TURISMO E PATRIMÔNIO CULTURAL
Prof. Flavio de Lemos Carsalade
O Turismo tem um de seus grandes pilares no Patrimônio Cultural, mas para
que consigamos entender a sua importância, cabe uma investigação mais
profunda dessa relação tão complementar quanto necessária.
Inicialmente seria importante lembrar os fundamentos da atração turística,
representados pelos princípios de diversidade, beleza e sensorialidade,
presentes em todas as suas modalidades, como condições indispensáveis de
atratibilidade. Mesmo naquelas formas turísticas onde elas não aparecem de
forma tão evidente como no caso de convenções e negócios, eles se somam
aos seus requisitos específicos, de forma a complementar os deslocamentos
dos convencionais ou executivos. De certa maneira, esses três princípios criam
o leque dos grandes atratores turísticos.
O princípio da diversidade trata do poder de
Alexandre C. Mota
atração que o diferente nos traz, do impulso
interno pelo contato pessoal com o diverso, com
situações paisagísticas para nós inusitadas ou
diferentes,
com
formas
de
vida
também
diferenciadas, trazendo consigo a idéia da novidade. É a diversidade que atrai
o turista, na sua demanda interna de experienciar o novo, de viver situações
diferentes daquelas que vive no seu cotidiano.
O princípio da beleza nos indica o potencial de sedução e maravilhamento que
a arte e a natureza nos provocam. A beleza atrai pessoas de lugares distantes,
funcionando com um imã de grande força.
O princípio da sensorialidade reforça o caráter de imersão do turismo. Trata do
impulso pela vivência sensorial dos lugares, extensiva a todos os sentidos.
Este é um ponto importante pois não é apenas a visão que comanda os
movimentos turísticos. Se assim fosse, não haveria a necessidade do
deslocamento, bastando o registro visual dos locais: a televisão e o videocassete supririam o desejo de se conhecer novos lugares. É fundamental,
portanto, a presença física nos lugares, estimulando a percepção tátil, auditiva,
gustativa, que nos conferem o senso de totalidade perceptiva, fazendo com
que a fruição turística seja um ato de estímulo e prazer sensorial.
Baseado nestes três princípios,
podemos dizer que os principais
atratores físicos se encontram no
caráter único e diferenciado de
Alexandre C. Mota
cada paisagem. É importante, no
entanto, entender este conceito
de
forma
ampla.
Assim,
a
paisagem natural inclui a fauna, a
flora, os rios, etc. A paisagem cultural diz respeito àquela construída pelo
homem e, nesse caso, convém lembrar que as construções humanas não são
apenas objetos inertes de pedra e barro, mas parecem trazer consigo uma aura
particular que confere uma atmosfera única a cada lugar. Esta paisagem inclui,
portanto além das paisagens urbanas específicas, o patrimônio imaterial, a
gastronomia, os saberes locais, os rituais particulares, enfim, a cultura que a
anima. Embora possamos também distinguir o conceito de Paisagem artificial o
qual sendo uma modalidade da paisagem cultural desta se diferencia por não
ter sido resultado de uma sedimentação histórica , por não representar o
“ethos” de um povo, por não ser a materialização de uma cultura específica,
forjada ao longo do tempo. Por estar ancorada na mídia e na novidade, este
tipo de paisagem necessita de constantes investimentos e novas atrações, pois
se desatualiza com rapidez.
Esta classificação das paisagens como atratores turísticos têm a propriedade
de nos mostrar a importância da sustentabilidade do ponto de vista cultural nas
suas interfaces com os destinos turísticos. Assim, podemos entender como
turismo culturalmente sustentável aquele que, por se basear na autenticidade,
concorre para a manutenção da paisagem e da personalidade local, pelo
entendimento de que elas são o seu primeiro fator de atratividade. As tentativas
de teatralizar esta personalidade ou “modernizar”o antigo concorrem antes para
a rápida deterioração de seu potencial turístico, ainda que em um primeiro
momento possam parecer implementá-lo. Aqui cabe ressaltar que as
intervenções qualificadoras que se fizerem nos ambientes históricos devem se
realizar no sentido de garantia dessa autenticidade, gerando ações que
apontem antes para sua característica de um moderno autêntico em detrimento
da criação de um “moderno histórico” que se configura antes como emulação
do antigo, portanto falsa do ponto de vista histórico.
A personalidade de um lugar, aquilo que cria sua unicidade, é o que impregna
a atmosfera do lugar e que lhe garante seu gosto especial. É a cultura,
consubstanciada no patrimônio edificado, na morfologia urbana, nos ritmos e
ritos locais, na imaginária que confere lastro aos lugares únicos. O grande
atrator turístico é, portanto, função da história e da cultura locais que são os
elementos que conferem a identidade peculiar que tanto encanta os visitantes.
Não é coisa que se obtém de hora para outra, precisa da sedimentação do
tempo e não é coisa também que apenas um verniz consegue ressaltar.
A atitude urbanística contemporânea propõe o
reforço da personalidade local através de
Henry Yu
técnicas adequadas de manutenção da imagem
da cidade, do esforço de manutenção da
população residente local e valorização do
patrimônio cultural material e imaterial. Esta atitude tem reflexos nos
investimentos que se fazem sob a rubrica do turismo. Tão importante quanto
investir em acomodações e treinamentos á investir na infra-estrutura urbana e
na recuperação de edifícios e áreas degradadas e, desta forma o patrimônio
histórico e o turismo instituem parceria profícua e objetiva, se tornando este
último, inclusive, importante resposta contemporânea à preservação de nossa
imensa herança cultural.
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