artigo técnico
Fernando J. T. Estêvão Ferreira[1]
Programa Informático para
Projecto de Enrolamentos de
Motores de Indução Trifásicos
Resumo
serviços de manutenção curativa
Os motores de indução são utilizados
deve-se, em parte, à danificação
em mais de 90% dos sistemas eléctricos
do núcleo ferromagnético estatórico
de força motriz, sendo estes últimos
durante a extracção dos enrolamentos
responsáveis pelo consumo de cerca
danificados e à alteração indevida das
de 70% da energia eléctrica consumida
características dos enrolamentos,
na indústria dos países desenvolvidos.
o que se imputa, na maioria dos casos,
Tipicamente, os motores de indução
à falta de conhecimentos técnicos.
são reparados 2 a 4 vezes ao longo do
Neste artigo, descrevem-se as principais
seu tempo de vida. Diversos estudos
características de um programa
confirmam que a aplicação de práticas
informático desenvolvido
de reparação inadequadas aos moto-
especificamente para projectar e avaliar
res de indução conduz, em média, à
os enrolamentos dos motores
redução do seu rendimento em 1% e,
de indução trifásicos de baixa tensão
consequentemente, ao aumento do seu
e assistir a realização de um teste
custo do ciclo de vida. A nível mundial,
normalizado para controlo das perdas
estima-se que a aplicação de práticas de
no núcleo ferromagnético estatórico.
reparação inadequadas conduz a perdas
Devido à facilidade de utilização e ao
energéticas adicionais de aproximada-
ambiente gráfico, o programa descrito
mente 40 TWh/ano, que se traduzem
neste artigo apresenta-se como uma
em emissões adicionais de 20 Mton/
ferramenta técnico-didáctica,
ano de CO2. A fraca qualidade dos
com aplicação no ensino técnico
e nas actividades de manutenção
[1] Instituto Superior de Engenharia de Coimbra; Instituto
de Sistemas e Robótica de Coimbra; [email protected]
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curativa de motores eléctricos.
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Palavras Chave
Enrolamentos Trifásicos, Motores de Indução, Rebobinagem, Controlo de Qualidade, Ensino, Projecto,
Software.
I. Introdução
Os motores eléctricos consomem, em média,
metade de toda a energia eléctrica consumida nos
países desenvolvidos. Na União Europeia (UE), cerca
de 70% da energia eléctrica consumida pelo sector
industrial deve-se aos sistemas eléctricos de força
motriz, dos quais 90% integram motores de indução
trifásicos (MIs). A larga utilização dos MI deve-se às
suas características peculiares tais como simplicidade
de construção, reduzido custo de fabrico, elevada
robustez e rendimento aceitável. As aplicações
típicas(1) dos MIs incluem bombas, compressores,
ventiladores, moinhos, elevadores, tapetes rolantes,
etc. O aumento do rendimento dos MI apresenta-se
como um dos principais meios de redução das perdas
energéticas.
Na indústria, dependendo de diversos factores(2),
um MI consome tipicamente uma quantidade anual de
energia que corresponde a 5-10 vezes o seu preço de
compra o que, durante toda a sua vida útil de 12 a 20
anos(3), pode perfazer 60 a 200 vezes o seu preço de
compra – O investimento inicial é pouco significativo
quando comparado com o custo de funcionamento do
MI que, além da energia consumida, integra também
os custos de manutenção. Este facto justifica a importância da análise do custo do ciclo de vida(4) (LCC) do
MI e não apenas o seu custo inicial ou, quando este
avaria, o custo do serviço de manutenção curativa
(SMC), vulgo reparação [1].
Da análise de diversos estudos realizados em laboratórios independentes, apurou-se que, na sua grande
maioria, os SMCs aplicados aos MIs conduzem, em
média, à redução do rendimento em 1%(5), podendo
ainda ocorrer degradações significativas da fiabilidade
e do desempenho geral [1].
Dado que numa fábrica um elemento motriz inactivo, pode afectar todo o processo produtivo e causar
prejuízos avultados, a maior exigência feita aos SMCs
é que a sua duração seja o mais reduzida possível o
que, associado à preocupação da minimização do
custo do serviço, à falta de exigência de qualidade por
parte dos clientes, à falta de conhecimentos técnicos,
à falta de material didáctico actualizado, à falta de software de cálculo/projecto e à incapacidade financeira
para adquirir equipamentos mais modernos, culmina,
na maioria dos casos, na utilização de práticas menos correctas que podem conduzir a uma redução
significativa do rendimento e da fiabilidade originais
dos MIs. A redução do rendimento e da fiabilidade
deve-se, essencialmente, à danificação do núcleo
ferromagnético estatórico durante a extracção dos
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enrolamentos danificados (devido ao uso de temperaturas e forças de tracção excessivas), à substituição
incorrecta dos rolamentos e à alteração indevida das
características(6) dos enrolamentos [1].
Estima-se que na UE o mercado dos SMCs de
MI, apesar de parecer irrelevante, representa em
unidades 2 a 3 vezes o mercado de MIs novos. Tipicamente, os MI são reparados 2 a 4 vezes ao longo do
seu tempo de vida, tendo os SMCs um papel muito
importante na manutenção do seu rendimento e da
sua fiabilidade. É bastante provável que, actualmente, muitas empresas possuam grande parte dos seus
MIs a operar com um rendimento abaixo do original
e, consequentemente, com custos de funcionamento
adicionais significativos [1].
Para evitar tais cenários, é indispensável que, através do uso de técnicas, equipamentos e materiais
adequados, bem como de ferramentas informáticas
de projecto/cálculo, se assegure um SMC de elevada
qualidade que, sem aumentos significativos do seu
tempo de execução, mantenha ou melhore o rendimento e a fiabilidade originais dos MIs. Tais exigências
poderão conduzir ao aumento do preço do serviço
mas, dependendo de diversos factores, poderá ser
vantajoso para o utilizador devido à possível redução
do LCC do MI [1].
Relativamente ao impacto energético e ambiental,
estima-se(7) que, em 2015, nos sectores industrial
e terciário, os SMCs de baixa qualidade serão responsáveis por um consumo adicional de energia
eléctrica (ou potencial de poupança) de 0.1 TWh/
ano a nível nacional, 5.6 TWh/ano a nível da UE
e de 60 TWh/ano a nível mundial(8), conduzindo
a emissões adicionais de CO 2 de 0.05 Mton/ano,
2.8 Mton/ano e 30 Mton/ano, respectivamente.
Estes valores, ao actual preço médio europeu da
energia eléctrica, traduzem-se anualmente em encargos adicionais de 6 700 000 , 380 000 000  e
4 071 000 000  a nível nacional, da UE e mundial,
respectivamente [1][2].
Em 2002, a venda de variadores electrónicos de
velocidade na UE atingiu 1.2 milhões de unidades,
sendo na sua grande maioria do tipo inversor por fonte
de tensão com modulação por largura de impulso
(VSI-PWM). Este tipo de alimentação pode resultar
na redução do rendimento e da fiabilidade dos MIs.
No caso dos MIs velhos (ou concebidos para funcionarem com alimentação sinusoidal) a alimentação
com VSI-PWM pode levar à sua falha precoce, ou
mesmo imediata. No sentido de minimizar ou evitar
tais efeitos, os SMCs devem contemplar, entre outros aspectos, o melhoramento das características
dos enrolamentos, do sistema de isolamento e dos
rolamentos [1].
Pelo exposto, e relativamente a Portugal, urge a
criação mecanismos de formação técnica na área dos
SMCs (seminários, cursos técnicos, etc.), bem como
a produção de material didáctico em português(9)
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(livros, brochuras, programas informáticos, etc.) cuja
abordagem seja rápida e fácil [1].
Na continuidade do esforço que a UE tem vindo a
fazer ao nível da formação/informação dos técnicos
dos SMCs [2], foi desenvolvido um programa informático de projecto para enrolamentos de motores de
indução trifásicos – denominado BobiSoft(10) – que
se enquadra nas ferramentas de apoio ao ensino e ao
projecto técnico [1].
II. Descrição Geral
do Programa Desenvolvido
O BobiSoft (Fig.1) é um programa informático em
português e com ambiente Windows, o que permite a
fácil e rápida compreensão do seu funcionamento.
Fig.2 – Painel de inserção dos dados eléctricos
e mecânicos do MI.
Os dados mecânicos são introduzidos no sub-painel
da Fig.3. Existem dados obrigatórios e facultativos.
Os dados obrigatórios são efectivamente utilizados
e imprescindíveis nos cálculos realizados. Os dados
facultativos são apenas informativos. Todos os dados
são guardados num ficheiro com uma extensão específica (*.bob). Dentro dos dados obrigatórios existem
os comuns e os dados específicos dos projectos
original e novo. Os dados comuns dizem respeito
essencialmente às dimensões físicas do estator.
Todavia, relativamente ao ventilador, rolamentos e
tipo de rotor, é possível inserir dados diferentes para
os projectos original e novo (Fig.4a). Os sub-painéis
que dizem respeito aos dados do projecto original e
novo têm cores diferentes (azul e verde).
Fig.1 – Painel de entrada do programa desenvolvido (BobiSoft).
O BobiSoft foi desenvolvido especialmente para o
projecto e análise comparativa de enrolamentos de
MIs trifásicos de baixa tensão, permitindo a comparação de dois projectos em simultâneo (original e novo).
Tem ainda um painel para realizar todos os cálculos
necessários ao teste das perdas no ferro (segundo a
norma EASA(11), Tech. Note No. 17) cujo objectivo é
avaliar se, após a extracção dos enrolamentos, ocorre
degradação do núcleo ferromagnético estatórico.
O BobiSoft suporta até 96 ranhuras (ou cavas) e 20
pólos, com possibilidade de adoptar até 20 grupos de
bobinas em paralelo(12). Este programa não permite
o projecto de enrolamento fraccionários nem admite
bobinas com diferente número de espiras. Em termos
de cálculo, não é contemplado o efeito da saturação
do núcleo ferromagnético.
O BobiSoft está programado para alertar o utilizador
sempre que os dados inseridos não se encontrem
dentro da gama de valores típicos, sejam fisicamente
impossíveis, ou sejam matematicamente incompatíveis.
A inserção dos dados é feita no painel apresentado
na Fig.2.
10
Fig.3 – Sub-painel para inserir os dados mecânicos.
Relativamente às ranhuras, é possível escolher
a sua forma e introduzir as respectivas dimensões
(Fig.4b).
(b)
(a)
Fig.4 – (a) Sub-painel para introdução dos dados relativos
à ventilação, tipo de rotor e rolamentos;
(b) Sub-painel para introdução das dimensões das ranhuras.
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É ainda possível definir as seguintes variáveis
(Fig.5a):
• Massa volúmica do cobre dos condutores;
• Condutividade do cobre dos condutores;
• Temperatura de funcionamento interna do motor;
• Constante da equação da f.e.m. do enrolamento;
• Factor de empacotamento do núcleo;
• Comprimento adicional das testas das bobinas.
O utilizador pode optar entre 6 tipos diferentes de
enrolamentos trifásicos:
1. Enrolamento excêntrico de alojamento simples I;
2. Enrolamento excêntrico de alojamento simples II;
3. Enrolamento excêntrico de alojamento duplo;
4. Enrolamento concêntrico de alojamento duplo;
5. Enrolamento concêntrico de 2 camadas;
6. Enrolamento concêntrico de 3 camadas.
Os únicos enrolamentos que permitem encurtar o
passo são os de alojamento duplo.
O programa permite ainda considerar até 20 condutores em paralelo com secções iguais ou diferentes.
Após a inserção dos dados (originais e/ou novos),
o programa permite o cálculo dos seguintes valores
(Fig.5b):
• Factores de enrolamento até à 17ª ordem;
• Fluxo por pólo e fase no entreferro;
• Indução magnética máxima no entreferro;
• Densidade de corrente nos condutores;
• Comprimento dos condutores por fase;
• Resistência dos condutores por fase;
• Perdas no cobre por fase;
• Distorção harmónica total;
• Factor de enchimento das ranhuras;
• Balanço do cobre;
• Peso total do cobre;
• Índice geral de benefícios.
(b)
(a)
Fig.5 – (a) Sub-painel para introdução de dados genéricos;
(b) Sub-painel para visualização dos valores calculados.
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As grandezas magnéticas podem contemplar opcionalmente o efeito da abertura das ranhuras (Fig.5a).
A distorção harmónica total espacial da força
magnetomotriz (f.m.m.) no entreferro traduz a relação entre os factores de enrolamento diferentes do
fundamental e o factor de enrolamento fundamental.
Quanto menor for este parâmetro melhor será o enrolamento do ponto de vista da distribuição da f.m.m.
no entreferro, i.e., a sua curva de variação espacial
aproxima-se mais de uma sinusóide (curva ideal).
O factor de enchimento das ranhuras é dado pelo
quociente entre a secção total do cobre nelas alojado
e a sua secção útil. Para um mesmo número de espiras, quanto maior for este parâmetro menores serão
as perdas por efeito de Joule no cobre, o que conduz
ao aumento do rendimento e da fiabilidade do MI.
O balanço do cobre é dado pelo quociente entre
a quantidade de cobre nas testas (ou cabeças) das
bobinas (não útil) e a quantidade de cobre alojada nas
ranhuras (útil). Quanto menor for este parâmetro maior
será o rendimento e a fiabilidade do MI.
O índice geral de benefício é um parâmetro que relaciona a distorção harmónica total espacial da f.m.m.
no entreferro com o volume e o balanço do cobre. Este
parâmetro permite uma análise rápida do impacto que
as alterações introduzidas têm no desempenho geral
do enrolamento. Quanto maior for este parâmetro
melhor será o desempenho do MI.
No cálculo dos parâmetros do enrolamento novo, o
programa assume por defeito que se pretende manter
a mesma indução magnética máxima no entreferro (limitação magnética do MI [4]) e a mesma densidade de
corrente nos condutores (limitação térmica do MI [4])
ou a mesma resistência dos enrolamentos. Todavia, o
utilizador pode forçar a alteração desses parâmetros.
Com base nestes pressupostos, e tendo em conta os
restantes dados introduzidos (ex.: tensão, corrente,
etc.) o programa calcula o número de espiras por fase,
o número de bobinas por fase, o número de espiras
por bobina e a secção de condução aconselhada para
manter a mesma densidade de corrente ou as mesmas perdas no cobre. Como já foi referido, o programa
assume que as bobinas têm todas o mesmo número
de espiras, não obstante ser possível implementar
bobinas com número de espiras diferentes sem violar
a simetria do enrolamento [4].
O painel de visualização gráfica e numérica permite
uma análise global dos resultados finais dos projectos
original e novo (Fig.6).
No sub-painel inferior do painel da Fig.6 pode-se
visualizar a curva da f.m.m. no entreferro. Neste subpainel é possível visualizar simultaneamente as curvas
da f.m.m. no entreferro dos enrolamentos original e
novo. É ainda possível visualizar as curvas dos campos pulsantes e das harmónicas da f.m.m.. Para fins
didácticos, o utilizador pode incrementar a variável
tempo e visualizar a evolução temporal dessas mesmas curvas. Neste sub-painel exibe-se ainda o valor
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Fig.9 – Esquema numérico das bobinas do enrolamento novo.
Fig.6 – Painel de visualização gráfica e numérica dos resultados.
máximo da f.m.m. no entreferro e o valor estimado
da corrente de magnetização.
No painel de visualização gráfica e numérica (Fig.6)
é ainda possível visualizar o esquema circunferencial
(Fig.7), explanado (Fig.8) e numérico (Fig.9) das bobinas e suas ligações. Os esquemas circunferencial
e numérico permitem aos rebobinadores uma fácil
e rápida interpretação da posição das bobinas no
estator e das ligações entre elas.
(a)
(b)
(c)
No diagrama circunferencial, de uma forma geral,
quanto maior for a área interna não ocupada pelos
traços que representam as bobinas, menores serão
as perdas no cobre. Para além da possibilidade de
se visualizar passo-a-passo a construção virtual dos
enrolamentos, pode-se ainda adicionar 180º eléctricos à posição dos enrolamentos de cada fase, com
vista à optimização da disposição relativa das testas
(ou cabeças) das bobinas dos enrolamentos das 3
fases.
No painel da Fig.6, os valores inseridos e calculados
mais relevantes dos enrolamentos original e novo
são exibidos simultaneamente para facilitar a análise
comparativa.
Sendo uma das principais causas da degradação do
rendimento dos MIs após a rebobinagem, o impacto
do processo de extracção dos enrolamentos danificados nas perdas do núcleo ferromagnético deve
ser controlado. Para tal pode ser utilizado o teste das
perdas no ferro (núcleo ferromagnético estatórico),
segundo a norma EASA. Com o objectivo de facilitar
a realização dos procedimentos e cálculos definidos
na referida norma, o BobiSoft integra um painel específico que já incorpora a avaliação final do estado
do núcleo. Esta avaliação tem por base a variação da
temperatura e das perdas do núcleo ferromagnético
estatórico sob determinadas condições, antes e após
a extracção dos enrolamentos (Fig.10).
Fig.7 – Esquema circunferencial das bobinas do enrolamento:
(a) original (concêntrico de 2 camadas); (b) novo (excêntrico
com alojamento duplo e passo encurtado a 80%);
(c) novo com grupos paralelos.
(a)
Fig.10 – Painel de apoio à realização do teste
das perdas no ferro.
(b)
Fig.8 – Esquema explanado das bobinas dos enrolamentos:
(a) original (concêntrico de 2 camadas); (b) novo (excêntrico
com alojamento duplo e passo encurtado a 80%).
12
O Bobisoft permite imprimir relatórios automáticos
com os dados do projecto, os esquemas numéricos,
os esquemas circunferenciais, as curvas da f.m.m.,
os dados do ensaio das perdas no ferro e os dados
do cliente/serviço.
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III. Exemplo de Aplicação
IV. Conclusões
Como exemplo de optimização dos enrolamentos
trifásicos, realizou-se a substituição de um enrolamento concêntrico de 2 camadas (Fig.7a) por um
enrolamento excêntrico de alojamento duplo e passo
encurtado a 80% (Fig.7b). Os resultados obtidos são
apresentados na Tabela I.
As empresas do sector secundário e terciário são
fulcrais no processo de transformação dos SMCs
uma vez que a qualidade da oferta depende da
exigência da procura. Os SMCs não têm necessidade de investir na qualidade se os clientes não a
exigem. Os utilizadores devem tomar consciência
dos benefícios técnico-económicos que advêm dos
SMCs de elevada qualidade. Devem mudar a linha de
exigência típica “o mais rápido possível, ao menor
custo” para “rápido, com qualidade, mesmo que um
pouco mais caro”.
Devido aos recentes desenvolvimentos tecnológicos e suas implicações no funcionamento e na
manutenção dos MI, os técnicos dos SMC enfrentam
novos problemas, de resolução mais difícil, que,
associados à crescente exigência no tecido empresarial a nível da fiabilidade e do rendimento dos
equipamentos, os obrigam a adoptar uma postura
de investimento contínuo a nível do equipamento e
da formação técnica, bem como a estabelecerem
critérios de controlo de qualidade mais rigorosos
que provem clara e inequivocamente a qualidade
do serviço.
O BobiSoft apresenta-se como uma ferramenta informática de fácil utilização que, de uma forma rápida,
permite realizar projectos de alteração ou correcção
dos enrolamentos dos MIs avariados (projectos que
demoram várias horas poderão ser realizados em poucos minutos), mesmo que o utilizador não possua conhecimentos técnicos aprofundados. Adicionalmente,
facilita a realização do teste das perdas no ferro.
A nível didáctico, este programa informático pode
ser utilizado como laboratório virtual no projecto
e comparação em termos electromagnéticos e
energéticos dos diversos tipos de enrolamentos
trifásicos existentes, incluindo a análise teórica dos
campos girantes.
Futuramente, serão integrados no BobiSoft outros
painéis de apoio ao controlo de qualidade (quantificação do rendimento segundo as normas existentes,
teste de alto potencial do sistema de isolamento, etc.),
e alargada a sua aplicabilidade aos enrolamentos monofásicos, bifásicos, fraccionários e de armaduras de
máquinas de corrente contínua.
Também será integrada uma base de dados com os
valores típicos da indução máxima no entreferro e da
densidade de corrente nos condutores, em função da
marca, classe, potência e número de pólos do MI. Tal
informação possibilitará a identificação de rebobinagens anteriores incorrectas.
Na opinião do autor, o desenvolvimento do BobiSoft é, a nível nacional, um passo muito significativo
na modernização dos SMC, não só na perspectiva
pedagógica (formação técnica), bem como ao nível
do (re)projecto real de enrolamentos de motores de
indução trifásicos de baixa tensão.
Tabela I
Tensão: 400 V
Corrente nominal: 16.5 A
Número de ranhuras: 96
Número de Pólos: 4
Diâmetro interno estatórico: 110 mm
Diâmetro externo estatórico: 162 mm
Comprimento estatórico: 162 mm
Entreferro: 0.5 mm
Enrolamento
Tipo de enrolamento
Passo médio
Indução máxima no entreferro
Densidade de corrente
Perdas por efeito de Joule
Factor de enchimento
Distorção harmónica total
Peso do cobre por fase
Balanço do cobre
Índice geral de benefícios
Original
Conc. 2 camadas
24 ranhuras
0.9 T
6.2 A/mm2
190 W
33 %
4.7 %
6.4 kg
98 %
15
Novo
Exc. aloj. duplo
19 ranhuras
0.9 T
6.2 A/mm2
182 W
35 %
1.8 %
6.1 kg
78 %
49
Resumindo, o novo enrolamento conduziu a:
• Redução de 62% na distorção harmónica total espacial da f.m.m. no entreferro, que se traduz na redução
do ruído acústico emitido pelo MI e na redução das
perdas extraviadas (stray load losses) [4];
• Redução de 93% da 5ª harmónica da f.m.m. (sequência negativa), que se traduz na redução das
perdas no rotor, no aumento do binário e na redução da corrente de arranque [1];
• Redução de 5 % no peso do cobre dos enrolamentos, reduzindo o seu custo;
• Redução de 4 % nas perdas por efeito de Joule,
que se traduz no aumento do rendimento e, devido
ao menor aquecimento, no aumento do tempo de
vida do MI [1];
• Melhoria de 6% no factor de enchimento, que
se traduz numa melhor dissipação térmica e,
consequentemente, num aumento do tempo de
vida do MI;
• Redução de 20% no balanço do cobre, que se traduz no aumento da robustez mecânica das testas
das bobinas e na redução da temperatura interna
do MI devido à redução de cobre num meio de
baixa condutividade térmica (ar).
Face ao enrolamento original, o novo enrolamento,
do ponto de vista teórico, conduz ao aumento do rendimento e da fiabilidade do MI. Poderá ainda conduzir
à redução do ruído acústico emitido.
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V. Referências
Notas
[1] Ferreira, F.: “Técnicas Avançadas de Manutenção
Curativa e Reabilitação de Motores de Indução
Trifásicos de Baixa Tensão”, Tese de Mestrado, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade
de Coimbra, 2002.
[2] Almeida, A.; Ferreira, F.; Parasiliti, F.; Walters, D.:
“Barriers Against Energy-Efficient Motor Repair – Final Report”, ISR-University of Coimbra, Motors Study Group, DGXVII, European Commission, 1999.
[3]Chalmers, B.; Williamson, A.: “A.C. Machines
– Electromagnetics and Design”, John Wiley & Sons
Inc., New York, USA, 1991.
[4] Cistelecan, M.; Demeter, E.: “Induction Motors
with Low Copper Windings and Improved Performances”, IEEE, 1996.
[5]Fernando, F; Almeida, A: “Electric Machinery Winding Design Software for Teaching and Rewinding”,
16th International Conference on Electrical Machines, Poland, 2004;
(1) A gama de aplicações deste tipo de motores foi
estendida com o uso dos variadores electrónicos
de velocidade.
(2) Potência nominal, factor de carga, preço da energia
eléctrica, rendimento e número de horas de operação.
(3)Depende da potência nominal, factor de carga,
qualidade da manutenção/reparação, condições
de operação (e.g. temperatura ambiente, qualidade
da alimentação, etc.), defeitos de fabrico, etc.
(4) Na literatura anglo-saxónica o custo do ciclo de
vida é denominado por “Life-Cycle Cost – LCC”, e
corresponde ao custo total associado ao MI durante o seu tempo de vida, incluindo o custo inicial,
o custo energético e o custo das operações de
manutenção.
(5) Nos piores casos, a redução do rendimento pode
atingir 4 %.
(6)Secção de condução, número de espiras e tipo de
enrolamento.
(7) Nas estimativas apresentadas considera-se que:
o rendimento dos MIs decresce 1% após o SMC;
o preço da energia eléctrica é de 0.055 /kWh
e 0.1 /kWh respectivamente para os sectores
industrial e terciário; é emitido ½ kg de CO2 por
cada kWh produzido; e ⅔ dos MIs em operação já
foram reparados pelo menos uma vez.
(8)Assumindo que os MI consomem ½ da energia
eléctrica consumida no mundo.
(9)Refira-se a este respeito que, para a grande maioria
dos técnicos dos SMCs, a língua inglesa, que é
utilizada na maior parte dos textos técnicos, ainda
é uma barreira.
(10)Este programa foi desenvolvido em colaboração
com o Instituto de Sistemas e Robótica da Universidade de Coimbra.
(11)Electrical Apparatus Service Association.
(12)A implementação de grupos de bobinas em
paralelo é uma solução adoptada por muitos fabricantes.
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