UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA INTERVENÇÃO DO PSICÓLOGO NA CONSULTA DE PSICOLOGIA PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NUM CENTRO DE SAÚDE: CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO E ESTRATÉGIAS DE MELHORIA DA ACTUAÇÃO DO PROFISSIONAL Catarina Isabel Duarte Guedes dos Santos MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA Secção de Psicologia Clínica e da Saúde Núcleo de Psicologia da Saúde e da Doença 2012 UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA INTERVENÇÃO DO PSICÓLOGO NA CONSULTA DE PSICOLOGIA PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NUM CENTRO DE SAÚDE: CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO E ESTRATÉGIAS DE MELHORIA DA ACTUAÇÃO DO PROFISSIONAL Catarina Isabel Duarte Guedes dos Santos Dissertação orientada pela Professora Doutora Luísa Barros MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA Secção de Psicologia Clínica e da Saúde Núcleo de Psicologia da Saúde e da Doença 2012 Agradeço à Professora Doutora Luísa Barros toda a ajuda e encorajamento prestados ao longo do ano, sem os quais não seria possível a realização deste trabalho. Agradeço também à minha família pela motivação e apoio, em todos os momentos. 1 Agradecimentos ……………………………………………………………………….. 1 Índice Geral …………………………………………………………………………… 2 Índice de Tabelas ……………………………………………………………………… 3 Resumo ………………………………………………………………………………... 5 Abstract ……………………………………………………………………………….. 6 Índice Geral Introdução ……………………………………………………………………………. 7 I. Enquadramento Teórico 1. Saúde Mental e Cuidados de Saúde na Infância e Adolescência …………………... 10 2. Psicologia nos Cuidados de Saúde Primários …………………………………….… 13 3. Psicologia Pediátrica nos Cuidados de Saúde Primários …………………………… 15 4. Perturbações Psicológicas Pediátricas mais comuns nos cuidados de saúde primários ………………………………………………………………………………. 18 4.1. Metodologias de avaliação utilizadas …………………………………………. 21 4.2. Intervenções mais eficazes ……………………………………………………. 25 4.2.1. Intervenções mais eficazes na perturbação de hiperactividade com défice de atenção ……………………………………………………………………………... 26 4.2.2. Intervenções mais eficazes nas perturbações de ansiedade ……………… 27 4.2.3. Intervenções mais eficazes nas perturbações disruptivas do comportamento ………………………………………………………………………... 27 4.2.4. Intervenções mais eficazes na perturbação depressiva …………………… 28 II. Consulta de Psicologia Para Crianças e Adolescentes no Centro de Saúde de Torres Novas 2 Objectivos ...................................................................................................................... 31 1. Breve caracterização do Centro de Saúde de Torres Novas ……………………….. 32 2. Psicologia no Centro de Saúde de Torres Novas …………………………………… 33 3. Consulta de Psicologia para Crianças e Adolescentes ……………………………... 34 ….3.1. Procedimentos de referenciação e marcação da consulta ……………………... 34 3.2. Caracterização da população referenciada para a consulta de psicologia, de Janeiro de 2010 a Agosto de 2012 ……………………………………………………. 35 a) Caracterização da população em consulta em Agosto de 2012 …………….. 40 b) Caracterização da população em lista de espera em Agosto de 2012 ………. 42 c) Caracterização da população encaminhada para a consulta no período de Janeiro de 2010 a Agosto de 2012, mas sem seguimento …………………... 44 d) Caracterização da população com alta entre Janeiro de 2010 e Agosto de 2012 …………………………………………………………………………. 46 3.3. Avaliação clínica na população com alta entre Janeiro de 2010 e Agosto de 2012 …………………………………………………………………………………… 46 3.4. Intervenção psicológica na população com alta entre Janeiro de 2010 e Agosto de 2012 ……………………………………………………………………….. 48 4. Discussão dos dados apresentados …………………………………………………. 50 Conclusões e sugestões para a melhoria da prática clínica ………………..……… 54 Bibliografia …………………………………………………………………………… 56 Anexos ………………………………………………………………………………… 70 3 Índice de Tabelas Tabela 1 – Constituição da população referenciada para a consulta de psicologia, por idade e sexo do utente ………………………………………………………………… 36 Tabela 2 – Ciclo de ensino frequentado pelos utentes encaminhados para a consulta: Frequências Absolutas e Relativas ……………………………………………………. 37 Tabela 3 – Motivo principal do encaminhamento: Frequências absolutas e relativas ... 38 Tabela 4 – Constituição da população em consulta em Agosto de 2012, por idade e sexo do utente …………………………………………………………………………. 41 Tabela 5 – Motivo principal do encaminhamento dos utentes em consulta em Agosto de 2012: Frequências absolutas e relativas ……………………………………………. 42 Tabela 6 - Constituição da população em lista de espera em Agosto de 2012, por idade e sexo do utente …………………………………………………………………. 43 Tabela 7 – Motivo principal do encaminhamento dos utentes em lista de espera em Agosto de 2012: Frequências absolutas e relativas …………………………………… 44 Tabela 8: Encaminhamentos sem seguimento: frequências absolutas por classe etária 45 Tabela 9 – Constituição da população com alta, por idade e sexo do utente …………. 46 Tabela 10 – Motivos de encaminhamento, e respectivos diagnósticos alcançados, na população com alta entre Janeiro de 2012 e Agosto de 2012 ………………………… 47 Tabela 11 – Número de consultas realizadas, por perturbação psicológica …………... 48 4 Resumo: Os cuidados de saúde primários têm um papel fundamental na área da saúde mental, procurando-se cada vez mais intervenções eficazes, breves e de baixo custo. Os psicólogos clínicos integrados nestes serviços devem actuar na área, contribuindo para uma melhoria da saúde da população ao longo do ciclo de vida. A perspectiva da Psicologia Pediátrica enquadra-se no trabalho que é esperado ao nível dos cuidados primários, mostrando-se a consulta de psicologia pediátrica eficaz no despiste de problemas relacionados com as perturbações psicológicas mais comuns na infância, assim como na sua avaliação e tratamento. O presente trabalho tem como objectivo permitir uma reflexão sobre a prática profissional do psicólogo clínico num centro de saúde, com especial incidência na realização da consulta com crianças e adolescentes, caracterizando-se a população abrangida, mas também identificando quais as áreas a melhorar na realização desta consulta. Durante o período analisado, a população apresentou como principal motivo de encaminhamento as perturbações do comportamento, seguido das perturbações de ansiedade, sendo na classe etária dos seis aos nove anos que se encontram a maioria dos casos de perturbação do comportamento, com maior incidência nos rapazes do que nas raparigas. No final são apresentadas algumas propostas futuras de melhoria da intervenção efectuada. Palavras-chave: Cuidados de Saúde Primários, Psicólogo Clínico, Psicologia Pediátrica, Consulta de Psicologia Pediátrica, Perturbações Psicológicas Pediátricas Comuns 5 Abstract: Primary health care has a fundamental role in mental health, and is currently aiming at progressively more efficient, brief and low cost interventions. The clinical psychologists in this setting should play an active part, contributing to the improvement of population’s health during the life cycle. The Pediatric Psychology perspective fits in what is expected from primary care, and psychological pediatric practice proves to be effective in the screening of problems associated with the most common psychological disorders in childhood, as well as in their assessment and treatment. The goal of the present paper is to conduct a critical analysis of the professional practice of a clinical psychologist at a health center, with particular emphasis on the consultation of children and adolescents, characterizing the covered population, but also identifying improvement areas in this consultation. In the analyzed population and during this period, the most frequent causes of referral were behavior and anxiety disorders, with behavior disorders present mainly in six to nine years old children, with a higher incidence in boys. As a conclusion, some proposals of improvement in future interventions are presented. Keywords: Primary Health Care, Clinical Psychologist, Pediatric Psychology, Pediatric Psychology Consultation, Common Psychological Pediatric Disorders 6 INTRODUÇÃO No âmbito da dissertação de mestrado em Psicologia da Saúde e da Doença, apresentada à Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, teve-se como objectivo efectuar uma reflexão sobre a actuação da psicologia clínica na consulta de psicologia para crianças e adolescentes, no Centro de Saúde de Torres Novas. Após 10 anos de prática profissional em Cuidados de Saúde Primários em diferentes instituições de saúde, a realização deste trabalho surge como uma possibilidade de reflectir, de um modo mais organizado e consistente, sobre uma das principais actuações do psicólogo clínico, que é a actividade assistencial. Diariamente o psicólogo é confrontado com a indispensabilidade de encontrar estratégias que vão ao encontro dos objectivos delineados pelas instituições onde trabalham, sem contudo esquecer as necessidades dos utentes acompanhados. É fundamental reconhecer o que já está a ser feito de modo eficaz, mas também identificar e alterar o que ainda precisa de ser melhorado. Na primeira parte deste trabalho procura-se contextualizar o que é esperado da psicologia e dos seus profissionais ao nível dos Cuidados de Saúde Primários, na perspectiva da Psicologia da Saúde e da Psicologia Pediátrica. Identificam-se também metodologias de avaliação e intervenção eficazes no contexto da consulta de psicologia, para as perturbações psicológicas pediátricas mais comuns nos cuidados primários, tendo em conta a literatura revista. Na segunda parte, analisam-se alguns dados relativos à realização da consulta de psicologia com crianças e adolescentes no Centro de Saúde de Torres Novas, assim como se 7 caracteriza a população abrangida no período de Janeiro de 2010 a Agosto de 2012. Tenta-se igualmente perceber quais as áreas de intervenção que terão de ser melhoradas, assim como as que se têm mostrado eficientes, procurando-se chegar a um conjunto de directrizes que no futuro possam melhor orientar o psicólogo na realização da consulta neste contexto de saúde. 8 I. Enquadramento Teórico 9 1. Saúde Mental e Cuidados de Saúde na Infância e Adolescência A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera que as perturbações mentais são comuns, afectando mais de 25% da população em um dado momento da sua vida, com impacto negativo não só sobre os indivíduos e famílias, como nas próprias comunidades (OMS, 2001). A prevalência geral de perturbações mentais e comportamentais em crianças e adolescentes tem sido investigada ao longo do tempo, com resultados bastante variáveis (Costello, Mustillo, Erkanli, Keeler, & Angold, 2003; Kessler et al., 2005; Roberts, Attkisson & Rosenblatt, 1998; Waddell & Shepherd, 2002), estimando-se que entre 10 e 20% das crianças tenham um ou mais problemas de saúde mental, mas apenas 1/5 receba tratamento adequado (OMS, 2001). Em Portugal, tal como noutros países, têm-se vindo a verificar esforços na reestruturação dos serviços de saúde mental, com uma substituição gradual dos cuidados baseados no hospital psiquiátrico, para cuidados mais diversificados e próximos das populações, como é o caso do apoio fornecido ao nível dos cuidados primários (Ministério da Saúde, 2007). Os Cuidados de Saúde Primários (CSP) são a primeira linha de suporte em cuidados de saúde, prestando um papel fundamental na triagem, avaliação, intervenção e orientação de casos, devendo funcionar como um filtro entre a população geral e os cuidados de saúde especializados (Glied, 1998; Ministério da Saúde, 2009; OMS, 2001). A área da saúde mental é tida como “uma das áreas essenciais da prestação de cuidados e da governação clínica e de saúde em cuidados de saúde primários” (pág.1) (Ministério da Saúde, 2011), constatando-se 10 que a maioria dos doentes apenas recebe apoio neste nível de actuação (Gonzales, Magruder & Keith, 1994; OMS, 2001; Zahner & Daskalakis, 1997). Cummings e VandenBos (1981) verificaram que 60% das idas aos CSP eram de indivíduos sem doença física, sendo a maioria das causas ligadas a problemas de depressão, ansiedade e estilos de vida pouco saudáveis, com impacto negativo na sua saúde. Sabendo-se que um grande número das perturbações mentais na idade adulta tiveram início na infância ou adolescência (Kessler et al., 2005; Kessler et al. 2007) com altas taxas de utilização dos serviços de saúde e com enormes gastos associados (sobretudo quando existe co-morbilidade com a utilização abusiva de substâncias ou com outras perturbações médicas) (Kelleher & Stevens, 2009), tornou-se necessário encontrar formas de melhorar o reconhecimento e tratamento destas perturbações o mais atempadamente possível. A qualidade dos serviços prestados na área da saúde mental nos CSP às crianças e jovens nem sempre foi reconhecida, reportando-se falhas na avaliação e tratamento fornecido (Gonzales et al., 1994), com baixas taxas de encaminhamento para os cuidados especializados e de adesão à medicação prescrita (Glied,1998). Em 2009, a Coordenação Nacional para a Saúde Mental publicou e distribuiu nos CSP um documento intitulado “Recomendações para a prática clínica da Saúde Mental Infantil e Juvenil nos Cuidados de Saúde Primários” (Ministério da Saúde, 2009). Constata-se que ao longo destas guidelines clínicas, direccionadas aos médicos dos CSP, surgem várias recomendações em torno da avaliação, intervenção e encaminhamento para outros serviços/técnicos, referindo-se a actuação dos profissionais de psicologia apenas na “avaliação e encaminhamento de crianças com dificuldades de aprendizagem e outros problemas associados” (pág. 49) (Ministério da Saúde, 2009). Diariamente os médicos dos CSP são confrontados com utentes com problemas com componentes psicológicas e sociais, com as quais sentem dificuldade em lidar (Walker & 11 Collins, 2009). Torna-se indispensável uma maior ligação com especialistas em saúde mental, num trabalho de equipa que tem por base um modelo biopsicossocial da saúde, onde a intervenção do psicólogo é claramente desejável (Pereira, 1996). Em 2011 a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) elaborou um relatório denominado “Evidência científica sobre custo-efectividade de intervenções psicológicas em cuidados de saúde”, concluindo-se “Os estudos são consensuais em considerar as intervenções psicológicas, sobretudo as intervenções cognitivo-comportamentais…como custo-efectivas tanto nos cuidados de saúde primários como nos cuidados hospitalares.…A intervenção psicológica constitui-se como um instrumento com potencialidade para contribuir para a melhoria da saúde da população, para a contenção dos custos no sector e para a produtividade do país.” (pág. 47) (OPP, 2011). A actuação dos psicólogos ao nível dos CSP é vista por diversos autores como uma necessidade mas também como um desafio (James, 2006; Schulte, Isley, Link, Shealy & Winfrey, 2004). Num momento de crise económica em que o desfavorecimento a este nível poder ser um dos principais factores de risco no desencadeamento de problemas emocionais e comportamentais durante a infância (Copeland, Shanahan, Costello & Angold, 2009; Rijlaarsdam et al., 2012) é fundamental que os psicólogos tentem encontrar o seu caminho em áreas de intervenção que tradicionalmente seriam exclusivamente médicas, mas que cada vez mais exigem uma maior colaboração entre os diversos profissionais (Pereira, 1996). 12 2. Psicologia nos Cuidados de Saúde Primários A integração dos psicólogos nos diferentes cuidados de saúde portugueses (e sobretudo nos CSP) é relativamente recente. Apesar de já anteriormente agregados a diversos serviços e estabelecimentos tutelados pelo Ministério da Saúde, apenas em 1994 foi incluído o ramo de psicologia clínica na carreira dos técnicos superiores de saúde, através do DecretoLei nº 241/94 de 22 de Setembro. Tal como descrito neste decreto-lei, compete ao psicólogo clínico o estudo psicológico de indivíduos e/ou de grupos populacionais para fins de prevenção e tratamento; a participação em programas de educação para a saúde; o aconselhamento psicológico; e a intervenção psicológica e psicoterapia. Contudo, será fundamental efectuar-se uma adequação das funções anteriormente descritas ao contexto de saúde onde estão integrados, pois os objectivos e metas de actuação serão necessariamente diferentes (Gunn & Blount, 2009). O psicólogo nos cuidados primários terá de possuir competências na avaliação e intervenção psicológica nos problemas psicossociais que comummente surgem nos indivíduos e famílias, ao longo do ciclo de vida. Será igualmente importante uma compreensão clara das perturbações biomédicas recorrentes nos utentes deste nível de cuidados e das respectivas intervenções farmacológicas (McDaniel, Hargrove, Belar, Schroeder & Freeman, 2004). McDaniel et al. (2004) focam-se ainda em duas questões relevantes no desempenho das actividades destes técnicos de saúde: a colaboração interprofissional com as equipas de saúde (não apenas médicos, mas também enfermeiros, nutricionistas ou técnicos de serviço social) e também o conhecimento das diferentes políticas de saúde e áreas prioritárias definidas a nível nacional (em Portugal no Plano Nacional de Saúde 2012-2016 - Direcção Geral da Saúde), imprescindível para um enquadramento eficaz do trabalho desempenhado. 13 A reforma dos Cuidados de Saúde Primários iniciada em 2005, com a extinção das 18 sub-regiões de saúde e sobretudo com a criação dos Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES) do Serviço Nacional de Saúde (tal como estabelecido no Decreto-Lei n.º 28/2008, de 22 de Fevereiro e na Portaria n.º 276/2009, de 18 de Março), fomentou diversas alterações organizacionais. Em cada ACES surgem várias unidades funcionais, ordenadas em rede, cabendo ao conselho clínico coordenar e harmonizar a interligação entre as diferentes equipas, segundo as directrizes do Director Executivo. Estas unidades designam-se por: Unidades de Saúde Familiares (USF) e Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP); Unidades de Cuidados na Comunidade (UCC); Unidade de Saúde Pública (USP); Unidade de Recursos Assistenciais Partilhados (URAP) e Unidade de Apoio à Gestão (UAG). Os psicólogos nos ACES passaram a delinear a sua actuação integrados nas UCC, com vista a uma actuação comunitária com grupos com necessidades especiais, e/ou nas URAP, como parte de uma equipa multiprofissional que assegura serviços assistenciais e de consultadoria a todas as outras unidades funcionais (Ministério da Saúde, 2011). Nos CSP serão cada vez mais exigidos aos psicólogos conhecimentos não apenas relacionados com a patologia e doença, mas também com a prevenção e bem-estar (McDaniel et al., 2004). Alguns autores consideram o psicólogo nos CSP como um generalista com vários papéis (Fitzgerald, Galyer & Ryan, 2009; McDaniel et al., 2004), distinguindo-se dos profissionais dos cuidados especializados (onde os utentes apresentam estados mais severos e crónicos) (Lyons & Low, 2009), e actuando nos problemas comuns de saúde dos indivíduos e famílias (McDaniel et al., 2004). Para que isto seja possível é necessária uma abordagem psicológica em saúde que considere simultaneamente o sujeito, a família, os técnicos de saúde e de suporte social, que veja o indivíduo como um sistema complexo em que a doença pode ser causada por múltiplos factores e não por um único factor causal, e em que os factores psicológicos sejam considerados não apenas consequências da doença, mas também como 14 tendo um contributo para a sua etiologia (Ogden, 1999). Esta é a perspectiva da Psicologia da Saúde, descrita por Matarazzo em 1980 como “o conjunto das contribuições específicas educacionais, científicas e profissionais da disciplina da Psicologia para a promoção e a manutenção da saúde, prevenção e tratamento da doença, e disfunções relacionadas” (cit. por Ogden, 1999). Porém, a Psicologia da Saúde está sobretudo centrada na saúde do adulto, analisando a saúde da criança enquanto relevante para a saúde do adulto (Barros, 1999). Sabendo-se que as doenças das crianças não são idênticas às dos adultos e que também existem diferenças nas respostas emocionais e cognitivas à saúde e doença (Lozano, Terreros & Núñez, 2010), surge um subdomínio da Psicologia da Saúde, cujo objecto de estudo e intervenção é a saúde da criança e do adolescente, denominado Psicologia Pediátrica (Barros, 1999). Nos CSP, a actuação com crianças e adolescentes está prevista em vários programas e é parte integrante da actuação neste contexto de saúde (ex. programa de saúde infantil e juvenil, ou programa de saúde escolar), assim como da actividade assistencial da consulta de psicologia, pelo que será fundamental compreender melhor esta abordagem psicológica. 3. Psicologia Pediátrica nos Cuidados de Saúde Primários A Psicologia Pediátrica, enquanto área de intervenção, surge como uma resposta a necessidades reais das crianças com problemas diferentes daqueles apresentados nas consultas de psiquiatria e psicologia tradicionais (Mesibov, 1991). Valoriza a compreensão das características de cada período da infância e adolescência e encara a criança como um 15 indivíduo em rápida evolução, com uma leitura (aceite consensualmente) segundo uma perspectiva desenvolvimentista e holística, nunca dissociando a saúde física da saúde mental (Barros, 1999). Inicialmente a intervenção da Psicologia Pediátrica esteve sobretudo ligada às instituições hospitalares, mas ao longo dos últimos anos tem vindo a ser integrada nos serviços de saúde em geral, onde necessariamente também se enquadram os CSP, sendo esperadas intervenções eficazes, breves e com baixo custo (Fuemmeler, 2004; Sobel, Roberts, Rayfield, Barnard & Rapoff, 2001). Não será então de surpreender que se tenha construído enquanto campo de investigação e intervenção a partir da interacção entre a Pediatria e a Psicologia da Saúde, tendo a Psicologia Clínica e a Psicologia do Desenvolvimento como ramos principais (Menezes, Moré & Barros, 2008). Nos Estados Unidos tem sido dada grande importância às questões relacionadas com a formação dos profissionais da área (Brown, 2003; Robert et al., 1998), com especial ênfase nos psicólogos nos cuidados primários, reforçando a necessidade de treino em intervenções pensadas para as crianças, jovens e suas famílias, e na prevenção de problemas de saúde e comportamentais (Spirito et al., 2003). Cada vez mais é necessário reconhecer a importância do sistema familiar na compreensão das questões de saúde das crianças e jovens, enquadrando-os no contexto onde vivem e funcionam diariamente, e olhando para a família como parte da solução dos problemas dos filhos (Kazac, Simms & Rourke, 2002). Os médicos devem ser esclarecidos e informados da relevância deste envolvimento na avaliação e intervenção com os utentes pediátricos (Drotar, 2005).O psicólogo poderá funcionar como um elemento de ligação no processo de comunicação família-médico, ajudando o profissional de saúde a compreender as representações parentais relacionadas com a problemática da criança, mas também agir como 16 um colaborador da família de modo a chegarem a soluções para os problemas apresentados (Barros & Santos, 1999). Espera-se até poder alargar este tipo de intervenção aos pares ou outros cuidadores da criança, que não a família (Rodrigue, 1994). As metodologias cognitivo-comportamentais têm demonstrado ser bastante eficazes no âmbito da saúde pediátrica, no tratamento de perturbações como por exemplo ansiedade (Creswell, Hentges, Parkinson, Sheffield, Wiletts & Cooper, 2010); depressão (March & Vitiello, 2009); ou no controlo da dor (Robins, Smith, Glutting & Bishop, 2005), sendo o tipo de intervenção privilegiada pela Psicologia Pediátrica, não só pelos bons resultados apresentados mas também por conseguir associar baixos custos e curta duração, fundamentais em contexto de saúde (Barros, 1999). Tendo em conta o tipo de intervenção do psicólogo nos cuidados primários, e da função assistencial por si desempenhada na consulta de psicologia, deverá estar preparado para avaliar e/ou acompanhar problemas comuns ao longo do desenvolvimento da criança ou jovem, como ajustamento a situações de luto ou a situações de separação e divórcio dos pais, perturbações de eliminação (como a enurese e a encoprese), ou perturbações do sono, tendo uma intervenção que incidirá sobretudo no aconselhamento psicológico e psicoeducação, quer com a criança quer com a família (Corney, 1996; Moreira, Gonçalves & Beutler, 2005). Mas poderá ser necessária uma actuação de outro nível em situações não tão comuns, como nos maus-tratos, abuso sexual ou negligência – situações em que haja necessidade de uma protecção imediata da criança ou jovem. Numa primeira fase o psicólogo deverá articular e referenciar os casos aos Núcleos de Apoio a Crianças e Jovens em Risco (NACJR) dos Centros de Saúde, à Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ) da área, ou directamente com o Ministério Público (tal como definido no Despacho n.º 31292/2008 de 5 de Dezembro). 17 A actuação do psicólogo junto da população pediátrica também deverá passar por uma colaboração activa com os médicos dos cuidados primários no despiste e avaliação de problemas de comportamento e desenvolvimento infantil (Riekert, Stancin, Palermo & Drotar, 1999), dado que 11 a 20% dos utentes pediátricos que recorrem aos CSP vão ao encontro dos critérios do DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) para uma ou mais perturbação mental (Costello, 1989), mas a maioria não é identificada ou encaminhada para outros profissionais de saúde, aumentando a utilização das consultas médicas nos CSP (Bernal et al.,2000). 4. Perturbações Psicológicas Pediátricas mais comuns nos CSP As perturbações de ansiedade encontram-se entre as perturbações psiquiátricas que mais cedo se manifestam, com uma idade média de início nos 11 anos (Kessler et al., 2005) e são das mais prevalentes dentro da psicopatologia infantil (Costello et al., 2003; Kessler et al., 2005; Klein, 2009). Vários autores têm vindo a investigar a prevalência destas perturbações nas crianças e adolescentes que procuram os serviços dos CSP (Arcelos & Vostanis, 2003; Chavira, Stein, Bailey & Stein, 2004), estimando-se que 17% poderão ir ao encontro dos critérios do DSM para um ou mais diagnósticos de perturbações de ansiedade. As perturbações de ansiedade na infância apresentam co-morbilidade com outras perturbações psiquiátricas de internalização (sobretudo com a depressão mas também com outras perturbações de ansiedade) (Seligman & Ollendick, 1998) e de externalização (como por exemplo a perturbação de hiperactividade com défice de atenção - PHDA) (Connoly & 18 Nanayakkara, 2010), com implicações na evolução da psicopatologia e riscos de futura psicopatologia na adolescência e idade adulta (Bittner et al., 2007; Bittner et al., 2004; Seligman & Ollendick, 1998). As perturbações de ansiedade, se não forem devidamente avaliadas e tratadas, poderão trazer alterações ao dia-a-dia das crianças, estando associadas com o absentismo, recusa escolar e desempenhos académicos pobres (Egger, Costello & Angold, 2003; Mazzone et al., 2007). Apesar da elevada prevalência apresentada para as perturbações de ansiedade (problemas de internalização), verifica-se que são as crianças e adolescentes com problemas de externalização (como PHDA, ou comportamentos disruptivos) que recebem mais acompanhamento e tratamento nos CSP (Garland et al., 2001; Horwitz, Leaf, & Leventhal, 1998). Existem também mais estudos direccionados para a avaliação e tratamento comportamental e farmacológico deste tipo de problemática (Morris, 2001). Parece então que os problemas de externalização, enquanto vistos como prejudiciais e disruptivos para outros que rodeiam a criança e jovem, são também de mais fácil detecção e menos dependentes dos relatos da própria criança, do que os de internalização, o que poderá justificar as diferenças no atendimento nos serviços disponíveis (Zahn-Waxler, Klimes-Dougan & Slattery, 2000). Das perturbações de externalização, a PHDA é das mais frequentes nas consultas dos cuidados primários, com prevalência nas crianças dos 6 aos 12 anos entre 4 a 12% (Brown et al., 2001), havendo maior predominância nos rapazes do que nas raparigas (Merikangas, Nakamura & Kessler, 2009). Apresenta co-morbilidade sobretudo com comportamentos disruptivos, problemas de internalização e de aprendizagem. Verifica-se também que a coocorrência de comportamentos disruptivos é mais frequentemente associada à dimensão de hiperactividade/impulsividade da PHDA, enquanto os problemas de internalização e de aprendizagem com a dimensão de atenção da perturbação (Brown et al., 2001). 19 As crianças e jovens com PHDA apresentam um maior risco de insucesso ou abandono escolar, assim como de gravidez durante a adolescência ou de comportamentos criminais (Harpin, 2005), constatando-se que 60% dos indivíduos com PHDA durante a infância, continuam a apresentar problemas na idade adulta (quer em contexto familiar quer laboral) (Weiss, 1985). Mas serão as perturbações disruptivas do comportamento (perturbação do comportamento e perturbação de oposição) que surgem com maior taxa de prevalência nas crianças e adolescentes que se dirigem aos CSP (cerca de 22%) (Arcelos & Vostanis, 2003), com uma idade de início entre os 5 e 15 anos, e maior predominância nos rapazes do que nas raparigas (Kessler et al., 2007). Existem comportamentos associados com a possibilidade de futura delinquência nas crianças e jovens, tal como comportamentos de desafio, destruição e de confronto físico, em idades inferiores aos 9 anos, (Stattin & Magnusson, 1996) sendo as perturbações disruptivas do comportamento nas crianças mais novas fonte de grande preocupação para os seus pais (Stallard, 1993). Várias problemáticas têm vindo a ser associadas às perturbações disruptivas do comportamento, como o abuso de substâncias, esquizofrenia, ou a perturbação obsessivocompulsiva. Verifica-se igualmente que nos rapazes existe uma forte co-morbilidade entre as perturbações do comportamento e a PHDA (combinação que aumenta o risco de surgimento de ansiedade e depressão) (Loeber, Burke, Lahey, Winters & Zera, 2000). De igual modo, as perturbações de humor, sobretudo as perturbações depressivas, são bastante frequentes nas crianças e adolescentes que se dirigem aos CSP, com taxas de frequência entre 2 e 5% (Arcelos & Vostaris, 2003; Waddell & Shepherd, 2002), e com idade de início entre os 11 e os 14 anos (Kessler et al., 2007). Nos pré-adolescentes não se verificam diferenças de prevalência entre sexos, no entanto durante a adolescência as taxas de depressão 20 são superiores entre as raparigas (Merikangas et al., 2009), considerando-se que diferentes estilos de coping ou as mudanças hormonais durante a puberdade poderão estar relacionados com estas diferenças (Angold, Costello, Erkanli & Worthman, 1999). Reconhece-se que a depressão tem impacto no desenvolvimento da criança ou jovem, com implicações negativas no desempenho escolar, ou no relacionamento com os pares ou familiares (Bhatia & Bhatia, 2007), sendo um dos principais factores de risco associado ao suicídio durante a adolescência, pelo que os diferentes técnicos em contacto com este grupo etário (como os profissionais de saúde ou professores) devem estar cientes dos seus sinais e sintomas (American Academy of Pediatrics, 2000). 4.1.Metodologias de Avaliação Utilizadas Para poder fornecer qualquer tipo de serviço de psicologia é fundamental a utilização de metodologias de avaliação, que permitam não só compreender a necessidade da prestação do serviço, mas também o eventual encaminhamento do indivíduo para outra instituição (Mash & Hunsley, 2005). A avaliação psicológica deve ser considerada como uma actividade fundamental em contexto de cuidado de saúde infantil e juvenil, definindo-se como “a actividade profissional e científica de recolher, avaliar e integrar informação sobre um sujeito, usando sempre que possível diferentes fontes de informação, de modo a responder a uma questão clínica …” e “O desenvolvimento, construção e avaliação de modos adequados de recolha e processamento de informação relacionada com o caso” (pág. 199) (Fernández-Ballesteros et al., 2001). A avaliação psicológica de crianças e jovens apresenta diferenças em comparação com a avaliação efectuada com os adultos, não só por ser necessário considerar as mudanças 21 relacionadas com o desenvolvimento infantil nos domínios em avaliação, como também por carecer de uma maior variedade de metodologias. É frequente ser necessário recolher informação junto de múltiplos informantes (por exemplo pais e professores) e incorporar dados recolhidos em contextos diferentes (em casa e na escola), através da utilização de diversos métodos (por exemplo entrevistas, observação directa, questionários, escalas, etc.), não se cingindo à mera aplicação de um conjunto de métodos psicométricos (Mash & Hunsley, 2005), mas sim a um processo, que reflecte complexas tomadas de decisão por parte do psicólogo clínico (La Greca & Lemanek, 1996). Verifica-se cada vez mais uma preocupação na criação de guidelines direccionadas para a avaliação clínica (Fernández-Ballesteros et al., 2001; Mash & Hunsley, 2005) que permitam ao psicólogo seguir as diferentes fases deste processo: análise e conceptualização do caso; organização e transmissão dos resultados; planeamento da intervenção e intervenção; avaliação final e follow-up (Fernández-Ballesteros et al., 2001). Caberá então ao profissional decidir e seleccionar quais os instrumentos que melhor servirão os objectivos e fase do processo em que se encontra (La Greca & Lemanek, 1996). Diversos autores têm procurado mostrar a importância da utilização de medidas de avaliação com suporte na evidência científica em contexto pediátrico (Angold & Costello, 2009; Holmbeck et al., 2008), havendo concordância na utilização de metodologias de aplicação breve e focadas nos sintomas ou problemas apresentados (Mash & Hunsley, 2005). Os questionários e inventários são instrumentos que apresentam as características anteriormente descritas, porém não devem ser usados como determinantes do diagnóstico clínico, dado não apresentarem informação sobre o desencadear e duração da problemática, demonstrando uma baixa sensibilidade em relação aos diferentes critérios de diagnóstico (Hodges, 1993). No entanto, dada a facilidade de administração e eficiência em termos de custo e de tempo, a sua utilização é altamente recomendável para efeitos de recolha de 22 informação, comparação de resultados pré e pós intervenção clínica, e para triagem (Campbell & Rapee, 1996). Em CSP a Child Behavior Checklist (CBCL) de Achenbach tem sido utilizada na triagem de problemas comportamentais e emocionais, facilitando a sua identificação e promovendo a qualidade da avaliação efectuada (Riekert et al., 1999). Consiste num questionário para pais/cuidadores de crianças entre 4 e 18 anos, constituído por 138 itens, divididos em dois blocos: um primeiro conjunto de perguntas relacionadas com as competências sociais da criança ou jovem, e um segundo grupo de questões ligadas a sintomatologia emocional e comportamental (Holmbeck et al., 2008). Este questionário demonstra também ser útil na avaliação e monitorização dos resultados dos tratamentos para as perturbações de internalização (depressão e ansiedade) e da PHDA (Klein, Dougherty & Olino, 2005; Pelham, Fabiano & Massetti, 2005; Silverman & Ollendick, 2005); assim como na recolha de informação sobre os comportamentos problemáticos da criança ou jovem auxiliando também na identificação de outras áreas problemáticas (McMahon & Frick, 2005). Contudo, para que a avaliação da co-morbilidade seja válida, é necessário recorrer a outras metodologias de avaliação, quer sejam instrumentos de papel e lápis - como por exemplo o caso do Questionário de Conners, na avaliação da PHDA ou das perturbações disruptivas do comportamento (McMahon & Frick, 2005; Pelham et al., 2005); escalas de avaliação cognitiva como a Escala de Inteligência de Wechsler para Crianças - 3ª edição (WISC-III) tendo em conta os problemas apresentados a nível escolar pelas crianças com PHDA (Pelham et al., 2005); e a entrevista clínica, que se reveste de especial importância na recolha de informação e na determinação do diagnóstico clínico (Mash & Hunsley, 2005). As entrevistas são reconhecidas como excelentes instrumentos para a observação e avaliação do funcionamento comportamental, cognitivo e emocional do sujeito (Grills- 23 Taquechel, Polifroni & Fletcher, 2009), fomentando também o início da relação terapêutica (Hughes & Byrne, 2009; Jones, 2010). Inicialmente enfatizaram-se sobretudo os relatos fornecidos pelos pais ou outros adultos relevantes, dado considerar-se que as crianças não teriam competências cognitivas para relatar com precisão os seus sentimentos e comportamentos (Grills-Taquechel et al., 2009), ou até por receio de eventuais riscos de morbilidade ou mortalidade induzidos pelas questões colocadas (Zahner, 1991). Actualmente, a perspectiva da criança ou jovem é valorizada, existindo para a maioria das entrevistas uma versão para pais e outra para crianças (Campbell & Rapee, 1996). É possível diferenciar as entrevistas pelo tipo de estrutura apresentada. As entrevistas não estruturadas podem ser o primeiro contacto da família com o clínico, apresentando como ponto forte a sua natureza individualizada, permitindo ao clínico uma grande liberdade durante todo o processo da entrevista (Grills-Taquechel et al., 2009). Não existe um formato ou questões estandardizadas, sendo o entrevistador totalmente responsável por quais as questões colocadas, e sobre qual a informação utilizada para chegar a um diagnóstico (Jones, 2010). Este grau de subjectividade pode gerar níveis de confiança e de validade mais baixos, tendo surgido a necessidade de criar entrevistas estruturadas e semi-estruturadas (Campbell & Rapee, 1996) que permitem uma diminuição da subjectividade do avaliador, mas exigem um grande investimento por parte do entrevistador, tanto em esforço como em tempo, podendo requerer uma a três horas para a sua realização (Fernández-Ballesteros, 1998). Para além das questões usualmente efectuadas relacionadas com a identificação do sujeito e da problemática, nas entrevistas em contexto pediátrico deve haver um enfoque especial na recolha de informação sobre o funcionamento social da criança (no contexto familiar mas também escolar), assim como na obtenção de dados relativos a situações de psicopatologia anterior (episódios antecedentes e cronicidade dos mesmos), mas também na 24 aquisição de informação relativa à história familiar de psicopatologia, tornando-se fundamental a recolha de dados a partir de múltiplos informantes (Klein et al., 2005; Pelham et al., 2005). Após a análise dos dados obtidos na avaliação será possível o clínico fazer um correcto planeamento da intervenção a seguir, tentando ir ao encontro de intervenções que funcionem com crianças e adolescentes - que vão ao encontro das suas necessidades. 4.2.Intervenções mais eficazes Tal como já referido anteriormente, em CSP esperam-se intervenções eficazes, breves e com baixo custo (Fuemmeler, 2004; Sobel et al., 2001). A conjugação de todos estes factores não é linear, trazendo alguns desafios ao psicólogo, que tem de procurar tratamentos psicossociais eficazes para os utentes, mas sem esquecer as características do seu contexto de trabalho. Alguns autores consideram que alguns destes constrangimentos, como por exemplo as limitações de tempo, podem ajudar tanto o técnico como o utente a um maior compromisso e envolvimento no processo de tratamento, levando o clínico a estabelecer metas terapêuticas atingíveis, a ser disciplinado e pragmático (Lyons & Low, 2009). Nos últimos anos tem-se verificado um grande interesse na procura de intervenções eficazes com suporte na evidência científica, não só a nível dos tratamentos farmacológicos, mas também psicossociais, no trabalho com crianças e adolescentes. Do mesmo modo a investigação também tem contribuído para a percepção do que não funciona nas intervenções pediátricas, verificando-se que até os tratamentos mais eficazes não funcionam em 1/3 dos casos (abrangendo os indivíduos que não respondem ao tratamento apesar de permanecerem no programa, os que abandonam o tratamento, e os que apresentam deterioração da resposta aos tratamentos psicológicos) (Moreira et al., 2005). 25 Na tentativa de obtenção dos melhores resultados para a criança ou adolescente, o psicólogo também deverá estar atento às limitações culturais a que avaliação e intervenção efectuadas poderão estar sujeitas, dado o conceito de “normalidade” variar substancialmente de cultura para cultura, devendo-se cada vez mais apostar em práticas que levem em consideração essa especificidade da criança, família e da comunidade onde se encontra inserida (Barrett, 2000). 4.2.1. Intervenções mais eficazes na PHDA A PHDA deve ser encarada como uma perturbação crónica (American Academy of Pediatrics, 2001), não sendo apropriado pensar que uma actuação breve e limitada no tempo será eficaz para a criança ou jovem com PHDA (Pelham & Fabiano, 2008). No entanto, tendo em conta a sua elevada frequência nos CSP, é necessário que se pensem em intervenções para esta perturbação adequadas ao contexto dos cuidados primários. A revisão de literatura sugere que as intervenções comportamentais, englobadas em programas multicomponenciais (treino comportamental parental, treino de auto-instruções, gestão de contingências, entre 17 e 29 sessões) combinadas com terapia farmacológica estimulante são o tratamento preferencial (Moreira et al., 2005; Pelham & Fabiano, 2008). Tendo em conta o custo que este modelo de actuação terá num serviço público de saúde, Pelham e Fabiano (2008) sugerem que a intervenção comportamental surja como a primeira linha de intervenção, e que a necessidade de outro tipo de estratégia vá sendo feita através de avaliações breves e sem grandes custos (por exemplo com questionários de papel e lápis) nos domínios problemáticos. 26 4.2.2. Intervenções mais eficazes nas perturbações de ansiedade Na maioria das perturbações de ansiedade a terapia cognitivo-comportamental individual com a criança (entre 16 a 20 sessões) (Moreira et al., 2005; Silverman, Pina & Viswesvaran, 2008) e as intervenções baseadas na família (Moreira et al., 2005) são eficazes. Durante a escolha das metodologias de intervenção nas perturbações de ansiedade o psicólogo deverá estar atento à fase de desenvolvimento em que a criança ou jovem se encontra, não se assumindo que independentemente da idade, todas as crianças serão capazes de utilizar estratégias metacognitivas, de compreender os seus estados emocionais e os dos outros, ou que conseguirão aprender a auto-regular o seu comportamento (pois estas competências não estarão totalmente desenvolvidas numa fase inicial da sua infância). Deverá também sempre ter em perspectiva que muitas das formas de ansiedade experienciadas na infância são adaptativas e necessárias para o desenvolvimento normal, pelo que se torna essencial o enquadramento da problemática com a fase de desenvolvimento em que a criança se encontra (Barrett, 2000). 4.2.3. Intervenções mais eficazes nas perturbações disruptivas do comportamento O treino comportamental parental surge como a primeira linha de intervenção neste tipo de perturbação (6 a 12 sessões) (Moreira et al., 2005), essencialmente com as crianças mais novas com perturbação de oposição, reservando-se o treino centrado na criança (treino de estratégias de resolução de problemas) para os adolescentes mais velhos, que já possuem uma maior capacidade para beneficiar da abordagem cognitiva-comportamental que estes programas abrangem (Eyberg, Nelson & Boggs, 2008). 27 Em relação aos adolescentes com perturbação do comportamento, não é possível identificar “uma melhor solução”, pois o tratamento deverá adaptar-se à gravidade/cronicidade do problema. Casos menos severos beneficiam de treino parental ou terapia familiar, mas nos casos de elevada gravidade/complexidade do problema poderá ser necessário o tratamento em contexto institucional (Moreira et al., 2005). Em CSP estas intervenções revestem-se de algumas dificuldades, nem sempre enquadrando-se naquele que será o papel deste tipo de serviço de saúde. Considera-se que deve haver um encaminhamento para cuidados diferenciados sempre que o adolescente não responde à intervenção inicial ou perante alguma das seguintes condições: se a família não é capaz de manter um ambiente calmo, consistente e seguro; se os comportamentos do jovem são lesivos para outros adolescentes ou animais; se existir co-morbilidade com as perturbações de ansiedade ou depressivas; ou se o adolescente estiver envolvido em questões legais que envolvam as autoridades policiais (American Academy of Pediatrics, 2010). 4.2.4. Intervenções mais eficazes na perturbação depressiva As terapias cognitivo-comportamentais (14 sessões) (Moreira et al., 2005) revelam-se eficazes a curto e longo prazo no tratamento da depressão com a população pediátrica, reduzindo os sintomas depressivos (David-Ferdo & Kaslow, 2008; Moreira et al., 2005). A intervenção poderá incidir na utilização da terapia cognitiva-comportamental, do treino de relaxamento, treino de competências sociais, treino de auto-instruções e de resolução de problemas, dependendo da avaliação anteriormente efectuada (Moreira et al., 2005). Também ao nível do tratamento da depressão será fundamental desenvolver estratégias de intervenção que levem em conta as fases do desenvolvimento da criança ou jovem. Que considerem a maior maturidade cognitiva dos adolescentes em relação às crianças (que os 28 levará a responder melhor às componentes das intervenções dirigidas às competências cognitivas), assim como a grande influência e envolvimento dos pares nesta fase do desenvolvimento (o que poderá levar à sua inclusão no desenho de intervenções eficazes com este grupo etário) Igualmente relevante será desenhar estratégias que dêem destaque às diferenças entre sexos nas respostas à depressão (dado as raparigas tenderem a ser mais expressivas emocionalmente, e a procurarem mais ajuda do que os rapazes). (David-Ferdo & Kaslow, 2008). Alguns estudos mostram que com o tratamento combinado (terapia cognitivocomportamental e fluoxetina) podem-se obter ganhos para a criança mais rapidamente, mas está provado que os tratamentos com maior duração e continuados obtém resultados consolidados e que previnem a recaída (Brent & Maalouf, 2009). Para além disso, a investigação tem vindo a demonstrar que as tentativas de suicídio são duas vezes mais comuns nos adolescentes tratados apenas com fluoxetina, do que nos jovens em tratamentos combinados ou apenas com intervenção cognitivo-comportamental (David-Ferdo & Kaslow, 2008). 29 II. Consulta de Psicologia para Crianças e Adolescentes no Centro de Saúde de Torres Novas 30 OBJECTIVOS O presente trabalho pretendeu ser uma reflexão sobre a actuação do psicólogo clínico em contexto de CSP, sobretudo na consulta de psicologia para crianças e adolescentes do Centro de Saúde de Torres Novas. Para que isso fosse possível, tentou-se ir ao encontro dos seguintes objectivos: 1. Caracterizar a população encaminhada para a consulta no período de Janeiro de 2010 a Agosto de 2012. 2. Identificar estratégias de avaliação e intervenção eficazes em contexto de CSP. 3. Perceber quais as áreas a melhorar na realização da consulta. 4. Propor estratégias direccionadas à melhoria da actuação do psicólogo na consulta de psicologia. 31 1. Breve caracterização do Centro de Saúde de Torres Novas O Centro de Saúde de Torres Novas (CSTN) abrange uma população de 39144 utentes inscritos (dados do Sinus/2012). É constituído pelo edifício sede na cidade de Torres Novas e por 14 extensões (que abarcam sobretudo as freguesias rurais do concelho), distribuídas por 280 km² (Câmara Municipal de Torres Novas, 2007). Encontra-se integrado no Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Médio Tejo I — Serra d’Aire, que engloba os centros de saúde de Alcanena, Entroncamento, Fátima, Ourém e Torres Novas. Este ACES foi criado em Junho de 2009 (tal como estabelecido no Decreto-Lei n.º 28/2008, de 22 de Fevereiro e na Portaria n.º 276/2009, de 18 de Março), estando no entanto prevista a futura fusão entre este agrupamento e o ACES Médio Tejo II – Zêzere. A principal referência de saúde (ao nível dos cuidados de saúde secundários) para o CSTN é o Centro Hospitalar Médio Tejo, EPE (Hospital de Tomar, Hospital de Torres Novas e Hospital de Abrantes), encontrando-se os diferentes serviços divididos pelos vários hospitais, como por exemplo a consulta de pediatria e desenvolvimento no Hospital de Torres Novas e a de psiquiatria da infância e adolescência no Hospital de Tomar. 32 2. Psicologia no Centro de Saúde de Torres Novas A intervenção de psicologia no CSTN iniciou-se em Agosto de 2009. Dado não ter existido nenhum psicólogo neste centro de saúde (ou nos restantes centros do agrupamento) até essa data, foi necessário efectuar um conjunto de acções preparatórias para o futuro desempenho das funções de psicólogo clínico na instituição, que passaram por reuniões com os responsáveis de cada área de intervenção (Director Executivo, Coordenadores da área médica e de enfermagem), para o delineamento das actividades de acordo com os objectivos traçados para o ACES e com o plano nacional de saúde então vigente. Estipulou-se que o trabalho a desenvolver no CSTN passaria por duas áreas: 1. Actividades de promoção da saúde e prevenção (no âmbito da UCC de Torres Novas). Estas actividades compreendem a participação em diferentes áreas: . saúde escolar - com acções de promoção da saúde junto dos alunos das escolas do concelho; . saúde materna – com a participação no Curso de Preparação para a Parentalidade; . projectos de parceria comunitária do CSTN, como por exemplo o Projecto de Intervenção Precoce de Torres Novas (na equipa local de intervenção); . Núcleo de Apoio e Crianças e Jovens em Risco do CSTN. 2. Função assistencial. . Consulta de apoio aos diferentes projectos/programas de saúde desenvolvidos no CSTN (saúde materna, cuidados continuados); . Consulta de referência para os Médicos de Família. 33 Desde 2009 até à presente data foram efectuadas algumas alterações e ajustamentos às actividades inicialmente delineadas, mas sempre com uma especial ênfase na função assistencial – actividade principal no trabalho desempenhado neste ACES. 3. Consulta de psicologia para crianças e adolescentes A consulta de psicologia para crianças e adolescentes (dos 0 aos 18 anos) surge como uma consulta de referência para os Médicos de Família do CSTN (sede, extensões ou atendimento complementar), apesar de também dar resposta a alguns pedidos encaminhados pelo NACJR, CPCJ, equipa de saúde escolar do CSTN ou pelos técnicos da Segurança Social local. Efectua-se na sede do centro de saúde, no Gabinete de Psicologia. 3.1 Procedimentos de referenciação e marcação da consulta Foi criada uma ficha de referenciação (Anexo I) que permite a quem sinaliza o caso indicar o(s) motivo(s) do encaminhamento, e descrever de modo sintético o problema apresentado (frequência, intensidade, contextos, consequências), assim como referir os aspectos da história familiar que se considerem mais relevantes. É também solicitado que sejam anexados relatórios que provenham do contexto escolar ou outros pertinentes. Esta ficha é colocada em envelope fechado e entregue no balcão de atendimento ao público, dirigido à consulta de psicologia. 34 Posteriormente o utente ou familiar é contactado telefonicamente ou por via postal para a marcação da consulta. É feita uma triagem em termos de prioridade de atendimento com base nos dados inscritos na ficha de referenciação, o que nem sempre se revela muito eficiente, dado algumas destas fichas não conterem informação suficiente para esta selecção. Neste momento existe uma lista de espera de 4 meses para a consulta. De seguida serão apresentados os dados relativos à caracterização da população referenciada para a consulta de psicologia para crianças e adolescentes no período de Janeiro de 2010 a Agosto de 2012, considerando-se como população referenciada os seguintes casos: utentes em consulta ou em lista de espera em Agosto de 2012, e utentes com alta, abandono da consulta ou encaminhamentos considerados fora do âmbito da consulta no centro de saúde, no período de Janeiro de 2010 a Agosto de 2012. 3.2 Caracterização da população referenciada para a consulta de psicologia, de Janeiro de 2010 a Agosto de 2012 Na Tabela 1 apresentam-se os dados relativos à idade e sexo dos utentes referenciados para a consulta de psicologia de crianças e adolescentes do Centro de Saúde de Torres Novas, no período de Janeiro de 2010 a Agosto de 2012. 35 Tabela 1 – Constituição da população referenciada para a consulta de psicologia, por idade e sexo do utente. Rapazes Raparigas Total Idade Freq. Abs. Freq. Rel. % Idade Freq. Abs. Freq. Rel. % Freq. Abs. Freq. Rel. % ≤2 2 2 ≤2 0 0 2 1 3-5 12 12 3-5 9 10 21 11 6-9 42 42 6-9 26 30 68 36 10-11 15 15 10-11 20 23 35 19 12-14 22 22 12-14 17 20 39 21 15-18 7 7 15-18 15 17 22 12 Total 100 100 Total 87 100 187 100 Verifica-se que foram referenciados mais rapazes do que raparigas para a consulta de psicologia no período de Janeiro de 2010 a Agosto de 2012. O grupo etário com menor representatividade na população encaminhada (tanto nos rapazes como nas raparigas) é o inferior aos dois anos de idade (com uma frequência relativa de 1%). As crianças entre os seis e os nove anos apresentam o maior número de encaminhamentos efectuados, nos rapazes com uma frequência relativa de 42% e nas raparigas com uma frequência relativa de 30%. Apresenta-se na Tabela 2 o ciclo de ensino frequentado pelas crianças e jovens referenciados, na altura do seu encaminhamento para a consulta de psicologia. 36 Tabela 2 – Ciclo de ensino frequentado pelos utentes encaminhados para a consulta: Frequências Absolutas e Relativas Ciclo de ensino Freq. Abs. Freq. Rel. % Em domicílio ou em creche 2 1 Pré-escolar 21 11 1º ciclo 68 36 2º e 3º ciclo 74 40 Secundário ou profissional 22 12 Total 187 100 A maioria dos utentes encaminhados frequenta o ensino básico, sendo diminuto o número de crianças em domicílio ou em creche. Em relação aos motivos principais de encaminhamento para a consulta de psicologia, na Tabela 3 apresentam-se as frequências absolutas e relativas, tendo em conta as fichas de referenciação preenchidas pelos médicos de família. Na Tabela 3 são apresentados os motivos principais de encaminhamento para a consulta, no período de Janeiro de 2010 a Agosto de 2012. 37 Tabela 3 – Motivo principal do encaminhamento: Frequências absolutas e relativas Motivo principal do encaminhamento Freq. Abs. Freq. Rel. % Problemas/atrasos de desenvolvimento 14 7 Dificuldades de aprendizagem 22 12 Problemas de comportamento 54 29 Problemas de ansiedade 33 18 Perturbações de humor 15 8 Crises de ajustamento* 25 13 Vítimas de maus-tratos e/ou abuso sexual 3 2 Perturbações de eliminação 9 5 Outros** 12 6 Total 187 100 Nota: a classificação utilizada tem por base a terminologia utilizada pelos médicos de família nas fichas de referenciação * Engloba situações de luto e divórcio dos pais ** Engloba problemas alimentares, de sono, consumos, problemas de identidade sexual, comportamentos sexuais de risco, perturbação da personalidade, Embora por vezes exista mais do que um motivo de encaminhamento, o motivo principal mais frequente é “problemas de comportamento” (29%), seguido de “problemas de ansiedade” (18%), “crises de ajustamento” (13%) e de “dificuldades de aprendizagem” (12%). A Figura 1 representa a distribuição dos motivos de encaminhamento em função do sexo. 38 45% 45% 40% 35% 30% 28% 25% Rapazes 20% Raparigas 20% 15% 11% 13% 10% 9% 10% 5% 11% 11% 9% 8% 5% 3% 2% 1% 5% 3% 5% P.E. Outros 0% P.D. D.A. P.C. P.A. P.H. C.A. VIT. Classificação utilizada tendo por base a terminologia utilizada pelos médicos de família nas fichas de referenciação. P.D. – problemas/atrasos desenvolvimento P.A. – problemas de ansiedade VIT. – vítima maus-tratos e/ou abuso sexual D.A. – dificuldades de aprendizagem P. H. – perturbações de humor P.E. – perturbações de eliminação P.C. – problemas de comportamento C.A. – crise ajustamento (luto, divórcio) Outros – problemas alimentares, problemas de sono, consumos, problemas de identidade sexual, comportamentos sexuais de risco Figura 1 – Distribuição dos motivos de encaminhamento, nos rapazes e nas raparigas. Observa-se que 45% dos rapazes foram encaminhados em virtude de problemas de comportamento e 13% devido a dificuldades de aprendizagem. Nas raparigas, 28% foram encaminhadas por perturbações de ansiedade e 20% por crises de ajustamento. Na Figura 2 apresentam-se as distribuições relativas dos motivos de encaminhamento em cada classe etária. Salienta-se o facto dos problemas de comportamento estarem presentes em todas as classes etárias, sendo o motivo de encaminhamento mais frequente entre os 6 e os 9 anos. Por outro lado, verifica-se que as dificuldades de aprendizagem são motivo de encaminhamento a partir dos seis anos, com a entrada para o primeiro ciclo do ensino básico. As perturbações de eliminação são encaminhadas a partir dos 3 e até aos 11 anos de idade. Os problemas de ansiedade surgem como motivo de encaminhamento a partir dos 3 anos, mas tornam-se o motivo mais frequente na classe dos 10 aos 11 anos. Finalmente, as perturbações 39 de humor são referenciadas a partir dos 6 anos, aumentando a frequência relativa em função do aumento da idade, sendo o motivo mais representado na classe dos 15 aos 18 anos. 100% 90% Outros 80% P.E. 70% VIT. 60% C.A. 50% P.H. 40% P.A. P.C. 30% D.A. 20% P.D. 10% 0% ≤2 3a5 6a9 10 a 11 12 a 14 15 a 18 Classificação utilizada tendo por base a terminologia utilizada pelos médicos de família nas fichas de referenciação. P.D. – problemas/atrasos desenvolvimento P.A. – problemas de ansiedade VIT. – vítima maus-tratos e/ou abuso sexual D.A. – dificuldades de aprendizagem P. H. – perturbações de humor P.E. – perturbações de eliminação P.C. – problemas de comportamento C.A. – crise ajustamento (luto, divórcio) Outros – problemas alimentares, problemas de sono, consumos, problemas de identidade sexual, comportamentos sexuais de risco Figura 2 - Distribuições relativas dos motivos de encaminhamento em cada classe etária. a) Caracterização da população em consulta em Agosto de 2012 Em Agosto de 2012 encontravam-se cinquenta e três utentes em consulta de psicologia, onze em fase de avaliação e quarenta e dois já com intervenção iniciada. De seguida, apresentam-se alguns dados relativos aos utentes em consulta de psicologia (na fase de avaliação ou já em intervenção) em Agosto de 2012, tal como a constituição da população por sexo e idade (Tabela 4), assim como os motivos principais de encaminhamento (Tabela 5). 40 Tabela 4 – Constituição da população em consulta em Agosto de 2012, por idade e sexo do utente. Rapazes Raparigas Total Idade Freq. Abs. Freq. Rel. % Idade Freq. Abs. Freq. Rel. % Freq. Abs. Freq. Rel. % ≤2 0 0 ≤2 0 0 0 0 3-5 2 7 3-5 1 4 3 6 6-9 14 48 6-9 6 25 20 38 10-11 2 7 10-11 5 21 7 13 12-14 9 31 12-14 7 29 16 30 15-18 2 7 15-18 5 21 7 13 Total 29 100 Total 24 100 53 100 Em Agosto de 2012 encontravam-se em consulta 53 utentes. A maioria das crianças em consulta tinha entre seis e nove anos (38%), logo seguido pelo grupo etário dos doze aos catorze (30%). O número de rapazes seguidos é ligeiramente superior ao de raparigas. Não existiam à data utentes na classe etária até aos dois anos. 41 Tabela 5 – Motivo principal do encaminhamento dos utentes em consulta em Agosto de 2012: Frequências absolutas e relativas Motivo principal do encaminhamento Freq. Abs. Freq. Rel. % Problemas/atrasos de desenvolvimento 2 4 Dificuldades de aprendizagem 5 9 Problemas de comportamento 19 36 Problemas de ansiedade 11 21 Perturbações de humor 6 11 Crises de ajustamento* 5 9 Vítimas de maus-tratos e/ou abuso sexual 1 2 Perturbações de eliminação 2 4 Outros** 2 4 Total 53 100 Nota: a classificação utilizada tem por base a terminologia utilizada pelos médicos de família nas fichas de referenciação * Engloba situações de luto e divórcio dos pais ** 1 caso de comportamentos de risco a nível sexual e 1 de problemas de sono Em Agosto de 2012, a maioria dos utentes em consulta foi encaminhado por “problemas de comportamento” (36%) e “problemas de ansiedade” (21%). b) Caracterização da população em lista de espera em Agosto de 2012 O tempo de espera desde que o utente é referenciado até à marcação da consulta é em média de quatro meses. No entanto, situações que se considerem de maior urgência (crianças vítimas de abuso ou maus-tratos, perturbações de humor com risco de suicídio, perturbações comportamentais que coloquem o próprio ou outros em risco) são consideradas prioritárias, pelo que a marcação é feita entre uma a duas semanas após o encaminhamento. 42 Na Tabela 6 apresentam-se os dados relativos à idade e sexo dos utentes em lista de espera para a consulta de psicologia em Agosto de 2012. A Tabela 7 identifica os motivos principais de encaminhamento para a consulta. Tabela 6 - Constituição da população em lista de espera em Agosto de 2012, por idade e sexo do utente. Rapazes Raparigas Total Idade Freq. Abs. Freq. Rel. % Idade Freq. Abs. Freq. Rel. % Freq. Abs. Freq. Rel. % ≤2 0 0 ≤2 0 0 0 0 3-5 3 15 3-5 0 0 3 10 6-9 7 35 6-9 6 60 13 43 10-11 4 20 10-11 2 20 6 20 12-14 4 20 12-14 2 20 6 20 15-18 2 10 15-18 0 0 2 7 Total 20 100 Total 10 100 30 100 Em Agosto de 2012 encontravam-se trinta utentes em lista de espera, 43% com idades compreendidas entre os seis e os nove anos. O número de rapazes em lista de espera era o dobro do número de raparigas. 43 Tabela 7 – Motivo principal do encaminhamento dos utentes em lista de espera em Agosto de 2012: Frequências absolutas e relativas Motivo principal do encaminhamento Freq. Abs. Freq. Rel.% Problemas/atrasos de desenvolvimento 1 3 Dificuldades de aprendizagem 4 13 Problemas de comportamento 11 37 Problemas de ansiedade 7 24 Perturbações de humor 2 7 Crises de ajustamento* 3 10 Vítimas de maus-tratos e/ou abuso sexual 0 0 Perturbações de eliminação 1 3 Outros** 1 3 Total 30 100 Nota: a classificação utilizada tem por base a terminologia utilizada pelos médicos de família nas fichas de referenciação * Engloba situações de luto e divórcio dos pais ** 1 caso de comportamentos de risco a nível sexual O principal motivo de encaminhamento dos utentes em lista de espera é “problemas de comportamento” (37%), seguido de “problemas de ansiedade” (24%) e de “dificuldades de aprendizagem” (13%). c) Caracterização da população encaminhada para a consulta no período de Janeiro de 2010 a Agosto de 2012, mas sem seguimento Apesar de referenciados para a consulta, 19 utentes não foram seguidos, quer por nunca terem comparecido à consulta, quer por abandono da mesma, quer por a situação verificada não se enquadrar nos objectivos da consulta de psicologia do Centro de Saúde. Na Tabela 8 quantificam-se os casos em apreço em função da idade dos utentes. Podemos 44 observar que dos utentes encaminhados que não foram seguidos, oito faltaram à primeira consulta sem voltar a procurar o serviço e cinco foram considerados encaminhamentos fora do âmbito da consulta. Na entrevista com os pais, compreendeu-se que, destes cinco encaminhamentos, três consistiam em pedidos de intervenção em casos diagnosticados de perturbações específicas da leitura e escrita, um solicitava apoio de orientação vocacional e o último pretendia uma intervenção ao nível da estimulação da linguagem. Os quatro primeiros foram encaminhados para a psicóloga educacional do estabelecimento de ensino, e o último foi encaminhado para a terapia da fala. Dos seis utentes que abandonaram a consulta, apenas se tem conhecimento do motivo num caso, que se prendeu com a perda da isenção das taxas moderadoras. Tabela 8: Encaminhamentos sem seguimento: frequências absolutas por classe etária Idade Falta a 1ª consulta Abandono consulta sem procura do serviço Encaminhamentos considerados fora do âmbito da consulta. ≤2 0 0 0 3-5 0 1 1 6-9 6 0 0 10-11 2 1 2 12-14 0 3 1 15-18 0 1 1 Total 8 6 5 45 d) Caracterização da população com alta entre Janeiro de 2010 e Agosto de 2012 A Tabela 9 mostra os dados relativos à idade e sexo dos utentes com alta clínica da consulta de psicologia. Existiram 85 casos em que se considerou resolvida a situação clínica que levou à procura da consulta. Tabela 9 – Constituição da população com alta, por idade e sexo do utente Rapazes Raparigas Total Idade Freq. Abs. Freq. Rel. % Idade Freq. Abs. Freq. Rel. % Freq. Abs. Freq. Rel. % ≤2 2 5 ≤2 0 0 2 3 3-5 5 13 3-5 8 17 13 15 6-9 17 44 6-9 12 26 29 34 10-11 5 13 10-11 12 26 17 20 12-14 8 20 12-14 5 11 13 15 15-18 2 5 15-18 9 20 11 13 Total 39 100 Total 46 100 85 100 3.3 Avaliação clínica na população com alta entre Janeiro de 2010 e Agosto de 2012 Após a fase de avaliação clínica com recurso a entrevistas aos pais e criança, assim como com a aplicação de instrumentos de triagem de tipo papel e lápis (como por exemplo o CBCL de Achenbach) ou de escalas de avaliação para áreas específicas (como por exemplo a 46 WISC-III), foi possível chegar a alguns diagnósticos clínicos, que foram (ou não) ao encontro dos motivos de encaminhamento iniciais. Na Tabela 10 apresentam-se os motivos de encaminhamento e as conclusões diagnósticas respectivas. Tabela 10 – Motivos de encaminhamento, e respectivos diagnósticos alcançados, na população com alta entre Janeiro de 2012 e Agosto de 2012. Motivos de Diagnóstico encaminhamento e nº de casos P.D. D.A. P.C. P.A. P.H. C.A. VIT. P.E. Outros S/ diag. P.D. 10 8 2 0 0 0 0 0 0 0 0 D.A. 10 1 7 1 1 0 0 0 0 0 0 P.C. 17 1 0 10 1 1 1 0 0 2 1 P.A. 14 0 0 0 12 1 0 0 0 1 0 P.H. 7 0 1 0 1 5 0 0 0 0 0 C.A. 16 0 0 0 1 0 12 0 0 2 1 VIT. 2 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 P.E. 4 0 0 0 0 0 0 0 4 0 0 Outros 5 0 0 0 0 0 1 0 0 3 1 Classificação utilizada tendo por base a terminologia utilizada pelos médicos de família nas fichas de referenciação. P.D. – problemas/atrasos desenvolvimento P.A. – perturbações de ansiedade VIT. – vítima maus-tratos e/ou abuso sexual D.A. – dificuldades de aprendizagem P. H. – perturbações de humor P.E. – perturbações de eliminação P.C. – problemas de comportamento C.A. – crise ajustamento (luto, divórcio) Outros – problemas alimentares, problemas de sono, consumos, problemas de identidade sexual, comportamentos sexuais de risco Constata-se que o motivo de encaminhamento “perturbação de eliminação” foi sempre confirmado pelo diagnóstico posterior. Em 17 sinalizações de “problemas de comportamento”, dez foram confirmadas como “perturbações do comportamento”, e as restantes integraram-se nas categorias de diagnóstico “perturbação do desenvolvimento”, “perturbação de ansiedade”, “perturbação de humor”, e “crise de ajustamento”. Os “problemas de ansiedade” foram maioritariamente confirmados como “perturbação de ansiedade”, existindo contudo também um caso de “perturbação de humor”. 47 Dentro dos onze diagnósticos de “problemas do comportamento”, consideraram-se seis casos de PHDA, dois de “perturbação do comportamento” e três de “perturbação de oposição”. Nos 17 problemas de ansiedade identificados, oito foram de ansiedade de separação, três de perturbação obsessiva-compulsiva, quatro de fobia específica e dois de fobia social. Já entre as oito perturbações de humor diagnosticadas, seis foram consideradas perturbações depressivas, uma perturbação bipolar e uma perturbação distímica. 3.4 Intervenção psicológica na população com alta entre Janeiro de 2010 e Agosto de 2012 Nas perturbações mais frequentemente encontradas em cuidados primários (perturbações de ansiedade, PHDA, perturbação depressiva e perturbações disruptivas do comportamento) será importante compreender se o número de consultas efectuadas será o adequado à problemática apresentada e ao contexto de saúde onde se efectuam. Na Tabela 11 apresentam-se os números médios de consulta efectuados, pelas psicopatologias mais comuns em CSP. Tabela 11 – Número de consultas realizadas, por perturbação psicológica. Perturbação Psicológicas Média Desvio-padrão Min-Máx Perturbação de ansiedade 18 1,52 15-20 PHDA 27 4,46 18-31 Perturbação depressiva 13 1,72 10-15 Perturb. disruptivas do comportamento 19 3,79 16-23 48 São as perturbações comportamentais (PHDA e Perturbações disruptivas do comportamento) que exigem o maior número de consultas realizadas. As perturbações depressivas são as que necessitam do menor número de consultas efectuadas. Na consulta de psicologia do CSTN utiliza-se sobretudo uma abordagem cognitivocomportamental ou comportamental na intervenção junto das crianças e suas famílias, tentando-se que exista sempre alguma ligação com os outros técnicos envolvidos no bemestar da criança ou jovem, sendo por isso constante o contacto com professores, educadores ou técnicos de serviço social, que possa complementar a intervenção realizada. Porém, em diversas patologias é fundamental o encaminhamento para serviços de saúde diferenciados, como os cuidados hospitalares, para que em consultas de especialidade haja uma avaliação e intervenção mais aprofundada nos casos apresentados, como o efectuado nas consultas de desenvolvimento ou de psiquiatria da infância e da adolescência. No CSTN optou-se após a detecção de situações que necessitem de encaminhamento para outros serviços, pela elaboração de um relatório técnico, que explicite o motivo do encaminhamento, enquadrando o historial da criança, avaliação e resultados encontrados, assim como propostas de intervenção, que posteriormente será entregue ao médico de família e colocado no processo clínico do utente, assim como entregue uma cópia aos pais da criança. Após a discussão do caso com o médico de família, o encaminhamento é feito por este técnico de saúde através do sistema informático ALERT, caso seja para os cuidados hospitalares, ou pela psicóloga se for para os serviços escolares ou sociais. 49 4. Discussão dos dados apresentados Considerando os motivos principais de encaminhamento apresentados (que na sua maioria foram confirmados pelo diagnóstico realizado), constata-se que as frequências apresentadas para as perturbações de ansiedade nos utentes encaminhados para a consulta (18%) vão ao encontro das taxas de prevalência destas perturbações nos CSP (17%), tal como indicado em diversos estudos (Arcelos et al, 2003; Chavira, et al., 2004). O mesmo não se verifica para as perturbações do comportamento, que na população encaminhada para a consulta apresentam uma frequência de 29%, e nos estudos de Arcelos e Vostanis (2003) esta frequência é de 22%. No entanto, sem dúvida que é a perturbação com maior prevalência neste contexto de saúde, tal como verificado por Arcelos e Vostanis (2003), evidenciando-se a sua predominância nos rapazes em relação às raparigas (45% dos rapazes foram encaminhados em virtude de problemas de comportamento em relação a 11% das raparigas), estando de acordo com o defendido por Kessler et al. (2007). São também as perturbações mais frequentes nas crianças encaminhadas entre os seis e os nove anos, o que enfatiza a importância de encontrar estratégias de actuação adequadas para este grupo etário, dado que comportamentos de desafio, destruição e confronto físico em idades inferiores aos nove anos estão associados à possibilidade de futura delinquência nas crianças e jovens mais velhos (Stattin & Magnusson, 1996). Em relação às perturbações de humor, apresentam-se como 8% dos motivos de encaminhamento para a consulta, enquanto Arcelos e Vostanis (2003) encontram valores de prevalência entre 2 e 5%. Observa-se que estas perturbações aumentam a frequência relativa em função do aumento da idade, chegando a ser o motivo mais representativo na classe dos 15 aos 18 anos (que apresenta 17% dos utentes do sexo feminino e 7% do sexo masculino), o 50 que parece ir ao encontro da noção de que durante a adolescência as taxas de depressão são superiores entre as raparigas (Merikangas et al., 2009). Corney (1996) defende que a intervenção do psicólogo em contexto de saúde também passa pelo acompanhamento de problemas comuns ao longo do desenvolvimento da criança e adolescente, como o ajustamento a situações de luto ou de separação e divórcio dos pais. O grande número de crianças encaminhadas por “crises de ajustamento” (13%) mostra que há uma percepção desta actuação da psicologia por parte dos médicos de família. O mesmo se verifica em relação ao encaminhamento de situações de perturbação de eliminação (5%), em que os médicos parecem considerar como relevante a participação do psicólogo. Apesar de na literatura revista não ser considerado um dos principais motivos de encaminhamento, as dificuldades de aprendizagem evidenciam-se como o quarto motivo de referenciação para a consulta (12%), surgindo como motivo principal de encaminhamento em 13% dos rapazes e 10% das raparigas, a partir da entrada para o primeiro ciclo do ensino básico. Por um lado, será de reflectir se estas dificuldades de aprendizagem não deveriam ser detectadas e encaminhadas já durante a frequência do ensino pré-escolar, ou se quem referencia considera estas problemáticas englobadas nos problemas/atrasos de desenvolvimento. Igualmente relevante para esta discussão será relembrar que a perspectiva da psicologia pediátrica, que é a defendida enquanto enquadramento preferencial em CSP (Fuemmeler, 2004.), não abrange a intervenção necessária neste tipo de casos, que será sobretudo educacional, porém considera-se que poderá ser pertinente na avaliação de comorbilidade e direccionamento para os serviços especializados (La Greca & Lemanek, 1996). Deste modo, um tão grande número de encaminhamentos de utentes com dificuldades de aprendizagem poderá significar que alguns médicos de família ainda não estarão cientes de 51 qual o papel do psicólogo clínico no CSTN, o que também se pode constatar nas cinco referenciações consideradas fora do âmbito da consulta, que foram posteriormente encaminhados para os serviços competentes. Aquando da vinda para o CSTN, a explicitação do papel do psicólogo e das suas áreas de actuação foi efectuada junto dos responsáveis dos serviços. No entanto, após três anos e com as constantes mudanças que as equipas têm vindo a sofrer, devido à reforma de diversos médicos e com a entrada de novos técnicos provenientes de empresas de trabalho temporário, poderá ser importante clarificar novamente estes aspectos, que em muito poderão melhorar o acesso à consulta, e a diminuição da lista de espera. O grupo etário com menor representatividade na população encaminhada é o inferior aos dois anos de idade (com uma frequência relativa de 1%). Um número tão reduzido de casos encaminhados nesta classe etária poderá significar que as equipas de saúde estão a conseguir atempadamente dar resposta às preocupações dos pais, ou que as problemáticas apresentadas por estas crianças não estarão a ser valorizadas enquanto necessitando do apoio da consulta de psicologia. Sabe-se que a actuação do psicólogo nos CSP deve passar por uma colaboração activa com os médicos no despiste e avaliação de problemas de comportamento e desenvolvimento infantil (Riekert et al., 1999), pelo que também nesta área deverá o psicólogo mostrar a sua disponibilidade junto dos médicos de família para futuras actuações conjuntas. Da observação dos resultados da avaliação clínica da população com alta entre Janeiro de 2010 e Agosto de 2012, evidencia-se que a maioria dos motivos de encaminhamento efectuados foi confirmada pelo diagnóstico alcançado na consulta. Só através de uma avaliação cuidada será possível chegar a um diagnóstico conclusivo e a um eficaz planeamento da intervenção a efectuar (Fernández-Ballesteros et al., 2001). Na consulta de 52 psicologia tentam-se usar estratégias de avaliação com suporte na evidência científica em contexto pediátrico, de aplicação breve e focadas nos sintomas ou problemas apresentados, tais como instrumentos de triagem de papel e lápis (Mash & Hunsley, 2005). Também a aplicação da entrevista clínica vai no sentido do que é defendido para a recolha de informação e determinação do diagnóstico clínico, tentando-se valorizar não só a perspectiva dos pais, mas também da criança, como indicado na literatura (Campbell & Rapee, 1996). Porém, a falta de instrumentos aferidos à população portuguesa dificulta em muito esta prática, esperando-se que futuramente se desenvolva este tipo de materiais que em muito facilitam a avaliação, e que brevemente estejam disponíveis para aplicação em contexto de CSP. É possível constatar que tal como referido por Garland et al. (2001) são as crianças e jovens com perturbações de externalização que recebem mais acompanhamento e tratamento nos CSP. Na análise do número de consultas efectuadas nas perturbações mais comuns ao nível dos CSP, são as perturbações comportamentais (PHDA e perturbações disruptivas do comportamento) que implicam o maior número de consultas efectuadas com cada utente. Moreira et al. (2005) consideram que para as perturbações disruptivas do comportamento, o treino comportamental parental deve ser o tipo de intervenção preferencial, sobretudo com as crianças mais novas, variando entre seis e doze sessões. Na população com alta observa-se que em média foram necessárias 19 consultas para actuar neste tipo de perturbação. Tal pode dever-se a que têm sido escolhidas estratégias de intervenção mais centradas na criança, do que na família, tornando a actuação de psicologia menos eficaz. Em relação à intervenção nas perturbações depressivas, recorrendo às terapias cognitivo-comportamentais, o número de sessões considerado necessário para uma intervenção eficaz é de 14 sessões (Moreira et al., 2005). Na consulta do CSTN em média foram necessárias 13, o que se considera bastante positivo, tendo em conta que em CSP são 53 esperadas intervenções eficazes, breves e com baixo custo (Fuemmeler, 2004), o que foi conseguido através da utilização de estratégias cognitivo-comportamentais. CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA A MELHORIA DA PRÁTICA CLÍNICA A população entre os 0 e os 18 anos encaminhada para a consulta de psicologia do CSTN entre Janeiro de 2010 e Agosto de 2012 apresenta como principal motivo de encaminhamento as perturbações do comportamento, seguido das perturbações de ansiedade (tal como verificado na maioria dos contextos de CSP). Será na classe etária dos seis aos nove anos que se encontram a maioria dos casos de perturbação do comportamento, com maior incidência nos rapazes do que nas raparigas. A actuação do psicólogo em CSP passará por diversos contextos e tipos de actuação, mas é ao nível da consulta que grande parte da sua intervenção será realizada. Com crianças e adolescentes será importante o acompanhamento de problemas comuns ao longo do desenvolvimento, mas também o despiste de problemas relacionados com as perturbações psicológicas mais comuns na infância e também no contexto de CSP. No CSTN as metodologias de avaliação utilizadas apresentam suporte na evidência científica, assim como as de intervenção, sendo no entanto necessário reestruturar a intervenção efectuada ao nível das perturbações de comportamento. Também o modo como o encaminhamento tem sido efectuado deve ser repensado, sobretudo tendo em conta que quem 54 faz o encaminhamento nem sempre está correctamente informado sobre o tipo de trabalho efectuado pelo psicólogo clínico. O próprio processo de selecção dos casos prioritários para a consulta também deve ser um aspecto a reflectir. Até ao momento, este foi feito através das fichas de referenciação preenchidas pelos médicos de família. No entanto, dadas estas por vezes não conterem o tipo de informação necessária para este tipo de selecção, a triagem nem sempre se revela eficaz. De seguida apresentam-se algumas sugestões de melhoria para a consulta de psicologia, não só no acesso como também ao nível da intervenção. 1. Criação de um folheto informativo, a ser distribuído junto dos médicos de família da sede, extensões e atendimento complementar do CSTN, explicitando as áreas de intervenção do psicólogo no CSTN e os problemas em que é possível haver intervenção na consulta. 2. Criação de uma consulta de “triagem”, em que se tentará no período de um mês efectuar uma primeira abordagem com a criança e sua família, para seleccionar os casos que deverão ou não ter seguimento no CSTN, assim como os prioritários em termos da problemática apresentada. 3. Alteração do tipo de intervenção efectuado junto das crianças identificadas com perturbações do comportamento, passando a dar um maior enfoque ao treino parental, e menos à intervenção individual (excepto se existir co-morbilidade com outras perturbações relevantes). 4. Identificação junto da comunidade escolar de áreas de actuação conjunta para uma melhor intervenção junto da população escolar. 55 BIBLIOGRAFIA American Academy of Pediatrics. (2010). Addressing Mental Health Concerns in Primary Care: a clinician’s toolkit. Elk Grove Village, IL: American Academy of Pediatrics. American Academy of Pediatrics. (2001). Clinical practice guideline: treatment of the school-aged child with attention-deficit/hyperactivity disorder. Pediatrics, 108(4), 1033-1044. American Academy of Pediatrics. (2000). Suicide and suicide attempts in adolescents. Pediatrics, 105(4), 871-874. Angold, A., & Costello, E. (2009). Nosology and measurement in child and adolescent psychiatry. 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SOCIAL DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DA CRIANÇA/JOVEM NOME:___________________________________________________________________________________ D.N.: ____/____/____ ZONA DE RESIDÊNCIA: ___________ CONTACTO TELEFÓNICO: ________________ ANO DE ESCOLARIDADE: _____ ESTABELECIMENTO DE ENSINO: __________________________________ EDUCADORA/PROF./D.T.: _____________________ MÉDICO DE FAMÍLIA: _________________________ MOTIVO DA REFERENCIAÇÃO: POR FAVOR, ASSINALE COM (X) O(S) MOTIVO(S) DE REFERENCIAÇÃO: Pert. do desenvolvimento ………….... Pert. de ajustamento (ansiosas e depressivas) ……. Pert. do comportamento infantil……….. Crises de ajustamento (luto, divórcio dos pais, …)…… DESCRIÇÃO DO PROBLEMA (frequência e intensidade, contextos, consequências): ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ DADOS RELEVANTES DA HISTÓRIA FAMILIAR: ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ NOTA: por favor, anexar documentação relevante (relatórios psicológicos ou médicos anteriores; relatórios de educadores ou professores; informações que documentem as necessidades da criança/jovem, etc.) Preenchido por: _______________________________ Data:____/____/____ 71