Para que serve a Matemática? A propósito dos exames nacionais, o Público pediu-me um texto pa ra a se para ta de ontem so bre os e xames de Mate mática. Dedico-o, com toda a empatia, aos jovens que estão a fazer os exames. Tudo o que vale a pena exige esforço. E quanto mais vale a pena, mais esforç o exige. Isso é particularmente ve rdade so bre a Ma temática: se investirmos um esforço pequeno sobre as ma térias, ficando com um conhecimento superficial, de pouco ou nada nos valerá o “esforço”. A Matemática não se aprende na Wikipedia ou na ve gando pela Internet. Exige pensamento, estudo, concentração, treino e algo para que nos últimos 2500 anos não se in ve nto u substituto – o contacto humano. Aquilo a que normalmente se chama aulas. Não sei se isto parece aborrecido, mas é a melhor (se não mesmo a única) maneira de aprender Matemática. E aprender é não só uma aventura maravilhosa, como tem no final o pote de ouro da compreensão do mundo. E para transformar o Mundo, é preciso primeiro compreendê-lo. Isaac Asimov, num conto com mais de cinquenta anos publicado nos Nove Amanhãs, relata a seguinte história. Num futuro ima ginário, as crianças brincam 364 dias p or a no e um dia p or a no o se u cé rebro fica ligado a uma máquina com d isc os que lhes administram automaticamente todos os conhecimentos de que necessitam. Assim fazem toda a escolaridade e aprendem tudo o que precisam, da primária à Universidade. Todos menos um rapazito. Desde os 7 anos de idade este rapaz foi obrigado a aprender à maneira antiga: estudando, tendo aulas, esforçando-se, compreendendo, investindo o seu tempo. Enquanto os seus amigos b rinca va m 364 dias por ano s, e le estuda va. E assim foi, para sua gra nde frustraçã o, inc ompreensão e mesmo re volta, até à ida de adulta. Nessa altura foi chamado pelas classes governantes da sociedade. Começa por expor toda a sua revolta. Porque é que me t rata ram assi m? Porque é eu tive de me esforçar pa ra ap rende r po r mim próprio tudo aquilo que ensinaram aos outros sem esforço? E a resposta foi “Porque tu foste escolhido para escrever os próximos discos”. O pote de ouro da Matemática é o seguinte: todos os grande a va nços cie ntíficos e tecnológicos implicam a utilização de novas ferramentas matemáticas. Para dar um exemplo recente que muitos de nós temos nas mãos, uma desconhecida empresa de indústria pesada, que fabrica va pneus e pasta de papel, decidiu no final dos anos 60 vira r-se pa ra as telecomun icaçõe s. Esta va num país c om enorme densidade de pessoas altamente qualificadas do ponto de vista científico, técnico e matemático, e os grandes problemas matemáticos estavam a surgir. Era uma altura estratégica para entrar. O país e ra a Finlândia. A empresa era a Nokia, hoje o gigan te mundial de telemóveis. Continua a fabricar pneus, embora quase ninguém saiba. Mas para isso não é preciso Matemática mais sofisticada do que a do século XVIII, e não é por isso que a Nokia é conhecida (o leitor conhece alguém que use pneus Nokia no ca rro? ). Para in ova r ve rdadeiramente é necessário esta r em condições de criar Ma temática n ova (e Física, e Química, e Engenharia). Enquanto seres humanos isso transporta-nos a altitudes nunca antes imaginadas - é como descobrir um Evereste pessoal para escalar. Só isso já compensa o esforço. E no fim da escalada pode estar um verdadeiro pote de ouro. Mas só está lá para quem se esforçar a descobri-lo. Fonte: Blog De Rerum Natura Data: Junho 2007 Autor: Jorge Buescu