energia elétrica Dignidade para Todos U Programa Luz para Todos, de universalização da energia elétrica, leva cidadania e qualidade de vida às comunidades com os menores índices de desenvolvimento humano no país ma política de governo para redução da pobreza e fome, que utiliza a energia elétrica como vetor de desenvolvimento. Assim o Ministério de Minas e Energia - MME - define o Programa Luz para Todos, cujo objetivo é garantir o acesso e uso da eletricidade para 12 milhões de pessoas, sendo 84% residentes no meio rural. Implantado a partir de 2004, o programa de universalização já está produzindo bons resultados. Para apresentar esses avanços, José Ribamar Lobato Santana, diretor nacional do Luz para Todos, reuniu-se com representantes de indústria da Área de GTD (Geração e Transmissão e Distribuição de Energia), na Abinee, em São Paulo. 20 Revista Abinee abril/2007 Segundo Santana, em 2004 foram eletrificadas 70 mil moradias; em 2005 o número de ligações chegou a 379 mil e em 2006 somou mais de 590 mil. O total de casas ligadas, nos três últimos anos, superou um milhão, levando luz para cinco milhões de pessoas. “Todas as famílias beneficiadas moram nas regiões cujo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é bem baixo, e a faixa de renda não ultrapassa três salários mínimos”, informou. O Programa compreende não só as instalações da rede de distribuição da concessionária, como também a instalação de um kit básico nas moradias, englobando fiação, lâmpadas, tomadas e disjuntores. Uma pesquisa realizada com os beneficiados pelo Programa Luz para Todos, no Acre, após quatro meses da instalação elétrica, mostrou que a maioria das famílias adquiriu eletrodomésticos. Entre os produtos mais procurados estão: televisão (49,2%); geladeira (46,2%); liquidificador; (37,7%); aparelho de som (28,5%); rádio (25,4%); antena parabólica (33,8%); ferro de passar (26,9%); ventilador (25,4%); máquina de lavar roupa (28,5%); bomba d’água (25,4%); freezer (10,0%); e batedeira (4,6%). As famílias que ainda não possuíam esses bens esperavam comprá-los num prazo médio de 5 a 8 meses. Quanto aos aparelhos eletrorurais, como trilhadeiras, trituradores de grãos, roçadeira mecanizada, cerca elétrica, bomba de irrigação, liquidificador industrial e freezer industrial, os produtores planejam comprar num prazo de 12 a 16 meses. Isso tem sido possível em função da redução do gasto médio com energéticos. Antes do Programa uma moradia gastava em média R$21,50. Agora, gasta, em média, R$15,00, o que significa uma redução de 30%. No aspecto educacional, a pesquisa mostrou que as escolas aumentaram o número de turnos após a instalação da energia elétrica. O fato favorece especialmente os trabalhadores rurais que abandonaram os estudos porque só podiam ir à aula no período noturno. Outro efeito positivo se refere à valorização das propriedades rurais: 11% das famílias entrevistadas haviam deixado suas propriedades, e voltaram para a zona rural com a chegada da energia elétrica. O acesso às linhas de crédito também melhorou, conforme opinião de 52% dos produtores ouvidos na pesquisa. As produções agropecuárias cresceram segundo avaliação de 36% dos beneficiários. Todos de Dignidade para Todos. “Está sendo atingida uma camada social que realmente necessita ser incluída como cidadã. Mais do que conforto e informação, o acesso à energia elétrica cria a capacidade para inserção produtiva por meio de agronegócios. Esse é o resultado esperado”, salientou. Além de promover conquistas sociais, o programa Luz para Todos provocou o aquecimento das atividades das indústrias da área de Transmissão e Distribuição de Energia. “As concessionárias já consumiram mais de dois milhões de postes, cerca de 390 mil transformadores e 400 mil quilômetros de cabo - uma extensão correspondente a dez voltas em torno da Terra. Sem dúvida, o programa contribui para a manutenção de uma indústria pujante no país”, destacou José Ribamar Santana. Apesar de comemorar o acréscimo no volume de vendas, os representantes das indústrias de GTD apontaram a falta de regularidade nas encomendas das concessionárias. “Como o governo é o provedor de 75% dos investimentos, será que ele não poderia modular o cronograma de obras, de modo a evitar picos Produção aquecida Diante dos dados apresentados, o vice-diretor da Área de GTD da Abinee, Carlos Adolfo Souza Pereira, chamou o programa Luz para Carlos Adolfo S. Pereira, José Ribamar L. Santana e Humberto Barbato Revista Abinee abril/2007 21 energia elétrica fotos: MME/Luz para Todos de demanda? O efeito colateral desse desequilíbrio é o aumento de custos”, disse Carlos Adolfo. “O ideal seria trabalhar num ritmo constante”, respondeu Santana. “O MME faz modulação trimestral do programa, mas o planejamento é complicado. São 64 agentes envolvidos e, por uma série de fatores imprevisíveis, como as chuvas, a sazonalidade é inevitável”, completou. O Presidente da Abinee, Humberto Barbato, sugeriu que a questão do cronograma fosse negociada diretamente com os clientes - as concessionárias. “O governo está fazendo a parte dele ao colocar os recursos”, destacou. “Há 20 anos o Brasil não realizava investimentos em GTD. Os planos decenais da Eletrobrás eram pura ficção. A situação gerou o fechamento de muitas fábricas. Algumas empresas sobreviveram graças às exportações. Mas com o dólar baixíssimo, como essas indústrias estariam hoje se não houvesse esse programa de eletrificação?”, ponderou Barbato. Na avaliação do Ministério de Minas e Energia, o segredo do sucesso do Luz para Todos são a gestão participativa e as fontes de recursos oriundas da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), instituída como subvenção econômica pela Lei 10.438 de abril de 2002, e da Reserva Global de Reversão (RGR). “Os investimentos previstos inicialmente somavam R$ 6 bilhões, mas hoje já atingem o dobro desse valor”, informou Santana. Cumprida a metade das metas de universalização, resta ao Programa o desafio de levar luz às regiões mais longínquas, principalmente da Amazônia, onde estão as comunidades isoladas. Há uma série de problemas logísticos a serem vencidos, além da necessidade de preservar o meio ambiente. “Pretendemos desenvolver fontes de energia renovável, que sejam sustentáveis do ponto de vista técnico e econômico. O atendimento será feito, preferencialmente, pela concessionária”, explicou o diretor do Programa. O Ministério de Minas e Energia convidou as indústrias da área de GTD para fazerem parte dos estudos que definirão as fontes de energia a serem usadas na Amazônia. “Queremos reunir os pesquisadores das universidades (que já possuem alguns projetos pilotos) com os fabricantes e com as concessionárias para viabilizar soluções em escala. Alternativas convencionais já existem, mas a oportunidade enseja o empreendedorismo. O Ministério está aberto à participação”, finalizou Santana. Revista Abinee abril/2007 23