[nome do autor]
PARA UMA TEORIA DA COMPETIÇÃO
[título da tese > sem o sub-título]
DESPORTIVA PARA CRIANÇAS E JOVENS
UM ESTUDO SOBRE OS CONTEÚDOS,
ESTRUTURAS E ENQUADRAMENTOS
DAS COMPETIÇÕES DESPORTIVAS
PARA OS MAIS JOVENS EM PORTUGAL
[Marcelo Francisco da Silva Cardoso]
Porto, 2007
FACULDADE DE DESPORTO DA UNIVERSIDADE DO PORTO
PARA UMA TEORIA DA COMPETIÇÃO DESPORTIVA PARA CRIANÇAS E
JOVENS: UM ESTUDO SOBRE OS CONTEÚDOS, ESTRUTURAS E
ENQUADRAMENTOS DAS COMPETIÇÕES DESPORTIVAS PARA OS MAIS
JOVENS EM PORTUGAL
Marcelo Francisco da Silva Cardoso
Porto, 2007
Dissertação
Doutoramento
apresentada
no
ramo
às
provas
de
da
Ciência
do
Desporto nos termos do Decreto-Lei nº 216/92
de 13 de Outubro, orientada pelo Prof. Doutor
António Teixeira Marques e co-orientada pelo
Prof. Doutor Adroaldo Cezar Araújo Gaya
i
Ficha de Catalogação
Silva Cardoso, M. F. (2007). Para uma teoria da competição desportiva para
crianças
e
jovens:
um
estudo
sobre
os
conteúdos,
estruturas
e
enquadramentos das competições desportivas para os mais jovens em
Portugal. Porto: M.F. Silva Cardoso. Dissertação de Doutoramento apresentada
à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
Palavras-Chave: FORMAÇÃO DESPORTIVA; COMPETIÇÃO DESPORTIVA;
PEDAGOGIA DO DESPORTO; CRIANÇAS E JOVENS.
ii
AGRADECIMENTOS
A concretização deste trabalho, ao longo de seu desenvolvimento, inúmeras
foram as colaborações e incentivos recebidos. Quero, aqui, agradecê-los,
enumerando-os com prazer e gratidão.
Agradeço, especialmente, ao Prof. Dr. António Teixeira Marques por sua
orientação e incentivo na condução do trabalho. Também pela oportunidade de
convívio e amizade oferecidos durante a minha estada no Porto, Portugal.
Ao Prof. Dr. Adroaldo Cezar Gaya, co-orientador e amigo de longa data por seu
permanente atendimento, apoio e incentivo à realização deste projeto.
Aos professores da FADEUP que contribuíram no esclarecimento e orientação
dos aspectos metodológicos, estruturais e de organização desta tese: Prof. Dr.
António Manuel Fonseca, Prof. Dr. Amândio Graça, Prof. Dra. Isabel Mesquita,
Prof. Dr. José Oliveira, Prof. Dr. José Maia, Prof. Dra Paula Queiroz.
Aos professores, pela sua valiosa contribuição para a operacionalização dos
estudos
empíricos,
intermediando
os
contactos
com
as
federações,
associações desportivas e os treinadores: Prof. Dr. João Paulo Vilas Boas,
Prof. Dr. Júlio Manuel Garganta Silva, Prof. Dra. Alda Corte-Real, Prof. Dra.
Suzana Soares, Prof. Jorge Pinto, Prof. Dr. Ramiro Rolim, Prof. Dr. Paulo
Colaço, Prof. Eurico Brandão, Prof. Dr. Antonio Alberto Cunha, Prof. Dimas
Pinto, Prof. Dra Isabel Mesquita, Prof. Dr. António Natal.
À CAPES, por conceder a bolsa de estudos que garantiu a realização do
trabalho e minha permanência em Portugal.
iii
À Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), pela liberação que me
permitiu frequentar o curso de doutoramento no exterior.
À Faculdade de desporto da Universidade do Porto (FADEUP), pela afável
acolhida e por disponibilizar a utilização dos espaços e serviços.
Às Federações e associações desportivas de Portugal, pela disponibilização
dos documentos necessários para realização do primeiro estudo empírico.
Aos treinadores, pela paciência, colaboração e credibilidade ao concordarem
em conceder as entrevistas.
Aos colegas e amigos brasileiros, pela demosntração de amizade, atenção e
no convívio quando de suas passagens pelo Porto. Prof. Dr. Adroaldo Cezar
Araújo Gaya (UFRGS), Prof. Dr. Carlos Alberto Amadio (USP), Prof. Dr. Go
Tani (USP), Prof. Dr. Antônio Carlos Guimarães (em memória), Prof. Dr. Valdir
Barbanti (USP) e aos bolsistas, professores e coordenadores do projeto
PROESP-BR.
À minha esposa, Ivonice pelo apoio, compreesão e dedicação, aos meus pais e
irmãos pelo incentivo.
Reiterando meus agradecimentos, ao Dr. António Teixeira Marques, Dr. Jorge
Olímpio Bento, Dr. José Oliveira, Dr. José Maia, Dr. Amândio Graça, Dr. Júlio
Garganta, Prof. Jorge Pinto, Dra. Zélia Matos e a todos com quem convivemos
nos quatro anos que moramos no Porto. Tempo em que recebemos
solidariedades e fizemos amigos, que nos proporcionaram o conhecimento da
cultura e hábitos das várias regiões do país. Conhecimentos estes, hitóricoculturais, que muito contribuem para formação integral de um doutor. Destaco,
em especial, a oportunidade de ter conhecido e degustado os famosos vinhos
de Portugal.
iv
ÍNDICE GERAL
ÍNDICE DE FIGURAS ....................................................................................... ix
ÍNDICE DE QUADROS ..................................................................................... xi
RESUMO......................................................................................................... xiii
ABSTRACT..................................................................................................... xiv
RÉSUMÉ .......................................................................................................... xv
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 1
I - REVISÃO DA LITERATURA ......................................................................... 7
1.1. O conceito e a importância da competição na formação
desportiva de crianças e jovens.................................................................. 8
1.1.1. Conceito ............................................................................................ 8
1.1.2. A participação das crianças e jovens nas competições desportivas 10
1.1.3. O sistema de treino e competições vigente..................................... 12
1.1.4. Importância da competição no desporto de crianças e jovens ........ 15
1.1.4.1. Aspectos Psicológicos .............................................................. 17
1.1.4.2. Aspectos Sociais ...................................................................... 22
1.1.4.3. Aspectos Pedagógicos ............................................................. 23
1.1.5. A relevância dos resultados na competição de crianças e jovens .. 26
1.2. Valores e funções da competição no desporto de crianças e
jovens. ......................................................................................................... 31
1.3. Razões do abandono da prática desportiva e das competições ..... 34
1.4. Modelo de treino e modelo de competição de crianças e
adolescentes ............................................................................................... 38
1.4.1. Organização e adequação da preparação desportiva e a
participação competitiva de crianças e adolescentes ............................... 38
1.4.2. A idade de início da participação da criança em competições
regulares. .................................................................................................. 40
1.4.2.1. As posições da ciência e as formulações dos investigadores. . 41
1.4.2.1.1. Aspectos Biológicos ........................................................... 43
1.4.2.1.2. Aspectos Psico-sociais....................................................... 44
1.4.2.1.3. Aspectos Motores .............................................................. 46
1.4.2.2. As posições da pedagogia e as formulações dos especialistas 47
1.4.2.3. As Referências Empíricas da Prática Desportiva ..................... 48
1.4.3. A estrutura da Preparação Desportiva a Longo Prazo no Treino de
Crianças e Jovens..................................................................................... 54
1.5. Caracterização dos Desportos ........................................................... 64
1.6. As competições no modelo de prospectiva da preparação
desportiva.................................................................................................... 66
1.6.1. Natureza das competições nos estádios e etapas da preparação
desportiva de crianças e jovens. ............................................................... 66
1.6.2. O enquadramento geográfico das competições. ............................. 69
1.6.3. Competições em equipa nas modalidades individuais. ................... 71
1.6.4. As características das competições e os modelos de periodização do
treino. ........................................................................................................ 72
1.6.4.1. Competições no estádio de treino de base............................... 74
1.6.5. Número de competições e frequência da participação competitiva. 76
v
1.7. As propostas e exemplos de modificações nas competições de
crianças e jovens. ....................................................................................... 81
II - Metodologia ............................................................................................... 92
2.1. Primeiro Estudo.................................................................................. 95
2.1.1. Amostra ....................................................................................... 95
2.1.2. Instrumentarium........................................................................... 96
2.1.3. Procedimentos de recolha dos dados.......................................... 98
2.1.4. Procedimento de análise dos dados............................................ 98
2.2. Segundo Estudo............................................................................... 101
2.2.1. Amostra ..................................................................................... 101
2.2.2. Instrumentarium......................................................................... 102
2.2.3. Procedimentos de recolha de dados ......................................... 106
2.2.4. Análise dos dados ..................................................................... 107
III - APRESENTAÇÃO E DISCUSÃO DOS RESULTADOS.......................... 110
3. Primeiro Estudo Empírico.................................................................... 110
3.1 - Organização das competições ........................................................ 110
3.1.1 - Estrutura e características das competições................................ 110
3.1.1.1. Enquadramento geográfico das competições para os diferentes
escalões .............................................................................................. 110
3.1.1.2. A natureza da competição ...................................................... 112
3.1.1.3. Valorização de competições por equipas nas modalidades
individuais............................................................................................ 113
3.1.2. Idade de início da participação competitiva................................... 114
3.1.3. Directivas e orientações pedagógicas para as competições .. 115
3.1.3.1. Realização de competições mistas......................................... 115
3.1.3.2. Relação entre a organização do calendário das competições e o
calendário escolar (férias, datas festivas e exames escolares)........... 116
3.1.3.3. Critérios para estabelecer os quadros competitivos ............... 116
3.1.4. Sequência organizativa das competições ................................ 117
3.1.4.1. Aspectos que determinam a participação nos quadros
competitivos posteriores ...................................................................... 117
3.1.4.2. Organização dos quadros competitivos ao longo da época ... 119
3.1.4.3. Processo progressivo de especialização da competição....... 120
3.1.5. Objectivos da competição .......................................................... 121
3.1.5.1. Objectivos definidos pelas federações e associações para a
competição nos diferentes escalões.................................................... 121
3.1.5.2. Diferenças nos objectivos competitivos entre os escalões e entre
as diferentes modalidades desportivas................................................ 123
3.1.6. Sistema de pontuação e classificação ...................................... 124
3.1.6.1. Atribuição de prémios ............................................................. 124
3.1.6.2. Atribuição de prémios individuais ........................................... 125
3.1.6.3. Apuramento do campeão nacional ......................................... 125
3.1.6.4. Inclusão de provas a eliminar ................................................. 126
3.1.6.5. A participação competitiva dos atletas e equipas que têm
prestações mais baixas ....................................................................... 127
3.2. Regulamentos .................................................................................... 128
3.2.1. Adaptações das regras ................................................................. 128
3.2.1.1. Ocorrência de adaptações das regras nos escalões .............. 128
vi
3.2.1.2. Normas técnicas e pedagógicas estabelecidas pelas federações
............................................................................................................ 128
3.2.2. Arbitragem..................................................................................... 129
3.2.2.1. Realização da arbitragem ....................................................... 129
3.2.2.2. Nível de graduação exigida ao árbitro nos diferentes escalões
............................................................................................................ 130
3.2.2.3. Características da arbitragem nos escalões ........................... 130
3.3. Actividades competitivas.................................................................. 131
3.3.1. Conteúdos..................................................................................... 131
3.3.1.1. Inclusão de actividades competitivas de outras modalidades na
competição do desporto seleccionado................................................. 131
3.3.1.2. Actividades competitivas diversificadas e adaptadas ............. 131
3.3.1.3. Progressão dos conteúdos das actividades competitivas entre os
escalões .............................................................................................. 132
3.3.1.4. Relação entre os conteúdos da actividade e os objectivos da
formação.............................................................................................. 133
3.4. Carga de competição......................................................................... 134
3.4.1. Número de competições para cada escalão ................................. 134
3.4.2. Período de tempo em que ocorrem as competições ..................... 136
4. Segundo Estudo Empírico ................................................................... 137
4.1. A organização das competições ...................................................... 137
4.1.1. Estrutura e características das competições ................................. 137
4.1.1.1. Enquadramento geográfico das competições para os diferentes
escalões .............................................................................................. 137
4.1.1.2. Natureza das competições ..................................................... 139
4.1.1.3. Entidade organizadora das competições................................ 148
4.1.2. Início da participação competitiva............................................. 152
4.1.2.1. Definição da idade e requisitos para participar ....................... 152
4.1.3. Directivas e Orientações Pedagógicas.......................................... 158
4.1.3.1. Acesso à competição.............................................................. 158
4.1.3.2. Estabelecimento do quadro competitivo ................................. 163
4.1.3.3. Participação Mista .................................................................. 168
4.1.3.4. Importância atribuída aos resultados...................................... 171
4.1.3.5. Valores do desporto e da competição .................................... 172
4.1.3.6. Funções das competições ...................................................... 175
4.1.4. Objectivos da competição .......................................................... 176
4.1.4.1. Distinção nos objectivos das competições ............................. 176
4.1.4.2. Prioridades na orientação da participação competitiva dos mais
jovens .................................................................................................. 177
4.1.4.3. Prioridades na orientação da preparação dos mais jovens para a
competição .......................................................................................... 179
4.1.4. 4. A evolução dos objectivos ao longo dos escalões................. 180
4.1.4.5. Anos da formação dedicados à participação no treino e nas
competições com orientações diferenciadas ....................................... 182
4.1.5. Sistema de pontuação e classificação ...................................... 183
4.1.5.1. Competições voltadas para o apuramento do campeão nacional
............................................................................................................ 184
4.1.5.2. Atribuição de prémios ............................................................. 186
vii
4.1.5.3. Critérios para garantir a participação nas fases seguintes da
competição .......................................................................................... 190
4.1.5.4. Introdução de provas a eliminar.............................................. 192
4.2. Regulamento ...................................................................................... 193
4.2.1. Adaptação das regras................................................................. 194
4.2.1.1. Adaptações dos regulamentos da competição ....................... 194
4.2.1.2. Escalões em que os regulamentos devem ser adaptados ..... 195
4.2.1.3. Adaptações consideradas mais importantes .......................... 196
4.2.1.4. Avaliação das alterações regulamentares propostas pelas
federações........................................................................................... 199
4.2.1.5. Normas técnicas e pedagógicas estabelecidas pelas federações
............................................................................................................ 201
4.2.2. Arbitragem ................................................................................... 203
4.2.2.1. Quem deve arbitrar................................................................. 203
4.2.2.2. Carácter da arbitragem ........................................................... 205
4.2.2.3. Participação das crianças e jovens na arbitragem.................. 206
4.2.2.4. Desempenho das crianças e jovens de outras funções na
competição .......................................................................................... 208
4.3. Conteúdo das actividades competitivas e conteúdo do treino ..... 209
4.3.1. Conteúdo das actividades competitivas ........................................ 209
4.3.2. Percentuais dos anos de formação dedicados aos diferentes
conteúdos da actividade competitiva ...................................................... 213
4.4. Carga de competição......................................................................... 214
4.4.1 – Frequência de participação competitiva ...................................... 215
4.4.2. Formato do calendário competitivo ............................................... 217
4.4.3. Disposições das competições ....................................................... 221
4.4.5. Relação entre a carga de competição e a carga de treino ............ 223
4.5. Competição na formação dos treinadores ...................................... 225
4.5.1. Aspectos relacionados com o papel da competição na formação dos
mais jovens que deveriam estar presentes nos cursos de formação dos
treinadores. ............................................................................................. 227
4.7. Síntese do Segundo Estudo Empírico ............................................. 232
IV CONCLUSÃO............................................................................................ 242
V - BIBLIOGRAFIA........................................................................................ 254
ANEXO ............................................................................................................... i
Anexo 1 - Etapas da formação desportiva nos estágios de preparação
referenciadas para os escalões das modalidades colectivas ................... i
Anexo 2 - Categorias sub-categorias e questões correspondentes do
instrumento de análise do primeiro estudo empírico .............................. iii
Anexo 3 - Inquérito utilizado no Segundo estudo empírico...................... v
viii
ÍNDICE DE FIGURAS
Pág
Figura 1- Grelha utilizada para análise do conteúdo do inquérito aplicado
aos treinadores
109
Figura 2 - Enquadramento geográfico das competições para os
diferentes escalões
110
Figura 3 - Natureza da Competição: formal e informal
112
Figura 4 - Idade de início da participação nos quadros competitivos
114
regulares
Figura 5 – Organização de competições mistas nas modalidades
115
desportivas por escalões
Figura 6 – Critérios para estabelecer os quadros competitivos por
escalões
117
Figura 7 – Aspectos que determinam a participação nas fases seguintes
da competição
118
Figura 8 – Formato do calendário competitivo
119
Figura 9 – Resultados, organização e alterações no conteúdo das
120
competições entre os escalões
Figura 10 - Objectivos das competições definidos pelas federações e
associações
122
Figura 11 – Atribuição de prémios por escalões
124
Figura 12 – Ocorrência de competições voltadas para o apuramento do
campeão nacional em cada escalão.
125
Figura 13 - Inclusão de provas à eliminar por escalões
126
Figura 14 – Responsável pela arbitragem nas competições por escalões
129
Figura 15 - Actividades competitivas diversificadas e adaptadas por
escalões
132
Figura 16 – Enquadramento da participação competitiva por âmbito
geográfico em cada escalão, das modalidades em geral.
137
Figura 17 – Natureza das competições por escalões
139
Figura 18 – Carácter da competição em relação ao enquadramento
geográfico
147
Figura 19 – Entidades que devem organizar as competições desportivas
149
ix
para os mais jovens.
Figura 20 – Idade de início para a participação competitiva nos quadros
regulares
153
Figura 21 – Critérios de escolha para a participação na competição
160
Figura 22 – Critérios para definir a participação de uma equipa ou atleta
no quadro competitivo
164
Figura 23 – Importância dos resultados na competição por escalões
171
Figura 24 – Funções das competições
175
Figura 25 – Prioridades que devem orientar a participação competitiva
por escalões das modalidades em geral
178
Figura 26– Objectivos que devem orientar a preparação para a
competição por escalões, nas modalidades em geral
179
Figura 27 – Média dos percentuais dos anos da formação dedicados à
participação competitiva nas orientações diferenciadas
182
Figura 28 – Média dos percentuais dos anos da formação dedicados à
preparação para a competição nas orientações diferenciadas
183
Figura 29 – Atribuição de prémios por escalões
187
Figura 30 – Concordância com à introdução de provas a eliminar por
escalões
192
Figura 31 – Adaptações no regulamento por escalões
195
Figura 32 – Arbitragem por nível competitivo
203
Figura 33 – Participação da criança como árbitro na competição por
escalões
206
Figura 34 – Conteúdo da actividade competitiva para os escalões
210
Figura 35 – Média dos percentuais dos anos de formação dedicados à
participação em competições diferenciadas pelo conteúdo
213
Figura 36 - Formato do calendário competitivo
218
Figura 37 – Disposição das competições
221
Figura 38 – Avaliação da frequência de participação competitiva em
relação às necessidades para a formação desportiva das crianças e
jovens
223
x
ÍNDICE DE QUADROS
Pág.
Quadro 1 - Estudos realizados em Portugal sobre a participação em
competições de atletas jovens
13
Quadro 2 - Idade do início da participação desportiva em alguns
desportos e especialidades desportivas.
50
Quadro 3 - Zonas das idades limites dos resultados (adaptado de Filin,
1996)
55
Quadro 4 - Modelos de preparação desportiva a longo prazo e
respectivas etapas
57
Quadro 5 - Duração de cada etapa da PDLP nos diversos desportos
(adaptado de Platonov, 1994)
60
Quadro 6 - Idade da iniciação, da especialização e da alta performance
em diferentes desportos (adaptado de Bompa, 2000)
63
Quadro 7 - Enquadramento territorial das competições dos mais jovens,
(Matweiev e Nowikov (1982); citados por Marques, 1997)
69
Quadro 8 - Idade mínima para a participação em competições (adaptado
70
de Bompa, 2000)
Quadro 9 - Natureza das competições realizadas, em algumas
modalidades, por jovens atletas portugueses do escalão infantil, ou
equivalente, no ano de 1995.
71
Quadro 10 - Valores médios da carga anual de treino e de competição e
da frequência de participação competitiva em jovens atletas portugueses
dos escalões (infantis e iniciados) (Marques, 1993)
77
Quadro 11 - Valores médios da carga anual de treino e de competição e
da frequência de participação competitiva em jovens atletas portugueses
de Jogos Desportivos, dos escalões Infantis e Iniciados (adaptado de
78
Marques, 1993)
Quadro 12 - Número total de competições e competições nacionais
(entre parênteses), no sector de jovens, masculinos, em Portugal.
(Andrade, 1995)
79
Quadro 13 - Características da actividade competitiva dos atletas de alta
competição durante um ciclo anual de treino, em várias modalidades
xi
80
(adaptado de Zakharov, 1992)
Quadro 14 - Etapas de formação desportiva nos estágios de preparação
94
proposta por vários autores
Quadro 15 – Grelha de análise para caracterização do quadro
98
competitivo
Quadro 16 – Organização das competições
100
Quadro 17 – Regulamentos
101
Quadro 18 – Actividades competitivas
101
Quadro 19 – Carga de Competição
101
Quadro 20 – Critérios adoptados para garantir a participação de equipas
ou atletas com prestações mais baixas na competição por escalões.
127
Quadro 21 – Percentuais de ocorrência de actividades competitivas com
conteúdos relacionados com os objectivos formativos
133
Quadro 22 – Frequência de participação competitiva por mês e por
temporada para cada escalão das respectivas modalidades desportivas
135
Quadro 23 – Idade de início para a participação competitiva por
modalidades desportivas, segundo os avaliados da amostra
154
Quadro 24 – Acesso à competição por modalidades desportivas
158
Quadro 25 – Participação mista nas competições durante as etapas de
formação desportiva. Resposta dos treinadores
169
Quadro 26 – Importância atribuída aos valores do desporto e da
competição para a formação desportiva
173
Quadro 27 – Estrutura de valores e atitudes no desporto e na
174
competição
Quadro 28 – Apuramento para o campeão nacional por escalões e
modalidades desportivas: as respostas dos treinadores.
184
Quadro 29 – A posição dos treinadores sobre adaptação das estruturas
e do regulamento técnico-pedagógico da competição propostas pelas
federações desportivas
199
Quadro 30 – Frequência de participação competitiva por mês e por
temporada para cada escalão e por modalidade desportiva
xii
215
RESUMO
O presente estudo tem os seguintes objectivos: a-) delinear um modelo teórico,
pedagógico
e
cientificamente
justificado,
capaz
de
fundamentar
o
enquadramento do sistema de competição desportiva para atletas em fase de
formação; b-) analisar os modelos vigentes nas organizações desportivas em
Portugal; c-) verificar a concepção dos treinadores quanto à adequada
organização das competições desportivas para crianças e jovens; d-) verificar
os pontos convergentes e divergentes entre o quadro competitivo proposto
pelas federações e associações, a concepção dos treinadores e as orientações
e recomendações na literatura. Optamos por uma metodologia qualitativa, por
nos permitir conhecer a lógica predominante nos modelos de competições. Na
investigação, efectuada em dois estudos empíricos, foram seleccionadas dez
modalidades: basquetebol, voleibol, andebol, futebol e rugby, atletismo,
ginástica artística, natação, judo e ténis de mesa. No primeiro estudo,
analisamos os conteúdos dos documentos das federações e associações
desportivas de Portugal. No segundo estudo, realizado com trinta técnicos,
aplicamos uma entrevista estruturada. Os conteúdos das entrevistas foram
transcritos e tratados no programa de análise QRS-NVIVO V.2.0. Constatamos,
no quadro competitivo vigente e nas concepções dos treinadores a indicação
de um enquadramento geográfico a nível nacional e de idades de 7 e 8 anos
para o início da participação competitiva, divergindo das recomendações da
literatura, que as considera precoces. Quanto ao formato do calendário, o
acesso à competição, a inclusão de apuramentos e os conteúdos das
actividades competitivas, as concepções dos treinadores apresentam maiores
convergências com as recomendações da literatura do que o modelo vigente
de competições. No sistema competitivo actual, os conteúdos das actividades
são especializados, com eliminatórias e com o objectivo de revelar o campeão,
adoptando uma lógica próxima a competições do alto nível. São necessárias
reformulações no sistema de competições vigentes em Portugal. É preciso
atribuir à competição uma função formativa que ganhe significado pedagógico,
contribuindo, desta maneira, com a formação desportiva a longo prazo.
PALAVRAS - CHAVE: COMPETIÇÃO; DESPORTO; FORMAÇÃO; JOVENS;
CRIANÇAS.
xiii
ABSTRACT
This present study has the following objectives: a) to delineate a theorical model
pedagogically and scientifically justified, that is able to base the framing of
sporting competition system for athlets in period of growth formation; b) to
analyse the effective models in sporting organizations in Portugal; c) to verify
the trainers conceptions as to adequate organizations of sporting competitions
for children and youths; d) to verify the convergences and divergences among
the competitive set that is proposed by Federations and Associations, the
trainers conceptions, the orientations and recomendations in bibliography. We
opted for a qualitative methodology, since it allows us to know the predominant
logic in competition models. At the investigations performed in two empirical
studies, were selected ten modalities such as, basketball, volleyball, handball,
soccer and rugby, athletics, gymnastics, swimming, judo and table tennis.
In the first study, we analysed the documents contents in Sporting Federations
and Associations from Portugal. In the second study performed with thirty
technicians, we applied a structured interview. The interview contents were
transcribed and attended on QRS-NVIVO V2.0 analysis program. We verified at
the effective competitive set and in trainers conceptions, the indication of a
geographical setting on National level, and among ages from 7 to 8, for the
beginning
of
competitive
participation,
diverging
from
bibliography
recomendations that considers it as precocious. As to the calendar form, the
access to competition, the inclusion of selection and contents of competitive
activities, the trainers conceptions present bigger convergence to bibliography
recomendations than the competition effective model. At the current competitive
system, the contents of activities are specialized, with eliminatories and the
purpose of revealing the champion, adopting a logic csimilar to high level
competitions. It is necessary a reformulation in effective competition system in
Portugal. It is necessary to assign a formative function to competition that gains
a pedagogical meaning, in order to contribute with long term sporting formation.
Key Words: COMPETITION; SPORT; FORMATION; YOUTH; CHILDREN.
xiv
RÉSUMÉ
Cette étude présente les objectifs suivants: a) esquisser un modèle théorique,
pédagogique qui soit scientifiquement justifié, capable d'établir l'accord du
système de compétition sportive pour les athlètes en phase de formation; b)
analyser les modèles en vigueur dans les organisations sportives au Portugal;
c) vérifier la conceptiondes entraîneurs quant à l'organisation adéquate de ces
compétitions pour des enfants et pour des jeunes; d) diriger son attention vers
les points convergents et divergents entre la réalité de la compétition propose
par les Fédérations et les Associations. Il faut aussi qu'on soit attentif à la
conception des entraîneurs, les orientations et recommandations dans la
littérature. Nous avons choisi une méthodologie qualitative qui nous permette
de connaître la logique prédominante des modèles de compétitions. Dans
l'investigation, faite en deux études empiriques, dix modalités ont été
sélectionnées, c'est-à-dire: basket-ball, volley-ball, handball, football et rugby,
athlétisme, gymnastique artistique, natation, judo et tennis de table. A la
première étude, nous avons analysé les contenus des documents dês
Fédérations et Associations sportives du Portugal. A la seconde étude, réalisée
par trente techniciens, nous avons fait usage d'une entrevue structurée. Les
contenus des entrevues ont été transcrits et traités dans le programme
d'analyse QRS-NVIVO V.2.0. Nous avons vérifié dans le rôle compétitif en
vigueur et, d'après les conceptions des entraîneurs, le renseignement d'une
position géographique de niveau national y comprenant les âges de 7 et 8 ans,
en s'agissant du commencement de la participation compétitive, en divergeant
dês recommandations de la littérature, laquelle les considère précoces. Quant
au format du calendrier, l'accès à la compétition, à la conclusion d'épurements
et les contenus des activités compétitives, les conceptions dês entraîneurs
présentent plus grandes conver gences avec les recommandations de la
littérature que le modèle actuel de compétition. Dans le système compétitif
effectif, les contenus des activités sont spécialisés, ayant les éliminatoires
l'objectif de révéler le champion, en choisissant une logique prochaine à
compétitions de haut niveau. Il faut des formulations dans le système de
compétition à l'usage au Portugal. Il y a besoin de ce qu'on attribue à la
xv
compétition une fonction formative qui reçoive sa signification pédagogique. Si
elle contribue de cette façon, la function sportive, aura-t-elle son long délai.
MOTS-CLÉ; COMPÉTITION; SPORT; FORMATION; JEUNES; ENFANTS.
xvi
INTRODUÇÃO
O envolvimento de pré-adolescentes no desporto competitivo é um fenómeno
relativamente recente. Sobral (1993), afirma que o comprometimento da
criança com a prática desportiva regular iniciou-se após a realização dos Jogos
Olímpicos de Roma, em 1960. Nos últimos 20 anos, a actividade desportiva
organizada em idades mais baixas aumentou muito rapidamente (Thomson,
1996). Facto que exige da ciência do desporto dedicar-lhe cada vez maior
atenção.
Embora, Halbert (1986) afirme que mais importante do que discutir a sua
aceitação é criar as condições para fazer dela uma experiência positiva. No
entanto, as discussões sobre a participação da criança, no treino e na
actividade competitiva, têm apresentado opiniões divergentes.
Para Kurz (1988), o desporto de rendimento tem significado pedagógico e pode
ser estruturante para a formação e desenvolvimento da criança, desde que
organizado de forma adequada e ajustado às condições e características da
criança, ao seu mundo. Entretanto, para que a competição possa ter a função
formativa e estruturante da personalidade, torna-se necessário promove-la de
forma criteriosa e cuidadosa. Martens (citado por Gould e Eklund, 1996, p. 383)
sugere que as crianças expostas a vivências de situações de pressão
competitiva poderão, a longo prazo, obter uma maior capacidade de suportar
estresse, o que, na opinião do autor, seria algo positivo.
Não obstante, o que temos observado na prática sobre a participação de
crianças e jovens em competições desportivas é uma sobrevalorização das
competições. O ambiente, em que ocorrem estas competições, apresenta
pressões e expectativas excessivas centradas na obtenção da vitória e do
sucesso em crianças e jovens que ainda apresentam limitada estabilidade
psicológica.
Para muitos treinadores, dirigentes e pais, a vitória nas competições continua a
ser o objectivo primeiro, o que, em nossa opinião, subverte toda a lógica de
programas que deveriam estar centrados na formação. Com efeito, a procura
de rendimento imediato impõem estratégias de treino que produzam resultados
a curto prazo, mas comprometem os resultados futuros e frustam as
expectativas de crianças e adolescentes, (Marques, 1993a).
1
Como exemplo, Platonov (1988) refere que estudos na ex-URSS mostram que
cerca de 40 % dos nadadores de 13 a 16 anos, que treinam em Escolas de
Desporto, não chegam à etapa de alto rendimento devido às cargas de treino
excessivas. Outro factor importante é em relação ao abandono da prática
desportiva, Petlichkoff (1996), em seus estudos aponta que as crianças e
adolescentes parecem abandonar o desporto de rendimento, em boa parte,
devido a factores pessoais (falta de capacidade, falta de progresso nos
resultados) ou situacionais (falta de tempo de jogo, falta de apoio social, ênfase
no programa).
E evidente que a preparação das competições, assim como os princípios e
recomendações para o treino de crianças e adolescentes, não podem ser
iguais aos que orientam os atletas de alto nível. O treino de crianças e jovens é
caracterizado por uma especialização crescente, também as competições
devem ser sujeitas a um processo de progressiva especialização. Desta forma,
as competições, nas etapas de estágio de treino de base e na primeira etapa
de treino de especialização aprofundada, têm significados e objectivos
diferentes do treino de alto nível (Marques, 1995b).
Para Weineck (1986) as competições no desporto infantil e juvenil devem servir
essencialmente aos propósitos da formação e, por isso, seguem no plano
organizativo ou no plano dos conteúdos, organicamente ligadas com as
funções atribuídas ao treino.
Conforme Deutsche Sportbund (1983), nas etapas iniciais de formação, a
oferta de competições deverá ter limites locais ou regionais, em função da
idade. Pretende-se, com isso, impedir uma orientação excessiva para o
sucesso, limitar a pressão psicológica e, por outro lado, impedir uma
sobreavaliação do indivíduo e dos seus resultados competitivos.
Matweiev e Nowikov (1982) propuseram normas relativas ao enquadramento
territorial do sistema de competições de jovens desportistas dividido nos
seguintes escalões etários: 9-10 anos – competições desportivas na escola;
11-12 anos - competições a nível local e de cidade; 13-14 anos competições
em nível de distrito, região ou república autônoma; 15-16 anos - competições a
nível nacional.
Contudo, a participação de crianças e adolescentes na competição ganha uma
dimensão particular, devido a factores que propiciaram uma falta de
2
sensibilidade e interesse para enquadrar as questões relacionadas com a
teoria das competições. Durante um largo tempo, o treino e a participação
competitiva foram uma réplica ou uma adaptação mais ou menos estreita dos
conhecimentos e formas de organização do desporto de alto rendimento.
Outro factor evidenciado é que a investigação dos problemas da preparação
desportiva dos mais jovens teve, e continua a ter, uma posição subalterna, quer
no que se refere aos meios financeiros e materiais que mobiliza, assim como
nos recursos humanos para o fazer. Uma das dificuldades resultantes da
complexidade das questões a tratar refere-se às dinâmicas do processo
maturacional dos sujeitos em estudo e, principalmente, pelas mudanças na
formação da personalidade.
Assim, se por um lado, às questões teóricas e metodológicas do
enquadramento do treino é conferida uma crescente importância, por outro,
para o enquadramento da competição não se tem justificado uma atenção
idêntica. Portanto, ainda não se pode anunciar uma teoria das competições no
sistema de preparação desportiva para crianças e jovens. O desenvolvimento
de uma teoria da competição para os mais jovens começou, recentemente, a
ser
objecto
dos
primeiros
esforços
sistemáticos
de
elaboração.
Os
conhecimentos disponíveis são empíricos e avulsos, carecendo por esse fato,
de uma organização, classificação e sistematização de acordo com a sua
importância (Marques, 1997b). Thieß (1991), num levantamento feito sobre
algumas referências fundamentais da bibliografia alemã de treino desportivo,
publicadas em 1986 por Harre, em 1991 por Martin, Carl e Lehnertz, e em 1994
por Schnabel, Harre e Borde, conclui que os conteúdos destes livros
relacionados com a competição se resumiam, respectivamente, a 3,5%, 3% e
8% do total da obra.
É, assim, da maior relevância o desenvolvimento de um modelo teórico de
enquadramento da competição dos mais jovens que considere a pressão e
vigilância social que se vêm exercendo sobre a participação competitiva das
crianças.
Énecessário configurar
um
desporto
de acordo
com
suas
possibilidades e anseios, que estabelecem um enquadramento mais adequado
das competições, se possível, baseado numa maior cooperação entre a
comunidade científica e as organizações desportivas.
3
A importância do enquadramento dos sistemas de competições para crianças e
jovens, justifica-se, principalmente, por que é nessa fase que ocorre um maior
distanciamento da lógica das competições do desporto de alto rendimento. Um
estudo realizado em equipes de jovens desportistas dos escalões infantis e
iniciados dos centros de Treino da Faculdade de Desporto da Universidade do
Porto (Marques 1993a), mostrou ser ainda notória a utilização de princípios e
modelos de desporto de alto rendimento na organização das competições e na
periodização do treino de crianças e jovens.
Por outro lado, uma lógica organizacional tradicional, muito próxima da que
impera no desporto de alto nível, tem dificultado a adopção de medidas de
enquadramento das competições mais compatíveis com as exigências da
formação dos mais jovens (Andrade, 1996). A adequação dos sistemas de
competições aos objectivos da formação, a longo prazo, necessitaria uma
maior
cooperação
entre
as
agências
governamentais,
federações
e
associações desportivas, o sistema educativo e as universidades. O que
tornaria possível um melhor aproveitamento dos contributos e esforços para a
renovação do sistema de competições, já realizados e bem sucedidos, em
outros países (Sobral, 1993).
A complexidade das questões a tratar exige contributos de diferentes áreas do
conhecimento e há necessidade de integrar esses conhecimentos numa teoria
sólida e coerente. Entretanto, tratando-se de crianças e jovens, a necessidade
de compatibilizar a formação desportiva com um harmonioso desenvolvimento
corporal, motor e psico-social, justifica que a reflexão dos problemas da
participação competitiva seja enriquecida com a integração de contributos de
outras áreas do conhecimento. A auxologia, a biologia, o desenvolvimento
motor, a pedagogia, a psicologia e a psicologia social, podem interrelacionar-se
com a teoria e metodologia do treino. Daí a necessidade de que trate este
projecto de desenvolver novos conteúdos e estruturas do sistema de
competições o qual visa: (1) oferecer suporte a um treino adequado à criança;
(2) opor-se à especialização precoce; (3) promover uma construção sistemática
a longo prazo da prestação (Rost, 1995).
A partir desta problematização, justificamos a relevânciancia do presente
estudo, considerando principalmente:
4
- O modelo vigente do sistema de competições para crianças e jovens em
Portugal;
- A concepção definida pelos treinadores, a respeito organização das
competições;
- As orientações e recomendações para o enquadramento das competições.
A partir da incidência de discusão destes três aspectos pretendemos, em
continuidade relaciona-los através do seguinte problema de pesquisa.
No que concerne as estruturas, conteúdos e enquadramentos competitivos,
que atendam os princíos e objetivos da formação desportiva, a longo prazo,
será que há uma confluência entre estes três pontos?
OBJECTIVOS
O presente estudo delimita-se claramente na área do treino desportivo. Mais
especificamente, situa-se no âmbito das investigações sobre o conteúdo,
estrutura e enquadramento do sistema de competição de crianças e jovens e,
neste contexto, definimos os seguintes objectivos:
I - A partir de um estudo de revisão da literatura, delinear um modelo teórico,
pedagógico
e
cientificamente
justificado,
capaz
de
fundamentar
o
enquadramento do sistema de competição desportiva para atletas em fase de
formação.
II - Tendo como referência o modelo teórico de enquadramento do sistema de
competição desportiva para atletas em fase de formação, analisar os modelos
vigentes nas organizações desportivas em Portugal. Através da análise dos
documentos das federações e associações desportivas, caracterizar o quadro
competitivo dos mais jovens em Portugal.
III – Verificar a concepção dos treinadores quanto a adequada organização das
competições desportivas para crianças e jovens. Através de uma entrevista
estruturada, composta por questões abertas e fechadas.
5
IV - A partir das análises realizadas no segundo e terceiro objectivo,
pretendemos verificar os pontos convergentes e divergentes entre o quadro
competitivo proposto pelas federações e associações, a percepção dos
treinadores e as orientações e recomendações da literatura.
Desta forma, podemos sugerir algumas modificações nos conteúdos, estruturas
e enquadramentos do sistema vigente de competições das crianças e jovens,
para que atenda aos objetivos da formação a longo prazo.
Estrutura do trabalho
O presente estudo foi organizado em quatro partes. Na primeira parte tratamos
da revisão da literatura, onde abordamos a importância da competição na
formação desportiva de crianças e jovens, a crítica aos modelos actuais, à
dimensão pedagógica da participação competitiva, os modelos de treino e
competição e as modificações no desporto de crianças e jovens. A segunda,
diz respeito a metodologia utilizado no estudo, no qual descrevemos o modelo
de abordagem adoptado, as amostras investigadas nos dois estudos empíricos
e respectivos processos de selecção, os instrumentos utilizados, referenciando
os processos de construção e validação de conteúdo, assim como os
procedimentos de colecta de dados realizados no primeiro e segundo estudo.
Na terceira, referente a apresentação e discussão dos resultados, relatamos a
análise de conteúdo que realizamos, primeiramente, com os documentos das
federações e associações desportivas de Portugal, para caracterizar o quadro
competitivo vigente nas categorias de formação. Na sequência apresentamos a
análise referente ao conteúdo das entrevistas, apontando as percepções dos
treinadores sobre a organização e enquadramento das competições de
crianças e jovens. No final desta terceira parte apresentamos a síntese dos
dois estudos empíricos. Na quarta parte, apresentamos as conclusões sobre o
trabalho, os pontos convergentes e divergentes entre o modelo vigente a
percepções dos treinadores e as orientações e recomendações da literatura.
Por fim, faremos algumas sugestões para organização das competições de
crianças e jovens.
6
I - REVISÃO DA LITERATURA
Apresentação
O treino e a participação competitiva de crianças e jovens foram, durante largo
tempo, uma réplica ou uma adaptação mais ou menos estreita dos
conhecimentos e formas de organização do desporto de alto rendimento. Este
problema é sobretudo marcante no que se refere às competições de crianças e
adolescentes. É nesta etapa de iniciação, principalmente, que se justifica um
maior distanciamento da lógica das competições do desporto de alto
rendimento, (Marques, 1997b).
Neste sentido, é importante enfatizar o entendimento de que a criança não é
um adulto em menores proporções e, portanto, o desporto deve ser
organizados em função dela.
São as necessidades das crianças e jovens que legitimam a presença do
desporto em suas actividades. Só assim é que podemos afirmar que
desenvolvemos um desporto para jovens.
Para as crianças e jovens, a participação em actividades competitivas, além de
ser
extremamente
positiva,
dá
a
oportunidade
para
desenvolver
as
competências, na procura da excelência e da superação (Drewe, 1998), mas,
esta adesão ao desporto está associada aos sentidos que lhes são atribuídas
pelos jovens.
Todavia, é bem verdade que hoje em dia já se verificam, em determinadas
modalidades desportivas, mudanças nas formas de competições de crianças e
jovens. Particularmente, por que os responsáveis pela organização das
actividades competitivas deixaram de gerar resistências quanto às alterações
na estrutura, regulamentos e conteúdos das competições (Rost; Lima, 2000).
No entanto, é de ressaltar que ainda permanecem as dificuldades que resultam
da falta de referências de enquadramento mais sólidas. Marques (1997b),
chama a atenção sobre a ausência de uma teoria das competições. A
necessidade de um desporto mais adequado às possibilidades e anseios das
7
crianças e jovens, justificria o desenvolvimento de um modelo teórico de
enquadramento das competições.
Porém, Marques (1998b) resalta, ainda, o facto de que os técnicos desportivos,
os professores de educação física, investigadores, pais e dirigentes devem ter
uma responsabilidade e assumir um comprometimento, no auxilio aos mais
jovens, em seu percurso para o alto rendimento. Entretanto, sem comprometer
a sua educação, limitar a sua personalidade ou comprometer a sua saúde. O
desenvolvimento das bases de uma formação desportiva assume um papel
preponderante, no processo de direcção e acompanhamento da preparação
dos futuros atletas de alto rendimento. Segundo Marques (1998b), para que a
formação desportiva ocorra de forma mais correcta e os jovens tenham uma
adequada
educação,
seria
necessário
uma
revalorização
do
sentido
pedagógico da formação desportiva e uma maior qualificação dos treinadores e
de todos os que acompanham a formação desportiva daqueles.
1.1. O conceito e a importância da competição na formação desportiva de
crianças e jovens
1.1.1. Conceito
Dentro de uma perspectiva cultural, Bento (2004), “afirma que o desporto é
uma cultura de relações e condutas humanas, um códice de normas de trato
humano duramente posto à prova em situações de tentação e dificuldade,
como são as do jogo e da competição. O desporto pertence ao conjunto dos
domínios culturais em que nos reconhecemos como seres humanos, em que
aprendemos estilos de respeito e gestos de circunspecção humanizadores que
temos uns para com os outros”.
Na carreira desportiva de um atleta, desde sua formação até o alto nível,
grande parte das situações de sucesso e insucesso estão relacionadas à
qualidade e natureza do enquadramento técnico-pedagógico de todo o
processo de treino e competição no desporto infantil e juvenil.
Entender o processo de desenvolvimento do rendimento desportivo e da
educação dos jovens requer uma análise do seu significado e do seu conceito,
8
atribuído à realidade actual. É o ponto de partida para que possamos formular
estratégias metodológicas mais adequadas.
A competição desportiva é uma categoria inerente ao fenómeno geral do
desporto, que se define como comparação de rendimento, onde se deve levar
em conta a base de regras obrigatórias, pautas de orientações e regulamentos
(Thiess, Tschiene, Nickel, 2004). Estes mesmos autores nos esclarecem que a
categoria de competição desportiva, como comparação de rendimento sobre a
base de regulamentos obrigatórios e regras qualificadoras, está implícita em
todos os âmbitos da forma física e desportiva. Sua contribuição para o
desenvolvimento de competências desportiva, para auto-superação, para o
rendimento corporal e para a formação desportiva está presente nas diferentes
formas e contextos de prática desportiva, desde que as condições sejam
concebidas de forma correcta e eficaz para a comparação de rendimento
desportivo. Neste sentido, Dévis (1996) explica que a competência consiste em
uma busca pela excelência pessoal e este aspecto é positivo na participação
de crianças e jovens em actividades competitivas.
A competição desportiva com os jovens é o espaço no qual podemos ensinálos a desenvolver a sua capacidade de superação. No entanto, Relaño (2000)
alerta para considerarmos, na participação competitiva, a superação na
tolerância, no respeito, na grandeza das relações sociais e nas manifestações
plurais.
Sherif (1978) refere-se à competição como actividade directa, mais ou menos
consistente ou a execução de um objectivo, no qual a performance de uma
pessoa ou do seu grupo é comparada e avaliada em relação à selecção de
outras pessoas ou grupos. Outros investigadores demonstram que a
competição é um processo de comparação social, em que as habilidades
atléticas são testadas, examinadas e avaliadas (Roberts, 1980; Scanlan, 1982;
Sherif, 1976, citados por Passer, 1986, pp. 55-58).
Verificamos, que para maioria dos autores, na conceituação da competição
apresentam categorias semelhantes centradas na: comparação de rendimento,
9
busca pela excelência pessoal e no desenvolvimento das suas capacidades de
superação, pautas de orientações e regulamentos.
1.1.2. A participação das crianças e jovens nas competições desportivas
Nas últimas décadas, a organização de actividades desportivas para crianças e
jovens ampliou-se muito rapidamente (Thomson, 1996). Entretanto, em relação
ao número de crianças e jovens que participam em competições, envolvidos
em programas desportivos, Marques (1997b) afirma que essa participação não
teve uma grande expansão. Dados estatísticos de diferentes estudos apontam
que houve um decréscimo da participação de crianças e jovens na prática
desportiva organizada.
Encontramos na literatura a indicação de 42 milhões de jovens envolvidos com
a prática desportiva organizada nas Américas; 2,5 na Oceânia; mais de 800 na
Ásia e de 26 milhões na Europa (De Knop et al., 1999). No Reino Unido em
1979, sete milhões e quinhentas crianças e jovens, entre os cinco e os quinze
anos de idade, participavam no desporto organizado (Martin & Mason, 1981
citado por Campbell, 1986, 21-26). Existem, aproximadamente, trezentos mil
rapazes que jogam mini-hóquei organizado no (Canadá McPherson e Brown,
1982); em 1975, havia na França mais de um milhão e quinhentas mil pessoas
inscritas em actividades desportivas que tinham menos de dezesseis anos
(MandeI e Hennequet, 1984, citados por Durand, 1988). Na região de Adelaide,
Austrália, o envolvimento desportivo preferido dos adolescentes são as
actividades de lazer, com 75% de rapazes e 67% de raparigas a participarem,
em pelo menos uma organização desportiva (Martens, 1986). Nomeadamente
em Portugal, no que se refere à prática do desporto federado, os valores
apontam para 87.820 praticantes e de 111.731 no desporto escolar (IND,
2002). No Brasil, o número de praticantes no desporto federado elevou-se para
2,8 milhões, 18 milhões, no desporto escolar (Ferreira, 1986). Todavia, o
desenvolvimento social e a própria evolução do desporto organizado têm vindo
a influenciar a forma como os jovens participam nas actividades desportivas
(Mesquita, 2002; Jones e Cheetman, 2001; Kretchmar, 2000; Murdock, 1990).
10
O desporto para os jovens na Austrália, segundo Robertson (1984), é
organizado pela comunidade ou sistema escolar, com as crianças jogando
numa ou nas duas organizações. A participação desportiva, fora da escola, é
organizada
pelos
clubes
desportivos,
serviço
multidesportivo
ou
por
organizações religiosas que oferecem actividades aos sábados de manhã. No
Brasil, o sistema do desporto nacional é constituído por várias organizações.
Estas
consistem
associações);
em
grupos
grupos
de
desportivos
desporto
de comunidades
escolar
(elementar,
(clubes
e
secundário
e
universitário); grupo de desporto militar. As escolas e os clubes desportivos são
as organizações mais importantes no desporto das crianças e jovens. Por que
oferecerem oportunidade de prática e evolução, como também, pelo
desenvolvimento das modalidades desportivas no país. O desporto nos clubes
e associações são orientados por professores e treinadores. As competições,
no âmbito escolar, são organizadas a nível local, distrito e a nível nacional,
semelhantes ao enquadramento competitivo realizado pelas federações e
associações desportivas (Ferreira, 1984). Em outros países, o quadro
competitivo organizado para crianças e jovens, nos diferentes escalões,
também ocorria em nível local, regional e nacional, como na República
Democrática Alemã com o movimento das espartaquíadas (Marques, 1990).
Tendências actuais, marcadas pela sociedade contemporânea como a
televisão e o computador, têm influenciado negativamente a participação dos
jovens no desporto, por isso, a necessidade de se tomar medidas apropriadas
para reverter esse quadro no futuro (De Knop et al., 1999).
Neste sentido, Marques (1997b) chama atenção para importância da tomada
de consciência sobre a dimensão da participação dos mais jovens em
programas e competições desportivas. “O aumento da importância social desta
prática, obriga-nos a dedicar-lhe uma atenção e estudo cada vez maior”.
A problemática posta anteriormente, faz levantar uma questão: deve haver um
aumento no número de crianças e jovens que participam na prática desportiva
e nas competições? Que razões justificam esse aumento?
11
A e expansão do desporto de alto nível no plano internacional, iniciado no pósguerra, também contribuiu para o aumento da participação de crianças no
desporto de rendimento. A finalidade era de aumentar a base de atletas para
sustentação do desporto de alto nível. Porém, actualmente essa participação
tem vindo a diminuir em todas as distintas expressões do desporto, por isso,
para reverter esse quadro Marques (1997a) aponta razões que justificariam o
alargamento da participação competitiva de crianças e jovens. As virtualidades
do desporto justificariam as generalizações do envolvimento dos jovens em
programas educativos e recreativos, como:
1. O desenvolvimento motor e formação corporal;
2. O desenvolvimento emocional;
3. A integração social;
4. O desenvolvimento de traços positivos do carácter: disciplina, trabalho de
equipa, respeito pela autoridade;
5. A aptidão física;
6. A saúde;
7. A prevenção da delinquência.
1.1.3. O sistema de treino e competições vigente
Apesar da destacada importância atribuída à necessidade de adequação das
competições para os mais jovens, foram poucos os estudos realizados em
Portugal com a finalidade de caracterizar os quadros competitivos jovens, nas
diversas modalidades desportivas, quanto a sua adequabilidade, o início e a
caracterização da participação competitiva. Torna-se importante, também,
conhecermos a repercussão que esses quadros competitivos e a participação
nas competições têm na futura evolução dos jovens atletas. Apresentamos, a
baixo, um quadro com os estudos sobre a participação competitiva de
crianças e jovens realizados em Portugal.
12
Quadro 01 – Estudos realizados em Portugal sobre a participação em competições de
atletas jovens
Modalidades
Parâmetros
Escalões
Autores
estudados
Andebol, atletismo, basquetebol,
Número, frequência e
Infantis, iniciados,
Andrade,
ciclismo, ginástica artística e
enquadramento territorial
juvenis e juniores
1996
voleibol
Número e tipo de
Infantis, iniciados,
Ferreira,
disciplinas
juvenis e juniores
1995
Andebol, basquetebol, futebol e
Número e frequência
Infantis, iniciados
Marques,
voleibol
competitiva
A., 1993
Diversas e atletismo
Início da competição
Sobral,
formal
1994
Atletismo
Atletismo (corredores de meio
Caracterização do treino
Infantis, iniciados,
Marques,
fundo e fundo
e da participação
juvenis e juniores
R., 1998
competitiva
Um estudo realizado por Marques (1993a), em equipas de jovens desportistas,
dos escalões de infantis e iniciados dos Centros de Treino da FCDEF-UP,
revela ser ainda notória a utilização de princípios e modelos do desporto de alto
rendimento, na organização das competições e na periodização do treino de
crianças e jovens. Os resultados encontrados em seu estudo apontam uma
lógica organizacional tradicional, muito próxima da que impera no desporto de
alto nível. Isto tem dificultado a adopção de medidas de enquadramento das
competições mais compatíveis com as exigências da formação dos mais
jovens.
Às federações desportivas e respectivas direcções técnicas compete a
formulação de directivas e orientações para a organização do desporto nas
categorias mais jovens. A elas diz respeito, também, a responsabilidade dos
conceitos sobre os quais se estrutura o sistema de competições. Sobral (1994)
verificou que poucas são as federações que têm iniciativas e modelos de
formação e participação competitiva adequadamente pensados e estruturados.
O quadro, da realidade que se apresenta, nos revela, também, que a definição
dos modelos de organização e condução do treino é influenciada pelo nível de
formação dos treinadores. Já na organização competitiva, que é da
responsabilidade das federações, há uma evidente falta de permeabilidade à
13
influência da investigação, da reflexão e da formação realizadas nas
universidades.
Andrade (1996), em seu estudo, compara os quadros competitivos de
diferentes modalidades quanto ao número de participações, a natureza destas
e o intervalo entre as elas. Os resultados encotrados foram: existe um
crescimento no número total de competições, na maioria das modalidades,
desde os infantis aos juvenis, para ambos os sexos. Este número de
competições diminui dos juvenis para os juniores. O intervalo entre as
competições não apresenta alterações com a mudança de escalão. Em relação
ao enquadramento competitivo, constatou uma participação desde cedo em
competições ao nível nacional.
Estudo, realizado por Rolim (1998), com jovens corredores de meio-fundo e
fundo (MFF), sugere divergências importantes no estadio de treino de base,
entre elas destacou-se: uma precocidade na idade de início do treino regular e
específico para as disciplinas de MFF, que começavam em média pelos 10
anos. Os conteúdos do treino e da competição denunciavam um processo de
formação unidireccional. Um ciclo anual de treino excessivamente prolongado
nas duas primeiras etapas de formação desportiva dos jovens, com um período
de transição em torno dos 30 dias para todas as etapas e, por fim, aponta uma
exclusiva e exagerada participação competitiva em provas de meio fundo e
fundo nas etapas iniciais, sendo insignificante a sua participação em provas de
carácter técnico.
O autor conclui que é necessário uma profunda reflexão e alterações no treino
e na participação competitiva dos jovens, à luz de um quadro de orientações
pedagógicas e metodológicas.
Em síntese, podemos dizer que os estudos apresentados evidenciam que há
uma necessidade de se ampliar o quadro de investigações sobre a organização
competitiva para crianças e jovens. Em primeiro, pela importância de uma
reflexão maior sobre o quadro de organização competitiva vigente, que ainda é
realizado nos moldes do desporto de alto rendimento. Em segundo, para que
possamos,
efectivamente,
promover
14
mudanças
na
estruturação
e
enquadramento competitivo, atendendo aos princípios e objectivos da
formação desportiva a longo prazo.
Neste contexto, verificamos que a competição para crianças e jovens se
resume apenas a uma ligeira diminuição quantitativa da competição realizada
pelo atleta adulto. Ou seja, apresenta-se, segundo Marques (1997b), como
uma réplica ou uma adaptação, mais ou menos estreita dos conhecimentos e
formas de organização do desporto de alto rendimento.
A organização do desporto competitivo, à imagem do adulto, tende a valorizar
mais os aspectos biológicos associados à performance, deixando de lado os
factores de ordem ética, pedagógica e da saúde. A German Sports Federation DSB (1985) assinala o desenvolvimento psicológico e motor como factores
preponderantes para à definição e delimitação do desporto e da competição de
crianças e jovens.
O reduzido número de estudos, que caracterizam apenas algumas variáveis
relacionadas com a competição dos jovens, justifica a posição de Fernández,
(1995) e Lima, (1987), que apontam para uma necessidade crescente de
tratarmos a competição com o devido rigor e preocupação, com inteiro respeito,
seriedade e honestidade, principalmente nos escalões de formação. Essa
constatação, também, é verificada na literatura científica internacional. A
categoria competição em todos os níveis e contextos, apesar da sua
importância acentuada, têm ocupado lugares marginais (Marques, 1997b;
Schnabel e Thiess, (citados por Rost, 1995).
1.1.4. Importância da competição no desporto de crianças e jovens
Em diferentes contextos e objectivos da prática desportiva, a competição
assume uma importância imprescindível no desporto do adulto, do jovem ou da
criança. Muitos autores apontam que a participação das crianças e jovens em
actividades desportivas são benéficas. Esta opinião é confirmada por Mandel e
Hennequet (1984), citados por Durand (1988), ao salientarem que a prática de
um desporto tem benefícios para a criança desde de o início de sua
15
participação. McPherson e Brown (1982) apontam que um dos benefícios
resultantes da participação dos jovens no desporto é a aprendizagem sobre o
envolvimento e o desenvolvimento da capacidade de interagir nesse
envolvimento. Gonçalves (1989) justifica a existência de programas desportivos
para a juventude pelo facto da prática desportiva contribuir para a formação
integral dos jovens. Na medida em que proporciona o desenvolvimento da sua
personalidade, da socialização, da ocupação do tempo livre, do divertimento,
da melhoria das técnicas e do reconhecimento (Lima, 1987c; Whihead, 1993;
Thorpe, 1993). Nesta mesma direcção, o estudo de Martens (1978) corrobora
com essas afirmações. Revela que atletas de uma escola, ao serem
entrevistados acerca da sua participação nos programas de desporto,
afirmaram que desenvolveram a sua competência, adquiriram uma boa atitude,
ganharam técnicas básicas e conheceram novos amigos.
As crianças, nas suas práticas, tendem a demonstrar aquilo que sabem fazer,
de modo a criar boas imagens a seu respeito. Isto é, a criação de uma boa
imagem social, bem como, ser capaz de obter sucesso é importante no sentido
de ocupar um lugar no grupo a que pertencem. No entanto, temos que levar em
conta as considerações de Claparede (citado por Weineck, 1986) afirma que a
criança não é um adulto em miniatura, e a sua mentalidade não é só
quantitativamente, mas também qualitativamente diferente da dos adultos. De
modo que uma criança não é somente menor, mas também diferente. Desta
forma temos que organizar essa participação competitiva das crianças e
jovens, de forma a atender aos interesses, capacidades e prioridades das
crianças (Gomes, 1993). Reforçando essa ideia, Neto (1994) considera que o
desporto competitivo pode apresentar um efeito positivo, se as actividades
desportivas forem adaptadas às necessidades da criança. O que é diferente de
adaptar as crianças a encontrar as necessidades dos desportos. Então, as
experiências competitivas vivênciadas pelas crianças e jovens devem ser
organizadas, de forma frequente e regular. De acordo com Vieira, (1992) isso
influência diretamente no desenvolvimento desportivo, na credibilidade da
modalidade, bem como no seu número de praticantes.
Outro aspecto a ser considerado é a compreesão da competição como um
componente que dá sentido ao treino, que baliza qualquer desporto. Como
refere Hahn (1988) sem competições o treino deixa de ter objectivos e
16
orientação ou, como salienta Marques (1997a), num quadro restrito, não há
desporto sem competição.
Nas afirmações dos autores fica evidenciada a importância pedagógica da
participação das crianças e jovens em competições, principalmente, por
entenderem a competição como parte integrante do treino. Os benefícios
apontados centran-se mais em aspectos psicológicos e sociais, privilegiando a
formação integral da criança e do jovem. Recomendam que o treino e a
competição devem ser organizados e estruturados com a finalidade de atender
aos interesses, capacidades e prioridades das crianças.
1.1.4.1. Aspectos Psicológicos
Um dos aspectos importantes da participação desportiva recai sobre o
desenvolvimento da personalidade, considerada por Roberts e Treasure
(1993), com um factor ideal para o suporte do desporto competitivo da
criança. A participação competitiva, também é considerada como um
excelente meio para desenvolver a autosuperação, a autoestima, importantes
para a sua vida em sociedade (Cratty, 1983). Entretanto, a participação de
crianças e jovens na competição, tem sido motivo de polémica. Há autores
que identificam a da competição como responsável por deformações da
personalidade dos jovens desportistas. Por exemplo, Orlick (1980) chama a
atenção para o facto do desporto infanto-juvenil apresentar uma organização
demasiado competitiva, o que levaria a uma aceitação de valores
individualistas e negativos.
Em relação às consequências negativas, atribuídas à competição desportiva,
destacamos algumas que podem ocorrer na participação competitiva de
crianças e jovens:
- A vivência em situações de agressão tende a retardar o desenvolvimento
moral e cria um clima pouco social para a criança (Roberts e Treasure, 1993);
- Essas vivências, também do ponto de vista psicológico, são prejudiciais para
as actividades cooperativas (Sherif, 1978);
- As expectativas elevadas, as pressões dos pais, treinadores e dirigentes pelo
sucesso das crianças, nas actividades competitivas, podem ocasionar
17
problemas de ordem psicossocial, mental e física. Essas situações levariam os
jovens a abandonar precocemente o desporto e a competição (Cratty, 1983);
- Preising (1989) destaca três aspectos negativos do desporto competitivo para
as crianças na Europa:
(1) Iniciar a prática desportiva demasiado cedo, com uma especialização
unilateral;
(2) Competir demasiado cedo nos níveis nacionais e internacionais;
(3) Iniciar a prática desportiva nos regimes de treino do adulto.
As consecutivas experiências de insucessos e frustrações, também podem se
tornar aspectos negativos na participação competitiva das crianças e jovens.
Isso ocorre, principalmente, quando os objectivos, atribuídos à competição
desportiva, não apresentam um enquadramento adequado.
As competições com objectivos de apurar o campeão propiciam uma
participação maior daqueles atletas com maior aptidão e especializados
precocemente. Na constatação de Lima (1988), verificamos que o sistema de
classificação e pontuação adoptado pelas federações, em sua maioria, é
selectivo em todos os escalões etários. Em competições que tenham esse
objectivo, aqueles que se encontram em fase de desenvolvimento e
crescimento, podem ter prejuízos em sua formação e abandonarem o
desporto. A falta de vivências em experiências de sucesso e uma baixa
frequência de participação competitiva, são as causas apresentadas pelo
autor.
O estresse competitivo tem sido apontado como um dos primeiros argumentos
para recomendar a não participação de crianças em competições. Um grande
número de manifestações entre os jovens atletas está associado ao
aparecimento deste fenómeno psicológico (Gould; Eklund, 1996): reduzido
divertimento e prazer, falta de sono e de apetite, prestações reduzidas e
abandono. Porém, em alguns estudos podemos encontrar resultados que
demonstram que o estresse associado à participação competitiva de crianças e
adolescentes, não é tão grande quanto se presumia, nem é mesmo superior a
outras actividades em que estes participam.
Outro construto da psicologia, a ansiedade, mereceu destaque por parte dos
críticos do desporto de jovens. Chamam a atenção para o aparecimento de
18
níveis excessivos de ansiedade na participação competitiva, isso pode afectar
negativamente a saúde mental de crianças e adolescentes atleta. Gould e
Eklund (1996) referem o estudo de Simon e Martens (1979) investigou (n=749
rapazes, 9-14 anos) os níveis de ansiedade experienciada em actividades
desportivas, ou de outro tipo, por crianças e adolescentes. Essas actividades
incluíam competições não desportivas solos musicais, competições de banda
em grupo e testes escolares em sala de aula; competições de softball na aula
de Educação Física; e competições desportivas de baseball, basquetebol,
futebol americano, ginástica, hóquei no gelo, natação e luta. Foi usado na
avaliação o Inventário CSAIC (Competitive State Anxiety Inventory for Children,
desenvolvido por Martens em 1977). A avaliação foi realizada imediatamente
antes das actividades referidas. Os resultados encontrados revelaram estados
de ansiedade pré competitiva elevados. Dos vários desportos estudados, os
individuais produziram mais ansiedade que os de equipa. A luta foi o único
desporto que produziu maior ansiedade do que os testes escolares. Contudo,
uma pequena, mas representativa, minoria de atletas experienciou altos níveis
de ansiedade, a que estão associados sintomas como insónias e falta de
apetite, (Gould; Eklund, 1996), o que justifica cuidados especiais entre estas
crianças e adolescentes.
As atitudes e comportamentos dos jovens atletas também são aspectos que
podem ser afectados. Isto acontece quando a participação competitiva, na
área federada, ocorre fora do contexto das regras e regulamentos no qual o
espírito desportivo está ausente (Lima, 1981). A excitação gerada pelo jogo,
as pressões dos adultos e a busca exacerbada pela vitória, são razões pelas
quais se origina tendências agressivas operadas no momento. Sobre os
comportamentos de agressividade na participação competitiva, Berkowitz
(1973) explica que a competição tem aspectos frustrantes, essencialmente se
a vitória não ocorrer. Essa mesma frustração pode gerar uma preparação
para a agressão. Isto significa que a competição pode incrementar as
oportunidades de agressão. Em um estudo com jovens jogadores de hóquei
sobre o gelo, com idades entre os dez e doze anos, realizado por Kleiber e
Roberts (1981, citados por Gonçalves, 1989) revela que após a competição
estes jovens apresentavam comportamentos mais agressivos e mais
19
egoístas, quando comparados com um grupo que tinham participado em
actividades desportivas de carácter não competitivo. Neste caso, Lima (1988)
sugere que a competição desportiva entre os jovens não deve criar conflitos
e, tão pouco, reduzir o sucesso desportivo à vitória. Devemos é garantir a
oportunidade de participação a todos nas competições, um equilíbrio
competitivo e centrar os objectivos na formação. Telama (1988) aponta para
uma necessidade de que se revisem vários aspectos do desporto de jovens,
em especial, as expectativas de recompensa, os valores éticos e morais que
devem
ser
estimulados
com
a
participação.
Por
outro
lado,
há
posicionamentos que justificam a não participação das crianças em eventos
competitivos de alto nível. Consideram que o seu desenvolvimento físico,
mental e intelectual seria posto em perigo pelo desporto de alto nível. A
participação competitiva, nos moldes do alto nível, não permite às crianças o
direito de terem uma infância e uma adolescência, pondo em perigo o seu
futuro, colocando-as em situações próprias do mundo dos adultos e
submetendo-as a cargas de treino adoptadas no modelo do desporto de alto
nível (Grupe, 1987). O autor alerta que não devemos nos descuidar das
qualidades próprias da infância, a necessidade de protecção, de inocência e
de pureza da criança. Em defesa deste posicionamento, Lima (1987a)
argumenta que o desporto de alto nível não está em relação directa com a
criança, mas é algo com o qual a criança se familiariza através do adulto. Por
este motivo, as crianças são por vezes forçadas a trabalhar segundo as
condições dos adultos e a participar em competições organizadas de acordo
com as regras concebidas por estes. Logo, o desporto para crianças e jovens
não deve seguir a lógica das competições organizadas pelo desporto dos
adultos, que tem por objectivo revelar o campeão. A prioridade deve ser a
criança e as suas necessidades evolutivas e não as condições para o
resultado desportivo (Gilroy, 1993).
Há autores na literatura que contestam os resultados dos estudos que apontam
os efeitos negativos da participação competitiva de crianças e jovens. Ao
mesmo tempo, justificam o contributo das experiências competitivas para a
formação dos jovens atletas. Grupe (1987) considera que a prática desportiva,
em níveis elevados, tem efeitos positivos sobre a educação e desenvolvimento
infantil, desde que sejam criadas algumas restrições para regular a
20
organização do desporto de alto nível de forma adaptada à criança. Uma
revisão realizada por Hale (1971), em mais de quarenta e dois estudos acerca
do efeito negativo da competição nas crianças, o autor conclui que não existem
evidências de que as competições sejam más para as crianças. Quanto a essa
afirmação, Neto (1994) também, não encontrou, em grande parte dos estudos
realizados, a indicação de que existem inconvenientes quanto aos efeitos
fisiológicos e psicológicos.
Em relação ao primeiro parece não ocorrer problemas com a criança, pelo
contrário, favorecem ao desenvolvimento de capacidades físicas e motoras
desejáveis. Quanto aos efeitos psicológicos não se pode concluir, pelas
investigações realizadas, que o desporto competitivo seja um perigo emocional
à participação da criança. As investigações sobre o estado de ansiedade das
crianças, revelam uma baixa frequência de ocorrência de níveis elevados de
estado de ansiedade, durante a competição (Pepitone, 1980 e Gould et aI.,
1993).
O envolvimento na competição também está associado ao nível de motivação
das crianças e jovens. Contudo, o grau de motivação é influenciado pelas
expectativas individuais e também pelas situações de sucesso e insucesso
experimentadas na prática competitiva (Fait e Billing, 1978). O êxito no
desporto de competição, não é estabelecido só pela capacidade atlética e pela
proficiência motora. O modo como o atleta se ajusta emocionalmente às
pressões competitivas, essencialmente nas idades mais baixas, determina a
sua fixação à prática desportiva (Sobral, 1994). As manifestações de ansiedade
e de receio ao fracasso, apresentadas na participação competitiva, tendem a
aumentar o significado afectivo dos resultados, propiciando à criança
momentos de alegrias e de decepções (Pepitone, 1980). O autor ressalta que a
competição de intensidade moderada favorece a aquisição de estratégias e
controlo das emoções.
As competições, que têm significados e funções fundamentais na motivação e
formação da criança, porem, para que isso se efective devem estar
dimensionadas às suas capacidades e níveis de desenvolvimento. É evidente
que, as pressões excessivas para a vitória e a sobrevalorização das
21
competições terão forçosamente repercussões negativas em crianças e jovens
com grandes expectativas de sucesso, mas com uma limitada estabilidade
psicológica. Essa fragilidade resulta não só da sua reduzida capacidade crítica,
acreditando e aceitando tacitamente tudo aquilo que lhe é proposto, da sua
imaturidade física e sobretudo psicológica, mas também da sua curiosidade, da
sua elevada capacidade de aprendizagem e da sua entrega sem contrapartidas
(Pimm, 1985; Singer, 1991; Vieira, 1996).
A competição parece propiciar mais benefícios do que maleficios quando
ajustada às capacidades e níveis de desenvolvimento das crianças e jovens.
Favorecem ao desenvolvimento da personalidade, auto-estima, auto-superação
e, também, na aquisição de estratégias e controlo das emoções. Entretanto, as
expectativas elevadas, as pressões dos pais e treinadores, as sucessivas
experiências de insucessos e frustrações e a especialização unilateral, junto ao
estresse e a ansiedade competitiva, podem ocasionar problemas de ordem
psicossocial, mental e física levando a criança e o jovem ao abandono. Os
efeitos negativos ocorrem mais em competições com enquadramento
desajustado, que adoptando a lógica das competições organizadas para o
desporto de alto nível e que tem por objectivo revelar o campeão.
1.1.4.2. Aspectos Sociais
Dentro de uma perspectiva social, as experiências no desporto competitivo
podem ser proveitosas. Sobre essa afirmação Kemper (1982), Roberts e
Treasure (1993) mencionam o desporto como sendo um meio importante de
socialização das crianças, na medida em que lhes proporciona o contacto com
regras, valores sociais e convivência com outras crianças. É nesse contexto
que ocorrem o desenvolvimento das técnicas, da compreensão e valorização
das regras e atitudes necessárias para conviverem em sociedade (Roberts &
Sutton-Smith, 1962; Webb, 1969). Segundo Coakley (1984), uma das formas
de contribuir para interacção das crianças, em diferentes estágios do
desenvolvimento social, é através da interferência na componente competitiva
das actividades desportivas. Este processo de socialização influência
directamente no envolvimento desportivo dos jovens (McPherson e Brown,
1982). No que tange a esse aspecto, Bento (1987) considera que a essência
22
do desporto resulta da função que lhe é socialmente atribuída, na medida em
que constitui um elemento das relações sociais. A natureza cultural da
competição desportiva tem muito a ver com o relacionamento social que
valoriza o estatuto pessoal, construído na base de comparações entre os
indivíduos e entre os grupos (Lima, 1995). Contudo, a conduta dos adultos, as
relações sociais e o contexto onde são realizadas as competições exercem
uma influência no comportamento dos jovens. Esse contexto social é, para a
criança, uma referência fundamental quanto à criação de motivações, valores e
normas de conduta na prática das suas actividades motoras (Neto, 1994). De
acordo com Gonçalves (1991), os aspectos positivos dessa socialização estão
interligados à qualidade das situações que são criadas na prática desportiva.
Por isso, a necessidade de organizarmos um quadro competitivo que esteja
ajustado às necessidades e capacidades das crianças e jovens. Acima de tudo,
que atenda aos objectivos da formação a longo prazo. A realização da
socialização e sua promoção não são exclusivas do desporto de rendimento.
Como refere Bento (1987), ocorrem também, em outros âmbitos de
enquadramento do desporto, nomeadamente, no sistema de desporto de
crianças e jovens e de recreação e tempos livres. Farinatti, (1995) aponta que
este processo ocorre num contexto social em que todos, professores, técnicos
desportivos, pais e pares são importantes no provimento de referenciais de
desempenho e aprendizagem de regras e padrões.
A indicação da literatura justifica que as experiências competitivas, nessas
etapas de formação desportivas, desempenham um papel importante na
formação de valores, na criação normas de conduta e na compreensão das
regras necessárias para o convívio social.
1.1.4.3. Aspectos Pedagógicos
O desporto desempenha um papel essencial na transmissão às crianças das
técnicas corporais e dos valores culturais da sociedade. Pudemos verificar que
na perspectiva de vários autores o desporto é considerado um meio importante
para o desenvolvimento e educação das crianças e jovens. Sherif, (1978) e
Lima, (1988) defendem que a participação desportiva competitiva deve ser um
23
processo pedagógico que contribua para a formação dos jovens, promovendo o
desenvolvimento da sua personalidade.
A importância da competição nesse processo de formação é justificada por
Kuptshinov e Siris (1983) quando referem que o treinador de crianças e jovens
deverá ter sempre presente que nada oferece maior experiência que a própria
competição. Devido à importância pedagógica e social do desporto para
crianças e jovens, Marques (1991) propõe que os jovens tenham acesso a uma
preparação desportiva mais cedo. Essa prática desportiva revela um conteúdo
competitivo que lhe é inerente, manifestado na competição do indivíduo
consigo próprio, na pretensão de melhoria da sua performance e na
comparação com os outros.
Nas etapas iniciais da formação desportiva, é importante que a competição
seja estruturada de forma a priorizar a participação de todos. Complementando
essa afirmação, Lee e Smith (1993) referem que as actividades competitivas
devem ser atractivas, motivantes e que satisfaçam as necessidades formativas
das crianças e jovens. Ao mesmo tempo, devem garantir o envolvimento em
diferentes aspectos do desporto. Existe um consenso entre os autores Passer,
Scanlan, 1982; Lima, 1987a; Bequer et aI., 1988; Brisson, 1979, de que a
competição deve contemplar diversos pressupostos em sua organização, para
que possa atender a formação desportiva dos mais jovens, que são: dar
oportunidade directa para que os participantes possam testar e avaliar as suas
habilidades, comparando com modelos de outros jovens; conter actividades
que propiciem o desenvolvimento físico e psíquico, os hábitos e as
capacidades motoras; estimular o desenvolvimento da personalidade;
possibilitar a avaliação de si próprio e demonstração dos seus progressos;
desenvolver nas crianças e nos jovens a capacidade de independência,
iniciativa, liderança, cooperação, e ter prazer, divertindo-se na participação das
actividades competitivas.
Marques (1993a) ressalta a ideia de que, no desporto de crianças e jovens, as
competições são importantes e devem ajudá-las a prepararem-se para o
desporto de alto nível. “Não há um desporto de crianças e jovens, mas este
24
engloba várias etapas com objectivos e finalidades, de acordo com as leis
biológicas do processo de maturação e os princípios do treino”.
A competição desportiva apresenta-se como uma situação intrínseca das
crianças e jovens. Estudos revelam que as crianças mais novas, de três a
quatro anos, orientam-se por objectivos mais competitivos em relação às
crianças de idades maiores, de nove ou dez anos (Buchan e Roberts, 1991;
citados por Roberts e Treasure, 1993).
Por outro lado, algumas críticas são postas em relação a participação
competitiva. Uma delas refere-se a organização do desporto para as crianças
e jovens que coloca, por vezes, ambições próprias, interesses pessoais,
materiais, científicos e financeiros dos adultos nestas. Com isso, acarretar
consequências nos planos da saúde física e mental, da integração social e,
também, concernentes à futura relação entre os jovens e o desporto
(Marques, 1991). Por isso, o aparecimento e crecimento das pressões, de
sectores da comunidade cientívica e da opinião pública mais esclarecida, para
que sejam revistos as posições sobre esta questão.
O abaixamento da idade limite para o início do treino e da participação
desportiva, verificado em alguns desportos ou especialidades desportivas, têm
gerado ondas de choque social, sob o estigma da especialização precoce e
do trabalho infantil. Segundo Marques (1997b), as criticas sobre o treino e
participação competitiva das crianças e jovens já vêem sendo feitas a
algumas décadas e são pertinentes. Recaem sobre: a concorrência e
rivalidade, resultantes da ênfase sobre a vitória; o estresse excessivo; pouco
relacionamento social, gerando indivíduos introvertidos; lesões e doenças,
com particularidade na ginástica e na natação.
Nas competições federadas a selectividade deve existir, mas nunca para as
competições dos jovens, isto é, praticantes até os quinze ou dezesseis anos,
para a maioria das modalidades (Lima, 1981).
25
As posições encontradas apontam que a competição pode desempenhar
função formativa e educativa, preparando as crianças e jovens para as etapas
seguintes, onde sua iniciação no processo de treino pode ocorrer desde cedo.
1.1.5. A relevância dos resultados na competição de crianças e jovens
Na competição, as possibilidades de vitória e de derrota são factores que estão
sempre presentes. Isto faz com que a competição, quando correctamente
orientada, crie um estímulo e um envolvimento de elevado valor pedagógico.
Platonov (1994) afirma que as competições constituem um elemento
insubstituível na educação dos atletas jovens. Porém, o questionamento que se
põem é saber que importância deve ter os resultados da competição, no
processo de formação desportiva a longo prazo? No desporto de crianças e
jovens, o sucesso na competição deve ser equacionado de forma prospectiva.
A ênfase deve ser direccionada para o processo de chegar à vitória. De acordo
com Martens et aI. (1995), é neste processo que podemos intervir, fomentar na
criança o gosto pela prática e a luta pela excelência. Possibilitando, com isso, a
verificação do empenho e desempenho dos jovens atletas. A este propósito,
Close (1978) afirma que a vitória não pode acontecer a todos. Esta simples
afirmação poderá revestir-se de grande importância no âmbito do processo de
preparação e formação de crianças e jovens. Pois o número daqueles que
perdem é maior do que daqueles que ganham (Lima, 1987b).
Para que o processo seja realmente educativo e pedagogicamente correcto,
temos que encontrar melhores estratégias para que vencedores e vencidos
retirem algo de positivo, benéfico e construtivo para a sua formação geral e
desportiva. Para Martens et al. (1995), o treino e a competição ajudam no
desenvolvimento de responsabilidades, na aceitação dos outros e, o mais
importante, na aceitação de si próprio.
Para compreendermos mais sobre a importância dos resultados competitivos,
devemos ter em conta os objectivos e finalidades da competição, que não são
iguais para todos. Como menciona Lima (1987b), no desporto de rendimento
dos adultos, a competição determina os principais objectivos do processo de
treino na orientação da melhoria de sua performance. Já, no desporto de
26
crianças e jovens, a competição deverá adoptar um outro nível de
determinância, assumindo um enquadramento diferente, que auxílie o processo
de treino e de sua formação desportiva.
Desta forma, nas etapas iniciais da formação desportiva, a competição não
deve ser entendida como o culminar de todo o processo de treino, mas como
um instrumento e um complemento da formação. No entanto, o modelo actual
de competições utilizado para o público juvenil e infantil é criticado pelos
autores Marques (1997b); Lima (2000) e Rost (1995), principalmente, porque
segue os princípios do desporto de alto rendimento. Os objectivos competitivos,
centrados apenas na obtenção de resultados, podem ter consequências
negativas quando reivindicados precocemente e de forma inadequada. Nesse
sentido, faremos uma abordagem sobre: os motivos pelos quais os resultados
precoces podem comprometer os resultados absolutos e em que circunstâncias
podem se fazer um prognóstico para o futuro dos atletas.
Os
sistemas
desportivos
de
muitos
países
apresentam
orientações
estabelecidas pelos clubes que valorizam, de um modo geral, o aparecimento
de atletas, de forma precoce, com níveis suficientes para garantir a renovação
da elite desportiva representada nas competições federadas (Lima, 1989). O
sucesso dos atletas nas competições, segundo Ferreira (1986), tem repercução
ao se transformar em status para os clubes, ocasionando com isso, uma
adesão maior de novos praticantes. O que reflecte directamente no suporte
financeiro dos clubes. A existência de campeonatos do mundo em categorias
juniores é um estímulo para que ocorra a participação de crianças e jovens, em
idades precoces, nas competições de alto nível. Gambetta (1990) afirma que
este procedimento contradiz a ideia de uma preparação para se obter
resultados elevados a longo prazo, bem como, uma longevidade desportiva.
Estudos evidenciam que os resultados obtidos precocemente pelos jovens
atletas podem limitar o futuro rendimento. Nagorni (citados por Bompa, 2000),
em um estudo longitudinal com atletas soviéticos, concluiu que aqueles com
melhores performances na categoria júnior realizaram uma especialização em
idades muito baixas. No entanto, estas performances nunca foram repetidas
quando eles se tornaram seniores e a maioria destes atletas se retirou do
desporto antes de atingir categoria de sénior. Apenas uma minoria estaria apta
27
a melhorar a performance em idades superiores. Constatando, também, que os
atletas que se destacaram em categorias adultas, nos âmbitos nacional e
internacional, nunca foram campeões nacionais quando menores. Em outra
investigação realizada por Barynina e Vaitsekhovskii (1992), com dois grupos
de nadadores, o primeiro grupo iniciou a prática da natação com idade média
de 6,8 anos (feminino) e 7,7 anos (masculino) e tiveram suas fases de
especialização intensivas iníciadas aos 9,8 anos (feminino) e aos 10 anos
(masculino). No segundo grupo, que iniciou a nadar com 10,5 (feminino) e 9,8
(masculino), começaram a ser especializados aos 12,6 (feminino) e 12,1
(masculino). Os resultados demonstraram que os atletas que realizaram a
especialização mais cedo, permaneceram na equipa nacional 3,1 anos
(feminino) e 3,2 anos (masculino). Enquanto que, o outro grupo permaneceu na
equipe mais de cinco anos. Os autores concluíram que a especialização
realizada precocemente, no primeiro grupo, não demonstrou vantagens nem no
tempo necessário para adquirir um alto nível, tão pouco no tempo de
permanência neste. Na justifiva desse posicionamento, Gomes (1993) enfatiza
que a criança tem direito ao desporto e é desportivamente competente, desde
que se respeite determinadas condições como: a sua apetência e proficiência
desportiva-motora; o seu estágio de desenvolvimento e que os resultados, ou o
aparecimento de campeões prematuros, não sejam o objectivo principal nestas
etapas iniciais. O posicionamento dos especialistas, em relação a obtenção de
resultados nas competições, sugere que deve ser concedido o tempo de
espera necessário. Bento, (1989) nos esclarece que: "Uma orientação forçada
da formação, para a obtenção de resultados no mais curto espaço de tempo,
conduz a sobrecargas no organismo do jovem praticante e não serve ao seu
desenvolvimento interior". Nesse sentido, Marques (2000) menciona que não
encontra justificativas que suportem a lógica de trocar os pequenos títulos de
hoje por aqueles que verdadeiramente importam; os resultados absolutos. As
vitórias de crianças e adolescentes, embora importantes para os jovens atletas,
não podem significar um impedimento dos futuros resultados. Uma posição
defendida por vários autores é de que o alcance de altos resultados na idade
infantil e juvenil não é garantia de resultados futuros. Afirmam que é mais
provável ocorrer o inverso (Filin, 1996; Bompa, 2000; Coelho, 2000). Por isso, a
busca de alcançar resultados elevados demasiado cedo não privilegia as
28
características que devem orientar a construção dos modelos de preparação,
competição e intervenção adequados aos jovens (Coelho, 2000). Os êxitos
imediatos não devem ser motivos de preocupação dominante, portanto, é
importante que o processo de formação a longo prazo siga uma orientação
multivariada (Mesquita, 1997). Um estudo realizado por Zakharov (1992),
verificou que jovens velocistas, que optaram por meios de preparação
especializados e intensivos, atingiam tempos melhores mais rapidamente.
Porém, apresentavam um rápido decréscimo do seu tempo, diminuindo a
progressão de resultados elevados, ao longo do tempo. Esses resultados
podem ser explicados pelo facto de ocorrer um esgotamento do potencial de
treino do atleta. A especialização precoce tem como consequência o
surgimento da limitação para chegar ao nível mais elevado do desporto. Este
facto ocorre devido à adopção de uma carga unilateral e precoce às
adaptações especiais que esta provoca (Nadori, 1990; Marques, 1991).
Para tentar inverter esse processo, Martens (1985) sugere que, no lugar de
procurar resultados, devemos orientar os atletas a cumprir objectivos da
prestação desportiva que sejam mais controláveis, como a velocidade ou a
precisão de uma técnica. Marques (1999) aponta um outro factor que contribui
para um quadro de especialização precoce; é o sistema de competição
tradicional, baseado numa estrutura de conteúdos muito próxima dos modelos
mais evoluídos do desporto de alto rendimento. O sucesso, neste tipo de
competição, só é possível em desportistas que são confrontados com uma
especialização precoce (Bauersfeld, citados por Marques, 1999,17-30;
Marques, 1991).
Segundo Sobral (1994), as habilidades e mesmo o nível actual de prestação de
uma criança ou adolescente não são garantia de sucesso em etapas
posteriores da sua carreira desportiva. Porém, nos desportos individuais o nível
de prestação é quase, na sua totalidade, previsível a partir das qualidades
físicas mais solicitadas. Já, nos jogos desportivos colectivos não temos a
mesma possibilidade de previsão. Principalmente pela complexidade estrutural
da prestação que está representada pelo componente táctico e pela inteiração
entre a técnica e a táctica (Sobral, 1988).
29
Os jovens desportistas apresentam desde cedo um talento nato em níveis
competitivos iniciais. O que pode não ser tão significante em outras idades,
quando ocorrem as competições internacionais. De acordo com Malina (1986),
nestes níveis os atletas têm muito em comum de maneira que outros factores,
muito mais discretos, são importantes para obter o nível competitivo.
Para Marques (1993b), dificilmente poderá se estabelecer correlações sólidas
entre os resultados obtidos nas competições, nas fases iniciais da preparação
desportiva e os resutados das fases mais avançadas do processo. Os estudos
têm demonstrado que as limitações referentes ao prognóstico devem-se,
principalmente, ao fato de as características da prestação serem avaliadas
quando elas ainda não foram atingidas na sua prestação mais elevada. Este
problema só poderá ser resolvido quando conseguirmos identificar e avaliar as
características prospectivamente úteis e que apresentem estabilidade no seu
desenvolvimento (Marques, 1993b; Sobral, 1994).
A possibilidade de muitos atletas obterem sucesso pode ser explicada por
estes apresentarem um nível maturacional avançado (Sobral, 1988; Maia,
2000). Segundo Anderson e Magill (1993), as equipas vencedores da “Little
league World Séries” são formados por jogadores que apresentam uma
maturação de dois a três anos mais velhos do que a idade cronológica. Estas
vantagens
associadas
ao
estatuto
maturacional,
que
revelaram
o
surpreendente jovem campeão, desaparecem nas categorias seguintes
levando-o a sua eliminação (Rost, 1995; Sobral, 1988).
Em um estudo realizado por Kobjakov (1994) verificou a possibilidade de
prognosticar
os
resultados
desportivos
em
ginastas.
Os
resultados
demonstraram que na categoria dos 12 anos a fiabilidade do prognóstico é
relativamente baixa (0,6 - coeficiente de Kendall). No entanto, esta fiabilidade
aumenta nos resultados apresentados em uma categoria de adultos (19 anos),
revelando um coeficiente de 0,8. As conclusões de seu estudo confirmam o
equívoco em afirmar, nos primeiros anos de prática, que determinado ginasta é
um verdadeiro talento para este desporto. Razão pela qual, neste período de
30
preparação, os elementos se diferem muito da estrutura do desporto de alto
nível.
Em um processo de preparação a longo prazo, a aptidão do jovem desportista
só pode ser estimada, com certa segurança, para o estágio mais próximo da
preparação (Tschiene 1985, citados por Marques, 1993b, 47-58).
A procura de rendimento imediato impõe estratégias de treino que produzem
resultados a curto prazo, mas comprometem os resultados futuros e frustram
as expectativas de crianças e adolescentes (Marques, 2001).
A importância dos resultados nas competições, segundo as recomendações
dos especialistas, deve, nas etapas de formação, acontecer de forma
progressiva. As competições devem auxiliar no processo de treino e as
preocupações dos treinadores devem estar centradas neste processo para
conseguir a vitória. A explicação dos resultados precoces pode estar no
processo de uma especialização também precoce, devido a adopção de
cargas unilaterais e têm como consequências a limitação para chegar ao nível
mais elevado do desporto.
1.2.
Valores e funções da competição no desporto de crianças e jovens.
Do ponto de vista pedagógico, sobre a participação da criança no treino e na
actividade
competitiva,
encontramos
na
literatura
divergências
no
posicionamento dos autores. Há os que defendem uma recusa completa da
participação dos jovens nas competições, considerando esta participação no
desporto de rendimento como um trabalho infantil. Enquanto outros concordam,
justificando que as crianças são muito mais sucetiveis ao treino e prontas para
o rendimento do que se pensa (Kurz, 1988). Entre estas duas posições situa-se
uma mais equilibrada: o desporto de rendimento que tem significado
pedagógico e pode ser estruturante para a formação e desenvolvimento da
criança, desde que organizado de forma adequada, ajustada às condições e
31
características da criança (Marques, 1997b). Dependendo da forma como for
conduzida, pode gerar efeitos indesejáveis na educação das crianças e jovens.
Por isso, há necessidade de desenvolver estratégias que possam maximizar os
efeitos
positivos
e
minimizar
os
negativos
do desporto
competitivo.
Entendemos que os benefícios ou prejuízos, que a participação competitiva
pode trazer às crianças, dependem da qualidade da prática e não da
participação no desporto em si mesma (Weiss, Gould, 1986).
A competição desportiva desempenha uma função importante para os jovens,
porque lhes permite comparar as suas capacidades motoras e desportivas,
atributos muito valorizados entre as crianças e adolescentes (Passer, 1986). As
crianças e jovens encontram, no desporto e na competição, um meio
privilegiado para fazer deles um espaço de afirmação e de comparação das
suas potencialidades. Propagando sua acção nos planos motor, psíquico e
social. Por isso, uma prática referenciada a objectivos adequados e ajustados
revela a importância pedagógica e social do desporto (Marques, 1991). Estes
argumentos nos possibilitam rejeitar as posições extremas de recusa da
participação competitiva da criança.
Contudo, as competições de crianças e jovens devem ter delimitações de
referências distintas das utilizadas com adultos. O início da preparação
desportiva deve começar cedo, em articulação com a escola, enquadrada por
professores de educação física e técnicos desportivos qualificados. Deve ter
como referência primordial a saúde física e mental da criança, o respeito pela
sua individualidade biológica, levando em consideração as particularidades de
cada especialidade desportiva. Esses pressupostos, como refere Marques
(1991), são fundamentais, não apenas para o desenvolvimento harmonioso da
criança, mas também para a criação de condições de optimização do
rendimento.
A formação motora e desportiva das crianças e jovens está directamente ligada
ao trabalho e competência dos técnicos. Por isso devem ter uma formação,
para além dos conhecimentos do desporto ou das especialidades desportiva,
nomeadamente sobre o desenvolvimento biológico e psicossocial da criança.
32
O desporto é parte da cultura dos jovens e adultos, ao qual aspiram ascender
rapidamente. No entanto as crianças não são especialistas, não devem ser
preparadas para ser especialistas. A infância tem no nosso tempo, na nossa
sociedade, a função de uma preparação geral e inespecífica para a vida nas
idades mais avançadas (Kurz, 1988).
Em uma perspectiva social, a competição poder ter grande influência no
processo de sociabilização da criança. O treino e a competição proporcionam à
criança e aos seus pares a oportunidade de, como grupo, adquirir
responsabilidade própria, participar em actividades com os outros e
desenvolver um sentimento colectivo (Kurz, 1988). Confirmando que a
competição e cooperação não estão em oposição.
As competições, entendidas como um instrumento e complemento do treino,
devem contribuir para a formação dos pressupostos da prestação e que
apresentem significado numa perspectiva de futuro. Do um ponto de vista
motor e desportivo, as competições realizadas nos primeiros anos de treino
devem promover, sobretudo, a formação dos pressupostos coordenativos,
técnico-tácticos e orgânico-musculares, em conformidade com nível de
desenvolvimento ontogenético dos jovens. Destes pressupostos fazem parte
uma elevada potencialidade funcional do sistema nervoso central e neuromuscular, cuja formação pode ser amplamente realizada na idade evolutiva
(Rost 1995).
Harre (1982) também aponta algumas funções importantes do desporto
competitivo: ajudar a desenvolver e educar os indivíduos; encorajar a geração
jovem a treinar regularmente; oferecer oportunidades aos jovens de
demonstrarem a sua habilidade pelo treino e a tomarem parte no jogo; ajudar
a compreensão do processo de aperfeiçoamento físico e mostrar a melhor
forma de aperfeiçoar a performance física; promover a ideia de amizade e
paz. Dentre as funções que deve ter a competição, Lima (1995) destaca que
as actividades competitivas propiciam situações de comparação, isto é,
examinam, simultaneamente, os indivíduos ou equipas com o objectivo de
encontrar as semelhanças ou diferenças, no plano da evolução individual. O
que auxiliaria na compreensão do que pode determinar a superioridade de
uns sobre os outros.
33
Dentro desse processo de formação desportiva, as crianças e jovens devem
ser preparadas com a necessária antecedência para suportarem o elevado
estresse das competições de alto nível. Marques (1997c) justifica uma
necessidade de se promover, de forma criteriosa e cuidada, a participação
competitiva das crianças, para que a competição possa ter uma função
formativa e estruturante da personalidade que se pretende.
Martens (1978, citado por Gould e Eklund, 1996) afirma que as crianças
quando expostas a situações de pressão competitiva, a longo prazo, podem se
beneficiar, admitindo-se que essas experiências poderão funcionar como uma
espécie de vacina contra o estresse.
Na opinião dos treinadores, a participação em competições na infância e na
adolescência ajuda a prepará-las para o alto nível. Mas nem todas as
competições servem a essa função. Elas devem ser ajustadas aos níveis de
desenvolvimento e aos estados de prontidão dos jovens atletas. Portanto,
conforme Rost (1995), há uma necessidade de se desenvolver novo conteúdo
e nova estrutura do sistema de competições, o qual visa: (1) oferecer suporte a
um treino adequado à criança; (2) opôr-se à especialização precoce; (3)
promover uma construção sistemática a longo prazo da prestação.
Encontramos concordâncias entre as posições dos autores, no que se refere
aos valores e funções que a competição deve desempenhar, são eles:
comparação das capacidades motoras e desportivas, a função formativa de
aspectos coordenativos, técnico-tácticos e orgânico-musculares e do trabalho
de equipa, cooperação. A a saúde física e mental da criança, o respeito pela
sua individualidade biológica. Nesse processo formativo está dependente da
qualidade da prática, dos objectivos adequados e ajustados, apresentando
uma delimitação diferenciada da utilizada com os adultos.
1.3. Razões do abandono da prática desportiva e das competições
Orlick (citado por Weiss, 1993) foi um dos primeiros pesquisadores a estudar
as razões que levavam os jovens atletas a abandonarem a prática desportiva.
Em seu estudo, realizado com 60 atletas canadenses entre 07 e 18 anos,
34
constatou os seguintes motivos para a desistência do desporto: falta de jogo,
demasiada ênfase na competição e na vitória e o desgosto com o técnico por
excesso de pressões. Concluiu, também, que haviam diferenças nas
justificativas de abandono conforme a idade dos entrevistados: enquanto
crianças com idade igual ou menor a dez anos questionavam a falta de jogo, os
maiores de dez anos relatavam interesse por outras actividades. As mesmas
razões são apresentadas por Robertson (1986) que, em investigação efectuada
junto de jovens australianos, refere que a percentagem de drop out (60%) é
idêntica a de outros países ocidentais, como o Canadá e os USA. As situações
de drop out são justificadas pelo estresse imposto pelo programa de treino e
pelo comportamento dos treinadores.
Em pesquisas sobre o drop out, Platonov e Robertson (citado por
Marques,1998b, p.18) constataram que, entre os vários motivos para o referido
abandono, alguns se destacaram em termos percentuais: treinos monótonos e
excessivos; estresse associado à competição; interesse por outras actividades,
até mesmo por outros desportos; abandono por necessidades externas, como
trabalhar e estudar; abandono pelo alto custo do programa desportivo; lesões
que forçam ao abandono; insucesso nas competições.
Estudos realizados nos Estados Unidos por Petlichkoff (citado por Marques,
1998b, p.17), indicam uma estimativa de que, em média, 35% das crianças e
adolescentes se retiram anualmente do desporto organizado. Revelando ainda
um drástico declínio da participação no desporto entre 11 e 13 anos.
Robertson (citado por Petlichkoff, 1996, p.418) avaliou as razões para o
abandono em uma amostra de 353 meninas e 405 meninos, de 12 anos,
antigos atletas na Austrália, concluindo que cerca de 40% dos jovens citaram
razões como: aborrecimento, ausência de divertimento, falta de tempo de jogo,
para justificar o seu abandono.
Jovens atletas têm abandonado a prática desportiva, principalmente por
motivos que resultam de uma organização muito rígida do treino. Utilizando
cargas excessivas e monótonas, que se traduzem por estagnação dos
resultados e insucesso nas competições. A participação muito intensa nas
tarefas da preparação podem levar à saturação do treino e aversão à prática
35
desportiva, assim como os problemas escolares e familiares (Nadori, 1987,
citado por Marques, 1991, p. 10; Platonov, 1988).
Um estudo realizado com atletas da selecção de basquetebol do Brasil, Paes
(1997) constata que, em uma amostra de 27 atletas, 75% deles iniciaram a
prática após os 12 anos de idade, contra 25% que tiveram seu início antes
desta idade. Também identificou, em sua investigação, sete atletas de
destaque na categoria mini que não prosseguiram a carreira. Apontando os
seguintes factores que podem comprometer a carreira desportiva: a
especialização precoce, a saturação da prática, as pressões da família e a
ocorrência da selecção prematura no desporto. O que, segundo Lima (1989),
pode provocar um abandono da prática desportiva precocemente.
Segundo Arens (1986), quando os resultados competitivos não satisfazem, pais
e treinadores tendem a aumentar, cegamente, o treino específico dos jovens,
apenas com preocupações centradas na vitória, comprometendo, por vezes
irremediavelmente, todo o seu processo de formação.
Os problemas acentuam-se quando as pessoas e entidades, que envolvem os
jovens praticantes, sancionam de algum modo, os seus fracassos competitivos.
Quando isto se verifica, poderão ocorrer fenómenos de rejeição afectiva,
tornando a derrota muito mais dolorosa (Hahn, 1988).
A melhor estratégia para moderar as pressões exercidas sobre os jovens, nas
competições, seria manter as vitórias em perspectiva, facto que raramente
acontece (Martens et al.,1995)
Martens (1980) aponta razões pelas quais as crianças deixam o desporto
competitivo:
(1) Baixa frequência de jogo;
(2) Por recebem excessivos reforços negativos;
(3) Por existência de desigualdades dos atletas em termos de maturidade
física;
(4) Pela pressão psicológica para obtenção de resultado na competição;
(5) Porque não evoluem e continuam a falhar;
(6) Por uma demasiada organização nas estruturas competitivas.
36
Em relação ao abandono das actividades desportivas, Gonçalves (1991), em
seu estudo, revela que o número de abandono das crianças e jovens em
idades cada vez mais baixas tem apresentado um crescimento. Chama a
atenção para a interacção de factores que provocam esse abandono precoce
da prática desportiva, destacando os modelos dos quadros competitivos, as
competências e atitudes face às envolventes da prática desportiva.
A relação entre a prática desportiva e a saúde do atleta é um outro factor que
merece atenção. Para exemplificar esse aspecto, Platonov (1988) refere que
estudos na ex-URSS mostram que cerca de 40% dos nadadores de 13 a 16
anos, que treinam em Escolas de Desporto, não chegam à etapa de alto
rendimento por problemas de saúde, afecções nos ouvidos e nas vias
respiratórias. O motivo principal é a utilização de cargas de treino excessivas.
Na modalidade de natação, o processo de especialização iniciava-se muito
cedo, com atletas em idades precoces, com a finalidade de obter sucesso nas
competições de categorias iniciais. Em vários estudos, realizados em diferentes
países, constatou-se que as consequências deste processo e de aspectos
associados a eles eram constantes. Apenas uma percentagem muito reduzida
de campeões nas categorias de formação chegava a ser campeão na idade de
altos rendimentos (Marques, 1997b).
Sefton e Fry (1981, citados por Petlichkoff, 1996) realizaram estudo semelhante
numa amostra de 86 nadadores, com idades entre os 6 e os 22 anos. As duas
primeiras razões para o abandono foram: (1) preenchimento em demasia do
tempo disponível (33%); (2) grau de insatisfação com a prática (27%). O
comportamento dos treinadores, também foi considerado pelos atletas como
um motivo para o abandono. Tanto por estes manifestarem preferências,
quanto por serem demasiado exigentes. A estrutura e a ênfase dos programas
são assim duas razões importantes para o drop out.
Sapp e Haubenstricker (1978, citados por Petlichkoff, op. Cit) mostraram que
antigos atletas (n= 404), com idades entre os 11 e os 18 anos, citaram outras
actividades (64%) e trabalho (44%) como razões para o abandono. Por isso, é
importante considerar os diferentes tipos de drop out (Petlichkoff,1996):
37
1. O drop out voluntário: as crianças e os adolescentes que abandonam e não
estão descontentes, apenas pretendem experimentar outras actividades.
2. O drop out resistente: as crianças e os adolescentes ainda gostam do
desporto, mas não encontram na prática a satisfação que esperavam.
3. O drop out relutante: as crianças e os adolescentes são forçadas ao
abandono por lesão ou pelos custos financeiros dos programas de preparação
desportiva, como acontece nos USA.
Os dois últimos casos são, naturalmente, os que motivam maior preocupação.
Em síntese, as crianças e adolescentes parecem abandonar o desporto devido
a factores pessoais (falta de capacidade, falta de progresso nos resultados) ou
situacionais (falta de tempo de jogo, falta de apoio social, ênfase no programa)
(Petlichkoff,1996).
1.4. Modelo de treino e modelo de competição de crianças e adolescentes
1.4.1. Organização e adequação da preparação desportiva e a participação
competitiva de crianças e adolescentes
A Confederação do Desporto Alemã (DSB), desde a década de oitenta nas as
declarações de princípio sobre a promoção de talentos formuladas, enfatiza o
valor que as competições adequadas à criança têm na construção das
prestações desportivas, a longo prazo.
Entretanto, quando o sistema de competições é especializado nas fases iniciais
da formação, propicia um sistema de treino também especializado, nestas
fases de idade (Marques, 2002).
Assim como o treino é caracterizado por uma especialização crescente,
também as competições devem estar sujeitas a um processo de progressiva
especialização. Desta forma, as competições, nas etapas do estádio de treino
de base e na primeira fase da etapa de especialização aprofundada, têm
38
significados e objectivos diferentes das do treino de alto nível (Marques,
1998b).
Tschiene (1995) nos esclarece que o papel da competição, no actual sistema
desportivo, age como um critério de diferenciação entre o treino de crianças e
jovens e o treino de alto rendimento.
As competições no desporto infantil e juvenil devem servir, essencialmente, aos
propósitos da formação. Por isso, devem estar organicamente ligadas com as
funções atribuídas ao treino, quer no plano organizativo como no plano dos
conteúdos (Weineck, 1983).
Há um consenso na literatura de que, só uma preparação desportiva
apropriada e a longo prazo é que possibilitará ao atleta atingir o ápice da sua
carreira e ao mais alto nível de competição, obtendo resultados de elevada
expressão (Weineck, 1986; Grosser et al.,1989; Matvéiev, 1990; Marques,
1993b; Araújo,1995; Filin, 1996; Mesquita, 1997; Platonov, 1997; Bompa,
1999).
Neste sentido, há um grande interesse do desporto de alto rendimento em que
o processo de formação desportiva das crianças e jovens ocorra de forma mais
adequada possível.
Bento (1989), Knappe e Hummel (1991) afirmam que o processo de formação
é conduzido por um pensamento pedagógico-didáctico que integra o
desenvolvimento motor e desportivo dos alunos, a longo prazo. Na perspectiva
de Lima (1988), a abordagem da formação desportiva das crianças e jovens é
tarefa difícil, tendo que perseguir objectivos pedagógicos, sublinhando que as
actividades físico-desportivas devem constituir-se, de facto, um meio de educar
e formar pessoas nesta população específica. A formação desportiva, além de
cumprir com objectivos de rendimento, também deve contemplar objectivos
sociais e pedagógicos. Essa ideia parece ser hoje recuperada e revalorizada
por vários autores (Bompa, 1999; Marques, 1999).
Sobral (1994) alerta para o facto do processo de formação desportiva de
crianças e jovens ser, tendencialmente, balizado por ideias e acções
decorrentes de estereótipos do treino dos atletas ao mais alto nível. A
39
implementação de uma concepção mais quantitativa das cargas de treino é
criticada pelo autor, na medida em que produzem efeitos prejudiciais nas
crianças e jovens, que se defronta com as primeiras exigências do processo de
preparação desportiva.
Na formação desportiva de crianças e jovens, devemos enquadrar as
competições conforme os objectivos de preparação, da seguinte forma: 1)
competições
multilaterais
e/ou
múltiplas
para
um
quadro
de
treino,
predominantemente, multilateral e de solicitações motoras e desportivas
diferenciadas; 2) competições de estrutura especializada e adaptada
aproximando-se do modelo tradicional, para uso de um quadro de treino,
progressivamente, especializado; 3) competições altamente especializadas
para um quadro de treino altamente especializado (Marques, 1991).
1.4.2. A idade de início da participação da criança em competições regulares.
A problemática no desporto organizado apresenta uma relação com a
concepção de sua organização e enquadramento. A maioria dos desportos
para os jovens é estruturada de acordo com a idade cronológica, apresentando
dentro de cada escalão ou categoria uma variação no tamanho físico,
habilidade, ou nível de maturação (McPherson e Brown, 1982). Só quando o
jogo se converte em desporto organizado é que surgem as preocupações com
os riscos físicos e emocionais da competição (Sharkey, 1986).
Devido ao surgimento das preocupações com a saúde e com a formação
destas crianças, quando envolvida no desporto organizado, surgem problemas
como; quando as crianças devem iniciar a sua participação regular em
competições?
A resposta a esta questão não foi ainda, nem será porventura, formulada com
precisão. Só de uma forma empírica, ou através de um quadro de referências
pedagógicas, tem sido possível determinar o momento, ou momentos, que
essa participação deve ter início (Marques, 1997b). Na tentativa de encontrar
resposta para essa questão, temos que considerar as diferentes posições e
40
enquadramentos: (1) as posições da ciência e as formulações dos
investigadores; (2) as formulações pedagógicas e de especialistas (técnicos
desportivos); (3) e o que já é consagrado pela prática.
1.4.2.1. As posições da ciência e as formulações dos investigadores.
Para realizar uma certa performance no desporto, o atleta precisa apresentar
determinado estado de aptidão, definida por Sobral (1994) como a prontidão
desportiva, que tem como suporte uma manifestação complexa de diferentes
dimensões:
energético-funcional,
sensório-motora
e
psicosocial.
Para
conhecermos esse nível de prontidão para a prática desportiva de uma criança
ou de um adolescente é preciso:
- Conhecer as exigências físicas, motoras e psíquicas dessa prática desportiva;
- Conhecer o estado de crescimento, maturação e desenvolvimento do
indivíduo, na sua relação com uma prática concreta (a noção de
desenvolvimento reporta-se à complexa integração das modificações biológicas
e das competências sociais adquiridas);
- Conhecer o contexto de interacção entre a prática e a situação sócio-cultural
e familiar do jovem desportista.
O significado e abrangência destas designações estabelecem que a prontidão
deverá manifestar-se ao nível de todas as estruturas e funções implicadas na
performance. Portanto, destinaremos uma atenção a estas três dimensões
essenciais da prontidão desportiva: os aspectos biológicos, os aspectos psicosociais e os aspectos motores. No entanto, as considerações seguintes são
descontextualizadas de práticas concretas. O que pretendemos é contribuirmos
para a construção de uma teoria geral da competição. A abordagem deve ser
feita no quadro preciso das exigências de cada prática concreta, já que as
estruturas, funções e relações solicitadas na prática são específicas de cada
modalidade.
A prontidão da criança e do jovem para a competição desportiva não se
expressa em apenas um único momento. Ela é influenciada por uma
diversidade de factores que determinam sua manifestação. Passer (1982)
41
revela que conceituar a prontidão para o desporto competitivo é complexo, por
envolver técnicas físicas, motoras e desenvolvimento psicossocial.
Quando falamos no treino e na competição de crianças e jovens, é de crucial
importância abordarmos a questão da prontidão. Isto porque, o sucesso ou o
fracasso no desporto podem estar relacionados com a mesma (Malina, 1993).
Lee (1999) recomenda que não se iniciem competições até que os jovens
estejam preparados para tal.
Portanto, descobrir o momento em que a criança se encontra preparada para
enfrentar tarefas desportivas, não é fácil, principalmente pela heterogeneidade
dos aspectos que a envolvem. Mesquita (1997) considera o momento da
iniciação em competições um aspecto que requer muita atenção do treinador,
uma vez que o atleta deverá estar pronto para as exigências e os problemas
que lhe serão atribuidos. Smith e Smoll (1996) acreditam que não é possível
recomendar uma idade específica para responder a questão do momento ideal
para o início da prática desportiva competitiva, devido à multiplicidade de
factores envolvidos no tema. Anderson e Magill (1996) demonstram a
dificuldade de se determinar se o envolvimento precoce no desporto possa ter
benéfico ou não, reconhecendo a individualidade das crianças na aplicação do
conceito de prontidão. A participação em competições organizadas, segundo
Bompa (2000), deve ocorrer somente a partir dos doze anos. Mesmo
possuindo capacidades para tolerar componentes físicos do programa, as
crianças não apresentam ainda um desenvolvimento cognitivo e psicológico
para lidar com as demandas do treino e da competição. Halbert (1984), em
documento australiano, recomenda que a competição não estruturada deve ser
preparada para crianças abaixo dos dez anos de idade.
Outro aspecto referido por Filin (1996), justifica que a duração da preparação
das crianças para a participação nas competições iniciais da prática desportiva
não deve ser inferior a um ano, e sugere que esta ocorra após um ano e meio
ou dois de prática especializada.
As dificuldades em definir uma idade de início da participação competitiva,
apontada pelos autores, são justificadas pela grande diversidade de factores
42
que as influenciam e que estão relacionados com as exigências físicas,
motoras e psíquicas, dessa prática desportiva e com a prontidão desportiva dos
jovens atletas.
1.4.2.1.1. Aspectos Biológicos
As exigências do desporto requerem que as crianças apresentem capacidades
de prontidão adequadas.
O estado de prontidão "readiness" para o desporto é biologicamente definido
como o equilíbrio entre os níveis de crescimento, maturação e desenvolvimento
de uma criança e as tarefas e exigências apresentadas pelo desporto
competitivo (Malina, 1986).
Todavia, precisamos de respostas para nossos questionamentos. Quais são os
critérios de prontidão para um dado desporto? Há um tempo ideal para a
entrada no desporto competitivo? Não é tão simples encontrarmos respostas
para estas questões. Malina (1986) esclarece que a variação individual no
crescimento, na maturação e no desenvolvimento é grande.
O início da participação competitiva com idades mais baixas é defendido com
alguns argumentos. Um dos principais tem sido o que se relaciona com o
chamado "fenómeno de aceleração" (Demeter, 1981, citado por Marques,
1991), traduzido no alargamento dos períodos biológicos activos, no sentido de
uma maior precocidade biológica.
O início da preparação e da participação competitiva em idades baixas, nos
chamados desportos técnicos, acabam por influenciar outras modalidades
desportivas, nas quais os factores que actuam sobre o rendimento dependem
de aspectos da maturação mais tardia. Este mesmo aspecto foi assinalado por
Jefferies (1986) ao referir que a tendência, verificada durante alguns anos, de
diminuição da idade dos campeões, especialmente em desportos como a
ginástica e a natação, desenvolveu um movimento para iniciar o treino mais
cedo. Em algumas modalidades desportivas a idade de participação pode ser
retardada, principalmente naquelas que têm uma exigência maior sobre
43
aspectos relacionados com a capacidade fisiológica e com os indicadores de
crescimento e maturação.
Outro facto, destacado por Gomes (1993) é a notória tendência em valorizar
aspectos biológicos quando se fala de prontidão para o desporto, em
detrimento de outros parâmetros como os psico-sócio-afetivos, a motivação
para a prática e a influência dos adultos nesta mesma prática. Estas
percepções são também reforçadas por Weiss e Gould, (1984) ao salientarem
que não só a maturação física é um elemento importante na decisão para
iniciar a actividade competitiva, mas também a maturidade social, emocional e
cognitiva.
1.4.2.1.2. Aspectos Psico-sociais.
Do ponto de vista psicológico, Passer (1996) recomenda a análise de três
fatores determinantes para a participação de jovens em competições: a
prontidão relacionada à motivação, a prontidão cognitiva e as consequências
negativas produzidas pelo envolvimento precoce nas competições. Estas
experiências competitivas iniciais podem determinar a continuidade das
crianças no desporto (Lima, 1989; Anderson e Magill, 1996; Smith e Smoll,
1996). Este fato está intimamente ligado à questão da prontidão (Smith e
Smoll, 1996). O tipo de experiências que encorajam esta permanência são
aquelas que oportunizam:
a) a aprendizagem de habilidades do desporto;
b) o progresso destas habilidades;
c) o prazer e a diversão proporcionado;
d) a experiência do sucesso (Anderson e Magill, 1996).
Estudos têm revelado que crianças, nos primeiros anos de escolaridade, não
estão psicologicamente preparadas ("Cognitive readiness") para participar em
práticas desportivas organizadas, embora possuam motivações para o fazer e
para se compararem socialmente.
44
De acordo com Passer (1986), as capacidades cognitivas racionais da criança
só lhe permitem um entendimento maduro do processo de competição, a partir
dos 10 ou 12 anos. Desaconçelhando a participação em idades mais baixas.
Compartilhando desta mesma posição, Coakley (1986) menciona que só aos
12 anos de idade a criança atingiria o estágio do processo de sociabilização
que lhe permitiria participar sistemáticamente de competições formais. Não
aprovando a sua participação antes desta idade, sobretudo quando a
competição faz distinção na atribuição de prémios ou recompensas.
Dentro do processo de desenvolvimento e aprendizagem das crianças, com o
aumento da idade, há um envolvimento maior em tarefas competitivas mais
complexas. Isto porque, ela com o passar dos anos e com a aprendizagem vai
desenvolvendo conceitos que a tornam capaz de perceber o papel dos outros
na actividade e a coordenar as suas acções com as dos outros (Farinati, 1995).
Na perspectiva de encontrar resposta à questão sobre início da participação
competitiva, Coakley (1986) propõe o seguinte:
(1) A competição no desporto organizado não deve começar antes dos 8 anos,
porque antes dessa idade as relações sociais não seriam compreendidas de
forma a torná-Ias motivantes.
(2) A competição é aceitável a partir dos 8 anos, desde que a estrutura, os
conteúdos e os prémios das relações competitivas sejam compatíveis com as
capacidades de interacção dos participantes. Essas actividades competitivas,
experenciadas pelas crianças entre os 8 e os 12 anos, devem dar uma ênfase
no desenvolvimento das capacidades individuais, sendo gradualmente
equilibradas nas regras, nas relações estruturadas e nas estratégias defensivas
e ofensivas.
Contudo, até os 12 anos, não é recomendável que as estruturas competitivas
estejam baseadas na vitória e na atribuição de prémios. Tal ênfase pressuporia
a existência de um estado de prontidão social e de habilidades sociais que
ainda não foram adquiridas.
Desta forma, concordamos com o posicionamento de Passer (1986) quando
menciona que tanto o processo de socialização como a preparação psicologica
45
para participar em competição, devem ser situados num quadro de referências
culturais mais vasto, e as generalizações feitas com cuidado. Portanto, não
devemos tomar decisões apressadas a favor ou contra o envolvimento da
criança no desporto organizado.
1.4.2.1.3. Aspectos Motores
O estado de prontidão motora constitui outra referência axial para a
participação competitiva. Para Sobral (1994, 13, citando Seefeldt, 1982),
"qualquer juízo sobre a prontidão da criança ou do jovem para, adquirir o
equipamento motor de uma disciplina desportiva, deverá basear-se na análise
das tarefas motoras que esse equipamento requer." Ou seja, qualificar o estado
de prontidão motora supõe uma enumeração prévia, exaustiva e hierarquizada,
em cada desporto ou especialidade desportiva das tarefas sobre as quais se
estruturam as competências motoras e técnicas (Sobral, 1993).
No entanto, até o presente momento, não temos encontrado respostas no
quadro da ciência do desporto e das disciplinas de especialidades, no que se
refere à estruturação e enquadramento das competências motoras e técnicas,
exigidas em cada prática desportiva concreta. As respostas que temos obtido
são ao nível dos padrões básicos do movimento, no quadro de uma psicologia
do desenvolvimento.
Rowen (1973) indica que, por volta dos seis ou sete anos de idade, as crianças
começam a transformar todas as espécies de situações em competições para
determinar quem é o melhor. Este processo começa a se tornar visível no
momento em que a criança toma contacto directo com os diferentes desportos,
isto é, geralmente a partir dos nove ou dez anos de idade (Blásquez Sánchez,
1986).
46
1.4.2.2. As posições da pedagogia e as formulações dos especialistas
Devido a pressupostos corporais e da aprendizagem, a idade de 8 anos tem
sido considerada uma referência pedagógica para o início da participação no
desporto organizado. Porém, não foi possível saber se pode começar a
organizar pedagogicamente o treino de forma sistemática ainda mais cedo
(Kurz, 1988).
Essa participação desportiva na infância tem sido pedagogicamente entendida,
no contexto de uma formação, segundo Marques (1998b), como um espectro
largo, multilateral, preparatória de um desenvolvimento optimizado da
prestação futura, num quadro disciplinar restrito. O que definiria como baliza,
relativamente à participação competitiva regular em competições formais, que
antes da puberdade seria desaconselhável.
Na Austrália as autoridades fizeram uma declaração intitulada "Children in
Sport". Nessa declaração recomenda-se que nenhuma competição estruturada
seja oferecida à criança com menos de 10 anos de idade. Esta orientação
constituiu motivo de fortes objecções junto a organizadores e pais, na
comunidade de desporto das crianças (Halbert, 1986).
Actualmente, a determinação da idade para as crianças começarem a competir
é de responsabilidade de cada federação desportiva. Para Halbert, (1986) a
pergunta de maior importância não é "Quando devem as crianças começar a
competir?", mas saber "Quais são os aspectos críticos a considerar
relativamente ao grau de preparação para se competir".
Os treinadores responsáveis pelo planeamento do treino de crianças e jovens
consideram que as formulações sobre a idade de início da preparação
especializada, em determinado desporto ou disciplina desportiva, decorrem da
análise conjugada de factores e indicadores como:
- O desenvolvimento físico, motor, psicológico e social do indivíduo nas fases
evolutivas;
- A reacção do organismo da criança às cargas de treino;
- As exigências do rendimento em cada desporto;
47
- As implicações do desporto em termos de segurança;
- A idade, a partir de estudos retrospectivos, em que os atletas de alto nível
iniciaram a sua preparação especializada.
1.4.2.3. As Referências Empíricas da Prática Desportiva
A organização das competições é responsabilidade das federações e
associações desportivas. São as respectivas direcções técnicas que estruturam
todo o enquadramento da participação em competições, regulamentando os
respectivos escalões ou categorias de participação e estabelecendo os
calendários
competitivos.
Evidenciando
que
esse
enquadramento
da
participação de crianças e adolescentes em quadros competitivos é, ainda,
muito tradicional. Desde o início da preparação desportiva, evidencia-se uma
relação entre o treino e a competição, tanto na próximidade do desporto de
rendimento, qanto na estrutura formal, nos conteúdos. O mesmo acontecendo
na atitude frente à competição e no enquadramento geografico da participação
competitiva.
As referências que encontramos na prática, sobre a idade de início da
competição, reportam-se às competições oficiais, que são competições
especializadas num desporto formal. Sobral (1994) as define como:
"competições regulamentadas por uma federação desportiva, que se integram
num quadro organizativo escalonado por idades e categorias de praticantes,
perseguindo objectivos de excelência, culminando na atribuição de títulos de
expressão nacional ou regional e susceptíveis de articulação com uma
orgânica competitiva de âmbito internacional".
Contudo, nas etapas iniciais, são previstas competições orientadas para os
objectivos da formação. No entanto, essas competições, quando existem,
apresentam uma lógica das competições formais, quer na atitude dos técnicos
e dirigentes, ou na sua estruturação e definição de conteúdos.
48
Em relação a idades de início da participação em competições formais,
apresentamos no quadro 2, a prática desportiva que vem sendo consagrada e
alguns modelos de referência propostos, em diferentes desportos.
Esse agrupamento, quando centrado na análise da estrutura do rendimento,
perde significado ao apresentar de forma genérica certos desportos. Marques
(1997b) resalta que alguns desportos só ganham sentido quando consideradas
as especialidades e estruturas de rendimento distintas.
49
Quadro 02 – Idade do início da participação desportiva em alguns desportos e
especialidades desportivas.
Matweiev,
(Sobral, 1994*)
(Ulatowsi, 1975**)
Nowikov,1982***)
Ginástica Acrobática
11-12
Ginástica Artís. (F)
10
10
9-10
Ginástica Artís. (M)
10
10
11-12
Ginástica Rítmica
10
9-10
Patinagem Artística
9
9-10
Saltos para a Água
10
11-12
Esqui (Saltos)
13-14
Natação
9
9-10
10
11-12
Ténis
11-12
Ténis Mesa
Atletismo
14
11-12
Atletismo (Velocidade)
10
Esqui Alpino
11-12
Patinagem Velocidade
11-12
Atletismo (Lançamentos, Saltos
13-14
Andebol
14
13-14
13-14
Basquetebol
11
13-14
11-12
Futebol
12
Hóquei no Gelo
Hóquei em Patins
10
Pólo Aquático
13
Rugby
15
13-14
13-14
13-14
13-14
13-14
13-14
13-14
Voleibol
13-14
Boxe
17
Esgrima
15
Judo
12
Lutas Amadoras
14
13-14
11-12
16
11-12
13-14
16
Canoagem
13-14
13-14
Remo
13-14
13-14
Ciclismo
13-14
13-14
Hipismo
13-14
Vela
16
Atletismo (meio fundo e fundo)
16
Esqui de fundo
11-12
Atletismo (Heptatlo, Decatlo)
16
Pentatlo Moderno
15
16
16
Halterofilia
15
16
16
* Idades de início da competição formal, no ano de 1992, em Portugal.
50
** Idade de início de participação em competições, a partir da prática desportiva, dos
resultados da investigação e da média idade de início da participação competitiva de
atletas de alto nível.
*** Idades recomendadas para o início da participação em competições na ex-URSS.
Nos desportos técnicos (Ginástica, Patinagem Artística, saltos para a água e
saltos
de
esqui),
aqueles
em
que
a
prestação
é
condicionada
fundamentalmente por factores sensório-motores, o intervalo de variação para
a entrada em competição é estreito. A idade mínima é de 9 anos e a máxima
12. Os valores centrais das três propostas situam-se próximo dos 10 anos. A
excepção é constituída pela especialidade saltos de esqui, onde a segurança
do atleta, numa prova de risco elevado, poderá justificar uma entrada em
competição em idade mais avançada (13-14 anos).
Seguindo esta mesma estrutura podemos situar desportos como a natação, o
ténis e o ténis de mesa, que não sendo estritamente técnicos têm uma
dimensão técnica importante. O caso da natação é mais complexo, porque a
competição se faz em especialidades com características distintas.
No próximo grupo de desportos (atletismo, velocidade saltos. lançamentos,
patinagem de velocidade e esqui alpino), a estrutura da prestação é suportada
por factores em que, para além dos aspectos técnicos, também os aspectos
funcionais são importantes e precisam começar a serem estimulados desde
cedo. Nestes desportos e especialidades desportivas, os valores aproximam-se
de um intervalo entre os 11 e os 12 anos e, afastando-se mais destes valores,
aparecem os saltos e lançamentos do atletismo.
Nos desportos tácticos, aqueles cuja estrutura de rendimento é determinada
por factores perceptivo-cognitivos, decisionais, a idade de início centra-se
próximo dos 13-14 anos. Confirmando que os pressupostos, em que se
baseiam as tomadas de decisão, se encontram estabilizados sensivelmente por
este período. O intervalo situa-se, todavia, entre os valores mínimo e máximo
de 10 e 15 anos, respectivamente, o que não parece muito coerente. Os
valores mais baixos não nos parecem muito desajustados. O valor menos
compreensível diz respeito ao limite máximo, estabelecido para o rugby, que
poderá ser explicado pela necessidade de proteger o jovem atleta num
51
desporto em que o contacto físico é permitido. Nos desportos de combate,
também considerados tácticos pelos especialistas, o quadro é mais
heterogéneo. Os valores mínimo e máximo são respectivamente 11 e 17 anos,
verificando-se uma discrepância entre as propostas apresentadas.
No grupo de desportos que integra a canoagem, o remo, o ciclismo, o hipismo
e a vela, é difícil estabelecer uma lógica agregadora baseada na estrutura do
rendimento. Ulatowski (1975) propõe um agrupamento deste tipo, pela
complexidade dos equipamentos e pela garantia de condições de segurança
que estes desportos necessitam. Apesar disso, verifica-se uma grande
homogeneidade na idade proposta para a participação em competições, 13-14
anos, com excepção da vela.
Nas disciplinas de meio-fundo e fundo, condicionadas por factores energéticos,
verifica-se uma notória discrepância entre os valores. O mesmo se verifica nas
disciplinas combinadas, onde se confirma a tendência de participação em
idades avançadas. Em conformidade ao que foi exposto anteriormente, não
encontramos uma uniformidade na determinação da idade de início da
participação em competições, variando, não apenas de desporto para desporto,
mas também de proposta para proposta.
As propostas apresentadas, em sua maioria, não consagram as diferenças
maturacionais entre os dois sexos, apesar de os autores que as propõem
assinalarem a necessidade de se levar em consideração este facto.
É relevante considerarmos que os anos transcorridos sobre alguns dos
modelos apresentados poderão ter reflexos em alterações mais ou menos
sensíveis no quadro em análise.
Todavia, as pressões em que as crianças são submetidas no actual quadro
competitivo, segundo Sobral (1988), gera uma situação em que:
(1) O treino específico inicia-se cada vez mais cedo;
(2) O período correspondente a maior intensidade competitiva coincide, em
várias modalidades, com os anos terminais da adolescência;
(3) O atleta obtem índices superiores de prestação em idades mais baixas.
Antes dos doze anos, as estruturas e relações competitivas devem ser
sistematicamente controladas. Para as crianças abaixo dos oito anos, a
52
organização dos programas desportivos deve ser exclusivamente baseada no
desenvolvimento das técnicas motoras individuais. A competição é geralmente
irrelevante para experiências antes desta idade (Sobral, 1988).
A estruturação da evolução competitiva dos jovens atletas foi realizada por as
crianças de seis anos não são capazes de se concentrar em regras, apenas
em pequenas tarefas onde pode estar presente a comparação. De seis a oito
anos, a competição pode ocorrer de forma lúdica e enfatizando a possibilidade
de sucesso. Entre oito e dez anos, os jovens iniciam gradativamente a
participação de competições de carácter específica, de acordo com os
objectivos do treino, porém com certa prudência. Um calendário regular de
competições só é elaborado a partir de dez a doze anos.
A preparação da criança para o desporto competitivo é determinada pelas
características individuais de cada criança, nomeadamente o crescimento, a
maturação, o desenvolvimento e a natureza do desporto. Portanto, a
competição no desporto organizado não deverá acontecer antes da maturidade
social, psicológica e física serem obtidas. É preciso que a criança compreenda
o significado das relações competitivas.
O estado de prontidão da criança para participar no desporto organizado
depende do desenvolvimento físico e social. Antes dos doze anos ainda não
foram adquiridas as técnicas sociais e cognitivas que lhe permita participar da
competição. Isto não significa, que a criança, até essa idade, não participe de
actividades competitivas. As expectativas dos adultos para a performance das
crianças devem ter em conta o desenvolvimento das suas capacidades.
As capacidades actuais de resposta da criança e do jovem devem estar em
consonância com as exigências das situações de treino e competição. É esse
estado de equilíbrio que define sua prontidão.
Os aspectos biológicos e psico-sócio-afectivos devem ser considerados na
construção de uma orientação para a iniciação em competições.
Devido à individualidade da criança, alguns autores acreditam ser impossível
determinar uma idade específica para o início da participação competitiva.
Outros, no entanto, recomendam que as competições formais não ocorram,
em média, antes dos 10 anos.
53
1.4.3. A estrutura da Preparação Desportiva a Longo Prazo no Treino de
Crianças e Jovens
Harre (1982) define a Preparação Desportiva a Longo Prazo (PDLP) como um
processo pedagógico regido de acordo com as leis do desenvolvimento
pessoal e da performance atlética, que tem por objectivo a máxima eficiência
em uma determinada idade.
Diversos autores (Platonov, 1994; Zakharov, 1992; Weineck, 1986; Grosser et
al., 1989; Martin et aI., 2001) apresentam um consenso de que, actualmente, o
alto rendimento não pode ser obtido sem a PDLP. Bompa (1999) reforça,
ainda, que a PDLP é uma característica do desporto moderno.
O objectivo da PDLP é promover a elevação progressiva das exigências do
treino, de maneira a obter uma melhora constante da capacidade de
performance. Daí a necessidade de se construir bases sólidas na preparação
de crianças e adolescentes, permitindo assim, obter no futuro a alta
performance (Weineck, 1986; Harre, 1982).
Neste sentido, o que se pretende é evitar a ocorrência de resultados precoces
vinculados a uma preparação forçada, pois, embora aparentem ser
promissores tendem a se estabilizar muito antes das categorias adultas ou
reduzir a carreira desportiva (Zakharov, 1992; Matvéiev, 1991; Vaitsekhovskii,
1992).
No contexto da formação desportiva, surge a preocupação de como deveria ser
a abordagem da PDLP e a definição dos caminhos a percorrer, que permitam,
mais tarde, alcançar o alto rendimento.
Platonov (1994) estabelece os seguintes factores que determinam a formação
e a duração da PDLP:
a) A estrutura da actividade competitiva no desporto considerado e o
grau de preparação dos atletas que poderão atingir resultados
elevados;
54
b) Uma formação e um desenvolvimento sistemático e regular dos
diversos componentes da proficiência desportiva, assim como um
desenvolvimento constante dos processos de adaptação dos
sistemas funcionais, que são fundamentais para o desporto
considerado;
c) As características individuais, sexo dos atletas, bem como o ritmo
de maturação biológica, que serão relacionados a vários aspectos
do ritmo e desenvolvimento da mestria desportiva.
Os estudos referentes à idade ideal, onde ocorrem os máximos resultados,
devem abordar principalmente competições como os Jogos Olímpicos e
Campeonatos Mundiais. Filin (1996) apresenta as zonas das idades limites
onde podem ocorrer os resultados de vários desportos (Quadro 3).
Quadro 3 - Zonas das idades limites dos resultados (adaptado de Filin, 1996)
Zona dos
Zona das
Zona de
primeiros altos
últimas
manutenção dos
êxitos
possibilidades
altos resultados
100 m. (masc./fem.)
17-21/16-19
20-24/20-22
25-26/23-25
800 m. (masc./fem.)
18-22/18-20
23-25/21-23
26-27/24-25
21-24
25-27
28-29
Salto em altura (masc./fem.)
17-21/16-18
22-24/19-22
25-26/23-24
Lançamento de dardo
19-23/18-22
24-26/23-24
27-28/25-26
15-17/13-14
18-20/15-18
21-22/19-20
Ginástica Artística (masc./fem.)
16-18/12-15
19-21/16-17
22-24/18-19
Basquetebol (masc./fem.)
18-21/16-18
22-25/19-23
26-28/24-25
17-21
22-26
27-28
Desporto
Atletismo
10.000 m. (masc./fem.)
(masc./fem.)
Natação (100 e 200 m.)
(masc./fem.)
Futebol (masc.)
Em geral, estes dados têm mantido uma estabilidade durante as últimas três
décadas. Ocorrem, no entanto, algumas excepções referentes às modalidades
que
apresentaram
um
rejuvenescimento
(patinação
artística,
saltos
ornamentais, ginástica, natação e esgrima) devido a factores como alterações
55
de regulamentos, início da especialização mais cedo e passagem para a esfera
profissional (Zakharov, 1992).
Enquanto as diferenças na construção da PDLP são dependentes dos factores
determinantes da performance de um desporto específico (Weineck, 1986), a
progressão temporal da PDLP se baseia na idade biológica do atleta, no nível
do seu desenvolvimento e preparação, na capacidade de realização de todas
as cargas e na competição em desenvolvimento (Filin, 1996).
Portanto, as recomendações referentes às idades são válidas, desde que
referenciadas como um marco orientador, uma vez que a evolução dos atletas
depende da sua individualidade (Martin et aI., 2001).
A utilização precoce de meios mais eficazes para estimular o organismo do
atleta, faz com que ocorra um rápido crescimento nos resultados, muito antes
de ser alcançada a idade óptima. Com isso, há um esgotamento do potencial
adaptativo do atleta, impedindo que este reaja a novos estímulos ou, até
mesmo, às cargas menos intensas (Platonov, 1994; Zakharov, 1992).
Sublinhando a diferença que deve ocorrer entre os moldes do treinamento de
crianças e adolescentes, Marques (2000) destaca a existência de uma
tendência em intensificar a qualidade, em detrimento da quantidade de treino.
Coelho (2000) entende que a formação de um atleta é condicionada pelos
estados qualitativos atingidos pelos praticantes, durante as etapas da sua
preparação.
Considerando
o
trabalho
dos
jovens
um
dos
factores
determinantes dos limites da preparação desportiva, no mais alto nível de
rendimento, é imprescindível, portanto, a definição clara e precisa dos
objectivos em cada uma das etapas do processo de formação (Mesquita,
1997). Na literatura encontramos diversas propostas da PDLP, divididas em
etapas que não convergem em número e terminologia. Das etapas
constituintes da PDLP, interessa-nos as de formação, as quais definiremos
como todas as etapas anteriores ao alto rendimentos (Quadro 4).
56
Quadro 4 – Modelos de preparação desportiva a longo prazo e respectivas etapas
Autores / Ano
Etapas da PDLP
Harre
-Treinamento de jovens Atletas*
(1982)
Iniciantes e Avançados*
-Treinamento competitivo
Weineck (1986)
- Treinamento de esperanças*
Iniciantes e Avançados*
- Treinamento de Alta Performance
Lima
(1988)
- Iniciação*
- Orientação*
- Especialização*
Matéveiev
(1991)
- Preparação de Base*
-Preparação Preliminar e Especialização Inicial*
- Máxima Concretização das Possibilidades Desportivas*
- Pré-culminação
- Resultados Máximos
- Longevidade Desportiva
- Conservação e Manutenção
Zakharov
(1992)
- Preparação Preliminar
- Especialização Inicial*
- Especialização Aprofundada*
- Resultados Superiores
- Manutenção dos Resultados
Marques
- Preparação Preliminar*
(1993)
- Especialização Inicial*
- Especialização Aprofundada*
Platonov
(1994)
- Preparação Inicial
- Preparação preliminar de base
- Preparação especializada de base
- Realização dos máximos resultados individuais
- Manutenção dos resultados
Filin (1996)
- Preparação preliminar
- Especialização desportiva inicial
- Aprofundamento do treino
- Aperfeiçoamento desportivo.
Barbanti (1997)
- Preparação básica
- Preparação especifica
- Preparação de altos rendimentos
Martin (1999)
- Treino geral
- Treino fundamental
Bompa (2000)
- Treino generalizado
- Treino especializado
57
No modelo de PDLP apresentado por Harre (1982), as principais tarefas nesta
etapa de formação compreendem, nos iniciandos, o desenvolvimento da
preparação física geral e o trabalho dos fundamentos das técnicas e da táctica
elementar. Enquanto que, aos avançados cabe o desenvolvimento do
condicionamento direccionado a uma modalidade, o aperfeiçoamento da técnica
e da táctica e, por fim, o desenvolvimento de uma ampla base motora. A
educação dos atletas é realizada com base no desenvolvimento a motivação
para atingir o alto nível, aliada a factores como a criação de atitudes positivas, o
desenvolvimento do carácter e de qualidades volitivas. O autor não menciona a
participação de competições nesta etapa.
Matvéiev (1991) apresenta um modelo de PDLP, em que a primeira etapa tem
por objectivo formar bases, sob as quais se erguerão os resultados da
actividade do atleta. Na preparação preliminar o treino visa a preparação física e
desportiva geral e fundamentos das técnicas desportivas. Enquanto que, na
segunda etapa há um direccionamento para uma modalidade específica, mas
sem provocar a especialização em uma única prova. É importante destacar que
a preparação para os resultados desportivos não é, nesta primeira etapa, um
objectivo imediato. Eles só serão relevantes a partir do treino especializado, ou
seja, no final desta etapa, mas no sentido de progresso e não em relação aos
níveis actuais de rendimento.
Weineck (1986) salienta que as idades estabelecidas, para cada etapa, são
dependentes da modalidade em questão. Na etapa dos iniciados visa uma
formação de base polivalente, a ampliação do repertório das habilidades
motoras, através de técnicas básicas e a utilização de meios e métodos de
treinos variados. No estágio avançado, no contexto da modalidade escolhida,
ocorre um aumento progressivo do trabalho específico, bem como do volume e
intensidade do treino. Todos os conteúdos visam criar condições que permitam
a transição para o último estágio, o treino de alta performance.
Para Lima (1988), a formação desportiva de crianças e jovens está
caracterizada como um processo pedagógico, onde as etapas devem
apresentar um enquadramento próprio através de conteúdos, equipamentos e
58
competições que assegurem as condições favoráveis ao sucesso desportivo.
Na iniciação, 8 a 12 anos, os objectivos são, prioritariamente, educativos e
formativos, visando a participação, considerando as particularidades de cada
criança. Na etapa da orientação, 11-12 a 15-16 anos, a integração social é
acresentada aos objectivos anteriores. O objectivo está centrado no
desenvolvimento das capacidades motoras e funcionais dos fundamentos
técnicos e tácticos das diversas modalidades e a multilateralidade. O que vem
resultar numa transição progressiva do carácter lúdico para o de treino. O
trabalho de equipa também é valorizado, pois os resultados extremos não
devem ser exigidos, visto que podem impedir o atleta de atingir a plenitude do
seu desenvolvimento e da sua carreira desportiva.
Zakharov (1992) aponta que a progressão entre as etapas se caracteriza pelo
grau de solução em cada uma das precedentes. Dentre os principais objectivos
na primeira etapa destaca a motivação para o desporto, a ênfase ao
desenvolvimento multilateral e a formação harmoniosa do organismo, através
de uma prática diversificada. O treino da coordenação e da velocidade fazem
parte dos objetivos, nesta etapa. A definição da modalidade desportiva ocorre
na especialização inicial, etapa onde a preparação multilateral é a tarefa mais
importante a ser desenvolvida, juntamente com o domínio das bases técnicas
do desporto. A actividade competitiva tem um carácter auxiliar, representada
pelas competições preparatórias e de controlo que, por sua vez, apresentam
um programa simplificado. Na etapa da especialização aprofundada há um
aumento da preparação especial, visando a criação de base especializada. O
número de competições se apresenta bem próximo da etapa dos resultados
superiores (40 a 70%).
Marques (1993b) propõe para a primeira etapa objectivos de preparação
multilateral da criança, motora e desportiva. Na segunda, ocorre o
direccionamento para uma modalidade e desenvolvimento dos fundamentos
desta. Enquanto que, a última etapa está dirigida para o desenvolvimento
aprofundado da capacidade de prestação do desporto. As competições oficiais
só aparecem na segunda etapa e em número reduzido, os objetivos formativos
destacar-se sobre o rendimento imediato. Na última etapa é que inicia a
59
orientação para o rendimento nas competições, emergindo assim, a
periodização com características bem próximas daquelas exercidas no alto
rendimento.
Na proposta de Platonov (1994), é agregado um modelo de duração das
etapas, específico para cada desporto, como podemos verificar no quadro 5.
Quadro 5 - Duração de cada etapa da PDLP nos diversos desportos (adaptado de
Platonov, 1994)
Duração das etapas em anos
Modalidades
Preparação
Preparação
Realização dos
preliminar de
Especialização de
máximos
base
base
resultados
6-8/8-10
9-10/11-13
11-13/14-15
14/16
6-8
11-13
14-15
16
15-16/17-18
17/19
Preparação inicial
Ginástica artística
(fem./masc.)
Ginástica Rítmica
Natação
(fem./masc.)
Handebol
(fem./masc.)
Futsal
(masc.)
8-11/9-13
12-14/14-16
11-14/12-15
15-16/16-18
11-15
16-18
17-19/19-20
19-20
20/21
21
A preparação inicial é marcada pela diversidade de modalidades, técnicas,
esquemas de acção motora, meios e métodos. Na preparação preliminar de
base prevalece a preparação multilateral, acrescentando-se a esta um pequeno
volume de preparação especial. O aumentar do volume do trabalho específico,
nessa etapa, levará a uma melhora dos resultados na adolescência, mas
posteriormente influenciará negativamente na mestria. Há uma ênfase no
trabalho da técnica, mas mantém-se a diversidade. No início da preparação
especializada de base permanece o mesmo trabalho da primeira fase. No final,
a orientação já é feita em função da actividade competitiva e objectiva ampliar
a capacidade funcional do organismo.
60
O modelo de Filin (1996), as características específicas de cada desporto e o
nível de preparação dos atletas vão condicionar a duração das mesmas.
Estabelece, também, como objectivos da preparação preliminar a melhora da
saúde, o desenvolvimento físico geral, a variabilidade dos exercícios e a
motivação para o desporto. Esta etapa, que abrange a idade pré-escolar,
caracteriza-se pela variabilidade de meios, métodos e organizações
desportivas. Privilegia o trabalho das qualidades motoras, com destaque para
a força, flexibilidade, agilidade e velocidade, por fim, o desenvolvimento da
técnica dos exercícios. No final desta etapa ocorre um processo de selecção
para as escolas desportivas. A especialização desportiva inicial tem como
objectivos principais o desenvolvimento da preparação física geral e a
formação fundamental da preparação especial. Os jogos, método de trabalho
da técnica e da táctica elementar, são utilizados como meio de integrar as
capacidades físicas com as habilidades motoras. O período competitivo é
reduzido e tem uma importância secundária. Contudo, a competição tem aqui
a importante função de verificar o potencial do atleta. Na etapa seguinte há
um aumento do nível da preparação funcional e especial. Esta etapa é
marcada pela participação sistemática em competições.
A preparação desportiva, para Barbanti (1997), tem início pelos 8-9 anos e
objectiva alcançar as condições necessárias para atingir os resultados
desportivos elevados na idade adulta. Predomina, nesta etapa, a preparação
generalizada que visa ampliar as experiências motoras, o desenvolvimento da
técnica, das capacidades motoras básicas e a motivação para o treino. As
competições nesta primeira etapa não devem priorizar recordes ou ganhar a
qualquer custo. Na etapa de preparação específica procura-se, sem abandonar
o treino multilateral, orientar o atleta para especialização em sua prova ou
modalidade. Por fim, a etapa da preparação de altos rendimentos tem como
objectivo a preparação do atleta para resultados e competições de alto nível.
Martin (1999) esclarece que o treino de crianças e jovens, em virtude de
apresentar um carácter de perspectiva, não pode ser orientado para a
obtenção de resultados momentâneos, em detrimento dos objectivos e
conteúdos de cada etapa. Deve seguir o princípio da melhora da qualidade do
61
treino. A etapa do treino geral é utilizada para motivar as crianças à prática do
desporto, ocorrendo simultaneamente com a detecção de talentos. O conteúdo
desta etapa é marcado pela multilateralidade, com exercícios destinados à
aquisição
das
capacidades
coordenativas.
A
característica
do
treino
fundamental é a predominância da aprendizagem das habilidades motoras
específicas e do treino da velocidade.
No programa de treino proposto por Bompa (2000) estão presentes duas
principais etapas: o treino generalizado e o treino especializado. A primeira,
subdividida em iniciação (6-10 anos) e formação atlética (11-14 anos),
propõe
construir
os
fundamentos
para
desenvolver
as
complexas
capacidades motoras, proporcionando uma suave transição para a etapa
posterior. A orientação para a performance não é indicada para esta etapa,
em que se destacam a aprendizagem dos fundamentos desportivos em geral
e das habilidades motoras, assim como o reforço da técnica. As competições
surgem no final desta etapa, com o objectivo de aperfeiçoar os fundamentos
e a técnica, além de criar situações de sucesso para o atleta. Na segunda
(15-18 anos), a especialização é marcada pelo emprego do treino que vise a
performance em um determinado desporto, pela monitorização deste treino e
pelo aumento progressivo do número de competições.
Embora o referido autor estabeleça as idades aproximadas para cada etapa,
o mesmo reconhece que ocorrem variações devido às particularidades de
cada desporto. Por isso, configura um quadro, onde são descritas estas
variações (Quadro 6).
62
Quadro 6 - Idade da iniciação, da especialização e da alta performance em diferentes
desportos (adaptado de Bompa, 2000)
Desporto
Idade da iniciação Idade da especialização
Idade da alta
performance
Atletismo
Velocidade
10-12
14-16
22-26
Corrida de média distância
13-14
16-17
22-26
Corrida de longa distância
14-16
17-20
25-28
Saltos
12-14
16-18
22-25
Salto Triplo
12-14
17-19
23-26
Salto em Distância
12-14
17-19
23-26
Arremesso
14-15
17-19
23-27
Ballet
10-12
15-16
22-28
Futebol
12-14
16-18
23-27
Feminina
6-8
9-10
14-18
Masculina
8-9
14-15
22-25
Judo
8-10
15-16
22-26
Feminina
7-9
11-13
18-22
Masculino
7-8
13-15
20-24
Feminino
7-8
11-13
20-25
Masculino
7-8
12-14
22-27
10-12
15-16
22-26
Ginástica
Natação
Ténis
Voleibol
De acordo com as propostas de preparação desportiva a longo prazo,
relacionadas com as etapas de formação apresentadas, podemos resumir que:
- A maioria dos autores estabelece três principais etapas para designar o
processo de PDLP
- As idades correspondentes para cada etapa são dependentes do desporto e a
progressão entre elas varia conforme as particularidades do atleta.
- As orientações correspondentes a primeira etapa estabelecem como principal
objectivo a construção de bases que, posteriormente, permitam atingir as
etapas subsequentes. Os conteúdos desta etapa estão relacionados com o
treino multilateral, com a variabilidade de meios e métodos, com as actividades
lúdicas e com a motivação do atleta.
63
- A segunda etapa é marcada pelo direcionamento do atleta para uma
modalidade desportiva específica. No entanto, a predominância ainda é do
treino multilateral, com destaque para o trabalho dos fundamentos das técnicas
do desporto.
- Na terceira etapa ocorre uma proximidade com o treino da fase adulta, com o
aumento do volume, da intensidade e da preparação especial, além da
presença
da
periodização
tradicional.
Visa-se
à
consolidação
e
ao
aperfeiçoamento dos fundamentos. Pois as influências do treino estão
directamente relacionadas com o desenvolvimento da performance.
- Em relação à participação em competições e à importância dos resultados,
observa-se que: nas duas primeiras etapas, as competições apresentam um
carácter participativo e adaptativo à realidade do atleta, tanto em aspectos
referentes a materiais, quanto aos aspectos organizacionais. Os resultados
nestas etapas não devem ser exigidos, diferentemente da importância atribuída
aos mesmos, no estágio do alto rendimento. Somente na última etapa, a
quantidade e o modelo das competições aproximam-se daqueles apresentados
nas categorias adultas.
1.5. Caracterização dos Desportos
O planeamento de um determinado desporto presupõe o conhecimento do
perfil das exigências desta disciplina, bem como, das condições físicas e
psicológicas que o atleta deve apresentar (Grosser et aI., 1989). O processo de
treino e aprendizagem dos desportos devem ser realizados considerando-se
três factores, como aponta Moreno (1994): as características do indivíduo, a
estrutura do desporto e o planeamento metodológico.
Assim, a classificação das disciplinas desportivas é uma maneira de delimitar
grupos
homogéneos
de
desportos,
com
características
específicas
(Verkhoshanski, 1990).
Podemos
encontrar
na
literatura
diversas
classificações,
dentre
salientamos a proposta de Moreno (1994), na qual a divisão ocorre em:
64
elas
A) Desportos psicomotrizes ou individuais: o indivíduo actua sozinho, de
maneira que seu comportamento motor ou estratégia motriz não sofre
interferência de outro participante. Neste grupo, a técnica ou o modelo de
execução tem um papel prioritário. Ex.: natação, ginástica olímpica, atletismo,
esqui e vela.
B) Desportos de oposição: a presença de outro indivíduo, na qualidade de
adversário, determina a ação, de maneira que a conduta dos participantes
apresenta objetivos opostos. A estratégia, nesta categoria, está mais valorizada
do que no grupo anterior. Ex.: luta livre, karatê, judo, ténis e badminton.
C) Desportos de cooperação: a acção resultante ocorre entre dois ou mais
indivíduos, que actuam de maneira coordenada entre si em mútua colaboração.
Na grande maioria dos desportos deste grupo, a técnica corresponde a
modelos já predeterminados. Ex.: patinação artística (duplas), ginástica rítmica
(conjunto), natação e atletismo (revezamento).
D) Desportos de cooperação/posição: são denominados assim os desportos
onde a acção é o resultado das interacções dos participantes, produzidas de
maneira que uma equipe coopera entre si para opor-se à outra. A estratégia,
em conjunto com a comunicação, forma o núcleo principal deste grupo. Ex.:
futebol, handebol, tênis de duplas, voleibol, hockey e squash.
A referida classificação utilizou parâmetros configuradores da estrutura do
desporto como, o regulamento, a técnica e modelos de execução, o espaço de
jogo, o tempo, a comunicação e a estratégia motriz.
Em relação à classificação dos desportos, cabe mencionar a existência de
outras propostas que permitem, também, uma contribuição na delimitação das
modalidades. Djatschkow (citado por Grosser et al., 1989) apresenta quatro
grupos resumidos em: desportos de força explosiva, de resistência,
combinados, jogos e lutas. Gandelsman e Smimov (citado por Bompa,1999b,
p.73) utilizam para a classificação critérios como: contracção muscular, força,
65
velocidade, resistência, coordenação e amplitude. Schanabel (1988) baseia-se
nos processos de natureza energética.
Conferimos que o universo de factores que caracterizam os desportos
apresenta uma configuração ampla, mas com parâmetros bem definidos,
capazes de diferenciá-los.
1.6. As competições no modelo de prospectiva da preparação desportiva.
1.6.1. Natureza das competições nos estádios e etapas da preparação
desportiva de crianças e jovens.
Marques, (1985) identifica no modelo de prospectiva de preparação desportiva
a existência de dois estádios: o estádio de treino de base e o de plena
realização das aptidões desportivas.
O limite entre os dois estádios tem como referência o período pubertário. O
primeiro estádio abrange duas etapas: a etapa de preparação preliminar e a
etapa de especialização inicial. O segundo estádio engloba as etapas de
especialização aprofundada e de elevadas prestações desportivas. Nos
detivemos mais nas etapas do primeiro estágio, abordadas em nosso estudo,
para o enquadramento das competições no modelo de preparação a longo
prazo.
No estádio de treino de base, as competições devem contribuir para o
desenvolvimento de uma multilateralidade desportiva. Quanto mais unilateral é
a estrutura da prestação de um desporto, tanto mais será necessário construir,
de modo multilateral, a base da prestação (Rost, 1995).
Seguindo as indicações de Marques (1997b), essa base constrói-se de modo
diferente consoante os objectivos e os momentos da formação. Na primeira
etapa, o quadro de actividades sobre o qual se funda essa multilateralidade
deve ser o mais eclético possível. Nenhum desporto ou actividade contém, por
si só, todas as possibilidades de estimulação e experiência na sua desejável
66
diversidade. É, por isso, pedagogicamente indispensável que as crianças
vivenciem múltiplas formas de movimento, jogo e desporto.
Na segunda etapa, a multilateralidade nas competições deve ter uma
adequação mais próxima das exigências do desporto escolhido, permitindo,
desta forma, potenciar as possibilidades de transferência motora. Uma
diminuição da diversidade e da quantidade de componentes do sistema motor
funcional activado conduz a uma maior concentração das reservas de
adaptação e a um maior desenvolvimento do sistema (Tschiene, 1989).
Tentando conciliar os aspectos da formação não especializada com os da
optimização da transferência motora, Marques (1995) aponta algumas
exigências:
(1) A necessidade de delimitar o conceito de multilateralidadel e diversidade,
específicas para cada desporto, orientando os exercícios, quer na estrutura da
carga, quer na estrutura motora para o desporto escolhido;
(2) Recorrer aos conceitos de formação multilateral geral e específica, sendo o
último, ponto central na orientação para o desenvolvimento das capacidades
coordenativas.
Fazendo uma relação destes pressupostos, Tschiene (1989) propõe-nos um
quadro de critérios para aplicação do princípio da multilateralidade/diversidade,
de acordo com a natureza de cada desporto:
1. Desportos que já contêm diversidade (Atletismo, Ginástica Artística...): os
exercícios devem criar mudanças psíquicas através das alterações do
envolvimento.
2. Desportos cíclicos (Natação, Ski de Fundo, etc): devem ser previstos
exercícios de compensação, de substituição, com estrutura e função
semelhantes.
3. Desportos de formação técnica ou condicional estreita: (saltos para a água,
halterofilia) deve recorrer a exercícios de outros desportos, que suportem a
capacidade de prestação geral e possibilitem uma grande transferência de
efeitos para o desporto escolhido.
67
Portanto, devemos evitar a especialização precoce, isso também, nos obriga a
criar condições para a optimização do rendimento, tendo no modelo de mais
alto nível, um factor estruturante do sistema de preparação a longo prazo. De
acordo com Tschiene (1988), essas condições passam por uma nova
classificação dos exercícios de treino no desporto de crianças e jovens, que
justificam:
1. O grau de transferência, segundo a semelhança estrutural e funcional
relativamente aos exercícios de competição;
2. O grau de efeito funcional, em relação ao desenvolvimento biológico e a
idade de treino dos atletas;
3. A necessária intensidade de realização dos exercícios (dentro de um
complexo de métodos sobre a consideração da zona energética);
4. Uma estruturação e hierarquização particular dos exercícios adequadas aos
níveis de idade.
Essas orientações repercutem directamente no aumento da aplicação de carga
geral e específica, ampliando a base da prestação e as possibilidades de
transferência motora. E, dentro desse processo, devemos evitar as cargas
unilaterais excessivas na idade evolutiva, através de um vasto repertório de
experiências motoras gerais e orientadas, que criam também, situações mais
atractivas para um maior envolvimento e motivem as crianças e jovens para o
treino.
Já no estádio de plena realização das aptidões desportivas, as competições
diferenciam-se das características do primriro estádio. Devem assumir
plenamente as suas características, no plano dos objectivos, formal e dos
conteúdos, relativas ao quadro disciplinar restrito e institucional em que se
inscrevem.
68
1.6.2. O enquadramento geográfico das competições.
As competições, nas etapas iniciais da formação, devem ser oferecidas em
função da idade e terem limites locais ou regionais. Pretende-se com isto,
impedir uma orientação excessiva para o sucesso e limitar a pressão
psicológica motivada por altas performances e títulos. Impedindo, com isso,
uma sobreavaliação do indivíduo e dos seus resultados competitivos (Deutsche
Sportbund, 1983). Não obstante, algumas crianças, por se encontrarem em
estádios de preparação mais avançados, sejam confrontadas com exigências
competitivas mais elevadas, como acontece em desportos que permitem a
criança competir com jovens e adultos. Neste caso, essa participação deve ser
acompanhada com particular cuidado.
As crianças tendem a tomar como referência os comportamentos e feitos dos
adultos, consideram-los seus ídolos. Outra influência verificada refere-se aos
resultados alcançados pelos atletas de alto nível, colocando a si próprias
objectivos mais exigentes e esforçando-se para, em curto tempo, atingir os
mesmos resultados. Segundo Kurz (1988), as expectativas das crianças,
acrescidas às expectativas pais sobre o êxito nas competições nacionais ou até
mesmo internacionais, trazem dificuldades aos treinadores na perspectiva das
possibilidades de concretizar esses objectivos. Por isso, é de extrema
relevância, em idades baixas, considerar uma restrição na participação precoce
em competições para além dos limites regionais. Neste panorama, Matweiev e
Nowikov, (1982) propuseram as seguintes normas (Quadro 7) relativas ao
enquadramento territorial do sistema de competições de jovens desportistas na
ex-URSS.
Quadro 7 - Enquadramento territorial das competições dos mais jovens, (Matweiev e
Nowikov (1982); citados por Marques, 1997b)
Idade
Enquadramento territorial
9-10
Competições desportivas na escola
11-12
Competições a nível local e de cidade
13-14
Competições a nível de distrito, região ou república autónoma
15-16
Competições a nível nacional (ex-URSS)
69
Valeriote e Hansen, (1986) em seu estudo verificaram que no Canadá, a idade
de participação em competições nacionais situa-se entre os 15 e os 18 anos.
Nos desportos estudados, 60% oferecem competição a nível províncial e regional para jovens a partir dos 11 anos. Às crianças de 9 e 10 anos são apenas
oferecidas competições locais, para divertimento. Contudo, 12% dos desportos
estudados oferecem competições provinciais para crianças dos 6 a 8 anos e
32% oferecem as mesmas competições para crianças dos 9 e 10 anos.
No modelo adoptado de Bompa (2000), quadro 8, evidenciam-se para os
diferentes desportos as respectivas variações de idade e enquadramento
competitivo.
Quadro 8 - Idade mínima para a participação em competições (adaptado de Bompa, 2000)
Enquadramento geográfico das
competições
Modalidades desportivas e respectivas idades recomendadas
Ginástica
(Feminina)
Ténis
Voleibol
Natação
Futebol
Lúdica
7-9
12-13
14
12-13
8-14
Local
10
14
15-16
14-15
15-18
Estadual
11- 13
15
17-18
16
15-18
Nacional
14
16-17
19-21
17
19
Internacional/Profissional
14
18
22
17
20
Em Portugal, Andrade (1996), estudando as modalidades desportivas: andebol,
atletismo, basquetebol, ciclismo, futebol, ginástica artística e voleibol, constatou
que há competições de âmbito nacional em todas as categorias, logo a partir
da idade correspondente ao escalão de infantis, ainda que revestindo de
formas organizativas e propósitos diferenciados (Quadro 09).
70
Quadro 09 - Natureza das competições realizadas, em algumas modalidades, por jovens
atletas portugueses do escalão infantil, ou equivalente, no ano de 1995;
(citados por Marques 1997b)
Desporto
Tipo de competição
Andebol
Encontros Nacionais
Atletismo
Competições de “Atleta Completo”
Basquetebol
Torneios Inter-Seleções
Ciclismo
Prémios e Encontros Nacionais
Futebol
Taça Nacional
Ginástica Artística
Campeonato Nacional e Taça Juvenil
Voleibol
Encontro Nacional de Minivoleibol
A definição de uma demarcação geográfica da participação competitiva, não
tem sido encontrada facilmente na literatura.
Porém, temos bem claro e justificado que, o enquadramento das competições
não deverá ser o mesmo para todos os escalões e etapas de preparação a
longo prazo. O mesmo deve apresentar uma evolução lógica, de acordo com
as modalidades desportivas e, sobretudo, com as características, obrigações e
interesses das crianças e jovens.
1.6.3. Competições em equipa nas modalidades individuais.
Nestas etapas iniciais, as competições apresentam factores que merecem ser
equacionados de forma pedagógica, como as diferenças biológicas, o
insucesso, a desmotivação e as pressões psicológicas. Por isso, requerem a
adopção de estratégias, principalmente nas modalidades individuais. Uma
delas é a promoção de competições em equipa. As formas de participação em
grupo devem ser privilegiadas em relação às formas individualizadas. Isto não
pretende excluir a participação individual em competições, apenas ser alvo de
uma cuidada ponderação (Deutsche Sportbund, 1983).
O sistema de competições vigente cria situações de desmotivação entre os
menos aptos, por dar excessiva atenção sobre os melhores atletas que,
71
geralmente, são os biologicamente mais acelerados ou os de maior idade
cronológica. Rost (1995), considerar a necessidade de que, nas etapas iniciais
da preparação, o sistema de competições deva ser efectuado em moldes que
tornem possível a um maior número de indivíduos atingir situações de sucesso.
Na realidade, o que temos encontrado é um processo orientado de treino que
furta
a
criança
aos
contactos
com
os
companheiros,
limitando
o
estabelecimento de relações interindividuais sistemáticas. A privação da alegria
e divertimento na preparação, prejudica de forma séria o desenvolvimento da
sua personalidade. Os contactos sociais devem ser estimulados e não
desencorajados. Julgamos, assim, fundamental, nestas fases da preparação,
atribuir uma função central ao jogo, às formas competitivas em grupo, e aos
desportos de equipa, na preparação desportiva da criança (Marques, 1991).
Isso deve ocorrer não só no desporto na escola, mas também no desporto de
rendimento e em todas as disciplinas desportivas, particularmente naquelas em
que a relação de intervenção com a actividade é feita individualmente.
1.6.4. As características das competições e os modelos de periodização do
treino.
De acordo com Marques (1991), periodizar significa definir limites temporais
precisos que permitam, aos treinadores, estruturar de forma objectiva os
conteúdos do treino em cada momento da preparação desportiva.
No desporto de alto rendimento, as tarefas da preparação decorrem da
necessidade de obter elevadas performances nas competições. Isso só é
possível na medida em que os processos de carga/recuperação sejam
adequadamente controlados.
No estádio de treino de base, as competições devem constituir-se como forma
de treino e de carga e servirem de reforço da motivação para o treino.
Na etapa de especialização aprofundada o papel das competições altera-se,
assumindo um carácter duplo: por um lado, nos primeiros momentos, as
competições continuam a constituir-se, ainda, como formas de treino
especializado, por outro lado, vão se assumindo progressivamente como
72
competições propriamente ditas, isto é, competições para comparação do
rendimento, com ênfase sobre a vitória. (Tschiene, 1995)
No entanto, não temos um desporto que seja exclusivamente das crianças e
jovens com programas e objectivos diferenciados para os vários estádios e
etapas. Emerge, com isso, a necessidade de definir as características das
competições e os modelos de periodização que devem servir de referência à
estruturação da preparação desportiva, em cada fase do processo de
formação.
Essa definição supõe uma formulação prévia de alguns princípios, resultantes
de algum consenso, possível de estabelecer a partir de uma reflexão sobre o
perfil da preparação desportiva de crianças e jovens (Marques, 1993b):
1. O desporto de crianças e adolescentes não visa resultados imediatos; antes
se orienta por preocupações em que a formação dos jovens desportistas ocupa
o lugar central;
2. Não devendo a potenciação do rendimento ser a principal preocupação dos
treinadores, também os modelos de periodização não devem revestir perfil
idêntico ao do desporto de alto nível;
3. A necessidade de consideração do princípio da especialização crescente, na
preparação dos jovens desportistas, é compatível com a ideia de que, quanto
mais avançado estiver o processo de formação, tanto mais necessário será
adoptar modelos de periodização próximos dos utilizados no desporto de alto
nível. De acordo com a mesma lógica, nas etapas iniciais da preparação, a
periodização não deve subordinar-se à necessidade de obter sucesso nas
competições;
4. A organização em etapas, com características próprias da preparação dos
mais jovens, justifica igualmente que em cada etapa seja considerado um
modelo de periodização específico.
Salietamos, assim, as linhas de força que permitem estruturar a periodização
do treino, bem como as características das competições nas etapas
fundamentais da formação dos jovens desportistas (Marques, 1993b).
73
1.6.4.1. Competições no estádio de treino de base
Destaca-se na literatura a importância de, nas primeiras etapas do processo de
preparação desportiva a longo prazo, terem um elevado número e frequência
de competições simplificadas, atribuindo diferentes justificativas para o seu
efeito:
- Para tornar o êxito desportivo mais frequente e mais diversificado, a
organização do desporto para crianças e jovens deve proporcionar muita
actividade, muitos jogos, muita competição, muitos torneios (Lima, 1987a);
- Pelo valor emocional e pela acção que a competição exerce sobre o
desenvolvimento da motivação, em particular nos mais jovens, Rost (1995)
aponta como essencial e indiscutível a planificação e disseminação da
competição durante todo o ano;
- Por serem fundamentais no processo de formação, Marques (1997b) é de
opinião que as competições devem ser consideradas nas estratégias da
preparação, também ao longo de todo o ano;
- Tschiene (1995, citado por Marques,1997b), salienta a importância de uma
regular actividade competitiva dos mais jovens, ao longo de todo o ano,
constituindo se a competição como parte essencial do processo de treino.
Defende a frequência de participação competitiva e justifica que as mesmas
devem ser organizadas de forma mais simples e terem diferentes graus de
importância;
- Relativamente ao quadro competitivo oferecido aos mais jovens, Vieira (1992)
salienta que: o número de competições deve ser estimulante; deve haver a
preocupação de aumentar o número de competições para os atletas mais
jovens.
74
A competição frequente e adequada à idade dos jovens promove o seu
desenvolvimento multilateral. Um maior ou menor número de competições
dependerá da idade cronológica e da idade de treino do jovem atleta. Na
opinião de Thumm (1987), as crianças, entre os 9 e os 12 anos, devem
participar com regularidade em competições multidesportivas.
Também na ex-RDA, a criança, no intervalo de idade 10-12 anos, competia em
cerca de 50-60 competições multidisciplinares (Schonberger, 1987).
Complementando a caracterização das competições nas as etapas do período
de base, Marques (1993b) nos propõe as seguintes recomendações:
a-) Etapa de Preparação Preliminar
Objectivo central: deve atender a uma preparação motora e desportiva,
multilateral da criança.
Perfil da periodização: A existência de actividades, centradas essencialmente
na escola, em que o treino e a competição se confundem, no prosseguimento
dos objectivos visados, e que a competição não decorre num quadro instituído,
não se justifica ainda uma periodização no seu sentido estrito. O treino
estrutura-se segundo a lógica das actividades escolares.
Características
das
competições:
ainda
não se
utilizam
competições
estruturadas, mas formas competitivas, em grande número, correspondentes a
jogos de movimento ou a exercícios do desporto em geral.
b-) Etapa de Especialização Inicial
Objectivo central: Orientar a criança para uma prática regular de uma
actividade desportiva e desenvolvimento dos fundamentos desse desporto ou
especialidade desportiva.
Perfil da periodização: as actividades de treino e competição são organizados
em quadros institucionais. Começam a diferenciar-se no planeamento das
actividades e no início da periodização do treino, mas não uma periodização no
seu sentido clássico. O número de competições oficiais não deve ser muito
elevado, sobretudo as formas competitivas e as competições que devem
75
aparecer ao longo de toda a preparação e não concentradas em períodos
competitivos. Trata-se de uma fase da preparação desportiva em que a lógica
da periodização deverá harmonizar-se com o quadro organizativo em que
decorrem as actividades escolares. Estas devem mesmo, nesta fase, enquanto
forma de actividade primordial da criança, determinar, no essencial, as normas
para a estruturação da preparação desportiva. Isto é, ao final de cada trimestre
escolar deverá, em princípio, marcar igualmente o final de cada período de
preparação desportiva. As férias escolares criam as condições para que se
optimizem os processos de recuperação e, portanto, para que não haja
actividade desportiva controlada, num processo de treino regular.
As formas competitivas devem ser equilibradas e regularmente repartidas ao
longo de toda a época desportiva, porque constituem parte essencial do treino.
A periodização deve ocorrer e ajustar-se aos períodos de actividades e de
férias, determinados pela organização do sistema educativo.
O modo de competição deve ser simplificado e o regulamento facilitado e
adaptado à idade dos praticantes. Deve introduzir-se, com maior frequência, no
treino formas jogadas, competições de grupo e de equipa, e formas
combinadas de competição, sem carácter decisivo, isto é, sem terem a vitória
como objectivo primeiro.
1.6.5. Número de competições e frequência da participação competitiva
Os argumentos encontrados na literatura reforçam a importância da
competição para a formação desportiva do jovem atleta. Por isso, devem ser
consideradas nas estratégias da preparação, ao longo de toda a época
desportiva. No entanto, precisamos saber quais deverão ser o número de
competições e a frequência da participação competitiva?
É importante destacar que nos referimo às competições com organização
associativa ou federativa, que designamos por oficiais. Estas competições
oficiais têm, para além de exigências técnicas elevadas, grandes exigências
76
físicas e psicológicas e devem articular-se com os objectivos do treino. Para
Marques (1997b), a exigência das competições oficiais devem ir aumentando
progressivamente, quer o número, quer o grau, com a idade de treino e com a
consequente melhoria do nível de preparação. O que exige a consideração de
uma proporção equilibrada entre o tempo consagrado à aprendizagem e o
domínio dos factores que condicionam a prestação desportiva e, assim como o
número de participação em competições.
Todavia, na actualidade, ainda não temos na literatura estudos suficientes que
nos possibilitem dar uma resposta, de forma objectiva, a esta questão.
Um dos poucos estudos que encontramos, realizado nos Centros de Treino da
FCDEF-UP por Marques (1993b), procurou analisar qual o número de
competições e a frequência de participação competitiva de jovens atletas
portugueses, em jogos desportivos colectivos na etapa de especialização
inicial, correspondente aos escalões de infantis e iniciados, apresentados no
Quadro 10:
QUADRO 10 - Valores médios da carga anual de treino e de competição nos escalões
infantis e iniciados de algumas modalidades desportivas.
Modalidades
Escalão
Nº Treinos
Número de
Nº Compet.
equipas
Trein. Vs
comp.
Andebol
Iniciados
3
135
39,7
3,4/1
Basquetebol
Inf. e Inic.
3
122,3
24,7
5,0/1
Futebol
Inf. e Inic.
3
76,3
32,7
2,3/1
Voleibol
Iniciados
5
116,6
27,6
4,2/1
Os resultados evidenciaram grandes diferenças entre cada modalidade e uma
frequência de participação competitiva muito elevada no futebol. O contrário é
apresentado pelas equipas de basquetebol, que apresentam maior carga de
treino e menor carga de competição.
77
No mesmo estudo, ao analisarem só por escalões, a frequência de participação
competitiva é semelhante, embora a carga de treino anual e o número de
participações em competições sejam maiores nos iniciados.
Quadro 11- Valores médios da carga anual de treino e de competição nos escalões
infantis e iniciados
Escalão
N
Nº Treinos
Nº competições*
Treino vs Comp.
Infantis
3
103.3
27
3.8/1
Iniciados
11
115.8
31.6
3.7/1
E.EI
14
113.1
30.6
3.7/1
* Inclui jogos oficiais e de treino.
Das 14 equipas que integram a amostra, 7 fizeram jogos de treino com uma
média de 5.6 competições/ano. Os resultados apresentados mostram existir um
aumento no número de participação em competições do escalão de infantis
para o escalão de iniciados.
Tschiene (1995) refere que, durante o processo de preparação a longo prazo,
as competições no estádio de treino de base devem ser realizadas com grande
frequência e devem ser, regularmente, distribuídas ao longo da temporada.
Em outro estudo, realizado por Andrade (1996), fornecendo-nos um quadro
mais extensivo de análise, num levantamento mais vasto, abrangendo os
escalões de juvenis e juniores. O quadro 12 reporta-se ao número de
competições oficiais, em 7 modalidades desportivas que os jovens atletas
participaram em Portugal no ano de 1995.
78
Quadro 12 - Número total de competições e competições nacionais (entre parênteses),
no sector de jovens, masculinos, em Portugal. (Andrade, 1996)
Desporto
Infantil
Iniciados
Juvenis
Juniores
Andebol
32 (6)
34 (6)
37 (11)
36 (20)
Atletismo
16 (1)
17 (1)
40 (19)
34 (15)
Basquetebol
27 (3)
40 (3)
35 (17)
41 (16)
Ciclismo
23 (3)
31 (11)
37 (14)
37 (16)
Futebol
45 (13)
41 (7)
44 (12)
50 (12)
6 (2)
8 (5)
9 (6)
6 (4)
31 (10)
42 (6)
51 (12)
58 (19)
Ginástica Artística
Voleibol
Em relação ao número de competições, não se evidencia um crescimento
linear com o avanço dos níveis de preparação, além de diferenciar-se de
modalidade para modalidade. O número de competições oficiais na etapa de
especialização inicial (escalões de infantis e iniciados) é, em geral, inferior ao
existente na etapa de especialização aprofundada (escalões de juvenis e
juniores). Comparando os valores do estudo de Andrade (1996), em relação ao
estudo realizado por Marques (1993b), referido anteriormente, encontramos
algumas diferenças.
Na opinião de Zakharov (1992), nos últimos anos, o número de competições
efectuadas na alta competição manteve-se, praticamente, sem alterações
significativas. O mesmo autor propõe o seguinte número de competições
anuais em diversos desportos e grupos de disciplinas do atletismo, referidas no
quadro13.
79
Quadro 13 - Características da actividade competitiva dos atletas de alta competição
durante um ciclo anual de treino, em várias modalidades (adaptado de
Zakharov, 1992)
Modalidades
Nº de competições
Nº de dias de competições
Nº de partidas ou provas
Natação
20-26
30-55
62-84
Esqui
14-16
36-40
30-40
Ciclismo (estrada)
30-40
90-120
100-130
Ciclismo (pista)
22-30
75-102
190-220
Atletismo (meio fundo)
20-30
20-32
25-35
Atletismo (fundo)
19-25
20-32
25-30
Atletismo (1/2 maratona)
10-11
10-11
10-11
Atletismo (velocidade)
19-27
30-45
40-60
Atletismo (saltos)
20-25
18-30
10-150
Atletismo (lançamentos)
25-32
20-35
100-160
Futebol
8-12
70-85
70-85
Ténis
15-26
40-120
40-120
Basquetebol
80
80
80
Voleibol
80
80
80
Pugilismo
7-12
15-25
15-25
Luta
8-11
24-30
44-52
70
70
70
Andebol
Os dados nos permitem salientar que, para as diversas modalidades, o número
de competições realizadas anualmente apresentam diferenças acentuadas.
No que se refere às características das modalidades desportivas praticadas,
Martin (1980) sugere o seguinte número de competições anuais:
a) Desportos colectivos - 60 ou mais jogos.
b) Desportos em que a dominante é a força explosiva - 25 a 35
competições, durante um período de 6-7 meses.
c) Desportos em que a dominante é a resistência aeróbia e desportos de
combate - 20 a 26 competições.
d) Provas combinadas - 10 a 15 competições.
Sobre os factores relacionados à determinação do número de competições a
participar, Harre, (1982) reconhece que a frequência das competições
depende, fundamentalmente, das características da modalidade, das cargas
de treino, dos anos de treino, da idade do atleta e das capacidades
80
individuais. Seguindo essa lógica, Matvéiev (1990) nos diz que o número de
competições depende somente das características de determinado desporto e
do nível do atleta. Em relação a distribuição das competições ao longo do ano,
estas têm influência na periodização do treino, porém o calendário competitivo
não define, por si só, a periodização do treino.
A maioria dos autores considera que a construção do calendário das
competições, para os jovens, deve obedecer a princípios diferentes dos
delineados para os adultos e para a alta competição. Araújo (1994) salienta
algumas regras básicas na elaboração do calendário das competições
desportivas para os jovens:
(1) Mínimo de quatro competições por época, escalonadas no tempo, de modo
a integrarem períodos intermédios de preparação, com a duração mínima de
trinta a quarenta e cinco dias;
(2) Avaliação inicial das possibilidades das equipas participantes, de modo a
permitir que as competições sejam disputadas entre equipas de valor
equilibrado;
(3) Procurar abrir o mais possível o leque de determinação de vencedores,
diversificando os títulos a serem alcançados, como meio importante de motivar
os dirigentes, treinadores e jogadores.
O que parece ser apresentar um consenço entre os autores de que deve haver
uma frequência elevada de paricipação competitiva nestas etapas iniciais da
preparação desportiva das crianças e jovens. A determinação de um número
de competições está depende das características das modalidades, dos anos
de treino e da prestação desportiva dos atletas.
1.7. As propostas e exemplos de modificações nas competições de crianças e
jovens.
Nas etapas iniciais de formação desportiva, as moficações no sistema
competitivo
vigente
são
imprescindíveis.
Marques
(1997b)
justifica
modificações no desporto, pela necessidade de criar situações de facilicitação
81
que permitam às crianças e jovens participarem em competições, ao nível das
capacidades e qualidades de que dispõem. Essas modificações fazem-se por
referência à estrutura, conteúdo e enquadramento das competições formais. As
alterações devem ser em função dos objectivos formativos, criando uma
articulação mais estreita entre os conteúdos da competição e os conteúdos do
treino. Os pressupostos da prestação que devem constituir-se como conteúdos
da competição são aqueles já treináveis nas respectivas idades (Rost, 1995).
As alterações nas competições são condicionadas pelos estágios de
desenvolvimento e, também, pela idade de treino e respectivas aquisições.
Matweiev e Nowikov (1982) sugerem mudanças nos aspectos estruturais e de
regulamentação das competições:
- Encurtamento de distâncias, como, por exemplo, nos desportos cíclicos;
- Redução dos tempos de competição, como nos jogos desportivos;
- Facilitação das formas de competição, como na ginástica;
- Alteração do peso e dimensões de aparelhos e engenhos, como no atletismo;
- Alteração das dimensões dos espaços de jogo;
- Alteração dos regulamentos em geral.
Mais recentemente, além das alterações na forma, outras têm vindo a ser
introduzidas à natureza das competições (Marques,1997b). As primeiras
alterações, de índole mais formal, são justificadas ao longo de toda a
preparação de prospectiva, mesmo nas fases de formação mais avançadas. As
seguintes, pelo seu alcance pedagógico, actuam no estádio de treino de base,
em particular na etapa de especialização inicial. As alterações justificam-se
porque, neste contexto, as competições são tradicionais e orientadas para um
quadro disciplinar restrito. Devem ser efectuadas, não só em relação as regras,
mas nos conteúdos da competição e nos critérios de avaliação da participação
competitiva.
Nesta etapa inicial, a estratégia utilizada é desenvolver-se através de
competições múltiplas com conteúdos tradicionais e não tradicionais, baseadas
sobretudo em forma de competição por equipas. A preparação deve integrar,
82
de forma sistemática, a participação em formas jogadas, de grupo e de equipa
e de competição combinadas, nas quais não seja atribuído à vitória um peso
muito relevante. (Tschiene, 1995)
Rost (1995) apresenta-nos alguns exemplos da experiência de organização de
competições para crianças e jovens, na Alemanha:
1. Competições multilaterais em atletismo, sob forma de competições em
equipa (No estado da Renânia-Palatinado): categoria 9-10 anos feminino e 1112 masculino; competições não tradicionais como estafeta de corrida navette
sobre 30 metros; estafeta de salto em comprimento a pés juntos; lançamento
em equipa de bola medicinal.
2. Competições múltiplas de base em atletismo, sob a forma de competições
de equipa (No estado da Renânia-Palatinado): categoria 11-12 anos feminino e
12-13 masculino: 50 metros planos; 60 metros obstáculos; série de saltos
verticais; salto em altura; lançamento de bola medicinal, corrida de 1000
metros.
3. Competições múltiplas por grupos de disciplinas (organizadas pela
Federação Alemã de Atletismo): nas competições múltiplas de lançamentos
são exigidos, para além do lançamento do peso e do disco, os 70 metros
planos, 80 metros obstáculos e salto em comprimento.
4. Competições múltiplas de canoa em equipa: são propostas competições
complexas, combinadas com exercícios de base condicional; categoria 13
anos: 2000 metros (K1); teste atlético complexo; 800 metros corrida (fem.) e
1500 metros corrida (masc.).
5. Patinagem de velocidade no gelo: antes da especialização são realizadas
competições de hóquei no gelo para melhorar pressupostos atléticos e
preparação técnica da patinagem, evitar um início muito precoce do treino
específico e assim, contrariar a monotonia e aumentar a motivação.
Outras experiências, relatadas por Marques, (1997b) apresentam modificações
nas competições, com a finalidade de adaptá-las às possibilidades e interesses
da criança. Em países, como a Austrália, Nova Zelândia, Canada, Alemanha e
em Portugal nas federações de voleibol, basquetebol, atletismo e natação. São
83
desenvolvidos programas desportivos,"Aussie Sport", "Kiwi Sport", “Gira Volei”,
“Mini-volei”, “Atletismo Jogo”, “Torneio AtLeta CompLeto” com alterações
significativas nas competições a nível das estruturas, equipamentos e regras
para os tornar mais apropriados à criança e orientados para os seus interesses
(Thomson, 1996). Algumas destas modificações garantem a participação no
jogo de todos os membros da equipa.
No entanto Orlick (1986) alega que está sendo difícil inverter a tendência, ainda
prevalecente, de valorização da vitória em detrimento do divertimento e da
formação. Para Haywood (1986), há uma resistência que se opõe às alterações
na estrutura competitiva dos jovens. Ela é devida ao facto de os técnicos
acreditarem que a competição modificada não confere a experiência que os
atletas precisam, na altura do recrutamento para as equipas de elite, e
também, na atribuição de bolsas de estudo para as universidades. Por isso
limitam-se às alterações mais óbvias como, por exemplo, a redução das áreas
de jogo. Neste contexto, ao modificar-se a competição nas idades jovens, em
função dos objectivos formativos, poder-se-á intervir sobre o seu processo de
treino, em conformidade com o evoluir do processo de desenvolvimento do
jovem (Rost, 1995).
Verificamos nos exemplos apresentados que as competições multilaterais não
são desprovidas de objectivos e contribuem também para atender a
especialização. As competições multilaterais utilizadas visam dar suporte aos
programas de treino específico dos diferentes tipos de desportos. Por este
motivo, tais competições deverão conter acções múltiplas ou combinadas, que
valorizem a formação geral mas também a formação específica dos mais
jovens (Rost, 1995).
Concordamos também, com os autores, na indicação para que os responsáveis
pela organização das competições oficiais, federações e associações, rompam
com a estrutura e conteúdos das competições tradicionais e que desenvolvam
competições com características não formais, múltiplas e complexas, em
especial no estádio da preparação; o chamado estádio de treino de base.
84
Síntese
De um modo geral podemos dizer, com base nos resultados dos estudos
apresentados e nas as afirmações dos autores, que a participação de crianças
e jovens nas competições desportivas desempenha uma função educativa e
formativa dos jovens atletas. Estas competições têm por objectivo a preparação
para etapas mais elevadas do rendimento desportivo.
Para a maioria dos autores, as crianças e jovens são beneficiadas com a
participação no desporto competitivo. O envolvimento tem reflexos sobre os
aspectos psicológicos, como o desenvolvimento da auto-superação, autoestima, auto-imagem, motivação e formação de sua personalidade.
Os efeitos também recaem sobre os aspectos sociais, como a integração e
cooperação com os outros, a aquisição de valores éticos e morais, a
valorização das regras e atitudes necessárias para a convivência social e a
aceitação dos outros e de sí próprio.
Os benefícios da participação competitiva podem ser evidenciados sobre os
aspectos relacionados com o desenvolvimento motor, com as habilidades
coordenativas, técnico-tácticos, orgânico-musculares e aptidão física, voltada
para a saúde e para o rendimento desportivo. Estes motivos justificam as
ampliações do envolvimento das crianças e dos jovens no desporto
competitivo, principalmente por serem considerados como um meio importante
para formação integral dos jovens.
Os especialistas recomendam que o treino e a competição sejam organizados
e estruturados com a finalidade de atender aos interesses, capacidades e
prioridades das crianças e jovens. No entanto, em competições que adoptam
princípios e modelos do desporto de alto rendimento, na organização das
competições e na periodização do treino, como foi verificado nas análises do
sistema de competições vigente, podem propiciar o aparecimento de factores
negativos na participação das crianças e jovens.
85
No que se refere aos efeitos negativos sobre os aspectos psicológicos,
destacam-se à interferência negativa no desenvolvimento da personalidade, o
estresse e a ansiedade competitiva. Nos aspectos sociais são identificadas: as
interferências nas atitudes e comportamentos, a aceitação de valores
individuais e negativos.
Os principais agentes responsáveis pelos aspectos negativos na competição
correspondem: à estrutura da organização do quadro competitivo e aos
objetivos e métodos de treino para crianças e jovens. Quando são organizadas
à semelhança do modelo das competições dos adultos, tendem a valorizar
mais os aspectos biológicos associados à performance.
Outros aspectos considerados negativos referen-se a organização de
competições com o objectivo de apurar o campeão e o enquadramento
geográfico a nível nacional e internacional, para etapas do período de base. As
pressões dos adultos e a busca exacerbada pela vitória, a falta de vivência em
experiências de sucesso, também, constituiem-se em factores negativos. Para
além destes, o baixo nível de prontidão motora e cognitiva, uma reduzida
frequência de participação e a especialização precoce e unilateral, são
aspectos que limitam a formação desportiva do jovem atleta.
Como cosequência a essas situações vivenciadas pelas crianças e jovens
podem surgir problemas de ordem psicossocial, mental e física, que podem
levar ao abandono. Dentre os motivos que levam ao abandono do desporto e
da competição, destacam-se: a baixa frequência de participação competitiva;
as cargas de treino excessivas e monótonas; as pressões para obtenção de
resultados nas competições; a falta de evolução nos resultados, pela
desigualdade enfrentada na competição.
Em relação às orientações e recomendações sugeridas pelos autores para
organização das competições de crianças e jovens, encotramos o seguinte
consenço:
86
- Quanto aos objectivos que deve ter a competição nas etapas iniciais da
formação desportiva.
A competição deverá adoptar um enquadramento que auxilie o processo de
treino e da formação desportiva. Não deve seguir a lógica das competições
organizadas pelo desporto dos adultos, que tem por objectivo revelar o
campeão. A prioridade deve ser a criança e as suas necessidades evolutivas e
não as condições para obter o resultado desportivo.
Devem ter como factores preponderantes para a definição e delimitação o
desenvolvimento psicológico e motor. Os objectivos e finalidades da
competição não devem ser iguais para as etapas da formação, deve haver uma
progressão. O quadro competitivo deve estar ajustado às nececidades e
capacidades das crianças e jovens. A sugestão é que devemos orientar os
atletas a cumprir os objectivos da prestação desportiva que sejam mais
controláveis, como a velocidade ou a precisão de uma técnica.
- Quanto aos valores e funções que devem orientar a prática competitiva.
A função formativa deve ocupar o lugar central nestes escalões iniciais e não
deve visar o resultado imediato. Propiciar a comparação de suas habilidades
motoras e desportivas, e sua evolução com as dos outros. As competições
devem ser organizadas e estruturadas de forma que as crianças e jovens
vivenciem experiências de sucesso. Devem proporcionar a elas a integração
social, o trabalho em equipa, a cooperação e a possibilidade de conhecer e
fazer novos amigos. As competições devem ser entendidas como um meio de
desenvolvimento de aspectos psicossocial, da sua personalidade, da autoimagem, da auto-superação e na aquisição de valores éticos e morais.
Desenvolver nas crianças e jovens a capacidade de independência, iniciativa,
liderança. As suas actividades competitivas devem ser prazeirosas, divertir-se
e estarem motivadas. A competição desportiva deve ter uma função
pedagógica, ajudá-las a prepararem-se para o desporto de alto nível.
- Em relação a idade de início da participação competitiva nos quadros
regulares.
87
Os autores recomendam que não se iniciem competições até que os jovens
estejam preparados para participar delas.
A participação em competições organizadas deve ocorrer somente a partir dos
10 - 12 anos. Justificam que não só a maturação física é um elemento
importante na decisão para iniciar a actividade competitiva, mas também a
maturidade social, emocional e cognitiva. Antes disso, as crianças não
apresentam, ainda, um desenvolvimento cognitivo e psicológico para lidar com
as demandas do treino e da competição. Não são capazes de perceber o papel
dos outros na actividade, nem coordenar as suas acções com as dos outros.
As crianças devem ter o tempo necessário para sua formação. Sugerem que a
particição nas competições oficiais ocorra após um ano e meio ou dois de
prática especializada. A estrutura e os conteúdos das competições iniciais
devem ser compatíveis com as capacidades de interacção dos participantes.
As orientações da literatura estabelecem que, dos seis a oito anos, a
competição pode ocorrer de forma lúdica e enfatizando a possibilidade de
sucesso. Entre oito e dez anos, os jovens iniciam progressivamente a
participação de competições de carácter específico, de acordo com os
objectivos do treino, porém com certa cautela. Um calendário regular de
competições só é elaborado a partir de dez a doze anos.
Na definição desta idade de início da participação competitiva, devemos levar
em conta as exigências de prestação das modalidades. Aquelas onde a
prestação é condicionada fundamentalmente por factores sensório-motores e a
idade mínima é de 9 anos e a máxima 12. Nas modalidades em que, para além
dos aspectos técnicos, também os aspectos funcionais são importantes e
precisam começar a serem estimulados desde cedo11 e os 12 anos.
Nos desportos tácticos, aqueles cuja estrutura de rendimento é determinada
por factores perceptivo-cognitivos, decisionais, a idade de início centra-se
próximo aos 13-14 anos.
- Quanto ao âmbito geográfico para o quadro competitivo nestas duas primeiras
etapas de formação desportiva.
88
As recomendações são de que devem ser oferecidas em função da idade e
terem limites locais ou regionais. A não participação em competições de níveis
mais elevados é no sentido de impedir uma orientação excessiva para o
sucesso e limitar a pressão psicológica, motivada pela busca de altas
performances e títulos.
Sugerem que o enquadramento das competições não deverá ser o mesmo
para todos os escalões e etapas de preparação a longo prazo. Uma evolução
lógica deve ser apresentada, de acordo com as modalidades desportivas e,
sobretudo, com as características, obrigações e interesses das crianças e
jovens.
- Em relação ao formato do calendário competitivo
O recomendado pelos autores é de que, nestas etapas, as crianças e jovens
tenham uma frequência de participação competitiva elevada. Devendo ocorrer
um crescimento progressivo no número de competições, aliado à mudança de
escalão. O calendário das competições deve ser organizado com provas e
jogos, distribuídos ao longo da época e em consonância com o calendário
escolar. As competições devem ter curta duração e serem realizadas aos finsde-semana. Deve ser garantida a oportunidade de participação a todos nas
competições, com objectivos centrados os na formação e apresentar um
equilíbrio competitivo.
- Em relação ao sistema de pontuação e classificação
Neste aspecto, as indicações dos autores são de que até os 12 anos não é
recomendável que as estruturas competitivas estejam baseadas na vitória e na
atribuição de prémios. A selectividade, presente nas competições federadas,
não deve existir nas competições dos jovens. A eliminação precoce das
competições reduz o número de experiências, interfirindo na qualidade de sua
formação. Por isso, defendem que o sistema de competições deva ser
efectuado em moldes que tornem possível, a um maior número de indivíduos,
atingir situações de sucesso. Nos desportos individuais devem predominar
formas competitivas em grupo, justificadas pela importância dos contactos
89
sociais, e do desenvolvimento da cooperação. Devem ser evitadas as
distinções nas atribuições de prémio, impedindo a sobrevalorização dos
resultados e o desenvolvimento de espectativas elevadas nestas etapas da
formação.
- Quanto aos conteúdos da competição
As orientações encontradas na literatura aconselham na predominância a
utlização de competições multilaterais nas duas etapas do estádio de treino de
base. E, na segunda etapa, a inclusão de competições especializada e
adaptadas, sendo adequadas as exigências do desporto escolhido. Permitindo,
desta forma, potenciar as possibilidades de transferência motora. Os êxitos
imediatos não devem ser motivos de preocupação dominante, portanto, é
importante que o processo de formação a longo prazo siga uma orientação
multivariada. As competições devem contribuir para o desenvolvimento de uma
multilateralidade
desportiva.
Os
conteúdos
devem
ser
diversificados,
oportunizando que as crianças vivenciem múltiplas formas de movimento, jogo
e desporto.
- Conteúdo do treino
A designação é para que as crianças e jovens não sejam preparadas para ser
especialistas. A infância tem, no nosso tempo, na nossa sociedade, a função
de uma preparação geral e inespecífica para a vida nas para que possa, nas
idades mais avançadas, desenvolver um sentimento colectivo. Devem
promover, sobretudo, a formação dos pressupostos coordenativos, técnicotácticos
e
orgânico-musculares,
em
conformidade
com
o
nível
de
desenvolvimento ontogenético dos jovens A preparação da criança para o
desporto competitivo deve ser determinada pelas características individuais de
cada criança, nomeadamente o crescimento, a maturação também pelo o
desenvolvimento e a natureza do desporto.
- Quanto à formalidade da competição
90
A indicação é para que o modo de competição seja simplificado e adopte um
regulamento facilitado e adaptado à idade dos praticantes. Deve introduzir-se,
com maior frequência, no treino de formas jogadas, competições de grupo e de
equipa, e formas combinadas de competição, sem carácter decisivo, isto é,
sem terem a vitória como objectivo primeiro.
- Em relação a frequência de participação competitiva
Devem ter um elevado número de frequência de competições simplificadas,
para aumentar a ocorrência de situações de êxito e para aumentar o
envolvimento e a motivação pela prática desportiva. Deve, também, ser
compreendida como uma estratégia importante na formação, parte essecial do
processo de treino. A determinação do número de competições está depende
das características das modalidades dos anos de treino e da prestação
desportiva dos atletas.
Parece-nos ficar justificada, a necessidade de construirmos um quadro
competitivo para as crianças e jovens, no estádio de treino de base, que
considere os aspectos biológicos, psicossociais e as particularidades de cada
especialidade desportiva. As Competições que precisam essitam atender as
necessidades formativas e interesses dos jovens atletas, que apresentarem
características não formais, múltiplas e complexas. Desta forma, teremos uma
prática referenciada a objectivos adequados e ajustados, destacando a
importância pedagógica e social do desporto.
91
II - Metodologia
Enunciado do problema e questões de pesquisa.
A ausência de uma teoria da competição para crianças e jovens e a crescente
necessidade de promover, de forma criteriosa e cuidadosa, a participação
competitiva no desporto infanto-juvenil, para que sirva essencialmente aos
propósitos da formação desportiva, tem vindo a constituir-se um tema actual e
de grande interesse para a investigação. Evidenciado, principalmente, nas
inferências pedagógicas e nos relatos de ensaios empíricos, por abordarem
questões relacionadas com o ajustamento e enquadramento das competições
para atletas em fase de formação. Dentro desta perspectiva, considerando as
questões orientadoras do estudo, formulamos o seguinte problema: Será que
existe uma confluência entre o modelo vigente do sistema de competições para
crianças e jovens em Portugal, a concepção definida pelos treinadores e as
orientações e recomendações da literatura, em relação às estruturas,
conteúdos e enquadramentos competitivos, atendendo aos princípios e
objectivos da formação desportiva a longo prazo?
Tomamos como ponto de partida a realização de uma ampla revisão na
literatura, orientada por um conjunto de questões, que nos possibilitasse
descrever as orientações e recomendações para o enquadramento do sistema
de competição desportiva para atletas em fase de formação.
As questões orientadoras do estudo foram estruturadas da seguinte forma: Que valores e funções devem servir de referência às competições de crianças
e jovens? - Que tipo de articulação deve existir entre o treino, a estrutura e os
conteúdos da competição, nos diferentes estágios de preparação? - Como
deve ser feita a preparação das competições no que se refere aos conteúdos e
aos métodos de preparação? - Quando é que a criança deve começar a
participar regularmente nas competições? - Qual deve ser a natureza das
competições? - Qual o número de competições e a frequência da participação
competitiva? Estas questões também serviram como ponto de partida para a
construção
dos
dois
instrumentos
92
utilizados
nos
estudos
empíricos,
nomeadamente na análise documental e na estruturação do inquérito aplicado
aos treinadores.
Tendo em conta os objectivos da investigação e o seu carácter exploratório e
descritivo, optou-se por uma metodologia qualitativa para recolher as
informações pertinentes ao estudo. Como refere Patton, (1990), a metodologia
qualitativa é imprescindível para se compreender um determinado grupo, um
problema concreto ou uma situação especial, em grande profundidade,
oferecendo uma quantidade e qualidade de informação particularmente rica.
Um outro aspecto relevante da metodologia qualitativa, é que esta permite ao
investigador adoptar diferentes posicionamentos estratégicos. Desta forma, na
investigação de carácter mais indutivo a construção das categorias se dá
através de dados empíricos e, não com hipóteses a confirmar ou definidas a
priori. Contrapondo-se à construção indutiva, na pesquisa dedutiva, as
hipóteses e categorias devem ser elaboradas com precisão, a priori ( Goetz &
LeCompet, 1984). No presente estudo, partimos de categorias elaboradas a
priori, configurando-se numa característica da investigação mais dedutiva.
Deste modo, a aplicação da metodologia qualitativa permitiu analisar a lógica
predominante dos modelos de competições vigentes, assim como a concepção
dos treinadores, relativamente ao enquadramento competitivo para crianças e
jovens. A metodologia qualitativa ganha especial pertinência na compreensão
desta área de estudo, atendendo a que incorpora a análise da variedade de
concepções e normativas que orientam a organização das competições para
atletas em fase de formação, o que permite explorar os significados, valores e
objectivos atribuídos à competição nestas etapas de formação desportiva.
Pretende-se, com este estudo, o aprofundamento nas características
particulares das concepções dos treinadores e dos modelos de competições
actuais, relacionadas com o enquadramento das competições para crianças e
jovens. Simultaneamente, preservou-se intactas as noções de totalidade e
contexto das abordagens, as quais dão forma e substância a cada uma delas
(Patton, 1990).
Seguindo esse enquadramento metodológico, estruturamos a investigação em
dois estudos empíricos: o primeiro visou caracterizar os modelos vigentes de
93
competições nas organizações desportivas em Portugal, através da análise
documental de dez modalidades desportivas. No segundo estudo, através de
uma entrevista estruturada realizada com os treinadores de dez modalidades
desportivas, verificamos as suas concepções sobre a organização das
competições desportivas para crianças e jovens. As dez modalidades
escolhidas se integram tanto no âmbito dos jogos desportivos, basquetebol,
voleibol, andebol, futebol e rugby, como nas modalidades individuais, atletismo,
ginástica artística, natação, judo e ténis de mesa, com uma abordagem
abrangente, mas que considera as peculiaridades das modalidades. Estes dois
estudos complementarizam-se no sentido de realizar a análise conjugada dos
modelos de organização competitiva vigentes e os concebidos pelos
treinadores. Isto nos possibilitou identificar a lógica predominante na
organização competitiva, seu distanciamento ou proximidade com as
orientações e recomendações da literatura. Desta forma, permitiu-nos destacar
os aspectos da organização, estruturação e sistematização de conteúdos que
necessitam ser ajustados para atender aos objectivos da formação a longo
prazo.
No sentido de tornar mais claro a delimitação das etapas de formação
desportiva, consideradas no processo de selecção dos documentos do primeiro
estudo, bem como no enquadramento competitivo segundo a concepção dos
treinadores (segundo estudo), adoptamos os modelos de enquadramento por
idade e sexo, sugeridos por diferentes especialistas, apresentadas no quadro
14.
Quadro 14 - Etapas de formação desportiva nos estágios de preparação proposta por
vários autores
Matweiev, Harred, Weineck
(1983) (citado por Marques,
1985), Filin, (1995)
Etapa
Idade
1ª
7-8 11Preparação
12
preliminar
2ª Especialização 11-12
inicial/base
14
Balyi e Hamilton (2001)
Platonov, (1988)
Bompa, (1996, 2000,
2002)
Etapa
1ª
Fundamental
Etapa
1ª
Inicial
Idade
8-10
Etapa
1ª Iniciação
Idade
6-10
2ª
Previa de
base
11-13
2ª Formação
desportiva
11-14
Específica
de base
13-16
2ª
“Training to
training”
Idade
Masc.
fem.
6-10
masc.
10-14
fem.
10-13
94
Simultaneamente, foi considerado o contexto do enquadramento dos escalões
por faixas etárias, determinadas pelas federações desportivas portuguesas,
configurando-se um quadro de referência que serviu para delimitar os escalões
e respectivas etapas de formação, consideradas nos dois estudos empíricos. A
correspondência estabelecida entre as etapas de formação e os escalões
definidos pelas federações, que leva em consideração o carácter de
especificidade de cada modalidade desportiva, é apresentado no anexo 1.
2.1. Primeiro Estudo
2.1.1. Amostra
No primeiro estudo a amostra é representada por 266 documentos recolhidos
nas federações e associações das dez modalidades desportivas escolhidas,
sendo
que
as
generalizações,
que
se
procuram,
restringem-se
às
particularidades da amostra. Isto não significa que o interesse do estudo se
acabe no conhecimento da amostra, sendo possível uma justificativa amparada
por razões instrumentais, tais como: a produção, o refinamento ou a revisão
teórica (Stake, 1994).
Nessa perspectiva, o nosso estudo insere-se no interesse teórico ou problema
do investigador, tendo sido determinados critérios para seleccionar a amostra a
estudar, observando o aspecto de envolver uma riqueza de informações que
nos permita investigá-la com profundidade. A escolha das modalidades
desportivas atende ao critério de representatividade, no que se refere à
participação de crianças e jovens, de ambos os sexos, no cenário nacional. Os
documentos seleccionados são referentes à estruturação, organização e
regulamentação das competições para os escalões da formação. As
modalidades desportivas que compuseram a amostra do estudo contemplou a
caracterização dos desportos proposta por Moreno (1994), desportos
individuais, desportos de oposição, desportos de cooperação e desportos de
cooperação/oposição.
O conteúdo dos documentos seleccionados, para caracterizarmos o quadro
competitivo de crianças e jovens em Portugal, corresponde ao plano das
actividades anuais, regulamentos das provas, calendário das competições e às
orientações técnico-pedagógicas, referente à temporada 2004-2005. Cabe
95
salientar também que, no conjunto de documentos recolhidos junto às
associações desportivas, destacaram-se duas, sediadas no Porto e em Lisboa,
pela sua contribuição. Isso ocorreu devido à facilidade de contacto e acesso
aos documentos.
2.1.2. Instrumentarium
Para analisarmos o conteúdo dos documentos tomamos como referência um
quadro de questões, elaboradas a partir de um conjunto de problemas
identificados através da revisão da literatura, sobre a participação de crianças e
jovens em competições desportivas, apresentado no anexo 2.
Para a elaboração e configuração do instrumento, procedemos numa primeira
fase à validade de construção, que teve como base o conjunto de questões da
investigação e os problemas teóricos, citados anteriormente. Problemas estes
referentes à participação competitiva de atletas, em fase de formação,
efectuado no estudo de revisão da literatura. De acordo com Richardson
(1999), a validação de construção trata da relação entre os conceitos teóricos e
sua operacionalização. Ela concerne, pois, à relação epistémica que deveria
existir entre os conceitos e sua medida. A validade pode ser garantida pelo
plano do trabalho no qual se tenha rigor técnico, quanto à selecção das
questões a abordar e da sua potencialidade para gerar respostas às questões
de investigação colocadas. Em uma segunda fase, submetemos o instrumento
desenvolvido a uma validação de conteúdo, que passou por vários
ajustamentos, até configurarmos o modelo a ser utilizado no estudo. Neste
procedimento recorremos à consulta de um painel de seis peritos. Quatro
especialistas da área académica, professores doutores na área da pedagogia
do desporto de crianças e jovens e do treino desportivo, com estudos
desenvolvidos sobre a temática investigada e dois treinadores com experiência
de sucesso competitivo, envolvidos com o desporto de crianças e jovens,
pessoas de referência e credibilidade no âmbito do treino e da competição no
desporto
infanto-juvenil.
Na
validação
de
conteúdo,
os
especialistas
consultados apresentaram nível de consenso superior a 90%, confirmando o
processo
realizado
de
ajustamento
e
enquadramento
das
questões.
Primeiramente, foram identificadas as questões que poderiam ser consideradas
96
representativas dos indicadores de cada categoria e subcategoria. Em seguida,
solicitamos aos peritos a indicação das questões que necessitariam de ser
reformuladas e enquadradas correctamente e, também, que informassem
sobre questões que deveriam ser retiradas por não enquadrarem-se nas
categorias de análise, sem validade e por apresentarem dificuldades em serem
respondidas com a análise dos documentos.
As questões retiradas após a análise dos peritos foram: Quais os
determinantes da estrutura de organização das competições? Quais as
directivas que orientam a organização das competições? Em que sentido são
atribuídos os prémios e distinções? O tema competição é abordado na
formação dos treinadores? Qual a importância dada aos resultados nas
competições em cada etapa de formação desportiva das crianças e jovens?
Deste modo, as categorias, subcategorias e respectivas questões foram
avaliadas quanto ao seu conteúdo, sua validade, sua objectividade e
adequação do enquadramento.
A versão final do instrumento utilizado é apresentada em anexo II, onde
descrevemos as categorias, subcategorias e as respectivas questões fechadas.
A grelha de análise para a caracterização do quadro competitivo, é
apresentada, no quadro 17, onde figuram as categorias e subcategorias que
foram utilizadas para analisar os documentos das Federações e Associações
Desportivas de Portugal, com a finalidade de caracterizar o quadro competitivo
das crianças e jovens, correspondente às etapas de formação alvo de análise.
97
Quadro 15- Grelha de análise de caracterização do quadro competitivo.
CATEGORIAS
SUBCATEGORIAS
- Estrutura e características das competições
- Início da participação competitiva
A – Organização das
competições
- Directivas e orientações pedagógicas para as competições
- Sequência organizativa das competições
- Objectivos da competição
- Sistema de pontuação e classificação
B – Regulamento
- Adaptações da regra
- Arbitragem
C – Actividades competitivas
- Conteúdos
D – Carga de competição
- Número e frequência das competições
2.1.3. Procedimentos de recolha dos dados
Inicialmente, foi estabelecido o contacto com as Federações e Associações
desportivas de Portugal, no sentido de recolher os documentos referentes à
estruturação das competições para crianças e jovens na fase de formação
desportiva. O primeiro contacto estabelecido com as entidades desportivas foi
intermediada pelos professores da Faculdade de Desporto da Universidade do
Porto, especialmente por terem boas relações com os
dirigentes das
federações e associações desportivas. Após o contacto, uma parte dos
documentos necessários para o estudo foram recolhidos junto às instituições e
enviados por e-mail. Outra parte do material foi acessado através da internet,
nas páginas da web, referente aos sites tanto das federações quanto das
associações desportivas. É importante relatar que tivemos o consentimento,
por parte dos dirigentes das federações e associações desportivas, para a
utilização dos documentos no estudo.
2.1.4. Procedimento de análise dos dados
A metodologia usada para este tipo de pesquisa qualitativa, análise de
conteúdo, procura identificar informações nos documentos a partir de questões
98
de interesse do pesquisador (Krippendorff, 1980). Conforme refere Bardin
(1994) esta técnica é particularmente vantajosa, quando o interesse é conhecer
aquilo que está por trás das palavras, ou seja, é uma busca de outras
realidades através das mensagens.
Na organização dos dados, buscamos verificar as ocorrências, os consensos e
as semelhanças, enfatizando as unidades de registo e de contexto (Holsti,
1969). A unidade de registo é o segmento de determinado conteúdo que se
caracteriza colocando-o numa certa categoria. A unidade de contexto indica a
parte do documento em que a unidade de registo ocorre (tema, tópico, aspecto,
palavra, expressão, entre outros).
Seleccionamos tópicos e itens específicos do conteúdo para fazermos uma
interpretação e verificarmos a sua presença e frequência com que apareceram
nos textos. Deste modo, as unidades de registo foram agrupadas de acordo
com o tema e núcleo de significação das palavras entre as unidades de
análise, conforme a grelha de análise, definida a priori e representada pelas
quatro categorias (quadro 15), com suas respectivas subcategorias e
indicadores. É importante referir, também, que a construção do instrumento foi,
a priori, não ocorrendo o acréscimo de novas categorias ou subcategorias.
No desenvolvimento do processo de análise, o tipo de código predominante,
utilizado na codificação do material, teve por base o modo factual, típico na
investigação quantitativa, o qual condensa a informação. Configuramos as
unidades de forma exclusiva, classificadas apenas em uma categoria. Quanto à
quantificação das unidades de registo, esta foi realizada através da estatística
descritiva, expressa em valores absolutos e percentuais relativos.
A análise de conteúdo foi desenvolvida em três momentos distintos:
1. Pré-análise, onde determinamos os documentos que constituíram o "corpus"
a ser analisado, representados em nosso estudo pelos documentos das
federações e associações desportivas de Portugal, referentes à organização
competitiva dos jovens atletas.
2. Exploração do material, onde procedemos à codificação e enquadramento
das unidades de registo em cada subcategoria, utilizando o critério semântico
(significativo),
adequado
ao
tipo
de
análise
que
realizamos;
3. Tratamento dos resultados: descrição, interpretação e fase da reflexão, com
base nos materiais empíricos.
99
A fiabilidade de codificação, atendendo à natureza qualitativa do estudo,
obedeceu a uma análise de discussão entre peritos, nas questões que
ofereceram maior controvérsia e ambiguidade e que passamos a referir: - Há
modificações nos conteúdos em função dos objectivos da formação? - Há
modelação na regulamentação da competição? - Há orientações sobre a
preparação para competição?
Após a discussão, foi estabelecida, consensualmente, a codificação das
questões, realizada por um especialista da temática, professor doutor na área
da pedagogia do desporto de crianças e jovens.
Descrevemos, de seguida, nos quadros 16 a 19, que apresentam o número de
unidades de registos em cada categoria e respectivas subcategorias.
Quadro 16 - Categoria 1. Organização das competições
Nº de
Subcategorias
Indicadores
unidades
registos
1.1. Estrutura e características
das competições
1.1.1. Enquadramento geográfico
1.1.2. Competições de natureza formal e informal
68
1.1.3. Competições por equipas
1.2. Início da participação
1.2.1. Idade de início da participação competitiva
competitiva
18
1.3. Directivas e orientações
1.3.1. Competições mistas
pedagógicas para as
1.3.2. Relações entre o calendário competitivo e o
competições
calendário escolar
76
1.3.3. Acesso as competições
1.4. Sequência organizativa das
1.4.1. Aspectos determinantes da participação nos
competições
quadros competitivos posteriores
1.4.2. Organização dos quadros competitivos ao
79
longo da época
1.4.3. Processo de especialização da competição
1.5.Objectivos da competição
1.5.1. Objectivos da competição para os diferentes
escalões e modalidades
1.6. Sistema de pontuação e
1.6.1. Atribuição de prémios e distinções por escalão
classificação
1.6.2. Competições voltadas para o apuramento do
12
campeão nacional
1.6.3. Competições com eliminatórias
1.6.4. Participação de equipas e atletas com
prestações mais baixa
100
55
Quadro 17 - Categoria 2. Regulamento
Nº de
Subcategorias
Indicadores
unidades
registos
2.1. Adaptações da regra
2.1.1. Adaptações nas regras, dimensões, tamanhos e
peso de materiais, nº de atletas
2.1.2. Diferenciações entre os escalões
46
2.1.3. Normas técnicas e pedagógicas estabelecidas
pelas federações
2.2. Arbitragem
2.2.1. Responsável pela arbitragem nas competições
2.2.2. Nível de graduação exigida ao árbitro
32
2.2.3. Arbitragem diferenciada por escalões e nível
competitivo
Quadro 18 - Categoria 3. Actividades competitivas
Nº de
Subcategorias
Indicadores
unidades
registos
3.1. Conteúdos
3.1.1. Inclusão de actividades competitivas de outras
modalidades desportivas
3.1.2. Actividades competitivas diversificadas e adaptadas
3.1.3. Progressão dos conteúdos das actividades
44
competitivas entre os escalões
3.1.4. Relação entre os conteúdos da actividade
competitiva e os objectivos da formação
Quadro 19 - Categoria 4. Carga de competição
Nº de
Subcategorias
Indicadores
unidades
registos
4.1. Número e frequência
das competições
4.1.1. Número de competições por temporada
4.1.2. Diferenças no número de competições por escalão
e modalidades desportivas
86
4.1.3. Duração e frequência das competições
2.2. Segundo Estudo
2.2.1. Amostra
O segundo estudo empírico avalia a concepção de treinadores, em relação ao
modelo que deve servir de referência a organização e enquadramento das
101
competições para crianças e jovens, bem como o quadro de valores,
motivações e finalidades que lhe deve estar associado.
Para atender esse objectivo foram seleccionados trinta técnicos, três técnicos
por cada modalidade desportiva, seleccionados a partir dos seguintes critérios:
ser reconhecido pelos pares da comunidade desportiva na qual estão inseridos
em função do contributo para a modalidade, resultante do trabalho realizado no
âmbito do treino com crianças e jovens e possuir, no mínimo, cinco anos de
experiência como treinador, no âmbito do treino de crianças e jovens. Este
último critério assentou no facto da literatura (Burden, 1990) considerar que o
treinador atinge a fase de estabilização, a partir de cinco anos de experiência
profissional. Todavia, existem três indivíduos que, não estando no exercício da
função de treinador no momento da recolha, possuem cargos em instituições e
federações desportivas, responsáveis em reflectir e orientar a organização
pedagógica do treino e da participação competitiva de crianças e jovens. Por
isso, consideramos pertinente a sua inclusão pelo contributo do seu
conhecimento e relevância de desempenho profissional no campo do treino e
da organização competitiva para crianças e jovens.
2.2.2. Instrumentarium
O
instrumento
utilizado
foi
uma
entrevista
estruturada,
composta,
predominantemente, por questões abertas, com a finalidade de verificar a
concepção dos treinadores sobre aspectos considerados importantes na
organização das competições, que contribuíssem para a formação desportiva
de crianças e jovens (anexo 3). A entrevista estruturada apresenta vantagens
por facilitar a comparação entre as respostas dos inquiridos, principalmente
pela estandardização das questões. Outra vantagem foi a de manter a
concentração sobre as questões relevantes do tema da investigação,
reflectindo parcimónia e precisão de meios. Contrariamente, a entrevista não
estruturada, por apresentar maior flexibilidade e liberdade de movimentação ao
entrevistador, caracterizando-se como uma conversa natural e informal, possui
maior predisposição para a desfocalização, derivações e desequilíbrios entre
as abordagens das diferentes questões. Um outro factor que teve importância
na opção pelo modelo de entrevista estruturada, refere-se à nossa reduzida
102
experiência na condução de entrevistas. Aspecto este requerido nas
entrevistas não estruturadas, para não colocar em causa a focalização do
problema.
Por outro lado, nos questionários de resposta fechada a prioridade é de
normalizar os procedimentos de recolha de dados para garantir a sua
fiabilidade. Essa exigência não é considerada tão importante na entrevista de
resposta aberta, principalmente por dar uma certa liberdade ao entrevistado de
discorrer livremente sobre as questões. No entanto, deve ser assegurada a
forma como se colocam as questões, a orientação a dar às respostas e seu
redireccionamento, quando manifestamente se desviam do tema em questão
(Graça, 1997).
Para a elaboração e configuração das questões que compuseram o guião, da
entrevista com os treinadores, tomamos como referência dois pressupostos. O
primeiro refere-se ao quadro da problematização, identificado através dos
problemas apontados por alguns autores referenciados na literatura, que
constituem referência internacional no âmbito da investigação na temática em
questão: Robertson, (1981); Matweiev, Nowikov, (1982); Weineck, (1983);
Malina, Coakley, (1986); Kurz, (1988); Platonov, (1988); Martin, Bauersfeld
(1991); Thüringer Landesverwaltungsamt, (1994), Rost, Tschiene, (1995);
Gould & Ecklund, (1996); Bompa, (2000); Marques, Oliveira, Lima, Tani, (2002).
O segundo reporta-se à grelha de análise utilizada no primeiro estudo empírico
(ver quadro - 15), representada pelas categorias e subcategorias utilizadas
para analisar os documentos das associações e federações desportivas. No
entanto, incluímos uma nova categoria, “Competição na formação dos
treinadores”, no sentido de identificar a importância concedida pelos
treinadores a esta temática. Especialmente no que se refere ao papel da
competição no processo formativo, a sua estruturação, organização e
participação. Complementarmente a esse objectivo, também, apuramos o
entendimento dos treinadores sobre os cursos de formação, organizados pelas
federações. Através deste processo consolidamos a validade de construção do
instrumento.
Para a realização do processo de validação do conteúdo, recorremos a um
painel de peritos, seleccionados por critérios a priori definidos. Foram
convidados três professores, especialistas da área académica, doutores na
103
área da pedagogia do desporto de crianças e jovens e do treino desportivo,
com conhecimento sobre a temática investigada. Integrando este grupo de
peritos, solicitamos o parecer de um professor doutor, especialista na área da
psicologia do desporto e dois treinadores com experiência de sucesso
competitivo, envolvidos com o desporto de crianças e jovens. Estes treinadores
apresentam referência e credibilidade no âmbito do treino e da competição no
desporto infanto-juvenil. As questões do instrumento foram avaliadas sobre a
forma de apresentação, redacção, organização, conteúdo e pertinência de
aplicação. Para configurarmos o instrumento, procedemos a exames e
ajustamentos, exaustivamente, até definirmos o guião de questões a ser
utilizado na entrevista com os treinadores. Por fim, realizamos um estudo piloto
com dois treinadores seguindo o guião de questões na entrevista. O objectivo
foi de avaliar se havia entendimento do conteúdo das questões, clareza na
forma de execução da pergunta e o tempo de aplicação do instrumento.
A entrevista colocou directamente questões que se referem às diferentes
categorias
da
estrutura
das
competições
para
crianças
e
jovens,
especificamente: a-) organização das competições; b-) regulamento; c-)
conteúdo das actividades competitivas; d-) carga de competição; e-) tema
competição na formação do treinador.
Desta forma, as principais questões que compuseram o guião, utilizadas na
entrevista com os treinadores, foram:
1- Em termos de objectivos, o que deve distinguir a competição das
crianças antes dos 13-14 anos das competições dos escalões mais
velhos? Como vê a evolução dos objectivos da competição ao longo dos
escalões anteriores aos 13-14 anos?
2- Qual a idade para a criança iniciar a participação em competições dos
quadros competitivos regulares na sua modalidade?
3- Qual o âmbito geográfico desejável para o quadro competitivo nos
diversos escalões considerados?
4- Quais os formatos desejáveis para o calendário competitivo nestes
escalões? Quais os critérios desejáveis para definir as equipas que
integram o calendário competitivo?
5- Quando acha que devem ser introduzidas provas a eliminar, nos
escalões considerados? Que efeitos devem ter as classificações na
104
competição para a organização das fases do calendário competitivo, na
distinção entre as equipas e na atribuição de prémios?
6- Que actividades diferentes da competição específica da modalidade
incluiria no quadro competitivo destes escalões?
7- Como encara a relação entre os objectivos e conteúdos do treino e da
competição nestes escalões?
8- Sobre a formalidade da competição e adaptação do regulamento:
a) Que entidades ou instituições devem organizar a competição nos
diversos escalões?
b) Qual o grau de formalidade desejável para a arbitragem nos diversos
escalões?
c) Que alterações às regras são fundamentais nestes escalões?
d) Que normas técnicas e pedagógicas, relativas aos conteúdos e
processos de organização do jogo, devem ser estabelecidas pelas
estruturas federativas nestes escalões?
9- Nos escalões considerados, dentre as crianças que participam
regularmente nos treinos, quem deve ser convocado para os jogos ou
provas e quem deve entrar na competição? Há distinção entre os
escalões? Qual a sua concepção em relação:
a) as regras para equilibrar a oportunidade de participação na
competição;
b) a participação conjunta de rapazes e raparigas
10- Qual a importância que deveria ser atribuída, nos cursos de formação
dos treinadores, aos temas referentes ao papel da competição no
processo formativo, a sua organização e à preparação para participar?
As questões fechadas foram estruturadas em forma de quadros com respostas
predefinidas e de escalas avaliativas. A sua aplicação teve por finalidade
verificar o entendimento dos treinadores a respeito das: prioridades que devem
orientar a participação e a preparação competitiva; funções, valores e atitudes
que devem ser desenvolvidos com a participação competitiva; valorizações dos
resultados
nessas
etapas
de formação desportiva. O
instrumento é
apresentado na íntegra no anexo 3. A ordem do guião das questões foi mantida
na entrevista com os treinadores. Porém, com a finalidade de aprofundar as
105
questões ou dúvidas que surgiram das respostas dos entrevistados, foram
incluídas questões complementares. Esta estratégia foi adoptada caso o
inquerido não respondesse ao conteúdo da questão. A finalidade foi de
conduzir o entrevistado para a temática subjacente ao problema do estudo. As
questões complementares utilizadas na entrevista aos treinadores são
apresentadas no anexo 3.
Para garantir a fiabilidade de codificação procedemos a uma análise e
discussão entre os peritos, referente às questões que ofereceram maior
controvérsia e ambiguidade. As questões foram: - Acha que nas competições
dos mais jovens há espaço para outros tipos de competições? - Acha que a
classificação na competição não deve conduzir à eliminação das equipas? Nestes escalões, acha que as regras devem estar ajustadas as necessidades
formativas
dos
jogadores?
Após
a
discussão,
foi
estabelecida,
consensualmente, a codificação das questões, realizada por um especialista da
temática; professor doutor na área da pedagogia do desporto de crianças e
jovens.
2.2.3. Procedimentos de recolha de dados
As entrevistas foram agendadas previamente, em local e horário definidos
pelos treinadores. Também, informamos ao treinador sobre o número de
questões do instrumento, bem como o tempo estimado para a realização da
entrevista.
O primeiro procedimento adoptado foi o de esclarecer aos treinadores sobre os
propósitos do estudo. Enfatizou-se o interesse em captar as concepções
pessoais de cada treinador, em relação à organização das competições
desportivas para crianças e jovens e também suas ideias sobre os aspectos
que devem ter prioridades nessas etapas. É importante referir que as situações
de avaliação, correcção e comparação, durante a entrevista, foram evitadas no
sentido de não gerar constrangimentos ou de condicionar e influenciar as
respostas dos treinadores. Garantiu-se também, a preservação do anonimato
dos treinadores, a confidencialidade do conteúdo das entrevistas e que o
estudo não lhes causaria nenhum prejuízo. Essas acções iniciais, adoptadas
com cada treinador, separadamente, foram no intuito de estabelecer uma
106
relação de confiança e discrição em nossa intervenção. A duração das
entrevistas variou entre uma hora e uma hora e meia e decorreram num
ambiente particular e reservado. Nas entrevistas foi utilizado um gravador
digital da marca SONY, modelo ICD-P Séries, com capacidade de gravação de
nove horas, em quatro ficheiros diferenciados de recolha da informação,
posteriormente, transcrita e processada para o computador. Na transcrição das
respostas dos treinadores, procuramos respeitar o mais fielmente possível o
discurso oral e sua gramaticalidade própria. Processo este que exigiu uma
dedicação de grande parte do tempo para a execução do estudo,
principalmente pelo rigor e cuidado que adoptamos na transcrição e codificação
do conteúdo semântico das mensagens. Para garantirmos a fiabilidade da
transcrição realizamos o procedimento sistemático de audição e confirmação
de pequenos segmentos de texto (de palavras a pequenas frases). Estas
acções foram efectuadas com a utilização do software Digital Voice Editor Ver.
2.2, que nos permitiu, através de seus recursos, o controle da velocidade de
leitura e a selecção de trechos da entrevista para transcrição.
As entrevistas forneceram-nos a oportunidade de conhecermos a compreensão
dos
treinadores
sobre
a
adequação
dos
conteúdos,
estruturas
e
enquadramentos que devem ter as competições para atender aos objectivos da
formação desportiva das crianças e jovens. Verificou-se, também, as
similitudes e as diferenças na opinião dos treinadores, as avaliações positivas e
negativas predominantes, bem como, a atribuição de importância a aspectos
organizacionais da competição.
2.2.4. Análise dos dados
Após termos transcrito as entrevistas, formatamos os textos na opção de Rich
Test Format, RTF, introduzidas no programa de análise de dados qualitativos
QRS-NVIVO versão 2.0. O programa permitiu-nos uma codificação bastante
flexível, suficientemente pormenorizada e ajustada aos propósitos do estudo.
Na primeira etapa da análise realizamos a codificação do material transcrito
das entrevistas. Dando seguimento à análise dos dados, procedemos à
elaboração da grelha de codificação. Destacando determinados elementos e
107
eliminando outros, esse processo de filtragem, triagem e catalogação da
informação nos permitiu condensar os dados da investigação.
Neste processo de codificação, os procedimentos de enumeração foram
cuidadosamente observados. As unidades de análise foram encaixadas, de
forma consistente, em cada uma das categorias da grelha de análise,
assegurando-se a fiabilidade de codificação, a sua exclusividade e definição
sem ambiguidade. O processo de exaustividade na classificação de todo o
material garantiu a consistência nas categorias de análise, facilitando a sua
interpretação posterior. Simultaneamente, o trabalho de condensação da
informação, de sumarização e síntese permitiu-nos o aprofundamento na
concepção dos treinadores, na identificando das similaridades, predominâncias
e pontos de discordância. Desta forma, seleccionamos trechos das entrevistas,
no sentido de elucidar o pensamento, as perspectivas e as indicações dos
treinadores. Estas estratégias metodológicas adoptadas, possibilitaram a
interpretação dos dados, de acordo com as questões que orientaram o estudo.
A figura 1 apresenta a configuração da grelha de codificação utilizada no
estudo.
108
Figura 1- Grelha utilizada para análise do conteúdo da entrevista aplicado aos
treinadores
No seguimento do estudo, na próxima parte, passamos a apresentar e discutir
os resultados das análises realizadas no primeiro e segundo estudo empírico.
109
III - APRESENTAÇÃO E DISCUSÃO DOS RESULTADOS
3. Primeiro Estudo Empírico
3.1 - Organização das competições
3.1.1 - Estrutura e características das competições
3.1.1.1. Enquadramento geográfico das competições para os
diferentes escalões
No
enquadramento
geográfico
das
competições
para
cada
escalão,
configurado pelas federações e associações desportivas, foram considerados
todas ocorrências de eventos competitivos oficiais, independente da sua
natureza e de suas características, como os festivais, encontros e torneios.
Figura 2 - Enquadramento geográfico das competições para os diferentes escalões
Os resultados evidenciam uma predominância na organização de competições
a nível nacional em todos os escalões. Este enquadramento em apresenta um
crescimento progressivo, associado a mudança de escalão. No que se refere
110
ao enquadramento em nível de distrito/região, tem uma presença maior nos
dois primeiros escalões do que nos dois últimos.
Diante dos modelos constituídos pelas federações, podemos constatar
discrepâncias no enquadramento geográfico em relação às diferentes
propostas na literatura. Enquanto as federações organizam competições a nível
nacional para estes escalões, na literatura as recomendações são no sentido
de ter limites locais ou regionais, para estas idades, principalmente por ter uma
orientação excessiva para o sucesso, elevada pressão psicológica, e uma
sobreavaliação do indivíduo e dos seus resultados competitivos (Deutsche
Sportbund, 1983).As competições a nível nacional deveriam ocorrer, segundo
Matweiev e Nowikov (1982) e Bompa (2000), só a partir dos 15 e 16 anos.
Em nível de local/cidade, apenas a federação e as associações da modalidade
de judo é que determinam que a participação do primeiro escalão deva ser
restrito a esse nível. A ocorrência de competições internacionais consta apenas
nos quadros competitivos da federação de ténis de mesa para o 2º escalão.
Nas modalidades de atletismo, ginástica artística, judo e natação, são
organizadas competições, para estes escalões, até o nível de distrito/região.
Enquanto que as associações e federações das modalidades de basquetebol,
futebol, rugby, voleibol e ténis de mesa, para os mesmos escalões, elaboram
um calendário competitivo com competições até o nível nacional.
No entanto, estas competições organizadas a nível nacional, para o primeiro
escalão no ténis de mesa e para os dois primeiros escalões das modalidades
de andebol, basquetebol, voleibol e rugby, são de natureza informal e
adaptadas às idades, com regras e espaços simplificados. Apresentam um
carácter mais festivo, realizado sob a forma de encontros convívios e festand’s.
Um outro factor que se sobressai nas modalidades individuais, é o predomínio
do enquadramento geográfico de competições a nível distrito/região, com
excepção da modalidade de ténis de mesa. A organização destas competições,
para
os
escalões
responsabilidade
modalidades
das
das
duas
primeiras
associações
consideram
estes
etapas
desportivas.
escalões
111
como
de
As
formação,
federações
sendo
de
é
de
destas
formação,
recomendando a não participação em competições de nível mais elevado. Este
entendimento vai ao encontro das afirmações dos especialistas que
recomendam, para estes escalões da formação, uma participação em
competições até o nível local para o primeiro e segundo escalões e, em nível
de distrito e região para os da segunda etapa de formação (Matweive, Nowikov,
1982).
3.1.1.2. A natureza da competição
De acordo com a figura 3 verificamos um crescimento no aparecimento de
aspectos formais na competição, associado à mudança de escalão.
Apuramos,
também,
que
as
competições
de
natureza
informal
são
predominantes apenas no primeiro escalão das modalidades desportivas. A
partir do segundo escalão, diminuem sua frequência de ocorrência. No entanto,
a reduzida ocorrência de competições de natureza informal (10%) no terceiro
escalão, referen-se apenas a modalidade de rugby.
Figura 3 - Natureza da Competição: formal e informal
Fica evidenciado na figura 3, que, nas modalidades em que o quarto escalão
faz parte da segunda etapa de formação, só ocorrem competições de natureza
formal.
Encontramos, nos documentos das associações e federações das modalidades
de judo, ténis de mesa, andebol e natação, a determinação da presença de
112
aspectos formais na competição, a partir do segundo escalão. Entretanto, as
modalidades de basquetebol, voleibol e atletismo foram as que apresentaram
um aparecimento de aspectos formais na competição de forma mais tardia,
ocorrendo só a partir do terceiro escalão. Porém, nas modalidades de ginástica
artística e futebol, as competições organizadas, desde os escalões iniciais, são
exclusivamente de natureza formal.
As afirmações que encontramos na literatura, defendem que as competições
de carácter informal são importantes para manter o interesse e a motivação
das crianças e jovens em níveis elevados (Roberts, 1978).
3.1.1.3. Valorização de competições por equipas nas modalidades individuais
Quanto à organização de competições por equipas nas modalidades
individuais, os resultados encontrados revelam que há, por parte das
associações
e
federações,
uma
importância
atribuída
à
participação
competitiva de forma colectiva para estes escalões.
Em todas as modalidades e em todos os escalões da formação, ocorrem
competições por equipas, em forma de estafetas, provas combinadas,
pontuações e atribuições de prémios por equipa.
Na maioria das modalidades, a proporção de ocorrência de competições por
equipa é de duas provas individuais para uma por equipa e em algumas
modalidades como o judo e a natação, é de três individuais para uma por
equipa.
Estas formas de participação em grupo também são defendidas na literatura.
Justificando que nas modalidades individuais surge o problema da excessiva
atenção dada sobre os melhores atletas, que, geralmente, são os indivíduos
biologicamente mais acelerados. Estas formas de participação em grupos
proporcionariam a um maior número de indivíduos atingirem sucesso nas
competições (Rost, 1995, Marques, 1997b).
113
3.1.2. Idade de início da participação competitiva
No que se refere a idade de início da participação competitiva, os resultados
apresentados na figura 4, revelam que, para a maioria das modalidades a
regulamentação das provas permite que crianças com idade de sete anos
participem das competições. No entanto, na modalidade de ténis de mesa
possibilita-se que crianças a partir de seis anos entrem em competições do
calendário associativo.
10%
20%
6 anos
7 anos
8 anos
70%
Figura 4 - Idade de início da participação nos quadros competitivos regulares
Dentre as modalidades investigadas, duas admitiram que o início da
participação nas competições organizadas pelas associações ocorriam com
idades a partir dos oito anos, foram a natação e o voleibol.
De modo geral, as entidades organizadoras das competições para estas
modalidades, acordam com as idades entre os seis e os oito anos, para o início
da participação das crianças no quadro competitivo regular.
As idades de início da participação, nos quadros competitivos regulares,
apresentam uma precocidade ao compararmos com as idades recomendadas
na literatura para estas modalidades (Bompa, 2000; Filin, 1996). Levando em
consideração o quadro de especificidade das modalidades, verificamos,
também, que as idades apresentadas nos documentos das federações são
114
inferiores ao sugerido na literatura (Sobral, 1994; Ulatowis, 1975; Matweiev e
Nowikov, 1982).
Em nosso entendimento, a participação demasiado cedo em um quadro de
competições regulares, sem que essa criança tenha tido o devido tempo de
preparação para desenvolver sua prontidão desportiva, poderá acarretar em
danos físicos, morais, sociais e cognitivos, levando-a ao abandono do
desporto. Por isso, as competições têm de ser adequadas e ajustadas as
necessidades e interesses das crianças e jovens (Marques, 2004).
3.1.3. Directivas e orientações pedagógicas para as competições
3.1.3.1. Realização de competições mistas
De acordo com os resultados apresentados na figura 5, as competições mistas
estiveram presentes apenas nos dois primeiros escalões. Ocorreram somente
nas modalidades de andebol, natação, atletismo, ténis de mesa e, para o
voleibol, no primeiro escalão.
Figura 5 – Organização de competições mistas nas modalidades desportivas por
escalões
Os documentos das associações e federações desportivas evidenciam que, a
partir do segundo a escalão, a ocorrência de competições mistas diminui. Já,
para o terceiro e quarto escalão, são organizadas competições em que a
participação de meninos e meninas deve ser separada.
115
Nas modalidades de basquetebol, futebol, rugby, judo e ginástica artística não
encontramos a presença de competições mistas no calendário competitivo
associativo e federativo.
A separação de rapazes e raparigas, nas competições, que ocorreram a partir
do terceiro escalão, possivelmente são associadas ao dimorfismo sexual,
representado pelas diferenças no crescimento e desenvolvimento das crianças
e jovens (Bompa, 2000).
No entanto, não podemos perder de vista que essa participação competitiva
desportiva deve ter uma abordagem formativa e nortear-se por objectivos não
só do rendimento mas principalmente pedagógicos e sociais, privilegiando um
desenvolvimento equilibrado e integral (Lima, 1988; Bompa, 1999; Marques,
1999).
3.1.3.2. Relação entre a organização do calendário das competições e o
calendário escolar (férias, datas festivas e exames escolares).
A organização do calendário competitivo, tanto no nível associativo como no
federativo, em sua maioria (90%), não leva em consideração a época de
exames escolares, datas festivas como Natal e Páscoa e períodos de férias
escolares. Dentre as modalidades investigadas, encontramos apenas uma, o
rugby, em que, a organização do calendário competitivo não coincidia com
provas para estes períodos. Verificamos que apenas um reduzido número de
modalidades desportivas apresentam no seu regulamento técnico-pedagógico
directivas que revelam uma preocupação com o calendário escolar.
3.1.3.3. Critérios para estabelecer os quadros competitivos
Nos documentos das associações e federações desportivas, no que se refere
aos
critérios
adoptados
para
estabelecer
os
quadros
competitivos,
encontramos uma predominância do grau de abertura em todos os escalões.
116
Revelando uma preocupação, por parte de quem organiza os eventos, com o
acesso das crianças e dos jovens às competições, independente do nível
competitivo.
Figura 6 – Critérios para estabelecer os quadros competitivos por escalões
Constatamos, também, que o critério de apuramento para o acesso à
competição começa a aparecer a partir do segundo escalão e apresenta um
crescimento de sua ocorrência nos escalões seguintes. A presença deste
critério foi verificada apenas nas modalidades de futebol, basquetebol e
andebol, estando presente nos regulamentos das competições de níveis mais
elevados, inter-regionais e nacionais.
Nestes escalões iniciais da formação desportiva, a orientação das federações e
associações é para que as crianças e os jovens tenham uma regularidade na
participação competitiva. Justificada por despertar uma motivação e um
envolvimento maior com a modalidade (Rost, 1995). Por isso são organizados
eventos sem limitações para o acesso, abertas às equipas e atletas que
quiserem participar.
3.1.4. Sequência organizativa das competições
3.1.4.1. Aspectos que determinam a participação nos
quadros
competitivos posteriores
Os resultados encontrados revelaram que, a partir do segundo escalão, o
critério que se destaca, para a participação nas fases seguintes da competição,
117
refere-se à condição da equipa ter sido apurada na fase anterior. No entanto,
no primeiro escalão, na maioria das competições (70%), não há apuramentos,
todos competem com todos. Por vezes, o que ocorre é uma pontuação final.
Em algumas modalidades desportivas, como a natação, a ginástica artística e o
atletismo, nestes escalões da formação, as competições não são organizadas
em fases.
Figura 7 – Aspectos que determinam a participação nas fases seguintes da competição
Os resultados na figura 7, evidenciam, ao longo dos distintos escalões, uma
diminuição na percentagem de ocorrência de competições, em que todos têm a
mesma oportunidade de continuar participando da competição. Ou seja,
conforme crescem os escalões, cresce também a ocorrência de provas em que
na sua organização o critério para continuar nas fases seguintes da competição
é o rendimento da equipa ou do atleta. Este facto deve-se, principalmente, à
participação em provas regionais que apuram para o campeonato nacional.
A oportunidade de participação competitiva, assim como a continuidade nas
competições, devem ser garantidas para as crianças e jovens. Principalmente
por desempenharem um papel fundamental nessas etapas de formação
desportiva; o de desenvolverem as competências, a procura da excelência da
superação e da socialização. Para que isso aconteça é preciso frequência
regular de participação competitiva (Drewe, 1998, Gonçalves 1991; Harre,
1982; Passer, 1982).
118
3.1.4.2. Organização dos quadros competitivos ao longo da época
De acordo com os resultados apresentados na figura 8, a maioria das
modalidades desportivas, nestes escalões, organizam o calendário competitivo
de forma que as competições fiquem distribuídas ao longo da época, com
intervalos curtos.
Figura 8 – Formato do calendário competitivo
Duas modalidades individuais, a ginástica artística e o ténis de mesa
apresentaram um formato do calendário diferenciado. As competições ocorrem
de forma concentrada, em períodos específicos e com grandes intervalos entre
elas. A organização de quadros competitivos, com competições longas e
contínuas, estruturada em fases, aparece com uma frequência muito baixa,
ocorrendo apenas na modalidade de futebol.
Cabe destacar, também, que não encontramos diferenças na organização dos
quadros competitivos ao longo da época entre os escalões.
Para a maioria das federações e associações, a frequência e regularidade na
participação competitiva, para estes escalões, parece ter um papel importante
na formação destes jovens e na avaliação do processo de treino. Ocorrem de
uma a duas competições por mês, sem fases e sendo realizadas nos fins-de-
119
semana, estilo torneio. Porém, com modelo de competições diferenciado, nas
modalidades de ginástica artística e ténis de mesa há intervalos longos entre
as competições. Já o calendário competitivo da modalidade de futebol, é
elaborado com períodos de execução longas e faseadas.
Em relação a esse aspecto não temos uma posição que seja esclarecedora na
literatura, mas indicações de que deve haver uma regularidade na participação
competitiva (Hahn, 1988; Vieira, 1992)
3.1.4.3. Processo progressivo de especialização da competição
Verificamos o processo progressivo de especialização das competições através
da
constatação
de
mudanças
ocorridas
nos
indicadores
estruturais,
regulamentares, nas condições de organização e alterações no conteúdo das
competições entre os escalões.
120
100
100
80
86
60
40
60
40
40
75
75
71
57
50
20
50
28
0
do 1º/2º escalão
Estruturais
do 2º/3º escalão
Regulamentos
do 3º/4º escalão
Natureza da competição
Conteúdo da competição
Figura 9 – Resultados, organização e alterações no conteúdo das competições entre os
escalões
Os
resultados
apresentados
na
figura
9
demonstram
que há
uma
especialização progressiva da competição nestes escalões. Verifica-se,
também, que as alterações nos indicadores de especialização das competições
ocorrem com maior frequência na mudança do terceiro para o quarto escalão.
Nos escalões menores, do primeiro para o segundo, há um menor número de
modalidades
desportivas
sugerindo
que
modificações
associados ao processo de especialização da competição.
120
nos
parâmetros
Outro aspecto importante a destacar se refere ao aumento progressivo das
alterações regulamentares e estruturais, destacando-se como os principais
indicadores no processo progressivo de especialização da competição entre os
escalões.
No entanto, a progressão da especialização da competição nas modalidades
desportivas de natação, ginástica artística, atletismo, ténis de mesa e judo,
também é representada pelas modificações no indicador, conteúdo da
competição. Isso ocorre entre todos os seus respectivos escalões. Para as
modalidades colectivas de basquetebol e rugby as alterações no conteúdo da
competição só ocorrem na transição dos respectivos escalões mais altos. O
que não acontece, na modalidade de andebol, onde ocorrem entre os escalões
mais baixos.
Este aspecto, de certa forma, está em sintonia com o proposto pelos
especialistas, que sugerem uma especialização nos conteúdos da competição
de forma graduativa, principalmente da primeira para segunda etapa de
formação. No entretanto, verificamos que ocorre uma especialização,
prematura do primeiro para o segundo escalão. Isto indica que as federações
continuam adoptando o sistema de competições tradicionais. Neste tipo de
sistema, os conteúdos apresentam uma proximidade ao modelo vigente no
desporto de alto rendimento, evidenciando uma especialização precoce
(Zakharov, 1992; Bauersfeld, citados por Marques, 1999, p.17).
3.1.5. Objectivos da competição
3.1.5.1. Objectivos definidos pelas federações e associações para a
competição nos diferentes escalões
Em relação aos objectivos da competição para estes escalões de formação,
encontramos nos documentos das federações e associações desportivas, seis
diferentes objectivos, apresentados na figura 10.
121
Figura 10- Objectivos das competições definidos pelas federações e associações
Dentre os objectivos referidos pelas entidades organizadoras das competições
para os mais jovens, dois deles destacam-se por terem uma maior ocorrência
nas modalidades e, também, nos respectivos escalões. São os objectivos
relacionados com a formação, que visam o desenvolvimento motor, psicosocial e afectivo e os objectivos relativos ao desenvolvimento da técnica e da
táctica. No seguimento, com uma frequência de ocorrência menor (60%),
aparece o objectivo voltado para o rendimento. Este objectivo é referido nas
competições dos escalões infantis e iniciados, nas modalidades de atletismo,
basquetebol, futebol, rugby, ténis de mesa e voleibol. Outro aspecto
importante, considerado por 50% das modalidades desportivas, é de que as
actividades competitivas devem possibilitar às crianças e aos jovens, na sua
participação, o prazer, a satisfação e o divertimento. De forma mais reduzida
(30%) aparecem outros dois objectivos, valorizados por poucas modalidades.
Um deles, está relacionado com o desenvolvimento da cooperação e o trabalho
em equipa e o outro com o desenvolvimento de valores éticos e morais, como o
respeito às regras, aos adversários e aos árbitros.
122
3.1.5.2. Diferenças nos objectivos competitivos entre os escalões e entre
as diferentes modalidades desportivas
Verificámos que, nas orientações competitivas dos documentos analisados, em
40% das modalidades não haviam diferenças entre os objectivos das
competições para estes escalões. Os objectivos centravam-se nos aspectos
formativos e no desenvolvimento da técnica e da táctica. No entanto, em 60%
das modalidades desportivas, os objectivos da competição eram diferenciados
entre os escalões.
Nos escalões iniciais as competições são organizadas com objectivos voltados
para formação, devendo atender ao desenvolvimento motor, social e
psicológico da criança e do jovem. Porém, nos escalões de idades mais
avançadas, terceiro e quarto escalões, as competições devem ter um objectivo
em si mesmas, de apuramento para as fases seguintes ou de revelar o
vencedor da competição. Seus objectivos são semelhantes aos objectivos do
alto nível, centradas na maximização do rendimento.
Os objectivos da competição, principalmente para o primeiro e segundo
escalões, não apresentam uma concordância com o proposto na literatura para
estes escalões iniciais. Os objectivos deveriam ser centrados na formação e
terem uma abordagem pedagógica (Marques, 1997b; Andrade, 1996; Lima,
1988).
O objectivo da aprendizagem da técnica e da táctica aparece como um aspecto
importante, devendo ser desenvolvido de forma progressiva no treino e na
competição. Sua presença é verificada em todos estes escalões da formação.
No que se refere às diferenças, no estabelecimento dos objectivos das
competições entre as modalidades, encontramos uma preocupação maior com
a formação integral das crianças e jovens por parte das modalidades de
atletismo, basquetebol, judo, rugby e no voleibol. Estas, abrangem um maior
número de objectivos para competição de todos os escalões. Diferentemente,
em um sentido circunscrito, nas modalidades de andebol, ténis de mesa,
natação, ginástica artística e futebol, as competições têm objectivos centrados
123
mais no desenvolvimento motor, psico-social, da técnica e da táctica, em todos
escalões.
3.1.6. Sistema de pontuação e classificação
3.1.6.1. Atribuição de prémios
Verificamos que, independente do nível da competição ou do resultado obtido,
nos dois primeiros escalões, todos recebem prémios. A partir do terceiro e
quarto escalão a distinção na atribuição de prémios é predominante. Os jovens
recebem prémios pelo resultado obtido na competição, ocorrendo com maior
frequência nas competições a nível regional e nacional.
Figura 11 – Atribuição de prémios por escalões
Os resultados apresentados na figura 11, evidenciam que há uma diminuição
na atribuição de prémios a todos, conforme se avança nos escalões. A
valorização dos resultados na competição, a partir do terceiro escalão, é
devida, principalmente, ao aumento da frequência de participação em
competições de níveis mais elevados, cujos objectivos são voltados para
revelar um vencedor.
Dentre as modalidades estudadas, encontramos três, a ginástica artística o
judo e a natação, em que a orientação é de atribuirem prémios a todos aqueles
que participaram da competição. No entanto, na ginástica artística e no judo,
124
em algumas competições a nível regional e nos escalões mais altos, a
atribuição de prémios é para todos. Mas a distinção faz-se presente nos tipos
de pémios que são distribuídos em função do resultado obtido na competição.
3.1.6.2. Atribuição de prémios individuais
Em relação a atribuição de prémios individuais, verificamos que em 70% das
modalidades, não há atribuições de prémios de forma individualizada. Apenas
em três modalidades, no andebol, na ginástica artística e no ténis de mesa, é
que constava, na organização das competições, a atribuição de prémios para o
melhor artilheiro e o melhor atleta na competição. A maioria das entidades que
organizam as actividades competitivas evidencia, uma preocupação maior com
a formação.
3.1.6.3. Apuramento do campeão nacional
Quanto à organização de competições, em que o objectivo é voltado para o
apuramento do campeão nacional, verificamos que já aparece a partir do
primeiro escalão, crescendo sua ocorrência com o avanço nos escalões.
Figura 12 – Ocorrência de competições voltadas para o apuramento do campeão
nacional em cada escalão.
125
Os resultados apresentados na figura 12, revelam que há uma predominância,
nos três primeiros escalões, de competições que não visa o apuramento para o
campeão nacional. Cabe destacar também que, com excepção do ténis de
mesa, nas modalidades individuais não há competições com vistas ao
apuramento do campeão nacional. Enquanto que, para a maioria das
modalidades colectivas, a partir do terceiro escalão, estão previstas
competições com esse objectivo.
O aparecimento de competições com o objectivo de apurar o campeão
nacional, no primeiro escalão, foi verificado apenas na modalidade de futebol.
3.1.6.4. Inclusão de provas a eliminar
Os resultados apontam para um crescimento da inclusão de competições com
eliminatórias, associado a mudança de escalão. No primeiro escalão, o
predomínio é de competições sem eliminatórias, jogam todos contra todos. O
objectivo para este escalão é de que todos, em sua participação competitiva,
tenham uma igualdade no número de provas. Diferentemente, como nos
mostra a figura 13, a partir do terceiro escalão a ocorrência maior é de
competições em sistema de exclusão. Desta forma, só os melhores são
apurados para as etapas seguintes da competição.
Figura 13 - Inclusão de provas à eliminar por escalões
126
Apenas em três modalidades desportivas, o atletismo, a ginástica artística e a
natação, não são organizadas provas com eliminatórias para estes escalões da
formação. Contrariamente a esta posição, o futebol, em todos os seus escalões
de
formação,
apresenta
competições
com
eliminatórias,
voltadas
ao
apuramento para as fases seguintes da competição.
Este encaminhamento, verificado no terceiro e quarto escalões, está em
desacordo com as recomendações da literatura, que sugere uma atribuição de
prémios a todos.
3.1.6.5. A participação competitiva dos atletas e equipas que têm
prestações mais baixas
De acordo com os resultados apresentados no quadro 20, podemos verificar
que nos dois primeiros escalões, a maioria das federações e associações
optam por organizar competições sem eliminatórias ou em fases. Este critério,
tem por finalidade assegurar a participação de equipas ou atletas de
prestações mais baixas. Contrariamente, predominam para o terceiro e quarto
escalões as competições com provas a eliminar e em fases. Os atletas e
equipas mais fracas são excluídos da competição.
Quadro 20 – Critérios adoptados para garantir a participação de equipas ou atletas com
prestações mais baixas na competição por escalões.
Critérios
1º escalão
2º escalão
3º escalão
4º escalão
80 %
60%
30%
0%
20%
20%
10%
25%
0%
20%
60%
75%
Não há provas a eliminar ou fases
seguintes na competição
São equilibradas por níveis de
desempenho das equipas ou atletas
nas fases seguintes da competição
Não são adoptados critérios para
assegurar a participação de equipas
ou atletas com prestações mais
baixas
127
Dentre as modalidades estudadas apenas em três, o voleibol, o atletismo e o
rugby adoptam critérios, no terceiro e quarto escalões, para assegurar a
continuidade na competição daqueles que têm prestações mais baixas.
Nestes estádios de formação, a frequência de participação, assim como a
continuidade nela, é muito importante para aumentar o seu repertório de
experiências motoras e sociais.
3.2. Regulamentos
3.2.1. Adaptações das regras
3.2.1.1. Ocorrência de adaptações das regras nos escalões
Em relação às adaptações das regras, encontramos, nos documentos das
federações e associações das modalidades investigadas, alterações tanto ao
nível estrutural quanto ao nível regulamentar da competição em todos os
escalões. As dimensões de campo, o tamanho e peso dos materiais, altura das
tabelas, da redes e balizas, assim como as regras da competição, número de
jogadores, número de substituições, duração e intervalo das actividades
competitivas são adaptadas em função das idades.
Entretanto, verificamos que para a maioria das modalidades (80%), estas
adaptações das regras ocorrem de modo diferenciado entre os escalões, com
um nível de exigência progressivo, adaptado às características e capacidades
das crianças. Constatamos que apenas nas modalidades de ténis de mesa e
no judo, até o terceiro esclão, não há diferenças nas adaptações estruturais e
regulamentares.
3.2.1.2. Normas técnicas e pedagógicas estabelecidas pelas federações
A intervenção das federações no estabelecimento de normas técnicas e
pedagógicas, constatamos que ocorre em apenas 50% das modalidades
estudadas, especificamente no atletismo, andebol, judo, natação e rugby. As
sugestões e orientações têm por finalidade a sistematização dos conteúdos, a
organização didático-pedagógica e a determinação de princípios orientadores
128
da prática. Objetivando unificar o trabalho que os treinadores realizam na
formação dos mais jovens.
3.2.2. Arbitragem
3.2.2.1. Realização da arbitragem
Verificámos que, no primeiro escalão, as associações estabelecem que as
competições podem ser arbitradas pelos professores, monitores e atletas mais
velhos. Principalmente, por serem competições de natureza informal. Os
resultados na figura 14, nos mostram também que, conforme o avanço nos
escalões, há uma diminuição na participação dos professores, monitores e
atletas na árbitragem das competições. Sobretudo, porque, a partir do segundo
escalão há um aumento na participação em competições de níveis mais
elevados e de natureza formal.
Figura 14 – Responsável pela arbitragem nas competições por escalões
No terceiro e quarto escalões, fica evidenciado uma prevalência na atribuição
de responsabilidade pela arbitragem aos árbitros da federação e juízes
indicados pelas associações. Especialmente, porque se inicia a participação
em competições com apuramento e a nível nacional.
129
Nas modalidades de futebol, ginástica artística e natação, desde o primeiro
escalão, é estabelecido, pelas entidades organizadoras das competições, que
as provas e jogos devem ser arbitrados por juízes das federações ou
associações.
3.2.2.2. Nível de graduação exigida ao árbitro nos diferentes escalões
Em relação aos níveis de graduação exigidos aos árbitros nos diferentes
escalões; Em competições que podem arbitrar professores, monitores e atletas
mais velhos, a exigência é de terem conhecimento das regras e usarem de
bom-senso na sua aplicação. No entanto, nas competições em que a
responsabilidade da arbitragem está a cargo dos árbitros das federações ou
juízes indicados pelas associações, estes devem ter o curso da respectiva
federação. Estas exigências são diferenciadas por níveis, conforme o
enquadramento competitivo.Verificamos que, a partir do segundo escalão há
uma exigência maior, em relação a sua formação, para realização da
arbitragem.
3.2.2.3. Características da arbitragem nos escalões
Os resultados encontrados sobre este aspecto apontam que, para a maioria
das modalidades (60%), a arbitragem realizada apresenta características
diferenciadas entre os escalões. Nos dois primeiros escalões existe um sentido
mais pedagógico, formativo e menos punitivo. O rigor na aplicação das regras
nos escalões aumenta progressivamente, em especial nas punições. Já as
modalidades de natação, futebol, ginástica artística e ténis de mesa entendem
que a arbitragem não deve ser diferenciada entre os escalões. Nestes escalões
a característica da arbitragem deve ser sempre educativa, envolvida num
espírito pedagógico, formativa e, menos punitiva. No entanto, nestas
modalidades, a arbitragem é realizada por árbitros das federações e
associações desde os primeiros escalões.
130
3.3. Actividades competitivas
3.3.1. Conteúdos
3.3.1.1. Inclusão de actividades competitivas de outras modalidades na
competição do desporto seleccionado
Na organização das actividades competitivas, definidas pelas associações e
federações desportivas, verificamos que, em maioria (60%) das modalidades
não eram incluídas, para estes escalões da formação, actividade competitiva
de outras modalidades. Entretanto, quatro modalidades, o andebol, o atletismo,
a natação e o rugby, utilizam actividades competitivas de outras modalidades
desportivas para além da escolhida. São actividades em forma de convívio,
encontros e festand’s, menos formais que utilizando jogos pré-desportivos,
circuitos com actividades competitivas de outras modalidades. Porém, a sua
frequência de ocorrência é baixa. São previstas no calendário competitivo da
época, uma ou duas competições. Com excepção da modalidade de andebol,
em que para o primeiro escalão, bambis, as competições apresentam só este
formato.
3.3.1.2. Actividades competitivas diversificadas e adaptadas
De acordo com os resultados apresentados na figura 15, podemos dizer que as
actividades competitivas adaptadas ocorrem de maneira preponderante nas
modalidades e para os três primeiros escalões. No quarto escalão, apenas uma
modalidade, no voleibol, as actividades não são adaptadas. Isso demonstra
uma preocupação por parte de quem organiza as competições para os mais
jovens, de levar em consideração o crescimento e desenvolvimento da criança
tanto a nível biológico, quanto a nível cognitivo.
131
Figura 15 - Actividades competitivas diversificadas e adaptadas por escalões
Em relação à utilização de actividades diversificadas na competição para estes
escalões, verificamos no primeiro escalão um destaque maior atribuído a este
aspecto. Nota-se também que, com o crescimento do escalão, seu percentual
de ocorrência vai diminuindo e se mantém presente até ao terceiro escalão. A
diversificação das actividades competitivas tem maior presença nos dois
primeiros escalões, com o atendimento ao objectivo da formação motora das
crianças. A partir do segundo escalão, começam a ter uma supremacia as
actividades mais especializadas, relacionadas com o conteúdo da modalidade
desportiva praticada.
Constatamos, também, que apenas as modalidades de basquetebol e de
futebol não apresentavam actividades diversificadas nas competições de seus
escalões.
3.3.1.3. Progressão dos conteúdos das actividades competitivas entre os
escalões
Encontramos, na maioria das modalidades (80%), uma diferenciação nos
conteúdos das actividades competitivas, evidenciando uma progressão entre
os escalões no que diz respeito à exigência das tarefas a serem desenvolvidas
na competição. Essa progressão está relacionada com o aumento das
exigências coordenativas e técnicas, assim como com as mudanças nas
estruturas e regras das actividades competitivas. São acrescidas, de forma
132
gradual, novas técnicas e uma maior exigência nos níveis de habilidades.
Porém, na modalidade desportivas de futebol, não encontramos grandes
diferenças no conteúdo das actividades competirivas. Revelam assim uma
baixa progressão nos conteúdos das actividades competitivas.
3.3.1.4. Relação entre os conteúdos da actividade e os objectivos da
formação
Quadro 21 – Percentuais de ocorrência de actividades competitivas com conteúdos
relacionados com os objectivos formativos
Actividades desenvolvidas para atender
os objectivos da formação
Estão
Não estão
relacionados
relacionados
60%
40%
70%
30%
1º etapa - actividades diversificadas, jogos
de movimentos ou exercícios do desporto
em geral.
2º etapa - actividades adaptadas,
simplificadas, formas jogadas, diversificadas
e orientadas para o desporto, exercícios
competitivos e de outros desportos.
De acordo com os resultados apresentados no quadro 21, encontramos uma
maior ocorrência de utilização de conteúdos nas actividades competitivas,
relacionados com os objectivos da formação, na segunda etapa de formação
(70%). Etapa essa que corresponde à especialização inicial de base, cujos
objectivos estão voltados para o desenvolvimento da coordenação técnicotáctica e funcional do sistema nervoso central. As competições, nestas
modalidades, apresentam conteúdos de actividades múltiplas com ênfase na
parte motora e técnico-táctica. Há uma especialização crescente orientada para
o desporto, provas com diferentes exigências técnicas, porém, com estruturas
e regulamentos adaptados às idades. Apenas em três modalidades, andebol,
futebol e ténis de mesa, os conteúdos das actividades competitivas
apresentavam uma baixa correspondências com os objectivos formativos para
esta etapa. Os conteúdos das competições não eram diversificadas, não havia
inclusão de exercícios competitivos de outras modalidades. Sua estruturação
mais especializada se aproximava do modelo de competições utilizada no alto
nível.
133
Em relação à primeira etapa de preparação preliminar, verificamos que 60%
das modalidades desportivas apresentam actividades competitivas com
conteúdos relacionados com ao desenvolvimento da coordenação motora geral
e a formação da multilateralidade. No entanto, o que nos chamou a atenção foi
o aparecimento da percentagem de 40% das modalidades apresentarem
conteúdos das suas actividades competitivas com menor relação com os
objectivos para esta primeira etapa. As actividades nas modalidades de futebol,
basquetebol, ginástica artística e o judo, já em seus primeiros escalões, eram
centradas na execução de habilidades técnicas e tácticas. Notando-se pouca
diversidade e uma especialização orientada para o desporto.
3.4. Carga de competição
3.4.1. Número de competições para cada escalão
Sobre a carga de competições, os resultados apresentados no quadro 22,
apontam que, conforme o avanço dos escalões, há um aumento progressivo
tanto no número de competições por temporada, quanto no número de jogos
ou provas. As crianças dos dois primeiros escalões participam em média de 3 a
5 competições por temporada com uma previsão de provas entre 15 a 31.
Constata-se, também, um aumento substancial no número de competições e
no número de provas e jogos para o terceiro e quarto escalão. Apresentam
uma variação média de 4 a 9 competições e uma participação em torno dos 30
a 53 jogos e provas por temporada.
134
Quadro 22 - Frequência de participação competitiva por mês e por temporada para cada
escalão das respectivas modalidade desportiva
Escalões
Número de competições por
Número de jogos ou provas por
temporada
temporada
1º
2º
3º
4º
1º
2º
3º
4º
Andebol
2
2-3
3-5
3-5
12-26
26-46
42-75
37-75
Atletismo
2-3
2-3
4-5
-
8-10
8-12
24-26
-
Modalidades
Basquetebol
2-3
2-3
4-5
-
22-24
22-24
40-60
-
Futebol
1-2
1-2
2-3
-
20-40
22-47
30-60
-
3
3
-
-
6-9
6-9
-
-
Ginástica
Judo
4-6
6-10
6-10
8-12
16-24
24-40
24-40
32-48
Natação
6-7
8-10
-
-
18-21
24-30
-
-
Rugby
6-9
6-9
8-14
12-16
12-18
12-18
24-42
36-48
Ténis de mesa
3-5
4-6
-
-
20-30
40-60
-
-
Voleibol
2-3
2-3
3-4
4-5
12-16
14-20
26-36
28-40
Média
3-4
4-5
4-7
7-9
15-22
21-31
30-48
33-53
Mínimo/Máximo
1-9
1-10
2-14
3-16
6-40
6-60
24-75
28-75
Ao compararmos o número de competições e o número de jogos entre os
escalões, para as modalidades desportivas estudadas, encontramos os
seguintes resultados:
- Das modalidades estudadas, apenas três, judo, naração e o ténis de mesa
apresentam modificações no número de competições entre o primeiro e
segundo escalões;
- No que se refere ao número de competições por temporada, verificamos que
a modalidade de futebol é a que apresenta uma melhor frequência;
- Em relação ao número de jogos e provas por temporada, as modalidades que
mostraram uma menor frequência de ocorrência foram a ginástica artística e o
atletismo, em todos os escalões. Em sentido contrário, as modalidades de
andebol, basquetebol e futebol se destacaram por apresentarem uma
frequência de jogos mais elevada que as demais.
135
3.4.2. Período de tempo em que ocorrem as competições
Quanto ao período de tempo em que ocorrem as competições, encontramos
três formas de organização estabelecidas pelas federações. Um grupo formado
pelas maiorias das modalidades, atletismo, ginástica artística, judo, natação,
rugby e o ténis de mesa organizam seu calendário competitivo em formato de
torneio. As competições ocorrem aos fins-de-semana, com duração de um a
dois dias. O outro grupo de modalidades, voleibol, basquetebol e andebol
organiza, para o primeiro escalão actividades competitivas em forma de
encontros e convívios, que têm a duração de um a dois dias. No terceiro e
quarto escalões, as competições duram em média de dois a três meses, com
jogos planeados para todos os fins-de-semana. Por fim destacan-se a
modalidade de futebol, por apresentar competições com com períodos de
execusão prolongados. Duram em torno de quatro a seis meses e são
organizadas em fases, ocorrendo um jogo por semana.
Uma definição sobre a frequência de participação competitiva, não é uma
tarefa fácil. Os poucos estudos que encontrados na literatura apresentam uma
heterogeneidade nos resultados. Porém, as frequências aqui apresentadas
pelas federações e associações são superiores quando comparadas com o
estudo de Marques, (1993b) e inferiores em comparação com o estudo de
Zakharov, (1994). No entendimento dos especialistas, o número e frequência
de
competições
depende,
fundamentalmente,
das
características
da
modalidade das cargas de treino, anos de treino, da idade do atleta e do nível
de desenvivolvimento das capacidades individuais (Harre,1982; Matveiev,
1980).
136
4. Segundo Estudo Empírico
Objectivo – Verificar a percepção dos treinadores quanto à adequação da
organização das competições desportivas para crianças e jovens
4.1. A organização das competições
4.1.1. Estrutura e características das competições
4.1.1.1. Enquadramento geográfico das competições para os diferentes
escalões
Nosso objectivo era de verificar a percepção dos treinadores quanto ao
enquadramento que deveriam ter as competições nestes escalões, assim
como, a natureza destas competições e a entidade que seria responsável pela
sua organização.
A figura apresenta os valores percentuais correspondentes às opiniões
predominantes dos treinadores para o enquadramento geográfico das
competições por escalões.
Figura 16 – Enquadramento da participação competitiva por âmbito geográfico em
cada escalão, das modalidades em geral.
137
Como podemos constatar, no enquadramento proposto pelos treinadores,
predominam as competições ao nível de distrito e região para as crianças dos
dois primeiros escalões, das faixas etárias entre 6 e 11 anos. A partir do
terceiro escalão, jovens com idades acima dos 12 anos, sobressaem as
competições ao nível nacional. Cabe aqui destacar que desde muito cedo, no
primeiro e segundo escalão, estão presentes competições ao nível nacional,
indicadas por treinadores das modalidades de voleibol e ténis de mesa. E
também, o facto do aparecimento de competições ao nível internacional no
quarto escalão, referida pelos treinadores de andebol.
No entendimento dos treinadores as mudanças no nível competitivo devem
ocorrer de forma progressiva e estarem associadas às mudanças de escalão.
Chamam a atenção para que, no enquadramento competitivo das crianças e
jovens nas etapas de preparação preliminar e de especialização inicial de base,
sejam levados em consideração tanto o crescimento e desenvolvimento da
criança a nível das suas capacidade motoras, quanto o tempo necessário para
o aprendizado das tarefas específicas exigidas em cada modalidade.
Essa proposição pode ser complementada com as afirmações de Bompa
(2000), “mesmo que as crianças possuam capacidade para tolerar os
componentes físicos do programa, elas podem ter dificuldade em lidar
mentalmente com a demanda do treino e da competição.”
No entanto, cabe destacar que, em relação à participação das crianças e
jovens em competições ao nível nacional e internacional, a maioria dos
treinadores entende ser demasiado cedo para o primeiro e segundo escalão e
que essas competições poderiam se incluídas, com algumas condições, a partir
do terceiro e quarto escalões. Argumentam que, no formato do enquadramento
actual a esse nível, há uma falta de consonância entre o nível de preparação e
a exigência das competições.
Outro aspecto negativo refere-se à elevada importância atribuída aos
resultados por parte dos dirigentes pais e treinadores. Essa participação
138
também teria uma interferência directa no tempo dedicado à escola e à família,
assim como, no processo de treino, conduzindo a especialização da
preparação. Porém, poderiam os mais jovens participar de competições
nacionais e internacionais em um modelo diferenciado do actual, com
estruturas e regulamentos adaptados às idades, de natureza informal e
organizadas em formato de convívio, encontro, lúdicas e festivas, sem
eliminação, dando oportunidade de participação a todos e sem ênfase no
resultado. Devendo atender ainda aos objectivos de criar uma maior
diversidade de situações e de experiências, que possam contribuir para o seu
desenvolvimento, sua formação e evolução dentro da modalidade, promovendo
a integração social e criando oportunidades para fazerem novos amigos.
4.1.1.2. Natureza das competições
Figura 17 – Natureza das competições por escalões
Os resultados apontam que as competições de natureza informal devem
ocorrer com maior frequência nos dois primeiros escalões. No entanto, 40%
dos treinadores entendem que as crianças destes escalões devem participar
tanto em competições com menor formalidade quanto em competições de
139
natureza formal. No terceiro e quarto escalões a predominância é de
competições de natureza formal. Notamos que há por parte dos treinadores
uma preocupação na introdução de aspectos formais na competição. No
entendimento dos treinadores, a presença de aspectos formais na competição
a partir dos primeiros escalões é justificada por razões que estão relacionadas
com o entendimento necessário para o cumprimento do regulamento. Pelo
facto de se considerar importantes os aspectos pedagógicos associados ao
treino e as experiências competitivas, assim como, pela necessidade de se
compreender e saber diferenciar o funcionamento das estruturas organizativas
das diferentes competições.
“Também acho que nos cadetes tem que haver um cumprimento
das regras e uma formalização das coisas. Estamos a iniciar uma
modalidade desportiva, uma vertente competitiva e têm que
desde pequenos estar habituados às regras que estão naquela
prova.”
“Arbitrados por árbitros da federação, porque os miúdos sentem
muito quando são mal arbitrados, e são mais exigentes que os
próprios adultos, têm aquele sentimento de justiça.”
“Os aspectos formais devem estar desde o início da participação
competitiva, porque o facto destes aspectos estarem presentes
não implica que nós estejamos a atribuir maior importância à
prestação. Estamos é a atribuir à competição uma espécie de
organização para o atleta. É fundamental e deve ser um dos
principais objectivos nestas idades que, desde cedo se saiba
como é o processo com as pessoas que estão presentes, qual a
atitude que se deve ter com o árbitro, o que se deve esperar do
árbitro, como se deve encontrar a piscina e o recinto, portanto,
tudo tem a ver com logística e arbitragem e organização da
140
competição, que deve ser o retrato das competições, quando for
dos escalões mais velhos.”
“Penso que sim, até porque eles começam a ter que respeitar o
árbitro, a ter que respeitar o adversário logo desde o início. Pode
não ser para imprimir um carácter muito formal à competição mas
para eles se familiarizarem e perceberem ali uma diferença entre
o que é uma organização de brincadeira e uma organização já
mais séria, até porque eles valorizam essas coisas.”
“Acho que sim, devem ter aspectos formais, porque faz parte da
aprendizagem deles, como forma de aprendizagem não como
forma de intimidação.”
Na percepção dos treinadores, os aspectos formais mais importantes que
devem estar presentes nas competições referem-se à parte regulamentar, ao
cumprimento das regras, à presença de árbitros e à parte da organização das
competições.
“Alguns aspectos formais do jogo acho que são importantes que
sejam mantidos, as regras com que eles estão mais identificados
devem ser as mesmas, as marcações devem ser muito parecidas
com aquelas que eles estão habituados a ver, mesmo as próprias
regras.”
“Alguns formalismos devem estar presentes, não me parece
agradável para os miúdos chegarem e não terem árbitro. Pode
previamente haver no momento em que vão jogar um formalismo,
um boletim simplificado, mas tem que haver, que eles sintam que
há uma pessoa que vai arbitrar mas que já lá está e que tem apito
e que não apita com os dedos, agora um formalismo muito aquém
ao formalismo que é habitual.”
141
Constatamos no discurso dos treinadores a necessidade dos aspectos
estruturais e regulamentares serem adaptados às idades.
“Deve ter aspectos formais como as regras, a presença de juízes.
Deve haver um conjunto de aspectos que estejam relacionados
com a modalidade e também, devem estar adequados e
adaptados às idades que eles têm.”
“É uma competição formal no sentido em que há uma data
marcada, tem um ginásio montado, há adaptações estruturais e
regulamentares em que se avaliam outras coisas, diferentemente
do que se avalia nos adultos.”
Entretanto, os treinadores acham que as crianças e jovens para participarem
em competições de natureza formal deverão ter uma preparação mais
alargada, com um tempo maior de aprendizado e de participação em
competições
de
diferentes
níveis.
Essas
exigências
são
necessárias
principalmente para que essa preparação se processe de forma progressiva,
propiciando o desenvolvimento de suas capacidades psicológicas, técnicas e
tácticas, aspectos considerados importantes nas competições de níveis mais
elevados.
“Seriam introduzidas competições de natureza formal de uma
forma progressiva, para que pudessem aumentar a sua
bagagem.”
“Na competição regulamentada o atleta só pode participar na
competição se tiver no mínimo um ano de prática, mas o treinador
é que tem a obrigação de gerir esta questão.”
142
“Tem que ter uma preparação, mas as prestações técnicas,
psicológicas e tácticas têm que ser na idade certa.”
“Não é por pertencer a determinado escalão, mas sim pelo nível
que ele já atinge. Por isso poderá participar em competições mais
formais.”
No entanto, um grupo de treinadores aponta um conjunto de problemas
relacionados com a participação dos desportistas destes escalões em
competições de natureza formal. Factores ambientais e estruturais da
competição formal, como a presença do público, do policiamento, as pressões
dos pais, os apuramentos, as expectativas dos treinadores, que exercem uma
pressão muito grande sobre as crianças, ocasionam uma exigência muito
elevada ao nível emocional, afectando o seu comportamento.
“A presença do público, a presença do policiamento, têm uma
carga emocional muito elevada e por isso condicionam o
comportamento dos miúdos e eu penso que deve ser retirada
tanto quanto possível, isso para escolinhas e primeiro ano de
infantis.”
“O que vejo que tem problemas é o público, os pais, os próprios
juízes às vezes a serem mais exigentes nas notas, uma pressão
exagerada. Isso também depende sempre da forma como os
treinadores encaram a competição das crianças.”
“O ambiente numa competição em que se pede mais
rendimento cria nos miúdos um estado de espírito diferente:
mais stress, mais agonia. Não é tanto o problema de se
magoarem, de fazerem um esforço fora do normal, é mais do
ponto de vista psicológico, enfrentar uma competição com
aquele ambiente todo.”
143
As preocupações aqui levantadas também são relacionadas com a influência
do adulto nas expectativas elevadas do jogo das crianças e a pressão dos pais
para que as suas crianças participem em actividades desportivas competitivas,
podem apresentar problemas (Cratty, 1983).
Para estes treinadores as crianças e jovens deveriam nas etapas de formação
participar só de competições informais. Por motivos pedagógicos, voltados para
a formação, por factores psicológicos como a motivação, pela importância
social de estar com os amigos, pelo prazer da prática, por serem mais
atractivas e interessantes para os mais jovens as competições realizadas em
formato de festival, convívio e encontro, com oportunidade de participação de
todos. Retirando, desta forma, a pressão e o stress das preocupações com
aspectos de uma competição de natureza formal. O grupo de treinadores que
partilha desta posição é das modalidades de andebol, atletismo, judo, rugby e
voleibol.
“A competição deveria ser uma intervenção pedagógica,
principalmente porque os miúdos encaram a competição de
uma maneira diferente dos adultos, é para eles essencialmente
um convívio, um encontro com os amigos, se divertirem,
fazerem novos amigos, com objectivo de motivá-los para a
prática”
“No escalão dos mais novos um dos aspectos fundamentais é
eles começarem a ter prazer em jogar futebol. É esse o
objectivo fundamental. O tempo de jogo deles tem de ser
elevado, o jogo não deve ser formal, deve ter outras
características, deve ser dado um conjunto de oportunidades
que lhes permita terem esse prazer, esse gosto.”
144
“Aqui, o que é feito é mais para dar oportunidade de formação,
do que propriamente competição.”
“Permitir o sucesso, permitir o mesmo tempo de prática,
competições com carácter mais informal possível. O mais
importante para estes escalões é o jogo pelo jogo, gostarem de
estar ali e estarem motivados com a sua participação.”
“Não ter um stress, criar ali um ambiente de convívio,
camaradagem.”
Destacam em suas afirmações que é importante considerar alguns aspectos
quanto à organização de competições informais para estes escalões. As
estruturas e regulamentos têm que ser adaptadas às idades, o conteúdo da
competição, as actividades desenvolvidas devem ser lúdicas, diversificadas,
atendendo aos objectivos da formação multilateral e do desenvolvimento da
técnica, mas, sobretudo competições em forma de festival, com o sentido de
convívio, sem dar ênfase ao resultado.
“Poderíamos definir outro tipo de intervenção, nomeadamente
competições técnicas, em que nós poderíamos definir alguns
padrões técnicos que deveriam ser observados pelos professores
e treinadores fora da prova, no sentido de vários professores e
treinadores se avaliarem uns aos outros e partilharem com os
outros treinadores, para que isto permitisse uma evolução técnica
da aprendizagem.”
“Poderiam ser introduzidas na competição não formal outras
actividades e modalidades diferentes da competição de futebol
nas idades mais baixas, por exemplo jogos andebol.”
145
“Realização de competições diferentes em forma de festivais, o
sentido é de convívio com envolvimento sócio-afectivo”
“Competição menos formal, com juízes, bandeiras, mas os
critérios adoptados têm que ser mais flexíveis, mais adequados à
idade. As crianças podem ficar desmotivadas por serem
desclassificadas.”
Contudo, 40% dos treinadores defendem que a participação competitiva nos
escalões iniciais (primeiro e segundo) poderia ser em competições tanto de
natureza formal quanto informal, não havendo problemas para sua formação.
Isso seria com a intenção de preparar as crianças para as competições de
níveis mais elevados. Essa inclusão do formalismo na competição vai sendo
feita de forma progressiva e gradual, tanto dentro do próprio escalão, quanto
entre os escalões. Uma das razões que justificariam esta orientação seria a
variabilidade no nível de prestação desportiva no próprio escalão, assim como,
no ritmo de desenvolvimento e de aprendizado das tarefas da modalidade,
referidas pelos treinadores das modalidades de basquetebol, futebol, ginástica,
natação e ténis de mesa.
“Sempre utilizamos competições de natureza informal para
preparar as crianças e jovens para as competições de natureza
formal”
“Podem ser feitas competições menos formais para estes
escalões, podem ser realizadas 02 competições informais para
01 formal. Essa proporção depende do nível de preparação dos
ginastas, de eles estarem à vontade na competição e de terem
mais sucesso neste ou naquele exercício.”
“A competição deve ser mais lúdica e informal para os minis A e
B.
A
arbitragem
pode
ser
realizadas
por
eles,
independentemente do enquadramento competitivo. Já para os
146
outros escalões deve conter algum aspecto formal e esse grau
de formalidade aumentaria com o nível de exigência da
competição regional e depois nacional.”
“A formalidade nas competições deveria ser introduzida de uma
forma progressiva. O carácter informal deveria ser retirado
também
progressivamente.
Partindo
do
modelo
não
estandardizado para o modelo estandardizado.”
Este aspecto está em sintonia com o número e o grau de exigências das
competições oficiais, que de acordo com as recomendações na literatura
devem ir aumentando progressivamente com a idade de treino e também com
o nível de preparação (Marques, 1997b).
Quando verificamos sobre a natureza da competição que deveria ocorrer,
segundo a percepção dos treinadores, em cada nível competitivo encontramos
os seguintes resultados, apresentados na figura.
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Escola / Clube
Local / Cidade
Distrito / Região
natureza informal
Nacional
Internacional
natureza formal
Figura 18 – Carácter da competição em relação ao enquadramento geográfico
147
Nos
níveis
competitivos
mais
baixos, escola/clube e local/cidade,
a
predominância é de competições informais e de uma frequência relativa baixa
de competições com carácter formal. No quadro competitivo superior de
competições a nível de distrito/região, nacional e internacional as competições
com maior destaque são de natureza formal. Verificamos que há uma
tendência na diminuição da ocorrência de competições informais a medida que
aumenta o nível competitivo e um crescimento expressivo de competições de
carácter formal a partir das competições a nível de distrito/região.
As competições dos primeiros níveis, por serem organizadas pelos clubes ou
associação desportivas, têm uma abrangência menor e um envolvimento em
termos de custo financeiro menor para sua organização, são realizadas mais
em forma de encontro, de convívio e festival, por isso não é necessário
estarem presentes aspectos formais, como a presença de juízes da federação,
“placards”, súmulas, estruturas físicas, equipamentos e policiamento. Nas
competições de níveis mais elevados já são organizadas pelas associações e
federações a abrangência é maior, assim como, os custos de organização e
realização e pelos aspectos formais estarem presentes em maior número.
4.1.1.3. Entidade organizadora das competições
Em relação à entidade que deveria organizar as competições para os escalões
nas etapas de formação desportiva encontramos os seguintes resultados:
148
Figura 19 – Entidades que devem organizar as competições desportivas para os mais
jovens.
De acordo com a figura apresentada acima, podemos dizer que, na percepção
dos treinadores, destacam-se duas entidades que deveriam ser responsáveis
pela organização das competições para estes escalões em fase de formação,
respectivamente as associações desportivas (40%) e os clubes (33%). A
principal razão apontada para justificar a escolha destas entidades se refere à
importancia de atender os objectivos da formação, o que no entendimento dos
treinadores é da responsabilidade do clube. Outro factor está associado à
natureza que devem ter as competições para estes escalões, passando do
informal para o formal de forma progressiva, mas, destacam os treinadores
sempre diferenciando-se do modelo de competições adoptadas nos adultos
com eliminatórias e apuramentos para o campeão.
“O clube, por serem competições menos formais, encontros
convívios e festas e as associações as competições formais.”
“Porque, no clube é que se faz a formação desportiva e também
por ter capacidade de gerir estas competições.”
“Penso que a associação tem um papel importante, por estar mais
perto da realidade dos clubes.”
149
Contudo, há dois factores que dificultam a organização e realização das
competições por estas entidades. O primeiro se refere ao baixo número de
praticantes de algumas modalidades que têm determinados clubes e o outro
factor diz respeito à fraca ou nenhuma formação na área das pessoas que são
responsáveis pela organização das competições dentro das entidades,
dificultando uma compreensão maior dos objectivos da formação. A formação
pedagógica é importante para que as competições possam atender os
objectivos da formação desportiva destes jovens.
“As competições dos minis, seriam organizadas pelo clube. O que
acontece é que a maioria dos clubes não tem uma quantidade de
atletas suficientes que permita organizar estas competições, o
que seria desejável que acontecesse.”
“Acho que as associações são um grande problema, porque a
maioria das pessoas que lá estão não tem formação. Não tem
formação na área para compreender estas perspectivas, o que
dificulta muito a evolução desportiva em Portugal.”
As duas outras entidades, federações (17%) e o sistema escolar (10%), foram
pouco referidas pelos treinadores para serem responsáveis pela organização
das competições para dos mais jovens. Entendem que a federação deveria
organizar competições para os escalões com faixas etárias mais elevadas 12,
13 e 14 anos, no sentido de prepará-los para as competições com um grau de
exigência maior, como as nacionais e internacionais.
“No escalão dos iniciados é que se dá a transição para o escalão
juvenil. Portanto a federação já começa a ter um peso maior
sobre a organização das competições.”
150
“Federação nas competições nacionais, porque os infantis têm
pelo menos uma prova nacional por ano, onde se juntam todas as
equipas infantis do país.”
Grande parte dos treinadores julga que a federação não deveria organizar as
competições para estes escalões da formação, porque as crianças e jovens
não deveriam participar de competições a nível nacional e internacional.
Contudo, deveriam apoiar as outras entidades, no sentido de uniformizar os
regulamentos e também de acompanhar o trabalho que está sendo realizado.
“As federações não organizariam, em virtude das competições
serem até o nível regional. As federações tutelam as competições
de nível mais elevado.”
“As federações não, porque em Portugal têm uma preocupação
no desenvolvimento no âmbito da alta competição.”
“Penso
que
as
federações
não,
porque
organizam
as
competições a nível nacional e nestes escalões, aqui em questão,
não devem haver competições a nível nacional.”
“Deveria haver, por parte de quem está acima da associação, que
é a federação, regras muito bem definidas e bem estabelecidas,
para que estas competições em todas as associações tivessem
as mesmas características e isso não existe. Há uma disparidade
de competições que eu penso que não é benéfica para a
evolução do jogo de futebol nestes miúdos.”
A organização das competições pelo sistema escolar é defendida por uma
parcela muito pequena (10%) de treinadores, por julgarem que é a escola o
local mais apropriado e com melhor ambiente do que o sistema desportivo para
a formação pedagógica e desenvolvimento humano das crianças e jovens.
151
Entretanto, a escola tem encontrado grande dificuldade em cumprir esse papel,
principalmente por falta de integração com os clubes, as associações e com as
próprias federações.
“Em termos de logística e em termos de fomento das
competições, deveria ser o sistema educativo a promover isso,
não o sistema desportivo, até por causa da parte pedagógica que
interessa desenvolver para além do desporto que é a parte da
componente humana e na escola existem melhores condições
para fazer isso que nos clubes.”
“Nos clubes, muitas vezes, há aquele problema dos pais que
colocam pressão sobre os treinadores, os dirigentes querem
apresentar resultados a todo custo.”
“Se a escola fizesse o trabalho que lhe competiria fazer,
resolveria todos os problemas até ao escalão de infantis, até aos
14, 15 anos.”
“As
federações
e
associações
regionais
não
poderiam
desenvolver actividades para estes escalões, quando muito
promover actividades de apoio às escolas.”
4.1.2. Início da participação competitiva
4.1.2.1. Definição da idade e requisitos para participar
A figura apresenta-nos os resultados sobre à idade em que as crianças e
jovens devem começar a participar de competições dos quadros competitivos
regulares.
152
10%
20%
50%
7-8
10-12
12-13
13-14
20%
Figura 20 – Idade de início para a participação competitiva nos quadros regulares
De acordo com as percepções dos treinadores encontramos quatro grupos de
idades com uma amplitude de variação entre as faixas etárias de 7 a 14 anos
de idade.
Verificamos que o grupo de faixa etária compreendida entre 7 e 8 anos é o que
prevalece na opinião dos treinadores (50%) para o início da participação nas
actividades competitivas de forma regular. No entanto, uma percentagem de
treinadores entende que as crianças deveriam começar a sua participação
competitiva a partir dos 10 anos de idade, antes não. Aparecem as opiniões
referentes aos grupos de idades com faixas etárias compreendidas entre 10 e
12 anos e 12 e 13 anos com valores percentuais semelhantes (20%). Por fim,
com uma ocorrência menor (10%), figuram os pareceres dos treinadores que
defendem o início da participação com idades entre os 13 e 14 anos.
Porém, aspectos particulares e a especificidade das modalidades exercem
influências na definição da faixa etária para o início da participação competitiva.
153
Quadro 23 - Idade de início para a participação competitiva por modalidades
desportivas, segundo os avaliados da amostra
Idade de início da participação competitiva
Modalidades desportivas
7-8 anos
10-12 anos
12-13 anos
13-14 anos
Andebol
0
3
0
0
Atletismo
0
0
3
0
Basquetebol
3
0
0
0
Futebol
0
3
0
0
Ginástica artística
3
0
0
0
Judo
0
0
0
3
Natação
3
0
0
0
Rugby
0
0
3
0
Ténis de mesa
3
0
0
0
Voleibol
3
0
0
0
15
6
6
3
Total ( treinadores )
Constatamos, com os dados apresentados no quadro 23, que a orientação de
início da participação competitiva logo aos 7 e 8 anos de idade é defendida
pelos treinadores das modalidades de basquetebol, ginástica artística, natação,
ténis de mesa e voleibol. Nos grupos intermediários, situam-se as idades de 10
e 12 anos, compreendendo as modalidades de andebol e futebol e o grupo das
idades de 12 e 13 anos definida pelos treinadores de atletismo e do rugby.
Para os treinadores de judo o início da participação competitiva deveria
acontecer mais tarde, entre os 13 e 14 anos.
No entanto, alguns critérios são estabelecidos pelos treinadores como
absolutamente necessários para que a criança com estas idades possa
começar a participar das competições de forma regular.
1º Os mais evidenciados, relativos à importância das crianças apresentarem
um domínio mínimo da técnica, um nível coordenativo e cognitivo para
execução das tarefas da modalidade na competição, assim como, um
conhecimento das regras.
2º Tem a ver com o tempo de prática na modalidade, necessário para o seu
aprendizado técnico e desenvolvimento de suas capacidades motoras e
cognitivas.
154
“O pré-requisito principal é ter no mínimo um ou dois anos de
prática para adquirir alguns gestos, algumas técnicas, sem as não
se consegue sequer fazer os
próprios
pré-requisitos da
competição que são regulamentares. Normalmente a criança
começa aos cinco, seis anos a prática e aos sete, oito a
competir.”
“Deve haver um domínio mínimo em termos técnicos. Em termos
competitivos tem que haver uma preparação cognitiva, o miúdo
deve perceber qual é o objectivo de ir lá, de participar com os
outros.”
“Tem que ter uma graduação. Primeiro a criança pode competir a
nível de clube, depois passaria para uma fase que poderia
competir com clubes da mesma zona. Poderiam começar a
competir desde que tenham um nível técnico em que a criança ao
nadar e competir não se sinta mal. Não concordo que seja
importante definir a idade, que seja a partir dos oito anos, desde
que tenha esse pré-requisito.”
As razões referidas para justificar o início da participação competitiva mais
tarde, acima dos 12 anos, se referem às possíveis associações entre as idades
de início sugeridas e o início do período da puberdade, em que ocorrem, com
maior evidência, as transformações morfológicas e físicas dos jovens. Este
aspecto, além de favorecer o desenvolvimento do nível de prestação na
modalidade, aumentaria também o nível de segurança em suas participações
competitivas.
“Essa
questão
da
idade
também
tem
a
ver
com
o
desenvolvimento de cada um, o tempo de formação desportiva
também conta, até mesmo na maturação muscular temos que ter
uma atenção sobre isso.”
155
“Temos que ter a garantia que o miúdo está preparado e sabe
executar a técnica. Em primeiro lugar vem a segurança deles, o
domínio da habilidade específica, saber fazer o movimento, ter
possibilidade de sucesso naquilo que faz. Em seguida, é o nível
de desenvolvimento e a maturação do miúdo, porque em algumas
disciplinas no atletismo, como o triplo salto, se o miúdo em termos
musculares não está muito preparado temos que ter cuidado em
colocarmos a fazer essa prova.”
“Um aspecto
necessário
para
iniciar
a
sua
participação
competitiva no judo é o tempo de prática. Quem não tem um
tempo de prática não pode entrar em competição. Penso que a
informação da maturação biológica seria importante, o início da
puberdade
ocasiona
muitas
diferenças
entre
eles,
mas
actualmente utilizamos a idade e o tempo de prática.”
Entretanto, alguns treinadores, principalmente das modalidades colectivas,
identificam problemas na participação competitiva com idades baixas, como as
dificuldades em perceberem o jogo de uma forma colectiva, a diversidade no
nível de prestação desportiva das crianças em seu próprio escalão, por
limitações motoras e pela falta de tempo de prática.
“As crianças com estas idades já começam a estar disponíveis
para perceber o que é um grupo e perceberem o que é que são
eles no seio desse mesmo grupo. Para verem a importância da
colaboração entre eles para atingirem um fim. Eles, por aquilo
que me dá ideia, em idades mais baixas ainda não têm essa
noção dessa integração para atingir determinados objectivos, e,
por isso, têm uma certa dificuldade em competir de uma forma
organizada, federada, para atingirem esses objectivos antes
dessas idades.”
156
“Muitas vezes notamos crianças que ficam paradas no campo e
que não percebem nada do jogo. Estão presentes nas
competições mas não participam do jogo e das jogadas, ou
porque, são mais novas ou porque estão menos desenvolvidas
em diversos factores. Talvez não fosse a altura de colocá-las no
jogo.”
Um ponto discordante entre os treinadores refere-se ao estabelecimento de
critérios para definir que crianças e jovens participariam de competições de
forma regular. Justificam, aqueles que são contra a adopção de critérios, não
encontrarem uma relação entre a prestação desportiva e a idade cronológica,
por entenderem limitar a oportunidade de participação e pela razão de que a
participação em competições nestes escalões deve atender aos objectivos da
formação e não aos do rendimento.
“Não adoptar critérios para definir quem deveria competir. Eu
penso que a idade cronológica não é um bom critério. Por que
não está directamente relacionada com o desenvolvimento dos
aspectos coordenativos, maturacionais e cognitivos. Apresentamse de forma distinta entre as idades.”
“Não adoptaria nenhum requisito para determinar que poderia ou
não entrar em competição. Acho que todos devem participar da
competição. Miúdos magrinhos, gordinhos, sem coordenação,
todos têm que experimentar a competição.”
“No caso do rugby quando se fala em banjamins, babis e infantis
não damos valor à componente competitiva propriamente dita,
procuramos é uma formação da criança no seu todo. Por isso não
adoptamos critérios ou pré requisitos para participação em
157
competições, porque o objectivo é participar, não se valoriza a
prestação.”
4.1.3. Directivas e Orientações Pedagógicas
4.1.3.1. Acesso à competição
Em relação ao acesso à competição, verificámos na percepção dos
treinadores, quais os critérios que deveriam ser utilizados para definir a
convocação e a participação na competição das crianças e jovens.
Quadro 24 – Acesso à competição por modalidades desportivas
Quem é convocado
Modalidades
Todos
Diferenciado
Quem participa na competição
Todos
por escalões
Diferenciado
por escalões
Andebol
1
2
1
2
Atletismo
3
0
3
0
Basquetebol
3
0
3
0
Futebol
2
1
1
2
Ginástica
3
0
3
0
Judo
3
0
3
0
Natação
3
0
3
0
Rugby
3
0
3
0
Ténis de mesa
3
0
3
0
Voleibol
3
0
2
1
Total
27
3
25
5
90%
10%
83%
17%
%
Através dos resultados apresentados no quadro, verificamos que a maioria dos
treinadores (90%), sugerem que todos devem ser convocados nestas idades
para a competição. Quanto a participarem na competição, 83% dos treinadores
concordam que todos os jovens atletas que foram convocados devem participar
dela.
158
Em seu entendimento acham que tanto a organização da competição como os
próprios treinadores devem garantir os princípios fundamentais de todos terem
as mesmas oportunidades de participação, de os objectivos da competição
deverem estar subordinados aos objectivos do treino e que todos devem ter,
de forma regular, experiências competitivas nestes escalões, garantido também
o prazer e a alegria em sua participação.
“Eu diria que estes objectivos de competição devem subordinarse aos objectivos do treino nestas idades. Quer dizer que nunca
pode acontecer de haver uma competição que perturbe aquilo
que eu defini para o trabalho com os meus miúdos nestes
escalões etários. Se eu valorizo imenso no treino destes miúdos a
alegria e a participação equilibrada e imparcial de todos, um
relacionamento, meu com eles, é baseado em que todos tenham
que participar e todos tenham de ter as mesmas oportunidades.
Todos têm possibilidades de expressar e de viver aqueles
momentos, não pode haver uma competição que me perturbe
essa posição.”
“O que devemos é saber que no escalão de iniciados é impossível
nós tirarmos conclusões acertadas sobre aquilo que aquele miúdo
vai apresentar daqui a dez anos. Como isso não é possível, nós
devemos criar nos escalões mais baixos a possibilidade de todos
competirem tanto quanto possível. Quanto mais competirem
melhor.”
“Quando o treinador não põe o resultado à frente tem várias
alternativas para fazer esses arranjos, sobretudo ligados a estes
escalões, ligados ao princípio da ideia chave, que é, a todos deve
ser dada a oportunidade.”
159
“Como nos clubes as escolinhas têm grande número de
praticantes, ao formar uma equipa apenas com os melhores para
ir às competições, aqueles que não foram seleccionados não vão
ter a mesma oportunidade de desenvolver um dos aspectos
fundamentais nestas idades, que é o prazer de jogar e
experimentarem determinadas situações muito importantes, que é
o jogo.”
Porém, constatamos uma posição contrária, embora de forma reduzida,
existente na percepção dos treinadores. Tanto a convocação das crianças e
jovens
(10%),
quanto
a
participação
competitiva
(17%),
devem
ser
diferenciadas por escalões. Referida, nomeadamente, por treinadores das
modalidades de andebol e futebol, principalmente nos escalões de maior idade,
13 e 14 anos, em que, adoptam como critério de selecção a prestação
desportiva dos jovens atletas.
No entanto, quando há limitações para o acesso à competição, impostas pela
organização da competição, estabelecendo o número de atletas, de equipas ou
de substituições, assim como, as limitações devidas à logística de transporte
ou quando os treinadores estabelecem objectivos competitivos diferenciados
entre os escalões, os treinadores adoptam os seguintes critérios para
seleccionar as crianças e jovens, descritos na figura abaixo.
Figura 21 – Critérios de escolha para a participação na competição
160
De acordo com os aspectos apresentados pelos treinadores, configuramos
quatro grupos de critérios para escolha dos jovens: os aspectos da aptidão, os
aspectos referentes aos valores, o tempo de prática e a organização da
competição. Destes, os que se destacam com uma frequência maior são os
aspectos relacionados com a aptidão e prestação desportiva, (50%),
evidenciando que os treinadores, em condições impostas pela organização da
competição ou de seus objectivos na competição, seleccionam as crianças e os
jovens a partir do seu desempenho, das suas capacidades, do domínio técnico,
do seu potencial e da sua aptidão para participar da competição.
“Todos
os
miúdos
podem
participar.
Se
tivesse
que
eventualmente seleccionar alguns miúdos, eu iria seleccionar
aqueles que melhor dominam a técnica neste período. A
competição auxiliaria na melhoria das capacidades técnicas
deles. Os outros, não seleccionados, através do trabalho de
treino, desenvolveram essas capacidades técnicas.”
“A minha ideia é que nas competições até aos 12 anos devo levar
todos e todos devem jogar. Isso deveria ser até ao escalão de
infantis. No escalão de iniciados julgo que já começa a ver uma
selecção.”
“A partir dos infantis já fazemos uma selecção, adoptamos algum
critério de trabalho, a forma de ele estar no treino ou no jogo,
mas, acima de tudo, já começa haver uma selecção natural,
miúdos com mais potencial.”
O segundo critério de selecção mais evidenciado refere-se aos aspectos
ligados aos valores (40%), como a frequência e assiduidade nos treinos, o
empenho no treino, o comportamento e o espírito de equipa.
161
“Todos devem ser convocados, mas se não puder levar todos, o
critério de escolha é a frequência nos treinos, independentemente
de serem os melhores jogadores. Eles têm que habituar-se a ter
valores. Primeiro o homem depois o atleta. Todos os que foram à
competição vão participar dos jogos. Não há diferenças entre os
escalões.”
“Havendo uma selecção, a competição deverá ser para aqueles
que são mais aptos, aqueles que trabalham mais, aqueles que
têm assiduidade aos treinos, aqueles que cumprem as regras
importantes de equipa, que são o empenho máximo no treinos,
participar activamente nos treinos, ser companheiro e colaborante
e ter espírito de equipa.”
“Todos que treinam regularmente devem ir e participar das
competições. No atletismo temos essa possibilidade, mas em
uma competição por equipa, que tem um número limitado, devem
ser adoptados dois factores: a capacidade do miúdo e se vem
regularmente aos treinos.”
“Se puderem ir todos vão todos. Se não puderem, vão aqueles
mais assíduos no treino. Todos os que forem convocados devem
entrar na competição, nestes escalões. O atleta que é forte tem
que ir ao treino para ajudar os outros. A questão da assiduidade,
do empenho nos treinos e da pontualidade deve prevalecer, até
porque são coisas simples que têm que durar para a vida toda.”
Por último aparecem, com frequências inferiores, respectivamente (7%) e (3%)
os critérios de selecção referentes ao tempo de prática e à organização da
competição, ao carácter formal e informal, à regulamentação do número de
inscritos e de substituições e ao enquadramento geográfico da competição.
162
“Há uma diferenciação entre os escalões. Esse tipo de
competições é exclusivamente para iniciados. Mas também os
iniciados têm essa competição formal e vão participar delas
aqueles que têm mais tempo de prática de ténis de mesa e que
apresentarem um desenvolvimento no seu jogo.”
“Dependeria do limite imposto pela organização da competição.
Na minha opinião, quem organiza as competições deve criar
condições para que todos possam ir e participar delas. Deve ser
aberta a todas equipas e atletas. Só a partir dos iniciados é que a
competição pode ter um formato diferenciado, direccionado para
participação dos mais aptos ou melhores, porque já estão
preparados para isso.”
4.1.3.2. Estabelecimento do quadro competitivo
No que se refere ao estabelecimento do quadro competitivo, verificamos no
entendimento dos treinadores quais deveriam ser os critérios para escolher as
equipas ou atletas que participariam no quadro competitivo em uma época
desportiva.
163
Figura 22 – Critérios para definir a participação de uma equipa ou atleta no quadro
competitivo
Os resultados apontam que os treinadores, em suas percepções, definem três
critérios para a escolha das equipas e atletas que configurariam o quadro
competitivo: o nível de prestação desportiva, o tempo de prática e o grau de
abertura das competições. Constatamos que o critério predominante, para o
acesso à competição nos escalões iniciais, deveria ser o grau de abertura
(73%), para que todos os clubes pudessem inscrever suas equipas e atletas,
independentemente do nível de prestação ou tempo de prática. Nos dois
últimos escalões, terceiro (67%) e quarto (58%), destaca-se o critério nível de
prestação, da equipa e atletas.
“Nestes escalões não podemos negar a entrada na competição a
ninguém, porque não sabemos o que essa criança vai ser amanhã.
Agora compete ao treinador gerir a qualidade de inscrição de seus
nadadores.”
164
“Nestas idades acho que não é necessária qualquer qualificação para
participar das competições, qualquer atleta pode participar, são provas
abertas. O nível do atleta fica a critério do treinador. A competição é
aberta aos iniciados, infantis e cadetes, depois temos uma prova
absoluta em que podem participar, todos os escalões. Os atletas
iniciados podem participar no escalão de infantis, os infantis podem
participar no seu escalão e no escalão de cadetes.”
“O critério para definir as equipas que participariam da competição, no
nível de rugby nacional, seria sempre aberto. Nestes escalões não se
consegue quantificar ainda. Para mim não seria uma prioridade.”
Os treinadores argumentam que, para os escalões iniciais, crianças com
idades entre os 6 e os 11 anos, deve estar presente a condição de todos terem
acesso à competição, não só os de nível de prestação mais elevado, ou com
maior tempo de experiência. Principalmente, porque nestas idades não
conseguem quantificar ainda a performance deles. Entendem que a
participação competitiva deve ser uma parte integrante da formação desportiva
dos mais jovens.
“Nestas etapas iniciais eu penso que não é correcto pensarmos que só
participam os melhores. Isso vai contra os princípios que nós temos de
todos
participarem,
todos
entusiasmados,
todos
alegres,
todos
contentes.”
“As competições devem ser abertas a todos na medida em que todos
devem ter nestas idades a oportunidade de competir. Vamos guiar a
competição como um momento de observação do treinador para ver
como é que o miúdo se comporta, como é que nós podemos ir alterando
algumas situações, nomeadamente em termos técnicos, como formação
pessoal para ver como ele cresce enquanto atleta.”
165
“Porque tem a ver com aquele princípio de que a prestação não deve ser
o principal objectivo e para nós fazermos competições a nível nacional
teríamos que definir mínimos e se estivermos a definir mínimos
estaremos a definir que a prestação é o principal objectivo. É impossível
abrir uma competição nacional para participação de todos os cadetes. É
incomportável.”
Porém, para além da condição de todos poderem ter acesso à competição, era
importante também que durante a competição houvesse uma busca pelo
princípio do equilíbrio competitivo através do ajustamento das equipas pelo seu
nível de prestação.
“Pode haver aí uma competição aberta. Tendo oportunidade de
compor o grupo que compete entre si, tentando alguma
homogeneidade. Relativamente ao formato da competição deveria
haver critérios que permitisse agrupá-los por níveis. O princípio do
equilíbrio
competitivo
é
essencial
para
a
formação
dos
praticantes.”
“À medida que vão perdendo ou ganhando vão encaixando em
seu patamar, tendo uma segunda fase no torneio para que
possamos ajustar as crianças em seus níveis, isso feito por
apuramento de vencedores e apuramento de perdedores.”
Constatamos,
também,
que
há
dois
grupos
de
treinadores
com
posicionamentos diferenciados, em relação à definição de critérios para o
estabelecimento do quadro competitivo. O primeiro grupo de treinadores,
nomeadamente das modalidades de ginástica, natação e ténis de mesa,
defende como critério de selecção mais ajustado para estes escalões, o grau
de abertura das competições, pelo motivo de garantir o princípio da igualdade
de oportunidades. O segundo grupo, de treinadores das modalidades de
futebol e rugby, acordam que o critério mais justo, para estabelecer o quadro
166
competitivo para as crianças e jovens nos escalões de formação seria o nível
de prestação, da equipa e atletas. A adopção deste critério é justificada pela
importância de defender o equilíbrio competitivo a priori, evitando com isso
grandes discrepâncias entre as equipas durante o processo competitivo e por
defenderem a ideia de que os atletas e as equipas só conseguem evoluir se
tiverem níveis de capacidades aproximados.
“Sobre a forma de organização das competições, deve haver um
equilíbrio
competitivo,
deve
ser
organizada
levando
em
consideração o nível que as equipas apresentam. Porque os
atletas e as equipas só evoluem quando tiverem níveis de
capacidades aproximados. Quando existir uma diferenciação
muito grande o que acontece é uma desmotivação, que não
interessa a nenhuma das equipas.”
“O critério é o nível de execução técnica. Nos escalões infantis,
acho que é importante ter momentos de competições, mas temos
que ter cuidado de identificar o tipo de disciplina que vai fazer,
que lhe é apresentada. O miúdo deve apresentar capacidades
técnicas para o fazer. Sua participação na disciplina parte do
pressuposto que a formação técnica dele está minimamente
organizada. Deve apresentar o nível mínimo de execução técnica.
Deve apresentar os requisitos mínimos para participar, para não
se magoar e gostar do que está a fazer, sentir-se à vontade.”
“Acho que principalmente nestes escalões mais baixos a idade
biológica não corresponde à idade cronológica e realizar um
enquadramento competitivo pela idade biológica é difícil. Não
sendo possível isso, acho que dentro da idade cronológica
englobá-los por nível de capacidade ou seja, o nível de
capacidade das equipas é que deve estar na origem do
funcionamento das equipas. Mesmo em termos de processo de
167
treino, o nível de capacidade do aluno deve ser aquilo que deve
dirigir o enquadramento dos alunos. Mesmo dentro de um mesmo
escalão, de dois anos, há níveis diferenciados e, de facto, há de
que estimulá-los e a estimulação em níveis de capacidades
diferentes.”
Cabe aqui destacar também que a presença do tempo de prática como critério
para participar da competição nos escalões de formação é justificada apenas
pelas opiniões dos treinadores da modalidade de judo.
“Acho que não deve haver ranking. Nestes escalões, em
concreto, não há obrigatoriedade do tempo de luta. O treinador é
que sabe se ele está pronto, isso depende do seu tempo de
prática.”
4.1.3.3. Participação Mista
Em relação à participação mista nas competições, verificámos se os
treinadores concordavam com a participação de rapazes e raparigas em
conjunto na competição e até que escalão poderia ser desta forma.
168
Quadro 25 – Participação mista nas competições durante as etapas de formação
desportiva. Resposta dos treinadores
Concordância com a participação mista em cada escalão
Modalidades
1º
2º
3º
4º
Sim
Não
Sim
Não
Sim
Não
Sim
Não
Andebol
3
0
3
0
2
1
0
3
Atletismo
3
0
3
0
3
0
-
-
Basquetebol
3
0
2
1
1
2
-
-
Futebol
3
0
2
1
0
3
-
-
Ginástica
1
2
1
2
-
-
-
-
Judo
3
0
2
1
2
1
0
3
Natação
3
0
3
0
-
-
-
-
Rugby
3
0
3
0
3
0
1
2
Ténis de mesa
3
0
3
0
-
-
-
-
Voleibol
3
0
2
1
0
3
0
3
Total
28
2
24
6
11
10
1
11
93%
7%
80%
20%
52%
48%
8%
92%
% Relativo
Os resultados revelaram que, nos dois primeiros escalões, há uma
concordância por parte dos treinadores com a participação de rapazes e
raparigas em conjunto na competição, com excepção dos treinadores da
modalidade
de
ginástica.
Porém,
no
terceiro
escalão,
encontramos
posicionamentos diferenciados entre os treinadores. Nas modalidades de
andebol, atletismo, judo e rugby, os treinadores consideram que neste escalão
ainda podem participar juntos. Mas, a partir do quarto escalão entendem que
devem ser separados. Todavia, os treinadores das modalidades de
basquetebol, futebol e voleibol, afirmam que a participação mista nas
competições deve ser até ao segundo escalão. A partir dos 12, 13 anos de
idade, ou seja, a partir do terceiro escalão, devem competir separados.
“Nos minis e bambis sim, podem participar juntos a partir do
minis. À medida que vamos subindo na idade a diferença física é
cada vez maior e portanto não faz muito sentido.”
169
“Devem participar em conjunto até ao escalão de infantis. A partir
dos iniciados já deveria haver uma separação, porque há muitas
diferenças entre rapazes e raparigas principalmente em termos de
maturação.”
“Podem participar até ao escalão de infantis. Depois as
capacidades começam a ser diferentes. Não faz sentido estar a
limitar e deixar que alguns progridam e outros não.”
Na opinião dos treinadores as principais finalidades da participação de rapazes
e raparigas em conjunto na competição seriam de propiciar um convívio social,
desenvolver valores e aumentar o número de oportunidades de participação
em competições, de forma a complementar sua formação.
“Sou a favor, é de todo conveniente. Em relação aos escalões de
iniciados penso que poderia haver competições mistas. Minis A e
B têm competições mistas. Principalmente pelo número reduzido
de raparigas que tem em muitos clubes dificultando a formação
de equipas.”
“Os minis A e B devem competir em conjunto, porque socialmente
ainda há um grande afastamento de rapazes e raparigas.”
“Deveria haver competições mistas, estafetas em conjunto, provas
de velocidade, provas de saltos, em que a brincadeira, provocada
pela diferenças dos sexos, pudesse conter aspectos formativos.
Estimulando uma diversidade capaz de desenvolver o espírito de
amizade e o relacionamento entre as crianças.”
As razões apresentadas pelos treinadores de ginástica para não concordarem
com a participação mista nas competições decorrem principalmente, dos
170
objectivos específicos para estes escalões e da estrutura e regulamentos da
competição.
“Não, em função da multilateralidade, talvez nas competições
internas, nas menos formais, mas com algumas restrições.”
“Na competição não, porque é diferente a competição para os
dois sexos. São diferenciadas no número de aparelhos e não têm
as mesmas regras.”
4.1.3.4. Importância atribuída aos resultados
Figura 23 – Importância dos resultados na competição por escalões
Quanto à atribuição de importância aos resultados nas competições em cada
etapa da formação desportiva, constatamos, que no primeiro escalão não deve
ser atribuída grande importância aos resultados. Os aspectos da formação são
mais importantes nesta etapa de preparação preliminar. Nota-se, que a
importância creditada aos resultados competitivos é crescente, conforme o
171
aumento do escalão. Passando de pouco importante, no segundo e terceiro
escalão, para muito importante no quarto escalão. Com o crescimento do nível
de preparação e o aumento da prestação desportiva, os resultados na
competição começam a ter uma importância acrescida, servindo de parâmetro
para avaliação do processo de treino. Entretanto, os treinadores afirmam que a
valorização dos resultados competitivos deve acontecer de forma progressiva,
conforme o crescimento e a evolução das crianças e jovens dentro da
modalidade desportiva. Cabe aqui destacar que para alguns treinadores, das
modalidades de futebol, basquetebol e ténis de mesa, desde muito cedo, nos
dois primeiros escalões, os resultados na competição são considerados muito
importantes. Enquanto que a atribuição de pouca importância aos resultados é
uma opinião predominante no primeiro escalão dos treinadores da modalidade
de ginástica e no segundo escalão, dos treinadores das modalidades de
ginástica, natação e rugby.
4.1.3.5. Valores do desporto e da competição
Importância atribuída aos valores e atitudes que podem ser desenvolvidas nas
crianças e jovens com a prática desportiva competitiva nestas etapas de
formação.
172
Quadro 26 – Importância atribuída aos valores do desporto e da competição para a
formação desportiva
desvio
menor
maior
média
padrão
valor
valor
1Ser justo, honesto não enganar
4,9
,35
4
5
2 Ser companheiro, estar com os amigos
4,6
,50
4
5
3 Ter compaixão, preocupar-se com as pessoas ao meu redor
4,2
,79
2
5
4 Integrar-se no grupo, demonstrar conformidade
4,6
,50
4
5
5 Ser consciencioso, dar o máximo, fazer o melhor
4,8
,41
4
5
6 Empenhar-se, ser persistente, perseverante
4,8
,48
3
5
7 Ter prazer, divertir-se
4,8
,43
4
5
8 Jogar bem
4,0
,87
1
5
9 Tornar-se mais apto e mais saudável pelo desporto
4,5
,51
4
5
10 Ser obediente, fazer o que lhe pedem
4,2
,61
3
5
11 Ter realização pessoal, faz o melhor que pode
4,5
,63
3
5
12 Ter boa imagem pública, parecer bem, as pessoas gostam de mim
3,3
,83
1
4
13 Ter auto realização, sentir-se bem quando joga
4,6
,56
3
5
14 Exibir competências e habilidades, realizar bem as habilidades técnicas
4,1
,55
3
5
15 Mostrar desportivismo, ser educado, não ser um mau perdedor
4,8
,41
4
5
16 Ser coeso, incentivador e encorajar a equipa quando as coisas são difíceis
4,6
,50
4
5
17 Ser tolerante, envolver-se com os outros mesmo não gostando deles
4,2
,59
3
5
18 Superar e ganhar aos outros
3,3
1,06
1
5
Valores e atitudes na participação desportiva
De acordo com os resultados do quadro, verificámos que os treinadores
consideraram os valores e atitudes, apresentados no questionário, como
importantes e muito importantes para serem desenvolvidos nestes escalões,
com excepção de dos itens, imagem pública (12) e ganhar (18), que foram
considerados pouco importantes.
Para melhor analisarmos os resultados elaborámos uma estrutura de valores,
através da ordenação dos valores, avaliados quanto ao grau de importância, de
maior a menor importância segundo a pontuação obtida no questionário.
173
Quadro 27- Estrutura de valores e atitudes no desporto e na competição
Ranking
Valor
Média
Classificação
1
Ser justo, honesto
4,9
Muito importante
2
Ser consciencioso
4,8
Muito importante
2
Empenhar-se
4,8
Muito importante
2
Divertir-se
4,8
Muito importante
2
Mostrar desportivismo
4,8
Muito importante
6
Ser companheiro
4,6
Muito importante
6
Conformidade
4,6
Muito importante
6
Auto realização
4,6
Muito importante
6
Ser coeso com a equipa
4,6
Muito importante
10
Saúde e forma física
4,5
Muito importante
10
Faz o melhor que pode
4,5
Muito importante
12
Ter compaixão
4,2
Importante
12
Ser obediente
4,2
Importante
12
Ser tolerante
4,2
Importante
15
Exibir habilidades
4,1
Importante
16
Jogar bem
4,0
Importante
17
Ter boa imagem pública
3,3
Pouco importante
17
Ganhar
3,3
Pouco importante
Dentre os valores avaliados, quanto 27 à sua importância para serem
desenvolvidos nas crianças e jovens com a prática desportiva competitiva, o
item que se destaca com maior pontuação, é o de ser justo, honesto e não
enganar. Ainda dentro deste mesmo nível de classificação, muito importante,
são referidos dez itens. Seguindo a ordenação, aparecem cinco valores que
são considerados importantes neste processo de formação desportiva. Por fim,
são evidenciados dois itens, o de ter boa imagem pública e o item ganhar,
considerados pouco importantes para serem desenvolvidos nas crianças e
jovens destas etapas da formação.
174
4.1.3.6. Funções das competições
Figura 24 – Funções das competições
Constatamos que, na importância atribuída as funções das competições
durante o processo de formação desportiva, os treinadores conferiram uma
importância maior aos aspectos psicológicos e sociais, como: propiciar a
obtenção de sucesso e a superação, permitindo com isso às crianças e jovens
a construção da auto-imagem e auto-estima, adquirir e desenvolver valores
para sua futura vida em sociedade, estar com seus amigos e fazer novos
amigos, assim como, criar condições para que os mais jovens alcancem seus
objectivos. No entanto, a função de criar junto dos amigos, dos pares e de
terceiros uma boa imagem social é considerada pelos treinadores como
aspecto de menor importância. Cabe aqui destacar a diversidade que
encontramos na atribuição de importância à função da competição em propiciar
para às crianças e jovens a comparação das suas capacidades com as suas e
com as dos outros. Um percentual de treinadores (56,7%), entende que é
importante a competição desempenhar essa função. No entanto, aparecem
treinadores que discordam desta concepção, principalmente pela razão de que
nestas etapas da formação é muito cedo para que as crianças e jovens
175
comecem a comparar as suas capacidades com as dos outros. A competição,
nessa fase, não teria esta função.
4.1.4. Objectivos da competição
Verificamos, no entendimento dos treinadores, o que deveria distinguir, em
termos de objectivos, a competição das crianças antes dos 13-14 anos das
competições dos escalões mais velhos.
Quais seriam as prioridades na orientação, em termos de preparação e
participação competitiva dos mais jovens nos diferentes escalões, assim como,
a evolução dos objectivos ao longo dos escalões.
A associação das informações, referentes dos intervalos de idade de
permanência em cada escalão e à percepção do treinador acerca dos
respectivos objectivos do treino e da competição, nos permitiu verificar a média
dos anos da formação dedicados à participação no treino e nas competições
com orientações diferenciadas.
4.1.4.1. Distinção nos objectivos das competições
Ao analisarmos os depoimentos dos treinadores verificamos que as diferenças
mais evidenciadas entre os objectivos da competição para as crianças e jovens
até 14 anos e para os escalões mais velhos correspondiam à lógica do
processo de treino. Nos mais novos este deveria ser centrado na formação,
enquanto que nos mais velhos o treino deveria ser organizado em função dos
resultados na competição. Outro aspecto de distinção refere-se à importância
atribuída aos resultados. Nos escalões mais velhos o resultado na competição
é preponderante, enquanto que nos escalões mais baixos o resultado da
competição nunca deveria estar à frente da sua formação. Os treinadores
defendem que, nestes escalões, motivá-los para a prática e dar oportunidades
iguais de participação e de experiências competitivas é o mais importante. A
competição, neste caso, não se constitui como objectivo em si mesma. É
entendida como um instrumento de avaliação do treino, um complemento da
176
formação e da preparação a longo prazo. Encontramos também um consenso
entre os treinadores de que a competição deveria ser uma intervenção
pedagógica, principalmente porque os miúdos encaram a competição de uma
maneira diferente dos adultos: é para eles essencialmente um convívio, um
encontro com os amigos, uma oportunidade de se divertirem e fazerem novos
amigos.
“A competição para estes escalões não é importante, ao contrário
do que representa para os outros escalões acima. Para mim o
que é mais importante para estes escalões será eles tomarem o
gosto pela prática e quererem mais, ou seja, voltarem ao próximo
treino mais motivados.”
“Nestes escalões, o objectivo da competição deve ser a formação
das crianças e dos jovens, devendo ser desenvolvido de forma
gradual e progressiva, de acordo com o desenvolvimento e
capacidade deles. Nos juvenis, juniores e seniores o objectivo é o
resultado na alta competição.”
“O treino não é propriamente a preparação para nenhuma
competição
em
particular.
Acho
que
é
uma
diferença
fundamental”
4.1.4.2. Prioridades na orientação da participação competitiva dos mais
jovens
Em relação às prioridades que devem orientar a participação competitiva das
crianças e jovens, entende a maioria dos treinadores que, para o primeiro
escalão, as competições devem atender só aos objectivos da formação. Essa
orientação apresenta um decréscimo de sua importância à medida que
aumenta o escalão. A partir do segundo escalão começam a estar presentes os
resultados competitivos, mas, afirmam os treinadores, a ênfase maior deve ser
177
na formação mais que nos resultados da competição. Nota-se um crescimento
progressivo dessa orientação para a participação competitiva dos mais jovens,
associado à troca de escalão.
100%
19
80%
60%
46,7
75
80
71,4
40%
53,3
20%
20
9,5
0%
1º escalão
2º escalão
3º escalão
25
4ºescalão
só formação
mais enfase na formação que nos resultados nas competições
mais enfase nos resultados nas competições que na formação
Figura 25 – Prioridades que devem orientar a participação competitiva por escalões das
modalidades em geral
A participação competitiva com objectivos centrados mais na obtenção de
resultados na competição, do que na formação, aparece com percentuais
baixos no terceiro e quarto escalão. Evidenciando a pouca importância
atribuída aos resultados competitivos nestas etapas de formação. Entende a
maioria dos treinadores que para estes escalões da formação, a participação
competitiva deve ser orientada pelo objectivo da formação do jovem atleta. O
objectivo com ênfase nos resultados não deve ser prioritário.
178
4.1.4.3. Prioridades na orientação da preparação dos mais jovens para a
competição
Na figura são apresentados os valores percentuais relativos à percepção dos
treinadores acerca dos objectivos formativos que deveriam orientar a
preparação para a competição, referenciadas a cada escalão etário das
modalidades.
100%
16,7
23,8
80%
46,7
60
60%
50
57,1
40%
20%
0%
40
33,3
6,7
13,3
19
1º escalão
2º escalão
3º escalão
33,3
4ºescalão
só preparação multilateral
mais preparação multilateral do que especializada
mais especializada do que multilateral
Figura 26 – Objectivos que devem orientar a preparação para a competição por
escalões, nas modalidades em geral
Os resultados revelam que a preparação para as competições nos dois
primeiros escalões é predominantemente pautada por uma preparação
exclusivamente multilateral. Nos escalões seguintes a preparação só
multilateral vai diminuindo a sua frequência e começa a destacar-se a
preparação mais multilateral que especializada. Também, de forma progressiva
mas com valores percentuais inferiores, nota-se um crescimento da preparação
mais especializada do que multilateral. A preponderância da preparação
multilateral como objectivo orientador para participar da competição nestes
escalões é justificada pelos treinadores principalmente pela importância que
deve ter uma formação ampla, diversificada e a longo prazo, onde o processo
179
de treino e a intervenção do treinador não sejam condicionadas pelos
resultados na competição. Nestes escalões a competição deve auxiliar o treino
e o resultado na competição aparece devido a uma progressão individual do
atleta e do colectivo relacionada com o nível de desempenho do atleta e o seu
tempo de prática.
“A prioridade da competição deve sempre contribuir para que se
possam concretizar os distintos objectivos da formação e
preparação a longo prazo. Deve atender ao princípio da
preparação a longo prazo. Quando se diz só formação estou
sempre a ver também o momento de competição, e com a devida
importância.”
“Eu tenho uma visão própria a cerca das questões da competição.
Eu não acho que os objectivos da competição devam ser
diferentes para o escalão dos iniciados e para o escalão de
seniores, neste sentido o objectivo da competição é vencer. O
caminho para lá chegar vai depender daquilo que são os
objectivos de formação.”
“Os objectivos que defini como importantes no treino, devem ser
aplicados com eficácia na competição. Observando também, o
cumprimento dos objectivos a médio e a longo prazo.”
4.1.4. 4. A evolução dos objectivos ao longo dos escalões
Tanto os objectivos da competição, quanto as orientações da preparação para
a participação competitiva apresentam uma evolução progressiva de acordo
com a mudança de escalão. Argumentam os treinadores que, com o
crescimento e a evolução dentro da modalidade, influenciados principalmente
pelas aprendizagens e experiências vividas, com a participação em diferentes
180
níveis competitivos e com as mudanças no processo de treino, devem os
objectivos competitivos e de preparação acompanhar estas mudanças.
“Basicamente poderá haver uma progressão de um ano para
outro em termos de distância e exigência das provas que irão
nadar, em termos de objectivos. Devem evoluir para um grau de
exigência perante um ou outro factor, mas penso que o resultado
ainda não deverá ser o objectivo principal.”
“Nestes escalões o objectivo competitivo da vitória não se coloca.
Mas, de facto, deve começar, progressivamente, a ver uma maior
consistência na aprendizagem de aspectos técnicos tácticos
relacionados com cada uma das provas.”
“Nos escalões que aqui estão considerados, entendo que deve
haver uma diferenciação nos conteúdos do treino e da
competição. Principalmente na sequência, na sua distribuição,
quer em quantidade, quer
complexidade.”
181
em natureza e também em
4.1.4.5. Anos da formação dedicados à participação no treino e nas
competições com orientações diferenciadas
Figura 27 – Média dos percentuais dos anos da formação dedicados à participação
competitiva nas orientações diferenciadas
Os resultados evidenciam que os treinadores dedicam um tempo médio maior,
da formação do seus praticantes, para às participações competitivas cujo
objectivo é voltado só para a formação (54%) e às competições em que as
orientações têm mais ênfase na formação que nos resultados (42%). Quanto
às competições com mais ênfase nos resultados que na formação, é dedicado
muito pouco tempo dos anos da formação (4%).
Em relação à preparação para a competição, observamos que tanto a
preparação só multilateral (43%), quanto o treino mais multilateral que
especializado (44%), têm um tempo médio maior de dedicação nestes escalões
de formação. Diferenciando-se do tempo dedicado à preparação mais
especializada (13%).
182
Figura 28 – Média dos percentuais dos anos da formação dedicados à preparação para a
competição nas orientações diferenciadas
Dentre as diferentes modalidades analisadas encontramos um grupo formado
pelo atletismo, judo, basquetebol, natação e rugby, que dedica maior tempo
dos anos da formação só à preparação multilateral. Diferentemente, a
modalidade de futebol foi a única a apresentar um tempo médio maior nos anos
de formação dedicados à preparação mais especializada que multilateral.
4.1.5. Sistema de pontuação e classificação
Verificamos neste tópico: 1º A concordância dos treinadores com a participação
de crianças e jovens, dos escalões de formação, em competições voltadas ao
apuramento do campeão nacional. 2º O entendimento dos treinadores relativo
à atribuição de prémios. 3º Que critérios deveriam ser adoptados para garantir
a participação das equipas ou atletas com prestações mais baixas nas fases
seguintes da competição. 4º Quando poderiam ser introduzidas as provas à
eliminar, a partir de que escalão.
183
4.1.5.1. Competições voltadas para o apuramento do campeão nacional
Quadro 28 - Apuramento para o campeão nacional por escalões e modalidades
desportivas: as respostas dos treinadores.
Apuramento
Concordância com apuramento para o campeão nacional por escalões
1º Escalão
Modalidade
2º Escalão
3º Escalão
4º Escalão
Sim
Não
Sim
Não
Sim
Não
Sim
Não
Andebol
0
3
0
3
0
3
1
2
Atletismo
0
3
0
3
0
3
-
-
Basquetebol
0
3
0
3
1
2
-
-
Futebol
0
3
0
3
3
0
-
-
Ginástica
0
3
0
3
-
-
-
-
Judo
0
3
0
3
0
3
0
3
Natação
0
3
0
3
-
-
-
-
Rugby
0
3
0
3
0
3
0
3
Ténis de mesa
0
3
1
2
-
-
-
-
Voleibol
0
3
0
3
1
2
2
1
Total
0
30
1
29
5
16
3
9
0%
100%
3%
97%
24%
76%
25%
75%
% Relativo
Os resultados do quadro 28 evidenciam que os treinadores entendem que não
faz sentido crianças e jovens nestas etapas de formação participarem em
competições cujo objectivo é voltado para o apuramento do campeão nacional.
Principalmente pela interferência no processo de treino, levando a uma
especialização precoce na sua preparação. Para além desta justificativa, os
treinadores revelam que os gastos nas deslocações são demasiado elevados.
No entanto há uma sobrevalorização destas competições por parte dos
dirigentes, treinadores e pais. Outro factor apresentado, revela que estas
competições são organizadas com processo de eliminação, inviabilizando o
princípio da igualdade de participação de todos. Por isso, a grande maioria dos
treinadores (75%) sugerem que só faz sentido o apuramento do campeão
nacional a partir dos escalões de juvenis e juniores.
184
“A especialização das competições conduz à especialização da
preparação. Isso interfere, na harmonia da preparação não
específica dos jovens e na perspectiva do desenvolvimento a
longo prazo. Portanto, não faz sentido o apuramento do campeão
nacional para estes escalões.”
“Acho que só poderiam participar quando percebessem o que têm
que fazer na competição. Devem estar preparados para as falhas,
derrotas e vitórias. Quando começarem a ficar mais adultos, em
termos psicológicos e quando puderem suportar cargas de treinos
mais elevadas. Por isso, o apuramento do campeão nacional,
pode ser a partir do escalão de juvenis (16, 17 anos).”
“Nestes escalões, não deveriam participar de competições
nacionais. Pelas razões, de levarem os treinadores e dirigentes a
pensarem que à competição nacional, a semelhança do que
acontece nos adultos, é o culminar, é a coisa mais importante e é
a única que é importante. Por terem um carácter eliminatório, o
que acho negativo para esses escalões etários.”
Entretanto, verificamos que os treinadores de duas modalidades, o futebol no
terceiro escalão e o voleibol no quarto escalão, concordam com a participação
dos jovens em competições com apuramento do campeão nacional.
Particularmente influenciadas pela organização do quadro competitivo da
federação, em que já existe um encaminhamento para a formação de
selecções nacionais. Argumentam os treinadores que o problema não está no
apuramento do campeão nacional, mas sim nas pressões exageradas que os
treinadores, dirigentes e o tipo de arbitragem exercem sobre os jovens atletas.
185
“Acho que o apuramento para o campeão nacional só deve ser
feito a partir dos iniciados. Até porque os iniciados têm atletas que
vão à selecção”
“O apuramento para o campeão nacional já poderia ocorrer a
partir dos iniciados. Não vejo nenhum problema nisso desde que
as pessoas que estão no processo entendam o que isso vale.”
“O problema é a pressão que os treinadores colocam aos atletas,
a forma como tentam dar a volta aos regulamentos, a forma como
a arbitragem é questionada, a forma como os dirigentes
pressionam os treinadores. É o envolvimento em si que está
errado. Se eles têm capacidade de jogarem com equipas de igual
capacidade não tem problemas.”
4.1.5.2. Atribuição de prémios
Com base na figura apresentada, podemos dizer que a orientação
predominante no entendimento dos treinadores para atribuição de prémios
nestes escalões é de que todas as crianças e jovens que participam nas
competições deveriam receber prémios, sem ocorrer diferenciações. Na
perspectiva dos treinadores a atribuição de prémios para estes escalões de
formação deve ser alargada e diversificada, sendo o mais abrangente possível.
186
Figura 29 – Atribuição de prémios por escalões
Todos devem ser premiados, argumentam os treinadores, principalmente pelas
razões de que as crianças e jovens praticantes devem sentirem-se contentes e
recompensados pelo que fizeram no treino. Nestas etapas de formação os
valores e a formação têm uma importância maior do que os resultados na
competição. Outro factor destacado pelos treinadores se refere à necessidade
de se desenvolver uma cultura desportiva. Investir nestes escalões para definir
o campeão ainda é demasiado cedo, porque é problemático nesta etapa tentar
predizer se estes que ganham agora são os que serão mais adiante os
melhores atletas.
“Acho que todos que participam nas competições deveriam
receber prémios, medalhas ou algo simbólico, mas sem
diferenciá-los.”
“Embora para eles seja importante definir quem ganha, são
muitos justos. Deveríamos achar uma forma de premiar também
os que não ganham. Mesmo os que não ganham as provas, por
em termos físicos serem imaturos, também demonstram uma
187
evolução, uma mudança no treino e na competição e por isso,
deveriam ser premiados.”
“Não faz sentido atribuição de prémios só pelo resultado das
competições. Sou contra a atribuição de prémios em dinheiro
para estes escalões.”
“Os prémios individuais, materiais quando são só para os
melhores contrariam aquilo que nós pretendemos dos objectivos
do treino que todos eles tenham satisfação, tenham prazer. Eu
defendo que haja prémios para todos que estão na competição.”
No entanto, para uma pequena parcela de treinadores, a partir do segundo
escalão, pode-se realizar uma distinção na atribuição de prémios. As
modalidades que evidenciaram esta orientação foram o ténis de mesa e o
futebol para o segundo e terceiro escalões e o voleibol para o terceiro e quarto
escalão. Para os treinadores destas modalidades é importante desde cedo as
crianças e os jovens perceberem que têm que estar sempre procurando
melhora, superar-se e progredirem nos treinos para atingir o nível daqueles que
obtêm os melhores resultados. Diferenciá-los é reconhecer o trabalho e o nível
em que o atleta se encontra e o critério mais justo para sua distinção seria o
resultado na competição.
“Acho que só os primeiros devem receber. Os outros poderão
receber presentes mas não prémios de mérito, porque acho que é
importante desde novos começarem a ter consciência que têm
que fazer tudo para ser aquilo que eles são.”
“A distinção na atribuição de prémios serve para motivá-los a
quererem superar-se, a perseverar e a querer treinar mais. Os
prémios poderiam não ser só medalhas ou troféus, algo mais que
distinguir as melhores equipes.”
188
“Eu penso que a partir dos infantis essa diferenciação e atribuição
de prémios pelo resultado pode ser estabelecida.”
Entretanto encontramos duas posições distintas no que se refere ao
entendimento dos treinadores sobre a atribuição de prémios individualizados.
Há os que defendem que devem ser atribuídos prémios de forma individual por
desempenho, por disciplina, pelo desportivismo.
“Não vejo inconveniente na atribuição de prémios individuais,
desde que os prémios individuais sejam alargados. No caso dos
escalões mais baixos premiar a combatividade, o comportamento,
a superação. Nós temos é que reflectir para tentar uma
mensurabilidade nestas questões. Quanto maior o número de
prémios melhor, porque mais vão ser abrangidos por eles.”
O outro grupo de treinadores, que têm um posicionamento contrário a essa
orientação, principalmente das modalidades colectivas, alega que esse tipo de
atribuição de prémio promove o individualismo, dificultando o trabalho em
equipa, reforçando as distinções que ocorrem dentro do próprio grupo. Afirmam
que a atribuição de prémios deveria ser sempre de forma colectiva com
objectivos formativos e que em primeiro lugar devem estar os valores. O
prémio teria um carácter apenas simbólico e que ao nível individual essa
distinção seria feita pelas próprias crianças.
“Sou a favor que todos recebam prémios, mas não sou apologista
dos prémios individuais. Premiar o melhor jogador, o melhor
marcador, cria um ambiente de pressão entre eles. Acabam por
não jogar para equipa, não sendo colectivo. Acho que essa forma
de premiar, individualmente, deve ocorrer mais tarde, quando for
outro tipo de competição.”
189
“Nestes escalões não deve haver prémios individuais ou
distinções, por exemplo o melhor jogador. Mas poderia ter
prémios para equipa melhor organizada. O resultado nunca
deveria contar como critério para atribuição de prémios, outros
valores devem ter maior importância neste processo.”
“Prémios individuais
concordo.
Os
do tipo, melhor comportamento, não
atletas
têm
que
perceber
que
o
bom
comportamento deve ser demonstrado sempre nas competições.
Portanto, eu não vou premiar o bom comportamento porque faz
parte da formação deles.”
4.1.5.3. Critérios para garantir a participação nas fases seguintes da
competição
Quanto a este aspecto os treinadores apresentaram um consenso nas suas
afirmações. Para eles os princípios norteadores devem ser o equilíbrio
competitivo, ajustado pelo nível de prestação, a não ocorrência de eliminações
durante a competição, garantindo a participação de todos de forma igual. Com
isso, permitir-se-ia o sucesso de todos com a participação mais equilibrada
com o seu nível. Defendem que a motivação e o gosto pela prática na
modalidade estão directamente relacionados com o número de experiências
competitivas, o que justifica a importância da continuidade da participação na
competição. Para algumas modalidades como a ginástica e a natação, nestes
escalões as competições ou torneios não são realizados em fases. Há um
início e um final das provas na mesma competição onde todos participam. A
adopção de critérios como rankings, pontuações ou tempos limites são
criticados por estes treinadores, por serem critérios estanques, não levando em
consideração o estágio de desenvolvimento do atleta ou da equipa e também
por influenciarem o processo de treino dos escalões mais baixos, no sentido de
prepará-los a curto prazo para atingir determinados índices ou pontuações.
190
“Primeiro não deveria haver eliminação das equipas e se fosse
por fases devia-se dar oportunidade a todas as equipas de
continuar a competir.”
“Os ajustes por níveis não podem ser estanques nem definitivos.
Estanque não quer dizer que não haja possibilidade de trocarem
de posição ou de mudarem de nível. Com o passar do tempo,
podem os grupos também alterarem seus níveis de rendimento,
por isso não devem ser definitivos.”
“Equilíbrio é uma característica determinante nas competições
dos miúdos. Por isso é importante dar a oportunidade de voltar a
integrar a competição com os do seu nível.”
Mas, para uma parcela reduzida de treinadores, o critério mais adequado para
passar à fase seguinte da competição, seria o nível de rendimento. Só quem
obtivesse resultados melhores nos jogos ou provas é que deveria passar à fase
seguinte. As equipas e atletas mais fracos não continuariam na competição,
isso para os escalões de idades mais avançadas, 13 e 14 anos. Neste grupo os
objectivos competitivos estão centrados no rendimento, com a presença de
competições formais estruturadas, com eliminatórias e com a finalidade do
apuramento do campeão. Diferentemente da concepção do primeiro grupo de
treinadores, que está mais preocupado não só com o resultado, mas com a
oportunidade de participação e com o equilíbrio competitivo.
“Há aqui uma graduação da competição e há uma selecção
natural: às melhores equipas vão passando sucessivamente as
fases seguintes.”
“Participam de provas com fases eliminatórias, tanto nas
competições regionais, com apuramento das melhores equipas,
191
quanto nas competições nacionais. Isso só serve para o escalão
de iniciados.”
4.1.5.4. Introdução de provas a eliminar
Os resultados revelaram que os treinadores, em sua maioria, não concordam
com a introdução de provas a eliminar para estes escalões de formação.
Figura 30 – Concordância com à introdução de provas a eliminar por escalões
Defendem os treinadores que a eliminação nas competições deve ser evitada,
que as competições devem ser equilibradas pelo nível competitivo e permitir
que todos tenham a mesma possibilidade de jogar o mesmo número de jogos.
A introdução de provas a eliminar deve ocorrer a partir do escalão de juvenis.
“Por ser escalões de formação nunca incluiria provas a eliminar.
Se eu não sou capaz, vou jogar em um nível inferior.”
“Para esses escalões etários não interessa, sou contra. Provas
que permitam uma hierarquização sem eliminar, aceito.”
192
“A eliminação é uma das vertentes fortemente negada, agora tem
sempre uma ordenação alguma hierarquização, é inevitável. O
problema é quando essas expectativas locais assumem aspectos
de dominância.”
“Acho que nestes escalões não deve haver provas a eliminar. O
que defendo é que deve haver provas que permitam a todos a
mesma possibilidade de jogarem o mesmo número de jogos.”
No entanto, alguns treinadores concordam com a inclusão de provas a eliminar
no terceiro e quarto escalões. Principalmente, treinadores das modalidades de
andebol e voleibol por acharem que os jovens destes escalões já estão
preparados para competirem em provas com eliminação.
“Penso que mais tarde, a partir dos escalões dos iniciados depois
que vivenciarem estas primeiras experiências é que poderíamos
introduzir essa variante da eliminação.”
“As provas a eliminar nos escalões de minis e infantis não fazem
sentido. Só poderiam ser introduzidas a partir do escalão de
iniciados, porque o atleta já tem um certo nível técnico e um nível
de jogo mais desenvolvido.”
4.2. Regulamento
Nosso objectivo foi o de verificar o entendimento dos treinadores sobre dois
aspectos relacionados com os regulamentos da competição para estes
escalões da formação. O primeiro referente às adaptações das regras:
verificámos a necessidade dos regulamentos das competições serem
adaptados, a definição dos escalões em que deveriam ser adaptados e quais
193
seriam as mais importantes adaptações. Ainda dentro deste primeiro aspecto,
apurámos o juízo que os treinadores fazem acercá da adequação das
adaptações estruturais e do regulamento técnico pedagógico propostos pela
federação, assim como, a avaliação sobre a necessidade de intervenção da
federação no estabelecimento de normas técnicas e pedagógicas relativas aos
conteúdos e processos de organização do jogo. No segundo aspecto, relativo à
arbitragem apurámos quem deveria arbitrar, qual o carácter que deveria ter
essa arbitragem e sobre a possibilidade de crianças e jovens desempenharem
o papel de árbitro na competição.
4.2.1. Adaptação das regras
4.2.1.1. Adaptações dos regulamentos da competição
Com base na figura podemos observar que os treinadores consideram a
adaptação do regulamento nesses escalões aspecto importante, devendo estar
presente na organização das competições para os mais jovens. Apenas numa
modalidade, o ténis de mesa, os treinadores afirmam não haver necessidade
em adaptar ou diferenciar as regras para estes escalões, as quais devem ser
as mesmas desde o início da participação competitiva. As razões pelas quais
justificam o seu posicionamento relacionam-se com a importância atribuída à
aprendizagem e interiorização das regras, para que as crianças desde cedo
possam cumpri-las e também por não concordarem com as modificações
estruturais no ténis de mesa, como por exemplo, a altura da mesa. Isso
causaria uma interferência na execução da técnica correcta, dificultando
também na decisão de quando deixar de jogar com essas adaptações.
194
Figura 31 – Adaptações no regulamento por escalões
Na opinião partilhada pela maioria dos treinadores as adaptações estruturais
são assumidas como um aspecto relevante nessas etapas de formação,
principalmente pela necessidade de proporcionar uma segurança às crianças e
jovens em suas práticas com equipamentos e implementos mais adequados às
idades, ao crescimento e desenvolvimento delas e também porque interferem
directamente na execução correcta da técnica, o que nestas etapas é
considerado um factor preponderante, tanto no treino quanto na competição.
4.2.1.2. Escalões em que os regulamentos devem ser adaptados
Encontramos um consenso entre os treinadores de que as adaptações nos
regulamentos devem estar presentes na organização das competições de
todos os escalões nestas etapas de formação. No entanto deve haver uma
progressão relacionada com as idades dos praticantes e com nível de
prestação, para que possam corresponder ao grau de complexidade da
competição.
“As regras devem ser adaptadas de forma a atender os objectivos
para os escalões e há uma graduação na introdução das técnicas
195
e no grau de dificuldade de execução à medida que mudam de
escalão.”
“Em termos regulamentares não temos nada definido de um
relativamente ao outro, mas deve haver uma progressão natural
dos A para os B, deverá ser o próprio treinador a ajuízar.”
“A regra acompanha a evolução do jogo, a área de jogo, número
de jogadores, as técnicas e tudo mais.”
“Minha sugestão para quem organiza a competição para as
crianças é de que deve haver sempre uma diferenciação na
adaptação destas regras em função das idades dos praticantes. A
organização é soberana e todos os treinadores sabem e
percebem que o objectivo é que eles joguem e que haja
segurança.”
4.2.1.3. Adaptações consideradas mais importantes
As adaptações estruturais destacadas pelos treinadores das diferentes
modalidades como as mais importantes são alusivas ao tamanho, dimensões e
peso dos materiais, aparelhos e implementos desportivos, aos espaços de
jogo, às dimensões das balizas, assim como às distâncias das marcações das
áreas de jogo e linhas de pontuações.
“Acho que a nível dos bambis e dos minis é importante que a
baliza não seja demasiado grande nem muito pequena. Deve
haver um equilíbrio entre a defesa e o ataque. Em termos de
dimensão não deve ter as dimensões de um campo formal, deve
ser mais pequeno, porque se não fica a ser muito exigente, passa
a ser atletismo em vez de andebol. Acho também que o tamanho
da bola é fundamental a nível dos infantis. Uma bola que eles
196
agarrem bem para não terem que adaptar o gesto técnico, pelo
facto de não agarrarem bem a bola. Para os bambis tem que ser
uma bola macia, que não magoe os guarda-redes. A área
também tem que ser mais pequena, porque eles não têm força
para atirar à baliza, mas também não demasiado pequena de
maneira que o guarda-redes tenha medo do impacto da bola.”
“As barreiras deveriam ser mais baixas, são muito altas e são de
um material muito agressivo. Deveriam ter barreiras que
pudessem cair facilmente, que não magoassem, mais baixas, até
porque na aprendizagem o principal factor a se ultrapassar não é
a altura, é a projecção do corpo para frente. Isso é o mais
importante. Uma barreira alta condiciona uma aprendizagem má,
o miúdo não deve baixar a velocidade.”
“A evolução tem a ver com a adaptação às características dos
miúdos, ou seja, são idades de grandes modificação no
crescimento e portanto as adaptações no comprimento do campo,
na altura da rede, no tamanho e peso da bola. Há uma diferença
significativa no modelo de jogo, as trajectórias da bola são
diferentes, há mudanças também na estrutura física da criança.”
Entretanto nos depoimentos dos treinadores também são valorizados, com
uma frequência de ocorrência maior, os aspectos correspondentes às
adaptações no regulamento técnico-pedagógico. Isso revela uma preocupação
maior com os aspectos associados à composição das equipas, com as
possibilidades de substituições e com o sistema de eliminação. No sentido de
dar oportunidades iguais a todos de participarem da competição. O tempo de
jogo e a competição devem sempre ser adaptados sempre em função das
idades. Os treinadores afirmam que a grande preocupação deve ser com os
aspectos pedagógicos da competição. Sugerem que as regras devam ser o
mais simples possível, de fácil percepção, adequadas às idades, devendo
197
propiciar um aumento no conhecimento do jogo, atendendo aos objectivos
formativos.
“Em relação ao tempo de ataque penso que é uma regra que
deveria ser alterada para os escalões de formação. Deveria ser
mais longo, superior aos 24 segundos. Não deveria haver a
preocupação em estarmos a limitar os tempos de transição e o
tempo de execução do ataque para não estar a condicionar a ida
para o cesto”
“O número reduzido de jogadores aumenta o número de contacto
do jogador com a bola, importante para sua formação, além é que
a complexidade do jogo, que traz a introdução de novos
elementos, obriga a uma graduação não só na complexidade do
treino, como também na complexidade da competição. Portanto,
a complexidade por acréscimo do número de jogadores era
contemplada de uma forma gradual.”
198
4.2.1.4. Avaliação das alterações regulamentares propostas pelas
federações
Quadro 29 – A posição dos treinadores sobre adaptação das estruturas e do
regulamento técnico-pedagógico da competição propostas pelas federações desportivas
Concordância
1º escalão
2º escalão
3 escalão
4º escalão
sim
não
sim
não
sim
não
sim
não
Andebol
1
2
1
2
1
2
1
2
Atletismo
1
2
1
2
1
2
-
-
Basquetebol
3
0
3
0
3
0
-
-
Futebol
0
3
0
3
0
3
-
-
Ginástica
3
0
3
0
-
-
-
-
Judo
3
0
3
0
3
0
3
0
Natação
3
0
3
0
-
-
-
-
Rugby
3
0
3
0
3
0
3
0
Ténis de mesa
2
1
2
1
-
-
-
-
Voleibol
2
1
2
1
2
1
3
0
Total
21
9
21
9
13
8
10
2
70%
30%
70%
30%
62%
38%
83%
17%
Modalidades
% Relativo
De acordo com os dados apresentados no quadro, constatamos que a maioria
dos treinadores estão de acordo com as adaptações nas estruturas e no
regulamento técnico-pedagógico propostos pelas federações em todos os
escalões. A discordância com as adaptações propostas pelas federações se
destaca nas modalidades de andebol, atletismo e futebol, sobressaindo em
todos os escalões correspondentes. Afirmam os treinadores que as
adaptações não estão adequadas às características e capacidades dos jovens
desportistas, revelando um desacordo com a estrutura regulamentar designada
pela federação, principalmente naqueles aspectos que incidem sobre as
alterações estruturais, como as dimensões de campo, o tamanho das balizas,
peso e tamanho da bola e as que se referem ao regulamento técnicopedagógico, como o número de atletas por equipa, o limite nas substituições o
199
regulamento das provas ou jogos e a duração das competições. As
modificações deveriam proporcionar oportunidades de participação iguais para
todos na competição, não só para os melhores, como se observa nas regras
de substituições e provas com eliminação. As alterações nas estruturas
utilizadas nas competições, dimensões, tamanho e peso dos equipamentos,
deviam ser feitas de forma progressiva, respeitando o desenvolvimento e
crescimento das crianças e jovens, assim como, não dificultar o ensino da
técnica. Apontam que é necessário que haja uma uniformidade regulamentar
das diferentes competições para o mesmo escalão, principalmente pela
interferência que tem no processo de treino. A adaptação da estrutura
regulamentar para estes escalões deve ter um carácter pedagógico formativo,
criando condições para a avaliação da evolução da técnica na competição dos
jovens atletas.
“Outra questão é que todas as atletas que estão no banco
inscritas no jogo são obrigadas a participar pelo menos um
período e não poria número máximo de participação. Porque isso
permite que as atletas menos aptas, com a ajuda das mais aptas,
consigam fazer alguma coisa no jogo. As atletas menos
desenvolvidas têm que jogar também.”
“Porque eu acho que deverá haver alguma progressão em
termos do espaço de jogo e do número de jogadores. Eu penso
que se passa abruptamente do futebol de sete para o futebol.
Acho que é um espaço demasiado grande para estes escalões.”
“As competições dos miúdos estão muito pensadas a partir das
competições formais dos adultos. Não há uma adaptação com
carácter pedagógico formativo para os jovens jogadores e as
competições são feitas por cálculo daquilo que é o futebol
profissional e futebol dos adultos. Ou seja as pessoas não
200
pensam nas crianças e nos jovens, porque de facto dá um
bocado mais de trabalho.”
“Nós, actualmente estamos com um modelo de competição que
fomenta a aquisição do erro, quando devíamos utilizar a
competição para ajudar na formação e não para contrariar a
formação. O que existe actualmente é uma mera quantificação de
resultados, não se está a avaliar o trabalho das crianças, só se
avalia o miúdo que cresceu, que se desenvolveu mais, que é
mais forte ou mais rápido, que no entanto ao passar alguns anos
poderá deixar de o ser. O caminho deve ser o da evolução e da
formação técnica.”
4.2.1.5. Normas técnicas e pedagógicas estabelecidas pelas federações
Sobre estabelecimento de normas técnicas e pedagógicas relativas aos
conteúdos e processos de organização do jogo pela federação. Observamos,
no entendimento dos treinadores, que há uma forte concordância (90%) com a
intervenção das federações na determinação desses aspectos. No sentido de
que é importante para o desenvolvimento do trabalho de formação dos mais
jovens no clube terem as normativas determinadas e bem enquadradas para o
aprendizado da técnica nestas idades. Afirmam que é indispensável, também,
ter uma linha pedagógica a ser seguida, assim como linhas orientadoras de
actuação, atribuindo a responsabilidade às federações na definição das
condições em que devem jogar para cada escalão. Essa intervenção teria
como resultado a unificação e reconhecimento do trabalho dos treinadores. Na
opinião dos treinadores, as principais normas técnicas e pedagógicas que
deveriam ser definidas pelas federações correspondem aos conteúdos e
processos de ensino para cada etapa da aprendizagem, à adequação da
abordagem pedagógica, à determinação das cargas, distâncias, frequências e
volumes de treino, à definição dos sistemas tácticos de jogo, ofensivo e
defensivos de como se joga e condições em que se joga.
201
“Normas técnicas deveriam estar perfeitamente identificadas para
cada uma das actividades das diferentes disciplinas do atletismo,
o nível técnico que deveriam apresentar de acordo com a
capacidade técnica possível de se executar nestas idades.”
“A federação e a associação a médio e a longo prazo vão
reconhecer o trabalho dos treinadores que cumprem a linha
pedagógica, e os bons não são só aqueles que ganham as
competições. Não vamos estar preocupados em criar condições,
vamos estar preocupados em criar uma coisa que não criamos,
linhas orientadoras de actuação. Enquanto isso não for feito não é
possível influenciar quem quer que seja.”
“Acho que sim, porque um documento orientador dos conteúdos e
das sequências de ensino para estes escalões iria enquadrar o
trabalho dos treinadores numa perspectiva de termos uma
formação destes jovens mais uniforme em todo o país, o que se
faz e como se faz nestes escalões nos diferentes clubes do país.”
Entretanto, alguns treinadores entendem que a regulação por parte da
federação sobre os conteúdos e processos de organização do jogo não seria
necessária se os treinadores tivessem uma formação melhor.
“O que eu acho é que se os treinadores fossem todos correctos,
se trabalhassem em função dos objectivos formativos não havia
necessidade dessa regulamentação, pelo menos pedagógica,
colocada sob a forma de conduzir ou condicionar aquilo que os
treinadores fazem.”
“Se a formação dos treinadores fosse boa e se fosse de uma
forma global muito aceitável não seria necessário as federações
202
indicarem normas técnicas a serem seguidas ou a forma como as
equipas deverão jogar. Porque o treinador, pela sua formação
inicial e pela sua experiência, deveria perceber qual era a forma
deles jogarem.”
4.2.2. Arbitragem
4.2.2.1. Quem deve arbitrar
Os resultados da figura 32, revelam que os treinadores entendem que deve
haver uma progressão na exigência do nível de formação do árbitro conforme o
enquadramento
competitivo
geográfico.
Nas
competições
a
nível
de
escola/clube e local/cidade o consenso dos treinadores é de que podem
desempenhar este papel de árbitro os próprios treinadores, professores ou
atletas de escalões mais velhos, desde que tenham conhecimentos de
arbitragem.
100%
3
10
37
80%
66
60%
40%
60
17
30
escola/clube
100
37
90
20%
0%
33
local/cidade
treinadores-professores-atletas
distrito/região
17
nacional
árbitros com menor experiência
internacional
árbitros com experiência
Figura 32 – Arbitragem por nível competitivo
Na concepção dos treinadores, o aspecto de maior relevância para a
arbitragem nestes escalões iniciais e neste enquadramento é o pedagógico.
203
Em suas avaliações quem estaria melhor preparado para exercer essa função
seriam os treinadores e professores, principalmente porque os árbitros da
federação têm uma preocupação maior em aplicar a regra de uma forma mais
punitiva.
“Os árbitros em geral não estão preparados para interagir com
crianças nestas actividades, têm formação técnica mas não tem
formação
pedagógica,
por
isso
acho
que
deveriam
ser
professores, treinadores habilitados e com formação pedagógica
para poderem intervir junto dessas crianças.”
“Devem ser arbitrados por educadores, normalmente apitam
melhor que um árbitro da federação, porque sabem quais são as
preocupações dos miúdos.”
Nas competições a nível de distrito/região observamos que já não há uma
definição muito clara, como nos primeiros enquadramentos. Na opinião dos
treinadores a definição de quem deveria arbitrar para além do nível competitivo
também deve estar associada à natureza das competições, sua formalidade e
ao formato da competições, que podem ser em forma de convívios, encontros e
festivais.
“Nestes escalões a competição é organizada em convívios
nacionais ou convívios regionais, em que todos participam na
competição com regras adaptadas, em que a arbitragem é feita
por um educador ou jogador de um escalão acima. Os jogadores
podem receber informações.”
“Defendo que deve sempre existir a figura do árbitro, mas não é
necessário que seja um árbitro especializado, pode ser no início
de carreira.”
204
As competições a esse nível apresentam essas diversidades, no entanto
alguns treinadores afirmam que deve haver um grau de formalidade para a
arbitragem. Devem ser arbitradas por árbitros experientes, por se tratar de
competições de preparação para níveis mais elevados de prestação realizadas
principalmente com os escalões de idades maiores, 12 a 14 anos.
“A minha opinião é que na formação devem estar os melhores
árbitros e os melhores treinadores, mas não são os melhores das
ligas profissionais, mas os melhores para aquele escalão etário.”
“Deve haver algum cuidado, deve ser alguém que percebe as
regras do jogo, deve estabelecer de certo modo algum controle
no momento da dúvida. No formal deve ser alguém que domine,
sobretudo para não criar situações negativas e com senso de
justiça.”
Nas competições de enquadramento geográfico a nível nacional e internacional
a predominância na opinião dos treinadores é de que sejam arbitradas por
árbitros experientes da federação.
4.2.2.2. Carácter da arbitragem
Quanto ao carácter da arbitragem, para a maioria dos treinadores a posição
prevalecente é de que a competição para esses escalões de formação devem
ter um cunho educativo e formativo. A componente pedagógica deve estar
sempre presente, a arbitragem deve ser menos punitiva, de natureza informal e
menos rigorosa na aplicação das regras.
“Defendo que a arbitragem é ideal quando é pedagógica. Deve
explicar à criança, ao atleta, o que deve não fazer, o que deve
fazer, Nos infantis também a arbitragem deve ter este carácter.”
205
“Os árbitros que deveriam apitar estes jogos deveriam ter uma
formação que implicasse o ganho de sensibilidade para gerir os
aspectos de forma educativa. Portanto, se tiver que ocorrer uma
desclassificação e essa for primeiramente explicada pelo árbitro o
atleta vai encarar esse árbitro como uma figura fundamental
nesse processo.”
4.2.2.3. Participação das crianças e jovens na arbitragem
Em relação às crianças fazerem o papel de árbitro na competição, observámos
na figura , que a concepção predominante para os dois primeiros escalões é de
que as crianças não deverão fazer o papel de árbitros.
Figura 33 – Participação da criança como árbitro na competição por escalões
Principalmente pelos motivos de serem muito novos, de não perceberem bem
as regras, não podendo dar ênfase à formação pedagógica que deve ter a
arbitragem, e por terem que assumir uma responsabilidade de fazer juízos e
avaliações. O que implica uma maturidade maior, naturalmente, para não
cometer injustiças com os colegas. Nas modalidades individuais, pela
206
especificidade do regulamento, como a ginástica e a natação, obriga a ter uma
arbitragem com maior conhecimento.
“As crianças ainda não percebem bem as regras, não dominam
bem, acho que o árbitro deve ter uma função formativa de
explicar para além do sinal.”
“Em competição, acho que não devem arbitrar. Porque a
competição é uma situação onde os jogadores estão envolvidos,
uma situação emocional grande, proporcionando determinados
tipos de sentimentos e emoções que muitas vezes não controlam.
É necessário um apoio permanente do treinador. Agora em
termos de treino, podem arbitrar, porque é muito importante para
eles identificar as dificuldades que têm nesse tipo de funções.”
“Na ginástica, procura-se sempre na avaliação uma maior
objectividade. As crianças e jovens fazerem o papel de árbitro na
competição ficaria muito complicado, pelo facto de não haver
essa objectividade na avaliação, e também pelo facto dos
treinadores
competirem
entre
si
também,
criando
um
envolvimento desfavorável.”
“A arbitragem na natação tem moldes diferenciados das outras
modalidades, principalmente das colectivas. Por isso as crianças
fazerem juízos do que está certo, ou identificar o erro, nas provas
oficiais eu não acho correcto.”
Nos escalões seguintes, terceiro e quarto, fica evidenciado um posicionamento
inverso ao apresentado nos primeiros escalões. De acordo com a lógica
adoptada pela maioria dos treinadores, os jovens desses escalões poderão
desempenhar o papel de árbitro em escalões mais baixos se apresentarem um
conhecimento
das
regras,
estiverem
207
motivados
para
assumir
essa
responsabilidade, compreenderem o sentido pedagógico que deve ter essa
arbitragem e de estar presente o valor da honestidade em suas decisões.
Porém, por ser um processo que faz parte de sua formação, sua participação
deve ser feita de forma progressiva e supervisionada. O treinador deve ensinar
as regras, ensinando minimamente como eles devem estar no campo, os
gestos da arbitragem, para que seja dada aquela função a seriedade que ela
merece.
“Acho que podem arbitrar, sobretudo, os mais velhos e os mais
experientes. Eu como treinador tenho que saber ensinar os meus
miúdos a serem árbitros. Devem aprender as regras e alguns
rudimentos da técnica de arbitragem.”
“Em termos de bambis e minis penso que qualquer atleta que
tenha melhor conhecimento está apto, porque a exigência não é
assim tão elevada. Nas competições dos infantis e iniciados, já há
uma exigência maior por parte dos praticantes, principalmente
porque eles sentem quando o árbitro não é justo em suas
decisões.”
“Os jovens podem arbitrar, desde que sejam ajudados por adultos
que conheçam bem as regras, porque as situações mais
complicadas de julgar, como de bolas na rede ou nas quinas. Em
competição formal já devem ser árbitros da federação a actuar.”
4.2.2.4. Desempenho das crianças e jovens de outras funções na
competição
Em relação à participação das crianças e jovens em outras funções na
competição,
o
posicionamento
predominante
dos
treinadores
é
de
concordância com a participação dos mais jovens em funções de anotação,
registo do marcador, preenchimento de súmulas e de desempenho de funções
208
de cronometrista. Afirmam que essas experiências, além de contribuírem para
sua formação, criam um envolvimento maior do praticante com a modalidade.
No entanto, alertam para importância de prepará-los para terem competência
em desempenhar essas tarefas.
“Acho também que aprendendo as outras funções possam
executá-las, registo do marcador, preenchimento de súmulas,
anotação de resultados competitivos. Sendo motivados, sendo
elogiados. Agora tudo passa pela forma como os educamos a
estar na modalidade. A vontade de colaborar tem que ser
educada, com transporte de material, com os árbitros, fazer as
camisolas, com rifas. Esta ideia de participação tem que estar
sempre presente desde cedo nos miúdos.”
“Acho que também faz parte da formação das crianças a
participação em outras funções na competição como anotador
cronometrista, anotador. Acho que até aos juvenis. A partir deste
escalão já devem ser os árbitros. As competições devem
respeitar os aspectos formais.”
“Só a partir dos iniciados, antes disso eles têm muita dificuldade:
ou estão a jogar ou estão a ver; não têm aquela atenção devida.
Nestas idades eles querem é ir lá brincar.”
4.3. Conteúdo das actividades competitivas e conteúdo do treino
4.3.1. Conteúdo das actividades competitivas
Verificámos, no entendimento dos treinadores, quais eram os conteúdos das
actividades competitivas que deveriam ser privilegiados em cada escalão da
209
formação, assim como, os anos de formação que deveriam ser dedicados aos
diferentes conteúdos da actividade competitiva.
Figura 34 – Conteúdo da actividade competitiva para os escalões
Os resultados da figura mostram que os treinadores valorizam mais nos
escalões iniciais as actividades diversificadas que, progressivamente, vão
diminuído com o crescimento do escalão, enquanto que crescem as
actividades mais especializadas e adaptadas, que predominam nos escalões
mais avançados. Defendem a adopção de conteúdos diversificados nas
competições dos primeiros escalões por serem mais lúdicas e adaptadas às
idades, por propiciarem uma prática mais atractiva, criando um envolvimento
maior com a modalidade. Todos devem ter a mesma possibilidade de
participar. Argumentam que, nos escalões iniciais, deve se dar maior atenção à
preparação do que aos resultados na competição, evitando uma especialização
precoce.
Estas
actividades
diversificadas
favoreceriam,
também,
o
desenvolvimento de aspectos motores e atenderiam ao objectivo da formação
multilateral das crianças.
“Deveriam estar presentes em algumas competições mais lúdicas
mais adaptadas às idades. Permite que um número maior de
210
praticantes esteja envolvido na competição, com menos tempo de
espera.”
“O peso da preparação multilateral é enorme. À medida que vão
avançando na idade vão sendo incluídos alguns aspectos
específicos dentro da estrutura da modalidade.”
“Muitas vezes organizam nestes torneios estafetas coordenativas,
que não são específicas da modalidade, mas que têm algum
transfer de capacidades coordenativas para a modalidade.”
A presença de actividades altamente especializadas, que aparecem de forma
reduzida no segundo e terceiro escalão, é devida à concepção de treinadores
das modalidades de futebol e ténis de mesa, por acharem que os jovens destes
escalões já estão aptos para participarem de competições com configurações
iguais ao modelo dos seniores.
Algumas condições são apontadas pelos treinadores para que as crianças
participem
em
actividades
competitivas
diversificadas.
Devem
ter
experimentado no treino uma exercitação, uma preparação para desenvolver
as suas competências. Essas competições devem ter um carácter menos
formal e serem realizadas sob forma de festivais ou torneios, adoptando
actividades de pequenos jogos, estafetas, provas combinadas e de habilidades.
“A inclusão de competições de outras modalidades é possível
desde que eu consiga no meu treino também o ter. Eu defendo
uma prática multilateral”
“O
formato
de
competições
multilaterais,
envolvendo
a
exercitação e demonstração de competência, quer na parte da
execução da técnica, quer na expressão das capacidades
211
motoras. Por isso deve haver uma experimentação preliminar no
treino.”
“Sou a favor da inclusão de actividades diferentes da competição
de basquetebol, torneios de lances livres, de estafetas de drible e
passe,
concursos
de
lançamentos,
provas
de
salto
em
comprimento, um conjunto de elementos ligados aos objectivos
de treino que posso traduzir em competição.”
Os treinadores entendem que à medida que as crianças e jovens avançam nas
idades e escalões, deve ser dado maior ênfase à técnica para responder às
exigências específicas de cada modalidade, e aumentar progressivamente a
sua participação em competições com actividades mais especializadas e
adaptadas.
“Nos infantis, no atletismo, temos algumas disciplinas com
complexidade técnica que obrigam a que se dê mais cedo uma
ênfase
nos
conteúdos
especializados
nomeadamente
nas
raparigas que já tem um desenvolvimento maturacional que nos
obriga a intervir com o ensino de algumas aprendizagens técnicas
mais especializadas.”
“Nos infantis já fazemos a competição normal, mas com
preocupações de termos equilíbrio entre os atletas em relação ao
domínio e variabilidade de golpes que possuam. Nesta fase há
muito ênfase na pureza técnica.”
“Na competição é que se tem a oportunidade de verificar se o que
se faz na preparação está a ser cumprido ou não. E é aí que a
estrutura e a forma de organização propiciam mais ou menos
essa oportunidade, de exibir, de experimentar, de mostrar, de
avaliar se a preparação está a dar algum resultado.”
212
4.3.2. Percentuais dos anos de formação dedicados aos diferentes
conteúdos da actividade competitiva
As crianças e jovens destas modalidades permanecem em média 7 anos (±
1,36 anos) nas etapas de formação, na preparação preliminar (3 a 5 anos) e na
etapa de especialização inicial (3 a 4 anos). Associando essa informação ao
conteúdo da actividade da competição e do treino verificamos a média dos
percentuais de anos dedicados aos diferentes conteúdos da actividade
competitiva.
90
Percentuais médios dos anos de formação
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Competições multilaterais
Competições
especializadas e
adaptadas
Competições altamente
especializadas
Figura 35 – Média dos percentuais dos anos de formação dedicados à participação
em competições diferenciadas pelo conteúdo
No entendimento dos treinadores, as orientações para a participação em
competições especializadas e adaptadas foram as que em média ocuparam
maior tempo da formação (55%), contabilizando mais ou menos 4 anos da
213
formação. As actividades competitivas diversificadas também ocupam
grande parte do tempo total da formação, principalmente nos escalões
iniciais (41%), em torno de 3 anos mais ou menos. Com um percentual
muito baixo (4%) aparecem as competições especializadas, acontecendo
apenas em algumas modalidades e em momentos dispersos.
4.4. Carga de competição
Em relação a carga de competição, objectivámos verificar, na percepção do
treinador, qual deveria ser a frequência mais adequada para crianças e jovens
participarem nas provas ou jogos nos diferentes escalões de formação, assim
como, o formato do calendário competitivo que seria mais ajustado para esses
escalões. Verificámos também o juízo dos treinadores sobre a frequência de
participação competitiva actual, se é suficiente para satisfazer as necessidades
de formação desportiva das crianças e jovens. Por fim, o entendimento dos
treinadores sobre a relação entre a carga de competição e a carga de treino.
214
4.4.1 – Frequência de participação competitiva
Quadro 30 - Frequência de participação competitiva por mês e por temporada para cada
escalão e por modalidade desportiva
Escalões
Participação em competições por
Número de jogos ou provas por
mês
temporada
1º
2º
3º
4º
1º
2º
3º
4º
Andebol
1
2
4
4
10-12
20-25
35-45
35-45
Atletismo
1
1
1
-
8-10
8-10
20-25
-
Basquetebol
2
2
2
-
20-25
20-25
35-40
-
Futebol
4
8
8
-
30-40
35-40
40-50
-
Ginástica
-
-
-
-
2-3
2-3
-
-
Judo
-
-
-
-
10-12
10-12
12-15
14-16
Natação
-
-
-
-
12-16
35-45
-
-
Rugby
3
3
3
3
20-24
20-24
20-24
20-24
Ténis de mesa
-
-
-
-
40-45
40-45
-
-
Voleibol
1
2
4
4
20-30
30-40
35-45
35-45
Média
2
3
4
4
17-22
22-27
30-37
26-32
Desvio padrão
1,3
2,5
2,3
0,6
11-14
13-15
13-16
11-15
Mínimo/Máximo
1-4
1-8
1-8
3-4
2-45
2-45
12-50
14-45
Modalidades
Os resultados apontam que, em média, a frequência de participação
competitiva nos dois primeiros escalões é de 2 a 3 competições por mês e de
17 a 27 por temporada. No entanto, observamos que para os escalões
seguintes, terceiro e quarto, há um aumento na frequência de participação
competitiva, tanto por mês, quanto no número de jogos ou provas por
temporada. Passam a ter, em média uma, competição por semana e 26 a 37
jogos por temporada. Verificámos, que no início da participação competitiva,
primeiro escalão, há dois grupos de modalidades que se distinguem pela
frequência de participação. Um grupo, formado pelas modalidades de andebol,
atletismo, ginástica, judo e a natação, apresentam frequências médias mais
baixas na participação competitiva, entre 2 a 16 por temporada. O segundo
grupo de modalidades, nomeadamente, o basquetebol, o futebol, o rugby, o
215
ténis de mesa e o voleibol apresentam frequências médias mais elevadas,
entre 20 a 45 jogos por temporada. Observamos, também, que com a mudança
de escalão, do primeiro para o segundo escalão, com excepção das
modalidades de andebol, natação e voleibol, não há um aumento na frequência
de participação competitiva. Os aumentos na frequência de participação
competitiva são mais evidentes do segundo para o terceiro escalão. Entretanto,
os treinadores do primeiro grupo de modalidades (andebol, atletismo, ginástica,
judo e a natação), entendem que, se a regularidade e a frequência de
participação competitiva for excessiva nos primeiros escalões, pode prejudicar
no tempo das crianças estarem com a família e de cumprirem com as tarefas
escolares. Outro aspecto importante, seria a necessidade de terem um tempo
de preparação, para adquirirem uma condição mínima para poderem participar
das competições.
“No caso dos bambis e dos benjamins a competição não deve ser
regular. É melhor haver competição de vez em quando, uma vez
por mês, principalmente porque implica na gestão do tempo das
crianças e dos pais, requer uma adaptação a essa rotina
desportiva.”
Todavia para outro grupo de treinadores das modalidades de basquetebol,
futebol, rugby, ténis de mesa e voleibol, assumem uma posição inversa,
sugerindo frequências superiores para estes escalões. Afirmam que quanto
maior for essa participação em competições melhor será a sua formação,
justificando que desde cedo as crianças devem participar de competições para
que possam ter um maior número de contacto com outras crianças, por razões
de motivar e de envolver as crianças e jovens com a modalidade e também
porque só com o treino não é suficiente para que isso aconteça. Mas,
entretanto essas competições devem ser adaptadas e de curta duração e
sempre estar subordinadas aos interesses do treino. Porém consideram que a
216
época desportiva competitiva para estes escalões deveria ser mais reduzida,
não ocupando tantos meses.
“Penso que sim, deveria haver uma densidade crescente de
competições. No entanto, no início não deve haver só
competições esporádicas, porque um dos aspectos fundamentais
para os miúdos terem prazer em jogar e competirem, não é só
passarem pelo treino e não terem competição mais ou menos de
forma sistemática.”
Cabe destacar que as modalidades individuais de ginástica, judo, natação e
ténis de mesa apresentam, para estes escalões, um formato de calendário
competitivo com competições concentradas em determinados períodos. A
ginástica com dois a três encontros no final de Maio ou Abril, na modalidade de
judo participam de três a quatro competições, mas com alguma diferenciação
no número de combates por escalões. Na natação também há uma
diferenciação no número de competições e no número de provas em que
participam e as provas são distribuídas por períodos coincidentes com os
períodos escolares, um período em Dezembro um período na Páscoa e um no
Verão. Já para a modalidade de ténis de mesa um evento a cada três meses,
somando um total de três a quatro competições para o escalão de iniciados e
quatro a cinco para o escalão de infantis, perfazendo uma carga de 40 a 50
jogos por temporada. O que fica evidenciado nestas modalidades individuais é
a importância atribuída à preparação. Para os treinadores esse tempo de
preparação deve ser respeitado e participar em muitas competições de forma
sistemática implicaria em retirar tempo destinado à preparação.
4.4.2. Formato do calendário competitivo
De acordo com os resultados apresentados na figura, na concepção dos
treinadores os quadros competitivos para estes escalões devem estar
organizados ao longo da época desportiva de forma contínua, com
217
competições espaçadas e realizadas aos finais de semana sob forma de
torneios.
Figura 36 - Formato do calendário competitivo
Os principais motivos que justificam a opção tomada pelos treinadores seriam:
evitar grandes períodos sem competição, o que provocaria uma desmotivação
nas crianças; possibilidade de avaliar de forma sistemática a evolução das
capacidades técnicas e condicionais; poderem propiciar uma actividade
diversificada e regular capaz de influenciar em seus hábitos de vida, de modo
que a actividade desportivo faça parte dela.
“Devem ser espaçadas, não agrupadas em períodos, para evitar
uma paragem grande, provocando uma desmotivação dos
miúdos.”
“Para os Benjamins e infantis não existem, as competições devem
ser organizadas de forma a ter um início e um final sem ser em
fases eliminatórias.”
218
“Nos infantis não nos interessa isso, nos infantis e benjamins
interessa nos ter uma actividade regular uma competição regular,
um treino regular para um miúdo incutir uma prática desportiva
nos seus hábitos de vida e a competição e o treino fazerem parte
da sua vida.”
“Entendo que deveriam ser espaçadas ao longo do ano, para
darem oportunidade ao treinador de ir avaliando as deficiências
técnicas
que
o
miúdo
tivesse,
para
que
elas
fossem
periodicamente corrigidas de competição para competição, dentro
de cada escalão, com perspectiva da formação técnica e não
tanto do treino das capacidades condicionantes.”
Entretanto os treinadores das modalidades de ginástica, ténis de mesa e
voleibol manifestam uma opinião contrária, achando que deveriam estar
organizadas em momentos concentrados de competições e separados por
intervalos longos. Argumentam que é necessário um tempo de preparação e de
aprendizado da técnica, para que a criança possa cumprir com as exigências
das tarefas na competição. Esse intervalo entre as competições teria o sentido
de melhorar o processo de treino e seria também determinado pela
necessidade de considerar os períodos das provas e trabalhos escolares.
“Acho que as competições devem ser concentradas no sentido
que possamos ter tempo para fazermos a formação multilateral,
porque neste momento da ginasta é impossível estarmos a fazer
isso e a trabalhar especificamente para um exercício na
competição. Embora sejam exercícios de formação não tem perda
de tempo, não estamos a fazer um trabalho específico, estamos
sempre a fazer um trabalho de base mais multilateral.”
“Devem ser concentradas, porque o ginasta geralmente não está
sempre pronto para competir. Tem que haver uma preparação
219
para a competição, uma estruturação dos exercícios
de
competição. O que interrompe o processo de formação,
interrompe a aquisição de novos elementos e de técnicas novas.
Por isso é que têm que ser concentradas num período curto e
num momento do ano.”
“Eu acho que deveríamos intercalar períodos de competição com
períodos sem competição para melhorar a qualidade do processo
de treino e ter também em consideração os períodos escolares
dos alunos em que eles estão muito carregados com testes para
que possam competir e estudar e levar as duas coisas ao mesmo
tempo.”
“Quanto mais novos, mais importante este aspecto do tempo de
preparação e de aprendizado.”
Com excepção dos treinadores das modalidades de futebol e ténis de mesa
que valorizam o sentido contrário as competições não devem ser estruturadas
em fase e com eliminatórias, devem sim, ter um início e um final na própria
competição.
“O sistema taça de futebol de Portugal não é correcto para esses
miúdos porque não queremos eliminar. O sistema de campeonato
da liga não é correcto para os miúdos, porque o progresso é muito
prolongado no tempo. Portanto, tem que haver competições
curtas, espaçadas no tempo mas tem que percorrer um curto
período.”
“O modelo de competições com fases e em forma de campeonato
com eliminatórias para os escalões mais baixos não é o mais
adequado. Principalmente, porque aqueles que são menos
capazes não passam para as fases seguintes da competição. No
220
meu entendimento, são esses que precisam de mais experiências
competitivas. A falta de oportunidades iguais na participação e de
equilíbrio competitivo, propicia um distanciamento entre os
melhores e os piores.”
4.4.3. Disposições das competições
No que se refere à disposição das competições, verificamos que nos dois
primeiros escalões o consenso preponderante é de ocorram competições de 15
em 15 dias. Para o terceiro e quarto escalões a carga de competição é maior,
com uma participação sistemática a todos os fins-de-semana.
Figura 37 – Disposição das competições
Os treinadores entendem que deve haver uma progressão crescente no que
diz respeito à frequência de participação competitiva. Desejar-se-ia, passar de
uma ou duas competições por mês para uma frequência de quatro competições
por mês, realizadas em fins-de-semana. Recomendam os treinadores que, na
disposição das competições para os dois primeiros escalões, devemos levar
em conta o tempo para que as crianças possam fazer outras actividades do
221
seu interesse, para além do desporto praticado e o calendário escolar, para
que ocorram em períodos mais propícios para sua execução.
“Portanto poderia ser um turno do sábado ou do domingo, com
uma frequência de fim-de-semana sim outro não, para lhes dar
algum espaço para fazerem outras coisas, porque eles tem outras
motivações outros, interesses sem ser unicamente o desporto e
quanto mais abrangente para a vida deles melhor.”
“Nunca deveria haver competições sucessivas em fins-de-semana
consecutivos. Deveriam ter um fim-de-semana livre e não
deveriam exceder na minha perspectiva, duas competições por
mês. Se falarmos, normalmente nas actividades para estas
idades, em uma temporada de 10 meses por ano”
“Na minha opinião as competições deveriam ser distribuídas pelos
três períodos escolares, e coincidir aos fins-de-semana, tinha que
haver articulação com o sistema escolar.”
4.4.4. Avaliação da carga de competitiva actual em relação às
necessidades para a formação desportiva das crianças e jovens
De acordo com os valores percentuais apresentados na figura observamos que
a maioria dos treinadores concorda com a frequência de participação
competitiva actual. Acham que é suficiente para a formação desportiva das
crianças e jovens destes escalões.
222
Figura 38 – Avaliação da frequência de participação competitiva em relação às
necessidades para a formação desportiva das crianças e jovens
Mas para uma parcela menor de treinadores, nomeadamente das modalidades
de atletismo, basquetebol e rugby, a frequência de participação actual não é
suficiente. Deveria ser maior em todos os escalões, sobretudo de competições
menos formais, ajustadas às idades no sentido de motivar as crianças e jovens
desenvolvendo o gosto pela modalidade.
“Penso que deveria haver mais competições não formais para os
infantis e menos competições formais.”
“Acho que deveria haver mais eventos para que pudessem
contribuir mais para a formação deles. Mas temos limitações,
dependemos de uma estrutura de apoio para promover mais
eventos.”
“A frequência de participação competitiva é pouca. Deveriam
participar num número maior de competições, porque quanto mais
jogarem, maior vai ser a ligação deles com a modalidade,
principalmente porque eles gostam de competir.”
4.4.5. Relação entre a carga de competição e a carga de treino
223
Na avaliação da relação da carga de treino e da carga de competição,
verificamos que 83% dos treinadores entendem que a frequência de
participação competitiva apresenta uma relação com o aumento da preparação,
não tão evidenciada nos escalões iniciais como naqueles com jovens de faixas
etárias compreendidas entre os 14 e 16 anos, principalmente por estarem
associadas ao período de maturação biológica. Na concepção dos treinadores
este período seria o mais adequado para o aumento da preparação, com um
incremento das cargas de treino e para o desenvolvimento das capacidades
condicionais dos jovens, favorecendo o aumento da performance e alargando
com isso a sua participação competitiva.
.
“Esse número deve aumentar com a preparação, não pelo
aspecto competitivo, mas sim pelo aspecto maturacional que nos
permite treinar mais e com cargas maiores. Deve ser a partir dos
juvenis.”
“Nos infantis e nos iniciados como a quantidade de treino é maior
a regularidade das competições deve ser maior também.”
“A frequência de participação competitiva deve aumentar com a
preparação. Quem passa de infantil para iniciado passa a ter mais
competições, passa de uma para seis competições formais.”
Entretanto um grupo pequeno de treinadores discorda deste posicionamento,
afirmando que não há uma relação entre o acréscimo da participação
competitiva e o aumento da preparação, especialmente nestes escalões de
formação.
“Não há essa relação, não aumenta o número de competição por
estarem mais preparados. O que aumenta é a qualidade da
prestação para cada escalão.”
224
“Se falarmos em um treino com a perspectiva de formação
técnica da criança, não me parece relevante aumentar a
participação competitiva com o aumento das secções de treino.
Não devemos e sobrecarregar a criança em termos do
desenvolvimento das capacidades condicionais.”
4.5. Competição na formação dos treinadores
No que diz respeito à importância atribuída nos cursos de formação dos
treinadores aos temas referentes ao papel da competição no processo
formativo, sua organização e à preparação para participar dela, encontramos
uma posição unânime no pensamento dos treinadores. Estes concordam com a
importância destes temas e que deveriam ter um maior destaque na formação
dos treinadores. No entanto, quando inquiridos sobre a abordagem desses
conteúdos nos cursos de formação organizados pelas federações e
associações, mais da metade dos treinadores (60%), responderam que não é
dada devida importância, enquanto que (40%) atestam que já viram esses
temas serem desenvolvidos e debatidos nos cursos de formação dos
treinadores. As justificativas para que seja atribuída uma maior importância aos
temas relacionados com a competição na formação dos treinadores apoiam-se
em dois aspectos: um referente ao formato e especificação dos conteúdos
adoptados nos cursos de formação pela federação. Em sua maioria são
realizados de forma não integrada, não levando em consideração, no sentido
de perceber e aconselhar, outras especificidades na formação daqueles que
trabalham com jovens. Por vezes limitam-se à instituição de regras, que não
respeitam os princípios pedagógicos e nem aquilo que as crianças
efectivamente necessitam. Entendem que era importante para sua formação a
definição de linhas orientadoras pelas federações.
“Infelizmente nos cursos de formação tem-se falado muito pouco
sobre esses aspectos, têm sido muito pouco abordados. Falta
225
abordar aspectos de ensino, aspectos pedagógicos, saber qual a
importância que tem a competição na formação dos jovens. Criase, muito cedo, a ideia de que o bom treinador é o que ganha, o
que acho errado.”
“Hoje em dia a federação não tem se preocupado com isso,
porque os cursos de formação encaram a participação competitiva
dos jovens como algo pré-estabelecido e intocável.”
Outro aspecto diz respeito a formação do treinador, que em sua maioria não
tem uma formação académica. São treinadores porque foram atletas e os
modelos que adoptam são os que viveram em suas carreiras de atletas.
Entendem a competição como algo que tem um fim em si mesmo e não como
uma forma de formação. Por vezes observamos treinadores que receberam
uma formação mas em sua prática, em suas intervenções que tem que ser
pedagógicas, que têm que ser formativas, não aplicam estes conteúdos e nem
as orientações que adquiriram. Destacam os treinadores a importância dos
monitores serem tutorados, serem acompanhados em seu trabalho por
pessoas com conhecimento e experiência, principalmente porque quem
trabalha com os escalões da formação deve ter uma formação o mais alargada
possível.
Consideram
de
extrema
relevância
que
aqueles
que
tem
responsabilidades na organização dos quadros competitivos, nomeadamente
os dirigentes, tenham também uma formação adequada.
“Isso é fundamental, porque eles não vêem a competição como
uma forma de formação. A competição é sempre um fim na
perspectiva da maioria dos treinadores, o fim é de obter
resultado.”
“Mais do que na formação dos treinadores deveria ser tema
obrigatório na formação daqueles que têm responsabilidade na
226
formação
dos
quadros
competitivos,
nomeadamente
os
dirigentes.”
4.5.1. Aspectos relacionados com o papel da competição na formação dos
mais jovens que deveriam estar presentes nos cursos de formação dos
treinadores.
De acordo com a percepção dos treinadores deveriam estar presentes nos
programas de formação os aspectos pedagógicos e didácticos (64%), aspectos
referentes à estrutura da carga e conteúdos do treino (37%), aspectos da
organização das competições enquadramento e regulamentação (30%) e os
aspectos psicológicos e sócio-afectivos (20%). Constatamos, a grande
importância atribuída à vertente pedagógica. Entendem que quando estão a
treinar, também estão a formar e a educar as crianças e jovens. Por isso deve
ter um peso considerável na formação dos treinadores. A qualidade da
formação é que tem que ser posta em primeiro lugar, a competição deverá ser
entendida como uma extensão do processo de treino. Porém, outros aspectos,
também, devem estar presentes nos cursos de formação, como à organização
e estruturação do treino, aspectos associados a organização da competição, os
aspectos psicológicos e da evolução da criança. Uma formação mais ampla
daria um suporte maior para os treinadores compreenderem e resolverem
melhor os problemas em sua actividade.
“Deveriam ser abordados conteúdos relacionados com a evolução
da criança. Em primeiro lugar conhecer a essência do jogo e
depois, discutir o modelo de competição que sirva aos
pressupostos que escolhemos. As competições nunca foram
problematizadas. Há, muitas vezes, replicação do modelo de
competições adoptados nos seniores para estes escalões iniciais,
são habitualmente aceites pelos dirigentes, organizadores e pais
sem contestá-las.”
227
4.6. Síntese do Primeiro Estudo Empírico
Apresentaremos aqui de forma resumida, a configuração do quadro competitivo
organizado pelas associações e federações desportivas de Portugal, tomando
como referência as categorias de análise utilizadas no estudo.
Enquadramento geográfico das competições para os diferentes escalões
- No quadro competitivo, organizado pelas associações e federações
desportivas, predominam as competições a nível nacional em todos os
escalões, manifestando um crescimento progressivo, associado a mudança de
escalão.
Em relação às competições no nível de distrito/região, são previstas com maior
frequência para os dois primeiros escalões.
- A partir do segundo escalão da formação, as competições apresentam uma
maior presença de aspectos formais. Essa característica apresenta um
crescimento associada à mudança de escalão. Competições de natureza
informal prevalecem no primeiro escalão e a partir do segundo escalão
apresentam uma diminuição significativa em sua frequência.
- A organização das competições por equipa nos desportos individuais é
valorizada pelas associações e federações em todos os escalões da formação,
todavia, ocorre em proporções baixas, três individuais para uma por equipa.
Inicio da participação competitiva
- Na maioria das modalidades, a regulamentação das competições,
organizadas pelas associações e federações, permite a participação de
crianças com idades de sete anos. De modo geral, a participação no quadro de
competições regulares começa com idades entre os seis e os oito anos.
228
Estas idades de início da participação nos quadros competitivos regulares,
apresentam uma precocidade ao compararmos com as idades recomendadas
na literatura para estas modalidades (Bompa, 2000).
Directivas e orientações pedagógicas para as competições
- A participação de rapazes e raparigas juntos nos quadros competitivos
regulares é prevista apenas em algumas modalidades e nos dois primeiros
escalões. Nos escalões mais velhos, terceiro e quarto, não são organizadas
competições mistas. No entendimento das federações e associações deve
haver uma separação.
- Não há uma preocupação, por parte das associações e federações, em
considerar na organização do calendário das competições datas, evento e
épocas de exames escolares.
- Verifica-se uma preocupação por parte das entidades organizadoras das
competições para estes escalões em garantir o acesso de todos. Predomina
em todos os escalões o critério de serem abertas a todos.
Sequência organizativa das competições
- Em relação aos aspectos que garantam a participação nos quadros
competitivos posteriores. No entendimento das associações e federações
desportivas, nos dois primeiros escalões, a participação é assegurada em
função dos aspectos organizativos das competições: competições sem
apuramento e sem fase. No terceiro e quarto escalões a continuidade das
equipas ou atletas vai depender do seu próprio nível de prestação na
competição.
229
- A maioria das entidades organizadoras das competições confere para estes
escalões, um calendário com competições distribuídas ao longo da época e
com intervalos curtos. Entretanto, para algumas modalidades, como a ginástica
e o ténis de mesa são organizadas de forma concentrada em períodos
específicos.
-
Fica evidenciado um
processo
progressivo
de
especialização das
competições. Entre os escalões, dois aspectos destacam-se por apresentar
maior peso nesse processo progressivo de especialização. O primeiro, que se
refere as modificações regulamentares e o segundo, diz respeito as alterações
estruturais. As modificações maiores ocorrem do terceiro para o quarto
escalão.
Objectivos da competição
- Dentre os objectivos definidos pelas federações e associações para a
competição destacam-se dois: os relacionados com a formação, voltados para
desenvolvimento motor, psico-social e afectivo e os voltados para o
desenvolvimento da técnica e da táctica. São diferenciados entre os escalões,
nos dois primeiros escalões mais voltados para a formação e nos escalões
mais velhos (terceiro e quarto) as competições já têm objectivo em si mesmas,
de apuramento e de revelar um vencedor.
Sistema de classificação e pontuação
- Em relação a atribuição de prémios nas competições, as recomendações,
propostas pelas federações são para que, nos dois primeiros escalões, todos
devem receber prémios e nos escalões seguintes, deve haver uma distinção na
atribuição de prémios. Para a maioria das federações não deve haver
atribuição de prémios de forma individual.
- Competições voltadas para o apuramento do campeão nacional, poder ser
realizadas desde o primeiro escalão, crescem conforme aumento do escalão. A
230
partir do terceiro escalão fica evidenciado que a competição está organizada
em um processo de exclusão. Em sentido contrário ao apresentado no primeiro
e segundo escalões, que através de estratégias como jogar todos contra todos,
visam assegurar a participação de todos.
Adaptações das regras
- Constatamos que em todos os escalões são realizadas adaptações na
estrutura e nos regulamentos da competição. O objectivo é adaptar às
características e capacidades das crianças. Contudo, esse processo se dá de
forma progressiva conforme o avanço do escalão. A intervenção das
federações na determinação de normas técnicas e pedagógicas, nem todas as
modalidades o fazem. A ideia principal das federações nessa acção é de tentar
unificar o trabalho realizado na formação.
Realização da arbitragem
- Na definição de quem pode arbitrar, a normativa da federação leva em conta
a natureza da competição. Nas competições menos formais podem arbitrar
pais professores e atletas, nas competições formais, a partir do segundo
escalão, deve ser árbitros da federação. Competições regionais e nacionais
devem ser dirigidas por árbitros experientes. Nos dois primeiros escalões o
carácter da arbitragem deve ter um sentido mais pedagógico.
Conteúdos da actividade competitiva
- Não há uma preocupação por parte da maioria das federações em incluir nos
conteúdos diversificados nas actividades competitivas organizada para estes
escalões. Os conteúdos da competição apresentam uma relação maior com os
objectivos da segunda etapa da formação, especialização inicial.
231
Número e frequência de competições
- Nos dois primeiros escalões participam em média de 3 a 5 competições por
temporada, e 15 a 31 provas. O número de competições e de jogos por
temporada, aumenta substancialmente para o terceiro e quarto. Apresentam
uma variação média de 4 a 9 competições e uma participação em torno dos 30
a 53 jogos e provas por temporada. Identificamos nos documentos das
federações três formas de organização.
1- Competições em formato de torneio, ocorrem em aos fins-de-semana, com
duração de um a dois dias.
2- Nos dois primeiros escalões, competições em forma de encontros e
convívios, que têm a duração de um a dois dias. No terceiro e quarto escalões,
as competições duram em média de dois a três meses, com jogos planeados
para todos os fins-de-semana.
3- Competições que duram em torno de quatro a seis meses, são organizadas
em fases, ocorrendo um jogo por semana.
4.7. Síntese do Segundo Estudo Empírico
Faremos aqui um apanhado das principais posições dos treinadores a cerca da
adequação das competições para crianças e jovens, levando em conta as
categorias do estudo.
Enquadramento das Competições
Primeiramente, em relação ao enquadramento das competições, a sua
natureza e a quem compete organizá-las os treinadores entendem que:
232
- as crianças e jovens, pertencentes a primeira etapa da formação, podem
participar de competições até ao nível de distrito/região, enquanto que, para
segunda etapa, o consenso é das competições ao nível nacional. Entretanto,
mesmo nos escalões mais baixos as competições de nível mais elevado não se
fazem presentes. Porém, os treinadores defendem que, para os dois primeiros
escalões, estas competições de nível mais elevado, devem diferenciar-se do
modelo actual, com regulamentos adaptados, menos formais, sem eliminação e
oportunizando a participação de todos.
- Em relação a formalidade na organização competitiva, entendem que deve
apresentar uma progressão de acordo com a mudança de escalão. Justificadas
pelas mudanças nos níveis de preparação das crianças e jovens.
- Julgam que a responsabilidade e competência na organização das
competições para estes escalões, na fase de iniciação e especialização inicial,
deva ser dos clubes e das associações desportivas. Principalmente por serem
responsáveis pela formação desportiva destes jovens.
Início da Participação competitiva
Quanto a definição da idade para o começo da participação nos quadros
competitivos de forma regular. A maioria defende que as crianças do primeiro
escalão, da etapa de iniciação estariam prontas para participar regularmente
dessas actividades competitivas. Contudo, essas crianças devem apresentar
um domínio mínimo da técnica, um nível coordenativo e cognitivo necessário
para realizar as tarefas da modalidade. O que implica em uma actividade
competitiva adequada as necessidades das crianças e jovens.
Directivas e orientações pedagógica
Centremo-nos agora na percepção do treinador a cerca das orientações
pedagógicas, relacionadas à oportunidade de participação, os critérios para
233
definir o quadro competitivo, a realização de competições mistas, a atribuição
de importância aos resultados e, por fim, os valores e funções que devem
orientar essa prática competitiva.
- O consenso entre os treinadores aponta que, nestes escalões de formação,
todos devem ser convocados para participar da competição e a participação
nela deve ser igual para todos. Nas situações de limitações impostas ao
acesso à competição, os treinadores optam por adoptar critérios de selecção,
primeiramente, relacionados com o nível de prestação desportiva, seguido dos
aspectos ligados aos valores como, frequência e assiduidade nos treinos, o
empenhamento e a capacidade de trabalhar em equipa.
- No estabelecimento do quadro competitivo, o posicionamento dos treinadores
apresenta uma diferenciação entre aos escalões e os respectivos critérios de
selecção. Em escalões da primeira etapa de formação, o grau de abertura deve
ser o critério utilizado. Já para os escalões da segunda etapa de formação, o
nível de prestação desportiva deveria ser a referência para a selecção de
equipas ou atleta.
- Quanto a participação em conjunto de rapazes e raparigas, o entendimento
dos treinadores para os dois primeiros escalões não há problemas em
participarem em conjunto nas competições, com excepção da modalidade de
ginástica, devido sua especificidade. Nos escalões seguintes, principalmente
no terceiro, a opinião já não é consensual, um grupo de treinadores das
modalidades de andebol, atletismo, judo e rugby defende a realização de
competições mistas. Enquanto que, treinadores das demais modalidades
estudadas, justificam que sejam separados em função da influência do
desenvolvimento e, também pelas diferenças nos interesses e motivações dos
jovens.
- A valorização dos aspectos da formação, em detrimento dos resultados na
competição, é um posicionamento bem claro dos treinadores e defendido para
234
o primeiro escalão. À medida que aumenta o escalão é creditada uma
importância maior aos resultados competitivos. Este processo deve ocorrer de
forma progressiva. Para os treinadores ela deve estar associada com o
crescimento do nível de preparação.
- A participação competitiva, segundo os treinadores, deve contribuir para o
desenvolvimento dos valores, especialmente aqueles relacionados com o
senso de justiça, de honestidade, da tolerância, da compaixão, além de
apresentar suas habilidades e de jogar bem. Entretanto, ganhar e ter uma boa
imagem pública são valores que no entendimento dos treinadores não têm
grande importância para estes escalões da formação.
- Durante o processo de formação, as actividades competitiva devem exercer
determinadas funções. Na concepção dos treinadores, as de maior relevância
estão associadas aos aspectos psicológicos e sociais como: propiciar a
obtenção de sucesso e a superação. Permitindo às crianças e jovens a sua
construção da auto-imagem e auto-estima, adquirir e desenvolver valores para
sua futura vida em sociedade, possibilitar estarem com seus amigos e fazerem
novos amigos, assim como, criar condições para que os mais jovens alcancem
seus objectivos.
Objectivos da competição
- Relativamente aos objectivos da competição, os treinadores entendem que
deve haver uma diferenciação nos objectivos das competições destes escalões
para os escalões superiores e essa deve corresponder a lógica do processo de
treino e a atribuição de importância aos resultados. Defendem que a
participação competitiva, principalmente no primeiro escalão, deve ser centrada
só na formação, os resultados teriam menor importância do que desenvolver o
gosto pela prática e estarem motivados. A partir do segundo escalão começam
a estarem presentes os resultados competitivos, mas, a ênfase maior deve ser
na formação que nos resultados da competição.
235
- Outro aspecto importante reporta-se à preparação para participar nas
competições. No posicionamento dos treinadores fica estabelecido que nos
dois primeiros escalões é pautada por uma preparação exclusivamente
multilateral. A partir do segundo escalão a preparação especializada começa a
aparecer, mas ainda predomina a orientação de uma preparação multilateral.
Para os treinadores nestas etapas iniciais a formação deve ser ampla,
diversificada e a longo prazo, onde o processo de treino e a intervenção do
treinador não sejam condicionadas pelos resultados na competição.
- Em relação aos anos de formação dedicados aos diferentes conteúdos da
actividades competitiva, (54%) dedicam do tempo médio de permanência nas
duas primeiras etapas de formação ao objectivo voltado só para formação e
(42%) com ênfase maior na formação que nos resultados. Apenas (4%) com
mais ênfase nos resultados que na formação.
Sistema de pontuação e classificação
- A participação em competições voltadas para o apuramento do campeão
nacional. Os treinadores entendem que não faz sentido crianças e jovens
nestas etapas de formação participarem em competições com este objectivo.
Principalmente por acreditar que interferem no processo de treino, levando a
uma especialização precoce na sua preparação, pela sobrevalorização por
parte dos dirigentes, treinadores e pais e por serem organizadas em processo
de eliminação.
- Essa participação deve ocorrer a partir dos escalões de juvenis e juniores.
- Em relação a atribuição de prémios, entendem os treinadores que todas as
crianças e jovens que participam nas competições deveriam receber prémios,
sem ocorrer diferenciações. A atribuição de prémios deve ser alargada e
diversificada, sendo o mais abrangente possível.
236
- Nos quadros competitivos para estes escalões da formação, os treinadores,
em sua maioria, não concordam com à introdução de provas a eliminar.
Sugerindo, que sua introdução deva ocorrer só a partir do escalão de juvenis.
Regulamento
- Os treinadores consideram a adaptação do regulamento nesses escalões
como um aspecto importante, devendo estar presente na organização das
competições para os mais jovens.
- As adaptações estruturais, consideradas as mais importantes, são
necessárias para proporcionarem uma segurança às crianças e jovens em
suas práticas.com equipamentos e implementos mais adequados em suas
dimensões, o peso e tamanho às idades. Também por interferirem
directamente na execução correcta da técnica, factor preponderante, tanto no
treino quanto na competição. Os treinadores também atribuíram uma
importância as adaptações de carácter pedagógico. Por exemplo, a
composição das equipas, o tempo de jogo, as possibilidades de substituições,
competições sem eliminações.
- Os treinadores concordam com a intervenção das federações no
estabelecimento de normas técnicas e pedagógicas, relativas aos conteúdos e
processos
de
organização
do
jogo.
Consideram
importante
para
o
desenvolvimento do trabalho de formação dos mais jovens terem uma linha
pedagógica a ser seguida, linhas orientadoras de actuação, assim como, as
normativas determinadas e bem enquadradas para o aprendizado da técnica
nestas idades.
237
- Em relação a arbitragem, os treinadores sugerem que, no nível de
escola/clube e local/cidade pode ser desempenhado pelos próprios treinadores,
professores ou atletas de escalões mais velhos, desde que tenham
conhecimentos de arbitragem e a nível nacional e internacional a opinião é de
que sejam arbitrada por árbitros experientes da federação. Porém, competições
a nível de distrito/região, as opiniões são divergentes em relação ao grau de
formalidade que deve existir. Entendem os treinadores que o carácter da
arbitragem para estes escalões deve ser pedagógico, deve ser mais educativo
e formativo do que punitivo.
- A participação das crianças e jovens na arbitragem, na concepção dos
treinadores, crianças dos primeiros escalões não devem fazer o papel de
árbitros. No terceiro e quarto escalão, entendem os treinadores que, poderão
desempenhar o papel de árbitro em escalões mais baixos, se apresentarem um
conhecimento
das
regras,
estiverem
motivados
para
assumir
essa
responsabilidade, compreenderem o sentido pedagógico que deve ter essa
arbitragem e de estar presente o valor da honestidade em suas decisões.
- Quanto a crianças e jovens desempenhar outras funções nas competições os
treinadores estão em concordância, particularmente, em funções de anotação,
registo do marcador, preenchimento de súmulas e de desempenhar funções de
cronometrista.
Conteúdo das actividades competitivas
238
Os treinadores valorizam mais nos dois primeiros escalões iniciais as
actividades diversificadas que, progressivamente, vão diminuído com o
crescimento do escalão. A partir do segundo escalão crescem as actividades
mais especializadas e adaptadas. Não estando presentes para estes escalões
actividades altamente especializadas. Essas competições devem ter um
carácter menos formal e serem realizadas sob forma de festivais ou torneios,
adoptando actividades de pequenos jogos, estafetas, provas combinadas e de
habilidades.
- A participação em competições especializadas e adaptadas foram as que em
média ocuparam maior tempo da formação (55%), contabilizando mais ou
menos 4 anos da formação. As actividades competitivas diversificadas também
ocupam grande parte do tempo total da formação principalmente nos escalões
iniciais (41%), em torno de 3 anos mais ou menos.
Carga de competição
- Na definição sobre qual deveria ser a frequência de participação competitiva
para estes escalões, os treinadores determinam que, para crianças e jovens
nos dois primeiros escalões, deva ter, em média, uma frequência de 02 a 03
competições por mês e uma frequência de 17 a 27 competições por
temporada.
No terceiro e quarto escalões, há um aumento na frequência de participação
competitiva. Passam a ter uma frequência média de 01 competição por semana
contabilizando um total de 26 a 37 jogos por temporada.
- No primeiro escalão, dois grupos de modalidades se distinguem pela
frequência de participação:
a-) O primeiro, formado pelas modalidades de andebol, atletismo, ginástica,
judo e a natação, apresentam frequências médias mais baixas na participação
competitiva, entre 02 a 16 por temporada.
239
b-) O segundo grupo de modalidades, nomeadamente, o basquetebol, o
futebol, o rugby, o ténis de mesa e o voleibol apresentam frequências médias
mais elevadas, entre 20 a 45 jogos por temporada.
- As modalidades individuais de ginástica, judo, natação e ténis de mesa
apresentam, para estes escalões, um formato de calendário competitivo com
competições concentradas em determinados períodos. Os treinadores
justificam que o tempo de preparação deve ser respeitado e que, participar em
muitas competições de forma sistemática implicaria em retirar tempo destinado
à preparação.
– Formato do calendário competitivo
- Para os treinadores os quadros competitivos para estes escalões devem estar
organizados ao longo da época desportiva de forma contínua, com
competições espaçadas e realizadas aos finais de semana sob forma de
torneios.
- Os motivos que justificam a opção tomada pelos treinadores seriam: para
evitar grandes períodos sem competição, o que provocaria uma desmotivação
nas crianças, para poderem avaliar de forma sistemática a evolução das
capacidades
técnicas
e
condicionais,
proporcionado
uma
actividade
diversificada e regular.
- Os treinadores das modalidades de ginástica, ténis de mesa e voleibol,
acham que deveriam estar organizadas em momentos concentrados de
competições e separados por intervalos longos. Argumentam que é necessário
um tempo de preparação e de aprendizado da técnica, para que a criança
possa cumprir com as exigências das tarefas na competição.
- As competições não devem ser estruturadas em fase e com eliminatórias,
devem ter um início e um final na própria competição, com excepção dos
treinadores das modalidades de futebol e ténis de mesa que valorizam o
sentido contrário.
240
- Na apreciação do quadro competitivo actual, a maioria dos treinadores
concorda com a oferta competitiva actual. Julgam que o número e a frequência
de participação competitiva ser suficiente para a formação desportiva das
crianças e jovens destes escalões.
Não obstante, treinadores das modalidades de atletismo, basquetebol e rugby,
contestam sobre a frequência de participação actual não são suficientes,
deveria ser maior em todos os escalões, sobretudo de competições menos
formais, ajustadas às idades no sentido de motivar as crianças e jovens
desenvolvendo o gosto pela modalidade.
- Na verificação da relação entre a carga de competição e a carga de treino,
(83%) dos treinadores entendem que a frequência de participação competitiva
deve progredir com o aumento da preparação. Esse incremento das cargas de
treino segundo os treinadores deve ocorrer a partir do quarto escalão.
Competição na formação dos treinadores
- Os treinadores concordam com a importância destes temas, deveriam ter um
maior destaque nos cursos de formação dos treinadores. Para (60%)
treinadores, afirmam que não é dada devida importância nos cursos de
formação, enquanto que (40%) atestam que já viram esses temas serem
desenvolvidos e debatidos nos cursos de formação dos treinadores.
- Aspectos relacionados com o papel da competição na formação dos mais
jovens que deveriam estar presentes nos cursos de formação dos treinadores.
- Em termos de importância atribuída aos conteúdos que deveriam estar
presentes nos programas de formação aparecem os aspectos pedagógicos e
didácticos (64%), aspectos referentes a estrutura da carga e conteúdos do
treino (37%), aspectos da organização das competições enquadramento e
regulamentação (30%) e os aspectos psicológicos e sócio afectivos (20%).
241
IV CONCLUSÃO
É chegado o momento de conferirmos e concluirmos nossa proposta, dentro
dos objectivos que nortearam este estudo. Primeiramente, recorremos à
literatura para verificarmos as recomendações e orientações dos especialistas,
no sentido de encontrar referências que servissem para construção de um
sistema de competições para crianças e jovens. Essas indicações da literatura
foram os parâmetros encontrados para a realização dos dois estudos
empíricos. Para concluirmos, tomamos por base as questões que orientaram o
estudo, apontando as divergências e convergências entre o modelo vigente de
competições em Portugal, as concepções dos treinadores e as orientações e
recomendações da literatura. Estas questões de referência, reflectiram sobre
os seguites temas: os valores e funções das competições de crianças e jovens;
a estrutura e conteúdos da competição e sua relação como o treino nos
diferentes estágios de preparação; os conteúdos e métodos de preparação
para as competições; a idade de início da participar nas competições regulares;
a natureza das competições; a frequência da participação competitiva.
Em relação às convergências e divergências entre o sistema vigente de
competições para crianças e jovens em Portugal e as orientações e
recomendações da literatura, podemos dizer que:
No quadro competitivo actual, encontramos um enquadramento geográfico em
que são previstas competições até o nível nacional para todos os escalões
pertencentes as duas primeiras etapas da formação. Diferenciando-se do que é
recomendado na literatura para estes escalões, que devem ter limites locais ou
regionais. Com isso, apenas uma parte dos dois primeiros escalões estariam
em conformidade com as orientações. A participação em competições de níveis
mais elevados em idades baixas pode gerar reflexos negativos nos aspectos
psicossociais, por terem uma orientação para obtenção de sucesso e uma
pressão excessiva pela vitória. Esse tipo de enquadramento não favorece a
formação do jovem atleta. Está desajustado com os níveis de prestação motora
242
e cognitiva destes escalões, não atende aos interesses, capacidades e
prioridades das crianças.
No que se refere à determinação do início da participação competitiva nos
quadros regulares, verificamos que para a maioria das modalidades, as
federações desportivas permitem a participação em competição de crianças a
partir dos 7 anos de idade. Comparando com as indicações da literatura,
conferimos que o início da aprticipação competitiva, no modelo vigente, ocorre
de maneira precoce. É recomendado pelos especialistas que esse início deve
ocorrer por volta dos 10 – 12 anos. Sobre o início das actividades competitivas,
as recomendações são de que devemos levar em consideração, além da
maturação física, a maturidade social, emocional, cognitiva e as exigências de
prestação das modalidades. As estruturas competitivas, baseadas na vitória e
na atribuição de prémios, características das competições especializadas,
exigem uma preparação também especializada, o que para estas idades são
inadequadas. Outro argumento listado, para justificar que crianças em idades
baixas não devem participar de uma quadro competitivo formal, refere-se à
incapacidade de perceber o papel dos outros na actividade e de coordenar as
suas acções com as dos outros.
Sobre as intervenções das federações e associações desportivas, no sentido
de determinar directivas e orientar a preparação para as competições,
podemos concluir que:
A orientação para participação de rapazes e raparigas juntos no quadro
competitivo só ocorre em algumas modalidades; menos da metade, apenas
nos dois primeiros escalões, o que evidencia uma orientação das competições,
desde muito cedo, para obtenção de reultados. Deixando, desta forma de
propiciar os objetivos formativos, de estimular a integração, o espírito de
amizade e o relacionamento entre as crianças, através de uma diversidade de
actividades.
Quanto ao acesso às competições, as entidades organizadoras apresentaram
uma preocupação em garantir a participação de todos na competição, nesta
etapa da formação. Não existem classificações ou exigências de índices. Essa
243
oportunidade de participação é importante para a formação das criaças e
jovens e, também, é necessário garantir o equilíbrio competitivo, garantir a
continuidade na competição para que tenham maior número de experiências de
sucesso.
Na organização do calendário competitivo, as federações e associações não
consideram as datas, os eventos e a época dos exames escolares. Não há
articulação com a escola, o que diverge do posicionamento da literatura. Essa
relação tem por objectivo optimizar os processos de recuperação, para que não
haja actividade desportiva controlada, num processo de treino regular.
Para o estabelecimento do quadro competitivo, nos dois primeiros escalões, a
participação é assegurada em função dos aspectos organizativos da
competição. Porém, no terceiro e quarto escalões, nas competições
estruturadas em fases e com eliminatórias, o critério de permanência na
competição depende do nível de prestação da equipa ou do atleta.
Contrariando as recomendações da literatura, essa diminuição de oportunidade
de continuação na própria competição só favorece aos atletas com níveis de
maturação mais avançados e àqueles que passaram por um processo de
especialização precoce.
O calendário competitivo, organizado no modelo vigente, confere para estes
escalões competições distribuídas ao longo da época e com intervalos curtos
entre elas, com exceção das modalidades de ginástica artística e do ténis de
mesa, que têm competições concentradas em períodos específicos. O modelo
de calendário adoptado nestas duas modalidades não propicia um número e
uma frequência de participação competitiva capazes de contribuirem para a
formação dos jovens atletas.
No que se refere ao sistema de classificação e pontuação, a proposta das
entidades organizadoras da competição, nos dois primeiros escalões, está de
acordo com as indicações da literatura. Todos que participaram da competição
devem ser premiados, sem haver distinção em função da prestação. No
244
entanto, a divergência é nos escalões seguintes, que são premiados conforme
o resultado na competição.
Competições voltadas para o apuramento do campeão nacional são previstas
já a partir dos escalões iniciais, discordando da posição encontrada na
literatura, em que nestes escalões as competições devem se restringir a nível
local/regional e até os 12 anos, não são recomendáveis estruturas competitivas
baseadas na vitória e na atribuição de prémios. A organização selectiva e a
eliminação precoce não devem estar presentes nas competições para estes
escalões, pois isso se reflete sobre o número de experiências competitivas e na
qualidade da formação.
No que concerne as adaptações estruturais e regulamentares, as federações
realizam esse processo de forma progressiva e adaptada às capacidades das
crianças, conforme o avanço do escalão. Essas modificações devem ser em
função dos objectivos formativos e as mudanças devem ser condicionadas
pelos estádios de desenvolvimento e pelo tempo de treino. Entendemos que
para realizarmos os objectivos formativos de forma integral é necessário, para
além das mudanças estruturais e regulamentares alterações, mudanças nos
objectivos, conteúdos e natureza das competições. A busca pela vitória não
seria o objectivo primordial nestas etapas.
Quanto aos conteúdos das competições, elaborados pelas federações e
associações desportivas, a maioria seguem o modelo tradicional das
competições dos adultos. Adoptam, a partir da segunda etapa de formação,
conteúdos especializados e adaptados, acusando um processo de formação
unidirecional e um quadro de especialização precoce devido ao sistema
tradicional. Diferencia-se das orientações da literatura, que recomendam
competições multilaterais com conteúdos diversificados, oportunizando formas
múltiplas de movimento, jogo e desporto. Por isso, há uma necessidade de
mudarmos os conteúdos, desenvolvendo aqueles que visam dar suporte ao
treino da criança, que evitem a especialização precoce e que promovam a
prestação a longo prazo.
245
No sistema de competições vigentes, a frequência de participação competitiva
para os dois primeiros escalões é insuficiente, segundo as referências
encontradas na literatura. As recomendações dos autores são de que esses
escalões tenham um número e uma frequência elevada de competições
simplificadas. Devem ser privilegiadas as situações de êxito e aumentadas a
motivação e o interesse pela prática desportiva. Já, nos escalões seguintes a
carga de competições é próxima ao que encontramos na literatura, em torno de
50 a 60 jogos por temporada.
No que se refere às convergências e divergências entre as concepções dos
treinadores, o sistema vigente de competições em Portugal e as orientações e
recomendações da literatura, podemos concluir que:
Os treinadores entendem que a partir do segundo escalão podem competir a
nível nacional, concordando com o modelo competitivo vigente e discordando
das recomendações da literatura, que estabelece como limite para estes
escalões da formação, competições até o nível local/regional. No entanto, os
treinadores acham que as competições para as duas primeiras etapas da
formação devem diferenciar-se do modelo actual, devem ser menos formal e
adaptarem regulamentos e estruturas que proporcionem a participação de
todos.
Quanto ao início da participação competitiva, a posição dos treinadores
converge com a determinação das federações, justificando, desde sua entrada
no desporto, os jovens estariam prontos para participarem regularmente
dessas actividades competitivas. Em um posicionamento discordante, a
literatura considera essas idades precoces para o início da participação no
quadro regular de competições.
O acesso à participação na competição deve ser igual para todos, revelando
uma congruência entre os posicionamentos dos treinadores, do modelo vigente
e da literatura.
246
No estabelecimento do quadro competitivo, o entendimento dos treinadores
está em consonância com o que é adoptado nas competições actuais. Na
etapa preliminar de base a permanência na competição deve ser garantida,
não ocorrendo eliminação de atletas ou equipas. Para a etapa de
especialização inicial, o critério de selecção é o nível de prestação na
competição, a classificação. O que diverge das recomendações da literatura é
o equilíbrio competitivo e a continuidade nas competições que são fatores
importantes e contribuem para o desenvolvimento e a formação dos jovens
atletas.
Quanto à participação em conjunto de rapazes e raparigas não há um
concenso entre os treinadores, alguns defendem que pode ocorrer para todos
os escalões, outros só para a primeira etapa de formação e ainda existem
aqueles que justificam que não pode haver participação mista. Isto revela uma
grande preocupação dos treinadores com as diferenças biológicas que podem
interfirir no rendimento do atleta, assim como, com a necessidade de atender
as exigências da competição e as especificidades da modalidade desportiva. O
que vem contrariar as indicações da literatura, que defende objectivos
competitivos para estes escalões, voltados para uma formação integral,
considerando aspectos biológicos, psicológicos e sociais.
Tanto a posição dos treinadores, quanto a dos autores da literatura convergem
em relação à importância que deve ser atribuída aos resultados na competição
para estes escalões. O que não devemos resaltar, nos dois primeiros escalões,
que devem começar ter algum destaque a partir da etapa de especialização
inicial, mas tendo em conta a progressividade e o crescimento do nível de
preparação dos atletas. O foco principal nestes escalões deve ser a formação
multilateral.
No que se refere aos valores e funções da competição para estas etapas da
formação, o posicionamento dos treinadores vai de encontro ao referido na
literatura; em que a competição deve ter uma função formativa, propiciar o
desenvolvimento em aspectos psicológicos, sociais e motores, valorizar
aspectos
do rendimento, que na competição não são considerados
247
importantes. As competições também devem criar condições para que os
jovens alcancem seus objectivos.
No entendimento dos treinadores, os objetivos das competições para estes
escalões devem ser diferenciados dos objectivos para os escalões superiores,
devem corresponder à lógica do processo de treino. A ênfase maior, nestes
escalões, deve ser sempre a formação. Mais na preparação multilateral do que
nos resultados da competição, concordando com o posicionamento da
literatura que defende a prioridade para a criança e as suas necessidades
evolutivas e não as condições para o resultado desportivo. Isto diferencia-se do
que é proposto no modelo vigente de competições para a segunda etapa de
formação, que é apurar e revelar um vencedor.
No sistema de pontuação e classificação, a posição dos treinadores é muito
semelhante à indicada na literatura e divergente do que é praticado no actual
modelo competitivo. Os treinadores defendem que não devem ocorrer
competições com vistas ao apuramento do campeão nacional, premiações com
distição pelo resultado na competição e introdução de provas a eliminar para
estes escalões. Caso isto ocorra, pode haver repercursão negativa no número
de experiências competitivas vivenciadas e interferir na qualidade de sua
formação.
As adaptações regulamentares e estruturais também são consideradas pelos
treinadores como aspectos importantes para garantir a aprendizagem, a
segurança do praticante e, principalmente, pelo carácter pedagógico que têm
as mudanças no regulamento. Neste aspecto, tanto as recomendações dos
autores, quanto a posição dos treinadores e o modelo de competições vigente
são convergentes. No entanto, as divergências encotradas referem-se à
formalidade nas competições do modelo actual, ocorrendo com maior
frequência para todos os escalões e em diferentes enquadramentos
competitivos. O que é defendido na literatura e também pelos treinadores é
uma competição simplificada, com regulamentos facilitados e adaptados à
idade dos praticantes.
248
Quanto ao conteúdo das actividades competitivas, o que é defendido pelos
treinadores está em conformidade com o que é recomendado pelos autores,
mas em desacordo com o que é proposto pelas federações. Na literatura e na
indicação dos treinadores, as actividades competitivas devem ser diversificadas
para os dois primeiros escalões e, progressivamente, modificar-se para
actividades especializadas e adaptadas nos escalões seguintes, objetivando
potencializar as possibilidades de transferência motora.
Determinar uma frequência de participação competitiva não é fácil. Ela
depende de vários fatores como, características da modalidade e tempo de
prática do atleta. Mas, as indicações são divergentes. As que encontramos na
literatura são em número maior do que as apresentadas pelos treinadores e as
evidenciadas na prática. Entretanto, em todas as posições a progressão
associada à mudança de escalão está presente.
Em relação ao formato do calendário competitivo, não encontramos um
consenso entre os treinadores, porém predominam as opiniões em torno de
uma organização de forma contínua e distribuída ao longo da época. Esta
posição também é defendida na literatura e realizada no modelo actual. Com
exceção de algumas modalidades, ténis de mesa e a ginástica artística, que
adoptam calendários competitivos em momentos concentrados e separados
por intervalos longos. Este formato não propicia uma frequência de participação
competitiva necessária para sua formação. Esta organização do calendário
considera a competição com o objectivo em si mesma e a lógica evidenciada é
muito próxima a do alto nível, pois é ela que vai determinar os conteúdos de
treino.
As concepções dos treinadores apresentam maior convergências com as
orientações e recomendações referidas na literatura do que o modelo vigente
de competições para crianças e jovens.
Pontos positivos considerados importantes pelos treinadores na organização
da competição para crianças e jovens:
249
- Presença de conteúdo da actividade competitiva de outras modalidades,
principalmente na primeira etapa da formação.
- Oportunidade da criança desempenhar outros papéis na competição.
- Orientação da federação no estabelecimento de normas e conteúdos para os
treinadores.
- Adaptações estruturais e regulamentares de acordo com o desencolvimento e
capacidade das crianças e jovens.
- Competições sem exclusões e com oportunidade de paraticipação igual para
todos.
- Estruturação do calendário competitivo que considere o calendário escolar.
- Competições sem distição na premiação; todos recebem prémios.
- Maior número de competições não formais, menos estruturadas para estes
escalões. Competições em formato de festand’s, convívios e encontros.
- Competições que oportunizem o êxito ao maior número de participante.
Pontos negativos na organização da competição para crianças e jovens, na
avaliação dos treinadores.
- Competições com apuramentos e classificatória, estimulando a eliminação
precoce, competições voltadas para o apuramento do campeão nacional.
- Competições especializadas, formais e sem diversidade.
- Competições sem adaptações nas estruturas e regulamentos, desajustadas
ao desenvolvimento e características das crianças.
- Competições extensas ou com intervalo muito grande entre elas.
- Baixo número de competições, principalmente as de carácter não formal.
- Competições com enquadramento a nível nacional e internacional.
250
Quanto à formação dos treinadores, consideram que precisa ser melhorada em
vários aspectos, predominantemente, nos que se referem à pedagogia do
desporto.
O sistema competitivo actual, adoptado pela maioria das modalidades
desportivas, apresenta uma estrutura e um enquadramento que não atendem
aos objectivos formativos, principalmente para segunda etapa do período de
base. Os conteúdos das actividades são especializados, com eliminatórias e
com o objectivo de revelar o campeão. Essas características são muito
próximas ao modelo competitivo do alto rendimento.
A forma como são concebidas as competições, sua natureza, estrutura,
enquadramento, objectivos e conteúdos, aliada às condições que circundam o
ambiente competitivo e factores psicossociais interferem diretamente na
qualidade da contribuição para formação e educação das crianças e jovens.
Sugestões para o enquadramento das competições de crianças e jovens
Com base nestas conclusões, sugerimos alterações em alguns aspectos que
possam contribuir para estruturação do sistema de competições para crianças
e jovens em Portugal. A construção de um modelo de competições requer a
valorização da intervensão pedagógica, sem deixar de considerar em seu
planeamento, o ajuste à prontidão, os interesses e necessidades das crianças
e jovens. Há, também, da necessidade de subverter a lógica de priorizar os
resultados da competição nestas etapas da formação desportiva.
Primeiramente, listamos os aspectos que devem ser evitados em sua
concepção.
- Devemos evitar a excessiva valorização dos resultados na competição, com
isso evitaremos também o aumento no volume e intensidade de cargas e uma
rápida especialização nos exercícios e métodos de treino.
251
- Competições muito estruturadas, unilaterais e especializadas, com objectivos
semelhantes e próximos dos de alto nível.
- A selectividade, através da eliminação precoce e competições com objectivos
de revelar o campeão.
- A preparação dependente das exigências das competições, com o objectivo
de obter resultados a curto prazo.
- Competições sem adaptações em suas estruturas e regulamentos,
desajustadas da prontidão desportiva apresentada pelos praticantes.
Listamos, agora, os aspectos que devem ser priorizados na construção de um
sistema de competições para crianças e jovens, que atenda aos objectivos da
formação a longo prazo.
- As competições devem ocorrer dentro de uma área geográfica que não
ultrapasse os limites locais ou regionais e serem ajustadas aos moldes da
formação.
- Deve ser oportunizada uma grande frequência de participação competitiva
durante as etapas da formação, criando possibilidade aos jovens vivenciarem
um número maior de experiências de sucesso. As competições devem ser de
curta duração, espaçadas e variadas.
- Na construção do calendário competitivo devem ser resguardos o intervalo de
períodos de preparação e de competição, momentos de aprendizagem,
aplicação e de avaliação. Também devemos considerar o calendário escolar e
as datas festivas.
- Devem predomiar as competições de natureza informal para que a inclusão
de aspectos formais aconteça de forma progressiva, a partir da etapa de
especialização inicial.
252
- Devem ser estruturadas em forma de pequenos jogos, com suas múltiplas
formas, menos estruturados, simplificados, diversificados e que favoreçam a
formação multilateral.
- Promover o acesso à competição, proporcionando a oportunidade de
participação e continuidade na competição. Todos devem ter as mesmas
oportunidades de participação.
- Procurar estratégias que equilibrem os confrontos competitivos. Deve ser
dada uma atenção especial à construção dos grupos, às formas de apuramento
e constituição das séries.
- As capacidades e o grau de desenvolvimento dos praticantes devem ser
ajustadas, quer a nível estrutural quer a nível regulamentar.
- As actividades de treino e competições devem estar interligadas em relação
aos seus objetivos, conteúdos e progressão, apresentando uma especialização
crescente, ajustadas no nível de prestação e ao desenvolvimento das crianças
e jovens.
- O tempo necessário para as criança realizarem as tarefas escolares e
participarem de outras actividades, fora do desporto, deve ser respeitado.
- A competição e o treino devem assumir um carácter preparatório da
construção para as etapas seguintes, que conduzem aos grandes resultados.
- A competição deve promover o desenvolvimento físico, harmonioso e
equilibrado dos atletas, assim como, a aprendizagem e aperfeiçoamento das
técnicas fundamentais.
- Os resultados na competição devem ser relativisados em sua importância. O
processo para alcançá-los é que deve ser valorizado. A auto-superação, a
melhoria de habilidades, o progresso em relação a si mesmo, conseguir fazer e
fazer melhor são objectivos que devem estar presentes no treino e na
competição.
Entendemos que a competição desportiva não apresenta, em si, inconvinientes
desde que se integre aos objectivos essenciais das etapas de formação e sua
253
organização se harmonize com as capacidades dos praticantes e com a
perspectiva da prestação desportiva a longo prazo.
Sugestões para futuras investigações
Em nosso estudo, conseguimos identificar a lógica predominante no quadro
característico do sistema de competições vigente em Portugal, para os
escalões da formação que apresentam uma estrutura e um enquadramento
muito próximos ao modelo das competições do alto nível. Para maioria dos
treinadores este quadro competitivo não atende às necessidades de formação
do jovem atleta, precisa ser ajustado e apresentar uma lógica diferente das
competições do alto nível. No entato, pela diversidade de factores, de
diferentes áreas envolvidas na construção do quadro de referência para
elaboração das competições, devemos realizar novos estudos com abordagens
multivariadas. Por isso, sugerimos alguns temas que ainda precisam ser
esclarecidos:
- Verificar as possíveis inter-relações entre constructos de diferentes áreas e
sua importância na organização do treino e da competição nas etapas de
formação.
- Estudar a carreira desportiva de crianças e jovens que iniciaram
precocemente o treino e a participação competitiva e suas relações com o
rendimento desportivo.
- Comparar sistemas de organização competitiva, com diferentes objectivos,
estruturas e enquadramentos, apontando seus benefícios e prejuízos.
V - BIBLIOGRAFIA
Adelino, J., Vieira, J., Coelho, O. (1998). Jovens no desporto. Um pódio para
todos. Treino Desportivo, ano 1, 3ª série, nº 2 outubro, 19-32.
Adelino, J., Vieira,J., Coelho, O. (1999). Será que os meus atletas estão
prontos para a competição. In V. J. Adelino, J., Coelho, O. (Ed.), Treino
254
de jovens - O que todos precisam de saber! Lisboa: Centro estudos e
formação desportiva, pp. 151-152.
Anderson, D. I., Magill, A. (1996). Critical Periods as Optimal Readiness for
Learning Sport Skills. In F. L. In Smoll, & R. A. Magill (Ed.), Children in
sport, A Biopsychsocial Perspective (pp. 57-72). Washington: University
of Washington: Mcgraw-Hill Companies.
Anderson, G. S., & Ward, R. (2002). Classifying Children for Sports
Participation Based Upon Anthropometric Measurement. European
Journal of Sport Science, 2(3), 1.
Andrade, M. G. (1996). Para uma teoria das competições desportivas em
crianças e jovens, P. Fonte. Dissertação de Mestrado. Porto: Faculdade
de Ciências do Desporto e de Educação Física Universidade do Porto.
Araújo, C. M. R. (1995). Treino, crescimento, maturação e conteúdo mineral
ósseo. Estudo em praticantes de Ginástica Artística Masculina, P. Fonte
Dissertação de Doutorado. Porto: Faculdade de Ciências do Desporto e
de Educação Física, Universidade do Porto.
Araújo, D. (1999). O treino de competências psicológicas em jovens. Especial
Treino Desportivo, II(2), 22-30.
Araújo, J. (1994). Ser Treinador (Editorial Caminho ed.). Lisboa.
Arens, O. (1986). Train or piar for young runners., LeveI III acreditation thesis:
Australian Track and Field Coach Association.
Balyi, I. (2001). Sport System Building and Long-term Athlete Development in
Canada. In C. Report (Ed.), The Situation and the Solutions (Vol. 8, pp.
pp.25-28). Canadian: Canadian Professional Coaches Association.
Balyi, I. (2002). O desenvolvimento do praticante a longo prazo – sistemas e
soluções. Treino Desportivo, 22-27.
Barbanti, V. (1997). Teoria e prática do treino esportivo. São Paulo: Edgard
Blücher.
Bardin, L. (1994). Análise do conteúdo. Lisboa: Edições 70. Lda.
Barynina, I. V., S.M. . (1992). The afthermath of early sports specialization for
highly qualified swimmers. Fitness and Sports Review International,
27(4), 132-134.
Bento, J. (1987). Desporto - Matéria de ensino. Lisboa: Editorial Caminho.
255
Bento, J. (1989). Para uma Formação Desportivo-Corporal na Escola. Lisboa:
Livros Horizonte.
Bento, J. (2004). Desporto Descurso e Substância. Porto: Campo das Letras.
Bequer, G., Gonález, R., Plous, M. (1988). Importancia de los juegos de
movimiento en la edad preescolar. Stadium(22), 131.
Berkowitz, L. (1973). Sports, Competition, and Aggression. The Physical
Educador, 30(2), 59-61.
Blázquez Sanchez, D. (1986). Iniciación a los deportes de equipo del juego al
deporte: de los 6 a los 10 anos (Editorial Martinéz ed.). Barcelona: Roca
SA.
Bompa, T. (1999a). Planejamento a Longo Prazo: O Caminho para a Alta
Competição. In V. J. Adelino, J., Coelho, O. (Ed.), Seminário
Internacional Treino de jovens " Os caminhos do sucesso". Lisboa: .
Lisboa: Centro de Estudos e Formação Desportiva, pp.139-150.
Bompa, T. (1999b). A dinâmica do microciclo nas etapas de crescimento e
desenvolvimento do jovem praticante. In V. J. Adelino, J., Coelho, O.
(Ed.), Seminário Internacional Treino de jovens " Os caminhos do
sucesso". Lisboa: : Centro de Estudos e Formação Desportiva, pp.7386.
Bompa, T., Orlick, T. (1999c). Os caminhos de sucesso no treino de jovens. In
V. J. Adelino, J., Coelho, O. (Ed.), Seminário Internacional Treino de
jovens " Os caminhos do sucesso". Lisboa: : Centro de Estudos e
Formação Desportiva, pp.133-158.
Bompa, T. (2000). Total Traning for Young Champions: proven condition
programs for athletes ages 6 for 18: Human Kinetics.
Brisson, J. (1979). L' enfant et le sport de haut niveau. International council of
sport and physical education review, 2, 35-39.
Burden, P. (1990). Teacher Development in Handbook of Researche on
Teacher Education. In W. R. Houston (Ed.), Handbook of Researche on
Teacher Education. New York. McMillan: (pp. 311-328).
Butterfield, S. A., & Loovis, E. M. (1993). Influence of age, sex, balance, and
sport participation on development of throwing by children in grades K-8.
Percept Mot Skills, 76(2), 459-464.
256
Cafruni, C., Marques, A., Gaya, A. (2003). Análise da carreira desportiva de
atletas brasileiros. Estudo da relação entre o processo da formação e o
rendimento desportivo. Dissertação de mestrado. Porto: Faculdade de
Ciências do Desporto e de Educação Física. Universidade do Porto
Portugal.
Campbell, P. T., Katzmarzyk, P. T., Malina, R. M., Rao, D. C., Perusse, L., &
Bouchard, C. (2001). Prediction of physical activity and physical work
capacity (PWC150) in young adulthood from childhood and adolescence
with consideration of parental measures. Am J Human Biol, 13(2), 190196.
Campbell, P. T., Katzmarzyk, P. T., Malina, R. M., Rao, D. C., Perusse, L., &
Bouchard, C. (2001). Stability of adiposity phenotypes from childhood
and adolescence into young adulthood with contribution of parental
measures. Obes Res, 9(7), 394-400.
Campbell, S. (1986). Youth Sport in the United Kingdom. In M. Weiss, Gould, D.
(Ed.), Sport for children and youths (pp. 21-26): Champaign: Human
Kinetics Publishers.
Campbell, S. (1998). A função do treinador no desenvolvimento do jovem
atleta. Treino Desportivo, 3, 31-36.
Clohessy, P. (1983). The benefits of distance running to young athletes. Sport
Coach 8(4), 14-18.
Close, B. (1978, Dez). The real meaning of winning. Swimmers Magazin, Dez,
12.
257
Coakley, J. (1984). When should children begin competing? A Sociological
Perspective. In M. Weiss, Gould, D. (Ed.), Sport for children and youths:
Human Kinetics Publishers. Champaign, Illinois.
Coakley, J. (1986). When should Children begin competing? A sociological
perspective. In D. G. ln M. Weiss (Ed.), Sport for Chíldren and Youths.
The 1984 Olympic Scientific Congress Proceedings. (pp. 59-63): Human
Kinetics Pubs. Champaign, Illinois.
Coelho, O. (2000). Pode a passada ser maior que a perna? In J. Garganta
(Ed.), Horizontes e órbitas no treino dos jogos desportivos. Porto:
Faculdade de Ciências do Desporto e Edicação Física. Universidade do
Porto, Portugal, pp. 145-154.
Coelho, R. W. C., Yara Beduschi (1999). Estudo comparativo entre o nível de
stress de crianças envolvidas em diferentes esportes organizados e em
atividades
físicas
competitivas
informais.
Revista
Treinamento
Desportivo, Vol 4 ( 3), 49-60.
Cratty, B. J. (1983). Psicologia no Esporte. Brasil: Prentice/Hall.
De Knop, P. (1996). European trends in youth sport: A report from 11 European
countries. European Journal of Physical Education, 1(1), 36-45.
De Knop, P., Van Hoecke, J., De Martelaer, K (1998). Over kwaliteit
gesproken... Talking about quality. In P. De Knop, & Buisman, A. (Ed.),
Kwaliteit van jeugdsport [Quality of youth sport]: Brussels VUBPress. pp.
217-28.
Deutsche-Sportbund.
(1983).
Pro+Contra:
Kinder
im
Leistungssport.
Sportpädagogik, 2(83), 7-8.
Dévis, J. (1996). Educación Física, Deporte e Currículo. Madrid: Editora Visor
Dezenberg, C. V., Nagy, T. R., Gower, B. A., Johnson, R., & Goran, M. I.
(1999). Predicting body composition from anthropometry in preadolescent children. International Journal of Obesity, 23(3), 253-259.
Drewe, S. (1998). Competing Conceptions of Competition: Implications for
Physical Education. European Physical Education Review, 4(1), 5-20.
Drewe, S. B. (1999). Moral reasoning in sport: Implications for physical
education. Sport Education and Society, 4(2), 117-130.
258
Drewe, S. B. (2000). Coaches, ethics and autonomy. Sport Education and
Society, 5(2), 147-162.
DSB. (1985). Children in competitive sport. Statement of principIes of German
Sports Federation, passed by lhe Main Committee of DSB. Ludens, 9(2),
52-55.
Duda, J. L. (2002). Social cognitive theories of sport motivation: Where have we
pressed and how far can we push? Journal of Sport & Exercise
Psychology, 24, 12-12.
Durand, M. (1988). El niño v el deporte. Barcelona: Ediciones Paidós.
Fait, H., Billing, J. (1978). Reassessment of lhe value of competition. In R.
Martens (Ed.), Jovand sadness in children's sports: Human Kinetics
Publishers. Champaign, Illinois.
Farinatti. (1995). Criança e Atividade Física. Rio de Janeiro: Sprint.
Fernández, F. G. (1995). La formación deI fondista. Una propuesta de
actuación para el monitor. Atletismo Espanhol, XLIV(472), 38-41.
Fernández-Ballesteros, R., Díez-Nicolás, J., Caprara, G. V., Barbaranelli, C., &
Bandura, A. (2002). Determinants and Structural Relation of Personal
Efficacy to Collective Efficacy., Applied Psychology:
An International
Review (Vol. 51, pp. 107): Blackwell Publishing Limited.
Ferreira, M. (1984). Youth Sport in Brazil. In M. Weiss, Gould, D. (Ed.), Sport for
children and youths: Sport for children and youths. Human Kinetics
Publishers. Champaign, Illinois.
Ferreira, M. B. R. (1986). Youth Sport in Brazil. In M. Weiss, Gould, D. (Ed.), D.
Sport for Children and Youths. The 1984 Olympic Scientific Congress
Proceedings.: Champaing, IIIinois: Humam Kinetics Publishers. X:11-15.
Ferreira, P. (1985). Do treino da criança e do jovem ao especialista de meiofundo. Atletismo 43, 30-34.
Ferreira, V. N. P. (1995). O atletismo jovem na Associação de Atletismo de
Braga. Estudo da evolução dos rankings e análise da participação
competitiva dos atletas jovens de meio-fundo e fundo entre 1991 e 1994.
Monografia elaborada no âmbito do Seminário da Opção Desporto de
Rendimento- área Atletismo. Faculdade de Ciências do Desporto e de
Educação Física, Universidade do Porto.
259
Filin, V. P. (1983). Aspetti de lIa preparazione dei giovani sportivi: Scuola deIlo
Sport, CONI.
Filin, V. P. (1996). Desporto Juvenil: Teoria e Metodologia (A. C. Gomes & S.
G. Silva. ed.): Paraná: Londrina.
Filin, V. P., Volkov V. M. (1998). Seleção de Talentos no Desporto: Midiograf.
Parana: Londrina.
Gambetta, V. (1990). Nouve Tendenze nella Teoria dell´Allenamento. Rivista di
Cultura Sportiva, SDS., 9(18), 7-9.
Gambetta, V. (1993). Novas tendências na teoria do treino desportivo.
Horizonte X(58), 123-126.
Gilroy, S. (1993). Whose sport is it anyway? Adults and children's sport. In M.
Lee (Ed.), Coaching children in sport: E & FN Spon. London.
Goetz, J., & LeCompte, M. (1984). Ethnography and Qualitative Design in
Educational Recearch. New York: Academic Press.
Gomes, P. (1993). A criança e o desporto. Prontidão e competência. In J.
Bento, Marques, A. (Ed.), A Ciência do Desporto a Cultura e o Homem.
Porto: FCDEF-UP, CMP.
Gonçalves, C. (1989). O espírito desportivo na formação do jovem praticante.
Lisboa: Editorial Ministério da Educação DGD.
Gonçalves, C. (1991). A prática desportiva das crianças e dos jovens.
Contributos para o seu alcance educativo e formativo. In J. Bento, A.
Marques (Ed.), As ciências do desporto e a prática desportiva - Desporto
na escola, desporto de reeducação e reabilitação. Porto: FCDEF - UP.
Gould, D., Eklund, R. (1996). Emotional Stress and Anxiety in the Child and
Adolescent Athlete. In O. BAR-OR (Ed.), The Chíld and Adolescent
Athlete (pp. 383-398): Blackwell Science, Oxford.
Graça, A., Tavares, F., Oliveira, J., Janeira, M. (1991). Perspectiva Integrada e
Progressiva de Formação de Jogadores em Baquetebol. In A. M. J.
Bento (Ed.), Actas do II Congresso dos Países de Língua Portuguesa.
As Ciências do Desporto e a Prática Desportiva no Espaço da Língua
Portuguesa. Porto: Univesidade do Porto: Faculdade de Ciências do
Desporto e de Educação Física. 1991, pp. 35-46.
Graça, A. (1997a). Os Valores na Educação Física. In M. Patrício (Ed.), A
260
Escola Cultural e os Valores. Porto: Porto Editora. pp. 251 -257.
Graça, A. (1997b). Conhecimento pedagógico do conteúdo no ensino do
basquetebol, Tese de Doutoramento (Tese de Doutoramento). Porto:
Faculdade de ciências do Desporto e de Educação Física, Universidade
do Porto, Portugal.
Grosser, M., Brüggemann, P., Zintl, F. (1989). Alto rendimiento deportivo.
Planificación y desarrollo. Barcelona: MartÍnez Roca S.A.
Grup, O. (1987). El niño campeón. Stadium, 21, 126.
Hahn, E. (1988). Entrenamiento con niñas. Teoría, práctica, problemas
especificas. Barcelona: Martínez Roca, SA.
Halbert, J. (1984). When should Children begin competing? A Coach’s
perspective. In D. G. M. Weiss (Ed.), Sport for Children and Youths. The
1984 Olympic Scientific Congress Proceedings, Vol, X, pp. 59-63:
Human Kinetics Pubs. Champaign, Illinois.
Hale, C. (1971). Athletic competition for young children. In Sport and Social
Devianci Conference. New York: State University of New York at
Brockport.
Hansen, L., Bangsbo, J., Twisk, J., & Klausen, K. (1999). Development of
muscle strength in relation to training level and testosterone in young
male soccer players. Journal of Applied Physiology, 87(3), 1141-1147.
Hardy, J., Hall, C. R., & Alexander, M. R. (2001). Exploring self-talk and
affective states in sport. Journal of Sports Sciences, 19(7), 469-475.
Harger, G. J., & Raglin, J. S. (1994). Correspondence between Actual and
Recalled Precompetition Anxiety in Collegiate Track and Field Athletes.
Journal of Sport & Exercise Psychology, 16(2), 206-211.
Hargreaves,
M. (2001). Pre-exercise
nutritional
strategies:
Effects
on
metabolism and performance. Canadian Journal of Applied PhysiologyRevue Canadienne De Physiologie Appliquee, 26, S64-S70.
Harre, D. (1982). PrincipIes of sports training. Berlim: Sportverlag.
Haywood, K. (1986). Modification in Youth Sport: A Rationale and some
Examples in Youth Basketball. In D. G. M. Weiss (Ed.), Sport for
Chíldren
and
Youths.
The
1984
Olympic
Scientific
Congress
Proceedings, Voi. X, pp. 179-185: Human Kinetics. Champaign, Illinois.
261
Jefferies, S. (1986). Youth Sport in the Soviet Union. In D. G. M. Weiss (Ed.),
Sport for Chíldren and Youths. The 1984 Olympic Scientific Congress
Proceedings, Voi. X.: Human Kinetics Pubs. Champaign, Illinois. pp. 2733.
Jones, G., & Hanton, S. (2001). Pre-competitive feeling states and directional
anxiety interpretations. Journal of Sports Sciences, 19(6), 385-395.
Jones, G., Swain, A., & Hardy, L. (1993). Intensity and Direction Dimensions of
Competitive State Anxiety and Relationships with Performance. Journal
of Sports Sciences, 11(6), 525-532.
Kemper, H. C. (2000). [Roaming through the methodology. XXVIII. More
problems with longitudinal studies: dropouts, head-start effects and
interval correlations]. Ned Tijdschr Geneeskd, 144(48), 2293-2297.
Kemper, H. C., de Vente, W., van Mechelen, W., & Twisk, J. W. (2001).
Adolescent motor skill and performance: is physical activity in
adolescence related to adult physical fitness? Am J Human Biol, 13(2),
180-189.
Kemper, H. C., Twisk, J. W., van Mechelen, W., Post, G. B., Roos, J. C., & Lips,
P. (2000). A fifteen-year longitudinal study in young adults on the relation
of physical activity and fitness with the development of the bone mass:
The Amsterdam Growth And Health Longitudinal Study. Bone, 27(6),
847-853.
Kemper, H. C. G. (2000). Role of the pediatric exercise scientist in physical
education, sports training and physiotherapy. International Journal of
Sports Medicine, 21, S118-S123.
Knappe W. & Hummel, A. (1991). Concepção da “Formação DesportivaCorporal de Base” na baixa idade escolar. . In As Ciências do Desporto
e a Prática Desportiva no Espaço da Língua Portuguesa. Actas do II
Congresso dos Países de Língua Portuguesa. Porto: Univesidade do
Porto. pp.73-82
Kobjakov, J. U. P. (1994). Sur la possibilité de prognostiquer les résultats
sportifs et certain des indices morphologiques des jeunes gymnastes. In
G.
M.
(Ed.),
Gymnastique
artistique
et
G.R.S.
Comunications
scientifiques et techniques d´experts étrangers. Paris INSEP, 69-76.
262
Kretchmar, R. S. (2000). Movement Subcultures: Sites for Meaning. JOPERD,
71(5), 19-25.
Krippendorf, K. (1980). Content analysis: An introduction to its methodology.
Thousand Oaks, CA: Sage.
Kulakov, V., Nikitushkin, V. . (1992). A long-term struture of the preparation of
distanee runners. Mod. Athl. Coach, 30(1), 38-39.
Kuptshinov, R., Siris, P. (1983). Selection and development of the athletes.
Mod. Athl. Coach, 21(1), 13-16.
Kurz, D. (1988). Pädagogische Grundlagen des Trainings: Hofmann-Verlag,
Schorndorf.
Lee, A. M., & Solmon, M. A. (1992). Cognitive Conceptions of Teaching and
Learning Motor-Skills. Quest, 44(1), 57-71.
Lee, K. S., Feltz, D. L., & Malete, L. (2000). A cross-cultural extension of the
coaching efficacy model. Journal of Sport & Exercise Psychology, 22,
S68-S68.
Lee, M., Smith, R. (1993). Making sport fit the children. In M. Lee (Ed.),
Coaching children in sport: E & FN Spon. London.
Lee, M. (1998). O desporto para os jovens ou os jovens para o desporto? In V.
J. Adelino, J., Coelho, O. (Ed.), Seminário Internacional Treino de
jovens. Lisboa: Centro de Estudos e Formação Desportiva, pp.123-134.
Lee, M. J., Whitehead, J., & Balchin, N. (2000). The measurement of values in
youth sport: Development of the youth sport values questionnaire.
Journal of Sport & Exercise Psychology, 22(4), 307-326.
Lee, R. C., Wang, Z. M., Heo, M. S., Ross, R., Janssen, I., & Heymsfield, S. B.
(2000). Total-body skeletal muscle mass: development and crossvalidation of anthropometric prediction models. American Journal of
Clinical Nutrition, 72(3), 796-803.
Lee, S.-Y. (2002). The Effects of Peers on the Academic and Creative Talent
Development of a Gifted Adolescent Male., Journal of Secondary Gifted
Education (Vol. 14, pp. 19): Prufrock Press.
Lima, T. (1981). Alta Competição: Desporto de Dimensões Humanas. Lisboa:
Livros Horizonte.
Lima, T. (1987a). Competição para jovens. Treino Desportivo, II, 32-39.
263
Lima, T. (1987b). Alcance educativo da competição. Lisboa: Editorial Ministério
da Educação. DGD.
Lima, T. (1987c). Desenvolvimento desportivo e desporto para jovens.
Horizonte, IV(19), pp. 21-25.
Lima, T. (1988). A formação desportiva dos jovens. Horizonte, XV, pp. 3-6.
Lima, T. (2000). Ser treinador de jovens. In V. J. Adelino, J., Coelho, O. (Ed.),
Especial Treino desportivo. Lisboa: (Vol. 3): Centro de Estudos e
Formação Desportiva, pp.45-47.
Maia, J. (2000). Exigências precoces de alto rendimento desportivo nos jogos
desportivos. In J. Garganta (Ed.), Horizontes e órbitas no treino dos
jogos desportivos. Porto: Universidade do Porto, Faculdade de Ciências
do Desporto e de Educação Física, pp.133-143.
Maia, J. A., Beunen, G., Lefevre, J., Claessens, A. L., Renson, R., & Vanreusel,
B. (2003). Modeling stability and change in strength development: a
study in adolescent boys. Am J Hum Biol, 15(4), pp. 579-591.
Maia, J. A. R., Thomis, M., & Beunen, G. (2002). Genetic factors in physical
activity levels - A twin study. American Journal of Preventive Medicine,
23(2), 87-91.
Malina, R. (1984). Readiness for competitive youth sport. In M. G. Weiss, D.
(Ed.), Sport for children and youths: Champaign, Illinois. Human Kinetics
Publishers. .
Malina, R. (1986). Readiness for Competitive Youth Sport. In D. G. M. Weiss
(Ed.), Sport for Children and Youths. The 1984 Olympic Scientific
Congress Proceedings, Vol, X: Human Kinetics Pubs. Champaign,
Illinois. pp. 45-50.
Malina, R. M. (1990). Research on secular trends in auxology. Anthropol Anz,
48(3), 209-227.
Malina, R. M. (1994a). Motor Development in Early and Late Childhood Longitudinal Approaches
- Kalverboer,
Af, Hopkins,B, Geuze,R.
American Journal of Human Biology, 6(3), 409-410.
Malina, R. M. (1994b). Physical activity and training: effects on stature and the
adolescent growth spurt. Med Sci Sports Exerc, 26(6), 759-766.
Malina, R. M. (1994c). Physical growth and biological maturation of young
264
athletes. Exerc Sport Sci Rev, 22, 389-433.
Malina, R. M., Beunen, G., Lefevre, J., & Woynarowska, B. (1997). Maturityassociated variation in peak oxygen uptake in active adolescent boys
and girls. Ann Hum Biol, 24 (1), 19-31.
Marques, A. (1990). A promoção de talentos desportivos na ex-RDA. Acabouse a mais poderosa fábrica de campeões do mundo? Treino Desportivo,
18.
Marques, A. (1991). A Especialização Precoce na Preparação Desportiva.
Treino Desportivo, IIª Série (19), 9-15.
Marques, A. (1993a). A periodização do treino em crianças e jovens.
Resultados de um estudo nos centros experimentais de treino da
Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física da
Universidade do Porto. In J. Bento, A. Marques (Ed.), A Ciência do
Desporto, a Cultura e o Homem. Porto: Faculdade de Ciências do
Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto, Câmara
Municipal do Porto, pp. 243-258.
Marques, A. (1993b). Bases para estruturação de um modelo de detecção e
selecção de talentos desportivo em Portugal. Espaço 1(I), Faculdade de
Ciências do Desporto e de Educação Física, Universidade do Porto. pp.
47-58.
Marques, A. (1995a). O desenvolvimento das capacidades motoras, os
métodos de treino e fases sensíveis. Horizonte, 11, pp. 212-216.
Marques, A. (1995b). O treino e as novas realidades. As questões da prática e
as tarefas da ciência. Horizonte, 11 (65), pp. 169-174.
Marques, A. (1997a). A criança e a actividade física. Maputo: Inovação e
contexto, Educação Física: Faculdade de Ciencias do Desporto e de
Educação Física da Universidade do Porto e FCDEF- UPM, pp. 15-31.
Marques, A. (1997b). A preparação desportiva de crianças e jovens - O sistema
de competições. In O. Guedes, (Org.), Atividade Física: Uma abordagem
multidimensional. João Pessoa: Ideia. Brasil.
Marques, A. (1998a). A criança e a actividade física. Inovação e contexto. In A.
P. António Marques, Alfredo Faria Junior (Ed.), Educação Física:
Contexto e Inovação. Porto: FCDEF-UP, pp. 15-31.
265
Marques, A. (1998b). Crianças e Adolescentes Atletas: entre a Escola e os
Centros de Treino. In V. J. Adelino, J., Coelho, O. (Ed.), Semonário
Internacional, Treino de Jovens. Lisboa: Secretaria de Estado do
Desporto. pp. 17-30.
Marques, A. (1999). Crianças e Adolescentes Atletas: entre a escola e os
centros de treino... entre os centros de treino e a escola! In V. J. Adelino,
J., Coelho, O. (Ed.), Treino de Jovens. Adelino, J.; Vieira, J.; Coelho, O.
(Coord.). Lisboa: Centro de Estudos e Formação Desportiva, pp. 17-30.
Marques, A. (2000). Carta ao meu treinador. Treino Desportivo, II(3, IIIª Série),
pp. 36-39.
Marques, A. (2001). As profissões do desporto: O treinador. Treino Desportivo,
13, pp. 29-33.
Marques, A. (2002). Conceito geral de treino de jovens - Aspectos filosóficos e
doutrinários da actividade e do treinador. . Treino Desportivo, 20.
Marques, A., & Oliveira, J. (2002). O treino e a competição dos mais jovens:
Rendimento versus saúde.: In: Esporte e Atividade Física. Manole, pp.
51-78.
Martens, K., Christina, K., Harvey, J., Sharkey, . (1995). Coaching Young
Athletes: Human Kinetics Publ., Inc. Champaign, Ilinois.
Martens, R. (1978). Jov and sadness in children's sports: Human Kinetics
Publishers. Champaign, Illinois.
Martens, R. (1984). Youth Sport in the USA. In M. Weiss, Gould, D. (Ed.), Sport
for children and youths: Human Kinetics Publishers. Champaign, Illinois.
Martens, R. (1986). Youth Sport in the USA. In D. G. M. Weiss (Ed.), port for
Children
and
Youths.
The
1984
Olympic
Scientific
Congress
Proceedings, Vol, X. : Human Kinetics Pubs. Champaign, Illinois, pp. 2733.
Martens, R., Gill, D. L., & Scanlan, T. K. (1976). Competitive Trait Anxiety,
Success-Failure and Sex as Determinants of Motor-Performance.
Perceptual and Motor Skills, 43(3), 1199-1208.
Martin, D. (1980). Grundlagen der trainingslehre - teil 11. Die plannung,
Gestaltung, Steuerung des trainings und das kinder und jugendtraining:
Verlag Karl Hofmann. Schorndorf.
266
Martin, D. (1999). Capacidade de Performace e Desenvolvimento no Desporto
de Jovens. In V. J. Adelino, J., Coelho, O. (Ed.), Seminário Internacional:
Treino de Jovens. Lisboa: Centro de Estudos e Formação Desportiva,
pp.37-63.
Martin, E. H., Rudisill, M. E., & Buchanan, A. (2000). The relationship of actual
motor skill competence and cognitive knowledge in young children: A
preliminary investigation. Journal of Sport & Exercise Psychology, 22,
S76-S76.
Martin, J. C., Malina, R. M., & Spirduso, W. W. (2002). Effects of crank length
on maximal cycling power and optimal pedaling rate of boys aged 8-11
years. Eur J Appl Physiol, 86(3), 215-217.
Martin, J. J. (2003). Performance cognitions of elite female youth distance
runners. Journal of Human Movement Studies, 44(6), 489-500.
Martin, K. A., Moritz, S. E., & Hall, C. R. (1999). Imagery Use in Sport: A
Literature Review and Applied Model. Sport Psychologist (Vol. 13, pp.
245): Human Kinetics Publishers, Inc.
Martin, R. H. C., Uezu, R., Parra, S. A., Arena, S. S., Bojikian, L. P., Böhme, M.
T. S. (2001). Auto-Avaliação da maturação sexual masculina por meio
da utilização de desenhos e fotos. Revista Paulista de Educação Física,
15(2), pp. 212-222.
Matweiev, L. P. (1990). O processo de treino desportivo. Lisboa: Livros
Horizonte.
Matweiev, L. P. (1991). Fundamentos do Treino Desportivo. Lisboa: Livros
Horizonte.
Matweiev, L. P. N., A. D. (1982). Theorie und Methodik der Karpererziehung
(Vol. Berlin): (Band 2). Sportverlag.
McPherson, B., Brown, B. (1982). The structure, processes, and consequences
of sport for children. In F. Smoll, MagilI, R, Ash, M. (Ed.), Children in
sport: Human Kinetics Books. Champaign, Illinois.
McPherson, S. L. (1999). Expert-novice differences in performance skills and
problem representations of youth and adults, Research Quarterly for
Exercise & Sport (Vol. 70, pp. 233).
McPherson, S. L. (2000). Expert-Novice Differences in Planning Strategies
267
During Collegiate Singles Tennis Competition, Journal of Sport &
Exercise Psychology (Vol. 22, pp. 39): Human Kinetics Publishers, Inc.
Mesquita, I. (1997). Pedagogia do Treino: A formação em jogos desportivos
colectivos. Lisboa: Livros Horizonte.
Mesquita, I., e Graça, A. (2002). A perspectiva construtivista da aprendizagem
no ensino dos Jogos Desportivos. In Cultura e Contemporaniedade na
Educação Física e no Desporto. E Agora? São Luís: Brasil.
Moreno, J. (1994). Fundamentos del desporte – Analisis de las estruturas del
juego deportivo. Barcelona: INDE.
Murdoch, E. (1990). Physical Education and Sport: The Interface. In N.
Amstrong (Ed.). London: New Directions in Physical Education, 1, pp.
63-77.
Nadori, L. (1990). Especialización y talento. Problemas pedagógicos de la
especialización y de la promoción del talento en el deporte.
Stadium(141), 41-46.
Neto, C. (1994). A criança e a actividade desportiva. Horizonte, X(60 ), pp.203206.
Orlick, T. (1986). Evolution in Children's Sport. In D. G. M. Weiss (Ed.): Sport
for Children and Youths. The 1984 Olympic Scientific Congress
Proceedings, VoI. X. Human Kinetics. Champaign, Illinois, pp. 169-178.
Passer, M. W. (1982). Determinants and consequences of children's
competitive stress. In F. Smoll, Magill, R., Ash, M. (Ed.), Children in
sport: Human Kinetics Books. Champaign, Illinois.
Passer, M. W. (1986). When should Children begin competing? A psychological
perspective. . In D. G. M. Weiss (Ed.), Sport for Children and Youths.
The 1984 Olympic Scientific Congress Proceedings, VoI. X: Human
Kinetics Pubs. Champaign, Illinois. pp. 55-58.
Passer, M. W. (1996). At What Age Are Children Ready to Compete? Some
Psychological Considerations. In F. L. Smoll, & Magill, R. A. (Ed.),
Children in sport, A Biopsychsocial Perspective Washington: University
og Washington: McGraw-Hill. pp. 73-82.
Patton, M. (1990). Qualitative Evaluation and Research Methodos. (2and ed.)
Newbury. California: Sage Publications, Inc.
268
Pepitone, E. A. (1980). Children in cooperation and competition: Lexington, MA:
Lexington Books.
Petlichkoff, L. (1996). The drop-out dilemma in Youth Sports. In O. BAR-OR
(Ed.), The Child and Adolescent Athlete: Blackwell Science, Oxford. pp.
418-430.
Pfützner, A., Reiss, M., Rost, K., Tünemann, H. (2001). I Giochi di Sydney e le
tendenze di sviluppo dello sport olimpico. Rivista di Cultura Sportiva
SDS., 51, 2-11.
Platonov, V. N. (1988). L’Enttrainement Sportif. Théorie et Méthodologie:
Éditions EPS, Paris.
Platonov, V. N. (1994). El Entrenamiento Deportivo, teoría y metodología.
Barcelona: Ed. Paidotribo, 4" ed.
Platonov, V. N. (1997). Princípios da preparação a longo prazo. Treino
Desportivo(4), pp. 14-23.
Presing, W. (1989). Children in sport: a European prespective. Sports Coach,
12(3), 27-31.
Regulamentos. (2004). Federação de Andebol de Portugal Disponivel em
http://www.fpa.pt/
Regulamentos. (2004). Federação de Ginástica de Portugal. Disponivel em
http://www.gympor.com/.
Regulamentos. (2004). Federação portuguesa de atletismo. Disponivel em
http://www.fpatletismo.pt/xhtml/.
Regulamentos. (2004). Federação portuguesa de Basquetebol Disponivel em
http://www.fpb.pt/.
Regulamentos. (2004). Federação portuguesa de Futebol disponivel em
http://www.fpf.pt/portal/page/portal/PORTAL_FUTEBOL.
Regulamentos. (2004). Federação portuguesa de Judo http://www.fpj.pt/.
disponivel em http://www.fpj.pt/.
Regulamentos. (2004). Federação portuguesa de Natação Disponivel em
http://www.fpnatacao.pt/.
Regulamentos. (2004). Federação portuguesa de Rugby Disponivel em
http://www.fpr.pt/.
Regulamentos. (2004). Federação portuguesa de Ténis de Mesa Disponivel em
269
http://www.fptm.pt/.
Regulamentos. (2004). Federação portuguesa de Voleibol Disponivel em
http://www.fpvoleibol.pt/.
Relaño, A. (2000). Altius, citius, fortius. Revista Perfiles, septiembre-ocutubre,
Organizatión Nacional de Ciegos. Madrid.
Richardson, R. J. (1999). Pesquisa social: métodos e técnicas. 3. ed: São
Paulo: Atlas.
Roberts, G. C. (1980). Children in Competition: A theorrtical perspective and
recommendations for practice. Motor Skill, 4, 37-50.
Roberts, G. C., Treasure, D. C., & Balague, G. (1998). Achievement goals in
sport: The development and validation of the Perception of Success
Questionnaire. Journal of Sports Sciences, 16(4), 337-347.
Roberts, G. T., D. (1993). The importance ofthe study of children in sport: an
overview. In M. Lee (Ed.), Coaching children in sport. London: E & FN
Spon.
Roberts, I. (1996). Children and sport - Walking to school has future benefits.
British Medical Journal, 312(7040), pp.1229-1229.
Roberts, I., Kramer, M. S., & Suissa, S. (1996). Does home visiting prevent
childhood injury? A systematic review of randomised controlled trials.
British Medical Journal, 312(7022), 29-33.
Roberts, J. M., & Brian Sutton-Smith. (1962). Child Training and Game
Involvement, Ethnology. Cross Cultural Correlates of Games of Chance.
Behavior Science, 1, 166-185.
Robertson, I. (1986). Youth Sport in Australia. In M. Lee (Ed.), Coaching
children in sport. London: E & FN Spon.
Robertson, S., & Elliott, D. (1996). The influence of skill in gymnastics and
vision on dynamic balance. International Journal of Sport Psychology,
27(4), 361-368.
Rolim, R. (1991). A Criança na Maratona: um Contra-Senso. In J. Bento, e A.
Marques (Ed.), As Ciências do Desporto e a Prática Desportiva (vol. 2),
Desporto de Rendimento. Porto: Faculdade de Ciências do Desporto e
de Educação Física da Universidade do Porto, pp. 215-222.
.
270
Rost, K. (1995). Le Gare nello sport giovanile. Sue. dello Sport, XIV(32), 69-73.
Rost, K. (1995). Le Gare nello sport giovanile. Sue. dello Sport, XIV(32), 69-73.
Rowen, B. (1973). The children we see: An observational approach to child
study. New York: Holt, Rinechart and Winston.
Schanabel, G. (1988). II Fatore tecnico coordenativo. Rivista di Cultura Sportiva
SDS., 13, 23-27.
Schonberger, K. (1987). Young people and athletics in the C.D.R. . New
Studies in Athletics, 2(1), 9-14.
Seefeldt, V. (1982). The future ofYouth Sport in America. In F. Smoll, Magill, R.,
Ash, M. (Ed.), Children in sport: Human Kinetics Books. Champaign,
Illinois.
Seefeldt, V. D., Ewing, M., & President's Council on Physical Fitness and Sports
(U.S.).
(1997).
Youth
sports
in
America,
an
overview.
from
http://purl.access.gpo.gov/GPO/LPS21092
Sherif, C. (1978). The social context of competition. In R. Martens (Ed.), Jovand
sadness in children's sports: Human Kinetics Publishers. Champaign,
Illinois.
Singer, R. N. (1991). Temas para o Treinador Reflectir. Treino Desportivo, 20,
23-31.
Smith, P. J. K. (2000). Task Continuity and contextual interference. Journal of
Sport & Exercise Psychology, 22, S101-S101.
Smith, R. E., & Small, F. L. . (1996 ). Way to go, coach: A scientifically proven
approach
to coaching effectiveness. : Portola, CA: Warde Publishers.
Sobral, F. (1988a). O adolescente atleta. Lisboa: Livros Horizonte.
Sobral, F. (1988b). O estado de prontidão desportiva: uma questão crucial do
desporto infanto-juvenil. Horizonte, X(58), 133-137.
Sobral, F. (1993). Os factores biossociais no rendimento desportivo dos jovens.
In V. J. Adelino, J., Coelho, O. (Ed.), Seminário Internacional Treino de
jovens. Lisboa: Centro de estudos e formação desportiva, Lisboa, pp.
61-64.
Sobral, F. (1994). Desporto infanto-juvenil prontidão e talento. Lisboa: Livros
Horizonte.
271
Stake, R. (1994). Case Studies. In Y. L. N. Denzin (Ed.), Handbook of
Qualitative Research (pp. 236-247): Thousand Oakes, CA: Sage.
Telama, R. (1988). Sports in and out of school. . In R. Malina (Ed.), Young
athletes- biological, psvchological, and educational perspectives: Human
Kinetics Books. Champaign.
Tenenbaum, G., Tehan, G., Stewart, G., & Christensen, S. (1999). Recalling a
floor routine: the effects of skill and age on memory for order., Applied
Cognitive Psychology (Vol. 13, pp. 101-123): John Wiley & Sons Inc.
Terry, P. C., Lane, A. M., Lane, H. J., & Keohane, L. (1999). Development and
validation of a mood measure for adolescents. Journal of Sports
Sciences, 17(11), 861-872.
Thieß, G. (1991).
Das
Nawuchstraining
im
Spiegel
von
20 Jahren
“Leistungssport”. Fortschritte und Defizite. Leistungssport, 6(21), 12-14.
Thiess, G., Tschiene, P., Nickel, H. (2004). Téoria y Metodología de la
competición deportiva. Barcelona: Paidotribo.
Thomson, R. W. (1996). Youth sport involvement in New Zealand: issues,
images and initiatives. FIEP Bulletin,, 66(1), 22-27.
Thorpe, R. (1993). Putting theory into pratice - a sport example. In M. Lee (Ed.),
Coaching children in sport. London: E & FN Spon.
Thumm, H.-P. (1987). The importance of the basic training for the development
of performance. New Studies in Athletics, 2(1), 47-64.
Tschiene, P. (1988). L'allenamento dei giovani mezzofondisti. Atleticastudi,
XIX(1), 37-41.
Tschiene, P. (1990). En favor de una teoria deI entrenamiento juvenil. Stadium,
22(143), 18-28.
Tschiene, P. (1995). A necessary direction in training: the integration of
biological adaptation in the training programo. Coaching Sport Sci.
Journ., 1(3), 2-14.
Ulatowski, T. (1975). La Théorie de l'Entrainement Sportif: Pubi. Solidarité
Olympique. CIO.
Valeriote, T., & Hansen, L. (1986). Youth sport in Canada. In D. G. M. Weiss
(Ed.), Sport for childre and yout (pp. pp. 17-20): Champaign, IL: Human
Kinetics, pp. 17-20.
272
Verkhoshanski,
Y.
(1990).
Entrenamiento
Deportivo.
Planificación
y
Programación. Barcelona: Martinez Roca.
Vieira, J. (1992). A propósito dos Jogos Olímpicos. Boletim da IAAF, Centro
Regional de desenvolvimento de Lisboa, 1(2), 1-2.
Vieira,
J.
(1995).
Editorial.
Boletim
da
IAAF.
Centro
Regional
de
IAAF.
Centro
Regional
de
Desenvolvimento de Lisboa, 4(11), 1.
Vieira,
J.
(1996).
Editorial.
Boletim
da
Desenvolvimento de Lisboa, 5(11), 1.
Weineck, J. (1983). Manuel d'entrainement. Paris: Vigor.
Weineck, J. (1986). Manual de Treinamento Esportivo. São Paulo: Ed. II,
Editora Manole.
Weiss, M., Gould, D. . (1986). Preface. In D. G. M. Weiss (Ed.), Sport for
Children
and
Youths.
The
1984
Olympic
Scientific
Congress
Proceedings, Vol, X.: Human Kinetics Pubs. Champaign, Illinois. pp. XVXVI.
weiss, M. (1993). Psychological effects of intensive sport participation on
children and youth: self- esteem and motivation. In B. Cahill, Pearl, A.
(Ed.), Intensive participation in children's sports: Human Kinetics
Publishers. Champaign, Illinois.
Weiss, M. R., Ebbeck, V., & Rose, D. J. (1992). Show and Tell in the
Gymnasium Revisited - Developmental Differences in Modeling and
Verbal Rehearsal Effects on Motor Skill Learning and Performance.
Research Quarterly for Exercise and Sport, 63(3), 292-301.
Weiss, M. R., & Smith, A. L. (2002). Friendship quality in youth sport:
Relationship to age, gender, and motivation variables. Journal of Sport &
Exercise Psychology, 24(4), 420-437.
Zakharov, A. (1992). Ciência do treinamento desportivo. Rio de Janeiro: Ed.
Grupo Palestra Sport.
273
ANEXO
Anexo 1 - Etapas da formação desportiva nos estágios de preparação
referenciadas para os escalões das modalidades colectivas
Modalidade
Sexo
Andebol
Masculino
Feminino
Voleibol
Masculino
Feminino
Rugby
Masculino
Feminino
Futebol
Masculino
Feminino
Basquetebol
Natação
Masculino
Feminino
Masculino
Feminino
Judo
Ginástica
artística
Ténis de mesa
Masculino
Feminino
Masculino
Feminino
Masculino
Feminino
masc. fem.
corridas dist.
curtas
Atletismo
masc. fem.
corridas dist.
médias
masc. fem.
Salto em
Categorias
Faixa
etária
Bambis
Minis
Infantis
Iniciados
Minis A
Minis B
Infantis
Iniciados
Bambis
Benjamins
Infantis
Iniciados
Escolas
Infantis
Iniciados
Escolas
Infantis
Iniciados
Mini A
Mini B
Iniciados
Cadetes B
Cadetes A
Cadetes B
Cadetes A
Benjamins
Infantis
Iniciados
Juvenis I
masc.
Infantis B
Infantis A
Infantis B
Infantis A
Iniciados
Infantis
Benjamin A
Benjamin B
Infantis
Benjamin A
Benjamin B
Infantis
Benjamin A
Benjamin B
7-8
9-10
11-12
13-14
até 10
10-12
13
14
até 8
9-10
11-12
13-14
8-10
11-12
11-12
8-10
11-12
13-14
6-10
10-11
12-13
8-11
12
8-10
11
até 10
11
12
13
i
7-9
10-11
7-8
9-10
até 10
até 11
6-10
10-11
12-13
6-10
10-11
12-13
6-10
10-11
Filin, V.
(1995)
Etapa de
formação
1ª
2ª
2ª
1ª
1ª
2ª
1ª - 2ª
2ª
1ª - 2ª
2ª
1ª
2ª
1ª
2ª
1ª
1ª
2ª
1ª
1ª
2ª
1ª
1ª
Bompa, T.
(2000)
Etapa de
formação
1ª
1ª
1ª
2ª
1ª
1ª
2ª
2ª
1ª
1ª
1ª
1ª
1ª
1ª
2ª
1ª
1ª
2ª
1ª
1ª
2ª
1ª - 2ª
2ª
1ª - 2ª
2ª
1ª
2ª
2ª
2ª
1ª
2ª
1ª
2ª
1ª
2ª
1ª
1ª
2ª
1ª
1ª
1ª
1ª
1ª
altura
masc. fem.
lançamento
do dardo
Infantis
Benjamin A
Benjamin B
Infantis
ii
12-13
6-10
10-11
12-13
2ª
1ª
1ª
1ª
1ª
1ª
1ª
1ª
Anexo 2 - Categorias sub-categorias e questões correspondentes do
instrumento de análise do primeiro estudo empírico
CATEGORIAS
SUB-CATEGORIAS
1 - Estrutura e
características das
competições
2 - Início da participação
competitiva
A- Organização
das competições
3 - Directivas e
orientações
pedagógicas para as
competições
4 – Sequência
organizativa das
competições
QUESTÕES
1- Qual é o enquadramento geográfico das competições para
cada escalões?
2- Qual a natureza da competição para as diferentes escalões?
3- Nos desportos individuais são valorizadas as competições
por equipas?
4- Qual a idade de início da participação competitiva?
5- São realizadas competições mistas? Até que escalão
6- Há relações na organização do calendário das competições
com o calendário escolar? (ferias, exames)
7- São adoptados critérios para estabelecer os quadros
competitivos? (acesso à competição)
8- Quais os aspectos que determinam a participação nos
quadros competitivos posteriores? (fases seguintes)
9- Como os quadros competitivos estão organizados ao longo
da época?
10- Há competições “estilo torneio” aos fins-de-semana?
11- Há um processo progressivo de especialização da
competição? (Estruturais, regulamentos, condições de
organização, conteúdo da competição)
12- Quais os objectivos definidos pelas federações e
associações para a competição nas diferentes escalões?
5 – Objectivos da
competição
6 – Sistema de
pontuação e
classificação
13- Existem diferenças nos objectivos competitivos entre os
escalões para a mesma modalidade e entre modalidades
diferentes?
14- São atribuídos os prémios para todos que participaram da
competição? Há distinção? Até que escalão e para que nível
competitivo?
15- Há atribuições de prémios individuais?
16- Há competições voltadas para o apuramento do campeão
nacional? A partir de que escalão?
17- A competição está organizada em processo de exclusão?
(provas a eliminar) A partir de que escalão?
18- É assegurada a participação competitiva dos atletas e
equipes que tem prestações mais baixas? Se sim como?
1 - Adaptações da regra
B - Regulamento
2 - Arbitragem
19- Há adaptações nas regras em relação as dimensões do
campo, tamanho e peso dos materiais, número de jogadores,
duração e intervalo das actividades?
20- Há diferenciações nas adaptações das regras entre os
escalões?
21- Há normas técnicas e pedagógicas estabelecidas pela
federação?
22- Quem pode arbitrar?
23- Qual o nível de graduação exigida ao árbitro nas diferentes
escalões?
24- A arbitragem tem características diferenciadas por escalões
e nível competitivo?
25- São incluídas actividades competitivas de outras
modalidades na competição do desporto escolhido? Para que
escalões?
iii
C – Atividades
Competitivas
D – Carga de
competição
1- Conteúdos
1- Número e frequência
das competições
26- As actividades competitivas são diversificadas e
adaptadas? Para que escalões?
27- Há uma progressão dos conteúdos das actividades
competitivas entre os escalões?
28- Os conteúdos da actividade e os objectivos da formação
estão relacionados?
29- Qual é o nº de competições por temporada? Para cada
escalão?
30- Há um aumento progressivo no nº de competições a
medida que muda escalão?
31- Qual o período de tempo em que ocorrem as competições?
Há diferenças entre os escalões?
iv
Anexo 3 - Inquérito utilizado no Segundo estudo empírico
Cabeçalho do Inquérito
- O presente inquérito tem por objectivo identificar a sua percepção quanto a
adequada organização das competições desportivas para crianças e jovens. A recolha de
informações será realizada através de uma entrevista (gravação sonora), para garantir a
fidedignidade dos registos para análise. Posteriormente as gravações serão transcritas, no
sentido de confirmar as respostas anotadas durante a entrevista.
- Será garantido o absoluto anonimato e sigilo das suas respostas, no mais estrito
cumprimento das leis de protecção de dados pessoais, pelo que seu nome não figurará na
transcrição das respostas.
- Os escalões consideradas nos itens do inquérito, referem-se as duas primeiras
etapas da formação desportiva das crianças e jovens com idades compreendidas entre os 6 e 14
anos e levam em conta o enquadramento específico de cada modalidade desportiva proposta
pelos autores, (quadro - ).
Questões e cabulas
1
1- Em termos de objectivos , o que deve distinguir a competição das crianças antes dos 13-14
anos (escalões - quadro) das competições dos escalões mais velhos. Como vê a evolução
dos objectivos da competição ao longo dos escalões anteriores aos 13-14 anos.
Quadro1 – Assinale para cada escalão a ordem de prioridades que deveria orientar a
participação competitiva nas etapas de formação.
Prioridades da competição
Escalões
Só Formação
Mais ênfase na
Mais ênfase nos
Ênfase só nos
formação que nos
resultados nas
resultados nas
resultados nas
competições que
competições
competições
na formação
Bambis
(1)
(2)
(3)
(4)
Minis
(1)
(2)
(3)
(4)
Escolinha
(1)
(2)
(3)
(4)
Cadetes A
(1)
(2)
(3)
(4)
Cadetes B
(1)
(2)
(3)
(4)
Benjamins A
(1)
(2)
(3)
(4)
1
Acha que a competição deve ser compreendida nestas etapas de formação, como um instrumento e um
complemento da formação ou deve ter objectivo em si mesmo? Quando é que passa ter um sentido
diferenciado?
v
Benjamins B
(1)
(2)
(3)
(4)
Infantis A
(1)
(2)
(3)
(4)
Infantis B
(1)
(2)
(3)
(4)
Iniciados
(1)
(2)
(3)
(4)
Quadro 1b - Assinale para cada escalão, de acordo com os objectivos formativos, a
ordem que deveria orientar a preparação para a competição.
Objectivos Formativos
Escalões
Só preparação
Mais preparação
Mais
Só especializada
multilateral
multilateral do
especializada do
que especializada
que multilateral
Bambis
(1)
(2)
(3)
(4)
Minis
(1)
(2)
(3)
(4)
Escolinha
(1)
(2)
(3)
(4)
Cadetes A
(1)
(2)
(3)
(4)
Cadetes B
(1)
(2)
(3)
(4)
Benjamins A
(1)
(2)
(3)
(4)
Benjamins B
(1)
(2)
(3)
(4)
Infantis A
(1)
(2)
(3)
(4)
Infantis B
(1)
(2)
(3)
(4)
Iniciados
(1)
(2)
(3)
(4)
Quadro 2 - Atribua um grau de importância as funções que deve ter a competição
durante a formação desportiva.
Muito
Funções das competições
Nada
pouco
Pouco
importante
important
importante
Importante
Muito
importante
e
Propiciar para às crianças e jovens a
comparação das suas capacidades com
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
as dos outros e com as suas próprias
Criar junto dos amigos, dos pares, de
terceiros uma boa imagem social.
Possibilitar a criança e ao jovem de obter
sucesso e de se superar. Construir sua
autoimagem e autoestima.
Adquirir e desenvolver valores para a
sua futura vida em sociedade.
vi
Possibilitar as crianças e jovens de
estarem com os amigos e de fazerem
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
novos amigos
Motivar para alcançar os seus objectivos
Quadro 3 - Atribua um grau de importância aos valores e atitudes que podem ser
desenvolvidos nas crianças e jovens com a participação competitiva nestas
etapas de formação:
Muito
Valores
Nada
pouco
Pouco
importante
importante
importante
Importante
importante
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
Ter prazer, divertir-se
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
Jogar bem,
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
Tornar-se mais apto e mais
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
Ser justo, honesto, não
Muito
enganar
Ser companheiro, estar com
os amigos
Ter compaixão, preocuparse com as pessoas ao meu
redor
Demonstrar conformidade,
integrar-se no grupo
Ser consciencioso, dar o
máximo, fazer o melhor
Empenhar-se, ser
persistente e perseverante
no jogo e na competição
saudável pelo desporto
Ser obediente, faz o que lhe
pedem
Ter realização pessoal, faz
o melhor que pode
Ter boa imagem pública,
parecer bem, as pessoas
vii
gostam de mim
Ter auto realização, sentir-
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
se bem quando joga
Exibir competência e
habilidade, realizar bem as
habilidad. e técnicas
Mostrar desportivismo, ter
comportamento apropriado,
não ser um mau perdedor
Ser coeso, incentivar e
encorajar a equipa quando
as coisas são difíceis
Ser tolerante, envolver-se
com outros mesmo não
gostando deles
Superar e ganhar aos
outros
Lee, M.J., Whitehead, J., & Balchin, N. (2000) Journal of Sport & Exercise Psychology. 22 Issue 4, 307-326.
2
2- Qual a idade para a criança iniciar a participação em competições dos quadros competitivos
regulares na sua modalidade?
3
3- Qual o âmbito geográfico desejável para o quadro competitivo nos diversos escalões
considerados
2
Que aspectos são absolutamente necessários para que uma criança possa iniciar a
participação em competições regulares? (Pré requisitos biológicos, coordenativos, cognitivos)
3
Participação em competições nacionais e internacionais, porquê? Com que características?
A partir de quando? Porque não participação em competições nacionais e internacionais?
viii
Quadro 4 – Considerando apenas o caso de sua modalidade, assinale o nível competitivo
que deve haver para os escalões abaixo
Quadro competitivo
Escalões
Competições
Competições
Competições
Competições
Competições
a nível de
a nível local
a nível de
a nível
a nível
Clube ou
e de cidade
distrito ou
nacional
internacional
escola
região
Bambis
( )
( )
( )
( )
( )
Minis
( )
( )
( )
( )
( )
Escolinha
( )
( )
( )
( )
( )
Cadetes A
( )
( )
( )
( )
( )
Cadetes B
( )
( )
( )
( )
( )
Benjamins A
( )
( )
( )
( )
( )
Benjamins B
( )
( )
( )
( )
( )
Infantis A
( )
( )
( )
( )
( )
Infantis B
( )
( )
( )
( )
( )
Iniciados
( )
( )
( )
( )
( )
4- Quais os formatos desejáveis para o calendário competitivo nestes escalões. (tipo de
competição, nº de provas ou jogos, distribuição das provas ao longo da época). Quais os
4
critérios desejáveis para definir as equipas (participantes) que integram o calendário
competitivo.
5- Quando acha que devem ser introduzidas prova a eliminar, nos escalões considerados? Que
efeitos devem ter as classificações na competiçã5o para a organização das fases do
6
calendário competitivo? Para a distinção entre as equipas e para a atribuição de prémios
7
4
Acha que as competições devem ser realizadas de forma concentrada ou espaçadas aos finsde-semana, “estilo torneio”? Qual seria a vantagem?
5
Deve ser voltadas para um apuramento no sentido de revelar um vencedor? A partir de
quando deve seguir-se essa orientação? A partir de que momento faz sentido apurar um
campeão nacional nas etapas de formação?
6
7
Através de que critérios garantiria à participação nas fases seguintes da época desportiva?
Faz sentido atribuir prémios só por resultados nas competições? Para que escalões da
formação? Há interesse em diferenciar prémios para quem participa nas competições?
Acha que devem ser atribuídos a todos os jogadores e atletas prémios independentemente do
resultado? Qual o sentido?
ix
6- Que actividades diferentes8 da competição específica da modalidade incluiria no quadro
competitivo destes escalões?
7- Como encara a relação entre os objectivos e conteúdos do treino e da competição nestes
escalões?
Quadro 5 - Assinale o conteúdo do treino e o conteúdo da competição que deveria ser
indicando para cada escalão nas etapas de formação desportiva.
Conteúdo do treino
Escalões
Conteúdo da competição
Treino
Treino de
Treino de
Competições
Competições
Competiçõe
multilateral
especializaç.
elevada
multilaterais
especializada
s altamente
inicial
especialização
s e adaptadas
especializ.
Bambis
( )
( )
( )
( )
( )
( )
Minis
( )
( )
( )
( )
( )
( )
Escolinha
( )
( )
( )
( )
( )
( )
Cadetes A
( )
( )
( )
( )
( )
( )
Cadetes B
( )
( )
( )
( )
( )
( )
Benjamins A
( )
( )
( )
( )
( )
( )
Benjamins B
( )
( )
( )
( )
( )
( )
Infantis A
( )
( )
( )
( )
( )
( )
Infantis B
( )
( )
( )
( )
( )
( )
Iniciados
( )
( )
( )
( )
( )
( )
9
8- Sobre a formalidade da competição e adaptação do regulamento
a) Que entidades ou instituições devem organizar a competição nos diversos escalões?
b) Qual o grau de formalidade desejável para a arbitragem10 (quem arbitra e como arbitra) nos
diversos escalões?
8
Para além do quadro competitivo regular qual o interesse de promover outros tipos de
competições? Dê exemplos (informais, menos estruturadas, torneios, festivais)
9
A competição deve conter sempre os aspectos formais? Em que etapa da formação é forçoso
que seja assim? Isso se aplica a todo o enquadramento competitivo?
10
Que carácter diferencia os escalões? Em que sentido? Para que nível de competição? As
crianças podem arbitrar? A partir de quando? Até quando? Acha que é importante para a
x
c) Que alterações às regras são fundamentais nestes escalões11? (Duração ou distância das
provas; dimensões do terreno, tamanho e peso dos matérias da competição, nº de
jogadores por equipa).
d) Que normas técnicas e pedagógicas relativas aos conteúdos e processos de organização do
jogo devem ser estabelecidas pelas estruturas federativas nestes escalões?
Quadro 6 - Atribua um grau de importância aos resultados em cada etapa da formação
desportiva
Muito
Nada
pouco
Pouco
importante
importante
importante
Bambis
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
Minis
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
Escolinha
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
Cadetes A
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
Cadetes B
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
Benjamins A
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
Benjamins B
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
Infantis A
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
Infantis B
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
Iniciados
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
Escalões nas etapas de
formação
Importante
Muito
importante
9- Nos escalões considerados, de entre as crianças que participam regularmente nos treinos,
quem deve ser convocado para os jogos ou provas e quem deve entrar na competição?
12
Estabelece alguma distinção entre os escalões.
a) Regras para equilibrar a oportunidade de participação13 na competição
formação desportiva das crianças e dos jovens passarem por funções de registo do marcador e
anotação de resultados competitivos? Porquê?
11
Deveria haver uma diferenciação no ajustamento das regras entre os escalões? Porquê?
Na actual estrutura competitiva acha que as alterações estão adequadas aos escalões,
características e capacidades dos jovens desportistas?
12
Deveria haver uma diferenciação no ajustamento das regras entre os escalões? Porquê?
Na actual estrutura competitiva acha que as alterações estão adequadas aos escalões,
características e capacidades dos jovens desportistas?
Alterações no número de jogadores em competição, Porquê? Com que sentido? Para que
escalões?
xi
b) Participação conjunta14 de rapazes e raparigas
10- Qual a importância que deveria ser atribuída, nos cursos de formação dos treinadores, aos
temas referente papel da competição no processo formativo, a sua organização e a
preparação para participar?
13
O quadro competitivo numa época desportiva, dentro de uma mesma categoria, deve ser
diferenciado à partida em função do nível competitivo ou tempo de prática dos atletas e das
equipas? Quando pode ser feito?
Nas etapas de formação acha que nas modalidades desportivas individuais a participação
competitiva deveria fazer-se também em competições por equipas? Porquê? Quando?
14
Porquê? Até que etapa?
xii
Download

para uma teoria da competição desportiva para crianças e jovens