www.psicologia.pt ISSN 1646-6977 Documento produzido em 20.09.2015 AUTOIMAGEM E OBESIDADE: A REALIDADE E SUAS CRENÇAS 2015 Francine Náthalie Ferraresi Rodrigues Pinto Psicóloga e mestre em Psicologia pela Universidade Federal de São Carlos (Brasil) E-mail de contato: [email protected] RESUMO Muitas pessoas se sentem insatisfeitas com o próprio corpo mesmo estando com o peso dentro dos padrões considerados saudáveis. Uma causa dessa preocupação é que o corpo é a parte das pessoas que inicialmente é apresentada para o mundo em interações sociais. O modo como cada um pensa que os outros vêem seu corpo é refletido em sua autoimagem. Diante disso, essa pesquisa buscou avaliar a percepção de jovens brasileiros em relação às pessoas acima do peso e verificar se existem diferenças de opinião entre gêneros. Participaram do estudo 34 estudantes universitários, com idade variando de 18 a 25 anos. Eles foram divididos de acordo com o gênero. Foi elaborado um questionário, aplicado nos participantes que foram abordados pelo campus de uma universidade do interior paulista. Nos resultados foi possível observar que para estes jovens as principais causas da obesidade são: fatores genéticos, hábitos alimentares e falta de atividade física. A maioria dos participantes disse ter amigos acima do peso e já ter achado alguém gordo bonito. No entanto, a maioria relatou que nunca se apaixonou ou namorou alguém gordo. Nenhum dos participantes tinha a massa corpórea acima do valor considerado normal, mas alguns se consideravam acima do peso. Características como insegurança, sedentarismo e alimentação inadequada foram relacionadas às pessoas acima do peso. No entanto, aspectos como sentimento de inferioridade e carência afetiva relacionada ao excesso de peso não foram vistos desta forma pelas pessoas entrevistadas. Conclui-se que novos estudos sobre autoimagem e obesidade são necessários, uma vez que a população acima do peso está cada vez maior. Palavras-chave: Autoimagem, obesidade, crenças, universitários. Francine Náthalie Ferraresi Rodrigues Pinto 1 Siga-nos em facebook.com/psicologia.pt www.psicologia.pt ISSN 1646-6977 Documento produzido em 20.09.2015 INTRODUÇÃO Muitas pessoas se sentem insatisfeitas com o próprio corpo mesmo estando em boa forma. Isso se deve ao fato de que há uma confusão entre a imagem real e a ideal na percepção que existe nessa relação. Uma causa dessa preocupação é que o corpo é frequentemente a parte das pessoas que inicialmente é apresentada para o mundo em interações sociais, e o modo como nós pensamos que os outros veem o nosso corpo é refletido em nosso autorretrato e autoimagem. Um estudo realizado por Araújo e Araújo (2003) a respeito da satisfação com o peso atual revelou resultados interessantes a respeito da autoimagem do brasileiro. Ele mostra que há uma grande insatisfação com o peso corporal e percepção distorcida, para ambos os sexos, sendo mais intensa entre as mulheres. Segundo esses autores, as mulheres adultas tendem a se considerar com excesso de peso quando, na verdade, possuem pesos corporais compatíveis com suas respectivas alturas. Em relação às mulheres obesas, elas percebem o excesso de peso e se mostram insatisfeitas com o corpo. Já os homens possuem uma autoimagem corporal mais compatível com o seu peso real e estão mais satisfeitos do que as mulheres. Dentro disso, alguns jovens desejam pesar mais e apresentar músculos mais desenvolvidos e os adultos desejam perder peso e a indesejada “barriga”. Segundo Araujo e Araujo (2003), 75% das pessoas que não estava satisfeita com o peso era sedentária. Eles concluíram, então, que por mais que as pessoas não estejam satisfeitas com o seu peso, nem sempre fazem uma atividade física e um controle alimentar para mudar a situação, seja pela rotina do cotidiano ou até mesmo pela falta de motivação e de ânimo. Desta forma, estas pessoas estão constantemente insatisfeitas e esperando chegar a próxima segunda feira para iniciarem uma nova dieta e entrar na academia e assim, o ciclo continua na semana seguinte. O excesso de peso é um fator que influencia negativamente a satisfação com o corpo e a autoimagem. Os comportamentos discriminatórios em relação às pessoas acima do peso são apontados por Annis, Cash e Hrabosky (2004) e Castro, Carvalho, Ferreira e Ferreira (2010) como causas de problemas psicológicos relacionados ao peso, como baixa autoestima, anorexia, bulimia, ansiedade, depressão, entre outros. Além desses comportamentos há também a influência da mídia, um reflexo da sociedade, que veicula a ideia de que somente pessoas magras podem ser atraentes, vestir as roupas da moda e serem bem-sucedidas. A partir de então um sentimento de inferioridade pode surgir naquelas pessoas que não se enquadram nesses padrões. Para Serrano et al. (2010), uma faixa da população que merece especial atenção são os adolescents, pois eles apresentam constante preocupação com seu peso, visando um ideal de beleza imposto pelo corpo magro. A não-aceitação de seu corpo o leva a sentir-se marginalizado na sociedade. Dessa maneira, adolescentes que se deparam com a obesidade têm muitos problemas em relação à aceitação de sua autoimagem e à valorização de seu próprio corpo. Francine Náthalie Ferraresi Rodrigues Pinto 2 Siga-nos em facebook.com/psicologia.pt www.psicologia.pt ISSN 1646-6977 Documento produzido em 20.09.2015 Ferriani, Dias, da Silva e Martins (2005) discutiram esse problema e verificaram que adolescentes obesos têm vergonha de seu corpo e receio em ver a própria imagem no espelho. Esse receio mostra-se maior nas partes do corpo em que há acúmulo de gordura. Outro fator que maximiza esse problema é o fato de que os adolescentes obesos se veem diferentes do grupo, o que lhes causa sentimentos de estranheza e impactos negativos na sua autoimagem. As dificuldades em relação às vestimentas também afetam a autoimagem, pois estes adolescentes têm desejo de usar roupas da moda, mas não a encontram no seu tamanho ou até mesmo sentem vergonha de usá-las, por não se acharem bonitos (Serrano et al., 2010). Desta forma, acabam tendo que optar por vestimentas de tamanho grande, que são as que se ajustam em seu corpo. Outro aspecto relatado por esses adolescentes é o preconceito, que pode se mostrar em formas de apelidos pejorativos relacionados ao peso, em dificuldade de fazer novas amizades e de interagir com o sexo oposto. Percebe-se também, que ao comparar homens com mulheres acima do peso, o fator que mais afeta a autoimagem é, para os homens, o desempenho inferior nos exercícios físicos e, para as mulheres, a limitação em relação às roupas quando se comparam a outras adolescentes da mesma idade. Percebe-se também que as mulheres são mais propensas a ter uma imagem corporal negativa, e consequentemente, outras desordens relacionadas a esse fator. (Cash & Roy, 1999; Schwartz, & Brownell, 2002; 2004; Seabra, 2011). Além disso, a obesidade reduz as oportunidades de namoro e casamento, principalmente entre elas (Annis, Cash, & Hrabosky, 2004). Quando se dá a perda de peso há uma melhora nos diversos tipos de relacionamentos e também na imagem corporal. No entanto, em alguns casos a insatisfação pode continuar, pois a preocupação com o peso e a crítica quanto ao corpo continuam interiorizados na pessoa. As duas razões apresentadas, mais frequentemente, para a vontade de ser magra é a influência da mídia e o desejo de ser mais atraente e receber mais atenção. Também é apontada a melhora na autoestima e confiança, tanto para vestir roupas como para ter controle dos sentimentos e parecer bonita para os homens (Tiggemann, Gardiner, & Slater, 2000). No entanto, esses comportamentos relacionados à magreza estão associados a comportamentos deletérios como fumar, usar drogas e álcool e aparecimento de depressão e suicídio em pessoas com idades cada vez menores (Jones, Bennet, Olmsted, Lawson, & Rodin, 2001). Em um estudo de Annis, Cash e Hrabosky (2004) foi demonstrada diferença significativa da imagem corporal entre mulheres acima do peso (grupo 1), mulheres que já estiveram acima do peso por mais de 6 meses, mas que estão com peso normal pelo menos nos últimos 3 anos (grupo 2) e mulheres que nunca estiveram acima do peso (grupo 3). O grupo 1 apresentou uma imagem corporal inferior a dos outros dois grupos; e o grupo 2 apresentou uma imagem corporal inferior a do grupo 3. Essa pesquisa mostrou que tanto as mulheres acima do peso, como mulheres que já estiveram nessa situação em algum momento da sua vida têm uma preocupação relacionada ao peso e à aparência maior do que mulheres que nunca tiveram esse problema. Isso pode ocorrer no grupo 2 devido ao medo de voltar engordar e a crença de que a aparência exerce muita influência Francine Náthalie Ferraresi Rodrigues Pinto 3 Siga-nos em facebook.com/psicologia.pt www.psicologia.pt ISSN 1646-6977 Documento produzido em 20.09.2015 em suas vidas. Além desses resultados foram encontradas diferenças em relação à autoestima, esta se mostrou menor em mulheres acima do peso quando comparadas a mulheres que nunca estiveram acima do peso, porém o grupo 2 não mostrou diferença significativa sugerindo que este fator pode ser restaurado com a perda de peso. Quanto aos índices de depressão e ansiedade, diferenças significativas não foram encontradas em nenhum dos grupos, mostrando que a obesidade como um fator isolado não aumenta a probabilidade dessas desordens. Apesar de não apresentar diferenças entre depressão e ansiedade, para Ferriani et al. (2005) indivíduos obesos podem parecer alegres e despreocupados no convívio social, mas sofrem com o sentimento de inferioridade, insatisfação, carência afetiva e tendem a revelar profundas necessidades de serem amados e aceitos. Dado o exposto e tendo em vista a importância de entender melhor a visão das pessoas sobre estar acima do peso, o presente estudo teve como objetivo avaliar as crenças relacionadas a pessoas acima do peso e verificar se existem diferenças de opinião entre gêneros. MÉTODO Participantes Participaram 34 estudantes universitários de uma universidade do interior de São Paulo de cursos de humanas, exatas e biológicas, com idades variando entre 18 e 25 anos, 18 do sexo feminino e 16 do sexo masculino. Local O estudo foi realizado em uma sala do departamento de Psicologia da universidade, que garantiu sigilo e privacidade ao participante. Material Foi utilizado um questionário, elaborado pela autora desse estudo, no qual havia questões fechadas referentes às crenças sobre imagem e obesidade. O questionário iniciava-se com questões sócio demográficas, como nome, idade, sexo, altura e peso. Também foi perguntando se os participantes se consideravam gordos. Para avaliar as crenças acerca da obesidade, solicitou-se que os participantes que enumerassem quais fatores consideravam mais influentes para que uma pessoa fosse obesa, sendo que 1 era o mais influente e o 7 o menos influente, as opções eram: Fatores genéticos, modelo familiar, falta de força de vontade, pouco amor-próprio, hábitos alimentares, falta de atividade física e fatores emocionais. Francine Náthalie Ferraresi Rodrigues Pinto 4 Siga-nos em facebook.com/psicologia.pt www.psicologia.pt ISSN 1646-6977 Documento produzido em 20.09.2015 Em seguida, foi elaborada uma escala, na qual os participantes deveriam colocar se concordavam totalmente, concordavam, discordavam ou discordavam totalmente. Os itens se referiam à concordância deles, no que dizia respeito a pessoas obesas nos seguintes aspectos: são mais engraçadas, são mais extrovertidas, são mais inseguras, não se importam com o que os outros pensam, são mais inteligentes, tem pouca força de vontade, no fundo são infelizes, são bons pais, tem sucesso na vida profissional, se sentem inferiores, são mais carinhosas, são mais solitárias, são doentes, tem sucesso na vida afetiva, são mais confiantes, são mais espontâneas, são mais confiáveis, são sedentários e tem hábitos de vida menos saudáveis. As questões seguintes consistiam em responder sim ou não e eram: 1) Você já namorou alguém gordo? 2) Você já se apaixonou por alguém gordo? 3) Você já achou alguém gordo bonito? 4) Você tem amigos gordos? 5) Você acha que gordo deve namorar gordo? Procedimento O questionário foi aplicado em universitários escolhidos aleatoriamente pelo campus da universidade. A pesquisadora abordava os participantes e perguntava se eles gostariam de participar de um estudo sobre autoimagem e obesidade, caso os mesmos aceitassem, era agendada a coleta de dados para a aplicação do instrumento. Antes de iniciar a coleta, eles assinavam o Termo de Compromisso Livre e Esclarecido, no qual declaravam que os dados poderiam ser utilizados em possíveis publicações, desde que o sigilo de suas identidades fosse mantido e que poderiam retirar a participação dos mesmos do estudo a qualquer momento. Em seguida, era solicitado que eles respondessem aos instrumentos descritos anteriormente. Análise de dados Os resultados foram analisados de acordo com o gênero dos participantes. Foram comparados os escores médios para os instrumentos aplicados, usando o aplicativo para análise de dados SPSS13, usando como meio de análise o teste- t. A massa corpórea de cada um deles foi determinada por meio da altura e do peso, respondidos no questionário. Francine Náthalie Ferraresi Rodrigues Pinto 5 Siga-nos em facebook.com/psicologia.pt www.psicologia.pt ISSN 1646-6977 Documento produzido em 20.09.2015 RESULTADOS A grande maioria dos participantes atribuiu aos fatores genéticos, hábitos alimentares e falta de atividade física como as principais causas da obesidade. Este resultado pode ser visto na Tabela 1. Houve, no entanto, uma variação entre o gênero na ordem em que colocaram esses 3 fatores, sendo para as mulheres o fator que ficou em primeiro lugar foram os hábitos alimentares e para os homens foram os fatores genéticos. Os dados que apresentam a opinião dos participantes sobre como as pessoas acima do peso se sentem estão na Tabela 2. Os números 1, 2, 3 e 4 referem-se a uma escala, na qual 1 representa que a pessoa discorda totalmente e 4 que a pessoa concorda totalmente com a sentença. Tabela 1- Distribuição em porcentagem da escolha dos fatores para explicar a obesidade. Fatores genéticos Modelo familiar Falta de força de vontade Pouco amor próprio Hábitos alimentares Falta de atividade física Fatores emocionais Homens 1ª opção 2ª opção 43,8 12,5 18,8 12,5 0,0 6,2 6,2 0,0 12,5 37,5 6,2 18,8 12,5 12,5 3ª opção 0,0 25 6,2 0,0 12,5 43,8 12,5 Mulheres 1ª opção 2ª opção 11,1 22,2 5,5 11,1 16,7 0,0 0,0 5,5 38,9 11,1 0,0 38,9 27,8 5,5 3ª opção 33,3 11,1 0,0 5,5 16,7 27,8 16,7 Tabela 2- Distribuição em porcentagem da opinião dos participantes sobre como as pessoas obesas se sentem. Pessoas obesas são: São mais engraçadas São mais extrovertidas São mais inseguras Não se importam com outras opiniões São mais inteligentes Tem pouca força de vontade No fundo são infelizes São bons pais Tem sucesso profissional Se sentem inferiores São mais carinhosas São mais solitárias Francine Náthalie Ferraresi Rodrigues Pinto Homens 1 2 3 4 6 7 24 32 62 26 62 51 57 23 26 31 32 57 24 37 31 49 25 26 37 31 31 38 62 0 37 0 32 19 24 7 7 0 26 0 12 0 17 7 7 0 46 0 24 19 26 6 6 Mulheres 1 2 3 10 13 5 72 82 42 47 59 54 14 22 21 52 49 29 28 18 31 29 17 34 50 40 50 4 38 0 38 0 55 11 0 0 0 0 27 0 24 0 24 0 12 0 35 0 38 0 29 0 Total 1 2 3 8 10 15 52 72 34 55 55 55 19 24 26 42 53 27 32 24 40 27 21 35 41 36 44 4 50 0 37 0 44 15 12 3 3 0 26 0 18 0 21 3 10 0 41 0 31 10 27 3 Siga-nos em facebook.com/psicologia.pt www.psicologia.pt ISSN 1646-6977 Documento produzido em 20.09.2015 São doentes Tem sucesso afetivo São mais confiantes São mais espontâneos São mais confiáveis Sedentários Têm hábitos de vida menos saudáveis 69 31 38 26 44 13 18 18 50 57 37 30 6 12 7 7 19 0 6 0 24 13 26 0 68 13 43 27 26 27 33 28 62 5 0 36 54 55 38 24 18 15 28 10 14 5 11 0 29 5 13 0 47 30 49 36 47 29 36 27 53 9 9 27 52 56 38 27 12 14 17 9 17 2 9 0 27 9 20 0 58 22 46 31 Pode-se perceber no resultado geral, a partir da Tabela 2, que os participantes não concordam, nem discordam do fato de que pessoas acima do peso são mais engraçadas, não houve diferença entre os gêneros. Já quanto a elas serem extrovertidas, apenas 9% discordam totalmente, mas 53% escolheram a opção 2 mostrando que a maioria tende mais a discordar do que concordar. Em relação às pessoas gordas serem mais inseguras, as respostas estão distribuídas entre os grupos, 15% discordam, 22% escolheram a opção 2, 44% escolheram a opção 3 e 15% concordam plenamente, mostrando que mais pessoas concordam do que discordam dessa afirmação. Quanto às pessoas gordas não se importarem com a opinião dos outros, 53% discordam e 32% das pessoas escolheram a opção 2, mostrando que a maioria mais discorda do que concorda com tal afirmação. A maioria também discorda quanto às pessoas gordas serem mais inteligentes, sendo que 73% discordam plenamente. A maioria também discorda da afirmação de que as pessoas gordas tem pouca força de vontade, sendo que 35% discordam totalmente e 38% mais discorda do que concorda (opção 2). A maioria das pessoas discorda quanto à afirmação de que as pessoas gordas no fundo são infelizes, sendo que 56% discordam totalmente. A maioria também discorda quando se relaciona ser gordo a ser bom pai ou mãe, 56% discordam totalmente. No item sobre ter sucesso profissional, 56% discordam totalmente. No geral a maioria das pessoas discordou quando se relacionava ser gordo a ser mais carinhoso, solitário, se sentir inferior, ser doente, ter sucesso afetivo, ser mais confiante, mais espontâneo e mais confiável. Os participantes também relataram que na opinião deles, pessoas obesas são mais sedentárias e tem hábitos de vida menos saudáveis. A Figura 1 mostra a porcentagem de pessoas que já namoraram alguém gordo, sendo que a maioria das pessoas respondeu que nunca tinham namorado alguém gordo. A menor diferença entre os que responderam sim e não foi observada no grupo de biológicas. Não houve diferença entre homens e mulheres nesta questão. Francine Náthalie Ferraresi Rodrigues Pinto 7 Siga-nos em facebook.com/psicologia.pt www.psicologia.pt ISSN 1646-6977 Documento produzido em 20.09.2015 Figura 1: Porcentagem de pessoas que já namoraram alguém gordo. 100 80 60 40 20 0 Sim Total Homens Mulheres Homens Exatas Mulheres exatas Homens Humanas Mulheres Humanas Homens Bio Não Mulheres Bio Porcentagem Você já namorou alguém gordo? A Figura 2 mostra a porcentagem de pessoas que já se apaixonaram por alguém gordo, podese observar que a maioria nunca se apaixonou. Os números são bem parecidos com o da questão anterior. Percebeu-se que as respostas estavam relacionadas, uma que quem já namorou, provavelmente já se apaixonou. Figura 2: Porcentagem de pessoas que já se apaixonaram por alguém gordo. 100 80 60 40 20 0 SIM Total Homens Mulheres Homens Exatas Mulheres exatas Homens Humanas Mulheres Humanas Homens Bio NÃO Mulheres Bio Em Porcentagem Você ja se apaixonou por alguém gordo? Entretanto, ao descrever se já acharam alguém gordo bonito houve uma prevalência da resposta “sim”, sendo que na biológica, ela foi dada por 100% dos participantes. Francine Náthalie Ferraresi Rodrigues Pinto 8 Siga-nos em facebook.com/psicologia.pt www.psicologia.pt ISSN 1646-6977 Documento produzido em 20.09.2015 Figura 3: Porcentagem de pessoas já acharam alguém gordo bonito. 100 80 60 40 20 0 Sim Total Homens Mulheres Homens Exatas Mulheres exatas Homens Humanas Mulheres Humanas Homens Bio Não Mulheres Bio Em porcentagem Você ja achou alguém gordo bonito? Na Figura 4, pode-se observar que a maioria das pessoas tâm amigos gordos. Somente dois grupos tiveram pessoas que responderam “não” a pergunta sobre amigos gordos, estes foram as mulheres de humanas e os homens de exatas. Figura 4: Porcentagem de pessoas que tem amigos gordos. 100 80 60 40 20 0 Sim Total Homens Mulheres Homens Exatas Mulheres exatas Homens Humanas Mulheres Humanas Homens Bio Não Mulheres Bio Em Porcentagem Você tem amigos gordos? Na Figura 5 observa-se que foi unânime a opinião de não necessariamente “gordo deve namorar gordo”. Francine Náthalie Ferraresi Rodrigues Pinto 9 Siga-nos em facebook.com/psicologia.pt www.psicologia.pt ISSN 1646-6977 Documento produzido em 20.09.2015 Figura 5: Porcentagem de pessoas que acham que gordo deve namorar gordo. 100 80 60 40 20 0 Sim Total Homens Mulheres Homens Exatas Mulheres exatas Homens Humanas Mulheres Humanas Homens Bio Não Mulheres Bio Em Porcentagem Você acha que gordo deve namorar gordo? Acrescenta-se a esses dados, o fato de que coincidentemente, nenhum dos participantes era gordo. Este dado foi determinado por meio da massa corpórea, no entanto, alguns deles se consideravam acima do peso. DISCUSSÃO Alguns dos resultados obtidos estão de acordo com outros estudos sobre a obesidade (Araujo & Araujo, 2003); porém, em vários itens desta pesquisa os participantes mostraram ter alguns conceitos que não correspondem à realidade descrita por outros autores (Ferriani et al., 2005). Características como insegurança, sedentarismo e alimentação inadequada foram bastante relacionadas com as pessoas acima do peso, corroborando com os resultados obtidos por Araújo e Araujo (2003). No entanto, parece que aspectos como sentimento de inferioridade e carência afetiva, apontados por Ferriani et al. (2005) como relacionados ao excesso de peso, não são vistos desta forma pelas pessoas entrevistadas. Cabe acrescentar que, apesar destas pessoas terem sido escolhidas aleatoriamente, todos apresentavam o peso compatível com a altura e, portanto, pode não ser apta a perceber sentimentos deste tipo, que podem estar presentes na realidade de pessoas acima do peso. Dentre essas mesmas pessoas, no entanto, muitas relataram estar insatisfeita com o próprio peso, confirmando a existência de uma percepção corporal distorcida, como foi descrito por Araújo e Araujo (2003). Problemas como falta de confiança e de autoestima apontados por Tiggemann et al. (2000) como consequências da obesidade não foram relacionados com excesso de peso pelos estudantes, os quais também não consideraram que os obesos são pessoas doentes. Estes resultados não podem, porém, ser entendidos como uma contradição aos obtidos por Annis, Cash e Hrabosky (2004), os Francine Náthalie Ferraresi Rodrigues Pinto 10 Siga-nos em facebook.com/psicologia.pt www.psicologia.pt ISSN 1646-6977 Documento produzido em 20.09.2015 quais afirmaram que a obesidade pode causar de problemas como baixa autoestima, ansiedade e depressão. A questão utilizada no questionário desta pesquisa dava a entender que os obesos teriam, necessariamente, as características apontadas, sendo que, o que os autores dizem é que esses problemas podem estar relacionados, mas que um não é condição fundamental para a existência do outro. A ideia de que as pessoas acima do peso são mais infelizes foi rejeitada pela maioria dos universitários, indicando que Ferriani et al. (2005) ao afirmar que eles parecem alegres. Estes mesmos autores, porém, também afirmaram que as pessoas obesas parecem despreocupadas, fato que, de acordo com as respostas dadas ao item referente à preocupação com a opinião dos outros, não ficou confirmado neste estudo. As diferenças entre as respostas femininas e masculinas, observadas em alguns itens do questionário, podem ser devidas aos impactos distintos que a obesidade causa na vida dos homens e das mulheres. Por exemplo, as mulheres são mais suscetíveis à depressão, o que pode explicar o fato delas terem relacionado, com maior frequência, obesidade e doença. Um ponto importante a ser discutido é que apesar de a maioria das pessoas ter respondido que têm amigos gordos, e que gordos não devem necessariamente namorar gordos, essa mesma quantidade de pessoas diz nunca ter namorado ou se apaixonado por um gordo. Isso parece contraditório, levando-se em conta que nenhum dos participantes era gordo, considerando como critério a massa corpórea. Quanto à questão: “gordos devem namorar gordos”, a unanimidade na resposta nos levou a pensar que talvez o entendimento da questão tenha ficado equivocado. A intenção ao formular a pergunta era saber se seria estranho um gordo namorar um não gordo, porém muitos participantes relataram ter entendido que a questão se referia ao fato de que gordos só poderem namorar gordos e magros só poderem namorar magros. Outro ponto a ser levantado é que uma resposta “sim” a essa pergunta mostraria muito claramente um preconceito, o qual é condenado na nossa sociedade e talvez até pelos participantes do presente estudo. Uma nova pesquisa com questões mais bem formuladas poderiam trazer dados mais exatos e claros, além disso, um maior número de participantes poderia deixar a pesquisa mais abrangente e também uma faixa etária maior e outros grupos da sociedade não só universitários. Nesse sentido, são necessárias intervenções para melhorar a autoestima de pessoas acima do peso, estas podem se tratar de técnicas de autocontrole, na qual se retira alimentos indesejáveis, modifica-se o comportamento de consumo (na qual a pessoa aprende a ter hábitos mais saudáveis de alimentação, como não comer sempre em presença de comida, ou também o comportamento de comer sem parar, neste é pedido que o indivíduo abaixe os talheres até que tenha engolido o alimento, após comer), estreitamento de estímulo (no qual é criado estímulos para que o comportamento de comer adequadamente seja efetivo, como por exemplo, delimitar um espaço no qual o indivíduo deve comer, como a cozinha), mudança do ambiente de estímulo (deve-se aproveitar das histórias de aprendizagem dos indivíduos, expondo-os a estímulos que inibam o ato Francine Náthalie Ferraresi Rodrigues Pinto 11 Siga-nos em facebook.com/psicologia.pt www.psicologia.pt ISSN 1646-6977 Documento produzido em 20.09.2015 de comer), reforço (recompensas para as melhoras nos hábitos alimentares), respostas competitivas (encontrar atividades que compitam com o comportamento de comer), incorporação de princípios de modelagem (criar procedimentos para que o cliente incorpore as técnicas gradualmente na sua rotina). Francine Náthalie Ferraresi Rodrigues Pinto 12 Siga-nos em facebook.com/psicologia.pt www.psicologia.pt ISSN 1646-6977 Documento produzido em 20.09.2015 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Annis, N. M., Cash, T. F., & Hrabosky, J. I., (2004) Body Image and psychosocial differences amog stable average weight, currently overweight, and formely overweight women: The role of stigmatizing experiences. Body Image, 1(2), 155-167. Araújo, D. S. M. S., & Araújo, C. G. S. (2003). Autopercepção e insatisfação com peso corporal independem da frequência da atividade física. Arq. Bras. de Cardiologia, 80(3), 225 – 242. Cash, T. F., & Roy, R. E. (1999). Pounds of flesh: Weight, gender, and body images. In J. Sobal & D. Maurer (Eds.), Interpreting weight: The social management of fatness and thiness (pp.209-228). Hawthorne, NY: Aldine de Gruyter. Castro, M. R., Carvalho, R. S., Ferreira, V. N., & Ferreira, M. E. C. (2010). 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