito combinado da política de promoção da educação tecnológica no Estado, na qual a região do Baixo Jaguaribe foi destaque pela infra-estrutura instalada com o Centro de Ensino Tecnológico (CENTEC), e da política hidroagrícola em implementação na região, está fortalecendo o Agropolo como espaço de formação profissional, na área tecnológica. Na unidade CENTEC de Limoeiro do Norte, a formação de tecnólogos nas áreas da Indústria – curso de Eletromecânica, de Meio Ambiente – curso de Recursos Hídricos/Saneamento Ambiental, de Agropecuária – curso de Recursos 182 Hídricos/Irrigação, e de Química – Tecnologia de Alimentos, desde a sua instalação em 1997, evoluiu com a matrícula chegando a 640 alunos (2005.2) nos quatro cursos. O CENTEC vem mostrando alcance dos alunos matriculados, 36% residem em Limoeiro do Norte, enquanto os demais 64% são de outros municípios componentes do Agropolo, com destaque para Russas com 13% e Morada Nova com 12% (2003). Entre outros aspectos, cumpre destacar nesta conclusão que um fator determinante para o alcance de resultados em programas considerados estruturantes, como o de Desenvolvimento dos Agropolos, é a integração das políticas e programas, numa visão de desenvolvimento de médios e longos prazos. No caso do Baixo Jaguaribe, as políticas de recursos hídricos, de agricultura irrigada e de desenvolvimento de regiões estratégicas no Interior cearense podem configurar, utilizando-se a análise de TÂNIA BACELAR (1995, p.132), citada neste trabalho, uma região com características de novo “pólo dinâmico”, ou de “frente de expansão”, ou ainda de “mancha ou foco” de dinamismo no Nordeste. Cabem comentários conclusivos quanto à implementação do Programa de Desenvolvimento dos Agropolos na região do Baixo Jaguaribe, tendo como referência o conceito de Agropolo, como proposta metodológica. Considerando a dimensão físico-econômica e político-institucional que envolve esse conceito, o Agropolo Baixo Jaguaribe atende à caracterização básica desejável de Agropolo quanto a: constituir-se em um espaço estratégico – uma sub-região adequadamente delimitada; ter no seu espaço geográfico um centro urbano de convergência (infra-estrutura de serviços, de transportes e de comunicações) representado, em especial, por Limoeiro do Norte; priorizar produtos em função da rentabilidade econômica, emprego, avanço tecnológico das unidades de produção e potencial de mercado, como é o caso do melão, abacaxi e banana; possibilidades de interação tecnologia/agoindustrialização, pela presença do CENTEC; oportunidade de fortalecimento do papel do setor produtivo como propulsor do processo de desenvolvimento local, com a produção em parceria e produtores organizados; e a disponibilidade, em parte, de base institucional, para formação de recursos humanos e qualificação de mão-de-obra, geração, captação 183 e transferência de tecnologia, organização da produção e redes de informação, em que o CENTEC assume um papel essencial. De outra forma, o Programa em estudo ainda não assegurou ao Baixo Jaguaribe outras características básicas recomendáveis para que esse Agropolo se consolide como tal. Nesse aspecto, cumpre ressaltar a pouca verticalização da produção e incipiente formação de cadeias produtivas, em parte por seu caráter de área de agricultura para exportação, a falta de prioridade ao fomento e criação de pequenas e médias empresas agroindustriais, como parte integrante do processo de desenvolvimento rural e que devem cumprir a relevante função no que concerne à inovação tecnológica, a fraca base institucional para atender à necessidade de financiamento da produção e prestação de serviços tecnológicos especializados, além de uma ação institucional que exerça a coordenação de uma gestão compartilhada, integrando representantes institucionais, lideranças empresariais, rurais e do poder político local. Sob o ponto de vista do conteúdo social, que tem a proposta metodológica de Agropolo, falta ao Programa conferir prioridade à integração de pequenos produtores agrícolas nas cadeias produtivas regionais das culturas irrigadas, não se encontrando nos documentos oficiais, destaque sobre o desenvolvimento de ações para superar as restrições que enfrentam esses segmentos, como capacitação e assistência técnica e creditícia, assegurando-lhes capacidade para se tornar irrigante diante da perspectiva que se vislumbra para a região. Não se pode deixar de ressaltar que a proposta de Agropolo prevê sob o ponto de vista da sua sustentabilidade, a atenção aos instrumentos da política governamental referente ao meio ambiente, considerados essenciais para orientar as estratégias e procedimentos do Programa de Desenvolvimento dos Agropolos, como o Plano Nacional de Recursos Hídricos. Dentre outras recomendações, a cobrança pelo uso da água é uma questão sobre a qual não se tem informação clara no Estado, mas que ainda necessita de solução. Apesar dos resultados registrados pelos indicadores econômicos, o Programa apresenta pontos de vulnerabilidade e entre os principais vale lembrar a necessidade de aperfeiçoar o gerenciamento dos conflitos no uso dos recursos hídricos, o crescimento/desenvolvimento econômico altamente dependente de fatores exógenos relacionados a mercados, tecnologia e redes de informações, e a 184 visão de mercado voltada para a produção para o consumo globalizado, colocando a reboque questões ambientais, como devastação da cobertura da vegetação natural, depauperamento dos solos e substituição da produção do autoconsumo, ameaçando a segurança alimentar. 6.2 Recomendações As recomendações deste trabalho são de duas ordens: resultam das observações da pesquisa; e provêm da própria concepção de Agropolos e da prioridade concedida à implantação dessa política no Estado. Dentre as primeiras relacionam-se: • Manter o estudo atualizado com o objetivo de acompanhar o desenvolvimento do Agropolo e de orientar as intervenções governamentais e o estímulo à iniciativa privada; • Realizar pesquisa junto às empresas sobre o número e especialização dos profissionais qualificados na área de irrigação trazidos ao Estado, para complementar as informações sobre as contribuições da política estudada; • Proceder à pesquisa junto aos irrigantes e aos trabalhadores empregados envolvidos na atividade quanto a seus locais de origem e condições socioeconômicas no sentido de avaliar a contribuição da expansão da atividade para o desenvolvimento local; • Aprofundar o estudo sobre os pequenos municípios do Agropolo que surpreenderam quanto ao comportamento positivo nas estatísticas econômicas, como Jaguaribara e outros. Conforme evidenciado nas conclusões falta avançar em questões fundamentais para assegurar a sustentabilidade do Agropolo Baixo Jaguaribe, sob o ponto de vista econômico, ambiental e social. 185 Considerando-se o aspecto econômico, há que se observar em regiões pobres como o Estado, a necessidade de agregação de valor à produção e integração da cadeia produtiva dos cultivos irrigados, fomentando a economia regional. Nesse sentido, torna-se recomendável: • Intensificação de esforços por parte do governo estadual para ampliar as cadeias produtivas dos cultivos irrigados, fomentando a criação e atração de pequenas e médias empresas agroindustriais para a região, que devem cumprir a função relevante quanto à inovação tecnológica de processos agroindustriais, canalização de crédito e organização da produção; • Atração de empresas industriais em segmentos complementares, como embalagens, fertilizantes e equipamentos de irrigação, entre outros. Do ponto de vista ambiental, a agricultura sustentável requer tratamento adequado à água, como o grande desafio do terceiro milênio; a adequação dos níveis de produtividade das culturas, conservação de recursos naturais e a preservação da biodiversidade. Recomenda-se, assim nesse sentido; • A observância da política nacional de recursos hídricos, quanto à necessidade de acesso democrático aos recursos disponíveis, via outorga d’água, e respectiva cobrança de tarifa pelo seu uso; • A melhoria da infra-estrutura de irrigação dos perímetros públicos Jaguaribe/Apodi, Jaguaruana e Morada Nova visando à racionalização do uso da água; • O incentivo à agricultura orgânica, visando à adoção de novas práticas agrícolas que minimizem a contaminação por agrotóxicos dos solos, água e produtos que põem em risco o meio ambiente; • O fortalecimento do Comitê de Bacia do Baixo Jaguaribe, como instrumento democrático de encaminhamento e solução de conflitos no uso da água no Agropolo; • O rigor na concessão de licenciamento ambiental (autorização de desmatamento, manutenção de reservas legais e manutenção de áreas de 186 preservação permanente) a empreendimentos com atividades utilizadoras de recursos ambientais nos Agropolos, como é o caso da irrigação. A dimensão social envolvida no conceito de Agropolos requer a adoção de medidas para incorporar produtores rurais nas cadeias produtivas selecionadas, tendo em vista a necessidade de reduzir os fatores que geram pobreza e exclusão social no campo. Como principais recomendações relacionam-se: • A organização dos produtores visando à facilitação dos processos de transferência de tecnologia e de comercialização; • A integração da política de desenvolvimento dos Agropolos com os programas voltados ao apoio da agricultura familiar; • A articulação institucional para incluir o pequeno produtor através de educação contextualizada (não formal) com a realidade do campo e de capacitação eficaz, incluindo técnicas de cultivo, comercialização e gestão para condução do seu próprio agronegócio; • O estímulo ao setor privado para assumir um papel de propulsor do processo local de desenvolvimento, integrando o pequeno produtor através da produção em parceria. Por todas essas recomendações, uma questão parece chave, a incorporação do Plano de Desenvolvimento Regional elaborado pelo próprio governo estadual, como instrumento orientador das ações prioritárias a serem desenvolvidas no Agropolo Baixo Jaguaribe, iniciando-se por sua rediscussão no âmbito público e com a sociedade local organizada. As leituras realizadas sobre a agricultura irrigada no Baixo Jaguaribe e as conclusões obtidas por meio de entrevistas a alguns técnicos na região levam a reconhecer que a política de Agropolos conduzida no Ceará tem como grande desafio a adoção de estratégias que não resultem na exclusão dos pequenos produtores e compensem a produção de um passivo não só ambiental, mas social, com a retirada das famílias de suas terras de origem, com a contrapartida de um desenvolvimento econômico regional includente. 187 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABIPTI; SEBRAE; CNPq; IEL; EMBRAPA. Agropolos: uma proposta metodológica. Brasília, 1999. 364 p. 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Municípios Alto Santo Total de imóveis rurais Área total (ha) Até 5 Mais de 5 a 10 Mais de 10 a 50 Imóveis Área (ha) Imóveis Área (ha) Imóveis Área (ha) Classes de área (ha) Mais de 50 a 100 Mais de 100 a 500 Imóveis Área (ha) Imóveis Área (ha) Mais de 500 a 1.000 Imóveis Área (ha) Mais de 1.000 Imóveis Área (ha) 263 60.752,3 17 45,3 26 210,3 112 3.125,2 43 3.086,6 40 8.373,5 12 7.860,4 13 38.051,0 1.885 70.553,6 874 2.087,5 299 2.298,2 472 11.424,0 134 9.611,4 90 17.570,3 10 7.032,8 6 20.529,4 Banabuiú 579 66.226,5 15 42,2 48 363,1 234 6.413,1 137 9.985,3 119 21.948,6 18 12.564,3 8 14.909,9 Ibicuitinga 337 30.920,2 14 44,2 39 295,9 169 4.663,1 53 3.820,4 48 10.362,8 10 6.454,8 4 5.279,0 Icapuí 413 11.562,2 55 162,7 171 1.452,8 158 3.479,2 19 1.346,3 8 1.630,1 1 648,0 1 2.843,1 Itaiçaba 237 13.505,0 51 129,2 44 330,5 99 2.344,4 22 1.534,8 16 2.561,2 3 1.959,0 2 4.645,9 Jaguaretama 676 96.508,7 29 80,3 30 235,4 214 6.468,5 169 12.383,2 206 43.796,0 17 11.825,9 11 21.719,4 Jaguaribara 312 42.715,0 15 49,1 18 138,9 121 3.151,8 63 4.657,3 73 16.503,8 19 13.046,5 3 5.167,6 Jaguaruana 1.048 71.702,9 207 614,0 204 1.506,0 455 10.440,9 90 6.335,2 72 15.464,6 8 6.082,4 12 31.259,8 Limoeiro do Norte 1.598 42.362,5 636 1.674,9 332 2.487,7 482 10.156,3 82 5.903,2 54 11.625,4 10 7.031,9 2 3.483,1 Morada Nova 2.124 171.942,1 101 358,9 194 1.546,7 997 26.769,1 444 31.662,8 342 65.618,5 33 23.433,8 13 22.552,3 Palhano 569 25.788,6 122 401,2 125 1.015,5 248 6.007,1 43 3.010,0 26 5.272,2 2 1.777,0 3 8.305,6 Quixeré 1.139 31.972,9 623 1.604,8 223 1.644,0 216 4.527,7 28 1.972,7 35 7.285,3 7 4.725,0 7 10.213,4 Russas 1.977 84.926,8 788 2.070,8 416 3.046,8 505 11.204,0 136 9.556,3 106 24.412,4 15 10.317,6 11 24.318,9 564 16.916,3 72 194,1 88 667,5 338 7.938,6 44 3.065,6 21 3.540,6 1 1.509,9 1.114 60.466,9 285 745,1 176 1.347,0 440 10.601,6 98 6.755,9 99 20.060,2 10 6.817,4 6 14.139,7 14.835 898.822,5 3.904 10.304,3 2.433 18.586,3 5.260 128.714,6 1.605 114.687,0 1.355 276.025,5 175 121.576,8 103 228.928,0 134.672 9.343.169,6 22.840 61.270,4 16.829 128.473,6 54.731 1.417.077,7 20.128 1.436.860,3 17.659 3.541.010,0 1.707 1.186.599,5 778 1.571.878,1 Aracati São João do Jaguaribe Tabuleiro do Norte Agropolo Ceará Região / Ceará 11,02% 9,62% 17,09% 16,82% Fonte: Anuário Estatístico do Ceará - IPECE - 2003 14,46% 14,47% 9,61% 9,08% 7,97% 7,98% 7,67% 7,80% - - 10,25% 10,25% 13,24% 14,56% TABELA 2A: Quantidade e área dos imóveis rurais, por classes de área em % - Agropolo Baixo Jaguaribe - Julho/2000. Classes de área (%) Municípios Total Imóveis Área Até 5 Imóveis Área Mais de 5 a 10 Imóveis Área Mais de 10 a 50 Imóveis Área Município / Região * Mais de 50 a 100 Imóveis Área Mais de 100 a 500 Imóveis Área Mais de 500 a 1.000 Mais de 1.000 Imóveis Área Imóveis Área Imóveis Área total rurais (%) (%) Alto Santo 100,00 100,00 6,46 0,07 9,89 0,35 42,59 5,14 16,35 5,08 15,21 13,78 4,56 12,94 4,94 62,63 1,77 6,76 Aracati 100,00 100,00 46,37 2,96 15,86 3,26 25,04 16,19 7,11 13,62 4,77 24,90 0,53 9,97 0,32 29,10 12,71 7,85 Banabuiú 100,00 100,00 2,59 0,06 8,29 0,55 40,41 9,68 23,66 15,08 20,55 33,14 3,11 18,97 1,38 22,51 3,90 7,37 Ibicuitinga 100,00 100,00 4,15 0,14 11,57 0,96 50,15 15,08 15,73 12,36 14,24 33,51 2,97 20,88 1,19 17,07 2,27 3,44 Icapuí 100,00 100,00 13,32 1,41 41,40 12,57 38,26 30,09 4,60 11,64 1,94 14,10 0,24 5,60 0,24 24,59 2,78 1,29 Itaiçaba 100,00 100,00 21,52 0,96 18,57 2,45 41,77 17,36 9,28 11,36 6,75 18,96 1,27 14,51 0,84 34,40 1,60 1,50 Jaguaretama 100,00 100,00 4,29 0,08 4,44 0,24 31,66 6,70 25,00 12,83 30,47 45,38 2,51 12,25 1,63 22,51 4,56 10,74 Jaguaribara 100,00 100,00 4,81 0,11 5,77 0,33 38,78 7,38 20,19 10,90 23,40 38,64 6,09 30,54 0,96 12,10 2,10 4,75 Jaguaruana 100,00 100,00 19,75 0,86 19,47 2,10 43,42 14,56 8,59 8,84 6,87 21,57 0,76 8,48 1,15 43,60 7,06 7,98 Limoeiro do Norte 100,00 100,00 39,80 3,95 20,78 5,87 30,16 23,97 5,13 13,93 3,38 27,44 0,63 16,60 0,13 8,22 10,77 4,71 Morada Nova 100,00 100,00 4,76 0,21 9,13 0,90 46,94 15,57 20,90 18,41 16,10 38,16 1,55 13,63 0,61 13,12 14,32 19,13 Palhano 100,00 100,00 21,44 1,56 21,97 3,94 43,59 23,29 7,56 11,67 4,57 20,44 0,35 6,89 0,53 32,21 3,84 2,87 Quixeré 100,00 100,00 54,70 5,02 19,58 5,14 18,96 14,16 2,46 6,17 3,07 22,79 0,61 14,78 0,61 31,94 13,33 9,45 Russas 100,00 100,00 39,86 2,44 21,04 3,59 25,54 13,19 6,88 11,25 5,36 28,75 0,76 12,15 0,56 28,64 13,33 9,45 São João do Jaguaribe 100,00 100,00 12,77 1,15 15,60 3,95 59,93 46,93 7,80 18,12 3,72 20,93 - - 0,18 8,93 3,80 1,88 Tabuleiro do Norte 100,00 100,00 25,58 1,23 15,80 2,23 39,50 17,53 8,80 11,17 8,89 33,18 0,90 11,27 0,54 23,38 7,51 6,73 Agropolo 100,00 100,00 26,32 1,15 16,40 2,07 35,46 14,32 10,82 12,76 9,13 30,71 1,18 13,53 0,69 25,47 11,02 9,62 Ceará 100,00 100,00 16,96 0,66 12,50 1,38 40,64 15,17 14,95 15,38 13,11 37,90 1,27 12,70 0,58 16,82 100,00 100,00 Fonte: Anuário Estatístico do Ceará - IPECE - 2003 TABELA 3A: Arrecadação do ICMS - Agropolo Baixo Jaguaribe - 1996-2003. Município Alto Santo Aracati Banabuiú Ibicuitinga 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 323,06 694,08 470,21 337,31 425,06 483,03 463,61 275,67 4.281,66 4.599,50 4.445,38 3.960,18 3.515,99 5.863,32 6.434,44 6.755,40 15,12 20,30 56,77 64,75 56,99 206,67 273,05 567,38 9,90 25,49 16,33 21,78 22,72 33,36 42,28 72,85 266,96 172,62 111,43 62,18 93,56 215,40 176,99 234,24 Itaiçaba 11,25 8,46 12,46 29,48 14,72 15,37 30,45 52,22 Jaguaretama 45,78 45,76 44,97 40,45 49,35 72,85 119,04 132,09 Jaguaribara 12,95 17,19 21,54 31,24 27,70 33,17 81,00 124,19 Jaguaruana 828,66 612,12 747,82 1.631,10 1.764,50 1.667,35 2.304,00 2.330,31 Limoeiro do Norte 1.440,48 2.540,28 2.776,68 2.279,70 2.774,42 2.235,38 2.903,00 3.877,25 Morada Nova Icapuí 2.439,21 2.187,27 1.699,80 1.375,97 1.574,45 1.502,09 1.403,00 1.381,77 Palhano 56,06 56,38 65,93 55,69 48,66 45,18 52,42 48,82 Quixeré 120,20 72,49 107,16 119,41 140,80 157,41 210,41 396,12 Russas 1.741,90 1.393,19 2.435,23 4.766,34 6.784,96 7.156,46 12.108,16 10.911,08 77,36 127,88 89,11 61,78 36,10 25,63 26,42 63,49 704,01 595,29 671,81 763,80 812,12 910,03 1.218,09 1.447,62 12.374,55 13.168,30 13.772,63 15.601,16 18.142,09 20.622,69 27.846,37 28.670,51 São João do Jaguaribe Tabuleiro do Norte Agropolo Ceará 1.183.791,40 1.245.042,84 1.347.670,17 1.527.724,05 1.866.840,30 2.121.415,83 2.423.268,27 2.633.552,52 Fortaleza 927.782,87 971.452,48 1.042.711,74 1.163.721,60 1.423.921,76 1.640.961,53 1.837.459,62 2.068.372,35 Ceará (interior) 256.008,53 273.590,36 304.958,43 364.002,45 442.918,54 480.454,30 585.808,64 565.180,17 Agropolo / Ceará 1,05% 1,06% 1,02% 1,02% 0,97% 0,97% 1,15% 1,09% Fortaleza / Ceará 78,37% 78,03% 77,37% 76,17% 76,27% 77,35% 75,83% 78,54% 4,83% 4,81% 4,52% 4,29% 4,10% 4,29% 4,75% 5,07% Agropolo / Ceará (interior) Fonte: Anuários Estatísticos do Ceará – IPLANCE e IPECE - 1999 a 2004 TABELA 4A: Valor adicionado a preços básicos corrente por setores econômicos - Agropolo Baixo Jaguaribe - 1999 Muinicípio Agric. R$ 1.000 Indústria R$ 1.000 Alto Santo 3.504 41.531 Aracati 8.698 50.877 Banabuiú 4.252 4.149 Ibicuitinga 2.231 1.826 Icapuí 5.793 29.645 Itaiçaba 828 4.362 Jaguaretama 9.447 3.459 Jaguaribara 3.643 14.816 Jaguaruana 7.064 15.378 Lim. Norte 16.449 29.608 Morada Nova 14.720 38.489 Palhano 1.262 1.315 Quixeré 2.370 5.208 Russas 6.675 41.817 S. J. Jaguaribe 3.323 2.618 Tab. Norte 6.112 8.723 A B Jaguaribe 96.371 293.820 CEARÁ 1.039.153 7.144.842 Fortaleza 16.882 3.432.267 Serviços R$ 1.000 13.838 65.719 12.400 6.819 17.116 5.866 13.832 8.348 25.718 55.484 55.273 6.483 14.248 63.435 8.368 27.945 400.893 10.013.700 4.967.776 Valor adicionado R$ 1.000 58.873 125.295 20.801 10.876 52.553 11.056 26.738 26.807 48.159 101.542 108.483 9.059 21.826 111.927 14.309 42.781 791.084 18.197.695 8.416.925 PIB R$ 1.000 59.569 133.119 22.544 11.146 55.710 11.429 27.144 27.273 51.435 105.396 111.491 9.351 23.313 120.457 14.918 43.979 828.275 19.510.907 9.021.062 População 15.313 60.726 16.091 9.397 15.943 6.539 18.004 8.684 29.561 49.260 64.150 8.156 16.723 56.831 8.621 27.007 411.006 7.382.234 2.124.439 PIB per capita R$ 1.000 3.890 2.192 1.401 1.186 3.494 1.748 1.508 3.141 1.740 2.140 1.738 1.147 1.394 2.120 1.730 1.628 2.015 2.643 4.246 Fonte: IBGE TABELA 5A: Valor adicionado a preços básicos corrente por setores econômicos - Agropolo Baixo Jaguaribe - 2000 Muinicípio Agric. R$ 1.000 Indústria R$ 1.000 Alto Santo 4.924 14.194 Aracati 9.323 48.922 Banabuiú 5.301 3.423 Ibicuitinga 3.149 1.680 Icapuí 7.022 39.882 Itaiçaba 971 4.162 Jaguaretama 10.875 3.177 Jaguaribara 4.080 23.422 Jaguaruana 6.024 16.154 Lim. Norte 12.626 26.806 Morada Nova 13.306 45.710 Palhano 1.319 1.156 Quixeré 7.733 4.932 Russas 6.422 44.051 S. J. Jaguaribe 2.671 2.283 Tab. Norte 6.567 7.967 A B Jaguaribe 102.313 287.922 CEARÁ 1.159.789 7.258.498 Fortaleza 18.733 3.569.453 Fonte: IBGE Serviços R$ 1.000 12.855 68.434 13.271 7.351 19.305 6.149 14.811 9.688 26.837 55.405 56.768 6.751 15.651 67.747 8.555 27.988 417.564 10.653.063 5.357.272 Valor adicionado R$ 1.000 31.974 126.680 21.995 12.179 66.209 11.281 28.864 37.190 49.014 94.837 115.784 9.226 28.316 118.220 13.509 42.522 807.799 19.071.350 8.945.458 PIB R$ 1.000 32.994 135.896 24.047 12.519 69.686 11.651 29.379 37.875 53.187 102.378 120.435 9.522 30.368 129.014 14.114 43.820 856.885 20.799.548 9.776.720 População 15.509 61.840 16.290 9.489 16.206 6.636 18.053 8.795 29.981 50.130 64.754 8.180 17.059 58.013 8.691 27.226 416.852 7.499.239 2.165.427 PIB per capita R$ 1.000 2.127 2.198 1.476 1.319 4.300 1.756 1.627 4.306 1.774 2.042 1.860 1.164 1.780 2.224 1.624 1.609 2.056 2.774 4.515 TABELA 6A: Valor adicionado a preços básicos corrente por setores econômicos - Agropolo Baixo Jaguaribe - 2001 Muinicípio Agric. R$ 1.000 Indústria R$ 1.000 Alto Santo 3.566 34.960 Aracati 11.496 52.106 Banabuiú 3.747 2.616 Ibicuitinga 1.876 1.661 Icapuí 7.660 45.779 Itaiçaba 1.942 5.132 Jaguaretama 8.691 9.404 Jaguaribara 3.636 6.244 Jaguaruana 3.961 16.854 Lim. Norte 14.064 26.918 Morada Nova 10.505 53.782 Palhano 969 1.162 Quixeré 16.424 7.371 Russas 6.146 43.475 S. J. Jaguaribe 3.090 2.276 Tab. Norte 4.278 7.967 A B Jaguaribe 102.052 317.706 CEARÁ 1.038.650 7.365.925 Fortaleza 16.681 3.535.195 Serviços R$ 1.000 15.604 84.476 14.376 8.368 22.114 7.517 16.822 9.173 29.944 73.472 67.512 7.878 19.685 78.425 9.987 32.642 497.997 11.505.297 5.411.876 Valor PIB adicionado R$ 1.000 R$ 1.000 54.129 55.404 148.078 155.697 20.740 22.609 11.904 12.159 75.553 85.254 14.592 14.921 34.918 35.597 19.052 19.865 50.760 55.308 114.454 114.289 131.799 136.235 10.009 10.320 43.480 45.760 128.046 138.920 15.354 16.173 44.887 45.436 917.754 963.948 19.909.872 21.581.141 8.963.752 9.784.283 População 15.706 62.961 16.490 9.582 16.471 6.733 18.102 8.907 30.404 51.007 65.361 8.205 17.398 59.203 8.761 27.447 422.738 7.616.973 2.206.673 PIB per capita R$ 1.000 3.528 2.473 1.371 1.269 5.176 2.216 1.966 2.230 1.819 2.241 2.084 1.258 2.630 2.347 1.846 1.655 2.280 2.833 4.434 Fonte: IBGE TABELA 7A: Valor adicionado a preços básicos corrente por setores econômicos - Agropolo Baixo Jaguaribe - 2002 Muinicípio Agric. R$ 1.000 Indústria R$ 1.000 Alto Santo 5.336 20.861 Aracati 12.625 78.717 Banabuiú 8.118 3.423 Ibicuitinga 3.340 2.200 Icapuí 5.966 11.221 Itaiçaba 2.433 3.824 Jaguaretama 11.098 4.450 Jaguaribara 7.959 33.577 Jaguaruana 5.787 24.644 Lim. Norte 16.245 36.973 Morada Nova 16.876 63.227 Palhano 2.526 2.448 Quixeré 28.902 7.425 Russas 8.563 53.339 S. J. Jaguaribe 4.509 2.703 Tab. Norte 5.124 11.140 A B Jaguaribe 145.407 360.173 CEARÁ 1.376.242 8.358.106 Fortaleza 8.142 3.011.540 Fonte: IBGE Serviços R$ 1.000 14.722 98.747 15.097 8.306 17.454 7.243 16.694 11.802 31.035 78.423 67.616 7.613 19.645 84.630 9.294 32.710 521.032 13.000.658 6.466.873 Valor PIB adicionado R$ 1.000 R$ 1.000 40.919 42.177 190.090 197.638 26.638 28.305 13.846 14.596 34.641 49.552 13.500 14.253 32.242 32.928 53.339 54.515 61.466 66.923 131.641 132.227 147.719 152.444 12.587 13.023 55.972 59.628 146.532 164.124 16.506 17.295 48.974 49.240 1.026.613 1.088.867 22.735.006 24.203.764 9.486.555 9.927.916 População 15.906 64.093 16.692 9.675 16.738 6.831 18.151 9.020 30.831 51.892 65.975 8.229 17.740 60.406 8.831 27.670 428.680 7.735.959 2.248.362 PIB per capita R$ 1.000 2.652 3.084 1.696 1.509 2.960 2.086 1.814 6.044 2.171 2.548 2.311 1.583 3.361 2.717 1.958 1.780 2.540 3.129 4.416 TABELA 8A: Área plantada, quantidade produzida, valor da produção e valor da produção por hectare plantado segundo as principais culturas existentes - Agropolo Baixo Jaguaribe - 1996 Produto ABACAXI (1000 frutos) BANANA (1000 Cachos) CASTANHA DE CAJU (t) COCO-DA-BAÍA (1000 frutos) GOIABA (1000 frutos) LARANJA (1000 frutos) LIMÃO (1000 frutos) MAMÃO (1000 frutos) MANGA (1000 frutos) MARACUJÁ (1000 frutos) MELANCIA (1000 frutos) MELÃO (1000 frutos) UVA (t) FRUTAS ARROZ (t) FEIJÃO (t) MILHO (EM GRÃO) (t) ALGODÃO HERBÁCEO (t) CANA-DE-AÇÚCAR (t) MANDIOCA (t) TOMATE (t) Área Plantada (ha) Quantidade produzida 1.588 61.399 1.045 47 34 871 11 73 241 863 11 66.183 5.220 42.002 30.314 2.732 71 3.227 317 1.684 12.945 3.255 3.122 2.337 58.529 155 2.822 911 10.270 286 25.434 18.645 20.135 1.474 2.129 17.319 8.144 Valor da Produção (R$ 1.000) 6.315 11.153 1.546 164 360 1.948 109 642 1.501 5.771 810 30.319 12.332 21.672 7.793 1.769 133 2.427 8.197 Valor da Produção por Hectare Plantado (R$) 3.976,44 181,64 1.479,84 3.485,46 10.599,90 2.236,88 9.928,28 8.796,73 6.226,39 6.686,80 73.667,82 458,11 2.362,47 515,97 257,09 647,59 1.876,58 751,99 25.859,25 Fonte: Secretaria da Agricultura e Pecuária - SEAGRI TABELA 9A: Área plantada, quantidade produzida, valor da produção e valor da produção por hectare plantado segundo as principais culturas existentes - Agropolo Baixo Jaguaribe - 1999 Produto ABACAXI (1000 frutos) BANANA (1000 Cachos) CASTANHA DE CAJU (t) COCO-DA-BAÍA (1000 frutos) GOIABA (1000 frutos) LARANJA (1000 frutos) LIMÃO (1000 frutos) MAMÃO (1000 frutos) MANGA (1000 frutos) MARACUJÁ (1000 frutos) MELANCIA (1000 frutos) MELÃO (1000 frutos) UVA (t) FRUTAS ARROZ (t) FEIJÃO (t) MILHO (EM GRÃO) (t) ALGODÃO HERBÁCEO (t) CANA-DE-AÇÚCAR (t) MANDIOCA (t) TOMATE (t) Área Plantada (ha) Quantidade produzida 1.593 57.692 1.345 58 116 858 100 133 85 1.060 63.040 7.306 47.695 36.030 14.135 38 688 176 Fonte: Secretaria da Agricultura e Pecuária - SEAGRI 2.729 6.332 3.516 3.801 4.314 57.935 2.801 3.534 418 26.370 42.875 22.077 35.555 9.965 1.390 4.711 5.345 Valor da Produção (R$ 1.000) 9.243 8.998 1.962 296 471 1.412 1.372 520 317 12.457 37.046 21.726 26.810 14.471 10.840 52 611 5.589 Valor da Produção por Hectare Plantado (R$) 5.802,09 155,96 1.458,43 5.098,71 4.057,85 1.645,84 13.718,86 3.907,57 3.726,16 11.752,09 587,66 2.973,75 562,10 401,65 766,92 1.381,46 887,64 31.755,87 TABELA 10A: Área plantada, quantidade produzida, valor da produção e valor da produção por hectare plantado segundo as principais culturas existentes - Agropolo Baixo Jaguaribe - 2003 Produto Área Plantada (ha) Quantidade produzida Valor da Produção (R$ 1.000) Valor da Produção por Hectare Plantado (R$) ABACAXI (1000 frutos) BANANA (1000 Cachos) CASTANHA DE CAJU (t) COCO-DA-BAÍA (1000 frutos) GOIABA (1000 frutos) LARANJA (1000 frutos) LIMÃO (1000 frutos) MAMÃO (1000 frutos) MANGA (1000 frutos) MARACUJÁ (1000 frutos) MELANCIA (1000 frutos) MELÃO (1000 frutos) UVA (t) FRUTAS 2.318 64.573 1.490 254 174 831 93 357 15 20 3.900 18 74.043 67.263 15.965 8.860 2.031 1.558 8.617 8.167 3.134 343 480 95.106 720 22.407 16.382 2.416 964 627 5.246 2.403 1.338 244 101 46.556 2.110 100.794 9.666,52 253,70 1.621,48 3.795,28 3.603,45 6.312,88 25.838,71 3.747,90 16.266,67 5.050,00 11.937,44 117.222,22 1.361,29 ARROZ (t) FEIJÃO (t) MILHO (EM GRÃO) (t) ALGODÃO HERBÁCEO (t) CANA-DE-AÇÚCAR (t) MANDIOCA (t) TOMATE (t) 3.312 44.340 22.250 3.567 30 1.325 29 19.319 21.189 21.776 3.656 953 11.129 871 12.921 20.357 8.994 4.406 19 1.613 448 3.901,27 459,11 404,22 1.235,21 633,33 1.217,36 15.448,28 Fonte: Secretaria da Agricultura e Pecuária - SEAGRI