A Origem do diabo Epidauro era uma cidade da Grécia antiga situada às margens do Mar Egeu. Era célebre pelo santuário dedicado a Esculápio, deus da Medicina. Em Epidauro estava situado o centro de saúde de toda a Grécia. Contava-se que pessoas acometidas por várias enfermidades acorriam a Epidauro para se curarem. Lá, eram recebidos por sacerdotisas curandeiras. Assim que chegavam, depois de uma conversa preliminar e o reconhecimento do lugar, recebiam para beber uma poção com ervas medicinais que as faziam dormir por dois ou três dias. Quando acordavam iniciavam um período de profunda reflexão e auto crítica, apoiados por conversas com as sacerdotisas para identificarem o que estava errado em suas vidas. Diferente da atualidade em que problemas de saúde se resolvem com remédios e hospitais, para os gregos, a saúde física e mental estaria bastante relacionada aos hábitos de vida e, principalmente, ao grau de satisfação e amor que as pessoas nutriam. Para terem saúde, que olhassem com mais carinho para si mesmas e, envolvidas com seu próprio destino, se colocassem em exercício constante de seus talentos, na luta para realizá-los plenamente no mundo. Costumava-se dizer que as pessoas deveriam consultar seus Deimons; gênios interiores ou luzes profundas. Dizia-se que os chás medicinais de Epidauro colocavam as pessoas num estado de relaxamento que propiciava um encontro com as motivações profundas há muito esquecidas, além dos ideais, ética e sonhos reprimidos pelas exigências do dia a dia. O próprio Sócrates afirmou ser guiado por seu Deimon nos discursos que nos legou através de Platão. Mais tarde, sob a égide do Império Romano e do Catolicismo inicial, estas visões de mundo foram perseguidas como seitas pagãs. Depois da queda do Império Romano, em 476 dc, sem a presença de um poder central autoritário e forte, estas crenças voltaram a existir. É justamente aí que começa a nossa história dos Diabos. Mais ou menos no ano de 1600, quando a Idade Média já começava a dar sinais de desfalecimento, o famoso astrônomo e matemático Johannes Kepler teve a sua idosa mãe curandeira presa e ameaçada de morte, justamente porque ela costumava receitar chás. A acusação à senhora genitora do cientista foi baseada no fato de que os algozes da Inquisição encontraram na estante de Kepler um livro de infância, escrito por ele mesmo ainda menino, no qual afirmava, numa brincadeira, ter viajado à Lua, depois de tomar um chá feito por sua mãe. Mesmo com as devidas explicações a mãe de Kepler foi presa. Como o leitor deve saber o termo Inquisição se refere à eliminação das heresias e seitas pagãs. Desde 1184 até se fortalecer em 1542, o condenado era responsabilizado pelas doenças e misérias sociais. Era entregue às autoridades do Estado para que fosse punido. As penas variavam do confisco de bens e perda de liberdade até a morte na fogueira. O que estava acontecendo é que a instituição religiosa nascente não estava conseguindo fazer crescer os seus adeptos porque as pessoas insistiam em procurar os conselhos das idosas curandeiras que abundavam na Europa. Depois de uma perseguição a estas senhoras, foram chamadas de bruxas e condenadas a morte. Além disto, estas visões foram perseguidas com a acusação de que orientavam as pessoas na direção do Demônio (Deimon). Quando o povo simples começou a perguntar qual era a forma do tal Demônio, foi inventado pelas autoridades que o Demônio tinha a forma de uma famosa figura da Grécia antiga; o deus Pã. Na Mitologia grega, "Pã era o deus dos bosques, dos rebanhos e dos pastores. Residia em cavernas e era representado com orelhas, chifres e pernas de bode. Amante da música, trazia consigo uma flauta. Era temido pelos que atravessavam florestas à noite, pois as trevas os predispunham a ter pavores súbitos, atribuídos a Pã; daí o nome pânico." Com medo deste Pã, tornado assustador, sinistro e perigoso, as pessoas afastaram-se das curandeiras e de seus conselhos. Aos poucos foram se esquecendo também do mergulho em si mesmas e da necessidade de viverem por paixão pela vida. A origem da palavra paixão (pathos) viria, mais tarde, se tornar sinônimo de doença (patologia). Desde então, tudo o que vinha das motivações interiores das pessoas foi associado ao pecado e a perdição. Mesmo o sorriso e a gargalhada foram banidos durante séculos dos contatos humanos. As mulheres, que na antiguidade eram símbolos de fertilidade e religiosidade, foram banidas de suas funções sagradas pelos novos homens sacerdotes. Facilmente manipulados pelos medos infiltrados em nossa consciência, iniciaríamos um período alienado que se estenderia até hoje, onde perdidos e desorbitados de nós mesmos, nos tornaríamos superficiais, vazios e assoberbados por pânicos e dogmas, além de um excesso de expectativas exteriores alimentadas em nós por interesses "maiores". Mais tarde, nos perderíamos num racionalismo abstrato que nos deu esperteza bastante para colecionarmos justificativas e argumentos para não sermos o que somos. Assim, seriamos vítimas fáceis para a nascente época industrial, na qual nos tornamos discípulos dóceis e obedientes das máquinas e de seus produtos. Finalmente, nos tornarmos serviçais resignados de um sistema econômico que nos manipula, submete, aliena e exaure sem dar tempo e oportunidades a maioria de nós para um verdadeiro e salutar encontro interior, verdadeira origem de um destino que nos realizaria de fato. Lembrando a inscrição no famoso templo grego de Delfos, sempre repetida pelo grande filósofo Sócrates: "Conhece a ti mesmo". No fim das contas, o demônio foi criado para nos afastarmos de nós mesmos. Autor desconhecido Texto enviado pelo Pe. Marcelo Caixeta Pároco da Paróquia de São Geraldo – B. Romeu Duarte Nova Serrana - MG