Universidade do Estado do Pará Centro de Ciências Biológicas e da Saúde Escola de Enfermagem Magalhães Barata Programa de Pós-Graduação em Enfermagem Mestrado Associado UEPA/UFAM Márcia Simão Carneiro Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem Belém 2012 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Márcia Simão Carneiro Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem Dissertação apresentada como requisito para obtenção do título de Mestre em Enfermagem no Programa de Mestrado Associado em Enfermagem- Linha de Pesquisa: Educação e tecnologia de enfermagem para o cuidado em saúde a indivíduos e grupos sociaisUniversidade do Estado Pará (UEPA) e Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Orientadora: Dra. Elizabeth Teixeira. 2 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Dados Internacionais de Catalogação na publicação Biblioteca do Curso de Enfermagem da UEPA – Belém - Pá S288r Carneiro, Márcia Simão Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem/ Márcia Sião Carneiro; Orientadora: Elizabeth Teixeira - Belém, 2012. 195 f.; 30 cm Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Universidade do Estado do Pará, Belém, 2012. 1. Gestantes 2. Pré-natal. 3. Gravidez – Aspectos psicológicos. 4. Representações sociais I. Teixeira, Elizabeth. (Orient.) II. Título. CDD: 21 ed. 618.24 3 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Márcia Simão Carneiro Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem Dissertação apresentada como requisito para obtenção do título de Mestre em Enfermagem no Programa de Mestrado Associado em Enfermagem- Linha de Pesquisa: Educação e tecnologia de enfermagem para o cuidado em saúde a indivíduos e grupos sociaisUniversidade do Estado Pará (UEPA) e Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Orientadora: Dra. Elizabeth Teixeira. Aprovada em:____/____/____ _____________________________________________ Prof. Dra. Elizabeth Teixeira Universidade do Estado do Pará Orientadora _____________________________________________ Prof. Dra. Maria Elisabete de Castro Rassy Universidade do Estado do Pará Membro Interno Efetivo _____________________________________________ Prof. Dra.Iaci Proença Palmeira Universidade do Estado do Pará Membro Interno Suplente _____________________________________________ Prof. Dr. Silvio Éder Dias da Silva Universidade Federal do Pará Membro Externo 4 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. À Deus pela sua infinita misericórdia e amor supremo. Aos meus pais pelos primeiros ensinamentos, amor e dedicação. Ao meu esposo e filhos pelo apoio, compreensão e incentivo em todos os momentos. 5 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. AGRADECIMENTOS À Deus por ter iluminado meus caminhos e pensamentos e por me ajudar nos momentos difíceis concedendo-me saúde, sabedoria e serenidade para prosseguir. Às “mulheres-mães” que aceitaram participar desta pesquisa, revelando os seus perfis, conhecimentos e vivências sobre o pré-natal, corroborando com a concretização deste estudo. À orientadora Elizabeth Teixeira, por sua competência técnica, habilidade interpessoal e disponibilidade em compartilhar saberes e vivências, com cuidado e afeto. Ao meu esposo, amigo e companheiro José Vieira por me incentivar e ajudar a acreditar que seria capaz de vencer as adversidades e caminhar ao meu lado em todos os momentos. Aos meus filhos Luis e Luiza por terem me oportunizado descobrir o amor de ser “mulher-mãe” e serem inspiração para o meu desenvolvimento pessoal e profissional. Ressalto que todas as formas de conhecimento devem ser consideradas e buscadas, visto ser a fonte inesgotável de riqueza do ser humano e o único patrimônio que ninguém pode nos tirar. À Valdirene, filha do coração e futura Enfermeira, por sua presença, apoio e dedicação em todos os momentos no decorrer da construção deste estudo. À minha mãe Fátima, por seu exemplo de luta, força de “mulher-mãe” e amor incondicional, sempre empenhada em me ajudar e interceder a Deus na intenção de bênçãos sobre os meus projetos de vida. Ao meu pai Irani, pelo exemplo de profissionalismo, presença, carinho, apoio e incentivo ao meu desenvolvimento profissional. À irmã Tathyane e sobrinho Thyago, pelos laços de família e de amor que nos unem. À avó Maria, por seus ensinamentos, determinação, auto-superação, disponibilidade e cuidado dedicado a todos os recém-nascidos filhos, netos e bisnetos da família. À avó Iracema (in memorian) por seus trabalhos como parteira no Baixo Amazonas e cuidados ofertados as gestantes, por sua brilhante intervenção durante o meu nascimento e exemplo de serenidade, humildade e paciência. Às Instituições UEPA/UFAM por oportunizar aos profissionais do Estado do Pará e Amazonas a realização do Mestrado Acadêmico em Enfermagem. À UFPA, pela liberação concedida para a realização desse mestrado, considerando o plano de carreira como forma de incentivo ao desenvolvimento profissional e pessoal de seu corpo docente. 6 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. À CAPES, pela concessão de bolsa, devidamente oportuna ao incentivo na formação de professores pesquisadores, oportunizando assim a minha participação em eventos científicos, exposição de trabalhos, assinatura de periódicos, aquisição de literaturas e demais empreendimentos essenciais para a qualidade da pesquisa. À FSCMPA, instituição em que foi desenvolvida a pesquisa, meu primeiro e único emprego por muitos anos, sede de meu desenvolvimento profissional e pessoal, representa para mim a grande casa de acolhimento, cuidado e aprendizagem do Estado do Pará. Às Professoras do Programa de Mestrado da UEPA pela competência e comprometimento com a enfermagem, formação e pesquisa. Às colegas de turma pelos conhecimentos compartilhados, momentos de interação, descontração, trabalho e produção coletiva. Aos amigos Luis Parladim e Michele Mitre, pelo apoio, incentivo e compartilhamento dos conhecimentos referentes a Teoria das Representações Sociais. Aos Professores Silvio Éder, Elizabethy Rassy e Iaci Palmeira, por aceitarem o convite em participar como Membros da Banca Avaliadora da dissertação e pela disponibilidade em contribuir com seus conhecimentos relevantes para o aperfeiçoamento desta pesquisa. Ao grupo de Pesquisa Práticas Educativas em Saúde e Cuidado na Amazônia (PESCA) em nome das Acadêmicas de Enfermagem: Bruna, Laise, Laura e Camila pelas contribuições durante a coleta de dados, e partilha cuidadosa nos momentos de produção deste estudo. 7 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. “Persevera amigo Conserva-te firme e constante; Não largues a luta pela metade, Não desistas depois de teres lutado tanto. Não há o que temer, Porque Cisto vai à frente, Aplainando o caminho, Tirando os espinhos Caminha usufruindo da imensa Onda de paz e quietude Que só sente aquele que Aprende, com lutas, a Confiar até o fim no Senhor!” Shirley Carvalho Viana 8 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. RESUMO CARNEIRO, Márcia Simão. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. 2012. 196 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Universidade do Estado do Pará, Belém, Pará, 2012. O pré-natal é um espaço de promoção e prevenção a saúde da mulher que pode ser potencializado por meio da educação em saúde, enquanto elemento do cuidado. É relevante à medida que sua efetividade e qualidade possuem relação com os índices de mortalidade materna e infantil. Ao considerar estes aspectos afirma-se que este é um fenômeno psicossocial entre as mulheres-mães. Objetivou-se analisar o conteúdo e a estrutura das representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará, com base na teoria das representações sociais de acordo com a abordagem estrutural. Partiu-se do pressuposto que os conhecimentos são elaborados no senso comum, orientam as ações e são partilhados nos grupos sociais. A coleta de dados foi realizada com 113 mulheresmães, internadas na Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMPA), no período de dezembro de 2011 a janeiro de 2012. A técnica utilizada foi a Evocação Livre de Palavras ao termo indutor: “pré-natal”. O produto das evocações após a padronização semântica foi organizado em um corpus (Software Excell) e tratado pelo software EVOC 2003, a partir desses dados obteve-se o quadro de quatro casas. Foram seguidas as normas da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. O comitê de ética da FSCMPA aprovou o projeto CAAE- 0064.0.321.440-11, protocolo nº 135/11. Evidenciou-se como possível núcleo central os termos “criança-bebê”, “cuidado” e “saúde”. O que remete ao paradigma dominante, centrado na criança, e um emergente com foco na “mulher-mãe”. Os elementos “cuidado” e “saúde” demonstram a dimensão funcional relacionada ao fazer do pré-natal; e a dimensão normativa, que considera os valores e sentidos do pré-natal. Os elementos da segunda periferia: “gestação- barriga”, “acompanhamento”, “alimentação”; e da zona de contraste: “importante”, “prevenção”, “bom”. Essas expressões quando agrupadas originaram as categorias bio-cuidativa, inter-relacional, e emocional-valorativa. O estudo possibilitou compreender que as mulheres mães representam o pré-natal de acordo com as dimensões do conhecimento científico, porém demonstram a necessidade de identificar o pré-natal enquanto espaço de cidadania e educação em saúde. As implicações das representações sociais para o agir cuidativoeducativo em enfermagem consistem em ampliar a visão de mulheres acerca do pré-natal para além da dimensão do filho para incluir a mãe; propagar a consulta de enfermagem enquanto espaço de acompanhamento e cuidado no pré-natal; ampliar a visão de mulheres sobre educação em saúde no pré-natal. Recomendam-se às enfermeiras (os) re-significar o agir cuidativo- educativo em enfermagem conforme as representações sociais das mulheres-mães. Quanto aos serviços de saúde: promover atenção à mulher para além do foco nos tratamentos clínicos; educação permanente para os profissionais do pré-natal; inserção de enfermeiras (os) obstetras; dimensionamento de profissionais e das ações que realizam com vistas à qualidade da assistência; implantação da educação em saúde no pré-natal com a proposta metodológica da educação pelos pares, enquanto estratégia que valoriza as vivências dos indivíduos. Para 9 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. as instituições formadoras, formar profissionais com visão para além da biomédica; na produção do conhecimento, produções sobre pré-natal na perspectiva das representações sociais entre profissionais e familiares de mulheres. Palavras-chave: Cuidado pré-natal, psicologia social, saúde da mulher. 10 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. ABSTRACT CARNEIRO, Márcia Simão. Social representation on pre-natal among womenmothers: implications on nursing care and educational action in nursing. 2012. 196 f. Thesis (MA in Nursing) - Universiy of State of Pará, Belém, Pará 2012. The pre-natal exists to promote woman’s health which can be empowered through education in health, as element of care. It becomes relevant as its effectiveness and quality are related with rates of maternal and infant mortality. In consideration of these aspects, it is stated that this is a psycho-social phenomenon among women-mothers. The objective was to analyze the contents and the structure of the social representations on pre-natal among women-mothers in Pará, based on the social representation theory according to the structural approach. We set off on the assumption that knowledge is elaborated on common sense, and leads actions and is shared among social groups. The data collection was obtained surveying 113 women-mothers admitted to Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMPA) from December/2011 to January/2012. The technique used was the Free Evocation of Words regarding the trigger word: “pre-natal”. The outcomes of these evocations after the semantic standard was organized in a corpus (Excell Software) and processed by the EVOC 2003 software. From these data, we obtained a chart of four squares. We followed the rules of Resolution 196/96 of Conselho Nacional de Saúde (National Council on Health). The ethics committee from FSCMPA passed the CAAE – 0064.0.321.440-11 project, protocol 135/11. As a possible central core, we can point out the terms “infant/toddler”, “care” and “health”. This leads to the dominant paradigm, child-centered, and an emerging one with the focus on “woman-mother”. The elements “care” and “health” displayed the functional dimension related to the pre-natal practice; and the normative dimension which considers the values and the pre-natal understandings. The elements of the second periphery: “gestation-womb”, “medical follow-up”, “feeding” and the contrast zone: “important”, “prevention”, “good”. These expressions put together originated the categories: bio-care, interrelational, and emotional-value. With this study, it was possible to understand that women-mothers view pre-natal according to the dimensions of the scientific knowledge; however, it shows the necessity to identify the practice of pre-natal as an expression of citizenship and education in health. The implications of the social representations concerning the care-education action in nursing consist in widening the women’s point of view of the service of pre-natal beyond baby’s dimension in order to include the mother herself; spread the service of nursing as practice of follow-up and pre-natal care, help women widen their perception of education in health during pre-natal. It is recommended that nurses give a new meaning to the care-education action in nursing in accordance with the womenmothers’ social representations. Concerning the services in health: promote special care to women beyond the clinical treatments; permanent education for the professionals who work for pre-natal practice; employ nurse-obstetrician; dimensioning the professionals and the actions that they make aiming the quality in assistance; the use of education in health during pre-natal with a methodological proposition of education by the parties, while a strategy that values the individuals’ experiences. For the educational institutions, prepare professionals with a wide vision that goes beyond the biomedical approach; in the production of knowledge, 11 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. productions on pre-natal in the perspective of the social representations among professionals and women’s families. Key-words: Pre-natal care, social psychology, woman’s health. 12 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. LISTA DE ILUSTRAÇÃO Fotografia 1 Atuando como enfermeira assistente. 20 Fotografia 2 A autora com a equipe do Centro Obstétrico da FSCMPA 30 em 2003. Diagrama 1 Fases profissionais. 40 Diagrama 2 Atividades da Fase Acadêmica. 40 Diagrama 3 O funcionamento do fenômeno do pré-natal, como uma engrenagem. 48 Diagrama 4 Dimensões do Pré-Natal. 58 Diagrama 5 Linha do tempo das políticas públicas de Saúde de Atenção à Mulher. 61 Diagrama 6 A Representação Coletiva de Émile Durkheim e a Representação Social de Moscovici. 72 Diagrama 7 Aspectos estruturais da TNC. 85 Diagrama 8 Dimensões da Saúde Materna. 87 Diagrama 9 Trajetória da coleta e análise de dados. 107 Fotografia 3 Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará. 109 Figura 1 Página principal doSoftware EVOC. 117 Figura 2 Dicionário das palavras ao estímulo pré-natal, (tela 1 Word). 119 Figura 3 Dicionário das palavras ao estímulo pré-natal, (tela 2 Word). 119 Figura 4 Corpus das evocações (Tela Excell) 120 Fotografia 4 A Mulher- Mãe 123 Fotografia 5 Agir Cuidativo Educativo em Enfermagem 153 Diagrama 10 Pontos de chegada 174 13 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. LISTA DE QUADROS Quadro 1 Quadro de quatro casas 121 Quadro 2 Sugestões temas/assuntos a serem tratados no prénatal 145 Quadro 3 Eixo- Sugestões de melhorias para o pré-natal 149 14 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. LISTA DE SIGLAS AISM Atenção Integral à Saúde da Mulher ASPLAM Assessoria de Planejamento BENFAM Bem-Estar Familiar CND Conferência Nacional de Saúde CNDM Conselho Nacional dos Direitos da Mulher COFEN Conselho Federal de Enfermagem DHEG Doença Hipertensiva Específica da Gestação DNCR Departamento Nacional da Criança ESF Estratégia Saúde da Família EVOC Esemple de Programmes Permettant L’ Analyse Des Evocations FSCMPA Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará IBGE Instituto Brasileiro de Geografia Estatística IDB Índice Demográfico Brasileiro MS Ministério da Saúde NOAS Normas Operacionais da Assistência à Saúde ODM Objetivos de Desenvolvimento do Milênio PAISM Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher PESCA Práticas Educativas em Saúde e Cuidado na Amazônia PESF Programa Estratégia Saúde da Família PHPN Programa de Humanização no Pré-Natal PNHAH Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar PPGAR Programa de Prevenção da Gravidez de Alto Risco PPMO Rotura Prematura e Membranas Ovulares PQGPA Programa de Qualidade de Gestão do Pará PSF Programa Saúde da Família PSMI Programa de Saúde Materno-Infantil RS Representação Social SM Salário Mínimo SUS Sistema Único de Saúde TCC Trabalhos de Conclusão de Curso TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 15 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. TNC Teoria do Núcleo Central TRS Teoria das Representações Sociais UEPA Universidade do Estado do Pará UFAM Universidade Federal do Amazonas UFPA Universidade Federal do Pará UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro 16 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 Distribuição das mulheres-mães quanto a idade. 124 Gráfico 2 126 Gráfico 3 Distribuição das mulheres-mães quanto a naturalidade. . Distribuição das mulheres-mães quanto a procedência. Gráfico 4 Distribuição das mulheres-mães quanto a religião. 128 Gráfico 5 Distribuição das mulheres-mães quanto ao estado civil. 129 Gráfico 6 Distribuição das mulheres-mães quanto a escolaridade. 131 Gráfico 7 Distribuição das mulheres-mães quanto ao trabalho e ocupação. 132 Gráfico 8 Distribuição das mulheres-mães quanto a renda familiar. 133 Gráfico 9 Distribuição das mulheres-mães quanto a inserção da residência na Estratégia Saúde da Família. 134 Gráfico 10 Distribuição das mulheres-mães quanto ao transporte coletivo e acesso aos serviços de saúde. 135 Gráfico 11 Distribuição das mulheres-mães quanto ao número de gestação parto e aborto. 136 Gráfico 12 Distribuição das mulheres-mães quanto a vivência dos tipos de parto. 137 Gráfico 13 Distribuição das mulheres-mães quanto vigência de intercorrências na gestação ou não. 139 Gráfico 14 Distribuição das mulheres-mães quanto aos tipos de intercorrências. 140 Gráfico 15 Distribuição das mulheres-mães de acordo com o número de vezes que realizaram pré-natal. 141 Gráfico 16 Distribuição das mulheres-mães quanto ao número de consultas de pré-natal. 142 Gráfico 17 Distribuição das mulheres-mães quanto ao início do prénatal. 143 Gráfico 18 Distribuição das mulheres-mães quanto ao município de 143 127 17 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. realização do pré-natal. Gráfico 19 Sugestões de temas/assuntos. 145 Gráfico 20 Sugestões para melhorias no pré-natal. 148 18 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. SUMÁRIO CAPÍTULO 1. PONTOS DE PARTIDA............................................................ 20 1.1. Enunciando a aproximação com o objeto e a problemática da pesquisa: momentos na assistência, na gestão e na docência..................... 21 1.2. Justificativa, questões de pesquisa e objetivos........................................ 41 CAPÍTULO 2. ANCORAGENS...................................................................... 48 2.1. Ancoragens sócio-biológicas: em foco a mulher enquanto ser histórico e ser de cuidado............................................................. 49 2.1.1. Relações de gênero: origem da perspectiva biológica......................... 49 2.1.2. O fenômeno da gestação e do parto.................................................... 53 2.1.3. O Pré-Natal: premissas públicas e perspectivas para o cuidado em enfermagem................................................................................................... 55 2.2. Ancoragens Político- Assistenciais: em foco as políticas públicas de Saúde da Atenção à Mulher .............................................................................60 CAPÍTULO 3. MARCO TEÓRICO.................................................................. 72 3.1. Aspecto histórico das Representações Sociais e da Teoria das Representações Sociais................................................................................... 73 3.2. A Teoria do Núcleo Central (TNC)........................................................... 81 CAPÍTULO 4. DIMENSÕES DA SAÚDE MATERNA NA PERSPECTIVA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS. MANUSCRITO 1.................................. 87 CAPÍTULO 5. TRAVESSIAS METODOLÓGICAS.........................................107 5.1. Tipo de estudo..........................................................................................108 5.2. Local do estudo........................................................................................109 5.3. Sujeitos do estudo....................................................................................113 5.4. Produção de dados...................................................................................114 5.4.1. Quanto ao acesso as informações das mulheres................................. 114 5.5 Quanto a coleta de dados......................................................................... 114 5.5.1. Quanto a abordagem às mulheres....................................................... 115 5.5.2. Quanto a aplicação do primeiro instrumento de coleta de dados: perfil sócio-demográfico de mulheres-mães................................................... 115 5.5.3. Quanto a aplicação do segundo instrumento: formulário de 19 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. associação livre de palavras......................................................................... 115 5.6. Análise dos dados.................................................................................... 117 5.7 Aspectos éticos e legais............................................................................ 122 CAPÍTULO 6. QUEM SÃO E DE ONDE FALAM AS MULHERES-MÃES ATENDIDAS NA FSCMPA........................................................................... 123 6. Perfil sócio-demográfico.............................................................................. 124 6.2. Perfil obstétrico......................................................................................... 136 6.3. As mulheres e o pré-natal........................................................................ 141 CAPÍTULO 7. REPRESENTAÇÕES SOCAIS SOBRE PRÉ-NATAL ENTRE MULHERES-MÃES: IMPLICAÇÕES PARA O AGIR CUIDATIVO EDUCATIVO EM ENFERMAGEM. MANUSCRITO 2................................... 153 CAPÍTULO 8: PONTOS DE CHEGADA.........................................................174 REFERÊNCIAS.............................................................................................. 178 APÊNDICES................................................................................................... 185 ANEXOS......................................................................................................... 195 20 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. CAPÍTULO 1- PONTOS DE PARTIDA 21 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. 1.1. Enunciando a aproximação com o objeto e a problemática da pesquisa: momentos na assistência, na gestão e na docência. Esta pesquisa teve como objeto de estudo as representações sociais sobre o pré-natal entre mulheres-mães do Pará e suas implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Minha motivação em estudar o tema, possui relação afetiva com o fato de ser “mulher- mãe” e neta de parteira tradicional do baixo amazonas. No entanto, foi como acadêmica do curso de enfermagem, cursando as disciplinas: materno-infantil e enfermagem obstétrica e neonatal que obtive a aproximação com a área da saúde da mulher e da criança e, por conseguinte com o pré-natal. Nesse período, participei de aulas teóricas e práticas tanto na atenção primária quanto na atenção secundária, o que possibilitou um despertar para os problemas de saúde pública que permeiam a atenção materno-infantil. Ao término do curso em 1996, recebi o título de enfermeira pela Universidade do Estado do Pará (UEPA), logo, objetivando ampliar meus conhecimentos, em 1997 realizei a Habilitação em Saúde Pública, resultando em maior contato e conhecimento com as ações realizadas em Unidades Básicas de Saúde (UBS) onde se insere o pré-natal. Tendo em vista que minha trajetória profissional foi pautada pelo desenvolvimento de ações na assistência, na gestão, e no ensino superior de enfermagem, subdividi esse percurso em três fases: assistencial, gerencial, e acadêmica para fins de melhor entendimento. Para a construção deste estudo, destaco decisivos e importantes momentos pessoais e profissionais, visto que algumas dessas ações ocorreram de forma simultânea, no contexto de uma única instituição hospitalar, diferindo apenas nos horários. A fase assistencial (1998-2006) iniciou ao ingressar na maternidade da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMPA), hospital escola referência na área materno-infantil do Estado, atuando como Enfermeira da referida Instituição. Devido a minha habilitação em Saúde Pública, no primeiro momento atuei no alojamento conjunto, cuja finalidade consiste na assistência pós-parto e 22 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. na promoção à saúde da mãe e recém-nascido. Nessa época, pude evidenciar as dificuldades das mães com o cuidado de si e do recém-nascido, bem como percebi as limitações de alguns acompanhantes e familiares em colaborar na prestação desses cuidados. Estas evidências me levaram a pensar que tais situações poderiam ter sido minimizadas ou até não concretizadas, se as gestantes tivessem aprendido a lidar com essas, na educação em saúde do pré-natal. Neste aspecto, evidenciei a importância do agir cuidativo- educativo da enfermagem no pré-natal, tendo em vista o processo de ensino-aprendizagem de ações básicas que determinam a autonomia e o empoderamento da mulher. O Ministério da Saúde recomenda que: Informações sobre as diferentes vivências devem ser compartilhadas entre as mulheres e os profissionais de saúde. Essa possibilidade de intercâmbio de experiências e conhecimentos é considerada a melhor forma de promover a compreensão do processo de gestação. As gestantes constituem o foco principal do processo de aprendizagem, porém não se pode deixar de atuar também entre companheiros e familiares (BRASIL, 2005, p.30). A citação reforça a necessidade do profissional de saúde identificar as representações sociais das mulheres, visto que essas são constituídas por seus conhecimentos, crendices, experiências e cultura. A partir dessas representações e da negociação de conhecimentos entre mulheres e profissionais é que será possível promover um cuidado-educativo efetivo. Nesta perspectiva, destaca-se que a representação social valoriza a intercomunicação entre profissionais e mulheres, segundo Jovchelovitch (2008): A comunicação e interação são o “como” dos processos representacionais; as representações são sempre produzidas na ação comunicativa e a análise da comunicação é central para definir as modalidades de representação e a forma e funções de um sistema de conhecimento ( p177). Em um segundo momento, atuei na urgência e emergência obstétrica, a porta de entrada da maternidade. Nesse período acumulei funções assistenciais e gerenciais. Estas experiências me permitiram adquirir novos conhecimentos e desenvolver habilidades técnicas, de liderança e interpessoais. Porém, o que mais marcou, foi conhecer e vivenciar a grande demanda de atendimentos e a difícil trajetória das mulheres em busca de vagas em maternidades, considerando que a maioria dessas, não dispõe de unidades de terapia intensiva ou semi- 23 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. intensiva neonatal para os casos graves de recém-nascidos prematuros. Neste sentido, Hotimsky et al. ( 2002, p.09) descrevem que “falta crônica de vagas e o fenômeno da peregrinação hospitalar são bastante conhecidos e representam fontes de angústia para as gestantes estudadas”. No que tange as questões de acesso, o Ministério da Saúde, Brasil (2000), prevê a garantia do atendimento das gestantes, quando descreve que o acesso das gestantes e recém-nascidos a atendimento digno e de qualidade no decorrer da gestação, parto, puerpério e período neonatal são direitos inalienáveis de cidadania. De acordo com Manzini (2006) a cidadania tem como princípio que todos os seres humanos são iguais perante a lei, sem discriminação de raça, credo ou cor, tendo autoridade sobre o seu corpo e sua vida, além de ter direito à educação, à saúde, à habitação e ao lazer. Este conceito nos faz concluir que os direitos de cidadania de milhares de mulheres não estão sendo garantidos e nem concretizados, considerando que muitas delas desconhecem seus próprios direitos para então fazer valer. Uma situação característica que contraria a cidadania da mulher tem relação com a superlotação em maternidades. Na Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMPA), o alto índice de atendimentos, ocasiona freqüentemente superlotações, deixando a margem do atendimento muitas mulheres. Essas situações constantes me levaram a pensar que a grande maioria dos danos e agravos poderiam ser evitados, ainda no pré-natal, de acordo com o preconizado pelo Ministério da Saúde. Neste aspecto, verifiquei a influência dos fatores sociais, culturais, educacionais, econômicos, políticos e assistenciais, além dos biológicos, que permeiam as diversas situações das mulheres no prénatal. Por esses motivos, inúmeras vezes, os profissionais de saúde não conseguiam dar conta de resolver os problemas, resultando em desfechos desfavoráveis para a mulher, recém-nascido, família e conseqüentemente para o Estado, devido às repercussões negativas dos fatos ocorridos e veiculados na mídia local e nacional. 24 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Considerando a repercussão e influência da mídia escrita e falada nos padrões de conhecimento, comportamentos e conduta das pessoas, nas elaborações e re-elaborações das representações sociais, Jovchelovitch (2008) comenta: As representações sociais, como instrumento de conhecimento e comunicação, constroem o EU e a realidade propriamente ditos, sem os quais seriamos incapazes de desenvolver uma identidade pessoal e os mundos sociais em que vivemos. Como sistemas de entendimento compartilhado do mundo, as representações oferecem padrões de conhecimento e reconhecimento, disposições, orientações e conduta, que transformam ambientes sociais em lares para atores individuais e lhes permite entender as regras do jogo. Solidificadas em práticas culturais e em instituições, elas fornecem os recursos para a construção das identidades sociais e para a reprodução e renovação de sociedades (p. 171). Para a autora, os saberes comuns propiciam as referências e os recursos por meio dos quais os indivíduos dão sentido ao mundo, desenvolvem as competências teóricas e práticas para lidar com o cotidiano e estabelecem as relações comunicativas, é nesse sentido que esse conhecimento poderá orientar novas práticas. Quanto aos atendimentos de rotina às gestantes na FSCMPA, desde os tempos de minha atuação, até os dias atuais, de acordo com a finalidade e estrutura do serviço da “porta de entrada” da maternidade ou triagem obstétrica, são previstos somente os atendimentos dos casos de “urgências e emergências obstétricas”. No entanto, por diversas vezes, são realizados atendimentos que visam a avaliação do estado de saúde da mãe e feto; solicitação de exames de rotina; e promoção a saúde por meio da educação em saúde, ações essas inerentes ao pré-natal. Na tentativa de evitar um dano maior para a mulher, família e sociedade, as exceções acabam virando regra, condição esta, que me incitou a pensar novamente, na importância do pré-natal, uma vez que há sobrecarga e desvio de função para o serviço hospitalar. Esta idéia é embasada pela publicação da reportagem do Jornal Diário do Pará, do dia 24 de maio de 2012, elaborada por Thiago Araújo, a partir da seguinte manchete: Santa Casa está atuando além do limite – “A deficiência no atendimento primário em saúde, prestados nas unidades de saúde municipais, da 25 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. qual faz parte o pré-natal, é apontado com uma das principais causas do afogamento”. A Presidente da Santa Casa, afirmou durante a entrevista que se as unidades de saúde atendessem corretamente as gestantes, a triagem da Santa Casa, não precisaria recebê-las e, assim poderiam ser evitados mais transtornos. A referida gestora ressaltou que o perfil do atendimento da instituição é a urgência e emergência obstétrica e neonatal, porém tem atendido a diversos tipos de pacientes. Informou que a Unidade Terapia de Intensiva (UTI) pediátrica, com seus 15 leitos, está 100% ocupada, e referiu temer por um colapso no atendimento e por isso pediu o apoio da população. Neste sentido, o Ministério da Saúde reforça o pensamento da Gestora, ao descrever: A relação entre as atividades da atenção básica e as hospitalares deveria ser de continuidade e complementariedade. Entretanto, no pré-natal, que é o momento mais apropriado de preparar a mulher para o parto e detectar as possíveis alterações da gestação, é o momento em que graves problemas são encontrados (BRASIL, 2001, p. 18). Concordo com os relatos da Presidente da Santa Casa, pois se a maioria das mulheres que realizam o pré-natal, o fizessem de forma correta, não precisariam buscar a instância hospitalar. Visto que a maioria das patologias da gestação podem ser prevenidas ou detectadas, através dos sinais e sintomas, manifestados nas mulheres, e diagnosticadas por meio de exames padronizados como rotina no pré-natal. Este pensamento é complementado pela afirmativa abaixo: O pré-natal apresenta como metas de cuidado: definir o estado de saúde da mãe e feto; determinar a idade gestacional do feto e monitorar o seu desenvolvimento; identificar a mulher com risco de complicações e minimizá-lo sempre que possível; antecipar e tentar prevenir problemas antes da sua ocorrência e proporcionar orientação e aconselhamento apropriados (DEITRA et al, 2002, p.59). A prevenção de problemas no pré-natal, prioritariamente deve ocorrer a partir da coleta e análise dos antecedentes familiares, pessoais e obstétricos da mulher, associado ao diagnóstico do perfil social, econômico, educacional, cultural e biológico. Esses elementos quando agregados, são essenciais para respaldar as ações preventivas e de promoção a saúde, inerente a educação em saúde do serviço. 26 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Penso que quando a mulher sabe quais condutas precisa tomar mediante alterações no seu estado de saúde durante a gravidez, ela possui discernimento do que é urgência, emergência, e o que precisa ser tratado em consultório. Da mesma forma, ao apreender de fato, quais os cuidados específicos que são necessários durante a gestação, ela segue as devidas recomendações, em contrapartida, quando a informação só foi passada, ela certamente não as seguirá, possibilitando o desencadeamento de situações de risco, muitas vezes irreversíveis. Revelando-se assim a importância da educação em saúde no pré-natal. Nesse sentido, para Soares et. al (2010): A educação em saúde é um campo multifacetado, para o qual convergem diversas concepções, das áreas da educação, quanto da saúde, as quais espelham diferentes compreensões de mundo, demarcadas por distintas posições político-filosóficas sobre o homem e a sociedade ( p.19). Para as autoras uma educação em saúde ampliada inclui políticas públicas, ambientes apropriados e reorientação dos serviços de saúde para além dos tratamentos clínicos e curativos, assim como propostas pedagógicas libertadoras, comprometidas com o desenvolvimento da solidariedade e da cidadania, visando a melhoria da qualidade de vida do homem. Ao realizar uma incursão histórica sobre educação em saúde, Sabóia (2003) descreve que: A educação em saúde, enquanto campo específico de atividade educativa configurou-se, através dos tempos, como uma das estratégias do poder público, para garantir o desenvolvimento de ações de controle e prevenção de doenças, particularmente junto aos setores marginalizados da população. Atualmente essa prática educativa se orienta numa perspectiva de intercâmbio de saberes, com vistas à socialização do conhecimento sobre a prevenção, a promoção e a recuperação da saúde ( p.09). Todavia, conforme a autora, o que fundamentava as propostas de atendimento à saúde, originava-se mais do ponto de vista político, que do social. Mantinha-se a visão de que os agravos aumentavam os índices de mortalidade, ao mesmo tempo em que funcionavam como barreiras para que se desse andamento as iniciativas de natureza econômica, situadas no contexto do desenvolvimento capitalista. Neste aspecto, vislumbro a dimensão capitalista do pré-natal, bem como a relação de sua qualidade com a mortalidade materna e infantil. Visto que, de acordo com Foucalt (1993), o capitalismo instalado no final do século XVIII e inicio do século XIX, socializou o corpo, reforçando a conotação de força de produção, numa visão positivista. 27 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. A partir da concepção do autor, o controle da sociedade sobre os indivíduos não se opera simplesmente pela consciência ou pela ideologia, mas começa no corpo. Foi no nível biológico, no somático, no corporal que investiu a sociedade capitalista. O corpo é uma realidade bio-política, e o campo da saúde transformou-se em estratégia bio-política. Outra questão a ser considerada, que confere a questão do poder, baseia-se no temor das mulheres com relação às condutas de profissionais, devido às experiências individuais e familiares. Essa afirmativa baseia-se nos relatos de Hotimsky et al ( 2002): “ficou evidente que existe um temor das mulheres em relação às condutas dos profissionais, baseado em experiências de suas gestações anteriores ou de membros de suas redes de relações” (p. 05). Nesta perspectiva, as mulheres são munidas de uma bagagem própria de saberes e vivências, as quais são compartilhas com outras mulheres, que constituem o mesmo grupo de pertença, considerando o gênero feminino, a gestação, a realização do pré-natal ou não. Tendo em vista, que essas conversam entre si, na família; comunidade; entre vizinhos; nas esperas por atendimentos em instituições de saúde, concebese que nesses espaços onde pensamentos coletivos e individuais se interpretam, são produzidas e reproduzidas representações sociais, as quais se exteriorizam por meio da linguagem e por condutas. São as representações sociais que orientam os pensamentos e as condutas de um determinado grupo de pertença. Quanto ao sentido de pertença, Jovchelovitch ( 2008) comenta que: As representações aglutinam a identidade, a cultura e a história de um grupo de pessoas. Elas se inscrevem nas memórias sociais e nas narrativas e modelam os sentimentos de pertençam que reafirmam a membros individuais sua inserção em um espaço humano. Não há processo de conhecimento que não projete a identidade e os projetos do sujeito do saber; esta é uma dimensão psicossocial central dos contextos do saber ( p.175). Nesta lógica, os manuais técnicos na área da saúde da mulher, que são elaborados para guiar condutas, apesar do alto padrão de qualidade e atualização científica, podem não alcançar de forma efetiva os objetivos propostos, visto que são as representações sociais que guiam e orientam as condutas dos sujeitos. 28 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Em se tratando das questões biológicas no contexto do serviço público de saúde, em um determinado momento de minha atuação na FSCMPA, observei demandas significativas de gestantes com diagnóstico da Doença Hipertensiva Específica da Gestação (DHEG) ou pré-eclâmpsia, dentre essas, algumas apresentavam o quadro grave de eclâmpsia². Inquieta com o problema investigava junto aos acompanhantes sobre a realização do pré-natal pela gestante, obtendo sempre a informação da não realização ou que realizavam de forma irregular. Quanto a gravidade e diagnóstico da doença, Serruya et al. (2004), afirmam que no Brasil, a DHEG, corresponde à principal causa de morte materna obstétrica direta nos últimos anos, seguida pelas demais causas diretas. Os autores ressaltam que o diagnóstico da hipertensão é importante na prevenção dos distúrbios hipertensivos da gestação, e afirma que uma das conseqüências da doença é o descolamento de placenta³, causa importante de muito simples e de baixíssimo custo, a aferição da pressão arterial em todas as consultas de pré-natal. Dessa forma, a aferição da pressão arterial no pré-natal, deve ocorrer em todas as consultas, seguidas da educação em saúde sobre o assunto. A avaliação dos níveis de pressão arterial serve para prevenir a DHEG, ensinar a gestante quanto aos sinais e sintomas da hipertensão, as possíveis conseqüências da patologia e os cuidados que deverão ser adotados por ela e por sua família. Quanto ao cumprimento da freqüência e do número de consultas estabelecidas pelo Ministério da Saúde, identifiquei que muitas gestantes realizavam o pré-natal de forma irregular. Outro fator importante era a procedência dessas mulheres, visto que a maioria vinha do interior do Estado, em condições precárias de transporte e de assistência. _____________________ ¹Pré-eclâmpsia: é a doença hipertensiva específica da gestação (DHEG) (COSTA et al, 2007, p. 390) ²Eclâmpsia: é a ocorrência de convulsões motoras generalizadas em gestantes com pré-eclâmpsia (COSTA et al, 2007, p. 390). ³Descolamento de prematuro de placenta (DPP): é a separação da placenta, normalmente implantada no período da 20ª semana até mesmo antes do parto ( RAMOS et al, 2007, p.589). 29 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Esta observação consolida-se com o pensamento de Freitas et al. (2006), ao comentar que embora estudos demonstrem os benefícios do acompanhamento pré-natal sobre a saúde da gestante e do recém-nascido, que contribuem para a redução da mortalidade materna, baixo peso ao nascer e mortalidade peri-natal, a cobertura da consulta pré-natal, especificamente o número de consulta é deficiente, e verifica-se desigualdade entre as regiões do país: norte 26,55%, Nordeste 34,9, Sudeste 60,54%, Sul 61,05%, Centro Oeste 55,85 %, o que totaliza 49,14% no país. Para os autores, estes dados indicam a necessidade de expandir o acesso das gestantes aos serviços de saúde, bem como em melhorar a qualidade das consultas, principalmente, fortalecendo o acolhimento, a fim de garantir a adesão ao programa pré-natal. Quanto a este assunto o Ministério da Saúde descreve que: O acolhimento, aspecto essencial da política de humanização, implica a recepção da mulher, desde sua chegada na unidade de saúde, responsabilizando-se por ela, ouvindo suas queixas, permitindo que ela expresse suas preocupações, angústias. Garantindo atenção resolutiva e articulação com os outros serviços de saúde para a continuidade da assistência, quando necessário. Cabe à equipe de saúde, ao entrar em contato com uma mulher gestante, na unidade de saúde ou na comunidade, buscar compreender os múltiplos significados da gestação para aquela mulher e sua família, notadamente se ela for adolescente (BRASIL, 2005, p.13). Neste aspecto, o ouvir remete ao processo de intercomunicação o qual integra as representações sociais que elucidam e direcionam as práticas. Na seqüência de meu percurso profissional, em um terceiro momento, no ano de 1999, busquei aprimorar os meus conhecimentos por meio do curso de Especialização em Enfermagem Obstétrica (UEPA). Nesse período, vivenciei a primeira experiência de engravidar e ser mãe. Neste sentido, abro parênteses, para revelar que esta experiência, particularmente, contribuiu positivamente para o meu desenvolvimento enquanto pessoa e profissional da área da saúde da mulher. No ano de 2003, a maternidade da FSCMPA, passou por uma reforma física, objetivando implantar o Programa de Humanização do Parto e Nascimento. No quarto momento, atuei no pré-parto e centro obstétrico da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMPA), com a missão de assistir a mulher em trabalho de parto e parto, além de contribuir com o 30 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. treinamento dos profissionais para a realização do parto humanizado período ilustrado na foto 2: Foto 2: A autora com a equipe do Centro Obstétrico da FSCMPA em 2003 Ao prestar assistência a mulher em trabalho de parto e parto, encontrei algumas dificuldades, para que essas assumissem o seu papel de protagonistas do parto, como preconizado pelo Ministério da Saúde. O empoderamento almejado, não acontecia, pela persistência da tríade medo, tensão e dor, geradas pelo desconhecimento das mulheres sobre o fenômeno do parto e de suas ações no momento das contrações e da expulsão do bebê. Nesse sentido, o Ministério da Saúde descreve: As vivências do parto foram nas mais diferentes culturas, de caráter íntimo e privado, sendo uma experiência compartilhada entre mulheres. A imensa mortalidade materna e perinatal começaram a ser discutida, na esfera pública, por uma necessidade político econômica de garantir exércitos e trabalhadores. Ao lado destas transformações sociais, a obstetrícia firmava-se como matéria médica e ocorriam as primeiras ações voltadas a disciplinar o nascimento (BRASIL, 2001, p.02). A partir de então, nota-se que a assistência a mulher foi determinada pelo conhecimento científico predominante nas ações do nascimento. Dessa forma, muitas vezes por falta de opção, essas mulheres submeteram-se as práticas hospitalares, onde os seus conhecimentos prévios, não eram 31 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. considerados, passando do papel de protagonista do parto para o de coadjuvante. Quanto a esta questão Sabóia (2003) relata que: A adoção de um novo paradigma exige não apenas uma mudança conceitual radical nas ciências da saúde, como também uma reeducação maciça da população. Muitas pessoas, profissionais e clientes, ajustam-se ao modelo biomédico, por temerem a invasão de sua intimidade e o desnudamento de suas capacidades e limitações, o que as tornaria ainda mais vulneráveis. Dessa maneira, estabelece-se um jogo, em que a clientela delega a responsabilidade e o cuidado de saúde para os profissionais e esses preferem acreditar que só existe uma verdade (p.43). Quanto ao relato da autora, percebemos que há necessidade de reflexão e transformação da prática do profissional, como também das próprias mulheres, para que essas compreendam a importância de requerer seus direitos de cidadania e impor seus saberes e vivências no processo de gestação, parturição e parto. Visto que é o saber dessas mulheres, que formam a base para as representações sociais. Para essa afirmativa encontrei subsídios em Moscovici (2010, p. 173) através da seguinte argumentação: É no momento em que o conhecimento e a técnica são transformados em crenças que congregam as pessoas e se tornam uma força que pode transformar os indivíduos de membros passivos em membros ativos que participam nas ações coletivas e em tudo o que traz vida a uma experiência comum. Nota-se que com o predomínio do conhecimento científico, o poder da mulher e sua autonomia na gestação e no parto foram se dissipando na sociedade, e as causas deste fato, encontram base tanto nas questões sociais da mulher enquanto gênero, alinhadas as ideologias políticas e capitalistas da sociedade, quanto nas questões individuais, referentes a acomodação dessas mulheres e dos profissionais ao modelo biomédico. Observa-se na história, que os interesses inerentes à mulher foram sempre ultrapassados pelos interesses políticos, econômicos, sociais e culturais, tendo em vista as influencias patriarcais do estado e da igreja. Evidenciando assim as questões que envolvem o poder, pois de acordo com Costa (2004): O poder não é, o poder se exerce. E se exerce em atos, em linguagem. Não é uma essência. Ninguém pode tomar o poder e guardá-lo em uma caixa forte. Conservar o poder não é mantê-lo escondido, nem preserválo, de elementos estranhos, é exercê-lo continuamente, é transformá-lo em atos repetidos ou simultâneos de fazer, e de fazer com que outros façam ou pensem. Tomar-se o poder é tomar-se a idéia e o ato (p. 02). 32 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Para a autora, o movimento feminista tem procurado demonstrar que a mudança nas leis, por si só, não são suficientes para promover uma mudança nos comportamentos, nas mentalidades e na estrutura social. É que, mesmo com a conquista do sufrágio, as mulheres permaneceram subjugadas à estrutura patriarcal da sociedade. Costa (2004) enfatiza que cada vez mais avança a consciência da necessidade do estabelecimento de políticas públicas que possam estimular e garantir, uma maior integração feminina, à estrutura de poder, ao mundo da política formal. Segundo o Ministério da Saúde, Brasil (2001), essa mudança de comportamento da mulher na sociedade, também teve relação com a efetivação da obstetrícia enquanto matéria médica na formação profissional, representada essencialmente por profissionais médicos do sexo masculino. Nesse aspecto, por meio da concepção patriarcal, de que o corpo e sexualidade da mulher eram considerados impuros e imperfeitos, logo, sujeito às intervenções, justificou-se a institucionalização do parto, sendo esse movimento na época, apoiado pelo Estado. Para Moscovici (2010), no universo reificado, ou científico, a sociedade é vista como uma entidade sólida, invariável, indiferente a individualidade, sem identidade e como um sistema de diferentes papéis sociais, em que a competência adquirida determina o mérito de participação nas atividades de vida. Fato esse que justifica a reação de algumas pessoas parciais e submissas. Pude compreender melhor todas estas premissas, quando na assistência ao parto, eu tentava contribuir com a autonomia das mulheres, explicando todo o processo obstétrico, porém percebia o comportamento passivo e submisso dessas, em relação aos profissionais. Nesse sentido, destacava a importância das contribuições dessas mulheres para o parto e nascimento saudáveis, não obtendo da maioria, as respostas esperadas, que era de empoderamento e autonomia. Em minha concepção a humanização do parto e nascimento deve ser iniciada no pré-natal. Visto que, assim como os profissionais possuem seu papel, a mulher da mesma forma, deve compreender como lidar com a dor por meio de 33 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. exercícios respiratórios e pélvicos, além de auxiliar a assistência dos profissionais, informando percepções, sentidos, bem como a posição mais conveniente para si durante o parto. A mulher que não conheceu sobre o parto durante o pré-natal, terá maiores dificuldades no momento da dor e durante a parturição, logo, não será protagonista do evento, abrindo caminhos para as condutas e intervenções profissionais, algumas vezes desnecessárias, pressupondo a desumanização do parto. O comportamento submisso de determinadas mulheres, em alguns momentos, é caracterizado pelo desconhecimento, fato que gera medo e insegurança, ou pela acomodação de seus saberes natos e inerentes ao ser mulher. Esse comportamento submisso provém do modelo biomédico de ser “paciente” e ancora-se nos pensamentos de Sabóia (2003), quando afirma que: “nas práticas da educação em saúde é clara a existência de condições objetivas (naturais) e subjetivas (sentimentos, comportamentos e desejos), que são interligados e inerentes a existência humana”. Para a autora, o modelo biomédico, fundamentado no paradigma positivista, esforça-se por fazer a ruptura desses dois aspectos, valorizando apenas o primeiro. Nessa perspectiva a autora Rios (2009), complementa a idéia ao descrever que: A supremacia do recorte biológico e o autoritarismo dos discursos de saber e poder deflagraram crítica contundente ao modelo biomédico de atenção. A biotecnologia aplicada à medicina propiciou indiscutíveis conquistas para o bem das pessoas, mas em compensação criou um abismo entre profissionais de saúde e pacientes ( p.19). Segundo a autora, os pacientes passaram a condição de objetos de estudo e manipulação na construção do saber e da prática científica. E os profissionais, a condição de peças e engrenagens que fazem funcionar a máquina institucional. O tecnicismo perde de vista, estados vivenciais importantes para a realização do cuidado à saúde. De acordo com essas questões, durante minha prática profissional, ao indagar junto às mulheres-mães sobre os conhecimentos adquiridos no pré-natal 34 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. acerca do trabalho de parto e parto, verificava o pouco ou nenhum conhecimento sobre o assunto. Essas situações deixam clara a importância da efetivação da educação em saúde no pré-natal, e do papel do profissional nesse contexto, no qual sempre irá exercer uma influência majoritária. Neste aspecto, Buchabqui et al. (2006, p. 26), comentam: Deve haver a adequação do cuidado prestado no pré-natal, cabendo ao profissional, associar aspectos qualitativos no que se chama conteúdo de cuidado do pré-natal; desta forma, a assistência no pré-natal, adicionado ao cuidado, inclui a qualidade do pré-natalista, que deve ser competente, humano e dedicado. Considerando que o enfermeiro realiza o pré-natal de baixo risco e participa do pré-natal de alto risco, além de ser integrante da equipe de atenção a mulher no ciclo gravídico puerperal, nas instâncias primárias e secundárias. Mais uma vez foi possível refletir sobre a importância do agir cuidativo-educativo de enfermagem, bem como os assuntos e a forma com que esses são abordados, para que a mulher a partir de suas aprendizagens desenvolva com autonomia o cuidado de si e do seu filho. O acolhimento do profissional, a empatia e as conversas para captação das ansiedades, medos e necessidades educativas dessas mulheres se tornam essenciais. O Ministério da Saúde (BRASIL, 2004) destaca que a abordagem educativa no pré-natal é um diferencial efetivo na promoção à saúde da mulher. Ao pensar na abordagem educativa, enquanto momento de interação entre mulheres e profissionais de saúde, deve-se considerar o conhecimento popular das mulheres e o científico dos profissionais. É nesta perspectiva que o conhecimento científico origina o comum, tornando possível a transformação da realidade. Considerar os saberes da mulher, gerados pela herança cultural de famílias, em relação à gestação, parto, e pós-parto são fatores primordiais para a adequação dos cuidados dispensados no pré-natal. Esses fatos nos remetem a necessidade de ponderação do comportamento biomédico e adequação ao afetivo e dialógico, considerando de fato a mulher como centro da assistência prénatal. Nessa perspectiva, Jodelet (2001, p.91) elenca algumas das funções e o papel, das representações sociais: Geralmente, reconhece-se que a Representações Sociais, enquanto sistemas de interpretação que regem nossa relação com o mundo e com 35 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. os outros, orientam e organizam as condutas e as comunicações sociais. Da mesma forma, elas intervêm em processos variados, tais como a difusão e a assimilação dos conhecimentos, o desenvolvimento individual e coletivo, a definição de identidades pessoais e sociais, a expressão dos grupos e as transformações sociais. Os termos, definição de identidades pessoais e sociais e expressão dos grupos, remetem ao caso de uma paciente indígena que internou em trabalho de parto na Instituição. A mesma não falava nossa língua e nós não compreendíamos a sua. Ao detectar a fase do período expulsivo, conduzi a paciente para subir na mesa ginecológica e ela recusou-se. Então num ato de improviso em respeito a sua cultura, a equipe estendeu os campos estéreis no chão e ela de cócoras pariu seu filho conforme as tradições de sua cultura. Neste cenário, prestei assistência ao parto, e também de cócoras, recebi seu filho. Foi a primeira vez que presenciei tamanha autonomia no ato de parir. Esse fato denota o conhecimento cultural que é outra forma de gênese de representação social. Mesmo com a influência do conhecimento científico, devido a autenticidade das tradições da cultura, a mulher indígena teve autonomia para impor aos profissionais sua maneira de parir. No quinto momento, participei de um Programa do Governo do Estado, intitulado Presença Viva, cujo objetivo era levar assistência à saúde às pessoas dos interiores do Pará, e promover a atualização dos profissionais que trabalhavam nos serviços de atenção primária. Obtive a oportunidade de ter aproximação com as gestantes e com o contexto em que elas viviam e eram assistidas, além da possibilidade de contribuir com os profissionais enfermeiros, durante a consulta de enfermagem. Por meio da experiência, com relação às gestantes, foi possível identificar fortemente a influência dos fatores de risco da gestação, relacionados com as dimensões econômicas, sociais, educacionais, humanísticas, culturais e assistenciais, além das biológicas que permeiam a gestação e o pré-natal. Quanto ao contexto, observei as dificuldades relacionadas à infraestrutura, processos e pessoas. Quanto aos profissionais enfermeiros, durante a consulta de enfermagem, detectei a necessidade de maior aprimoramento e 36 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. investimento na formação permanente desses profissionais. Neste aspecto o Ministério da Saúde descreve: A gestação, parto e puerpério constituem uma experiência humana das mais significativas, com forte potencial positivo e enriquecedora para todos que dela participam. Os profissionais de saúde são coadjuvantes desta experiência e desempenham importante papel. Têm a oportunidade de colocar seu conhecimento a serviço do bem estar da mulher e do bebê, reconhecendo os momentos críticos em que suas intervenções são necessárias para assegurar a saúde de ambos (BRASIL, 2001, p.09). Para que o profissional exerça o seu papel, é importante que ele esteja apto tecnicamente e interpessoalmente, consciente da relevância de sua atuação, para que a mulher adquira autonomia em seu ciclo gravídico puerperal. A fase gerencial ( 2002-2012) iniciou com minha inserção no campo do trabalho e me aproximou dos profissionais de saúde.No ano de 2002, fui vicecoordenadora do Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH) na FSCMPA e Membro do Comitê Estadual de Humanização. O Programa vislumbrava, além da satisfação da clientela atendida, a satisfação dos profissionais de saúde e a melhoria das condições de trabalho. Em 2003, iniciei no serviço de Gestão de Pessoas da FSCMPA, no qual, obtive várias oportunidades de desenvolvimento intra e interpessoal, além do profissional. Dentre as ações desenvolvidas destaco a implantação e coordenação do Programa de Educação Permanente de Enfermagem e a ação de avaliadora do Programa de Qualidade de Gestão do Pará (PQGPA). Estes fatores me possibilitaram maior aproximação com a formação permanente dos profissionais de enfermagem e com a gestão das políticas públicas de saúde; tanto por meio do serviço, quanto pela realização de um Curso em nível de Aperfeiçoamento em Gestão dos Serviços Públicos de Saúde na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Enquanto gerente geral de enfermagem desenvolvi ações marcadas pela elaboração de projetos técnicos, dentre esses, a implantação da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) e o aprimoramento da Educação Permanente em Enfermagem (EPE). 37 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Finalizei em 2006 as ações desenvolvidas na Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMPA), após ter solicitado exoneração do cargo de enfermeira obstetra. Dando prosseguimento as atividades de gestão em 2008, fui convidada a ingressar no Conselho Regional de Enfermagem com o propósito de assessorar a gestão com a elaboração de pareceres técnicos e implantação da Sistematização da Assistência de Enfermagem e Educação Permanente em Enfermagem nas instituições de saúde da capital e do interior do estado. Essas experiências me proporcionaram um maior conhecimento acerca das leis que regem a profissão de enfermagem, interação com os profissionais de enfermagem e responsáveis técnicas pelas instituições, além da maior penetração nas instituições de saúde. Em 2009, vivenciei a segunda experiência com a maternidade, e novamente abro parênteses, para ressaltar a intensidade deste fenômeno na vida da mulher, por isso, há necessidade de atenção, apoio e cuidado por parte de todos os envolvidos: da própria mulher, da família e dos profissionais de saúde. Em 2012, após eleição para a gestão 2012-2014, tomei posse da plenária do COREN-PA na condição de Conselheira efetiva, representando o quadro de enfermeiras (os), dando assim seguimento a fase gerencial, na perspectiva do exercício legal da profissão e de seu desenvolvimento técnico, científico e social. A fase acadêmica (2002-2012) iniciou quando assumi a função docente, marcada pelo interesse em produções científicas. Registro aqui a determinação em trabalhar com a formação do enfermeiro e com a produção do conhecimento em enfermagem. Em 2002, vivenciei a primeira experiência acadêmica enquanto Professora substituta na Universidade do Estado do Pará (UEPA). Ao atuar na atividade curricular estágio supervisionado em enfermagem obstétrica, contribuí na área de obstetrícia e ginecologia, tanto na teoria quanto na prática. O cenário das práticas foi a FSCMPA, por ser hospital escola, conveniado com a UEPA. Essa experiência me possibilitou desenvolver a motivação pelo ensino, pois percebi as possibilidades de integração, 38 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. aprendizagens, desenvolvimento e reconhecimento; saí da instituição após os dois anos de contrato previsto. Essa experiência ocorreu entre os anos de 2002 e 2004. Em 2005, fui aprovada no concurso público para professor efetivo da Universidade Federal do Pará (UFPA) para a atividade curricular enfermagem obstétrica, ginecológica e neonatal, onde estou até o momento. O campo de atuação, mais uma vez foi a FSCMPA. Essa segunda experiência me inclinou dentre outros aspectos para a realização de pesquisas de campo, na condição de orientadora de vários Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC). Os resultados desses trabalhos evidenciaram a importância do fortalecimento das dimensões educativas e humanísticas do pré-natal. Tornando possível a constatação da necessidade de tornar real a escuta sensível às gestantes. Dessa forma, para o desenvolvimento dessa prática, torna-se fundamental compreender, que escutar de forma sensível, é mais do que simplesmente ouvir, e em seguida falar o que se julga necessário, a partir de um entendimento profissional, ou pelas normas e manuais constituídos no universo científico. Escutar de forma sensível é ultrapassar a dimensão biológica e ir ao encontro das necessidades das gestantes, até mesmo antes de serem reveladas, valorizando os seus saberes, práticas e crendices, originadas no universo consensual e aplicadas em seu cotidiano. Para os autores Leppert et al. (1996, p.140-141): Sobre a necessidade da promoção e da educação para a saúde, através de um processo de credibilidade e sensibilização, visando às mudanças comportamentais, obtendo na própria comunidade o conhecimento das barreiras que impedem tais cuidados. A fase acadêmica foi ampliada, da graduação a pós-graduação, quando atuei no Curso de Especialização em Obstetrícia da Universidade Federal do Pará (UFPA), em 2006. Na oportunidade desenvolvi ações junto aos alunos no Programa de Pré-Natal em Unidades Básicas de Saúde do Município de Belém. Essa experiência encontra fundamentos na descrição dos autores supracitados, visto que, ao participar da educação em saúde e indagar junto às gestantes, questões básicas, acerca de seus conhecimentos sobre o motivo e a 39 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. importância dos cuidados de rotinas realizados durante as consultas do pré-natal; como: aferição da pressão, pesagem, mensuração da altura uterina e ausculta dos batimentos cárdio-fetais, evidenciei que muitas mulheres não compreendiam a importância daquelas ações para a prevenção de determinadas patologias da gestação. Essa fase também é marcada pela minha inserção discente em cursos de pós-graduação e grupo de pesquisa. No primeiro semestre de 2010, participei da seleção de aluno especial do Mestrado em Educação da UEPA, e cursei a disciplina Educação em Saúde. Essa experiência me conduziu a reflexões e novas aprendizagens quanto ao significado e relação entre educação e saúde. No mesmo período, integrei-me ao grupo de pesquisa “Práticas Educativas em Saúde e Cuidado na Amazônia” (PESCA). Ao participar de uma Oficina sobre a Teoria das Representações Sociais e agregar os conhecimentos adquiridos na disciplina à minha vivência, foi possível compreender que as minhas inquietações e problemas até então identificados, poderiam ser estudados com a referida teoria. No segundo semestre de 2010, após aprovação na seleção de alunos regulares, ingressei no Mestrado Associado em Enfermagem UEPA- UFAM. Esta nova etapa foi pautada pelo incentivo à pesquisa e aprimoramento pessoal e profissional, tornando, enfim, possível o desenvolvimento deste estudo. Nos Diagramas 1 e 2 apresento as fases profissionais aqui destacadas, com ênfase para a fase atual (acadêmica), que me aproxima efetivamente desta pesquisa. Diagrama 1- Fases profissionais 40 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Diagrama 2 Atividades da Fase Acadêmica 41 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. A partir de minha trajetória e dos conhecimentos adquiridos, este estudo vislumbra contribuir para o agir cuidativo-educativo em enfermagem no pré-natal, a partir da justificativa e objetivo do estudo, revelados abaixo. 1.2. Justificativa e objetivos A primeira inquietação que me conduziu a realização do estudo está relacionada de acordo com dados do Ministério da Saúde, com o alto índice de mortalidade materna, por se tratar de uma das graves violações dos direitos humanos das mulheres e por ser uma tragédia evitável em 92% dos casos (BRASIL, 2009, p. 6). Para o referido órgão: Os índices de mortalidade materna nos países em desenvolvimento são alarmantes. Um estudo realizado pela Organização Mundial de Saúde e entidades parceiras estimou que, em 2005 aproximadamente 536.000 mulheres em todo o mundo morreram vítimas de complicações ligadas ao ciclo gravídico puerperal, dessas apenas 15%, viviam em países desenvolvidos (BRASIL, 2009, p. 07). Analisando o problema no Brasil e regiões, vimos que as maiores taxas de mortalidade materna são encontradas nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte (BRASIL, 2009). Esta informação demonstra a necessidade de estudos em prol de melhorias para o avanço de todas as regiões, com ênfase para a região Norte, que ocupa o terceiro lugar na mortalidade materna. As mortes maternas por causas obstétricas diretas vêm respondendo por cerca de dois terços desses óbitos, denotando a baixa qualidade da atenção obstétrica, planejamento familiar e pré-natal prestadas às mulheres brasileiras (BRASIL, 2009, p. 07). Através desta afirmativa, entendi a relação direta entre os indicadores de mortalidade e morbidade materna com a qualidade do pré-natal. Ciente desta realidade, o Governo Brasileiro buscou assinar acordos e tratados internacionais. Durante a reunião da Cúpula do Milênio em 2000, líderes de 191 países, assinaram um compromisso para diminuir a desigualdade e melhorar o desenvolvimento humano no mundo até 2015. As estratégias contemplam oito iniciativas que foram chamadas de Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), entre as quais destaca- se a redução da mortalidade materna (BRASIL, 2009, p. 07). 42 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Outro problema é a mortalidade infantil e neonatal (0 a 27 dias de vida), que passou a ser o principal componente da mortalidade infantil em termos proporcionais a partir do final da década de 80, e representa entre 60% e 70% da mortalidade infantil em todas as regiões do Brasil atualmente (BRASIL, 2009, p.08). A mortalidade neonatal, assim como a materna, também está vinculada as causas preveníveis, relacionadas ao acesso, utilização dos serviços de saúde, além da qualidade da assistência pré-natal, ao parto e recém-nascido. A segunda inquietação está relacionada ao contexto local, pois o Estado do Pará aparece em destaque na mídia nacional em decorrência de mortes fetais e neonatais na capital e no interior. O primeiro episódio que virou manchete nacional foi no ano de 2008, com as mortes consecutivas de vários recém-nascidos prematuros na Instituição de referência materna e infantil do Estado. No ano de 2010, o Estado do Pará foi de novo alvo dos noticiários em decorrência da superlotação em um hospital de referencia e falta de atendimento a mulheres gestantes. Dentre os fatores relacionados a esse problema de saúde pública, destaca-se a relação das mortes fetais e neonatais, a sobre carga da atenção hospitalar e a falta de leitos, com a efetividade do pré-natal e das políticas públicas na saúde da mulher. A presidente em exercício da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará, em entrevista concedida ao “Jornal Liberal” do Pará, no dia 28 de agosto de 2011, comentou “o cuidado com as gestantes desde o inicio da gravidez, evita novas tragédias”. Enfatizou que o pré-natal é a melhor receita, e que precisa haver maiores investimentos na atenção primária. Afirmou que a ampliação de leitos e a construção de novas maternidades e berçários, não será a solução para o problema, além de ser mais dispendioso para o Estado. Ao analisar os dados de mortalidade materna e neonatal, alinhados a minha vivência profissional e aos estudos desenvolvidos, tornou-se possível afirmar: para que as estratégias de aperfeiçoamento do pré-natal se concretizem, é necessário dar voz às mulheres-mães por meio de uma escuta sensível para que se manifestem sobre o pré-natal. Esta afirmativa está pautada na concepção de Jovchelovitch (2008, p. 213), ao comentar que: 43 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. A cooperação e a comunicação, sem as quais a vida humana não seria possível, pressupõe o reconhecimento do outro, bem como o aprendizado de como levar em consideração a perspectiva desde onde ele propõe sua verdade histórica, social e psicológica. Tendo em vista que o profissional enfermeiro realiza o pré-natal de baixo risco e sua atuação está pautada especificamente na promoção da saúde e prevenção da morbidade e mortalidade, este estudo se propõe, a partir das representações sociais sobre pré-natal entre mulheres mães, contribuir para o agir cuidativo- educativo de enfermagem no pré-natal. De acordo com o decreto n° 94.406/87 e o Ministério da Saúde, o prénatal de baixo risco, pode ser inteiramente acompanhado por enfermeiro; enquanto que a lei n° 7498, do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), de 25 de julho de 1986. Dispõe sobre a regulamentação do exercício de enfermagem, afirma que compete ao enfermeiro a realização da consulta de enfermagem e a prescrição da assistência de enfermagem, privativamente e como integrante da equipe de saúde. No pré-natal, diante da confirmação da gestação, o processo consiste na consulta de enfermagem, realizada com o auxílio de métodos e técnicas variadas, que tem por finalidade a obtenção de informações sobre as pessoas ou coletividade humana e sobre suas respostas em um dado momento do processo saúde e doença (COFEN, 2009). A atuação dos enfermeiros, enquanto profissionais de saúde, é considerada relevante para a efetivação das propostas do pré-natal, pois de acordo com Freitas et al. (2007), o profissional de saúde, desempenha papel relevante na transmissão de apoio, orientação e confiança para que a gestante possa conduzir com mais autonomia a gestação e o parto. Para Lowdermilk et al. (2002), o pré-natal proporciona uma única oportunidade para os enfermeiros e para os demais profissionais de saúde da equipe, exercerem influências positivas na saúde da família, por meio da promoção a saúde e prevenção de doenças. Quando as gestantes procuram atendimento e orientações regulares, não se encontram doentes, pois a gestação é um fenômeno fisiológico. 44 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Considerando o contexto problema e a problemática da pesquisa, optei em estudar o pré-natal, por concebê-lo enquanto engrenagem constituída pelos elementos: gestantes, enfermeiros, e políticas públicas de saúde. Nessa linha de pensamento, cada elemento participante possui seu papel para a efetivação do pré-natal. Cabendo as gestantes a compreensão de sua participação e comprometimento, para que adquiram autonomia para cuidar de si e do seu filho. Para que a autonomia se desenvolva, a ação da gestante precisa ser reflexiva e ativa, de quem fala, questiona, reivindica e também decide sobre o que julga melhor para si, para seu filho e família, de acordo com a sua realidade. Quanto aos enfermeiros, são responsáveis pelo acolhimento e realização da primeira consulta da gestante na unidade de saúde, além das subseqüentes. Cabe a esses profissionais além de acolher e consultar, motivar e estimular a participação e adesão das gestantes à realização do pré-natal, sendo habilidosos tecnicamente e interpessoalmente, principalmente no saber ouvir e no respeito à individualidade dessas gestantes. Quanto a este aspecto Lowdermilk et al. (2002, p. 256) comentam: A capacidade de enfermeiros de investigar as necessidades peculiares e elaborar intervenções individuais é marca da excelência na prestação do cuidado. As variações que influencia o cuidado pré-natal englobam a cultura, a idade e o número de fetos. Ao perceber as necessidades de cuidado das gestantes e buscar atendê-las, o enfermeiro precisa considerar as dimensões emocionais, culturais, educativas, humanísticas, sociais e biológicas que permeiam o pré-natal. Essa percepção é determinante para o agir cuidativo-educativo de enfermagem pautado nas ações de promoção da saúde e prevenção de morbidades. Nesta perspectiva, Waldow (2006) descreve sobre o cuidado em enfermagem: O cuidado compõe a linguagem da enfermagem e na sua forma de visualizá-lo- como um modo de ser, relacional e contextual- caracteriza-se por ser a única ação verdadeiramente independente da enfermagem. O cuidado, não pode ser prescrito. Terapêuticas, procedimentos, técnicas, intervenções podem ser prescritas, não o cuidado. Não se prescreve um modo de ser, não se ditam maneiras de se comportar; elas podem ser sugeridas, aconselhadas, não prescritas. É nesse aspecto, que os manuais técnicos, enquanto guia de procedimentos, são mal interpretados ou até mesmo utilizados de forma indevida. 45 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Visto que, quando a gestante participa da elaboração dos cuidados a ela dispensado, demonstra-se que seus saberes são valorizados. É a partir de então, que o enfermeiro, com o seu conhecimento científico, deve promover a adequação do conteúdo da educação em saúde no pré-natal, aos conhecimentos prévios das gestantes. Essa prática é fundamental para que a gestante compreenda e utilize o conhecimento elaborado para posteriormente cuidar de si e do recém-nascido com autonomia. Neste aspecto Lowdermilk et al. (2002, p. 257) corroboram com as idéias, ao afirmarem que: Para prestar cuidado culturalmente sensível, os enfermeiros devem conhecer as práticas e os costumes, embora seja impossível saber tudo sobre todas as culturas e subculturas, assim como sobre os muitos estilos de vida que existem. Os enfermeiros podem questionar as pacientes sobre as crenças culturais e sobre a gravidez, apoiando-as e educando-as para promover a adaptação física e emocional. Os enfermeiros também atuam na assistência durante a hospitalização dessas gestantes e possuem papel importante na assistência ao parto e nos cuidados dispensados a mãe e recém-nascido, possibilitando uma nova oportunidade para a promoção da saúde e prevenção de morbidades. Quanto às políticas públicas de saúde cabe viabilizar condições favoráveis para a efetivação do pré-natal em todas as suas dimensões. Neste aspecto, dar voz às mulheres que recebem esse cuidado e vivenciam o pré-natal, na condição de clientes do serviço, é uma alternativa para contribuir com a efetividade das ações de educação em saúde no pré-natal e, por seguinte, controlar a morbidade e mortalidade materna e neonatal por causas evitáveis. Partindo da premissa de que as ações de promoção e prevenção contribuem para redução da morbidade e mortalidade materna e neonatal, e que essas são atribuições preponderantes dos enfermeiros. Considera-se que é através de uma relação entre gestante e enfermeiros, integrada, de confiança e empática, que as informações e os saberes serão compartilhados, refletidos, resignificados e reconstruídos, para serem aplicados e desenvolvidos no cotidiano dos atores sociais. Ressaltam-se as assimetrias das relações entre gestantes e enfermeiros e a necessidade da construção de padrões comunicativos horizontais, que possibilitem a cooperação e valorização do outro. No processo 46 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. de interação entre senso comum e ciência, é que se produzem representações sociais e enquanto sistema de conhecimento, essas representações sociais possibilitam as transformações sociais. Nessa concepção, Jovchelovitch (2008) comenta que as relações verdadeiramente simétricas são raras e difíceis de encontrar na vida social. A construção de padrões comunicativos horizontais é geralmente uma ação que exige resolução e determinação para colocar assimetrias em parênteses. É nesta resolução que novamente encontramos o problema de reconhecer o posicionamento e a perspectiva do outro, que é diferente de nós. Para a autora a simetria no diálogo entre Eu e Outro, em que a perspectiva e a posição dos interlocutores são reconhecidas pelos parceiros em interação, está associada a cooperação, que tende a produzir modalidades de representação, essas “abrem” a estrutura do conhecimento gerando consciência de diferenças e alternativas. Representações sociais e ciência constituem sistema de conhecimento deste tipo; no caso das representações sociais, porque é uma forma de senso comum construída por diferentes modalidades de saber, mescladas e combinadas em campos representacionais polifásicos; no caso da ciência porque está consciente de suas próprias lacunas e se fundamenta na dúvida e na verificação para estabelecer seu conteúdo proposicional. Desta forma, ao refletir sobre as representações sociais e da Teoria as Representações Sociais (TRS) encontrei a fundamentação para o conhecemos a desenvolvimento deste estudo. De acordo com Moscovici (2010), quando representação de um grupo acerca de uma temática, passamos a nos inserir de forma significativa dentro daquela realidade. Ao nos aproximarmos, estabelecemos vínculos, confiança, integração e, com isso, contribuímos para melhorar o trabalho e a qualidade de vida das pessoas envolvidas. A partir desses entendimentos foram elaboradas as seguintes questões de pesquisa: a) Quais os elementos e a estrutura das representações sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará? b) Quais as implicações dessas 47 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. representações sociais para o agir cuidativo-educativo em enfermagem no prénatal? Desvelaram-se a partir de então o objetivo geral do estudo: compreender as representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará; e os objetivos específicos: a) Descrever os elementos e a estrutura das representações sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará; b) Analisar quais são as implicações dessas representações sociais para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. O estudo poderá trazer contribuições às mulheres-mães, a medida que não propõe modelos padronizados de cuidado, neste sentido estimula o agir cuidativo-educativo à partir das representações sociais dessas mulheres, vislumbrando a aprendizagem dessas para a autonomia no cuidado de si e do seu filho, podendo dessa forma contribuir não só para o seu protagonismo, como também para a redução de morbidades e mortalidade materna e infantil por causas evitáveis. Para a enfermagem, por possibilitar a produção científica na área, além de oportunizar o re-pensar e re-significar o sentido e a prática do agir cuidativo-educativo no pré-natal e embasar o incremento de ações de educação em saúde a partir das representações sociais das mulheres-mães. Nesta perspectiva, há probabilidades de ações inovadoras, cujos resultados possam efetivamente corroborar com a propagação da consulta de enfermagem enquanto espaço de promoção a saúde, além de ressaltar a ação do enfermeiro enquanto mediador no processo de educação em saúde. Para as às políticas públicas de saúde da mulher no pré-natal do Pará, pela possibilidade de implantar um programa de educação em saúde fundamentado nas representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães. Além da oportunidade de efetivação da educação em saúde, vislumbrando diminuição dos indicadores de mortalidade materna e infantil por causas evitáveis e preveníveis. E por final, para a produção do conhecimento científico na área da mulher a partir da teoria das representações sociais, entre o meio acadêmico. Especialmente para a produção do conhecimento em enfermagem, através do 48 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Programa de Mestrado em Enfermagem em parceria com a Universidade do Estado do Pará (UEPA) e Universidade Federal do Amazonas; e para a produção do grupo de pesquisa Práticas Educativas em Saúde e Cuidado na Amazônia (PESCA), no qual a autora é membro. 49 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. CAPÍTULO 2- ANCORAGENS 50 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. 2.1. Ancoragens sócio-biológicas: em foco a mulher enquanto ser histórico e ser de cuidado 2.1.1. Relações de gênero: origem da perspectiva biológica Este tópico visa alinhar elementos teóricos que subsidiem a importância deste estudo, por isso entendemos ser pertinente discorrer a saúde da mulher enquanto gênero, considerando as repercussões culturais e sociais ao longo da história, bem como as influências nas políticas de saúde e na atenção materno-infantil. Nesse sentido, para o Ministério da Saúde: As mulheres são a maioria da população brasileira (50,77%) e as principais usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS). Freqüentam os serviços de saúde para o seu próprio atendimento mas sobretudo, acompanhando crianças e outros familiares, pessoas idosas, com deficiência, vizinhos, amigos. São também cuidadoras, não só das crianças ou outros membros da família, mas também de pessoas da vizinhança e da comunidade (BRASIL, 2011 p.08). O Ministério da Saúde (Brasil, 2011) afirma que se encontra na literatura vários conceitos sobre a saúde da mulher. Há concepções mais restritas que abordam apenas aspectos da biologia e anatomia do corpo feminino e outras mais amplas que interagem com dimensões dos direitos humanos e questões relacionadas à cidadania. Nas concepções mais restritas, o corpo da mulher é visto apenas na sua função reprodutiva e a maternidade torna-se seu principal atributo. Dessa forma, cabe ressaltar que as relações de gênero predominante desde o inicio do mundo, refletem até os dias atuais, através de padrões culturais dominante na sociedade. A identidade cultural de gênero foi constituída no tempo e no espaço, criando modelos de papéis diferenciados, marcados pelos interesses imediatos das sociedades nos diferentes momentos históricos. Destaca-se que: Os determinantes históricos sociais vêm se refletindo, ao longo dos tempos, na atuação médica, nas questões relacionadas à saúde da mulher: a exaltação da maternidade, discurso dominante a partir do século IX, trouxe no seu bojo, não a proteção da mulher, das vulnerabilidades em que está exposta no processo de manutenção da espécie, mas a perpetuação das relações de poder entre os sexos (BRASIL, 2001 p.12). A partir dessas considerações, seguiremos uma linha do tempo para compreender a existência das inter-relações entre as questões de gênero, 51 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. gestação, parto e políticas públicas de saúde da mulher, onde se localiza o prénatal. Para Spink (2007), até o período da Renascença predominava na sociedade o modelo do sexo único. O médico Galeno, fez uma analogia exploratória entre os sexos femininos e masculinos e defendeu a idéia de que a genitália externa masculina voltada para dentro e estendendo-se internamente entre o reto e a bexiga, correspondiam ao útero feminino, ovários e vagina. Segundo Galeno, não se encontraria uma única parte dos órgãos masculinos que não pudesse mudar sua posição no processo de internalização. Galeno defendia que os órgãos internos eram sinais evidentes de falta de calor e, portanto de menor perfeição. Para o médico, assim como o humano é o mais perfeito dos animais na humanidade, o homem é mais perfeito que a mulher, sendo a razão disso, o excesso de calor, porque o calor é o principal instrumento da natureza. Segundo Spink (2007), a mudança desse paradigma ocorreu a partir da rejeição da concepção do sexo único e a adoção do modelo de dois sexos incomensuráveis a partir do século XVIII. Uma anatomia de diferenças substituiu a perspectiva hierárquica como eixo organizador da vida política, econômica e cultural de homens e mulheres. Nesse momento, politicamente caracterizado pelas ideologias liberais burguesas, abriu-se, potencialmente, um novo espaço de atuação para a mulher. Entretanto, as novas teorias médicas que então despontavam, eram centradas na fragilidade ovariana, elaborada na segunda metade do século IX constituíram-se como principal fundamento da construção da mulher como ser frágil, obtendo como pressuposto a lei da conservação da energia. De acordo com esta lei, todo corpo contém uma quantidade específica de energia que é distribuída e consumida de acordo com a demanda dos diferentes órgãos e funções. Spink (2007) relata que os órgãos sexuais estariam entre os maiores usurpadores desta quota de energia vital, considerando a função reprodutiva da mulher. A partir dessa teoria foram embasadas as justificativas biológicas 52 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. necessárias para a política sexual de separação das esferas pública e privada, confinando a mulher à esfera privada. A autora citada descreve que na segunda metade do século XVIII, um novo modelo predominou, sendo esse fechado para o amor e centrado na relação conjugal e familiar. Para a consecução dessa nova política populacional, Rosseau não hesitou em propor uma medida radical: a mulher deveria abandonar o homem e o mundo exterior e dedicar-se ao lar. Acredita-se que tal relato histórico seja fruto do desenvolvimento de pensamentos e comportamentos nas esferas epistemológicas e políticas da área da mulher. Essas determinações históricas sustentam as modernas construções sociais de igualdade ou diferença dos sexos e justificaram por muito tempo, a exclusão da mulher da esfera pública e dos direitos de cidadania. Esta breve incursão na história nos revelou o papel legitimador das teorias médicas, definindo a mulher como ser frágil, as quais deram a justificativa, naturalizada na biologia, para uma política de exclusão e desigualdade. Foi em decorrência de todas essas questões, que as teorias de gênero surgiram no bojo do movimento feminista. Dessa forma, Arruda (2002) afirma que a teoria feminista da psicologia social, ao partir de um projeto político, pretende ir além do entendimento dos fenômenos de opressão e subordinação. Compreendê-los é uma parte do processo para que efetivamente se transforme as relações entre gêneros. A autora citada, ao tecer comparação entre a TRS e as teorias feministas, relata que ambas nasceram na mesma conjuntura de degelo dos paradigmas, para a qual concorrem. Nesse aspecto, considerando a dimensão conceitual de tais teorias, vê-se que elas apresentam características comuns no que se refere aos objetos a que se aplicam, e aos métodos mais adequados a sua abordagem: destinam-se a revelar ou conceituar aspectos de objetos, até então considerados como menores pela ciência ( a mulher e o senso comum). Para Arruda (2002) tanto a TRS quanto as teorias feministas tecem uma crítica ao binarismo que antepõe natureza e cultura, razão e emoção, objetivo e subjetivo, pensamento e ação, ciência e senso comum; propõem teorias relacionais. Nesse sentido, gênero é uma categoria relacional, que ao se 53 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. levar em conta os gêneros em presença, também se consideram as relações de poder, a importância da experiência, da subjetividade, do saber concreto. Para a autora citada, tais dimensões indicam que essas teorias estão reabilitando o conhecimento concreto e a experiência vivida. As teorias reconhecem a possibilidade de diversas personalidades, o que é adequado às características da forma de conhecer e lidar com o saber nessas sociedades, em que grupos diferentes de um mesmo objeto, sem que a diferença implique obrigatoriamente desigualdade. Após estas considerações, vimos que as teorias feministas e TRS possibilitam a produção de conhecimentos a partir do outro, da subjetividade intrínseca nos processos de comunicação interpessoais e vivenciais. Compreendemos que a visão biomédica acerca da saúde da mulher, teve raízes nas primeiras teorias médicas, as quais utilizavam na constituição dos órgãos reprodutores feminino, as explicações para a subjugação e condição de subalternidade em relação ao homem e ao seu papel na sociedade. Por isso, foi possível entender que as concepções patriarcais e capitalistas, manifestadas pelas relações de poder e dominação dos corpos das mulheres constituem um paradigma dominante que se arrasta há décadas. Observamos que as conquistas obtidas na área da mulher, só foram alcançadas, devido os movimentos feministas e desenvolvimento de teorias de gênero, a qual propõe a construção de um conhecimento pautado nas relações interpessoais e vivências das mulheres, considerando as suas singularidades. Porém, nota-se que nas práticas de saúde da mulher, especificamente no ciclo gravídico puerperal, as relações de poder entre profissionais e mulheres são constantes, visto que as experiências e vivências dessas mulheres, raramente são consideradas. Nesse aspecto, ao considerar as relações entre profissionais e mulheres, bem como o conhecimento científico e o comum, revelou-se a necessidade de compreender o fenômeno gestação e parto, a partir de suas múltiplas dimensões, abordadas a seguir. 54 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. 2.1.2. O fenômeno da gestação e do parto As primeiras ações de saúde da mulher privilegiavam o ciclo reprodutivo, o qual determinou o seu papel de mãe e dona do lar. Os fenômenos e a vivência da gestação e parto foram vistos por muito tempo, de acordo com Pirrot (2003) e Vieira (2002), como domínio exclusivo das mulheres. A parturição como fenômeno feminino tinha como auxiliares as parteiras, comadres, religiosas ou mulheres experientes da família. Para as autoras supracitadas, as influências que as mulheres recebiam na infância e na adolescência, por meio da linguagem verbal e não verbal, sobre o significado do corpo feminino e do sexo, resultaram em distanciamento e desvalorização que restringiram o valor e o poder feminino. Esta visão demonstra uma das características da sociedade patriarcal, onde o homem exerce domínio sobre a mulher, atribuindo-lhe sentimentos de culpa, medo, vergonha relacionados à vivência da sua sexualidade, contribuiu para o fortalecimento de mitos e histórias, que invalidaram os saberes femininos inatos. Para Capra (1982) a invalidação dos saberes femininos inatos, culminou na institucionalização do parto, considerando que as ciências biomédicas evoluíram a partir do processo de industrialização, com o surgimento de novos instrumentos de diagnóstico, como o microscópio e o estetoscópio, e seu aperfeiçoamento. Nota-se que a tecnologia trouxe contribuições para a prática cirúrgica; pois patologias foram diagnosticadas e hospitais transformados em centros de diagnóstico, de terapia e de ensino. Nesse período, de acordo com Oliveira (2001), a obstetrícia firmou-se como matéria médica na formação profissional, institucionalizando-se o parto hospitalar e intensificando sua intervenção e medicalização. Na visão de Nagahama (2005), medicalização significa o processo de transformar aspectos da vida cotidiana em objetos da medicina, de forma a assegurar conformidade às normas sociais. A partir dessas considerações, não nos manifestamos contra a medicalização, nem as tecnologias, visto que essas trouxeram grandes 55 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. contribuições para salvar vidas de mulheres e crianças. Porém, é tênue a linha entre o que é passível e não passível às intervenções, tendo em vista, que a gestação e parto passaram a ser pensados e tratados muito mais na ótica biológica, do que na fisiológica, na qual a mulher tinha a autonomia sobre seu corpo. De acordo com as suas dimensões, a gestação e parto, possuem significados diversificados, dando ênfase mais a determinados aspectos do que outros. Nessa linha de raciocínio, trouxemos abaixo discussões sobre gestação e parto, considerando as dimensões: psicossocial, cultural, e fisiológica. Para Silva e Santos (2003, p.91) a gestação: É um evento social que envolve vários atores. É um momento especial na vida da mulher, de seu parceiro e família, e constitui uma experiência humana das mais belas, e se bem acompanhada, torna-se a realização de um sonho para a maioria das mulheres. Para Cabral et al. (2005), a gestação pode ser dividida em três períodos: o período antepartum ou pré-parto, refere-se ao período que se estende da concepção ao inicio do trabalho de parto; o período intrapartum ou parto estende-se do inicio das contrações que causam dilatação cervical até as primeiras 4 horas após o nascimento do neonato e expulsão da placenta. O período postpartum ou pós-parto refere-se a 6 semanas após o nascimento do neonato e expulsão da placenta. Também conhecido como puerpério, esses estágio termina quando os órgãos reprodutores retornam ao estado não gravídico (CABRAL, 2005). “Apesar da gestação, ser considerada um processo fisiológico, sua evolução transcorre, na maioria das vezes sem complicações ou intercorrências, sendo assim classificadas como gestação de baixo risco” (LIMA; LIMA, 2010, p. 41). Estes autores afirmam, ainda, que apesar disso, em algumas mulheres, por terem características específicas ou por apresentarem algum tipo de agravo antes da gestação, é maior a chance de evolução desfavorável, tanto para ela quanto para o concepto, situação em que a gestação é classificada como de alto risco. Segundo Brasil (2001), toda gestação traz consigo risco para mãe ou para o feto. A gestação de alto risco é acompanhada exclusivamente pelo 56 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. profissional médico, enquanto a de baixo risco pode ser inteiramente acompanhada pelo enfermeiro. O enfoque a gestação e parto são importante por serem estes momentos de intensas transformações na vida da mulher e da família. Neste aspecto, os fatores culturais e sociais influenciam na forma como diferentes mulheres lidam com a gestação, geram um desdobramento para o cuidado prénatal e para a promoção da saúde e prevenção de morbidade e mortalidade materna e infantil. Concordamos com a perspectiva de Spink (2007), quando comenta que o nascimento de uma criança é essencialmente um ato cultural: um processo fisiológico inserido num contexto de crenças e costumes. Há, portanto, variações consideráveis na formatação dos diferentes aspectos do processo reprodutivo, como mostram os estudos antropológicos sobre reprodução. Considerando os aspectos fisiológicos, culturais, históricos, biológicos e psicossociais que congregam a atenção a saúde da mulher durante o ciclo gravídico e puerperal; o pré-natal é importante enquanto exercício de cidadania e espaço de aprendizagem, considerando os saberes das mulheres e vislumbrando a vivência da gestação e parto com autonomia e empoderamento. A efetivação dos cuidados à mulher no pré-natal poderá resultar na diminuição dos índices de mortalidade materna e neonatal. Desta forma, anunciamos o tópico que trata da mulher e o pré-natal. 2.1.3. O Pré-Natal: premissas públicas e perspectivas para o cuidado em enfermagem A palavra “pré-natal” se forma por dois elementos, “pré-”, do Latim PRAE, “antes” e “natal”, do Latim NATALIS, “relativo ao nascimento”, de NAQUI, “nascer” ¹. Observa-se que no sentido da palavra origina-se o objetivo da ação pré-natal, considerando que a principio seu objetivo era o nascimento de crianças saudáveis. __________ ¹ Disponível no Site de Etimologia. Origem da Palavra: http://origemdapalavra.com.br/pergunta/pre-natal. Acessado em 20 de julho de 2011. 57 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. O pré-natal relaciona-se tanto ao período que antecede o parto, quanto à prestação de serviços. No que se refere ao período pré-natal, Lowdermilk et al. (2002) conceituam como uma época de preparação física e psicológica para o parto, para a maternidade e paternidade. As autoras mencionadas consideram que o fato de tornar-se pai e mãe, é uma das crises de maturidade da vida adulta e como tal, é um período de intenso aprendizado para os pais e para as pessoas próximas a eles. Para o Ministério da Saúde, na perspectiva de prestação de serviço, o pré-natal ou assistência pré-natal é um conjunto de ações e de atenção médica e de enfermagem direcionadas para a saúde da mulher. Desenvolve-se no período em que esta se encontra grávida, visando assegurar uma melhor condição de saúde, tanto para ela como para seu bebê, evitando a morte e o comprometimento de ambos (BRASIL, 2005). Considerando a relação da qualidade e efetivação do pré-natal com a mortalidade materna e infantil. Acreditamos que o primordial é considerar a mulher gestante como centro das ações, visto que sem ela não acontece o prénatal, sem o seu comprometimento e conhecimento, ela não terá autonomia para cuidar de si nem do seu bebê, assim a realidade posta pela sociedade não será transformada. A ampliação da visão do pré-natal, com enfoque para a mulher, se traduz na descrição de Brasil (2005), ao afirmar que o principal objetivo da assistência pré-natal é acolher a mulher desde o inicio de sua gestação, devido o período de mudanças físicas e emocionais, que cada gestante vivência de forma distinta. Considera-se que essas transformações podem gerar medos, dúvidas, angústias, fantasias, ou simplesmente a curiosidade de saber o que acontece no interior do seu corpo. Por isso, considerando os fatores que interferem no desenvolvimento da gestação, é importante que toda gestante realize o pré-natal. Contudo, são diversos os problemas que servem de obstáculos para o alcance dos objetivos propostos pela referida ação. Ressalta-se então a relevância da adesão das mulheres ao pré-natal, evidência destacada em vários estudos, conforme descrito pelo Ministério da Saúde: 58 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Demonstrou-se que a adesão de mulheres ao pré-natal, está relacionada com a qualidade da assistência prestada pelo serviço e pelos profissionais de saúde, o que em última análise será essencial para a redução dos elevados índices de mortalidade materna e perinatais verificadas no Brasil (BRASIL, 2001, p.9). É neste cenário que cabe aos profissionais de saúde, ao entrar em contato com a mulher gestante, na unidade de saúde ou na comunidade, buscar compreender os múltiplos significados da gestação para aquela mulher e sua família. Neste sentido, ressaltam-se em linhas abaixo as influências do cuidado dos profissionais e cuidado de enfermagem para efetivação das políticas de saúde da mulher no que se refere ao pré-natal. O cuidado pré-natal torna-se um momento privilegiado para discutir questões que são únicas para cada mulher e seu parceiro, aparecendo de forma individualizada, até mesmo para quem já teve outros filhos. O objetivo do cuidado pré-natal visa acompanhar a evolução da gestação, a fim de fornecer suporte à saúde materna e ao desenvolvimento fetal normal (FRASER; COOPER, 2010 ). Para o autor supracitado, no primeiro contato com a cliente, a enfermagem deve orientar as mulheres sobre a importância do pré-natal e da amamentação. Antes da consulta verifica-se o peso, a altura e a pressão arterial, anotando os dados no cartão da gestante. No decorrer do cuidado e acompanhamento, fornece medicação prescrita mediante receita do médico ou enfermeiro e aplica a vacina antitetânica. Também participa da educação em saúde, elemento constituinte do pré-natal. A enfermagem acompanha toda a gestação de baixo risco, sendo responsável pela solicitação de exames laboratoriais, pela coleta do exame preventivo (Papanicolau), pela prescrição de tratamento necessário, conforme o protocolo do Ministério da Saúde. Esses profissionais também podem organizar atividades em grupos com gestantes, que enfoquem: aleitamento materno; preparo para o parto; cuidado com o recém-nascido; vacinação; levantamento e busca de faltosas (BRASIL, 2000). Cuidar adequadamente da gestante no pré-natal exige do enfermeiro e do técnico de enfermagem: gostar da profissão; gostar do que faz na área da obstetrícia; estar motivado para cuidar da mulher gestante; 59 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. envolver-se na comunidade em que trabalha; estar constantemente envolvido com a família da gestante (SILVA, SANTOS, 2002, p.95). Os profissionais de enfermagem que atuam no pré-natal precisam compreender que cada mulher possui sua história de vida, e é no pré-natal que terá a oportunidade de compartilhar experiências com outras mulheres na mesma condição (SILVA; SANTOS, 2002). Deve-se atentar para que o devido esclarecimento da gestante e sua família, já que o intervalo entre as consultas deve ser de quatro semanas. Após a 36° semana, a gestante deverá ser avaliada a cada 15 dias, visando a avaliação da pressão arterial, altura uterina, edema, movimentos fetais e batimentos cardiofetais com mais rigor (SILVA; SANTOS, 2002). Ao refletir sobre as questões abordadas, concebemos que o pré-natal é constituído pelas seguintes dimensões: cultural e histórica: mulher enquanto gênero; fisiológica e biológica: gestação, parto e o cuidado à mulher; dimensão política e social: programas e ações na saúde da mulher no Brasil; educativa: acolhimento e educação em saúde.Essas quatro dimensões estão demonstradas no Diagrama 4: Diagrama 4- Dimensões do Pré-Natal 60 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Considerando as dimensões do pré-natal, seus objetivos e papel dos profissionais no contexto, destaca-se a importância das ações do enfermeiro no acolhimento e na primeira consulta da gestante e demais atribuições inerentes ao pré-natal. Em linhas gerais, apontamos a seguir evidências sobre o pré-natal na perspectiva da enfermagem. No que tange as competências essenciais dos enfermeiros durante a consulta pré-natal, de acordo com Rios e Vieira (2007), a atenção realizada por enfermeiros, demonstrou que estes não exercem as competências essenciais para a assistência qualificada no pré-natal, devido às barreiras institucionais com que se defrontam no trabalho. Os autores descreveram que a consulta pré-natal, caracterizou-se como uma ação rotineira, pouco participativa, com predominância informativa, apesar da existência do bom propósito de educar. Na perspectiva da educação em saúde Rios e Vieira (2007), comentam que as questões relacionadas ao modelo assistencial, estrutural e organizacional da instituição são obstáculos para a realização da educação em saúde, como tendência libertadora, crítico, social e transformadora. Quanto as ações educativas inerentes à consulta de enfermagem de acordo com Shimizu e Lima (2009), incluem orientações sobre planejamento familiar e cuidados com o recém-nascido, porém essas pautam-se no modelo tradicional de transmissão das informações, no qual a mulher é colocada em uma posição passiva, o que impede a exploração dos seus conhecimentos prévios, e conseqüentemente, a negociação dos cuidados requeridos. Os estudos de Hotwiskiy et al. (2002), demonstraram que o modelo de assistência pré-natal não orienta as gestantes, adequadamente, sobre o processo reprodutivo; constatou-se uma grande demanda por informações e pela escuta clínica. Percebeu-se que os materiais educativos nem sempre são assimilados e por si só, não são suficientes para esclarecer suas dúvidas e não suprem a necessidade de orientação pelos profissionais. Essas evidências corroboram com os estudos de Teixeira et al. (2010) quando descreve que a educação em saúde possui muitos desafios, dentre eles está a difícil missão de segregar o paradigma da propaganda em massa como meio de informação de conceitos de higiene, a começar pela educação em saúde 61 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. institucionalizada, que investe milhões na produção de “impressos educativos”, negando e desconhecendo os avanços dos processos educativos e a interação entre o saber popular e a subjetividade das pessoas. Segundo os autores, “a educação em saúde em uma proposta de construção compartilhada, deve ser orientada pela busca da interdisciplinaridade, da autonomia e da cidadania. Ou seja, práticas que privilegiem a interação dos sujeitos, onde todo o saber é valorizado, transformado e compartilhado” (TEIXEIRA et al. 2010. p. 30). No que se relaciona aos procedimentos técnicos, como consultas, realização de exames e atividades educativas, conforme os relatos de Shimizu e Lima (2009), são comentados e valorizados na expectativa da garantia da boa saúde para o filho. Contudo, as informações nem sempre são assimiladas e suficientes para esclarecer as dúvidas das gestantes. Para os autores, faz-se necessário, para garantir a adesão das gestantes aos cuidados prestados na consulta de enfermagem, aprofundar a forma de abordagem, principalmente partindo do conhecimento das necessidades principais das mulheres, seu modo de vida e sua cultura. As evidências apontam a necessidade de reorientação do serviço de enfermagem na atenção à gestante, para a criação de um ambiente físico adequado; realização da consulta de enfermagem e participação da gestante em grupos educativos. Após a análise dos textos compreendemos que os problemas do prénatal, podem estar relacionados com predominância ou hegemonia da dimensão biológica. Nesse sentido, destacamos a dimensão educativa, a qual precisa ser fortalecida e executada a partir do levantamento das necessidades das gestantes. 2. 2. Ancoragens Político-Assistenciais: em foco as políticas públicas de Saúde da Atenção à Mulher A área da saúde da mulher vem ganhando espaço nas formulações de políticas públicas de saúde, obtendo avanços nos estudos e pesquisas realizadas nesta área ao longo do tempo. 62 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Apesar da redução dos indicadores de mortalidade materna no primeiro semestre de 2011, estes ainda estão longe da meta traçada para 2015, dentro dos Objetivos do Milênio, que é de no máximo 35 mortes maternas por cada 100 mil nascidos vivos ². Considerando a trajetória histórica das políticas em prol da saúde da mulher, é relevante que conheçamos as ações, programas, diretrizes, modelos de atenção e principais conceitos de acordo com a linha do tempo sintetizada no Diagrama 5. Diagrama 5 –Linha do tempo das políticas públicas de Saúde da Atenção à Mulher Tempo 1- 1920 a 1949: de acordo com Tyrrel e Carvalho (1995), a proteção a saúde da mulher teve inicio no Brasil, com a reforma sanitária de Carlos Chagas, obtendo como foco a assistência materno-infantil. O primeiro órgão voltado para o cuidado da saúde materno-infantil foi o Departamento Nacional da Criança (DNCR), no período de 1940 a 1969. _____________ ² Disponível em gazetaoline.globo.com/_.../1124265-cai-mortalidade-materna-em-2011-segundo governo. Htlm. Acessado em 20 de março de 2012, às 15h. 63 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. As diretrizes de trabalho do DNCR visavam integrar os planos e as atividades públicos e privados, à maternidade, à infância e à adolescência, com os programas de saúde pública em geral. O modelo inicial da assistência médica não era universal e baseava-se nos vínculos trabalhistas. Em 1930, foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública, com desintegração das atividades do Departamento Nacional de Saúde Pública (vinculado ao ministério da justiça). Tempo 2- 1950 a 1969: segundo os estudos de Nagahama (2005) em 1953 foi criado o Ministério da Saúde, que ordenou em nível nacional a assistência materno-infantil, porém suas diretrizes primaram em defender de maneira eficaz a criança brasileira. Dedicou-se as atividades de caráter coletivo como as campanhas e a vigilância sanitária. Embora o setor público no Brasil ainda continuasse privilegiando a atenção à gestante, na transição das décadas de 60 para 70, surgiu entidades não governamentais, que desenvolviam programas verticais de planejamento familiar, sem outros cuidados à saúde das mulheres. A criação da Sociedade Civil de Bem-Estar Familiar ( BENFAM) e sua ampla atuação na sociedade brasileira na década de 70 é o exemplo mais claro desse período. Considerando o auge do regime militar no Brasil e seus princípios prónatalistas, foi possível a proliferação de entidades ditas “controlistas”. Dessa forma, ser contra o planejamento familiar transformou-se em bandeira política, o que retardou a oferta dessas ações de saúde na rede primária. Com a Industrialização e urbanização aceleradas, resultaram desse processo, modificações nas expectativas reprodutivas das brasileiras, optando por famílias menores. Tempo 3- 1970 a 1979: em 1971, com as Diretrizes Gerais da Política Nacional de Saúde Materno-Infantil, se estabeleceram programas de assistência a gravidez de alto risco, ao parto, puerpério, controle das crianças de 0 a 4 anos de idade e estimulo ao aleitamento materno e a nutrição. Em 1974, Nagahama (2005) descreveu que o Programa de Saúde Materno-Infantil (PSMI), teve como diretrizes a nutrição do grupo infantil em relação às mulheres; o alvo eram as gestantes, parturientes, puerperas e mulheres em idade fértil. 64 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Em 1975, houve interesse de grupos organizados de mulheres em conhecer um modelo de atenção integral a mulher, desenvolvidos por profissionais da Universidade de Campinas, denominado de Atenção Integral a Saúde da Mulher (AISM). Em 1978, no contexto das políticas públicas do Pais ocorreu a Conferência Nacional sobre Cuidados Primários de Saúde, em Alma-Ata, na União Soviética, os cuidados primários em saúde passaram a ser enfatizados e a colocação desses cuidados ao alcance de toda a população, a universalização do atendimento passa a ser privilegiada. O documento essencial dessa conferência, a Declaração de Alma-Ata, define as atividades primárias que devem compor o conceito de cuidados primários incluindo a educação sanitária, a assistência nutricional, o saneamento básico, a assistência materno-infantil, o planejamento familiar, as imunizações e a assistência curativa para os problemas mais comuns (SPINK, 2007). Nesse mesmo período na área da saúde da mulher, despontou o Programa de Prevenção da Gravidez de Alto Risco (PPGAR), elaborado pelo Ministério da Saúde, com a diretriz de prevenir a gestação de alto risco. Este período foi marcado pelo movimento municipalista, onde se realizavam encontros e discussões que resultavam em denúncias acerca da crise que a saúde enfrentava. Paralelamente, os movimentos de mulheres insistiram que a transformação do AISM em programa de saúde, incluísse o componente de educação sexual em saúde. Tempo 4- 1980 a 1989: em 1983, após lutas do movimento feminista, que visava expandir a visão da atenção dispensada as mulheres; um grupo de mulheres reuniu uma equipe multiprofissional e pesquisadores das universidades e elaborou o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM). Em 1984, segundo Nagahama (2005), o Ministério da Saúde implantou o Programa de Assistência Integral a Saúde da Mulher (PAISM) a partir do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), e da Comissão Nacional de Estudos dos Direitos da Reprodução Humana. A diretriz do PAISM era incluir a assistência à mulher desde a adolescência até a terceira idade, comprometendose com o direito das mulheres e oferecendo opção de exercerem a maternidade 65 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. ou não. No entanto, para o Ministério da Saúde (BRASIL, 2005), mesmo com as prerrogativas do PAIMS, o panorama da saúde da mulher, continuou sendo o ciclo reprodutivo. O ano de 1985 marcou o movimento das diretas já e a eleição de Tancredo Neves, revelando o fim do regime militar, fato que gerou diversos movimentos sociais, inclusive na área da saúde. Em 1986, ocorreu a 8ª Conferência Nacional de Saúde (CND) a primeira aberta à participação popular, cujo objetivo principal foi o de fornecer subsídios para a reformulação do Sistema Nacional de Saúde e gerar elementos que permitissem uma ampla discussão sobre o conceito da saúde na constituição. O relatório dessa Conferência serviu de base para a Constituição Federal de 1988 que inscreveu a saúde como resultante de políticas sociais, incluindo a garantia de moradia, alimentação, trabalho e educação, devendo estar integrada ao sistema de proteção e seguridade social. No mesmo período, os grupos de mulheres e os profissionais de saúde reivindicavam a ampliação da assistência à mulher partindo de um movimento articulado, com a proposta de reforma sanitária e a criação de um sistema único de saúde, público e universal. Este movimento sanitário, tomando a saúde como direito inalienável, exigia que o Estado reordenasse o sistema de saúde com base nos princípios de universalidade, equidade e integralidade. O envolvimento das mulheres na luta pelos seus direitos e por melhores condições de vida impulsionou as primeiras medidas oficiais do Ministério da Saúde. Apesar de engessado nos governos militares, o movimento feminista reorganizou-se, abrindo debates que denunciavam a precariedade da saúde da mulher brasileira. Dessa forma, o tema “saúde” destacou-se no cenário feminista, levando a criação das políticas públicas que atendessem as necessidades da mulher em sua integralidade. Essa perspectiva de atendimento à mulher foi contemplada pelos princípios norteadores do Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com a Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988, o Sistema Único de Saúde (SUS) constituiu o arcabouço das políticas de 66 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. saúde do país. A efetivação do SUS proporcionou a reversão do modelo assistencial centrado na doença, dando ênfase para atenção primária à saúde. No final do ano de 1989, de acordo com Duarte e Andrade (2006) o Ministério da Saúde adotou o Programa Saúde da Família (PSF) como estratégia para aprimorar ações de saúde coletivas no contexto social. Esse período trouxe importantes mudanças políticas no campo da saúde das mulheres, com o surgimento de propostas inovadoras. A partir do conceito de integralidade e de direitos, as duas permissões previstas no Código Penal Brasileiro, relativas à interrupção da gestação por violência sexual e risco de vida da gestante, ganham lugar nas políticas públicas, organizadas em forma de serviço da cidade de São Paulo. Essa experiência motivou debates em todo o país e foi fundamental para a elaboração de propostas originadas da realidade das mulheres, a partir das relações de gênero e com base nas desigualdades do acesso à saúde como direito. Tempo 5- 1990 a 1999: essa década trouxe novos desafios com a realização de Conferências Internacionais no âmbito das Nações Unidas. Da perspectiva internacional, o ciclo social da Organização das Nações Unidas (ONU) foi responsável por colocar em pauta os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres e por consolidar uma terminologia relativa aos mesmos. O início dos anos 90 marcou a regulamentação do SUS em 19 de setembro de 1990 através da lei 8.080. Nesse período a assistência à saúde da mulher no Brasil permanecia com muitas questões a serem enfrentadas. O Ministério da Saúde havia definido a saúde da mulher como prioritária e sistematizou a partir de três linhas principais de ações: melhorar a saúde reprodutiva, reduzir a mortalidade por causas evitáveis e combater a violência contra a mulher (BRASIL, 2002). Em 1992, o movimento internacional de mulheres, demonstrou sua capacidade de mobilização ao definir uma agenda própria sobre a relação entre população e desenvolvimento. Este movimento rejeitou os princípios controlistas e introduziu no debate das Nações Unidas as questões relativas aos direitos 67 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. reprodutivos no marco de um processo de desenvolvimento e de respeito aos direitos humanos. Em 1993, na segunda Conferência Internacional de Direitos Humanos (Viena, 1993), enfatizou-se que “os direitos das mulheres são direitos humanos” e por isso, devem estar incluídos na agenda das políticas de direitos humanos das nações. Na mesma década, a Portaria do Ministério da Saúde de número 1886, de 18 de dezembro de 1997, aprovou as normas e diretrizes do Programa Saúde da Família, vigente desde 1994. As ações básicas a serem executadas pelos profissionais do PSF estavam descritas nas Normas Operacionais da Assistência à Saúde (NOAS) e constaram de atenção à saúde da criança e atenção a saúde da mulher, dentre outras. Para melhoria da assistência obstétrica, a Área Técnica de Saúde da Mulher, em conjunto com a Secretaria de Assistência à Saúde e Secretaria Executiva, elaborou um plano em três etapas. Na primeira, aumentou a remuneração ao parto normal (Portaria MS/GM 2.816, de 29 de maio de 1998) e incluiu a remuneração aos procedimentos referentes à analgesia de parto e ao parto realizado por enfermeira obstetra. Na segunda, foi instituído o Programa de Apoio à Implantação de Sistema Estadual de Referência Hospitalar (Portaria MS/GM 2.817, de 28 de maio de 1998) para a gestação de alto risco, com a finalidade de organizar e melhorar a assistência às mulheres com maior risco obstétrico. A terceira etapa tratava especificamente da atenção no pré-natal e ao parto, enfocando a qualidade da assistência, o acesso, também considerado como indicador da qualidade e a humanização da atenção (BRASIL, 2002). Essas ações tinham como ponto de partida a necessidade de diminuir a morbi-mortalidade materna e melhorar os resultados perinatais, com a perspectiva da humanização como grande norteador. Tempo 6- 2000 a 2009: em 2000, através da análise dos avanços e retrocessos do PAISM, originaram-se mudanças que culminaram na elaboração e implantação do modelo público denominado Programa de Humanização no PréNatal e Nascimento (PHPN). 68 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. O programa buscou como base, a análise das necessidades de atenção especifica à gestante, ao recém nascido e a mulher no período pós-parto, objetivando a redução da morbidade e mortalidade materna e perinatal. (BRASIL, 2004). Em nossa concepção, esse objetivo retoma as raízes capitalistas da sociedade, que conduziram os programas e ações na área da mulher nos antepassados e pressupõe a preocupação com as conseqüências da mortalidade materna e perinatal para a sociedade, enquanto que as suas causas foram suplantadas. Neste aspecto, para o Ministério da Saúde: No Brasil ainda de forma tímida, observa-se uma crescente tendência à contestação de um modelo de desenvolvimento que privilegia a ordem hierárquica, consumista e tecnológica. Essa contestação é evidente nos movimentos de protesto contra as sociedades de modelo político autoritário, na afirmação da liberdade e da democracia e no fortalecimento de uma corrente preservacionista, ecológica, em oposição à tradicional atitude dominadora e apropriativa, determinada pelo modo de produção. É sob a ótica desse movimento de transformação, que deve ocorrer uma nova reflexão sobre a saúde da mulher (BRASIL, 2001 p.15). De acordo com Brasil (2001) o referido Programa adotou medidas que assegurassem a melhoria do acesso, da cobertura e da qualidade do acompanhamento pré-natal, da assistência ao parto, puerperio e neonato. Fundamentou-se na humanização da assistência obstétrica, isto é, dever das unidades de saúde, receber com dignidade a mulher, seus familiares e seu recém-nascido. Para a assistência ao parto e nascimento recomendava-se adoção de medidas e procedimentos benéficos, que evitassem as práticas intervencionistas desnecessárias. No ano de 2004, no âmbito da Presidência da República, foi firmado o “Pacto pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal” com o objetivo de articular os atores sociais mobilizados em torno da melhoria da qualidade de vida de mulheres e crianças (BRASIL, 2011). Dessa forma, a Política de Atenção Integral à Saúde da Mulher – PNAISM consolidou ações voltadas para as mulheres em todos os ciclos de vida, resguardadas as especificidades das diferentes faixas etárias e dos distintos grupos populacionais ( mulheres negras, indígenas, diferentes orientações sexuais, residentes em áreas urbanas e rurais ou de difícil acesso, em situação de risco, presidiárias, com deficiências, dentre 69 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. outras. Incorporou a perspectiva de gênero, raça e etnia e diversidade na elaboração, execução e a avaliação das políticas, extrapolando os limites da saúde reprodutiva. Segundo o Ministério da Saúde, os objetivos gerais da Política de Atenção à Saúde da Mulher são: promover a melhoria das condições de vida e saúde das mulheres brasileiras, mediante a garantia de direitos legalmente constituídos e ampliação do acesso aos meios e serviços de promoção, prevenção, assistência e recuperação da saúde em todo território brasileiro; contribuir para a redução da morbidade e mortalidade feminina no Brasil, especialmente por causas evitáveis, em todos os ciclos de vida e nos diversos grupos populacionais, sem discriminação de qualquer espécie; ampliar, qualificar e humanizar a atenção integral à saúde da mulher no Sistema Único de Saúde ( BRASIL, 2011, p.66). Apesar de todas as ações e avanços na saúde da mulher, a realidade atual é que passados mais de uma década da elaboração da Política de Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher, os altos índices de mortalidade materna e neonatal, seguem como um grave problema de saúde pública. Tempo 7- 2010 a 2012: em 2011, devido à persistência do grave problema de saúde pública relacionado aos índices alarmantes de mortalidade materna e neonatal, um novo Modelo de Atenção a Saúde da Mulher, denominado Rede Cegonha, foi instituído pela portaria 1.459 do Ministério da Saúde em 24 de junho de 2011. O Modelo de Atenção consiste em uma rede de cuidados que visa assegurar à mulher o direito ao planejamento reprodutivo, a atenção humanizada a gravidez, parto e puerpério, bem como à criança o direito ao nascimento seguro e ao crescimento e desenvolvimento saudáveis. A medida provisória nº 557, de 26 de dezembro de 2011, institui o Sistema Nacional de Cadastro, Vigilância e Acompanhamento da Gestante e Puérpera para Prevenção da Mortalidade Materna, autoriza a União a conceder benefício financeiro, altera a Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, e a Lei no 9.782, de 26 de janeiro de 1999. 70 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. A Presidenta da República, no uso da atribuição que lhe confere o art. 62 da Constituição, adota a seguinte Medida Provisória, com força de lei: Art. 1º Fica instituído o Sistema Nacional de Cadastro, Vigilância e Acompanhamento da Gestante e Puérpera para Prevenção da Mortalidade Materna, no âmbito da Política de Atenção Integral à Saúde da Mulher. Coordenada e executada pelo Sistema Único de Saúde – (SUS), com a finalidade de garantir a melhoria do acesso, da cobertura e da qualidade da atenção à saúde materna, notadamente nas gestações de risco. No Art. 2º o Sistema Nacional de Cadastro, Vigilância e Acompanhamento da Gestante e Puérpera para Prevenção da Mortalidade Materna é constituído pelo cadastramento universal das gestantes e puérperas. De forma, a permitir a identificação de gestantes e puérperas de risco, a avaliação e o acompanhamento da atenção à saúde por elas recebida durante o pré-natal, parto e puerpério. Objetivando complementar a decisão anterior e incentivar a mulher para realização do pré-natal; viabilizar o acesso e acessibilidade aos serviços de saúde, uma nova medida constituída através da portaria nº 68, de 11 de janeiro de 2012, institui benefício financeiro para apoio às gestantes nos deslocamentos às consultas de pré-natal e para o local em que será realizado o parto. Considerando a Medida Provisória Nº 557, de 26 de dezembro de 2011, especialmente os artigos 10, 11 e 12, que autorizam e estabelecem requisitos mínimos para a concessão, pela União, de benefício financeiro de até R$ 50,00 (cinqüenta reais) para gestantes cadastradas no Sistema Nacional de Cadastro, Vigilância e Acompanhamento da Gestante e Puérpera para Prevenção da Mortalidade Materna. Após analisar o cenário dos programas e modelos de atenção em prol da mulher, nota-se que através de conceitos muitas vezes equivocados, que se expandiu no Brasil a assistência pré-natal ( BRASIL, 2011, p.13). As primeiras investidas no pré-natal tinham como foco principal a criança, objetivando o nascimento e desenvolvimento saudáveis. Após esse período a preocupação se restringiu à assistência ao parto e a partir daí até os dias atuais, a preocupação 71 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. consiste na redução da mortalidade materna e mais recentemente da mortalidade neonatal. Esta afirmativa se ancora nos seguintes relatos do Ministério da Saúde: No Brasil, o processo de institucionalização do parto, ao longo da década de 40, foi provavelmente a primeira ação de saúde pública dirigida à mulher. Até os anos 60, a preocupação com a saúde materna se restringiu à assistência ao parto. Com a introdução da medicina preventiva no País e a criação dos centros de saúde, iniciaram-se os programas de pré-natal que, na realidade, tinham como objetivo principal reduzir a mortalidade infantil (BRASIL, 2001, p. 17). Após a análise das políticas de saúde da mulher e considerando que a mortalidade materna e neonatal permanece enquanto problema de saúde pública. Percebemos através dos estudos a inexistência de políticas e ações que possibilitem a integração e a escuta dessas mulheres, alvo das formulações e reformulações políticas. Considerando a diversidade cultural, econômica e social de cada região e as individualidades das mulheres, entendemos a importância de integrar os seus saberes e sentidos para a construção e formulação de ações que satisfaçam suas reais necessidades. Destacamos o papel da mulher, dada a sua importância enquanto elemento precípuo para que ocorra a gestação, parto e puerpério, e enquanto receptora do cuidado prestado por profissionais. Neste sentido: Apesar das importantes conquistas, observa-se hoje que a quase totalidade das iniciativas relacionadas à saúde das mulheres tem se caracterizado por manipular seus corpos e suas vidas, visando objetivos outros que não seu bem-estar (BRASIL, 2011, p.14). As diretrizes políticas devem considerar a mulher, alvo das ações, visto que sem ela não acontece o pré-natal, sem o seu comprometimento e conhecimento não haverá autonomia para o cuidado de si nem do seu bebê, assim a realidade posta pela sociedade não será transformada. Vimos um esforço e investimento grandioso nas estratégias políticas em sanar as conseqüências e não as causas dos problemas na saúde da mulher, que cada vez se avolumam. Percebemos as influências das questões de gênero, presentes em todos os períodos, traçadas originalmente por teorias médicas e reforçadas pela obstetrícia enquanto disciplina. Corroborando com a idéia o Ministério da Saúde descreve que: Não se pode negar as contribuições que os avanços técnico-científicos trouxeram à humanidade e à mulher em especial. Esses avanços abriram teoricamente, espaços para que a mulher se tornasse dona de seu corpo e de seu destino. Os métodos contraceptivos provocaram 72 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. mudanças qualitativas na vida da mulher à partir dos anos 60, favorecendo a vivência da sexualidade sem o ônus da gravidez indesejada. Porém, a mesma sociedade que criou tais instrumentos não reconhece ideologicamente o direito da mulher à sexualidade plena, torna-a a exclusiva responsável pela reprodução humana e não lhe dá acesso a informações sobre direitos reprodutivos ( BRASIL 2001, p.16) Ao considerar os aspectos abordados nos capítulo 1 e 2 deste estudo, nos quais identificamos o pré-natal enquanto fenômeno psicossocial entre as mulheres-mães. Interessamo-nos em estudar esse fenômeno, a partir dos fundamentos conceituais das Representações Sociais (RS), entendidas como: Um conjunto de conceitos, proposições e explicações, originados na vida cotidiana, no curso das comunicações interpessoais. Elas são o equivalente, em nossa sociedade, dos mitos e sistemas de crenças das sociedades tradicionais; podem também ser vistas como a versão contemporânea do senso comum (MOSCOVICI, 2010). Corroborando com Moscovici, Jovchelovitch (2008, p.87), destaca que as representações sociais se referem tanto a uma teoria como a um fenômeno: Elas são uma teoria que oferece um conjunto de conceitos articulados que buscam explicar como os saberes sociais são produzidos e transformados em processos de comunicação e interação social. Elas são um fenômeno que se refere a um conjunto de regularidades empíricas compreendendo as idéias, os valores e as práticas de comunidades humanas sobre objetos sociais específicos, bem como os processos sociais e comunicativos que os produzem e reproduzem. A partir destas considerações, no próximo capítulo trataremos das Representações Sociais e da Teoria das Representações Sociais. 73 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. CAPÍTULO 3 – MARCO TEÓRICO 74 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. 3.1- Aspectos históricos das Representações Sociais e a Teoria das Representações Sociais O saber foi posto por Sócrates há uns 2.500 anos atrás e, novamente, por Descartes no inicio da era moderna, persistiu como problema ao longo de todo desenvolvimento filosófico do período moderno e foi crucial para o nascimento da psicologia como disciplina cientifica. De Platão a Decartes, até as discussões mais recentes sobre quem detém, e o que é o conhecimento, nunca nos abandonou. Nesse sentido, a ideia do conhecimento permaneceu fortemente ligada ao impessoal e separada de valor subjetivo, enquanto suas dimensões emocionais e relacionais foram ligadas a distorção, ao desvio e à irracionalidade (JOVCHELOVITCH, 2008, p.13). A história da ciência foi marcada pela dicotomia entre muitas formas de explicar o mundo e o ser humano. Da mesma forma, a história da psicologia também se construiu com a oposição ideológica entre duas dicotomias: O saber científico, visto como saber autêntico, legitimado socialmente, produzido por cientistas, versus, o senso comum, saber desarticulado, elaborado pelo povo, ilegítimo, desprestigiado socialmente; ciências do indivíduo versus ciências do social, resultante de uma perspectiva positivista e representada pela dualidade entre psicologia e sociologia respectivamente (SANTOS, 2011, p. 43). Desenvolvida no pós-guerra sobre a hegemonia da escola norteamericana a Psicologia Social surgiu a princípio com uma intenção que não foi bem sucedida, de suprir tal dicotomia. De acordo com Veronese e Guareschi (2007), a psicologia social surgiu como uma ciência experimental; com o passar dos tempos, Wundt, fundador da psicologia experimental, criou uma psicologia que ele chamou de Psicologia Social. A Psicologia Social trás em sua trajetória histórica, os pressupostos materialistas da modernidade e o individualismo cartesiano, ambos, oriundos do materialista cientificista que por sua vez, via o mundo como um relógio, fragmentado em partes, sendo que cada parte era independente e desassociada da totalidade. Nesta lógica, segundo Veronese e Guareschi (2007), também se pensava a sociedade, como um objeto dividido em várias partes, sendo estas partes pertencentes a um sistema fechado, governado por leis determinadas e 75 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. determinantes. Dentro dessa epistemologia dominante se construiu a visão de ser humano, comparando-o a um relógio, composto por suas próprias leis, as quais deveriam ser desvendadas. Segundo Veronese e Guareschi (2007), esse fato fez com que o indivíduo fosse submetido à experimentação e investigação, ou seja, havia uma ciência estritamente experimental e racional, onde o social não poderia se reduzir ao individuo, como era proposto pela concepção individualista, dominante na cultura ocidental no século XIX, principalmente nos Estados Unidos. Desta forma, Veronese e Guareschi (2007), relatam que houve tentativas de criação de uma psicologia social, que desse, conta do imaterial, psíquico, simbólico, representacional: a primeira delas foram os dez volumes de Wundt de Psicologia Social e os estudos de Durkeim, sobre representações coletivas. Se Wundt, separou o social do individual, Durkeim, por sua vez, “corporificou”, “reificou” seu social, suprimindo o individual. Mc Dougall fez uma tentativa de ligar o fisiológico (biológico) e o coletivo, em seus estudos sobre a mente grupal, vendo o instinto como base da vida na sociedade. Conforme os autores citados, a segunda tentativa foi a de Mead, com sua teorização sobre o self, (psiquismo); ela construiu uma primeira síntese dialética entre o individual e o social, e entre o biológico e o psíquico: pensou o instinto como base da vida em sociedade, mas admitiu a realidade do simbólico (psíquico, mental): essa síntese seria o psíquico. Veronese e Guareschi (2007), informam que quando a psicologia foi transportada da Alemanha aos Estados Unidos, foi levada como uma psicologia fisiológica, nada além da pele (behaviorismo); quando transpôs a barreira da pele, tornou-se psíquica, imaterial, mental, mas permaneceu absolutamente individual. Dos Estados Unidos ela passou a outros continentes, como a América Latina e a Europa, onde foi realizado um movimento, numa investida de conquistar e implantar a psicologia do viés americano. Foi a partir daí, que tal investida sofreu fortes reações por parte de Moscovici (1972), na França; ele começou a estranhar e a duvidar que sua tendência individualista pudesse dar conta do social. Para Veronese e Guareschi (2007), Moscovi, ao considerar que as sociedades modernas eram mais dinâmicas e fluidas, questionou a representação 76 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. coletiva, discordando quanto ao ponto de vista estático e positivista sobre as representações da sociedade de Émile Durkheim. Em virtude de entender que o social é concomitante singular e plural, bem como media a relação entre o mundo externo e o mundo interno, o individual e o coletivo. Os autores citados, afirmam que a formulação feita por Durkheim, do conceito de representações coletivas mostrou-se uma herança ambígua para a psicologia social; pois Durkheim via as representações como formas estáveis de compreensão coletiva, com o poder de obrigar, que pode servir para integrar a sociedade como um todo. Em contrapartida para Moscovici: As representações coletivas se constituem em um instrumento explanatório e se referem a uma classe geral de idéias e de crenças. São fenômenos específicos que estão relacionados com um modo particular de compreender e de se comunicar, um modo que cria tanto a realidade como o senso comum. Por isso o autor, enfatizou a distinção do termo “social” em vez do coletivo (Moscovici,2010, p. 49). Moscovici se filiou a corrente do pensamento sócio-psicológico, que foi sempre uma corrente minoritária dentro de uma disciplina dominada em nosso século, pelo comportamentalismo, por um cognitivismo não menos reducionista e por um individualismo extremo. Ao procurar estabelecer uma ciência “mista”, centrada no conceito de representação, reconheceu uma divida duradoura ao trabalho de Durkheim. Segundo Moscovici (2010), as representações nos orientam em direção ao que é visível, como àquilo que nós temos de responder, ou que relacionam a aparência à realidade. Para tal explicação, o autor salienta a junção entre os sistemas perceptivos e cognitivos nesse processo. Analisa e contrapõese a uma manifestação do pensamento científico com relação ao sistema cognitivo ao pressupor que: 1) indivíduos normais reagem a fenômenos, pessoas ou acontecimentos do mesmo modo que os cientistas; 2) compreender consiste em processar informações. Destaca que fatos comuns contradizem esses dois pressupostos: primeiro, a observação familiar de que nós não estamos conscientes de algumas coisas bastante óbvias. Em segundo lugar, nós percebemos que alguns fatos que aceitamos sem discussão, que são básicos ao nosso entendimento e comportamento, repentinamente transformam-se em meras ilusões. Em terceiro 77 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. lugar, nossas reações aos acontecimentos, nossas respostas aos estímulos, estão relacionadas à determinada definição, comum a todos os membros de uma comunidade à qual nós pertencemos (MOSCOVICI, 2010). O autor mencionado descreve que nós somente adquirimos experiência e percebemos o mundo, em que estamos familiarizados. Como pessoas comuns, sem os benefícios dos instrumentos científicos, tendemos a considerar e analisar o mundo de uma maneira semelhante; especialmente quando o mundo em que vivemos é totalmente social, ele também explicou como as representações sociais intervêm em nossa atividade cognitiva e até que ponto as representações podem determiná-la, baseando-se em duas funções: Em primeiro lugar, elas convencionalizam os objetos, pessoas ou acontecimentos que encontram. Ou seja, elas lhe dão uma forma definitiva, as localizam em uma determinada categoria e gradualmente as colocam como um modelo de determinado tipo, distinto e partilhado por um grupo de pessoas. Essas convenções nos possibilitam conhecer o que representa o que. Em segundo lugar, as representações são prescritivas, isto é, elas se impõem sobre nós como uma força irresistível. Essa força é uma combinação de uma estrutura que está presente, antes mesmo que nós comecemos a pensar e de uma tradição a qual decreta o que deve ser pensado (MOSCOVICI, 2010, p.34 - 36). Entendemos que a representação que temos sobre algo, não está diretamente relacionada a nossa maneira de pensar, tendo em vista a imposição sobre nós e reflexo de uma seqüência de elaborações e mudanças que ocorrem ao longo da história em nossa sociedade. Essas representações partilhadas influenciam a mente de cada um, e são re-pensadas, re-citadas e reapresentadas (MOSCOVICI, 2010). Neste aspecto, o autor citado se interessou em compreender o lugar que as representações sociais ocupavam na sociedade pensante. Anteriormente, este lugar seria determinado pela distinção entre uma esfera sagrada, digna de respeito e veneração e uma esfera profana, em que são executadas atividades triviais e utilitaristas. Essa distinção foi abandonada e substituída por outra mais básica, entre universos consensuais e reificados De acordo com Moscovici (2010), no universo consensual, a sociedade é uma criação visível, contínua, permeada com sentido e finalidade, possuindo uma voz humana, de acordo com a existência humana e agindo tanto como reagindo, como um ser humano, o ser humano é aqui a medida de todas as 78 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. coisas. No universo reificado, a sociedade é transformada em um sistema de entidades sólidas, básicas, invariáveis, que são indiferentes a individualidade e não possuem identidade. Relacionamos o universo consensual às representações sociais e o universo reificado ao científico, considerando que as representações restauram a consciência coletiva e lhe dão forma, explicando os objetos e acontecimentos. Enquanto que para Moscovici (2010), as ciências são os meios pelos quais nós compreendemos o universo reificado, a finalidade deste é estabelecer um mapa das forças, dos objetos e acontecimentos que são independentes de nossos desejos e fora de nossa consciência e aos quais nós devemos reagir de modo imparcial e submisso. Se as representações sociais servem para familiarizar o não familiar, então a primeira tarefa de um estudo científico das representações é tornar o familiar não familiar, a fim de que elas possam ser compreendidas como fenômenos e descritas através de toda técnica metodológica que possa ser adequada nas circunstâncias específicas (MOSCOVICI, 2010). Neste sentido, o autor mostra dois mecanismos em relação ao processo de funcionamento desse movimento, baseado na memória e em conclusões passadas: ancoragem e objetivação. O primeiro mecanismo tenta ancorar idéias estranhas reduzi-las a categoria e a imagens comuns, colocá-las em um contexto familiar. Desta forma, as fases da ancoragem são a classificação, que implica em dar nome a alguma coisa que não é classificada e não possui nome; a outra fase é a categorização de alguém ou alguma coisa, que significa escolher um dos paradigmas estocados em nossa memória e estabelecer uma relação positiva e negativa com ele. Os sistemas de classificação e de nomeação, não são simplesmente meios de graduar e rotular pessoas ou objetos considerados como entidades discretas. Seu objetivo principal é facilitar a interpretação de características, a compreensão de intenções e motivos subjacentes as ações das pessoas, na realidade formar opiniões. O objetivo do segundo mecanismo é objetivá-los, isto é, transformar algo abstrato em algo quase concreto, transferir o que está na mente em algo que 79 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. exista no mundo físico. Neste sentido, objetivar é reproduzir um conceito em uma imagem. Esses mecanismos transformam o não familiar em familiar, primeiramente transferindo-o a nossa própria esfera particular, onde nós somos capazes de compará-lo e interpretá-lo; e depois, reproduzindo-o entre as coisas que nós podemos ver e tocar, e conseqüentemente, controlar. Comparar e já representar, encher o que está naturalmente vazio, com substância. Esse processo de ancoragem e objetivação ilustra o papel e a influencia da comunicação no processo da representação social e a maneira como as representações se tornam senso comum. Elas entram para o mundo e cotidiano em que nós habitamos e discutimos com nossos amigos e colegas e circulam na mídia que lemos e olhamos. As representações sustentadas pelas influencias sociais da comunicação constituem as realidades de nossas vidas cotidianas e servem como principal meio para estabelecer as associações com as quais nós nos ligamos uns aos outros (MOSCOVICI, 2010, p. 08). As representações podem ser o produto da comunicação, mas também é verdade que, sem a representação, não haveria comunicação. A mudança dos interesses humanos pode gerar novas formas de comunicação, resultando na inovação e na emergência de novas representações (MOSCOVICI, 2010). Nesta perspectiva, o autor afirma que o reconhecimento da ação comunicativa como a unidade central de análise na forma representacional é um passo teórico importante para ligar conhecimento e contexto e revelar seus avatares sociais e psicológicos. Jovchelovitch (2008) argumenta que a representação emerge como estrutura mediadora entre o sujeito-outro-objeto. Ela é constituída como trabalho, isto é, a representação estrutura a si mesma, na ação comunicativa que liga sujeitos a outros sujeitos e ao objeto mundo. Nesse sentido, é perfeitamente plausível dizer que as representações sociais são ação comunicativa. Para a autora supracitada, a ação comunicativa implica a linguagem assim como ação do tipo não-discursiva; estas se manifestam em práticas cotidianas, em instituições diversas e nas estruturas informais do mundo. O trabalho comunicativo da representação produz símbolos cuja força reside em sua capacidade de produzir sentido, de significar; a representação coloca algo, ou alguém, no lugar de outra coisa, ou de algum outro; este deslocamento e condensação de objetos e pessoas, é o que dá a cada um e a todos uma nova configuração e sentido, constitui a essência da ordem simbólica. 80 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. O processo mostra com clareza que criação e construção são o verdadeiro fundamento do registro simbólico (MOSCOVICI, 2010). Considerando a elaboração das representações por meio das interações cotidianas que se manifestam pela comunicação, a Teoria das Representações Sociais (TRS), é uma teoria sobre os saberes sociais, ela se dirige à construção e transformação desses saberes em relação a diferentes contextos sociais. O termo saber social pode se referir a qualquer conhecimento, mas a teoria está especialmente interessada no fenômeno das representações sociais, que compreende os saberes produzidos na, e pela vida cotidiana (JOVCHELOVITCH, 2008). A TRS objetiva descobrir como os indivíduos podem construir um mundo estável, previsível, a partir de tais diferenças. A autora mencionada relata que em oposição a visão de que o senso comum e os conhecimentos leigos são carregados de erros e distorções, a TRS procura superar a linha rígida que separa a filosofia do conhecimento da racionalidade de uma filosofia da experiência e do sentido. O que ela considera é o reconhecimento à sabedoria relativa de todos os saberes. A TRS nasceu no campo da Psicologia Social, por seu caráter interdisciplinar e vem sendo expandida para outras áreas do conhecimento, com destaque nas pesquisas educacionais e em saúde; nesse aspecto para Sá (2007): Cada vez mais, profissionais da saúde, principalmente na saúde coletiva e na enfermagem, têm se valido da TRS em suas pesquisas e, com alguma freqüência, se associado a psicólogos sociais, constituindo equipes multidisciplinares. A educação constitui outra área temática em que a noção de representação social tem sido privilegiada (p.37). De acordo com Sá (1998) a TRS é complementada por três abordagens, sendo essas: 1) Abordagem processual, pensada por Denise Jodelet, em estreita proximidade com a proposta original de Moscovici, confere ênfase ao processo de constituição das representações, embora afirme a importância também do seu produto, os conteúdos. Centrando-se mais sobre o aspecto constituinte do que sobre o aspecto constituído das representações; 2) Abordagem societal, formulada por Willem Doise; em articulação com a perspectiva sociológica de P. Bourdieu, confere ênfase às relações sociais que estão na origem das representações, bem como às suas condições de 81 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. produção e circulação. Centrando-se mais sobre o aspecto sócio-contextual das representações, privilegia uma orientação metodológica estatística correlacional. 3) Abordagem estrutural, elaborada por Jean-Claude Abric , desenvolvida por Jean-Claude Abric e o Grupo do Midi, confere ênfase à estrutura atual dos conteúdos cognitivos das representações, embora se ocupe também do processo de sua transformação a partir das práticas sociais. Centrando-se mais sobre o aspecto constituído do que sobre o aspecto constituinte das representações, privilegia uma orientação metodológica “quase-experimental”. É a partir da perspectiva teórica das representações sociais sobre o pré-natal, com a utilização da abordagem estrutural, que esperamos contribuir para o incentivo e solidificação de pesquisas na área da saúde da mulher, nos espaços entre mulheres-mães. Trata-se de um grupo que tem sofrido as influências tecnicistas e capitalistas no processo de engravidar, parir e cuidar do seu filho e de sua família; onde seus saberes sobre o próprio corpo, as suas origens, crenças, culturas e direitos não tem sido considerados. Quando Moscovi (2010), descreve que nas representações sociais há um elemento figurativo, identificado à partir das expressões mais conhecidas e usadas pelos indivíduos de um grupo social ou de pertença. O grupo social procura selecionar a expressão que mais se aproxima da capacidade figurativa, conservando as crenças passadas do grupo, assim como os conjuntos de imagens construídas socialmente. Na naturalização, o grupo social ao identificar os elementos do núcleo figurativo de uma representação social, integra-os aos elementos da realidade do senso comum. A partir dessas considerações, é que foi elaborada a Teoria do Núcleo Central ou abordagem estrutural, utilizada neste estudo e propõe que uma representação social é formada por dois sistemas distintos, mas complementares, o central e o periférico (SÁ, 1996). 3.2. Teoria do Núcleo Central (TNC) 82 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Ao optar pela Teoria do Núcleo Central (TNC), enquanto abordagem complementar objetivou-se revelar os elementos que constituem o núcleo central e periférico das RS das mulheres-mães sobre o pré-natal. Jodelet (2001) comenta que Abric e Flament desenvolveram um modelo teórico que distingue elementos centrais de periféricos, de onde tiram importantes implicações do ponto de vista tanto da estabilidade e da mudança das representações quanto de sua relação com a prática. Estas propriedades estruturais são examinadas em representações já constituídas. Mas para explicar a emergência das estruturas, é preciso se reportar ao processo que presidem a gênese das representações. Esta pode ser analisada levando-se em conta as aprendizagens sociais que intervém no decorrer do desenvolvimento infantil. Entretanto, independente dos aspectos de desenvolvimento, os processos de formação das representações explicam sua estruturação. Isto vale particularmente para a objetivação, processo evidenciado por Moscovici e ilustrado e enriquecido por diversos autores. Desta forma, Jodelet ( 2001) explica que na objetivação, o processo de formação das representações é decomposto em três fases: construção seletiva, esquematização estruturante e naturalização. As duas primeiras, sobretudo manifestam como tivemos a oportunidade de observar o efeito da comunicação e das pressões ligadas à pertença social dos sujeitos, sobre a escolha e a organização dos elementos constitutivos da representação. Segundo a autora conteúdos e estruturas são infletidos por outro processo, a ancoragem que intervém ao longo do processo de formação das representações, assegurando sua incorporação ao social. Por um lado, a ancoragem enraíza a representação e seu objeto numa rede de resignificações que permite situá-los em relação aos valores sociais e dar-lhes coerência. A ancoragem serve para a instrumentalização do saber, conferindo-lhe um valor funcional para a interpretação e a gestão do ambiente. Franco (2004), ao propor uma articulação entre a objetivação e o núcleo central, a ancoragem e o sistema periférico, concebe que o núcleo central deriva do processo de objetivação e a ancoragem origina o sistema periférico . Para o autor a objetivação pode ser definida como a transformação de uma idéia, 83 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. de um conceito, ou de uma opinião em algo concreto, que se cristaliza a partir de um processo figurativo e social e passa a constituir o núcleo central. A ancoragem desempenha um papel importante nos estudos das representações sociais e do desenvolvimento da consciência, uma vez que se constitui na parte operacional que complementa o núcleo central e lhe dá concretização. . Sá (1996) explica que a idéia essencial da teoria do núcleo central, de que toda a representação está organizada em torno de um núcleo central, determina, ao mesmo tempo, sua significação e sua organização interna. O autor afirma que este é um subconjunto da representação, composto de um ou alguns elementos, cuja ausência desestruturaria a representação ou lhe daria um significado completamente diferente. O núcleo central é determinado de uma parte pela natureza do objeto representado, de outra parte pela relação que o sujeito ou grupo mantém com o objeto, assim o núcleo central pode assumir duas dimensões diferentes: uma dimensão funcional; serão privilegiados na representação e constituindo o seu núcleo central os elementos mais importantes para a realização da tarefa; e outra dimensão normativa, em todas as situações onde intervêm diretamente dimensões sócio-afetivas, sociais ou ideológicas. Neste tipo de situações, pode-se pensar que uma atitude fortemente marcada estará no centro da representação. Desta forma, o levantamento do núcleo central é importante para conhecer o próprio objeto da representação e saber o que afinal está sendo representado (SÁ, 1996, p. 71). Este autor explica que a abordagem estrutural esclarece duas características das representações sociais, que aparentemente se mostram contraditórias: “as representações sociais são ao mesmo tempo estáveis e móveis, rígidas e flexíveis” e as “representações sociais são ao mesmo tempo consensuais, mas também marcadas por fortes diferenças inter-individuais”. Segundo as explicações de Sá (1996) como complemento indispensável do sistema central, há um sistema periférico, constituído por elementos periféricos da representação, que promovendo a interface entre a realidade concreta e o sistema central, atualiza e contextualiza constantemente as determinações normativas e de outra forma consensual. É o sistema periférico 84 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. que vai inicialmente absorver as novas informações ou eventos susceptíveis de colocar em questão o núcleo central. Conforme Sá (1996) é essa sua terceira função, o sistema periférico que permite certa modulação individual da representação. Sua flexibilidade e elasticidade permitem a integração na representação das variações individuais ligadas à história própria do sujeito, as suas experiências pessoais, ao seu vivido. Ele permite a elaboração de representações sociais individualizadas organizadas não obstante em torno de um núcleo central comum. Para Abric (1994), a saliência demonstrada de determinados elementos não assegura que eles realmente pertençam ao núcleo central. Dado que aquela seria uma simples decorrência quantitativa de uma prioridade fundamental das cognições centrais que reside no laço simbólico que as liga ao objeto de representação. Com base na distinção entre propriedades qualitativas (valor simbólico e poder associativo) e propriedades quantitativas (saliência e conexidade), Abric (1994), propõe uma classificação dos métodos de pesquisa no núcleo central em dois grupos: 1) Métodos de levantamento dos possíveis elementos do núcleo central, que envolvem a colocação em evidência da saliência e da conexidade e cujos resultados permitem a formulação inicial de hipóteses no que diz respeito a constituição do núcleo; 2) Métodos de identificação, a partir das cognições inicialmente levantadas, daqueles elementos que efetivamente compõem o núcleo central. O levantamento, a identificação e a estrutura do núcleo central são componentes intrínsecos a esta teoria, pois uma “representação social só vem a ser adequadamente descrita ou identificada, quando além do seu conteúdo, se apreende também sua estrutura” (SÁ, 1996, p. 148), que está em constante dialética com os sistemas de representação. Abric (1994), sistematiza as finalidades das representações, atribuindolhes funções essenciais: a) Função saber: as RS são um saber prático de senso comum que permitem compreender e explicar a realidade; fazem com que os atores sociais adquiram conhecimentos e os integrem a um quadro assimilável e compreensível, em coerência com o seu funcionamento cognitivo e os valores aos 85 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. quais aderem. Além disso, facilitam e são condição necessária para a comunicação social, pois permitem a troca social, a transmissão e a difusão desse saber comum; b) Função identitária: definem a identidade e permitem a salvaguarda da especificidade dos grupos. Situam os indivíduos e os grupos no campo social, permitindo a elaboração de uma identidade social e pessoa gratificante, ou seja compatível com os sistemas de normas e valores social e historicamente determinados; c) Função-orientação: guiam os comportamentos e as práticas, selecionando e filtrando as informações e interpretações, visando tornar essa realidade conforme a representação, que por sua vez produz igualmente um sistema de antecipações e de expectativas, constituindo, uma ação sobre a realidade. Essa função define o que é lícito, tolerável ou aceitável em um dado contexto social; d) Função justificatória: permitem justificar a posteriori as tomadas de posição e comportamentos, permitindo assim aos atores explicar e justificar suas condutas em uma situação ou em relação aos seus participantes Estas funções tentam dar conta de como o fenômeno estudado se constitui e funciona. Trata de explicar porque as origens detectadas dos fenômenos são efetivas na sua produção e como estes se enquadram em cada uma das quatro funções. De acordo com Abric (1994), o sistema periférico promovendo a interface entre a realidade concreta e o sistema central atualiza e contextualiza constantemente as determinações normativas e consensuais. Este sistema resulta na mobilidade, flexibilidade e expressão individualizada que igualmente caracterizam as representações sociais. Se o sistema central é normativo, o sistema periférico é funcional; quer dizer que graças a ele a representação pode se ancorar na realidade do momento. Observamos após o estudo que as práticas sociais ligadas ao objeto de representação se modificam progressivamente. Daí surge novas práticas que se tornam cada vez mais freqüentes, em grupos que buscam adaptar-se às novas situações geradas, que por sua vez quando não estão em contradição com as representações mobilizam e ativam prescrições anteriormente formadas. Por isso a capacidade de transformação do rígido núcleo central. 86 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Para Flament (2001), a periferia da representação serve de párachoque entre uma realidade que a questiona e um núcleo central que não deve mudar facilmente. Os desacordos da realidade são absorvidos pelos esquemas periféricos, que, assim, asseguram a estabilidade (relativa) da representação. O mesmo mecanismo quando vai se ampliando, permite explicar a transformação de uma representação. No Diagrama 7 destacam-se alguns aspectos estruturantes da TNC. Diagrama 7- Aspectos Estruturais da TNC Após as ancoragens e definição do marco teórico, vimos a necessidade de desenvolver uma revisão integrativa de literatura com foco na saúde materna na perspectiva das representações sociais, no sentido de identificar e analisar as tendências dos estudos nessa área, do que tratamos a seguir no formato de manuscrito1. ______________ ¹ O formato de dissertação com manuscrito é adotado no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem- UEPA-UFAM. 87 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. CAPÍTULO 4 – DIMENSÕES DA SAÚDE MATERNA NA PERSPECTIVA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS MANUSCRITO 1 88 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. DIMENSÕES DA SAÚDE MATERNA NA PERSPECTIVA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS THE DIMENSIONS OF MATERNAL HEALTH IN THE PERSPECTIVE OF SOCIAL REPRESENTATIONS DIMENSIONES DE LA A SALUD MATERNA EN VISTA DE LAS REPRESENTACIONES SOCIALES Márcia Simão Carneiro¹; Elizabeth Teixeira2 ¹ Mestranda em Enfermagem da Universidade Estadual do Pará/ Universidade Federal do Amazonas (UEPA/UFAM); Professora Auxiliar III da Universidade Federal do Pará (UFPA); Conselheira do Conselho Regional de Enfermagem do Pará (CORENPA). Email: [email protected] ² Doutora em Ciências Sócia Ambientais pela Universidade Federal do Pará (UFPA); Professora Adjunto IV da Universidade do Estado do Pará ( UEPA), Coordenadora do Programa de Mestrado Associado em Enfermagem UEPA/UFAM; Diretora de Educação da Associação Brasileira [email protected] de Enfermagem- Nacional (ABEN). E-mail: 89 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. DIMENSÕES DA SAÚDE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS MATERNA NA PERSPECTIVA DAS RESUMO Foi realizada revisão integrativa de literatura com vistas a identificar as tendências em saúde materna na perspectiva das representações sociais. A busca ocorreu nas bases LILACS, BDENF, SCIELO, entre 20032011, com seleção de 15 produções. Após análise temática de conteúdo das produções obteve-se duas dimensões: dimensão sócio-materna; dimensão sócio-cuidativa. A dimensão sócio-materna considerou as representações sociais das mulheres sobre gestação, pré-natal, parto normal e cesárea, amamentação, alojamento conjunto. Os resultados revelaram a necessidade de se explorar o senso comum das mulheres e integrá-los ao científico para que esta desenvolva com autonomia o cuidado de si e do bebê. As evidências demonstraram que há necessidade dos profissionais repensarem na comunicação verbal e não verbal, vislumbrando atitudes mais humanas e acolhedoras. A dimensão sócio-cuidativa integrou as representações sociais sobre o cuidado em saúde no pré-natal na consulta de enfermagem; cuidado de enfermagem no puerpério; cuidado em enfermagem, no ciclo gravídico puerperal entre mulheres, e assistência ao parto, cuidado em saúde na ESF, integralidade e trabalho em equipe entre profissionais. Concluiu-se a necessidade de ampliar a visão dos profissionais de saúde para além da biomédica e técnico científica com vistas a incorporar a educação em saúde e uma visão bio-sócio-humanista. Palavras-chave: trabalho de parto, cuidado pré-natal, saúde da mulher THE DIMENSIONS OF MATERNAL HEALTH IN THE PERSPECTIVE OF SOCIAL REPRESENTATIONS ABSTRACT An integrative literature review was done in order to identify the trends in maternal health in the perspective of social representations. The search occurred on the bases: LILACS, BDENF, SCIELO, between the years 2003-2011, selecting 15 productions. After the thematic analyses of the contents of production, two dimensions were obtained: socio-maternal dimension; socio-care dimension. The socio-maternal dimension considered the social representations of women on gestation, pre-natal, normal delivery, cesarean, breastfeeding, rooming-in. The outcomes displayed the necessity of exploring the women’s common sense and join them to the scientific approach so that the last one can develop with autonomy and consequently those women can take care of themselves as well as their babies. The results showed that professionals should rethink about the verbal and non-verbal communication, observing more humane and nurturing attitudes. The socio-care dimension integrated the social representations about the health care in pre-natal in nursing service; the nursing care in the puerperium; the nursing care in the gestational puerperium cycle among women, and childbirth care, health care in ESF (Family Health Strategy), integrality and team work among professionals. In conclusion, the necessity of widening the comprehension of health professionals beyond the biomedical and technical-scientific approach is essential in order to comprise the education in health and a bio-socio-human approach. Key-words: labor and delivery, pre-natal care, woman’s health RESUMEN Se realizó una revisión integradora de la literatura con el fin de identificar tendencias en la salud materna desde la perspectiva de las representaciones sociales. La búsqueda se produjo a LILACS, SCIELO BDENF entre 2003-2011, con una selección de 15 producciones. Después de que el análisis del contenido de las producciones se obtuvieron dos dimensiones: social, socio-cuidativa materna. El socio-materna consideran las representaciones de la mujer sobre el embarazo, atención prenatal, parto normal y cesárea la lactancia 90 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. materna, alojamiento conjunto. Los resultados revelaron la necesidad de explorar el sentido común de las mujeres e integrarlas en esta ciencia para desarrollar de forma autónoma auto-cuidado y el bebé. La evidencia demostró que no hay necesidad de profesionales para reflexionar sobre los verbales y no verbales, previendo las actitudes más humanas y acogedor. Las representaciones socio-cuidativa integrados sociales sobre el cuidado de la salud en la atención prenatal en la consulta de enfermería, enfermería de cuidados post-parto, los cuidados de enfermería en el embarazo y el parto entre las mujeres y la atención al parto, cuidado de la salud en el ESF , la integridad y el trabajo en equipo entre los profesionales. La conclusión fue la necesidad de ampliar la visión de la salud más allá de la biomedicina científica y técnica con el fin de incorporar la educación para la salud y la bio-socio-humanista. DESCRIPTORES: el trabajo, la atención prenatal, salud de la mujer INTRODUÇÃO A área da saúde da mulher vem ganhando espaço nas políticas públicas e obtendo avanços nos estudos e nas ações em prol da redução da mortalidade materna e infantil. No entanto, apesar da redução, os indicadores ainda estão longe da meta traçada para 2015, dentro dos Objetivos do Milênio, que é de no máximo 35 mortes maternas por cada 100 mil nascidos vivos(¹). O Ministério da Saúde descreve que a gestação, parto e puerperio constituem uma experiência humana das mais significativas, com forte potencial positivo e enriquecedor para quem dela participa. Os profissionais de saúde são coadjuvantes desta experiência e desempenham importante papel. Têm a oportunidade de colocar seu conhecimento a serviço do bem estar da mulher e do bebê, reconhecendo os momentos críticos em que suas intervenções são necessárias para assegurar a saúde de ambos(²). Concebe-se dessa forma, que a gestação, parto e puerpério são momentos excepcionais na vida da mulher, devido suas especificidades, relacionadas a aspectos culturais, sociais, econômicos e biológicos. A necessidade de adaptação bio-psicosocial da gestação; as situações de aprendizagem que envolve o cuidado de si e do bebê; as relações interpessoais com os profissionais de saúde; as influências sofridas pela mídia, e as experiências compartilhadas e vividas, indicam que são produzidas representações sociais nesses espaços de cuidar-cuidado em que pensamentos individuais e coletivos se interpenetram. Nesta perspectiva, as representações sociais (RS) podem influenciar o comportamento do individuo participante de uma coletividade. Desse modo, o próprio coletivo penetra como fator determinante, dentro do pensamento individual (3) . A afirmativa do autor nos leva a 91 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. compreender que toda representação social poder ser re-pensada ou re-significada, possibilitando novos conhecimentos e práticas sociais. Como sistemas de entendimento compartilhado do mundo, as representações sociais oferecem padrões de conhecimento, orientações e conduta, que transformam ambientes sociais em lares para os atores individuais. Solidificadas em práticas culturais e em instituições, fornecem os recursos para a construção das identidades sociais e para a renovação das sociedades (3). Os altos índices de mortalidade materna e infantil, relacionados à baixa qualidade da atenção obstétrica, pré-natal e planejamento familiar, nos levam a pensar sobre a falta de efetividade dos programas e manuais técnicos elaborados para o cuidado na saúde materna cujo objetivo é de orientar as ações dos profissionais. No entanto, as ações dos profissionais são guiadas por suas próprias representações acerca dos fenômenos. Em contrapartida, esses profissionais desconsideram que suas condutas deveriam ser guiadas, considerando que as atitudes dessas são guiadas por suas representações. Com vistas a identificar as tendências das pesquisas sobre saúde materna na perspectiva das representações sociais, visando promover reflexões que subsidiem novos estudos e possibilitem o desenvolvimento de um novo pensar e agir para o cuidado em saúde materna, realizamos a presente revisão de literatura. Selecionamos estudos que objetivaram compreender as representações sociais sobre fenômenos inerentes a saúde materna. Entendemos ser interessante incluir além dos trabalhos com mulheres, os realizados com profissionais que atuam na área da mulher, pela possibilidade de fazer correlações entre o senso comum e científico e compreender como as representações sociais orientam tais condutas. MÉTODO Realizou-se Revisão Integrativa de Literatura segundo os seis passos metodológicos propostos por Ganong(4). O primeiro passo consistiu na seleção do tema (saúde materna) e da questão de pesquisa: quais as representações sociais de mulheres e profissionais sobre 92 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. os fenômenos maternos e cuidativos que se manifestam no ciclo gravídico-puerperal e na atenção à saúde da mulher. No segundo passo, foram definidos os critérios de inclusão: pesquisas em forma de artigo, sobre saúde materna, no período de 2003 a 2011, na perspectiva das representações sociais, tanto na abordagem estrutural quanto processual; em língua portuguesa ou espanhola; com título e resumo disponíveis e indexados nas bases de dados; publicados em periódicos nacionais e internacionais. Após a definição dos critérios de inclusão, desenvolveu-se a busca na literatura por meio de levantamento realizado pela internet, nas bases de dados: Literatura da América Latina e Caribe (LILACS), Base de Dados de Enfermagem (BDENF) e Scientific Eletronic Library on Line (SCIELO). Para o levantamento das pesquisas, utilizamos cinco descritores em ciências da saúde (DeCS): trabalho de parto, cuidado pré-natal, saúde da mulher, saúde da família e aleitamento materno. Para delimitar a busca, utilizamos quatro palavras-chave, que não se encontram no vocabulário do Decs: representação social, representações sociais, comportamento social, psicologia social. Articulando os descritores trabalho de parto e saúde da mulher, encontramos 487 produções; utilizando os descritores, cuidado pré-natal e saúde da família, detectamos 555 trabalhos; com os descritores aleitamento materno e saúde da mulher, evidenciamos 342 produções perfazendo um total de 1.384 estudos. Ao utilizarmos as palavras-chave em cada bloco de produções, elencamos apenas 15 produções. No terceiro passo, as referências selecionadas foram catalogadas segundo o perfil da produção o que permitiu organizar informações, como: título, objetivos, descritores, ano, local, número de autores, modalidade, tipo de publicação, abordagem, sujeitos, técnica de coleta de dados e resultados em evidência. O quarto passo consistiu na analise temática dos estudos, sendo observados os aspectos metodológicos, a familiaridade entre os assuntos, e os resultados encontrados. No quinto passo, categorizamos e agrupamos as evidências, desvelando-se as seguintes dimensões: 1) Dimensão sócio-materna: representações sociais das mulheres sobre gestação; pré-natal; 93 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. parto normal e cesárea; amamentação; alojamento conjunto, sendo agrupados nessa dimensão 8 estudos; 2) Dimensão sócio-cuidativa: representações sociais das mulheres sobre cuidado em saúde no pré-natal na consulta de enfermagem; cuidado em enfermagem no puerpério; cuidado no ciclo gravídico-puerperal; e representações sociais das mulheres e profissionais sobre assistência ao parto; cuidado em saúde na ESF; integralidade e trabalho em equipe. Sendo agrupados nessa dimensão 7 estudos, totalizando 15 produções. No sexto passo a partir da discussão e interpretação dos resultados, elaboramos considerações e recomendações para as práticas de cuidado na saúde materna, bem como sugestões de pesquisas. 2-RESULTADOS E DISCUSSÃO Observamos que as produções científicas da saúde materna na perspectiva das representações sociais, ainda são poucas, visto que encontramos 15 estudos, no universo de 1.384 produções na área. As pesquisas selecionadas, em sua maioria priorizaram os fenômenos de representações sociais entre mulheres, havendo um déficit de produções dos fenômenos sobre representações sociais entre profissionais, dentre os quais encontramos 3 estudos. Evidenciamos poucos estudos cruzados, com pesquisas do mesmo fenômeno entre diferentes sujeitos, mulheres e profissionais da área, visto que evidenciamos apenas 01 estudo. Ao reunir as características da amostra estudada, tem-se como resultado a participação de 464 sujeitos entre mulheres e profissionais de saúde. No campo das representações sociais, a abordagem mais utilizada foi a processual, demonstrando que a abordagem estrutural pode ser mais difundida e utilizada, a técnica de coleta de dados mais freqüente foi a entrevista semi-estruturada e poucas utilizaram a Técnica de Livre Associação de Palavras (TELP). Na análise dos dados, a maior opção foi pela análise de conteúdo do tipo categorial temática. Quanto aos fenômenos da saúde materna, percebemos que o parto foi o de maior escolha. Evidenciamos a crescente produção na área de enfermagem de estudos sobre a saúde materna na perspectiva das representações sociais. 94 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Os dados analisados revelaram a produção de um conhecimento que em seus resultados, apresentaram aspectos positivos, negativos e gerais a respeito dos fenômenos, que para fins metodológicos nos possibilitaram caracterizar e agrupar em dimensões. DIMENSÃO SÓCIO-MATERNA Nesta dimensão considerou-se as representações sociais das mulheres sobre gestação; prénatal; parto normal e cesárea; amamentação; alojamento conjunto.Quanto a representação social sobre gestação é entendida na ótica das mulheres como um fenômeno complexo e singular, que envolvem diversas e mudanças biológicas, fisiológicas, psicológicas, sociais e culturais. A expressão de estar grávida significa dar visibilidade à feminilidade e reafirmar a fecundidade como algo que enaltece a condição de mulher (5) . Neste sentido, entende-se que para as mulheres pesquisadas, a gestação é representada como fenômeno que vai além da função reprodutiva, constituída pelas dimensões: psicossociais, culturais, biológicas, educativas e humanísticas. Nota-se pelas evidências, a abrangência do termo gestação, o que remete a necessidade de um cuidado que considera as dimensões constituídas, devendo ocorrer de forma holística. Considerando a forma como as mulheres representam a gestação e a necessidade de um cuidado pré-natal que venha ao encontro dessas, vimos a relevância de compreender as representações sociais sobre pré-natal entre mulheres, considerando que é através das interações cotidianas por meio da ação dialógica que ocorre a comunicação e desta emerge as representações sociais. Neste sentido há ineficiência no processo de comunicação entre as gestantes e os profissionais do pré-natal, e o acolhimento não têm sido efetivos para o grupo de mulheres grávidas(6). A comunicação entre as gestantes e os profissionais envolvidos no pré-natal mostrou-se em alguns espaços como positiva na satisfação das gestantes, porém, estas alimentam conceitos do senso comum, pouco explorados pelas equipes de pré-natalistas. (7). As evidências revelam a posição passiva da mulher, o que determina a autonomia e poder dos profissionais de saúde no pré-natal. Deixando espaço para novos estudos que contribuam para a escuta e valorização dos saberes das mulheres por parte dos profissionais no pré-natal. 95 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Durante a gestação e no período de realização do pré-natal, presume-se que o parto seja o momento mais esperado, de maior expectativa e medos. Dessa forma, concebe-se a importância de compreender as representações sociais sobre parto normal e cesárea entre mulheres. Nessa perspectiva, a experiência de partos anteriores demonstrou ser um forte elemento que influenciou a decisão atual sobre a via de parto (8) . As representações sociais do parto normal são de um parto ativo, no qual as dores são vividas como as “dores de mãe” (9) . Este pensamento remete a uma dor suportável e natural a toda mulher. A representação social de mulheres sobre o parto está repleta de ancoragens fundamentadas no sofrimento natural da hora do parto. Os procedimentos técnicos como consultas, realização de exames e atividades educativas, são comentados e valorizados na expectativa de boa saúde para o filho (9). Esta evidência demonstra o paradigma dominante que remonta as primeiras ações na saúde materna, cujo foco era o nascimento e crescimento de crianças saudáveis. Em outro estudo, o momento do parto remete ao momento de dor, o medo da dor esteve fortemente representado no imaginário das gestantes e transforma-se com a proximidade do parto, na gênese de outros medos: medo do trabalho de parto; medo do desempenho e de comprometer o bem estar fetal; medo da anestesia, medo do desconhecido, entre outros (10) . Os aspectos positivos, negativos e gerais a respeito do parto normal e cesárea, revelaram-se como protagonismo da mulher e a melhor recuperação do parto normal, a ausência da dor na cesárea, e a insatisfação com a assistência recebida (9). Se o parto fosse adequadamente esclarecido e conversado com mulheres desde as primeiras consultas de pré-natal, certamente o medo influenciado pela mídia ou pelas conversas com outras mulheres ou ainda por histórias pessoais e familiares, seria atenuado, tendo em vista a transformação de situação não familiar para o familiar. O parto envolve uma questão individual e relaciona-se a capacidade da mulher de enfrentamento da dor durante o trabalho de parto e parto. A outra questão trata da relação entre a mulher e profissional de saúde, no contexto hospitalar, onde as maiorias dos partos acontecem, esta relação influencia diretamente na atuação e empoderamento da mulher ou não, à medida que os profissionais tomam a posição de coadjuvante no contexto do parto e 96 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. nascimento. Neste sentido, o evento do parto e nascimento para as mulheres indica o quanto a experiência da hospitalização ainda se mostra aos seus olhos como uma ameaça a dignidade feminina (11) . Dado o destaque a relação entre a mulher e o profissional que assiste o parto, revela-se as evidências dessas interações durante o parto. Evidenciou-se a importância da comunicação e do relacionamento interpessoal do profissional com a clientela (6) . Visto que há pouco diálogo entre gestante e médico sobre questões relacionadas ao momento do parto (7) . Outra evidência aponta que faltam a todas as mulheres atendidas no setor público e privado informações fundamentais para que vivenciem com segurança e autodeterminação o parto (9) . Existem contradições na relação profissional de saúde e usuárias mediadas pelas questões de gênero presentes na assistência ao parto e pela natureza dos serviços. As mulheres apresentam algumas críticas ao que fazem ou o que fizeram com elas (9). No que se refere ao parto, nota-se a necessidade de maiores esclarecimentos à mulher, visto ser um momento bastante temido, podendo ser associado a morte e a outras complicações, por isso a necessidade de preparo, em que se considere os procedimentos técnicos, aspectos emocionais e culturais. Esses dados revelam, a necessidade de educação em saúde no pré-natal sobre o trabalho de parto e parto. Nos dias atuais, em que a prática da cesárea parece um ato de rotina, tanto no atendimento público quanto no privado, e em ambos os estratos sócio-econômicos das mulheres, destacaram-se maiores vantagens para o parto normal. Considerando a vivência do protagonismo e maior satisfação na cena do parto; as diferenças no cuidado médico, a qualidade da relação com o bebê e a recuperação no pós-parto (9). No entanto, a justificativa para o aumento de cesáreas, corresponde ao medo das dores do parto e o desconhecimento das vantagens do parto normal. Algumas mulheres do setor privado destacaram a possibilidade de programar o parto devido a vida agitada da mulher contemporânea. Porém, destacam como principal motivo para o aumento de cesárea, a conveniência do médico, porque é um procedimento mais rápido (9) . Outro estudo reafirma o comentário acima. A dor revela-se como um dos principais construtores das atuais representações femininas sobre parturição e contribui para a curva ascendente de cesárea no Brasil. Observou-se que a dor influencia o comportamento da 97 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. gestante a partir do medo e se torna a gênese de outros sentimentos aversivos e preocupações que envolvem o evento da parturição (8) . Observou-se o desconhecimento das mulheres sobre as vantagens do parto normal e os riscos da cesárea. Esses dados indicam as diferentes condutas entre os setores públicos e privados, considerando que no público a mulher não tem opção de escolha e a cesárea só deve ser realizada mediante indicação obstétrica. Observa-se que tanto no setor publico quanto no privado há falta de informação das mulheres sobre o parto normal e a cesárea. A representação social do parto pautada na dor sofre a influência da mídia quando atemoriza o público com as cenas de parto desencorajando as mulheres, em contrapartida valoriza outros tipos de dores como a de lutadores e esportistas. Em contrapartida a cesárea é banalizada, considerando o procedimento invasivo para a mulher e o trauma da extração mecânica para o concepto. Nesta perspectiva, nota-se a manipulação das informações conforme os diferentes interesses, demonstrando a tomada do poder através do conhecimento científico, que freqüentemente exclui a mulher do protagonismo no momento do parto e nascimento. Após o nascimento da criança e expulsão da placenta, a mulher entra no período do puerpério, caracterizado por alterações fisiológicas e emocionais. Após o parto, mulheres atendidas no serviço público, são encaminhadas para o alojamento conjunto, onde permanecem com seu bebê, para adaptação, amamentação e cuidados. Desvelando-se abaixo o fenômeno da amamentação. Uma das grandes ansiedades e desafios da mulher relacionada ao cuidado do bebê consiste na amamentação. Desta forma, a estrutura da representação social sobre amamentação demonstrou elevada freqüência da categoria prazer, amor e carinho, revelando a importância do aleitamento materno e do leite humano. A saúde do bebê, teve maior expressividade no grupo de mães que não trabalham, sugerindo que essas mulheres ancoraram amamentação no processo saúde-doença (12). Em outro estudo, constatou-se que a amamentação é tratada como atributo natural, no qual o papel social da mulher é o de mãe nutriz. As gestantes representam o leite materno como nutriente que contribui para o crescimento e desenvolvimento do bebê (5). 98 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Evidenciou-se nas representações apresentadas sobre amamentação, a compreensão de que o leite materno confere outras vantagens que beneficiam a mãe, tais como: diminuir o volume uterino, de forma mais rápida; evitar hemorragias no pós-parto, proteger contra anemia, além de associar-se a um menor risco de câncer de mama (5). As mulheres reconhecem o valor da prática do aleitamento materno e das qualidades do leite humano, o mesmo reconhecimento não é dado ao fator exclusividade, nem tampouco ao tempo necessário do aleitamento exclusivo (12) . Esta questão determina a necessidade da educação em saúde sobre aleitamento materno exclusivo nos primeiros meses de vida do recém-nascido. Considerando que o aleitamento materno ocorre prioritariamente no alojamento conjunto, que é local para recuperação, cuidado e aprendizagem da mãe para o cuidado de si e seu bebê, compreendemos a importância de conhecer as representações sociais sobre alojamento conjunto. Concebe-se que a representação social sobre o alojamento conjunto possui como elemento representacional a hospitalização e revela uma experiência de um lugar de abandono onde elas estão submetidas a procedimentos e ao domínio dos profissionais (11) . Os valores que as mulheres atribuem para as interações interpessoais revelam que as relações interpessoais são os verdadeiros instrumentos que auxiliam as mulheres a percorrerem a experiência da hospitalização (11). A puérpera representa a necessidade de redirecionar a atenção dos profissionais de enfermagem para o cuidado de si e de seu filho de modo a torná-la apta para o desempenho da maternidade (13) . Estas evidências destacam a necessidade de pautar as relações entre mulheres e profissionais para além da dimensão biológica, considerar os aspectos psicossociais e tornar a prática de educação em saúde no alojamento conjunto ação continua pautada nas necessidades representadas pelas mulheres. Considerando a ação dos profissionais de enfermagem tanto na atenção primária quanto na secundária, entendemos ser relevante elencar as representações sociais sobre o cuidado de enfermagem e consulta de enfermagem. DIMENSÃO SÓCIO-CUIDATIVA Nesta dimensão destacaram-se as representações sociais das mulheres sobre o cuidado em saúde no pré-natal na consulta de enfermagem; cuidado de enfermagem no puerpério; 99 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. cuidado em saúde no ciclo gravídico-puerperal; e representações sociais entre mulheres e profissionais sobre assistência ao parto; cuidado em saúde na ESF, integralidade e trabalho em equipe. As representações sociais sobre o cuidado em saúde durante o pré-natal emergiram positivamente do discurso das puérperas, relacionando-o à interação entre profissionais e usuárias, caracterizada pela escuta, atenção e cordialidade; e relacionada a disponibilidade de exames, presteza no atendimento e desenvolvimento de ações básicas (13). As representações sociais sobre o cuidado em saúde no momento do parto entre puérperas subdividiu-se em quatro temas: o acolhimento à parturiente, o apoio as mulheres durante o parto, a mulher como protagonista no processo de atenção ao parto e a qualidade técnica do cuidado (13). A representação social sobre assistência ao parto apresentou aspectos positivos, ressaltou os elementos: ser bem atendida, ter atenção, carinho, ser bem tratada, atendimento rápido, ter o profissional ao lado, tratamento de igual para igual, segurar a mão, acolhimento da equipe de saúde e apoio psicológico (14) . As representações sociais sobre assistência ao parto entre mulheres assistidas concebem a qualidade da relação estabelecida com os profissionais como fator que maior influencia sobre a maneira como representam a assistência recebida (15) . As parturientes elogiaram o atendimento quanto ao apoio relacional e valores humanísticos; e enquanto aspectos negativos identificaram elementos de não cuidado, mostrando a necessidade de mudança na postura e atitude de alguns profissionais (7). Quanto a representação social sobre assistência ao parto entre profissionais encontraram duas representações distintas: a primeira denota uma visão medicalizada da assistência, e a outra aponta para uma assistência identificada com a proposta do movimento pela humanização do parto e nascimento. Os profissionais destacam como aspecto importante da assistência: a presença do acompanhante, a preocupação com a sua humanização, a participação da enfermeira obstetra e o espaço físico (15). Observamos nos resultados, representações divergentes entre os profissionais, pois apontam para visão medicalizada e pela proposta da humanização, oportunizando estudos para o entendimento de como esses profissionais representam a humanização do parto e 100 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. nascimento. Corroborando com a afirmativa, há recomendações que as diretrizes do Programa de Humanização do Parto e Nascimento (PHPN) devem ser incorporadas de forma mais ampla nas práticas de saúde voltadas à mulher (16). De acordo com a análise das evidências podemos inferir que quando os profissionais representam a humanização do parto na assistência também pensam na qualidade da relação com as mulheres, aspecto mais importante para as mesmas, o que neste aspecto possivelmente as representações sejam afins. Quanto a humanização do parto e nascimento as evidências apontam que a assistência ao parto permanece submetendo quem deve ser sujeito e reproduzindo o projeto da medicalização, mesmo que este processo se manifeste de formas diferenciadas entre grupos de mulheres atendidas no serviço público e no serviço privado (7). Esses resultados permitem considerar que o momento do parto pode ser caracterizado como de considerável medicalização, muito preso às rotinas e resistente à humanização. Quanto a qualidade dos serviços e humanização da assistência os modelos de organização dos serviços públicos e privados apresentam variações que produzem diferentes tipos de assistência e de relação entre os profissionais de saúde e usuárias, dando forma as experiências distintas entre as mulheres pesquisadas (7) . Essas evidências nos levam a refletir sobre o cuidado enquanto direito e exercício de cidadania da mulher, independente dos modelos de atendimento seja público ou privado. Fato que sugere o re-pensar da prática de alguns profissionais e rotinas de determinados serviços. Nas representações sociais sobre o cuidado em saúde no puerpério evidenciou-se um único tema: apoio à elaboração da relação mãe-bebê. Pode-se considerar que nos períodos pré-natais e puerperais, o cuidado não é isento de problemas, sendo às mulheres geralmente tratadas como coadjuvantes, em um processo assistencial por vezes marcado pela ausência de vínculo com os profissionais (16) . Esta evidência remete a ações pautadas nas queixas físicas, destacando a atuação biomédica e tecnicista, que valoriza o protagonismo do profissional em detrimento da mulher, sujeito do cuidado. O Programa Saúde da Família é uma estratégia da Atenção Primária em Saúde que visa fortalecer ações de prevenção e promoção à saúde, dentre as quais se encontra a atenção 101 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. pré-natal. Nesta perspectiva, revela-se a importância de identificar as representações sociais do cuidado em saúde entre as equipes do ESF. Pode-se constatar que os profissionais de saúde da ESF, compartilharam uma representação comum, cujo núcleo central é composto pelos campos semânticos acolhimento, atenção e amor. Concluiu-se que os sujeitos apresentam diferentes entendimentos sobre o processo de cuidado na ESF, o conhecimento construído a respeito desta questão está amparado numa visão aproximada do sentido do cuidado (17) . Entretanto, esse entendimento mantém elementos relacionados a aspectos biomédicos e técnicos científicos. Conclui-se que o cuidado ainda não foi incorporado como elemento fundamental ao processo de trabalho na ESF (17). Acredita-se que a afirmativa dos autores, revela a ambigüidade do termo cuidado em saúde, pautado por ações concretas e subjetivas inerentes a tais práticas. Nas representações sociais de mulheres sobre o cuidado de enfermagem emergiram as categorias: satisfação e insatisfação com o cuidado. A satisfação com o cuidado foi confirmada pelo fato da equipe de enfermagem se interessar pelo seu estado de saúde, suprindo as necessidades biológicas com presteza e colocando-se disponível para a ajuda. A insatisfação com o cuidado de enfermagem apresentou-se na fase puerperal com maior decepção do que no pré-parto e parto (17). Este fato demonstra que o cuidado de enfermagem, ainda é considerado na perspectiva do ato enquanto intervenção e pela prontidão e cordialidade, no entanto revela a necessidade de ampliar essas concepções principalmente na fase puerperal. A grande maioria das gestantes apresentou representações positivas da consulta de enfermagem do pré-natal, sobretudo devido à forma como se estabelecem as relações entre enfermeira e gestante, em que são privilegiados o acolhimento e a escuta (5). As gestantes demonstraram que conheceram a consulta de enfermagem durante o pré-natal, assim sendo, inicialmente elas tinham a percepção de que era um procedimento complementar ao trabalho médico (5) . Este fato demonstra a necessidade de divulgação da consulta de enfermagem enquanto ação independente do profissional médico e enquanto espaço de promoção da saúde e prevenção de doenças. Considerando a qualidade da 102 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. assistência com vistas a ação integral e o trabalho em equipe, identificamos a necessidade de conhecer as representações sociais de profissionais de enfermagem sobre a integralidade e o trabalho em equipe. Quanto à visão integral da assistência a saúde da mulher, evidenciou-se que a enfermeira tem uma visão fragmentada da assistência, ainda pautada nas queixas físicas; não consegue definir o que seja integralidade, repetindo o discurso do atendimento holístico, sem entender direito o isso realmente significa; trabalha de forma individualizada entendendo que o serviço não está organizado para atingir a integralidade na assistência. Essa fragmentação aparece em todos os eixos da análise, sendo que está implícita na assistência a saúde, não apenas da mulher, mas de toda clientela atendida na rede primária (18). Quanto ao trabalho em equipe, a enfermeira que atua na assistência a saúde da mulher, diz que trabalha em equipe, mas percebe que os profissionais não têm o mesmo objetivo e trabalham de forma individualizada. Ainda que perceba ser um elo de ligação entre profissionais e as clientes, sente que existe uma disputa de espaço e poder entre os profissionais (19). Essas questões revelam que tanto a interdisciplinaridade quanto a transdisciplinaridade estão longe de acontecer nos serviços, fato que compromete a assistência integral a clientela, demonstrando a necessidade das instituições formadoras prepararem profissionais para o trabalho em equipe e para as instituições de saúde investirem em seus profissionais por meio do desenvolvimento do trabalho em equipe no contexto da educação permanente. 4-CONSIDERAÇÕES FINAIS Através dos resultados da revisão integrativa foi possível responder a questão de pesquisa e nos propiciou fazer reflexões e recomendações. As representações sociais sobre gestação estão fortemente relacionadas com o ato sublime e divino da maternidade que corresponde a um fenômeno natural e emocional. As representações sociais sobre pré-natal, parto normal, cesárea, e amamentação, subsidiaram-se nas experiências cotidianas das mulheres com os serviços de saúde, na relação com os profissionais, e nas conversas informais, recebem também influências da mídia e família. 103 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Estas questões em nosso entendimento refletem na ação passiva da mulher nas dificuldades para o cuidado de si e do filho com autonomia, o que reafirma o empoderamento dos profissionais da área. Para que a mulher desenvolva o conhecimento adequado, necessita ter suas dúvidas esclarecidas, mitos quebrados e conhecimentos prévios valorizados para negociação e elaboração de novos saberes e fazeres. A efetividade desta conduta entre mulheres e profissionais, depende da comunicação e relação interpessoal. Concebemos que as evidências conduzam a se pensar que há necessidade do profissional rever estratégias de comunicação verbal e não verbal para que sejam vislumbradas atitudes mais humanas e acolhedoras. Há que se abrir um canal para o diálogo, em que o escutar e o falar se integrem na construção das interações e respeito mútuo. Ao analisarmos as tendências contidas nas duas dimensões, evidencia-se que embora alguns profissionais se preocupem com a humanização do cuidado, indicando um agir guiado por um paradigma sócio-humanístico, o que predomina é um agir guiado por um paradigma biomédico e técnico científico em todo o ciclo gravídico puerperal. As representações sociais sobre pré-natal, parto, cuidado em saúde, assistência ao parto, amamentação e alojamento conjunto pautam-se nos aspectos biológicos e intervencionistas do cuidado. Essas representações estão relacionadas, a nosso ver, com a maneira de pensar e agir dos profissionais, evidenciando que estes são guiados por um paradigma bio-tecnicista no cuidado que se dá no ciclo gravídico-puerperal. Há necessidade de mudança deste paradigma dominante, para que tanto as mulheres quanto os profissionais re-signifiquem seus saberes e práticas e produzam novas representações sociais que venham a contribuir para as transformações do cenário atual. A revisão integrativa reafirma a importância do pré-natal como processo de prevenção e promoção à saúde da mulher, devido a relação da qualidade do pré-natal com a mortalidade materna e neonatal. Ressaltamos, que o pré-natal, é um momento impar para a educação em saúde, visando desenvolver o conhecimento e autonomia da mulher para o cuidado de si e do bebê durante o ciclo gravídico puerperal, conforme as necessidades evidenciadas. Em contrapartida, demonstra a necessidade de educação permanente do 104 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. profissional, visto que este é veículo para o conhecimento, empoderamento e autonomia da mulher. Sugerimos se repensar as políticas públicas de atenção à saúde da mulher, visto que os objetivos descritos nos manuais de pré-natal e parto humanizado, não acontecem de forma efetiva, conforme analise dos resultados do estudo. Quanto à gestão dos serviços de saúde, cabe fortalecer a atenção primária e terciária e estimular os profissionais para o trabalho em equipe e cuidado integral com vistas a aperfeiçoar ações em saúde e em enfermagem na saúde materna. Recomendamos se repensar a comunicação, relação interpessoal e processo educativo vigentes em todo o ciclo gravídico puerperal, principalmente nas metodologias utilizadas nas ações de educação em saúde no pré-natal; há que se difundir a consulta de enfermagem como espaço de cuidado, promoção e prevenção da saúde, independente da consulta médica e incentivar a atuação de enfermeiros obstetras no ciclo gravídico puerperal. No que tange a formação profissional e produção do conhecimento, reforçamos a missão da educação superior em desenvolver cada vez mais a visão dos futuros profissionais para além do paradigma dominante. No campo da pesquisa recomendamos estudos voltados à saúde materna na perspectiva das representações sociais, tendo como sujeitos além das mulheres, familiares e profissionais de saúde. REFERÊNCIAS 1. Ministério da Saúde ( BR). Secretaria de Políticas de Saúde. Área Técnica de Saúde da Mulher. Parto, Aborto e Puerpério: assistência humanizada a mulher. Brasília:Ministério da Saúde; 2001. 2. Ministério da Saúde (BR). Guia de Vigilância Epidemiológica do Óbito Materno. Secretaria de Assistência à Saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2009. 3. Moscovici S. Representações Sociais: Investigação em psicologia social. Petrópolis (RJ): Vozes; 2010. 4. Ganong LH. Integrativa Reviews of Nursing Reserch. Rev. Nvrs Health. 1987; mar 10 (1): 1-11. 105 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. 5. Shimizu HE, Lima MGL. As dimensões do cuidado pré-natal na consulta de enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem. Brasília, 2009; 62 (3): 387-392. 6. Duarte SJH, Andrade, SMO. Representação Social da gestante residente no Marabá a respeito do pré-natal. Revista da Escola de enfermagem Ana Nery. Rio de Janeiro, 2007; 11 (2): 373-376. 7. Duarte SJH, Andrade SMO. O significado do pré-natal para mulheres grávidas: uma experiência no município de campo grande, Brasil. Revista Saúde e Sociedade. São Paulo, 2008; 17 (2): 01-10. 8. Pereira RR, Franco SC, Baldin N. A dor e o protagonismo da mulher na parturição. Revista brasileira de anestesiologia. Campinas, 2011; 61(3): 01-08. 9. Gama AS, Giffin KM, Tuesta AA et al. Representações e experiências das mulheres sobre a assistência ao parto vaginal e cesárea em maternidade pública e privada. Caderno Saúde Pública. Rio de Janeiro, 2009; 25(11): 2480-2488. 10. Velho M.B, Santos EKA. Representações sociais do parto e da cesárea para mulheres que o vivenciaram. [Dissertação]. Santa Catarina: Universidade Federal de Santa Catarina ; 2011. 11. Soares AVN, Silva IA. Representações de puérperas sobre o sistema alojamento conjunto: do abandono ao acolhimento. Revista da Escola de Enfermagem da USP. São Paulo, 2003; 37 (2): 01-09. 12. Osório CM, Queiroz ABA. Representações sociais de mulheres sobre a amamentação: teste de associação livre de idéias acerca da interrupção precoce do aleitamento materno exclusivo. Escola Ana Nery. Rio de Janeiro, 2007; 11 (2): 0109. 13. Rodrigues DP, Fernandes AFC, Rodrigues, MSP et al. Representações Sociais de Mulheres sobre o Cuidado de Enfermagem recebido no Puerpério. Revista de Enfermagem UERJ. Rio de Janeiro, 2007; 15 (2): 197-204. 106 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. 14. Wolff LR, Moura MAV. Representações sociais de mulheres sobre assistência no trabalho de parto e parto. [Tese]. Rio de Janeiro. Escola de Enfermagem Ana Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ; 2004. 15. Silveira SC, Camargo BV, Crepaldi MA. Assistência ao parto na maternidade: representações sociais de mulheres assistidas e profissionais de saúde. Psicologia: Reflexão e Crítica. Porto Alegre, 2010; 23 (1): 1-11. 16. Parada CML, Tonete VLP. O cuidado em saúde no ciclo gravídico-puerperal sob a perspectiva de usuárias de serviços públicos. Interface- Comunicação, Saúde, Educação. Botucatu, 2008; 12 (24): 1-14. 17. Rodrigues MP, Lima KC, Roncalli AG. A Representação social do cuidado no programa saúde da família na cidade de Natal. Revista Saúde Coletiva. Rio de Janeiro 2008; 13 (1): 01-10. 18. Reis CB, Andrade SMO. Representações Sociais das Enfermeiras sobre a integralidade na assistência à saúde da mulher na rede básica. Ciência e Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, 2008; 13 (1): 1-10. 19. Reis CB, Andrade SMO. Representação social do trabalho em equipe na atenção à mulher sob a ótica da enfermeira. Escola Anna Nery. Rio de Janeiro, 2008; 12 (1): 01-08. 107 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. CAPÍTULO 5 – TRAVESSIAS METODOLÓGICAS 108 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. 5.1. Tipo de estudo Este estudo é do tipo levantamento de dados, descritivo com abordagem qualitativa, fundamentado na TRS, com ênfase na abordagem teórica complementar denominada teoria do núcleo central (TNC) ou abordagem estrutural das RS. A abordagem qualitativa demonstrou ser um caminho propício para o desenvolvimento deste estudo, considerando que para Minayo (2007), essa modalidade viabiliza uma abordagem mais humanizada dos sujeitos envolvidos no processo de pesquisa. A abordagem qualitativa é importante porque nos possibilita analisar as experiências das pessoas e dos grupos em relação às suas práticas, que envolvem dimensões históricas, políticas, econômicas, culturais e sociais. A pesquisa qualitativa nos permite uma aproximação com os sujeitos da pesquisa. Neste entendimento a mesma enfatiza que o método qualitativo é o que se aplica ao estudo da história, das relações, das representações, das crenças, das percepções, das opiniões, produtos das interpretações que os humanos fazem a respeito de como vivem, constroem seus artefatos e a si mesmos, sentem e pensam (MINAYO, 2006). Na visão de Flick (2007) a pesquisa qualitativa consiste no reconhecimento e analise de diferentes perspectivas e reflexões por parte dos pesquisadores a respeito da própria pesquisa que é vista como fonte de produção do conhecimento. Optamos pela Teoria do Núcleo Central, para poder analisar o núcleo central e periférico das representações sociais sobre pré-natal. Tornando possível identificar os elementos do conhecimento das mulheres-mães, que poderão ou não ser adicionados a um novo conhecimento, fornecendo suporte para compreender, a partir das representações sociais, a relação dessas com o contexto problema do pré-natal. 109 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. 5.2. Local do estudo Foto 3 – Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará. O estudo foi desenvolvido na Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMPA). A escolha da instituição foi por ser órgão da administração indireta, vinculado a Secretaria de Estado de Saúde Pública e Hospital de Ensino, referência estadual na atenção materna e infantil (PARÁ, 2011). A instituição localiza-se na cidade de Belém, que tem 1.794.981 habitantes; a maioria da população reside em zonas urbanas mais há um grande número de gestantes provenientes do interior do estado em busca de atendimento na instituição. A FSCMPA tem como finalidades essenciais: a assistência, o ensino e a pesquisa, em consonância com o perfil assistencial na atenção a saúde da criança, atenção a saúde da mulher e atenção a saúde do adulto, prestando serviços ambulatoriais e de internação. É um hospital que atende 100% do SUS, sendo referência regional em banco de leite humano e estadual na atenção à gestante de alto risco e ao recém nascido; no entanto presta atendimento a qualquer gestante que busque atendimento, inclusive as de baixo risco (PARÁ, 2011). Na área do Ensino e Pesquisa desenvolve os programas de Residência Médica em Pediatria, Neonatologia, Nefrologia Pediátrica, Ginecologia e 110 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Obstetrícia, Clínica Médica, Dermatologia, Cirurgia Geral, Cirurgia Pediátrica e Radiologia (PARÁ, 2011). No primeiro semestre de 2012, a instituição implantou o Programa de Residência Multiprofissional na Atenção à Saúde da Mulher e da Criança, que está articulada com a Política de Saúde loco regional estabelecida no Plano Estadual de Saúde, esse plano é um instrumento de referência para a atuação dos gestores do SUS, no âmbito estadual e municipal. Na medida em que levanta e analisa a realidade sócio-sanitária no estado do Pará, indica problemas e prioridades de intervenção para a melhoria da situação de saúde dos paraenses, possibilitando que os gestores assumam o compromisso de realizar ações orientadas para a redução das desigualdades em saúde, com a pactuação de metas estratégicas que possibilitam melhoria das condições de saúde da população, redução da morbimortalidade materna e neonatal, e de uma melhor resolubilidade do SUS (PARÁ, 2011). Quanto à proporção entre leitos e internações, a área hospitalar está distribuída horizontalmente em 370 leitos e realiza em média 1.500 internações/mês. A maternidade oferece 106 leitos, e realiza cerca de 500 partos/mês; 55 leitos são destinados ao pós-parto, nas enfermarias Maria Goreth, Santana I e Santana II, 18 leitos para tratamento clínico gestacional de alto risco, na Enfermaria de Alto Risco e 20 leitos para tratamento clínico gestacional de baixo e médio risco, na Enfermaria Santa Marta; 06 leitos destinam-se ao puerpério patológico e 06 leitos para pós-curetagem, Enfermaria Maria Goreth. Dispõe de 11 camas para pré-parto, parto e puerpério (PPP) e 04 camas de recuperação pós-cirúrgica (PARÁ, 2011). Foram campo deste estudo as enfermarias de pós-parto fisiológico normal e cesárea (Santana I e II e Maria Goreth) e a enfermaria de gestação de médio risco (Santa Marta). A missão da instituição é prestar assistência à saúde, inserida no SUS. Atuando como hospital geral de ensino e de referência na atenção integral à saúde da mulher e da criança, na média e alta complexidade, com qualidade e de forma humanizada, articulada com as políticas públicas e em parceria com a sociedade civil. A visão de futuro é ser reconhecida pela sociedade como hospital 111 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. geral e de ensino que oferece assistência de excelência em média e alta complexidade na saúde da mulher e da criança e seus valores organizacionais estão pautados na democratização, respeito, ética, transparência, responsabilidade, valorização do servidor e humanização (PARÁ, 2011). A Instituição atua há cerca de 360 anos no Estado e sua trajetória reflete a história da saúde no Estado do Pará, obtendo marcos referenciais importantes: 1650 foi fundada a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia do Pará; em 1854, se aboliu a autonomia administrativa da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia do Pará, passando esta à condição de Departamento Público. No ano de 1889, a Irmandade Santa Casa de Misericórdia do Pará, recebe de volta a administração de seus bens e hospitais, através da Lei 1.384 artigo 36 e em 1890 a Irmandade passou a ser uma Associação Civil de Caridade, através do Decreto 291(PARÁ, 2011). O ano de 1990 foi marcado por uma nova fase, cuja Instituição passa a funcionar no novo Hospital, situado à Rua Oliveira Belo, com o nome Hospital de Caridade da Santa Casa de Misericórdia do Pará. Em 1950, a Santa Casa inicia sua jornada como Hospital Escola dando suporte para as aulas práticas de todas as cadeiras de clínicas, excetuando-se a Psiquiatria, da então Faculdade de Medicina. No ano de 1970, ao final desta década, FSCMPA passou por uma crise, administrativa e financeira, por isso passou a ser gestada por: Provedor, Conselho de Administração e Conselho Fiscal (PARÁ, 2011). Em 1980, houve intervenção por parte do Tribunal Regional do Trabalho, sendo então nomeada uma junta administrativa. Alguns anos depois após reuniões polêmicas foi organizada uma Comissão Pró-Fundação Santa Casa que a princípio sugeriu que o hospital fosse transformado em uma Fundação Federal. Sem êxito no seu objetivo, a Comissão conseguiu apoio financeiro e logístico do Governador da época (PARÁ, 2011). Em 1990, foi constituída pelo Governo do Estado do Pará como Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará - FSCMPA, nos termos do artigo 23 da Constituição do Estado, através da Lei Complementar 003/90, de 26 de abril. Daí por diante deu inicio uma nova trajetória para a Instituição, obtendo seus 112 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. primeiros resultados em 1998, quando certificada como Hospital Amigo da Criança. No ano de 2004, como Hospital de Ensino, conforme Portaria Interministerial MS/MEC n° 2.378 de 26 de Outubro (PARÁ, 2011). Em 2006, almejando a modernidade gerencial e excelência no atendimento, a sua estrutura organizacional foi alterada, através da Lei Complementar nº. 052 de 30 de Janeiro e efetivado seu processo de contratualização junto ao SUS por meio da Portaria 2.859/MS, de 10 de Novembro (PARÁ, 2011). No ano de 2008, a partir da adequação da nova estrutura, houve o aperfeiçoamento da visão estratégica assistencial voltada para a excelência no atendimento em média e alta complexidade. Adotou-se ferramentas de gestão voltadas para a transparência e qualidade, democratização de sua estrutura organizacional, valorização do servidor e fortalecimento institucional junto à sociedade. Desdobrando no projeto e construção da nova Unidade MaternoInfantil que disponibilizará 180 novos leitos de Maternidade, 40 de UTI Neonatal, 67 de UCI Neonatal e 10 de UTI Pediátrica (PARÁ, 2011). Em 2009, a Instituição ganhou fôlego e participou da Premiação na Faixa bronze do Prêmio Estadual da Qualidade- PEQ 2009, reforçando o seu relevante papel e reconhecimento pela sociedade paraense (PARÁ, 2011). Devido à grande demanda de mulheres e crianças em busca de atendimento no Estado, no ano de 2010 foi apresentada a meta principal de inaugurar a nova Unidade Materno-Infantil e reforçar o comprometimento com a qualidade dos serviços oferecidos (PARÁ, 2011). A instituição atualmente presta assistência de Média e Alta Complexidade na Atenção da Saúde da Criança, Atenção a Saúde da Mulher e Atenção a Saúde do Adulto. Como hospital de ensino, desenvolve ações de formação em nível de graduação e pós-graduação, e os programas de residência médica e multiprofissional bem como de educação permanente, capacitando profissionais de saúde para atuar no Sistema Único de Saúde. O hospital encontra-se instalado em terreno com o tamanho de 28.754m2, em área total construída de 25.198,35 m2, com 12 (doze) edifícios ou prédios, cada um abrigando um conjunto de serviços (PARÁ, 2011). 113 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Devido a cultura Institucional e estrutura física secular, a instituição apresenta dificuldades em se adequar as novas demandas tecnológicas e assistenciais, no entanto é de conhecimento público a importância da Instituição para o atendimento da população paraense em especial as mulheres-mães e crianças, devido ser referencia nessas áreas. Considerando todos esses aspectos e peculiaridades de uma clientela específica do Sistema Único de Saúde (SUS), irei selecionar por meio dos critérios de inclusão, na maternidade da Instituição, mulheres-mães que realizaram o pré-natal no serviço público do Pará. A seguir discorrerei detalhadamente sobre esses sujeitos da pesquisa. 5.3. Sujeitos do estudo: “mulheres-mães internadas na FSCMPA” A opção de inserir as mulheres atendidas no SUS como sujeitos do estudo foi por compreendê-las como agentes sociais das ações realizadas no prénatal; este envolvimento se traduz em crenças, atitudes e valores que marcam suas experiências na vida cotidiana; na interação com os outros e nesses espaços são a elaboradas e reelaboradas das representações sociais, em especial, representações sobre o pré-natal. Considerando o número mínimo recomendado para estudos pautados na Teoria do Núcleo Central (OLIVEIRA, 2009), os sujeitos deste estudo foram cento e treze mulheres selecionadas segundo aos critérios de inclusão e aceitação do termo consentimento livre e esclarecido. As mulheres-mães foram selecionadas a partir dos seguintes critérios: a) ser mulher-mãe gestante ou puérpera; b) se gestante, realizado o pré-natal de baixo risco, de forma completa e regular no SUS, na gestação atual ou na anterior; c) se puérpera, ter realizado o pré-natal de baixo risco de forma completa e regular no SUS; d) estar internada na FSCMPA. Quanto ao quesito realização de pré-natal de baixo risco, ressaltamos que apesar da instituição ser referência em gestação de Alto Risco, recebe pacientes de baixo e médio risco, que se internam nas enfermarias: Santa Marta; Santana I e II e Maria Goreth; e) ser maior de dezoito anos; f) não possuir patologia que possa impossibilitar ou contraindicar a participação na produção de dados g) aceitar participar da pesquisa assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice A). 114 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. 5.4. Produção de dados O estudo foi aprovado pelo Conselho de Ética da FSCMPA e certificado pela Diretoria de Ensino e Pesquisa da instituição Após, passamos ao preparo e reprodução dos materiais de coleta de dados, bem como elaboração do planejamento dos passos a serem seguidos na instituição para o cumprimento do cronograma de coleta. Para a coleta de dados, a pesquisadora contou com quatro voluntárias acadêmicas de enfermagem integrantes do grupo de pesquisa Praticas Educativas em Saúde e Cuidado na Amazônia (PESCA) da Universidade do Estado do Pará. Dessa forma, ocorreram reuniões, para treinamento prévio, distribuição dos materiais e recomendações. 5.4.1. Quanto ao acesso as informações das mulheres Iniciamos a busca no livro de registros da triagem obstétrica, setor de internação da maternidade. No entanto, não foi possível, tendo em vista a não menção dos dados referentes a realização do pré-natal pelas mulheres. Seguimos para as enfermarias e selecionamos as participantes por meio da leitura e analise dos prontuários. Após esta primeira experiência, constatamos que a abordagem as mulheres diretamente no leito, seria a melhor opção, e desta forma, o prontuário serviu para a confirmação das informações obtidas e ou para obter esclarecimentos. 5.5. Quanto à coleta de dados Realizamos a coleta de dados, nos meses de dezembro e janeiro de 2012. A produção diária variou de 4 a 6 abordagens, dependendo do número de pesquisadoras presentes no dia e da demanda de mulheres que atendessem aos critérios estabelecidos; o tempo médio empreendido com cada mulher variou entre 20 a 30 minutos. Priorizamos a realização da pesquisa com puérperas e em alguns casos com gestantes, porém considerando gestações anteriores, conforme critérios. Essa conduta foi tomada tendo em vista que as mulheres grávidas 115 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. apresentam fragilidades, devido a expectativa do término da gestação e proximidade do parto; as puérperas estavam mais seguras, pois já haviam vivenciado e ultrapassado tais situações. 5.5.1 Quanto a abordagem às mulheres Foi feita individualmente e diretamente no leito, salvaguardando os momentos de alimentação, repouso, visitas e cuidados de saúde. Ao nos aproximarmos, nos apresentávamos, falávamos sucintamente da pesquisa e convidávamos a mulher a participar; após o aceite assinavam o termo de livre consentimento e iniciávamos o trabalho. Das mulheres abordadas, salvo aquelas que não se enquadravam aos critérios de inclusão, nenhuma mulher se recusou a participar do estudo. 5.5.2 Quanto a aplicação do primeiro instrumento de coleta de dados: perfil sócio-demográfico de mulheres-mães Aplicamos um questionário no qual dividimos em tópicos, o primeiro tratou do perfil sócio-demográfico (Apêndice B): idade; naturalidade; procedência; religião; estado civil; escolaridade; trabalho e ocupação; renda familiar; inserção da residência na ESF; transporte coletivo de fácil acesso aos serviços de saúde. O segundo tópico tratou do perfil obstétrico: número de gestação, parto e aborto; tipos de parto; intercorrências na gestação; tipos de intercorrência. E o terceiro tópico, abordou as mulheres-mães e o pré-natal: realização do pré-natal de acordo com o número de gestações; número de consultas realizadas no pré-natal; inicio do pré-natal; município de realização do pré-natal; informações que as mulheres-mães gostariam de receber no pré-natal; e sugestões de melhorias para o pré-natal. 5.5.3 Quanto a aplicação do segundo instrumento: formulário de associação livre de palavras Para aplicação da Técnica de Associação Livre de Palavras (TALP) utilizamos primeiramente outros termos indutores, para melhor entendimento das mulheres, antes de usar o termo da pesquisa. A TALP é uma técnica que permite 116 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. aos entrevistados, a partir de um estímulo indutor, evocar respostas de conteúdos afetivos e cognitivo-avaliativos (Apêndice C) (COUTINHO, 2003) A utilização de procedimentos projetivos em estudos de representações sociais tem-se revelado como conspícuos instrumentos de investigação, por possibilitar a apreensão de elementos complementares, bem como a apreensão do campo estrutural e dos elementos figurativos que subjazem às representações, e que por sua vez são contraditórias com as construções ideológicas que os sujeitos exibem, por serem as primeiras constituídas de elementos mais inconscientes, de substrato afetivo-emocional (COUTINHO, NOBREGA, CANTÃO, 2003, p. 53). De acordo com os atores, a evocação livre de palavras é uma técnica que traz à consciência elementos inconscientes, em decorrência das manifestações de reações e evocações de comportamentos presentes na personalidade das pessoas. A técnica se baseia em um conjunto de conceitos elaborados pelas pessoas, a partir do universo consensual delas, colocando em evidência a similaridade das palavras produzidas a partir do estímulo a que são submetidas. Para Coutinho, Nóbrega e Cantão (2003), esse estímulo se refere diretamente ao objeto investigado e pode ser verbal (palavra, expressão, idéia, frase, provérbio) ou não verbal (fotografia, figura). Essa técnica permitiu instigar as mulheres-mães a dizerem o que pensavam ao serem estimuladas pelo termo “pré-natal”. A palavra “evocação” tem vários significados na língua portuguesa, mas como uma projeção mental significa o “ato de evocar”, ou seja, trazer à lembrança, à imaginação, algo que está presente na memória dos indivíduos (COUTINHO, 2003). Nesse sentido, a técnica de associação ou evocação livre consiste em apresentar uma palavra indutora aos indivíduos e solicitar que produzam palavras, expressões ou adjetivos que lhe venham “à cabeça” a partir dela. Abric (1994) considera que o caráter espontâneo dessa técnica permite ao pesquisador colher os elementos constitutivos do conteúdo da representação. A evocação pode constituir uma boa ferramenta de identificação do conteúdo e do significado de uma representação, pode ser produzida individualmente ou em grupo; essa técnica se enquadra entre os métodos associativos de coleta de dados usados nos estudos das representações sociais da escola estrutural de Jeam Abric. 117 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. No período da coleta de dados, evidenciamos que no universo hospitalar há especificidades que precisam ser consideradas pelo pesquisador. Vivemos situações em que tivemos que parar a pesquisa, para ocorrer realização de procedimentos; ou esperar o término de procedimentos com a mãe ou com o bebê; é importante escutar a mãe, fornecer informações, auxiliá-la na amamentação, com o manuseio do bebê, visando promover conforto e bem estar, tendo em vista a sua participação na pesquisa. 5.6 Análise dos dados A análise das evocações ao estímulo indutor pré-natal foi apoiada por um tratamento com o auxílio do software Ensemple de Programmes Permettant L’ Analyse Des Evocations EVOC2003. Figura1 - Página principal do Software EVOC 2003 O EVOC 2003 permite, num primeiro momento, a execução de uma análise do tipo lexicológica. A análise das palavras ou expressões é então realizada considerando-se a freqüência e a ordem de evocações. De acordo com Abric “a congruência dos dois critérios (freqüência e rang) constituiu um indicador 118 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. da centralidade do elemento” (tradução do autor). O cruzamento destes dois critérios produz o que Vergés denominou de quadro de quatro casas. O primeiro passo foi a Criação de um arquivo no Word, o primeiro passo, consistiu em digitar as expressões evocadas pelas mulheres, utilizando o Microsoft Word 2007 e realizar correções ortográficas. O arquivo totalizou 607 palavras. O segundo passo foi a Construção do dicionário, com a redução de frases e expressões para serem processadas pelo software. Essa correção foi realizada por meio da supressão de artigos e verbos de ligação, com o objetivo de deixar apenas o núcleo da frase ou núcleo de sentido (substantivo, adjetivo, etc..); as palavras foram agrupadas por similaridade (padronização semântica). Procedeu-se à padronização das palavras e termos evocados utilizando o Microsoft Word 2007 para que se chegasse a uma homogeneização do conteúdo. Desta forma, palavras diferentes, com significados próximos, foram padronizadas sob a mesma designação, garantindo que o sentido expresso fosse contemplado e, ao mesmo tempo, fosse processado pelo software como sinônimos. O arquivo ficou com 91 palavras conjugadas semanticamente. Figura 2 – Dicionário das palavras ao estímulo pré-natal, (tela 1 Word) 119 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Figura 3 - Dicionário das palavras ao estímulo pré-natal, (tela 2 Word) O terceiro passo foi a Preparação do corpus, com base no dicionário de termos conjugados, no Excell for Windows, com a seguinte estrutura a) linha vertical: números seqüenciais correspondendo a identificação atribuída a cada sujeito (de 1 à 113) na primeira coluna (letra A) b) as linhas horizontais: seqüência dos termos evocados e hierarquizados de 1-6; utilizou-se o dicionário e os termos foram substituídos pelos termos conjugados. Figura 4 – Corpus das evocações (tela Excel) 120 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. O quarto passo foi o lançamento dos dados no software EVOC 2003. Este software é constituído de três partes independentes: I- Análise estrutural e construção do quadrante; II) Comparação entre os grupos;III)- Análise de categorias para análise de similitude. Nesse estudo só usamos a parte I. Primeiro acionamos o Lexique e o Trievoc, informando os dados solicitados pelo programa a fim de preparar o arquivo para o próximo passo. Após acionamos o Rangmot, forneceu uma lista com todas as palavras evocadas, em ordem alfabética, com os cálculos estatísticos da analise: quantas vezes cada palavra apareceu em cada colocação (do 1º ao 5º, na ordem de hierarquização); a freqüência total de cada palavra; o calculo da média ponderada da ordem de importância da evocação; a freqüência total e a média geral da ordem de evocações do conjunto dos termos estudados (Apêndice D). Ao obter essas informações, acionamos o botão Rangfg, e foi definido o ponto de corte para a freqüência mínima 6, considerando a lei logarítima (lei de Zipf); a freqüência intermediária 21 e a classificação média (Rang Moyen) de 3,4; resultou desse processo o quadro de quatro casas, que corresponde à estrutura e organização da representação estudada. Nesses quadrantes estão presentes as palavras que contem o número significativo de ocorrências. 121 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. O quinto passo é a Construção do quadro de quatro casas, com base nos dados fornecidos ao programa, que agrupa as palavras já padronizadas, e a partir destas organiza todos os elementos em quatro quadrantes. Discrimina o núcleo central, a 1ª periferia, os elementos de contraste e a 2ª periferia. O núcleo central agrupa os elementos mais importantes do objeto de representação; na 1ª periferia têm-se os elementos periféricos mais importantes; na zona de contraste os elementos com baixa freqüência, mas considerados importantes para os sujeitos; na 2ª periferia os elementos menos importantes e menos freqüentes. Quadro 1 – O quadro de quatro casas Quadrante superior esquerdo Quadrante superior direito Elementos/palavras que compõem provavelmente o núcleo central. Elementos com maior freqüência e de menor ordem média de evocações (rang), ou seja, mais prontamente evocados. Elementos/palavras de 1ª periferia. Elementos com maior freqüência, e com valor rang menor do que o núcleo central. São os elementos periféricos mais importantes pela sua freqüência elevada, evocados mais tardiamente. Quadrante inferior esquerdo Quadrante inferior direito Elementos de contraste – são elementos que apesar das baixas freqüências são considerados muito importantes para os sujeitos pela ordem de evocações. Pode star revelando a existência de um sub grupo que sustenta uma representação distinta daquela observada no grupo social analisado. Elementos/palavras da 2ª periferia. Elementos mais periféricos da representação. São os menos freqüentes e de menor importância. De acordo com Oliveira et al. (2005), a técnica de construção do quadro de quatro casas permite formar categorias empíricas, criadas a partir das evocações livres. Essas categorias além de agruparem os elementos evocados, mostram a estrutura das ligações de semelhança ou a diferença entre elas. A Interpretação dos resultados é de acordo com os critérios de Vergés; a interpretação da distribuição de palavras em quatro casas, considera 122 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. em termos gerais, que as palavras que se destacaram em relação a freqüência (alta) e ordem de evocação (mais próxima do 1), foram inseridas no quadrante superior esquerdo, formando o provável núcleo central da representação e são fortes candidatas a nortear as categorias. Aquelas que, ao contrário, apresentam baixa freqüência e ordem de evocação mais distante do 1, encontram-se no quadrante inferior direito, correspondendo aos elementos da segunda periferia da representação; as palavras localizadas no quadrante inferior esquerdo são elementos de contraste e as localizadas no quadrante superior direito são elementos da primeira periferia. 5.7 Aspectos éticos e legais Os aspectos éticos foram cumpridos segundo a resolução 196/96 que incorpora três referenciais básicos da bioética: autonomia, não maleficência e justiça (BRASIL, 1996). Neste sentido, após o exame de qualificação do projeto de dissertação, em 10 de outubro de 2011, solicitamos aprovação e autorização ao comitê de ética da FSCMPA, de aprovação foi obtido em 25 de outubro de 2011 (apêndice A) CAAE- 0064.0.321.440-11 e protocolo nº 135/11-CEP. 123 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. CAPÍTULO 6 - QUEM SÃO E DE ONDE FALAM AS MULHERES-MÃES ATENDIDAS NA FSCMPA 124 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Conhecer o perfil sócio-demográfico das mulheres-mães é relevante, por ser elemento constituinte na construção das representações sociais dessas mulheres. A socialização acontece de diferentes formas e cada um interpreta as informações e os acontecimentos à sua maneira, considerando a idade, local de origem, estilo de vida familiar, situação econômica, grau de escolaridade, profissão, ocupação, entre outros. Quando o sujeito se desenvolve a partir da cultura, dos costumes e valores, constrói sua identidade social. Esses pensamentos são embasados segundo o comentário abaixo: As representações aglutinam a identidade, a cultura e a história de um grupo de pessoas. Elas se inscrevem nas memórias sociais e nas narrativas e modelam os sentimentos de pertença que reafirmam a membros individuais sua inserção em um espaço humano.Não há processo de conhecimento que não projete a identidade e os projetos dos sujeitos do saber; esta é uma dimensão psicossocial dos contextos do saber (JOVCHELOVITH, 2008, p. 175). A partir dessas considerações, entendemos ser significativo para este estudo, conhecer o perfil sócio-demográfico das 113 mulheres-mães internadas na Maternidade da FSCMPA, que realizaram pré-natal no Sistema Unico de Saúde (SUS) e foram sujeitos da pesquisa. 6.1. Perfil Sócio-Demográfico Idade Gráfico 1: Distribuição das mulheres-mães quanto a idade 125 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. A maioria das mulheres-mães entrevistadas estavam na faixa etária entre 18 a 23 anos ( 43%), seguindo a faixa entre 24 a 29 anos ( 37%), 30 a 35 anos (11%) e 36 a 41 (9%). Esses dados revelam que a maioria das mulheresmães atendidas na Maternidade da FSCMPA são jovens, algumas na adolescência e menores de 18 anos, no entanto as menores de 18 anos, não foram incluidas em nosso estudo. Brasil (2006) comenta que a relação da idade com a gestação corresponde a fase de maior atividade sexual e reprodutiva da mulher. Para o autor citado a idade fértil da mulher varia entre 10 a 49 anos, dessa forma devido a taxa de fecundidade entre mulheres jovens, torna-se importante discutir e orientar sobre os direitos sexuais e saúde reprodutiva, principalmente na fase entre 10-19 anos (adolescência). Nesse sentido, destacamos que a Região Norte é a que apresenta maiores indices da gestação na adolescência de acordo com os dados a seguir. Segundo os Indicadores Demográficos do Brasil- IDB (2010) a taxa de fecundidade na Região Norte e no Pará respectivamente entre as faixas etárias de 15 a 19 anos, correspondem a (0,011594) e (0,11911), demonstrando a elevada taxa no Pará em dentrimento da Região Norte. Nas idades entre 20-24 anos, a taxa corresponde na Região Norte a (0,15118) e no Pará (0,15393), demosntrando novamente a elevada taxa do Pará em dentrimento da Região Norte. Evidenciamos que a taxa de fecundidade à partir de 25 anos é mais elevada na Região Norte, de acordo com os deguintes dados: entre 25-29 anos, a Região Norte apresenta taxa igual a (0110,22) e o Pará (0,10472). Nas faixas etárias entre 30-34 anos a Região Norte apresenta taxa igual a (0,06783) e o Pará (0,06076). Nas idades entre 35-39 anos a Região Norte apresenta taxa (0,03537) e o Pará (0,03138). Nas idades entre 40-44 anos a Região Norte apresenta taxa igual a (0,01104) e o Pará (0,01007) e nas faixas entre 45-49 anos a Região Norte apresenta taxa de (0,00145) e o Pará 0,00134. A taxa bruta de natalidade no Brasil no período até 2008 corresponde a (16,4%), na Região Norte (23,2%) e no Pará (23,0%). 126 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Para Jodelet (2001), reconhece-se a importância das representações sociais enquanto sistemas de interpretação que determinam nossa relação com o mundo e com os outros, visto que orientam e organizam condutas e as comunicações sociais, da mesma forma, elas intervêm na difusão e assimilação dos conhecimentos, no desenvolvimento individual e coletivo, na definição das identidades pessoais e sociais, na expressão dos grupos e transformações sociais. Naturalidade Gráfico 2: Distribuição das mulheres-mães quanto a naturalidade Das mulheres-mães entrevistadas (94%) nasceram no Pará, enquanto uma minoria nasceu na região nordeste (3%), região sudeste (1%), e região centro oeste (2%). Estes dados revelam que a maioria das mulheres-mães entrevistadas integram o mesmo grupo de pertença regional. Nos estudos sobre representações sociais Jovchelovitch (2008) refere que é a experência do vínculo com o local que produz a psicologia da pertença, o sentimento de que nos encaixamos em um meio cultural, faz com que nos comuniquemos bem, sem a necessidade de ser explícito o tempo todo e destaca que: Os saberes comuns a uma comunidade, ou outro mundo da vida, propiciam as referências, os parâmetros e os recursos em relação aos quais os indivíduos dão sentido ao mundo, desenvolvem as competências teóricas e práticas para lidar com o cotidiano e estabelecem as relações 127 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. comunicativas que permitem o desenvolvimento de laços de solidariedade e cooperação, e a experiência da pertença (JOVCHELOVITCH, 2008, p. 139). Procedência Gráfico 3: Distribuição das mulheres-mães quanto a procedência Quando perguntamos as mulheres-mães sua procedência, (65%) nos informaram ser da Capital do Estado e (35%) do interiores do Estado. O fato da Instituição FSCMPA ser a Maternidade de referência do Estado e devido as carências de atendimento nos municipios, existem mulheres-mães que migram para Belém somente para o momento do parto ou quando apresentam complicações durante a gestação. Os estudos de Andrade, Magno e Carneiro (2010), realizado na mesma maternidade, demonstrou que quanto à procedência (54%) das gestantes entrevistadas corresponderam aos municípios do interior do estado e (46%) da capital. Esse estudo, revelou que em 2010 a maioria das gestantes eram provenientes dos municípios do interior do Estado e a menor quantidade era da 128 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Capital, e contrapõe-se ao nosso estudo, o qual revela que maioria das mulheresmães entrevistadas foram da Capital. Podemos inferir que essa relação tem haver com os critérios de inclusão de nosso estudo, dentre os quais, a realização do pré-natal de forma completa e regular, e a participação do pré-natal de baixo risco. Acreditamos que a maioria das gestantes que provém do interior do Estado apresentam características de gestação de alto risco e muitas não realizaram pré-natal. Outro fator de inferência pode ser a relação com as estratégias políticas de descentralização do atendimento na Instituição. Tendo em vista que a maioria das mulheres-mães procederam de Belém, capital do Estado, entendemos que essas integram o mesmo grupo de pertença, onde interagem e se comunicam no universo social, político, econômico, histórico e cultural, de onde emergem representações. Dessa forma, Jovchelovitch, (2008) considera que: É como membros de uma comunidade que nos tornamos nós mesmos, emergimos como atores sociais competentes e aprendemos a falar uma língua. É porque pertencemos a uma comunidade que sabemos como interpretar e dar sentido ao modo como outros ao nosso redor se comportam e se relacionam conosco; comunidades nos garantem o referencial a partir do qual, e em relação a qual, nosso sentido único de EU se origina ( p. 12). Religião Gráfico 4: Distribuição das mulheres-mães quanto a religião 129 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. O Brasil é um dos paises que possui uma rica diversidade religiosa. Em função da misciginação cultural, fruto dos vários processos imigratórios, encontamos em nosso pais diversas religiões. Dessa forma, (56%) das mulheresmães entrevistadas se revelaram católicas, (41%) evangélicas e (3%) professaram outros tipos de credo. Esses dados revelam que apesar do crescimento da religião eveangélica nos últimos tempos, ainda há predomínio da religião católica. De acordo com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a religião católica apresenta (71%) seguidores enquanto que (10%) pertencem a outras religiões. (Fonte IBGE, 2010). Na perspectiva das crenças religiosas, Veronese e Guareschi ( 2007) relatam que: É impossível uma vida em comum sem que hajam determinados fenômenos psiquicos que possuem também em comum, uma origem social e que são indispensáveis para manter a vida social em andamento. Essas são crenças religiosas, até mesmo mágicas, que sobrevivem apesar dos preconceitos a eles atribuidos (p.35). Estado civil Gráfico 5: Distribuição das mulheres-mães quanto ao estado civil Das mulheres-mães entrevistadas (71%) referiram ter união estável, (16%) são solteiras, (12%) casadas e (1%) separadas. O primeiro item corrobora com os estudos de Rassy (2010), desenvolvido na mesma Instituição, onde (45%), a maioria das entrevistadas possuiam união estável; enquanto as solteiras 130 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. corresponderam a (39%) e as casadas (15%). Observamos a similaridade dos estudos quanto a maioria entrevistadas terem união estável e a contraposição das casadas e solteiras, visto que nos estudos de Rassy (2010) as casadas ocupavam a segunda posição e as solteiras a terceira posição. A união estável é caracterizada pelo consenso entre o casal, a presença do parceiro ao lado da mulher é elemento constitutivo na formação da família, tendo em vista que a gestação, parto e nascimento são eventos bio-psicosocial e familiar. Neste sentido, a participação efetiva do companheiro, à partir do cuidado empreendido à mãe e filho, poderá contribuir para o desenvolvimento da mulher enquanto mãe e da criança na condição de filho. Ressalta-se que além dos aspectos de cuidado, o parceiro poderá contribuir nas questões econômicas, considerando que o novo período requer maiores gastos devido a ampliação da família e as especificidades da mulher no ciclo gravídico puerperal e de um bebê após o nascimento. O crescimento das uniões estáveis em dentrimento ao casamento vem ocorrendo com a modernização e a opção por esta situação entre os casais ocorre por garantir os mesmos direitos legais e não exigir gastos nem burocracias. Segundo dados do IBGE (2010), quanto a natureza da união conjugal, os dados revelaram que no Brasil, 34.752,763 pessoas são casadas no civil e religioso, no contexto de 80.978.998, incluindo as que não tem declaração dessa natureza. Dentre as cinco regiões do país, a região Norte apresenta menor quantitativo (1.502.931) de pessoas casadas. O Pará recebeu a primeira colocação com maior número (681.413) de pessoas casadas. Quanto a relação de mulheres solteiras com a gestação, idade e condição sócio-econômica e cultural, acreditamos que haja relação com o aumento da gestação na adolescência. Em geral, observamos mudanças dessa realidade em mulheres de nível econômico, cultural e social mais elevado, visto que essas priorizam a realização profissional e financeira, deixando para depois a maternidade. No entanto, vimos que nas classes de menor nível cultural, econômico e social, e especificamente nos serviços públicos, mullheres cada vez mais jovens vivenciam os fenômenos da gestação e parto. Dessa forma, a 131 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. questão da união estável, casamento e família não são prerrogativas para a gestação. Escolaridade Gráfico 6 : Distribuição das mulheres-mães quanto a escolaridade. Quanto ao nível de escolaridade entre as mulheres-mães, (33%) relataram ter o 2º grau completo, enquanto que (28%) informaram o 1º grau incompleto e (19%) o 2º grau incompleto. Esses dados diferem do estudo de Rassy (2010), visto que quanto ao nível de escolaridade (24%) das pesquisadas relataram ter o 1º grau incompleto, enquanto que (12%) informaram o 1º grau completo. No entanto, a referida autora incluiu em seu estudo mulheres que fizeram o pré-natal, independente do número de consultas. Em nosso estudo, consideramos mulheres-mães que realizaram pré-natal com no mínimo seis consultas e de forma regular. As evidências nos levam a relacionar a realização do pré-natal, de forma completa e regular, com o grau de instrução das mulheres-mães que participaram deste estudo, tendo em vista que Brasil (2006) afirma que o grau de escolaridade favorece as orientações e a busca por melhores serviços para atenção à saúde. Dados do Indice Demográfico Brasileiro (IDB) ( 2010) revelaram até 2009, os níveis de escolaridade da população de 18 a 24 anos no Pará. De 4 a 7 anos de estudo, correspondeu a (25,05%), entre 8 a 10 anos, (28,80%) e com 132 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. 11 anos ou mais, (38,91%). Evidenciando que a maioria da população apresenta nível de escolaridade correspondente a 11 anos ou mais de estudo. Trabalho e Ocupação Gráfico 7: Distribuição das mulheres quanto ao trabalho e ocupação. De acordo com as mulheres-mães entrevistadas (78%) revelaram que não trabalham e (22%) que trabalham. Estes dados corroboram com estudos de Rassy (2010) o qual aponta que a maioria das mulheres entrevistadas na referida Instituição (61%) não trabalham e exercem função do lar, enquanto (39%) trabalhavamm fora. Dados do IDB ( 2010), revelaram que a taxa de desemprego na Região Norte no período de 2009 correspondeu a (8,51%) e em Belém a (9,63%), apontando uma alta taxa de desemprego em Belém. Ao relacionarmos este item com o fator escolaridade e idade, vimos que as entrevistadas são maiores de 18 anos e a maioria possue o 2º grau completo. Esses dados corroboram com a elevada taxa de desemprego na cidade de Belém.Em contrapartida, as evidências nos possibilitam inferir que a taxa de desemprego seja fruto do déficit de ofertas para o emprego formal, menores no que a demanda, alto nível de exigências para contatação, ou ainda, dificuldades das mulheres-mães em conciliar a gestação com as atividades 133 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. laborais com o cuidado da casa e da família, tendo em vista que algumas mulheres-mães relataram que trabalhavam antes da gestação. Das 113 mulheres-mães entrevistadas (78%) informaram não trabalhar, enquanto que (22%) referiram trabalhar. Considerando a ocupação dessas mulheres-mães que trabalham, (10%) foi caracterizada como outras, devido integrar uma diversidade de atividades em nível elementar, administrativo e técnico, (5%) revelaram ser empregada doméstica, (3%) lavradoura, este item relaciona-se as mulheres-mães que residem nos interiores do Pará, (2%) cobradora de ônibus e (2%) vendedora. Renda familiar Gráfico 8: Distribuição das mulheres-mães quanto a renda familiar Considerando que a maioria das mulheres-mães entrevistadas não trabalhavam ou não estavam no mercado formal e outras eram autonômas, entendemos ser pertinente considerar a renda familiar já que a maioria vive uma relação estável ou reside com a familia. Neste sentido (47%) das mulheres-mães possuem renda familiar de até 1 salário mínimo (SM), (31%) entre (1 a 2 SM), (18%) entre (2 a 5 SM), nesses últimos casos o número de pessoas residindo na mesma casa e compondo a mesma renda familiar eram maiores, por isso soma maior renda. 134 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Inserção da residência na ESF Gráfico 9: Distribuição das mulheres-mães quanto a inserção da residência no ESF. Das mulheres-mães entrevistadas (60%) informou que sua residência estava inserida na ESF e (40%) relatou que sua residência não está inserida. Esses dados revelam que a inserção da residência na ESF contribiu para a realização do pré-natal, visto que as 113 mulheres entrevistadas neste estudo realizaram o pré-natal. De acordo com o Brasil ( 1997) o principal objetivo da Estratégia Saúde da Família (ESF) é de contribuir para reorientação do modelo assistencial à partir da atenção primária, em conformidade com os princípios do Sistema Único de Saúde, imprimindo uma nova dinâmica de atuação ans unidades básicas de saúde, com definição de responsabilidades entre os serviços de saúde e a população. Para Rodrigues; Lima; Roncalli (2008), a ESF é considerada, uma estratégia que prioriza as ações de promoção, proteção e recuperação da saúde dos indivíduos e da família, do recém-nascido ao idoso, sadios ou doentes, de forma integral e continua. Apresenta-se, assim, como uma possibilidade de reestruturação dos serviços e de novas práticas de intervenção na atenção à saúde. 135 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Transporte coletivo e acesso aos serviços de saúde Gráfico 10: Distribuição das mulheres quanto ao transporte coletivo Neste estudo, (77%) das mulheres-mães informaram ter acesso a transporte coletivo fácil para os serviços de saúde. Esse resultado corrobora com o a evidência de que a maioria das mulheres-mães reside na Capital do Estado e todas realizaram pré-natal de forma completa e regular. Enquanto que (23%) não dispõe desse acesso, são em geral as que residem em municípios do interior do Estado, em bairros distantes da Capital ou nas Ilhas do Pará. Para Brasil (2000) o acesso e acessibilidade das mulheres-mães aos serviços de saúde durante o ciclo gravídico puerperal integram os pressupostos das Políticas Públicas de Saúde da mulher através do Programa de Humanização do Pré-Natal e Nascimento (PHPN), obtendo como um dos seus principais objetivos a ampliação do acesso ao pré-natal. Tendo em vista as dificuldades econômicas, sociais e culturais e considerando as diferenças regionais em que residem as mulheres, ressaltamos que o problema de acesso e acessibilidade da Região Norte precisa ser considerado a partir de sua diversidade e especificidade geográfica. Acreditamos que o incentivo financeiro as mulheres-mães para realização do pré-natal, conforme a medida provisória nº 557 de 26 de dezembro 136 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. de 2011, Já citada nas ancoragens históricas deste estudo, não será uma alternativa para resolver efetivamente essa questão, visto que o problema não envolve somente os aspectos financeiros, por isso não depende somente das mulheres-mães, ou do seu desejo e consciência sobre a importância do pré-natal. Na realidade, muitas não chegam ao pré-natal pela inexistência do serviço em seus lugarejos, bem como a distância e dificuldade ou até inexistência de transporte para os serviços mais próximos. 6.2 Perfil Obstétrico Números de gestação, parto e aborto Gráfico 11: Distribuição das mulheres-mães quanto ao número de gestação, parto e aborto Das mulheres-mães entrevistadas, (32,7%) vivenciaram a primeira gestação e o primeiro parto, (28,3%) passaram pela segunda gestação e segundo parto, (7,1%) vivenciaram a terceira gestação e terceiro parto. Enquanto as demais se enquadraram em números variados de gestações, partos e abortos. Dados do IDB ( 2010) revelaram que a média anual de filhos por mulher no período de 2000-2008 na Região Norte foi de (2,47) e no Pará (2,41) filhos por mulher. Essa realidade parece que vem sendo modificada, conforme a divulgação na emprensa, de que as mulheres brasileiras vem optando por familias menores e filhos únicos. 137 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Quanto a maior parte das mulheres-mães entrevistadas serem primigestas e primiparas este estudo corrobora com a pesquisa de Rassy (2010), em que (55%) eram primigestas, enquanto (45%) se enquadraram com duas, três ou mais gestações. Observamos, que a vivência da gestação, pré-natal, parto e puerpério para essas mulheres, marcou suas experiências primárias com a maternidade, fator que demonstra a necessidade de maior atenção dos serviços de saúde e profissionais que assistem a essas mulheres Tipos de parto Gráfico 12: Distribuição das mulheres-mães quanto a vivência dos tipos de parto Embora o indice de cesárea no Brasil e no Pará se apresentarem alto, principalmente no atendimento realizado em planos de saúde e nos hospitais privados. Em nosso estudo incluimos mulheres-mães atendidas unicamente no SUS, a maioria dessas, (51%) realizaram partos normais na gestação atual, e nas anteriores, para as que engravidaram mais de uma vez; enquanto que (36%) realizaram cesárea na gestação atual ou em passadas, e (13%) vivenciaram tanto a experiência do parto normal quanto da cesárea. Podemos relacionar esses dados com a incorporação do Programa do Parto Humanizado na maternidade da FSCMPA (2002) o qual incentiva o parto normal e preconiza a cesárea somente quando há comprometimento para a vida 138 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. materna e fetal. Contribuindo com este resultado, a pesquisa de Pereira, Franco, Baldim ( 2011) revela a preferência feminina pelo parto normal como uma vivência de protagonismo e de maior satisfação na cena do parto. No entanto, no Brasil, a representação social do parto normal identifica uma etapa dolorosa do processo fisiológico da gravidez entre as mulheres. O mesmo estudo, revela que a cesárea tem aumentado gradativamente, em especial pelas usuárias de planos de saúde, apresentando indices muito além do recomendado pela Organização Mundial de Saúde que é de 15%. O IDB ( 2010) revela que a proporção de cesáreas em 2009 na Região Norte foi de (39, 64%) e no Pará (36,22%). Nas análises dos fenômenos, o estudo de Pereira, Franco, Baldim (2011) apontam que um dos principais motivos para o aumento da cesarea é a conveniência do médico, pois o procedimento é rápido, não precisa esperar a progressão do trabalho de parto e não compromete a insegurança no momento das avaliações e condutas, caso o parto saia do padrão de evolução esperada. As autoras supra-mencionadas revelam que a telenovela consolida socialmente um conceito sem base científica, de que a cesárea é um procedimento mais seguro que o parto normal, pela condição de ser programado e livrar a mulher do sofrimento imposto pela dor do trabalho de parto. Para as autoras a televisão capta aquilo que o mercado aspira, pois é o veiculo que melhor representa o meio de comunicação em massa, essa é a organizadora do imaginário social, reprocessa- tecnicamente as aspirações da população, reciclaas ideologicamente e difunde-as. Corroborando com estudos acima, Hotimsk et al. (2002) revelam que as mulheres que participaram da pesquisa se apropriam de suas experiências anteriores de parto, assim como as de outros membros de sua rede de relações, e procuram também se apropriar do saber médico para formular suas expectativas e preferências em relação a parturição. 139 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Intercorrências na gestação Gráfico 13: Distribuição das mulheres quanto a vigência de intercorrências na gestação. Apesar da gestação ser um evento fisiológico, algumas vezes podem ocorrer intercorrências, que se não detectadas e tratadas em tempo hábil, poderão caracterizar uma gestação de alto risco ou ainda compremeter a vida da mãe e do bebê. Nosso estudo, revelou que das mulheres-mães entrevistadas, (62%) não apresentaram intercorrências, enquanto que (38%) das mulheres-mães apresentaram. Estes resultados reforçam a importância da realização do pré-natal como forma de promoção da saúde; prevenção da doença e controle dos indices de mortalidade materna e infantil e possui relação com o critério de inclusão de nosso estudo, visto que consideramos as gestações de baixo risco em mulheresmães que fizeram o pré-natal de forma completa e regular.No entanto, mesmo realizando o pré-natal de baixo risco, algumas intercorrências no inicio ou no final da gestação são passíveis de ocorrer, sem caracterizar necessariamente uma gestação de alto risco. 140 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Tipos de Intercorrências Gráfico 15: Distribuição das mulheres-mães quanto aos tipos de intercorrências Das mulheres-mães que apresentaram intercorrências as mais comuns foram respectivamente: Doenças Hipertensiva Específica da Gestação (DHEG) (18,6%); Infecção no Trato Urinário (ITU) (8,0%), e a Rotura Prematura de Membranas Ovulares (RPMO) que caracteriza a perda de líquido (5,3%). O restante caracterizou-se por intercorrências associadas. Quanto a DHEG, os estudos de Santos; Oliveira; Bezerra (2006) revelaram que dentre as mulheres que apresentaram alguma intercorrência na gestação a DHEG foi a mais incidente ocorrendo em (8,1%) das entrevistadas e DHEG associada à infecção também ocorreu em (8,1%). Para as autoras a DHEG continua sendo a principal cauda de mortalidade materna e perinatal. Os percentuais relacionados à Rotura Prematura de Membranas Ovulares (RPMO), corroboram com os estudos de Andrade; Magno; Carneiro (2010), desenvolvido na maternidade da FSCMPA, das mulleres com (RPMO), 379, 267 ou (70%) corresponderam aos casos de prematuridade em conseqüência da patologia, revelando a sua gravidade. Destaca-se que a infecção no trato urinário (ITU) bem como as infecções cervico-uterinas e a hipertensão arterial na gestação podem desencadear a RPMO que por sua vez 141 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. pode levar a um parto prematuro e intensifica a procura e oferta de leitos em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTI- neo). 6.3- As Mulheres-Mães e o Pré-Natal Realização do pré-natal de acordo com o número de gestações Gráfico 15: Distribuição das mulheres-mães de acordo com o número de vezes que realizaram o pré-natal A maioria das mulheres-mães (84%), realizaram pré-natal entre 1 a 2 vezes, (12%) de 3 a 4 vezes, (4%) de 5 a mais de 5 veses, conforme o número de gestações. Essas evidência corroboram com o número de gestações entre as mulheres pesquisadas, visto que a maioria das mulheres-mães foram primigestas e primiparas. Quanto a realização do pré-natal, podemos inferir que a maioria das mulheres realizaram pré-natal na gestação atual, porém em algumas das gestações anteriores, não realizaram o pré-natal. Entendemos que o fato de mulheres-mães não terem realizado pré-natal em gestações anteriores e terem realizado na atual, revela as suas experiências anteriores, a propagação e difusão pela imprensa e pelos programas de saúde, ou pelos membros da comunidade que essas se inserem, demonstrando a necessidade e importância da realização 142 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. do pré-natal. Atualmente há grande preocupação com as mulheres que não realizam o pré-natal, por isso foi elaborada política de incentivo financeiro para maior controle e adesão ao pré-natal. No que se refere a elaboração das representações sociais sobre prénatal, compreendemos que somente mulheres-mães que vivenciaram o pré-natal nos serviços de forma completa e regular possuem de fato uma representação acerca desse fenômeno, por isso a consideração deste critério de inclusão em nosso estudo. Visto que entendemos que as mulheres-mães que realizaram duas, três ou quatro consultas pré-natal, considerando as diferenças nas idades gestacionais, apresentam representações sociais diferentes das mulheres que já passaram por esse processo em seu momento atual ou no passado. Número de consultas realizada no pré-natal Gráfico 16: Distibuição das mulheres-mães quanto ao número de consultas de prénatal Ao perguntarmos as mulheres- mães quantas consultas de pré-natal realizaram, evidenciamos que (73%) realizou mais de 6 consultas; (27%) realizaram pelo menos seis consultas.Esses dados demonstram que a maioria das mulheres realizaram mais de 06 consultas de pré-natal e que as demais realizaram as 06 preconizadas pelo Ministério da Saúde. Dados do Ministério da Saúde ( 2006) revelam que vem ocorrendo um aumento no número de consultas 143 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. no pré-natal por mulheres que realiza parto no Sistema Único de Saúde (SUS). Esses indicadores apresentam diferenças regionais significativas. O IDB ( 2010) revela no Pará e em Belém, respectivamente, a proporção entre nascidos vivos com o número de consultas pré-natal, revelandose em nenhuma consulta: (1,91%) e (1,88%), de 1 a 3 consultas: (7,68%) e (7,17%), de 4 a 6 onsultas: (31,91%) e (39,42%), 7 consultas ou mais (58,50%) e (51,53%). Os resultados demonstram que quanto maior o número de consultas maior a prevalência de nascidos vivos. Evidenciando que em Belém o número de 7 consultas ou mais ainda precisa ser mais efetivado. Em contrapartida nosso estudo revela que a maioria das mulheres-mães realizaram mais de seis consultas pré-natal. Inicio do pré-natal Gráfico 17: Distribuição das mulheres-mães quanto ao inicio do pré-natal Quando perguntamos as mulheres-mães com quanto tempo de gestação iniciaram o pré-natal, constatamos que (63%) iniciaram entre 1 a 2 meses e (37%) iniciaram entre o 3º e 4º mês. Brasil (2006) preconiza que o inicio do pré-natal deve ser iniciado, tão logo a mulher suspeita da gravidez e ressalta que a primeira consulta deva ser realizada no primeiro trimestre da gestação; recomenda que o calendário do atendimento pré-natal deve ser programado em 144 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. função dos períodos gestacionais que determinam maior risco materno e perinatal. Município de realização do pré-natal Gráfico 18: Distribuição das mulheres-mães quanto ao município de realização do pré-natal Das mulheres-mães entrevistadas (62%) correspondeu a região metropolitana de Belém e (38%) do interior do Estado. Considerando que muitas mulheres, realizam o pré-natal em seus municípios de moradia e vem para a Capital para o parto. Esse resultado se contrapõe as informações dos dados da FSCMPA, referente ao assunto, conforme as declarações abaixo. De acordo com os dados da FSCMPA declarados em entrevista concedida ao Jornal Liberal pelo Secretario de Saúde do Estado do Pará, Helio Franco refere que “ das mulheres que procuram a Maternidade da FSCMPA ( 50%) são do interior do Estado e a maioria (80%) apresentam complicações na 145 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. hora do parto porque não fizeram um pré-natal correto” ( Fonte: jornal Liberal de 07 de abril de 2012, p.12). Podemos inferir que a contraposição entre a informação citada e o resultado de nosso estudo, possui relação direta com os critérios de inclusão, visto que incluimos mulheres-mães que realizaram pré-natal de forma completa e regular no SUS.Por isso a demanda maior da Região metropolitana de Belém. Por outro lado, realizamos a segunda inferência ao considerar que algumas das mulheres-mães que vêm dos interiores para atendimento na Maternidade da Instituição não realizaram pré-natal ou quando realizado ocorreu de forma incompleta, compromentendo a sua qualidade, por isso apresentam complicações na hora do parto, conforme cita Hélio franco. Informações que as mulheres-mães gostariam de receber no pré-natal Gráfico 19 – Sugestões de temas/assuntos Das 113 mulheres-mães entrevistadas (56%) deram sugestões de temas ou assuntos a tratar. 44% não deram sugestões: dentre as sugestões foram elencados 10 eixos-assuntos de acordo as citações. 146 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. 147 Quadro 2. Sugestões de temas/assuntos Nº Temas/Assunto 1 Parto normal e cesária 32 2 Cuidados com o bebê 21 3 Amamentação Nº de citações 19 4 Patologias na gestação 12 5 Cuidado com a mãe 8 6 Dieta 3 7 Exame 1 8 Ligadura de trompas 1 9 Puerpério 1 10 Planejamento familiar 1 Quanto às informações que devem ser tratadas com as mulheres-mães e profissionais no pré-natal, Brasil (2005) destaca-se que: Informações sobre as diferentes vivências devem ser trocadas entre as mulheres e os profissionais de saúde. Essa possibilidade de intercâmbio de experiências e conhecimentos é considerada a melhor forma de promover a compreensão do processo de gestação. É necessário que o setor saúde esteja aberto para as mudanças sociais e cumpra de maneira mais ampla o seu papel de educador e promotor da saúde. As gestantes constituem o foco principal do processo de aprendizagem, porém não se pode deixar de atuar, também, entre companheiros e familiares. A posição do homem na sociedade está mudando tanto quanto os papéis tradicionalmente atribuídos às mulheres. Portanto, os serviços devem promover o envolvimento dos homens, adultos e adolescentes, discutindo a sua participação responsável nas questões da saúde sexual e reprodutiva ( BRASIL, 2005, p.30). Ressalta-se a importância da informação enquanto elemento que constitui o processo de compreensão da gestação. Considerando que o processo educativo agrega informações, experiências e conhecimentos, ressalta-se a educação em saúde no pré-natal como espaço de promoção a saúde entre mulheres-mães e familiares. A mulher é o foco do processo-aprendizagem. Dessa forma, emerge a importância do papel do profissional, para a vigência dessa premissa estabeleceu-se no manual do pré-natal humanizado, assuntos importantes que devem ser abordados no pré-natal, sendo esses: CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. 1- Importância do pré-natal; 2- higiene e atividade física; 3nutrição; 4-desenvolvimento da gestação; 5-modificações corporais e emocionais; 6-medos e fantasias referentes à gestação e ao parto; 7- atividade sexual, incluindo prevenção das DST/Aids e aconselhamento para o teste anti-HIV; 8-sintomas comuns na gravidez e orientação alimentar para as queixas mais freqüentes. 9- sinais de alerta e o que fazer em situações de sangramento vaginal, dor de cabeça, transtornos visuais, dor abdominal, febre, perdas vaginais, dificuldade respiratória e cansaço; 10- preparo para o parto; 11- sinais e sintomas do parto; 12- orientação e incentivo para o aleitamento materno e orientação específica para as mulheres que não poderão amamentar; 13importância do planejamento familiar; 14- cuidados após o parto; 15- saúde mental e violência doméstica e sexual (BRASIL, 2005, p 31). Ao comparar os assuntos elencados com os sugeridos pelas mulheresmães, vimos que alguns desses integram os preconizados, dentre os quais constam: parto, amamentação, dieta, aleitamento materno, cuidado após o parto, o que caracteriza o puerpério e planejamento familiar. Entretanto, as mulheresmães revelam que gostariam de conversar além do parto sobre a cesárea, cuidados com o bebê, patologias na gestação, cuidado com a mãe, exames e ligadura de trompas, assuntos que não estão contemplados no referido manual. Destacam-se a seguir algumas unidades de registro das mulheres-mães: MM25: “Gostaria de ter recebido mais orientação quanto à amamentação e como seria o trabalho de parto” MM37- “Queria ter conversado sobre o parto, para saber como ia ser”. MM36- “Apesar de já ter tido dois filhos, queria saber mais sobre o bebê, queria saber como deveria cuidar melhor dele”. Compreendemos que essas sugestões têm relação com as necessidades das mulheres-mães pesquisadas, o que nos leva a pensar que tais necessidades não foram de todo supridas no pré-natal, deixando lacunas sobre o momento do parto e principalmente sobre o cuidado com o bebê, conforme o relato de algumas entrevistadas: Entre as mulheres-mães, algumas revelaram não ter tido ou não ter participado de momentos educativos; referiram que as consultas eram rápidas, dando pouco espaço para conversas; algumas sugeriram os seguintes assuntos: patologias na gestação e exames; referiram não terem tido conversas sobre a necessidade e a importância da realização dos exames, nem durante a entrega 148 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. dos resultados, quando em alguns casos apresentaram alterações. Quanto ao assunto patologias na gestação, foi mencionado por mulheres-mães que tiveram alguma intercorrência, e não foram devidamente esclarecidas quanto ao assunto. A seguir mais algumas. MM12- “Queria saber dos riscos que poderia ter com a infecção urinária”. MM15- “Gostaria de saber sobre o motivo da minha pressão arterial (PA) alta e de outras situações como dor de cólica e dor nas costas” MM93- “Gostaria de saber sobre a PA na gestante, apesar de verificarem, não obtive informações e no final da gravidez tive pressão alta”. Nesta perspectiva, Jovchelotch (2008) comenta que “o saber é uma forma heterogênea e maleável, cuja racionalidade e lógica, não se definem por uma norma transcendental, mas em relação ao contexto social, psicológico e cultural de uma comunidade. A autora explica que “a cooperação e a comunicação, sem as quais a vida humana não seria possível, pressupõe o reconhecimento do outro, bem como o aprendizado de como levar em consideração a perspectiva, desde onde ele propõe sua verdade histórica, social e psicológica” (p. 209- 213). A partir dessas concepções, foi possível refletir que o saber não cabe dentro de normas prescritivas, mas se constrói considerando o outro em seu contexto social, cultural e psicológico de forma que todos os envolvidos no processo ensinam e aprendem. Nesse sentido, os profissionais que integram as políticas de saúde da mulher, devem abrir espaço para a participação das mulheres-mães na construção de estratégias e ações que visem e alcancem suas necessidades. É no universo consensual que o reificado deve encontrar bases para desenvolver com efetividade as ações em prol da mulher e da criança. Dessa forma, Jovchelovitch (2008) afirma que: O senso comum e a ciência são formas de conhecimento ligadas a modalidades sociais de representar. Como toda representação, eles desempenham funções de identidade, comunidade, memória, antecipação e ideologia ( p.208). Gráfico 21- Sugestões para melhorias no pré-natal 149 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. 150 Ao questionarmos as mulheres-mães sobre o que pode ser feito para melhorar o pré-natal, (78%) relataram sugestões, enquanto ( 22%) não relataram. Dos relatos surgiram (8) eixos-sugestões de acordo com as citações, conforme o quadro: Quadro 3. Eixos-sugestões de melhoria para o pré-natal Nº Sugestões Nº de citações 1 Melhoria nos processos de atendimento 45 2 Acolhimento 30 3 Educação em Saúde 15 4 Pontualidade 9 5 Assiduidade 8 6 Mais profissionais 8 7 Acessibilidade 2 8 Divulgação sobre a importância do pré-natal 2 Dentre as sugestões, verificamos que a melhoria nos processos de atendimento foi citada (45 vezes); o que caracterizou esse eixo foram sugestões quanto a oferta de exames e medicamentos; agilidade na entrega dos resultados de exames; atendimento e programação na marcação de consultas. A seguir algumas expressões das mulheres- mães: CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. MM7: “Os exames demoraram em ser entregues”. MM12: “O atendimento poderia ser mais rápido, e as marcações das consultas médicas e de enfermagem, ser no mesmo dia, para facilitar a ida na Unidade Básica de Saúde” (UBS). MM72: “Não há realização de exames, tive que fazer particular e não tinha medicamentos, tive que comprar”. O acolhimento foi citado (30 vezes) caracterizado o valor atribuído a interação, vínculo, atenção e comunicação dos profissionais, em especial do médico com as mulheres-mães. Abaixo algumas expressões: MM14: “Queria que os médicos fossem mais atenciosos e que as consultas demorassem mais tempo”. MM21: “Acho que os médicos deveriam dar mais atenção, eles nem olham e nem examinam, só olham para os exames e passam o remédio”. MM33: “Os funcionários poderiam ser mais educados com a gente”. A educação em saúde foi citada (15 vezes), demonstrando a valorização e a importância de momentos educativos, enquanto espaços de aprendizagem entre as mulheres. No entanto, em alguns serviços os momentos educativos não ocorrem nem em grupo e nem durante a consulta, conforme relatos abaixo: MM14: “Gostaria que houvesse palestras sobre doenças do bebê, acho importante porque proporcionam outros conhecimentos, não só para mim, mas para outras mães”. MM21: “Gostaria de ter tido palestras antes do nascimento do bebê, porque lá onde fiz meu pré-natal, eles só fazem depois do nascimento” MM36- “Poderia ter palestras, porque lembraria o que ouvi na consulta e aprenderia outras coisas”. A pontualidade no atendimento foi citada (9 vezes) tendo em vista os freqüentes atrasos dos profissionais, principalmente dos médicos. A assiduidade foi citada (8 vezes), segundo as mulheres-mães há faltas freqüentes dos profissionais, o que implica em remarcação da consulta, ocasionando a demora para a data da próxima consulta e acúmulo de mulheres-mães para o 151 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. atendimento. Esse fato resulta no aumento do tempo de espera e no comprometimento da qualidade da consulta. MM44: “A espera para o atendimento médico era muito demorado marcava-se 7h e eu só era atendida às 10h”. MM78: “Os profissionais demoravam a chegar no posto”. MM96: “Freqüência regular dos médicos eles faltam muito”. A sugestão de mais profissionais para atendimento nos serviços foi citada (8 vezes), tendo em vista a demanda de mulheres ser maior do que a oferta de profissionais para o atendimento em alguns locais. MM65: “Muita paciente para um só médico atender”. MM51: “Mais médicos, melhorar o tempo de espera, poderia ser melhor”. A acessibilidade foi citada duas vezes, considerando que há mulheres que moram em locais distantes dos atendimentos de saúde e apresentam dificuldades para o deslocamento e inclusão nos serviços. A divulgação sobre a importância da realização do pré-natal foi citada (2 vezes), sinalizando a preocupação das mulheres-mães com outras que não realizam ou não realizaram o pré-natal. MM49: “Á distância, lá na minha Ilha não tem e eu tinha que ir de barco para Abaetetuba” Segundo Freitas, et al. (2006), é perfeitamente reconhecido que a assistência pré-natal é dispendiosa para o sistema de saúde, pois exige equipamentos adequados, médicos, enfermeiros e auxiliares preparados para a realização de exames complementares, nem sempre simples e de baixo custo. Também para a gestante, as consultas implicam despesas e sacrifícios: ela precisa afastar-se de sua residência, de seu local de trabalho e até mesmo ter alguém que fique cuidando de seus filhos. Por isso, é importante que se conheça a capacidade do pré-natal na redução de riscos associados a uma gravidez. O autor traz a reflexão sobre o custo benefício do pré-natal, tendo em vista que este é dispendioso tanto para o sistema de saúde quanto para as gestantes e ressalta a importância do conhecimento da capacidade do pré-natal na redução de riscos associados a gravidez. 152 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Concebe-se a importância do pré-natal na redução da mortalidade materna e perinatal, porém a qualidade desse serviço é o fator que implica na adesão e permanência das mulheres no pré-natal. Esse pensamento ancora-se na afirmativa: A adesão das mulheres ao pré-natal está relacionada com a qualidade da assistência prestada pelo serviço e pelos profissionais de saúde, fator essencial para redução dos elevados índices de mortalidade materna e perinatal verificados no Brasil (BRASIL, 2005, p.09). Em nossa pesquisa verificamos que as sugestões de melhorias das mulheres-mães, apesar de sinalizar o déficit da qualidade do pré-natal em alguns locais. Demonstrou que mesmo com as dificuldades apontadas, as 113 mulheresmães realizaram o pré-natal de forma completa e a maioria com mais de seis consultas. No entanto, a propagação dessa experiência na comunidade, família e sociedade em geral, pode gerar representações negativas sobre o pré-natal e implicar na desvalorização do serviço e não adesão de outras mulheres, fator que representa o maior risco para as mulheres, concepto e sociedade em geral. Dessa forma, a prioridade é melhorar o pré-natal para posteriormente divulgar e disseminar na mídia escrita e falada a importância do pré-natal, objetivando assim a adesão das mulheres e a redução das morbidades e mortalidade materna e perinatal. 153 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. CAPÍTULO 7 – REPRESENTAÇÕES SOBRE PRÉ-NATAL ENTRE MULHERESMÃES: implicações para o agir cuidativo educativo em enfermagem- MANUSCRITO 2 154 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE PRÉ-NATAL ENTRE MULHERESMÃES: IMPLICAÇÕES PARA O AGIR CUIDATIVO EDUCATIVO EM ENFERMAGEM SOCIAL REPRESENTATION ON PRE-NATAL AMONG WOMEN-MOTHERS: IMPLICATIONS ON NURSING CARE AND EDUCATIONAL ACTION IN NURSING REPRESENTACIONES SOCIALES SOBRE PRENATAL DE LAS MUJERESMADRES: IMPLICACIONES PARA LA ACERCA DE LA ACTUACIÓN CUIDATIVO EDUCATIVO EN ENFERMERIA Márcia Simão Carneiro¹; Elizabeth Teixeira2 ¹ Mestranda em Enfermagem da Universidade Estadual do Pará/ Universidade Federal do Amazonas (UEPA/UFAM); Professora Auxiliar III da Universidade Federal do Pará (UFPA); Conselheira do Conselho Regional de Enfermagem do Pará (CORENPA). Email: [email protected] ² Doutora em Ciências Sócia Ambientais pela Universidade Federal do Pará (UFPA); Professora Adjunto IV da Universidade do Estado do Pará ( UEPA), Coordenadora do Programa de Mestrado Associado em Enfermagem UEPA/UFAM; Diretora de Educação da Associação Brasileira [email protected] de Enfermagem- Nacional (ABEN). E-mail: 155 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE PRÉ-NATAL ENTRE MULHERES-MÃES RESUMO Objetivou-se analisar o conteúdo e a estrutura das representações sociais sobre pré-natal entre mulheresmães do Pará. Adotou-se como marco teórico a teoria das representações sociais de acordo com a abordagem estrutural. A coleta de dados foi realizada com 113 mulheres-mães internadas na Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará, no período de dezembro de 2011 a janeiro de 2012. A técnica utilizada foi a Evocação Livre de Palavras ao termo indutor: “pré-natal”. Os resultados foram processados pelo software EVOC 2003 e analisados por meio do quadro de quatro casas. Como possíveis elementos centrais evidenciou-se: “criança-bebê”, “cuidado” e “saúde”. O que remete ao paradigma dominante, centrado na criança, e um emergente com foco na “mulher-mãe”. Os elementos: “cuidado” e “saúde” demonstram a dimensão funcional relacionada ao fazer do pré-natal; e a dimensão normativa considera os valores e sentidos do prénatal. Os elementos da segunda periferia: “gestação- barriga”, “acompanhamento”, “alimentação”; e da zona de contraste: “importante”, “prevenção”, “bom”. Essas expressões agrupadas originaram as categorias: bio-cuidativa, inter-relacional, e emocional-valorativa. O estudo possibilitou compreender que as mulheres mães representam o pré-natal de acordo com as dimensões do conhecimento científico, porém demonstra a necessidade de ampliar os conceitos de cidadania e educação em saúde. Recomenda-se um redirecionamento do agir cuidativo educativo dos profissionais pré-natalistas em especial dos enfermeiros (as) a partir das representações sociais das mulheres-mães sobre o pré-natal. Palavras-chave: Cuidado pré-natal, psicologia social, saúde da mulher ABSTRACT SOCIAL REPRESENTATION ON PRE-NATAL AMONG WOMEN-MOTHERS Aiming to analyze the contents and the structure of the social representations on pre-natal among womenmothers in Pará. Having as theoretical framework the theory of social representations, according to the structural approach. The data collection was obtained surveying 113 women-mothers who were admitted to Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará, from December/2011 to January/2012. The technique used was the Free Evocation of Words regarding the trigger word: “pre-natal”. The outcomes were processed by the EVOC 2003 software and analyzed through a chart of four squares. As possible chief elements, we can point out: “infant/toddler”, “care” and “health”. This leads to the dominant paradigm, child-centered, and an emerging one with the focus on “woman-mother”. The elements: “care” and “health” displayed the functional dimension related to the pre-natal practice; and the normative dimension considers the values and the pre-natal understandings. The elements of the second periphery: “gestation-womb”, “medical follow-up”, “feeding”; and the contrast zone: “important”, “prevention”, “good”. These expressions put together originated the categories: bio-care, inter-relational, and emotional-value. With this study, it was possible to understand that women-mothers view pre-natal according to the dimensions of the scientific knowledge, however, it shows the necessity to widen these representations to the concepts of citizenship and education on health.it is recommended that the nursing care and educational action of the pre-natal professionals, in particular the nurses be redirected according to the social representations of women-mothers on pre-natal. Key-words: Pré-natal care, social psychology, woman’s health care RESUMEN REPRESENTACIONES SOCIALES SOBRE PRENATAL DE LAS MUJERESMADRES El objetivo fue analizar el contenido y la estructura de las representaciones sociales en la pre-natales las mujeres-madres de Pará, fue adoptado como el marco teórico de la teoría de las representaciones sociales de acuerdo con el enfoque estructural. La recolección de datos se llevó a cabo con 113 mujeres admitidas en la Santa Casa de Misericordia de Pará, en el período diciembre 2011 a enero 2012. La técnica utilizada fue la Palabra de 156 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. evocación libre del término inductor "atención prenatal". Los resultados fueron procesados por el software EVOC 2003 y se analizaron utilizando el marco de las cuatro casas. Como elementos centrales posibles se presentó, "niño-bebé", "prudencia" y "salud". Lo que se refiere al paradigma dominante, centrada en el niño, y emergentes con un enfoque de "mujer-madre". Los elementos: "precaución" y "salud" demostrar la dimensión funcional en relación a la atención prenatal, y la dimensión normativa considera los valores y los significados de la atención prenatal. Los elementos del segundo borde ", del vientre con el embarazo", "vigilancia", "poder" y el área de contraste: "importante", "prevención", "bueno". Estas expresiones se originó categorías agrupadas: la bio-cuidativa interrelacionales, emocionales y de evaluación. El estudio nos permitió entender que las mujeres representan a las madres el cuidado prenatal de acuerdo a las dimensiones del conocimiento científico, sino que demuestra la necesidad de ampliar estas representaciones a los conceptos de ciudadanía y educación para la salud. Se recomienda una acción de redirección cuidativo formación de los profesionales en particular prenatales enfermeros (as) de las representaciones sociales de las mujeres-madres sobre el cuidado prenatal. Descriptores: atención prenatal, la psicología social, la salud de las mujeres INTRODUÇÃO O pré-natal é um conjunto de ações médicas e de enfermagem direcionadas para a saúde da mulher. Desenvolve-se no período em que esta se encontra grávida, visando assegurar uma melhor condição de saúde, tanto para ela como para o bebê, evitando a morte e o comprometimento de ambos (¹). As referidas ações são um desafio para as políticas de saúde da mulher, devido à relação que existe entre a sua efetividade, a qualidade e os altos índices de mortalidade materna e infantil. Apesar da redução dos indicadores de mortalidade materna no ano de 2011, esses resultados ainda estão longe da meta traçada para 2015, dentro dos Objetivos do Milênio, que é de no máximo 35 mortes maternas por cada 100 mil nascidos vivos (²). O foco do pré-natal deve ser a mulher, considerando que o principal objetivo da assistência pré-natal é acolher a mulher desde o inicio da gestação, devido ser um período de mudanças físicas e emocionais, que cada gestante vivência de forma distinta (¹). Por isso, tendo em vista o contexto de mortalidade maternidade e os fatores que interferem no desenvolvimento da gestação, é importante e imprescindível que toda gestante realize o pré-natal (¹). Ao contextualizar as ações a favor da saúde da mulher no pré-natal, compreendemos que suas bases constituem-se nas dimensões: cultural e histórica: mulher enquanto gênero; 157 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. fisiológica e biológica: a gestação, o parto e o cuidado a mulher; política e social: os programas e as ações da saúde da mulher; educativa e humanística: o acolhimento e a educação em saúde. Dessa forma, revela-se a engrenagem do pré-natal, integrada às políticas públicas de saúde, às gestantes e os profissionais de saúde; que para seu efetivo funcionamento, necessita de harmonia entre os processos e as pessoas. As gestantes por sua vez, possuem saberes que são compartilhados com outras gestantes em decorrência de vivenciarem o fenômeno da gestação e constituírem o mesmo grupo de pertença. Nos momentos de espera pelas consultas, durante as ações educativas, na sala de imunizações, nos momentos de marcação e realização de exames, em reuniões de família, nas conversas com vizinhas e amigas, durante a internação hospitalar, enfim, em vários espaços e momentos as mulheres interagem e dialogam sobre o pré-natal. Esses diálogos se estabelecem por meio da comunicação e das interações cotidianas, e neste contexto são produzidas e reproduzidas representações sociais. Essas representações são exteriorizadas pela linguagem e por atitudes que se disseminam na sociedade influenciando as condutas. Nesta perspectiva, se reconhece as representações sociais, enquanto sistemas de interpretações que regem nossa relação com o mundo e com os outros, orientam e organizam as condutas e as comunicações sociais (3:91) . Ao considerar esses aspectos, identificamos o pré-natal como um fenômeno psicossocial entre mulheresmães. Tendo por base essas premissas iniciais, este estudo objetivou compreender as representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará; identificar os elementos e a estrutura das representações sociais sobre o pré-natal entre mulheres-mães que realizaram o pré-natal no Sistema Único de Saúde (SUS) e analisar as implicações dessas representações sociais para o agir cuidativo-educativo de enfermagem no pré-natal. Sua relevância se revela à medida que explica a forma como o pré-natal é representado pelas mulheres-mães e desvela as implicações dessas representações para o agir cuidativoeducativo em enfermagem; proporciona um repensar das políticas publicas de saúde e corrobora com a produção do conhecimento nessas áreas. 158 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. MÉTODO O estudo descritivo foi desenvolvido com base na Teoria das Representações Sociais, no âmbito da psicologia social, utilizando, a proposta complementar a esta teoria denominada abordagem estrutural ou teoria do núcleo central (4). A teoria das representações sociais é uma teoria que se volta aos estudos dos saberes sociais e construção e transformação desses saberes em relação a diferentes contextos sociais; objetiva descobrir como os indivíduos podem construir um mundo estável, previsível, a partir de tal diversidade (5). A teoria sistematizada por Serge Moscovici pode, eventualmente, ser complementada por proposições mais específicas, como as da Teoria do Núcleo Central (4). Segundo esta teoria, as representações sociais se organizam ao redor de um núcleo central, e este elemento subsidia seu sentido, que é fundamental e inflexível. Ressalta-se ainda a natureza do objeto representado, o tipo de relação que o grupo mantém com o objeto, e o sistema de valores e padrões sociais que constituem o ambiente de vida, em sua dimensão objetiva e subjetiva do indivíduo e do grupo (4). A abordagem estrutural esclarece duas características das representações sociais, que aparentemente se mostram contraditórias: as representações sociais são ao mesmo tempo estáveis, móveis, rígidas e flexíveis e consensuais, mas também marcadas por fortes diferenças inter-individuais (4). Os sujeitos da pesquisa foram 113 mulheres-mães, internadas na Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará ( FSCMPA), selecionadas a partir dos seguintes critérios: a) ser mulher-mãe gestante ou puérpera; b) se gestante, ter realizado o pré-natal de baixo risco, de forma completa e regular no SUS, na gestação atual ou na anterior; c) se puérpera, ter realizado o pré-natal de baixo risco de forma completa e regular no SUS; d) estar internada na FSCMPA; e) ser maior de dezoito anos; f) não possuir patologia que interfira na participação na produção de dados g) aceitar participar da pesquisa, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O local da pesquisa foi a FSCMPA, hospital 159 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. 160 escola de alta complexidade, referência na área materno-infantil do Estado do Pará, que atende especificamente à pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). Empregou-se a Técnica de Evocação Livre de Palavras ( TELP), que consistiu em solicitar as mulheres-mães dizerem cinco palavras que lhes ocorriam a mente ao ouvirem o termo indutor pré-natal. Esta técnica permite colocar em evidência o universo semântico do objeto estudado, assim como a sua dimensão imagética de forma mais rápida e dinâmica (6) . O produto das evocações após a padronização semântica (Software Word) foi organizado em um corpus (Software Excell). O material foi tratado por meio do Software EVOC versão 2003, que calculou a freqüência simples de cada palavra evocada, as ordens médias de evocação de cada palavra e a média das ordens médias de evocação. A partir desses dados obteve-se o quadro de quatro casas, que corresponde a quatro quadrantes. No quadrante superior esquerdo se situam os termos verdadeiramente significativos, constituindo o provável núcleo central da representação. As palavras localizadas no quadrante superior direito compõem a primeira periferia e as do inferior esquerdo, a segunda periferia. No quadrante inferior esquerdo estão os elementos da zona de contraste (6). RESULTADOS A análise do corpus formado pelas evocações revelou que em resposta ao termo indutor “pré-natal”, foram evocadas 607 palavras; a média da ordem de evocações (rang) foi de 3,4; o quadro de quatro casas foi obtido com a freqüência mínima de 6 e a freqüência intermediária de 2 1. ( Quadro 1). O.M.E Freq. Med. Núcleo Central < 3,4 Termo evocado Freq. >21 O.M.E < 3,4 Criança-bebê Cuidado Saúde Exame-mãe Consulta 84 57 44 39 29 3,048 2,912 2,286 3,333 3,034 Importante Prevenção 18 18 3,278 3,111 >= 3,4 Termo evocado Freq. ≥ 21 O.M.E >= 3,4 Mãe-gestante 35 4,171> = 3,4 Gestação-barriga Acompanhamento 17 13 5,294 4,000 1ª periferia 2ª periferia CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Zona de Contraste Freq. < 21 Bom Vacina Médico Amor Amamentação Aprendizagem Precisa-tem-que Responsabilidade 14 12 12 9 7 7 7 6 3,357 3,333 3,250 1,889 2,714 3,143 2,857 3,333 Orientação Alimentação Remédio Atenção 12 12 9 8 3,417 4,091 3,444 3,750 Quadro 1: Quadro de Quatro Casas obtido do Software EVOC 2003 O provável núcleo central integrou os termos: “criança-bebê” (maior freqüência do quadrante, 84 e o segundo maior rang 3,048); seguida de “cuidado” (freqüência 57 e rang 2,912); “saúde” (freqüência 44 e rang 2,886); “exame-mãe” (freqüência 39, rang 3,333, o maior do quadrante) e “consulta” (freqüência 29 e rang 3,034). Na primeira periferia observou-se um único termo: “mãe-gestante” (freqüência 35, rang 4,71), este termo tem conexão e fortalece a idéia do núcleo central. Os elementos da segunda periferia são: “gestação-barriga” (freqüência 17, e o maior rang do quadrante 5, 294); “acompanhamento” (freqüência 13, rang 4,0); “orientação” ( freqüência 12, rang 3,417); “alimentação” (freqüência 11, rang 4,091); “atenção” (freqüência 8, rang 3,750); “remédio” ( freqüência 9, rang 3,444). A zona de contraste é constituída pelos termos: “ importante” (freqüência 18, rang 3,278); “prevenção” ( freqüência 18, rang 3,11); “bom” (freqüência 14, rang 3,357); “vacina” (freqüência 12, rang: 3,333); “médico” (freqüência 12, rang 3,250); “amor” (freqüência 9, rang: 1,889); “aprendizagem” (freqüência 7, rang: 2,857); (freqüência 7, rang: 3,143); “precisa tem que” “amamentação” ( freqüência 7, rang: 2,714); “responsabilidade” (freqüência 6, rang: 3,333). DISCUSSÃO De acordo com a Teoria do Núcleo Central, as palavras agrupadas no quadrante superior esquerdo são aquelas que tiveram as maiores freqüências e foram mais prontamente evocadas, formando o núcleo central da representação social. Esses elementos caracterizam a parte mais consensual e estável da representação, assim como a menos sensível a mudanças em função do contexto externo ou das práticas cotidianas dos sujeitos (4). Com base na distinção entre propriedades quantitativas (valor simbólico e poder associativo) e propriedades qualitativas (saliência e conexidade), compreende-se que os 161 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. elementos do núcleo central simbolizam o objeto representativo e se caracterizam pela polissemia e capacidade de associar-se a outros termos (4). O valor simbólico presente nas representações sociais sobre o pré-natal entre as mulheresmães, estabeleceu prioritariamente relações com o termo “criança-bebê”, o qual apresentou a maior saliência (84) com o maior número de evocações. O poder associativo encontra-se presente, considerando que há conexidade entre todos os termos evocados com o termo “criança-bebê”, seguido das expressões, “saúde”, “consulta” e “exame-mãe” demonstrando que esses elementos são inerentes e constitutivos do prénatal. Há um sentido positivo e pendular, pois emerge tanto a criança-bebê como a mãe. O núcleo central possui duas funções essenciais: a função-geradora, que constitui e dá sentido a representação do objeto, por ser elemento criador e transformador da significação dos outros elementos da representação; a função-organizadora que unifica e estabiliza a representação, em decorrência de determinar a idéia principal que une os elementos (7). O termo “criança-bebê” exerce a função-geradora, tendo em vista que cria e pode transformar a significação dos outros elementos da representação. Cabe destacar que o valor do núcleo central determina a significação dos outros elementos e deve ser significativamente mais elevado que os itens periféricos (7). Os termos: “cuidado”, “saúde”, “exame-mãe” e “consulta”, exercem a função organizadora, por organizarem os conteúdos da representação, determinando a natureza e os laços que unem esses elementos ao termo “criança-bebê”. Por isso é possível inferir, que para as mulheres mães, o pré-natal tem como foco principal a criança-bebê, considerando o cuidado como forma de promoção à saúde por meio das consultas e da realização de exames na mãe. A natureza do objeto e a finalidade da situação do núcleo central poderão ter duas dimensões: a dimensão funcional, em que seus elementos estarão voltados para a realização de tarefas; e a dimensão normativa, comporta as normas e regras que regem o contexto social, implicando em questões sócio-afetivas e ideológicas, as quais imprimem valor ao objeto, que privilegiam na representação, os elementos percebidos como inerentes para a eficácia da ação (4) . A dimensão normativa é suscetível de privilegiar os 162 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. julgamentos, estereótipos e opiniões admitidas pelo sujeito ou grupo no qual ele se insere (7) . Neste estudo a centralidade foi mais funcional que normativa, pois os termos em sua maioria apontam para o que é mais importante fazer no pré-natal, ou seja, elementos que refletem as funções do pré-natal; isso pode estar associado a relação que os sujeitos tiveram com o objeto de estudo.Apesar dessa centralidade global ser funcional, os termos “criança-bebê”, “cuidado”, e “saúde”, tanto podem indicar uma dimensão funcional (enquanto ato), como uma dimensão normativa ( enquanto princípio). O núcleo central é determinado pelo sistema de valores e normas sociais do sujeito-grupo (7) . Neste aspecto, o termo “criança-bebê” foi o mais evocado, esse resultado remete aos primórdios das políticas públicas de saúde da mulher, em que o foco principal era o nascimento de crianças saudáveis e não a mulher. Essas premissas nos remetem ao movimentos de transformação do paradigma dominante, centrado no bebê, em outro emergente, com foco na mulher. Observam-se no decorrer da história vários movimentos em prol de um novo paradigma para a saúde da mulher, porém no que tange o imaginário de algumas mulheres, podemos inferir que o bebê, ainda é o foco prioritário do pré-natal, tendo em vista a prevenção de doenças e o nascimento saudável. Nesse sentido, com base nas representações sociais revela-se a necessidade de ampliar a visão da mulher acerca do pré-natal para além da dimensão do filho (a) para incluir a dimensão mulher-mãe; desvela-se nesse momento a primeira implicação deste estudo para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. A evidência desses resultados corrobora com os achados de um estudo que objetivou compreender a razão pela qual as mulheres aderiram ao pré-natal, o qual revelou a preocupação com o nascimento de uma criança saudável, fator que remete ao paradigma dominante e perpassa pela significação dos elementos centrais aqui encontrados (8). O elemento “cuidado” teve a segunda posição no núcleo central. Vimos com este termo a possibilidade de pensar um paradigma emergente, com um caráter mais integrador, holístico e conseqüentemente mais humano, o qual corrobora com movimentos em prol da humanização do pré-natal, parto, nascimento e puerpério vigentes a mais de uma década nas políticas de saúde da mulher. 163 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Dentre os dez princípios fundamentais da atenção peri-natal, assinalados pela Organização Mundial de Saúde, um deles indica que o cuidado na gestação e no parto normal deve ser integral e levar em conta as necessidades intelectuais, emocionais, sociais e culturais das mulheres, seus filhos e famílias, e não somente ser um cuidado biológico. Esse cuidado deve estar centrado nas famílias e ser dirigido para as necessidades não só da mulher e seu filho, mas do casal; ser apropriado, tendo em conta as diferentes pautas culturais para permitir lograr seus objetivos (1) . Concebe-se dessa forma que o cuidado seja elemento constituinte do processo de humanização da assistência em saúde. Na perspectiva do Ministério da Saúde, a humanização diz respeito à adoção de valores de autonomia e protagonismo dos sujeitos, de co-responsabilidade entre eles, de solidariedade dos vínculos estabelecidos, de direitos dos usuários e de participação coletiva no processo de gestão (1). A humanização centra-se no cuidado individual, valoriza os aspectos femininos e masculinos de forma igualitária, e favorece a liberdade de expressão e a participação da cliente. Por isso, não é um principio simples, mas requer mudanças de atitude na abordagem com a cliente. O foco do cuidado passa ser o ser humano, mais especificamente a mulher (9) . A humanização do nascimento origina-se na concepção, no entanto é construída no pré-natal, durante as consultas. Dessa forma, a atenção pré-natal implica um acompanhamento minucioso do ciclo gestacional, com envolvimento, compromisso, empatia e respeito à clientela, e não se restringe apenas aos aspectos biológicos (9). Concebe-se que há necessidade de se estabelecer novas bases para o processo de cuidar em saúde, a partir da compreensão das necessidades representadas, negociadas entre os sujeitos individuais e coletivos e os profissionais nas instituições de saúde (6) . Nesse sentido a teoria das representações sociais, vem de encontro a essas necessidades, por ser uma teoria sobre os saberes sociais, que se dirige à construção e transformação desses saberes em relação a diferentes contextos e sujeitos (5). Um terceiro elemento do provável núcleo central é o termo “saúde”. As concepções de saúde e doença são reveladoras e determinantes de necessidade constituídas nos grupos sociais (6) . A concepção de doença, incorporada por parcelas da sociedade, é aquela 164 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. localizada no corpo, associada à disfunção, com forte viés biomédico. A saúde, aqui revelada, pode equivaler à ausência de ruídos corporais, ao silêncio biológico, à plenitude e bom funcionamento de todos os órgãos. “A perspectiva biomédica reduz a saúde e a doença ao contorno biológico individual, separando o sujeito do seu entorno social e contexto integral de vida” (6: 113). Para as mulheres-mães a saúde deste estudo pode revelar-se enquanto bem estar físico, emocional, social, cultural e espiritual e não somente como a ausência da doença. Neste aspecto, a promoção desta determina o exercício da cidadania em um processo educativo permanente de construção e valorização de saberes. O termo “exame-mãe”, organizado em torno do provável núcleo central, mostra a consideração da importância dos exames na mãe para o controle e detecção precoce de doenças no pré-natal. Podemos inferir pela análise do termo que para as mulheres-mães o pré-natal relaciona-se com a realização de exames. O termo “consulta” também organizado em torno do provável do núcleo central, remete às normas do Ministério da Saúde, indicam que as consultas de pré-natal poderão ser realizadas na unidade de saúde ou durante visitas domiciliares (1) . O calendário de atendimento pré-natal deve ser programado em função dos períodos gestacionais que determinam maior risco materno e peri-natal.” (1:11) . Este termo mostra a importância das consultas no pré-natal, devido a realização de exames como forma de controle e detecção precoce de doenças. O poder associativo entre os termos do núcleo central: “criança-bebê”, “cuidado”, “saúde”, “exame- mãe” e “consulta” por agruparem tanto elementos funcionais, quanto normativos, constituem uma primeira categoria, que denominamos bio-cuidativa. O termo “mãe-gestante” foi o único termo que constituiu a primeira periferia. Os elementos periféricos são mais importantes pela sua freqüência elevada, porém são evocados mais tardiamente. Esses elementos desvelam a conexidade com o valor simbólico das representações sociais e com o objeto representado. Esse componente, busca fortalecer a ligação entre o pré-natal, a mulher e a gestação. Visto que todos os elementos do núcleo central estão relacionados ao elemento da primeira periferia “mãe-gestante”. Este termo complementa a categoria bio-cuidativa. 165 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Na segunda periferia os conteúdos evocados revelaram o poder associativo das representações das mulheres-mães com a realidade vivenciada. Dessa forma, o termo “gestação-barriga” remete ao anseio das mulheres-mães por uma boa gestação, e a relação desta com o cuidado e a saúde, o que reforça a idéia do núcleo central e da primeira periferia. O termo “acompanhamento” sintetizou a expressão “acompanhamento-médico”, possibilitando inferir que para os sujeitos, o acompanhamento no pré-natal, tem como foco o profissional médico, desconsiderando por sua vez a atuação de outros profissionais. Esse elemento da representação social demonstra a necessidade da propagação entre as mulheres-mães do dispositivo consulta de enfermagem como espaço de acompanhamento e cuidado no pré-natal; desvela-se assim a segunda implicação do estudo das representações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. O termo “orientação” é um dos elementos que compõe a educação em saúde, e revela uma perspectiva educativa no pré-natal. “A educação é fundamentada em princípios filosóficos e estruturada de acordo com os momentos históricos vivenciados pela sociedade, podendo gerar profundas mudanças no processo de ser e de viver dos indivíduos. É, portanto uma dimensão do processo de cuidar” (9:10) , além de ser um processo ético, estético, criativo, que possibilita ao ser humano, no âmbito individual e coletivo, o desenvolvimento de suas potencialidades, podendo adquirir autonomia e decidir sobre seus objetivos e ações, tornando-se sujeito das situações vivenciadas (9). A partir dessas considerações afirmamos que a educação é um dos componentes no cuidado com a gestante, parturiente, puérpera e família, seja no ambulatório, hospital ou domicílio. É a oportunidade para a promoção da saúde e prevenção de doenças. É o suporte para a compreensão do processo de gestação e dos riscos, podendo ser um instrumento de capacitação e de socialização de conhecimentos (9). A educação em saúde no pré-natal é guiada pelo Ministério da Saúde, que estabelece os assuntos que devem ser abordados pelos profissionais durante o pré-natal, determinando em contrapartida o poder do conhecimento científico. Acredita-se que os assuntos previamente estabelecidos, não atendem as especificidades regionais, culturais e individuais das mulheres-mães no pré-natal, considerando que essas mulheres possuem 166 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. crenças e saberes locais que guiam as suas condutas e práticas, os quais precisam ser incorporados. As representações sociais oferecem padrões de conhecimentos reconhecimento, orientações e condutas que transformam ambientes sociais em lares, estas são solidificadas em práticas culturais e em instituições, e fornecem os recursos para a construção das identidades sociais e para a reprodução e renovação de sociedades (10). O desconhecimento das crenças e saberes das mulheres-mães por parte dos profissionais no pré-natal pode resultar na falta de efetividade da educação em saúde e ser uma das causas da não adesão de mulheres-mães à adequação de alguns hábitos e costumes, que se não transformados podem ser nocivos saúde. Quando situações como essas acontecem, pode-se concluir que a interação e a negociação entre os conhecimentos, não ocorreu, logo o processo ensino- aprendizagem não se concretizou, visto que a transformação de uma conduta ou prática depende do re-pensar e do agir dessas mulheres-mães, considerando as suas representações. Nessa perspectiva, a educação em saúde deve ser fundamentada nas representações sociais como uma pedagogia que se organiza em torno da idéia de que a aprendizagem se dá através da interação entre a representação social e o conhecimento científico (10). A educação e a saúde constituem campos de conhecimento e de práticas independentes, ainda que profundamente interligados. Muitas vezes a educação em saúde é entendida como transmissão de conhecimento acerca de conteúdos pré-definidos pelos profissionais de saúde, modelo que, por vezes não atende satisfatoriamente as necessidades do público. Isso ocorre porque para educar alguém, é preciso ir em direção ao educando, oferecendo conteúdos e práticas que estejam em consonância com suas atividades. Quando há um trabalho educativo a ser feito que avança para o campo da informação, deve-se integrar a consideração de valores, costumes, modelos e símbolos sociais que levam a formas específicas de condutas e práticas (11:20). Considera-se que o pré-natal deve ser um espaço de promoção e prevenção da saúde que pode ser potencializado por meio da educação em saúde, enquanto elemento do cuidado. Neste sentido, informações sobre as diferentes vivências devem ser compartilhadas entre as 167 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. mulheres e os profissionais de saúde, essa possibilidade de intercâmbio de experiências e conhecimentos é considerada a melhor forma de promover a compreensão do processo de gestação (1). Concebe-se a educação em saúde no pré-natal essencial para que a mulher desenvolva-se com autonomia e obtenha empoderamento; conheça seus direitos de cidadania; compreenda as influências de gênero no processo de gestar e parir; identifique a gestação como fenômeno fisiológico, sujeito a riscos e intercorrências; compreenda a importância de realizar o pré-natal e identifique-o enquanto espaço de aprendizagem que oportuniza a mudança de práticas e condutas, resultando na adequação de novos hábitos e cuidados durante o ciclo gravídico e puerperal. Compreende-se que o termo “orientação”, de forma isolada, não contempla os objetivos da educação em saúde propostos para o pré-natal. Fato que possibilita a inferência de que nas representações sociais das mulheres-mães deste estudo, há uma consideração restrita da educação em saúde no pré-natal sugerindo a ampliação dessa visão; revela-se aqui a terceira implicação das representações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. “Uma educação em saúde ampliada inclui políticas públicas, ambientes apropriados e reorientação dos serviços de saúde para além dos tratamentos clínicos e curativos, assim como propostas pedagógicas libertadoras, comprometidas com o desenvolvimento da solidariedade e da cidadania, orientando-se para ações cuja essência está na melhoria da qualidade de vida e na promoção do homem” (11:19) . O termo “alimentação” remete aos preceitos do Ministério da Saúde, ao descrever que durante o pré-natal são previstos a avaliação e monitoramento do estado nutricional da gestante, além da prevenção e o tratamento dos distúrbios nutricionais. A alimentação adequada e balanceada na gestação é requisito essencial para a saúde da mãe e desenvolvimento fetal adequado de acordo com a idade gestacional (1). É desta forma que o conhecimento reificado contribui para a gênese das Representações Sociais. O termo “remédio” também corrobora com os preceitos do Ministério da Saúde, quando destaca que o pré-natal, objetiva o tratamento das intercorrências da gestação, com oferta das medicações padronizadas para as diversas patologias previstas durante a gestação (1). O termo “atenção” é destacado pelo Ministério da Saúde, quando ressalta que uma atenção 168 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. pré-natal e puerperal de qualidade e humanizada é fundamental para a saúde materna e neonatal. A atenção à mulher na gravidez e no pós-parto deve incluir ações de prevenção e promoção da saúde, além de diagnóstico e tratamento adequado dos problemas que ocorrem neste período (1). Dentre os princípios e diretrizes do pré-natal, o Ministério da Saúde, determina a garantia de recursos humanos, físicos, materiais e técnicos necessários à atenção pré-natal, assistência ao parto, ao recém-nascido e atenção puerperal, com o estabelecimento de critérios mínimos para o funcionamento das maternidades e unidades de saúde (1). Acreditase que a atenção considerada pelas mulheres-mães, direciona-se ao diálogo estabelecido na relação interpessoal entre mulheres e profissionais, pois este termo sintetizou a expressão “atenção profissional”, possibilitando inferir que essa atenção deve ser pautada na empatia, ética, credibilidade e abertura as necessidades das mulheres. Neste aspecto, a comunicação entre diferentes saberes não é apenas possível, é necessária ao desenvolvimento humano. Os encontros entre sistemas de saber dependem da maneira como diferentes conhecimentos se comunicam e até que ponto a constituição de um espaço intersubjetivo de comunicação permite o reconhecimento ou negação do conhecimento do outro. O reconhecimento ou negação do outro define os encontros como dialógicos ou não dialógicos (12). O diálogo franco e a capacidade de percepção daquele que acompanha o pré-natal, são condições básicas para que o saber em saúde seja colocado à disposição da mulher e da família, atores principais da gestação e do parto. Escutar sem julgamentos e sem preconceitos, permitindo à mulher falar de sua intimidade com segurança, fortalece a gestante no seu caminho até o parto e a ajuda na construção do conhecimento sobre o processo de nascimento e sobre si mesma, levando a um nascimento tranqüilo e saudável (1) . Sobre os termos evocados na segunda periferia, vimos que ressaltam a importância do processo gestacional e da orientação. Ressalta-se o acompanhamento à mulher e o incentivo à alimentação adequada, como ações fundamentais para a saúde da mãe e concepto, além do fornecimento de remédios nas intercorrências e necessidades, fatores 169 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. que refletem a atenção vivenciada no pré-natal. Nesse sentido, reforçou-se a categoria biocuidativa e desvelou-se uma segunda categoria, a inter-relacional. No quadrante inferior esquerdo, apesar das baixas freqüências, os elementos são importantes pela ordem de importância atribuída pelos sujeitos. Observam-se elementos que reforçam a primeira periferia e elementos que representam a heterogeneidade das representações no grupo. O termo “prevenção” indica tanto uma associação com a categoria bio-cuidativa (núcleo-central e primeira periferia), como com a categoria interrelacional (segunda periferia), e amplia a necessidade das ações de prevenção estipuladas pelas políticas de atenção à saúde da mulher. Os termos da zona de contraste defendem o núcleo central, o que reforça o sentido de fazer o pré-natal, remetendo ao cotidiano das mulheres-mães, por isso o destaque à necessidade de melhoria do serviço. Os termos apresentam conexidade entre si e possuem sentido valorativo, possibilitando inferir que para as mulheres-mães “precisa- tem- que” se fazer o pré-natal, devido a sua importância, pois além de ser um ato de amor é ação de responsabilidade; revela-se uma terceira categoria, a emocional-valorativa. Nesta perspectiva, a representação social além de ser uma estrutura que permite a construção do conhecimento sobre o objeto- mundo, seu desenvolvimento também está enredado na dinâmica afetiva e social das relações Eu e Outro (12). O termo “médico” indica a associação com todas as categorias e caracteriza representações negativas da ação desse profissional, bem como do dimensionamento nos serviços, visto que este termo sintetizou expressões como: “mais médicos para atender” e “descaso do médico”. A expressão “vacina” destaca a ação enquanto procedimento e reforça a categoria bio-cuidativo do pré-natal. O termo amamentação retrata uma preocupação da mulher com o ato de amamentar. Nesse sentido, o Ministério da Saúde afirma que o contexto de cada gestação é determinante no processo de amamentação e nos cuidados com a criança e com a mulher. Um contexto favorável fortalece os vínculos familiares, condição básica para o desenvolvimento saudável do ser humano. Podemos inferir que as mulheres-mães compreendem a importância do pré-natal para o preparo à amamentação. Esses elementos remetem e reforçam a categoria bio-cuidativa do pré-natal. 170 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. A formação das representações sociais acontece mediante dois processos sócio-cognitivos: ancoragem e objetivação. O primeiro integra cognitivamente o objeto representado ao sistema de pensamento social já existente e comum para o sujeito, transformando o não familiar em familiar, enquanto o segundo torna real e dá forma ao conhecimento que se tem acerca do objeto representado (5). Ao se propor um articulação entre a objetivação e o núcleo central, e a ancoragem e o sistema periférico, concebe-se que o núcleo central deriva do processo de objetivação e a ancoragem origina o sistema periférico (13) . A objetivação pode ser definida como a transformação de uma idéia, de um conceito, ou de uma opinião em algo concreto, cristaliza-se a partir de um processo figurativo e social e passa a constituir o núcleo central. A ancoragem desempenha um papel importante nos estudos das representações sociais e do desenvolvimento da consciência, uma vez que se constitui na parte operacional do núcleo central e em sua concretização ( 13). A partir dessa proposta identificamos que as representações sociais sobre pré-natal entre as mulheres-mães deste estudo, são objetivadas na categoria bio-cuidativa, revelando uma significação pendular relacionada ao paradigma dominante ao paradigma emergente; o núcleo central é formado pelo sistema de valores e normas sociais que constituem o conjunto de idéias próprias do grupo, que gera a significação da representação, materializando o objeto da representação. A ancoragem que ocorre nas zonas periféricas, sustenta-se nas categorias bio-cuidativa, inter-relacional e emocional-valorativa, revelando uma experiência concreta, plural e multidimensional com o pré-natal. CONSIDERAÇÕES FINAIS As evidências deste estudo demonstram que o senso comum das mulheres-mães corrobora com o conhecimento científico ou reificado acerca do pré-natal. Constatou-se uma significação guiada pelo paradigma dominante por um outro emergente; as mulheres-mães revelaram representações sociais sobre o pré-natal centradas na criança e na dimensão biomédica, ao mesmo tempo que apontam a mãe, como foco para saúde do binômio mãe e filho. Apesar da predominância da dimensão biomédica sustentada pelos termos da categoria bio-cuidativa no provável núcleo central, e reforçada nas periferias, evidenciou-se 171 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. elementos da dimensão psicossocial do pré-natal presentes nas zonas periféricas e reveladas nas categorias inter-relacional e emocional-valorativa. Essas evidências nos levam a refletir de forma crítica sobre a denominação da estratégia do Governo Federal- Rede Cegonha, cuja denominação reforça através da mídia, o imaginário das mulheres-mães para o foco do pré-natal ser a criança, fazendo um movimento contrário às tendências e necessidades contemporâneas da saúde da mulher. No que tange a dimensão histórica e cultural do pré-natal, influenciada pelas questões de gênero, nota-se que ao mesmo tempo em que o pré-natal constitui direito à cidadania, revela-se imbricado ideologias políticas e capitalistas do serviço. Pode-se inferir que há um desconhecimento pelas mulheres-mães sobre o pré-natal enquanto espaço de cidadania e empoderamento, devido não haver um único termo evocado relacionado a essas questões, fato que possibilita recomendar a divulgação do pré-natal enquanto ação de direito e exercício de cidadania da mulher. As mulheres-mães, sujeitos do pré-natal, interagem no contexto social, influenciando pessoas por meio de suas representações; a mídia é responsável pela produção e reprodução de representações sociais nos meios em que circula. Desta forma, podemos inferir que os termos organizados no provável núcleo central das representações das mulheres deste estudo, que remetem a dimensão bio-cuidativa do pré-natal, podem não compor as representações sociais de outras mulheres, que ao representarem a gestação enquanto um fenômeno exclusivamente natural, se sentem saudáveis, por isso não realizam o pré-natal. Esta hipótese remete a não adesão de algumas mulheres ao pré-natal, situação grave que contribui para elevados índices de mortalidade materna e perinatal. Neste sentido, recomenda-se ampla divulgação na mídia das dimensões, importância e objetivos do pré-natal. Tendo em vista as implicações das representações sociais das mulheres deste estudo para o agir cuidativo- educativo em enfermagem, enquanto primeira implicação, há que se ampliar a noção do pré-natal para além do foco no filho para incluir a mãe como foco. A segunda implicação é a necessidade da propagação entre mulheres-mães do dispositivo “consulta de enfermagem” enquanto espaço para o agir cuidativo-educativo em enfermagem no pré-natal. A terceira implicação é a necessidade de ampliar a educação em 172 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. saúde enquanto processo de construção, integração e valorização de todas as formas de saberes. Cabe as enfermeiras (os) aperfeiçoar a educação em saúde a partir das necessidades e representações dessas mulheres-mães. Nesta perspectiva, dar voz às mulheres-mães é a alternativa para o re-pensar das condutas e práticas. Acredita-se que o profissional pode empoderar a mulher para que participe de forma ativa e seja protagonista do seu ciclogravídico puerperal, pode também corroborar com a qualidade do pré-natal e contribuir para a diminuição da mortalidade materna e infantil por causas preveníveis. Recomenda-se: reorientação dos serviços da atenção à saúde para além do foco nos tratamentos clínicos; educação permanente para os profissionais do pré-natal; inserção das enfermeiras (os) obstetras no pré-natal; utilização da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) no pré-natal; dimensionamento adequado dos profissionais de enfermagem e das ações que estes realizam com vistas à qualidade da assistência; implantação da educação em saúde no pré-natal com a proposta metodológica da educação pelos pares, uma estratégia que valoriza as experiências vividas por cada indivíduo por meio de uma prática participativa e construtiva. Enfim, para as instituições formadoras recomenda-se formar profissionais com visão para além da biomédica, considerando a produção do conhecimento sobre o pré-natal, sugeremse produções científicas sobre representações sociais na perspectiva dos profissionais que atuam no pré-natal ou de forma pareada entre mulheres e profissionais. REFERENCIAS 1- Ministério da Saúde (BR). Pré-natal e puerpério: atenção qualificada e humanizada. Secretaria de Atenção à Saúde. Brasília (DF); 2005. 2- Ministério da Saúde (BR). Guia de Vigilância Epidemiológica do Óbito Materno. Secretaria de Assistência à Saúde. Brasília (DF); 2009. 3- Jodelet D. Representações Sociais: um domínio em expansão. In: Jodelet D, organizadora. As representações sociais. Rio de Janeiro(RJ): EDUERJ; 2001. 4- Sá CP. Núcleo Central das Representações Sociais. Rio de Janeiro (RJ): Vozes; 1996. 173 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. 5- Moscovici, S. Representações Sociais: investigação em psicologia social. 7ª ed. Petrópolis (RJ): Vozes; 2010. 6- Oliveira DC, Campos PHF, organizadoras. Representações sociais: uma teoria sem fronteiras. Rio de Janeiro (RJ): Museu da República; 2005. 7- Abric JC. Prácticas Sociales y representaciones. México: Ediciones Coyoacán, S. A. de C. V; 1994. 8- Duarte SJH, Andrade SMO. O significado do pré-natal para mulheres grávidas: uma experiência no município de campo grande, Brasil. Revista Saúde e Sociedade. São Paulo. 2008; 17 (2): 01-10. 9- Oliveira ME, Zampieri MFM, Bruggemann OMA. Melodia da humanização: reflexões sobre o cuidado no processo do nascimento. Florianópolis(SC): Cidade Futura; 2001. 10- Gazzinelli MF, Penna C. Educação em Saúde: conhecimentos, representações sociais e experiência da doença. In: Gazzinelli MF, Reis DC, Marque RC (Orgs). Educação em saúde: teoria, método e imaginação. Belo Horizonte (MG): UFMG; 2006. 11- Soares CLP, Ferreira DS, Iwabuchi LL. Educação em Saúde: conexões possíveis. IN:Teixeira E. et al. Cartografia dos Saberes: o cuidar, a saúde e a doença em práticas educativas populares em comunidades hospitalares de Belém. Belém(PA): Smith; 2010. 12- Jovchelovitch S. Os contextos do saber: representações, comunidade e cultura. Petropolis: Vozes, 2008. 13- Franco MLPB. Representações Sociais, ideologia e desenvolvimento da consciência. Cadernos de pesquisa. 2004; 34 (121): 169-186. 174 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. CAPÍTULO 8 PONTOS DE CHEGADA 175 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. 8. Pontos de Chegada Continuamos em busca das representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães e quanto ao primeiro objetivo concluímos que as representações sociais têm um sentido positivo e revelam uma transição paradigmática. Constatamos que o senso comum das mulheres-mães vai ao encontro do conhecimento científico ou reifcado acerca do pré-natal, pois a significação guiada pelo paradigma dominante é marcada também pelo emergente; as mulheres-mães revelaram representações sociais sobre pré-natal centradas na criança ao mesmo tempo em que aponta a mãe como um foco para a saúde do binômio mãe- filho. Ao descrever os elementos e a estrutura das representações sociais sobre pré-natal, concluímos haver uma predominância da dimensão biomédica sustentada pelos termos da categoria bio-cuidativa marcante no provável núcleo central, a presença de elementos da dimensão psicossocial do pré-natal no sistema periférico; reveladas nas categorias inter-relacional e emocionalvalorativa. Estas evidências nos levam refletir de forma crítica sobre as bases do programa do Governo Federal- Rede cegonha, cuja denominação reforça através da mídia, o imaginário das mulheres-mães para o foco do pré-natal ser a criança, fazendo um movimento contrário às tendências e necessidades contemporâneas da saúde da mulher. No que tange a dimensão histórica e cultural do pré-natal, influenciada pelas questões de gênero, nota-se que ao mesmo tempo em que o pré-natal constitui direito à cidadania, revela-se imbricado em ideologias políticas e capitalistas do serviço. Pode-se inferir que há um desconhecimento das mulheresmães sobre o pré-natal enquanto espaço de cidadania e empoderamento, devido não haver um único termo evocado relacionado a essas questões, o que possibilita recomendar a divulgação do pré-natal enquanto ação de direito e exercício de cidadania da mulher. As mulheres-mães, sujeitos do pré-natal, interagem no contexto social, influenciando pessoas por meio de suas representações; a mídia é responsável 176 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. pela produção e reprodução de representações sociais nos meios em que circula. Desta forma, podemos inferir que os termos organizados no provável núcleo central das representações das mulheres deste estudo, que remetem a dimensão bio-cuidativa do pré-natal, podem não compor as representações sociais de outras mulheres, que ao representarem a gestação enquanto um fenômeno exclusivamente natural, se sentem saudáveis, e por isso não realizam o pré-natal. Esta hipótese remete a não adesão de algumas mulheres ao pré-natal, situação grave que contribui para os elevados índices de mortalidade materna e perinatal. Neste sentido, recomenda-se ampla divulgação na mídia das dimensões, importância e objetivos do pré-natal. Ao analisar as implicações dessas representações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem, identificamos três principais. A primeira implicação é a necessidade de se ampliar a noção do pré-natal para além do foco no filho para incluir a mãe como foco. A segunda implicação é a propagação entre as mulheres-mães do dispositivo “consulta de enfermagem” enquanto espaço para o agir cuidativo-educativo em enfermagem no pré-natal. A terceira implicação é a necessidade de ampliar a educação em saúde enquanto processo de construção, integração e valorização de todas as formas de saberes. Ao longo desse percurso de buscas e descobertas, pudemos fazer mais algumas evidências significativas. Na revisão integrativa destaca-se a importância do pré-natal como processo de prevenção da doença e promoção à saúde da mulher, devido a relação da qualidade do pré-natal com a mortalidade materna e neonatal. Ressaltamos, que o pré-natal, é um momento impar para educação em saúde, visando desenvolver o conhecimento e autonomia da mulher para o cuidado de si e do bebê durante o ciclo gravídico puerperal, conforme as necessidades evidenciadas. Em contrapartida demonstra-se a necessidade de educação permanente do profissional, visto que este é um veículo para o conhecimento, empoderamento e autonomia da mulher. Cabe as enfermeiras (os) aperfeiçoar a educação em saúde à partir das necessidades e representações das mulheres-mães, nessa perspectiva, dar voz às mulheres-mães é uma alternativa para se re-pensar condutas e práticas. Acredita-se que o profissional pode empoderar a mulher para esta participe de 177 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. forma ativa e seja protagonista do seu ciclo-gravídico puerperal e pode também corroborar com a qualidade do pré-natal; contribuindo para a diminuição da mortalidade materna e infantil por causas preveníveis. Recomenda-se assim: reorientação dos serviços de atenção à saúde da mulher para além do foco nos tratamentos clínicos; educação permanente para os profissionais do pré-natal; inserção das enfermeiras (os) obstetras no pré-natal; utilização da Sistematização da Assistência de Enfermagem ( SAE) no pré-natal; dimensionamento adequado dos profissionais de enfermagem e das ações que estes realizam, com vistas à qualidade da assistência; implantação da educação em saúde no pré-natal com a proposta metodológica da educação pelos pares, uma estratégia que valoriza as experiências vividas pelos indivíduos por meio de uma prática participativa e construtiva. Enfim, para as instituições formadoras recomenda-se formar profissionais com uma visão para além da biomédica considerando a produção de conhecimento sobre pré-natal. Sugerem-se também produções científicas com base nas representações sociais na perspectiva dos profissionais que atuam no pré-natal ou de forma pareada entre mulheres e profissionais. Concebemos que as representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães oferecem padrões de conhecimentos, reconhecimentos, orientações e condutas que podem transformam ambientes sociais em lares. Estas representações sociais quando solidificadas em práticas culturais e em instituições fornecem os recursos para a construção das identidades sociais e para a reprodução e renovação da sociedade. 178 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. REFERÊNCIAS ABRIC, Jean-Claude. Prácticas Sociales Ediciones Coyoacán, S. A. de C. V, 1994. y representaciones. México: ______________. O estudo experimental das representações sociais. In: JODELET, D. As Representações Sociais. Rio de Janeiro: Eduerj, 2001. ANDRADE, S. S. S; MAGNO, A. D. G. Rotura Prematura de membranas ovulares: repercussões maternas e perinatais do parto prematuro. 2009. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Enfermagem) – Faculdade de Enfermagem, Instituto de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Pará, Pará. ASPLAN. Assessoria de Planejamento da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará. 2011. BASTON, H.; HALL, J.; DALY, D. Série Emfermagem Obstétrica Essencial uma Abordagem Humanizada. vol. 2 . Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. BRASIL. Ministério da Saúde. Programa de Saúde Integral à Saúde da Mulher: princípios e diretrizes. Secretaria de Atenção à Saúde. Brasília, 2004. ______________. Assistência Pré-Natal: normas e manuais técnicos. 3 ed. Secretaria de Políticas de Saúde. Brasília, 2000. ______________. Atenção a saúde do recém-nascido: guia para os profissionais de saúde. vol. 1. Secretária de Atenção a Saúde. Brasília, 2011. ______________. Guia de Vigilância Epidemiológica do Óbito Materno. Secretária de Vigilância em Saúde. Brasília, 2009. ______________. Humanizasus: Política Nacional de Humanização dos SUS. Secretaria de Assistência à Saúde. Brasília, 2006. ______________. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher. Secretaria de Políticas de Saúde. Brasília, 2001. ______________. Política Nacional de Promoção da Saúde. Documento para Discussão. Brasília, 2002. ______________. Políticas de Saúde da Mulher: Princípios e Diretrizes. Secretaria de Atenção à Mulher. Brasília, 1997. ______________. Pré-natal e puerpério: atenção qualificada e humanizada. Secretaria de Atenção à Saúde. Brasília, 2005. 179 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. ______________. Saúde da Família: uma estratégia para a reorientação do modelo assistencial. Secretaria de Assistência à Saúde. Brasília, 2004. BRASIL. Medida Provisória nº 557, de 26 de dezembro de 2011. Sistema Nacional de Cadastro, Vigilância e Acompanhamento da Gestante e Puérpera para Prevenção da Mortalidade Materna. Brasília, 2011. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria MS/GM 2.816, de 29 de maio de 1998. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria MS/GM 2.817, de 28 de maio de 1998. BRASIL. Resolução 196/96. Pesquisa envolvendo seres humanos. Conselho Nacional de Saúde. Brasília, 1996. BUCHABQUI, J. et al. Assistência pré-natal. In: FREITAS, F et al. Rotinas em obstetrícia. 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. CABRAL, I. E.; FIGUEIREDO, J. E. F.; AZEVEDO, M. F. Enfermagem no cuidado materno e neonatal. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. CAPRA, F. O. Ponto de Nutrição. São Paulo: Cultrix, 1982. CARDOSO, A. M. R.; SANTOS, S. M.; MENDES, V. B. O pré-natal e a atenção à saúde da mulher na gestação: um processo educativo? Rev. Diálogos Possíveis. Brasília, p. 141-159, jan./jun. 2007. COSTA, A. A. A. Gênero, poder e empoderamento das mulheres. A química das mulheres, Salvador, p. 20 - 21, 08 mar. 2004. COSTA, M. H. S. et al. Doença hipertensiva na gravidez. In: FREITAS, F. et al. Rotinas em obstetrícia. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. COUTINHO, M. P.; NÓBREGA, S. M.; CANTÃO, M. F. F. M. Contribuições teórico – metodológicos acerca do uso dos instrumentos projetivos no campo das representações sociais. João Pessoa: Universitária, 2003. DELFINO, M. R. R et al. O processo de cuidar participante com um grupo de gestantes: repercussões na saúde integral individual-coletiva. Ciência e Saúde Coletiva. Rio de Janeiro. v. 9, n. 4, p. 1057-66, out./dez. 2004. DUARTE, S. J. H.; ANDRADE, S. M. O. O significado do pré-natal para mulheres grávidas: uma experiência no município de Campo Grande, Brasil. Saúde e Sociedade. São Paulo, v.17. n 02, p. 132-39, abr/jun 2008. DUARTE, S. J. H.; ANDRADE, S. M. O. O significado do pré-natal para mulheres grávidas: uma experiência no município de Campo Grande, Brasil. Rev. Saúde e Sociedade. v. 17, n. 2, p. 132-39, abr./jun. 2008. 180 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. DUARTE, S. J. H.; ANDRADE, S. M. O. Representação Social da gestante residente no Marabá a respeito do pré-natal. Ver. Rev. da Escola de Enferm. Ana Nery. v. 11; n. 2, p. 373-76, jun. 2007. ETIMOLOGIA. Origem da Palavra. Disponível em: <http://origemdapalavra.com.br/pergunta/pre-natal>. Acesso em: 20 jul. 2011. FERREIRA, A. B. H. Dicionário Aurélio Básico de Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995. FIGUEIREDO, N. M. A. (Orgs). Prática de enfermagem: ensinando a cuidar da mulher, do homem e do recém-nascido. São Paulo: Difusão Enfermagem, 2003. FOCALT, M. A microfísica do poder.11 ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1993 FLICK, U. Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa. 2 ed. Porto Alegre: Bookman, 2007. FRANCO, M.L.P.B. Representações Sociais, ideologia e desenvolvimento da consciência. Cadernos de pesquisa. V. 34 n.121, p 169-186, 2004. FRASER, D. M; COOPER, M. A. Assistência obstétrica: um guia prático. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. GAMA, A. S et al. Representações e experiências das mulheres sobre a assistência ao parto vaginal e cesárea em maternidade pública e privada. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 25. n 11, p. 2480-88, nov. 2009. GANONG, L. H. Integrative Reviews of Nursing Reserch. Rev. Nvrs Health. v.10, n. 1, p. 1 -11, mar.1987. GAZZINELLI, M. F.; PENNA, C. Educação em Saúde: conhecimentos, representações sociais e experiência da doença. In: GAZZINELLI, M. F.; REIS, D. C.; MARQUES, R. C. (Orgs). Educação em saúde: teoria, método e imaginação. Belo Horizonte: UFMG, 2006. HOTIMSKY, S. N. et al. O parto como eu vejo... ou como eu desejo? Expectativas de gestantes, usuárias do SUS, acerca do parto e da assistência obstétrica. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 18, n. 5, p. 1303-11, set./out. 2002. IBGE. Censos Demográficos. 2010. Disponível em <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/população>. Acesso em: 10 mar. 2012. JODELET, Denise. As representações sociais. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2001 181 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. ___________. As Representações Sociais. In: FLAMENT, C. Estrutura e Dinâmica das Representações Sociais. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2001. ___________. Representações Sociais: um domínio em expansão. In: JODELET, D. As Representações Sociais. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2001. JOVCHELOVITCH, S. Os contextos do saber: representações, comunidade e cultura. Petropolis: Vozes, 2008. LOWDERMILK, D. L.; PERRY S. E.; BOBAK, I. M.O Cuidado em Enfermagem Materna. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2002. MANZINI-COVRE, M. L. O Que é Cidadania? 15. ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 2006. MARKOVÁ, I. Dialocidade e Representações Sociais: as dinâmicas da mente. Rio de Janeiro: Vozes, 2006. MINAYO, M. C. S.; DESLANDES, S. F.; GOMES, R. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 26. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2007. MOREIRA, A. S. P. Perspectivas teórico – metodológica em representações sociais. In: OLIVEIRA, D. C et al. Análise das Evocações Livres: uma técnica de análise estrutural das representações sociais. João Pessoa: Universitária, 2005. MOSCOVICI, S. Representações Sociais: investigação em psicologia social. 7. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2010. NAGAHAMA, E. E.; SANTIAGO, S. M. A institucionalização médica do parto no Brasil. Ciênc. saúde coletiva. v.10, n. 3, p. 651-57. 2005. OLIVEIRA, D. C; CAMPOS, P. H. F. (Orgs). Representações sociais: uma teoria sem fronteiras. Rio de Janeiro: Museu da República, 2005. OLIVEIRA, et al. Atitudes, sentimentos e imagens na representação social da sexualidade entre adolescentes. Esc. Anna Nery Rev Enferm. Rio de Janeiro, v.13, n.4, p.817-23, out./dez. 2009. OLIVEIRA, M. E; ZAMPIERI, M. F. M; BRUGGEMANN. O. M. A melodia da humanização: reflexões sobre o cuidado no processo do nascimento. Florianópolis: Cidade Futura, 2001. OSÓRIO, C. M.; QUEIROZ, A. B. A. Representações sociais de mulheres sobre a amamentação: teste de associação livre de idéias acerca da interrupção precoce do aleitamento materno exclusivo. Esc. Ana Nery Rev. Enferm. Rio de Janeiro, v. 11, n. 2, p. 261-67, jun. 2007. 182 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. PARADA, C. M. L.; TONETE, V. L. P. O cuidado em saúde no ciclo gravídicopuerperal sob a perspectiva de usuárias de serviços públicos. Interface Comunicação, Saúde, Educação. Botucatu, v. 12, n. 24, p. 35-46, jan./mar. 2008. PEREIRA, R. R.; FRANCO S. C.; BALDIN N. A dor e o protagonismo da mulher na parturição. Revista Brasileira de Anestesiologia. v. 61, n. 3, p. 382-88, mai./jun. 2011. PERROT, M. Os silêncios do corpo da mulher. In: MATOS, M.I; SOIHET, R (Orgs). O Corpo Feminino em Debate. São Paulo: UNESP, 2003. RAMOS, J. G. L. et al. Hemorragia Ante-parto. In: FREITAS, F. et al. Rotinas em obstetrícia. 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. RASSY, M. E. C. A perspectiva da qualidade na assistência pré-natal: uma contribuição da enfermagem a luz de Avedis Donabedian. 2010. Tese (Doutorado em Enfermagem) – Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. REIS, C. B.; ANDRADE. S. M. O. Representação social do trabalho em equipe na atenção à mulher sob a ótica da enfermeira. Esc Anna Nery Rev. Enferm. Rio de Janeiro, v. 12, n.1, p. 50-6, mar. 2008. REIS, C. B.; ANDRADE. S. M. O. Representações Sociais das Enfermeiras sobre a integralidade na assistência à saúde da mulher na rede básica. Ciência e Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v. 13, n. 1, p. 61-70, abr. 2008. RIOS, C. T. F.; VIEIRA, N. F. C. Ações educativas no pré-natal: reflexão sobre a consulta de enfermagem como um espaço para educação em saúde. Ciência e Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v.12, n. 2, mar/abr. 2007. RODRIGUES, D. P et al. Representações Sociais de Mulheres sobre o Cuidado de Enfermagem recebido no Puerpério. Rev Enferm UERJ. Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 197- 204, abr./jun. 2007. RODRIGUES, M. P.; LIMA, K. C; RONCALLI; A. G. A Representação social do cuidado no programa saúde da família na cidade de Natal. Ciência e Saúde Coletiva. v.13, n. 1, p. 71-82. 2008. SÁ, Celso Pereira de. A Construção Representações Sociais. UERJ- RJ, 1998. do Objeto de Pesquisa em SÁ, Celso Pereira de. Núcleo Central das Representações Sociais. Petrópolis: Vozes, 1996. 183 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. SÁ, Celso Pereira de. Representações sociais: o conceito e o estado atual da teoria. In: SPINK, M. J. P. O conhecimento do cotidiano: as representações sociais na perspectiva da psicologia social. 2. ed. Petrópolis : Vozes, 2002. SABÓIA, V. M. Educação em Saúde: a arte de talhar as pedras. Niterói: Intertexto, 2003. SANTOS, A. S; MIRANDA, S. M. Z. C. (Orgs). A enfermagem na gestão em atenção primária. São Paulo: Manole, 2007. SANTOS, F. L. B.; OLIVEIRA, M. I. V. BEZERRA, M. G. A. Prematuridade entre recém-nascidos de mães com amniorrexe prematura. Esc Anna Nery Rev Enferm. Rio de Janeiro, v. 10, n. 3, p. 432-8, dez. 2006. SANTOS, L. G. A. et al. (Orgs). Enfermagem em ginecologia e obstetrícia. Rio de Janeiro: MedBook, 2010. SANTOS, L. P. Educação-Cuidado de si: Representações Sociais entre idosos amazônidas participantes da Universidade Aberta à terceira Idade. 2011. Dissertação de Mestrado (Mestrado em Educação) - Universidade do Estado do Pará, Belém. SERRUYA, S. J.; LAGO, T. D. G.; CECATTI, J. G. O Panorama da Atenção prénatal no Brasil e o Programa de Humanização do Pré-Natal e Nascimento. Rev. Bras. Saúde Matern. Infant. Recife, v. 4. n 3, p. 269-279, jul./set. 2004. SERRUYA, S. J;, GIÁCOMO, T. A mortalidade materna no Brasil. Jornal Febrasgo. Rio de Janeiro, v. 8, p.6-8. 2001. SHIMIZU, H. E.; LIMA, M. G. L. As dimensões do cuidado pré-natal na consulta de enfermagem. Rev. Bras. de Enferm. Brasília, v. 62, n. 3, p. 397-92, maio/jun. 2009. SILVA, W. V. A comunicação interpessoal entre os profissionais de saúde e gestantes na assistência pré-natal. São Paulo: Manole, 2002. SILVEIRA, S.C; CAMARGO, B.V; CREPALDI, M. A. Assistência ao parto na maternidade: representações sociais de mulheres assistidas e profissionais de saúde. Psicologia: Reflexão e Crítica. V. 23, n. 1, p. 1-10. 2010. SOARES, A. V. N.; SILVA, I. A. Representações de puérperas sobre o sistema alojamento conjunto: do abandono ao acolhimento. Revista da Escola de Enfermagem da USP. São Paulo, v. 37, n 2, p. 1- 9. 2003. SOARES ,C.L.P; FERREIRA, D.S. IWABUCHI, L.L. Educação em Saúde: conexões possíveis. In:TEIXEIRA E. et al. Cartografia dos Saberes: o cuidar, a saúde e a doença em práticas educativas populares em comunidades hospitalares de Belém. Belém(PA): Smith; 2010. 184 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. SPINK, M. J. Psicologia Social e Saúde: práticas, saberes e sentidos. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 2007. TEIXEIRA, E. As três metodologias: acadêmica, da ciência e da pesquisa. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 2007. TEIXEIRA, E. et al. Cartografia dos Saberes: o cuidar, a saúde e a doença em práticas educativas populares em comunidades hospitalares de Belém. Belém: Smith, 2010. TYRREL, M. A. R.; CARVALHO, V. Programas Nacionais de Saúde MaternoInfantil: impacto político-social e inserção da enfermagem. Rio de Janeiro: EEAN/UFRJ, 1995. VELHO, M. B. Representações sociais do parto normal e da cesária para mulheres que os vivenciam. 2011. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. VERONESE, M. V.; GUARESCHI, P. A. Psicologia do representações sociais em ação. 2 ed. Petrópolis : Vozes, 2007. Cotidiano: WOLFF, L.R; MOURA, M.A.V. Representações sociais de mulheres sobre assistência no trabalho de parto e parto. 2004. Tese (Doutorado em Enfermagem) - Escola de Enfermagem Ana Nery / Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 185 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. APÊNDICES 186 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM MAGALHÃES BARATA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM MESTRADO ASSOCIADO UEPA/UFAM TÍTULO: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE PRÉ-NATAL ENTRE MULHERES-MÃES DO PARÁ: IMPLICAÇÕES PARA O CUIDADO DE ENFERMAGEM O objetivo do presente estudo é caracterizar as representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará; descrever os elementos e a estrutura das representações sociais sobre pré-natal e analisar quais são as implicações dessas representações sociais para o cuidado de enfermagem. Na pesquisa serão aplicados dois formulários: o perfil sócio-demográfico das mulheres-mães, e o segundo, da técnica projetiva de livre associação de palavras. A técnica projetiva de livre associação de palavras consiste na emissão de palavra (termo indutor) pelo pesquisador, e como resposta, as autoras sociais deverão evocar cinco palavras que venham à mente após a escuta do termo indutor, que nesse estudo será: “pré-natal”. Após a descrição das palavras, solicitaremos que as mulheres-mães as organizem por ordem de importância, e então, indiquem se as palavras são positivas, negativas ou neutras. O estudo oferece riscos mínimos às participantes, pois as informações pessoais podem ser expostas, causando eventuais constrangimentos. Na tentativa de evitá-los será mantido sigilo de todos os dados coletados. É garantida às participantes, a liberdade de deixar de participar do estudo, sem qualquer prejuízo, e o direito de manter-se informada a respeito dos resultados parciais da pesquisa Não há despesas pessoais para a participante em qualquer fase do estudo. Também não haverá nenhum pagamento por sua participação. No entanto, a pesquisa beneficiará as mulheresmães que residem no Pará, na medida em que os dados poderão ser fornecidos para o aperfeiçoamento do planejamento e execução de ações sobre Pré- Natal. A pesquisadora responsável é a Mestranda em Enfermagem, Enfermeira e Professora Márcia Simão carneiro, CPF: 327618.302.10, COREN: 114800, Telefone (91) 81883532, e sua Orientadora a Professora. Dra. Elizabeth Teixeira. Telefone (91) 99828258, ambas encontradas na Universidade do Estado do Pará (UEPA), Escola de Enfermagem Magalhães Barata. Campos IV. OBS: A proposta do estudo foi analisada no Comitê de Ética da Santa Casa no dia 25 de outubro de 2011, protocolo n° 135/11- CEP, sob a responsabilidade de Márcia Simão Carneiro, obtendo aprovação com autorização para desenvolvê-la na Instituição. Profª. Dra. Elizabeth Teixeira Orientadora Declaro que compreendi as informações que li, me sinto esclarecido sobre o conteúdo da pesquisa, assim como os seus riscos e benefícios e a garantia de confidencialidade. Declaro ainda que por minha livre vontade, aceito participar da pesquisa operando com a coleta de dados, podendo retirar meu consentimento a qualquer momento, sem necessidade de justificar o motivo da desistência. Belém ____ de _____________de _______ __________________________________________________ Assinatura do participante da pesquisa __________________________________________ Mestranda e Enfermeira Márcia Simão Carneiro COREN:114800 Pesquisadora responsável 187 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO SÓCIO DEMOGRÁFICO PARA CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM MAGALHÃES BARATA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM MESTRADO ASSOCIADO UEPA/UFAM APENDICE A - Perfil sócio-demográfico de mulheres-mães 1- DADOS DE IDENTIFICAÇÃO Iniciais:_________________ Denominação na Pesquisa:_______________ Data do nascimento:____/_____/_____ Idade: ( ) 12- 17 ( ) 18-23 ( ) 24- 29 ( ) 30- 35 ( ) 36-41 Naturalidade______________________ Cor: ( B/P/PD/A/I)__________________ Religião:_________________________ Endereço:________________________ Bairro:_____________________________ Cidade:_________________________ Tel.:_____________________________ 2- PERFIL ECONÔMICO Atualmente Trabalha ( ) Sim ( ) Não Em que?_______________________________ Há quanto tempo?________________________ Outra fonte de renda: ( ) pensão ( ) aposentadoria ( ) outros Quem mais trabalha em sua casa:_____________________________________ Renda própria:____________________________________________________ ( ) até 1 sm ( ) de 1 a 2 sm ( ) de 2 a 5 sm ( ) mais de 5 sm Renda familiar:____________________________________________________ ( ) até 1 sm ( ) de 1 a 2 sm ( ) de 2 a 5 sm ( ) mais de 5 sm Renda familiar total:________________________________________________ 3- SITUAÇÃO DE MORADIA/ ACESSO AO SERVIÇO DE SAÚDE Tipo de Moradia: ( ( ) Casa ( ) Próprio ( ) Apartamento ) Alugado ( ( ) Sítio ) cedido Mora com quem? ( ) Com o marido ou companheiro ( ) Com a família ( especifique_________________________________________________________ Quantas pessoas moram na casa:_______ Nª de cômodos:___________________ Há serviço de saúde próximo à residência? ( ) Sim ( ) Não Qual:______________________________________________________________ A residência está inserida em equipe de ESF/ ACS? ( ) Sim ( ) Não Alguém na casa tem transporte próprio? ( ) Sim ( ) Não Quem?____________ Há transporte coletivo de fácil acesso? ( ) Sim ( ) Não. 4- COMPOSIÇÃO FAMILIAR Estado Civil: ( ) Casada ( ) Solteira ( ) Separada ( ) União estável ) Outro 188 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Filhos? ( ) Sim ( ) Não Quantos?________________________________ Você é chefe de sua família? ( ) Sim ( ) Não ( ) parcialmente 5- SITUAÇÃO EDUCACIONAL E CULTURAL ( ( 6- ) Analfabeta ( ) 2ª grau incompleto ( ) 1ª grau incompleto ( ) 3ª grau incompleto ( ) 1ª grau completo ) 3ª grau completo HISTÓRIA OBSTÉTRICA Quantas vezes você engravidou? _______________________________ Quanto tempo faz a última gestação?____________________________ Quantos partos?_____________________________________________ Tipos de parto ( ) normal, ( ) cesárea, ( ) fórceps Teve algum parto prematuro? ( ) sim ( ) não Teve algum parto gemelar? ( ) sim ( ) não Os partos foram realizados em casa ou no hospital? Sim ( ) casa ( ) hospital. Teve aborto? ( ) sim, ( ) não ( ) espontâneo, ( ) provocados, Teve intercorrências na gestação como pressão alta, rotura prematura de bolsa, placenta prévia, sangramentos, ameaça de partos prematuros etc.. ( ) sim, ( ) Não Quais?____________ Em qual das gestações as anteriores ou a última?___________________________ Filhos nascidos mortos? ( ) sim ( ) não Filhos vivos nascidos vivos? ( ) sim ( ) não Filhos que nasceram e com 7 dias morreram?( ) sim ( ) não Filho internado em UTI ao nascer ( ) sim ( ) não Algum filho com problema de saúde desde o nascimento? ( ) sim ( ) não De acordo com o número de gestações, quantas vezes você realizou pré-natal no serviço público? ( ) 1-2 ( ) 2-3 ( ) 4-5 outros: ( ) Na última gestação, realizou o pré-natal com quantas consultas ( ) 2-4 ( ) 5-6 ( ) mais de 6 Local do pré-natal? ( ) UBS ( ) PSF ( ) Referência, qual? ______________, município de realização do pré-natal?_______________________ Quais os assuntos e informações que você gostaria de ter tido ou ter conversado com os enfermeiros e médicos durante o pré-natal? _____________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ ________ Na sua opinião o que poderia ser feito para melhorar o pré-natal? _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ __________ 189 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. APÊNDICE C – FORMULÁRIO DE COLETA DE EVOCAÇÃO LIVRE DE PALAVAS UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM MAGALHÃES BARATA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM MESTRADO ASSOCIADO UEPA/UFAM APÊNDICE B - FORMULÁRIO DE EVOCAÇÃO LIVRE DE PALAVRAS A) Escreva abaixo, no mínimo, cinco palavras que lhe vem a mente quando você ouve a expressão: “PRÉ-NATAL” Ordem de importância +/ - / n ( ( ( ( ( ) ___________________________________________________ ) ___________________________________________________ ) ___________________________________________________ ) ___________________________________________________ ) ___________________________________________________ Agora eu gostaria que você colocasse esses termos em ordem de importância. Destes termos que você citou, quais, você considera o mais importante? Depois enumere na ordem de importância de 1 a 5. Em seguida diga se a palavra é positiva (+), negativa ( -), ou neutra ( 0) _____________ Este instrumento é uma adaptação ao modelo de evocação do Projeto de Pesquisa: “As transformações do cuidado de saúde e enfermagem em tempo de AIDS, Representações Sociais e memórias de enfermeiros e profissionais de saúde no Brasil” 190 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. APÊNDICE D – ARQUIVO SÍNTESE OBTIDO POR MEIO DO SOFTWARE EVOC 2003 191 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. 192 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. 193 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. 194 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. ANEXOS 195 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. 196 CARNEIRO, M. S. Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará: implicações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. Universidade do Estado do Pará Centro de Ciências Biológicas e da Saúde Escola de Enfermagem Magalhães Barata Programa de Pós-Graduação em Enfermagem Mestrado Associado UEPA/UFAM Av. José Bonifácio, 1289 – São Brás 66063-022 Belém- PA www.uepa.br 197