A POTENCIALIDADE DA INVESTIGAÇÃO-AÇÃO EDUCACIONAL EMANCIPATÓRIA PARA CRIAR E TRANSFORMAR NA REALIDADE ESCOLAR DE BASTOS, Fábio da Purificação BORBA, Osmarilda de Universidade Federal de Santa Maria RESUMO Este trabalho teve como foco de investigação a questão da comunicação do quefazer educacional cotidiano colaborativo. Destaca-se a perspectiva dialógicoproblematizadora, que propiciou aos envolvidos, a superação de suas situações-limites, vislumbrando mudanças educacionais, num processo de emancipação. Trabalhamos em interação, com professores e alunos do ensino fundamental, na perspectiva de mudar as práticas. Processualmente vivemos a problematização das mesmas, a reflexão em grupo com base nos registros e o redimensionamento de ações colaborativas encaminhadas à transformação das práticas educacionais. Como resultados da investigação-ação educativa empreendida, destacamos: o rompimento com o trabalho educativo isolado; iniciativas concretas para um agir em parcerias e a comunicação entre os envolvidos, em torno dos conhecimentos educacionais oriundos da realidade concreta destes. Isto gerou uma crescente participação ativa e atos colaborativos no processo educacional vivido cotidianamente pelos professores e alunos. INTRODUÇÃO Este trabalho realizou-se na escola pública fundamental e esteve centrado na prática educacional de um grupo de docentes que buscam uma alternativa às ações na sala de aula. Para isso, buscamos viver a interação educacional dialógica com os envolvidos, pois acreditamos que é trabalhando com os professores em sala de aula e fora dela, seus conflitos e situações educacionais cotidianas, portanto, via investigaçãoação colaborativa, que entendemos se dar a profissionalização permanente dos mesmos. O grupo de professores reconhece a necessidade de investigar, refletir e agir na prática educativa colaborativamente e, a partir disto, busca a superação; pois compreendemos que podemos nos construir em processo, enquanto investigadores ativos-críticos, assim, buscamos viver a espiral auto-reflexiva, em interação dialógica com os envolvidos. Trabalhamos com aproximadamente duzentos e quarenta alunos, distribuídos em terceiras, sextas e sétimas séries do primeiro grau; sendo, a maioria deles, oriundos da periferia da cidade de Itajaí/SC. Trazem consigo toda a diversidade cultural e vivem conosco o processo de investigação-ação educacional emancipatório -- com destaque para os trabalhos de CARR e KEMMIS (1988) -- acoplado à concepção educacional freireana -especificamente seus pressupostos comunicativos expressos em FREIRE (1985). Neste sentido, o que está em foco neste trabalho é a vivência de práticas educacionais alternativas. Diante disto, reforçando o intuito de potencializar mudanças efetivas nas práticas educativas, este trabalho, enquanto componente de um programa de investigação-ação educacional emancipatório, se propõe a contribuir para viabilizar, também, reestruturações curriculares na educação fundamental. A PROBLEMÁTICA Através do pensar nossas práticas -- professores e alunos -- numa perspectiva crítica, podemos verificar que ações precisam ser operacionalizadas no cotidiano escolar formal para exercermos nossa função social, para compreendermos melhor o mundo que nos cerca, para fazermos valer a nossa voz, as nossas interpretações e as nossas dúvidas; vivermos o diálogo, a ação, a reflexão. Diante disto, é importante delimitar que mudanças podem se dar na prática educativa para que possamos operacionalizar uma educação coerente com as necessidades dos envolvidos no processo. Assim, centramos a preocupação temática deste trabalho num contexto de práticas educativas colaborativas, onde se dará a reorganização dos conhecimentos educacionais, no interior de um processo emancipatório, através do diálogo, no cotidiano da escola formal, envolvendo educadores e educandos, com o intuito de transformaremse em investigadores ativos-críticos. ETAPAS METODOLÓGICAS Nas atividades desenvolvidas em sala de aula; ou seja, durante a ação, trabalhamos tendo como base os momentos pedagógicos sistematizados por ANGOTTI e DELIZOICOV (1990). Tendo sua origem na proposta educacional de FREIRE (1985), os momentos pedagógicos foram pensados para a educação em ciências naturais. Por isso, pretendemos transpô-los de uma forma geral; pois entendemos que a natureza epistemológica destes é a mesma da educação dialógica e da investigação-ação; como por exemplo, o processo emancipatório; o vínculo com o cotidiano, incluindo aí a educação temática; a problematização, e outros. Os momentos pedagógicos estão assim organizados: Problematização Inicial -- Com base na investigação temática feita anteriormente, o professor apresenta um dos sub-temas para os educandos. Deste sub-tema começam a surgir a leitura, interpretação, visões de mundo proveniente dos alunos; sempre ouvidos pelo professor; onde o confronto dos pontos de vista fazem da sala de aula um ambiente de produção de significados. É o meio sendo desvelado pelos envolvidos na ação educativa.Assim, "a tarefa do educador dialógico é, trabalhando em equipe interdisciplinar este universo temático recolhido na investigação, devolvê-lo, como problema, não como dissertação, aos seres humanos de quem recebeu". (FREIRE, 1985: 102, grifos nossos) Ao professor já não cabe o exercício de repassador de conhecimentos educacionais. É o organizador, orientador, problematizador das situações. Neste momento, precisa ficar atento às exposições dos educandos, a fim de observar limitações, contradições, coerência de seu pronunciar; para, através de sua análise crítica, fazer as ligações necessárias à continuidade do trabalho educativo. Porque o ser humano, em seu constante desenvolvimento, vive situações que nem sempre são verdadeiras e tranqüilas. Apresentam-se opacizadas pelo tempo, pela absorção da ideologia dominante, pela cultura imposta. Quando provocado a falar sobre determinadas situações - portanto a pensar sobre elas - aumenta sua percepção, conseguindo olhar para si mesmo e reconhecer-se, encontrar-se com toda a significação que possui. No entanto, nem sempre gostamos daquilo que encontramos. Na maioria das vezes esta descoberta é conflituosa e difícil. No entanto, é possível a superação e, com ela, a conquista de uma forma mais racional de pensar e agir. Neste provocar, encontramos a problematização de nossas situações-limites, (na tentativa de desmitificá-las, em diálogo, a fim de que possamos alcançar a reflexão), que consequentemente implicará em ações orientadas a transpô-los, reconhecendo-nos como atores de nosso próprio movimento. A concepção problematizadora da educação está a exigir o educadoreducando, que não só ensina, mas que, ao problematizar, aprende. Educador e educando são parceiros na investigação da realidade, mediatizados pelo diálogo. Como vimos, "Os momentos pedagógicos sistematizados por ANGOTTI e DELIZOICOV (1990) também possuem o diálogo como requisito indispensável para a existência de interação humana no processo educacional. Não há como ser dialógico suprimindo a etapa problematizadora, pois este é pressuposto básico para a educação dialógica" (SOUZA, 1996:51-2, grifos nossos). Assim, a luta contra a opressão não está na doação de conhecimentos, no ouvir passivamente ao professor. Ao contrário, está na dialogicidade, processo que é reorganização e produção de conhecimentos. Entendemos, então, que a problematização implica em busca constante de respostas - também de outras perguntas - porque sempre em problematização de ações que permitam concretizar nossos metas, sempre tão contraditórios, porque contraditória é a nossa vida. Enfim, a problematização favorece o conhecimento do mundo e de nós mesmos; é um descortinar para a realidade concreta. Exige a superação das contradições presentes, tornando-nos seres de nós mesmos, em autonomia, em emancipação, pois em reorganização. Organização do Conhecimento -- Vive-se aqui o conhecimento em interação, porque temos o encontro do conhecimento popular emergindo em diálogo com o conhecimento científico. Assim, buscar-se-á viver situações e ações que possibilitem clarificar conhecimentos implícitos na problematização inicial. Aqui podemos fazer uso de definições, conceitos, relações. O diálogo precisa fazer parte também deste momento; pois para muitos alunos, estas atividades são novas, vivência primeira; desafiá-los ao maior número de informações possíveis é provocá-los a investigar estas atividades, a descobrir e construir nelas conhecimentos. Aplicação do Conhecimento -- Trata-se, agora, de sistematizar o vivido; reconstruir a caminhada interpretativa diante das atividades vividas, do diálogo produzido. É uma abordagem sistemática do conhecimento que vem sendo apreendido pelo aluno. Pretende-se que ele vá percebendo, dinâmica e evolutivamente que o conhecimento, além de ser construção historicamente determinada, está disponível para que o cidadão dele faça uso. Ressaltamos que estas atividades, seus percalços, os acontecimentos interativos, passam a comandar a reflexão que fazem os sujeitos que estudam e aprendem juntos, buscando romper, assim, a contradição educador-educando em seu quefazer educacional no espaço escolar formal. No processo de investigação-ação, a origem epistemológica comum, permite trabalharmos os momentos pedagógicos, porque é preciso que nossa ação seja sistematizada, informada; por isso, os momentos pedagógicos podem colaborar, favorecendo inclusive a observação - um dos momentos da investigação-ação - e por que não dizer, também da reflexão; sem contar a organização do planejamento que guia a ação, sendo flexível, facilita a própria problematização. Assim, "O terceiro momento é o da síntese, quando a junção da fala do outro com a fala do organizador permite a síntese entre as duas diferentes visões de mundo ou, ao menos, da percepção de sua diferença e finalidade. É um momento em que uma fala não predomina sobre a outra, mas juntas exploram as perspectivas criadas, reforçam os instrumentos apreendidos, fazem um exercício de generalização e ampliação dos horizontes anteriormente estabelecidos" (PERNAMBUCO, 1994: 36; grifos nossos). QUESTÕES ORIENTADORAS Com vistas às soluções para o problema de investigação, as questões que orientaram este trabalho foram: A profissionalização ocorre basicamente no posicionamento crítico das práticas educacionais, incrementando ações para a mudança; sendo assim, é preciso investigá-las colaborativamente, para construirmo-nos enquanto investigadores ativoscríticos ao longo de nossa carreira. A educação emancipatória se propõe possibilitar a redefinição de nossa prática, a mudar consideravelmente as interações entre os envolvidos na situação educativa, agora problematizada, produzindo conhecimentos e, ao mesmo tempo, podendo provocar mudanças sociais; A investigação da prática educativa, vivida pelos professores, possibilita construir ações apropriadas com os envolvidos; assim, a investigação-ação educacional emancipatória, além de interpretar o fazer do ponto de vista daqueles que agem e interagem na situação problema, potencializa redirecionamentos práticos em seus quefazeres; As interações dialógicas, portanto comunicativas, potencializam o ser humano autônomo, o investigador ativo-crítico; pois, não é possível falar sobre; é necessário fazer com. O processo educacional necessita ser vivido, há a interação, a costura dos vários saberes. A prática educacional é investigada e dialogada buscando a autonomia, a conquista da emancipação. PRINCIPAIS METAS Fazer, da prática educacional, objeto constante de investigação e ação; por isso processo de reorganização de conhecimento e crescimento profissional dos educadores envolvidos, investigando os problemas educacionais, tendo claro que a forma autêntica de teorias e saberes educacionais são as experiências práticas de onde estes derivam. Conforme ANGULO (1990), é investigando a própria realidade e participando na criação curricular que os professores constróem conhecimento educativo, profissionalizando-se através do desenvolvimento da compreensão reflexiva sobre seu próprio trabalho. É preciso abandonar a atitude mecanicista, de maneira que seja possível adotar uma postura crítica, científica, frente aos credos estabelecidos na educação, pois a finalidade da investigação educativa, conforme CARR e KEMMIS (1986), é garantir que a observação, as interpretações e os juízos dos professores sejam mais coerentes e racionais; e, por conseguinte, adquiram maior objetividade científica. Construir situações, com base nos registros, que permitam a auto-reflexão e reflexão em diálogo com os envolvidos na perspectiva de problematizar situações e planejar conjuntamente. Com base em CARR e KEMMIS (1988), podemos dizer que falta a liberdade de discurso, falta o compromisso comum de dar terreno ao diálogo sem restrições, falta a liberdade de decisão para todos os afetados na situação educativa. Assim, "a libertação autêntica, que é humanização em processo, é práxis que implica na ação e reflexão dos seres humanos sobre o mundo para transformá-lo"(FREIRE, 1985: 77, grifos nossos). Resgatar a compreensão no grupo e a auto-compreensão do conhecimento científico, em constante ação-comunicativa com os envolvidos na prática educativa, com vistas às mudanças. Habermas (1987), em Teoria da Ação Comunicativa descreve um processo pela qual a vida cotidiana vem sendo colonizada por valores burocráticos das organizações e sistemas "racionais" e, Kemmis (1993) completa dizendo que este processo de racionalização na educação pode observar-se pela redução dos valores educativos instrumentalizados na escola. Assim, as regras técnicas opacizam os interesses dos seres humanos, fazendo-se urgente e necessário o desvelar desta situação, buscando quebrar a ideologia dominante, provocando abertura no diálogo de temas fundamentais da sociedade, propondo interpretações, auto-reflexões e construindo ações que podem conduzir, aos poucos, às bases de um novo projeto educacional. Realizar cotidianamente a espiral auto-reflexiva, fazendo da investigação-ação educacional emancipatória um caminho para o desenvolvimento de uma base teórica e de investigação para a prática profissional. Entendemos que "a investigação-ação proporciona um meio para teorizar a prática atual e transformá-la à luz da reflexão crítica" (CARR & KEMMIS, 1986:230, grifos nossos); proporcionando também novos caminhos para a educação escolar. Priorizar a profissionalização permanente dos professores concomitantemente ao processo de emancipação educacional, investigando com eles as nossas ações e construindo caminhos para a superação da contradição educador-educando. Conforme KEMMIS (1993), para um trabalho crítico maior, se pode incluir também a profissionalização permanente dos professores na própria escola. Assim, "A preparação do educador é permanente não se confunde com a aquisição de um tesouro de conhecimento que lhe cabe a transmitir a seus discípulos. É um fato humano que se produz pelo encontro de consciências livres, a dos educadores entre si e os destes com os educandos"(VIEIRA PINTO, 1987: 48, grifos nossos) INDICADORES DE ÊXITO Acreditamos que o processo de investigação-ação educacional emancipatório propicia o desenvolvimento profissional. Envolve mudanças na prática educativa e, consequentemente, no currículo; tem-se a concepção dialógica como organizadora do pensar e agir na prática educativa, do refletir colaborativamente e auto-refletir as ações desenvolvidas conforme a espiral auto-reflexiva. Optamos pela vivência no processo de investigação-ação educacional conectada com a prática educativa, que pode permitir aos envolvidos o conhecimento de suas dificuldades, seus problemas, potencializando ações encaminhadas a mudar a realidade educativa e, consequentemente, a realidade social. No entanto, é preciso estar atento para algumas questões, entre elas as que levanto a seguir, a fim de não perdermos de vista nossa proposta: Se estamos priorizando a profissionalização permanente dos envolvidos, construindo com eles ações comunicativas, fundamentais para atuarem como investigadores ativos-críticos; Se a compreensão da prática educativa vem ocorrendo efetivamente na vivência do processo de investigação-ação educacional; Se a compreensão desta prática vem potencializando mudanças curriculares, através dos momentos pedagógicos adotados neste trabalho; Se estas mudanças curriculares estão provocando transformações efetivas na situação educativa e social; Se os momentos da investigação-ação educacional: planejamento, ação, observação e reflexão vem possibilitando um quefazer educacional emancipatório; Se estivermos superando a contradição educador-educando, vivendo assim, a concepção dialógica freireana em nossas aulas; Se vivemos em interação dialógica com os envolvidos na prática educacional, buscando efetivar mudanças; e Se a prática educacional tem sido constantemente a indissociação entre investigação e ação, reorganizando, assim, os conhecimentos e possibilitando a profissionalização dos envolvidos. Estando atentos para estas questões aqui levantadas, no intuito de efetivá-las em nosso quefazer educacional cotidiano, acreditamos ter contribuído decisivamente para nosso desenvolvimento profissional, agindo enquanto investigador ativo-crítico e potencializando mudanças sócio-educativas. PRESSUPOSTO FUNDAMENTAL Nosso maior pressuposto é atuar na prática educativa cotidianamente como investigador ativo-crítico na educação fundamental, visando o trabalho colaborativo, a reorganização do conhecimento, buscando o processo emancipatório, através do diálogo. ENCAMINHAMENTOS/CONCLUSÃO A investigação aqui efetivada mais que uma forma de investigação, sinaliza uma forma de vida na escola. Exige a vivência do processo de ação-reflexão-ação com os envolvidos, construindo nossas próprias ações, que por sua vez, carregam nossos juízos e valores. Portanto, processo de construção/reconstrução de nós mesmos. Sendo sujeitos de nós mesmos, consequentemente, sujeitos de nossas ações, não podemos apenas centrar nossa preocupação na quantidade de envolvidos; em curso de formação, onde os professores devam aprender determinados conhecimentos educacionais para "doar" aos alunos, em sala de aula; ou apenas investigar passivamente, interpretar solitariamente e devolver resultados desta investigação, exercendo assim o não diálogo, a não comunicação, porque desfavorece a interação entre os envolvidos. Nossa ação em parceria, em colaboração, vem inaugurar o processo de interação dialógica entre os envolvidos na situação educativa descrita. A problematização das situações de vida, oriunda da realidade concreta, que pela vivência dos momentos da investigação-ação educacional , ou seja, da espiral cíclica lewiniana, possibilitou um quefazer educacional alternativo. Porém, nem sempre pode ser caracterizado como emancipatório. No entanto, viabilizou-se - via reflexões e auto-reflexões encaminhadas ao replanejamento - algumas reestruturações curriculares no interior de nossas práticas, de nossas salas de aula. Apesar de, às vezes, trabalharmos em sintonia com o programa da Secretaria de Educação, buscamos priorizar alguns assuntos e definir outros. Assim, basicamente deixamos de pautar nossas práticas pelo livro didático, tornando-nos - professores e alunos - construtores da maioria dos materiais didáticos por nós utilizados. Uma das maiores limitações de nosso trabalho está na resistência de professores e alunos concretizarem seus registros da ação educativa. Têm dificuldades em pontuar seus interesses e análises frente às ações. Alunos revelam que possuem "preguiça de pensar". Mesmo assim, nossa persistência em viver as reflexões em interação dialógica com os envolvidos foi, aos poucos, fazendo-os perceber da importância dos registros como potencializador do diálogo, das reflexões e, consequentemente, das mudanças efetivas na prática. Assim, nosso trabalho em parceria veio romper com práticas educativas isoladas e, também por isso, caracteriza-se pela colaboração entre alunos e professores envolvidos na situação educativa. Pois, os primeiros tiveram priorizados seus interesses, fazendo emergir seus conhecimentos e compreendê-los com o conhecimento científico. Desta forma, encaminhando para novas ações-reflexões-ações. Reconhecemos a necessidade de constantemente investigar, refletir e agir na prática educacional colaborativamente. Já não sabemos trabalhar sozinhos! Isto fortalece o argumento de que houve mudanças concretas nas condutas das professoras envolvidas. As interações dialógicas estabelecidas nos levam a crer, que em processo, estamos superando a contradição educador-educando, em prol da concepção dialógica freireana em nossas aulas. O fato de acreditarmos que somos os construtores de nossas ações, portanto, autores de nossa prática educacional fez com que se delineassem teorias-guia que amparavam nossas ações educativas. Trata-se de uma investigação em que prática e teoria não se separam. São permeadas pela existência dos seres humanos. Porém, esta investigação "é apenas momento de um processo cognoscitivo indefinido de ligação do homem com o mundo, e por isso, aquilo que por uma face significa terminação, visto pela outra significa início" (VIEIRA PINTO, 1979: 452, grifos nossos). Portanto, a investigação vivida foi um ato plural e colaborativo. Gerou a problemática, a abertura às indagações, estimulando a necessidade de novas, contínuas investigações, porque novos elementos precisaram ser vividos, mostrados, explicados ou concatenados racionalmente. Isto significa dizer que a investigação vivida foi, também, um ato de trabalho, de produção, de conhecimento sobre a situação existencial dos seres humanos, sobre a realidade, o meio em que se quer viver e transformar, por vias de nossas ações. Na medida em que os seres humanos estão em constante transformação, estamos em transição, buscando a todo momento a superação das situações colocadas. Diante disto, esta investigação não se constitui em algo encerrado, fechado em si mesmo, mas sendo uma ação colaborativa, ou seja a problematização da ação educativa. Quiçá o início de novas investigações acerca da educação que se quer construir emancipatória, libertadora, na vivência concreta, cotidiana, no espaço escolar formal (que lutamos para que continue público, gratuito, de qualidade, como dever do Estado e direito do cidadão). BIBLIOGRAFIA ANGOTTI, J. A. P. e DELIZOICOV, D. Metodologia do Ensino de Ciências. São Paulo: Cortez, 1990. ANGULO , J. F. "Investigación-acción y Curriculum: Una Nueva Perspectiva en la Escuela", Investigación en la Escuela, n. 11, p. 39-49, Sevilla,1990. "Hacia una nueva racionalidade educativa: La ensenãnza como pratica", Investigación en la Escuela, n.7, p. 23-37, Sevilla, 1989. CARR, W. What is and Educational Practice? Journal of Philosofy of Education, v. 21, n. 2, p. 163- 175, 1987. Cambio educativo e desarrollo profesional. In: Investigación en laEscuela. n. 11, 1990. 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