PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS INSTITUTO DO TRÓPICO SUBÚMIDO PROF. Ms ROBERTO MALHEIROS MONTAGEM E OPERACIONALIZAÇÃO DE VIVEIRO COVENCIONAL PARA PRODUÇÃO DE MUDAS. I-MONTAGEM DE VIVEIRO O viveiro de produção de mudas e uma área ou superfície de terreno que se destina à produção, ao manejo e a proteção das mudas até que elas tenham idade e tamanho suficientes para serem plantadas no local definitivo. Os viveiros podem ser classificados como: permanente, temporário e de espera. 1- VIVEIROS PARA PRODUÇÃO E ARMAZENAMENTO DE MUDAS 1.1-Viveiro Permanente – O viveiro permanente tem por finalidade produzir mudas por durante muitos anos e, por isso, requerem um planejamento muito mais cuidadoso, uma vez que suas instalações são mais sofisticadas e de custo mais elevado, para suportar o maior período de produção de mudas. 1.2-Viveiro Temporário – Os viveiros temporários destinam-se à produção de mudas em determinado local durante apenas certo período de tempo e, cumprindo as finalidades a que se propõem, são desativados. Estes viveiros são de planejamento e instalações simples, geralmente rústicos, instalados próximos da área de plantio definitivo. Estas estruturas visam a redução de custos de transporte das mudas e melhor adaptação das mesmas às condições de solo e clima do local. 1.3- Viveiro de espera - O viveiro de espera constitui-se de um terreno próximo à área do plantio definitivo, onde são armazenadas as mudas produzidas no viveiro permanente, para um período de aclimatação antes do plantio definitivo. 2- ESTRUTURA DE VIVEIRO O local para instalação de um viveiro permanente deve ser escolhido com maior cuidado, pois isto determina, em grande parte, tanto os custos de produção das mudas e o êxito do empreendimento, quanto à qualidade das mudas produzidas. Na escolha do local para instalação do viveiro, os principais pontos a serem considerados são: disponibilidade de água em qualidade e quantidade, terreno com topografia plana a suavemente ondulada, facilidade de acesso, proximidade da área de comercialização, disponibilidade de mão-de-obra, local arejado e ensolarado, facilidade para aquisição de insumos. O viveiro deve contar com a seguinte estrutura: área para carga e descarga, área para encanteiramento de mudas, área para sementeiras, estrutura para tubetes, almoxerifado para ferramentas e insumos, telado de sombrite, estufa ou casa de vegetação, galpão para enchimento de saquinhos, casa do viveirista, sistema de irrigação, ferramentas básicas (enxada, enxadão, pá, rastelo, pás de corte, regadores, baldes, tesoura de poda, pá de jardineiro, facão e peneira) e aparelhos e máquinas (carrinho de mão, pulverizador costal e betoneira). Orientação do telado de sombrite II - OPERACIONALIZAÇÃO DE VIVEIRO A operacionalização de um viveiro para produção de mudas de espécies nativas do cerrado, requer um planejamento prévio, as espécies do cerrado geralmente possuem um sistema radicular bem desenvolvido, isso significa que estas espécies não podem permanecer por muito tempo no viveiro, podendo resultar no processo de mama, que muitas vezes prejudica o desenvolvimento da muda após o plantio definitivo. Portanto, recomenda-se que a produção de mudas nativas em grande quantidade deve ser feita por encomenda, evitando com isso perca de mudas e prejuízos. 1-INDICADORES PARA PRODUÇÃO DE MUDAS NATIVAS 1.1-Produção de mudas em embalagem plástica (saquinhos) RELAÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DE INSUMOS PARA UMA MISTURA CONVENCIONAL DE SUBSTRATO - PROPRORÇÃO 3X2X1 (TERRA, ESTERCO E AREIA) MEDIDAS Latas INSUMOS Carrinho de mão Terra de subsolo 03 09 162 Esterco curtido 02 06 108 01 03 54 Areia Lavada (18 litros) Litros Calcário dolomítico (PRNT 100%) NPK 4-14-8 + Zn 215 g 215 g 215 g 324 g 324 g 324 g Para facilitar o entendimento e o planejamento para produção de mudas nativas, apresentaremos alguns indicadores numéricos. 1.1.2 - Produção de 10 mil mudas em embalagens de 20x30 cm. Área de viveiro (considerando toda estrutura montada)........... 400 m2 Área para produção de mudas.....................................................312m2 Embalagens de polietileno preto 20x30 cm. ............................. 112 kg Terra de subsolo (lata de 18 litros) ............................................ 833 latas Esterco curtido (lata de 18 litros)................................................ 536 latas Areia lavada ou palha de arroz (lata de 18 litros) ....................... 298 latas Calcário dolomítico (PRNT 100%) .............................................22,504 kg NPK 4-14-8 + Zn ..........................................................................60 kg Sistema de irrigação (bomba trifásica 2,0 cv, entrada 2,0 polegadas, saída 1,5 polegadas, 4 aspersores completos, canos de condução conforme a distância do viviero). 1.2 – Produção de 10 mil mudas em tubetes de 19x6 cm- proporção da mistura do substrato 50% x 40% x 10% (vermiculita, esterco, carvão moído). Área de viveiro (considerando toda estrutura montada).....................320m² Área para produção de mudas.............................................................256m² Tubetes 19x6 cm..........................................................................10.000unid. Estrutura para tubetes 6,0mts/comp X 0,62mts/larg X 0,80mts/alt...........23 Bandejas em tela galvanizada 60x60cm(45tubetes)................................223 Verniculita expandida (lata de 18 litros)...........................................98latas Esterco peneirado (lata de 18 litros)..................................................78 latas Carvão moído (lata de 18 litros).........................................................20 latas Sistema de irrigação por micro-aspersão (48mts de mangueira de condução,03 registros,05barras de cano de ½, 05 curvas de ½, 02 T de 1/2 p/ 3/4, 06 braçadeiras de 1/2 e 45 micro-aspersor completo). O funcionamento de um viveiro requer os seguintes procedimentos: 2- preparação, seleção, tratamento fitossanitário e armazenamento de sementes: constitui-se da etapa posterior a coleta de sementes, onde serão selecionadas e tratadas as sementes a serem utilizadas na produção de mudas. O tratamento constitui-se da limpeza das sementes utilizando água sanitária, fungicida e inseticida, além da quebra de dormência através do aquecimento, escarificação, embebição e estimulação por reguladores de crescimento (ácido giberélico-GA3 , ácido indol butílico- AIB, citocinina 2,4D, auxinas-AIA ou como alternativa suco de tiririca) para algumas espécies de difícil ou irregular germinação como mutamba, pequi, araticum, candiúba, macumã, tamboril, jatobá, bacurí, macaúba, entre outros. As sementes não utilizadas no plantio, deverão ser embaladas sem a quebra de dormência em recipientes de papel e armazenadas em um freezer ou em câmara fria, para não desidratar e perder o poder germinativo. 3- Aquisição de insumos: compreende a aquisição dos insumos necessários para preparação do substrato, principalmente esterco, palha de arroz expandida, areia e terra de subsolo. Palha de arroz expandida 4- Formação de sementeiras: consiste na preparação do terreno na forma de canteiros (taludes), devidamente adubados para receber a semeadura, a largura mais comum para os canteiros e de 0,90 a 1,00 metro, pois facilita o manuseio do funcionário. Geralmente as sementeiras são utilizadas para semeadura de espécies com baixo percentual de germinação. 5 - Preparo de substrato: compreende a composição 3x2x1 (terra, matéria orgânica e areia lavada ou palha), sendo a medida adotada o carrinho de mão. Todo o material deve ser peneirado e posteriormente peneirado. 6-Enchimento de saquinho: após o preparo do substrato faz-se o enchimento de saquinhos de forma manual podendo utilizar bancadas ou mesmo sentado, outro método e o mecânico para grande produção, utilizando máquinas apropriadas. Esta etapa e muito importante para a formação de um bom torrão, que garante o pegamento e o desenvolvimento da espécie após o plantio na área definitiva. 7- Encanteiramento para repicagem de mudas: as embalagens devidamente preenchidas com substrato são encanteiradas no sombrite para receber as mudas repicadas das sementeiras. 8- Encanteiramento a pleno sol: as embalagens devidamente preenchidas com o substrato são encanteiradas a pleno sol para o plantio direto das sementes. 9- Produção de mudas: a produção de mudas nativas do cerrado, podem ser feitas por semeadura direta na embalagem(saquinho), semeadura em sementeiras(canteiro) ou por estaquia utilizando parte de uma planta adulta. Cada procedimento requer os seguintes cuidados: 9.1 Semeadura direta no saquinho- o plantio direto de sementes em saquinho e recomendado para espécies que germinam com facilidade e as vulneráveis a repicagem(ipês, cagaita, paineira, emburuçu, pau-jacaré, jaracatiá, copaíba, tinguí, gabiroba, croada, etc) 9.2-Semeadura em sementeiras- recomenda-se o plantio direto em sementeiras, para as espécies que apresentam baixo índice de germinação de forma irregular e prolongada, estas mudas posteriormente serão repicadas para saquinhos devidamente preparados, portanto devem ser resistentes ao transplante (pequi, araticum, jatobá, mangaba, sucupira, palmeiras nativas, ucuúba, rapadura, etc) 9.3 -Estaquia – consiste em destacar uma parte de uma planta adulta e fazer dela uma muda. Para assegurar o pegamento da estaca, devese observar os seguintes detalhes: -o galho que ira gerar uma nova muda, deve ser retirado de preferência após a floração - a estaca deve ter no mínimo cerca de 20 cm de comprimento e conter, pelo menos, cinco gemas reprodutivas. - as folhas devem ser retiradas da metade inferior da estaca. As restantes, cortadas pela metade. - o corte da base da estaca deve ser feito de forma pontiaguda, para facilitar o enraizamento. O corte na parte superior, em chanfrado simples para evitar o acúmulo de água. - a parte inferior deve ser mergulhada, em solução de reguladores de crescimento(hormônio), para estimular o enraizamento. 10-Repicagem de mudas: Consiste na técnica de transplante de mudas germinadas em sementeiras, para os saquinhos devidamente preenchidos com substrato e protegidos em um telado de sombrite. As mudas são repicadas quando atingem entre 5 e 10 cm de parte aérea. 11- Manutenção do viveiro: as mudas germinadas em viveiro, geralmente são perturbadas por ervas daninhas e insetos, deve-se fazer a limpeza nos saquinhos e o controle das pragas. 12- Desmama de mudas: as espécies do cerrado possuem um sistema radicular bem desenvolvido, em pouco tempo as raízes ultrapassam a embalagem e enraízam no solo, neste caso a muda está mamando. Durante o encanteiramento das embalagens, deve-se fazer uma cobertura morta para facilitar a desmama, com isso não prejudicar o torrão e as raízes da planta. 13- Prevenção de acidentes com animais em viveiro: O ambiente de viveiro proporciona sombra, umidade e calor, estas componentes servem de atrativo para certos animais que buscam abrigos entre as plantas, principalmente cobras, aranhas-caranguejeira e escorpião. O viverista deve tomar cuidados para evitar acidentes com estes animais. 14- Transporte de mudas: O transporte de mudas deve ser bem orientado antes de sair do viveiro , as mudas não podem ter contato direto com o vento, pois este provoca a queima das folhas e a desidratação da planta, podendo levar a perca da muda. O veículo para transportar as mudas deve conter uma proteção para evitar a entrada do vento. 15- Administração do viveiro: Para que o viveiro produza lucros, é preciso que o mesmo seja bem administrado, evitando-se gastos excessivos, compras desnecessárias, baixo rendimento da mão-deobra, perda de mudas produzidas. Para se conseguir fazer um controle eficiente das atividades do viveiro, e interessante que se tenha sempre em mãos tabelas de acompanhamento, conforme modelo anexo. Tabela para acompanhamento geral das atividades do viveiro Data Atividade Funcionário Duração da atividade Observações fungicida inseticida Herbicida capina encaixamento germinação transplante estaquia Local Espécie de Coleta semeadura Tabela de controle da produção de mudas do viveiro Data % Tratamento Observações tamanho Tipo estaquia semeadura Nome cientifico Nome comum Tabela de controle mensal de estoque de mudas do viveiro Planta Data Embalagem Porte médio Quant. Observações anual disponível (cm) III - EDUCAÇÃO AMBIENTAL Durante muito tempo às espécies vegetais do cerrado não foram reconhecidas quanto ao seu valor comercial e ecológico. As campanhas de educação ambiental e o desenvolvimento das pesquisas com plantas nativas têm revertido este quadro, mostrando que as plantas do cerrado podem ser utilizadas em projetos de diversa natureza como arborização urbana, formação de pomares, paisagismo, recuperação de áreas degradadas e no consorciamento de pastagens. Com isso a produção de mudas nativas se transformou em um grande negócio, desde que haja um bom planejamento e a continuidade do processo de conscientização, mostrando que as espécies de cerrado são de fundamental importância para o equilíbrio do ambiente como um todo.