[nome do autor] PARA UMA TEORIA DA COMPETIÇÃO [título da tese > sem o sub-título] DESPORTIVA PARA CRIANÇAS E JOVENS UM ESTUDO SOBRE OS CONTEÚDOS, ESTRUTURAS E ENQUADRAMENTOS DAS COMPETIÇÕES DESPORTIVAS PARA OS MAIS JOVENS EM PORTUGAL [Marcelo Francisco da Silva Cardoso] Porto, 2007 FACULDADE DE DESPORTO DA UNIVERSIDADE DO PORTO PARA UMA TEORIA DA COMPETIÇÃO DESPORTIVA PARA CRIANÇAS E JOVENS: UM ESTUDO SOBRE OS CONTEÚDOS, ESTRUTURAS E ENQUADRAMENTOS DAS COMPETIÇÕES DESPORTIVAS PARA OS MAIS JOVENS EM PORTUGAL Marcelo Francisco da Silva Cardoso Porto, 2007 Dissertação Doutoramento apresentada no ramo às provas de da Ciência do Desporto nos termos do Decreto-Lei nº 216/92 de 13 de Outubro, orientada pelo Prof. Doutor António Teixeira Marques e co-orientada pelo Prof. Doutor Adroaldo Cezar Araújo Gaya i Ficha de Catalogação Silva Cardoso, M. F. (2007). Para uma teoria da competição desportiva para crianças e jovens: um estudo sobre os conteúdos, estruturas e enquadramentos das competições desportivas para os mais jovens em Portugal. Porto: M.F. Silva Cardoso. Dissertação de Doutoramento apresentada à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Palavras-Chave: FORMAÇÃO DESPORTIVA; COMPETIÇÃO DESPORTIVA; PEDAGOGIA DO DESPORTO; CRIANÇAS E JOVENS. ii AGRADECIMENTOS A concretização deste trabalho, ao longo de seu desenvolvimento, inúmeras foram as colaborações e incentivos recebidos. Quero, aqui, agradecê-los, enumerando-os com prazer e gratidão. Agradeço, especialmente, ao Prof. Dr. António Teixeira Marques por sua orientação e incentivo na condução do trabalho. Também pela oportunidade de convívio e amizade oferecidos durante a minha estada no Porto, Portugal. Ao Prof. Dr. Adroaldo Cezar Gaya, co-orientador e amigo de longa data por seu permanente atendimento, apoio e incentivo à realização deste projeto. Aos professores da FADEUP que contribuíram no esclarecimento e orientação dos aspectos metodológicos, estruturais e de organização desta tese: Prof. Dr. António Manuel Fonseca, Prof. Dr. Amândio Graça, Prof. Dra. Isabel Mesquita, Prof. Dr. José Oliveira, Prof. Dr. José Maia, Prof. Dra Paula Queiroz. Aos professores, pela sua valiosa contribuição para a operacionalização dos estudos empíricos, intermediando os contactos com as federações, associações desportivas e os treinadores: Prof. Dr. João Paulo Vilas Boas, Prof. Dr. Júlio Manuel Garganta Silva, Prof. Dra. Alda Corte-Real, Prof. Dra. Suzana Soares, Prof. Jorge Pinto, Prof. Dr. Ramiro Rolim, Prof. Dr. Paulo Colaço, Prof. Eurico Brandão, Prof. Dr. Antonio Alberto Cunha, Prof. Dimas Pinto, Prof. Dra Isabel Mesquita, Prof. Dr. António Natal. À CAPES, por conceder a bolsa de estudos que garantiu a realização do trabalho e minha permanência em Portugal. iii À Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), pela liberação que me permitiu frequentar o curso de doutoramento no exterior. À Faculdade de desporto da Universidade do Porto (FADEUP), pela afável acolhida e por disponibilizar a utilização dos espaços e serviços. Às Federações e associações desportivas de Portugal, pela disponibilização dos documentos necessários para realização do primeiro estudo empírico. Aos treinadores, pela paciência, colaboração e credibilidade ao concordarem em conceder as entrevistas. Aos colegas e amigos brasileiros, pela demosntração de amizade, atenção e no convívio quando de suas passagens pelo Porto. Prof. Dr. Adroaldo Cezar Araújo Gaya (UFRGS), Prof. Dr. Carlos Alberto Amadio (USP), Prof. Dr. Go Tani (USP), Prof. Dr. Antônio Carlos Guimarães (em memória), Prof. Dr. Valdir Barbanti (USP) e aos bolsistas, professores e coordenadores do projeto PROESP-BR. À minha esposa, Ivonice pelo apoio, compreesão e dedicação, aos meus pais e irmãos pelo incentivo. Reiterando meus agradecimentos, ao Dr. António Teixeira Marques, Dr. Jorge Olímpio Bento, Dr. José Oliveira, Dr. José Maia, Dr. Amândio Graça, Dr. Júlio Garganta, Prof. Jorge Pinto, Dra. Zélia Matos e a todos com quem convivemos nos quatro anos que moramos no Porto. Tempo em que recebemos solidariedades e fizemos amigos, que nos proporcionaram o conhecimento da cultura e hábitos das várias regiões do país. Conhecimentos estes, hitóricoculturais, que muito contribuem para formação integral de um doutor. Destaco, em especial, a oportunidade de ter conhecido e degustado os famosos vinhos de Portugal. iv ÍNDICE GERAL ÍNDICE DE FIGURAS ....................................................................................... ix ÍNDICE DE QUADROS ..................................................................................... xi RESUMO......................................................................................................... xiii ABSTRACT..................................................................................................... xiv RÉSUMÉ .......................................................................................................... xv INTRODUÇÃO ................................................................................................... 1 I - REVISÃO DA LITERATURA ......................................................................... 7 1.1. O conceito e a importância da competição na formação desportiva de crianças e jovens.................................................................. 8 1.1.1. Conceito ............................................................................................ 8 1.1.2. A participação das crianças e jovens nas competições desportivas 10 1.1.3. O sistema de treino e competições vigente..................................... 12 1.1.4. Importância da competição no desporto de crianças e jovens ........ 15 1.1.4.1. Aspectos Psicológicos .............................................................. 17 1.1.4.2. Aspectos Sociais ...................................................................... 22 1.1.4.3. Aspectos Pedagógicos ............................................................. 23 1.1.5. A relevância dos resultados na competição de crianças e jovens .. 26 1.2. Valores e funções da competição no desporto de crianças e jovens. ......................................................................................................... 31 1.3. Razões do abandono da prática desportiva e das competições ..... 34 1.4. Modelo de treino e modelo de competição de crianças e adolescentes ............................................................................................... 38 1.4.1. Organização e adequação da preparação desportiva e a participação competitiva de crianças e adolescentes ............................... 38 1.4.2. A idade de início da participação da criança em competições regulares. .................................................................................................. 40 1.4.2.1. As posições da ciência e as formulações dos investigadores. . 41 1.4.2.1.1. Aspectos Biológicos ........................................................... 43 1.4.2.1.2. Aspectos Psico-sociais....................................................... 44 1.4.2.1.3. Aspectos Motores .............................................................. 46 1.4.2.2. As posições da pedagogia e as formulações dos especialistas 47 1.4.2.3. As Referências Empíricas da Prática Desportiva ..................... 48 1.4.3. A estrutura da Preparação Desportiva a Longo Prazo no Treino de Crianças e Jovens..................................................................................... 54 1.5. Caracterização dos Desportos ........................................................... 64 1.6. As competições no modelo de prospectiva da preparação desportiva.................................................................................................... 66 1.6.1. Natureza das competições nos estádios e etapas da preparação desportiva de crianças e jovens. ............................................................... 66 1.6.2. O enquadramento geográfico das competições. ............................. 69 1.6.3. Competições em equipa nas modalidades individuais. ................... 71 1.6.4. As características das competições e os modelos de periodização do treino. ........................................................................................................ 72 1.6.4.1. Competições no estádio de treino de base............................... 74 1.6.5. Número de competições e frequência da participação competitiva. 76 v 1.7. As propostas e exemplos de modificações nas competições de crianças e jovens. ....................................................................................... 81 II - Metodologia ............................................................................................... 92 2.1. Primeiro Estudo.................................................................................. 95 2.1.1. Amostra ....................................................................................... 95 2.1.2. Instrumentarium........................................................................... 96 2.1.3. Procedimentos de recolha dos dados.......................................... 98 2.1.4. Procedimento de análise dos dados............................................ 98 2.2. Segundo Estudo............................................................................... 101 2.2.1. Amostra ..................................................................................... 101 2.2.2. Instrumentarium......................................................................... 102 2.2.3. Procedimentos de recolha de dados ......................................... 106 2.2.4. Análise dos dados ..................................................................... 107 III - APRESENTAÇÃO E DISCUSÃO DOS RESULTADOS.......................... 110 3. Primeiro Estudo Empírico.................................................................... 110 3.1 - Organização das competições ........................................................ 110 3.1.1 - Estrutura e características das competições................................ 110 3.1.1.1. Enquadramento geográfico das competições para os diferentes escalões .............................................................................................. 110 3.1.1.2. A natureza da competição ...................................................... 112 3.1.1.3. Valorização de competições por equipas nas modalidades individuais............................................................................................ 113 3.1.2. Idade de início da participação competitiva................................... 114 3.1.3. Directivas e orientações pedagógicas para as competições .. 115 3.1.3.1. Realização de competições mistas......................................... 115 3.1.3.2. Relação entre a organização do calendário das competições e o calendário escolar (férias, datas festivas e exames escolares)........... 116 3.1.3.3. Critérios para estabelecer os quadros competitivos ............... 116 3.1.4. Sequência organizativa das competições ................................ 117 3.1.4.1. Aspectos que determinam a participação nos quadros competitivos posteriores ...................................................................... 117 3.1.4.2. Organização dos quadros competitivos ao longo da época ... 119 3.1.4.3. Processo progressivo de especialização da competição....... 120 3.1.5. Objectivos da competição .......................................................... 121 3.1.5.1. Objectivos definidos pelas federações e associações para a competição nos diferentes escalões.................................................... 121 3.1.5.2. Diferenças nos objectivos competitivos entre os escalões e entre as diferentes modalidades desportivas................................................ 123 3.1.6. Sistema de pontuação e classificação ...................................... 124 3.1.6.1. Atribuição de prémios ............................................................. 124 3.1.6.2. Atribuição de prémios individuais ........................................... 125 3.1.6.3. Apuramento do campeão nacional ......................................... 125 3.1.6.4. Inclusão de provas a eliminar ................................................. 126 3.1.6.5. A participação competitiva dos atletas e equipas que têm prestações mais baixas ....................................................................... 127 3.2. Regulamentos .................................................................................... 128 3.2.1. Adaptações das regras ................................................................. 128 3.2.1.1. Ocorrência de adaptações das regras nos escalões .............. 128 vi 3.2.1.2. Normas técnicas e pedagógicas estabelecidas pelas federações ............................................................................................................ 128 3.2.2. Arbitragem..................................................................................... 129 3.2.2.1. Realização da arbitragem ....................................................... 129 3.2.2.2. Nível de graduação exigida ao árbitro nos diferentes escalões ............................................................................................................ 130 3.2.2.3. Características da arbitragem nos escalões ........................... 130 3.3. Actividades competitivas.................................................................. 131 3.3.1. Conteúdos..................................................................................... 131 3.3.1.1. Inclusão de actividades competitivas de outras modalidades na competição do desporto seleccionado................................................. 131 3.3.1.2. Actividades competitivas diversificadas e adaptadas ............. 131 3.3.1.3. Progressão dos conteúdos das actividades competitivas entre os escalões .............................................................................................. 132 3.3.1.4. Relação entre os conteúdos da actividade e os objectivos da formação.............................................................................................. 133 3.4. Carga de competição......................................................................... 134 3.4.1. Número de competições para cada escalão ................................. 134 3.4.2. Período de tempo em que ocorrem as competições ..................... 136 4. Segundo Estudo Empírico ................................................................... 137 4.1. A organização das competições ...................................................... 137 4.1.1. Estrutura e características das competições ................................. 137 4.1.1.1. Enquadramento geográfico das competições para os diferentes escalões .............................................................................................. 137 4.1.1.2. Natureza das competições ..................................................... 139 4.1.1.3. Entidade organizadora das competições................................ 148 4.1.2. Início da participação competitiva............................................. 152 4.1.2.1. Definição da idade e requisitos para participar ....................... 152 4.1.3. Directivas e Orientações Pedagógicas.......................................... 158 4.1.3.1. Acesso à competição.............................................................. 158 4.1.3.2. Estabelecimento do quadro competitivo ................................. 163 4.1.3.3. Participação Mista .................................................................. 168 4.1.3.4. Importância atribuída aos resultados...................................... 171 4.1.3.5. Valores do desporto e da competição .................................... 172 4.1.3.6. Funções das competições ...................................................... 175 4.1.4. Objectivos da competição .......................................................... 176 4.1.4.1. Distinção nos objectivos das competições ............................. 176 4.1.4.2. Prioridades na orientação da participação competitiva dos mais jovens .................................................................................................. 177 4.1.4.3. Prioridades na orientação da preparação dos mais jovens para a competição .......................................................................................... 179 4.1.4. 4. A evolução dos objectivos ao longo dos escalões................. 180 4.1.4.5. Anos da formação dedicados à participação no treino e nas competições com orientações diferenciadas ....................................... 182 4.1.5. Sistema de pontuação e classificação ...................................... 183 4.1.5.1. Competições voltadas para o apuramento do campeão nacional ............................................................................................................ 184 4.1.5.2. Atribuição de prémios ............................................................. 186 vii 4.1.5.3. Critérios para garantir a participação nas fases seguintes da competição .......................................................................................... 190 4.1.5.4. Introdução de provas a eliminar.............................................. 192 4.2. Regulamento ...................................................................................... 193 4.2.1. Adaptação das regras................................................................. 194 4.2.1.1. Adaptações dos regulamentos da competição ....................... 194 4.2.1.2. Escalões em que os regulamentos devem ser adaptados ..... 195 4.2.1.3. Adaptações consideradas mais importantes .......................... 196 4.2.1.4. Avaliação das alterações regulamentares propostas pelas federações........................................................................................... 199 4.2.1.5. Normas técnicas e pedagógicas estabelecidas pelas federações ............................................................................................................ 201 4.2.2. Arbitragem ................................................................................... 203 4.2.2.1. Quem deve arbitrar................................................................. 203 4.2.2.2. Carácter da arbitragem ........................................................... 205 4.2.2.3. Participação das crianças e jovens na arbitragem.................. 206 4.2.2.4. Desempenho das crianças e jovens de outras funções na competição .......................................................................................... 208 4.3. Conteúdo das actividades competitivas e conteúdo do treino ..... 209 4.3.1. Conteúdo das actividades competitivas ........................................ 209 4.3.2. Percentuais dos anos de formação dedicados aos diferentes conteúdos da actividade competitiva ...................................................... 213 4.4. Carga de competição......................................................................... 214 4.4.1 – Frequência de participação competitiva ...................................... 215 4.4.2. Formato do calendário competitivo ............................................... 217 4.4.3. Disposições das competições ....................................................... 221 4.4.5. Relação entre a carga de competição e a carga de treino ............ 223 4.5. Competição na formação dos treinadores ...................................... 225 4.5.1. Aspectos relacionados com o papel da competição na formação dos mais jovens que deveriam estar presentes nos cursos de formação dos treinadores. ............................................................................................. 227 4.7. Síntese do Segundo Estudo Empírico ............................................. 232 IV CONCLUSÃO............................................................................................ 242 V - BIBLIOGRAFIA........................................................................................ 254 ANEXO ............................................................................................................... i Anexo 1 - Etapas da formação desportiva nos estágios de preparação referenciadas para os escalões das modalidades colectivas ................... i Anexo 2 - Categorias sub-categorias e questões correspondentes do instrumento de análise do primeiro estudo empírico .............................. iii Anexo 3 - Inquérito utilizado no Segundo estudo empírico...................... v viii ÍNDICE DE FIGURAS Pág Figura 1- Grelha utilizada para análise do conteúdo do inquérito aplicado aos treinadores 109 Figura 2 - Enquadramento geográfico das competições para os diferentes escalões 110 Figura 3 - Natureza da Competição: formal e informal 112 Figura 4 - Idade de início da participação nos quadros competitivos 114 regulares Figura 5 – Organização de competições mistas nas modalidades 115 desportivas por escalões Figura 6 – Critérios para estabelecer os quadros competitivos por escalões 117 Figura 7 – Aspectos que determinam a participação nas fases seguintes da competição 118 Figura 8 – Formato do calendário competitivo 119 Figura 9 – Resultados, organização e alterações no conteúdo das 120 competições entre os escalões Figura 10 - Objectivos das competições definidos pelas federações e associações 122 Figura 11 – Atribuição de prémios por escalões 124 Figura 12 – Ocorrência de competições voltadas para o apuramento do campeão nacional em cada escalão. 125 Figura 13 - Inclusão de provas à eliminar por escalões 126 Figura 14 – Responsável pela arbitragem nas competições por escalões 129 Figura 15 - Actividades competitivas diversificadas e adaptadas por escalões 132 Figura 16 – Enquadramento da participação competitiva por âmbito geográfico em cada escalão, das modalidades em geral. 137 Figura 17 – Natureza das competições por escalões 139 Figura 18 – Carácter da competição em relação ao enquadramento geográfico 147 Figura 19 – Entidades que devem organizar as competições desportivas 149 ix para os mais jovens. Figura 20 – Idade de início para a participação competitiva nos quadros regulares 153 Figura 21 – Critérios de escolha para a participação na competição 160 Figura 22 – Critérios para definir a participação de uma equipa ou atleta no quadro competitivo 164 Figura 23 – Importância dos resultados na competição por escalões 171 Figura 24 – Funções das competições 175 Figura 25 – Prioridades que devem orientar a participação competitiva por escalões das modalidades em geral 178 Figura 26– Objectivos que devem orientar a preparação para a competição por escalões, nas modalidades em geral 179 Figura 27 – Média dos percentuais dos anos da formação dedicados à participação competitiva nas orientações diferenciadas 182 Figura 28 – Média dos percentuais dos anos da formação dedicados à preparação para a competição nas orientações diferenciadas 183 Figura 29 – Atribuição de prémios por escalões 187 Figura 30 – Concordância com à introdução de provas a eliminar por escalões 192 Figura 31 – Adaptações no regulamento por escalões 195 Figura 32 – Arbitragem por nível competitivo 203 Figura 33 – Participação da criança como árbitro na competição por escalões 206 Figura 34 – Conteúdo da actividade competitiva para os escalões 210 Figura 35 – Média dos percentuais dos anos de formação dedicados à participação em competições diferenciadas pelo conteúdo 213 Figura 36 - Formato do calendário competitivo 218 Figura 37 – Disposição das competições 221 Figura 38 – Avaliação da frequência de participação competitiva em relação às necessidades para a formação desportiva das crianças e jovens 223 x ÍNDICE DE QUADROS Pág. Quadro 1 - Estudos realizados em Portugal sobre a participação em competições de atletas jovens 13 Quadro 2 - Idade do início da participação desportiva em alguns desportos e especialidades desportivas. 50 Quadro 3 - Zonas das idades limites dos resultados (adaptado de Filin, 1996) 55 Quadro 4 - Modelos de preparação desportiva a longo prazo e respectivas etapas 57 Quadro 5 - Duração de cada etapa da PDLP nos diversos desportos (adaptado de Platonov, 1994) 60 Quadro 6 - Idade da iniciação, da especialização e da alta performance em diferentes desportos (adaptado de Bompa, 2000) 63 Quadro 7 - Enquadramento territorial das competições dos mais jovens, (Matweiev e Nowikov (1982); citados por Marques, 1997) 69 Quadro 8 - Idade mínima para a participação em competições (adaptado 70 de Bompa, 2000) Quadro 9 - Natureza das competições realizadas, em algumas modalidades, por jovens atletas portugueses do escalão infantil, ou equivalente, no ano de 1995. 71 Quadro 10 - Valores médios da carga anual de treino e de competição e da frequência de participação competitiva em jovens atletas portugueses dos escalões (infantis e iniciados) (Marques, 1993) 77 Quadro 11 - Valores médios da carga anual de treino e de competição e da frequência de participação competitiva em jovens atletas portugueses de Jogos Desportivos, dos escalões Infantis e Iniciados (adaptado de 78 Marques, 1993) Quadro 12 - Número total de competições e competições nacionais (entre parênteses), no sector de jovens, masculinos, em Portugal. (Andrade, 1995) 79 Quadro 13 - Características da actividade competitiva dos atletas de alta competição durante um ciclo anual de treino, em várias modalidades xi 80 (adaptado de Zakharov, 1992) Quadro 14 - Etapas de formação desportiva nos estágios de preparação 94 proposta por vários autores Quadro 15 – Grelha de análise para caracterização do quadro 98 competitivo Quadro 16 – Organização das competições 100 Quadro 17 – Regulamentos 101 Quadro 18 – Actividades competitivas 101 Quadro 19 – Carga de Competição 101 Quadro 20 – Critérios adoptados para garantir a participação de equipas ou atletas com prestações mais baixas na competição por escalões. 127 Quadro 21 – Percentuais de ocorrência de actividades competitivas com conteúdos relacionados com os objectivos formativos 133 Quadro 22 – Frequência de participação competitiva por mês e por temporada para cada escalão das respectivas modalidades desportivas 135 Quadro 23 – Idade de início para a participação competitiva por modalidades desportivas, segundo os avaliados da amostra 154 Quadro 24 – Acesso à competição por modalidades desportivas 158 Quadro 25 – Participação mista nas competições durante as etapas de formação desportiva. Resposta dos treinadores 169 Quadro 26 – Importância atribuída aos valores do desporto e da competição para a formação desportiva 173 Quadro 27 – Estrutura de valores e atitudes no desporto e na 174 competição Quadro 28 – Apuramento para o campeão nacional por escalões e modalidades desportivas: as respostas dos treinadores. 184 Quadro 29 – A posição dos treinadores sobre adaptação das estruturas e do regulamento técnico-pedagógico da competição propostas pelas federações desportivas 199 Quadro 30 – Frequência de participação competitiva por mês e por temporada para cada escalão e por modalidade desportiva xii 215 RESUMO O presente estudo tem os seguintes objectivos: a-) delinear um modelo teórico, pedagógico e cientificamente justificado, capaz de fundamentar o enquadramento do sistema de competição desportiva para atletas em fase de formação; b-) analisar os modelos vigentes nas organizações desportivas em Portugal; c-) verificar a concepção dos treinadores quanto à adequada organização das competições desportivas para crianças e jovens; d-) verificar os pontos convergentes e divergentes entre o quadro competitivo proposto pelas federações e associações, a concepção dos treinadores e as orientações e recomendações na literatura. Optamos por uma metodologia qualitativa, por nos permitir conhecer a lógica predominante nos modelos de competições. Na investigação, efectuada em dois estudos empíricos, foram seleccionadas dez modalidades: basquetebol, voleibol, andebol, futebol e rugby, atletismo, ginástica artística, natação, judo e ténis de mesa. No primeiro estudo, analisamos os conteúdos dos documentos das federações e associações desportivas de Portugal. No segundo estudo, realizado com trinta técnicos, aplicamos uma entrevista estruturada. Os conteúdos das entrevistas foram transcritos e tratados no programa de análise QRS-NVIVO V.2.0. Constatamos, no quadro competitivo vigente e nas concepções dos treinadores a indicação de um enquadramento geográfico a nível nacional e de idades de 7 e 8 anos para o início da participação competitiva, divergindo das recomendações da literatura, que as considera precoces. Quanto ao formato do calendário, o acesso à competição, a inclusão de apuramentos e os conteúdos das actividades competitivas, as concepções dos treinadores apresentam maiores convergências com as recomendações da literatura do que o modelo vigente de competições. No sistema competitivo actual, os conteúdos das actividades são especializados, com eliminatórias e com o objectivo de revelar o campeão, adoptando uma lógica próxima a competições do alto nível. São necessárias reformulações no sistema de competições vigentes em Portugal. É preciso atribuir à competição uma função formativa que ganhe significado pedagógico, contribuindo, desta maneira, com a formação desportiva a longo prazo. PALAVRAS - CHAVE: COMPETIÇÃO; DESPORTO; FORMAÇÃO; JOVENS; CRIANÇAS. xiii ABSTRACT This present study has the following objectives: a) to delineate a theorical model pedagogically and scientifically justified, that is able to base the framing of sporting competition system for athlets in period of growth formation; b) to analyse the effective models in sporting organizations in Portugal; c) to verify the trainers conceptions as to adequate organizations of sporting competitions for children and youths; d) to verify the convergences and divergences among the competitive set that is proposed by Federations and Associations, the trainers conceptions, the orientations and recomendations in bibliography. We opted for a qualitative methodology, since it allows us to know the predominant logic in competition models. At the investigations performed in two empirical studies, were selected ten modalities such as, basketball, volleyball, handball, soccer and rugby, athletics, gymnastics, swimming, judo and table tennis. In the first study, we analysed the documents contents in Sporting Federations and Associations from Portugal. In the second study performed with thirty technicians, we applied a structured interview. The interview contents were transcribed and attended on QRS-NVIVO V2.0 analysis program. We verified at the effective competitive set and in trainers conceptions, the indication of a geographical setting on National level, and among ages from 7 to 8, for the beginning of competitive participation, diverging from bibliography recomendations that considers it as precocious. As to the calendar form, the access to competition, the inclusion of selection and contents of competitive activities, the trainers conceptions present bigger convergence to bibliography recomendations than the competition effective model. At the current competitive system, the contents of activities are specialized, with eliminatories and the purpose of revealing the champion, adopting a logic csimilar to high level competitions. It is necessary a reformulation in effective competition system in Portugal. It is necessary to assign a formative function to competition that gains a pedagogical meaning, in order to contribute with long term sporting formation. Key Words: COMPETITION; SPORT; FORMATION; YOUTH; CHILDREN. xiv RÉSUMÉ Cette étude présente les objectifs suivants: a) esquisser un modèle théorique, pédagogique qui soit scientifiquement justifié, capable d'établir l'accord du système de compétition sportive pour les athlètes en phase de formation; b) analyser les modèles en vigueur dans les organisations sportives au Portugal; c) vérifier la conceptiondes entraîneurs quant à l'organisation adéquate de ces compétitions pour des enfants et pour des jeunes; d) diriger son attention vers les points convergents et divergents entre la réalité de la compétition propose par les Fédérations et les Associations. Il faut aussi qu'on soit attentif à la conception des entraîneurs, les orientations et recommandations dans la littérature. Nous avons choisi une méthodologie qualitative qui nous permette de connaître la logique prédominante des modèles de compétitions. Dans l'investigation, faite en deux études empiriques, dix modalités ont été sélectionnées, c'est-à-dire: basket-ball, volley-ball, handball, football et rugby, athlétisme, gymnastique artistique, natation, judo et tennis de table. A la première étude, nous avons analysé les contenus des documents dês Fédérations et Associations sportives du Portugal. A la seconde étude, réalisée par trente techniciens, nous avons fait usage d'une entrevue structurée. Les contenus des entrevues ont été transcrits et traités dans le programme d'analyse QRS-NVIVO V.2.0. Nous avons vérifié dans le rôle compétitif en vigueur et, d'après les conceptions des entraîneurs, le renseignement d'une position géographique de niveau national y comprenant les âges de 7 et 8 ans, en s'agissant du commencement de la participation compétitive, en divergeant dês recommandations de la littérature, laquelle les considère précoces. Quant au format du calendrier, l'accès à la compétition, à la conclusion d'épurements et les contenus des activités compétitives, les conceptions dês entraîneurs présentent plus grandes conver gences avec les recommandations de la littérature que le modèle actuel de compétition. Dans le système compétitif effectif, les contenus des activités sont spécialisés, ayant les éliminatoires l'objectif de révéler le champion, en choisissant une logique prochaine à compétitions de haut niveau. Il faut des formulations dans le système de compétition à l'usage au Portugal. Il y a besoin de ce qu'on attribue à la xv compétition une fonction formative qui reçoive sa signification pédagogique. Si elle contribue de cette façon, la function sportive, aura-t-elle son long délai. MOTS-CLÉ; COMPÉTITION; SPORT; FORMATION; JEUNES; ENFANTS. xvi INTRODUÇÃO O envolvimento de pré-adolescentes no desporto competitivo é um fenómeno relativamente recente. Sobral (1993), afirma que o comprometimento da criança com a prática desportiva regular iniciou-se após a realização dos Jogos Olímpicos de Roma, em 1960. Nos últimos 20 anos, a actividade desportiva organizada em idades mais baixas aumentou muito rapidamente (Thomson, 1996). Facto que exige da ciência do desporto dedicar-lhe cada vez maior atenção. Embora, Halbert (1986) afirme que mais importante do que discutir a sua aceitação é criar as condições para fazer dela uma experiência positiva. No entanto, as discussões sobre a participação da criança, no treino e na actividade competitiva, têm apresentado opiniões divergentes. Para Kurz (1988), o desporto de rendimento tem significado pedagógico e pode ser estruturante para a formação e desenvolvimento da criança, desde que organizado de forma adequada e ajustado às condições e características da criança, ao seu mundo. Entretanto, para que a competição possa ter a função formativa e estruturante da personalidade, torna-se necessário promove-la de forma criteriosa e cuidadosa. Martens (citado por Gould e Eklund, 1996, p. 383) sugere que as crianças expostas a vivências de situações de pressão competitiva poderão, a longo prazo, obter uma maior capacidade de suportar estresse, o que, na opinião do autor, seria algo positivo. Não obstante, o que temos observado na prática sobre a participação de crianças e jovens em competições desportivas é uma sobrevalorização das competições. O ambiente, em que ocorrem estas competições, apresenta pressões e expectativas excessivas centradas na obtenção da vitória e do sucesso em crianças e jovens que ainda apresentam limitada estabilidade psicológica. Para muitos treinadores, dirigentes e pais, a vitória nas competições continua a ser o objectivo primeiro, o que, em nossa opinião, subverte toda a lógica de programas que deveriam estar centrados na formação. Com efeito, a procura de rendimento imediato impõem estratégias de treino que produzam resultados a curto prazo, mas comprometem os resultados futuros e frustam as expectativas de crianças e adolescentes, (Marques, 1993a). 1 Como exemplo, Platonov (1988) refere que estudos na ex-URSS mostram que cerca de 40 % dos nadadores de 13 a 16 anos, que treinam em Escolas de Desporto, não chegam à etapa de alto rendimento devido às cargas de treino excessivas. Outro factor importante é em relação ao abandono da prática desportiva, Petlichkoff (1996), em seus estudos aponta que as crianças e adolescentes parecem abandonar o desporto de rendimento, em boa parte, devido a factores pessoais (falta de capacidade, falta de progresso nos resultados) ou situacionais (falta de tempo de jogo, falta de apoio social, ênfase no programa). E evidente que a preparação das competições, assim como os princípios e recomendações para o treino de crianças e adolescentes, não podem ser iguais aos que orientam os atletas de alto nível. O treino de crianças e jovens é caracterizado por uma especialização crescente, também as competições devem ser sujeitas a um processo de progressiva especialização. Desta forma, as competições, nas etapas de estágio de treino de base e na primeira etapa de treino de especialização aprofundada, têm significados e objectivos diferentes do treino de alto nível (Marques, 1995b). Para Weineck (1986) as competições no desporto infantil e juvenil devem servir essencialmente aos propósitos da formação e, por isso, seguem no plano organizativo ou no plano dos conteúdos, organicamente ligadas com as funções atribuídas ao treino. Conforme Deutsche Sportbund (1983), nas etapas iniciais de formação, a oferta de competições deverá ter limites locais ou regionais, em função da idade. Pretende-se, com isso, impedir uma orientação excessiva para o sucesso, limitar a pressão psicológica e, por outro lado, impedir uma sobreavaliação do indivíduo e dos seus resultados competitivos. Matweiev e Nowikov (1982) propuseram normas relativas ao enquadramento territorial do sistema de competições de jovens desportistas dividido nos seguintes escalões etários: 9-10 anos – competições desportivas na escola; 11-12 anos - competições a nível local e de cidade; 13-14 anos competições em nível de distrito, região ou república autônoma; 15-16 anos - competições a nível nacional. Contudo, a participação de crianças e adolescentes na competição ganha uma dimensão particular, devido a factores que propiciaram uma falta de 2 sensibilidade e interesse para enquadrar as questões relacionadas com a teoria das competições. Durante um largo tempo, o treino e a participação competitiva foram uma réplica ou uma adaptação mais ou menos estreita dos conhecimentos e formas de organização do desporto de alto rendimento. Outro factor evidenciado é que a investigação dos problemas da preparação desportiva dos mais jovens teve, e continua a ter, uma posição subalterna, quer no que se refere aos meios financeiros e materiais que mobiliza, assim como nos recursos humanos para o fazer. Uma das dificuldades resultantes da complexidade das questões a tratar refere-se às dinâmicas do processo maturacional dos sujeitos em estudo e, principalmente, pelas mudanças na formação da personalidade. Assim, se por um lado, às questões teóricas e metodológicas do enquadramento do treino é conferida uma crescente importância, por outro, para o enquadramento da competição não se tem justificado uma atenção idêntica. Portanto, ainda não se pode anunciar uma teoria das competições no sistema de preparação desportiva para crianças e jovens. O desenvolvimento de uma teoria da competição para os mais jovens começou, recentemente, a ser objecto dos primeiros esforços sistemáticos de elaboração. Os conhecimentos disponíveis são empíricos e avulsos, carecendo por esse fato, de uma organização, classificação e sistematização de acordo com a sua importância (Marques, 1997b). Thieß (1991), num levantamento feito sobre algumas referências fundamentais da bibliografia alemã de treino desportivo, publicadas em 1986 por Harre, em 1991 por Martin, Carl e Lehnertz, e em 1994 por Schnabel, Harre e Borde, conclui que os conteúdos destes livros relacionados com a competição se resumiam, respectivamente, a 3,5%, 3% e 8% do total da obra. É, assim, da maior relevância o desenvolvimento de um modelo teórico de enquadramento da competição dos mais jovens que considere a pressão e vigilância social que se vêm exercendo sobre a participação competitiva das crianças. Énecessário configurar um desporto de acordo com suas possibilidades e anseios, que estabelecem um enquadramento mais adequado das competições, se possível, baseado numa maior cooperação entre a comunidade científica e as organizações desportivas. 3 A importância do enquadramento dos sistemas de competições para crianças e jovens, justifica-se, principalmente, por que é nessa fase que ocorre um maior distanciamento da lógica das competições do desporto de alto rendimento. Um estudo realizado em equipes de jovens desportistas dos escalões infantis e iniciados dos centros de Treino da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (Marques 1993a), mostrou ser ainda notória a utilização de princípios e modelos de desporto de alto rendimento na organização das competições e na periodização do treino de crianças e jovens. Por outro lado, uma lógica organizacional tradicional, muito próxima da que impera no desporto de alto nível, tem dificultado a adopção de medidas de enquadramento das competições mais compatíveis com as exigências da formação dos mais jovens (Andrade, 1996). A adequação dos sistemas de competições aos objectivos da formação, a longo prazo, necessitaria uma maior cooperação entre as agências governamentais, federações e associações desportivas, o sistema educativo e as universidades. O que tornaria possível um melhor aproveitamento dos contributos e esforços para a renovação do sistema de competições, já realizados e bem sucedidos, em outros países (Sobral, 1993). A complexidade das questões a tratar exige contributos de diferentes áreas do conhecimento e há necessidade de integrar esses conhecimentos numa teoria sólida e coerente. Entretanto, tratando-se de crianças e jovens, a necessidade de compatibilizar a formação desportiva com um harmonioso desenvolvimento corporal, motor e psico-social, justifica que a reflexão dos problemas da participação competitiva seja enriquecida com a integração de contributos de outras áreas do conhecimento. A auxologia, a biologia, o desenvolvimento motor, a pedagogia, a psicologia e a psicologia social, podem interrelacionar-se com a teoria e metodologia do treino. Daí a necessidade de que trate este projecto de desenvolver novos conteúdos e estruturas do sistema de competições o qual visa: (1) oferecer suporte a um treino adequado à criança; (2) opor-se à especialização precoce; (3) promover uma construção sistemática a longo prazo da prestação (Rost, 1995). A partir desta problematização, justificamos a relevânciancia do presente estudo, considerando principalmente: 4 - O modelo vigente do sistema de competições para crianças e jovens em Portugal; - A concepção definida pelos treinadores, a respeito organização das competições; - As orientações e recomendações para o enquadramento das competições. A partir da incidência de discusão destes três aspectos pretendemos, em continuidade relaciona-los através do seguinte problema de pesquisa. No que concerne as estruturas, conteúdos e enquadramentos competitivos, que atendam os princíos e objetivos da formação desportiva, a longo prazo, será que há uma confluência entre estes três pontos? OBJECTIVOS O presente estudo delimita-se claramente na área do treino desportivo. Mais especificamente, situa-se no âmbito das investigações sobre o conteúdo, estrutura e enquadramento do sistema de competição de crianças e jovens e, neste contexto, definimos os seguintes objectivos: I - A partir de um estudo de revisão da literatura, delinear um modelo teórico, pedagógico e cientificamente justificado, capaz de fundamentar o enquadramento do sistema de competição desportiva para atletas em fase de formação. II - Tendo como referência o modelo teórico de enquadramento do sistema de competição desportiva para atletas em fase de formação, analisar os modelos vigentes nas organizações desportivas em Portugal. Através da análise dos documentos das federações e associações desportivas, caracterizar o quadro competitivo dos mais jovens em Portugal. III – Verificar a concepção dos treinadores quanto a adequada organização das competições desportivas para crianças e jovens. Através de uma entrevista estruturada, composta por questões abertas e fechadas. 5 IV - A partir das análises realizadas no segundo e terceiro objectivo, pretendemos verificar os pontos convergentes e divergentes entre o quadro competitivo proposto pelas federações e associações, a percepção dos treinadores e as orientações e recomendações da literatura. Desta forma, podemos sugerir algumas modificações nos conteúdos, estruturas e enquadramentos do sistema vigente de competições das crianças e jovens, para que atenda aos objetivos da formação a longo prazo. Estrutura do trabalho O presente estudo foi organizado em quatro partes. Na primeira parte tratamos da revisão da literatura, onde abordamos a importância da competição na formação desportiva de crianças e jovens, a crítica aos modelos actuais, à dimensão pedagógica da participação competitiva, os modelos de treino e competição e as modificações no desporto de crianças e jovens. A segunda, diz respeito a metodologia utilizado no estudo, no qual descrevemos o modelo de abordagem adoptado, as amostras investigadas nos dois estudos empíricos e respectivos processos de selecção, os instrumentos utilizados, referenciando os processos de construção e validação de conteúdo, assim como os procedimentos de colecta de dados realizados no primeiro e segundo estudo. Na terceira, referente a apresentação e discussão dos resultados, relatamos a análise de conteúdo que realizamos, primeiramente, com os documentos das federações e associações desportivas de Portugal, para caracterizar o quadro competitivo vigente nas categorias de formação. Na sequência apresentamos a análise referente ao conteúdo das entrevistas, apontando as percepções dos treinadores sobre a organização e enquadramento das competições de crianças e jovens. No final desta terceira parte apresentamos a síntese dos dois estudos empíricos. Na quarta parte, apresentamos as conclusões sobre o trabalho, os pontos convergentes e divergentes entre o modelo vigente a percepções dos treinadores e as orientações e recomendações da literatura. Por fim, faremos algumas sugestões para organização das competições de crianças e jovens. 6 I - REVISÃO DA LITERATURA Apresentação O treino e a participação competitiva de crianças e jovens foram, durante largo tempo, uma réplica ou uma adaptação mais ou menos estreita dos conhecimentos e formas de organização do desporto de alto rendimento. Este problema é sobretudo marcante no que se refere às competições de crianças e adolescentes. É nesta etapa de iniciação, principalmente, que se justifica um maior distanciamento da lógica das competições do desporto de alto rendimento, (Marques, 1997b). Neste sentido, é importante enfatizar o entendimento de que a criança não é um adulto em menores proporções e, portanto, o desporto deve ser organizados em função dela. São as necessidades das crianças e jovens que legitimam a presença do desporto em suas actividades. Só assim é que podemos afirmar que desenvolvemos um desporto para jovens. Para as crianças e jovens, a participação em actividades competitivas, além de ser extremamente positiva, dá a oportunidade para desenvolver as competências, na procura da excelência e da superação (Drewe, 1998), mas, esta adesão ao desporto está associada aos sentidos que lhes são atribuídas pelos jovens. Todavia, é bem verdade que hoje em dia já se verificam, em determinadas modalidades desportivas, mudanças nas formas de competições de crianças e jovens. Particularmente, por que os responsáveis pela organização das actividades competitivas deixaram de gerar resistências quanto às alterações na estrutura, regulamentos e conteúdos das competições (Rost; Lima, 2000). No entanto, é de ressaltar que ainda permanecem as dificuldades que resultam da falta de referências de enquadramento mais sólidas. Marques (1997b), chama a atenção sobre a ausência de uma teoria das competições. A necessidade de um desporto mais adequado às possibilidades e anseios das 7 crianças e jovens, justificria o desenvolvimento de um modelo teórico de enquadramento das competições. Porém, Marques (1998b) resalta, ainda, o facto de que os técnicos desportivos, os professores de educação física, investigadores, pais e dirigentes devem ter uma responsabilidade e assumir um comprometimento, no auxilio aos mais jovens, em seu percurso para o alto rendimento. Entretanto, sem comprometer a sua educação, limitar a sua personalidade ou comprometer a sua saúde. O desenvolvimento das bases de uma formação desportiva assume um papel preponderante, no processo de direcção e acompanhamento da preparação dos futuros atletas de alto rendimento. Segundo Marques (1998b), para que a formação desportiva ocorra de forma mais correcta e os jovens tenham uma adequada educação, seria necessário uma revalorização do sentido pedagógico da formação desportiva e uma maior qualificação dos treinadores e de todos os que acompanham a formação desportiva daqueles. 1.1. O conceito e a importância da competição na formação desportiva de crianças e jovens 1.1.1. Conceito Dentro de uma perspectiva cultural, Bento (2004), “afirma que o desporto é uma cultura de relações e condutas humanas, um códice de normas de trato humano duramente posto à prova em situações de tentação e dificuldade, como são as do jogo e da competição. O desporto pertence ao conjunto dos domínios culturais em que nos reconhecemos como seres humanos, em que aprendemos estilos de respeito e gestos de circunspecção humanizadores que temos uns para com os outros”. Na carreira desportiva de um atleta, desde sua formação até o alto nível, grande parte das situações de sucesso e insucesso estão relacionadas à qualidade e natureza do enquadramento técnico-pedagógico de todo o processo de treino e competição no desporto infantil e juvenil. Entender o processo de desenvolvimento do rendimento desportivo e da educação dos jovens requer uma análise do seu significado e do seu conceito, 8 atribuído à realidade actual. É o ponto de partida para que possamos formular estratégias metodológicas mais adequadas. A competição desportiva é uma categoria inerente ao fenómeno geral do desporto, que se define como comparação de rendimento, onde se deve levar em conta a base de regras obrigatórias, pautas de orientações e regulamentos (Thiess, Tschiene, Nickel, 2004). Estes mesmos autores nos esclarecem que a categoria de competição desportiva, como comparação de rendimento sobre a base de regulamentos obrigatórios e regras qualificadoras, está implícita em todos os âmbitos da forma física e desportiva. Sua contribuição para o desenvolvimento de competências desportiva, para auto-superação, para o rendimento corporal e para a formação desportiva está presente nas diferentes formas e contextos de prática desportiva, desde que as condições sejam concebidas de forma correcta e eficaz para a comparação de rendimento desportivo. Neste sentido, Dévis (1996) explica que a competência consiste em uma busca pela excelência pessoal e este aspecto é positivo na participação de crianças e jovens em actividades competitivas. A competição desportiva com os jovens é o espaço no qual podemos ensinálos a desenvolver a sua capacidade de superação. No entanto, Relaño (2000) alerta para considerarmos, na participação competitiva, a superação na tolerância, no respeito, na grandeza das relações sociais e nas manifestações plurais. Sherif (1978) refere-se à competição como actividade directa, mais ou menos consistente ou a execução de um objectivo, no qual a performance de uma pessoa ou do seu grupo é comparada e avaliada em relação à selecção de outras pessoas ou grupos. Outros investigadores demonstram que a competição é um processo de comparação social, em que as habilidades atléticas são testadas, examinadas e avaliadas (Roberts, 1980; Scanlan, 1982; Sherif, 1976, citados por Passer, 1986, pp. 55-58). Verificamos, que para maioria dos autores, na conceituação da competição apresentam categorias semelhantes centradas na: comparação de rendimento, 9 busca pela excelência pessoal e no desenvolvimento das suas capacidades de superação, pautas de orientações e regulamentos. 1.1.2. A participação das crianças e jovens nas competições desportivas Nas últimas décadas, a organização de actividades desportivas para crianças e jovens ampliou-se muito rapidamente (Thomson, 1996). Entretanto, em relação ao número de crianças e jovens que participam em competições, envolvidos em programas desportivos, Marques (1997b) afirma que essa participação não teve uma grande expansão. Dados estatísticos de diferentes estudos apontam que houve um decréscimo da participação de crianças e jovens na prática desportiva organizada. Encontramos na literatura a indicação de 42 milhões de jovens envolvidos com a prática desportiva organizada nas Américas; 2,5 na Oceânia; mais de 800 na Ásia e de 26 milhões na Europa (De Knop et al., 1999). No Reino Unido em 1979, sete milhões e quinhentas crianças e jovens, entre os cinco e os quinze anos de idade, participavam no desporto organizado (Martin & Mason, 1981 citado por Campbell, 1986, 21-26). Existem, aproximadamente, trezentos mil rapazes que jogam mini-hóquei organizado no (Canadá McPherson e Brown, 1982); em 1975, havia na França mais de um milhão e quinhentas mil pessoas inscritas em actividades desportivas que tinham menos de dezesseis anos (MandeI e Hennequet, 1984, citados por Durand, 1988). Na região de Adelaide, Austrália, o envolvimento desportivo preferido dos adolescentes são as actividades de lazer, com 75% de rapazes e 67% de raparigas a participarem, em pelo menos uma organização desportiva (Martens, 1986). Nomeadamente em Portugal, no que se refere à prática do desporto federado, os valores apontam para 87.820 praticantes e de 111.731 no desporto escolar (IND, 2002). No Brasil, o número de praticantes no desporto federado elevou-se para 2,8 milhões, 18 milhões, no desporto escolar (Ferreira, 1986). Todavia, o desenvolvimento social e a própria evolução do desporto organizado têm vindo a influenciar a forma como os jovens participam nas actividades desportivas (Mesquita, 2002; Jones e Cheetman, 2001; Kretchmar, 2000; Murdock, 1990). 10 O desporto para os jovens na Austrália, segundo Robertson (1984), é organizado pela comunidade ou sistema escolar, com as crianças jogando numa ou nas duas organizações. A participação desportiva, fora da escola, é organizada pelos clubes desportivos, serviço multidesportivo ou por organizações religiosas que oferecem actividades aos sábados de manhã. No Brasil, o sistema do desporto nacional é constituído por várias organizações. Estas consistem associações); em grupos grupos de desportivos desporto de comunidades escolar (elementar, (clubes e secundário e universitário); grupo de desporto militar. As escolas e os clubes desportivos são as organizações mais importantes no desporto das crianças e jovens. Por que oferecerem oportunidade de prática e evolução, como também, pelo desenvolvimento das modalidades desportivas no país. O desporto nos clubes e associações são orientados por professores e treinadores. As competições, no âmbito escolar, são organizadas a nível local, distrito e a nível nacional, semelhantes ao enquadramento competitivo realizado pelas federações e associações desportivas (Ferreira, 1984). Em outros países, o quadro competitivo organizado para crianças e jovens, nos diferentes escalões, também ocorria em nível local, regional e nacional, como na República Democrática Alemã com o movimento das espartaquíadas (Marques, 1990). Tendências actuais, marcadas pela sociedade contemporânea como a televisão e o computador, têm influenciado negativamente a participação dos jovens no desporto, por isso, a necessidade de se tomar medidas apropriadas para reverter esse quadro no futuro (De Knop et al., 1999). Neste sentido, Marques (1997b) chama atenção para importância da tomada de consciência sobre a dimensão da participação dos mais jovens em programas e competições desportivas. “O aumento da importância social desta prática, obriga-nos a dedicar-lhe uma atenção e estudo cada vez maior”. A problemática posta anteriormente, faz levantar uma questão: deve haver um aumento no número de crianças e jovens que participam na prática desportiva e nas competições? Que razões justificam esse aumento? 11 A e expansão do desporto de alto nível no plano internacional, iniciado no pósguerra, também contribuiu para o aumento da participação de crianças no desporto de rendimento. A finalidade era de aumentar a base de atletas para sustentação do desporto de alto nível. Porém, actualmente essa participação tem vindo a diminuir em todas as distintas expressões do desporto, por isso, para reverter esse quadro Marques (1997a) aponta razões que justificariam o alargamento da participação competitiva de crianças e jovens. As virtualidades do desporto justificariam as generalizações do envolvimento dos jovens em programas educativos e recreativos, como: 1. O desenvolvimento motor e formação corporal; 2. O desenvolvimento emocional; 3. A integração social; 4. O desenvolvimento de traços positivos do carácter: disciplina, trabalho de equipa, respeito pela autoridade; 5. A aptidão física; 6. A saúde; 7. A prevenção da delinquência. 1.1.3. O sistema de treino e competições vigente Apesar da destacada importância atribuída à necessidade de adequação das competições para os mais jovens, foram poucos os estudos realizados em Portugal com a finalidade de caracterizar os quadros competitivos jovens, nas diversas modalidades desportivas, quanto a sua adequabilidade, o início e a caracterização da participação competitiva. Torna-se importante, também, conhecermos a repercussão que esses quadros competitivos e a participação nas competições têm na futura evolução dos jovens atletas. Apresentamos, a baixo, um quadro com os estudos sobre a participação competitiva de crianças e jovens realizados em Portugal. 12 Quadro 01 – Estudos realizados em Portugal sobre a participação em competições de atletas jovens Modalidades Parâmetros Escalões Autores estudados Andebol, atletismo, basquetebol, Número, frequência e Infantis, iniciados, Andrade, ciclismo, ginástica artística e enquadramento territorial juvenis e juniores 1996 voleibol Número e tipo de Infantis, iniciados, Ferreira, disciplinas juvenis e juniores 1995 Andebol, basquetebol, futebol e Número e frequência Infantis, iniciados Marques, voleibol competitiva A., 1993 Diversas e atletismo Início da competição Sobral, formal 1994 Atletismo Atletismo (corredores de meio Caracterização do treino Infantis, iniciados, Marques, fundo e fundo e da participação juvenis e juniores R., 1998 competitiva Um estudo realizado por Marques (1993a), em equipas de jovens desportistas, dos escalões de infantis e iniciados dos Centros de Treino da FCDEF-UP, revela ser ainda notória a utilização de princípios e modelos do desporto de alto rendimento, na organização das competições e na periodização do treino de crianças e jovens. Os resultados encontrados em seu estudo apontam uma lógica organizacional tradicional, muito próxima da que impera no desporto de alto nível. Isto tem dificultado a adopção de medidas de enquadramento das competições mais compatíveis com as exigências da formação dos mais jovens. Às federações desportivas e respectivas direcções técnicas compete a formulação de directivas e orientações para a organização do desporto nas categorias mais jovens. A elas diz respeito, também, a responsabilidade dos conceitos sobre os quais se estrutura o sistema de competições. Sobral (1994) verificou que poucas são as federações que têm iniciativas e modelos de formação e participação competitiva adequadamente pensados e estruturados. O quadro, da realidade que se apresenta, nos revela, também, que a definição dos modelos de organização e condução do treino é influenciada pelo nível de formação dos treinadores. Já na organização competitiva, que é da responsabilidade das federações, há uma evidente falta de permeabilidade à 13 influência da investigação, da reflexão e da formação realizadas nas universidades. Andrade (1996), em seu estudo, compara os quadros competitivos de diferentes modalidades quanto ao número de participações, a natureza destas e o intervalo entre as elas. Os resultados encotrados foram: existe um crescimento no número total de competições, na maioria das modalidades, desde os infantis aos juvenis, para ambos os sexos. Este número de competições diminui dos juvenis para os juniores. O intervalo entre as competições não apresenta alterações com a mudança de escalão. Em relação ao enquadramento competitivo, constatou uma participação desde cedo em competições ao nível nacional. Estudo, realizado por Rolim (1998), com jovens corredores de meio-fundo e fundo (MFF), sugere divergências importantes no estadio de treino de base, entre elas destacou-se: uma precocidade na idade de início do treino regular e específico para as disciplinas de MFF, que começavam em média pelos 10 anos. Os conteúdos do treino e da competição denunciavam um processo de formação unidireccional. Um ciclo anual de treino excessivamente prolongado nas duas primeiras etapas de formação desportiva dos jovens, com um período de transição em torno dos 30 dias para todas as etapas e, por fim, aponta uma exclusiva e exagerada participação competitiva em provas de meio fundo e fundo nas etapas iniciais, sendo insignificante a sua participação em provas de carácter técnico. O autor conclui que é necessário uma profunda reflexão e alterações no treino e na participação competitiva dos jovens, à luz de um quadro de orientações pedagógicas e metodológicas. Em síntese, podemos dizer que os estudos apresentados evidenciam que há uma necessidade de se ampliar o quadro de investigações sobre a organização competitiva para crianças e jovens. Em primeiro, pela importância de uma reflexão maior sobre o quadro de organização competitiva vigente, que ainda é realizado nos moldes do desporto de alto rendimento. Em segundo, para que possamos, efectivamente, promover 14 mudanças na estruturação e enquadramento competitivo, atendendo aos princípios e objectivos da formação desportiva a longo prazo. Neste contexto, verificamos que a competição para crianças e jovens se resume apenas a uma ligeira diminuição quantitativa da competição realizada pelo atleta adulto. Ou seja, apresenta-se, segundo Marques (1997b), como uma réplica ou uma adaptação, mais ou menos estreita dos conhecimentos e formas de organização do desporto de alto rendimento. A organização do desporto competitivo, à imagem do adulto, tende a valorizar mais os aspectos biológicos associados à performance, deixando de lado os factores de ordem ética, pedagógica e da saúde. A German Sports Federation DSB (1985) assinala o desenvolvimento psicológico e motor como factores preponderantes para à definição e delimitação do desporto e da competição de crianças e jovens. O reduzido número de estudos, que caracterizam apenas algumas variáveis relacionadas com a competição dos jovens, justifica a posição de Fernández, (1995) e Lima, (1987), que apontam para uma necessidade crescente de tratarmos a competição com o devido rigor e preocupação, com inteiro respeito, seriedade e honestidade, principalmente nos escalões de formação. Essa constatação, também, é verificada na literatura científica internacional. A categoria competição em todos os níveis e contextos, apesar da sua importância acentuada, têm ocupado lugares marginais (Marques, 1997b; Schnabel e Thiess, (citados por Rost, 1995). 1.1.4. Importância da competição no desporto de crianças e jovens Em diferentes contextos e objectivos da prática desportiva, a competição assume uma importância imprescindível no desporto do adulto, do jovem ou da criança. Muitos autores apontam que a participação das crianças e jovens em actividades desportivas são benéficas. Esta opinião é confirmada por Mandel e Hennequet (1984), citados por Durand (1988), ao salientarem que a prática de um desporto tem benefícios para a criança desde de o início de sua 15 participação. McPherson e Brown (1982) apontam que um dos benefícios resultantes da participação dos jovens no desporto é a aprendizagem sobre o envolvimento e o desenvolvimento da capacidade de interagir nesse envolvimento. Gonçalves (1989) justifica a existência de programas desportivos para a juventude pelo facto da prática desportiva contribuir para a formação integral dos jovens. Na medida em que proporciona o desenvolvimento da sua personalidade, da socialização, da ocupação do tempo livre, do divertimento, da melhoria das técnicas e do reconhecimento (Lima, 1987c; Whihead, 1993; Thorpe, 1993). Nesta mesma direcção, o estudo de Martens (1978) corrobora com essas afirmações. Revela que atletas de uma escola, ao serem entrevistados acerca da sua participação nos programas de desporto, afirmaram que desenvolveram a sua competência, adquiriram uma boa atitude, ganharam técnicas básicas e conheceram novos amigos. As crianças, nas suas práticas, tendem a demonstrar aquilo que sabem fazer, de modo a criar boas imagens a seu respeito. Isto é, a criação de uma boa imagem social, bem como, ser capaz de obter sucesso é importante no sentido de ocupar um lugar no grupo a que pertencem. No entanto, temos que levar em conta as considerações de Claparede (citado por Weineck, 1986) afirma que a criança não é um adulto em miniatura, e a sua mentalidade não é só quantitativamente, mas também qualitativamente diferente da dos adultos. De modo que uma criança não é somente menor, mas também diferente. Desta forma temos que organizar essa participação competitiva das crianças e jovens, de forma a atender aos interesses, capacidades e prioridades das crianças (Gomes, 1993). Reforçando essa ideia, Neto (1994) considera que o desporto competitivo pode apresentar um efeito positivo, se as actividades desportivas forem adaptadas às necessidades da criança. O que é diferente de adaptar as crianças a encontrar as necessidades dos desportos. Então, as experiências competitivas vivênciadas pelas crianças e jovens devem ser organizadas, de forma frequente e regular. De acordo com Vieira, (1992) isso influência diretamente no desenvolvimento desportivo, na credibilidade da modalidade, bem como no seu número de praticantes. Outro aspecto a ser considerado é a compreesão da competição como um componente que dá sentido ao treino, que baliza qualquer desporto. Como refere Hahn (1988) sem competições o treino deixa de ter objectivos e 16 orientação ou, como salienta Marques (1997a), num quadro restrito, não há desporto sem competição. Nas afirmações dos autores fica evidenciada a importância pedagógica da participação das crianças e jovens em competições, principalmente, por entenderem a competição como parte integrante do treino. Os benefícios apontados centran-se mais em aspectos psicológicos e sociais, privilegiando a formação integral da criança e do jovem. Recomendam que o treino e a competição devem ser organizados e estruturados com a finalidade de atender aos interesses, capacidades e prioridades das crianças. 1.1.4.1. Aspectos Psicológicos Um dos aspectos importantes da participação desportiva recai sobre o desenvolvimento da personalidade, considerada por Roberts e Treasure (1993), com um factor ideal para o suporte do desporto competitivo da criança. A participação competitiva, também é considerada como um excelente meio para desenvolver a autosuperação, a autoestima, importantes para a sua vida em sociedade (Cratty, 1983). Entretanto, a participação de crianças e jovens na competição, tem sido motivo de polémica. Há autores que identificam a da competição como responsável por deformações da personalidade dos jovens desportistas. Por exemplo, Orlick (1980) chama a atenção para o facto do desporto infanto-juvenil apresentar uma organização demasiado competitiva, o que levaria a uma aceitação de valores individualistas e negativos. Em relação às consequências negativas, atribuídas à competição desportiva, destacamos algumas que podem ocorrer na participação competitiva de crianças e jovens: - A vivência em situações de agressão tende a retardar o desenvolvimento moral e cria um clima pouco social para a criança (Roberts e Treasure, 1993); - Essas vivências, também do ponto de vista psicológico, são prejudiciais para as actividades cooperativas (Sherif, 1978); - As expectativas elevadas, as pressões dos pais, treinadores e dirigentes pelo sucesso das crianças, nas actividades competitivas, podem ocasionar 17 problemas de ordem psicossocial, mental e física. Essas situações levariam os jovens a abandonar precocemente o desporto e a competição (Cratty, 1983); - Preising (1989) destaca três aspectos negativos do desporto competitivo para as crianças na Europa: (1) Iniciar a prática desportiva demasiado cedo, com uma especialização unilateral; (2) Competir demasiado cedo nos níveis nacionais e internacionais; (3) Iniciar a prática desportiva nos regimes de treino do adulto. As consecutivas experiências de insucessos e frustrações, também podem se tornar aspectos negativos na participação competitiva das crianças e jovens. Isso ocorre, principalmente, quando os objectivos, atribuídos à competição desportiva, não apresentam um enquadramento adequado. As competições com objectivos de apurar o campeão propiciam uma participação maior daqueles atletas com maior aptidão e especializados precocemente. Na constatação de Lima (1988), verificamos que o sistema de classificação e pontuação adoptado pelas federações, em sua maioria, é selectivo em todos os escalões etários. Em competições que tenham esse objectivo, aqueles que se encontram em fase de desenvolvimento e crescimento, podem ter prejuízos em sua formação e abandonarem o desporto. A falta de vivências em experiências de sucesso e uma baixa frequência de participação competitiva, são as causas apresentadas pelo autor. O estresse competitivo tem sido apontado como um dos primeiros argumentos para recomendar a não participação de crianças em competições. Um grande número de manifestações entre os jovens atletas está associado ao aparecimento deste fenómeno psicológico (Gould; Eklund, 1996): reduzido divertimento e prazer, falta de sono e de apetite, prestações reduzidas e abandono. Porém, em alguns estudos podemos encontrar resultados que demonstram que o estresse associado à participação competitiva de crianças e adolescentes, não é tão grande quanto se presumia, nem é mesmo superior a outras actividades em que estes participam. Outro construto da psicologia, a ansiedade, mereceu destaque por parte dos críticos do desporto de jovens. Chamam a atenção para o aparecimento de 18 níveis excessivos de ansiedade na participação competitiva, isso pode afectar negativamente a saúde mental de crianças e adolescentes atleta. Gould e Eklund (1996) referem o estudo de Simon e Martens (1979) investigou (n=749 rapazes, 9-14 anos) os níveis de ansiedade experienciada em actividades desportivas, ou de outro tipo, por crianças e adolescentes. Essas actividades incluíam competições não desportivas solos musicais, competições de banda em grupo e testes escolares em sala de aula; competições de softball na aula de Educação Física; e competições desportivas de baseball, basquetebol, futebol americano, ginástica, hóquei no gelo, natação e luta. Foi usado na avaliação o Inventário CSAIC (Competitive State Anxiety Inventory for Children, desenvolvido por Martens em 1977). A avaliação foi realizada imediatamente antes das actividades referidas. Os resultados encontrados revelaram estados de ansiedade pré competitiva elevados. Dos vários desportos estudados, os individuais produziram mais ansiedade que os de equipa. A luta foi o único desporto que produziu maior ansiedade do que os testes escolares. Contudo, uma pequena, mas representativa, minoria de atletas experienciou altos níveis de ansiedade, a que estão associados sintomas como insónias e falta de apetite, (Gould; Eklund, 1996), o que justifica cuidados especiais entre estas crianças e adolescentes. As atitudes e comportamentos dos jovens atletas também são aspectos que podem ser afectados. Isto acontece quando a participação competitiva, na área federada, ocorre fora do contexto das regras e regulamentos no qual o espírito desportivo está ausente (Lima, 1981). A excitação gerada pelo jogo, as pressões dos adultos e a busca exacerbada pela vitória, são razões pelas quais se origina tendências agressivas operadas no momento. Sobre os comportamentos de agressividade na participação competitiva, Berkowitz (1973) explica que a competição tem aspectos frustrantes, essencialmente se a vitória não ocorrer. Essa mesma frustração pode gerar uma preparação para a agressão. Isto significa que a competição pode incrementar as oportunidades de agressão. Em um estudo com jovens jogadores de hóquei sobre o gelo, com idades entre os dez e doze anos, realizado por Kleiber e Roberts (1981, citados por Gonçalves, 1989) revela que após a competição estes jovens apresentavam comportamentos mais agressivos e mais 19 egoístas, quando comparados com um grupo que tinham participado em actividades desportivas de carácter não competitivo. Neste caso, Lima (1988) sugere que a competição desportiva entre os jovens não deve criar conflitos e, tão pouco, reduzir o sucesso desportivo à vitória. Devemos é garantir a oportunidade de participação a todos nas competições, um equilíbrio competitivo e centrar os objectivos na formação. Telama (1988) aponta para uma necessidade de que se revisem vários aspectos do desporto de jovens, em especial, as expectativas de recompensa, os valores éticos e morais que devem ser estimulados com a participação. Por outro lado, há posicionamentos que justificam a não participação das crianças em eventos competitivos de alto nível. Consideram que o seu desenvolvimento físico, mental e intelectual seria posto em perigo pelo desporto de alto nível. A participação competitiva, nos moldes do alto nível, não permite às crianças o direito de terem uma infância e uma adolescência, pondo em perigo o seu futuro, colocando-as em situações próprias do mundo dos adultos e submetendo-as a cargas de treino adoptadas no modelo do desporto de alto nível (Grupe, 1987). O autor alerta que não devemos nos descuidar das qualidades próprias da infância, a necessidade de protecção, de inocência e de pureza da criança. Em defesa deste posicionamento, Lima (1987a) argumenta que o desporto de alto nível não está em relação directa com a criança, mas é algo com o qual a criança se familiariza através do adulto. Por este motivo, as crianças são por vezes forçadas a trabalhar segundo as condições dos adultos e a participar em competições organizadas de acordo com as regras concebidas por estes. Logo, o desporto para crianças e jovens não deve seguir a lógica das competições organizadas pelo desporto dos adultos, que tem por objectivo revelar o campeão. A prioridade deve ser a criança e as suas necessidades evolutivas e não as condições para o resultado desportivo (Gilroy, 1993). Há autores na literatura que contestam os resultados dos estudos que apontam os efeitos negativos da participação competitiva de crianças e jovens. Ao mesmo tempo, justificam o contributo das experiências competitivas para a formação dos jovens atletas. Grupe (1987) considera que a prática desportiva, em níveis elevados, tem efeitos positivos sobre a educação e desenvolvimento infantil, desde que sejam criadas algumas restrições para regular a 20 organização do desporto de alto nível de forma adaptada à criança. Uma revisão realizada por Hale (1971), em mais de quarenta e dois estudos acerca do efeito negativo da competição nas crianças, o autor conclui que não existem evidências de que as competições sejam más para as crianças. Quanto a essa afirmação, Neto (1994) também, não encontrou, em grande parte dos estudos realizados, a indicação de que existem inconvenientes quanto aos efeitos fisiológicos e psicológicos. Em relação ao primeiro parece não ocorrer problemas com a criança, pelo contrário, favorecem ao desenvolvimento de capacidades físicas e motoras desejáveis. Quanto aos efeitos psicológicos não se pode concluir, pelas investigações realizadas, que o desporto competitivo seja um perigo emocional à participação da criança. As investigações sobre o estado de ansiedade das crianças, revelam uma baixa frequência de ocorrência de níveis elevados de estado de ansiedade, durante a competição (Pepitone, 1980 e Gould et aI., 1993). O envolvimento na competição também está associado ao nível de motivação das crianças e jovens. Contudo, o grau de motivação é influenciado pelas expectativas individuais e também pelas situações de sucesso e insucesso experimentadas na prática competitiva (Fait e Billing, 1978). O êxito no desporto de competição, não é estabelecido só pela capacidade atlética e pela proficiência motora. O modo como o atleta se ajusta emocionalmente às pressões competitivas, essencialmente nas idades mais baixas, determina a sua fixação à prática desportiva (Sobral, 1994). As manifestações de ansiedade e de receio ao fracasso, apresentadas na participação competitiva, tendem a aumentar o significado afectivo dos resultados, propiciando à criança momentos de alegrias e de decepções (Pepitone, 1980). O autor ressalta que a competição de intensidade moderada favorece a aquisição de estratégias e controlo das emoções. As competições, que têm significados e funções fundamentais na motivação e formação da criança, porem, para que isso se efective devem estar dimensionadas às suas capacidades e níveis de desenvolvimento. É evidente que, as pressões excessivas para a vitória e a sobrevalorização das 21 competições terão forçosamente repercussões negativas em crianças e jovens com grandes expectativas de sucesso, mas com uma limitada estabilidade psicológica. Essa fragilidade resulta não só da sua reduzida capacidade crítica, acreditando e aceitando tacitamente tudo aquilo que lhe é proposto, da sua imaturidade física e sobretudo psicológica, mas também da sua curiosidade, da sua elevada capacidade de aprendizagem e da sua entrega sem contrapartidas (Pimm, 1985; Singer, 1991; Vieira, 1996). A competição parece propiciar mais benefícios do que maleficios quando ajustada às capacidades e níveis de desenvolvimento das crianças e jovens. Favorecem ao desenvolvimento da personalidade, auto-estima, auto-superação e, também, na aquisição de estratégias e controlo das emoções. Entretanto, as expectativas elevadas, as pressões dos pais e treinadores, as sucessivas experiências de insucessos e frustrações e a especialização unilateral, junto ao estresse e a ansiedade competitiva, podem ocasionar problemas de ordem psicossocial, mental e física levando a criança e o jovem ao abandono. Os efeitos negativos ocorrem mais em competições com enquadramento desajustado, que adoptando a lógica das competições organizadas para o desporto de alto nível e que tem por objectivo revelar o campeão. 1.1.4.2. Aspectos Sociais Dentro de uma perspectiva social, as experiências no desporto competitivo podem ser proveitosas. Sobre essa afirmação Kemper (1982), Roberts e Treasure (1993) mencionam o desporto como sendo um meio importante de socialização das crianças, na medida em que lhes proporciona o contacto com regras, valores sociais e convivência com outras crianças. É nesse contexto que ocorrem o desenvolvimento das técnicas, da compreensão e valorização das regras e atitudes necessárias para conviverem em sociedade (Roberts & Sutton-Smith, 1962; Webb, 1969). Segundo Coakley (1984), uma das formas de contribuir para interacção das crianças, em diferentes estágios do desenvolvimento social, é através da interferência na componente competitiva das actividades desportivas. Este processo de socialização influência directamente no envolvimento desportivo dos jovens (McPherson e Brown, 1982). No que tange a esse aspecto, Bento (1987) considera que a essência 22 do desporto resulta da função que lhe é socialmente atribuída, na medida em que constitui um elemento das relações sociais. A natureza cultural da competição desportiva tem muito a ver com o relacionamento social que valoriza o estatuto pessoal, construído na base de comparações entre os indivíduos e entre os grupos (Lima, 1995). Contudo, a conduta dos adultos, as relações sociais e o contexto onde são realizadas as competições exercem uma influência no comportamento dos jovens. Esse contexto social é, para a criança, uma referência fundamental quanto à criação de motivações, valores e normas de conduta na prática das suas actividades motoras (Neto, 1994). De acordo com Gonçalves (1991), os aspectos positivos dessa socialização estão interligados à qualidade das situações que são criadas na prática desportiva. Por isso, a necessidade de organizarmos um quadro competitivo que esteja ajustado às necessidades e capacidades das crianças e jovens. Acima de tudo, que atenda aos objectivos da formação a longo prazo. A realização da socialização e sua promoção não são exclusivas do desporto de rendimento. Como refere Bento (1987), ocorrem também, em outros âmbitos de enquadramento do desporto, nomeadamente, no sistema de desporto de crianças e jovens e de recreação e tempos livres. Farinatti, (1995) aponta que este processo ocorre num contexto social em que todos, professores, técnicos desportivos, pais e pares são importantes no provimento de referenciais de desempenho e aprendizagem de regras e padrões. A indicação da literatura justifica que as experiências competitivas, nessas etapas de formação desportivas, desempenham um papel importante na formação de valores, na criação normas de conduta e na compreensão das regras necessárias para o convívio social. 1.1.4.3. Aspectos Pedagógicos O desporto desempenha um papel essencial na transmissão às crianças das técnicas corporais e dos valores culturais da sociedade. Pudemos verificar que na perspectiva de vários autores o desporto é considerado um meio importante para o desenvolvimento e educação das crianças e jovens. Sherif, (1978) e Lima, (1988) defendem que a participação desportiva competitiva deve ser um 23 processo pedagógico que contribua para a formação dos jovens, promovendo o desenvolvimento da sua personalidade. A importância da competição nesse processo de formação é justificada por Kuptshinov e Siris (1983) quando referem que o treinador de crianças e jovens deverá ter sempre presente que nada oferece maior experiência que a própria competição. Devido à importância pedagógica e social do desporto para crianças e jovens, Marques (1991) propõe que os jovens tenham acesso a uma preparação desportiva mais cedo. Essa prática desportiva revela um conteúdo competitivo que lhe é inerente, manifestado na competição do indivíduo consigo próprio, na pretensão de melhoria da sua performance e na comparação com os outros. Nas etapas iniciais da formação desportiva, é importante que a competição seja estruturada de forma a priorizar a participação de todos. Complementando essa afirmação, Lee e Smith (1993) referem que as actividades competitivas devem ser atractivas, motivantes e que satisfaçam as necessidades formativas das crianças e jovens. Ao mesmo tempo, devem garantir o envolvimento em diferentes aspectos do desporto. Existe um consenso entre os autores Passer, Scanlan, 1982; Lima, 1987a; Bequer et aI., 1988; Brisson, 1979, de que a competição deve contemplar diversos pressupostos em sua organização, para que possa atender a formação desportiva dos mais jovens, que são: dar oportunidade directa para que os participantes possam testar e avaliar as suas habilidades, comparando com modelos de outros jovens; conter actividades que propiciem o desenvolvimento físico e psíquico, os hábitos e as capacidades motoras; estimular o desenvolvimento da personalidade; possibilitar a avaliação de si próprio e demonstração dos seus progressos; desenvolver nas crianças e nos jovens a capacidade de independência, iniciativa, liderança, cooperação, e ter prazer, divertindo-se na participação das actividades competitivas. Marques (1993a) ressalta a ideia de que, no desporto de crianças e jovens, as competições são importantes e devem ajudá-las a prepararem-se para o desporto de alto nível. “Não há um desporto de crianças e jovens, mas este 24 engloba várias etapas com objectivos e finalidades, de acordo com as leis biológicas do processo de maturação e os princípios do treino”. A competição desportiva apresenta-se como uma situação intrínseca das crianças e jovens. Estudos revelam que as crianças mais novas, de três a quatro anos, orientam-se por objectivos mais competitivos em relação às crianças de idades maiores, de nove ou dez anos (Buchan e Roberts, 1991; citados por Roberts e Treasure, 1993). Por outro lado, algumas críticas são postas em relação a participação competitiva. Uma delas refere-se a organização do desporto para as crianças e jovens que coloca, por vezes, ambições próprias, interesses pessoais, materiais, científicos e financeiros dos adultos nestas. Com isso, acarretar consequências nos planos da saúde física e mental, da integração social e, também, concernentes à futura relação entre os jovens e o desporto (Marques, 1991). Por isso, o aparecimento e crecimento das pressões, de sectores da comunidade cientívica e da opinião pública mais esclarecida, para que sejam revistos as posições sobre esta questão. O abaixamento da idade limite para o início do treino e da participação desportiva, verificado em alguns desportos ou especialidades desportivas, têm gerado ondas de choque social, sob o estigma da especialização precoce e do trabalho infantil. Segundo Marques (1997b), as criticas sobre o treino e participação competitiva das crianças e jovens já vêem sendo feitas a algumas décadas e são pertinentes. Recaem sobre: a concorrência e rivalidade, resultantes da ênfase sobre a vitória; o estresse excessivo; pouco relacionamento social, gerando indivíduos introvertidos; lesões e doenças, com particularidade na ginástica e na natação. Nas competições federadas a selectividade deve existir, mas nunca para as competições dos jovens, isto é, praticantes até os quinze ou dezesseis anos, para a maioria das modalidades (Lima, 1981). 25 As posições encontradas apontam que a competição pode desempenhar função formativa e educativa, preparando as crianças e jovens para as etapas seguintes, onde sua iniciação no processo de treino pode ocorrer desde cedo. 1.1.5. A relevância dos resultados na competição de crianças e jovens Na competição, as possibilidades de vitória e de derrota são factores que estão sempre presentes. Isto faz com que a competição, quando correctamente orientada, crie um estímulo e um envolvimento de elevado valor pedagógico. Platonov (1994) afirma que as competições constituem um elemento insubstituível na educação dos atletas jovens. Porém, o questionamento que se põem é saber que importância deve ter os resultados da competição, no processo de formação desportiva a longo prazo? No desporto de crianças e jovens, o sucesso na competição deve ser equacionado de forma prospectiva. A ênfase deve ser direccionada para o processo de chegar à vitória. De acordo com Martens et aI. (1995), é neste processo que podemos intervir, fomentar na criança o gosto pela prática e a luta pela excelência. Possibilitando, com isso, a verificação do empenho e desempenho dos jovens atletas. A este propósito, Close (1978) afirma que a vitória não pode acontecer a todos. Esta simples afirmação poderá revestir-se de grande importância no âmbito do processo de preparação e formação de crianças e jovens. Pois o número daqueles que perdem é maior do que daqueles que ganham (Lima, 1987b). Para que o processo seja realmente educativo e pedagogicamente correcto, temos que encontrar melhores estratégias para que vencedores e vencidos retirem algo de positivo, benéfico e construtivo para a sua formação geral e desportiva. Para Martens et al. (1995), o treino e a competição ajudam no desenvolvimento de responsabilidades, na aceitação dos outros e, o mais importante, na aceitação de si próprio. Para compreendermos mais sobre a importância dos resultados competitivos, devemos ter em conta os objectivos e finalidades da competição, que não são iguais para todos. Como menciona Lima (1987b), no desporto de rendimento dos adultos, a competição determina os principais objectivos do processo de treino na orientação da melhoria de sua performance. Já, no desporto de 26 crianças e jovens, a competição deverá adoptar um outro nível de determinância, assumindo um enquadramento diferente, que auxílie o processo de treino e de sua formação desportiva. Desta forma, nas etapas iniciais da formação desportiva, a competição não deve ser entendida como o culminar de todo o processo de treino, mas como um instrumento e um complemento da formação. No entanto, o modelo actual de competições utilizado para o público juvenil e infantil é criticado pelos autores Marques (1997b); Lima (2000) e Rost (1995), principalmente, porque segue os princípios do desporto de alto rendimento. Os objectivos competitivos, centrados apenas na obtenção de resultados, podem ter consequências negativas quando reivindicados precocemente e de forma inadequada. Nesse sentido, faremos uma abordagem sobre: os motivos pelos quais os resultados precoces podem comprometer os resultados absolutos e em que circunstâncias podem se fazer um prognóstico para o futuro dos atletas. Os sistemas desportivos de muitos países apresentam orientações estabelecidas pelos clubes que valorizam, de um modo geral, o aparecimento de atletas, de forma precoce, com níveis suficientes para garantir a renovação da elite desportiva representada nas competições federadas (Lima, 1989). O sucesso dos atletas nas competições, segundo Ferreira (1986), tem repercução ao se transformar em status para os clubes, ocasionando com isso, uma adesão maior de novos praticantes. O que reflecte directamente no suporte financeiro dos clubes. A existência de campeonatos do mundo em categorias juniores é um estímulo para que ocorra a participação de crianças e jovens, em idades precoces, nas competições de alto nível. Gambetta (1990) afirma que este procedimento contradiz a ideia de uma preparação para se obter resultados elevados a longo prazo, bem como, uma longevidade desportiva. Estudos evidenciam que os resultados obtidos precocemente pelos jovens atletas podem limitar o futuro rendimento. Nagorni (citados por Bompa, 2000), em um estudo longitudinal com atletas soviéticos, concluiu que aqueles com melhores performances na categoria júnior realizaram uma especialização em idades muito baixas. No entanto, estas performances nunca foram repetidas quando eles se tornaram seniores e a maioria destes atletas se retirou do desporto antes de atingir categoria de sénior. Apenas uma minoria estaria apta 27 a melhorar a performance em idades superiores. Constatando, também, que os atletas que se destacaram em categorias adultas, nos âmbitos nacional e internacional, nunca foram campeões nacionais quando menores. Em outra investigação realizada por Barynina e Vaitsekhovskii (1992), com dois grupos de nadadores, o primeiro grupo iniciou a prática da natação com idade média de 6,8 anos (feminino) e 7,7 anos (masculino) e tiveram suas fases de especialização intensivas iníciadas aos 9,8 anos (feminino) e aos 10 anos (masculino). No segundo grupo, que iniciou a nadar com 10,5 (feminino) e 9,8 (masculino), começaram a ser especializados aos 12,6 (feminino) e 12,1 (masculino). Os resultados demonstraram que os atletas que realizaram a especialização mais cedo, permaneceram na equipa nacional 3,1 anos (feminino) e 3,2 anos (masculino). Enquanto que, o outro grupo permaneceu na equipe mais de cinco anos. Os autores concluíram que a especialização realizada precocemente, no primeiro grupo, não demonstrou vantagens nem no tempo necessário para adquirir um alto nível, tão pouco no tempo de permanência neste. Na justifiva desse posicionamento, Gomes (1993) enfatiza que a criança tem direito ao desporto e é desportivamente competente, desde que se respeite determinadas condições como: a sua apetência e proficiência desportiva-motora; o seu estágio de desenvolvimento e que os resultados, ou o aparecimento de campeões prematuros, não sejam o objectivo principal nestas etapas iniciais. O posicionamento dos especialistas, em relação a obtenção de resultados nas competições, sugere que deve ser concedido o tempo de espera necessário. Bento, (1989) nos esclarece que: "Uma orientação forçada da formação, para a obtenção de resultados no mais curto espaço de tempo, conduz a sobrecargas no organismo do jovem praticante e não serve ao seu desenvolvimento interior". Nesse sentido, Marques (2000) menciona que não encontra justificativas que suportem a lógica de trocar os pequenos títulos de hoje por aqueles que verdadeiramente importam; os resultados absolutos. As vitórias de crianças e adolescentes, embora importantes para os jovens atletas, não podem significar um impedimento dos futuros resultados. Uma posição defendida por vários autores é de que o alcance de altos resultados na idade infantil e juvenil não é garantia de resultados futuros. Afirmam que é mais provável ocorrer o inverso (Filin, 1996; Bompa, 2000; Coelho, 2000). Por isso, a busca de alcançar resultados elevados demasiado cedo não privilegia as 28 características que devem orientar a construção dos modelos de preparação, competição e intervenção adequados aos jovens (Coelho, 2000). Os êxitos imediatos não devem ser motivos de preocupação dominante, portanto, é importante que o processo de formação a longo prazo siga uma orientação multivariada (Mesquita, 1997). Um estudo realizado por Zakharov (1992), verificou que jovens velocistas, que optaram por meios de preparação especializados e intensivos, atingiam tempos melhores mais rapidamente. Porém, apresentavam um rápido decréscimo do seu tempo, diminuindo a progressão de resultados elevados, ao longo do tempo. Esses resultados podem ser explicados pelo facto de ocorrer um esgotamento do potencial de treino do atleta. A especialização precoce tem como consequência o surgimento da limitação para chegar ao nível mais elevado do desporto. Este facto ocorre devido à adopção de uma carga unilateral e precoce às adaptações especiais que esta provoca (Nadori, 1990; Marques, 1991). Para tentar inverter esse processo, Martens (1985) sugere que, no lugar de procurar resultados, devemos orientar os atletas a cumprir objectivos da prestação desportiva que sejam mais controláveis, como a velocidade ou a precisão de uma técnica. Marques (1999) aponta um outro factor que contribui para um quadro de especialização precoce; é o sistema de competição tradicional, baseado numa estrutura de conteúdos muito próxima dos modelos mais evoluídos do desporto de alto rendimento. O sucesso, neste tipo de competição, só é possível em desportistas que são confrontados com uma especialização precoce (Bauersfeld, citados por Marques, 1999,17-30; Marques, 1991). Segundo Sobral (1994), as habilidades e mesmo o nível actual de prestação de uma criança ou adolescente não são garantia de sucesso em etapas posteriores da sua carreira desportiva. Porém, nos desportos individuais o nível de prestação é quase, na sua totalidade, previsível a partir das qualidades físicas mais solicitadas. Já, nos jogos desportivos colectivos não temos a mesma possibilidade de previsão. Principalmente pela complexidade estrutural da prestação que está representada pelo componente táctico e pela inteiração entre a técnica e a táctica (Sobral, 1988). 29 Os jovens desportistas apresentam desde cedo um talento nato em níveis competitivos iniciais. O que pode não ser tão significante em outras idades, quando ocorrem as competições internacionais. De acordo com Malina (1986), nestes níveis os atletas têm muito em comum de maneira que outros factores, muito mais discretos, são importantes para obter o nível competitivo. Para Marques (1993b), dificilmente poderá se estabelecer correlações sólidas entre os resultados obtidos nas competições, nas fases iniciais da preparação desportiva e os resutados das fases mais avançadas do processo. Os estudos têm demonstrado que as limitações referentes ao prognóstico devem-se, principalmente, ao fato de as características da prestação serem avaliadas quando elas ainda não foram atingidas na sua prestação mais elevada. Este problema só poderá ser resolvido quando conseguirmos identificar e avaliar as características prospectivamente úteis e que apresentem estabilidade no seu desenvolvimento (Marques, 1993b; Sobral, 1994). A possibilidade de muitos atletas obterem sucesso pode ser explicada por estes apresentarem um nível maturacional avançado (Sobral, 1988; Maia, 2000). Segundo Anderson e Magill (1993), as equipas vencedores da “Little league World Séries” são formados por jogadores que apresentam uma maturação de dois a três anos mais velhos do que a idade cronológica. Estas vantagens associadas ao estatuto maturacional, que revelaram o surpreendente jovem campeão, desaparecem nas categorias seguintes levando-o a sua eliminação (Rost, 1995; Sobral, 1988). Em um estudo realizado por Kobjakov (1994) verificou a possibilidade de prognosticar os resultados desportivos em ginastas. Os resultados demonstraram que na categoria dos 12 anos a fiabilidade do prognóstico é relativamente baixa (0,6 - coeficiente de Kendall). No entanto, esta fiabilidade aumenta nos resultados apresentados em uma categoria de adultos (19 anos), revelando um coeficiente de 0,8. As conclusões de seu estudo confirmam o equívoco em afirmar, nos primeiros anos de prática, que determinado ginasta é um verdadeiro talento para este desporto. Razão pela qual, neste período de 30 preparação, os elementos se diferem muito da estrutura do desporto de alto nível. Em um processo de preparação a longo prazo, a aptidão do jovem desportista só pode ser estimada, com certa segurança, para o estágio mais próximo da preparação (Tschiene 1985, citados por Marques, 1993b, 47-58). A procura de rendimento imediato impõe estratégias de treino que produzem resultados a curto prazo, mas comprometem os resultados futuros e frustram as expectativas de crianças e adolescentes (Marques, 2001). A importância dos resultados nas competições, segundo as recomendações dos especialistas, deve, nas etapas de formação, acontecer de forma progressiva. As competições devem auxiliar no processo de treino e as preocupações dos treinadores devem estar centradas neste processo para conseguir a vitória. A explicação dos resultados precoces pode estar no processo de uma especialização também precoce, devido a adopção de cargas unilaterais e têm como consequências a limitação para chegar ao nível mais elevado do desporto. 1.2. Valores e funções da competição no desporto de crianças e jovens. Do ponto de vista pedagógico, sobre a participação da criança no treino e na actividade competitiva, encontramos na literatura divergências no posicionamento dos autores. Há os que defendem uma recusa completa da participação dos jovens nas competições, considerando esta participação no desporto de rendimento como um trabalho infantil. Enquanto outros concordam, justificando que as crianças são muito mais sucetiveis ao treino e prontas para o rendimento do que se pensa (Kurz, 1988). Entre estas duas posições situa-se uma mais equilibrada: o desporto de rendimento que tem significado pedagógico e pode ser estruturante para a formação e desenvolvimento da criança, desde que organizado de forma adequada, ajustada às condições e 31 características da criança (Marques, 1997b). Dependendo da forma como for conduzida, pode gerar efeitos indesejáveis na educação das crianças e jovens. Por isso, há necessidade de desenvolver estratégias que possam maximizar os efeitos positivos e minimizar os negativos do desporto competitivo. Entendemos que os benefícios ou prejuízos, que a participação competitiva pode trazer às crianças, dependem da qualidade da prática e não da participação no desporto em si mesma (Weiss, Gould, 1986). A competição desportiva desempenha uma função importante para os jovens, porque lhes permite comparar as suas capacidades motoras e desportivas, atributos muito valorizados entre as crianças e adolescentes (Passer, 1986). As crianças e jovens encontram, no desporto e na competição, um meio privilegiado para fazer deles um espaço de afirmação e de comparação das suas potencialidades. Propagando sua acção nos planos motor, psíquico e social. Por isso, uma prática referenciada a objectivos adequados e ajustados revela a importância pedagógica e social do desporto (Marques, 1991). Estes argumentos nos possibilitam rejeitar as posições extremas de recusa da participação competitiva da criança. Contudo, as competições de crianças e jovens devem ter delimitações de referências distintas das utilizadas com adultos. O início da preparação desportiva deve começar cedo, em articulação com a escola, enquadrada por professores de educação física e técnicos desportivos qualificados. Deve ter como referência primordial a saúde física e mental da criança, o respeito pela sua individualidade biológica, levando em consideração as particularidades de cada especialidade desportiva. Esses pressupostos, como refere Marques (1991), são fundamentais, não apenas para o desenvolvimento harmonioso da criança, mas também para a criação de condições de optimização do rendimento. A formação motora e desportiva das crianças e jovens está directamente ligada ao trabalho e competência dos técnicos. Por isso devem ter uma formação, para além dos conhecimentos do desporto ou das especialidades desportiva, nomeadamente sobre o desenvolvimento biológico e psicossocial da criança. 32 O desporto é parte da cultura dos jovens e adultos, ao qual aspiram ascender rapidamente. No entanto as crianças não são especialistas, não devem ser preparadas para ser especialistas. A infância tem no nosso tempo, na nossa sociedade, a função de uma preparação geral e inespecífica para a vida nas idades mais avançadas (Kurz, 1988). Em uma perspectiva social, a competição poder ter grande influência no processo de sociabilização da criança. O treino e a competição proporcionam à criança e aos seus pares a oportunidade de, como grupo, adquirir responsabilidade própria, participar em actividades com os outros e desenvolver um sentimento colectivo (Kurz, 1988). Confirmando que a competição e cooperação não estão em oposição. As competições, entendidas como um instrumento e complemento do treino, devem contribuir para a formação dos pressupostos da prestação e que apresentem significado numa perspectiva de futuro. Do um ponto de vista motor e desportivo, as competições realizadas nos primeiros anos de treino devem promover, sobretudo, a formação dos pressupostos coordenativos, técnico-tácticos e orgânico-musculares, em conformidade com nível de desenvolvimento ontogenético dos jovens. Destes pressupostos fazem parte uma elevada potencialidade funcional do sistema nervoso central e neuromuscular, cuja formação pode ser amplamente realizada na idade evolutiva (Rost 1995). Harre (1982) também aponta algumas funções importantes do desporto competitivo: ajudar a desenvolver e educar os indivíduos; encorajar a geração jovem a treinar regularmente; oferecer oportunidades aos jovens de demonstrarem a sua habilidade pelo treino e a tomarem parte no jogo; ajudar a compreensão do processo de aperfeiçoamento físico e mostrar a melhor forma de aperfeiçoar a performance física; promover a ideia de amizade e paz. Dentre as funções que deve ter a competição, Lima (1995) destaca que as actividades competitivas propiciam situações de comparação, isto é, examinam, simultaneamente, os indivíduos ou equipas com o objectivo de encontrar as semelhanças ou diferenças, no plano da evolução individual. O que auxiliaria na compreensão do que pode determinar a superioridade de uns sobre os outros. 33 Dentro desse processo de formação desportiva, as crianças e jovens devem ser preparadas com a necessária antecedência para suportarem o elevado estresse das competições de alto nível. Marques (1997c) justifica uma necessidade de se promover, de forma criteriosa e cuidada, a participação competitiva das crianças, para que a competição possa ter uma função formativa e estruturante da personalidade que se pretende. Martens (1978, citado por Gould e Eklund, 1996) afirma que as crianças quando expostas a situações de pressão competitiva, a longo prazo, podem se beneficiar, admitindo-se que essas experiências poderão funcionar como uma espécie de vacina contra o estresse. Na opinião dos treinadores, a participação em competições na infância e na adolescência ajuda a prepará-las para o alto nível. Mas nem todas as competições servem a essa função. Elas devem ser ajustadas aos níveis de desenvolvimento e aos estados de prontidão dos jovens atletas. Portanto, conforme Rost (1995), há uma necessidade de se desenvolver novo conteúdo e nova estrutura do sistema de competições, o qual visa: (1) oferecer suporte a um treino adequado à criança; (2) opôr-se à especialização precoce; (3) promover uma construção sistemática a longo prazo da prestação. Encontramos concordâncias entre as posições dos autores, no que se refere aos valores e funções que a competição deve desempenhar, são eles: comparação das capacidades motoras e desportivas, a função formativa de aspectos coordenativos, técnico-tácticos e orgânico-musculares e do trabalho de equipa, cooperação. A a saúde física e mental da criança, o respeito pela sua individualidade biológica. Nesse processo formativo está dependente da qualidade da prática, dos objectivos adequados e ajustados, apresentando uma delimitação diferenciada da utilizada com os adultos. 1.3. Razões do abandono da prática desportiva e das competições Orlick (citado por Weiss, 1993) foi um dos primeiros pesquisadores a estudar as razões que levavam os jovens atletas a abandonarem a prática desportiva. Em seu estudo, realizado com 60 atletas canadenses entre 07 e 18 anos, 34 constatou os seguintes motivos para a desistência do desporto: falta de jogo, demasiada ênfase na competição e na vitória e o desgosto com o técnico por excesso de pressões. Concluiu, também, que haviam diferenças nas justificativas de abandono conforme a idade dos entrevistados: enquanto crianças com idade igual ou menor a dez anos questionavam a falta de jogo, os maiores de dez anos relatavam interesse por outras actividades. As mesmas razões são apresentadas por Robertson (1986) que, em investigação efectuada junto de jovens australianos, refere que a percentagem de drop out (60%) é idêntica a de outros países ocidentais, como o Canadá e os USA. As situações de drop out são justificadas pelo estresse imposto pelo programa de treino e pelo comportamento dos treinadores. Em pesquisas sobre o drop out, Platonov e Robertson (citado por Marques,1998b, p.18) constataram que, entre os vários motivos para o referido abandono, alguns se destacaram em termos percentuais: treinos monótonos e excessivos; estresse associado à competição; interesse por outras actividades, até mesmo por outros desportos; abandono por necessidades externas, como trabalhar e estudar; abandono pelo alto custo do programa desportivo; lesões que forçam ao abandono; insucesso nas competições. Estudos realizados nos Estados Unidos por Petlichkoff (citado por Marques, 1998b, p.17), indicam uma estimativa de que, em média, 35% das crianças e adolescentes se retiram anualmente do desporto organizado. Revelando ainda um drástico declínio da participação no desporto entre 11 e 13 anos. Robertson (citado por Petlichkoff, 1996, p.418) avaliou as razões para o abandono em uma amostra de 353 meninas e 405 meninos, de 12 anos, antigos atletas na Austrália, concluindo que cerca de 40% dos jovens citaram razões como: aborrecimento, ausência de divertimento, falta de tempo de jogo, para justificar o seu abandono. Jovens atletas têm abandonado a prática desportiva, principalmente por motivos que resultam de uma organização muito rígida do treino. Utilizando cargas excessivas e monótonas, que se traduzem por estagnação dos resultados e insucesso nas competições. A participação muito intensa nas tarefas da preparação podem levar à saturação do treino e aversão à prática 35 desportiva, assim como os problemas escolares e familiares (Nadori, 1987, citado por Marques, 1991, p. 10; Platonov, 1988). Um estudo realizado com atletas da selecção de basquetebol do Brasil, Paes (1997) constata que, em uma amostra de 27 atletas, 75% deles iniciaram a prática após os 12 anos de idade, contra 25% que tiveram seu início antes desta idade. Também identificou, em sua investigação, sete atletas de destaque na categoria mini que não prosseguiram a carreira. Apontando os seguintes factores que podem comprometer a carreira desportiva: a especialização precoce, a saturação da prática, as pressões da família e a ocorrência da selecção prematura no desporto. O que, segundo Lima (1989), pode provocar um abandono da prática desportiva precocemente. Segundo Arens (1986), quando os resultados competitivos não satisfazem, pais e treinadores tendem a aumentar, cegamente, o treino específico dos jovens, apenas com preocupações centradas na vitória, comprometendo, por vezes irremediavelmente, todo o seu processo de formação. Os problemas acentuam-se quando as pessoas e entidades, que envolvem os jovens praticantes, sancionam de algum modo, os seus fracassos competitivos. Quando isto se verifica, poderão ocorrer fenómenos de rejeição afectiva, tornando a derrota muito mais dolorosa (Hahn, 1988). A melhor estratégia para moderar as pressões exercidas sobre os jovens, nas competições, seria manter as vitórias em perspectiva, facto que raramente acontece (Martens et al.,1995) Martens (1980) aponta razões pelas quais as crianças deixam o desporto competitivo: (1) Baixa frequência de jogo; (2) Por recebem excessivos reforços negativos; (3) Por existência de desigualdades dos atletas em termos de maturidade física; (4) Pela pressão psicológica para obtenção de resultado na competição; (5) Porque não evoluem e continuam a falhar; (6) Por uma demasiada organização nas estruturas competitivas. 36 Em relação ao abandono das actividades desportivas, Gonçalves (1991), em seu estudo, revela que o número de abandono das crianças e jovens em idades cada vez mais baixas tem apresentado um crescimento. Chama a atenção para a interacção de factores que provocam esse abandono precoce da prática desportiva, destacando os modelos dos quadros competitivos, as competências e atitudes face às envolventes da prática desportiva. A relação entre a prática desportiva e a saúde do atleta é um outro factor que merece atenção. Para exemplificar esse aspecto, Platonov (1988) refere que estudos na ex-URSS mostram que cerca de 40% dos nadadores de 13 a 16 anos, que treinam em Escolas de Desporto, não chegam à etapa de alto rendimento por problemas de saúde, afecções nos ouvidos e nas vias respiratórias. O motivo principal é a utilização de cargas de treino excessivas. Na modalidade de natação, o processo de especialização iniciava-se muito cedo, com atletas em idades precoces, com a finalidade de obter sucesso nas competições de categorias iniciais. Em vários estudos, realizados em diferentes países, constatou-se que as consequências deste processo e de aspectos associados a eles eram constantes. Apenas uma percentagem muito reduzida de campeões nas categorias de formação chegava a ser campeão na idade de altos rendimentos (Marques, 1997b). Sefton e Fry (1981, citados por Petlichkoff, 1996) realizaram estudo semelhante numa amostra de 86 nadadores, com idades entre os 6 e os 22 anos. As duas primeiras razões para o abandono foram: (1) preenchimento em demasia do tempo disponível (33%); (2) grau de insatisfação com a prática (27%). O comportamento dos treinadores, também foi considerado pelos atletas como um motivo para o abandono. Tanto por estes manifestarem preferências, quanto por serem demasiado exigentes. A estrutura e a ênfase dos programas são assim duas razões importantes para o drop out. Sapp e Haubenstricker (1978, citados por Petlichkoff, op. Cit) mostraram que antigos atletas (n= 404), com idades entre os 11 e os 18 anos, citaram outras actividades (64%) e trabalho (44%) como razões para o abandono. Por isso, é importante considerar os diferentes tipos de drop out (Petlichkoff,1996): 37 1. O drop out voluntário: as crianças e os adolescentes que abandonam e não estão descontentes, apenas pretendem experimentar outras actividades. 2. O drop out resistente: as crianças e os adolescentes ainda gostam do desporto, mas não encontram na prática a satisfação que esperavam. 3. O drop out relutante: as crianças e os adolescentes são forçadas ao abandono por lesão ou pelos custos financeiros dos programas de preparação desportiva, como acontece nos USA. Os dois últimos casos são, naturalmente, os que motivam maior preocupação. Em síntese, as crianças e adolescentes parecem abandonar o desporto devido a factores pessoais (falta de capacidade, falta de progresso nos resultados) ou situacionais (falta de tempo de jogo, falta de apoio social, ênfase no programa) (Petlichkoff,1996). 1.4. Modelo de treino e modelo de competição de crianças e adolescentes 1.4.1. Organização e adequação da preparação desportiva e a participação competitiva de crianças e adolescentes A Confederação do Desporto Alemã (DSB), desde a década de oitenta nas as declarações de princípio sobre a promoção de talentos formuladas, enfatiza o valor que as competições adequadas à criança têm na construção das prestações desportivas, a longo prazo. Entretanto, quando o sistema de competições é especializado nas fases iniciais da formação, propicia um sistema de treino também especializado, nestas fases de idade (Marques, 2002). Assim como o treino é caracterizado por uma especialização crescente, também as competições devem estar sujeitas a um processo de progressiva especialização. Desta forma, as competições, nas etapas do estádio de treino de base e na primeira fase da etapa de especialização aprofundada, têm 38 significados e objectivos diferentes das do treino de alto nível (Marques, 1998b). Tschiene (1995) nos esclarece que o papel da competição, no actual sistema desportivo, age como um critério de diferenciação entre o treino de crianças e jovens e o treino de alto rendimento. As competições no desporto infantil e juvenil devem servir, essencialmente, aos propósitos da formação. Por isso, devem estar organicamente ligadas com as funções atribuídas ao treino, quer no plano organizativo como no plano dos conteúdos (Weineck, 1983). Há um consenso na literatura de que, só uma preparação desportiva apropriada e a longo prazo é que possibilitará ao atleta atingir o ápice da sua carreira e ao mais alto nível de competição, obtendo resultados de elevada expressão (Weineck, 1986; Grosser et al.,1989; Matvéiev, 1990; Marques, 1993b; Araújo,1995; Filin, 1996; Mesquita, 1997; Platonov, 1997; Bompa, 1999). Neste sentido, há um grande interesse do desporto de alto rendimento em que o processo de formação desportiva das crianças e jovens ocorra de forma mais adequada possível. Bento (1989), Knappe e Hummel (1991) afirmam que o processo de formação é conduzido por um pensamento pedagógico-didáctico que integra o desenvolvimento motor e desportivo dos alunos, a longo prazo. Na perspectiva de Lima (1988), a abordagem da formação desportiva das crianças e jovens é tarefa difícil, tendo que perseguir objectivos pedagógicos, sublinhando que as actividades físico-desportivas devem constituir-se, de facto, um meio de educar e formar pessoas nesta população específica. A formação desportiva, além de cumprir com objectivos de rendimento, também deve contemplar objectivos sociais e pedagógicos. Essa ideia parece ser hoje recuperada e revalorizada por vários autores (Bompa, 1999; Marques, 1999). Sobral (1994) alerta para o facto do processo de formação desportiva de crianças e jovens ser, tendencialmente, balizado por ideias e acções decorrentes de estereótipos do treino dos atletas ao mais alto nível. A 39 implementação de uma concepção mais quantitativa das cargas de treino é criticada pelo autor, na medida em que produzem efeitos prejudiciais nas crianças e jovens, que se defronta com as primeiras exigências do processo de preparação desportiva. Na formação desportiva de crianças e jovens, devemos enquadrar as competições conforme os objectivos de preparação, da seguinte forma: 1) competições multilaterais e/ou múltiplas para um quadro de treino, predominantemente, multilateral e de solicitações motoras e desportivas diferenciadas; 2) competições de estrutura especializada e adaptada aproximando-se do modelo tradicional, para uso de um quadro de treino, progressivamente, especializado; 3) competições altamente especializadas para um quadro de treino altamente especializado (Marques, 1991). 1.4.2. A idade de início da participação da criança em competições regulares. A problemática no desporto organizado apresenta uma relação com a concepção de sua organização e enquadramento. A maioria dos desportos para os jovens é estruturada de acordo com a idade cronológica, apresentando dentro de cada escalão ou categoria uma variação no tamanho físico, habilidade, ou nível de maturação (McPherson e Brown, 1982). Só quando o jogo se converte em desporto organizado é que surgem as preocupações com os riscos físicos e emocionais da competição (Sharkey, 1986). Devido ao surgimento das preocupações com a saúde e com a formação destas crianças, quando envolvida no desporto organizado, surgem problemas como; quando as crianças devem iniciar a sua participação regular em competições? A resposta a esta questão não foi ainda, nem será porventura, formulada com precisão. Só de uma forma empírica, ou através de um quadro de referências pedagógicas, tem sido possível determinar o momento, ou momentos, que essa participação deve ter início (Marques, 1997b). Na tentativa de encontrar resposta para essa questão, temos que considerar as diferentes posições e 40 enquadramentos: (1) as posições da ciência e as formulações dos investigadores; (2) as formulações pedagógicas e de especialistas (técnicos desportivos); (3) e o que já é consagrado pela prática. 1.4.2.1. As posições da ciência e as formulações dos investigadores. Para realizar uma certa performance no desporto, o atleta precisa apresentar determinado estado de aptidão, definida por Sobral (1994) como a prontidão desportiva, que tem como suporte uma manifestação complexa de diferentes dimensões: energético-funcional, sensório-motora e psicosocial. Para conhecermos esse nível de prontidão para a prática desportiva de uma criança ou de um adolescente é preciso: - Conhecer as exigências físicas, motoras e psíquicas dessa prática desportiva; - Conhecer o estado de crescimento, maturação e desenvolvimento do indivíduo, na sua relação com uma prática concreta (a noção de desenvolvimento reporta-se à complexa integração das modificações biológicas e das competências sociais adquiridas); - Conhecer o contexto de interacção entre a prática e a situação sócio-cultural e familiar do jovem desportista. O significado e abrangência destas designações estabelecem que a prontidão deverá manifestar-se ao nível de todas as estruturas e funções implicadas na performance. Portanto, destinaremos uma atenção a estas três dimensões essenciais da prontidão desportiva: os aspectos biológicos, os aspectos psicosociais e os aspectos motores. No entanto, as considerações seguintes são descontextualizadas de práticas concretas. O que pretendemos é contribuirmos para a construção de uma teoria geral da competição. A abordagem deve ser feita no quadro preciso das exigências de cada prática concreta, já que as estruturas, funções e relações solicitadas na prática são específicas de cada modalidade. A prontidão da criança e do jovem para a competição desportiva não se expressa em apenas um único momento. Ela é influenciada por uma diversidade de factores que determinam sua manifestação. Passer (1982) 41 revela que conceituar a prontidão para o desporto competitivo é complexo, por envolver técnicas físicas, motoras e desenvolvimento psicossocial. Quando falamos no treino e na competição de crianças e jovens, é de crucial importância abordarmos a questão da prontidão. Isto porque, o sucesso ou o fracasso no desporto podem estar relacionados com a mesma (Malina, 1993). Lee (1999) recomenda que não se iniciem competições até que os jovens estejam preparados para tal. Portanto, descobrir o momento em que a criança se encontra preparada para enfrentar tarefas desportivas, não é fácil, principalmente pela heterogeneidade dos aspectos que a envolvem. Mesquita (1997) considera o momento da iniciação em competições um aspecto que requer muita atenção do treinador, uma vez que o atleta deverá estar pronto para as exigências e os problemas que lhe serão atribuidos. Smith e Smoll (1996) acreditam que não é possível recomendar uma idade específica para responder a questão do momento ideal para o início da prática desportiva competitiva, devido à multiplicidade de factores envolvidos no tema. Anderson e Magill (1996) demonstram a dificuldade de se determinar se o envolvimento precoce no desporto possa ter benéfico ou não, reconhecendo a individualidade das crianças na aplicação do conceito de prontidão. A participação em competições organizadas, segundo Bompa (2000), deve ocorrer somente a partir dos doze anos. Mesmo possuindo capacidades para tolerar componentes físicos do programa, as crianças não apresentam ainda um desenvolvimento cognitivo e psicológico para lidar com as demandas do treino e da competição. Halbert (1984), em documento australiano, recomenda que a competição não estruturada deve ser preparada para crianças abaixo dos dez anos de idade. Outro aspecto referido por Filin (1996), justifica que a duração da preparação das crianças para a participação nas competições iniciais da prática desportiva não deve ser inferior a um ano, e sugere que esta ocorra após um ano e meio ou dois de prática especializada. As dificuldades em definir uma idade de início da participação competitiva, apontada pelos autores, são justificadas pela grande diversidade de factores 42 que as influenciam e que estão relacionados com as exigências físicas, motoras e psíquicas, dessa prática desportiva e com a prontidão desportiva dos jovens atletas. 1.4.2.1.1. Aspectos Biológicos As exigências do desporto requerem que as crianças apresentem capacidades de prontidão adequadas. O estado de prontidão "readiness" para o desporto é biologicamente definido como o equilíbrio entre os níveis de crescimento, maturação e desenvolvimento de uma criança e as tarefas e exigências apresentadas pelo desporto competitivo (Malina, 1986). Todavia, precisamos de respostas para nossos questionamentos. Quais são os critérios de prontidão para um dado desporto? Há um tempo ideal para a entrada no desporto competitivo? Não é tão simples encontrarmos respostas para estas questões. Malina (1986) esclarece que a variação individual no crescimento, na maturação e no desenvolvimento é grande. O início da participação competitiva com idades mais baixas é defendido com alguns argumentos. Um dos principais tem sido o que se relaciona com o chamado "fenómeno de aceleração" (Demeter, 1981, citado por Marques, 1991), traduzido no alargamento dos períodos biológicos activos, no sentido de uma maior precocidade biológica. O início da preparação e da participação competitiva em idades baixas, nos chamados desportos técnicos, acabam por influenciar outras modalidades desportivas, nas quais os factores que actuam sobre o rendimento dependem de aspectos da maturação mais tardia. Este mesmo aspecto foi assinalado por Jefferies (1986) ao referir que a tendência, verificada durante alguns anos, de diminuição da idade dos campeões, especialmente em desportos como a ginástica e a natação, desenvolveu um movimento para iniciar o treino mais cedo. Em algumas modalidades desportivas a idade de participação pode ser retardada, principalmente naquelas que têm uma exigência maior sobre 43 aspectos relacionados com a capacidade fisiológica e com os indicadores de crescimento e maturação. Outro facto, destacado por Gomes (1993) é a notória tendência em valorizar aspectos biológicos quando se fala de prontidão para o desporto, em detrimento de outros parâmetros como os psico-sócio-afetivos, a motivação para a prática e a influência dos adultos nesta mesma prática. Estas percepções são também reforçadas por Weiss e Gould, (1984) ao salientarem que não só a maturação física é um elemento importante na decisão para iniciar a actividade competitiva, mas também a maturidade social, emocional e cognitiva. 1.4.2.1.2. Aspectos Psico-sociais. Do ponto de vista psicológico, Passer (1996) recomenda a análise de três fatores determinantes para a participação de jovens em competições: a prontidão relacionada à motivação, a prontidão cognitiva e as consequências negativas produzidas pelo envolvimento precoce nas competições. Estas experiências competitivas iniciais podem determinar a continuidade das crianças no desporto (Lima, 1989; Anderson e Magill, 1996; Smith e Smoll, 1996). Este fato está intimamente ligado à questão da prontidão (Smith e Smoll, 1996). O tipo de experiências que encorajam esta permanência são aquelas que oportunizam: a) a aprendizagem de habilidades do desporto; b) o progresso destas habilidades; c) o prazer e a diversão proporcionado; d) a experiência do sucesso (Anderson e Magill, 1996). Estudos têm revelado que crianças, nos primeiros anos de escolaridade, não estão psicologicamente preparadas ("Cognitive readiness") para participar em práticas desportivas organizadas, embora possuam motivações para o fazer e para se compararem socialmente. 44 De acordo com Passer (1986), as capacidades cognitivas racionais da criança só lhe permitem um entendimento maduro do processo de competição, a partir dos 10 ou 12 anos. Desaconçelhando a participação em idades mais baixas. Compartilhando desta mesma posição, Coakley (1986) menciona que só aos 12 anos de idade a criança atingiria o estágio do processo de sociabilização que lhe permitiria participar sistemáticamente de competições formais. Não aprovando a sua participação antes desta idade, sobretudo quando a competição faz distinção na atribuição de prémios ou recompensas. Dentro do processo de desenvolvimento e aprendizagem das crianças, com o aumento da idade, há um envolvimento maior em tarefas competitivas mais complexas. Isto porque, ela com o passar dos anos e com a aprendizagem vai desenvolvendo conceitos que a tornam capaz de perceber o papel dos outros na actividade e a coordenar as suas acções com as dos outros (Farinati, 1995). Na perspectiva de encontrar resposta à questão sobre início da participação competitiva, Coakley (1986) propõe o seguinte: (1) A competição no desporto organizado não deve começar antes dos 8 anos, porque antes dessa idade as relações sociais não seriam compreendidas de forma a torná-Ias motivantes. (2) A competição é aceitável a partir dos 8 anos, desde que a estrutura, os conteúdos e os prémios das relações competitivas sejam compatíveis com as capacidades de interacção dos participantes. Essas actividades competitivas, experenciadas pelas crianças entre os 8 e os 12 anos, devem dar uma ênfase no desenvolvimento das capacidades individuais, sendo gradualmente equilibradas nas regras, nas relações estruturadas e nas estratégias defensivas e ofensivas. Contudo, até os 12 anos, não é recomendável que as estruturas competitivas estejam baseadas na vitória e na atribuição de prémios. Tal ênfase pressuporia a existência de um estado de prontidão social e de habilidades sociais que ainda não foram adquiridas. Desta forma, concordamos com o posicionamento de Passer (1986) quando menciona que tanto o processo de socialização como a preparação psicologica 45 para participar em competição, devem ser situados num quadro de referências culturais mais vasto, e as generalizações feitas com cuidado. Portanto, não devemos tomar decisões apressadas a favor ou contra o envolvimento da criança no desporto organizado. 1.4.2.1.3. Aspectos Motores O estado de prontidão motora constitui outra referência axial para a participação competitiva. Para Sobral (1994, 13, citando Seefeldt, 1982), "qualquer juízo sobre a prontidão da criança ou do jovem para, adquirir o equipamento motor de uma disciplina desportiva, deverá basear-se na análise das tarefas motoras que esse equipamento requer." Ou seja, qualificar o estado de prontidão motora supõe uma enumeração prévia, exaustiva e hierarquizada, em cada desporto ou especialidade desportiva das tarefas sobre as quais se estruturam as competências motoras e técnicas (Sobral, 1993). No entanto, até o presente momento, não temos encontrado respostas no quadro da ciência do desporto e das disciplinas de especialidades, no que se refere à estruturação e enquadramento das competências motoras e técnicas, exigidas em cada prática desportiva concreta. As respostas que temos obtido são ao nível dos padrões básicos do movimento, no quadro de uma psicologia do desenvolvimento. Rowen (1973) indica que, por volta dos seis ou sete anos de idade, as crianças começam a transformar todas as espécies de situações em competições para determinar quem é o melhor. Este processo começa a se tornar visível no momento em que a criança toma contacto directo com os diferentes desportos, isto é, geralmente a partir dos nove ou dez anos de idade (Blásquez Sánchez, 1986). 46 1.4.2.2. As posições da pedagogia e as formulações dos especialistas Devido a pressupostos corporais e da aprendizagem, a idade de 8 anos tem sido considerada uma referência pedagógica para o início da participação no desporto organizado. Porém, não foi possível saber se pode começar a organizar pedagogicamente o treino de forma sistemática ainda mais cedo (Kurz, 1988). Essa participação desportiva na infância tem sido pedagogicamente entendida, no contexto de uma formação, segundo Marques (1998b), como um espectro largo, multilateral, preparatória de um desenvolvimento optimizado da prestação futura, num quadro disciplinar restrito. O que definiria como baliza, relativamente à participação competitiva regular em competições formais, que antes da puberdade seria desaconselhável. Na Austrália as autoridades fizeram uma declaração intitulada "Children in Sport". Nessa declaração recomenda-se que nenhuma competição estruturada seja oferecida à criança com menos de 10 anos de idade. Esta orientação constituiu motivo de fortes objecções junto a organizadores e pais, na comunidade de desporto das crianças (Halbert, 1986). Actualmente, a determinação da idade para as crianças começarem a competir é de responsabilidade de cada federação desportiva. Para Halbert, (1986) a pergunta de maior importância não é "Quando devem as crianças começar a competir?", mas saber "Quais são os aspectos críticos a considerar relativamente ao grau de preparação para se competir". Os treinadores responsáveis pelo planeamento do treino de crianças e jovens consideram que as formulações sobre a idade de início da preparação especializada, em determinado desporto ou disciplina desportiva, decorrem da análise conjugada de factores e indicadores como: - O desenvolvimento físico, motor, psicológico e social do indivíduo nas fases evolutivas; - A reacção do organismo da criança às cargas de treino; - As exigências do rendimento em cada desporto; 47 - As implicações do desporto em termos de segurança; - A idade, a partir de estudos retrospectivos, em que os atletas de alto nível iniciaram a sua preparação especializada. 1.4.2.3. As Referências Empíricas da Prática Desportiva A organização das competições é responsabilidade das federações e associações desportivas. São as respectivas direcções técnicas que estruturam todo o enquadramento da participação em competições, regulamentando os respectivos escalões ou categorias de participação e estabelecendo os calendários competitivos. Evidenciando que esse enquadramento da participação de crianças e adolescentes em quadros competitivos é, ainda, muito tradicional. Desde o início da preparação desportiva, evidencia-se uma relação entre o treino e a competição, tanto na próximidade do desporto de rendimento, qanto na estrutura formal, nos conteúdos. O mesmo acontecendo na atitude frente à competição e no enquadramento geografico da participação competitiva. As referências que encontramos na prática, sobre a idade de início da competição, reportam-se às competições oficiais, que são competições especializadas num desporto formal. Sobral (1994) as define como: "competições regulamentadas por uma federação desportiva, que se integram num quadro organizativo escalonado por idades e categorias de praticantes, perseguindo objectivos de excelência, culminando na atribuição de títulos de expressão nacional ou regional e susceptíveis de articulação com uma orgânica competitiva de âmbito internacional". Contudo, nas etapas iniciais, são previstas competições orientadas para os objectivos da formação. No entanto, essas competições, quando existem, apresentam uma lógica das competições formais, quer na atitude dos técnicos e dirigentes, ou na sua estruturação e definição de conteúdos. 48 Em relação a idades de início da participação em competições formais, apresentamos no quadro 2, a prática desportiva que vem sendo consagrada e alguns modelos de referência propostos, em diferentes desportos. Esse agrupamento, quando centrado na análise da estrutura do rendimento, perde significado ao apresentar de forma genérica certos desportos. Marques (1997b) resalta que alguns desportos só ganham sentido quando consideradas as especialidades e estruturas de rendimento distintas. 49 Quadro 02 – Idade do início da participação desportiva em alguns desportos e especialidades desportivas. Matweiev, (Sobral, 1994*) (Ulatowsi, 1975**) Nowikov,1982***) Ginástica Acrobática 11-12 Ginástica Artís. (F) 10 10 9-10 Ginástica Artís. (M) 10 10 11-12 Ginástica Rítmica 10 9-10 Patinagem Artística 9 9-10 Saltos para a Água 10 11-12 Esqui (Saltos) 13-14 Natação 9 9-10 10 11-12 Ténis 11-12 Ténis Mesa Atletismo 14 11-12 Atletismo (Velocidade) 10 Esqui Alpino 11-12 Patinagem Velocidade 11-12 Atletismo (Lançamentos, Saltos 13-14 Andebol 14 13-14 13-14 Basquetebol 11 13-14 11-12 Futebol 12 Hóquei no Gelo Hóquei em Patins 10 Pólo Aquático 13 Rugby 15 13-14 13-14 13-14 13-14 13-14 13-14 13-14 Voleibol 13-14 Boxe 17 Esgrima 15 Judo 12 Lutas Amadoras 14 13-14 11-12 16 11-12 13-14 16 Canoagem 13-14 13-14 Remo 13-14 13-14 Ciclismo 13-14 13-14 Hipismo 13-14 Vela 16 Atletismo (meio fundo e fundo) 16 Esqui de fundo 11-12 Atletismo (Heptatlo, Decatlo) 16 Pentatlo Moderno 15 16 16 Halterofilia 15 16 16 * Idades de início da competição formal, no ano de 1992, em Portugal. 50 ** Idade de início de participação em competições, a partir da prática desportiva, dos resultados da investigação e da média idade de início da participação competitiva de atletas de alto nível. *** Idades recomendadas para o início da participação em competições na ex-URSS. Nos desportos técnicos (Ginástica, Patinagem Artística, saltos para a água e saltos de esqui), aqueles em que a prestação é condicionada fundamentalmente por factores sensório-motores, o intervalo de variação para a entrada em competição é estreito. A idade mínima é de 9 anos e a máxima 12. Os valores centrais das três propostas situam-se próximo dos 10 anos. A excepção é constituída pela especialidade saltos de esqui, onde a segurança do atleta, numa prova de risco elevado, poderá justificar uma entrada em competição em idade mais avançada (13-14 anos). Seguindo esta mesma estrutura podemos situar desportos como a natação, o ténis e o ténis de mesa, que não sendo estritamente técnicos têm uma dimensão técnica importante. O caso da natação é mais complexo, porque a competição se faz em especialidades com características distintas. No próximo grupo de desportos (atletismo, velocidade saltos. lançamentos, patinagem de velocidade e esqui alpino), a estrutura da prestação é suportada por factores em que, para além dos aspectos técnicos, também os aspectos funcionais são importantes e precisam começar a serem estimulados desde cedo. Nestes desportos e especialidades desportivas, os valores aproximam-se de um intervalo entre os 11 e os 12 anos e, afastando-se mais destes valores, aparecem os saltos e lançamentos do atletismo. Nos desportos tácticos, aqueles cuja estrutura de rendimento é determinada por factores perceptivo-cognitivos, decisionais, a idade de início centra-se próximo dos 13-14 anos. Confirmando que os pressupostos, em que se baseiam as tomadas de decisão, se encontram estabilizados sensivelmente por este período. O intervalo situa-se, todavia, entre os valores mínimo e máximo de 10 e 15 anos, respectivamente, o que não parece muito coerente. Os valores mais baixos não nos parecem muito desajustados. O valor menos compreensível diz respeito ao limite máximo, estabelecido para o rugby, que poderá ser explicado pela necessidade de proteger o jovem atleta num 51 desporto em que o contacto físico é permitido. Nos desportos de combate, também considerados tácticos pelos especialistas, o quadro é mais heterogéneo. Os valores mínimo e máximo são respectivamente 11 e 17 anos, verificando-se uma discrepância entre as propostas apresentadas. No grupo de desportos que integra a canoagem, o remo, o ciclismo, o hipismo e a vela, é difícil estabelecer uma lógica agregadora baseada na estrutura do rendimento. Ulatowski (1975) propõe um agrupamento deste tipo, pela complexidade dos equipamentos e pela garantia de condições de segurança que estes desportos necessitam. Apesar disso, verifica-se uma grande homogeneidade na idade proposta para a participação em competições, 13-14 anos, com excepção da vela. Nas disciplinas de meio-fundo e fundo, condicionadas por factores energéticos, verifica-se uma notória discrepância entre os valores. O mesmo se verifica nas disciplinas combinadas, onde se confirma a tendência de participação em idades avançadas. Em conformidade ao que foi exposto anteriormente, não encontramos uma uniformidade na determinação da idade de início da participação em competições, variando, não apenas de desporto para desporto, mas também de proposta para proposta. As propostas apresentadas, em sua maioria, não consagram as diferenças maturacionais entre os dois sexos, apesar de os autores que as propõem assinalarem a necessidade de se levar em consideração este facto. É relevante considerarmos que os anos transcorridos sobre alguns dos modelos apresentados poderão ter reflexos em alterações mais ou menos sensíveis no quadro em análise. Todavia, as pressões em que as crianças são submetidas no actual quadro competitivo, segundo Sobral (1988), gera uma situação em que: (1) O treino específico inicia-se cada vez mais cedo; (2) O período correspondente a maior intensidade competitiva coincide, em várias modalidades, com os anos terminais da adolescência; (3) O atleta obtem índices superiores de prestação em idades mais baixas. Antes dos doze anos, as estruturas e relações competitivas devem ser sistematicamente controladas. Para as crianças abaixo dos oito anos, a 52 organização dos programas desportivos deve ser exclusivamente baseada no desenvolvimento das técnicas motoras individuais. A competição é geralmente irrelevante para experiências antes desta idade (Sobral, 1988). A estruturação da evolução competitiva dos jovens atletas foi realizada por as crianças de seis anos não são capazes de se concentrar em regras, apenas em pequenas tarefas onde pode estar presente a comparação. De seis a oito anos, a competição pode ocorrer de forma lúdica e enfatizando a possibilidade de sucesso. Entre oito e dez anos, os jovens iniciam gradativamente a participação de competições de carácter específica, de acordo com os objectivos do treino, porém com certa prudência. Um calendário regular de competições só é elaborado a partir de dez a doze anos. A preparação da criança para o desporto competitivo é determinada pelas características individuais de cada criança, nomeadamente o crescimento, a maturação, o desenvolvimento e a natureza do desporto. Portanto, a competição no desporto organizado não deverá acontecer antes da maturidade social, psicológica e física serem obtidas. É preciso que a criança compreenda o significado das relações competitivas. O estado de prontidão da criança para participar no desporto organizado depende do desenvolvimento físico e social. Antes dos doze anos ainda não foram adquiridas as técnicas sociais e cognitivas que lhe permita participar da competição. Isto não significa, que a criança, até essa idade, não participe de actividades competitivas. As expectativas dos adultos para a performance das crianças devem ter em conta o desenvolvimento das suas capacidades. As capacidades actuais de resposta da criança e do jovem devem estar em consonância com as exigências das situações de treino e competição. É esse estado de equilíbrio que define sua prontidão. Os aspectos biológicos e psico-sócio-afectivos devem ser considerados na construção de uma orientação para a iniciação em competições. Devido à individualidade da criança, alguns autores acreditam ser impossível determinar uma idade específica para o início da participação competitiva. Outros, no entanto, recomendam que as competições formais não ocorram, em média, antes dos 10 anos. 53 1.4.3. A estrutura da Preparação Desportiva a Longo Prazo no Treino de Crianças e Jovens Harre (1982) define a Preparação Desportiva a Longo Prazo (PDLP) como um processo pedagógico regido de acordo com as leis do desenvolvimento pessoal e da performance atlética, que tem por objectivo a máxima eficiência em uma determinada idade. Diversos autores (Platonov, 1994; Zakharov, 1992; Weineck, 1986; Grosser et al., 1989; Martin et aI., 2001) apresentam um consenso de que, actualmente, o alto rendimento não pode ser obtido sem a PDLP. Bompa (1999) reforça, ainda, que a PDLP é uma característica do desporto moderno. O objectivo da PDLP é promover a elevação progressiva das exigências do treino, de maneira a obter uma melhora constante da capacidade de performance. Daí a necessidade de se construir bases sólidas na preparação de crianças e adolescentes, permitindo assim, obter no futuro a alta performance (Weineck, 1986; Harre, 1982). Neste sentido, o que se pretende é evitar a ocorrência de resultados precoces vinculados a uma preparação forçada, pois, embora aparentem ser promissores tendem a se estabilizar muito antes das categorias adultas ou reduzir a carreira desportiva (Zakharov, 1992; Matvéiev, 1991; Vaitsekhovskii, 1992). No contexto da formação desportiva, surge a preocupação de como deveria ser a abordagem da PDLP e a definição dos caminhos a percorrer, que permitam, mais tarde, alcançar o alto rendimento. Platonov (1994) estabelece os seguintes factores que determinam a formação e a duração da PDLP: a) A estrutura da actividade competitiva no desporto considerado e o grau de preparação dos atletas que poderão atingir resultados elevados; 54 b) Uma formação e um desenvolvimento sistemático e regular dos diversos componentes da proficiência desportiva, assim como um desenvolvimento constante dos processos de adaptação dos sistemas funcionais, que são fundamentais para o desporto considerado; c) As características individuais, sexo dos atletas, bem como o ritmo de maturação biológica, que serão relacionados a vários aspectos do ritmo e desenvolvimento da mestria desportiva. Os estudos referentes à idade ideal, onde ocorrem os máximos resultados, devem abordar principalmente competições como os Jogos Olímpicos e Campeonatos Mundiais. Filin (1996) apresenta as zonas das idades limites onde podem ocorrer os resultados de vários desportos (Quadro 3). Quadro 3 - Zonas das idades limites dos resultados (adaptado de Filin, 1996) Zona dos Zona das Zona de primeiros altos últimas manutenção dos êxitos possibilidades altos resultados 100 m. (masc./fem.) 17-21/16-19 20-24/20-22 25-26/23-25 800 m. (masc./fem.) 18-22/18-20 23-25/21-23 26-27/24-25 21-24 25-27 28-29 Salto em altura (masc./fem.) 17-21/16-18 22-24/19-22 25-26/23-24 Lançamento de dardo 19-23/18-22 24-26/23-24 27-28/25-26 15-17/13-14 18-20/15-18 21-22/19-20 Ginástica Artística (masc./fem.) 16-18/12-15 19-21/16-17 22-24/18-19 Basquetebol (masc./fem.) 18-21/16-18 22-25/19-23 26-28/24-25 17-21 22-26 27-28 Desporto Atletismo 10.000 m. (masc./fem.) (masc./fem.) Natação (100 e 200 m.) (masc./fem.) Futebol (masc.) Em geral, estes dados têm mantido uma estabilidade durante as últimas três décadas. Ocorrem, no entanto, algumas excepções referentes às modalidades que apresentaram um rejuvenescimento (patinação artística, saltos ornamentais, ginástica, natação e esgrima) devido a factores como alterações 55 de regulamentos, início da especialização mais cedo e passagem para a esfera profissional (Zakharov, 1992). Enquanto as diferenças na construção da PDLP são dependentes dos factores determinantes da performance de um desporto específico (Weineck, 1986), a progressão temporal da PDLP se baseia na idade biológica do atleta, no nível do seu desenvolvimento e preparação, na capacidade de realização de todas as cargas e na competição em desenvolvimento (Filin, 1996). Portanto, as recomendações referentes às idades são válidas, desde que referenciadas como um marco orientador, uma vez que a evolução dos atletas depende da sua individualidade (Martin et aI., 2001). A utilização precoce de meios mais eficazes para estimular o organismo do atleta, faz com que ocorra um rápido crescimento nos resultados, muito antes de ser alcançada a idade óptima. Com isso, há um esgotamento do potencial adaptativo do atleta, impedindo que este reaja a novos estímulos ou, até mesmo, às cargas menos intensas (Platonov, 1994; Zakharov, 1992). Sublinhando a diferença que deve ocorrer entre os moldes do treinamento de crianças e adolescentes, Marques (2000) destaca a existência de uma tendência em intensificar a qualidade, em detrimento da quantidade de treino. Coelho (2000) entende que a formação de um atleta é condicionada pelos estados qualitativos atingidos pelos praticantes, durante as etapas da sua preparação. Considerando o trabalho dos jovens um dos factores determinantes dos limites da preparação desportiva, no mais alto nível de rendimento, é imprescindível, portanto, a definição clara e precisa dos objectivos em cada uma das etapas do processo de formação (Mesquita, 1997). Na literatura encontramos diversas propostas da PDLP, divididas em etapas que não convergem em número e terminologia. Das etapas constituintes da PDLP, interessa-nos as de formação, as quais definiremos como todas as etapas anteriores ao alto rendimentos (Quadro 4). 56 Quadro 4 – Modelos de preparação desportiva a longo prazo e respectivas etapas Autores / Ano Etapas da PDLP Harre -Treinamento de jovens Atletas* (1982) Iniciantes e Avançados* -Treinamento competitivo Weineck (1986) - Treinamento de esperanças* Iniciantes e Avançados* - Treinamento de Alta Performance Lima (1988) - Iniciação* - Orientação* - Especialização* Matéveiev (1991) - Preparação de Base* -Preparação Preliminar e Especialização Inicial* - Máxima Concretização das Possibilidades Desportivas* - Pré-culminação - Resultados Máximos - Longevidade Desportiva - Conservação e Manutenção Zakharov (1992) - Preparação Preliminar - Especialização Inicial* - Especialização Aprofundada* - Resultados Superiores - Manutenção dos Resultados Marques - Preparação Preliminar* (1993) - Especialização Inicial* - Especialização Aprofundada* Platonov (1994) - Preparação Inicial - Preparação preliminar de base - Preparação especializada de base - Realização dos máximos resultados individuais - Manutenção dos resultados Filin (1996) - Preparação preliminar - Especialização desportiva inicial - Aprofundamento do treino - Aperfeiçoamento desportivo. Barbanti (1997) - Preparação básica - Preparação especifica - Preparação de altos rendimentos Martin (1999) - Treino geral - Treino fundamental Bompa (2000) - Treino generalizado - Treino especializado 57 No modelo de PDLP apresentado por Harre (1982), as principais tarefas nesta etapa de formação compreendem, nos iniciandos, o desenvolvimento da preparação física geral e o trabalho dos fundamentos das técnicas e da táctica elementar. Enquanto que, aos avançados cabe o desenvolvimento do condicionamento direccionado a uma modalidade, o aperfeiçoamento da técnica e da táctica e, por fim, o desenvolvimento de uma ampla base motora. A educação dos atletas é realizada com base no desenvolvimento a motivação para atingir o alto nível, aliada a factores como a criação de atitudes positivas, o desenvolvimento do carácter e de qualidades volitivas. O autor não menciona a participação de competições nesta etapa. Matvéiev (1991) apresenta um modelo de PDLP, em que a primeira etapa tem por objectivo formar bases, sob as quais se erguerão os resultados da actividade do atleta. Na preparação preliminar o treino visa a preparação física e desportiva geral e fundamentos das técnicas desportivas. Enquanto que, na segunda etapa há um direccionamento para uma modalidade específica, mas sem provocar a especialização em uma única prova. É importante destacar que a preparação para os resultados desportivos não é, nesta primeira etapa, um objectivo imediato. Eles só serão relevantes a partir do treino especializado, ou seja, no final desta etapa, mas no sentido de progresso e não em relação aos níveis actuais de rendimento. Weineck (1986) salienta que as idades estabelecidas, para cada etapa, são dependentes da modalidade em questão. Na etapa dos iniciados visa uma formação de base polivalente, a ampliação do repertório das habilidades motoras, através de técnicas básicas e a utilização de meios e métodos de treinos variados. No estágio avançado, no contexto da modalidade escolhida, ocorre um aumento progressivo do trabalho específico, bem como do volume e intensidade do treino. Todos os conteúdos visam criar condições que permitam a transição para o último estágio, o treino de alta performance. Para Lima (1988), a formação desportiva de crianças e jovens está caracterizada como um processo pedagógico, onde as etapas devem apresentar um enquadramento próprio através de conteúdos, equipamentos e 58 competições que assegurem as condições favoráveis ao sucesso desportivo. Na iniciação, 8 a 12 anos, os objectivos são, prioritariamente, educativos e formativos, visando a participação, considerando as particularidades de cada criança. Na etapa da orientação, 11-12 a 15-16 anos, a integração social é acresentada aos objectivos anteriores. O objectivo está centrado no desenvolvimento das capacidades motoras e funcionais dos fundamentos técnicos e tácticos das diversas modalidades e a multilateralidade. O que vem resultar numa transição progressiva do carácter lúdico para o de treino. O trabalho de equipa também é valorizado, pois os resultados extremos não devem ser exigidos, visto que podem impedir o atleta de atingir a plenitude do seu desenvolvimento e da sua carreira desportiva. Zakharov (1992) aponta que a progressão entre as etapas se caracteriza pelo grau de solução em cada uma das precedentes. Dentre os principais objectivos na primeira etapa destaca a motivação para o desporto, a ênfase ao desenvolvimento multilateral e a formação harmoniosa do organismo, através de uma prática diversificada. O treino da coordenação e da velocidade fazem parte dos objetivos, nesta etapa. A definição da modalidade desportiva ocorre na especialização inicial, etapa onde a preparação multilateral é a tarefa mais importante a ser desenvolvida, juntamente com o domínio das bases técnicas do desporto. A actividade competitiva tem um carácter auxiliar, representada pelas competições preparatórias e de controlo que, por sua vez, apresentam um programa simplificado. Na etapa da especialização aprofundada há um aumento da preparação especial, visando a criação de base especializada. O número de competições se apresenta bem próximo da etapa dos resultados superiores (40 a 70%). Marques (1993b) propõe para a primeira etapa objectivos de preparação multilateral da criança, motora e desportiva. Na segunda, ocorre o direccionamento para uma modalidade e desenvolvimento dos fundamentos desta. Enquanto que, a última etapa está dirigida para o desenvolvimento aprofundado da capacidade de prestação do desporto. As competições oficiais só aparecem na segunda etapa e em número reduzido, os objetivos formativos destacar-se sobre o rendimento imediato. Na última etapa é que inicia a 59 orientação para o rendimento nas competições, emergindo assim, a periodização com características bem próximas daquelas exercidas no alto rendimento. Na proposta de Platonov (1994), é agregado um modelo de duração das etapas, específico para cada desporto, como podemos verificar no quadro 5. Quadro 5 - Duração de cada etapa da PDLP nos diversos desportos (adaptado de Platonov, 1994) Duração das etapas em anos Modalidades Preparação Preparação Realização dos preliminar de Especialização de máximos base base resultados 6-8/8-10 9-10/11-13 11-13/14-15 14/16 6-8 11-13 14-15 16 15-16/17-18 17/19 Preparação inicial Ginástica artística (fem./masc.) Ginástica Rítmica Natação (fem./masc.) Handebol (fem./masc.) Futsal (masc.) 8-11/9-13 12-14/14-16 11-14/12-15 15-16/16-18 11-15 16-18 17-19/19-20 19-20 20/21 21 A preparação inicial é marcada pela diversidade de modalidades, técnicas, esquemas de acção motora, meios e métodos. Na preparação preliminar de base prevalece a preparação multilateral, acrescentando-se a esta um pequeno volume de preparação especial. O aumentar do volume do trabalho específico, nessa etapa, levará a uma melhora dos resultados na adolescência, mas posteriormente influenciará negativamente na mestria. Há uma ênfase no trabalho da técnica, mas mantém-se a diversidade. No início da preparação especializada de base permanece o mesmo trabalho da primeira fase. No final, a orientação já é feita em função da actividade competitiva e objectiva ampliar a capacidade funcional do organismo. 60 O modelo de Filin (1996), as características específicas de cada desporto e o nível de preparação dos atletas vão condicionar a duração das mesmas. Estabelece, também, como objectivos da preparação preliminar a melhora da saúde, o desenvolvimento físico geral, a variabilidade dos exercícios e a motivação para o desporto. Esta etapa, que abrange a idade pré-escolar, caracteriza-se pela variabilidade de meios, métodos e organizações desportivas. Privilegia o trabalho das qualidades motoras, com destaque para a força, flexibilidade, agilidade e velocidade, por fim, o desenvolvimento da técnica dos exercícios. No final desta etapa ocorre um processo de selecção para as escolas desportivas. A especialização desportiva inicial tem como objectivos principais o desenvolvimento da preparação física geral e a formação fundamental da preparação especial. Os jogos, método de trabalho da técnica e da táctica elementar, são utilizados como meio de integrar as capacidades físicas com as habilidades motoras. O período competitivo é reduzido e tem uma importância secundária. Contudo, a competição tem aqui a importante função de verificar o potencial do atleta. Na etapa seguinte há um aumento do nível da preparação funcional e especial. Esta etapa é marcada pela participação sistemática em competições. A preparação desportiva, para Barbanti (1997), tem início pelos 8-9 anos e objectiva alcançar as condições necessárias para atingir os resultados desportivos elevados na idade adulta. Predomina, nesta etapa, a preparação generalizada que visa ampliar as experiências motoras, o desenvolvimento da técnica, das capacidades motoras básicas e a motivação para o treino. As competições nesta primeira etapa não devem priorizar recordes ou ganhar a qualquer custo. Na etapa de preparação específica procura-se, sem abandonar o treino multilateral, orientar o atleta para especialização em sua prova ou modalidade. Por fim, a etapa da preparação de altos rendimentos tem como objectivo a preparação do atleta para resultados e competições de alto nível. Martin (1999) esclarece que o treino de crianças e jovens, em virtude de apresentar um carácter de perspectiva, não pode ser orientado para a obtenção de resultados momentâneos, em detrimento dos objectivos e conteúdos de cada etapa. Deve seguir o princípio da melhora da qualidade do 61 treino. A etapa do treino geral é utilizada para motivar as crianças à prática do desporto, ocorrendo simultaneamente com a detecção de talentos. O conteúdo desta etapa é marcado pela multilateralidade, com exercícios destinados à aquisição das capacidades coordenativas. A característica do treino fundamental é a predominância da aprendizagem das habilidades motoras específicas e do treino da velocidade. No programa de treino proposto por Bompa (2000) estão presentes duas principais etapas: o treino generalizado e o treino especializado. A primeira, subdividida em iniciação (6-10 anos) e formação atlética (11-14 anos), propõe construir os fundamentos para desenvolver as complexas capacidades motoras, proporcionando uma suave transição para a etapa posterior. A orientação para a performance não é indicada para esta etapa, em que se destacam a aprendizagem dos fundamentos desportivos em geral e das habilidades motoras, assim como o reforço da técnica. As competições surgem no final desta etapa, com o objectivo de aperfeiçoar os fundamentos e a técnica, além de criar situações de sucesso para o atleta. Na segunda (15-18 anos), a especialização é marcada pelo emprego do treino que vise a performance em um determinado desporto, pela monitorização deste treino e pelo aumento progressivo do número de competições. Embora o referido autor estabeleça as idades aproximadas para cada etapa, o mesmo reconhece que ocorrem variações devido às particularidades de cada desporto. Por isso, configura um quadro, onde são descritas estas variações (Quadro 6). 62 Quadro 6 - Idade da iniciação, da especialização e da alta performance em diferentes desportos (adaptado de Bompa, 2000) Desporto Idade da iniciação Idade da especialização Idade da alta performance Atletismo Velocidade 10-12 14-16 22-26 Corrida de média distância 13-14 16-17 22-26 Corrida de longa distância 14-16 17-20 25-28 Saltos 12-14 16-18 22-25 Salto Triplo 12-14 17-19 23-26 Salto em Distância 12-14 17-19 23-26 Arremesso 14-15 17-19 23-27 Ballet 10-12 15-16 22-28 Futebol 12-14 16-18 23-27 Feminina 6-8 9-10 14-18 Masculina 8-9 14-15 22-25 Judo 8-10 15-16 22-26 Feminina 7-9 11-13 18-22 Masculino 7-8 13-15 20-24 Feminino 7-8 11-13 20-25 Masculino 7-8 12-14 22-27 10-12 15-16 22-26 Ginástica Natação Ténis Voleibol De acordo com as propostas de preparação desportiva a longo prazo, relacionadas com as etapas de formação apresentadas, podemos resumir que: - A maioria dos autores estabelece três principais etapas para designar o processo de PDLP - As idades correspondentes para cada etapa são dependentes do desporto e a progressão entre elas varia conforme as particularidades do atleta. - As orientações correspondentes a primeira etapa estabelecem como principal objectivo a construção de bases que, posteriormente, permitam atingir as etapas subsequentes. Os conteúdos desta etapa estão relacionados com o treino multilateral, com a variabilidade de meios e métodos, com as actividades lúdicas e com a motivação do atleta. 63 - A segunda etapa é marcada pelo direcionamento do atleta para uma modalidade desportiva específica. No entanto, a predominância ainda é do treino multilateral, com destaque para o trabalho dos fundamentos das técnicas do desporto. - Na terceira etapa ocorre uma proximidade com o treino da fase adulta, com o aumento do volume, da intensidade e da preparação especial, além da presença da periodização tradicional. Visa-se à consolidação e ao aperfeiçoamento dos fundamentos. Pois as influências do treino estão directamente relacionadas com o desenvolvimento da performance. - Em relação à participação em competições e à importância dos resultados, observa-se que: nas duas primeiras etapas, as competições apresentam um carácter participativo e adaptativo à realidade do atleta, tanto em aspectos referentes a materiais, quanto aos aspectos organizacionais. Os resultados nestas etapas não devem ser exigidos, diferentemente da importância atribuída aos mesmos, no estágio do alto rendimento. Somente na última etapa, a quantidade e o modelo das competições aproximam-se daqueles apresentados nas categorias adultas. 1.5. Caracterização dos Desportos O planeamento de um determinado desporto presupõe o conhecimento do perfil das exigências desta disciplina, bem como, das condições físicas e psicológicas que o atleta deve apresentar (Grosser et aI., 1989). O processo de treino e aprendizagem dos desportos devem ser realizados considerando-se três factores, como aponta Moreno (1994): as características do indivíduo, a estrutura do desporto e o planeamento metodológico. Assim, a classificação das disciplinas desportivas é uma maneira de delimitar grupos homogéneos de desportos, com características específicas (Verkhoshanski, 1990). Podemos encontrar na literatura diversas classificações, dentre salientamos a proposta de Moreno (1994), na qual a divisão ocorre em: 64 elas A) Desportos psicomotrizes ou individuais: o indivíduo actua sozinho, de maneira que seu comportamento motor ou estratégia motriz não sofre interferência de outro participante. Neste grupo, a técnica ou o modelo de execução tem um papel prioritário. Ex.: natação, ginástica olímpica, atletismo, esqui e vela. B) Desportos de oposição: a presença de outro indivíduo, na qualidade de adversário, determina a ação, de maneira que a conduta dos participantes apresenta objetivos opostos. A estratégia, nesta categoria, está mais valorizada do que no grupo anterior. Ex.: luta livre, karatê, judo, ténis e badminton. C) Desportos de cooperação: a acção resultante ocorre entre dois ou mais indivíduos, que actuam de maneira coordenada entre si em mútua colaboração. Na grande maioria dos desportos deste grupo, a técnica corresponde a modelos já predeterminados. Ex.: patinação artística (duplas), ginástica rítmica (conjunto), natação e atletismo (revezamento). D) Desportos de cooperação/posição: são denominados assim os desportos onde a acção é o resultado das interacções dos participantes, produzidas de maneira que uma equipe coopera entre si para opor-se à outra. A estratégia, em conjunto com a comunicação, forma o núcleo principal deste grupo. Ex.: futebol, handebol, tênis de duplas, voleibol, hockey e squash. A referida classificação utilizou parâmetros configuradores da estrutura do desporto como, o regulamento, a técnica e modelos de execução, o espaço de jogo, o tempo, a comunicação e a estratégia motriz. Em relação à classificação dos desportos, cabe mencionar a existência de outras propostas que permitem, também, uma contribuição na delimitação das modalidades. Djatschkow (citado por Grosser et al., 1989) apresenta quatro grupos resumidos em: desportos de força explosiva, de resistência, combinados, jogos e lutas. Gandelsman e Smimov (citado por Bompa,1999b, p.73) utilizam para a classificação critérios como: contracção muscular, força, 65 velocidade, resistência, coordenação e amplitude. Schanabel (1988) baseia-se nos processos de natureza energética. Conferimos que o universo de factores que caracterizam os desportos apresenta uma configuração ampla, mas com parâmetros bem definidos, capazes de diferenciá-los. 1.6. As competições no modelo de prospectiva da preparação desportiva. 1.6.1. Natureza das competições nos estádios e etapas da preparação desportiva de crianças e jovens. Marques, (1985) identifica no modelo de prospectiva de preparação desportiva a existência de dois estádios: o estádio de treino de base e o de plena realização das aptidões desportivas. O limite entre os dois estádios tem como referência o período pubertário. O primeiro estádio abrange duas etapas: a etapa de preparação preliminar e a etapa de especialização inicial. O segundo estádio engloba as etapas de especialização aprofundada e de elevadas prestações desportivas. Nos detivemos mais nas etapas do primeiro estágio, abordadas em nosso estudo, para o enquadramento das competições no modelo de preparação a longo prazo. No estádio de treino de base, as competições devem contribuir para o desenvolvimento de uma multilateralidade desportiva. Quanto mais unilateral é a estrutura da prestação de um desporto, tanto mais será necessário construir, de modo multilateral, a base da prestação (Rost, 1995). Seguindo as indicações de Marques (1997b), essa base constrói-se de modo diferente consoante os objectivos e os momentos da formação. Na primeira etapa, o quadro de actividades sobre o qual se funda essa multilateralidade deve ser o mais eclético possível. Nenhum desporto ou actividade contém, por si só, todas as possibilidades de estimulação e experiência na sua desejável 66 diversidade. É, por isso, pedagogicamente indispensável que as crianças vivenciem múltiplas formas de movimento, jogo e desporto. Na segunda etapa, a multilateralidade nas competições deve ter uma adequação mais próxima das exigências do desporto escolhido, permitindo, desta forma, potenciar as possibilidades de transferência motora. Uma diminuição da diversidade e da quantidade de componentes do sistema motor funcional activado conduz a uma maior concentração das reservas de adaptação e a um maior desenvolvimento do sistema (Tschiene, 1989). Tentando conciliar os aspectos da formação não especializada com os da optimização da transferência motora, Marques (1995) aponta algumas exigências: (1) A necessidade de delimitar o conceito de multilateralidadel e diversidade, específicas para cada desporto, orientando os exercícios, quer na estrutura da carga, quer na estrutura motora para o desporto escolhido; (2) Recorrer aos conceitos de formação multilateral geral e específica, sendo o último, ponto central na orientação para o desenvolvimento das capacidades coordenativas. Fazendo uma relação destes pressupostos, Tschiene (1989) propõe-nos um quadro de critérios para aplicação do princípio da multilateralidade/diversidade, de acordo com a natureza de cada desporto: 1. Desportos que já contêm diversidade (Atletismo, Ginástica Artística...): os exercícios devem criar mudanças psíquicas através das alterações do envolvimento. 2. Desportos cíclicos (Natação, Ski de Fundo, etc): devem ser previstos exercícios de compensação, de substituição, com estrutura e função semelhantes. 3. Desportos de formação técnica ou condicional estreita: (saltos para a água, halterofilia) deve recorrer a exercícios de outros desportos, que suportem a capacidade de prestação geral e possibilitem uma grande transferência de efeitos para o desporto escolhido. 67 Portanto, devemos evitar a especialização precoce, isso também, nos obriga a criar condições para a optimização do rendimento, tendo no modelo de mais alto nível, um factor estruturante do sistema de preparação a longo prazo. De acordo com Tschiene (1988), essas condições passam por uma nova classificação dos exercícios de treino no desporto de crianças e jovens, que justificam: 1. O grau de transferência, segundo a semelhança estrutural e funcional relativamente aos exercícios de competição; 2. O grau de efeito funcional, em relação ao desenvolvimento biológico e a idade de treino dos atletas; 3. A necessária intensidade de realização dos exercícios (dentro de um complexo de métodos sobre a consideração da zona energética); 4. Uma estruturação e hierarquização particular dos exercícios adequadas aos níveis de idade. Essas orientações repercutem directamente no aumento da aplicação de carga geral e específica, ampliando a base da prestação e as possibilidades de transferência motora. E, dentro desse processo, devemos evitar as cargas unilaterais excessivas na idade evolutiva, através de um vasto repertório de experiências motoras gerais e orientadas, que criam também, situações mais atractivas para um maior envolvimento e motivem as crianças e jovens para o treino. Já no estádio de plena realização das aptidões desportivas, as competições diferenciam-se das características do primriro estádio. Devem assumir plenamente as suas características, no plano dos objectivos, formal e dos conteúdos, relativas ao quadro disciplinar restrito e institucional em que se inscrevem. 68 1.6.2. O enquadramento geográfico das competições. As competições, nas etapas iniciais da formação, devem ser oferecidas em função da idade e terem limites locais ou regionais. Pretende-se com isto, impedir uma orientação excessiva para o sucesso e limitar a pressão psicológica motivada por altas performances e títulos. Impedindo, com isso, uma sobreavaliação do indivíduo e dos seus resultados competitivos (Deutsche Sportbund, 1983). Não obstante, algumas crianças, por se encontrarem em estádios de preparação mais avançados, sejam confrontadas com exigências competitivas mais elevadas, como acontece em desportos que permitem a criança competir com jovens e adultos. Neste caso, essa participação deve ser acompanhada com particular cuidado. As crianças tendem a tomar como referência os comportamentos e feitos dos adultos, consideram-los seus ídolos. Outra influência verificada refere-se aos resultados alcançados pelos atletas de alto nível, colocando a si próprias objectivos mais exigentes e esforçando-se para, em curto tempo, atingir os mesmos resultados. Segundo Kurz (1988), as expectativas das crianças, acrescidas às expectativas pais sobre o êxito nas competições nacionais ou até mesmo internacionais, trazem dificuldades aos treinadores na perspectiva das possibilidades de concretizar esses objectivos. Por isso, é de extrema relevância, em idades baixas, considerar uma restrição na participação precoce em competições para além dos limites regionais. Neste panorama, Matweiev e Nowikov, (1982) propuseram as seguintes normas (Quadro 7) relativas ao enquadramento territorial do sistema de competições de jovens desportistas na ex-URSS. Quadro 7 - Enquadramento territorial das competições dos mais jovens, (Matweiev e Nowikov (1982); citados por Marques, 1997b) Idade Enquadramento territorial 9-10 Competições desportivas na escola 11-12 Competições a nível local e de cidade 13-14 Competições a nível de distrito, região ou república autónoma 15-16 Competições a nível nacional (ex-URSS) 69 Valeriote e Hansen, (1986) em seu estudo verificaram que no Canadá, a idade de participação em competições nacionais situa-se entre os 15 e os 18 anos. Nos desportos estudados, 60% oferecem competição a nível províncial e regional para jovens a partir dos 11 anos. Às crianças de 9 e 10 anos são apenas oferecidas competições locais, para divertimento. Contudo, 12% dos desportos estudados oferecem competições provinciais para crianças dos 6 a 8 anos e 32% oferecem as mesmas competições para crianças dos 9 e 10 anos. No modelo adoptado de Bompa (2000), quadro 8, evidenciam-se para os diferentes desportos as respectivas variações de idade e enquadramento competitivo. Quadro 8 - Idade mínima para a participação em competições (adaptado de Bompa, 2000) Enquadramento geográfico das competições Modalidades desportivas e respectivas idades recomendadas Ginástica (Feminina) Ténis Voleibol Natação Futebol Lúdica 7-9 12-13 14 12-13 8-14 Local 10 14 15-16 14-15 15-18 Estadual 11- 13 15 17-18 16 15-18 Nacional 14 16-17 19-21 17 19 Internacional/Profissional 14 18 22 17 20 Em Portugal, Andrade (1996), estudando as modalidades desportivas: andebol, atletismo, basquetebol, ciclismo, futebol, ginástica artística e voleibol, constatou que há competições de âmbito nacional em todas as categorias, logo a partir da idade correspondente ao escalão de infantis, ainda que revestindo de formas organizativas e propósitos diferenciados (Quadro 09). 70 Quadro 09 - Natureza das competições realizadas, em algumas modalidades, por jovens atletas portugueses do escalão infantil, ou equivalente, no ano de 1995; (citados por Marques 1997b) Desporto Tipo de competição Andebol Encontros Nacionais Atletismo Competições de “Atleta Completo” Basquetebol Torneios Inter-Seleções Ciclismo Prémios e Encontros Nacionais Futebol Taça Nacional Ginástica Artística Campeonato Nacional e Taça Juvenil Voleibol Encontro Nacional de Minivoleibol A definição de uma demarcação geográfica da participação competitiva, não tem sido encontrada facilmente na literatura. Porém, temos bem claro e justificado que, o enquadramento das competições não deverá ser o mesmo para todos os escalões e etapas de preparação a longo prazo. O mesmo deve apresentar uma evolução lógica, de acordo com as modalidades desportivas e, sobretudo, com as características, obrigações e interesses das crianças e jovens. 1.6.3. Competições em equipa nas modalidades individuais. Nestas etapas iniciais, as competições apresentam factores que merecem ser equacionados de forma pedagógica, como as diferenças biológicas, o insucesso, a desmotivação e as pressões psicológicas. Por isso, requerem a adopção de estratégias, principalmente nas modalidades individuais. Uma delas é a promoção de competições em equipa. As formas de participação em grupo devem ser privilegiadas em relação às formas individualizadas. Isto não pretende excluir a participação individual em competições, apenas ser alvo de uma cuidada ponderação (Deutsche Sportbund, 1983). O sistema de competições vigente cria situações de desmotivação entre os menos aptos, por dar excessiva atenção sobre os melhores atletas que, 71 geralmente, são os biologicamente mais acelerados ou os de maior idade cronológica. Rost (1995), considerar a necessidade de que, nas etapas iniciais da preparação, o sistema de competições deva ser efectuado em moldes que tornem possível a um maior número de indivíduos atingir situações de sucesso. Na realidade, o que temos encontrado é um processo orientado de treino que furta a criança aos contactos com os companheiros, limitando o estabelecimento de relações interindividuais sistemáticas. A privação da alegria e divertimento na preparação, prejudica de forma séria o desenvolvimento da sua personalidade. Os contactos sociais devem ser estimulados e não desencorajados. Julgamos, assim, fundamental, nestas fases da preparação, atribuir uma função central ao jogo, às formas competitivas em grupo, e aos desportos de equipa, na preparação desportiva da criança (Marques, 1991). Isso deve ocorrer não só no desporto na escola, mas também no desporto de rendimento e em todas as disciplinas desportivas, particularmente naquelas em que a relação de intervenção com a actividade é feita individualmente. 1.6.4. As características das competições e os modelos de periodização do treino. De acordo com Marques (1991), periodizar significa definir limites temporais precisos que permitam, aos treinadores, estruturar de forma objectiva os conteúdos do treino em cada momento da preparação desportiva. No desporto de alto rendimento, as tarefas da preparação decorrem da necessidade de obter elevadas performances nas competições. Isso só é possível na medida em que os processos de carga/recuperação sejam adequadamente controlados. No estádio de treino de base, as competições devem constituir-se como forma de treino e de carga e servirem de reforço da motivação para o treino. Na etapa de especialização aprofundada o papel das competições altera-se, assumindo um carácter duplo: por um lado, nos primeiros momentos, as competições continuam a constituir-se, ainda, como formas de treino especializado, por outro lado, vão se assumindo progressivamente como 72 competições propriamente ditas, isto é, competições para comparação do rendimento, com ênfase sobre a vitória. (Tschiene, 1995) No entanto, não temos um desporto que seja exclusivamente das crianças e jovens com programas e objectivos diferenciados para os vários estádios e etapas. Emerge, com isso, a necessidade de definir as características das competições e os modelos de periodização que devem servir de referência à estruturação da preparação desportiva, em cada fase do processo de formação. Essa definição supõe uma formulação prévia de alguns princípios, resultantes de algum consenso, possível de estabelecer a partir de uma reflexão sobre o perfil da preparação desportiva de crianças e jovens (Marques, 1993b): 1. O desporto de crianças e adolescentes não visa resultados imediatos; antes se orienta por preocupações em que a formação dos jovens desportistas ocupa o lugar central; 2. Não devendo a potenciação do rendimento ser a principal preocupação dos treinadores, também os modelos de periodização não devem revestir perfil idêntico ao do desporto de alto nível; 3. A necessidade de consideração do princípio da especialização crescente, na preparação dos jovens desportistas, é compatível com a ideia de que, quanto mais avançado estiver o processo de formação, tanto mais necessário será adoptar modelos de periodização próximos dos utilizados no desporto de alto nível. De acordo com a mesma lógica, nas etapas iniciais da preparação, a periodização não deve subordinar-se à necessidade de obter sucesso nas competições; 4. A organização em etapas, com características próprias da preparação dos mais jovens, justifica igualmente que em cada etapa seja considerado um modelo de periodização específico. Salietamos, assim, as linhas de força que permitem estruturar a periodização do treino, bem como as características das competições nas etapas fundamentais da formação dos jovens desportistas (Marques, 1993b). 73 1.6.4.1. Competições no estádio de treino de base Destaca-se na literatura a importância de, nas primeiras etapas do processo de preparação desportiva a longo prazo, terem um elevado número e frequência de competições simplificadas, atribuindo diferentes justificativas para o seu efeito: - Para tornar o êxito desportivo mais frequente e mais diversificado, a organização do desporto para crianças e jovens deve proporcionar muita actividade, muitos jogos, muita competição, muitos torneios (Lima, 1987a); - Pelo valor emocional e pela acção que a competição exerce sobre o desenvolvimento da motivação, em particular nos mais jovens, Rost (1995) aponta como essencial e indiscutível a planificação e disseminação da competição durante todo o ano; - Por serem fundamentais no processo de formação, Marques (1997b) é de opinião que as competições devem ser consideradas nas estratégias da preparação, também ao longo de todo o ano; - Tschiene (1995, citado por Marques,1997b), salienta a importância de uma regular actividade competitiva dos mais jovens, ao longo de todo o ano, constituindo se a competição como parte essencial do processo de treino. Defende a frequência de participação competitiva e justifica que as mesmas devem ser organizadas de forma mais simples e terem diferentes graus de importância; - Relativamente ao quadro competitivo oferecido aos mais jovens, Vieira (1992) salienta que: o número de competições deve ser estimulante; deve haver a preocupação de aumentar o número de competições para os atletas mais jovens. 74 A competição frequente e adequada à idade dos jovens promove o seu desenvolvimento multilateral. Um maior ou menor número de competições dependerá da idade cronológica e da idade de treino do jovem atleta. Na opinião de Thumm (1987), as crianças, entre os 9 e os 12 anos, devem participar com regularidade em competições multidesportivas. Também na ex-RDA, a criança, no intervalo de idade 10-12 anos, competia em cerca de 50-60 competições multidisciplinares (Schonberger, 1987). Complementando a caracterização das competições nas as etapas do período de base, Marques (1993b) nos propõe as seguintes recomendações: a-) Etapa de Preparação Preliminar Objectivo central: deve atender a uma preparação motora e desportiva, multilateral da criança. Perfil da periodização: A existência de actividades, centradas essencialmente na escola, em que o treino e a competição se confundem, no prosseguimento dos objectivos visados, e que a competição não decorre num quadro instituído, não se justifica ainda uma periodização no seu sentido estrito. O treino estrutura-se segundo a lógica das actividades escolares. Características das competições: ainda não se utilizam competições estruturadas, mas formas competitivas, em grande número, correspondentes a jogos de movimento ou a exercícios do desporto em geral. b-) Etapa de Especialização Inicial Objectivo central: Orientar a criança para uma prática regular de uma actividade desportiva e desenvolvimento dos fundamentos desse desporto ou especialidade desportiva. Perfil da periodização: as actividades de treino e competição são organizados em quadros institucionais. Começam a diferenciar-se no planeamento das actividades e no início da periodização do treino, mas não uma periodização no seu sentido clássico. O número de competições oficiais não deve ser muito elevado, sobretudo as formas competitivas e as competições que devem 75 aparecer ao longo de toda a preparação e não concentradas em períodos competitivos. Trata-se de uma fase da preparação desportiva em que a lógica da periodização deverá harmonizar-se com o quadro organizativo em que decorrem as actividades escolares. Estas devem mesmo, nesta fase, enquanto forma de actividade primordial da criança, determinar, no essencial, as normas para a estruturação da preparação desportiva. Isto é, ao final de cada trimestre escolar deverá, em princípio, marcar igualmente o final de cada período de preparação desportiva. As férias escolares criam as condições para que se optimizem os processos de recuperação e, portanto, para que não haja actividade desportiva controlada, num processo de treino regular. As formas competitivas devem ser equilibradas e regularmente repartidas ao longo de toda a época desportiva, porque constituem parte essencial do treino. A periodização deve ocorrer e ajustar-se aos períodos de actividades e de férias, determinados pela organização do sistema educativo. O modo de competição deve ser simplificado e o regulamento facilitado e adaptado à idade dos praticantes. Deve introduzir-se, com maior frequência, no treino formas jogadas, competições de grupo e de equipa, e formas combinadas de competição, sem carácter decisivo, isto é, sem terem a vitória como objectivo primeiro. 1.6.5. Número de competições e frequência da participação competitiva Os argumentos encontrados na literatura reforçam a importância da competição para a formação desportiva do jovem atleta. Por isso, devem ser consideradas nas estratégias da preparação, ao longo de toda a época desportiva. No entanto, precisamos saber quais deverão ser o número de competições e a frequência da participação competitiva? É importante destacar que nos referimo às competições com organização associativa ou federativa, que designamos por oficiais. Estas competições oficiais têm, para além de exigências técnicas elevadas, grandes exigências 76 físicas e psicológicas e devem articular-se com os objectivos do treino. Para Marques (1997b), a exigência das competições oficiais devem ir aumentando progressivamente, quer o número, quer o grau, com a idade de treino e com a consequente melhoria do nível de preparação. O que exige a consideração de uma proporção equilibrada entre o tempo consagrado à aprendizagem e o domínio dos factores que condicionam a prestação desportiva e, assim como o número de participação em competições. Todavia, na actualidade, ainda não temos na literatura estudos suficientes que nos possibilitem dar uma resposta, de forma objectiva, a esta questão. Um dos poucos estudos que encontramos, realizado nos Centros de Treino da FCDEF-UP por Marques (1993b), procurou analisar qual o número de competições e a frequência de participação competitiva de jovens atletas portugueses, em jogos desportivos colectivos na etapa de especialização inicial, correspondente aos escalões de infantis e iniciados, apresentados no Quadro 10: QUADRO 10 - Valores médios da carga anual de treino e de competição nos escalões infantis e iniciados de algumas modalidades desportivas. Modalidades Escalão Nº Treinos Número de Nº Compet. equipas Trein. Vs comp. Andebol Iniciados 3 135 39,7 3,4/1 Basquetebol Inf. e Inic. 3 122,3 24,7 5,0/1 Futebol Inf. e Inic. 3 76,3 32,7 2,3/1 Voleibol Iniciados 5 116,6 27,6 4,2/1 Os resultados evidenciaram grandes diferenças entre cada modalidade e uma frequência de participação competitiva muito elevada no futebol. O contrário é apresentado pelas equipas de basquetebol, que apresentam maior carga de treino e menor carga de competição. 77 No mesmo estudo, ao analisarem só por escalões, a frequência de participação competitiva é semelhante, embora a carga de treino anual e o número de participações em competições sejam maiores nos iniciados. Quadro 11- Valores médios da carga anual de treino e de competição nos escalões infantis e iniciados Escalão N Nº Treinos Nº competições* Treino vs Comp. Infantis 3 103.3 27 3.8/1 Iniciados 11 115.8 31.6 3.7/1 E.EI 14 113.1 30.6 3.7/1 * Inclui jogos oficiais e de treino. Das 14 equipas que integram a amostra, 7 fizeram jogos de treino com uma média de 5.6 competições/ano. Os resultados apresentados mostram existir um aumento no número de participação em competições do escalão de infantis para o escalão de iniciados. Tschiene (1995) refere que, durante o processo de preparação a longo prazo, as competições no estádio de treino de base devem ser realizadas com grande frequência e devem ser, regularmente, distribuídas ao longo da temporada. Em outro estudo, realizado por Andrade (1996), fornecendo-nos um quadro mais extensivo de análise, num levantamento mais vasto, abrangendo os escalões de juvenis e juniores. O quadro 12 reporta-se ao número de competições oficiais, em 7 modalidades desportivas que os jovens atletas participaram em Portugal no ano de 1995. 78 Quadro 12 - Número total de competições e competições nacionais (entre parênteses), no sector de jovens, masculinos, em Portugal. (Andrade, 1996) Desporto Infantil Iniciados Juvenis Juniores Andebol 32 (6) 34 (6) 37 (11) 36 (20) Atletismo 16 (1) 17 (1) 40 (19) 34 (15) Basquetebol 27 (3) 40 (3) 35 (17) 41 (16) Ciclismo 23 (3) 31 (11) 37 (14) 37 (16) Futebol 45 (13) 41 (7) 44 (12) 50 (12) 6 (2) 8 (5) 9 (6) 6 (4) 31 (10) 42 (6) 51 (12) 58 (19) Ginástica Artística Voleibol Em relação ao número de competições, não se evidencia um crescimento linear com o avanço dos níveis de preparação, além de diferenciar-se de modalidade para modalidade. O número de competições oficiais na etapa de especialização inicial (escalões de infantis e iniciados) é, em geral, inferior ao existente na etapa de especialização aprofundada (escalões de juvenis e juniores). Comparando os valores do estudo de Andrade (1996), em relação ao estudo realizado por Marques (1993b), referido anteriormente, encontramos algumas diferenças. Na opinião de Zakharov (1992), nos últimos anos, o número de competições efectuadas na alta competição manteve-se, praticamente, sem alterações significativas. O mesmo autor propõe o seguinte número de competições anuais em diversos desportos e grupos de disciplinas do atletismo, referidas no quadro13. 79 Quadro 13 - Características da actividade competitiva dos atletas de alta competição durante um ciclo anual de treino, em várias modalidades (adaptado de Zakharov, 1992) Modalidades Nº de competições Nº de dias de competições Nº de partidas ou provas Natação 20-26 30-55 62-84 Esqui 14-16 36-40 30-40 Ciclismo (estrada) 30-40 90-120 100-130 Ciclismo (pista) 22-30 75-102 190-220 Atletismo (meio fundo) 20-30 20-32 25-35 Atletismo (fundo) 19-25 20-32 25-30 Atletismo (1/2 maratona) 10-11 10-11 10-11 Atletismo (velocidade) 19-27 30-45 40-60 Atletismo (saltos) 20-25 18-30 10-150 Atletismo (lançamentos) 25-32 20-35 100-160 Futebol 8-12 70-85 70-85 Ténis 15-26 40-120 40-120 Basquetebol 80 80 80 Voleibol 80 80 80 Pugilismo 7-12 15-25 15-25 Luta 8-11 24-30 44-52 70 70 70 Andebol Os dados nos permitem salientar que, para as diversas modalidades, o número de competições realizadas anualmente apresentam diferenças acentuadas. No que se refere às características das modalidades desportivas praticadas, Martin (1980) sugere o seguinte número de competições anuais: a) Desportos colectivos - 60 ou mais jogos. b) Desportos em que a dominante é a força explosiva - 25 a 35 competições, durante um período de 6-7 meses. c) Desportos em que a dominante é a resistência aeróbia e desportos de combate - 20 a 26 competições. d) Provas combinadas - 10 a 15 competições. Sobre os factores relacionados à determinação do número de competições a participar, Harre, (1982) reconhece que a frequência das competições depende, fundamentalmente, das características da modalidade, das cargas de treino, dos anos de treino, da idade do atleta e das capacidades 80 individuais. Seguindo essa lógica, Matvéiev (1990) nos diz que o número de competições depende somente das características de determinado desporto e do nível do atleta. Em relação a distribuição das competições ao longo do ano, estas têm influência na periodização do treino, porém o calendário competitivo não define, por si só, a periodização do treino. A maioria dos autores considera que a construção do calendário das competições, para os jovens, deve obedecer a princípios diferentes dos delineados para os adultos e para a alta competição. Araújo (1994) salienta algumas regras básicas na elaboração do calendário das competições desportivas para os jovens: (1) Mínimo de quatro competições por época, escalonadas no tempo, de modo a integrarem períodos intermédios de preparação, com a duração mínima de trinta a quarenta e cinco dias; (2) Avaliação inicial das possibilidades das equipas participantes, de modo a permitir que as competições sejam disputadas entre equipas de valor equilibrado; (3) Procurar abrir o mais possível o leque de determinação de vencedores, diversificando os títulos a serem alcançados, como meio importante de motivar os dirigentes, treinadores e jogadores. O que parece ser apresentar um consenço entre os autores de que deve haver uma frequência elevada de paricipação competitiva nestas etapas iniciais da preparação desportiva das crianças e jovens. A determinação de um número de competições está depende das características das modalidades, dos anos de treino e da prestação desportiva dos atletas. 1.7. As propostas e exemplos de modificações nas competições de crianças e jovens. Nas etapas iniciais de formação desportiva, as moficações no sistema competitivo vigente são imprescindíveis. Marques (1997b) justifica modificações no desporto, pela necessidade de criar situações de facilicitação 81 que permitam às crianças e jovens participarem em competições, ao nível das capacidades e qualidades de que dispõem. Essas modificações fazem-se por referência à estrutura, conteúdo e enquadramento das competições formais. As alterações devem ser em função dos objectivos formativos, criando uma articulação mais estreita entre os conteúdos da competição e os conteúdos do treino. Os pressupostos da prestação que devem constituir-se como conteúdos da competição são aqueles já treináveis nas respectivas idades (Rost, 1995). As alterações nas competições são condicionadas pelos estágios de desenvolvimento e, também, pela idade de treino e respectivas aquisições. Matweiev e Nowikov (1982) sugerem mudanças nos aspectos estruturais e de regulamentação das competições: - Encurtamento de distâncias, como, por exemplo, nos desportos cíclicos; - Redução dos tempos de competição, como nos jogos desportivos; - Facilitação das formas de competição, como na ginástica; - Alteração do peso e dimensões de aparelhos e engenhos, como no atletismo; - Alteração das dimensões dos espaços de jogo; - Alteração dos regulamentos em geral. Mais recentemente, além das alterações na forma, outras têm vindo a ser introduzidas à natureza das competições (Marques,1997b). As primeiras alterações, de índole mais formal, são justificadas ao longo de toda a preparação de prospectiva, mesmo nas fases de formação mais avançadas. As seguintes, pelo seu alcance pedagógico, actuam no estádio de treino de base, em particular na etapa de especialização inicial. As alterações justificam-se porque, neste contexto, as competições são tradicionais e orientadas para um quadro disciplinar restrito. Devem ser efectuadas, não só em relação as regras, mas nos conteúdos da competição e nos critérios de avaliação da participação competitiva. Nesta etapa inicial, a estratégia utilizada é desenvolver-se através de competições múltiplas com conteúdos tradicionais e não tradicionais, baseadas sobretudo em forma de competição por equipas. A preparação deve integrar, 82 de forma sistemática, a participação em formas jogadas, de grupo e de equipa e de competição combinadas, nas quais não seja atribuído à vitória um peso muito relevante. (Tschiene, 1995) Rost (1995) apresenta-nos alguns exemplos da experiência de organização de competições para crianças e jovens, na Alemanha: 1. Competições multilaterais em atletismo, sob forma de competições em equipa (No estado da Renânia-Palatinado): categoria 9-10 anos feminino e 1112 masculino; competições não tradicionais como estafeta de corrida navette sobre 30 metros; estafeta de salto em comprimento a pés juntos; lançamento em equipa de bola medicinal. 2. Competições múltiplas de base em atletismo, sob a forma de competições de equipa (No estado da Renânia-Palatinado): categoria 11-12 anos feminino e 12-13 masculino: 50 metros planos; 60 metros obstáculos; série de saltos verticais; salto em altura; lançamento de bola medicinal, corrida de 1000 metros. 3. Competições múltiplas por grupos de disciplinas (organizadas pela Federação Alemã de Atletismo): nas competições múltiplas de lançamentos são exigidos, para além do lançamento do peso e do disco, os 70 metros planos, 80 metros obstáculos e salto em comprimento. 4. Competições múltiplas de canoa em equipa: são propostas competições complexas, combinadas com exercícios de base condicional; categoria 13 anos: 2000 metros (K1); teste atlético complexo; 800 metros corrida (fem.) e 1500 metros corrida (masc.). 5. Patinagem de velocidade no gelo: antes da especialização são realizadas competições de hóquei no gelo para melhorar pressupostos atléticos e preparação técnica da patinagem, evitar um início muito precoce do treino específico e assim, contrariar a monotonia e aumentar a motivação. Outras experiências, relatadas por Marques, (1997b) apresentam modificações nas competições, com a finalidade de adaptá-las às possibilidades e interesses da criança. Em países, como a Austrália, Nova Zelândia, Canada, Alemanha e em Portugal nas federações de voleibol, basquetebol, atletismo e natação. São 83 desenvolvidos programas desportivos,"Aussie Sport", "Kiwi Sport", “Gira Volei”, “Mini-volei”, “Atletismo Jogo”, “Torneio AtLeta CompLeto” com alterações significativas nas competições a nível das estruturas, equipamentos e regras para os tornar mais apropriados à criança e orientados para os seus interesses (Thomson, 1996). Algumas destas modificações garantem a participação no jogo de todos os membros da equipa. No entanto Orlick (1986) alega que está sendo difícil inverter a tendência, ainda prevalecente, de valorização da vitória em detrimento do divertimento e da formação. Para Haywood (1986), há uma resistência que se opõe às alterações na estrutura competitiva dos jovens. Ela é devida ao facto de os técnicos acreditarem que a competição modificada não confere a experiência que os atletas precisam, na altura do recrutamento para as equipas de elite, e também, na atribuição de bolsas de estudo para as universidades. Por isso limitam-se às alterações mais óbvias como, por exemplo, a redução das áreas de jogo. Neste contexto, ao modificar-se a competição nas idades jovens, em função dos objectivos formativos, poder-se-á intervir sobre o seu processo de treino, em conformidade com o evoluir do processo de desenvolvimento do jovem (Rost, 1995). Verificamos nos exemplos apresentados que as competições multilaterais não são desprovidas de objectivos e contribuem também para atender a especialização. As competições multilaterais utilizadas visam dar suporte aos programas de treino específico dos diferentes tipos de desportos. Por este motivo, tais competições deverão conter acções múltiplas ou combinadas, que valorizem a formação geral mas também a formação específica dos mais jovens (Rost, 1995). Concordamos também, com os autores, na indicação para que os responsáveis pela organização das competições oficiais, federações e associações, rompam com a estrutura e conteúdos das competições tradicionais e que desenvolvam competições com características não formais, múltiplas e complexas, em especial no estádio da preparação; o chamado estádio de treino de base. 84 Síntese De um modo geral podemos dizer, com base nos resultados dos estudos apresentados e nas as afirmações dos autores, que a participação de crianças e jovens nas competições desportivas desempenha uma função educativa e formativa dos jovens atletas. Estas competições têm por objectivo a preparação para etapas mais elevadas do rendimento desportivo. Para a maioria dos autores, as crianças e jovens são beneficiadas com a participação no desporto competitivo. O envolvimento tem reflexos sobre os aspectos psicológicos, como o desenvolvimento da auto-superação, autoestima, auto-imagem, motivação e formação de sua personalidade. Os efeitos também recaem sobre os aspectos sociais, como a integração e cooperação com os outros, a aquisição de valores éticos e morais, a valorização das regras e atitudes necessárias para a convivência social e a aceitação dos outros e de sí próprio. Os benefícios da participação competitiva podem ser evidenciados sobre os aspectos relacionados com o desenvolvimento motor, com as habilidades coordenativas, técnico-tácticos, orgânico-musculares e aptidão física, voltada para a saúde e para o rendimento desportivo. Estes motivos justificam as ampliações do envolvimento das crianças e dos jovens no desporto competitivo, principalmente por serem considerados como um meio importante para formação integral dos jovens. Os especialistas recomendam que o treino e a competição sejam organizados e estruturados com a finalidade de atender aos interesses, capacidades e prioridades das crianças e jovens. No entanto, em competições que adoptam princípios e modelos do desporto de alto rendimento, na organização das competições e na periodização do treino, como foi verificado nas análises do sistema de competições vigente, podem propiciar o aparecimento de factores negativos na participação das crianças e jovens. 85 No que se refere aos efeitos negativos sobre os aspectos psicológicos, destacam-se à interferência negativa no desenvolvimento da personalidade, o estresse e a ansiedade competitiva. Nos aspectos sociais são identificadas: as interferências nas atitudes e comportamentos, a aceitação de valores individuais e negativos. Os principais agentes responsáveis pelos aspectos negativos na competição correspondem: à estrutura da organização do quadro competitivo e aos objetivos e métodos de treino para crianças e jovens. Quando são organizadas à semelhança do modelo das competições dos adultos, tendem a valorizar mais os aspectos biológicos associados à performance. Outros aspectos considerados negativos referen-se a organização de competições com o objectivo de apurar o campeão e o enquadramento geográfico a nível nacional e internacional, para etapas do período de base. As pressões dos adultos e a busca exacerbada pela vitória, a falta de vivência em experiências de sucesso, também, constituiem-se em factores negativos. Para além destes, o baixo nível de prontidão motora e cognitiva, uma reduzida frequência de participação e a especialização precoce e unilateral, são aspectos que limitam a formação desportiva do jovem atleta. Como cosequência a essas situações vivenciadas pelas crianças e jovens podem surgir problemas de ordem psicossocial, mental e física, que podem levar ao abandono. Dentre os motivos que levam ao abandono do desporto e da competição, destacam-se: a baixa frequência de participação competitiva; as cargas de treino excessivas e monótonas; as pressões para obtenção de resultados nas competições; a falta de evolução nos resultados, pela desigualdade enfrentada na competição. Em relação às orientações e recomendações sugeridas pelos autores para organização das competições de crianças e jovens, encotramos o seguinte consenço: 86 - Quanto aos objectivos que deve ter a competição nas etapas iniciais da formação desportiva. A competição deverá adoptar um enquadramento que auxilie o processo de treino e da formação desportiva. Não deve seguir a lógica das competições organizadas pelo desporto dos adultos, que tem por objectivo revelar o campeão. A prioridade deve ser a criança e as suas necessidades evolutivas e não as condições para obter o resultado desportivo. Devem ter como factores preponderantes para a definição e delimitação o desenvolvimento psicológico e motor. Os objectivos e finalidades da competição não devem ser iguais para as etapas da formação, deve haver uma progressão. O quadro competitivo deve estar ajustado às nececidades e capacidades das crianças e jovens. A sugestão é que devemos orientar os atletas a cumprir os objectivos da prestação desportiva que sejam mais controláveis, como a velocidade ou a precisão de uma técnica. - Quanto aos valores e funções que devem orientar a prática competitiva. A função formativa deve ocupar o lugar central nestes escalões iniciais e não deve visar o resultado imediato. Propiciar a comparação de suas habilidades motoras e desportivas, e sua evolução com as dos outros. As competições devem ser organizadas e estruturadas de forma que as crianças e jovens vivenciem experiências de sucesso. Devem proporcionar a elas a integração social, o trabalho em equipa, a cooperação e a possibilidade de conhecer e fazer novos amigos. As competições devem ser entendidas como um meio de desenvolvimento de aspectos psicossocial, da sua personalidade, da autoimagem, da auto-superação e na aquisição de valores éticos e morais. Desenvolver nas crianças e jovens a capacidade de independência, iniciativa, liderança. As suas actividades competitivas devem ser prazeirosas, divertir-se e estarem motivadas. A competição desportiva deve ter uma função pedagógica, ajudá-las a prepararem-se para o desporto de alto nível. - Em relação a idade de início da participação competitiva nos quadros regulares. 87 Os autores recomendam que não se iniciem competições até que os jovens estejam preparados para participar delas. A participação em competições organizadas deve ocorrer somente a partir dos 10 - 12 anos. Justificam que não só a maturação física é um elemento importante na decisão para iniciar a actividade competitiva, mas também a maturidade social, emocional e cognitiva. Antes disso, as crianças não apresentam, ainda, um desenvolvimento cognitivo e psicológico para lidar com as demandas do treino e da competição. Não são capazes de perceber o papel dos outros na actividade, nem coordenar as suas acções com as dos outros. As crianças devem ter o tempo necessário para sua formação. Sugerem que a particição nas competições oficiais ocorra após um ano e meio ou dois de prática especializada. A estrutura e os conteúdos das competições iniciais devem ser compatíveis com as capacidades de interacção dos participantes. As orientações da literatura estabelecem que, dos seis a oito anos, a competição pode ocorrer de forma lúdica e enfatizando a possibilidade de sucesso. Entre oito e dez anos, os jovens iniciam progressivamente a participação de competições de carácter específico, de acordo com os objectivos do treino, porém com certa cautela. Um calendário regular de competições só é elaborado a partir de dez a doze anos. Na definição desta idade de início da participação competitiva, devemos levar em conta as exigências de prestação das modalidades. Aquelas onde a prestação é condicionada fundamentalmente por factores sensório-motores e a idade mínima é de 9 anos e a máxima 12. Nas modalidades em que, para além dos aspectos técnicos, também os aspectos funcionais são importantes e precisam começar a serem estimulados desde cedo11 e os 12 anos. Nos desportos tácticos, aqueles cuja estrutura de rendimento é determinada por factores perceptivo-cognitivos, decisionais, a idade de início centra-se próximo aos 13-14 anos. - Quanto ao âmbito geográfico para o quadro competitivo nestas duas primeiras etapas de formação desportiva. 88 As recomendações são de que devem ser oferecidas em função da idade e terem limites locais ou regionais. A não participação em competições de níveis mais elevados é no sentido de impedir uma orientação excessiva para o sucesso e limitar a pressão psicológica, motivada pela busca de altas performances e títulos. Sugerem que o enquadramento das competições não deverá ser o mesmo para todos os escalões e etapas de preparação a longo prazo. Uma evolução lógica deve ser apresentada, de acordo com as modalidades desportivas e, sobretudo, com as características, obrigações e interesses das crianças e jovens. - Em relação ao formato do calendário competitivo O recomendado pelos autores é de que, nestas etapas, as crianças e jovens tenham uma frequência de participação competitiva elevada. Devendo ocorrer um crescimento progressivo no número de competições, aliado à mudança de escalão. O calendário das competições deve ser organizado com provas e jogos, distribuídos ao longo da época e em consonância com o calendário escolar. As competições devem ter curta duração e serem realizadas aos finsde-semana. Deve ser garantida a oportunidade de participação a todos nas competições, com objectivos centrados os na formação e apresentar um equilíbrio competitivo. - Em relação ao sistema de pontuação e classificação Neste aspecto, as indicações dos autores são de que até os 12 anos não é recomendável que as estruturas competitivas estejam baseadas na vitória e na atribuição de prémios. A selectividade, presente nas competições federadas, não deve existir nas competições dos jovens. A eliminação precoce das competições reduz o número de experiências, interfirindo na qualidade de sua formação. Por isso, defendem que o sistema de competições deva ser efectuado em moldes que tornem possível, a um maior número de indivíduos, atingir situações de sucesso. Nos desportos individuais devem predominar formas competitivas em grupo, justificadas pela importância dos contactos 89 sociais, e do desenvolvimento da cooperação. Devem ser evitadas as distinções nas atribuições de prémio, impedindo a sobrevalorização dos resultados e o desenvolvimento de espectativas elevadas nestas etapas da formação. - Quanto aos conteúdos da competição As orientações encontradas na literatura aconselham na predominância a utlização de competições multilaterais nas duas etapas do estádio de treino de base. E, na segunda etapa, a inclusão de competições especializada e adaptadas, sendo adequadas as exigências do desporto escolhido. Permitindo, desta forma, potenciar as possibilidades de transferência motora. Os êxitos imediatos não devem ser motivos de preocupação dominante, portanto, é importante que o processo de formação a longo prazo siga uma orientação multivariada. As competições devem contribuir para o desenvolvimento de uma multilateralidade desportiva. Os conteúdos devem ser diversificados, oportunizando que as crianças vivenciem múltiplas formas de movimento, jogo e desporto. - Conteúdo do treino A designação é para que as crianças e jovens não sejam preparadas para ser especialistas. A infância tem, no nosso tempo, na nossa sociedade, a função de uma preparação geral e inespecífica para a vida nas para que possa, nas idades mais avançadas, desenvolver um sentimento colectivo. Devem promover, sobretudo, a formação dos pressupostos coordenativos, técnicotácticos e orgânico-musculares, em conformidade com o nível de desenvolvimento ontogenético dos jovens A preparação da criança para o desporto competitivo deve ser determinada pelas características individuais de cada criança, nomeadamente o crescimento, a maturação também pelo o desenvolvimento e a natureza do desporto. - Quanto à formalidade da competição 90 A indicação é para que o modo de competição seja simplificado e adopte um regulamento facilitado e adaptado à idade dos praticantes. Deve introduzir-se, com maior frequência, no treino de formas jogadas, competições de grupo e de equipa, e formas combinadas de competição, sem carácter decisivo, isto é, sem terem a vitória como objectivo primeiro. - Em relação a frequência de participação competitiva Devem ter um elevado número de frequência de competições simplificadas, para aumentar a ocorrência de situações de êxito e para aumentar o envolvimento e a motivação pela prática desportiva. Deve, também, ser compreendida como uma estratégia importante na formação, parte essecial do processo de treino. A determinação do número de competições está depende das características das modalidades dos anos de treino e da prestação desportiva dos atletas. Parece-nos ficar justificada, a necessidade de construirmos um quadro competitivo para as crianças e jovens, no estádio de treino de base, que considere os aspectos biológicos, psicossociais e as particularidades de cada especialidade desportiva. As Competições que precisam essitam atender as necessidades formativas e interesses dos jovens atletas, que apresentarem características não formais, múltiplas e complexas. Desta forma, teremos uma prática referenciada a objectivos adequados e ajustados, destacando a importância pedagógica e social do desporto. 91 II - Metodologia Enunciado do problema e questões de pesquisa. A ausência de uma teoria da competição para crianças e jovens e a crescente necessidade de promover, de forma criteriosa e cuidadosa, a participação competitiva no desporto infanto-juvenil, para que sirva essencialmente aos propósitos da formação desportiva, tem vindo a constituir-se um tema actual e de grande interesse para a investigação. Evidenciado, principalmente, nas inferências pedagógicas e nos relatos de ensaios empíricos, por abordarem questões relacionadas com o ajustamento e enquadramento das competições para atletas em fase de formação. Dentro desta perspectiva, considerando as questões orientadoras do estudo, formulamos o seguinte problema: Será que existe uma confluência entre o modelo vigente do sistema de competições para crianças e jovens em Portugal, a concepção definida pelos treinadores e as orientações e recomendações da literatura, em relação às estruturas, conteúdos e enquadramentos competitivos, atendendo aos princípios e objectivos da formação desportiva a longo prazo? Tomamos como ponto de partida a realização de uma ampla revisão na literatura, orientada por um conjunto de questões, que nos possibilitasse descrever as orientações e recomendações para o enquadramento do sistema de competição desportiva para atletas em fase de formação. As questões orientadoras do estudo foram estruturadas da seguinte forma: Que valores e funções devem servir de referência às competições de crianças e jovens? - Que tipo de articulação deve existir entre o treino, a estrutura e os conteúdos da competição, nos diferentes estágios de preparação? - Como deve ser feita a preparação das competições no que se refere aos conteúdos e aos métodos de preparação? - Quando é que a criança deve começar a participar regularmente nas competições? - Qual deve ser a natureza das competições? - Qual o número de competições e a frequência da participação competitiva? Estas questões também serviram como ponto de partida para a construção dos dois instrumentos 92 utilizados nos estudos empíricos, nomeadamente na análise documental e na estruturação do inquérito aplicado aos treinadores. Tendo em conta os objectivos da investigação e o seu carácter exploratório e descritivo, optou-se por uma metodologia qualitativa para recolher as informações pertinentes ao estudo. Como refere Patton, (1990), a metodologia qualitativa é imprescindível para se compreender um determinado grupo, um problema concreto ou uma situação especial, em grande profundidade, oferecendo uma quantidade e qualidade de informação particularmente rica. Um outro aspecto relevante da metodologia qualitativa, é que esta permite ao investigador adoptar diferentes posicionamentos estratégicos. Desta forma, na investigação de carácter mais indutivo a construção das categorias se dá através de dados empíricos e, não com hipóteses a confirmar ou definidas a priori. Contrapondo-se à construção indutiva, na pesquisa dedutiva, as hipóteses e categorias devem ser elaboradas com precisão, a priori ( Goetz & LeCompet, 1984). No presente estudo, partimos de categorias elaboradas a priori, configurando-se numa característica da investigação mais dedutiva. Deste modo, a aplicação da metodologia qualitativa permitiu analisar a lógica predominante dos modelos de competições vigentes, assim como a concepção dos treinadores, relativamente ao enquadramento competitivo para crianças e jovens. A metodologia qualitativa ganha especial pertinência na compreensão desta área de estudo, atendendo a que incorpora a análise da variedade de concepções e normativas que orientam a organização das competições para atletas em fase de formação, o que permite explorar os significados, valores e objectivos atribuídos à competição nestas etapas de formação desportiva. Pretende-se, com este estudo, o aprofundamento nas características particulares das concepções dos treinadores e dos modelos de competições actuais, relacionadas com o enquadramento das competições para crianças e jovens. Simultaneamente, preservou-se intactas as noções de totalidade e contexto das abordagens, as quais dão forma e substância a cada uma delas (Patton, 1990). Seguindo esse enquadramento metodológico, estruturamos a investigação em dois estudos empíricos: o primeiro visou caracterizar os modelos vigentes de 93 competições nas organizações desportivas em Portugal, através da análise documental de dez modalidades desportivas. No segundo estudo, através de uma entrevista estruturada realizada com os treinadores de dez modalidades desportivas, verificamos as suas concepções sobre a organização das competições desportivas para crianças e jovens. As dez modalidades escolhidas se integram tanto no âmbito dos jogos desportivos, basquetebol, voleibol, andebol, futebol e rugby, como nas modalidades individuais, atletismo, ginástica artística, natação, judo e ténis de mesa, com uma abordagem abrangente, mas que considera as peculiaridades das modalidades. Estes dois estudos complementarizam-se no sentido de realizar a análise conjugada dos modelos de organização competitiva vigentes e os concebidos pelos treinadores. Isto nos possibilitou identificar a lógica predominante na organização competitiva, seu distanciamento ou proximidade com as orientações e recomendações da literatura. Desta forma, permitiu-nos destacar os aspectos da organização, estruturação e sistematização de conteúdos que necessitam ser ajustados para atender aos objectivos da formação a longo prazo. No sentido de tornar mais claro a delimitação das etapas de formação desportiva, consideradas no processo de selecção dos documentos do primeiro estudo, bem como no enquadramento competitivo segundo a concepção dos treinadores (segundo estudo), adoptamos os modelos de enquadramento por idade e sexo, sugeridos por diferentes especialistas, apresentadas no quadro 14. Quadro 14 - Etapas de formação desportiva nos estágios de preparação proposta por vários autores Matweiev, Harred, Weineck (1983) (citado por Marques, 1985), Filin, (1995) Etapa Idade 1ª 7-8 11Preparação 12 preliminar 2ª Especialização 11-12 inicial/base 14 Balyi e Hamilton (2001) Platonov, (1988) Bompa, (1996, 2000, 2002) Etapa 1ª Fundamental Etapa 1ª Inicial Idade 8-10 Etapa 1ª Iniciação Idade 6-10 2ª Previa de base 11-13 2ª Formação desportiva 11-14 Específica de base 13-16 2ª “Training to training” Idade Masc. fem. 6-10 masc. 10-14 fem. 10-13 94 Simultaneamente, foi considerado o contexto do enquadramento dos escalões por faixas etárias, determinadas pelas federações desportivas portuguesas, configurando-se um quadro de referência que serviu para delimitar os escalões e respectivas etapas de formação, consideradas nos dois estudos empíricos. A correspondência estabelecida entre as etapas de formação e os escalões definidos pelas federações, que leva em consideração o carácter de especificidade de cada modalidade desportiva, é apresentado no anexo 1. 2.1. Primeiro Estudo 2.1.1. Amostra No primeiro estudo a amostra é representada por 266 documentos recolhidos nas federações e associações das dez modalidades desportivas escolhidas, sendo que as generalizações, que se procuram, restringem-se às particularidades da amostra. Isto não significa que o interesse do estudo se acabe no conhecimento da amostra, sendo possível uma justificativa amparada por razões instrumentais, tais como: a produção, o refinamento ou a revisão teórica (Stake, 1994). Nessa perspectiva, o nosso estudo insere-se no interesse teórico ou problema do investigador, tendo sido determinados critérios para seleccionar a amostra a estudar, observando o aspecto de envolver uma riqueza de informações que nos permita investigá-la com profundidade. A escolha das modalidades desportivas atende ao critério de representatividade, no que se refere à participação de crianças e jovens, de ambos os sexos, no cenário nacional. Os documentos seleccionados são referentes à estruturação, organização e regulamentação das competições para os escalões da formação. As modalidades desportivas que compuseram a amostra do estudo contemplou a caracterização dos desportos proposta por Moreno (1994), desportos individuais, desportos de oposição, desportos de cooperação e desportos de cooperação/oposição. O conteúdo dos documentos seleccionados, para caracterizarmos o quadro competitivo de crianças e jovens em Portugal, corresponde ao plano das actividades anuais, regulamentos das provas, calendário das competições e às orientações técnico-pedagógicas, referente à temporada 2004-2005. Cabe 95 salientar também que, no conjunto de documentos recolhidos junto às associações desportivas, destacaram-se duas, sediadas no Porto e em Lisboa, pela sua contribuição. Isso ocorreu devido à facilidade de contacto e acesso aos documentos. 2.1.2. Instrumentarium Para analisarmos o conteúdo dos documentos tomamos como referência um quadro de questões, elaboradas a partir de um conjunto de problemas identificados através da revisão da literatura, sobre a participação de crianças e jovens em competições desportivas, apresentado no anexo 2. Para a elaboração e configuração do instrumento, procedemos numa primeira fase à validade de construção, que teve como base o conjunto de questões da investigação e os problemas teóricos, citados anteriormente. Problemas estes referentes à participação competitiva de atletas, em fase de formação, efectuado no estudo de revisão da literatura. De acordo com Richardson (1999), a validação de construção trata da relação entre os conceitos teóricos e sua operacionalização. Ela concerne, pois, à relação epistémica que deveria existir entre os conceitos e sua medida. A validade pode ser garantida pelo plano do trabalho no qual se tenha rigor técnico, quanto à selecção das questões a abordar e da sua potencialidade para gerar respostas às questões de investigação colocadas. Em uma segunda fase, submetemos o instrumento desenvolvido a uma validação de conteúdo, que passou por vários ajustamentos, até configurarmos o modelo a ser utilizado no estudo. Neste procedimento recorremos à consulta de um painel de seis peritos. Quatro especialistas da área académica, professores doutores na área da pedagogia do desporto de crianças e jovens e do treino desportivo, com estudos desenvolvidos sobre a temática investigada e dois treinadores com experiência de sucesso competitivo, envolvidos com o desporto de crianças e jovens, pessoas de referência e credibilidade no âmbito do treino e da competição no desporto infanto-juvenil. Na validação de conteúdo, os especialistas consultados apresentaram nível de consenso superior a 90%, confirmando o processo realizado de ajustamento e enquadramento das questões. Primeiramente, foram identificadas as questões que poderiam ser consideradas 96 representativas dos indicadores de cada categoria e subcategoria. Em seguida, solicitamos aos peritos a indicação das questões que necessitariam de ser reformuladas e enquadradas correctamente e, também, que informassem sobre questões que deveriam ser retiradas por não enquadrarem-se nas categorias de análise, sem validade e por apresentarem dificuldades em serem respondidas com a análise dos documentos. As questões retiradas após a análise dos peritos foram: Quais os determinantes da estrutura de organização das competições? Quais as directivas que orientam a organização das competições? Em que sentido são atribuídos os prémios e distinções? O tema competição é abordado na formação dos treinadores? Qual a importância dada aos resultados nas competições em cada etapa de formação desportiva das crianças e jovens? Deste modo, as categorias, subcategorias e respectivas questões foram avaliadas quanto ao seu conteúdo, sua validade, sua objectividade e adequação do enquadramento. A versão final do instrumento utilizado é apresentada em anexo II, onde descrevemos as categorias, subcategorias e as respectivas questões fechadas. A grelha de análise para a caracterização do quadro competitivo, é apresentada, no quadro 17, onde figuram as categorias e subcategorias que foram utilizadas para analisar os documentos das Federações e Associações Desportivas de Portugal, com a finalidade de caracterizar o quadro competitivo das crianças e jovens, correspondente às etapas de formação alvo de análise. 97 Quadro 15- Grelha de análise de caracterização do quadro competitivo. CATEGORIAS SUBCATEGORIAS - Estrutura e características das competições - Início da participação competitiva A – Organização das competições - Directivas e orientações pedagógicas para as competições - Sequência organizativa das competições - Objectivos da competição - Sistema de pontuação e classificação B – Regulamento - Adaptações da regra - Arbitragem C – Actividades competitivas - Conteúdos D – Carga de competição - Número e frequência das competições 2.1.3. Procedimentos de recolha dos dados Inicialmente, foi estabelecido o contacto com as Federações e Associações desportivas de Portugal, no sentido de recolher os documentos referentes à estruturação das competições para crianças e jovens na fase de formação desportiva. O primeiro contacto estabelecido com as entidades desportivas foi intermediada pelos professores da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, especialmente por terem boas relações com os dirigentes das federações e associações desportivas. Após o contacto, uma parte dos documentos necessários para o estudo foram recolhidos junto às instituições e enviados por e-mail. Outra parte do material foi acessado através da internet, nas páginas da web, referente aos sites tanto das federações quanto das associações desportivas. É importante relatar que tivemos o consentimento, por parte dos dirigentes das federações e associações desportivas, para a utilização dos documentos no estudo. 2.1.4. Procedimento de análise dos dados A metodologia usada para este tipo de pesquisa qualitativa, análise de conteúdo, procura identificar informações nos documentos a partir de questões 98 de interesse do pesquisador (Krippendorff, 1980). Conforme refere Bardin (1994) esta técnica é particularmente vantajosa, quando o interesse é conhecer aquilo que está por trás das palavras, ou seja, é uma busca de outras realidades através das mensagens. Na organização dos dados, buscamos verificar as ocorrências, os consensos e as semelhanças, enfatizando as unidades de registo e de contexto (Holsti, 1969). A unidade de registo é o segmento de determinado conteúdo que se caracteriza colocando-o numa certa categoria. A unidade de contexto indica a parte do documento em que a unidade de registo ocorre (tema, tópico, aspecto, palavra, expressão, entre outros). Seleccionamos tópicos e itens específicos do conteúdo para fazermos uma interpretação e verificarmos a sua presença e frequência com que apareceram nos textos. Deste modo, as unidades de registo foram agrupadas de acordo com o tema e núcleo de significação das palavras entre as unidades de análise, conforme a grelha de análise, definida a priori e representada pelas quatro categorias (quadro 15), com suas respectivas subcategorias e indicadores. É importante referir, também, que a construção do instrumento foi, a priori, não ocorrendo o acréscimo de novas categorias ou subcategorias. No desenvolvimento do processo de análise, o tipo de código predominante, utilizado na codificação do material, teve por base o modo factual, típico na investigação quantitativa, o qual condensa a informação. Configuramos as unidades de forma exclusiva, classificadas apenas em uma categoria. Quanto à quantificação das unidades de registo, esta foi realizada através da estatística descritiva, expressa em valores absolutos e percentuais relativos. A análise de conteúdo foi desenvolvida em três momentos distintos: 1. Pré-análise, onde determinamos os documentos que constituíram o "corpus" a ser analisado, representados em nosso estudo pelos documentos das federações e associações desportivas de Portugal, referentes à organização competitiva dos jovens atletas. 2. Exploração do material, onde procedemos à codificação e enquadramento das unidades de registo em cada subcategoria, utilizando o critério semântico (significativo), adequado ao tipo de análise que realizamos; 3. Tratamento dos resultados: descrição, interpretação e fase da reflexão, com base nos materiais empíricos. 99 A fiabilidade de codificação, atendendo à natureza qualitativa do estudo, obedeceu a uma análise de discussão entre peritos, nas questões que ofereceram maior controvérsia e ambiguidade e que passamos a referir: - Há modificações nos conteúdos em função dos objectivos da formação? - Há modelação na regulamentação da competição? - Há orientações sobre a preparação para competição? Após a discussão, foi estabelecida, consensualmente, a codificação das questões, realizada por um especialista da temática, professor doutor na área da pedagogia do desporto de crianças e jovens. Descrevemos, de seguida, nos quadros 16 a 19, que apresentam o número de unidades de registos em cada categoria e respectivas subcategorias. Quadro 16 - Categoria 1. Organização das competições Nº de Subcategorias Indicadores unidades registos 1.1. Estrutura e características das competições 1.1.1. Enquadramento geográfico 1.1.2. Competições de natureza formal e informal 68 1.1.3. Competições por equipas 1.2. Início da participação 1.2.1. Idade de início da participação competitiva competitiva 18 1.3. Directivas e orientações 1.3.1. Competições mistas pedagógicas para as 1.3.2. Relações entre o calendário competitivo e o competições calendário escolar 76 1.3.3. Acesso as competições 1.4. Sequência organizativa das 1.4.1. Aspectos determinantes da participação nos competições quadros competitivos posteriores 1.4.2. Organização dos quadros competitivos ao 79 longo da época 1.4.3. Processo de especialização da competição 1.5.Objectivos da competição 1.5.1. Objectivos da competição para os diferentes escalões e modalidades 1.6. Sistema de pontuação e 1.6.1. Atribuição de prémios e distinções por escalão classificação 1.6.2. Competições voltadas para o apuramento do 12 campeão nacional 1.6.3. Competições com eliminatórias 1.6.4. Participação de equipas e atletas com prestações mais baixa 100 55 Quadro 17 - Categoria 2. Regulamento Nº de Subcategorias Indicadores unidades registos 2.1. Adaptações da regra 2.1.1. Adaptações nas regras, dimensões, tamanhos e peso de materiais, nº de atletas 2.1.2. Diferenciações entre os escalões 46 2.1.3. Normas técnicas e pedagógicas estabelecidas pelas federações 2.2. Arbitragem 2.2.1. Responsável pela arbitragem nas competições 2.2.2. Nível de graduação exigida ao árbitro 32 2.2.3. Arbitragem diferenciada por escalões e nível competitivo Quadro 18 - Categoria 3. Actividades competitivas Nº de Subcategorias Indicadores unidades registos 3.1. Conteúdos 3.1.1. Inclusão de actividades competitivas de outras modalidades desportivas 3.1.2. Actividades competitivas diversificadas e adaptadas 3.1.3. Progressão dos conteúdos das actividades 44 competitivas entre os escalões 3.1.4. Relação entre os conteúdos da actividade competitiva e os objectivos da formação Quadro 19 - Categoria 4. Carga de competição Nº de Subcategorias Indicadores unidades registos 4.1. Número e frequência das competições 4.1.1. Número de competições por temporada 4.1.2. Diferenças no número de competições por escalão e modalidades desportivas 86 4.1.3. Duração e frequência das competições 2.2. Segundo Estudo 2.2.1. Amostra O segundo estudo empírico avalia a concepção de treinadores, em relação ao modelo que deve servir de referência a organização e enquadramento das 101 competições para crianças e jovens, bem como o quadro de valores, motivações e finalidades que lhe deve estar associado. Para atender esse objectivo foram seleccionados trinta técnicos, três técnicos por cada modalidade desportiva, seleccionados a partir dos seguintes critérios: ser reconhecido pelos pares da comunidade desportiva na qual estão inseridos em função do contributo para a modalidade, resultante do trabalho realizado no âmbito do treino com crianças e jovens e possuir, no mínimo, cinco anos de experiência como treinador, no âmbito do treino de crianças e jovens. Este último critério assentou no facto da literatura (Burden, 1990) considerar que o treinador atinge a fase de estabilização, a partir de cinco anos de experiência profissional. Todavia, existem três indivíduos que, não estando no exercício da função de treinador no momento da recolha, possuem cargos em instituições e federações desportivas, responsáveis em reflectir e orientar a organização pedagógica do treino e da participação competitiva de crianças e jovens. Por isso, consideramos pertinente a sua inclusão pelo contributo do seu conhecimento e relevância de desempenho profissional no campo do treino e da organização competitiva para crianças e jovens. 2.2.2. Instrumentarium O instrumento utilizado foi uma entrevista estruturada, composta, predominantemente, por questões abertas, com a finalidade de verificar a concepção dos treinadores sobre aspectos considerados importantes na organização das competições, que contribuíssem para a formação desportiva de crianças e jovens (anexo 3). A entrevista estruturada apresenta vantagens por facilitar a comparação entre as respostas dos inquiridos, principalmente pela estandardização das questões. Outra vantagem foi a de manter a concentração sobre as questões relevantes do tema da investigação, reflectindo parcimónia e precisão de meios. Contrariamente, a entrevista não estruturada, por apresentar maior flexibilidade e liberdade de movimentação ao entrevistador, caracterizando-se como uma conversa natural e informal, possui maior predisposição para a desfocalização, derivações e desequilíbrios entre as abordagens das diferentes questões. Um outro factor que teve importância na opção pelo modelo de entrevista estruturada, refere-se à nossa reduzida 102 experiência na condução de entrevistas. Aspecto este requerido nas entrevistas não estruturadas, para não colocar em causa a focalização do problema. Por outro lado, nos questionários de resposta fechada a prioridade é de normalizar os procedimentos de recolha de dados para garantir a sua fiabilidade. Essa exigência não é considerada tão importante na entrevista de resposta aberta, principalmente por dar uma certa liberdade ao entrevistado de discorrer livremente sobre as questões. No entanto, deve ser assegurada a forma como se colocam as questões, a orientação a dar às respostas e seu redireccionamento, quando manifestamente se desviam do tema em questão (Graça, 1997). Para a elaboração e configuração das questões que compuseram o guião, da entrevista com os treinadores, tomamos como referência dois pressupostos. O primeiro refere-se ao quadro da problematização, identificado através dos problemas apontados por alguns autores referenciados na literatura, que constituem referência internacional no âmbito da investigação na temática em questão: Robertson, (1981); Matweiev, Nowikov, (1982); Weineck, (1983); Malina, Coakley, (1986); Kurz, (1988); Platonov, (1988); Martin, Bauersfeld (1991); Thüringer Landesverwaltungsamt, (1994), Rost, Tschiene, (1995); Gould & Ecklund, (1996); Bompa, (2000); Marques, Oliveira, Lima, Tani, (2002). O segundo reporta-se à grelha de análise utilizada no primeiro estudo empírico (ver quadro - 15), representada pelas categorias e subcategorias utilizadas para analisar os documentos das associações e federações desportivas. No entanto, incluímos uma nova categoria, “Competição na formação dos treinadores”, no sentido de identificar a importância concedida pelos treinadores a esta temática. Especialmente no que se refere ao papel da competição no processo formativo, a sua estruturação, organização e participação. Complementarmente a esse objectivo, também, apuramos o entendimento dos treinadores sobre os cursos de formação, organizados pelas federações. Através deste processo consolidamos a validade de construção do instrumento. Para a realização do processo de validação do conteúdo, recorremos a um painel de peritos, seleccionados por critérios a priori definidos. Foram convidados três professores, especialistas da área académica, doutores na 103 área da pedagogia do desporto de crianças e jovens e do treino desportivo, com conhecimento sobre a temática investigada. Integrando este grupo de peritos, solicitamos o parecer de um professor doutor, especialista na área da psicologia do desporto e dois treinadores com experiência de sucesso competitivo, envolvidos com o desporto de crianças e jovens. Estes treinadores apresentam referência e credibilidade no âmbito do treino e da competição no desporto infanto-juvenil. As questões do instrumento foram avaliadas sobre a forma de apresentação, redacção, organização, conteúdo e pertinência de aplicação. Para configurarmos o instrumento, procedemos a exames e ajustamentos, exaustivamente, até definirmos o guião de questões a ser utilizado na entrevista com os treinadores. Por fim, realizamos um estudo piloto com dois treinadores seguindo o guião de questões na entrevista. O objectivo foi de avaliar se havia entendimento do conteúdo das questões, clareza na forma de execução da pergunta e o tempo de aplicação do instrumento. A entrevista colocou directamente questões que se referem às diferentes categorias da estrutura das competições para crianças e jovens, especificamente: a-) organização das competições; b-) regulamento; c-) conteúdo das actividades competitivas; d-) carga de competição; e-) tema competição na formação do treinador. Desta forma, as principais questões que compuseram o guião, utilizadas na entrevista com os treinadores, foram: 1- Em termos de objectivos, o que deve distinguir a competição das crianças antes dos 13-14 anos das competições dos escalões mais velhos? Como vê a evolução dos objectivos da competição ao longo dos escalões anteriores aos 13-14 anos? 2- Qual a idade para a criança iniciar a participação em competições dos quadros competitivos regulares na sua modalidade? 3- Qual o âmbito geográfico desejável para o quadro competitivo nos diversos escalões considerados? 4- Quais os formatos desejáveis para o calendário competitivo nestes escalões? Quais os critérios desejáveis para definir as equipas que integram o calendário competitivo? 5- Quando acha que devem ser introduzidas provas a eliminar, nos escalões considerados? Que efeitos devem ter as classificações na 104 competição para a organização das fases do calendário competitivo, na distinção entre as equipas e na atribuição de prémios? 6- Que actividades diferentes da competição específica da modalidade incluiria no quadro competitivo destes escalões? 7- Como encara a relação entre os objectivos e conteúdos do treino e da competição nestes escalões? 8- Sobre a formalidade da competição e adaptação do regulamento: a) Que entidades ou instituições devem organizar a competição nos diversos escalões? b) Qual o grau de formalidade desejável para a arbitragem nos diversos escalões? c) Que alterações às regras são fundamentais nestes escalões? d) Que normas técnicas e pedagógicas, relativas aos conteúdos e processos de organização do jogo, devem ser estabelecidas pelas estruturas federativas nestes escalões? 9- Nos escalões considerados, dentre as crianças que participam regularmente nos treinos, quem deve ser convocado para os jogos ou provas e quem deve entrar na competição? Há distinção entre os escalões? Qual a sua concepção em relação: a) as regras para equilibrar a oportunidade de participação na competição; b) a participação conjunta de rapazes e raparigas 10- Qual a importância que deveria ser atribuída, nos cursos de formação dos treinadores, aos temas referentes ao papel da competição no processo formativo, a sua organização e à preparação para participar? As questões fechadas foram estruturadas em forma de quadros com respostas predefinidas e de escalas avaliativas. A sua aplicação teve por finalidade verificar o entendimento dos treinadores a respeito das: prioridades que devem orientar a participação e a preparação competitiva; funções, valores e atitudes que devem ser desenvolvidos com a participação competitiva; valorizações dos resultados nessas etapas de formação desportiva. O instrumento é apresentado na íntegra no anexo 3. A ordem do guião das questões foi mantida na entrevista com os treinadores. Porém, com a finalidade de aprofundar as 105 questões ou dúvidas que surgiram das respostas dos entrevistados, foram incluídas questões complementares. Esta estratégia foi adoptada caso o inquerido não respondesse ao conteúdo da questão. A finalidade foi de conduzir o entrevistado para a temática subjacente ao problema do estudo. As questões complementares utilizadas na entrevista aos treinadores são apresentadas no anexo 3. Para garantir a fiabilidade de codificação procedemos a uma análise e discussão entre os peritos, referente às questões que ofereceram maior controvérsia e ambiguidade. As questões foram: - Acha que nas competições dos mais jovens há espaço para outros tipos de competições? - Acha que a classificação na competição não deve conduzir à eliminação das equipas? Nestes escalões, acha que as regras devem estar ajustadas as necessidades formativas dos jogadores? Após a discussão, foi estabelecida, consensualmente, a codificação das questões, realizada por um especialista da temática; professor doutor na área da pedagogia do desporto de crianças e jovens. 2.2.3. Procedimentos de recolha de dados As entrevistas foram agendadas previamente, em local e horário definidos pelos treinadores. Também, informamos ao treinador sobre o número de questões do instrumento, bem como o tempo estimado para a realização da entrevista. O primeiro procedimento adoptado foi o de esclarecer aos treinadores sobre os propósitos do estudo. Enfatizou-se o interesse em captar as concepções pessoais de cada treinador, em relação à organização das competições desportivas para crianças e jovens e também suas ideias sobre os aspectos que devem ter prioridades nessas etapas. É importante referir que as situações de avaliação, correcção e comparação, durante a entrevista, foram evitadas no sentido de não gerar constrangimentos ou de condicionar e influenciar as respostas dos treinadores. Garantiu-se também, a preservação do anonimato dos treinadores, a confidencialidade do conteúdo das entrevistas e que o estudo não lhes causaria nenhum prejuízo. Essas acções iniciais, adoptadas com cada treinador, separadamente, foram no intuito de estabelecer uma 106 relação de confiança e discrição em nossa intervenção. A duração das entrevistas variou entre uma hora e uma hora e meia e decorreram num ambiente particular e reservado. Nas entrevistas foi utilizado um gravador digital da marca SONY, modelo ICD-P Séries, com capacidade de gravação de nove horas, em quatro ficheiros diferenciados de recolha da informação, posteriormente, transcrita e processada para o computador. Na transcrição das respostas dos treinadores, procuramos respeitar o mais fielmente possível o discurso oral e sua gramaticalidade própria. Processo este que exigiu uma dedicação de grande parte do tempo para a execução do estudo, principalmente pelo rigor e cuidado que adoptamos na transcrição e codificação do conteúdo semântico das mensagens. Para garantirmos a fiabilidade da transcrição realizamos o procedimento sistemático de audição e confirmação de pequenos segmentos de texto (de palavras a pequenas frases). Estas acções foram efectuadas com a utilização do software Digital Voice Editor Ver. 2.2, que nos permitiu, através de seus recursos, o controle da velocidade de leitura e a selecção de trechos da entrevista para transcrição. As entrevistas forneceram-nos a oportunidade de conhecermos a compreensão dos treinadores sobre a adequação dos conteúdos, estruturas e enquadramentos que devem ter as competições para atender aos objectivos da formação desportiva das crianças e jovens. Verificou-se, também, as similitudes e as diferenças na opinião dos treinadores, as avaliações positivas e negativas predominantes, bem como, a atribuição de importância a aspectos organizacionais da competição. 2.2.4. Análise dos dados Após termos transcrito as entrevistas, formatamos os textos na opção de Rich Test Format, RTF, introduzidas no programa de análise de dados qualitativos QRS-NVIVO versão 2.0. O programa permitiu-nos uma codificação bastante flexível, suficientemente pormenorizada e ajustada aos propósitos do estudo. Na primeira etapa da análise realizamos a codificação do material transcrito das entrevistas. Dando seguimento à análise dos dados, procedemos à elaboração da grelha de codificação. Destacando determinados elementos e 107 eliminando outros, esse processo de filtragem, triagem e catalogação da informação nos permitiu condensar os dados da investigação. Neste processo de codificação, os procedimentos de enumeração foram cuidadosamente observados. As unidades de análise foram encaixadas, de forma consistente, em cada uma das categorias da grelha de análise, assegurando-se a fiabilidade de codificação, a sua exclusividade e definição sem ambiguidade. O processo de exaustividade na classificação de todo o material garantiu a consistência nas categorias de análise, facilitando a sua interpretação posterior. Simultaneamente, o trabalho de condensação da informação, de sumarização e síntese permitiu-nos o aprofundamento na concepção dos treinadores, na identificando das similaridades, predominâncias e pontos de discordância. Desta forma, seleccionamos trechos das entrevistas, no sentido de elucidar o pensamento, as perspectivas e as indicações dos treinadores. Estas estratégias metodológicas adoptadas, possibilitaram a interpretação dos dados, de acordo com as questões que orientaram o estudo. A figura 1 apresenta a configuração da grelha de codificação utilizada no estudo. 108 Figura 1- Grelha utilizada para análise do conteúdo da entrevista aplicado aos treinadores No seguimento do estudo, na próxima parte, passamos a apresentar e discutir os resultados das análises realizadas no primeiro e segundo estudo empírico. 109 III - APRESENTAÇÃO E DISCUSÃO DOS RESULTADOS 3. Primeiro Estudo Empírico 3.1 - Organização das competições 3.1.1 - Estrutura e características das competições 3.1.1.1. Enquadramento geográfico das competições para os diferentes escalões No enquadramento geográfico das competições para cada escalão, configurado pelas federações e associações desportivas, foram considerados todas ocorrências de eventos competitivos oficiais, independente da sua natureza e de suas características, como os festivais, encontros e torneios. Figura 2 - Enquadramento geográfico das competições para os diferentes escalões Os resultados evidenciam uma predominância na organização de competições a nível nacional em todos os escalões. Este enquadramento em apresenta um crescimento progressivo, associado a mudança de escalão. No que se refere 110 ao enquadramento em nível de distrito/região, tem uma presença maior nos dois primeiros escalões do que nos dois últimos. Diante dos modelos constituídos pelas federações, podemos constatar discrepâncias no enquadramento geográfico em relação às diferentes propostas na literatura. Enquanto as federações organizam competições a nível nacional para estes escalões, na literatura as recomendações são no sentido de ter limites locais ou regionais, para estas idades, principalmente por ter uma orientação excessiva para o sucesso, elevada pressão psicológica, e uma sobreavaliação do indivíduo e dos seus resultados competitivos (Deutsche Sportbund, 1983).As competições a nível nacional deveriam ocorrer, segundo Matweiev e Nowikov (1982) e Bompa (2000), só a partir dos 15 e 16 anos. Em nível de local/cidade, apenas a federação e as associações da modalidade de judo é que determinam que a participação do primeiro escalão deva ser restrito a esse nível. A ocorrência de competições internacionais consta apenas nos quadros competitivos da federação de ténis de mesa para o 2º escalão. Nas modalidades de atletismo, ginástica artística, judo e natação, são organizadas competições, para estes escalões, até o nível de distrito/região. Enquanto que as associações e federações das modalidades de basquetebol, futebol, rugby, voleibol e ténis de mesa, para os mesmos escalões, elaboram um calendário competitivo com competições até o nível nacional. No entanto, estas competições organizadas a nível nacional, para o primeiro escalão no ténis de mesa e para os dois primeiros escalões das modalidades de andebol, basquetebol, voleibol e rugby, são de natureza informal e adaptadas às idades, com regras e espaços simplificados. Apresentam um carácter mais festivo, realizado sob a forma de encontros convívios e festand’s. Um outro factor que se sobressai nas modalidades individuais, é o predomínio do enquadramento geográfico de competições a nível distrito/região, com excepção da modalidade de ténis de mesa. A organização destas competições, para os escalões responsabilidade modalidades das das duas primeiras associações consideram estes etapas desportivas. escalões 111 como de As formação, federações sendo de é de destas formação, recomendando a não participação em competições de nível mais elevado. Este entendimento vai ao encontro das afirmações dos especialistas que recomendam, para estes escalões da formação, uma participação em competições até o nível local para o primeiro e segundo escalões e, em nível de distrito e região para os da segunda etapa de formação (Matweive, Nowikov, 1982). 3.1.1.2. A natureza da competição De acordo com a figura 3 verificamos um crescimento no aparecimento de aspectos formais na competição, associado à mudança de escalão. Apuramos, também, que as competições de natureza informal são predominantes apenas no primeiro escalão das modalidades desportivas. A partir do segundo escalão, diminuem sua frequência de ocorrência. No entanto, a reduzida ocorrência de competições de natureza informal (10%) no terceiro escalão, referen-se apenas a modalidade de rugby. Figura 3 - Natureza da Competição: formal e informal Fica evidenciado na figura 3, que, nas modalidades em que o quarto escalão faz parte da segunda etapa de formação, só ocorrem competições de natureza formal. Encontramos, nos documentos das associações e federações das modalidades de judo, ténis de mesa, andebol e natação, a determinação da presença de 112 aspectos formais na competição, a partir do segundo escalão. Entretanto, as modalidades de basquetebol, voleibol e atletismo foram as que apresentaram um aparecimento de aspectos formais na competição de forma mais tardia, ocorrendo só a partir do terceiro escalão. Porém, nas modalidades de ginástica artística e futebol, as competições organizadas, desde os escalões iniciais, são exclusivamente de natureza formal. As afirmações que encontramos na literatura, defendem que as competições de carácter informal são importantes para manter o interesse e a motivação das crianças e jovens em níveis elevados (Roberts, 1978). 3.1.1.3. Valorização de competições por equipas nas modalidades individuais Quanto à organização de competições por equipas nas modalidades individuais, os resultados encontrados revelam que há, por parte das associações e federações, uma importância atribuída à participação competitiva de forma colectiva para estes escalões. Em todas as modalidades e em todos os escalões da formação, ocorrem competições por equipas, em forma de estafetas, provas combinadas, pontuações e atribuições de prémios por equipa. Na maioria das modalidades, a proporção de ocorrência de competições por equipa é de duas provas individuais para uma por equipa e em algumas modalidades como o judo e a natação, é de três individuais para uma por equipa. Estas formas de participação em grupo também são defendidas na literatura. Justificando que nas modalidades individuais surge o problema da excessiva atenção dada sobre os melhores atletas, que, geralmente, são os indivíduos biologicamente mais acelerados. Estas formas de participação em grupos proporcionariam a um maior número de indivíduos atingirem sucesso nas competições (Rost, 1995, Marques, 1997b). 113 3.1.2. Idade de início da participação competitiva No que se refere a idade de início da participação competitiva, os resultados apresentados na figura 4, revelam que, para a maioria das modalidades a regulamentação das provas permite que crianças com idade de sete anos participem das competições. No entanto, na modalidade de ténis de mesa possibilita-se que crianças a partir de seis anos entrem em competições do calendário associativo. 10% 20% 6 anos 7 anos 8 anos 70% Figura 4 - Idade de início da participação nos quadros competitivos regulares Dentre as modalidades investigadas, duas admitiram que o início da participação nas competições organizadas pelas associações ocorriam com idades a partir dos oito anos, foram a natação e o voleibol. De modo geral, as entidades organizadoras das competições para estas modalidades, acordam com as idades entre os seis e os oito anos, para o início da participação das crianças no quadro competitivo regular. As idades de início da participação, nos quadros competitivos regulares, apresentam uma precocidade ao compararmos com as idades recomendadas na literatura para estas modalidades (Bompa, 2000; Filin, 1996). Levando em consideração o quadro de especificidade das modalidades, verificamos, também, que as idades apresentadas nos documentos das federações são 114 inferiores ao sugerido na literatura (Sobral, 1994; Ulatowis, 1975; Matweiev e Nowikov, 1982). Em nosso entendimento, a participação demasiado cedo em um quadro de competições regulares, sem que essa criança tenha tido o devido tempo de preparação para desenvolver sua prontidão desportiva, poderá acarretar em danos físicos, morais, sociais e cognitivos, levando-a ao abandono do desporto. Por isso, as competições têm de ser adequadas e ajustadas as necessidades e interesses das crianças e jovens (Marques, 2004). 3.1.3. Directivas e orientações pedagógicas para as competições 3.1.3.1. Realização de competições mistas De acordo com os resultados apresentados na figura 5, as competições mistas estiveram presentes apenas nos dois primeiros escalões. Ocorreram somente nas modalidades de andebol, natação, atletismo, ténis de mesa e, para o voleibol, no primeiro escalão. Figura 5 – Organização de competições mistas nas modalidades desportivas por escalões Os documentos das associações e federações desportivas evidenciam que, a partir do segundo a escalão, a ocorrência de competições mistas diminui. Já, para o terceiro e quarto escalão, são organizadas competições em que a participação de meninos e meninas deve ser separada. 115 Nas modalidades de basquetebol, futebol, rugby, judo e ginástica artística não encontramos a presença de competições mistas no calendário competitivo associativo e federativo. A separação de rapazes e raparigas, nas competições, que ocorreram a partir do terceiro escalão, possivelmente são associadas ao dimorfismo sexual, representado pelas diferenças no crescimento e desenvolvimento das crianças e jovens (Bompa, 2000). No entanto, não podemos perder de vista que essa participação competitiva desportiva deve ter uma abordagem formativa e nortear-se por objectivos não só do rendimento mas principalmente pedagógicos e sociais, privilegiando um desenvolvimento equilibrado e integral (Lima, 1988; Bompa, 1999; Marques, 1999). 3.1.3.2. Relação entre a organização do calendário das competições e o calendário escolar (férias, datas festivas e exames escolares). A organização do calendário competitivo, tanto no nível associativo como no federativo, em sua maioria (90%), não leva em consideração a época de exames escolares, datas festivas como Natal e Páscoa e períodos de férias escolares. Dentre as modalidades investigadas, encontramos apenas uma, o rugby, em que, a organização do calendário competitivo não coincidia com provas para estes períodos. Verificamos que apenas um reduzido número de modalidades desportivas apresentam no seu regulamento técnico-pedagógico directivas que revelam uma preocupação com o calendário escolar. 3.1.3.3. Critérios para estabelecer os quadros competitivos Nos documentos das associações e federações desportivas, no que se refere aos critérios adoptados para estabelecer os quadros competitivos, encontramos uma predominância do grau de abertura em todos os escalões. 116 Revelando uma preocupação, por parte de quem organiza os eventos, com o acesso das crianças e dos jovens às competições, independente do nível competitivo. Figura 6 – Critérios para estabelecer os quadros competitivos por escalões Constatamos, também, que o critério de apuramento para o acesso à competição começa a aparecer a partir do segundo escalão e apresenta um crescimento de sua ocorrência nos escalões seguintes. A presença deste critério foi verificada apenas nas modalidades de futebol, basquetebol e andebol, estando presente nos regulamentos das competições de níveis mais elevados, inter-regionais e nacionais. Nestes escalões iniciais da formação desportiva, a orientação das federações e associações é para que as crianças e os jovens tenham uma regularidade na participação competitiva. Justificada por despertar uma motivação e um envolvimento maior com a modalidade (Rost, 1995). Por isso são organizados eventos sem limitações para o acesso, abertas às equipas e atletas que quiserem participar. 3.1.4. Sequência organizativa das competições 3.1.4.1. Aspectos que determinam a participação nos quadros competitivos posteriores Os resultados encontrados revelaram que, a partir do segundo escalão, o critério que se destaca, para a participação nas fases seguintes da competição, 117 refere-se à condição da equipa ter sido apurada na fase anterior. No entanto, no primeiro escalão, na maioria das competições (70%), não há apuramentos, todos competem com todos. Por vezes, o que ocorre é uma pontuação final. Em algumas modalidades desportivas, como a natação, a ginástica artística e o atletismo, nestes escalões da formação, as competições não são organizadas em fases. Figura 7 – Aspectos que determinam a participação nas fases seguintes da competição Os resultados na figura 7, evidenciam, ao longo dos distintos escalões, uma diminuição na percentagem de ocorrência de competições, em que todos têm a mesma oportunidade de continuar participando da competição. Ou seja, conforme crescem os escalões, cresce também a ocorrência de provas em que na sua organização o critério para continuar nas fases seguintes da competição é o rendimento da equipa ou do atleta. Este facto deve-se, principalmente, à participação em provas regionais que apuram para o campeonato nacional. A oportunidade de participação competitiva, assim como a continuidade nas competições, devem ser garantidas para as crianças e jovens. Principalmente por desempenharem um papel fundamental nessas etapas de formação desportiva; o de desenvolverem as competências, a procura da excelência da superação e da socialização. Para que isso aconteça é preciso frequência regular de participação competitiva (Drewe, 1998, Gonçalves 1991; Harre, 1982; Passer, 1982). 118 3.1.4.2. Organização dos quadros competitivos ao longo da época De acordo com os resultados apresentados na figura 8, a maioria das modalidades desportivas, nestes escalões, organizam o calendário competitivo de forma que as competições fiquem distribuídas ao longo da época, com intervalos curtos. Figura 8 – Formato do calendário competitivo Duas modalidades individuais, a ginástica artística e o ténis de mesa apresentaram um formato do calendário diferenciado. As competições ocorrem de forma concentrada, em períodos específicos e com grandes intervalos entre elas. A organização de quadros competitivos, com competições longas e contínuas, estruturada em fases, aparece com uma frequência muito baixa, ocorrendo apenas na modalidade de futebol. Cabe destacar, também, que não encontramos diferenças na organização dos quadros competitivos ao longo da época entre os escalões. Para a maioria das federações e associações, a frequência e regularidade na participação competitiva, para estes escalões, parece ter um papel importante na formação destes jovens e na avaliação do processo de treino. Ocorrem de uma a duas competições por mês, sem fases e sendo realizadas nos fins-de- 119 semana, estilo torneio. Porém, com modelo de competições diferenciado, nas modalidades de ginástica artística e ténis de mesa há intervalos longos entre as competições. Já o calendário competitivo da modalidade de futebol, é elaborado com períodos de execução longas e faseadas. Em relação a esse aspecto não temos uma posição que seja esclarecedora na literatura, mas indicações de que deve haver uma regularidade na participação competitiva (Hahn, 1988; Vieira, 1992) 3.1.4.3. Processo progressivo de especialização da competição Verificamos o processo progressivo de especialização das competições através da constatação de mudanças ocorridas nos indicadores estruturais, regulamentares, nas condições de organização e alterações no conteúdo das competições entre os escalões. 120 100 100 80 86 60 40 60 40 40 75 75 71 57 50 20 50 28 0 do 1º/2º escalão Estruturais do 2º/3º escalão Regulamentos do 3º/4º escalão Natureza da competição Conteúdo da competição Figura 9 – Resultados, organização e alterações no conteúdo das competições entre os escalões Os resultados apresentados na figura 9 demonstram que há uma especialização progressiva da competição nestes escalões. Verifica-se, também, que as alterações nos indicadores de especialização das competições ocorrem com maior frequência na mudança do terceiro para o quarto escalão. Nos escalões menores, do primeiro para o segundo, há um menor número de modalidades desportivas sugerindo que modificações associados ao processo de especialização da competição. 120 nos parâmetros Outro aspecto importante a destacar se refere ao aumento progressivo das alterações regulamentares e estruturais, destacando-se como os principais indicadores no processo progressivo de especialização da competição entre os escalões. No entanto, a progressão da especialização da competição nas modalidades desportivas de natação, ginástica artística, atletismo, ténis de mesa e judo, também é representada pelas modificações no indicador, conteúdo da competição. Isso ocorre entre todos os seus respectivos escalões. Para as modalidades colectivas de basquetebol e rugby as alterações no conteúdo da competição só ocorrem na transição dos respectivos escalões mais altos. O que não acontece, na modalidade de andebol, onde ocorrem entre os escalões mais baixos. Este aspecto, de certa forma, está em sintonia com o proposto pelos especialistas, que sugerem uma especialização nos conteúdos da competição de forma graduativa, principalmente da primeira para segunda etapa de formação. No entretanto, verificamos que ocorre uma especialização, prematura do primeiro para o segundo escalão. Isto indica que as federações continuam adoptando o sistema de competições tradicionais. Neste tipo de sistema, os conteúdos apresentam uma proximidade ao modelo vigente no desporto de alto rendimento, evidenciando uma especialização precoce (Zakharov, 1992; Bauersfeld, citados por Marques, 1999, p.17). 3.1.5. Objectivos da competição 3.1.5.1. Objectivos definidos pelas federações e associações para a competição nos diferentes escalões Em relação aos objectivos da competição para estes escalões de formação, encontramos nos documentos das federações e associações desportivas, seis diferentes objectivos, apresentados na figura 10. 121 Figura 10- Objectivos das competições definidos pelas federações e associações Dentre os objectivos referidos pelas entidades organizadoras das competições para os mais jovens, dois deles destacam-se por terem uma maior ocorrência nas modalidades e, também, nos respectivos escalões. São os objectivos relacionados com a formação, que visam o desenvolvimento motor, psicosocial e afectivo e os objectivos relativos ao desenvolvimento da técnica e da táctica. No seguimento, com uma frequência de ocorrência menor (60%), aparece o objectivo voltado para o rendimento. Este objectivo é referido nas competições dos escalões infantis e iniciados, nas modalidades de atletismo, basquetebol, futebol, rugby, ténis de mesa e voleibol. Outro aspecto importante, considerado por 50% das modalidades desportivas, é de que as actividades competitivas devem possibilitar às crianças e aos jovens, na sua participação, o prazer, a satisfação e o divertimento. De forma mais reduzida (30%) aparecem outros dois objectivos, valorizados por poucas modalidades. Um deles, está relacionado com o desenvolvimento da cooperação e o trabalho em equipa e o outro com o desenvolvimento de valores éticos e morais, como o respeito às regras, aos adversários e aos árbitros. 122 3.1.5.2. Diferenças nos objectivos competitivos entre os escalões e entre as diferentes modalidades desportivas Verificámos que, nas orientações competitivas dos documentos analisados, em 40% das modalidades não haviam diferenças entre os objectivos das competições para estes escalões. Os objectivos centravam-se nos aspectos formativos e no desenvolvimento da técnica e da táctica. No entanto, em 60% das modalidades desportivas, os objectivos da competição eram diferenciados entre os escalões. Nos escalões iniciais as competições são organizadas com objectivos voltados para formação, devendo atender ao desenvolvimento motor, social e psicológico da criança e do jovem. Porém, nos escalões de idades mais avançadas, terceiro e quarto escalões, as competições devem ter um objectivo em si mesmas, de apuramento para as fases seguintes ou de revelar o vencedor da competição. Seus objectivos são semelhantes aos objectivos do alto nível, centradas na maximização do rendimento. Os objectivos da competição, principalmente para o primeiro e segundo escalões, não apresentam uma concordância com o proposto na literatura para estes escalões iniciais. Os objectivos deveriam ser centrados na formação e terem uma abordagem pedagógica (Marques, 1997b; Andrade, 1996; Lima, 1988). O objectivo da aprendizagem da técnica e da táctica aparece como um aspecto importante, devendo ser desenvolvido de forma progressiva no treino e na competição. Sua presença é verificada em todos estes escalões da formação. No que se refere às diferenças, no estabelecimento dos objectivos das competições entre as modalidades, encontramos uma preocupação maior com a formação integral das crianças e jovens por parte das modalidades de atletismo, basquetebol, judo, rugby e no voleibol. Estas, abrangem um maior número de objectivos para competição de todos os escalões. Diferentemente, em um sentido circunscrito, nas modalidades de andebol, ténis de mesa, natação, ginástica artística e futebol, as competições têm objectivos centrados 123 mais no desenvolvimento motor, psico-social, da técnica e da táctica, em todos escalões. 3.1.6. Sistema de pontuação e classificação 3.1.6.1. Atribuição de prémios Verificamos que, independente do nível da competição ou do resultado obtido, nos dois primeiros escalões, todos recebem prémios. A partir do terceiro e quarto escalão a distinção na atribuição de prémios é predominante. Os jovens recebem prémios pelo resultado obtido na competição, ocorrendo com maior frequência nas competições a nível regional e nacional. Figura 11 – Atribuição de prémios por escalões Os resultados apresentados na figura 11, evidenciam que há uma diminuição na atribuição de prémios a todos, conforme se avança nos escalões. A valorização dos resultados na competição, a partir do terceiro escalão, é devida, principalmente, ao aumento da frequência de participação em competições de níveis mais elevados, cujos objectivos são voltados para revelar um vencedor. Dentre as modalidades estudadas, encontramos três, a ginástica artística o judo e a natação, em que a orientação é de atribuirem prémios a todos aqueles que participaram da competição. No entanto, na ginástica artística e no judo, 124 em algumas competições a nível regional e nos escalões mais altos, a atribuição de prémios é para todos. Mas a distinção faz-se presente nos tipos de pémios que são distribuídos em função do resultado obtido na competição. 3.1.6.2. Atribuição de prémios individuais Em relação a atribuição de prémios individuais, verificamos que em 70% das modalidades, não há atribuições de prémios de forma individualizada. Apenas em três modalidades, no andebol, na ginástica artística e no ténis de mesa, é que constava, na organização das competições, a atribuição de prémios para o melhor artilheiro e o melhor atleta na competição. A maioria das entidades que organizam as actividades competitivas evidencia, uma preocupação maior com a formação. 3.1.6.3. Apuramento do campeão nacional Quanto à organização de competições, em que o objectivo é voltado para o apuramento do campeão nacional, verificamos que já aparece a partir do primeiro escalão, crescendo sua ocorrência com o avanço nos escalões. Figura 12 – Ocorrência de competições voltadas para o apuramento do campeão nacional em cada escalão. 125 Os resultados apresentados na figura 12, revelam que há uma predominância, nos três primeiros escalões, de competições que não visa o apuramento para o campeão nacional. Cabe destacar também que, com excepção do ténis de mesa, nas modalidades individuais não há competições com vistas ao apuramento do campeão nacional. Enquanto que, para a maioria das modalidades colectivas, a partir do terceiro escalão, estão previstas competições com esse objectivo. O aparecimento de competições com o objectivo de apurar o campeão nacional, no primeiro escalão, foi verificado apenas na modalidade de futebol. 3.1.6.4. Inclusão de provas a eliminar Os resultados apontam para um crescimento da inclusão de competições com eliminatórias, associado a mudança de escalão. No primeiro escalão, o predomínio é de competições sem eliminatórias, jogam todos contra todos. O objectivo para este escalão é de que todos, em sua participação competitiva, tenham uma igualdade no número de provas. Diferentemente, como nos mostra a figura 13, a partir do terceiro escalão a ocorrência maior é de competições em sistema de exclusão. Desta forma, só os melhores são apurados para as etapas seguintes da competição. Figura 13 - Inclusão de provas à eliminar por escalões 126 Apenas em três modalidades desportivas, o atletismo, a ginástica artística e a natação, não são organizadas provas com eliminatórias para estes escalões da formação. Contrariamente a esta posição, o futebol, em todos os seus escalões de formação, apresenta competições com eliminatórias, voltadas ao apuramento para as fases seguintes da competição. Este encaminhamento, verificado no terceiro e quarto escalões, está em desacordo com as recomendações da literatura, que sugere uma atribuição de prémios a todos. 3.1.6.5. A participação competitiva dos atletas e equipas que têm prestações mais baixas De acordo com os resultados apresentados no quadro 20, podemos verificar que nos dois primeiros escalões, a maioria das federações e associações optam por organizar competições sem eliminatórias ou em fases. Este critério, tem por finalidade assegurar a participação de equipas ou atletas de prestações mais baixas. Contrariamente, predominam para o terceiro e quarto escalões as competições com provas a eliminar e em fases. Os atletas e equipas mais fracas são excluídos da competição. Quadro 20 – Critérios adoptados para garantir a participação de equipas ou atletas com prestações mais baixas na competição por escalões. Critérios 1º escalão 2º escalão 3º escalão 4º escalão 80 % 60% 30% 0% 20% 20% 10% 25% 0% 20% 60% 75% Não há provas a eliminar ou fases seguintes na competição São equilibradas por níveis de desempenho das equipas ou atletas nas fases seguintes da competição Não são adoptados critérios para assegurar a participação de equipas ou atletas com prestações mais baixas 127 Dentre as modalidades estudadas apenas em três, o voleibol, o atletismo e o rugby adoptam critérios, no terceiro e quarto escalões, para assegurar a continuidade na competição daqueles que têm prestações mais baixas. Nestes estádios de formação, a frequência de participação, assim como a continuidade nela, é muito importante para aumentar o seu repertório de experiências motoras e sociais. 3.2. Regulamentos 3.2.1. Adaptações das regras 3.2.1.1. Ocorrência de adaptações das regras nos escalões Em relação às adaptações das regras, encontramos, nos documentos das federações e associações das modalidades investigadas, alterações tanto ao nível estrutural quanto ao nível regulamentar da competição em todos os escalões. As dimensões de campo, o tamanho e peso dos materiais, altura das tabelas, da redes e balizas, assim como as regras da competição, número de jogadores, número de substituições, duração e intervalo das actividades competitivas são adaptadas em função das idades. Entretanto, verificamos que para a maioria das modalidades (80%), estas adaptações das regras ocorrem de modo diferenciado entre os escalões, com um nível de exigência progressivo, adaptado às características e capacidades das crianças. Constatamos que apenas nas modalidades de ténis de mesa e no judo, até o terceiro esclão, não há diferenças nas adaptações estruturais e regulamentares. 3.2.1.2. Normas técnicas e pedagógicas estabelecidas pelas federações A intervenção das federações no estabelecimento de normas técnicas e pedagógicas, constatamos que ocorre em apenas 50% das modalidades estudadas, especificamente no atletismo, andebol, judo, natação e rugby. As sugestões e orientações têm por finalidade a sistematização dos conteúdos, a organização didático-pedagógica e a determinação de princípios orientadores 128 da prática. Objetivando unificar o trabalho que os treinadores realizam na formação dos mais jovens. 3.2.2. Arbitragem 3.2.2.1. Realização da arbitragem Verificámos que, no primeiro escalão, as associações estabelecem que as competições podem ser arbitradas pelos professores, monitores e atletas mais velhos. Principalmente, por serem competições de natureza informal. Os resultados na figura 14, nos mostram também que, conforme o avanço nos escalões, há uma diminuição na participação dos professores, monitores e atletas na árbitragem das competições. Sobretudo, porque, a partir do segundo escalão há um aumento na participação em competições de níveis mais elevados e de natureza formal. Figura 14 – Responsável pela arbitragem nas competições por escalões No terceiro e quarto escalões, fica evidenciado uma prevalência na atribuição de responsabilidade pela arbitragem aos árbitros da federação e juízes indicados pelas associações. Especialmente, porque se inicia a participação em competições com apuramento e a nível nacional. 129 Nas modalidades de futebol, ginástica artística e natação, desde o primeiro escalão, é estabelecido, pelas entidades organizadoras das competições, que as provas e jogos devem ser arbitrados por juízes das federações ou associações. 3.2.2.2. Nível de graduação exigida ao árbitro nos diferentes escalões Em relação aos níveis de graduação exigidos aos árbitros nos diferentes escalões; Em competições que podem arbitrar professores, monitores e atletas mais velhos, a exigência é de terem conhecimento das regras e usarem de bom-senso na sua aplicação. No entanto, nas competições em que a responsabilidade da arbitragem está a cargo dos árbitros das federações ou juízes indicados pelas associações, estes devem ter o curso da respectiva federação. Estas exigências são diferenciadas por níveis, conforme o enquadramento competitivo.Verificamos que, a partir do segundo escalão há uma exigência maior, em relação a sua formação, para realização da arbitragem. 3.2.2.3. Características da arbitragem nos escalões Os resultados encontrados sobre este aspecto apontam que, para a maioria das modalidades (60%), a arbitragem realizada apresenta características diferenciadas entre os escalões. Nos dois primeiros escalões existe um sentido mais pedagógico, formativo e menos punitivo. O rigor na aplicação das regras nos escalões aumenta progressivamente, em especial nas punições. Já as modalidades de natação, futebol, ginástica artística e ténis de mesa entendem que a arbitragem não deve ser diferenciada entre os escalões. Nestes escalões a característica da arbitragem deve ser sempre educativa, envolvida num espírito pedagógico, formativa e, menos punitiva. No entanto, nestas modalidades, a arbitragem é realizada por árbitros das federações e associações desde os primeiros escalões. 130 3.3. Actividades competitivas 3.3.1. Conteúdos 3.3.1.1. Inclusão de actividades competitivas de outras modalidades na competição do desporto seleccionado Na organização das actividades competitivas, definidas pelas associações e federações desportivas, verificamos que, em maioria (60%) das modalidades não eram incluídas, para estes escalões da formação, actividade competitiva de outras modalidades. Entretanto, quatro modalidades, o andebol, o atletismo, a natação e o rugby, utilizam actividades competitivas de outras modalidades desportivas para além da escolhida. São actividades em forma de convívio, encontros e festand’s, menos formais que utilizando jogos pré-desportivos, circuitos com actividades competitivas de outras modalidades. Porém, a sua frequência de ocorrência é baixa. São previstas no calendário competitivo da época, uma ou duas competições. Com excepção da modalidade de andebol, em que para o primeiro escalão, bambis, as competições apresentam só este formato. 3.3.1.2. Actividades competitivas diversificadas e adaptadas De acordo com os resultados apresentados na figura 15, podemos dizer que as actividades competitivas adaptadas ocorrem de maneira preponderante nas modalidades e para os três primeiros escalões. No quarto escalão, apenas uma modalidade, no voleibol, as actividades não são adaptadas. Isso demonstra uma preocupação por parte de quem organiza as competições para os mais jovens, de levar em consideração o crescimento e desenvolvimento da criança tanto a nível biológico, quanto a nível cognitivo. 131 Figura 15 - Actividades competitivas diversificadas e adaptadas por escalões Em relação à utilização de actividades diversificadas na competição para estes escalões, verificamos no primeiro escalão um destaque maior atribuído a este aspecto. Nota-se também que, com o crescimento do escalão, seu percentual de ocorrência vai diminuindo e se mantém presente até ao terceiro escalão. A diversificação das actividades competitivas tem maior presença nos dois primeiros escalões, com o atendimento ao objectivo da formação motora das crianças. A partir do segundo escalão, começam a ter uma supremacia as actividades mais especializadas, relacionadas com o conteúdo da modalidade desportiva praticada. Constatamos, também, que apenas as modalidades de basquetebol e de futebol não apresentavam actividades diversificadas nas competições de seus escalões. 3.3.1.3. Progressão dos conteúdos das actividades competitivas entre os escalões Encontramos, na maioria das modalidades (80%), uma diferenciação nos conteúdos das actividades competitivas, evidenciando uma progressão entre os escalões no que diz respeito à exigência das tarefas a serem desenvolvidas na competição. Essa progressão está relacionada com o aumento das exigências coordenativas e técnicas, assim como com as mudanças nas estruturas e regras das actividades competitivas. São acrescidas, de forma 132 gradual, novas técnicas e uma maior exigência nos níveis de habilidades. Porém, na modalidade desportivas de futebol, não encontramos grandes diferenças no conteúdo das actividades competirivas. Revelam assim uma baixa progressão nos conteúdos das actividades competitivas. 3.3.1.4. Relação entre os conteúdos da actividade e os objectivos da formação Quadro 21 – Percentuais de ocorrência de actividades competitivas com conteúdos relacionados com os objectivos formativos Actividades desenvolvidas para atender os objectivos da formação Estão Não estão relacionados relacionados 60% 40% 70% 30% 1º etapa - actividades diversificadas, jogos de movimentos ou exercícios do desporto em geral. 2º etapa - actividades adaptadas, simplificadas, formas jogadas, diversificadas e orientadas para o desporto, exercícios competitivos e de outros desportos. De acordo com os resultados apresentados no quadro 21, encontramos uma maior ocorrência de utilização de conteúdos nas actividades competitivas, relacionados com os objectivos da formação, na segunda etapa de formação (70%). Etapa essa que corresponde à especialização inicial de base, cujos objectivos estão voltados para o desenvolvimento da coordenação técnicotáctica e funcional do sistema nervoso central. As competições, nestas modalidades, apresentam conteúdos de actividades múltiplas com ênfase na parte motora e técnico-táctica. Há uma especialização crescente orientada para o desporto, provas com diferentes exigências técnicas, porém, com estruturas e regulamentos adaptados às idades. Apenas em três modalidades, andebol, futebol e ténis de mesa, os conteúdos das actividades competitivas apresentavam uma baixa correspondências com os objectivos formativos para esta etapa. Os conteúdos das competições não eram diversificadas, não havia inclusão de exercícios competitivos de outras modalidades. Sua estruturação mais especializada se aproximava do modelo de competições utilizada no alto nível. 133 Em relação à primeira etapa de preparação preliminar, verificamos que 60% das modalidades desportivas apresentam actividades competitivas com conteúdos relacionados com ao desenvolvimento da coordenação motora geral e a formação da multilateralidade. No entanto, o que nos chamou a atenção foi o aparecimento da percentagem de 40% das modalidades apresentarem conteúdos das suas actividades competitivas com menor relação com os objectivos para esta primeira etapa. As actividades nas modalidades de futebol, basquetebol, ginástica artística e o judo, já em seus primeiros escalões, eram centradas na execução de habilidades técnicas e tácticas. Notando-se pouca diversidade e uma especialização orientada para o desporto. 3.4. Carga de competição 3.4.1. Número de competições para cada escalão Sobre a carga de competições, os resultados apresentados no quadro 22, apontam que, conforme o avanço dos escalões, há um aumento progressivo tanto no número de competições por temporada, quanto no número de jogos ou provas. As crianças dos dois primeiros escalões participam em média de 3 a 5 competições por temporada com uma previsão de provas entre 15 a 31. Constata-se, também, um aumento substancial no número de competições e no número de provas e jogos para o terceiro e quarto escalão. Apresentam uma variação média de 4 a 9 competições e uma participação em torno dos 30 a 53 jogos e provas por temporada. 134 Quadro 22 - Frequência de participação competitiva por mês e por temporada para cada escalão das respectivas modalidade desportiva Escalões Número de competições por Número de jogos ou provas por temporada temporada 1º 2º 3º 4º 1º 2º 3º 4º Andebol 2 2-3 3-5 3-5 12-26 26-46 42-75 37-75 Atletismo 2-3 2-3 4-5 - 8-10 8-12 24-26 - Modalidades Basquetebol 2-3 2-3 4-5 - 22-24 22-24 40-60 - Futebol 1-2 1-2 2-3 - 20-40 22-47 30-60 - 3 3 - - 6-9 6-9 - - Ginástica Judo 4-6 6-10 6-10 8-12 16-24 24-40 24-40 32-48 Natação 6-7 8-10 - - 18-21 24-30 - - Rugby 6-9 6-9 8-14 12-16 12-18 12-18 24-42 36-48 Ténis de mesa 3-5 4-6 - - 20-30 40-60 - - Voleibol 2-3 2-3 3-4 4-5 12-16 14-20 26-36 28-40 Média 3-4 4-5 4-7 7-9 15-22 21-31 30-48 33-53 Mínimo/Máximo 1-9 1-10 2-14 3-16 6-40 6-60 24-75 28-75 Ao compararmos o número de competições e o número de jogos entre os escalões, para as modalidades desportivas estudadas, encontramos os seguintes resultados: - Das modalidades estudadas, apenas três, judo, naração e o ténis de mesa apresentam modificações no número de competições entre o primeiro e segundo escalões; - No que se refere ao número de competições por temporada, verificamos que a modalidade de futebol é a que apresenta uma melhor frequência; - Em relação ao número de jogos e provas por temporada, as modalidades que mostraram uma menor frequência de ocorrência foram a ginástica artística e o atletismo, em todos os escalões. Em sentido contrário, as modalidades de andebol, basquetebol e futebol se destacaram por apresentarem uma frequência de jogos mais elevada que as demais. 135 3.4.2. Período de tempo em que ocorrem as competições Quanto ao período de tempo em que ocorrem as competições, encontramos três formas de organização estabelecidas pelas federações. Um grupo formado pelas maiorias das modalidades, atletismo, ginástica artística, judo, natação, rugby e o ténis de mesa organizam seu calendário competitivo em formato de torneio. As competições ocorrem aos fins-de-semana, com duração de um a dois dias. O outro grupo de modalidades, voleibol, basquetebol e andebol organiza, para o primeiro escalão actividades competitivas em forma de encontros e convívios, que têm a duração de um a dois dias. No terceiro e quarto escalões, as competições duram em média de dois a três meses, com jogos planeados para todos os fins-de-semana. Por fim destacan-se a modalidade de futebol, por apresentar competições com com períodos de execusão prolongados. Duram em torno de quatro a seis meses e são organizadas em fases, ocorrendo um jogo por semana. Uma definição sobre a frequência de participação competitiva, não é uma tarefa fácil. Os poucos estudos que encontrados na literatura apresentam uma heterogeneidade nos resultados. Porém, as frequências aqui apresentadas pelas federações e associações são superiores quando comparadas com o estudo de Marques, (1993b) e inferiores em comparação com o estudo de Zakharov, (1994). No entendimento dos especialistas, o número e frequência de competições depende, fundamentalmente, das características da modalidade das cargas de treino, anos de treino, da idade do atleta e do nível de desenvivolvimento das capacidades individuais (Harre,1982; Matveiev, 1980). 136 4. Segundo Estudo Empírico Objectivo – Verificar a percepção dos treinadores quanto à adequação da organização das competições desportivas para crianças e jovens 4.1. A organização das competições 4.1.1. Estrutura e características das competições 4.1.1.1. Enquadramento geográfico das competições para os diferentes escalões Nosso objectivo era de verificar a percepção dos treinadores quanto ao enquadramento que deveriam ter as competições nestes escalões, assim como, a natureza destas competições e a entidade que seria responsável pela sua organização. A figura apresenta os valores percentuais correspondentes às opiniões predominantes dos treinadores para o enquadramento geográfico das competições por escalões. Figura 16 – Enquadramento da participação competitiva por âmbito geográfico em cada escalão, das modalidades em geral. 137 Como podemos constatar, no enquadramento proposto pelos treinadores, predominam as competições ao nível de distrito e região para as crianças dos dois primeiros escalões, das faixas etárias entre 6 e 11 anos. A partir do terceiro escalão, jovens com idades acima dos 12 anos, sobressaem as competições ao nível nacional. Cabe aqui destacar que desde muito cedo, no primeiro e segundo escalão, estão presentes competições ao nível nacional, indicadas por treinadores das modalidades de voleibol e ténis de mesa. E também, o facto do aparecimento de competições ao nível internacional no quarto escalão, referida pelos treinadores de andebol. No entendimento dos treinadores as mudanças no nível competitivo devem ocorrer de forma progressiva e estarem associadas às mudanças de escalão. Chamam a atenção para que, no enquadramento competitivo das crianças e jovens nas etapas de preparação preliminar e de especialização inicial de base, sejam levados em consideração tanto o crescimento e desenvolvimento da criança a nível das suas capacidade motoras, quanto o tempo necessário para o aprendizado das tarefas específicas exigidas em cada modalidade. Essa proposição pode ser complementada com as afirmações de Bompa (2000), “mesmo que as crianças possuam capacidade para tolerar os componentes físicos do programa, elas podem ter dificuldade em lidar mentalmente com a demanda do treino e da competição.” No entanto, cabe destacar que, em relação à participação das crianças e jovens em competições ao nível nacional e internacional, a maioria dos treinadores entende ser demasiado cedo para o primeiro e segundo escalão e que essas competições poderiam se incluídas, com algumas condições, a partir do terceiro e quarto escalões. Argumentam que, no formato do enquadramento actual a esse nível, há uma falta de consonância entre o nível de preparação e a exigência das competições. Outro aspecto negativo refere-se à elevada importância atribuída aos resultados por parte dos dirigentes pais e treinadores. Essa participação 138 também teria uma interferência directa no tempo dedicado à escola e à família, assim como, no processo de treino, conduzindo a especialização da preparação. Porém, poderiam os mais jovens participar de competições nacionais e internacionais em um modelo diferenciado do actual, com estruturas e regulamentos adaptados às idades, de natureza informal e organizadas em formato de convívio, encontro, lúdicas e festivas, sem eliminação, dando oportunidade de participação a todos e sem ênfase no resultado. Devendo atender ainda aos objectivos de criar uma maior diversidade de situações e de experiências, que possam contribuir para o seu desenvolvimento, sua formação e evolução dentro da modalidade, promovendo a integração social e criando oportunidades para fazerem novos amigos. 4.1.1.2. Natureza das competições Figura 17 – Natureza das competições por escalões Os resultados apontam que as competições de natureza informal devem ocorrer com maior frequência nos dois primeiros escalões. No entanto, 40% dos treinadores entendem que as crianças destes escalões devem participar tanto em competições com menor formalidade quanto em competições de 139 natureza formal. No terceiro e quarto escalões a predominância é de competições de natureza formal. Notamos que há por parte dos treinadores uma preocupação na introdução de aspectos formais na competição. No entendimento dos treinadores, a presença de aspectos formais na competição a partir dos primeiros escalões é justificada por razões que estão relacionadas com o entendimento necessário para o cumprimento do regulamento. Pelo facto de se considerar importantes os aspectos pedagógicos associados ao treino e as experiências competitivas, assim como, pela necessidade de se compreender e saber diferenciar o funcionamento das estruturas organizativas das diferentes competições. “Também acho que nos cadetes tem que haver um cumprimento das regras e uma formalização das coisas. Estamos a iniciar uma modalidade desportiva, uma vertente competitiva e têm que desde pequenos estar habituados às regras que estão naquela prova.” “Arbitrados por árbitros da federação, porque os miúdos sentem muito quando são mal arbitrados, e são mais exigentes que os próprios adultos, têm aquele sentimento de justiça.” “Os aspectos formais devem estar desde o início da participação competitiva, porque o facto destes aspectos estarem presentes não implica que nós estejamos a atribuir maior importância à prestação. Estamos é a atribuir à competição uma espécie de organização para o atleta. É fundamental e deve ser um dos principais objectivos nestas idades que, desde cedo se saiba como é o processo com as pessoas que estão presentes, qual a atitude que se deve ter com o árbitro, o que se deve esperar do árbitro, como se deve encontrar a piscina e o recinto, portanto, tudo tem a ver com logística e arbitragem e organização da 140 competição, que deve ser o retrato das competições, quando for dos escalões mais velhos.” “Penso que sim, até porque eles começam a ter que respeitar o árbitro, a ter que respeitar o adversário logo desde o início. Pode não ser para imprimir um carácter muito formal à competição mas para eles se familiarizarem e perceberem ali uma diferença entre o que é uma organização de brincadeira e uma organização já mais séria, até porque eles valorizam essas coisas.” “Acho que sim, devem ter aspectos formais, porque faz parte da aprendizagem deles, como forma de aprendizagem não como forma de intimidação.” Na percepção dos treinadores, os aspectos formais mais importantes que devem estar presentes nas competições referem-se à parte regulamentar, ao cumprimento das regras, à presença de árbitros e à parte da organização das competições. “Alguns aspectos formais do jogo acho que são importantes que sejam mantidos, as regras com que eles estão mais identificados devem ser as mesmas, as marcações devem ser muito parecidas com aquelas que eles estão habituados a ver, mesmo as próprias regras.” “Alguns formalismos devem estar presentes, não me parece agradável para os miúdos chegarem e não terem árbitro. Pode previamente haver no momento em que vão jogar um formalismo, um boletim simplificado, mas tem que haver, que eles sintam que há uma pessoa que vai arbitrar mas que já lá está e que tem apito e que não apita com os dedos, agora um formalismo muito aquém ao formalismo que é habitual.” 141 Constatamos no discurso dos treinadores a necessidade dos aspectos estruturais e regulamentares serem adaptados às idades. “Deve ter aspectos formais como as regras, a presença de juízes. Deve haver um conjunto de aspectos que estejam relacionados com a modalidade e também, devem estar adequados e adaptados às idades que eles têm.” “É uma competição formal no sentido em que há uma data marcada, tem um ginásio montado, há adaptações estruturais e regulamentares em que se avaliam outras coisas, diferentemente do que se avalia nos adultos.” Entretanto, os treinadores acham que as crianças e jovens para participarem em competições de natureza formal deverão ter uma preparação mais alargada, com um tempo maior de aprendizado e de participação em competições de diferentes níveis. Essas exigências são necessárias principalmente para que essa preparação se processe de forma progressiva, propiciando o desenvolvimento de suas capacidades psicológicas, técnicas e tácticas, aspectos considerados importantes nas competições de níveis mais elevados. “Seriam introduzidas competições de natureza formal de uma forma progressiva, para que pudessem aumentar a sua bagagem.” “Na competição regulamentada o atleta só pode participar na competição se tiver no mínimo um ano de prática, mas o treinador é que tem a obrigação de gerir esta questão.” 142 “Tem que ter uma preparação, mas as prestações técnicas, psicológicas e tácticas têm que ser na idade certa.” “Não é por pertencer a determinado escalão, mas sim pelo nível que ele já atinge. Por isso poderá participar em competições mais formais.” No entanto, um grupo de treinadores aponta um conjunto de problemas relacionados com a participação dos desportistas destes escalões em competições de natureza formal. Factores ambientais e estruturais da competição formal, como a presença do público, do policiamento, as pressões dos pais, os apuramentos, as expectativas dos treinadores, que exercem uma pressão muito grande sobre as crianças, ocasionam uma exigência muito elevada ao nível emocional, afectando o seu comportamento. “A presença do público, a presença do policiamento, têm uma carga emocional muito elevada e por isso condicionam o comportamento dos miúdos e eu penso que deve ser retirada tanto quanto possível, isso para escolinhas e primeiro ano de infantis.” “O que vejo que tem problemas é o público, os pais, os próprios juízes às vezes a serem mais exigentes nas notas, uma pressão exagerada. Isso também depende sempre da forma como os treinadores encaram a competição das crianças.” “O ambiente numa competição em que se pede mais rendimento cria nos miúdos um estado de espírito diferente: mais stress, mais agonia. Não é tanto o problema de se magoarem, de fazerem um esforço fora do normal, é mais do ponto de vista psicológico, enfrentar uma competição com aquele ambiente todo.” 143 As preocupações aqui levantadas também são relacionadas com a influência do adulto nas expectativas elevadas do jogo das crianças e a pressão dos pais para que as suas crianças participem em actividades desportivas competitivas, podem apresentar problemas (Cratty, 1983). Para estes treinadores as crianças e jovens deveriam nas etapas de formação participar só de competições informais. Por motivos pedagógicos, voltados para a formação, por factores psicológicos como a motivação, pela importância social de estar com os amigos, pelo prazer da prática, por serem mais atractivas e interessantes para os mais jovens as competições realizadas em formato de festival, convívio e encontro, com oportunidade de participação de todos. Retirando, desta forma, a pressão e o stress das preocupações com aspectos de uma competição de natureza formal. O grupo de treinadores que partilha desta posição é das modalidades de andebol, atletismo, judo, rugby e voleibol. “A competição deveria ser uma intervenção pedagógica, principalmente porque os miúdos encaram a competição de uma maneira diferente dos adultos, é para eles essencialmente um convívio, um encontro com os amigos, se divertirem, fazerem novos amigos, com objectivo de motivá-los para a prática” “No escalão dos mais novos um dos aspectos fundamentais é eles começarem a ter prazer em jogar futebol. É esse o objectivo fundamental. O tempo de jogo deles tem de ser elevado, o jogo não deve ser formal, deve ter outras características, deve ser dado um conjunto de oportunidades que lhes permita terem esse prazer, esse gosto.” 144 “Aqui, o que é feito é mais para dar oportunidade de formação, do que propriamente competição.” “Permitir o sucesso, permitir o mesmo tempo de prática, competições com carácter mais informal possível. O mais importante para estes escalões é o jogo pelo jogo, gostarem de estar ali e estarem motivados com a sua participação.” “Não ter um stress, criar ali um ambiente de convívio, camaradagem.” Destacam em suas afirmações que é importante considerar alguns aspectos quanto à organização de competições informais para estes escalões. As estruturas e regulamentos têm que ser adaptadas às idades, o conteúdo da competição, as actividades desenvolvidas devem ser lúdicas, diversificadas, atendendo aos objectivos da formação multilateral e do desenvolvimento da técnica, mas, sobretudo competições em forma de festival, com o sentido de convívio, sem dar ênfase ao resultado. “Poderíamos definir outro tipo de intervenção, nomeadamente competições técnicas, em que nós poderíamos definir alguns padrões técnicos que deveriam ser observados pelos professores e treinadores fora da prova, no sentido de vários professores e treinadores se avaliarem uns aos outros e partilharem com os outros treinadores, para que isto permitisse uma evolução técnica da aprendizagem.” “Poderiam ser introduzidas na competição não formal outras actividades e modalidades diferentes da competição de futebol nas idades mais baixas, por exemplo jogos andebol.” 145 “Realização de competições diferentes em forma de festivais, o sentido é de convívio com envolvimento sócio-afectivo” “Competição menos formal, com juízes, bandeiras, mas os critérios adoptados têm que ser mais flexíveis, mais adequados à idade. As crianças podem ficar desmotivadas por serem desclassificadas.” Contudo, 40% dos treinadores defendem que a participação competitiva nos escalões iniciais (primeiro e segundo) poderia ser em competições tanto de natureza formal quanto informal, não havendo problemas para sua formação. Isso seria com a intenção de preparar as crianças para as competições de níveis mais elevados. Essa inclusão do formalismo na competição vai sendo feita de forma progressiva e gradual, tanto dentro do próprio escalão, quanto entre os escalões. Uma das razões que justificariam esta orientação seria a variabilidade no nível de prestação desportiva no próprio escalão, assim como, no ritmo de desenvolvimento e de aprendizado das tarefas da modalidade, referidas pelos treinadores das modalidades de basquetebol, futebol, ginástica, natação e ténis de mesa. “Sempre utilizamos competições de natureza informal para preparar as crianças e jovens para as competições de natureza formal” “Podem ser feitas competições menos formais para estes escalões, podem ser realizadas 02 competições informais para 01 formal. Essa proporção depende do nível de preparação dos ginastas, de eles estarem à vontade na competição e de terem mais sucesso neste ou naquele exercício.” “A competição deve ser mais lúdica e informal para os minis A e B. A arbitragem pode ser realizadas por eles, independentemente do enquadramento competitivo. Já para os 146 outros escalões deve conter algum aspecto formal e esse grau de formalidade aumentaria com o nível de exigência da competição regional e depois nacional.” “A formalidade nas competições deveria ser introduzida de uma forma progressiva. O carácter informal deveria ser retirado também progressivamente. Partindo do modelo não estandardizado para o modelo estandardizado.” Este aspecto está em sintonia com o número e o grau de exigências das competições oficiais, que de acordo com as recomendações na literatura devem ir aumentando progressivamente com a idade de treino e também com o nível de preparação (Marques, 1997b). Quando verificamos sobre a natureza da competição que deveria ocorrer, segundo a percepção dos treinadores, em cada nível competitivo encontramos os seguintes resultados, apresentados na figura. 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Escola / Clube Local / Cidade Distrito / Região natureza informal Nacional Internacional natureza formal Figura 18 – Carácter da competição em relação ao enquadramento geográfico 147 Nos níveis competitivos mais baixos, escola/clube e local/cidade, a predominância é de competições informais e de uma frequência relativa baixa de competições com carácter formal. No quadro competitivo superior de competições a nível de distrito/região, nacional e internacional as competições com maior destaque são de natureza formal. Verificamos que há uma tendência na diminuição da ocorrência de competições informais a medida que aumenta o nível competitivo e um crescimento expressivo de competições de carácter formal a partir das competições a nível de distrito/região. As competições dos primeiros níveis, por serem organizadas pelos clubes ou associação desportivas, têm uma abrangência menor e um envolvimento em termos de custo financeiro menor para sua organização, são realizadas mais em forma de encontro, de convívio e festival, por isso não é necessário estarem presentes aspectos formais, como a presença de juízes da federação, “placards”, súmulas, estruturas físicas, equipamentos e policiamento. Nas competições de níveis mais elevados já são organizadas pelas associações e federações a abrangência é maior, assim como, os custos de organização e realização e pelos aspectos formais estarem presentes em maior número. 4.1.1.3. Entidade organizadora das competições Em relação à entidade que deveria organizar as competições para os escalões nas etapas de formação desportiva encontramos os seguintes resultados: 148 Figura 19 – Entidades que devem organizar as competições desportivas para os mais jovens. De acordo com a figura apresentada acima, podemos dizer que, na percepção dos treinadores, destacam-se duas entidades que deveriam ser responsáveis pela organização das competições para estes escalões em fase de formação, respectivamente as associações desportivas (40%) e os clubes (33%). A principal razão apontada para justificar a escolha destas entidades se refere à importancia de atender os objectivos da formação, o que no entendimento dos treinadores é da responsabilidade do clube. Outro factor está associado à natureza que devem ter as competições para estes escalões, passando do informal para o formal de forma progressiva, mas, destacam os treinadores sempre diferenciando-se do modelo de competições adoptadas nos adultos com eliminatórias e apuramentos para o campeão. “O clube, por serem competições menos formais, encontros convívios e festas e as associações as competições formais.” “Porque, no clube é que se faz a formação desportiva e também por ter capacidade de gerir estas competições.” “Penso que a associação tem um papel importante, por estar mais perto da realidade dos clubes.” 149 Contudo, há dois factores que dificultam a organização e realização das competições por estas entidades. O primeiro se refere ao baixo número de praticantes de algumas modalidades que têm determinados clubes e o outro factor diz respeito à fraca ou nenhuma formação na área das pessoas que são responsáveis pela organização das competições dentro das entidades, dificultando uma compreensão maior dos objectivos da formação. A formação pedagógica é importante para que as competições possam atender os objectivos da formação desportiva destes jovens. “As competições dos minis, seriam organizadas pelo clube. O que acontece é que a maioria dos clubes não tem uma quantidade de atletas suficientes que permita organizar estas competições, o que seria desejável que acontecesse.” “Acho que as associações são um grande problema, porque a maioria das pessoas que lá estão não tem formação. Não tem formação na área para compreender estas perspectivas, o que dificulta muito a evolução desportiva em Portugal.” As duas outras entidades, federações (17%) e o sistema escolar (10%), foram pouco referidas pelos treinadores para serem responsáveis pela organização das competições para dos mais jovens. Entendem que a federação deveria organizar competições para os escalões com faixas etárias mais elevadas 12, 13 e 14 anos, no sentido de prepará-los para as competições com um grau de exigência maior, como as nacionais e internacionais. “No escalão dos iniciados é que se dá a transição para o escalão juvenil. Portanto a federação já começa a ter um peso maior sobre a organização das competições.” 150 “Federação nas competições nacionais, porque os infantis têm pelo menos uma prova nacional por ano, onde se juntam todas as equipas infantis do país.” Grande parte dos treinadores julga que a federação não deveria organizar as competições para estes escalões da formação, porque as crianças e jovens não deveriam participar de competições a nível nacional e internacional. Contudo, deveriam apoiar as outras entidades, no sentido de uniformizar os regulamentos e também de acompanhar o trabalho que está sendo realizado. “As federações não organizariam, em virtude das competições serem até o nível regional. As federações tutelam as competições de nível mais elevado.” “As federações não, porque em Portugal têm uma preocupação no desenvolvimento no âmbito da alta competição.” “Penso que as federações não, porque organizam as competições a nível nacional e nestes escalões, aqui em questão, não devem haver competições a nível nacional.” “Deveria haver, por parte de quem está acima da associação, que é a federação, regras muito bem definidas e bem estabelecidas, para que estas competições em todas as associações tivessem as mesmas características e isso não existe. Há uma disparidade de competições que eu penso que não é benéfica para a evolução do jogo de futebol nestes miúdos.” A organização das competições pelo sistema escolar é defendida por uma parcela muito pequena (10%) de treinadores, por julgarem que é a escola o local mais apropriado e com melhor ambiente do que o sistema desportivo para a formação pedagógica e desenvolvimento humano das crianças e jovens. 151 Entretanto, a escola tem encontrado grande dificuldade em cumprir esse papel, principalmente por falta de integração com os clubes, as associações e com as próprias federações. “Em termos de logística e em termos de fomento das competições, deveria ser o sistema educativo a promover isso, não o sistema desportivo, até por causa da parte pedagógica que interessa desenvolver para além do desporto que é a parte da componente humana e na escola existem melhores condições para fazer isso que nos clubes.” “Nos clubes, muitas vezes, há aquele problema dos pais que colocam pressão sobre os treinadores, os dirigentes querem apresentar resultados a todo custo.” “Se a escola fizesse o trabalho que lhe competiria fazer, resolveria todos os problemas até ao escalão de infantis, até aos 14, 15 anos.” “As federações e associações regionais não poderiam desenvolver actividades para estes escalões, quando muito promover actividades de apoio às escolas.” 4.1.2. Início da participação competitiva 4.1.2.1. Definição da idade e requisitos para participar A figura apresenta-nos os resultados sobre à idade em que as crianças e jovens devem começar a participar de competições dos quadros competitivos regulares. 152 10% 20% 50% 7-8 10-12 12-13 13-14 20% Figura 20 – Idade de início para a participação competitiva nos quadros regulares De acordo com as percepções dos treinadores encontramos quatro grupos de idades com uma amplitude de variação entre as faixas etárias de 7 a 14 anos de idade. Verificamos que o grupo de faixa etária compreendida entre 7 e 8 anos é o que prevalece na opinião dos treinadores (50%) para o início da participação nas actividades competitivas de forma regular. No entanto, uma percentagem de treinadores entende que as crianças deveriam começar a sua participação competitiva a partir dos 10 anos de idade, antes não. Aparecem as opiniões referentes aos grupos de idades com faixas etárias compreendidas entre 10 e 12 anos e 12 e 13 anos com valores percentuais semelhantes (20%). Por fim, com uma ocorrência menor (10%), figuram os pareceres dos treinadores que defendem o início da participação com idades entre os 13 e 14 anos. Porém, aspectos particulares e a especificidade das modalidades exercem influências na definição da faixa etária para o início da participação competitiva. 153 Quadro 23 - Idade de início para a participação competitiva por modalidades desportivas, segundo os avaliados da amostra Idade de início da participação competitiva Modalidades desportivas 7-8 anos 10-12 anos 12-13 anos 13-14 anos Andebol 0 3 0 0 Atletismo 0 0 3 0 Basquetebol 3 0 0 0 Futebol 0 3 0 0 Ginástica artística 3 0 0 0 Judo 0 0 0 3 Natação 3 0 0 0 Rugby 0 0 3 0 Ténis de mesa 3 0 0 0 Voleibol 3 0 0 0 15 6 6 3 Total ( treinadores ) Constatamos, com os dados apresentados no quadro 23, que a orientação de início da participação competitiva logo aos 7 e 8 anos de idade é defendida pelos treinadores das modalidades de basquetebol, ginástica artística, natação, ténis de mesa e voleibol. Nos grupos intermediários, situam-se as idades de 10 e 12 anos, compreendendo as modalidades de andebol e futebol e o grupo das idades de 12 e 13 anos definida pelos treinadores de atletismo e do rugby. Para os treinadores de judo o início da participação competitiva deveria acontecer mais tarde, entre os 13 e 14 anos. No entanto, alguns critérios são estabelecidos pelos treinadores como absolutamente necessários para que a criança com estas idades possa começar a participar das competições de forma regular. 1º Os mais evidenciados, relativos à importância das crianças apresentarem um domínio mínimo da técnica, um nível coordenativo e cognitivo para execução das tarefas da modalidade na competição, assim como, um conhecimento das regras. 2º Tem a ver com o tempo de prática na modalidade, necessário para o seu aprendizado técnico e desenvolvimento de suas capacidades motoras e cognitivas. 154 “O pré-requisito principal é ter no mínimo um ou dois anos de prática para adquirir alguns gestos, algumas técnicas, sem as não se consegue sequer fazer os próprios pré-requisitos da competição que são regulamentares. Normalmente a criança começa aos cinco, seis anos a prática e aos sete, oito a competir.” “Deve haver um domínio mínimo em termos técnicos. Em termos competitivos tem que haver uma preparação cognitiva, o miúdo deve perceber qual é o objectivo de ir lá, de participar com os outros.” “Tem que ter uma graduação. Primeiro a criança pode competir a nível de clube, depois passaria para uma fase que poderia competir com clubes da mesma zona. Poderiam começar a competir desde que tenham um nível técnico em que a criança ao nadar e competir não se sinta mal. Não concordo que seja importante definir a idade, que seja a partir dos oito anos, desde que tenha esse pré-requisito.” As razões referidas para justificar o início da participação competitiva mais tarde, acima dos 12 anos, se referem às possíveis associações entre as idades de início sugeridas e o início do período da puberdade, em que ocorrem, com maior evidência, as transformações morfológicas e físicas dos jovens. Este aspecto, além de favorecer o desenvolvimento do nível de prestação na modalidade, aumentaria também o nível de segurança em suas participações competitivas. “Essa questão da idade também tem a ver com o desenvolvimento de cada um, o tempo de formação desportiva também conta, até mesmo na maturação muscular temos que ter uma atenção sobre isso.” 155 “Temos que ter a garantia que o miúdo está preparado e sabe executar a técnica. Em primeiro lugar vem a segurança deles, o domínio da habilidade específica, saber fazer o movimento, ter possibilidade de sucesso naquilo que faz. Em seguida, é o nível de desenvolvimento e a maturação do miúdo, porque em algumas disciplinas no atletismo, como o triplo salto, se o miúdo em termos musculares não está muito preparado temos que ter cuidado em colocarmos a fazer essa prova.” “Um aspecto necessário para iniciar a sua participação competitiva no judo é o tempo de prática. Quem não tem um tempo de prática não pode entrar em competição. Penso que a informação da maturação biológica seria importante, o início da puberdade ocasiona muitas diferenças entre eles, mas actualmente utilizamos a idade e o tempo de prática.” Entretanto, alguns treinadores, principalmente das modalidades colectivas, identificam problemas na participação competitiva com idades baixas, como as dificuldades em perceberem o jogo de uma forma colectiva, a diversidade no nível de prestação desportiva das crianças em seu próprio escalão, por limitações motoras e pela falta de tempo de prática. “As crianças com estas idades já começam a estar disponíveis para perceber o que é um grupo e perceberem o que é que são eles no seio desse mesmo grupo. Para verem a importância da colaboração entre eles para atingirem um fim. Eles, por aquilo que me dá ideia, em idades mais baixas ainda não têm essa noção dessa integração para atingir determinados objectivos, e, por isso, têm uma certa dificuldade em competir de uma forma organizada, federada, para atingirem esses objectivos antes dessas idades.” 156 “Muitas vezes notamos crianças que ficam paradas no campo e que não percebem nada do jogo. Estão presentes nas competições mas não participam do jogo e das jogadas, ou porque, são mais novas ou porque estão menos desenvolvidas em diversos factores. Talvez não fosse a altura de colocá-las no jogo.” Um ponto discordante entre os treinadores refere-se ao estabelecimento de critérios para definir que crianças e jovens participariam de competições de forma regular. Justificam, aqueles que são contra a adopção de critérios, não encontrarem uma relação entre a prestação desportiva e a idade cronológica, por entenderem limitar a oportunidade de participação e pela razão de que a participação em competições nestes escalões deve atender aos objectivos da formação e não aos do rendimento. “Não adoptar critérios para definir quem deveria competir. Eu penso que a idade cronológica não é um bom critério. Por que não está directamente relacionada com o desenvolvimento dos aspectos coordenativos, maturacionais e cognitivos. Apresentamse de forma distinta entre as idades.” “Não adoptaria nenhum requisito para determinar que poderia ou não entrar em competição. Acho que todos devem participar da competição. Miúdos magrinhos, gordinhos, sem coordenação, todos têm que experimentar a competição.” “No caso do rugby quando se fala em banjamins, babis e infantis não damos valor à componente competitiva propriamente dita, procuramos é uma formação da criança no seu todo. Por isso não adoptamos critérios ou pré requisitos para participação em 157 competições, porque o objectivo é participar, não se valoriza a prestação.” 4.1.3. Directivas e Orientações Pedagógicas 4.1.3.1. Acesso à competição Em relação ao acesso à competição, verificámos na percepção dos treinadores, quais os critérios que deveriam ser utilizados para definir a convocação e a participação na competição das crianças e jovens. Quadro 24 – Acesso à competição por modalidades desportivas Quem é convocado Modalidades Todos Diferenciado Quem participa na competição Todos por escalões Diferenciado por escalões Andebol 1 2 1 2 Atletismo 3 0 3 0 Basquetebol 3 0 3 0 Futebol 2 1 1 2 Ginástica 3 0 3 0 Judo 3 0 3 0 Natação 3 0 3 0 Rugby 3 0 3 0 Ténis de mesa 3 0 3 0 Voleibol 3 0 2 1 Total 27 3 25 5 90% 10% 83% 17% % Através dos resultados apresentados no quadro, verificamos que a maioria dos treinadores (90%), sugerem que todos devem ser convocados nestas idades para a competição. Quanto a participarem na competição, 83% dos treinadores concordam que todos os jovens atletas que foram convocados devem participar dela. 158 Em seu entendimento acham que tanto a organização da competição como os próprios treinadores devem garantir os princípios fundamentais de todos terem as mesmas oportunidades de participação, de os objectivos da competição deverem estar subordinados aos objectivos do treino e que todos devem ter, de forma regular, experiências competitivas nestes escalões, garantido também o prazer e a alegria em sua participação. “Eu diria que estes objectivos de competição devem subordinarse aos objectivos do treino nestas idades. Quer dizer que nunca pode acontecer de haver uma competição que perturbe aquilo que eu defini para o trabalho com os meus miúdos nestes escalões etários. Se eu valorizo imenso no treino destes miúdos a alegria e a participação equilibrada e imparcial de todos, um relacionamento, meu com eles, é baseado em que todos tenham que participar e todos tenham de ter as mesmas oportunidades. Todos têm possibilidades de expressar e de viver aqueles momentos, não pode haver uma competição que me perturbe essa posição.” “O que devemos é saber que no escalão de iniciados é impossível nós tirarmos conclusões acertadas sobre aquilo que aquele miúdo vai apresentar daqui a dez anos. Como isso não é possível, nós devemos criar nos escalões mais baixos a possibilidade de todos competirem tanto quanto possível. Quanto mais competirem melhor.” “Quando o treinador não põe o resultado à frente tem várias alternativas para fazer esses arranjos, sobretudo ligados a estes escalões, ligados ao princípio da ideia chave, que é, a todos deve ser dada a oportunidade.” 159 “Como nos clubes as escolinhas têm grande número de praticantes, ao formar uma equipa apenas com os melhores para ir às competições, aqueles que não foram seleccionados não vão ter a mesma oportunidade de desenvolver um dos aspectos fundamentais nestas idades, que é o prazer de jogar e experimentarem determinadas situações muito importantes, que é o jogo.” Porém, constatamos uma posição contrária, embora de forma reduzida, existente na percepção dos treinadores. Tanto a convocação das crianças e jovens (10%), quanto a participação competitiva (17%), devem ser diferenciadas por escalões. Referida, nomeadamente, por treinadores das modalidades de andebol e futebol, principalmente nos escalões de maior idade, 13 e 14 anos, em que, adoptam como critério de selecção a prestação desportiva dos jovens atletas. No entanto, quando há limitações para o acesso à competição, impostas pela organização da competição, estabelecendo o número de atletas, de equipas ou de substituições, assim como, as limitações devidas à logística de transporte ou quando os treinadores estabelecem objectivos competitivos diferenciados entre os escalões, os treinadores adoptam os seguintes critérios para seleccionar as crianças e jovens, descritos na figura abaixo. Figura 21 – Critérios de escolha para a participação na competição 160 De acordo com os aspectos apresentados pelos treinadores, configuramos quatro grupos de critérios para escolha dos jovens: os aspectos da aptidão, os aspectos referentes aos valores, o tempo de prática e a organização da competição. Destes, os que se destacam com uma frequência maior são os aspectos relacionados com a aptidão e prestação desportiva, (50%), evidenciando que os treinadores, em condições impostas pela organização da competição ou de seus objectivos na competição, seleccionam as crianças e os jovens a partir do seu desempenho, das suas capacidades, do domínio técnico, do seu potencial e da sua aptidão para participar da competição. “Todos os miúdos podem participar. Se tivesse que eventualmente seleccionar alguns miúdos, eu iria seleccionar aqueles que melhor dominam a técnica neste período. A competição auxiliaria na melhoria das capacidades técnicas deles. Os outros, não seleccionados, através do trabalho de treino, desenvolveram essas capacidades técnicas.” “A minha ideia é que nas competições até aos 12 anos devo levar todos e todos devem jogar. Isso deveria ser até ao escalão de infantis. No escalão de iniciados julgo que já começa a ver uma selecção.” “A partir dos infantis já fazemos uma selecção, adoptamos algum critério de trabalho, a forma de ele estar no treino ou no jogo, mas, acima de tudo, já começa haver uma selecção natural, miúdos com mais potencial.” O segundo critério de selecção mais evidenciado refere-se aos aspectos ligados aos valores (40%), como a frequência e assiduidade nos treinos, o empenho no treino, o comportamento e o espírito de equipa. 161 “Todos devem ser convocados, mas se não puder levar todos, o critério de escolha é a frequência nos treinos, independentemente de serem os melhores jogadores. Eles têm que habituar-se a ter valores. Primeiro o homem depois o atleta. Todos os que foram à competição vão participar dos jogos. Não há diferenças entre os escalões.” “Havendo uma selecção, a competição deverá ser para aqueles que são mais aptos, aqueles que trabalham mais, aqueles que têm assiduidade aos treinos, aqueles que cumprem as regras importantes de equipa, que são o empenho máximo no treinos, participar activamente nos treinos, ser companheiro e colaborante e ter espírito de equipa.” “Todos que treinam regularmente devem ir e participar das competições. No atletismo temos essa possibilidade, mas em uma competição por equipa, que tem um número limitado, devem ser adoptados dois factores: a capacidade do miúdo e se vem regularmente aos treinos.” “Se puderem ir todos vão todos. Se não puderem, vão aqueles mais assíduos no treino. Todos os que forem convocados devem entrar na competição, nestes escalões. O atleta que é forte tem que ir ao treino para ajudar os outros. A questão da assiduidade, do empenho nos treinos e da pontualidade deve prevalecer, até porque são coisas simples que têm que durar para a vida toda.” Por último aparecem, com frequências inferiores, respectivamente (7%) e (3%) os critérios de selecção referentes ao tempo de prática e à organização da competição, ao carácter formal e informal, à regulamentação do número de inscritos e de substituições e ao enquadramento geográfico da competição. 162 “Há uma diferenciação entre os escalões. Esse tipo de competições é exclusivamente para iniciados. Mas também os iniciados têm essa competição formal e vão participar delas aqueles que têm mais tempo de prática de ténis de mesa e que apresentarem um desenvolvimento no seu jogo.” “Dependeria do limite imposto pela organização da competição. Na minha opinião, quem organiza as competições deve criar condições para que todos possam ir e participar delas. Deve ser aberta a todas equipas e atletas. Só a partir dos iniciados é que a competição pode ter um formato diferenciado, direccionado para participação dos mais aptos ou melhores, porque já estão preparados para isso.” 4.1.3.2. Estabelecimento do quadro competitivo No que se refere ao estabelecimento do quadro competitivo, verificamos no entendimento dos treinadores quais deveriam ser os critérios para escolher as equipas ou atletas que participariam no quadro competitivo em uma época desportiva. 163 Figura 22 – Critérios para definir a participação de uma equipa ou atleta no quadro competitivo Os resultados apontam que os treinadores, em suas percepções, definem três critérios para a escolha das equipas e atletas que configurariam o quadro competitivo: o nível de prestação desportiva, o tempo de prática e o grau de abertura das competições. Constatamos que o critério predominante, para o acesso à competição nos escalões iniciais, deveria ser o grau de abertura (73%), para que todos os clubes pudessem inscrever suas equipas e atletas, independentemente do nível de prestação ou tempo de prática. Nos dois últimos escalões, terceiro (67%) e quarto (58%), destaca-se o critério nível de prestação, da equipa e atletas. “Nestes escalões não podemos negar a entrada na competição a ninguém, porque não sabemos o que essa criança vai ser amanhã. Agora compete ao treinador gerir a qualidade de inscrição de seus nadadores.” 164 “Nestas idades acho que não é necessária qualquer qualificação para participar das competições, qualquer atleta pode participar, são provas abertas. O nível do atleta fica a critério do treinador. A competição é aberta aos iniciados, infantis e cadetes, depois temos uma prova absoluta em que podem participar, todos os escalões. Os atletas iniciados podem participar no escalão de infantis, os infantis podem participar no seu escalão e no escalão de cadetes.” “O critério para definir as equipas que participariam da competição, no nível de rugby nacional, seria sempre aberto. Nestes escalões não se consegue quantificar ainda. Para mim não seria uma prioridade.” Os treinadores argumentam que, para os escalões iniciais, crianças com idades entre os 6 e os 11 anos, deve estar presente a condição de todos terem acesso à competição, não só os de nível de prestação mais elevado, ou com maior tempo de experiência. Principalmente, porque nestas idades não conseguem quantificar ainda a performance deles. Entendem que a participação competitiva deve ser uma parte integrante da formação desportiva dos mais jovens. “Nestas etapas iniciais eu penso que não é correcto pensarmos que só participam os melhores. Isso vai contra os princípios que nós temos de todos participarem, todos entusiasmados, todos alegres, todos contentes.” “As competições devem ser abertas a todos na medida em que todos devem ter nestas idades a oportunidade de competir. Vamos guiar a competição como um momento de observação do treinador para ver como é que o miúdo se comporta, como é que nós podemos ir alterando algumas situações, nomeadamente em termos técnicos, como formação pessoal para ver como ele cresce enquanto atleta.” 165 “Porque tem a ver com aquele princípio de que a prestação não deve ser o principal objectivo e para nós fazermos competições a nível nacional teríamos que definir mínimos e se estivermos a definir mínimos estaremos a definir que a prestação é o principal objectivo. É impossível abrir uma competição nacional para participação de todos os cadetes. É incomportável.” Porém, para além da condição de todos poderem ter acesso à competição, era importante também que durante a competição houvesse uma busca pelo princípio do equilíbrio competitivo através do ajustamento das equipas pelo seu nível de prestação. “Pode haver aí uma competição aberta. Tendo oportunidade de compor o grupo que compete entre si, tentando alguma homogeneidade. Relativamente ao formato da competição deveria haver critérios que permitisse agrupá-los por níveis. O princípio do equilíbrio competitivo é essencial para a formação dos praticantes.” “À medida que vão perdendo ou ganhando vão encaixando em seu patamar, tendo uma segunda fase no torneio para que possamos ajustar as crianças em seus níveis, isso feito por apuramento de vencedores e apuramento de perdedores.” Constatamos, também, que há dois grupos de treinadores com posicionamentos diferenciados, em relação à definição de critérios para o estabelecimento do quadro competitivo. O primeiro grupo de treinadores, nomeadamente das modalidades de ginástica, natação e ténis de mesa, defende como critério de selecção mais ajustado para estes escalões, o grau de abertura das competições, pelo motivo de garantir o princípio da igualdade de oportunidades. O segundo grupo, de treinadores das modalidades de futebol e rugby, acordam que o critério mais justo, para estabelecer o quadro 166 competitivo para as crianças e jovens nos escalões de formação seria o nível de prestação, da equipa e atletas. A adopção deste critério é justificada pela importância de defender o equilíbrio competitivo a priori, evitando com isso grandes discrepâncias entre as equipas durante o processo competitivo e por defenderem a ideia de que os atletas e as equipas só conseguem evoluir se tiverem níveis de capacidades aproximados. “Sobre a forma de organização das competições, deve haver um equilíbrio competitivo, deve ser organizada levando em consideração o nível que as equipas apresentam. Porque os atletas e as equipas só evoluem quando tiverem níveis de capacidades aproximados. Quando existir uma diferenciação muito grande o que acontece é uma desmotivação, que não interessa a nenhuma das equipas.” “O critério é o nível de execução técnica. Nos escalões infantis, acho que é importante ter momentos de competições, mas temos que ter cuidado de identificar o tipo de disciplina que vai fazer, que lhe é apresentada. O miúdo deve apresentar capacidades técnicas para o fazer. Sua participação na disciplina parte do pressuposto que a formação técnica dele está minimamente organizada. Deve apresentar o nível mínimo de execução técnica. Deve apresentar os requisitos mínimos para participar, para não se magoar e gostar do que está a fazer, sentir-se à vontade.” “Acho que principalmente nestes escalões mais baixos a idade biológica não corresponde à idade cronológica e realizar um enquadramento competitivo pela idade biológica é difícil. Não sendo possível isso, acho que dentro da idade cronológica englobá-los por nível de capacidade ou seja, o nível de capacidade das equipas é que deve estar na origem do funcionamento das equipas. Mesmo em termos de processo de 167 treino, o nível de capacidade do aluno deve ser aquilo que deve dirigir o enquadramento dos alunos. Mesmo dentro de um mesmo escalão, de dois anos, há níveis diferenciados e, de facto, há de que estimulá-los e a estimulação em níveis de capacidades diferentes.” Cabe aqui destacar também que a presença do tempo de prática como critério para participar da competição nos escalões de formação é justificada apenas pelas opiniões dos treinadores da modalidade de judo. “Acho que não deve haver ranking. Nestes escalões, em concreto, não há obrigatoriedade do tempo de luta. O treinador é que sabe se ele está pronto, isso depende do seu tempo de prática.” 4.1.3.3. Participação Mista Em relação à participação mista nas competições, verificámos se os treinadores concordavam com a participação de rapazes e raparigas em conjunto na competição e até que escalão poderia ser desta forma. 168 Quadro 25 – Participação mista nas competições durante as etapas de formação desportiva. Resposta dos treinadores Concordância com a participação mista em cada escalão Modalidades 1º 2º 3º 4º Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Andebol 3 0 3 0 2 1 0 3 Atletismo 3 0 3 0 3 0 - - Basquetebol 3 0 2 1 1 2 - - Futebol 3 0 2 1 0 3 - - Ginástica 1 2 1 2 - - - - Judo 3 0 2 1 2 1 0 3 Natação 3 0 3 0 - - - - Rugby 3 0 3 0 3 0 1 2 Ténis de mesa 3 0 3 0 - - - - Voleibol 3 0 2 1 0 3 0 3 Total 28 2 24 6 11 10 1 11 93% 7% 80% 20% 52% 48% 8% 92% % Relativo Os resultados revelaram que, nos dois primeiros escalões, há uma concordância por parte dos treinadores com a participação de rapazes e raparigas em conjunto na competição, com excepção dos treinadores da modalidade de ginástica. Porém, no terceiro escalão, encontramos posicionamentos diferenciados entre os treinadores. Nas modalidades de andebol, atletismo, judo e rugby, os treinadores consideram que neste escalão ainda podem participar juntos. Mas, a partir do quarto escalão entendem que devem ser separados. Todavia, os treinadores das modalidades de basquetebol, futebol e voleibol, afirmam que a participação mista nas competições deve ser até ao segundo escalão. A partir dos 12, 13 anos de idade, ou seja, a partir do terceiro escalão, devem competir separados. “Nos minis e bambis sim, podem participar juntos a partir do minis. À medida que vamos subindo na idade a diferença física é cada vez maior e portanto não faz muito sentido.” 169 “Devem participar em conjunto até ao escalão de infantis. A partir dos iniciados já deveria haver uma separação, porque há muitas diferenças entre rapazes e raparigas principalmente em termos de maturação.” “Podem participar até ao escalão de infantis. Depois as capacidades começam a ser diferentes. Não faz sentido estar a limitar e deixar que alguns progridam e outros não.” Na opinião dos treinadores as principais finalidades da participação de rapazes e raparigas em conjunto na competição seriam de propiciar um convívio social, desenvolver valores e aumentar o número de oportunidades de participação em competições, de forma a complementar sua formação. “Sou a favor, é de todo conveniente. Em relação aos escalões de iniciados penso que poderia haver competições mistas. Minis A e B têm competições mistas. Principalmente pelo número reduzido de raparigas que tem em muitos clubes dificultando a formação de equipas.” “Os minis A e B devem competir em conjunto, porque socialmente ainda há um grande afastamento de rapazes e raparigas.” “Deveria haver competições mistas, estafetas em conjunto, provas de velocidade, provas de saltos, em que a brincadeira, provocada pela diferenças dos sexos, pudesse conter aspectos formativos. Estimulando uma diversidade capaz de desenvolver o espírito de amizade e o relacionamento entre as crianças.” As razões apresentadas pelos treinadores de ginástica para não concordarem com a participação mista nas competições decorrem principalmente, dos 170 objectivos específicos para estes escalões e da estrutura e regulamentos da competição. “Não, em função da multilateralidade, talvez nas competições internas, nas menos formais, mas com algumas restrições.” “Na competição não, porque é diferente a competição para os dois sexos. São diferenciadas no número de aparelhos e não têm as mesmas regras.” 4.1.3.4. Importância atribuída aos resultados Figura 23 – Importância dos resultados na competição por escalões Quanto à atribuição de importância aos resultados nas competições em cada etapa da formação desportiva, constatamos, que no primeiro escalão não deve ser atribuída grande importância aos resultados. Os aspectos da formação são mais importantes nesta etapa de preparação preliminar. Nota-se, que a importância creditada aos resultados competitivos é crescente, conforme o 171 aumento do escalão. Passando de pouco importante, no segundo e terceiro escalão, para muito importante no quarto escalão. Com o crescimento do nível de preparação e o aumento da prestação desportiva, os resultados na competição começam a ter uma importância acrescida, servindo de parâmetro para avaliação do processo de treino. Entretanto, os treinadores afirmam que a valorização dos resultados competitivos deve acontecer de forma progressiva, conforme o crescimento e a evolução das crianças e jovens dentro da modalidade desportiva. Cabe aqui destacar que para alguns treinadores, das modalidades de futebol, basquetebol e ténis de mesa, desde muito cedo, nos dois primeiros escalões, os resultados na competição são considerados muito importantes. Enquanto que a atribuição de pouca importância aos resultados é uma opinião predominante no primeiro escalão dos treinadores da modalidade de ginástica e no segundo escalão, dos treinadores das modalidades de ginástica, natação e rugby. 4.1.3.5. Valores do desporto e da competição Importância atribuída aos valores e atitudes que podem ser desenvolvidas nas crianças e jovens com a prática desportiva competitiva nestas etapas de formação. 172 Quadro 26 – Importância atribuída aos valores do desporto e da competição para a formação desportiva desvio menor maior média padrão valor valor 1Ser justo, honesto não enganar 4,9 ,35 4 5 2 Ser companheiro, estar com os amigos 4,6 ,50 4 5 3 Ter compaixão, preocupar-se com as pessoas ao meu redor 4,2 ,79 2 5 4 Integrar-se no grupo, demonstrar conformidade 4,6 ,50 4 5 5 Ser consciencioso, dar o máximo, fazer o melhor 4,8 ,41 4 5 6 Empenhar-se, ser persistente, perseverante 4,8 ,48 3 5 7 Ter prazer, divertir-se 4,8 ,43 4 5 8 Jogar bem 4,0 ,87 1 5 9 Tornar-se mais apto e mais saudável pelo desporto 4,5 ,51 4 5 10 Ser obediente, fazer o que lhe pedem 4,2 ,61 3 5 11 Ter realização pessoal, faz o melhor que pode 4,5 ,63 3 5 12 Ter boa imagem pública, parecer bem, as pessoas gostam de mim 3,3 ,83 1 4 13 Ter auto realização, sentir-se bem quando joga 4,6 ,56 3 5 14 Exibir competências e habilidades, realizar bem as habilidades técnicas 4,1 ,55 3 5 15 Mostrar desportivismo, ser educado, não ser um mau perdedor 4,8 ,41 4 5 16 Ser coeso, incentivador e encorajar a equipa quando as coisas são difíceis 4,6 ,50 4 5 17 Ser tolerante, envolver-se com os outros mesmo não gostando deles 4,2 ,59 3 5 18 Superar e ganhar aos outros 3,3 1,06 1 5 Valores e atitudes na participação desportiva De acordo com os resultados do quadro, verificámos que os treinadores consideraram os valores e atitudes, apresentados no questionário, como importantes e muito importantes para serem desenvolvidos nestes escalões, com excepção de dos itens, imagem pública (12) e ganhar (18), que foram considerados pouco importantes. Para melhor analisarmos os resultados elaborámos uma estrutura de valores, através da ordenação dos valores, avaliados quanto ao grau de importância, de maior a menor importância segundo a pontuação obtida no questionário. 173 Quadro 27- Estrutura de valores e atitudes no desporto e na competição Ranking Valor Média Classificação 1 Ser justo, honesto 4,9 Muito importante 2 Ser consciencioso 4,8 Muito importante 2 Empenhar-se 4,8 Muito importante 2 Divertir-se 4,8 Muito importante 2 Mostrar desportivismo 4,8 Muito importante 6 Ser companheiro 4,6 Muito importante 6 Conformidade 4,6 Muito importante 6 Auto realização 4,6 Muito importante 6 Ser coeso com a equipa 4,6 Muito importante 10 Saúde e forma física 4,5 Muito importante 10 Faz o melhor que pode 4,5 Muito importante 12 Ter compaixão 4,2 Importante 12 Ser obediente 4,2 Importante 12 Ser tolerante 4,2 Importante 15 Exibir habilidades 4,1 Importante 16 Jogar bem 4,0 Importante 17 Ter boa imagem pública 3,3 Pouco importante 17 Ganhar 3,3 Pouco importante Dentre os valores avaliados, quanto 27 à sua importância para serem desenvolvidos nas crianças e jovens com a prática desportiva competitiva, o item que se destaca com maior pontuação, é o de ser justo, honesto e não enganar. Ainda dentro deste mesmo nível de classificação, muito importante, são referidos dez itens. Seguindo a ordenação, aparecem cinco valores que são considerados importantes neste processo de formação desportiva. Por fim, são evidenciados dois itens, o de ter boa imagem pública e o item ganhar, considerados pouco importantes para serem desenvolvidos nas crianças e jovens destas etapas da formação. 174 4.1.3.6. Funções das competições Figura 24 – Funções das competições Constatamos que, na importância atribuída as funções das competições durante o processo de formação desportiva, os treinadores conferiram uma importância maior aos aspectos psicológicos e sociais, como: propiciar a obtenção de sucesso e a superação, permitindo com isso às crianças e jovens a construção da auto-imagem e auto-estima, adquirir e desenvolver valores para sua futura vida em sociedade, estar com seus amigos e fazer novos amigos, assim como, criar condições para que os mais jovens alcancem seus objectivos. No entanto, a função de criar junto dos amigos, dos pares e de terceiros uma boa imagem social é considerada pelos treinadores como aspecto de menor importância. Cabe aqui destacar a diversidade que encontramos na atribuição de importância à função da competição em propiciar para às crianças e jovens a comparação das suas capacidades com as suas e com as dos outros. Um percentual de treinadores (56,7%), entende que é importante a competição desempenhar essa função. No entanto, aparecem treinadores que discordam desta concepção, principalmente pela razão de que nestas etapas da formação é muito cedo para que as crianças e jovens 175 comecem a comparar as suas capacidades com as dos outros. A competição, nessa fase, não teria esta função. 4.1.4. Objectivos da competição Verificamos, no entendimento dos treinadores, o que deveria distinguir, em termos de objectivos, a competição das crianças antes dos 13-14 anos das competições dos escalões mais velhos. Quais seriam as prioridades na orientação, em termos de preparação e participação competitiva dos mais jovens nos diferentes escalões, assim como, a evolução dos objectivos ao longo dos escalões. A associação das informações, referentes dos intervalos de idade de permanência em cada escalão e à percepção do treinador acerca dos respectivos objectivos do treino e da competição, nos permitiu verificar a média dos anos da formação dedicados à participação no treino e nas competições com orientações diferenciadas. 4.1.4.1. Distinção nos objectivos das competições Ao analisarmos os depoimentos dos treinadores verificamos que as diferenças mais evidenciadas entre os objectivos da competição para as crianças e jovens até 14 anos e para os escalões mais velhos correspondiam à lógica do processo de treino. Nos mais novos este deveria ser centrado na formação, enquanto que nos mais velhos o treino deveria ser organizado em função dos resultados na competição. Outro aspecto de distinção refere-se à importância atribuída aos resultados. Nos escalões mais velhos o resultado na competição é preponderante, enquanto que nos escalões mais baixos o resultado da competição nunca deveria estar à frente da sua formação. Os treinadores defendem que, nestes escalões, motivá-los para a prática e dar oportunidades iguais de participação e de experiências competitivas é o mais importante. A competição, neste caso, não se constitui como objectivo em si mesma. É entendida como um instrumento de avaliação do treino, um complemento da 176 formação e da preparação a longo prazo. Encontramos também um consenso entre os treinadores de que a competição deveria ser uma intervenção pedagógica, principalmente porque os miúdos encaram a competição de uma maneira diferente dos adultos: é para eles essencialmente um convívio, um encontro com os amigos, uma oportunidade de se divertirem e fazerem novos amigos. “A competição para estes escalões não é importante, ao contrário do que representa para os outros escalões acima. Para mim o que é mais importante para estes escalões será eles tomarem o gosto pela prática e quererem mais, ou seja, voltarem ao próximo treino mais motivados.” “Nestes escalões, o objectivo da competição deve ser a formação das crianças e dos jovens, devendo ser desenvolvido de forma gradual e progressiva, de acordo com o desenvolvimento e capacidade deles. Nos juvenis, juniores e seniores o objectivo é o resultado na alta competição.” “O treino não é propriamente a preparação para nenhuma competição em particular. Acho que é uma diferença fundamental” 4.1.4.2. Prioridades na orientação da participação competitiva dos mais jovens Em relação às prioridades que devem orientar a participação competitiva das crianças e jovens, entende a maioria dos treinadores que, para o primeiro escalão, as competições devem atender só aos objectivos da formação. Essa orientação apresenta um decréscimo de sua importância à medida que aumenta o escalão. A partir do segundo escalão começam a estar presentes os resultados competitivos, mas, afirmam os treinadores, a ênfase maior deve ser 177 na formação mais que nos resultados da competição. Nota-se um crescimento progressivo dessa orientação para a participação competitiva dos mais jovens, associado à troca de escalão. 100% 19 80% 60% 46,7 75 80 71,4 40% 53,3 20% 20 9,5 0% 1º escalão 2º escalão 3º escalão 25 4ºescalão só formação mais enfase na formação que nos resultados nas competições mais enfase nos resultados nas competições que na formação Figura 25 – Prioridades que devem orientar a participação competitiva por escalões das modalidades em geral A participação competitiva com objectivos centrados mais na obtenção de resultados na competição, do que na formação, aparece com percentuais baixos no terceiro e quarto escalão. Evidenciando a pouca importância atribuída aos resultados competitivos nestas etapas de formação. Entende a maioria dos treinadores que para estes escalões da formação, a participação competitiva deve ser orientada pelo objectivo da formação do jovem atleta. O objectivo com ênfase nos resultados não deve ser prioritário. 178 4.1.4.3. Prioridades na orientação da preparação dos mais jovens para a competição Na figura são apresentados os valores percentuais relativos à percepção dos treinadores acerca dos objectivos formativos que deveriam orientar a preparação para a competição, referenciadas a cada escalão etário das modalidades. 100% 16,7 23,8 80% 46,7 60 60% 50 57,1 40% 20% 0% 40 33,3 6,7 13,3 19 1º escalão 2º escalão 3º escalão 33,3 4ºescalão só preparação multilateral mais preparação multilateral do que especializada mais especializada do que multilateral Figura 26 – Objectivos que devem orientar a preparação para a competição por escalões, nas modalidades em geral Os resultados revelam que a preparação para as competições nos dois primeiros escalões é predominantemente pautada por uma preparação exclusivamente multilateral. Nos escalões seguintes a preparação só multilateral vai diminuindo a sua frequência e começa a destacar-se a preparação mais multilateral que especializada. Também, de forma progressiva mas com valores percentuais inferiores, nota-se um crescimento da preparação mais especializada do que multilateral. A preponderância da preparação multilateral como objectivo orientador para participar da competição nestes escalões é justificada pelos treinadores principalmente pela importância que deve ter uma formação ampla, diversificada e a longo prazo, onde o processo 179 de treino e a intervenção do treinador não sejam condicionadas pelos resultados na competição. Nestes escalões a competição deve auxiliar o treino e o resultado na competição aparece devido a uma progressão individual do atleta e do colectivo relacionada com o nível de desempenho do atleta e o seu tempo de prática. “A prioridade da competição deve sempre contribuir para que se possam concretizar os distintos objectivos da formação e preparação a longo prazo. Deve atender ao princípio da preparação a longo prazo. Quando se diz só formação estou sempre a ver também o momento de competição, e com a devida importância.” “Eu tenho uma visão própria a cerca das questões da competição. Eu não acho que os objectivos da competição devam ser diferentes para o escalão dos iniciados e para o escalão de seniores, neste sentido o objectivo da competição é vencer. O caminho para lá chegar vai depender daquilo que são os objectivos de formação.” “Os objectivos que defini como importantes no treino, devem ser aplicados com eficácia na competição. Observando também, o cumprimento dos objectivos a médio e a longo prazo.” 4.1.4. 4. A evolução dos objectivos ao longo dos escalões Tanto os objectivos da competição, quanto as orientações da preparação para a participação competitiva apresentam uma evolução progressiva de acordo com a mudança de escalão. Argumentam os treinadores que, com o crescimento e a evolução dentro da modalidade, influenciados principalmente pelas aprendizagens e experiências vividas, com a participação em diferentes 180 níveis competitivos e com as mudanças no processo de treino, devem os objectivos competitivos e de preparação acompanhar estas mudanças. “Basicamente poderá haver uma progressão de um ano para outro em termos de distância e exigência das provas que irão nadar, em termos de objectivos. Devem evoluir para um grau de exigência perante um ou outro factor, mas penso que o resultado ainda não deverá ser o objectivo principal.” “Nestes escalões o objectivo competitivo da vitória não se coloca. Mas, de facto, deve começar, progressivamente, a ver uma maior consistência na aprendizagem de aspectos técnicos tácticos relacionados com cada uma das provas.” “Nos escalões que aqui estão considerados, entendo que deve haver uma diferenciação nos conteúdos do treino e da competição. Principalmente na sequência, na sua distribuição, quer em quantidade, quer complexidade.” 181 em natureza e também em 4.1.4.5. Anos da formação dedicados à participação no treino e nas competições com orientações diferenciadas Figura 27 – Média dos percentuais dos anos da formação dedicados à participação competitiva nas orientações diferenciadas Os resultados evidenciam que os treinadores dedicam um tempo médio maior, da formação do seus praticantes, para às participações competitivas cujo objectivo é voltado só para a formação (54%) e às competições em que as orientações têm mais ênfase na formação que nos resultados (42%). Quanto às competições com mais ênfase nos resultados que na formação, é dedicado muito pouco tempo dos anos da formação (4%). Em relação à preparação para a competição, observamos que tanto a preparação só multilateral (43%), quanto o treino mais multilateral que especializado (44%), têm um tempo médio maior de dedicação nestes escalões de formação. Diferenciando-se do tempo dedicado à preparação mais especializada (13%). 182 Figura 28 – Média dos percentuais dos anos da formação dedicados à preparação para a competição nas orientações diferenciadas Dentre as diferentes modalidades analisadas encontramos um grupo formado pelo atletismo, judo, basquetebol, natação e rugby, que dedica maior tempo dos anos da formação só à preparação multilateral. Diferentemente, a modalidade de futebol foi a única a apresentar um tempo médio maior nos anos de formação dedicados à preparação mais especializada que multilateral. 4.1.5. Sistema de pontuação e classificação Verificamos neste tópico: 1º A concordância dos treinadores com a participação de crianças e jovens, dos escalões de formação, em competições voltadas ao apuramento do campeão nacional. 2º O entendimento dos treinadores relativo à atribuição de prémios. 3º Que critérios deveriam ser adoptados para garantir a participação das equipas ou atletas com prestações mais baixas nas fases seguintes da competição. 4º Quando poderiam ser introduzidas as provas à eliminar, a partir de que escalão. 183 4.1.5.1. Competições voltadas para o apuramento do campeão nacional Quadro 28 - Apuramento para o campeão nacional por escalões e modalidades desportivas: as respostas dos treinadores. Apuramento Concordância com apuramento para o campeão nacional por escalões 1º Escalão Modalidade 2º Escalão 3º Escalão 4º Escalão Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Andebol 0 3 0 3 0 3 1 2 Atletismo 0 3 0 3 0 3 - - Basquetebol 0 3 0 3 1 2 - - Futebol 0 3 0 3 3 0 - - Ginástica 0 3 0 3 - - - - Judo 0 3 0 3 0 3 0 3 Natação 0 3 0 3 - - - - Rugby 0 3 0 3 0 3 0 3 Ténis de mesa 0 3 1 2 - - - - Voleibol 0 3 0 3 1 2 2 1 Total 0 30 1 29 5 16 3 9 0% 100% 3% 97% 24% 76% 25% 75% % Relativo Os resultados do quadro 28 evidenciam que os treinadores entendem que não faz sentido crianças e jovens nestas etapas de formação participarem em competições cujo objectivo é voltado para o apuramento do campeão nacional. Principalmente pela interferência no processo de treino, levando a uma especialização precoce na sua preparação. Para além desta justificativa, os treinadores revelam que os gastos nas deslocações são demasiado elevados. No entanto há uma sobrevalorização destas competições por parte dos dirigentes, treinadores e pais. Outro factor apresentado, revela que estas competições são organizadas com processo de eliminação, inviabilizando o princípio da igualdade de participação de todos. Por isso, a grande maioria dos treinadores (75%) sugerem que só faz sentido o apuramento do campeão nacional a partir dos escalões de juvenis e juniores. 184 “A especialização das competições conduz à especialização da preparação. Isso interfere, na harmonia da preparação não específica dos jovens e na perspectiva do desenvolvimento a longo prazo. Portanto, não faz sentido o apuramento do campeão nacional para estes escalões.” “Acho que só poderiam participar quando percebessem o que têm que fazer na competição. Devem estar preparados para as falhas, derrotas e vitórias. Quando começarem a ficar mais adultos, em termos psicológicos e quando puderem suportar cargas de treinos mais elevadas. Por isso, o apuramento do campeão nacional, pode ser a partir do escalão de juvenis (16, 17 anos).” “Nestes escalões, não deveriam participar de competições nacionais. Pelas razões, de levarem os treinadores e dirigentes a pensarem que à competição nacional, a semelhança do que acontece nos adultos, é o culminar, é a coisa mais importante e é a única que é importante. Por terem um carácter eliminatório, o que acho negativo para esses escalões etários.” Entretanto, verificamos que os treinadores de duas modalidades, o futebol no terceiro escalão e o voleibol no quarto escalão, concordam com a participação dos jovens em competições com apuramento do campeão nacional. Particularmente influenciadas pela organização do quadro competitivo da federação, em que já existe um encaminhamento para a formação de selecções nacionais. Argumentam os treinadores que o problema não está no apuramento do campeão nacional, mas sim nas pressões exageradas que os treinadores, dirigentes e o tipo de arbitragem exercem sobre os jovens atletas. 185 “Acho que o apuramento para o campeão nacional só deve ser feito a partir dos iniciados. Até porque os iniciados têm atletas que vão à selecção” “O apuramento para o campeão nacional já poderia ocorrer a partir dos iniciados. Não vejo nenhum problema nisso desde que as pessoas que estão no processo entendam o que isso vale.” “O problema é a pressão que os treinadores colocam aos atletas, a forma como tentam dar a volta aos regulamentos, a forma como a arbitragem é questionada, a forma como os dirigentes pressionam os treinadores. É o envolvimento em si que está errado. Se eles têm capacidade de jogarem com equipas de igual capacidade não tem problemas.” 4.1.5.2. Atribuição de prémios Com base na figura apresentada, podemos dizer que a orientação predominante no entendimento dos treinadores para atribuição de prémios nestes escalões é de que todas as crianças e jovens que participam nas competições deveriam receber prémios, sem ocorrer diferenciações. Na perspectiva dos treinadores a atribuição de prémios para estes escalões de formação deve ser alargada e diversificada, sendo o mais abrangente possível. 186 Figura 29 – Atribuição de prémios por escalões Todos devem ser premiados, argumentam os treinadores, principalmente pelas razões de que as crianças e jovens praticantes devem sentirem-se contentes e recompensados pelo que fizeram no treino. Nestas etapas de formação os valores e a formação têm uma importância maior do que os resultados na competição. Outro factor destacado pelos treinadores se refere à necessidade de se desenvolver uma cultura desportiva. Investir nestes escalões para definir o campeão ainda é demasiado cedo, porque é problemático nesta etapa tentar predizer se estes que ganham agora são os que serão mais adiante os melhores atletas. “Acho que todos que participam nas competições deveriam receber prémios, medalhas ou algo simbólico, mas sem diferenciá-los.” “Embora para eles seja importante definir quem ganha, são muitos justos. Deveríamos achar uma forma de premiar também os que não ganham. Mesmo os que não ganham as provas, por em termos físicos serem imaturos, também demonstram uma 187 evolução, uma mudança no treino e na competição e por isso, deveriam ser premiados.” “Não faz sentido atribuição de prémios só pelo resultado das competições. Sou contra a atribuição de prémios em dinheiro para estes escalões.” “Os prémios individuais, materiais quando são só para os melhores contrariam aquilo que nós pretendemos dos objectivos do treino que todos eles tenham satisfação, tenham prazer. Eu defendo que haja prémios para todos que estão na competição.” No entanto, para uma pequena parcela de treinadores, a partir do segundo escalão, pode-se realizar uma distinção na atribuição de prémios. As modalidades que evidenciaram esta orientação foram o ténis de mesa e o futebol para o segundo e terceiro escalões e o voleibol para o terceiro e quarto escalão. Para os treinadores destas modalidades é importante desde cedo as crianças e os jovens perceberem que têm que estar sempre procurando melhora, superar-se e progredirem nos treinos para atingir o nível daqueles que obtêm os melhores resultados. Diferenciá-los é reconhecer o trabalho e o nível em que o atleta se encontra e o critério mais justo para sua distinção seria o resultado na competição. “Acho que só os primeiros devem receber. Os outros poderão receber presentes mas não prémios de mérito, porque acho que é importante desde novos começarem a ter consciência que têm que fazer tudo para ser aquilo que eles são.” “A distinção na atribuição de prémios serve para motivá-los a quererem superar-se, a perseverar e a querer treinar mais. Os prémios poderiam não ser só medalhas ou troféus, algo mais que distinguir as melhores equipes.” 188 “Eu penso que a partir dos infantis essa diferenciação e atribuição de prémios pelo resultado pode ser estabelecida.” Entretanto encontramos duas posições distintas no que se refere ao entendimento dos treinadores sobre a atribuição de prémios individualizados. Há os que defendem que devem ser atribuídos prémios de forma individual por desempenho, por disciplina, pelo desportivismo. “Não vejo inconveniente na atribuição de prémios individuais, desde que os prémios individuais sejam alargados. No caso dos escalões mais baixos premiar a combatividade, o comportamento, a superação. Nós temos é que reflectir para tentar uma mensurabilidade nestas questões. Quanto maior o número de prémios melhor, porque mais vão ser abrangidos por eles.” O outro grupo de treinadores, que têm um posicionamento contrário a essa orientação, principalmente das modalidades colectivas, alega que esse tipo de atribuição de prémio promove o individualismo, dificultando o trabalho em equipa, reforçando as distinções que ocorrem dentro do próprio grupo. Afirmam que a atribuição de prémios deveria ser sempre de forma colectiva com objectivos formativos e que em primeiro lugar devem estar os valores. O prémio teria um carácter apenas simbólico e que ao nível individual essa distinção seria feita pelas próprias crianças. “Sou a favor que todos recebam prémios, mas não sou apologista dos prémios individuais. Premiar o melhor jogador, o melhor marcador, cria um ambiente de pressão entre eles. Acabam por não jogar para equipa, não sendo colectivo. Acho que essa forma de premiar, individualmente, deve ocorrer mais tarde, quando for outro tipo de competição.” 189 “Nestes escalões não deve haver prémios individuais ou distinções, por exemplo o melhor jogador. Mas poderia ter prémios para equipa melhor organizada. O resultado nunca deveria contar como critério para atribuição de prémios, outros valores devem ter maior importância neste processo.” “Prémios individuais concordo. Os do tipo, melhor comportamento, não atletas têm que perceber que o bom comportamento deve ser demonstrado sempre nas competições. Portanto, eu não vou premiar o bom comportamento porque faz parte da formação deles.” 4.1.5.3. Critérios para garantir a participação nas fases seguintes da competição Quanto a este aspecto os treinadores apresentaram um consenso nas suas afirmações. Para eles os princípios norteadores devem ser o equilíbrio competitivo, ajustado pelo nível de prestação, a não ocorrência de eliminações durante a competição, garantindo a participação de todos de forma igual. Com isso, permitir-se-ia o sucesso de todos com a participação mais equilibrada com o seu nível. Defendem que a motivação e o gosto pela prática na modalidade estão directamente relacionados com o número de experiências competitivas, o que justifica a importância da continuidade da participação na competição. Para algumas modalidades como a ginástica e a natação, nestes escalões as competições ou torneios não são realizados em fases. Há um início e um final das provas na mesma competição onde todos participam. A adopção de critérios como rankings, pontuações ou tempos limites são criticados por estes treinadores, por serem critérios estanques, não levando em consideração o estágio de desenvolvimento do atleta ou da equipa e também por influenciarem o processo de treino dos escalões mais baixos, no sentido de prepará-los a curto prazo para atingir determinados índices ou pontuações. 190 “Primeiro não deveria haver eliminação das equipas e se fosse por fases devia-se dar oportunidade a todas as equipas de continuar a competir.” “Os ajustes por níveis não podem ser estanques nem definitivos. Estanque não quer dizer que não haja possibilidade de trocarem de posição ou de mudarem de nível. Com o passar do tempo, podem os grupos também alterarem seus níveis de rendimento, por isso não devem ser definitivos.” “Equilíbrio é uma característica determinante nas competições dos miúdos. Por isso é importante dar a oportunidade de voltar a integrar a competição com os do seu nível.” Mas, para uma parcela reduzida de treinadores, o critério mais adequado para passar à fase seguinte da competição, seria o nível de rendimento. Só quem obtivesse resultados melhores nos jogos ou provas é que deveria passar à fase seguinte. As equipas e atletas mais fracos não continuariam na competição, isso para os escalões de idades mais avançadas, 13 e 14 anos. Neste grupo os objectivos competitivos estão centrados no rendimento, com a presença de competições formais estruturadas, com eliminatórias e com a finalidade do apuramento do campeão. Diferentemente da concepção do primeiro grupo de treinadores, que está mais preocupado não só com o resultado, mas com a oportunidade de participação e com o equilíbrio competitivo. “Há aqui uma graduação da competição e há uma selecção natural: às melhores equipas vão passando sucessivamente as fases seguintes.” “Participam de provas com fases eliminatórias, tanto nas competições regionais, com apuramento das melhores equipas, 191 quanto nas competições nacionais. Isso só serve para o escalão de iniciados.” 4.1.5.4. Introdução de provas a eliminar Os resultados revelaram que os treinadores, em sua maioria, não concordam com a introdução de provas a eliminar para estes escalões de formação. Figura 30 – Concordância com à introdução de provas a eliminar por escalões Defendem os treinadores que a eliminação nas competições deve ser evitada, que as competições devem ser equilibradas pelo nível competitivo e permitir que todos tenham a mesma possibilidade de jogar o mesmo número de jogos. A introdução de provas a eliminar deve ocorrer a partir do escalão de juvenis. “Por ser escalões de formação nunca incluiria provas a eliminar. Se eu não sou capaz, vou jogar em um nível inferior.” “Para esses escalões etários não interessa, sou contra. Provas que permitam uma hierarquização sem eliminar, aceito.” 192 “A eliminação é uma das vertentes fortemente negada, agora tem sempre uma ordenação alguma hierarquização, é inevitável. O problema é quando essas expectativas locais assumem aspectos de dominância.” “Acho que nestes escalões não deve haver provas a eliminar. O que defendo é que deve haver provas que permitam a todos a mesma possibilidade de jogarem o mesmo número de jogos.” No entanto, alguns treinadores concordam com a inclusão de provas a eliminar no terceiro e quarto escalões. Principalmente, treinadores das modalidades de andebol e voleibol por acharem que os jovens destes escalões já estão preparados para competirem em provas com eliminação. “Penso que mais tarde, a partir dos escalões dos iniciados depois que vivenciarem estas primeiras experiências é que poderíamos introduzir essa variante da eliminação.” “As provas a eliminar nos escalões de minis e infantis não fazem sentido. Só poderiam ser introduzidas a partir do escalão de iniciados, porque o atleta já tem um certo nível técnico e um nível de jogo mais desenvolvido.” 4.2. Regulamento Nosso objectivo foi o de verificar o entendimento dos treinadores sobre dois aspectos relacionados com os regulamentos da competição para estes escalões da formação. O primeiro referente às adaptações das regras: verificámos a necessidade dos regulamentos das competições serem adaptados, a definição dos escalões em que deveriam ser adaptados e quais 193 seriam as mais importantes adaptações. Ainda dentro deste primeiro aspecto, apurámos o juízo que os treinadores fazem acercá da adequação das adaptações estruturais e do regulamento técnico pedagógico propostos pela federação, assim como, a avaliação sobre a necessidade de intervenção da federação no estabelecimento de normas técnicas e pedagógicas relativas aos conteúdos e processos de organização do jogo. No segundo aspecto, relativo à arbitragem apurámos quem deveria arbitrar, qual o carácter que deveria ter essa arbitragem e sobre a possibilidade de crianças e jovens desempenharem o papel de árbitro na competição. 4.2.1. Adaptação das regras 4.2.1.1. Adaptações dos regulamentos da competição Com base na figura podemos observar que os treinadores consideram a adaptação do regulamento nesses escalões aspecto importante, devendo estar presente na organização das competições para os mais jovens. Apenas numa modalidade, o ténis de mesa, os treinadores afirmam não haver necessidade em adaptar ou diferenciar as regras para estes escalões, as quais devem ser as mesmas desde o início da participação competitiva. As razões pelas quais justificam o seu posicionamento relacionam-se com a importância atribuída à aprendizagem e interiorização das regras, para que as crianças desde cedo possam cumpri-las e também por não concordarem com as modificações estruturais no ténis de mesa, como por exemplo, a altura da mesa. Isso causaria uma interferência na execução da técnica correcta, dificultando também na decisão de quando deixar de jogar com essas adaptações. 194 Figura 31 – Adaptações no regulamento por escalões Na opinião partilhada pela maioria dos treinadores as adaptações estruturais são assumidas como um aspecto relevante nessas etapas de formação, principalmente pela necessidade de proporcionar uma segurança às crianças e jovens em suas práticas com equipamentos e implementos mais adequados às idades, ao crescimento e desenvolvimento delas e também porque interferem directamente na execução correcta da técnica, o que nestas etapas é considerado um factor preponderante, tanto no treino quanto na competição. 4.2.1.2. Escalões em que os regulamentos devem ser adaptados Encontramos um consenso entre os treinadores de que as adaptações nos regulamentos devem estar presentes na organização das competições de todos os escalões nestas etapas de formação. No entanto deve haver uma progressão relacionada com as idades dos praticantes e com nível de prestação, para que possam corresponder ao grau de complexidade da competição. “As regras devem ser adaptadas de forma a atender os objectivos para os escalões e há uma graduação na introdução das técnicas 195 e no grau de dificuldade de execução à medida que mudam de escalão.” “Em termos regulamentares não temos nada definido de um relativamente ao outro, mas deve haver uma progressão natural dos A para os B, deverá ser o próprio treinador a ajuízar.” “A regra acompanha a evolução do jogo, a área de jogo, número de jogadores, as técnicas e tudo mais.” “Minha sugestão para quem organiza a competição para as crianças é de que deve haver sempre uma diferenciação na adaptação destas regras em função das idades dos praticantes. A organização é soberana e todos os treinadores sabem e percebem que o objectivo é que eles joguem e que haja segurança.” 4.2.1.3. Adaptações consideradas mais importantes As adaptações estruturais destacadas pelos treinadores das diferentes modalidades como as mais importantes são alusivas ao tamanho, dimensões e peso dos materiais, aparelhos e implementos desportivos, aos espaços de jogo, às dimensões das balizas, assim como às distâncias das marcações das áreas de jogo e linhas de pontuações. “Acho que a nível dos bambis e dos minis é importante que a baliza não seja demasiado grande nem muito pequena. Deve haver um equilíbrio entre a defesa e o ataque. Em termos de dimensão não deve ter as dimensões de um campo formal, deve ser mais pequeno, porque se não fica a ser muito exigente, passa a ser atletismo em vez de andebol. Acho também que o tamanho da bola é fundamental a nível dos infantis. Uma bola que eles 196 agarrem bem para não terem que adaptar o gesto técnico, pelo facto de não agarrarem bem a bola. Para os bambis tem que ser uma bola macia, que não magoe os guarda-redes. A área também tem que ser mais pequena, porque eles não têm força para atirar à baliza, mas também não demasiado pequena de maneira que o guarda-redes tenha medo do impacto da bola.” “As barreiras deveriam ser mais baixas, são muito altas e são de um material muito agressivo. Deveriam ter barreiras que pudessem cair facilmente, que não magoassem, mais baixas, até porque na aprendizagem o principal factor a se ultrapassar não é a altura, é a projecção do corpo para frente. Isso é o mais importante. Uma barreira alta condiciona uma aprendizagem má, o miúdo não deve baixar a velocidade.” “A evolução tem a ver com a adaptação às características dos miúdos, ou seja, são idades de grandes modificação no crescimento e portanto as adaptações no comprimento do campo, na altura da rede, no tamanho e peso da bola. Há uma diferença significativa no modelo de jogo, as trajectórias da bola são diferentes, há mudanças também na estrutura física da criança.” Entretanto nos depoimentos dos treinadores também são valorizados, com uma frequência de ocorrência maior, os aspectos correspondentes às adaptações no regulamento técnico-pedagógico. Isso revela uma preocupação maior com os aspectos associados à composição das equipas, com as possibilidades de substituições e com o sistema de eliminação. No sentido de dar oportunidades iguais a todos de participarem da competição. O tempo de jogo e a competição devem sempre ser adaptados sempre em função das idades. Os treinadores afirmam que a grande preocupação deve ser com os aspectos pedagógicos da competição. Sugerem que as regras devam ser o mais simples possível, de fácil percepção, adequadas às idades, devendo 197 propiciar um aumento no conhecimento do jogo, atendendo aos objectivos formativos. “Em relação ao tempo de ataque penso que é uma regra que deveria ser alterada para os escalões de formação. Deveria ser mais longo, superior aos 24 segundos. Não deveria haver a preocupação em estarmos a limitar os tempos de transição e o tempo de execução do ataque para não estar a condicionar a ida para o cesto” “O número reduzido de jogadores aumenta o número de contacto do jogador com a bola, importante para sua formação, além é que a complexidade do jogo, que traz a introdução de novos elementos, obriga a uma graduação não só na complexidade do treino, como também na complexidade da competição. Portanto, a complexidade por acréscimo do número de jogadores era contemplada de uma forma gradual.” 198 4.2.1.4. Avaliação das alterações regulamentares propostas pelas federações Quadro 29 – A posição dos treinadores sobre adaptação das estruturas e do regulamento técnico-pedagógico da competição propostas pelas federações desportivas Concordância 1º escalão 2º escalão 3 escalão 4º escalão sim não sim não sim não sim não Andebol 1 2 1 2 1 2 1 2 Atletismo 1 2 1 2 1 2 - - Basquetebol 3 0 3 0 3 0 - - Futebol 0 3 0 3 0 3 - - Ginástica 3 0 3 0 - - - - Judo 3 0 3 0 3 0 3 0 Natação 3 0 3 0 - - - - Rugby 3 0 3 0 3 0 3 0 Ténis de mesa 2 1 2 1 - - - - Voleibol 2 1 2 1 2 1 3 0 Total 21 9 21 9 13 8 10 2 70% 30% 70% 30% 62% 38% 83% 17% Modalidades % Relativo De acordo com os dados apresentados no quadro, constatamos que a maioria dos treinadores estão de acordo com as adaptações nas estruturas e no regulamento técnico-pedagógico propostos pelas federações em todos os escalões. A discordância com as adaptações propostas pelas federações se destaca nas modalidades de andebol, atletismo e futebol, sobressaindo em todos os escalões correspondentes. Afirmam os treinadores que as adaptações não estão adequadas às características e capacidades dos jovens desportistas, revelando um desacordo com a estrutura regulamentar designada pela federação, principalmente naqueles aspectos que incidem sobre as alterações estruturais, como as dimensões de campo, o tamanho das balizas, peso e tamanho da bola e as que se referem ao regulamento técnicopedagógico, como o número de atletas por equipa, o limite nas substituições o 199 regulamento das provas ou jogos e a duração das competições. As modificações deveriam proporcionar oportunidades de participação iguais para todos na competição, não só para os melhores, como se observa nas regras de substituições e provas com eliminação. As alterações nas estruturas utilizadas nas competições, dimensões, tamanho e peso dos equipamentos, deviam ser feitas de forma progressiva, respeitando o desenvolvimento e crescimento das crianças e jovens, assim como, não dificultar o ensino da técnica. Apontam que é necessário que haja uma uniformidade regulamentar das diferentes competições para o mesmo escalão, principalmente pela interferência que tem no processo de treino. A adaptação da estrutura regulamentar para estes escalões deve ter um carácter pedagógico formativo, criando condições para a avaliação da evolução da técnica na competição dos jovens atletas. “Outra questão é que todas as atletas que estão no banco inscritas no jogo são obrigadas a participar pelo menos um período e não poria número máximo de participação. Porque isso permite que as atletas menos aptas, com a ajuda das mais aptas, consigam fazer alguma coisa no jogo. As atletas menos desenvolvidas têm que jogar também.” “Porque eu acho que deverá haver alguma progressão em termos do espaço de jogo e do número de jogadores. Eu penso que se passa abruptamente do futebol de sete para o futebol. Acho que é um espaço demasiado grande para estes escalões.” “As competições dos miúdos estão muito pensadas a partir das competições formais dos adultos. Não há uma adaptação com carácter pedagógico formativo para os jovens jogadores e as competições são feitas por cálculo daquilo que é o futebol profissional e futebol dos adultos. Ou seja as pessoas não 200 pensam nas crianças e nos jovens, porque de facto dá um bocado mais de trabalho.” “Nós, actualmente estamos com um modelo de competição que fomenta a aquisição do erro, quando devíamos utilizar a competição para ajudar na formação e não para contrariar a formação. O que existe actualmente é uma mera quantificação de resultados, não se está a avaliar o trabalho das crianças, só se avalia o miúdo que cresceu, que se desenvolveu mais, que é mais forte ou mais rápido, que no entanto ao passar alguns anos poderá deixar de o ser. O caminho deve ser o da evolução e da formação técnica.” 4.2.1.5. Normas técnicas e pedagógicas estabelecidas pelas federações Sobre estabelecimento de normas técnicas e pedagógicas relativas aos conteúdos e processos de organização do jogo pela federação. Observamos, no entendimento dos treinadores, que há uma forte concordância (90%) com a intervenção das federações na determinação desses aspectos. No sentido de que é importante para o desenvolvimento do trabalho de formação dos mais jovens no clube terem as normativas determinadas e bem enquadradas para o aprendizado da técnica nestas idades. Afirmam que é indispensável, também, ter uma linha pedagógica a ser seguida, assim como linhas orientadoras de actuação, atribuindo a responsabilidade às federações na definição das condições em que devem jogar para cada escalão. Essa intervenção teria como resultado a unificação e reconhecimento do trabalho dos treinadores. Na opinião dos treinadores, as principais normas técnicas e pedagógicas que deveriam ser definidas pelas federações correspondem aos conteúdos e processos de ensino para cada etapa da aprendizagem, à adequação da abordagem pedagógica, à determinação das cargas, distâncias, frequências e volumes de treino, à definição dos sistemas tácticos de jogo, ofensivo e defensivos de como se joga e condições em que se joga. 201 “Normas técnicas deveriam estar perfeitamente identificadas para cada uma das actividades das diferentes disciplinas do atletismo, o nível técnico que deveriam apresentar de acordo com a capacidade técnica possível de se executar nestas idades.” “A federação e a associação a médio e a longo prazo vão reconhecer o trabalho dos treinadores que cumprem a linha pedagógica, e os bons não são só aqueles que ganham as competições. Não vamos estar preocupados em criar condições, vamos estar preocupados em criar uma coisa que não criamos, linhas orientadoras de actuação. Enquanto isso não for feito não é possível influenciar quem quer que seja.” “Acho que sim, porque um documento orientador dos conteúdos e das sequências de ensino para estes escalões iria enquadrar o trabalho dos treinadores numa perspectiva de termos uma formação destes jovens mais uniforme em todo o país, o que se faz e como se faz nestes escalões nos diferentes clubes do país.” Entretanto, alguns treinadores entendem que a regulação por parte da federação sobre os conteúdos e processos de organização do jogo não seria necessária se os treinadores tivessem uma formação melhor. “O que eu acho é que se os treinadores fossem todos correctos, se trabalhassem em função dos objectivos formativos não havia necessidade dessa regulamentação, pelo menos pedagógica, colocada sob a forma de conduzir ou condicionar aquilo que os treinadores fazem.” “Se a formação dos treinadores fosse boa e se fosse de uma forma global muito aceitável não seria necessário as federações 202 indicarem normas técnicas a serem seguidas ou a forma como as equipas deverão jogar. Porque o treinador, pela sua formação inicial e pela sua experiência, deveria perceber qual era a forma deles jogarem.” 4.2.2. Arbitragem 4.2.2.1. Quem deve arbitrar Os resultados da figura 32, revelam que os treinadores entendem que deve haver uma progressão na exigência do nível de formação do árbitro conforme o enquadramento competitivo geográfico. Nas competições a nível de escola/clube e local/cidade o consenso dos treinadores é de que podem desempenhar este papel de árbitro os próprios treinadores, professores ou atletas de escalões mais velhos, desde que tenham conhecimentos de arbitragem. 100% 3 10 37 80% 66 60% 40% 60 17 30 escola/clube 100 37 90 20% 0% 33 local/cidade treinadores-professores-atletas distrito/região 17 nacional árbitros com menor experiência internacional árbitros com experiência Figura 32 – Arbitragem por nível competitivo Na concepção dos treinadores, o aspecto de maior relevância para a arbitragem nestes escalões iniciais e neste enquadramento é o pedagógico. 203 Em suas avaliações quem estaria melhor preparado para exercer essa função seriam os treinadores e professores, principalmente porque os árbitros da federação têm uma preocupação maior em aplicar a regra de uma forma mais punitiva. “Os árbitros em geral não estão preparados para interagir com crianças nestas actividades, têm formação técnica mas não tem formação pedagógica, por isso acho que deveriam ser professores, treinadores habilitados e com formação pedagógica para poderem intervir junto dessas crianças.” “Devem ser arbitrados por educadores, normalmente apitam melhor que um árbitro da federação, porque sabem quais são as preocupações dos miúdos.” Nas competições a nível de distrito/região observamos que já não há uma definição muito clara, como nos primeiros enquadramentos. Na opinião dos treinadores a definição de quem deveria arbitrar para além do nível competitivo também deve estar associada à natureza das competições, sua formalidade e ao formato da competições, que podem ser em forma de convívios, encontros e festivais. “Nestes escalões a competição é organizada em convívios nacionais ou convívios regionais, em que todos participam na competição com regras adaptadas, em que a arbitragem é feita por um educador ou jogador de um escalão acima. Os jogadores podem receber informações.” “Defendo que deve sempre existir a figura do árbitro, mas não é necessário que seja um árbitro especializado, pode ser no início de carreira.” 204 As competições a esse nível apresentam essas diversidades, no entanto alguns treinadores afirmam que deve haver um grau de formalidade para a arbitragem. Devem ser arbitradas por árbitros experientes, por se tratar de competições de preparação para níveis mais elevados de prestação realizadas principalmente com os escalões de idades maiores, 12 a 14 anos. “A minha opinião é que na formação devem estar os melhores árbitros e os melhores treinadores, mas não são os melhores das ligas profissionais, mas os melhores para aquele escalão etário.” “Deve haver algum cuidado, deve ser alguém que percebe as regras do jogo, deve estabelecer de certo modo algum controle no momento da dúvida. No formal deve ser alguém que domine, sobretudo para não criar situações negativas e com senso de justiça.” Nas competições de enquadramento geográfico a nível nacional e internacional a predominância na opinião dos treinadores é de que sejam arbitradas por árbitros experientes da federação. 4.2.2.2. Carácter da arbitragem Quanto ao carácter da arbitragem, para a maioria dos treinadores a posição prevalecente é de que a competição para esses escalões de formação devem ter um cunho educativo e formativo. A componente pedagógica deve estar sempre presente, a arbitragem deve ser menos punitiva, de natureza informal e menos rigorosa na aplicação das regras. “Defendo que a arbitragem é ideal quando é pedagógica. Deve explicar à criança, ao atleta, o que deve não fazer, o que deve fazer, Nos infantis também a arbitragem deve ter este carácter.” 205 “Os árbitros que deveriam apitar estes jogos deveriam ter uma formação que implicasse o ganho de sensibilidade para gerir os aspectos de forma educativa. Portanto, se tiver que ocorrer uma desclassificação e essa for primeiramente explicada pelo árbitro o atleta vai encarar esse árbitro como uma figura fundamental nesse processo.” 4.2.2.3. Participação das crianças e jovens na arbitragem Em relação às crianças fazerem o papel de árbitro na competição, observámos na figura , que a concepção predominante para os dois primeiros escalões é de que as crianças não deverão fazer o papel de árbitros. Figura 33 – Participação da criança como árbitro na competição por escalões Principalmente pelos motivos de serem muito novos, de não perceberem bem as regras, não podendo dar ênfase à formação pedagógica que deve ter a arbitragem, e por terem que assumir uma responsabilidade de fazer juízos e avaliações. O que implica uma maturidade maior, naturalmente, para não cometer injustiças com os colegas. Nas modalidades individuais, pela 206 especificidade do regulamento, como a ginástica e a natação, obriga a ter uma arbitragem com maior conhecimento. “As crianças ainda não percebem bem as regras, não dominam bem, acho que o árbitro deve ter uma função formativa de explicar para além do sinal.” “Em competição, acho que não devem arbitrar. Porque a competição é uma situação onde os jogadores estão envolvidos, uma situação emocional grande, proporcionando determinados tipos de sentimentos e emoções que muitas vezes não controlam. É necessário um apoio permanente do treinador. Agora em termos de treino, podem arbitrar, porque é muito importante para eles identificar as dificuldades que têm nesse tipo de funções.” “Na ginástica, procura-se sempre na avaliação uma maior objectividade. As crianças e jovens fazerem o papel de árbitro na competição ficaria muito complicado, pelo facto de não haver essa objectividade na avaliação, e também pelo facto dos treinadores competirem entre si também, criando um envolvimento desfavorável.” “A arbitragem na natação tem moldes diferenciados das outras modalidades, principalmente das colectivas. Por isso as crianças fazerem juízos do que está certo, ou identificar o erro, nas provas oficiais eu não acho correcto.” Nos escalões seguintes, terceiro e quarto, fica evidenciado um posicionamento inverso ao apresentado nos primeiros escalões. De acordo com a lógica adoptada pela maioria dos treinadores, os jovens desses escalões poderão desempenhar o papel de árbitro em escalões mais baixos se apresentarem um conhecimento das regras, estiverem 207 motivados para assumir essa responsabilidade, compreenderem o sentido pedagógico que deve ter essa arbitragem e de estar presente o valor da honestidade em suas decisões. Porém, por ser um processo que faz parte de sua formação, sua participação deve ser feita de forma progressiva e supervisionada. O treinador deve ensinar as regras, ensinando minimamente como eles devem estar no campo, os gestos da arbitragem, para que seja dada aquela função a seriedade que ela merece. “Acho que podem arbitrar, sobretudo, os mais velhos e os mais experientes. Eu como treinador tenho que saber ensinar os meus miúdos a serem árbitros. Devem aprender as regras e alguns rudimentos da técnica de arbitragem.” “Em termos de bambis e minis penso que qualquer atleta que tenha melhor conhecimento está apto, porque a exigência não é assim tão elevada. Nas competições dos infantis e iniciados, já há uma exigência maior por parte dos praticantes, principalmente porque eles sentem quando o árbitro não é justo em suas decisões.” “Os jovens podem arbitrar, desde que sejam ajudados por adultos que conheçam bem as regras, porque as situações mais complicadas de julgar, como de bolas na rede ou nas quinas. Em competição formal já devem ser árbitros da federação a actuar.” 4.2.2.4. Desempenho das crianças e jovens de outras funções na competição Em relação à participação das crianças e jovens em outras funções na competição, o posicionamento predominante dos treinadores é de concordância com a participação dos mais jovens em funções de anotação, registo do marcador, preenchimento de súmulas e de desempenho de funções 208 de cronometrista. Afirmam que essas experiências, além de contribuírem para sua formação, criam um envolvimento maior do praticante com a modalidade. No entanto, alertam para importância de prepará-los para terem competência em desempenhar essas tarefas. “Acho também que aprendendo as outras funções possam executá-las, registo do marcador, preenchimento de súmulas, anotação de resultados competitivos. Sendo motivados, sendo elogiados. Agora tudo passa pela forma como os educamos a estar na modalidade. A vontade de colaborar tem que ser educada, com transporte de material, com os árbitros, fazer as camisolas, com rifas. Esta ideia de participação tem que estar sempre presente desde cedo nos miúdos.” “Acho que também faz parte da formação das crianças a participação em outras funções na competição como anotador cronometrista, anotador. Acho que até aos juvenis. A partir deste escalão já devem ser os árbitros. As competições devem respeitar os aspectos formais.” “Só a partir dos iniciados, antes disso eles têm muita dificuldade: ou estão a jogar ou estão a ver; não têm aquela atenção devida. Nestas idades eles querem é ir lá brincar.” 4.3. Conteúdo das actividades competitivas e conteúdo do treino 4.3.1. Conteúdo das actividades competitivas Verificámos, no entendimento dos treinadores, quais eram os conteúdos das actividades competitivas que deveriam ser privilegiados em cada escalão da 209 formação, assim como, os anos de formação que deveriam ser dedicados aos diferentes conteúdos da actividade competitiva. Figura 34 – Conteúdo da actividade competitiva para os escalões Os resultados da figura mostram que os treinadores valorizam mais nos escalões iniciais as actividades diversificadas que, progressivamente, vão diminuído com o crescimento do escalão, enquanto que crescem as actividades mais especializadas e adaptadas, que predominam nos escalões mais avançados. Defendem a adopção de conteúdos diversificados nas competições dos primeiros escalões por serem mais lúdicas e adaptadas às idades, por propiciarem uma prática mais atractiva, criando um envolvimento maior com a modalidade. Todos devem ter a mesma possibilidade de participar. Argumentam que, nos escalões iniciais, deve se dar maior atenção à preparação do que aos resultados na competição, evitando uma especialização precoce. Estas actividades diversificadas favoreceriam, também, o desenvolvimento de aspectos motores e atenderiam ao objectivo da formação multilateral das crianças. “Deveriam estar presentes em algumas competições mais lúdicas mais adaptadas às idades. Permite que um número maior de 210 praticantes esteja envolvido na competição, com menos tempo de espera.” “O peso da preparação multilateral é enorme. À medida que vão avançando na idade vão sendo incluídos alguns aspectos específicos dentro da estrutura da modalidade.” “Muitas vezes organizam nestes torneios estafetas coordenativas, que não são específicas da modalidade, mas que têm algum transfer de capacidades coordenativas para a modalidade.” A presença de actividades altamente especializadas, que aparecem de forma reduzida no segundo e terceiro escalão, é devida à concepção de treinadores das modalidades de futebol e ténis de mesa, por acharem que os jovens destes escalões já estão aptos para participarem de competições com configurações iguais ao modelo dos seniores. Algumas condições são apontadas pelos treinadores para que as crianças participem em actividades competitivas diversificadas. Devem ter experimentado no treino uma exercitação, uma preparação para desenvolver as suas competências. Essas competições devem ter um carácter menos formal e serem realizadas sob forma de festivais ou torneios, adoptando actividades de pequenos jogos, estafetas, provas combinadas e de habilidades. “A inclusão de competições de outras modalidades é possível desde que eu consiga no meu treino também o ter. Eu defendo uma prática multilateral” “O formato de competições multilaterais, envolvendo a exercitação e demonstração de competência, quer na parte da execução da técnica, quer na expressão das capacidades 211 motoras. Por isso deve haver uma experimentação preliminar no treino.” “Sou a favor da inclusão de actividades diferentes da competição de basquetebol, torneios de lances livres, de estafetas de drible e passe, concursos de lançamentos, provas de salto em comprimento, um conjunto de elementos ligados aos objectivos de treino que posso traduzir em competição.” Os treinadores entendem que à medida que as crianças e jovens avançam nas idades e escalões, deve ser dado maior ênfase à técnica para responder às exigências específicas de cada modalidade, e aumentar progressivamente a sua participação em competições com actividades mais especializadas e adaptadas. “Nos infantis, no atletismo, temos algumas disciplinas com complexidade técnica que obrigam a que se dê mais cedo uma ênfase nos conteúdos especializados nomeadamente nas raparigas que já tem um desenvolvimento maturacional que nos obriga a intervir com o ensino de algumas aprendizagens técnicas mais especializadas.” “Nos infantis já fazemos a competição normal, mas com preocupações de termos equilíbrio entre os atletas em relação ao domínio e variabilidade de golpes que possuam. Nesta fase há muito ênfase na pureza técnica.” “Na competição é que se tem a oportunidade de verificar se o que se faz na preparação está a ser cumprido ou não. E é aí que a estrutura e a forma de organização propiciam mais ou menos essa oportunidade, de exibir, de experimentar, de mostrar, de avaliar se a preparação está a dar algum resultado.” 212 4.3.2. Percentuais dos anos de formação dedicados aos diferentes conteúdos da actividade competitiva As crianças e jovens destas modalidades permanecem em média 7 anos (± 1,36 anos) nas etapas de formação, na preparação preliminar (3 a 5 anos) e na etapa de especialização inicial (3 a 4 anos). Associando essa informação ao conteúdo da actividade da competição e do treino verificamos a média dos percentuais de anos dedicados aos diferentes conteúdos da actividade competitiva. 90 Percentuais médios dos anos de formação 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Competições multilaterais Competições especializadas e adaptadas Competições altamente especializadas Figura 35 – Média dos percentuais dos anos de formação dedicados à participação em competições diferenciadas pelo conteúdo No entendimento dos treinadores, as orientações para a participação em competições especializadas e adaptadas foram as que em média ocuparam maior tempo da formação (55%), contabilizando mais ou menos 4 anos da 213 formação. As actividades competitivas diversificadas também ocupam grande parte do tempo total da formação, principalmente nos escalões iniciais (41%), em torno de 3 anos mais ou menos. Com um percentual muito baixo (4%) aparecem as competições especializadas, acontecendo apenas em algumas modalidades e em momentos dispersos. 4.4. Carga de competição Em relação a carga de competição, objectivámos verificar, na percepção do treinador, qual deveria ser a frequência mais adequada para crianças e jovens participarem nas provas ou jogos nos diferentes escalões de formação, assim como, o formato do calendário competitivo que seria mais ajustado para esses escalões. Verificámos também o juízo dos treinadores sobre a frequência de participação competitiva actual, se é suficiente para satisfazer as necessidades de formação desportiva das crianças e jovens. Por fim, o entendimento dos treinadores sobre a relação entre a carga de competição e a carga de treino. 214 4.4.1 – Frequência de participação competitiva Quadro 30 - Frequência de participação competitiva por mês e por temporada para cada escalão e por modalidade desportiva Escalões Participação em competições por Número de jogos ou provas por mês temporada 1º 2º 3º 4º 1º 2º 3º 4º Andebol 1 2 4 4 10-12 20-25 35-45 35-45 Atletismo 1 1 1 - 8-10 8-10 20-25 - Basquetebol 2 2 2 - 20-25 20-25 35-40 - Futebol 4 8 8 - 30-40 35-40 40-50 - Ginástica - - - - 2-3 2-3 - - Judo - - - - 10-12 10-12 12-15 14-16 Natação - - - - 12-16 35-45 - - Rugby 3 3 3 3 20-24 20-24 20-24 20-24 Ténis de mesa - - - - 40-45 40-45 - - Voleibol 1 2 4 4 20-30 30-40 35-45 35-45 Média 2 3 4 4 17-22 22-27 30-37 26-32 Desvio padrão 1,3 2,5 2,3 0,6 11-14 13-15 13-16 11-15 Mínimo/Máximo 1-4 1-8 1-8 3-4 2-45 2-45 12-50 14-45 Modalidades Os resultados apontam que, em média, a frequência de participação competitiva nos dois primeiros escalões é de 2 a 3 competições por mês e de 17 a 27 por temporada. No entanto, observamos que para os escalões seguintes, terceiro e quarto, há um aumento na frequência de participação competitiva, tanto por mês, quanto no número de jogos ou provas por temporada. Passam a ter, em média uma, competição por semana e 26 a 37 jogos por temporada. Verificámos, que no início da participação competitiva, primeiro escalão, há dois grupos de modalidades que se distinguem pela frequência de participação. Um grupo, formado pelas modalidades de andebol, atletismo, ginástica, judo e a natação, apresentam frequências médias mais baixas na participação competitiva, entre 2 a 16 por temporada. O segundo grupo de modalidades, nomeadamente, o basquetebol, o futebol, o rugby, o 215 ténis de mesa e o voleibol apresentam frequências médias mais elevadas, entre 20 a 45 jogos por temporada. Observamos, também, que com a mudança de escalão, do primeiro para o segundo escalão, com excepção das modalidades de andebol, natação e voleibol, não há um aumento na frequência de participação competitiva. Os aumentos na frequência de participação competitiva são mais evidentes do segundo para o terceiro escalão. Entretanto, os treinadores do primeiro grupo de modalidades (andebol, atletismo, ginástica, judo e a natação), entendem que, se a regularidade e a frequência de participação competitiva for excessiva nos primeiros escalões, pode prejudicar no tempo das crianças estarem com a família e de cumprirem com as tarefas escolares. Outro aspecto importante, seria a necessidade de terem um tempo de preparação, para adquirirem uma condição mínima para poderem participar das competições. “No caso dos bambis e dos benjamins a competição não deve ser regular. É melhor haver competição de vez em quando, uma vez por mês, principalmente porque implica na gestão do tempo das crianças e dos pais, requer uma adaptação a essa rotina desportiva.” Todavia para outro grupo de treinadores das modalidades de basquetebol, futebol, rugby, ténis de mesa e voleibol, assumem uma posição inversa, sugerindo frequências superiores para estes escalões. Afirmam que quanto maior for essa participação em competições melhor será a sua formação, justificando que desde cedo as crianças devem participar de competições para que possam ter um maior número de contacto com outras crianças, por razões de motivar e de envolver as crianças e jovens com a modalidade e também porque só com o treino não é suficiente para que isso aconteça. Mas, entretanto essas competições devem ser adaptadas e de curta duração e sempre estar subordinadas aos interesses do treino. Porém consideram que a 216 época desportiva competitiva para estes escalões deveria ser mais reduzida, não ocupando tantos meses. “Penso que sim, deveria haver uma densidade crescente de competições. No entanto, no início não deve haver só competições esporádicas, porque um dos aspectos fundamentais para os miúdos terem prazer em jogar e competirem, não é só passarem pelo treino e não terem competição mais ou menos de forma sistemática.” Cabe destacar que as modalidades individuais de ginástica, judo, natação e ténis de mesa apresentam, para estes escalões, um formato de calendário competitivo com competições concentradas em determinados períodos. A ginástica com dois a três encontros no final de Maio ou Abril, na modalidade de judo participam de três a quatro competições, mas com alguma diferenciação no número de combates por escalões. Na natação também há uma diferenciação no número de competições e no número de provas em que participam e as provas são distribuídas por períodos coincidentes com os períodos escolares, um período em Dezembro um período na Páscoa e um no Verão. Já para a modalidade de ténis de mesa um evento a cada três meses, somando um total de três a quatro competições para o escalão de iniciados e quatro a cinco para o escalão de infantis, perfazendo uma carga de 40 a 50 jogos por temporada. O que fica evidenciado nestas modalidades individuais é a importância atribuída à preparação. Para os treinadores esse tempo de preparação deve ser respeitado e participar em muitas competições de forma sistemática implicaria em retirar tempo destinado à preparação. 4.4.2. Formato do calendário competitivo De acordo com os resultados apresentados na figura, na concepção dos treinadores os quadros competitivos para estes escalões devem estar organizados ao longo da época desportiva de forma contínua, com 217 competições espaçadas e realizadas aos finais de semana sob forma de torneios. Figura 36 - Formato do calendário competitivo Os principais motivos que justificam a opção tomada pelos treinadores seriam: evitar grandes períodos sem competição, o que provocaria uma desmotivação nas crianças; possibilidade de avaliar de forma sistemática a evolução das capacidades técnicas e condicionais; poderem propiciar uma actividade diversificada e regular capaz de influenciar em seus hábitos de vida, de modo que a actividade desportivo faça parte dela. “Devem ser espaçadas, não agrupadas em períodos, para evitar uma paragem grande, provocando uma desmotivação dos miúdos.” “Para os Benjamins e infantis não existem, as competições devem ser organizadas de forma a ter um início e um final sem ser em fases eliminatórias.” 218 “Nos infantis não nos interessa isso, nos infantis e benjamins interessa nos ter uma actividade regular uma competição regular, um treino regular para um miúdo incutir uma prática desportiva nos seus hábitos de vida e a competição e o treino fazerem parte da sua vida.” “Entendo que deveriam ser espaçadas ao longo do ano, para darem oportunidade ao treinador de ir avaliando as deficiências técnicas que o miúdo tivesse, para que elas fossem periodicamente corrigidas de competição para competição, dentro de cada escalão, com perspectiva da formação técnica e não tanto do treino das capacidades condicionantes.” Entretanto os treinadores das modalidades de ginástica, ténis de mesa e voleibol manifestam uma opinião contrária, achando que deveriam estar organizadas em momentos concentrados de competições e separados por intervalos longos. Argumentam que é necessário um tempo de preparação e de aprendizado da técnica, para que a criança possa cumprir com as exigências das tarefas na competição. Esse intervalo entre as competições teria o sentido de melhorar o processo de treino e seria também determinado pela necessidade de considerar os períodos das provas e trabalhos escolares. “Acho que as competições devem ser concentradas no sentido que possamos ter tempo para fazermos a formação multilateral, porque neste momento da ginasta é impossível estarmos a fazer isso e a trabalhar especificamente para um exercício na competição. Embora sejam exercícios de formação não tem perda de tempo, não estamos a fazer um trabalho específico, estamos sempre a fazer um trabalho de base mais multilateral.” “Devem ser concentradas, porque o ginasta geralmente não está sempre pronto para competir. Tem que haver uma preparação 219 para a competição, uma estruturação dos exercícios de competição. O que interrompe o processo de formação, interrompe a aquisição de novos elementos e de técnicas novas. Por isso é que têm que ser concentradas num período curto e num momento do ano.” “Eu acho que deveríamos intercalar períodos de competição com períodos sem competição para melhorar a qualidade do processo de treino e ter também em consideração os períodos escolares dos alunos em que eles estão muito carregados com testes para que possam competir e estudar e levar as duas coisas ao mesmo tempo.” “Quanto mais novos, mais importante este aspecto do tempo de preparação e de aprendizado.” Com excepção dos treinadores das modalidades de futebol e ténis de mesa que valorizam o sentido contrário as competições não devem ser estruturadas em fase e com eliminatórias, devem sim, ter um início e um final na própria competição. “O sistema taça de futebol de Portugal não é correcto para esses miúdos porque não queremos eliminar. O sistema de campeonato da liga não é correcto para os miúdos, porque o progresso é muito prolongado no tempo. Portanto, tem que haver competições curtas, espaçadas no tempo mas tem que percorrer um curto período.” “O modelo de competições com fases e em forma de campeonato com eliminatórias para os escalões mais baixos não é o mais adequado. Principalmente, porque aqueles que são menos capazes não passam para as fases seguintes da competição. No 220 meu entendimento, são esses que precisam de mais experiências competitivas. A falta de oportunidades iguais na participação e de equilíbrio competitivo, propicia um distanciamento entre os melhores e os piores.” 4.4.3. Disposições das competições No que se refere à disposição das competições, verificamos que nos dois primeiros escalões o consenso preponderante é de ocorram competições de 15 em 15 dias. Para o terceiro e quarto escalões a carga de competição é maior, com uma participação sistemática a todos os fins-de-semana. Figura 37 – Disposição das competições Os treinadores entendem que deve haver uma progressão crescente no que diz respeito à frequência de participação competitiva. Desejar-se-ia, passar de uma ou duas competições por mês para uma frequência de quatro competições por mês, realizadas em fins-de-semana. Recomendam os treinadores que, na disposição das competições para os dois primeiros escalões, devemos levar em conta o tempo para que as crianças possam fazer outras actividades do 221 seu interesse, para além do desporto praticado e o calendário escolar, para que ocorram em períodos mais propícios para sua execução. “Portanto poderia ser um turno do sábado ou do domingo, com uma frequência de fim-de-semana sim outro não, para lhes dar algum espaço para fazerem outras coisas, porque eles tem outras motivações outros, interesses sem ser unicamente o desporto e quanto mais abrangente para a vida deles melhor.” “Nunca deveria haver competições sucessivas em fins-de-semana consecutivos. Deveriam ter um fim-de-semana livre e não deveriam exceder na minha perspectiva, duas competições por mês. Se falarmos, normalmente nas actividades para estas idades, em uma temporada de 10 meses por ano” “Na minha opinião as competições deveriam ser distribuídas pelos três períodos escolares, e coincidir aos fins-de-semana, tinha que haver articulação com o sistema escolar.” 4.4.4. Avaliação da carga de competitiva actual em relação às necessidades para a formação desportiva das crianças e jovens De acordo com os valores percentuais apresentados na figura observamos que a maioria dos treinadores concorda com a frequência de participação competitiva actual. Acham que é suficiente para a formação desportiva das crianças e jovens destes escalões. 222 Figura 38 – Avaliação da frequência de participação competitiva em relação às necessidades para a formação desportiva das crianças e jovens Mas para uma parcela menor de treinadores, nomeadamente das modalidades de atletismo, basquetebol e rugby, a frequência de participação actual não é suficiente. Deveria ser maior em todos os escalões, sobretudo de competições menos formais, ajustadas às idades no sentido de motivar as crianças e jovens desenvolvendo o gosto pela modalidade. “Penso que deveria haver mais competições não formais para os infantis e menos competições formais.” “Acho que deveria haver mais eventos para que pudessem contribuir mais para a formação deles. Mas temos limitações, dependemos de uma estrutura de apoio para promover mais eventos.” “A frequência de participação competitiva é pouca. Deveriam participar num número maior de competições, porque quanto mais jogarem, maior vai ser a ligação deles com a modalidade, principalmente porque eles gostam de competir.” 4.4.5. Relação entre a carga de competição e a carga de treino 223 Na avaliação da relação da carga de treino e da carga de competição, verificamos que 83% dos treinadores entendem que a frequência de participação competitiva apresenta uma relação com o aumento da preparação, não tão evidenciada nos escalões iniciais como naqueles com jovens de faixas etárias compreendidas entre os 14 e 16 anos, principalmente por estarem associadas ao período de maturação biológica. Na concepção dos treinadores este período seria o mais adequado para o aumento da preparação, com um incremento das cargas de treino e para o desenvolvimento das capacidades condicionais dos jovens, favorecendo o aumento da performance e alargando com isso a sua participação competitiva. . “Esse número deve aumentar com a preparação, não pelo aspecto competitivo, mas sim pelo aspecto maturacional que nos permite treinar mais e com cargas maiores. Deve ser a partir dos juvenis.” “Nos infantis e nos iniciados como a quantidade de treino é maior a regularidade das competições deve ser maior também.” “A frequência de participação competitiva deve aumentar com a preparação. Quem passa de infantil para iniciado passa a ter mais competições, passa de uma para seis competições formais.” Entretanto um grupo pequeno de treinadores discorda deste posicionamento, afirmando que não há uma relação entre o acréscimo da participação competitiva e o aumento da preparação, especialmente nestes escalões de formação. “Não há essa relação, não aumenta o número de competição por estarem mais preparados. O que aumenta é a qualidade da prestação para cada escalão.” 224 “Se falarmos em um treino com a perspectiva de formação técnica da criança, não me parece relevante aumentar a participação competitiva com o aumento das secções de treino. Não devemos e sobrecarregar a criança em termos do desenvolvimento das capacidades condicionais.” 4.5. Competição na formação dos treinadores No que diz respeito à importância atribuída nos cursos de formação dos treinadores aos temas referentes ao papel da competição no processo formativo, sua organização e à preparação para participar dela, encontramos uma posição unânime no pensamento dos treinadores. Estes concordam com a importância destes temas e que deveriam ter um maior destaque na formação dos treinadores. No entanto, quando inquiridos sobre a abordagem desses conteúdos nos cursos de formação organizados pelas federações e associações, mais da metade dos treinadores (60%), responderam que não é dada devida importância, enquanto que (40%) atestam que já viram esses temas serem desenvolvidos e debatidos nos cursos de formação dos treinadores. As justificativas para que seja atribuída uma maior importância aos temas relacionados com a competição na formação dos treinadores apoiam-se em dois aspectos: um referente ao formato e especificação dos conteúdos adoptados nos cursos de formação pela federação. Em sua maioria são realizados de forma não integrada, não levando em consideração, no sentido de perceber e aconselhar, outras especificidades na formação daqueles que trabalham com jovens. Por vezes limitam-se à instituição de regras, que não respeitam os princípios pedagógicos e nem aquilo que as crianças efectivamente necessitam. Entendem que era importante para sua formação a definição de linhas orientadoras pelas federações. “Infelizmente nos cursos de formação tem-se falado muito pouco sobre esses aspectos, têm sido muito pouco abordados. Falta 225 abordar aspectos de ensino, aspectos pedagógicos, saber qual a importância que tem a competição na formação dos jovens. Criase, muito cedo, a ideia de que o bom treinador é o que ganha, o que acho errado.” “Hoje em dia a federação não tem se preocupado com isso, porque os cursos de formação encaram a participação competitiva dos jovens como algo pré-estabelecido e intocável.” Outro aspecto diz respeito a formação do treinador, que em sua maioria não tem uma formação académica. São treinadores porque foram atletas e os modelos que adoptam são os que viveram em suas carreiras de atletas. Entendem a competição como algo que tem um fim em si mesmo e não como uma forma de formação. Por vezes observamos treinadores que receberam uma formação mas em sua prática, em suas intervenções que tem que ser pedagógicas, que têm que ser formativas, não aplicam estes conteúdos e nem as orientações que adquiriram. Destacam os treinadores a importância dos monitores serem tutorados, serem acompanhados em seu trabalho por pessoas com conhecimento e experiência, principalmente porque quem trabalha com os escalões da formação deve ter uma formação o mais alargada possível. Consideram de extrema relevância que aqueles que tem responsabilidades na organização dos quadros competitivos, nomeadamente os dirigentes, tenham também uma formação adequada. “Isso é fundamental, porque eles não vêem a competição como uma forma de formação. A competição é sempre um fim na perspectiva da maioria dos treinadores, o fim é de obter resultado.” “Mais do que na formação dos treinadores deveria ser tema obrigatório na formação daqueles que têm responsabilidade na 226 formação dos quadros competitivos, nomeadamente os dirigentes.” 4.5.1. Aspectos relacionados com o papel da competição na formação dos mais jovens que deveriam estar presentes nos cursos de formação dos treinadores. De acordo com a percepção dos treinadores deveriam estar presentes nos programas de formação os aspectos pedagógicos e didácticos (64%), aspectos referentes à estrutura da carga e conteúdos do treino (37%), aspectos da organização das competições enquadramento e regulamentação (30%) e os aspectos psicológicos e sócio-afectivos (20%). Constatamos, a grande importância atribuída à vertente pedagógica. Entendem que quando estão a treinar, também estão a formar e a educar as crianças e jovens. Por isso deve ter um peso considerável na formação dos treinadores. A qualidade da formação é que tem que ser posta em primeiro lugar, a competição deverá ser entendida como uma extensão do processo de treino. Porém, outros aspectos, também, devem estar presentes nos cursos de formação, como à organização e estruturação do treino, aspectos associados a organização da competição, os aspectos psicológicos e da evolução da criança. Uma formação mais ampla daria um suporte maior para os treinadores compreenderem e resolverem melhor os problemas em sua actividade. “Deveriam ser abordados conteúdos relacionados com a evolução da criança. Em primeiro lugar conhecer a essência do jogo e depois, discutir o modelo de competição que sirva aos pressupostos que escolhemos. As competições nunca foram problematizadas. Há, muitas vezes, replicação do modelo de competições adoptados nos seniores para estes escalões iniciais, são habitualmente aceites pelos dirigentes, organizadores e pais sem contestá-las.” 227 4.6. Síntese do Primeiro Estudo Empírico Apresentaremos aqui de forma resumida, a configuração do quadro competitivo organizado pelas associações e federações desportivas de Portugal, tomando como referência as categorias de análise utilizadas no estudo. Enquadramento geográfico das competições para os diferentes escalões - No quadro competitivo, organizado pelas associações e federações desportivas, predominam as competições a nível nacional em todos os escalões, manifestando um crescimento progressivo, associado a mudança de escalão. Em relação às competições no nível de distrito/região, são previstas com maior frequência para os dois primeiros escalões. - A partir do segundo escalão da formação, as competições apresentam uma maior presença de aspectos formais. Essa característica apresenta um crescimento associada à mudança de escalão. Competições de natureza informal prevalecem no primeiro escalão e a partir do segundo escalão apresentam uma diminuição significativa em sua frequência. - A organização das competições por equipa nos desportos individuais é valorizada pelas associações e federações em todos os escalões da formação, todavia, ocorre em proporções baixas, três individuais para uma por equipa. Inicio da participação competitiva - Na maioria das modalidades, a regulamentação das competições, organizadas pelas associações e federações, permite a participação de crianças com idades de sete anos. De modo geral, a participação no quadro de competições regulares começa com idades entre os seis e os oito anos. 228 Estas idades de início da participação nos quadros competitivos regulares, apresentam uma precocidade ao compararmos com as idades recomendadas na literatura para estas modalidades (Bompa, 2000). Directivas e orientações pedagógicas para as competições - A participação de rapazes e raparigas juntos nos quadros competitivos regulares é prevista apenas em algumas modalidades e nos dois primeiros escalões. Nos escalões mais velhos, terceiro e quarto, não são organizadas competições mistas. No entendimento das federações e associações deve haver uma separação. - Não há uma preocupação, por parte das associações e federações, em considerar na organização do calendário das competições datas, evento e épocas de exames escolares. - Verifica-se uma preocupação por parte das entidades organizadoras das competições para estes escalões em garantir o acesso de todos. Predomina em todos os escalões o critério de serem abertas a todos. Sequência organizativa das competições - Em relação aos aspectos que garantam a participação nos quadros competitivos posteriores. No entendimento das associações e federações desportivas, nos dois primeiros escalões, a participação é assegurada em função dos aspectos organizativos das competições: competições sem apuramento e sem fase. No terceiro e quarto escalões a continuidade das equipas ou atletas vai depender do seu próprio nível de prestação na competição. 229 - A maioria das entidades organizadoras das competições confere para estes escalões, um calendário com competições distribuídas ao longo da época e com intervalos curtos. Entretanto, para algumas modalidades, como a ginástica e o ténis de mesa são organizadas de forma concentrada em períodos específicos. - Fica evidenciado um processo progressivo de especialização das competições. Entre os escalões, dois aspectos destacam-se por apresentar maior peso nesse processo progressivo de especialização. O primeiro, que se refere as modificações regulamentares e o segundo, diz respeito as alterações estruturais. As modificações maiores ocorrem do terceiro para o quarto escalão. Objectivos da competição - Dentre os objectivos definidos pelas federações e associações para a competição destacam-se dois: os relacionados com a formação, voltados para desenvolvimento motor, psico-social e afectivo e os voltados para o desenvolvimento da técnica e da táctica. São diferenciados entre os escalões, nos dois primeiros escalões mais voltados para a formação e nos escalões mais velhos (terceiro e quarto) as competições já têm objectivo em si mesmas, de apuramento e de revelar um vencedor. Sistema de classificação e pontuação - Em relação a atribuição de prémios nas competições, as recomendações, propostas pelas federações são para que, nos dois primeiros escalões, todos devem receber prémios e nos escalões seguintes, deve haver uma distinção na atribuição de prémios. Para a maioria das federações não deve haver atribuição de prémios de forma individual. - Competições voltadas para o apuramento do campeão nacional, poder ser realizadas desde o primeiro escalão, crescem conforme aumento do escalão. A 230 partir do terceiro escalão fica evidenciado que a competição está organizada em um processo de exclusão. Em sentido contrário ao apresentado no primeiro e segundo escalões, que através de estratégias como jogar todos contra todos, visam assegurar a participação de todos. Adaptações das regras - Constatamos que em todos os escalões são realizadas adaptações na estrutura e nos regulamentos da competição. O objectivo é adaptar às características e capacidades das crianças. Contudo, esse processo se dá de forma progressiva conforme o avanço do escalão. A intervenção das federações na determinação de normas técnicas e pedagógicas, nem todas as modalidades o fazem. A ideia principal das federações nessa acção é de tentar unificar o trabalho realizado na formação. Realização da arbitragem - Na definição de quem pode arbitrar, a normativa da federação leva em conta a natureza da competição. Nas competições menos formais podem arbitrar pais professores e atletas, nas competições formais, a partir do segundo escalão, deve ser árbitros da federação. Competições regionais e nacionais devem ser dirigidas por árbitros experientes. Nos dois primeiros escalões o carácter da arbitragem deve ter um sentido mais pedagógico. Conteúdos da actividade competitiva - Não há uma preocupação por parte da maioria das federações em incluir nos conteúdos diversificados nas actividades competitivas organizada para estes escalões. Os conteúdos da competição apresentam uma relação maior com os objectivos da segunda etapa da formação, especialização inicial. 231 Número e frequência de competições - Nos dois primeiros escalões participam em média de 3 a 5 competições por temporada, e 15 a 31 provas. O número de competições e de jogos por temporada, aumenta substancialmente para o terceiro e quarto. Apresentam uma variação média de 4 a 9 competições e uma participação em torno dos 30 a 53 jogos e provas por temporada. Identificamos nos documentos das federações três formas de organização. 1- Competições em formato de torneio, ocorrem em aos fins-de-semana, com duração de um a dois dias. 2- Nos dois primeiros escalões, competições em forma de encontros e convívios, que têm a duração de um a dois dias. No terceiro e quarto escalões, as competições duram em média de dois a três meses, com jogos planeados para todos os fins-de-semana. 3- Competições que duram em torno de quatro a seis meses, são organizadas em fases, ocorrendo um jogo por semana. 4.7. Síntese do Segundo Estudo Empírico Faremos aqui um apanhado das principais posições dos treinadores a cerca da adequação das competições para crianças e jovens, levando em conta as categorias do estudo. Enquadramento das Competições Primeiramente, em relação ao enquadramento das competições, a sua natureza e a quem compete organizá-las os treinadores entendem que: 232 - as crianças e jovens, pertencentes a primeira etapa da formação, podem participar de competições até ao nível de distrito/região, enquanto que, para segunda etapa, o consenso é das competições ao nível nacional. Entretanto, mesmo nos escalões mais baixos as competições de nível mais elevado não se fazem presentes. Porém, os treinadores defendem que, para os dois primeiros escalões, estas competições de nível mais elevado, devem diferenciar-se do modelo actual, com regulamentos adaptados, menos formais, sem eliminação e oportunizando a participação de todos. - Em relação a formalidade na organização competitiva, entendem que deve apresentar uma progressão de acordo com a mudança de escalão. Justificadas pelas mudanças nos níveis de preparação das crianças e jovens. - Julgam que a responsabilidade e competência na organização das competições para estes escalões, na fase de iniciação e especialização inicial, deva ser dos clubes e das associações desportivas. Principalmente por serem responsáveis pela formação desportiva destes jovens. Início da Participação competitiva Quanto a definição da idade para o começo da participação nos quadros competitivos de forma regular. A maioria defende que as crianças do primeiro escalão, da etapa de iniciação estariam prontas para participar regularmente dessas actividades competitivas. Contudo, essas crianças devem apresentar um domínio mínimo da técnica, um nível coordenativo e cognitivo necessário para realizar as tarefas da modalidade. O que implica em uma actividade competitiva adequada as necessidades das crianças e jovens. Directivas e orientações pedagógica Centremo-nos agora na percepção do treinador a cerca das orientações pedagógicas, relacionadas à oportunidade de participação, os critérios para 233 definir o quadro competitivo, a realização de competições mistas, a atribuição de importância aos resultados e, por fim, os valores e funções que devem orientar essa prática competitiva. - O consenso entre os treinadores aponta que, nestes escalões de formação, todos devem ser convocados para participar da competição e a participação nela deve ser igual para todos. Nas situações de limitações impostas ao acesso à competição, os treinadores optam por adoptar critérios de selecção, primeiramente, relacionados com o nível de prestação desportiva, seguido dos aspectos ligados aos valores como, frequência e assiduidade nos treinos, o empenhamento e a capacidade de trabalhar em equipa. - No estabelecimento do quadro competitivo, o posicionamento dos treinadores apresenta uma diferenciação entre aos escalões e os respectivos critérios de selecção. Em escalões da primeira etapa de formação, o grau de abertura deve ser o critério utilizado. Já para os escalões da segunda etapa de formação, o nível de prestação desportiva deveria ser a referência para a selecção de equipas ou atleta. - Quanto a participação em conjunto de rapazes e raparigas, o entendimento dos treinadores para os dois primeiros escalões não há problemas em participarem em conjunto nas competições, com excepção da modalidade de ginástica, devido sua especificidade. Nos escalões seguintes, principalmente no terceiro, a opinião já não é consensual, um grupo de treinadores das modalidades de andebol, atletismo, judo e rugby defende a realização de competições mistas. Enquanto que, treinadores das demais modalidades estudadas, justificam que sejam separados em função da influência do desenvolvimento e, também pelas diferenças nos interesses e motivações dos jovens. - A valorização dos aspectos da formação, em detrimento dos resultados na competição, é um posicionamento bem claro dos treinadores e defendido para 234 o primeiro escalão. À medida que aumenta o escalão é creditada uma importância maior aos resultados competitivos. Este processo deve ocorrer de forma progressiva. Para os treinadores ela deve estar associada com o crescimento do nível de preparação. - A participação competitiva, segundo os treinadores, deve contribuir para o desenvolvimento dos valores, especialmente aqueles relacionados com o senso de justiça, de honestidade, da tolerância, da compaixão, além de apresentar suas habilidades e de jogar bem. Entretanto, ganhar e ter uma boa imagem pública são valores que no entendimento dos treinadores não têm grande importância para estes escalões da formação. - Durante o processo de formação, as actividades competitiva devem exercer determinadas funções. Na concepção dos treinadores, as de maior relevância estão associadas aos aspectos psicológicos e sociais como: propiciar a obtenção de sucesso e a superação. Permitindo às crianças e jovens a sua construção da auto-imagem e auto-estima, adquirir e desenvolver valores para sua futura vida em sociedade, possibilitar estarem com seus amigos e fazerem novos amigos, assim como, criar condições para que os mais jovens alcancem seus objectivos. Objectivos da competição - Relativamente aos objectivos da competição, os treinadores entendem que deve haver uma diferenciação nos objectivos das competições destes escalões para os escalões superiores e essa deve corresponder a lógica do processo de treino e a atribuição de importância aos resultados. Defendem que a participação competitiva, principalmente no primeiro escalão, deve ser centrada só na formação, os resultados teriam menor importância do que desenvolver o gosto pela prática e estarem motivados. A partir do segundo escalão começam a estarem presentes os resultados competitivos, mas, a ênfase maior deve ser na formação que nos resultados da competição. 235 - Outro aspecto importante reporta-se à preparação para participar nas competições. No posicionamento dos treinadores fica estabelecido que nos dois primeiros escalões é pautada por uma preparação exclusivamente multilateral. A partir do segundo escalão a preparação especializada começa a aparecer, mas ainda predomina a orientação de uma preparação multilateral. Para os treinadores nestas etapas iniciais a formação deve ser ampla, diversificada e a longo prazo, onde o processo de treino e a intervenção do treinador não sejam condicionadas pelos resultados na competição. - Em relação aos anos de formação dedicados aos diferentes conteúdos da actividades competitiva, (54%) dedicam do tempo médio de permanência nas duas primeiras etapas de formação ao objectivo voltado só para formação e (42%) com ênfase maior na formação que nos resultados. Apenas (4%) com mais ênfase nos resultados que na formação. Sistema de pontuação e classificação - A participação em competições voltadas para o apuramento do campeão nacional. Os treinadores entendem que não faz sentido crianças e jovens nestas etapas de formação participarem em competições com este objectivo. Principalmente por acreditar que interferem no processo de treino, levando a uma especialização precoce na sua preparação, pela sobrevalorização por parte dos dirigentes, treinadores e pais e por serem organizadas em processo de eliminação. - Essa participação deve ocorrer a partir dos escalões de juvenis e juniores. - Em relação a atribuição de prémios, entendem os treinadores que todas as crianças e jovens que participam nas competições deveriam receber prémios, sem ocorrer diferenciações. A atribuição de prémios deve ser alargada e diversificada, sendo o mais abrangente possível. 236 - Nos quadros competitivos para estes escalões da formação, os treinadores, em sua maioria, não concordam com à introdução de provas a eliminar. Sugerindo, que sua introdução deva ocorrer só a partir do escalão de juvenis. Regulamento - Os treinadores consideram a adaptação do regulamento nesses escalões como um aspecto importante, devendo estar presente na organização das competições para os mais jovens. - As adaptações estruturais, consideradas as mais importantes, são necessárias para proporcionarem uma segurança às crianças e jovens em suas práticas.com equipamentos e implementos mais adequados em suas dimensões, o peso e tamanho às idades. Também por interferirem directamente na execução correcta da técnica, factor preponderante, tanto no treino quanto na competição. Os treinadores também atribuíram uma importância as adaptações de carácter pedagógico. Por exemplo, a composição das equipas, o tempo de jogo, as possibilidades de substituições, competições sem eliminações. - Os treinadores concordam com a intervenção das federações no estabelecimento de normas técnicas e pedagógicas, relativas aos conteúdos e processos de organização do jogo. Consideram importante para o desenvolvimento do trabalho de formação dos mais jovens terem uma linha pedagógica a ser seguida, linhas orientadoras de actuação, assim como, as normativas determinadas e bem enquadradas para o aprendizado da técnica nestas idades. 237 - Em relação a arbitragem, os treinadores sugerem que, no nível de escola/clube e local/cidade pode ser desempenhado pelos próprios treinadores, professores ou atletas de escalões mais velhos, desde que tenham conhecimentos de arbitragem e a nível nacional e internacional a opinião é de que sejam arbitrada por árbitros experientes da federação. Porém, competições a nível de distrito/região, as opiniões são divergentes em relação ao grau de formalidade que deve existir. Entendem os treinadores que o carácter da arbitragem para estes escalões deve ser pedagógico, deve ser mais educativo e formativo do que punitivo. - A participação das crianças e jovens na arbitragem, na concepção dos treinadores, crianças dos primeiros escalões não devem fazer o papel de árbitros. No terceiro e quarto escalão, entendem os treinadores que, poderão desempenhar o papel de árbitro em escalões mais baixos, se apresentarem um conhecimento das regras, estiverem motivados para assumir essa responsabilidade, compreenderem o sentido pedagógico que deve ter essa arbitragem e de estar presente o valor da honestidade em suas decisões. - Quanto a crianças e jovens desempenhar outras funções nas competições os treinadores estão em concordância, particularmente, em funções de anotação, registo do marcador, preenchimento de súmulas e de desempenhar funções de cronometrista. Conteúdo das actividades competitivas 238 Os treinadores valorizam mais nos dois primeiros escalões iniciais as actividades diversificadas que, progressivamente, vão diminuído com o crescimento do escalão. A partir do segundo escalão crescem as actividades mais especializadas e adaptadas. Não estando presentes para estes escalões actividades altamente especializadas. Essas competições devem ter um carácter menos formal e serem realizadas sob forma de festivais ou torneios, adoptando actividades de pequenos jogos, estafetas, provas combinadas e de habilidades. - A participação em competições especializadas e adaptadas foram as que em média ocuparam maior tempo da formação (55%), contabilizando mais ou menos 4 anos da formação. As actividades competitivas diversificadas também ocupam grande parte do tempo total da formação principalmente nos escalões iniciais (41%), em torno de 3 anos mais ou menos. Carga de competição - Na definição sobre qual deveria ser a frequência de participação competitiva para estes escalões, os treinadores determinam que, para crianças e jovens nos dois primeiros escalões, deva ter, em média, uma frequência de 02 a 03 competições por mês e uma frequência de 17 a 27 competições por temporada. No terceiro e quarto escalões, há um aumento na frequência de participação competitiva. Passam a ter uma frequência média de 01 competição por semana contabilizando um total de 26 a 37 jogos por temporada. - No primeiro escalão, dois grupos de modalidades se distinguem pela frequência de participação: a-) O primeiro, formado pelas modalidades de andebol, atletismo, ginástica, judo e a natação, apresentam frequências médias mais baixas na participação competitiva, entre 02 a 16 por temporada. 239 b-) O segundo grupo de modalidades, nomeadamente, o basquetebol, o futebol, o rugby, o ténis de mesa e o voleibol apresentam frequências médias mais elevadas, entre 20 a 45 jogos por temporada. - As modalidades individuais de ginástica, judo, natação e ténis de mesa apresentam, para estes escalões, um formato de calendário competitivo com competições concentradas em determinados períodos. Os treinadores justificam que o tempo de preparação deve ser respeitado e que, participar em muitas competições de forma sistemática implicaria em retirar tempo destinado à preparação. – Formato do calendário competitivo - Para os treinadores os quadros competitivos para estes escalões devem estar organizados ao longo da época desportiva de forma contínua, com competições espaçadas e realizadas aos finais de semana sob forma de torneios. - Os motivos que justificam a opção tomada pelos treinadores seriam: para evitar grandes períodos sem competição, o que provocaria uma desmotivação nas crianças, para poderem avaliar de forma sistemática a evolução das capacidades técnicas e condicionais, proporcionado uma actividade diversificada e regular. - Os treinadores das modalidades de ginástica, ténis de mesa e voleibol, acham que deveriam estar organizadas em momentos concentrados de competições e separados por intervalos longos. Argumentam que é necessário um tempo de preparação e de aprendizado da técnica, para que a criança possa cumprir com as exigências das tarefas na competição. - As competições não devem ser estruturadas em fase e com eliminatórias, devem ter um início e um final na própria competição, com excepção dos treinadores das modalidades de futebol e ténis de mesa que valorizam o sentido contrário. 240 - Na apreciação do quadro competitivo actual, a maioria dos treinadores concorda com a oferta competitiva actual. Julgam que o número e a frequência de participação competitiva ser suficiente para a formação desportiva das crianças e jovens destes escalões. Não obstante, treinadores das modalidades de atletismo, basquetebol e rugby, contestam sobre a frequência de participação actual não são suficientes, deveria ser maior em todos os escalões, sobretudo de competições menos formais, ajustadas às idades no sentido de motivar as crianças e jovens desenvolvendo o gosto pela modalidade. - Na verificação da relação entre a carga de competição e a carga de treino, (83%) dos treinadores entendem que a frequência de participação competitiva deve progredir com o aumento da preparação. Esse incremento das cargas de treino segundo os treinadores deve ocorrer a partir do quarto escalão. Competição na formação dos treinadores - Os treinadores concordam com a importância destes temas, deveriam ter um maior destaque nos cursos de formação dos treinadores. Para (60%) treinadores, afirmam que não é dada devida importância nos cursos de formação, enquanto que (40%) atestam que já viram esses temas serem desenvolvidos e debatidos nos cursos de formação dos treinadores. - Aspectos relacionados com o papel da competição na formação dos mais jovens que deveriam estar presentes nos cursos de formação dos treinadores. - Em termos de importância atribuída aos conteúdos que deveriam estar presentes nos programas de formação aparecem os aspectos pedagógicos e didácticos (64%), aspectos referentes a estrutura da carga e conteúdos do treino (37%), aspectos da organização das competições enquadramento e regulamentação (30%) e os aspectos psicológicos e sócio afectivos (20%). 241 IV CONCLUSÃO É chegado o momento de conferirmos e concluirmos nossa proposta, dentro dos objectivos que nortearam este estudo. Primeiramente, recorremos à literatura para verificarmos as recomendações e orientações dos especialistas, no sentido de encontrar referências que servissem para construção de um sistema de competições para crianças e jovens. Essas indicações da literatura foram os parâmetros encontrados para a realização dos dois estudos empíricos. Para concluirmos, tomamos por base as questões que orientaram o estudo, apontando as divergências e convergências entre o modelo vigente de competições em Portugal, as concepções dos treinadores e as orientações e recomendações da literatura. Estas questões de referência, reflectiram sobre os seguites temas: os valores e funções das competições de crianças e jovens; a estrutura e conteúdos da competição e sua relação como o treino nos diferentes estágios de preparação; os conteúdos e métodos de preparação para as competições; a idade de início da participar nas competições regulares; a natureza das competições; a frequência da participação competitiva. Em relação às convergências e divergências entre o sistema vigente de competições para crianças e jovens em Portugal e as orientações e recomendações da literatura, podemos dizer que: No quadro competitivo actual, encontramos um enquadramento geográfico em que são previstas competições até o nível nacional para todos os escalões pertencentes as duas primeiras etapas da formação. Diferenciando-se do que é recomendado na literatura para estes escalões, que devem ter limites locais ou regionais. Com isso, apenas uma parte dos dois primeiros escalões estariam em conformidade com as orientações. A participação em competições de níveis mais elevados em idades baixas pode gerar reflexos negativos nos aspectos psicossociais, por terem uma orientação para obtenção de sucesso e uma pressão excessiva pela vitória. Esse tipo de enquadramento não favorece a formação do jovem atleta. Está desajustado com os níveis de prestação motora 242 e cognitiva destes escalões, não atende aos interesses, capacidades e prioridades das crianças. No que se refere à determinação do início da participação competitiva nos quadros regulares, verificamos que para a maioria das modalidades, as federações desportivas permitem a participação em competição de crianças a partir dos 7 anos de idade. Comparando com as indicações da literatura, conferimos que o início da aprticipação competitiva, no modelo vigente, ocorre de maneira precoce. É recomendado pelos especialistas que esse início deve ocorrer por volta dos 10 – 12 anos. Sobre o início das actividades competitivas, as recomendações são de que devemos levar em consideração, além da maturação física, a maturidade social, emocional, cognitiva e as exigências de prestação das modalidades. As estruturas competitivas, baseadas na vitória e na atribuição de prémios, características das competições especializadas, exigem uma preparação também especializada, o que para estas idades são inadequadas. Outro argumento listado, para justificar que crianças em idades baixas não devem participar de uma quadro competitivo formal, refere-se à incapacidade de perceber o papel dos outros na actividade e de coordenar as suas acções com as dos outros. Sobre as intervenções das federações e associações desportivas, no sentido de determinar directivas e orientar a preparação para as competições, podemos concluir que: A orientação para participação de rapazes e raparigas juntos no quadro competitivo só ocorre em algumas modalidades; menos da metade, apenas nos dois primeiros escalões, o que evidencia uma orientação das competições, desde muito cedo, para obtenção de reultados. Deixando, desta forma de propiciar os objetivos formativos, de estimular a integração, o espírito de amizade e o relacionamento entre as crianças, através de uma diversidade de actividades. Quanto ao acesso às competições, as entidades organizadoras apresentaram uma preocupação em garantir a participação de todos na competição, nesta etapa da formação. Não existem classificações ou exigências de índices. Essa 243 oportunidade de participação é importante para a formação das criaças e jovens e, também, é necessário garantir o equilíbrio competitivo, garantir a continuidade na competição para que tenham maior número de experiências de sucesso. Na organização do calendário competitivo, as federações e associações não consideram as datas, os eventos e a época dos exames escolares. Não há articulação com a escola, o que diverge do posicionamento da literatura. Essa relação tem por objectivo optimizar os processos de recuperação, para que não haja actividade desportiva controlada, num processo de treino regular. Para o estabelecimento do quadro competitivo, nos dois primeiros escalões, a participação é assegurada em função dos aspectos organizativos da competição. Porém, no terceiro e quarto escalões, nas competições estruturadas em fases e com eliminatórias, o critério de permanência na competição depende do nível de prestação da equipa ou do atleta. Contrariando as recomendações da literatura, essa diminuição de oportunidade de continuação na própria competição só favorece aos atletas com níveis de maturação mais avançados e àqueles que passaram por um processo de especialização precoce. O calendário competitivo, organizado no modelo vigente, confere para estes escalões competições distribuídas ao longo da época e com intervalos curtos entre elas, com exceção das modalidades de ginástica artística e do ténis de mesa, que têm competições concentradas em períodos específicos. O modelo de calendário adoptado nestas duas modalidades não propicia um número e uma frequência de participação competitiva capazes de contribuirem para a formação dos jovens atletas. No que se refere ao sistema de classificação e pontuação, a proposta das entidades organizadoras da competição, nos dois primeiros escalões, está de acordo com as indicações da literatura. Todos que participaram da competição devem ser premiados, sem haver distinção em função da prestação. No 244 entanto, a divergência é nos escalões seguintes, que são premiados conforme o resultado na competição. Competições voltadas para o apuramento do campeão nacional são previstas já a partir dos escalões iniciais, discordando da posição encontrada na literatura, em que nestes escalões as competições devem se restringir a nível local/regional e até os 12 anos, não são recomendáveis estruturas competitivas baseadas na vitória e na atribuição de prémios. A organização selectiva e a eliminação precoce não devem estar presentes nas competições para estes escalões, pois isso se reflete sobre o número de experiências competitivas e na qualidade da formação. No que concerne as adaptações estruturais e regulamentares, as federações realizam esse processo de forma progressiva e adaptada às capacidades das crianças, conforme o avanço do escalão. Essas modificações devem ser em função dos objectivos formativos e as mudanças devem ser condicionadas pelos estádios de desenvolvimento e pelo tempo de treino. Entendemos que para realizarmos os objectivos formativos de forma integral é necessário, para além das mudanças estruturais e regulamentares alterações, mudanças nos objectivos, conteúdos e natureza das competições. A busca pela vitória não seria o objectivo primordial nestas etapas. Quanto aos conteúdos das competições, elaborados pelas federações e associações desportivas, a maioria seguem o modelo tradicional das competições dos adultos. Adoptam, a partir da segunda etapa de formação, conteúdos especializados e adaptados, acusando um processo de formação unidirecional e um quadro de especialização precoce devido ao sistema tradicional. Diferencia-se das orientações da literatura, que recomendam competições multilaterais com conteúdos diversificados, oportunizando formas múltiplas de movimento, jogo e desporto. Por isso, há uma necessidade de mudarmos os conteúdos, desenvolvendo aqueles que visam dar suporte ao treino da criança, que evitem a especialização precoce e que promovam a prestação a longo prazo. 245 No sistema de competições vigentes, a frequência de participação competitiva para os dois primeiros escalões é insuficiente, segundo as referências encontradas na literatura. As recomendações dos autores são de que esses escalões tenham um número e uma frequência elevada de competições simplificadas. Devem ser privilegiadas as situações de êxito e aumentadas a motivação e o interesse pela prática desportiva. Já, nos escalões seguintes a carga de competições é próxima ao que encontramos na literatura, em torno de 50 a 60 jogos por temporada. No que se refere às convergências e divergências entre as concepções dos treinadores, o sistema vigente de competições em Portugal e as orientações e recomendações da literatura, podemos concluir que: Os treinadores entendem que a partir do segundo escalão podem competir a nível nacional, concordando com o modelo competitivo vigente e discordando das recomendações da literatura, que estabelece como limite para estes escalões da formação, competições até o nível local/regional. No entanto, os treinadores acham que as competições para as duas primeiras etapas da formação devem diferenciar-se do modelo actual, devem ser menos formal e adaptarem regulamentos e estruturas que proporcionem a participação de todos. Quanto ao início da participação competitiva, a posição dos treinadores converge com a determinação das federações, justificando, desde sua entrada no desporto, os jovens estariam prontos para participarem regularmente dessas actividades competitivas. Em um posicionamento discordante, a literatura considera essas idades precoces para o início da participação no quadro regular de competições. O acesso à participação na competição deve ser igual para todos, revelando uma congruência entre os posicionamentos dos treinadores, do modelo vigente e da literatura. 246 No estabelecimento do quadro competitivo, o entendimento dos treinadores está em consonância com o que é adoptado nas competições actuais. Na etapa preliminar de base a permanência na competição deve ser garantida, não ocorrendo eliminação de atletas ou equipas. Para a etapa de especialização inicial, o critério de selecção é o nível de prestação na competição, a classificação. O que diverge das recomendações da literatura é o equilíbrio competitivo e a continuidade nas competições que são fatores importantes e contribuem para o desenvolvimento e a formação dos jovens atletas. Quanto à participação em conjunto de rapazes e raparigas não há um concenso entre os treinadores, alguns defendem que pode ocorrer para todos os escalões, outros só para a primeira etapa de formação e ainda existem aqueles que justificam que não pode haver participação mista. Isto revela uma grande preocupação dos treinadores com as diferenças biológicas que podem interfirir no rendimento do atleta, assim como, com a necessidade de atender as exigências da competição e as especificidades da modalidade desportiva. O que vem contrariar as indicações da literatura, que defende objectivos competitivos para estes escalões, voltados para uma formação integral, considerando aspectos biológicos, psicológicos e sociais. Tanto a posição dos treinadores, quanto a dos autores da literatura convergem em relação à importância que deve ser atribuída aos resultados na competição para estes escalões. O que não devemos resaltar, nos dois primeiros escalões, que devem começar ter algum destaque a partir da etapa de especialização inicial, mas tendo em conta a progressividade e o crescimento do nível de preparação dos atletas. O foco principal nestes escalões deve ser a formação multilateral. No que se refere aos valores e funções da competição para estas etapas da formação, o posicionamento dos treinadores vai de encontro ao referido na literatura; em que a competição deve ter uma função formativa, propiciar o desenvolvimento em aspectos psicológicos, sociais e motores, valorizar aspectos do rendimento, que na competição não são considerados 247 importantes. As competições também devem criar condições para que os jovens alcancem seus objectivos. No entendimento dos treinadores, os objetivos das competições para estes escalões devem ser diferenciados dos objectivos para os escalões superiores, devem corresponder à lógica do processo de treino. A ênfase maior, nestes escalões, deve ser sempre a formação. Mais na preparação multilateral do que nos resultados da competição, concordando com o posicionamento da literatura que defende a prioridade para a criança e as suas necessidades evolutivas e não as condições para o resultado desportivo. Isto diferencia-se do que é proposto no modelo vigente de competições para a segunda etapa de formação, que é apurar e revelar um vencedor. No sistema de pontuação e classificação, a posição dos treinadores é muito semelhante à indicada na literatura e divergente do que é praticado no actual modelo competitivo. Os treinadores defendem que não devem ocorrer competições com vistas ao apuramento do campeão nacional, premiações com distição pelo resultado na competição e introdução de provas a eliminar para estes escalões. Caso isto ocorra, pode haver repercursão negativa no número de experiências competitivas vivenciadas e interferir na qualidade de sua formação. As adaptações regulamentares e estruturais também são consideradas pelos treinadores como aspectos importantes para garantir a aprendizagem, a segurança do praticante e, principalmente, pelo carácter pedagógico que têm as mudanças no regulamento. Neste aspecto, tanto as recomendações dos autores, quanto a posição dos treinadores e o modelo de competições vigente são convergentes. No entanto, as divergências encotradas referem-se à formalidade nas competições do modelo actual, ocorrendo com maior frequência para todos os escalões e em diferentes enquadramentos competitivos. O que é defendido na literatura e também pelos treinadores é uma competição simplificada, com regulamentos facilitados e adaptados à idade dos praticantes. 248 Quanto ao conteúdo das actividades competitivas, o que é defendido pelos treinadores está em conformidade com o que é recomendado pelos autores, mas em desacordo com o que é proposto pelas federações. Na literatura e na indicação dos treinadores, as actividades competitivas devem ser diversificadas para os dois primeiros escalões e, progressivamente, modificar-se para actividades especializadas e adaptadas nos escalões seguintes, objetivando potencializar as possibilidades de transferência motora. Determinar uma frequência de participação competitiva não é fácil. Ela depende de vários fatores como, características da modalidade e tempo de prática do atleta. Mas, as indicações são divergentes. As que encontramos na literatura são em número maior do que as apresentadas pelos treinadores e as evidenciadas na prática. Entretanto, em todas as posições a progressão associada à mudança de escalão está presente. Em relação ao formato do calendário competitivo, não encontramos um consenso entre os treinadores, porém predominam as opiniões em torno de uma organização de forma contínua e distribuída ao longo da época. Esta posição também é defendida na literatura e realizada no modelo actual. Com exceção de algumas modalidades, ténis de mesa e a ginástica artística, que adoptam calendários competitivos em momentos concentrados e separados por intervalos longos. Este formato não propicia uma frequência de participação competitiva necessária para sua formação. Esta organização do calendário considera a competição com o objectivo em si mesma e a lógica evidenciada é muito próxima a do alto nível, pois é ela que vai determinar os conteúdos de treino. As concepções dos treinadores apresentam maior convergências com as orientações e recomendações referidas na literatura do que o modelo vigente de competições para crianças e jovens. Pontos positivos considerados importantes pelos treinadores na organização da competição para crianças e jovens: 249 - Presença de conteúdo da actividade competitiva de outras modalidades, principalmente na primeira etapa da formação. - Oportunidade da criança desempenhar outros papéis na competição. - Orientação da federação no estabelecimento de normas e conteúdos para os treinadores. - Adaptações estruturais e regulamentares de acordo com o desencolvimento e capacidade das crianças e jovens. - Competições sem exclusões e com oportunidade de paraticipação igual para todos. - Estruturação do calendário competitivo que considere o calendário escolar. - Competições sem distição na premiação; todos recebem prémios. - Maior número de competições não formais, menos estruturadas para estes escalões. Competições em formato de festand’s, convívios e encontros. - Competições que oportunizem o êxito ao maior número de participante. Pontos negativos na organização da competição para crianças e jovens, na avaliação dos treinadores. - Competições com apuramentos e classificatória, estimulando a eliminação precoce, competições voltadas para o apuramento do campeão nacional. - Competições especializadas, formais e sem diversidade. - Competições sem adaptações nas estruturas e regulamentos, desajustadas ao desenvolvimento e características das crianças. - Competições extensas ou com intervalo muito grande entre elas. - Baixo número de competições, principalmente as de carácter não formal. - Competições com enquadramento a nível nacional e internacional. 250 Quanto à formação dos treinadores, consideram que precisa ser melhorada em vários aspectos, predominantemente, nos que se referem à pedagogia do desporto. O sistema competitivo actual, adoptado pela maioria das modalidades desportivas, apresenta uma estrutura e um enquadramento que não atendem aos objectivos formativos, principalmente para segunda etapa do período de base. Os conteúdos das actividades são especializados, com eliminatórias e com o objectivo de revelar o campeão. Essas características são muito próximas ao modelo competitivo do alto rendimento. A forma como são concebidas as competições, sua natureza, estrutura, enquadramento, objectivos e conteúdos, aliada às condições que circundam o ambiente competitivo e factores psicossociais interferem diretamente na qualidade da contribuição para formação e educação das crianças e jovens. Sugestões para o enquadramento das competições de crianças e jovens Com base nestas conclusões, sugerimos alterações em alguns aspectos que possam contribuir para estruturação do sistema de competições para crianças e jovens em Portugal. A construção de um modelo de competições requer a valorização da intervensão pedagógica, sem deixar de considerar em seu planeamento, o ajuste à prontidão, os interesses e necessidades das crianças e jovens. Há, também, da necessidade de subverter a lógica de priorizar os resultados da competição nestas etapas da formação desportiva. Primeiramente, listamos os aspectos que devem ser evitados em sua concepção. - Devemos evitar a excessiva valorização dos resultados na competição, com isso evitaremos também o aumento no volume e intensidade de cargas e uma rápida especialização nos exercícios e métodos de treino. 251 - Competições muito estruturadas, unilaterais e especializadas, com objectivos semelhantes e próximos dos de alto nível. - A selectividade, através da eliminação precoce e competições com objectivos de revelar o campeão. - A preparação dependente das exigências das competições, com o objectivo de obter resultados a curto prazo. - Competições sem adaptações em suas estruturas e regulamentos, desajustadas da prontidão desportiva apresentada pelos praticantes. Listamos, agora, os aspectos que devem ser priorizados na construção de um sistema de competições para crianças e jovens, que atenda aos objectivos da formação a longo prazo. - As competições devem ocorrer dentro de uma área geográfica que não ultrapasse os limites locais ou regionais e serem ajustadas aos moldes da formação. - Deve ser oportunizada uma grande frequência de participação competitiva durante as etapas da formação, criando possibilidade aos jovens vivenciarem um número maior de experiências de sucesso. As competições devem ser de curta duração, espaçadas e variadas. - Na construção do calendário competitivo devem ser resguardos o intervalo de períodos de preparação e de competição, momentos de aprendizagem, aplicação e de avaliação. Também devemos considerar o calendário escolar e as datas festivas. - Devem predomiar as competições de natureza informal para que a inclusão de aspectos formais aconteça de forma progressiva, a partir da etapa de especialização inicial. 252 - Devem ser estruturadas em forma de pequenos jogos, com suas múltiplas formas, menos estruturados, simplificados, diversificados e que favoreçam a formação multilateral. - Promover o acesso à competição, proporcionando a oportunidade de participação e continuidade na competição. Todos devem ter as mesmas oportunidades de participação. - Procurar estratégias que equilibrem os confrontos competitivos. Deve ser dada uma atenção especial à construção dos grupos, às formas de apuramento e constituição das séries. - As capacidades e o grau de desenvolvimento dos praticantes devem ser ajustadas, quer a nível estrutural quer a nível regulamentar. - As actividades de treino e competições devem estar interligadas em relação aos seus objetivos, conteúdos e progressão, apresentando uma especialização crescente, ajustadas no nível de prestação e ao desenvolvimento das crianças e jovens. - O tempo necessário para as criança realizarem as tarefas escolares e participarem de outras actividades, fora do desporto, deve ser respeitado. - A competição e o treino devem assumir um carácter preparatório da construção para as etapas seguintes, que conduzem aos grandes resultados. - A competição deve promover o desenvolvimento físico, harmonioso e equilibrado dos atletas, assim como, a aprendizagem e aperfeiçoamento das técnicas fundamentais. - Os resultados na competição devem ser relativisados em sua importância. O processo para alcançá-los é que deve ser valorizado. A auto-superação, a melhoria de habilidades, o progresso em relação a si mesmo, conseguir fazer e fazer melhor são objectivos que devem estar presentes no treino e na competição. Entendemos que a competição desportiva não apresenta, em si, inconvinientes desde que se integre aos objectivos essenciais das etapas de formação e sua 253 organização se harmonize com as capacidades dos praticantes e com a perspectiva da prestação desportiva a longo prazo. Sugestões para futuras investigações Em nosso estudo, conseguimos identificar a lógica predominante no quadro característico do sistema de competições vigente em Portugal, para os escalões da formação que apresentam uma estrutura e um enquadramento muito próximos ao modelo das competições do alto nível. Para maioria dos treinadores este quadro competitivo não atende às necessidades de formação do jovem atleta, precisa ser ajustado e apresentar uma lógica diferente das competições do alto nível. No entato, pela diversidade de factores, de diferentes áreas envolvidas na construção do quadro de referência para elaboração das competições, devemos realizar novos estudos com abordagens multivariadas. Por isso, sugerimos alguns temas que ainda precisam ser esclarecidos: - Verificar as possíveis inter-relações entre constructos de diferentes áreas e sua importância na organização do treino e da competição nas etapas de formação. - Estudar a carreira desportiva de crianças e jovens que iniciaram precocemente o treino e a participação competitiva e suas relações com o rendimento desportivo. - Comparar sistemas de organização competitiva, com diferentes objectivos, estruturas e enquadramentos, apontando seus benefícios e prejuízos. V - BIBLIOGRAFIA Adelino, J., Vieira, J., Coelho, O. (1998). 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Salto em Categorias Faixa etária Bambis Minis Infantis Iniciados Minis A Minis B Infantis Iniciados Bambis Benjamins Infantis Iniciados Escolas Infantis Iniciados Escolas Infantis Iniciados Mini A Mini B Iniciados Cadetes B Cadetes A Cadetes B Cadetes A Benjamins Infantis Iniciados Juvenis I masc. Infantis B Infantis A Infantis B Infantis A Iniciados Infantis Benjamin A Benjamin B Infantis Benjamin A Benjamin B Infantis Benjamin A Benjamin B 7-8 9-10 11-12 13-14 até 10 10-12 13 14 até 8 9-10 11-12 13-14 8-10 11-12 11-12 8-10 11-12 13-14 6-10 10-11 12-13 8-11 12 8-10 11 até 10 11 12 13 i 7-9 10-11 7-8 9-10 até 10 até 11 6-10 10-11 12-13 6-10 10-11 12-13 6-10 10-11 Filin, V. (1995) Etapa de formação 1ª 2ª 2ª 1ª 1ª 2ª 1ª - 2ª 2ª 1ª - 2ª 2ª 1ª 2ª 1ª 2ª 1ª 1ª 2ª 1ª 1ª 2ª 1ª 1ª Bompa, T. (2000) Etapa de formação 1ª 1ª 1ª 2ª 1ª 1ª 2ª 2ª 1ª 1ª 1ª 1ª 1ª 1ª 2ª 1ª 1ª 2ª 1ª 1ª 2ª 1ª - 2ª 2ª 1ª - 2ª 2ª 1ª 2ª 2ª 2ª 1ª 2ª 1ª 2ª 1ª 2ª 1ª 1ª 2ª 1ª 1ª 1ª 1ª 1ª altura masc. fem. lançamento do dardo Infantis Benjamin A Benjamin B Infantis ii 12-13 6-10 10-11 12-13 2ª 1ª 1ª 1ª 1ª 1ª 1ª 1ª Anexo 2 - Categorias sub-categorias e questões correspondentes do instrumento de análise do primeiro estudo empírico CATEGORIAS SUB-CATEGORIAS 1 - Estrutura e características das competições 2 - Início da participação competitiva A- Organização das competições 3 - Directivas e orientações pedagógicas para as competições 4 – Sequência organizativa das competições QUESTÕES 1- Qual é o enquadramento geográfico das competições para cada escalões? 2- Qual a natureza da competição para as diferentes escalões? 3- Nos desportos individuais são valorizadas as competições por equipas? 4- Qual a idade de início da participação competitiva? 5- São realizadas competições mistas? Até que escalão 6- Há relações na organização do calendário das competições com o calendário escolar? (ferias, exames) 7- São adoptados critérios para estabelecer os quadros competitivos? (acesso à competição) 8- Quais os aspectos que determinam a participação nos quadros competitivos posteriores? (fases seguintes) 9- Como os quadros competitivos estão organizados ao longo da época? 10- Há competições “estilo torneio” aos fins-de-semana? 11- Há um processo progressivo de especialização da competição? (Estruturais, regulamentos, condições de organização, conteúdo da competição) 12- Quais os objectivos definidos pelas federações e associações para a competição nas diferentes escalões? 5 – Objectivos da competição 6 – Sistema de pontuação e classificação 13- Existem diferenças nos objectivos competitivos entre os escalões para a mesma modalidade e entre modalidades diferentes? 14- São atribuídos os prémios para todos que participaram da competição? Há distinção? Até que escalão e para que nível competitivo? 15- Há atribuições de prémios individuais? 16- Há competições voltadas para o apuramento do campeão nacional? A partir de que escalão? 17- A competição está organizada em processo de exclusão? (provas a eliminar) A partir de que escalão? 18- É assegurada a participação competitiva dos atletas e equipes que tem prestações mais baixas? Se sim como? 1 - Adaptações da regra B - Regulamento 2 - Arbitragem 19- Há adaptações nas regras em relação as dimensões do campo, tamanho e peso dos materiais, número de jogadores, duração e intervalo das actividades? 20- Há diferenciações nas adaptações das regras entre os escalões? 21- Há normas técnicas e pedagógicas estabelecidas pela federação? 22- Quem pode arbitrar? 23- Qual o nível de graduação exigida ao árbitro nas diferentes escalões? 24- A arbitragem tem características diferenciadas por escalões e nível competitivo? 25- São incluídas actividades competitivas de outras modalidades na competição do desporto escolhido? Para que escalões? iii C – Atividades Competitivas D – Carga de competição 1- Conteúdos 1- Número e frequência das competições 26- As actividades competitivas são diversificadas e adaptadas? Para que escalões? 27- Há uma progressão dos conteúdos das actividades competitivas entre os escalões? 28- Os conteúdos da actividade e os objectivos da formação estão relacionados? 29- Qual é o nº de competições por temporada? Para cada escalão? 30- Há um aumento progressivo no nº de competições a medida que muda escalão? 31- Qual o período de tempo em que ocorrem as competições? Há diferenças entre os escalões? iv Anexo 3 - Inquérito utilizado no Segundo estudo empírico Cabeçalho do Inquérito - O presente inquérito tem por objectivo identificar a sua percepção quanto a adequada organização das competições desportivas para crianças e jovens. A recolha de informações será realizada através de uma entrevista (gravação sonora), para garantir a fidedignidade dos registos para análise. Posteriormente as gravações serão transcritas, no sentido de confirmar as respostas anotadas durante a entrevista. - Será garantido o absoluto anonimato e sigilo das suas respostas, no mais estrito cumprimento das leis de protecção de dados pessoais, pelo que seu nome não figurará na transcrição das respostas. - Os escalões consideradas nos itens do inquérito, referem-se as duas primeiras etapas da formação desportiva das crianças e jovens com idades compreendidas entre os 6 e 14 anos e levam em conta o enquadramento específico de cada modalidade desportiva proposta pelos autores, (quadro - ). Questões e cabulas 1 1- Em termos de objectivos , o que deve distinguir a competição das crianças antes dos 13-14 anos (escalões - quadro) das competições dos escalões mais velhos. Como vê a evolução dos objectivos da competição ao longo dos escalões anteriores aos 13-14 anos. Quadro1 – Assinale para cada escalão a ordem de prioridades que deveria orientar a participação competitiva nas etapas de formação. Prioridades da competição Escalões Só Formação Mais ênfase na Mais ênfase nos Ênfase só nos formação que nos resultados nas resultados nas resultados nas competições que competições competições na formação Bambis (1) (2) (3) (4) Minis (1) (2) (3) (4) Escolinha (1) (2) (3) (4) Cadetes A (1) (2) (3) (4) Cadetes B (1) (2) (3) (4) Benjamins A (1) (2) (3) (4) 1 Acha que a competição deve ser compreendida nestas etapas de formação, como um instrumento e um complemento da formação ou deve ter objectivo em si mesmo? Quando é que passa ter um sentido diferenciado? v Benjamins B (1) (2) (3) (4) Infantis A (1) (2) (3) (4) Infantis B (1) (2) (3) (4) Iniciados (1) (2) (3) (4) Quadro 1b - Assinale para cada escalão, de acordo com os objectivos formativos, a ordem que deveria orientar a preparação para a competição. Objectivos Formativos Escalões Só preparação Mais preparação Mais Só especializada multilateral multilateral do especializada do que especializada que multilateral Bambis (1) (2) (3) (4) Minis (1) (2) (3) (4) Escolinha (1) (2) (3) (4) Cadetes A (1) (2) (3) (4) Cadetes B (1) (2) (3) (4) Benjamins A (1) (2) (3) (4) Benjamins B (1) (2) (3) (4) Infantis A (1) (2) (3) (4) Infantis B (1) (2) (3) (4) Iniciados (1) (2) (3) (4) Quadro 2 - Atribua um grau de importância as funções que deve ter a competição durante a formação desportiva. Muito Funções das competições Nada pouco Pouco importante important importante Importante Muito importante e Propiciar para às crianças e jovens a comparação das suas capacidades com (1) (2) (3) (4) (5) (1) (2) (3) (4) (5) (1) (2) (3) (4) (5) (1) (2) (3) (4) (5) as dos outros e com as suas próprias Criar junto dos amigos, dos pares, de terceiros uma boa imagem social. Possibilitar a criança e ao jovem de obter sucesso e de se superar. Construir sua autoimagem e autoestima. Adquirir e desenvolver valores para a sua futura vida em sociedade. vi Possibilitar as crianças e jovens de estarem com os amigos e de fazerem (1) (2) (3) (4) (5) (1) (2) (3) (4) (5) novos amigos Motivar para alcançar os seus objectivos Quadro 3 - Atribua um grau de importância aos valores e atitudes que podem ser desenvolvidos nas crianças e jovens com a participação competitiva nestas etapas de formação: Muito Valores Nada pouco Pouco importante importante importante Importante importante (1) (2) (3) (4) (5) (1) (2) (3) (4) (5) (1) (2) (3) (4) (5) (1) (2) (3) (4) (5) (1) (2) (3) (4) (5) (1) (2) (3) (4) (5) Ter prazer, divertir-se (1) (2) (3) (4) (5) Jogar bem, (1) (2) (3) (4) (5) Tornar-se mais apto e mais (1) (2) (3) (4) (5) (1) (2) (3) (4) (5) (1) (2) (3) (4) (5) (1) (2) (3) (4) (5) Ser justo, honesto, não Muito enganar Ser companheiro, estar com os amigos Ter compaixão, preocuparse com as pessoas ao meu redor Demonstrar conformidade, integrar-se no grupo Ser consciencioso, dar o máximo, fazer o melhor Empenhar-se, ser persistente e perseverante no jogo e na competição saudável pelo desporto Ser obediente, faz o que lhe pedem Ter realização pessoal, faz o melhor que pode Ter boa imagem pública, parecer bem, as pessoas vii gostam de mim Ter auto realização, sentir- (1) (2) (3) (4) (5) (1) (2) (3) (4) (5) (1) (2) (3) (4) (5) (1) (2) (3) (4) (5) (1) (2) (3) (4) (5) (1) (2) (3) (4) (5) se bem quando joga Exibir competência e habilidade, realizar bem as habilidad. e técnicas Mostrar desportivismo, ter comportamento apropriado, não ser um mau perdedor Ser coeso, incentivar e encorajar a equipa quando as coisas são difíceis Ser tolerante, envolver-se com outros mesmo não gostando deles Superar e ganhar aos outros Lee, M.J., Whitehead, J., & Balchin, N. (2000) Journal of Sport & Exercise Psychology. 22 Issue 4, 307-326. 2 2- Qual a idade para a criança iniciar a participação em competições dos quadros competitivos regulares na sua modalidade? 3 3- Qual o âmbito geográfico desejável para o quadro competitivo nos diversos escalões considerados 2 Que aspectos são absolutamente necessários para que uma criança possa iniciar a participação em competições regulares? (Pré requisitos biológicos, coordenativos, cognitivos) 3 Participação em competições nacionais e internacionais, porquê? Com que características? A partir de quando? Porque não participação em competições nacionais e internacionais? viii Quadro 4 – Considerando apenas o caso de sua modalidade, assinale o nível competitivo que deve haver para os escalões abaixo Quadro competitivo Escalões Competições Competições Competições Competições Competições a nível de a nível local a nível de a nível a nível Clube ou e de cidade distrito ou nacional internacional escola região Bambis ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Minis ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Escolinha ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Cadetes A ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Cadetes B ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Benjamins A ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Benjamins B ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Infantis A ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Infantis B ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Iniciados ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 4- Quais os formatos desejáveis para o calendário competitivo nestes escalões. (tipo de competição, nº de provas ou jogos, distribuição das provas ao longo da época). Quais os 4 critérios desejáveis para definir as equipas (participantes) que integram o calendário competitivo. 5- Quando acha que devem ser introduzidas prova a eliminar, nos escalões considerados? Que efeitos devem ter as classificações na competiçã5o para a organização das fases do 6 calendário competitivo? Para a distinção entre as equipas e para a atribuição de prémios 7 4 Acha que as competições devem ser realizadas de forma concentrada ou espaçadas aos finsde-semana, “estilo torneio”? Qual seria a vantagem? 5 Deve ser voltadas para um apuramento no sentido de revelar um vencedor? A partir de quando deve seguir-se essa orientação? A partir de que momento faz sentido apurar um campeão nacional nas etapas de formação? 6 7 Através de que critérios garantiria à participação nas fases seguintes da época desportiva? Faz sentido atribuir prémios só por resultados nas competições? Para que escalões da formação? Há interesse em diferenciar prémios para quem participa nas competições? Acha que devem ser atribuídos a todos os jogadores e atletas prémios independentemente do resultado? Qual o sentido? ix 6- Que actividades diferentes8 da competição específica da modalidade incluiria no quadro competitivo destes escalões? 7- Como encara a relação entre os objectivos e conteúdos do treino e da competição nestes escalões? Quadro 5 - Assinale o conteúdo do treino e o conteúdo da competição que deveria ser indicando para cada escalão nas etapas de formação desportiva. Conteúdo do treino Escalões Conteúdo da competição Treino Treino de Treino de Competições Competições Competiçõe multilateral especializaç. elevada multilaterais especializada s altamente inicial especialização s e adaptadas especializ. Bambis ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Minis ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Escolinha ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Cadetes A ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Cadetes B ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Benjamins A ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Benjamins B ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Infantis A ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Infantis B ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Iniciados ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 9 8- Sobre a formalidade da competição e adaptação do regulamento a) Que entidades ou instituições devem organizar a competição nos diversos escalões? b) Qual o grau de formalidade desejável para a arbitragem10 (quem arbitra e como arbitra) nos diversos escalões? 8 Para além do quadro competitivo regular qual o interesse de promover outros tipos de competições? Dê exemplos (informais, menos estruturadas, torneios, festivais) 9 A competição deve conter sempre os aspectos formais? Em que etapa da formação é forçoso que seja assim? Isso se aplica a todo o enquadramento competitivo? 10 Que carácter diferencia os escalões? Em que sentido? Para que nível de competição? As crianças podem arbitrar? A partir de quando? Até quando? Acha que é importante para a x c) Que alterações às regras são fundamentais nestes escalões11? (Duração ou distância das provas; dimensões do terreno, tamanho e peso dos matérias da competição, nº de jogadores por equipa). d) Que normas técnicas e pedagógicas relativas aos conteúdos e processos de organização do jogo devem ser estabelecidas pelas estruturas federativas nestes escalões? Quadro 6 - Atribua um grau de importância aos resultados em cada etapa da formação desportiva Muito Nada pouco Pouco importante importante importante Bambis (1) (2) (3) (4) (5) Minis (1) (2) (3) (4) (5) Escolinha (1) (2) (3) (4) (5) Cadetes A (1) (2) (3) (4) (5) Cadetes B (1) (2) (3) (4) (5) Benjamins A (1) (2) (3) (4) (5) Benjamins B (1) (2) (3) (4) (5) Infantis A (1) (2) (3) (4) (5) Infantis B (1) (2) (3) (4) (5) Iniciados (1) (2) (3) (4) (5) Escalões nas etapas de formação Importante Muito importante 9- Nos escalões considerados, de entre as crianças que participam regularmente nos treinos, quem deve ser convocado para os jogos ou provas e quem deve entrar na competição? 12 Estabelece alguma distinção entre os escalões. a) Regras para equilibrar a oportunidade de participação13 na competição formação desportiva das crianças e dos jovens passarem por funções de registo do marcador e anotação de resultados competitivos? Porquê? 11 Deveria haver uma diferenciação no ajustamento das regras entre os escalões? Porquê? Na actual estrutura competitiva acha que as alterações estão adequadas aos escalões, características e capacidades dos jovens desportistas? 12 Deveria haver uma diferenciação no ajustamento das regras entre os escalões? Porquê? Na actual estrutura competitiva acha que as alterações estão adequadas aos escalões, características e capacidades dos jovens desportistas? Alterações no número de jogadores em competição, Porquê? Com que sentido? Para que escalões? xi b) Participação conjunta14 de rapazes e raparigas 10- Qual a importância que deveria ser atribuída, nos cursos de formação dos treinadores, aos temas referente papel da competição no processo formativo, a sua organização e a preparação para participar? 13 O quadro competitivo numa época desportiva, dentro de uma mesma categoria, deve ser diferenciado à partida em função do nível competitivo ou tempo de prática dos atletas e das equipas? Quando pode ser feito? Nas etapas de formação acha que nas modalidades desportivas individuais a participação competitiva deveria fazer-se também em competições por equipas? Porquê? Quando? 14 Porquê? Até que etapa? xii