Módulo 2 • Unidade 4
O surgimento
do Mundo
Moderno
Para início de conversa...
Você já viu ou ouviu propagandas que atribuem a qualidade de “moderno”
para um produto ou serviço? Um supermercado moderno e eficiente, um método moderno para lavar tapetes, uma mala prática e moderna? Também já deve
ter ouvido a expressão “mundo moderno” ou “tempos modernos” utilizada para
expressar os dias atuais ou a época na qual vivemos.
Como você pode notar “Moderno” é uma palavra com muitos significados,
quase todos relacionados à ideia de recente, atual e mais adequado. Quando dizemos que uma determinada máquina é moderna, estamos sugerindo que ela é
mais atual que as outras máquinas e que, portanto, ela é melhor.
Essa característica do “moderno” como melhor, porque mais novo e com
mais qualidades tecnológicas supõe que há um “antigo”, um não moderno. Isso
é uma ideia muito difundida na sociedade: máquinas, técnicas, serviços “antigos”
são piores e inadequados para os dias atuais.
Nessa unidade, vamos estudar a formação do Mundo Moderno, há mais ou
menos 4 séculos quando, a partir da Europa, começaram a se constituir as características mais importantes das sociedades contemporâneas.
O mundo moderno surgiu, de fato, em oposição ao antigo e precisou substituí-lo, transformando a economia, o poder, as relações entre os homens e a produção da cultura. Foi uma longa trajetória de afirmação de um novo mundo, organizado em torno do comércio pelos Oceanos e, posteriormente, em torno da indústria.
Ciências Humanas e suas Tecnologias • História
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Objetivos de aprendizagem
ƒƒ Analisar as transformações do Ocidente a partir da Expansão Marítica europeia;
ƒƒ Identificar as características centrais do Renascimento e do racionalismo;
ƒƒ Compreender o papel do Estado na organização do mundo moderno.
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Módulo 2 • Unidade 4
Seção 1
Expansão comercial e marítima europeia
Na época em que Pedro Álvares Cabral chegou às terras que se tornariam o Brasil, a Europa passava por um
processo intenso de transformações que conduziram algumas nações a uma verdadeira aventura pelos oceanos.
A partir do século XVI, especialmente, navios portugueses e espanhóis atravessaram os mares à procura de riquezas (como ouro, prata, diamantes) e produtos para serem comercializados (como especiarias, tecidos, alimentos e
escravos). Nos dois séculos seguintes, esse processo consolidou-se, transformando os continentes americano,
africano e parte da Ásia em territórios submetidos às necessidades e interesses da Europa.
Esse processo de expansão foi, ao mesmo tempo, uma atividade comercial e militar, financiada pelos Estados
europeus e pelos setores mais dinâmicos da burguesia. Uma combinação satisfatória e lucrativa de interesses produziu uma forma bem organizada de controle sobre os diversos povos do mundo. Quando a diplomacia comercial não
funcionava, entrava em ação a força militar, garantindo sempre condições vantajosas para os europeus.
Assim, regiões densamente povoadas e que possuíam Estados fortes e centralizados, como algumas grandes
cidades da Índia ou o império chinês, conseguiam resistir e tornavam-se parceiros comerciais dos negociantes europeus. Mesmo assim, foram frequentes os confrontos militares, a tomada violenta de portos e entrepostos comerciais
em cidades como Goa e Calicute.
Em outras regiões, como ocorreu em boa parte da África ao sul do Saara, os europeus construíam entrepostos
fortificados nas regiões litorâneas. Pois, o vasto território não oferecia vantagens estratégicas, nem riquezas aparentemente compensadoras. Dos fortes litorâneos, os europeus negociavam com os grupos dominantes locais que lhes
traziam produtos, como o marfim, ou escravos que eles dominavam no interior do continente.
Finalmente, no continente americano, a expansão europeia conduziu a um processo mais intenso de conquista do território a partir da destruição das populações originárias. Diversas formas de colonização foram constituídas
segundo as possibilidades de cada região: grandes propriedades de terra para o plantio de cana, algodão ou trigo,
extração de prata, ouro e diamantes, de madeira, criação de gado, extração de sal, fabricação e comércio de rum, coleta das drogas do sertão. Todas essas atividades serviam aos interesses das nações europeias: a princípio, Portugal e
Espanha no século XVI, depois, Inglaterra, França e Holanda, a partir do século XVII.
Esse longo processo de conquista e colonização do continente americano e, de certa forma, da expansão marítima europeia contou ainda com a participação ativa da Igreja Católica. Na Europa do século XVI, a Igreja era uma
instituição profundamente respeitada e temida, inclusive pelos reis que governavam os Estados mais poderosos do
continente. O catolicismo era a religião oficial da maioria dos Estados e os monarcas eram coroados em cerimônias
Ciências Humanas e suas Tecnologias • História
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religiosas dirigidas pelo papa. De certo modo, Igreja e Estado comungavam dos mesmos interesses, por isso, a expansão marítima foi também uma expansão da fé católica. Além disso, a visão de mundo do europeu era profundamente
influenciada pelo pensamento religioso cristão.
Entre a cruz e a espada
Ao longo dos três séculos de colonização do continente americano, as concepções da Igreja Católica
sobre os habitantes nativos (os indígenas) variaram bastante. A princípio, eles foram vistos como seres ingênuos perdidos numa espécie de paraíso onde não havia pecados, depois, passaram a figuras
diabólicas e traiçoeiras ou simplesmente foram vistos como seres estúpidos e sem cultura. Em todos
os casos, no entanto, a doutrina católica defendia um único propósito: catequizar os indígenas e convertê-los à fé católica.
A expressão popular “entre a cruz e a espada” que utilizamos quando estamos diante de duas alternativas igualmente ruins, surgiu dessa situação histórica. O destino de milhões de habitantes americanos
esteve entre a “cruz e a espada”, pois, de um lado, havia a morte pela força militar e pelas doenças
trazidas pelo homem branco; de outro, o desaparecimento cultural ao aceitarem a religião, o idioma e
os hábitos dos europeus.
Assim, a visão religiosa que estruturou a colonização da América transformou os povos indígenas em
seres humanos inferiores. Os europeus acreditavam que os indígenas tinham uma vida de sofrimentos
na Terra e que iriam padecer eternamente no inferno, pois não eram católicos. A fé no cristianismo
poderia, no entanto, salvá-los desde que aceitassem a sua nova condição de convertidos e abandonassem os rituais e mitos.
Baseado nessa concepção, a colonização produziu uma destruição sem precedentes na história humana: milhões de indígenas foram mortos, milhares perderam suas bases culturais e centenas de povos,
idiomas e conhecimentos simplesmente desapareçam.
Assim, o mundo moderno que surgia no século XVI era fruto de experiências históricas marcadas por diferentes significados. Segundo o ponto de vista europeu, a expansão marítima era o resultado direto de importantes transformações econômicas e científicas. Ela representava uma promissora atividade comercial que levaria à ampliação da
riqueza e do poder para os países europeus. Mas, para os povos americanos e africanos, a expansão representou o
início de uma era de destruição e morte, um longo período de resistência ao invasor.
Nessa unidade, vamos estudar as transformações históricas que conduziram a Europa à determinado tipo de
desenvolvimento econômico e social que chamamos de mundo moderno ou simplesmente de sistema capitalista.
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Módulo 2 • Unidade 4
Seção 2
O poder real, a burguesia
e os Estados Nacionais
No período entre os séculos XI e XIV, conhecido como a Baixa Idade Média, o Ocidente europeu assistiu a um
processo de reorganização do comércio e das cidades. Até então, a vida europeia era basicamente rural, em torno de
grandes propriedades de terras, onde camponeses e servos estavam submetidos ao poder dos chamados senhores
feudais. Assim, surgiram grandes centros urbanos, os burgos, e com isso a economia de subsistência e trocas diretas
foi substituída, lentamente, pela economia monetária. Surgiu uma nova camada social ligada ao comércio e ao sistema bancário, a burguesia, que enriqueceu nas cidades. Ao longo de três séculos, essa classe social foi, pouco a pouco,
conquistando poder político e prestígio social, antes restritos à nobreza.
A Idade Média denomina um período da história da Europa. Seu início é convencionalmente identificado em 476 e seu fim, em 1453. Existe ainda uma subdivisão entre a Alta e a Baixa Idade Média. Essa
época é marcada, basicamente, pelo teocentrismo (no qual Deus é considerado o centro de tudo), pela
ruralização da sociedade (quando a maioria das pessoas vivia no campo), pelo feudalismo (organização social, política e econômica, baseada em relações de servidão), pela descentralização do poder
(existiam reis, ou senhores feudais, que controlavam suas terras, ou feudo) e pela existência de três
camadas sociais principais: o clero, a nobreza e os servos (os camponeses que trabalhavam nas terras
do senhor feudal).
Por volta do século XIV, todo esse processo de expansão entrou em crise por três fatores principais: a Peste Negra, a Guerra dos 100 Anos (1337-1453) e as revoltas populares. A Peste Negra, fruto das precárias condições de vida
e de higiene, eliminou cerca de um terço da população europeia. A mortalidade foi ampliada por causa da disputa
entre França e Inglaterra, num prolongado conflito armado que durou quase cem anos e terminou com a retirada dos
ingleses do território francês.
O enorme contingente de mortos e a desorganização da produção disseminou a fome pelos campos e cidades.
Por causa do declínio demográfico, os senhores feudais passaram a aumentar a carga de trabalho e os impostos aos
camponeses, que se revoltaram por causa da exploração e da fome.
Uma das saídas adotadas para a crise foi o arrendamento das terras, transformando os servos em homens livres
para venderem o excedente de sua produção no mercado dos núcleos urbanos. Esse fenômeno estimulou a economia monetária e a atividade comercial.
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As guerras, por outro lado, obrigaram a nobreza feudal a ceder parte de seu poder aos reis e príncipes que
passaram a centralizar o controle de vastos territórios, articulando-os em torno de um Estado unificado. Isso foi necessário, porque individualmente, os exércitos privados dos senhores feudais não conseguia se opor a exércitos centralizados e mais bem equipados. Pouco a pouco, certas famílias de nobres mais poderosas ou herdeiras de títulos de
realeza, assumiam a liderança dos constantes conflitos militares.
Essa unificação política sob uma monarquia (uma família real) teve efeitos positivos para a atividade comercial
e para a estabilidade de vastas regiões. Em Estados unificados, a monarquia conduziu a padronização das moedas,
dos impostos, das leis e das medidas de peso e distância, além de facilitar o controle das estradas contra criminosos e
rebeliões populares. Assim, várias casas reais consolidaram uma nação em torno do seu poder, criando os países que
hoje conhecemos, como: Portugal, Espanha, França e Inglaterra. Este era o embrião do Estado Moderno.
Assim, a estrutura social que havia ordenado a vida pública até o século XIV começou a ruir. Como demonstra
o esquema abaixo, na Idade Média, a sociedade estava organizada em torno de três estamentos, isto é, grupos sociais
definidos por nascimento.
...os que oram
...os que guerréiam
...os que trabalham
Figura 1: Grupos sociais da Idade Média
Naquilo que parecia a base dessa estrutura, isto é, os que trabalhavam, os camponeses e servos, também havia
artesãos, comerciantes e profissionais liberais. Com o crescimento do comércio e das cidades, essas divisões sociais
tornaram-se cada vez mais complexas. Um grupo específico destacava-se, pouco a pouco, daquela pirâmide, enriquecendo e tornando-se independente do poder dos senhores feudais.
Nas cidades italianas, esses comerciantes conquistaram, desde o século XIV, enorme prestígio e poder.
Controlavam rotas comerciais importantes, aliados aos comerciantes árabes e detinham o poder político nas cidades
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Módulo 2 • Unidade 4
de Veneza, Gênova, Florença e Milão. Nessas cidades, não havia uma monarquia centralizadora, mas governos locais
sob o comando da burguesia.
Foi nesse ambiente fortemente marcado pelo comércio internacional e pelos princípios dessa nova classe social
que se desenvolveu um conjunto expressivo de transformações científicas e culturais, conhecido como Renascimento.
Em cada país da Europa, uma dinâmica específica entre desenvolvimento econômico, sistema político e condições materiais definiu papéis distintos no novo cenário que se construía. Um cenário que inaugurou o desenvolvimento capitalista.
Portugal e Espanha saíram à frente, constituindo vasto império colonial, baseado na posse de territórios. Mas,
logo foram contestados por duas grandes potências: França e Inglaterra que disputaram pelas armas a posse dos
territórios descobertos na América.
Mas, foi um pequeno país que ampliou a disputa investindo no comércio internacional e não na posse de
territórios: as Províncias Unidas. Esse país que hoje conhecemos com o nome de Holanda, tornou-se, no século XVII,
a mais rica e próspera nação europeia. Construiu poderosas companhias de comércio e uma frota militar capaz de
rivalizar com as marinhas da Inglaterra e da Espanha. Foi a burguesia holandesa que construiu um modelo eficaz e
lucrativo, capaz de submeter os outros setores da economia (como a agricultura e a extração de metais preciosos) aos
interesses do comércio.
Enquanto isso, na Inglaterra, uma monarquia poderosa e com visão ampla dos negócios do reino, construiu
uma poderosa armada, liderou a disputa pelos mares, conquistou territórios coloniais na América e estabeleceu rotas
comerciais em torno do planeta. Durante os séculos XVI e XVII, a expansão inglesa foi, pouco a pouco, suplantando o
poder espanhol, rivalizando com franceses e limitando os interesses expansionistas de Portugal.
A construção de impérios ultramarinos fortaleceu a classe dos comerciantes em cada país, especialmente, dos
grandes mercadores que controlavam o comércio internacional. As trocas vantajosas estabelecidas em diversos portos do mundo garantiram a acumulação de riquezas nas mãos do Estado monárquico e dessa burguesia comercial.
Em síntese, entre os séculos XIV e XVI, um conjunto significativo de transformações políticas e econômicas
fortaleceu essa classe de comerciantes e banqueiros. A expansão marítima pelo Atlântico, a conquista da América, a
criação de rotas comerciais com o Oriente definiram um caráter global para o comércio. Uma aliança entre os setores
burgueses e as monarquias nacionais fortalecia, em cada nação, o poder do Estado, em torno de um exército bem
equipado que defendia o território e ampliava as ações de conquista.
A forma como conhecemos hoje dos Estados nacionais (formados por um governo, um povo e um território
específicos) surgiu naquele contexto histórico e tomou forma nos séculos seguintes.
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Seção 3
Desenvolvimento científico
e artístico: o Renascimento
Dentro deste quadro de mudanças econômicas e políticas, também se transformaram as relações sociais,
como vimos acima. A ruptura com os antigos laços de dependência entre servo e senhor feudal, dentre diversas
outras amarras, acabou por liberar o indivíduo. O momento histórico começava a colocar o homem como foco e,
consequentemente, a capacidade criativa da personalidade humana. Um novo período de inventividade técnica foi
estimulado pelo desenvolvimento econômico. Foi nesta época que se criaram novas técnicas de exploração agrícola
e de construção naval e armamentos. Institui-se a prática da observação atenta e metódica da natureza e dos experimentos, que resultaria no que chamamos de atitude científica.
O objetivo era obter o domínio sobre o meio natural, a fim de explorá-lo. Para isso, a linguagem abstrata e rigorosa foi fundamental. A matemática ressurgiu, a partir de diversas técnicas algébricas, tomadas à civilização islâmica, e
tornou-se essencial para efetuar a contabilidade desse novo sistema econômico complexo e para medição do mundo.
A cartografia é acompanhada pela contabilização do tempo. Não é nenhuma coincidência que este é o momento em
que os homens lançam-se ao mar em busca do desconhecido. O período inicial das grandes navegações coincidiu
com a invenção do relógio de bolso, portátil, quando, gradativamente, as pessoas iam deixando de se basear no movimento do sol, ou no bater dos sinos, para viver de acordo como o tique-taque do relógio.
Mas o que esses homens pensavam? Como reagiram a essas mudanças? A burguesia estava satisfeita, pois se
beneficiava e alimentava as novas mudanças, enquanto a nobreza e o clero perdiam seu espaço tradicional. Desde o
século XV, existia um movimento nas universidades medievais pela renovação do padrão de estudo. As três carreiras
tradicionais eram o direito, a medicina e a teologia, que transmitiam uma visão hierárquica e estática do mundo. Os
renovadores queriam incluir os chamados “estudos humanos”, tendo como base os textos da Antiguidade clássica
sobre a poesia, a história e a matemática. Os humanistas, como eram chamados, tinham sua preocupação voltada
para os homens e para a natureza.
As transformações científicas e artísticas que se iniciaram no século XIV e prolongaram-se até o século XVI,
especialmente, nas cidades italianas, foi chamada de Renascimento. Não foi por acaso que esse movimento surgiu
nessas cidades, pois, lá a burguesia tinha constituído uma economia dinâmica, baseada do comércio pelo Mediterrâneo. Essa burguesia controlou também o poder político das cidades e não precisou do apoio das monarquias e nem
da nobreza proprietária de terras.
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Módulo 2 • Unidade 4
A chamada atitude renascentista estava baseada no desenvolvimento científico, mas a produção artística foi o
centro de convergência das principais tendências e características do Renascimento. A nova camada burguesa estava
tentando se impor socialmente. Para isso, era necessário combater a cultura medieval. Foi então preciso construir
uma nova imagem da sociedade centrada na burguesia. Dessa maneira, esses grupos começaram a usar parte de sua
riqueza para construir palácios, igrejas e catedrais, estátuas, quadros, afrescos etc. Tudo isso não só para demonstrar
seu poder, mas também para promover uma renovação cultural e a difusão de novos hábitos, valores e comportamentos. Foi dessa maneira que a arte se tornou o foco do momento. E foi dentro deste quadro que os artistas encontraram espaço para criar novas possibilidades de percepção e intervenção no mundo.
Figura 2: “Escola de Atenas”, de Rafael, é considerada uma das pinturas que mais reflete o espírito da Renascença. Ela foi pintada entre 1509 e 1510, e representa, com enorme harmonia
geométrica e naturalismo, os pensadores da Antiguidade Clássica.
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Escola_de_atenas_-_vaticano.jpg
Como fruto de uma época em que o conhecimento sobre o homem e a natureza é valorizado, a arte renascentista foi marcada pela pesquisa, invenção, inovação e aperfeiçoamento técnico. Ela caminhava lado a lado com
as descobertas da filosofia, da anatomia, da matemática e da física. Isso pode ser percebido a partir da invenção da
perspectiva por Filippo Brunelleschi (1377–1446), dos instrumentos inventados por Leonardo da Vinci (1452 – 1519),
ou as pesquisas anatômicas de Michelangelo (1475 – 1564).
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Figura 3: O homem vitruviano é um conceito do arquiteto romano Marco Vitruvio Polião. Ele representa um modelo ideal das
proporções do corpo humano, de acordo com o ideal clássico de beleza. Com a redescoberta dos textos clássicos durante o
Renascimento, Da Vinci tornou-se o mais famoso difusor desse ideal de representação.
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Da_Vinci_Vitruve_Luc_Viatour.jpg
O artista passou a ser visto com certa dignidade cultural e social, tornando-se um criador individualizado.
No entanto, o ritmo frenético das encomendas, da concorrência e a crescente divisão do trabalho dificultavam o fazer
artístico. O tempo e o espaço da contemplação tornar-se-iam cada vez mais difíceis. Era apenas no isolamento que os
artistas conseguiam alcançar seu objetivo artístico.
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Módulo 2 • Unidade 4
Os afrescos de Michelangelo no teto da Capela Sistina, no Vaticano, são considerados verdadeiros tesouros artísticos da humanidade. Apesar do conteúdo religioso, diversos
estudiosos sugerem que o pintor teria transmitido aquilo que realmente acreditava, a partir do pensamento e técnicas renascentistas.
A figura abaixo faz parte dessa pintura e é chamada de “A criação de Adão”. Quais
são as informações e características renascentistas presentes no quadro?
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Creation-of-adam.PNG
As mudanças trazidas com o Renascimento também trouxeram transformações na literatura. A Divina
Comédia de Dante Alighieri (1265 – 1321) é considerada o marco da literatura moderna, pois apesar de apresentar
características e expressões medievais, ela valoriza a experiência terrena dos homens, não mais subordina à providência divina. Novamente, o homem aparece no centro do mundo; é o que chamamos de antropocentrismo.
Em um texto escrito por Shakespeare, o personagem Lorde MacBeth diz: “ouso tudo que é próprio de um
homem; quem ousar fazer mais do que isso não o é”. Para o historiador Nicolau Sevcenko, “essa postura revela com
extraordinária clareza toda a audácia da experiência renascentista. Tratava-se, com efeito, de uma prática cujos gestos
mais ousados lançaram seus participantes para além de si mesmos [...] Tudo que os renascentistas pretendiam era
assumir a condição humana até seus limites, até as últimas consequências. Nem Deus, nem o demônio; todo o desafio
consistia em ser absolutamente, radicalmente humano, apenas humano”.
Ciências Humanas e suas Tecnologias • História
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Na astronomia, Nicolau Copérnico (1473 – 1543) e Galileu Galilei (1564 – 1642) contestaram a hierarquização e
a finitude do espaço cósmico, contrariando os pensadores antigos, Aristóteles e Ptolomeu, aceitos pela Igreja. Assim, a
natureza deixava de ser vista como um espetáculo e passava a ser modificada, dando espaço à racionalização da vida.
Para os homens do Renascimento, era a hora do renascer do homem com o mundo. Foi assim que teve início
uma mudança de pensamento. Deus não deixou de existir, mas o homem passou a ter um papel mais central, abandonando a ideia de estabilidade, passou a se interessar pelo movimento.
A era das Grandes Navegações é o nome dado ao período em que os europeus
exploraram intensamente o globo terrestre em busca de novas rotas de comércio entre os
séculos XV e XVII. As explorações marítimas colocaram diferentes sociedades em contato
e transformaram a relação do homem europeu com o mundo. Como resultado, o mundo
foi mapeado e as mais remotas fronteiras foram transpostas. Essa época marcou o início
da Idade Moderna que juntamente com o Renascimento estimulou a pesquisa científica e
intelectual. A partir dessa reflexão, leia o trecho abaixo e responda à questão.
“O Renascimento constitui, uma das mais fascinantes aventuras intelectuais
da humanidade. Ele guarda uma semelhança mais do que notável com a empresa das grandes navegações. Para se atreverem a essas perigosas viagens
marítimas, esses homens, ainda modestamente equipados, foram igualmente encorajados pelas comunidades burguesas e cortesãs, receberam privilégios, honrarias e regalias, mas tiveram que enfrentar monstros míticos e reais,
tiveram de suportar, ao mesmo tempo, a atração e o medo do desconhecido,
tiveram que acreditar em si mesmos e em seus confrades mais do que em
entidades sobrenaturais, tiveram que enfrentar todos os riscos de desbravar
novos mundos e tiveram que suportar o choque de valores completamente
diversos dos seus. O mesmo aconteceu com inúmeros criadores do Renascimento. E, no entanto, esses homens viveram uma experiência soberana de
criação e puderam provar o gosto amargo, porém único, de serem livres.”
SEVCENKO, Nicolau. O Renascimento. São Paulo, Atual, 1987.
Em que sentido, podemos comparar o Renascimento com a era das grandes navegações?
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Módulo 2 • Unidade 4
Seção 4
Novas formas de pensar o mundo
O Renascimento produziu intensos resultados em toda a Europa, desde o século XV, influenciando as artes, a
filosofia, as ciências e o pensamento científico. A partir de suas ideias, fortaleceu-se uma forma de pensamento que
se baseava no uso da razão e na experimentação.
A natureza, o homem e o universo tornaram-se temas centrais de um número significativo de indivíduos que
chamamos de filósofos, cientistas ou, simplesmente, pensadores. Para esses indivíduos, as respostas oferecidas pelo
pensamento religioso e pelos conhecimentos produzidos pelos povos antigos não era suficiente para explicar os
fenômenos observados ou vividos.
Esse tipo de pensamento surgia das necessidades práticas e também se transformava com elas, na medida em
que apareciam novos desafios trazidos pelo desenvolvimento da economia e da sociedade. Por exemplo, quando os
navegadores portugueses e espanhóis começaram a atravessar os oceanos e quando Colombo chegou ao continente
americano, isso colocou em xeque as concepções religiosas do mundo.
Em primeiro lugar, a travessia do oceano era uma evidência de que a terra não era plana como uma pizza e que
no fim dos mares havia um abismo profundo que lançava os navios no espaço infinito. Em segundo lugar, a existência
da América, habitava por centenas de povos, com diferentes níveis de organização social, não podia ser explicada a
partir do que os europeus já conheciam do mundo. Era preciso inventar novas hipóteses, construir teorias e explicar
os fenômenos a partir da própria experiência ou de um pensamento racional, baseado em afirmações claras, que não
dependiam da crença, nem do conhecimento dos outros.
Assim, o pensamento racional avançava a cada novo passo dado para solucionar questões práticas ou filosóficas. As mudanças abrangiam, assim, a criação de novas técnicas de navegação, as inovações da medicina, da agricultura, da construção civil, as descobertas das ciências, da matemática, o conhecimento sobre a natureza e o homem.
Esse longo processo de transformação do pensamento europeu conduziu a uma nova concepção de mundo
que reduziu a importância das doutrinas religiosas e a própria dimensão da espiritualidade. O homem do século XVI
não era apenas um homem profundamente religioso, mas um indivíduo que encontrava no pensamento religioso as
explicações para os fenômenos naturais, para sua própria vida e para a organização social do mundo. Uma tempestade era facilmente traduzida como sinal da fúria divina, a existência de reis e cavaleiros, de camponeses e servos,
era vontade de Deus, a vida e a morte de um ser humano também eram resultados da providência divina, isto é, dos
desígnios celestes, incompreensíveis para o ser humano. Essa forma de olhar o mundo foi lentamente substituída
pelo pensamento científico que se firmou entre os séculos XVII e XIX na Europa.
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Um dos primeiros pensadores a definir as bases de uma filosofia moderna e racional foi René Descartes
(1596-1650) e a sua frase mais conhecida e repetida foi “Penso, logo existo”. A frase era uma conclusão
a seguinte pergunta: será que eu existo? Com essa pergunta que nos parece um pouco banal hoje,
Descartes queria discutir as bases do conhecimento e o princípio fundamental da dúvida. Assim de
tudo é preciso duvidar da existência das coisas, inclusive de si próprio. A evidência maior de sua existência como ser humano era a própria dúvida. A frase famosa seria então: “Eu duvido; portanto, eu
penso; logo, eu existo”.
Algumas décadas depois de sua morte, outros pensadores desenvolveram novos modelos filosóficos
que também se interessavam em explicar os fenômenos do mundo. Eles, porém, não se baseavam
nos instrumentos da razão (como a dedução e a lógica), mas na experiência. O mais influente desses
filósofos foi o inglês John Locke (1632-1704). Ele afirmava que todas as nossas ideias tinham origem
na nossa percepção, que nascemos sem saber absolutamente nada e que todo nosso conhecimento é
resultado da nossa experiência.
A corrente filosófica iniciada por Descartes chama-se racionalismo, pois, está baseada na razão humana, enquanto a corrente fundada por Locke é denominada de empirismo, isto é, no conhecimento
nascido da experiência. Essas duas correntes deram origem à filosofia moderna e influenciaram decisavamente o pensamento científico e o Iluminismo, no século XVIII.
Essas transformações acompanharam e foram motivadas pelo crescimento da atividade comercial que, a partir
da Europa, irradiou-se pelo mundo. Produtos, mercadorias, escravos e metais preciosos circulavam pelos continentes,
intensificando a exploração da África e da América e ampliando as riquezas que se acumularam nos países europeus.
Em fins do século XVIII, por volta de 1780, o desenvolvimento econômico europeu conduziu a uma transformação radical na produção da riqueza, como iremos estudar com detalhes nas próximas unidades. O setor mais dinâmico da economia, antes centrado na atividade comercial, deslocou-se para a produção industrial. O racionalismo e as
transformações científicas passaram a alimentar esse processo de industrialização, criando assim as ideias, as práticas
e as máquinas que ampliavam e barateavam a produção de mercadorias.
Os procedimentos racionais, a capacidade de economizar tempo e recursos na fabricação de uma mercadoria,
a organização da produção fabril foram, pouco a pouco, redefinindo a vida na Europa. Um longo e intenso processo
de urbanização iniciou-se, especialmente, na Inglaterra, no final do século XVIII. Houve uma ampliação significativa
dos indivíduos que passaram a viver do trabalho nas fábricas e que constituíram a origem da classe trabalhadora.
Surgia, assim, o último elemento central na formação do Mundo Moderno: a classe operária. Em síntese, podemos dizer o Mundo Moderno caracteriza-se pela articulação de uma economia global (através do comércio marítimo),
pela presença de Estados nações (como organização política dos territórios), pela oposição entre duas classes sociais,
a burguesia e a classe trabalhadora e finalmente, pelo surgimento de uma forma de pensar, baseada na experimentação e no desenvolvimento do raciocínio.
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O surgimento do Mundo Moderno