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São Paulo, quarta-feira, 09 de setembro de 2015
Especial
Fotos: Divulgação
Não há limites
para quem
sonha em pilotar
A 365 dias do início das Paraolimpíadas Rio 2016, o
Blog Check-In mostra que as pessoas com deficiência
têm plenas condições de realizar todos os seus sonhos.
Entre eles, o de pilotar um avião. E que, com força de
vontade, talento e ajuda, tudo é possível
Freddy Charlson/oblogdaaviacao
J
essica Cox, 32 anos, é danadinha. A garota norteamericana é faixa preta de taekwondo, toca piano e
pilota aviões. Sim, é isso mesmo. Jessica Cox pilota
aviões. Ah, ela não tem braços. Na Itália, os acrobatas
Alessandro Paleri, 42 anos, e Marco Cherubini, 41, são
paraplégicos. E dão show nos ares com suas piruetas.
Quem também dá show é o brasileiro Carlos Santoro.
Mesmo sem possuir o braço direito, ele é piloto de
helicóptero. Utiliza uma prótese adaptada para realizar tal feito.
Um show comparável ao protagonizado pelos atletas paraolímpicos brasileiros, que venceram, com
larga vantagem os recém-encerrados Jogos ParapanAmericanos em Toronto, com 107 medalhas de ouro.
Mais medalhas, aliás, que os países que ficaram em
de pilotar um avião começou a se tornar realidade após
ela terminar a faculdade, em 2005, quando um piloto
de caça perguntou se ela queria voar num monomotor.
Ela quis, of course. Curtiu tanto que decidiu, ali, virar
piloto. A licença – brevê de piloto esportivo – porém,
só chegou em 2008. Jessica já voou em aviões como
o Ercoupe, que não tem pedais no leme, e o Parrish
Traweek, que tinha seguro que permitia uso por estudantes.
E olhe que aviões são objetos voadores projetados
para serem pilotados com as mãos. Sim, com as mãos.
É raro ver alguém pilotar aeronaves com os pés,
tipo Jessica. Aliás, ela curte mesmo é decolar. Nesse
momento, se sente livre, feliz. O bicho pega, porém,
na hora da aterrissagem. Sim, apesar de destemida,
como dito lá em cima, Jessica é humana. E sente um
medinho quando o voo está chegando ao fim.
Carlos Santoro, o piloto goiano de helicóptero e com prótese.
segundo e terceiro lugar (Canadá e Estados Unidos),
somados. Ou seja: gente, dá pra ser (e muito!) feliz
sem ter todos os movimentos ou capacidades à disposição. Só para se ter uma ideia, cerca de 45 milhões
de brasileiros alegaram, no Censo Demográfico 2010,
possuir alguma deficiência, seja ela auditiva, visual
ou motora. Eis, abaixo, grandes exemplos de talento,
capacidade e força de vontade na aviação. Uma gente
que corre atrás dos próprios sonhos e que não se abate
com as dificuldades.
Pé direito no manche, pé esquerdo no acelerador. E o
dedão é utilizado para comunicação via rádio. Pronto.
Et voilá!, é só pilotar. Jessica Cox – ah, Jessica! – é
uma garota especial. Destemida, ela entrou para a
história da aviação ao se tornar a primeira mulher a
pilotar um avião sem o uso de próteses. E, quem olha
assim, rapidamente, para Jessica, não dá “nada” para
a moça. Tímida, com fala mansa, discreta, ela poderia
ser apenas mais uma na multidão. Uma que sempre
atrai a curiosidade alheia. Ainda mais que Jessica
nasceu sem braços.
Jessica Cox, a primeira mulher sem braços e com brevê.
É só nesse momento que
o tal medo aparece. Jessica usou próteses durante
poucos anos, aprendeu a
cozinhar e a preparar o próprio prato, tirou carteira de
motorista, sabe escovar os
cabelos, consegue colocar
as lentes de contato, é formada em psicologia e tem
até licença para mergulhar.
Só faltava pilotar um avião.
Não falta mais. E, depois de
89 horas de pilotagem, ela,
enfim, obteve seu brevê.
Hoje, fala de si para o mundo, por meio de palestras
motivacionais e com direito
a festejar a escolha como
um dos dez pilotos em 2014,
segundo a revista Pilots by
Plane & Pilot magazine.
Sim, essa história precisa
ser conhecida.
História bonita também é a da “esquadrilha da fumaça” italiana em que dois dos três pilotos acrobatas
são paraplégicos. Mas, mesmo sem o movimento das
pernas, Alessandro Paleri e Marco Cherubini dão
show nos ares da Itália e em vários países da Europa.
O nome do grupo é WeFly Team (em tradução livre,
Equipe Nós Voamos).
E, acreditem, Alessandro, 42 anos, e Marco, 41, são
amigos do tempo em que frequentavam a Federação
Italiana de Pilotos Deficientes (FIPD) – sim, eu também
me impressionei ao saber que a Itália tem um grupo
de pilotos portadores de necessidades especiais. Ali,
pá, de repente, tiveram a ideia. “Porque não montar
uma esquadrilha da fumaça?” – traduzido do Google
Translator é algo como “Perché non unire un gruppo
di acrobazie aeree?. Capice. Dito e feito. Chamaram o
colega veterano Erich Kustatscher e tomaram lições de
voos de acrobacia.
A vida dos caras melhorou muito, afinal Alessandro
sofreu uma fratura na vértebra cervical ao pular em
E mesmo sem os membros superiores – não, não uma piscina rasa em 1987 e Marco ficou tetraplégico
descobriam uma causa para sua deficiência –, o sonho em um acidente de carro em 1995. Hoje, a dupla voa em
uma aeronave monomotor
adaptada para o uso de portadores de necessidades
especiais. Em terra, eles
dão palestras para jovens
contando tudo, das coisas
boas e ruins da vida.Coisa
ruim? Sofrer acidentes, seja
na piscina ou na rodovia.
Coisa boa? Sobreviver aos
acidentes. Coisa ruim? Perder os movimentos das pernas. Coisa boa? Aprender a
pilotar aviões. Coisa ruim?
Não andar. Coisa boa? Voar.
Coisa ruim? Acabaram as
coisas ruins. Coisa boa? Viver, viver feliz, ensinar aos
jovens e ter a flâmula da esAlessandro Paleri e Marco Cherubini, os acrobatas paraplégicos.
quadrilha levada, em 2014,
ao espaço sideral pela astronauta Samantha Cristoforetti,
primeira italiana da Agência Espacial Europeia (ESA),
que ficou 199 dias na Estação Espacial Internacional. É
muita coisa boa, né, gente?
Mas, venha cá, você está achando que só os estrangeiros
conseguem realizar sonhos e proezas no ar? Nananinanão.
Aqui é Brasil, caramba! E, bem no centro do país, mais
precisamente “no” Goiás, temos que contar a história de
Carlos Santoro, o primeiro piloto brasileiro de helicóptero
a voar com uma prótese. E ela fica justamente no braço
direito do rapaz.
Comandante desde os 21 anos, Carlos é piloto civil e
tirou seu primeiro brevê em 2008. O documento foi revalidado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac)
para ele voar com a prótese após fazer, em 2011, um “voo
de recheque”, para reavaliar a capacidade de operação
de uma aeronave, um ano após o acidente de carro que
transformou sua vida, em 2010. Ele voltava de uma festa
com um amigo que estava ao volante e perdeu parte do
braço direito, no acidente, mas nem pensou duas vezes.
Ainda no leito do hospital, em Goiânia, falou para a psicóloga: “Quero ser o primeiro piloto de helicóptero a voar
com prótese. Avisa pra minha família”. Simples assim.
A partir daí, determinação e correria, misturada à
fisioterapia e conversas com o povo da oficina ortopédica. Sim, conhecedor do ofício, Carlos ajudou a equipe a
construir uma prótese que o permitisse pilotar helicóptero. Procurou históricos de próteses afins. Não havia.
E o trabalho começou do zero até o aparelho virar uma
extensão do seu braço e ser responsável pela estabilidade
direcional da aeronave. Ou seja, graças à prótese, Carlos
comanda tudo. Anda pra frente, pra trás, pros lados e fica
parado – afinal só helicóptero, beija-flor e Dadá Maravilha
(Google, gente!) ficam parados no ar…
E tem gente que fica com medo de voar com Carlos
Montoro? Claro que tem. Mas, vocês sabem, medo é uma
coisa que dá e passa. Após o voo com o goiano, tudo
volta à normalidade e todo mundo chega em casa, são
e salvo. Partiu?
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