ID: 60726482 01-07-2015 Tiragem: 6500 Pág: 20 País: Portugal Cores: Cor Period.: Bimestral Área: 17,50 x 22,72 cm² Âmbito: Outros Assuntos Corte: 1 de 4 patologia e reabilitação de edifícios argamassas para correções de pontes térmicas: performance térmica e avaliação Ana Brás1, Fábio Gonçalves2, Pedro Faustino3 1 Professora Adjunta Convidada, Secção de Construção e Ambiente, ESTBarreiro – Instituto Politécnico de Setúbal, Engª Civil, Sustainable Innovation Centre, Instituto de Soldadura e Qualidade 2 Engº Civil, Secção de Construção e Ambiente, ESTBarreiro – Instituto Politécnico de Setúbal. 3 Engº Civil, LEB-Projectistas e Consultores em Reabilitação de Construções, Lda. 1. INTRODUÇÃO Vários estudos mostram que as pontes térmicas são responsáveis por cerca de 30% das perdas de calor no período de inverno, aumentando significativamente o consumo de energia para as necessidades de aquecimento. Outro efeito das pontes térmicas é o arrefecimento das superfícies interiores nessas áreas, resultando em condensações mais elevadas e o crescimento de bolores e fungos, gerando uma diminuição da qualidade do ar. Isto leva, consequentemente, a problemas para os ocupantes como alergias, asma e outros problemas que afetam a saúde respiratória. Além disso, podem levar à degradação dos materiais e a outras anomalias, aumentando a necessidade de manutenção ou reabilitação. A reabilitação de edifícios torna-se cada vez mais uma necessidade em Portugal, visando este tema uma tendência crescente em direção à sustentabilidade. Atualmente, existem boas soluções específicas para os problemas referidos. No entanto, estas soluções requerem um investimento inicial elevado. O alto consumo de energia dos edifícios e a crise financeira levam à procura por soluções a um custo acessível, e que promovam a reabilitação energética. Pretende-se, assim, analisar de que forma es- pecifica as correções das pontes térmicas com argamassas poderiam levar a reduções significativas de custos de energia e minimização ou eliminação dos efeitos de condensações, recorrendo a intervenções de baixo custo. 2. ESTUDO DAS ARGAMASSAS 2.1. Seleção das argamassas Para a realização deste estudo foram desenvolvidas diversas composições de argamassas com comportamento térmico melhorado, sendo analisadas por meio de ensaios em laboratório e por fim selecionadas, de acordo com as Normas Europeias. Pretendeu-se, posteriormente, estudar o desempenho destas argamassas, quando aplicadas nas zonas das pontes térmicas de uma habitação existente construída na década de 80. Dentro da gama de composições de argamassa estudadas, foram selecionadas as que apre- sentam valores que se enquadram dentro dos requisitos da Tabela 1. Com base nos resultados relativos aos estados fresco e endurecido, decidiu-se efetuar simulações higrotérmicas, por meio a analisar-se qual seria a contribuição de cada uma destas composições de argamassa estudadas na minimização dos efeitos de condensação numa moradia existente que apresentasse esta problemática. 2.2. Avaliação do desempenho energético de uma habitação existente – Situação inicial O edifício original é constituído por dois pisos acima do solo e a envolvente vertical exterior opaca da habitação é constituída por um único pano de alvenaria de tijolo, sem qualquer tipo de isolamento térmico e com um reboco exterior em cimento. Os principais detalhes estruturais da habitação que foram utilizados para estudos de simulação encontram-se re- > Tabela 1: Requisitos de argamassas de reboco com comportamento térmico melhorado de acordo com a NP EN 998-1. . Resistência à compressão (MPa) Coeficiente de absorção de água por capilaridade (kg/m2.min0,5) Permeabilidade ao vapor de água (Kg/m.s.Pa) Condutibilidade térmica (W/m.ºC) * 0,4 ) 0,40 * 1,29 x 10 -11 ) 0,20 ID: 60726482 01-07-2015 Tiragem: 6500 Pág: 21 País: Portugal Cores: Cor Period.: Bimestral Área: 17,50 x 10,44 cm² Âmbito: Outros Assuntos Corte: 2 de 4 > Tabela 2: Detalhes estruturais da habitação. . Elementos estruturais Características Características térmicas Estrutura porticada Betão armado Sem isolamento térmico Envolvente Paredes de tijolo Sem isolamento térmico Terraço Betão armado Sem isolamento térmico Aberturas Sistema de alumínio extrudido com vidros duplos Vidros duplos: 6 (16) 6 Piso térreo Betão armado Sem isolamento térmico sumidos na Tabela 2. As envolventes verticais opacas e a estrutura porticada apresentam mais de 30% da área total da construção, o que leva à necessidade de uma análise detalhada relativa a avaliação energética destes elementos sobre o edifício. A análise do consumo específico de energia para o aquecimento da habitação foi realizada de acordo com a norma EN ISO 13790. Na fase de aquecimento (Figura 1), verifica-se que a soma do poder de dissipação de calor (Q) nas pontes térmicas da habitação é da mesma magnitude que as perdas de calor na cobertura e muito mais elevada do que nas envelopes opacas verticais ou aberturas. Esta situação é parcialmente responsável pelo fenómeno de condensação encontrado no interior do edifício, nomeadamente nas pontes térmicas, onde a humidade relativa interior era igual a 80% e a temperatura interior durante o período de in- verno foi apenas de 16ºC, mesmo considerando a utilização de dispositivos de aquecimento. 2.3. Avaliação do desempenho energético da habitação existente – Correção das pontes térmicas Pretendeu-se estudar como determinadas correções específicas nas pontes térmicas com as composições de argamassa desenvolvidas, poderiam levar a importantes poupanças de energia e minimização dos efeitos de condensação. Os cenários testados (Tabela 3) correspondem à remoção da argamassa de reboco existente na zona das pontes térmicas e a substituição por uma das novas argamassas otimizadas (Cref-HL5, CH50, CH70, CNH50* e CC70 – Cenários 1 a 5). O cenário 6 corresponde à remoção de todo o reboco da envolvente vertical opaca W/ºC ID: 60726482 01-07-2015 Tiragem: 6500 Pág: 22 País: Portugal Cores: Cor Period.: Bimestral Área: 17,50 x 24,76 cm² Âmbito: Outros Assuntos Corte: 3 de 4 micas, foi realizada uma avaliação preliminar termo-higrométrica de acordo com o método de Glaser (ISO 13788), para avaliar qualquer formação de condensação (Figura 3). Esta análise foi realizada considerando-se condições higrotérmicas médias no interior de edifícios (HR = 80% e T = 16ºC). Os resultados relativos à formação de condensações segundo o método de Glaser são apresentados na Figura 3. 650 600 550 500 450 400 350 300 250 200 150 100 50 0 Q Envolventes Q Aberturas Q Cobertura Q Pontes térmicas Q Pontes térmicas estruturais lineares Q Renovações do ar Q Locais não aquecidos Perdas de calor no período de inverno >1 2.4. Avaliação económica do caso de estudo – Análise de cenários sobre o desempenho térmico > Tabela 3: Análise térmica dos cenários adotados para a habitação. . Cenário 0 Situação original (Cref-CEM II): Reparação do reboco existente exterior 1 Correção das pontes térmicas: Cref-HL5 2 Correção das pontes térmicas: CH50* 3 Correção das pontes térmicas: CH70 4 Correção das pontes térmicas: CNH50* 5 Correção das pontes térmicas: CC70 6 Nova argamassa de reboco exterior em toda a área envolvente: CH70 (kWh/m2.ano) são apresentados na Figura 2. De forma a testar o modo como cada um dos cenários anteriores conduz à minimização dos problemas de condensação nas pontes tér- 12% 1700 10% 1600 85 8% 80 6% 75 4% 70 2% Pressão de vapor (Pa) 95 90 Poupança energética (%) Consumo de energia para aquecimento (kwh/m2.yr) (constituído por Cref-CEM II) e substituição do mesmo por CH70. Os resultados da simulação relativa à variação do consumo de energia para aquecimento 1500 Sat P-3: CH70 1400 Sat P-2: CH50* 1300 Sat P-4: CNH50* 1200 Sat P-5: CC70 1100 Sat P-1: Cref-HL5 1000 65 0% 0: Cenário original 1: Ponte térmica (Cref-CEM II) (Cref-HL5) 2: Ponte térmica: CH50* 3: Ponte térmica: 4: Ponte térmica: 5: Ponte térmica: CH70 CNH50* CC70 Int 900 6: Reboco novo em toda a área da envolvente vertical: CH70 Sat P-0: Situação original Ext P Real análise 800 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 Sd (m) Cenários >2 A eficácia do benefício económico apenas ocorre quando o custo de investimento inicial é ultrapassado pelo custo que resulta do consumo acumulado de energia para aquecimento ou arrefecimento das edificações. Para os cenários testados anteriormente, foi efetuada uma avaliação económica relativamente ao custo de energia elétrica e a sua taxa de crescimento anual em edifícios residenciais portugueses. Para esta habitação específica localizada em Lisboa e segundo o ponto de vista técnico, os cenários 2, 3, 4 e 5 são os únicos casos possíveis para corrigir as pontes térmicas sem levar ao fenómeno de condensação (Figura 4). Passados 10 anos sobre a intervenção, a Situação >3 > Figura 1: Perdas de calor na habitação – Condições originais (Período de inverno). > Figura 2: Consumo de energia para aquecimento (barras) para os 6 cenários testados para o melhoramento térmico da habitação. > Figura 3: Diagrama de Glaser na zona das pontes térmicas para os diferentes 6 cenários. > Figura 4: Previsão da evolução do custo global, utilizando composições específicas (cenários 0, 2, 3, 4 e 5) para a correção de pontes térmicas. 5 5,5 6 6,5 7 7,5 ID: 60726482 01-07-2015 Tiragem: 6500 Pág: 23 País: Portugal Cores: Cor Period.: Bimestral Área: 17,50 x 12,89 cm² Âmbito: Outros Assuntos Corte: 4 de 4 350 0: Cref-CEM II Custo global (euros/m2) 300 5: CC70 250 4: CNH50* 200 2: CH50* 3: CH70 150 100 50 0 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024 2025 Tempo (anos) >4 utilização do cenário 3 leva a uma poupança económica muito superior relativamente à das restantes soluções: Cenário 3: 75 € /m2; Cenário 2: 45 € /m2; Cenário 4: 6.5 € /m2 e Cenário 5: 2.0 € /m2. 3. CONCLUSÕES A fim de estudar o comportamento térmico de uma habitação típica de Lisboa dos anos 80, várias argamassas, foram desenvolvidas e otimizadas por forma a melhorar as suas propriedades térmicas, para aplicação das mesmas em zonas de pontes térmicas de edifícios, por forma a minimizar os consumos de energia. Das argamassas selecionadas, vários cenários foram considerados. Quando comparado com a situação original, o cenário 3 leva a uma poupança de energia de 8%, muito superior às poupanças obtidas pelo cenário 4 ou 5. O cenário 6, que corresponde à intervenção dispendiosa, através da substituição de todo o reboco exterior original pela composição CH70, representa apenas 11% de poupança energética. Do ponto de vista do fenómeno de condensação, a comparação entre a construção original (cenário 0) e as cinco soluções alternativas permitiu verificar que é preferível aplicar a composição CH70 na superfície exterior das pontes térmicas (cenário 3). Foi realizada uma avaliação económica no que concerne ao custo de energia elétrica e sua taxa de crescimento/ano em edifícios residenciais portugueses. Os resultados mostram que o uso da composição CH70 (cenário 3) para a correção de pontes térmicas tem um retorno de 3 anos (2016), quando comparado com a simples reparação do reboco externo (cenário 0).