Instituto Nacional de Meteorologia Abril Abril de 2014 2014 Rua de Mukumbura, 164, Caixa Postal 256 – MAPUTO,Telefax: 1491150 www.inam.gov.mz Edição No 09 09 Monitoria e Avaliação Avaliação da época chuvosa 2013 2013-2014 014 Equipa Tecnica: Tecnica Arlindo meque; [email protected] Isaias Raiva; [email protected] Jonas Zucule; [email protected] Sumário A época chuvosa 2013-2014 foi caracterizada no geral pela ocorrência de chuvas normais em quase todo o país com o registo de alguns extremos de precipitação em vários pontos do país com ênfase nas regiões sul e centro, nos meses de Fevereiro e Março que resultaram em inundações e destruição de infra-estruturas. Estas chuvas extremas foram provocadas por baixas térmicas, vales depressionários e excesso de humidade. O Ciclone tropical intenso Hellen, formado no canal de Moçambique em Março também contribui para o excesso de chuvas na província de Cabo Delgado sobretudo na faixa costeira. Tempestades tropicais moderada (Deliwe) e severa (Guito) também contribuíram para quedas pluviométricas na faixa costeira das províncias de Inhambane e Sofala (Janeiro) e Zambézia (Fevereiro), respectivamente. 1. Introdução Este boletim faz a análise e avaliação da época chuvosa 2013/14 com enfoque sobre o comportamento da precipitação durante a época chuvosa 2013/14 e os principais sistemas oceano - atmosféricos regionais e globais que tiveram influência na queda de 1 Instituto Nacional de Meteorologia, Rua de Mukumbura 164, TeleFax: 21491150 precipitação. À peculiaridade desta época chuvosa, ter ocorrido sob mesmas condições neutrais do ENSO como a pretérita época de 2012/13, uma breve abordagem do comportamento e resposta de cada uma delas é suscintamente também abordada. 2. Antevisão de OND 2013 2013 e JFM 2014 2014 Na altura da elaboração da antevisão (Setembro de 2013) prevalecia uma situação neutral (nem El Niño, nem La Niña), porém as projecções de muitos modelos (Estatísticos e Dinâmicos) apontavam maior chance de prevalência do estágio neutro do ENSO para toda a época chuvosa 2013-14 e até ao fim da época chuvosa prevaleceu esse cenário o qual perdura desde a pretérita época chuvosa 2012/13. 2.1. Antevisão para Moçambique Para o período Outubro-Novembro-Dezembro (OND) de 2013, previa-se uma maior probabilidade de ocorrência de Chuvas normais com tendência para abaixo do normal para as províncias de Cabo Delgado, Niassa, Nampula e Chuvas normais com tendência para acima do Normal nas províncias de Tete, Zambézia, Manica, Sofala, Inhambane, Gaza e Maputo (Fig. 1 a). Para o período Janeiro-Fevereiro-Março (JFM) de 2014, previa-se uma maior probabilidade de ocorrência de chuvas normais com tendência para acima do normal para a maior parte do país com excepção das províncias de Maputo, Gaza e Inhambane onde havia maior probabilidade de ocorrência de chuvas normais com tendência para abaixo do normal (Fig. 1 b). A actualização feita para o período JFM 2014 previa-se uma maior probabilidade de ocorrência de chuvas normais com tendência para acima do normal para a província de Cabo delgado, grande parte das províncias de Niassa e Nampula e parte das províncias de Inhambane Gaza e a província de Maputo. Todas as quatro províncias da parte central do país (Manica, Sofala, Tete e Zambezia) a parte sudoeste da província de Niassa, e sul da província de Nampula, parte noroeste da província de Inhambane, e a 2 Instituto Nacional de Meteorologia, Rua de Mukumbura 164, TeleFax: 21491150 metade norte da província de Gaza, espera-se maior probabilidade de ocorrência de chuvas acima do normal com tendência para o normal. (Fig. 1d). Fig. 1 Previsão de chuvas para os períodos OND 2013 e FM 2014 e actualização feita para os períodos NDJ e JFM 2014. 2.2. Antevisão para SADC Para o período Outubro-Novembro-Dezembro (OND OND) OND de 2013, previa-se uma maior probabilidade de ocorrência de chuvas normais com tendência para acima do normal em quase toda a sua extensão da SADC com excepção da parte norte da Republica Democrática do Congo, o extremo sudoeste da Republica de Angola e ao longo da faixa costeira e toda a faixa costeira das Republicas de Angola, Namíbia e África do Sul junto do Oceano Atlântico onde previa-se maior probabilidade de chuvas normais com tendência para abaixo do normal (Fig. 2.a). Para o período Janeiro-Fevereiro-Março (JFM JFM) JFM de 2014, previa-se maior probabilidade de chuvas normais com tendência para acima do normal, normal com excepção da zona 3 que cobre norte de Moçambique, Malawi e Zâmbia; sul da Tanzânia e Lesoto, sudeste da Republica Democrática do Congo, centro e sul de Angola, noroeste a sudoeste da Zâmbia. Grande parte do nordeste a centro e sudeste da Namíbia e noroeste a centro e 3 Instituto Nacional de Meteorologia, Rua de Mukumbura 164, TeleFax: 21491150 sudoeste de Botswana em que previa-se maior probabilidade de chuvas acima do normal com tendência para o normal (Figura 2.b). A actualização para o período Janeiro-Fevereiro-Março (JFM JFM) JFM 2014 previa-se maior probabilidade de ocorrência de chuvas normais com tendência para acima do normal em toda a África Austral com excepção do norte de Angola, e norte e centro da República Democrática do Congo e a faixa costeira junto ao Atlantico das Republicas da Africa do Sul, Namibia, e Angola onde previa-se maior probabilidade de ocorrência de chuvas normais com tendência para abaixo do normal (Fig. 2.d). Fig. 2 Previsão de chuvas para os períodos OND 2013 e FM 2014 e actualização feita para os períodos NDJ e JFM 2014 para a SACD. 3.1. Comportamento da precipitação no trimestre Outubro Outubrobro-NovembroNovembro-Dezembro 2013 2013 Na presente época chuvosa, as chuvas iniciaram na primeira década de Outubro em quase todo o país (Fig. 3). Apesar de ter havido em Setembro chuvas cujos desvios estão acima da normal climática do mês sobretudo em Espungabera (65.6 mm) a primeira década do mês de Outubro foi aquela cujas chuvas caíram um pouco por todo o país e com alguma regularidade nas décadas subsequentes mas com destaque as zonas centro e sul do país onde os desvios em relação a normal do mês foi igual ou superior a 30 mm na Beira (175.7 mm), Quelimane (107.6mm), Caia (58.4 mm), Angoche (50.6mm), 4 Instituto Nacional de Meteorologia, Rua de Mukumbura 164, TeleFax: 21491150 Vilankulos (43.4mm) Inhambane (43.5 mm), Panda (29.9 mm) e Espungabera (28.5 mm). Figura 3 Inicio de chuvas no país segundo o critério de 25 mm acumulado numa década. O mês de Novembro foi caracterizado no geral por uma fraca queda de chuvas em quase toda a zona sul e centro e o interior da província de Niassa e sul de Nampula, no entanto, o mês de Dezembro registou muita queda pluviométrica em todo o país sobretudo nas últimas duas décadas. A figura 4.a ilustra a rede de estacões do INAM para a monitoria da precipitação onde se lê a precipitação acumulada no trimestre Outubro-Novembro_Dezembro comparada à climatologia (1981-2010), e a figura 4.b a sua distribuição espacial. No cômputo geral houve queda de chuvas normais com alguma tendência para acima do normal. A zona sul do país foi a que 58% de estacões registaram desvios negativos de precipitação neste período. A imagem de estimativa de precipitação por satélite (Fig. 5) ilustram a distribuição espacial da precipitação onde se pode ver que a excepção das províncias de Tete, Niassa, Nampula e parte da Zambézia e alguns distritos isolados nas províncias de Manica, 5 Instituto Nacional de Meteorologia, Rua de Mukumbura 164, TeleFax: 21491150 Sofala, Gaza e Inhambane com desvios negativos de precipitação no período em analise o resto do país teve desvios positivos de precipitação que traduz chuva normais com alguma tendência para acima do normal. Figura 4 Precipitação acumulada registada na rede de estacões no período de Outubro à Dezembro 2013. Fig 5 Climatologia de precipitação acumulada estimada por satélite e sua anomalia de referente ao período OND 2013. 6 Instituto Nacional de Meteorologia, Rua de Mukumbura 164, TeleFax: 21491150 3.2. Comportamento da precipitação no trimestre Janeiro Janeiroro-FevereiroFevereiro-Março 2014 2014 O período Janeiro-Fevereiro-Março (JFM) foi caracterizado por ocorrência de chuvas irregulares na zona sul do país sobretudo nos meses de Janeiro (províncias de Gaza e Maputo) e as três províncias (Inhambane, Gaza e Maputo) no mês de Fevereiro. Neste período em análise as zonas centro e norte do país, registaram chuvas regulares com ocorrência em 24 horas de chuvas acima de 150 mm em Janeiro em Nampula (118.4 mm), Lichinga (113.3 mm) e Quelimane (100 mm) e no mês de Fevereiro em Tete (186.4 mm), Beira (126.9 mm) e Quelimane (105.1 mm). O mês de Março foi caracterizados por chuvas intermitentes no sul e norte do país e nalguns países vizinhos o que resultou em inundações em algumas bacias hidrográficas. A nível nacional os valores extremos atingidos em 24 horas foram registados em Pemba (175.8mm), Mocímboa da Praia (134.6 mm), Mueda (122.2 mm), Maputo Mavalane (100.5 mm) e Lumbo (100.2 mm). Em relação a todo o período JFM, conforme ilustra as Fig. 6.a e 6.b, a precipitação acumulada esteve acima da média (Normal) em algumas partes das zonas centro e norte do país e abaixo da média (Normal) na zona sul e a faixa costeira das províncias de Nampula, Zambézia e oeste de Tete. 7 Instituto Nacional de Meteorologia, Rua de Mukumbura 164, TeleFax: 21491150 Figura 6 Precipitação acumulada registada na rede de estacões no período de Janeiro à Frvereiro 2014. As Fig. 7.a e 7.b ilustram a normal climática a anomalia da distribuição espacial da precipitação estimada por satélite (RFE) onde se pode ver da Fig. 7.b (desvios de precipitação em relação a normal) que a excepção da faixa costeira das províncias de Inhambane e Gaza, a parte oeste de Tete, sudoeste da província da Zambézia e alguns distritos isolados nas províncias de Manica, Sofala, Niassa, com desvios negativos de precipitação no período JFM o resto do país teve desvios positivos de precipitação que traduz chuva normais com alguma tendência para acima do normal sobretudo na faixa costeira da província de Cabo Delgado. 8 Instituto Nacional de Meteorologia, Rua de Mukumbura 164, TeleFax: 21491150 Fig 7 Climatologia de precipitação acumulada estimada por satélite e seu desvio referente ao período JFM 2014. 4.1. Comparação das Épocas chuvosa 2012/13 e 20132013-14 A época chuvosa 2013/14 tem um aspeto em comum a época 2012/13. Ambas decorreram sob ENSO neutro porém a resposta foi diferente individualmente. Na época 2012/13 chuvas intensas que resultaram em ondas de cheias de grande magnitude assolaram o sul e centro do país sobretudo as bacias de Limpopo e a faixa costeira da província da Zambézia. A época em avaliação (2013/14) foi caracterizada por chuvas intermitentes a intensas sobretudo em Fevereiro e Março que resultaram em ondas de cheias de menor magnitude nas zonas centro (Bacias do Púngue, Buzi e Licungo,) e sul do país (Bacias de Save, Inkomati e Umbeluzi) 9 Instituto Nacional de Meteorologia, Rua de Mukumbura 164, TeleFax: 21491150 Os gráficos da Fig. 8 ilustram o comportamento da precipitação acumulada nas duas épocas em relação a normal climática em que claramente se depreende que a zona sul registou chuvas muito acima da normal entre a 2ª Década de Janeiro a 3ª Década de Marco de 2013 enquanto que a zona norte experimentou chuvas acima da normal entre 3ª década de Fevereiro a 3ª Década de Março de 2014. A zona centro do país, nas duas épocas chuvosas (2012/13 e 2013/14), experimentou chuvas abaixo da normal climática e quase de similar magnitude. Fig 8 Comparação da precipitação acumulada das épocas chuvosas 2012/13 e 2013/14 em relação a Normal climática. 4.2. Avaliação percentual da época chuvosa 2013/14 em relação a Normal climática As Fig. 9.a e 9.b ilustram de uma forma espacial a distribuição percentual (%) da precipitação registada nos períodos OND 2013 e JFM 2014 em relação a Normal climática (1981-2010) usando a rede de estacões ilustradas na Fig 10 do Anexo. Em OND 2013 a parte central que cobre as províncias de Manica e Sofala e a faixa costeira da província de Cabo delgado, registaram chuvas acima do normal a normal. A excepção da faixa costeira de Nampula, o extremo norte de Niassa e o extremo sul da província da Zambézia que registou chuvas abaixo da normal e partes da faixa costeira das províncias de Inhambane e Gaza e a parte oeste de Tete que registaram chuva muito abaixo da normal, o resto do país registou chuvas normais. 10 Instituto Nacional de Meteorologia, Rua de Mukumbura 164, TeleFax: 21491150 No período JFM 2014 registou-se chuvas normais em quase todo o país excepto o extremo norte da província de Cabo Delgado e parte central-a-sul de Tete com chuvas acima da normal. Porém distritos de algumas províncias costeiras registaram chuvas abaixo da normal nomeadamente; a faixa costeira das províncias de Nampula, Zambézia, sul de Inhambane e Gaza. No cômputo geral da Fig.9.a e 9.b pode-se dizer que a época chuvosa 2013/14 foi boa registou-se chuvas normais em quase todo o país sobretudo no último trimestre (JFM) embora a faixa costeira de algumas províncias (Nampula, Zambézia, Inhambane e Gaza) tenha registado 25% abaixo da normal. Fig 9 Comparação percentual da precipitação acumulada para os períodos OND 2013 e JFM 2014 em relação a Normal climática. 11 Instituto Nacional de Meteorologia, Rua de Mukumbura 164, TeleFax: 21491150 5. Factores oceanooceano-atmosfé tmosféricos que influenciaram o regime pluviométrico na região Austral e em Moçambique 5.1. Factores Sinópticos Factores sinópticos como as baixas térmicas, no continente e ao longo da costa de Moçambique associados ao fluxo de humidade do Oceano Índico para o continente contribuíram para precipitação verificada no sul e centro do país e nalguns países vizinhos. As tempestades tropical moderada (Deliwe) e severa (Guito) também catalisaram quedas pluviométricas na faixa costeira das zonas sul e centro do país nos meses de Janeiro e Fevereiro. Na região norte do país apesar da fraca actividade da zona de convergência intertropical (ZCIT) que é um dos elementos que catalisa a pluviosidade nesta parte do país, as baixas térmicas costeiras associadas ao fluxo de humidade do Oceano Índico para o continente e o Ciclone tropical intenso Hellen, formado no canal de Moçambique em Março foram os factores sinópticas que contribuíram para a pluviosidade e os extremos registados nesta parte do país. 5.2. Actividade Ciclónica A similaridade da época passada (2012/13) em que a actividade ciclónica só registou um ciclone tropical (Categoria 3), a presente época em análise média também não foi activa. O excesso de humidade associado a temperaturas altas nos meses de Janeiro, Fevereiro e Março, constituíram catalisador para a formação de duas tempestades tropicais sendo uma moderada (Deliwe) em Janeiro e tropical intenso (Guito) em Fevereiro e ciclone tropical intenso (categoria 4) Hellen que se formou no canal de Moçambique no mês de Março e regra geral estas disturbações são acompanhadas de trovoadas. 6. Conclusão A época chuvosa 2013/2014 teve duas particularidades, a primeira relacionada ao início no tempo previsto (Outubro primeira década) da época com maior incidência na zona centro e norte e a segunda a queda paulatina de precipitação. 12 Instituto Nacional de Meteorologia, Rua de Mukumbura 164, TeleFax: 21491150 Além destas duas particularidades peculiares a época chuvosa 2013-2014 foi caracterizada no geral pela ocorrência de chuvas normais em quase todo o país com o registo de alguns extremos de precipitação em vários pontos do país com ênfase nas regiões sul e centro, nos meses de Fevereiro e Março que resultaram em inundações e destruição de infra-estruturas. O extremo mais alto em 24 horas registado no país foi na estacão de Tete (186.9 mm) e é historicamente o mais alto até então registado nesta estacão e superior ao recorde anterior de 149.9 mm que fora registado em Fevereiro de 2001. Digno de realce em relação aos eventos extremos de precipitação do tipo que ocorreu em Tete, Pemba e Beira é o facto de que a previsão sazonal no geral não os detecta em virtude de esta funcionar com médias e fenómenos de escala global e na sinóptica. Estes eventos são previsíveis dentro das previsões de curto espaço de tempo (mensais, decadais ou de tempo), daí a necessidade de se aliar à previsão sazonal às de curto prazo para melhor resposta aos potenciais impactos da época chuvosa. 13 Instituto Nacional de Meteorologia, Rua de Mukumbura 164, TeleFax: 21491150 Anexo Rede meteorológica do INAM por zona (Sul, Centro e Norte) que reporta dados de 10 em 10 dias usada para a monitoria e avaliação de precipitação para a presente época chuvosa. Fig. 10 Rede de estacões do INAM para a monitoria e avaliação de precipitação. 14 Instituto Nacional de Meteorologia, Rua de Mukumbura 164, TeleFax: 21491150