3 B - domingo
A GAZETA
CUIABÁ, 10 DE NOVEMBRO DE 2013
BRUNA PINHEIRO
DA REDAÇÃO
poderiam ser transferidas, fazendo com que
deixassem de ser ameaçadas.
“Existem duas enormes áreas na Estrada
do Moinho (avenida Archimedes Pereira
Lima) e na avenida das Torres, por exemplo,
que poderiam ser desapropriadas e
colocadas à disposição do bem social. São
terrenos que abrigariam muito bem essas
milhares de famílias, sem oferecer risco
algum ao meio ambiente e a elas”.
N
os últimos 10 anos, o número
de famílias morando em áreas
de risco em Cuiabá saltou de
cerca de 3 mil para 6,4 mil, um
crescimento de mais de 110%. Localizados
próximos aos córregos e rios da Capital, os
terrenos representam aproximadamente 35
hectares da cidade. Os perigos da ocupação
destes pontos não se restringem apenas à
população, mas também à natureza. Todos
os anos, pelo menos 5 grandes bairros
enfrentam os prejuízos causados por
alagamentos, enchentes e deslizamentos de
terra nestas áreas. Apesar disso, famílias
insistem em manter suas casas e continuam
morando nestas condições. Enquanto
alguns dizem não terem para onde ir, outros
afirmam que já estão “acostumados” com a
situação e pedem ao poder público
melhorias na área onde criaram suas
famílias.
Moradora do bairro Getúlio Vargas II há
9 anos, Maria de Lurdes Costa Domiciano,
59, já teve a casa alagada diversas vezes.
Natural de Peixoto de Azevedo (691 km ao
norte de Cuiabá), ela mudou para a Capital
em busca de uma oportunidade de melhorar
de vida. Depois de morar por algum tempo
no bairro Tijucal, mudou com a família para
o Getúlio Vargas II.
“Eu gosto daqui e meus filhos também.
Quando cheguei, fiz amigos em toda a
vizinhança. Passamos pelas mesmas
dificuldades todos os anos e estamos
sempre juntos. Ninguém aqui quer deixar
sua casa. O que queremos é a ponte
arrumada, rede de água e energia elétrica,
asfalto, e outras melhorias”.
Segundo Maria de Lurdes, o medo de ter
a casa atingida pelas cheias é frequente,
principalmente porque sua residência fica
ao lado do córrego. Para ela, ir para outro
local é quase impossível. Além dela, moram
na casa sua filha e 3 netos. De acordo com a
Defesa Civil do Estado, o bairro é uma das
áreas de risco da Capital.
Fotos: Chico Ferreira
Loracy mora ao lado do córrego e diz que moradores já sabem até quando bairro será
alagado por conta da chuva e criaram ‘esquema’ para ser praticado nesses dias
“Não adianta a Prefeitura me oferecer
uma casa distante de tudo, onde mal cabe
eu e minhas coisas. Para sair daqui, tenho
que ter a certeza de que minha filha e meus
netos irão comigo”.
Compartilhando da mesma opinião de
Maria de Lurdes, sua vizinha Loracy
Gonçalves Machado, 47, também mora ao
lado do córrego. No local há 3 anos, ela diz
que os moradores já sabem até quando o
bairro será alagado por conta da chuva.
Diante disso, criaram um “esquema” para
ser praticado nesses dias.
“Se você vier aqui no dia 19 de março
verá todo mundo retirando móveis e objetos
de dentro de casa. Cada um vai tirando o
que tem e passa para o outro, através da
ponte. Daí levamos para a parte mais alta do
bairro e conseguimos salvar pelo menos o
mais importante. É assim todo ano”.
Professor de Geografia Urbana e
Regional da Universidade Federal de Mato
Grosso (UFMT), Cornélio Silvino Vilarinho
Em Cuiabá e Várzea
Grande existem pelo
menos 60 áreas de risco
Todos os anos, pelo menos 5 grandes bairros
enfrentam prejuízos causados por alagamentos,
enchentes e deslizamentos de terra
Neto explica que as áreas de risco, hoje
ocupadas por aproximadamente 18 mil
pessoas em Cuiabá, começaram a receber os
primeiros moradores por volta dos anos 80.
Na época, devido ao crescimento de
municípios do interior do Estado, aliado à
especulação imobiliária na região, muitas
famílias saíram do Norte e Nordeste do país
para Mato Grosso.
“A maioria dessas pessoas não tinha
condições financeiras suficientes para se
manter nas cidades. Muitas compravam
terrenos sem a fiscalização adequada e
depois tinham as terras tomadas por falta de
pagamento. Diante disso, eram obrigadas a
retornar para seu local de origem, porém,
grande parte optava por ficar em Cuiabá”.
Para Neto, a ausência de políticas
públicas voltadas para a questão fundiária
na Capital tem contribuído com o aumento
na quantidade de famílias moradoras de
áreas de risco. O professor afirma que há no
município locais para onde estas pessoas
RISCOS AMBIENTAIS - Além dos
perigos à população residente em áreas de
risco, as casas e barracos improvisados
construídos nestes locais são um risco
também para o meio ambiente. De acordo
com o professor de Geografia Urbana e
Regional da UFMT, Cornélio Silvino
Vilarinho Neto, quando a vegetação é
retirada para dar lugar aos imóveis,
enfraquece o solo, fazendo com que a
iminência de deslizamentos seja maior.
“Muitos rios e córregos da cidade correm
o risco de secar nos próximos anos, porque
a água da chuva não chega até lá. Além
disso, sem a vegetação local, o solo vai
‘morrendo’ aos poucos. Outro perigoso dano
ambiental é em relação à proliferação de
vírus, que com o calor gerado por essas
construções, aumenta consideravelmente”.
Coordenador da Defesa Civil em
Cuiabá, Oscar Amélito conta que em uma
parceria com a Delegacia Especializada do
Meio Ambiente (Dema), o órgão estará
atuando nas áreas de riscos da Capital,
notificando moradores por crime
ambiental. Segundo ele, os locais deverão
ser desocupados e as pessoas realojadas em
programas como o “Minha Casa, Minha
Vida” e casas populares construídas pela
Prefeitura.
“Muitas dessas ocupações estão em
Áreas de Preservação Permanente (APP),
onde em uma distância de 30 metros de
cada ponto, nada poderia ser construído.
Como o próprio nome diz, é uma área de
preservação. Por isso, os ocupantes serão
responsabilizados de acordo com as leis de
proteção ambiental”.
Download

B- domingo 3 Em Cuiabá e Várzea Grande existem pelo menos