Ideias radicais para salvar o mundo
BRUNO ABREU
Geoengenharia.
Para problemas radicais, soluções radicais. É assim que pensam os homens que criaram cinco
ideias megalómanas para salvar o clima. As ideias têm em comum o facto de hoje em dia
serem irrealizáveis
E se o Homem conseguisse acabar com as alterações climáticas usando as novas tecnologias?
Essa é a ideia de vários cientistas que há anos trabalham ideias megalómanas para mudar o
clima do planeta Terra, com base na engenharia planetária - que tenta tornar habitáveis outros
planetas para uma possível "emigração" da raça humana.
Na opinião de Viriato Soromenho Marques, especialista ambiental, "a geoengenharia é a última
solução que pode ser tomada, é uma medida desesperada. É uma intervenção dramática, de
forma a compensar os problemas. É uma espécie de terapia de choque." Os projectos de
geoengenharia podem ser divididos em duas áreas: uma tenta diminuir os efeitos dos raios
ultravioletas, impedindo a chegada dos raios solares à Terra, a outra quer eliminar o excesso
de dióxido de carbono da atmosfera.
Para Soromenho Marques, a geoengenharia esbarra em três problemas: "Sendo uma
engenharia à escala planetária, é muito arriscada. A margem de erro é mínima. É física de alto
risco, pois pode afectar as gerações futuras." Outro problema é a legitimidade destas medidas:
"Como afectam todos os países, quem é que as pode autorizar? A ONU, os Estados Unidos, a
China? Não há legitimidade." A última questão prende-se coma questão de até que ponto será
ético alterar o normal funcionamento do planeta: "Pode afectar as gerações futuras. Temos de
escolher a solução mais viável e que se saiba que não pode dar erro."
Hélder Spínola, presidente da associação ambientalista Quercus, é da mesma opinião: "Estas
medidas são uma espécie de folclore e uma distracção. Temos de ser realistas e começar já a
encarar o problema: a dependência dos combustíveis fósseis."
O espelho solar
Esta é talvez a mais megalómana das ideias para mudar o clima. O seu defensor, o astrónomo
Roger Angel, diz que se podia desviar os raios solares da Terra, colocando para isso em órbita
uma rede de espelhos de 60 centímetros de diâmetro. Com a tecnologia que temos hoje em
dia, esta ideia é irrealizável e seria mais barato transitar para uma economia sem combustíveis
fósseis do que colocar este espelho no espaço. Uma alternativa seria colocar na água e nos
desertos discos brancos de plástico ou espuma de poliuretano, com a mesma finalidade de
repelir os raios solares.
Enxofre
Uma ideia defendida por cientistas como o Nobel da Química Paul Crutzen defende a injecção
de toneladas de partículas de enxofre ou dióxido de enxofre na atmosfera. Centenas de aviões
ou balões seriam encarregados da tarefa, a qual aumentaria o índice de reflectibilidade da
atmosfera e reduziria a radiação que nos chega. Mas um estudo publicado na revista Science
determinou que esta medida iria causar danos irreversíveis na camada de ozono, destruindo
de um quarto a três quartos da mesma sobre o Árctico, o que faria com que, no fim de tudo,
houvesse uma maior passagem de raios ultravioletas.
Sal na atmosfera
John Latham, catedrático da Universidade de Manchester, propõe aumentar a reflectibilidade
das nuvens evaporando água do mar. Isto permitiria a injecção de sal na atmosfera, o que
evitaria parte da radiação solar, diminuiria os chuviscos e faria com que as nuvens durassem
mais. Mas esta solução não iria durar mais do que umas semanas. Seria necessária uma frota
de barcos salinizando a atmosfera ininterruptamente.
Eliminar o CO2
Outros dois projectos pretendem eliminar o excesso de dióxido de carbono (CO2). O primeiro,
defendido por James Lovelock, pai da teoria Gaia - que considera o planeta como um sistema
capaz de se autorregular -, propõe que se coloquem no mar tubos ocos com 200 metros de
comprimento. A sua base teria válvulas capazes de trazer à superfície as águas mais
profundas, ricas em nutrientes. Isto faria com que as algas se multiplicassem à superfície,
absorvendo o CO2 e criando, de forma indirecta, mais nuvens que absorveriam o calor do Sol.
Outra solução é a fertilização dos oceanos com partículas de ferro que permitam a
multiplicação da quantidade de fitoplâncton presente na água, gerando uma explosão da vida
vegetal marinha. Esta ideia foi já posta em prática pela empresa Plankton, o que causou a
repulsa de cientistas e ecologistas que alertam para a hipótese de haver problemas para o
meio ambiente e para a saúde.
Diário de Notícias, 26.10.08
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