A LEITURA E A ESCRITA NO COTIDIANO ESCOLAR: DESCOBERTAS, ENCANTOS E DESENCANTOS Alessandra da Paixão de Jesus Santos∗ Universidade do Estado da Bahia – UNEB [email protected] Lucinea Costa de Jesus∗∗ Universidade do Estado da Bahia – UNEB [email protected] RESUMO: Esse trabalho visa relatar a experiência do estágio supervisionado, da disciplina Pesquisa e Estágio III – Séries Iniciais do Ensino Fundamental do curso de graduação em Pedagogia Licenciatura e Docência em Processos Educativos VIII semestre, no Departamento de Educação Campus XV – Valença/Ba da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), realizado na Escola Municipal José Farias Campos que atende crianças na faixa etária de 04 a 16 anos. Desenvolvemos a temática A Leitura e a Escrita no Cotidiano Escolar: Descobertas, Encantos e Desencantos na perspectiva de compreender a leitura e a escrita como formas de desenvolvimento pessoal e intelectual na sociedade contemporânea favorecendo a inserção e atuação social dos sujeitos, despertando, promovendo e incentivando o hábito da leitura e da escrita através da leitura e construção de gêneros textuais desenvolvendo as habilidades linguísticas: falar, escutar, ler e escrever, favorecendo assim a autonomia. O Estágio Supervisionado ocorreu em turma do 3º ano contendo 20 alunos, com carga horária de 90 horas, sendo 30 de observação e 60 de ação do estágio. Palavras-chave: Estágio Supervisionado – Leitura – Escrita. INTRODUÇÃO O presente trabalho visa relatar a experiência da ação de um projeto da disciplina Pesquisa e Estágio III - Séries Iniciais do Ensino Fundamental do curso de graduação em Pedagogia Licenciatura e Docência em Processos Educativos da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), o estágio teve carga horária de 180 horas, sendo 60 horas destinadas a aula teórica e construção do projeto, 30 horas de observação no ensino fundamental, 60 horas de aplicação do projeto de estágio, e 30 horas destinadas ao Seminário de Pesquisa e Estágio que ∗ Graduanda em Pedagogia na Universidade do Estado da Bahia (UNEB) – DEDC XV – Valença/Ba. E-mail: [email protected]. Orientadora Roberta de Andrade Abreu. ∗∗ Graduanda em Pedagogia na Universidade do Estado da Bahia (UNEB) – DEDC XV – Valença/Ba. E-mail: [email protected]. Orientadora Roberta de Andrade Abreu. ocorrerá no Campus XV da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) nos dias 07 e 08 de janeiro de 2013 e visa o relato da experiência da prática docente no período de estágio, bem como o processo de elaboração do projeto. O projeto de estágio A Leitura e a Escrita no Cotidiano Escolar: Descobertas, Encantos e Desencantos fora desenvolvido na Escola Municipal José Farias Campos, numa turma de 3º ano composta por 20 alunos na faixa etária de 08 a 14 anos de idade sob a regência de Jislane Oliveira Santos Lisboa. A Escola Municipal José Farias Campos, situada no Entroncamento de Valença, zona rural do município de Valença à 32 quilômetros da sede sob direção de Delma Nascimento Pereira e coordenação de Marineide dos Santos Ramos Silva, foi construída em 1968 em um ponto elevado próximo à BR 101, e atualmente constitui a sede do Subsistema Entroncamento, um conglomerado de 10 escolas que alcança inúmeras famílias em dez comunidades distintas. O projeto A Leitura e a Escrita no Cotidiano Escolar: Descobertas Encantos e Desencantos desenvolvido na Escola Municipal José Farias Campos buscou compreender a leitura e a escrita como formas de desenvolvimento pessoal e intelectual na sociedade contemporânea favorecendo a inserção e atuação social dos sujeitos, no intuito de despertar, promover e incentivar o hábito da leitura e da escrita através da leitura e construção de gêneros textuais, desenvolvendo as habilidades linguísticas: falar, escutar, ler e escrever, favorecendo assim a autonomia. Consideramos esse tema de suma relevância para ser desenvolvido no Ensino Fundamental, pois através da leitura e da escrita o indivíduo adquire e amplia seus conhecimentos possibilitando dessa forma seu desenvolvimento intelectual, pessoal e social. Esse trabalho é de grande relevância para nós enquanto futuras pedagogas, pois a leitura e a escrita são a base da formação educacional do sujeito, assim temos a responsabilidade em está incentivando o hábito da leitura e da escrita, as quais devem ser realizadas com prazer e não como obrigação. A compreensão da concepção de leitura e escrita foram alcançadas tendo por base os teóricos Paulo Freire (2008) que define a leitura como um processo dinâmico que ultrapassa a decodificação das palavras, Maria Helena Martins (1994) expõe que a leitura vai além da leitura do texto escrito e Fany Abramovich (1986) que enfatiza a necessidade do desenvolvimento do prazer pela leitura que contribuirá na formação do sujeito em todos os seus aspectos. Assim, esse trabalho está organizado em Introdução onde apresentamos o projeto de estágio e seu campo de execução, a descrição sobre A Experiência do Estágio Supervisionado no Ensino Fundamental no qual descrevemos a experiência do estágio respaldadas teoricamente e Considerações Finais onde enfatizaremos a importância do estágio para nossa formação e os pontos positivos e negativos do Estágio Curricular Supervisionado nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental. A EXPERIÊNCIA DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO ENSINO FUNDAMENTAL O Estágio Curricular Supervisionado exerce uma função primordial na formação dos futuros pedagogos, pois o estágio proporcionará o contato com seu campo de atuação profissional como estabelece o Regimento de Estágio da Universidade do Estado da Bahia (UNEB): Art. 160. O estágio curricular visa oferecer ao estudante a oportunidade de: I – observar situações reais de seu futuro campo de trabalho, de modo a ampliar o conhecimento e a formação teórica/prática, construído no processo do curso; II – analisar criticamente as condições observadas com base nos conhecimentos adquiridos e propor soluções quanto aos problemas levantados; III – desenvolver a capacidade de elaborar, executar e avaliar projetos na área especifica de seu estágio. Por meio dessa experiência o estudante consegue analisar as situações vivenciadas no cotidiano escolar relacionando com as concepções teóricas estudadas durante sua formação possibilitando o desenvolvimento de um planejamento condizente com a necessidade do público alvo. Durante o período de observação e regência no estágio revalidamos a necessidade do planejamento para o desenvolvimento da prática pedagógica como afirma Gandin (1995): No planejamento temos em mente que sua função é a de tornar clara e precisa a ação, de organizar o que fazemos, de sintonizar ideias, realidades e recursos para tornar mais eficiente nossa ação (p. 19). Sabendo que o planejamento é essencial para o desenvolvimento pedagógico na sala de aula, já que neste, são projetados os objetivos a serem alcançados, os conteúdos que serão aplicados, as metodologias utilizadas, os recursos didáticos necessários para a realização das aulas e através do planejamento o professor adquire autonomia e segurança para ministrar as atividades em sala de aula promovendo dessa forma a aprendizagem dos educandos de maneira sequencial, durante o estágio construímos e desenvolvemos o projeto de intervenção Leitura e Escrita no Cotidiano Escolar: Descobertas, Encantos e Desencantos fruto da observação de 30 horas em uma turma de 3° ano, onde identificamos a necessidade do trabalho com a leitura e a escrita a qual fora ressaltada pela professora da turma Jislane Lisboa que é graduada em Pedagogia, Pós-graduada em Educação Infantil e graduanda em Geografia. O período de regência ocorreu de 05 a 30 de novembro de 2012. Durante nossa regência demos continuidade ao planejamento da escola, adaptando os conteúdos curriculares a nossa proposta de trabalho, baseada na leitura e na escrita fazendo uso de textos diversos, leitura coletiva e individual, leitura de imagens, construção de textos a partir de temas geradores, confecção de cartazes, análise de vídeos e círculos de cultura. As atividades que mais despertaram o interesse dos alunos foram a sacola da leitura, onde os alunos eram sorteados, escolhiam os livros e após dois dias tinham que contar a história para a turma, a confecção de cartazes sobre o município de Valença, a formação de frases contendo pronomes pessoais do caso reto e pronomes de tratamento a partir de figuras recortadas de livros, revistas e jornais, construção de história a partir da leitura de imagem, a confecção de formas geométricas e da massa de modelar. Percebemos que essas atividades tiveram maior envolvimento dos alunos, pois partiam da sua realidade e possibilitou a eles relacionar o conteúdo com suas experiências cotidianas tendo assim um significado concreto possibilitando a reflexão do meio onde está inserido, por sua vez, o ato de construir e de se tornar o agente ativo do processo e não mais passivo foi essencial para o êxito das atividades. Assim constatamos a necessidade de uma educação problematizadora como propulsora do conhecimento e da transformação da realidade como assinala Freire (1987): [...] enquanto a prática bancária, como enfatizamos, implica uma espécie de anestesia, inibindo o poder criador dos educandos, a educação problematizadora, de caráter autenticamente reflexivo, implica num constate ato de desvelamento da realidade (p. 40). Durante a prática no estágio fomos surpreendidas com a espontaneidade da turma e o envolvimento dos alunos nas atividades que exigiam a expressão oral, eles participaram ativamente dos círculos de cultura e das apresentações dos trabalhos produzidos, merece destaque a exposição da História em Quadrinho (HG) sobre os direitos da criança e a contação dos livros da sacola da leitura, com isso é perceptível à necessidade de uma prática que incentive a oralidade e valorize as produções dos alunos, pois essa atitude acaba incentivando e envolvendo eles cada vez mais na prática educacional. Em nossa regência no estágio percebemos que diante das diversidades dos alunos, advindos dos contextos sociais onde estão inseridos, as atividades deveriam ser diversificadas na perspectiva de atender as necessidades e envolver todos no processo de ensino e aprendizagem colaborando para seu desenvolvimento educativo e social, pois a “educação é um processo de humanização que ocorre na sociedade humana com a finalidade explicita de tornar os indivíduos participantes do processo civilizatório e responsáveis por levá-lo diante” ( PIMENTA, 1997, p. 8 - 9). Desse modo, o professor deve buscar constantemente inserir todos os alunos nas atividades realizadas no intuito de promover sua reflexão de maneira que eles possam intervir conscientemente em sua realidade e possivelmente perpetuar os conhecimentos adquiridos, nessa perspectiva o educador precisa exercer uma prática pedagógica significativa para o aluno, mais para tanto, faz-se necessário a formação inicial e continuada do educador que o auxiliará nessa complexa tarefa, já que “a especificidade da formação pedagógica, tanto a inicial como a continua, não é refletir sobre o que se vai fazer, nem sobre o que se deve fazer, mas sobre o que se fez” ( HOUSSAYE apud PIMENTA, 1997, p. 10 ) Nessa perspectiva a formação do educador deve estar pautada na reflexão sobre a sua prática, sobre o que foi feito, pois a aquisição de suporte teórico dentro da sua área de atuação precisa ser sempre questionada para observar se os objetivos de ensinar e apender estão sendo alcançados, já que a formação científica não assegura o êxito no processo de ensino aprendizagem. Por meio dessa reflexão contínua o profissional constrói sua identidade como educador, essa identidade por sua vez [...] “não é um dado imutável. Nem externo que possa ser adquirido. Mas, é um processo de construção do sujeito historicamente situado” (PIMENTA, 1997, p. 6). Vale ressaltar que o educador reflete na sua prática suas crenças e valores adquiridos ao longo da vida escolar e social, que podem contribuir ou dificultar na construção da sua identidade já que o tempo todo estamos em contato com diferentes visões de mundo, com isso é necessário a associação constante entre a teoria e a prática para então construir a sua práxis. No período de estágio tivemos dificuldades em lidar com a indisciplina e a violência na sala de aula, as quais dificultaram inicialmente o nosso trabalho, para amenizá-las decidimos então construir com os alunos alguns combinados estabelecendo algumas regras de convivência, as quais foram sugeridas pelos educandos através da discussão em sala de aula sobre a importância de um ambiente harmônico para a construção do conhecimento e o estabelecimento de uma boa relação com os indivíduos, pois partimos da premissa de [...] “que a verdadeira autoridade é conquistada sempre que a relação educador – educando for concretizada por afeto, confiança, diálogo, respeito e valorização” (MLANI, 2004, p. 16), por acreditarmos que a conquista de autoridade não se baseia na coerção, no autoritarismo, despertando medo ou utilizando recursos como castigos e punições rígidas ao invés de tentar solucionar os problemas com acordos e diálogo. Nos deparamos também no estágio, com os principais problemas que afetam a maioria das escolas públicas do Brasil, como a falta de recursos didáticos que dificultam o trabalho do professor em sala de aula, a estrutura física da escola que não conta com um espaço de recreação e a falta de acessibilidade para alunos com necessidades especiais que é assegurado pela Lei No 10.098, de 19 de dezembro de 2000 que trata da acessibilidade: Art. 1° Esta Lei estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, mediante a supressão de barreiras e de obstáculos nas vias e espaços públicos, no mobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios e nos meios de transporte e de comunicação. Nos dias hodiernos é fundamental que as instituições de ensino estejam preparadas para atender os educandos com necessidades especiais, dando-lhes autonomia para desempenhar suas atividades cotidianas, concretizando assim a sua inclusão no sistema educacional. A avaliação por sua vez, é um componente essencial na prática pedagógica, pois permite avaliar tanto o trabalho do educador quanto o desenvolvimento do educando, pois essa avaliação deve se dar de forma dialógica, como considera Jussara Hoffmann: A avaliação, enquanto relação dialógica, vai conceber o conhecimento como apropriação do saber pelo aluno e também pelo professor, como ação-reflexão-ação que se passa na sala de aula em direção a um saber aprimorado, enriquecido, carregado de significados, de compreensão. Dessa forma, a avaliação passa a exigir do professor uma relação epistemológica com o aluno – uma conexão entendida como reflexão aprofundada a respeito das formas como se dá a compreensão do educando sobre o objeto do conhecimento (p. 56). Nessa perspectiva o processo de avaliação realizado no estágio se deu em caráter qualitativo e quantitativo, observamos a participação e o desempenho dos educandos durante as atividades realizadas, a interação com os colegas, a autoconfiança e a espontaneidade, concomitantemente essas atividades foram pontuadas e por fim realizamos uma atividade avaliativa para cada componente curricular (Português, Matemática, Geografia, História e Ciências). CONSIDERAÇÕES FINAIS O Estágio Curricular Supervisionado nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental foi de grande relevância para nossa formação, pois possibilitou a nossa atuação em nosso futuro campo de atuação profissional, a aquisição de experiências prazerosas e frustrantes e a vivência de dificuldades enfrentadas pelos professores no seu cotidiano na sala de aula, como a falta de recursos didáticos, a indisciplina e a violência. No decorrer do estágio superamos diversos desafios que nos proporcionaram a associação entre a teoria e a prática, nos frustramos por levar atividades para a sala de aula que não atraíram a atenção dos alunos e ficamos extremamente satisfeitas ao ver seu envolvimento em determinadas atividades, e a relação de afetividade recíproca que conseguimos estabelecer com os educandos. Nossa experiência no estágio foi marcada por pontos positivos e negativos, destacamos como pontos positivos o apoio da professora regente da turma que nos acompanhou durante todo o período de estágio, o ato de aprender e ensinar simultaneamente vivenciando na prática as teorias que estudamos ao longo de nosso percurso na graduação, levando-nos a buscar informações, identificar problemas, propiciando dessa forma questionamentos da realidade dando subsídios que orientaram e reorientaram nossa prática quando necessário, contribuindo para a formação da nossa identidade enquanto educadoras e perceber a importância na diversificação de atividades a serem realizadas na sala de aula, bem como a necessidade de práticas inovadoras e da formação continuada para os professores. Como pontos negativos destacam-se a falta de recursos didáticos para serem utilizados nas aulas, a violência e indisciplina na sala de aula, e o espaço físico da escola que restringiu a realização de algumas atividades pensadas e as quais infelizmente não puderam ser concretizadas. Desse modo o estágio no Ensino Fundamental contribuiu significativamente para nossa formação profissional e crescimento pessoal, pois é por meio das relações cotidianas que podemos aprimorar os nossos conhecimentos em todos os âmbitos possibilitando ações concretas de intervenção na realidade ocasionando mudanças significativas no atual cenário da educação. REFERÊNCIAS ABRAMOVICH, Fany. Literatura infantil: gostosuras e bobices. 2.ed. São Paulo: Papiros, 1986. BAHIA. Universidade do Estado da Bahia. Regulamento do Estágio. Disponível em: < https://docs.google.com/file/d/0B5KephIHHVeAVzZBcFljQmp5b3c/edit?pli=1>. Acesso em: 20 dez. 2012. BRASIL. Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l10098.htm>. Acesso em: 21 dez. 2012. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: m rês artigos que se completam. 49. ed. São Paulo: Cortez, 2008. _______. Pedagogia do Oprimido. 17 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. GANDIN, Danilo. Planejamento como prática educativa. 8. ed. São Paulo, Loyola, 1995. HOFFMANN, Jussara Maria Lerch. Avaliação Mediadora: uma relação dialógica na construção do conhecimento. Disponível em: < http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_22_p051-059_c.pdf>. Acesso 21 dez. 2012. MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. 19. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. MILANI, Feizi Masrour. Tá Combinado!: Construindo um Pacto de Convivência na Escola. Salvador: INPAZ, 2004. PIMENTA, Selma Garrido. Formação de professores – saberes da docência e identidade do professor. Nuances, São Paulo, v. 3, p. 05-14, set. 1997.