ESPAÇO INSTITUCIONAL
Maio de 2006
Administração para todos: Igreja Incorporated S.A.
Sílvio Guerra
Diretor da LOCALIZA RENT A CAR
Diretor Regional do IBRI – Regional Minas Gerais
Membro do Conselho de Política Econômica da FIEMG
Foi muito interessante ler o artigo da revista The economist de 24/12/2005 sobre as
igrejas (não sei se a data foi propositalmente escolhida para tal).
Desde que Alex Periscinoto fez uma bela palestra na Conferência dos Bispos de
Itaici, e já lá se vão 10 anos ou mais daquela data, não se teve notícia de que a Igreja Católica
estaria saindo do seu tradicionalismo, das suas encíclicas voltadas para processos engessados,
e da sua difícil adaptação à modernidade.
Como mencionado pelo Dr. Periscinoto, a Igreja tem tudo aquilo de que uma
moderna organização precisa: os símbolos que falam (a cruz e os sinos), a pesquisa on-line de
satisfação do cliente (confessionário), calendário de eventos pré-programados com o mercado
(Natal, Páscoa etc), campanhas de comunicação permanentes (via badaladas dos sinos e da
chamada aos fiéis), e ampla rede de distribuição corporativa e franqueada (igrejas, dioceses,
conventos, colégios etc) com hierarquia definida, disciplina e organização, sem falar da forte
liderança emanada do Vaticano. Mas ela peca (se é que podemos dizer assim) pela falta de
adaptação.
O conceito histórico que aprendemos não foi superado: nossa fé deve ser mantida
na crença interior de que somos sujeitos a uma força superior, e isso é verdade. Mas
aprendemos também que o bem supera o mal, comportar-se bem leva aos céus, o castigo é o
inferno...
No entanto, o impacto das modernas técnicas de administração já atingiu as demais
igrejas enquanto a Igreja Católica permanece refém do seu conteúdo histórico. E nós,
católicos, somos fiéis a conceitos, mas não gostamos de nos apegar à decadência em termos
do crescimento e da aceitação de nossas congêneres. Queremos continuar sendo a saída
espiritual de que todos precisamos em nossas vidas.
A primeira revisão diz respeito ao que a Igreja poderia fazer para entender que o
objetivo das pessoas é serem felizes e é isso que valorizamos, e não o sofrimento, a dor e a
peregrinação de expiação dos pecados. Vamos apoiar os primeiros sem nos esquecer dos
segundos.
O segundo item a ser revisto é que o lucro signifique algo condenável, o que não é
justo nem correto, para dizer o mínimo. É a valorização do lucro, da capacidade diferenciada
de cada cidadão, do sucesso, da perfeição, da harmonia e do crescimento dos negócios que
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tem impulsionado sociedades protestantes, que comemoram este ano os 100 anos da obra de
Max Weber sobre a ética do protestantismo valorizando o suor, o esforço e o seu resultado em
termos da riqueza gerada para o seu dono.
Dizem que times de futebol (pelo resultado obtido via jogo em equipe), as escolas
de samba (pela preparação e pelo envolvimento das pessoas), os exércitos (pela hierarquia e
pela disciplina) e as igrejas (pela fé) são alguns exemplos de organizações que poderiam
ensinar a nova gestão de negócios. E é verdade.
Mas, ultimamente, várias igrejas, ao invés de ensinar, têm aprendido e adotado
várias das mais modernas técnicas de administração de empresas, ampliando seu quadro de
fiéis, aumentando as suas receitas, melhorando a sua rentabilidade, adotando práticas de
customização e de fidelização (de fidelização de seus fiéis...), senão, vejamos alguns dos
exemplos.
Os modelos variam (Revista The economist, 24/12/2005) e são diversificados.
Missão e valores
As igrejas têm criado suas missões empresariais:
Transformar ateus em devotados seguidores de Cristo.
Amigos ajudando amigos a seguirem Cristo.
...
Organização, planejamento e controle
As igrejas dispõem de equipes de gerente (alguns com mestrado), área de consultoria e
estratégia para elaborar seus planos.
Customização do cliente e conveniência
Algumas igrejas contam com os grupos de afinidade (motociclistas, participantes do programa
Vigilantes do Peso etc).
Igrejas organizam focus groups e elaboram análises via pesquisa de opinião sobre por que
alguns não vão à missa e as sugestões de alteração em função das respostas.
As missas passaram a utilizar vídeo, dramas e música contemporânea.
Igrejas passaram a dispor de praças de alimentação, área de esportes para basketball, cafés,
telas de vídeo, estacionamento (para até 4.000 carros) sem cruzes ou altares.
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Criação dos serviços sociais para alcoólatras com auxílio para o transporte.
Disponibilidade do maternal no fim de semana.
Auditório para adolescentes.
Excelência total em serviços com atendimento 24 x 7.
Prédios abertos sete dias por semana.
Disponibilidade interna de bancos, farmácias, escolas.
Disponibilidade de grupos de aconselhamento.
Disponibilidade de missa em espanhol aos domingos.
Entretanto não é apenas a customização, mas o pensamento em inovar trazendo novos
métodos, conceitos e serviços para as igrejas. Vejamos:
Novos produtos
Um pároco mais comunicativo com barba grande e camisa aberta.
Dicas de música e de auto-ajuda.
Campo de futebol americano.
Sermões para superar o ressentimento, a procrastinação, a tentação, a ansiedade, a solidão.
Aulas de artes marciais.
Quarto para empréstimos de equipamentos médicos.
Serviço de conserto de carros doados para os necessitados.
Ajuda na preparação de testes.
Ajuda no preechimento do IR.
Ajuda na compra de casas (com uma rede de corretores de imóveis e agentes de hipoteca).
Comunicação.
Catálogo com todos os produtos e serviços oferecidos pela Igreja e pela comunidade.
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Aconselhamento em grupo é rotina.
Convite a celebridades, cartões e pessoal para falar sobre um tópico qualquer.
O resultado disso tudo tem sido um crescimento extraordinário na rede, digo, nas
igrejas em geral, chegando a receber 30 mil fiéis por semana.
Este é o principal resultado: saber que a administração está aí para todos, à
disposição para qualquer organização que queira trabalhar com eficácia no seu competitivo
mercado, ainda que esse seja a religião.
O presente artigo é cedido por seu(s) autor(es), sem ônus, à Apimec-MG, exclusivamente para publicação no
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